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AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 1 
 
AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA: LEITURA SIMBÓLICA E CONSTRUÇÃO DA 
IDENTIDADE NA INFÂNCIA. 
 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
Giane Demo 
Sandro Garabed Ischkanian 
Silvana Nascimento de Carvalho 
O desenho infantil constitui uma importante linguagem simbólica na infância, funcionando como 
meio de expressão, comunicação, avaliação e construção da identidade. Segundo Carvalho, 
Ischkanian, Cabral, Demo e Ischkanian (2025), o desenho livre é uma ferramenta interdisciplinar 
que atravessa campos como a psicomotricidade, as linguagens verbais e não verbais, a arte e o 
desenvolvimento infantil, possibilitando à criança ressignificar experiências internas e externas. A 
valorização do desenho enquanto processo expressivo está relacionada à sua potência simbólica e 
ao papel ativo do educador como mediador do sentido da produção gráfica infantil. As fases do 
desenho infantil, conforme descritas por autores como Lowenfeld e Luquet, estruturam-se em 
estágios de desenvolvimento gráfico que acompanham a evolução cognitiva e emocional da 
criança, indo do garatujar ao realismo visual. Andrade (2023) destaca que cada fase reflete não 
apenas habilidades motoras, mas também conteúdos simbólicos e afetivos. Já Santos et al. (2024) 
evidenciam que a interpretação desses estágios pode revelar indicadores importantes sobre o modo 
como a criança percebe a si mesma, o outro e o mundo, tornando o desenho um instrumento útil 
em avaliações psicopedagógicas e psicológicas. Nesse contexto, Gomes (2014) propõe o uso do 
desenho aliado à narrativa (como no método MDN-6P-C) como uma via de acesso à subjetividade 
infantil. O desenho, nesse caso, ultrapassa a função ilustrativa e adquire um valor projetivo e 
terapêutico, permitindo ao profissional identificar conflitos, traumas ou potencialidades no 
discurso gráfico da criança. Essa abordagem se alinha à proposta de Rocha (2021), que vê o 
desenho como uma linguagem intermediária entre a comunicação verbal e a emocional, capaz de 
expressar conteúdos latentes. Barbosa e Baroni (2023) ressaltam que a interpretação dos desenhos 
deve ser feita com base em critérios técnicos, mas também com sensibilidade à individualidade de 
cada criança e ao seu contexto sociocultural. O uso terapêutico do desenho depende, assim, da 
escuta qualificada do profissional e da leitura simbólica atenta aos elementos formais (cores, 
formas, espaço) e temáticos. Carvalho et al. (2025) reforçam a importância da mediação docente 
nesse processo, defendendo que o ambiente escolar deve reconhecer o valor pedagógico e 
emocional do desenho. A mediação sensível do professor permite que o desenho seja acolhido não 
apenas como produção artística, mas como expressão legítima do pensamento e dos sentimentos 
da criança. O olhar interdisciplinar integra dimensões cognitivas, afetivas, motoras e sociais, 
fortalecendo uma aprendizagem significativa que respeita o tempo, a linguagem e os processos 
internos da infância. O desenho infantil é mais que uma simples atividade lúdica: é instrumento 
privilegiado de acesso à interioridade da criança, à sua construção de identidade e ao seu processo 
de desenvolvimento global. Sua interpretação simbólica, tanto na psicologia quanto na pedagogia, 
possibilita caminhos de escuta, diagnóstico e intervenção que respeitam a complexidade e a 
singularidade de cada criança. 
Palavras-chave: Desenho infantil; avaliação psicológica; simbolismo; psicomotricidade; 
Identidade infantil. Desenvolvimento; mediação docente. 
 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 2 
 
THE STAGES OF CHILDREN'S DRAWING AS A TOOL FOR 
PSYCHOLOGICAL AND THERAPEUTIC ASSESSMENT: SYMBOLIC 
READING AND IDENTITY CONSTRUCTION IN CHILDHOOD. 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
Giane Demo 
Sandro Garabed Ischkanian 
Silvana Nascimento de Carvalho 
Children's drawing constitutes an important symbolic language in childhood, functioning as a 
means of expression, communication, assessment, and identity construction. According to 
Carvalho, Ischkanian, Cabral, Demo, and Ischkanian (2025), free drawing is an interdisciplinary 
tool that crosses fields such as psychomotricity, verbal and non-verbal languages, art, and child 
development, enabling the child to reframe internal and external experiences. The appreciation of 
drawing as an expressive process is related to its symbolic potential and the active role of the 
educator as a mediator in interpreting children's graphic production. The stages of children's 
drawing, as described by authors such as Lowenfeld and Luquet, are structured in graphic 
development phases that accompany the child’s cognitive and emotional evolution, ranging from 
scribbling to visual realism. Andrade (2023) highlights that each stage reflects not only motor 
skills but also symbolic and affective content. Similarly, Santos et al. (2024) point out that the 
interpretation of these stages may reveal important indicators about how the child perceives 
themselves, others, and the world, making drawing a useful tool in psychopedagogical and 
psychological assessments. In this context, Gomes (2014) proposes the use of drawing combined 
with storytelling (as in the MDN-6P-C method) as a pathway to accessing the child’s subjectivity. 
In this approach, drawing goes beyond illustration and acquires a projective and therapeutic value, 
allowing the professional to identify conflicts, traumas, or potentialities within the child’s graphic 
discourse. This aligns with Rocha’s (2021) view of drawing as an intermediate language between 
verbal and emotional communication, capable of expressing latent content. Barbosa and Baroni 
(2023) emphasize that the interpretation of children's drawings must be based on technical criteria 
but also requires sensitivity to each child’s individuality and sociocultural context. The therapeutic 
use of drawing therefore depends on the professional’s qualified listening skills and symbolic 
interpretation, taking into account formal elements (such as colors, shapes, and space) and 
thematic content. Carvalho et al. (2025) reinforce the importance of teacher mediation in this 
process, arguing that the school environment must recognize both the pedagogical and emotional 
value of drawing. The teacher's sensitive mediation allows drawing to be embraced not only as 
artistic output but as a legitimate expression of the child’s thoughts and feelings. This 
interdisciplinary perspective integrates cognitive, affective, motor, and social dimensions, 
strengthening meaningful learning that respects each child’s pace, language, and internal 
processes. Thus, children's drawing is more than a simple playful activity: it is a privileged 
instrument for accessing the child's inner world, identity construction, and overall developmental 
process. Its symbolic interpretation—whether in psychology or education—opens paths for 
listening, diagnosis, and intervention that honor the complexity and uniqueness of each child. 
Keywords: Children’s drawing; psychological assessment; symbolism; psychomotricity; child 
identity; development; teacher mediation. 
 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
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LAS ETAPAS DEL DIBUJO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE 
EVALUACIÓN PSICOLÓGICA Y TERAPÉUTICA: LECTURA SIMBÓLICA Y 
CONSTRUCCIÓN DE LA IDENTIDAD EN LA INFÂNCIA. 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
Giane Demo 
Sandro Garabed Ischkanian 
Silvana Nascimento de Carvalho 
El dibujo infantil constituye un importante lenguaje simbólico en la infancia, funcionando como 
medio de expresión, comunicación, evaluación y construcción de la identidad. SegúnA mediação sensível permite que o desenho seja compreendido em sua profundidade 
simbólica, respeitando a individualidade da criança e o contexto em que está inserida. A presença 
do educador enquanto mediador qualificado do significado da produção gráfica amplia as 
possibilidades de aprendizagem significativa e fortalece a autoestima infantil. Ao validar o 
desenho como expressão legítima, o adulto contribui diretamente para a consolidação da 
identidade da criança. 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
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A interdisciplinaridade entre psicologia, arte, educação e psicomotricidade torna-se um 
recurso valioso para potencializar o uso do desenho em contextos de cuidado e desenvolvimento. 
Cada área aporta uma perspectiva complementar que enriquece a compreensão do desenho 
enquanto linguagem e processo. O olhar do psicólogo considera os aspectos emocionais e 
simbólicos, enquanto o educador percebe as conexões com a aprendizagem e a criatividade. A 
arte-terapia oferece ferramentas específicas para transformar o desenho em canal de elaboração 
profunda, e a psicomotricidade integra o corpo, o gesto e a expressão. 
Quando bem conduzida, a análise do desenho infantil pode revelar traços de conflitos 
emocionais, traumas, dificuldades de socialização, além de potenciais e interesses da criança. 
Contudo, é fundamental que essa análise seja feita com base em critérios técnicos e com 
responsabilidade ética. O risco de interpretações precipitadas ou descontextualizadas compromete 
a validade e a eficácia da intervenção. A escuta simbólica deve estar sempre ancorada em 
formação, sensibilidade e empatia. 
Importante também considerar o contexto sociocultural da criança e as condições de 
produção do desenho. O ambiente físico, o vínculo com o profissional, o suporte emocional e até o 
material utilizado podem influenciar diretamente na forma como a criança se expressa 
graficamente. Respeitar esses fatores é garantir que o desenho cumpra sua função de forma 
autêntica e significativa. Como linguagem do sensível, ele exige tempo, disponibilidade e um 
olhar cuidadoso que valorize o processo mais do que o produto final. 
É necessário reforçar que o desenho infantil não é apenas uma atividade lúdica ou 
didática, mas um fenômeno complexo que envolve emoção, cognição, corporeidade e cultura. Ele 
é parte integrante da infância, da construção do sujeito e de sua inserção no mundo. Quando 
reconhecido e utilizado com consciência, torna-se um verdadeiro aliado no processo de avaliação 
e intervenção, ajudando a criança a dar sentido a si mesma e ao que a rodeia. 
O desenho é, de fato, um agente ativo na elaboração emocional e na construção da 
identidade — um espelho da alma infantil em forma de traço, cor e imaginação. 
Reconhecer e utilizar as fases do desenho infantil como recurso de avaliação psicológica 
e terapêutica é valorizar a infância em sua essência: criativa, simbólica e profundamente 
comunicativa. É abrir caminhos para que a criança seja compreendida em sua totalidade, 
favorecendo seu bem-estar emocional, sua aprendizagem significativa e a construção de uma 
identidade saudável e segura. Trata-se, sem dúvida, de um investimento valioso no 
desenvolvimento integral do ser humano desde os seus primeiros traços. 
 
