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Indaial – 2023 Contábil Prof. João Lucas Modesto 1a Edição AuditoriA Elaboração: Prof. João Lucas Modesto Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. MODESTO, João Lucas. Auditoria contábil. João Lucas Modesto. Indaial - SC: Arqué, 2023. 228p. ISBN 978-65-5646-646-0 ISBN Digital 978-65-5646-643-9 “Graduação - EaD”. 1. Auditoria 2. Financeiros 3. Patrimoniais CDD 657 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Olá, acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Auditoria Contábil! Com esta disciplina você aprenderá sobre a importância das rotinas de auditoria em empresas, conhecerá sobre importantes aspectos da contabilidade gerencial, economia, finanças e administração de empresas e poderá aplicar todos estes conhecimentos nas mais diversas rotinas envolvendo processos de auditoria contábil. Esta disciplina está estruturada com a divisão do conteúdo em três unidades. Na Unidade 1, falaremos sobre a Introdução às Práticas de Auditoria Contábil. Aqui, você poderá aprender o que é, para que serve, a quem se destina e como a auditoria é aplicada em empresas. O foco desta unidade está em elucidar os benefícios de suas práticas enquanto uma ferramenta de gestão. Graças a auditoria as empresas podem melhorar seus processos, ajustar etapas na produção de produtos e cumprir requisitos obrigatórios em sua administração. Evoluindo nos nossos estudos, na Unidade 2 falaremos sobre a etapa de planejamento dos processos de auditoria. Aprenderemos sobre o Planejamento e Normas em Processos de Auditoria Contábil. O processo de planejamento é fundamental não só para a empresa que está sendo auditada, mas também para melhorar a performance do auditor, isto é, melhorar a eficiência de todo o processo de auditoria. Sem um planejamento bem estruturado, itens como os objetivos, os prazos e os recursos necessários para a execução de uma auditoria contábil tornam-se de difícil idealização, tornando a realização de seus processos menos eficientes. Por fim, na Unidade 3, o tema estudado será a Aplicação de Auditoria Contábil e Elaboração de Relatórios Gerenciais. Os pontos explorados aqui serão aspectos práticos nos processos de auditoria, envolvendo não só a sua aplicação, mas também ferramentas de controle e testes dos dados auditados, bem como o processo de finalização da auditoria mediante a elaboração dos relatórios finais e a opinião do auditor sobre as realidades apuradas na empresa. O foco principal desta disciplina é abordar a importância de métodos de controle sobre os processos financeiro-contábeis nas organizações. Um destes métodos está no processo de Auditoria Contábil. A elaboração deste conteúdo visa construir uma introdução ao tema principal da disciplina na Unidade 1, evoluindo para o início de sua aplicação na Unidade 2, tratando sobre etapas de planejamento, e, por fim, aplicando-os na prática na Unidade 3. Considere esta divisão para dividir e organizar seus estudos. O campo da Auditoria Contábil requisita inúmeros conhecimentos. Seja na área de contabilidade inicialmente, ou em áreas correlatas, como a administração de empresas, a administração financeira, economia ou mesmo o direito, quando tratamos APRESENTAÇÃO de normas de auditoria, são várias as áreas que compõe os vastos conhecimentos necessários a um auditor contábil. Atuar nesta área, apesar dos seus desafios, é algo que produz inúmeros resultados profissionais ao auditor. Permite conhecer de perto os diferentes processos em uma empresa, comparar seus métodos de controle, acompanhar a evolução de uma empresa, conhecer melhor o mercado e entender como funcionam as leis e regulamentações vigentes. Estar preparado para a atuação neste setor requer esforço e dedicação. Para melhorar os resultados obtidos após a finalização desta disciplina, é fundamental que você, querido acadêmico, além da leitura, realize as autoatividades disponíveis no final de cada tema de aprendizagem e confira o material complementar disponível em sua Trilha de Aprendizagem. A realização das leituras, bem como conferir os vídeos, artigos e outros materiais indicados, enriquecerá significativamente o seu conhecimento. Esperamos que esta disciplina possa servir como uma porta de entrada para o universo que a Auditoria Contábil abrange. Que os conteúdos presentes aqui sirvam para a aplicação em suas rotinas profissionais e que possam servir como a base para o aprofundamento dos estudos na área de contabilidade e de gestão administrativa. Bons estudos! Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confi ra, acessando o QR Code a seguir.visando assegurar que estes estejam corretos e representem a verdadeira situação da empresa, perante o cumprimento de normas e leis vigentes. Pode ser interna (realizada por funcionário, atendendo a aspectos de controle interno) ou externa (realizada por auditor independente, profissional de fora da organização, atendendo a necessidades de seu público externo). RESUMO DO TÓPICO 1 24 AUTOATIVIDADE 1 A contabilidade representa uma importante área de estudo quanto a processos de administração de empresas. Assim como o direito proporciona ferramentas de proteção legal à uma organização, o marketing fornece informações sobre o produto e clientes, a contabilidade possibilita aos administradores entenderem a real situação da empresa em dado momento, considerando aspectos econômicos e financeiros. Dentre seus diversos documentos, alguns proporcionam a visão sobre o patrimônio da empresa, outros sobre o lucro, e alguns sobre as movimentações financeiras da organização. Cada item dentro da contabilidade é fundamental para que uma empresa planeje e controle suas operações de maneira a obter melhores resultados. A respeito das aplicações da contabilidade no campo da auditoria contábil, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A contabilidade identifica aspectos sobre o funcionamento financeiro da organização, enquanto a auditoria assegura que estes registros estejam de acordo com padrões aceitos no mercado e que cumpram a legislação vigente. b) ( ) A contabilidade permite identificar a realidade financeira da empresa, enquanto a auditoria permite identificar aspectos econômicos, isto é, sobre as operações e recursos organizacionais de uma empresa c) ( ) A contabilidade permite ao gestor tomar decisões considerando apenas aspectos internos, enquanto a auditoria permite, a partir de métodos de auditoria externa, ter uma visão sobre aspectos externos da gestão empresarial d) ( ) A contabilidade possibilita às empresas identificar sua realidade patrimonial apenas no momento de análise, enquanto a auditoria complementa estas analises proporcionando métodos de planejamento graças a aplicação da auditoria externa 2 Dentre as diferentes análises realizadas em processos de contabilidade gerencial, que envolvem a análise de diversos documentos, um documento em especial permite ao gestor analisar todas as disponibilidades financeiras de curto, médio e longo prazo, ao mesmo tempo que permite análises referentes as suas despesas, obrigações e dívidas. Esse documento é especialmente importante quando tratamos sobre a etapa de planejamento e controle das atividades empresariais, que dependem dos itens abordados por este documento. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Demonstração dos Resultados do Exercício. b) ( ) Balanço Patrimonial. c) ( ) Demonstração dos Fluxos de Caixa. d) ( ) Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados. 3 Quando abordamos as duas modalidades de auditoria contábil aplicadas em empresas, uma destas, em especial, é responsável pelo caráter de maior confiabilidade e transparência quanto aos métodos aplicados na conferência de processos e documentos 25 contábeis. Por exemplo, ao considerarmos esta modalidade de auditoria, temos a figura de um auditor que está interessado primariamente em verificar os resultados da organização auditada e em seguida reportar se esses resultados estão sendo de fato controlados corretamente por demonstrações reais e que cumprem com legislações em vigor. Esses dados são especialmente importantes para o governo, para os bancos e para os clientes da organização. Essa importância quanto ao enfoque de seu trabalho proporciona um processo de auditoria mais transparente e confiável, garantindo tanto para a empresa quanto para as demais partes interessadas um processo de auditoria eficiente e ético. Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Auditoria Interna, pois é realizado por alguém de dentro da empresa que depende de resultados de auditoria bem apurados e quer atrair novos investidores. b) ( ) Auditoria Interna, pois é realizada de forma independente e sem vínculos trabalhistas, tendo enfoque em garantir que a auditoria seja feita de forma correta. c) ( ) Auditoria Externa, pois é realizada por um auditor externo que tem interesse em atender o público externo à companhia, permitindo que realize seu trabalho de forma mais ética e confiável. d) ( ) Auditoria Externa, pois é realizada sem considerar as necessidades da empresa que a contratou, o foco é apenas conferir processos e documentos para o seu público interno. 4 Temos em auditoria contábil o papel importante de dois profissionais, que embora distintos realizam atividades semelhantes. O auditor contábil interno é caracterizado por ter vínculo empregatício com a organização auditada. O externo não possui este vínculo. Apesar desta diferença em termos de hierarquia profissional, ambos possuem caráter independente e precisam atender requisitos legais para exercer sua função. Ambos devem zelar pela ética, justiça e pela atenção em detalhes quanto à realização de sua profissão. Considerando os diferentes enfoques na figura destes dois tipos de auditor, disserte sobre como podem ser evitadas as possibilidades de ocorrência de conflito de interesse entre a empresa e o auditor, que podem levar a erros, fraudes ou corrupção nos processos de auditoria. 5 A contabilidade gerencial é caracterizada por proporcionar aos gestores ações integradas quanto à gestão da informação contábil em uma empresa, e consequentemente possibilitar melhores tomadas de decisão com base nos demonstrativos contábeis realizados por uma organização. Essa função representa um ganho de utilidade e eficiência quanto ao uso da contabilidade em empresas. Implementar sistemas de contabilidade gerencial tem se tornado cada vez mais necessário ao analisarmos as novas tecnologias presentes no século XXI. Considerando estas mudanças tecnológicas, somadas às evoluções da contabilidade gerencial na atualidade, disserte sobre a importância dos Sistemas de Informações Gerencias (SIG) na condução das atividades de contabilidade gerencial, e quais são os seus impactos sobre a aplicação de procedimentos de Auditoria Contábil em empresas. 26 27 ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS E SUAS RELAÇÕES COM A AUDITORIA CONTÁBIL 1 INTRODUÇÃO A auditoria contábil é uma área profissional multidisciplinar, isto é, recebe apoio de diferentes áreas de estudo/profissionais para que possa ser desempenhada em empresas e consiga produzir os resultados esperados. Dentre as áreas que mais se destacam, estão os estudos e conceitos da disciplina de economia, administração e gestão financeira. Além destas, aspectos do direito, quando tratamos de normas e leis contábeis, a área de tecnologia de informação, quando abordamos o assunto de tecnologias aplicadas ao ramo de auditoria, dentre diversas outras áreas, são fundamentais para complementar e melhorar as práticas de auditoria contábil. Devido a esta multidisciplinaridade, no Tema de Aprendizagem 2 falaremos sobre as três áreas que mais se relacionam com a auditoria, relacionando-as com suas atividades e exemplificando a importância destas áreas para as práticas da auditoria. Além de conhecer os fundamentos da economia, administração e finanças aplicados à área de auditoria, este tema de aprendizagem será útil para ampliar o conhecimento sobre os funcionamentos das empresas no mercado e, com isso, entender melhor quais os objetivos delas, como são gerenciadas e, também, ampliar a visão sobre a auditoria como ferramenta para aumentar o desempenho da gestão empresarial. 2 A AUDITORIA CONTÁBIL E OUTRAS ÁREAS DE ESTUDO Os processos de Auditoria Contábil envolvem inúmeros setores, pessoas e processos. Apesar de ter enfoque na contabilidade como área de conhecimento principal, pois visa analisar os procedimentos de controle contábil, bem como suas demonstrações, a auditoria estáintimamente relacionada com outras importantes áreas de conhecimento, a saber, a Economia, Administração e as Finanças. A auditoria se relaciona com a economia, pois são necessários conhecimentos acerca do mercado em que a empresa está inserida, possibilitando entender os seus objetivos organizacionais, seu planejamento, suas operações, bem como as legislações aplicáveis à empresa. A mesmo modo, o Auditor necessita conhecer as tendências econômicas para poder planejar o seu trabalho, visando melhorar seus resultados. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 28 Podemos entender economia como a ciência social que estuda de que maneira a sociedade decide empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de forma a distribuí-los entre várias pessoas e grupos de uma sociedade, satisfazendo suas necessidades (VASCONCELLOS; GARCIA, 2019, p. 2). Conhecer aspectos como microeconomia e macroeconomia, que abordam itens como oferta e a demanda, estruturas de mercado, recursos e políticas econômicas, permite ao auditor entender as estruturas que compõe a empresa e consequentemente poderá aplicar melhor os métodos de auditoria para averiguar os métodos contábeis adotados pela empresa. Com relação à contabilidade gerencial e à auditoria contábil, a economia permite entender de maneira mais profunda e detalhada os mecanismos pelos quais as empresas operam, porque operam e como os seus produtos e serviços atendem à população consumidora. Em outras palavras, permite a compreensão da aplicação prática dos dados observados nas demonstrações contábeis de uma organização. As estruturas de mercado, concorrência, influências do governo, pressões inflacionárias e cambiais, dentre outros temas relevantes em economia nos permitem entender estratégias contábeis adotadas para impulsionar resultados nas empresas, o que, por um lado explicita a necessidade de controles contábeis eficientes originando a utilização da contabilidade gerencial e da auditoria, e por outro permite ao auditor estar atento à possibilidade de existência de fraudes e outros riscos de manipulação de dados contábeis. Os entendimentos acerca da Economia aprofundam também os conhecimentos acerca da Gestão Empresarial, ou em outras palavras, ao campo de estudo da Administração de Empresas. Ao administrar uma empresa, o administrador deve conhecer bem áreas correlatas ao estudo econômico. Deve possuir um conjunto de habilidades técnicas, humanas e conceituais que o permitam tomar decisões voltadas ao aumento de performance, melhoria em resultados e evolução de sua empresa (CHIAVENATO, 2020, p. 3-7). A administração permite aplicar conceitos de planejamento, organização, direção e controle sobre as atividades que a empresa realiza em seu mercado de atuação. O administrador tem uma função econômica, devendo saber tomar decisões considerando as desvantagens e vantagens de cada escolha que realiza (LACOMBE; HEILBORN, 2015, p. 3). Economia e Administração se complementam quando aplicadas a processos de auditoria. O administrador deve considerar aspectos econômicos para basear sua tomada de decisão, e, ao mesmo tempo, suas decisões influenciam em resultados econômicos de sua empresa. 29 São inúmeros os conhecimentos necessários a um administrador. Deve conhecer muito bem sobre gestão de pessoas, gestão de processos, gestão de produtos etc. Suas habilidades, por serem de extensas, são aplicadas em inúmeras atividades e por vezes necessitam do apoio de contadores e economistas. A própria necessidade por processos de auditoria é originada pelas múltiplas atividades de um administrador. Por exemplo, um administrador, por muitas vezes, contrata um processo de auditoria pois não é capaz de supervisionar pessoalmente todas as atividades da empresa, que são muitas (SILVA, 2020a, p. 12). Dentre as inúmeras áreas da administração, a administração financeira tem relevância especial quando tratamos sobre os processos de Auditoria Contábil. Também conhecida como finanças, esta área trata sobre o uso do capital, isto é, recursos financeiros, dinheiro em diferentes formas (crédito, caixa, investimentos etc.) na condução de atividades empresariais. As finanças nada mais são que mecanismos pelos quais a empresa administra o dinheiro da empresa, no objetivo de aumentar o seu valor no decorrer do tempo. Corresponde à uma ciência e ao mesmo tempo uma arte de administrar o dinheiro (GITMAN; ZUTTER, 2017, p. 4-5). Administrar o dinheiro em uma empresa necessita de controles rígidos, um planejamento bem elaborado, bem como mecanismos corretivos em caso de acontecimentos que venham a mudar o cenário em que a empresa esteja em determinado momento. Também é considerada arte pois faz-se necessária a intuição, o chamado feeling quanto à aplicação de seus conceitos. Um administrador financeiro deve gerar valor a empresa, o que pode ser entendido de inúmeras formas. Segundo afirmam Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2016, p. 11-12), “podemos entender como valor em finanças, basicamente o valor de uso e o valor de troca quanto a bens e serviços em uma empresa”. Valor de uso, conforme afirmam os autores, corresponde ao valor atribuído à capacidade de bens e serviços satisfazerem as necessidades daqueles que os possuem. Valor de troca por sua vez, representa a quantia de recursos que, de comum acordo entre as partes permite a troca de posse de um bem ou serviço de forma justa e satisfatória entre as partes. Estes dois conceitos de valor, sob aspecto das Finanças aplicadas em Auditoria Contábil nos permitem refletir sobre os objetivos do uso da contabilidade em empresas. Devemos priorizar o valor de uso, permitindo produtos melhores em detrimento de maiores lucros ou priorizar o valor de troca, atribuindo preços melhores (maiores ou menores, a depender da situação do produto) quanto à troca de dinheiro por produtos? 30 Essas decisões passam pelo uso da administração financeira em uma empresa. Para realizar ações que visam aumentar o valor gerado pela empresa são necessários recursos financeiros. O dinheiro é etapa fundamental em qualquer atividade organizacional. Sem dinheiro não é possível contratar funcionários, produzir produtos e serviços, realizar processos logísticos etc. Todas as atividades da empresa envolvem o uso de recursos financeiros (BRAGA, 1989). Além do uso do dinheiro como ferramenta de aumento de valor de uso e de troca, temos ainda uma terceira abordagem: o valor econômico. Segundo afirma Assaf Neto (2021, p. 2), “a empresa agrega valor quando produz um resultado que supera o seu custo de capital, superando os investimentos realizados mediante a remuneração exigida pelos investidores da empresa”. Economia trata sobre os estudos acerca do uso de diferentes recursos pela sociedade, sua transformação e distribuição de forma a atender necessidades infinitas, mediante a recursos escassos. Administração aborda o uso do planejamento, organização, direção e controle de atividades, pessoas, processos e recursos visando valorizar os resultados de uma organização. A Administração Financeira, ou, para fins de estudo de Auditoria as Finanças, são mecanismos administrativos que a empresa utiliza para valorizar o seu dinheiro no decorrer do tempo, visando aumentar os resultados corporativos. IMPORTANTE Novamente, conceitos de Administração, Economia e Finanças complementam- se nos estudos de gestão empresarial. A contabilidade por sua vez agrega estas áreas de estudo ao identificar as movimentações de capital na empresa e permitir com que os gestores executem ações voltadas à geração de valor. A auditoria complementa este processo ao permitir a afirmação de que os métodos aplicados para a gestão empresarial, sob aspecto contábil, estejam condizentes com altos padrões de qualidade, atendendo também requisitos legais obrigatórios a fim de faze cumprir a legislação vigente. Entender como funcionam estas três áreas de conhecimento permite aprofundar os estudos da Auditoria Contábil.Conforme fica evidenciado, a auditoria não consiste apenas em conferir documentos com processos, deve-se conhecer muito mais aspectos envolvendo esses processos de conferência. Ao ampliarmos os conhecimentos em Economia, Administração e Finanças, os estudos de Auditoria tornam-se mais proveitosos. Podemos extrair novas visões sobre as realidades que envolvem os processos em uma empresa. Entendemos melhor os motivos de aplicação de uma auditoria e consequentemente extraímos novos conhecimentos de todas estas dinâmicas envolvendo múltiplas áreas de conhecimento. 31 3 FUNDAMENTOS DE ECONOMIA APLICADOS À ROTINAS DE AUDITORIA A economia é a área de estudo que analisa fatores como a escassez de recursos, o emprego, a produção, os agentes econômicos (empresa, famílias e governo), as relações de valor, troca, o uso da moeda, estruturas de mercado, políticas econômicas, dentre vários outros temas (ROSSETTI, 2018, p. 6-7). O estudo econômico está baseado nas relações de escolha individual quanto ao uso de recursos, que por sua vez são escassos, limitados, ou seja, em determinado momento irão acabar (KRUGMAN; WELLS; OLNEY, 2010). Estas escolhas individuais evoluem a escolhas de nível coletivo, realizadas pelos gestores de uma empresa, de uma cidade ou de uma nação. Os administradores de empresas realizam diferentes decisões que envolvem a escolha de recursos, sejam eles financeiros, produtivos, humanos, tecnológicos etc. Por exemplo, o que um administrador deve decidir quanto ao uso do dinheiro: contratar mais funcionários com os lucros obtidos, guardar o lucro para reservas futuras ou dividir os lucros entre acionistas? O que fazer, qual a melhor escolha? Por meio dos estudos da economia, estas escolhas podem ser justificadas. Em economia, não existe uma única resposta correta, uma vez que se trata de uma ciência social e que é sujeita a decisões humanas. Por se tratar de decisões dos indivíduos, que são diferentes entre si, cada decisão tomada considera a atribuição de valor (juízo de valor), permitindo inúmeras interpretações (VASCONCELLOS; GARCIA, 2019, p. 3). As escolhas econômicas estão intimamente ligadas com a atuação das empresas e o funcionamento de seus mercados, o que justifica o seu estudo quando abordamos processos de Auditoria Contábil. Essas escolhas envolvem, por exemplo, itens como: • utilização de recursos: o que e quanto produzir; • métodos produtivos: como produzir; • público-alvo: para quem produzir. O vídeo a seguir ilustra o funcionamento da economia, com exemplos a respeito das escolhas econômicas. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mJsncXWcc-E. DICA 32 Cada empresa possui uma realidade e, consequentemente, atribui diferentes respostas a escolhas econômicas. O papel da contabilidade e da auditoria se faz presente ao investigar se os métodos aplicados para a resposta destas perguntas estão de acordo com as normas vigentes. Em outras palavras, não basta a empresa querer produzir mais, lucrar mais e atender mais clientes, se os métodos utilizados não atendem critérios de qualidade ou de legalidade. É exatamente neste momento que a contabilidade e a auditoria se fazem necessárias. Ao passo de que uma empresa administra seus recursos econômicos visando evoluir suas operações, as empresas em determinado mercado também interagem entre si. Desse modo, entender as estruturas também se faz necessário para a compreensão das dinâmicas empresariais que envolvem o uso do capital, e consequentemente a aplicação da contabilidade. Uma empresa que está sozinha em seu mercado possui necessidades específicas quanto a seus controles internos em contabilidade, e com isso apresenta especificidades relacionados à necessidade de processos de auditoria. Por outro lado, empresas que possuem muitos concorrentes podem necessitar realizar uma auditoria para obter ganhos de excelência operacional e aumento de vantagem competitiva perante seus concorrentes. O mercado econômico é dinâmico, apresenta muitos detalhes e características. Entendê-lo permite refinar capacidades de controle administrativo-contábil ao adaptar realidades empresariais que diferem entre os mercados existentes. 3.1 MICROECONOMIA A Teoria Microeconômica possui enfoque de estudo em mercados e seus funcionamentos. Por um lado, temos o papel dos consumidores, denominados como famílias em economia. Do outro temos as empresas, que desenvolvem produtos, serviços e soluções para atender as necessidades dos consumidores. Os mercados em economia podem ser definidos como os lugares onde os agentes econômicos realizam transações, seja no aspecto físico ou abstrato de sua definição (ROSSETTI, 2018). Um mercado corresponde ao ambiente onde existe, ao mesmo tempo, a oferta e a demanda por determinado produto. Definimos a oferta, segundo Vasconcellos e Garcia (2019, p. 45), como “as várias quantidades que os produtores desejam oferecer ao mercado em determinado período de tempo”. Já a demanda, ainda segundo Vasconcellos e Garcia (2019, p. 40), “pode ser definida como a quantidade de certo bem ou serviços que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo”. 33 As relações entre oferta e demanda, isso é, entre as empresas e seus consumidores, tornam possíveis os desenvolvimentos da economia. Os recursos, sejam eles o dinheiro, o trabalho ou a informação, são transacionados entre os agentes econômicos e promovem as dinâmicas de mercado que envolvem os processos de administração e contabilidade. Quanto à demanda por parte dos consumidores, pode ser alterada por diversos fatores, tais quais mudanças nos preços de bens relacionados, mudança na renda dos consumidores, mudanças em seu gosto ou desejos e alterações quanto suas expectativas (KRUGMAN; WELLS; OLNEY, 2010). As dinâmicas de demanda existentes em Microeconomia tem influência – ao mesmo tempo que influenciam – direta das ações executadas pela contabilidade gerencial. Por exemplo, a depender dos resultados financeiros apurados mediante a divulgação de demonstrações contábeis, a empresa pode aumentar os seus lucros, aumentando consequentemente os salários de seus funcionários e investindo parte de seus excedentes com vistas a aumentar sua produção. Esses efeitos em um cenário financeiro positivo provocam mudanças na demanda do consumidor desta empresa, pois a empresa pode produzir mais ou até mesmo inovar em novos produtos. Seus funcionários também terão maior renda, consumindo produtos de outras empresas movimentando assim o mercado. Do mesmo modo, os investidores estarão mais satisfeitos, tendo a possibilidade de aportar mais capital e tornar a empresa mais atrativa, incentivando novos consumidores a consumir seus produtos (melhorando expectativas do mercado). Perceba que o contrário também é verdadeiro. Por exemplo, caso seja constatada uma fraude ou erros nos processos contábeis de uma organização, sua credibilidade no mercado sofre prejuízos. Os seus clientes, fornecedores, funcionários podem diminuir o consumo, diminuindo a demanda por seus produtos e com isso trazer prejuízos financeiros a empresa. A contabilidade, nesse cenário, representa uma forma, mesmo que por vezes indireta, de movimentar a demanda em mercados consumidores da organização. Adotar boas práticas contábeis representa um ganho em eficiência administrativa e pode produzir efeitos sobre aspectos de demanda (economia) na empresa. Quanto à oferta, definida como a quantidade de produtos que uma empresa pode produzir em determinado mercado, atendendo às demandas de seus consumidores, sofrendo influências de preços e quantidades produzidas (ROSSETTI, 2018), temos uma segunda abordagem fundamental relacionada à aplicação da contabilidade gerencial e de processos de auditoria. 34 A função da oferta em uma empresa depende de fatores como o preço do bem comercializado, os custos de produção, os preços de produtos substitutos ou complementares, as expectativas de lucro por parte dos acionistas etambém, em alguns mercados, de fatores climáticos, sociais e geográficos (NELLIS; PARKER, 2003). Com base na situação patrimonial da empresa, sua oferta pode ser maior ou menor. Somado a fatores de mercado, como a situação econômica da região ou do país em que a empresa atua, o comportamento de seu consumidor (demanda), entender a função oferta em uma empresa torna possível o entendimento de certos aspectos contábeis sob a ótica de movimentos financeiros. Por vezes, são necessários investimentos, em outros é priorizado corte de custos, e assim sucessivamente em movimentos financeiros cíclicos. Em dados momentos, em sentido de desenvolvimento, em outros, em sentido de retração das atividades da organização. Todos estes movimentos são passíveis do controle contábil. 3.2 MACROECONOMIA O enfoque da macroeconomia está em uma abordagem que, apesar de possuir sentido contrário aos estudos microeconômicos, complementa a teoria da microeconomia. O seu principal objetivo está em estudar aspectos Macro, isto é, abrangentes, amplos e em um nível maior em relação ao funcionamento econômico. O foco desta teoria econômica consiste em analisar os resultados de uma região, nação ou um bloco econômico (conjunto de países com interesses e objetivos em comum). Em macroeconomia, são estudados fatores como (ROSSETTI, 2018): • a produção agregada: tudo o que uma região ou um país produz em determinado período; • o emprego: níveis de emprego e desemprego, atividade e de rendas; • nível de preços: conhecida também como inflação (aumento generalizado de preços); • transações externas: comércio internacional e transação de moedas estrangeiras (câmbio). A macroeconomia não tem interesse no estudo de aspectos como os comportamentos específicos de empresas ou consumidores, assim como faz a microeconomia, mas possui interesse nos estudos de grandes agregados, estudando a economia como um todo (VASCONCELLOS; GARCIA, 2019). 35 A microeconomia tem foco em estudar o comportamento de empresa e das famílias. A macroeconomia estuda o funcionamento dos mercados a nível de região, nação ou bloco econômico, com papel central no estudo do governo, que é o agente econômico responsável por desempenhar as atividades da macroeconomia. ATENÇÃO Como atividade inerente ao processo de administração, a tomada de decisões que norteia as atividades de contabilidade gerencial deve incluir informações advindas de aspectos macroeconômicos. Entender fatores como o câmbio, por exemplo, isto é, as transações de moeda a nível internacional e suas infl uências no andamento da própria empresa, representam um diferencial quanto ao nível de efi ciência dos controles internos em uma organização, uma vez que proporcionam ao gestor as vantagens de proteger o capital de sua empresa ao mesmo tempo que pode usufruir de vantagens existentes nesse mercado. 3.2.1 Políticas Macroeconômicas Entendemos como as políticas da macroeconomia o conjunto de ações que buscam atingir os objetivos de expansão da produção agregada, o aumento nos níveis de emprego, a estabilidade de preços e o equilíbrio em transações externas, ações estas desempenhadas pelo governo da nação (ROSSETTI, 2018). As políticas macroeconômicas são divididas, segundo afi rmam Vasconcellos e Garcia (2019), em fi scal, monetária, externa (cambial e comercial) e de rendas. As políticas fi scais têm como foco a criação de mecanismos de desenvolvimento voltados à arrecadação de impostos e o controle das despesas públicas. Evidencia-se o papel das práticas de Auditoria Contábil em relação aos resultados macroeconômicos de um país, seja no sentido de assegurar a correta tributação por parte das empresas, quanto ao serviço de interesse público-social ao assegurar que as contas de uma empresa representem verdadeiramente a situação patrimonial da organização. Políticas monetárias controlam aspectos referentes à moeda do país, os títulos de investimento a ela atrelados, bem como ao controle de circulação de dinheiro no mercado. Sua execução é altamente relevante ao funcionamento empresarial, pois estas dependem da oferta e dos custos de aquisição de crédito, momento econômico para contratações, expansão ou corte de custos etc. 36 Políticas externas correspondem à atuação do governo sobre o câmbio – trocas comerciais em diferentes moedas – e às exportações e importações. Esse mercado possui diferentes regulações pois envolvem mais de um país (mercado cambial e de comércio exterior), o que atribui ao auditor a necessidade de possuir conhecimentos técnicos na área de legislação internacional, logística e comércio internacional. Por fim, as políticas de renda atuam sobre níveis de preços e salários. O objetivo desta atuação está em manter os preços estáveis, incentivando às empresas a produzir e as famílias a consumir, movimentando a economia. Apesar do enfoque mais abrangente, os fenômenos estudados em Macroeconomia são resultados de dinâmicas Microeconômicas. São as empresas que, em conjunto, movimentam a economia. Ambas as áreas se complementam no funcionamento geral da economia. Ao passo de que registar contabilmente os resultados das empresas a nível microeconômico é essencial, analisar o aspecto mais amplo, relacionando fatores como a renda, o trabalho e os preços, também apresenta alta relevância nas rotinas de contabilidade gerencial, permitindo uma visão mais ampla aos processos decisórios dos gestores. 4 ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS E A IMPORTÂNCIA DA AUDITORIA CONTÁBIL Assim como a economia, os estudos acerca da administração são fundamentais para melhorarmos nossos conhecimentos acerca da Auditoria Contábil. Se por um lado a economia auxilia no entendimento e aplicação de conceitos em auditoria, é a auditoria que auxilia no desenvolvimento da Administração. A administração pode ser entendida como o conjunto de diferentes áreas de conhecimento que em conjunto, proporcionam aos indivíduos a capacidade de administrar recursos de forma organizada e com propósito definido. A administração, segundo Chiavenato (2020, p. 10), “consiste no processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos e competências, a fim de alcançar os objetivos organizacionais desejados”. Diferentes áreas de conhecimento são necessárias para compor a administração de uma empresa. Direito, logística, marketing, produção, vendas, contabilidade, finanças... todas estas áreas de conhecimento, ao mesmo tempo que influenciam a Administração, são por ela influenciadas. 37 Em auditoria, em especial, o processo de Administração é necessário para planejar objetivos, prazos, recursos e pessoas envolvidas nos seus processos. Também se faz necessário a organização destes recursos, a direção/execução das atividades propostas no planejamento segundo métodos efi cientes e por fi m, realizar atividades de controle para manter os benefícios realizados pela auditoria, eliminando os processos que não devem ser continuados após a emissão dos relatórios fi nais. Ao mesmo tempo, a auditoria é um processo necessário para que os administradores executem seus trabalhos, uma ferramenta essencial para o controle da Administração (MELO; SANTOS, 2017). “O administrador é o responsável por tomar decisões e por fazer resultados acontecerem” (LACOMBE; HEILBORN, 2015, p. 7). A auditoria e a contabilidade gerencial representam importantes funções no apoio dos processos decisórios, consequentemente melhorando a capacidade de ação e os resultados de um administrador; 4.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO O processo administrativo consiste nas etapas fundamentais no exercício da administração em empresas. Entendemos aqui processo administrativo como a execução da administração, e não em referência a processos disciplinares, punições ou outras formas de aplicação de penas referentes a erros em processos de trabalho. Em outras palavras, tratamos no processo administrativo sobre as etapas de planejamento, organização, direção e controle. A administraçãoestá presente em todas as nossas ações diárias. Apesar de ter um conceito voltado a empresas, administrar também faz parte do nosso dia a dia a nível pessoal. Ao acordar, administramos como será nosso dia. Defi nimos o que iremos fazer, com quem iremos realizar as atividades planejadas, quais serão os recursos necessários etc. Seja de forma pensada ou não, tudo necessita de administração. Ao não administrar nossas atividades os resultados podem ser inefi cientes ou mesmo as coisas podem sair do controle. Como dica, refl ita sobre o seu dia a dia e pense em como você pode aplicar a administração para melhorar sua rotina diária. INTERESSSANTE 38 O planejamento pode ser definido como a principal função administrativa: O planejamento constitui a mais básica de todas as funções gerenciais, e a habilidade com que esta função é realizada define o êxito de todas as operações empresariais. Planejar envolve um processo de reflexão que precede a ação, sendo direcionada à tomada de decisão visando o futuro (FRANCISCO FILHO, 2015, p. 62). Após definidas as metas, objetivos, prazos, recursos financeiros e humanos necessários, os locais de realização das atividades propostas, o processo administrativo evolui para a função de Organização. Segundo afirmam Lacombe e Heilborn (2015, p. 21), “organizar consiste em identificar o trabalho a ser executado e distribuí-lo pelos que devem fazê-lo, de forma que os recursos sejam bem empregados”. Em seguida, ocorre o processo de direção, que corresponde à etapa de execução das ações planejadas. Segundo Chiavenato (2020, p. 144), “a direção é a função administrativa que trata das relações interpessoais dos administradores em todos os níveis da organização e os seus respectivos subordinados”. Nesse sentido, pode-se definir o processo de direção como as relações de ações entre os indivíduos de uma empresa no sentido de atingirem os objetivos propostos pelos planejamentos. Por fim temos a função de controle, que corresponde ao processo de reunir informações de forma constante, comparando-as e em seguida tomar decisões para melhorar as realidades em que a empresa se encontra (CERTO, 2003). Por exemplo, após a realização das ações de determinado planejamento, caso os resultados não tenham atingido o efeito desejado, devem-se analisar as informações que levaram ao insucesso do planejamento, e em seguida tomam-se decisões para um novo planejamento visando atingir novos objetivos. 4.2 HIERARQUIA ORGANIZACIONAL Outro ponto importante em relação às dinâmicas de Auditoria Contábil e Administração de Empresas está no conceito de hierarquia organizacional. Hierarquia organizacional pode ser definida como a divisão dos processos de organização em uma empresa. É composta pelas atividades de liderança e delegação de tarefas, motivação, orientação e comunicação com os indivíduos de uma organização (CHIAVENATO, 2020, p. 144). 39 As atividades em uma empresa são administradas em diferentes níveis, a saber, atividades de direção, gerenciais e atividades de execução (LACOMBE; HEILBORN, 2015). As atividades de direção compõem o nível estratégico da empresa. Já as gerenciais compõem o nível tático e as atividades de execução são parte do nível operacional (CHIAVENATO, 2020). Figura 2 – Níveis hierárquicos em uma organização Fonte: adaptado de Chiavenato (2020) Mello e Lopes (2017) definem os níveis hierárquicos segundo o uso da informação para execução das atividades administrativas. O nível estratégico é responsável por executar decisões voltadas ao longo prazo, analisando situações micro e macro com relação à empresa e decidindo os seus rumos. O nível tático excuta decisões com orientações hierárquicas, isto é, visando integrar o nível estratégico com o operacional. Por fim, o nível operacional executa ações voltadas ao curto prazo, a atividades processuais de rotina e utilizando caráter racional em suas decisões. Considerar a divisão de uma empresa segundo a sua hierarquia é útil de diferentes formas aos processos de Auditoria. Por exemplo, um auditor, ao conhecer os níveis hierárquicos e suas funções em uma companhia, pode conduzir processos de investigação e confirmação em busca de informações de forma mais eficiente. A mesmo modo, pode requisitar informações que demonstram diferentes aspectos da gestão contábil da empresa, requisitando-as a diferentes níveis de gestores da empresa. 5 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA (FINANÇAS) E SUAS RELAÇÕES COM PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL Complementando a interdisciplinaridade dos estudos sobre Auditoria Contábil, uma vez que tratamos sobre as realidades patrimoniais em uma empresa, que compõe sua situação financeira, é evidente a necessidade de definirmos os fundamentos acerca da Administração Financeira. 40 A Administração Financeira pode ser definida como o conjunto de atividades relacionadas com a gestão dos fundos movimentados por todas as áreas de uma empresa, onde fundos correspondem a todos os recursos financeiros que a empresa possui, como dinheiro, investimentos ou crédito (BRAGA, 1989). Groppelli e Nikbakht (1998, p. 3) corroboram a definição de Administração Financeira, afirmando que as finanças se tratam da “aplicação de uma série de princípios econômicos para maximizar a riqueza ou valor total de um negócio”. A administração financeira tem como objetivos aumentar o lucro e promover a valorização da empresa. Por um lado, promove o benefício em torno do acúmulo de capital a seus acionistas, sócios e controladores, promovendo ganhos financeiros a estes. Ao mesmo tempo, é capaz de proporcionar meios de valorização à empresa, no sentido de melhorar os seus produtos, serviços e as formas de relacionamento com seus clientes. Logo, além do lucro, as finanças empresariais permitem melhorias aos clientes, fornecedores e outros participantes das atividades de uma empresa, gerando assim valor sobre suas atividades. Como ferramenta de administração financeira, a Auditoria Contábil possui papel central na melhoria das finanças em uma empresa. Com base em suas práticas, a empresa pode identificar eventuais erros em seus processos e na sua contabilidade, e em seguida corrigi-los, também assegurando a exatidão em suas demonstrações contábeis (MELO; SANTOS, 2017). 5.1 ÍNDICES FINANCEIROS Para assegurar com que os objetivos propostos pela Auditoria Contábil tenham efeitos positivos na empresa auditada, as Finanças fornecem diferentes tipos de informação para o auditor realizar seus trabalhos. Uma importante fonte de informações está presente na figura dos índices financeiros, que consistem em informações obtidas mediante a comparação de diferentes dados presentes em demonstrações contábeis. Segundo Gitman e Zutter (2017), os índices financeiros podem ser divididos em cinco categorias principais: • liquidez: referente à capacidade de transformar ativos em dinheiro; • atividade: analisa o giro de estoque, prazo médio de pagamento e recebimento; • endividamento: relações entre os ativos e passivos da organização; • rentabilidade: lucro bruto, líquido, operacional, por ação etc.; • valor de mercado: preço/lucro, valor de mercado e valor contábil. 41 Administrar as finanças vai muito além de cuidar de receitas e gastos. O uso de diferentes índices financeiros permite aos administradores financeiros o gerenciamento de diferentes aspectos empresariais. Da disponibilidade de dinheiro a curto prazo (liquidez) à possibilidade de sobrevivência a longo prazo (endividamento e crédito), as finanças são fundamentais para qualquer empresa, independentemente de seu porte ou ramo de atuação. IMPORTANTE O uso dos índices financeiros será diferente de acordo com cada parte interessada. Cada stakeholder possui diferentes interesses quanto à análise dos índices financeiros da empresa. A análise das demonstrações financeiras sempre estará associada a um processo decisório. Cada agente abordará a empresa com determinado objetivo, e este determinará a profundidadee enfoque da análise. Obviamente, tudo o que disser respeito à saúde financeira da empresa, representada pela sua liquidez e rentabilidade, deverá interessar aos referidos agentes (BRAGA, 1989, p. 140). Analisar os índices financeiros é o instrumento utilizado por acionistas, credores e os próprios administradores da empresa, pelos quais são conhecidas as realidades financeiras da empresa, sua posição atual e a evolução de seus resultados (LEMES JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2016). Devido a sua importância à administração financeira das empresas, estes dados devem refletir a realidade patrimonial da empresa, e, mais uma vez evidencia-se a importância da auditoria enquanto fator de garantia da segurança e confiabilidade das informações contidas nas demonstrações contábeis. O papel da Auditoria Contábil em conjunto com as finanças atende aos acionistas da empresa, pois permite com que analisem a rentabilidade da organização; aos seus funcionários, pois permite confiar nos dados apresentados e ter a capacidade de analisar a saúde financeira da empresa; e aos próprios administradores da companhia, que podem ajustar ou melhorar o seu trabalho com base nos resultados do processo de auditoria. 5.2 PLANEJAMENTO FINANCEIRO Os usos da administração financeira, quando complementadas com processos de Auditoria Contábil, também atendem a requisitos da própria administração, como o processo de planejamento. 42 Com o controle das finanças da empresa os seus gestores podem planejar a aplicação dos recursos excedentes (lucro), as formas necessárias para a capitação de recursos (financiamento) ou mesmo em relação a quaisquer outras necessidades financeiras. As finanças permitem ao administrador administrar os recursos financeiros da empresa sob a análise de dois tipos de tomada de decisão: as de financiamento e de investimento (GITMAN; ZUTTER, 2017). Decisões de financiamento, também chamadas decisões sobre estrutura de capital envolvem a consideração da composição das fontes de financiamento. Em outras palavras, condizem com a escolha das formas com quais a empresa conseguirá dinheiro para realizar seu planejamento, podendo ser de fontes internas (capital próprio) ou junto a bancos, financeiras ou participantes externas (capital de terceiros) (LEMES JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2016). Decisões de investimento condizem com as escolhas quanto à aplicação de recursos financeiros, seja na administração de seus ativos existentes ou na implementação de novos projetos (BRAGA, 1989). Dizem respeito aos destinos com os quais a empresa utilizará seus recursos financeiros. Tanto decisões de financiamento quanto de investimento devem ser bem planejadas, dando uma utilidade eficiente para os recursos financeiros da empresa. Deve se planejar de modo racional e voltado a valorizar o dinheiro da empresa, pensando de onde o dinheiro virá e para onde ele irá, onde será utilizado. Essas decisões são extremamente importantes e devem estar muito bem baseadas em demonstrações contábeis que foram realizadas de forma confiável, utilizando métodos e procedimentos baseados em padrões de contabilidade aceitos pelo mercado, também atendendo a todos os requisitos legais necessários. A Auditoria Contábil é uma importante ferramenta para assegurar um bom planejamento financeiro. De nada vale planejar as finanças de uma empresa sendo que os métodos utilizados para compor o seu controle financeiro e contábil não são verificados e não são assegurados quanto a sua confiabilidade e eficiência. Portanto, evidencia-se que a auditoria contábil é uma área multidisciplinar. Envolve práticas de economia ao tratar sobre empresas, seus recursos, seus níveis de atuação e seus objetivos. Além da economia, relaciona-se também com a administração de empresas. Sendo a auditoria uma ferramenta que auxilia no controle de aspectos gerenciais, é fundamental entender o que é a administração e como ela ocorre nas organizações. Por fim, também é necessário compreender a administração financeira, conhecida comumente como as finanças empresariais, responsáveis por gerenciar os recursos financeiros e monetários de uma companhia. A auditoria relaciona-se diretamente com estas áreas de estudo, e com isso compreendê-las permite ampliar conhecimentos sobre as rotinas de auditoria contábil. 