Prévia do material em texto
<p>ANTROPOLOGIA E</p><p>RELAÇÕES ÉTNICO RACIAIS</p><p>Olá, caro (a) aluno (a)!</p><p>Na economia, como em qualquer ciência, existem diferenças teóricas</p><p>que abrangem tanto suposições básicas quanto estratégias explicativas,</p><p>talvez particularmente adequadas à palavra "paradigmas", usada em</p><p>demasia.</p><p>Neste capítulo, estudaremos as principais contribuições dos clássicos</p><p>no aspecto da sociologia econômica.</p><p>Bons estudos!</p><p>AULA 2 -</p><p>ANÁLISE SOCIOLÓGICA</p><p>DOS FENÔMENOS</p><p>ECONÔMICOS: AS</p><p>CONTRIBUIÇÕES DOS</p><p>CLÁSSICOS.</p><p>Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá</p><p>como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade</p><p>de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e</p><p>Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>▪ Compreender o conceito de psicologia</p><p>▪ Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia</p><p>▪ Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.</p><p>Ao final deste texto, você deverá apresentar os seguintes</p><p>aprendizados:</p><p>• Apresentar as principais contribuições dos pensadores: Durkheim,</p><p>Weber, Veblen, Pareto, Schumpeter.</p><p>• Compreender dos aspectos sociais relacionados a economia.</p><p>2 A SOCIOLOGIA ECONÔMICA DE JOSEPH ALOIS SCHUMPETER</p><p>Schumpeter nasceu na Morávia, uma província austríaca que hoje faz parte da</p><p>República Checa. Filho de um trabalhador têxtil, estudou direito e economia na</p><p>Universidade de Viena. Sua carreira universitária começou em 1909 na Universidade</p><p>de Czernowitz, onde permaneceu por um curto período (GENNARI, 2009).</p><p>Ele passou um período de dois anos nos Estados Unidos em 1913-1914 como</p><p>professor visitante na Universidade de Columbia em Nova York. Após a Primeira</p><p>Guerra Mundial, ele voltou para a Áustria, determinado a iniciar uma carreira política.</p><p>Graças à sua reconhecida formação teórica, foi convidado para o Ministério das</p><p>Finanças, onde permaneceu apenas alguns meses, aposentando-se no meio de uma</p><p>crise financeira. Apesar de seu histórico desastroso como chefe das finanças públicas,</p><p>ele foi chamado para liderar uma importante casa bancária austríaca que faliu em</p><p>1924 devido a inúmeras irregularidades. Com dificuldade em conciliar suas</p><p>habilidades teóricas com a realidade negativa do pós-guerra, aproveitou para retornar</p><p>à academia e tornou-se professor de economia na Universidade de Bonn, onde</p><p>permaneceu até 1932 (GENNARI, 2009).</p><p>No mesmo ano, mudou-se para os Estados Unidos, onde construiu uma</p><p>brilhante carreira como professor de economia em Harvard. Foi presidente da</p><p>Econometric Society (1937-1941) e o primeiro economista não americano da</p><p>American Economic Association (1948). Destacam-se suas principais obras: Theorie</p><p>der Wirtschaftlichen Entwicklung, de 1912; Ciclos de negócios, 1939; Capitalismo,</p><p>Socialismo e Democracia, 1942; História da Análise Econômica, publicada</p><p>postumamente em 1954 (GENNARI, 2009).</p><p>Além da história clássica da análise econômica, as principais contribuições de</p><p>Schumpeter podem ser agrupadas em duas áreas: estudos teóricos do</p><p>desenvolvimento capitalista e sua abordagem dos ciclos econômicos. Em seus</p><p>estudos de 1912, nos quais apresenta sua teoria do desenvolvimento capitalista, ele</p><p>inicia sua discussão mostrando que a vida econômica sob o capitalismo funciona</p><p>como um fluxo circular, ou seja, o sistema tende a se renovar ano após ano. É claro</p><p>que nessa situação a população e a produção aumentam, mas o sistema econômico</p><p>sempre funciona no sentido de buscar uma nova situação de equilíbrio, que difere da</p><p>anterior, mas se adapta à nova apenas quantitativamente (GENNARI, 2009).</p><p>O fenômeno que pode quebrar esse padrão de reprodução é a atividade</p><p>empreendedora do administrador por meio da inovação. As inovações podem ser</p><p>agrupadas em cinco categorias: fabricação de um novo produto; criação de um novo</p><p>método de produção; acesso a novos mercados; acesso a uma nova fonte de</p><p>matérias-primas; e uma nova forma de organização econômica, como o monopólio.