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REFERÊNCIAS 
ANDRADE, Thaís Oliveira. Desenho infantil: fases evolutivas e expressões significativas. Cadernos de 
Educação Básica, v. 6, n. 3, 2023. Disponível em: https://www.isciweb.com.br/revista/1783-o-desenho-da-
crianca-na-educacao-infantil-2. Acesso em: 26 jul. 2025. 
 
BARBOSA, Alessandra Martins dos Reis; BARONI, Luísa Ribeiro. O desenho infantil na avaliação 
psicopedagógica. Revista Interdisciplinar, [S. l.], 2023. Disponível em: 
https://publicacoes.uniesp.edu.br/index.php/15/article/view/140. Acesso em: 23 jul. 2025. 
 
CARVALHO, Silvana Nascimento de; ISCHKANIAN, Simone Helen Drumond; CABRAL, Gladys 
Nogueira; DEMO, Giane; ISCHKANIAN, Sandro Garabed. Desenho livre e aprendizagem significativa: 
um olhar interdisciplinar entre psicomotricidade, linguagens, arte, desenvolvimento infantil e 
mediação docente. p.1-26. Academia.edu. 2025. Disponível em: 
https://www.academia.edu/143083534/DESENHO_LIVRE_E_APRENDIZAGEM_SIGNIFICATIVA_U
M_OLHAR_INTERDISCIPLINAR_ENTRE_PSICOMOTRICIDADE_LINGUAGENS_ARTE_DESENV
OLVIMENTO_INFANTIL_E_MEDIA%C3%87%C3%83O_DOCENTE. Acesso em: 26 jul. 2025 
 
GOMES, Ana Sofia Pinto. Avaliação psicológica da criança: método do desenho e narrativa em seis 
partes (MDN-6P-C). 2014. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Faculdade de Psicologia, 
Universidade de Lisboa, Lisboa, 2014. Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/20236. Acesso 
em: 24 jul. 2025. 
 
ROCHA, Raquel Souza. O desenho infantil na avaliação psicopedagógica. 2021. Disponível em: 
https://repositorio.uninter.com/handle/1/757. Acesso em: 24 jul. 2025. 
 