43 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • A Auditoria Contábil tem bases nos estudos de outras áreas de conhecimento além da contabilidade. A economia, administração e as finanças agregam importantes fundamentos aos procedimentos de auditoria aplicados em empresas. • A economia contribui para a Auditoria Contábil ao abordar itens como o entendimento acerca de escolhas econômicas, entendendo como utilizar os recursos escassos para atender necessidades infinitas de forma eficiente. A microeconomia permite entendermos a oferta, demanda e o movimento de mercados. A macroeconomia nos possibilita compreender os agregados, seja em relação à produção, emprego, preços ou comércio internacional. Todos estes itens ampliam os conhecimentos acerca da Auditoria e permitem melhorias nas atividades desempenhadas por um auditor. • Os processos de Administração de Empresa, a saber, o planejamento, organização, direção e controle, possibilitam melhorar os resultados que envolvem o controle contábil de uma organização. Administrar uma organização é essencial para que esta possa evoluir. A contabilidade gerencial e a auditoria fornecem muitas ferramentas para a melhoria do processo de administração empresarial. • As Finanças, ou Administração Financeira, correspondem a um conjunto de atividades que planejam, controlam e aplicam os recursos financeiros de uma organização. Seu uso permite atender necessidades distintas de acionistas, credores, funcionários, clientes, fornecedores e até concorrentes. A auditoria proporciona ganhos de eficiência e em relação à confiabilidade dos métodos utilizados pelas Finanças empresariais, permitindo ampliar suas aplicações e melhorar seus resultados. • Apesar de cada uma das áreas estudadas possuírem diferentes funções, estas se complementam em relação às funções gerenciais em uma empresa. Todas devem ser planejadas e utilizadas de forma racional com vistas à eficiência na gestão de atividades e recursos para que produzam melhorias nas empresas. 44 AUTOATIVIDADE 1 Os estudos da Administração de empresa possuem inúmeras faces, divisões e enfoques. Uma importante divisão quanto aos estudos de atividades que controlam as empresas está no conceito de Hierarquia Organizacional. Uma hierarquia se faz necessária para esclarecer funções, responsabilidades e principalmente estabelecer um fluxo informacional entre as partes de uma organização. Cada nível hierárquico possui funções, necessidades e limites em suas atividades. O objetivo desta divisão é tornar a empresa mais eficiente, pois considera que cada setor, dividindo e desempenhando funções diferentes de formas separadas, mas ainda assim integradas, contribuem para um resultado organizacional mais eficiente. A respeito do conceito de Hierarquia Organizacional, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O nível estratégico é responsável por decisões de curto prazo, focando em ações operacionais. b) ( ) O nível tático é responsável por decisões de longo prazo, focando em ações gerenciais. c) ( ) O nível operacional é responsável por decisões de médio prazo, focando em ações táticas. d) ( ) O nível tático é responsável por decisões de médio prazo, focando em ações gerenciais. 2 O processo administrativo é essencial para os processos de Auditoria. Deve- se traçar objetivos, prazos e recursos (pessoas, dinheiro, estrutura, locais etc.) para aplicá-la. A mesmo modo deve-se definir pessoas e setores para realizar as funções do planejamento traçado. Após essas duas etapas iniciais, executam-se as atividades programadas. Deve ocorrer por fim, o acompanhamento dos resultados implementados. Em caso de tudo ocorrerconforme o programado, o processo administrativo obteve sucesso. Caso contrário, deve-se reiniciar o processo a partir desta nova realidade e consequentemente aplicar novas ações baseadas no processo administrativo. O foco é repetir o processo quantas vezes for necessário para que a empresa permaneça evoluindo, melhorando e corrigindo eventuais erros. A respeito do processo administrativo, isto é, a aplicação dos fundamentos da administração nas práticas empresariais, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O processo administrativo corresponde a: planejar, organizar, dirigir e controlar. b) ( ) O processo administrativo corresponde a: programar, organizar, delegar e checar. c) ( ) O processo administrativo corresponde a: planejar, orientar, dirigir e conferir. d) ( ) O processo administrativo corresponde a: prever, orquestrar, dirigir e controlar . 45 3 Um dos focos dos estudos econômicos está em entender as diferenças entre as relações entre empresas e indivíduos a nível local, e os estudos entre os países, comparando resultados de suas produções agregadas, níveis de emprego e comércio internacional. Em outras palavras, o foco da Economia está ao mesmo tempo em níveis mais detalhados de estudos, focados em empresas e consumidores, e por outro possui caráter de análise mais abrangente, analisando os resultados finais de uma nação. O entendimento dessas duas abordagens, diferentes, mas ao mesmo tempo complementares, permite ampliar os conhecimentos e visões a respeito das práticas de Auditoria em empresas. Esta diferença possui denominação de microeconomia e macroeconomia. A respeito destes dois conceitos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O estudo das rendas é um dos focos da Teoria Microeconômica. b) ( ) O estudo das estruturas de mercado é um dos focos da Teoria Macroeconômica. c) ( ) O estudo do câmbio é foco da Teoria Macroeconômica. d) ( ) O estudo de oferta e demanda é foco da Teoria Macroeconômica. 4 A Auditoria Contábil proporciona inúmeros ganhos em produtividade as empresas que executam continuamente seus processos. Auditar processos contábeis sempre é valido na busca de melhorias. Seja para assegurar a veracidade nas informações contidas em demonstrações contábeis, seja para atender requisitos legais, pedidos de acionistas ou quaisquer outras demandas, o processo de Auditoria é uma importante ferramenta em relação à Administração de Empresas. Outro fator igualmente importante corresponde aos efeitos da Auditoria nas Finanças Corporativas (aplicadas a empresas). A respeito da utilidade da Auditoria Contábil em empresas, disserte sobre as inter-relações, influências e semelhanças entre os fundamentos da Administração Financeira e a Auditoria Contábil. 5 Quando estudamos Economia aprendemos e refletimos sobre fatores como recursos econômicos, o papel do trabalho e da produção, rendas, inflação, mercados, dentro de inúmeros outros. Cada um destes fatores influência e é influenciado em relação às empresas. Ao mesmo tempo que uma empresa executa pressupostos econômicos, ela é um dos agentes que os modifica. Ao transformar diferentes recursos, a empresa atua como um importante agente econômico. Uma empresa atua como cliente e ao mesmo tempo como produtora, prestadora de serviços ou vendedora, movimentando a economia em diferentes formas. Essas atuações empresariais podem ser também analisadas sob aspecto da Auditoria Contábil. A respeito dessas possíveis inter-relações, discorra sobre como a Economia (seja micro ou macro) pode influenciar em processos de auditoria em empresas. 46 47 TÓPICO 3 AUDITORIA INTERNA E EXTERNA: INTRODUÇÃO ÀS NORMAS, FUNDAMENTOS E PRÁTICAS 1 INTRODUÇÃO Após a introdução dos conceitos principais que envolvem as rotinas de Auditoria Contábil, fica evidente a sua necessidade enquanto ferramenta de gestão empresarial. Logo, surge uma pergunta pertinente quanto aos estudos da área de auditoria: como, de fato, aplicamos as práticas de auditoria? Pudemos aprender até aqui que a auditoria envolve inúmeros processos quanto à conferência de documentos contábeis, bem como os processos que os originam. Contudo, estes processos possuem maiores detalhes, necessitam de regras, normas e de atenção a diversos procedimentos por parte dos auditores que os realizam. Entender de forma clara e objetiva quais os métodos de análise de demonstrações contábeis é essencial para evoluir nos estudos acerca da Auditoria Contábil. De tipos de análise diferentes a etapas que devem ser seguidas, o trabalho do auditor é extenso e necessita de certas habilidades para sua realização. Os requisitos profissionais de um auditor devem envolver o uso da ética, boa-fé, integralidade, imparcialidade e a vontade de utilizar de todos os meios possíveis para realizar seu trabalho de forma íntegra e transparente (MAGNABOSCO, 2018). Além dos conhecimentos necessários sobre diferentes áreas de estudo, das quais se destacam a Administração de Empresas, a Contabilidade, Economia, Direito, dentre tantas outras, o auditor deve ser capaz de manter-se eticamente centrado em torno do objetivo principal de sua auditoria. Apesar dos impasses que por vezes são recorrentes quando da descoberta de atividades realizadas de maneira errada, seja voluntariamente ou não por parte da empresa auditada, o auditor deve ser capaz de lidar com as mais diversas situações conflituosas. Como forma de auxiliar na condução dos trabalhos de auditoria, faz-se essencial que conheçamos as principais normas e práticas nos processos de auditoria, sejam elas Internas ou Externas. UNIDADE 1 48 Além disso, definir os detalhes das práticas de auditoria Interna e Externa também representam um grande avanço nos estudos sobre Auditoria Contábil. Apesar dos enfoques diferentes, ambos os tipos de auditoria visam os mesmos objetivos, assegurar meios de auxiliar a gestão empresarial. Por fim, estudar o papel dos órgãos reguladores também se faz necessário para aumentar a compreensão sobre as rotinas de auditoria. No Brasil, são diversas as empresas, órgãos e sindicatos que auxiliam a condução dos trabalhos de um auditor. Seja pela criação de normas, regras ou mesmo no acompanhamento dos trabalhos dos profissionais desta área, o papel destes órgãos permite a criação de um mercado mais transparente, ético e eficiente. 2 TIPOS DE AUDITORIA Considerando as necessidades de aplicação de processos de auditoria contábil na empresa, bem como a evolução desta área profissional no mercado, a Auditoria Contábil pode ser dividida em auditoria Interna e Externa. As necessidades das empresas da atualidade, que envolvem inúmeros fatores, múltiplas variáveis e diferentes complexidades, envolvendo stakeholders, por exemplo, fornecedores, clientes, funcionários, credores (bancos e financeiras), governo e órgãos reguladores, tornam necessárias a adoção de medidas de controle internos e externos em relação à escrituração contábil das empresas. Se por um lado é importante controlar o desempenho organizacional, reportá-lo corretamente aos seus acionistas, clientes, fornecedores e ao governo é igualmente relevante. Para atender ambos os públicos, a divisão de auditoria em Interna e Externa visa proporcionar diferentes aplicações da auditoria em empresas. As técnicas e práticas utilizadas em ambas são as mesmas, porém com enfoque em públicos diferentes (MAGNABOSCO, 2018, p. 20). Suas práticas visam fornecer aos administradores de empresa informações relevantes, que irão auxiliar na condução de seus negócios. A auditoria interna, por exemplo, permite aos administradores melhorarem suas operações, enquanto a externa permite os administradores métodos mais assertivos de comunicação e relacionamento com os acionistas, clientes e partes externas. A fonte de geração de informações pelo método Externo está centrada na análise de demonstrações contábeis (financeiras), enquanto o método Interno possui enfoque em métodos de controle interno (MELO; SANTOS,2017). 49 Confi ra o artigo disponível na seção de leitura complementar. Com a leitura do artigo, as diferenças e os benefícios gerados por ambos os métodos de auditoria fi cam evidentes e podemos aprofundar nossos conhecimentos na área de auditoria. ESTUDOS FUTUROS Em conjunto, apesar dos meios de aplicação serem divergentes, o foco está em melhorar a condição de procedimentos contábeis que irão basear novos processos empresariais no sentido de melhores resultados, proporcionando evolução a empresa que utiliza dos processos de auditoria contábil. 2.1 AUDITORIA INTERNA A Auditoria Interna tem como principal objetivo preservar o patrimônio da empresa, isto é, assegurar por meio de controles internos efi cientes, que o planejamento e as práticas empresariais estejam integrados, proporcionando resultados efi cientes mediante a métodos efi cazes. “No que tange ao objetivo da auditoria interna, consiste no exame sistemático da integridade, da adequação e da efi cácia dos controles internos, dos processos e das informações operacionais da organização” (SOUZA, 2020, p. 8). A execução das rotinas de auditoria interna é realizada por funcionários da própria organização. As vantagens proporcionadas por este método de auditar dados contábeis é evidenciada pelas relações entre o auditor interno e a administração da empresa auditada, que, apesar de independente, está subordinada às necessidades e objetivos da organização. O trabalho do auditor interno visa buscar em campo, mediante diferentes métodos e tipos de análise, informações que permitirão verifi car quais são as evidências da auditoria, que possibilitam, segundo sua análise, identifi car as não conformidades e assim determinar quais são os pontos que o auditor deverá relatar no processo de emissão de sua opinião (SOUZA, 2020, p. 40). Magnabosco (2018) defi ne os principais objetivos de um auditor interno: • Verifi car a existência, sufi ciência e a aplicação dos controles internos em uma empresa. • Apontar eventuais controles internos desnecessários. • Verifi car a correta aplicação das normas internas da empresa. 50 • Verificar se as normas vigentes podem e se devem ser melhoradas. • Avaliar a necessidade de criação de novas regras. Os controles internos podem ser entendidos como o conjunto de ações que a empresa adota para garantir que os processo de apuração e criação de dados sejam confiáveis, ajudando a administração da empresa na condução eficiente de seus negócios (MELO; SANTOS, 2017). Manter controles internos eficientes quanto às práticas empresariais, por mais diversas que sejam, bem como nos seus procedimentos contábeis, é essencial para que a auditoria interna possa auxiliar no aumento de desempenho organizacional. O setor de auditoria interna de uma organização, ou o responsável por desempenhar estas atividades, deve focar em desenvolver ações que assegurem a execução correta dos procedimentos de controles internos da organização auditada. Devem também ser capazes de apurar irregularidades e propor melhorias aos processos já utilizados na empresa. Os controles internos podem ser, segundo afirma Silva (2020b), preventivos, detectivos ou corretivos. Os preventivos visam evitar que erros, irregularidades ou desperdícios ocorram. A detecção envolve ações de identificação de erros enquanto ou após estes acontecerem. Ainda, métodos corretivos de controle interno tem por objetivo a adoção de medidas contingenciais, combatendo os efeitos de erros existentes. Uma vez caracterizado como alguém interno à organização, a atuação do auditor interno também tem enfoque especial no combate à existência de fraudes. Sua atuação deve ser embasada em princípios como a integridade, objetividade, confidencialidade e competência (MAGNABOSCO, 2018). O princípio de integridade assegura ao auditor a característica de ser capaz de utilizar a honestidade, diligência, responsabilidade e a ética para manter o seu trabalho dentro das regras e leis vigentes, bem como afastá-lo da participação de fraudes. Adicionalmente, o papel do auditor deve ser focado na objetividade. Apesar de ser relacionado à empresa auditada, sua atuação deve ser independente no sentido de que o auditor deve ter autonomia em seus processos, não devendo participar de atividades ou relacionamentos que venham porventura prejudicar sua percepção ou julgamento quanto aos dados auditados. O princípio de confidencialidade trata sobre o uso prudente e da proteção das informações obtidas nos processos de auditoria. O auditor não deve usar nenhuma informação obtida em benefício próprio ou para obter qualquer tipo de vantagem pessoal (MAGNABOSCO, 2018, p. 54), mantendo-se ético e proporcionando sigilo as informações existentes em seus relatórios. 51 “O respeito do valor e a propriedade das informações manipuladas é um preceito fundamental ao auditor. As informações não podem ser divulgadas externamente ao trabalho, exceto em situações específicas com autorização apropriada” (SOUZA, 2020, p. 27). Por fim, a competência de um auditor interno representa o uso de sua experiência, sua intuição, do seu conhecimento e de suas habilidades para melhor conduzir os processos de auditoria. As atuações do auditor externo, orientadas por uma série de condutas voltadas a processos éticos, serve como apoio à alta administração da empresa. Vale ressaltar que o seu papel é totalmente independente com relação à organização em que trabalha, objetivando trazer sucesso na realização de seu trabalho (MAGNABOSCO, 2018, p. 17-18). Figura 3 – Organograma do setor de auditoria interna Fonte: adaptado de Magnabosco (2018) Faversani (2020, p. 20) afirma: A auditoria interna cumpre a função de órgão de assessoramento, informando à alta administração sobre a eficiência e a eficácia das práticas internas de gestão e dos controles. Por esses motivos, ela deve sempre estar alinhada com o planejamento estratégico da organização e não deve atender os interesses de nenhuma diretoria. O auditor interno não deve ser subordinado à nenhuma diretoria para evitar o acontecimento de conflitos de interesse. Por exemplo, em caso de um auditor interno estar subordinado à diretoria financeira, pode sofrer exigências ou pressões quanto à realização de seus trabalhos, o que consequentemente pode levá-lo a incorrer em erros (propositais ou não) no julgamento dos fatos apurados durante a auditoria. A mesmo modo, considerando a distribuição dos níveis hierárquicos, o auditor interno deve satisfazer as necessidades do nível estratégico, que é responsável por tomar decisões a nível geral da empresa. Este nível deve conciliar diferentes necessidades provenientes de diferentes partes da empresa, e escolher métodos eficientes em relação à sua administração, para que todas estas necessidades sejam supridas. 52 Melhem e Costa (2012, p. 28) corroboram com a defi nição do princípio de independência: “esta é entendida como o estado no qual as obrigações ou os interesses da entidade de auditoria são, sufi cientemente, isentos de interesse das entidades auditadas”. Em outras palavras, uma vez que as necessidades e os objetivos do auditor não entrem em confl ito com as necessidades e objetivos da empresa auditada, o desempenho dos trabalhos pode fl uir de maneira mais efi ciente. São diversas as situações que podem afetar a independência do auditor interno, a saber: ameaças de interesse do próprio auditor (confl ito de interesses pessoal), a autorrevisão (quando o auditor já desempenhou funções de administração na empresa auditada), defesa de interesses da empresa auditada (o que compromete a objetividade do auditor), a familiaridade (relacionamento estreito entre auditor e empresa, prejudicando o seu julgamento quanto às realidades analisadas), e, por fi m, a intimidação (ameaças, obstáculos quanto à realização das funções etc.) (MELHEM; COSTA, 2012). As rotinas desempenhadas pelo um auditor interno, por muitas vezes, são vistas como “inconvenientes”ou “muito exigentes”, afi nal, o auditor sempre está em busca de defeitos, problemas e a necessidade de melhorias nos controles internos. Contudo, sua relação com a alta administração, bem como demais partes da empresa, não deve ser confundida com a atuação de um policial, que investiga e pune irregularidades. O foco do auditor é averiguar e investigar os motivos que levaram às irregularidades. O artigo a seguir ilustra de forma descontraída essas diferenças e as realidades enfrentadas nos relacionamentos entre ao auditor e a empresa auditada: https://www. linkedin.com/pulse/auditoria-interna-%C3%A9-amiga-n%C3%A3o- pol%C3%ADcia-caio-machado-pmp-psmi/?originalSubdomain=pt. INTERESSANTE Para a implementação das práticas de auditoria interna, o auditor deve realizar algumas etapas que compõe o planejamento das etapas a serem realizadas e consequente elaboração do programa de auditoria, que contém objetivos, prazos e recursos necessários. A etapa de planejamento é considerada a fase mais importante pois permite que todos os objetivos, prazos, recursos e métodos de análise dos dados contábeis e dos controles internos sejam defi nidos. O planejamento defi ne quais serão as práticas utilizadas no processo de auditoria. 53 O auditor deve utilizar, para uma aplicação eficiente dos processos pretendidos, métodos análogos à administração de empresas, administrando a condução de seu trabalho. Deve programar o que será feito, iniciar sua preparação, executá-la, relatar os resultados, concluir a auditoria e acompanhar as novas situações implementadas. Esses processos são análogos às etapas de Planejamento, Organização, Direção e Controle, discutidas anteriormente no Tema de Aprendizagem 2. Figura 4 – Planejamento e execução dos trabalhos de auditoria interna Fonte: adaptado de Magnabosco (2018) Após programar e preparar a implementação do programa de auditoria, o auditor deve realizar as ações propostas e finalizar o processo mediante a elaboração do relatório de auditoria, contendo todas as informações necessárias à alta administração quanto à apuração dos controles internos empregados na escrituração contábil da empresa. O relatório do auditor independente, também conhecido como o parecer de auditoria, representa o produto final dos processos desempenhados na auditoria interna e deve conter a opinião do auditor, isto é, o julgamento e relato dos dados e procedimentos analisados, bem como o embasamento de sua opinião (SILVA, 2020a). “O parecer deve identificar as demonstrações contábeis sobre as quais o auditor está expressando sua opinião, além de indicar o nome da entidade, as datas e o período a que correspondem, e ser datado, do dia do encerramento dos trabalhos de auditora na entidade” (FAVERSANI, 2020, p. 77). Com base na emissão do parecer do auditor, o processo de auditoria é finalizado, e em seguida o papel do auditor continua, no sentido de buscar novas informações contábeis, analisar processos e, basicamente, dar continuidade a novos processos de auditoria a fim de melhorar os processos de controle interno da organização. 54 2.2 AUDITORIA EXTERNA A auditoria externa, assim como a auditoria interna tem por função atingir os mesmos objetivos: efetuar um exame detalhado nos registros para obtenção da comprovação dos documentos contábeis da empresa e verificar a veracidade dos fatos colhidos, criando evidências para suportar sua opinião nos demonstrativos contábeis (MELO; SANTOS, 2017). Contudo, a execução dos trabalhos de auditoria externa, também conhecida como auditoria independente, é realizada por um profissional que não é ligado hierarquicamente com a empresa auditada. Enquanto o auditor interno executa ações de controle, acompanhamento e melhorias nos controles internos, o foco principal dos trabalhos do auditor independente está em avaliar as demonstrações contábeis, verificando sua compatibilidade com a realidade da empresa (SOUZA, 2020). Figura 5 – Organograma auditor externo Fonte: o autor O fato de não possuir vínculo empregatício com a empresa auditada permite ao auditor evitar problemas referentes ao fator independência. Com isso, seus trabalhos podem ser desempenhados sem que ocorram prejuízos quanto ao seu julgamento perante os dados apresentados na empresa (SILVA, 2020a). Apesar de possuir atuação diferenciada quanto ao auditor interno, sua função deve ser igualmente pautada em conceitos como a ética, objetividade, independência e confidencialidade. Deve usar de todos os métodos possíveis para assegurar a correta aplicação de sua função, não participando e reportando quaisquer indícios de fraude ou atividades suspeitas. O comportamento esperado do auditor independente é que ele mantenha seu nível de competência profissional por meio da atualização de seus conhecimentos sobre os princípios fundamentais da contabilidade, as normas brasileiras de contabilidade (NBC), as técnicas contábeis e de auditoria, a legislação inerente à profissão, os conceitos e as técnicas administrativas e a legislação específica aplicável a entidade auditada (MELHEM; COSTA, 2012, p. 26). 55 Segundo afirma Magnabosco (2018, p. 20-21), o trabalho executado pela auditoria interna é idêntico aquele executado pela auditoria externa, ambas utilizam as mesmas técnicas e práticas de auditoria (procedimentos) e ambas são orientadas a proporcionar melhores condições na gestão da empresa com atuação pautada em métodos diferentes. “A auditoria externa tem uma visão mais global das atividades, quanto à auditoria interna as visualiza de forma mais detalhada” (CREPALDI; BIANCHI, 2015 apud FAVERSANI, 2020, p. 21). O enfoque da atuação do auditor independente está em prestar informações para os acionistas, credores, órgãos controladores e governamentais, bem como para a sociedade em geral, de forma que seu parecer afirma ou não a veracidade das demonstrações financeiras da organização auditada (SILVA, 2020a). Desde novos investimentos até um aumento em vendas, os dados verídicos auditados representam a situação em que a empresa opera conforme o esperado, podendo ser confiável sob a ótica de negócios. Ao passo de que o auditor interno proporciona meios de melhorar a gestão da empresa, o que beneficia a sociedade com enfoque em melhorias na empresa, a auditoria externa visa auxiliar a sociedade de fora para dentro. Em outras palavras, ao garantir que os métodos contábeis e suas demonstrações são verídicas, o papel do auditor externo permite que os stakeholders externos possam ter maior confiança no trabalho da empresa auditada e consequentemente melhorar os seus relacionamentos. Quadro 6 – Principais diferenças entre os métodos de auditoria Auditoria Interna Auditoria Externa Relação trabalhista Funcionário da empresa Auditor independente Nível hierárquico Subordinado à alta administração Relaciona-se com acionistas, credores e governo Independência Menor grau de independência Maior grau de independência Finalidade Monitorar e melhorar os controles Internos Avaliar as demonstrações contábeis Métodos de análise Analisar aspectos contábeis e controles internos para garantir a correta aplicação de normas internas Analisar aspectos contábeis e controles internos para determinar a extensão e veracidade das demonstrações contábeis 56 Fonte: adaptado de Magnabosco (2018) e Faversani (2020). Natureza Contínua Periódica Divisão do trabalho Subdividido em áreas operacionais e linhas de responsabilidade administrativa Subdividido em análise de balanço patrimonial e demonstração de resultados do exercício Quem exerce Contador com registro ativo no CRC Etapas de trabalho Planejamento, preparação, condução, relatórios, conclusão e acompanhamento 3 PRÁTICAS EM AUDITORIA A auditoria é uma especialização contábil voltada a testar a eficiência e eficácia do controle patrimonial implantado com o objetivo de expressar uma opinião sobre determinado dado (ATTIE, 2018 apud SILVA, 2020a).Utilizamos a Auditoria Contábil para verificar os métodos de controles internos de uma empresa, focando em utilizá-la como ferramenta gerencial para proporcionar aumento de eficiência e geração de vantagem competitiva em uma empresa. Vantagem competitiva corresponde a uma característica capaz de proporcionar ganhos de desempenho em relação à concorrentes, melhorando o desempenho de um produto, um serviço ou em processos (CERTO; PETER, 2010). A auditoria visa exatamente esta função. O objetivo de auditoria é aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por parte dos usuários, e, consequentemente, melhorar os processos desempenhados pela empresa, sejam eles administrativos ou operacionais (MELHEM; COSTA, 2012). Ao analisar os documentos contábeis como o Balanço Patrimonial, por exemplo, após a apuração dos dados e métodos por meio de aplicação de uma auditoria, os administradores podem ter certeza da situação e do controle do patrimônio da empresa, e com isso planejar diferentes decisões com base na realidade organizacional daquele dado momento. A mesmo modo, no ambiente externo da companhia, os investidores podem analisar as demonstrações contábeis com maior grau de confiança e credibilidade, aumentando as chances de tomar uma decisão quanto à aplicação de capital nesta empresa. A auditoria, nesse sentido, representa uma forma de melhorar a captação de recursos por parte da empresa auditada. 57 O processo de aplicação de auditoria deve ser elaborado pelo auditor, considerando ainda os papéis do administrador da empresa auditada e do contador. Nesta dinâmica entre as três partes, o auditor é responsável por averiguar os métodos contábeis utilizados e o conteúdo das demonstrações contábeis, o administrador é responsável por fornecer informações suficientes para o auditor realizar o seu trabalho, a mesmo modo que deve nortear o processo estabelecendo os objetivos de auditoria, e por fim, o contador serve como apoio tanto ao administrador como ao auditor, fornecendo meios e dados para a realização dos processos (SILVA, 2020a, p. 40). O trabalho do auditor é pautado na estruturação do programa de auditoria: Antes de iniciar qualquer trabalho de auditoria, convém ter preparado um programa de auditoria, que é um rol de medidas de verificação a serem aplicadas, expostas de tal forma que as inter-relações de um procedimento com outro estejam claramente demonstradas (SILVA, 2020a, p. 40). O programa de auditoria envolve não só os processos a serem utilizados, mas trata também sobre as etapas de planejamento, preparação, condução, relatórios finais e acompanhamento das ações que geram adequações aos processos na empresa auditada (MAGNABOSCO, 2018, p. 45). O planejamento de auditoria envolve a definição das diretrizes da auditoria (princípios norteadores), os objetivos que visam planejar a auditoria de forma a realizá- la de maneira eficaz e as ações necessárias para sua implementação, estabelecendo a metodologia a ser utilizada (MELO; SANTOS, 2017). A realização do planejamento é extremamente necessária para delimitar prazos, objetivos, etapas, recursos necessários e pessoas envolvidas nas aplicações de auditoria. Tanto para o auditor quanto para a empresa auditada, ficam estabelecidos acordos, funções, responsabilidades, obrigações e limites quanto suas atuações. Por consequência ocorre um melhor aproveitamento dos esforços nos processos desempenhados. Ao realizar um programa de auditoria, o auditor deve considerar alguns pontos quanto ao planejamento da auditoria, dentre eles (MELO; SANTOS, 2017): • objetivos principais da auditoria; • natureza da auditoria; • época ou periodicidade; • extensão das análises; • profundidade dos exames • documentação. 58 “Independentemente do foco de trabalho de auditoria, quanto à forma de atuar, todas seguem um mesmo padrão de trabalho na busca de evidências que tenham consistência comprobatória” (SOUZA, 2020, p. 39). A elaboração de um programa de auditoria tem como foco responder as seguintes perguntas: o que será feito? Como será feito? Onde ocorrerão as ações? Quem participará? Quais recursos necessários? Quanto tempo será a duração da auditoria? Planejar e programar as ações a serem realizadas evita retrabalhos futuros, pois ao pensar antecipadamente o que fazer é possível ter clareza na condução das atividades programadas e executá-las com melhor aproveitamento. IMPORTANTE Outro ponto relevante no processo de aplicação de auditoria consiste no item papéis de trabalho, que nada mais são do que registros, documentos comprobatórios ou formulários utilizados no decorrer da aplicação da auditoria, contendo informações que servem como provas, afirmando o testemunho do trabalho executado pelo auditor e servindo como base para a elaboração dos relatórios finais (MAGNABOSCO, 2018). Os papéis de trabalho compõem uma prática do auditor, visando assegurar a correta aplicação dos conceitos de auditoria. São os documentos que comprovam seu trabalho e que dão suporte para a emissão da opinião do auditor (MELHEM; COSTA, 2012, p. 53). A opinião do auditor consiste na sua decisão sobre a realidade verificada nos controles contábeis da organização auditada, realizada nas etapas finais do programa de auditoria. A elaboração do programa de auditoria deve levar em conta uma investigação inicial sobre a situação atual da empresa, quais os problemas que levaram à necessidade de uma auditoria, como ocorre o controle interno, bem como demais pontos que visam dar ao auditor uma visão geral sobre o que ocorre na empresa naquele momento (SILVA, 2020a, p. 42). Com a elaboração do programa de auditoria todos os procedimentos a serem realizados são definidos de forma clara e organizada, explicitando a todas as partes interessadas itens como o que, como, onde e quando serão feitos os processos de auditoria. 3.1 OBJETIVOS DE APLICAÇÃO DE AUDITORIA A Auditoria Contábil, seja ela de caráter interno ou externo, quanto a sua finalidade, pode ser definida como: 59 A auditoria poderá ser realizada para avaliar erros e fraudes, sendo um trabalho eventual, parcial e específico; para atender a requisitos legais exigidos, constituindo uma atividade de compliance; ou para validação dos registros existentes, de acordo com a realidade da organização auditada (SOUZA, 2020, p. 39). Em outras palavras, uma auditoria pode ser realizada para verificar a coerência e exatidão dos métodos aplicados aos controles internos contábeis da organização, ou para ajustar estes processos segundo as leis vigentes, e por fim servir como uma confirmação da exatidão das demonstrações contábeis perante todas as partes interessadas nestes dados. Programar a aplicação de uma auditoria consiste em definir estes objetivos. Por vezes, uma empresa está necessitando aplicar uma auditoria contábil para avaliar eventuais erros em seus processos. Por outros necessita melhorar o seu processo de compliance, averiguando a existência de falhas em seus processos de controle interno, verificando eventuais fragilidades ou mesmo se há indícios de fraudes em suas demonstrações. Entendemos como compliance os procedimentos aplicados para “o cumprimento de leis e regulamentações aplicáveis” (SILVA, 2020b, p. 51). Também pode ser compreendida como o conjunto de medidas que garante a conformidade de processos, documentos, análise de obrigações, exame de procedimentos realizados a fim de propiciar o cumprimento das condições legais exigidas (SANTOS, 2019). A aplicação de auditoria serve como uma ferramenta de compliance no sentido de fazer cumprir as legislações vigentes nas rotinas desempenhadas pela organização auditada. Dessa forma, têm-se a certeza de que seus processos estão em conformidade com o que se é esperado, sob análise legal. O cumprimento destas regras e leis visa melhorar os procedimentos contábeis da empresa, e com isso proporciona ganhos em eficiência, seja em controlar suas atividades e operações, sejaBoa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE AUDITORIA CONTÁBIL ................................ 1 TÓPICO 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM CONTABILIDADE GERENCIAL NO CONTEXTO DA AUDITORIA CONTÁBIL .................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 CONTABILIDADE E AUDITORIA ..........................................................................................3 3 CONTABILIDADE GERENCIAL ............................................................................................5 3.1 PRINCIPAIS DOCUMENTOS UTILIZADOS PELA CONTABILIDADE ..............................................7 3.1.1 Balanço patrimonial (BP) ............................................................................................................8 3.1.2 Demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados (DLPA) ........................................... 9 3.1.3 Demonstração do resultado do exercício (DRE)................................................................ 10 3.1.4 Demonstração dos fluxos de caixa (DFC) ............................................................................ 11 3.1.5 Outros documentos contábeis relevantes .......................................................................... 13 3.2 FERRAMENTAS UTILIZADAS EM CONTABILIDADE GERENCIAL ............................................. 13 4 AUDITORIA CONTÁBIL ..................................................................................................... 15 4.1 BREVE HISTÓRICO DA AUDITORIA CONTÁBIL ...............................................................................17 4.2 MODALIDADES DE AUDITORIA CONTÁBIL .................................................................................... 19 4.3 APLICAÇÕES DA AUDITORIA CONTÁBIL ......................................................................................20 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................................ 23 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 24 TÓPICO 2 - ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS E SUAS RELAÇÕES COM A AUDITORIA CONTÁBIL .........................................................................................................27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................27 2 A AUDITORIA CONTÁBIL E OUTRAS ÁREAS DE ESTUDO ...............................................27 3 FUNDAMENTOS DE ECONOMIA APLICADOS À ROTINAS DE AUDITORIA ..................... 31 3.1 MICROECONOMIA ................................................................................................................................32 3.2 MACROECONOMIA ..............................................................................................................................34 4 ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS E A IMPORTÂNCIA DA AUDITORIA CONTÁBIL ........ 36 4.1 PROCESSO ADMINISTRATIVO ........................................................................................................... 37 4.2 HIERARQUIA ORGANIZACIONAL .....................................................................................................38 5 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA (FINANÇAS) E SUAS RELAÇÕES COM PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL ........................................................................................................ 39 5.1 ÍNDICES FINANCEIROS ...................................................................................................................... 40 5.2 PLANEJAMENTO FINANCEIRO ........................................................................................................ 41 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 43 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 44 TÓPICO 3 – AUDITORIA INTERNA E EXTERNA: INTRODUÇÃO ÀS NORMAS, FUNDAMENTOS E PRÁTICAS ..............................................................................................47 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................47 2 TIPOS DE AUDITORIA ...................................................................................................... 48 2.1 AUDITORIA INTERNA ...........................................................................................................................49 2.2 AUDITORIA EXTERNA .........................................................................................................................54 3 PRÁTICAS EM AUDITORIA ............................................................................................... 56 3.1 OBJETIVOS DE APLICAÇÃO DE AUDITORIA .................................................................................58 3.2 AUDITORIA SEGUNDO SUA NATUREZA ........................................................................................59 3.3 EXTENSÃO DAS ANÁLISES ...............................................................................................................61 3.4 PROFUNDIDADE DAS ANÁLISES DE AUDITORIA ........................................................................62 3.5 ANÁLISE DOCUMENTAL ....................................................................................................................63 4 INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE AUDITORIA .................................................................... 64 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................................67 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................73 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................74 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................76 UNIDADE 2 — PLANEJAMENTO E NORMAS EM PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL .............................................................................................................................79 TÓPICO 1 — PLANEJAMENTO DE ETAPAS EM UM PROCESSO DE AUDITORIA CONTÁBIL .............................................................................................................................81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................81 2 FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO EMPRESARIAL .................................................. 82 2.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ......................................................................................................85 3 O PLANEJAMENTO EM AUDITORIA CONTÁBIL ...............................................................87 3.1 PROGRAMA DE AUDITORIA ...............................................................................................................92 4 FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO APLICADAS À AUDITORIA CONTÁBIL ...............95 4.1 CICLO PDCA .......................................................................................................................................... 97 4.2 MATRIZ SWOT ......................................................................................................................................98 4.3 5W2H .....................................................................................................................................................99 4.4 OUTRAS FERRAMENTAS APLICÁVEIS AO PLANEJAMENTO DE AUDITORIA CONTÁBIL .100 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................102em tornar a empresa mais confiável, transparente e mais atraente a investidores no mercado. 3.2 AUDITORIA SEGUNDO SUA NATUREZA A natureza de uma auditoria corresponde a sua composição, isto é, nos tipos de testes (conferência) realizados (MELO; SANTOS, 2017), ou quanto a sua periodicidade (SOUZA, 2020). A divisão da natureza em auditoria segundo os tipos de testes pode ser realizada da seguinte maneira, segundo afirmam Melo e Santos (2017, p. 158-163): “por inspeção, observação, indagação, confirmação, recálculo, reexecução ou procedimentos analíticos”. 60 O método de inspeção corresponde à contagem física dos itens que compõe às demonstrações contábeis (estoques, numerário etc.) e a inspeção dos documentos. Tem por objetivo comprovar a fidedignidade (veracidade) dos registros apresentados pela empresa. Este método visa validar a existência física, quantidade e adequação quanto ao estado dos itens verificados, confrontando-os com os registros contábeis (SOUZA, 2020). A observação corresponde a uma apuração mais intrínseca, isto é, envolve atividades de visualização dos processos da empresa enquanto são realizados, verificando afundo como ocorre a natureza de operações da organização auditada, de forma visual e em tempo real (MELO; SANTOS, 2017). O método de indagação, também conhecido como entrevista, ocorre de maneira formal (por métodos registrados, escritos) ou oral (conversas e entrevistas), e tem como objetivo a obtenção de informações a serem validadas, averiguando se os entrevistados estão cumprindo as normas vigentes e os processos contábeis necessários (SOUZA, 2020). Entrevistar funcionários da empresa auditada necessita que o auditor seja capaz de interpretar corretamente as respostas fornecidas, atentando-se também quanto ao julgamento sobre a veracidade destas respostas, apoiando sua opinião nos documentos e procedimentos adotados pela empresa. A confirmação em auditoria serve como forma de obter, através da confirmação junto a terceiros, informações sobre os bens, direitos a receber e obrigações que pertencem à empresa auditada, podendo ser realizada de forma escrita, eletrônica ou por outros meios necessários (MELO; SANTOS, 2017). Esta confirmação, por exemplo, tem por objetivo atestar a existência e a veracidade de demonstrativos contábeis que os administradores da empresa fornecem ao auditor. Dessa maneira, o auditor realiza contatos com bancos, fornecedores, clientes e demais partes que se relacionam financeiramente com a empresa auditada, realizando as devidas comparações a fim de verificar a exatidão dos dados analisados. As confirmações dos dados podem ser positivas ou negativas. As confirmações positivas correspondem a perguntas à terceiros, no sentido de concordarem ou discordarem das informações apresentadas ao auditor. Já as negativas visam apenas verificar se os terceiros discordam das informações analisadas (MELO; SANTOS, 2017). Após o recebimento das confirmações com terceiros, o auditor procede nas análises e anotações dos processos auditados. As confirmações obtidas servem como base para a emissão do relatório de auditoria, onde o auditor expressa sua opinião acerca das realidades auditadas. 