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1 
 
Disciplina: Histórico, bases conceituais e identificação (as diferentes 
compreensões dos TEA) 
Autores: M.e Willyans Maciel 
Revisão de Conteúdos: Esp. Marcelo Alvino da Silva / D.ra Maria Tereza Costa 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso 
Ano: 2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
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Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
2 
 
Willyans Maciel 
 
 
 
 
 
Histórico, bases conceituais e 
identificação (as diferentes 
compreensões dos TEA) 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 2017 
 Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
MACIEL, Willyans. 
Histórico, bases conceituais e identificação (as diferentes compreensões 
dos TEA) / Willyans Maciel. – Curitiba, 2017. 
41 p. 
Revisão de Conteúdos: Marcelo Alvino da Silva / Maria Tereza Costa. 
Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. 
Histórico, bases conceituais e identificação (as diferentes compreensões 
dos TEA) – Faculdade São Braz (FSB), 2017. 
 ISBN: 978-85-5475-048-0 
 
4 
 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
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grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
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5 
 
 
Apresentação da disciplina 
A compreensão do funcionamento, causas e efeitos dos fenômenos 
presentes na natureza é a base da ciência. Dito isso, precisamos compreender 
que nem sempre estamos de posse dos elementos necessários para atingir a 
máxima compreensão de tais fenômenos, e por isso também é característica da 
ciência, a revisão e melhoria constante. Com o TEA não tem sido diferente. A 
fim de afastar preconceitos tolos e suposições baseadas na pouca compreensão 
do funcionamento do espectro, temos desenvolvido pesquisas e revisado nossa 
percepção e classificação, passando de diversas síndromes isoladas para um 
espectro que compreende níveis de comprometimento. 
Como e porque isto ocorreu será tema desta disciplina, mas antes de tudo, 
precisamos ter em mente que, conforme lição que podemos tirar de Warnock 
(1978), quanto mais sabemos sobre esse tipo de condição, menos nos sentimos 
confortáveis para impor rótulos absolutos. Não obstante, algumas designações 
são necessárias para podermos dar a atenção adequada aos indivíduos que 
possuem tais condições, de modo que o equilíbrio entre a consciência de que 
não possuímos todo o conhecimento e as classificações que já utilizamos, 
precisa ser um ponto focal de nosso trabalho, entendendo que cada indivíduo é 
único e deve ser tratado como tal. 
O objetivo central desta disciplina é organizar a discussão sobre os 
Transtornos do Espectro Autista (TEA), a fim de possibilitar uma melhor 
compreensão dos tipos ou níveis de transtornos dos quais falamos, de modo que 
seja possível uma abordagem individual de cada um desses tipos, em seus 
aspectos etiológicos, epidemiológicos, consequências socioculturais e psicoló-
gicas, bem como uma compreensão ampla das características similares entre os 
tipos de transtornos que compõe o espectro. 
 
 
 
 
 
6 
 
 
Aula 1 – O que sabemos sobre os TEA: Conceitualização e histórico 
Apresentação da aula 1 
Nesta aula exploraremos o conceito e a história dos TEA, desde a 
conceitualização do termo geral "autismo" até o histórico de como chegamos a 
esse conceito, passando pelas diversas descobertas de condições similares 
entre si ao longo das décadas. Serão exploradas também as características que 
tipificam os TEA de modo amplo e como essas características podem ser 
reconhecidas. 
 
1. O que sabemos sobre os TEA: Conceitualização e histórico 
Dada a complexidade do desenvolvimento humano, mesmo dentro de 
uma classificação de transtorno do desenvolvimento, existem muitas variações, 
com indivíduos variando desde casos simples que pouco afetam o seu convívio 
social e aprendizado, até casos graves que tornam o indivíduo completamente 
dependente de outras pessoas para suas atividades cotidianas (condições 
incapacitantes). 
 
1.1 O que é autismo 
Uma descrição do que se sabe à respeito do espectro se faz necessária, 
para que se possa compreender de qual nível ou tipo tratamos cada caso e como 
devemos trabalhar com aquele indivíduo, podendo assim compreender o 
comprometimento das capacidades e possibilidades de educabilidade de tal 
indivíduo. 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Símbolo da conscientização sobre o autismo 
Fonte: https://www.autism-society.org/wp-content/uploads/2014/04/ribbon-large.jpg 
Mesmo que cada indivíduo se desenvolva em seu próprio ritmo, existem 
alguns marcos ou indicadores do desenvolvimento típico. Por razões genéticas, 
tendemos a desenvolver um mesmo conjunto de habilidades ou características 
aproximadamente na mesma idade. Isso acontece tanto nas primeiras fases do 
ciclo de vida, como na vida intrauterina, primeira e segunda infâncias, quanto 
nas fases posteriores, como na adolescência e vida adulta tardia. Quando 
falamos das primeiras fases, esses marcos do desenvolvimento aparecem em 
algumas categorias, conforme o cérebro se desenvolve. 
Para compreender esse processo distribuiremos o desenvolvimento 
humano em quatro marcos, ou indicadores: 
 Socialização: Envolve as habilidades relacionadas ao contato com 
outros seres humanos, o correto processamento dos 
comportamentos e da cultura; 
 Comunicação e linguagem: Inclui as habilidades de 
compreensão e expressão, verbal e não verbal. Tanto a fala quanto 
a escrita e mesmo a expressão corporal fazem parte desse 
aspecto; 
 Habilidades cognitivas: Tratam do processamento lógico, 
científico, solução de problemas simples ou complexos, conforme 
a fase do desenvolvimento; 
 Aspectos físicos/motores: São habilidades reconhecidas 
facilmente pela observação, relacionadas a capacidade de mover-
se e deslocar-se independentemente, entre elas: engatinhar, 
caminhar, habilidades motoras grossas e finas. 
 
Se todos esses aspectos se desenvolvem conforme o esperado, ou 
próximo ao esperado, teremos um indivíduo com desenvolvimento típico 
(pequenas alterações e variações são esperadas, dentro do desvio padrão da 
curva normal). 
 
https://www.autism-society.org/wp-content/uploads/2014/04/ribbon-large.jpg
 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curva de Gauss ou distribuição normal 
Fonte: http://www.ufpa.br/dicas/biome/biofig/curnor01.jpg 
 
Por outro lado, se um desses quatro aspectos (socialização, comunicação 
e linguagem, habilidades cognitivas ou físico/motores) não se desenvolve 
conforme o esperado, se severo o bastante para figurar para além do desvio 
padrão, pode configurar uma condição que chamamos de distúrbiodo 
desenvolvimento neurológico (neurodevelopmental disorder). A expressão 
"neuro", nesse caso, refere-se ao cérebro e sistema, nervoso de modo amplo. 
Todos os aspectos são importantes, mas dependendo da configuração do 
atraso ou falha no desenvolvimento, caracterizamos condições diferentes. 
Quando se fala em habilidades presentes nos aspectos de socialização, 
linguagem e comunicação, se essas não se desenvolvem como esperado no 
desvio padrão, não é difícil perceber como a condição pode desencadear um 
quadro de isolamento. O indivíduo que não comunica bem, tende a isolar-se dos 
outros, já que a nossa interação com outros seres humanos é baseada nesses 
dois aspectos. 
A ideia de isolamento, por sua vez, é a base da classificação de indivíduos 
como autistas. O termo "autismo" é composto pelo radical autós que significa "de 
si", indicando alguém voltado a si mesmo, junto com “ismo” que indica ação ou 
condição. Sendo assim, o termo “autismo” indica alguém que está removido da 
comunicação e interação social, tornando-se isolado e solitário. 
 