</p><p>Todavia, não só a inovação pode promover mudanças qualitativas na renovação do</p><p>sistema. Inovação refere-se a mudanças que atendem a dois requisitos básicos:</p><p>primeiro, são implementadas na vida econômica (invenções que não são</p><p>implementadas não são inovações); em segundo lugar, eles devem ser apresentados</p><p>como um grupo. Esses tipos de eventos não são comuns, mas quando uma inovação</p><p>introduzida por um empreendedor é rapidamente replicada por outros e se difunde por</p><p>todo o sistema, gera uma onda de otimismo e prosperidade ao aumentar o</p><p>investimento, o emprego, a renda e o crédito (GENNARI, 2009).</p><p>O desenvolvimento econômico consiste naquelas mudanças qualitativas no</p><p>estado do sistema. Como você pode ver, Schumpeter faz uma clara distinção entre</p><p>crescimento e desenvolvimento econômico. O crescimento é um fenômeno</p><p>relacionado a fatores externos ao sistema, ocorre quando a economia é “arrastada</p><p>pelas mudanças do mundo à sua volta” (SCHUMPETER, 1982) e se adapta às novas</p><p>condições estabelecidas pela realidade. Desenvolvimento, por outro lado, significa</p><p>mudanças geradas pelo próprio sistema nos fenômenos da vida econômica e</p><p>mudanças qualitativas que criam as condições para a próxima etapa. Pode ser</p><p>descrito por SCHUMPETER:</p><p>[...] perturbação do equilíbrio, que altera e desloca para sempre o estado de</p><p>equilíbrio previamente existente [...] de tal modo [...] que o novo (ponto de</p><p>equilíbrio) não pode ser alcançado a partir do antigo mediante passos</p><p>infinitesimais. Adicione sucessivamente quantas diligências quiser, com isso</p><p>nunca terá́ uma estrada de ferro (SCHUMPETER, p. 84, 1982).</p><p>Como o empresário empreendedor inevitavelmente inova, segue-se que ele é</p><p>um ator-chave no processo de desenvolvimento econômico. A tarefa de Schumpeter</p><p>era chamar a atenção para esse ponto crucial, que ele afirmava ter sido negligenciado</p><p>por outros economistas. O empresário empreendedor é fundamental, não só porque</p><p>é o criador e responsável pelas inovações, mas também porque “intui” novas</p><p>oportunidades, novos produtos e desempenha o papel de “educador”, “mestre” do</p><p>desejo do consumidor por novos produtos diferentes do que é normalmente</p><p>consumido. O surgimento de novos hábitos de consumo cria mercados, elevando as</p><p>possibilidades de repetição do sistema a um novo patamar (GENNARI, 2009).</p><p>Essa atividade criativa, no que lhe concerne, não pode ser dissociada das</p><p>consequências destrutivas que ela acarreta, quando inovações expulsam produtos</p><p>antigos do mercado, eliminam empresas, processos e métodos de produção</p><p>ultrapassados, formas tradicionais são substituídas por novas. Assim, na perspectiva</p><p>da análise de Schumpeter, o binômio criação-destruição faz parte da natureza do</p><p>desenvolvimento econômico.</p><p>Entre suas observações, Schumpeter percebeu que os efeitos colaterais da</p><p>competição incluem a criação de monopólios. No entanto, ao contrário dos</p><p>neoclássicos, ele não os considerava prejudiciais à economia de mercado e não exigia</p><p>a ação do Estado para coibi-los. Em sua perspectiva, a criação de grandes empresas</p><p>monopolistas faz parte da natureza do sistema capitalista e, ao contrário do que</p><p>imaginam os liberais ortodoxos, o surgimento dessas empresas não impediu a</p><p>competição, mas mudou o nível em que ela ocorreu (GENNARI, 2009).</p><p>A concorrência costuma se resumir a uma guerra de preços, mas em mercados</p><p>onde atuam empresas monopolistas, a disputa se desloca para outras áreas, como</p><p>inovação tecnológica e organização e gestão da produção. Além disso, como os</p><p>preços nesses setores tendem a ser mais altos do que na livre concorrência, maiores</p><p>margens de lucro atraem empreendedores para o setor, estimulando a inovação, cujos</p><p>efeitos podem destruir grandes empresas na fronteira</p><p>(GENNARI, 2009).