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CRM-SP 181.600 SOBRE OAUTOR Página 3 Dr. Felipe Hurtado Graduado em Medicina pela Universidade Cidade de São Paulo, especialista em Medicina do Trabalho (RQE 77.513), especialização em Medicina Legal e Perícia Médica pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, especialização em Avançado em Medicina Legal e Perícia Médica: Práticas Periciais pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, especialização em Medicina do Trabalho pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, graduando em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, pós graduando em Direito Médico e Hospitalar pela Escola Paulista de Direito, MBA em Gestão, Empreendedorismo e Marketing pela PUC-RS. Estágio em Valoração do Dano Pessoal em Direito Civil, Penal e do Trabalho pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (Coimbra, Portugal), estágio em Toxicologia pelo Boston Children’s Hospital, Harvard Medical School (Boston, EUA), estágio em Toxicologia pelo Bellevue Hospital Center, New York University School of Medicine (New York, EUA), estágio em Cirurgia Plástica e Cirurgia Digestiva Alta pelo Hospital Clínico da Universidad de Chile (Santiago, Chile). Atua exclusivamente na seara da Perícia Médica como perito judicial e assistente técnico nas esferas cível, trabalhista, previdenciária e securitária. CEO da Verum Perícias e Consultoria. INTRODUÇÃO Em minha experiência como perito judicial e assistente técnico em perícias médicas percebi certas dificuldades entre os advogados e os assistentes técnicos que os auxiliam na elaboração dos quesitos, tais quais invariavelmente podem comprometer a tese jurídica da parte que os apresenta, assim como o resultado da perícia médica e consequentemente o resultado da ação. O objetivo deste e-book é lhe mostrar quais são estas nuances na elaboração dos quesitos para a perícia médica, de modo que possa evitar estes descuidos. Página 4 SOBRE AQUESITAÇÃO Quesitos são perguntas inseridas no processo judicial pelas partes do processo e pelo magistrado, para que o perito judicial as responda. A apresentação de quesitos na perícia médica busca o esclarecimento técnico de matéria médica que seja de interesse jurídico. Ela apresenta ao perito judicial o que necessita ser esclarecido sobre determinado fato, e que depende do conhecimento técnico de uma área específica, de modo a esclarecer as nuances técnicas ao magistrado e às partes, trazendo mais subsídios para o deslinde de uma ação judicial. Existem algumas particularidades sobre a quesitacao ao analisar individualmente cada ramo do direito, conforme será exposto ao longo do presente e-book. Neste momento destacamos uma especificidade da esfera previdenciária, que constantemente encontramos o objeto da perícia sendo delimitado pelos quesitos apresentados, e não pelo magistrado. A nossa legislação observa com tanta importância os quesitos, que por força do artigo 473, inciso IV, do Código de Processo Civil (2015), o perito judicial é obrigado a responder todos os quesitos de forma conclusiva. Ou seja, o perito judicial não pode deixar de responder nenhum quesito, ou por exemplo, respondê-los somente como “vide laudo” ou “prejudicado”. Página 5 OS 3 TIPOS DE QUESITOS Página 6 Quesitos Iniciais Os quesitos iniciais estão previstos no art. 465, parágrafo 1º, inciso III do Código de Processo Civil (2015), e que após determinada a realização da perícia com a nomeação do perito judicial, o juiz abrirá prazo para que as partes apresentem os seus quesitos iniciais. O prazo legal para a apresentação destes quesitos é de 15 dias após o despacho de nomeação do perito judicial. Algumas peculiaridades sobre os quesitos iniciais observa-se com a prática na Justiça Especial Federal (JEF), nas Varas de Acidente de Trabalho (VAT’s) e em Ações Acidentárias nas Varas Cíveis, pois nos deparamos com situações em que não é aberto prazo para a parte apresentar seus quesitos, de modo que apresentar os quesitos junto à petição inicial nestas esferas, contorna situações como esta. Quesitos Suplementares Os quesitos suplementares, previstos no art. 469, parágrafo 1º, inciso III do Código de Processo Civil (2015), são quesitos que podem ser apresentados durante a diligência pericial. Os quesitos suplementares são quesitos que, como o próprio já nome diz, irão suplementar questões já apresentadas inicialmente através dos quesitos iniciais, mas que precisam ser esclarecidas em decorrência de um fato novo que ocorreu entre o