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Indaial – 2020
Formas Democráticas 
De ParticiPação 
social e a meDiação 
Familiar, escolar e 
comunitária
Prof.ª Ângela Martins Rorato
Prof.ª Cláudia Deitos Giongo
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.ª Ângela Martins Rorato
Prof.ª Cláudia Deitos Giongo
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
R787f
 Rorato, Ângela Martins
 Formas democráticas de participação social e a mediação familiar, 
escolar e comunitária. / Ângela Martins Rorato; Cláudia Deitos Giongo. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
 182 p.; il.
 ISBN 978-65-5663-233-9
 ISBN Digital 978-65-5663-231-5
1. Mediação. - Brasil. I. Giongo, Cláudia Deitos. II. Centro Universitário 
Leonardo Da Vinci.
CDD 340 
aPresentação
Caro acadêmico, você está pronto para uma aventura na apreensão 
de novos conhecimentos? Realmente esperamos que sim, pois todo este 
conteúdo foi preparado com muito carinho. Antes de iniciarmos os estudos 
da disciplina Formas Democráticas de Participação Social e a Mediação Familiar, 
Escolar e Comunitária, apresentamos um breve currículo das professoras 
autoras deste livro didático.
A prof.ª Cláudia Deitos Giongo é mestre em Serviço Social pela 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2000). Possui 
graduação em Serviço Social pela Universidade Católica do Rio Grande do 
Sul (1984). Atua como professora universitária desde 1989 em diferentes 
instituições de ensino, tanto na graduação quanto pós-graduação. Atua 
como professora e supervisora no DOMUS – Centro de terapia individual, 
casal e família – parceria com a Faculdade Mário Quintana. É coordenadora 
do curso de pós-graduação Trabalho Social com Famílias e Comunidades. É 
uma das coordenadoras do curso de extensão em Mediação com parceria 
da Defensoria Pública de Porto Alegre. É responsável técnica pelo Programa 
DOMUS/SUAS. Atua como Mediadora Judicial e Extrajudicial. Presta 
serviços de assessoria e capacitação a Prefeituras nas áreas de Gestão do 
SUAS, Modelo Assistencial e Gestão do Trabalho. Tem experiência em 
ensino, pesquisa, extensão universitária e consultoria nas áreas de política 
de assistência social, família, mediação e redes sociais.
A prof.ª Ângela Martins Rorato é especialista em educação pela 
UNIFRA (1996) e possui graduação em Estudos Sociais (1989) pela mesma 
instituição. Atua como professora desde 1994. Dedica-se ao estudo e à prática 
dos métodos autocompositivos desde 2014, atuando como mediadora de 
conflitos familiares e empresarias e facilitadora de círculos conflitivos e 
não conflitivos, tanto no âmbito público quanto privado. Ministra cursos 
nas áreas de mediação e Justiça Restaurativa em cursos de pós-graduação 
e de extensão. É integrante do grupo de estudo e pesquisa em direito civil-
constitucional, família, sucessões e mediações de conflitos da Faculdade 
de Direito da UFRGS. É membro atuante do grupo de mediação do SAJU/
UFRGS, em ambiente de extensão universitária. Também realiza pesquisa e 
faz palestras na área de comunicação, cujo tema principal é a comunicação 
não violenta. Possui certificação internacional de mediadora pelo ICFML 
(Instituto de Certificação de Formação de Mediadores Lusófonos) e IMAP 
(Instituto de Mediação e Arbitragem de Portugal).
Iniciaremos os estudos da disciplina apresentando, na Unidade 1, a 
confluência de temas como participação, conflitos e comunicação. O Tópico 
1 direciona o estudo para o tema participação social, cidadania e autonomia, 
buscando apresentar discussões conceituais e perspectiva histórica sobre 
como a população brasileira tem operado em termos de participação, 
considerando marcos legais que impulsionam para isto, mesmo que 
correlações de forças instituídas no país possam representar resistências. Os 
temas cidadania e autonomia estão correlacionados à ideia de participação 
da população em uma comunidade política, o que gera comprometimento 
autônomo e pertencimento social. O conteúdo apresenta discussões sobre a 
importância da internalização de normas partilhadas, para que diferenças 
possam ser superadas por meio de discussões públicas na ideia de bem 
comum. Disso advém a importância do Tópico 2, que discorre sobre 
diferentes entendimentos das relações humanas, cujo conflito é inerente a 
essas relações. Apresenta a Moderna Teoria de Conflitos, que propõe superar 
ideias preconcebidas de entendimento do conflito como algo a ser evitado. 
No Tópico 3, é apresentada a teoria da Comunicação Humana e a importância 
da comunicação não violenta. A discussão perpassa a ideia da dificuldade 
em estabelecer processos comunicacionais, com compreensão genuína 
sobre o que é dito, mesmo em um mundo onde os meios de comunicação 
expandiram as fronteiras de forma inimaginável. 
A Unidade 2 apresenta a Justiça Multiportas com o objetivo de oferecer 
possibilidades de conhecimento e análise para a busca de soluções mais 
adequadas, em um tempo histórico de excessiva litigiosidade e inseguranças 
jurídicas. O conteúdo do Tópico 1 apresenta dados que defendem a 
importância do entendimento da Justiça Multiportas no atual momento do 
país. No Tópico 2 são apresentados os meios heterocompositivos com seus 
dois caminhos de solução de conflitos: a Jurisdição e a Arbitragem. O texto 
ressalta a importância do reconhecimento de semelhanças e diferenças entre 
eles. Já no Tópico 3 são apresentadas informações sobre meios adequados 
para superação da cultura litigiosa e dados sobre os esforços empreendidos 
em diferentes contextos, para que possa ser reconhecida a importância de as 
pessoas em situação de conflito identificarem interesses e aplicarem esforços 
para o seu alcance. O Tópico apresenta informações sobre Negociação, 
Conciliação e Mediação. 
A Unidade 3 apresenta dados sobre contextos para utilização da 
mediação como meio para resolução adequada de conflitos. O Tópico 1 se 
ocupa com a Mediação Familiar, oferecendo a oportunidade de entendimentos 
sobre a dinâmica relacional da família que podem indicar a necessidade da 
utilização da Mediação Familiar como método para a superação de conflitos. 
Os Tópicos 2 e 3 se dedicam a apresentar dados sobre o espaço escolar e o 
espaço comunitário como espaços onde conflitos emergem cotidianamente, 
mas que podem ser espaços geradores de soluções. Dessa forma, apresenta 
a Mediação Escolar e a Mediação Comunitária como formas de construção 
de agentes para a solução de conflitos e fortalecimento de espaços de 
participação social. 
Boa leitura e bons estudos!
Prof.ª Ângela Martins Rorato
Prof.ª Cláudia Deitos Giongo
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui 
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-
de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-
to em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiaispor	isso,	a	convivência,	essencial	
para	 a	 sobrevivência	 do	 ser	 humano,	 torna-se	 tão	 desafiadora.	 É	 a	 partir	 da	
necessidade	humana	de	convivência	e,	ao	mesmo	tempo,	deste	estranhamento	do	
outro,	de	visões	diferentes	de	mundo,	que	os	conflitos	emergem.
 
Segundo	 Jean-Marie	 Muller	 (2007),	 o	 conflito	 significa	 o	 confronto	 da	
vontade	de	um	com	a	vontade	do	outro,	pois	cada	um	deseja	vencer	a	resistência	
alheia,	o	que	remete	à	rivalidade,	competição.	De	modo	geral,	o	conflito	produz	
ideia	de	oposição,	de	divisão	entre	as	pessoas,	que	passam	a	ser	um	obstáculo	
para	a	satisfação	pessoal.	Portanto,	o	conflito	pode	ser	visto	como	uma	crise,	um	
impasse	na	relação	com	o	outro.	Se	as	diferenças	fazem	parte	das	relações	e	da	
própria	condição	humana,	é	possível	afirmar	que	o	conflito	é	inerente	às	relações	
humanas.
Para	 Fernanda	 Tartuce	 (2018),	 a	 maioria	 das	 pessoas	 veem	 o	 conflito	
como	embate,	oposição,	briga,	luta	e,	por	causa	dessas	nomenclaturas,	o	conflito	
costuma	 também	ser	 sinônimo	de	“controvérsia”,	 “disputa”,	“lide”	e	“litígio”,	
remetendo	ao	entendimento	de	crise	nas	interações.
FIGURA 2 – O CONFLITO COMO SINÔNIMO DE DISPUTA
FONTE: . Acesso em: 
21 jan. 2020.
Como	 vimos,	 as	 relações	 humanas	 são	 permeadas	 pelas	 diferenças,	
envolvendo	 percepções,	 valores,	 posições	 e	 interesses	 diversos.	 Dessa	 forma,	
é	 possível	 afirmar	 que	 o	 conflito	 é	 parte	 integrante	 dessas	 relações.	 Segundo	
Eduardo	Vasconcelos	(2014),	é	impossível	uma	relação	interpessoal	ser	totalmente	
consensual,	pois	cada	pessoa	possui	uma	gama	infinita	de	experiências,	visões	de	
mundo	diferentes,	construídas	a	partir	de	vivências	únicas	e,	em	alguma	medida,	
mesmo	nas	relações	mais	afetivas,	haverá	discordância	e,	portanto,	algum	grau	
de	conflito	estará	presente.
TÓPICO 2 — RELAÇÕES DE CONFLITO
25
A	Moderna	Teoria	do	Conflito	percebe	o	conflito	como	fato	natural,	um	
importante	fenômeno	inerente	às	relações,	pois	caso	o	conflito	seja	pensado	como	
algo	a	ser	combatido	ou	evitado,	é	possível	que	os	envolvidos	caiam	na	armadilha	
de	impossibilitar	a	sua	solução	de	maneira	construtiva.	O	conflito	visto	como	algo	
negativo	 impede	o	diálogo,	 a	busca	do	 entendimento,	 e	 acaba	por	 fomentar	 a	
disputa,	o	confronto	e,	consequentemente,	várias	formas	de	violência.	
Nesse	 ponto	 de	 vista,	 é	 possível	 encarar	 o	 conflito	 em	 si	 como	 um	
acontecimento	 neutro,	 nem	 positivo	 nem	 negativo.	 É	 possível	 afirmar	 que,	
dependendo	da	maneira	como	se	lida	com	o	conflito,	ele	pode	se	tornar	fonte	de	
discussões,	brigas	e	rompimentos,	tornando-se,	assim,	negativo.	Por	outro	lado,	
quando	a	partir	dele,	através	do	diálogo,	houver	a	busca	por	soluções	conjuntas	
para	as	questões	postas,	ele	pode	evoluir	para	a	construção	de	novas	combinações	
que	possam	satisfazer	a	todos	os	envolvidos,	fortalecendo	laços	de	convivência,	
tornando-se	fonte	de	mudanças	positivas.	
De	acordo	com	John	Paul	Lederach	(2012),	o	conflito	é	algo	normal	nos	
relacionamentos	humanos	e,	assim,	é	encarado	como	motor	de	transformações	
e	mudanças	tanto	nos	relacionamentos	interpessoais	quanto	num	âmbito	maior,	
estimulando	a	construção	de	comunidades	mais	saudáveis.
A	visão	do	conflito	como	algo	a	ser	eliminado,	suprimido	da	sociedade,	
como	se	a	paz	fosse	a	sua	ausência,	não	se	sustenta	mais.	Enxergar	e	compreender	
o	todo,	através	de	uma	visão	sistêmica,	significa	entender	o	conflito	como	uma	
situação	que,	 quando	bem	conduzida,	pode	vir	 a	 trazer	mudanças	positivas	 e	
significativas,	além	da	oportunidade	de	ganhos	mútuos,	tanto	para	o	indivíduo	
quanto	para	a	comunidade	a	qual	pertence.
Nesse	sentido,	Vasconcelos	(2014,	p.	25)	aponta	que	os	conflitos	decorrem	
da	convivência	social	do	homem	com	suas	contradições	e	pode	ser	dividido	em	
quatro	pontos	que	se	incidem	cumulativamente:	
•	 Conflitos	de	valores	–	morais,	ideológicos,	religiosos.
•	 Conflitos	 de	 informação	 –	 informações	 incompletas,	 distorcidas,	 conotações	
negativas.
•	 Conflitos	estruturais	–	diferentes	circunstâncias	sociais,	políticas	e	econômicas	
dos	envolvidos.
•	 Conflitos	de	interesses	–	reivindicação	de	bens	e	direitos	de	interesse	comum	e	
contraditório.	
Quando	 o	 conflito	 é	 tratado	 de	 modo	 destrutivo,	 ou	 seja,	 quando	 há	
enfraquecimento	 ou	 rompimento	 das	 relações	 devido	 à	 competitividade	 com	
que	é	 tratado,	na	perspectiva	de	vencedores	e	perdedores,	 é	possível	perceber	
expansão	 do	 conflito	 em	 uma	 espiral	 crescente.	 Nesses	 casos,	 os	 envolvidos	
frequentemente	perdem	o	 foco	das	 causas	 iniciais	da	questão.	Por	outro	 lado,	
quando	encarado	de	forma	construtiva,	o	conflito	fortalece	as	relações.	
26
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Existem	vários	caminhos	e	estratégias	para	lidar	com	conflitos:	negá-los,	
fugir	deles,	ignorá-los,	ceder,	barganhar	etc.	Por	outro	lado,	é	possível	escolher	
cooperar,	 integrar	 as	diferentes	 opiniões	 e	 construir	 algo	novo	 a	partir	 dessas	
divergências.	 Sendo	 assim,	 é	 possível	 afirmar	 que	 existem	 duas	 estratégias	
principais	de	tratamento	dos	conflitos:	uma	distributiva,	baseada	na	competição	
e	foco	na	escassez	dos	recursos,	e	outra	integrativa,	que	visa	“aumentar	o	bolo”,	
sendo	que	os	envolvidos	buscam	a	cooperação	como	estratégia	principal.	
Quando	 a	 busca	 de	 soluções	 cooperativas	 e	 integrativas	 é	 a	 estratégia	
escolhida,	 as	 chances	de	 fortalecimento	dos	 laços	 interpessoais	 e	 comunitários	
tendem	a	 aumentar,	 estreitando	as	 relações,	 trazendo	 inúmeros	benefícios	 aos	
envolvidos.	Fato	é	que	não	existe	uma	forma	única	de	tratamento	dos	conflitos,	
e	a	estratégia	escolhida	pode	variar	de	acordo	com	o	grau	de	envolvimento,	a	
importância	dada	às	relações	e	o	próprio	bem-estar	dos	envolvidos.	
David	 Bohn	 (2005)	 destaca	 que,	 caso	 as	 pessoas	 decidam	 cooperar	
necessitam	criar	algo	que	seja	comum	aos	envolvidos	no	processo	comunicacional,	
pois	cada	uma	delas	ouvirá	a	outra	de	acordo	com	o	filtro	de	suas	experiências	
pessoais.	Para	ele,	estar	aberto	a	novas	ideias	e	pontos	de	vista	pode	ser	bastante	
desafiador,	mas	possível.	
Importante	 enfatizar	 que,	 caso	 as	 pessoas	 realmente	 desejem	 viver	 em	
harmonia	com	elas	próprias	e	com	seus	pares,	resolvendo	diferenças	de	maneira	
construtiva	sem	evitar	o	conflito,	utilizando-o	como	mola	propulsora	de	mudanças	
importantes,	 elas	precisam	ser	 	 capazes	de	 comunicar	de	 forma	clara,	 estando	
atentas	 as	 suas	 próprias	 necessidades,	 bem	 como	 às	 necessidades	 dos	 outros,	
possibilitando,	assim,	a	expressão	e	construção	de	diálogos	mais	saudáveis.	
27
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Os	seres	humanos	são	seres	únicos,	eminentemente	sociais,	estão	o	tempo	todo	
interagindo	uns	com	os	outros	e	dessas	interações	emergem	os	conflitos.	Isso	
acontece	porque	cada	um	tem	vivências,	valores	e	visões	de	mundo	diferentes.	
Conviver	com	essas	diferenças	é	um	constante	desafio.
•	 O	 conflito	 é	 uma	 sinalização	 de	 que	 algo	 nas	 relações	 precisa	 ser	 revisto,	
repensado,	recompactuado.	
•	 A	moderna	teoria	do	conflito	encara	o	conflito	como	um	evento	neutro,	nem	
bom,	nem	ruim.	O	que	determinará	sua	essência	será	a	forma	como	cada	um	
lida	com	ele:
ᵒ	 Se	encarado	de	forma	positiva,	como	fator	de	mudança	de	comportamentos	
e	regras	que	não	servem	mais	à	sociedade	e	aos	cidadãos,	o	conflito	pode	
trazer	transformações	necessárias	e	possibilidade	de	ganhos	múltiplos	para	
os	envolvidos,	reforçando	laços	e	abrindo	espaço	para	a	construção	conjunta	
de	mudanças	necessárias.
ᵒ		 Se	 encarado	 como	 uma	 competição	 sobre	 quem	 está	 certo	 e	 quem	 está	
errado,	 buscando	 estabelecer	 vencedores	 e	 vencidos,	 será	 atribuído	 um	
caráter	destrutivo	ao	conflito.
28
1		Como	o	conflito	pode	ser	definido?
2	 Os	 conflitos	 decorrem	 da	 convivência	 social	 do	 homem	 com	 suascontradições.	 Liste	 e	 descreva	 os	 quatro	 pontos	 que	 incidem	
cumulativamente	o	conflito.
3	 O	 conflito	 é	 consequência	 da	 discordância	 entre	 os	 indivíduos.	 É	 um	
componente	básico	das	relações	humanas,	inevitável	em	tudo	que	envolve	
as	 relações	 interpessoais.	 Com	 base	 no	 exposto,	 assinale	 a	 alternativa	
CORRETA:
Sendo	assim,	pode-se	afirmar	que	(marque	a	alternativa	CORRETA):
a)	(			)	 É	 sempre	 negativo	 por	 ser	 uma	 ação	 que	 não	 contribui	 para	 o	
crescimento	das	relações.
b)	(			)	 É	positivo	quando	gera	crescimento	e	auxilia	na	resolução	de	questões	
importantes	para	as	pessoas.
c)	(			)	 É	positivo	quando	encarado	como	uma	competição	sobre	quem	está	
certo	e	quem	está	errado,	pois	estabelece	claramente	quem	são	os	vencedores	
e	quem	são	os	vencidos.
d)	(			)	 Quando	 encarado	 de	 forma	 positiva,	 como	 fator	 de	 mudança	 de	
comportamentos	e	regras	que	não	servem	mais	à	sociedade	e	aos	cidadãos,	
o	conflito	não	traz	grandes	transformações.
AUTOATIVIDADE
29
TÓPICO 3 — 
UNIDADE 1
COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
1 INTRODUÇÃO
A	maior	 parte	 das	 pessoas,	 em	 algum	momento,	 experimentou	 falhar	
naquilo	que	queria	comunicar,	não	foi	compreendido	na	totalidade	do	que	disse	
ou	 não	 conseguiu	 expor	 com	 clareza	 suas	 ideias,	 sonhos,	 valores	 ou	 desejos.		
Apesar	de	vivermos	num	mundo	onde	os	meios	de	comunicação	expandiram	as	
fronteiras,	cada	dia	mais	ouvem-se	queixas	de	como	é	difícil	ser	compreendido	e	
compreender	os	outros.
FIGURA 3 – COMUNICAÇÃO
FONTE: . Acesso em: 21 jan. 2020.
Nesses	encontros	e	desencontros	da	comunicação,	que	muitas	vezes	é	falha	
no	 aspecto	 relacional,	 cujas	 expectativas,	 crenças,	 sentimentos	 e	 necessidades	
nem	 sempre	 convergem,	 é	 que	 surgem	 os	 conflitos.	 Como	 visto	 no	 capítulo	
anterior,	quando	manejado	de	forma	assertiva,	buscando	solucionar	impasses	e	
trazer	mudanças	 vistas	 como	necessárias,	 o	 conflito	pode	 se	 tornar	uma	mola	
propulsora	para	construção	de	novos	acordos	e	entendimentos.
Para	que	haja	possibilidade	de	harmonia	nas	relações	e	nas	mais	diversas	
formas	de	pensar	a	realidade,	aceitando	que	existem	maneira	diferentes	de	encarar	
o	mesmo	fenômeno,	é	necessário	que	se	busque	uma	forma	de	comunicação	eficaz	
e	sustentável.
30
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
2 A COMUNICAÇÃO 
FIGURA 4 – HOMO SAPIENS
FONTE: . Aces-
so em: 21 jan. 2020.
Entre	 70	 e	 30	 mil	 anos	 atrás	 o	 Homo sapiens começou	 a	 desenvolver	
a	 linguagem,	 o	que	proporcionou	novas	 formas	de	pensar	 e	de	 se	 comunicar.	
Esse	 fenômeno	 foi	 denominado	 Revolução	 Cognitiva	 (HARARI,	 2018).	 Não	 é	
possível	precisar	ao	certo	o	que	causou	essa	revolução,	cientistas	acreditam	que	
muito	 provavelmente	mutações	 genéticas	 aleatórias	 tenham	 sido	 responsáveis	
pelo	 surgimento	de	novas	 conexões	 entre	 os	 neurônios,	 ao	 longo	de	milênios,	
possibilitando	 o	 surgimento	 de	 uma	 linguagem	 e	 uma	 forma	 própria	 de	
comunicação.
Apesar	de	não	estar	clara	a	ideia	do	que	causou	essa	revolução,	visto	que	as	
relações	sociais	e	linguísticas	não	deixam	rastros,	dificultando	sua	reconstrução,	o	
fato	é	que	a	comunicação	possibilitou	ao	ser	humano	conquistar	o	mundo.	Todos	
os	animais,	incluindo	insetos,	possuem	alguma	forma	de	comunicação,	mas	o	que	
há	de	diferente	e	especial	na	linguagem	humana	é	a	versatilidade,	a	forma	como	
o	ser	humano	pode	compartilhar	histórias,	criar	narrativas	comuns	e	transmitir	
informações	sobre	o	mundo	que	o	rodeia.
Como	visto	anteriormente,	os	seres	humanos	são	essencialmente	sociais	e	
a	cooperação	entre	os	indivíduos	foi	primordial	para	garantir	a	perpetuação	e	a	
sobrevivência	da	espécie,	sendo	o	compartilhamento	e	transmissão	de	informações	
um	dos	fatores	mais	relevantes	na	construção	da	civilização	humana.	Graças	às	
habilidades	comunicacionais	desenvolvidas,	os	humanos	puderam	se	expandir,	
evoluir	e	desenvolver	uma	forma	de	colaboração	muito	mais	sofisticada	e	sólida	
do	que	outras	espécies	animais.	
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
31
Segundo	 Maturana	 e	 Varela	 (2001,	 p.	 232),	 “o	 desenvolvimento	 da	
linguagem	humana	é	a	chave	para	a	compreensão	da	capacidade	de	reflexão	e	
consciência,	pois	é	a	linguagem	que	permite	aos	seres	humanos	descreverem	a	si	
mesmos	e	às	circunstâncias	vividas”.
A	Revolução	Cognitiva	trouxe	novas	habilidades,	tal	como	a	capacidade	de	
transmitir	quantidades	maiores	de	informações	sobre	o	que	se	passa,	propiciando	
a	elaboração	de	planos	de	ação	complexos	e	conjuntos	e	criação	de	 laços	entre	
grandes	grupos,	o	que	acabou	por	evidenciar	também	as	diferenças	entre	cada	
indivíduo,	enfatizando	dificuldades	nessas	interações.
Com	 um	 olhar	 atento	 para	 os	 últimos	 200	 anos	 é	 possível	 perceber	
a	 enorme	 evolução	 na	 organização	 da	 sociedade	 humana.	 Sistemas	 sociais	
complexos,	ordenamentos	jurídicos	e	meios	de	comunicação	sofisticados	foram	
desenvolvidos	 e	 aperfeiçoados,	mas	 a	 dissonância	 entre	 o	 pensamento,	 ideias	
e	 valores	 continuam	a	 ser	um	desafio	da	 comunicação.	As	 tensões,	 conflitos	 e	
dilemas	continuam	a	fazer	parte	da	cultura	e	da	condição	humana	e,	como	visto	
anteriormente,	acabam	por	fomentar	mudanças	quando	necessárias.	Também	nas	
últimas	décadas	é	possível	verificar	que	a	expansão	dos	meios	de	comunicação	
experimentou	 um	 crescimento	 sem	precedentes,	 construindo	 uma	 rede	 global	
de	comunicação,	pondo	cada	recanto	do	mundo	em	contato	com	o	restante	do	
planeta	quase	que	instantaneamente.
 
Advém	 dessa	 constatação	 a	 importância	 da	 reflexão	 sobre	 as	 relações	
humanas	 e	 a	 comunicação,	 visto	 que,	 aparentemente,	 aquilo	 que	 conecta	 os	
homens	de	forma	mais	concreta	é	também	o	que	mais	desafia	a	convivência	social.	
Uma	comunicação	eficaz	é	uma	das	ferramentas	mais	poderosas	na	construção	
de	relações	sociais	mais	harmônicas.
2.1 TEORIA DA COMUNICAÇÃO HUMANA
Partindo	 do	 pressuposto	 que	 a	 pessoa	 humana	 está	 o	 tempo	 todo	
interagindo	 com	 outras	 pessoas	 e,	 portanto,	 comunicando,	 é	 possível	 afirmar	
que	comportamento	é	comunicação.	É	através	do	comportamento	que	valores,	
desejos,	 interesses,	 necessidades	 e	 sentimentos	 são	 expressos,	muito	 além	das	
palavras.	Assim,	mesmo	com	esforço,	é	impossível	não	comunicar.
32
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
FIGURA 5 – COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL
FONTE: . Acesso em: 21 jan. 2020.
A	comunicação	pressupõe	muito	mais	do	que	apenas	palavras,	mensagens	
são	trocadas	tempo	todo.	Quem	nunca	ouviu	a	expressão	“o	silêncio	vale	mais	
que	mil	 palavras”?	Alguma	 coisa	 é	 comunicada	 inclusive	 quando	 a	 pessoa	 se	
cala.	 Para	 Vasconcelos	 (2014),	 comportamento	 é	 comunicação	 e	 esta	 pode	 ser	
verbal	ou	não	verbal,	nem	sempre	ocorre	de	maneira	intencional,	consciente	ou	
eficiente,	mas	faz	parte	das	relações	humanas	e,	portanto,	dos	sistemas	sociais	nos	
quais	as	pessoas	estão	inseridas.
Existem	 alguns	 atributos	 que	 influenciam	 diretamente	 nas	 relações	
interpessoais	 e	 que	 causam	 efeitos	 nos	 comportamentos	 do	 indivíduo	 e	 seus	
semelhantes.	A	 esses	 atributos	 ou	 regras	 chamamos	 axiomas	 da	 comunicação	
(WATZLAVICK;	BEAVIN;	JACKSON,	2002).	São	eles:
1º axioma: impossível não comunicar
Todo	 comportamento	 é	 comunicação	 e,	 como	 não	 existe	 o	 “não	
comportamento”,	da	mesma	 forma	não	 existe	 a	 não	 comunicação.	Mesmo	 em	
silêncio,	 o	 comportamento	 tem	 influência	 e	 valor	 de	mensagem	para	 o	 outro.	
A	escolha	por	não	falar	comunica	implicitamente	a	vontade	de	não	comunicar,	
ao	 passo	 que,	 aceitando	 a	 comunicação,	 respondemos	 de	 maneira	 lacônica,	
irônica	ou	agressiva,	escolhendo	mudar	de	assunto,	 falando	frases	desconexas,	
fingindo	 nãoentender,	 usando	 gestos	 ao	 invés	 de	 palavras.	 Tudo	 isso	 pode	
tornar	a	comunicação	impossível,	a	vontade	de	não	estabelecer	comunicação	será	
comunicada.
2º axioma: toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de 
relação – metacomunicação 
Toda	 comunicação	 vai	 além	do	 que	 é	 dito	 pelas	 palavras,	 vai	 além	do	
significado,	 pois	 possui	 mais	 informações.	 Essas	 informações	 dão	 a	 entender	
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
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a	 relação	 que	 os	 interlocutores	 mantêm	 entre	 si.	 O	 conteúdo	 da	 mensagem	
é	 influenciado	 pela	 entonação	 dada	 por	 quem	 fala,	 ou	 seja,	 a	 forma	 com	 que	
a	 mensagem	 é	 entregue	 ao	 interlocutor	 manifesta	 esse	 axioma,	 pois	 em	 toda	
comunicação	é	percebido	o	conteúdo	e	a	 relação	entre	os	participantes,	dando	
margem	a	interpretações	do	conteúdo	de	acordo	com	a	relação	entre	os	envolvidos	
no	diálogo.	
A	 metacomunicação	 constitui	 a	 relação	 entre	 o	 conteúdo	 do	 que	 é	
comunicado	 com	 a	 forma	 com	 que	 é	 feito,	 um	 processo	 que	 o	 emissor	 tenta	
passar	também	através	dos	gestos,	do	tom	de	voz	e	de	olhares	a	chave	de	como	a	
mensagem	falada	deve	ser	interpretada.	Dessa	forma,	é	possível	concluir	que	toda	
a	comunicação	vai	além	do	significado	das	palavras,	contém	mais	 informações	
embutidas	na	maneira	como	os	 interlocutores	 interagem	e	dão	a	entender	que	
tipo	de	relação	mantém	entre	si.
3º axioma: a natureza da relação depende da pontuação dos parceiros nos 
processos de comunicação 
A	 natureza	 das	 relações	 depende	 da	 pontuação	 e	 das	 sequências	
comunicacionais	entre	os	comunicantes,	pois	tanto	o	emissor	como	o	receptor	da	
comunicação	estruturam	essa	comunicação	de	forma	distinta	e,	assim,	interpretam	
e	modulam	o	seu	próprio	comportamento	durante	a	comunicação	dependendo	
ou	relacionando	à	reação	do	outro.
Um	 exemplo	 seria	 quando	 alguém	 diz	 para	 si	 mesmo,	 ao	 interpretar	
o	 comportamento	de	 seu	grupo	de	 trabalho:	 “essa	 equipe	não	gosta	de	mim”	
e	 se	 afasta	 do	 grupo.	 Por	 sua	 vez,	 os	 componentes	 da	 equipe	 de	 trabalho	 se	
manterão	distantes	porque	percebem	o	afastamento	do	colega	e	assim	confirmam	
a	expectativa	do	primeiro.	É	evidente	que	quem	se	afasta	não	percebe	que	está	
provocando	a	situação,	pois	se	vê	reagindo	ao	comportamento	do	grupo.
Para	Vasconcellos	(2007),	a	busca	de	uma	causa	linear	para	o	que	acontece	
nas	 relações	 humanas	 é	 compreensível	 a	 partir	 do	 paradigma	 tradicional	 da	
ciência,	 é	 uma	 tendência	 das	 pessoas	 que	 possuem	 uma	 visão	 tradicional	 de	
mundo.	Segundo	o	autor,	naqueles	indivíduos	que	já	assumiram	uma	visão	de	
mundo	sistêmica,	pautada	nas	relações	e	não	nos	indivíduos,	as	relações	de	causa	
e	efeito	já	não	estão	tão	presentes	nas	suas	interações.
 
A	 compreensão	 deste	 axioma	 é	 essencial	 quando	 o	 assunto	 é	
relacionamento,	uma	vez	que	 toda	a	 informação	 trocada	chega	com	
base	nas	próprias	experiências	dos	interlocutores,	o	que	faz	com	que	
conceitos	básicos	como	amor,	respeito	e	confiança,	tenham	significados	
distintos	para	cada	um	(VASCONCELLOS,	2007,	p.	510).
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4º axioma: os seres humanos se comportam de forma digital e analógica
Os	 seres	 humanos	 podem	 representar	 de	 duas	 formas	 as	 realidades	
ausentes:	 através	de	 símbolos	que	 fazem	uma	analogia	ao	objeto	ou	 realidade	
que	 é	descrita,	 portanto	uma	 comunicação	não	verbal	 ou	 analógica,	 que	pode	
ser	 composta	 pela	 linguagem	 corporal,	 pelos	 gestos,	 pelo	 silêncio	 e	 pelas	
onomatopeias,	ou	através	da	forma	verbal	ou	digital	formada	pelas	palavras,	isto	
é,	 pelos	 símbolos	 linguísticos.	Muitas	 vezes,	 na	 tradução	do	digital	 (palavras)	
para	o	analógico	(gestos	e	sons)	há	alguma	perda	de	comunicação,	mas	as	trocas	
comunicacionais	são	complementares.
É	 possível	 dizer	 que	 o	 conteúdo	 é	 basicamente	 transmitido	 através	 da	
comunicação	digital	 e	as	 relações	 são	essencialmente	analógicas.	Por	exemplo,	
quando	alguém	fala	com	alguém,	está	se	comunicando	verbalmente,	mas	também	
está	se	comunicando	através	de	expressões	faciais	e	gestos	que	podem	ou	não	ser	
concordantes.
5º axioma: os padrões de interação são simétricos ou complementares
O	foco	deste	axioma	está	na	importância	dada	à	maneira	como	as	pessoas	
se	relacionam.	Algumas	vezes	a	relação	se	dá	baseada	em	condições	de	igualdade,	
em	 outras	 está	 calcada	 a	 partir	 das	 diferenças.	 Watzlavick,	 Beavin	 e	 Jackson	
(2002)	afirmam	que	as	trocas	comunicacionais	são	simétricas	ou	complementares	
porque	 se	 baseiam	 na	 igualdade	 ou	 na	 diferença,	 respectivamente.	 Quando	
os	 relacionamentos	 são	 simétricos,	 a	 interação	 entre	 os	 interlocutores	 se	 dá	
em	 condições	 de	 igualdade	 e	 um	 poder	 equivalente	 de	 permuta,	mas	 não	 há	
complementação.	Já	nas	relações	complementares,	como	por	exemplo,	entre	pais	
e	filhos,	professor	e	aluno,	as	condições	são	desiguais,	apesar	de	aceitar-se	o	que	
possibilita	a	interação	entre	os	participantes	do	diálogo.	
Quando	 esses	 cinco	 princípios	 ou	 axiomas	 são	 analisados,	 é	 possível	
concluir	que	a	comunicação	é	muito	mais	complexa	do	que	é	possível	imaginar,	
pois	possui	uma	série	de	aspectos	que	precisam	ser	levados	em	consideração	e	
que	vão	além	da	simples	emissão	e	recepção	de	palavras.
Segundo Carlos Eduardo Vasconcelos (2014), a comunicação verbal (digital) 
ou não-verbal (analógica) nem sempre ocorre intencionalmente, de forma consciente ou 
eficaz, mas mesmo assim é relacional, pressupondo ser, portanto, circular e recursiva, o 
que a torna inevitável, visto que os seres humanos, seres sociais, estão constantemente se 
relacionando uns com os outros e, portanto, se comunicando de alguma forma.
IMPORTANTE
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
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Em	situações	relacionais	é	importante	que	sejam	oferecidas	outras	formas	
de	 compreensão	 e	 resolução	 dos	 conflitos,	 muitas	 vezes	 causados	 por	 uma	
comunicação	falha	e	ineficaz.	Buscar	a	compreensão	dos	fatos,	dos	sentimentos	e	
das	necessidades	de	cada	indivíduo,	com	foco	no	que	eles	possuem	em	comum	
entre	si,	e	não	nas	suas	diferenças,	 fomentando	a	construção	de	diálogos	mais	
saudáveis,	atendendo	e	acolhendo	os	interesses	de	cada	um,	pode	proporcionar	a	
solução	das	questões	em	pauta	de	maneira		muito	mais	satisfatória	e	construtiva	
para	todos	os	envolvidos.
 
Em	 outras	 palavras,	 os	 cidadãos	 precisam	 desenvolver	 um	 olhar	mais	
construtivo	 quando	 tratam	dos	 conflitos	 interpessoais,	 uma	vez	 que	 esses	 são	
inerentes	às	relações,	indispensáveis	para	o	crescimento	e	responsáveis	por	avanços	
importantes	 para	 a	 sociedade.	 Para	 que	 haja	 essa	 compreensão,	 é	 necessário	
que	sejam	desenvolvidas	habilidades	de	comunicação	construtiva,	consciente	e	
mais	sustentável,	não	violenta,	pautada	no	respeito	e	na	escuta.	Carlos	Eduardo	
Vasconcelos	(2014,	p.	131)	conceitua	comunicação	construtiva	como:
[...]	um	conjunto	de	habilidades	que	 contribui	para	gerar	 confiança,	
empatia	e	colaboração	no	trato	dos	inevitáveis	conflitos	de	convivência	
humana,	 pela	 validação	de	 sentimentos	 a	 partir	 do	 reconhecimento	
da	 essencialidade	 e	 legitimidade	do	 outro,	 enquanto	 coconstrutor	 e	
coinovador	dos	padrões	relacionais	que	podem	ajudar	na	identificação	
das	necessidades	vitais	a	serem	contempladas	em	cada	situação.
Uma	das	formas	possíveis	para	o	desenvolvimento	de	uma	comunicação	
mais	 sustentável	 e	 construtiva,	 o	 que	 possibilita	 diálogos	 mais	 produtivos,	 é	
através	de	um	processo	de	comunicação	apresentado	pelo	psicólogo	americano	
Marshall	Rosenberg	(2006),	denominada	por	ele	de	Comunicação	Não	violenta.	
3 COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA
A	comunicação	não	violenta	(CNV)	é	um	processo	de	comunicação	cujo	
objetivo	 é	 estimular	 as	 pessoas	 a	 expressarem	melhor	 suas	 necessidades	 além	
de	ouvir	e	compreender	melhor	as	necessidades	dos	outros,	sistematizada	pelo	
psicólogo	 e	 mediador	 deconflitos	 norte-americano,	 Marshall	 Rosenberg.	 É	
interessante	compreender	em	que	contexto	ele	passou	a	se	ocupar	do	tema	sobre	
comunicação	e	por	que	fez	de	sua	vida	um	laboratório	para	sua	pesquisa.
Marshall	Rosenberg,	de	origem	judaica,	nasceu	no	estado	de	Ohio	e,	no	
início	da	Década	de	1940,	ainda	criança,	mudou-se	com	sua	família	para	Detroit,	
época	de	intensos	e	violentos	conflitos	raciais	na	cidade,	em	especial	no	bairro	
em	que	passaram	a	viver.	No	primeiro	dia	de	aula,	ao	se	apresentar,	os	colegas	
perceberam	que	ele	era	judeu	e	o	esperaram	ao	final	do	turno	para	lhe	darem	uma	
surra.	Com	esse	acontecimento	ele	descobriu	que	a	origem	do	nome	de	alguém	
poderia	ser	tão	perigosa	quando	a	cor	da	sua	pele.	Desde	aquele	episódio,	passou	
a	se	ocupar	com	duas	questões	cruciais	para	ele:	o	que	acontece	que	desliga	o	
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ser	humano	de	sua	natureza	compassiva?	O	que	permite	que	algumas	pessoas	
permaneçam	ligadas	a	sua	natureza	compassiva	mesmo	nas	circunstâncias	mais	
penosas?	
Cursou	 psicologia	 na	 Universidade	 de	Michigan	 e,	 em	 1961,	 concluiu	
seu	 doutorado	 em	Psicologia	Clínica	 na	Universidade	 de	Wisconsin-Madison.	
Buscando	respostas	para	essas	perguntas,	Marshall	Rosenberg	percebeu	que	as	
explicações	estavam	ligadas	à	linguagem	e	ao	uso	das	palavras.	Passou,	então,	a	
desenvolver	uma	abordagem	específica	de	comunicação	baseada	no	falar	e	ouvir,	
que	permite	uma	maior	conexão	entre	as	pessoas,	tendo	aspectos	da	não	violência	
como	base.
FIGURA 6 – O DIÁLOGO – A ARTE DE CODIFICAR AQUILO QUE ESTÁ SENDO DITO
FONTE: . Acesso em: 21 jan. 2020.
É	 importante	 destacar	 que	 esse	 tipo	 de	 comunicação	 pode	 auxiliar	 no	
gerenciamento	 e	 resolução	 de	 conflitos	 tanto	 entre	 duas	 pessoas	 quanto	 num	
grupo	familiar,	ou	entre	equipes	de	trabalho,	grupos	escolares,	empresas	e	mesmo	
entre	nações.	Essa	proposta	de	comunicação	foi	desenvolvida	com	o	intuito	de	
lidar	positivamente	com	os	conflitos,	e	não	de	evitá-los.
A	CNV	tem	por	objetivo	resgatar	o	que	há	de	mais	humano	na	pessoa:	
suas	emoções,	valores	e	a	capacidade	de	se	expressar	com	honestidade,	auxiliando	
os	outros	com	profunda	empatia	e	praticando	uma	escuta	verdadeira	do	outro,	
mergulhando	nas	reais	necessidades	presentes	em	cada	um.
Muitas	vezes,	no	cotidiano,	é	estabelecido	um	tipo	de	comunicação	ineficaz,	
cheia	de	ruídos,	vindos	também	da	dificuldade	pessoal	de	falar	abertamente	sobre	
vulnerabilidades	pessoais,	sobre	necessidades	reais.	Há	a	tendência	de	colocar	em	
quem	escuta	a	responsabilidade	pelas	frustrações	de	quem	fala.		Uma	linguagem	
coerciva,	 cheia	 de	 ameaças	 (veladas	 ou	 explícitas)	 e	 chantagens	 faz	 com	 que	
as	pessoas	se	expressem	com	menos	boa	vontade,	ainda	que	se	submetam	aos	
valores	impostos	–	uma	comunicação	alienante,	na	definição	de	Rosenberg	(2006).
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
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Falar	 sobre	 comunicação	 não	 violenta	 ou	 construtiva	 passa,	
necessariamente,	 por	 uma	 reflexão	 sobre	 o	 que	 é	 violência	 para	 cada	 pessoa.	
Violência	não	 é	 apenas	 aquela	 explícita	 que	 se	manifesta	por	 socos,	pontapés,	
xingamentos,	 tiros.	 Com	 um	 olhar	 atento	 é	 possível	 perceber	 que	 existe	 uma	
violência	inconsciente	e	que	ela	é	exercida	através	da	fala,	ou	silêncio,	contra	a	
própria	pessoa	ou	contra	os	outros	–	mesmo	que	não	haja	intenção	consciente.
Malvina	Ester	Muzkat	(2008,	p.	31),	em	seu	livro	Guia prático de mediação de 
conflitos em famílias e organizações,	define	violências	como:	
[...]	 toda	 e	 qualquer	 forma	 de	 constrangimento,	 coerção	 ou	
subordinação	exercida	sobre	outra	pessoa	por	uso	abusivo	de	‘poder’.		
Quando	 os	 níveis	 de	 tolerância	 à	 frustração	 são	 muito	 baixos,	 o	
indivíduo,	empenhado	em	defender-se	de	algum	tipo	de	dano	–	real	
ou	imaginário	–	reage	com	violência	[...].
Seguindo	 a	mesma	 lógica,	 Thomas	 D'Ansembourg	 (2018)	 refere	 que	 a	
violência	é	produto	de	uma	comunicação	não	consciente,	quando	o	indivíduo	se	
expressa	com	o	intuito	de	pressionar	os	envolvidos	de	forma	afetiva,	psicológica,	
moral,	hierárquica	ou	institucional.	Assim,	a	violência	velada	ou	implícita	é	muito	
mais	comum	do	que	a	explícita.
Tanto	Marshall	 Rosenberg	 quanto	 Thomas	D'Ansembourg	defendem	 a	
ideia	de	que	a	chave	para	a	melhora	da	comunicação	está	na	 linguagem.	Para	
eles,	esta	melhora	pode	operar	uma	transformação,	tornando	as	relações	menos	
agressivas	e	violentas.	
Os	princípios	de	uma	comunicação	mais	construtiva	ou	não	violenta	são	
aplicáveis	 em	 todos	 os	 níveis	 de	 relações	 interpessoais,	 no	 entanto	Rosenberg	
(2006)	 	 alerta	que	não	 se	 trata	de	uma	 técnica	de	uso	de	palavras,	visto	que	é	
muito	mais	abrangente	e	pode	estar	presente	nos	gestos,	na	expressão	facial,	na	
linguagem	corporal	ou	mesmo	no	silêncio	que,	segundo	ele,	é	uma	característica	
do	estar	presente,	estar	disponível		para	ouvir	e	acolher.
Quando	 a	 pessoa	 se	 torna	 mais	 consciente	 de	 como	 se	 comunica,	 ela	
pode	 ser	 mais	 clara	 e	 honesta	 ao	 manifestar	 reais	 e	 profundas	 necessidades.	
O	autoconhecimento	possibilita	a	percepção	e	o	entendimento	dos	gatilhos	de	
comportamentos	 e	 contextos	que	 tocam	e	desestabilizam,	 afastando	do	 estado	
natural	de	compaixão.	
Ao	 estudar	 os	 motivos	 pelos	 quais	 acontece	 o	 afastamento	 do	 estado	
natural	 de	 compaixão,	Rosenberg	 identificou	 formas	 específicas	da	 linguagem	
e	 da	 comunicação	 que	 contribuem	 para	 esse	 afastamento	 e	 fomentam	 os	
comportamentos	violentos	em	relação	aos	outros	e	à	própria	pessoa.	Rosenberg	
atribui	a	elas	o	nome	de	“comunicação	alienante	da	vida”.		São	elas:
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UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
a) Julgamentos moralizadores 
Esses	julgamentos	estimulam	a	violência	porque	estimulam	os	sentimentos	
de	 culpa,	 depreciam,	 criticam,	 comparam,	 reduzem	 as	 pessoas	 ao	 que	 outros	
interpretam	ou	julgam	que	elas	sejam.	Esse	tipo	de	comportamento	traz	a	ideia	de	
que	quem	não	pensa	e	age	de	acordo	com	os	valores	esperados	está	errado	ou	é	
ruim.	Analisar	e	interpretar	os	outros	acaba	por	expressar	quem	é	este	que	analisa	
e	interpreta,	quais	suas	necessidades	e	seus	valores.	Nas	palavras	de	Rosenberg	
(2006,	p.	39):
Estou	convicto	que	todas	essas	análises	de	outros	seres	humanos	são	
expressões	 trágicas	dos	nossos	próprios	valores	 e	necessidades.	 São	
trágicas	porque,	quando	expressamos	nossos	valores	e	necessidades	
de	tal	forma,	reforçamos	a	postura	defensiva	e	a	resistência	a	eles	nas	
próprias	pessoas	cujos	comportamentos	nos	interessam.	Ou,	se	essas	
pessoas	 concordam	 em	 agir	 de	 acordo	 com	 nossos	 valores	 porque	
aceitam	nossa	análise	de	que	estão	erradas,	é	provável	que	o	 façam	
por	medo,	culpa	ou	vergonha.
Julgamentos	 moralizantes	 são	 diferentes	 de	 julgamentos	 de	 valor.	
Enquanto	o	primeiro	faz	uma	análise	crítica	de	pessoas	e	comportamentos	que	
diferem	dos	seus,	o	segundo	reflete	aquilo	que	é	valorizado	na	sua	vida.	A	pessoa	
humana	é	estimulada,	desde	muito	cedo,	a	analisar,	tomar	decisões	baseadas	na	
racionalidade,	rotular,	separar	e	criar	categorias	distintas,	mas	é	pouco	estimulado	
a	se	conhecer,	a	expressar	seus	sentimentos	e	ouvir	com	atenção	ao	outro.
Disso	 resulta	 que	 a	 pessoa	 julga	 rapidamente	 situações	 e	 pessoas,	 sem	
aprofundar	sua	percepção	e	essa	interpretação	superficial	acaba	sendo	estabelecida	
como	 realidade,	 o	 que	 colabora	para	que	 a	 comunicação	fique	prejudicada	na	
interação	com	o	outro.
b) Fazer comparações 
Para	 Rosenberg	 (2006),	 comparações	 são	 outra	 forma	 de	 julgamento	
que	 também	 bloqueia	 a	 capacidade	 que	 temos	 de	 nos	 conectarmos	 e	 impede	
relacionamentos	saudáveis.
c) Negação da responsabilidade 
Na	visão	de	Marshall,	algumas	atitudes	como	autorresponsabilização	e	
pensamentos	são	cruciais	para	que	se	estabeleça	uma	comunicação	construtiva.	
Creditarao	 outro	 o	 poder	 de	 fazer	 alguém	 feliz	 ou	 entristecer-se	 é	 fugir	 da	
responsabilidade	pelos	próprios	sentimentos	e	delegar	ao	outro	um	poder	que	
não	lhe	pertence.	Quando	uma	pessoa	diz:	“estou	triste	porque	você...”,	ela	não	
está	assumindo	a	responsabilidade	pelo	que	sente,	ao	invés	disso,	está	delegando	
ao	outro	a	culpa	pelas	suas	dores	ou	frustrações.
A	 comunicação	 não	 violenta	 substitui	 a	 fala	 que	 deixa	 explícita	 ou	
implícita	a	falta	de	escolha	por	outra	que	reconheça	que	tem	possibilidades	de	
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
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escolha.	Por	exemplo,	alguém	que	diga	que	começou	a	fumar	porque	todos	os	
amigos	fumavam,	deposita	no	grupo	a	responsabilidade	pelo	seu	ato.	Começar	a	
fumar	ou	não	será	sempre	uma	escolha	pessoal.
d) Comunicar desejos como exigências 
Outra	forma	alienante	de	comunicação	é	manifestar	desejos	em	forma	de	
exigência,	ameaçando,	punindo	ou	culpando	o	outro	caso	não	sejam	atendidos.
D’Ansembourg	(2018)	diz	que	é	habitual	pensar	que	o	bem-estar	pessoal	é	
responsabilidade	da	pessoa	com	quem	se	convive,	não	da	própria	pessoa.	Assim,	
também,	 pensa-se	 ser	 capaz	 de	 suprir	 as	 necessidades	 dos	 outros	 com	 suas	
atitudes	e	exige-se	que	o	outro	faça	aquilo	que	se	quer	para	poder	ficar	satisfeito.	
Esse	pensamento	é	alienante	porque	frequentemente	gera	culpa	e	dependência	
daquilo	que	o	outro	faz	ou	deixa	de	fazer.
e) Sistema binário ou dualidade 
Há	uma	tendência	recorrente	de	se	classificar	tudo	em	categorias	de	certo	
e	errado,	positivo	e	negativo,	bom	e	mau,	justo	e	injusto	e	assim	por	diante.	Essa	
tendência	diminui	a	riqueza	e	a	diversidade	de	nuances	que	um	ser	humano	pode	
ser	capaz	de	possuir,	desagregando	ao	invés	de	somar,	gerando	violência	sobre	
as	pessoas.
 