61 O recálculo em auditoria é utilizado devido aos aspectos contábeis, isto é, procedimentos que envolvem números, cálculos e valores passíveis de contagem. Dessa forma, o auditor pode realizar o recálculo dos valores analisados para realizar a conferência de sua exatidão e veracidade de dados. São analisados itens como estoques, valorização ou valorização de ativos, juros, depreciação, provisões para imposto etc. Ao utilizar este método, o auditor pode verificar possíveis erros de cálculos, decorrentes de contabilizações das operações realizadas. Apesar de um método simples, é amplamente utilizado no mercado de auditoria pois é um método direto quanto à conferência das demonstrações contábeis (SOUZA, 2020). Outro método importante quanto às práticas de auditoria está na reexecução, que envolve a execução de procedimentos e/ou controles que foram realizados pela empresa auditada como parte de seu controle interno (MELO; SANTOS, 2017). Em outras palavras, assim como no método de recálculo, a natureza da reexecução está em refazer o que já foi feito pela empresa auditada, de forma a verificar a exatidão dos resultados e garantir que estes foram corretamente contabilizados. “O objetivo deste método está em comparar os resultados obtidos pelo auditor com os dos controles da empresa” (SOUZA, 2020, p. 42). Por fim, quanto aos procedimentos analíticos, este método de análise e conferência tem como base a análise de índices financeiros, sua análise e comparação, buscando identificar situações anormais ou desvios em tendências. As comparações podem ser adotadas analisando empresas do mesmo porte, demonstrações de períodos anteriores ou resultados previstos pela própria empresa (MELO; SANTOS, 2017). Devem ser levados em consideração outros métodos de análise para que as eventuais anormalidades ou mudança na tendência de comportamento de dados sejam de fato consideradas como situações corretas ou como erros contábeis. Entendendo o mercado como dinâmico e que pode mudar abruptamente, nem sempre uma mudança muito relevante nos resultados da empresa pode configurar um erro contábil, e, portanto, deve ser sempre analisado comparando essa situação anormal com outros métodos de análise. 3.3 EXTENSÃO DAS ANÁLISES A categorização de auditoria quanto à extensão das análises se refere, segundo afirmam Melo e Santos (2017, p. 69), “à quantidade a ser executada, por exemplo, o tamanho da amostra ou a quantidade de observações de uma atividade de controle”. 62 As extensões de análise podem, por exemplo, abranger aspectos gerais da empresa, aspectos menos abrangentes ou apenas partes específicas de uma organização. Souza (2020) divide a auditoria em geral, parcial e limitada. A auditoria geral abrange todas as unidades e atividades empresariais. A extensão parcial apenas determinadas partes e a abordagem limitada constitui exames pontuais de um determinado período. Considerar uma abrangência geral em auditoria permite ao auditor realizar análises que envolvem múltiplos fatores relacionados às práticas contábeis desenvolvidas na organização auditada. É especialmente interessante quando as necessidades da auditoria são orientadas à aumento de performance administrativa ou operacional, averiguando a existência de erros nos métodos de controle interno a nível global na organização. A mesmo modo, realizar a auditoria apenas em partes da empresa permite um maior grau de detalhes quanto às atividades desempenhadas no setor específico de análise. O auditor, desse modo, consegue controlar melhor e ampliar suas análises, pois o ambiente de coleta de dados é menor, mais delimitado. Além dos objetivos de auditoria e sua natureza, deve ser considerado como ocorrerá a extensão das análises. Delimitar esse fator é fundamental em complementar os procedimentos a serem adotados no programa de auditoria, permitindo melhores resultados na condução de seus processos. 3.4 PROFUNDIDADE DAS ANÁLISES DE AUDITORIA A profundidade de análises em auditoria tem fortes relações com a abordagem da extensão destas análises. Ao considerarmos a divisão quanto ao fator extensão, isto é, se serão realizadas verificações gerais ou mais específicas, deve-se também adequar o processo de auditoria quanto ao fator de amostragem dos dados. A amostragem, ou amostra, pode ser entendida como a escolha de métodos de teste ou método de seleção de itens a serem testados (MAGNABOSCO, 2018). A escolha da amostra pode considerar um aspecto integral, isto é, considerar o exame de todos os elementos (documentos contábeis necessários), ou por técnica de amostragem (escolha de apenas uma parte do todo) (SOUZA, 2020). Por vezes não é necessário analisar todos os procedimentos adotados, bem como refazer a composição de todos as demonstraçõesapresentadas, a depender do programa de auditoria. Pode-se utilizar, por exemplo, técnicas de amostragem estatística para definir a profundidade das análises de auditoria. 63 A amostragem estatística emprega métodos científicos para que os resultados obtidos em uma parte da população (uma amostra), correspondam ao total da população (total de amostras) (SILVA, 2020a). Dessa forma, o auditor economiza recursos (tempo, materiais etc.) ao mesmo tempo que garante a correta execução dos métodos de auditoria. Segundo Magnabosco (2018), a amostragem estatística deve considerar: • seleção aleatória dos itens da amostra; • avaliação das amostras com base em cálculos de probabilidade; • seleção de dados de forma sistemática; • seleção de dados de forma casual, considerando a experiencia profissional do auditor. O conjunto de critérios utilizados pelo método de amostragem estatística permite ao auditor conduzir os seus trabalhos de forma a manter um viés científico, onde sua opinião pessoal ou critérios de escolha não influenciem os resultados de análises, ao mesmo tempo que permitam o emprego correto de métodos estatísticos para evitar resultados que não reflitam a realidade quanto à análise dos dados contábeis da organização auditada. 3.5 ANÁLISE DOCUMENTAL Por fim, quanto às práticas adotadas em Auditoria Contábil, podemos considerar a análise documental como a verificação de documentos para a comprovação da exatidão dos métodos de contabilização e a veracidade dos dados informados. Segundo Souza (2020), o auditor deve realizar exames documentais a fim de assegurar a autenticidade dos documentos (se são fidedignos), sua normalidade (se estão adequados às normas contábeis e legais), sua aprovação (se são de fato legítimos) e o registro (apropriação correta pela empresa). As demonstrações contábeis passam por inúmeros testes para verificação de sua exatidão, baseando a opinião do auditor sobre a correta aplicação dos procedimentos contábeis necessários. Por exemplo, itens contidos no Balanço Patrimonial como a conta disponível, contas a receber estoques, investimentos etc., e itens da Demonstração dos Resultados do Exercício como itens que compõe a receita de vendas, os custos e os diferentes tipos de lucro (bruto, operacional, líquido de impostos etc.), são analisados a fim de cumprir com os objetivos centrais da auditoria. 64 A análise destas demonstrações contábeis está em verificar se os valores nela contidos estão de fato condizentes com valores reais, existentes e verídicos. Dessa forma, além dos documentos, somam-se outros métodos de análise, como diferentes naturezas, extensões e profundidades, aplicando métodos em conjunto para permitir a análise documental. As demonstrações contábeis apresentam a situação patrimonial real de uma empresa (SILVA, 2020a), portanto, é essencial que a sua documentação seja composta por métodos éticos, comprometidos com a fiel representação desta situação perante todas as partes nelas interessadas. Melhem e Costa (2012) exemplificam a análise dos documentos e os dados destas demonstrações contábeis. Por exemplo, é essencial que o auditor analise a veracidade, por diversos meios necessários, de itens como os investimentos, estoques, empréstimos, resultados do exercício, dinheiro em caixa etc. O auditor analisa os diferentes documentos contábeis por intermédio da realização de recálculos, comparações, confirmações junto a terceiros etc. O foco está em verificar se os documentos realmente existem e se seus dados estão corretos. Os diferentes métodos de análise devem ser analisados quanto sua aplicação, pelo auditor, seja ele interno ou externo, para que o programa de auditoria seja realizado de forma bem fundamentada seja nas análises ou na aplicação dos métodos, a fim de garantir com que a auditoria produza os resultados esperados, de acordo com os objetivos definidos inicialmente. 4 INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DE AUDITORIA As normas de auditoria são regras e orientações para a aplicação das práticas de auditoria, adotadas pelo mercado e que permite aos auditores conduzirem seus trabalhos de forma mais organizada e produtiva. Os profissionais de auditoria devem conhecer quais são estas normas e aplicá- las no desempenho de sua função. De forma geral, estas normas permitem a consulta de informações, revisão e atualização de práticas de auditoria, tira eventuais dúvidas, esclarece situações e permite a melhor condução das práticas de auditoria contábil. Suas funções são a de estabelecer conceitos básicos sobre exigências profissionais do auditor, como deve executar seu trabalho e como deverá emitir o relatório de auditoria (parecer) (SILVA, 2020a). A norma técnica é um documento estabelecido por consenso, aprovado por um organismo reconhecido (classe profissional) que fornece regras, diretrizes ou características para atividades ou para seus resultados, 65 visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação no seu contexto. Norma técnica é considerada útil se for a solução de um problema de coordenação, emerge das situações nas quais todas as partes podem realizar ganhos mútuos (MELO; SANTOS, 2017, p. 12). As normas de auditoria são formalizadas por órgãos reguladores profissionais e por instituições profissionais de auditoria, como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), por institutos como o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil), o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), dentre outros (SOUZA, 2020). Por meio de análises e discussões sobre as práticas de auditoria, bem com as realidades do mercado de contabilidade e auditoria, estes órgãos criam, modificam e revogam normas sempre que necessário, visando implementar novas e melhores condições de trabalho no ramo de auditoria. As normas em vigor no Brasil são promulgadas por meio do CFC e com isso são denominadas Resolução CFC n. XX (FAVERSANI, 2020). Estas normas brasileiras sempre têm por objetivo obedecer a padrões e melhores práticas internacionais (ISA – International Standards on Auditing), emitidas por órgãos como a Federação Internacional de Contadores (IFAC) (MELO; SANTOS, 2017). Por meio de suas resoluções, o CFC estabelece as normas brasileiras de contabilidade, comumente conhecidas pela sigla NBC, acrescida do número correspondente (exemplo, NBC nº XX). A principal resolução do CFC que orienta a função do auditor e os seus trabalhos, atualmente, é a Resolução CFC n° 1.203/2009, que aprova a NBC TA 200, tratando sobre os objetivos gerais do auditor independente e a condução da auditoria em conformidade com suas normas (MELHEM; COSTA, 2012). Destacam-se também a Resolução CFC n. 986/2003, que aprova a NBC TI 01, estabelecendo as principais regras acerca da auditoria interna (MAGNABOSCO, 2018). No site do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) você pode conferir diferentes NBC e conhecer as suas finalidades, detalhes e aplicações. Confira no endereço eletrônico a seguir: https://cfc.org.br/tecnica/ normas-brasileiras-de-contabilidade/nbc-ta-de-auditoria-independente/. DICA 66 Além dos já citados CFC, IBRACON e IIA Brasil, merecem destaque alguns outros órgãos reguladores que atuam em mercados que envolvem as práticas de auditoria no Brasil: • Comissão de Valores Mobiliários (CVM): Atua na regulação do mercado de capitais (investimentos). • Banco Central do Brasil (BACEN): Regula e monitora o mercado financeiro. • SUSEP: Atua no mercado de seguros; Cada uma destas empresas tem por objetivo melhorar diferentes partes de nosso mercado, com caráter de atuação regulador, criando regras, normas e fiscalizando seu cumprimento, e sempre que necessário punindo as ações irregulares. Dessa forma, a auditoria contábil pode ser desempenhada de maneira interna ou externa. A auditoria interna auxilia na condução de atividades que identificam erros e propõe melhorias aos controles internos da empresa, sendo realizada por funcionários da organização. Por outro lado, a auditoriaexterna atende aos acionistas e controladores da empresa, sendo orientada à análise dos demonstrativos contábeis da organização. Ambas devem ser implementadas para ampliar as capacidades de gestão, bem como em sua eficiência. Tanto a auditoria interna quanto a externa devem, ainda, obedecer às normas e leis criadas e divulgadas pelo CFC. Por meio das NBCs, as práticas de auditoria são regulamentadas, monitoradas e podem então melhorar, produzindo ainda mais benefícios às empresas que a utilizam. 67 OS TIPOS DE AUDITORIA E SUAS IMPLICAÇÕES NAS EMPRESAS Júlio César Campioni Lima RESUMO Este artigo procurou demonstrar os tipos de auditoria e suas implicações nas empresas. Têm como enfoque trazer quais são as benfeitorias que o trabalho de auditoria pode proporcionar às empresas. Seu objetivo é demonstrar a influência que este serviço causa nas empresas, expondo as duas formas de auditoria, a auditoria interna e a auditoria externa, e mostrar a importância de cada uma delas para que as empresas possam fazer uso destes trabalhos. A metodologia de estudo foi realizada baseada na revisão bibliográfica do tema. Com a auditoria aplicada nas empresas pode-se obter um maior controle, evitando possíveis problemas que possam ocorrer na sua administração, pois esta vem se mostrando como uma importante ferramenta, auxiliando seus gestores a ter um controle maior das suas atividades, ajudando assim a sua permanência no mercado e a cumprir sua função social. Palavras-chave: Auditoria; empresas; profissional Contábil; Auditoria Interna; Auditoria Externa. INTRODUÇÃO E OBJETIVO A auditoria vem se mostrando como uma importante ferramenta nas empresas no sentido de observar, questionar e avaliar a eficiência e eficácia de outros controles, tem como objetivo assessorar a administração, levando informações seguras aos sócios e interessados na constatação da integridade contábil. De acordo com Sá (2000, p. 33) “a auditoria examina fatos em ocorrência (acompanhamento executivo) e já ocorridos (retrospectiva executiva)”. Através de sua realização é possível obter informações e confirmações sobre a autenticidade das demonstrações apresentadas pelas empresas. Diante disso, podemos perguntar: quais benfeitorias, o trabalho de auditoria pode proporcionar as empresas? Como forma de encontrar a resposta a esta indagação, o objetivo deste artigo recai em demonstrar a influência que este serviço causa nas empresas, expondo as duas formas de auditoria (a interna e a externa) e mostrando a importância para uma empresa fazer uso dos trabalhos desta. LEITURA COMPLEMENTAR 68 A auditoria é uma das mais importantes ferramentas para o controle administrativo, e com o crescimento das empresas, cada vez fica mais difícil para os empresários acompanhar seu desenvolvimento. Então eles optam muitas vezes por utilizar os recursos de auditoria seja ela interna ou externa para que esta por sua vez não sirva apenas para identificar fraudes, mas também sirva como função de assessoria a alta administração. Auditoria é uma tecnologia contábil aplicada ao sistemático exame de registros, demonstrações e de quaisquer informes ou elementos de consideração contábil, visando a apresentar opiniões, conclusões, críticas e orientações sobre situações ou fenômenos patrimoniais da riqueza aziendal, pública, ou privada, quer ocorridos, quer por ocorrer ou prospectados e diagnosticados (SÀ, 2000, p. 25). A identificação dos problemas e sua correção contribuem para o crescimento das empresas, melhorando sua rentabilidade. Demonstra aos acionistas, fornecedores e financiadores que os riscos da empresa estão bem estudados, a empresa está preparada para lidar com eventuais problemas. Os profissionais contábeis das empresas se beneficiam com um excelente auxílio para reforçar e fortalecer o controle interno, facilitando as descobertas de operações fraudulentas e outras atividades ilegais que possam acontecer nas empresas. Este estudo teve um caráter exploratório, descritivo e analítico sobre o tema com revisão bibliográfica, em livros e artigos científicos, especificamente nas seguintes palavras-chaves: auditoria, profissional contábil, empresas, auditoria externa e auditoria interna, seguido da redação do artigo utilizando uma abordagem qualitativa. METODOLOGIA Método é o conjunto de atividades sistemáticas e racionais, que, com maior segurança e economia, permite alcançar-se o objetivo por meio de conhecimentos válidos e verdadeiros, que traçam o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do pesquisador (LAKATOS; MARCONI, 2010, p. 65). Sendo assim, para a realização deste artigo, faz-se uso da pesquisa bibliográfica, pautada em livros, por meio de interpretações de autores e especialistas no assunto, revistas especializadas e sites periódicos. Para as autoras, faz-se necessária a pesquisa em diversos materiais, para que se tenha certeza das colocações expostas neste artigo, e lembrando que um caminho traçado sempre facilitará seu resultado. Auditoria A auditoria é uma atividade destinada, a observar, questionar e avaliar a eficiência e eficácia de outros controles tem como objetivo assessorar a administração, levando informações seguras aos sócios e interessados na constatação da integridade contábil. 69 Procuramos deixar claro que independentemente de seu posicionamento na estrutura da empresa, o órgão de auditoria não tem poder de decisão sobre os atos e fatos empresariais. Cabe-lhe a responsabilidade, isto sim, de examinar, de avaliar a ocorrência desses atos e fatos, no sentido de assegurar que eles se realizem em obediência e harmonia com as políticas, diretrizes e normas da alta administração (CASSARRO 1997, p. 32) A auditoria apresenta-se como solução no desenvolvimento do mercado competitivo, que cada vez mais estão em buscas de certezas que permitam perspectivas futuras e concretas para as empresas. Por tanto a auditoria pode auxiliar as empresas a analisar seu funcionamento e a aplicar na organização ética profissional, técnicas de planejamento e gerência estratégica. A auditoria é solicitada para apurar a responsabilidade e resguardar a integridade dos diretores ou executivos. Serve para dar uma satisfação e propiciar uma garantia àqueles que mantêm relações com a entidade. Em uma empresa privada essa garantia e dada aos seus acionistas, credores, fornecedores e propiciar uma garantia àqueles que mantêm relação com a entidade. O trabalho do auditor se desenvolve, portanto, em toda a empresa, em todas as suas unidades operacionais ou de apoio. (CASSARRO, 1997, p. 36). Profissional Contábil O auditor precisa ter bom nome profissional e plena independência, isto é, lastro material, moral, intelectual e cultural, para proteger seus clientes contra os ricos naturais, bem como para se manter em uma posição que lhe possibilite realizar suas tarefas, acima de problemas materiais. O auditor faz seu conceito profissional baseado na qualidade do seu trabalho. Considerada a alta responsabilidade que tem ao emitir sua opinião, o auditor encontra na qualidade a defesa de sua própria pessoa. O auditor deve aplicar o máximo de cuidado e zelo na realização dos trabalhos e na exposição de suas conclusões, ao opinar sobre as demonstrações, deve ser imparcial. A assinatura do auditor em balanços, peças relatórios etc. deverá dar-lhes um cunho de seriedade, fidelidade e garantia (SÀ, 2000, p. 58). No Brasil, não existem leis específicas que determinem as responsabilidades do auditor, encontramos apenas, do ponto de vista geral, em nossa legislação civil, penal, comercial e profissional, referências esparsas sobre o assunto, porém sem objetivá-lo. Perante a lei, entretanto, o auditor é responsável pelos seus atos, embora sem definição positiva e especial. Existem formas de enquadrar as responsabilidades do auditor, considerando-se como principal a responsabilidade profissional, civil, comercial e penal. ”a responsabilidadeprofissional está regulada pelo Decreto-lei nº 9.295, por nós já referido que trata da formação dos conselhos de contabilidade” (SÀ, 2000, p. 74). 70 Está aí, caracterizado o interesse do Conselho de Contabilidade, o seu poder para punir ou encaminhar punição que deriva do exercício irregular da profissão. Um auditor que pratique qualquer ato lesivo aos direitos de um cliente seu, fica em situação irregular no exercício de sua profissão sendo, portanto, susceptível de denúncia e penalidades que podem ir de uma simples multa até a cassação da carteira do CRC, e a suspensão dos seus direitos como profissional. Auditoria Interna A auditoria interna e quando os serviços de auditoria são executados por funcionários da própria empresa. O auditor interno, ou auditores internos deverão estar subordinados a mais alta autoridade da empresa, sendo um erro subordiná-los ao tesoureiro, ao diretor financeiro, ao contador geral etc., mesmo porque eles serão fiscalizados pelos auditores (FLORENTINO, 1988). Ou seja, o auditor deve ser subordinado apenas a mais alta autoridade dentro da empresa. Desde o começo do século, as grandes organizações já utilizavam serviços de auditoria, processo esse que servia para assegurar aos seus acionistas e investidores que seus balanços resultantes das atividades industriais e comerciais representavam fielmente a escrituração das organizações. Viram então que as perícias realizadas por empresas independentes eram necessárias para assegurar aos investidores e acionistas a correção dos balanços, com isso aumentando a confiança dos participantes, mas que não era possível as firmas de auditoria pública assegurar aos administradores que os sistemas operacionais e controles de funcionamento estabelecido eram realmente observados. Com isso as organizações passaram a ter funcionários de confiança para exercer a função de auditores. Inicialmente, os auditores internos tinham a responsabilidade, quase que exclusiva de revisar e conferir os valores e documentos, sendo a função uma extensão da dos auditores externos. “O auditor interno deve, portanto, preocupar-se com qualquer fase das atividades da empresa que possa ser de utilidade a administração” (UHL; FERNANDES, 1982, p. 17). Logo, o auditor interno confere operações mais detalhadas da organização na situação do que a auditoria externa. Em outras palavras, podemos dizer que a auditoria interna, por meio de conferência feita por funcionários, irá conferir, setores e departamentos da empresa a fim, de constatar se houve fraudes e se está ocorrendo irregularidades no controle interno, para que possa solicitar a administração dela, esclarecendo os erros e apontando medidas e soluções. “A auditoria interna é a tarefa designada a avaliar de forma independente, dentro de uma organização, as operações contábeis, financeiras e de outros tipos, no sentido de prestar um serviço a administração, cuja função é medir e avaliar a eficácia de outros controles” (UHL; FERNANDES, 1982. p17). 71 Auditoria Externa Auditoria externa, segundo Crepaldi (2000, p. 48), “constitui o conjunto de procedimentos técnicos que tem por objetivo a emissão do parecer sobre a adequação como representam à posição patrimonial e financeira, o resultado de recursos da entidade auditada consoante às normas da contabilidade”. Em suma, podemos dizer que a auditoria externa está mais preocupada com as demonstrações financeiras, enquanto a auditoria interna se preocupa em assessorar a administração. O que realmente a diferencia da auditoria interna, não é a forma como ela é feita, pois as duas tem basicamente o mesmo objetivo, mas sim o fato de a auditoria externa ser realizada por uma equipe de fora da organização, ou seja, a empresa contrata profissionais para realizar esse trabalho ao invés de designar um funcionário para essa função como se faz na auditoria interna. Empresas Os sócios de uma empresa e seus representantes legais, quando contratam funcionários capazes de colaborar na implementação das estratégias gerenciais, esperam que tudo caminhe bem. Nem sempre isso ocorre, uma vez que cada indivíduo possui nível de cultura diferente e os valores são difíceis de ser homogeneizados. Os problemas pessoais e grupais podem surgir e é neste contexto que os acionistas ficam críticos e mais céticos em relação aos relatórios de andamento das operações submetidos a sua apreciação. Com isso, o auditor pode ser de grande utilidade, não só para salvaguardar os ativos da empresa, mas também prestar seu serviço profissional de aconselhamento, tendo em vista a vivência em várias empresas de portes diferentes. As empresas que estão em situação de ter de prestar contas a diversos acionistas, aquelas que mantêm dissensões entre acionistas, as que mantêm grande volume de operações ou que são dirigidas por um complexo quadro de gerentes ou diretores, veem-se na necessidade auditores completamente independentes, que não sejam empregados da empresa e que não tem nenhum vínculo com ela. Empresa é a organização técnico-econômica que se propõe a produzir mediante a combinação dos diversos elementos, natureza, trabalho e capital, bens ou serviços destinados a troca ou venda, com a esperança de realizar lucros, correndo os riscos por conta do empresário, isto é, daquele que reúne, coordena e dirige esses elementos sob a sua responsabilidade (BERTOLDI; RIBEIRO, 2011, p. 49). CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho procurou mostrar que uma empresa sem uma auditoria adequada pode sofrer vários desfalques em seu controle, pois esta vem se mostrando como uma importante ferramenta nas empresas no sentido de observar, questionar e avaliar a 72 eficiência e eficácia de outros controles. Tem como objetivo assessorar a administração levando informações seguras aos sócios e interessados na constatação da integridade contábil. Feitas essas observações, podemos concluir que com uma auditoria adequada a empresa poderá ter um melhor controle sobre suas informações e melhor aceitação da sociedade, pois sabem que essas informações são realmente seguras. 73 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • A Auditoria Contábil visa proporcionar às empresas formas de garantir que seus processos contábeis estejam de acordo com as normas contábeis e a legislação vigentes, bem como garantir que as demonstrações contábeis estejam corretas, proporcionando à empresa e a todas as partes interessadas a correta interpretação quanto à situação financeira da organização. • A Auditoria Interna tem como foco verificar que os controles internos de uma empresa estejam corretos. Em outras palavras, busca conciliar a teoria com a prática quanto às normas internas, regulamentos e procedimentos que devem ser realizados, mediante regras da administração da empresa auditada. É realizada por um auditor que é funcionário da organização, mas que desempenha função independente atendendo as necessidades da alta administração. • A Auditoria Externa tem como foco analisar as demonstrações financeiras, assegurando sua veracidade e a correta aplicação dos procedimentos contábeis, atendendo ao público externo da organização. É realizada por um auditor independente que não possui vínculo com a empresa auditada, o qual possui como principal objetivo analisar as demonstrações contábeis e reportá-las as partes interessadas. • O trabalho de aplicação de uma auditoria pode ser dividido em programação da auditoria, preparação das ações e recursos necessários, implementação, elaboração do relatório final (parecer), divulgação do parecer às partes interessadas, finalização o processo, e, por fim, o acompanhamento das ações desenvolvidas. • Um auditor deve basear seu trabalho na ética profissional, na diligência, confidencialidade nas informações obtidas, objetividade e na independência. Deve sempre buscar aprimorar seus conhecimentos e manter-se atualizado perante seu mercado. • As práticas de auditoria envolvem a análise de documentospor diferentes formas. • Normas em auditoria correspondem à um conjunto de condutas, padrões de operação e orientações quanto as rotinas do auditor. Nelas constam as orientações sobre a elaboração dos programas de auditoria, sua execução e a elaboração do relatório final de auditoria (parecer). São desenvolvidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC), seguindo padrões internacionais (ISA) orientados por órgãos internacionais (IFAC). As normas são essenciais no auxílio ao trabalho do auditor, bem como servem como ferramenta de padronização às rotinas da auditoria contábil. 74 AUTOATIVIDADE 1 A auditoria contábil envolve inúmeras práticas que tem como objetivo verificar se os demonstrativos contábeis e métodos de controle interno, no que diz respeito à essas demonstrações, estão de acordo com as normas dos órgãos reguladores, bem como, se seguem os princípios legais vigentes e aplicáveis à categoria da empresa auditada. Em especial, um tipo de auditoria, quando da divisão da auditoria contábil em torno de sua finalidade ou quanto sua modalidade de atuação, trata os aspectos dela com enfoque em demonstrações financeiras em detrimento das análises dos controles internos. Esse enfoque de análise visa assegurar que os dados contidos nas demonstrações estejam corretos e possam ser confiáveis, permitindo a continuidade nas operações da organização. Com base neste tipo de auditoria, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Auditoria Interna. b) ( ) Auditoria Governamental. c) ( ) Auditoria de Processos. d) ( ) Auditoria Independente. 2 O auditor contábil que exerce auditoria externa, isto é, o auditor independente, deve pautar seu trabalho em princípios como a ética, confidencialidade, objetividade e independência na aplicação dos conceitos contábeis e de auditoria para basear seu julgamento perante os dados coletados na empresa auditada. Seu código de conduta tem orientação e embasamento nas normas brasileiras de contabilidade (NBC), que são criadas e divulgadas pelo CFC (Conselho Federal de Contabilidade). Essas normas e regulamentos preveem uma série de orientações quanto ao planejamento, aplicação e emissão do parecer do auditor e o permitem melhorar significativamente o seu trabalho, além de mantê-lo em padrões aceitos por todos e que visam beneficiar a todos os participantes no mercado. Dentre as diversas NBC, sobre a mais importante para a atuação de um auditor independente, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) NBC TA 210. b) ( ) NBC TA 530. c) ( ) NBC TA 200. d) ( ) NBC TA 505. 3 A divisão das práticas de auditoria perante a classificação segundo sua natureza, permite a compreensão de dois fatores: métodos utilizados e a periodicidade. Os métodos de aplicação fornecem ao auditor uma série de modelos de atuação e ferramentas a serem utilizadas para a análise dos dados e procedimentos contábeis de uma organização. A mesmo modo, entender a periodicidade de aplicação da auditoria, se contínua ou esporádica, permite melhores maneiras de organizar e elaborar o programa de 75 auditoria. Com relação aos métodos de análise, dois destes são interessantes quando analisamos o papel do auditor como agente que conhece inúmeros fatores contábeis e de auditoria, e que é responsável por garantir a veracidade dos métodos aplicados. Estes dois métodos permitem ao auditor confirmar a exatidão dos dados contábeis e de seus métodos devido ao auditor elaborar novamente estes documentos e os procedimentos. Utilizá-los permite ao auditor confirmar a veracidade dos dados e em seguida embasar seu parecer garantindo que tudo esteja de acordo com as regras vigentes. Sobre esses métodos, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Inspeção e procedimentos analíticos. b) ( ) Observação e indagação. c) ( ) Recálculo e reexecução. d) ( ) Inspeção e observação. 4 Os procedimentos de aplicação da auditoria interna devem garantir um forte embasamento ao parecer do auditor, evitando que seu julgamento esteja, de alguma forma, enviesado (sofrendo pressão ou influência de terceiros) ou mesmo que conduza a situações que não condizem com a realidade da empresa. Uma das formas de garantir a correta aplicação dos procedimentos de auditoria e ter mais fontes de informação para embasar seu parecer, está na prática de confirmação de dados com terceiros (investigação). Nesse sentido, sobre a importância e a efetividade deste método, considerando que, por vezes, as pessoas podem omitir ou distorcer informações, argumentos ou sua opinião sobre fatos, como assegurar que o método de confirmação de dados pode ser eficiente? Justifique. 5 A Auditoria Contábil pode ser dividida em Interna e Externa. Sabe-se que esta divisão visa atender diferentes públicos, exercendo diferentes pontos de análise quanto às demonstrações contábeis e os métodos de execução destas demonstrações, mas que possuem os mesmos objetivos quanto ao controle contábil e compliance da empresa. Considerando uma situação hipotética, um exemplo, onde uma empresa recém-aberta está crescendo e expandindo suas operações e, que precisa iniciar a inclusão de práticas de auditoria em suas rotinas, qual dos dois tipos de Auditoria deve ser priorizado? A empresa deve incluir, primeiramente, um setor de auditoria interna ou contratar uma auditoria externa? Justifique. 76 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Valuation: métricas de valor & avaliação de empresas. 4. ed. Barueri/ SP: Atlas, 2021. BAZZI, S. Contabilidade gerencial: conceitos básicos e aplicação. Curitiba: Intersa- beres, 2015. BRAGA, R. Fundamentos e técnicas de administração financeira. 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São Paulo: Saraiva, 2018. 79 PLANEJAMENTO E NORMAS EM PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL UNIDADE 2 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer e aplicar os conceitos de planejamento em processos de auditoria; • conhecer o planejamento e a organização nas rotinas a serem executadas em uma aplicação de auditoria; • identifi car os diferentes tipos de riscos presentes nas rotinas de auditoria contábil; • gerenciar os riscos em rotinas de auditoria, melhorando a efi ciência de seus processos; • compreender sobre as leis, normas e regras no mercado de auditoria contábil, sendo capaz de segui-las e aplicá-las nas práticas de auditoria; • utilizar o planejamento de auditoria para gerenciar riscos e fazer cumprir a legislação vigente nas práticas e aplicações de auditoria contábil. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PLANEJAMENTO DE ETAPAS EM UM PROCESSO DE AUDITORIA CONTÁBIL TÓPICO 2 – RISCOS ENVOLVIDOS NOS PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL TÓPICO 3 – LEGISLAÇÃO, NORMAS, REGRAS E ÓRGÃOS SUPERVISORES NOS PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 80 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 81 TÓPICO 1 — PLANEJAMENTO DE ETAPAS EM UM PROCESSO DE AUDITORIA CONTÁBIL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO As rotinas de auditoria contábil envolvem diferentes processos, com diferentes pessoas, que executam diversas atividades em inúmeros setores em uma empresa. Apesar desta complexidade em processos de auditoria, sua execução deve ser organizada e possuir métodos bem definidos para que o processo tenha início, meio e fim, produzindo os resultados desejados, tanto sob o ponto de vista da empresa quanto do auditor contábil. Tudo o que uma empresa faz é planejado, não há espaço para improvisação ou achismos. As empresas devem pensar antecipadamente no que irá fazer, como irá fazer, quem irá fazer e como serão feitas as atividades planejadas (CHIAVENATO, 2020). Assim como as empresas não executam suas ações com base na improvisação, um auditor também não pode apenas iniciar a auditoria improvisando suas atividades. É necessário planejar os procedimentos de auditoria antes mesmo de sua execução. Entender como funciona e como o planejamento pode ser aplicado permite aos trabalhadores do ramo de auditoria obterem mais controle sobre suas ações, melhorar sua interação com as partes interessadas, manter os princípios éticos e legais inerentes a sua profissão, e, consequentemente, melhorar os resultados referentes aos processos de auditoria. Ao planejar o que irá fazer, o que precisará em termos de recursos, quais serão as pessoas com as quais precisará interagir, qual será o prazo da auditoria, bem como demais variáveis necessárias à aplicação de uma auditoria contábil, o auditor pode ter clareza sobre os seus objetivos, a necessidade de seu trabalho e quais ações deverão ser priorizadas. Independentemente do tipo de auditoria a ser realizada (interna ou externa), bem como da natureza das análises utilizadas, a fase do planejamento é considerada como uma das mais importantes de todo o ciclo de trabalho, sendo um fator crítico de sucesso para o êxito da auditoria (SOUZA, 2020). 82 Conhecer os fundamentos do planejamento, seus detalhes, modalidades e principais características, permite ao auditor melhorar suas habilidades em relação à elaboração de programas e planos de auditoria, melhorando todos os processos envolvidos na etapa de execução da auditoria. Além de conhecer sobre o planejamento em si, ter conhecimentos de ferramentas administrativas voltadas a ele também amplia as habilidades teóricas e práticas de um auditor. Utilizar tais ferramentas permite não só melhorias no planejamento prévio das ações, mas também melhora nas etapas como o controle de riscos e a gestão da qualidade em seus processos. Ferramentas de planejamento servem como um importante meio para que o auditor consiga melhorar e aprimorar suas técnicas e conhecimentos em busca de melhorias contínuas, o que, consequentemente, permitirá, também, melhorias à empresa auditada. É fundamental conhecer e saber como aplicar o planejamento e suas ferramentas nas práticas de auditoria contábil, a fim de usufruir de seus benefícios e tornar os processos e práticas mais eficientes e produtivos. 2 FUNDAMENTOS DO PLANEJAMENTO EMPRESARIAL O planejamento representa uma atividade necessária à todas as empresas e está presente em todas as suas operações. De atividades operacionais à financeiras, logísticas ou de publicidade, tudo envolve planejamento. Planejar envolve escolher objetivos que uma empresa pretende alcançar, os meios pelos quais pretende atuar em prol destas metas, bem como na escolha dos recursos necessários para realizar o planejamento estabelecido. O planejamento é o processo de avaliação e de tomada de decisão em cenários prováveis, visando definir um plano de ação para atingir uma situação futura desejável, com base nas informações sobre as variáveis ambientais, crenças, modelo de gestão e estrutura organizacional (ANJOS, 2020, p.56). Ao planejar, as ações desempenhadas possuem um rumo, um norte, uma orientação específica do que deve ser feito, como deve ser feito e quando deve ser feito. O ato de não planejar pode incorrer em diferentes níveis e tipos de problemas, desde o uso ineficiente de recursos até a obtenção de resultados ineficazes, isto é, atrapalhar de alguma forma na execução das rotinas empresariais. O planejamento pode ser visto como a determinação da direção a ser seguida para se alcançar um resultado desejado ou como (b) a determinação consciente de cursos de ação, isto é, dos rumos. Ele 83 engloba decisões, com base em objetivos, fatos e na estimativa do que ocorreria em cada alternativa. Planejar é, portanto, decidir antecipadamente o que fazer, de que maneira fazer, quando fazer e quem deve fazer (LACOMBE; HEILBORN, 2015, p.157-158). Ao definir um plano de ação, definindo todas as variáveis possíveis em relação a ações futuras, os profissionais envolvidos podem ter maiores níveis de clareza quanto à execução de suas funções. Ao saber o que deve ser feito e os prazos envolvidos, por exemplo, um profissional pode administrar suas rotinas a fim de entregar o que é necessário, cumprindo normas de qualidade e assim satisfazendo o planejamento previamente elaborado. Do mesmo modo, quando tratamos de equipes que envolvem múltiplos profissionais, os quais divergem quanto às formas de trabalhar, de pensar e também em relação às responsabilidades, a forma de cooperação em equipe e demais fatores possíveis, planejar permite melhorar significativamente a forma de interação em equipes ao estabelecer padrões, regras e objetivos a serem alcançados. Planejar permite concentrar esforços em prol do mesmo objetivo. Por mais diferentes que sejam as realidades dentro e fora de uma organização, ao planejar, a empresa pode entender como estasrealidades funcionam e adaptá-las em favor dos resultados que pretende alcançar. A figura a seguir representa o funcionamento do planejamento empresarial: Figura 1 – Planejamento empresarial Fonte: o autor A função de planejamento deve estar alinhada em melhorar as realidades da empresa, melhorando seus resultados e fornecendo aumento na eficiência produtiva e gerando também vantagem competitiva perante a seu mercado de atuação. Para que seja eficiente, um planejamento deve englobar todos os níveis hierárquicos de uma organização. Do chão de fábrica (operacional) à alta gerência (estratégico), é necessário que todos os funcionários estejam alinhados ao planejamento e trabalhem rumo ao mesmo objetivo (MOURA, 2020). Como as organizações perseguem vários objetivos ao mesmo tempo, a participação de diferentes níveis organizacionais deve também servir como uma forma de organizar os objetivos a serem seguidos, no sentido de prioridade e urgência. 84 Os objetivos precisam ser escalonados em uma ordem gradativa de importância, relevância ou prioridade em uma hierarquia de objetivos, em função de sua contribuição à organização como um todo. Cada organização tem sua hierarquia de objetivos. Os objetivos organizacionais estão acima dos objetivos departamentais e estes acima dos objetivos operacionais (CHIAVENATO, 2020, p.138). Cada nível hierárquico de uma empresa possui diferentes funções, responsabilidades e objetivos. O planejamento deve ser capaz de refletir e unificar todas estas diferentes necessidades em prol de manter a empresa unida e evoluindo com base no mesmo planejamento geral. Apesar da divisão de diferentes níveis de planejamento, cada qual atendendo a diferentes níveis organizacionais, o foco do planejamento deve ser o de melhorar os resultados da empresa. Objetivos organizacionais (do nível estratégico) por exemplo, correspondem a ações de longo prazo, abrangentes. Objetivos departamentais (táticos) em um planejamento preveem ações de médio prazo, focando em resultados para cada departamento da empresa. Por fim, objetivos operacionais (nível operacional) tratam sobre os resultados necessários à cada tarefa e atividade, pensando no curto prazo da organização. Podemos entender o planejamento analisando as seguintes perguntas: O que? Como? Quando? Quanto? Quem? Por quê? Quanto irá custar? Essas perguntas compõem uma metodologia de planejamento chamada 5W2H, sigla que corresponde literalmente às perguntas citadas anteriormente (que estão em inglês). Pensando o planejamento como uma forma de responder cada uma destas perguntas, pode-se traçar ações para coletar recursos, estabelecer prazos e procedimentos para atingir os objetivos da empresa, ou seja, elaborar um planejamento. IMPORTANTE Contudo, apesar dos benefícios e da importância que o planejamento representa às empresas, planejar não necessariamente garante a obtenção dos resultados propostos. Por vezes, por diversas e diferentes situações, internas e externas à organização, um planejamento pode não surtir os efeitos desejados. 85 Planejar consiste em traçar os meios pelos quais a empresa irá agir, considerando uma situação atual, em dado momento, que pode ser alterado no futuro. Por exemplo, ao planejar as ações voltadas a um aumento de vendas, que necessitam de insumos e matéria-prima, o orçamento de preços e custos pode sofrer aumentos ou diminuições no futuro, alterando as realidades do planejamento. Nesse cenário, apesar de extremamente necessário, um planejamento ainda está sujeito à diversas incertezas enquanto ao futuro. O mercado pode mudar, crises podem ser iniciadas, novos produtos ou concorrentes podem surgir etc. Para evitar que um planejamento seja ineficiente, dentro das ações planejadas inicialmente, também devem constar os chamados planos de contingência, isto é, ações corretivas que visam conter os desvios em um planejamento, mantendo-o de em curso de acordo com os objetivos iniciais. “A precisão dos planos varia na proporção inversa do tempo de projeção: quanto maior o prazo, menor a precisão” (LACOMBE; HEILBORN, 2015, p. 158). Quanto mais longo o horizonte de planejamento, mais propenso a mudanças o planejamento estará, pois muitas coisas podem divergir e afetar positivamente ou negativamente as ações traçadas. Outro fator a ser considerado está no detalhamento das ações a serem executadas. Em planejamentos de longo prazo, é pouco eficiente traçar muitos detalhes em um planejamento, uma vez que as formas de agir, os recursos disponíveis, os resultados presentes e todas as demais realidades a longo prazo tendem a sofrer alterações, por vezes significativas, que tendem a alterar o planejamento inicial. Quanto maior for o prazo, menor tende a ser o detalhamento do planejamento. Inversamente, em planos de curto prazo, ao considerar que as mudanças ainda poderão ocorrer, mas a um grau menor do que em planos de longo prazo, utilizar um grau maior de detalhes pode ser benéfico ao auxiliar na condução das ações em um planejamento. 2.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Com a utilização de ações contingenciais somos introduzidos ao conceito de planejamento estratégico, que pode ser considerado como uma evolução do planejamento ou ser entendido como uma abordagem mais abrangente acerca deste conceito. O conceito de planejamento estratégico pode ser compreendido como o “planejamento sistêmico das metas de longo prazo e dos meios disponíveis para alcançá-las, ou seja, aos elementos estruturais mais importantes da empresa e de sua área de atuação [...]” (LACOMBE, HEILBORN, 2015, p. 159). 86 O planejamento estratégico é mais amplo e abrange toda a organização, sendo projetado para o longo prazo com seus efeitos perdurando por diversos anos. Envolve toda a empresa, em sua totalidade, utilizando seus recursos e áreas de atividade. Ainda, deve ser definido pela alta administração de uma empresa, que detém o poder de decisão, bem como amplo acesso à diferentes informações organizacionais. O planejamento estratégico corresponde ao plano maior ao qual todos os demais planos (departamentais e operacionais) estão subordinados (CHIAVENATO, 2020). Ao passo que o planejamento pode ser utilizado por diferentes setores em uma organização, é o planejamento estratégico o responsável por ditar as diretrizes gerais de uma organização. Do setor operacional ao tático (gerência média), todos estes planejamentos devem estar de acordo com os objetivos e procedimentos de ação traçados pelo planejamento estratégico. Planejamento e estratégias empresariais são conceitos inerentes à atividade empresarial, os quais correspondem aos procedimentos básicos de conhecimento do “negócio” e de suas perspectivas para o futuro, mesmo quando ainda não havia uma sistematização de tais processos (SERTEK; GUINDANI; MARTINS, 2011, p.144). Planejar pensando no longo prazo, considerando as incertezas quanto a previsibilidade do futuro, é fundamental para que a empresa atinja sucesso em suas atividades. Este sucesso passa por atividades contábeis e financeiras, que devem estar incluídas no planejamento estratégico da organização uma vez que são áreas essenciais ao bom desempenho dela. O planejamento estratégico engloba diretrizes globais da empresa, suas políticas e seus macro objetivos. Considera também a análise de ambientes internos e externos, por exemplo, a análise de suas forças e fraquezas (nível interno) e ameaças e oportunidades (nível externo) (ANJOS, 2020). Detalhar ações que visam incluir análises ambientais é fundamental ao considerarmos que a empresa influencia e é influenciada por todos os seus stakeholders. Tanto fatores externos quanto externos irão afetar a execução das ações presentes no planejamento empresarial. “O planejamento estratégico deve evitar a miopia da empresa, ou seja, que os administradores suponham que produtos, clientes, mercados ou tecnologias de hoje continuem sendo os mesmos de amanhã e que dediquem esforços e recursos paraa defesa do passado” (DRUCKER, 1974, p.122 apud LACOMBE; HEILBORN, 2015, p.160). 