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Portuguesa Prof. Marcelo Martins Língua Indaial – 2022 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2022 Elaboração: Prof. Marcelo Martins Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M386l Martins, Marcelo Língua portuguesa. / Marcelo Martins – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 193 p.; il. ISBN 978-65-5663-802-7 ISBN Digital 978-65-5663-797-6 1. Língua portuguesa. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 469 Olá, acadêmico! É com alegria que apresentamos a você a disciplina de Língua Portuguesa. Como nossa disciplina está inserida no curso de Letras Libras, o propósito aqui é dar subsídios para conhecer e lembrar os elementos da Língua Portuguesa, que são de fundamental importância, tanto com relação ao português, como para os seus estudos em Libras. Na Unidade 1, nós abordaremos as classes gramaticais. Nosso propósito, nesta primeira unidade, é compreender as classes gramaticais do português. A morfologia é o estudo a respeito da estrutura, da formação e da classificação das palavras. Vamos passar pelas dez classes gramaticais – artigo, substantivo, adjetivo, preposição, conjunção, pronome, numeral, verbo, advérbio e interjeição. Um bom conhecimento dessas classes propicia um avanço importante na compreensão da língua e de seus elementos gramaticais, bem como contribuirá no estudo da Libras. Em seguida, na Unidade 2, estudaremos os elementos textuais na Língua Portuguesa. Iremos verificar os usos da coesão e da coerência como elementos indispensáveis na construção de um bom texto, bem como seguindo a mesma linha, os usos e funcionamento das anáforas e catáforas. Passaremos pelos gêneros textuais para vermos como são e quando são usados, e a importância de conhecê-los na hora de construir textos, e então, com esta base compreender os diferentes tipos de textos com que nos deparamos na leitura e escrita. Por fim, na Unidade 3, aprenderemos a respeito de práticas de leitura e produção textual, assim como procuraremos entender a perspectiva bilíngue como a mais indicada para a escolarização dos Surdos. Olharemos alguns aspectos de funcionalidade referentes à leitura e à escrita para os alunos Surdos para que possam desenvolver atitude crítica em relação à leitura e à produção de textos. Com relação ao papel do profissional TILSP atuante na comunidade Surda, iremos observar algumas estratégias linguísticas e técnicas utilizadas. E, finalmente, conceituar, resumidamente, o ato de traduzir e interpretar as línguas orais e de sinais. Desejamos que a sua caminhada seja de grande crescimento e aprendizado no conhecimento da Língua Portuguesa e de alguns aspectos atrelados à Libras! Bons estudos! Prof. Marcelo Martins APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - MORFOLOGIA: O ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS NA LÍNGUA PORTUGUESA ............................................................................ 1 TÓPICO 1 - O ARTIGO, O SUBSTANTIVO E O ADJETIVO ......................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 O ARTIGO ............................................................................................................................4 3 O SUBSTANTIVO ................................................................................................................. 7 4 O ADJETIVO ...................................................................................................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 - A PREPOSIÇÃO, A CONJUNÇÃO, O PRONOME E O NUMERAL ...................19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 19 2 A PREPOSIÇÃO ................................................................................................................. 19 3 A CONJUNÇÃO ................................................................................................................ 23 4 O PRONOME ...................................................................................................................... 25 4.1 PRONOME PESSOAL ...........................................................................................................................26(a – primeira conjugação; e – segunda conjugação; i – terceira conjugação). • Tema: o tema é formado pelo radical acrescido da vogal temática (pul: radical + a: vogal temática). • Desinência modo-temporal: o morfema (ou sufixo) que identifica o modo e o tempo do verbo. Por exemplo, na forma verbal pularei – o elemento destacado indica que o verbo está no futuro do indicativo. • Desinência número-pessoal: indica a pessoa e o número. Usando pularei, verifica-se que a parte em destaque aponta a primeira pessoa do singular. IMPORTANTE 41 QUADRO 17 – VERBOS REGULARES 3 CONJUGAÇÕES DO VERBO Na língua portuguesa há três classes (ou conjugação) de verbos. Cada conjugação se caracteriza por uma vogal temática. • Primeira conjugação: verbos cuja forma infinitiva termina em “ar”, por exemplo: cantar, amar, chorar etc. • Segunda conjugação: verbos cuja forma infinitiva termina em “er”, por exemplo: fazer, correr, ver etc. • Terceira conjugação: verbos cuja forma infinitiva termina em “ir”, por exemplo: rir, partir, sorrir etc. Vamos ver agora, nos Quadros 17 a 22, alguns verbos e suas conjugações para fixarmos como são conjugadas. O português possui em torno de onze mil verbos. Destes, mais de mil são da primeira conjugação (aqueles que terminam em “ar”). INTERESSANTE 42 FONTE: . Acesso em: 9 set. 2021. QUADRO 18 – VERBOS IRREGULARES FONTE: . Acesso em: 9 set. 2021. 43 QUADRO 19 – VERBOS MODO SUBJUNTIVO FONTE: . Acesso em: 9 set. 2021. QUADRO 20 – VERBO AUXILIAR FONTE: . Acesso em: 9 set. 2021. 44 QUADRO 21 – MODO IMPERATIVO FONTE: . Acesso em: 9 set. 2021. QUADRO 22 – FORMAS NOMINAIS DO VERBO FONTE: . Acesso em: 9 set. 2021. 4 A INTERJEIÇÃO A interjeição é uma palavra ou locução que exprime um estado emotivo (CEGALLA, 2010). Ela é um recurso da linguagem afetiva ou emocional. Dessa forma, exprime as mais variadas emoções e sentimentos. É uma a palavra invariável que exprime emoções, sensações, estados de espírito, ou que procura agir sobre o interlocutor, e o leva a adotar determinado comportamento sem que, para isso, seja necessário fazer uso de estruturas linguísticas mais elaboradas. Vamos observar alguns exemplos: • Socorro! Alguém me ajude. • Atenção! • Coragem! Você vai ser bem-recebido. 45 QUADRO 25 – INTERJEIÇÃO FONTE: . Acesso em: 3 set. 2021. As interjeições são uma espécie de "palavra-frase", isto é, há uma ideia expressa por uma palavra (ou um conjunto de palavras – locução interjetiva) que podem ser colocadas em termos de uma sentença. O sentido das interjeições está atrelado à maneira como elas são proferidas. Assim, o tom da fala é que determina o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto de enunciação. Por isso, pode acontecer de uma mesma interjeição apresentar mais de um sentido. Agora, observe alguns exemplos de interjeição. Caro acadêmico, pudemos nesta Unidade estudar as classes gramaticais, no entanto, você ainda se deparará com algumas palavras que são difíceis em alguns contextos de classificá-las. O autor Domingos Paschoal Cegalla (2010) escreveu em seu livro, Novíssima gramática da língua portuguesa, algo bem interessante sobre essa questão. Compartilhamos com vocês esse texto. 46 PALAVRAS E LOCUÇÕES DENOTATIVAS De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira, serão classificadas a parte certas palavras e locuções – outrora consideradas advérbios – que não se enquadram em nenhuma das dez classes conhecidas. Tais palavras e locuções chamadas “denotativas” exprimem: • Afetividade – felizmente, infelizmente, ainda bem: Felizmente não me machuquei. Ainda bem que o orador foi breve! • Designação – eis: Eis o anel que perdi. • Exclusão – exclusive, menos, exceto, fora, salvo, tirante, senão, sequer: Voltaram todos, menos (ou exceto, salvo, fora) André. Não me descontou sequer um cruzeiro. Ninguém, senão Deus, poderia salvá-lo. • Inclusão – inclusive, também, mesmo, ainda, até, ademais, além disso, de mais a mais: Eu também vou. Levou-me para sua casa e ainda me deu roupa e dinheiro. Aqui falta tudo, até água. • Limitação – só, apenas, somente, unicamente. Só Deus é perfeito. Apenas um aluno teve nota boa. • Realce – cá, lá, só, é que, sobretudo, mesmo, embora: Eu cá me arranjo! Você é que não se mexe! É isso mesmo! Veja só! Vá embora! Eu sei lá o que pretende? • Retificação – aliás, ou melhor, isto é, ou antes: Venha ao meio-dia, ou melhor, venha já. Aquele casal era filho de japonês, aliás, filhos de japoneses. “Finda a saudação cortês, o cavalo calou-se, isto é, recolheu o movimento do rabo” (Carlos Drummond de Andrade). • Explanação – isto é, a saber, por exemplo: Os elementos do mundo físico são quatro, a saber: terra, fogo, água e ar. 47 • Situação – afinal, agora, então, mas: Afinal, quem tem razão? Posso levá-los; agora, ficar eu não fico. Então, que achou do filme? Mas, você fez isso, meu filho? FONTE: CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 37. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010. p. 262-264. No site Brasil Escola, você encontra mais informações sobre as classes de palavras e outros assuntos da língua portuguesa, acesse: www.brasilescola.com.br. DICA 5 O ADVÉRBIO O advérbio é, fundamentalmente um modificador do verbo (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 529). De acordo com Guiley (1993, p. 75), “advérbio é uma palavra indeclinável que se emprega para modificar um verbo, um adjetivo ou outro advérbio. Muitos dos advérbios são formados de adjetivos”. Para Cegalla (2010, p. 243), “advérbio é uma palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. A maioria dos advérbios modificam o verbo, ao qual acrescentam uma circunstância. Só os de intensidade é que podem também modificar adjetivos e advérbios”. Cegalla (2010), bem como outros gramáticos, apontam que há várias classes de advérbios na língua portuguesa. Entre estas classes estão: QUADRO 23 – CLASSES DE ADVÉRBIOS ADVÉRBIOS EXEMPLOS De afirmação sim, certamente, realmente, incontestavelmente, efetivamente etc. De dúvida talvez, porventura, provavelmente, acaso, decerto etc. De intensidade muito, pouco, bastante, mais, menos, completamente, bem, mal, demais, nada, tão, demasiado, meio, todo, excessivamente, demasiadamente, quão, quase, apenas etc. De lugar abaixo, acima, aqui, ali, dentro, fora, perto, longe, cá, lá, ali, aí, além, aquém, atrás, fora, adiante, diante, através, aonde, detrás etc. De modo bem, mal, assim, devagar, como, alerta, debalde, depressa, calmamente, (quase todos os advérbios terminados em mente) etc. De negação não, tampouco (= também não). De tempo hoje, amanhã, agora, já, sempre, nunca, jamais, logo, simultaneamente, imediatamente, depois, ontem, então, amiúde, logo, cedo, tarde, ora, outrora, diariamente etc. FONTE: O autor 48 Há também aqueles que são chamados advérbios interrogativos. As palavras que normalmente referem-se a eles estão vinculadas às interrogações diretas e indiretas às circunstâncias de tempo, lugar, causa e modo. São palavras como: quando? como? por quê? onde? São aplicáveis em frases como: Outra observação importante é que, normalmente os advérbios que terminam em “mente” derivam-se de adjetivos. Por exemplo: feroz (adjetivo), ferozmente (advérbio). Há também as locuções adverbiais. Elas são expressões que possuem a função dos advérbios. Começam com uma preposição. Observe alguns exemplos: às claras, às pressas, às vezes, ao acaso, de repente, de forma alguma, de súbito, de vez em quando, por fora, por trás, de perto, lado a lado etc. • Onde você mora? • Quando será a prova? • Porque Joaquim se atrasou? • Como você aprendeu português? Advérbio é uma palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. A maioria dos advérbios modificam o verbo, ao qual acrescentam uma circunstância. Só os de intensidade podem também modificar adjetivos e advérbios. NOTA Por fim, temos ainda os graus dos advérbios. Alguns advérbios de modo, lugar, tempo e intensidade, são capazes de sofrer modificações. Veja no Quadro 24 alguns exemplos: QUADRO 24 – GRAU DOS ADVÉRBIOS 49 FONTE: . Acesso em: 2 set. 2021. 50 CLASSES DE PALAVRAS Margarida Basílio Já é quase uma tradição em estudos da linguagem dizer-se que as classes de palavras (também conhecidas como partes do discurso ou categorias lexicais) podem ser definidas por critérios semânticos, sintáticos e morfológicos. As gramáticas normativas privilegiam o critério semântico na classificação das palavras, embora utilizem todos os critérios. No estruturalismo, critica-se a gramática tradicional pela mistura de critérios e privilegiam-se os critérios morfológico e funcional. Na teoria gerativa transformacional, as classes de palavras são definidas apenas em termos de propriedades sintáticas. A questão da definição de classes de palavras é bastante complexa, quer em relação aos critérios, quer em relação ao fato de que a adequação de definições de classes varia de língua para língua. Aqui, vamos colocar a questão a partir das necessidades de uma abordagem adequada aos processos de formação de palavras em português. OS TRÊS CRITÉRIOS Passaremos a considerar a questão dos critérios de definição de classes de palavras a partir das motivações internas à formação de palavras. Para isso, vamos inicialmente caracterizar cada critério e posteriormente estudar sua relevância. Dado que apenas substantivos, adjetivos, verbos e advérbios estão envolvidos em processos de formação de palavras, vamos nos deter aqui apenas nessas classes. O CRITÉRIO SEMÂNTICO Dizemos que as classes de palavras são definidas pelo critério semântico quando estabelecemos tipos de significado como base para a atribuição de palavras a classes. A maior parte das definições de substantivo que encontramos nas gramáticas é de base semântica. Em geral, o substantivo é definido como a palavra com que designamos os seres. Pela sua própria natureza, o substantivo é definido com relativa facilidade pelo critério semântico. LEITURA COMPLEMENTAR 51 O adjetivo, no entanto, é de definição bem mais difícil a partir de um critério semântico puro, dada a sua vocação sintática, por assim dizer. De fato, o adjetivo não pode ser definido por si só, sem a pressuposição do substantivo, já que sua razão de ser é a especificação do substantivo. No entanto, a função semântica do adjetivo é de importância crucial na estrutura linguística: de certa maneira, o adjetivo tem a mesma razão de ser que os afixos, no sentido de permitir a expressão ilimitada de conceitos sem a exigência de uma sobrecarga da memória com rótulos particulares. Para esclarecer esse ponto, considere o exemplo a seguir: • criança: º bonita, feia, simpática; º magra, gorda, alta, baixa; º sadia, doente, subnutrida; º bem-educada, malcriada; º feliz, infeliz; º neurótica, autista; º brasileira, estrangeira e assim por diante. Como vemos, uma série de conceitos diferentes podem ser expressos pela especificação de um adjetivo ao substantivo; é esta a função do adjetivo: uma função nitidamente semântica, a de especificar o substantivo, assim permitindo a expressão de um teor praticamente ilimitado de especificações com o uso de elementos fixos; mas uma função dependente do substantivo por sua própria natureza e razão de ser. Quanto ao verbo, é normal defini-lo semanticamente como a palavra que exprime ações, estados ou fenômenos. Essa definição pura e simples em termos semânticos não é suficiente, no entanto, já que ações, estados e fenômenos podem ser expressos por substantivos. Assim, há que se acrescer à definição semântica do verbo ou uma dimensão morfológica, em virtude da gama de variações flexionais que lhe são características, ou uma dimensão discursiva, relacionada à questão do momento do enunciado, por exemplo. No caso do advérbio, teríamos algo análogo ao caso do adjetivo, já que advérbios permitem especificação da ação, estado ou fenômeno descrito pelo verbo. Em suma, o critério semântico é fundamental para a definição das classes vocabulares produtivas no léxico. Mas não é um critério suficiente, pelo menos nos termos até agora encontrados em definições, já que noções igualmente rotuladas podem ser expressas por mais de uma das classes estabelecidas. Por exemplo, ações podem ser expressas por nomes e verbos, qualidades são designadas por substantivos e adjetivos, e assim por diante. 52 O CRITÉRIO MORFOLÓGICO Entendemos por critério morfológico a atribuição de palavras a diferentes classes, a partir das categorias gramaticais que apresentem, assim como das características de variação de forma que se mostrem em conjunção com tais categorias. De acordo com o critério morfológico, o substantivo é definido como uma palavra que apresenta as categorias de gênero e número, com as flexões correspondentes. Embora demonstre alto teor de eficiência em relação a classes como verbo e advérbio, a definição morfológica do substantivo não distingue adequadamente esta classe da dos adjetivos, já que estes possuem as mesmas categorias. A diferença entre substantivos e adjetivos, neste particular, pode ser abarcada, no entanto, pela distinção imanente/dependente, já que o gênero e o número dos adjetivos dependem do gênero e número de substantivos a que se referem, enquanto no caso dos substantivos o gênero e o número são imanentes. A classe dos verbos é talvez a mais privilegiada no que respeita a uma definição pelo critério morfológico, dada a riqueza e particularidade da flexão verbal. Assim, o verbo às vezes é definido exclusivamente em termos de sua caracterização morfológica. Quanto ao advérbio, este pode ser definido em oposição às demais classes observadas, pela simples propriedade de ser morfologicamente invariável. O CRITÉRIO SINTÁTICO As classes de palavras podem também ser definidas por um critério sintático. Nesse caso, atribuímos palavras a classes a partir de propriedades distribucionais (em que posições estruturais as palavras podem ocorrer) e/ou funcionais (que funções podem exercer na estrutura sintática). Por exemplo, afirma-se que o substantivo é a palavra que pode exercer a função de núcleo do sujeito, objeto e agente da passiva. Outra possibilidade de caracterização é a posição de núcleo frente a determinantes, como artigos, demonstrativos e possessivos, ou modificadores, como adjetivos e sintagmas preposicionados. Assim, por exemplo, dizemos que sapato é um substantivo porque podemos dizer o sapato, meu sapato, este sapato, sapato bonito, sapato de Pedro. Já bonito não é um substantivo, pois não podemos dizer o bonito, meu bonito, este bonito, bonito bonito ou bonito de Pedro. A definição do adjetivo em termos funcionais é bastante fácil, dada a função natural do adjetivo em relação ao substantivo. Assim, muitas vezes o adjetivo é definido como palavra que acompanha, modifica ou caracteriza o substantivo. É interessante notar, no entanto, que a definição puramente sintática do adjetivo não é suficiente, dado que não distingue adjetivos de determinantes: estes últimos também acompanham 53 o substantivo. A diferença é que determinantes apontam e estabelecem relações, enquanto adjetivos caracterizam ou especificam. Mas essa diferença é mais de natureza semântica e discursiva do que sintática. A classe dos verbos é bastante difícil de definir em termos sintáticos, dado que o predicado pode não ser verbal. Já no casodo advérbio, a definição sintática é fácil, pois o advérbio exerce junto ao verbo função de modificador, análoga à função exercida pelo adjetivo junto ao nome. Essa colocação não cobre todos os casos, naturalmente, já que as palavras que consideramos como advérbios podem se referir à frase como um todo, entre outras possibilidades que necessitam de um estudo detalhado. FONTE: BASÍLIO, M. Teoria lexical. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995, p. 49-54. 54 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Na língua portuguesa encontramos os seguintes elementos que fazem parte da estrutura dos verbos: modo; tempo; voz; pessoa; e número. São também conhecidos como flexões do verbo. • Chamam-se modos as diferentes formas que toma o verbo para indicar a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando etc.) da pessoa que fala em relação ao fato que anuncia. Os verbos indicam as diferentes maneiras de um fato se realizar no português: indicativo, imperativo e subjuntivo. • No português temos três tempos verbais: o presente, o pretérito (passado) e o futuro. • A voz do verbo diz como a ação dele se relaciona com o sujeito. Na língua portuguesa, os verbos se classificam em: ativos, passivos e reflexivos. • Quando nos referimos ao número e pessoa na flexão do verbo, estamos falando de: primeira, segunda e terceira pessoa do singular (eu, tu, ele/a) e do plural (nós, vós, eles/as). • Na língua portuguesa há três classes (ou conjugação) de verbos. Cada conjugação se caracteriza por uma vogal temática. • Advérbio é uma palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. A maioria dos advérbios modificam o verbo, ao qual acrescentam uma circunstância. Só os de intensidade é que podem também modificar adjetivos e advérbios. • A interjeição é uma palavra ou locução que exprime um estado emotivo. Elas são um recurso da linguagem afetiva ou emocional. Dessa forma, exprimem as mais variadas emoções e sentimentos. 55 1 O advérbio é uma palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo e do próprio advérbio. A maioria dos advérbios modificam o verbo, ao qual acrescentam uma circunstância. Disserte sobre pelo menos três classes de advérbio e dê exemplos. 2 Conforme temos visto, para os gramáticos latinos, o verbo era tido como “a palavra por excelência”. O verbo é uma classe de palavras que desempenha um papel essencial na frase, considerada o núcleo da frase sintaticamente construída. A respeito do verbo, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A voz do verbo diz como a ação dele se relaciona com o sujeito. Na língua portuguesa, os verbos se classificam em: ativos, passivos e reflexivos. ( ) Na língua portuguesa, nós encontramos os seguintes elementos que fazem parte da estrutura dos verbos: modo, tempo, voz, circunstância e grau. São também conhecidos como flexões do verbo. ( ) Os verbos indicam as diferentes maneiras de um fato se realizar no português: indicativo, imperativo e subjuntivo. ( ) Na língua portuguesa, há três classes (ou conjugação) de verbos. Cada conjugação se caracteriza por uma vogal temática. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – V. b) ( ) V – F – V – V. c) ( ) F – V – V – V. d) ( ) V – V – V – F. 3 A interjeição pode ser descrita como uma palavra ou locução que exprime um estado emotivo. Ela é um recurso da linguagem afetiva ou emocional. Dessa forma, exprime as mais variadas emoções e sentimentos. Qual das alternativas na sequência apresenta somente interjeições? Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Fora! Socorro! Amarelo! b) ( ) Puxa! Basta! Cuidado! c) ( ) Ele! Nós! Tu! d) ( ) Mas! Entretanto! Todavia! 4 Verbo é uma palavra que exprime ação, estado, fato ou fenômeno, e palavra indispensável na organização do período. O verbo afirma ação (inclusive o estado) e tem tempo, modo, voz e pessoa. Os verbos compõem a classe gramatical que indica as ações expressas em uma sentença e o tempo em que elas ocorrem. Sobre os verbos, associe os itens, utilizando o código a seguir. AUTOATIVIDADE 56 I- Presente do Indicativo. II- Pretérito Imperfeito. III- Infinitivo. IV- Gerúndio. ( ) Amando. ( ) Amamos. ( ) Amavam. ( ) Amar. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) IV – I – II – III. b) ( ) III – II – I – IV. c) ( ) II – IV – I – III. d) ( ) I – III – II – IV. 5 Conforme temos estudado, na língua portuguesa, nós encontramos os seguintes elementos que fazem parte da estrutura dos verbos: modo, tempo, voz, pessoa e número. São também conhecidos como flexões do verbo. Disserte sobre cada uma das partes que estruturam o verbo. 57 REFERÊNCIAS BASÍLIO, M. Teoria lexical. 4. ed. São Paulo: Ática, 1995. BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. CEGALLA, D. P. Novíssima gramática da língua portuguesa. 37. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2010. CUNHA, C.; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português contemporâneo. 2. ed., Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira S.A., 1985. GODOI FILHO, J. Grego instrumental. Curitiba: Intersaberes, 2019. E-book. GUILEY, P. C. Apostila grego koine. Marilândia do Sul: Instituto Bíblico Maranata, 1993. MESQUITA, R. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1994. PAVAN, M. G. de R. O que é adjetivo? Brasil Escola, [s. l.], c2021. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/substantivo.htm. Acesso em: 13 ago. 2021. TAYLOR, W. C. Introdução ao estudo do novo testamento grego. 9. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1990. 58 59 ELEMENTOS TEXTUAIS NA LÍNGUA PORTUGUESA UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • estudar os aspectos da coesão e coerência textuais; • conhecer o funcionamento da anáfora e da catáfora; • apresentar alguns dos gêneros textuais da língua portuguesa; • analisar o uso de alguns gêneros textuais específicos; • verificar os tipos textuais no português; • estudar quatro tipos textuais da língua portuguesa. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – COESÃO E COERÊNCIA TÓPICO 2 – OS GÊNEROS TEXTUAIS TÓPICO 3 – OS DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 60 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 61 TÓPICO 1 — COESÃO E COERÊNCIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico, neste tópico vamos compreender o que é coesão e coerência textuais, os gêneros textuais e os diferentes tipos de textos. Os estudiosos da linguística textual passaram a estudar os elementos ou fatores responsáveis que fazem com que um texto não seja um amontoado de palavras. Ou seja, o texto precisa funcionar como uma ação de linguagem. Conforme Koch (2016, p. 11), A linguística textual toma, pois, como objeto particular de investigação não mais a palavra ou frase isolada, mas o texto, considerado unidade básica de manifestação da linguagem, visto que o homem se comunica por meio de textos e que existem diversos fenômenos linguísticos que só podem ser explicados no interior do texto. Assim, um texto precisa ter unidade, isto é, necessita estar unido com seus elementos como um todo. Umberto Eco (1985, p. 39), por sua vez, faz a seguinte conceituação: “Podemos dizer que o texto é um produto cujo destino interpretativo deve fazer parte do próprio mecanismo gerativo. Gerar um texto significa executar uma estratégia de que fazem parte as previsões dos movimentos de outros - como, aliás, em qualquer estratégia”.De modo que, um conjunto de palavras para ser um texto de verdade, e interpretável pelo leitor, precisa apresentar algumas propriedades, ou seja, estar provido de algumas características específicas fundamentais para a expressão dos sentidos e das intenções pretendidas. Dentre estas propriedades, destacam-se a coesão e a coerência. O nosso conteúdo e enfoque neste livro didático é sobre Língua Portuguesa, entretanto, esta disciplina está inserida no curso de Letras Libras. Assim, doravante, neste tópico (e, em outros a seguir) iremos buscar relacionar (em alguns momentos) algumas propriedades da língua portuguesa à Libras. Vamos seguir! 62 Coesão: substantivo feminino. União harmônica entre uma coisa e outra; harmonia: a coesão das partes de um Estado. [Gramática] Uso correto dos aspectos gramaticais que conectam os elementos de um texto, deixando esse texto claro e compreensível. FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. NOTA A coesão faz com que haja uma articulação de pensamentos, isto é, que os termos/elementos que formam uma oração, um texto seja esse texto pequeno ou complexo seja articulado, coeso. Essas articulações são feitas pelos conectivos: tempos verbais, pronomes, conjunções, entre outros elementos textuais. Um bom exemplo para entendermos essa coesão é pensarmos que ela funciona no texto como um pequeno nó. À medida que são feitas suas cordas (nós), suas correntes vão se “amarrando” e construindo as ideias. A coesão e a coerência ainda que sejam elementos distintos se entrelaçam, como num quebra-cabeça. Assim como na Figura 1: FIGURA 1 – COESÃO E COERÊNCIA FONTE: . Acesso em: 2 ago. 2021. Nesse sentido, um texto coeso também é coerente, conforme bem explanam as autoras Pasqualini e Pianezzer (2018, p. 14), É a coesão, responsável pela unidade formal do texto. Essa é construída através de mecanismos gramaticais e lexicais. A coerência e a coesão têm em comum a característica de promover a inter-relação semântica entre os elementos do discurso. A primeira faz referência à lógica entre os conceitos, e a segunda, por sua vez, à expressão desse vínculo no plano linguístico. 63 QUADRO 1 – TABELA ESQUEMÁTICA DA COESÃO REFERENCIAL E DA SEQUENCIAL Dessa forma, existe uma íntima relação entre coesão e coerência. Não obstante, é importante dizermos também que coesão e coerência são fenômenos distintos. É o que vamos entender a partir de agora. 2 COESÃO A coesão é um dos elementos essenciais para a construção de um texto compreensivo. Pense que você está lendo um pequeno texto de um anúncio de empregos, ou de compra e venda. Se não houver frases gramaticalmente corretas, e se as ideias não forem lógicas, mesmo que esse texto seja curto, a leitura não fará sentido, pois seu entendimento ficará comprometido. No caso do anúncio de emprego talvez custe uma oportunidade profissional, ou do anúncio de compra e venda, você poderá deixar de ganhar dinheiro, ou comprar algo que realmente necessite. Conforme Koch e Travaglia (2013, p. 47), entende-se por coesão: [...] a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual. Ao contrário da coerência, que é subjacente, a coesão é explicitamente revelada através de marcas linguísticas, índices formais na estrutura da sequência linguística e superficial do texto, o que lhe dá um caráter linear, uma vez que se manifesta na organização sequencial do texto. Em todos os casos pode haver uma perda, pois se não formos claros, nossos leitores não entenderão a nossa mensagem e, assim, infelizmente, o objetivo de nossa produção textual não terá sido alcançado como gostaríamos. Por isso, é importante entendermos quais os tipos de coesão a fim de relacionar os melhores conectivos para formar os textos. Acompanhe o quadro de coesão segundo os estudos de Koch (2013). 64 FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. FIGURA 2 – ANÚNCIO E A COESÃO FONTE: . Acesso em: 20 ago. 2021. Aprofunde-se nos estudos de Koch (2013) a respeito dos conectivos, acessando: https://bit.ly/3GABv5y. DICA Dessa forma, entendemos que o significado de coesão vai além de relacionar mecanismos linguísticos no texto, e conforme pôde ser observado no Quadro 1, são responsáveis por estabelecer uma conexão de ideias e a interpretação correta. Observe agora a Figura 2, sobre coesão. Procure perceber o problema. 65 Conforme a Figura 2, a coesão cria relações entre as partes do texto de modo a guiar o leitor relativamente a uma sequência de fatos. A coesão, segundo Halliday e Hasan (1976, p. 4 apud KOCH, 2004, p. 16), “[...] ocorre quando a interpretação de algum elemento no discurso é dependente da de outro”. De acordo com Antunes (1996, p. 38), a coesão é um fenômeno que concerne à organização dos elementos na superfície do texto, de modo a promover e a indicar a continuidade das ocorrências verbais, em correlação com a continuidade, progressão e unidade semântica subjacentes e, ainda, em interação com outras propriedades da textualidade. De forma que a coesão é parte interna do texto e refere-se a elementos linguísticos propriamente ditos, o que envolve a semântica, ocorrências verbais entre outros. Assim, precisa haver uma correlação com todas as propriedades textuais para que o texto tenha coesão, pois pode haver elementos de coesão que por vezes encontram-se envoltos de forma a confundir o leitor, ou ficar um texto ambíguo. A seguir, veja exemplos de alguns elementos (conectores/correlação de verbos) que garantem a coesão de um texto. Entre estes conectores estão: preposições, conjunções e advérbios, responsáveis pela articulação entre os segmentos textuais. • Conectores: garantem que as ideias fiquem organizadas e a sequência textual seja mantida. Exemplos: pois, é, porque, que, mas, além disso, por exemplo, no entanto, isto é. • Correlação dos verbos: utilizar os tempos verbais de maneira adequada também é um elemento importante para manter a coesão de um texto. Repare a tirinha a seguir do Menino Maluquinho. Perceba como a falta de conexão, pela ausência de conectores e frases sem sentido, tornam o texto sem coesão. Ambíguo: adjetivo que contém ou pode conter múltiplos sentidos; que não apresenta um único sentido. Com distintos significados; equívoco: texto ambíguo. [Gramática] cujo sentido permite várias interpretações (inclusive contrárias); que comporta mais de uma interpretação diferente. FONTE: . Acesso em: 25 ago. 2021. NOTA 66 FIGURA 3 – TIRINHA SEM COESÃO FONTE: . Acesso em: 20 ago. 2021. FIGURA 4 – EXEMPLOS DE CONECTORES FONTE: Enem [...] (2020, 8’31’’) Ao usar os conectores ou a correlação verbal, as frases podem ficar em: oposição, retomada ou remissão para se referir a outros elementos do texto, e, definir e até mudar os sentidos ou a interpretação para chegar a um entendimento. Observe que o uso dos conectores porque, mas, que, um e o, fornecem a devida conexão para as frases serem compreensíveis e claras. As correlações verbais se definem pela harmonia, pela coerência que se dá entre os tempos e formas/modos verbais, como o uso de palavras, com o objetivo que se prevaleça o aspecto lógico das ideias manifestadas no texto. Observe na Figura 5 as correlações verbais e a harmonia entre elas. 67 FIGURA 5 – EXEMPLOS DE CORRELAÇÕES VERBAIS FONTE: . Acesso em: 22 ago. 2021. Note a correlação existente entre os tempos verbais, por exemplo, na primeira frase temos o verbo “esperar” no tempo presente, tanto do modo indicativo como do subjuntivo. Assim, percebemos a importância dos conectores e a correlação verbal, tanto na escrita (texto) como na fala, para existir uma coesão de fato. Nesse sentido, Halliday e Hasan (1976 apud KOCH; TRAVAGLIA, 1989, p. 15), mostram que, “há dois tiposde coesão: coesão gramatical (expressa através da gramática) e coesão lexical (expressa através do vocabulário)”. Destacamos ainda que, a coesão gramatical também é chamada de referencial ou remissiva que ocorre quando, “[...] um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) nela presentes ou inferíveis a partir do universo textual” (KOCH, 2004, p. 31). Para Koch (2004), a remissão pode desempenhar também a função de reativação de referentes ou de sinalização textual. De modo que, a percepção de “referente” pode ser bastante ampla, podendo ser representada por um nome, um fragmento de oração, uma oração ou todo um enunciado dentro de um texto. Isso quer dizer que, as formas remissivas gramaticais podem ser presas ou livres. As formas de coesão remissivas gramaticais presas acompanham um nome, estas dizem respeito aos conectores que falamos anteriormente, representadas por artigos, pronomes, adjetivos, substantivos, numerais, advérbios pronominais, formas verbais etc. Nesse sentido, 68 Anote-se também que a remissão, por meio de artigo, à informação subsequente (catafórica), só pode ocorrer dentro do mesmo enunciado, ao passo que a remissão à informação anterior (anafórica) pode ultrapassar – e geralmente ultrapassa – os limites do enunciado que o contém (KOCH, 2004, p. 37). Enquanto as formas gramaticais remissivas presas dependem de um nome, as formas remissivas gramaticais livres não dependem de um nome dentro de um grupo nominal. Por outro lado, Koch (2004, p. 37) considera as elipses como formas remissivas gramaticais livres por “não acompanharem um nome dentro de um grupo nominal”, mas que estabelecem relação de sentido no contexto. Conforme Koch (2004), além das formais remissivas gramaticais, temos também as formas remissivas lexicais que fornecem tanto instruções de concordância quanto de sentido (fazem referência a algo no mundo extralinguístico). Neste grupo, também podem ser incluídos os sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos etc. Além da coesão gramatical e lexical existe a coesão proposta por Koch (2013, p. 52), a sequencial, que: Fique atento! Na continuação deste tópico iremos discorrer sobre os fenômenos “Anáfora e Catáfora” para um texto coerente. ESTUDOS FUTUROS Elipse: “quando ocorre a omissão de uma palavra, facilmente inferível devido ao contexto” (TAFNER, 2018, p. 67). NOTA 69 Analisando o cenário da acessibilidade linguística para a comunidade Surda que precisa de diversos tipos de informações com os mais variados gêneros textuais, torna-se imprescindível que sejam feitas traduções e interpretações o mais fiel e coeso possível. Pense em literatura de cordel, que configura uma expressão poética natural da cultura local onde é criado o cordel, em específico no Nordeste. É um repente no qual uma palavra vai puxando a outra em uma sequência melodiosa, fazendo todo sentido no final. Hoje já temos muitos profissionais TILSP surdos e ouvintes que são especialistas em traduzir e interpretar literatura de cordel. Mas, pense um pouco, se o texto de literatura de cordel não tiver coesão, o repetidor (cordelista) não conseguirá ler com precisão, e, em consequência para o profissional que irá fazer a interpretação em Libras, ficará muito mais difícil encontrar o sinal (palavra interpretada), para usá-lo também com coerência. Veja o exemplo a seguir: [...] é aquela através da qual se faz o texto avançar, garantindo-se, porém, a continuidade dos sentidos. O sequenciamento de elementos textuais pode ocorrer de forma direta, sem retornos ou recorrências; ou podem ocorrer na progressão do texto recorrências das mais diversas ordens: recorrência de termos, de estruturas (paralelismo), de conteúdos semânticos (paráfrase), de elementos fonológicos (rima, aliteração, assonância) e de tempos verbais. Vejamos alguns exemplos ilustrativos do conceito trazido citado por Koch (2013): • O carro ia rápido, rápido... (recorrência de termos) • No céu temos estrelas, na terra temos flores (paralelismo). • O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. (Soneto – Luís de Camões), (rima – recorrência de recursos fonológicos). Em Libras podemos ver exemplos de coesão sequencial na interpretação de poemas e cordéis, por exemplo, por meio das rimas ou recorrência de termos. Para entender melhor acesse o link https:// www.youtube.com/watch?v=KQChyvNe2Ac. DICA 70 FIGURA 6 – CORDEL EM LIBRAS FONTE: Literatura de Cordel (2020, 1’29’’) FIGURA 7 – TIPOS DE COESÃO Para continuarmos falando da importância da coesão textual, observe, um resumo sobre os tipos de coesão que se aplicam principalmente na nossa língua portuguesa, e, em resultado, impacta no momento da tradução e interpretação em Libras. Inclusive, podemos dizer que a literatura de cordel se encontra na classe de: coesão sequencial parafrásica. Observe a Figura 7, sobre os tipos de coesão: FONTE: Adaptada de Koch (2013) 71 Como exercício, pense em textos que você conhece que se enquadram nas classes da Figura 7. Para inspirar você, trouxemos os exemplos a seguir, da classe coesão sequencial –Sequenciação Frástica. Note o exemplo dado por Rodrigues (2014, p. 30), “A exceção foi o ano de 2004, quando houve uma redução mais pronunciada nas exodontias, que voltaram a aumentar a partir deste ano”. Rodrigues (2014, p. 30) continua explicando sobre o exemplo, “O operador quando está ligando um mesmo ato de fala, uma vez que a relação de temporalidade é estabelecida entre o conteúdo da oração e não entre o conteúdo de dois ou mais enunciados”. Sobre a coesão referencial, por uso de formas gramaticais e por uso de formas lexicais, segundo Rodrigues (2014. p. 16), “sua utilização seria mais adequada para a análise quantitativa dos procedimentos realizados num determinado período”. Veja o exemplo que a autora traz a seguir: O Sistema de Informação Ambulatorial (SIA-SUS) possui a vantagem de ter abrangência nacional e permitir agregar informações até as Unidades Básicas de Saúde, porém apresenta problemas de qualidades 17 dos registros, em boa medida decorrente da ênfase na produtividade. Portanto, sua utilização seria mais adequada para a análise quantitativa dos procedimentos realizados num determinado período. (RODRIGUES, 2014, p. 16-17). Encontramos o uso do pronome possessivo sua, no texto anterior cujo referente é o sistema de Informação ambulatorial (SAI-SUS). Assim, entende-se que a coesão não se trata somente de dominar a língua enquanto uma forma e, sim, saber como usá-la de maneira adequada nas mais diversas situações da vida diária, e nos mais diversos graus de formalidade ou informalidade que se oferecem e, nos quais devemos produzir gêneros textuais variados. Que tal melhorar a sua produção na escrita, ter um texto mais rico em vocabulário e com coesão textual? Siga as dicas do Quadro 2, citadas por Pilastri (2019a), que mostra os principais conectivos que usamos nos textos no dia a dia, e o modo correto de empregar, principalmente em textos acadêmicos. QUADRO 2 – CONECTIVOS TEXTUAIS Itens de transição e palavras de referência Exemplo (i) Prioridade, relevância: em primeiro lugar, antes de mais nada, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, mormente, principalmente, primordialmente, sobretudo. Em primeiro lugar, é preciso deixar bem claro que esta série de exemplos não é completa, principalmente no que diz respeito às locuções adverbiais. 