momento da proposição da ação e a data da realização da perícia médica. Suponha que em um determinado caso, no momento do ingresso da ação, o autor era portador de câncer, e somente após 6 meses da propositura da ação foi agendada a perícia médica. Neste meio tempo o autor teve evolução do seu quadro oncológico apresentando com metástase para outro órgão, realizou novos exames e encontrou novos achados. Neste caso há um fato novo, portanto, há motivação concreta para serem apresentados novos quesitos que suplementarão os quesitos iniciais. Desta forma, se faz necessária a elaboração dos quesitos suplementares, que deverão ser apresentados antes da elaboração do laudo pericial e durante a diligência pericial. Página 7 Atenção: há entendimento jurisprudencial sobre a possibilidade de preclusão do direito de apresentar os quesitos suplementares nos casos em que não foram apresentados os quesitos iniciais, podendo ter os quesitos suplementares indeferidos pelo juízo nestes casos. Se o perito já iniciou a prova pericial, e não foram apresentados os quesitos iniciais, há entendimento jurisprudencial sobre a impossibilidade de se apresentar os quesitos suplementares. Então, muito cuidado! É recomendável que se apresente os quesitos iniciais junto com a petição inicial, garantindo que os quesitos suplementares possam ser apresentados durante a diligência pericial caso surja um fato novo até o momento da realização da perícia médica, sem maiores transtornos. Vale lembrar que o magistrado pode indeferir os quesitos suplementares, entendendo que houve preclusão sobre o direito de apresentar quesitos para o caso concreto. Quesitos de Esclarecimento Por vezes encontraremos estes quesitos sendo chamados de “suplementares” ou de “complementares”, no entanto, sob a ótica do Código de Processo Civil, estes quesitos possuem sua previsão no art. 477, parágrafo 3º, e a interpretação deste dispositivo nos permite chegar à denominação de “quesitos de esclarecimento”. Os quesitos de esclarecimento servem apenas para esclarecer os pontos omissos que o laudo ou a resposta aos quesitos anteriormente formulados não foram claros. Deste modo, o art. 477, parágrafo 3º prevê que os quesitos serão esclarecidos durante a audiência de instrução e julgamento. Sob a leitura e análise puramente positiva do referido artigo, o que se extrai deste dispositivo é que seria uma “oitiva” do perito durante a audiência de instrução e julgamento. O que na prática, não vemos acontecer. O advogado pode solicitar que o perito seja ouvido em audiência, sob a ótica deste dispositivo, porém, o que vemos ocorrendo na prática, é que no lugar desta “oitiva”, os quesitos de esclarecimento são formulados pelas partes e apresentados por escrito nos autos e, por sua vez, são respondidos pelo perito judicial, que junta a resposta por escrito aos autos. OS PRINCIPAIS EQUÍVOCOSAO SE ELABORARQUESITOS Diagnóstico Anatômico x Diagnóstico Funcional O diagnóstico anatômico são os achados que encontramos em exames de imagem, como por exemplo, em radiografias, tomografia e ultrassonografias. Quando falamos de diagnóstico funcional, nada mais é do que o impacto causado por uma determinada doença/perturbação na função de órgãos e sistemas do corpo humano. Somente com a definição do diagnóstico funcional é possível determinarmos o grau de incapacidade de um indivíduo para uma determinada atividade. A alteração no exame de imagem voltado para o diagnóstico anatômico, isoladamente, não tem valor algum. O fatode o indivíduo apresentar uma hérnia de disco ao exame de imagem, não é condição sine qua non para a presença de uma incapacidade laborativa. Quantas pessoas você conhece que possuem hérnias discais e que são totalmente assintomáticas, sem apresentar qualquer déficit funcional? Você que está lendo e eu que estou escrevendo podemos tê-las e não apresentar qualquer sintomatologia durante toda a nossa vida. Deste modo, podemos concluir que é impossível se extrair informações categóricas sobre a funcionalidade de órgãos ou sistemas considerando isoladamente os exames complementares voltados para diagnóstico anatômico. O exame físico realizado pelo perito é fundamental para subsidiar a caracterização do diagnóstico funcional e, consequentemente, a análise sobre a capacidade laborativa do indivíduo. Página 8 Página 9 ImputabilidadeMédica x Imputabilidade Jurídica A imputabilidade médica advém da análise do dano, da conduta, e do nexo de causalidade entre ambos, sob a óticamédico-legal. Grave esta informação: o perito