87 O planejamento estratégico direciona as ações gerais da empresa. O planejamento tático orienta as ações dos departamentos da empresa. O planejamento operacional dita suas ações. O planejamento tático e o operacional estão subordinados diretamente ao estratégico. A “última palavra” sempre será definida pelo estratégico, que exerce influências sobre os demais e é considerado mais importante pois dita as regras e ações a serem realizadas a um nível global da empresa. IMPORTANTE Planejar estrategicamente em uma empresa deve levar em consideração que as realidades do presente não serão as mesmas do que as realidades encontradas no futuro, seja por ações internas da empresa ou movimentos externos de mercado. Ao mesmo tempo deve-se focar em controlar as ações da empresa para que esta consiga atingir seus objetivos, completar suas metas e encontrar-se em uma situação futura mais confortável, obtendo melhores resultados do que no presente. 3 O PLANEJAMENTO EM AUDITORIA CONTÁBIL Partindo do ponto que compreendemos a necessidade do planejamento das atividades em uma empresa, pode-se prosseguir com as análises acerca do planejamento em relação às práticas de auditoria contábil. Segundo afirma Santos (2021, p.84), “planejamento em auditoria significa efetivamente colocar no papel o desenho do trabalho a ser realizado. Esse desenho deve começar pela estratégia global, ou geral, de auditoria”. Devem ser traçadas todas as ações necessárias para que o auditor desempenhe suas funções na empresa auditada. Definem-se a natureza de análises, a profundidade e extensão dos trabalhos, a periodicidade, quais documentos serão analisados, quais tópicos serão priorizados e quais serão os recursos necessários para a realização do planejamento. O planejamento de auditoria pode ser considerado como uma das etapas mais importantes de todo o processo de auditoria. Planejar corretamente pode significar uma auditoria sem atrasos, inconsistências ou grandes surpresas no decorrer de sua aplicação. O planejamento é um fator crítico para o êxito da auditoria (SOUZA, 2020). Magnabosco (2018) define que esta etapa é vital para o sucesso de uma auditoria. Nenhuma outra etapa ou processo afeta mais o êxito de uma auditoria quanto o planejamento. Segundo o autor, as principais atividades que envolvem o planejamento em auditoria são: 88 • permitir a realização de um exame adequado e eficiente que facilite alcançar os objetivos da auditoria; • facilitar o controle sobre a execução do trabalho e o tempo utilizado neste; • estabelecer a extensão de diversos procedimentos de auditoria de forma racional, evitando sobrecarga de trabalho. Se analisarmos o conceito de planejamento e planejamento estratégico em empresas, podemos concluir que ambos servem para orientar o uso eficiente de seus recursos (dinheiro, pessoas, tecnologia, insumos, tempo etc.). Em auditoria, o planejamento tem a mesma finalidade. Planejar uma auditoria permite identificar corretamente quais são os pontos principais que necessitam de atenção, quais as áreas que necessitam e que serão auditadas, permite ao auditor controlar suas ações e seus prazos, permitindo também que seus esforços sejam eficientemente alocados a fim de evitar desperdício de tempo, recursos e dos próprios esforços do auditor, evitando posteriores retrabalhos ou erros. No planejamento definem-se as diretrizes (princípios norteadores), os objetivos que visam planejar a auditoria de forma a realizá-la de maneira eficaz e as ações necessárias para implementação dos controles relevantes para a auditoria, estabelecendo assim os procedimentos metodológicos (MELO; SANTOS, 2017, p.45). Não realizar um planejamento, ou mesmo executá-lo de forma incorreta (sem zelo ou desconsiderando aspectos importantes), pode incorrer, segundo afirma Souza (2020), em: • omissão de áreas importantes para análise, ou mesmo informações em determinado momento, causando contratempos; • dificuldade em identificar não conformidades significativas existentes, que podem impactar os objetivos estabelecidos no planejamento de auditoria; • seleção inadequada da equipe responsável pela auditoria; • aplicação incorreta ou omissão de procedimentos e técnicas de auditoria necessárias; • descontrole no cronograma de auditoria; • dificuldades em análises, afetando negativamente à capacidade do auditor em emitir seu parecer de forma correta e eficiente. São diversos os problemas que podem ser causados pela falta de planejamento. De simples contratempos até a perda de independência do auditor por motivos de conflitos gerados pela falta de planejamento e organização entre as partes em um processo de auditoria, todos estes riscos podem ser diminuídos quando realizado um planejamento eficiente. 89 Nesse cenário, planejar vai além de apenas traçar os objetivos e os recursos, englobando todo o aspecto de eficiência da própria auditoria, sua credibilidade e confiança quanto a um processo que auxilia na gestão empresarial. Cabe ao auditor pensar antecipadamente quais serão as pessoas que estarão envolvidas nas diferentes etapas de auditoria, como serão utilizados os recursos e quais serão os métodos de análise sobre os procedimentos de controle interno e as demonstrações contábeis utilizadas na empresa auditada. Segundo a NBC TA 300 (R1) (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016a, p. 3), “o auditor deve estabelecer uma estratégia global de auditoria que defina o alcance, a época e a direção da auditoria, para orientar o desenvolvimento do plano de auditoria”. Ao definir a estratégia global, o auditor deve: a. identificar as características do trabalho para definir o seu alcance; b. definir os objetivos do relatório do trabalho de forma a planejar a época da auditoria e a natureza das comunicações requeridas; c. considerar os fatores que no julgamento profissional do auditor são significativos para orientar os esforços da equipe do trabalho; d. considerar os resultados das atividades preliminares do trabalho de auditoria e, quando aplicável, se é relevante o conhecimento obtido em outros trabalhos realizados pelo sócio do trabalho para a entidade; e e. determinar a natureza, a época e a extensão dos recursos necessários para realizar o trabalho (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016a, p. 3). No link a seguir você pode conferir na íntegra a NBC TA 300 (R1), conferindo todos os detalhes da NBC que trata sobre a etapa de planejamento da auditoria de demonstrações contábeis: https://www1. cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/NBCTA300(R1).pdf. DICA Segundo Santos (2021), estas questões relevantes da estratégia global de auditoria devem ser definidas com base em dois critérios de determinação de materialidade, ou seja, de aspectos relevantes: o aspecto quantitativo que corresponde aos recursos financeiros alocados pela empresa, e o qualitativo que envolve os riscos existentes na organização. Essas análises definem quais serão às áreas prioritárias nos procedimentos de auditoria. 90 Entendemos como as análises quantitativas os processos que envolvem a coleta e posterior tratamento dos dados obtidos por meios de quantificação, isto é, baseado em contagem e numeração das evidências obtidas. Por outro lado, qualitativo refere-se à descrição detalhada do objeto de estudo analisado (MASCARENHAS, 2018). São exemplos de métodos quantitativos os estudos dos dados contábeis utilizando o método de correlação de variáveis, estudo de comparação causal, a técnica de amostragem de dados ou quaisquer outros que utilizem bases numéricas-matemáticas. As técnicas de análise qualitativas englobam o julgamento dos dados com base no conhecimento do auditor, bem como em sua percepção perante os dados apresentados. Este julgamento deve, obviamente, estar de acordo com as normas de auditoria e legislação vigente para que possam ser consideradas como métodos verídicos e eficientes.A escolha dos métodos é etapa fundamental no planejamento global de auditoria. Outro fator importante está na escolha da equipe de auditoria. Uma equipe de auditoria corresponde a todos os auditores, sejam internos ou externos, responsáveis pelas ações de auditoria na entidade auditada. Em auditoria interna, por exemplo, responsável por conferir e atestar a veracidade dos controles internos de uma empresa, deve ser estabelecido quais as pessoas ou quais serão os setores equivalentes responsáveis pelas práticas de auditoria na empresa. O planejamento deve incluir a periodicidade de trabalho destes auditores, quais serão as relações entre estes e as demais partes interessadas, se será necessário o apoio de especialistas em áreas específicas onde os documentos sejam muito complexos, bem como quaisquer outros pontos relevantes que estejam relacionados com o papel do auditor na condução de seus trabalhos. Outro ponto importante quanto à formação de equipes no planejamento de auditoria está na rotação de auditores, conceito este conhecido como job rotation (rotação de trabalho), que consiste em não manter os mesmos auditores em uma equipe por longos períodos, a fim de garantir que estes não criem vícios de comportamento ou se acomodem de alguma forma, deixando de desempenhar todas as análises e processos necessários (SOUZA, 2020). Além dos aspectos de métodos e a equipe que irá atuar na aplicação da auditoria, o auditor também deve fazer uma análise prévia na empresa auditada. O auditor deve coletar informações gerais sobre a empresa, sobre seus negócios e sobre suas políticas financeiras e contábeis (IMONIANA, 2019, apud SILVA, 2020a). Cabe ao auditor estar atualizado não só sobre os procedimentos contábeis, normas vigentes e a legislação geral de auditoria e contabilidade, mas também conhecer sobre o ramo de atuação da empresa auditada. 91 Cada empresa está presente em um ramo de negócios específico, que por muitas vezes sofre regulação de diferentes entidades e diferentes legislações. O auditor deve conhecer quais são as peculiaridades desta organização para prever ações condizentes com estas realidades, incluindo-as em seu planejamento. A necessidade de conhecer sobre as realidades de uma empresa quanto a sua área de atuação permite ao auditor, seja ele interno ou externo, se especializar nesta área e, consequentemente, tornar-se melhor neste ramo de auditoria. Aos auditores externos (independentes), essa especialização é muito útil, pois permite que este auditor possa prestar serviços para diferentes empresas dentro do mesmo ramo de atuação. Por outro lado, restringe sua atuação pois seu conhecimento torna-se muito específico em relação à legislação e normas aplicáveis no mercado, sendo úteis apenas para um setor. Por isso, a especialização deve ser igualmente bem planejada para que o auditor possa manter-se ativo profissionalmente sem maiores problemas. NOTA O auditor deve conhecer sobre as principais atividades da empresa, focando em entender estas atividades sob ótica financeira-contábil, verificando como funcionam os controles internos e se estes de fato existem, a fim de executar os procedimentos de auditoria. De fato, o auditor deverá obter o entendimento do negócio da empresa para que possa compreender a substância econômica das transações da entidade e desenvolver um estudo de como desempenhará o trabalho. Com isso o auditor tomará a decisão de como elabora o seu planejamento a respeito dos fatos que são relevantes nas demonstrações e quantificar o risco de execução do seu trabalho (MELO; SANTOS, 2017, p.81). O planejamento, seguindo uma abordagem geral, deve também incluir a periodicidade e a época em que serão realizadas as auditorias. Deve constar no planejamento se a auditoria será contínua, periódica ou esporádica, bem como em que momento (ou em qual época) esta será aplicada. Por exemplo, pode-se realizar auditorias em períodos próximos à divulgação de resultados bimestrais, trimestrais, semestrais ou anuais, a depender da necessidade da empresa auditada. A legislação que incorre à empresa auditada considera aspectos jurídicos e de órgãos reguladores. 92 Por fim, a natureza de auditoria também deve ser considerada na elaboração do planejamento de auditoria. A natureza de auditoria pode ser entendida como as características ou os tipos de testes que serão realizados nos processos de auditoria. Todos estes diferentes tipos devem ser detalhados e documentados no planejamento de auditoria. Dentre os tipos de auditoria utilizados temos exames dos registros contábeis, exames documentais, conferência de cálculos, entrevistas e confirmações com terceiros, inspeção e contagem física e correlação (MELHEM; COSTA, 2012). Após traçadas todas as estratégias globais a serem utilizadas, o planejamento de auditoria prossegue para a elaboração do programa de auditoria. A documentação da estratégia global de auditoria consiste no registro das decisões-chave consideradas necessárias para planejar adequadamente a auditoria e comunicar temas importantes à equipe de trabalho. O programa de auditoria, por sua vez, possui como objetivo detalhar os procedimentos a serem realizados no decurso da auditoria pelos membros da equipe com objetivo de operacionalizar os trabalhos a serem executados (MELO; SANTOS, 2017). Enquanto a estratégia global tem caráter geral, estratégico, o programa de auditoria tem caráter operacional, prático. Ambos os documentos são interligados e interrelacionados entre si. Ao passo de que é fundamental planejar globalmente as ações de uma auditoria, deve-se também detalhar minuciosamente o que será executado, por meio de um programa de auditoria. 3.1 PROGRAMA DE AUDITORIA O programa de auditoria é um roteiro, um plano de ação que serve como guia e controle dos exames. Tem como objetivo indicar de forma resumida os objetivos da auditoria na área, bem como os principais procedimentos da mesma. Possibilita que o serviço seja subdividido entre os diversos níveis de auditores que participam do trabalho e permite um acompanhamento do serviço. Possibilita também controlar o tempo e volume do trabalho efetuado (MAGNABOSCO, 2018, p. 95). Um programa de auditoria deve conter itens como: • os objetivos de trabalho: roteiros, identificação de atividades e os prazos envolvidos; • levantamento das informações da empresa e de seu ramo de atuação; • planejamento e programação dos trabalhos: o que de fato será executado; • realização dos trabalhos: execução do planejamento, realizando todos os testes previstos; • emissão do relatório final de auditoria: emissão do parecer e comunicação dos resultados às partes interessadas. 93 O programa de auditoria deve estabelecer a quantidade de tempo necessária para executar suas atividades (cronograma) e o roteiro, a ordem das etapas que serão realizadas por meio de um fluxograma. Realizar um cronograma é especialmente útil para fazer cumprir os acordos estabelecidos entre a empresa que está sendo auditada e o auditor. Em auditoria externa, por exemplo, onde o auditor é um terceiro contratado pela organização, é essencial que os prazos acordados sejam cumpridos rigorosamente. O fluxograma a seguir permite identificar quais etapas são prioritárias, devendo ser realizadas por primeiro, o que auxilia na gestão do tempo por parte do auditor independente. Figura 2 – Fluxograma resumido de um planejamento de auditoria Fonte: o autor O fluxograma complementa, de forma gráfica ou visual, o entendimento acerca das rotinas a serem executadas pelo auditor na condução de seus trabalhos. Da mesma forma, estabelecer prazos e podê-los acompanhar de forma visual pode permitir avanços em termos de eficiência aos processos de auditoria. A etapa de levantamento de dados ocorre na pré-auditoria, isto é, o auditor deve conhecer previamente o ambiente da empresa auditada, seus processos, atividades principais, pessoas envolvidas, políticas organizacionais, objetivosda empresa, dentre outros itens relevantes aos processos desenvolvidos pelo auditor. Nesse sentido, devem ser considerados: • tamanho e complexidade das atividades da entidade; • sistemas de informação contábil existentes na organização; • quais são as áreas de risco da empresa; • natureza da documentação e dos sistemas de informação utilizados pela empresa; • grau de descentralização de decisão existente na administração da organização; • grau de envolvimento da auditoria interna nos controles, caso existentes (MAGNABOSCO, 2018, p.96). 94 Realizar um levantamento inicial das informações é necessário para melhorar a elaboração tanto do planejamento quanto da execução da auditoria. Permite ao auditor controlar melhor o ambiente onde está inserido, relacionando-se melhor com todas as partes envolvidas. Após o levantamento das informações, o processo seguinte consiste nos testes de auditoria. Um auditor pode utilizar uma diferente e vasta gama de ferramentas, métodos e práticas de auditoria. O objetivo é utilizar várias formas de garantir que os dados contábeis da empresa estejam de acordo com as normas exigidas e que sejam verídicos. Para isso, o auditor pode executar testes documentais, testes de conferência física de estoques, inventário e numerário (dinheiro). Poderá adotar entrevistas com pessoas-chave nos processos de controle da organização. Pode exigir confirmação formal à terceiros para confirmar a exatidão de dados apresentados, bem como poderá executar análises com base em seu conhecimento e experiências para basear a sua opinião, necessária para o fechamento do processo de auditoria. Após a realização dos diferentes tipos de testes previstos no planejamento de auditoria, outro ponto importante quando da elaboração de um programa de auditoria consiste na elaboração de métodos de controle sobre as atividades já desempenhadas. Esse controle pode ser um simples checklist, isto é, uma planilha ou qualquer outro meio para anotação e conferência das atividades já executadas, ou então podem ser utilizados os papéis de trabalho. Segundo Melhem e Costa (2012) os papéis de trabalho são documentos preparados pelo auditor que servem como ferramenta de controle sobre as ações executadas, permitindo inclusive a revisão futura por outros auditores, servindo como registro histórico das atividades de auditoria. Estes documentos devem ser previamente planejados pois devem atender a critérios de qualidade que permitam às partes interessadas confiar na credibilidade e eficácia dos métodos de controles demonstrados por meio dos papéis de trabalho. Os papéis de trabalho devem conter informações sobre as datas que os procedimentos foram executados, detalhar as informações obtidas, quantidades, pessoas envolvidas, bem como quaisquer outros dados relevantes que permitam controlar o andamento do planejamento de auditoria. Uma vez executados os testes, com o devido controle sobre a sua realização, a próxima etapa no planejamento de auditoria consiste na elaboração do relatório de auditoria, ou em outras palavras o parecer de auditoria. 95 Apesar de não existir um único padrão para a elaboração de um relatório final de auditoria, este documento necessita seguir padrões que envolvam a clareza nas informações apresentadas, objetividade, um método de elaboração, imparcialidade, precisão e ética por parte do auditor, e ser de fácil leitura (MAGNABOSCO, 2018). Este relatório deve então ser apresentado para todas as partes interessadas, que estejam devidamente autorizadas e envolvidas no processo de auditoria, finalizando o processo. Todas estas etapas que compõem o programa de auditoria devem ser devidamente planejadas a fim de facilitar a condução dos trabalhos por parte do auditor, e, por outro lado, evidenciar quais serão as ações necessárias por parte da empresa (entrega de documentos, reuniões, esclarecimentos etc.). Assim que o planejamento geral e o programa de auditoria são finalizados, o auditor deve reunir-se com os representantes da empresa e demais participantes do processo de auditoria para alinhar as ações planejadas. Nessa reunião inicial apresentam- se os objetivos da auditoria, é explicado o cronograma e fluxograma, definem-se as responsabilidades, obrigações e limites de cada uma das partes envolvidas, e em seguida são acordados os prazos para reuniões periódicas de acompanhamento aos processos auditadas, estabelecendo sessões de feedback e ajustes sempre que necessários. 4 FERRAMENTAS DE PLANEJAMENTO APLICADAS À AUDITORIA CONTÁBIL Conforme visto até o momento, evidencia-se a necessidade de planejamento de processos de auditoria contábil em empresas. Apesar de envolver vários processos, muitos detalhes a serem considerados e etapas a serem pensadas, algumas ferramentas de qualidade auxiliam na execução de planejamentos em auditoria. Planejar também envolve o conceito de qualidade. A qualidade, quando relacionada a processos, pode ser entendida como a adequação ao uso de algo (execução correta com base em certas ferramentas ou etapas), ou às características de uma entidade que lhe confere a capacidade de satisfazer certas necessidades (LACOMBE; HEILBORN, 2015). Nesse sentido, não só planejar é importante, mas sim considerar a adequação do planejamento à realidade da empresa. Manter o planejamento como uma ferramenta (ou processo) empresarial que assegura a satisfação de suas necessidades, permitindo que a empresa alcance seus objetivos. 96 Por exemplo, ao considerarmos a qualidade de um planejamento podemos analisar o fator veracidade, presente nos dados que o compõe, a razoabilidade de obtenção dos objetivos traçados, se são factíveis, realizáveis (SANTOS, 2021), bem como se os prazos, pessoas e etapas são condizentes com as práticas de auditoria e ao ramo de atuação da empresa a ser auditada. “O planejamento precede as ações e devem prever as hipóteses mais prováveis de acontecimentos, atento em possibilitar a evolução dos projetos, minimizando as interferências e maximizando o resultado esperado” (CUSTODIO, 2015, p.34). O planejamento da qualidade, por sua vez, também se faz essencial. Não só para melhoria nos controles internos da organização, melhorando a elaboração de seus controles financeiros e contábeis, garantindo melhores práticas de compliance, mas também para melhorar o planejamento em si, a previsão de etapas futuras a serem realizadas. O planejamento é útil para todas as atividades humanas. Falando em atividades profissionais ou pessoais, voltadas para inúmeras áreas do conhecimento, planejar sempre produz benefícios às ações implementadas. Na qualidade, produz melhorias ao pensarmos em pontos cruciais do fator qualidade. Em auditoria, permite analisar e melhorar as ações a serem executadas nos seus respectivos processos. O objetivo do planejamento é melhorar a execução das ações e, consequentemente, melhorar os resultados obtidos. IMPORTANTE Gerenciar a qualidade tem efeitos em toda a organização. Em auditoria em especial, pode beneficiar não só o auditor, que pode desfrutar de um ambiente mais organizado com comunicação eficiente e a cooperação por parte da empresa auditada, mas obviamente também a empresa, pois esta terá melhores formas de executar os seus controles internos, mitigando as chances de erros em seus processos contábeis ou mesmo a possibilidade de ocorrência de quaisquer tipos de fraudes. Algumas ferramentas da gestão da qualidade permitem usos diferentes do que sua principal destinação, que é gerenciar a qualidade. Em outras palavras, além de proporcionar meios de alcançar a qualidade, a melhoria contínua e melhores resultados para a empresa como um todo, quando aplicadas com uma finalidade específica, menos abrangente e mais detalhista, tal como na aplicação nos processos de planejamento de auditoria contábil, estas ferramentas produzem inúmeros ganhos no fator produtividade. 97 4.1 CICLO PDCA A primeira das ferramentas aqui abordadas, queAUTOATIVIDADE ................................................................................................................103 TÓPICO 2 - RISCOS ENVOLVIDOS NOS PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL ..........107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................107 2 GESTÃO DE RISCOS ........................................................................................................ 110 2.1 RISCOS FINANCEIROS .......................................................................................................................112 2.1.1 Riscos de Liquidez ....................................................................................................................115 2.1.2 Risco de Endividamento ......................................................................................................... 117 2.1.3 Riscos de insolvência .............................................................................................................120 2.1.4 Riscos operacionais .................................................................................................................121 2.1.5 Riscos Contábeis ..................................................................................................................... 123 2.1.6 Outros tipos de riscos: sociais, tecnológicos e ambientais .......................................... 125 2.2 RISCO DE IMAGEM ............................................................................................................................ 127 2.3 RISCO LEGAL ..................................................................................................................................... 129 2.4 RISCO DE COMPLIANCE ....................................................................................................................130 2.5 RISCOS NOS PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA ........................................................................ 132 3 GOVERNANÇA CORPORATIVA ......................................................................................134 4 AUDITORIA BASEADA EM RISCOS (ABR) ......................................................................136 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 141 TÓPICO 3 - LEGISLAÇÃO, NORMAS, REGRAS E ÓRGÃOS SUPERVISORES NOS PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL ...........................................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................145 2 NORMAS EM AUDITORIA CONTÁBIL ..............................................................................146 2.1 PRINCIPAIS NORMAS SEGUNDO O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE ............... 147 3 ÓRGÃOS REGULADORES ................................................................................................150 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 151 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................155 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................156 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................158 UNIDADE 3 — APLICAÇÃO DE AUDITORIA CONTÁBIL E ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS GERENCIAIS .......................................................................................................................163 TÓPICO 1 — PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE AUDITORIA E SEUS FUNDAMENTOS .....165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................165 2 PREPARATIVOS PARA A APLICAÇÃO DE UM PROGRAMA DE AUDITORIA ..................165 3 ANÁLISES E TESTES EM AUDITORIA CONTÁBIL ..........................................................168 3.1 PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS ...................................................................................................... 170 3.2 EVIDÊNCIAS EM AUDITORIA .......................................................................................................... 172 3.2.1 Análise de Saldos Iniciais ...................................................................................................... 173 3.2.2 Testes de confirmação externa ........................................................................................... 174 3.2.3 Outros Métodos de Coleta de Evidências .........................................................................176 3.3 TESTES DE CONTROLE ................................................................................................................... 178 4 AMOSTRAGEM DE AUDITORIA ...................................................................................... 179 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................183 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................185 TÓPICO 2 - CONTROLES, CHECKLISTS DE PROCESSOS E CONFERÊNCIA NOS DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS .......................................................................................187 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................187 2 A NECESSIDADE DE CONTROLE NA EXECUÇÃO DE AUDITORIA .................................188 2.1 FERRAMENTAS PARA O CONTROLE DOS PROCESSOS DE AUDITORIA: CHECKLIST ......190 3 DOCUMENTAÇÃO DE CONTROLE EM AUDITORIA: PAPÉIS DE TRABALHO ................192 3.1 CUSTÓDIA E CONFIDENCIALIDADE DAS INFORMAÇÕES PRESENTES NOS PAPÉIS DE TRABALHO .......................................................................................................................................... 195 3.2 EXEMPLO DE PAPEL DE TRABALHO EM AUDITORIA ............................................................... 196 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................198 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................199 TÓPICO 3 - DOCUMENTAÇÃO, RELATÓRIOS E FINALIZAÇÃO DE PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL .......................................................................................................201 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................201 2 O PARECER DO AUDITOR CONTÁBIL .............................................................................201 3 FORMAS DE RELATÓRIO DE OPINIÃO DO AUDITOR CONTÁBIL .................................. 203 3.1 RELATÓRIOS DE OPINIÃO NÃO MODIFICADA OU SEM RESSALVA ....................................... 204 3.2 RELATÓRIOS DE OPINIÃO MODIFICADA ..................................................................................... 205 4 EVENTOS SUBSEQUENTES ............................................................................................ 211 5 CONCLUSÃO DO PROCESSO DE AUDITORIA CONTÁBIL ..............................................214 5.1 REUNIÃO DE ENCERRAMENTO ..................................................................................................... 216 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................218 RESUMO DO TÓPICO 3 ...................................................................................................... 224 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................podem ser aplicadas às rotinas de planejamento de auditoria consiste no ciclo PDCA, sigla que é originada do inglês Plan, Do, Check and Act (Planejar, Fazer, Checar e Agir). Originado nos Estados Unidos no início do século XX por Walter A. Shewhart, esta importante ferramenta da qualidade tornou-se popular por William E. Deming por volta de 1950 na Ásia. Seu uso foi implementado às estratégias que integram a Gestão da Qualidade Total (TQM – Total Quality Management). Esta ferramenta pode ser usada para inúmeros fins: melhorar processos, melhorar a gestão, melhorar um produto etc. A etapa de planejamento (P), por exemplo, divide a mesma origem e aplicação dos conceitos estudados anteriormente, sendo a mais importante etapa da ferramenta. Após realizar o planejamento, executam-se as ações previstas (D), checam- se os resultados (C) para verificar se os objetivos foram atingidos ou não, e, caso o planejamento tenha resultado em sucesso (os objetivos foram atingidos), reinicia-se o processo de planejamento em busca de novas melhorias, agindo (A) continuamente em busca de melhoria contínua. Caso o planejamento inicial fracasse, tomam-se ações (A) em prol de corrigir o que falhou e melhorar os processos em busca dos objetivos não alcançados (MELLO, 2011). A figura a seguir ilustra o funcionamento do ciclo PDCA: Figura 3 – Ciclo PDCA Fonte: o autor A ferramenta PDCA pode melhorar significativamente não só as práticas de auditoria, quando integrado aos procedimentos de controle interno ou na composição das demonstrações financeiras (sendo úteis ao auditor externo), mas também no próprio planejamento do auditor. Por vezes os métodos de planejamento utilizados por um auditor podem estar ultrapassados (seja em tecnologia ou em procedimentos propriamente ditos), e o ciclo PDCA pode permitir que o auditor possa melhorar a qualidade do seu planejamento. 98 As técnicas de coleta de dados sobre a empresa a ser auditada, conhecer sobre seu ambiente de atuação, formar a equipe, programar prazos e etapas etc., sempre podem ser melhorados. Para isso, o ciclo PDCA pode ser um importante aliado na melhoria das práticas do auditor contábil. Santos (2020) colabora com a utilidade do método PDCA para as práticas de auditoria ao exemplificar seu uso nas rotinas de auditoria interna: A organização e execução da auditoria é baseada, em suas etapas, na ferramenta de gestão conhecida como plan, do, control, action (PDCA), com a qual primeiramente se planeja a auditoria, conduz- se e executa-se a auditoria aplicando-se os testes com os seus respectivos procedimentos e técnicas e depois se realiza uma análise dos pontos de auditoria, relatando-se as constatações com recomendações, e finalmente tomam-se ações para correção e melhoria do sistema, por meio de acompanhamento junto à área ou unidade auditada (SANTOS, 2020, p. 38). Evidencia-se, assim, a aplicação do ciclo PDCA não só como ferramenta de planejamento dos processos de auditoria, mas também em relação aos demais ciclos de auditoria contábil em uma organização. 4.2 MATRIZ SWOT Conforme visto anteriormente, a realização do planejamento de auditoria deve considerar aspectos ambientais internos e externos à organização auditada. Entender o aspecto interno permite ao auditor compreender como a empresa funciona, ao passo de que compreender seu ambiente externo permite entender sobre as regulações aplicáveis e os objetivos da organização enquanto aos resultados que esta espera alcançar, o que necessariamente envolve suas finanças e o seu setor contábil (objetos de análise da auditoria). Uma das formas do auditor entender estes ambientes é utilizando a análise SWOT (ou matriz SWOT) como um complemento à elaboração de seu planejamento. Além do auditor, a empresa também pode apresentar ganhos significativos em questão da qualidade de sua gestão, impactando também suas finanças, quando aplicar os conceitos presentes na matriz SWOT. “A avaliação global das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças de uma empresa é denominada análise SWOT (dos termos em inglês: strengths, weaknesses, opportunities, threats) (KOTLER; KELLER, 2018, p.52)”. Também conhecida como matriz FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), o objetivo desta ferramenta de marketing é de garantir à empresa o entendimento de todos os aspectos ambientais existentes em suas operações. 99 Aplicada ao ramo de auditoria, o uso desta ferramenta pode produzir melhores resultados tanto no planejamento das etapas de auditoria quanto em sua execução, conforme ilustrado na figura a seguir: Figura 4 – Matriz FOFA Fonte: o autor Vale ressaltar que os resultados (dados contidos) na matriz SWOT não são escolhidos de forma arbitrária pelos administradores da empresa nem tampouco pelo auditor contábil. O resultado das forças, fraquezas, ameaças e oportunidades são geralmente coletadas por pesquisas de marketing conduzidas pela própria empresa. Dsse modo, caso a empresa não possua a estruturação destes dados, o auditor pode conduzir uma pesquisa ou mesmo apenas refletir com base nos dados que possui sobre estes fatores, entendendo os ambientes aos quais a empresa auditada está inserida e consequentemente utilizando estas informações para a condução do planejamento de auditoria. 4.3 5W2H “A técnica dos 5W2H consiste em um plano de ação organizado e simples, que encaminha a solução dos problemas, ordenando de forma prática a tomada de decisões, identificando os principais elementos a serem abordados” (CUSTODIO, 2015, p. 32). Respectivamente, os 5W2H são: • what (o quê) – o que será feito? • why (por quê) – por que fazer? • where (onde) – onde será feito? • when (quando) – quando será feito? • who (quem) – quem fará? • how (como) – como será feito? • how much (quanto custa) – quanto custará? 100 Apesar de ser uma ferramenta simples, responder a estas 7 perguntas é fundamental para elaboração de um planejamento eficiente. Por exemplo, com base nas perguntas “o que” e “porque” temos os objetivos. “Quando” nos proporciona o cronograma de auditoria. “Quem” permite ao auditor organizar a equipe de auditoria. A pergunta “como” torna possível estabelecer os métodos de análise a serem utilizados na aplicação da auditoria. 4.4 OUTRAS FERRAMENTAS APLICÁVEIS AO PLANEJAMENTO DE AUDITORIA CONTÁBIL Diversas outras ferramentas podem ser aplicadas às etapas de planejamento de auditoria. Dentre elas destacam-se a matriz GUT (Gravidade, Urgência e Tendência), o Diagrama de Causa e Efeito (Ishikawa), Histograma, Gráfico de Pareto (Matriz 80/20), dentre diversas outras. Como dica de estudos complementares, recomendamos a leitura do capítulo 2 – “Gurus e ferramentas da qualidade”, do livro “Ferramentas da qualidade”, de Elsimar Barros e Fernanda Bonafini (2014), disponível na biblioteca Pearson. Fonte: BARROS, E. BONAFINI, F. Ferramentas da Qualidade. São Paulo: Pearson, 2014. DICA A Matriz GUT, por exemplo, pode ser útil na definição dos objetivos de auditoria, ao correlacionar três variáveis – a saber, gravidade (quão necessário é, qual o impacto), a urgência (ordem de prioridade) e tendência (padrão de desenvolvimento) – e em seguida resultar em um número que indica a prioridade de ações/objetivos a serem seguidos. O Diagrama de Causa e Efeito analisa de forma detalhada as causas que geram determinados efeitos em uma organização. Seu uso pode ser muito útil no estabelecimento dos objetivos em um planejamento de auditoria ao permitir uma análise detalhada de diferentes pontos no planejamento. Por meio do Histograma, o auditor pode utilizar de uma ferramenta matemática- estatística para entender não só os objetivos que servem como base para o planejamento de auditoria, mas também aplicar esta ferramenta nas próprias análises das demonstrações contábeis e controles internos da organização. 101 Por fim, por meio do Gráfico (ou Teorema) de Pareto, o auditor pode entender quais são as causas dos problemas encontrados nasdemonstrações contábeis (se existentes), nos controles internos, ou mesmo utilizar a ferramenta como forma de melhorar a aplicação de seus esforços durante a execução das atividades de auditoria. 102 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico, você aprendeu: • O planejamento consiste em pensar com antecedência os aspectos da realização de alguma ação futura. Em outras palavras, planejar é reunir recursos, definir objetivos, prazos, pessoas e formas de realizar algo no futuro. Planejar permite melhorar o controle sobre a execução de ações e consequentemente pode servir como ferramenta de melhorias em uma empresa. • O planejamento estratégico é um conceito mais abrangente, global, que pensa a empresa como um todo e define ações a serem realizadas no longo prazo. É responsável por coordenar o planejamento tático (departamentos) e o operacional (tarefas). Para que um planejamento seja eficiente, deve considerar a junção de toda a empresa, planejando ações que irão atender a todos os seus públicos e as suas necessidades. • O planejamento em auditoria consiste em traçar um roteiro, um norte, um plano de ação para que o auditor (interno ou externo) possa desempenhar suas funções de forma eficiente, sem contratempos ou erros nos seus processos. Permite também que este se relacione de forma eficiente com as partes interessadas no processo de auditoria, melhorando todas as suas atividades. • Planejar uma auditoria tem início com o estabelecimento das estratégias globais, que nada mais são que decisões-chave sobre aspectos importantes na condução futura da auditoria contábil. Em seguida temos o plano ou programa de auditoria, que detalha as ações a serem executadas pelo auditor, dentre as quais destacam-se seus objetivos, seus prazos, sua equipe, os métodos de controles, a profundidade e extensão dos testes, a natureza destes testes, a emissão da opinião e elaboração do parecer de auditoria, e, por fim, a comunicação dos resultados às partes interessadas. • São inúmeras as ferramentas de qualidade que podem ser aplicadas às práticas e ao planejamento de auditoria. Dentre as mais importantes temos o ciclo PDCA, a Matriz SWOT e o 5W2H. Cada uma destas ferramentas tem como objetivo melhorar a qualidade do planejamento do auditor, podendo também ser aplicadas nas próprias execuções das ações inseridas no planejamento de auditoria. 103 AUTOATIVIDADE 1 As empresas dificilmente tomam decisões que não estejam baseadas em sólidas e confiáveis informações. A mesmo modo, uma empresa, independentemente de seu porte, ramo de atuação ou condições financeiras realiza suas atividades por impulso ou de forma aleatória. Todas as ações empresariais são planejadas. Planejar nada mais é do que pensar antecipadamente o que será feito, antevendo os possíveis resultados das ações planejadas. Planejar é pensar antes de agir. Este método de conduzir ações empresariais, quando relacionamos o planejamento com a auditoria, produz os mesmos efeitos benéficos ao auditor. Planejar a auditoria permite que o auditor pense antes de fazer, ao mesmo tempo que pode controlar melhor suas ações e manter a auditoria no rumo certo, colhendo bons resultados após sua conclusão. A respeito do conceito de planejamento de auditoria, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Planejar uma auditoria corresponde ao auditor exigir da empresa auditada que ela siga procedimentos específicos para esconder evidências e permitir o trabalho do auditor. b) ( ) Planejamento de auditoria nada mais é do que a assinatura do contrato de auditoria independente pelo auditor, firmando assim o contrato de serviço entre as partes. c) ( ) Planejar uma auditoria envolve escolher a equipe, prazos e métodos de análise a serem executados pelo auditor, seja ele interno ou externo (independente). d) ( ) Planejamento de auditoria trata-se de analisar apenas o ambiente interno da empresa, permitindo ao auditor entender onde está e como deve proceder com base na realidade apresentada. 2 O planejamento representa uma atividade necessária à todas as empresas e está presente em todas as suas operações. De atividades operacionais à financeiras, logísticas ou de publicidade, tudo envolve planejamento. Sobre o exposto, analise as sentenças a seguir: I - O planejamento estratégico é responsável por definir diretrizes gerais da organização, planejando setores, recursos e pessoas para obter resultados globais de longo prazo II - O planejamento operacional é voltado a tarefas, processos, rotinas de curto prazo e envolve profissionais de diferentes áreas operacionais III - O planejamento tático ou gerencial é orientado ao médio prazo, sendo subordinado ao estratégico e voltado à criação de diretrizes departamentais IV - O planejamento operacional é responsável pela gestão global da empresa, ditando o que será feito, como será feito e por quem será feito no longo prazo da organização 104 Assinale e alternativa CORRETA: a) As sentenças I, II e III estão corretas. b) As sentenças I e IV estão corretas. c) Somente a sentença II está correta. d) As sentenças II, III e IV estão corretas. 3 O planejamento de auditoria abrange diferentes aspectos que envolvem a análise e a escolha de diferentes métodos por parte do auditor. Um auditor deve possuir inúmeros conhecimentos não só sobre a sua profissão – leis, regulamentos, contabilidade, finanças etc. -, mas também deve conhecer sobre o ramo de atuação da empresa ao qual está auditando. Entender esse aspecto relativo às operações da entidade auditada permite que o auditor possa entender as leis aplicáveis, os interesses e objetivos da empresa, a situação em que esta está inserida economicamente, dentre diversas outras variáveis que, direta ou indiretamente influenciam nos controles internos e na elaboração das demonstrações contábeis da empresa. Essas dinâmicas podem influenciar significativamente nas atuações de um auditor, por inúmeras formas: seja em sua relação com a entidade auditada, os procedimentos a serem adotados ou mesmo quanto a periodicidade de aplicação de auditorias, dentre diversos outros fatores. Neste contexto, sobre o que entender e conhecer o ambiente de mercado em que a empresa auditada está inserida garante ao auditor, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Menores níveis de especialização na área de mercado da empresa auditada, permitindo que o auditor diminua sua clientela neste nicho de mercado b) ( ) Maiores níveis de especialização na área de mercado da empresa auditada, permitindo que o auditor aumente sua clientela neste nicho de mercado c) ( ) Menores níveis de especialização na área de mercado da empresa auditada, permitindo que o auditor aumente sua clientela neste nicho de mercado d) ( ) Menores níveis de especialização, uma vez que o auditor pode estudar o ambiente da empresa auditada e levar conceitos deste mercado para mercados diferentes 4 Os estudos sobre planejamento estratégico são norteados por diferentes ferramentas administrativas, financeiras e voltadas à gestão da qualidade, dentre outras. Quando aplicamos os conceitos de planejamento estratégico nas rotinas da auditoria, podemos aplicar diferentes ferramentas para melhorar o planejamento da auditoria contábil. Gerenciar as ações a serem executadas, bem como o fator qualidade sobre essas ações tem se tornado cada vez mais importante, considerando um mercado altamente competitivo e dinâmico no qual estamos atualmente inseridos. Considerando os estudos acerca das ferramentas de planejamento em auditoria contábil, reflita, analise e disserte sobre como ferramentas como o PDCA, 5W2H e Matriz SWOT podem ser benéficas para as realidades enfrentadas pelos auditores contábeis no mercado brasileiro. 105 5 O planejamento de auditoria é considerado como a etapa mais importante na aplicação da auditoria contábil em empresas. Planejar corresponde à maior fatia de tempo aplicada nos seus processos pois permite economizar esforços e recursos em etapas posteriores,tais como na execução da auditoria, a emissão do relatório final e no compartilhamento das informações de auditoria com as partes interessadas. Considerando a importância do planejamento, que norteia e orienta as etapas de execução dos testes e emissão do parecer de auditoria, faça um paralelo entre o planejamento de auditoria e a ferramenta PDCA: como estas podem se complementar, quais as diferenças e semelhanças, como esta ferramenta de qualidade pode ser aplicada ao planejamento de auditoria? Justifique. 