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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA – DCET CAMPUS I – SALVADOR CURSO DE BACHARELADO EM URBANISMO AVIVA FREITAS DOS REIS DE OLIVEIRA DEGRADAÇÃO DA ESTAÇÃO DA LAPA EM SALVADOR SALVADOR JULHO – 2013 AVIVA FREITAS DOS REIS DE OLIVEIRA DEGRADAÇÃO DA ESTAÇÃO DA LAPA EM SALVADOR Trabalho referente à disciplina de História Urbana do 1º semestre do Curso de Bacharelado em Urbanismo da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Orientado pelo Professor Charles D’Almeida Santana. SALVADOR JULHO – 2013 INTRODUÇÃO A Estação Clériston Andrade, também conhecida como Estação da Lapa, projetada pelo arquiteto conhecido nacionalmente João Filgueiras Lima (Lelé), localiza-se na Praça Carneiro Ribeiro, s/nº - Nazaré - Salvador/BA e foi inaugurada em 07 de novembro de 1982. É chamada popularmente de Estação da Lapa por sua localização ser próxima a um convento de mesmo nome na Av. Joana Angélica. O terminal rodoviário é o maior e mais importante da cidade de Salvador. Tem linhas para grande maioria dos bairros e para algumas cidades vizinhas da capital baiana. Possui área total ocupada de 150.000,00m², correspondendo a 30.000,00m² de área construída e 120.000,00m² de área urbanizada. Recebe em torno de 460 mil pessoas diariamente, conforme dados da STP – Superintendência de Transportes Públicos e funciona 24h por dia. No setor superior é composto por algumas lojas, quiosques e lanchonetes, além de postos de serviços, como a Salvadorcard e SETPS. Há mais de 13 anos a Estação da Lapa segue sem reforma, dados da Transalvador indicam que a última reforma foi realizada no período de abril/2000 à dezembro/2000. Existe pendente, também, a construção de uma integração da Estação com o metrô. A Estação da Lapa fez e faz parte da vida de todos os moradores da capital baiana que utilizam o transporte público como principal instrumento de locomoção. Dificilmente conhecemos alguém que não a tenha frequentado ou, caso não tenha frequentado, não tenha ouvido falar. O que muito é comentado sobre a Estação Clériston Andrade é seu atual estado, que segue degradado, causando desconforto aos usuários de ônibus na cidade, principalmente em relação à segurança e limpeza do local. 1. DADOS A Estação possui acessos através da Avenida Joana Angélica, da Praça Carneiro Ribeiro, da Rua Coqueiros da Piedade e através dos bairros dos Barris e Tororó, além da interligação com o Shopping Lapa e Shopping Piedade, principalmente. Os ônibus têm acesso ao terminal através do Vale dos Barris. Em função das obras do metrô, algumas linhas da região metropolitana não estão adentradas à Estação, fazendo retorno antes do acesso, onde ocorre o desembarque dos passageiros. Mapa de localização da Estação da Lapa Na Estação, podemos classificar suas instalações em quatro níveis: Pavimento de Serviços, composto pelo comércio (lojas), serviços e postos de apoio, onde se situam os acessos principais; Plataforma Superior, que faz parte do desembarque e embarque de passageiros; Plataforma Inferior, também destinada a embarque e desembarque de passageiros porém localizada no subsolo; e Área Externa. Podemos observar, na tabela abaixo, todos os dados atualizados (de acordo com o site da Transalvador visualizado este mês, julho de 2013) referentes ao empreendimento da Estação Clériston Andrade, tais como Equipamentos, Dados Operacionais, Comércio Permissionário e Postos de apoio presentes no local. EQUIPAMENTOS Escadas rolantes com capacidade para 10.000 passageiros/dia,sendo uma delas a maior do Brasil, com 12m de desnível 09 Sanitários públicos 04 Subestação 13.800w com saída de 220/330v trifásico 01 Telefones públicos 46 Estacionamento com 24 vagas 01 