</p><p>2.1 A sociologia econômica de Werner Sombart e Max Weber</p><p>Sombert e Weber desempenharam um papel fundamental na fundação do ramo</p><p>da ciência social conhecido como sociologia econômica. Essa abordagem, como a</p><p>escola histórica, reconhecia a importância do estudo compreensivo, o estudo do</p><p>detalhe histórico, e usava analogias e comparações para elaborar suas análises e</p><p>generalizações. Para os sociólogos supracitados, a compreensão dos fenômenos</p><p>econômicos é a relação entre a própria vida econômica (o processo de produção,</p><p>distribuição, mercantilização e consumo de bens úteis e escassos) e a estrutura social</p><p>(grupos, classes sociais, instituições, etc.), significando revelar o conjunto de</p><p>relacionamentos que eles definem. Além disso, deve-se dar grande importância aos</p><p>aspectos culturais que orientam a atividade dos operadores econômicos, bem como</p><p>aos valores morais e religiosos, que ultrapassavam largamente a perspectiva utilitária</p><p>e neoclássica (GENNARI, 2009).</p><p>Nas pesquisas de Sombart, especialmente desde 1902 no estudo do</p><p>capitalismo moderno, é possível observar uma grande ênfase na abordagem da</p><p>história. Ele assume uma visão abrangente dos eventos e tenta organizá-los para</p><p>identificar etapas que permitem o surgimento de tendências de desenvolvimento. O</p><p>alcance da investigação não se deve apenas à erudição, mas está relacionado à</p><p>convicção do autor de que, no caso da análise e das hipóteses explicativas</p><p>subsequentes, deve-se considerar que em um determinado tempo e lugar todos os</p><p>fatores políticos, econômicos, sociais, culturais, artísticos, religiosos estão em</p><p>constante interação (GENNARI, 2009).</p><p>Weber usou um registro analítico muito mais sofisticado. Ele fez importantes</p><p>contribuições ao pensamento econômico e ficou conhecido como o fundador da</p><p>sociologia moderna. Entre suas principais obras, destacam-se: The objectivity of the</p><p>sociological and social-political knowledge, de 1904; The protestant ethic and the spirit</p><p>of capitalism, de 1905; Economy and society, de 1914; Politics as a voca- tion, de</p><p>1918; General economic history, de 1923; The methodology of the social sciences, de</p><p>1949. Seu nome foi associado à Escola Histórica Alemã, mas seu crescente interesse</p><p>pelos aspectos metodológicos, teóricos e científicos do conhecimento o levou a deixar</p><p>a escola.</p><p>Weber constatou que o relativismo da escola histórica contradizia a tendência</p><p>irresistível da época de vincular a legitimidade do conhecimento à sua universalidade.</p><p>Nesse contexto, o reconhecimento da cientificidade dos estudos dos fatos humanos</p><p>tornou-se cada vez mais dependente da capacidade desses estudos de produzir</p><p>conhecimentos que atendam a esse critério de universalidade. O conceito de tipo ideal</p><p>é um recurso metodológico criado por Weber para atender simultaneamente ao critério</p><p>da universalidade, atributo da ciência, a temporalidade e o atributo da história</p><p>(GENNARI, 2009).</p><p>Segundo Weber, o tipo ideal é uma síntese abstrata de traços universais que</p><p>contêm os traços essenciais do objeto considerado e que, embora não existam</p><p>realmente, constituem um meio de obtenção de verdades sociais. Essa abordagem</p><p>pode ser ilustrada por sua análise das formas de dominação política. Ele destacou</p><p>que o poder é exercido principalmente de três formas: carismática, legal e tradicional.</p><p>Cada um possui características essenciais que o distinguem dos demais, podendo ser</p><p>combinados em um conceito, em uma abstração que o represente fielmente</p><p>(GENNARI, 2009).