Como	visto	anteriormente,	os	seres	humanos	evoluíram		enquanto	espécie	
porque	desenvolveram	capacidade	de	 cooperar	uns	 com	os	outros,	Rosenberg	
(2006)	diz	que	é	da	natureza	humana	dar	e	receber	com	compaixão,	entretanto	
os	 seres	 humanos	 são	 ensinados	 a	 se	 comunicarem	 de	modo	 a	 bloquear	 essa	
capacidade,	ao	que	ele	classifica	como	“comunicação	alienante	da	vida”.
Esse	tipo	de	comunicação	se	origina	de	sociedades	baseadas	na	hierarquia	
e	dominação,	na	classificação	dualista	entre	“certo”	e	“errado”,	“bem”	e	“mal”,	na	
não	aceitação	da	pluralidade	de	pensamento.	Segundo	o	autor,	quando	a	pessoa	
entra	em	contato	estreito	e	consciente	com	seus	sentimentos	e	necessidades,	deixa	
de	ser	subserviente.	“Aprendemos	muitas	formas	de	‘comunicação	alienante	da	
vida’	que	nos	levam	a	falar	e	a	nos	comportar	de	maneiras	que	ferem	aos	outros	
e	a	nós	mesmos”	(ROSENBERG,	2006,	p.	48).
A	comunicação	não	violenta	apresenta	dois	 eixos	principais:	 a	 empatia	
e	a	autenticidade.	A	empatia	é	a	habilidade	de	um	se	colocar	no	lugar	do	outro,	
a	forma	como	escuta	e	compreende	os	sentimentos	e	necessidades	das	pessoas.	
Já	a	autenticidade	tem	a	ver	com	a	habilidade	com	que	cada	um	expressa	seus	
sentimentos	e	necessidades	de	forma	construtiva,	para	que	o	outro	possa	escutar	
e	compreender	de	verdade.
40
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Quando	 um	 compreende	 respeitosamente	 o	 que	 os	 outros	 estão	
vivenciando,	pode	dizer	que	está	sendo	empático.	Por	outro	lado,	quando	oferece	
conselhos,	encoraja	ou	explica	seu	ponto	de	vista,	está	bloqueando	a	empatia.
A	 autenticidade	 tem	 a	 ver	 como	 um	 indivíduo	 trata	 a	 si	 mesmo	 nas	
situações	adversas.	Ao	aprender	a	identificar	e	aceitar	seus	próprios	sentimentos	
e	necessidades,	a	pessoa	pode	compreender	melhor	o	que	se	passa	com	os	outros	
quando	se	trata	dos	sentimentos	e	necessidades	alheias.	
A linguagem do lobo e a linguagem da girafa
Quando usamos uma linguagem desconectada de nossos sentimentos e necessidades, 
carregada de julgamentos e interpretações, a CNV chama de “linguagem do lobo” – feroz 
e impiedosa. Por outro lado, quando nos comunicamos conscientes e conectados com 
nossos sentimentos e necessidades, essa seria a “linguagem da girafa” – compassiva, 
assertiva e mais sustentável.
INTERESSANTE
4 A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA PARA UMA 
COMUNICAÇÃO CONSTRUTIVA
FIGURA 7 – CAPACIDADE DE ESCUTA
FONTE: . Acesso em: 21 jan. 2020.
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
41
A	 comunicação	 tem	 dois	 estágios:	 falar	 e	 escutar.	 Como	 o	 lado	 ativo	
da	comunicação	se	dá	pelo	ato	da	fala,	muitas	vezes	a	importância	da	escuta	é	
minimizada.	Algumas	vezes	é	possível	pensar	que	falar	alto	e	claramente	garante	
a	escuta.	Isto	pode	estar	tão	enraizado	na	forma	como	se	dá	a	comunicação	que	o	
ato	de	escutar	não	é	valorizado.
A	 escuta	 é	 um	 dos	 fatores	 cruciais	 para	 alcançar	 a	 empatia	 e,	
consequentemente,	 conectar	 e	 compreender	 melhor	 o	 que	 o	 outro	 comunica.	
Somente	aquele	que	se	sente	verdadeiramente	escutado	terá	predisposição	para	
escutar	verdadeiramente	também.	Escutar	é	diferente	de	simplesmente	ouvir	o	
que	foi	dito,	está	diretamente	relacionado	a	estar	atento	à	linguagem	não	verbal,	
aquela	que	é	comunicada	através	do	tom	de	voz,	dos	gestos,	do	olhar.
Tenha	claro	que	escutar	ativamente	não	é	apenas	ouvir.	É	identificar-
se,	compassivamente,	sem	julgamentos.	[...]	Escutar,	portanto,	é,	antes	
de	tudo,	atitude	e	reconhecimento;	essa	necessidade	básica	de	todos	
nós	nas	relações	interpessoais”	(VASCONCELOS,	2014,	p.	135).
Ouvir	 e	 escutar	 possuem	 significados	 distintos.	Ouvir	 é	 um	 fenômeno	
biológico	 que	 está	 associado	 à	 capacidade	 de	 distinguir	 sons	 em	 interações	
com	 o	meio,	 já	 escutar	 é	mais	 profundo.	Apesar	 de	 fazer	 parte	 do	 fenômeno	
biológico,	a	escuta	pertence	ao	campo	do	domínio	da	linguagem	e	está	associado	
à	interpretação	e	à	interação	social	entre	as	pessoas.	
O	 ato	 de	 escutar	 é	muito	 importante	 para	 o	 processo	 comunicacional.	
Dessa	forma,	praticar	uma	escuta	verdadeira	e	profunda	estimula	a	empatia	e	é	
um	dos	eixos	fundamentais	para	uma	comunicação	construtiva.	
42
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Segundo o professor e pesquisador do Massachusetts Institute of Technolo-
gy, Otto Scharmer (2010), a escuta possui quatro níveis diferentes de consciência:
• Nível 1 – Dowloading – é a escuta mais superficial e se manifesta em respostas auto-
máticas ou quando uma pessoa concorda sem prestar atenção ao que foi falado.
• Nível 2 – Open mind – quando o julgamento é desligado e é aberta a mente para es-
cutar os fatos sem alterá-los com a percepção ou expectativas pessoais. Para que esse 
nível de escuta ocorra é necessário que a pessoa esteja concentrada no que está sendo 
dito e aberta para acolher a percepção ou ponto de vista do outro. 
• Nível 3 – Open heart – este nível é o da escuta empática, quando a pessoa abre o co-
ração para buscar compreender a visão de mundo do outro, que pode ser radicalmente 
diferente da sua. Ao ouvir empaticamente, são abertos a mente e o coração para esta-
belecer uma conexão com o outro, o que pode proporcionar um entendimento mais 
profundo do que está sendo dito.
• Nível 4 – Open Will – é o nível mais profundo de escuta e se dá quando uma pessoa é 
capaz de entender como a outra está criando seu pensamento, alcançando assim um 
grau de profundidade que possibilita compreender e se conectar com os sentimen-
tos e necessidades das pessoas com as quais está se comunicando. Possibilita que se 
pratique a empatia e que seja capaz de criar junto ao outro novos pensamentos, novas 
ideias e novos projetos.
FONTE: Adaptado de . Acesso em: 13 dez. 2019.
IMPORTANTE
Para	Rosenberg	(2006)	a	empatia	é	a	compreensão	respeitosa,	através	de	
uma	escuta	qualificada	do	outro	e	só	pode	ocorrer	quando	se	esvazia	a	mente	de	
todos	os	julgamentos	e	ideias	preconcebidas.
Ao prestarmos mais atenção ao modo como escutamos e passarmos a praticar 
uma escuta cada vez maisconsciente, vamos poder notar com mais facilidade o efeito 
dessa habilidade nas relações e na construção de uma comunicação mais eficaz.
ATENCAO
No	processo	da	 comunicação	não	violenta,	 as	palavras	utilizadas	pelas	
pessoas	ao	se	expressarem	não	são	o	mais	importante.	Imprescindível	é	escutar	
atentamente	o	que	os	outros	estão	observando,	sentindo,	necessitando	e	pedindo	
para	além	do	que	é	dito,	para	que,	assim,	se	abram	oportunidades	de	construção	
de	diálogo	e	maior	conexão	entre	as	pessoas.	
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
43
O porquê da CNV ser considerada a língua das girafas
Rosenberg (2006) usou a metáfora da girafa para ilustrar como as intenções, palavras e 
ações contribuem para a vida ou alienam dela.
A girafa é o mamífero terrestre com o maior coração do reino animal. O seu coração irriga 
o sangue pelo seu pescoço até o cérebro, com um coração tão grande assim, a ideia 
é de que as girafas “ouvem” com o coração, não fazendo julgamentos de valor, apenas 
observando, com empatia e uma presença afetuosa.
O longo pescoço representa a visão, a capacidade de ver claramente a questão. 
Além disso, as girafas se alimentam de acácia, uma planta com muitos espinhos. Assim, 
podemos aprender com as girafas como atravessar os desafios e dificuldades das relações 
encontrando o prazer e a nutrição que sustentam e dão sentido à vida.
INTERESSANTE
Na	essência	da	comunicação	não	violenta	estão	quatro	componentes	que	
garantem	um	diálogo	mais	 produtivo	 e	 sustentável,	 baseado	 na	 empatia	 e	 na	
autenticidade,	e	que	são	conhecidos	como	os	quatro	componentes	ou	passos	da	
CNV.	
5 OS QUATRO COMPONENTES PARA A CONSTRUÇÃO 
DE AVANÇOS NOS PROCESSOS COMUNICACIONAIS – 
OS QUATRO PASSOS DA CNV
 
A	 comunicação	 humana,	 como	 visto	 anteriormente,	 é	 algo	muito	mais	
dinâmico	que	simplesmente	a	aplicação	de	uma	fórmula.	Entretanto,	para	fins	de	
aprendizagem,	Rosenberg	(2006)	assinala	quatro	passos	que,	quando	aplicados,	
podem	 facilitar	 o	 processo.	 Cada	 um	 desses	 passos	 ou	 componentes	 constrói	
uma	 parte	 da	 mensagem	 que	 comunicará	 aos	 interlocutores	 sentimentos	 e	
necessidades,	possibilitando	a	busca	de	soluções	conjuntas	das	questões	tratadas	
através	do	diálogo.	São	eles:	observação,	sentimentos,	necessidades,	pedido.
5.1 OBSERVAÇÃO 
 
É	 um	 componente	 importante	 no	 processo	 proposto	 por	 Rosenberg	 e	
é	 diferente	 de	 avaliação.	 Quando	 alguém	 se	 propõe	 a	 utilizar	 a	 comunicação	
não	violenta,	deve	ter	em	mente	que,	ao	observar	uma	situação,	deve	descrever	
clara	 e	 honestamente	 aquilo	 que	 aconteceu,	 o	 que	 viu,	 o	 que	 sentiu.	 Segundo	
44
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Rosenberg	 (2006),	 quando	 alguém	 faz	 uma	 observação,	 acaba	 colocando	 sua	
interpretação	naquilo	que	aconteceu.	E	é	este,	para	ele,	o	ponto	mais	importante	
desse	componente:	a	diferença	entre	observação	e	avaliação.
 
Observações	são	os	fatos,	as	ações,	o	que	houve.	Observação	não	acarreta	
julgamento,	 avaliação,	 diagnóstico	 ou	 interpretação	 do	 que	 aconteceu.	 Para	
Rosenberg	 (2006,	 p.	 57),	 “a	CNV	 é	 uma	 linguagem	dinâmica	 que	desestimula	
generalizações	estáticas.	Em	vez	disso,	as	observações	devem	ser	feitas	de	modo	
específico,	para	um	tempo	e	um	contexto	determinado”.
AUTOATIVIDADE
Para	 exercitar	 a	 habilidade	 de	 observar	 sem	 avaliar,	 será	 apresentado	 um	
exercício.	Marque	 apenas	 as	 afirmações	 que	 contemplem	 uma	 observação,	
sem	nenhuma	avaliação	relacionada.
Afirmações
a)	(			)	Na	reunião	de	hoje,	Carla	estava	irritada	comigo	sem	motivo.
b)	(			)	Hoje	de	manhã,	Luiz	levou	sua	xícara	para	a	pia	e	a	lavou.
c)	(			)	Meu	chefe	é	uma	boa	pessoa.
d)	(			)	Minha	mãe	trabalha	muito.
e)	(			)	Melissa	frequentemente	se	atrasa	para	as	reuniões	de	sexta.
f)	 (			)	Carla	fala	muito.
g)	(			)	Marcelo	não	pegou	a	lista	do	supermercado.
h)	(			)	Marcelo	sempre	esquece	a	lista	do	supermercado.
i)	 (			)	Susana	me	disse	que	não	devo	deixar	as	pastas	fora	de	ordem.
j)	 (			)	Valéria	está	muito	nervosa.
5.2 SENTIMENTOS
O	segundo	passo	ou	componente	da	CNV	é	a	expressão	de	sentimentos.	
Se	ao	observar,	normalmente,	 já	se	 inicia	o	processo	de	avaliação	das	atitudes,	
atribuindo	culpa	a	outra	pessoa,	a	 interpretação	leva	por	caminhos	ainda	mais	
tortuosos.	 Dessa	 forma,	 expressar	 sentimentos	 pode	 ser	 bem	 desafiador.	 Os	
indivíduos	não	são	estimulados	a	tomar	consciência	do	que	sentem,	tampouco	a	
expressarem	sentimentos	com	clareza.	
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
45
FONTE: . Acesso em: 21 jan. 2020.
FIGURA 8 – A RODA DOS SENTIMENTOS
Muitas	vezes	determinada	situação	é	mal	interpretada,	o	que	acaba	por	
despertar	sentimentos	ruins,	já	que	a	pessoa	acredita	que	o	outro	é	culpado,	sendo	
a	ela	direcionada	a	frustração.	Este	ordenamento	acaba	por	convencer	a	pessoa	
que	aquele	sentimento	foi	causado	pelo	outro,	ou	seja,	a	culpa	pelo	que	um	sente	
é	creditada	ao	outro.	A	projeção	é	feita	de	fora	para	dentro,	o	que	para	Rosenberg 
(2006) significa: o que os outros fazem pode ser um estímulo para o que se sente, 
mas não a causa. 
Outro	ponto	importante	no	segundo	componente	da	CNV	é	diferenciar	
pseudossentimentos	de	sentimentos.	Os	pseudossentimentos	são	carregados	de	
julgamento	e	culpa.	Segundo	Rosenberg	(2006),	os	sentimentos	não	são	claramente	
expressos	quando	é	usada	a	palavra	“sentir”	seguida	de	termos	como	que,	como,	
como se.	Por	exemplo:	
“Sinto	que	Marcos	tem	sido	muito	exigente	comigo.”
“Sinto-me	como um	idiota.”
“Sinto	como se	ela	me	ignorasse.”
“Sinto	que	não	consegui	um	acordo	justo.”
Quando	realmente	expressamos	um	sentimento,	não	precisamos	dessas	
expressões.	Veja	a	seguir:	
“Estou	muito	alegre	com	a	nova	fase	da	minha	vida.”
“Sinto-me	frustrada	por	não	conseguir	conversar	com	ele.”
“Estou	triste	por	não	poder	viajar	no	feriado.”
“Estou	me	sentido	frustrado	com	o	acordo	que	fiz.”
46
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
O	 uso	 de	 palavras	 como	 ameaçado,	 ignorado,	 pressionado,	 traído	 ou	
usado,	interpreta	o	que	a	pessoa	entende	que	os	outros	fazem	com	ela.	Quando	
cada	 um	 se	 responsabiliza	 pelos	 seus	 sentimentos	 e	 não	 se	 vitimiza,	 pode	 se	
tornar	mais	consciente	de	seus	sentimentos	e	consegue	se	expressar	com	maior	
autenticidade.	
O	segundo	componente	da	CNV	questiona:	O	que	você	sentiu	ou	como	
está	se	sentindo	diante	dessa	situação?	
Segundo	Rosenberg	(2006),	é	necessária	a	construção	de	um	vocabulário	
mais	rico	para	expressar	sentimentos,	usando	palavras	que	expressem	emoções	
de	forma	mais	específica	e	menos	genérica.	Um	exemplo	dado	por	ele	diz	respeito	
a	quando,	em	resposta	a	uma	pergunta,	a	pessoa	diz	“estou	me	sentindo	bem”.	
Para	 ele,	 essa	 palavra	 “bem”	 pode	 ter	 muitos	 significados,	 tais	 como	 alegre,	
satisfeito,	aliviado,	entre	outras.	Essa	palavra	tem	um	significado	muito	amplo,	o	
que	acaba	por	impedir	uma	conexão	real	com	o	que	a	pessoa	está	sentindo.
A	seguir,	a	lista	de	sentimentos,	compiladas	por	Rosenberg	(2006,	p.	72-
73),	identificáveis	quando	necessidades	são	atendidas:
à	vontade
absorto
agradecido
atônito
ávido
bem-humorado
calmo
carinhoso
complacente
compreensivo
concentrado
confiante
confiável
consciente
contente
criativo
curioso
despreocupado
emocionado
empolgado
encantado
encorajado
engraçado
entretido
alegre
alerta
aliviado
entusiasmado
envolvido
equilibrado
esperançoso
esplêndido
estimulado
excitado
extasiado
exuberante
exultante
falante
fascinado
feliz
glorioso
gratificado
grato
inspirado
interessado
livre
maravilhado
maravilhoso
alegre
alerta
aliviado
entusiasmado
envolvido
equilibrado
esperançoso
esplêndido
estimulado
excitado
extasiado
exuberante
exultante
falante
fascinado
feliz
glorioso
gratificado
grato
inspirado
interessado
livre
maravilhado
maravilhoso
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
47
A	 seguir,uma	 lista	 de	 sentimentos	 identificáveis	 quando	 necessidades	
não	são	atendidas,	segundo	Rosenberg	(2006,	p.	74	-75):
abandonado
abatido
aflito
agitado
alvoroçado
amargo
amargurado
amedrontado
angustiado
ansioso
apático
apavorado
desiludido
desolado
despreocupado
encabulado
encrencado
enojado
entediado
envergonhado
exagerado	
exausto
fraco
frustrado
fulo
furioso
hesitante
horrorizado
hostil
impaciente
impassível
incomodado
apreensivo
arrependido
assustado
aterrorizado
atormentado
austero
bravo
cansado
carregado
cético
chateado
chocado
indiferente
infeliz
inquieto
inseguro
insensível
instável
irado
irritado
letárgico
magoado
mal-humorado
melancólico
monótono
mortificado
nervoso
obcecado
oprimido
perplexo
perturbado
pesaroso
ciumento
confuso
consternado
culpado
deprimido
desapontado
desatento
desconfiado
desconfortável
descontente
desesperado
desencorajado	
pessimista
péssimo
preguiçoso
preocupado
rancoroso
receoso
rejeitado
relutante
ressentido
segregado
sem	graça
sensível	
solitário
sonolento
soturno
surpreso
taciturno
temeroso
tenso
triste
AUTOATIVIDADE
Apresentamos	outro	exercício	para	testar	o	alinhamento	acerca	da	verbalização	
dos	sentimentos.	Marque	as	afirmações	que	estão	sendo	expressas	verbalmente.
Afirmações
a)	(			)	Sinto	que	você	não	me	respeita.
b)	(			)	Estou	triste	porque	você	está	indo	embora.
c)	(			)	Fico	decepcionado	quando	ouço	você	me	dizer	essas	coisas.
d)	(			)	Quando	você	passa	por	mim	e	me	ignora,	sinto-me	abandonada.
e)	(			)	Estou	feliz	com	a	sua	vinda.
f)	 (			)	Você	é	um	egoísta.
48
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
g)	(			)	Sinto	muita	raiva	quando	você	me	diz	essas	coisas.
h)	(			)	Sinto-me	mal	compreendido	nessa	situação.
i)	 (			)	Sinto-me	contente	a	respeito	do	que	você	fez	por	mim.
j)	 (			)	Estou	irritada	e	nervosa	com	o	seu	atraso.
FONTE: Rosenberg (2006)
5.3 NECESSIDADES
O	 terceiro	 componente	 da	 CNV	 diz	 respeito	 ao	 reconhecimento	 e	
expressão	das	necessidades	de	forma	clara	e,	assim,	à	capacidade	de	assumir	a	
responsabilidade	pelos	sentimentos,	pois	o	que	os	outros	dizem	ou	fazem	pode	
ser	um	“gatilho”	para	o	que	é	sentido,	mas	nunca	a	causa.
Para	Marshall,	 sentimentos	 são	gerados	por	necessidades	 atendidas	ou	
não.	Por	exemplo,	se	alguém	tem	necessidades	relacionadas	à	alimentação,	sono	e	
afeto	atendidas	poderá	se	sentir	confortável,	satisfeito,	alegre	etc.	Caso	não	tenha	
suas	necessidades	de	conforto,	pertencimento	ou	aceitação	atendidas,	a	pessoa	
poderá	se	sentir	triste,	frustrada,	infeliz.
Muitas	vezes	não	é	possível	entender	claramente	as	necessidades	para	poder	
expressar	sentimentos.	Isso	acontece	porque	existe	a	tendência	de	responsabilizar	
e	culpar	o	outro	pelo	contexto	do	conflito	e	pelos	sentimentos	desencadeados.	
Assim,	o	outro	poderá	se	sentir	atacado	pela	forma	de	comunicação.	
Segundo	Rosenberg	(2006,	p.	95),	quando	a	comunicação	não	é	realizada	
de	forma	positiva,	há	quatro	opções	possíveis	de	recepção	da	mensagem	emitida:
1)	A	pessoa	culpa	a	si	mesma.
2)	Culpa	os	outros.
3)	Percebe	seus	próprios	sentimentos	e	necessidades.
4)	Percebe	os	sentimentos	e	necessidades	ocultos	por	trás	da	mensagem	negativa	
da	outra	pessoa.
Como	 foi	 visto	 anteriormente,	 a	 pessoa,	 ao	 julgar,	 criticar,	 fazer	
diagnósticos	e	interpretações	das	atitudes	dos	outros,	segundo	Rosenberg	(2006),	
realiza	expressões	alienantes	e	trágicas	de	suas	necessidades.
Quando	 necessidades	 são	 expressas	 indiretamente,	 através	 do	 uso	 de	
avaliações,	 interpretações	 e	 imagens,	 muito	 provavelmente	 a	 pessoa	 escutará	
como	uma	crítica,	tendendo	a	agir	na	defensiva	ou,	ainda,	contra-atacando	o	que	
foi	dito.	Quando	existe	desejo	de	realizar	conexões	compassivamente	com	o	outro,	
é	necessária	a	expressão	clara	do	que	se	passa	e,	assim,	será	aberta	possibilidade	
de	que	o	outro	reaja	com	compaixão.
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
49
A	 pessoa	 humana	 está	 habituada	 a	 pensar	 no	 que	 há	 de	 errado	 no	
comportamento	 dos	 outros	 sempre	 que	 suas	 necessidades	 não	 são	 atendidas.	
Assim,	se	existe	o	desejo	de	que	a	casa	esteja	em	ordem,	os	tênis	no	lugar	certo,	por	
exemplo,	é	possível	rotular	os	filhos	de	preguiçosos	por	deixá-los	na	sala	ao	invés	
de	falar	sobre	os	sentimentos	de	ver	os	calçados	fora	do	lugar	e	da	necessidade	
não	atendida.
 
Marshall	ressalta	que,	em	sua	experiência,	quando	as	pessoas	começam	a	
conversar	sobre	o	que	precisam,	ao	invés	de	falar	do	que	está	errado,	a	possibilidade	
de	encontrar	maneiras	de	atender	às	necessidades	de	todos	aumenta.
 
Caso	não	se	preste	atenção	às	próprias	necessidades,	há	o	 risco	de	que	
os	 outros	 também	 não	 as	 reconheçam.	 Eis	 alguns	 exemplos	 de	 necessidades	
humanas	 que	 todos	 compartilham,	 às	 quais	 Rosenberg	 se	 refere	 em	 seu	 livro	
(2006,	p.	86-88):
Autonomia:
•	 escolher	os	próprios	sonhos,	objetivos	e	valores;
•	 escolher	seu	próprio	plano	para	realização	desses	sonhos,	objetivos	e	valores.
Celebração:
•	 celebrar	a	vida	e	os	sonhos	realizados;
•	 elaborar	perdas	de	entes	queridos,	sonhos	etc.	(luto).
Integridade:
•	 autenticidade;
•	 autovalorização;
•	 criatividade;
•	 significado.
Interdependência:
•	 aceitação;
•	 amor;
•	 apoio;
•	 apreciação;
•	 calor	humano;
•	 compreensão;
•	 comunhão;
•	 confiança;
•	 consideração;
•	 contribuição	para	o	 enriquecimento	da	vida	 (exercitar	o	poder	de	 cada	um,	
doando	aquilo	que	contribui	para	vida);
•	 empatia;
•	 encorajamento;
•	 honestidade	(a	honestidade	que	nos	fortalece,	capacitando-nos	a	aprender	com	
nossas	limitações);
•	 proximidade;
50
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
•	 respeito;
•	 segurança	emocional.
Lazer:
•	 diversão;
•	 riso.
Comunhão	espiritual:
•	 beleza;
•	 harmonia;
•	 inspiração;
•	 ordem;
•	 paz.
Necessidades	físicas:
•	 abrigo;
•	 água;
•	 alimento;
•	 ar;
•	 descanso;
•	 expressão	sexual;
•	 movimento,	exercício;
•	 proteção	 contra	 formas	 de	 vida	 ameaçadoras:	 vírus,	 bactérias,	 insetos,	
predadores;
•	 toque.
 
O	terceiro	componente	da	CNV	apresenta	um	questionamento:	Do	que	
cada	um	necessita?	Quais	necessidades	não	foram	atendidas	nessa	situação?	
AUTOATIVIDADE
Faça	 este	 exercício	 para	 testar	 seu	 entendimento	 acerca	 da	 verbalização	 das	
necessidades.	Marque	as	afirmações	que	estão	sendo	expressas	verbalmente.
Afirmações
a)	(	 		)	Você	me	 irrita	profundamente	quando	fica	 falando	por	horas	a	fio	ao	
telefone.
b)	(			)	Fico	com	raiva	quando	você	faz	isso	porque	quero	sua	atenção	depois	de	
um	dia	longo	de	trabalho.
c)	(			)	Quando	você	marca	um	encontro	e	não	vem,	fico	muito	frustrada.
d)	(			)	Estou	frustrada	porque	meu	chefe	apresentou	o	projeto	e	não	disse	que	
fui	eu	quem	o	desenvolveu.
e)	(			)	Fiquei	desapontada	porque	você	disse	que	iria	buscar	as	crianças	e	não	foi.
f)	 (			)	Estou	triste	porque	você	não	veio,	precisava	de	companhia.
g)	(			)	Estou	muito	feliz	com	a	aprovação	do	seu	plano	de	carreira.
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
51
h)	(			)	Fico	com	medo	quando	você	levanta	o	tom	de	voz.
i)	 (			)	Estou	grata	por	você	ter	trazido	os	documentos	para	a	reunião.
j)	 (			)	Estou	motivada	porque	sinto	que	estou	progredindo	nos	meus	estudos.
FONTE: Rosenberg (2006)
5.4 PEDIDO
O	último	e	mais	importante	passo	ou	componente	da	CNV	diz	respeito	
a	 como	 fazer	 um	 pedido	 de	 maneira	 clara	 e	 específica.	 Como	 é	 possível	
expressar	pedidos	de	modo	que	os	outros	estejam	mais	dispostos	a	 responder	
compassivamente	a	essas	necessidades?
A	CNV	 é	 utilizada	 para	 escutar	 as	 necessidades	 de	 outra	 pessoa,	mas	
geralmente	acaba-se	por	utilizá-la	para	expressar	as	próprias	necessidades.	Em	
geral	a	comunicação	é	realizada	para	mostrar	ao	outro	no	que	ele	está	“errando”	
e	pedir	algo	que	muitas	vezes	ele	não	compreende.	O	pedido	precisa	ser	positivo	
e	ainda	mais	específico	do	que	a	expressão	de	sentimentos	e	necessidades.	Por	
exemplo,	se	alguém	quer	o	respeito	de	alguém,	oque	essa	pessoa	precisa	fazer	
para	que	a	outra	se	sinta	respeitada?	Quais	são	as	ações	que	são	esperadas	de	
uma	pessoa	para	que	outra	pessoa	se	sinta	respeitada?	
Os	 pedidos	 precisam	 ser	 claros,	 detalhados,	 para	 que	 o	 outro	 possa	
compreender	e	escolher	se	pode	atender	ou	não.	Fazer	um	pedido,	e	não	uma	
exigência,	de	maneira	clara	e	específica,	auxilia	a	expressar	aquilo	que	se	precisa	
de	modo	que	os	outros	se	sintam	mais	dispostos	a	responder	compassivamente	às	
necessidades	expressas.	Importante	enfatizar	que,	mesmo	no	pedido	de	algo,	os	
sentimentos	do	outro	devem	ser	considerados,	bem	como	a	busca	por	estratégias	
que	estejam	alinhadas	com	as	necessidades	de	ambos.	Exigências	disfarçadas	de	
pedidos	são	aquelas	em	que	o	ouvinte	acredita	que	será	punido	de	alguma	forma	
caso	não	atenda	o	que	lhe	foi	solicitado.
É	importante	usar	uma	linguagem	de	ações	positivas,	dizer	aquilo	de	que	
se	precisa	ou	quer,	e	não	aquilo	que	não	se	quer.	É	possível	identificar	quando	
está	se	fazendo	uma	exigência	(ou	um	“não	pedido”)	quando	não	se	consegue	
aceitar	um	“não”.	Ao	não	aceitar	o	“não”	como	resposta,	estará	sendo	feita	uma	
exigência.	Um	pedido	verdadeiro	acontece	quando	se	aceita	uma	negação	ao	que	
é	pedido,	pois	somente	assim	se	estará	oferecendo	um	“sim”	para	a	necessidade	
do	outro.
O	quarto	 componente	da	CNV	questiona:	Que	pedido	pode	 ser	 feito	 a	
essa	 pessoa?	 Como	 é	 possível	 tornar	 esse	 pedido	 mais	 específico?	 Há	 outras	
estratégias	possíveis?
52
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
AUTOATIVIDADE
Mais	uma	vez	é	apresentado	um	exercício	para	o	desenvolvimento	de	habilidades	
para	formatar	pedidos.	Identifique	em	quais	das	afirmações	a	seguir	as	pessoas	
estão	se	expressando	claramente	ao	fazer	um	pedido.
Afirmações
a)	(			)	Preciso	que	você	me	ame	verdadeiramente.
b)	(		)	Gostaria	que	você	me	dissesse	uma	atitude	concreta	que	eu	fiz	e	que	te	
deixou	satisfeita.
c)	(			)	Gostaria	que	você	demonstrasse	mais	respeito	por	mim.
d)	(			)	Quero	que	você	pare	de	beber.
e)	(			)	Eu	mereço	mais	tempo	de	folga.
f)	 (			)	Preciso	de	mais	espaço	no	nosso	relacionamento.
g)	(			)	Quero	que	você	seja	um	pai	mais	presente.
h)	(		)	Gostaria	que	você	se	responsabilizasse	por	fazer	a	janta	duas	vezes	por	
semana,	na	segunda	e	na	quarta,	pois	nesses	dois	dias	tenho	aula	de	francês.
i)	 (			)	Você	precisa	ser	mais	profissional.
j)	 (				)	Eu	gostaria	que	você	elogiasse	também	minhas	conquistas	ao	invés	de	me	
dar	feedback	apenas	quando	eu	erro.
FONTE: Rosenberg (2006)
Como estratégia para complementar o aprendizado, indicamos os seguintes 
filmes:
Preciosa (Lee Daniels, 2009) – O filme conta a história de Claireece Preciosa Jones – mais 
conhecida como Preciosa, uma garota de 16 anos, grávida do próprio pai pela segunda vez 
e vítima de abuso de sua mãe. Preciosa descobre uma nova chance para mudar sua vida 
com a ajuda da professora de sua nova escola, sra. Rain.
DICAS
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
53
Gandhi (Richard Attenborough, 1982) – Este filme, baseado em uma história real e decisiva 
para a Índia, demonstra o quanto a não violência tem a capacidade de gerar grandes 
transformações. A trama conta os acontecimentos mais importantes da vida de Mohandas 
Gandhi, o líder indiano que enfrentou o domínio britânico sobre seu país através da paz e 
do diálogo.
Eu, Daniel Blake (Ken Loach, 2016) – O filme conta a história de Daniel Blake, um senhor 
desempregado e incapacitado de trabalhar por causa de uma doença. Em busca de uma 
recolocação no mercado de trabalho, ele tem uma série de diálogos com diferentes 
profissionais ao longo da trama, por exemplo, assistentes sociais. É interessante perceber 
como nenhuma dessas pessoas com quem ele conversa consegue, de fato, escutá-lo e 
compreender suas necessidades.
https://www.google.com/search?rlz=1C1GCEU_pt-BRBR887BR887&q=Richard+Attenborough&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LUz9U3MDKwzMhS4gAxs4tM47XEspOt9NMyc3LBhFVKZlFqckl-0SJWkaDM5IzEohQFx5KS1Lyk_KL80vSMHayMAD4eP_lJAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwivvZrF49jnAhWfDrkGHdtqDi0QmxMoATAfegQIERAL
54
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Extraordinário (Stephen Chbosky, 2017) – O filme acompanha a vida de Auggie Pullman, 
um garoto que nasceu com uma deformidade facial e está indo para uma escola regular 
pela primeira vez, onde enfrentará grandes desafios em uma realidade diferente da qual 
ele cresceu.
A Vida é Bela (Roberto Benigni, 1997) – Este filme retrata, com humor e leveza, a empatia 
e a compaixão de um pai por seu filho. Em plena Segunda Guerra Mundial, ambos são 
levados para um campo de concentração nazista, no qual o pai precisa usar sua imaginação 
para convencer o filho de que tudo a sua volta é uma grande brincadeira, afastando-o do 
verdadeiro horror de sua realidade.
Como leitura complementar, sugerimos os seguintes livros:
DICAS
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
55
D'ANSEMBOURG, T. Como se relacionar bem usando a comunicação não violenta. Rio 
de Janeiro: Sextante, 2018.
BROWN, B. A coragem de ser imperfeito. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.
ROSENBERG, M. B. A Linguagem da paz em um mundo de conflitos. São Paulo: Palas 
Athena, 2005.
ROSENBERG, M. B. Comunicação Não Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos 
pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
ROSENBERG, M. B. Vivendo a comunicação Não Violenta. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.
KRZNARIC, R. O poder da empatia: a arte de se colocar no lugar do outro para trans-
formar o mundo. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.
56
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
LEITURA COMPLEMENTAR
A importância do diálogo e da comunicação não violent no desenvolvimento 
do líder
Vivian	Correa	
Este	artigo	busca	a	compreensão	e	identificação	do	diálogo	como	importante	
característica	de	 líderes	de	equipes,	sejam	eles	supervisores,	coordenadores	ou	
gerentes.	Aqui,	a	proposta	é	falar	de	um	estilo	de	comunicação	útil	ao	líder	no	seu	
dia	a	dia,	independentemente	das	características	da	comunicação	interna	formal	
da	empresa.	Para	tanto,	busca	insights	na	teoria	de	Marshall	B.	Rosenberg,	que	
trata	do	tema	comunicação	não	violenta,	conhecida	pela	sigla	CNV.
Segundo	essa	proposta,	para	a	obtenção	de	bons	resultados	no	trabalho,	
devemos	utilizar	o	diálogo	para	melhorar	a	nossa	convivência,	além	de	aumentar	
nosso	respeito	e	tolerância	ao	outro.	Este	ensaio	busca	observar	uma	situação	bem	
específica	em	que	o	diálogo	acontece	nas	organizações:	o	momento	do	feedback.	
Os	líderes	são	porta-vozes	das	empresas,	agentes	capazes	de	identificar	
problemas	ainda	em	sua	fase	inicial.	É	por	essa	razão	que	a	comunicação	entre	
líderes	e	suas	equipes	deve	apresentar	clareza	e	coerência	para	as	necessidades	
corporativas	fluírem	de	forma	eficaz.
	 O	 líder	 que	 não	 consegue	 tornar	 a	 comunicação	 eficaz	 perde	 tempo,	
conhecimento,	investimento	e	ainda	pode	gerar	um	clima	de	desconfiança	e	falta	
de	credibilidade.
O	estilo	de	liderança	e	a	personalidade	do	líder	muitas	vezes	se	sobrepõem	
aos	objetivos	estratégicos,	podendo	trazer	muitos	problemas	para	a	equipe.	Um	
líder	 que	 impõe	 suas	 formas	 de	 atuação,	 por	 exemplo,	 pode	 trazer	 inúmeros	
problemas,	como	o	medo	de	as	equipes	oferecerem	um	feedback	honesto	sobre	
seus	superiores.
A importância do feedback 
 
O	feedback	não	é	uma	opinião	que	expresse	um	sentimento	ou	emoção,	
mas	sim	um	retorno	que	valida	ou	invalida	um	dado	comportamento	ou	realização	
com	base	em	parâmetros	claros,	objetivos	e	verificáveis.	
Feedbacks	 versam	 sobre	 desempenho,	 conduta	 e	 resultados	 obtidos	
através	de	ações	realizadas.	
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
57
O	objetivo	fundamental	do	feedback	é	ajudar	as	pessoas	a	melhorarem	seu	
desempenho	e	performance	por	meio	do	 fornecimento	de	 informações,	dados,	
críticas	e	orientações	que	permitam	reposicionar	suas	ações	em	um	maior	nívelde	eficiência,	eficácia,	efetividade	e	excelência.
Para	alcançar	o	nível	de	uma	equipe	preparada,	é	necessário	que	o	líder	
tenha	 como	 base	 alguns	 valores	 primordiais,	 como	 foco	 em	 resultados,	 saber	
ouvir,	dar	 e	 receber	 feedback,	 reflexão	e	percepção	do	outro,	 conviver	 com	as	
diferenças	e	saber	compartilhar	opiniões.	Desenvolvendo	essas	habilidades,	o	líder	
estará	preparado,	inclusive,	para	gerenciar	situações	que	venham	a	desencadear	
problemas	emocionais.	Estar	atento	com	os	sentimentos	e	tudo	que	possa	estar	
vinculado	 às	 necessidades	de	 cada	pessoa	 fazem	 com	que	nos	 tornemos	mais	
propensos	a	conectarmos	com	o	outro.	
Ao	 liderar	 uma	 equipe	 é	 comum	 nos	 depararmos	 com	 situações	
inesperadas	e	problemas	de	relacionamento	entre	os	integrantes	da	equipe	e	até	
mesmo	com	os	pares	de	outros	setores.
A	 ausência	 de	 feedback	 torna	 a	 comunicação	 deficiente	 e	 geradora	 de	
conflito,	de	um	modo	geral	as	pessoas	não	se	comprometem	em	dar	retorno,	seja	
por	falta	de	familiaridade	ou	negligência.
O	feedback	é	um	processo	que	promove	mudanças	de	comportamento	e	
atitudes	e,	para	que	seja	eficaz,	ele	precisa	ajudar	a	pessoa	a	ter	melhora	em	seu	
desempenho.
A comunicação não violenta 
As	diferenças	culturais,	de	valores	e	de	crenças	já	são,	por	si	sós,	fatores	
que	 inevitavelmente	podem	gerar	 conflitos	durante	 a	 vida	profissional	de	um	
líder.	
Algumas	habilidades	como	saber	trabalhar	em	equipe,	analisar	e	identificar	
problemas,	sempre	com	coerência	com	o	que	a	empresa	tem	como	premissa,	de	
forma	 clara,	 ouvindo	 sempre	os	dois	 lados,	 facilita	muito	o	 entendimento	das	
partes	 envolvidas,	 tendo	 o	 respeito	 e	 a	 empatia	 como	 fator	 norteador	 numa	
comunicação	não	violenta.	
De	acordo	com	Rosenberg	(2006)	nossa	capacidade	de	oferecer	empatia	
pode	 nos	 permitir	 continuar	 vulneráveis,	 desarmar	 situações	 de	 violência	 em	
potencial,	ajudar	a	ouvir	a	palavra	“não”	sem	tomá-la	como	rejeição,	reviver	uma	
conversa	sem	vida	e	até	a	escutar	os	sentimentos	e	necessidades	expressos	através	
do	silêncio.	Repetidas	vezes,	as	pessoas	transcendem	os	efeitos	paralisantes	da	
dor	psicológica,	 quando	 elas	 têm	 suficiente	 contato	 com	alguém	que	 as	possa	
escutar	com	empatia.	
58
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Quando	o	líder	não	consegue	criar	essa	empatia,	cria-se	um	obstáculo	para	
que	a	boa	comunicação	aconteça.	No	lugar	delas,	o	que	vemos	são	resistências	
que,	 com	o	 tempo,	 começam	a	gerar	o	que	Rosenberg	 chama	de	 comunicação	
violenta:	ações	impostas	e	falta	de	participação	da	equipe	na	tomada	de	decisões.	
No	ambiente	corporativo,	a	falta	da	relação	de	 interação	entre	 líderes	e	
suas	 equipes	 são	os	principais	 responsáveis	pela	maioria	das	 crises	de	gestão,	
desacertos	gerenciais	e	conflitos	interpessoais.	
É	 importante	 que,	 necessariamente,	 se	 separe	 observação	de	 avaliação.	
Quando	 combinamos	observações	 com	avaliações,	 os	outros	 tendem	a	 receber	
isso	como	crítica	e	resistir	ao	que	dizemos.	A	CNV	é	uma	linguagem	dinâmica	
que	desestimula	generalizações	estáticas.	
O	líder	precisa	administrar	suas	avaliações	de	forma	imparcial,	pontuando	
as	situações	de	maneira	a	não	generalizar	e	estereotipar	o	funcionário.	
Alguns	componentes	de	apreciação	que	Rosenberg	destaca	são	distinguidos	
de	 três	 formas:	 a	 primeira	 por	 ações	 que	 contribuem	para	 o	 nosso	 bem-estar,	
a	 segunda	por	 necessidades	 específicas	 que	 foram	 atendidas	 e,	 a	 terceira,	 por	
sentimentos	agradáveis	gerados	pelo	atendimento	das	nossas	necessidades.	
Diálogo 
Passamos	 a	 vida	 acreditando	 que	 viver	 em	 harmonia	 é	 sinônimo	 de	
ausência	 de	 conflitos	 e,	 por	 isso,	 fugimos	 do	 embate.	 Quando	 acontece	 uma	
discussão	 e	 o	 outro	nos	 apresenta	uma	 ideia	diferente	da	nossa,	 não	 sabemos	
ouvir.	Para	conviver	com	o	colega	de	trabalho,	é	preciso	aprender	a	não	apontar	
o	dedo	 como	 forma	de	defesa	das	nossas	 ideias,	mas	 sim	 ter	 a	flexibilidade	 e	
tolerância	para	acolher	as	diferenças.
O	 apego	 às	 nossas	 ideias	 impede	 que	 outras	 soluções	 e	 alternativas	
apareçam.	Conviver	pressupõe	abertura	para	ouvir	e	ser	ouvido,	para	saber	que	
o	outro	traz	uma	bagagem	de	vida	diversa	da	nossa.
A	dificuldade	de	encontrar	soluções	para	os	problemas	ligados	à	falta	de	
comunicação	 está	 na	 ausência	 de	 uma	 educação	 norteada	 pelo	 diálogo	 e	 pela	
reflexão	em	grupo.	Precisamos	respeitar	a	diversidade,	seja	cultural	ou	ideológica,	
para	consolidar	um	ambiente	agradável	de	convivência	entre	as	diferenças.
 
Os	 líderes	 que	 não	 se	 comprometem	 com	 a	 cultura	 do	 diálogo	 não	
conseguem	refletir	sobre	os	valores	e	praticar	a	tolerância.	
Em	fins	do	século	5	a.C.,	um	sujeito	feioso	e	esfarrapado,	com	salientes	
olhos	de	batráquio,	andava	pelas	ruas	de	Atenas	interpelando	seus	concidadãos	
com	um	desafio	aparentemente	simples:	queria	que	as	pessoas	lhe	explicassem	o	
significado	das	palavras	que	usavam.	Não	inquiria	a	respeito	de	assuntos	etéreos,	
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
59
mas	sobre	a	matéria	comum	do	dia	a	dia,	aquilo	que	a	maioria	das	pessoas	pensava	
conhecer	perfeitamente.	Aos	juízes	e	advogados,	perguntava	o	que	era	justiça;	aos	
guerreiros,	indagava	o	significado	da	palavra	coragem;	quanto	aos	supostos	sábios,	
exigia	que	lhe	dissessem	exatamente	o	que	é	a	sabedoria.	A	conclusão	de	Sócrates	
–	pois	ele	é	o	nosso	personagem	–	foi	a	seguinte:	na	maior	parte	do	tempo,	os	seres	
humanos	não	sabem	lá	muito	bem	sobre	o	que	estão	falando.	E	há	apenas	um	jeito	
de	 colocarem-se	no	caminho	da	viável	verdade:	 contrapondo	suas	 ignorâncias	
individuais,	para	aprenderem	com	os	erros	e	os	acertos	uns	dos	outros.	O	diálogo	
socrático	é	a	busca	do	conhecimento	por	meio	do	confronto	irrestrito	de	mentes,	
crenças	 e	 palavras,	mas,	 aqui,	 temos	 de	 fazer	 uma	 distinção	 importantíssima.	
Hoje,	insistimos	em	entender	“confronto”	como	uma	forma	acanhada	de	ódio	ou,	
ao	menos,	de	beligerância.	É	a	tendência	que	vem	se	agravando:	de	uns	tempos	
para	 cá,	 deu-nos	 na	 veneta	 interpretar	 toda	 discórdia	 como	 afronta	 pessoal.	
“Precisamos	dialogar”	virou	um	 sinônimo	 secretamente	 intimidador	de	 “você	
é	obrigado	a	concordar	comigo”.	Para	Sócrates,	pelo	contrário,	o	confronto	era	
uma	forma	possível	da	amizade.	Isso	porque,	do	ponto	de	vista	filosófico,	somos	
todos	criaturas	imperfeitas;	é	de	se	esperar	que	nossas	ideias	individuais	sejam,	
em	geral,	incompletas.	Para	conseguirmos	nos	aproximar	da	verdade	–	diz-nos	
Sócrates,	à	distância	de	24	séculos	–	precisamos	comparar	nossos	fragmentos	de	
realidade	e	ver	como	se	encaixam.	Só	existe	diálogo	quando	há	discórdia,	mas	
uma	discórdia	sem	fúria	(BOTELHO,	2015,	p.	26-27).	
Conforme	 Rosenberg	 (2006,	 p.	 50)	 destaca,	 o	 primeiro	 componente	
da	 comunicação	 não	 violenta	 (CNV)	 acarreta	 necessariamente	 que	 se	 separe	
observação	de	avaliação.	Quando	combinamos	observações	 com	avaliações,	os	
outros	tendem	a	receber	isso	como	crítica	e	resistir	ao	que	dizemos.	A	CNV	é	uma	
linguagem	dinâmica	que	desestimula	generalizações	estáticas.	Em	vez	disso,	as	
observações	devem	ser	feitas	de	modo	específico,	para	um	tempo	e	um	contexto	
determinado.	
O	líder	precisa	administrar	suas	avaliações	de	forma	imparcial,	pontuando	
as	situações	de	maneira	a	não	generalizar	e	estereotipar	o	funcionário.	Ao	realizar	
um	elogio	ou	agradecimento,	não	pode	utilizar	tal	ferramenta	como	método	de	
manipulação.	Agradecer	na	comunicação	não	violenta	significa	celebrar	o	que	foi	
alcançado	como	bom	resultado	sem	gerar	o	sentimento	de	superioridade	ou	falsa	
humildade.	
Outro	autor	que	trata	do	diálogo	e	que	possui	total	relação	com	o	tema	é	o	
físico	Bohm	(2005),	que	diz	que	o	diálogo	só	flui	quando	há	a	suspensão	de	opiniões	
e	pressupostos.	Assim,	segundo	esse	autor,	observar	os	acontecimentos	de	forma	
participativa	possibilita	o	estabelecimento	de	uma	consciência	compartilhada.	
Bohm	trabalhou	duranteanos	com	o	mestre	indiano	Jiddu	Krishnamurti	na	
técnica	que	chamou	de	diálogo.	Ele	diz	que,	para	que	algo	aconteça,	é	necessário	
que	abandonemos	a	defesa	de	nossas	posições.	Ao	“baixarmos”	a	guarda,	acontece	o	
abrandamento,	pois	opiniões	são	naturalmente	limitadas	e,	para	chegar-se	no	todo,	
precisamos	chegar	ao	consenso	do	que	eu	penso	e	do	que	o	outro	pensa.	
60
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
Considerações finais 
Liderar	é	um	exercício	de	empatia,	de	respeito	ao	trabalho	do	outro	e	de	
conhecer	não	só	as	limitações,	mas	também	o	potencial	das	pessoas	e	seus	pontos	
de	vista.
O	que	define	um	 líder	não	é	o	 seu	cargo	e	 sim	suas	atitudes	perante	a	
equipe	que	 lidera.	Fazer	 com	que	a	equipe	 se	 submeta	a	 suas	vontades	 sem	a	
oportunidade	 da	 participação	 não	 rende	 bons	 frutos.	 Permitir	 a	 expressão	 da	
equipe,	 com	 a	 garantia	 de	 que	 não	 acontecerão	 punições,	 é	 um	 começo	 para	
inverter	a	realidade	e	alcançar	os	objetivos	das	organizações	com	novas	ideias.
Estar	disposto	a	ouvir	e	falar	sem	filtros	e	conviver	com	grau	de	opiniões	
diferentes	faz	toda	a	diferença	nos	resultados.
Os	problemas	de	comunicação	entre	líderes	e	suas	equipes	são	os	principais	
responsáveis	pela	maioria	das	 crises	 e	 conflitos	 interpessoais.	Um	 líder	 com	a	
comunicação	voltada	para	o	diálogo,	evitando	o	conflito,	fortalece	a	integração	e	
a	responsabilização	mútua	para	superar	desafios	e	atingir	metas.
Dessa	 forma,	 todos	 os	 colaboradores	 devem	 assumir	 uma	 postura	
empreendedora	e	dinâmica	dentro	das	instituições	em	que	atuam.	A	partir	dessa	
iniciativa	surgem	novas	ideias	para	os	negócios.
As	 lideranças	 e	 organizações	 já	 se	 conscientizaram	 sobre	 o	 exercício	
do	 pensamento	 crítico	 e	 reflexivo,	 de	 forma	 individual	 e	 coletiva.	 Precisamos	
buscar	o	favorecimento	desse	exercício	a	favor	da	construção	de	uma	realidade	
empresarial	mais	humana.
FONTE: CORREA, V. A importância do diálogo e da comunicação não-violenta no desenvolvi-
mento do líder. 2016. Disponível em: https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2016/09/
Artigo-Ebook_A-import%C3%A2ncia-do-di%C3%A1logo-e-da-comunica%C3%A7%C3%A3o-n%-
C3%A3o-violenta-no-desenvolvimento-de-um-l%C3%ADder_Vivian-Correa.pdf. Acesso em: 27 
fev. 2020.
61
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	 comunicação	 é	 um	 fator	muito	 importante	 para	 as	 relações	 interpessoais	
e	 para	 o	 manejo	 dos	 conflitos.	 Quando	 são	 desenvolvidas	 estratégias	 que	
estabelecem	possibilidades	de	uma	comunicação	mais	construtiva	e	eficiente,	é	
aberto	caminho	para	uma	sociedade	mais	pacífica,	respeitosa	e	menos	violenta.
•	 Comunicação	 vai	muito	 além	 das	 palavras,	 está	 no	modo	 como	 as	 pessoas	
se	comportam,	na	forma	com	gesticulam	e	na	maneira	com	escutam	o	outro.	
Emitir	e	decodificar	mensagens	é	uma	tarefa	que	demanda	atenção	e	presença.
•	 Como	 ferramenta	 para	 melhorar	 a	 comunicação,	 o	 psicólogo	 americano	
Marshall	 Rosenberg	 sistematizou	 um	processo	 comunicacional	 ao	 qual	 deu	
o	 nome	 de	 Comunicação	Não	Violenta,	 que	 também	 pode	 ser	 chamada	 de	
comunicação	assertiva,	construtiva,	sustentável.
•	 A	 Comunicação	 Não	 Violenta	 (CNV)	 é	 composta	 por	 quatro	 passos	 que	
didaticamente	foram	descritos	pelo	autor:
ᵒ	 Observação:	 diz	 respeito	 à	 descrição	 dos	 fatos	 presenciados,	 evitando	
interpretações	e	julgamentos	sobre	o	que	aconteceu.
ᵒ	 Sentimentos:	 tem	 a	 ver	 com	 a	 observação	 dos	 fatos	 e	 a	 identificação	 dos	
sentimentos	suscitados	pela	observação	feita.
ᵒ	 Necessidade:	os	sentimentos	ensinam	sobre	necessidades	atendidas	ou	não.
ᵒ	 Pedido:	quando	as	necessidades	são	identificadas	é	possível	fazer	pedidos	
de	ações	concretas.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
62
1		Descreva	os	cinco	axiomas	da	comunicação.
2	 Marshall	 Rosenberg	 (2006)	 identificou	 formas	 específicas	 da	 linguagem	
e	 da	 comunicação	 que	 contribuem	 para	 o	 afastamento	 e	 fomentam	 os	
comportamentos	violentos	em	relação	aos	outros	e	à	própria	pessoa.	Ele	
atribui	a	isso	o	nome	de	comunicação	alienante	da	vida.	Disserte	a	respeito	
destas	formas.
3 Liste	e	descreva	os	quatro	níveis	de	escuta	elaborados	pela	teoria	U,	de	Otto	
Scharmer.
4		Assinale	a	alternativa	correta:
a)	(			)	 A	 comunicação	 é	 um	 fator	 que	 pode	 colaborar	 para	 as	 relações	
interpessoais,	mas	não	tem	tanta	relevância	no	manejo	dos	conflitos.	
b)	(			)	 Quando	são	desenvolvidas	estratégias	que	estabelecem	possibilidades	
de	uma	comunicação	mais	construtiva	e	eficiente,	ficamos	mais	 longe	de	
uma	sociedade	mais	pacífica,	respeitosa	e	menos	violenta.
d)	(			)	 Comunicação	 vai	 muito	 além	 das	 palavras,	 está	 no	 modo	 como	 as	
pessoas	se	comportam,	na	forma	com	gesticulam	e	na	maneira	com	escutam	
o	outro.	Emitir	e	decodificar	mensagens	é	uma	tarefa	que	demanda	atenção	
e	presença.
e)	(			)	 Na	comunicação	os	 interlocutores	sempre	têm	certeza	da	mensagem	
que	estão	enviando.
AUTOATIVIDADE
63
UNIDADE 2 — 
OS MEIOS QUE COMPÕEM 
O SISTEMA DE JUSTIÇA 
MULTIPORTAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender	o	significado	da	Justiça	Multiportas	no	contexto	do	sistema	
judiciário;
•	 identificar	e	reconhecer	os	caminhos	da	heterocomposição	para	a	solução	
de	conflitos;	
•	 reconhecer	diferenças	e	semelhanças	entre	negociação,	conciliação	e	me-
diação,	enquanto	métodos	autocompositivos,	para	viabilizar	escolha	ade-
quada	em	situações	de	disputa.
Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 três	 tópicos.	 No	 decorrer	 da	 unidade	
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO	1	–	JUSTIÇA	MULTIPORTAS
TÓPICO	2		–	MEIOS	HETEROCOMPOSITIVOS
TÓPICO	3	–	MEIOS	AUTOCOMPOSITIVOS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
64
65
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Como	 já	 apresentado,	 viver	 em	 sociedade	 exige	 o	 desenvolvimento	de	
capacidades	para	 lidar	 com	desentendimentos,	 conflitos	de	 interesses	 e,	 quem	
sabe,	discórdias,	visto	que	as	pessoas	são	únicas,	diferentes	umas	das	outras	e,	
por	 isso	 mesmo,	 podem	 almejar	 coisas	 diferentes	 e	 dessas	 diferenças	 podem	
surgir	relações	de	conflitos.	
Para	 cada	 um	 desses	 conflitos,	 são	 acionadas	 diferentes	 formas	 de	
resolução,	cada	qual	com	suas	especificidades.
Neste		 tópico	será	apresentada	a	Justiça	Multiportas,	com	o	objetivo	de	
que	outros	métodos	possam	ser	analisados	e	explorados,	já	que	podem	apresentar	
soluções	mais	adequadas	nesse	tempo	de	excessiva	litigiosidade	e	inseguranças	
jurídicas.
2 DEFINIÇÕES PRELIMINARES
 
A	 expressão	 multiportas	 é	 uma	 metáfora	 utilizada	 para	 figurar	 as	
muitas	portas	de	acesso	à	Justiça,	de	modo	que,	a	partir	da	análise	da	demanda	
apresentada,	as	pessoas	envolvidas	possam	ser	encaminhadas	para	a	porta	que	
melhor	atenda	às	suas	necessidades:	porta	da	justiça	estatal,	mediação,	conciliação	
ou	arbitragem.
A	 ideia	 geral	 da	 Justiça	Multiportas,	 ou	 sistema	de	múltiplas	 portas,	 é	
a	de	que	o	litígio	judicial	não	é	o	único	meio,	tampouco	a	principal	opção	para	
a	 resolução	 de	 um	 conflito,	 existindo	 outras	 possibilidades	 que	 consideram	 a	
ideia	de	pacificação	social.	Assim,	para	cada	tipo	de	litígio	existe	uma	forma	mais	
adequada	de	solução.	A	jurisdição	estatal	é	apenas	mais	uma	dessas	opções.
 