72 (ii) Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade, simultaneidade, eventualidade): então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequentemente, constantemente, às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmotempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, enquanto isso – e as conjunções temporais. Finalmente, é preciso acrescentar que alguns desses exemplos se revelam por vezes um pouco ingênuos. A princípio, nossa intenção era omiti-los para não alongar este tópico: mas, por fim, nos convencemos de que as ilustrações são frequentemente mais úteis do que as regrinhas. (iii) Semelhança, comparação, conformidade: igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista – e as conjunções comparativas. No exemplo anterior (valor anafórico), o pronome demonstrativo “desses” serve igualmente como partícula de transição: é uma palavra de referência à ideia anteriormente expressa. Da mesma forma, a repetição de “exemplos” ajuda a interligar os dois trechos. Também o adjetivo “anterior” funciona como palavra de referência. “Também” expressa aqui semelhança. No exemplo seguinte (valor catafórico), indica adição. (iv) Adição, continuação: além disso, (a) demais, outrossim, ainda mais, ainda por cima, por outro lado, também – e as conjunções aditivas (e, nem, não só... mas também etc.). Além das locuções adverbiais indicadas na coluna à esquerda, também as conjunções aditivas, como o nome indica, “ligam, ajuntando”. (v) Dúvida: talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe? é provável, não é certo, se é que; O leitor ao chegar até aqui – se é que chegou – talvez já tenha adquirido uma ideia da relevância das partículas de transição. (vi) Certeza, ênfase: de certo, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza. Certamente, o autor destas linhas confia demais na paciência do leitor ou duvida demais do seu senso crítico. (vii) Ilustração, esclarecimento: por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber. Essas partículas, ditas “explicativas”, vêm sempre entre vírgulas, ou entre uma vírgula e dois-pontos. (viii) Propósito, intenção, finalidade: com o fim de, a fim de, com o propósito de, propositalmente, de propósito, intencionalmente – e as conjunções finais; (ix) Resumo, recapitulação, conclusão: em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto. o, portanto; em suma, leitor: as partículas de transição são indispensáveis à coerência entre as ideias e, portanto, à unidade do texto. 73 (x) Causa e consequência: daí, por consequência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito – e as conjunções causais, conclusivas e explicativas. (xi) Contraste, oposição, restrição, ressalva: pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos – e as conjunções adversativas e concessivas. (xii) Referência em geral: os pronomes demonstrativos “este” (o país próximo), “aquele” (o mais distante), “esse” (posição intermediária; o que está perto da pessoa com quem se fala); os pronomes pessoais; repetições da mesma palavra, de um sinônimo, perífrase ou variante sua; os pronomes adjetivos último, penúltimo, antepenúltimo, anterior, posterior; os numerais ordinais (primeiro, segundo etc.). Este caso exige ainda esclarecimentos. Com referência a tempo passado (ano, mês, dia, hora) não se deve empregar este, mas “esse” ou “aquele”. “Este ano choveu muito. Dizem os jornais que as tempestades e inundações foram muito violentas em certas regiões do Brasil”. (A transição neste último exemplo se faz pelo emprego de sinônimos ou equivalentes de palavras anteriormente expressas (choveu): tempestades e inundações.) FONTE: Garcia (2013 apud PILASTRI, 2019a, p. 4-5) Ficam na sequência duas dicas bem legais de vídeos sobre coesão para você assistir! Não deixe de assistir ao vídeo Conectivos e conjunções em Libras: como usar na sua redação do Enem do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais. Ele explica como os alunos Surdos podem usar os conectivos na redação. Aproveite para aprender ou rever o sinal de conectivos. Disponível em: https://bit.ly/3GBFr61. Assista também ao vídeo Coesão textual do canal Brasil Escola. Disponível em: https://bit.ly/3nUjGY7. DICA DICA 3 COERÊNCIA Depois de explanarmos sobre a coesão, nosso enfoque agora se concentra no conceito da coerência, e, para que possamos compreender bem a coerência, precisamos ativar vários conhecimentos adquiridos, que vão desde o vocabulário e a gramática da língua que falamos, até os conhecimentos mais amplos de mundo ao nosso redor. 74 Conforme Antunes (2016, p. 46), “muitos fatos da língua, sobretudo aqueles relativos a seu funcionamento, não cabem nos limites das frases. Basta citar os recursos da coesão, os quais ultrapassam, quase sempre, a fronteira sintática da frase, e até mesmo, de pares de frases”. A autora destaca que, para o bom funcionamento da língua falada e escrita é necessário utilizar a coesão e a coerência juntas como se estivéssemos atravessando fronteiras linguísticas. Os recursos da coesão e coerência quando bem utilizados desenvolvem e aprimoram nossa capacidade de análise e compreensão das várias modalidades de textos. Porém, em específico, a coerência é considerada um fator muito importante da textualidade, pois é responsável pelo sentido do texto. Observe, na sequência, a explicação dos conceitos coesão e coerência no Quadro 3: QUADRO 3 – COESÃO E COERÊNCIA FONTE: . Acesso em: 22 de agosto 2021. Coerência: substantivo feminino, ligação de um conjunto de ideias ou de fatos cujo resultado é lógico. Característica daquilo que tem lógica e coesão; nexo. FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. NOTA Assim como a coesão é importante para deixar um texto uma frase harmoniosa, a coerência é considerada um fator muito importante da textualidade, pois é responsável pelo sentido do texto, pela interação entre os usuários que escrevem e os que o leem. Os fragmentos de um texto precisam se relacionar entre si. Nesta perspectiva, Koch e Travaglia (1997, p. 11) definem a coerência como: [...] algo que se estabelece na interação, na interlocução, numa situação comunicativa entre dois usuários. A mensagem de um texto é coerente quando ela faz sentido e é comunicada de forma 75 harmoniosa, de forma que haja uma relação lógica entre as ideias apresentadas, onde umas complementem as outras. Ela é o que faz com que um texto faça sentido para os usuários, devendo ser vista, como um princípio de interpretabilidade do texto. Os autores ratificam que a coerência se estabelece na dependência de uma multiplicidade de fatores, ou seja, é importante que quando escrevemos o texto tenha uma relação lógica, sem incoerência, ou seja, não haver ideias que se contradigam. Silva (2018) traz alguns estudos sobre a explicação desses fatores tais como: o conhecimento linguístico, o conhecimento de mundo e os fatores pragmáticos e interacionais. Vamos descrever brevemente cada um deles. • Conhecimento linguístico: o conhecimento linguístico compreende o conhecimento gramatical e o lexical, como, por exemplo, o uso dos artigos, as conjunções, os tempos verbais, a entonação, a subordinação e coordenação, os sinônimos, a ordem de palavras, dentre outros. Os elementos linguísticos são importantes, pois funcionam como pistas para o estabelecimento da coerência no texto. Por exemplo, o uso de um determinado tempo verbal dá indícios do tipo de informação que um texto irá expor, influindo assim, na percepção do seu sentido. Sendo assim, o conhecimento linguístico é uma parte do que usamos para dar sentido a um texto. • Conhecimento de mundo: nas palavras de Koch e Travaglia (1997, p. 60), o conhecimento de mundo “é visto como uma espécie de dicionário enciclopédicodo mundo e da cultura arquivado na memória”. Este conhecimento permite que o usuário realize processos cruciais para a compreensão do mundo textual, como por exemplo, diferenciar se determinado texto é fictício ou se aproxima do real. O conhecimento de mundo resulta também de aspectos socioculturais, assim a compreensão de um texto vai depender da vivência social e cultural do leitor. Além disso, os autores ressaltam que outro fator ligado ao conhecimento de mundo são as inferências, que podem ser definidas por “aquilo que se usa para estabelecer uma relação, não explícita, entre elementos do texto” (KOCH; TRAVAGLIA, 1997, p. 60). • Fatores pragmáticos e interacionais: estes fatores têm a ver com os atos de fala, contexto de situação, interação e interlocução, intenção comunicativa, características e crenças do produtor e recebedor do texto etc. De uma forma bem resumida, podemos dizer que o sentido do texto vai depender de uma determinada situação, das intenções dos emissores e dos receptores, do grau de informação que o texto irá apresentar e do conhecimento de mundo que o produtor e o receptor vão compartilhar. Tudo isto se relaciona para a construção da coerência (SILVA, 2018, p. 11). Destacamos que todos os fatores descritos anteriormente não funcionam de forma isolada, precisam ser utilizados ao mesmo tempo. Entendemos que a coerência se dá a partir de um processo cooperativo entre aquele que produz o texto e aquele que recebe o texto, em que atuam os fatores linguísticos, pragmáticos, interacionais e o conhecimento de mundo. 76 Quando nos aprofundamos no estudo da coerência textual, percebemos também que existem alguns tipos de coerência que contribuem para a construção de um texto. Vamos resumidamente destacá-los: • Coerência estilística: a coerência estilística está relacionada à variedade que a pessoa adota para escrever o seu texto. Por exemplo, se você escolhe utilizar a linguagem culta, é pertinente utilizá-la em todo texto, a não ser que você esteja construindo um texto literário. Neste caso você pode mesclar uma linguagem culta com uma linguagem coloquial. • Coerência sintática: a coerência sintática tem a função de deixar cada elemento da oração em seu devido lugar, ou seja, o sujeito, o predicado, o objeto, cada um deles se encaixa em seu devido lugar na construção de uma frase, oração ou parágrafo. • Coerência semântica: a coerência semântica procura relacionar cada palavra certa a ser utilizada numa situação, pois, a semântica trabalha com o significado das palavras. Assim, a coerência semântica proporciona o desenvolvimento lógico das ideias, dos pensamentos, ou seja, seu papel é contribuir para a construção de argumentos que se integram e que não sejam contraditórios. • Coerência genérica: refere-se à escolha do gênero textual (ver Tópico 2, Unidade 2). Cada gênero apresenta características próprias que devem ser preservadas, por exemplo, se você quer anunciar algo, já sabe que o gênero classificado é o mais adequado. Se pretende contar uma história, você optará pelos gêneros conto ou crônica, pois eles atenderão adequadamente sua proposta. • Coerência temática: este é bem fácil de compreender. Pense no seguinte exemplo: você vai fazer um concurso, e para isso foi passado um determinado tema de redação. O que você deve fazer? Elaborar um texto desenvolvendo ideias sobre o tema proposto, correto? Se o tema é “educação e inclusão”, você não vai escrever sobre “religião e futebol”, não é verdade? Pois é exatamente sobre essa coerência que a coerência temática aponta. • Coerência pragmática: a coerência pragmática está relacionada à parte da Linguística que analisa a forma como utilizamos a linguagem com nossos interlocutores e a influência do contexto comunicacional. Por exemplo, quando você faz uma pergunta, de acordo com a coerência pragmática, seu interlocutor lhe devolverá uma resposta. Quando você faz um pedido a alguém, é pragmaticamente incoerente que ao mesmo tempo você dê uma ordem. No Quadro 4, você pode visualizar cada um dos tipos de coerência apresentados. 77 Em Libras, por se tratar de uma língua natural, a coesão e coerência também fazem as ligações harmoniosas e considera muito o contexto no qual a palestra, o discurso ou a situação linguística em que o sujeito surdo está envolvido, e operam como argumentos. Elas, a coesão e a coerência, são necessárias para produzir frases sinalizadas que façam sentido. QUADRO 4 – TIPOS DE COERÊNCIA FONTE: O autor DICA Agora, que tal conhecer o sinal de coesão e coerência em Libras? Talvez em sua região faça o sinal semelhante. Perceba que muitas vezes a configuração de mãos e os movimentos dos dois sinais são bem parecidos, porém, o ponto de articulação e a orientação modificam. Aproveite, acesse por meio do Qr-code e conheça como se faz os sinais. • Coesão em Libras 1: vídeo Sinal de coesão em Libras, do canal Eu sou TILSP. COESÃO 1 FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. 78 • Coesão em Libras 2: vídeo Cesão sinal Libras, produto do Grupo de Pesquisa Manuário Acadêmico e Escolar, do INES. COESÃO 2 FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. • Coerência em Libras 1: vídeo Coerência sinal Libras, produto do Grupo de Pesquisa Manuário Acadêmico e Escolar, do INES. COERÊNCIA 1 FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. • Coerência em Libras 2: vídeo O que é coerência? Canal Inep Oficial. 79 COERÊNCIA 2 FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. Entenda como fica quando sinalizamos sem utilizar a coerência nos vídeos: Libras – coesão fora da frase. Disponível em: https://bit.ly/33my0S6. Assista ao vídeo Enem – Língua Portuguesa – Coerência textual. Disponível em: https://bit.ly/326fYCL. DICA DICA 4 ANÁFORA E CATÁFORA Não tem como falar de coesão e coerência textuais sem abordar os mecanismos anáfora e catáfora, pois são elementos importantes para a escrita de um bom texto, como, por exemplo, uma redação. A anáfora e a catáfora impedem a repetição excessiva e muito próxima de palavras, evitando que a frase fique entediante e até mesmo confusa. Vamos entender o porquê. A anáfora é uma palavra ou expressão de valor referencial que remete ao discurso anterior, é um termo ou expressão que faz, por meio de elementos linguísticos, referência a outro termo já mencionado no texto. É a remissão a um referente citado anteriormente, com o intuito de dar progressão ao texto, com o acréscimo de novas informações. Ela retoma (reativa) referentes previamente introduzidos no texto, estabelecendo uma relação de correferência entre o elemento anafórico e seu antecedente (KOCH; ELIAS, 2009, p. 136). 80 A anáfora permite voltar em uma informação dada anteriormente e, com isso, mediante a introdução da informação nova, há uma interpretação mais coerente. Veja na imagem a seguir a um exemplo de anáfora e catáfora: Caro acadêmico, perceba como na anáfora acontece a retomada do que foi dito antes, como no caso exemplificado do pronome “ela” que se refere à Ana. Por outro lado, a catáfora aponta para o que virá a seguir, por exemplo, o pronome “este” se refere ao sonho de viajar para Paris. Muitas vezes, a anáfora destaca-se por dar sustentação à coesão e à coerência. Porém, é digno de nota que, Nem toda anáfora é correferencial; Nem toda anáfora é uma retomada; Nem toda anáfora tem um antecedente explícito no contexto; FIGURA 8 – COESÃO REFERENCIAL FONTE: Acesso em: 25 ago. 2021. Anáfora: processo sintático pelo qual uma palavra (p. ex., um pr. pess.) remete a outras anteriormente referidas – ex.: João e José são meus amigos. Eles também me consideram seu amigo. Elemento linguístico cuja referência não é independente, mas ligada à de um termo antecedente. [Em João barbeou-se, p. ex., o reflexivo se só pode ser interpretado com referência a João.] (ANÁFORA, 1999 apud PIZZIO;REZENDE; QUADROS, 2009b, p. 12). NOTA 81 Existem anáforas nominais (definidas ou não); Nem toda anáfora nominal é correferencial; Nem toda anáfora nominal é cossignificativa (MARCUSCHI; KOCH, 2002, p. 45). Contudo, existem vários tipos de anáforas em língua portuguesa. Vamos apresentar, a seguir, os tipos, de acordo com Koch (2004) e Adam (2008): • Anáfora Pronominal: este tipo de anáfora ocorre quando um pronome é introduzido no texto e tem a função de retomar outro termo que já foi dito, ou seja, o termo é retomado por um pronome, que faz uma “ponte de sentido”, uma vez que ele colabora para a remissão anterior ao termo e é facilmente percebida pelo fato de ter um antecedente linguístico explícito no contexto. Exemplo 1: “Tudo começou com um ovo de chocolate que trazia dentro um caracol de brinde. Montou-o, colocou-o no vidro do carro passando a transportá-lo consigo”. (Revista Visão, 3 de abril de 2008, p. 12 apud MARQUES 2009, p. 39). No exemplo supracitado, percebemos, por duas vezes, a retomada ao termo “caracol” pelo pronome “o”, caracterizando, assim, a ocorrência da Anáfora Pronominal. • Anáfora Demonstrativa: faz uso dos pronomes demonstrativos para que haja a remissão de um termo anterior, haja vista que esse sentido possa ser interpretado a partir de uma demonstração indicada por pronomes demonstrativos ou termos que possam ser caracterizados também como demonstrativos. Exemplo 2: O cachorro de Débora é muito amoroso, porém o gato não gosta dele. Nesse exemplo, podemos ver o pronome demonstrativo “dele” fazer referência ao termo “cachorro”, caracterizando a Anáfora Demonstrativa. • Anáfora Associativa: é aquela realizada por meio de segmentos, referindo- se a um objeto no discurso que não foi mencionado explicitamente no texto. A interpretação dela pode ser feita, referencialmente, a partir de dados que são introduzidos no universo discursivo. • Anáfora por Hipônimo/hiperônimo: é efetuada a partir da utilização de hipônimos e hiperônimos como termos anafóricos. Hiperônimo pode ser compreendido como uma palavra que representa um significado mais abrangente que o seu hipônimo. Hiperônimos são palavras que possuem sentido genérico, por exemplo: flor é hiperônimo de margarida. Por outro lado, hipônimos são palavras que possuem significado específico, por exemplo: jatobá é hipônimo de árvore. FONTE: Adaptado de PAIVA, J. G. de; COSTA, E. B. G. da. A anáfora como mecanismo de referenciação nas redações dos alunos do curso FIC. In: JORNADA DO GRUPO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS DO NORDESTE – GELNE, 24, 2012, Natal. Anais [...]. Natal: EDUFRN, 2012. p. 3-4. Disponível em: https://bit.ly/3vKqvxX. Acesso em: 26 out. 2021. 82 Conheça o sinal de anáfora em libras, disponível em: https://bit.ly/3vJknpy. DICA Faz-se necessário afirmar que todas as relações usadas são de fundamental importância para que ocorra a anáfora, e, dessa forma haja a coesão textual. O mecanismo do anaforismo é muito comum em Língua de Sinais, sendo mais conhecido e dialogado na Língua de Sinais americana (LSA), chamada de Shiting ou Role-play, e é muito utilizado em contação de histórias. O recurso de anaforismo, ou Role-play, possibilita ao narrador, através de mudanças de postura corporal, incorporar os personagens. Com certeza, você já deve ter visto esse recurso de mudanças corporais ao assistir a uma peça de teatro ou uma contação de histórias em Língua de Sinais, mas talvez tenha pensado ser algo natural dentro das expressões faciais e corporais, porém, agora você já sabe que não se trata apenas de expressões corporais e sim um processo estruturado dentro da gramática das línguas de sinais chamado de anaforismo. Para entender melhor, observe na Figura 9 as categorias de anáforas na Libras. FIGURA 9 – CATEGORIAS DE ANÁFORAS NA LIBRAS FONTE: Reis e Pinheiro (2017, p. 12) 83 As anáforas em Libras têm como ponto de partida a Língua Portuguesa, isso pois o corpus em Libras “envolve diferentes projetos, compreendendo dados de fontes diversas e diretrizes para o registro dos dados e metadados em Libras” (QUADROS, 2017, p. 11). E para esses dados serem coletados em Libras, é preciso uma variedade de gêneros textuais (orais, sinalizados e/ou escritos) para o fim específico de registros, e como resultado temos um banco com várias produções em Libras, com exemplos de anáforas. Já a catáfora, tanto na LP como em LS, pode ser compreendida como uma representação de um elemento linguístico que, para que possa ter a interpretação correta, há um processo de referenciação, ou seja, um termo depende do outro que virá depois para completar o sentido do texto, assim há uma antecipação dos termos e, ao mesmo tempo, há uma introdução de uma nova informação. Aprecie os exemplos a seguir para compreender acerca da catáfora. • “Catarina olhou-o e disse: – Maria, vamos às compras?” No exemplo supracitado é perceptível a presença da catáfora uma vez que o termo antecedente (olhou- o) precede o referente (Maria). • “A reação a um novo aumento do preço do gás quer dizer isto: indignação”. Neste caso, o pronome demonstrativo “isto” faz referência ao termo “indignação”. A respeito do que já foi explanado até aqui sobre a coesão e a coerência, e a anáfora e a catáfora, devemos ter em mente que esses mecanismos são fundamentais para estabelecer uma boa ligação entre as orações de um período e entre os períodos de um parágrafo. Quando usamos de forma correta todos estes elementos no Português ou na Libras evitamos uma escrita de períodos muito longos que podem prejudicar a compreensão e se tornar cansativos para quem lê. Por isso, é fundamental que conheçamos esses termos e seus significados, pois são muito importantes quando escrevemos uma dissertação, redação, provas de concursos etc. Em resumo, quando estiver fazendo referência a um termo citado anteriormente, se trata de uma anáfora. Quando estiver antecipando um termo ou expressão que ainda será citado, é uma catáfora. Catáfora: substantivo feminino. Colocação de termos no final de uma frase que especificam e determinam algo anterior, mas introduzem uma informação nova; geralmente assinalados por isto é, ou seja, a saber, seguidos de dois-pontos. FONTE: Acesso em: 28 ago. 2021. NOTA 84 RESUMO DO TÓPICO 1 Assista ao vídeo Você sabe o que é anáfora e catáfora em LP? Disponível em: https://bit.ly/3tyf1i3. DICA 85 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A coesão faz uma ligação harmônica entre as palavras, utiliza conectivos ou elementos da gramática como forma de obter um texto claro e compreensível. Estes são responsáveis por estabelecer uma conexão de ideias e a interpretação correta. • Os conectores garantem que as ideias fiquem organizadas e a sequência textual seja mantida. São exemplos de conectores: pois, é, porque, que, mas, além disso, por exemplo, no entanto, isto é. • A correlação dos verbos em um texto coerente utiliza os tempos verbais de maneira adequada e, também, é um elemento importante para manter a coesão de um texto. • Para um texto ser coesivo, existem as formas remissivas gramaticais presas, que acompanham um nome, representadas por: artigos, pronomes, adjetivos, substantivos, os numerais, advérbios pronominais, formas verbais etc. • Existe outra modalidade de coesão proposta por Koch (2013, p. 52) que é a coesão referencial, “aquela através da qual se faz o texto avançar, garantindo-se, porém, a continuidade dos sentidos”. • Na coerência há o conhecimento linguístico que compreende o conhecimento gramatical e o lexical, com o uso dos artigos, as conjunções, os tempos verbais, a entonação, a subordinação e coordenação, os sinônimos, a ordem de palavras, dentre outros. • A coerência se dá a partir de um processo cooperativo entre aquele que produz o texto e aquele que recebe o texto, em que atuam os fatores linguísticos, pragmáticos, interacionais e oconhecimento de mundo. • Sobre a anáfora e catáfora, elas impedem a repetição excessiva e muito próxima de palavras, evitando que a leitura se torne cansativa, entediante e até mesmo confusa. • Existe a anáfora pronominal, ela ocorre quando um pronome é introduzido no texto e tem a função de retomar a outro termo que já foi dito, ou seja, o termo é retomado por um pronome, ele faz uma “ponte de sentido”. • Ainda há a anáfora demonstrativa, que faz uso dos pronomes demonstrativos para que haja a remissão de um termo anterior. • No caso da anáfora associativa, é aquela realizada por meio de segmentos, ela refere- se a um objeto no discurso que não foi mencionado explicitamente no texto. • Catáfora pode ser compreendida com sendo uma representação de um elemento linguístico, no qual há uma antecipação de um termo ou expressão que ainda será citado. 86 1 Fazem referência à coerência textual os elementos que são indispensáveis para a construção de sentidos de um texto. Analise as sentenças a seguir sobre esta afirmação. I- Na coesão textual os componentes devem estar conectados entre si em uma sequência linear por meio de dependências de ordem gramatical. II- Compreender o que está escrito vai depender somente dos níveis de interação entre o leitor, o autor e o texto. III- Por meio do uso adequado dos conectivos e dos mecanismos de coesão, podemos evitar erros no texto. IV- Entre os mecanismos de coesão estão a referência, a substituição, a elipse, a conjunção e a coesão lexical. Sobre a coesão textual, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Apenas V está correta. b) ( ) II e IV estão corretas. c) ( ) I, III e IV estão corretas. d) ( ) I e III estão corretas. e) ( ) II, IV e V estão corretas. 2 Quando estamos lendo uma frase, em muitas oportunidades, é preciso voltar algumas vezes para interpretá-la de modo correto. Nesse sentido, há um processo de referenciação que aponte e identifique o mecanismo de coesão textual. Aponte a seguir como se chama esse mecanismo. a) ( ) Catáfora. b) ( ) Anáfora. c) ( ) Elipse. d) ( ) Repetição. 3 De acordo com Koch (2004) e Adam (2008), existem vários tipos de anáforas, em LP. Cada uma delas desempenha um tipo de papel dentro da frase, e mais, utiliza-se de um determinado mecanismo para fazer isto. Sendo assim, leia e depois associe os itens, utilizando o código a seguir: I- Anáfora Pronominal. II- Anáfora por Hipônimo/hiperônimo III- Anáfora Demonstrativa. IV- Anáfora Associativa. AUTOATIVIDADE 87 ( ) Este tipo de anáfora ocorre quando um pronome é introduzido no texto e tem a função de retomar a outro termo que já foi dito, ou seja, o termo é retomado por um pronome, ele faz uma “ponte de sentido”. ( ) É aquela realizada por meio de segmentos, ela refere-se a um objeto no discurso que não foi mencionado explicitamente no texto, sua interpretação pode ser feita referencialmente a partir de dados que são introduzidos no universo discursivo. ( ) Efetuada a partir da utilização de hipônimos e hiperônimos, como termos anafóricos. Hiperônimo pode ser compreendido como sendo uma palavra que representa um significado mais abrangente que o seu hipônimo. ( ) Faz uso dos pronomes demonstrativos para que haja a remissão de um termo anterior, haja vista que esse sentido possa ser interpretado a partir de uma demonstração indicados por pronomes demonstrativos ou termos que possam ser caracterizados também demonstrativos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – IV – II – III. b) ( ) I – III – IV – II. c) ( ) IV – II – III – I. d) ( ) II – III – IV – I. 4 Os conectivos textuais articulam uma relação entre as palavras estabelecendo, tempos verbais, artigos, adjetivos entre outros elementos. Disserte sobre a importância destes conectivos para se escrever um bom texto, e se eles têm a mesma importância para línguas sinalizadas. 5 A coerência se dá a partir de um processo cooperativo entre aquele que produz o texto e aquele que recebe o texto, em que atuam os fatores linguísticos, pragmáticos, interacionais e o conhecimento de mundo. Percebe-se, também, que existem alguns tipos de coerência que contribuem para a construção de um texto. Disserte agora sobre três deles. 88 89 OS GÊNEROS TEXTUAIS 1 INTRODUÇÃO Já entendemos até aqui que o texto é um processo comunicativo, uma importante interação social entre as pessoas. Sobre a etimologia da palavra texto, Infante (1991) diz que a palavra texto provém do latim textum e significa “tecido, entrelaçamento”. Pode-se dizer, então, que o texto resulta de um trabalho de tecer, isto é, entrelaçar várias partes menores a fim de se obter ou se tornar um todo. Por exemplo, quando escrevemos um bilhete, uma carta, um e-mail, um poema ou uma receita, estamos construindo ideias, opiniões, pensamentos, como uma confecção de um tecido. Observamos que, à medida que escrevemos e colocamos vários conhecimentos cognitivos e sociais em prática, criamos modelos de textos, resultando, segundo Koch e Elias (2009, p. 54), naquilo que podemos chamar de “competência metagenérica, que diz respeito ao conhecimento de gêneros textuais, caracterização e função”. Tafner (2018, p. 4) chama atenção para o fato que, “durante boa parte do século XX, o texto foi definido como uma produção escrita, em linguagem cuidada, que expressava as informações de forma clara e objetiva”. Porém, com o passar dos anos e pesquisas relacionadas na área dos estudos linguísticos e da teoria da linguagem, o significado de texto passou a ser entendido como qualquer produção linguística, falada ou escrita, de tamanho variável, que possa fazer sentido numa situação de comunicação. Dentro desse contexto da importância do domínio da leitura e escrita dos textos, bem como saber compreendê-los, interpretá-los e diferenciá-los, neste tópico, iremos verificar os gêneros textuais, pois a compreensão deles contribuirá muito neste processo de aprendizagem. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - Competências vinculadas à metagenérica podem ser associadas aos quatro grandes sistemas de conhecimento, postulados por Heinemann e Viehweger (1991 apud KOCH, 2008), a saber: o linguístico, o enciclopédico, o interacional e o referente a modelos textuais globais. ATENÇÃO 90 2 APRESENTAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS Chamamos de gêneros textuais as produções, orais ou escritas, utilizadas em nossas relações sociais. Da mesma forma que fazemos uso de várias formas para se relacionar com as pessoas com diferentes formas de linguagem, também temos vários gêneros textuais. Conforme Bakhtin (2003, p. 284) mostra, “é preciso dominar bem os gêneros para empregá-los livremente”. Veja a Figura 10 que apresenta alguns dos gêneros textuais: A Figura 10 apresenta alguns gêneros utilizados no dia a dia, como por exemplo: bilhete, carta, cardápio, jornal etc. Koch e Elias (2009, p. 59-60) dissertam sobre os gêneros textuais destacando que eles são: “tipos relativamente estáveis de enunciados presentes em cada esfera de troca: os gêneros possuem uma forma de composição, um plano composicional [...]. Além do plano composicional, os gêneros distinguem-se pelo conteúdo temático e pelo estilo”. Para Koch e Elias (2009), os gêneros textuais não se caracterizam apenas pelos processos formais e informais, mas têm a ver com o tema e estilo envoltos pelos aspectos sociocomunicativos, resultando em uma infinidade de tipos. Os gêneros textuais são, portanto, elementos culturais construídos pelos indivíduos durante os processos de comunicação. Desse modo, o contexto em que são usados e os objetivos que pretendem atingir são importantes para sua conceituação. Existe muita similaridade entre gêneros textuais e tipos de textos, porém trata- se de categorias distintas de classificação textual, ainda que de certa forma estejam ligadas. Cada texto possui linguagem e estrutura específicas. Os textos se diferenciam tanto quanto à forma e ao conteúdo. Ao classificarum texto, todas essas características são levadas em conta. FIGURA 10 – GÊNEROS TEXTUAIS FONTE: . Acesso em: 10 set. 2021. 