SANTOS, Josiane Matos dos; LOPES, Carla Emanuele; FRANÇA, Priscilla Teixeira; SANTOS, Fábia 
Cristina dos; DEZOTTI, Patrícia Eliza. O desenho e suas fases: da expressão à escrita. Revista 
Acadêmica da Lusofonia, [S. l.], 2024. Disponível em: 
https://revistaacademicadalusofonia.com/index.php/lusofonia/article/view/34. Acesso em: 23 jul. 2025. 
https://www.academia.edu/143083534/DESENHO_LIVRE_E_APRENDIZAGEM_SIGNIFICATIVA_UM_OLHAR_INTERDISCIPLINAR_ENTRE_PSICOMOTRICIDADE_LINGUAGENS_ARTE_DESENVOLVIMENTO_INFANTIL_E_MEDIA%C3%87%C3%83O_DOCENTE
https://www.academia.edu/143083534/DESENHO_LIVRE_E_APRENDIZAGEM_SIGNIFICATIVA_UM_OLHAR_INTERDISCIPLINAR_ENTRE_PSICOMOTRICIDADE_LINGUAGENS_ARTE_DESENVOLVIMENTO_INFANTIL_E_MEDIA%C3%87%C3%83O_DOCENTE
https://www.academia.edu/143083534/DESENHO_LIVRE_E_APRENDIZAGEM_SIGNIFICATIVA_UM_OLHAR_INTERDISCIPLINAR_ENTRE_PSICOMOTRICIDADE_LINGUAGENS_ARTE_DESENVOLVIMENTO_INFANTIL_E_MEDIA%C3%87%C3%83O_DOCENTECarvalho, 
Ischkanian, Cabral, Demo e Ischkanian (2025), el dibujo libre es una herramienta interdisciplinaria 
que atraviesa campos como la psicomotricidad, los lenguajes verbales y no verbales, el arte y el 
desarrollo infantil, permitiendo al niño resignificar experiencias internas y externas. La 
valorización del dibujo como proceso expresivo está relacionada con su potencial simbólico y con 
el papel activo del educador como mediador del sentido de la producción gráfica infantil. Las 
etapas del dibujo infantil, tal como las describen autores como Lowenfeld y Luquet, se estructuran 
en fases de desarrollo gráfico que acompañan la evolución cognitiva y emocional del niño, desde 
los garabatos hasta el realismo visual. Andrade (2023) destaca que cada etapa refleja no solo 
habilidades motrices, sino también contenidos simbólicos y afectivos. A su vez, Santos et al. 
(2024) evidencian que la interpretación de estas etapas puede revelar indicadores importantes 
sobre la manera en que el niño se percibe a sí mismo, a los demás y al mundo, convirtiendo el 
dibujo en una herramienta útil en evaluaciones psicopedagógicas y psicológicas. En este contexto, 
Gomes (2014) propone el uso del dibujo combinado con la narrativa (como en el método 
MDN-6P-C) como una vía de acceso a la subjetividad infantil. El dibujo, en este caso, va más allá 
de la función ilustrativa y adquiere un valor proyectivo y terapéutico, permitiendo al profesional 
identificar conflictos, traumas o potencialidades en el discurso gráfico del niño. Este enfoque se 
alinea con la propuesta de Rocha (2021), quien ve el dibujo como un lenguaje intermedio entre la 
comunicación verbal y la emocional, capaz de expresar contenidos latentes. Barbosa y Baroni 
(2023) resaltan que la interpretación de los dibujos debe hacerse con base en criterios técnicos, 
pero también con sensibilidad hacia la individualidad de cada niño y su contexto sociocultural. El 
uso terapéutico del dibujo depende, por lo tanto, de la escucha cualificada del profesional y de una 
lectura simbólica atenta a los elementos formales (colores, formas, espacio) y temáticos. Carvalho 
et al. (2025) refuerzan la importancia de la mediación docente en este proceso, defendiendo que el 
entorno escolar debe reconocer el valor pedagógico y emocional del dibujo. La mediación sensible 
del profesor permite que el dibujo sea acogido no solo como producción artística, sino como una 
expresión legítima del pensamiento y de los sentimientos del niño. La mirada interdisciplinaria 
integra dimensiones cognitivas, afectivas, motrices y sociales, fortaleciendo un aprendizaje 
significativo que respeta el tiempo, el lenguaje y los procesos internos de la infancia. El dibujo 
infantil es más que una simple actividad lúdica: es un instrumento privilegiado de acceso a la 
interioridad del niño, a su construcción identitaria y a su proceso de desarrollo global. Su 
interpretación simbólica, tanto en la psicología como en la pedagogía, permite caminos de 
escucha, diagnóstico e intervención que respetan la complejidad y singularidad de cada niño. 
Palabras clave: Dibujo infantil; evaluación psicológica; simbolismo; psicomotricidad; identidad 
infantil; desarrollo; mediación docente. 
 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
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1. INTRODUÇÃO 
O desenho infantil é um dos principais modos de expressão simbólica utilizados pelas 
crianças desde os primeiros anos de vida. Considerado tanto uma atividade espontânea quanto 
uma ferramenta de comunicação, ele permite ao sujeito em desenvolvimento manifestar emoções, 
experiências, representações internas e a construção de sua identidade. Segundo Lowenfeld e 
Brittain (1977), o desenho evolui conforme o amadurecimento motor, cognitivo e emocional da 
criança, revelando, de forma não verbal, aspectos fundamentais de sua subjetividade. Para 
Andrade ( 2023, p. 5), essa compreensão se torna ainda mais relevante ao considerar que a criança 
nem sempre dispõe de linguagem verbal suficiente para expressar o que sente ou pensa, tornando 
o desenho um canal legítimo e acessível de expressão simbólica. 
De acordo com Lowenfeld (1977), existem quatro fases principais do desenvolvimento 
do desenho infantil: a fase do garatujar (de 2 a 4 anos), a fase pré-esquemática (de 4 a 7 anos), a 
fase esquemática (de 7 a 9 anos) e a fase do realismo (a partir dos 9 anos). Na fase do garatujar, o 
desenho emerge como uma atividade predominantemente motora, em que a criança realiza traços 
aparentemente aleatórios, mas que já sinalizam a descoberta da ação gráfica como forma de 
expressão. Na etapa pré-esquemática, há uma tentativa inicial de representação do mundo, ainda 
com formas imprecisas, mas que revelam intencionalidade. 
A fase esquemática é marcada pelo uso de símbolos estruturados, como a figura humana 
com braços saindo da cabeça, e uma organização mais coerente do espaço gráfico. No realismo 
visual, a criança busca representar o mundo com fidelidade crescente, incluindo detalhes e 
proporções que demonstram avanços cognitivos e perceptivos. Essas fases mostram que o desenho 
infantil acompanha a maturação neurológica, o desenvolvimento das habilidades motoras finas e o 
avanço da linguagem simbólica, sendo possível perceber nesses traços aspectos fundamentais da 
construção do pensamento e da representação da realidade. 
A perspectiva de Luquet (1927) apresenta uma leitura que complementa e aprofunda a 
análise da evolução gráfica infantil a partir de quatro categorias: realismo fortuito, realismo 
frustrado, realismo intelectual e realismo visual. No realismo fortuito, a criança ainda não busca 
representar a realidade de forma intencional, mas os adultos já conseguem identificar significados 
em seus traços. 
O realismo frustrado surge quando a criança tenta desenhar algo específico, mas não 
consegue por limitações técnicas, expressando frustração diante da discrepância entre intenção e 
resultado. No realismo intelectual, as representações passam a considerar o que a criança sabe 
sobre o objeto, e não necessariamente o que vê — o famoso exemplo da "casa com todos os 
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cômodos visíveis ao mesmo tempo" é típico desta fase. Finalmente, o realismo visual evidencia 
uma mudança de perspectiva: a criança busca desenhar com base no que vê, tentando reproduzir 
formas, proporções e detalhes com maior precisão. Como observa Andrade (2023, p. 6), ―o 
desenho infantil é resultado de um processo construtivo e dinâmico, onde se entrelaçam 
percepção, cognição e emoção, refletindo a complexidade do desenvolvimento humano‖. 
Essas diferentes classificações das fases do desenho não são apenas marcadores de 
progresso técnico, visual ou motor, mas revelam mudanças profundas na forma como a criança 
interpreta o mundo e organiza internamente suas experiências. O desenho se transforma em uma 
linguagem complexa, capaz de externalizar conteúdos psíquicos que, muitas vezes, não encontram 
espaço na comunicação verbal. A análise dos estágios permite ao educador, psicólogo ou 
psicopedagogo identificar não apenas marcos do desenvolvimento, mas também possíveis sinais 
de dificuldades emocionais ou cognitivas. Como destacam Santos et al. (2024, p. 3), ―o desenho 
acompanha os estágios de desenvolvimento intelectual e emocional, podendo revelar aspectos 
sutis do mundo interno da criança.‖ Isso reforça a importância de considerar o desenho não apenas 
como atividade artística, mas como instrumento expressivo e diagnóstico que revela a 
singularidade do sujeito infantil e suas formas próprias de elaborar o real. 
As etapas do desenvolvimento gráfico infantil, apesar das variações conceituais entre 
diferentes teóricos, compartilham a compreensão de que o desenho evolui em estágios 
progressivos, indo do gesto motor iniciale aparentemente desordenado até formas cada vez mais 
estruturadas, organizadas e ricas em simbolismo. Esse percurso gráfico reflete não apenas a 
maturação neuropsicomotora da criança, mas também sua crescente capacidade de percepção, 
representação e comunicação simbólica. Desde os primeiros garatujos até a representação 
intencional de objetos, pessoas e cenas, cada traço e escolha gráfica expressa um modo de pensar e 
sentir. O desenho não pode ser interpretado apenas como uma atividade estética ou criativa, mas 
deve ser compreendido como um indicador da trajetória global de desenvolvimento da criança — 
integrando aspectos motores, cognitivos, emocionais, linguísticos e sociais. 
No campo da educação, o acompanhamento dessas etapas permite aos professores 
compreender em que ponto do desenvolvimento gráfico seus alunos se encontram e, a partir disso, 
planejar estratégias pedagógicas coerentes com sua fase de representação simbólica. Da mesma 
forma, em contextos clínicos, como na psicologia e na psicopedagogia, o desenho torna-se um 
recurso valioso para observar possíveis desvios, bloqueios ou atrasos que podem sinalizar questões 
emocionais ou transtornos do neurodesenvolvimento. Crianças que demonstram rigidez excessiva, 
uso atípico do espaço gráfico, omissão de partes essenciais da figura humana ou repetição 
sistemática de formas muito simples podem estar manifestando dificuldades específicas que 
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merecem atenção profissional. O desenho se torna também um instrumento preventivo, oferecendo 
pistas importantes para o diagnóstico precoce e a intervenção oportuna, respeitando o ritmo e a 
singularidade de cada sujeito. 
Rocha (2021, p. 4) salienta que ―as características gráficas, como forma, proporção, uso 
do espaço e cores, estão intimamente relacionadas às habilidades cognitivas, emocionais e sociais 
do sujeito em desenvolvimento.‖ Tal afirmação evidencia que a análise do desenho infantil vai 
além de uma simples observação visual: ela exige olhar clínico e conhecimento técnico para que 
se possam identificar nuances expressivas, conteúdos simbólicos e sinais de sofrimento psíquico 
ou desorganização perceptiva. A escolha de determinadas cores, por exemplo, pode refletir estados 
emocionais; o uso do espaço gráfico pode indicar noções de limites e estrutura; e a forma como as 
figuras são desenhadas pode sugerir sentimentos de autoestima, segurança ou angústia. O desenho 
é, simultaneamente, produto e processo — uma construção gráfica que permite acesso à 
subjetividade da criança, sendo um recurso fundamental tanto na prática pedagógica quanto na 
avaliação e intervenção psicológica. 
O foco central da interpretação do desenho infantil como ferramenta psicológica reside na 
compreensão simbólica do conteúdo representado, ultrapassando a simples análise técnica ou 
estética da produção gráfica. Nesse contexto, o desenho é visto como uma manifestação do mundo 
interno da criança, uma via de acesso privilegiada para compreender seus sentimentos, conflitos, 
desejos e percepções que nem sempre são facilmente expressos por meio da linguagem verbal. A 
criança utiliza a simbologia visual para comunicar aspectos profundos de sua subjetividade, e essa 
comunicação gráfica deve ser interpretada com sensibilidade e rigor técnico para que os 
profissionais possam captar as mensagens implícitas presentes no traçado, nas cores, nas formas e 
nos espaços ocupados na folha. Conforme destacam Carvalho et al. (2025, p. 12), ―a leitura 
simbólica do desenho infantil revela nuances emocionais e cognitivas que frequentemente 
escapam a outros instrumentos avaliativos, conferindo ao desenho um papel singular na prática 
clínica e educacional.‖ 
A análise psicológica do desenho infantil engloba dois eixos principais: os elementos 
formais e os temáticos. Os elementos formais referem-se às características gráficas, tais como 
linhas, traços, formas, cores, organização espacial, uso do papel e pressão do lápis, que podem 
indicar estados emocionais, níveis de ansiedade, impulsividade ou retraimento, além da maturação 
neuromotora e cognitiva da criança. Já os elementos temáticos dizem respeito ao conteúdo 
representado no desenho — personagens, cenários, ações e símbolos —, os quais oferecem pistas 
sobre a percepção que a criança tem de si mesma, do outro e do ambiente em que está inserida. 
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A partir dessa análise integrada, é possível identificar indicadores que refletem questões 
emocionais, relacionais e estruturais do pensamento infantil, fornecendo subsídios importantes 
para o diagnóstico e a intervenção. Gomes (2014, p. 18) enfatiza que ―o desenho pode evidenciar 
conflitos inconscientes, mecanismos de defesa, relações familiares, autoestima e outros aspectos 
psicológicos que, muitas vezes, não são verbalizados pela criança.‖ 
A interpretação do desenho infantil como instrumento psicológico requer uma escuta 
qualificada e contextualizada, que leve em consideração não apenas a produção gráfica em si, mas 
também o histórico, o ambiente familiar e escolar, e as particularidades do desenvolvimento da 
criança. Esse olhar atento e interdisciplinar permite ao profissional compreender o desenho como 
um processo dinâmico e multifacetado, onde a expressão simbólica serve de ponte entre o mundo 
interno e externo da criança. Através dessa leitura, o desenho assume um papel terapêutico, 
possibilitando que a criança ressignifique suas experiências e construa novas narrativas para suas 
emoções e vivências. O desenho torna-se um instrumento valioso não apenas para a avaliação, 
mas também para o acompanhamento e a promoção do desenvolvimento integral do sujeito 
infantil. 
A avaliação psicológica infantil tem como objetivo central compreender as funções 
cognitivas, emocionais e comportamentais da criança, fornecendo subsídios para diagnósticos 
precisos, intervenções eficazes e orientações adequadas aos contextos em que ela está inserida. 
Trata-se de um processo sistemático e criterioso, que deve ser embasado em fundamentos teóricos 
robustos e aplicado por meio de instrumentos e técnicas validadas, com destaque para os métodos 
projetivos, entre os quais o desenho infantil se destaca pela sua riqueza simbólica e expressiva. 
O desenho, como ferramenta avaliativa, permite o acesso a aspectos subjetivos muitas 
vezes não verbalizados pela criança, oferecendo uma via indireta e segura para explorar conteúdos 
emocionais, conflitos internos, mecanismos de defesa e traços da personalidade emergente. 
Segundo Barbosa e Baroni (2023, p. 7), ―a avaliação deve considerar o contexto da criança, sua 
história de vida, características individuais e as condições de aplicação dos instrumentos, 
garantindo uma análise ética e responsável‖, reforçando a necessidade de um olhar integral e 
cuidadoso na interpretação dos resultados. 
No desenvolvimento do processo avaliativo, o profissional deve assegurar que a 
aplicação dos instrumentos, incluindo o desenho, respeite as particularidades de cada criança, seu 
estágio de desenvolvimento e suas condições emocionais no momento da avaliação. 
A sensibilidade na condução da avaliação é fundamental para estabelecer um ambiente 
acolhedor e seguro, no qual a criança se sinta à vontade para expressar-se por meio da produção 
gráfica e verbal. A análise dos desenhos, nesse contexto, vai além da simples observação formal, 
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abrangendo uma interpretação que envolve os aspectos simbólicos, afetivos e cognitivos, 
conectados às vivências e ao repertório cultural da criança. Essa prática amplia o alcance da 
avaliação, permitindo ao psicólogo construir um quadro mais detalhado efidedigno do 
funcionamento psicológico infantil, o que contribui para intervenções mais direcionadas e 
eficazes. 
A avaliação psicológica infantil com uso do desenho também desempenha uma função 
preventiva e terapêutica, na medida em que promove a escuta ativa e o diálogo entre a criança e o 
profissional. O desenho funciona como um canal de comunicação não invasivo e espontâneo, que 
favorece a expressão de conteúdos difíceis de serem explicitados verbalmente, especialmente em 
crianças mais tímidas ou com limitações na linguagem. 
O desenho não apenas fornece dados para o diagnóstico, mas pode ser utilizado como 
recurso de intervenção, ajudando a criança a externalizar sentimentos, organizar emoções e 
construir narrativas pessoais que contribuem para sua saúde mental e desenvolvimento integral. 
Por isso, o uso do desenho na avaliação psicológica infantil fortalece a prática clínica, conferindo-
lhe maior profundidade, humanização e eficácia no acompanhamento dos processos infantis. 
O instrumento avaliativo do desenho tem como propósito possibilitar ao profissional um 
acesso simbólico ao conteúdo emocional da criança, respeitando seu ritmo e suas formas próprias 
de comunicação. Além de ser menos invasivo, o desenho é uma atividade lúdica que reduz 
barreiras defensivas e permite uma interação mais autêntica entre criança e avaliador. Como 
enfatiza Andrade (2023, p. 6), ―por meio do desenho, a criança representa experiências internas e 
situações do cotidiano, muitas vezes revelando emoções e pensamentos difíceis de serem 
verbalizados.‖ 
O objetivo principal do desenho na infância, portanto, não se restringe à representação 
gráfica do mundo, mas sim à mediação entre o sujeito e sua realidade interna e externa. Ele 
contribui para o desenvolvimento da linguagem simbólica, da criatividade, da coordenação motora 
fina e da organização do pensamento. Em contextos escolares, o desenho assume também uma 
função pedagógica e diagnóstica, pois revela aspectos do processo de aprendizagem, dificuldades 
cognitivas e socioemocionais (Carvalho et al., 2025, p. 11). 
A importância dos instrumentos de avaliação na aprendizagem escolar reside na 
possibilidade de identificar precocemente dificuldades, propor intervenções adequadas e promover 
um ambiente de ensino mais inclusivo e eficiente. Quando bem utilizados, os instrumentos como o 
desenho ampliam o conhecimento do educador sobre seu aluno e subsidiam estratégias de 
mediação mais eficazes. Segundo Santos et al. (2024, p. 4), ―a avaliação não deve ser vista como 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 9 
 