O	sistema	multiportas,	 assim,	deixa	de	 ser	 lugar	onde	 apenas	 se	 julga,	
para	 ser	 um	 local	 de	 resolução	de	 conflitos,	 cujas	 partes	 podem	 e	 devem	 sair	
satisfeitas	 com	o	 resultado	para	 suas	 controvérsias.	Em	outras	palavras,	nosso	
sistema	 jurídico	 paulatinamenteimpressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você 
terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-
tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
sumário
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE 
CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA ................................................................................. 1
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA ............................... 3
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 3
2 VISITANDO O TEMA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL ............................................................... 3
2.1 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO BRASIL ....................................................................................... 4
2.2 ONDE A PARTICIPAÇÃO PRECISA SER FOMENTADA ...................................................... 6
2.3 ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL .................................................................................... 8
2.4 MARCOS NORMATIVOS REFERENTES À PARTICIPAÇÃO SOCIAL................................ 9
3 CIDADANIA: ENTENDIMENTO CONCEITUAL ................................................................... 11
3.1 CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL...................................................................... 13
4 AUTONOMIA: COMPREENSÃO CONCEITUAL E CONTEXTUAL .................................... 16
4.1 CONSTITUIÇÃO DE UM SUJEITO AUTÔNOMO ................................................................. 17
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 21
TÓPICO 2 — RELAÇÕES DE CONFLITO ...................................................................................... 23
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 23
2 MODERNA TEORIA DO CONFLITO .......................................................................................... 23
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 27
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 28
TÓPICO 3 — COMUNICAÇÃO ASSERTIVA ................................................................................ 29
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 29
2 A COMUNICAÇÃO ......................................................................................................................... 30
2.1 TEORIA DA COMUNICAÇÃO HUMANA ............................................................................. 31
3 COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA............................................................................................. 35
4 A IMPORTÂNCIA DA ESCUTA PARA UMA COMUNICAÇÃO CONSTRUTIVA .......... 40
5 OS QUATRO COMPONENTES PARA A CONSTRUÇÃO DE AVANÇOS NOS 
PROCESSOS COMUNICACIONAIS – OS QUATRO PASSOS DA CNV ............................... 43
5.1 OBSERVAÇÃO ............................................................................................................................. 43
5.2 SENTIMENTOS............................................................................................................................. 44
5.3 NECESSIDADES ........................................................................................................................... 48
5.4 PEDIDO .......................................................................................................................................... 51
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 56
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 61
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 62
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS ..... 63
TÓPICO 1 — JUSTIÇA MULTIPORTAS ......................................................................................... 65
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 65
2 DEFINIÇÕES PRELIMINARES ...................................................................................................... 65
3 COMPREENSÃO HISTÓRICA ...................................................................................................... 66
4 LEGISLAÇÃO RELACIONADA .................................................................................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 73
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 74
TÓPICO 2 — MEIOS HETEROCOMPOSITIVOS ........................................................................ 75
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 75
2 JURISDIÇÃO ...................................................................................................................................... 75
3 ARBITRAGEM – CONCEPÇÃO HISTÓRICA ............................................................................ 78
3.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES .................................................................................................. 79
3.2 PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTO ............................................................................................ 80
3.3 ÁRBITRO ........................................................................................................................................ 81
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 82
AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 83
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS ............................................................................. 85
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 85
2 LEGISLAÇÃO RELACIONADA .................................................................................................... 85
2.1 RESOLUÇÃO 125/2010 CNJ ........................................................................................................ 86
2.2 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 2015 ........................................................................................ 86
3 NEGOCIAÇÃO .................................................................................................................................está	 a	 consolidar	 a	 mudança	 da	 perspectiva	
unidimensional	da	justiça	para	uma	perspectiva	pluridimensional,	com	enfoque	
na	tutela	adequada,	tempestiva	e	efetiva	dos	direitos.
TÓPICO 1 — 
JUSTIÇA MULTIPORTAS
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
66
3 COMPREENSÃO HISTÓRICA
Nas	sociedades	primitivas	quando	havia	riscos	para	pessoas	envolvidas	
em	conflitos,	uma	terceira	pessoa,	respeitada	pela	comunidade,	era	incumbida	de	
facilitar	o	consenso,	para	que	não	fosse	necessário	recorrer	à	justiça	pelas	próprias	
mãos.	Com	esse	dado	é	possível	dizer	que	os	métodos	consensuais	de	solução	de	
conflitos	precederam	a	jurisdição	estatal.	Só	mais	tarde	foi	consolidado	o	poder	
no	Estado	no	surgimento	do	processo	judicial,	que	com	o	tempo	mostrou	todas	
as	suas	fraquezas.	
As	fraquezas	ou	insuficiência	da	tutela	estatal	fez	com	que	se	instaurasse	
um	processo	de	mudança	com	enfoque	nos	métodos	consensuais	de	solução	de	
conflitos.	
Segundo	 Richa	 e	 Lagrasta	 (2016),	 o	 sistema	 de	 múltiplas	 portas	 ou	
multiportas	teve	seu	início	em	uma	abordagem	elaborada	por	Frank	E.	A.	Sander,	
em	 1976,	 sendo	 que	 esse	 professor	 de	Harvard	 se	 debruçou	 sobre	 a	 crescente	
demanda	 nos	 tribunais	 dos	 Estados	Unidos,	 constatando	 uma	 insatisfação	 da	
população	 com	 o	 sistema	 judiciário.	 A	 proposta	 apresentada	 por	 ele	 previa	
programas	diferenciados	de	 solução	de	 controvérsias,	 diversas	da	 adjudicada,	
tanto	 dentro	 quanto	 fora	 dos	 tribunais.	 Essas	 propostas	 se	 davam	 a	 partir	 de	
um	 diagnóstico	 das	 causas	 e	 encaminhamentos	 para	 meios	 mais	 adequados.	
A	 intencionalidade	 da	 proposta,	 já	 na	 gênese,	 visava	 reduzir	 ou	 eliminar	
descontentamentos	 e	 agilizar	o	 trabalho,	preenchendo	 lacunas	nos	 serviços	de	
administração	da	justiça.	Nasceu	de	forma	experimental	e	avançou	para	propostas	
reconhecidas	como	Alternative Dispute Resolution	(ADR),	mecanismo	paraestatal	
conhecido	no	Brasil	por	“meios	alternativos	de	resolução	de	disputas”.
Comprovado	 o	 êxito	 das	 experiências	 iniciais,	 os	 métodos	 foram	 se	
diversificando	e,	então,	consolidados	e	estruturados	por	volta	dos	anos	de	1980	
e	 1990.	 Eles	 conformam	 diferentes	 possibilidades	 de	 atuação	 nas	 demandas	
relacionadas	 a	 conflitos,	 tanto	 antes	 do	 ingresso	 no	Poder	 Judiciário	 quanto	 a	
qualquer	tempo	após	o	ajuizamento	das	demandas,	de	forma	a	propiciar	melhor	
qualidade	de	solução.	São	diferentes	métodos	que	incluem	conciliação,	mediação,	
arbitragem,	 serviços	 sociais	 e	 governamentais,	 cada	 qual	 mediante	 técnicas	
abalizadas	para	auxiliar	a	solução	dos	conflitos	de	maneira	que	melhor	possam	
atender	à	natureza	das	demandas,	 ao	mesmo	 tempo	em	que	constroem	novas	
aptidões	sociais	para	os	litigantes.	
Na	cultura	americana,	nos	anos	1980	a	1990,	os	métodos	de	tratamento	
adequado	do	conflito	enraizaram-se	de	forma	a	propiciar	melhor	qualidade	de	
solução.	No	Brasil,	a	história	seguiu	os	mesmos	passos,	porém	mais	tardiamente.	As	
mesmas	críticas	identificadas	nos	EUA	sobre	o	funcionamento	do	poder	judiciário	
também	 se	 fizeram	 presentes,	 desencadeando	 transformações	 legislativas	 e	
estruturais,	em	busca	de	uma	maior	efetividade.	O	ápice	do	movimento	aconteceu	
com	a	reforma	do	Poder	Judiciário,	que	teve	início	em	1992	e	foi	concretizada	pela	
Emenda	Constitucional	nº	45,	de	30/12/2004.
TÓPICO 1 — JUSTIÇA MULTIPORTAS
67
No	Brasil,	ainda	predomina	a	cultura	do	 litígio.	A	população	em	geral,	
quando	se	vê	diante	de	um	conflito,	tem	a	tendência	de	buscar	o	Judiciário	a	fim	
de	que	esse	resolva	a	questão.	Inclusive,	dentro	da	própria	estrutura	edificada	em	
torno	do	saber	jurídico,	é	comum	considerar	a	necessidade	de	pronta	judicialização	
da	questão	em	pauta.
Mesmo	tendo	predomínio,	é	possível	citar	pelo	menos	duas	razões	pelas	
quais	o	excesso	de	judicialização	é	um	problema	no	país.	Primeiro,	pelo	aumento	
das	 demandas	 judiciais,	 sendo	 que	 o	 Poder	 Judiciário	 não	 consegue,	 sozinho,	
resolver	 os	 problemas	 das	 pessoas	 que	 o	 procuram	 diariamente.	 O	 resultado	
da	cultura	do	litígio	é	facilmente	comprovado,	já	que	é	difícil	obter	a	prestação	
jurisdicional	 de	maneira	 que	 atenda	 às	 necessidades.	 Um	 segundo	 ponto	 diz	
respeito	à	satisfação	alcançada	com	a	decisão	de	um	juiz,	já	que	nem	sempre	os	
envolvidos	ficam	satisfeitos	ou	cumprem	o	que	foi	judicialmente	determinado;	ou	
seja,	além	de	não	trazer	a	pacificação,	a	sentença	formalizada	em	longo	processo	
(na	denominada	fase	de	conhecimento),	para	ser	cumprida,	ainda	passa	por	outra	
nova	e	longa	etapa	até	que	seja	efetivada	(na	denominada	fase	de	cumprimento	
de	sentença).	
Custo, lentidão e complexidade dos processos judiciais são as maiores 
reclamações dos jurisdicionados, e o cenário do Poder Judiciário brasileiro é desanimador. 
Temos, hoje, cerca de 76,7 milhões de processos em tramitação, e um crescimento do 
estoque acumulado de 31,2% nos últimos sete anos, conforme diagnóstico formulado na 
edição de 2017 do relatório Justiça em Números do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) 
(2018, p. 334).
FONTE: Rodas et al. (2018)
ATENCAO
Fato	é	que	vivemos	num	sistema	jurídico	aberto	e	incompleto	e,	justamente	
por	isso,	o	direito	configura	uma	realidade	complexa,	não	havendo	uma	solução	
expressa	 para	 cada	 determinado	 caso.	 Disso	 resulta,	 segundo	 Silva	 (2009),	 a	
paulatina	consolidação	do	entendimento	de	que	o	direito	à	justiça	é	mais	amplo	
do	que	acesso	ao	Poder	Judiciário,	razão	pela	qual	o	Estado	deve	disponibilizar	
ao	cidadão	não	somente	a	forma	adjudicada	de	solução	de	conflito,	mas	também	
os	métodos	extrajudiciais.
A	discussão	acerca	da	aplicação	do	direito	pelo	Poder	Judiciário	deve	ser	
considerada	apenas	como	um	dos	aspectos	a	problematizar	no	cotidiano	nacional.	
São,	 hoje,	 uma	 preocupação	 entres	 os	 atores	 do	meio	 jurídico	 as	 dificuldades	
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
68
procedimentais	(número	e	qualidade	dos	controles	jurisdicionais)	e	substantivas	
(qualidade	 dos	 direitos	 a	 tutelar)	 do	 acesso	 e	 correspondente	 resolução	 de	
conflitos	no	âmbito	judicial.
O	número	excessivo	de	demandas	judiciais	no	Brasil	pode	ser	atribuído	a	
mudanças	importantes	relacionadas	à	condução	da	garantia	de	direitos:
•	 A	Constituição	 Federal	 de	 1988,	 prioritariamente	 no	 artigo	XXXV,	 assegura	
amplo	acesso	à	justiça	e	permite	a	postulação	da	tutela	jurisdicional	preventiva	
ou	reparatória,	assistência	judiciária	integral	e	gratuita	aos	que	comprovarem	
insuficiência	de	recursos.	
•	 A	Lei	9.099/95	trata	do	direito	de	ação	sem	a	presença	de	advogados,	de	forma	
gratuita	e	com	procedimentos	mais	simples.
•	 Estruturação	da	Defensoria	Pública.
•	 Código	de	Defesa	do	Consumidor.
•	 Controle	do	Poder	Judiciário	nas	atribuições	de	outros	poderes.
•	 A	 constituição	 preconiza	 também	 ideais	 democráticos	 e	 faz	 inserção	 da	
consensualidade	(o	que	avança	ainda	em	passos	lentos).
É	notório	que	a	Constituição	de	1988	avança	em	termos	de	garantia	de	
direitos	a	partir	do	acesso	à	justiça,	entretanto	ela	também	aponta	para	a	superação	
da	 postura	 de	 embate	 ao	 preconizar	 ideais	 democráticos	 materializados	 na	
consensualidade.	Isso	aponta	para	ações	que	privilegiem	a	prevenção	dos	litígios	
e	desjudicialização	das	demandas.
4 LEGISLAÇÃO RELACIONADA
Didaticamente,	a	par	de	outras	tantas	classificações	e	estudos	doutrinários,	
pode-se	 dizer	 que	 a	 legislação	 está	 subdivida	 em	 duas	 grandes	 categorias:	
a	 das	 normas	 substantivas	 (direito	 material)	 e	 das	 normas	 adjetivas	 (direito	
processual),	as	quais	convivem	harmonicamente,	no	mais	das	vezes,	no	mesmo	
texto	normativo,	como	é	o	caso	do	Código	de	Defesa	do	Consumidor.	
Estudar e conhecer o Código de Defesa do Consumidor (CDC) facilita o 
reconhecimento de um conjunto de normas que estabelece como deve ser a relação 
entre fornecedor e cliente e, especialmente, conhecer onde termina o direito da empresa 
e começa o direitodo consumidor.
Atente para a problematização sobre práticas comuns de propagandas enganosas, abusivas, 
que podem causar danos para as pessoas que consomem determinado produto. Favor 
acessar o site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Boa Leitura!
DICAS
TÓPICO 1 — JUSTIÇA MULTIPORTAS
69
Na	 primeira	 categoria	 estão	 as	 leis	 que	 regulam	 e	 afetam	 aspectos	
materiais	da	vida	 cotidiana,	 criando,	modificando	e/ou	extinguindo	direitos	 e	
obrigações	 nas	 relações	 em	 sociedade.	 São	 exemplos	 dessa	 classificação	 a	 Lei	
do	Divórcio,	a	Lei	das	Sociedades	Anônimas,	o	Estatuto	do	Desarmamento	e	o	
Estatuto	Nacional	da	Microempresa	e	da	Empresa	de	Pequeno	Porte.
Na	 segunda	 categoria	 estão	 as	 normas	 que	 estatuam	 as	 ferramentas	
procedimentais	para	acesso	à	jurisdição,	à	formalização	de	determinado	pedido	
a	partir	do	modo,	forma	e	prazo	legalmente	estatuído,	regulando-se	por	meio	da	
norma	adjetiva	(direito	processual)	todas	as	formalidades	para	fazer	cumprir	as	
normas	substantivas	(direito	material),	a	exemplo	do	Código	de	Processo	Civil.
Convidamos você a conhecer o Código de Processo Civil ou Código de 
Processo Penal na integra. 
O Novo CPC (Novo Código de Processo Civil), NCPC, ou Lei 13.105 de 2015, regulamenta o 
Direito Processual Civil brasileiro. O texto revogou a Lei 5.925 de 1973, trazendo importantes 
mudanças em vários dispositivos.
Preste especial atenção à prerrogativa de que, nas ações de família, deverão ser empreendidos 
esforços para a solução consensual da controvérsia e o juiz poderá dispor do auxílio de 
profissionais de outras áreas para a realização de mediação e conciliação. Favor acessar o 
site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm.
DICAS
Ao	fim	e	 ao	 cabo,	 é	 por	meio	do	processo,	 um	 complexo	de	direitos	 e	
deveres	 contrapostos	 entre	 os	 sujeitos	 envolvidos	 em	 uma	 lide,	 que	 o	 Estado	
entrega	a	 jurisdição.	O	processo,	assim,	está	aqui	concebido	como	instrumento	
para	exercício	do	direito	de	provocar	o	Estado	a	exercer	a	função	jurisdicional,	
de	modo	a	oferecer	àquele	que	promove	a	ação	judicial	uma	solução	para	o	caso	
concreto,	pela	atuação	da	vontade	da	lei.
 
A	 mudança	 que	 ora	 se	 desenha	 está	 no	 reconhecimento	 de	 que	 a	
função	 jurisdicional,	 ainda	 que	 predominantemente	 exercida	 pelo	 Estado-
juiz	 (magistrados,	 individualmente,	 ou	 colegiados	 julgadores,	 no	 caso	 dos	
tribunais),	 pode	 ocorrer	 também	 por	 entidades	 ou	 sujeitos	 de	 natureza	 não	
estatal,	precisamente	em	razão	da	possibilidade	de	que	a	pacificação	dos	conflitos	
seja	 fomentada	e	realizada	não	apenas	por	meio	do	processo	 judicial,	mas	por	
métodos	consensuais.
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
70
Nesse	sentido,	o	Conselho	Nacional	de	Justiça,	atento	à	necessidade	de	
implementação	de	mecanismos	adequados	de	resolução	de	disputas	como	forma	
de	melhorar	a	justiça	brasileira,	editou	em	29	de	novembro	de	2010	a	Resolução	
nº	125/10,	que	trata	da	Política	Judiciária	Nacional	de	Tratamento	Adequado	de	
Conflitos	de	Interesses	no	âmbito	do	Poder	Judiciário	e	dá	outras	providências.
Por	 essa	 Política,	 buscou	 assegurar	 a	 todos	 o	 direito	 à	 solução	 dos	
conflitos	por	mecanismos	adequados	à	sua	natureza	e	complexidade,	com	vista	à	
boa	qualidade	dos	serviços	judiciários	e	à	disseminação	da	cultura	da	pacificação	
social,	por	meio	da	criação	de	uma	estrutura	física	e	pessoal	própria,	capaz	de	
gerir	as	controvérsias	de	forma	racional	e	profissional.
Essa	estrutura	idealizada	é	composta	pelo	Conselho	Nacional	de	Justiça,	
que	fica	 responsável,	no	âmbito	nacional,	por	 implementar	o	programa	com	a	
participação	de	rede	constituída	por	todos	os	órgãos	do	Poder	Judiciário	e	por	
entidades	 públicas	 e	 privadas	 parceiras,	 inclusive	 universidades	 e	 instituições	
de	 ensino,	 pelos	 Núcleos	 Permanentes	 de	 Métodos	 Consensuais	 de	 Solução	
de	Conflitos	 (NUPEMECs),	que	 tratam	dessa	Política	 Judiciária	no	âmbito	dos	
Tribunais	Estaduais	e	Federais,	e	pelos	Centros	Judiciários	de	Solução	de	Conflitos	
e	 Cidadania	 (CEJUSCs),	 responsáveis	 pela	 execução	 da	 Política	 Judiciária	 de	
tratamento	adequado	dos	conflitos.
Nesse	contexto,	os	Centros	assumem	a	função	de	verdadeiros	“tribunais	
multiportas”,	 na	medida	 em	que	 são	 os	 responsáveis	 por	 oferecer	 as	 diversas	
opções	de	meios	adequados	de	resolução	dos	conflitos,	e,	ainda,	prestam	serviços	
de	orientação	e	informação	ao	cidadão.
Assim,	 o	 interessado	 pode	 se	 dirigir	 ao	 Centro	 para	 a	 solução	 pré-
processual	do	conflito,	por	meio	da	realização	de	sessões	de	conciliação	ou	de	
mediação,	 conforme	o	 caso,	 ou	para	 tentar	 resolver	 consensualmente	 conflitos	
já	judicializados,	bem	como	para	obter	serviços	de	cidadania.	Trata-se,	pois,	de	
órgão	do	Poder	Judiciário	criado	para	efetuar	a	triagem,	o	tratamento	e	a	resolução	
adequada	dos	conflitos	de	interesses.
É	 importante	 enfatizar	que,	no	 sistema	de	múltiplas	portas,	 segundo	o	
Novo	Código	de	Processo	Civil,	“a	conciliação,	a	mediação	e	outros	métodos	de	
solução	consensual	de	conflitos	deverão	ser	estimulados	por	juízes,	advogados,	
defensores	 públicos	 e	 membros	 do	Ministério	 Público,	 inclusive	 no	 curso	 do	
processo	 judicial”	 (parágrafo	§	3º	do	artigo	3º	da	Lei	nº	13.105/2015)	 (BRASIL,	
2015).
Fato	 é	 que,	 sendo	 do	 Estado	 o	 exercício	 da	 função	 jurisdicional,	 a	 ele	
compete	não	apenas	a	aplicação	do	direito	com	o	escopo	de	realizar	e	manter	a	
paz	e	harmonia	social,	como	também	a	função	de	estimular	a	pacificação	por	meio	
de	outros	métodos	que	não	a	solução	adjudicada.	Sistematicamente,	os	objetivos	
da	Política	Judiciária	Nacional	são:
TÓPICO 1 — JUSTIÇA MULTIPORTAS
71
I-	 Acesso	à	Justiça	como	“acesso	à	ordem	jurídica	justa”.
II-	 Mudança	de	mentalidade	dos	operadores	do	Direito	e	das	próprias	partes,	
diminuindo	a	 resistência	de	 todos	 em	 relação	aos	métodos	 consensuais	de	
solução	de	conflito.
III-	Qualidade	 dos	 serviços	 prestados	 por	 conciliadores	 e	 mediadores,	 que	
envolve	sua	capacitação.	
Convidamos você a conhecer a Resolução que trata dos Meios Adequados de 
Solução de Conflitos que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado 
dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências.
Atente prioritariamente ao Capítulo II, que apresenta as Atribuições do Conselho Nacional 
de Justiça, e ao Capítulo III, que apresenta as Atribuições dos Tribunais. Acesse: https://atos.
cnj.jus.br/atos/detalhar/atos-normativos?documento=156.
DICAS
O	sistema	multiportas	deixa	de	ser	lugar	onde	apenas	se	julga	para	ser	um	
local	de	resolução	de	conflitos,	cujas	partes	podem	e	devem	sair	satisfeitas	com	o	
resultado	para	suas	controvérsias.		Quanto	às	vantagens	do	sistema	multiportas	é	
possível	elencar,	segundo	Peixoto	e	Peixoto	(2018,	p.	118):	
a)	o	 cidadão	 assume	 o	protagonismo	da	 solução	de	 seu	problema,	 com	maior	
comprometimento	e	responsabilização	acerca	dos	resultados;
b)	estímulo	à	autocomposição;
c)	maior	 eficiência	do	Poder	 Judiciário,	porquanto	 cabe	 à	 solução	 jurisdicional	
apenas	os	casos	mais	complexos,	quando	inviável	a	solução	por	outros	meios	
ou	quando	as	partes	assim	o	desejarem;
d)	transparência,	ante	o	conhecimento	prévio	pelas	partes	acerca	dos	procedimentos	
disponíveis	para	a	solução	do	conflito.
Dessa	forma,	falar	em	Justiça	Multiportas	é	demasiado	importante	para	
compreender	e	acionar	o	adequado	meio	para	abordagem	e	resolução	de	conflitos,	
seja	pelos	meios	heterocompositivos	ou	meios	autocompositivos,	assuntos	que	
serão	abordados	mais	adiante.	
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
72
Sugerimos a leitura de alguns textos, para que você possa analisar o novo 
contexto processual, no qual existe uma convergência mundial em prol de novos méto-
dos de solução de conflitos, fazendo com que a Justiça Multiportas já seja uma realidade.
• Justiça multiportas:mediação, conciliação, arbitragem e outros meios de solução 
adequada para conflitos.
(http://www5.trf5.jus.br/novasAquisicoes/sumario/justica_multiportas_186-2018_sumario.pdf). 
• Tribunal multiportas: investindo no capital social para maximizar o sistema de solu-
ção de conflitos no Brasil.
(http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/10361/Tribunal%20Multipor-
tas.pdf?sequence=1).
• Acesso à justiça: do modelo competitivo de estabilização dos conflitos 
à estratégia cooperativa. (https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/hand-
le/123456789/167979/339460.pdf?sequence=1&isAllowed=y). 
DICAS
73
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	importância	de	se	pensar	em	Justiça	Multiportas	se	deve	ao	fato	do	excesso	
de	judicialização	do	poder	judiciário	e	ao	fato	dele	não	poder,	sozinho,	resolver	
os	problemas	de	quem	o	aciona,	bem	como:
ᵒ	 falta	de	satisfação	com	os	resultados	impostos	pelo	juiz;
ᵒ	 falta	de	cumprimento	dos	acordos	firmados;
ᵒ	 a	judicialização	não	viabiliza	pacificação	social.
•	 São	vantagens	do	sistema	multiportas:
ᵒ	 estímulo	à	autocomposição	e	protagonismo	na	solução	do	conflito;
ᵒ	 maior	eficiência	do	Poder	Judiciário;
ᵒ	 transparência	e	conhecimento	prévio	pelas	partes	acerca	dos	procedimentos	
que	podem	ser	acionados.
•	 O	novo	Código	de	Processo	Civil	(CPC,	2015)	normatiza	que	juízes,	advogados,	
defensores	 e	 membros	 do	 Ministério	 Público	 devem	 estimular	 métodos	
consensuais	de	resolução	de	conflitos.
RESUMO DO TÓPICO 1
74
1		O	Código	de	Processo	Civil	adota	o	modelo	multiportas,	de	modo	que	cada	
demanda	possa	 ser	 submetida	à	 técnica	ou	método	mais	adequado	para	
a	sua	solução,	devem	também	ser	adotados	todos	os	esforços	para	que	as	
partes	cheguem	a	uma	solução	consensual	do	conflito.	Em	regra,	apenas	se	
não	for	possível	a	solução	consensual,	o	processo	seguirá	para	a	segunda	
fase,	a	litigiosa,	voltada	para	instrução	e	julgamento	adjudicatório	do	caso.	
Com	base	no	exposto,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(			)	Certo.
b)	(			)	Errado.
 
2		Há	uma	cultura	do	litígio	enraizada	na	sociedade,	cuja	tendência	é	resolver	
os	conflitos	de	forma	adversarial.	Nessas	circunstâncias,	os	denominados	
meios	 alternativos	 de	 resolução	 de	 conflitos	 apresentam	 especial	
importância,	na	medida	em	que	possuem	os	seguintes	objetivos,	EXCETO:
a)	(			) Aliviar	o	congestionamento	do	judiciário.
b)	(			)	Promover	a	pacificação	social.
c)	(			)	Democratizar	o	acesso	à	justiça.
d)	(			)	Promover	a	autocomposição	da	solução	de	controvérsias.
e)	(			)	Garantir	a	legitimidade	dos	ritos	judiciais.
AUTOATIVIDADE
75
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
O	método	heterocompositivo,	também	chamado	de	impositivo,	é	aquele	
que	 conta	 com	 juiz	ou	árbitro,	 como	 terceiro	 imparcial,	para	decidir	de	 forma	
impositiva	a	solução	de	um	conflito.	Através	desse	método,	a	vontade	das	partes	
envolvidas	 em	 uma	 controvérsia	 é	 substituída	 pela	 decisão	 de	 uma	 terceira	
pessoa	alheia	ao	conflito	de	interesses	gerador	da	discórdia.	
Na	 heterocomposição	 há	 dois	 caminhos	 de	 solução	 de	 conflitos:	 a	
Jurisdição	e	a	Arbitragem.	Conforme	o	caminho	escolhido,	a	resposta	poderá	se	
dar	através	de	sentença	ou	de	laudo	arbitral.	
Importante	 analisar	 cada	 um	 desses	 caminhos,	 a	 fim	 de	 que	 se	 possa	
compreender	diferenças	e	semelhanças	existentes	entre	eles.	
2 JURISDIÇÃO
Para	falar	em	Jurisdição	é	necessário	mencionar	o	Estado,	visto	que	aquela	
constitui	 função	 típica	 deste	 em	 dirimir	 conflitos	 que	 lhe	 são	 apresentados,	
quando	da	 aplicação	da	 lei.	 Entendida	 como	a	 atividade	 e	 o	poder	do	Estado	
de	aplicar	as	normas	do	ordenamento	jurídico	em	relação	ao	caso	concreto,	seja	
expressando	autoritativamente	o	preceito,	seja	realizando	efetivamente	o	que	o	
preceito	estabelece	(PEIXOTO;	PEIXOTO,	2018).	
É	 pela	 jurisdição	 que	 o	 Estado	 substitui	 os	 titulares	 dos	 interesses	 em	
conflito,	dizendo	o	direito	a	partir	de	cada	caso	concreto.	Segundo	 José	Osmir	
Fiorelli,	Maria	Rosa	Fiorelli	e	Marcos	Julio	Olivé	Malhadas	Junior	(2008,	p.	51),	os	
métodos	heterocompositivos	“[...]	recebem	essa	denominação	porque	se	deixa	a	
solução	nas	mãos	de	um	terceiro;	fica	a	responsabilidade	dele	determinar	o	que	
as	partes	devem	ou	não	fazer”.
Ainda	 em	 uma	 perspectiva	 conceitual,	 segundo	 Cintra,	 Grinover	 e	
Dinamarco	(2003,	p.	131),	Jurisdição:	
TÓPICO 2 — 
MEIOS HETEROCOMPOSITIVOS
76
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
[...]	 é	uma	das	 funções	do	Estado,	mediante	a	qual	 este	 se	 substitui	
aos	titulares	dos	interesses	em	conflito	para,	 imparcialmente,	buscar	
a	pacificação	do	conflito	que	os	envolve,	com	justiça.	Essa	pacificação	
é	 feita	mediante	 a	 atuação	 da	 vontade	 do	 direito	 objetivo	 que	 rege	
o	 caso	 apresentado	 em	 concreto	 para	 ser	 solucionado;	 e	 o	 Estado	
desempenha	essa	função	sempre	mediante	o	processo,	seja	expressando	
imperativamente	o	preceito	(através	de	uma	sentença	de	mérito),	seja	
realizando	no	mundo	das	coisas	o	que	o	preceito	estabelece	(através	
de	uma	execução	forçada).	
É	através	da	pessoa	do	juiz	que	o	Estado	presta	a	tutela	jurisdicional	aos	
cidadãos	que	a	procuram.	Essa	continua	sendo	a	opção	mais	adotada	pelos	que	
se	encontram	em	situação	de	conflito	de	interesses,	uma	vez	que	não	há	mais	a	
possibilidade	de	fazer	uso	da	autotutela.	
A	 generalização	 do	 processo	 como	 método	 heterocompositivo	 de	
resolução	 de	 controvérsias,	 a	 cargo	 da	 justiça	 privada	 ou	 pública,	
representou	 induvidosamente	 uma	 das	 maiores	 conquistas	
civilizatórias	da	humanidade,	porquanto	ensejou	a	gradual	substituição	
da	 violência	 e	 da	 força	 bruta,	 que	 grassavam	na	 aurora	dos	 corpos	
sociais,	por	um	mecanismo	mais	racional	e	apto	a	preservar	ou	resgatar	
a	paz	entre	os	membros	da	coletividade	envolvidos	na	disputa	de	um	
bem	 da	 vida	 ou	 por	 esta	 afetados	 direta	 ou	 indiretamente	 (LIMA,	
2013,	p.	75-76).
Mesmo	 sendo	 importante	 e	 necessária,	 muitas	 vezes	 a	 Jurisdição	 não	
consegue	 atingir	 a	 finalidade	 a	 que	 se	 destina	 por	 diferentes	 motivos.	 Um	
deles	diz	respeito	à	subjetividade	dos	envolvidos	que	podem	manter	mágoas	e	
ressentimentos	devido	ao	resultado	da	lide.	
É	necessário	ter	sempre	presente	que	a	solução	dada	pelo	juiz	irá	pôr	fim	
ao	processo,	mas	não	necessariamente	à	situação	de	litígio,	que	poderá	perdurar	
no	 tempo.	 Isso	 significa	que	 a	 sentença	pode	 acabar	 com	a	 relação	processual	
entre	as	duas	partes,	determinando	que	um	ganha	e	o	outro	perde,	entretanto	o	
desconforto	gerado	pelo	conflito	irá	se	manter,	não	sendo	alcançada	e	saciada	por	
nenhuma	decisão	que	provenha	de	uma	terceira	pessoa.	
Quando	uma	ou	as	duas	partes	se	mostrarem	insatisfeitas	com	o	resultado	
há	previsão	de	interposição	de	recurso	para	uma	instância	superior	àquela	que	
definiu	a	decisão.	Esta	possibilidade	tem	como	vantagem	a	oportunidade	de	a	
decisão	passar	por	outra	análise	e,	assim,	 ser	mantida	ou	alterada.	Entretanto,	
tem	também	desvantagens,	visto	que	perpetua	a	 tramitação	dos	processos	nos	
tribunais,	 o	 que	 reflete	 na	morosidade,	 valor	 e	muitas	 vezes	 em	 ineficácia	 da	
prestação	jurisdicional.
Uma	segunda	questão	a	ser	considerada	é	que	a	perda	de	um	prazo	ou	
a	inobservância	de	algum	critério	considerado	indispensável	pode	levar	a	parte	
que	 tem	razão	a	não	 ter	seu	direito	reconhecido	e,	ainda,	 ter	que	pagar	custas	
judiciais	 e	 honorários	 sucumbenciais.	 É	 importante	 referir	 que,	 no	 Judiciário,	
TÓPICO 2 — MEIOS HETEROCOMPOSITIVOS
77
é	 estabelecida	 uma	 série	 de	 regras	 e	 procedimentos,	 algumas	 vezes	 bastante	
formais,	mas	que	devem	ser	observadas	por	quem	bate	à	sua	porta.	Essas	regras	e	
procedimentos	são	necessários	para	diminuir	as	inseguranças	jurídicas.
A	Importância	do	Judiciário	se	expressa	em	situações	em	que	as	partes	
tenham	acessado	outros	métodos,	mas	não	tenham	tido	êxito,	prioritariamente	
em	conflitos	que	só	podem	ser	resolvidos	pelo	Judiciário,	como	quando	se	tratade	 conflitos	 sobre	 direitos	 indisponíveis,	 não	 havendo	 como	 ser	 negociados	
livremente	por	seus	titulares.	
Direitos	indisponíveis,	como	o	termo	sugere,	são	direitos	sobre	os	quais	
há	ingerência	(intromissão)	do	Estado	sobre	a	decisão.	As	ações	que	versam	sobre	
alimentos	fazem	parte	desses	direitos.	
Para	 exemplificar,	 pode	 ser	 apresentada	uma	 situação	na	qual	um	pai,	
cujos	filhos	estão	sob	cuidados	e	guarda	da	mãe,	ajuíza	ação	de	oferta	de	alimentos	
para	 fixar	 valores	 que	dará	 aos	 filhos.	Na	 inicial,	 apresenta	 uma	 realidade	de	
dificuldades	econômicas	e	 refere	poder	pagar	apenas	meio	salário	mínimo,	de	
acordo	com	o	binômio	necessidade/possibilidade.	A	mãe,	que	se	diz	conhecedora	
da	realidade	econômica	do	pai	e	sabedora	de	que	o	valor	ofertado	é	muito	aquém	
do	 necessário	 para	 manter	 os	 filhos,	 somado	 o	 fato	 de	 estar	 desempregada,	
procura	um	advogado.	Esse	profissional	perde	o	prazo	de	contestar	a	ação	do	pai.	
Nessa	situação,	seria	o	caso	de	ser	decretada	revelia	dos	requeridos.	Entretanto,	
em	razão	de	o	direito	de	alimentos	das	crianças	ser	indisponível,	os	fatos	referidos	
pelo	pai	não	 terão	presunção	de	veracidade,	 o	que	 significa	que	 a	 revelia	não	
produzirá	seus	efeitos.	
Na	Jurisdição	o	papel	do	magistrado	é	 indispensável.	É	ele	que	precisa	
ser	 convencido	 sobre	 quem	 tem	 ou	 não	 tem	 razão.	 Segundo	Márcio	 Ricardo	
Staffen	(2012,	p.	89):	“compete	ao	julgador	ater-se	à	imparcialidade,	ao	equilíbrio	
das	manifestações	via	 ampla	defesa	 e	 contraditório,	dando	fluência	 ao	devido	
processo	 legal,	 aos	 direitos	 e	 garantias	 fundamentais”.	 O	 juiz	 detém	 o	 poder	
das	decisões,	entretanto	elas	precisam	ser	fundamentadas	no	processo	legal	que	
encontra	 respaldo	na	Constituição	Federal	 (1988),	no	artigo	5º,	 inciso	LIV,	que	
preceitua:	
Art.	 5º	 Todos	 são	 iguais	 perante	 a	 lei,	 sem	 distinção	 de	 qualquer	
natureza,	garantindo-se	 aos	brasileiros	 e	 aos	 estrangeiros	 residentes	
no	País	a	inviolabilidade	do	direito	à	vida,	à	liberdade,	à	igualdade,	à	
segurança	e	à	propriedade,	nos	termos	seguintes:	
[...]	7	
LIV	-	ninguém	será	privado	da	liberdade	ou	de	seus	bens	sem	o	devido	
processo	legal;	[...]
Dessa	 forma,	 para	 a	 definição	 de	 sentença,	 o	 magistrado	 e	 demais	
envolvidos	 na	 lide	 deverão	 seguir	 regras	 e	 procedimentos	 preestabelecidos	 e	
com	 consequências	 predefinidas.	Além	 disso,	 a	 imparcialidade	 do	 juiz	 é	 uma	
78
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
condição	para	o	exercício	profissional.	Cabe	a	ele	oferecer	tratamento	igualitário	
aos	 envolvidos.	Ao	 julgar,	 não	deve	 considerar	 suas	noções,	 crenças	 e	 valores	
pessoais,	bem	como	visões	religiosas	ou	filosóficas.	
3 ARBITRAGEM – CONCEPÇÃO HISTÓRICA
Utilizar	a	arbitragem	como	meio	de	solução	de	controvérsias	é	fato	desde	
a	 antiguidade,	 fundamentada	 na	 ideia	 de	 que	 o	 povo	 é	 corresponsável	 pela	
condução	da	 justiça	na	vida	cotidiana.	Nos	últimos	anos,	entretanto,	o	Estado,	
buscou	 encontrar	 e	 desenvolver	 alternativas	 para	 a	 solução	 de	 controvérsias,	
a	 exemplo	da	 instituição	dos	 Juizados	 Informais	 de	Conciliação	 e	 os	 Juizados	
Especiais	 de	 Pequenas	 Causas,	 sendo	 que,	 a	 partir	 da	 Constituição	 de	 1988,	
instituiu	 também	 os	 Juizados	 Especiais	 Cíveis	 e	 Criminais,	 visando	 agilizar	
processos	e	facilitar	o	acesso	à	justiça.
Para Rubia Fiamoncini Bértoli e Saul José Busnello (2017), a arbitragem é um 
dos avanços jurídicos mais utilizados na atualidade, muito devido às exigências do comércio 
internacional. “Sua implantação originou a estimulação de estudos doutrinários e a criação 
de instituições que oferecem serviços aos comerciantes para organizar os diferentes tipos 
de arbitragem, e da mesma forma orientou as câmaras de comércio”.
FONTE: . Acesso em: 29 jul. 2019.
NOTA
Na	arbitragem,	tanto	quanto	numa	decisão	judicial,	um	terceiro	imparcial	
definirá	 de	 forma	 vertical	 qual	 a	 solução	 será	 pertinente.	 A	 diferença	 está,	
primeiramente,	no	fato	de	que	o	árbitro	ou	árbitros	são	eleitos	em	uma	convenção	
de	natureza	privada,	ou	seja,	as	partes	interessadas	assinam	um	instrumento	em	
que	a	escolha	pela	arbitragem	é	formalizada.	Outra	diferença	está	no	fato	de	que	
a	sentença	proferida	pelos	árbitros	não	comporta	recurso,	em	tudo	equivalente	à	
decisão	judicial.	
TÓPICO 2 — MEIOS HETEROCOMPOSITIVOS
79
Nesse sentido, Rubia Fiamoncini Bértoli e Saul José Busnello ensinam que 
“Enquanto na Jurisdição, quem “perde” tem a possibilidade de interpor recursos, na 
Arbitragem isso não é admissível. As partes que desejam submeter seu conflito de interesses 
a um árbitro, sabem, de antemão, que a sua decisão, também chamada de sentença ou 
laudo arbitral, é definitiva, constituindo título executivo judicial conforme o artigo 515, inciso 
VII do Código de Processo Civil e que não há a possibilidade de interposição de recursos”.
FONTE: . Acesso em: 29 jul. 2019.
NOTA
Há	 outras	 peculiaridades	 da	 arbitragem,	 as	 quais	 estão	 abordadas	 nos	
itens	seguintes.	
3.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES
 
Trata-se	de	método	de	resolução	de	conflitos	sem	a	participação	do	poder	
judiciário.	 No	 Brasil,	 a	Arbitragem	 é	 regida	 pela	 Lei	 nº	 9.307/96,	 abrangendo	
direitos	 patrimoniais	 disponíveis,	 seja	 em	 relação	 a	 conflitos	 de	 interesses	
pessoais	de	pequena	monta,	como	também	grandes	controvérsias	empresariais	
ou	estatais,	desde	que	não	estejam	restritos	pela	legislação.
Recentemente foi dada, pelo jurista René David, a seguinte definição: 
“arbitragem é a técnica que visa a dar solução de questão interessando às relações entre 
duas ou várias pessoas, por uma ou mais pessoas, o arbitro ou os árbitros – as quais têm 
poderes resultantes de convenção privada, e decidem, com base nessa convenção, sem 
estar investidos dessa missão pelo Estado”. 
FONTE:. Acesso em: 
22 jul. 2019.
NOTA
Arbitragem,	para	José	de	Albuquerque	Rocha	(2003,	p.	96-97)	é:	“um	meio	
de	resolver	litígios	civis,	atuais	ou	futuros,	sobre	direitos	patrimoniais	disponíveis,	
através	de	árbitro	ou	árbitros	privados,	 escolhidos	pelas	partes,	 cujas	decisões	
produzem	os	mesmos	efeitos	jurídicos	das	sentenças	proferidas	pelos	órgãos	do	
80
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
Poder	Judiciário”.	A	arbitragem,	portanto,	é	um	método	de	resolução	de	conflitos	
por	meio	de	entidades	privadas,	as	quais	aplicarão	a	lei	por	meio	de	uma	decisão	
denominada	sentença	arbitral.
Em	 princípio,	 as	 sentenças	 arbitrais	 são	 finais	 e	 vinculativas.	 Elas	 só	
podem	 ser	 objeto	 de	 recurso	 e	 questionadas	 em	 tribunal	 em	 circunstâncias	
excepcionais.	 Por	 exemplo,	 isso	 se	 aplica	 aos	 casos	 em	 que	 as	 partes	 nunca	
acordaram	 validamente	 em	 estabelecer	 uma	 arbitragem.	 Sentenças	 arbitrais	
podem	ser	aplicadas	na	maioria	dos	países	em	todo	o	mundo.
Caracterizada	pela	informalidade,	a	arbitragem	é	um	método	alternativo	
ao	 Poder	 Judiciário	 que	 oferece	 decisões	 ágeis	 e	 técnicas	 para	 a	 solução	 de	
controvérsias.	Só	pode	ser	usada	por	acordo	espontâneo	das	pessoas	envolvidas	
no	conflito,	que	automaticamente	abrem	mão	de	discutir	o	assunto	na	Justiça.	A	
escolha	da	arbitragem	pode	ser	prevista	em	contrato	(ou	seja,	antes	de	ocorrer	o	
litígio)	ou	realizada	por	acordo	posterior	ao	surgimento	da	discussão.
Como	se	trata	de	um	método	privado,	são	as	partes	envolvidas	no	conflito	
que	 elegem	 um	 ou	 mais	 árbitros,	 geralmente	 um	 ou	 três,	 imparciais	 e	 com	
experiência	na	área	da	disputa,	para	analisar	o	 caso.	Os	árbitros	normalmente	
tentam	ajudar	as	partes	a	entrar	em	acordo.	Se	não	houver	acordo,	eles	emitem	a	
decisão,	chamada	laudo	ou	sentença	arbitral,	que	tem	força	de	sentença	judicial.
 
3.2 PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTO 
A	arbitragem	é	orientada	pelos	seguintes	princípios:
•	 autonomia	das	partes;
•	 contraditórioe	ampla	defesa	concentrados;
•	 igualdade	das	partes;
•	 imparcialidade	do	árbitro;
•	 convencimento,	conciliação,	boa-fé	e	confidencialidade.
Do	ponto	de	vista	do	procedimento,	pressupõe	que	seja	contratado	por	
pessoas	maiores	e	capazes	e	por	pessoas	jurídicas,	admitindo-se	que	apenas	sejam	
submetidos	os	conflitos	patrimoniais	disponíveis.
Qualquer	processo	de	 arbitragem	é	baseado	 em	um	acordo	por	 escrito	
entre	as	partes	(convenção	de	arbitragem).	Nesse	aspecto,	pode	ser	originado	por	
meio	de	cláusula	compromissória,	em	que	a	pactuação	ocorre	antes	da	ocorrência	
do	 litígio,	 ou	 por	 meio	 de	 compromisso	 arbitral,	 o	 qual	 é	 estipulado	 após	 a	
ocorrência	do	litígio.
TÓPICO 2 — MEIOS HETEROCOMPOSITIVOS
81
Além	disso,	 a	 arbitragem	 fornece,	 aos	 árbitros	 e	 às	partes,	 significativa	
liberdade	 e	 flexibilidade.	 As	 partes	 podem	 escolher	 os	 árbitros,	 o	 local	 da	
arbitragem	e/ou	a	língua	do	processo.	As	partes	podem,	portanto,	negociar	sobre	
a	estrutura	e	duração	de	suas	arbitragens.	As	partes,	porém,	não	podem	desviar-
se	dos	princípios	da	equidade	e	da	igualdade,	do	direito	à	oitiva	e	do	direito	de	
ser	representado	por	um	advogado.
Existem	dois	tipos	de	arbitragem:	institucionais	e	ad	hoc.	Na	arbitragem	
institucional,	a	instituição	assume	funções	administrativas	específicas,	tais	como	
entrega	de	intimações	etc.	O	grau	de	envolvimento	pode	variar	de	uma	instituição	
para	outra,	mas	a	disputa	em	si	sempre	será	decidida	pelo	tribunal	arbitral.	Na	
Arbitragem	ad	hoc,	 essas	 funções	 administrativas	 são	 assumidas	pelo	próprio	
tribunal	ou	delegadas	a	terceiros.
A	 "Hamburger	 Freundschaftliche	 Arbitrage"	 (Arbitragem	 amigável	 de	
Hamburgo)	 é	uma	 forma	especial	de	arbitragem	ad	hoc	desenvolvida	a	partir	
de	 práticas	 do	 comércio	 local,	 as	 quais	 estão	 determinadas	 na	 Seção	 20	 das	
Platzusancen für den Hamburgischen Warenhandel	(Práticas	Locais	no	Comércio	de	
Mercadorias	 de	Hamburgo)	 e	 foram	 publicadas	 no	Amtlicher Anzeiger	 (Diário	
Oficial)	 n	 º	 237	 de	 13	 de	 outubro	 de	 1958.	 Adicionalmente,	 vários	 árbitros	
praticando	em	Hamburgo	formaram	o Hamburg Arbitration Circle	(HAC	–	Círculo	
de	Arbitragem	de	Hamburgo),	uma	associação	voltada	à	organização	de	palestras	
e	apoio	à	promoção	de	Hamburgo	como	local	para	realização	de	arbitragens.
O	processo	de	arbitragem,	segundo	Sales	(2010),	é	bastante	diferente	dos	
processos	de	negociação,	conciliação	e	mediação,	visto	ser	um	processo	formal,	que	
exige	regras	processuais	legais	que	definem	requisitos	para	que	tenha	validade.	
3.3 ÁRBITRO
A	pessoa	que	se	propõe	a	atuar	como	árbitro,	necessariamente,	precisa	
ter	mais	que	18	anos,	ter	discernimento	e	condições	de	expressar	sua	vontade	e	
precisa	ter	a	confiança	das	pessoas	envolvidas	no	conflito.	O	árbitro	não	precisa	ser	
advogado,	mas	é	bom	que	tenha	conhecimentos	sobre	direito,	já	que	a	arbitragem	
envolve	o	uso	de	muitos	conceitos	legais.
Assim	como	o	juiz,	o	árbitro	não	pode	ser	amigo	ou	parente	das	partes,	
nem	trabalhar	para	elas	ou	ter	algum	interesse	pessoal	no	julgamento	da	causa.	
Segundo	a	lei,	o	árbitro	deve	ser	independente	e	imparcial.	
É	 importante	enfatizar	que	o	arbitro	é	um	juiz	de	fato	e	de	direito,	por	
isso	 precisa	 ter	 conhecimentos	 específicos	 na	 área	 relacionada	 ao	 conflito	 e	
o	 cumprimento	 de	 suas	 decisões,	 pelas	 partes,	 é	 obrigatório.	 Ele	 precisa	 ter	
desenvolvido	 competências	 para	 dar	 conta	 da	 crescente	 demanda	 por	 esse	
método,	e	ser	qualificado	e	consciente	da	responsabilidade	de	suas	intervenções	
na	construção	de	um	futuro	mais	justo	e	pacífico	para	as	futuras	gerações.
http://www.hamburg-arbitration.de/
82
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 No	método	heterocompositivo	as	soluções	ficam	sob	responsabilidade	de	um	
terceiro	que	decide	sobre	o	que	as	partes	devem	ou	não	fazer.
•	 É	 através	 da	 pessoa	 do	 juiz	 que	 o	 Estado	 presta	 a	 tutela	 jurisdicional	 aos	
cidadãos	que	a	procuram.	Esta	segue	sendo	a	opção	mais	adotada	pelos	que	se	
encontram	em	situação	de	conflito	de	interesses.
•	 A	sentença	coloca	fim	ao	processo,	mas	a	situação	de	litígio	poderá	perdurar.
•	 A	importância	do	Judiciário	se	expressa	em	situações	em	que	as	partes	tenham	
acessado	outros	métodos,	mas	não	tenham	tido	êxito,	ou	quando	se	trata	de	
direitos	indisponíveis.
•	 Na	definição	da	sentença,	o	juiz	e	demais	envolvidos	na	lide	deverão	seguir	as	
regras	e	procedimentos	preestabelecidos	e	em	consequências	predefinidas.
•	 A	imparcialidade	do	juiz	é	uma	condição	para	o	exercício	profissional.
•	 Por	 meio	 da	 convenção	 de	 arbitragem,	 as	 partes	 elegem	 a	 arbitragem	 em	
primeiro	plano,	preterindo-se	a	solução	por	meio	judicial.	
•	 Na	 arbitragem,	 um	 dos	 avanços	 jurídicos	 mais	 utilizados	 na	 atualidade,	 a	
resolução	dos	conflitos	se	dá	por	meio	de	entidades	privadas,	cujas	decisões	
produzem	os	mesmos	efeitos	jurídicos	das	sentenças	proferidas	pelos	órgãos	
do	Poder	Judiciário.
•	 A	arbitragem	é	comum	em	contratos	comerciais,	especialmente	nos	contratos	
relativos	às	transações	internacionais.	
•	 A	arbitragem:
ᵒ	 é	estabelecida	pelo	acordo	entre	as	partes;	
ᵒ	 pode	ser	utilizada	em	qualquer	controvérsia	envolvendo	direito	patrimonial	
disponível;
ᵒ	 possibilita	a	conciliação	durante	o	processo;
ᵒ	 possui	um	caráter	decisório	técnico	(os	envolvidos	escolhem	o	árbitro	de	sua	
confiança,	com	profundo	conhecimento	sobre	o	objeto	do	conflito;
ᵒ	 pode	repercutir	em	economia	processual;
ᵒ	 garante	sigilo	no	procedimento;
ᵒ	 dispensa	homologação	judicial	da	sua	sentença;
ᵒ	 é	 irrecorrível	perante	o	Poder	 Judiciário,	a	não	ser	nos	casos	em	que	a	 lei	
prevê	s	nulidade	da	sentença	arbitral.
83
1		Na	relação	entre	jurisdição	e	arbitragem	é	CORRETO	afirmar	que:
I-	Na	jurisdição,	o	papel	do	magistrado	é	indispensável.	É	ele	quem	precisa	
ser	convencido	sobre	quem	tem	ou	não	tem	razão.
II-	O	juiz	detém	o	poder	de	decisão	para	a	definição	de	sentença,	mas	precisa	
seguir	 regras	 e	 procedimentos	 preestabelecidos	 e	 com	 consequências	
predefinidas.
III-	O	juizado	Especial	Cível	e	Criminal	sempre	existiu,	desde	a	antiguidade.	
O	 que	 é	 atual	 é	 a	 possibilidade	 de	 utilizar	 a	Arbitragem	 como	meio	 de	
solução	de	controvérsias.
IV-	Em	uma	decisão	judicial,	um	terceiro	imparcial	definirá	de	forma	vertical	
a	solução	pertinente.	Já	na	arbitragem,	a	forma	é	horizontal.
V-	A	arbitragem	é	um	método	de	resolução	de	conflitos	sem	a	participação	do	
poder	judiciário.
Assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	(			)	V	–	F	–	F	–	F	–	F.
b)	(			)	F	–	V	–	V	–	F	–	V.
c)	(			)	V	–	V	–	F	–	F	–	V.
d)	(			)	F	–	F	–	V	–	V	–	F.
2		Sobre	a	figura	do	árbitro,	assinale	a	alternativa	INCORRETA.
a)	(			)	O	árbitro	é	uma	terceira	pessoa,	de	confiança	das	partes	e	escolhida	por	
essas	para	conduzir	a	solução	do	conflito.
b)	(			)	O	árbitro	não	precisa	ter	formação	jurídica.
c)	(	 	 )	As	 partes	 podem	 escolher	 o	 árbitro	 de	 acordo	 com	 a	 especialidade	
técnica	que	seja	mais	útil	à	solução	da	questão	em	concreto.
d)	(			)	O	árbitro,	na	arbitragem	judicial,	será	o	próprio	juiz	da	causa.
3		Analise	as	sentenças	a	seguir:
I-		O	árbitro	poderá	ser	recusado	pelas	partes	a	qualquer	tempo	e	por	qualquer	
motivo.
II-	Estão	impedidos	de	funcionar	como	árbitros	as	pessoas	que	tenham,	com	
as	partes	ou	com	o	litígio	que	lhes	for	submetido,	algumas	das	relações	que	
caracterizam	os	casos	de	impedimento	ou	suspeição	de	juízes,	aplicando-
se-lhes,	no	que	couber,	os	mesmos	deveres	e	responsabilidades,	conforme	
previsto	no	Código	de	Processo	Civil.
III-	As	pessoas	indicadas	para	funcionar	como	árbitro	têm	o	dever	de	revelar,	
antes	da	aceitação	da	função,	qualquer	fato	que	denote	dúvida	justificada	
quanto	à	sua	imparcialidade	e	independência.
AUTOATIVIDADE
84
a)	(			)	As	alternativas	I	e	II	estão	corretas.
b)	(			)	As	alternativas	I	e	III	estão	corretas.
c)	(			)	As	alternativas	II	e	III	estão	corretas.
85
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO 
O	Brasilcaminha	em	passos	ainda	lentos	para	mudanças	dos	paradigmas	
relacionados	 à	 forma	 como	 lida	 com	 conflitos.	 A	 cultura	 litigiosa	 mostra-se	
enraizada	 no	 íntimo	 das	 pessoas,	 tanto	 que,	 mesmo	 em	 suas	 residências	 ou	
comunidades,	 ainda	parece	prevalecer	 a	 lei	de	Talião	 com	a	 famosa	expressão	
“olho	por	olho,	dente	por	dente”.
 