 
9 
 
1.1.1 Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD) 
É fundamental a compreensão de que a condição comumente referida 
como autismo caracteriza-se pelo comprometimento de um ou mais aspectos do 
desenvolvimento típico humano na primeira infância, nos aspectos da 
socialização e da comunicação e linguagem. Essa caracterização levou ao uso 
do termo Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD), uma classificação mais 
ampla que inclui, não apenas os transtornos tipicamente identificados dentro do 
Transtorno do Espectro Autista (TEA), mas também outras condições que 
podem não envolver esses aspectos de socialização e de linguagem e 
comunicação social. 
Os TEA caracterizam-se pela identificação de comprometimento, de 
severidade variável, em dois ou mais aspectos do desenvolvimento humano 
ainda na primeira ou segunda infâncias. Nesse contexto os TGD podem incluir 
outras condições, referentes a comprometimento de aspectos diferentes 
daqueles típicos dos TEA. 
Embora os TEA tenham sido melhor categorizados, o termo Transtorno 
Global do Desenvolvimento ainda pode ser encontrado em uso, por ainda figurar 
na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), porém, cada vez menos 
utilizado para as condições que reconhecidamente pertencem ao espectro 
autista. 
Ainda assim, entende-se que essas condições atendem ao conceito de 
TGD, uma vez que se trata de distúrbios em dois ou mais aspectos do 
desenvolvimento humano. 
 
1.1.2 História da descoberta e compreensão dos TEA 
A palavra "autismo" surge antes do conceito. Em 1910, Eugen Bleuler 
(1857-1939), psiquiatra suíço, procurava uma expressão adequada para 
descrever os sintomas da esquizofrenia. Cunhou uma palavra latina moderna, 
autismos, segundo Kuhn R. (2004), baseada no termo grego "autos", 
entendendo que os pacientes possuíam uma forma mórbida de admiração por 
suas próprias fantasias, identificando a interferência de outros como uma 
perturbação. 
 
10 
 
Embora seja possível supor que o autismo sempre esteve presente na 
espécie humana, de acordo com Wing L. (1997), o caso documentado mais 
antigo, data de 1747, aparecendo nos registros do tribunal, quando o irmão de 
Hug Blair utilizou o conjunto de sintomas para contestar o casamento. 
Mesmo com o uso do termo por Bleuler, em 1910, e com outros casos 
surgidos ao longo dos Séculos XVII e XVIII, o primeiro uso moderno do termo 
aparece em Asperger (1938), durante conferências sobre psicologia infantil. Ao 
proferir essas conferências, Hans Asperger utilizou o termo cunhado por Bleuler 
"psicopatas autistas" para referir-se aos indivíduos cuja condição hoje é 
normalmente referida como "Síndrome de Asperger", diagnóstico utilizado a 
partir de 1981. Nesse contexto Asperger posiciona-se quanto a condição de vida 
dos indivíduos autistas, afirmado que eles desempenham bem seu papel em 
sociedade, mas as desvantagens superam possíveis vantagens. 
[...] Estamos convencidos, assim, que pessoas autistas tem seu lugar 
no organismo social. Eles cumprem bem seu papel, talvez melhor do 
que qualquer outro, e estamos falando de pessoas que enquanto 
crianças tiveram a maior das dificuldades e causaram incontáveis 
preocupações aos seus cuidadores. (ASPERGER, 1944, p. 37). 
 
 
A despeito de sua visão positiva quanto aos aspectos do autismo, 
Asperger também afirmou que tais pontos positivos não superavam os prejuízos 
que esses indivíduos têm para seu desenvolvimento. 
Em 1943, Leo Kanner utilizou o termo "early infantile autism" (autismo 
infantil precoce) para referir-se a um conjunto de onze pacientes infantis que 
apresentavam comportamentos que hoje são reconhecidos como sinais de 
autismo. É desconhecido se Kanner teve alguma influência de Asperger ou se 
cunhou o termo por seu próprio empreendimento. 
Kanner inicia o processo moderno de diagnóstico do autismo com seu 
“caso 1”, o paciente Donald Triplett, cujos interesses focavam-se em números e 
notas musicais, demonstrando splinter skill (habilidade) para memorização. 
 
 
 
11 
 
Curiosidade 
 
Em torno de 10% dos autistas manifestarão splinter skill. A 
habilidade de realizar uma tarefa com grande eficácia, sem 
que essa eficácia se generalize para outras tarefas, 
geralmente identificadas como habilidades aprendidas que 
estão acima das esperadas para a faixa etária de uma criança. 
 
A despeito de suas contribuições, o trabalho de Kanner permitiu a 
confusão entre esquizofrenia infantil e autismo, promovendo ainda a ideia de que 
o autismo poderia ser causado pela falta de proximidade materna. Isto por que 
Kanner identificou que, embora os pais de crianças autistas fossem em geral 
inteligentes, havia uma falta de proximidade entre os pais, particularmente as 
mães e as crianças autistas, cunhando o termo "refrigerator mother" (mãe-
geladeira), baseado na alegoria de que essas mães "esfriavam" a capacidade 
de comunicação das crianças. 
Kanner, no entanto, apenas apontou uma associação ou co-ocorrência. 
Em geral, pais de crianças autistas são inteligentes e menos calorosos, mas não 
necessariamente concluiu que havia uma relação de causalidade entre essas 
características e a condição dos indivíduos. Foi o psicanalista Bettelheim que 
interpretou, erroneamente, as observações de Kanner, desenvolvendo e 
popularizando a ideia de que havia uma relação de causalidade (a teoria de 
Bettleheim foi um dos maiores atrasos da história do diagnóstico e cuidado com 
autistas). 
Kanner defendeu, contra Bettleheim, que a frieza ou afastamento dos pais 
poderia ser derivado do fato de que a criança não demonstrava interesse no 
contato e comunicação, fazendo com que os pais não soubessem com agir. 
Apontou ainda a existência de pais de crianças autistas com outros filhos não 
autistas, o que evidência que uma relação de causalidade é, no mínimo, não 
necessária. 
A despeito dos esforços de Kanner e outros cientistas, o dano causado a 
cultura geral acerca do autismo foi grande e atrasou o desenvolvimento dos 
 
12 
 
processos diagnósticos e tratamentos, na medida em que precisou ser refutado 
mais de uma vez. 
Ao longo dos anos 1970, diversos estudos foram promovidos, 
confirmando o posicionamento de Kanner de que o autismo é uma condição 
neurobiológica, comportamental ou uma manifestação dos dois aspectos 
(evidenciando sua visão de que o autismo é uma condição neurobiológica em 
seus posicionamentos). O consenso moderno é de que o autismo é uma 
condição predominantemente genética, embora a complexidade da condição 
ainda não tenha permitido uma compreensão de todos os elementos genéticos 
que a desencadeiam. Não obstante, a qualidade da relação entre a criança e a 
mãe é reconhecida como facilitadora do desenvolvimento em qualquer indivíduo, 
seja autista ou não. 
A confusão entre autismo e esquizofrenia infantil, no entanto, só foi 
desfeita em 1980, coma publicação da terceira revisão do Manual Diagnóstico 
e Estatístico de Transtornos Mentais, em que foram incluídas as classificações 
mais conhecidas Síndrome de Asperger, Autismo, Síndrome de Rett e 
Transtorno Desintegrativo da Infância. 
Em termos culturais e sociológicos, o autismo desenvolveu-se em duas 
compreensões, de um lado temos os grupos que advogam e esperam por uma 
cura para o autismo e de outro lado aqueles que advogam pela compreensão de 
que os TEA são padrões de funcionamento atípico, que não dependem de cura, 
mas de compreensão. 
 
Resumo da aula 1 
Nesta primeira aula procuramos compreender as características 
fundamentais que identificam os TEA, de modo a compreender o conceito geral 
de autismo, investigando seus aspectos históricos e a formação da ideia, que 
passa por diversos rótulos ao longo dos anos, até culminar no que hoje 
chamamos de Transtornos do Espectro Autista. 
Atividade de Aprendizagem 
 
13 
 
Segundo Hans Asperger "pessoas autistas tem seu lugar no 
organismo social. Eles cumprem bem seu papel, talvez melhor 
do que qualquer outro, e estamos falando de pessoas que, 
enquanto crianças, tiveram a maior das dificuldades e 
causaram incontáveis preocupações aos seus cuidadores" 
(ASPERGER, 1944, p.37). Discorra sobre o tema. 
 