</p><p>Essa abstração construída, que não existe no mundo fora do sujeito, mas</p><p>contém alguns componentes essenciais dessa realidade externa e define o objeto de</p><p>estudo, é um tipo ideal. Uma vez que um conceito é estabelecido com precisão e</p><p>clareza, ele pode ser usado como chave para explicá-lo e entendê-lo ao abordar casos</p><p>históricos. Dessa forma, foi feito um avanço no estudo da burocracia germânica,</p><p>encarando-a como uma modalidade de poder legal e analisando-a sob essa</p><p>perspectiva. Weber reconheceu que o tipo ideal não era uma representação precisa</p><p>de um fenômeno social, mas esse não era o ponto. Era imperativo para ele que tais</p><p>abstrações contribuíssem para a compreensão e interpretação desses fenômenos,</p><p>gerando conhecimento que atendesse aos padrões científicos reconhecidos pelo</p><p>estabelecimento da época (GENNARI, 2009).</p><p>Entre todos os estudos de Weber, o mais conhecido é a Ética protestante e o</p><p>espírito do capitalismo, que compreende um conjunto de artigos publicados entre 1904</p><p>e 1905 na revista Archiv fur Sozialwissenchaft und Sozialpolitik, dirigida por Weber,</p><p>Sombart e Edgar Jaffé. Posteriormente, em 1920, esses artigos passaram por</p><p>correções e acréscimos para publicação na Gesammelte Aufsätze zur</p><p>Religionssoziologie, e mais tarde foram publicados na forma de livro, pela primeira vez</p><p>na Inglaterra, em 1930, dez anos após a morte de Weber. Nessa edição se incluiu</p><p>uma introdução geral aos seus ensaios de 1904/05, escrita em 1920 (GENNARI,</p><p>2009).</p><p>De acordo com Weber, há uma relação profunda entre as prescrições</p><p>calvinistas de trabalho e poupança (que se traduz em uma condenação da ostentação,</p><p>do consumo de luxo e uma valorização do entesouramento), e as tendências</p><p>econômicas e o mercantilismo que se desenvolveu desde o final da Idade Média,</p><p>convergindo, no final do século XVIII, para o capitalismo. O trabalho de Weber causou</p><p>grande controvérsia e mal-entendidos. Talvez a fórmula mais conhecida seja aquela</p><p>que tenta transformar suas posições a respeito da relação de afinidade entre o</p><p>protestantismo calvinista (e outras tendências, próximas a elas) e o desenvolvimento</p><p>da cristandade (GENNARI, 2009).</p><p>Segundo alguns críticos da obra de Weber, isso estabeleceria claramente que</p><p>o fator subjetivo "supraconstrutivista" foi decisivo na mudança da realidade histórica,</p><p>e a economia ou "infra-estrutura" desempenhou um papel crucial nessas</p><p>transformações. Em geral, os proponentes dessa interpretação são leitores regulares</p><p>dos escritos de Weber e Marx (GENNARI, 2009).</p><p>Weber deixa claro em seu livro que não tem nenhuma interpretação sobre as</p><p>origens do capitalismo. Ele reconhece que as mudanças econômicas do século XVI,</p><p>a era da Reforma, começaram no final da Idade Média. Em sua opinião, uma "ética</p><p>protestante" ajudaria a moldar uma nova ética de trabalho que fundamenta o espírito</p><p>do capitalismo moderno, enfatizando a mudança e desempenhando um papel no</p><p>aumento dos ganhos econômicos (GENNARI, 2009).</p><p>2.2 A sociologia econômica de Vilfredo Pareto</p><p>Pareto nasceu em Paris em 1848, filho de exilados italianos perseguidos por</p><p>seu envolvimento em conspirações nacionalistas que afetavam o reino do Piemonte-</p><p>Sardenha. Após seu retorno, Pareto estudou matemática e engenharia em Turim entre</p><p>1864-1870, graduando-se com uma tese sobre elasticidade de sólidos e análise de</p><p>equilíbrio (GENNARI, 2009).</p><p>Após 20 anos como engenheiro, Pareto passou a dedicar-se integralmente à</p><p>economia e, em 1893, aos 45 anos, assumiu o cargo de presidente da faculdade de</p><p>economia política de Lausanne, na Suíça, em substituição a Walras, que deixou o</p><p>cargo em 1899 para aplicar a matemática ao estudo da economia. Durante grande</p><p>parte de sua vida, Pareto defendeu firmemente os ideais do livre mercado e denunciou</p><p>veementemente todas as formas de interferência. No entanto, juntou-se a Mussolini e</p><p>ao fascismo italiano no final de sua vida, sendo nomeado senador pelo regime.</p><p>Faleceu em 1923, aos 75 anos (GENNARI, 2009).