91 FIGURA 11 – TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS FONTE: . Acesso em: 20 set. 2021. A classificação dos gêneros textuais ocorre com base em seu conteúdo, enquanto os tipos textuais são classificados de acordo com a forma. Desse modo, os gêneros textuais são classificações existentes dentro dos modelos predefinidos de tipos textuais. Os gêneros possuem estruturas e conteúdos temáticos que facilitam sua definição. Portanto, em cada tipo de texto, existem gêneros específicos (ver Figura 11). Os gêneros textuais são passíveis de mudança e também são flexíveis. Observe alguns exemplos de gêneros textuais: romance, conto, fábula, lenda, notícia, carta, bula de medicamento, lista de compras, cardápio de restaurante, entre outros. Por outro lado, os tipos textuais têm classificações fixas. Estas definem e diferenciam o texto a partir da estrutura e dos aspectos linguísticos. Alguns exemplos de tipos textuais são: narrativo, descritivo, dissertativo e injuntivo (veremos no próximo tópico). Pode-se dizer que, o gênero textual é a parte concreta e a tipologia textual é a parte que integra um campo mais teórico, mais formal. Isso mostra que os tipos textuais são classificados pela linguagem que empregam e por meio de sua estrutura. Dessa forma, os tipos textuais, são caracterizados por traços que formam uma sequência de ideias. Observe a Figura 11 que expõe a diferença dos tipos e gêneros textuais: 92 Perceba como se diferenciam os tipos e os gêneros textuais. Note, por exemplo, que os tipos são mais restritos, enquanto os gêneros possuem uma gama bem grande. Há uma quantidade vasta de gêneros textuais, e estes circulam na nossa sociedade, e estão associados aos tipos de texto. Koch (2003) afirma que a competência sociocomunicativa de quem fala e de quem ler é que o conduz a distinção dos gêneros textuais. 2.1 OS DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS Os falantes de uma língua têm, a todo instante, contato com algum texto em sua língua, seja ele verbal ou não verbal. De forma que o contato com esses textos faz com que desenvolvam uma certa capacidade para diferenciar entre um texto e outro por meio de algumas características próprias de cada texto. Para Marcuschi e Koch (2002, p. 22-23): Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresenta características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. É como se os gêneros textuais estabilizassem os processos dos tipos textuais do nosso dia a dia, com bastante dinamicidade e maleabilidade. Assim, os gêneros textuais também possibilitam uma maior variedade linguística circulando dentro da sociedade ajudando a desfazer o abismo entre a oralidade e a escrita, um pensamento que, segundo Marcuschi e Koch (2002, p. 21), ainda “[...] inviabiliza de forma definitiva a velha visão dicotômica ainda presente em muitos manuais de ensino de língua”. Assim, pode-se dizer que, os gêneros textuais são formas de redação que apresentam características particulares definidas por seu conteúdo, seu estilo, sua estrutura e sua função. Assista ao vídeo Gêneros Textuais X Tipos de Textos. Disponível em: https://bit.ly/3IkCAz3. DICA 93 Observe como são muitos, e certamente você conhece e utiliza com frequência alguns deles. Entretanto, lembre-se de que esta lista não é exaustiva, isto é, há muitos outros gêneros textuais. Por esta razão vamos observar, a seguir, somente alguns dos gêneros textuais, até porque não teríamos como analisar cuidadosamente cada um deles em um único tópico. Para ver mais sobre os gêneros textuais, acesse o seguinte site: https://bit.ly/3jyEpP0. DICA Há uma quantidade enorme de gêneros textuais, cada qual com suas características específicas. Por exemplo, veja o Quadro 5 com alguns exemplos de gêneros textuais: QUADRO 5 – GÊNEROS TEXTUAIS FONTE: O autor 94 3 O USO DOS DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS Conforme mencionado, há uma quantidade vasta de gêneros textuais. Não é possível estudar todos eles aqui. Assim, vamos observar alguns deles, e, como comumente são usados. O critério para esta escolha foi aleatório. 3.1 ROMANCE O romance é uma obra literária que apresenta o que é chamado de narrativa em prosa. Tem como características: • o fato de ser normalmente longo, por meio de fatos criados ou relacionados aos personagens, e dividido em capítulos; • os personagens vivem diferentes conflitos ou situações dramáticas, numa sequência de tempo relativamente ampla; • a situação acontece em determinado tempo, que pode ser linear ou não linear, objetivo ou subjetivo, e em determinado espaço, onde as ações acontecem; • o romance conta uma história apresentada a partir de um encadeamento de eventos – isto é chamado enredo; • os personagens podem ser planos ou complexos, protagonistas, antagonistas, em quantidade que pode variar, mas que se relacionam a partir do conflito principal. O romance pode contar diferentes tipos de história, e por isso são classificados como: romance histórico, romance policial, romance de aventuras, romance regional, romance urbano, romance autorreflexivo etc. São exemplos de romance: • Angústia, de Graciliano Ramos; • O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós; • O Guarani, de José de Alencar; • Capitães da Areia, de Jorge Amado; • Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa; • O Gaúcho, de José de Alencar etc. Observe o exemplo do trecho de um romance: O senhor Sherlock Holmes, que sempre se levantava muito tarde, exceto nas ocasiões nada raras em que não dormia por toda a noite, estava tomando o café. Eu, que me achava de pé perto da chaminé, agachei-me para pegar a bengala esquecida por nosso visitante da noite anterior. [...]. Era exatamente a classe de bengala que costumavam levar os antigos médicos de cabeceira: digna, sólida e que inspirava confiança. — Vejamos, Watson, a que conclusões chega? FONTE: DOYLE, A. C. O cão dos Baskerville. Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 7. E-book. Disponível em: https://bit.ly/3vJiMju. Acesso em: 25 out. 2021. 95 3.2 POEMA O poema é um texto normalmente organizado em versos e caracterizado pelo uso de figuras de linguagem, por exemplo: a metáfora, a assonância e a aliteração. A palavra "poema" deriva do verbo grego poiéo, que significa "fazer, criar, compor". O poema comumente é formado por versos e estrofes. Varia muito em relação ao estilo, extensão (tamanho) ou temática. Encontramos poemas pequenos como um haicai (de apenas três versos), ou um soneto (de quatro estrofes). Eles podem possuir métrica e rima, como no caso de um soneto, ou não, como no caso dos poemas modernistas. Entretanto, precisamos lembrar que há outras formas de poemas, por exemplo: há poemas em prosa, bem como poemas que aliam elementos visuais à linguagem verbal, contrariando, assim, a ideia de que o poema deve prender-se a regras como métrica ou rimas. O lado fascinante dos poemas é que a linguagem deles vai além de sua função meramente comunicativa, e faz com que eles se tornem objetos artísticos por excelência. Observe algumas características que um poema apresenta: • Versos: regulares: com métrica e rima; brancos: com métrica e sem rima; livres: sem métrica e sem rima. • Estrofes: dístico: dois versos; terceto: três versos; quadra ou quarteto: quatro versos; quinteto ou quintilha: cinco versos; sexteto ou sextilha: seis versos; sétima ou septilha: sete versos; oitava: oito versos; novena ou nona: nove versos; décima: dez versos. • Rima: externa: sons semelhantes no final de diferentes versões; interna: rima entre a palavra final de um verso4.2 PRONOME DEMONSTRATIVO ......................................................................................................... 27 4.3 PRONOME POSSESSIVO .................................................................................................................. 27 4.4 PRONOME INTERROGATIVO ........................................................................................................... 27 4.5 PRONOME RELATIVO .......................................................................................................................28 4.6 PRONOME INDEFINIDO......................................................................................................................28 5 O NUMERAL ..................................................................................................................... 29 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 32 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 33 TÓPICO 3 - O VERBO, O ADVÉRBIO E A INTERJEIÇÃO ..................................................... 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 35 2 O VERBO .......................................................................................................................... 35 2.1 MODO ....................................................................................................................................................36 2.2 TEMPO ................................................................................................................................................... 37 2.3 VOZ ........................................................................................................................................................39 2.4 NÚMERO ..............................................................................................................................................39 2.5 PESSOA .................................................................................................................................................39 3 CONJUGAÇÕES DO VERBO ............................................................................................. 41 4 A INTERJEIÇÃO ................................................................................................................ 44 5 O ADVÉRBIO ......................................................................................................................47 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 50 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 54 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 55 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................57 UNIDADE 2 — ELEMENTOS TEXTUAIS NA LÍNGUA PORTUGUESA ...................................59 TÓPICO 1 — COESÃO E COERÊNCIA .................................................................................... 61 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 61 2 COESÃO ........................................................................................................................... 63 3 COERÊNCIA .......................................................................................................................73 4 ANÁFORA E CATÁFORA ...................................................................................................79 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 85 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 86 TÓPICO 2 - OS GÊNEROS TEXTUAIS ................................................................................. 89 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 89 2 APRESENTAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS ................................................................. 90 2.1 OS DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS ..........................................................................................92 3 O USO DOS DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS ............................................................. 94 3.1 ROMANCE ..............................................................................................................................................94 3.2 POEMA ...................................................................................................................................................95 3.3 RESENHA ..............................................................................................................................................96 3.4 E-MAIL ................................................................................................................................................... 97 3.5 VERBETE DE DICIONÁRIO ................................................................................................................98 3.6 BILHETE ................................................................................................................................................99 3.7 CRÔNICA .............................................................................................................................................100 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................102 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................103 TÓPICO 3 - OS DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS ..............................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................105 2 O TEXTO NARRATIVO .....................................................................................................107 3 O TEXTO DISSERTATIVO ................................................................................................ 110 4 O TEXTO DESCRITIVO .................................................................................................... 112 5 O TEXTO INJUNTIVO ....................................................................................................... 114 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................120 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 121 UNIDADE 3 — LÍNGUA PORTUGUESA E LIBRAS: BILINGUISMO, PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL ......................................................................125 TÓPICO 1 — PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS................................................ 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 127 2 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS ....................................................................129 3 MÉTODOS E TÉCNICAS NA PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL ...................... 131 4 PRODUÇÃO TEXTUAL ....................................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................e outra do interior do verso seguinte; rica: entre palavras pertencentes a diferentes classes gramaticais; pobre: entre palavras pertencentes à mesma classe gramatical etc. A prosa é um texto corrido. É a representação na escrita de uma linguagem corrente e natural, utilizada espontaneamente para expressar ideias, raciocínios e situações. É, assim, uma narrativa linear, contínua e objetiva. Características da prosa: • os textos são estruturados em linhas contínuas e divididos em parágrafos; • apresenta um estilo textual próximo da linguagem cotidiana; • recorre a um discurso livre, direto e linear; • utiliza predominantemente uma linguagem denotativa e literal; • expressa um pensamento racional, analítico, objetivo e real; • não está sujeita à estrutura, rima, ritmo e musicalidade da poesia. FONTE: . Acesso em: 26 set. 2021. IMPORTANTE 96 Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles são exemplos de autores brasileiros cuja poesia está marcada em nossa história. Acompanhe o poema bem conhecido de Drummond, No meio do caminho, publicado em 1928. NO MEIO DO CAMINHO Carlos Drummond de Andrade No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. Assista ao vídeo com a interpretação do Poema No meio do Caminho em várias línguas, é bem interessante. Disponível em: https://bit.ly/3fykgGc. DICA 3.3 RESENHA A resenha é um gênero textual geralmente usado para descrever e analisar outra produção textual – que pode variar de obras literárias aos mais diversos livros, artigos, e até tratados. De certa forma, todos os livros podem ser resenhados. Trata-se de um comentário sobre um filme ou um livro. Além de apresentar o objeto resenhado, a resenha tem caráter crítico, isto é, ela emite a opinião de seu autor. É uma abordagem para a construção de relações entre as propriedades de um determinado objeto, analisando-o, descrevendo-o e enumerando aspectos considerados relevantes sobre aquele objeto. Ela também é um texto que serve para apresentar outro, que seja desconhecido do leitor. 97 “O livro de Álvaro Marchesi é instigador em vários sentidos, a começar pelo título. Trata-se de uma obra que retoma os problemas de aprendizagem em suas múltiplas perspectivas, mostrando que é possível estabelecer políticas efetivas para enfrentar o problema do fracasso escolar. [...] É sempre instigador pensarmos que, apesar de haver enorme quantidade de pesquisas sobre o tema do fracasso escolar, tão pouco tenha mudado nas últimas décadas. Álvaro Marchesi ajuda-nos a entender a razão desse fato. [...]” FONTE: . Acesso em: 25 set. 2021. É muito utilizada no jornalismo como uma forma de prestação de serviço, pois trata-se de um texto de origem opinativa sobre o que está sendo mostrado. O objeto da resenha pode ser de qualquer natureza: filme, livro, notícia, política, peça de teatro, um jogo de futebol. Ela pode ser uma resenha descritiva ou crítica. A resenha descritiva refere- se a uma descrição minuciosa de um determinado objeto, ou seja, uma obra literária, filme ou outra expressão artística. Nesse formato não há espaço para a opinião do autor, sendo, portanto, uma composição informativa. Por outro lado, a resenha crítica consiste na elaboração de um resumo de uma obra em questão, seguida da escolha das ideias principais, e elaboração de um juízo sobre o valor da obra. Diferentemente da resenha descritiva, na resenha crítica há espaço para que o autor apresente teses sobre o tema abordado, sendo, então, um texto de natureza informativo-argumentativa. Algumas características importantes desse gênero são: objetividade; concisão; utilização de um método claro e objetivo; uso da norma-padrão da língua. Veja o exemplo de um trecho de uma resenha: 3.4 E-MAIL A carta é um dos gêneros textuais e ainda continua em uso, porém, diminuiu muito, especialmente por causa do uso dos e-mails. E-mail é um gênero novo, que surgiu com a chegada da internet. De certa forma, veio a substituir, em grande parte, a carta, por ser uma forma muito mais rápida e fácil de envio de mensagens para pessoas que estão longe. Hoje em dia, seu uso é muito comum, fácil, prático e extremamente utilizado diariamente. Algumas das características do e-mail: 98 • a norma culta padrão da língua portuguesa não é uma exigência na escrita; • a mensagem eletrônica é variável, ou seja, poderá ser um texto formal, informal ou até mesmo uma mensagem curta; • há a possibilidade de anexar conteúdo não verbal à mensagem, como fotos, vídeos e áudios; • não demanda despesa, e pode ser lida e respondida em tempo real; • de forma automática, tanto a data, como também o horário, ficam gravados no sistema, o que possibilita o armazenamento do conteúdo recebido e enviado; • são utilizados por pessoas conhecidas, mas também entre empresas e instituições. Exemplo de um e-mail informal: De: João Data: terça-feira, 12 de maio de 2014, 13:45 Para: Celso Assunto: As férias E aí, Celso! Tudo tranquilo? Então, acabei de voltar de férias e tenho uma ótima sugestão de viagem pra você. Eu viajei para lugar muito legal chamado Foz do Iguaçu, no Paraná, e vi muitas coisas interessantes. Tenho uma tia que mora lá e ela me mostrou coisas muito bonitas, especialmente as Cataratas. Minha tia é professora e trabalha numa escola para crianças no centro da cidade. Ela me levou para conhecer as Cataratas. É incrível aquele lugar! A visita foi show e tirei várias fotos. Te mando em anexo. Cê vai adorar! E você? Curtiu bem as férias? O que você fez? Espero que tenha se divertido tanto quanto eu! Bem, as aulas retornam na próxima semana. A gente se encontra na escola. Um abraço, cara! Valeu! João Anexo: FONTE: O autor 3.5 VERBETE DE DICIONÁRIO O verbete de dicionário é um texto que procura, da forma mais sintética e objetiva possível, definir uma palavra, dando conta de suas mais variadas acepções. Muito utilizado para buscarmos o significado correto da palavra, bem como os seus sinônimos. Alguns dicionários vão além, apresentam a classe de palavras à qual pertence a palavra procurada, bem como a sua etimologia. 99 3.6 BILHETE Certamente você já mandou um bilhete para alguém, ou recebeu um. O bilhete é um texto bastante útil e usado no nosso cotidiano. É bastante utilizado como meio informativo, principalmente quando relacionado a pessoas mais próximas, com certo grau de intimidade. Não possui uma forma fixa e geralmente é breve. O alvo é comunicar alguma coisa de forma rápida para outra pessoa. Por ser um texto pessoal, normalmente é assinado pelo seu autor, ou quem o recebe sabe sua origem. Podemos destacar algumas características do bilhete e do seu uso: • a linguagem é informal; • mensagens curtas; • é permitido a utilização de apelidos, abreviações etc.; • usado para fazer um convite; • usado para deixar um recado; • usado para comunicar um pedido, uma novidade etc. Exemplo de um bilhete: Aleatório: Significado de Aleatório adjetivo Dependente de situações desconhecidas, incertas; ao acaso. Não estabelecido por regras certas, fixas: escolha feita de maneira aleatória. [Física] condicionado por leis de probabilidade; refere-se aos fenômenos físicos cujas variáveis são determinadas por leis de probabilidade. Etimologia (origem da palavra aleatório). Do latim aleatorius.a.um. FONTE: . Acesso em: 25 set. 2021. Selma, Preciso te contar uma novidade, mas só quando chegar em casa. Mais tarde passe lá para conversarmos. É muita coisa... acho que você vai gostar! Bjs, Simone – 21/09/2019 FONTE: O autor Exemplo: 100 3.7 CRÔNICAA palavra crônica tem sua origem na palavra grega khrónos, que significa tempo, prazo. A crônica se trata de um texto narrativo curto, focado numa única situação de conflito e escrito em linguagem coloquial. Normalmente, as crônicas têm, como assunto preferencial, os pequenos conflitos do cotidiano. Elas possuem uma linguagem simples que retrata os aspectos da vida cotidiana e, muitas vezes, com toques de humor ou ironia. Na Europa medieval e renascentista, as crônicas eram textos que faziam relatos dos fatos históricos. Hodiernamente, são publicadas em jornais e revistas, impressos ou eletrônicos. Nelas, são encontrados relatos da vida social, dos costumes, da política e do cotidiano. Conforme Amaral (2008), as características desse gênero são registradas ora de modo mais literário, ora mais jornalístico. Geralmente, o “cronista” procura inspiração para os seus textos nos acontecimentos recentes ou em situações do cotidiano e convida o leitor a olhar para o mundo como ele o vê. Amaral (2008, p. 13) afirma que há, atualmente, diferentes estilos de crônicas, que podem ser classificadas em três grandes grupos: “as poéticas, as humorísticas e as que se aproximam dos ensaios”. O Brasil, desde o século XIX, tem tido um bom desenvolvimento na escrita de crônicas, e vários autores se destacaram no uso deste gênero, como, Machado de Assis, José de Alencar, Rubem Braga, Fernando Sabino, Luís Fernando Veríssimo, João do Rio, Cecília Meireles, Lima Barreto, Vinícius de Moraes, Nelson Rodrigues etc. Veja um exemplo de um trecho de uma crônica: Assim, podemos perceber que, dentre as mais diversas importâncias dos gêne- ros textuais, eles também têm uma função social relevante. São unidades formadoras de sentido, de propósitos com intencionalidades discursivas. Por isso, são extremamente perceptíveis e usadas. Os exemplos que vimos até aqui atestam para isto. “Ora, uma noite, correu a notícia de que o bazar se incendiara. E foi uma espécie de festa fantástica. O fogo ia muito alto, o céu ficava todo rubro, voavam chispas e labaredas pelo bairro todo. As crianças queriam ver o incêndio de perto, não se contentavam com portas e janelas, fugiam para a rua, onde brilhavam bombeiros entre jorros d’água. A eles não interessava nada, peças de pano, cetins, cretones, cobertores, que os adultos lamentavam. Sofriam pelos cavalinhos e bonecas, os trens e os palhaços, fechados, sufocados em suas grandes caixas” (Trecho de Brinquedos Incendiados, da escritora Cecília Meireles). FONTE: . Acesso em: 25 out. 2021. 101 Destacamos ainda que, todo o conteúdo explanado até o momento também se aplica às línguas de sinais, mas não como sendo uma adaptação da gramática da língua falada no país, como no nosso caso temos a língua portuguesa, porém, dentro dos seus níveis linguísticos que correspondem: a fonologia, a morfologia, a sintaxe, a semântica, a pragmática. O discurso sinalizado, independente do gênero textual que ele acontece precisa seguir critérios gramaticais. Você pode conhecer um pouco mais de alguns gêneros textuais por meio do vídeo a seguir. Vale a pena, pois quanto mais você conhecer a respeito de cada um deles, isto facilitará a compreensão dos diversos textos que nos deparamos no cotidiano, assim como também auxiliará no uso de alguns deles. Aproveite para aprender os sinais de (gênero textuais, fabulas, personagens) com o vídeo Português – Gênero Textual – Fábula – Libras, do canal Sala 8. Disponível em: https://bit.ly/33McrtK. DICA Assista ao vídeo Gêneros Textuais, do canal Resumos Animados. Disponível em: https://bit.ly/3KlM4M8. DICA 102 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Chamamos de gêneros textuais produções, orais ou escritas, utilizadas em nossas relações sociais. • Conforme Bakhtin (2003), um gênero textual pode ser caracterizado livremente segundo suas características. • Os gêneros textuais são elementos culturais construídos pelos indivíduos durante os processos de comunicação. • Os tipos textuais são: narrativo, descritivo, dissertativo e injuntivo. • Pode-se dizer que o gênero textual é a parte concreta e a tipologia textual é a parte que integra um campo mais teórico, mais formal. • O romance é uma obra literária que apresenta o que é chamado de narrativa em prosa. Pode contar diferentes tipos de história, e por isso são classificados como: romance histórico, romance policial, romance de aventuras, romance regional, romance urbano, romance autorreflexivo etc. • E-mail é um gênero novo, que surgiu com a chegada da internet. De certa forma, veio a substituir, em grande parte, a carta, por ser uma forma muito mais rápida e fácil de envio de mensagens para pessoas que estão longe. Hoje em dia seu uso é muito comum, fácil, prático e extremamente utilizado diariamente. • A resenha é um gênero textual geralmente usado para descrever e analisar outra produção textual – que pode variar de obras literárias aos mais diversos livros, artigos e até tratados. Ela pode ser uma resenha descritiva ou crítica. • O poema comumente é formado por versos e estrofes. Varia muito em relação ao estilo, extensão (tamanho) ou temática. Eles podem possuir métrica e rima, como no caso de um soneto, ou não, como no caso dos poemas modernistas. • A palavra crônica tem sua origem na palavra grega khrónos, que significa tempo, prazo. A crônica se trata de um texto narrativo curto, focado numa única situação de conflito e escrito em linguagem coloquial. 103 1 Muitas pessoas confundem tipos e gêneros textuais. De fato, há uma linha tênue que separa estas categorias. Porém, conforme foi visto no texto eles são diferentes. Assim, analise as alternativas na sequência e assinale aquela que apresenta a alternativa CORRETA em que aparecem somente os gêneros textuais. a) ( ) Narrativo, dissertativo, descritivo e injuntivo. b) ( ) Romance, dissertativo, e-mail e injuntivo. c) ( ) Narrativo, conto, descritivo e poema. d) ( ) Resenha, bilhete, poema e verbete de dicionário. 2 Conforme foi estudado, há uma quantidade vasta de gêneros textuais. Dentre eles, a resenha. Assim, discorra sobre a resenha e apresente as características deste gênero textual. 3 Como profissional da educação você quer trabalhar gênero textual em sua turma de alfabetização que é composta de alunos ouvintes e surdos. Como exemplo, temos a figura a seguir representando o gênero literário. Disserte sobre quais estratégias usar para ensinar gênero textual a alunos Surdos igualmente aos alunos ouvintes. 4 Ainda se confunde os tipos e gêneros textuais, pois há uma linha tênue que separa estas categorias. Entretanto, conforme foi visto no texto, eles são diferentes. Assim, analise as alternativas na sequência e assinale aquela que apresenta a alternativa CORRETA de tipos textuais. AUTOATIVIDADE FIGURA – A BELA E A FERA FONTE: Acesso em: 20 set. 2021. RESUMO DO TÓPICO 2 104 a) ( ) Narrativo, dissertativo, descritivo e injuntivo. b) ( ) Conto, dissertativo, e-mail e injuntivo. c) ( ) Narrativo, fábula, descritivo e poema. d) ( ) Resenha, bilhete, poema e verbete de dicionário. 5 Conforme foi estudado, há uma quantidade vasta de gêneros textuais. Dentre eles você pode conhecer um melhor sobre o e-mail. Sendo assim, discorra sobre o e-mail e apresente as características deste gênero textual. 105 TÓPICO 3 - OS DIFERENTES TIPOS DE TEXTOS 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, nós estudaremos, de modo mais aprofundado, os diferentes tipos de textos. No decorrer desta etapa, você conhecerá as principais características e o funcionamento de cada um dos tipos textuais. A partir desta análise, você compreenderá que cada um deles possui determinada função dentro da língua portuguesa. Conhecer e saber diferenciar os tipos de textos (ou tipologia textual) da língua portuguesa que lemos ou escrevemos possibilita enormes ganhospara o estudante, por exemplo: o conhecimento das características que constituem os tipos textuais dá ao autor a possibilidade de deixar mais claras as suas intenções ao escrever o texto. De acordo com Travaglia (2007), os tipos textuais podem ser divididos em: • texto descritivo, dissertativo, injuntivo, narrativo; • texto argumentativo stricto sensu e argumentativo não – stricto sensu; • texto preditivo e não preditivo; • texto do mundo comentado e do mundo narrado; • texto lírico, épico/narrativo e dramático; • texto humorístico e não humorístico; • texto literário e não literário. Para nossos estudos aqui, nos deteremos nos textos descritivo, dissertativo, injuntivo e narrativo. Sobre os quais podemos, inicialmente, pensar da seguinte forma: • na descrição, visa-se, ao caracterizar, dizer como é o objeto do dizer; • na dissertação, busca-se o refletir, o explicar, o avaliar, o conceituar, expor ideias para dar a conhecer, para fazer saber, associando-se à análise e à síntese de representações; • na injunção, objetiva-se dizer a ação requerida, desejada, é dizer o que e/ou como fazer e assim incitar o alocutário à realização da situação; • na narração, o objetivo é contar, dizer os fatos, os acontecimentos, entendidos estes como os episódios, a ação em sua ocorrência. Conforme Travaglia (1991, p. 49-50), “a descrição e a dissertação são discursos do saber/conhecer e a narração e a injunção são discursos do fazer/acontecer”. É importante lembrar novamente que gêneros e tipos textuais são duas coisas distintas, ainda que relacionadas uma à outra. O Quadro 6 apresenta algumas das diferenças entre tipos textuais e gêneros textuais. UNIDADE 2 106 QUADRO 6 – TIPOS E GÊNEROS TEXTUAIS FONTE: Marcuschi e Koch (2002, p. 22-23) Você pode observar no Quadro 6 que, apesar de se parecerem bastante, perceba, especialmente no Item 4, as diferenças entre ambos para que possa ir distinguindo-os. Os gêneros textuais são muitos (conforme já observado no tópico anterior). Os tipos textuais apresentam uma quantidade bem menor. Dentre os tipos textuais mais conhecidos estão: os textos narrativos, dissertativos, descritivos e injuntivos. É exatamente sobre eles que vamos nos ater de uma maneira mais detalhada na sequência. Ao discorrer sobre os tipos textuais Marcuschi (2008, p. 154) salienta que, Tipo textual designa uma espécie de construção teórica (em geral uma sequência subjacente aos textos) definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo). O tipo caracteriza-se muito mais como sequências linguísticas (sequências teóricas) do que como textos materializados; a rigor, são modos textuais. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. Marcuschi (2008, p. 154) corrobora com o fato é que havíamos apresentado sobre as diferenças entre gêneros e tipos textuais (ver Quadro 6), especialmente ao destacar a “meia dúzia de categorias conhecidas”. Fique atento neste aspecto! 107 2 O TEXTO NARRATIVO Iniciaremos nossos estudos a respeito dos diferentes tipos de textos com o texto narrativo. Este é um dos tipos textuais mais conhecidos, reconhecidos e utilizados na leitura e escrita. Conforme Pasqualini e Pianezzer (2018, p. 17), o texto narrativo “é um tipo de texto real ou ficcional, em que se conta uma história, um acontecimento ou um ato. Na linguagem profissional, seu uso é frequente em relatórios, termos de audiências e atas, dentre outros. É também muito explorado na literatura”. O texto narrativo é composto por alguns elementos bem conhecidos: narrador, personagens, espaço, tempo e enredo, que fazem parte da narrativa literária. Eles são recursos dos quais o escritor lança mão para a dinamização das personagens e do enredo, com o intuito de atrair a atenção do leitor. Para Travaglia (1991), o tipo narrativo tem como conteúdo temático os acontecimentos ou fatos organizados em episódios (indicação e detalhamento – geralmente por meio de descrição – de lugar, tempo, participantes/actantes/ personagens + acontecimento: ações, fatos ou fenômenos que ocorrem). No caso da espécie história da narração, os episódios aparecem encadeados entre si caminhando para um desfecho ou resolução e um resultado. Já na espécie não história da narração, os episódios estão lado a lado no texto, mas não se encadeiam, conduzindo a uma resolução e a um resultado. Vamos observar mais de perto cada um dos elementos da narrativa: • Narrador: é aquele que conta a história. O narrador pode ser onisciente neutro, onisciente intruso ou personagem. • Tempo: retrata o momento em que acontecem os fatos. Pode ser o tempo cronológico, isto é, marcado por datas específicas, como anos, meses ou horas; ou também o tempo psicológico, que está relacionado às memórias e sentimentos dos personagens. • Personagem: é aquele que compõe a história que está sendo narrada. De acordo com Andrade e Medeiros (2001), os personagens dividem-se em: a) protagonista, que é o herói, ou a figura de maior importância dentro da narrativa; b) antagonista, que se opõe ao protagonista, ou seja, o vilão; c) narrador, que é aquele cuja responsabilidade é apresentar os fatos; d) e as personagens secundárias, que têm pouco relevo na narrativa. Há também os coadjuvantes e figurantes. Os personagens principais são fundamentais para o desenrolar da narração. O protagonista é aquele que deseja algo, que tenta. É, geralmente, o personagem principal, “bonzinho” da história. Já o antagonista é aquele que atrapalha os planos, que dificulta. É o personagem “malvado” da história. Os personagens secundários ocupam espaços de menor destaque nas narrativas, sendo divididos em coadjuvantes, que sempre participam junto ao personagem principal em cenas de menos destaque, e figurantes, que ajudam na caracterização de um determinado ambiente. 