 
Aula 2 - Classificações e manuais diagnósticos 
Apresentação da aula 2 
Nesta aula serão apresentadas as classificações dos TEA de acordo com 
os dois principais manuais diagnósticos da atualidade, o DSM-5 e o CID-10. 
Esclarecendo a evolução da classificação e como as revisões mais recentes do 
DSM influenciaram o CID. 
 
2. Classificações e manuais diagnósticos 
Manuais diagnósticos são mecanismos utilizados para classificar, 
identificar e orientar quanto ao diagnóstico de patologias e condições as quais 
os seres humanos estão sujeitos, com vias a padronizar, dentro do possível e 
respeitando as necessidades e particularidades de cada caso, os métodos 
diagnósticos utilizados em diferentes clínicas e por diferentes profissionais. 
A comunidade internacional conta com dois principais manuais 
diagnósticos que incluem os TEA e cujo uso é bem difundido: 
 Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth 
Edition (DSM-5) - Manual de Diagnóstico e Estatística dos 
Transtornos Mentais - 5.ª edição: Desenvolvido e editado pela 
Associação Americana de Psiquiatria (APA na sigla em inglês - 
American Psychiatric Association). Mais utilizado nos Estados 
Unidos da América, mas com influência em diversos outros países, 
serve de base para recomendações de tratamentos e mesmo 
pagamento de serviços de saúde. 
 
14 
 
 International Statistical Classification of Diseases and Related 
Health Problems 10th revision (ICD) - Classificação Estatística 
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a 
Saúde, 10ª revisão: Uma das classificações base da Família 
Internacional de Classificações da Organização Mundial da Saúde 
(OMS – WHO na sigla em inglês), organização responsável por sua 
publicação. Devido a influência da OMS nos serviços de saúde de 
todo o mundo e ao fato de a CID utilizar um código único de seis 
dígitos para cada condição classificada, o que facilita a 
demarcação de tais condições em documentos oficiais, essa é a 
classificação mais utilizada no cotidiano profissional. Seu uso 
engloba, desde o pagamento de indenizações, até metodologias 
de prevenção de acidentes de trabalho. 
 
A Associação Americana de Psiquiatria instituiu no DSM-5 uma 
classificação em espectro que permite o uso das diversas categorias de 
condições de acordo com suas características identificadoras em uma mesma 
classificação. O CID-10 opta pelo uso de uma classificação para cada categoria 
de condições. Nesse contexto ambas as classificações têm como objetivo 
diagnosticar os indivíduos com base na grande variação e complexidade da 
condição 
Saiba Mais 
 
De acordo com o site da OMS, a revisão que se tornará a CID-
11, está atualmente em processo. Os documentos referentes 
às reuniões e relatórios que devem servir de base para a nova 
versão estão disponíveis no site da OMS. 
Link: http://www.who.int/classifications/en/ 
 
2.1 Classificação dos TEA no DSM 
Antes de 2013, o DSM-4 classificava o autismo como uma das PDDs 
(Pervasive Developmental Desorders), conhecidas em português como TGD 
 
15 
 
(Transtorno Global do Desenvolvimento), ou, um nome menos utilizado, mas que 
é mais próximo da expressão em inglês, Distúrbio Abrangente do 
Desenvolvimento. TGD também inclui a Síndrome de Asperger e a Childhood 
desintegrative disorder, bem como as formas de TGD sem outra classificação, 
PDD-NOS. Assim, a classificação ficava em três condições principais, embora 
outras fossem reconhecidas. 
 Autismo: removido da comunicação e interação social. É a 
classificação principal do espectro, quando identificados todos os 
sinais e sintomas; 
 Asperger: com algumas características do autismo, especialmente 
no que diz respeito a dificuldades com a comunicação não verbal, 
a interação e a integração social, porém não apresentam atrasos 
ou dificuldades significativas com relação ao desenvolvimento 
cognitivo e da linguagem. Destarte, Síndrome de Asperger era 
descrita por alguns autores como uma forma de autismo de alta 
funcionalidade (high-functioning autism). 
 Childhood Desintegrative Disorder ou Transtorno 
Desintegrativo da Infância: trata do aparecimento tardio do atraso 
do desenvolvimento. De fato, trata-se de uma regressão. Esses 
indivíduos parecem desenvolver-se normalmente até certa idade, 
tendo então um retrocesso em seu desenvolvimento em qualquer 
momento entre os 2 e 10 anos, o que se evidencia como uma 
aparente perda das habilidades e capacidades sociais e de 
comunicação. 
 PDD-NOS (Pervasive Developmental Disorder – Not Otherwise 
Specified) ou Transtorno Global do Desenvolvimento (TGD): 
Sem outra Especificação. É uma categoria criada para aqueles 
indivíduos que apresentam características suficientes para serem 
classificadas dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento, 
mas não todas as ca-racterísticas e especificações diagnósticas 
para serem classifica-dos em uma das outras três categorias. 
 
 
16 
 
A pesquisa e a prática clínica mostraram, no entanto, que os diagnósticos 
com categorias separadas e específicas não eram consistentes entre as 
diferentes clínicas e profissionais, uma vez que todas as quatro categorias 
parecem ter sinais e sintomas muito próximos, além da presença da PDD-NOS 
como uma espécie de carta curinga dos diagnósticos incomodar o senso de rigor 
que permeia a área da saúde. 
Essa foi uma das razões que levaram à produção da quinta edição do 
DSM. A partir de 2013, passamos a utilizar uma nova classificação para essas 
condições, que também influenciou a décima edição do CID, utilizada 
atualmente. 
O DSM utiliza como classificação Transtornos do Espectro 
Autista (TEA), enquanto o CID trabalha com Transtornos 
Globais do Desenvolvimento (TGD). 
 
 
O objetivo foi tornar os diagnósticos mais claros e simples, possibilitando 
a consistência entre as clínicas e profissionais que utilizam o manual, mas 
também foram incluídos aspectos comportamentais, que não estavam presentes 
nas edições anteriores. 
 
2.1.1 Novos critérios diagnósticos 
Uma das razões para as grandes mudanças nos critérios diagnósticos é 
a complexidade dos Transtornos do Espectro Autista, o que levou a muitas 
confusões no passado em termos de identificar-se uma causa comum a todos 
os indivíduos. Atualmente, pesquisadores tendem a pensar em um conjunto de 
causas que determinam as alterações neurobiológicas dos TEA. 
Na edição número cinco, o DSM substituiu as quatro classificações por 
uma classificação distribuída em níveis. Autism Spectrum Disorder (ASD), em 
português Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma classificação que inclui 
todas as anteriores,mas que utiliza uma escala, para a qual se preferiu o termo 
"espectro", evidenciando a variação sutil que pode haver entre um nível e outro. 
 
17 
 
Esses níveis diferenciam-se com base na severidade ou comprometimento de 
duas áreas principais: 
 Déficits em interação social e comunicação; 
 Comportamentos, interesses e atividades repetitivas ou restritivas. 
 
Essas áreas, por sua vez, são divididas em categorias. Para a área déficits 
em interação social e comunicação existem quatro categorias: 
 Reciprocidade social: Como o indivíduo responde a interações 
sociais e se compreende a ideia de reciprocidade no 
comportamento social, ou seja, como o comportamento de uma 
pessoa influencia o comportamento da outra com a qual interage. 
Como exemplo dessa categoria tem-se os casos em que o 
indivíduo prefere ficar sozinho e não se envolver na interação social 
ou nas brincadeiras infantis com outros indivíduos da mesma faixa 
etária. 
 Atenção conjunta: O interesse de compartilhar algo com os outros 
indivíduos, independente de faixa etária. Geralmente, as primeiras 
pessoas com as quais o indivíduo compartilha seu interesse, 
surpresa ou curiosidade por objetos e fenômenos, é com os país. 
No caso de déficit nessa categoria, a criança não irá compartilhar 
esse interesse, o que não significa que ela não apresenta 
interesse, mas apenas desinteresse em compartilhar. 
 Comunicação não verbal: Inclui o uso da comunicação não verbal 
e a interpretação da comunicação não verbal dos outros indivíduos. 
Por exemplo, crianças típicas geralmente conseguem perceber que 
os pais não aprovam uma atitude por meio da expressão não verbal 
dos pais (braços cruzados, rosto fechado, etc.), crianças com 
déficit nesta categoria podem não ser capazes de interpretar essas 
dicas não verbais. Em termos de uso da comunicação não verbal, 
a criança pode, por exemplo, não compreender que esticar os 
braços indica ao adulto o desejo da criança de ser levada ao colo. 
 
