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QUESTÕES PREJUDICIAIS ARTS. 92 A 94 CPP SUMÁRIO 1. Conceito 2. Características. 2.1. Questões prejudiciais homogêneas ou heterogêneas. 2.2. Questões prejudiciais devolutivas ou não devolutivas. 2.3. Pressupostos para o reconhecimento das questões prejudiciais obrigatórias. 2.4. Procedimento. 2.5. Pressupostos das questões prejudiciais facultativas. 2.2.1. Procedimento. 2.5.2. Sistema misto de competência. CONCEITO São situações controversas que precisam de solução para que o processo tenha continuidade. As questões prejudiciais a que se referem os artigos em estudo, são aquelas que tratam de direito material (mérito) e possuem relação direta com a decisão a ser tomada no curso principal do processo. Logo, é a decisão sobre a existência da infração que depende da solução da questão prejudicial. O exemplo mais fácil para entender o tema é o crime de bigamia. Se o sujeito é acusado de praticar bigamia, mas em sua defesa alega que o 1º casamento é nulo, o juízo criminal depende dessa questão de mérito para apontar se o sujeito realmente obteve dois casamentos concomitantemente. CARACTERÍSTICAS A doutrina costuma arrolar como características da questão prejudicial: a sua anterioridade, pois sua decisão constitui antecedente lógico para a decisão da causa principal, vinculando-a; a sua autonomia, já que seu conteúdo também pode ser objeto de ação autônoma; a sua essencialidade ou necessariedade, porquanto sem a decisão da questão prejudicial não é possível resolver a decisão principal. QUESTÕES PREJUDICIAIS HOMOGÊNEAS OU HETEROGÊNEAS São homogêneas as questões prejudiciais que versam sobre matéria do mesmo ramo de direito da questão principal, motivo pelo qual poderão ser solucionadas pelo juiz da causa principal339. Exemplo: a exceção da verdade no crime de calúnia, ou controvérsia acerca da existência de crime patrimonial anterior ao crime de receptação São heterogêneas, por sua vez, quando tiverem por conteúdo matéria de outro ramo do direito, podendo por isso ser julgadas por juízo que não seja criminal. Exemplo: questão relativa à nulidade de casamento em relação ao crime de bigamia. QUESTÕES PREJUDICIAIS DEVOLUTIVAS OU NÃO DEVOLUTIVAS As questões devolutivas são aquelas que devem, em regra, ser apreciadas no juízo não penal. As questões prejudiciais não devolutivas, aquelas que, embora se afigurem como prejudiciais ao mérito da causa penal, não preenchem os requisitos estatuídos nos arts. 92 e 93 do Código de Processo Penal. Essas serão necessariamente decididas pelo juiz do processo penal. As questões devolutivas, por sua vez, serão absolutas (também referidas na doutrina como “questões prejudiciais obrigatórias”), quando sujeitas obrigatoriamente ao juízo extrapenal, ou relativas, caso em que caberá ao juiz criminal decidir sobre a conveniência de remetê-las ao juízo cível (motivo pelo qual são chamadas de “questões prejudiciais facultativas”). PRESSUPOSTOS PARA O RECONHECIMENTO DAS QUESTÕES PREJUDICIAIS OBRIGATÓRIAS a controvérsia deve versar sobre o estado civil das pessoas (político, familiar, civil e individual); a questão deve ser séria e fundada, isto é, deve possuir fundamento jurídico e fático, afastando-se a prejudicial meramente protelatória. Esta deve ser levantada no momento da instrução processual a questão deve influir sobre a própria existência da infração penal; O art. 92 do Código de Processo Penal cuida das questões prejudiciais obrigatórias ou devolutivas absolutas, estabelecendo seus pressupostos: PROCEDIMENTO Uma vez satisfeitas as condições apontadas, deverá o juiz suspender obrigatoriamente o curso da ação penal, de ofício ou a requerimento das partes (art. 94 do Código de Processo Penal) até que no juízo cível seja a controvérsia dirimida por sentença passada em julgado. A suspensão, entretanto, não impedirá a inquirição de testemunhas e a produção de outras provas de natureza urgente. Se o crime processado implicar ação penal de iniciativa pública, o Ministério Público, quando necessário, promoverá a ação civil ou prosseguirá na que tiver sido