</p><p>A economia social neoclássica baseia-se pura e simplesmente em vieses</p><p>hedonistas. Isso inclui tanto o hedonismo psicológico quanto o ético. No final do século</p><p>XIX, o hedonismo psicológico era uma teoria bastante grosseira do comportamento</p><p>humano. A utilidade era entendida como uma relação fundamentalmente mensurável</p><p>entre uma pessoa e objetos externos de consumo. Essa relação foi tratada como se</p><p>fosse</p><p>metafisicamente fixada e não merecesse uma investigação mais aprofundada.</p><p>Todo o comportamento humano foi então reduzido a tentativas de maximizar a</p><p>utilidade usando ou trocando os bens e recursos produtivos disponíveis para o</p><p>indivíduo (a fonte e a propriedade desses recursos, bem como a razão de utilidade,</p><p>não foram consideradas na análise) (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012).</p><p>No entanto, a fama do hedonismo psicológico caiu já no final do século XIX. O</p><p>desenvolvimento e o refinamento dos pressupostos comportamentais da economia</p><p>social durante o último meio século representam tentativas de corrigir as objeções</p><p>dessa teoria (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012).</p><p>Em relação ao hedonismo ético, o professor S.S. Alexandre (1997), o chamou</p><p>de "princípio do porco". O "Princípio do Porco" é simplesmente “se você gosta de</p><p>alguma coisa, o melhor é ter mais”. Hunt e Lautzenheiser (2012) complementam:</p><p>Assim, o princípio normativo último da economia do bem-estar pode ser</p><p>afirmado de várias maneiras: mais prazer é, eticamente, melhor do que</p><p>menos prazer (versão de Bentham); mais utilidade é, eticamente, melhor do</p><p>que menos utilidade (versão neoclássica de fins do século XIX); uma posição</p><p>preferida no ordenamento de preferências de um indivíduo é, eticamente,</p><p>melhor do que uma posição não preferida (versão neoclássica</p><p>contemporânea). Em cada caso, o indivíduo isolado, atomizado, é o único juiz</p><p>com capacidade de avaliar o prazer, a utilidade ou a preferência de um objeto,</p><p>porque se presume que esses níveis de bem-estar dependam somente da</p><p>relação entre o indivíduo e o objeto de consumo. Os desejos individuais,</p><p>ponderados pelo poder de compra do mercado, são os critérios últimos dos</p><p>valores sociais. Sempre que a utilidade para um indivíduo não seja uma</p><p>questão puramente pessoal, individual, quer dizer, sempre que a utilidade</p><p>para uma pessoa seja afetada pelo consumo de outras pessoas (ou pela</p><p>produção das firmas), esses efeitos interpessoais são chamados de</p><p>“externalidades” (HUNT; LAUTZENHEISER, p. 210, 2012).</p><p>A economia do bem-estar ignora o fato que os desejos dos indivíduos são</p><p>produto de um processo social específico e do lugar que o indivíduo ocupa neste</p><p>processo. Se os economistas neoclássicos não ignorassem isso, teriam</p><p>que reconhecer o fato que se podem fazer avaliações normativas de sistemas sociais</p><p>e econômicos totalmente diferentes, bem como dos padrões de desejos individuais</p><p>resultantes.</p><p>Com base nesses fundamentos do hedonismo psicológico e ético, foi formulada</p><p>a norma ótima de Pareto - o conceito básico da economia social. Essa teoria leva à</p><p>conclusão de que um sistema de mercado competitivo e livre, inevitavelmente aloca</p><p>recursos, distribui renda e bens de consumo, de tal forma que nenhuma redistribuição</p><p>de recursos por meio de mudanças no consumo, troca ou produção pode aumentar</p><p>visivelmente o valor de mercadorias produzidas e trocadas. Este é o ótimo de Pareto</p><p>- uma norma básica da economia neoclássica.</p><p>A regra básica da otimização de Pareto afirma que uma situação econômica é</p><p>ótima se nenhuma mudança puder melhorar a posição de um indivíduo (conforme</p><p>avaliado por ele mesmo) sem prejudicar ou piorar a posição de outro indivíduo</p><p>(conforme avaliado por esse outro). Segundo Pareto, uma melhoria é uma mudança</p><p>que afasta a sociedade de uma posição subótima e a aproxima de uma posição ótima:</p><p>“Qualquer mudança que não prejudique quem quer que seja e que melhore a situação</p><p>de alguém (avaliada por estas pessoas) tem que ser considerada uma melhora”</p><p>(BAUMOL, p. 376, 1965).