só poderá analisar a imputabilidade do ponto de vista médico. Um dos princípios mais relevantes da Medicina Legal e Perícia Médica é o de “não opinar sobre o médico da causa”. Já a imputabilidade jurídica, além de considerar o dano, a conduta, e o nexo de causalidade, também possui lastro na antijuridicidade e na culpa. Ou seja, a análise do nexo de causalidade jurídico vai além dos limites da análise da imputabilidade médica. Não basta comprovar o dano. É necessário comprovar o nexo de causalidade entre a conduta e o dano. O perito judicial não pode ultrapassar os limites da sua atuação, sendo a análise da imputabilidade jurídica (que inclui a análise da culpa e da antijuridicidade) atribuição exclusiva domagistrado. Não cabe ao perito judicial responder se “houve erro médico”, se “houve negligência”, se houve “imprudência”, ou “qual benefício o periciado faz jus”. Inclusive, responder tais questionamentos ultrapassariam a análise médica técnico-científica, avançando sobre a análise jurídica do caso concreto, que é exclusiva do magistrado, sendo importante ressaltar que tal prática é vedada pelo artigo 473, parágrafo 2º, do Código de Processo Civil. Patologia x Dano/Déficit Funcional (manifestação clínica) Quando tratamos de ação que envolva doença relacionada ao trabalho ou de indenização por “erro médico” (termo que vêm sendo substituído pelo termo “danos associados aos cuidados à saúde”), observamos que a mera existência de uma patologia não é, isoladamente, ensejadora do reconhecimento de um direito. Nas esferas trabalhista e previdenciária, é necessário que a parte comprove um déficit efetivo da funcionalidade de um órgão ou sistema, e somente após esta comprovação se faz necessário comprovar que o déficit encontrado impacta na capacidade laborativa do indivíduo. Existir de doença não significa que exista um déficit funcional, que também não significa estar presente algum grau de incapacidade laboral. A incapacidade para o trabalho não decorre da existência da doença, mas sim do déficit funcional que ela causa, associado à magnitude do comprometimento da capacidade laborativa que a mesma ocasione no indivíduo. Sabendo disso, pense comigo: quando quesitamos sobre a capacidade laborativa, o que seria mais efetivo? A) Quesitar sobre o diagnóstico/doença; ou B) Quesitar acerca da manifestação clínica/repercussão que a doença causa no indivíduo. Página 10 Página 11 Sem sombra de dúvidas a opção B (quesitar acerca da manifestação clínica/repercussão que a doença causa no indivíduo) é a mais efetiva. A simples comprovação da doença não comprova nada do ponto de vista trabalhista ou previdenciário. Somente a comprovação do efetivo déficit funcional com um real impacto deste sobre a capacidade laborativa indivíduo ensejará na indenização ou na concessão de um benefício por incapacidade. Até mesmo sob a ótica da ação por “erro médico” a comprovação do dano isoladamente não é suficiente, fazendo-se necessário comprovar o nexo de causalidade entre o dano e uma conduta praticada diversamente ao que se encontra na literatura médica. Trago alguns casos exemplificativos... Exemplo 1 (esfera trabalhista/previdenciária) Um indivíduo pode apresentar uma hérnia de disco, mas não apresentar qualquer limitação funcional e, portanto, não terá qualquer grau de incapacidade laborativa. Exemplo 2 (esfera trabalhista/previdenciária) Um indivíduo pode apresentar uma limitação na flexão do tronco em razão de uma hérnia discal, porém aquele movimento não é necessário para o pleno exercício da sua atividade/função. Portanto, apesar do indivíduo apresentar uma doença (hérnia discal) e um déficit funcional (diminuição da amplitude de flexão do tronco), para aquela atividade/função não há qualquer repercussão sobre a sua capacidade laborativa. Dificilmente o perito irá negar a existência da doença. O que se vê frequentemente é o perito apontando que não há incapacidade na atualidade, sem negar a existência da doença. Exemplo 3 (esfera cível - ação de indenização por “erromédico”) Um indivíduo comprova que devido a uma lesão no plexo braquial do braço esquerdo, não possui o movimento do braço esquerdo. Neste caso, caberá indenização ao indivíduo, certo? Errado. Embora comprove um dano (lesão no plexo braquial e perda do movimento do braço), não foram encontrados elementos para se comprovar que a lesão apresentada possui nexo de causalidade com o procedimento cirúrgico que se alega ter dado causa à lesão. Desta forma, embora tenha sido comprovado o dano, não foi