iniciada, com a citação dos interessados. Nos casos de crime de ação penal privada exclusiva, caberá ao querelante intentar a ação civil cabível. Fica suspenso o curso da prescrição da pretensão punitiva enquanto não resolvida a questão prejudicial (art. 116, I, do Código Penal). PRESSUPOSTOS DAS QUESÕES PREJUDICIAIS FACULTATIVAS Base legal: Art. 93 do Código de Processo Penal. Requisitos cumulativos: A questão deve influir na existência da infração penal. Versar sobre matéria diversa do estado civil das pessoas. A ação civil referente à questão prejudicial já deve estar em curso. A questão deve ser de difícil solução (geralmente, envolve questão fática complexa). A questão não pode versar sobre direito cuja prova a lei civil limite. O juízo cível deve ser competente para dirimi-la. Suspensão: O juiz pode suspender o processo (de ofício ou a requerimento), após a inquirição de testemunhas e provas urgentes. Prazo: O juiz fixará um prazo para a suspensão. Prosseguimento: Se não houver decisão no juízo cível no prazo, o juiz criminal retoma a competência e decide a questão, inclusive a prejudicial. O prazo pode ser prorrogado se a demora não for imputável à parte. Atuação das partes: Ação pública: Ministério Público intervém na causa cível para acelerar o andamento. Ação privada: Querelante toma as providências cabíveis. Vínculo da decisão cível: A decisão do juízo cível, se proferida, vinculará o juízo penal. Recursos: A decisão que indefere o pedido de suspensão é irrecorrível (art. 93, § 2º do CPP). PROCEDIMENTO SISTEMA MISTO DE COMPETÊNCIA Configura-se, dessa forma, um sistema misto quanto à competência para solucionar as questões prejudiciais. A legislação pátria prevê tanto situações em que a questão deverá ser remetida ao órgão extrapenal quanto casos em que caberá ao juiz penal a solução da prejudicial e, por fim, hipóteses nas quais poderá ou não o juiz da lide principal decidir acerca da questão prejudicial. EXCEÇÕES PROCESSUAIS ARTS. 95 A 111 CPP SUMÁRIO 3. Exceções 3.1. Procedimento. 3.1.2. Exceção de suspeição. 3.1.2.1. Fundamento da suspeição. 3.1.2.2. Hipóteses de suspeição. 3.1.2.3. Procedimento. 3.1.2.4. Suspeição de outros sujeitos processuais. 3.1.3. Exceção de incompetência de juízo. 3.1.4. Exceção de litispendência. 3.1.5. Exceção de ilegitimidade de parte. 3.1.6. Exceção de coisa julgada. 3.1.6.1. Sentença (acórdão), julgado, coisa julgada. 3.1.6.2. Coisa julgada material e coisa julgada formal. 3.1.6.3. Extensão da coisa julgada formal. O termo “exceção” (do latim, exceptio), em direito processual, tem vários significados. Em sentido lato, a exceção é entendida como o direito do réu que se contrapõe à ação. Alguns a definem como a “ação do réu”. Em sentido menos amplo, define-se por exceção qualquer alegação da defesa que busca neutralizar a pretensão do autor No sentido adotado pelo Código de Processo Penal, a exceção designa a defesa indireta, ou seja, aquela que não diz respeito ao mérito do pedido. As exceções podem, assim, fundar-se na alegação de inexistência dos pressupostos processuais e das condições da ação. Podem ter por finalidade prolongar o curso do processo (exceção dilatória), ou mesmo extingui-lo (exceção peremptória) Nos termos do art. 95 do Código de Processo Penal, poderão ser opostas exceções de: I – suspeição; II – incompetência de juízo; III – litispendência; IV – ilegitimidade de parte; V – coisa julgada. EXCEÇÕES PROCEDIMENTO Constituindo incidentes processuais, as exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em regra, o andamento da ação principal (art. 111 do Código de Processo Penal). Nas exceções de litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada, serão observadas, no que forem aplicáveis, as disposições relativas à exceção de incompetência de juízo (art. 110, caput). Aoposição de mais de uma dessas exceções em um mesmo processo far-se-á por meio de uma única petição (art. 110, § 1º). É princípio largamente sedimentado do direito processual que o julgador deve ser imparcial, ou seja, social e psiquicamente equidistante de ambas as partes, de modo a evitar que suas eventuais ligações com qualquer das partes ensejem favorecimento ou prejuízo a elas e, indiretamente, à administração da justiça. Trata-se de exceção de natureza dilatória que visa afastar o juiz do processo criminal. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO A suspeição se funda, portanto, na falta de imparcialidade do julgador, retirando-lhe a aptidão para funcionar no processo. De acordo com o art. 564, I, do Código de Processo Penal, a suspeição do juiz é causa de nulidade, cabendo às partes alegá-la por meio da exceptio suspicionis. A suspeição circunscreve-se aos fatos e circunstâncias subjetivos e objetivos que possam comprometer a imparcialidade do julgador. FUNDAMENTO DA SUSPEIÇÃO HIPÓTESES DE SUSPEIÇÃO O art. 254 do Código de Processo Penal enumera as hipóteses de suspeição: I – Se o juiz for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer das partes. Não configura hipótese de suspeição ser o magistrado amigo íntimo ou inimigo capital do advogado da parte ou do membro do Ministério Público. II – Se o magistrado, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia. III – Se o julgador, seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes. IV – Se o juiz tiver aconselhado qualquer das partes. V – Se o juiz for credor ou devedor, tutor ou curador de qualquer das partes. VI – Por fim, se o magistrado for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. PROCEDIMENTO Precedência: A arguição de suspeição tem prioridade sobre outras, exceto por motivo superveniente (art. 96 do CPP). Legitimidade: Ministério Público, réu, querelante ou querelado. Forma: Petição assinada pela parte e seu defensor, ou por advogado com poderes especiais. Deve conter razões e provas (documentos ou rol de testemunhas) (art. 98 do CPP). Exigências: Necessidade de advogado com capacidade postulatória. Inadequação de Habeas Corpus: Não é a via cabível para arguir suspeição do magistrado. Juiz Suscitado: Se reconhecer a suspeição: Declara por escrito o motivo, remete o processo ao substituto e intima as partes (art. 97 do CPP). Decisão irrecorrível. Possibilidade de declarar suspeição por motivo íntimo, sem necessidade de razões, por analogia com o NCPC (art. 145, § 1º). Se não reconhecer a suspeição: Autua a petição em apartado, apresenta suas razões em 3 dias, instrui com provas e remete os autos da exceção ao tribunal competente em 24 horas (art. 100, caput do CPP). Suspensão do processo principal: Em regra, não suspende o processo, sendo autuada em apartado. Contudo, se a parte contrária reconhecer a procedência, pode requerer a suspensão. No Tribunal: Relator: Pode rejeitar liminarmente se manifestamente improcedente (art. 100, § 2º do CPP). Instrução: Se relevante, determina citação das partes e audiência de testemunhas. Após instrução, segue-se o julgamento. Efeitos da procedência: Se julgada procedente, são declarados nulos os atos do processo principal praticados a partir do momento em que o julgador se tornou suspeito. Se a suspeição existia desde o início, todos os atos decisórios são nulos e o processo deve ser refeito. Remessa: O processo é remetido ao primeiro juiz substituto sucessivo, respeitando o princípio do juiz natural. Custas e multa: Juiz suspeito paga custas em caso de erro inescusável; excipiente de má-fé paga multa se a exceção for rejeitada (art. 101 do CPP). Suspeição em instância superior: Procedimento análogo, com regras específicas para declará-la e para o julgamento pelo pleno ou relator substituto (art. 103 do CPP). SUSPEIÇÃO DE OUTROS SUJEITOS PROCESSUAIS Ministério Público: Pode ser arguido de suspeição (art. 258 do CPP). O fundamento não é a imparcialidade, mas o interesse na justiça. Pode abster-se de atuar declarando-se suspeito, mas a declaração ex officio é inadmissível. A decisão é irrecorrível (art. 104 do CPP). O processo não se suspende e os atos do MP suspeito não são anulados, salvo previsão legal expressa. Peritos, Intérpretes, Serventuários, Funcionários da Justiça e Jurados: Também podem ser arguidos de suspeição. Juiz decide de plano e sem recurso (art. 105 