DADOS OPERACIONAIS Número de linhas urbanas 93 Número de ônibus/hora 301 Número de usuários/dia 460.000 Número da frota/dia 500 COMÉRCIO PERMISSIONÁRIO Lojas 18 Boxes 16 Pipoqueiras 04 Bancos 24h 03 POSTOS DE APOIO Sala da Administração 02 Sala da Fiscalização 01 Módulo da PM (Polícia Militar) 01 Posto do Juizado de Menores 01 Banco Popular 02 Posto da CIAC 01 Fonte: Transalvador – Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador, 2013 2. TRANSPORTE E MOBILIDADE EM SALVADOR A Estação da Lapa, no cenário que vive a cidade de Salvador hoje em dia é de fator essencial para o fluxo e andamento da rotina diária de ônibus. Dificilmente poderemos imaginar Salvador com a extinção da Estação da Lapa sem que a rotina da população seja alterada. Esta é o “coração” do transporte público na capital baiana, com mais de 93 linhas de ônibus1, podemos dizer que o empreendimento é fundamental e faz parte do cotidiano de pelo menos mais da metade da população da cidade. 1 Fonte: Transalvador – Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador. Em Salvador existem sete Estações, dentre elas: Lapa, Rodoviária, Iguatemi, Mussurunga, Pirajá, Aquidabã e Barroquinha. O número de usuários por dia que circulam na Lapa chega a 460.000, muito além que o dobro de passageiros que frequentam a Estação Pirajá e Iguatemi, com 130.000 e 65.000, respectivamente2. Estes dados são comprobatórios a respeito da importância da Estação da Lapa para cidade de Salvador. As linhas de ônibus que passam pela Estação da Lapa são divididas entre o pavimento superior e o pavimento no subsolo. Sendo: Plataforma – térreo A Boca do Rio, Alto do Coqueirinho, Valéria, Aeroporto e Vale dos Rios – Stiep B Sussuarana, Nova Sussuarana, Cabula VI, Narandiba/Doron, Engomadeira, Pirajá, Capelinha R2, Pau da Lima, Capelinha R1 e Marechal Rondon C IAPI, Pau Miúdo, Caixa D’água, Cidade Nova, Saboeiro, N. Sra. Resgate, Pernambués, Tancredo Neves, Arenoso e Mata Escura D Santa Cruz, C. A. B., Pituba, Nordeste, Vale das Pedrinhas, Itapuã, Jardim das Margaridas e Praia do Flamengo E Mussurunga 1, Mussurunga 2, Conj, Trobogy/Vl. 2 de Julho, Canabrava/Nova Cidade, Bairro da Paz, Estação Mussurunga, Vale dos Lagos, São Marcos, Patamares R1, Mata dos Oitis, Patamares R2, Conj. G. Marback, Sete de Abril e Colinas de Pituaçu Plataforma – subsolo a Cajazeira 8, Cajazeira 10, Cajazeira 6/7, Cajazeira 7/6, Daniel Lisboa R1, Faz. Grande 1/2, Cajazeira 11, Faz. Grande 2/3, Boca da Mata, Faz. Grande 4, Jd. Nova Esperança, Cajazeira 5 e Estação Pirajá b Pero Vaz, D. Avelar/Vila Canária, São Caetano, Faz. Grande do Retiro, Rua Direta, Vila Rui Barbosa, Vila Rui Barbosa R2, Ribeira, Thome de Souza, Ribeira/HGE, Castelo Branco e Massaranduba c Boa Vista do Lobato, Alto do Cabrito, São João do Cabrito, Plataforma, Vista Alegre, Alto de Coutos, Base Naval, Fazenda Coutos, Alto Sta. Terezinha e Rio Sena d Bom Juá, Luiz Anselmo, Cosme de Farias, Daniel Lisboa R2, Eng. Velho de Brotas, Brotas e Hospital Geral e Monte Gordo, Mata de S. João, Barra de Pojuca, Itinga, Portão, Lauro de Freitas, Vida Nova, Goes Calmon, Simões Filho, Madre de Deus, Camaçari, CIA 1 e 2, Candeias, Nova Dias D’ávila, Ilha de S. João e Mapele Fonte: Coleta no local durante pesquisa de campo Sendo assim, podemos dizer que para a mobilidade urbana de Salvadora Lapa é de caráter determinante. Seu grande acervo de linhas e diversidade de bairros que são abrangidos pelo seu serviço não pode ser descartado. 