um fim, mas como um processo contínuo de escuta, observação e compreensão das necessidades 
da criança.‖ 
A análise dos desenhos infantis pelos psicólogos é um processo que vai além da simples 
observação visual; trata-se de uma leitura aprofundada que considera tanto critérios técnicos 
quanto simbólicos, integrando aspectos gráficos com as teorias do desenvolvimento infantil e a 
escuta clínica. Os elementos visuais presentes no desenho — como linhas, formas, cores, 
organização espacial e escolha dos temas — são interpretados à luz do contexto individual da 
criança, seu estágio de desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Essa abordagem 
multidimensional permite identificar não apenas as habilidades motoras e perceptivas, mas 
também os conteúdos subjetivos e emocionais que a criança externaliza por meio da representação 
gráfica. Segundo Rocha (2021, p. 6), ―a compreensão das características gráficas deve ser 
integrada ao conhecimento psicológico do sujeito para que a análise seja sensível e fidedigna.‖ 
A leitura dos desenhos exige dos psicólogos uma formação especializada e uma postura 
ética que priorize a singularidade e a complexidade de cada criança. É fundamental que o 
profissional evite interpretações rígidas, padronizadas ou generalizações que possam 
desconsiderar a individualidade do sujeito e as particularidades do seu contexto cultural e social. 
A escuta clínica qualificada, aliada à compreensão simbólica, possibilita a construção de 
hipóteses interpretativas flexíveis e contextualizadas, que respeitam o processo evolutivo e as 
nuances emocionais do desenvolvimento infantil. Como reforçam Carvalho et al. (2025, p. 15), ―o 
desenho infantil é uma linguagem legítima da infância, que deve ser acolhida com escuta, ética e 
respeito à singularidade do sujeito em desenvolvimento,‖ ressaltando a importância do 
acolhimento e da empatia no trabalho clínico e educacional. 
O trabalho do psicólogo com desenhos infantis implica um constante diálogo entre a 
técnica e a sensibilidade, entre o conhecimento científico e a percepção empática. Essa prática 
exige que o profissional esteja atento às manifestações simbólicas que se expressam no desenho, 
entendendo-as como pistas para a compreensão do mundo interno da criança e de suas relações 
interpessoais. 
A análise deve ser realizada sempre considerando a totalidade do sujeito, incluindo seu 
histórico, seu ambiente familiar e escolar, e as circunstâncias presentes no momento da produção 
do desenho. A avaliação por meio do desenho torna-se uma ferramenta poderosa e respeitosa, que 
contribui para a promoção do desenvolvimento psicológico saudável e para a intervenção 
adequada quando necessário. 
 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 10 
 
2. DESENVOLVIMENTO 
O desenho infantil é reconhecido como uma poderosa ferramenta de avaliação 
psicológica e terapêutica, constituindo-se em um meio privilegiado para a leitura simbólica e a 
construção da identidade durante a infância. Conforme destacado por Gomes (2014), o método do 
desenho aliado à narrativa possibilita uma compreensão aprofundada da subjetividade infantil, 
proporcionando acesso a conteúdos emocionais e cognitivos que muitas vezes permanecem 
inacessíveis por vias verbais tradicionais. Esse caráter expressivo e simbólico do desenho torna-o 
um recurso valioso para psicólogos e educadores, ampliando a escuta e o entendimento das 
vivências internas da criança. 
O processo evolutivo do desenho infantil revela fases distintas que acompanham o 
desenvolvimento emocional, cognitivo e motor do sujeito, como enfatizam Santos et al. (2024). A 
identificação dessas etapas não só orienta intervenções pedagógicas e clínicas mais adequadas, 
mas também valoriza o desenho como uma forma legítima de comunicação e autoexpressão. As 
fases do desenho transcendem o mero aspecto técnico, configurando-se como indicadores 
importantes do modo como a criança percebe a si mesma, aos outros e ao mundo. 
Rocha (2021) reforça ainda a importância do desenho na avaliação psicopedagógica, 
destacando sua função como instrumento diagnóstico e terapêutico que favorece o acolhimento e o 
desenvolvimento integral da criança. A análise cuidadosa do conteúdo gráfico permite a 
identificação de aspectos emocionais, sociais e cognitivos, auxiliando na formulação de estratégias 
de intervenção personalizadas. As fases do desenho infantil, longe de serem apenas etapas 
evolutivas, representam um caminho promissor para compreender e apoiar o desenvolvimento 
saudável e a construção da identidade infantil. 
 
2.1 FASES DO DESENVOLVIMENTO DO DESENHO INFANTIL 
As fases do desenvolvimento do desenho infantil constituem um importante marco para a 
compreensão do crescimento cognitivo, emocional e simbólico da criança. O desenho infantil 
passa por quatro fases principais: a fase do garatujar, que ocorre entre 2 e 4 anos, caracteriza-se 
por traços aleatórios e espontâneos, onde a criança experimenta a manipulação do instrumento 
gráfico; a fase pré-esquemática, entre 4 e 7 anos, na qual começam a surgir representações 
reconhecíveis, ainda desprovidas de proporção e coerência espacial; a fase esquemática, entre 7 e 
9 anos, marcadapela consolidação dos esquemas gráficos e maior organização na composição; e, 
finalmente, a fase do realismo, a partir dos 9 anos, em que o desenho adquire um caráter visual 
mais detalhado e próximo da realidade observada. 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 11 
 
Complementando essa visão, Luquet (1927, p. 32-50) propôs uma classificação similar, 
porém baseada na qualidade e intenção do realismo no desenho da criança. Ele descreve o 
realismo fortuito, quando a representação é acidental e não intencional; o realismo frustrado, no 
qual a criança tenta representar a realidade, mas ainda não domina a técnica; o realismo 
intelectual, em que o desenho revela o conceito que a criança tem do objeto, mesmo sem 
fidelidade visual; e o realismo visual, que ocorre quando a criança consegue representar 
visualmente a realidade com maior precisão. Esses estágios mostram a evolução da percepção 
infantil, indicando a progressiva integração entre visão, cognição e motricidade. 
É importante destacar que essas fases não são apenas indicativas do desenvolvimento 
gráfico, mas refletem processos mais profundos relacionados à construção da identidade e à 
expressão simbólica da criança. Conforme Barbosa e Baroni (2023, p. 10), o desenho infantil é 
uma linguagem que permite a expressão de emoções, vivências e conflitos internos, funcionando 
como uma ponte entre o mundo subjetivo da criança e a realidade externa. Essa dimensão 
simbólica torna o desenho uma ferramenta valiosa na avaliação psicopedagógica, pois revela 
aspectos que muitas vezes não são verbalizados ou compreendidos por outros meios. 
As fases do desenho oferecem parâmetros para identificar possíveis atrasos ou 
dificuldades no desenvolvimento da criança. Carvalho et al. (2025, p. 8) ressaltam que o 
acompanhamento do progresso gráfico permite ao educador ou psicólogo perceber sinais precoces 
de transtornos emocionais ou cognitivos, promovendo intervenções mais eficazes e 
individualizadas. O desenho, portanto, não é apenas uma atividade lúdica, mas um instrumento 
fundamental para o diagnóstico e acompanhamento terapêutico. 
A inter-relação entre o desenvolvimento motor e cognitivo fica evidente nas fases do 
desenho infantil. Na fase do garatujar, a criança está em contato com o próprio corpo e o espaço 
através do movimento, explorando as possibilidades do traço e da cor. Na fase pré-esquemática, 
começa a organizar o espaço e as formas, estabelecendo suas primeiras representações simbólicas. 
Segundo Carvalho et al. (2025, p. 12), essa progressão demonstra o amadurecimento do 
pensamento simbólico e da coordenação visomotora, essenciais para a aprendizagem e a 
comunicação. 
A fase esquemática, por sua vez, revela um avanço significativo na estruturação do 
pensamento e na capacidade de simbolização. Nessa etapa, o desenho da criança passa a ter uma 
organização própria e a representar o mundo a partir de um conjunto de símbolos que são 
compreendidos por ela e por seu meio social. Essa consolidação do esquema gráfico é um 
indicativo da construção da identidade e do desenvolvimento da autonomia expressiva, conforme 
argumentam Barbosa e Baroni (2023, p. 13). 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 12 
 
