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Literatura Comparada na Descolonização

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Aula 8 - A Literatura Comparada num mundo em descolonização.	
	
LITERATURA COMPARADA
O contato entre as literaturas nem sempre precisa do aval dos povos considerados mais desenvolvidos. Como exemplo disso, exploraremos o caso dos contatos dos escritores da África lusófona com o Brasil, que se iniciaram ainda na época romântica, mas que vieram a se estreitar muito no século XX. 
Tema da Apresentação
Somos realmente um povo livre, capaz de expressar sua própria riqueza por meio de textos literários valorizados pelo povo e estudados nas escolas? 
Os debates acerca do quanto devemos aos europeus em termos de influência e empréstimos culturais parecem longe do fim.
 Por outro lado, ganham corpo propostas que afirmam nossa capacidade de sobreviver sem ter que estar em permanente contato com outras literaturas. 
Tema da Apresentação
Os contatos havidos entre intelectuais de duas regiões culturalmente colonizadas ocorriam, com muita frequência, com a intermediação das antigas metrópoles, ou de seus substitutos, os novos centros de difusão cultural do mundo. 
Antonio Cândido nos oferece, em Literatura e Subdesenvolvimento, o exemplo dos encontros de intelectuais latino-americanos, quase sempre ocorridos sob os auspícios de universidades da Europa e dos Estados Unidos.
Tema da Apresentação
1960 – Revolução Cubana -responsável por um certo aumento da consciência da identidade comum dos latino-americanos. Com efeito, a partir dos anos 1960, Cuba passou a ser uma referência no que diz respeito a eventos que promoviam o contato entre escritores de todo o continente.
Tema da Apresentação
Importantes transformações históricas vêm se operando no mundo, de modo que certos conceitos que antes pareciam irretocáveis começam a perder o vigor.
A Europa ditava modelos para o resto do mundo em diferentes áreas da existência, sem excluir as ciências e artes. Visão eurocêntrica.
Tudo começou a mudar a partir do fim da 2ª Guerra Mundial, com o esfacelamento dos impérios coloniais.
Tema da Apresentação
A tendência atual nos leva ao caminho de uma multipolaridade, com o surgimento de lideranças localizadas e de um intercâmbio que perderá o tom de imposição de conceitos, evoluindo para um processo de troca cultural mais democratizada. 
Tema da Apresentação
O diálogo literário entre o Brasil e a África 
O Brasil foi o principal destino dos escravos africanos transplantados para a América do Sul, que deixaram marcas da África nas terras brasileiras, que são biológicas, mas também culturais, inclusive linguísticas e literárias. 
Tem acontecido um processo inverso, pois se encontram características brasileiras em várias partes da África de língua portuguesa, principalmente nos setores sociais e culturais. Desde o século XIX, a literatura brasileira desperta grande interesse em intelectuais e escritores da África. Mas foi somente no século XX que essa tendência se afirmou plenamente.
Tema da Apresentação
O diálogo literário entre o Brasil e a África 
Temos, então, um contato frutífero entre duas regiões que passaram por processos de colonização, e que hoje mantêm contato cultural sem a intermediação direta da metrópole. Elas possuem o idioma como elo principal, mas logo descobrem novas identidades. 
Tema da Apresentação
O diálogo literário entre o Brasil e a África 
É indispensável desmistificar o imaginário que temos sobre a África – Tarzianismo (Manuel Ferreira escritor português) de olhar para os africanos sob o ponto de vista do estereótipo, do clichê do colonizador europeu, que chega e leva para lá as luzes do progresso. 
Abordaremos os diálogos literários e culturais entre o Brasil e a África lusófona, ocorridos sem a intermediação dos antigos colonizadores. O nosso percurso pressupõe a superação de quaisquer equívocos que poderiam decorrer de manter de pé preconceitos de acento neocolonial. 
Tema da Apresentação
O diálogo literário entre o Brasil e a África 
Este contato se inicia bem antes da independência das novas nações da África lusófona, conquistada na década de 1970. O fato de já ser um país autônomo fez do Brasil uma referência importante para os escritores do outro lado do Atlântico, alimentando inclusive a esperança de grupos que lutavam ainda pela libertação de seus povos do jugo colonial.
Tema da Apresentação
O diálogo literário entre o Brasil e a África 
Na década de 1940, estreitou-se o diálogo entre Brasil e as regiões da África, então submetidas ao domínio colonial português. Foi quando ocorreu, por exemplo, o movimento dos Novos Intelectuais de Angola. Ele foi inspirado no modernismo brasileiro, que tinha como propósito central produzir uma literatura que representasse a cultura de seu país, para o que, como diz Tânia Macedo, no importante estudo Angola e Brasil: estudos comparados, “A leitura de autores do modernismo brasileiro foi catalisador importante para a literatura angolana que, naquele momento, se consolidava enquanto sistema” (MACÊDO, 2002, p. 44). 