2 Fonte: Transalvador – Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador. O transporte público em Salvador segue, nos últimos anos, em estado caótico, e somente o aumento da frota de ônibus não serviria como solução para tal problemática, mas que acarretaria também no aumento dos congestionamentos na cidade. Outra dificuldade apontada pela população é a falta de organização dos itinerários dos ônibus, como explica e sugere melhoria a estudante Sofia Reis, de 19 anos: “O que mais se destaca como situação para mim é a falta de organização dos itinerários das linhas de ônibus, sei que o trânsito caótico da nossa cidade é um dos grandes motivos para este problema, mas acredito que se houvesse um planejamento específico e bem estruturado com relação a isso não sofreríamos tanto tempo esperando nos pontos de ônibus da cidade, a irregularidade dos horários é um dentre os inúmeros problemas que os usuários do transporte público na cidade enfrentam.” Com 821.735 veículos3 e 2.742 ônibus² nas ruas, o crescimento da frota de veículos também é uma das causas para o quadro atual do trânsito que segue com dificuldade na cidade. Numa reportagem realizada pelo jornal A TARDE4, o professor de Urbanismo Luiz Antônio de Souza exemplifica a falta de planejamento urbano na cidade: “A falta de planejamento urbano é apontada por todos os especialistas como um dos principais problema do tráfego. O certo é que Salvador não se preparou para receber o boom dos milhares de veículos que chegam às ruas todos os meses, apesar de desde a década de 70 já se chamar a atenção para a impossibilidade de dissociar o trânsito do planejamento do uso do solo. Para se ter uma ideia do amadorismo, não existe sequer uma pesquisa de destino e origem dos passageiros. Esse estudo ajudaria a identificar de onde vêm e para onde vão as pessoas diariamente, podendo auxiliar no planejamento de 3 Fonte: SEEAC – Setor de Estatística e Acidentologia, 2012. 4 Fonte: A TARDE – Sábado, 04/08/2012 às 21:02 em http://atarde.uol.com.br/materias/1444902 estratégias de locomoção eficiente e confortável.” Há questionamentos sobre a quem se destina o planejamento urbano realizado em Salvador, se seria a população “motorizada” dotada de seus automóveis ou à maioria, que utiliza o transporte público como ferramenta diária para locomoção. De acordo com informações da Superintendência de Trânsito de Salvador – Transalvador, 2.742 ônibus fazem o transporte de 42 milhões de passageiros por mês na cidade, portanto, o planejamento urbano deveria ser dirigido à prioridade para melhoria da qualidade de vida das pessoas que utilizam o ônibus como principal meio de transporte. A mobilidade a pé, nesses planos, é tratada de forma genérica e superficial, pois o enfoque prioritário recai sobre o atendimento motorizado da demanda, embora, ressalte-se, dando prioridade para o transporte público. As propostas para a circulação dos pedestres são dirigidas para a área central da cidade: reserva de áreas exclusivas (os famosos calçadões); alargamento de calçadas; instalação de abrigos nos pontos de ônibus; sinalização de travessias com semáforo e melhoria do processo informacional sobre o serviço de transportes. Ou seja, nos planos de transportes, além dos problemas de ordem metodológica, o pedestre só existe quando atravessa a rua ou pega o ônibus, mesmo assim se for na área central da cidade. 5 Desta forma, o pedestre em Salvador enfrenta diversas dificuldades para utilização do transporte público, tais como: a) pontos de ônibus mal localizados e de estrutura precária. b) calçadas em péssimo estado de conservação e, em alguns casos, inexistentes. c) imprudência e falta de educação de motoristas de automóveis particulares. 