106 107 RISCOS ENVOLVIDOS NOS PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL 1 INTRODUÇÃO Processos empresariais são sempre focados em planejamento. Conforme visto anteriormente, nada que uma empresa realiza é em vão ou mesmo ao acaso, tudo é planejado. Do mesmo modo, planejar deve incluir ações contingenciais, considerando que a realidade pode mudar no decorrer do prazo de execução de um planejamento. As empresas em suas diversas operações estão sujeitas ao fator da incerteza, isto é, apesar de planejar suas operações com base nas informações que dispõe naquele dado momento, novas informações, realidades e acontecimentos podem vir a surgir e prejudicar o planejamento inicial. Planejar é fundamental e, adicionalmente, deve-se também analisar os riscos presentes nas operações de uma empresa e incluí-los no seu planejamento para que tudo possa ocorrer dentro das estratégias de controle da organização. Um risco nada mais é do que algo que possa vir a acontecer e que seja diferente do que foi previamente pensado e planejado. Um risco pode ser previamente identificado, calculado, mesmo que sem um alto grau de exatidão, de forma subjetiva e de caráter especulativo. Por exemplo, uma empresa pode planejar expandir suas vendas (ou faturamento) em 10% no ano seguinte, porém, deve considerar o risco de o mercado sofrer eventuais retrações, os clientes diminuírem seu consumo ou quaisquer outros fatores que diminuam sua evolução e, consequentemente, a empresa deve criar ações dentro do seu planejamento para que esta contorne os eventuais obstáculos nesta situação futura indesejada, atingindo assim seus objetivos. “Riscos são incertezas quanto a resultados futuros” (ARAI, 2015, p. 2). Em outras palavras, mesmo que uma empresa utilize de diferentes estratégias – as quais incluem o uso da auditoria contábil – para definir suas ações futuras, nunca será possível ter certeza quanto ao sucesso ou ao fracasso destas ações no sentido de melhorar a realidade da empresa. UNIDADE 2 TÓPICO 2 - 108 Assim como tudo o que uma empresa realiza é baseado em planejamento, todas as suas ações incorrem em diferentes riscos. Ao comprometer-se em realizar algo em determinado mercado, seja em relação a produzir algo, prestar algum serviço ou qualquer outra atividade empresarial, uma empresa precisa considerar a existência de diferentes tipos de riscos e realizar o gerenciamento de riscos. Neste contexto, a empresa deve identificar quais são os tipos de riscos existentes em suas operações e traçar ações e procedimentos para, quando possível, eliminar os riscos existentes, e em outros momentos ou tipos de riscos, diminuir a ocorrência e os impactos destes riscos, que podem ser permanentes (que não podem ser eliminados). Com a identificação dos riscos, a gestão da empresa deve, em seguida, saber quais desses riscos serão assumidos. Apesar da quantidade de riscos que pode impactar a gestão da entidade, é importante que se identifique quais deles esta gestão está disposta a assumir – no sentido de estar preparada para saber qual comportamento será mais adequado no momento necessário (FURTADO, 2020, p.9). Por exemplo, quando consideramos riscos que podem ou não ser evitados, podemos fazer a seguinte comparação: um indivíduo ao sair de casa até chegar ao seu trajeto – seja trabalho, faculdade ou qualquer outro compromisso -, incorre em diferentes tipos e níveis de riscos. Pode desde se atrasar, o que seria algo considerado leve em alguns casos, até sofrer um acidente em seu trajeto. A mesmo modo, pode não acontecer nada e este indivíduo chegar no horário e em condições perfeitas no seu compromisso. Gerenciar riscos é necessário sempre. Tomando como exemplo a situação anterior, o indivíduo deve programar o horário gasto em seu trajeto, o meio de transporte escolhido, como fará para chegar no compromisso em relação à rota a ser realizada, qual será sua vestimenta, deverá identificar se está chovendo ou não, se poderá chover, como está o trânsito, e muitas outras variáveis que por mais que sejam simples, proporcionam a este indivíduo antever situações possíveis e estar preparado para elas. Por outro lado, para finalizar nosso exemplo de nível pessoal, um risco pode não ser controlável, o que chamamos a nível empresarial de risco sistemático. Por exemplo, caso este indivíduo de nosso exemplo fosse a uma reunião de negócios ou a um encontro, as pessoas com as quais ele se encontraria podem vir a faltar, por quaisquer motivos. Isso seria um exemplo de risco não controlável uma vez que poderia ainda assim ser previsto, mas não controlado. Retomando o raciocínio dos riscos a nível empresarial, as empresas estão sujeitas às mesmas situações do exemplo anterior. Por mais que possam prever situações, coisas que estão no seu controle e fora deste controle podem vir a mudar os resultados esperados, ora para melhor, ora para pior. 109 Riscos são incertezas que podem ser identificadas, previstas em relação a especular sobre sua possibilidade de ocorrência, por mais que nunca ocorram no futuro. Os riscos nos permitem controlar os planos empresariais e sua execução. Riscos são diferentes de incertezas (FURTADO, 2020). Um risco é uma incerteza que pode ser prevista, imaginada. Uma incerteza é algo que poderá acontecer e que não podemos imaginar ou que não poderia ter sido prevista anteriormente. Riscos são baseados em informação, incerteza é a falta de informação que não permite calcular e identificar riscos. IMPORTANTE Administrar os seus riscos, que variam em diferentes aspectos, tais como a intensidade, ocorrência, tipo ou mesmo impacto, é essencial para que o planejamento da empresa possa obter sucesso. “Cada organização possui uma cultura própria que indica seu apetite ao risco, ou seja, como se posiciona perante os riscos que podem trazer perdas, mas que também podem gerar consideráveis ganhos” (NEVES, 2021, p.144). Diferentes empresas administram seus riscos de diferentes formas. Algumas empresas preferem manter seus riscos em níveis baixos, controlados. Outras, por sua vez, preferem aceitar maiores graus de risco para ter acesso a possibilidades de maiores lucros. Este conceito é conhecido como alavancagem financeira, quando tratamos dos riscos financeiros (GITMAN; ZUTTER, 2017). Ao correr maiores riscos, que devem ser obviamente controlados para que surtam efeitos positivos nos resultados da empresa, esta pode ter maiores níveis de retorno. Quanto maior for o risco, maior tende a ser o retorno. A mesmo modo, pode-se aumentar os prejuízos pelo fato de a empresa estar exposta ao risco. Neste cenário, uma vez que se torna evidente a existência de riscos e a necessidade de uma instituição controlar tais riscos, a auditoria contábil representa uma importante ferramenta na condução da gestão de riscos em uma organização. A auditoria contábil proporciona diferentes métodos de melhorar o controle financeiro e econômico de uma organização, auxiliando inclusive no planejamento de suas estratégias, a auditoria pode também servir como uma estratégia de gestão de riscos. Por exemplo, uma vez mantidos os controles internos de forma eficiente, bem como manter as demonstrações contábeis dentro dos padrões exigidos de forma a serem auditadas frequentemente para garantir a sua veracidade e confiabilidade, os gestores contam com um maior grau de certeza para desempenhar as suas ações de gerenciamento empresarial. 110 A auditoria contábil serve comouma ferramenta diagnóstica que permite entender a empresa, de forma abrangente considerando todos os seus ambientes (interno e externo). Ao entender os objetivos da empresa, seus processos e realidades, a auditoria fornece importantes informações sobre os riscos existentes e dessa forma auxilia na gestão de seus riscos (SANTOS, 2021). Seja como ferramenta diagnóstica ou como meio de melhorar os seus controles, o papel da auditoria contábil na condução da gestão de riscos de uma organização é fundamental. Além destas funções, a gestão de riscos com auxílio da auditoria contábil serve como ferramenta de combate à fraude e à corrupção em empresas. Por meio da gestão de riscos podemos entender e aplicar conceitos como o compliance e a governança corporativa. Estes três conceitos, apesar de específicos e divergentes, complementam-se quando tratamos sobre o papel da auditoria em manter a empresa em condições corretas e com maior controle de seus riscos. Estes conceitos proporcionam ainda a existência e aplicação da auditoria baseada em riscos (ABR). Além da auditoria interna e externa, a auditoria baseada em riscos considera os objetivos organizacionais e se concentra nos riscos existentes que possam vir a comprometer a consecução de tais objetivos (SILVA, 2020b). Entender estes conceitos torna possível melhorar significativamente as práticas de planejamento e execução das rotinas de auditoria em empresas, controlando não só os aspectos contábeis/financeiros, mas também as demais estratégias de gestão de riscos das organizações. 2 GESTÃO DE RISCOS Uma empresa deve conhecer os seus riscos e ser capaz de gerenciá-los a fim de manter-se viva e competitiva em seu mercado de atuação. Riscos costumam ser tratados como “imprevistos” relacionados a perdas e oportunidades em relação a determinado evento positivo ou negativo. Como são estes inerentes à trajetória de uma empresa, não há como evitá-los integralmente, cabendo então, às empresas a administrá-los a fim de que seus impactos não sejam prejudiciais ao negócio (BLOK, 2020, p. 349). Um risco pode ser algo extremamente prejudicial, ou mesmo algo que, embora não planejado, beneficie de alguma forma a empresa. Planejar eventos futuros com base na gestão de riscos é papel central quando falamos do desempenho e aplicação da administração estratégica de longo prazo. 111 Entender o conceito de gestão de riscos abrange necessariamente o conceito de administração estratégica. Este conceito envolve, dentre outras atividades, a análise de ambientes e o planejamento de objetivos organizacionais. Todas as empresas para obter sucesso precisam estabelecer os seus objetivos e criar planos de ação para atingi- los (CERTO; PETER, 2010, p. 62). Os objetivos de longo prazo de uma empresa tornam necessário também o planejamento de seus riscos. Conforme visto anteriormente, não há como não considerar os riscos de uma empresa e para tanto a gestão de riscos se faz extremamente necessária. Durante a execução das atividades empresariais, os gestores são responsáveis por administrar diferentes aspectos de um negócio, bem como projetar os resultados futuros desta organização. Nesse sentido, a gestão de riscos serve como uma ferramenta que visa garantir a obtenção destes objetivos e evitar que os riscos se tornem prejuízos às realidades empresariais. [...] o gerenciamento de riscos corporativos diz respeito aos riscos e às oportunidades de criar ou preservar valor e pode ser definido como um processo conduzido em uma organização por seu conselho administrativo, diretoria executiva e demais funcionários, visando identificar potenciais riscos, em toda a organização, que possam afetá-la (FAVERSANI, 2020, p.49). Riscos envolvem pessoas, processos, recursos financeiros, movimentos de mercado, e muitos outros fatores. Cabe às empresas estarem preparadas para estes riscos e enfrentá-los de forma a minimizar os seus efeitos nas operações organizacionais. Por exemplo, ao tratarmos sobre os recursos financeiros, temos o conceito de risco financeiro, que significa a possibilidade do planejamento e dos objetivos financeiros de uma organização resultarem em algo diferente do que o que foi pensado, do seu objetivo inicial. Do mesmo modo, existem riscos operacionais, relativos aos processos da empresa. Também existem o risco de imagem, que nada mais é do que a reputação da empresa perante a seus stakeholders. Todos estes riscos envolvem fatores dos quais a auditoria contábil faz parte. Entender como estes riscos funcionam, como identificá-los e como preveni-los é essencial nas rotinas de auditoria, pois permite ao auditor realizar as suas funções de maneira mais consciente em relação a identificar os riscos presentes na organização e reportá-los às partes interessadas. Por meio da auditoria contábil, a empresa pode identificar e corrigir processos que envolvem riscos, melhorando não só a sua gestão, mas também os seus resultados organizacionais. 112 Riscos sempre estarão presentes em qualquer atividade empresarial. Cabe aos gestores administrar os recursos da organização para controlá-los e monitorar sua situação, conseguindo então continuar com as atividades da empresa de forma estável. IMPORTANTE 2.1 RISCOS FINANCEIROS O conceito de risco abordado anteriormente trata sobre a possibilidade de algo acontecer fora de um determinado plano. Quando tratamos sobre riscos financeiros nos referimos sobre uma medida de incerteza que envolve o retorno que um investimento irá gerar (GITMAN; ZUTTER, 2017). Já Júnior, Rigo e Cherobim (2016, p.130) conceituam riscos financeiros como sendo a “possibilidade de prejuízo financeiro ou, mais formalmente, a variabilidade de retorno associado a um determinado ativo”. Por meio das práticas de auditoria, os gestores empresariais podem não só melhorar seus controles financeiros e contábeis, mas também identificar possíveis riscos que porventura venham a impactar negativamente o retorno sobre o investimento de seus recursos. Nesse sentido, aplicar auditorias, sejam elas internas, voltadas a melhorar controles contábeis internos, ou mesmo externas com foco específico nas próprias demonstrações contábeis, permite melhorar a forma em como a empresa gerencia seus recursos financeiros. Ao investir recursos financeiros, uma empresa objetiva a valorização de tais recursos em um período futuro. Quanto maior o período de análise ou projeção de retorno, maior tende a ser o ambiente de risco enfrentado pela empresa. Tais riscos envolvem não só a possibilidade de a empresa não reaver seu investimento, mas também possibilidades de adiar o recebimento de tal investimento, de realizar novos aportes para garantir o retorno ou mitigar prejuízos, dentre outras práticas financeiras. Com a auditoria contábil, quando realizada de forma eficiente e alinhada aos objetivos organizacionais, gestores financeiros podem melhorar o ambiente de controle dos riscos inerentes ao aspecto financeiro. Um dos focos da aplicação da auditoria em relação à gestão de riscos de uma empresa está em criar condições de mensurar quais serão os riscos futuros em detrimento da obtenção de retornos financeiros. 113 Groppelli e Nikbakht (1998, p.67) definem risco como “uma medida de volatilidade ou incerteza de retornos, e retornos são receitas esperadas ou fluxos de caixa antecipados de qualquer investimento”. Ao incorrer em um risco, uma empresa realiza uma troca (conceito conhecido também como trade-off), escolhendo um retorno em detrimento de determinado risco. Mais uma vez, é importante ressaltar que a tendência de maiores retornos acompanha maiores riscos, e vice-versa. Os controles internos em auditoria asseguram a verificação dos métodos aplicados, enquanto a elaboração de documentos financeiros-contábeis verifica se tais controles estão sendo realizados de maneira eficiente ou mesmo se não estão sendo aplicados esforços desnecessários (MAGNABOSCO, 2018). Com isso, a empresa pode otimizara aplicação de tais recursos financeiros, eliminando desperdícios e aumentando retornos mediante a menores incidências de riscos. Os riscos financeiros que mais se destacam quando tratamos sobre gestão de riscos e suas relações com auditoria contábil são apresentados na Figura 5: Figura 5 – Tipos de riscos financeiros Fonte: Adaptado de Gitman e Zutter (2017). Estes riscos podem sofrer influências de diferentes aspectos, sejam internos ou externos à empresa. Práticas de auditoria permitem identificar quais são as fontes destes riscos, bem como classificá-los quanto a sua natureza. Podemos classificar as origens dos riscos como sendo: • sistemáticos: relacionados ao sistema, isto é, que envolvem fatores políticos, econômicos, legais, concorrenciais, tributárias e quaisquer outros que possam impactar as rotinas de uma empresa; • não sistemáticos: ocorre exclusivamente em um setor ou em uma empresa, de forma que pode ser considerada interna, ocorrendo devido a fatores específicos de seu contexto (MORANTE; JORGE, 2012 apud FURTADO, 2020, p.9). 114 Um risco sistemático pode ser considerado também como um risco não diversificável ou risco de mercado. Por exemplo, quando tratamos de um sistema, entende-se que são englobados diferentes agentes, participantes e/ou integrantes neste ambiente. Dessa forma algo que porventura aconteça neste sistema afeta todos os seus participantes. O risco não diversificável não pode ser controlado por uma empresa. Mediante a aplicação de uma auditoria contábil, uma empresa pode identificar quais são estes riscos e, apesar de não poder impedir os aspectos negativos do risco, uma vez que não depende da empresa (o risco é externo), esta pode traçar estratégias contingenciais aos impactos deste risco. Um exemplo de gestão de riscos com base em auditoria está no risco de mercado. Risco de mercado consiste nas perdas devidas a movimentos nos preços de mercado, sendo relacionada ao valor de bens, índices financeiros, serviços, produtos etc. Ocorre quando da mudança do preço de determinado ativo (JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2016). Uma empresa por si só não é capaz de controlar o mercado inteiro – salvo os casos de mercados monopolistas –, e, portanto, gerenciar os riscos referentes a mudanças em preços, cenários econômicos ou mesmo ações concorrenciais deve ser um fator essencial na gestão de riscos de uma organização. Em contrapartida, riscos não sistemáticos são diversificáveis pois dependem e são influenciados pelas ações de controle interno de uma organização. Segundo afirmam Gitman e Zutter (2017, p.337), “o risco diversificável representa a parcela de risco que está associada a causas aleatórias que podem ser eliminadas por meio da diversificação de investimentos”. Estas ações de diversificação estão diretamente ligadas a estratégias de controle interno, fator ao qual a auditoria atua na análise e criação de métodos de melhorar tais controles. O modo não só de como a empresa controla suas finanças, mas também como aloca seus recursos em relação a seus investimentos, dita o sucesso ou o fracasso da gestão de seus riscos financeiros. Adicionalmente, as ações de controle e gestão de riscos em relação ao aspecto financeiro e suas relações com a auditoria envolvem o combate à fraude e à corrupção. Por meio de ações de gestão de riscos em finanças a empresa pode melhorar a sua capacidade de detectar e identificar eventuais irregularidades, evitando não só o desvio de seus recursos por forma de fraudes, mas também mitigar a ocorrência de riscos de imagem e riscos legais. 115 Santos (2021) define irregularidades como as ações de omissão ou não cumprimento de procedimentos obrigatórios em relação a atividades financeiras. O autor prossegue na definição de fraude, que consiste na infração intencional, isto é, quando se age de forma consciente no desvio ou no não cumprimento de etapas necessárias para a correta execução de um processo. Estas irregularidades podem ser das mais simples até as mais complexas formas de utilizar o capital da empresa em benefício próprio de maneira irregular. Formas de corrupção, tais como suborno e propina, reembolso de despesas, alterações de demonstrações financeiras, desvio de mercadorias, adulteração de boletos e inclusão indevida em folha de pagamento são algumas das principais formas de fraude em empresas (MAGNABOSCO, 2018). Ao atuar como forma de monitoramento e controle dos aspectos financeiros, comparando práticas com os resultados gerados em demonstrações contábeis, a auditoria deve ser capaz de identificar situações suspeitas e então prosseguir com a identificação de fraudes e em seguida reportar tais irregularidades para o conselho de administração e órgãos reguladores. Por meio da atuação do auditor, seguindo os princípios de independência, ética e objetividade, este deve ser capaz de identificar quaisquer indícios de fraudes financeiras e reportá-las imediatamente às partes cabíveis pelo controle de riscos de uma organização. Desta forma ocorre um melhor monitoramento dos riscos internos e externos da empresa e evitam-se perdas financeiras. 2.1.1 Riscos de Liquidez O risco de liquidez refere-se à capacidade em que uma empresa tem de transformar seus ativos em capital, dinheiro, e em seguida honrar eventuais dívidas de curto prazo. “A liquidez de uma empresa é medida por sua capacidade de saldar suas obrigações de curto prazo no vencimento” (GITMAN; ZUTTER, 2017, p.74). Os meios de controle deste risco passam necessariamente por métodos de controle contábil. Por exemplo, uma empresa pode realizar a venda de itens em estoque para saldar dívidas de curto prazo quando da ocorrência de insuficiência de caixa ou de investimentos de curto prazo. O que acontece se os valores informados nas demonstrações contábeis estiverem incorretos? Nesse caso, a empresa estaria apresentando risco de liquidez, uma vez que a empresa não teria recursos para pagar esta dívida de curto prazo. Neste cenário, evidencia-se a importância da auditoria interna para controlar e manter as demonstrações corretas confiáveis e fidedignas. 116 Você já parou para pensar o que faríamos sem dinheiro? Seria possível vivermos sem o dinheiro? Sem dinheiro, independentemente de sua fonte, não conseguimos arcar com despesas básicas, consumir e sobreviver na sociedade atual. O mesmo pensamento se aplica quando tratamos de liquidez fi nanceira. Uma empresa não consegue operar sem dinheiro e, se a situação persistir, terá que fechar suas portas. Cuidar da liquidez é, por vezes, mais importante do que obter altas margens de lucro devido à importância do curto prazo (operacional). INTERESSANTE A questão central da liquidez está em analisar se a empresa possui caixa sufi ciente (ou a capacidade de gerar caixa) para pagar seus funcionários, fornecedores ou credores. O grau de liquidez de seus ativos dependerá da facilidade e rapidez de transformar tais ativos em caixa, e, nesse sentido, deve-se equiparar os prazos das dívidas de curto prazo da empresa com eventuais entradas de caixa, mantendo liquidez sufi ciente (GROPPELLI, NIKBAKHT, 1998). Ao planejar corretamente a aplicação de seus recursos fi nanceiros, uma empresa pode alcançar níveis efi cientes de liquidez e, consequentemente, melhorar o desempenho de suas operações. O conceito de liquidez é fundamental para que uma empresa possa se manter em operação. Sem dinheiro disponível, uma empresa não pode comprar matéria prima, não pode pagar por serviços, não pode pagar por insumos ou mesmo pela entrega de seus produtos para seus clientes. O cálculo de liquidez pode ser realizado de diferentes formas, sendo as mais comuns representadas pelo cálculo da liquidez corrente e a liquidez seca. A liquidez corrente pode ser considerada como uma liquidez bruta, pois considera os totais de ativos circulantes divididos pelo total de passivos circulantes. Figura 6 – Fórmula da liquidez corrente (ILC) e liquidez seca (ILS) Fonte:Adaptado de Gitman e Zutter (2017, p.74-75). 117 Enquanto a liquidez corrente considera o total de ativos e passivos circulantes, isto é, o total de disponibilidades de recursos (caixa, investimentos, estoques), as dívidas e os passivos (fornecedores, empréstimos etc.) a curto prazo, a liquidez seca considera os ativos circulantes deduzindo o valor de estoque. Esta dedução deve-se ao fator da própria liquidez. Transformar um estoque em dinheiro (caixa) nem sempre é fácil ou rápido. Um estoque, por exemplo, pode conter inúmeros insumos, matéria-prima, partes de equipamentos, produtos em processamento, produtos semifinalizados, onde todos estes itens podem não ser passíveis de comercialização e, portanto, necessitam primeiramente ser finalizados, transformando os estoques em produtos em processamento em produtos finais para vende-los e então gerar caixa. Considerando este fator, enquanto a liquidez corrente analisa de forma teórica, geral e abrangente, a análise de liquidez seca considera uma situação mais realista, permitindo uma melhor forma de análise sobre a capacidade de conversão dos ativos em caixa em casos em que a empresa possui estoques que não podem ser facilmente transformados em dinheiro (GITMAN; ZUTTER, 2017). A correta aplicação de métodos de inspeção física, por exemplo, ao considerar a contagem e conferência de itens em estoque, permite utilizar a auditoria como um método de ampliar a eficiência no uso dos índices de liquidez para analisar a situação financeira de uma empresa. Com a contagem física de estoques, o auditor pode garantir que os métodos aplicados pelo setor de contabilidade da empresa estão corretos e, ao mesmo tempo, garantir que os estoques não só existem, mas tem valor correto, mediante a análise conjunto de notas fiscais e outros documentos que comprovem o valor dos estoques (MELO; SANTOS, 2017, p.174). Com base na liquidez, uma empresa pode organizar e executar suas rotinas financeiras, evitando a ocorrência de outros tipos de risco, tais como o risco de insolvência, endividamento, risco legal e o risco de imagem. Gerenciar sua liquidez deve se tornar uma das principais atividades na gestão de riscos nas empresas para evitar a ocorrência de problemas mais graves em seu futuro. 2.1.2 Risco de Endividamento Compreender corretamente o conceito de endividamento é fundamental para o sucesso de uma organização, e para tanto, a auditoria consiste em uma importante ferramenta para identificar se os dados referentes à análise do endividamento da empresa estão corretos. Dessa forma, podemos garantir a continuidade da organização e o cumprimento de todas as normas e práticas cabíveis. 118 Se por um lado o risco de endividamento de uma empresa analisa sua capacidade de pagamento, o grau de endividamento de uma organização analisa “o volume de dinheiro de terceiros usados para gerar lucros” (GITMAN; ZUTTER, 2017, p. 79). Em outras palavras, uma empresa se endivida quando adquire capital de terceiros, seja ele de fontes internas, como de seus acionistas e controladores, ou de terceiros, como bancos, financeiras e demais agentes de crédito. Uma empresa pode apresentar alto grau de endividamento e ainda assim ter bons índices de liquidez. Seja pela análise das operações da empresa ou perante os controles internos, a auditoria é responsável por assegurar que as informações contidas nos índices financeiros estejam corretas. O cálculo do grau de endividamento de uma companhia pode ser realizado de diferentes maneiras, a depender da necessidade de análise do fator endividamento. Por exemplo, ao analisarmos o total de passivos (dívidas) de curto e longo prazo, dividindo- os pelo total de ativos, temos o índice de participação de terceiros (IPT). Calculando o total de passivo de longo prazo (não circulante) dividindo-o pelo total de patrimônio líquido (dinheiro dos sócios e acionistas) temos o índice do patrimônio líquido (JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2017). Independentemente do método utilizado para o cálculo, o foco e a importância do índice de endividamento está em analisar a capacidade que a empresa utiliza recursos de terceiros para gerar valorização sobre este capital. Essa operação é interessante, por um lado, ao acionista que tem retorno sobre o capital investido, ao mesmo tempo que a empresa se beneficia por poder captar um recurso imediatamente e, realizar operações com base nestes recursos com vistas a gerar lucros – por exemplo, comprar matéria prima, processar e vender um produto finalizado, gerando receitas. O conceito de endividamento pode também ser analisado sobre a ótica da alavancagem financeira, operacional ou combinada. Entende-se alavancagem financeira como sendo “as práticas de usar títulos de dívidas para financiar investimentos” (GROPPELLI, NIKBAKHT, 1998, p. 206). Ainda segundo os autores, a alavancagem permite que a empresa capte recursos mediante ao compromisso de pagamento futuro, acrescido de juros, e com estes recursos a empresa poderá realizar suas operações. Adicionalmente, os autores continuam nas definições de alavancagem, afirmando, que quanto maior o grau de alavancagem de uma empresa, maior tende a ser o seu risco financeiro. Apesar de a alavancagem financeira proporcionar condições para que a empresa use capital de terceiros para crescer suas receitas (usando literalmente uma alavanca para impulsionar seus resultados), estas operações não estão livre de riscos, e, devido a isso, devem ser muito bem planejadas em relação aos custos fixos gerados: 119 [...] quanto mais a empresa emitir obrigações, em mais custos fixos financeiros ela incorre e maior o perigo de ela não ser capaz de cumprir com esses pagamentos fixos periódicos. À medida que a dívida aumenta, os pagamentos de juros também aumentam – e, embora eles propiciem uma alavancagem financeira, existe um aumento do risco financeiro representado pelos pagamentos de juros [...] (GROPPELLI, NIKBAKHT, 1998, p.206). Os riscos financeiros gerados devem ser bem planejados e bem administrados. Deve-se analisar a capacidade de gerar lucros com os recursos de terceiros, ao mesmo tempo que é necessário planejar os custos envolvidos durante a captação de tais recursos. Quanto maiores os riscos envolvidos na utilização do conceito de alavancagem financeira, maior tende a serem os retornos, uma vez que, na teoria, a estratégia da empresa está pautada em utilizar estes recursos para operar suas atividades e gerar maiores volumes de lucro. Uma empresa alavancada nem sempre está passando por problemas financeiros. Por vezes, adquirir financiamentos com bancos e financeiras é mais barato do que com fontes próprias. Por exemplo, o financiamento junto a terceiros, apesar de apresentar custos, geralmente são menores do que junto a capital próprio (sócios, acionistas etc.), pois estes tendem a cobrar maiores percentuais de remuneração pois estão correndo riscos, o que deve ser remunerado. NOTA Além da alavancagem financeira, temos também a alavancagem operacional. Este segundo tipo de alavancagem “decorre da existência de custos e despesas operacionais fixos (isto é, dívidas) que permanecem inalterados dentro de certos intervalos de flutuação de produção e vendas” (BRAGA, 1989, p. 203). Em outras palavras, enquanto a alavancagem financeira decorre de ativos financeiros gerais (dívidas que servem como base para novos investimentos), a alavancagem trata sobre despesas diretamente ligadas às operações de uma empresa (custos e despesas operacionais), tais como estoques, insumos, processos e atividades comerciais. Alavancagem operacional consiste no uso de ativos operacionais, com custos e despesas fixas, com o objetivo de aumentar os lucros e uma empresa (JUNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2016, p.79). Por um lado, a alavancagem financeira apresenta custos com juros para terceiros – sejam eles acionistas ou credores (bancos e financeiras) –, a operacional trata sobre custos de operações de produção e vendas. 120Por fim, a alavancagem combinada (GAC – grau de alavancagem combinada) corresponde à junção de despesas financeiras e operacionais enquanto ao uso de alavancagem. Desse modo, tanto despesas financeiras quanto operacionais são apresentadas com o uso desta modalidade de alavancagem. Os diferentes tipos de alavancagem, ou endividamento, exercem forte influência sobre o fator crédito, isto é, na capacidade de uma empresa acessar recursos no mercado, seja mediante à empréstimos bancários ou emissão de debentures, notas promissórias ou ações. Neste cenário, somos introduzidos a um outro tipo de risco, o risco de crédito, que, segundo Arai (2015, p. 6), é definido como “a possibilidade de perdas resultantes pelo não recebimento de valores contratados por clientes em decorrência de sua capacidade econômico-financeira”. Quanto maior o grau de endividamento de uma empresa, por mais que este endividamento seja planejado para alavancar os resultados futuros, cria-se riscos quanto à capacidade de pagamento no curto prazo, onde a empresa, em caso do surgimento de novas despesas, pode ver-se em uma situação financeira arriscada. A falta de capacidade de pagamento de uma dívida recebe o nome de risco de crédito. Mais uma vez, esta capacidade pode ser verificada mediante a análise de procedimentos e documentos financeiros realizada em processos de auditoria contábil. 2.1.3 Riscos de insolvência O conceito de insolvência corresponde à incapacidade que uma empresa tem em pagar suas dívidas de curto, médio e longo prazo. Pode ser considerada como uma decorrência de uma crise de liquidez, onde a empresa pode até possuir mais ativos que passivos, mas é incapaz de ter liquidez suficiente para honrar o prazo de seus compromissos. Se uma situação de insolvência se prolongar, os passivos podem ser tornar maiores que os ativos, situação em que o total de dívidas em uma empresa supera as suas disponibilidades, seu patrimônio. Esta situação, se permanente, pode incorrer inclusive na falência de uma empresa. Gitman e Zutter (2017) definem insolvência como a quebra de uma empresa devido a sua incapacidade de pagar contas no vencimento. Segundo os autores, as principais causas para a quebra de empresas ocorrem devido à má administração, seguida por movimentos econômicos (recessões e crises), e, por fim, devido à maturidade corporativa, situação em que se esgotam as utilidades dos produtos e serviços de uma organização, encerrando assim seu ciclo de vida. 121 Uma empresa pode enfrentar riscos de liquidez momentâneos, mas que se não tratados de forma adequada podem incorrer em graves problemas financeiros à empresa. Dessa forma, cabe aos gestores a análise e o planejamento correto acerca do uso dos recursos da empresa, a fim de evitar a ocorrência de tais crises. Junior, Rigo e Cherobim (2016, p. 530) afirmam que “uma situação de insolvência econômico-financeira não surge de repente, ela vai se instalando aos poucos, fruto de inúmeros fatores”. Dentre os principais fatores, ainda segundo os autores, estão situações em que há a ausência de planejamento estratégico, concentração de vendas em poucos clientes, dependência de poucos fornecedores, dificuldades de mercado, entrada de novos concorrentes poderosos, excesso de endividamento, falta de capacidade gerencial, falta de vantagem competitiva, má gestão de estoques, mau gerenciamento de risco, maus controles financeiros, tecnologia desatualizada, dentre diversos outros. Tais fatores podem facilmente ser identificados mediante a análise de demonstrações contábeis ou na averiguação dos métodos administrativos utilizados pela empresa. Dessa forma, a auditoria contábil auxilia na previsão de eventuais crises de solvência ao identificar eventuais falhas nos processos de gestão de uma companhia. Do mesmo modo, fatores como fraudes em documentos contábeis, desvios de dinheiro e outras formas de corrupção correspondem a formas de tornar uma empresa insolvente. Por vezes, estas formas de irregularidades são mascaradas por gestores que agem de má fé, em prol de benefício próprio, e eventualmente resultam em grandes crises contábeis-financeiras. A auditoria externa, por exemplo, no quesito de combate à fraude, atua na gestão dos riscos de insolvência por meio da atuação do auditor independente, que é responsável por analisar os demonstrativos financeiros e por garantir que estas demonstrações, como um todo, não contenham distorções relevantes causadas por fraudes ou por erros. Ao detectar qualquer irregularidade, um auditor deve comunicar imediatamente a alta administração da empresa, de forma obrigatória, também sugerindo medidas corretivas à situação, informando sobre possíveis efeitos caso estas medidas não sejam adotadas mediante a emissão de seu parecer de auditoria (MAGNABOSCO, 2018). 2.1.4 Riscos operacionais Riscos operacionais são aqueles que advém de processos internos e seus controles, sendo originados por pessoas e ou sistemas nas atividades empresariais. Podemos entendê-los como sendo erros em sistemas, falhas de comunicação, falhas no controle e na segurança da informação, e também as próprias fraudes e erros em operações. 122 Os riscos operacionais podem ser ocasionados por motivos financeiros, no sentido de falta de uma administração de recursos eficiente. Podem faltar recursos essenciais para o desempenho das funções da equipe de trabalho, pode ocorrer sobrecarga nos funcionários, estes podem estar desmotivados por falta de pagamento ou salários defasados, bem como quaisquer outros aspectos operacionais causados por falta de dinheiro. Da mesma forma, riscos operacionais podem vir a ocorrer por falta de treinamento adequado, por falta de métodos de controle e supervisão aos funcionários, inadequação nos controles internos etc. Todos estes compõem aspectos operacionais que não necessariamente são originados nas finanças da empresa. Quando se fala de riscos inerentes à entidade, ou seja, aquele associado ao percurso normal dos negócios, aborda-se os riscos operacionais que estão nos procedimentos internos dos negócios. Esses riscos são entendidos como operacionais, uma vez que a execução das atividades por parte dos colaboradores pode impactar de forma direta a produção final, fazendo com que não se obtenha o recurso esperado (FURTADO, 2020, p.29). Uma das formas de identificar riscos operacionais e diminuir sua ocorrência nas rotinas empresariais consiste na aplicação de eficientes métodos de controle interno. Segundo afirma Blok (2020, p. 357), “a finalidade dos controles internos é a de promover as melhores condições para se atingirem os objetivos específicos da empresa, visto que estes decorrem das medidas adotadas pela empresa a fim de fornecer o suporte necessário para o alcance de seus objetivos [...]”. Os objetivos dos controles internos estão em garantir que a empresa atinja suas metas e que, para tanto, controle o uso de seus recursos de forma eficiente a fim de manter suas operações funcionando sem a ocorrência de quaisquer tipos de problemas. Para evitar a ocorrência de problemas gerados pela má condução das operações de uma empresa, incorrendo em riscos operacionais, uma empresa deve estabelecer responsabilidades a seus colaboradores, manter registros de suas atividades (aqui a contabilidade desempenha papel fundamental), assegurar ativos por funcionários responsáveis, diferenciar corretamente as funções e suas responsabilidades, obrigações e direitos, usar controles tecnológicos e por fim, revisar periodicamente seus métodos de controle (ANDRADE, 2020). 123 Operações são as bases de utilização de recursos financeiros, bem como para geração de suas receitas. Negligenciar os aspectos operacionais implica, necessariamente, impactos sobre a gestão financeira de uma instituição. Logo, ambos os fatores – operações e finanças – devem ser planejados e controlados para o sucesso de longo prazo em uma empresa. IMPORTANTE A auditoria contábil permiteaos gestores controlar seus riscos operacionais devido aos métodos aplicados quanto a diferentes naturezas de aplicação dos métodos de auditoria. Da inspeção física à métodos documentais, as análises e constatações realizadas por um auditor permitem que a auditoria seja capaz de identificar como ocorrem os processos em uma empresa, e, com base nestas análises, fornecer meios para que a empresa se adeque e corrija os seus processos sempre que necessário. Por exemplo, um outro tipo de auditoria, a Auditoria de Trabalho, fornece importantes informações sobre a situação real da empresa, de seus processos e de seus empregados. Este tipo de auditoria envolve análises de itens que compõe o setor de recursos humanos e suas funções, seus documentos, bem como a identificação e correção de procedimentos vulneráveis, com direcionamento a métodos seguros que forneçam bons resultados a fim de diminuir os riscos operacionais (MELO; SANTOS, 2017). Enquanto a auditoria contábil analisa, obviamente, aspectos contábeis, a auditoria de trabalho analisa aspectos referentes ao trabalho em uma organização, de seus processos a rotinas de registro de funcionários, pagamento, organização de horas trabalhadas etc. Utilizar ambas as ferramentas permite melhorar a qualidade da gestão de uma empresa, bem como seus resultados. 2.1.5 Riscos Contábeis Por fim, um importante fator no controle dos riscos financeiros em uma organização está nos métodos utilizados para aplicar corretamente os fundamentos contábeis, cumprindo não só aspectos legais, mas também métodos de controlar o patrimônio da empresa. Considerando que a contabilidade serve como meio de informar os gestores de uma empresa em relação à situação real do seu patrimônio, bem como proporcionar meios de tomada de decisão sobre investimentos, alocação de recursos, financiamentos e outros aspectos financeiros (MARION, 2021), executar corretamente a contabilidade é fundamental para que as necessidades, tanto do público interno, quanto do externo, de uma organização, sejam atendidas pela gestão de riscos. 124 A auditoria propriamente dita serve como forma de controlar a execução das rotinas contábeis em uma organização. Seja pelo fator de propiciar condições de melhorias nos controles internos, ou mesmo em monitorar e garantir a correta execução dos demonstrativos financeiros, o fator contábil em uma empresa permite que esta melhore sua gestão de uma maneira geral. Aplicar corretamente os conceitos gerais da contabilidade, seguindo as NBCs e as disposições dos órgãos controladores, tais quais o CFC, por exemplo, permite que a empresa não só entenda melhor o seu patrimônio em tempos atuais, mas também que planeje a utilização de seus recursos e projete o futuro de seu patrimônio. Além de utilizar das ferramentas da auditoria contábil, a empresa deve também adotar ações de gestão de riscos voltadas a políticas antifraudes. Segundo Santos (2021), estratégias antifraudes devem utilizar de ações voltadas à prevenção, detecção e a correção de ações fraudulentas. Em contabilidade, esta metodologia é especialmente útil a fim de criar mecanismos que instruam e que controlem as ações dos contadores e funcionários que auxiliam na elaboração de demonstrações financeiras, prevenindo a ocorrência de quaisquer tipos de irregularidades que venham a comprometer a qualidade e a confiabilidade dos métodos contábeis da empresa. Seguindo com a aplicação destas estratégias de combate à fraude, deve-se detectar quaisquer irregularidades. Aqui, destaca-se novamente o papel do auditor na gestão de riscos. O auditor deve não só constatar e informar diretamente eventuais irregularidades, mas também deve ser um agente a criar e a incentivar o uso dos chamados canais de comunicação, que nada mais são do que meios pelos quais os funcionários de uma empresa - enquanto indivíduos de boa-fé, éticos e comprometidos com a justiça – podem informar a ocorrência ou a verificação de indícios de quaisquer atividades suspeitas. Segundo Magnabosco (2018), o objetivo dos canais de denúncia é evitar prejuízos tanto financeiros como de imagem, combatendo fraudes e irregularidades, impedindo e punindo comportamentos que possam comprometer a reputação de todos os setores e funcionários da empresa. Os meios utilizados para a elaboração destes canais podem variar, no entanto, o objetivo principal é garantir que os colaboradores de uma empresa possam ter um ambiente seguro para expressar suas visões acerca da ocorrência de fraudes. Deve conter meios eletrônicos, tais como e-mails, internet, mensagens eletrônicas e também analógicos, como o telefone ou cartas, por exemplo, não só aplicados ao risco contábil, mas também a demais riscos financeiros, de imagem, legal ou de compliance. Aplicar os canais de denúncia permite à empresa prevenir e gerenciar melhor suas estratégias enquanto ao fator risco. 125 2.1.6 Outros tipos de riscos: sociais, tecnológicos e ambientais Além dos diversos riscos já citados, fatores sociais, tecnológicos e ambientais também proporcionam riscos financeiros e operacionais a uma empresa. Ao considerarmos empresas como importantes participantes da sociedade nos tempos atuais, gerando empregos, fomentando a economia, pagando impostos, ou seja, que tem grande impacto financeiro a nível nacional – e em alguns casos internacional –, hoje em dia, cada vez mais, nota-se o aspecto social delas. Nos tempos passados o foco principal de uma empresa era de apenas gerar lucro, quanto maior possível para os seus acionistas e seus proprietários. As pressões da atualidade modificaram significativamente este cenário. Tais pressões ocasionam em riscos financeiros às empresas, no sentido de que, a depender das estratégias desenvolvidas por uma corporação no que diz respeito ao uso de seus recursos, às políticas trabalhistas, bem como na sua relação com seu público externo (clientes, fornecedores e mercado em geral), uma empresa pode deixar de faturar, ter desvalorização em suas ações (caso seja listada em bolsa de valores), sofrer sanções ou punições por órgãos reguladores etc. “Do ponto de vista contemporâneo, as empresas, como importantes e influentes membros da sociedade, são responsáveis por ajudar e aumentar o bem-estar da sociedade como um todo” (CERTO; PETER, 2010, p.273). Continuamente, não só pressões sociais moldam as atividades empresariais na modernidade, devemos considerar também os aspectos tecnológicos. Da primeira revolução industrial até os tempos atuais, a tecnologia sempre influenciou os métodos de viver e de se trabalhar, consequentemente afetando as rotinas empresariais. Quando tratamos em tecnologia, nos referimos não só a meios digitais, sistemas de informação ou a internet, mas também nos referimos a processos, métodos de trabalho, ferramentas e equipamentos aplicados à alguma finalidade. Chiavenato (2020, p. 258) corrobora a importância da tecnologia no desenvolvimento humano como um todo, afirmando que "o desenvolvimento tecnológico sempre constituiu a plataforma básica que impulsionou o desenvolvimento das organizações e permitiu a consolidação da globalização que vemos hoje”. A própria auditoria contábil se beneficia dos avanços tecnológicos. A tecnologia da informação permite atualmente que o auditor possa informatizar seus controles (papéis de trabalho), realizar seu planejamento de forma online, digital, bem como se comunicar em tempo real com quaisquer partes necessárias na condução de seus trabalhos. 