</p><p>2.3 A sociologia econômica de Thorstein Bunde Veblen</p><p>No final do século XIX, a teoria da evolução de Charles Darwin teve um impacto</p><p>profundo e poderoso na filosofia e na teoria social. Esse efeito é visto mais claramente</p><p>nos escritos de Veblen. Ele via a sociedade como um organismo altamente complexo</p><p>em decadência ou crescimento, em constante mudança e adaptação (ou não) a novas</p><p>circunstâncias. Como Marx, sua análise foi orientada historicamente em todos os</p><p>aspectos:</p><p>Quando – como ocorre em economia – o assunto a ser investigado é a</p><p>conduta do homem em suas lides com os meios materiais da vida, a ciência</p><p>é, necessariamente, uma investigação da história da vida da civilização</p><p>material… Não que a investigação do economista isole a civilização material</p><p>de todas as outras fases e influências da cultura humana… mas, na medida</p><p>em que a investigação prende-se à ciência econômica, especificamente, a</p><p>atenção se concentrará no esquema de vida material e levará em conta outras</p><p>fases da civilização somente em sua correlação com o esquema da</p><p>civilização material (VEBLEN, p. 241, 1961).</p><p>Para Veblen, a história humana era a história do desenvolvimento das</p><p>instituições sociais. O comportamento humano baseava-se em certos padrões</p><p>observáveis comuns a todos os períodos da história. No entanto, esses padrões</p><p>comuns foram muito gerais e especificamente manifestados de uma extraordinária</p><p>variedade de formas, em diferentes contextos históricos, sociais e institucionais. Em</p><p>muitas de suas obras, Veblen chamou esses padrões comuns de comportamento</p><p>humano de "instintos". Quando a ciência do século XX rejeitou a ideia de que o</p><p>comportamento humano era instintivo como inaceitável, muitos economistas</p><p>acreditaram que grande parte da teoria de Veblen era, portanto, cientificamente inútil.</p><p>Mas isso não é verdade. Quando ele usou a palavra instinto (um uso muito comum</p><p>entre os cientistas sociais influenciados por Darwin na época), ele não quis sugerir</p><p>que o comportamento humano é instintivo da mesma forma que o animal. Na verdade,</p><p>toda a sua teoria é o oposto dessa ideia (HUNT; LAUTZENHEISER, 2012).</p><p>Veblen explicitamente rejeitou qualquer noção de que o comportamento</p><p>humano é instintivo, no sentido de que é geneticamente determinado:</p><p>Na vida econômica, como em outras áreas de conduta humana, os modos</p><p>habituais de atividade e as relações apareceram e foram, por convenção,</p><p>transformados em uma trama de instituições. Essas instituições têm uma</p><p>força prescritiva habitual que lhes é própria... Se o contrário fosse verdade,</p><p>se os homens agissem, universalmente, não com base nos fundamentos e</p><p>valores convencionais da trama das instituições, mas apenas e diretamente</p><p>com base nos fundamentos e valores das propensões e aptidões não</p><p>convencionais da natureza humana hereditária, não haveria instituições nem</p><p>cultura. Mas a estrutura institucional da sociedade subsiste e os homens</p><p>vivem dentro de seus limites (VEBLEN, p. 164, 1964).</p><p>De acordo com Veblen, todos os seres humanos, como todas as espécies</p><p>animais, tinham certas características, motivos, tendências e habilidades comuns</p><p>geneticamente herdadas, independentemente da cultura ou época histórica em que</p><p>viveram.</p><p>2.4 A sociologia econômica de Émile Durkheim</p><p>O ambiente associado a reflexão de Durkheim, a sociedade francesa do final</p><p>do século XIX, especialmente seu último quartel, foi caracterizado por uma profunda</p><p>mudança na realidade. De fato, pode-se dizer que foi nessa época que nasceu a</p><p>França moderna. Somente com a instauração da terceira república (em 1870) os</p><p>princípios de liberdade, igualdade e fraternidade foram plenamente estabelecidos.</p><p>(BOUJU e DUBOIS, 1967, p. 21).