 
Fonte: Tempo de Creche. 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 13 
 
No realismo, a criança busca reproduzir com mais fidelidade a realidade visual, o que 
representa um aprimoramento das habilidades técnicas e perceptivas. Porém, Carvalho et al. 
(2025, p. 16) alertam que essa busca pelo realismo não elimina a subjetividade do desenho, que 
continua a ser uma expressão do mundo interno, carregada de simbolismos e significados pessoais. 
Assim, o desenho infantil permanece uma ferramenta complexa e rica para a avaliação psicológica 
e terapêutica, pois conjuga aspectos técnicos e emocionais. 
Conforme Carvalho et al. (2025, p. 21), essa abordagem interdisciplinar favorece uma 
compreensão mais ampla do desenvolvimento infantil, permitindo que diferentes profissionais 
colaborem na mediação do processo de aprendizagem e expressão das crianças. A valorização do 
desenho livre e suas fases contribui para uma aprendizagem significativa, que respeita o ritmo e a 
singularidade do sujeito. 
É fundamental que a interpretação das fases do desenho infantil seja realizada com 
sensibilidade e conhecimento técnico, evitando reducionismos e generalizações. Como concluem 
Barbosa e Baroni (2023, p. 17), o desenho deve ser analisado não apenas pelos aspectos formais, 
mas também pelo contexto emocional, social e cultural da criança, reconhecendo a singularidade 
de cada trajetória de desenvolvimento. As fases do desenho infantil consolidam-se como um 
instrumento indispensável para a avaliação psicológica e terapêutica, favorecendo a construção da 
identidade e o desenvolvimento integral na infância. 
 
2.2 O DESENHO COMO LINGUAGEM SIMBÓLICA E EXPRESSÃO EMOCIONAL 
 O desenho infantil representa uma forma legítima e essencial de expressão simbólica, por 
meio da qual a criança comunica seus sentimentos, medos, desejos e conflitos internos. Diferente 
da comunicação verbal, que muitas vezes encontra barreiras na capacidade de expressão da 
criança, o desenho torna-se uma ferramenta fundamental para que ela revele seu mundo interior de 
maneira espontânea e livre. Conforme Andrade (2023, p. 5), o ato de desenhar ultrapassa a simples 
representação gráfica, funcionando como uma linguagem simbólica rica em significados e capaz 
de revelar conteúdos emocionais profundos que, muitas vezes, permanecem ocultos na fala da 
criança. Essa capacidade do desenho como meio de expressão abre caminhos para avaliações 
psicológicas mais sensíveis e compreensivas, em que o terapeuta pode interpretar a simbologia 
presente nas imagens e nas escolhas gráficas para acessar a subjetividade do sujeito em 
desenvolvimento. 
O desenho infantil desempenha um papel terapêutico valioso, pois permite que a criança 
elabore suas experiências internas e conflitos emocionais de forma criativa e segura. No contexto 
clínico, a análise simbólica dos elementos gráficos — como cores, formas, traços, personagens e 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 14 
 
cenários — contribui para a identificação de possíveis angústias, traumas ou dificuldades, 
proporcionando um canal de diálogo indireto entre a criança e o profissional. Andrade (2023, p. 
12) enfatiza que ―a leitura dos desenhos deve ser feita com sensibilidade, considerando o contexto 
emocional e o estágio de desenvolvimento da criança, para que a interpretação não se limite a 
aspectos superficiais, mas alcance a dimensão simbólica da produção gráfica.‖ O desenho infantil 
torna-se um instrumento terapêutico que acolhe e legitima a expressão afetiva da criança, 
possibilitando intervenções mais efetivas e respeitosas. 
Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) argumenta que a leitura dos desenhos infantis 
deve ser conduzida com extrema cautela, sensibilidade e formação técnica apropriada, pois 
interpretações apressadas, descontextualizadas ou baseadas em pressupostos generalistas podem 
não apenas comprometer a validade da avaliação psicológica ou pedagógica, como também gerar 
impactos emocionais negativos no sujeito em desenvolvimento. Para ela, é imprescindível 
compreender o desenho como um processo simbólico e relacional, que demanda escuta qualificada 
e contextualização histórica, social e afetiva da criança. 
Gladys Nogueira Cabral (2025) destaca que o valor do desenho infantil não reside 
unicamente na estética da produção gráfica, mas em sua potência enquanto linguagem simbólica e 
afetiva que revela traços profundos da subjetividade da criança. Nesse sentido, ela advertepara o 
risco de se incorrer em análises mecanicistas, que ignoram as particularidades do contexto de vida, 
da cultura familiar e das vivências emocionais do sujeito, podendo gerar conclusões equivocadas e 
intervenções pouco eficazes. Cabral reforça que, para além da técnica, a escuta atenta e empática é 
o que legitima o uso do desenho em contextos clínicos e educacionais. 
Giane Demo (2025) enfatiza que o desenho infantil, ao ser inserido no espaço pedagógico 
com a devida valorização, se transforma em uma ferramenta potente para o fortalecimento da 
construção da identidade e da autoestima da criança. Para ela, desenhar é um ato de 
autorrepresentação e de reconstrução simbólica do mundo, sendo, portanto, um recurso 
privilegiado para o educador compreender os modos pelos quais a criança organiza suas 
experiências internas e dá sentido às relações que estabelece com os outros e com o ambiente. 
Essa compreensão exige, segundo Demo, escuta ética, olhar interdisciplinar e formação sensível 
para a leitura das manifestações gráficas. 
Sandro Garabed Ischkanian (2025) observa que, na prática clínica e educacional, o 
desenho infantil pode ser tanto uma porta de entrada para a escuta do sofrimento psíquico quanto 
uma via de fortalecimento da criatividade, da autonomia e do bem-estar emocional. No entanto, 
ele alerta que essa potência simbólica só se realiza plenamente quando o profissional adota uma 
postura acolhedora e não impositiva, evitando interpretações padronizadas ou desvinculadas do 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 15 
 
contexto biopsicossocial da criança. Para Ischkanian, compreender o desenho exige um olhar ético 
que reconheça sua complexidade e sua dimensão singular, única a cada sujeito. 
Silvana Nascimento de Carvalho (2025) ressalta que o desenho infantil deve ser 
compreendido como uma extensão da linguagem da infância, sendo um canal legítimo de 
expressão emocional, cognitiva e relacional. Segundo ela, ao representar cenas, personagens, 
espaços ou sentimentos, a criança elabora sua visão de mundo e reposiciona-se subjetivamente 
frente às experiências que vive. No entanto, Carvalho chama atenção para o perigo de se 
instrumentalizar o desenho como um mero teste de diagnóstico, desconsiderando sua riqueza 
simbólica e a necessidade de uma escuta qualificada e situada. Assim, ela defende o uso do 
desenho como mediação sensível entre a criança e o adulto, permitindo intervenções mais 
humanizadas e coerentes com o processo de desenvolvimento infantil. 
Na escola, o desenho pode refletir o modo como a criança percebe a si mesma, as 
relações com o outro e o ambiente em que está inserida. Andrade (2023, p. 18) destaca que ―os 
desenhos são expressões que vão além da estética, representando a construção do eu e suas 
relações com o mundo, possibilitando a mediação educativa que respeita a singularidade do 
desenvolvimento infantil.‖ A valorização do desenho na educação infantil é uma estratégia potente 
que transcende o aspecto artístico, assumindo um papel fundamental na promoção de vínculos 
afetivos e na construção de um ambiente pedagógico mais inclusivo. 
Ao reconhecer o desenho como linguagem simbólica legítima da infância, o educador 
cria condições para que a criança se expresse de maneira autêntica, muitas vezes revelando 
conteúdos que não são facilmente verbalizados. Essa valorização do gráfico infantil fortalece a 
comunicação afetiva entre professor e aluno, pois a escuta sensível do que é desenhado permite ao 
adulto compreender emoções, desejos, inseguranças e conquistas que a criança vivencia em seu 
processo de desenvolvimento. 
O desenho se torna uma ponte entre o mundo interno da criança e o ambiente escolar. 
Quando o educador acolhe com interesse e respeito as produções gráficas infantis, ele comunica à 
criança que sua subjetividade importa e que sua maneira de ver o mundo é legítima. Isso fortalece 
a autoestima e promove o sentimento de pertencimento, fatores essenciais para o engajamento e 
para a aprendizagem significativa. Conforme destaca Rocha (2021, p. 9), o desenho é ―uma 
linguagem que permite o acesso à interioridade da criança e constitui uma ferramenta essencial 
para o educador sensível às necessidades emocionais dos alunos.‖ 
Ao mesmo tempo, o desenho infantil oferece um vasto campo de investigação para a 
psicologia, especialmente na avaliação de aspectos emocionais e cognitivos. A leitura simbólica 
do conteúdo gráfico permite ao psicólogo identificar padrões de comportamento, conflitos 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 16 
 