5 Fonte: Artigo “A MOBILIDADE A PÉ EM SALVADOR” de Francisco Ulisses Santos Rocha, PPG- AU/FAUFBA, 2003. d) falta de segurança em geral, com ruas com pouca sinalização e iluminação. e) ocupação de calçadas pelo comércio informal dificultando a circulação dos pedestres. f) desorganização dos itinerários das linhas de ônibus e atraso no horário dos mesmos. g) engarrafamentos provenientes do tráfego com fluxo intenso. h) estado depreciativo da frota de ônibus, com falta de manutenção mecânica rotineira ocasionando risco à segurança dos passageiros e falta de limpeza no interior dos ônibus, facilitando a proliferação de insetos. Portanto, Salvador no atual momento passa por necessidade de intervenções direcionadas a melhoria da mobilidade urbana para que seja atendida a demanda da população quantitativamente, quanto qualitativamente, já que, 77,1% da população utiliza ônibus diariamente6. É evidente que a intervenção, no que se diz respeito ao transporte, a ser feita não deve contar apenas com um tipo de transporte público, é preciso um sistema integrado, que incluam os modais com transporte de massa. Faz parte do cotidiano da população da capital baiana ter que enfrentar todos os dias congestionamentos, longo tempo de espera e o desconforto – esta obtendo altos níveis de estresse – o que influi diretamente nas relações produtivas e pessoais. 3. SEGURANÇA, HIGIENE E CONFORTO AMBIENTAL, INFRAESTRUTURA E COMÉRCIO 3.1 SEGURANÇA, HIGIENE E CONFORTO AMBIENTAL 3.1.1 SEGURANÇA 6 Fonte: Planter – Observatório do Comportamento & Tendências, 11 a 14 de junho de 2012, 2.000 pessoas foram entrevistadas. Alvo de preocupação por usuários que transitam pela Estação, a segurança no local deixa mais que a desejar e um dos motivos principais para evitar a frequência de visita ao local, de acordo com a maioria das pessoas que nela circulam. Na Estação da Lapa, há a presença de apenas um Módulo da PM (Polícia Militar) localizada no pavimento térreo, para a fiscalização de toda a área da Estação da Lapa, sendo elas o pavimento inferior, térreo e superior. Nele, ficam geralmente três policiais por turno7. Presença da Polícia Militar do Estado da Bahia – 41ª Companhia Independente, 6º Comando da área, 5º Posto de abordagem localizada no Pavimento Térreo da Estação da Lapa i É visível a ineficiência da presença de apenas um posto policial, se for levado como fato relevante o alto índice de assaltos que ocorrem na Estação, que são de 15 assaltos por dia8, sendo em média 400 assaltos por mês. Circular por um local com pouco policiamento é um grande risco, principalmente a quem necessita transitar pelo local diariamente, atuando em sua rotina diária, para utilizar o transporte para acesso ao trabalho, escola, etc. e esta deficiência na segurança da Estação da Lapa é de fator determinante para necessidade urgente de uma maior organização policial no local, sendo, ao menos, distribuição de postos policiais por todos os pavimentos, não somente no pavimento térreo. 7 Fonte: Pesquisa de campo realizada no dia 18 de maio de 2013 às 14:00. 8 Fonte: Correio – 28/08/2011 às 07:45, http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes- 1/artigo/estacao-da-lapa-vive-panico-durante-assalto/ Numa pesquisa de campo9 realizada através da ferramenta Google Docs em formuláriopara captação, foram entrevistadas 26 pessoas que frequentam o local diariamente, já frequentaram pelo menos uma vez e que não frequentaram, porém já ouviram falar das irregularidades do local, 81% responderam que sentem receio por diversos motivos, mas o principal é a falta de segurança e o risco de assaltos a qualquer momento. Fonte: Pesquisa de campo Ainda assim, há pessoas que nunca foram vítimas de algum tipo de violência10 enquanto estavam presentes na Estação da Lapa e que não sentem algum tipo de insegurança ao frequentar o local, como o relato de Paula Ramos, urbanista, de 31 anos, que atualmente reside em Genebra, na Suíça: “Não, não sinto receio. Apesar de saber que não é um lugar seguro, procuro