Para	superar	essa	cultura	 litigiosa,	 têm	sido	empreendidos	esforços	em	
diferentes	contextos	para	que	as	pessoas	se	reconheçam	como	protagonistas	na	
identificação	de	interesses	e	nos	esforços	para	o	seu	alcance.	No	que	se	refere	ao	
judiciário,	desde	a	década	de	90	vêm	sendo	adotados	projetos	de	atividades	pré-
processuais	em	vários	setores	(civil,	penal,	familiar,	previdenciário,	entre	outros),	
na	busca	de	implementar	a	prevenção	de	demandas.	Esses	projetos	atingiram	os	
objetivos	esperados,	o	que	resultou	na	criação	de	uma	resolução	com	indicadores	
sobre	 como	 proceder	 nessas	 prevenções.	 Em	 novembro	 de	 2010,	 o	 Conselho	
Nacional	de	Justiça	instituiu	a	Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado 
dos Conflitos de Interesses no Âmbito do Poder Judiciário,	o	que	tende	a	estimular	e	
assegurar	a	solução	de	litígios	por	meio	do	consenso	entre	as	partes	(Resolução	
nº	125,	de	29/11/2010).
É	importante	assinalar	que	a	adoção	de	outros	métodos	de	resolução	de	
conflitos	não	implica	a	exclusão	do	Poder	Judiciário.	Ao	contrário,	eles	funcionam	
como	 complementos	 à	 atividade	 jurisdicional	 estatal.	 Nesse	 sentido,	 Petrônio	
Calmon	(2008,	p.	49)	ressalta	que	“os	meios	alternativos	não	excluem	ou	evitam	
um	sistema	judicial	caótico,	mas	põem-se	interativamente	ao	lado	da	jurisdição	
estatal,	devendo-se	valer	do	critério	da	adequação	entre	natureza	do	conflito	e	o	
meio	de	solução	que	entenda	mais	apropriado”.
2 LEGISLAÇÃO RELACIONADA
A	Resolução	 nº	 125/2010	 do	 Conselho	Nacional	 de	 Justiça	 e	 o	 Código	
de	 Processo	 Civil	 de	 2015	 representam	 um	 marco	 no	 direito	 brasileiro	 por	
viabilizarem	a	construção	de	um	processo	civil	e	sistema	de	justiça	multiportas,	
que	 indicam	método	 ou	 técnica	 mais	 adequados	 para	 a	 solução	 de	 conflitos.	
Espera-se	de	o	Judiciário	constituir-se	em	espaço	de	resolução	de	disputas,	local	
de	onde	os	envolvidos	em	conflitos	possam	sair	satisfeitos	com	o	resultado.		
TÓPICO 3 — 
MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
86
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
2.1 RESOLUÇÃO 125/2010 CNJ
Em	novembro	de	2010	foi	aprovada	a	Resolução	125	do	Conselho	Nacional	
de	Justiça.
art.	1º	-	Fica	instituída	a	Política	Judiciária	Nacional	de	tratamento	dos	
conflitos	de	interesses,	tendente	a	assegurar	a	todos	o	direito	à	solução	
dos	conflitos	por	meios	adequados	à	sua	natureza	e	peculiaridade.
Parágrafo	 único:	 Aos	 órgãos	 judiciários	 incumbe,	 além	 da	 solução	
adjudicada	mediante	sentença,	oferecer	outros	mecanismos	de	solução	
de	controvérsias,	em	especial	os	chamados	meios	consensuais,	como	a	
mediação	e	a	conciliação,	bem	assim	prestar	atendimento	e	orientação	
ao	cidadão.		
Os	objetivos	estão	relacionados	a	seguir:
I)	 Instituir	a	Política	Judiciária	Nacional	de	tratamento	dos	conflitos	de	interesses,	
por	meios	adequados	à	sua	natureza	e	peculiaridade.
II)	 Disseminar	a	cultura	da	pacificação	social	e	estimular	a	prestação	de	serviços	
autocompositivos	qualidade	(art.	2º).
III)	Reafirmar	a	função	de	agente	apoiador	da	implantação	de	políticas	públicas	
do	CNJ	(Art.	3º).
IV)	Incentivar	os	tribunais	a	se	organizarem	e	planejarem	programas	amplos	de	
autocomposição	(art.	4º).
2.2 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 2015
O	Novo	Código	de	Processo	Civil,	com	amparo	constitucional,	bem	como	
do	CNJ,	representa	uma	conquista	para	os	métodos	adequados	de	resolução	de	
conflitos.	Como	exemplo:
art.	3º	-	Não	se	excluirá	da	apreciação	jurisdicional	ameaça	ou	lesão	a	
direito.	
§	1º	É	permitida	a	arbitragem,	na	forma	da	lei.	
§	2º	O	Estado	promoverá,	sempre	que	possível,	a	solução	consensual	
dos	conflitos.
§	3º	A	conciliação,	a	mediação	e	outros	métodos	de	solução	consensual	
de	conflitos	deverão	ser	estimulados	por	juízes,	advogados,	defensores	
públicos	 e	 membros	 do	 Ministério	 Público,	 inclusive	 no	 curso	 do	
processo	judicial.
3 NEGOCIAÇÃO 
A	 negociação	 é	 o	 meio	 mais	 simples,	 rápido,	 básico	 e	 elementar	 para	
a	 resolução	de	 controvérsias.	As	pessoas	negociam	o	 tempo	 todo,	 em	casa,	no	
trabalho,	 com	 amigos,	 nos	mais	 diferentes	 espaços	 por	 onde	 andam	 e	 vivem,	
porque	 é	 uma	 forma	 básica	 de	 conseguir	 o	 que	 se	 quer	 dos	 outros.	 Ela	 pode	
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
87
ser	entendida	como	uma	atividade	na	qual	duas	ou	mais	partes	“tentam	criar	
um	acordo	que	resolva	o	conflito	estabelecido	entre	eles,	de	forma	diferente	de	
recorrer	à	força	ou	à	decisão	de	um	terceiro”	(HIDAL;	SAMPAIO,	2016,	p.	337).
Uma	importante	fonte	de	construção	de	conhecimentos	sobre	negociação	
advém	de	décadas	de	pesquisas	realizadas	em	Harvard,	e	passou	a	ser	conhecida	
como	Método	de	Negociação	Baseado	em	Princípios,	que	busca	interesses	comuns	
e	benefícios	mútuos.	Em	qualquer	situação	esse	método	pode	ser	utilizado,	desde	
situações	 cotidianas	do	 espaço	privado	 até	 processos	de	 trabalho	profissional.	
Segundo	Fisher	e	Ury	(2014),	não	se	deve	negociar	com	base	em	posições,	visto	
que	 elas	 podem	 produzir	 acordos	 ineficientes,	 insensatos	 e	 podem	 ameaçar	
o	 relacionamento	 dos	 envolvidos.	 Os	 autores	 defendem	 como	 alternativa	 a	
negociação	baseada	em	interesses.
Para que a negociação produza o resultado esperado, atenção especial para a 
valorização do ser humano, da palavra, e da continuidade da relação.
ATENCAO
3.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES
Como	já	foi	assinalado,	a	negociação	está	presente	no	cotidiano	de	todas	as	
pessoas.	Entretanto	entender	a	negociação	conceitualmente	e	metodologicamente	
pode	 facilitar	 que	 os	 envolvidos	 na	 negociação	 possam	 alcançar	 melhores	
resultados.	
“Negociação	 é	 um	 processo	 de	 comunicação	 bilateral	 com	 o	 objetivo	
de	 se	 chegar	 a	 uma	 decisão	 conjunta”	 (FISHER;	 URY;	 PATTON,	 2005,	 p.	 50).	
Nessa	definição,	a	ênfase	está	na	comunicação,	na	 ideia	da	 tomada	de	decisão	
conjunta.	A	comunicação	na	negociação	não	pode	ser	subestimada.	Dessa	forma,	
o	momento	da	negociação,	a	escuta	dos	envolvidos	e	como	é	conduzida	a	fala	são	
aspectos	fundamentais	para	uma	comunicação	objetiva.	“Negociação	é	o	uso	da	
informação	e	do	poder	com	o	fim	de	influenciar	o	comportamento	dentro	de	uma	
rede	de	tensão”	(COHEN,	1980,	p.	14).
 
Já	na	definição	apresentada	por	Cohen,	são	destacados	comportamentos	
de	 influência,	 ficando	 subtendido	 um	 contexto	 de	 comunicação	 com	 base	 no	
poder	e	na	informação.
 
88
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
Cada	 vez	 que	 pessoas	 trocam	 ideias	 com	 o	 intuito	 de	 modificar	
suas	relações,	cada	vez	que	chegam	a	um	acordo,	estão	negociando.	
A	 negociação	 depende	 da	 comunicação	 e	 ocorre	 entre	 pessoas	 que	
representam	a	si	ou	a	grupos	organizados	(NIERENBERG,	1991,	p.	16).
O	 destaque	 desse	 conceito	 está	 na	 troca	 de	 ideias	 com	 o	 objetivo	 de	
comprometer	as	relações	com	o	outro	visando	acordo.	“Negociação	é	um	processo	
em	que	duas	ou	mais	partes,	 com	 interesse	 comuns	 e	 antagônicos,	 se	 reúnem	
para	confrontar	e	discutir	propostas	explícitas	(comunicação)	com	o	objetivo	de	
alcançar	um	acordo”	(CARVALHAL,	2012,	p.	68).
Essa	conceituação	caracteriza	tanto	o	processo	quanto	as	partes,	tipos	de	
interesses	orientados	para	um	acordo.	Todo	conflito	e	toda	negociação	envolvem	
esferas	de	poder,	regras	e	interesses.	Focar	nas	duas	primeiras	pode	fazer	o	conflito	
escalar	e	dificultar	a	satisfação	dos	envolvidos.	Já	focar	na	esfera	dos	interesses	
pode	 funcionar	melhor	porque,	para	cada	 interesse,	 existem	muitas	e	diversas	
posições,	e	alguma	delas	pode	satisfazer	os	envolvidos,	e	as	pessoas	 tendem	a	
adotar	as	posições	mais	óbvias	possíveis.	Quando	o	negociador	possibilita	que	
os	envolvidosabandonem	a	posição	inicial	e	passem	a	olhar	para	os	interesses	
que	 os	motivam,	 possivelmente	 será	 possível	 encontrar	 uma	 opção	 que	possa	
satisfazer	ambas	as	partes.	A	prerrogativa	pressupõe	que	os	 envolvidos	 lidem	
com	a	controvérsia	como	um	problema	mútuo,	entretanto	encontrar	 interesses	
comuns	não	é	tarefa	fácil.	
Nessa	 perspectiva,	 pode-se	 conceituar	 a	 negociação	 como	 “um	 meio	
básico	de	conseguir	o	que	se	quer	de	outrem.	É	uma	comunicação	bidirecional	
concebida	 para	 chegar	 a	 um	 acordo,	 quando	 você	 e	 o	 outro	 lado	 têm	 alguns	
interesses	em	comum	e	outros	opostos”	(FISHER,	URY,	PATTON,	2005,	p.	15)	
Nas	vivências	cotidianas,	para	os	autores	acima,	podem	ser	identificadas	
duas	 formas	de	negociar.	A	primeira,	baseada	na	empatia,	que	 faz	 com	que	o	
negociador	faça	diversas	concessões,	a	fim	de	evitar	o	conflito.	A	segunda,	baseada	
no	rigor	e	com	foco	no	objetivo,	que	leva	a	um	comportamento	por	vezes	áspero,	
de	 quem	deseja	 vencer	 a	 qualquer	 custo,	 sem	 abrir	mão	da	 sua	 posição.	 Essa	
posição	prejudica	a	concretização	do	acordo	e	influencia	futuros	relacionamentos	
entre	os	negociadores.
A	ideia	da	Escola	de	Negociação	de	Harvard	foi	justamente	conciliar	essas	
duas	maneiras	 de	 negociar,	 desenvolvendo	 e	 difundindo	 uma	 nova	 forma	 de	
agir:	a	negociação	baseada	em	princípios,	a	qual	se	baseia	no	conceito	do	“ganha-
ganha”.
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
89
O	 método	 da	 negociação	 baseada	 em	 princípios,	 desenvolvido	 no	
Projeto	 de	Negociação	de	Harvard,	 consiste	 em	decidir	 as	 questões	
a	 partir	 de	 seus	méritos,	 e	 não	 através	 de	 um	processo	 de	 regateio	
centrado	 no	 que	 cada	 lado	 se	 diz	 disposto	 a	 fazer	 e	 não	 fazer.	 Ele	
sugere	que	você	procure	benefícios	mútuos	sempre	que	possível	e	que,	
quando	 seus	 interesses	 entrarem	em	conflito,	você	 insista	 em	que	o	
resultado	se	baseie	em	padrões	justos,	independentes	da	vontade	de	
qualquer	dos	lados.	O	método	da	negociação	baseada	em	princípios	é	
rigoroso	quanto	aos	méritos	e	brando	com	as	pessoas.	Não	emprega	
truques	nem	a	assunção	de	posturas	(FISHER;	URY;	PATTON,	2005,	
p.	15).
 
A	intencionalidade	da	negociação	é	alcançar	um	resultado	que	satisfaça	
ambas	 as	 partes,	 o	 que	 pressupõe	 que	 o	 outro	 não	 seja	 visto	 e	 tratado	 como	
oponente,	mas,	sim,	como	parceiro	e	colaborador	na	realização	do	acordo.
A	Lei	nº	13.105,	de	16	de	março	de	2015	(Novo	Código	de	Processo	Civil)	
tratou	da	negociação,	no	parágrafo	3º.	do	art.	166,	in	verbis:	“admite-se	a	aplicação	
de	 técnicas	 negociais,	 com	 o	 objetivo	 de	 proporcionar	 ambiente	 favorável	 à	
autocomposição”.	
Uma	das	máximas	deste	método	é	criar	valor	antes	de	distribuir	tais	valores	
entre	os	 envolvidos	no	processo	de	negociação.	 Siouf	Filho	 (2012)	 apresenta	 a	
imagem	de	um	bolo	e	afirma	que	se	deve	aumentar	o	bolo	para,	só	então,	cortá-lo	
e	distribuí-lo.	Assim,	para	o	autor,	quanto	maior	o	bolo,	maior	a	possibilidade	de	
satisfação	entre	os	participantes,	e	maior	será	a	chance	de	se	chegar	a	um	acordo.	
É	importante	enfatizar	que	conflitos	podem	surgir	em	todos	os	aspectos	
da	vida,	e	a	negociação	pode	ser,	então,	uma	técnica	importante	e	viável	para	a	
resolução	desses	conflitos.	
Teoricamente, os conflitos mais adequados à negociação direta são aqueles 
em que as pessoas possuem condições de dialogar mesmo sem a intervenção de um 
terceiro para facilitar esse diálogo – normalmente de ordem material, patrimonial.
IMPORTANTE
3.2 PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS
A	ideia	da	negociação	é	buscar	a	maximização	de	ganhos	mútuos,	e	isso	
só	é	possível	na	medida	em	que	os	envolvidos	em	um	conflito	se	concentrem	em	
criar	valor	em	vez	de	dividi-lo.	
90
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
A	 negociação	 baseada	 em	 princípios	 possui	 quatro	 princípios	 gerais	
que	permitem	resultados	ganha-ganha	pautados	nos	interesses:	1º	–	separar	as	
pessoas	do	problema;	 2º	 -	 focar	nos	 interesses	dos	 envolvidos,	 e	não	nas	 suas	
posições;	3º	–	criar	opções	de	ganho	mútuo;	e	4º	–	mapear	critérios	objetivos	para	
legitimar	a	escolha	das	opções.	
Atente para os princípios que nunca podem ser esquecidos na condução de 
uma negociação:
• Pessoas: separe as pessoas dos problemas.
• Interesses: concentre-se nos interesses, não nas posições.
• Opções: crie uma variedade de possibilidades antes de decidir o que fazer.
• Critérios: insista em que o resultado tenha por base algum padrão objetivo.
FONTE: Fisher, Ury e Patton (2005, p. 28)
ATENCAO
1º princípio: separar as pessoas do problema
A	 prerrogativa	 de	 um	 negociador	 eficaz	 é	 que	 ele	 possa	 ser	 capaz	 de	
distinguir	o	 conflito	e	 as	pessoas	nele	 envolvidas.	Desta	 forma,	na	negociação	
não	deve	prevalecer	o	hábito	de	fazer	acusações	pessoais,	mas	o	exercício	de	um	
se	colocar	no	lugar	do	outro,	com	foco	no	objetivo	a	ser	atingido.	As	chances	de	
acordo	estão	diretamente	relacionadas	à	atmosfera	favorável	ao	diálogo.	
É	 necessário	 ter	 claro	 que	 os	 envolvidos	 na	 negociação	 são	 seres	
humanos,	que	possuem	sentimentos	e	desejos.	Dessa	forma,	o	aspecto	emocional	
da	negociação	é	de	extrema	importância	e	não	pode	ser	negligenciado.	Em	uma	
disputa,	 as	 emoções	 envolvidas	 fazem	 com	que	o	 outro	 seja	 visto	 como	parte	
do	problema,	e	não	como	parte	em	uma	negociação	em	que	é	possível	buscar	
colaboração.	Os	autores	defendem	que	é	importante	manter	o	foco	nas	questões	
a	serem	tratadas,	e	não	nas	pessoas	envolvidas.	O	problema,	para	eles,	deve	ser	
tratado	com	dureza,	já	as	pessoas	precisam	ser	tratadas	com	afeto.
Esse	princípio	considera	que	as	pessoas	não	necessariamente	fazem	parte	
do	problema.	Ou	seja,	trabalhar	para	a	superação	de	um	problema	e	manter	uma	
boa	relação	não	precisam	ser	objetivos	que	conflitam	entre	si.	
2º princípio: concentrar-se em interesses, não em posições
Nas	disputas,	os	envolvidos	devem	superar	o	costume	de	se	concentrar	
nas	 posições.	As	 posições	 obscurecem	 os	 reais	 interesses	 das	 pessoas.	 O	 que	
está	envolvido	em	uma	negociação	são	as	necessidades,	desejos,	preocupações	e	
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
91
temores.	Esses	sentimentos	precisam	ser	explicitados	e	explorados.	Quando	isso	
é	realizado,	do	processo	podem	emergir	interesses	comuns.	
É	importante	considerar	que	posições	opostas	podem	esconder	interesses	
comuns	e	compatíveis.	Muitas	vezes	esses	interesses	podem	não	ser	explicitados	
e,	para	serem	conhecidos,	uma	técnica	básica	consiste	em	uma	atitude	empática	
de	pensar	na	“escolha	do	outro”	(perguntar	“por	quê?”,	“por	que	não?”)	com	o	
intuito	de	reconhecer	os	 interesses	do	outro	como	parte	do	problema,	olhando	
para	 frente	 (futuro),	 e	 não	 somente	 para	 trás	 (passado).	 Dessa	 forma,	 esse	
princípio	preconiza	que	para	ser	possível	uma	boa	negociação,	os	interesses	dos	
envolvidos	precisa	ser	reconhecido,	para	poder	atender	a	seus	desejos,	evitando-
se	a	disputa	por	posições.
 
Um	exemplo	bastante	conhecido,	provavelmente	abordado	pela	primeira	
vez	no	Curso do Projeto de Negociação de Harvard,	é	a	disputa	de	duas	crianças	por	
uma	única	laranja.	A	anedota	apresenta	duas	crianças	que	brigavam	havia	horas	
para	ter	a	única	laranja	que	havia	em	casa.	A	mãe,	imbuída	do	desejo	de	terminar	
com	a	briga	das	filhas	e	solucionar	o	impasse	da	forma	mais	justa	que	ela	entendia	
ser	possível,	simplesmente	dividiu	a	 laranja	ao	meio,	dando	metade	para	cada	
uma	das	filhas.	Essa,	de	fato,	parece	ser	a	solução	mais	óbvia,	que	aparentemente	
parece	ser	a	mais	correta	e	que	a	maioria	das	pessoas	tomaria.	Entretanto,	mais	
tarde,	essa	mãe	descobriu	o	quanto	essa	solução	era	insatisfatória	e	não	resolvia	o	
problema	de	nenhuma	das	filhas,	pois	uma	filha	queria	a	laranja	para	fazer	suco	e	
a	outra	queria	apenas	a	casca	para	brincar.	Quando	a	laranja	foi	partida	ao	meio,	
ambas	saíram	perdendo,	mesmo	que	no	caso	pudessem	ter	tido	os	seus	interesses	
integralmente	satisfeitos,	dado	que	não	queriam	a	mesma	coisa.	Suas	posições	
eram	antagônicas,mas	os	interesses	eram	compatíveis.
3º princípio: inventar opções de ganhos mútuos
Utilizar	a	criatividade	para	criar	diferentes	opções,	antes	de	tomar	decisão,	
pode	 facilitar	 a	 construção	 de	 um	 acordo	 cujos	 ganhos	 podem	 ser	 mútuos.	
Segundo	os	autores,	o	 julgamento	prematuro,	a	busca	por	uma	resposta	única	
e	o	entendimento	de	que	os	problemas	do	outro	são	de	responsabilidade	deles,	
podem	se	constituir	obstáculos	para	se	chegar	a	um	acordo.	Para	que	se	seja	capaz	
de	inventar	opções	criativas,	é	importante:	buscar	todas	as	opções	possíveis	sem	
avaliá-las;	buscar	ampliar	o	número	de	opções	possíveis,	rompendo	com	a	ideia	
de	que	 existe	 apenas	uma	 resposta	para	o	problema;	buscar	possibilidades	de	
ganhos	mútuos;	 harmonizar	 os	 interesses	 discrepantes	 e	 facilitar	 a	 decisão	da	
outra	parte	criando	opções	que	levem	em	conta	suas	necessidades.	
Inventar	 opções	 criativas	 (brainstorming)	 pode	 ser	 feito	 tanto	
individualmente	quanto	conjuntamente	pelas	partes,	e	pode	se	constituir	como	
uma	atividade	muito	útil	para	encontrar	opções	de	ganho	mútuo.
92
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
4º princípio: buscar critérios objetivos 
Critérios	objetivos	 favorecem	que	as	 soluções	possam	ser	 consideradas	
justas	pelas	partes. Esses	critérios	dizem	respeito	à	vontade	das	partes,	que	podem	
decorrer	 do	 valor	 de	 mercado,	 de	 opinião	 especializada,	 costumes,	 previsão	
legal,	precedente	de	um	tribunal,	entre	outros.	Os	critérios,	que	não	precisam	ser	
únicos,	devem	partir	de	discussões,	argumentações	e	independem	da	vontade	de	
qualquer	dos	lados.	
Para	a	discussão	de	procedimento,	é	importante	apresentar	o	Método	dos	
Sete	Elementos,	desenvolvido	na	Escola	de	Direito	da	Universidade	de	Harvard	
(HIDAL;	SAMPAIO,	2016,	p.	341).	O	método	prescreve	os	elementos:	comunicação,	
relacionamento,	alternativas,	interesses,	opções,	critérios	e	compromisso.
• Comunicação:	os	negociadores	precisam	falar	a	mesma	linguagem.	Dificuldades	
comunicacionais	podem	levar	a	desentendimentos	que	não	são	necessários.
• Relacionamento:	a	confiança	está	diretamente	relacionada	a	relações	próximas	
e	amigáveis.	Quando	há	confiança,	as	pessoas	revelam	interesses	latentes,	que	
de	outra	forma	não	seriam	revelados.
• Alternativas:	a	identificação	da	MASA	é	a	escolha	da	melhor	alternativa	dentre	
as	possíveis.	Isso	é	feito	antes	do	início	da	negociação	e	será	utilizado	em	caso	
de	não	haver	acordo.	
• Interesses:	quando	se	identifica	os	interesses	é	possível	aumentar	o	“todo”,	que	
depois	será	distribuído	na	negociação.
• Opções:	identificação	de	possíveis	soluções	construídas	a	partir	da	revelação	
de	interesses	subjacentes	às	posições.
• Critérios:	utilização	de	padrões	objetivos,	gerais	e	independentes	da	vontade	
das	partes.
• Compromisso:	documentação	do	acordo,	de	forma	a	deixar	o	combinado	claro	
e	registrado.	
 
3.3 FASES DA NEGOCIAÇÃO 
Segundo	 Fisher,	 Ury	 e	 Patton	 (2005),	 em	 uma	 negociação	 podem	 ser	
identificadas	três	fases:	análise,	planejamento	e	discussão.	
A	 fase	 da	 análise	 pressupõe	 fazer	 o	 diagnóstico	 da	 situação,	 reunir	
informações,	organizá-las	e	fazer	reflexão	sobre	elas.	Nessa	fase	é	importante	levar	
em	conta	a	percepção,	sentimentos	e	emoções	das	pessoas	que	estão	envolvidas	
no	conflito,	e	também	identificar	os	interesses	dos	envolvidos.
A	próxima	fase	é	o	planejamento,	no	qual	é	decidido	como	será	 feita	a	
negociação,	considerando	a	análise	realizada,	os	mais	significativos	e	importantes	
interesses	identificados,	bem	como	os	objetivos	mais	realistas.	
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
93
A	terceira	fase	é	a	fase	da	discussão,	na	qual	os	envolvidos	se	comunicam	
diretamente.	 Nesse	 momento	 é	 necessário	 que	 o	 ambiente	 possa	 facilitar	 o	
diálogo,	e	que	todos	tenham	a	oportunidade	de	expressar	os	seus	sentimentos	e	
interesses.	Cada	parte	envolvida	é	incentivada	a	compreender	os	interesses	e	as	
necessidades	do	outro.	Quando	isso	é	alcançado,	os	envolvidos	poderão	trabalhar	
em	conjunto	para	construir	opções	de	ganho	mútuo,	buscando	firmar	um	acordo	
com	base	em	padrões	objetivos	para	conciliar	os	interesses.
 
3.4 O NEGOCIADOR
A	teoria	de	Harvard	apresenta	a	figura	do	negociador	como	uma	pessoa	
cooperativa,	que	atua	baseada	em	princípios	que	buscam	o	ganha-ganha	ao	invés	
de	preocupação	em	vencer	no	enfoque	ganha-perde.	O	negociador	ganha-ganha	
busca	possibilidades	de	soluções	criativas,	que	agreguem	valor	às	questões	e	que	
favoreçam	a	manutenção	de	relacionamentos.	
 
Cabe	 ao	 negociador	 conduzir	 a	 negociação	 através	 de	 uma	 conversa	
franca,	 investir	na	boa-fé	das	partes	e	no	envolvimento	de	todos	para	alcançar	
uma	solução.	Quando	o	negociador	consegue	que	 isso	aconteça,	dificilmente	o	
acordo	será	descumprido.
Para aprofundar essa temática, sugerimos a leitura do livro Como chegar ao sim.
Uma das mais importantes obras da área de negócios, Como chegar ao sim já ajudou 
milhões de pessoas a adotarem uma forma mais inteligente, amistosa e eficaz de negociar.
Baseado no trabalho do Projeto de Negociação de Harvard, grupo que estuda e atua em 
todos os tipos de negociações, mediações e resoluções de conflitos, ele oferece um método 
direto e prático para obter acordos que satisfaçam todas as partes envolvidas.
DICAS
FIGURA – LIVRO COMO CHEGAR AO SIM
FONTE: . Acesso em: 24 mar. 2020.
94
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
Selecionamos alguns filmes para aprofundamento sobre o tema. Não são 
ligados diretamente ao tema, mas apresentam conteúdo que envolve muita habilidade de 
comunicação e negociação.
Ponte dos Espiões (Steven Spielberg, 2015) – Em plena Guerra Fria, o advogado especializado 
em seguros James Donovan (Tom Hanks) aceita uma tarefa muito diferente do seu trabalho 
habitual: defender Rudolf Abel (Mark Rylance), um espião soviético capturado pelos 
americanos. Mesmo sem ter experiência nesta área legal, Donovan torna-se uma peça central 
das negociações entre os Estados Unidos e a União Soviética ao ser enviado a Berlim para 
negociar a troca de Abel por um prisioneiro americano, capturado pelos inimigos.
FONTE: . Acesso em: 13 nov. 2019.
Hotel Ruanda (Terry George, 2004) – Em 1994 um conflito político em Ruanda levou à morte 
de quase um milhão de pessoas em apenas cem dias. Sem apoio dos demais países, os 
ruandenses tiveram que buscar saídas em seu próprio cotidiano para sobreviver. Uma delas 
foi oferecida por Paul Rusesabagina (Don Cheadle), que era gerente do hotel Milles Collines, 
localizado na capital do país. Contando apenas com sua coragem, Paul abrigou no hotel mais 
de 1200 pessoas durante o conflito.
FONTE: . Acesso em: 17 fev. 2019.
DICAS
FIGURA – FILME PONTE DOS ESPIÕES
FIGURA – FILME HOTEL RUANDA
FONTE: . Acesso em: 24 mar. 2020.
FONTE: . Acesso em: 24 mar. 2020.
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
95
4 CONCILIAÇÃO
A	Lei	Federal	7.244/84	 foi	a	grande	 impulsionadora	para	a	projeção	da	
conciliação	como	forma	autocompositiva	de	resolução	de	conflitos.	A	Lei	rompeu	
paradigmas	ao	introduzir	no	cenário	jurídico	nacional	propostas	de	pacificação	
social,	deu	ênfase	à	conciliação	e	criou	a	figura	do	conciliador	como	facilitador	na	
resolução	de	conflitos.	Essa	lei	foi	substituída	pela	Lei	9.099/95,	que	dispõe	sobre	
os	Juizados	Especiais	Cíveis	e	Criminais,	definindo	critérios	para	a	criação	de	um	
espaço	formal	para	a	atuação	do	conciliador.
Atualmente	 a	 Resolução	 125/2010	 dá	 ordenamento	 jurídico	 aos	
mecanismos	 consensuais	 de	 resolução	 de	 conflitos	 no	 Brasil,	 consolidando-os	
como	política	pública	 judiciária,	e	 tem	o	propósito	de	 incentivar,	aperfeiçoar	e	
assegurar	tratamento	adequado	aos	conflitos.	
A	conciliação	é	um	método	para	dirimir	adversidades	e	investir	na	busca	
de	interesses	que	satisfaçam	os	envolvidos	nãosó	na	área	jurídica,	mas	também	
em	outras	dimensões	de	relações	conflituosas.	
4.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES
A	 definição	 histórica	 da	 palavra	 “conciliação”	 tem	 origem	 latina	 e	
significa	 conciliatione. É traduzida	 como	 “ato	 ou	 efeito	 de	 conciliar;	 ato	 de	
harmonizar	disputantes	ou	pessoas	com	vontades	opostas;	acordo;	entendimento;	
concordância”	 (Santos,	 2008).	 A	 conciliação,	 ou	 autocomposição,	 é	 realizada	
quando	duas	ou	mais	pessoas	buscam	pôr	fim	às	divergências	existentes	entre	
elas	de	uma	maneira	consensual.	As	próprias	partes	são	 incentivadas	a	buscar	
uma	solução	de	forma	conjunta	e	participativa.
96
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
Juridicamente falando, a conciliação tem suas definições enraizadas, de 
acordo com conhecimento transmitido pelo Conselho Nacional de Justiça, no sentido 
de autocomposição das partes. Conforme esclarece o CNJ, conciliação se traduz em “um 
meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa 
(neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-las na construção de um acordo”.
No caso da conciliação judicial, o procedimento é iniciado pelo magistrado ou por 
requerimento da parte, com a designação de audiência e a intimação das partes para o 
comparecimento. Na conciliação pré-processual, a parte comparece à unidade do Poder 
Judiciário apta a atendê-la (no caso, as unidades de conciliação já instaladas ou os Juizados 
Especiais), que marca uma sessão na qual a outra parte é convidada a comparecer. Na 
efetivação do acordo, o termo da audiência se transforma em título judicial. Na falta de 
acordo, é dado o encaminhamento para o ingresso em juízo pelas vias normais. 
FONTE: . Acesso em: 13 out. 2019.
IMPORTANTE
A	 possibilidade	 de	 conciliação	 está	 prevista	 em	 diversas	 leis	 e	
regulamentos	como,	por	exemplo:
 Ano Lei Número E Artigos
1943 Consolidação	das	Leis	do	Trabalho CLT	DL-005.452-1943	(artigos	764,	
831,	847	e	850)
1973 Código	de	Processo	Civil Artigos	125,	IV,	269,	III,	277	e	outros
1990 Código	de	Defesa	do	Consumidor Lei	8.078,	de	11	de	setembro	de	1990	
(artigos	5º,	IV,	6º,	VII,	e	107)
1995 Lei	dos	Juizados	Especiais	Cíveis	e	
Criminais
Lei	9.099,	de	26	de	setembro	de	1995	
(art.	2º)
1996 Lei	de	Arbitragem Lei	nº	9.307,	de	23	de	setembro	de	
1996	(artigos	21,	§4º,	e	28)
2001 Lei	dos	Juizados	Especiais	Federais Lei	nº	10.259,	de	12	de	julho	de	2001
2002
Resolução	2.002/12	da	ONU.
Princípios	básicos	para	utilização	de	
programas	de	justiça	restaurativa	
em	matéria	criminal
Resolução	2.002/12	de	24	de	julho	de	
2002
2002 Código	Civil Lei	10.406,	de	10	de	janeiro	de	2002.	
Art.	840
QUADRO 1 – CONCILIAÇÃO E LEIS
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
97
2009 Lei	dos	Juizados	Especiais	da	
Fazenda	Pública
Lei	nº	12.153,	de	22	de	dezembro	de	
2009
2010
Política	Judiciária	Nacional	de	
Tratamento	Adequado	dos	Conflitos	
de	Interesses
Res.	nº	125,	de	29	de	novembro	de	
2010
FONTE: Material apresentado em sala de aula – Curso de Mediação Domus (2019).
Na	atualidade,	com	base	na	política	pública	preconizada	pelo	Conselho	
Nacional	de	Justiça	e	consolidada	em	resoluções	e	publicações	diversas,	pode-se	
afirmar	que	a	conciliação,	no	Poder	Judiciário,	busca:
I-	 além	do	acordo,	uma	efetiva	harmonização	social	das	partes;	
II-	restaurar,	dentro	dos	limites	possíveis,	a	relação	social	das	partes;
III-	utilizar	 técnicas	persuasivas,	mas	não	 impositivas	ou	coercitivas,	para	se	
alcançarem	soluções;	
IV-	 demorar	 suficientemente	 para	 que	 os	 interessados	 compreendam	 que	 o	
conciliador	se	importa	com	o	caso	e	a	solução	encontrada;	
V-	humanizar	o	processo	de	resolução	de	disputas;
VI-	preservar	a	intimidade	dos	interessados	sempre	que	possível;	
VII-	visar	a	uma	solução	construtiva	para	o	conflito,	com	enfoque	prospectivo	
para	a	relação	dos	envolvidos;	
VIII-	permitir	que	as	partes	sintam-se	ouvidas;
IX-	utilizar-se	de	 técnicas	multidisciplinares	para	permitir	que	se	encontrem	
soluções	satisfatórias	no	menor	prazo	possível.
FONTE: . Acesso em: 24 mar. 2020.
Na	conciliação,	os	envolvidos	procuram	a	resolução	de	seus	conflitos	com	
a	presença	do	conciliador,	que	interfere	no	processo	visando	à	obtenção	de	um	
acordo.	É	esperado	que	o	conciliador	ofereça	sugestões	sobre	possíveis	soluções	
e	melhores	alternativas	para	o	problema	e	acordo	a	ser	construído.	Esse	parecer	é	
dado	a	partir	de	uma	avaliação	criteriosa	das	vantagens	e	desvantagens	para	cada	
um	dos	envolvidos,	que	podem	ou	não	acatar	as	sugestões	recebidas.		
4.2 PROCEDIMENTO
FIGURA 1 – CONCILIAÇÃO
FONTE: . Acesso em: 18 fev. 2020.
98
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
Os	 conflitos	 mais	 adequados	 para	 a	 utilização	 de	 meio	 são	 aqueles	
esporádicos,	nos	quais	os	envolvidos	não	têm	vínculo	continuado,	nem	afetivo,	
tampouco	emocional.	Segundo	Hidal	e	Sampaio	(2016),	são	questões	em	que	as	
relações	são	casuais	e	superficiais,	nas	quais	o	interesse	material	se	sobrepõe	ao	
relacional.	
	As	diferentes	etapas	da	conciliação,	apresentadas	por	Sampaio	e	Braga	
Neto	(2007),	podem	ser	divididas	em	quatro:	abertura,	esclarecimentos,	criação	
de	opções	e	acordo.	
Em relação às etapas, vale a observação de Lia Regina Castaldi Sampaio e 
Adolfo Braga Neto no sentido de que não se trata de uma “receita culinária, em que são 
usados determinados ingredientes e marcas que resultarão, na maioria das vezes, se bem 
seguidas pelo usuário, em um alimento a ser consumido” (SAMPAIO; BRAGA NETO, 2007, 
p. 46-47).
ATENCAO
Etapa de abertura
Na	abertura,	o	conciliador	fala	sobre	o	procedimento	que	será	realizado,	
faz	os	esclarecimentos	iniciais	e	fala	das	implicações	legais	referentes	ao	acordo.	
Tavares	Filho	e	Tavares	 (2016,	p.	349)	ao	se	 referirem	à	etapa	da	apresentação,	
salientam	a	 importância	da	criação	de	um	ambiente	de	acolhimento	que	possa	
conquistar	os	participantes	e	dar	legitimidade	a	este	meio	autocompositivo.	Estes	
autores	listam	itens	a	serem	seguidos	pelo	conciliador	nesta	etapa.
•	 cumprimenta	as	partes	e	seus	advogados;
•	 anota	os	respectivos	nomes	e	pergunta	como	cada	qual	prefere	ser	chamado;
•	 faz	a	sua	apresentação	pessoal,	ressaltando	o	dever	ético	de	imparcialidade	e	
neutralidade;
•	 destaca	seu	papel	de	facilitador	do	diálogo,	não	de	julgador;
•	 fala	sobre	a	voluntariedade	e	informalidade	dessa	prática;
•	 confirma	o	interesse	das	partes	em	participar	e	parabeniza	pela	escolha;
•	 esclarece	sobre	os	objetivos	da	conciliação	e	as	implicações	da	celebração	(ou	
não)	do	acordo
•	 realça	as	vantagens	dessa	forma	de	solução	de	conflitos.
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
99
Etapa de Esclarecimento
Tavares	 Filho	 e	 Tavares	 (2016)	 agregam	 a	 terminologia	 Investigação	
ao	 nome	da	 etapa.	Nela	 cabe	 ao	 conciliador	 buscar	 esclarecimentos	 por	 parte	
dos	 envolvidos	 sobre	 ações,	 atitudes	 e	 iniciativas	 que	 geraram	 o	 conflito.	 O	
conciliador	convida	os	envolvidos	a	relatarem	a	controvérsia.	É	nesta	etapa	que	
são	identificados	os	temas,	interesses	e	posições	dos	envolvidos.	
 
Cabe	ao	conciliador	identificar	os	pontos	convergentes	e	divergentes	do	
conflito	 através	 de	 uma	 escuta	 ativa,	 sem	 interrupções.	 Momento	 de	 realizar	
perguntas	 sobre	 o	 fato	 e	 a	 relação	 entre	 eles	 para	 incentivar	 a	 comunicação	 e	
identificar	a	pretensão	de	cada	parte	envolvida	no	conflito.	
 
Etapa de criação de opções de solução
A	terceira	etapa	pressupõe	a	criação	de	opções	que	pode	se	dar	por	uma	
sugestão	 apresentada	 pelo	 conciliador	 ou	mesmo	propostas	 construídas	 pelos	
envolvidos	para	a	solução	do	conflito.	O	foco,	segundo	Tavares	Filho	e	Tavares	
(2016,	p.	350)	“é	o	 incentivo	à	 criatividade	das	partes,	na	busca	da	solução	da	
disputa,	tendo	em	vista	que	quanto	mais	proposta	forem	discutidas,	maiores	as	
perspectivas	deum	ajuste	consistente”.
Os	 autores	 Tavares	 Filho	 e	 Tavares	 (2016)	 incluem	 uma	 outra	 etapa,	
antes	 da	 etapa	 final,	 chamada	 por	 eles	 de	 avaliação	 e	 escolha	 das	 opções	 de	
solução.		
Avaliação e escolha das opções de solução
A	tarefa	do	conciliador	é	auxiliar	na	análise	das	opções	construídas	na	
fase	três,	com	vistas	a	selecionar	as	opções	que	possam	ser	viáveis	e	atender	os	
interesses	 das	 partes.	 Nesta	 etapa,	 que	 é	mais	 objetiva,	 pode	 ser	 necessária	 a	
presença	de	um	advogado,	pois	não	é	prerrogativa	do	conciliador	orientar	quanto	
a	exequibilidade	das	soluções	propostas.	
Acordo
Trata-se	na	lavratura	do	termo	final,	o	acordo.	Segundo	Tavares	Filho	e	
Tavares	 (2016,	p.	352)	é	 importante	que	na	escrita	possam	ser	 considerados	os	
seguintes	aspectos:
•	 forma	escrita;
•	 redigido	na	presença	das	partes,	advogados	e	conciliador;
•	 modo	simples,	claro,	preciso;
•	 fazer	constar	exatamente	o	que	ficou	combinado;
•	 ter	o	tratamento	jurídico	necessário;
•	 deixar	assinalado	quem	vai	fazer	o	que,	porque,	quando,	como,	onde	e	quando.
 
100
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
4.3 TÉCNICAS 
Vamos	apresentar	as	 técnicas	de	conciliação	descritas	por	Tavares	Filho	
e	 Tavares	 (2016).	 Estas	 técnicas	 também	 são	 utilizadas	 em	 outros	métodos	 de	
solução	de	conflitos,	como	a	mediação	e	a	negociação.	Cabe	ao	conciliador	decidir	
pela	melhor	técnica	em	resposta	ao	que	busca	resolver.
Escuta ativa ou escuta dinâmica
A	escuta	ativa	pode	ser	entendia	como	uma	técnica	que	implica	dar	àquele	
que	fala	sua	mais	completa	atenção	e	capacidade	de	compreensão.	A	prerrogativa	
é	a	necessidade	de	construção	de	um	espaço	propício	para	a	comunicação,	onde	
os	envolvidos	possam	se	sentir	confortáveis	para	expressar	ideias	e	sentimentos.	
 
