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Redação Dissertativo-Argumentativa A centralidade da pesquisa na identidade do Mestrado Profissional em Educação O debate em torno da identidade do Mestrado Profissional em Educação, no Brasil, evidencia um campo ainda em consolidação, permeado por tensões e questionamentos acerca de seu estatuto científico e de sua legitimidade no interior da pós-graduação stricto sensu. A obra de André e Princepe (2017) problematiza precisamente o “lugar da pesquisa” nesse formato, situando-o em meio a resistências da comunidade acadêmica e a movimentos de afirmação da especificidade profissional desse nível de formação. A análise proposta pelas autoras permite compreender que, longe de representar uma ameaça à produção de conhecimento, o Mestrado Profissional pode configurar-se como espaço privilegiado de articulação entre investigação e prática pedagógica. A resistência inicial ao Mestrado Profissional em Educação decorreu, em grande parte, do temor de que este comprometeria a função primordial da pós-graduação: a formação de pesquisadores e a produção sistemática de conhecimento novo. Parte da comunidade científica temia que a ênfase na prática profissional diluísse a exigência de rigor investigativo e rebaixasse a qualidade do stricto sensu. No entanto, como destacam André e Princepe (2017), essa visão se mostrou reducionista, pois ignora a possibilidade de a prática profissional ser também um campo fértil de problematizações, de produção de dados e de elaboração teórica. Nesse sentido, reconhecer a pesquisa como componente central do Mestrado Profissional não implica subordiná-la a critérios de aplicabilidade imediata, mas compreendê-la como processo reflexivo capaz de transformar a prática educativa. A questão, portanto, não está em opor Mestrado Profissional e Mestrado Acadêmico, mas em reconhecer a especificidade de cada um. Se o acadêmico se orienta mais intensamente à formação de pesquisadores, o profissional deve articular pesquisa e intervenção pedagógica, produzindo conhecimento situado, ancorado em demandas reais da educação básica. Trata-se de uma perspectiva que confere legitimidade ao profissional que pesquisa sua prática, produzindo tanto impacto local quanto contribuições científicas mais amplas. Assim, como defendem as autoras, o desafio é superar visões dicotômicas e assumir que o rigor investigativo não se perde quando a pesquisa emerge da prática; ao contrário, pode ser até potencializado, pois os problemas investigados são concretos e socialmente relevantes. Nesse horizonte, ganha relevo a produção de produtos educacionais — exigência normativa dos mestrados profissionais. Esses produtos, longe de serem meros “aplicativos práticos”, constituem-se como sínteses da pesquisa realizada, expressando metodologias, instrumentos e propostas que dialogam diretamente com os contextos de atuação docente. Ao invés de fragmentar teoria e prática, o produto pode representar sua síntese dialética, se for concebido com intencionalidade crítica e fundamentação sólida. A literatura de avaliação de produtos educacionais em mestrados profissionais mostra, inclusive, a necessidade de ampliar o rigor e a inovação desses materiais, de modo que não se limitem à reprodução de práticas já consolidadas, mas abram caminho para novos modos de pensar a docência. Do ponto de vista crítico, é importante reconhecer que o Mestrado Profissional em Educação enfrenta ainda alguns desafios. Um deles diz respeito à resistência cultural de parte da academia, que ainda hierarquiza a pesquisa acadêmica como superior à aplicada. Outro se relaciona à dificuldade de construir currículos que garantam tanto o domínio da investigação quanto a relevância para a prática pedagógica. Contudo, esses limites não anulam o potencial transformador desse espaço formativo. Pelo contrário, tensionam os sujeitos envolvidos a buscar soluções criativas e sustentadas teoricamente, reafirmando que a pesquisa, no Mestrado Profissional, é mais do que um requisito formal: é um instrumento de emancipação profissional e de transformação das práticas educativas. Em síntese, a reflexão proposta por André e Princepe (2017) convida a compreender que o Mestrado Profissional em Educação não pode ser visto como um curso de segunda categoria, mas como espaço singular de articulação entre teoria e prática, pesquisa e ação, ciência e profissão. A defesa do lugar da pesquisa nesse formato reafirma que investigar é também um modo de formar-se e de intervir no real, garantindo qualidade acadêmica sem abrir mão da pertinência social. Trata-se, portanto, de um projeto que exige de seus participantes postura crítica, compromisso ético e capacidade de transformar sua própria prática em objeto de estudo, devolvendo à escola e à sociedade respostas fundamentadas para os desafios da educação básica.