108 • Espaço: é o local no qual a narração ocorre. É onde se passa a história. O espaço pode ser físico: “No quarto, a anfitriã arrumava-se para a festa”; psicológico: “O menino viajava em seus pensamentos enquanto a mãe ordenava que ele se aprontasse”; e social: “Por entre os convidados, ele sentia-se perdido”. De acordo com Andrade e Medeiros (2001), não é necessário descrever minuciosamente o local, a não ser que isso seja fundamental para que se compreenda o enredo da trama. • Enredo: é a história em si. É a ação vivida pelos personagens e narrada pelo narrador. As ações ocorrem, geralmente, de forma sucessiva e ordenada. De acordo com Andrade e Medeiros (2001), a narrativa estrutura-se em quatro fases. A primeira é a criação da expectativa, ou seja, o momento no qual são apresentados o espaço, o tempo, os personagens. Em seguida, há a quebra da expectativa, que é resultado da movimentação dos personagens. A terceira fase é a tentativa de resolução do conflito, que busca solucionar o problema do enredo, e a avaliação constitui a última fase, que é uma lição de moral ou uma conclusão acerca do que ocorreu ao longo da narrativa. Observe, na sequência, a Figura 12 que apresenta os elementos que normalmente compõem o texto narrativo. No texto narrativo objetiva-se contar, dizer os fatos, os acontecimentos, entendidos como episódios, isto é, a ação em sua ocorrência. Alguns exemplos de textos narrativos: atas, notícias, peças de teatro, romances, novelas (literárias, de rádio e TV), contos, contos de fadas, fábulas, apólogos, parábolas, mitos, lendas, anedotas, piadas, fofoca, caso, biografia, epopeia, poema heroico, poema burlesco etc. Podem ser incluídos aqui os gêneros em que há fusão com o tipo dramático: comédia, tragédia, drama, farsa, auto, esquete, ópera, vaudeville etc. Vejamos um exemplo específico de texto narrativo: FIGURA 12 – ELEMENTOS DO TEXTO NARRATIVO FONTE: . Acesso em: 22 set.2021. 109 Para escrever um bom texto narrativo é preciso saber construir a história e descrever bem os personagens e suas características como forma física e seu estado psicológico. Perceba que no exemplo citado mostra que o personagem do Burro se disfarçou em pele de leão, e os animais fugiram apavorados, mas depois que ele rugiu e não tinha rugido de leão, ficou claro que não era um leão, e a raposa riu dele. Conseguiu imaginar a cena? Bem, ao discorrer na narrativa é preciso mostrar o que cada envolvido na história faz e todo o contexto, e ao final é hora de apresentar os fatos e seus desdobramentos. Sabemos que você já leu alguns livros, seja de contos ou outros. Tente pensar em uma narrativa que mais gostou. Lembra-se dos personagens e suas características? Que ações desempenharam? Onde e quando aconteceram as ações? Ao responder a essas perguntas, você organizará os elementos de uma narrativa. FIGURA 13 – TEXTO NARRATIVO FONTE: Acesso em: 12 set. 2021. Importante para um texto narrativo: “Em um discurso indireto, a fala da personagem é mediada pelo “narrador”. [...] discurso indireto é marcado pela subordinação” (DIAS, 2019, p. 21). DICA 110 3 O TEXTO DISSERTATIVO No texto dissertativo busca-se refletir, explicar, avaliar, conceituar, expor ideias para dar a conhecer, para fazer saber, associando-se à análise e à síntese de representações. Neste tipo, o que importa como informação são as entidades, as proposições sobre elas e as relações entre estas proposições, sobretudo as de condicionalidade, causa/consequência, de oposição (ou contra junção), as de adição (ou conjunção), de disjunção, de especificação, inclusive exemplificação, de ampliação, de comprovação etc. Veja alguns exemplos de textos dissertativos: tese, dissertação de mestrado, artigo acadêmico-científico, editorial de jornal, monografia, conferência, artigo de divulgação científica etc. O texto dissertativo (ou expositivo) busca sempre falar de determinado assunto. Observe a Figura 14, na qual temos dois textos que tratam do mesmo assunto – o Natal –, porém, um faz uma exposição sobre o que é o Natal, o outro, faz uma argumentação sobre o ele. FIGURA 14 – EXEMPLO DE TEXTOS DISSERTATIVOS FONTE: Acesso em: 12 set. 2021. O texto dissertativo expositivo tem um formato de escrita que busca defender uma ideia central a partir de opiniões, dados, levantamentos, estatísticas, fatos. Pode- se dizer que é o texto que mais usamos no nosso dia a dia. 111 FIGURA 15 – TEXTO ARGUMENTATIVO FONTE: Acesso em: 12 set. 2021. No tipo textual dissertativo expositivo, o autor do texto expõe/apresenta ideias, fatos, fenômenos. Por ser de caráter expositivo, não se busca convencer o leitor em relação ao ponto de vista – pressupõe-se, assim, que a dissertação expositiva apenas apresenta a ideia, o fato ou o fenômeno. A dissertação expositiva é tipicamente em terceira pessoa (ou impessoal), uma vez que o autor discorre sobre algo. Em relação à exposição sem defesa de um ponto de vista, há a seguinte ilustração: pode-se discorrer (dissertar) sobre partidos políticos com absoluta isenção, apresentado os diversos partidos em totalidade, dando a eles a ideia exata, sem tentar convencer o meu leitor das qualidades ou falhas de partido A ou B. Não procuro, nesse caso, formar a opinião de meu leitor; ao contrário, deixo-o em inteira liberdade de se decidir por se filiar a determinado partido (PILASTRI, 2019b, p. 6-7). O tipo textual de dissertação argumentativa normalmente se posiciona sobre certo assunto. É o mais recorrente em processos, concursos públicos, dissertações, teses, avaliações, artigos, editoriais, resenha crítica, memoriais, carta de apresentação etc. Observe a Figura 15 que apresenta uma forma de texto argumentativo. Você percebe como em pequenas frases, o menino construiu seus argumentos para justificar o fato de não ter feito sua tarefa? Trata-se de um texto argumentativo. O texto argumentativo é construído a partir de um parágrafo inicial e objetivo, mas que apresenta a ideia central do texto, fazendo uso de argumentos verdadeiros, fundamentados e convincentes. No exemplo da tirinha, o aluno faz de tudo para argumentar o porquê do motivo de não ter feito a tarefa. De início, o computador pegou um vírus que se espalhou para o lápis e depois pelas canetas. O que a professora iria argumentar de volta, se o computador, o lápis e canetas estavam todos contaminados? Essa era uma prova irrefutável talvez? Note o que Pilastri (2019, p. 8), fala sobre o texto argumentativo: 112 [...] a argumentação é sua consistência, sua fundamentação. Os estudos clássicos defendem que a argumentação é fundamentada em dois elementos principais: a consistência do raciocínio e a evidência das provas. Vou expor, em mais detalhes, o segundo aspecto: a evidência das provas. Há cinco tipos mais comuns de evidência das provas: os fatos; os exemplos; as ilustrações; os dados estatísticos; e o testemunho. Pilastri (2019b) nos apresenta dois elementos primordiais na fundamentação das provas, e se atém em um deles: as evidências/provas. Quando levantamos nossos argumentos, não basta simplesmente dizer qualquer coisa, mas se basear em evidências. Conforme Pilastri (2019b), estas evidências podem ser apresentadas por pelo menos cinco tipos que ele menciona. Atente-se para este fato ao redigir um texto argumentativo. 4 O TEXTO DESCRITIVO O tipo textual descritivo vai se caracterizar por trazer a localização do objeto de descrição (não obrigatoriamente), características (cores, formas, dimensões, texturas, modos de ser etc.) e/ou componentes ou partes do “objeto” descrito. Têm sido relacionadas a este tipo de texto algumas espécies que se caracterizam por aspectos de conteúdo, às vezes, em conjugação com aspectos formais: • segundo a tradição dos estudos tipológicos (classificatórios) de textos, na descrição objetiva o produtor do texto se guia exclusivamente pelo objeto visto como algo exterior ou não ao falante, ou seja, o conteúdo são a localização, as características e componentes ou partes do objeto de descrição sem interferência do estado emocional, afetivo, psicológico de quem diz, enquanto na descrição subjetiva tem- se o tipo de informação própria do tipo descritivo (localização, características, partes ou elementos) fundida a uma expressão dos sentimentos, afetividade e estados psicológicos daquele que diz; • a descrição estática tem como conteúdo dizer como são objetos e seres, já a dinâmica caracteriza movimentos, eventos (uma dança, uma tempestade, uma festa), dizendo como são. Dizer como algo é constitui o objetivo da descrição, como veremos adiante; • Travaglia (1991) propôs a distinção de duas espécies de descrição: a comentadora e a narradora. A narradora se refere sempre a um exemplar único do elemento descrito (acontecimento, ser, coisa, objeto etc.) e a comentadora se refere sempre a uma classe de elemento descrito. Por exemplo, uma descrição narradora diria como foi a festa de casamento de minha filha, enquanto uma descrição comentadora diria como são as festas de casamento em geral, em qualquer lugar ou época ou pelo menos em uma dada sociedade. Na sequência, veja a Figura 16, que mostra as funções do texto descritivo. 113 FIGURA 16 – TEXTO DESCRITIVO FONTE: Azevedo et al. ([2017?], p. 12) FIGURA 17 – EXEMPLO DE TEXTO DESCRITIVO FONTE: Acesso em: 12 set. 2021. No texto descritivo visa-se, ao caracterizar, dizer como é o objeto do dizer. Conforme a imagem explicita, ao descrever, você pode fazer isto de duas formas: objetivamente ou subjetivamente. No processo de descrever, se utiliza de objetos ou imagem de objeto (lembrança), ou ainda uma abstração. Em seguida você irá caracterizar estes objetos usando principalmente as características percebidas por meio dos cinco sentidos – tato, olfato,paladar, visão e audição. Veja o exemplo na Figura 17: A escrita do texto descritivo está envolvida, por exemplo, como no texto descrito na Figura 17, escrito por Edgar Allan Poe. Além disso, biografias, listas de compras, relatos históricos ou anúncios de classificados, currículos estão entre esse tipo de texto. De acordo com Pilastri (2019, p. 5-6), Podemos agora falar da descrição, que pode ser objetiva ou subjetiva. Em uma descrição, apresentamos uma série de características de determinado ser/objeto/espaço, formando na memória do leitor/ouvinte a imagem do que está sendo descrito. Na descrição, essa apresentação de características é verbal (oral ou 114 escrita). Linguisticamente, a descrição é tipicamente formada por predicações nominais (sujeito + verbo de ligação + predicativo) ou por adjetivação (substantivo + adjetivo (atributivo)). Como eu disse, a descrição pode ser objetiva ou subjetiva. Na descrição objetiva, o ser/objeto/espaço é descrito tal qual se apresenta ao mundo. Na descrição subjetiva, diferentemente, o ser/objeto/espaço é descrito a partir das impressões pessoais (subjetivas) de quem está realizando a caracterização. Pilastri (2019) ratifica aquilo que mencionamos anteriormente e, amplia em detalhes, o processo de descrição, como você pôde observar. 5 O TEXTO INJUNTIVO No texto do tipo injuntivo, o conteúdo é sempre algo a ser feito e/ou como ser feito, uma ou várias ações ou fatos e fenômenos cuja realização é pretendida por alguém. Os fatos e fenômenos aparecem, sobretudo, nos injuntivos de volição, os chamados textos optativos (TRAVAGLIA, 1991). De acordo com o que foi proposto em Travaglia (1991), a superestrutura de um texto do tipo injuntivo é constituída de três partes ou apresenta três categorias esquemáticas, a saber: a) o elenco ou descrição em que se apresentam os elementos a serem manipulados na ação a ser feita. Pode-se dar apenas uma lista desses elementos (V. ingredientes das receitas culinárias) ou pode- se listá-los e descrevê-los, como nos manuais de instrução em que, comumente, a descrição é substituída por fotos ou desenhos com indicação dos nomes das partes seguida ou não de indicação de sua função; b) a determinação ou incitação em que aparecem as situações a cuja realização se incita ou por determinação ou desejo. Aqui teríamos a injunção em si; c) a justificativa, explicação ou incentivo em que se dá razões para a realização das situações especificadas em b. Estas partes não têm ordem fixa e podem se intercalar. A única parte obrigatória é a determinação, mas às vezes o produtor do texto apenas dá a justificativa ou explicação e a determinação fica implícita, sendo deduzível através de inferências. Isto é comum em horóscopos (V. exemplos de 224). a) Câncer/saúde: “A dieta da Lua é especialmente recomendada para as cancerianas” (Horóscopo da revista Elle. Ano 2, nº. 10. São Paulo, Ed. Abril, outubro 1989:209). b) Carneiro/pessoal: “A amizade exige às vezes discrição e sacrifícios” (texto nº. 51). c) Touro/pessoal: “Dia favorável para transformar sua casa” (texto nº. 51) (TRAVAGLIA, 1991, p. 235-236). No texto injuntivo, objetiva-se dizer a ação requerida, desejada, é dizer o que e/ ou como fazer e assim incitar o interlocutor à realização da situação. 115 São exemplos de textos injuntivos: mensagem religiosa-doutrinária, instruções, manuais de uso e/ou montagem de aparelhos e outros, receitas de cozinha e receitas médicas, textos de orientação comportamental (ex.: como dirigir) etc. Observe o exemplo de um texto injuntivo: FIGURA 18 – TEXTO INJUNTIVO FONTE: Acesso em: 12 set. 2021. Dessa forma, são exemplos de textos injuntivos aqueles que instruem o leitor, ajudam, aconselham ou recomendam como se deve proceder em determinado momento. Usam-se muitos verbos no imperativo e no infinitivo. Como mostra o exemplo da receita, é preciso seguir uma instrução para ter sucesso. Ele também pode ser prescritivo quando impõe uma atuação ao interlocutor, no momento que obrigam, exigem, ordenam. O tipo textual instrucional ou injuntivo é muito comum em nosso dia a dia. Se você já assistiu a algum programa de culinária, certamente teve contato com o tipo textual instrucional (ou injuntivo): o(a) apresentador(a) listou os ingredientes e deu orientações sobre como o preparo do prato deve ser feito. Ao dar orientações, o(a) apresentador(a) ensinou o espectador a realizar uma tarefa. Essa é a propriedade básica desse tipo textual: ensinar/orientar/instruir o leitor/ouvinte/ espectador a realizar uma tarefa. As tarefas podem ser várias: usar um aparelho, jogar, cozinhar, tomar um remédio, consertar um objeto, conduzir um veículo etc. Os principais gêneros que se organizam no tipo textual instrucional (ou injuntivo) são os seguintes: receita culinária, manual de instruções, bula de remédio, regras de jogo, roteiro de viagem, mapas. Linguisticamente, o tipo 116 textual instrucional (ou injuntivo) organiza-se da seguinte forma: PRIMEIRA PARTE: lista que denomina as partes que compõem o objeto, o aparelho, os ingredientes de um prato etc. SEGUNDA PARTE: instruções a serem seguidas; essas instruções são apresentadas em verbos no imperativo ou no infinitivo (PILASTRI, 2019, p. 10). Portanto, os gêneros que compõem o tipo textual instrucional (ou injuntivo) procuram utilizar uma linguagem mais objetiva e didática. Prezado acadêmico, todas as definições sobre estes quatro tipos de textos – narrativo, dissertativo, descritivo e injuntivo – que relatamos não contemplam todas as possibilidades de realização de cada um dos tipos textuais. Assim, pode ser que você encontre outros tipos textuais. Por exemplo: • texto preditivo: boletins meteorológicos e astronômicos, profecias, programas etc.; • texto humorístico: piada, comédia, farsa, esquete humorístico etc.; • texto lírico: espécies: soneto, madrigal, ditirambo, elegia, poemas bucólicos (écloga, idílio), haicai, ode, acróstico, balada, epitalâmio, hino, vilancete, acalanto, barcarola, canto real, trova). Conforme informado no início do tópico, ficamos concentrados nos quatro que são mais comumente usados, mas, certamente, você se deparará com outros tipos, além desses que acabaram de ser mencionados. Assista ao vídeo Tipos textuais, do canal Professor Noslen. Disponível em: https://bit.ly/3nzcv7u. DICA 117 LEITURA COMPLEMENTAR GÊNEROS TEXTUAIS: UMA OPÇÃO PARA O ENSINO DO PORTUGUÊS ESCRITO PARA ESTUDANTES SURDOS Ludimila Correia Pires Lucas Santos Campos [...] O uso de gêneros textuais: uma opção para o ensino do português escrito para estudantes surdos inseridos em uma sociedade grafocêntrica, como se acabou de ver, em muitas situações, os alunos surdos sentem as mesmas necessidades dos alunos ouvintes. Torna-se, pois, de extrema importância, possibilitar a esses estudantes a oportunidade do desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita em língua portuguesa. Acredita-se que as atividades educativas para possibilitar ao estudante surdo a apropriação e avanço da língua portuguesa na modalidade escrita deve utilizar o texto como ponto de partida, fazendo uso dos diversos gêneros textuais (escritos e visuais). Entende-se que essa prática garante aos alunos a compreensão de que os gêneros são responsáveis pelas mais variadas atividades sociocomunicativas realizadas no seu dia a dia. Um primeiro passo que deve ser dado nesse sentido deve ser a compreensão do que seja tipo e gênero textual. Marcuschi e Koch (2002, p. 23) estabelece essa diferença nos seguintes termos: • Usamos a expressão “tipo textual” para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos textuais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Em geral os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. • Usamos a expressão “gênerotextual’ como uma noção propositalmente vaga para nos referir nos textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sociocomunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Ao fazer uso da escrita, as pessoas lançam mão das práticas sociais em que os diversos gêneros circulam. Assim, em cada contexto de interação, elas utilizam gêneros textuais diferentes e apelam para distintos modos de usá-los. Desse modo, qualquer cidadão que faz uso da leitura e escrita no seu dia a dia cumprirá finalidades e atendendo suas mais diversas e reais necessidades. 118 Cabe então a instituição escolar no processo ensino/aprendizagem, garantir a vivência de práticas de leitura e produção de textos diversificados, ampliando desta forma as experiências dos alunos com conhecimento da leitura e escrita no contexto das práticas sociais. Nessa direção, Amaral (2008) menciona que os educandos têm contato diário com palavras escritas em diferentes suportes, como placas, rótulos de embalagens, por meio de aparelho audiovisual, diante dessas experiências culturais e sociais com práticas de leitura e escrita, os alunos vão se constituindo como sujeitos letrados. Para que a escola possa oferecer aos educandos oportunidades para a práticas do letramento, ela precisa, necessariamente, oferecer aos alunos a diversidade textual. Com base em Quadros e Shmiedt (2006, p. 41), pode-se afirmar que o direcionamento do ensino de língua portuguesa escrita para alunos surdos deve tentar ligar as oportunidades do exercício da codificação e decodificação dos caracteres do Português aos anseios desses educandos. As autoras afirmam que: O professor precisa preparar as atividades de leitura visando um e/ou outro nível de acordo com as razões que levaram os alunos a terem interesse de ler um determinado texto. Nesse sentido, a motivação para ler um texto é imprescindível. A criança surda precisa saber por que e para que vai ler. O assunto escolhido como temática da leitura vai variar de acordo com as atividades e interesses dos alunos. Destaca-se aqui, pois, que as atividades a serem desenvolvidas para alunos com surdez, assim, como para os ouvintes, devem partir das necessidades e potencialidades apresentadas pelos educandos. Dessa forma, a prática pedagógica será conduzida a partir das especificidades dos alunos. Assim sendo, recomenda-se que se faça um levantamento sobre o interesse e necessidades dos alunos quanto à escrita. Esses dados servem de apoio para a construção do planejamento pedagógico referente à leitura e escrita. Quadros e Shmiedt (2006, p. 42), apresentam “outro aspecto a ser considerado ao propor atividades de leitura em uma segunda língua são os tipos de textos”. Nesse sentido, ao se trabalhar com textos deve-se levar em conta a adequação dos textos à faixa etária e foco de interesse dos estudantes, além da veracidade dos textos a serem trabalhados. Alvez et al. (p. 21) apresentam a seguinte descrição para a escrita e produção de textos escritos em português: Do desenho à palavra -da palavra ao desenho; Da frase ao desenho do desenho à frase; do texto ao desenho do desenho ao texto; escrita de diferentes gêneros textuais. Cultivar no aluno com surdez o processo de criar signos, para interagir com outras pessoas por meio da 119 produção de textos escritos -bilhetes, cartas etc. A escola tem uma contribuição muito importante na inclusão da pessoa com surdez na sociedade e, nesse sentido, o aprendizado do Português escrito tem a sua parte, por ser mais um instrumento que essa pessoa terá para se integrar à sociedade. O ensino do Português escrito não restringe à alfabetização das pessoas com surdez, portanto, todos os níveis de letramento, desde o início do aprendizado até o ensino superior precisam ser desenvolvidos e, nesse sentido, o AEE para o ensino da língua portuguesa escrita é indispensável. Nota-se que o direcionamento das atividades didáticas é essencial para a obtenção de bons resultados por parte dos alunos surdos no que se refere à competência linguística, dessa maneira, a sistematização de um planejamento adequado por parte do educador, com vista às reais necessidades educacionais dos alunos torna um fator preponderante para o sucesso da prática pedagógica. Além disso, o trabalho envolvendo os diferentes gêneros textuais oportuniza aos alunos uma ampliação em seu conhecimento, desenvolve a consciência crítica, desperta no aluno o interesse pela leitura e escrita, portanto, ao explorar a relação extraescolar dos alunos com o ambiente escolar contribui para a produção escrita dos alunos. Essa base torna possível a apresentação de uma proposta para o domínio do Português escrito por alunos surdos. Um esboço de proposta para o desenvolvimento da habilidade de leitura e escrita em língua portuguesa por indivíduos surdos. [...]. FONTE: PIRES, L. C.; CAMPOS, L. S. Gêneros textuais: uma opção para o ensino do português escrito para estudantes surdos. Fólio, Vitória da conquista, v. 4, n. 2, p. 175-195, jul./dez. 2018. Recuperado de https:// periodicos2.uesb.br/index.php/folio/article/view/3402. Acesso em: 15 set. 2021. 120 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Os tipos textuais ou tipologia textual são classificações fixas de textos, e são conhecidas como: narração, argumentação, e exposição, descrição, injunção. Assim, os tipos textuais são classificados pela linguagem que empregam, e por meio de sua estrutura. • Em um bom texto narrativo, é preciso saber construir a história e descrever bem os personagens, e suas características como forma física e seu estado psicológico. • O texto narrativo é composto por alguns elementos bem conhecidos: narrador, personagens, espaço, tempo e enredo, que fazem parte da narrativa literária. • No texto dissertativo busca-se refletir, explicar, avaliar, conceituar ou expor ideias para dar a conhecer, para fazer saber, associando-se à análise e à síntese de representações. • Dentre os textos de argumentação, estão: avaliações, dissertação, construção discursivas, teses, artigos, editoriais, resenha crítica, memoriais, carta de apresentação. • O texto dissertativo/argumentativo é construído a partir de um parágrafo inicial e objetivo, mas que apresenta a ideia central do texto, fazendo uso de argumentos verdadeiros, fundamentados e convincentes. • O tipo textual descritivo vai se caracterizar por trazer a localização do objeto de descrição (não obrigatoriamente), características (cores, formas, dimensões, texturas, modos de ser etc.) e/ou componentes ou partes do “objeto” descrito. • O texto dissertativo/expositivo tem um formato de escrita que busca defender uma ideia central a partir de opiniões, dados, levantamentos, estatísticas, fatos. • São exemplos de textos injuntivos, aqueles que instruem o leitor, ajudam, aconselham, recomendam, como se deve proceder em determinado momento. Além disso, usa-se muitos verbos no imperativo e no infinitivo. 121 AUTOATIVIDADE 1 Dentro da sociedade circulam diversos tipos de textos. Marcuschi e Koch (2002) explicam quais são os tipos textuais mais utilizados no nosso dia a dia. A respeito da classificação dos tipos textuais assinale a alternativa CORRETA. FONTE: MARCUSCHI, L. A. KOCH, I. G. V. Estratégias de referenciação e progressão referencial na língua falada. In: ABAURRE, M. BM; RODRIGUES, C. S. (org.). Gramática faça português falado: novos estudos descritivos. Campinas: Editora da UNICAMP/FAPESP, 2002. v. 8, p. 31-56. a) ( ) Narração, dissertação, descrição e a injunção. b) ( ) Descritivo, argumentação e exposição, oralização, injunção. c) ( ) Narração, exposição, descrição, injunção e jornalísticos. d) ( ) Exposição, descrição, injunção, científicos e memoriais. 2 Você aprendeu neste tópico diversos tipos de textos, sendo classificados conformesuas características em relação à linguagem e ao conteúdo. Sobre os tipos de textos observe a figura a seguir. CHARGE DE JAIME GUIMARÃES FONTE: . Acesso em: 20 set. 2021. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Argumentativo. b) ( ) Dissertativo. c) ( ) Descritivo. d) ( ) Injuntivo. 122 3 Conforme tem sido observado, os gêneros textuais são muitos, por outro lado, os tipos textuais apresentam uma quantidade bem menor. Dentre os tipos textuais mais conhecidos estão: os textos narrativos, dissertativos, descritivos e injuntivos. Disserte agora sobre o tipo textual descritivo. 4 O texto narrativo é um dos tipos textuais mais conhecidos, reconhecidos e utilizados na leitura e escrita. Conforme Pasqualini e Pianezzer (2018, p. 17), o texto narrativo “é um tipo de texto real ou ficcional, em que se conta uma história, um acontecimento ou um ato”. Há alguns elementos que fazem parte deste tipo de texto. Quais são eles? Assinale a alternativa CORRETA. FONTE: PASQUALINI, J. T. F.; PIANEZZER, L. C. M. Metodologia e conteúdos básicos de língua portu- guesa e matemática. Indaial: UNIASSELVI, 2018. a) ( ) Narrador, personagens, espaço, tempo e enredo. b) ( ) Métrica, espaço, tempo e versos. c) ( ) Estrofe, personagens, espaço, tempo e coadjuvante. d) ( ) Narrador, personagens, versos, tempo e métrica. 5 No texto dissertativo busca-se refletir, explicar, avaliar, conceituar, expor ideias para dar a conhecer, para fazer saber, associando-se à análise e à síntese de representações. Há dois tipos de textos dissertativos: o expositivo e o argumentativo. Disserte sobre eles. 123 REFERÊNCIAS ADAM, J. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2008. AMARAL, H. O gênero textual: crônica. Na Ponta do Lápis, São Paulo, ano 4, n. 10, dez. 2008. ANDRADE, M. M. de; MEDEIROS, J. B. Comunicação em língua portuguesa. São Paulo: Atlas, 2001. ANTUNES, M. I. C. Aspectos da coesão do texto. Recife: Ed. Univ. da UFPE, 1996. ANTUNES. M. I. C. 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Tipos, gêneros e subtipos textuais e o ensino de língua portuguesa. In: BASTOS, N. (Org.). Língua portuguesa: uma visão em mosaico. São Paulo: EDUC, 2002. p. 201-214. 126 127 LÍNGUA PORTUGUESA E LIBRAS: BILINGUISMO, PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • entender práticas de leitura e produção textual; • analisar a perspectiva bilíngue como a mais indicada para a escolarização dos surdos; • conhecer brevemente a formação e habilidades elencadas ao professor bilíngue para os surdos; • identificar aspectos de funcionalidade em relação a leitura e a escrita para os alunos surdos; • compreender brevemente o papel do profissional TILSP atuante na comunidade Surda; • observar algumas estratégias linguísticas e técnicas utilizadas pelo TILSP; • conceituar, resumidamente, o ato de traduzir e interpretar nas línguas orais e de sinais. Esta unidade está dividida em três tópicos.No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS TÓPICO 2 – BILINGUISMO E A COMUNIDADE SURDA TÓPICO 3 – A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NO PROCESSO DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LIBRAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 128 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 129 TÓPICO 1 — PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Gostar de ler e produzir textos está relacionado ao tipo de gêneros textuais, linguagens e materiais diversos aos quais somos expostos desde quando ainda estávamos na barriga de nossa mãe, seja ao ouvir uma leitura de um livro, o cantarolar de músicas, entre outros estímulos. E então, quando nascemos, criamos uma relação afetiva entre o nosso responsável e a criança, reagimos instintivamente ao som, toque, calor, frio, sabores. Todos esses estímulos se tornam parte de uma leitura sensorial, que é um dos níveis que tem como base os cinco sentidos: tato, paladar, audição, olfato e visão. Assim, são muitas as linguagens produzidas pelo ser humano desde quando nasce, mas os estímulos dados pelos seus responsáveis vão ampliar possibilidades do universo cultural e expressivo em que vive. Nesse sentido, a valorização da leitura e da escrita deve fazer parte desses estímulos como fonte de conhecimento, e deve ser algo prazeroso, por isso é importante destacar que, tanto na família como na escola as temáticas dos livros devem ser de interesse da criança. Esse interesse vai auxiliar a criança aprimorar habilidades de percepção das linguagens que iniciamos ao nascer. Embora o interesse pela leitura e escrita se inicie em casa, é na escola que se concretiza esse aprendizado. Assim, podemos dizer que a leitura e a escrita são hábitos que se criam. Guedes e Souza (2004, p. 15) explicitam os objetivos da escola no que diz respeito à leitura e à produção de textos: Ler e escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante, que é responsabilidade da escola. Ensinar é dar condições ao aluno para que ele se aproprie do conhecimento historicamente construído e se insira nessa construção como produtor de conhecimento. Ensinar é ensinar a ler para que o aluno se torne capaz dessa apropriação, pois o conhecimento acumulado está escrito em livros, revistas, jornais, relatórios, arquivos. Ensinar é ensinar a escrever porque a reflexão sobre a produção de conhecimento se expressa por escrito. Por isso os professores devem se esforçar para ensinar os alunos a desenvolver o gosto pela leitura e produção textual, para que se expressem com coerência, tanto na escrita como oralmente. Produzir textos é uma ação que deve considerar a finalidade da mensagem e o tipo de destinatário, além da utilização adequada de estratégias de escrita adequadas ao gênero textual. 130 Destaca-se, também, que é necessário que haja um comprometimento não só por parte da escola (professores), mas também um incentivo familiar, para que os alunos percebam que a leitura é o alicerce da interação da palavra com o mundo. Chiappini (2001, p. 22) nos mostra que, “ao promover a interação entre os indivíduos, a leitura compreendida não só como leitura da palavra, mas também como leitura do mundo, deve ser atividade constitutiva de sujeitos capazes de interagir com o mundo e nele atuar como cidadãos”. Se pararmos para pensar, o tempo todo estamos interpretando e produzindo textos, ou seja, fazendo uma leitura com o mundo, isto se dá através de várias formas, como, por exemplo, conversações entre os familiares, amigos, local de trabalho, nas ruas, informações em outdoors, placas, embalagens, livros, jornais, TV, internet. Até mesmo no silêncio estamos fazendo leitura ao nosso redor e interpretando, porque a comunicação é mediada por uma infinidade de signos, sejam falados, escritos ou visuais. Além disso, precisamos nos adaptar constantemente às novas e diferentes linguagens. Conforme Bolter e Grusin (1999, p. 224), como um meio muito rápido: O telefone oferece a instantaneidade da voz ou a intercalação de vozes em tempo real. A televisão, do ponto de vista tecnológico, promete instantaneidade através do monitoramento do mundo em tempo real. A promessa de instantaneidade do computador é uma combinação dos gráficos tridimensionais, ação automática (programada), e interatividade que a TV não pode oferecer. Juntas, cada uma dessas tecnologias está tentando absorver as outras e promover sua versão de instantaneidade. Nota-se, conforme a citação anterior, a rapidez e ampliação das novas linguagens a que somos expostos em nosso tempo, e, nesse sentido se faz necessário conhecê-las e se adaptar a elas. A prática de participar em diversas linguagens também nos possibilita interpretar variados textos, nos ajuda a analisar o que o autor deixou subentendido, ou seja, o que podemos concluir para além do que está escrito. Uma boa interpretação de texto está diretamente ligada à sua bagagem de leitura, por isso é importante ler frequentemente a respeito de diversos assuntos, mas é claro que sempre há uma preferência por alguns. Quer uma dica? Assista ao longa brasileiro Crisálida. Entenda como Rubens, um adolescente surdo de 11 anos, que sempre conviveu entre ouvintes, reconstrói a sua relação com o mundo quando começa a aprender a língua brasileira de sinais (Libras) e acessar sua verdadeira cultura. Disponível em: https://bit.ly/3Kn7usd. DICA 131 2 LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS Já vimos como os estímulos, sejam eles visuais, olfativos etc., presentes desde quando nascemos, contribuem para fazermos uma boa leitura e interpretação de textos, e durante a fase de alfabetização, aperfeiçoamos essa capacidade quando conseguimos decodificar os sinais linguísticos que formam nosso idioma materno. A partir desse ponto, tanto a leitura e escrita quanto a interpretação passam a ser indispensáveis para uma boa aprendizagem e para o desenvolvimento das estruturas cognitivas. Ao longo da educação básica e superior, a escrita e interpretação são mais estimuladas, e a educação formal e o letramento acontecem para a prática em sociedade. Mas, para que a interpretação do que foi lido aconteça, deve haver uma atividade com intensa participação do leitor que exige muito mais que o simples conhecimento linguístico compartilhado entre o autor e o leitor. Tem que haver um intercâmbio que amplia constantemente a compreensão dos outros, do mundo, e principalmente, de nós mesmos. Dessa forma, neste momento, acadêmico, propomos uma pausa para pensarmos um pouco quanto você já acumulou de conhecimentos por meio de várias leituras, tente fazer uma construção histórica sobre elas. Com certeza foram guiadas por diferentes objetivos, bem como produziram vários efeitos em você. Entre os tipos de leitura elencados a seguir, o que você lê regularmente ou que mais leu? Faça um X. Em uma situação de ensino, ou seja, quando estamos fazendo um curso, seja ele uma graduação ou curso técnico, nós lemos para aprender os conteúdos que estão na grade curricular e aprofundar aqueles conhecimentos específicos para fazer as avaliações. Mas você já se perguntou como lê? Bem, que tal fazer um teste? Leia em voz alta e de forma rápida as duas palavras a seguir. Jornais Histórias em quadrinhos Revistas Bíblia e-mail Artigos Capítulos de livros Manuais didáticos Outros PLANTA IDIOSSINCRASIA Para um leitor que já está acostumado a fazer muitas leituras a palavra “Planta” foi fácil, pois há um reconhecimento instantâneo. No entanto, ao ler a segunda palavra,provavelmente, o fez mais devagar, talvez tenha lido as sílabas mais pausadamente. 132 Isso acontece porque temos dois modos de ler. Um deles é a leitura global, durante a qual o leitor lê palavra por palavra, reconhecendo-as de forma instantânea, e o outro é a análise e síntese: letra por letra ou sílaba por sílaba na leitura de palavra, ou de palavra por palavra na leitura de frases (KATO, 1985). Percebe-se, então, a diferença desses dois modos de ler, conforme exposto por Silva (2010, p. 7), “A leitura global ocorre sempre que o leitor se depara com palavras conhecidas, familiares, na maioria das vezes usadas no cotidiano. A leitura de análise e síntese significa detalhar a palavra ou em letra ou em sílaba e depois relê-la de uma vez”. Notamos que a leitura se relaciona à memória, veja se não é assim: quando passamos pelo processo de alfabetização, existe uma dificuldade de leitura de palavras simples como brinquedo “b... r... bri... qe... que... d... o... brinquedo”. No caso aqui exemplificado, a pessoa lê letra por letra para formar sílaba. Quando ela chega à última letra, nem lembra mais das primeiras (letras). Neste caso aconteceu um processo analítico, ou seja, (letra por letra), e, como resultado, a memória não retém as primeiras letras, decodificando a compreensão do que leu, não conseguindo ainda dar sentido à palavra. Então que tal fazer um rápido teste novamente? Você sabe quantas palavras lê em um minuto? Cronometre um minuto, escolha um texto e leia-o em voz alta. É importante que a leitura dure apenas um minuto. Após isso, conte quantas palavras foram lidas. Segundo Kleiman (2004), a compreensão da leitura está relacionada com o conhecimento adquirido ao longo da vida, seja conhecimento linguístico, textual ou de mundo, todos estão relacionados ao conhecimento prévio, ou seja, relacionados com o contexto e a linguagem habituais e comuns ao leitor. Freire (1989, p. 29) nos mostra que: Desde o começo, na prática democrática e crítica, a leitura do mundo e a leitura da palavra estão dinamicamente juntas. O comando da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e de temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras e de temas apenas ligados à experiência do educador. Sendo a leitura o resultado da interação entre o que o leitor já sabe e o que ele retira do texto, e com o mundo, muitas vezes, é preciso usar algumas estratégias para ser capaz de ler e de compreender o texto, mas é certo que os textos nunca dizem tudo, por isso, as imagens devem fazer parte da interpretação também, o que não significa que o trabalho interpretativo do leitor esteja livre para atribuir qualquer sentido ao que lê. Por exemplo, em certos textos, basta ler algumas partes buscando a informação necessária para encontrá-la, já outros, precisam ser lidos várias vezes para se entender. Assim, existem métodos e técnicas para produzir e interpretar textos, é o que vamos continuar observando a seguir. 