18 
 
 Relacionamentos sociais: Trata da capacidade de desenvolver e 
manter relacionamentos com outros indivíduos, especialmente 
amigos, uma vez que os TEA aparecem na infância. Assim talvez 
a criança tenha dificuldade em fazer amigos ou apresentar 
comportamentos que afastam os amigos. 
 
Na área comportamentos, interesses e atividades repetitivas ou restritivas 
temos uma grande gama de comportamentos, interesses e atividades, que 
podem ser tão extensas quanto a natureza humana permite. Alguns mais 
comuns/conhecidos ou menos. Entre esses encontramos: 
 Alinhar brinquedos e outros objetos de forma ritualística; 
 Agitar as mãos; 
 Imitar palavras e frases (ecolalia); 
 Fixação em determinadas rotinas e dificuldade de 
adaptar-se a mudanças de rotinas simples; 
 Pensamento restritivo, conhecimento específico; 
 
Como um espectro, os indivíduos podem apresentar déficits em uma ou 
mais dessas áreas, variando em quão comprometida está a habilidade relativa 
àquela área (severidade). Cada indivíduo nos TEA terá um espectro único de 
sintomas e sinais. O DSM-5 sugere que os profissionais procedam da seguinte 
forma: 
 Observação dos comportamentos; 
 Ouvir o que outros observam em casa e na escola; 
 Apresentar os níveis de severidade em cada uma das áreas e 
não apenas um nível geral para determinar quanto apoio o 
indivíduo irá necessitar. 
 
Os níveis são distribuídos em uma escala de 1 a 3, identificam com quanto 
apoio o indivíduo necessita, sendo 1 equivalente a "requiring support", 2 equivale 
 
19 
 
a "requiring substantial support" e 3 equivale a "requiring very substantial 
support". 
A severidade de nível 1 pode indicar que o indivíduo precisa de algum 
suporte, mas é capaz de expressar a habilidade referente à categoria avaliada. 
Por exemplo: Um indivíduo com nível 1 em comunicação social, pode apresentar 
a capacidade de formular sentenças completas, porém com dificuldade de 
estabelecer e manter conversas. Na área de comportamentos restritivos e 
repetitivos, o indivíduo pode apresentar dificuldade em passar de uma atividade 
para outra quando não incluídas em uma rotina específica e repetitiva. 
A severidade de nível 3, por outro lado, indica que o indivíduo necessita 
de muito apoio e observação. Em termos de comunicação social, o indivíduo 
pode ser difícil de compreender e incapaz de formular muitas palavras 
compreensíveis, além de raramente iniciar a interação com outros indivíduos. 
Em termos de comportamentos restritivos e repetitivos, pode apresentar 
resistência extrema a mudanças, em seu comportamento e nas atividades que 
realiza, o que interfere severamente em suas atividades cotidianas, como vestir-
se e alimentar-se. 
Espera-se que com essa escala se possa apresentar diagnósticos mais 
precisos e úteis para esses indivíduos, possibilitando classificar cada um de seus 
déficits. Os indivíduos anteriormente classificados como portadores da Síndrome 
de Asperger irão ser classificados como mais próximos da severidade de nível 1 
para a maior parte das categorias, podendo ser, inclusive, classificados como 
não possuindo severidade para algumas das categorias. 
Três aspectos da classificação no manual nos permitem compreender a 
definição dos TEA: 
 “persistent difficulties with social communication and social 
interaction” (dificuldades persistentes com comunicação social e 
interação social); 
 “restricted and repetitive patterns of behaviours, activities or 
interests” (padrões de comportamento, atividades e interesses 
restritos e repetitivos); 
 
20 
 
 “limit and impair everyday functioning” (que limitam o 
funcionamento cotidiano). 
 
2.1.2 Transtorno da comunicação social (pragmática) 
O que acontece quando o indivíduo apresenta dificuldades ou déficits na 
interação e comunicação social, mas não apresenta qualquer dificuldade 
relacionada a comportamentos e padrões repetitivos e restritivos? Essa foi uma 
pergunta e também um desafio comum para os profissionais que utilizavam o 
DSM-4. Para solucionar essa questão, em sua busca por diagnósticos mais 
precisos e consistentes, o DSM-5 inclui uma condição chamada "transtorno da 
comunicação social" caracterizada pela dificuldade com o uso da linguagem 
social e habilidade de comunicação. 
 
2.2 Classificação CID-10: F84 
O CID-10 trabalha com perfis autistas enquanto o DSM, cuja quinta edição 
influenciou a décima edição do CID, trabalha com os níveis de 
comprometimento, porém, o CID-10 utiliza o termo Transtornos Globais do 
Desenvolvimento. Dentre os perfis apresentados encontramos "autismo infantil", 
"Síndrome de Asperger" e "autismo atípico", todos inclusos sobre o termo 
Transtornos Globais do Desenvolvimento, que é definido como: 
Grupo de transtornos caracterizados por alterações qualitativas das 
interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por um 
repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. 
Estas anomalias qualitativas constituem uma característica global do 
funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões" (CID-10 F84). 
 
 
Em sua quinta edição o DSM substituiu as quatro classificações por uma 
classificação em níveis, que estabelecem o comprometimento de cada 
habilidade para criar um espectro da condição do indivíduo. Sobre essa mudança 
evidencia-se a marca a introdução do termo Autism Spectrum Disorder (ASD), 
em português Transtorno do Espectro Autista (TEA). Inclui as classificações 
anteriores em uma escala, ou "espectro", evidenciando a variação sutil que pode 
haver entre os níveis. 
 
21 
 
Vale reforçar que ainda há alguma inconsistência entre o DSM e o CID, 
mais visivelmente quanto ao uso do termo TGD pelo CID-10 e TEA pelo DSM. 
Essas inconsistências devem ser reduzidas na edição onze do CID, cuja 
publicação e divulgação está prevista para 2018. 
O manual diagnóstico CID define Transtornos Globais do 
Desenvolvimento como: 
 [...]Grupo de transtornos caracterizados por alterações qualitativas 
das interações sociais recíprocas e modalidades de comunicação e por 
um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e 
repetitivo. Essas anomalias qualitativas constituem uma característica 
global do funcionamento do sujeito, em todas as ocasiões. (CID-10 
F84). 
 
Ainda existe inconsistências entre o CID e o DSM, especialmente quanto 
ao uso do termo TGD pelo CID e TEA pelo DSM. Dentre os perfis apresentados 
encontramos "autismo infantil", "Síndrome de Asperger" e "autismo atípico" e ao 
todo o CID-10 possui oito perfis autistas dentro da classificação TGD (F84). 
 
2.2.1 Perfis autistas 
Mesmo que o CID-10 ainda priorize o uso do termo TGD, devido às 
mudanças de classificações e as dificuldades próprias do diagnóstico, o termo 
TEA tem se tornado o mais utilizado. A despeito dessa disputa, o CID-10 prevê 
o uso de termo adicional, para uma melhor tipificação das necessidades e do 
perfil específico de cada indivíduo, considerando que, além das variações dentro 
do espectro, é preciso ter em mente que os indivíduos autistas não estão livres 
de apresentarem dificuldades de aprendizagem, problemas de saúde mental e 
outras condições, como qualquer indivíduo. 
Os perfis são: 
 Síndrome de Asperger; 
 Autismo Infantil; 
 Autismo Atípico; 
 Síndrome de Rett; 
 Transtorno Desintegrativo da Infância; 
 
22 
 
 Transtorno com Hipercinesia associada a retardo mental e a 
movimentos estereotipados; 
 Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD); 
 Transtornos Globais não Especificados do Desenvolvimento. 
Enquanto o DSM-5 instituiu uma classificação em espectro que permite o 
uso das diversas categorias de condições, de acordo com suas características 
identificadoras em uma mesma classificação, o CID-10 opta pelo uso de uma 
classificação para cada categoria de condições. Ambas as classificações, no 
entanto, têm como objetivo classificar, da melhor forma possível, os indivíduos, 
com base na grande variação e complexidade da condição. 
 