não chamar a atenção com vestimentas, nem com jóias etc. Pelo contrário, me sinto em casa! Eu sou muito do povo, gosto de sentir a cidade, de fazer parte dela, seja ela qual for. E apesar dos perigos que existem na Lapa, talvez por sorte, sempre consegui me sair bem. Lógico que ando com cuidado, fazendo sempre atenção às pessoas à minha volta. Para despistar qualquer malandro, procuro agir com naturalidade, sempre atenta, e não "dar muito mole". Jamais 9 Link: https://docs.google.com/forms/d/1- g1uVhYE30I5HWBrVY8VVBOVjZmPyXKDZROrcrFkEOQ/viewform, última atualização: 01/07/2013. 10 Definição: comportamento que causa intencionalmente dano ou intimidação moral a outra pessoa ou ser vivo; usar a agressividade de forma intencional e excessiva para ameaçar; opressão ou abuso de força. Sendo assim, um assalto é considerado uma forma de violência. 81% 11% 8% Você tem receio ao frequentar a Estação da Lapa? Sim, pela falta de segurança. Ás vezes. Não, não tenho receio. me aconteceu o que quer que seja comigo na Lapa. A minha mãe uma vez estava comigo. Ela detesta andar de ônibus e, neste dia, abriu uma exceção e foi comigo. Passou uma menina, de uns 9 anos, com tanta rapidez e lhe arrancou o cordão de ouro do pescoço que já o portava há muitos anos. Eu procuro ver da seguinte maneira: a menina já está habituada a fazer isso, pode fazer para comer e/ou se drogar. Sabendo que estávamos num local ‘foco’, o vacilo foi da minha mãe de ter ido com o cordão. Mas, enfim, Salvador e em muitas outras cidades do Brasil, os problemas são muito mais complexos do que imaginamos. Minha opinião totalmente empírica, nada confirmado cientificamente, é que o sentimento de segurança vem do sentimento de pertencimento.” De acordo com um Relatório de Vistoria realizado pelo CREA-BA (Conselho Reginal de Engenharia e Agronomia da Bahia) em que o solicitante foi o Ministério Público, foi constatado que há necessidade de implantação de área de controle (observação) no interior da Estação para monitoramento de todos os espaços visando a segurança patrimonial e dos usuários, além do controle de tráfego.11 Além da segurança patrimonial, outro fator que deixa os transeuntes do local em risco é a ausência de uma Brigada de Incêndio, bem como a existência de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) para os usuários e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para os funcionários. Da mesma forma, há necessidade da implantação de um setor de manutenção predial, levando em consideração o porte e a utilização da Estação, como sugere o Relatório de Vistoria pelo CREA-BA realizado em 2009. 3.1.2 HIGIENE E CONFORTO AMBIENTAL Além da falta de segurança, o estado crítico da Estação da Lapa referente a limpeza, higiene e conforto ambiental são determinantes também para a reação – sendo, desta forma, negativa – de quem frequenta o local. 11 Fonte: Relatório de Vistoria Nº. 008/2009 realizado no dia 17 de agosto de 2009 pelo CREA-BA. No Pavimento de Serviços, área composta pelo comércio, postos de apoio e serviços e lanchonetes, além da presença de ambulantes em toda a área de forma desordenada, o forte odor de esgoto e presença de animais é evidente. Presença de pombos ao lado de uma lanchonete Os sanitários da Estação da Lapa ficam localizados também no Pavimento de Serviços. Estes, também vivem em estado deplorável, com sanitário feminino parcialmente interditado decorrente de defeitos e sanitário masculino também necessitando de reformas. Foi verificada a ausência de portas em alguns sanitários, pias sem torneiras, azulejos quebrados, falta de limpeza e falta de materiais para higiene como papel toalha, papel higiênico e sabão. Sanitário feminino localizado no Pavimento Superior da