126 Apesar de benéfica, a tecnologia também pode gerar novos riscos à uma organização. A internet, por exemplo, pode, ao mesmo tempo, criar vantagem competitiva quando aplicada de forma eficiente por uma empresa, bem como pode ser um fator que leva uma empresa à falência. Ao mesmo tempo, a internet gera oportunidades de negócios para alguns, criando novos mercados, ela pode atuar na destruição de outros mercados, que ao não se atualizar sofrem graves impactos em diferentesníveis de suas operações (JOÃO, 2015). Uma empresa que não investe em tecnologia pode ser retirada do mercado. Assim como erros e fraudes contábeis incorrem em prejuízos financeiros, não adaptar e atualizar as formas de controle contábil em uma organização tornam os riscos inerentes à tecnologia muito mais graves do que estes deveriam ser. Segundo afirmam Groppelli e Nikbakht (1998), ao não investir em tecnologia para se atualizar e se modernizar, uma empresa incorre em diferentes níveis de riscos financeiros. A organização pode apresentar baixa eficiência e custos mais altos perante a sua concorrência, ter diminuição em suas vendas e consequentemente menores fluxos de caixa – o que, por sua vez, causa risco de liquidez, e por consequência a insolvência, podendo resultar na falência da empresa. Um terceiro tipo de risco, que não necessariamente é exclusivamente financeiro, mas ainda assim produz impactos na gestão financeira da empresa, e, portanto, deve ser abordado enquanto o assunto gestão de riscos, é representado pelo aspecto ambiental. Além de pressões sociais, a sociedade moderna também exige que as empresas adequem suas operações no que diz respeito à gestão ambiental. Sob ponto de vista financeiro, gerenciar corretamente este aspecto ambiental permite que a empresa melhore a sua imagem perante seu mercado, diminuindo assim o risco de imagem, bem como o seu risco legal (ao estar em conformidade com legislações ambientais). [...] os problemas ambientais são tratados como uma das questões estratégicas da empresa e, portanto, relacionadas com a busca de uma situação vantajosa no seu negócio atual ou futuro, tais como lucratividade, participação em mercados, domínio de tecnologias relevantes, acesso a capitais, reputação, entre outras. Além das práticas de controle e prevenção da poluição, a empresa procura aproveitar oportunidades mercadológicas e neutralizar ameaças decorrentes de questões ambientais existentes ou que poderão ocorrer no futuro (BARBIERI, 2016, p.90). Assim como a auditoria contábil permite que uma empresa se relacione de forma mais transparente, transmitindo confiança e atratividade para potenciais investidores, gerenciar aspectos ambientais resulta no mesmo efeito. Ao gerenciar riscos ambientais a empresa incorre em maior atratividade com investidores que se relacionam (ou se interessam) por fatores ambientais. 127 A gestão dos riscos ambientais vai ao encontro das necessidades de levantamento e alocação de recursos, que, conforme afirma Braga (1989), devem ser conduzidas de forma a obter recursos nas condições mais favoráveis possíveis, ao mesmo tempo que tais recursos são alocados de maneira eficiente nos diferentes setores e atividades de uma empresa. Direta ou indiretamente, a auditoria contábil influencia na gestão dos diferentes riscos financeiros que acontecem nas rotinas de uma empresa. Permite aos gestores a gestão de fatores estritamente financeiros, bem como em fatores secundários (sociais, ambientais e operacionais, por exemplo), que influenciam nos andamentos das finanças empresariais. Evidencia-se, desta forma, que a auditoria apresenta múltiplas faces quanto a uma ferramenta estratégica para as organizações, que a utilizam para melhorar seus resultados em múltiplas dimensões possíveis. 2.2 RISCO DE IMAGEM Riscos operacionais e financeiros evidenciados pelas práticas de auditoria por muitas vezes podem ser corrigidos em tempo oportuno e em consequência diminuir o risco de imagem de uma empresa. Entendemos risco de imagem como “a possibilidade de a empresa vir a ter seu bom nome desgastado junto ao mercado e/ou autoridades constituídas, por decorrência de suas atividades, de decisões de cunho político ou decisões associadas a normas e dispositivos legais” (GALLAGHER, 2016, p.115). Uma vez que uma empresa não gerencia corretamente suas operações, seus controles, suas finanças ou quaisquer outros pontos dentro de sua administração, a imagem dela pode ser afetada negativamente. Ao não cumprir com certas obrigações, uma instituição pode passar a ser considerada como não confiável, improdutiva ou fraudulenta, a depender da gravidade dos riscos de imagem associados a ela. A empresa deve considerar ações de controle e gestão de seus diferentes tipos de risco pensando não só no efeito que estes riscos oferecem enquanto suas operações ou finanças de forma direta, mas também deve incluir em sua análise itens como a reputação, credibilidade e a forma como seus consumidores olham para suas atividades. 128 Você já viveu alguma experiência negativa com alguma empresa? Se sim, provavelmente não voltou a comprar com essa empresa e talvez até não a recomendou para seus amigos ou colegas de trabalho. Isso é o risco de imagem. Uma vez danifi cado, é muito difícil desfazer essa visão errada sobre uma organização. Por vezes, a imagem da empresa é danifi cada por negligência em seus serviços, má qualidade ou mesmo por acidentes. De qualquer forma, é fundamental gerenciar corretamente a imagem corporativa para evitar prejuízos. INTERESSANTE Direta ou indiretamente, o risco de imagem contribui para a condução das atividades empresariais, pois ao considerar tudo o que uma empresa faz no sentido de que estas ações refl etem no público externo, a organização automaticamente deve adotar condutas mais assertivas, éticas e voltadas à qualidade em suas operações. Com a aplicação da auditoria contábil, uma empresa se resguarda quanto à gestão de seu patrimônio, de seus riscos e de sua imagem. Por exemplo, uma empresa onde constata-se uma fraude, difi cilmente se manterá atrativa a novos investidores. Ora, se a empresa não cuida corretamente do patrimônio de seus investidores, utilizando de ações irregulares e fraudulentas na gestão deste capital, a imagem dela passa a ser considerada ruim perante seu mercado, afastando novos investimentos. Casos menos graves, porém, ainda negativos, também podem ocorrer. Por exemplo, caso a empresa não gerencie seus riscos operacionais, controlando suas operações e garantindo a qualidade em suas atividades, acidentes podem vir a acontecer. Por vezes, na indústria alimentícia, ou mesmo de beleza – humana ou animal –, ocorrem acidentes que ocasionam produtos contaminados, estragados ou com quaisquer irregularidades que, por vezes, não foram identifi cadas antes da comercialização destes produtos por falta de métodos mais rígidos de controle. Como vimos anteriormente, o futuro é incerto e imprevistos podem acontecer. No entanto, não se pode ignorar a gestão dos riscos como ferramenta a impedir o acontecimento dos acidentes e problemas do exemplo anterior. Por vezes, tais acidentes não são intencionais, ocorreu algum vazamento, algo pode ter sido modifi cado sem que tenha sido percebido etc. De qualquer forma, ainda assim ocorrem prejuízos à imagem da empresa. Quando tratamos de auditoria contábil, a identifi cação de indícios de irregularidades – sejam eles meros erros em princípios contábeis ou na anotação de valores, ou casos de fraudes (erros intencionais) –, permite identifi car e corrigir eventuais processos e métodos que possam vir a ocasionar em impactos à imagem organizacional em tempos futuros. 129 “Fraudes contábeis, vazamento de informações privilegiadas, corrupção e sonegação são práticas duvidosas que ameaçam a credibilidade de várias corporações” (ALENCASTRO; ALVES, 2017, p. 12). Por vezes, erros simples podem ocasionar grandes impactos, quando não apurados em tempo oportuno e tratados corretamente para sanar tais problemas. Um dos métodos que auxilia na aplicação da auditoria como ferramenta de gestão de risco de imagem é a governança corporativa. Governança corresponde a um conjunto de práticas voltadas a garantir que a administração de uma empresa seja executada seguindo as leis, as normas vigentes e princípios de gestão voltados à qualidade – assim como a auditoria aplica a mesma finalidade sobre a gestão do patrimônio. Alémda governança corporativa, o compliance permite importantes ações a empresas que estão preocupadas em gerenciar os seus riscos de imagem. Este termo referencia ações, tais como “fazer cumprir”, “fazer o que foi pedido” e “executar, satisfazer e realizar algo imposto” (BLOK, 2020). Em outras palavras, compliance significa realizar imposições legais ou mesmo em relação a atender pressões sociais, ambientais, legais ou comerciais, a fim de garantir que a empresa opere seguindo regras, leis e comportamentos geralmente aceitos pela sociedade em geral. Ao utilizar, além da auditoria contábil, uma gestão de compliance e a governança corporativa, uma empresa passa a ter melhores condições de evitar riscos de imagem, e adicionalmente riscos legais. 2.3 RISCO LEGAL Evoluindo na gravidade e nos impactos gerados pelos riscos empresariais, temos o risco legal. Risco legal é definido por Gallagher (2016) como o risco de não cumprimento da legislação vigente, e que pode trazer sanções para a companhia, incorrendo em questionamentos jurídicos e que podem afetar seus processos operacionais. Ainda, a autora corrobora a definição de risco legal em sentido os prejuízos à suas finanças. As instituições estão sujeitas a várias formas de risco legal. Encontra- se aí incluído o risco de desvalorização de ativos ou de valorização de passivos em intensidades inesperadamente altas por conta de pareceres ou documentos legais inadequados ou incorretos [...]. Um processo judicial envolvendo determinada instituição pode ter amplas implicações para todo o sistema e acarretar custos, não somente para a organização diretamente envolvida, mas também para muitas ou todas as outras (GALLAGHER, 2016, p.116). Considere a seguinte situação. Uma empresa executa suas operações sem seguir determinada regra imposta por um ente regulador. A primeiro momento, podem ocorrer riscos operacionais pois a legislação serve para garantir processos produtivos e 130 de gestão adequados. Em segundo momento, os riscos operacionais refletem em perda de produtividade, incorrendo em riscos financeiros. Evoluindo essa situação problema, o risco de imagem torna-se uma realidade e, em última instância, temos o risco legal, que é quando são impostas sanções, multas ou ações judiciais a uma empresa para fazer com que esta cumpra a legislação vigente. Cumprir as leis não condiz apenas com fazer cumprir a legislação atual em suas operações, mas, tão importante quanto, ser capaz de atualizar-se rapidamente perante as mudanças nas leis. Nesta situação, uma lei que muda pode alterar tributos, operações, formas de proceder, formas de administrar e quaisquer outras necessidades de mudança. Cabe à empresa estar preparada em termos de flexibilidade para que se ajuste às novas realidades legais, diminuindo os impactos negativos dessas mudanças. O papel da auditoria contábil a esse respeito é fundamental ao garantir não só que a empresa não incorra em multas ou penalidades por não cumprir padrões, procedimentos ou leis relativas à contabilidade, mas também por permitir o exame e a averiguação dos métodos produtivos de uma empresa – que, por sua vez, relacionam- se com a contabilidade. Caso a empresa não seja capaz de identificar os riscos nos ambientes onde está inserida, dificilmente será capaz de preparar-se para evitar riscos legais. Ameaças da concorrência, de fatores internos (corrupção, fraudes etc.), baixa qualidade nos processos ou mesmo a falta de controles internos eficientes podem ocasionar inúmeros prejuízos a uma empresa. Considerando que as empresas sempre estão relacionando-se com outras instituições, possuem funcionários, fornecedores, clientes, concorrentes e órgãos que a fiscalizam, esta rede relações implica na situação em que, se uma empresa não gerenciar seu risco legal, pode ter que arcar com prejuízos financeiros, pagar multas, indenizar terceiros, paralisar suas operações e ocasionalmente, ter que encerrar suas atividades – a depender da gravidade das irregularidades. Nesse sentido, é evidente a necessidade da aplicação do compliance para que a empresa possa resguardar-se de prejuízos relativos ao risco legal. Ao cumprir corretamente tudo o que é necessário em termos legais, a empresa tem capacidade de gerenciar seus demais riscos e consequentemente melhorar a forma de como procede na busca por seus objetivos organizacionais. 2.4 RISCO DE COMPLIANCE Outro risco importante quando tratamos de auditoria contábil consiste no risco de compliance. Se compliance condiz com o cumprimento de regras, o que de fato seria risco de compliance? 131 Risco de compliance pode ser definido como o não cumprimento das disposições legais (risco legal) e a falta de gestão sobre os controles internos de uma instituição. Segundo Gallagher (2016, p. 117), “a não observância dos princípios e regras de compliance acarreta às instituições penalidades administrativas e legais determinadas pelo conjunto da legislação vigente, bem como afeta os seus administradores responsáveis pela observância do cumprimento destas normas”. Vale ressaltar que o risco de compliance não se restringe apenas à legislação contábil-financeira, mas estende-se também a outros tipos de controle interno: operacionais, qualidade, segurança do trabalho etc. Além de métodos de controle e gestão, o conceito de risco de compliance relaciona-se com o risco de imagem, considerando o fator integridade e confiança da empresa. “Um dos pilares da dinâmica empresarial e do mundo dos negócios é a confiança. As organizações precisam ser transparentes no que diz respeito a suas atividades para com a sociedade, o que também vale para suas demonstrações financeiras” (ALENCASTRO; ALVES, 2017, p.15). Uma empresa pode ser mais transparente, passar o sentido de confiabilidade e integridade ao utilizar de princípios de compliance em suas atividades administrativas. Por meio de bons controles internos, uma empresa pode experienciar aumentos em eficiência e efetividade em suas operações, melhorar seu grau de confiança perante seu mercado, bem como garantir o cumprimento de leis e regulações em suas operações (ARAI, 2015). Por meio dos seus controles internos, uma empresa aplica não só o conceito de conformidade (compliance), mas também melhora a gestão sobre o seu desempenho e sobre a gestão de sua informação. Garantir que os funcionários estejam trabalhando dentro dos objetivos de eficiência e integridade, atuando contra o risco de eventuais perdas em termos de desempenho, ao mesmo tempo que garantem que suas informações sejam íntegras, com qualidade e que mereçam confiança perante a seus stakeholders são algumas das formas que as empresas podem evitar os riscos de compliance em suas atividades (GALLAGHER, 2016). Em termos gerais, o compliance se relaciona com todos os demais riscos abordados anteriormente. Garante a correta execução de operações, controles financeiros, diminui riscos de imagem e riscos legais. É fundamental para as empresas adotarem práticas de compliance para que possam desempenhar melhor. 132 2.5 RISCOS NOS PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA Além dos riscos estudados até o momento, a própria condução da auditoria contábil, em busca de identificar e eliminar riscos empresariais, incorre em seus próprios tipos de riscos. A emissão de um relatório de auditoria livre de riscos, é uma tarefa muito difícil de realizar, pois a auditoria trabalha com amostras, e o seu conteúdo pode não refletir a realidade das transações ocorridas, isso significa que o auditor pode selecionar uma amostra de lançamentos contábeis ocorridos em determinado grupo de conta onde não encontrará qualquer erro, sendo que não selecionada poderá conter diversos lançamentos incorretos, acarretando assim uma aprovação das demonstrações contábeis, que não representa a realidade da empresa (MELO; SANTOS, 2017, p.93). São diversos os riscos presentes na aplicação de uma auditoria. Do risco de distorção a riscos de perda de independência225 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 227 1 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ÀS PRÁTICAS DE AUDITORIA CONTÁBIL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer a auditoria contábil, seus fundamentos e suas aplicações no contexto da contabilidade gerencial;; • compreender os fundamentos de economia, administração, fi nanças e contabilidade aplicadas às rotinas de auditoria contábil;• ter o entendimento sobre alguns aspectos regulatórios do Ensino Superior no Brasil; • aprender e conhecer as diferenças entre os métodos de auditoria interna e externa; • aplicar métodos de auditoria interna e externa em funções administrativas e contábeis considerando rotinas gerenciais; • compreender a necessidade da auditoria contábil como ferramenta de gestão empresarial; • aplicar conceitos de auditoria para ganho de performance gerencial. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM CONTABILIDADE GERENCIAL NO CONTEXTO DA AUDITORIA CONTÁBIL TÓPICO 2 – ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS E SUAS RELAÇÕES COM A AUDITORIA CONTÁBIL TÓPICO 3 – AUDITORIA INTERNA E EXTERNA: INTRODUÇÃO ÀS NORMAS, FUNDAMENTOS E PRÁTICAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM CONTABILIDADE GERENCIAL NO CONTEXTO DA AUDITORIA CONTÁBIL 1 INTRODUÇÃO A chegada da família real portuguesa ao Brasil está associada às primeiras escolasA contabilidade representa uma importante função empresarial e é responsável pelo controle do patrimônio da empresa, isto é, controla tanto os gastos no sentido de investimentos e despesas, quanto suas receitas com base em suas operações. Em contabilidade, temos diversas funções aplicadas a controlar o andamento das atividades financeiras e patrimoniais, por exemplo, a auditoria, a perícia, controladoria e atividades de contabilidade gerencial. No Tema de Aprendizagem 1, aprenderemos os fundamentos da contabilidade, exemplificando seu funcionamento, sua atuação em empresas e, em seguida, abordaremos a auditoria contábil e suas conexões com os fundamentos da contabilidade. É fundamental conhecer os principais conceitos de contabilidade, bem como as áreas em que atua, os documentos que são analisados e demais fatores na aplicação da contabilidade nas rotinas de auditoria contábil. 2 CONTABILIDADE E AUDITORIA Segundo afirmam Viceconti e Neves (2018, p. 1), “a contabilidade desempenha importantes funções tanto enquanto funções administrativas quanto econômicas”. Em outras palavras, a contabilidade é responsável por controlar a administração do patrimônio de uma empresa, seus recursos e também pelo controle dos resultados financeiros de uma organização. Nesse sentido, a contabilidade serve como uma importante ferramenta administrativa, financeira e econômica para o controle das operações das empresas na atualidade, fornecendo importantes informações para os processos decisórios na gestão empresarial (MARION, 2021, p. 4). TÓPICO 1UNIDADE 1 4 Estudar a contabilidade atende não só aos administradores de empresas, mas também todos os interessados em suas operações. Dos próprios funcionários a clientes, fornecedores, concorrentes e o governo por meio dos controles de mercado e arrecadação de impostos, muitos são os envolvidos nos resultados de ações de controle contábil nas empresas. A contabilidade visa não só permitir o acompanhamento, registro e o controle das atividades empresariais, mas também permitir o planejamento do futuro da empresa. Sem a contabilidade, ou, em outra visão, os dados que a contabilidade proporciona, as empresas não são capazes de tomar decisões racionais e com eficiência. Imagine a situação em que a empresa quer melhorar o seu lucro sem saber quanto suas operações custam, quanto precisa para manter seus funcionários e quanto precisa pagar em impostos. Nesse sentido, fica evidente a necessidade de ter controles contábeis eficientes que sejam capazes de refletir a realidade patrimonial e financeira da empresa. “A contabilidade retrata a imagem da empresa, conta sua história, objetivos e o método pela qual é administrada” (SANTOS et al., 2006, p. 7-10). Partindo deste raciocínio, em que a contabilidade apresenta grande importância no andamento das atividades em empresas, o que acontece caso os controles da empresa, isto é, sua contabilidade, não seja controlada corretamente? Quem controla os controles da empresa? Como garantir que os dados empresariais estejam de fato corretos, que os controles sobre o patrimônio empresarial reflitam de fato a realidade ocorrida na empresa? É exatamente neste ponto que é introduzido o conceito da Auditoria Contábil. Entendemos como auditoria o processo de teste, conferência e checagem dos métodos aplicados ao controle contábil de uma organização, bem como o teste da eficiência dos métodos utilizados (SILVA, 2020a, p. 9). Outra definição em relação à Auditoria Contábil consiste em: A auditoria é um exame cauteloso e sistemático das atividades desenvolvidas em determinada empresa ou departamento, cujo objetivo é averiguar se elas estão de acordo com as disposições planejadas e/ou procedimentos, operações e rotinas previamente estabelecidas, foram implementadas com eficácia, e se estão adequadas (em conformidade) com os demonstrativos contábeis da entidade, conforme o tipo de auditoria (MELO; SANTOS, 2017, p. 9). O uso da contabilidade deve ser seguido de procedimentos de auditoria para que sua eficiência seja garantida. O principal objetivo é averiguar que os procedimentos adotados estejam em conformidade com regulamentos contábeis vigentes, bem como em consonância com as leis vigentes naquele momento, evitando erros, fraudes ou quaisquer problemas relacionados. 5 A contabilidade serve como importante ferramenta na administração, pois permite o controle da composição e da evolução de seu patrimônio, enquanto a auditoria serve como uma importante ferramenta à contabilidade por manter o controle dos procedimentos, assegurando sua correta execução seguindo rígidos padrões de qualidade e relativos à legislação vigente. Ambas as áreas de estudo são necessárias para melhorar a administração empresarial. ATENÇÃO Uma vez que entendemos a necessidade de controles contábeis efi cientes, ao mesmo tempo que se faz necessária a realização de procedimentos de auditoria, outro conceito igualmente essencial surge: a contabilidade gerencial. Com o uso da contabilidade gerencial temos a certeza de aplicar corretamente os conceitos de contabilidade e auditoria nas práticas de administração empresarial. Manter sistemas contábeis unifi cados, capazes de identifi car, mensurar, acumular, interpretar e comunicar informações que auxiliem os gestores a atingir os objetivos da empresa é essencial para o sucesso de qualquer empresa (HORNGREN; SUNDEM; STRATTON, 2004). Dessa forma, utilizar conceitos da contabilidade gerencial representa uma importante ferramenta na administração e condução das operações em qualquer empresa, independentemente de seu ramo, seu porte ou de seus objetivos. 3 CONTABILIDADE GERENCIAL Evoluindo em nossos estudos a respeito da administração fi nanceira e contábil em empresas, o estudo dos conceitos e aplicações da contabilidade gerencial se faz fundamental. Aqui, devemos fazer a distinção entre dois tipos essenciais da contabilidade: a fi nanceira e a gerencial. Na contabilidade fi nanceira, estudamos a representação do patrimônio da empresa com foco em atender o seu público externo, ou, em outras palavras, as pessoas que dependem dos resultados fi nanceiros da empresa, como osdo auditor, o ambiente onde é aplicada uma auditoria contábil impõe diversos desafios a sua prática. Entendemos risco em procedimentos de auditoria como sendo “a possibilidade de um auditor emitir uma recomendação tecnicamente equivocada ou inadequada sobre o objeto de análise da auditoria” (SOUZA, 2020, p.43). Além dos inúmeros riscos presentes nas operações da empresa, os quais um auditor contábil deve conhecer e ser capaz de identificá- los, o trabalho do auditor requer capacidades de atenção, análise e conhecimento técnico sobre contabilidade, estatística e finanças para que este não incorra em erros (riscos) durante a execução de suas atividades. IMPORTANTE Em outras palavras, um auditor pode incorrer em erro ao coletar dados em amostras muito pequenas, sem base suficiente na estatística, por exemplo, o que pode enviesar seu julgamento em levá-lo a considerar determinada realidade, onde na verdade a realidade constituída é outra. Esta situação pode incorrer em acúmulos de erros em posteriores auditorias e acarretar graves impactos à uma empresa. Uma das formas de evitar ou mesmo diminuir os riscos de amostragem está na aplicação de testes de auditoria, aplicando diferentes métodos de análise e investigação de dados a fim de evitar esta interpretação errada enquanto as amostras coletadas (SILVA, 2020a). 133 Riscos, como a distorção dos fatos analisados, riscos inerentes ao ramo de atuação da empresa, risco de controle sobre as ações de auditoria, risco de detecção ou mesmo ameaças causadas por falta de ética por parte dos administradores da empresa auditada, podem causar uma série de problemas em relação à eficácia da auditoria contábil. O risco de distorção, segundo afirmam Melo e Santos (2017), corresponde à análise prévia dos controles internos da organização, a avaliação da natureza, época e extensão dos trabalhos necessários para coletar evidências durante a auditoria. Nesse sentido, o risco de distorção serve para evitar que as análises sejam equivocadas devido a quaisquer métodos mal utilizados ou pela falta de mecanismos de controle confiáveis existentes na instituição. As operações da empresa, a depender de seu ramo de atuação, também podem causar riscos aos procedimentos de auditoria. Em casos de mudanças na legislação aplicável à empresa, em suas tecnologias de controle, suas operações, mudanças de mercado etc., todos estes fatores podem causar significativas mudanças em aspectos contábeis da organização e, com isso, podem valorizar ou desvalorizar seus ativos, o que ocasiona riscos de super ou subavaliação nos procedimentos de auditoria. Cabe ao auditor estar ciente destas flutuações e considerar os riscos advindos destas fontes. Os riscos de controle sobre as ações do auditor, que controla suas atividades por meio dos papéis de trabalho, por exemplo, podem ocasionar erros na condução da auditoria, uma vez que o auditor pode deixar de realizar procedimentos, ou mesmo repeti-los, o que, além de desperdiçar tempo e outros recursos, poderá gerar confusão quando da interpretação dos resultados obtidos. Por fim, outro risco relevante nas práticas de auditoria contábil corresponde à possibilidade de fraudes e corrupção na empresa. Por vezes, o auditor é tentado a encobrir provas, não relatar erros ou quaisquer outras formas de contravenção. Isso, por si só, já incorre em erros e levará à incorreta interpretação ou relato da situação contábil da empresa. A fraude pode vir de qualquer setor ou pessoa. Não há um padrão único dos fraudadores (MAGNABOSCO, 2018). Estas práticas incorrem em grandes perdas financeiras a empresas e, portanto, o auditor deve ser capaz de aplicar técnicas para, ao mesmo tempo que se resguarda dos riscos inerentes à identificação de fraudes (risco físico, ameaças etc.), é capaz de relatar e eliminar a ocorrência destes esquemas. Uma das formas de evitar os riscos inerentes às operações de auditoria está no estabelecimento de boas práticas de governança corporativa, que, por um lado, permitem que toda a empresa se torne mais ética, por outro, conseguem auxiliar o auditor na condução de suas atividades por proporcionar melhores meios de comunicação e integração entre os diferentes departamentos organizacionais. 134 3 GOVERNANÇA CORPORATIVA Blok (2020) define a governança corporativa como um conceito relativo à forma em como as organizações são dirigidas e controladas. As boas práticas de governança permitem que uma empresa aja em prol de otimizar seu valor econômico no longo prazo, facilitando assim o seu acesso a recursos, além de contribuir para a qualidade de sua gestão, sua longevidade e o atendimento ao bem comum das partes com ela envolvidas. Ainda segundo a autora, a governança corporativa deve ser baseada em quatro princípios fundamentais, ilustrados conforme a figura a seguir: Figura 7 – Elementos da governança corporativa Fonte: adaptado de Blok (2020, p.317-318). O conceito de transparência corresponde ao desejo de disponibilizar para as partes interessadas informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por leis ou regulamentos (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2020). Desta forma, em uma auditoria, este princípio, quando cumprido, garante ao auditor o acesso a todas as informações necessárias para a correta aplicação dos procedimentos de auditoria. Equidade condiz com o tratamento justo e igualitário de todos os stakeholders envolvidos nos processos de uma organização, considerando não só suas funções, mas também seus interesses, direitos, deveres, expectativas e necessidades (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2023). Inicialmente, o foco das empresas era somente o lucro, prejuízos e resultados. Com a abordagem sobre os stakeholders, esse foco se amplia, uma vez que tais partes, de uma forma ou de outra, têm interesse no sucesso da empresa. De outro lado, tais partes também são interessantes para a empresa. Podemos entender que há uma via de duas mãos. As partes interessadas são também partes interessantes. Se tem interesse na empresa, igualmente são interessantes para a empresa, na medida em que afetam os resultados desta (NEVES, 2021, p. 38). 135 Por meio da governança corporativa e seu princípio de equidade, os stakeholders de uma instituição podem se relacionar de uma melhor forma, usufruindo dos benefícios de uma boa gestão empresarial, ao mesmo tempo que contribuem para esta melhoria no gerenciamento da organização. Neste cenário ocorrem benefícios mútuos à todas as partes interessadas, inclusive aos concorrentes de uma empresa, pois estes podem analisar o que está sendo realizado e adaptar tais ações às suas próprias realidades (conceito conhecido como benchmarking), melhorando a qualidade e a eficiência de todo o mercado. Accountability, ou prestação de contas, corresponde às responsabilidades por parte dos gestores em divulgar a quaisquer partes interessadas os motivos de seus atos e os processos de decisão adotados pelo gestor (HÚNGARO, 2020). A prestação de contas deve ocorrer de forma clara, coerente e coesa, isto é, deve explicitar as ações tomadas, porque foram tomadas e qual os seus resultados, permitindo assim uma melhor transparência nos dados e melhor comunicação entre as partes interessadas. A governança serve para integrar pessoas e setores, tratando não só sobre suas relações, mas também sobre seus direito e responsabilidades, suas funções e tudo o que dizer respeito à forma com que uma empresa é administrada. Seu foco está em garantir melhores práticas de gestão e garantir meios de alcance aos objetivos propostos pela organização. NOTA Por fim, a responsabilidade corporativa corresponde ao conceito de compliance, abordado anteriormente. Além de serem transparentes, igualitárias e realizarem a prestação de contas, as empresas devem obviamente seguir as leis impostas em seu mercado de atuação. Podemos definir o conceito de compliance como o respeito às leis, evitandoa corrupção, riscos relativos à imagem de uma empresa, bem como os riscos legais subsequentes (BITTENCOURT, 2020). As práticas de governanças corporativa são extremamente úteis à auditoria contábil, pois permitem não só que os procedimentos de auditoria sejam melhor aplicados devido ao fato de diminuir os riscos envolvidos, mas também pelo fato de permitir uma melhor gestão à empresa, que, por sua vez, tende a diminuir seus erros, a chance de ocorrência de fraude ou quaisquer outros problemas possíveis. 136 4 AUDITORIA BASEADA EM RISCOS (ABR) Uma vez abordados os riscos existentes nos processos de auditoria, podemos evoluir o conhecimento acerca dos riscos mediante o estudo da auditoria baseada em riscos (ABR), metodologia que auxilia no entendimento dos riscos existentes e cria medidas para tratar estes riscos, de forma a não prejudicar nos procedimentos de auditoria. A ABR é um complemento (considerada também uma evolução) às práticas de auditoria interna, uma vez que trata sobre os seus controles internos e como estes funcionam na identificação de riscos nas partes mais vulneráveis de uma empresa, e, consequentemente, prevê estratégias e ferramentas para mensurar tais riscos e providenciar ações no combate aos riscos apresentados. Silva (2020b, p. 7) define a auditoria baseada em riscos como sendo “um método de auditoria interna que vem auxiliar as organizações nas tomadas de decisões por meio da avaliação dos riscos”. A autora afirma que o foco da ABR está em agir de forma preventiva aos riscos organizacionais, identificando vulnerabilidades nos controles internos da organização de forma centralizada nas áreas auditáveis mais significativas da empresa. Enquanto a auditoria “convencional” analisa o comportamento dos controladores e gestores da empresa perante os riscos apresentados, de forma a analisar os seus controles internos e seus demonstrativos contábeis, o foco da ABR está em agir preventivamente aos riscos, isto é, enquanto a abordagem tradicional identifica os riscos e verifica como os administradores agem perante aos riscos, a abordagem voltada aos riscos age diretamente em reformulações nos controles internos, de forma ativa, para que estes sejam melhorados evitando assim os impactos negativos dos riscos inerentes aos negócios da instituição. A auditoria baseada em riscos preocupa-se em identificar quais são estes riscos, realizando testes para medi-los, e, então, antecipa ações preventivas para atuar no foco deles, eliminando-os e mitigando os seus impactos (POMMERENING; BENCKE, 2011). A ABR proporciona aos gestores uma visão mais ampla, abrangente e integrada quanto a sua gestão de riscos. Para tanto, são aplicados diferentes testes na matriz de riscos da empresa, reduzindo riscos relevantes e eliminando riscos já em sua origem. A matriz de riscos em auditoria pode ser elaborada seguindo as etapas de: 1. identificação dos riscos inerentes; 2. análise dos riscos inerentes; 3. identificação dos controles internos que mitigam os riscos inerentes; 4. avaliação do desenho e da implementação dos controles internos; 5. definição da abordagem de auditoria (RIBEIRO, 2016, p. 14). 137 Evidencia-se a abordagem voltada à primeiro identificar os riscos inerentes em uma organização, na etapa de planejamento de auditoria, para que então sejam analisados tais riscos e definidos os métodos e procedimentos de auditoria mediante aos riscos identificados. Uma abordagem interessante na etapa de identificação dos riscos inerentes, segundo Santos (2019), está na divisão dos riscos mediante ao grau de maturidade da gestão de riscos em uma empresa. Avaliar estes diferentes graus permite que a empresa possa planejar melhor a sua auditoria interna. O autor continua na definição dos níveis de maturidade, dividindo-os em: 1. ingênuo: não há abordagem formal perante a gestão de riscos; 2. consciente: quando há gestão de riscos em alguns setores; 3. definido: há políticas implementadas e comunicadas e há especificações na gestão de riscos; 4. gerenciado: a abordagem da gestão de riscos está bem desenvolvida e comunicada; 5. habilitado: a gestão de riscos e controles internos está totalmente incorporada às operações; A análise quanto à matriz (plano de ação) e a mensuração dos controles internos da gestão de riscos na empresa permite que a ABR se desenvolva e seus objetivos sejam alcançados. Segundo Silva (2020b), o principal objetivo da abordagem baseada em riscos está em fornecer e garantir independência ao conselho de administração, bem como para a alta gerência, assegurando que os processos de gestão de riscos estejam operando de acordo com o que foi planejado; tais processos estejam com uma base sólida; as respostas aos riscos sejam adequadas e eficazes, reduzindo os riscos; e que existam estruturas sólidas de controles para mitigar suficientemente os riscos que a direção deseja tratar. Para implementar a ABR em uma empresa, o primeiro passo deve constar na avaliação da maturidade de seus riscos, seguida pelo planejamento de auditorias periódicas e, por fim, proceder com a realização de auditorias individuais – que são atividades de controle de riscos que oferecem garantias sobre a gestão de riscos às partes interessadas (QSP, 2007, apud POMMERRNING; BENCKE, 2011, p.8). 138 A ABR é responsável por implementar práticas de identificação e controle de riscos, que serão posteriormente executadas por funcionários da própria organização, sejam eles gestores ou não. O papel do auditor é limitado no que diz respeito a executar tais ações, uma vez que seu alcance, tempo e demais recursos são limitados a identificar riscos, problemas e inconsistências no setor contábil, seja nos controles internos ou nas demonstrações. A ABR identifica os riscos e os reporta à alta administração, que em seguida analisa e implementa as práticas sugeridas pelo auditor interno. IMPORTANTE De forma geral, a ABR traz importantes contribuições às práticas de auditoria contábil realizadas pelo método “convencional”. Com base em sua abordagem, gestores são capazes de melhorar suas práticas de controle interno, reforçando as práticas da empresa em relação à busca por riscos (identificação) e o seu combate. Nesse quesito, a auditoria interna serve como uma importante ferramenta para mitigar riscos financeiros, operacionais, de imagem, legais e riscos de compliance, melhorando significativamente a forma que a empresa é administrada. 139 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu: • Riscos são a possibilidade de que algo acontece diferentemente do que foi planejado. Gestão de riscos consiste em traçar planos e estratégias para prevenir que estes riscos ocorram e que venham a prejudicar o planejamento estabelecido. • A auditoria consiste em uma ferramenta de gestão de riscos empresariais. Por meio dela, é possível identificar diferentes tipos de risco e fornecer meios de eliminá-los. Dentre os principais riscos existentes em uma organização, que se relacionam com as práticas de auditoria contábil, temos: risco financeiros, operacionais, de compliance, sociais, tecnológicos e ambientais, além de riscos inerentes à própria auditoria. • Em riscos financeiros, temos o risco de liquidez (capacidade de pagamento no curto prazo), de endividamento (maior nível de passivos do que ativos), de crédito (risco de não recebimento), de insolvência (incapacidade de pagamento no longo prazo) e os riscos contábeis (métodos e práticas). • Empresas também podem apresentar os riscos operacionais, que direta ou indiretamente, afetam as finanças, logo, são passíveis de relacionamento com as práticas de auditoria. Por meio da auditoria, pode-se mitigar os riscos relativos às operações de uma empresa, promovendo maior qualidade em suas atividades. • Riscos de imagem também são uma possibilidade a empresas. Este risco condiz com a reputação, a qualidade associada e a forma que a empresa é vista perante seu mercado. Riscos de imagem podem incorrerem risco legais, que são referentes a aspectos jurídicos, da legislação, tais como processos judiciais e outras formas de problemas. A auditoria permite o controle e a eliminação destes dois tipos de riscos mediante a aplicação de métodos de compliance e governança corporativa. • Os procedimentos em auditoria também apresentam riscos. Podem ocorrer riscos quanto à interpretação das amostras, distorção de fatos relevantes, erros nos métodos de detecção, falhas nos métodos de controle, ocorrência de fraudes, corrupções e outras contravenções, além de riscos inerentes aos negócios da empresa auditada. • Compliance corresponde ao cumprimento de normas e leis vigentes. Governança corporativa condiz com boas práticas de gestão, visando atender todos os stakeholders e garantir o sucesso da empresa. A governança é baseada em quatro princípios: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade empresarial. 140 • A auditoria baseada em riscos (ABR) é um desdobramento e/ou evolução da auditoria interna, pois permite uma visão ampla e abrangente sobre a gestão de riscos em processos de auditoria e, por extensão, à própria instituição auditada. Suas práticas incluem a identificação e análise dos riscos, mensuração dos métodos e da maturidade dos controles internos, e posterior planejamento da auditoria baseada nos riscos presentes nas áreas auditáveis mais significativas. É uma importante abordagem/ ferramenta quanto a melhorias na gestão de riscos em uma empresa. 141 AUTOATIVIDADE 1 As operações empresariais significam a existência de inúmeros riscos. Tudo o que uma empresa realiza incorre em riscos. Riscos, entretanto, são bem diferentes do fator incerteza. Incerteza pode ser definido como qualquer coisa que possa vir a acontecer sem que se tenha previsto. O futuro com certeza é incerto. Apesar disso, riscos podem ser definidos como algo que possa a vir a acontecer, que, no entanto, pode ser previamente identificado, previsto e, portanto, prevenido. Dessa forma, uma empresa deve utilizar, dentre outros métodos, a auditoria contábil para identificar e gerenciar seus riscos, controlando suas operações em busca de seus objetivos. Acerca do conceito de gestão de riscos, analise as sentenças a seguir: I - Riscos financeiros são aqueles que dependem das práticas empresariais que são capazes de gerar fluxos de caixa, isto é, relacionadas ao aspecto do dinheiro em empresas. II - Riscos de compliance são relativos ao não cumprimento de aspectos legais, normas ou regulamentos de instituições e órgãos reguladores. III - Riscos operacionais são relativos às formas com que uma empresa opera, e não tem relação com aspectos financeiros, logo não incorrem em riscos financeiros. IV - Riscos de imagem representam impactos negativos à reputação de uma corporação, podendo incorrer em riscos financeiros ou legais quando não tratados adequadamente. Assinale a alternativa CORRETA: a) Somente a sentença III está correta. b) As sentenças II, III e IV estão corretas. c) As sentenças I, II e III estão corretas. d) As sentenças I, II e IV estão corretas. 2 Uma empresa que apresenta controles internos ineficientes poderá incorrer, inevitavelmente, em riscos financeiros. Dentre os diversos tipos de riscos financeiros, um destes merece destaque por tratar da capacidade de converter ativos em dinheiro. Em outras palavras, tal risco condiz com a situação financeira de uma empresa, em que esta não é capaz de ter fluxo de caixa suficiente para continuar operando. Por vezes, este fator é mais importante do que o lucro, no sentido de que, sem o controle deste risco, a empresa não é capaz de comprar insumos, pagar suas instalações ou seus funcionários e pode, consequentemente, ter que encerrar suas operações (quando da evolução para um risco de insolvência). Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA: 142 a) ( ) Risco de Imagem. b) ( ) Risco de Liquidez. c) ( ) Risco de Crédito. d) ( ) Risco Ambiental. 3 Dentre as mudanças na forma de administrar empresas na atualidade, das quais evidenciaram a importância da gestão de riscos em empresas, temos diferentes aspectos em relação aos níveis de riscos existentes em operações organizacionais. Aspectos financeiros, operacionais e jurídicos, por exemplo, trazem novas perspectivas sobre as formas de administrar empresas. Sendo uma importante ferramenta à gestão estratégia, a auditoria contábil tem sua responsabilidade enquanto ao auxílio na gestão destas mudanças. Atualmente, diferentes pressões e realidades forçam cada vez mais as empresas a se adaptar e enfrentar novos tipos de riscos. Os riscos tecnológicos, por exemplo, impactam diretamente na forma em como as empresas atuam em seus mercados, relacionam-se com seus stakeholders e planejam o seu futuro. Sobre este tema, relacionando-o com a auditoria contábil, analise a alternativa CORRETA: a) ( ) Riscos tecnológicos correspondem a possibilidade de perdas operacionais e de performance, ao passo que uma empresa que não se atualiza tecnologicamente pode tornar-se obsoleta. b) ( ) Riscos tecnológicos correspondem nas formas em como uma empresa é administrada, envolvendo seus stakeholders mediante as melhores práticas de gestão. c) ( ) Riscos tecnológicos correspondem à aplicação correta de métodos, práticas e ações em torno da correta aplicação de métodos contábeis e legais, fazendo cumprir as leis vigentes. d) ( ) Riscos tecnológicos são relativos as operações de uma empresa, no sentido de que suas operações devem estar corretas, eficientes e que utilizem procedimentos eficazes. 4 A auditoria contábil apresenta inúmeras formas de auxiliar na gestão estratégica de empresas. Dentre elas, temos os conceitos de governança corporativa (boas práticas de gestão) e a gestão de riscos (que prevê uma série de ações voltadas a diminuição de riscos empresariais). Ambas são necessárias, sendo ao mesmo tempo diferentes e complementares. Neste contexto, disserte sobre os fundamentos da governança corporativa e como suas práticas podem auxiliar na gestão de riscos empresariais, que, conforme visto, tem fortes ligações com as aplicações da auditoria contábil. 143 5 Gerenciar riscos é fundamental em qualquer atividade humana. Seja saindo de casa ou desenvolvendo escolhas (tomada de decisão) a nível estratégico, tudo envolve risco. Nesse sentido, em uma empresa, na qual esse conceito pode ser resumido como os esforços conjuntos de diferentes indivíduos em torno de objetivos comuns, engloba um universo de riscos que, por vezes, podem passar despercebidos por seus gestores. A abordagem baseada em riscos (ABR) funciona como uma ferramenta para identificar tais riscos e combatê-los, seja para que estes não voltem a acontecer ou mesmo que seus efeitos sejam diminuídos, quando da impossibilidade de eliminá-los. Com base nesta situação, discorra sobre a importância da ABR quanto a um tipo específico de auditoria, tratando sobre suas relações com a gestão empresarial baseada na abordagem de gestão de riscos. 144 145 TÓPICO 3 - LEGISLAÇÃO, NORMAS, REGRAS E ÓRGÃOS SUPERVISORES NOS PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL 1 INTRODUÇÃO As normas são um fator essencial para assegurar a eficiência dos planejamentos em auditoria, bem como servem para gerenciar os riscos inerentes a esta área profissional. Normas são necessárias para padronizar procedimentos e garantir a correta interpretação de pontos que podem causar confusão ou possuir subjetividade enquanto sua análise, e com isso, podem levar à ocorrência de problemas em auditoria. Órgãos como o CFC – Conselho Federal de Contabilidade –, por meio de seus regulamentos, são responsáveis por criar as leis, normas e regras a serem seguidas pelos profissionais de auditoria contábil. Além destes profissionais, todo o setor de finanças e contabilidade é beneficiado pelas disposições contidas nas normas brasileiras de contabilidade, as NBCs. Por meio destas NBCs, diversos aspectos sobre asatividades que passam, necessariamente, pela gestão de riscos em empresas, uma vez que envolvem suas finanças, operações e métodos de controle interno, são explicados, criando-se orientações sobre pontos de dúvida, ordens e deveres sobre como proceder, juntamente com disposições gerais sobre as práticas de auditoria. Com as normas e leis em auditoria podemos compreender melhor a atividade do auditor, sua conduta, as formas de prosseguir com seu trabalho, bem como aos aspectos documentais. Com base nas disposições do CFC, requisitos de outros órgãos, tais como o Banco Central do Brasil (BACEN), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), dentre outros, torna-se possível melhor organizar e controlar as atividades dos auditores internos e externos no Brasil. Se por um lado um auditor é responsável por monitorar e inspecionar as empresas, tratando-se de suas demonstrações financeiras e seus métodos de controle interno, onde incluem-se também as práticas de governança corporativa, estes profissionais também devem ser monitorados e inspecionados por instâncias superiores, garantindo assim que sua função não sofra desvios ou mesmo quaisquer contravenções possíveis. UNIDADE 2 146 Não só como fonte de ajuda, os órgãos reguladores também servem como uma forma de punir os responsáveis por quaisquer irregularidades na condução das práticas de auditoria. Dessa forma, a prática de corrupção e fraudes é combatida mediante a disposição de penalidades, punições e multas para os contraventores. Com base nas regras em programas de auditoria, fraudes e outras formas de irregularidades podem ser evitadas, uma vez que fica claro quais serão as consequências de tais atos. Magnabosco (2018) afirma que a criação de regras formais em torno da criação de uma cultura ética, onde são criadas e implantadas um conjunto de comportamentos, de crenças e de valores morais voltadas ao compliance e a práticas de governança corporativa, auxiliam significativamente no combate às irregularidades e aos riscos presentes nas práticas de auditoria. De forma geral, as normas de auditoria beneficiam todo o mercado brasileiro. Auxiliam as empresas a gerenciar melhor suas atividades, auxiliam os auditores a manter sua independência e a resolver os problemas inerentes a sua profissão, e, por fim, beneficiam o mercado em geral, seja por meio da cadeia de fornecedores em empresas, clientes, concorrentes, ou o governo, por garantir que as rotinas de auditoria contábil possam ser desempenhadas como o máximo de eficiência possível. 