Para	compreensão	do	que	é	assinalado	pelas	partes,	o	conciliador	utiliza	
perguntas	exploratórias,	que	ajudam	a	elucidar	o	que	é	dito.	
Técnica da recontextualização ou parafraseamento
A	técnica	pressupõe	que	o	conciliador	construa	um	resumo	reformulado	
do	que	foi	dito	pelas	partes,	extraindo	a	conotação	negativa	e	enfatizando	pontos	
positivos	e	comuns.	
O	conciliador,	com	essa	técnica,	tem	a	chance	de	confirmar	se	entendeu	
bem	o	que	foi	dito	e	as	partes	têm	a	possibilidade	de	ouvir	a	sua	própria	fala.	
Técnica: concentrar-se nos interesses
A	proposta	da	técnica	é	facilitar,	por	meio	de	perguntas,	que	os	envolvidos	
no	 conflito	 possam	 sair	 de	 suas	 posições	 e	 possam	 expressar	 seus	 interesses.	
Quando	as	partes	iniciam	a	sessão,	têm	a	tendência	de	se	manter	nas	posições,	
sendo	a	competição	entre	as	partes	o	foco.	
Técnica do reforço positivo
Técnica	 que	 visa	 a	 valorização	 do	 comportamento	 da	 parte	 ou	 do	
advogado	 que	 apresenta	 propostas	 positivas.	 O	 conciliador	 elogia,	 estimula	 e	
encoraja	posturas	positivas.	
Técnica do teste de realidade e enfoque prospectivo
Cabe	ao	conciliador,	no	momento	da	escolha	da	solução,	questionar	se	o	
que	está	sendo	combinado	pode	realmente	ser	exequível.	
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
101
O relato da experiência apresentada a seguir pode ajudar no entendimento 
da importância da conciliação, enquanto método que constrói possibilidades de pacifi-
cação social. Ele foi extraído do Manual de Mediação e Conciliação da Justiça Federal 
(2019, p. 74).
 [...] 
 Considerando minha experiência com a conciliação/mediação na Justiça Federal, 
ressalto um caso especial que me vem à memória. Uma ação de indenização por danos 
morais e materiais, em razão de vícios de construção em imóvel do Programa “Minha Casa, 
Minha Vida”, faixa 1 (PAR). A autora ajuizou ação contra a Caixa Econômica Federal e a em-
presa responsável pela construção do imóvel (casa popular) solicitando indenização por 
danos materiais e morais causados em razão de uma tempestade que ocorreu na cidade, 
alagando sua casa, danificando seus poucos móveis e tornando a residência praticamente 
inabitável. No laudo pericial restou demonstrado que os danos sofridos pela autora decor-
reram de vícios de construção. Na audiência de conciliação/mediação, após a declaração 
de abertura, a autora foi instada a relatar os fatos. Embora as fotos constantes no laudo 
pericial demonstrassem o estado de miserabilidade da autora, bem como as condições 
insalubres de sua moradia, a autora ainda apresentou outras fotos que haviam sido retiradas 
posteriormente, mostrando a piora na condição do imóvel. Não obstante a situação digna 
de compaixão, a autora relatou, com muito bom humor, simplicidade e demonstrando 
resignação, que tinha dois filhos (gêmeos) adolescentes, ambos deficientes, e que, como 
eles não andavam, passavam o dia brincando no chão, mas com as chuvas, com o barro 
que tinha entrado na casa e com todo o mofo eles não estavam muito bem de saúde e não 
tinham como brincar direito e que, com a chuva, perdeu os poucos móveis, eletrodomésti-
cos e até os colchões. Nesse ponto da audiência, o rumo da conversou mudou. Passamos 
a trazer para a mesa de negociação outras questões que não constavam no processo e que 
subjaziam à pretensão da autora de ressarcimento pelos danos morais e materiais. Fosse 
por compaixão ou mesmo por estratégia de atuação processual, mas o efeito foi além do 
esperado e o acordo alcançou não só o ressarcimento pelos danos alegados e o reparo da 
moradia, mas também previu: doação de duas cadeiras de rodas para os filhos da autora, 
auxílio médico-hospitalar, esclarecimentos sobre possível direito a recebimento de benefí-
cio assistencial para os filhos, encaminhamento para atermação.
 [...] 
Geovana Faza da Silveira Fernandes
Diretora do Centro Judiciário de Conciliação da Subseção Judiciária de Juiz de Fora
FONTE: . Acesso em: dez. 2019
INTERESSANTE
102
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
5 MEDIAÇÃO
 
Mediar	 é	 uma	 estratégia	 de	 resolução	 de	 conflitos	 que	 viabiliza	 a	
compreensão	dos	problemas	na	perspectiva	de	cultura	de	paz,	permitindo	aos	
envolvidos	 a	 construção	 de	 decisões	 que	melhor	 lhes	 favoreçam.	A	mediação	
avança	não	somente	no	judiciário,	mas	na	resolução	de	conflitos	em	ambientes	
escolares,	prisões,	empresas,	comunidades	e	em	muitos	espaços	que	lidam	com	
relacionamentos	 sociais.	 Essa	 estratégia	 oferece	 alternativas	 às	 propostas	 de	
judicialização	dos	conflitos,	tão	vigentes	em	nossa	sociedade.	
Não	 só	 no	 Brasil,	 mas	 em	muitos	 e	 diferentes	 países,	 tem	 aumentado	
consideravelmente	 o	 número	 de	 profissionais:	 advogados,	 assistentes	 sociais,	
médicos,	 psicólogos	 interessados	 em	 buscar	 capacitação	 na	 área.	 São	 diversas	
as	ofertas	de	 cursos,	 tanto	do	âmbito	privado	quanto	acadêmico,	que	 têm	por	
objetivo	capacitar	profissionais	para	atuar	como	mediadores	e	proporcionar	uma	
atuação	diferenciada,	menos	adversarial	e	mais	colaborativa,	no	desenvolvimento,	
na	prática,	de	sua	profissão	de	origem.	Para	tanto,	faz-se	necessário	mais	do	que	
uma	apreensão	de	conteúdos	teóricos,	uma	qualificação	que	contemple	o	self do 
profissional,	atentando	para	sua	implicação	no	processo.	
5.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES
Falar	em	mediação	é	falar	em	estratégia autocompositiva	para	resolução	
de	 conflitos	 judiciais	 e	 extrajudiciais,	que	confere	às	pessoas	a	autoria	de	 suas	
próprias	 decisões,	 a	 partir	 de	 reflexão	 e	 ampliação	 de	 alternativas.	 Segundo	
Almeida	(2013,	p.	46),	“é	um	processo	não	adversarial	dirigido	à	desconstrução	
dos	 impasses	 que	 imobilizam	 a	 negociação,	 transformando	 um	 contexto	 de	
confronto	em	contexto	colaborativo”.	
Para	Warat	(2018),	mediação	é	a	forma	ecológica	de	resolução	dos	conflitos	
sociais	 e	 jurídicos.	Segundo	ele,	 “essa	prática	 substitui	 a	aplicação	coercitiva	e	
terceirizada	de	uma	sanção	legal”	(2018,	p.	17),	“apontando86
3.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES .................................................................................................. 87
3.2 PRINCÍPIOS E PROCEDIMENTOS ........................................................................................... 89
3.3 FASES DA NEGOCIAÇÃO ........................................................................................................ 92
3.4 O NEGOCIADOR ......................................................................................................................... 93
4 CONCILIAÇÃO ................................................................................................................................. 95
4.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES .................................................................................................. 95
4.2 PROCEDIMENTO ........................................................................................................................ 97
4.3 TÉCNICAS .................................................................................................................................... 99
5 MEDIAÇÃO ...................................................................................................................................... 102
5.1 DEFINIÇÕES PRELIMINARES ................................................................................................ 102
5.2 A PESSOA DO MEDIADOR ..................................................................................................... 103
5.3 FUNÇÕES DO MEDIADOR ..................................................................................................... 105
5.4 REGRAS E PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO ............................................................................. 105
5.5 ESCOLAS OU MODELOS DA MEDIAÇÃO .......................................................................... 106
5.6 PROCEDIMENTOS .................................................................................................................... 107
5.7 TÉCNICAS PARA A CONDUÇÃO DE UMA MEDIAÇÃO ............................................... 109
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 113
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 116
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 117
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA .......119
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR .......................................................................................... 121
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 121
2 PERSPECTIVA HISTÓRICA DA MEDIAÇÃO FAMILIAR ................................................... 121
3 FAMÍLIAS E FAMÍLIAS CONTEMPORÂNEAS ...................................................................... 123
3.1 CONCEITOS ............................................................................................................................... 123
3.2 DINÂMICA RELACIONAL DA FAMÍLIA ............................................................................ 127
3.3 DIVÓRCIO E SUAS FASES ....................................................................................................... 129
4 TEMAS PARA MEDIAÇÃO .......................................................................................................... 130
4.1 DIVÓRCIO ................................................................................................................................... 130
4.2 PENSÃO ALIMENTÍCIA DOS FILHOS, TAMBÉM CHAMADA DE ALIMENTOS AOS 
FILHOS ......................................................................................................................................... 131
4.3 GUARDA E PARENTALIDADE FUTURA DOS FILHOS .................................................... 131
4.4 CUIDADO DE IDOSOS/DOENTES ......................................................................................... 131
4.5 RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE ........................................................................... 131
5 ÂMBITO DE ATUAÇÃO DA MEDIÇÃO FAMILIAR ............................................................. 132
6 PARTICULARIDADES DA MEDIAÇÃO FAMILIAR ............................................................ 133
7 TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO FAMILIAR ................................................................................... 135
8 MEDIABILIDADE ........................................................................................................................... 136
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 139
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 140
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR ........................................................................................... 141
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 141
2 ESPAÇO ESCOLAR ......................................................................................................................... 141
2.1 CONFLITOS NO AMBIENTE ESCOLAR ............................................................................... 143
3 DIMENSÕES E FINALIDADES DA MEDIAÇÃO ESCOLAR .............................................. 145
3.1 TÉCNICA DE INTERVENÇÃO NA GESTÃO E RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS ....... 148
3.2 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL E SOCIAL .................................. 149
3.3 ESTRATÉGIA INTEGRADA DE PREVENÇÃO ................................................................... 149
4 A ESTRUTURA DE UM PROJETO DE MEDIAÇÃO ESCOLAR ......................................... 151
4.1 DIAGNÓSTICO – LEVANTAMENTO DE DADOS .............................................................. 151
4.2 PLANO DE AÇÃO ..................................................................................................................... 152
4.3 SENSIBILIZAÇÃO ...................................................................................................................... 152
4.4 FORMAÇÃO: CAPACITAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA ...................................................... 153
4.5 INSTITUCIONALIZAÇÃO ....................................................................................................... 153
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 157
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 158
TÓPICO 3 — MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ............................................................................... 159
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 159
2 RELAÇÕES DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA RESOLUÇÃO DE CONFLITOS ...... 159
2.1 PERSPECTIVA CONCEITUAL ................................................................................................. 160
3 BREVE HISTÓRICO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ..................................................... 161
4 CARACTERÍSTICAS DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA .................................................... 162
5 FUNÇÕES DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ......................................................................... 164
6 FASES DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA ................................................................................ 167
7 O PAPEL DO MEDIADOR COMUNITÁRIO ........................................................................... 167
LEITURA COMPLEMENTAR ..........................................................................................................para	a	realização	da	
autonomia	das	partes	envolvidas”	(2018,	p.	19).	
A	mediação	também	pode	ser	definida	como	uma	negociação,	que	tem	um	
terceiro	como	facilitador,	por	meio	da	qual	pessoas	em	disputa,	ou	que	podem	
se	 colocar	 em	 situação	 de	 disputa,	 são	 auxiliadas	 por	 uma	 terceira	 pessoa	 a	
construir	alternativas	autocompositivas.	A	proposta	investe	na	ideia	de	mobilizar	
os	envolvidos	a	compreender	suas	próprias	posições,	 tanto	quanto	as	da	outra	
parte,	para	que,	assim,	possam	criar	o	novo.
A	mediação	tem	como	produto	idealizado	a	superação	de	um	judiciário	
sobrecarregado	e	demorado,	de	forma	que	os	envolvidos	nos	conflitos	consigam,	
em	menos	 tempo,	 com	baixo	 custo	 e	 com	a	possibilidade	da	manutenção	dos	
relacionamentos,	construir	soluções	que	beneficiem	a	todos.
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
103
São	muitos	e	diversos	os	campos	de	atuação	da	mediação,	e	ela	pode	ser	
realizada	tanto	na	esfera	pública	quanto	privada:	escolas,	prisões,	comunidades,	
foros,	sempre	oferecendo	uma	alternativa	aos	processos	litigiosos	e	visualizando	
cultura	de	paz.	Vezzulla	(1998)	postula	o	reconhecimento	da	mediação	como	uma	
proposta	de	organização	social,	de	convivência	humana.	Segundo	ele,	a	mediação	
pode	viabilizar	a	humanização	da	justiça	e	a	restauração	de	valores	sociais	que	
foram	sobrepostos	por	valores	individualistas	e	competitivos	do	neoliberalismo.	A	
mediação	se	configura	como	uma	prática	social	consolidada	por	três	fundamentos:	
respeito	à	lei,	respeito	ao	outro	e	respeito	a	si	próprio.	Segundo	a	autora,	além	de	
se	constituir	de	forma	interdisciplinar,	possibilita	construções	transdisciplinares.	
São elementos preponderantes da mediação:
1. Protagonismo e autonomia dos interessados na busca de uma solução que satisfaça a 
ambos;
2. Papel do mediador como condutor do diálogo, o que demanda a sua capacitação em 
técnicas específicas para essa função;
3. Duplo escopo do procedimento, direcionando não somente à resolução da controvérsia 
que gerou o processo, mas também à restauração da comunicação entre os litigantes, hábil 
à prevenção de novos litígios.
IMPORTANTE
5.2 A PESSOA DO MEDIADOR
O	mediador	não	é	um	observador	externo,	mas	um	participante	ativo.	Atua	
e	dirige,	joga	e	treina.	Sua	vontade	e	interesses	precisam	desaparecer	para	que	as	
vontades	e	interesses	das	partes	submerjam.	Desde	a	acolhida	isso	se	manifesta,	
pela	forma	como	ele	acolhe	genuinamente	os	envolvidos	e	pela	maneira	como	se	
expressa,	antes	de	acolher	o	conflito	que	o	traz	ao	espaço	de	trabalho.	
Para	definir	a	pessoa	do	mediador,	Vezzulla	 (1998)	 refere	que	uma	das	
formas	mais	efetivas	é	dizer	o	que	ele	não	é.	O	mediador	não	é	um	juiz,	pois	não	
cabe	a	ele	julgar,	tampouco	dar	vereditos.	O	mediador	não	é	um	negociador,	cujo	
interesse	direto	é	o	resultado,	visto	que	o	sucesso	da	mediação	não	está	atrelado	ao	
fato	dos	mediandos	chegarem	a	um	acordo.	Também	não	é	um	árbitro	que	emite	
laudos	e	decisões.	O	mediador	é	um	terceiro	que	atua,	como	já	foi	assinalado,	de	
forma	neutra,	conduzindo	sem	decidir.	Ainda	segundo	Vezzulla,	o	mediador	é	
como	o	marisco	que	fica	na	pior	das	posições,	entre	o	mar	e	a	rocha.	Mediador	é	
como	a	parteira,	que	ajuda	a	dar	à	luz	os	reais	interesses	dos	envolvidos.
104
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
Segundo	Haynes	e	Marodin	 (1996),	o	mediador	é	alguém	que	não	está	
comprometido	 com	 qualquer	 uma	 das	 partes	 em	 particular,	 está	 equilibrado	
entre	as	partes,	controla	o	processo,	e	não	o	conteúdo	(este	é	controlado	pelos	
participantes),	 não	 aceita	 definições	 unilaterais,	 trabalha	 pelas	 construções	 de	
opções,	não	guarda	segredos	uns	dos	outros	e	viabiliza	para	que	o	“não	dito”	
possa,	em	ambiente	protegido,	 ser	dito.	O	que	os	autores	 referidos	apontam	é	
a	importância	da	pessoa	do	mediador	no	trabalho	que	realiza.	Na	sua	atuação,	
valores,	crenças,	prismas	pessoais	podem,	em	algum	momento,	entrar	em	conflito	
com	suas	crenças,	valores,	prismas	profissionais.	Sua	formação	como	mediador	
precisa	capacitá-lo	a	reconhecer	o	conflito	e	concentrar-se	na	relação	profissional	
que	mantém	com	ele	e	com	as	pessoas	que	o	vivenciam.	
O	mediador	 assume	 uma	 posição	 neutra	 na	 condução	 do	 processo	 de	
mediação.	Isso	não	significa	dizer	que	o	mediador	não	tem	sua	posição	pessoal	
sobre	o	conflito.	Ele	a	tem,	e	isso	interfere	diretamente	no	trabalho	que	realiza.	
Essa	posição	tem	como	fundamentação	epistemológica	o	pensamento	sistêmico,	
que	 é	 coerente	 com	 as	 características	 da	 ciência	 contemporânea	 emergente.	
Conhecer	o	fenômeno	passa	diretamente	por	conhecer	o	observador.	
Disso	resulta	que,	para	viabilizar	a	postura	neutra	do	mediador,	prevista	
na	Lei	da	Mediação	e	no	Novo	Código	de	Processo	Civil,	Art.	2º	da	Lei	nº	13.140/15	
e	Art.	166	da	Lei	nº	13.105/15,	envolve	a	necessidade	de	que	ele	reconheça	sua	
visão	de	mundo	e	de	seus	limites	pessoais	e	profissionais. 
Para	 facilitar	 a	 consolidação	 dessa	 postura	 neutra	 e	 imparcial,	 faz-se	
necessária	 a	 autorreflexão	 que,	 segundo	 Vezzulla	 (1998),	 traz	 consciência	 ao	
mediador	para	analisar	as	próprias	sensações	e	reações,	e	confere	caminhos	para	
acessar	 as	melhores	 ferramentas	 que	darão	 suporte	 à	 condução	produtiva	 em	
prol	 de	 objetivos	 satisfatórios.	 Para	 ele,	 o	mediador	 necessita	 estar	 vigilante	 e	
estar	convicto	de	que	as	pessoas	buscam	ajuda	porque	não	conseguem	enxergar	
a	posição	do	outro,	estão	mergulhadas	em	sua	posição.
A	produção	de	William	Ury	(2015)	muito	contribui	para	reforçar	o	que	
está	 sendo	 problematizado.	 Ele	 apresenta	 uma	 metáfora	 interessante	 para	 o	
aprofundamento	da	discussão.	Sugere	que	o	mediador	se	sente	à	mesa	de	jantar	
com	os	seus	próprios	medos,	emoções,	sentimentos,	a	fim	de	entender	melhor	o	
modo	como	funcionam.	Segundo	ele,	essa	postura	pode	auxiliar	na	construção	de	
relacionamentos	mais	saudáveis	em	diferentes	âmbitos.	Isso	se	dá,	também,	nos	
relacionamentos	construídos	no	espaço	da	mediação.
O	 método	 de	 autoconhecimento	 proposto	 por	 Ury	 (2015),	 composto	
por	seis	passos,	é,	segundo	ele,	uma	forma	de	chegar	ao	sim	consigo	mesmo.	O	
primeiro	passo	refere-se	à	proposta	de	colocar-se	no	seu	próprio	lugar,	ouvindo	
com	 empatia	 suas	 necessidades	 básicas.	O	 segundo	 refere-se	 ao	 compromisso	
de	tornar-se	responsável	pela	sua	própria	vida,	assumindo	o	cuidado	dos	seus	
próprios	 interesses.	 O	 terceiro	 indica	 a	 necessidade	 de	 mudar	 a	 forma	 como	
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
105
vê	 a	 vida.	 Já	 o	 quarto	passo	 indica	 que	 se	mantenha	no	presente.	O	quinto,	 a	
necessidade	de	 respeitar	 os	 outros	 e	 terminar	 com	a	 indicação	de	 saber	dar	 e	
receber,	mudando	a	abordagem	do	jogo	de	tomar	para	dar.
O	 autoconhecimento,	 considerando	 o	 que	 já	 foi	 assinalado,	 é	 uma	 das	
prerrogativas	 para	 a	 formação	 profissional.	 Entretanto,	 a	 grande	 maioria	 das	
escolas	 de	 formação	 tem	 priorizado	 o	 desenvolvimento	 de	 competências	 e	
habilidades,	 em	 detrimento	 de	 estratégias	 para	 o	 desenvolvimento	 do	 self do 
profissional.
5.3 FUNÇÕES DO MEDIADOR
O	mediador	 tem	 a	 função	 de	 ser	 o	 catalizador	 do	 processo,	 para	 que	
cada	mediando	possa	 responsabilizar-se	 por	 si	 e	 pelo	 relacionamento	no	 qual	
está	 envolvido.	 O	 envolvimento	 do	 profissional	 é	 para	 facilitar	 processos	
emancipatórios	e	programação	do	devir.	Como	apresenta	Valéria	Warat	(1999,	p.	
122-123)	o	mediador	precisa	ser	capaz	de:
a)	ouvir	 e	 tranquilizar	 as	 partes,	 fazendo-as	 compreender	 que	 ele	 entende	 o	
problema;
b)	passar	confiança	às	partes;
c)	explicitar	a	sua	imparcialidade;
d)	mostrar	às	partes	que	seus	conceitos	não	podem	ser	absolutos;
e)	fazer	com	que	as	partes	se	coloquem	uma	no	lugar	uma	da	outra,	entendendo	
o	conflito	por	outro	prisma;
f)	auxiliar	na	percepção	de	caminhos	amigáveis	para	a	solução	do	conflito;
g)	ajudar	as	partes	a	descobrir	soluções	alternativas,	embora	não	deva	sugerir	o	
enfoque;
h)	compreenderque,	ainda	que	a	mediação	se	faça	em	nome	de	um	acordo,	esse	
não	é	o	único	objetivo.
É	preciso	ser	dito	que	é	papel	 fundamental	do	mediador	ser	agente	de	
transformação,	 viabilizando	possibilidade	de	 empoderamento	dos	 envolvidos,	
através	 de	 perguntas	 que	 visam	 a	 reflexões	 e	 esclarecimentos.	 O	 mediador	
esforça-se	para	que	os	mediandos	compreendam	o	que	ocorre	e	como	está	sendo	
conduzindo	o	encontro.
5.4 REGRAS E PRINCÍPIOS DA MEDIAÇÃO
Uma	 das	 principais	 características	 é	 ser	 um	 processo	 voluntário,	 que	
oferece	àqueles	que	estão	vivenciando	uma	situação	de	conflito	a	oportunidade	
e	o	espaço	adequados	para	buscar	soluções,	preservando	laços	de	convivência.	
Outra	 característica	 é	 ser	 um	 processo	 que	 respeita	 o	 sigilo	 e	 intimidade	 dos	
envolvidos,	de	forma	a	promover	a	recuperação	da	autonomia	e	controle	da	vida	
pessoal,	social	e	produtiva.	
 
106
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
Para	 além	 das	 características	 de	 voluntariedade	 e	 confidencialidade,	 a	
mediação	postula	a	participação	de	um	terceiro,	que	atua	com	imparcialidade.	
Um	acordo	construído	e	aceito	pelos	participantes	pode	ser	um	dos	resultados	
possíveis.	
•	 Princípios	 –	 baseiam-se	 na	 Resolução	 nº	 125/2010	 do	 CNJ.	 Eles	 definem	 o	
comportamento.
•	 Regras	–	são	normas	de	conduta	a	serem	observadas	pelos	mediadores.
Princípios Regras
Confidencialidade Informações
Decisão	informada Autonomia	de	vontade	das	partes
Competência Ausência	de	obrigação	de	resultado
Imparcialidade Desvinculação	da	profissão	de	origem
Independência	e	Autonomia Compreensão	quanto	à	conciliação	e	à	
mediação
Respeito	à	ordem	pública	e	às	leis	
vigentes
Empoderamento
Validação
QUADRO 2 – PRINCÍPIOS E REGRAS
FONTE: Material apresentado em sala de aula – Curso de Mediação (2019)
5.5 ESCOLAS OU MODELOS DA MEDIAÇÃO
São	 três	modelos	que	orientam	a	atuação	do	profissional:	 o	Modelo	de	
Harvard,	que	inspira	os	demais	modelos,	prioritariamente	por	ter	sido	o	primeiro;	
o	 Modelo	 Transformativo,	 cujo	 foco	 está	 na	 interação;	 e	 o	 Modelo	 Circular	
Narrativo,	que	foca	na	desestabilização.
O	 Modelo	 de	 Harvard	 é	 um	 modelo	 negocial,	 com	 procedimentos	
estruturados.	Nesse	modelo	não	está	prevista	nenhuma	 indicação	de	 sugestão	
pelo	mediador,	e	ele	se	baseia	nos	princípios	de	Negociação	de	Harvard.	
O	 Modelo	 Transformativo	 tem	 seu	 foco	 no	 empoderamento	 e	 no	
reconhecimento.	 Parte	 do	 pressuposto	 de	 que,	 quando	 as	 pessoas	 estão	 em	
situação	de	conflito,	elas	têm	percepção	de	que	são	frágeis	e	não	são	reconhecidas	
pelo	 que	 dizem	 ou	 fazem.	Dessa	 forma,	 o	modelo	 busca	 o	 empoderamento	 e	
o	 reconhecimento	 através	 da	 apropriação	 pelos	 mediandos	 de	 seus	 próprios	
objetivos,	recursos,	opções	e	preferências.	As	perguntas	feitas	pelos	mediadores	
são	 voltadas	 ao	 empoderamento,	 sem	 direcionamento:	 “Como	 vocês	 querem	
gerir	o	processo?”;	“Como	gostariam	de	ser	tratados?”;	“Onde	querem	chegar?”;	
“Querem	momentos	individuais?”
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
107
QUADRO 3 – PROCEDIMENTOS
O	 Modelo	 Circular	 Narrativo	 tem	 como	 objetivo	 desestabilizar	 as	
histórias	que	definem	o	comportamento	dos	envolvidos	de	forma	a	complexificar	
e	ressignificar	a	narrativa	de	cada	envolvido.
O	mediador	precisa	saber	que	tipo	de	efeitos	está	a	provocar	no	diálogo,	
consciente	de	que	o	conflito	está	enraizado	em	histórias	dominantes.	A	história	
domina	as	partes,	e	o	foco	dessa	escola	está	na	atenção	à	construção	discursiva	
das	 histórias,	 para	 autonomização	 das	 pessoas	 por	 meio	 da	 investigação	 e	
desconstrução	da	perspectiva	que	se	tem	do	conflito.
5.6 PROCEDIMENTOS
Pré-mediação
⇓
Acolhimento
⇓
Declaração de Abertura
⇓
Narrativas
⇓
Resumo
⇓
Pauta
⇓
Sessões privadas
⇓
Geração de opções
⇓
Teste de Realidade
⇓
Acordo
⇓
Encerramento
FONTE: Os autores
Com	 base	 no	 Manual de Mediação Judicial	 elaborado	 pelo	 Conselho	
Nacional	 Justiça,	 o	 processo	de	Mediação	 inicia	 com	a	 Sessão	de	Abertura	 ou	
Declaração	de	Abertura.	Essa	seção	tem	como	propósito	deixar	as	partes	“a	par	do	
processo	de	mediação,	estabelece	um	tom	ameno	para	o	debate	das	questões	por	
elas	suscitadas,	faz	com	que	o	mediador	ganhe	a	confiança	das	partes	e	desde	já,	
explicite	as	expectativas	quanto	aos	resultados	do	processo	que	se	está	a	iniciar”	
(BRASIL,	2016,	p.	162-163).
 
108
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
A	segunda	fase,	também	com	base	no	Manual	de	Mediação	Judicial,	é	a	
fase	de	Reunião	de	Informações.	É	o	momento	no	qual	os	mediandos	apresentam	
seus	 relatos,	percepções	e	 sentimentos	acerca	dos	motivos	que	os	 trouxeram	à	
mediação	e	têm	a	oportunidade	de	ouvir	e	serem	ouvidos	de	forma	respeitosa	e	
empática.	Ao	final	dessa	fase,	é	esperado	que	o	mediador	apresente	um	resumo	
dos	relatos	dos	mediandos,	abarcando	questões	principais,	interesses	subjacentes	
e	sentimentos	em	comum,	checando	com	os	mediandos	se	compreendeu	o	que	
foi	 dito	 por	 ambos.	 Logo	 em	 seguida,	 caso	 seu	 entendimento	 dos	 relatos	 seja	
aprovado	pelos	mediandos,	é	feita	uma	pauta	conjunta	que	norteará	o	trabalho	
de	resolução	das	questões	controversas	(BRASIL,	2016,	p.	150-151).
No	 seguimento,	 cabe	 ao	mediador	decidir	 se	 realizará,	 ou	não,	 sessões	
individuais.	Essas	são	indicadas	pelo	manual	como	um	recurso	que	o	mediador	
deve	empregar,	sobretudo,	no	caso	de	as	partes	não	estarem	se	comunicando	de	
modo	eficiente.	Também	quando	forem	identificadas	animosidades,	dificuldades	
de	expressão	de	interesses,	particularidades	e	expectativas	quanto	aos	resultados	
a	serem	alcançados.
Ao	término	da	fase	de	esclarecimento	de	questões,	interesses	e	sentimentos,	
a	 próxima	 etapa,	 segundo	 o	 referido	manual,	 é	 uma	 sessão	 conjunta	 com	 os	
mediandos,	que	tem	por	objetivo	apresentar	os	progressos	alcançados	durante	a	
mediação	e	dar	prosseguimento	à	negociação	entre	as	partes.
A	Construção	do	acordo,	quando	possível,	é	considerada	a	fase	final,	e	tem	
por	meta	a	objetivação	do	compromisso	entre	as	partes,	sendo	ou	não	formalizado	
através	de	documento	escrito,	caso	os	envolvidos	no	processo	cheguem	a	algum	
entendimento.
Com	relação	a	esse	tema,	é	imperioso	destacar	que	o	acordo	não	é	o	objetivo	
da	mediação.	Segundo	Gisela	Betina	Warat	(2018,	p.	99)	“pode-se	considerar	de	
sucesso	uma	mediação	quando	ajudou	as	partes	a	aclararem	as	suas	metas	e	suas	
necessidades,	as	alternativas	que	possuíam,	a	tomarem	decisões,	e	a	outorgarem	
reconhecimento.”	
É	importante	enfatizar	que	essas	fases,	mesmo	sendo	apresentadas	como	
um	guia	 e	passíveis	de	flexibilização,	 na	prática,	 o	 que	 se	 observa	 é	um	 certo	
formalismo	 e	 cobrança	 na	 sua	 utilização	 quando	 a	mediação	 é	 realizada	 pelo	
Poder	Judiciário.
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
109
O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de maneira calma e 
tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: “Se eu fosse você”. A gente ama 
não é a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando ela 
nasce de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não escuta 
que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção. 
Rubem Alves
INTERESSANTE
5.7 TÉCNICAS PARA A CONDUÇÃO DE UMA MEDIAÇÃO 
Quando	 se	 fala	 em	 técnicas,	 é	 possível	 pensar	 que	 o	 procedimento	 da	
mediação	pode	ser	conduzido	por	alguém	que	domine	um	número	significativo	
de	técnicas.	Na	verdade,	é	muito	mais	do	que	isso.	Na	mediação,	técnica	não	é	
sinônimo	de	ferramenta	por	si	só,	mas	um	conjunto	de	procedimentos	que	podem	
ser	acionados	na	interação	teórico-prática.
Uma	outra	discussão	interessante	é	que,	além	de	conhecer,	é	importante	
definir	qual	a	melhor	 técnica	para	atender	à	demanda	que	se	apresenta	e	qual	
o	melhor	momento	de	utilizá-la.	A	autora	mencionada	anteriormente	 fala	que	
as	técnicas	na	mediação	são	“recursos	comunicacionais”	que	visam	a	provocar	
mudanças	efacilitar	que	objetivos	sejam	alcançados.	
Segundo Tania Almeida (2011), os mediadores reúnem as técnicas, os 
procedimentos e as atitudes utilizados pelos diferentes modelos, colocando-as em uma 
“caixa de ferramentas” (tool box), de forma a utilizarem-nas de acordo com a situação, a 
ocasião, o estilo do mediador e o perfil dos mediandos. Essa é uma tendência universal, 
relativa não somente à prática da mediação, mas também a outras práticas, em que o 
melhor de cada pensamento é reunido em prol da natureza da intervenção, sem privilegiar 
um único modelo teórico em particular. 
FONTE: . Acesso em: 1º nov. 2019.
IMPORTANTE
110
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
A	caixa	de	 ferramentas	 é	 acessada	 conforme	a	demanda	 e	necessidade	
advinda	 dos	 mediandos.	 O	 grande	 desafio	 do	 mediador,	 ao	 acionar	 as	
ferramentas	da	mediação,	é	estimular	que	as	partes	possam	desenvolver	posturas	
colaborativas,	na	busca	de	um	entendimento	 recíproco.	 Segundo	o	Manual	de	
Mediação	Judicial	(BRASIL,	2016,	p.	234),	são	estas	as	ferramentas	para	provocar	
mudanças:
• Recontextualização	(ou	paráfrase):	técnica	segundo	a	qual	o	mediador	estimula	
a	busca	de	um	enfoque	positivo	das	questões,	dando	outra	perspectiva	ao	fato.	
Reformulação,	pelo	mediador,	de	frases	ditas	pelas	partes,	a	fim	de	sintetizá-
las	ou	reformulá-las	sem	alterar	seu	conteúdo.	Dessa	maneira,	estimula-se	a	
parte	a	considerar	ou	entender	uma	questão,	um	interesse,	um	comportamento	
ou	uma	situação	de	 forma	mais	positiva,	para	que,	assim,	as	partes	possam	
extrair	soluções	também	positivas.
• Audição de propostas implícitas:	 esforço	 para	 que	 os	 mediandos	 possam	
escutar	propostas	que	eles	próprios	apresentam,	mas	que	nem	eles	reconhecem	
como	propostas,	devido	ao	estado	de	ânimo	exaltado	com	o	qual	se	comunicam.
• Afago (ou	 reforço	 positivo):	 reforço,	 por	 parte	 do	 mediador,	 a	 um	
comportamento	ou	postura	positiva	dos	envolvidos	para	a	mediação.
• Silêncio:	 o	 uso	 do	 silêncio	 pelo	mediador	 pode	 facilitar	 que	 os	 envolvidos	
no	 conflito	 possam	 refletir	 sobre	 o	 conteúdo	 da	 comunicação	 na	 sessão	 de	
mediação,	questionamentos,	expressão	de	sentimentos,	falas.
• Sessões privadas ou individuais	 (caucus):	encontros	privados	com	cada	um	
dos	mediandos,	especialmente	na	fase	de	negociações,	para	acalmar	os	ânimos,	
para	que	possam	expressar	algo	que	não	o	fariam	na	frente	da	outra	parte,	e	
construir	possibilidades	de	acordo,	reunir	informações	úteis,	entre	outros.
• Inversão de papéis:	técnica	que	estimula	que	cada	um	dos	envolvidos	possa	
entender	a	situação	do	ponto	de	vista	do	outro.	Dessa	forma,	a	técnica	estimula	
a	 empatia.	 Usada	 prioritariamente	 nas	 sessões	 privadas	 com	 cada	 um	 dos	
envolvidos.
• Geração de opções/perguntas orientadas à geração de opções:	 técnica	 que	
estimula,	por	meio	de	perguntas	de	cunho	reflexivo,	que	os	mediandos	possam	
construir	novas	alternativas	visando	ao	benefício	de	todos	os	envolvidos.
• Normalização:	técnica	que	normaliza	o	conflito,	que	cria	a	noção	de	que	estar	
em	conflito	é	algo	comum	às	pessoas.	Estimula	os	mediandos	a	perceberem	
que	o	que	está	em	pauta	pode	oportunizar	melhoria	na	relação.
• Organização de questões e interesses:	 técnica	que	 facilita	que	se	estabeleça	
com	clareza	uma	relação	entre	as	questões	a	serem	debatidas	e	os	interesses	
reais	que	as	partes	tenham.
• Enfoque prospectivo:	 está	 relacionado	 à	 lide	 sociológica.	 Técnica	 utilizada	
para	desconstruir	um	discurso	que	busca	culpados	e	projetar	para	o	futuro.
• Teste de realidade:	técnica	utilizada	nas	sessões	privadas,	em	que	o	mediador	busca	
checar	com	os	mediandos	se	as	combinações	propostas	funcionarão	na	prática.
• Validação de sentimentos:	 a	 técnica	 é	 utilizada	para	 o	 reconhecimento	dos	
sentimentos	decorrentes	do	 conflito,	 afirmando	os	 aspectos	de	normalidade	
desses	sentimentos.	A	validação	de	sentimentos	semelhantes	deve	ser	feita	em	
conjunto.	Já	para	situações	unilaterais,	é	indicado	utilizar	sessões	privadas.
 
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
111
A	condução	da	mediação	é	flexível.	Cabe	ao	mediador	conhecer	as	técnicas	
e	poder	decidir	quais	e	quando	devem	ser	utilizadas,	para	que	o	processo	possa	ser	
produtivo.	Além	de	aprender	sobre	técnicas,	deve	investir	no	desenvolvimento	
de	 sensibilidade	 para	 compreender	 os	 conflitos,	 suas	 concepções	 e	 possíveis	
transformações.
Para aprofundar essa temática, sugerimos que leiam os livros: Mediação nos 
Conflitos Civis, de Fernanda Tartuce, e Em nome do acordo: a mediação no Direito, de 
Alberto Luis Warat.
DICAS
Para aprofundar essa temática, sugerimos que assistam aos seguintes filmes a 
seguir:
Sete anos (Roger Gual, 2016) – É a história de quatro amigos e sócios fundadores de uma 
empresa que uma noite são forçados a encontrar uma solução que pode salvar sua amizade 
e a si mesmos. Eles devem enfrentar uma decisão complicada: quem deve sacrificar a sua 
liberdade para salvar o resto da ruína pessoal e financeira. O filme é um drama policial com 
Paco León, Juana Acosta e Alex Brendemühl como protagonistas de uma perturbadora 
história filmada em uma única etapa.
FONTE: . Acesso em: 21 jan.2020.
DICAS
FIGURA – FILME SETE ANOS
FONTE: . Acesso em: 24 mar. 2020.
112
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
A Chegada (Denis Villeneuve, 2016) - Quando seres interplanetários deixam marcas na 
Terra, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma linguista especialista no assunto, é procurada 
por militares para traduzir os sinais e desvendar se os alienígenas representam uma ameaça 
ou não. No entanto, a resposta para todas as perguntas e mistérios pode ameaçar a vida de 
Louise e a existência de toda a humanidade.
FONTE: . Acesso em: 21 jan. 2020.
FIGURA – FILME A CHEGADA
FONTE: . Acesso em: 24 mar. 2020.
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
113
LEITURA COMPLEMENTAR
O	 texto	 indicado	 como	 leitura	 complementar	 é	 parte	 de	 um	 artigo	
intitulado:	Mediação de conflitos: um meio de prevenção e resolução de controvérsias em 
sintonia com a atualidade,	escrito	por	Tania	Almeida.	O	artigo	integra	uma	coletânea	
organizada	por	José	Ricardo	Cunha	em	Poder Judiciário – Novos olhares sobre gestão 
e jurisdição,	obra	publicada	pela	Fundação	Getúlio	Vargas	do	Rio	de	Janeiro,	em	
2010.	A	opção	por	este	texto	decorre	da	importância	de	todo	o	acadêmico	ocupar-
se	com	a	teoria	que	orienta	a	prática	a	ser	desenvolvida.	
As bases teóricas do rito da mediação e de suas técnicas
Tania	Almeida
 
Além	 do	 quadrante	 de	 negociação	 da	 Escola	 de	 Harvard,	 a	Mediação	
recebe	contribuições	de	outros	saberes	e	se	caracteriza	pela	interdisciplinaridade.
Teorias	de	comunicação	contribuem	com	numerosos	aportes	e	sustentam	
algumas	das	técnicas	utilizadas	na	Mediação.	A	comunicação	humana	é	uma	das	
vigas	mestras	de	sustentação	da	dinâmica	da	Mediação	e	precisa	ser	decifrada	pelo	
mediador,	a	cada	momento,	de	forma	a	servir	de	referencial	para	a	identificação	
do	 timing	e	da	 intervenção	a	ser	utilizada.	Mais	voltadas	para	o	pragmatismo	
da	comunicação	humana	ou	para	as	narrativas	e	a	análise	dos	discursos	e	de	sua	
subjetividade,	as	contribuições	são	inúmeras.	Em	comum,	tais	contribuições	têm	
a	concepção	de	considerar	a	linguagem	como	um	cenário	onde	se	constroem	os	
sujeitos,	sua	forma	de	expressão	e	de	ação,	sempre	relacionais,	ou	seja,	referida	
ao	outro.	
O	olhar	sistêmico,	outro	pilar,	contribui	para	que	a	Mediação	reconheça	
os	componentes	multifatoriais	dos	desacordos	–	legais,	psicológicos,	sociológicos,	
financeiros,	 entre	 outros	 –	 e	 os	 maneje	 segundo	 sua	 prevalência,	 de	 forma	 a	
atender	aos	interesses	e	necessidades	dosmediandos.	Também	como	resultado	do	
olhar	sistêmico,	mediadores	entendem	que	o	fato	trazido	à	Mediação	integra	uma	
cadeia	de	acontecimentos	passados	e	 futuros	e	que	 sua	 intervenção	provocará	
alterações	na	 lógica	de	desenvolvimento	dessa	cadeia,	com	repercussões	sobre	
um	 conjunto	 de	 pessoas.	Mediadores	 comprometem-se	 com	 o	 curso	 e	 com	 o	
resultado	da	Mediação,	agindo	cuidadosamente	na	condução	de	sua	dinâmica,	
avaliando,	continuamente,	a	adequação	de	sua	atuação,	pois	a	consideram	parte	
do	sistema	de	resolução.	Eles	sabem	que	sua	intervenção	poderá	contribuir	para	
a	construção	ou	para	a	desconstrução	de	impasses	futuros.	
A	 contribuição	 da	 sociologia	 foi	 decisiva	 para	 se	 entender	 o	 valor	 das	
redes	 sociais	 nos	 processos	 negociais.	Mediadores	 estão	 atentos	 à	 negociação,	
em	 paralelo,	 que	 os	 mediandos	 precisam	 fazer	 com	 os	 seus	 interlocutores	 –	
advogados,	amigos,	parentes,	colegas	de	 trabalho	ou	de	crença	religiosa,	entre	
outros.	 Com	 essas	 pessoas	 são	 estabelecidas	 alianças	 e	 construídas	 leituras	
114
UNIDADE 2 — OS MEIOS QUE COMPÕEM O SISTEMA DE JUSTIÇA MULTIPORTAS
sobre	o	desacordo	e	sobre	o	oponente,	assim	como	soluções	e	posições	a	serem	
defendidas.	Os	mediandos	não	podem,	em	determinados	momentos,	progredir	
em	uma	negociação,	em	função	do	compromisso	de	fidelidade	estabelecido	com	
suas	redes	de	pertinência.	Por	vezes,	é	preciso	auxiliá-los	a	negociar	com	essas	
redes,	 dentro	 ou	 fora	 do	 processo	 de	Mediação,	 para	 que	 a	 desavença	 possa	
resultar	 em	 autocomposição.	 A	 Mediação	 estimula	 o	 diálogo	 dos	 mediandos	
com	suas	redes	de	pertinência	e	permite	que	essas	ganhem	a	sala	de	negociações	
quando	são	identificadas	como	geradoras	de	impasses	à	fluidez	do	processo,	ou,	
ainda,	quando	se	constituem	suporte	para	o	cumprimento	do	acordado.
 
A	 Mediação	 inspira-se	 no	 direito	 ao	 abraçar	 o	 propósito	 de	 auxiliar	
pessoas	a	resolverem	seus	conflitos,	norteadas	pelo	parâmetro	da	solução	justa,	
atentas	a	não	ferirem	as	margens	legais	oferecidas	por	sua	cultura	–	a	solicitação	
de	revisão	legal	do	acordado,	antes	de	sua	assinatura	pelos	mediandos,	sempre	
que	a	matéria	assim	o	exigir,	cumpre	uma	norma	ética	na	Mediação.	O	instituto	
atende	plenamente	ao	que	o	desembargador	Kazuo	Watanabe	(1988)	denomina	de	
acesso	à	ordem	jurídica	justa,	quando	este	se	dá	de	forma	adequada,	tempestiva	
e	efetiva.	Nessa	concepção,	a	Mediação	potencializa	o	acesso	à	justiça	na	medida	
em	que	é:	(i)	adequada	–	quando	eleita	entre	outros	métodos,	por	possuir	especial	
propriedade	de	abordagem	e	de	 resolução	em	relação	ao	 tema	do	conflito;	 (ii)	
tempestiva	 –	 porque	 ocorre	 no	 tempo	 dos	mediandos,	 uma	 vez	 que	 ditam	 o	
período	de	duração	do	processo,	em	muito	influenciado	por	suas	habilidades	e	
capacidade	negocial;	(iii)	efetiva	–	porque	a	solução	é	construída	pelas	próprias	
pessoas	 envolvidas	 no	 desacordo,	 tendo	 como	 parâmetros	 a	 satisfação	 e	 o	
benefício	mútuos,	a	partir	do	atendimento	de	suas	necessidades.
 
Da	 psicologia,	 a	 Mediação	 importa	 leituras	 teóricas	 sobre	 o	
funcionamento	 emocional	 humano	 e	 valoriza,	 como	 componente	 constitutivo	
dos	desentendimentos,	as	emoções.
 
Das	emoções,	a	Mediação	cuida,	indiretamente,	ao	se	dispor	a	trabalhar	
a	pauta	subjetiva,	anteriormente	mencionada,	e	ao	se	propor	a	incluir	o	restauro	
da	 relação	social	dos	envolvidos,	 como	objeto	de	cuidado.	As	abordagens	que	
incluem	o	relacionamento	humano	como	foco	não	podem	deixar	de	considerar	a	
presença	invariável	da	emoção.	À	semelhança	do	que	pensava	Foucault	sobre	a	
existência	de	um	jogo	de	poder	nas	relações	–	tomava-o	como	certo	e	dedicava-
se,	 exclusivamente,	 a	pensar	 em	como	o	poder	 era	manejado	–,	 a	presença	da	
emoção	nos	jogos	relacionais	é	inequívoca,	restando	identificar,	somente,	como	
está	sendo	manejada.	
Da	filosofia,	além	de	Foucault,	preciosas	inspirações	alimentam	o	processo	
de	 Mediação.	 Entre	 elas	 encontra-se	 o	 principal	 instrumento	 de	 trabalho	 do	
mediador,	as	perguntas,	que	devem	ser	oferecidas	como	na	maiêutica	socrática.	
Filho	de	uma	parteira,	Sócrates	desejava,	pela	maiêutica,	que	as	pessoas	“parissem”	
as	próprias	ideias,	após	refletirem,	em	lugar	de	repetirem,	indiscriminadamente	
e	sem	análise	crítica,	pensamentos	e	ideias	do	senso	comum.	Esse	é	o	principal	
TÓPICO 3 — MEIOS AUTOCOMPOSITIVOS
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objetivo	das	perguntas	na	Mediação:	gerar	informação	para	os	mediandos	–	aqueles	
que	têm	poder	decisório	e	serão	os	autores	das	soluções	–	de	forma	a	provocar	
reflexão.	Dessa	maneira,	pode-se	auxiliar	os	mediandos	a	flexibilizarem	as	ideias	
trazidas	 na	 fase	 inicial	 do	processo,	momento	 em	que	 as	 reais	 necessidades	 e	
interesses	do	outro	não	estão	sendo	ainda	levados	em	consideração.
FONTE: ALMEIDA, T. As bases teóricas do rito da mediação e de suas técnicas. [s.d.]. Disponível 
em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2011/02/Artigo%20Tania-86_Dez-31_Media-
cao_de_Conflitos_Um_meio_de_prevencao_e_resolucao_de_controversias_em_sintonia_
com.pdf. Acesso em: 12 dez. 2019.
116
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	 Resolução	 nº	 125/2010	 do	 Conselho	 Nacional	 de	 Justiça	 e	 o	 Código	 de	
Processo	Civil	de	2015	viabilizaram	a	construção	da	 justiça	multiportas,	que	
indicam	método	ou	técnica	mais	adequada	para	a	solução	de	conflitos.
•	 A	ideia	da	Escola	de	Negociação	de	Harvard	difundiu	uma	nova	forma	de	agir:	
a	negociação	por	princípios,	que	se	baseia	no	conceito	do	“ganha-ganha”.
•	 A	negociação	baseada	em	princípios	busca	criar	valor	na	negociação	e	possui	
quatro	princípios	gerais	que	permitem	resultados	ganha-ganha	pautados	nos	
interesses:	1º	–	separar	as	pessoas	do	problema;	2º	–	focar	nos	interesses	dos	
envolvidos,	e	não	nas	suas	posições;	3º	–	criar	opções	de	ganho	mútuo	e	4º	–	
mapear	critérios	objetivos	para	legitimar	a	escolha	das	opções.
•	 Na	negociação	podem	ser	identificadas três	fases:	análise,	planejamento	e	discussão.
•	 Na	conciliação	é	esperado	que	o	terceiro	–	conciliador	–	interfira	no	processo	
da	discussão,	sugerindo	um	possível	acordo,	apontando	possíveis	soluções.
•	 O	conciliador	atua	de	forma	ativa,	em	conflitos	pontuais,	em	casos	nos	quais	não	
existe	relacionamento	continuado	entre	as	partes.	Ele	sugere	possíveis	soluções.
•	 A	mediação	se	dá,	preferencialmente,	em	casos	em	que	exista	algum	vínculo	
anterior	entre	os	envolvidos	no	conflito,	em	casos	de	relações	continuadas.
•	 A	 mediação	 tem	 como	 produto	 idealizado	 a	 superação	 de	 um	 judiciário	
sobrecarregado	e	demorado,	de	forma	que	os	envolvidos	nos	conflitos	consigam,	
em	menos	tempo,	com	baixo	custo	e	com	a	possibilidade	da	manutenção	dos	
relacionamentos,	construir	soluções	que	beneficiem	a	todos.
•	 São	 procedimentos	 da	mediação:	 pré-mediação	 ou	 acolhimento,	 declaração	
de	abertura,	narrativas,	resumo,	pauta,	sessões	privadas	(quando	necessário),	
geração	de	opções,	teste	de	realidade,	acordo,	encerramento.
Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem 
pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao 
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
CHAMADA
117
1	 Métodos	 alternativos	 de	 resolução	 de	 conflitos	 funcionam	 como	
complementos	 à	 atividade	 jurisdicional	 estatal,	 colocando-se	
interativamente	ao	lado	dela	e	valendo-se	do	critério	da	adequação	entre	a	
natureza	do	conflito	e	o	meio	de	solução.	Sobre	os	objetivos	da	adoção,	no	
Brasil	e	em	outros	países,	de	métodos	alternativos	de	resolução	de	conflitos,	
assinale	a	alternativa	INCORRETA:	
 
a)	(	 	 )	 Excluir	 o	 Poder	 judiciário,	 considerando	 a	 forma	 hierárquica	 como	
resolve	controvérsias.
b)	(			)	Compor	a	atividade	jurisdicional	como	complemento.
c)	(			)	Colocar-se	ao	lado	da	jurisdição.
d)	(					)	Valer-se	do	critério	da	adequação	para	encontrar	o	meio	mais	apropriado.	
e)	(		 )	Disseminar	a	cultura	da	pacificação	social.2	A	negociação	baseada	em	
princípios	possui	quatroprincípios	gerais	que	permitem	resultados	ganha-
ganha	pautados	nos	 interesses.	Assinale	 a	 alternativa	que	não	 apresenta	
um	dos	princípios	norteadores	da	negociação.
 
2		A	negociação	baseada	em	princípios	possui	quatro	princípios	gerais	que	
permitem	 resultados	 ganha-ganha	 pautados	 nos	 interesses.	 Assinale	 a	
alternativa	que	não	apresenta	um	dos	princípios	norteadores	da	negociação.
a)	(			)	Separar	as	pessoas	do	problema.	
b)	(			)	Entender	quem	e	por	que	buscou	a	negociação.
c)	(			)	Focar	nos	interesses	dos	envolvidos,	e	não	nas	suas	posições.	
d)	(			)	Criar	opções	de	ganho	mútuo.
e)	(			)	Mapear	critérios	objetivos	para	legitimar	a	escolha	das	opções.
3		Avalie	as	asserções	a	seguir	e	a	relação	proposta	entre	elas.
I-		Com	relação	ao	tema	mediação	é	necessário	destacar	que	o	acordo	não	é	o	
objetivo	da	mediação.	
POR	QUE
 
II-	Pode-se	considerar	sucesso	de	uma	mediação	quando	ajudou	as	partes	a	
aclararem	as	suas	metas	e	suas	necessidades,	as	alternativas	que	possuíam,	
a	tomarem	decisões,	e	a	outorgarem	reconhecimento.
Assinale	a	alternativa	CORRETA.
a)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	proposições	verdadeiras,	e	a	II	é	uma	justificativa	
da	I.
b)	(			)	As	 asserções	 I	 e	 II	 são	proposições	verdadeiras,	mas	a	 II	não	 é	uma	
justificativa	da	I.	
AUTOATIVIDADE
118
c)	(			)	A	asserção	I	é	uma	proposição	verdadeira,	e	a	II	é	uma	proposição	falsa.	
d)	(			)	A	asserção	I	é	uma	proposição	falsa,	e	a	II	é	uma	proposição	verdadeira.
e)	(			)	As	asserções	I	e	II	são	proposições	falsas.
119
UNIDADE 3 — 
PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: 
FAMILIAR, ESCOLAR E 
COMUNITÁRIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender diferentes contextos para a utilização da mediação, como 
meio para a resolução adequada de conflitos;
• reconhecer elementos da dinâmica relacional da família que podem indi-
car disfunções e possibilidades da utilização da mediação como método 
para a superação do impasse;
• identificar o papel social das escolas e meios adequados para lidar com os 
conflitos que se expressam nesse contexto;
• compreender os contextos comunitários como espaços de conflito e de 
construção de agentes de solução desses conflitos.
• relacionar a mediação comunitária como instrumento de fortalecimento 
da democracia.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – MEDIAÇÃO FAMILIAR
TÓPICO 2 – MEDIAÇÃO ESCOLAR
TÓPICO 3 – MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
120
121
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO 
Famílias “normais” têm problemas e, cotidianamente, se esforçam para sua 
superação, sendo que algumas delas precisam de ajuda quando não conseguem 
superar desafios sozinhas. Famílias que vivenciam mudanças importantes na 
sua composição, como é o caso de separação, recasamentos, familiares doentes 
ou idosos, podem demandar auxílio para definição de aspectos da dinâmica de 
suas relações. Definições sobre quem cuida de quem, quando cuida, participação 
financeira, são alguns dos aspectos que, historicamente, são decididos em espaços 
do judiciário.
Já que as relações familiares se apresentam como relações continuadas, 
a mediação familiar pode ser um método adequado para facilitar o processo de 
comunicação entre os envolvidos e, dessa forma, auxiliar na transição da situação 
vivenciada pela família.
 
Apresentar dados da história da mediação familiar, particularmente 
como é incorporada no sistema jurídico e extrajurídico, apresentar informações 
sobre situações que podem demandar a utilização deste método, viabilizar 
problematizações sobre família e sobre a dinâmica de seus relações e, por fim, 
apresentar ponderações sobre perspectivas metodológica da mediação familiar, 
são os objetivos deste tópico. 
2 PERSPECTIVA HISTÓRICA DA MEDIAÇÃO FAMILIAR
 
A partir de mudanças sociais, culturais e familiares surgidas nas décadas 
de 1960, 1970 e seguintes do século passado, com impactos em vários níveis (por 
exemplo, o expressivo aumento de divórcios e demais conflitos familiares), foram 
geradas necessidades de encontrar abordagens apropriadas para o enfrentamento 
desses problemas. 
TÓPICO 1 — 
MEDIAÇÃO FAMILIAR
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
122
O sistema jurídico (e judicial), alicerçado em leis dirigidas para a regulação de 
relações jurídicas familiares relativamente estáveis, é confrontado com uma diversidade de 
conflitos familiares que requerem a revisão desta estrutura e organização.
FONTE: . Acesso em: 15 ago. 2019.
NOTA
Essas tensões podem ter sido determinantes para o surgimento de soluções 
inovadoras que permitiram a (re)invenção do processo de mediação familiar 
como método extrajudicial de resolução de conflitos familiares. Conhecimentos 
da Psicologia, do Direito e de outras Ciências Sociais foram incorporados para 
a construção de estruturas de conhecimento que puderam dar base teórica e 
metodológica a esse método. 
O entendimento sobre a forma como a mediação familiar foi se estruturando 
pode ser alcançado através da análise de alguns conceitos. A mediação familiar 
está incluída no campo dos meios complementares e alternativos de resolução 
de conflitos familiares, podendo acontecer antes, durante ou após um processo 
judicial. De um modo geral, a mediação familiar é um “método de resolução de 
conflitos, alternativo ou complementar ao sistema judicial, que visa a alcançar 
um acordo conjunto, melhorar a comunicação, reduzir a área de conflito e tomar 
decisões autônomas”.
Na mesma direção, Parkinson (2008, p. 16) define mediação familiar como 
sendo um processo “no qual duas ou mais partes em litígio são ajudadas por 
uma ou mais terceiras partes imparciais (mediadores) com o fim de comunicarem 
entre elas e de chegarem a sua própria solução, mutuamente aceite, acerca da 
forma como resolver os problemas em disputa”. 
As definições anteriores têm em comum a prerrogativa de que as famílias 
podem, em algum momento de sua trajetória, necessitar de ajuda de um terceiro, 
para lidar com conflitos, melhorando a comunicação entre seus membros, de 
forma a viabilizar a proteção de que necessitam. 
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
123
Mediação de família pode também ser definida como um processo 
autocompositivo, segundo o qual as partes em disputa são auxiliadas por um terceiro 
neutro ao conflito, ou um painel de pessoas, sem interesse na causa, para auxiliá-las a 
chegar a uma composição dentro de conflitos característicos de dinâmicas familiares e, 
assim, estabilizarem de forma mais eficiente um sistema familiar.
FONTE: . Acesso em: 10 nov. 2019.
NOTA
Mediação familiar é um processo pelo qual uma terceira pessoa imparcial 
ajuda os que estão envolvidos numa ruptura familiar, em especial casais em vias 
de separação ou divórcio, a comunicarem-se melhor entre eles e atingirem, de 
comum acordo e com base em informações adequadas, as suas próprias decisões 
sobre algumas ou todas as questões relativas à separação, divórcio, filhos, 
finanças, propriedades, entre outras.
 