Resumo da aula 2 
Nesta aula evidenciou-se que os manuais diagnósticos constituem-se de 
classificações das doenças e condições as quais os seres humanos estão 
sujeitos. Abordaram-se também as bases conceituais e identificação (as 
diferentes compreensões dos TEA), explorando as classificações dos TEA de 
acordo com os dois principais manuais diagnósticos da atualidade, o DSM-5 e o 
CID-10, evidenciando como essas classificações evoluíram nas décadas 
recentes, influenciando-se mutualmente. 
Atividade de Aprendizagem 
Considerando as diferenças entre o modelo de classificação do 
DSM-5 e do CID-10, discorra a respeito da diferença entre 
Transtorno do Espectro Autista e Transtornos Globais do 
Desenvolvimento, em termos de classificação e diagnóstico, 
investigando quais as diferenças práticas para o profissional 
que deve interagir com os indivíduos a partir de seus 
diagnósticos. 
 
 
 
 
Aula 3 – Etiologia e epidemiologia 
 
23 
 
Apresentação da aula 
Nesta aula exploraremos os aspectos etiológicos e epidemiológicos dos 
Transtornos do Espectro Autista. Quais são as causas e qual a abrangência da 
ocorrência dos casos de autismo, bem como a evolução de sua abrangência. 
 
3. Etiologia e epidemiologia 
Atualmente, quando tratamos conjuntamente das causas e da quantidade 
de casos de qualquer condição ou patologia, é comum que tenhamos melhor 
capacidade diagnóstica do que tivemos no passado. Com o progresso científico 
e clínico, podemos hoje diagnosticar quadros impossíveis no passado e 
distinguir condições entre si de modo muito mais preciso. Isso levanta a questão 
motivadora da pesquisa epidemiológica em TEA: “estamos experenciando um 
aumento dos casos de TEA e uma maior capacidade diagnóstica ou estamos 
apenas com uma população maior e, consequentemente, com mais casos?”. 
 
3.1 Etiologia 
A causa do autismo é talvez a questão mais relevante em toda a história 
da condição. Na história da medicina, o estudo das causas (etiologia) sempre foi 
de importância crucial, uma vez que, para a maioria dos casos, compreendida a 
causa podemos desenvolver tratamentos e métodos de prevenção mais 
eficazes. Mesmo para os grupos de defendem que o autismo não deve ser 
tratado como uma doença, mas como um padrão de funcionamento atípico, a 
compreensão das causas ainda é relevante, na medida em que pode confirmar 
a tese do grupo e, na hipótese menos produtiva, tipificar melhor os indivíduos 
com TEA. 
[...] o autismo e os transtornos do espectro do autismo (TEA) possuem 
as mais fortes evidências de terem bases genéticas (GUPTA & STATE, 
2006, p. 30). 
 
Nesse contexto os elementos que dão suporte a essa afirmação podem 
ser os fatores ambientais foram considerados e descartados em grande medida 
 
24 
 
e as evidências relacionadas aos fatores sociais e relacionamento com os pais 
nunca foram encontradas. 
Ao longo das décadas diversas hipóteses foram levantadas para a origem 
do autismo. Fatores ambientais foram considerados e descartados em grande 
medida. A educação no seio familiar e a forma como se relacionam os pais e os 
indivíduos autistas foi questionada e evidências suficientes nunca foram 
encontradas para relacionar, rigorosamente, fatores socioculturais ao 
desenvolvimento dos TEA. 
Por outro lado, na década de 1970, estudos demonstraram que o autismo 
era uma condição majoritariamente neurobiológica, seguindo na esteira das 
ideias do primeiro a utilizar o termo em inglês, Kanner. Na década de 1970, 
estudos demonstraram que o autismo tinha causas principalmente 
neurobiológicas. Atualmente, sabe-se que o desenvolvimento neurológico está 
ligado tanto a fatores ambientais quanto genéticos. Nesse contexto faz-se 
importante explorar o caráter genético dos TEA, pois é de suma importância para 
compreender suas causas. 
Atualmente, com o desenvolvimento do conceito de neuroplasticidade na 
década de 1990, entre outras descobertas, sabemos que o desenvolvimento do 
cérebro e das habilidades humanas está relacionado a fatores tanto genéticos 
quanto ambientais. Dependendo da exposição dos indivíduos durante a 
gestação e primeira infância a fatores determinantes, podemos ter alterações no 
desenvolvimento típico desses indivíduos, independentemente de predisposição 
genética/hereditária. 
Nesse contexto, dizer que os TEA são neurobiológicos já não é suficiente 
e precisamos explorar seu caráter genético, para podermos compreender as 
suas causas. Essa tarefa, no entanto, não é das mais simples. 
 
3.1.1 Conjunto de causas 
Embora existam indicadores que levam a crer que o autismo é 
predominantemente genético, a teoria acerca de sua causa ainda é incompleta. 
Dada a complexidade das condições do espectro, muitos pesquisadores estão 
inclinados à compreensão de que os TEA possuem um conjunto múltiplo de 
 
25 
 
causas ocorrendo juntas e assim determinando as alterações neurológicas que 
os caracterizam. 
 
3.1.2 Fatores genéticos 
O consenso atual, no entanto, é de que os fatores genéticos são os mais 
relevantes. De acordo com Hallmayer (2011), baseado em estudos recentes com 
gêmeos, a heritabilidade do autismo determina de 60 a 90% dos casos. Em 
irmãos não gêmeos o risco cai para 30%. 
A despeito desses estudos, a maioria dos casos de TEA aparece em 
indivíduos sem histórico familiar de autismo. Uma das teorias levantadas em 
relação a esse fato é a de que o aparecimento dos TEA pode ter relação com 
mutações nas células reprodutivas. 
Essa teoria tem como evidência dois elementos: 
 Indivíduos do espectro autista tendem a ser até 20 vezes 
menos fecundos do que os indivíduos neurotípicos, reduzindo 
assim a possibilidade de transmissão dos genes mutantes ao 
longo das gerações da família; 
 Mutações no esperma se acumulam ao longo da vida, sendo 
que em pais mais velhos há uma tendência maior a mutações, 
ao mesmotempo em que a possibilidade de ter um filho com 
TEA aumenta conforme os pais envelhecem. 
 
Embora os primeiros genes a contribuir com o risco de desenvolvimento 
do autismo tenham sido identificados ainda na década de 1990, apenas com o 
melhor desenvolvimento da tecnologia, a partir de 2000, foi possível observar o 
papel das mutações de novo, nos casos de autismo. 
Vocabula rio 
Quando há uma mutação que não foi herdada dos pais, 
chamamos de mutação de novo. (PETRIN, 2015). 
 
 
26 
 
 
Estudos recentes, como os apresentados por Sebat (2007) e Levy (2011), 
evidenciam que a presença de mutações de novo em indivíduos autistas pode 
ser até quatro vezes maior do que em parentes não autistas e grupos de controle 
não relacionados. Dessa forma, entende-se que as mutações de novo podem 
ser responsáveis por até 15% dos casos de TEA conhecidos. 
Embora relevantes, essas descobertas não resolvem a questão da causa 
do autismo, uma vez que os fatores genéticos identificados não são específicos 
do autismo, podendo aparecer em outros indivíduos, com ou sem diagnóstico 
clínico de TEA ou outra condição. 
 
