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IFMG – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais CODALIP – Coordenadoria da Área de Língua Portuguesa Educação Profissional Técnica de Nível Médio: Integrada Disciplina: Português II Professor: Paulo Ricardo Moura da Silva “Literatura de cordel é uma das formas de expressão mais importantes do povo brasileiro, porque nela o povo fala de si, sem tutela”. Raimundo Santa Helena Arte popular: 1) A arte popular é produzida por pessoas pertencentes às classes populares, que não frequentaram cursos acadêmicos, mas aprenderam as técnicas artísticas de modo autodidata, ou aprenderam com os familiares ou com outros artistas populares. 2) Os intelectuais acadêmicos costumam caracterizar a arte popular como uma manifestação cultural rude, simples e ingênua, o que pode ser problematizado, porque há obras de arte popular que atingem um alto grau de elaboração estética. 3) A arte popular não recebe socialmente o mesmo valor que a arte erudita, isto é, as instituições sociais não conferem o mesmo status, no campo da arte, para obras pertencentes à arte popular e à arte erudita. Literatura de cordel: 1) Oralidade: A literatura de cordel se vale da tradição oral de poesia e de narrativa, muito presentes na cultura popular. Essa tradição poético-narrativa existe desde os poetas e os rapsodos da Grécia Antiga, passando pelos trovadores e menestréis da Idade Média, até os repentistas nordestinos e os rappers da atualidade. Especialmente, a literatura de cordel sofreu forte influência do repente ou cantoria (improvisação de versos cantados). 2) Tradição oral: o poeta/rapsodo/menestrel, diante de um púbico, declama ou canta os poemas, podendo (ou não) ser acompanhado de instrumentos musicais. Nesse contexto, o poeta/rapsodo/menestrel encarnaria uma espécie de “contador de histórias”, estabelecendo um contado direto com os seus leitores-ouvintes. 3) Impressão: Na Europa, na transição da Idade Média para a Idade Moderna, temos uma literatura imprensa em folhetos, destinada ao grande público. Essa literatura em folhetos não se constituía como um gênero literário específico, mas, sim, uma forma de editoração de textos de diferentes gêneros. No Brasil, os folhetos de literatura de cordel começaram a ser impressos na segunda metade do século XIX. Vale lembrar que, até 1808, era proibida a impressão de livros e papéis no Brasil, por determinação da Coroa portuguesa. 4) Estratégia de venda: os folheteiros (os vendedores dos folhetos de cordel) disponham os folhetos pendurados em uma corda fina para serem vendidos nas feiras (o que deu origem ao nome “literatura de cordel”). Para chamar a atenção do público, eles cantavam ou declamavam os versos do cordel e paravam no clímax da história, assim, só saberia o final do cordel quem comprasse o folheto, que tinha um preço muito acessível. Por ser cantado ou declamado, a construção da sonoridade era fundamental. IFMG – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais CODALIP – Coordenadoria da Área de Língua Portuguesa Educação Profissional Técnica de Nível Médio: Integrada Disciplina: Português II Professor: Paulo Ricardo Moura da Silva 5) Os cordelistas: inicialmente, eram pessoas da zona rural, com pouca ou nenhuma escolaridade, que aprenderam a ler e a escrever de modo autodidata, ou com a ajuda de pessoas próximas. Muitos cordelistas conseguiam viver apenas com o dinheiro da venda dos cordéis que produziam. O contato direto com o público-leitor possibilitava que o cordelista conhecesse o gosto e as preferências do seu público, o que direcionava a sua produção literária. 6) Os leitores: a maioria dos leitores era das classes populares, mas as elites também liam cordéis. Os principais objetivos da leitura eram entretenimento e informação. 7) A literatura de cordel surgiu na região Nordeste, mas posteriormente expandiu-se para outras regiões do país, sobretudo com a migração dos nordestinos para outras regiões do país: Norte = Ciclo da borracha; Sudeste = Processo de industrialização; Centro-Oeste = Construção de Brasília. 8) Em 2018, a literatura de cordel foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo Iphan. 9) Com o advento das redes sociais, a literatura de cordel passou a adotar também os suportes digitais, além dos folhetos impressos, surgindo, assim, o cordel virtual. 10) Aspectos da literatura de cordel: Poema narrativo; Dimensão popular; Situa-se entre a oralidade e a escrita; A sonoridade contribui para a memorização dos versos; Presença de xilogravura (o artista grava na madeira a imagem, passa uma tinta e carimba em outra folha para reproduzir a imagem); Folheto de 8, 16, 24 e 32 páginas, com um tamanho de 15cm por 12cm. 11) Aspectos estruturais: Regularidade no número de versos na estrofe, na posição das rimas na estrofe e no número de sílabas poéticas nos versos, aspectos que contribuem para a construção da sonoridade; A forma mais recorrente no cordel é a sextilha: estrofe de 6 versos, com 7 sílabas poéticas e esquema de rimas XAXAXA); Linguagem direta e fácil de ser compreendida; Foco na ação, sem ou com raras descrições ou digressões (quando o narrador para a narração da história principal para fazer comentários); As ações estruturam-se em um fluxo ordenado, linear e verossímil (quando há um encadeamento lógico dos fatos que nos permite admitir aquela história como possível, seja no mundo real, seja no mundo da fantasia). IFMG – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais CODALIP – Coordenadoria da Área de Língua Portuguesa Educação Profissional Técnica de Nível Médio: Integrada Disciplina: Português II Professor: Paulo Ricardo Moura da Silva 12) Alguns tipos de cordéis a partir de sua temática: Ciclo do boi (ambiente vaqueiro); Ciclo do cangaço; Ciclo místico-religioso; Fantástico-maravilhoso (fantasia); Cômico; Romântico; Noticioso ou Folheto de circunstância. 13) O Folheto de circunstância pode ser considerado uma espécie de jornalismo popular. 14) Importantes nomes da 1ª geração de cordelistas: Leandro Gomes de Barros (1865-1918); Silvino Pirauá de Lima (1848-1913); João Melchíades Ferreira da Silva (1869-1933). 15) Obras artísticas influenciadas pela literatura de cordel: Música: “Pavão misterioso”, de Ednardo, “Lampião falou”, de Luiz Gonzaga, “Os números”, de Raul Seixas; Teatro: O auto da Compadecida, O castigo da soberba, O santo e a porca, todas de Ariano Suassuna; Cinema: A luneta do tempo, de Alceu Valença, O homem que desafiou o diabo, de Moacyr Góes, Romance do vaqueiro voador, de Manfredo Caldas; Telenovela: Cordel Encantado, de Amora Mautner Ricardo Waddington.