3 FAMÍLIAS E FAMÍLIAS CONTEMPORÂNEAS
Antes de apresentar reflexões sobre o processo teórico-metodológico da 
mediação familiar, é importante focar na família e na dinâmica de suas relações, 
visto que são elas que materializam o objeto de trabalho da mediação. 
3.1 CONCEITOS 
É importante, para a compreensão do conceito de família, tomar como 
ponto de partida o imaginário social, que tende a postular família como um 
modelo único de instituição, em paradoxal relação com os dados histórico-
sociais, cujas evidências demonstram que apenaso vocábulo “família” apresenta 
similitude no tempo e no espaço da vida em sociedade. Portanto, se é fato que 
existe família tanto quanto existe o ser humano, fato indisfarçável é que família 
tem muitos conteúdos e formas.
Nessa linha de raciocínio, quando se está diante da instituição família, 
Osório (2014) esclarece que é possível descrever as várias estruturas ou 
modalidades assumidas pela família através dos tempos, mas não é possível 
conceituá-la. Do mesmo modo que não é possível encontrar modelos únicos e 
que atendam a idealizações.
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
124
São muitas as variáveis culturais, ambientais, sociais, econômicas, 
políticas, religiosas, que determinam as diferentes composições familiares. Por 
isso, é imprescindível conhecer ditas variáveis para compreensão e descrição da 
instituição família.
A propósito desse tema, Sluski (1997) refere que se surpreende toda vez 
que se conecta com a representação social de família na modernidade, a famosa 
família constituída por pai-mãe-filhos (do pai trabalhador, mãe do lar, filhos 
cuidados pela mãe), visto que esse modelo idealizado de família não tem mais 
do que duzentos anos. Ocorre que dito modelo foi tão fortemente registrado no 
imaginário social da população, que qualquer outro modelo tende a ser entendido 
como desajustado, desorganizado, disfuncional, entre outros predicados. 
E é justamente por isso que Vezzulla (1998) chama a atenção para o fato 
de que não existe um conceito que sirva única e exclusivamente para família, 
entendendo família como todos aqueles que se apresentam como família. Tal 
compreensão está diretamente vinculada à percepção dos avanços da cultura 
humana. Vezzulla diz que, de alguma maneira, sentimentos de união, segurança 
e solidariedade mantêm um diálogo crescente com o que se entende por família, 
porque nossa sociedade contemporânea, cada vez mais, restringe o conceito de 
comunidade a partir da vivência do que seja família, enquanto espaço de proteção, 
de segurança, de reconhecimento.
Essas afirmações foram expostas no Curso de Formação em Mediação 
Emancipadora e Responsável, ministrado pelo Professor Juan Carlos Vezzulla no período 
de 15/2/2018 a 28/2/2018. AJURIS, Porto Alegre/RS.
NOTA
Nesse sentido, Vezzulla ressalta a importância de, hoje, colocar em pauta 
outros temas a partir do estudo do que seja família, tal como a fertilização, os 
relacionamentos homoafetivos, os ciclos de fertilidade alterada etc. A ciência, 
nesse aspecto, tem produzido profundas alterações nos cotidianos nas relações. 
Às vezes, o filho é mais novo que os netos, o sobrinho é mais velho que os tios, o 
que torna necessário ampliar a concepção.
Assim, mudando a sociedade, mudam seus conceitos. Pensar ou falar 
sobre maternidade, por exemplo, não explica, por si só, o que está contido nesse 
papel. Mulheres com 60 anos, por exemplo, atualmente podem gestar. Por isso, 
apesar do imaginário social sobre o que seja mãe, não se explica maternidade 
pura e simplesmente por seu vocábulo, porque já não estamos mais diante da 
maternidade/paternidade de outrora.
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
125
Além desses atravessamentos da atual realidade social, para compreensão 
do sentido do que seja família, é importante saber que toda pessoa entende a 
família a partir de suas autorreferências. É impossível pensar família e não se 
reportar a essas questões subjetivas. Em outras palavras, falar em mãe começa, 
necessariamente, no falar sobre a “minha mãe”. Eu me conecto com essa 
representação para compreender quem é aquela mãe a quem observo ou com 
quem estou a interagir.
Falar em família, portanto, segundo Minuchin (1990), é falar em “matriz 
da identidade” ou “núcleo identitário”, termos que representam a ideia de 
pertencimento, dentro da ideia de construto da identidade. Supondo, por 
exemplo, que tenhamos Joana da Silva entre nós, antes de ser Joana, esta pessoa 
é “da Silva.” Assim, o nome representa não somente o registro de identidade 
perante os outros (Joana), perante a família, perante a comunidade, enquanto 
pessoa específica e separada do todo, como também representa, desde aquele 
minúsculo universo intrauterino, o pertencimento a um determinado núcleo que 
lhe é ascendente (da Silva) e que o absorve dentro de um determinado tronco 
familiar.
De outro lado, não se pode pensar família descolada de seu contexto 
social, porque esse contexto lhe confere determinadas especificidades. O jeito de 
ser, aquilo em que se acredita, como se responde a este ou aquele comportamento. 
Esse convívio, e as tensões que dele decorrem, explicitam a complementaridade 
da família por sua função social.
No desenho da forma, conteúdo e normas de cada família, o meio social 
não apenas alimenta de sentido, como também é balizador de responsabilidades. 
Isso porque, se antes o Estado se prestava a constituir, validar e proteger 
prioritariamente o interesse particular de cada cidadão, a partir da ótica da tutela 
de liberdades, atualmente se vive o modelo social de Estado, segundo o qual 
cada indivíduo precisa ser considerado em sua função social, já que “em toda 
sociedade deve haver uma solidariedade que implique que a atuação de cada um 
tenha reflexos na ordem global” (FACHIN, 2011, p. 11).
Dentre as configurações familiares conhecidas na contemporaneidade, 
Vezzulla (1998) chama a atenção para a descrição de “família monoparental”, 
porque, de qualquer modo, “o pai esteve”, “a mãe esteve” naquela família, 
mesmo que atualmente ausente. Entende, portanto, que ainda que estejamos 
categorizando e ampliando a compreensão do que seja família, o termo 
monoparental parece inadequado. Meramente uma descrição aparente.
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
126
De acordo com Szymanski (2010), podemos distinguir nove tipos de compo-
sição familiar ou de família na contemporaneidade: 
1) Famílias nucleares: são as famílias formadas por pai, mãe e filhos biológicos, ou seja, 
formadas por apenas duas gerações.
2) Famílias extensas: são as famílias formadas por pai, mãe, filhos, avós e netos ou outros 
parentes, isto é, a família formada por três ou quatro gerações.
3) Famílias adotivas temporárias: são famílias (nuclear, extensa ou qualquer outra) que 
adquirem uma característica nova ao acolher um novo membro, mas temporariamente.
4) Famílias adotivas: são as famílias formadas por pessoas que, por diversos motivos, aco-
lhem novos membros, geralmente crianças, que podem ser multiculturais ou birraciais. 
5) Famílias de casais: são as famílias formadas apenas pelo casal sem filhos.
6) Famílias monoparentais: são as famílias chefiadas só pelo pai ou só pela mãe.
7) Famílias de casais homossexuais (com ou sem criança): são as famílias formadas por 
pessoas do mesmo sexo, vivendo maritalmente. 
8) Famílias reconstruídas após o divórcio: são famílias formadas por pessoas (apenas 
um ou o casal) que foram casadas, que podem ou não ter crianças do outro casamento. 
9) Famílias de várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compro-
misso mútuo: são famílias formadas por pessoas que moram juntas e que, mesmo sem 
ter a consanguinidade, são ligadas fortemente por laços afetivos. 
IMPORTANTE
Nesse sentido, há sempre a inclusão do terceiro, e para Vezzulla é 
muito importante a existência da terceiridade (o terceiro, o filho). Daí que a 
monoparentalidade representaria, a seu entender, um equívoco de concepção, 
dado que, em alguma medida, houve um pai e houve uma mãe que estão 
presentes na ausência.
Por isso mesmo, a organização familiar está diretamente relacionada 
ao sistema comunicacional das pessoas envolvidas. Cada família constitui, 
na sensível compreensão de Carter e McGoldrick (2012, p. 9), um subsistema 
emocional que reage aos relacionamentos passados, presentes e antecipa os 
futuros, compreendendo, por isso mesmo, um sistema emocional maior, em que 
a vida de cada partícipe está ligada a diferentes gerações, seja qualfor a estrutura 
familiar.
A rigor, um bom começo de um desfecho para este tópico é pensar que 
família não “é”, e sim que “famílias são”, vez que o plural abarca dentro do 
vocábulo “família” toda a diversidade de arranjos familiares existentes hoje.
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
127
3.2 DINÂMICA RELACIONAL DA FAMÍLIA
Por que formamos família? É algo natural no ser humano, na cultura, 
na civilização? Para problematizar esta questão, é importante referir que pensar 
contemporaneidade implica pensar em constantes mudanças e transições sociais. 
A família participa desse processo transicional, o que significa dizer que ela 
também muda, mas segue com a função de manter algum nível de proteção para 
seus membros, porque a condição neotênica do ser humano faz com que ele 
necessite de cuidados, e a família, a menor unidade da sociedade, é quem tem 
oferecido dito cuidado, independentemente da configuração com que se organiza.
Sem dúvida, as famílias refletem e reforçam o sistema – um sistema 
que se organiza, em primeiro lugar, para manter a si mesmo. Mas é 
nas famílias e entre amigos que as pessoas adquirem um significado 
e um valor muito particulares, sentindo-se individuais e únicas; em 
condições favoráveis, sentindo-se, inclusive, íntimas (ANTON, 1998, 
p. 24).
São muitas e, como já assinalado, diversas as conceituações de família. Para 
Minuchin (1990), a família é um sistema aberto, em constante transformação com 
outros sistemas extrafamiliares. Referir-se a família em termos de sistema pode 
auxiliar a compreender o quão dinâmicas podem ser as interações dos diferentes 
subsistemas que o compõem, bem como os que com ele interagem. Subsistemas são 
“agrupamentos familiares baseados em gerações, gêneros e interesses comuns” 
(NICHOLS; SCHARTZ, 2007, p. 184), por exemplo, subsistema conjugal, parental, 
fraternal e filial, cada um deles desenvolvendo papéis e funções diferentes que 
regulam os relacionamentos entre si. 
Ao descrever as funções da família, toma-se Minuchin (1990) por 
referência, visto que ele apresenta duas funções básicas, complementares entre 
si: função nutritiva e função normativa. A primeira diz respeito ao cuidado, 
apego, alimentar, vestir, acalentar, dar ao sujeito um sentido de pertencimento. O 
sobrenome está relacionado ao exercício dessa função, o “jeito” especial e único do 
grupo familiar ser e cuidar dos seus. Como já foi mencionado, complementando a 
função nutritiva existe a função normativa que, como o nome já diz, relaciona-se 
a regras, normas, socialização dos sujeitos. Cabe à família preparar seus membros 
a atuarem socialmente, irem, aos poucos, encontrando formas de ser e agir no 
mundo, segundo suas próprias escolhas. Nenhuma família cumpre suas funções 
se não deixa seus filhos “irem”, “voarem”.
As famílias, considerando suas características, são ou mais nutritivas 
ou mais normativas. Algumas priorizam as relações internas, o estar junto, 
compartilhando o máximo possível momentos e experiências. Outras investem 
na individuação dos seus membros, favorecendo que cada um possa buscar 
projetos individuais, baseados em suas próprias escolhas. Um importante 
indicador para o desempenho da parentalidade são as fronteiras, que definem 
como se dá essa proteção e diferenciação dos indivíduos. As fronteiras podem 
ser classificadas como nítidas, difusas e rígidas. As nítidas são aquelas em que a 
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
128
família consegue determinar funções e espaços de cada integrante. Já as fronteiras 
difusas demonstram que não existem limites entre os subsistemas, os membros 
tendem a manter uma postura mais intrusiva uns com os outros. 
Segundo Minuchin (1990), as famílias que apresentam fronteiras difusas 
podem ser chamadas de famílias emaranhadas ou aglutinadas, por possuírem 
indiferenciação entre os subsistemas. O que acontece a um dos seus membros 
interfere diretamente na vida do outro. Famílias com este tipo de fronteira 
tendem a apresentar falta de diferenciação entre os subsistemas, o que acaba 
por dificultar a autonomia dos seus membros. Por fim, há famílias que possuem 
fronteiras excessivamente rígidas entre os subsistemas. A comunicação entre os 
membros dessas famílias fica dificultada, bem como a função protetiva. Nessas 
famílias, os vínculos são frágeis, caracterizando distanciamento emocional e 
reduzido sentimento de pertencimento. 
A compreensão sobre fronteiras familiares está relacionada à ideia 
de que a família mantém unidade para apoiar seus membros, e tem sob sua 
responsabilidade, basicamente, essas duas funções: nutrir e normatizar. 
Resumidamente, a ideia de nutrir está relacionada a dar colo, comida, aconchego, 
oferecendo ao sujeito o sentimento de pertença, de ser partícipe de determinado 
grupo social. A ideia de normatizar é oferecer ao sujeito a possibilidade de se 
individuar, de fazer escolhas, de atender a valores, normas, socializar, de ir a um 
só tempo se separando, mas pertencendo.
Uma nota sobre a tarefa do cuidado e proteção é que, se na modernidade 
a família nuclear conseguia viabilizar o cumprimento das funções de nutrir e 
normatizar, as mudanças na contemporaneidade evidenciam a necessidade de 
ampliação da rede de apoio. Não se pensa, portanto, apenas na família nuclear, 
mas na família enquanto rede, incluindo tanto as pessoas da família nuclear 
quanto da família extensa, ou pessoas sem relação consanguínea, mas que são 
significativas e que importam ao cuidado integral daquele partícipe.
Retomando o que já foi anteriormente explicitado, historicamente tem 
havido uma divisão de funções relacionadas ao universo feminino e masculino: 
fusão, dependência e complemento costumam estar associadas a funções do 
universo feminino, enquanto separação, emancipação e normatização costumam 
estar associadas ao universo masculino. Todas as funções maternas estão 
relacionadas ao espaço privado, do lar, ao que acontece entre as paredes, no 
interior da casa. Já as funções paternas estão relacionadas ao que acontece no 
espaço social.
Essa divisão está tão presente no imaginário social que ainda nos 
surpreendemos quando mães referem que seus filhos ficarão mais bem atendidos 
pelo pai. Ou com mães que decidem priorizar trabalho e ascensão profissional.
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
129
Ilusoriamente, na função materna a criança não é independente. Forma-se 
uma dependência funcional geradora de vida, de um desenvolvimento erógeno, 
que permite a construção do registro mental que interage entre o sujeito e o 
mundo exterior (leia-se: enquanto ser sensível). Dar de comer gera um registro 
de necessidade (fome) que se atende de determinada forma (alimento). Na 
satisfação das necessidades, se produz a inscrição mental da necessidade. Essa 
interdependência, essa gravidez representacional, forma parte da função materna 
que é exercida por todos os adultos que cuidam da criança. É o movimento 
integrador da criança, a continuidade da gestação extrauterina.
Os elementos problematizados estão inter-relacionados e os membros da 
família, na dinâmica de suas relações, lidam com eles, considerando seu sistema 
de crenças e valores, etapa do ciclo evolutivo que estão vivenciando, bem como a 
rede de pertencimento social com que mantêm relações. É importante considerar 
o quão exigido é dos adultos “darem conta” das tarefas que lhes são atribuídas, 
especialmente pelos atravessamentos sociais, que frequentemente perpassam as 
fronteiras da família. 
3.3 DIVÓRCIO E SUAS FASES
 O divórcio é apresentado, neste texto, como um processo que pode 
ocorrer durante o ciclo vital da família, desafiando sua estrutura e sua dinâmica 
relacional. Desafiar não significa acabar com a família, mas, sim, transformá-la. 
Em outras palavras, a estrutura se altera com a dissolução da conjugalidade, mas 
a família, enquanto organização, mantém-se.
O divórcio pode representar, para os envolvidos, um evento de vida 
estressante, ou um momento de crise, por exigir sucessivasmudanças, adaptações 
e reequilíbrios no funcionamento familiar. Ele é um processo singular, haja vista 
que ele terá maior ou menor impacto nas pessoas envolvidas, dependendo de 
alguns fatores (econômico, social, cultural, religioso) e, ainda, das redes de apoio 
que se estabelecem ou não. 
 
Não há dúvidas sobre o aumento no número de divórcios. Quanto aos 
fatores etiológicos relacionados à sua incidência, Peck e Manocherian (2001) 
relacionam: a diferença de status socioeconômico, quando a mulher ganha mais 
do que o homem; instabilidade de renda e do emprego do marido; o menor grau 
de instrução do homem (quando comparado com a sua esposa); a idade dos 
cônjuges (quanto mais jovens, mais alta é a incidência); a ocorrência de gravidez 
pré-nupcial; a diferença racial; questões de gênero.
 
Cada divórcio é particular, assim como são únicas as pessoas que se 
separam. Entretanto é possível assinalar padrões gerais sobre esta transição e 
como as pessoas lidam com o processo. Em um sentido amplo, é possível referir 
três fases de transição pelas quais passam as pessoas envolvidas no divórcio: a 
primeira compreende o primeiro ano após a separação, conformando um período 
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
130
de caos, confusão e crise; a segunda, o realinhamento, caracteriza-se por ser uma 
fase de transição, em que as questões econômicas, sociais e extrafamiliares vão 
sendo reorganizadas entre o segundo e terceiro ano após a separação; na fase da 
estabilização pode-se dizer que, com efeito, há uma reorganização do sistema 
familiar.
 
As fases de transição do divórcio, em sentido mais restrito, podem ser 
compreendidas através de seis momentos: luto, negação, rancor, negociação, 
vergonha e celebração. Esses momentos não seguem, naturalmente, uma ordem 
preestabelecida, e nem ocorrem em momentos distintos. Os envolvidos podem 
vivenciar duas ou mais fases em um único momento.
 
Quanto à fase do luto, ela diz respeito a tudo o que poderia ter sido. 
Saber que o casamento acabou e aceitar que não voltará mais com a mesma 
pessoa é um processo realmente difícil. Significa a perda de algo importante que 
esteve presente na vida dos envolvidos. A fase da negação é representada por 
tentativas de recuperar o relacionamento, mesmo já sabendo que tudo já acabou. 
Acaba sendo uma forma inconsciente dos envolvidos se protegerem, negando 
o que está acontecendo. A próxima é referida como a fase do rancor. Existe 
um sentimento de rancor experienciado pelo próprio sujeito, pelo outro e pelo 
mundo em geral. Sentimento de injustiça, raiva e culpa são acionados em uma 
tentativa de diminuição da ansiedade para encontrar justificativas do término da 
relação. Na fase seguinte, a negociação, é evidenciado o fato de que o casamento 
é um contrato. Dessa forma, os envolvidos aceitam que o contrato que fizeram 
foi quebrado, e as cláusulas não foram respeitadas por ambos, ou talvez tenham 
simplesmente expirado. Outra fase pela qual os envolvidos passam é a vergonha, 
em que o sentimento de incompetência e frustração aparece muito forte. Por fim, 
a fase da celebração, quando é possível visualizar uma nova vida pela frente. 
Quando todas as fases do divórcio são superadas, a aceitação real aparece, o que 
pode oferecer à pessoa um sentimento de satisfação.
4 TEMAS PARA MEDIAÇÃO
A mediação de família pode ser aplicada em diferentes situações 
vivenciadas cotidianamente por muitas famílias, entre as quais: divórcio; pensão 
alimentícia dos filhos, também chamada de alimentos aos filhos; guarda e 
parentalidade futura dos filhos; cuidado de idosos/doentes; e reconhecimento de 
paternidade.
4.1 DIVÓRCIO
 
Muitos casais podem se sentir ameaçados pelas mudanças ocorridas com o 
divórcio e podem ter dificuldades para gerenciar questões relacionadas à partilha 
de bens, relacionamentos com família extensa, uso do nome, entre outros. 
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
131
4.2 PENSÃO ALIMENTÍCIA DOS FILHOS, TAMBÉM CHAMADA 
DE ALIMENTOS AOS FILHOS
É obrigação de ambos os pais proverem o sustento de seus filhos. Por 
exemplo, a pessoa que tem a guarda (seja ele pai ou mãe) não pode renunciar 
à pensão a que os filhos têm direito, mesmo que, no momento, não estejam 
precisando. Como no Brasil não existam parâmetros predefinidos para determinar 
o valor dos alimentos, estes devem ser fixados com base no binômio necessidade 
do filho vs possibilidade dos pais.
4.3 GUARDA E PARENTALIDADE FUTURA DOS FILHOS
 
Parentalidade é entendida por “todas as decisões que afetam a criação 
dos filhos: sua residência, acesso a cada um dos pais, escolaridade, saúde, 
relacionamentos com família extensa e assim por diante” (HAYNES, MARODIN, 
1996, p. 77). 
 
Alguns temas que podem ser levantados nas sessões de mediação são: 
guarda, residência, tomada de decisões, visitação, calendários, acesso durante a 
enfermidade dos filhos, feriados, dia dos pais/mães, férias de verão e escolares, 
acesso telefônico aberto, direitos e obrigações da família extensa, relocalizações 
geográficas, manter o nome da família, mudanças futuras etc.
4.4 CUIDADO DE IDOSOS/DOENTES
As relações de conflitos familiares envolvendo idosos que dependem de 
cuidados acontecem, muitas vezes, pelas dificuldades quanto à distribuição e 
administração dos cuidados – quando são os próprios familiares que tomam a 
tarefa para si –, ou na dificuldade da contratação de um cuidador e da divisão das 
despesas – quando se delega a função para um profissional.
4.5 RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE
 
Muitas crianças não têm assegurado o direito de obter o registro do nome 
do pai na sua identidade, bem como o direito de poder contar com relações de 
cuidado por parte do progenitor. 
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
132
Para aprofundamento deste tópico, fica a sugestão da leitura do Programa 
Pai Presente, vista a possibilidade da utilização da mediação familiar na execução desse 
programa, o que pode facilitar a construção da relação pai-filho.
O Programa foi criado em 2010 pela Corregedoria Nacional de Justiça, realizada em 
parceria com os tribunais de Justiça de todo o país, buscando garantir o cumprimento 
da Lei nº 8.560/1992. Essa lei visa ao fomento e à regularização do vínculo familiar e ao 
estímulo dos pais que não registraram seus filhos na época do nascimento a assumirem 
essa responsabilidade, mesmo que tardiamente. 
A Lei determina que, no momento do registro, o registrador indague à mãe o nome do 
suposto pai, sempre que uma criança for registrada sem indicação de paternidade. Quando 
isso acontece, o oficial do cartório de registro civil deve encaminhar o expediente ao juiz 
da comarca para que ele convoque o suposto pai a se manifestar sobre a paternidade. Em 
caso positivo, o reconhecimento é formalizado, e o nome do pai é incluído na certidão de 
nascimento. 
 
Caso o suposto pai se recuse a comparecer à audiência, ou mesmo a se submeter ao 
exame de DNA, o juiz pode aplicar a presunção, considerando o direito indisponível da 
criança em saber do seu vínculo de paternidade (SZUMANSKI, 2010).
DICAS
5 ÂMBITO DE ATUAÇÃO DA MEDIÇÃO FAMILIAR
Como já assinalado, a família se constitui em sistema vivo, o que a deixa 
vulnerável para diversas situações de crise, vivenciadas por um ou alguns de seus 
integrantes. Tais situações podem necessitar de intervenção através de mediação, 
que pode ser acionada em diferentes âmbitos: 
 
I- Mediação de família judicial; 
II- Prática privada da mediação de família;
III- Agências, secretarias, clínicas e programas comunitários, ONGs, Núcleos de 
Prática Jurídica, entre outros.
O mediador não busca quem está certo ou errado. Ele acolhe, reconhece, 
legitima as duas partes envolvidas.
ATENCAO
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
133
6 PARTICULARIDADES DA MEDIAÇÃO FAMILIAR 
Possivelmente, em decorrência da cultura jurídico-penal brasileira, 
a população está acostumada a enxergar responsabilidade como culpa, 
principalmente os pais, queacabam assumindo para si esse sentimento 
sobre qualquer problema que acontece no cotidiano familiar. A mediação 
verdadeiramente emancipadora procura quebrar esse paradigma, trabalhando 
com o conceito de responsabilidade integral, que compreende a responsabilidade 
funcional e a responsabilidade social. 
A responsabilidade funcional insere-se no âmbito relacional dos 
mediandos, e traz a ideia de que a função assumida por cada um deles (função 
paterna, função materna etc.) traz consigo uma responsabilidade. Contudo, o não 
atendimento dessa função não deve ser castigado (culpa = Direito Penal), mas, sim, 
reparado, atendido, restaurado (responsabilidade funcional). A responsabilidade 
social introduz a ideia de uma consciência permanente de que toda e qualquer 
atitude ou escolha produz reflexos na sociedade, de forma constante. 
Nessa ordem de ideias, a mediação se propõe a ser um espaço de reflexão 
dos mediandos sobre o que estão fazendo com as suas próprias vidas e com as 
vidas daqueles com os quais convivem. O mediador, nesse contexto, deve auxiliar 
os mediandos a tomarem consciência dos seus atos (passagem do ilusório para 
o simbólico), responsabilizando-se por eles e buscando a reparação/restauração. 
Especialmente no que tange às crianças e adolescentes, o conceito de 
responsabilidade integral se torna de suma importância para a mediação, pois 
traz a ideia de que a responsabilidade pelas crianças e adolescentes não é somente 
da família, mas também da escola, da comunidade e, inclusive, do Estado. Ou 
seja, os pais são responsáveis não só por seus filhos, mas pelos filhos de todos. 
O mediador deve auxiliar os pais, dentro da mediação, a identificarem as 
necessidades dos filhos, para, consequentemente, reconhecerem suas identidades 
como pessoas. Esse trabalho configura-se como algo extremamente importante 
dentro do conceito de responsabilidade integral, na medida em que a família que 
está em conflito vai, posteriormente, retornar à sociedade de uma determinada 
maneira, produzindo efeitos permanentes na comunidade. 
Em mediações familiares, não há como se tratar o conflito objetivo sem 
tratar do conflito subjetivo, nos quais as emoções influenciam sobremaneira os 
envolvidos. Quando as situações envolvem casais que têm filhos, não há como 
trabalhar a relação do casal sem que os filhos sejam envolvidos. Igualmente, não 
há como trabalhar as questões atinentes aos filhos sem trabalhar o casal. 
Quando se trata dos filhos, os pais devem ser auxiliados a percebê-los 
como sujeitos, com habilidades e competências a serem desenvolvidas. É papel 
do mediador auxiliar os pais a reconhecerem essas habilidades e capacidades nos 
seus filhos, para que possam ser adequadamente estimuladas e desenvolvidas. 
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
134
Os pais têm desejos inconscientes sobre o que esperam dos seus filhos. Na 
verdade, esses desejos são construídos mesmo antes das crianças nascerem. Um 
indivíduo pode projetar a sua concepção ideal no filho, pode deslocar para ele 
sua frustração ou desejar que ele seja um espelho. Entretanto é necessário que os 
pais abandonem eventuais concepções dos filhos como coisas (auxiliares, reféns, 
mensageiros), passando a identificá-los como pessoas, com identidade própria, 
detentores de suas próprias necessidades materiais e emocionais. Ou seja, os pais 
deverão perceber que os filhos não estão ali, por exemplo, para realizar os sonhos 
não alcançados por eles, para suprir suas frustrações e carências, ou para levar 
recados ou notícias de um para o outro. 
Não é bom que os filhos sejam usados para dirimir questões dos pais. O 
que o mediador faz para que isso não aconteça é resgatar os filhos pelos filhos, 
e não pelos pais. A emancipação que se busca na mediação não acontece se os 
mediandos continuarem a considerar os filhos como seus auxiliares.
O mediador deve tentar averiguar se os pais estão falando da imagem que 
criaram dos filhos ou dos filhos reais, como são. Para trazer os filhos como sujeitos, 
trabalha-se com questões como a maneira pela qual escolhem a escola do filho, 
quais questões levam em consideração para isso, e que atendimentos estão dando 
a ele. Questiona-se como foi o dia, como foi o fim de semana, como organizam a 
rotina para que possam reconhecer gostos e necessidades das crianças. 
Quando os pais vêm à mediação com ideias e percepções muito distintas 
sobre os filhos, não se deve tentar dirimir essas noções. Deve-se legitimar os dois e 
entender por que essa diferença de percepção existe, legitimar suas preocupações. 
O mediador não deve se prender aos “rótulos” usados pelos mediandos em 
relação aos filhos ou ao outro. Não se deve entrar nesses jogos de disputa por 
pontos de vista distintos. 
Para Vezzulla, mesmo se alguém mente, deve-se considerar que mentira 
é uma maneira de contar a verdade daquela pessoa que narra. Não há por que se 
preocupar. Deve-se legitimar as duas versões. São duas pessoas e o mediador está 
ali para atender as duas. É necessário romper com a ideia de que um tem razão e 
outro não, de que um está certo e outro errado. Quando o indivíduo é escutado e 
respeitado, nessa escuta podem ser esclarecidas muitas coisas.
Com questionamentos, a mediação busca alcançar maior informação e 
sensibilidade por parte dos pais, para perceberem que, desde que nascem, os 
filhos são sujeitos. Em geral, os pais simplificam as questões pensando que as 
crianças não notam o que está acontecendo, que não compreendem, e que vão 
se acostumar com qualquer coisa que os pais decidam. O trabalho do mediador 
consiste em auxiliar os mediandos a enxergarem o que realmente acontece com 
os filhos. Precisamos falar dos filhos para fazê-los presentes na mediação. 
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
135
Cria-se, assim, o espaço para que surja o reconhecimento dos fi lhos 
como sujeitos, e não meros auxiliares ou objetos. A lógica deve ser a de atender 
às necessidades dos fi lhos, não os fi lhos atenderem às necessidades dos pais. 
O mediador tem o papel de fazer com que os fi lhos sejam vistos como sujeitos, 
mas, para isso, é necessário acolher as falas dos pais para que possa surgir o fi lho 
“verdadeiro”, para que se revele quem é o fi lho.
7 TÉCNICAS DE MEDIAÇÃO FAMILIAR
As técnicas utilizadas na mediação familiar já foram apresentadas 
no subtópico técnicas de mediação da Unidade 2 deste livro. Algumas são 
especialmente utilizadas em situações de confl itos familiares, como é o caso do 
parafraseamento. Em casos de divórcio, por exemplo, a comunicação entre o 
casal pode fi car bastante prejudicada e muitas informações podem ser entendidas 
de forma equivocada. O uso do parafraseamento na sessão de mediação pode 
oportunizar o esclarecimento de diversos pontos, e deixar as opiniões de cada um 
mais claras e de fácil entendimento para o outro. 
Uma técnica específi ca da mediação familiar é o genograma, que é utilizado 
preferencialmente em sessões privadas. O genograma é uma representação 
resumida e simbólica das relações entre os membros de uma família. Diferem do 
desenho das árvores genealógicas, pois demonstram não só os graus de parentesco 
como padrões de comportamento, atitudes e doenças físicas e psíquicas. 
FIGURA 1 – PRINCIPAIS SÍMBOLOS DO GENOGRAMA
FONTE: . Acesso em: 31 mar. 2020.
Esse instrumento pode ser utilizado para a coleta de dados dos diferentes 
membros da família e dos relacionamentos entre eles. Também pode ser utilizado 
para coletar dados sobre problemas que afl igem os envolvidos e o enfrentamento 
desses problemas.
Na mediação familiar, a utilização do genograma pode facilitar processos 
refl exivos, visto que, grafi camente, fi cam visíveis dados da dinâmica familiar. 
Ele demonstra, por exemplo, que as relações parentais se mantêm mesmo depois 
do divórcio e da conformação de dois núcleos distintos, que têm as crianças 
como pontos em comum,além de incluir outros membros da família extensa, 
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
136
conformando pelo menos três gerações, e o quanto essas pessoas podem interferir 
na dinâmica familiar pós-divórcio. Todos esses dados ficam visíveis e representam 
um convite à reflexão.
8 MEDIABILIDADE
O entendimento de mediabilidade diz respeito às características de 
determinada situação fazerem com que seja passível ou não de encaminhamento 
para a mediação. Mesmo que a mediação possa ser utilizada para uma 
grande quantidade de situações, existem algumas que não são passíveis desse 
encaminhamento, como casos que envolvem violência doméstica, por exemplo.
 
Violência doméstica não é mediável, bem como abuso ou violência 
contra menores, dependência química e doença mental – passível de interdição. 
Entretanto, situações que envolveram violência no passado, mas em que ela 
não persiste e que não haja nenhuma possibilidade de ser retomada, podem ser 
mediadas (não a violência em si, mas outras questões familiares, como sustento, 
visitas, partilha de bens etc.).
Acadêmico, para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos a leitura dos livros 
a seguir:
PARKINSON, L. Mediação Familiar. Ministério da Justiça – Gabinete para a Resolução 
Alternativa de Litigios. Lisboa: Agora Comuniicação, 2008.
O livro é um guia prático e fundamentado que não só expressa os princípios e o processo 
da mediação familiar como também a coloca no contexto de um renomado sistema de 
justiça de família e sua interação com outros profissionais e procedimentos. Uma publicação 
essencial para todos os profissionais do Direito de Família.
DICAS
FIGURA – MEDIAÇÃO FAMILIAR
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
TÓPICO 1 — MEDIAÇÃO FAMILIAR
137
BARBOSA, Aguida, A. Mediação Familiar Intedisciplinar. São Paulo: Atlas, 2008.
A obra está organizada em seis partes. Aborda os aspectos históricos, teóricos, legislativos, 
destacando-se a sexta parte, que traz várias hipóteses de aplicação da técnica da mediação na 
prática, a partir de relatos de casos, assim como a análise da prática aplicada por um mediador. 
A integração desses fragmentos dá-se por intermédio de artigos, contendo os marcos teóricos 
da mediação especializada no âmbito dos conflitos familiares. Merece destaque, ainda, a 
abordagem interdisciplinar da organização do conceito e da prática da mediação. Obra 
recomendada para advogado, promotor de justiça, magistrado, defensor público, psicólogo, 
psicanalista e assistente social. Leitura complementar para a disciplina Mediação dos cursos 
de graduação e pós-graduação em Direito, além de cursos de formação de mediador familiar.
FIGURA – MEDIAÇÃO FAMILIAR INTERDISCIPLINAR
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
Acadêmico, para aprofundar seus conhecimentos, sugerimos os filmes a seguir:
Relatos Selvagens (Damián Szifron, 2014) – Diante de uma realidade crua e imprevisível, os 
personagens desse filme caminham sobre a linha tênue que separa a civilização da barbárie. Uma 
traição amorosa, o retorno do passado, uma tragédia ou mesmo a violência de um pequeno 
detalhe cotidiano são capazes de empurrar esses personagens para um lugar fora de controle.
DICAS
FIGURA – RELATOS SELVAGENS
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
138
Kramer vs. Kramer (Robert Benton, 1979) – O filme conta a história de um divórcio, relatando 
seu impacto sobre a vida dos envolvidos, com foco nas nuances da briga judicial pela guarda 
do filho do ex-casal, ainda criança.
Para Ted Kramer, o trabalho vem antes da família, e Joanna, sua mulher, descontente com a 
situação, sai de casa, deixando Billy, o filho do casal, com o pai. Ted então tem que se preocupar 
com o menino, dividindo-se entre o trabalho, o cuidado com o filho e as tarefas domésticas. 
Quando consegue se ajustar a essas novas responsabilidades, Joanna reaparece exigindo a 
guarda da criança. Ted, porém, se recusa, e os dois vão para o tribunal lutar pela custódia de Billy.
História de um casamento (Noah Baumbach, 2019) – Nicole (Scarlett Johansson) e seu 
marido Charlie (Adam Driver) estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os 
dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia 
após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern), especialista no assunto. Surpreso com 
a decisão da agora ex-esposa, Charlie precisa encontrar um advogado para tratar da custódia 
do filho deles, o pequeno Henry (Azhy Robertson).
FIGURA – KRAMER VS KRAMER
FIGURA – HISTÓRIA DE UM CASAMENTO
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-41958/
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-261015/
139
Neste tópico, você aprendeu que:
• Para entender a dinâmica relacional da família, é possível se valer de alguns 
indicadores: configuração, funções e papéis, ciclo evolutivo, mitos e segredos, 
relações de pertencimento, entre outros.
• Mudanças sociais e culturais surgidas especialmente nas décadas de 1960 e 
1970 impactaram a dinâmica relacional da família. Essas mudanças geraram 
necessidades da consolidação de meios adequados para o enfrentamento de 
problemas nas relações familiares. A mediação familiar é um desses meios. 
• No divórcio podem ser identificadas três fases de transição, pelas quais passam 
os envolvidos: período de caos, confusão e crise, fase de realinhamento e fase 
de estabilização, compreendidos através de seis momentos: luto, negação, 
rancor, negociação, vergonha e celebração. 
• Mediação de família pode ser definida como um processo 
autocompositivo, segundo o qual as partes em disputa são auxiliadas por 
um terceiro neutro ao conflito a chegar a uma composição.
• A mediação familiar propicia a capacidade de compreensão dos problemas na 
perspectiva de harmonização das disputas. Também permite aos membros da 
família a construção de decisões que melhor lhes favoreçam, desde que orientadas. 
• A mediação, além de possibilitar a solução dos conflitos que se prolongam por anos, 
tem a intenção de reorganizar a família, considerando que os envolvidos necessitam 
de uma tomada de consciência com vistas à superação de seus desajustes.
• A mediação familiar viabiliza, em primeiro lugar, a comunicação entre as 
partes, a fim de que se possa estabelecer um plano de ação, respeitados os 
pontos de vista de cada um.
• São temas para a mediação familiar: divórcio, pensão alimentícia dos filhos, 
guarda e parentalidade, cuidado de idosos doentes, reconhecimento de 
parentalidade, entre outros.
• O genograma é uma técnica específica da mediação familiar que pode auxiliar 
os envolvidos em um conflito a compreender, de forma gráfica, o tipo de 
relação que estabelecem entre si e possíveis alternativas de superação. 
• Situações onde há nítida expressão de poder de uma parte sobre a outra não 
são mediáveis. São exemplos: violência familiar, abuso de menores, doença 
mental e drogadição.
RESUMO DO TÓPICO 1
140
1 (Questão FGV/2019 – DPE-RJ) Nos litígios familiares, a solução jurídica 
distante da emocional conduz à perpetuação do conflito. Com o objetivo 
de promover a economia processual e desenvolver a autonomia dos 
envolvidos em seus conflitos, o sistema judiciário tem valorizado o método 
no qual uma terceira pessoa reabre o diálogo entre as partes, para que 
elas próprias componham a resolução de suas controvérsias. Com base no 
exposto, assinale a alternativa CORRETA referente a este método:
FONTE: . 
Acesso em: 9 abr. 2020.
a) ( ) Círculo dinâmico.
b) ( ) Escola de pais.
c) ( ) Psicoterapia breve.
d) ( ) Mediação familiar.
e) ( ) Constelação familiar.
2 (FUNCAB, 2014) A mediação de conflitos170
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 172
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 173
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 175
1
UNIDADE 1 — 
PARTICIPAÇÃO SOCIAL, 
CIDADANIA, AUTONOMIA, 
RELAÇÕES DE CONFLITO 
E COMUNICAÇÃO 
ASSERTIVA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
•	 compreender	o	significado	de	participação	social,	cidadania	e	autonomia	
na	sociedade	brasileira	em	uma	perspectiva	histórica;
•	 compreender	a	relação	entre	participação,	cidadania,	autonomia	e	rela-
ções	de	conflito;
•	 compreender	a	nova	teoria	do	conflito;
•	 identificar	e	reconhecer	conceitos	relacionados	à	comunicação	e	comuni-
cação	não	violenta;
•	 reconhecer	a	importância	da	comunicação	humana	no	tratamento	positi-
vo	do	conflito.
Esta	 unidade	 está	 dividida	 em	 três	 tópicos.	 No	 decorrer	 da	 unidade	
você	 encontrará	 autoatividades	 com	 o	 objetivo	 de	 reforçar	 o	 conteúdo	
apresentado.
TÓPICO	1	–	PARTICIPAÇÃO	SOCIAL,	CIDADANIA	E	AUTONOMIA
TÓPICO	2	–	RELAÇÕES	DE	CONFLITO
TÓPICO	3	–	COMUNICAÇÃO	ASSERTIVA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1 — 
UNIDADE 1
PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
1 INTRODUÇÃO 
 No	cenário	atual,	o	Brasil	se	apresenta	como	um	dos	países	com	os	mais	
altos	 níveis	 de	 desigualdade	 social.	 O	 cenário	 tem-se	mantido	mesmo	 com	 o	
longo	processo	de	transformações	tecnológicas,	culturais,	econômicas	e	sociais.	
Essas	 transformações	geram,	 a	 cada	dia,	 novas	 situações	 e	necessidade	
de	envolvimento	da	população	para	construção	de	outras	formas	de	convívio	e	
relações.	
A	 importância	 de	 garantir	 discussões	 sobre	 conceitos	 de	 participação	
social,	cidadania	e	autonomia	tem	sido	cada	vez	mais	relevante,	considerando	o	
aumento	de	possibilidades	de	inclusão	da	população	nas	decisões	sobre	políticas	
públicas	no	Brasil,	prioritariamente	a	partir	da	Constituição	de	1988.
O	grande	desafio	é	o	fortalecimento	da	mobilização	da	população	para	o	
fomento	e	disseminação	da	preocupação	com	o	bem-estar	comunitário	e	social,	
visto	que	diferentes	conflitos	e	questionamentos	a	respeito	da	falta	de	diálogo	e	
de	compreensão	entre	as	pessoas	têm	provocado	o	distanciamento	entre	elas	e,	
muitas	vezes,	o	fortalecimento	do	pensamento	individualista.
 
2 VISITANDO O TEMA DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL
São	 distintas	 as	 terminologias	 utilizadas	 para	 tratar	 de	 participação	
social,	tais	como:	inclusão	social,	participação	de	cidadãos,	participação	popular,	
participação	democrática,	participação	comunitária	ou	só	participação,	sendo	que	
práticas	similares	podem	ser	nominadas	de	diversas	formas	ou	uma	terminologia	
pode	 representar	 práticas	 distintas.	 Independentemente	 do	 nome,	 a	 ideia	 de	
participar	mais	ativamente	nos	processos	de	tomadas	de	decisão	coletivas	sempre	
foi	um	anseio	da	própria	população.	
 
Quando	 se	 agrega	 o	 adjetivo	 “social”	 à	 palavra	 “participação”,	 resulta	
um	termo	muito	difundido,	que	diz	respeito	à	construção	de	espaços	que	criam	
interconexões	entre	os	gestores	e	a	sociedade.	Ele	pode	representar	uma	conquista	
da	 população	 pela	 busca	 da	 democratização	 e	 tem	 significado	 histórico	 para	
países	que	viveram	em	regimes	autoritários.	Pela	luta,	a	participação	tornou-se	
um	direito	do	cidadão.
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
4
2.1 PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO BRASIL
No	Brasil,	 só	 foi	possível	 romper	 com	a	Ditadura	Militar	pela	 ampla	 e	
efetiva	 mobilização	 e	 participação	 da	 população.	 Esta	 reação,	 segundo	 Gohn	
(2005),	possibilitou	novo	significado	para	o	que	era	entendido	como	sociedade	civil,	
fundando	sua	atuação	na	contraposição	ao	regime	ditatorial,	com	o	objetivo	de	
construir	bases	democráticas	na	sociedade	política	brasileira.	Desta	mobilização/
participação	social	decorreram	mudanças	importantes,	considerando	os	espaços	
representativos	 e	 institucionalizados	 de	 participação	 social	 e	 de	 alterações	 da	
relação	desta	sociedade	com	o	Estado.	
“A Constituição Federal de 1988 é o marco da legalidade da questão social, um 
avanço na gestão das cidades, uma nova forma que na teoria exibe que o poder de decisão 
não mais se restringe a pequenos grupos com poder econômico e político, mas também a 
sociedade civil” (GARBELINE, 2017, p. 4).
IMPORTANTE
As	 alterações	 na	 Constituição	 permitiram,	 como	 já	 foi	 assinalado,	 a	
participação	 popular,	 que	 representa	 as	múltiplas	 ações	 que	 diferentes	 forças	
sociais	 desenvolvem	 para	 influenciar	 a	 construção,	 execução,	 fiscalização	 e	
avaliação	das	políticas	públicas.	
Nessa	perspectiva,	 convém	assinalar	 como	deliberação	da	Constituição	
a	 formação	dos	 conselhos	gestores	de	políticas	públicas,	 espaços	públicos	que	
fazem	parte	da	gestão	pública,	 sendo	permanentes.	Como	 exemplos	 temos	os	
Conselhos	de	Assistência,	de	Saúde,	de	Educação	etc.	É	importante	assinalar	que,	
embora	ligados	à	estrutura	do	Poder	Executivo,	não	são	subordinados	a	ele.	Isto	
é,	são	autônomos	nas	suas	decisões.
Os conselhos são constituídos por representantes da sociedade civil e do 
Estado, não pertencendo a nenhum desses segmentos, isto é, tanto os representantes da 
sociedade civil quanto do Estado, são corresponsáveis pelas decisões tomadas.
FONTE: . Acesso em: 29 nov. 2019.
NOTA
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
5
Os	 Conselhos	 Gestores	 atuam	 como	 instâncias	 para	 promover	 uma	
mudança	 na	 gestão	 das	 políticas	 públicas	 a	 partir	 de	 "um	 novo	 padrão	 de	
relação	entre	Estado	e	sociedade,	criando	formas	de	contrato	social,	por	meio	da	
ampliação	da	esfera	social	pública"	(GOHN,	2004).	
O	 cidadão,	 com	 uma	 nova	 consciência,	 pode	 exercer	 controle	 social,	
interferindo	diretamente	na	evolução	das	políticas	públicas	na	medida	em	que	
exige	e	promove	transparência	e	uso	adequado	de	recursos	públicos.	
 
Para	Jardim	(2017,	p.	95),	“todos	os	avanços	societários	que	tivemos	até	
então	 na	 construção	 de	 esferas	 e	 contextos	 democráticos	 foram	 caminhos	 de	
participação	que,	por	sua	vez,	ampliaram	as	bases	democráticas	numa	relação	de	
contínua	interdependência”.
Nessa	perspectiva,	a	participação	social	tenciona,	segundo	a	autora,	uma	
gestão	 democrática,	 cujo	 Estado	 se	 ocupa	 em	 atender	 a	 interesses	 coletivos	 e	
incide	nas	desigualdades	fundadas,	fundantes	e	nascedouras	do	capitalismo.	
A	 população	 realmente	 se	 implica	 com	 a	 participação	 social	 quando	
reconhece	a	 impossibilidade	de	avanços	 societários	em	um	momento	histórico	
em	 que	 se	 enaltecem	 valores	 individualistas	 e	mercantis	 que	 se	 sobrepõem	 à	
dignidade	do	ser	humano.	Segundo	Machado	 (2016,	p.	184),	a	participação	da	
população,	
[...]	 como	 processo	 de	 incidência	 social	 e	 política,	 deve	 estar	
comprometida	 com	 alguns	 pressupostos	 da	 existência	 humana,	
contribuindo	 para	 o	 desenvolvimento	 do	 ser	 humano	 enquanto	 ser	
social,	pois	todos	os	homens	devem	ter	condições	de	viver	para	poder	
fazer	história.
Participar	não	 se	 limita	 a	uma	atitude	de	aderir	 a	 alguma	proposta	ou	
projeto,	 pressupõe	 o	 compartilhar,	 colocar-se	 em	 movimento.	 Desta	 forma,	
participação	pode	ser	um	qualificativo	da	convivência,	uma	forma	de	compreender	
os	fenômenos	de	forma	ampliada,	que	inclui	posicionar-se	nas	decisões	que	lhe	
dizem	respeito	(BRASIL,	2009).
Esta	 compreensão	 de	 participação	 social	 direciona	 o	 olhar	 para	 a	
perspectiva	de	direitos,	sejam	elesno divórcio de casais com filhos 
procura, potencialmente, servir aos interesses das crianças, pois:
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
a) ( ) É preciso fazê-las compreender que os adultos não são confiáveis e nem 
honestos.
b) ( ) É uma técnica psicoterapêutica que visa à elaboração da sensação de 
desamor, rejeição e abandono.
c) ( ) A qualidade das relações entre pais e filhos será favorecida se houver 
uma boa relação entre os pais após a separação.
d) ( ) A perda da convivência diária com um dos pais deixa os filhos à mercê 
dos interesses do progenitor responsável pela guarda.
3 (TRT, 2013) A mediação integra as ADRs (alternativas de solução ou de 
condução de conflitos e disputas) e pode ser utilizada em qualquer tipo 
de conflito, se guardadas as condições de voluntariedade, capacidade de 
compreensão e:
FONTE: . 
Acesso em: 9 abr. 2020.
a) ( ) desequilíbrio amoroso entre as partes.
b) ( ) desequilíbrio de poder entre as partes.
c) ( ) equilíbrio amoroso entre as partes.
d) ( ) equilíbrio de poder entre as partes.
e) ( ) ausência de labilidade entre as partes.
AUTOATIVIDADE
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/cbaa11a9-65
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/funcab-2014-seds-to-analista-em-defesa-social-psicologia
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/funcab-2014-seds-to-analista-em-defesa-social-psicologia
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/questoes/dcf7fee9-11
141
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO 
O ambiente escolar é palco das mais diferentes relações sociais e, portanto, 
bastante propício a manifestações de conflito. Em conversas cotidianas, notícias 
de jornais e revistas, bem como em pesquisas acadêmicas, é comum ouvir que 
o maior problema do Brasil é a educação, sendo que a pauta de discussão é o 
contexto escolar e como se estrutura a educação em valores no país. 
A mediação escolar, uma nova modalidade no cenário das instituições 
de ensino, pode se constituir como mecanismo eficaz para prevenir conflitos, 
gerenciar situações que afetam a convivência pacífica da comunidade estudantil 
e, acima de tudo, instituir uma educação em valores, pautada sobretudo nas 
atitudes das pessoas e na sua relação com o mundo, visando a uma cultura de 
paz. 
O papel do mediador é favorecer que a escola construa e desenvolva 
estratégias para soluções pacíficas em situações de divergências, criando um 
ambiente colaborativo, que contribua para a formação de cidadãos com visões 
mais justas e solidárias. A principal ferramenta para a mediação é o diálogo entre 
os envolvidos.
 
2 ESPAÇO ESCOLAR
A escola é pensada tanto como espaço de apreensão de conhecimentos 
quanto espaço onde se adquire e se solidificam valores. Também é reconhecida como 
espaço onde é possível desenvolver capacidade de autonomia, responsabilidade 
e comunicação, de forma a construir relações abertas e saudáveis baseadas no 
reconhecimento e compreensão do outro. 
 
A ideia de escola está diretamente relacionada à educação. Para Ovejero 
e Rodriguez (2005) o objetivo principal da educação é possibilitar a formação de 
pessoas competentes socialmente, que possam sentir-se valorizadas como pessoas 
e, ao mesmo tempo, possam contribuir para o desenvolvimento humanizado de 
outras pessoas.
 
A educação, como a vejo, é uma atenção à diferença e um processo de 
produção da diferença. A pergunta pela educação é uma pergunta pelo outro. 
Transformar a educação não é outra coisa senão uma alteração do modo como vejo 
TÓPICO 2 — 
MEDIAÇÃO ESCOLAR
142
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
o outro, não requer outra coisa do que uma firme vontade de arriscar-se a pensar 
de outro modo minha relação como os outros, que não deixa de ser uma forma de 
arriscar-se a pensar de outro modo a mesmidade. Metamorfose? No fundo, sim. 
Educar é ajudar ao outro em um permanente processo de metamorfose (WARAT, 
2003, p. 35).
Para o mediador Warat (2003), o processo de educar precisa proporcionar 
respeito às diferenças, valorização do contato com o outro e, sobretudo, promoção 
à responsabilidade mútua entre as pessoas. Segundo ele, somente a partir do 
reconhecimento e respeito ao outro como semelhante poderá ser possível o 
entendimento dos direitos humanos. 
Os objetivos desse tipo de educação para Rovira (1992) são: a 
construção de um pensamento moral autônomo, justo e solidário; aquisição 
das competências dialógicas que predispõem ao acordo justo e à participação 
democrática; compromisso com a compreensão crítica da realidade pessoal e 
social; conhecimento da informação que tenha relevância moral; reconhecimento 
e assimilação de valores universalmente desejáveis; desenvolvimento de um 
conhecimento adequado de si mesmo para facilitar projeto de vida; construção 
de comportamentos coerentes com o juízo moral; e compreensão e respeito de 
normas de convivência que regulem a vida coletiva. 
A proposta da educação, apresentada por Rovira (1992) foca em valores 
e, assim, presta sua atenção às necessidades dos alunos, foca na necessidade de 
conhecer o que é importante para eles, o que pensam da vida, quais são seus 
valores, conflitos que enfrentam (prioritariamente os que se dão nas relações 
com os grupos), suas preocupações e também as vivências em suas famílias e 
comunidades. 
 
A educação, na perspectiva apresentada, pressupõe uma mudança 
cultural de todos os envolvidos. O cenário das escolas é onde precisa acontecer o 
processo de mudança. 
Pensar em ambiente escolar é considerar diferentes atores sociais 
com interesses, desejos e necessidade diversas que podem, em diferentes 
oportunidades, verem-se envolvidos em conflitos. Esses conflitos podem se 
manifestar de muitas maneiras, sendo uma delas a violência.
 As escolas têm sido palco para uma crescente onda de manifestações de 
violência, o que pode ser assustador, visto que o ambiente escolar é tratado, desde 
sempre, como um espaço seguro, onde se dão relações de proteção e cuidado. 
O que se tem visto nas escolas nada mais é do que o reflexo do que 
acontece na sociedade em geral. Tanto os aspectos positivos das relações sociais 
estabelecidos na sociedade quanto os negativos acabam por se apresentar na 
comunidade educativa. 
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR
143
Investigadores da realidade educativa espanhola postulam que a forma como 
a violência se apresenta nas escolas é um fenômeno jamais visto nesse contexto, o que se 
traduz em uma percepção pública de insegurança (TORREGO; MORENO, 2003).
INTERESSANTE
Estudiosos apresentam justificativas para o cenário de violência 
praticado, inclusive, por crianças e jovens: interculturalidade, novas tecnologias, 
assédio moral, relações baseadas na competitividade, individualismo, ênfase na 
conquista pessoal e pouco investimento em relações de pertencimento familiar e 
comunitário. Tudo isso pode reverberar nessa forma, nem um pouco solidária, de 
relações interpessoais. 
 