internos, modos de relacionamento e até indicadores de sofrimento psíquico. Elementos como a 
escolha das cores, o tamanho e a posição das figuras, a presença ou ausência de certos 
personagens e objetos, e a estrutura espacial da imagem fornecem pistas valiosas sobre a 
organização interna da criança. Como aponta Gomes (2014, p. 18), ―o desenho pode evidenciar 
conflitos inconscientes, mecanismos de defesa, relações familiares, autoestima e outros aspectos 
psicológicos que, muitas vezes, não são verbalizados pela criança.‖ 
A importância terapêutica do desenho se manifesta especialmente em contextos de escuta 
clínica qualificada, onde o profissional está preparado para interpretar os conteúdos gráficos com 
base em referenciais teóricos e técnicos, respeitando a singularidade de cada criança. A análise 
simbólica não deve seguir fórmulas rígidas, mas sim considerar o conjunto da produção, a 
trajetória do sujeito, seu contexto familiar e social, além de sua faixa etária e estágio de 
desenvolvimento. Como salientam Barbosa e Baroni (2023, p. 7), ―a interpretação dos desenhos 
deve ser feita com base em critérios técnicos, mas também com sensibilidade à individualidade de 
cada criança e ao seu contexto sociocultural.‖ 
No campo pedagógico, o desenho atua como mediador na construção do conhecimento, 
pois permite à criança organizar e expressar suas ideias de maneira integrada ao seu universo 
simbólico. Ele também contribui para o desenvolvimento da linguagem, da memória, da atenção e 
da criatividade. Professores atentos às fases do desenvolvimento gráfico conseguem identificar 
avanços e possíveis dificuldades no percurso escolar, o que os capacita a intervir de forma mais 
eficaz. Como destacam Carvalho et al. (2025, p. 15), ―o ambiente escolar deve reconhecer o valor 
pedagógico e emocional do desenho, acolhendo-o como forma legítima de expressão e construção 
do conhecimento.‖ 
Ao desenhar, ela reinterpreta experiências, elabora sentimentos e explora relações, o que 
contribui diretamente para o fortalecimento de sua autonomia e da percepção de seu lugar no 
mundo. Segundo Santos et al. (2024, p. 3), ―o desenho acompanha os estágios de desenvolvimento 
intelectual e emocional, podendo revelar aspectos sutis do mundo interno da criança.‖ A mediação 
sensível do educador nessa etapa é decisiva para que essas representações simbólicas se 
transformem em aprendizagens significativas e experiências de escuta afetiva. 
O desenho pode atuar como forma de elaboração de situações traumáticas ou estressantes, 
pois oferece um canal de expressão não verbal e segura. Crianças que passaram por experiências 
difíceis, como perdas, separações ou violência, muitas vezes recorrem ao desenho para processar 
simbolicamente esses eventos. Quando essa produção é acolhida com empatia por profissionais da 
educação ou da psicologia, torna-se possível construir estratégias de cuidado e intervenção que 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 17 
 
respeitem o tempo e a linguagem emocional da infância. O desenho deixa de ser apenas atividade 
lúdica e passa a ser um instrumento terapêutico de grande valor. 
É importante destacar que, para que odesenho cumpra plenamente sua função expressiva 
e avaliativa, ele deve ser oferecido em ambientes que respeitem a liberdade criativa da criança, 
sem julgamentos estéticos ou interferências indevidas. A proposta de atividades gráficas precisa 
considerar a intencionalidade da expressão infantil e não apenas o produto final. O olhar do adulto 
— seja educador ou psicólogo — deve estar voltado ao processo, à escuta e à leitura simbólica da 
imagem, valorizando o desenho como manifestação única e subjetiva de quem o produz. Assim, o 
espaço escolar e clínico tornam-se mais humanos e centrados na criança. 
A integração do desenho às práticas pedagógicas e clínicas exige uma abordagem 
interdisciplinar, que envolva saberes da psicologia, da arte, da pedagogia e da psicomotricidade. 
Essa integração fortalece uma escuta mais ampla da infância, promovendo ações educativas e 
terapêuticas que respeitam os ritmos, os desejos e as expressões simbólicas das crianças. 
O desenho, nesse sentido, não é apenas uma atividade complementar, mas um 
instrumento central de leitura, intervenção e acolhimento da subjetividade infantil. Ele revela, 
comunica e transforma — e, por isso, deve ocupar um lugar privilegiado nos contextos de 
cuidado, ensino e aprendizagem. 
2.3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NA INFÂNCIA POR MEIO DO DESENHO 
A construção da identidade na infância é um processo complexo que envolve a integração 
de experiências internas e externas, afetos, vínculos e representações simbólicas. Nesse processo, 
o desenho infantil se configura como uma ferramenta fundamental, pois oferece à criança uma 
linguagem expressiva que vai além da verbalização. Ao desenhar, a criança atribui sentidos à sua 
realidade, representando seu corpo, suas relações, seu ambiente e até seus sentimentos. O ato 
gráfico, nesse contexto, não é apenas uma manifestação motora ou estética, mas uma forma 
estruturante de expressão do eu. 
Conforme argumenta Gomes (2014, p. 34), o desenho infantil possui valor terapêutico e 
diagnóstico justamente por ser ―uma via privilegiada de acesso à subjetividade infantil, permitindo 
à criança representar-se de maneira simbólica e projetiva.‖ Quando a criança desenha a si mesma, 
sua família ou elementos do seu cotidiano, ela está, ainda que de modo inconsciente, organizando 
aspectos da sua identidade em construção. Essa representação simbólica favorece o 
desenvolvimento da autoestima, da autocompreensão e do reconhecimento de si como sujeito 
único em relação ao outro. 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 18 
 
A produção gráfica também desempenha papel relevante na construção do sentimento de 
continuidade pessoal. O reconhecimento da própria imagem, o modo como a criança se representa 
e a escolha dos elementos que compõem o desenho revelam dimensões importantes do 
desenvolvimento do autoconceito e da noção de pertencimento. Em contextos clínicos, essa 
dimensão é explorada como parte do processo de escuta qualificada, em que o desenho se 
transforma em espaço simbólico de elaboração de experiências afetivas e existenciais. A narrativa 
que acompanha o desenho — como no método do Desenho e Narrativa em Seis Partes (MDN 6P 
C), proposto por Gomes (2014) — amplia ainda mais essa capacidade de introspecção e expressão 
do mundo interno da criança. 
A forma como a criança representa a si mesma e aos outros em seus desenhos pode 
indicar conflitos, inseguranças, desejos e expectativas que ela ainda não consegue nomear 
verbalmente. Isso faz do desenho um recurso valioso para a mediação psicopedagógica e 
terapêutica. O olhar atento do educador ou do psicólogo, ao acolher essa expressão simbólica, 
pode promover intervenções mais assertivas, respeitosas e alinhadas à singularidade da criança. 
Como ressalta Gomes (2014, p. 46), ―o desenho permite captar aspectos emocionais relevantes 
para a compreensão do sujeito, desde que analisado em articulação com o seu discurso e com o 
contexto relacional no qual está inserido.‖ 
Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) A representação gráfica infantil, ao expressar 
não apenas aspectos visuais, mas também emocionais e subjetivos, funciona como um canal 
privilegiado para a compreensão dos conflitos internos e das expectativas inconscientes da criança, 
revelando-se, assim, uma ferramenta essencial na mediação psicopedagógica, pois permite ao 
profissional captar nuances que a linguagem verbal ainda não alcançou, favorecendo uma 
abordagem individualizada e sensível às demandas emocionais singulares de cada sujeito. 
Gladys Nogueira Cabral (2025) Ao considerar o desenho como uma manifestação 
simbólica, o educador e o psicólogo podem interpretar as imagens produzidas pela criança como 
um reflexo complexo de suas inseguranças, desejos reprimidos e tensões internas, as quais muitas 
vezes permanecem inacessíveis à comunicação verbal direta; dessa forma, esse recurso artístico 
torna-se um instrumento fundamental para intervenções terapêuticas e pedagógicas que respeitam 
e valorizam a singularidade do desenvolvimento infantil. 
Giane Demo (2025) A observação detalhada do conteúdo e da forma dos desenhos 
infantis revela um universo emocional rico e ainda não verbalizado, permitindo ao profissional da 
psicopedagogia ou da psicologia identificar sinais sutis de conflitos internos e de expectativas não 
expressas, o que reforça a importância do desenho como meio simbólico de comunicação e, 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 19 
 