</p><p>A reforma escolar expressava claramente o espírito da época: por um lado, ao</p><p>tornar o ensino público e obrigatório, criava um mecanismo que queria ser o ponto de</p><p>partida para todas as oportunidades comuns e iguais; por outro lado, com a</p><p>institucionalização da escola laica, tornou-se realidade a separação do Estado da</p><p>Igreja.</p><p>Para Durkheim, a economia nem sempre foi uma dimensão desregulada, ao</p><p>contrário, até a Idade Média todos os aspectos eram regulados pela localização da</p><p>atividade produtiva e pelo mercado. O problema surgiu com a expansão da produção</p><p>e dos mercados. Naquela época não havia novos valores regulatórios em relação à</p><p>atividade econômica, razão</p><p>pela qual as crises se repetiam. A solução proposta por</p><p>Durkheim referia-se à sociedade anterior. Não que ele quisesse levar a sociedade</p><p>industrial de volta à Idade Média. Não era avançado nem possível. Na verdade, sua</p><p>proposta era voltar aos pressupostos que antes faziam a atividade econômica</p><p>funcionar de forma ordenada e estável. Para isso seria necessário realizar um</p><p>processo de (re)moralização. Para Durkheim essa (re)moralização não aconteceria</p><p>por mágica. Não viria natural ou automaticamente. Um determinado agente seria</p><p>necessário para realizar a ação. Neste ponto, Durkheim fez a seguinte explicação:</p><p>Essa regulamentação, essa moralização, não pode ser instituída nem por</p><p>cientista em seu gabinete, nem por um homem de Estado; ela não pode ser</p><p>obra senão dos grupos interessados. Eis porque, como esses grupos não</p><p>existem atualmente, nada há de mais urgente do que trazê-los à existência</p><p>(DURKHEIM, p. 69, 1997).</p><p>Que grupos seriam? Durkheim não os reconhece em órgãos estatais ou</p><p>partidos políticos, muito menos em sindicatos. O primeiro ainda era impotente porque</p><p>as funções financeiras eram muito específicas e distantes dele. O mesmo se aplica</p><p>aos partidos políticos. Quanto aos sindicatos, sua incapacidade de levar a moralidade</p><p>ao cerne do mundo econômico deveu-se a dois aspectos: primeiro, por serem</p><p>associações privadas, representantes de interesses particulares, incapazes de</p><p>promover a unidade profissional na totalidade; em segundo lugar, por não vencer, mas</p><p>promover o estado de guerra entre diferentes segmentos sociais (DURKHEIM, p.</p><p>VII,1967).</p><p>Para Durkheim, o único grupo capaz de (re)moralizar a economia eram as</p><p>firmas profissionais, e elas tinham capacidade para isso “de instituir, de fazer aceitar</p><p>e de manter a disciplina necessária” (DURKHEIM, 1992, p. 229-230).</p><p>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:</p><p>ALEXANDER, S.S. “Human Value and Economists’ Values”. In: Human Values and</p><p>Economic Policy. Nova York: New York University Press, 1967.</p><p>BAUMOL WJ. Economic Theory and Operations Analysis. 2 ed. Englewood Cliffs,</p><p>N.J: Prentice-Hall; 1965.</p><p>BOUJU, Paul M. [e] DUBOIS, Henri. (1967), La Troisième Republique. Paris, PUF.</p><p>DURKHEIM, Émile. (1967), De la division du travail social. Paris, PUF.</p><p>GENNARI, Adilson. HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO. São Paulo:</p><p>Editora Saraiva, 2009. E-book. ISBN 9788502117327. Disponível em:</p><p>https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502117327/. Acesso em: 17</p><p>jan. 2023.</p><p>HUNT, E K.; LAUTZENHEISER, Mark. História do Pensamento Econômico: Uma</p><p>Perspectiva Crítica. São Paulo: Grupo GEN, 2012. E-book. ISBN 9788595159143.</p><p>Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595159143/.</p><p>Acesso em: 17 jan. 2023.</p><p>MARX, Karl. O Capital. Moscou: Foreign Languages Publishing House, 3 v.,</p><p>1:81,1961.</p><p>SCHUMPETER, Joseph A. Teoria do desenvolvimento econômico. Introdução:</p><p>Rubens Vaz da Costa. Trad. Maria Silvia Possas. São Paulo: Abril Cultural, 1982.</p><p>Coleção Os economistas.</p><p>VEBLEN, Thorstein. Fisher’s Rate of Interest. In: Essays in Our Changing Order.</p><p>Nova York: Augustus M. Kelley; 1964.</p><p>VEBLEN, Thorstein. The Limitations of Marginal Utility. In: The Place of Science in</p><p>Modern Civilization and Other Essays. Nova York: Russell and Russell; 1961.</p>