2.1 CONFLITOS NO AMBIENTE ESCOLAR
O conflito é inerente às relações humanas, portanto não é possível 
entender que possa existir uma escola sem conflitos e litígios. Ainda mais no 
ambiente escolar, propício à pluralidade, constituído de crianças e adolescentes 
de diferentes características, etnias, religiões, gostos, interesses, opiniões e 
perspectivas. Lidar com conflitos nesse espaço é um desafio permanente. 
Os conflitos entre os alunos, ou mesmo entre alunos e professores, 
diretores e auxiliares, acabam por destruir vínculos existentes entre essas pessoas, 
tornando-as mais individualistas e pouco atentas às necessidades do próximo.
As concepções sobre conflitos, apontadas por educadores, podem ser divididas 
em dois grandes grupos. Um que contempla a visão tradicional, na qual os conflitos são 
vistos como negativos e,portanto, as escolas lidam com ele através de diferentes direções: 
a primeira, tentando evitá-los, através de regras e controle de comportamento. Outra 
maneira de lidar é transferindo o problema para a família ou especialistas. Uma terceira 
direção é a ausência de intervenção, com a tendência de ignorar os conflitos ou dar a eles 
pouca ou nenhuma atenção. Outra concepção é uma visão mais construtivista, na qual os 
conflitos são compreendidos como sendo naturais e necessários. Dessa forma, são vistos 
como potenciais para efetuar mudanças (TELMA; FERREIRA; MARQUES, 2019).
IMPORTANTE
144
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
A tipologia de conflitos no âmbito escolar, proposta por Cirena (2004), 
pode facilitar um entendimento mais complexo do fenômeno. Para ele, os conflitos 
nas escolas podem ser classificados em quatro tipos:
1. Conflitos de relacionamento (surgem da relação entre alunos e professores, 
entre alunos, entre professores e pais).
2. Conflitos de rendimento (na ótica do aluno, surgem quando não consegue 
alcançar os resultados escolares esperados ou vistos como aceitáveis e, na ótica 
dos professores, surgem quando eles pensam que não conseguem transmitir os 
conhecimentos para que haja aprendizagem por parte dos alunos).
3. Conflitos de identidade (fatores pessoais relacionados com as expectativas 
e motivação dos alunos sobre os seus estudos e com a autopercepção dos 
professores sobre o seu trabalho).
4. Conflitos de poder (derivam da escola enquanto instituição que possui vários 
papéis, entre os quais destacamos os de aluno e de professor). 
A diversidade de fontes que podem potencializar os conflitos precisa ser 
considerada para possibilitar transcender leituras reducionistas e, então, definir 
qual via será acionada para a gestão construtiva do conflito na escola. 
Para Moore (1998, p. 62), os conflitos podem ser classificados em 
estruturais, de valor, de relacionamento de interesse e quanto aos dados.
TIPOS DE 
CONFLITO
CAUSAS DOS CONFLITOS
Estruturais Padrões destrutivos de comportamento ou interação; 
controle, posse ou distribuição desigual de recursos; poder 
e autoridade desiguais; fatores geográficos, físicos ou 
ambientais que impeçam a cooperação; pressões de tempo.
De valor Critérios diferentes para avaliar ideias ou 
comportamentos; objetivos exclusivos intrinsecamente 
valiosos; modos de vida, ideologia ou religião diferentes.
De relacionamento Emoções fortes; percepções equivocadas ou estereótipos; 
comunicação inadequada ou deficiente; comportamento 
negativo – repetitivo.
De interesse Competição percebida ou real sobre interesses 
fundamentais (conteúdo); interesses quanto a 
procedimentos; interesses psicológicos.
Quanto aos dados Falta de informação; informação errada; pontos de vista 
diferentes sobre o que é importante; interpretações 
diferentes dos dados; procedimentos de avaliação 
diferentes.
QUADRO 1 – TIPOS E CAUSAS DOS CONFLITOS
FONTE: Chrispino (2007, p. 18)
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR
145
Isso significa que não é expectativa e que a mediação escolar não trabalha 
para que não existam conflitos ou litígios nas escolas, pois esses são intrínsecos à 
essência humana e constituem elementos do desenvolvimento. Como já foi dito, 
as escolas são, por excelência, espaços de diversidade, local de pluralidade de 
opiniões, divergências de perspectivas e, portanto, locais que têm como desafio 
encontrar estratégias e técnicas apropriadas para lidar com os conflitos. Em abril 
de 2014, foi dado um passo importante para o enfrentamento desse fenômeno 
no Brasil, com a realização do Congresso Ibero-americano sobre a Violência 
nas Escolas, do qual resultou a Carta de Brasília - Por uma escola sem violências. 
O documento apresenta algumas propostas, entre as quais: incentivar a criação 
de espaços institucionalizados de diálogo em estabelecimentos e redes escolares, 
envolvendo todos os atores da escola e incentivar, também, o desenvolvimento 
de pedagogias cooperativas que facilitem projetos de mediação.
 
Uma forma de atender ao que está preconizado na Carta de Brasília é 
a consolidação da mediação escolar como importante e necessária ferramenta 
para o enfrentamento das diferentes violências que acontecem nas escolas, bem 
como a contribuição para o fomento da cultura da paz, cujo percurso se dá pelo 
reconhecimento do conflito como possibilidade de mudança e do investimento 
no diálogo. 
Sugerimos a leitura na íntegra da Carta de Brasília – Por uma escola sem 
violências. São 20 itens de propostas e linhas de ação para todos os setores da sociedade, 
que preconizam a luta contra as violências nas escolas.
FONTE: . Acesso em: 9 out. 2019.
DICAS
3 DIMENSÕES E FINALIDADES DA MEDIAÇÃO ESCOLAR
A partir do reconhecimento da escola como espaço de formação pessoal 
e profissional e local onde o conflito sempre vai existir, a mediação escolar pode 
ser entendida como uma possibilidade para a educação em valores, a educação 
para a paz e para uma nova visão acerca dos conflitos. Munné e Mac-Cragh (2006) 
destacam princípios basilares que orientam a mediação:
• humildade em admitir a necessidade de ajuda externa;
• responsabilidade pelos atos e suas consequências;
• procura por satisfazer os próprios desejos, necessidades e valores; 
• necessidade de privacidade nos momentos difíceis; 
146
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
• reconhecimento de momentos de dificuldade e de conflitos como algo inerente 
ao ser humano; 
• capacidade para aprender nos momentos críticos; 
• compreensão de desejos, necessidades e valores do outro; 
• compreensão do sofrimento que produz o conflito; 
• importância de potencializar a criatividade com uma base realista; e 
• crença nas próprias possibilidades e nas da outra parte.
 
Ancorada nesses princípios, a mediação escolar possibilita a difusão de um 
novo jeito de compreender e transformar os conflitos e desenvolver fundamentos 
mais sólidos da cultura de paz. 
As características da mediação escolar, segundo Torrego (2000), são a 
voluntariedade, o processo educativo e a confidencialidade. 
O princípio da voluntariedade define que são as partes que decidem se 
querem ou não iniciar o procedimento, e que podem interrompê-lo a qualquer 
momento. 
O princípio do processo educativo assinala que a mediação escolar 
faz com que os envolvidos coloquem em ação competências sociais, atitudes 
comunicativas e desenvolvam a criatividade na busca por soluções. 
Já o princípio da confidencialidade apregoa que tanto o mediador escolar 
quanto as partes se comprometem a guardar sigilo sobre o conteúdo apresentado 
nas sessões.
A mediação escolar se coloca como um convite à aprendizagem e ao 
aperfeiçoamento da habilidade de cada um na negociação e na resolução de conflitos, 
baseada no modelo ‘ganha-ganha, onde todas as partes envolvidas na questão saem 
vitoriosas e são contempladas nas resoluções tomadas (BATTAGLIA, 2003).
FONTE: . Acesso em: 8 abr. 2020. 
ATENCAO
https://encontroacp.com.br/material/textos/mediacao-escolar-uma-metodologia-de-aprendizado-em-administracao-de-conflito/
https://encontroacp.com.br/material/textos/mediacao-escolar-uma-metodologia-de-aprendizado-em-administracao-de-conflito/
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR
147
Como já foi trabalhado, as pessoas não nascem solidárias e tolerantes 
umas com as outras, elas precisam desenvolver conhecimentos e habilidades 
para agir desse modo. A mediação escolar, por suas características que envolvem 
a escuta ativa e a construção de diálogo pacificador, baseado no respeito ao outro, 
possibilita que os atores sociais que compõem o quadro dos ambientes escolares, 
principalmente crianças e adolescentes que estão em fase de formação, sejam 
educados em valoresbaseados na solidariedade e possam, no futuro, disseminá-
los. 
Pensar em mediação escolar é entender a necessidade de educar para a 
paz, o que vai muito além de trabalhar na busca de formas adequadas de solução 
do conflito, visto que contempla a prevenção de futuras divergências.
A mediação configura perspectivas alargadas de intervenção para a melhoria 
pessoal e social dos sujeitos, nos seus contextos socioeducativos, promovendo novas 
formas de sociabilidade e de (re)construção de laços interpessoais. Ela não ocorre 
simplesmente para responder a conflitos existentes na escola, mas assume-se como 
um processo de promoção da convivência cidadã, segundo diversas lógicas: resolutiva, 
reparadora, educativa, preventiva e inclusiva.
FONTE: Costa, Torrego e Martins (2018)
ATENCAO
A proposta privilegia a formação para a participação social dos estudantes, 
comprometidos com sua realidade familiar, social, política, econômica e social. 
 
A advogada e doutora em Direito Lília Sales (2010, p. 90) apresenta 
objetivos da mediação escolar, quando ela acontece com os atores da escola. São 
eles: 
• desenvolver uma comunidade na qual os alunos desejem e sejam capazes de 
praticar uma comunicação aberta;
• ajudar no desenvolvimento de uma melhor compreensão da natureza dos 
sentimentos, capacidades e possibilidades humanas;
• contribuir para que os alunos compartilhem seus sentimentos e sejam 
conscientes de suas qualidades e dificuldades;
• possibilitar aos alunos o fortalecimento da autoconfiança;
• desenvolver no aluno a capacidade de pensar criativamente sobre problemas e 
de começar a prevenir e solucionar conflitos. 
 
148
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
Já Munné e Mac-Cragh (2006), ao apresentarem os objetivos da mediação 
escolar, discutem a sua repercussão em um viés temporal. Segundo eles, a 
curto prazo, o ensino do civismo aos alunos e a promoção de competências 
de pensamento crítico e, a longo prazo, o fomento da responsabilidade para a 
disciplina, ajudam a melhorar a comunicação e produzir ambientes de disciplina 
escolar positivos e seguros. 
A prerrogativa quanto aos resultados é alcançar uma comunidade 
estudantil na qual os envolvidos possam desejar e serem capazes de utilizar uma 
comunicação aberta, que possam reconhecer e compartilhar seus sentimentos, 
e possam também reconhecer suas qualidades e dificuldades, além de pensar 
criativamente sobre seus problemas de forma a poder prevenir e solucionar 
conflitos.
A mediação está assentada em três vertentes:
• técnica de intervenção na gestão e resolução de conflitos; 
• metodologia integrada de prevenção: primária, secundária e terciária; 
• estratégia de prevenção.
FONTE: Costa, Torrego e Martins (2018)
IMPORTANTE
3.1 TÉCNICA DE INTERVENÇÃO NA GESTÃO E RESOLUÇÃO 
DOS CONFLITOS 
Essa vertente apresenta a mediação escolar como meio adequado 
para facilitar processos de resolução de conflitos no quotidiano escolar. Tem 
como pressuposto superar medidas de caráter repressor e punitivo que são 
frequentemente utilizadas nas escolas. 
 
Nessa perspectiva, o processo de mediação assume como objetivo atender 
aos conflitos de maneira a reduzir a sua frequência, prevenir comportamentos 
inadequados e diminuir o número de processos disciplinares. 
 
O papel do mediador, profissional que tem habilitação teórico-prática, é 
facilitar que os envolvidos em conflitos possam refletir, interiorizar e compreender 
tanto suas ações, quanto as consequências em nível pessoal e social. A construção 
de um acordo materializa a solução do conflito. 
 
Segundo Costa, Torrego e Martins (2000), é importante considerar dados 
da literatura que apresentam algumas críticas a essa vertente, por considerar 
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR
149
que os objetivos da mediação escolar são bem mais amplos que a resolução de 
problemas pontuais, e que este tipo de mudança não se mantém, especialmente, 
se advir de um processo rápido e centrado no conflito aparente. Entretanto os 
mesmos autores referem que a literatura apresenta aspectos positivos da vertente:
• o fato de a escola aceitar a existência do conflito e ver nele possibilidade de 
mudança e crescimento é um fator a ser considerado, visto transcender o 
modelo de gestão impositivo e punitivo;
• o fato dela desenvolver uma responsabilidade proativa, sustentada numa 
reflexão-ação quer visa à resolução do conflito, a reparação do dano e a 
reconciliação entre as partes envolvidas; 
• estabelece ações tanto formais, quanto informais;
• possibilita mudanças de atitudes entre os envolvidos, rompendo com a postura 
ganha-perde; 
• o fato de os acordos firmados terem maior chance de serem cumpridos. 
3.2 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL E 
SOCIAL
Para além da transmissão de conhecimentos, como já foi referido, é papel 
da escola formar o aluno em uma dimensão integral, o que significa promover 
a formação de indivíduos com consciência crítica, proativos e compromissados 
com o seu próprio desenvolvimento. 
 
Essa vertente preconiza que a mediação no ambiente escolar constitui 
ferramenta para o desenvolvimento de competências sociais e relacionais.
 
Ao formar alunos mediadores, Crawford e Bodine (1996) indicam 
cinco habilidades a serem desenvolvidas. São elas: habilidades de tomada de 
perspectiva; habilidades de comunicação; habilidades emocionais; habilidades 
de pensamento criativo; e habilidades de pensamento crítico. Essas habilidades, 
quando integradas às competências relacionais, contribuem para o enfrentamento 
de situações divergentes e concebidas como incompatíveis. 
 
Para essa vertente, o objetivo principal da mediação escolar é incluir nos 
alunos mediadores uma gama de habilidades para que isso possa fazer parte de 
seus repertórios pessoais. Essas habilidades poderão ser úteis tanto para auxiliar 
outras pessoas, quando envolvidas em conflito, como para auxiliar a si próprios. 
3.3 ESTRATÉGIA INTEGRADA DE PREVENÇÃO 
Como sugere o título, essa vertente está relacionada à ideia de prevenção, 
o que não significa repressão, evitamento do conflito ou sua possível erradicação. 
Trata-se de buscar a compreensão do fenômeno de forma contextualizada, uma 
150
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
forma de investigação e identificação dos elementos interpessoais, intragrupais e 
organizacionais que esteja na base da dinâmica do conflito, assim como desafiar a 
criação de condições em termos interpessoais, intragrupais e organizacionais que 
fomentem contextos geradores positivos e proativos, com forte efeito preventivo. 
 
A autora Elisabete Costa (2018) apresenta três níveis de prevenção: 
primário, secundário e terciário. No primeiro nível, prevenção primária, o 
desafio é a criação de condições para antecipar o melhor, acomodar o surgimento 
do conflito. No segundo nível, prevenção secundária, o desafio é viabilizar 
intervenção precoce, tomando medidas para conter situações de conflito, 
bem como sua progressão. Significa atuar o mais rápido possível nos desvios 
identificados. Já na prevenção terciária, a atuação se dá quando os fenômenos 
já estão acontecendo. 
PREVENÇÃO 
PRIMÁRIA
PREVENÇÃO 
SECUNDÁRIA
PREVENÇÃO 
TERCIÁRIA
Atividades de 
sensibilização sobre o 
conflito e a mediação.
Planos de aula sobre o 
conflito e a mediação.
Programas educativos 
sobre a
gestão e mediação de 
conflitos.
Mudanças estruturais e
organizacionais ao 
nível da
gestão de conflitos 
(projeto
educativo, projeto 
curricular
da escola e 
regulamento
interno).
Programas de formação
específica em mediação 
e para
ser mediador de 
conflitos, para
alunos, professores, 
assistentes
operacionais e 
encarregados de
educação.
Participação dos alunos,
professores, assistentes
operacionais e 
encarregados de
educação na equipe de 
mediação
(como mediadores 
formais ou
preferencialmente como
mediadores informais).
Gabinete de mediação de
conflitos: participação de
professores e dos técnicos 
com
formação específicae/ou
especializada em mediação 
de conflitos.
QUADRO 2 – PREVENÇÃO PRIMÁRIA – SECUNDÁRIA – TERCIÁRIA
FONTE: Costa, Torrego e Martins (2018, p. 113)
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR
151
4 A ESTRUTURA DE UM PROJETO DE MEDIAÇÃO ESCOLAR 
A elaboração deste item foi baseada na Cartilha de Mediadores, um material 
muito interessante, que está disponível em: https://www.slideshare.net/tatyathaydes/
cartilha-de-mediadores. Acesso em: 16 out. 2019.
DICAS
Pensar na proposta de aplicação da mediação em uma escola exige, 
inicialmente, que possa ser identificado o real interesse de um ou mais segmentos 
da comunidade escolar em executar a proposta. A direção da escola precisa estar 
engajada, bem como professores, alunos, pais e funcionários. A ideia da aplicação 
da proposta pode surgir de qualquer interessado, entretanto a direção precisa 
estar ciente e desejar que isso aconteça.
A partir do reconhecimento do interesse, a próxima etapa é a constituição 
da equipe de apoio, responsável pela coordenação do projeto. Essa equipe deve ser 
composta por representantes dos diferentes segmentos/setores da escola. Quanto 
mais representação, maior probabilidade de alcance e sucesso da proposta. Essas 
pessoas ingressam de forma voluntária e precisam ter interesse no tema. Não há 
indicação de número mínimo e máximo de participantes, apenas que a equipe 
seja renovada anualmente. São atribuições da equipe de apoio:
1. Acompanhamento dos primeiros passos.
2. Capacitação dos jovens e definição dos seus limites de ação.
3. Monitoramento e apoio dos trabalhos, quando necessário.
É importante salientar que a equipe de apoio não realiza mediações, 
para que, assim, possam ser garantidos os princípios basilares da mediação, 
imparcialidade, voluntariedade e confidencialidade.
Após a constituição da equipe, seguem as atividades, na sequência 
apresentada nos subtópicos a seguir.
 
 
4.1 DIAGNÓSTICO – LEVANTAMENTO DE DADOS
Levantar dados é a primeira etapa do processo de implantação da 
mediação escolar, momento no qual se reconhecem os conflitos mais comuns da 
escola, quando se identificam suas características e diferenciais. A etapa funciona 
como um reconhecimento de campo, quando é realizada a sondagem do local 
em que se pretende desenvolver o trabalho. São informações a serem levantadas: 
152
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
• tamanho da escola: número de alunos, professores, funcionários, turnos de 
aula etc.;
• perfil da escola: região em que a escola está inserida, idade dos alunos, formação 
dos professores e dos pais dos alunos etc.;
• principais conflitos da escola – quais são, como ocorrem, principais envolvidos 
etc.
Para uma melhor compreensão sobre os conflitos, a equipe de apoio pode 
entender que seja necessária a elaboração de um questionário, que pode ser 
aplicado de forma aleatória. Segundo os organizadores da cartilha, uma mostra 
de 5% a 10% é suficiente.
4.2 PLANO DE AÇÃO
A proposta dessa etapa é a elaboração de um cronograma para a 
execução do projeto, a definição de etapas, metas a serem alcançadas e temas 
a serem abordados. No seguimento é necessário definir as atividades a serem 
desenvolvidas, o responsável pela atividade e respectivas necessidades, bem 
como selecionar e elaborar material a ser disponibilizado nas apostilas: leituras 
de apoio, dinâmicas, oficinas, palestras etc.
Para a apresentação e problematização, podem ser convidadas pessoas 
que não fazem parte da escola, mas que possuem conhecimentos aprofundados 
sobre os temas.
4.3 SENSIBILIZAÇÃO
 
Como já foi assinalado, a mediação escolar não tem como único objetivo 
capacitar alunos para mediar conflitos. Um dos grandes objetivos é viabilizar a 
introdução, no ambiente escolar, de esforços para a construção de uma cultura de 
paz, através da resolução adequada de conflitos.
 
Dessa forma, a etapa da sensibilização precisa envolver todos os integrantes 
da escola: dirigentes, pessoal de apoio teórico e administrativo, professores, pais 
de alunos, bem como pessoas da comunidade onde a escola está inserida.
 
Podem ser utilizadas diferentes estratégias para a sensibilização: 
palestras, uso de cartazes, oficinas, cartas dirigidas às famílias etc. O importante 
é que a informação possa chegar a todos, mobilizando para adesão na proposta 
de mediação na escola. A sensibilização deve garantir que todos se sintam 
convidados a participar.
 
Os eventos devem abordar assuntos relacionados a temas como: direitos 
humanos, violência (especialmente a violência nas escolas), conflitos e formas de 
lidar com eles, como a própria mediação de conflitos.
 
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR
153
4.4 FORMAÇÃO: CAPACITAÇÃO TEÓRICA E PRÁTICA
A etapa da capacitação pressupõe que alunos tenham se sensibilizado e 
se inscrito para aplicar a mediação. É importante salientar que todos os alunos 
podem participar, mas é indicado contar especialmente com aqueles que 
demonstram facilidade em se comunicar, observar, escutar, que tenham perfil de 
liderança, paciência e que sejam neutros. 
 
Definidos os participantes, é o momento da capacitação, entendida como 
preparação teórico-prática dos alunos para aplicar a mediação. Ela deve priorizar 
a oferta de exercícios que proporcionem vivências relacionadas a temas específicos 
da mediação de conflitos: escuta ativa, aprender a se colocar no lugar do outro, ter 
cuidado com as palavras e aprender a trabalhar em duplas.
 
A sugestão dos organizadores da cartilha é ofertar o curso com uma carga 
horária de vinte horas, divididas em dez encontros de duas horas cada. Sugerem 
também que as aulas sejam conduzidas por uma dupla de monitores, e que a 
turma não tenha número maior que vinte alunos.
 
Quanto aos monitores, a proposta é que possam ser pessoas com 
conhecimentos em mediação, para que possam repassar sua experiência aos 
alunos. 
 
Mesmo que a capacitação seja especialmente para os alunos, demais 
interessados devem poder ter acesso a material bibliográfico ou outras fontes de 
pesquisa. A ideia é capacitar o maior número possível de pessoas no tema. 
 
4.5 INSTITUCIONALIZAÇÃO
Logo após concluída a etapa da capacitação, e certificado que os alunos 
desenvolveram habilidades e competências para o enfrentamento de situações 
reais, a institucionalização da prática de mediação deve acontecer. A divulgação 
do início das práticas de mediação pode acontecer através de cartazes ou flyers, 
ou mesmo pelos próprios alunos capacitados. Eles podem passar nas salas de 
aula para apresentar e divulgar a proposta.
154
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
Grandes motivos para realizar o programa de mediação:
• a capacitação em resolver conflitos valoriza o tempo; 
• a capacitação em resolver conflitos ensina várias estratégias úteis; 
• a capacitação em resolver conflitos ensina aos alunos consideração e respeito para com 
os demais; 
• a capacitação em resolver conflitos reduz o estresse; 
• possibilidade de aplicar as novas técnicas em casa, com familiares e amigos;
• a capacitação em resolver conflitos pode contribuir para a prevenção do uso do álcool 
e de drogas; 
• possibilidade de sentir a satisfação de estar contribuindo com a paz do mundo (CHRIS-
PINO, 2007). 
IMPORTANTE
Os conflitos fazem parte do cotidiano de qualquer espaço, mas podem ser 
tratados de forma positiva. Assim sendo, ações criativas baseadas nos princípios 
da mediação são bem-vindas, considerando que disseminar a cultura da paz é a 
meta maior. 
Para finalizar, é importante enfatizar que a mediação escolar constitui 
prática alternativa, atual e inovadora de resolução de conflitos nesse contexto. 
Para isso, é fundamental que os atores da comunidade escolar possam estar 
convictos de seus papéis nos programas de mediação, para que através desses 
programas possam suscitar nova cultura nas escolas, a cultura da paz. 
A mediação escolar pode possibilitar uma educação em valores, educação 
para a paz e para nova visão acerca dosconflitos.
NOTA
TÓPICO 2 — MEDIAÇÃO ESCOLAR
155
Para aprofundar seus conhecimentos sugerimos alguns filmes. Não são filmes 
específicos da mediação escolar, entretanto podem auxiliar na compreensão da perspectiva 
e objetivos a serem atingidos por este tipo de mediação.
DICAS
Pro Dia Nascer Feliz (João Jardim, 2005) – As situações que o adolescente brasileiro enfrenta 
no precário sistema de educação público do país, envolvendo preconceito, precariedade, 
violência e esperança. Adolescentes de locais dos mais variados tipos de três estados diferentes, 
de classes sociais distintas, falam de suas vidas na escola, seus projetos e inquietações.
As Melhores Coisas do Mundo (Laís Bodanzky, 2010) – O filme se passa num colégio de classe 
média em São Paulo, e narra o período de um mês da vida de "Mano", um jovem que vive os 
altos e baixos da adolescência, como conflitos familiares e "a primeira vez", sofrendo crises da 
adolescência aos 15 anos.
FIGURA – FILME PRO DIA NASCER FELIZ
FIGURA – FILME AS MELHORES COISAS DO MUNDO
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Paulo_(estado)
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-193379/
156
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
A Onda (Dennis Gansel, 2009) – Rainer é um professor a quem foi designada a tarefa de instruir 
seus estudantes de Ensino Médio sobre o Estado Autocrático durante uma sessão às lições 
longas. Um professor favorito entre as crianças, Rainer decide deixar seus alunos desenvolverem 
o assunto e pede a eles que construam sua própria autocracia. No entanto, quando as crianças 
formam um Estado-nação similar com o da Alemanha nazista, os professores não sabem o 
que fazer.
FIGURA – FILME A ONDA
FONTE: . Acesso em: 9 abr. 2020.
http://google.com/search?tbm=isch&q=Die+Welle
157
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Mediação escolar é uma nova abordagem que vem se inserindo nos contextos 
das instituições de ensino, visto serem ambientes que acolhem relações sociais 
diversas e, portanto, propícias à eclosão de conflitos.
• O cenário de violência nas escolas tenciona discussões sobre a necessidade de 
uma educação pautada em valores, que dê atenção às necessidades, interesses, 
projetos de vida e relações sociais estabelecidos pelos estudantes.
• São objetivos da mediação escolar:
ᵒ desenvolver uma comunidade na qual os alunos desejem e sejam capazes de 
praticar uma comunicação aberta;
ᵒ ajudar no desenvolvimento de uma melhor compreensão da natureza dos 
sentimentos, capacidades e possibilidades humanas;
ᵒ contribuir para que os alunos compartilhem seus sentimentos e sejam 
conscientes de suas qualidades e dificuldades;
ᵒ possibilitar aos alunos o fortalecimento da autoconfiança;
ᵒ desenvolver no aluno a capacidade de pensar criativamente sobre problemas 
e de começar a prevenir e solucionar conflitos. 
• As características da mediação escolar são a voluntariedade, o processo 
educativo e a confidencialidade. 
• A mediação escolar está assentada em vertentes: a) técnica de intervenção 
na gestão e resolução de conflitos; b) metodologia integrada de prevenção: 
primária, secundária e terciária; c) estratégia de prevenção. 
• Procedimentos para implementação da mediação escolar:
ᵒ reconhecimento do interesse por parte da direção da escola;
ᵒ constituição da equipe de apoio;
ᵒ diagnóstico/levantamento de dados;
ᵒ plano de ação;
ᵒ sensibilização;
ᵒ formação: capacitação teórica e prática.
ᵒ institucionalização.
158
1 A mediação escolar é uma forma consensual de resolução de controvérsias, 
em que as partes envolvidas têm a oportunidade de solucionar seus 
conflitos, com a participação de um mediador. Com base na definição de 
mediação escolar, analise as sentenças a seguir:
I- A mediação escolar tem como um dos objetivos a prevenção de conflitos. A 
mediação estimula um comportamento de comunicação pacífica. Quando 
os indivíduos conhecem o processo de mediação e percebem que essa 
forma de resolução é adequada e satisfatória, passam a utilizá-lo com mais 
frequência.
II- A mediação escolar exige das partes envolvidas a discussão aberta sobre os 
problemas, comportamentos, direitos e deveres de cada um.
III- A mediação reforça a cultura do conflito, na medida em que abre espaço 
para que as pessoas falem o que pensam, expondo abertamente todos os 
seus sentimentos negativos.
IV- São princípios da mediação escolar: (1) liberdade das partes; (2) não 
competitividade; (3) poder de decisão das partes; (4) participação do terceiro 
imparcial (mediador); (5) competência do mediador; (6) informalidade dos 
processos; e (7) confidencialidade do processo.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
b) ( ) Apenas as afirmativas III e IV estão corretas.
c) ( ) Apenas as afirmativas I e IV estão incorretas.
d) ( ) Apensas a afirmativa I está correta.
e) ( ) Todas as afirmativas estão corretas.
AUTOATIVIDADE
159
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
O tema participação social vem sendo uma discussão presente nos 
mais diferentes contextos sociais, considerando que dela advém possibilidades 
de avanços na construção de práticas democráticas e políticas de direitos. A 
mediação comunitária se apresenta como uma das possibilidades de viabilizar 
o envolvimento de cidadãos, tanto na compreensão das dificuldades que levam 
as pessoas a vivenciarem conflitos, quanto na possibilidade de atuarem como 
agentes que buscam alternativas de resolução desses conflitos. 
A compreensão da forma como a mediação comunitária se instaura 
no contexto brasileiro demonstra a necessidade de vontade política em abrir 
caminhos para outras formas de resolução de conflitos que instiguem e incluam 
a comunidade, por serem seus moradores quem realmente conhece formas de 
resolução, mas que precisam acreditar nesse protagonismo.
 Outra necessidade é o entendimento da mediação comunitária enquanto 
método autocompositivo, como deve ser implementada e quais os atores sociais 
necessários para atender às suas prerrogativas. 
 
2 RELAÇÕES DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NA 
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
TÓPICO 3 — 
MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
FIGURA 2 – DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAIS
FONTE: . Acesso em: 20 set. 2019.
160
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
A imagem anterior chama a atenção para duas formas de se pensar 
a dinâmica das relações sociais. É meta de a mediação comunitária facilitar 
a transposição da primeira organização para a segunda, de forma a viabilizar 
fortalecimento de relações comunitárias e sociais. 
Em diferentes partes do mundo globalizado e, prioritariamente, 
em países com desigualdade social crescente, como é o caso do Brasil, são 
identificados conflitos de toda ordem, oriundos das transformações políticas, 
sociais, econômicas e culturais. O crescimento populacional urbano, desemprego 
estrutural, déficit na oferta de políticas públicas da saúde, educação, moradia, 
acesso à justiça, redes de apoio e sustento ineficazes são alguns dos fatores 
geradores de exclusão social. Nesse cenário, toda desavença, por mais simples 
que possa parecer, dificulta práticas comunicacionais e promove a incidência da 
violência. Intolerância e desrespeito ao outro também são gerados pela ausência 
de comunicação. 
A necessidade de convivência e trocas sociais faz parte do cotidiano dos 
cidadãos, nenhum projeto societário inclusivo poderá acontecer se perseguido 
de forma individualizada e isolada. A participação e cidadania são conceitos 
interligados e referem-se à apropriação pelos indivíduos do direito de construção 
democrática do seu próprio destino. Participação é a forma pela qual processos 
democráticos poderão ser construídos.
Dessa forma, em um contexto social regido pela lei do mercado,com 
cidadãos tencionados a engajarem-se prioritariamente em lógicas individualistas 
e competitivas, com preocupações exclusivas com seu próprio bem-estar, e que 
aplicam na acumulação seus maiores esforços, práticas que façam resistência 
a essa lógica dominante são ao mesmo tempo desafiadoras e instigantes. A 
mediação comunitária é uma dessas práticas, por constituir-se como alternativa 
para a resolução dos conflitos em contextos comunitários. 
2.1 PERSPECTIVA CONCEITUAL
A mediação comunitária tem natureza democrática, tendo em vista que 
procura prevenir e resolver conflitos de maneira pacífica e inclusiva, sempre por 
meio do diálogo.
Para Sales (2007), a mediação comunitária é uma política pública que 
exerce função humana e pacífica para construir cidadania e fortalecer valores 
morais. Segundo ela, a mediação busca, prioritariamente, o empoderamento 
dos envolvidos, por efetivar a dignidade da pessoa humana e o acesso à justiça. 
Assim, enquanto método consensual de resolução de conflitos, proporciona uma 
restauração à cultura de paz na comunidade. 
TÓPICO 3 — MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
161
A contribuição da mediação, enquanto meio democrático, participativo e 
inclusivo na resolução de conflitos, para a cidadania e para a dignidade humana, 
implica em relacionar as características de sua prática (inclusão social, valorização 
do ser humano, empatia) e os seus efeitos (conscientização dos direitos e deveres, 
prevenção à má administração dos conflitos, pacificação social) (CARVALHO, 
2010, p. 2).
Todo o processo é regido na perspectiva de investimento em sentimentos 
de colaboração, de mútua ajuda e de confiança entre as pessoas. A proposta 
é que os envolvidos possam se sentir valorizados e autorizados a resolver 
autonomamente seus desafios. 
 
3 BREVE HISTÓRICO DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA 
Pensar na mediação em uma perspectiva histórica é reconhecer que ela faz 
parte de quase todas as culturas. Em se tratando de comunidades religiosas, por 
exemplo, era comum os líderes religiosos serem procurados para o desempenho 
do papel de mediadores, tanto em situações de conflito religioso quanto questões 
civis. 
O confucionismo desempenhou um importante papel na evolução e no 
desenvolvimento da mediação no âmbito comunitário. De acordo com essa filosofia, 
a harmonia entre os homens só pode ser conseguida quando as pessoas suportam 
mutuamente a natureza individual de cada um. Confúcio ensinava que preservar essa 
harmonia é dever de todos, e só quando a comunidade reconhece ser incapaz de 
realizar essa tarefa é que se deve recorrer ao direito positivo e à regulação. A alternativa 
à solução judicial é o compromisso obtido na mediação, no qual pessoas virtuosas da 
própria comunidade estimulam as partes para que elas mesmas restabeleçam a harmonia 
comunitária e, com isso, alcancem também a harmonia individual (PERKOVICH, 1996).
NOTA
As correntes migratórias do século XIX também desempenharam 
uma importante participação no histórico da mediação comunitária, visto que 
os conflitos internos eram resolvidos através de câmaras de mediação. Foi o 
desenvolvimento das elites, com a consequente necessidade de proteção dos 
interesses individuais, que acabou por favorecer a supremacia da lei e aculturação 
dos imigrantes, devido à sua desagregação. 
No Brasil, a história da mediação comunitária, no modelo apresentado 
neste texto, ainda é recente. Entretanto emergem, tanto por parte de tribunais 
quanto por parte de organizações comunitárias, iniciativas para a sua implantação. 
162
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
Um grande marco para a instauração da mediação comunitária no Brasil 
foi a experiência institucional concebida no ventre do Tribunal de Justiça do 
Distrito Federal e dos Territórios. Para os que conceberam a ideia, os fundamentos 
da mediação comunitária indicam que ela não pode se limitar a uma técnica de 
resolução de conflitos, o desenho precisa estar atrelado a três eixos de sustentação: 
a educação para os direitos, a mediação como rito de solução de conflitos e a 
animação de redes sociais. A primeira atividade visa à democratização do acesso à 
informação sobre os direitos dos cidadãos. Busca romper com práticas colonialistas 
que oferecem uma linguagem de difícil compreensão para o sujeito que acessa a 
justiça e com práticas que não têm por base a socialização de informações sobre 
direitos que podem ser acessados. O segundo eixo é a mediação para a resolução 
dos conflitos, momento em que as pessoas envolvidas no conflito são convidadas 
a refletir sobre a complexidade de fatores que envolvem o problema e pensar nas 
possíveis formas de solução que contemplem os interesses e necessidades das 
partes envolvidas. O terceiro eixo de atividades envolve atores da comunidade 
na mobilização popular e criação de redes solidárias para o mapeamento e o 
reconhecimento tanto das dificuldades quanto dos recursos que a comunidade 
pode oferecer.
4 CARACTERÍSTICAS DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA 
 
A mediação comunitária é realizada nos bairros da periferia, local onde 
o conflito se instaura e, também, local onde se apresenta a possibilidade de 
resolução desse conflito. Quando a mediação acontece na própria comunidade, 
são considerados os valores, crenças, atitudes e comportamentos das pessoas 
que residem em tal lugar, e podem ser potencializados os recursos para o 
fortalecimento de uma cultura democrática e de paz social.
Em seu aspecto mais formal e técnico sobre a mediação comunitária, Lília 
Maia de Morais Sales (2007, p. 134) afirma que:
A mediação, por sua própria definição, é designada a criar laços entre 
os indivíduos, resolvendo e prevenindo conflitos. Ela é realizada por 
um terceiro independente que visa a levar à comunidade o sentimento 
de inclusão social através da possibilidade de solução de seus conflitos 
por eles mesmos. Cria vínculos, laços e fortalece o sentimento de 
cidadania e de participação da vida social.
Especificamente quanto à mediação comunitária, existem algumas 
características que a diferenciam das demais práticas de mediação: momento de 
inserção no conflito, flexibilidade processual da mediação comunitária, inserção 
do mediador na comunidade, estímulo à autonomia e ao empoderamento da 
comunidade e execução dos acordos obtidos.
TÓPICO 3 — MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
163
A apresentação das características da mediação comunitária a seguir foi 
baseada no site, e acessá-lo será a oportunidade do aprofundamento do estudo: http://
www.arcos.org.br/livros/estudos-de-arbitragem-mediacao-e-negociacao-vol2/terceira-
parte-artigo-dos-pesquisadores/o-perfil-da-mediacao-comunitaria-acesso-a-justica-e-
empoderamento-da-comunidade.
ATENCAO
Momento de inserção no conflito
Quando mais cedo ocorre a intervenção no conflito, tanto melhor para a 
sua resolução. A mediação comunitária oferece a possibilidade de ser utilizada em 
um estágio inicial. Assim o mediador tem mais facilidade para estabelecer uma 
comunicação eficiente e produtiva, antes que os envolvidos no conflito acessem 
outros meios, não suficientemente engajados em propostas pacificadoras. 
Flexibilidade processual da mediação comunitária 
A forma como é conduzida a mediação depende do espaço, do tempo, dos 
envolvidos e do próprio mediador. Tradicionalmente, inicia com a declaração de 
abertura por parte do mediador, momento em que são estabelecidas as regras 
a serem respeitadas durante o procedimento. No seguimento, cada uma das 
partes apresenta sua versão relacionada à disputa. Nesse momento, o mediador 
identifica as questões, os interesses e os sentimentos de cada parte e, a partir de 
então, começa a aplicar técnicas específicas visando à resolução do conflito. As 
sessões privadas são aplicadas com frequência. Elas devem ser utilizadas sempre 
que se entender necessário, tanto para ouvir questões cujos mediadores não 
desejam que a outra parte saiba quanto para geração de opções que visem um 
eventual acordo.
Inserção do mediador na comunidadeComo já foi referido, os mediadores são, preferencialmente, membros da 
própria comunidade, sendo que eles realizam capacitação específica para realizar 
a mediação de conflitos e voluntariamente decidem dedicar parte de seu tempo 
ao bem-estar de toda a comunidade. 
Autonomia e empoderamento da comunidade
A mediação comunitária tem como objetivo maior o empoderamento das 
pessoas envolvidas em disputas e autonomia da própria comunidade. A ideia é 
fortalecer laços de pertencimento e de compromissos comunitários. 
164
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
Execução dos acordos obtidos na mediação
 
As pessoas envolvidas em mediação comunitária se sentirão mais 
satisfeitas se houver boa execução dos acordos.
5 FUNÇÕES DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
A mediação comunitária tem como função utilizar métodos adequados de 
solução de conflitos sociais pelos membros da própria comunidade. 
Dessa forma, a mediação contribui para prevenir conflitos e possibilitar 
que as pessoas, de forma consciente, participem da compreensão e solução dos 
conflitos, construindo um sentimento de inclusão social. 
• Desenvolver autonomia e determinação da comunidade.
• Promover inclusão pela responsabilidade e condução cooperativa.
• Reconhecer e legitimar a identidade da comunidade, a partir de seus próprios critérios 
de realidade.
• Participar ativamente, na base da cooperação e da responsabilidade, para a superação de 
seus problemas.
FONTE: . Acesso em: 17 nov. 2019.
IMPORTANTE
No entendimento de Jean Six (2001, p. 171), 
a primeira mediação a fazer é a de devolver confiança às cidades e 
aos subúrbios, estudando-se a fundo sua realidade e potencialidades, 
[...] criar uma democracia urbana, pesquisar novas maneiras de os 
cidadãos tornarem-se cidadãos de fato, de responsabilizarem-se por 
sua cidade, por seu subúrbio, de criarem novos projetos para si.
Nesse âmbito, a mediação favorece uma maior responsabilidade e 
participação da comunidade na solução dos seus conflitos, o que pode contribuir 
para a preservação e fortalecimento das relações, com satisfação dos interesses 
dos envolvidos, bem como economia de custos de tempo e dinheiro na solução 
do conflito. 
TÓPICO 3 — MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
165
A mediação comunitária pode funcionar como mediadora de políticas 
públicas, dado o fato de que os grupos com menor ou quase nenhuma representatividade 
social e política conseguem, por meio da criação de espaços dialogais, demandar seus 
interesses e suas necessidades coletivas. Aspecto esse que toca, de certa forma, na questão 
da alteridade, já que é pensada como forma de reconhecimento e respeito pelo outro, 
uma vez que gera espaços que oportunizam a reaproximação de pessoas e de grupos, (re)
estabelecendo uma comunicação transformadora, capaz de dar à vida comunitária um 
sentido sustentável.
FONTE: . Acesso 
em: 15 set. 2019.
IMPORTANTE
Nessa perspectiva, a mediação comunitária tem como pressuposto tornar 
os cidadãos conscientes do seu poder para resolverem conflitos através do diálogo 
produtivo, buscando a construção de relações cooperativas entre os membros 
da comunidade. Essa proposta pode abrir caminhos para a transformação 
sociocultural por investir na participação ativa dos membros da comunidade na 
vida social.
Sales (2003, p. 135), a respeito dos objetivos da mediação comunitária, 
relata que:
a mediação comunitária possui como objetivo desenvolver entre a 
população valores, conhecimentos, crenças, atitudes e comportamentos 
conducentes ao fortalecimento de uma cultura político-democrática e 
uma cultura de paz. Busca ainda enfatizar a relação entre os valores e 
as práticas democráticas e a convivência pacífica e contribuir para um 
melhor entendimento de respeito e tolerância e para um tratamento 
adequado daqueles problemas que, no âmbito da comunidade, 
perturbam a paz.
É importante enfatizar que a mediação comunitária não se atém à busca 
exclusiva do acordo, pois incentiva a reconstrução de relações sociais que, de 
alguma forma, ficaram fragilizadas devido à ocorrência do conflito, bem como 
o reconhecimento das diferenças e das possibilidades de conviver com essas 
diferenças. 
https://siaiap32.univali.br/seer/index.php/nej/article/view/10632/5969
166
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
Preste muita atenção nos objetivos da mediação comunitária:
• desenvolver autonomia e determinação da comunidade;
• promover inclusão pela responsabilidade e condução cooperativa;
• reconhecer e legitimar a identidade da comunidade, a partir de seus próprios critérios de 
realidade;
• participar ativamente, na base da cooperação e da responsabilidade, para a superação de 
seus problemas.
FONTE: . Acesso em: 20 set. 2019.
ATENCAO
Um dos grandes benefícios da mediação comunitária é a prevenção da 
violência, visto que os membros da comunidade aprendem a se envolver na 
resolução dos conflitos e não esperar que um terceiro que, na grande maioria das 
vezes, desconhece a realidade vivenciada pelos mediandos. A mediação supera 
o ganha-perde, não existem perdedores, pois a mediação termina quando os 
envolvidos se sentem satisfeitos com a resolução encontrada para o conflito. 
É possível entender que a mediação comunitária oferece uma possibilidade 
para o fomento à cidadania e participação, por incentivar a participação ativa na 
busca de soluções para os conflitos relacionais entre os membros de uma família, 
da vizinhança, relações comerciais, com o meio-ambiente e tantas outras. Os 
cidadãos que, por diferentes motivos, vivenciam situações de exclusão social, 
passam a se sentir responsáveis pelas escolhas e decisões de suas próprias vidas 
e exercitam a inclusão social. 
 
A prática da mediação estabelece a participação ativa das pessoas 
nas soluções dos conflitos, passa-se a não somente se discutir sobre 
questões individuais, mas questões de natureza coletiva também. 
As experiências brasileiras em mediação, especialmente aquelas 
realizadas nas periferias dos municípios, têm revelado mudanças 
de comportamento das pessoas: tornam-se mais participativas 
nas decisões individuais e coletivas (luta e conquista de cursos de 
alfabetização para adultos, cursos jurídicos, cursos sobre planejamento 
familiar, discussões sobre ressocialização da pena ao se receber para 
auxiliar nos trabalhos administrativos dos centros de mediação 
pessoas condenadas à prestação de serviços) (SALES, 2007, p. 38-39).
A mediação tem uma função educativa, visto que capacita as pessoas a 
utilizarem processos comunicacionais pacíficos, estimulando a constituição de 
parcerias e redes colaborativas em torno de objetivos comuns. Isso aponta para 
práticas democráticas. 
TÓPICO 3 — MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
167
6 FASES DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
 
