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A Real Bibliotheca e a leitura no Brasil dos oitocentos Ana Virginia Pinheiro¹ No dia 29 de novembro de 1807, uma esquadra partiu do estuário do Tejo e atravessou o Oceano Atlântico.² Parte dessa esquadra aportou na Bahia no dia 22 de janeiro e 1808, e no dia 7 de março do mesmo ano juntou-se à outra parte, no Rio de Janeiro.³ Eram 15.000 pessoas a bordo partiram com tudo que puderam carre- e chegaram para fundar a "nova sede" do Estado português. Apesar de a História registrar que com larga antecedência foram organizados os preparativos da viagem, muita gente tentou garantir, na última hora, a sua vaga, de seus familiares e de seus bens em um dos navios da frota, fato verificado na quantidade de documentos assinados por várias autoridades que, com peso de seus títulos, exigiam uma vaga para este ou aquele protegido um bom exemplo foi a vinda, com a Corte, de Joaquim Silvério dos Reis, o principal traidor da Conjuração e de toda a sua família, a partir de ordem emitida pelo próprio Príncipe Regente.⁶ Entre tesouros embarcados, estava a Real Bibliotheca, com "livros preciosos e edições como se registros nela armazenados, notáveis pela quanti- dade e pela amplitude dos assuntos que abrangiam, fossem imprescindíveis. A Real Bibliotheca, "alfaia preciosa da Coroa de era produto de um mecenato monárquico que, ao longo da história da civilização ocidental, investiu no ideal de biblioteca que reuniria "todos saberes acumulados, todos livros alguma vez escritos (...), [capaz] de acolher a memória do mundo"." A Real Bibliotheca, insta- lada no Palácio da Ajuda, em Lisboa, provavelmente, nada tinha a dever, no âmbito do exaustivo e do essencial, a outras bibliotecas européias. Até que a 1° de novem- bro de 1755, Ás 9 da e 20 minutos se sentio concusão formidavel, q derribou a maior das Igrejas, e bum grande numero de Edificios, (...) acompanhada de estrondo borrosozo q se julgou sabir do centro da Terra studos (...). Hum momento dispois se vio a em incendio universal.¹⁰Quase totalmente destruída pelo terremoto e pelo incêndio que se seguiu, a Real Bibliotheca foi reconstituída, sob condições extraordinárias, porque era a biblio- teca do rei,¹¹ a livraria de D. José I de O acervo foi recomposto como um enorme "quebra-cabeças", com peças captadas principalmente por doação e confis- evidenciando uma possível mobilização nacional e internacional pelo resgate da história cultural da nação A reconstituição da Real Bibliotheca sob a concepção de uma biblioteca ideal encontra justificativa na noção de utensilagem mental, formalizada por Lucien Febvre, em 1942. Febvre não definiu utensilagem mental, mas caracterizou-a como produto da associação de "suportes lingüísticos, conceituais e afetivos, que dirige as maneiras de pensar e de sentir que delineiam configurações intelectuais Antecipando essa caracterização, Paul Otlet definiu, em 1939, instrumentos forjados pelo homem, para tratar as coisas intelectualmente: a lógica, a classificação, a língua, livro e a ciência, coordenada e escrita esclarecendo que existe um sistema e uma teoria para cada um desses instrumentos¹⁶ (grifo nosso). Febvre e Otlet deixaram claro que a utensilagem mental ou instrumentos para tratar as coisas intelectualmente só têm sentido através da análise de suas repre- sentações, dos ou dos instrumentos disponíveis e partilhados em determi- nada época. No caso da Real Bibliotheca, esses utensílios ou instrumentos encontram representação nos livros que a compunham em cada um deles. A Real Bibliotheca era a biblioteca do rei e, por isso, planejada como uma bi- blioteca de livros essenciais. Uma biblioteca de livros "essenciais", na visão setecentista, era aquela que exteriorizava a cultura letrada ou erudita, oferecendo uma "leitura" como a de um livro só, posto que se pretendia um conjunto coeso, unívoco, que encerrasse uma "verdade" e uma Essa "verdade" e essa "intenção", cujo estatuto era o do "ideal" e que em prin- cípio não testemunhariam uma realidade, foram a base da construção objetiva da bi- blioteca. No entanto, a dessa construção conseqüência do incêndio que destruiu a biblioteca de D. José, e que desencadeou a afluência de livros à altura da biblioteca de um rei promoveu não a reconstrução de uma biblioteca de livros "essenciais", com uma "verdade" e uma "intenção", mas a releitura da biblioteca do rei, de livros "essenciais, com múltiplas verdades e intenções" o livro, na nova bi- blioteca não era um objeto cultural, era uma objetivação, um produto de múltiplas relações, que não retratava uma categoria universal, mas configurava a expressão dos saberes, descontínuos e ilimitados, irregulares, incontrolados, infinitos. A circunstân- cia do terremoto e do incêndio e os acontecimentos subseqüentes, como a reconstru- ção da Bibliotheca, levam à ratificação do pensamento de Braudel de que "as gran- des catástrofes não são forçosamente as produtoras, mas são seguramente as anunciadoras infalíveis das revoluções reais, e constituem sempre uma intimação a ter que pensar, ou melhor, repensar o 100D. José era um rei-leitor, como demonstra Inventário dos livros, reservados em seu gabinete, escrito por Feliciano Marques Perdigão, "Guarda da Biblioteca Real do Paço de suas Magestades Fidelissimas", em 9 de maio de inventário é um manuscrito inacabado, com as marcas da livraria do Infantado. A nova biblioteca do rei não era uma biblioteca estruturada conforme padrões da época era uma explosão de diversidade, digna de um reino europeu, ideal e perfeita, delineada conforme as escolhas de bibliófilos, reis e humanistas que cederam, generosa- mente, livros e mais livros. Seu conjunto, de caráter enciclopédico, doutrinário, retratava o ecletismo erudito da sociedade culta setecentista que escapou à censura e ao controle, naquele momento, inviabilizados pelas contingências de um terremoto e pelas urgências do Erário Régio,²⁰ e teve, evidentemente, forte impacto na formação do projeto de nação brasileira. acervo bibliográfico e documental, captado ao longo de 52 anos, embarcado no 22 e em outras partes da frota, em fins do século XVIII, não foi sequer apre- ciado. Mesmo depois da vinda da Corte, a livraria continuava a mas nem tudo que se pretendeu se chegou a trazer. Quando foi instalada no antigo hospital da Ordem Terceira do Carmo, no Rio de Janeiro, por decreto de 29 de outubro 1810, "depois de ter ficado encaixotada, em diversos lugares, por mais de dois a Real Bibliotheca con- tava em cerca de 50.000 volumes, "impressos em todas as línguas, antigas e modernas (...)".25 Em 1814, a Bibliotheca tinha mais de 60.000 Vale relatar que, em 1820, dez anos após a fundação da Bibliotheca, a cidade do Rio de Janeiro possuía "10.063 casas com 151.745 Na história da Bibliotheca, pouco significativos são os registros sobre os mo- dos da sua reconstituição, colecionadores originais, o dos documentos in- corporados, saberes armazenados, que, na medida em que são revelados, desve- lam tesouros consagrados da Bibliografia e da Bibliofilia mundiais. acervo deixa antever, apenas, 3 marcas incontestes, como identificadoras das peças da Real: 2 carimbos com as armas de Portugal e a inscrição "DA REAL BIBLIOTHECA" um com a de rei (Figura 1), outro com a de infante (Figura 2); e ex da Casa do Infantado, isto é, a inscrição "Infantado", manuscrita a tinta. DA Figura 1 Figura 2 Carimbo da Real Bibliotheca Carimbo da Real Bibliotheca. Casa do Infantado 101Muitos são itens em exemplares únicos,³⁰ preciosos³¹ e ostensivamente proi- com a imposição das marcas do Infantado, e não com a do Rei como se a biblioteca dos infantes fosse um espaço seguro para a guarda de cimélios. A como uma metabiblioteca, era a soma de muitas bibliotecas, ex- pressas em muitas línguas, em papel, couro, pergaminho; em manuscritos e