133 Assista ao vídeo “Um passo a passo para interpretação de textos”. Disponível em: https://bit.ly/33BUkHc. DICA 3 MÉTODOS E TÉCNICAS NA PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO TEXTUAL Quantas vezes você já leu um texto e não entendeu nada do que estava escrito ali? Leu, releu e mesmo assim ainda ficou com dúvidas? São muitos os momentos em que não entendemos determinada leitura ou perdemos o interesse, ou utilizamos muitas estratégias para buscar entender o que estamos lendo. Conforme Brandão (2000, p. 17): “para muitos, o texto é ainda entendido como fonte ou pretexto para exploração das formas gramaticais isoladas do contexto [...]”. Porém, não há maneira de desenvolver estratégias de leitura a não ser através da própria leitura, isto envolve a nossa cognição. Para Freire e Macedo (1990, p. 105), “o ato de aprender a ler e escrever é um ato criativo que implica uma compreensão crítica da realidade”. As atividades de interpretação devem ser formuladas de tal forma que nos estimulem a pensar e ir além da informação escrita. Devem nos motivar a confrontar com conhecimentos acumulados e buscar, através desta reflexão, novos conhecimentos e ainda que possam fazer uso social deles. Acompanhe, a seguir, uma sequência de imagens com dicas para melhorar sua interpretação de textos. São dicas de redação e, na sequência, dicas para interpretação de textos. Observe atentamente cada uma delas: FIGURA 1 – DEZ DICAS DE REDAÇÃO 134 FONTE: . Acesso em: 13 jul. 2021. FIGURA 2 – DICAS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS FONTE: ; . Acesso em: 22 jun. 2021. Atente-se para cada uma dessas dicas, pois, de certa forma, cada uma delas contribui para uma melhor escrita, tendo em vista que o ato de escrever envolve o conhecimento da língua, mas também a prática dela por meio da escrita. 135 Assim como para escrever é necessário atentar-se para determinadas dicas, no caso da interpretação, também é importante prestar atenção para certos aspectos (conforme apontados na imagem) para não incorrer em interpretações equivocadas e errôneas. Para os professores fica o alerta de Cagliari (1998, p. 336), “não faz sentido fazer interpretação de texto com o simples pretexto de ver se o aluno entendeu ou não o que leu, através de perguntas de identificação de palavras ou de ideias”. Dessa forma entendemos que, quando se interpreta um texto, isso “[...] permite que as pessoas possam responder, levando em conta o que ouvem e, dessa forma, elaborar por etapas um comentário mais completo a respeito do que pensam” (CAGLIARI, 1998, p. 338). Uma estratégia que pode ser utilizada pelos professores é fazer perguntas na pré-leitura depois que se entrega o texto com o intuito de ativar o conhecimento prévio, antes mesmo de ler o texto. Neste caso, permite-se ao leitor levantar hipóteses que monitoram sua atenção no desenvolvimento da leitura. Por exemplo, veja algumas perguntas que podem ser utilizadas: • Que ideia o título nos fornece? • Qual o assunto do texto? • O que achou dessa história? • O texto tem alguma palavra ou expressão que dificultou sua leitura? • Que parte do texto achou mais interessante? • Quais as palavras desconhecidas do texto? • Você já conhecia esse texto? Estas perguntas nos fazem refletir sobre o tema proposto no texto e analisar as possíveis respostas. E quando essa atividade é incorporada em sala de aula, leva o aluno a aguçar sua curiosidade e percepção do texto proposto fazendo com ele avance no processo interpretativo. Vamos praticar? Leia o texto a seguir de Marina Colasanti, o qual apresenta no mínimo duas possibilidades interpretativas. COMO OS CAMPOS Preparavam-se aqueles jovens estudiosos para a vida adulta, acompanhando um sábio e ouvindo seus ensinamentos. Porém, como fizesse cada dia mais frio com o adiantar-se do outono, dele se aproximaram e perguntaram: – Senhor, como devemos vestir-nos? – Vistam-se como os campos, respondeu o sábio. Os jovens então subiram até uma colina e durante dias olharam para os campos. Depois dirigiram-se à cidade, onde compraram tecidos de muitas cores e fios de muitas fibras. Levando cestas carregadas, voltaram para junto do sábio. Sob o seu olhar abriram os rolos 136 das sedas, desdobraram as peças de damasco e cortaram quadrados de veludo, e os emendaram com retângulos de cetim. Aos poucos, foram recriando em longas vestes os campos arados, o vivo verde dos campos em primavera, o pintalgado da germinação. E entremearam fios de ouro no amarelo dos trigais, fios de prata no alagado das chuvas, até chegarem ao branco brilhante da neve. As vestes suntuosas estendiam-se como mantos. O sábio nada disse. Só um jovem pequenino não havia feito sua roupa. Esperava que o algodão estivesse em flor para colhê-lo. E, quando teve os tufos, os fiou. E, quando teve os fios, os teceu.Depois vestiu sua roupa branca e foi para o campo trabalhar. Arou e plantou. Muitas e muitas vezes sujou-se de terra. E manchou-se do sumo das frutas e da seiva das plantas. A roupa já não era branca, embora ele a lavasse no regato. Plantou e colheu. A roupa rasgou-se, o tecido puiu-se. O jovem pequenino emendou os rasgões com fios de lã, costurou remendos onde o pano cedia. E, quando a neve veio, prendeu em sua roupa mangas mais grossas para se aquecer. Agora a roupa do jovem pequeno era de tantos pedaços que ninguém poderia dizer como havia começado. E estando ele lá fora uma manhã, com os pés afundados na terra para receber a primavera, um pássaro o confundiu com o campo e veio pousar-se no seu ombro. Ciscou de leve entre os fios, sacudiu as penas. Depois levantou a cabeça e começou a cantar. Ao longe, o sábio, que tudo olhava, sorriu (Nova Escola, 1996, p. 30-31). FONTE: COLASANTI, M. Como os campos. NOVA ESCOLA, v. 11, n. 97, p. 30-31, out. 1996. Talvez em uma primeira leitura surja a seguinte interpretação: o jovem pequeno camponês foi o único a conseguir compreender os ensinamentos do sábio. Enquanto os jovens ricos não entenderam o significado da mensagem. Essa forma de interpretar acontece porque há uma sequência no texto, ou seja: [a] interpretação é alcançada pela forma como as informações são apresentadas no texto: primeiro aparecem as ações do grupo de jovens que, aparentemente, tinham maior poder aquisitivo; em seguida, são elencadas informações sobre o jovem pequeno camponês, também discípulo do mesmo mestre (MENEGASSI, p. 88. 1999). Por outro lado, o texto pode apresentar uma segunda possibilidade interpretativa, o grupo de jovens com maior poder aquisitivo compreendeu a mensagem do sábio, e foram rapidamente providenciar a roupa ao “adquirirem tecidos variados, ao criarem matizes de cores a partir de materiais artificiais, [...], vestindo-se como os campos, porém de forma muito diferente do jovem pequeno camponês” (MENEGASSI, 1999, p. 89). Chegou sua vez, quer dar uma terceira interpretação? Vá em frente, leia de novo o excerto anterior e registre sua interpretação. AUTOATIVIDADE 137 4 PRODUÇÃO TEXTUAL Existem diferenças determinantes entre as modalidades da fala e da escrita. São atividades que têm seus desenvolvimentos de modo muito distinto, e, quando iniciamos a fase escolar, essas modalidades também devem ser trabalhadas de formas diferentes. Isso se dá porque a fala é adquirida/apreendida em situações informais, não há necessidade de técnicas especializadas, salvo os casos em que é preciso fazer terapia com especialistas na área da fala. Se fizermos uma comparação para a criança ouvinte, a exposição à língua falada é constante desde o seu nascimento, e a modalidade da língua escrita, na maioria das vezes, é ensinada somente em um contexto escolar, de forma institucionalizada. Se pensarmos no contexto da criança que nasce surda de pais ouvintes, a aquisição da língua na modalidade escrita não ocorrerá com tanta naturalidade, muito embora essa criança seja exposta, em fase escolar, à modalidade escrita da mesma língua utilizada por seus pais, desde o seu nascimento. Ainda que isso também ocorra com o ouvinte, para o surdo, esta não é sua primeira língua (L1). Em todos os casos, isso implica trabalhar vários elementos para o desenvolvimento dessa habilidade (de utilizar a língua na modalidade escrita). Deve-se considerar, ainda, alguns aspectos, como a necessidade de um bom conhecimento dos conteúdos gramaticais, ortográficos e do léxico, pois, “para escrever, o aprendiz precisa de conhecimentos sobre os conteúdos temáticos a abordar, mas também de conhecimentos sobre a língua e sobre as convenções sociais que caracterizam o uso dos textos a serem redigidos” (DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO, 2008, p. 15). Então, foi difícil fazer esse exercício? Colocou algumas estratégias já explanadas aqui, como as perguntas? Depois que lemos mais vezes qualquer texto, conseguimos encontrar outros elementos, refletir sobre a situação expressa no texto. Além disso, dependendo da idade de quem lê, da formação, do contexto cultural etc., vai interpretar de formas diferentes, por causa do conhecimento acumulado e das experiências vividas. Passemos, agora, para algumas orientações para produção textual. Assista ao vídeo “Leitura e interpretação de textos”, e entenda como interpretar pequenos textos por meio de perguntas. Disponível em: https://bit.ly/3qH4wHb. DICA 138 É necessário, também, valorizar os conhecimentos armazenados no texto, pois é nele que os conhecimentos de mundo estão presentes. Posto que a leitura e escrita têm uma função social, por isso essas atividades devem ser feitas de forma compartilhada numa relação na qual autor e leitor compartilhem referências e uma compreensão mútua. Como ressalta Antunes (2014, p. 22): admitir que a linguagem seja uma atividade interativa implica admitir também que sua realização será mais ou menos facilitada (e exitosa) se, entre quem fala e quem ouve, ou entre quem escreve e quem lê, houver esquemas mais ou menos aproximados de conhecimentos, valores culturais, interesses e intenções convergentes. Notamos assim que, para a escrita acontecer, há de haver uma comunicação interativa. Além disso, o ato de escrever mobiliza várias habilidades, note, por exemplo, alguns que são destacados a seguir: A escrita mobiliza múltiplos componentes cognitivos. É por isso que ela pode ser considerada como uma atividade mental. Para escrever, o aprendiz precisa de conhecimentos sobre os conteúdos temáticos a abordar, mas também de conhecimentos sobre a língua e sobre as convenções sociais que caracterizam o uso dos textos a serem redigidos (DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO, 2008, p. 15). Outro ponto importante é a escolha dos gêneros textuais como ferramenta de aprendizagem quando escrevemos. Além disso, os erros são etapas necessárias e uma forma de diagnosticar problemas a serem resolvidos para acontecer a aprendizagem. Os “erros” (de construção de textos, interpretativos, ou de compreensão) têm um valor didático. Nesse sentido, La Torre (2007, p. 10) acrescenta que, o erro pode ser utilizado como uma estratégia inovadora para aproximar a teoria e a prática, para passar de um enfoque de resultados para um de processos, de uma pedagogia do êxito para uma didática do erro, de ensino de conteúdo para aprendizagem de processos. Em suma, que uma adequada conceitualização e utilização do erro no ensino possa tornar-se uma estratégia a serviço da inovação educativa. Por isso, quando erramos também estamos produzindo um texto, e esses erros devem ser compreendidos como um ponto de partida para um planejamento que vise ao aperfeiçoamento de habilidades ainda não adquiridas. Quando isso acontece, é um treinamento para a compreensão de notícias, e informação sobre diversos assuntos. A Figura 3 mostra exemplos de como podemos trabalhar textos com início, meio e fim. 139 Observe que, para a construção de um texto, existe uma sequência que será construída, e existem elementos que favorecem e dão subsídios para a elaboração dele. Por outro lado, podemos dizer que, por exemplo, os gêneros textuais são representações reais da língua falada e formas de apresentar um espaço para expressar o estilo pessoal de cada um na escrita. A partir do trabalho com pequenos textos, e até mesmo dos “erros” cometidos, mas aprendidos e reelaborados, podem-se introduzir conteúdos mais extensos e abrangentes, como contar a história de alguém ou mesmo narrar nossa própria história escrevendo sua biografia. No texto a seguir, a título de exemplo, vamos conhecer um trecho de uma das muitas biografias existentes sobre o grande educador brasileiro Paulo Freire. FIGURA 3 – DESENVOLVIMENTO DO TEXTO FONTE: . Acesso em: 11 jun. 2021. Assista à apresentação de slides intitulada “Produção140 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................142 TÓPICO 2 - BILINGUISMO E A COMUNIDADE SURDA ......................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................145 2 O BILINGUISMO ...............................................................................................................145 3 O PROFESSOR BILÍNGUE ...............................................................................................150 4 A LÍNGUA PORTUGUESA NA MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DOS SURDOS .............155 5 LER E ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESA – BREVE PERCEPÇÃO DA SURDEZ ...................................................................................... 157 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................160 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 161 TÓPICO 3 - A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NO PROCESSO DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LIBRAS ......................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................163 2 O TRADUTOR/INTÉRPRETE E O CONHECIMENTO DAS LÍNGUAS ..............................165 3 O TRADUTOR E A COMUNIDADE SURDA – BREVE RELATO .........................................168 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................171 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................... 176 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 177 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 179 1 UNIDADE 1 - MORFOLOGIA: O ESTUDO DAS CLASSES DE PALAVRAS NA LÍNGUA PORTUGUESA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • verificar cada uma das classes de palavras da língua portuguesa; • compreender as classes gramaticais do português; • reconhecer as diferenças entre as classes gramaticais variáveis e invariáveis; • entender o conceito e o funcionamento de cada uma das classes de palavras; • saber identificar e diferenciar das classes gramaticais; • perceber a importância do uso das classes de palavras; • verificar exemplos do uso de palavras em suas classes. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O ARTIGO, O SUBSTANTIVO E O ADJETIVO TÓPICO 2 – A PREPOSIÇÃO, A CONJUNÇÃO, O PRONOME E O NUMERAL TÓPICO 3 – O VERBO, O ADVÉRBIO E A INTERJEIÇÃO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 O ARTIGO, O SUBSTANTIVO E O ADJETIVO 1 INTRODUÇÃO Prezado acadêmico! Iniciamos agora nossos estudos em língua portuguesa. Nosso propósito nesta primeira unidade é compreender as classes gramaticais do português. A morfologia é o estudo a respeito da estrutura, da formação e da classificação das palavras. O objetivo da Morfologia é estudar as palavras isoladas e não a partir da sua função na frase ou período, como ocorre com a Sintaxe. Entretanto, em nossos estudos nesta unidade nos concentramos somente no aspecto específico das classes de palavras. Um bom conhecimento destas classes propicia um avanço importante na compreensão da língua e de seus elementos gramaticais, bem como contribuirá no estudo de Libras. Na língua portuguesa encontramos dez classes de palavras, que também são chamadas de classes gramaticais. Confira no Quadro 1 quais são elas: TÓPICO 1 - UNIDADE 1 QUADRO 1 – CLASSES DE PALAVRAS FONTE: O autor Artigo Pronome Substantivo Numeral Adjetivo Verbo Preposição Advérbio Conjunção Interjeição Algumas destas classes de palavras são chamadas variáveis, pois, flexionam- se em número e gênero. São elas: artigo, substantivo, adjetivo, numeral, pronome e verbo. As outras classes de palavras são chamadas de invariáveis, pois, não se flexionam. São elas: advérbio, preposição, conjunção e interjeição. 4 FIGURA 1 – CLASSES DE PALAVRAS FONTE: . Acesso em: 27 jul. 2021. Aquelas palavras que pertencem à mesma classe possuem caraterísticas comuns, e quando ordenadas nas frases, cabe, a cada uma determinada função sintática. De acordo com Cegalla (2010, p. 127), “o substantivo e o verbo destacam-se como as duas mais importantes classes de palavras, porque constituem a base das frases, ou seja, da comunicação”. Acadêmico! No Tópico 1, nós abordaremos em nossos estudos as primeiras classes de palavras: o Artigo, o Substantivo e o Adjetivo. Assista ao vídeo intitulado Classes de palavras, disponível em: https://bit.ly/3Ga7HwP. DICA 2 O ARTIGO Na língua portuguesa, conforme Cegalla (2010, p. 153), “artigo é uma palavra que antepomos aos substantivos para dar aos seres um sentido determinado ou indeterminado. O artigo indica, ao mesmo tempo, o gênero e o número dos substantivos”. De acordo com Mesquita (1994, p. 198), “artigo é uma palavra variável que serve para substantivar as palavras, caracterizando-as como seres determinados ou indeterminados e indicando-lhes o gênero e o número”. 5 FIGURA 2 – ARTIGO FONTE: . Acesso em: 13 ago. 2021. QUADRO 2 – ARTIGOS FONTE: O autor O artigo substantiva qualquer outra categoria gramatical. É a palavra que, vindo antes de um substantivo, indica se ele está empregado de maneira definida ou indefinida. Os artigos são categorias flexionáveis e podem ser classificados em: • Definidos: o, a, os, as. Neste caso, seu uso pode ser exemplificado em: o menino, a menina, os meninos, as meninas. Nos exemplos citados, note como os artigos definidos se antepõem a substantivos que designam seres definidos, como no caso de “o menino”, ou seja, o menino referido, determinado. • Indefinidos: um, uma, uns, umas. Neste caso, seu uso pode ser exemplificado por: um menino, uma menina, uns meninos, umas meninas. Nos exemplos citados, note como os artigos indefinidos se antepõem aos substantivos que designam seres indefinidos, como no caso de “um menino”, isto é, um menino não conhecido, não determinado. Algumas peculiaridades do Artigo: • O uso da forma simples do Artigo. Observe o Quadro 2 com a forma simples do Artigo. ARTIGO DEFINIDO ARTIGO INDEFINIDO Singular Plural Singular Plural Masculino Feminino o a os as um uma uns umas 6 No português antigo havia as formas lo, la, los, las, e el do artigo definido. INTERESSANTE • O artigo definido pode se unir às preposições, por exemplo, a, de, em e por, e assim formar combinações ou contrações antes dos substantivos. Observe o Quadro 3 com as formas combinadas do artigo definido. QUADRO 3 – FORMAS COMBINADAS DO ARTIGO DEFINIDO FONTE: O autor PREPOSIÇÕES ARTIGO DEFINIDO FORMA COMBINADA SINGULAR a o ao de o da em o no por (per) o pelo a a à de a da em a na por (per) a pela PLURAL a os aos de os das em os nos por (per) os pelo a as às de as das em as nas por (per) as pelas • O artigo indefinido pode contrair-se com as preposições em e de. Veja os exemplos no Quadro 4: 7 QUADRO 4 – ARTIGO INDEFINIDO, CONTRAÇÃO FONTE: O autor PREPOSIÇÃO ARTIGO INDEFINIDO CONTRAÇÃO SINGULAR Em um numtextual” que ensinam de forma lúdica como produzir um bom texto. Disponível em: https://slideplayer.com.br/slide/1731329/. DICA 140 RETRATO DE UM LIBERTADOR Nascido no dia 19 de setembro de 1921, Paulo Reglus Neves Freire era pernambucano de Recife, onde, desde cedo, pôde vivenciar a dura realidade das classes populares em uma das regiões mais pobres do país. Sua extensa carreira de educador teve início no SESI (Serviço Social da Indústria) e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife, passando, anos mais tarde, a professor de História e Filosofia da Educação daquela universidade. A partir de 1958, Paulo Freire desenvolveu um autêntico e revolucionário trabalho de educação de adultos, no qual identifica a alfabetização como um processo de conscientização, capacitando o indivíduo, a quem chamou de oprimido, tanto para a aquisição dos instrumentos de leitura e escrita quanto para a sua libertação. A coragem de pôr em prática tal trabalho, fez dele um dos primeiros exilados políticos brasileiros. Após o golpe militar de 1964, foi acusado de subversão, sendo preso e obrigado a deixar o país. [...] Após dezesseis anos de exílio, em 1980, retornou ao Brasil, quando se tornou membro-fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (PT-SP), foi Secretário de Educação do Município de São Paulo. Paulo Freire é autor de muitas obras, dentre elas: Educação: Prática da Liberdade (1967); Pedagogia do Oprimido (1968); Pedagogia da Esperança (1992); À Sombra desta Mangueira (1995) etc. Reconhecido mundialmente pela sua filosofia educativa, Paulo Freire, casado duas vezes e pai de cinco filhos, recebeu numerosas homenagens. Além de ter seu nome adotado por várias instituições, é cidadão honorário de várias cidades no Brasil e no exterior. Faleceu no dia 2 de maio de 1997, em São Paulo, vítima de infarto agudo do miocárdio. FONTE: FREITAS, O. Paulo Freire: um grito de liberdade. Brasília, DF: Uniceub, 2002, p. 92. O texto retrata, em poucas linhas, a trajetória do educador Paulo Freire, dando- nos a oportunidade de conhecê-lo um pouco melhor. 141 Caro acadêmico, agora convidamos você para escrever sua própria história, ou seja, sua biografia, lembre-se do exemplo anterior e seja coerente e objetivo. Esta é uma das formas de trabalhar a produção textual. AUTOATIVIDADE Leia o artigo “Produção textual: quando a linguagem escrita se torna objeto escolar”. Disponível em: https://bit.ly/3Afa8vv. DICA 142 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Quando nascemos, os estímulos dados pelos nossos responsáveis vão ampliar as possibilidades de ampliar o universo cultural e expressivo da linguagem. • O interesse pela leitura e a escrita deve iniciar em casa, mas é na escola que se concretiza esse aprendizado, assim, podemos dizer que a leitura e a escrita são hábitos que se criam. • Produzir textos é uma ação que deve considerar a finalidade da mensagem e o tipo de destinatário, além da utilização adequada de estratégias de escrita adequadas ao gênero textual. • O tempo todo estamos interpretando e produzindo textos, fazendo uma leitura com o mundo, por meio de conversações entre os familiares, amigos, local de trabalho, nas ruas, informações em outdoors, placas, embalagens, livros, jornais, TV etc. • Para que a leitura seja interpretada, precisa haver um intercâmbio que amplia constantemente a compreensão dos outros, do mundo e, principalmente, de nós mesmos. • Temos dois modos de ler: um deles é a leitura global, ou seja, quando o leitor lê palavra e reconhece a palavra de forma instantânea. E, o modo de análise e síntese, isto é, letra por letra ou sílaba por sílaba na leitura de palavra, ou de palavra por palavra na leitura de frases. • Uma estratégia que pode ser utilizada pelos professores é: fazer as perguntas tanto na pré-leitura como depois que se entrega o texto. • A fala é adquirida/apreendida em situações informais, já escrita é aprendida de forma institucionalizada. • É importante, também, valorizar os conhecimentos armazenados na memória de quem produz um texto, pois é nela que os conhecimentos de mundo estão presentes. Assim, a leitura e a escrita têm uma função social. 143 • Para a escrita acontecer há de haver uma comunicação interativa, mesmo que o escritor não compartilhe do mesmo idioma. Além disso, o ato de escrever mobiliza várias habilidades cognitivas. • Quando escrevemos, é importante saber escolher os gêneros textuais como ferramenta de aprendizagem. • Os erros são etapas necessárias, e, de certa forma, uma forma de diagnosticar problemas a serem resolvidos para acontecer a aprendizagem. • Os gêneros textuais são representações reais da língua falada e formas de apresentar um espaço para expressar o estilo pessoal de cada um. • A produção textual nos possibilita contar a história de alguém ou mesmo narrar nossa própria história escrevendo a nossa biografia. 144 1 Desde que nascemos, os estímulos ao nosso redor contribuem para sermos bons leitores e saber interpretação de textos, e é ao longo da educação básica e superior que aperfeiçoamos a capacidade de decodificar os sinais linguísticos que formam nosso idioma materno. Sobre a leitura e interpretação de textos na língua materna, analise as sentenças a seguir: I- Ocorrem a partir de estímulos, sejam eles visuais, olfativos, sonoros, entre outros. II- Tanto a leitura e escrita quanto a interpretação passam a ser indispensáveis para uma boa aprendizagem. III- Não há necessidade de aprendermos a decodificar códigos linguísticos para o desenvolvimento das estruturas cognitivas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença III está correta. c) ( ) Todas as sentenças estão corretas. d) ( ) As sentenças I e II estão corretas. 2 Para criar um bom texto são necessárias algumas estratégias que podem ser utilizadas pelos professores, entre elas estão as perguntas na pré-leitura e depois da entrega o texto. Disserte brevemente sobre qual o objetivo principal dessa estratégia e quais são algumas dessas perguntas. 3 (ENEM, 2013) Dúvida Dois compadres viajavam de carro por uma estrada de fazenda quando um bicho cruzou a frente do carro. Um dos compadres falou: – Passou um largato ali! O outro perguntou: – Lagarto ou largato? O primeiro respondeu: – Num sei não, o bicho passou muito rápido. Piadas coloridas. Rio de Janeiro: Gênero, 2006. Na piada, a quebra de expectativa contribui para produzir o efeito de humor. Esse efeito ocorre porque um dos personagens. FONTE: . Acesso em: 20 jul. 2021. AUTOATIVIDADE 145 a) ( ) Reconhece a espécie do animal avistado. b) ( ) Tem dúvida sobre a pronúncia do nome do réptil. c) ( ) Desconsidera o conteúdo linguístico da pergunta. d) ( ) Constata o fato de um bicho cruzar a frente do carro. e) ( ) Apresenta duas possibilidades de sentido para a mesma palavra 4 Em geral os textos nunca dizem tudo o que o leitor realmente quer saber, é quando entra o trabalho interpretativo a fim de atribuir sentido à leitura. A respeito de ler e interpretar bem um texto, classifique em V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas. ( ) As imagens também devem fazer parte da interpretação. ( ) Às vezes é preciso ler várias vezes o mesmo texto para se entender. ( ) A leitura é o resultado da interação entre o leitor e o escritor. ( ) Para interpretar, basta saber ler e escrever. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) V – V – V – F. b) ( ) V – F – V – F. c) ( ) V – V – F – F. d) ( ) F – F – V – V. 5 A interpretaçãode texto é uma característica das línguas naturais que está presente no cotidiano das pessoas. Portanto, praticamos a interpretação textual de forma constante. Explique com suas palavras o que é interpretação de texto? 146 147 BILINGUISMO E A COMUNIDADE SURDA 1 INTRODUÇÃO Quando pensamos no sentido do que é surdez e suas características, ganha cada vez mais força a ideia de que toda criança surda deve também ser bilíngue. Fica claro que, o desenvolvimento escolar e social dos surdos só será efetivo se a língua de sinais, na modalidade gestual-visual, for aceita como língua materna (L1), e uma língua na modalidade escrita, como (L2). No caso da língua na modalidade escrita, seu ensino geralmente pode ser realizado para todos os alunos, porém, para o aluno surdo existe a diferença de que a explicação deve ser em língua de sinais. Em um sonho inclusivo, pensando no Brasil, as disciplinas de Língua Portuguesa e Libras deveriam ser ensinadas ao longo de toda a vida escolar do aluno, se configurando, assim, o bilinguismo. E como resultado, o sujeito surdo chegaria na idade adulta, não só sabendo ler e escrever, mas sabendo responder adequadamente as demandas da sociedade, ou seja, ser letrado em sua língua materna e na língua de seu país. O bilinguismo propõe que o surdo se comunique fluentemente na sua língua materna (LS) e na língua oficial de seu país (LP). Vamos continuar nossa discussão nos aprofundando no conceito do bilinguismo para a pessoa surda, e abordaremos, também, a respeito do professor bilíngue e quais são suas demandas. 2 O BILINGUISMO A comunidade dos Surdos brasileiros está inserida na grande comunidade de ouvintes que fazem uso da linguagem oral e escrita. Skliar (2013) chama a nossa atenção para a situação dos surdos sempre viverem em uma condição de subordinação aos ouvintes. Infelizmente, essa prática tem sido produzida e reproduzida durante muitos anos. Conforme Skliar (2013, p. 13), é a “ideia de supremacia do ouvinte”, como se os Surdos fossem incapazes. “Condição essa que, somente existe na concepção equivocada construída pelo ouvintismo” (NEGRÃO, 2018, p. 126-131) aliás, já ouviu falar nesse termo? De acordo com Skliar (2013, p. 15), UNIDADE 3 TÓPICO 2 - 148 O ouvintismo – as representações dos ouvintes sobre a surdez e sobre os surdos – e o oralismo – a forma institucionalizada do ouvintismo – continuam sendo, ainda hoje, discursos hegemônicos em diferentes partes do mundo. Trata-se de um conjunto de representações dos ouvintes, a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar- se como se fosse ouvinte. Assim, a comunidade surda, que subtende ser formada de Surdos e ouvintes engajados na causa dos Surdos, tem lutado durante muito tempo para estar à altura de uma sociedade majoritária de ouvintes, na qual prevalece o audismo. Para Perlin (1998, p. 59), A construção ouvintista nunca está longe daquilo que a ideia de ouvinte significa: uma noção que identifica a “nós ouvintes” em contraste com “aqueles surdos”. O principal componente é o que torna a cultura ouvinte – etnocentrismo – como hegemônica, uma ideia da identidade ouvinte como superior a tudo que se refere aos surdos. Assim, o bilinguismo também traz um conceito mais geral determinado pela situação sociocultural para a comunidade Surda, pois atravessa a fronteira linguística de outro grupo que se considera superior conforme o conceito de etnocentrismo, o que inclui o desenvolvimento da pessoa surda dentro e fora da escola. Então, podemos dizer que a educação bilíngue reconhece o surdo tanto na instância educacional quanto na social. Embora ainda encontremos muitas divergências quanto ao Surdo ser instruído em duas línguas (Libras) e (LP), todos concordam que o desenvolvimento cognitivo, afetivo, sociocultural e acadêmico das crianças surdas não depende necessariamente de audição, mas sim do desenvolvimento espontâneo da sua língua materna. E quando a língua de sinais não é utilizada na instrução da criança Surda concomitante a (LP), pode haver algumas consequências, tais como: Etnocentrismo: 1. tendência para tomar os valores do grupo étnico a que se pertence como os únicos critérios válidos na interpretação dos comportamentos de outros grupos ou povos. 2. convicção de que o grupo étnico a que se pertence é superior a todos os outros. FONTE: . Acesso em: 2 jun. 2021. Ouvinte: que ouve; que usa o sentido físico da audição. Ismo: movimento; corrente; doutrina; tendência. Etimologicamente pode- se dizer que ouvintismo é uma corrente ou doutrina do ouvinte. FONTE: . Acesso em: 18 nov. 2021. “Audismo é a forma de dominação dos ouvintes, reestruturando e exercendo a autoridade sobre a comunidade surda” (LANE, 1995, p. 52). NOTA 149 A Figura 4 mostra a exclusão linguística, e até social, dos Surdos meio a uma sociedade ouvintista, principalmente se o acesso a uma educação bilíngue lhe foi negada, ou não oportunizada. Destacamos ainda que o termo “bilíngue” não é um termo utilizado apenas na educação dos Surdos. Se fizermos uma reflexão pensando em uma redefinição de bilinguismo e educação bilíngue, estes termos se tornam um tanto quanto divergentes. Utiliza-se para o aprendizado de duas línguas, por exemplo, temos escolas que são bilíngues, ou seja, ensinam português e inglês ao mesmo tempo. No entanto, aqui nos referimos a Libras e Língua Portuguesa. Para os Surdos, o bilinguismo vem de uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança surda o aprendizado de duas línguas, isto é, a Língua de Sinais como língua natural (L1) e, para o ensino da língua escrita, a Língua Portuguesa (L2). Quadros (2000, p. 54) ressalta que, “Quando me refiro ao bilinguismo, não estou estabelecendo uma dicotomia mas sim reconhecendo as línguas envolvidas no cotidiano dos surdos, ou seja, a Língua Brasileira de Sinais e o Português no contexto mais comum do Brasil”. De modo que o bilinguismo propõe que o surdo se comunique fluentemente na sua língua materna (língua de sinais), e também na modalidade escrita da língua oficial do país. Conforme Lacerda (1998 apud SANTOS, 2021, s.p.), Este (o surdo) perde a oportunidade de usar a linguagem, senão o mais importante, pelo menos um dos principais instrumentos para a solução de tarefas que se lhe apresentam no desenvolvimento da ação inteligente; a) O surdo não há de recorrer ao planejamento para a solução de problemas; b) Não supera a ação impulsiva; c) Não adquire independência da situação visual concreta; d) Não controla seu próprio comportamento e o ambiente; e) Não se socializa adequadamente (GOLDFELD, 2002, p. 45). De modo que, é de suma importância para o desenvolvimento acadêmico, linguístico e social que a criança surda tenha acesso a um ensino bilíngue. Observe com atenção a imagem. FIGURA 4 – O BILINGUISMO E O SURDO FONTE: . Acesso em: 10 jun. 2021. 