consequentemente, como uma ferramenta indispensável para o planejamento de intervenções que 
promovam o acolhimento e o desenvolvimento integral da criança. 
Sandro Garabed Ischkanian (2025) Considerar a produção gráfica da criança como um 
espelho das suas vivências emocionais e cognitivas possibilita aos educadores e psicólogos 
compreenderem as dimensões afetivas e psíquicas que ainda não encontram expressão verbal, 
tornando o desenho um recurso diagnóstico e interventivo valioso, capaz de orientar práticas 
psicopedagógicas e terapêuticas que sejam empáticas, respeitosas e alinhadas às especificidades 
do processo de desenvolvimento infantil. 
Silvana Nascimento de Carvalho (2025) A leitura cuidadosa dos desenhos infantis revela 
uma linguagem simbólica rica, que permite o acesso a conteúdos emocionais profundos, como 
conflitos internos, desejos e inseguranças que a criança ainda não sabe expressar por meio das 
palavras, o que reforça o papel do desenho como ferramenta crucial no âmbito psicopedagógico e 
terapêutico, possibilitando intervenções mais precisas e humanizadas, que valorizem a 
subjetividade e a individualidade da criança. 
O desenho contribui para a organização psíquica da criança, auxiliando na elaboração de 
conteúdos latentes, especialmente em momentos de crise, mudança ou transição. A representação 
gráfica permite que emoções complexas, como medo, tristeza ou raiva, sejam simbolizadas e, 
portanto, pensadas. Esse processo de simbolização é essencial para o desenvolvimento da 
identidade emocional, pois dá à criança a possibilidade de reconhecer, nomear e elaborar 
sentimentos, o que fortalece sua capacidade de autorregulação e resiliência. 
No campo educacional, a valorização do desenho como linguagem expressiva favorece 
uma abordagem mais humanizada da aprendizagem, centrada nas necessidades emocionais e 
identitárias dos alunos. O reconhecimento das produções gráficas como formas legítimas de 
expressão amplia as possibilidades pedagógicas e estabelece vínculos afetivos mais profundos 
entre educadores e crianças. Isso reforça o papel do professor como mediador da construção da 
identidade, atuando de forma ética, empática e sensível às manifestações subjetivas dos alunos. 
O ambiente escolar, quando sensível a essas expressões, torna-se um espaço seguro de 
escuta, acolhimento e construçãode significados. O desenho, nesse sentido, não é apenas uma 
atividade lúdica, mas um meio de comunicação simbólica que integra dimensões cognitivas, 
afetivas e sociais da infância. Ao integrar o desenho ao processo pedagógico e terapêutico, 
contribui-se para o fortalecimento da identidade infantil e para o desenvolvimento global do 
sujeito, respeitando suas fases, seu ritmo e sua linguagem. 
A construção da identidade na infância não pode ser pensada de forma dissociada das 
linguagens simbólicas que a criança utiliza para comunicar sua experiência de mundo. O desenho 
 AS FASES DO DESENHO INFANTIL COMO INSTRUMENTO DE AVALIAÇÃO 
PSICOLÓGICA E TERAPEUTICA. Página 20 
 
é, nesse sentido, um espelho sensível da subjetividade em formação. Conforme Gomes (2014, p. 
53), ―quando interpretado com escuta clínica e sensibilidade simbólica, o desenho revela não 
apenas o que a criança pensa, mas quem ela é — ou está tentando ser — em seu processo contínuo 
de desenvolvimento.‖ 
O desenho infantil constitui uma ferramenta indispensável para o acompanhamento do 
processo de construção da identidade. Ele permite ao adulto acessar o mundo simbólico da criança 
com respeito, profundidade e ética. Ao ser valorizado como linguagem expressiva e instrumento 
de mediação emocional, o desenho enriquece a escuta clínica, fortalece os vínculos pedagógicos e 
contribui significativamente para o desenvolvimento integral da criança. 
 
2.4 O USO TERAPÊUTICO E AVALIAÇÃO MULTIDIMENSIONAL 
O uso terapêutico do desenho infantil tem se consolidado como uma estratégia 
fundamental nas práticas clínicas e psicopedagógicas voltadas ao público infantil. Mais do que um 
instrumento de avaliação, o desenho assume a função de linguagem simbólica e canal de 
expressão emocional, permitindo à criança comunicar aspectos de sua vivência interna que, muitas 
vezes, não encontram espaço na linguagem verbal. Por meio do desenho, a criança representa 
simbolicamente o que sente, pensa e imagina, organizando e reelaborando suas experiências 
emocionais. Esse processo de simbolização, como destaca Rocha (2021), cria condições para que 
conteúdos subjetivos venham à tona de maneira espontânea e segura, promovendo avanços no 
processo terapêutico. 
Na prática clínica, a análise do desenho infantil deve ir além da observação técnica e 
estética. É fundamental que o terapeuta adote uma postura empática e escutativa, capaz de integrar 
os elementos gráficos à escuta clínica e ao contexto relacional da criança. A avaliação deve 
considerar aspectos formais, como o uso das cores, a organização do espaço, as proporções e os 
traços, bem como os aspectos temáticos, ou seja, o que está sendo representado, quem são os 
personagens, quais são os vínculos expressos, como se dá a interação entre os elementos e quais 
símbolos aparecem com frequência. Essa abordagem exige sensibilidade, formação teórica e ética 
profissional, uma vez que os desenhos refletem conteúdos psíquicos profundos, nem sempre 
acessíveis diretamente. 
A avaliação multidimensional, nesse contexto, se torna essencial. O desenho não deve ser 
interpretado de forma isolada, mas articulado com outras ferramentas de investigação clínica, 
como entrevistas com os responsáveis, observações comportamentais e testes projetivos 
complementares. Quando integrado a uma escuta cuidadosa, o desenho pode revelar indicadores 
de sofrimento emocional, traços de insegurança, vivências traumáticas, conflitos familiares ou 
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escolares, além de potencialidades criativas e recursos internos de enfrentamento. Rocha (2021) 
enfatiza que a leitura dos desenhos deve estar atrelada a uma compreensão global do sujeito, de 
modo a evitar interpretações reducionistas ou generalizações que desconsiderem o contexto 
singular de cada criança. 
No âmbito psicopedagógico, o uso terapêutico do desenho também contribui para a 
compreensão das dificuldades de aprendizagem, da dinâmica escolar e da relação do aluno com o 
conhecimento. Muitas vezes, o desenho revela não apenas aspectos emocionais, mas também 
cognitivos e atitudinais, como o modo como a criança se percebe em relação ao aprender, sua 
motivação, sua autoestima acadêmica e sua percepção de competência. Esse tipo de leitura oferece 
subsídios importantes para a elaboração de intervenções que respeitem o ritmo, a história e as 
necessidades específicas do educando. 
É importante ressaltar que o desenho infantil, quando bem acolhido e interpretado, não 
apenas revela questões internas, mas também promove reorganizações subjetivas. O ato de 
desenhar pode ser, por si só, terapêutico. Oferecer à criança um espaço protegido onde ela possa 
desenhar livremente e ser escutada sem julgamento favorece a elaboração simbólica de suas 
emoções e experiências. Essa função terapêutica do desenho está relacionada à liberdade criativa, 
à possibilidade de projetar conflitos internos em imagens externas e à oportunidade de resignificar 
vivências por meio do fazer artístico. 
O desenho permite à criança desenvolver sua autonomia expressiva e sua capacidade 
narrativa, fortalecendo aspectos identitários e emocionais. O contato com sua própria produção 
gráfica, especialmente quando valorizado pelo adulto mediador, favorece a autoestima e o 
sentimento de competência simbólica. Ao ver sua expressão reconhecida e interpretada com 
respeito, a criança se sente escutada e acolhida, o que potencializa os efeitos positivos da 
intervenção terapêutica. Rocha (2021) sublinha que essa escuta sensível é um dos pilares da 
atuação ética e eficaz no atendimento à infância. 
O papel do profissional — seja ele psicólogo, psicopedagogo ou educador — é mediar o 
sentido do desenho sem impor interpretações rígidas. A análise deve partir da escuta da criança, 
das perguntas que ela levanta com sua produção gráfica e das pistas que ela mesma fornece sobre 
seu mundo interno. O terapeuta atua como facilitador da simbolização, promovendo a construção 
de significados em conjunto com o sujeito em desenvolvimento. A qualidade dessa relação 
terapêutica é tão importante quanto a interpretação do desenho em si. 
É preciso compreender que o uso do desenho como ferramenta terapêutica e avaliativa 
não se limita a um conjunto de técnicas, mas envolve um compromisso com o desenvolvimento 
integral da criança. O profissional que se propõe a utilizar essa linguagem deve estar preparado 
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para acolher a complexidade da infância, reconhecendo a potência expressiva do desenho e 
respeitando a singularidade de cada sujeito. Ao integrar o desenho à prática clínica e pedagógica, 
amplia-se a possibilidade de intervenções mais humanizadas, efetivas e sensíveis às necessidades 
emocionais da criança. 
Simone Helen Drumond Ischkanian (2025) Compreender o desenho não apenas como 
uma técnica isolada, mas como uma poderosa linguagem expressiva que, quando utilizada na 
prática terapêutica e avaliativa, exige do profissional uma postura ética e sensível, comprometida 
com o desenvolvimento integral da criança, implica reconhecer a complexidade do universo 
infantil e respeitar a singularidade de cada sujeito, possibilitando intervenções clínicas e 
pedagógicas que promovam um acolhimento humanizado e efetivo, alinhado às necessidades 
emocionais e cognitivas da infância. 
Gladys Nogueira Cabral (2025) O uso do desenho como recurso terapêutico e avaliativo 
transcende a aplicação mecânica de técnicas, exigindo do educador ou psicólogo uma abertura 
para a complexidade da experiência infantil, na qual a potência simbólica dessa linguagem 
favorece a expressão de aspectos emocionais profundos; assim, ao integrar o desenho às práticas 
clínicas e pedagógicas, o profissional amplia sua capacidade de realizar intervençõesque 
respeitam a individualidade e promovem um desenvolvimento emocional equilibrado e integral da 
criança. 
Giane Demo (2025) A incorporação do desenho como ferramenta terapêutica e avaliativa 
pressupõe uma compreensão ampla e profunda do contexto emocional e psicológico da criança, 
pois o profissional que se dedica a essa prática deve estar preparado para acolher as múltiplas 
dimensões da infância, valorizando a singularidade de cada expressão simbólica; desse modo, ao 
integrar esse recurso à intervenção clínica e pedagógica, é possível construir um espaço 
terapêutico que favoreça a escuta atenta, o respeito e a sensibilidade às necessidades emocionais 
da criança. 
Sandro Garabed Ischkanian (2025) Utilizar o desenho como instrumento terapêutico e 
avaliativo requer do profissional não só conhecimento técnico, mas também um compromisso 
ético e humano com o desenvolvimento integral da criança, reconhecendo que essa forma de 
expressão ultrapassa a simples representação gráfica, sendo uma via privilegiada para acessar o 
mundo interno infantil; a integração desse recurso à prática clínica e pedagógica possibilita 
intervenções mais humanizadas, sensíveis e eficazes, que respeitam a singularidade de cada sujeito 
e promovem seu crescimento emocional e cognitivo. 
Silvana Nascimento de Carvalho (2025) O emprego do desenho na avaliação e terapia 
infantil deve ser entendido como um processo que vai além da aplicação de técnicas específicas, 
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demandando do profissional uma postura acolhedora e respeitosa frente à complexidade do 
universo infantil, valorizando a potência expressiva dessa linguagem simbólica; assim, ao 
incorporar o desenho na prática clínica e pedagógica, amplia-se o campo de possibilidades para 
intervenções que são mais humanas, sensíveis e alinhadas às necessidades emocionais e ao 
desenvolvimento integral da criança. 
O desenho infantil é uma porta de entrada para o mundo interno da criança, sendo ao 
mesmo tempo diagnóstico e intervenção, escuta e fala, símbolo e afeto. Seu uso terapêutico, 
quando ancorado em uma abordagem multidimensional e respeitosa, contribui significativamente 
para o bem-estar emocional, a compreensão subjetiva e o fortalecimento da identidade infantil. 
 