2 NORMAS EM AUDITORIA CONTÁBIL “As normas orientam os auditores nas realizações de seus exames e na preparação dos relatórios sobre as demonstrações contábeis” (MELO; SANTOS, 2017, p. 29). Estas normas atuam não só nas práticas que devem ser desenvolvidas, mas também sobre as formas de conduta de um auditor. A conduta de um auditor contábil deve seguir os princípios de independência, objetividade, confidencialidade, integralidade e competência em suas funções (MAGNABOSCO, 2018). Conhecer as regras de sua profissão é papel fundamental ao conceito da competência, qualidade esta que pode ser definida como a capacidade de desempenhar funções de maneira correta e desenvolver uma boa performance com base nesta competência. As normas de auditoria vêm atender este ponto. Por vezes, quando da aplicação de uma auditoria, um auditor pode enfrentar problemas em entender o negócio da empresa auditada, não conseguir identificar pontos importantes sobre a hierarquia e a departamentalização organizacional, ou mesmo apresentar dúvidas sobre como desempenhar determinados processos durante o planejamento e execução da auditoria. Por meio das NBCs, o auditor tem um norte, isto é, um ponto de referência que o permite desenvolver suas atividades com competência, entregando resultados eficientes perante seus empregadores (seja ele um auditor interno ou externo). 147 Caracterizando-se como uma atividade técnica, em que é necessária atenção aos detalhes, amplo conhecimento sobre finanças e contabilidade, conhecimentos acerca dos negócios que a empresa auditada desenvolve, técnicas de investigação e testes, a auditoria contábil necessita de meios para que esta se padronize e que possa ser desenvolvida por meios comuns e assim produza resultados satisfatórios para todas as partes envolvidas. Sem regras não é possível desenvolver um bom trabalho. Sem organização, sem gestão, sem planejamento não se faz possível gerenciar os riscos presentes nas práticas de auditoria. Para tanto, as NBCs servem como uma importante ferramenta aos trabalhos dos auditores contábeis. 2.1 PRINCIPAIS NORMAS SEGUNDO O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE Segundo afirmam Melo e Santos (2017), as normas de auditoria são estabelecidas pelos órgãos reguladores da profissão contábil, tais como o CFC, por exemplo, e determinam conceitos básicos sobre exigências sobre o próprio auditor (enquanto profissional), a execução de seus trabalhos e a opinião que deverá ser emitida por este. Assim, ainda segundo os autores, podemos dividir as normas e leis de auditoria, segundo o CFC, em: • normas relativas ao auditor; • normas relativas à execução do trabalho (rotinas); • normas relativas aos relatórios de auditoria (parecer). As normas relativas ao auditor dispõem sobre os requisitos técnicos, conhecimentos e modos de atuação no que condiz com conceitos, tais como a ética, independência etc. Um auditor contábil deve sempre exercer o zelo em suas atividades, utilizando o planejamento e a organização, além da atenção a detalhes, boas práticas interpessoais e de comunicação, além de conhecer afundo as normas contábeis e suas práticas. Por exemplo, a NBC TA 200, que trata sobre a auditoria externa, define importantes características referentes a um auditor independente, que, ao desempenhá-las, poderá obter os resultados esperados de acordo com o programa de auditoria: k) Julgamento profissional: é a aplicação do treinamento, conhecimento e experiência relevantes, dentro do contexto fornecido pelas normas de auditoria, contábeis e éticas, na tomada de decisões informadas a respeito dos cursos de ação apropriados nas circunstâncias do trabalho de auditoria. l) Ceticismo profissional é a postura que inclui uma mente questionadora e alerta para condições que possam indicar possível distorção devido a erro ou fraude e uma avaliação crítica das evidências de auditoria (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016b, p. 5-6). 148 Ambos os conceitos, a capacidade de julgamento e o ceticismo são extremamente necessários para que o auditor possa se relacionar com as partes envolvidas em uma empresa, sem que deixe que estes relacionamentos afetem sua capacidade de desenvolver seus trabalhos. Por exemplo, ao se aproximar demais de gestores, diretores ou supervisores de uma empresa, devido a necessidade de interação com estes agentes em uma empresa, pode ocorrer um desvio na capacidade de julgar os fatos, colher provas ou outros procedimentos, que podem ser prejudicados. Ainda sobre os aspectos profissionais do auditor, que é necessariamente também um contador, a NBC PG 01, de 2019 estabelece importantes normas sobre os deveres, direitos e obrigações de um contador. Dentre alguns dos diversos pontos destacados por essa NBC estão: Deveres, vedações e permissibilidades: a) exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, observando as Normas Brasileiras de Contabilidade e a legislação vigente, resguardando o interesse público, os interesses de seus clientes ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais; b) recusar sua indicação em trabalho quando reconheça não se achar capacitado para a especialização requerida; c) guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em lei ou quando solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos Federal e Regionaisde Contabilidade; [...] [...] O contador deve, em relação aos colegas, observar as seguintes normas de conduta: a) abster-se de fazer referências prejudiciais ou de qualquer modo desabonadoras; b) abster-se da aceitação de encargo profissional em substituição a colega que dele tenha desistido para preservar a dignidade ou os interesses da profissão ou da classe, desde que permaneçam as mesmas condições que ditaram o referido procedimento; c) jamais se apropriar de trabalhos, iniciativas ou de soluções encontradas por colegas, que deles não tenha participado, apresentando-os como próprios; e evitar desentendimentos com o colega que substituir ou com o seu substituto no exercício profissional. [...] (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2019, p.2). Para desenvolver de forma correta suas atividades, um auditor deve ser capaz de aplicar corretamente os procedimentos contábeis cabíveis, os métodos de investigação adequados, bem como se relacionar corretamente com seus parceiros de trabalho, colegas de profissão e demais participantes, além de zelar pelo seu aspecto técnico, apenas exercendo trabalhos aos quais este estiver qualificado a fazê-lo. Ainda, tais trabalhos devem ser claramente detalhados entre contratado e contratante, evitando desinformação, erros ou mal entendidos, além de formalizar por contrato os serviços prestados para fins de resguardar juridicamente os serviços contratados. 149 Adicionalmente, a NBC TI 01, que trata da auditoria interna, estabelece diversas normas e regras sobre como proceder nos trabalhos de auditoria. Por meio de normas sobre os papéis de trabalho, o planejamento da auditoria interna, riscos, seus procedimentos e, por fim, como proceder na elaboração dos relatórios finais, esta NBC permite melhorar o desempenho da função (dos trabalhos) do auditor, seja no planejamento, na execução ou na finalização de suas atividades. Acesse as NBCs TA 200 e TI 01 nos links a seguir, aprofundando assim seus conhecimentos acerca destas duas importantes normas de auditoria: NBC TA 200: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/ NBCTA200(R1).pdf NBC TI 01: https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/RES_986.pdf DICA Outro fator importante quando tratamos sobre as NBCs está nas siglas utilizadas. Por exemplo, NBC TAs tratam sobre a auditoria independente de informação contábil histórica, isto é, auditoria externas e as evoluções – e mudanças – destas normas. NBC TIs, por sua vez, tratam sobre a auditoria interna. Tabela 1 – Siglas das NBCs – Normas Brasileiras de Contabilidade Fonte: Adaptado de Conselho Federal de Contabilidade (2023) Normas Profissionais PG normas profissionais gerais PA normas do auditor independente PP normas do perito contábil Normas Técnicas TG normas técnicas gerais TSP normas do setor público TA normas de auditoria independente de informação contábil histórica TASP normas de auditoria de informação contábil histórica aplicável ao setor público TR normas de revisão de informação contábil histórica TO normas de asseguração de informação não histórica TSC normas de serviço correlato TI normas de auditoria interna TP normas de perícia contábil 150 Ainda segundo as classificações do CFC, as normas podem ser profissionais ou técnicas. Normas profissionais correspondem às regras do exercício profissional dos auditores contábeis. Por sua vez, normas técnicas estabelecem conceitos doutrinários, regras e procedimentos aplicados ao exercício da contabilidade. Esta divisão é importante pois organiza as regras e normas, permitindo aos auditores melhorarem as suas consultas sempre que necessitarem acessar as NBCs. 3 ÓRGÃOS REGULADORES Os órgãos reguladores são de extrema importância para a elaboração, aplicação e monitoramento enquanto ao cumprimento das regras de auditoria. Sua função é vital para que as normas sejam cumpridas de acordo com o que nelas é estabelecida. Adicionalmente, compete a estes órgãos atualizar e modificar as NBCs sempre que necessário. Os auditores contábeis devem obedecer a várias exigências desses órgãos, dos quais se destacam o CFC, já citado anteriormente, os CRCs (Conselhos Regionais de Contabilidade), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e o BACEN (Banco Central do Brasil). O papel do CFC é voltado à contabilidade em geral, em todas as suas áreas, a saber a contabilidade geral, gerencial, tributária, perícia contábil, auditoria contábil etc. O papel da CVM está orientado a normatizar, fiscalizar e punir (quando necessário) os participantes do mercado imobiliário, que envolve investimentos, tais como os presentes na bolsa de valores. Por fim, o BACEN regula e monitora o mercado financeiro, incluindo bancos e instituições financeiras. Devido à abrangência da auditoria contábil, todos estes órgãos relacionam-se com as normas contábeis pois, ao mesmo tempo que as utilizam, contribuem para sua atualização e modificação, melhorando assim o mercado de auditoria contábil. Além destes, órgãos como o IBRACON (Instituto de Auditoria Independente do Brasil) e o IIA Brasil (Instituto dos Auditores Internos do Brasil) são importantes agentes no mercado de auditoria, desempenhando todas as atividades referentes às normas de auditoria no mercado brasileiro. 151 INTRODUÇÃO À LEI SARBANES OXLEY (SOX) João Carvalho A Lei Sarbanes-Oxley (Sarbanes-Oxley Act, normalmente abreviada em SOX ou Sarbox) é uma lei dos Estados Unidos criada em 30 de julho de 2002 por iniciativa do senador Paul Sarbanes (Democrata) e do deputado Michael Oxley (Republicano). Segundo a maioria dos analistas, esta lei representa a maior reforma do mercado de capitais americano desde a introdução de sua regulamentação, logo após a crise financeira de 1929. A criação desta lei foi uma consequência das fraudes e escândalos contábeis que, na época, atingiram grandes corporações nos Estados Unidos (Enron, Arthur Andersen, WorldCom, Xerox etc.), e teve como intuito tentar evitar a fuga dos investidores causada pela insegurança e perda de confiança em relação às escriturações contábeis e aos princípios de governança nas empresas. A SOX se aplica a todas as empresas, sejam elas americanas ou estrangeiras, que tenham ações registradas na SEC (Securities and Exchange Comission, o equivalente americano da CVM brasileira). Isso inclui as empresas estrangeiras que possuem programas de ADRs (American Depositary Receipts), do nível 2 ou 3, nas bolsas de valores dos EUA. Dividida em onze títulos (capítulos), com um número variável de seções cada um, totalizando 69 seções (artigos), a SOX obriga as empresas a reestruturarem processos para aumentar os controles, a segurança e a transparência na condução dos negócios, na administração financeira, nas escriturações contábeis e na gestão e divulgação das informações. Na prática define por lei e rende obrigatórias uma série de medidas que já eram consideradas, no mundo todo, como práticas de boa governança corporativa. A SOX prevê a criação, nas empresas, de mecanismos de auditoria e segurança confiáveis, definindo regras para a criação de comitês encarregados de supervisionar suas atividades e operações, formados em boa parte por membros independentes. Isso com o intuito explícito de evitar a ocorrência de fraudes e criar meios de identificá-las quando ocorrem, reduzindo os riscos nos negócios e garantindo a transparência na gestão. LEITURA COMPLEMENTAR 152 A SOX torna os Diretores Executivos e Diretores Financeiros explicitamente responsáveis por estabelecer e monitorar a eficácia dos controles internos em relação aos relatórios financeiros e a divulgação de informações. As empresas de auditoria e os advogados contratados ganham maior independência, mas também aumenta muito o grau de responsabilidade sobre seus atos. Também aumenta muito a regulamentação sobre as modalidades de contratação de tais serviços (auditoria, legais etc.), sobre o relacionamento entre empresa e estes prestadores de serviços e sobre os limites de atuação (serviçosque podem e não podem ser prestados) e a gestão de eventuais conflitos de interesses. Para supervisionar os processos de auditoria das empresas sujeitas a SOx, foi criado o Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB, ou seja, Conselho de Auditores de Companhias Abertas) que tem a missão de estabelecer as normas de auditoria, controle de qualidade, ética e independência em relação aos processos de inspeção e a emissão dos relatórios de auditoria. São previstas inspeções às empresas de auditoria para obrigá- las a cumprir as regras estabelecidas e estar sempre em consonância com a SEC. Os auditores de empresas sujeitas a SOx deverão registrar-se no PCAOB. A SOX se refere de forma explícita aos GAAP (Generally Accepted Accounting Principles), na versão US GAAP, para a definição de quais sejam as normas e práticas contábeis a serem aplicadas. É em andamento, sob a coordenação da SEC, um processo oficial de adoção do padrão IFRS (International Financial Reporting Standards), de influência europeia e administrado pelo IASB (International Accounting Standards Board), no lugar do US GAAP, que deverá se concluir até 2016. Outra legislação relevante e explicitamente mencionada na SOx é o Securities Exchange Act de 1934. As penalidades pelo descumprimento da SOx, em relação à integridade e fidedignidade das demonstrações financeiras e a certificação de demonstrativos em desacordo com a lei, são uma multa de até USD 1.000.000 e/ou a reclusão por até 10 anos. Quando o descumprimento da lei for intencional (normalmente com finalidades fraudulentas) a multa aumenta para até USD 5.000.000 e a reclusão pode chegar a 20 anos. Os principais artigos da SOx (divididos por categoria) são os seguintes: PCAOB: Artigo 101: Cria o Public Company Accounting Oversight Board. Artigo 102: Trata da organização do PCAOB e de suas atribuições. Artigo 103: Define regras e padrões de auditoria, controle de qualidade e independência. Artigo 104: Determina que o PCAOB crie um programa permanente de inspeção nas empresas de auditoria registradas na SEC. Artigo 109: Define o financiamento e taxas de funcionamento do PCAOB. 153 Independência do auditor: Artigo 201: Define serviços que são proibidos para os auditores dentro das companhias que auditam. Artigo 202: Determina a necessidade da aprovação prévia do comitê de auditoria para qualquer outro serviço prestado pelos auditores independentes da companhia. Artigo 203: Determina a rotatividade a cada 5 anos do sócio responsável por cada cliente, em empresa de auditoria. Artigo 204: Cria regras para comunicação entre os auditores contratados e o comitê de auditoria da companhia. Responsabilidades da empresa: Artigo 301: Define as funções atribuídas e nível de independência do comitê de auditoria em relação à direção da empresa. Artigo 302: Determina a responsabilidade dos diretores das empresas, que devem assinar os relatórios certificando que as demonstrações e outras informações financeiras incluídas no relatório do período, apresentam todos os fatos materiais e que não contém nenhuma declaração falsa ou que fatos materiais tenham sido omitidos. Também devem declarar que divulgaram todas e quaisquer deficiências significativas de controles, insuficiências materiais e atos de fraude ao seu Comitê de Auditoria. Artigo 303: Proíbe a conduta imprópria de auditor por influência fraudulenta, coação ou manipulação, não importando se intencional ou por negligência. Proíbe diretores e funcionários da empresa de tomar qualquer medida para influenciar os auditores. Artigo 305: Define as responsabilidades e penalidades a cargo dos diretores da empresa. Artigo 307: Cria regras de responsabilidade para advogados obrigando-os a relatar evidências de violação importante da companhia para a qual prestam serviços, devendo reportar-se ao comitê de auditoria, se não forem ouvidos pela diretoria. Aprimoramento das divulgações financeiras: Artigo 401: Obriga a divulgação das informações trimestrais e anuais sobre todo fato material não relacionado com o balanço, patrimonial, tais como: transações, acordos, obrigações realizadas com entidades não consolidadas, contingências e outras. Também exige a divulgação de informações financeiras não relacionadas com as normas geralmente aceitas (de acordo com o GAAP). Artigo 402: Obriga a divulgação das principais transações envolvendo a diretoria e os principais acionistas da companhia. Nenhum diretor ou funcionário graduado de companhia aberta poderá receber, direta ou indiretamente, empréstimos em companhia aberta. 154 Artigo 404: Determina uma avaliação anual dos controles e procedimentos internos para a emissão de relatórios financeiros. Além disso, o auditor independente deve emitir um relatório distinto que ateste a asserção da administração sobre a eficácia dos controles internos e dos procedimentos executados para a emissão dos relatórios financeiros. Artigo 406: Define o Código de ética para os administradores, alta gerência e gerência. Artigo 409: Obriga a divulgação imediata e atual de informações adicionais relativas a mudanças importantes na situação financeiras ou nas operações da companhia. Responsabilidade por fraude corporativa ou criminal: Artigo 802: Define as penalidades criminais por alteração / destruição / falsificação de documentos a serem utilizados nas vistorias da SEC. Artigo 806: Cria os meios de proteção aos funcionários de empresas de capital aberto que denunciarem fraude na companhia em que trabalham. Artigo 807: Define as penalidades criminais por prejudicar acionistas minoritários de empresas de capital aberto com informações inverídicas. Aumento das penalidades para crimes de colarinho branco: Artigo 906: Aumenta a responsabilidade da diretoria sobre as demonstrações financeiras e define as penalidades para as infrações. Fonte: CARVALHO, J. Introdução à lei Sarbanes Oxley (SOX). Grupo Portal de Auditoria, 2017. Disponí- vel em: https://portaldeauditoria.com.br/introducao-lei-sarbanes-oxley-sox/. Acesso em: 2 fev. 2023. 155 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu: • Normas, regras e leis são imprescindíveis para o desempenho de qualquer atividade empresarial. No ramo de auditoria não seria diferente. Por meio das normas de auditoria, tanto os auditores quanto as empresas auditadas, bem como todos os demais envolvidos, podem obter maior clareza quanto às atividades de auditoria, e, consequentemente, obter melhores resultados. • As normas de auditoria estabelecem procedimentos, instruções e obrigações à figura profissional do auditor (conhecimento, deveres e direitos), aos seus trabalhos e aos relatórios de auditoria, permitindo assim organizar melhor todos os processos, do planejamento à finalização. • As principais normas de auditoria, estabelecidas por meio das NBCs (normas brasileiras de contabilidade), divulgadas pelo CFC (conselho federal de contabilidade), são a NBC TA 200 – para auditoria externa – e a NBC TI 01 – para auditoria interna. Ambas dispõem sobre os papéis e objetivos do auditor, de seus trabalhos, como estes devem ser realizados, envolvendo o planejamento, aplicação e emissão do parecer do auditor e sua posterior divulgação às partes interessadas. • O CFC divide as normas contábeis em profissionais, relativas ao exercício das atividades de auditoria, e em normas técnicas, que representam o uso de aspectos técnicos da contabilidade. • Órgãos reguladores são igualmente necessários. Estes agentes criam normas, orientam e monitoram sua aplicação, atualizam e modificam, quando necessário, e punem as empresas que não as cumprem. São importantes agentes no mercado financeiro, pois permitem que a auditoria seja desenvolvida de forma eficiente, promovendo seus benefícios. São exemplos de órgãos reguladores: a CFC, os CRCs, a CVM, o BACEN, o IBRACON e o IIA Brasil. 156 AUTOATIVIDADE 1 Os órgãos reguladores são necessários para garantir não só que as empresa que utilizam a auditoria contábil em suas atividadescumpram com as regras estabelecidas, cumprindo os regulamentos e as NBCs, mas também para atuar na revisão e atualização das normas existentes. Um destes órgãos é especialmente interessante, pois organiza e monitora o mercado financeiro, onde o dinheiro circula e, consequentemente, é um grande cenário para a atuação da auditoria contábil. Desse modo, este órgão permite identificar necessidades junto ao mercado e, em consequência, fornecer informações relevantes ao CFC, para que este atualize as NBCs de auditoria mediante as novas realidades apresentadas. Sobre este órgão regulador, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) IIA Brasil. b) ( ) IBRACON. c) ( ) CVM. d) ( ) BACEN. 2 Esta NBC é responsável por estabelecer diretrizes gerais sobre a auditoria interna. Nela, estão contidos os objetivos da auditoria interna, o planejamento das atividades, funções do auditor interno, até o processo de elaboração do parecer do auditor interno, isto é, a emissão de sua opinião mediante os fatos apresentados. Nesse sentido, esta NBC é um importante auxílio à criação e monitoramento dos controles internos nas empresas auditadas. A auditoria interna é um auxílio aos setores de controle interno em instituições, e esta NBC permite identificar as diretrizes gerais, tirando eventuais dúvidas e permitindo um melhor desempenho das funções da auditoria interna. Sobre a qual NBC o exposto se refere, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) TI 100. b) ( ) TI 01. c) ( ) TA 200. d) ( ) TA 300. 3 A NBC PG 01 trata sobre os deveres, direitos e obrigações de um contador, que é um requisito necessário para o exercício da profissão de auditor. Nesta norma contábil, está listada uma série de deveres, obrigações, responsabilidades e direitos do contador. Entre elas, destacam-se algumas atividades relativas a suas capacidades técnicas e de relacionamento junto a seus colegas de classe. Todas estas normas permitem organizar melhoras as rotinas de um contador, e, inevitavelmente, com base nesta organização, desenvolver melhor suas atividades. Sobre o exposto, analise as sentenças a seguir: 157 I - Evitar desentendimentos com colegas de classe, ou aceitar trabalhos que, de alguma forma, venham a ferir a reputação de seus colegas ou de sua profissão. II - Aplicar zelo, ética e atenção em suas atividades, a fim de desenvolvê-las da melhor maneira possível atendendo os objetivos propostos no seu trabalho. III - Aceitar trabalhos aos quais não se julgar apto, pois poderá aprender enquanto executa o trabalho oferecido, qualificando-se no processo. IV - Manter sigilo sobre as informações que possui, mantendo boas relações com as partes interessadas e evitando problemas legais e referentes ao risco de imagem. Assinale a alternativa CORRETA: a) Somente a sentença III está correta. b) As sentenças II, III e IV estão corretas. c) As sentenças I, II e III estão corretas. d) As sentenças I, II e IV estão corretas. 4 Além do CFC, outros órgãos reguladores são responsáveis por desenvolver ações que visam melhorar as práticas de auditoria contábil, seja pela direta interação com as NBCs, ou indiretamente, por monitorar diferentes áreas do mercado e zelar por boas práticas, criação de novas regras e atualização das existentes, bem como por responsabilizar e punir quaisquer irregularidades praticadas por empresas dentro de sua área de atuação. Neste cenário, disserte sobre a importância dos outros órgãos reguladores, além do CFC, quanto à melhoria dos aspectos gerais do mercado de auditoria contábil no Brasil. 5 Os órgãos reguladores e as normas brasileiras de contabilidade são responsáveis por desenvolver melhorias nas práticas de auditoria contábil, seja por melhorar as atividades do auditor, seja por garantir às empresas auditadas um processo padronizado, que segue a princípios éticos e que estes são regulamentados e fiscalizados por instâncias superiores. Dessa forma, quando falamos sobre a gestão de riscos, qual o impacto das NBCs e dos órgãos reguladores quanto a um fator que pode (ou não) auxiliar na gestão dos riscos empresariais? Como podemos relacionar este fator com as NBCs e os órgãos regulamentadores do mercado de auditoria? Justifique. 158 REFERÊNCIAS ALENCASTRO, M. S. C.; ALVES, O. F. Governança, gestão responsável e ética nos negócios. (online Plataforma Pearson). Curitiba: Editora InterSaberes, 2017. 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Curi- tiba: Contentus, 2020. 162 163 APLICAÇÃO DE AUDITORIA CONTÁBIL E ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS GERENCIAIS UNIDADE 3 — OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer os aspectos práticos da auditoria contábil, seus fundamentos e procedimentos a serem realizados em empresas • compreender os procedimentos de testes em auditoria, amostragem e seus fundamentos • aplicar técnicas de análise voltadas a identifi car irregularidades em documentos contábeis e métodos de controle interno por meio de técnicas de investigação em auditoria • conhecer e aplicar os procedimentos de papéis de trabalho para controle e acompanhamento das práticas de auditoria • compreender os relatórios de auditoria, o parecer do auditor mediante a emissão de opinião e os tipos de opinião de auditoria na conclusão de seus processos A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE AUDITORIA E SEUS FUNDAMENTOS TÓPICO 2 – CONTROLES, CHECKLISTS DE PROCESSOS E CONFERÊNCIA NOS DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS TÓPICO 3 – DOCUMENTAÇÃO, RELATÓRIOS E FINALIZAÇÃO DE PROCESSOS DE AUDITORIA CONTÁBIL Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 164 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 165 TÓPICO 1 — PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE AUDITORIA E SEUS FUNDAMENTOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A auditoria contábil é fundamentada em diferentes tipos de análises que visam assegurar que os documentos financeiros e patrimoniais, além das metodologias de controle interno sobre a elaboração destes documentos e dos próprios controles contábeis, sejam eficientes. Essas análises envolvem uma série de procedimentos técnicos que permitem organizar os tipos e as dimensões de análises a serem realizadas, possibilitando, com isso, que as análises sejam realizadas a fim de fazer cumprir com os objetivos estabelecidos no planejamento de auditoria, bem como em obedecer às NBCs que tratam sobre o tema de aplicação de auditoria e demais leis pertinentes. Por exemplo, as NBCs TI 01 (auditoria interna), NBC TA 500 (evidência de auditoria), NBC TA 505 (confirmações externas) e NBC TA 520 (procedimentos analíticos) são algumas das normas brasileiras de contabilidade que tratam sobre os aspectos práticos da auditoria contábil, seja ela interna ou externa. Entender como funcionam e como são aplicadas essas técnicas de auditoria é fundamental para aprofundar os conhecimentos nesta área profissional, além de possibilitar a eliminação de erros e assegurar que as análises realizadas estão seguindo padrões corretos e com isso garantindo bons resultados a todas as partes interessadas no processo. Desta forma, no Tema de Aprendizagem 1, conheceremos as principais técnicas de análise sobre os demonstrativos contábeis e os métodos de controle, além de tratar sobre os assuntos de amostragem em auditoria, item essencial para garantir a confiabilidade e eficácia dos testes a serem realizados. 2 PREPARATIVOS PARA A APLICAÇÃO DE UM PROGRAMA DE AUDITORIA Após a realização das etapas de planejamento de auditoria, incluindo suas análises globais e a elaboração do programa de auditoria, somadas às etapas de identificação e análises de riscos, chega o momento em que é necessário reunir as partes interessadas, comunicar os prazos, atividades e responsabilidades a todos os envolvidos, e em seguida dar início aos procedimentos práticos de auditoria contábil. 166 A reunião entre as partes envolvidas, isto é, o próprio auditor, sua equipe (quando necessário), a alta administração da empresa auditada, os responsáveis pelos setores de controle interno, financeiro, contábil, e quaisquer outros participantes do processo que se façam necessários, conhecida como reunião de abertura de auditoria, é uma etapa inicial fundamental para que possam ser iniciados as atividades de auditoria na organização. Por meio da reunião de abertura, tanto o auditor e sua equipe são apresentados aos funcionários da empresa, detalham-se os objetivos e necessidades da auditoria, são estabelecidos e explicados os canais de comunicação, as responsabilidades de cada colaborador em relação a fornecer informações sempre que for exigido, limites de atuação e objetividade do auditor etc. São inúmeros os detalhes que devem ser abordados na reunião de abertura, dessa forma, a ocorrência de retrabalhos em eventuais reuniões futuras para alinhar informações diminui, uma vez que na reunião inicial todos os pontos necessários são esclarecidos, possibilitando assim a condução eficaz dos procedimentos de auditoria. Segundo a norma NBR ISO 19011 (ABNT, 2002), que trata sobre a aplicação de auditorias de qualidade – apesar do foco diferente, uma vez que se trata de auditorias, os conceitos são igualmente aplicáveis a auditoria contábil –, a reunião de abertura em auditoria tem por objetivos: • confirmar o plano de auditoria; • fornecer um pequeno resumo de como as atividades de auditoria serão executadas; • confirmar os canais de comunicação; • possibilitar ao auditado fazer perguntas à equipe de auditoria (ABNT, 2002, p. 13). Recomenda-se a leitura na íntegra da NBR ISO 19011, que estabelece normas e procedimentos sobre diferentes aspectosna aplicação de programas de auditoria. Do planejamento, comunicação, execução, relatórios e encerramento, esta norma auxilia grandemente na execução de procedimentos técnicos de auditoria contábil. A norma citada encontra-se disponível no link a seguir: https://qualidadeonline. files.wordpress.com/2009/12/iso19011.pdf. DICA 167 Na reunião de auditoria, além desta ser uma importante ferramenta para a equipe de auditoria, a empresa auditada também tem a oportunidade de questionar eventuais dúvidas sobre o plano de auditoria, sugerir alterações ou demandar novos itens caso necessário. Além disso, a empresa pode conhecer todos os detalhes, riscos, prazos e eventuais custos envolvidos por meio da apresentação do plano de auditoria. Em auditorias internas, esta reunião tende a ser menos formal – obviamente seguindo boas práticas corporativas para a condução das atividades, apresentando a equipe, objetivos etc. – devido ao fato de que a equipe de auditoria interna já é conhecida pelos demais membros da organização auditada, considerando que a auditoria interna é executada por funcionários ligados à própria instituição e são subordinados hierarquicamente à alta administração. Diferentemente, na auditoria externa, a reunião de abertura é ainda mais necessária, uma vez que em geral, não se conhecem os auditores externos. Por meio da reunião de abertura, toda a equipe envolvida na aplicação dos procedimentos da auditoria deve ser apresentada, permitindo assim que a comunicação entre as partes seja eficiente, além de estabelecer as tarefas e obrigações de cada membro da equipe de auditoria externa. Para a empresa, isso é benéfico para organizar os trabalhos de uma melhor forma, além de garantir meios de convivência mais assertivos durante a aplicação da auditoria. Adicionalmente à reunião de abertura, os canais de comunicação também devem ser elaborados a fim de melhorar o andamento das atividades da auditoria. Por meio de bons canais de comunicação ambas as partes podem trocar informações entre si para garantir o acesso às informações necessárias, o controle sobre o cronograma de atividades, a obtenção dos objetivos propostos, bem como para relatar eventuais erros, problemas ou obstáculos durante a realização das atividades. Ainda segundo a NBR ISO 19011 (ABNT, 2002): Durante a auditoria, convém que o líder da equipe da auditoria periodicamente comunique o progresso da auditoria e qualquer preocupação ao auditado e ao cliente da auditoria, como apropriado. Convém que a evidência coletada durante a auditoria que sugira um risco imediato e significativo seja relatada sem demora ao auditado e, como apropriado, ao cliente da auditoria. Convém que qualquer consideração sobre um assunto fora do escopo da auditoria seja anotada e seja relatada ao líder da equipe da auditoria, para possível comunicação com o cliente da auditoria e auditado (ABNT, 2002, p.13). Vale ressaltar que aspectos como as NBCs, sua necessidade, bem como aspectos relativos à própria figura do auditor e suas responsabilidades, códigos de conduta etc., devem ser explicitados a todas as partes envolvidas nesta reunião inicial, evitando que quaisquer partes da empresa conduzam suas ações de forma a prejudicar a integridade do processo ou mesmo oferecer riscos à sua execução. 168 Assim como é importante a realização de uma reunião inicial, por vezes, pode ser necessária a realização de reuniões durante o processo de auditoria, seja para informar os resultados preliminares, comunicar-se com as partes mediante eventuais necessidades, ou mesmo para relatar riscos, acontecimentos urgentes/graves e ocorrência de impedimentos, problemas ou outras situações na auditoria. Do mesmo modo, na execução da auditoria contábil faz-se necessário realizar uma reunião de encerramento, onde, nesta reunião, diferentemente da reunião da abertura, são detalhados e discutidos os resultados finais da auditoria. Aqui, serão explicados os métodos que foram de fato utilizados, as etapas concluídas e demais detalhes que sirvam para fundamentar as conclusões elaboradas pelo auditor e sua equipe. Essa reunião serve para alinhar a conclusão do processo de auditoria na organização e também para que a empresa auditada exponha sua visão sobre os fatos, forneça sugestões ao auditor ou mesmo apenas que fique ciente sobre a sua situação patrimonial (e controles internos). Uma vez estabelecidos e ajustados todos os itens necessários mediante a conclusão da reunião de abertura, o auditor (seja interno ou externo) deve prosseguir com suas análises, processos e atividades conforme o plano de auditoria. 3 ANÁLISES E TESTES EM AUDITORIA CONTÁBIL Com a elaboração do plano de auditoria, são estabelecidos os métodos pelos quais o auditor procederá com a aplicação de testes e análises no decorrer da execução da auditoria. Nessa etapa, são definidos todos os procedimentos necessários, considerando a abrangência, a extensão das análises, riscos envolvidos na organização e os objetivos da própria auditoria. No plano de auditoria devem constar os procedimentos técnicos a serem executados pelo auditor na execução de seus trabalhos. Segundo Melo e Santos (2017): Os procedimentos técnicos representam um conjunto de verificações e averiguações, aplicados de forma independente por profissionais especializados, com o objetivo de com o objetivo de coletar informações necessárias para auxiliar o auditor a emitir uma opinião sobre as demonstrações contábeis [...] (MELO; SANTOS, 2017, p.170). Estes procedimentos consistem em investigações, confirmação de dados com terceiros, análise de dados, recontagem e reexecução, bem como outros meios que se fizerem necessários para que o auditor contábil possa coletar provas suficientes para que consiga fornecer uma visão clara e objetiva sobre a situação em que a empresa se encontra. 169 Mediante a aplicação de diferentes tipos de testes, o auditor poderá chegar a seu objetivo final, isto é, com base nas análises e procedimentos técnicos realizados, será capaz de emitir sua opinião (parecer de auditoria) sobre o que de fato foi encontrado nos demonstrativos contábeis e métodos de controle da empresa (SILVA, 2020). Segundo afirma Faversani (2020), os procedimentos de testes em auditoria podem ser divididos em “testes de observância e testes substantivos”. Testes de observância podem ser associados aos métodos de verificação sobre os controles internos, onde são observados os procedimentos adotados por uma organização, no intuito de assegurar que estes estejam de acordo com a lei, com normas de contabilidade e com boas práticas de gestão e governança corporativa (FAVERSANI, 2020). Testes substantivos, por sua vez, são voltados a análises de suficiência, exatidão e validade dos dados contidos nas demonstrações contábeis. Diferentemente dos testes de observação, pode-se dizer que testes substantivos têm caráter prático, a certo ponto matemático uma vez que envolvem procedimentos como contagem, reexecução e a própria análise sobre índices financeiros, comparando-os e analisando sinais de quaisquer irregularidades contidas nestes (FAVERSANI, 2020). Figura 1 – Testes de observância e testes substantivos Fonte: adaptado de Melo e Santos (2017) O conjunto de ambas as abordagens em relação à execução dos procedimentos técnicos e seus testes em auditoria é extremamente importante para obter diferentes pontos de análise sobre os objetos (o foco, item ou necessidade) de auditoria. A junção da utilização de métodos conjuntos na análise permite ampliar as capacidades de análise e interpretação das informações coletadas, permitindo que o perito seja capaz de fundamentar sua opinião e descrever claramente as conclusões obtidas no seu parecer de auditoria. Por exemplo, além de realizar inspeção em documentos, confirmações sobre a exatidão dos dados com terceiros e realizar entrevistas, utilizar análises substantivas de forma a confrontar todas as informações obtidaspor testes de observância, com análises substantivas, permite ao auditor ter maiores fontes de informação, maior número de 170 provas para que possa evitar a má interpretação perante os fatos observados, assim como identificar e evitar a ocorrência (ou continuidade) de eventuais irregularidades, que serão identificadas mediante ao uso de ambos os métodos para confrontar as informações e assegurar sua veracidade. Por vezes, erros ocorrem na elaboração de demonstrativos contábeis, considerando a evolução de um período para o outro (de um ano para outro, por exemplo). Esses erros, intencionais ou não, por vezes, podem não ser identificados apenas pelo método de observância, pois, mesmo ao elaborar corretamente os controles internos e os demonstrativos financeiros em um ano, podem ocorrer erros no fechamento de dados contábeis de um ano para outro, o que pode gerar prejuízos e impactos negativos a uma empresa. Nesse sentido, evidencia-se a utilidade de ambas as abordagens de procedimentos técnicos para assegurar a correta aplicação das análises do auditor contábil, garantindo que os resultados obtidos ao final da execução da auditoria sejam verdadeiros e confiáveis. 3.1 PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS Os procedimentos de análise a serem executados pelo auditor contábil são orientados e normatizados pela NBC TA 520 – Procedimentos Analíticos. Esta norma tem sua importância evidenciada ao descrever ações orientadas a aplicação de análises de caráter substantivos, que conforme visto anteriormente, são fundamentais para identificar eventuais disparidades (diferenças) nos documentos e procedimentos contábeis analisados. Por meio desta norma, os trabalhos de auditoria podem ser melhorados, permitindo que estes sejam mais benéficos a uma empresa, seja pela modalidade da auditoria interna, seja pela auditoria externa. Testes substantivos são procedimentos analíticos usados para constatar a razoabilidade (ou não razoabilidade) das transações, saldos contábeis, métodos aplicados para elaboração de demonstrações contábeis, controles financeiros ou quaisquer áreas sujeitas ao escopo da auditoria contábil e seus registros. Seu principal objetivo consiste em verificar a existência de distorções materiais nas demonstrações contábeis de uma organização (SILVA, 2020). Com relação aos procedimentos analíticos, segundo a NBC TA 520: Para fins das normas de auditoria, o termo procedimento analítico significa avaliações de informações contábeis por meio de análise das relações plausíveis entre dados financeiros e não financeiros. Procedimentos analíticos compreendem, também, o 171 exame necessário de flutuações ou relações identificadas que são inconsistentes com outras informações relevantes ou que diferem significativamente dos valores esperados[...] (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2009a, p. 4). Essa importante NBC estabelece ainda outros pontos importantes sobre a necessidade de aplicação de testes e análises substantivas nos demonstrativos contábeis, abordando itens como a escolha e adequação dos métodos de análise a serem utilizados, a avaliação da confiabilidade dos dados, mensuração desta confiabilidade mediante a criação de expectativas quanto aos dados observados e a identificação de valores que estejam muito diferentes dos padrões de dados esperados. O quadro a seguir ilustra os procedimentos descritos pela NBC TA 520: Quadro 1 – Procedimentos analíticos substantivos segundo a NBC TA 520 Fonte: adaptado de Conselho Federal de Contabilidade (2009a). Informações comparáveis com períodos anteriores. Resultados previstos pela entidade, tais como orçamentos, previsões, expectativas do auditor, como uma estimativa de depreciação. Informações de entidades do mesmo setor de atividade, como a comparação entre índices de vendas e contas a receber com as médias do setor ou com outras entidades de porte comparável do mesmo setor. Ainda segundo a NBC TA 520, podem ser usados diferentes métodos para executar os procedimentos de análise substantiva, partindo de métodos de comparação simples até métodos mais complexos, como técnicas de estatística avançada para melhor definição de eventuais irregularidades ou disparidades nos dados analisados, considerando os períodos de análise dos dados. Por exemplo, um teste analítico substantivo pode ser executado mediante à disponibilidade de fluxos de caixa, a análise sobre contas do balanço patrimonial, margens de lucro líquido obtidas mediante o fechamento de uma demonstração de resultados do exercício, ou quaisquer outros documentos contábeis. Considere a situação em que, mediante um cenário de retração econômica, uma empresa evoluiu seu lucro líquido de 5% para 20%, considerando que de um período para o outro, não alterou significativamente sua estrutura de custos nem tampouco teve significativos aumentos de faturamento/vendas. Logo, tal situação – apesar de exagerada para nosso exemplo – é um caso clássico de disparidades nos demonstrativos contábeis que podem ser observadas pelos métodos analíticos de confronto de informações contábeis. 172 Do mesmo modo, a elaboração dos demonstrativos financeiros é sempre baseada em anotações e registros contábeis. O confronto destes registros com os demonstrativos financeiros divulgados é fundamental para assegurar que todos os processos executados estão dentro das normas esperadas. A análise dos demonstrativos contábeis deve ser realizada não só para atender a requisitos de auditoria contábil, diretamente, mas também servem para inúmeras outras aplicações: análise dos investidores e acionistas, identificação de problemas em linhas de produção e estoques, eventuais desperdícios ou necessidades de corte de gastos, necessidade de mais ou menos funcionários etc. Aplicar técnicas analíticas substantivas é fundamental para que a empresa, direta ou indiretamente (pelas práticas de auditoria, por exemplo), possa melhorar as suas atividades de gestão e operação no seu mercado de atuação. IMPORTANTE 3.2 EVIDÊNCIAS EM AUDITORIA Por meio das análises contábeis, o auditor pode coletar evidências de inconformidades (ou não) e, consequentemente, elaborar seu parecer de auditoria, informando a todas as partes interessadas os resultados da sua aplicação. Segundo a NBC TA 500 (R1), evidências de auditoria são “as informações utilizadas pelo auditor para chegar às conclusões em que se fundamentam a sua opinião. A evidência de auditoria inclui as informações contidas nos registros contábeis que suportam as demonstrações contábeis e informações obtidas de outras fontes” (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016a, p.2). As formas pelas quais o auditor procede para conseguir coletar evidências durante a auditoria podem apresentar diferentes abordagens. Segundo Silva (2020), no decorrer do processo de obtenção de evidências o auditor poderá encontrar diversos tipos de provas, que servem para validar os registros contábeis, mediante a execução dos seguintes processos: • constatação pessoal da existência física de bens; • declaração de fontes consultadas, de forma verbal ou escrita; • repetição pelo auditor, dos cálculos que produziram situações ou resultados; • análise de documentos que comprovem a legitimidade das transações, elaboradas internamente ou por fontes externas à empresa; • correlacionamento de dados; • realização de procedimentos de controles internos; • análise de acontecimentos posteriores à data das demonstrações contábeis. 