150 O bilinguismo na área da surdez propõe um espaço efetivo para que a língua de sinais seja utilizada no trabalho educacional, propondo que sejam ensinadas duas línguas à criança surda: a língua de sinais por ser sua língua natural e a língua oficial do país (no caso do Brasil, a Libras – Língua Brasileira de Sinais e o Português). Observamos, assim, que, para a comunidade Surda, o bilinguismo, tal como já vimos até aqui, é mais do que o aprendizado e o uso de duas línguas em contextos acadêmicos e sociais. Trata-se de uma filosofia educacional que implica profundas mudanças em todo o sistema educacional para essa comunidade. Neste contexto, Lopes e Veiga-Neto (2006, p. 82) refletem sobre isto ao dizer que: Para que um grupo se constitua e se configure como uma comunidade, algumas condições são necessárias. Temos como exemplos: afinidades entre osdiferentes indivíduos que constituem o grupo, interesses comuns que possam conduzir as ações do grupo por caminhos comuns, continuidade das relações estabelecidas, bem como tempo e espaço comuns, em que os encontros do grupo possam acontecer. Entende-se, aqui, “comunidade surda” como um espaço de trocas simbólicas em que as línguas de sinais, a experiência visual e os artefatos culturais surdos são partilhados entre sujeitos Surdos e ouvintes, com interesses e projetos comuns. Segundo Strobel (2008), os artefatos culturais não são apenas produções materiais de uma cultura, mas consistem nas manifestações culturais, produções palpáveis e não palpáveis que expressam sua forma de ver, entender e transformar o mundo do qual ele se apropria para seu desenvolvimento cognitivo, cultural e de sua identidade. Quanto aos interesses em comum entre Surdos e ouvintes, Perlin e Miranda (2003, p. 220) no dizem que, “alguns enfatizam mais os aspectos políticos, outros os aspectos referentes à língua de sinais e artes, alguns mantêm um tipo ‘ser surdo’ como minoria, como comunidade, como povo”. Há uma raiz teórica sobre a diferença entre Surdo com “S” maiúsculo e surdo com “s” minúsculo. O “S” maiúsculo faz referência à comunidade Surda como uma entidade linguística e cultural, já o “s” minúsculo traz atenção a surdez como uma deficiência auditiva. NOTA 151 Note, na Figura 5, a diferença visível de uma escola com proposta bilíngue e a outra sem, ou seja, a que temos, na esmagadora maioria, em nosso contexto de Brasil. Portanto, embora tenhamos dado um grande passo com o reconhecimento, por meio da Lei nº 10.436/2002, da Libras como língua oficial da comunidade Surda brasileira, e tenha aberto o caminho para uma educação bilíngue para os surdos, bem como a aceitação da existência de uma cultura surda, ainda carecemos muito de ofertas de educação bilíngue para Surdos. Strobel (2008) esclarece sobre a representação da cultura surda da seguinte forma: [...] uma cultura é um conjunto de comportamentos apreendidos de um grupo de pessoas que possuem sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições; uma comunidade é um sistema social geral, no qual um grupo de pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras (STROBEL, 2008, p. 30-31). Nesse sentido, o bilinguismo para os surdos no Brasil, além de estar amparado pela lei, também é recomendado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) como uma proposta válida e eficaz, e necessário para a inclusão social efetiva dos surdos. O decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, em seu capítulo VI, artigo 22, determina como deve ser organizado o ensino bilíngue para a inclusão escolar do surdo dividindo em dois tipos escolas: I- escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; FIGURA 5 – QUE ESCOLA É ESSA? FONTE: . Acesso em: 10 jun. 2021. 152 II- escolas bilíngues ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes de diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade linguística dos alunos surdos, bem como a presença de tradutores e intérpretes de Libras – Língua Portuguesa (BRASIL, 2005). Sobre o cumprimento da legislação, destacamos que, na prática, embora existam algumas escolas bilíngues no Brasil, em âmbito federal e municipal elas não suprem a demanda de alunos Surdos, pois falta estrutura, tanto física como de profissionais bilíngues habilitados para trabalhar nestas instituições. O decreto também esclarece e indica como devem ser as ações relativas em relação a avaliar a língua portuguesa para o aluno surdo e as ações próprias dos espaços escolares frequentados por surdos. Veja o capítulo IV, Art. 14, inciso VI, que diz, “adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade linguística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa” (BRASIL, 2005). Assim, pela configuração da lei, é necessário que a instituição e profissionais envolvidos adotem mecanismos de avaliação em que o surdo seja respeitado em sua cultura e língua, e que possa expressar-se da maneira satisfatória em locais onde haja a troca de comunicação e de aprendizagem para uma inclusão escolar plena. Porém, neste processo, para que os resultados sejam efetivos, a recomendação é de que pelo menos um professor seja bilíngue. Vamos entender melhor isso no subtópico a seguir. Leia o artigo “Bilinguismo e educação bilíngue – discutindo conceitos” de Antonieta Heyden Megale, grande estudiosa em Bilinguismo. Disponível em: https://bit.ly/3HD29vM. DICA 3 O PROFESSOR BILÍNGUE A inclusão deve permear todos os âmbitos da sociedade. Mas sabemos que ainda há que se avançar nesse aspecto. No que diz respeito à inclusão do surdo à escola, por lei, a escola deve estar pronta para receber a criança surda. Lacerda (2006, p. 176) afirma que, “os envolvidos em sua implementação são pouco responsáveis, pois a escola deve se mostrar aberta a ela, inclusive, porque há a força da lei”. Hoje em dia discute-se como essa criança vai ser recebida, pois tem uma língua e cultura diferentes, além disso, como os outros vão reagir durante a rotina da escola, e se os professores estão preparados para receber essas crianças. 153 Na perspectiva aqui relatada, e conforme Lacerda (2006), parece que não existem problemas e que tudo está sendo feito de forma correta para a escola, para os professores, para os alunos ouvintes e surdos e para a família do surdo. Porém, na prática ainda falta muito o que fazer, tudo gira em torno de como incluir para não excluir, ou apenas integrar essa criança. Pense na pergunta da Figura 6 e reflita, quantos pais não fizeram essa pergunta ao matricular seu filho nas escolas. Se tornando indispensável que a escola e os profissionais assumam a educação dos alunos, sejam eles surdos/ouvintes considerando a pedagogia com suas diversidades, pois todos os alunos devem estar inseridos em uma escola regular, indiferente da sua origem social, étnica e/ou linguística. Lacerda (2006, p. 176) levanta alguns dos problemas que ainda enfrentamos em nosso país: A escola não se preocupa mais com a questão, porque se preocupar significaria buscar outras ajudas profissionais (intérprete, educador surdo, professor de apoio etc.) e a escola pública brasileira, em geral, não conta nem com a equipe básica de educadores para atender as necessidades dos alunos ouvintes; b) os professores, que percebem que o aluno não evolui, mas não sabem o que devem fazer, por falta de conhecimento e preparo; c) os alunos ouvintes, que acolhem, como podem a criança surda sem saber bem como se relacionar com ela; d) o aluno surdo, que, apesar de não conseguir seguir a maior parte daquilo que é apresentado em aula, simula estar acompanhando as atividades escolares, pois afinal todas aquelas pessoas parecem acreditar que ele é capaz; e) a família, que sem ter outros recursos precisa achar que seu filho está bem naquela escola. É bem verdade que, desde 2006, quando a autora escreveu o texto anterior, conseguimos notar vários avanços no contexto educacional dos Surdos aqui no Brasil, como, por exemplo, hoje já é possível encontrar formações específicas para os professores que recebem um aluno Surdo em sala, além disso, foram criadas muitas atividades com diversos conteúdos interdisciplinares, facilitando muito a vida do professor em sala de aula. FIGURA 6 – QUE ESCOLA ESSA – MEU FILHO É SURDO FONTE: . Acessoem: 12 de jun. 2021. 154 Entretanto, muitos problemas que ela apontou perduram até nossos dias. Assim, notamos como a educação dos surdos e seus segmentos ainda precisam de muita fundamentação e avanço. É importante que as diferenças linguísticas e a identidade do aluno surdo sejam respeitadas, a fim de que seja garantido o valor da sua emancipação na etapa educacional para conseguir um espaço humano, social e profissional na sociedade. Isso implica, também, como esse aluno irá ingressar em uma Universidade. Lacerda (2006, p. 176-177) ressalta que, Ao final de anos de escolarização, a criança recebe o certificado escolar sem que tenha sido minimamente preparada para alcançar os conhecimentos que ela teria potencial para alcançar (em muitos casos, termina a oitava série com conhecimentos de língua portuguesa e matemática, compatíveis com a terceira série). Essa realidade é gravíssima e tem se repetido no Brasil, a cada ano. Torna- se urgente intervir e modificar estes fatos. Infelizmente, o que Lacerda (2006) aponta na citação anterior, é uma realidade enfrentada por muitos sujeitos Surdos que almejam finalizar seus estudos e se formar por meio de curso técnico ou uma graduação. Por outro lado, pode-se dizer que o profissional intérprete de Libras está na sala para garantir que o aluno surdo seja incluso como um todo, e faça a mediação comunicacional, promovendo uma contribuição para a aprendizagem satisfatória e uma socialização entre o aluno surdo, o professor regente, os demais colegas da turma, enfim, toda a comunidade escolar. Nesse sentido, A presença de um intérprete de língua de sinais em sala de aula pode minimizar alguns aspectos [...], em geral, favorecendo uma melhor aprendizagem de conteúdos acadêmicos pelo aluno, que teria ao menos acesso (se conhecesse a língua de sinais, ou pudesse adquiri-la) aos conteúdos trabalhados. Todavia, este aluno continua inserido em um ambiente pensado e organizado para alunos ouvintes (LACERDA, 2006, p. 177). O profissional tradutor/intérprete de Libras/Português (TILSP) precisa ter condições de entender, formular e sinalizar todas as informações que são passadas pelos professores. Segundo Quadros (2004 apud SANTOS, 2021, s.p.), o “tradutor/intérprete de Libras é o profissional que interpreta e traduz a mensagem de uma língua para outra de forma precisa, permitindo a comunicação entre duas culturas distintas”. Nesse sentido, o conhecimento de ambas as línguas (Libras e Português) é de fundamental importância para este profissional. Assim, aprofundar-se no conteúdo da língua portuguesa, como tem sido feito até aqui, neste material (por meio do conhecimento da morfologia, dos gêneros e tipos textuais, da leitura e compreensão de textos), facilita muito a atividade do profissional intérprete. 155 De forma geral, é necessário também que os professores ouvintes recebam formação sobre a maneira mais adequada para ensinar os alunos surdos em sala regular, com auxílio do profissional TILSP. Nesse sentido, um fator importante para o ensino de Libras na escola é a presença do professor bilíngue, ou seja, fluente em Libras/ Português. Isso porque, conseguirá, de forma apropriada e eficiente, ensinar um aluno surdo a se comunicar em sua língua materna inicialmente para depois aprender uma língua na modalidade escrita. Observe a Figura 7. Notamos como a presença do professor bilíngue faz toda a diferença para o aluno Surdo. Sobre a caracterização acerca do professor bilíngue, o Decreto nº 5.626/2005, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, fala sobre a formação e a certificação de docente para o ensino de Libras. Note o que diz: Art. 4º A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 5º A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngue (BRASIL, 2005, grifo do original). Essa formação visa à implantação de uma educação bilíngue, pois as grades desses cursos sugerem a capacitação de professores com formação e práticas bilíngues para a educação dos surdos. Além disso, a prioridade para ensinar Libras deve ser dada aos professores Surdos formados em Letras Libras, isso fará toda a diferença no ensino do aluno surdo. FIGURA 7 – PROFESSOR BILÍNGUE FONTE: Oliveira (2014, p. 9) 156 Assim, o professor com domínio da língua de sinais surdo/ouvinte terá mais clareza nos processos de associação e contrastes entre as duas línguas que os surdos brasileiros precisam aprender para se relacionar bem na sociedade em que vivem. É importante destacar que o conhecimento da Libras pelo professor, seja ele surdo/ouvinte, não significa que ele ministrará as aulas usando as duas línguas, Português e Libras, mas que essa fluência da língua materna do surdo viabilizaria a relação pedagógica com seu aluno surdo usuário de Libras, pois algumas crianças surdas iniciam sua escolarização sem saber Libras, seja porque a família não usa ou por outro motivo, e a elas também é preciso ensinar sua própria língua materna. Com apoio dos professores, os alunos surdos utilizam os conhecimentos linguísticos adquiridos da sua língua materna como estratégia de aprendizagem de outras disciplinas à medida que interagem. Conforme Quadros (2003, p. 80), As questões nesse sentido são: como todos os participantes estão elaborando o sentido sobre o que estão falando? O que eles estão fazendo ao falar? Esta interação é uma atividade em que os participantes determinam a cada minuto o significado de alguma coisa que é dita. Essa atividade envolve um ato interpretativo baseado na experiência dos participantes em situações similares, bem como o conhecimento gramatical e lexical. Desse modo, Quadros (2003) chama atenção para o fato que é importante considerar que, como qualquer aluno, o Surdo irá utilizar a linguagem com objetivos específicos através de convenções sociais, linguísticas e interativas. Porém, é necessário que as instituições e professores ofereçam ao aluno surdo formas de aprendizado da língua portuguesa, não ressaltando a diferença no funcionamento linguístico, mas dando ao aluno oportunidades para que se desenvolva social, política, emocional e culturalmente. Este é um assunto para o próximo subtópico. Assista a pequenas entrevistas com os profissionais do MEC que trabalham com bilinguismo aqui no Brasil no vídeo intitulado “Ministério recebe representantes de pessoas surdas para discutir política de educação bilíngue”. Disponível em: https://bit.ly/3CqYOMj. DICA 157 4 A LÍNGUA PORTUGUESA NA MEDIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DOS SURDOS As condições de escolarização a que a maioria dos surdos já foram submetidos coloca um grande desafio a ser enfrentado pelos profissionais da educação. Tal cenário é reflexo de um processo de educação que não atende às singularidades dos alunos surdos, o que resulta na promoção deles até mesmo sem o desenvolvimento de habilidades e competências previstas nos conteúdos acadêmicos de cada etapa de escolarização. Alguns problemas surgem neste processo de ensinar a língua portuguesa para os surdos. Por exemplo, a escola, muitas vezes, faz uso de livros didáticos ineficientes que não permitem que a criança perceba a função do texto. Com isso, através das metodologiasadotadas tradicionalmente no ensino da Língua Portuguesa, negou-se aos surdos: [...] o acesso a práticas linguísticas significativas que os auxiliassem a perceber o sentido na aprendizagem de uma segunda língua, como consequência, as respostas para o fracasso apresentado não foram buscadas nas estratégias inadequadas destinadas ao aprendizado da língua, mas foram justificadas como inerentes à condição da deficiência auditiva e não como possibilidade diferenciada de construção gerada por uma forma de organização linguístico- cognitiva diversa (FERNANDES, 1998, p. 163). Assim, conforme mostra Fernandes (1998), o despreparo dos profissionais com práticas educacionais voltadas para o ensino de Surdos, não dão condições para que eles construam seus conhecimentos. Nesse sentido, esses desafios devem ser abordados a partir de ações que visem às mudanças significativas adotadas a partir de um ensino, tendo o português como segunda língua na modalidade escrita para surdos, a fim de entender a proposta bilíngue (conforme já apresentado). De acordo com Karnopp (2012, p. 37), As amarras de uma educação bilíngue aos projetos pedagógicos têm como pontos de destaque o desafio uma política de educação bilíngue, de práticas de significações que devem ser pensadas nos diferentes contextos históricos e culturais, no sentido de que a educação bilíngue não pode ser assimilada à escolarização bilíngue. Outra amarra é o modo como a surdez está sendo construída nos projetos pedagógicos, já que denominar um projeto pedagógico como “bilíngue” não supõe necessariamente um caráter intrínseco de verdade; é necessário estabelecer com clareza as fronteiras políticas que determinam a proposta educativa. Note que a autora usa a expressão “amarras”, o que nos remete a “vínculos”, ou seja, a construção de uma educação bilíngue para os Surdos implica projetos bilíngues vinculados ou amarrados a uma política bilíngue que respeita os contextos históricos 158 e culturais do povo surdo brasileiro. Assim, o ensino de português para alunos surdos deve ser desenvolvido do mesmo modo como o ensino de uma língua estrangeira a qualquer pessoa. Nesse sentido, Peixoto (2006, p. 209) afirma que, A condição de segunda língua que o Português tem na vida do surdo promove nesse sujeito um estranhamento semelhante ao que nós, ouvintes, temos quando nos deparamos com uma língua estrangeira. Interpretar ou produzir uma escrita estranha à própria língua confronta nossa organização de linguagem e nosso conhecimento gramatical, exigindo uma produção de novas significações que só conseguiremos construir tendo como base a nossa língua materna. Destaca-se, também, que a maioria das crianças surdas não possuem problemas cognitivos que as impeçam de se apropriarem dos conteúdos da Língua Portuguesa. Além disso, não é necessário que o surdo consiga falar e/ou ouvir para aprender a modalidade escrita da Língua Portuguesa, “aprender o português decorrerá do significado que essa língua assume nas práticas sociais para as crianças e jovens surdos. E esse valor só poderá ser conhecido por meio da língua de sinais” (FERNANDES, 2006, p. 6). Portanto, o ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos deve se dar a partir da construção de conhecimentos em Libras. De maneira significativa e contextualizada, devemos entender que o surdo precisa aprender a ler e a escrever em uma língua na qual não domina a fala, buscando, inicialmente, a significação do Português em seus diferentes contextos e, em seguida, partir para a aprendizagem da estrutura formal, pois, estando expostos à nova língua, esses alunos vão criando hipóteses em relação à sua gramática. Fernandes (2006, p. 132-133), com base em diversos pesquisadores, afirma que, a língua escrita pode ser plenamente adquirida pelos surdos se a metodologia empregada não enfatizar a relação letra-som como pré-requisito, mas recorrer, principalmente, a estratégias visuais, prioritariamente pautadas na língua de sinais, similares metodologicamente àquelas utilizadas usualmente no ensino de segunda língua para ouvintes. A partir de atividades significativas de construção de textos, com negociação entre o professor e alunos surdos, por meio da língua de sinais, o mediador pode realizar um processo coletivo de retextualização, com a finalidade de adequar o texto produzido às normas formais da gramática, sem grandes interferências na produção dos alunos. Não é necessário que o surdo consiga falar e/ou ouvir para aprender a modalidade escrita da Língua Portuguesa, para passar por todos esses processos. Para Fernandes (2006, p. 134), “a língua de sinais exerce função semelhante à oralidade no aprendizado da escrita pelos surdos, possibilitando a internalização de significados, conceitos, valores e conhecimentos que medeiam a apropriação imagética do sistema de signos escritos”. 159 Assim, considerando todas essas questões, de acordo com Guarinello (2007, p. 142), para o ensino de leitura e de escrita deve-se ter em mente que: o domínio do português escrito só acontecerá por meio de seu uso constante, assim, os surdos, como os ouvistes, precisam ter acesso aos diferentes tipos de texto escrito. Além disso, o trabalho com a escrita deve partir do que esses indivíduos já possuem, ou seja, a língua de sinais, pois é essa a língua que dará toda a base linguística para aprendizagem de qualquer língua. Frente a essa realidade, para que a educação de surdos tenha sucesso, faz-se necessário organizar uma pedagogia que contemple a visualidade. A pedagogia visual está pautada no que diz Campello (2008, p. 20), “com características visuoespaciais, a LSB inscreve-se no lugar da visualidade e, sem dúvida, encontra na imagem uma grande aliada às propostas educacionais” e às práticas sociais. A pedagogia visual se estabelece por meio do uso de vídeos, imagens, figuras, junto com uso das expressões faciais e corporais que devem ser exploradas e incorporadas. Nesse contexto, o professor, valendo-se da semiótica imagética, pode explorar as linguagens não verbais e fazendo uso da Libras para contextualizar atividades, tornando-as significativas aos alunos surdos. Dessa forma, tanto o professor bilíngue e o professor que usa da pedagogia visual, partem de conceitos básicos para explorar os conceitos complexos. Baixe e leia o artigo, “Português para crianças surdas: leitura e escrita no cotidiano”. Disponível em: https://bit.ly/3x11y1P. DICA 5 LER E ESCREVER NA LÍNGUA PORTUGUESA – BREVE PERCEPÇÃO DA SURDEZ A Língua Portuguesa (LP) é vista como Língua Estrangeira (LE) para o Surdo. Assim, é neste sentido que entendemos uma frase muito usada e, de certa forma triste, que precisa ser mudada: “o Surdo se sente estrangeiro em seu próprio país”. Não obstante, a esta situação, a Língua Portuguesa acaba assumindo uma importância grande como meio de acesso ao conhecimento. Sabemos que o Surdo possui as mesmas capacidades cognitivas que um ouvinte em aprender as estruturas escritas da língua portuguesa. Destaca-se, ainda, a importância sobre o fato que o desenvolvimento 160 desse aluno surdo se dá como o de qualquer criança que frequenta a escola, ou seja, ele vai construindo a linguagem, o sistema de identificação, os valores sociais e afetivos, entre outros. De acordo com Lacerda (2006, p. 177), É na escola que as crianças aprendem ou aperfeiçoam formas de narrar, de descrever, modos adequados de usar a linguagem em diferentes contextos, ampliando seu conhecimento linguístico, e experimentam regras de convivência social, regras de formação de grupo e de valores sociais fundamentais para a adaptação da vida em sociedade. Nesse sentido, a aprendizagem de uma segunda língua implica o encontro de expressões com palavras que trazem em si valores socioculturaisdiversos. Mas a questão da escrita do surdo na língua portuguesa, para alguns, pode parecer estranha, visto que, ao escreverem os textos, parecem não conseguir construir conexão entre as frases. De acordo com Gesser (2009, p. 59), Para dar conta das questões educacionais na formação do surdo, inclusive a aprendizagem da língua portuguesa em sua modalidade escrita, há necessidade de inverter a lógica praticada até então nos ambientes escolares e afirmar: os professores ouvintes de crianças surdas é que precisam saber a LIBRAS para poder educá-las. Assim, segundo Gesser (2009), para saber ler e escrever em LP, a criança surda passa por um processo de alfabetização imersa nas relações cognitivas que, seguindo a perspectiva bilíngue, inicialmente é estabelecida por meio da língua de sinais, organizando os pensamentos, acumulando elementos para passar a registrar as relações de significação que estabelece com o mundo ao seu redor. Nesse processo de aprendizagem, a criança surda se deparará com algumas dificuldades. Tais dificuldades não acontecem apenas para escrever, mas a leitura também se constitui em uma dificuldade para o surdo. Dentre os obstáculos, o principal seria a restrição de vocabulário, isso porque muitas vezes não existem sinais em Língua de Sinais correspondentes a algumas palavras faladas. De modo que os que são hábeis em Língua de Sinais procuram estabelecer uma correspondência termo a termo entre as palavras escritas e os sinais. Nesse aspecto, Gesser (2009, p. 18-19), afirma que, a Libras e a Língua Portuguesa, “[...] são similares em seu nível estrutural, ou seja, são formadas a partir de unidades simples, que combinadas, formam unidades mais complexas [e são diferentes] quanto à forma como as combinações das unidades são construídas”. Há estudos desenvolvidos sobre esse assunto. Por exemplo, Quadros e Schmiedt (2006) investigaram profundamente o processo de aquisição por alunos surdos de uma língua escrita, e chegaram ao que elas chamam de estágios de interlínguas. Veja, a seguir, o que elas apontam sobre este processo de aquisição: 161 1. Escrita mais próxima à língua de sinais; apresenta falta ou inadequação de artigos, preposições, conjunções, uso de verbos no infinitivo, raro emprego de verbos de ligação (ser, estar, ficar). É comum em fase inicial de aquisição da escrita. 2. Apresenta intensa mescla das duas línguas. A estrutura da frase possui ora características da língua de sinais, ora características gramaticais da frase do português. As frases e palavras aparecem justapostas, não resultam em efeito de sentido comunicativo. Há emprego de verbos no infinitivo e flexionados, às vezes, emprego de verbos de ligação com correção. Aparece o emprego de artigos, algumas vezes concordando com os nomes que acompanham. 3. Mais próximo do português escrito convencional, com emprego maior e mais adequado de artigo, preposição, conjunção, flexão dos nomes, flexão verbal e emprego de verbos de ligação – ser, estar, ficar. FONTE: Adaptado de QUADROS, R. M. de; SCHMIEDT, M. L. P. Ideias para ensinar português para alunos surdos. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2006. p. 34-36. Disponível em: https://bit.ly/3nEXQrj. Aces- so em: 18 nov. 2021. Esses estágios da interlíngua apresentam características de um sistema linguístico com regras próprias, mas que vai em direção ao português escrito. Para Quadros e Schmiedt (2006, p. 34), ao serem alfabetizadas “as crianças surdas apresentarão um sistema que não mais representa a primeira língua, mas ainda não representa a língua-alvo”. Por isso, muitas vezes, ao lermos os textos das pessoas surdas, parece de difícil compreensão. A língua de sinais funciona para o surdo como suporte do pensamento, como meio de comunicação com o mundo. De modo que o aprendizado da leitura e da escrita pelos surdos não segue os mesmos caminhos e processos que para uma pessoa ouvinte. Silva (2010) considera que o aprendizado do Português escrito ainda é um enorme desafio no campo da educação de alunos surdos usuários ou não de Libras. Os textos escritos em português são muito difíceis para o surdo avançar academicamente, uma vez que, segundo Fernandes (2006), os surdos, em suas tentativas de leitura, procuram justapor as estruturas da Libras e da Língua Portuguesa, dificultando a compreensão do texto escrito como já evidenciado aqui. Leia o livro, “Ideias para ensinar português para alunos surdos” do MEC, escrito por Quadros e Schmiedt (2006). Disponível em: https://bit.ly/3nEXQrj. DICA 162 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Segundo Skliar (1998), o ouvintismo são as representações dos ouvintes sobre a surdez e sobre os surdos, e o oralismo é a forma institucionalizada do ouvintismo. • A comunidade surda é formada de Surdos e ouvintes engajados na causa dos Surdos. • Bilíngue não é um termo utilizado apenas na educação dos Surdos. • Para a comunidade Surda, o bilinguismo é mais do que o uso de duas línguas. É uma filosofia educacional que implica em profundas mudanças em todo o sistema educacional para surdos. • Foi somente a partir do reconhecimento da Lei nº 10.436/2002, que se abriu o caminho para uma educação bilíngue para os surdos, bem como a aceitação da existência de uma cultura surda. • O ensino da Língua Portuguesa para alunos surdos deve se dar a partir da construção de conhecimentos em Libras. • A pedagogia visual se estabelece por meio do uso de vídeos, imagens, figuras, junto com uso das expressões faciais e corporais que devem ser explorados e incorporados no ensino dos surdos. • A dificuldade para o letramento do surdo não acontece apenas para escrever, mas na leitura também. Isso acontece devido a um dos obstáculos principais, a restrição de vocabulário. • Quadros e Schmiedt (2006) investigaram profundamente o processo de aquisição por alunos surdos de uma língua escrita, que segunda elas perpassam por três estágios de interlínguas. 163 1 Ao longo da história da Educação dos surdos, foram utilizadas diferentes abordagens educacionais que influenciaram de forma significativa a compreensão e instrução dos surdos. Entre elas há a abordagem que defende que é essencial envolver a criança surda em um contexto comunicativo e interacional, elevando assim a consideração para os aspectos sociais, emocionais e cognitivos, essenciais para o desenvolvimento global da criança. Como esta abordagem é denominada: a) ( ) Oralismo. b) ( ) Comunicação total. c) ( ) Comunicação geral. d) ( ) Bilinguismo. e) ( ) Multiculturalismo. 2 O trabalho pedagógico para com alunos com surdez, nas escolas, deve ser desenvolvido em um ambiente bilíngue. Neste sentido, um protagonista importante é o professor bilíngue. O Decreto nº 5.626, de 20 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, sobre a Língua Brasileira de Sinais (Libras), reconhece que a educação bilíngue tem os seguintes princípios: I- A língua de sinais deve ser ensinada como primeira língua e a língua portuguesa, como segunda. II- A língua portuguesa deve ser ensinada na modalidade escrita como L2. III- A língua portuguesa deve ser ensinada como primeira língua e a língua de sinais, como segunda. IV- A língua portuguesa deve ser a única linguagem que o surdo poderá adquirir fora do espaço escolar. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) São corretas as afirmativas I e II. b) ( ) São corretas as afirmativas II e IV. c) ( ) São corretas as afirmativas I, II e III. d) ( ) São corretas as afirmativas II, III e IV. 3 Para Fernandes (2006, p. 134), “a língua de sinais exerce função semelhante à oralidade no aprendizado da escrita pelos surdos, possibilitando a internalização de significados,conceitos, valores e conhecimentos que medeiam a apropriação AUTOATIVIDADE 164 imagética do sistema de signos escritos”. Entendemos, então, que não é necessário que o surdo consiga falar e/ou ouvir para aprender a modalidade escrita da Língua Portuguesa. Sobre a importância da LS para o aprendizado da LP, assinale a alternativa CORRETA: FONTE: FERNANDES, S. F. Práticas de letramento na educação bilíngue para surdos. Curitiba: SEED, 2006. p. 134. a) ( ) Acontece a partir de atividades significativas de construção de textos, com negociação entre o professor e alunos surdos, por meio da língua de sinais. b) ( ) A finalidade é de adequar o texto produzido às normas formais da gramática da Língua Portuguesa sem interferências da língua de sinais. c) ( ) O que vai fazer a mediação entre o aprendizado da língua na modalidade escrita para o surdo é o auxílio somente com atividades para crianças ouvintes. d) ( ) A aprendizagem da língua escrita do educando com surdez, deve ser substituída sempre pelas avaliações do professor de Língua portuguesa. 4 Este tópico abordou uma discussão antiga, repleta de lutas e preconceitos, relacionado a vertente ouvintista que durante anos imperou sobre a comunidade surda. Conforme Skliar (2013, p. 13) é a “ideia de supremacia do ouvinte”. De acordo com essa citação. Disserte sobre o termo “ouvintismo”. FONTE: SKLIAR, C. (org.). Atualidade da educação bilíngue para surdos: processos e projetos pedagógicos. 4. ed. Porto Alegre: Mediação, 2013. 5 Sobre o conceito de comunidade surda e suas características, Perlin e Miranda (2003, p. 220) trazem as pesquisas envolvidas quando dizem que: “alguns enfatizam mais os aspectos políticos, outros os aspectos referentes à língua de sinais e artes, alguns mantêm um tipo ‘ser surdo’ como minoria, como comunidade, como povo”. Depois desta explicação, na sua concepção, o que é comunidade surda? FONTE: PERLIN, G. MIRANDA, W. Surdos: o narrar e a política. Ponto de Vista, Florianópolis, n. 5, 2003. p. 217-226. 165 TÓPICO 3 - A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS NO PROCESSO DE TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LIBRAS 1 INTRODUÇÃO A comunicação está intimamente condicionada com os nossos pensamentos e a nossa fala, isto se dá devido aos esquemas mentais que são criados enquanto nos comunicamos com os outros, seja oralmente ou de forma escrita, por meio da nossa língua materna (L1), ou uma por meio da Língua Estrangeira (L2), permitindo uma melhor compreensão do mundo a nossa volta. Consequentemente, a produção e a tradução de texto também são uma maneira de estudar o desenvolvimento de uma língua. Antunes (2009, p. 23) ressalta que, A língua é, assim, um grande ponto de encontro; de cada um de nós, com os nossos antepassados, com aqueles que, de qualquer forma, fizeram e fazem a nossa história. Nossa língua está embutida na trajetória de nossa memória coletiva. Daí o apego que sentimos à nossa língua, ao jeito de falar de nosso grupo. Esse apego é uma forma de selarmos nossa adesão ao grupo. Tudo isso porque linguagem, língua e cultura são, reiteramos, realidades indissociáveis. Sendo a língua e a linguagem atreladas à cultura da comunidade que a usa, os ouvintes engajados na causa Surda também fazem parte da comunidade surda, no uso de Libras que não fica restrita apenas aos sujeitos surdos. Nesse sentido, os profissionais tradutores e Intérpretes de Libras/LP, vem ganhando cada vez mais espaço junto com as conquistas dos direitos adquiridos pelos surdos. A Figura 8 exemplifica isto: UNIDADE 3 FIGURA 8 – INTERPRETAÇÃO FONTE: Siqueira (2015, p. 24) 166 Como sabemos e como a Figura 8 exemplifica, o TILSP é o profissional responsável por mediar a comunicação entre os surdos e os ouvintes, e que precisa manter-se neutro e íntegro, garantindo acesso a toda e qualquer informação para as pessoas surdas usuárias de Libras. Para isso, esse profissional deve saber usar as duas línguas fluentemente e entender as culturas delas, fazendo as adequações necessárias para que o conteúdo disponibilizado ao surdo seja o mais fiel possível. Nesse sentido, quanto mais conhecimento a respeito da Língua Portuguesa ele possuir, mais será facilitado a sua atividade. Sobre isso, Kleiman (2004, p. 20) destaca que, Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior sua exposição a todo tipo de texto mais fácil será sua compreensão, pois o conhecimento de estruturas textuais e de tipos de discurso determinará, em grande medida, suas expectativas em relação aos textos, expectativas estas que exercem um papel considerável na compreensão. Assim, o fato de o TILSP aprofundar-se no conhecimento da Língua Portuguesa, fará com que a sua atividade seja extremamente facilitada, tendo em vista o ganho do conhecimento adquirido, pois sua compreensão será mais clara diante daquilo que precisa interpretar. As ações de traduzir e interpretar são distintas, mas, estão entrelaçadas. Independente do par linguístico (português-inglês, português-libras etc.) em que o profissional atua, isso possibilita o desenvolvimento de habilidades distintas nos dois campos de atuação. O tradutor, quando faz suas opções tradutórias, em geral, apoia-se em ferramentas como: dicionários, enciclopédias, tradutores eletrônicos, bancos de dados etc. Daí a importância de um bom domínio da Língua Portuguesa nesse processo, bem como da Libras. Mas destacamos que, no campo de língua de sinais, a atuação da interpretação cria uma demanda maior, se considerarmos que as suas escolhas são feitas no momento e no contexto imediato das produções linguísticas. Exige-se improvisação, rapidez de ritmo e limitação de tempo, pois a presença do emissor força o intérprete a poucas possibilidades de refletir sobre o texto da língua de partida (RÓNAI, 1987). E o aumento da demanda por esses profissionais fica evidente à medida que os Surdos vão buscando e reconhecendo seu espaço na sociedade, principalmente no campo acadêmico, o que envolve a formação educacional do público surdo. 167 Observe, na Figura 9, como o leque de atuação do intérprete de Libras é cada vez mais vasto. O certo é que há muitos desafios pela frente, e o profissional tradutor/ intérprete de Libras/Português é visto apenas como um professor, e não como alguém que irá servir de ferramenta de comunicação entre o surdo e a sociedade em vários contextos. Além disso, existem muitas dificuldades referentes à qualificação desses profissionais, como, por exemplo, a necessidade de ter conhecimento das línguas. 