Estação Na Plataforma Superior – térreo da Estação, que serve para embarque e desembarque de passageiros, também há mau cheiro, presença de ambulantes por todo o local, pisos danificados, instalações elétricas com fios expostos, presença de animais, alagamentos, além de infiltração nas paredes. Alagamento e infiltração em parede localizada no térreo, próxima a escada que dá acesso ao Pavimento de Serviços Na Plataforma Inferior – subsolo também é visível as mesmas deficiências identificadas nos outros pavimentos da Estação, porém, neste setor, o mau cheiro – proveniente de esgoto e urina – é mais forte, além da presença de ratos e baratas que podem ser vistos com facilidade. O subsolo tende a ser o local mais evitado na Estação da Lapa, primeiramente por sua insegurança e falta de iluminação (que agrava ainda mais o risco de assaltos) e também, principalmente, pela falta de limpeza. Quando foi questionado se havia receio ao frequentar a Estação da Lapa12, o urbanista João Pena, de 25 anos, natural de Pojuca e residente em Salvador frisou que sente receio, sim, mas quando se trata do subsolo “No subsolo sim. É preciso ter certo cuidado à noite, sobretudo no subsolo que não transmite à pessoa a sensação de segurança. Além disso, as condições em que se encontra a Lapa são lamentáveis”. É observado também a falta de conforto ambiental, como salienta o Relatório de Vistoria do CREA-BA: 12 Pesquisa de campo realizada através da ferramenta Google Docs, em https://docs.google.com/forms/d/1-g1uVhYE30I5HWBrVY8VVBOVjZmPyXKDZROrcrFkEOQ/viewform Desconforto ambiental decorrente da elevada temperatura no ambiente, bem como da presença gases (CO e CO2) provenientes das descargas dos veículos, além da ausência de iluminação natural e deficiência de ventilação, agravado pelo não funcionamento do sistema de exaustão“. 13 Subsolo: falta de iluminação, mau cheiro, alagamentos e desnivelamento do piso 3.2 INFRAESTRUTURA O estado atual de conservação da Estação e seus equipamentos seguem, bem como sua estrutura e instalações (mecânicas e elétricas), com deficiências. Uma estrutura de grande porte como a Estação da Lapa, com 3 pavimentos, plataformas para várias linhas de ônibus, comércio, postos de apoio, escadas rolantes, etc. necessitaria de uma manutenção predial periódica além de reformas em sua estrutura. Verifica-se que entre os equipamentos e instalações com defeito, estão as escadas rolantes, que estão sem uso por falta de manutenção corretiva. 13 Fonte: Relatório de Vistoria Nº. 007/2007 realizado em 18 de dezembro de 2006 pelo CREA-BA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia). Escadas rolantes interditadas para acesso ao subsolo com ausência do painel de proteção dos motores Outro problema verificado é a iluminaçãoinadequada, ausência de sinalização e desnivelamento do asfalto, principalmente no Pavimento Inferior, no subsolo. Plataforma localizada no subsolo Referente a manutenção predial, foi relatado em 2006 – vale ressaltar que, até os dias de hoje, os problemas continuam ou se agravaram, após 7 anos –, pelo CREA-BA, o seguinte: “A maior parte dos problemas observados está relacionada com a falta da manutenção periódica e preventiva da Estação, conforme estabelece a Lei municipal nº 5.907/2001, regulamentada pelo Decreto nº 13.251/2001, que determina vistorias periódicas. Este diagnóstico pode ser constatado pelo mal estado de conservação das instalações em geral, equipamentos e máquinas sujeitando a população a todo o tipo de transtorno e risco. Contribui também, para o desgaste do equipamento, o intenso fluxo de pessoas e veículos, à utilização constante do terminal sem conservação preventiva, além da grande quantidade de serviços e atividades realizadas simultaneamente no local. Destaca-se a necessidade da revisão das instalações hidrossanitárias; drenagem pluvial; instalações mecânicas (escadas rolantes, casas de máquinas, sistema de exaustão mecânica etc.), instalações elétricas, telefônicas e lógica e instalações de segurança e pânico”. 