3.1.3 Fatores ambientais 
Em termos ambientais, tem-se investigado a associação dos TEA com 
fatores pré-natais, perinatais e pós-natais. Muitos desses fatores não são 
exclusivos dos TEA, mas aumentam o risco de diversos distúrbios e transtornos. 
Entre esses fatores encontramos infecções virais, como a rubéola e o 
citomegalovírus, idade avançada dos pais, exposição a metais pesados como o 
mercúrio, que é conhecido por causar danos neurológicos e até mesmo 
problemas com hormônio da tiroide nas mães. 
Embora investigados rigorosamente, nenhum desses fatores é 
considerado causador do autismo. A exposição a metais pesados, por exemplo, 
provou-se igual em indivíduos com autismo e grupos de controle não afetados 
em estudos promovidos pela OMS. 
A maioria dos fatores ambientais ainda é considerada apenas co-
ocorrente ou indicadora, sendo que pesquisas quanto a sua efetiva participação 
no desenvolvimento dos TEA ainda precisam ser melhor desenvolvidas. 
Diversas hipóteses pós-natal, como a teoria da mãe-geladeira de Bruno 
Bettelheim, têm sido descartadas como sendo meras suposições sem evidência 
ou má interpretação dos dados coletados no ambiente de indivíduos do espectro. 
Entre os fatores ambientais investigados como causadores dos TEA 
encontram-se as infecções virais, especialmente de rubéola, exposição a metais 
 
27 
 
pesados e outros agentes contaminantes, a idade avançada dos pais, entre 
diversos outros fatores. Nesse contexto a posição científica atual acerca desses 
fatores reforça que os fatores ambientais são considerados co-ocorrentes ou 
indicadores, mas nenhum fator ambiental possui evidências suficientes de ser 
uma causa. 
 
3.1.4 A controvérsia das vacinas 
A hipótese das vacinas apareceu principalmente porque os TEA 
costumam se manifestar por volta da mesma idade em que as crianças são 
expostas às vacinas, o que levou alguns grupos a estabelecerem uma relação 
indutiva entre os dois eventos. 
Nos anos 1990, um estudo em particular estimulou a controvérsia, quando 
Wakefield et al. (1998), publicou estudos relacionando a vacina tríplice viral com 
casos de autismo. Os estudos apresentados no artigo de 1998 tratavam de doze 
indivíduos com sintomas e sinais de autismo que se tornaram aparentes após a 
vacina ser ministrada. 
Em 2004, dez (10) dos doze (12) coautores de Wakefield formalmente se 
retrataram pela publicação, assim como a revista científica que publicou o artigo. 
Uma investigação promovida pela autoridade médica dos Reino Unido culminou 
na exclusão do registro de Wakefield, considerando seus estudos fraudulentos, 
entre outras acusações de má-conduta médica. 
Nos anos 1990, um estudo produzido por Wakefield e outros doze autores 
indicou uma relação entre a vacina tríplice viral e os casos de autismo. Embora 
Wakefield tenha seu registro removido pela autoridade médica do Reino Unido 
por falsificação de dados, suas ideias persistiram e precisaram ser refutadas por 
estudos sérios. Devido à grande repercussão de movimentos que defendiam a 
ideia de que as vacinas, ou o timerosal anteriormente presente nelas, causam 
autismo, a Organização Mundial da Saúde produziu um relatório baseado em 
oito estudos rigorosos acerca da matéria, com vistas a analisar e resolver a 
questão. Decorrentes desse fato o grupo instituído pela OMS para investigar a 
questão concluiu que não havia evidências suficientes para ligar imunização aos 
TEA. Com base na revisão de estudos, o grupo responsável pelo relatório 
 
28 
 
concluiu não haver evidências para apoiar a tese de que a imunização das 
crianças seria um fator causal do autismo. Adicionalmente, estudos comparando 
indivíduos que foram imunizados com vacinas contendo timerosal e indivíduos 
que foram imunizados com vacinas sem timerosal não mostraram variação 
significativa no risco relativo. 
 
3.2 TEA em números 
De acordo com a revisão global de Mayada et al. (2012), a média dos 
casos de Transtorno do Espectro Autista no mundo é de 62 para cada dez mil 
indivíduos. O estudo ressalta, no entanto, que essa média pode variar, uma vez 
que países subdesenvolvidos e em desenvolvimento não apresentam dados 
rigorosos quanto ao registro dos casos de TEA. 
Em termos totais, até 2015 o autismo afetou 24,8 milhões de pessoas no 
mundo, enquanto a Síndrome de Asperger afeta 37,2 milhões de pessoas. 
Considerando outras classificações, estima-se que os TEA afetam mais de 70 
milhões de indivíduos ao redor do mundo. 
Os estudos apontam ainda que o autismo é até 4,3 vezes mais comum no 
sexo masculino do que no feminino. Isso significa que para cada 70 indivíduos 
do sexo masculino 1 será afetado, enquanto para 135 indivíduos do sexo 
feminino 1 será afetado, o que mostra que, apesar da diferença, os números não 
são irrelevantes para a população feminina. Uma das teorias para essa variação 
é a de que indivíduos do sexo feminino são menos diagnosticados, porém, 
justamente pela característica de baixo diagnóstico, essa é uma teoria difícil de 
confirmar. 
A teoria baseia-se na ideia de que os sintomas se manifestam de modo 
diferente entre os gêneros, sendo que indivíduos do sexo feminino demonstram 
menor quantidade de comportamentos atípicos, assim, recebendo o diagnóstico 
menos frequentemente. Porém, em pessoas do sexo feminino os aspectos 
cognitivos tendem a ser mais graves do que em indivíduos do sexo masculino. 
Entre 1996 e 2007, observou-se um crescimento drástico dos casos de 
autismo. Parte desse crescimento é atribuído a mudanças diagnósticas, mas as 
causas, em geral, ainda são desconhecidas. 
 
29 
 
 
3.2.1 Estudos epidemiológicos no Brasil 
Com base nas estatísticas globais podemos estimar a quantidade de 
pessoas que apresentam TEA no Brasil abaixo dos 20 anos entre 400 e 600 mil. 
Na população abaixo dos cinco anos as estimativas são de 120 e 200 mil 
(MAYADA, 2012). 
 
3.3 Movimento dos Direitos Autistas 
Apropriando-se do conceito de neurodiversidade iniciou-se, nos anos 
1980, um movimento de anticura do autismo, considerando-o como uma 
diferença, uma variedade no padrão de funcionamento típico de pessoas e não 
como um transtorno, de modo que esse deveria ser aceito em nossa sociedade 
ao invés de curado. Com base nessa ideia surgiu a ARM, sigla em inglês para 
Movimento dos Direitos Autista. Entre as bandeiras desse movimento 
encontramos a defesa da ideia de que o comportamento dos indivíduos autistas, 
em uma perspectiva de neurodiversidade, deve ser entendido como um 
comportamento normal, apenas diferente do típico, de modo que as terapias e 
tratamentos não podem focar em promover a imitação de comportamentos, o 
que poderia fazer o autista repetir ações por medo ou sem compreender o motivo 
de fazê-lo. Por outro lado, sugerem terapias e tratamentos focados emcopiar 
comportamentos, mas com o foco na compreensão da razão de ser desses 
comportamentos, de acordo com a forma como cada indivíduo autista manifesta-
se capaz de compreender, interagir e decidir. 
Pretendem assim defender a maximização da autonomia e dignidade 
desses indivíduos, combatendo duas posições principais: 
 Perspectiva padrão: A visão de o autismo originar-se de uma 
falha genética e deveríamos encontrar o "gene autista"; 
 Teoria ambiental: A ideia de que o autismo é causado por fatores 
ambientais, como vacinas e poluição, de modo que eliminando tais 
fatores poderíamos curar os casos atuais e impedir casos futuros. 
 