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Jorge Amado, Graciliano Ramos e João Cabral de Melo Neto servem como referência para os autores africanos criarem “uma literatura de e não apenas em ou sobre Cabo Verde, Guiné, Angola, Moçambique”. Contudo, esta identificação atinge um grau ainda mais elevado quando percebemos o uso que teve, em Cabo Verde, o poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira.
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Os poetas modernistas, enquanto contestadores da ordem vigente, afastavam-se cada vez mais da possibilidade de manter relações pessoais próximas aos donos do poder. Impossível continuar sendo “amigo do rei” numa época em que a palavra poética se oferecia como instrumento de desafio ao mundo. 
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Tal questão estava longe de ser exclusiva da Literatura Brasileira. Está ligada à tendência de toda a poesia moderna de assumir uma atitude de leitura crítica da realidade. 
Para um novo mundo, novas formas de expressão poética. Baudelaire é a figura paradigmática do poeta que está inserido no contexto da modernidade, sendo-lhe esta, portanto, perfeitamente familiar. Por isso mesmo, seu discurso é profundamente crítico, pois conhece melhor do que ninguém o lado obscuro da modernização, como frequentador da crua realidade das sarjetas. 
Neste caso, “ser amigo do rei” só seria mesmo possível em outro mundo que não este em que vivemos. 
Tema da Apresentação
O Passargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Enquanto ainda viviam sua experiência de jugo colonial, os africanos enxergavam no Brasil a ideia de uma identidade cultural ao mesmo tempo multiétnica e unificada, e não apenas um caso de afirmação da negritude. Sendo assim, foi nos anos 1930, que os intelectuais cabo-verdianos começaram a construir a tese de uma sociedade crioula, que seguiria os moldes da brasileira. 
Osvaldo Alcântara assim exprime a presença da visão poética do nosso Manuel Bandeira no contexto da luta de Cabo Verde por sua afirmação cultural:
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Saudade fina de Pasárgada... 
Em Pasárgada eu saberia
onde é que Deus tinha depositado 
o meu destino...[...]
Na hora em que tudo morre,
esta saudade fina de Pasárgada
é um veneno gostoso dentro do meu coração.
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
“Veneno gostoso”... A leitura da poesia brasileira desperta sentimentos vagos e ambíguos no poeta africano. Como podemos perceber, não é o caso de se mirar na experiência do modernismo brasileiro de modo a buscar nele uma influência
explícita. Os intelectuais africanos estão plenamente conscientes das diferenças contextuais que os separam do Brasil. O poeta cabo-verdiano revela saudade de uma terra que jamais existiu, uma ficção criada por Bandeira. 
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
A comunicabilidade dos pasargadistas advém do idioma, da intenção e do papel do texto e de seu autor como produtor de uma poética que pudesse contribuir para a nova narração nacional: “a literatura, assumidamente veículo de contestação, era, portanto, uma construção intelectual e discursiva” (MATA, 2001, p. 17). Um exercício de comunhão que se tornou a tônica dos africanos para driblar o controle da censura implantada na África pelo império português.
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Jorge Barbosa, integrante do grupo de poetas ilustres que escreviam na revista Claridade, em seus poemas, faz evocação ao Brasil como nação inspiradora dos avanços anticolonialistas e aos poetas que sabiam, como ninguém, onde “cantam os sabiás”.
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Eu gosto de Você, Brasil,
porque Você é parecido com a minha terra.(...)
Você, Brasil, é parecido com a minha terra,
as secas do Ceará são as nossas estiagens,
com a mesma intensidade de dramas e renúncias.(...)
Havia de falar como Você,
com um i no si 
«si faz favor», 
de trocar sempre os pronomes para antes dos verbos 
«mi dá um cigarro?» (...) 
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
O destaque dado, no texto, aos aspectos linguísticos, denuncia a clara procura por aspectos capazes de garantir o patrimônio comum, que já parecia assegurado antes pelos aspectos de semelhança cultural. Tudo serve ao propósito de mostrar que o Brasil é uma espécie de versão maior de sua própria terra. A proposta de uma espécie de luso-tropicalismo, forma de assegurar identidades culturais e afetivas para além das fronteiras do oceano.
Tema da Apresentação
O Pasargadismo e a construção da identidade literária na África lusófona 
Mais tarde, o avanço dos movimentos de luta anticolonial na África passa a ganhar apoio explícito de escritores brasileiros. Vale destacar que a reta final de tal processo de lutas se deu na mesma época em que se lutava contra a ditadura militar no Brasil, de modo que havia certa identidade entre os contextos históricos vividos, tanto lá como cá. 
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA 
 O Brasil vai dominar o mundo? 
 