A mediação comunitária está inserida em um ciclo virtuoso que ostenta os 
seguintes componentes:
• conhecimento – da comunidade e da rede social (por meio do mapeamento 
social e da Educação para os Direitos); 
• criação de novas conexões – na comunidade, entre si e com as instituições (por 
meio da Animação de Redes Sociais); 
• transformação das relações – individuais, sociais e institucionais, por meio 
do desenvolvimento de novas habilidades e técnicas de comunicação (pela 
mediação de conflitos);
• promoção de coesão social – autonomia e emancipação social (resultado do 
processo de construção da mediação comunitária).
7 O PAPEL DO MEDIADOR COMUNITÁRIO
• A comunidade deve fazer o seu diagnóstico.
• A escuta ativa do mediador comunitário é essencial para a comunidade se expressar e 
aprender a se escutar.
•Ajuda a comunidade a construir sua identidade e definir suas necessidades.
• Opera com o reconhecimento e respeito, bases da cooperação e da responsabilidade.
FONTE: . Acesso em: 17 nov. 2019. 
NOTA
A pessoa do mediador comunitário representa a figura de um terceiro 
neutro, imparcial e que não tem papel decisório, só facilita que pessoas consigam 
tratar do conflito, no qual estão envolvidos, de forma que as satisfaça. Morador 
do local, deve ser escolhido pela comunidade ou se voluntaria para prestar o 
serviço. Precisa, para tanto, ter reconhecimento comunitário, como sendo pessoa 
com valores éticos e que age com postura justa e honesta. Cabe a ele articular 
oportunidades para que os moradores da comunidade apreendam a identificar, 
compreender e desejar dar um tratamento adequado aos conflitos.
168
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
O que se pedia aos mediadores cidadãos? Deve ser, por sua presença, 
sua colhida, sua escuta, alguém que permitirá avançar no tratamento 
do problema - no qual não vê a decisão tomar – que existe com outro, 
na sua família, na empresa, no bairro. [...]18. O mediador deve zelar 
pela privacidade do que é tratado dentro do espaço, deve ser neutro 
e imparcial, não podendo sentenciar, nem indicar uma “saída”, deve 
acima de tudo, deixar que as partes conflitantes resolvam seu conflito 
(SPENGLER, 2010, p. 232-324).
Quanto às habilidades a serem desenvolvidas, é importante que possa 
estabelecer um rapport com as partes, o que significa que possa realmente 
“escutar” os envolvidos, relacionar-se de forma horizontal e comunicar de 
forma a ser entendido. Além das habilidades descritas, o mediador comunitário 
precisa de capacitação teórica e prática, e atua com supervisão de mediadores 
com maior experiência. O conteúdo da capacitação deve versar sobre conflitos 
e suas manifestações, procedimentos sobre os passos da mediação e precisa 
desenvolver capacitação técnica para a apreensão das técnicas, como ferramentas 
para a função. 
Para Spengler (2010), existem diferenças entre os mediadores institucionais 
e os mediadores cidadãos. Para ela, além de possuírem origens diferentes, têm 
maneiras de agir diferentes. Os institucionais são especialistas, com formação 
para atender a um problema específico, pelo qual terão que responder. Já os 
mediadores cidadãos têm como prerrogativa investir no fortalecimento da 
cidadania e democracia, facilitar o acesso à justiça, esclarecendo aos cidadãos 
seus direitos e deveres. Esses mediadores se envolvem na construção da solução, 
através do desenvolvimento da cultura do diálogo e da participação, para 
conjuntamente promoverem a inclusão social.
TÓPICO 3 — MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
169
Acadêmico, para aprofundar seus conhecimentos sugerimos a leitura dos 
seguintes livros:
DICAS
SPINGLER, Fabiana M. Fundamentos Políticos da Mediação Comunitária. Ijuí, Editora Unijui, 
2012.
CAMPOS, Regina Helena de F. Psicologia Social Comunitária: Da altoridade à autonomia. 
Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.
FIGURA – FUNDAMENTOS POLÍTICOS DA MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
FIGURA – PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA
FONTE: . Acesso em: 20 jan. 2020.
FONTE: . Acesso em: 20 jan. 2020.
170
UNIDADE 3 — PROCESSOS DE MEDIAÇÃO: FAMILIAR, ESCOLAR E COMUNITÁRIA
LEITURA COMPLEMENTAR
Por que falar de mediação de conflitos em tempos de Covid-19? 
Maíra Lopes de Castro Professora,
 Mediadora e Advogada
 Sócia da Mediação LFG São Luís/MA
 Mestre em Direito pela UFMA
Desde de que fora noticiado a primeira vez, no final do ano passado (2019), 
na cidade de Wuhan, na China, o corona vírus, ou, conforme nomenclatura oficial 
da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Covid-19, vem fazendo vítimas, que 
apresentam diversos sintomas, desde de febre e dificuldades respiratórias, até 
síndromes respiratórias agudas e insuficiência renal. 
 Vivencia-se, portanto, uma pandemia que tem atingido diversos países, 
em intensidades diversas. O Brasil não ficou imune, e até a data de hoje (20 de 
março de 2020) foram contabilizados pelas secretarias estaduais de Saúde 649 
casos confirmados de novo coronavírus (Sars-Cov-2) no país e sete mortes. 
Não precisamos fazer um grande esforço para ver os impactos sociais e 
econômicos decorrentes da crise sanitária motivada pelo Covid-19. Mas, para fins 
ilustrativos, vamos citar os casos de quebras e revisões contratuais, paralisação de 
atividades em razão da adoção do regime preventivo de quarentena, superlotação de 
hospitais e clínicas públicas e particulares, dentre vários outros espectros da pandemia.
 Tem sido um grande desafio para micro e pequeno empreendedores 
gerenciar a quantidade de reclamações, e pedidos de cancelamentos dos serviços 
contratados. Além da observância do período de quarentena, que tem levado 
muitos estabelecimentos a optar pelo não funcionamento das suas unidades 
físicas. Aqui está um efeito nefasto da pandemia que poderá gerar a falência de 
muitas empresas: a falta de ferramentas adequadas para a gestão desses conflitos. 
Não custa rememorar que esse conflito que nasce embrionariamente aqui, 
provavelmente vai ser gestado no Poder Judiciário, somando-se aos 78,7 milhões 
de processos que lá já estão em tramitação . 
Ademais, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça, “mesmo que 
não houvesse ingresso de novas demandas e fosse mantida a produtividade dos 
magistrados e dos servidores, seriam necessários aproximadamente 2 anos e 6 
meses de trabalho para zerar o estoque” , o que per si já demonstra a dificuldade 
que o Poder Judiciário terá em ofertar respostas céleres as demandas decorrentes 
da pandemia do Covid-19. 
É por isso que precisamos pensar em formas menos traumáticas de gerir 
esses conflitos. 
TÓPICO 3 — MEDIAÇÃO COMUNITÁRIA
171
Luis Alberto Warat já enunciava em suas obras que a sensibilidade é um 
dos grandes temas do Direito na virada do milênio, nesse sentido, é necessário 
ultrapassar a noção cínica do paradigma jurídico moderno, que se apoia em um 
“individualismo possessivo e ignorante do outro”. 
A mediação propõe ao Direito portanto, “uma concepção do mesmo que 
seja eticamente comprometida com outro e com a vida”. Nos parece então que 
não há momento mais oportuno para vivenciar essa transformação do que o 
momento de crise humanitária no qual nos encontramos.
 Façamos então da crise uma oportunidade.
 Afinal, esse poder de ressignificar os conflitos é algo inerente a mediação.
A mediação “consiste no meio consensual de abordagem de controvérsias 
em que um terceiro imparcial atua para facilitar a comunicação entre os envolvidos 
e propiciar que eles possam, a partir da percepção ampliada dos meandros da 
situação controvertida, protagonizar saídas produtivas”. 
 Alcance-se, portanto, por meio da mediação, o aspecto humano do 
conflito. Sabe-se que grande parte das conflitivas decorrentes do Covid-19, tem 
por motivação um fator que foge da previsibilidade das partes, e que, por isso, 
gera impasse no momento de atribuição de responsabilidades.
 Em situações de crise, o Direito não pode ser lido sem o compromisso com 
o outro. É necessário escuta ativa, identificação de interesses, exercício da empatia, 
e sobretudo criatividade na geração de opções, benefícios esses encontrados na 
mediação enquanto ferramenta de gestão de conflitos.
Para micro e pequenos empreendedores, o investimento nesses métodos 
autocompositivos apresenta-se como uma opção de fácil acesso, baixo custo, e sobretudo 
célere e adequada. Adotar posturas colaborativas, que visem a resolutividade das 
demandas, é também reflexo do respeito a responsabilidade social da empresa.
Nesse sentir, visando diminuir os impactos já assombrosos da pandemia 
do Covid-19, propõe-se a utilização da mediação, bem como dos demais meios 
adequados de resolução dosconflitos, para abordagem desses resíduos conflitivos.
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CNJ, 2019. 
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WARAT, L. A. O ofício do mediador. Florianópolis: Habitus, 2001.
172
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A mediação comunitária tem natureza democrática, considerando que procura 
resolver e prevenir os conflitos de maneira pacífica e inclusiva, por meio do 
diálogo.
• Os pressupostos da mediação comunitária são: o respeito ao outro, a construção 
de parcerias, participação ativa e responsabilidade dos mediandos pela solução 
do conflito.
• A mediação comunitária acontece prioritariamente com pessoas e em espaços 
periféricos da sociedade.
• São características específicas da mediação comunitária: 
ᵒ os mediadores são integrantes da própria comunidade, podem já ocupar 
posição de liderança, atuam de forma voluntária;
ᵒ acontece a partir de vinculação ou parcerias com universidades, organizações 
não governamentais, órgão públicos governamentais;
ᵒ capacitação prévia dos mediadores realizada pelas instituições com as quais 
os núcleos de mediação estão vinculados;
ᵒ local da realização com estrutura simples, se utiliza das dependências de 
associações de moradores, escolas e igrejas, normalmente locais cedidos; 
ᵒ os mediadores desempenham atividades agregadoras, com ênfase no coletivo.
• São fases da mediação comunitária: conhecimento da realidade da comunidade, 
criação de novas conexões, transformação das relações e promoção da coesão 
social.
• A mediação comunitária, além de buscar que os envolvidos em litígio possam 
chegar a um acordo, tem a intenção de desenvolver autonomia e determinação 
da comunidade; promover inclusão; reconhecer e legitimar a identidade da 
comunidade.
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CHAMADA
173
1 Avalie as asserções a seguir:
I- A mediação comunitária identifica o indivíduo enquanto protagonista na 
gestão de seus conflitos, 
POR QUE
II- O indivíduo tem a capacidade para solucionar seus problemas, sejam esses 
conflitos de origem pessoal e/ ou comunitária.
Assinale a alternativa CORRETA.
a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa 
da I. 
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma 
justificativa da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. 
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. 
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas. 
2 Há alguns requisitos para as pessoas que deverão compor a equipe de 
mediação de conflitos comunitários. Com relação a esses requisitos, analise 
as sentenças a seguir:
I- Ser integrante da própria comunidade, ser escolhido por ela ou se voluntariar.
II- Ter reconhecimento comunitário.
III- Passar em concurso próprio para a função.
IV- Ter curso de formação profissional para a função.
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
b) ( ) As sentenças I, II, III e IV estão corretas.
c) ( ) As sentenças I, II e V estão corretas.
d) ( ) Todas as sentenças estão corretas.
3 Considerando os elementos que compõem o espaço adequado para a 
mediação comunitária, assinale a afirmação CORRETA:
a) ( ) Devem contar com infraestrutura para sediar as mediações: cadeiras 
apropriadas, mesa redonda, computadores, sala de recepção com água e, se 
possível, café. Não deve ser um equipamento próprio.
b) ( ) O espaço adequado para a mediação comunitária pode ser criado 
aproveitando a estrutura de uma instituição pública, de organizações da 
sociedade civil ou outro espaço existente na própria comunidade.
AUTOATIVIDADE
174
175
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do art. 6º da Lei nº 9.469, de 10 de julho de 1997. Disponível em: http://www.
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2006,	p.	37).
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
6
	Os	direitos	civis	foram	consolidados	no	século	XVIII,	e	estão	diretamente	
relacionados	 às	 liberdades	 individuais,	 tais	 como	 liberdade	 de	 expressão,	 de	
pensamento,	de	imprensa	e	de	fé,	direito	de	ir	e	vir,	de	associação	e	reunião,	à	
propriedade	privada	e	ao	 trabalho.	Em	outras	palavras,	o	direito	à	 justiça.	No	
seguimento,	foram	consolidados	os	direitos	políticos	que	garantem	a	participação	
social	no	poder	político	comunitário.	Esse	grupo	de	direitos	permite	ao	cidadão	
votar	e	 ser	votado,	direito	à	associação	e	organização.	Esses	direitos	passaram	
a	cobrir	uma	quantidade	crescente	de	membros	da	comunidade	cívica.	Quanto	
à	consolidação	dos	direitos	sociais,	estes	se	dão	pelo	reconhecimento	de	que	as	
desigualdades	sociais	são	gestadas	no	capitalismo.	A	concretização	dos	direitos	
sociais	 é	 responsabilidade	 do	 Estado,	 eles	 são	 fundamentados	 pelo	 ideal	 de	
igualdade	e	expressam	o	direito	à	educação,	à	saúde,	ao	trabalho,	à	assistência	e	
à	previdência.	
No	intuito	de	aprofundamento	teórico	sobre	o	tema	“direitos	sociais”,	é	
necessário	 considerar	 que	 são	 fundamentais	 para	 viabilizar	 vida	digna	para	 a	
população.	São	eles	que	“[...]	permitem	aos	cidadãos	uma	participação	mínima	
na	riqueza	material	e	espiritual	criada	pela	coletividade”	(BOBBIO,	2004,	p.	19).	
Nos	 períodos	 de	 maior	 autoritarismo	 vivenciados	 no	 Brasil,	 foram	 os	
movimentos	 sociais	 que	 se	 apresentaram	 resistentes,	 com	 destaque	 para	 o	
período	da	Ditadura	Civil-Militar,	de	1964	a	1985.	Nesse	período,	a	participação	e	
ampliação	da	democracia	foram	interrompidas.	Os	anos	de	1980	foram	marcados	
pela	 ampliação	 das	mobilizações	 sociais.	A	 promulgação	 da	 Constituição,	 em	
1988,	representou	uma	conquista	para	o	fortalecimento	dos	direitos	sociais	e	da	
democracia.
Dessa	forma,	qualquer	alusão	à	participação	social	pressupõe	compreender	
ampliação	 de	 relações	 de	 solidariedade	 e	 atenção	 às	 necessidades	 dos	 outros.	
Entretanto,	não	se	pode	esperar	mudanças	societárias	apenas	com	a	participação	
no	 plano	micro,	mas	 é	 a	 partir	 dele	 que	 se	 instauram	 processos	 de	mudança	
(GOHN,	2005).	Pequenas	ações	de	resistência	podem	impactar	nas	determinações	
estruturais	que	têm	impacto	direto	na	vida	cotidiana.	
2.2 ONDE A PARTICIPAÇÃO PRECISA SER FOMENTADA 
A	 palavra	 participação	 é	 recorrente	 nas	 falas	 de	 diferentes	 grupos	 e	
parece	ser	a	palavra	de	ordem	dos	dias	atuais.		Entretanto,	quando	se	olha	para	
o	cotidiano,	é	possível	perceber	que	a	participação	não	depende	unicamente	do	
desejo	e	disposição	pessoal,	 ela	pode	estar	 relacionada	à	estrutura	conjuntural	
que	determina	quem	e	como	participa.	
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
7
Mafalda foi uma tira escrita e desenhada pelo cartunista argentino Quino. 
As histórias, que apresentam uma menina (Mafalda) preocupada com a humanidade e a 
paz mundial, e que se rebela com o estado atual do mundo, apareceram de 1964 a 1973, 
usufruindo de uma altíssima popularidade na América Latina e Europa.
DICAS
FIGURA – MAFALDA
FONTE: . Acesso em: 6 jan. 2019.
Nas	atividades	humanas	e	sociais,	segundo	Guareschi	in	Silveira	(2008),	
participar	pode	 significar	 atitudes	diferentes	para	diferentes	pessoas.	Também	
é	 possível	 identificar	 tipos	 prioritários	 de	 participação:	 	 participação	 no	
planejamento,	participação	na	execução	e	participação	nos	resultados.	
Quanto	 à	participação	na	 execução,	Guareschi	 in	 Silveira	 (2008)	 afirma	
que	 o	 povo	 brasileiro	 executa	 muito,	 trabalha	 muito.	 Diferentemente	 do	 que	
é	divulgado	 e	parece	 fazer	parte	das	 representações	 sociais,	 pode	 ser	possível	
indicar,	 com	 alguma	 certeza,	 que	 é	 um	 dos	 povos	 que	 fica	 envolvido	 com	
trabalho	por	mais	horas,	 se	comparado	a	outros	países.	Quanto	à	participação	
nos	resultados,	ela	é	extremamente	desigual	no	Brasil.	O	brasileiro	é	o	povo	com	
pior	distribuição	de	renda	do	mundo	e,	dessa	forma,	participa	muito	pouco	dos	
resultados.	Resta	discutir	a	participação	no	planejamento,	sendo	ela	que	decide	
quem	faz	e	quem	fica	com	os	resultados.	Quanto	à	participação	nos	resultados,	na	
realidade	brasileira,	a	maioria	das	pessoas	é	excluída.	Mesmo	que	através	do	voto	
sejam	eleitos	os	representantes	do	povo	e,	através	da	democracia	participativa,	os	
eleitos	passem	a	decidir	pelo	povo,	essas	são	práticas	muito	precarizadas	e	não	se	
pode	concluir	que	haja	participação	no	planejamento.
Qualquer	alteração	na	perspectiva	de	participação	nos	resultados	não	se	
dá	sem	embates	efetivos	no	campo	da	gestão,	que	é	o	espaço	onde	se	decidem	
prioridades	políticas.	 É	necessária,	 e	mesmo	 imprescindível,	 a	participação	da	
sociedade	civil	nessa	disputa.	
https://pt.wikipedia.org/wiki/Argentina
https://pt.wikipedia.org/wiki/Quino
https://pt.wikipedia.org/wiki/Humanidade
https://pt.wikipedia.org/wiki/1964
https://pt.wikipedia.org/wiki/1973
https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_Latina
https://pt.wikipedia.org/wiki/Europa
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
8
A	importância	da	participação	da	sociedade	civil	se	faz	nesse	contexto	
não	apenas	para	ocupar	espaços	antes	dominados	por	representantes	
de	 interesses	econômicos	encravados	no	Estado	e	 seus	aparelhos.	A	
importância	se	faz	para	democratizar	a	gestão	da	coisa	pública,	para	
inverter	as	prioridades	das	administrações	no	sentido	de	políticas	que	
atendam	não	apenas	às	questões	emergenciais,	a	partir	do	espólio	de	
recursos	miseráveis	destinados	às	áreas	sociais	(GOHN,	2005,	p.	78). 
É	 necessário,	 no	 entanto,	 ressaltar	 que	 a	 participação	 não	 tem	 um	 fim	
nela	própria,	isto	é,	a	participação	não	se	esgota	em	si.	Assim,	o	ato	de	participar	
adquire	sentido	quando	está	vinculado	à	construção	de	um	projeto	de	sociedade.	
Atente para a importância da Participação Social e o que pode decorrer dela 
nos espaços comunitários:
• As decisões do governo ficam mais próximas dos desejos e necessidades da população. 
• O controle da população sobre as ações do governo aumenta, colaborando com a 
fiscalização sobre o uso dos recursos públicos e as decisões das políticas do Estado. 
• Abre-se espaço para negros, mulheres, população de rua e outros grupos vulneráveis 
que historicamente estiveram afastados dos processos decisórios.
• Evita-se que somente aqueles que possuem canais privilegiados de acesso incidam 
sobre os tomadores de decisão.
FONTE: Adaptado de . Acesso em: 3 dez. 2019.
 
ATENCAO
2.3 ESPAÇOS DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL
A	participação	 social	 faz	parte	do	 cotidiano	dos	 cidadãos	que,	de	uma	
maneira	ou	de	outra,	sentem	a	necessidade	de	unir	forças	na	busca	de	objetivos	
que	dificilmente	seriam	alcançados	caso	fossem	perseguidos	de	maneira	isolada.	
No	Brasil,	ela	pode	se	apresentar	a	partir	de	importantes	vertentes:	a	participação	
institucionalizada	e	a	não	institucionalizada	(AVRITZER,	2016).	A	primeira	diz	
respeito	à	atuação	de	entidades	e	órgãos,	 como	categorias	 sindicais,	 conselhos	
(saúde,	educação,	assistência	social,	entre	outros),	conferências	e		 	 	assembleias	
nos	 orçamentos	 participativos.Espanha, 
n. 2001, p. 12-14, 1992. 
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181
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contraditório. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012. 
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humana: um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação. São 
Paulo: Cultrix, 2002. 
ZATTI, V. Autonomia e Educação em Immanuel Kant e Paulo Freire. Porto 
Alegre: EDIPUCRS, 2007.A	 segunda	 compreende	 a	 participação	 não	
institucionalizada	 e	 se	 manifesta	 através	 de	 movimentos	 sociais,	 sem	 a	
categorização	como	entidade	ou	órgão.
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
9
No Orçamento Participativo, ano a ano a comunidade é chamada a discutir suas 
prioridades e eleger os que irão decidir sobre a execução das obras. Há um envolvimento 
do maior número de pessoas possível. Numa cidade como Porto Alegre, onde essa prática 
já possui uma dezena de anos, dentre os 700 mil votantes, 200 mil chegam a participar 
diretamente nas decisões do orçamento. Ano a ano ele discutem e rediscutem sua vida, 
suas práticas e tomam decisões (SILVEIRA et al., 2020).
NOTA
A	participação	social	pode	ser	 reconhecida	nas	diferentes	 instâncias	de	
poder:	Legislativo,	 Judiciário	e	Executivo.	 	No	Legislativo,	os	cidadãos	podem	
participar	 por	 meio	 do	 voto.	 Votar	 significa	 eleger	 representantes	 e	 confiar	
que	eles	atuarão	na	perspectiva	de	luta	pelos	direitos.	No	poder	Judiciário,	ela	
pode	ocorrer	na	convocação	para	participação	em	júri	popular,	participando	no	
julgamento	de	crimes	dolosos	contra	a	vida.	Já	a	participação	popular	no	poder	
Executivo	 pode	 ocorrer	 através	 dos	 conselhos	 e	 comitês	 gestores	 de	 políticas	
públicas,	sendo	que	grande	parte	das	políticas	e	programas	implementados	pelo	
Governo	 têm	 como	 exigência	 o	 controle	 social,	 tanto	 para	 garantir	 sua	 gestão	
quanto	o	acesso	das	pessoas	para	as	quais	os	programas	existem.	
2.4 MARCOS NORMATIVOS REFERENTES À 
PARTICIPAÇÃO SOCIAL
Buscar	respaldo	no	aparato	legal	pode	ajudar	a	compreender	o	esforço	
empreendido	 para	 que	 a	 população	 tenha	 possibilidades	 reais	 de	 participar.	
Jardim	 (2017,	 p.	 98)	 apresenta	 uma	 retrospectiva	 histórica	 da	 Política	 de	
Assistência	Social	quanto	ao	fomento	à	participação.	Ele	destaca	que	“no	Artigo	
5º	 da	NOB/	 SUAS	 (2012)	 constam	 como	 diretrizes	 estruturantes	 da	 gestão	 o	
fortalecimento	da	relação	democrática	entre	Estado	e	sociedade	civil,	o	controle	
social	e	participação	popular”.
Já	 no	 Art.	 3º	 do	 documento	 é	 mencionado	 que	 “as	 organizações	 de	
usuários	são	sujeitos	coletivos,	que	expressam	diversas	 formas	de	organização	
e	de	participação	caracterizadas	pelo	protagonismo	do	usuário”.	Nesse	mesmo	
documento,	 segundo	discussão	de	 Jardim	 (2017,	p.	 100),	há	a	 apresentação	da	
normativa	que	estabelece:
Instâncias	 de	 mobilização	 e	 organização	 dos	 usuários	 para	 a	 sua	
participação	na	política,	que	também,	consecutivamente,	qualificarão	
a	 sua	participação	 institucionalizada	nas	 instâncias	deliberativas	do	
controle	 social,	 como	 os	 conselhos	 e	 as	 conferências	 de	 assistência	
social.
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
10
A	 autora	 apresenta	 registro	 das	 instâncias	 de	 organização	 previstas	
na	 Resolução.	 Segundo	 Jardim	 (2017),	 mesmo	 que	 sejam	 previsões	 ou	 algo	
idealizado,	não	significa	que	não	devam	ser	perseguidas	para	sua	efetivação.	O	
controle	 social	 só	 será	 efetivo	 se	 for	 precedido	de	movimentos	 anteriores	 que	
ainda	precisam	ser	fomentados.	
Organizações Caracterização
Coletivos	de	usuários Organizam	usuários	tendo	como	referência	os	serviços,	
programas,	 projetos,	 benefícios	 e	 transferência	 de	
renda	 no	 âmbito	 da	 Política	 Pública	 de	 Assistência	
Social,	 com	 o	 intuito	 de	 mobilizá-los	 a	 reivindicar	
ações	e/ou	intervenções	institucionais	e	pautar	o	direito	
socioassistencial.
Associações	de	
usuários	
São	 organizações	 legalmente	 constituídas,	 que	 têm	 os	
usuários	em	sua	direção	e	que	preveem,	em	seu	estatuto,	
os	 objetivos	 de	 defesa	 e	 de	 garantia	 dos	 direitos	 de	
indivíduos	e	coletivos	usuários	do	SUAS.
Fóruns	de	usuários Tratam-se	 de	 organizações	 de	 usuários	 que	 têm	 como	
principal	 função	 a	 sua	 mobilização,	 elencando	 e	
debatendo	 as	 demandas	 e	 necessidades	 dos	 usuários,	
bem	 como	 temas	 relevantes	 como	 a	 articulação	 de	
políticas	de	atendimento	que	atravessam	os	diversos	tipos	
de	vulnerabilidade	social,	a	 integração	entre	serviços	e	
benefícios,	a	qualidade	do	atendimento	e	a	qualidade	da	
infraestrutura	 disponível	 nos	 equipamentos	 do	 SUAS,	
dentre	outros.
Conselhos	locais	de	
Usuários
Instituídos	 nos	 equipamentos	 públicos	 da	 Política	
de	 Assistência	 Social	 com	 o	 intuito	 de	 mobilização	 e	
discussão	de	temas	relevantes	relacionados	ao	território	
de	 vivência	 e	 de	 interesse	 imediato	 das	 famílias	 e	
coletivos,	para	encaminhamento	ao	poder	público	local.
Rede Articulação	de	movimentos,	 associações,	 organizações,	
coletivos,	 dentre	 outras	 formas	 de	 organizações	 de	
usuários	 e	usuárias	para	 a	defesa	 e	 a	 garantia	de	 seus	
direitos.
Comissões	ou	
associações	
comunitárias	ou	de	
moradores
Organizadas	em	base	territorial,	têm	o	intuito	de	promover	
esclarecimento,	 informação	e	formação	da	comunidade	
no	âmbito	da	Assistência	Social,	desenvolvendo	projetos	
comunitários	relacionados	à	política	de	assistência	social.
QUADRO 1 – ORGANIZAÇÕES DE USUÁRIOS PREVISTAS PELA POLÍTICA PÚBLICA DE ASSIS-
TÊNCIA SOCIAL
FONTE: Jardim (2016, p. 98)
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
11
Mesmo	que	o	tema	desta	unidade	não	seja	a	Política	de	Assistência	Social	
(e,	no	caso	do	registro	das	 instâncias,	mais	propriamente	a	Proteção	Básica),	a	
apresentação	 quer	 demonstrar	 possibilidades	 de	 espaços	 de	 participação	 e	
protagonismo.
Para aprofundar essa temática, sugerimos que assistam ao documentário 
PALMAS, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yuXbEPQUbD8.
DICAS
3 CIDADANIA: ENTENDIMENTO CONCEITUAL 
Cidadania	 e	 participação	 social	 são	 conceitos	 que	 se	 inter-relacionam	
e	 dizem	 respeito	 à	 apropriação	 pelos	 indivíduos	 do	 direito	 de	 construção	
democrática	de	seus	destinos.	Dessa	colocação	advém	a	ideia	de	que	a	democracia	
é	 uma	 das	 principais	 ferramentas	 para	 o	 acesso	 à	 cidadania,	 visto	 que	 ela	
pressupõe	participação	intensa	dos	cidadãos	no	processo	de	sua	construção.	Para	
Magalhães	Filho	(2002,	p.	114):
Estado	Democrático	de	Direito	é	aquele	que	se	estrutura	através	de	
uma	democracia	representativa,	participativa	e	pluralista,	bem	como	
o	que	garante	a	realização	prática	dos	direitos	fundamentais,	inclusive	
dos	direitos	sociais,	através	de	 instrumentos	apropriados	conferidos	
aos	cidadãos,	sempre	tendo	em	vista	a	dignidade	humana.
Não iremos aprofundar a discussão sobre cidadania, visto que o Livro Didático 
Direitos humanos e cidadania apresenta um material muito rico em informações sobre o 
tema. Neste livro trabalhamos a relação entre cidadania e participação social.
FONTE: PEIRITZ, V. L. H.; BONETTI, J. C. S.; FRANZMANN, N. M. Direitos humanos e 
cidadania. Indaial: UNIASSELVI, 2016.
DICAS
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
12
O	termo	cidadania	pode	ser	problematizado	a	partir	de	uma	visita	aos	
antigos	 gregos.	Na	 busca	 da	 compreensão	 das	 práticas	 desse	 povo	 é	 possível	
identificar	o	que	pode	ser	chamado	de	verdadeira	cidadania.	As	discussões	sobre	
o	destino	das	suas	cidades	eram	realizadas	em	praça	pública.	Não	bastava	sentar-
se	na	praça	para	ser	considerado	cidadão,	era	necessário	que	se	falasse.	Alguém	
era	 considerado	 cidadão	 somente	 no	 momento	 em	 que	 desse	 sua	 opinião,	
expressasse	seus	desejos,	planejasse	a	construção	da	cidade.
Qualquer	discussão	 sobre	 cidadania	precisa	 contemplar	 a	discussão	de	
Marshall	(1967)	em	seu	famoso	livro	publicado	originalmente	em	1950,	Citizenship 
and Social Class,	para	quem	cidadania	é	um	status	adquirido	por	toda	e	qualquer	
pessoa	 que	 tem	 participação	 integral	 na	 comunidade	 ou	 na	 sociedade	 à	 qual	
pertence,	e	de	onde	advém	um	código	de	direitos	e	deveres	a	serem	seguidos	por	
todos.	A	cidadania,	nessa	perspectiva,	tem	relação	com	um	conjunto	de	direitos	
civis,	políticose	sociais	que	podem	ser	reivindicados	pela	população:	
•	 Cidadania	 civil,	 os	 direitos	 de	 liberdade	 da	 pessoa	 que	 tiveram	 um	
desenvolvimento	significativo	no	século	XVIII.
•	 Cidadania	política,	ou	os	direitos	de	participar	na	vida	política,	conquistados	
pelas	classes	trabalhadoras	no	curso	da	luta	pela	igualdade	política	no	século	
XIX.
•	 Cidadania	 social,	 que	 consiste	 no	 reconhecimento	 e	 ampliação,	 durante	 o	
século	XX,	de	uma	série	de	direitos	sociais	em	períodos	de	desemprego	e	de	
doença,	para	permitir	às	pessoas	participarem	do	bem-estar	econômico	e	social	
da	comunidade.
Cidadania,	nessa	perspectiva,	atende	ao	que	é	preconizado	por	Hannah	
Arendt	(2010),	quando	diz	que	o	ser	“cidadão”	implica	em	ser	membro	de	uma	
comunidade.	É	o	direito	a	 ter	direitos,	que	pressupõe	 igualdade,	 liberdade	e	a	
própria	existência	e	dignidade	humana.	Coutinho	(2008,	p.	50-51)	define	cidadania	
como: 
[...]	 capacidade	 conquistada	 por	 alguns	 indivíduos,	 ou	 (no	 caso	 de	
uma	democracia	efetiva)	por	todos	os	indivíduos,	de	se	apropriarem	
dos	bens	socialmente	criados,	de	atualizarem	todas	as	potencialidades	
de	 realização	 humana	 abertas	 pela	 vida	 social	 em	 cada	 contexto,	
historicamente	determinado.	
Essa	 conceituação	 introduz	 a	 ideia	 de	 construção,	 visto	 que,	 para	 o	
autor,	a	cidadania	não	é	algo	dado	aos	indivíduos	permanentemente,	não	é	algo	
que	vem	de	cima	para	baixo,	mas	é	uma	conquista,	 resultado	de	um	processo	
histórico	de	 longa	duração,	uma	 luta	firme	e	 constante,	 travada	quase	 sempre	
a	 partir	 de	 baixo,	 das	 classes	 subalternas.	 Dessa	 forma,	 é	 importante	 insistir	
que,	em	sua	plenitude,	a	cidadania	só	se	consolida	na	presença	da	participação	
social,	 entendida,	 como	 já	 foi	 apresentado,	 como	 ação	 coletiva,	 consciente	 e	
voluntária.	Convém	assinalar	que	a	falta	de	uma	cultura	de	participação,	aliada	
à	lógica	individualista	e	competitiva	instauradas,	muitas	vezes	é	obstáculo	a	uma	
participação	mais	efetiva	na	vida	comunitária.	
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
13
Esta	segunda	forma	de	pensar	a	cidadania	promove,	então,	um	modelo	
de	participação	ativa	dos	cidadãos	nas	instituições	e	nos	serviços	públicos.	Para	
Coutinho	(2008),	essa	forma	de	conceituar	cidadania	vai	além	da	reivindicação	
dos	 direitos	 já	 consagrados	 na	 constituição.	 Trata-se	 da	 cidadania	 ativa,	 uma	
importante	dimensão	da	política	social.	
A relação entre cidadania e democracia aparece na noção apresentada por 
Marilena Chauí (1984), para quem cidadania deve ser compreendida pelos princípios da 
democracia, o que significa conquista e consolidação social e política. Para ela a cidadania 
exige instituições, mediações e comportamentos próprios, constituindo-se na criação 
de espaços sociais de lutas (movimentos sociais, sindicais e populares) e na definição de 
instituições permanentes para a expressão política, como partidos, legislação e órgãos do 
poder público.
NOTA
Não	se	 trata	de	cidadania	passiva,	mas	sim	cidadania	ativa,	aquela	que	
designa	o	cidadão	como	alguém	que	tem	direitos	e	deveres,	mas	prioritariamente	
alguém	com	condições	de	criar	direitos	para	abrir	novos	espaços	de	participação	
política.		A	autora,	ao	defender	a	cidadania	ativa,	fala	da	importância	de	ampliação	
dos	direitos	políticos	para	que	o	cidadão	possa	ampliar	a	participação	no	processo	
das	decisões	de	interesse	público.	
Cidadania,	 nessa	 perspectiva,	 introduz	 a	 ideia	 de	 participação	 da	
população	 em	 uma	 comunidade	 política,	 gerando	 pertencimento	 social.	 Isso	
pressupõe	 a	 internalização	de	normas	partilhadas,	 cujas	diferenças	podem	 ser	
superadas	por	meio	de	discussões	públicas	e	respeito	às	leis,	fundamentadas	na	
ideia	de	bem	comum.	
3.1 CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL
Falar	 em	 construção	 diz	 respeito	 ao	 processo	 histórico,	 o	 que	 significa	
falar	da	dinamicidade	da	vida,	algo	que	não	está	finalizado,	que	existe	um	devir	a	
ser	considerado.	No	Brasil,	a	prática	da	cidadania	ainda	não	se	concretizou,	muito	
provavelmente	devido	aos	problemas	socioeconômicos	que	ainda	perduram	no	
contexto	do	país,	mesmo	considerando	o	advento	da	Constituição	de	1988,	que	
privilegia	os	direitos	fundamentais	e	a	dignidade	humana.	
 
A	conquista	do	direito	de	ser	cidadão	ainda	sofre	influências	dos	tempos	
da	colonização.	A	primeira	grande	conquista	de	cidadania,	mesmo	considerando	
todas	 as	 inverdades	 relacionadas	 a	 esse	 feito,	 foi	 a	 abolição	 da	 escravatura,	
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
14
que,	para	Carvalho	(2008),	foi	um	fato	mais	formal	que	real,	considerando	que	
aos	 libertos	 não	 foram	oportunizadas	 possibilidades	 de	 participação	 quanto	 a	
emprego,	 educação	 e	 terras.	 O	 autor	 enfatiza	 que	 um	 número	 considerável	
voltou	para	 as	 fazendas	 e	muitos	 outros	 se	 juntaram	 à	 já	 existente	 população	
desempregada.
Outro	pequeno	avanço	rumo	à	cidadania	no	Brasil	a	ser	considerado,	é	
o	movimento	operário,	 que	 se	 iniciou	 em	1917,	 perdendo	 força	por	 causa	das	
sucessivas	 repressões	 sofridas	 e	 das	 deportações	 de	 estrangeiros.	 Em	 1930,	
pode	 ser	 identificada	 nova	 força	 quando	 o	movimento	 operário	 luta	 para	 ter	
reconhecidos	 seus	 direitos	 sociais,	 através	 da	 busca	 pela	 criação	 de	 legislação	
específica	trabalhista,	como	regulamentação	de	horários,	descanso	e	férias.
As	carências	no	plano	da	cidadania	na	história	brasileira	são	muitas.	Saes	
(2001)	apresenta	uma	lista,	que	pode	ajudar	a	entender	essas	carências	em	termos	
de	cidadania	política:
•	 ausência	do	voto	feminino,	do	voto	secreto	e	de	uma	Justiça	Eleitoral	de	cunho	
burocrático	 e	 profissional,	 até	 o	 Código	 Eleitoral	 de	 1932	 e	 a	 Constituição	
Federal	de	1934;
•	 limitação	 prática	 do	 exercício	 do	 direito	 de	 voto	 durante	 toda	 a	 Primeira	
República,	 por	 obra	 da	 submissão	 da	 maioria	 do	 eleitorado	 a	 práticas	
coronelísticas;
•	 crescimento	constante,	desde	a	redemocratização	do	Regime	Político	em	1945,	
do	 clientelismo	 urbano,	 como	 instrumento	 de	 deformação	 das	 vontades	 no	
plano	eleitoral;
•	 supressão	total	(no	caso	do	Estado	Novo)	ou	quase	total	(no	caso	do	Regime	
Militar)	dos	direitos	políticos	etc.
Várias	 idas	 e	 vindas	 marcaram	 a	 construção	 da	 cidadania	 no	 Brasil.	
Atualmente,	 essa	 se	dá	de	maneira	heterogênea	porque,	quando	 se	garante	os	
direitos	 políticos,	 os	 diretos	 civis	 e	 sociais	 são	 ignorados	 ou	 fragmentados	 e,	
assim,	 intercalam-se	na	posição	que	ocupam,	deixando	sempre	uma	 lacuna	na	
garantia	plena	da	cidadania,	porque	a	democracia	se	faz	através	da	garantia	de	
todos	os	direitos	e	não	somente	de	um	em	detrimento	do	outro.
Com	o	surgimento	do	pensamento	dos	novos	liberais,	os	mais	otimistas	
pensariam	que	haveria	uma	mudança	mais	efetiva	na	visão	de	cidadania.	Então	
foi	a	vez	da	população	que,	não	compreendendo	o	sentido	real	da	democracia,	
reivindicou	uma	cidadania	coronelista,	que	dizia	mais	respeito	ao	direito	de	ser	
livre	pelo	poder	 econômico	 e	 ao	direito	de	 consumir	do	 que	 à	 consciência	de	
serem	igualmente	merecedores	desses	direitos	(CARVALHO,	2008).
Romper	 com	 esse	 pensamento	 individualista	 a	 respeito	 da	 cidadania	
e	 promover	 conhecimento	 emancipatório	 é	 sair	 do	 senso	 comum	 para	 uma	
apropriação	coletiva	na	garantia	da	 cidadania.	A	participação	deve	 ser	a	mola	
propulsora	da	democracia.	Isso	é	importante	quando	se	fala	na	noção	de	cidadania	
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
15
no	Brasil,	pois	pode	ser	reconhecida	uma	certa	ambiguidade,	tanto	na	vertente	
mais	progressista,	quanto	na	conservadora.	Posições	de	“direita”	e	“esquerda”	
estão,	assim,	na	pauta	da	discussão.
Para	 a	 esquerda,	 segundo	 Benevides	 (1994),	muitas	 vezes,	 cidadania	 é	
apenas	aparência	de	democracia,	pois	discrimina	cidadãos	de	primeira,	segunda,	
terceira	ou	nenhuma	classe,	acabando	por	reforçar	adesigualdade.	Para	a	direita,	
a	cidadania	torna-se	indesejável	e	até	ameaçadora,	pois	a	elite	depende	do	oposto	
do	controle	público	para	a	manutenção	dos	seus	privilégios.	A	elite	tem	a	tendência	
de	considerar	a	desigualdade	legítima	e	os	excluídos	uma	classe	de	perigosos.	Essa	
discussão	parte	do	pressuposto	que	no	Brasil	as	reformas	sociais	nunca	visaram	
à	cidadania	democrática.	Foram	realizadas	reformas	institucionais,	econômicas	e	
sociais.	Entretanto	não	foi	alterado	o	acesso	à	justiça,	segurança,	distribuição	de	
renda	e	tantas	outras	que	efetivamente	viabilizassem	inclusão	social,	deixando	de	
pensar	em	direitos	só	para	alguns	que	vivem	sob	determinadas	condições.	
É	importante	enfatizar	que,	na	teoria	constitucional	moderna,	cidadão	é	o	
indivíduo	que	tem	um	vínculo	jurídico	com	o	Estado.	Esse	cidadão	é	portador	de	
direitos	e	deveres	anteriormente	definidos	por	um	marco	legal,	que	lhe	confere	
um	senso	de	pertencimento	social,	através	da	nacionalidade.	
Os	cidadãos	brasileiros	são,	em	tese,	livres	e	iguais	perante	a	lei,	entretanto	
uma	pergunta	parece	 crucial:	 até	que	ponto,	 em	uma	 sociedade	marcada	pela	
desigualdade	e	desequilíbrios	é	possível	pensar	em	cidadania	e	fazê-la	funcionar	
de	forma	ativa?	Até	que	ponto	é	possível	vincular	participação	popular/cidadania	
e	consolidação	da	democracia?	
É	claro	que	essa	questão	não	tem	resposta	pronta	e	acabada.	Entretanto	é	
possível	entender	a	participação	popular	como	uma	forma	de	aprendizado	para	
a	 cidadania.	 Isso	 implica	 em	 superar	 a	 argumentação	 amplamente	 divulgada	
de	que	o	povo	brasileiro	 é	 apático	 e	despreparado	 e,	dessa	 forma,	 incapaz	de	
participar	de	decisões	que	lhe	dizem	respeito.
Torna-se,	 assim,	 impreterível	 reconhecer	 que	 a	 cidadania	 emancipa	 o	
sujeito	e	o	torna	autônomo	para	participar	de	mudanças	societárias,	para	promover	
a	democracia,	que	se	entende	por	um	sistema	político	exercido	majoritariamente	e	
não	imposto	pela	minoria	sobre	a	maioria.	Essa	forma	de	entender	a	participação	
popular	do	brasileiro	nos	convida	à	discussão	da	categoria	autonomia.	É	sobre	
isso	que	versa	o	próximo	item.
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
16
4 AUTONOMIA: COMPREENSÃO CONCEITUAL E 
CONTEXTUAL
Em	uma	perspectiva	etimológica,	o	termo	“autonomia”	é	formado	pelas	
palavras	gregas:	autós	–	que	significa	“por	si	mesmo”	–	e	nomos,	que	é	traduzida	
por	“lei”.		Assim,	autonomia	é	a	capacidade	de	autodeterminação	(BLACKBURN,	
1997).	Entretanto,	conforme	Zatti	(2007),	essa	capacidade	não	pode	ser	entendida	
como	absoluta,	tampouco	como	sinônimo	de	autossuficiência.
 
Autonomia	 diz	 respeito	 à	 capacidade	 de	 dar	 a	 si	 a	 própria	 lei	 ou	 a	
faculdade	 ou	 competência	 de	 realizar	 algo.	 O	 primeiro	 aspecto	 vincula-se	 à	
liberdade,	fantasia,	imaginação	e	decisão.	Já	o	segundo,	relaciona-se	ao	poder	ou	
à	capacidade	de	fazer	(ZATTI,	2007).	A	autonomia,	para	o	autor,	passa	a	ser	real	
quando	as	duas	categorias,	liberdade	e	poder,	estão	presentes.	
 
Agir	com	autonomia,	no	sentido	apresentado,	consiste	em	ter	capacidade	
de	eleger	opções	sobre	o	que	fazer	e	sobre	como	fazer.	Um	agente	é	autônomo	
quando	suas	ações	são	verdadeiramente	suas	(BLACKBURN,	1997).
Não	é	só	ser	livre	para	agir,	mas,	acima	de	tudo,	ser	capaz	de	eleger	objetivos	
e	crenças,	poder	valorá-los	e	sentir-se	responsável	pelas	escolhas.	Pereira	(2002)	
relaciona	autonomia	com	cidadania,	ao	referir	que	a	primeira	é	uma	necessidade	
básica	fundamental	para	o	exercício	da	cidadania.		Nessa	perspectiva,	autonomia	
é	entendida	como	“a	capacidade	do	indivíduo	de	eleger	objetivos	e	crenças,	de	
valorá-los	com	discernimento	e	de	pô-los	em	prática	sem	opressões”	(PEREIRA,	
2002	p.	70).
O	desenvolvimento	da	autonomia	vai	implicar	a	apropriação	que	o	sujeito	
tem	da	sua	própria	força	no	contexto	em	que	as	necessidades	e	as	possibilidades	
se	inscrevem,	articulando	as	três	variáveis	em	um	processo	de	negação	da	tutela	
e	da	subalternidade,	decidindo	sobre	seu	próprio	destino.
A	 perspectiva	 ampla,	 referida	 no	 início	 desta	 unidade,	 diz	 respeito	 às	
condições	socio-históricas	em	que	a	maior	parte	da	população	brasileira	vive.	Essa	
realidade	condiciona	o	sujeito	a	uma	situação	que	o	impossibilita	de	construir-se	
integralmente,	seja	em	aspectos	éticos,	políticos,	estéticos	ou	culturais.	Essas	são	
marcas	que	se	opõem	à	possibilidade	de	autonomia,	considerando	que,	segundo	
Zatti	(2007,	p.	9-10),	“a	autonomia	engloba	tanto	a	liberdade	de	dar	a	si	os	próprios	
princípios,	quanto	à	capacidade	de	realizar	os	próprios	projetos”.
A	concepção	de	autonomia	está	atrelada	à	concepção	de	cidadão	enquanto	
sujeito	que	dá	razão	e	sentido	a	sua	existência	e	que,	vivendo	em	sociedade,	é	
verdadeiramente	 parte	 dela,	 por	 produzir	 ação	 no	 contexto	 onde	 vive.	Guzzo	
(2002,	p.	109)	afirma	que	“autonomia	conduz	diretamente	à	cidadania.	Autônomo	
não	 é	 o	 indivíduo	 isolado:	 autônomo	 é	 o	 sujeito	 ativo,	 sujeito	 da	 práxis.	 Ao	
lutarmos	por	autonomia,	o	fazemos	porque	a	desejamos	para	todos”.
TÓPICO 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA E AUTONOMIA 
17
Dessa	 forma,	 autonomia	 é	 compreendida	 como	 a	 capacidade	 de	 um	
sujeito	para	realizar	escolhas,	questionamentos,	decisão	e	ações	na	vida	privada	e	
atuar	na	esfera	pública	condizente	com	valores	socioculturais	e	normas	coletivas.	
Essa	 noção	 de	 autonomia	 atende	 ao	 que	 é	 preconizado	 por	 Freire.	 Segundo	
o	 pensador	 brasileiro,	 a	 autonomia	 propicia	 ao	 ser	 humano	 a	 libertação	 do	
determinismo	neoliberal,	assumindo	que	a	história	é	um	tempo	de	possibilidades.	
Ainda,	conforme	a	prática	freireana,	“uma	tarefa	fundamental	no	ato	de	educar	
seria	fundamentalmente	a	autonomia	do	direito	pessoal	na	construção	de	uma	
sociedade	democrática	que	a	 todos	respeita	e	dignifica”	(MACHADO,	2009,	p.	
56).
4.1 CONSTITUIÇÃO DE UM SUJEITO AUTÔNOMO
A	 prerrogativa	 inicial	 para	 o	 desenvolvimento	 da	 autonomia	 é	 a	
possibilidade	do	sujeito	se	encontrar	livre	de	qualquer	jugo	imposto	por	outros	
indivíduos	ou	instituições.	Somente	dessa	forma	ele	pode	viver	livre	de	opressão.	
Para	Pereira	(2002),	que	identifica	a		autonomia	como	necessidade	básica	
fundamental	para	o	exercício	da	cidadania,	é	necessário	considerar	três	níveis	de	
autonomia	 individual,	que	 interferem	diretamente	na	possibilidade	ou	não	do	
exercício	da	cidadania:		a	saúde	mental	do	sujeito,	entendida	como	capacidade	de	
definir	prioridades	para	a	sua	vida;		a	possibilidade	de	se	reconhecer	no	processo	
de	construção	de	sua	 identidade	e	subjetividade;	a	capacidade	de	se	apropriar	
das	próprias	possibilidades	e	das	impossibilidades	de	participação	na	sociedade.	
Um	segundo	nível,	descrito	pela	autora,	diz	respeito	à	habilidade	cognitiva	do	
sujeito,	que	representa	o	grau	de	compreensão	que	ele	tem	de	si	mesmo	e	de	sua	
cultura,	sua	capacidade	de	definir	prioridades	para	si	e	as	suas	oportunidades	
objetivas	de	ação.	Por	último,	a	oportunidade	de	participação	que	possibilita	o	
acesso	aos	meios	objetivos	para	exercer	papéis	sociais	significativos	na	sua	vida	
social	e	cultural.	
Na	 ausência	 de	 qualquer	 uma	 dessas	 categorias,	 ocorrerão	 sérias	
restrições	 à	 autonomia	 pessoal,	 as	 quais	 podem	 ser	 causadas	 por	
diferentes	 fatores,	 que	 vão	 desde	 regras	 culturais	 (exclusão	 de	
minorias	de	certos	papéis),	circunstâncias	econômicas	(desempregos	
ou	pobreza),	até	sobrecargas	de	demandas	conflitivas	(dupla	jornada	
de	trabalho	da	mulher)	(DOYAL;	GOUCH,	1991	apud	PEREIRA,	2002,	
p.	72).
Portanto,	o	desenvolvimento	da	autonomia	vai	implicar,	em	um	primeiro	
momento,	a	apropriação	da	força	do	sujeito	no	contexto	em	que	as	necessidades	
e	as	possibilidades	se	inscrevem,	articulando	as	três	variáveis	em	um	processo	de	
negação	da	tutela	e	da	subalternidade,	decidindo	sobre	seu	próprio	destino.
UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
18
Na	busca	de	identificar	fatoresque	podem	interferir	na	autonomização	do	
sujeito,	Couto	(2006,	p.	40)	refere	que	há	dois	tipos	de	liberdade	que	interferem	
na	autonomia.	A	primeira	é	a	liberdade	positiva,	que	possui	o	sentido	ideal	de	
que	 as	práticas	humanas	 seriam	guiadas	pela	 razão	 em	prol	das	necessidades	
comunitárias,	objetivando	a	autorrealização	e	emancipação	do	homem	enquanto	
início,	meio	e	fim	de	seus	atos.	Outra	forma	é	a	concepção	negativa	da	liberdade,	
que	 diz	 respeito	 somente	 às	 escolhas	 individuais	 e	 pode	 ser	 entendida	 como	
independência,	o	que	faz	com	que	o	sujeito	ignore	as	necessidades	coletivas	em	
detrimento	das	suas	vontades.	O	que	está	em	 jogo	nessa	discussão	é	a	relação	
a	práticas	que	buscam	o	bem	comum	e	práticas	centradas	no	desenvolvimento	
individual.	Para	Faleiros	(2010),	a	autonomia	é	a	base	mais	sólida	na	promoção	da	
cidadania.	Visto	que	um	cidadão	sem	autonomia	é	um	cidadão	sem	identidade,	
que	não	se	conhece	e	reconhece	como	sujeito	de	direito	e,	por	isso,	não	exerce	seus	
papéis	sociais,	deixando	essa	outorga	à	mercê	do	Estado.
Para	compreender	o	porquê	da	despersonalização	na	identidade	autônoma,	
é	 necessário	 percorrer	 o	 caminho	 inverso	 na	 construção	 da	 cidadania.	Assim,	
podemos	definir	cidadania	como	um	processo	de	emancipação	do	homem,	que	
o	tornará	livre,	capaz	de	se	organizar	e	se	reorganizar,	e	de	exercer	plenamente	o	
seu	direito	democrático	de	cidadão.
A	práxis	cidadã	não	ocorre	sem	que	sejam	expostas	diferenças	individuais	
ou	 coletivas,	 de	diferentes	 ordens,	 sejam	elas	 culturais,	 políticas	 ou	 religiosas.	
Como	 consequência,	 surgem	 conflitos	 que,	mesmo	 fazendo	 parte	 da	 natureza	
humana,	posto	que	cada	indivíduo	possui	características	únicas	e	pensamentos	
diversos,	 tendem	 a	 tensionar	 relacionamentos.	 A	 grande	 questão	 que	 será	
discutida	na	Unidade	2	é	como	entender	e	 lidar	com	esses	conflitos	através	de	
caminhos	que	privilegiem	a	construção	de	processos	democráticos	conscientes.
19
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	participação	social	faz	parte	do	cotidiano	dos	cidadãos	que,	de	uma	maneira	
ou	de	outra,	 sentem	a	necessidade	de	unir	 forças	na	busca	de	objetivos	que	
dificilmente	seriam	alcançados	caso	fossem	perseguidos	de	maneira	isolada.
•	 No	Brasil	a	participação	pode	se	apresentar	a	partir	de	importantes	vertentes:	
a	 participação	 institucionalizada	 e	 a	 não	 institucionalizada.	A	 primeira	 diz	
respeito	à	atuação	de	entidades	e	órgãos,	como	categorias	sindicais,	conselhos	
(saúde,	educação,	assistência	social,	entre			outros),	conferências	e	assembleias	
nos	 orçamentos	 participativos.	 A	 segunda	 compreende	 a	 participação	 não	
institucionalizada	 e	 se	 manifesta	 através	 de	 movimentos	 sociais,	 sem	 a	
categorização	como	entidade	ou	órgão.
•	 O	ato	de	participar	adquire	sentido	quando	está	vinculado	à	construção	de	um	
projeto	de	sociedade.
•	 A	Constituição	Federal	de	1988	é	o	marco	da	legalidade	da	questão	social,	um	
avanço	na	gestão	das	cidades,	uma	nova	forma	que	na	teoria	exibe	que	o	poder	
de	decisão	não	mais	se	restringe	a	pequenos	grupos	com	poder	econômico	e	
político,	mas	também	à	sociedade	civil.
•	 A	 democracia	 é	 uma	das	 principais	 ferramentas	 para	 o	 acesso	 à	 cidadania,	
visto	que	ela	pressupõe	participação	intensa	dos	cidadãos	no	processo	de	sua	
construção.
•	 Qualquer	discussão	sobre	cidadania	precisa	contemplar	a	discussão	de	Marshall	
(1967)	em	seu	famoso	livro	publicado	originalmente	em	1950,	Citizenship and 
Social Class,	para	quem	cidadania	é	um	status	adquirido	por	toda	e	qualquer	
pessoa	que	tem	participação	integral	na	comunidade,	ou	da	sociedade	à	qual	
pertence,	e	de	onde	advém	um	código	de	direitos	e	deveres	a	serem	seguidos	
por	 todos.	A	cidadania,	nessa	perspectiva,	 tem	relação	com	um	conjunto	de	
direitos	civis,	políticos	e	sociais	que	podem	ser	reivindicados	pela	população.
•	 A	autonomia	é	entendida	como	a	capacidade	do	indivíduo	de	eleger	objetivos	e	
crenças,	de	valorá-los	com	discernimento	e	de	pô-los	em	prática	sem	opressões.
•	 O	desenvolvimento	da	autonomia	vai	implicar	a	apropriação	que	o	sujeito	tem	
da	sua	própria	força	no	contexto	em	que	as	necessidades	e	as	possibilidades	se	
inscrevem,	em	um	processo	de	negação	da	tutela	e	da	subalternidade,	quando	
ele	decide	sobre	seu	próprio	destino.
RESUMO DO TÓPICO 1
20
•	 A	autonomia	é	a	base	mais	sólida	na	promoção	da	cidadania,	visto	que	um	
cidadão	sem	autonomia	é	um	cidadão	sem	identidade,	que	não	se	conhece	e	
reconhece	como	sujeito	de	direito	e,	por	isso,	não	exerce	seus	papéis	sociais,	
deixando	essa	outorga	à	mercê	do	Estado.
21
1		O	conhecimento	sobre	cidadania	precisa	contemplar	a	discussão	de	Marshall	
(CITIZENSHIP AND SOCIAL CLASS,	 1950),	 para	 quem	 cidadania	 tem	
relação	com	um	conjunto	de	direitos	civis,	políticos	e	sociais	que	podem	ser	
reivindicados	pela	população.	Baseado	na	concepção	de	Marshall,	assinale	
a	alternativa	INCORRETA:
Baseado	na	concepção	de	Marshall,	assinale	a	alternativa	incorreta:
a)	(			)	 Cidadania	civil	diz	respeito	aos	direitos	de	liberdade	da	pessoa.
b)	(			)	 Cidadania	política	consiste	na	possibilidade	de	as	pessoas	participarem	
do	bem-estar	econômico	da	comunidade.
c)	(			)	 Cidadania	social	diz	respeito	ao	reconhecimento	e	ampliação	de	direitos	
relacionados	a	empregabilidade,	saúde,	entre	outros.
d)	(			)	 Cidadania	política	está	relacionada	aos	direitos	de	participar	na	vida	
política.
e)	(			)	Os	 direitos	 sociais	 tiverem	 reconhecimento	 e	 ampliação	 durante	 o	
século	XX.
AUTOATIVIDADE
22
23
TÓPICO 2 — 
UNIDADE 1
RELAÇÕES DE CONFLITO
1 INTRODUÇÃO
Desde	que	o	Homo sapiens	percebeu	que	viver	em	comunidade	poderia	
ajudar	 a	 garantir	 a	 sua	 sobrevivência	 e,	 consequentemente,	 a	 perpetuação	 da	
espécie,	ele	se	tornou	um	ser	social.	Uma	vez	que	não	possuía	garras	ou	dentes	
afiados,	não	era	veloz,	nem	possuía	veneno	ou	uma	couraça	capaz	de	protegê-lo	
das	ameaças	de	um	mundo	 inóspito	e	selvagem,	viver	em	comunidade	 trouxe	
muitas	vantagens,	tais	como	o	desenvolvimento	da	linguagem,	da	comunicação	
e	da	criação	coletiva.
Se	por	um	lado	viver	em	grupo	formando	comunidades	trouxe	benefícios,	
por	outro,	 incluiu	a	 convivência	 e	 as	 relações	 entre	 indivíduos	possuidores	de	
visões	 de	 mundo	 muito	 diversas.	 Viver	 em	 comunidade	 sempre	 representou	
desafios,	pois	cada	indivíduo	é	possuidor	de	valores,	opiniões	e	interesses	próprios	
e	distintos,	que	precisam	ser	negociados	com	o	outro	o	tempo	inteiro,	para	que	
assim	 seja	possível	 viabilizar	 a	participação	 social	 em	uma	 lógica	 autônoma	 e	
cidadã.	Por	isso,	a	necessidade	de	uma	comunicação	eficaz	é	imprescindível.
Atualmente,	 a	 vida	 acontece	 em	 um	mundo	 globalizado,	 onde	muitos	
problemas	enfrentados	têm	a	ver	com	a	convivência	entre	as	pessoas.	As	ameaças	
enfrentadas	hoje	 já	 não	 são	 as	mesmas	da	Pré-História.	Hoje	 a	 vida	 se	dá	 em	
comunidades	 cada	 vez	mais	 ampliadas,	 a	 comunicação	 se	 tornou	muito	mais	
rápida	e	os	conflitos	acontecem	cotidianamente.
Apesar	de	ser	capaz	de	resolver	muitas	questões	do	dia	a	dia	de	maneira	
satisfatória,	o	ser	humano	pode	e	deve	abrir	espaço	para	pensar	e	desenvolver	
habilidades	 que	possibilitem	 a	 resolução	de	 conflitos	 de	modos	mais	 eficazes.	
Este	 tópico	 tem	 como	 objetivo	 apresentar	 possibilidades	 de	 transformação	 de	
conflitos	potencialmente	destrutivos	em	oportunidades	de	geração	de	opções	e	
soluções	mais	satisfatórias	para	os	agentes	envolvidos.
2 MODERNA TEORIA DO CONFLITO 
O	ser	humano	é	essencialmente	social,	está	o	tempo	todo	se	relacionando	
e	 interagindo	com	o	outro.	Essa	 interação,	de	modo	geral,	produz	desconforto	
quando	não	está	claro	o	que	o	outro	quer,	pensa,	 sente	ou	deseja,	 isto	é,	o	ser	
humano	 lida	 com	muitos	 aspectos	 desconhecidos	 em	 relação	 aos	 seus	 pares,	
apenas	baseando-se	em	suposições.
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UNIDADE 1 — PARTICIPAÇÃO SOCIAL, CIDADANIA, AUTONOMIA, RELAÇÕES DE CONFLITO E COMUNICAÇÃO ASSERTIVA
A	visão	de	mundo	do	outro	é	incerta	e,

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