 
30 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: https://7minutos.com.br/wp-content/uploads/2016/02/Autismo.jpg 
 
Saiba Mais 
 
 
 
NEURODIVERSIDADE 
Neurodiversidade é um conceito segundo o qual diferenças 
neurológicas devem ser reconhecidas e respeitadas como 
qualquer outra variação humana. Essas diferenças podem 
incluir dispraxia, dislexia, transtorno do déficit de atenção e 
hiperatividade, discalculia, espectro do autismo, síndrome de 
Tourette e outros rótulos. 
Para muitas pessoas autistas, a neurodiversidade é vista 
como um conceito e movimento social que defende a visão do 
autismo como uma variação da conectividade cerebral ao 
invés de como doença. Desta forma, os ativistas da 
neurodiversidade rejeitam a ideia de que o autismo deva ser 
curado, defendendo a celebração das formas de comunicação 
e expressão autísticas e a promoção de sistemas de apoio que 
permitam às pessoas autistas a viverem tal qual pessoas 
autistas. 
 
Fonte: Simpósio Nacional Sobre Neurodiversidade da 
Universidade de Siracusa (National Symposium on 
Neurodiversity at Syracuse University) 
 
Disponível no acesso: 
https://autismoemtraducao.com/neurodiversidade/ 
 
 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
 
31 
 
Amplie seus estudos lendo o artigo Deficiência, autismo e 
neurodiversidade, de autoria de Francisco Ortega. O artigo 
analisa o surgimento recente do movimento de 
neurodiversidade, situando-o no contexto dos estudos sobre 
a deficiência e da organização política de deficientes físicos. 
 
Disponível em: 
http://saudepublica.bvs.br/pesquisa/resource/pt/lil-502492 
 
 
 
 
A principal informação que os estudos nos apresentam, de maneira geral, 
é que ainda precisamos de um volume maior de pesquisa e desenvolver a 
compreensão das causas e abrangência do autismo. Países em 
desenvolvimento como o Brasil e aqueles subdesenvolvidos precisam 
desenvolver seus registros, para que possamos ter uma melhor visão da 
abrangência mundial dos casos de autismo. 
 
Resumo da aula 3 
Nesta aula exploramos as causas conhecidas dos Transtornos do 
Espectro Autista, bem como os estudos e teorias levantados nessa área. 
Investigamos também a abrangência dos casos em nível mundial e como essa 
abrangência se relaciona com a etiologia dos casos conhecidos. 
Atividade de Aprendizagem 
Considerando que “[...] o autismo e os transtornos do espectro 
do autismo (TEA) possuem as mais fortes evidências de terem 
bases genéticas” (GUPTA & STATE, 2006, p. 30). Discorra à 
respeito da relevância das pesquisas relacionadas aos 
ambientais dos TEA e seu papel na compreensão dos 
transtornos do espectro. 
 
 
Aula 4 – Identificação precoce e programas de intervenção 
Apresentação da aula 4 
 
32 
 
Nesta aula serão explorados os programas de intervenção conhecidos e 
os efeitos da identificação precoce dos Transtornos do Espectro Autista. 
Considerando que não há cura conhecida para o autismo, compreendendo o 
valor das intervenções e quanto benefício os indivíduos podem adquirir com elas 
e as suas principais ferramentas. 
 
4. Identificação precoce e programas de intervenção 
Embora não se conheça cura para o autismo, indivíduos caracterizados 
no primeiro nível do espectro, aqueles que requerem pouco ou nenhum suporte 
para terem uma vida independente, podem experimentar aumento significativo 
em suas capacidades e redução dos sintomas ao longo de seu desenvolvimento. 
Sabe-se ainda que indivíduos com alto QI tendem a responder melhor aos 
tratamentos e extrair melhores benefícios ao longo do tempo. 
 
4.1 O objetivo das intervenções 
A ideia de “ter uma vida independente” é um dos principais elementos das 
intervenções em indivíduos do espectro autista e se constitui como o principal 
objetivo. Trata-se de desenvolver as capacidades cotidianas e de interação, 
como vestir-se, alimentar-se e comunicar minimamente suas necessidades e, 
dentro do possível, adquirir conhecimento. 
Considerando que nem todos os casos podem ter melhoras significativas 
a ponto de garantir uma vida completamente independente, o objetivo se divide 
em objetivos menores, mas extremamente relevantes para os indivíduos e suas 
famílias. Entre esses objetivos destacam-se: 
 Redução dos sintomas associados; 
 Independência funcional; 
 Aumento da qualidade de vida; 
 Redução da tensão familiar. 
 
4.2 Metodologia 
 
33 
 
As intervenções reconhecidas como efetivas, com base em evidências, 
podem variar em método e forma de aplicação. De fato, entende-se que elas 
devem variar para se adaptarem às necessidades singulares de cada indivíduo, 
mas, em geral, seguem um padrão de funcionamento que permite desenvolver 
as habilidades específicas necessárias para cada indivíduo. Aspectos desse 
padrão incluem uma abordagem psicoeducacional envolvendo habilidades 
cognitivas, sociais e de comunicação, a fim de desenvolvê-las ao mesmo tempo 
em que se minimizam os problemas comportamentais associados. 
As intervenções podem focar nas características dos TEA como um todo 
ou em déficits específicos, mas entende-se que quanto mais personalizada for a 
intervenção, melhor será o resultado. 
Amplie Seus Estudos 
 
 
Leia a matéria Autismo e escola: os desafios e a necessidade 
da inclusão, de autoria de Ana Basílio e Jéssica Moreira. A 
matéria aborda de forma direta os desafios encontrados no 
processo inclusivo. 
 
Disponível em: 
http://educacaointegral.org.br/reportagens/autismo-escola-os-
desafios-necessidade-da-inclusao/ 
 
 
 
4.3 Ferramentas de intervenção e o posicionamento profissional 
O cuidado mais importante que qualquer profissional ou grupo de 
profissionais pode ter com os indivíduos com TEA e sua família é provê-los com 
informações suficientes para que compreendam, o máximo possível, a condição 
do indivíduo. As informações precisam ser relevantes e esclarecedoras, os 
serviços oferecidos devem estar de acordo com as necessidades individuais de 
cada caso e o apoio às necessidades individuais deve ser prático, direto e 
efetivo. 
Sabendo das dificuldades que enfrentam indivíduos e famílias dos TEA, o 
cuidado mais importante que qualquer profissional ou grupo de profissionais 
deve ter com os indivíduos com TEA e sua família é provê-los com informações 
que permitam compreender a condição do indivíduo. É preciso que as famílias 
http://educacaointegral.org.br/reportagens/autismo-escola-os-desafios-necessidade-da-inclusao/
http://educacaointegral.org.br/reportagens/autismo-escola-os-desafios-necessidade-da-inclusao/
 
34 
 
compreendam que uma cura para os TEA ainda não está disponível e que não 
temos como antecipar essa possibilidade. Tal informação permitirá o 
consentimento informado quando da opção por tratamentos e programas de 
intervenção. 
Embora uma cura não esteja disponível, intervenções como os 
tratamentos comportamentais e programas para aquisição de habilidades, tanto 
para o indivíduo com TEA quanto para a família, podem oferecer importantes 
progressos, no sentido de que o indivíduo tenha uma vida o mais independente 
possível. 
A forma como os cuidadores e pessoas presentes nos ambientes se 
relacionam com o indivíduo com TEA pode ser crucial para sua capacidade de 
desenvolver habilidades de comunicação, linguagem e trato social. Quanto antes 
a família compreendera necessidade de envolvimento e interação com as 
ferramentas disponíveis, mais cedo serão desenvolvidas as potencialidades de 
cada indivíduo. 
Dada a complexidade das condições dos indivíduos do espectro, o 
cuidado com a saúde de portadores de TEA é complexo e requer que os serviços 
de saúde e educação se integrem, afim de promover melhores resultados e 
antever possíveis necessidades. Entre os serviços a serem incluídos destacam-
se: 
 Promoção da saúde; 
 Reabilitação; 
 Cuidado cotidiano; 
 Emprego; 
 Educação. 
 