14 3.3 COMÉRCIO A presença de ambulantes por toda a área da Estação da Lapa não se passa despercebida. O grande acúmulo de pessoas que praticam o comércio informal na Estação, por mais que seja uma prática estabelecida há muitos anos, muitas vezes, prejudica a circulação de passageiros através da Estação, além de todos os problemas físicos estruturais que ocasionam a dificuldade para transitar entre as dependências do local. A ocupação de ambulantes em todos os pavimentos da Estação se dá de forma desordenada, estes, até mesmo, próximo a escadas. Presença de ambulantes no pavimento térreo da Estação 14 Fonte: Relatório de Vistoria Nº. 007/2006 realizado pelo CREA-BA em 18 de dezembro de 2006. A maioria dos usuários da Estação reclama da falta de organização deste tipo de comércio15, como salienta o estudante Moisés Costa, de 21 anos: “Discordo de qualquer tipo de comércio informal, pois afeta negativamente a economia da cidade, que não coleta impostos destes vendedores que, em teoria, seriam revertidos para o bem da população. Não vou entrar no mérito de o imposto ser alto ou não ou o que os políticos fazem com o dinheiro. Apenas acho que, organizando e formalizando o comércio, as coisas andariam melhor”. Por outro lado, pode ser observado que há importância da presença dos ambulantes, pois estes até mesmo evitam algum tipo de violência enquanto a Estação segue em horários de pouco movimento e que isso “intimida” alguns marginais de praticarem algum tipo de assalto, além de alguns ambulantes auxiliarem prestando informações sobre a Lapa. De qualquer forma, é necessária a organização e se possível o cadastramento destas pessoas que utilizam a Estação como seu local de trabalho e fonte de renda, mesmo que seja de forma informal. O controle e fiscalização destes comércios daria mais segurança aos transeuntes da Estação além de organizar e facilitar a circulação das pessoas na área da Lapa. 4. ACESSIBILIDADE Podemos dizer que acessibilidade na Estação Clériston Andrade é quase que inexistente. Ou seja, levando em consideração o Decreto Federal nº 5.296/0416, as normas gerais e critérios básicos para 15 De acordo com pesquisa de campo realizada através da ferramenta Google Docs https://docs.google.com/forms/d/1-g1uVhYE30I5HWBrVY8VVBOVjZmPyXKDZROrcrFkEOQ/viewform 16 Fonte: DECRETO Nº. 5.296 DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/D5296.htm acessibilidade de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida não são atendidas quando falamos a respeito da Lapa. De 460.000 pessoas que transitam pela Lapa todos os dias, as pessoas com deficiência e idosos carecem de melhor estrutura para facilitar o seu acesso e circulação. Foram encontrados os seguintes problemas17: i. Para acesso, as vias não asseguram um percurso mínimo e que sejam livres de barreiras para o usuário que adentra a Estação. ii. Inexistência de semáforos sonoros para pessoas com deficiência visual e calçadas em estado precário nas vias próximas à Estação. iii. Inexistência de rampas de acesso com inclinações adequadas. iv. Escadas rolantes paralisadas, sem funcionamento ou danificadas. v. Ausência de sinalização nas escadas, com cor e textura diferenciadas nas extremidades dos degraus. vi. Má iluminação, aumentando o fator de risco para pessoas com baixa visão, deficientes visuais e idosos que frequentam a Estação. vii. Falta de pessoal de apoio para auxiliar a circulação. viii. Pisos e degraus