2 O TRADUTOR/INTÉRPRETE E O CONHECIMENTO DAS LÍNGUAS Como qualquer profissão, o profissional TILSP precisou de uma política para ser reconhecido. Mas antes desse reconhecimento, houve uma construção desse profissional na sociedade. Conforme Lacerda (2010, p. 133), isso foi “historicamente constituído na informalidade, nas relações sociais, pela demanda dos próprios surdos que inúmeras vezes precisam de intérpretes para mediar sua comunicação com ouvintes”. FIGURA 9 – CAMPOS DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL TILSP FONTE: Lima e Vasconcelos (2013, p. 9) Acesse o artigo de Neiva de Aquino Albres, “Fios de significação reconhecidos e reorientados no processo de tradução de literatura – Português/Libras”. Disponível em: https://bit.ly/3CygkhI. DICA 168 Como o nosso intuito não é especificar a política para a formação desse profissional, trazemos brevemente os principais documentos que norteiam e/ou regulamentam a atuação estes profissionais são eles: o Decreto nº 5.626/2005 e a Lei nº 12.319/2010. Observe na Figura 10 as leis exemplificadas: Portanto, a história e a formação dos profissionais TILSP caminham de mãos dadas com a comunidade Surda brasileira, dessa forma, precisamos refletir que não se trata de uma pessoaou um grupo in loco, mas de uma categoria, uma classe, uma comunidade que vem tendo cada vez mais reconhecimento e espaço por meio de seu trabalho em todo o mundo. Qualquer ato tradutório e interpretativo envolve um enorme empenho linguístico-comunicativo por parte do profissional que atua neste campo. Esse é um assunto recorrente entre os profissionais TILSP que trabalham com a comunidade Surda. Eles precisam processar a informação que é expressa em uma determinada língua (no caso língua fonte), e fazer as escolhas linguísticas que façam sentido na língua alvo. Outro ponto a ser elencado, não é só o domínio linguístico que está envolvido, mas se exige da parte técnica, também, a performance por meio das expressões faciais e corporais e conhecimento histórico, cultural e social das comunidades envolvidas. Conforme Lacerda (2009, p. 21), [...] o trabalho de interpretação não pode ser visto, apenas, como um trabalho linguístico. É necessário que se considere a esfera cultural e social na qual o discurso está sendo enunciado, sendo, portanto, fundamental, mais do que conhecer a gramática da língua, conhecer o funcionamento da mesma, dos diferentes usos da linguagem nas diferentes esferas de atividade humana. Interpretar envolve conhecimento de mundo, que mobilizado pela cadeia enunciativa, contribui para a compreensão do que foi dito e em como dizer na língua alvo; saber perceber os sentidos (múltiplos) expressos nos discursos. FIGURA 10 – LEIS REGULAMENTA O TILSP FONTE: Lima e Vasconcelos (2013, p. 16) 169 FIGURA 11 – ESQUEMA VISUAL INTERPRETAÇÃO PORTUGUÊS/LIBRAS FONTE: . Acesso em: 20 jun. 2021. O exemplo da Figura 11 deixa claro a importância do profissional TILSP ter domínio linguístico nas línguas na qual atua. Observe como a professora Neiva de Aquino Albres (2017) se utiliza de estratégias linguísticas para interpretar uma frase com vários conectivos na gramática na LP para LIBRAS, sem comprometer o entendimento da mensagem em LIBRAS. Dessa forma, de acordo com a Figura 11, traduzir e interpretar está relacionado a um processo de vários fatores, tais como: memória, tomada de decisões, categorização e estratégias de interpretação que exigem estudos e pesquisas prévias. Nesse sentido, destacamos que cada uma das modalidades supracitadas (traduzir e interpretar) exige habilidades e técnicas distintas do profissional. A este, portanto, cabe o gerenciamento das informações e dos conhecimentos de modo que possa conduzir seu trabalho da melhor maneira. Para entender esse processo, Quadros (2004 apud GESSER, 2011, p. 27) traz alguns modelos de processamento: O primeiro é o modelo cognitivo, em que temos os seguintes passos: 1) entendimento da mensagem na língua fonte; 2) capacidade de internalizar o significado na língua alvo; 3) capacidade de expressar a mensagem na língua alvo sem comprometer a mensagem que chega na língua fonte. O processo seria: Mensagem original > Recepção e compreensão > Análise e internalização > Expressão e avaliação > Mensagem interpretada para a língua alvo. No modelo interativo os interlocutores (iniciador, receptor e o intérprete); a mensagem, o ambiente (contexto físico e psicológico) e as interações entre as categorias anteriores são elementos que implicam na interpretação. O modelo interpretativo cujo foco está exclusivamente para o sentido da mensagem; e o modelo comunicativo em que o objetivo está para a transmissão da mensagem enquanto codificação entre línguas. Neste último o intérprete é visto como transmissor de informações. 170 Entendemos, então, que a área da interpretação e tradução de língua de sinais está em processo contínuo de construção, entretanto, o fato é que a demanda por esses profissionais em contextos educacionais é muito maior se comparada a outros contextos. Vamos nos ater à questão da importância do tradutor e a tradução relacionado a comunidade surda. 3 O TRADUTOR E A COMUNIDADE SURDA – BREVE RELATO A tradução e a interpretação são algumas das atividades mais antigas da humanidade. No início desta unidade, mencionamos que, a todo tempo, estamos traduzindo e interpretando, desde o nosso nascimento. Principalmente em um mundo tão tecnológico e diversificado como o de hoje, a tradução e interpretação continua sendo mais necessária do que nunca. Rosa (2008, p. 108), apresenta os primeiros profissionais atuantes na tradução e interpretação como “os hermeneutas que se propunham a traduzir a vontade divina para o seu povo (tradutores dos livros sagrados)”. Observe a Figura 12 com uma imagem dos hermeneutas. Faça uma leitura da Lei nº 12.319/2010 (disponível em: https://bit.ly/3DqsJFI) e do Decreto nº 5.626/2005 (disponível em: https://bit.ly/30yk5GE), que respaldam a atuação do TILSP. E reflita sobre como a formação sugerida nos documentos podem fazer um confronto com os diferentes contextos em que estes profissionais estão inseridos. AUTOATIVIDADE Aproveite para entender o trabalho e performance do profissional TILSP com os intérpretes da UFMG. O vídeo explica como é feita a tradução de músicas para a língua de sinais, disponível em: https://bit.ly/3DK1lmt. DICA 171 Mas qual o conceito de traduzir? Traduzir, “designa, de modo restrito, uma operação de transferência linguística e, de modo amplo, qualquer operação de transferência entre códigos ou, inclusive, dentro de códigos” (GUERINI; COSTA, 2006, p. 4). Conforme Santos e Queriquelli (2018, p. 4, grifo nosso), “O conceito de tradução vem sendo objeto de debate há muito tempo. Em termos diacrônicos, sabemos que a palavra portuguesa deriva do vocábulo latino traducere, que significava levar/conduzir (ducere) além (tra)”. Os autores também informam que, os demais sentidos atribuídos às palavras “traduzir” e “tradução” são gerados a partir de uma extensão metafórica, isto é, pressupõe-se o ato de transferir, de passar algo de um lado para outro. FIGURA 12 – OS HERMENEUTAS FONTE: . Acesso em: 20 jul. 2021. O que é hermenêutica: hermenêutica é uma palavra com origem grega e significa a arte ou técnica de interpretar e explicar um texto ou discurso. O seu sentido original estava relacionado com a Bíblia, sendo que neste caso consistia na compreensão das Escrituras, para compreender o sentido das palavras de Deus. Hermenêutica também está presente na filosofia e na área jurídica, cada uma com seu significado. Segundo a filosofia, a hermenêutica aborda duas vertentes: a epistemológica, com a interpretação de textos e a ontológica, que remete para a interpretação de uma realidade. Etimologicamente, a palavra está relacionada com o deus grego Hermes, que era um dos deuses da oratória. DICA FONTE: . Acesso em: 20 jul. 2021. 172 Nesse momento, reportamos ao conceito de tradução por Rónai (1976), no qual comenta que, em geral, as definições dadas à tradução disfarçam a natureza transcultural. Em suas palavras: Ao definirem “tradução”, os dicionários escamoteiam prudentemente o aspecto e limitam-se a dizer que traduzir é passar para outra língua. A comparação mais óbvia é fornecida pela etimologia: em latim, traducere é levar alguém pela mão para o outro lado, para outro lugar. O sujeito do verbo é o tradutor, o objeto direto, o autor do original a quem o tradutor introduz em um ambiente novo [...]. Mas a imagem pode ser entendida também de outra maneira, considerando-se que é ao leitor que o tradutor pega pela mão para levá-lo para outro meio linguístico que não o seu (RÓNAI, 1976, p. 3-4). Observamos como o tradutor, por meio dos seus estudos e pesquisas, tem a capacidade de levar uma obra original para um outro ambiente linguístico, adaptando-a ao máximo aos costumes da língua para a qual foi feita a transferência linguística. Rónai (1976, p. 4) ainda fala de“tradução identificadora, [isto é, o intérprete] conduz o leitor para o país da obra que lê e mantém cuidadosamente o que tem de estranho, de genuíno, e acentua a cada instante a sua origem alienígena”. São conceitos que dão destaque ao papel do tradutor e do leitor como sujeitos ativos no processo. Mas isso não quer dizer que o conceito de tradução se refere à simples transferência do conteúdo de um texto para os meios próprios de outras línguas, ou seja, o tradutor não pode ser encarado apenas como um mero reprodutor de textos. Assim, a tradução permite discursos se materializam em diferentes contextos, cabendo ao profissional analisar e interpretar como se dá o funcionamento da linguagem. Neste cenário, a inquietação a respeito da posição do sujeito tradutor e intérprete de língua de sinais vem à tona, pois, conforme já estudamos, cabe a esse profissional não apenas conhecer as duas línguas, mas ir além da fluência delas, já que elas possuem idiomas gramaticalmente distintos e envolvem modalidades diferenciadas. Leia o artigo “O papel do tradutor/intérprete de Libras na compreensão de conceitos pelo surdo”, disponível em: https://bit.ly/3AfLOcQ. DICA 173 LEITURA COMPLEMENTAR TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS: QUAIS FORAM AS EVOLUÇÕES NA FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS Claudiana Lima [...] UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DO INTÉRPRETE A construção da história deste profissional começa a partir de atividades voluntárias, exercidas por parentes, amigos e a comunidade religiosa, que foram valorizadas enquanto trabalho à medida que, os surdos começaram a conquistar a sua cidadania. A chave da profissão se deu a partir da entrada dos surdos nas discussões sociais e o reconhecimento da língua de sinais pelos países enquanto língua de fato, garantindo o direito do acesso a ela. Alguns fatos históricos são relevantes na construção da profissão de interprete/tradutor. Segundo Quadros (2007, p. 13-15), na Suécia, há presença de intérprete em trabalhos religiosos desde 1875, em 1938 o parlamento criou cinco cargos de conselheiros para mudos. Já em 1947 havia mais 20 pessoas na função de intérprete. Em 1968 o parlamento decide que todos os surdos teriam acesso ao profissional intérprete livre de encargos, neste mesmo ano foi criado o primeiro curso de treinamento. Nos Estados Unidos, a partir de 1815, as pessoas começaram a intermediar voluntariamente a comunicação para surdos, depois da vinda de Laurent Clerc (surdo francês) que promoveu a educação de surdos pelo país. Mostra que a organização desses profissionais no país se iniciou em 1964, quando um grupo de intérpretes de língua sinalizada estabeleceu o Registro de Intérpretes para Surdos, esse registro assumiu a responsabilidade de formação, treinamento e avaliação, estabelecendo código de comportamento ético, também a fundação da Organização Nacional de Intérpretes (atual RID). Em 1972, o RID começou a selecionar intérpretes oferecendo registro após avaliação. (WILCOX, 2005 apud QUADROS, 2008, p. 157). No Brasil, apesar da criação por Dom Pedro II, em 1857, do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, o trabalho de intérprete é recente, somente em meados dos anos 80 começaram a ser utilizados em trabalhos religiosos. 174 Nessa época, os intérpretes não tinham o status profissional que hoje possuem, mas muitos daqueles intérpretes que atuavam nesses espaços se tornaram, ao longo dos anos, líderes da categoria e, atualmente, participam do cenário nacional enquanto articuladores do movimento em busca da profissionalização desse grupo, como membros e presidentes das associações de intérpretes de Língua de Sinais no país (QUADROS, 2008, p. 153). De acordo com Quadros (2007, p. 14-15), em 1988 realizou-se o I Encontro Nacional de Intérprete de Língua de Sinais, em 1992 o II Encontro, promovendo um intercâmbio entre as diferentes experiências dos intérpretes. Nos anos 1990, foram estabelecidas unidades de intérpretes ligadas a Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, FENEIS, em 2002 foi homologada a lei federal que reconhece a LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, como oficial das comunidades surdas brasileiras. Em 2005, o Decreto 5.626, que considera o tradutor/intérprete, aquele que interpreta a língua fonte para outra língua alvo. Ainda segundo o decreto, a formação deste profissional deve ser através de curso superior em tradução e interpretação, com habilidades em Libras/Língua Portuguesa, isso permitirá ao intérprete atuação em todos os níveis da educação. Ser tradutor e intérprete é transmitir os conteúdos e informações da língua fonte para a língua alvo. E significa ser o intermediário entre nações e até dentro de um mesmo país entre grupos ou realidades diferentes, como é o caso dos surdos e ouvintes. No Brasil esse profissional domina prioritariamente a Libras e a língua portuguesa. FORMAÇÃO DO INTÉRPRETE/TRADUTOR NO BRASIL Podemos perceber que ao longo da história, a formação do interprete/tradutor de língua de sinais se deu informalmente, através de instituições religiosas, que procuravam a evangelização dos surdos e por meio de amigos e familiares que por terem algum parente surdo, se viram na missão de intermediar os diálogos entre eles e ouvintes. Neste sentido, essas pessoas tiveram que aprender a língua de sinais em contato com o surdo e ir estabelecendo, ao longo deste contato e da prática, um conjunto de conhecimentos e estratégias – linguísticas, culturais, sociais, tradutórias etc. – o que lhes permitiu viver e exercer o papel de intérprete de libras. (RODRIGUES; VALENTE, 2012, p. 16). Contudo, a formação acadêmica deste profissional é de suma importância para mediar o acesso ao conhecimento dos alunos surdos, por isso há uma grande procura por este profissional atualmente, visto que os surdos ingressam cada vez mais, a cada ano, nas escolas. Para ser um intérprete de Libras, primeiro é preciso atentar para as competências necessárias para a atuação (QUADROS, 2004), são algumas delas: 175 • competência linguística nas línguas envolvidas, • a bicultural, com ênfase na identidade cultural da comunidade surda, • pragmática ou de estilo, – a metodológica, referente à técnica de interpretação adequada (simultânea, consecutiva, sussurrada adaptada a Libras etc.) e • a técnica, relativa as novas tecnologias. Sendo assim, nos fins dos anos 1990 surgiram os primeiros cursos de formação de Tradutor Intérprete de Língua de Sinais (TILS) pelo país, isso talvez devido a implementação de filiais da FENEIS por vários estados, contudo estes cursos eram de curta duração, formando profissionais com um conhecimento parcial em Libras. Em 1997, a FENEIS-RS em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, promovem o primeiro curso de formação de intérprete, esta parceria foi muito além da disponibilização de espaço para realização do curso, ela promoveu uma integração entre docentes diretamente ligados à educação surda e à formação do intérprete. Segundo Russo (2010), foram abertos mais alguns cursos de formação de TILS no Rio Grande do Sul, alguns de capacitação, outros em nível de extensão. Em São Paulo temos curso de Intérprete pela Universidade Metodista de Piracicaba, este curso iniciou-se como tecnológico e hoje é uma graduação em 6 semestres e também pela Universidade Paulista, que oferece o curso de pós-graduação em intérprete. No Rio de Janeiro a Universidade Estácio de Sá ofereceu o curso em nível tecnológico, mas hoje não é oferecido mais. Acompanhando as perspectivas de mudança na sociedade surda, em 2008, a Universidade Federal de Santa Catarina, cria o curso de Bacharelado em Letras/Libras, na modalidade à distância com 450 vagas distribuídas em 15 polos pelo país. Esse desenvolvimento para uma melhorformação intelectual do intérprete só se deu depois do Decreto 5.626/2005, pois a partir dele houve um avanço nas políticas linguísticas em arrolamento a libras, proporcionando, gradativamente, com que ela alcançasse o seu lugar como objeto de estudos científicos. [...]. Em julho de 2010, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS), lança um projeto de lei que tramitou no senado como PLC 325/2009 e já havia passado pela câmara como Projeto de Lei 4673/2004, regulamentado como Lei 12.319 em 01/09/2010, que regulamenta a profissão de interprete/tradutor, ele prevê algumas exigências para profissão: • Curso superior em tradução e interpretação com habilitação em libras (língua portuguesa); • Nível médio com formação em cursos (obtida até 22 de dezembro de 2015) de educação profissional reconhecidas pelo sistema que os credenciou, ou curso de extensão universitária, formação continuadas; • Certificado de proficiência, fornecido até o dia 22 de dezembro de 2015, pela União. 176 No mesmo ano, em Porto Alegre, surge a proposta do curso de Bacharelado em Letras – tradução e interpretação em libras, começando um novo caminho para desenvolvimento de intérpretes/tradutores. Outras ações vêm sendo tomadas para a melhor formação do intérprete/ tradutor, como a proposta de criação de associações de TILS em todo o país, atualmente, segundo Russo (2010) contamos apenas com 16 associações que representam os intérpretes e a criação da FEBRAPIL (Federação Brasileira dos Profissionais Tradutores, Intérpretes e Guias Intérpretes de Língua de Sinais). Segundo o site da FENEIS, a partir de 2004, com o Programa Nacional Interiorizando a Libras, o MEC, continuará fazendo convênios anuais com a Feneis que, em parceria com todas as secretarias de educação dos estados, levaram a Libras para cidades do interior dos estados brasileiros, mas a formação superior fica a cargo, ainda, das grandes universidades federais. FORMAÇÃO DOS TILS: REFLEXÕES A abordagem do profissional bilíngue para educação dos surdos e seus aspectos políticos e pedagógicos é atual no espaço educacional, por isso, passa a fazer parte das políticas educacionais brasileiras apenas na última década, motivado pela pressão dos movimentos sociais, dos resultados de pesquisas nas áreas da Linguística e Educação e da incorporação desses novos conhecimentos e tendências às agendas governamentais. Sendo assim, a formação para atuação em ambientes educacionais bilíngues é uma necessidade dos dias atuais, mas por ser muito recente, a formação oferecida ainda é fruto de experiências de quem já vem atuando nesta área há vários anos. Segundo Lacerda (2009, p. 139), para a FENEIS, a formação do intérprete deve buscar orientar e esclarecer os aspectos importantes da interpretação e que o profissional deve conhecer profundamente a LIBRAS e as técnicas para interpretar, sem deixar de lado a postura ética profissional. Sobre a preparação para tornar-se TILS, a FENEIS diz que os interessados devem frequentar cursos de língua de sinais e conviver com pessoas surdas, para desenvolverem um uso efetivo da língua. Entretanto apenas estas especificações não são o suficiente para se tornar um bom intérprete/tradutor, além das características pontuada pela FENEIS é necessário versar sentidos do Português para a Libras e vice- versa. É evidente que há necessidade de uma afinidade entre o intérprete/tradutor e o surdo, pois ele se torna a pessoa de confiança, com a qual o surdo conta em várias situações sociais e pessoais, como ir ao médico por exemplo, além das técnicas, alguns aspectos específicos da ação do ITLS devemos ter uma maior atenção para que haja uma formação clara deste profissional. 177 Além disso, Lacerda (2009, p. 140) coloca que, a concepção de TILS gera maior atenção aos níveis de participação da comunidade surda na sociedade em geral, visto que, seu envolvimento em diferentes práticas sociais implica demandas mais complexas, exigindo consequentemente refinamento da atuação do intérprete. Com isso a comunidade surda buscará profissionais cada vez mais competentes na abordagem bilíngue como em outros países, assim como a Suécia, onde a formação é mais sólida. As faculdades, tanto públicas, quanto particulares, começaram a oferecer cursos em nível superior para melhor formação do intérprete/tradutor de Libras, mas o que se percebe é que ainda não existe uma grade curricular que atenda à formação bilíngue Português/Libras e vice-versa. Lacerda (2009, p. 143-144), aponta que no curso oferecido pela Universidade Federal Santa Catarina, o vestibular é feito em Libras, avaliando-se um conhecimento do aluno na língua, sem assegurar a fluência, outro aspecto preocupante é o Português ser pouco avaliado, tanto no vestibular quanto no decorrer do curso, a língua é dada como conhecida pelos candidatos, o que nem sempre se verifica, pois pessoas fluentes em Libras podem ter domínio precário do Português em sua norma padrão ou vice-versa. As Instituições de Ensino Superior privadas, aceitam estudantes sem conhecimento em Libras, pois, se fosse exigida como requisito, nem sempre poderia se formar turmas, sua grade curricular é formada de modo que o aluno aprenda a língua durante o curso através de convivência com comunidade surda que são entremeadas com experiências de reflexão formal sobre a língua nas aulas, favorecendo a aquisição da Libras. O ensino da Língua portuguesa também é pouco enfatizado [...]. FONTE: LIMA, C. Tradutor intérprete de língua de sinais: quais foram as evoluções na formação destes pro- fissionais. Revista Acta Científica, São Paulo, v. 6, p. 1-10, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3fNmGRe. Acesso em: 20 jun. 2021. 178 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • O profissional TILSP, ao mediar a comunicação entre surdos e ouvintes, precisa manter-se neutro e íntegro, garantindo acesso a toda e qualquer informação para as pessoas surdas que são usuários de LIBRAS. • O TILSP deve saber usar as duas línguas fluentemente e entender cada cultura, fazendo as adequações necessárias para que o conteúdo disponibilizado ao surdo seja o mais fiel possível. • A atuação de traduzir e interpretar são distintas, mas estão entrelaçadas, independente do par linguístico em que o profissional atua, isso possibilita o desenvolvimento de habilidades distintas nos dois campos de atuação. • No campo de língua de sinais, a atuação da interpretação cria uma demanda maior, devido às escolhas que são feitas no momento e no contexto imediato. • Conforme Rónai (1987), na interpretação exige-se improvisação, rapidez de ritmo e limitação de tempo, pois a presença do emissor força o intérprete a poucas possibilidades de refletir sobre o texto da língua de partida. • Alguns dos principais documentos que norteiam e/ou regulamentam a atuação do TILSP são o Decreto nº 5.626/2005 e a Lei nº 12.319/2010. • Qualquer ato tradutório e interpretativo envolve um enorme empenho linguístico- comunicativo por parte do profissional que atua neste campo. • É importante o profissional TILSP ter técnica e performance por meio das expressões faciais e corporais. • Processos de interpretação estão relacionados a fatores como: memória, tomada em decisões, categorização e estratégias de interpretação. • Segundo Quadros (2004 apud GESSER, 2011) os modelos de processamento de tradução e interpretação são: o modelo cognitivo, o modelo interativo, e o modelo interpretativo. • A tradução e a interpretação são algumas das atividades mais antigas da humanidade. Os primeiros profissionais atuantes nessas áreas desenvolveram suas atividades baseados nos livros sagrados. • Rónai (1976, p. 3-4, grifo nosso) define a tradução como,De um dum Em uma numa De uma duma PLURAL Em uns nuns De uns duns Em umas numas De umas dumas Observe alguns usos do artigo definido na língua portuguesa: º Quando antecede nomes estados, países e rios. Ex.: O Mato Grosso do Sul; O Japão; O rio São Francisco. º Para relacionar nomes em alguma numeração. Ex.: Os jogadores, as torcidas, e os árbitros ficaram apreensivos. º Para se referir a criações literárias. Ex.: Obras maravilhosas como, o “Grande Sertão Veredas” e a “Senhora”. Agora, note alguns usos do artigo indefinido: º Para enfatizar o que se diz. Ex.: Selma se comportava com um certo desprezo. º Antes de numerais, nesse caso indicam aproximação numérica. Ex.: Ele usava umas três meias no frio. 3 O SUBSTANTIVO A mais comum conceituação de substantivo é: os substantivos são palavras que designam seres. Para Cunha e Cintra (1985, p. 171), “substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral”. Pode-se dizer que substantivo é tudo o que existe e é ser, e cada ser tem um nome. Além de objetos, pessoas e fenômenos, os substantivos também nomeiam lugares, sentimentos, estados, qualidades. 8 No aspecto funcional, dentro da frase ele exerce um papel bem importante. De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 171): Do ponto de vista funcional, o substantivo é a palavra que serve, privativamente, de núcleo do sujeito, do objeto direto, do objeto indireto e do agente da passiva. Toda palavra de outra classe que desempenhe uma dessas funções equivalerá forçosamente a um substantivo (pronome substantivo, numeral ou qualquer palavra substantivada). FIGURA 3 – SUBSTANTIVO FONTE: . Acesso em: 13 ago. 2021.FONTE: . Acesso em: 13 ago. 2021. QUADRO 5 – CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTANTIVOS Segundo Cegalla (2010), os substantivos podem ser divididos conforme a seguinte classificação: SUBSTANTIVOS Comuns Os que designam seres da mesma espécie: menino, galo, palmeira. Próprios Os que se aplicam a um ser em particular: Deus, Brasil, Roma, São Paulo, Gonçalves Dias, Tiradentes, Minerva. 9 FONTE: O autor Concretos Os que designam seres de existência real ou que a imaginação apresenta como tais: avô, mulher, pedra, leão, alma, fada, lobisomem. Abstratos Os que designam qualidades, sentimentos, ações e estados dos seres, dos quais se podem abstrair e sem os quais não podem existir: - beleza, coragem, brancura, rapidez (qualidades); - amor, saudade, alegria, dor, fome, frio (sentimentos, sensações); - viagem, estudo, doação, esforço, fuga, afronta (ações); - vida, morte, cegueira, doença (estados). Simples Os que são formados de um só radical: chuva, pão, lobo. Compostos Os que são formados por mais de um radical: guarda-chuva, passatempo. Primitivos Os que não derivam de outra palavra da língua portuguesa: pedra, ferro, dente, trovão. Derivados Os que derivam de outra palavra: pedreira, ferreiro, dentista, trovoada. Coletivos Os que exprimem um conjunto de seres da mesma espécie: exército, rebanho, constelação. Obs.: os coletivos podem ser: - Específicos: os que se aplicam a uma só espécie de seres: matilha (cães de caça); boiada (bois). - Indeterminados: os que se aplicam a diversas espécies de seres: bando (de aves, crianças etc.); manada (bois, búfalos, elefantes). - Numéricos: os que exprimem um número exato de seres: semana, dúzia, século, par, dezena, centena, biênio etc. Bechara (2003) nos apresenta uma lista dos substantivos coletivos mais conhecidos: • Conjunto de pessoas: º Alcateia, bando, caterva, corja, horda, farândola, malta, quadrilha, récova, súcia, turba: de ladrões, desordeiros, assassinos, malfeitores e vadios. º Associação, clube, comício, comissão, congresso, conselho, convenção, corporação, grêmio, sociedade: de pessoas, reunidas para fim comum. º Assistência, auditório, concorrência, aglomeração, roda: de assistentes, ouvintes ou espectadores. º Cabido: de cônegos de uma catedral. º Caravana: de viajantes. º Claque, torcida: de espectadores para aplaudir ou patear. º Clientela: de clientes, de advogados, de médicos etc. 10 º Comitiva, cortejo, séquito, acompanhamento: de pessoas que acompanham outra por dever ou cortesia. º Comunidade, confraria, congregação, irmandade: ordem de religiosos. º Concílio, conclave, consistório, sínodo, assembleia: de párocos ou de outros padres. º Coro: conjunto, bando de pessoas que cantam juntas. º Elenco: de artistas de uma companhia, peça ou filme. º Equipagem, marinhagem, companha, maruja, tripulação: de marinheiros. º Falange: de heróis, guerreiros, espíritos. º Junta: de credores, de médicos. º Pessoal: de uma fábrica, repartição pública ou escola, loja. º Plêiade ou plêiada: de poetas, artistas, talentos. º Ronda: de policiais que percorrem as ruas velando pela ordem pública. º Turma: de estudantes, trabalhadores, médicos. • Grupo de animais: º Alcateia: de lobos, panteras ou outros animais ferozes. º Bando, revoada: de aves, pardais. º Cáfila: de camelos. º Cardume, boana, corso (ô), manta: de peixes. º Colmeia, enxame, cortiço: de abelhas. º Correição, cordão: de formigas. º Fato: rebanho de cabras. º Fauna: conjunto de animais próprios de uma região. º Gado: conjunto de animais criados nas fazendas. º Junta, obesana, cingel, jugo, jugada: de bois. º Lote: de burros, grupos de bestas de carga. º Malhada, oviário, rebanho: de ovelhas. º Manada: de cavalos, de porcos, éguas. º Matilha: de cães. º Ninhada: rodada de pintos. º Nuvem, miríade, onda, praga: de gafanhotos, marimbondos, percevejos. º Piara, vara: de porcos. º Récova, récua: de cavalgaduras. º Rebanho, armento, armentio, grei, maromba: de bois, ovelhas. • Grupo de coisas: º Acervo, chorrilho, enfiada: de asneiras, tolices. Acervo também se aplica aos bens materiais: É grande o acervo da Biblioteca Nacional. º Antologia, analecto, crestomatia, coletânea, florilégio, seleta: de trechos literários ou científicos. º Aparelho, baixela, serviço: de chá, café, jantar. 11 º Armada, esquadra, frota: de navios de guerra. º Bateria, fileira: de peças de artilharia. º Braçada, braçado, buquê, ramo, ramalhete (ê), festão: de flores. º Cacho: de uvas, de bananas. º Cancioneiro: de canções. É erro empregar o vocábulo como sinônimo de cantor em expressões como cancioneiros românticos. º Carrada: de razões. º Chuva, chuveiro, granizo, saraiva, saraivada: de balas, pedras, setas. º Coleção: de selos, quadros, medalhas, moedas, livros. º Constelação: de estrelas. º Cordilheira, cadeia, série: de montes, montanhas. º Cordoalha, cordame, enxárcia: de cabos de um navio. º Feixe, lio, molho (ó): de lenha, capim. º Fila, fileira, linha: de cadeiras. º Flora: conjunto de plantas de uma determinada região. º Galeria: de quadros, estátuas. º Gavela ou gabela, paveia: feixe de espigas. º Herbário: coleção de plantas para exposição ou estudo. º Hinário: de hinos. º Instrumental: de instrumentos de orquestra, de qualquer ofício mecânico, de cirurgia. º Mobília, mobiliário: de móveis. º Monte, montão: de pedras, palha, lixo. º Penca: de bananas, laranjas, chaves. º Pilha, ruma: de livros, malas, tábuas. º Réstia: de cebolas, alhos. º Sequência: série de cartas do mesmo naipe. º Troféu: de bandeiras. Os substantivos podem ser flexionados, isto é, para indicar o gênero, o número e o grau eles podem sofrer flexibilização. Quando nos referimos ao gênero (no sentido gramatical, e não gênero biológico), estamos tratando da propriedade que as palavras possuem para indicar o sexo real ou fictício. Na língua portuguesa temos dois gêneros: o masculino e o feminino. Outras línguas possuem três gêneros: masculino, feminino e neutro. É o caso, por exemplo, do inglês. No português são masculinos os nomes a que se pode antepor o artigo “o”. Veja os exemplos: • Masculino O linho, o sol, o raio, o prazer, o filho, o beijo. 12 São“[...] em latim, traducere é levar alguém pela mão para o outro lado, para outro lugar. O sujeito do verbo é o tradutor, o objeto direto, o autor do original a quem o tradutor introduz em um ambiente novo [...]”. • O tradutor não pode ser encarado apenas como um mero reprodutor de textos. 179 1 Há muito tempo, o conceito de tradução vem sendo estudado por diversos teóricos. Rónai (1976), por exemplo, que mostra a palavra tradução, do latim traducere, significa levar alguém pela mão para o outro lado, para outro lugar. A respeito da concepção da autora sobre a palavra tradução. Leia e analise as sentenças a seguir: FONTE: RÓNAI, P. A tradução vivida. Rio de Janeiro: Educom, 1976. I- Refere-se a uma troca de signos verbais em uma língua mecanizada por outro signo digital. II- Refere-se a uma língua diferente ou até mesmo em um sistema de signos não verbais. III- Dá destaque ao papel do tradutor e do leitor como sujeitos ativos no processo. IV- Tem a ver com capacidade de levar uma obra original para um outro ambiente linguístico. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas. b) ( ) Somente a sentença III está correta. c) ( ) Todas as sentenças estão corretas. d) ( ) As sentenças I e II estão corretas. 2 Quadros (2004 apud GESSER, 2011) apresenta algumas propostas de modelos de processamento no ato de tradução e interpretação. A partir de tais propostas, associe a segunda coluna com a primeira. FONTE: GESSER, A. Tradução e Interpretação da Libras II. Florianópolis, UFSC, 2011. (Curso de educação a distância Bacharelado em Letras/Libras). Disponível em: https://bit.ly/3IogtaY. Acesso em: 18 nov. 2021. I- Modelo interativo. II- Modelo interpretativo. III- Modelo cognitivo. ( ) Os componentes que afetam o processo seriam: mensagem original; recepção e compreensão; análise e internalização; expressão e avaliação; e mensagem interpretada para a língua alvo. ( ) Os interlocutores (iniciador, receptor e o intérprete); a mensagem, o ambiente (contexto físico e psicológico); e as interações entre as categorias anteriores são elementos que implicam na interpretação. ( ) O objetivo está para a transmissão da mensagem enquanto codificação entre línguas. O intérprete é visto como transmissor de informações. AUTOATIVIDADERESUMO DO TÓPICO 3 180 REFERÊNCIASAssinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) III, I e II. b) ( ) II, I e III. c) ( ) I, II e III. d) ( ) III, II e I. 3 Vamos interpretar? Desta vez por meio de um curta sem legenda e sem áudio intitulado “Autoestima”, disponível em: https://bit.ly/3GO8mEc. Ao assistir pense em como uma pessoa Surda iria descrevê-lo. Agora fique à vontade para dar sua interpretação. 4 Com base no que você estudou neste tópico, principalmente na Leitura Complementar, sobre o perfil do profissional tradutor e intérprete de língua de sinais, disserte brevemente sobre a formação do profissional TILSP. 181 REFERÊNCIAS ALBRES, N. de A. Fios de significação reconhecidos e reorientados no processo de tradução de literatura – Português/Libras. Educação e Fronteiras On-Line, Dourados, v. 7, n. 19, p. 19-35, 2017. Disponível em: https://bit.ly/3KqfqsO. Acesso em: 18 nov. 2021. ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009. ANTUNES, I. Gramática contextualizada: limpando “o pó das ideias simples”. São Paulo: Parábola, 2014. BOLTER, J. D.; GRUSIN, R. Remediation: understanding new media. Massachusetts: MIT Press, 1999. BRANDÃO, H. N. (coord.) Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político, divulgação científica. São Paulo: Cortez, 2000. 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Atualidade da educação bilíngue para surdos: processos e projetos pedagógicos. 4. ed. Porto Alegre: Mediação, 2013. STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Editora da UFSC, 2008. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996.femininos os nomes a que se pode antepor o artigo a: • Feminino A flor, a casa, a mosca, a nuvem, a mãe. Há alguns substantivos que podem assumir um sentido ou outro, conforme o gênero empregado. Exemplos: o rádio (aparelho de difusão sonora), a rádio (emissora, canal); o guia (pessoa ou entidade responsável por dar a direção a alguém), a guia (documento); o capital (relacionado à economia), a capital (sede administrativa de algum lugar); o cabeça (mentor), a cabeça (parte do corpo). FONTE: PAVAN, M. G. de R. O que é adjetivo? Brasil Escola, [s. l.], c2021. Disponível em: https://bit.ly/3r2TwmH. Acesso em: 13 ago. 2021. Ao nos referirmos ao número do substantivo, estamos tratando da quantidade. Na língua portuguesa há dois números gramaticais: singular e plural. A característica principal do português para o plural e o uso da letra “s” no final. Veja os exemplos: O grau dos substantivos é a propriedade que as palavras possuem para expressar as variações dos tamanhos dos seres. Na língua portuguesa temos dois tipos de graus: o aumentativo e o diminutivo. Por exemplo, observe algumas palavras e seus aumentativos e diminutivos: Singular Plural Aluno Alunos Caneta Canetas Formato normal Formato no aumentativo Formato no diminutivo Carro Carrão Carrinho Casa Casarão Casinha Ademais, o substantivo é uma classe de palavra que exerce várias funções sintáticas. Conforme Bechara (2003, p. 120): NOTA 13 A Academia Brasileira de Letras, órgão regulador da língua portuguesa no Brasil, disponibilizou a versão eletrônica do VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa). Caso tenha dúvida sobre a grafia de qualquer palavra, basta fazer a consulta em: https://bit.ly/3ndOHEZ. DICA Função sintática do substantivo – Quanto à função sintática, o substantivo exerce por excelência a função de sujeito (ou seu núcleo) da oração e, no domínio da constituição do predicado, as funções de objeto direto, complemento relativo, objeto indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial. Em geral, na função de sujeito e de objeto direto dispensa o substantivo o concurso de qualquer outro elemento; nas outras, acompanha-se de índice funcional. 