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ANALOGIA MECÂNICO-ELÉTRICA SISTEMAS LINEARES Carlos Heitor dÁvila Fonseca - 2010 Os quadros abaixo procuram resumir a analogia existente entre sistemas mecânicos e circuitos elétricos, constituídos de elementos lineares. RELAÇÕES BÁSICAS: MECÂNICA ! CIRCUITOS VARIÁVEIS x (t) ! q (t) v � dxdt ! i � dqdt F (t) ! V (t) ou " (t) ELEMENTOS LINEARES m ! L k ! C�1 b ! R OUTRAS RELAÇÕES: ESTÍMULOS EM ELEMENTOS LINEARES F = m dvdt ! V = L didt F = k x ! V = C�1q F = b v ! V = R i Observação: os estímulos (forças ou tensões elétricas) associados aos elemen- tos podem, de acordo com o contexto, apresentar sinais algébricos. Esses sinais vão depender do que se considera: a ação sobre o elemento ou a sua reação. Por exemplo, F = �k x representa a ação de uma força restauradora elástica sobre uma partícula, sendo a força contrária ao deslocamento. Já a reação da partícula sobre a mola terá o sinal positivo. Outro exemplo é " = �L didt , que representa a reação de um indutor, contrária à variação da corrente. Nesse caso a f.e.m. induzida " decorre da lei de Lenz, em que o elemento reage sobre o restante do circuito tentando evitar a variação do uxo magnético. Para cada sistema, o sinal algébrico apropriado pode ser determinado a partir da conservação da energia, como mostrado a seguir. 1 ENERGIAS dW = F dx dW = V dq K = 12m v 2 ! UB = 12L i2 U = 12k x 2 ! UE = 12C�1q2 Potência: P = dWdt = F v ! P = dWdt = V i Dissipação de energia: Pdissipada = b v 2 ! Pdissipada = R i2 TEMPOS DE RELAXAÇÃO freio: d dt � 1 2mv 2 � = �bv2 ) m x+ b _x = 0 �m � mb v (t) = v0 exp � � t�m � ! d dt � 1 2Li 2 � = �Ri2 ) L q +R _q = 0 �L � LR i (t) = i0 exp � � t�L � amortecedor: d dt � 1 2kx 2 � = �bv2 ) b _x+ k x = 0 �k � bk x (t) = x0 exp � � t�k � ! d dt � 1 2C �1q2 � = �Ri2 ) R _q + C�1q = 0 �C � RC q (t) = q0 exp � � t�C � OSCILADOR LIVRE d dt � 1 2mv 2 + 12kx 2 � = �bv2 ) m x+ b _x+ k x = 0 ! d dt � 1 2Li 2 + 12C �1q2 � = �Ri2 ) L q +R _q + C�1q = 0 sem amortecimento: !0 � q k m ! !0 � q 1 LC subamortecido: para b < 2 p mk: !1 � q k m � � b 2m �2 x (t) = x0 e � b2m t cos (!1t+ �0) ! para R < 2 p L=C: !1 � q 1 LC � � R 2L �2 q (t) = q0 e � R2L t cos (!1t+ �0) 2 Oscilações forçadas no regime estacionário No regime estacionário o sistema responde a um estímulo externo oscilatório de frequência angular !, oscilando nessa mesma frequência. Porém, em geral, a resposta surge defasada. Assim, o estímulo externo atuando sobre o sistema e sua resposta podem ser escritos na forma: F (t) � Fmax sin (!t) ! " (t) � "max sin (!t) x (t) = �xmax cos (!t� �) ! q (t) = �qmax cos (!t� �) ) v (t) = ! xmax sin (!t� �) ! ) i (t) = ! qmax sin (!t� �) As amplitudes das grandezas estão representadas pelo índice max. O coe ciente de atrito viscoso b (ou a resistência R) di culta o movimento v (ou a passagem da corrente i) dissipando energia. F = b v ! V = R i No caso do oscilador forçado surge o conceito da reatância, X, que está ligado à di culdade em responder ao estímulo oscilatório. No entanto uma reatância não dissipa energia. O conceito mais geral englobando atrito e reatância é a impedância Z. Ela representa a di culdade do sistema como um todo em responder ao estímulo externo oscilatório. Fmax � Z vmax ! "max � Z imax Z 8<: b (atrito viscoso) X � Xm � !m Xk � k! ! Z 8<: R (resistência)X � XL � !L XC � 1!C Note que em cada caso as reatâncias podem ser de dois tipos: um deles causa uma resposta atrasada na fase de �=2 e o outro adiantada de �=2. Um tratamento usando grandezas complexas, ou sua representação grá ca num diagrama de fasores, mostra que a impedância e a constante de fase de um sistema em série são dadas por Z = q b2 + (Xm �Xk)2 ! Z = q R2 + (XL �XC)2 � = arctan Xm�Xkb ! � = arctan XL�XCR Nesse caso podemos veri car que a amplitude da resposta oscilatória é dada por 3 vmax � ! xmax = Fmaxp b2+(Xm�Xk)2 ! imax � ! qmax = "maxp R2+(XL�XC)2 A condição de ressonância ocorre quando, ao se variar a frequência ! do estímulo externo, a resposta oscilatória é máxima: ) Z = m�{nimo ) o termo reativo se anula, ou seja ) Xm = Xk ! ) XL = XC ) !m = k! ! ) !L = 1!C ) ! = q k m ! ) ! = q 1 LC Os cursos tradicionais de física básica não costumam abordar a impedância ou reatância mecânicas, apesar de utilizarem esses conceitos nos circuitos de corrente alternada. No entanto, tais idéias podem ser úteis no entendimento de sistemas mecânicos. Uma demonstração disso pode ser feita segurando-se um sistema massa-mola e forçando-o a oscilar com a mão. Submetendo esse sistema a uma oscilação de frequência bem menor que a da ressonância notamos que a massa executa facilmente as oscilações impostas pela mão: a reatância de massa é baixa. Já a mola praticamente não se contrái ou distende, indicando uma alta reatância de mola. Por outro lado, submetendo o sistema a uma frequência bem maior que a de ressonância a massa praticamente não se movimenta, enquanto a amplitude do movimento da mola é alta: reatância de massa grande e reatância de mola pequena. O grá co ilustra esse comportamento das reatâncias. Na ressonância as reatâncias se igualam, cancelando o termo reativo da impedância. 