impres- sos, em documentos autógrafos, cartográficos, iconográficos, bibliográficos, documentários, originais, cópias, contrafações. As coleções incorporadas à Real³³ até a vinda da Corte, entre 1755 e 1807, e muitas depois disso, estão identificadas por carimbos mais variados e por outras marcas de propriedade, como ex super libris³⁵ e ex dono, tais como livros de: 1 Diogo Barbosa Machado, abade de santo Adrião de Sever, "que generosa- mente ofertara a D. José (...), [sua livraria] com 4.301 obras em 5.764 volumes" alguns de seus livros trazem as armas de Pombal; consta que o próprio marquês teria oferecido ao abade alguns livros, que poderiam ser mesmos posteriormente incor- porados à Real, entre 1770 e a Biblioteca Nacional possui um catálogo da 2 Felipe V, rei da Espanha, 1683-1746; 3 Louis César de La Baume Le Blanc, Duque de La Vallière (1708-1780), "consi- derado na história da Bibliofilia como um dos maiores bibliófilos que a França já teve (...). Sua biblioteca, de aproximadamente 500.000 livros, foi vendida em partes, a partir de 3 dos colégios da Companhia de Jesus de Coimbra, Lisboa, da Ilha de São Miguel, nos Açores, e de Paris; 4 Frei José Mariano da Conceição Veloso, Superior do Convento de Santo An- tônio, no Largo da Carioca, botânico e autor da monumental Flora Fluminensis. To- dos manuscritos e impressos de sua biblioteca foram doados ao Príncipe Regente, em 1811; 5 Manuel Ignacio da Silva Alvarenga, poeta, advogado, professor régio de Re- tórica, e participante ativo na chamada "Inconfidência do Rio de Janeiro". Todos seus livros, em 1.576 volumes, foram comprados ao mercador de livros Manoel Joa- quim da Silva Porto, em 1815,40 e encontram-se distribuídos nos acervos de Manuscri- tos e Obras Raras, da Biblioteca Nacional; 6 José Bonifácio 5.000 volumes de sua coleção foram somados à Bibliotheca, em 1838. acervo da Bibliotheca era um tesouro reconhecido pelo Conselheiro de Estado D. Rodrigo de Sousa Coutinho, o Conde de Linhares, em parecer onde reco- mendou a vinda da Família Real para o Brasil, na iminência da invasão francesa. Conde de Linhares manifestou, então, grande preocupação com o acervo documentário português, referindo-se aos arquivos e "demais objectos preciosos que se não devem deixar á discripção do Ao que parece, livros estariam incluídos nessa 102prerrogativa, porque a recomendação de Linhares foi seguida à risca, não só pelo rei como por todos aqueles que o acompanharam várias bibliotecas particulares atra- vessaram o Atlântico, nos idos de 1807. Um caso bastante relevante foi a transferência da Biblioteca do Conde da Bar- ca, incorporada à Real em 1819 ou conforme descrição de um funcionário da Secretaria de Estado: Eu passei quasi toda a primeira metade deste ultimo anno em Caza do Sr. Araujo, que me mandou chamar na vespera do dia de Natal de 1806, e me confiou arranjo multidão de Livros, Mappas, Estampas, e outros papeis (...). Na noite entre 25 e 26 de Novembro [de 1807], bum Correio tirar-me da com Ordem de mandar ecachotar com toda pressa, tudo quanto da secretaria de estado estava debaixo da direcção, e manda-lo a Bordo, da Medusa (...). Appreisei-me naturalmente para com toda efficacia executar bum mando tão energico. E dia 27 a tarde forão 37 grandes Caixotes a Bordo. A chuva copiosa neste dia, e o tempo procelloso impedio de ir tambem Tresor e a Caixa do Segredo da Caza. Mas estes forão dia seguinte (...). Chegando isto a Náo, não querião aceitar mais coisa alguma As dúvidas que ficaram sobre a integridade da Bibliotheca estimulam a noção de memória comum, brasileira e portuguesa, sedimentada por livros e documentos que foram trazidos ou não, que ficaram no Brasil ou que foram levados de volta, formalmente, através da Convenção Adicional ao Tratado de Paz e Amizade, firmada em 29 de agosto de 1825, pela qual se indenizava a Família Real portuguesa por todas as suas propriedades no Brasil Estado Brasileiro