4 O ADJETIVO De acordo com Bechara (2003, p. 121), o adjetivo “é a classe de lexema que se caracteriza por constituir a delimitação, isto é, por caracterizar as possibilidades designativas do substantivo, orientando delimitativamente a referência a uma parte ou a um aspecto do denotado”. Para Cegalla, (2010, p. 154), “adjetivos são palavras que expressam as qualidades ou características dos seres”. O adjetivo é um modificador do substantivo ou de um pronome, trata-se de uma palavra variável que caracteriza o substantivo atribuindo-lhe qualidade, estado, aparência. Normalmente, o seu uso na frase exerce função sintática de predicativo e adjunto adnominal. FIGURA 4 – ADJETIVOS FONTE: . Acesso em: 13 ago. 2021. 14 Como são formados os adjetivos? Em relação à formação, os adjetivos podem ser: • Primitivos – que não derivam de outra palavra, por exemplo: feliz, triste, baixo, alto etc. • Derivados – que derivam de substantivos ou verbos, por exemplo: felicidade, magreza, fortaleza, bondade etc. • Simples – que são formados por mais de um elemento, como nos seguintes exemplos: claro, alemão, estrangeiro etc. • Compostos – que são formados por mais de um elemento, como nos seguintes exemplos: castanho-claro, luso-brasileiro etc. Cabe destacar também alguns pontos importantes sobre os adjetivos: • Os chamados adjetivos pátrios São os adjetivos que designam a origem, a nacionalidade de alguém ou alguma coisa. Observe alguns exemplos: goiano, baiano, paranaense, londrino, indiano, egípcio etc. • Locução adjetiva Trata-se de uma expressão usada que equivale a um adjetivo. Observe na sequência alguns exemplos: aves da noite = aves noturnas; amor de filho = amor filial; homem de coragem = homem corajoso; etc. • Adjetivos eruditos Adjetivos eruditos normalmente são mais bem compreendidos quando pensamos em algo “próprio de”, “semelhante a”, “relativo a”. De certa forma, equivalem a locuções adjetivas. Note os exemplos a seguir (Quadro 6): QUADRO 6 – ADJETIVOS ERUDITOS FONTE: O autor Substantivo Adjetivo Erudito Substantivo Adjetivo Erudito chuva pluvial porco suíno coração cardíaco Platão platônico fábrica fabril mar marinho lua lunar limão cítrico Da mesma forma que os substantivos, os adjetivos podem flexionar-se em: número, gênero e grau. NÚMERO – Os adjetivos podem tomar a forma no singular ou no plural do substantivo que ele qualifica. Observe os exemplos: 15 Aluna estudiosa. Alunas estudiosas. Cão feroz. Cães ferozes. GÊNERO – Diferentemente do substantivo que possui sempre um gênero, o adjetivo assume o gênero do substantivo. Em relação ao gênero, os adjetivos se dividem em uniformes e biformes. º Uniformes – são aqueles que têm a mesma forma em ambos os gêneros. Por exemplo: jovem, feliz, simples, gentil, superior, inferior, audaz etc. º Biformes – são aqueles que possuem duas formas, uma para o feminino e outra para o masculino. Por exemplo: bom – boa; vilão – vilã; cru – crua; bonito – bonita. GRAU – Conforme Cegalla, (2010, p. 162), “o grau do adjetivo exprime a intensidade das qualidades dos seres”. São dois os graus do adjetivo: o comparativo e o superlativo. O grau comparativo. Por meio da comparação pode-se indicar que um dos elementos é igual, superior ou inferior. Assim, pode-se dizer que o grau comparativo pode estabelecer superioridade (mais... que, mais... do que); inferioridade (menos... que; menos... do que) ou igualdade (tão... quanto; tão... como; tanto... quanto; tanto... como). Veja os exemplos: º De igualdade: “José é tão alto como Jeferson”. º De superioridade: “O rio é maior que a lagoa”. º De inferioridade: “Silvia é menos inteligente do que Selma”. O grau superlativo. No grau superlativo não há elementos a serem comparados, contudo há um grau mais intenso da característica dada ao substantivo. Os adjetivos podem aparecer no grau superlativo, que pode ser absoluto ou relativo. Veja os exemplos: º Absoluto: “A torre é altíssima”. º Relativo: “Celso é o mais alto de todos”. Sintaticamente, os adjetivos desempenham as funções de adjunto adnominal (quando acompanham o substantivo) e de predicativo do sujeito ou do objeto (quando caracterizam o sujeito ou o objeto). FONTE: PAVAN, M. G. de R. O que é adjetivo? Brasil Escola, [s. l.], c2021. Disponível em: https://bit.ly/3r2TwmH. Acesso em: 13 de ago. 2021. ATENÇÃO 16 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Na língua portuguesa, encontramos dez classes de palavras, que também são chamadas de classes gramaticais. São elas: artigo, substantivo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, preposição, conjunção e interjeição. • Artigo é uma palavra que antepomos aos substantivos para dar aos seres um sentido determinado ou indeterminado. O artigo indica, ao mesmo tempo, o gênero e o número dos substantivos. • Os artigos são categorias flexionáveis e podem ser classificados em definidos: o, a, os, as; e indefinidos: um, uma, uns, umas. • Substantivo é a palavra com que designamos ou nomeamos os seres em geral. • Os substantivos podem ser divididos em: comuns e próprios; concretos e abstratos; simples e compostos; primitivos e derivados; coletivos. • Os substantivos podem ser flexionados, isto é, para indicar o gênero, o número e o grau eles podem sofrer flexibilização. • Substantivo é uma classe de palavra que exerce várias funções sintáticas. • O adjetivo é um modificador do substantivo ou de um pronome, trata-se de uma palavra variável que caracteriza o substantivo atribuindo-lhe qualidade,estado, aparência. Normalmente, o seu uso na frase exerce função sintática de predicativo e adjunto adnominal. • Em relação à formação os adjetivos, eles podem ser: primitivos – que não derivam de outra palavra; derivados – que derivam de substantivos ou verbos; simples – que são formados por mais de um elemento; compostos – que são formados por mais de um elemento. • Da mesma forma que os substantivos, os adjetivos podem flexionar-se em: número, gênero e grau. • O grau do adjetivo exprime a intensidade das qualidades dos seres. São dois os graus do adjetivo: o comparativo e o superlativo. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 Quanto ao gênero, os adjetivos podem ser uniformes e biformes. Qual das sentenças a seguir apresenta adjetivos uniformes? Assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) Alemão, cristão. b) ( ) Feliz, cidadão. c) ( ) Comum, feliz. d) ( ) Bonito, simples. 2 Na língua portuguesa encontramos um total de dez classes de palavras que também são chamadas de classes gramaticais. Algumas são chamadas variáveis e outras invariáveis. Assinale a alternativa que apresenta CORRETAMENTE aquelas que são invariáveis. a) ( ) Pronome, verbo, preposição e conjunção. b) ( ) Advérbio, preposição, conjunção e interjeição. c) ( ) Artigo, substantivo, adjetivo, numeral. d) ( ) Preposição, conjunção, numeral e adjetivo. 3 Os substantivos podem ser divididos e apresentam uma variedade bem grande de classificação. Sobre a classificação do substantivo, leia e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Substantivos coletivos são os que exprimem um conjunto de seres da mesma espécie: exército, rebanho, constelação. ( ) Substantivos concretos são os que designam seres de existência real ou que a imaginação apresenta como tais: avô, mulher, pedra, leão, alma, fada, lobisomem. ( ) Substantivos primitivos são aqueles que derivam de outra palavra: pedreira, ferreiro, dentista, trovoada. ( ) Substantivos compostos são aqueles que são formados por mais de um radical: guarda-chuva, passatempo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F – V. b) ( ) F – V – V – F. c) ( ) V – F – V – F. d) ( ) F – V – F – V. AUTOATIVIDADE 18 4 Um bom conhecimento das classes gramaticais do português propicia ao aluno um avanço importante na compreensão da língua e de seus elementos gramaticais, bem como contribui também no estudo da Libras. Encontramos na língua portuguesa várias classes de palavras, uma delas é o adjetivo. Disserte agora sobre o adjetivo. 5 O conhecimento das classes gramaticais do português fornece ao aluno um avanço importante na compreensão da língua e de seus elementos gramaticais, bem como certamente contribui também no estudo da Libras. Dentre as classes gramaticais do português, uma é o substantivo. Disserte agora sobre o substantivo. 19 PREPOSIÇÃO, A CONJUNÇÃO, O PRONOME E O NUMERAL 1 INTRODUÇÃO Como já mencionado no início desta unidade, estamos passando por cada uma das dez classes de palavras da língua portuguesa. Ainda que não estejamos mergulhando em todos os meandros de cada detalhe destas classes, nosso intuito é propiciar que você, acadêmico, relembre, reveja, e assimile os princípios elementares destas classes, pois, no estudo de toda e qualquer língua elas são pilares para um bom aprendizado. Daí a importância de se ater a cada uma delas com cuidado. Tratamos até agora das três primeiras classes: artigo, substantivo e adjetivo. Agora nos deteremos em mais quatro: preposição, conjunção, pronome e numeral. Trata- se de duas classes variáveis – pronome e numeral – e duas invariáveis – preposição e conjunção. Estudaremos, primeiramente, as duas classes de palavras invariáveis (preposição e conjunção) e depois as outras duas variáveis (pronome e numeral). UNIDADE 1 TÓPICO 2 - A No site Só Português, você encontra mais informações sobre uma variedade enorme de assuntos da língua portuguesa, acesse: www.soportugues.com.br. DICA 2 A PREPOSIÇÃO Dentro do estudo das classes gramaticais da Língua Portuguesa, trataremos agora a respeito da preposição. Conforme Cunha e Cintra 1985, p. 542), “chamam-se preposições as palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedente) é explicado ou completado pelo segundo (consequente)”. 20 De acordo com Cegalla (2010, p. 250), “preposição é uma palavra invariável que liga um termo dependente a um termo principal, estabelecendo uma relação entre ambos”. As preposições são elementos importantes para a coesão textual, pois atuam como conectivos, elementos indispensáveis para a construção de um bom texto. Dentro da estrutura sintática, elas desempenham relações de sentido e subordinação. Cunha e Cintra (1985) exemplificam o uso das preposições da seguinte forma: ANTECEDENTE Vou Chegaram Todos saíram Chorava Estive Concordo PREPOSIÇÃO a a de de com com CONSEQUENTE Roma. tempo. casa. dor. Pedro. você. As preposições são comumente divididas em essenciais – aquelas que sempre foram preposições – e acidentais – palavras de outras classes gramaticais que acidentalmente funcionam como preposições. As chamadas preposições essenciais, também chamadas de preposições simples, são: a, ante, após, até, com contra, de, desde, em entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás. Observe alguns exemplos do uso destas preposições nas frases: • Olhava para o monte. • O garfo caiu sob a mesa. • A luta contra o inimigo. • Pulava de alegria. • Esperamos por ele. • Os carros passam sob o arco. • Chegou até o porto. 21 São chamadas preposições essenciais, ou preposições simples: a, ante, após, até, com contra, de, desde, em entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás. NOTA Por outro lado, as chamadas preposições acidentais são: segundo, conforme, afora, exceto, fora, menos, não obstante, senão, mediante, durante, consoante, visto, como etc. Observe também alguns exemplos do seu uso nas seguintes frases: • Ela dormiu durante a palestra. • José se vestia conforme a moda e a época. • Eles tiveram como recompensa o troféu. • Mediante manobras muito difíceis. • Vestia-se consoante a moda da época. Além das preposições essenciais e acidentais, temos também as chamadas locuções prepositivas. O que são locuções prepositivas? São chamadas desta forma, porque são expressões com a função das preposições. Geralmente são formadas pelo advérbio ou locução adverbial e uma preposição, ou ainda, são duas ou mais palavras que atuam como preposição sendo que a última palavra da locução será, obrigatoriamente, uma preposição. Veja os exemplos a seguir: acima de, apesar de, abaixo de, a fim de, além de, a par de, apesar de, atrás de, através de, antes de, junto de, junto a, ao encontro de, ao encontro a, embaixo de, em frente de, em cima de, em face de, longe de, defronte a, a instâncias de, de acordo com, por causa de, não obstante, em lugar de, ao lado de, diante de, por entre, perto de, a despeito de, a favor de, até a, sob pena de, através de, devido a, em atenção a etc. Algumas das chamadas preposições acidentais são: segundo, conforme, afora, exceto, fora, menos, não obstante, senão, mediante, durante, consoante, visto, como etc. DICA 22 De certa forma, as preposições são palavras vazias quando usadas de maneira isoladas, entretanto, na frase exprimem as mais diversas relações. Observe os exemplos no Quadro 7. Na primeira coluna a função que a preposição apresenta, e na segunda coluna a frase com o uso da preposição que indica a determinada função. QUADRO 7 – PREPOSIÇÕES FONTE: O autor Direção “Olhe para frente”. Lugar “Moro em Cuiabá”. Meio “Viajei de carro”. Oposição “Marcos falou contra Celso”. Posse “Roubou a bicicleta de Joaquim”.Origem “Descendia de uma família japonesa”. Tempo “Dormi durante a aula”. Assunto “Falava sobre religião”. Finalidade “Trabalha para sobreviver”. Companhia “Almocei com a família”. Instrumento “Machucou-se com a faca”. Falta “Ficou sem recursos financeiros”. Outro aspecto a ser ressaltado sobre as preposições é que, elas também podem formar combinações e contrações ao se unirem com outras palavras. Na combinação, a preposição mantém todos os seus fonemas. Observe os exemplos: Por outro lado, quando a preposição se une à outra palavra e, nesse processo, sofre alterações em seus fonemas, dizemos que houve uma contração. Observe os exemplos: preposição + artigo = combinação a + o (s) = aos “Os diplomas foram entregues aos formandos”. de (preposição) + a (artigo) = da em (preposição) + o (artigo) = no em (preposição) + uma (artigo) = numa de (preposição) + essa (pronome demonstrativo) = dessa Veja o uso nas orações. “Maria se mudou casa da rua nove”. “Encontraram-se numa esquina qualquer”. 23 FIGURA 5 – CONJUNÇÕES FONTE: . Acesso em: 27 jul. 2021. QUADRO 8 – CONJUNÇÕES COORDENATIVAS 3 A CONJUNÇÃO O que é conjunção no sentido gramatical? Conjunção é uma palavra invariável que liga orações ou palavras da mesma oração (CEGALLA, 2010, p. 266). Segundo Taylor (1990, p. 334), conjunções são palavras que ligam sentenças, cláusulas, frases e palavras. De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 565), “conjunções são os vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração”. As conjunções que relacionam termos ou orações de idêntica função têm o nome de coordenativas, e aquelas que ligam duas orações, uma das quais determina ou completa o sentido da outra são chamadas subordinativas. As conjunções coordenativas ligam as orações sem fazer que uma dependa da outra. Elas podem ser classificadas da seguinte forma: Aditivas – transmitem a ideia de adição. e, mas, ainda, bem como, nem etc. Ex.: “O lavrador colheu o arroz e o vendeu”. “Não concordo nem dou a permissão”. Adversativas – transmitem a ideia de contraste, oposição. mas, contudo, porém, no entanto, entretanto, não obstante etc. Ex.: “Ela sabia muito, mas não conseguiu fazer o trabalho”. “Selma não era elegante, contudo cativava pela educação”. 24 Alternativas – transmitem a ideia de alternância. ou...ou, ora...ora, já...já, quer...quer etc. Ex.: “Estudar ou trabalhar, eis a questão!” “Ora alegre, ora triste, assim segue a vida”. Conclusivas – transmitem a ideia de conclusão. logo, portanto, pois, por isso etc. Ex.: “As arvores balançam, logo está ventando”. “Você é o dono desta moto, portanto é o responsável”. Explicativas – transmitem a ideia de explicação, um motivo. porque, porquanto, pois (antes do verbo). Ex.: “Choveu durante a noite, porque as ruas estão molhadas”. “Dormi aqui, pois quero lhe mostrar o meu sítio”. FONTE: O autor FONTE: O autor QUADRO 9 – CONJUNÇÕES SUBORDINATIVAS As conjunções subordinativas ligam duas orações, subordinando uma à outra. Elas podem ser classificadas em: 1. Causais (porque, pois, como, porquanto, visto que, uma vez que etc.) Ex.: “O tambor soa porque é oco”. 2. Comparativas (Assim como, como, tal e qual, tanto como, que nem etc.) Ex.: “Nada nos anima tanto como um elogio sincero”. 3. Concessivas (embora, mesmo que, nem que, conquanto, ainda quando, posto que, por mais que etc.) Ex.: “Não saberei nunca se foi ele, embora tenha quase certeza”. 4. Condicionais (se, a menos que, caso, desde que, a menos que, contanto que etc.) Ex.: “Ficarei triste, se você não vier”. 5. Conformativas (conforme, segundo, como, consoante etc.) Ex.: “Digo essas coisas, conforme as ouvi de um amigo”. 7. Finais (para que, a fim de que etc.) Ex.: “Joelma foi para casa depressa para que não a víssemos”. 8. Proporcionais (quanto mais, à medida que, ao passo que, quanto mais, à proporção que etc.) Ex.: “Quanto mais as cidades crescem, mais os problemas aumentam”. 9. Temporais (quando, enquanto, agora que, logo que, sempre que, assim que, desde que etc.) Ex.: “Não fale enquanto come”. 10. Integrantes (que, se.) Ex.: “Sabe-se que a vida é breve”. 25 Conforme Cunha e Cintra (1985, p. 565), “conjunções são os vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração”. ATENÇÃO No caso de haver duas ou mais palavras com a função de conjunção, dizemos que se trata de uma locução conjuntiva. Tanto as conjunções, como as locuções conjuntivas têm o objetivo de unir duas ou mais orações ou palavras. Alguns exemplos de locuções conjuntivas podem ser: visto que, desde que, no entanto, se bem que, logo que, a fim de que, ainda quando, por mais que etc. Algumas conjunções não têm uma classificação exclusiva, sendo assim, podem ser classificadas de acordo com o sentido que apresentam em determinado contexto. Vamos pegar o exemplo mais conhecido, a conjunção que. A conjunção que pode ser classificada de várias formas. Tomaremos quatro exemplos: • Comparativa “A luz é mais veloz que o som”. • Final “Ao me ver no carro, fez um sinal que parasse”. • Consecutiva “Aonde você foi, que não o encontrei?” • Integrante “Diga-lhe que não estarei”. 4 O PRONOME O que são pronomes? Conforme Taylor (1990, p. 47), “pronome é toda palavra que substitui o nome, indicando-lhe a pessoa gramatical”. De acordo com Cegalla (2010, p. 170), “pronomes são palavras que representam os nomes dos seres ou os determinam, indicando a pessoa do discurso”. Ou ainda, de uma outra forma, segundo a definição de Guiley (1993, p. 68), “pronomes são palavras que substituem os substantivos na sentença, evitando a necessidade de repeti-los”. Vamos tomar como exemplo a seguinte frase, “eu levo o cachorro e o guio” = “eu levo o cachorro e guio o cachorro”. Note que o pronome “o” substitui a palavra cachorro. Dessa forma, o pronome substitui a palavra “cachorro”, e isto faz com que não haja repetição. Neste caso, o nome que é substituído pelo pronome é chamado 26 de “antecedente”. Então, no exemplo citado, cachorro é o antecedente de “o”. Na língua portuguesa há seis espécies ou classes de pronomes: pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. 4.1 PRONOME PESSOAL Os pronomes pessoais “são palavras que substituem os nomes e representam pessoas do discurso” (CEGALLA, 2010, p. 170). Eles são responsáveis por se referir às pessoas do discurso, isto é, aos substantivos que estão fortemente relacionados à ação. Eles podem se referir a quem fala (1ª pessoa), com quem se fala (2ª pessoa) e de quem se fala (3ª pessoa). Denotam assim as três pessoas do discurso. Os pronomes pessoais são classificados em: Pronomes Pessoais do caso Reto e Pronomes Pessoais do caso Oblíquo. Observe no Quadro 10 quais são eles: QUADRO 10 – PRONOMES PESSOAIS FONTE: . Acesso em: 25 jul. 2021. Entre os pronomes pessoais estão incluídos os chamados pronomes de tratamento. São pronomes ou locuções que valem por verdadeiros pronomes pessoais. Conforme a pessoa a quem nos dirigimos, sua idade, seu cargo ou seu título, o tratamento será cerimonioso ou familiar. Veja alguns exemplos: você, o senhor, a senhora, Vossa Excelência, Vossa Majestade, Vossa Senhoria etc. IMPORTANTE 27 QUADRO 11 – PRONOMES DEMONSTRATIVOS FONTE: . Acesso em: 27 jul. 2021 QUADRO 12 – PRONOME POSSESSIVO FONTE: . Acesso em: 27 jul. 2021. 4.2 PRONOME DEMONSTRATIVO Pronomes demonstrativos são os que indicam o lugar, a posição ou a identidade dos seres, relativamente às pessoas do discurso (CEGALLA, 2010, p. 173). Sãos usados para chamar atenção, com ênfase para uma pessoa ou um objeto. São exemplos de pronomes demonstrativos:este, esse, aquele, mesmo, mesma, tal, tais, semelhantes, próprio, isto, isso, o, a, os, as etc. Observe, no Quadro 11, o exemplo do pronome este. 4.3 PRONOME POSSESSIVO Pronomes possessivos são aqueles que indicam posse às pessoas do discurso. Alguns exemplos na língua portuguesa destes pronomes: meu, minha, teu, tua, seu sua, nosso, nossa, vosso e vossa. 4.4 PRONOME INTERROGATIVO Os pronomes interrogativos na língua portuguesa são aqueles usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas ou indiretas. Tomamos como exemplo os seguintes: que, quem, qual, quais, quanto, quanta, quantos, quantas. 28 FIGURA 6 – PRONOMES INTERROGATIVOS FONTE: . Acesso em: 27 jul. 2021. QUADRO 13 – PRONOMES RELATIVOS FONTE: . Acesso em: 28 jul. 2021. 4.5. PRONOME RELATIVO Pronomes relativos são palavras que representam nomes já referidos, com os quais estão relacionadas. Daí denominarem-se relativos (CEGALLA, 2010, p. 174). Conforme Cunha e Cintra (1985, p. 333), “são assim chamados porque se referem, de regra geral, a um termo anterior – O ANTECENDENTE”. 4.6. PRONOME INDEFINIDO Os pronomes indefinidos se referem à terceira pessoa gramatical, dessa forma designam de forma vaga, imprecisa e indeterminada. 29 QUADRO 14 – PRONOME INDEFINIDO FONTE: . Acesso em: 29 jul. 2021. 5 O NUMERAL Numeral é uma palavra que exprime número, ordem numérica, múltiplo ou fração (CEGALLA, 2010, p. 167). Os numerais são conhecidos como cardinais, ordinais, multiplicativos ou fracionários. São usados para indicar uma quantidade exata de pessoas ou coisas, ou para assinalarmos o lugar que elas ocupam numa série. Os numerais cardinais na língua portuguesa são: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, e assim sucessivamente. Os numerais ordinais são: primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo, e assim sucessivamente. No caso dos numerais multiplicativos são assim descritos: dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo etc. Em relação aos fracionários são assim descritos: meio ou metade, terço, quarto, quinto, sexto etc. Também são incluídos como numerais as palavras: zero, ambos, par, dezena, década, dúzia, centena, milhar, biênio, triênio, quadriênio, década, milênio, centenário, sesquicentenário etc. Veja alguns exemplos do uso de numerais em frases: 30 “Quatro mais cinco são nove”. “Ana se tornou a primeira da sua classe”. “Ele pagou a metade da dívida”. “Comemos um quarto do bolo”. “Há 3 décadas caia o muro de Berlim”. “Ela tomou a segunda dose da vacina”. “A tríplice coroa”. Numeral é uma palavra que exprime número, ordem numérica, múltiplo ou fração (CEGALLA, 2010, p. 167). Os numerais são conhecidos como cardinais, ordinais, multiplicativos ou fracionários. NOTA Observe agora o Quadro 15 com os numerais: QUADRO 15 – NUMERAIS 31 FONTE: . Acesso em: 28 jul. 2021. 32 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Chamam-se preposições as palavras invariáveis que relacionam dois termos de uma oração, de tal modo que o sentido do primeiro (antecedente) é explicado ou completado pelo segundo (consequente). • As preposições são elementos importantes para a coesão textual, pois atuam como conectivos, elementos indispensáveis para a construção de um bom texto. Dentro da estrutura sintática, elas desempenham relações de sentido e subordinação. • Conjunções são os vocábulos gramaticais que servem para relacionar duas orações ou dois termos semelhantes da mesma oração. • No caso de haver duas ou mais palavras com a função de conjunção, dizemos que se trata de uma locução conjuntiva. Alguns exemplos de locuções conjuntivas podem ser: visto que, desde que, no entanto, se bem que, logo que, a fim de que, ainda quando, por mais que etc. • Na língua portuguesa há seis espécies ou classes de pronomes: pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. • Entre os pronomes pessoais estão incluídos os chamados pronomes de tratamento. São pronomes ou locuções que valem por verdadeiros pronomes pessoais. Conforme a pessoa a quem nos dirigimos, sua idade, seu cargo ou seu título, o tratamento será cerimonioso ou familiar. • Pronomes demonstrativos são os que indicam o lugar, a posição ou a identidade dos seres, relativamente às pessoas do discurso. • Numeral é uma palavra que exprime número, ordem numérica, múltiplo ou fração. Os numerais são conhecidos como cardinais, ordinais, multiplicativos ou fracionários. 33 1 As preposições são elementos importantes para a coesão textual, pois atuam como conectivos, elementos indispensáveis para a construção de um bom texto. Dentro da estrutura sintática, elas desempenham relações de sentido e subordinação. Quais das preposições são consideradas acidentais? Assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) Segundo, conforme, mediante, durante. b) ( ) Exceto, após, até, sobre, trás. c) ( ) A, ante, após, até, com. d) ( ) Em, entre, para, perante. 2 O numeral é uma palavra que exprime número, ordem numérica, múltiplo ou fração. Os numerais são conhecidos como cardinais, ordinais, multiplicativos ou fracionários. São usados para indicar uma quantidade exata de pessoas ou coisas, ou para assinalarmos o lugar que elas ocupam numa série. A respeito dos numerais, leia e analise as sentenças: I- Os numerais cardinais na língua portuguesa são: um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, e assim sucessivamente. II- No caso dos numerais multiplicativos são assim descritos: meio ou metade, terço, quarto, quinto, sexto etc. III- Os numerais ordinais são: primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo, e assim sucessivamente. IV- Em relação aos fracionários, são assim descritos: dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo etc. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I, II e III estão corretas. b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) As sentenças II, III e IV estão corretas. 3 Pronomes são palavras que substituem o nome, indicando-lhe a pessoa gramatical. Representam os nomes dos seres ou os determinam, indicando a pessoa do discurso. Sobre os pronomes, associe os itens, utilizando o código a seguir. I- Pronome demonstrativo. II- Pronome pessoal. III- Pronome relativo. IV- Pronome possessivo. AUTOATIVIDADE 34 ( ) Que, qual, quanto, cujo. ( ) Meu, teu, tua, nossa. ( ) Eu, nós, vós, ela. ( ) Este, aquela, essa, esta. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) III – IV – II – I. b) ( ) I – III – II – IV. c) ( ) IV – II – III – I. d) ( ) II – III – I – IV. 4 Conhecer as classes gramaticais do português proporciona ao aluno um avanço importante na compreensão da língua e de seus elementos gramaticais. Cada uma das classes gramaticais desempenha um papel fundamental e relevante no aprendizado. Uma destas classes é a conjunção. Disserte agora sobre ela. 5 O pronome é toda palavra que substitui o nome, indicando-lhe a pessoa gramatical. Os pronomes são palavras que representam os nomes dos seres ou os determinam, indicando a pessoa do discurso. Há vários tipos de pronomes. Disserte sobre três deles e dê exemplos: o demonstrativo, o indefinido e o relativo. 35 TÓPICO 3 - O VERBO, O ADVÉRBIO E A INTERJEIÇÃO 1 INTRODUÇÃO Depois de observar algumas das classes de palavras (sete até aqui), temos mais três para verificar neste tópico – o verbo, o advérbio e a interjeição. Vamos nos ater mais ao verbo, pois, há muitas coisas para serem estudadas nesta classe. Entretanto, não deixaremos de averiguar aquilo que são os elementos primordiais do advérbio e da interjeição. Com relação ao estudo do verbo iremos ver oselementos que fazem parte da estrutura dos verbos: modo; tempo; voz; pessoa; e número. Em seguida veremos as conjugações dos verbos e alguns exemplos de conjugações para relembrarmos e fixarmos em nossa mente. Ao tratar do advérbio vamos compreender o conceito daquilo que é advérbio, depois veremos as classes dos advérbios e os graus que eles podem aparecer. Por fim, vamos verificar o que é interjeição e observaremos alguns exemplos dela. Ainda no final desta unidade, você terá para leitura complementar um texto bem interessante a respeito das classes gramaticais. Dessa forma, chegaremos ao término deste tópico e da nossa primeira Unidade. Vamos em frente! 2 O VERBO Nosso estudo se dirige agora para a etapa que tem como propósito conhecer mais de perto a respeito do Verbo na língua portuguesa. Para os gramáticos latinos, o verbo era tido como “a palavra por excelência”. O verbo é uma classe de palavras que desempenha um papel essencial na frase, considerada o núcleo da frase sintaticamente construída. Para Cegalla (2010, p. 182), “verbo é uma palavra que exprime ação, estado, fato ou fenômeno”, e “palavra indispensável na organização do período”. Conforme Taylor (1990, p. 8), “o verbo afirma ação (inclusive o estado) e tem tempo, modo, voz e pessoa”. De acordo com Godoi Filho (2019, p. 80), “os verbos compõem a classe gramatical que indica as ações expressas em uma sentença e o tempo em que elas ocorrem”. Na língua portuguesa encontramos os seguintes elementos que fazem parte da estrutura dos verbos: modo; tempo; voz; pessoa; e número. São também conhecidos como flexões do verbo. Vamos observar de forma sucinta cada um deles elementos citados. UNIDADE 1 36 Quanto à flexão, os verbos são considerados regulares, irregulares, anômalos: a) regulares: são aqueles que se flexionam conforme o modelo (também chamado de paradigma) comum de conjugação, mantendo o radical sem alterações, por exemplo, o verbo cantar; b) irregulares: são aqueles que, ao se flexionarem, não seguem o modelo da sua conjugação, ou seja, afastam-se do paradigma da sua conjugação, por exemplo, o verbo, dar, ser; ne c) defectivos: são aqueles que não têm certas formas, por exemplo, o verbo abolir, falir. Alguns gramáticos incluem os Unipessoais ou Impessoais como chover, ventar etc. E ainda, existem os Abundantes, isto é, verbos que possuem duas ou mais formas equivalentes, por exemplo, o verbo matar possui as formas matado e morto no particípio. NOTA 2.1 MODO De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 368), “chamam-se modos as diferentes formas que toma o verbo para indicar a atitude (de certeza, de dúvida, de suposição, de mando etc.) da pessoa que fala em relação ao fato que anuncia”. Cegalla (2010), mostra que os verbos indicam as diferentes maneiras de um fato se realizar no português: indicativo, imperativo e subjuntivo. Para Guiley (1993, p. 7), “o modo do verbo indica a atitude mental da pessoa que fala (ou escreve), com referência à realidade da ação do verbo”. Conforme mencionado há na língua portuguesa três modos verbais: • Indicativo Indicativo é o modo que serve para declarar positivamente um fato certo, positivo. A intenção da pessoa que fala é declarar a realidade de um fato. Conforme Guiley (1993, p. 7), “a pessoa que fala estas palavras está declarando um fato como real. Ao modo não importa se a declaração é verdadeira ou falsa. Importa somente a declaração do fato”. Ex.: º Vou hoje pela manhã. º Elas saíram bem cedo. 37 • Imperativo O Imperativo exprime ordem, ou um pedido, proibição, ou até mesmo um conselho. Ele é considerado o mais fraco dos modos, no sentido de que expressa apenas a vontade da pessoa, isto é, somente que tal é o desejo, ou o intento da pessoa que fala. É muito usado em ordens, proibições, pedidos, súplicas, conselhos. Ex.: º Volte já para casa. º Não façam barulho na sala. º Sejam prudentes no trânsito. • Subjuntivo O modo subjuntivo expressa um fato possível, duvidoso ou hipotético. É o modo da “probabilidade”. Este modo não diz que a ação do verbo seja um fato agora, mas que poderá tornar-se fato sobre certas condições prováveis. Ex.: º É bem provável que chova amanhã. º Se você trabalhasse, não passaria tanta necessidade. Não obstante, cabe ressaltar que, além desses três modos verbais, há na língua portuguesa as formas nominais do verbo: o infinitivo, o gerúndio e o particípio. Estas formas simplesmente anunciam um fato, porém de maneira imprecisa, vaga, impessoal. Observe os exemplos das formas nominais do verbo: Infinitivo: correr, pular, brincar, andar, trabalhar. Gerúndio: correndo, pulando, brincando, andando, trabalhando. Particípio: corrido, pulado, brincado, andado, trabalhado. 2.2 TEMPO Conforme Cunha e Cintra (1985, p. 369), “tempo é a variação que indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo”. Para Cegalla (2010, p. 182), “os tempos situam o fato ou a ação verbal dentro de determinado momento (durante o ato da comunicação, antes, ou depois dele)”. No português temos três tempos verbais: o presente, o pretérito (passado) e o futuro. Observe os tempos verbais e seu uso por meio do verbo “estudar” nas Figuras 7 e 8: 38 FIGURA 7 – FLEXÕES DO VERBO FONTE: . Acesso em: 31 jul. 2021. FIGURA 8 – FLEXÕES DO VERBO FONTE: . Acesso em: 31 jul. 2021. 39 2.3 VOZ Para Taylor (1990, p. 8), “a voz do verbo diz como a ação do mesmo se relaciona com o sujeito”. Na língua portuguesa, conforme Cegalla (2010, p. 184), os verbos se classificam em: 1. Ativos; 2. Passivos; 3. Reflexivos. As vozes do verbo são chamadas de voz ativa, voz passiva e voz reflexiva, pois é a forma que este assume para indicar que a ação verbal é praticada ou sofrida pelo sujeito. Veja os exemplos: FIGURA 9 – VOZES DO VERBO FONTE: . Acesso em: 31 jul. 2021. 2.4 NÚMERO Ao nos referirmos ao número estamos indicando a flexão dos verbos em: singular ou plural. O verbo então admite dois números: singular e o plural. O verbo se encontra no singular quando ele se refere há somente uma coisa ou pessoa, no plural, quando se refere há mais e uma coisa ou pessoa. Vamos exemplificar: SINGULAR (Eu) Canto (Tu) Cantas (Ele) Canta PLURAL (Nós) Cantamos (Vós) Cantais (Eles) Cantam 2.5 PESSOA Quando nos referimos ao número e pessoa na flexão do verbo, estamos falando de: primeira, segunda e terceira pessoa do singular (eu, tu, ele/a) e do plural (nós, vós, eles/as). Segundo Taylor (1990, p. 8), “as terminações pessoas indicam os diferentes sujeitos, como eu, tu, ele, ou ela, nós, vós, eles ou elas. Estas terminações pessoais são restos de antigos pronomes e são inseparáveis do verbo”. 40 Assim, quando se fala em pessoa estamos nos referindo à: 1ª, 2ª e 3ª pessoa do singular (eu, tu, ele/a); 1ª, 2ª e 3ª pessoa do plural (nós, vós, eles/as). A primeira pessoa refere-se àquela que fala (eu/nós). A segunda pessoa refere-se àquela com quem se fala (tu/vós). A terceira é aquela de quem se fala (ele, ela/eles, elas). No Quadro 16, você pode observar os exemplos: QUADRO 16 – FLEXÃO DE PESSOA E NÚMERO FONTE: . Acesso em: 30 jul. 2021. Elementos estruturais do verbo: é importante conhecer os morfemas que fazem parte da estrutura do verbo é muito importante para entender a formação dos tempos verbais. O que é o radical? Radical: contém a significação básica da palavra, é a parte invariável que se repete em todos os modos e tempos. Observe o verbo pular, conjugado no presente do indicativo: pulo, pulas, pula, pulamos, pulais, pulam. O radical pul – permaneceu sem alterações. Junta-se ao radical verbal uma terminação, que é composta por pelo menos um dos seguintes elementos: • Vogal temática: esta indica a conjugação a que o verbo pertence