Desde o fim do império colonial português, nos anos 70, já não existem mais somente duas nações soberanas que utilizam o português como idioma oficial, o que coloca o diálogo entre o Brasil e Portugal em novos parâmetros. Já não se pode falar nem mesmo em diálogo, uma vez que há novos interlocutores em cena, os novos países que estavam surgindo.
Na letra da música “Portuga”, de Cazuza, o primeiro aspecto a chamar a atenção é o destaque dado à matriz portuguesa de nossa formação (“juntou com preto e com o índio / mas no fundo é portuga”). 
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA 
 O Brasil vai dominar o mundo? 
 
O texto se refere justamente às nações africanas, que conquistaram suas independências políticas na década de 1970. Outro aspecto a que a canção se refere é a problemática da conquista da liberdade, mais precisamente a afirmação da democracia em todos os países lusófonos. 
Uma interessante interface pode ser proposta entre o texto de Cazuza e uma das canções que fazem parte do repertório da peça musical Calabar, de Chico Buarque e Ruy Guerra, “Fado Tropical”.
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA 
 O Brasil vai dominar o mundo? 
 
Fazem do texto uma diatribe não somente contra nossa ditadura militar, como também contra o salazarismo, ainda vigente em Portugal quando do lançamento da canção, em 1973. 
Cazuza, por sua vez, já trabalha a problemática da liberdade dezesseis anos mais tarde, tendo em vista um contexto bem diverso: em Portugal, já vigorava um regime democrático parlamentar plenamente estabelecido; na África, a construção das novas nações, advindas da descolonização, estava em curso; no Brasil, a experiência efetiva de liberdade ainda era um tópico problemático diante do tom conciliatório e conservador que dominou os primeiros anos da “nova república”. 
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA 
 O Brasil vai dominar o mundo? 
 
O contexto em que nos encontramos aponta para um futuro no qual poderemos passar de influenciados a influenciadores. O que vimos anteriormente, acerca do fascínio dos africanos por nossa Literatura, poderá ter sido então apenas um primeiro indício. A questão é: estamos preparados para esta nova realidade?
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA 
 O Brasil vai dominar o mundo? 
 
Encerramos as reflexões desta aula com a consideração de outro problema decorrente do novo papel do Brasil no cenário internacional. O crescimento econômico por nós experimentado nos coloca no grupo de países em que se reconhece maior potencial de crescimento para os próximos tempos. O conceito de “nação emergente” tem dominado os debates e nos impõe reflexões urgentes, pois estamos diante do perigo de sermos gigante, mas incapaz de alimentar seu povo e distribuir sua riqueza de modo justo.
Tema da Apresentação

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