estreitos e derrapantes. Alguns locais com alagamento e umidade, potencializando o risco de alguma contingência. ix. Inexistência de outro equipamento eletromecânico de circulação vertical, como elevador. x. Mobiliário inadequado: balcões de serviço com altura muito elevada sem adaptação para pessoa com deficiência. xi. Ausência de sanitário – em pleno funcionamento – adaptado para pessoa com deficiência. xii. Não há vagas reservadas nos estacionamentos para pessoas com deficiência ou idosos. xiii. Não existem informativos em Braille nas paradas de ônibus para facilitar a leitura das pessoas com deficiência visual. xiv. Ausência de sinalização sonora que indique os horários de chegada e saída dos ônibus. 17 Identificados através de pesquisa de campo, Relatório de Vistoria 007/2006 e 008/2009 do CREA-BA. xv. Ausência de funcionários preparados para trabalhar com diversos tipos de público, que saiba se comunicar com pessoas com deficiência auditiva. 5. PLANO DE REFORMA Desde o início deste ano, 2013, foi divulgado que seria aberto um edital de projeto de concessão da Estação Clériston Andrade. Ou seja, há a possibilidade da Estação da Lapa deixar de ser administrada pelo Município de Salvador e passar a iniciativa privada. Numa entrevista concedida a TV Bahia18, o atual Secretário Municipal de Urbanismo e Transporte José Carlos Aleluia, diz que antes da concessão algumas medidas serão tomadas em questão à limpeza, segurança e banheiros e que a reforma completa da Lapa será realizada pela empresa que ganhar a concessão do patrimônio. Em outro momento, em entrevista ao Bahia Notícias19, o Secretário afirma que o projeto de concessão já está pronto e o prazo é apenas para encaminhar à Câmara de Vereadores e após segue o prazo de fazer a licitação. Outras Estações de ônibus em Salvador serão administradas pelo Estado e somente a Lapa será intervida pela iniciativa privada. 18 Rede Bahia de Televisão, Jornal da Manhã, 09 de julho de 2013 às 09:58 em http://g1.globo.com/bahia/noticia/2013/07/usuarios-reclamam-da-estacao-da-lapa-secretario-diz-que- fara-reforma.html 19 Entrevista realizada em maio de 2013 e divulgada em 08 de julho de 2013 em http://www.bahianoticias.com.br/principal/noticia/140292-projeto-de-concessao-da-estacao-da-lapa- sera-enviado-039-a-qualquer-momento-039-a-camara-diz-aleluia.html CONSIDERAÇÕES FINAIS A Estação da Lapa vive momentos de dificuldade há muitos anos, e, desde sua inauguração, apenas uma reforma foi feita que foi em 2000.Levando em consideração seu porte e a quantidade de pessoas que transitam por ela além de sua importância para cidade de Salvador, é evidente que deveria ter sido mais cuidada. Foram identificados vários problemas em segurança, limpeza, estrutura, comércio, acessibilidade e organização na Estação Clériston Andrade. Mas, além das falhas de uma gestão municipal em relação à Estação e, não somente a Estação, como a cidade de Salvador como um todo, é preciso levar em questão a educação do povo baiano com o patrimônio público. É preciso que haja uma reeducação e conscientização das pessoas para que preservem aquilo que vão utilizar e servirá para benefício próprio, sendo, neste caso para locomoção para fins de produção (trabalho) e fins pessoais. A Lapa faz parte da vida da maioria dos moradores de Salvador e ao longo destes 31 anos, não é com alegria que presenciamos seu atual estado degradado. E, diante de toda sua importância, não é possível imaginar Salvador sem a Estação da Lapa nos dias de hoje. i Todas as fotos utilizadas neste artigo são de responsabilidade própria, foram produzidas através de pesquisa de campo realizada no dia 18 de maio de 2013, por volta das 14h.
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