2.5 A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO DOCENTE E DA ESCUTA QUALIFICADA 
A mediação docente e a escuta qualificada são pilares essenciais para o aproveitamento 
pleno do desenho infantil como instrumento de expressão, avaliação e aprendizagem. O professor, 
ao ocupar o lugar de mediador sensível e atento, transforma o ambiente escolar em um espaço de 
acolhimento e significação. Ao invés de interpretar o desenho com foco apenas técnico ou 
estético, o educador que escuta verdadeiramente reconhece o valor simbólico e emocional da 
produção gráfica infantil. Isso exige um olhar que ultrapassa os conteúdos curriculares, 
conectando-se à subjetividade do aluno e ao seu processo de construção identitária e cognitiva. 
Como salientam Santos et al. (2024), essa postura docente respeitosa e ética é fundamental para 
valorizar as manifestações simbólicas das crianças e interpretar suas representações com 
profundidade e sensibilidade. 
A escuta qualificada, nesse contexto, refere-se a uma prática que reconhece e legitima o 
desenho como forma legítima de linguagem infantil. Ela requer disponibilidade emocional, 
atenção aos detalhes gráficos e um compromisso ético com o desenvolvimento integral da criança. 
Quando o adulto escuta com qualidade, ele não apenas observa o que é desenhado, mas investiga o 
que está sendo comunicado por trás das formas, cores e espaços. Essa atitude abre caminhos para 
que o educador compreenda os estados emocionais da criança, identifique sinais de sofrimento ou 
de bem-estar, além de estimular processos de aprendizagem mais significativos e humanizados. A 
escuta não se resume à escuta verbal, mas inclui a leitura simbólica de todas as linguagens 
expressivas da infância, entre elas o desenho. 
A importância dessa mediação está também em sua dimensão interdisciplinar. Ao 
integrar conhecimentos da psicologia, da pedagogia, da psicomotricidade e das artes, o docente 
amplia sua capacidade de interpretação e intervenção. Esse olhar ampliado contribui não apenas 
para o sucesso acadêmico, mas também para o fortalecimento da saúde emocional e da autoestima 
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da criança. A compreensão das fases do desenho infantil, por exemplo, oferece ao professor 
referências importantes sobre o desenvolvimento cognitivo e emocional de seus alunos, auxiliando 
no planejamento de atividades pedagógicas que respeitem e potencializem essas etapas. O desenho 
deixa de ser apenas uma atividade complementar e passa a ocupar um lugar central na escuta 
educativa. 
A mediação qualificada fortalece a construção de vínculos afetivos entre educador e 
criança. Quando o professor se dispõe a escutar o que está por trás do desenho, ele comunica 
aceitação, respeito e cuidado. Isso favorece a confiança e o sentimento de segurança no ambiente 
escolar, elementos indispensáveis para a aprendizagem e para o desenvolvimento emocional. O 
acolhimento das produções gráficas, sobretudo quando carregadas de emoções ou conflitos, 
permite que a criança se sinta vista e compreendida. É nesse espaço de escuta sensível que 
emergem possibilidades reais de transformação subjetiva e avanço nas relações sociais. 
Santos et al. (2024) defendem que a mediação deve ser conduzida com ética e 
responsabilidade, considerando as especificidades de cada criança e os múltiplos sentidos que suas 
produções podem assumir. A escuta qualificada não deve ser confundida com julgamentos 
apressados ou diagnósticos simplificados. Pelo contrário, ela requer formação contínua, empatia e 
uma postura investigativa, aberta à complexidade do desenvolvimento humano. O adulto que 
media o desenho deve ser capaz de perceber o que se comunica no silêncio, no traço hesitante, na 
ausência de cor ou na escolha insistente de determinados elementos gráficos. Cada detalhe pode 
ser uma pista sobre o mundo interno da criança, e, por isso, merece atenção cuidadosa. 
No campo da avaliação psicopedagógica e terapêutica, essa mediação também ganha 
contornos clínicos, tornando-se parte integrante do processo de diagnóstico e intervenção. O 
terapeuta ou psicopedagogo, ao analisar os desenhos infantis, precisa estar atento não apenas ao 
produto gráfico, mas também ao processo de produção: como a criança se posiciona frente à folha, 
como ela reage às perguntas, que emoções manifesta durante o desenho. Esse olhar integral, que 
considera tanto o contexto quanto o conteúdo gráfico, potencializa a eficácia da avaliação e 
favorece o planejamento de intervenções mais precisas e respeitosas. 
A mediação docente é, portanto, uma ação que se constrói na prática cotidiana, nas 
interações diárias com os alunos, e que requer intencionalidade pedagógica. O desenho infantil, 
quando compreendido como linguagem e não apenas como atividade lúdica, passa a ser 
ferramenta potente na formação do educador reflexivo. Ele oferece ao professor uma via 
privilegiada para compreender as necessidades emocionais de seus alunos, adaptar metodologias 
de ensino e propor experiências educativas mais significativas. 
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O ato de mediar o desenho torna-se também um ato de escuta do sujeito em 
desenvolvimento, contribuindo para a formação integral da criança. 
Cabe ainda destacar que essa mediação se fortalece quando realizada em parceria com 
outros profissionais da educação e da saúde. A atuação interdisciplinar permite um olhar mais 
amplo e integrado sobre a criança, articulando diferentes saberesA mediação sensível permite que o desenho seja compreendido em sua profundidade 
simbólica, respeitando a individualidade da criança e o contexto em que está inserida. A presença 
do educador enquanto mediador qualificado do significado da produção gráfica amplia as 
possibilidades de aprendizagem significativa e fortalece a autoestima infantil. Ao validar o 
desenho como expressão legítima, o adulto contribui diretamente para a consolidação da 
identidade da criança. 
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A interdisciplinaridade entre psicologia, arte, educação e psicomotricidade torna-se um 
recurso valioso para potencializar o uso do desenho em contextos de cuidado e desenvolvimento. 
Cada área aporta uma perspectiva complementar que enriquece a compreensão do desenho 
enquanto linguagem e processo. O olhar do psicólogo considera os aspectos emocionais e 
simbólicos, enquanto o educador percebe as conexões com a aprendizagem e a criatividade. A 
arte-terapia oferece ferramentas específicas para transformar o desenho em canal de elaboração 
profunda, e a psicomotricidade integra o corpo, o gesto e a expressão. 
Quando bem conduzida, a análise do desenho infantil pode revelar traços de conflitos 
emocionais, traumas, dificuldades de socialização, além de potenciais e interesses da criança. 
Contudo, é fundamental que essa análise seja feita com base em critérios técnicos e com 
responsabilidade ética. O risco de interpretações precipitadas ou descontextualizadas compromete 
a validade e a eficácia da intervenção. A escuta simbólica deve estar sempre ancorada em 
formação, sensibilidade e empatia. 
Importante também considerar o contexto sociocultural da criança e as condições de 
produção do desenho. O ambiente físico, o vínculo com o profissional, o suporte emocional e até o 
material utilizado podem influenciar diretamente na forma como a criança se expressa 
graficamente. Respeitar esses fatores é garantir que o desenho cumpra sua função de forma 
autêntica e significativa. Como linguagem do sensível, ele exige tempo, disponibilidade e um 
olhar cuidadoso que valorize o processo mais do que o produto final. 
É necessário reforçar que o desenho infantil não é apenas uma atividade lúdica ou 
didática, mas um fenômeno complexo que envolve emoção, cognição, corporeidade e cultura. Ele 
é parte integrante da infância, da construção do sujeito e de sua inserção no mundo. Quando 
reconhecido e utilizado com consciência, torna-se um verdadeiro aliado no processo de avaliação 
e intervenção, ajudando a criança a dar sentido a si mesma e ao que a rodeia. 
O desenho é, de fato, um agente ativo na elaboração emocional e na construção da 
identidade — um espelho da alma infantil em forma de traço, cor e imaginação. 
Reconhecer e utilizar as fases do desenho infantil como recurso de avaliação psicológica 
e terapêutica é valorizar a infância em sua essência: criativa, simbólica e profundamente 
comunicativa. É abrir caminhos para que a criança seja compreendida em sua totalidade, 
favorecendo seu bem-estar emocional, sua aprendizagem significativa e a construção de uma 
identidade saudável e segura. Trata-se, sem dúvida, de um investimento valioso no 
desenvolvimento integral do ser humano desde os seus primeiros traços. 
 
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