4 EXEMPLOS: Exemplo 1 Um sistema é constituído de duas molas em série, de constantes elásticas k1 e k2. a) Qual o circuito análogo a esse sistema? b) Qual a constante elástica equivalente e qual a capacitância equivalente do circuito análogo? Solução: a) Um sistema constituído de duas molas em série será análogo a um circuito com dois capacitores. Para descobrir se esses capacitores devem estar em série ou paralelo é necessário analisar o comportamento de mais uma grandeza. Essa grandeza pode ser a tensão atuando nas molas e seu anál- ogo, a voltagem nos capacitores. Nesse caso, devido à 3a¯ lei de Newton, as forças de tensão atuando nas molas devem ser as mesmas. O circuito análogo deve portando ter os dois capacitores sujeitos à mesma voltagem, indicando ser uma associação em paralelo. Outra grandeza que poderia ter sido analizada é o alongamento das molas, análogo à carga nos capacitores. O alongamento total das molas em série é igual à soma dos alongamentos individuais. É fácil veri car que na associação em paralelo dos capaci- tores a carga total é igual à soma das cargas individuais armazenadas, comprovando ser esse o circuito análogo. b) Juntando as idéias do item anterior é possível deduzir a expressão para a constante elástica ou capacitância equivalente desses sistemas, como mostrado no quadro abaixo. 5 � F1 = F2 = F x1 + x2 = x ! � V1 = V2 = V q1 + q2 = q ) F1k1 + F2k2 = Fk ! ) C1V1 + C2V2 = CV) 1k = 1k1 + 1k2 ! ) C = C1 + C2 Esse resultado mostra que um sistema constituído de duas molas em série possui constante elástica menor que a da mola de menor constante elástica. A mola resultante se torna mais macia que suas constituintes. Exemplo 2 Duas massas m1 e m2 encontram-se separadas por uma mola de constante elástica k. a) Qual o circuito análogo a esse sistema? b) Qual a expressão da massa equivalente (também chamadamassa reduzida) e, no circuito, qual a grandeza análoga? c) Qual a frequência angular desse oscilador? Solução: a) O circuito análogo deve possuir dois indutores e um capacitor. Podemos analisar o comportamento das forças e seu análogo, as voltagens no cir- cuito. Devido à 3a¯ lei de Newton todas as forças são iguais, assim, no circuito análogo todos os elementos devem estar sujeitos à mesma volt- agem. Isso signi ca um circuito em paralelo. Além disso, notamos que a soma dos deslocamentosdas massas deve ser igual ao alongamento da mola: x1 + x2 = x. Derivando essa expressão em relação ao tempo obte- mos uma relação para as velocidades, _x1+ _x2 = _x, que no caso do circuito equivale à lei dos nós, i1 + i2 = i. Comprovamos, então, que a associ- ação em paralelo de dois indutores e um capacitor é o circuito análogo do oscilador constituído de duas massas separadas por uma mola. 6 b) A partir dos resultados do item anterior podemos escrever:� F1 = F2 = F _x1 + _x2 = _x ! � V1 = V2 = V i1 + i2 = i ) x1 + x2 = x ! ) di1dt + di2dt = didt ) F1m1 + F2m2 = Fm ! ) V1L1 + V2L2 = VL ) 1m = 1 m1 + 1m2 ! ) 1L = 1L1 + 1L2 ou m = m1 m2m1+m2 ! ou L = L1 L2L1+L2 A expressão m = m1 m2m1+m2 é denominada massa reduzida do oscilador, sendo um conceito muito útil no caso de sistemas constituídos de dois corpos. c) A frequência angular do oscilador é dada por: ! = q k (m1+m2) m1 m2 ! ! = q (L1+L2) C L1 L2 Exemplo 3 Uma massa m encontra-se presa entre duas molas de constantes elásticas k1 e k2. a) Qual o circuito análogo a esse sistema? b) Qual a expressão da constante elástica equivalente e, no circuito, qual a grandeza análoga? c) Qual a frequência angular desse oscilador? Solução: a) O circuito análogo deve possuir dois capacitores e um indutor. Para desco- brir o tipo da associação notemos que a força sentida pela massa deve ser a soma das forças exercidas pelas duas molas, F1+F2 = F . No circuito isso equivale a V1 + V2 = V , ou seja, a voltagem no indutor é dada pela soma das voltagens nos capacitores. Esse é o resultado da lei das malhas no caso da associação em série. A comparação entre deslocamentos e cargas ou velocidades e correntes comprova ser essa a associação correta. Nessa comparação temos: x1 = x2 = x ou _x1 = _x2 = _x no sistema mecânico e q1 = q2 = q ou i1 = i2 = i no circuito elétrico. b) Utilizando resultados do item anterior podemos escrever: � x1 = x2 = x F1 + F2 = F ! � q1 = q2 = q V1 + V2 = V ) k1 x1 + k2 x2 = k x ! ) q1C1 + q2 C2 = qC ) k = k1 + k2 ! ) 1C = 1C1 + 1C2 7 c) A frequência angular desse oscilador é dada por: ! = q k1+k2 m ! ! = q C1+C2 L C1 C2 8
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