comprovado o nexo de causalidade entre o dano e a conduta. Nas ações de indenização por “erro médico”, comprovar o dano não é suficiente para preencher os pressupostos da imputabilidade médica, tampouco da imputabilidade jurídica. Página 12 ENTÃO... COMO FAZER QUESITOS PARA A PERÍCIA MÉDICA? Para este questionamento, e para melhor entendimento, trago alguns exemplos de quesitos... Quesitos exemplificativos sobre a disfunção/manifestação clínica “1) Há hipotrofia muscular nas pernas do periciado?” “2) Há uma diminuição da amplitude do movimento no antebraço do periciado?” “3) O periciado apresenta algum déficit funcional atual?” Quesitos exemplificativos sobre o que a disfunção/manifestação clínica impacta na atividade laboral do indivíduo “1) O periciado precisa ter força nas pernas para carregar caixas?” “2) O periciado precisa se movimentar durante para exercer a sua atividade?” “3) O periciado precisa fazer algum esforço extra para exercer a sua atividade?” Desta forma, destaco também algumas comparações para que você possa aperfeiçoar estes conceitos em seus quesitos... Quesitos Genéricos x Quesitos Específicos Um quesito específico exige uma resposta específica. Ao se elaborar um quesito genérico e amplo, abre-se margem para interpretações ou para respostas diversas do que se quer comprovar naquela ação. É preferível que se façam quesitos específicos, assim como é fundamental que os quesitos estejam alinhados à tese jurídica da parte. Página 13 Página 14 “Quesitos Prontos” / “Modelos de Quesitos” x Quesitos Personalizados Existe um grande problema ao se utilizar “quesitos prontos” / “modelos de quesitos”. Imagine as seguintes situações: Situação A: Indivíduo ingressa com uma ação acidentária, e em possui um histórico de já ter gozado de benefício acidentário previamente. Situação B: Indivíduo ingressa com uma ação acidentária, no entanto nunca gozou de benefício acidentário previamente. Se fizermos, para as duas situações, o seguinte quesito: “O periciado já gozou de algum benefício acidentário anteriormente?” Na situação A, a resposta do perito judicial será que “sim”, e consequentemente este quesito favoreceria o autor, pois comprovaria que já foi reconhecido anteriormente um benefício acidentário. Em outras palavras, este quesito irá reforçar a tese jurídica que se quer comprovar, pois já houve na história do periciado o reconhecimento anterior da incapacidade laborativae do nexo de causalidade com o trabalho. Já na situaçãoB, este mesmo quesito é desfavorável ao autor, pois não restou comprovado que ele gozou anteriormente o mesmo benefício discutido nesta ação, sendo um quesito que mais atrapalha do que ajuda na comprovação da tese jurídica. Um mesmo quesito, para uma ação que verse sobre o mesmo tema, pode ser favorável ou desfavorável, a depender do caso concreto. A IMPORTÂNCIA DAQUESITAÇÃO ADEQUADA A quesitação é a “linha condutora” da prova pericial, de forma que a adequada quesitação é fundamental para o auxílio na comprovação da tese jurídica. A quesitação adequada faz com que sejam apontados holofotes para um determinado fato, ao passo que o perito judicial e o magistrado terão maior atenção ao evento que se deu destaque, assim como sinaliza para que o perito leia com maior atenção documentos considerados importantes pela parte que apresentou os quesitos. Quesitos personalizados e adequados para cada ação podem servir como excelentes condutores da prova pericial, e são fundamentais para se maximizar o potencial de esclarecimento a ser extraído da perícia. E por último, é importante salientar que... ... a ausência de resposta ao quesito pertinente é um evidente cerceamento de defesa. Página 15 CHECK LIST PARAA ELABORAÇÃO DEQUESITOS • Elaborar quesitos que tenham relação com o objeto da perícia; • Apresentar os quesitos dentro do prazo legal (determinado pela lei) ou judicial (determinado pelo juiz); • Ir além do diagnóstico anatômico, levando em consideração o diagnóstico funcional; • Observar os limites da atuação do perito judicial, realizando quesitos sobre a parte médica do processo, e não sobre o mérito da lide; • Elaborar quesitos dentro dos limites dos pressupostos da imputabilidade médica para a caracterização (ou descaracterização) do direito: dano, conduta e nexo de causalidade. Página 16 “Nunca faça uma pergunta paraaqual você já não saiba a resposta.” um ditado muito comum entre advogados norte-americanos Página 17 Obrigado! Clique no ícone para onde deseja ir. 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