Indivíduos com TEA possuem as mesmas necessidades de saúde e 
educação que outros indivíduos, desde uma simples gripe até problemas mais 
sérios. No entanto, possuem ainda maior possibilidade de desenvolverem 
condições associadas. Devido a limitações na comunicação e linguagem, tais 
indivíduos demandam maior atenção dos responsáveis para suas necessida-des 
de saúde, exigindo assim um maior conhecimento dos serviços disponíveis e das 
suas formas de utilização. 
 
 
35 
 
4.4 Ferramentas e métodos de intervenção 
Entre os métodos mais comumente utilizados para intervenção 
encontramos: 
 
 TEACCH: Programa personalizável de estrutura de ensino, 
o TEACCH foca em definir os comportamentos que devem 
ser trabalhados, indicando a melhor forma de fazê-lo. A 
partir disso treina-se as habilidades, até que o indivíduo se 
sinta confortável com elas e as utilize espontaneamente. 
 ABA: Busca associar o ambiente, o comportamento e a 
aprendizagem. Nesse método busca-se ensinar 
comportamentos adequados em substituição aos 
comportamentos identificados como inadequados em cada 
ambiente. A partir desse ensino se procura estimular a 
generalização de tais comportamentos, para que o indivíduo 
seja capaz de manifestá-los em outros ambientes. O método 
utiliza ainda reforço positivo imediato como estímulo para a 
prática dos comportamentos. 
 Método Son-Rise: Método lúdico baseado na integração 
com os comportamentos da criança, seguindo seus 
interesses e, só então, propondo atividades de modo que a 
criança considere divertido participar, voluntariamente, de 
tais atividades. Esse método foi desenvolvido, na década de 
1970, por pais de um indivíduo com TEA, razão pela qual é 
um método muito eficiente para ser aplicado em casa, por 
meio da família. 
 
Tem-se verificado que intervenções que incluem a família são mais 
efetivas em alguns casos. O modelo que utiliza os pais como fonte de 
treinamento, ensinando-lhes a aplicação da metodologia ABA, tem se mostrado 
efetivo, embora o ABA seja reconhecido como mais eficaz na identificação do QI 
e para diagnosticar a severidade do comprometimento das habilidades do 
indivíduo. 
 
 
36 
 
4.5 Terapias alternativas 
Como na maioria das condições, existem muitas terapias alternativas que 
tem sido utilizadas e testadas irresponsavelmente. Em muitos casos, essas 
terapias podem resultar em mais dano do que benefício e não devem ser 
implementadas a não ser que seu uso seja provado seguro e benéfico por meio 
de pesquisas rigorosas. 
 
4.6 Teoria da integração sensorial 
Fundada por A. Jean Ayres na década de 1960, a teoria da integração 
sensorial trata da forma como o cérebro processa a informação sensorial e como 
essa informação é utilizada para modular o comportamento, aprendizagem e 
emoções. Seu foco inicial era apenas tratar de casos de desordem sensorial, 
mas a teoria da integração sensorial evoluiu para uma base possível para 
ferramentas de intervenção em casos de TEA, especialmente nos casos em que 
não há comprometimento severo da capacidade motora ou comprometimento 
cognitivo severo. 
Em termos práticos, Ayres propôs que a integração sensorial atua no 
cérebro do indivíduo para que esse organize a sensação do corpo e do ambiente, 
sincronizando ambos e possibilitando uma maior eficácia no uso do próprio corpo 
em interação com o ambiente. Entre os princípios considerados essenciais para 
a condução das intervenções, a teoria de integração sensorial de Ayres baseia-
se em alguns deles como os: 
 
[...] realizados por profissionais qualificados, terapeuta ocupacional, 
fisioterapeuta e terapeuta da fala [...]. Ambiente seguro com 
equipamentos que possam estimular a sensação vestibular (o sistema 
vestibular é responsável por manter o equilíbrio, a postura e orientação 
do corpo no espaço) [...]. Sensações proprioceptivas (para detecção 
de movimento e posicionamento do corpo), sensações táteis e 
oportunidades para a práxis; atividades que promovam controle 
postural, motor oral e controle óculo motor, incluindo segurar-se contra 
gravidade e manter controle enquanto se move pelo espaço [...] 
(MAILLOUX, ROLEY; BRIAN, 2012, p. 7). 
 
 
Embora o método que utiliza a teoria da integração sensorial seja 
conduzido por profissionais, a participação dos pais e outros indivíduos que 
atuam próximo à criança tem papel fundamental na identificação de dificuldades 
 
37 
 
sensoriais, uma vez que essas dificuldades aparecem no cotidiano e podem ser 
difíceis de identificar em uma primeira avaliação profissional. 
Desenvolvimento da atenção, compreensão, coordenação motora, 
audição, controle de atitudes impulsivas, concentração e equilíbrio são parte dos 
exercícios incluídos nos métodos que se baseiam na teoria da integração 
sensorial. 
 
Ainda existe muito para se aprender acerca dos Transtornos do Espectro 
Autista, não apenas quanto à condição específica, mas quanto aos diferentes 
indivíduos e como cada um lida com a condição. Alguns indivíduos sentem-se 
perfeitamente cômodos com a ideia de autismo como um padrão de 
funcionamento atípico, porém normal, enquanto outros buscam, 
desesperadamente, uma cura. 
Independentemente das ferramentas, teorias ou programas selecionados 
e utilizados, as intervenções devem considerar e ser acompanhadas por ações 
para tornar mais acessíveis, apoiadores e inclusivos os ambientes nos quais 
esses indivíduos estão inseridos. 
 
Resumo da aula 4 
Considerando que não há cura conhecida para o autismo, nesta aula 
explorou-se os programas de intervenção mais comumente utilizados e os 
efeitos da identificação precoce dos Transtornos do Espectro Autista, 
evidenciando o valor das intervenções e quanto benefício os indivíduos podem 
adquirir com elas. 
Atividade de Aprendizagem 
Considerando as diversas ferramentas disponíveis para 
tratamento e intervenção nos Transtornos do Espectro Autista, 
discorra a respeito do papel dessas ferramentas e como 
devemos proceder o seu uso e seleção, sem ferir os direitos 
humanos (autonomia e dignidade) dos indivíduos sujeitos 
desses tratamentos. Considere ainda tratar-se 
majoritariamente de crianças, portanto com um fator dificultador 
em termos de capacidade de consentimento. 
 
38 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo da disciplina 
O papel da ciência é encontrar a verdade, independentemente de nossas 
pré-concepções. Se há fatores genéticos a serem descobertos e se esses fatores 
podem ser revertidos, devemos descobri-los, compreendê-los e aprender como 
manipulá-los. Não obstante, a autonomia e a dignidade dos indivíduos, conforme 
previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos, devem ser respeitadas 
em todas as instâncias. 
Como acontece em muitas outras condições, diversas terapias 
alternativas tem sido utilizadas, em muitos casos, por famílias desesperadas por 
uma cura e sem qualquer base científica. Essas terapias podem resultar em mais 
dano do que benefício. Tais terapias não devem ser implementadas a não ser 
que se mostrem benéficas. 
Evidenciou-se também a teoria da integração sensorial, fundada na 
década de 1960, por A. Jean Ayres, a qual trata da forma como o cérebro 
processa informação sensorial e como essa informação é utilizada para modular 
o comportamento, aprendizagem e emoções. A intervenção da família é 
fundamental para a identificação das dificuldades sensoriais (desenvolvi-mento 
da atenção,compreensão, coordenação motora estão entre as habilidades 
trabalhadas). Segundo Ayres, a integração sensorial possibilita um uso mais 
eficaz do próprio corpo. 
Nesta disciplina procuramos explorar todos os fatores que interferem na 
busca pela melhor compreensão dos TEA e pela identificação de suas causas e 
abrangências. Independentemente da posição que se assume quanto à natureza 
dos TEA, é importante promovermos uma vida independente e digna para os 
indivíduos do espectro e por isto falamos ainda em programas de intervenção, 
bem como seu papel e eficácia quando introduzidos precocemente. 
 
39 
 
 
 
 
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