173 Segundo a NBC TA 500 (R1) (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016a), as evidências a serem coletadas podem ter origem interna ou externa, e utilizam-se tanto dos testes de observância como testes substantivos. Tais evidências devem sempre obedecer a critérios bem definidos para que sejam validadas e possam servir como provas nos processos de auditoria, e, dentre eles, destacam-se: • exatidão e integridade de informações coletadas; • precisão e detalhamento das informações; • consistência das fontes de coletaseus acionistas, investidores, bancos, o governo por motivo de arrecadação tributária e a sociedade em geral, que consome os produtos e serviços oferecidos pela empresa (CHING, 2006, p. 5). Em contrapartida, a contabilidade gerencial trata sobre os controles internos da empresa, sobre a gestão e sobre a tomada de decisão a nível interno de uma companhia (HORNGREN; SUNDEM; STRATTON, 2004, p. 4). Seu uso visa ajudar o administrador da empresa (MOURA, 2020). 6 Ambas as divisões do papel da contabilidade são necessárias para entendermos os vieses pelos quais a administração financeira de uma empresa é realizada. Toda empresa possui diferentes partes interessadas em seus processos. As partes interessadas nas operações da empresa, os chamados stakeholders, são os “indivíduos ou grupos que agem sobre a empresa e que são por ela afetados” (LACOMBE; HEILBORN, 2015, p. 25). Os stakeholders podem ainda se dividir em dois ambientes corporativos: o interno, referente ao controle organizacional, e o externo, interessado em seus resultados. A contabilidade gerencial visa adequar os processos financeiro-administrativos da empresa com o intuito de atender não só o público interno, mas também ao externo, afinal, todos os controles internos da corporação refletem em seus resultados financeiros. Nesse sentido, evidencia-se a inter-relação entre contabilidade financeira e a contabilidade gerencial. Figura 1 – Ambientes de uma organização Fonte: Adaptado de Lacombe e Heilborn (2015, p. 25) Contabilidade financeira atende o público externo em uma empresa, diretamente. Contabilidade gerencial atende diretamente seu público interno. Devido às complexidades de uma empresa, ambas as áreas compõem o uso da contabilidade em empresas, pois o público interno interage com o externo de diferentes formas e ambos necessitam de um desempenho financeiro satisfatório da empresa. Ambas as áreas são interdependentes e complementares entre si, apesar de seu foco em diferentes pontos dentro da contabilidade. IMPORTANTE 7 A contabilidade gerencial utiliza ferramentas de controle interno, somadas a práticas de governança corporativa para gerenciar as informações úteis para os processos decisórios em uma empresa. Segundo Bazzi (2015, p. 30), “a contabilidade gerencial utiliza técnicas e procedimentos contábeis que são capazes de proporcionar apoio à mensuração, decisão e geração de novas informações em empresas”. Afinal, como o processo de contabilidade gerencial funciona nas empresas? Uma das formas de aplicarmos os controles contábeis voltados ao processo de controle de decisões gerenciais está na capacidade de processar diferentes dados e transformá- los em novas informações (MOURA, 2020, p. 16). Vale explicitar aqui a diferença entre dados e informação. Dados, quando isolados, nada mais são do que fragmentos de informação. A informação corresponde a dados em conjunto que possuem significado, utilidade, aplicação definida (MEDEIROS, 2013). Por exemplo, uma informação contábil pode ser a quantidade de custos com a compra de determinada matéria-prima, bem como qual foi o resultado de vendas, em valores, do produto que utilizou essa matéria-prima. Em um primeiro momento, estes são apenas dados. No momento que estes dados são cruzados, interligados no sentido de, por exemplo, analisar qual foi o lucro desta operação, qual foi a aceitação por parte do público em relação a esse produto, qual foi o tempo médio de estoque e de venda, bem como quaisquer outras análises, os dados, outrora isolados, tornam-se uma importante informação à empresa que os possui. A informação é um processo essencial à contabilidade gerencial. Uma das formas de coletarmos informações contábeis em uma empresa está presente na figura dos documentos contábeis. Os documentos, em contabilidade, também conhecidos como demonstrações financeiras, correspondem, segundo Marion (2021, p. 28-29), “aos dados coletados pela contabilidade, que são apresentados periodicamente a todos os seus interessados de maneira organizada, resumida e ordenada”. 3.1 PRINCIPAIS DOCUMENTOS UTILIZADOS PELA CONTABILIDADE Algumas demonstrações financeiras (ou contábeis), a depender da modalidade e composição jurídica da empresa podem apresentar caráter obrigatório. O caráter de obrigatoriedade condiz com o processo de divulgação das informações ao público em geral, e não em sua realização, isto é, a realização de controle contábil. As empresas, independentemente de seu porte ou natureza jurídica, devem manter escrituração contábil completa, em documentos denominados livro diário, para controlar o seu patrimônio e gerenciar adequadamente suas operações (SANTOS et. al, 2006, p. 26). 8 Por exemplo, empresas de Sociedade Limitada, as Ltda., necessitam elaborar suas demonstrações financeiras e apresentá-las ao Fisco (governo, responsável por recolher os impostos). Por outro lado, empresas com capital dividido em ações, as S/A, devem realizar os seus controles contábeis e divulgá-los em meios de grande circulação, como jornais, sites ou outros meios (MARION, 2021, p. 29). A elaboração dos documentos contábeis por caráter obrigatório por parte do governo e órgãos reguladores é benéfica não só à empresa, pois permite com que ela controle seu patrimônio, bem como as suas mutações, mas também permite benefícios ao mercado em geral, seja por meio dos clientes, dos concorrentes, fornecedores e os funcionários da empresa. Todos esses stakeholders dependem dos resultados financeiros da empresa, cada um a seu modo. Dentre os principais documentos contábeis, destacam-se o Balanço Patrimonial (BP), a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA), a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), a Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) e, no caso de empresas com capital aberto (que possuam a comercialização de suas ações), também encontramos a Demonstração do Valor Adicionado (DVA). 3.1.1 Balanço patrimonial (BP) A estrutura do Balanço Patrimonial é dividida em três grupos principais: • Ativos: todas as disponibilidades e direitos financeiros da empresa. • Passivos: responsabilidades, dívidas e obrigações de pagamento. • Patrimônio Líquido: lucros ou prejuízos, reservas de capital, capital disponível aos sócios. Quadro 1 – Estrutura resumida de um Balanço Patrimonial Fonte: adaptado de Viceconti e Neves (2018) Balanço Patrimonial Ativo Passivo Circulante Ativo Não Circulante (Imobilizado) Passivo Não Circulante Patrimônio Líquido Total do Ativo Total do Passivo + Patrimônio Líquido 9 O enfoque do BP está em registrar de forma eficiente todo o patrimônio da empresa, bem como as suas alterações no decorrer do exercício contábil, que nada mais é do que o ano de operações da empresa. Segundo afirma Marion (2021, p. 40), “o balanço patrimonial é o mais importante relatório gerado pela contabilidade, pois através dele pode-se identificar a saúde financeira e econômica da empresa em uma data pré-determinada”. O balanço demonstra, por exemplo, quanto a empresa possui de dinheiro em caixa, em investimentos de curto ou longo prazo, quais são os valores dispostos em seus estoques, em suas máquinas, analisando também a estrutura de custos e despesas, dívidas, obrigações de pagamento de curto, médio e longo prazo, e por fim, analisa quanto de capital foi agregado ao patrimônio de seus sócios. Na contabilidade gerencial, o BP não só representa formas de controle sobre as realidades econômico-financeiras da empresa, mas possibilita também um melhor controle em relação ao seu planejamento. Ao controlar e conhecer a realidade empresarial em dado momento, cabe a empresa realizar o planejamento de ações com o objetivo de agregar valor à suas operações, melhorando seus resultados seja no sentido de aumentar ativos ou diminuir passivos. Vale ressaltar que a estrutura do BP prevê o balanço de suas contas, ou seja, o total dos ativos deve ser exatamente igual à soma de Passivos e Patrimônio Líquido. Sua estruturade informações; • confiabilidade das informações obtidas. Nesse sentido, não basta aplicar técnicas de análise para coleta de evidências, deve-se assegurar que estas sejam suficientemente corretas, verídicas, transparentes e confiáveis para compor o conjunto de provas de auditoria. Por exemplo, técnicas voltadas à indagação (entrevistas), por vezes, podem trazer informações incompletas, erradas ou mesmo que não são úteis ao processo de auditoria. Técnicas de confirmação com terceiros podem produzir resultados errôneos com informações equivocadas, e assim sucessivamente. Além da capacidade analítica do próprio auditor e sua equipe, a utilização de análises de saldos iniciais, confirmações externas e os testes de controles, além de outras, são procedimentos técnicos (práticos) vitais para assegurar que as informações coletadas são corretas e confiáveis. O uso de diferentes técnicas de análise, dessa forma, é benéfico para a eficiência e eficácia dos processos de auditoria contábil. 3.2.1 Análise de Saldos Iniciais O procedimento de análise de saldos iniciais pode ocorrer na realização da primeira auditoria, bem como pode ser executado na passagem de períodos, isto é, de um período para outro. Este método de análise consiste na análise dos saldos finais dos documentos contábeis existentes no período anterior, comparando-os com os números atuais na busca de identificar quaisquer discrepâncias nos números apresentados, que podem ser um sinal de suspeita de eventuais erros ou mesmo irregularidades propositais (MAGNABOSCO, 2018). A NBC TA 510 (R1) trata sobre a análise de saldos iniciais em auditoria. A partir do estudo e aplicação desta norma contábil, um auditor pode conhecer e executar estas análises para garantir que os demonstrativos contábeis de uma organização estejam corretos e em seguida pode atestar – mediante o confronto das informações com outros métodos de análise – que estes são verídicos e confiáveis. Segundo esta NBC: 174 Saldos iniciais são os saldos contábeis existentes no início do período. Os saldos iniciais baseiam-se nos saldos finais do período anterior e refletem os efeitos de transações e eventos de períodos anteriores e políticas contábeis aplicadas no período anterior. Os saldos iniciais incluem, também, assuntos existentes no início do período, que precisam ser divulgados, tais como contingências e compromissos (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016b, p. 2). Para garantir que os saldos finais do período anterior foram corretamente encerrados contabilmente, e que os saldos iniciais do período corrente são uma continuidade fidedigna e elaborada seguindo padrões contábeis geralmente aceitos, o auditor deve, segundo a NBC TA 510 (R1) (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016b): • analisar se os saldos finais do exercício anterior foram corretamente transferidos para os saldos iniciais do exercício vigente; • verificar se esta transferência obedece às políticas contábeis apropriadas; • caso as demonstrações contábeis do período anterior tiverem sido auditadas, revisar os papéis de trabalho do auditor independente antecessor para obter evidência sobre os saldos iniciais; • avaliar se os procedimentos de auditoria executados no período vigente fornecem evidências relevantes para o saldo inicial; • executar outros procedimentos de auditoria específicos para obter evidência com relação aos saldos iniciais (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2016b, p.2-3). Em caso de existência de quaisquer diferenças nos saldos dos períodos passados e presente, o auditor deve comunicar às partes interessadas pertinentes de forma a relatar o ocorrido, além de incluir tais informações no seu parecer de auditoria. Adicionalmente, a análise dos saldos iniciais, além de consistir em uma das diferentes fontes de análise sobre o patrimônio de uma empresa, pode ser uma ferramenta de planejamento de auditoria, nesse caso, sendo utilizada antes da elaboração do plano de auditoria e de sua execução prática. Por meio das análises dos saldos iniciais pode-se garantir que a situação das demonstrações contábeis de um período para outro estão corretas, possibilitando análises mais específicas em pontos das demonstrações do ano em vigência, prosseguindo desta forma com os procedimentos da auditoria contábil. 3.2.2 Testes de confirmação externa Outro método muito eficiente na coleta de evidências em auditoria consiste na confirmação externa, que pode ser resumida como uma espécie de investigação com partes relacionadas com a empresa auditada (terceiros), na busca de evidências que corroborem ou não com as informações apresentadas pela organização em seus demonstrativos contábeis. 175 Segundo Faversani (2020), o método de confi rmação é defi nido como: A confi rmação, com terceiros, de saldos, bens, direitos e deveres, entre outras informações da entidade. São exemplos de confi rmação externa (ou circularização): confi rmação com bancos em relação ao dinheiro em conta, investimentos e/ou empréstimos, confi rmação com clientes sobre duplicatas a receber, estoques em poder de terceiros, confi rmação com fornecedores relacionados às duplicatas a pagar, confi rmação com advogados sobre causas judiciais, entre outras (FAVERSANI, 2020, p. 73). A importância deste método de análise evidencia-se na importância do tratamento de informações pelo ponto de vista – e na afi rmação – de terceiros, garantindo maior confi abilidade nos dados coletados. Por vezes, por quaisquer motivos que sejam, intencionais ou não, a empresa auditada pode não fornecer dados de forma correta ou de maneira completa. Nesse caso, a confi rmação com terceiros permite que o auditor seja capaz de analisar de forma ampla, abrangente e efi caz as informações necessárias durante a aplicação de seus trabalhos. Assim como as empresas utilizam da confi rmação com terceiros para atividades fi nanceiras, por exemplo, na ligação para fornecedores ou clientes para obter informações sobre pedidos, pendências ou necessidades de pagamento, a confi rmação externa em auditoria é benéfi ca para garantir não só a veracidade e confi abilidade de informações, mas também para estabelecer meios efi cientes de comunicação entre a empresa e seus stakeholders. Por exemplo, ao receber uma ligação de um auditor na busca de uma confi rmação de dados, um fornecedor, cliente ou qualquer outra parte relacionada com a empresa auditada, pode passar a sentir mais confi ança na empresa devido ao fato desta estar utilizando métodos de auditoria para melhorar sua gestão contábil. Desta forma, pode-se verifi car que a confi rmação com terceiros pode inclusive servir como uma forma de mitigar riscos de imagens, riscos legais ou mesmo riscos de erros nos controles fi nanceiros de uma organização. INTERESSANTE A norma brasileira de contabilidade que trata sobre este método de testes contábeis é a NBC TA 505, que estabelece importantes procedimentos e normas a respeito das formas de realizar estas confi rmações com terceiros. Segundo esta norma (em concordância com a NBC TA 500 – Evidência de auditoria), confi rmar dados com terceiros permite a melhora na transparência dos dados e na confi abilidade destas informações: 176 • a evidência de auditoria é mais confiável quando é obtida de fontes independentes externas à entidade; • a evidência de auditoria obtida diretamente pelo auditor é mais confiável que a evidência de auditoria obtida indiretamente ou por inferência; • a evidência de auditoria é mais confiável quando está na forma de documento, seja em papel, no formato eletrônico ou outro meio (CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, 2009b, p. 4). As confirmações podem ser negativas ou positivas. Nas negativas, pede- se a terceiros contatados por meios digitais ou presenciais, se estes discordam das informações apresentadas durante a interação entre este terceiro e o auditor. Já as positivas incluem perguntas sobre a concordância ou não mediante a respostas do terceiro, que tempermite analisar detalhadamente a estrutura de seu patrimônio e a partir destas análises surgem diferentes índices financeiros, importantíssimos para diferentes funções gerenciais nos processos de gestão financeira. Evidencia-se novamente a importância da contabilidade na função de apoio à administração de empresas, pois fornece subsídio para o planejamento, organização, execução e controle de inúmeras tarefas organizacionais. 3.1.2 Demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados (DLPA) Outro documento igualmente importante nos processos de controle contábil e em processos de auditoria consiste na Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA). A DLPA é destinada a evidenciar, em determinado período, as mutações nos resultados acumulados da entidade, como novas integralizações de capital, alterações e ajustes no resultado do exercício, ajustes necessários enquanto resultados anteriores, dividendos, reavaliações ou quaisquer outras mudanças que se fizeram necessárias (SANTOS et al., 2006, p. 33). 10 Quadro 2 – Modelo resumido de uma DLPA Fonte: Viceconti e Neves (2018, p. 369) Saldo Inicial 0,00 (+) Lucro Líquido do Exercício 422.000,00 (-) Constituição das Reservas de Lucro (260.000,00) (-) Dividendos Propostos (162.000,00) (=) Saldo Final 0,00 Este documento é fundamental para o ajuste de apurações contábeis de exercícios anteriores e também no entendimento da destinação de lucros existentes. Sua composição permite aos gestores analisar e tomar decisões sobre os lucros ou prejuízos existentes naquele exercício. 3.1.3 Demonstração do resultado do exercício (DRE) Na Demonstração do Resultado do Exercício, mais conhecida como DRE, o ponto principal de análise está em apurar o lucro ou o prejuízo da empresa em determinado período, geralmente de 12 meses (o exercício, ano em questão). A definição a seguir ilustra de forma eficiente a definição prática da DRE: A Demonstração do Resultado do Exercício é um resumo ordenado das receitas e despesas da empresa em determinado período, normalmente 12 meses. É apresentada de forma dedutiva (vertical), ou seja, das receitas subtraem-se as despesas e, em seguida, indica- se o resultado (lucro ou prejuízo) (MARION, 2021, p. 86). Com base na DRE, a empresa pode identificar quais foram as receitas geradas na venda de seus produtos ou na prestação de serviços. Em seguida, analisa o custo da produção destas vendas, isto é, tudo o que foi necessário para gerar as vendas, sejam as compras de matéria-prima, uso de equipamentos etc. Após a subtração das receitas geradas, dos custos referentes à operação da empresa, subtraem-se as despesas (gastos acessórios, referentes, em geral, à operação administrativa da empresa), impostos, dividendos (se for o caso de sua distribuição), e, por fim, apura-se se a empresa apresentou lucros ou prejuízos naquele exercício analisado. 11 Quadro 3 – Modelo resumido da DRE Fonte: Santos et al. (2006, p. 67) Receitas de Vendas (-) Deduções (=) Receita Líquida (-) Custos das Vendas (=) Lucro Bruto (-) Despesas (=) Apuração do Resultado Diferentemente do Balanço Patrimonial, a DRE visa trazer uma nova perspectiva de análise quanto ao papel da contabilidade gerencial. O enfoque deste documento está em apurar se os esforços operacionais e administrativos da organização foram eficientes, no sentido de serem capazes de gerar lucro aos acionistas, controladores e donos da organização. A partir de sua análise, os gestores da empresa podem adotar medidas para aumentar as receitas da organização, por exemplo, alterando a precificação de seus produtos/serviços, ou mesmo no sentido de otimizar custos e despesas em suas operações visando aumentar a eficiência operacional. 3.1.4 Demonstração dos fluxos de caixa (DFC) A Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) analisa a contabilidade da empresa no sentido das entradas e saídas de capital (dinheiro) dos cofres da empresa. A DFC evidencia a variação do grupo disponível da empresa – contas, caixa, bancos e investimentos de curto prazo –, considerando dois exercícios sociais consecutivos (VICECONTI; NEVES, 2018, p. 399). Sua composição analisa, basicamente, as mudanças de um ano para o outro em relação às entradas de capital comparando-as com os gastos, investimentos e despesas (as saídas de capital). Podemos dividir a DFC em três categorias para melhor organizar o controle contábil: • atividades operacionais: são relacionadas às operações de compra e venda de insumos para produção de seus produtos e/ou prestação de serviços; • atividades de financiamento: referentes às formas pelas quais a empresa capta recursos para manter suas operações, podendo ser obtido junto a terceiros (bancos, financeiras) ou junto a sócios e acionistas (capital próprio). 12 • atividade de investimento: entradas e/ou saídas da compra e venda de ativos fixos, imobilizados ou no mercado de investimentos (capitais). Ao analisar cada fluxo de caixa da empresa, a contabilidade gerencial atua em identificar e em seguida propor meios de ajustar os gastos e as receitas da organização. Por exemplo, em despesas muito altas no sentido de financiamento, a empresa pode repensar a forma de captar recursos para manter suas operações. A mesmo modo, em caso de deficiências operacionais, de precificação ou mesmo na divulgação de seus produtos, estas falhas podem refletir em resultados insatisfatórios no fluxo de caixa operacional da empresa. A DFC, quando utilizada de forma integrada com o BP e a DRE, traz uma nova visão sobre o patrimônio da empresa. Com base nela, a empresa consegue identificar diretamente o resultado de suas vendas, seus custos e, a partir disso, ajustar sua administração para obter ganhos em seus resultados econômico-financeiros. Quadro 4 – Modelo resumido de Demonstração de Fluxo de Caixa Fonte: adaptado de Viceconti e Neves (2018, p. 400). 1. FC Operacional (+) Recebimento de clientes (-) Pagamento de fornecedores (-) Juros (-) Despesas Operacionais (=) Caixa Operacional 2. FC Financiamento (+) Recebimento por venda de ações ou integralização de capital (+) Recebimento por empréstimos (-) Pagamento de dividendos (-) Pagamento de empréstimos 3. FC Investimento (+) Recebimento por venda de Ativos Imobilizados (-) Pagamento por aquisição de Ativos Imobilizados 4. Resultado do Fluxo de Caixa (1+2+3) 5. Saldo disponível no início do exercício 6. Saldo disponível no final do exercício (4+5) 13 Conforme podemos perceber até aqui, por meio das demonstrações contábeis, a contabilidade permite múltiplas visões sobre o patrimônio da empresa e suas alterações no decorrer de um período. Como forma de aprofundar os estudos acerca do importante papel da contabilidade em empresas, sugerimos a leitura do artigo “A importância da contabilidade como ferramenta gerencial nos processos estratégicos e decisórios das organizações”, disponível no link a seguir: https://simtec.fatectq.edu.br/index.php/simtec/article/view/249/237. DICA 3.1.5 Outros documentos contábeis relevantes Além dos documentos citados anteriormente, outros documentos também merecem destaque. É o caso da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) e da Demonstração do Valor Adicionado (DVA). A DMPL informa quais foram as variações sofridas pelas contas integrantes do Patrimônio Líquido da empresa entre a data inicial e a data final do exercício social da companhia (VICECONTI; NEVES, 2018, p. 395). Sua aplicação auxilia aos gestores entenderem as diferenças do capital da empresa no decorrer do ano, analisando itens como o aumento ou a diminuição de capital, movimentações referentes a ações, identificando também eventuais lucros ou prejuízos obtidos de um período para o outro. A DVA é descrita segundo Viceconti e Neves (2018, p. 406) como “o documento que apresenta a diferença entre o valor da venda de bens e serviços produzidos por uma empresa e o valor de bens e serviços adquiridos a terceiros, que serviram de insumos para esta produção”.Em outras palavras, com a DVA, analisamos o ganho de capital agregado à economia do país ao analisarmos a geração de capital no processo de transformação de matérias primas em produtos finalizados. Ambos os documentos têm grande importância na contabilidade gerencial das empresas e por isso devem ser elaborados periodicamente no intuito de fornecer informação para os processos decisórios na organização. 3.2 FERRAMENTAS UTILIZADAS EM CONTABILIDADE GERENCIAL Além da utilização dos documentos contábeis por parte dos contadores, os Sistemas de Informações Gerenciais (SIG) são responsáveis por coletar as informações presentes no setor contábil e desenvolver as atividades da contabilidade gerencial. 14 Um sistema de informação pode ser definido como: Um conjunto de componentes inter-relacionados que coletam (ou recuperam), processam, armazenam e distribuem informações destinadas a apoiar a tomada de decisões, a coordenação e o controle de uma organização. Além de dar apoio à tomada de decisões, à coordenação e ao controle, esses sistemas também auxiliam os gerentes e trabalhadores a analisarem problemas, visualizar assuntos complexos e criar novos produtos (LAUDON; LAUDON, 2010, p. 12). Ora, se a contabilidade auxilia os gestores de empresas no processo de tomada de decisão baseando-se na demonstração do seu patrimônio, os sistemas de informação tornam este processo integrado, informatizado e que utiliza a tecnologia para processar informações de uma forma mais eficiente, rápida e confiável. Quando comparamos o uso de métodos tradicionais de composição e análise contábil apenas por seres humanos, ao uso de sistemas integrados de informação, como os SIGs, fica evidente o ganho de capacidade no manuseio da informação e consequentemente a melhoria nos processos de análise. O uso destes sistemas visa uma série de benefícios, estes, são inclusive comuns aos objetivos da contabilidade enquanto ferramenta gerencial. Dentre estes objetivos destacam-se: o alcance e melhorias em excelência operacional; a criação de novos produtos, serviços e modelos de negócios; proporcionar um relacionamento mais estreito com os clientes e fornecedores; proporciona melhores tomadas de decisão; aumenta as vantagens competitivas e melhora as chances de sobrevivência da organização (JOÃO, 2018, p. 5-7). Ao aplicar os Sistemas de Informação (SI) em sistemas de contabilidade gerencial, a empresa passa a ter melhores condições de controlar suas finanças, utilizando o controle contábil para melhorar itens relevantes em sua precificação, em seus processos operacionais, em sua estrutura geral de custos etc. O objetivo está em melhorar sua excelência operacional, alcançando, assim, melhores resultados financeiros e, com estes resultados, ser capaz de reinvestir em suas operações para criar condições de evolução em seus negócios. Segundo afirma Bazzi (2015, p. 47), “os SIG devem ser baseados em informações advindas da contabilidade financeira, contabilidade baseada em outras moedas (câmbio), custos e orçamentos, contabilidade por setores e/ou unidades de negócios, gestão tributária, gestão da tesouraria, análise financeira das demonstrações contábeis e a controladoria estratégica”. Em outras palavras, a composição de um SIG visa auxiliar na administração de processos fundamentais em uma empresa, e para tanto, precisa de informações advindas de diferentes aspectos contábeis. Da gestão dos tributos ao controle de 15 gastos operacionais, todas estas informações têm por objetivo passar por um sistema de informação, que realizará diferentes tarefas de acordo com as necessidades de seus usuários, fornecendo importantes informações quanto à realidade da empresa e posteriormente baseará a tomada de diferentes tipos de decisão gerencial. O uso dos Sistemas de Informações Gerenciais (SIG) em empresas deve ser considerado também sob o aspecto do uso da tecnologia como fator de geração de informação. “Em um ambiente onde cada vez mais as empresas estão utilizando a tecnologia a seu favor, utilizar sistemas integrados em rede proporciona agilidade no manuseio de informação e consequentemente pode servir como fator de geração de vantagem competitiva” (MOURA, 2020, p. 18). Com sua aplicação, diferentes setores, processos e pessoas são conectados e utilizam as mesmas informações para realizar os processos organizacionais. Dessa forma, ao mesmo tempo que a informação é utilizada, novas são criadas, armazenadas e distribuídas por toda a empresa. A contabilidade ganha eficiência e agilidade, integrando suas informações e tornando-as muito mais acessíveis de forma digital em sistemas de informação integrados. 4 AUDITORIA CONTÁBIL A contabilidade gerencial representa inúmeros benefícios ao planejamento e controle das atividades das empresas. Contudo, sem processos de controle e verificação quanto sua correta aplicação, a contabilidade gerencial pode não desempenhar funções plenamente eficientes ou mesmo apresentar inconsistências em seus processos. Nesse cenário, como forma de assegurar a correta aplicação de ações de contabilidade gerencial, temos o papel da Auditoria Contábil como mais um fator de auxílio na condução da administração de empresas. Após o entendimento das funções, necessidades e aplicações da contabilidade gerencial, retornaremos os estudos acerca da auditoria contábil. Os processos de auditoria envolvem a conferência dos documentos contábeis, bem como a conferência dos métodos aplicados para a elaboração das demonstrações financeiras apresentadas pela empresa (MELO; SANTOS, 2017). 16 A auditoria corresponde ao processo de examinar os documentos contábeis, os processos realizados para sua elaboração, aplicando todos os métodos que o auditor julgar necessário para garantir a veracidade, coerência e ética nos processos utilizados pela empresa. Ainda, o auditor deve traçar objetivos e um planejamento de acordo com as necessidades da empresa auditada, a fim de melhorar as interações entre as partes, bem com assegurar o cumprimento de prazos, etapas, conferência em setores específicos etc. IMPORTANTE Documentos como o Balanço Patrimonial, a Demonstração de Resultados do Exercício, bem como outros itens, como os documentos não contábeis da empresa, que tem relação com resultados financeiros, softwares utilizados, computadores usados para controle contábil, sistemas de informação, e demais itens que possam ser usados para o setor contábil da empresa, são fontes utilizadas para os processos de auditoria. O foco da auditoria está em garantir que os processos utilizados reflitam de forma verídica, ética e confiável, a realidade patrimonial da empresa. Essa representação correta dos dados contábeis atende não só aos interesses da própria empresa, no sentido de verificar que seus métodos de controle interno estão sendo aplicados de maneira eficiente, mas também para assegurar o cumprimento de leis, regulamentos e normas vigentes. A aplicação de auditorias regulares permite que a empresa se resguarde de eventuais penalidades, multas ou outras sanções por órgãos de regulação, bem como se proteja quanto ao risco de imagem, risco judicial e risco econômico. Neste cenário, tanto a empresa quanto seus stakeholders são beneficiados, usufruindo de métodos contábeis mais transparentes e eficientes. Outro fator a ser considerado quanto ao uso da auditoria contábil como ferramenta de gestão consiste em evitar erros, fraudes, corrupção ou quaisquer outras formas de contravenções. Definimos como fraude “um ato intencional de omissão ou manipulação de transações, documentos, registros e demonstrações contábeis, enquanto um erro é algo não intencional, realizado por falta de treinamento, desatenção ou má interpretação dos fatos” (MELO; SANTOS, 2017, p. 97). Por exemplo, por maiores que os cuidados adotados quanto à correta representação do patrimônio da empresa sejam, ainda assim esta estará sujeita a ocorrência de erros, dos mais simples aosmais complexos. 17 A auditoria contábil visa evitar a ocorrência destas fraudes e erros, por meio da verificação da eficiência e transparência dos métodos contábeis adotados. Alguns dos procedimentos para assegurar esse objetivo são (MELHEM; COSTA, 2012): • exame de registros; • exame documental; • conferência de cálculos; • entrevistas; • inspeção física; • correlação etc. Por meio destas análises o auditor, isto é, o profissional que realiza os procedimentos da auditoria pode ter meios de conferir os processos contábeis da empresa e em seguida elaborar os relatórios pertinentes ao processo de encerramento da auditoria na organização. 4.1 BREVE HISTÓRICO DA AUDITORIA CONTÁBIL Os primeiros registros da aplicação da auditoria datam, segundo alguns historiadores, de períodos há mais de 4.000 anos atrás, na Babilônia (MOURA, 2020). “Outros historiadores apontam a existência de cargos específicos responsáveis pela fiscalização das contas públicas na Roma antiga, em 200 a.C.” (SANDRONI, 1994 apud MELO; SANTOS, 2017, p. 17). O uso da auditoria contábil é consideravelmente antigo devido a sua alta relevância no controle de atividades humanas que envolvem o controle de apurações financeiras e contábeis. Mesmo que de forma “primitiva” ou não intencional, além de exercer o controle sobre as atividades realizadas por meio das anotações, de uma contabilidade inicial, o processo de conferência sobre esses métodos analisados também surgiu como uma necessidade humana em melhorar os processos aplicados nos controles contábeis. A aplicação da auditoria, por muito tempo, foi realizada de forma minuciosa, detalhada e demorada pois os lançamentos contábeis eram exaustivamente conferidos. Apesar de representar um processo necessário conforme discutido anteriormente, esta auditoria minuciosa incorria em excessivos custos nos processos de auditoria. Como forma de melhorar essa realidade, a evolução dos processos de auditoria levou a uma nova realidade onde os auditores analisam os sistemas de controle internos das organizações auditadas, buscando identificar falhas nos seus processos e emitir relatórios visando sua correção. 18 Processos de conferência de lançamentos contábeis ainda acontecem, pois são necessários, mas atualmente possuem o apoio de inúmeras tecnologias, como os sistemas de informações gerenciais (SIG). O foco está em analisar como a empresa realiza seus registros e se estes estão de acordo com as normas vigentes. Fatores como as expedições marítimas iniciadas a partir do século XV, a Revolução Industrial de 1756, bem como o desenvolvimento econômico, financeiro e tecnológico dos últimos séculos foram alguns dos fatores que originaram a realização da auditoria como a conhecemos hoje (SILVA, 2020a, p. 7). Para averiguar os processos de ganhos e gastos (o processo de prestação de contas) ocasionados pela expansão das expedições marítimas, colonialismo e, posteriormente, o capitalismo, o processo de auditoria se fez fundamental. Por um lado, atendia os investidores destas atividades, garantindo que seu capital estava sendo utilizado de forma racional e responsável, e por outro atendia as empresas que realizavam estas expedições, pois proporcionava uma forma de evidenciar a sua responsabilidade contábil e consequentemente trazia uma imagem de organização confiável, atraindo mais investidores. No Brasil, os primeiros registros da auditoria datam do período de colonização portuguesa: No Brasil, as histórias mais antigas da auditoria, vem da colonização dos portugueses, com o objetivo de exploração, mas isso requeria em organizar a economia de tal forma que a produção em grande quantidade para exportação, gerasse ganho para a metrópole, logo a necessidade de um controle rígido nas finanças e esse papel foi desempenhado por um profissional de conhecimento técnico (o auditor) (MELO; SANTOS, 2017, p. 18). O estabelecimento de empresas de auditoria no Brasil em tempos modernos data do início do século XX, no Rio de Janeiro. As empresas, bem como os métodos aplicados e as tecnologias utilizadas em seus processos continuaram a evoluir até os dias atuais. Com as mudanças econômicas e tecnológicas da virada do século XX para o XXI, a auditoria evolui e se difundiu no mercado brasileiro. Sua aplicação é regulada por órgãos como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), o Ibracon (Instituto de Auditoria Independente do Brasil), o Banco Central do Brasil (BACEN), dentre outros. Para aprofundar os conhecimentos acerca do desenvolvimento e da evolução histórica da Auditoria no Brasil, indicamos o artigo “Breve retrospectiva do desenvolvimento das atividades de Auditoria no Brasil”, disponível no link a seguir: https://www.scielo.br/j/rcf/a/LyB7pqG6d6ryLbJrpkzPR3F/?format=pdf&lang=pt. DICA 19 4.2 MODALIDADES DE AUDITORIA CONTÁBIL A aplicação de processos de auditoria na conferência de documentos e processos pode ser dividida em duas categorias principais: a Auditoria Interna e a Auditoria Externa. Essa distinção nos traz a introdução dos processos de aplicação de auditoria em empresas ao proporcionar o entendimento das diferentes necessidades quanto à aplicação dos controles e conferências propostos pela auditoria. A Auditoria Interna visa atender, como o nome sugere, o público interno de uma companhia. Segundo define Magnabosco (2018, p. 15), a “Auditoria Interna é uma atividade independente e objetiva que presta serviços de avaliação e de consultoria e tem como objetivo adicionar valor e melhorar as operações de uma organização”. Sua aplicação é realizada por funcionários da própria empresa, que fazem parte de um departamento de auditoria interna ou possuem uma função equivalente, tendo como objetivo avaliar, monitorar e assegurar a efetividade dos métodos de controle interno da empresa (MELO; SANTOS, 2017, p. 46). Por outro lado, a Auditoria Externa atende ao público externo da companhia, isto é, serve aos acionistas da empresa, aos órgãos governamentais, aos bancos, fornecedores, clientes e quaisquer públicos interessados nos resultados financeiro- contábeis da empresa (SILVA, 2020a, p. 14). As práticas da Auditoria Externa, também conhecida como Auditoria Independente, permitem a representação da situação financeira da empresa de forma verdadeira, uma vez que é realizada por profissionais externos à companhia, pessoas que não são funcionários da empresa auditada (MELO; SANTOS, 2017, p. 44). As chances de erro ou mesmo de fraudes diminuem uma vez que a atuação do auditor é independente, seus interesses estão junto a atores externos da companhia auditada, e, portanto, esse profissional tende a cumprir suas funções de forma a retratar a situação da empresa de maneira mais confiável. A definição a seguir resume concisamente a Auditoria Independente: A Auditoria Independente (Externa) constitui-se no conjunto de procedimentos técnicos, postos em execução por profissionais contadores, sendo estes auditores independentes, pessoa física ou empresa de auditoria, com vistas à emissão de um parecer, o qual deverá revelar se as demonstrações contábeis de determinada entidade são adequadas no sentido de retratar a sua real situação financeira e patrimonial, assim como se estas demonstrações foram desenvolvidas de acordo com os princípios fundamentais da contabilidade, com as legislações em vigor e com as demais normas expedidas pelos órgãos reguladores responsáveis (MAGNABOSCO, 2018, p. 79). 20 Apesar de possuir enfoques diferentes, tanto a Auditoria Interna quanto a Externa objetivam assegurar que os procedimentos contábeis realizados da empresa estejam em conformidade com as leis, normas e regulamentos vigentes. Seja um Auditor Interno ou Externo, ambos têm compromisso com a ética, transparência e no correto cumprimento de sua função. O que muda são as abordagens e as necessidades dos tipos de auditoria, sendo a Interna mais focada em processos de controle interno (contábil, fi nanceiro e econômico),e a Externa em relação aos resultados divulgados a seu público externo. ATENÇÃO As modalidades aplicadas para a realização de uma Auditoria Contábil em uma empresa dependem das suas necessidades, da periodicidade quanto à realização da auditoria, dos recursos fi nanceiros disponíveis para sua realização, dentre outros fatores importantes. Ambas são necessárias para a administração de empresas, representando aplicações fundamentais para o desenvolvimento da contabilidade gerencial em diferentes tipos de organizações. 4.3 APLICAÇÕES DA AUDITORIA CONTÁBIL Além das modalidades de auditoria, podemos organizar os estudos acerca deste tema com base na divisão dela quanto as suas fi nalidades, extensão, profundidade, periodicidade ou da natureza do trabalho realizado. Discutimos anteriormente sobre as necessidades quanto à aplicação de auditoria em empresas, contudo, cabe ressaltar os pontos principais de forma mais detalhada e organizada. Uma auditoria interna ou externa pode ser aplicada em uma empresa com os seguintes objetivos principais (MELO; SANTOS, 2017): • apurar erros e fraudes em processos contábeis ou em suas demonstrações; • atender exigências legais; • confi rmar a exatidão dos dados contábeis apresentados; • melhorar a gestão administrativa, contábil e fi nanceira da organização; • trazer mais confi ança aos procedimentos adotados pela empresa; • promover maior confi abilidade e atratividade à empresa perante seu mercado. 21 Apurar erros permite ganho de excelência operacional, isto é, a empresa repara suas falhas, corrige etapas em seu processo operacional e consequentemente economiza diferentes tipos de recursos. Ao mesmo tempo, aplicar uma auditoria permite com que a empresa possa adequar-se quanto ao cumprimento de disposições legais, normas de órgãos reguladores e também em relação a requisitos de sua composição jurídica. O processo de apuração de erros, conferência do cumprimento de aspectos legais, bem como nas demais finalidades de auditoria, pode ser realizado por método de inspeção, observação, investigação e confirmação, cálculo ou revisão analítica (SILVA, 2020a). A inspeção corresponde ao processo de exame de registros, documentos e ativos tangíveis. A observação utiliza o acompanhamento de processos ou procedimentos quanto sua execução. Os processos de investigação e confirmação usam métodos voltados a entrevistas, conversas e abordagens junto a pessoas dentro ou fora da empresa. Os cálculos servem para analisar a composição das demonstrações contábeis, registros e outros documentos. Por fim, a revisão analítica utiliza a análise de índices financeiros para identificar tendências e comportamento de dados na busca de eventuais irregularidades. De forma geral, após a realização de uma auditoria em uma empresa, a empresa enfrenta uma nova realidade, seja em ter ajustado suas operações ou mesmo em relação a ter identificado pontos-chave em sua administração que necessitam de maior atenção, e, consequentemente poderá otimizar seus resultados. Outro ponto a ser abordado está no momento em que a empresa está vivenciando. Por exemplo, uma empresa pode contratar uma auditoria externa no processo de abertura de capital (emissão de ações no mercado de capitais). Outra empresa pode contratar um processo de auditoria para melhorar seus resultados operacionais ou financeiros, e assim por diante. Dentre a diversidade de benefícios da aplicação da Auditoria em processos de contabilidade gerencial, são inúmeras as variáveis a serem consideradas quanto ao momento e a necessidade de aplicação de auditoria. Devem ser considerados também os seus custos, pois podem representar investimentos consideráveis a depender da forma em que são aplicadas. Quanto à abordagem de aplicação de auditoria relacionada à extensão dos trabalhos, podemos dividir os processos em auditoria geral, parcial ou específica ou limitada. Com relação à profundidade dos exames, temos a modalidade Integral ou por testes (amostragem de dados). Outra categoria de aplicação é quanto a sua periodicidade (ou natureza), podendo ser permanente (contínua ou periódica) ou esporádica (MELO; SANTOS, 2017, p. 44). 22 Quadro 5 – Diferentes classificações quanto à aplicação da Auditoria Contábil Fonte: adaptado de Melo e Santos (2017, p. 42-44). Finalidade Apurar erros, atender exigências legais, confirmar exatidão de dados Extensão Geral, Específica ou Limitada Profundidade Integral ou por Testes Natureza Permanente ou Esporádica A auditoria geral corresponde a uma modalidade mais completa de auditoria. Como o nome sugere, atende inúmeros objetivos, pessoas e entidades. O objetivo aqui está em averiguar detalhadamente os documentos contábeis, seus processos e documentos comprobatórios para assegurar a confiabilidade e veracidade de informações. A auditoria parcial por sua vez, utiliza apenas certos documentos contábeis, atingindo objetivos de auditoria específicos. Abrange apenas determinadas áreas operacionais e é menos abrangente. Atua no sentido de averiguar fraudes, erros ou mesmo para identificar a situação financeira da empresa. Na auditoria limitada, são analisadas as demonstrações de um trimestre, sem aplicar todos os procedimentos de auditoria, correspondendo a um processo mais simples, menos abrangente. Tratando-se da aplicação quanto à profundidade dos exames, a modalidade integral analisa todos os registros, documentos e arquivos contábeis da organização. Com relação à auditoria baseada em testes/amostragem, esta analisa apenas uma porção dos documentos, utilizando métodos estatísticos em sua realização para definir a necessidade e composição da amostra a ser utilizada. Por fim, podemos ainda dividir as aplicações de auditoria quanto sua natureza (ou periodicidade). A aplicação pode ocorrer de forma permanente, seja ela contínua, ocorrendo de forma constante, ou periódica, sazonal, em intervalos regulares de tempo. Por outro lado, pode apresentar natureza esporádica, com finalidade específica, sendo aplicada apenas quando necessário. Com isso, podemos verificar que a contabilidade é uma importante área profissional e, por meio de suas análises, demonstrativos e ações de controle sobre o patrimônio da empresa, uma organização pode melhorar a maneira em que administra seus recursos e, consequentemente, ser capaz de melhorar seus resultados. Adicionalmente, a contabilidade gerencial e a auditoria contábil adicionam importantes aspectos no desempenho da contabilidade, melhorando seu desempenho e tornando possível utilizar aspectos de controle contábil para trazer melhorias a uma organização. 23 Neste tópico, você aprendeu: • A contabilidade é responsável por demonstrar a realidade do patrimônio da empresa, bem como suas eventuais alterações em determinado período. Proporciona aos gestores diferentes informações sobre a realidade financeira da empresa e permite a estes tomarem decisões gerenciais. • Podemos dividir a contabilidade (sob contexto da auditoria contábil) em financeira e gerencial. A financeira visa atender o público externo da organização (acionistas, governo, clientes e fornecedores), enquanto a gerencial proporciona meios de controle interno atendendo a funcionários e administradores (público interno). • Dentre os principais documentos utilizados na contabilidade gerencial, com enfoque nas rotinas de auditoria, estão o Balanço Patrimonial, a Demonstração de Resultados do Exercício, a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados e a Demonstração dos Fluxos de Caixa. • Os Sistemas de Informações Gerenciais representam uma importante ferramenta na condução das atividades de contabilidade gerencial. O uso da tecnologia facilita a integração de pessoas, processos e setores e com isso os administradores podem aplicar melhores práticas na gestão contábil-financeira. • A auditoria é o processo de conferência dos demonstrativos contábeis, bem como dos processos utilizados para a composição destes documentos,