do CPP). Oitiva do recusado é necessária. Podem se declarar suspeitos espontaneamente. Para jurados (art. 106 do CPP), a arguição é oral, logo após a leitura da cédula, com decisão irrecorrível do Presidente do Júri. Autoridades Policiais: Não há previsão de arguição, mas têm o dever de se declarar suspeitas (art. 107 do CPP). EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA DE JUÍZO Também conhecida como declinatoria fori. Conceito: Instrumento processual pelo qual a parte alega que o juízo que preside a causa não é o competente para julgá-la. Fundamento: Violação das regras de competência territorial (ratione loci). Natureza: Via de regra, exceção dilatória, pois busca a remessa do processo ao juízo competente, não sua extinção. Momento: Deve ser arguida no prazo da defesa, antes de qualquer outra manifestação sobre o mérito. EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA Nos termos do art. 110, caput, do Código de Processo Penal, aplica-se à exceção de litispendência o mesmo procedimento da exceção de incompetência, podendo a parte alegá-la por escrito ou verbalmente, caso em que será reduzida a termo, e devendo o incidente ser autuado em apartado, ouvindo-se a parte contrária. A litispendência, entretanto, poderá ser arguida a qualquer tempo e em qualquer instância, não ocorrendo preclusão. Constituindo matéria de ordem pública, a litispendência poderá ser reconhecida até mesmo ex officio, motivo pelo qual pode, também, ser suscitada por qualquer das partes EXCEÇÃO DE ILEGITIMIDADE DE PARTE A exceção de ilegitimidade de parte seguirá o mesmo procedimento da exceção de incompetência (art. 110, caput, do Código de Processo Penal). Poderá ser oposta por escrito ou verbalmente, devendo a petição ser autuada em apartado, ouvindo-se a parte contrária. Quanto ao prazo, tratando-se de matéria de ordem pública, a ilegitimidade de parte pode ser arguida a qualquer tempo 375 . A rigor da classificação doutrinária, a exceção de ilegitimidade constitui, em sentido estrito, objeção, já que pode o julgador concluir de ofício, a qualquer tempo, pela existência da ilegitimidade, não sendo formalmente necessária sua arguição pela parte. EXCEÇÃO DE COISA JULGADA Conceito: Impede que uma causa já decidida por sentença transitada em julgado seja novamente discutida em juízo. Objetivo: Garantir a segurança jurídica e a estabilidade das decisões judiciais. Requisitos: Identidade de partes, pedido e causa de pedir com uma decisão anterior já transitada em julgado. Efeito: Se reconhecida, o processo é extinto sem resolução do mérito. Procedimento: Observa-se o disposto para a exceção de incompetência de juízo (Art. 110 do CPP). COISA JULGADA MATERIAL E FORMAL Coisa Julgada Material: Torna imutável e indiscutível a decisão de mérito fora do processo em que foi proferida, quando não cabe mais recurso. Impede que a mesma questão seja discutida em outro processo, por força do princípio ne bis in idem (ninguém pode ser julgado duas vezes pelo mesmo fato). Tem efeito vinculante para todos os juízes, inclusive em outros processos. Coisa Julgada Formal: É a imutabilidade da decisão dentro do mesmo processo, quando não cabe mais recurso, mas não impede nova discussão em outro processo. SEGURANÇA JURIDICA A coisa julgada material possibilita – como também a coisa julgada formal, contudo em maior medida que esta – a segurança e a paz jurídicas, uma vez que impede: a) que uma discussão jurídicase prolongue indefinidamente, tornando a ser entabulada sobre assunto já definido firmemente pela jurisdição; b) que se produzam resoluções e sentenças contraditórias ou que se reiterem, injusta e irracionalmente, sentenças com o mesmo conteúdo sobre o mesmo assunto. Em geral, relaciona-se a espécie de coisa julgada à natureza da decisão por ela qualificada. A coisa julgada material decorre da decisão definitiva, que julga o mérito do pedido. Já a coisa julgada formal decorre de decisão terminativa, que encerra o processo sem o julgamento do mérito. REFERÊNCIA Curso de Processo Penal / Edilson Mougenot. - 13. ed. - São Paulo : Saraiva Educação, 2019