adquiriu a biblioteca do rei e a dos infantes, e outros bens, pelo exorbitante valor total de 2 milhões de libras Nessa época, a Bibliotheca já não incluía o chamado Arquivo Joanino os documentos, reunidos para subsidiar a tomada de decisão pelo Rei e seus Minis- tros, foram levados de volta para Portugal; o conjunto incluía, provavelmente, o origi- nal da Carta de a Carta a ElRey sobre descobrimento do Brazil, que hoje está no Real da Torre do Tombo e que, até então, estava arrolada como parte do Archivo Militar, criado em 7 de abril de 1808, no Rio de Janeiro, pelo Prín- cipe Regente, para que todos seus ministros de Estado pudessem ali mandar bus- car ou copiar os planos de que necessitassem para o Real o Archivo Mili- tar funcionava nas dependências da Academia dos e podia ser con- sultado, também, pelos alunos. Desde a Independência, como que a dar continuidade a uma tradição portu- guesa, livros e mais livros, coleções integrais ou parciais, bibliotecas inteiras foram incorporadas à recém-nomeada Bibliotheca Nacional e Publica da Corte. contínuo desenvolvimento da Bibliotheca, como um tesouro partilhado pelo Estado com a Na- 103ção, pode ser bem entendido pelas palavras de D. Manuel II, rei bibliógrafo de Portugal, que no início do século XX proclamava que "todos OS livros têm um inte- resse histórico, pois são folhas do grande livro da E como partes da Histó- ria, muitos livros da Bibliotheca foram distribuídos, para subsidiar a formação de no- vas instituições, e se dispersaram; hoje, compõem coleções preciosas, as mais surpre- endentes, como a da Biblioteca Central da Universidade do Rio de Janeiro, a bibliote- ca do Museu Histórico Nacional, do Museu Nacional, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do Palácio do Itamaraty, da Marinha. Enquanto o Brasil do Primeiro Império era marcado pelas tendências lusófilas de D. Pedro I e pelas preocupações políticas decorrentes, que levaram à Abdicação, em 1831, a Bibliotheca acumulava silenciosamente documentos que sintetizavam a busca pela unidade nacional guardava e ainda guarda uma descrição confiável dessa épo- ca, por exemplo, na coleção da Aurora folha que circulou entre 1827 e 1839; sendo redigida, a partir de 1828, pelo alfarrabista e jornalista Evaristo da Veiga, que lhe deu enorme circulação em 1831, tornando-a "a primeira de todo país", estabelecendo um padrão de estilo [para] jornalistas que depois dele No Brasil da Regência Trina Permanente, de 1831 a 1835, agitado por conflitos constantes, foram tomadas rigorosas providências para assegurar a ordem pública. Uma delas foi a exigência de registro quotidiano de leitores e de livros lidos na Bibliotheca, por determinação da Secretaria de Estado dos Negócios do Império, de 9 de outubro de 183351 esse procedimento, típico de períodos de repressão, retomado nos anos seguintes a 1964, documentou, sob ponto de vista mais relevante, o perfil da leitura no Brasil de 1833 a 1856.52 Nessa época, o leitor da Bibliotheca era bem diferente daquele que, em 1814, pedia autorização ao Príncipe para consultar os livros de sua Real Bibliotheca, "franqueada ao registro da leitura não inibia, ao que parece, interesse por este ou aquele texto. É possível encontrar, por exemplo, o registro da leitura das Obras de Lord Byron, entre abril e julho de 1850, pelo estudante Manuel Antônio de Almeida (1831- 1861), 2 anos antes da publicação, em folhetins, das Memórias de um sargento de milícias (1852-1853); de um Dicionario de Therapeutica, em 6 de fevereiro de 1855, pelo médico e um dos maiores botânicos brasileiros, cuja obra está no acervo da Biblioteca Nacional, Freire Alemão (1797-1874); da História da revolução de Minas, do cônego José Antônio Marinho, em 5 de fevereiro de 1855, pelo escritor, poeta, tradutor e político Quintino Bocaiúva (1836-1921); da coleção A Marmota, jornal hu- morístico brasileiro, publicado de 1845 a 1859, e lido em 10 de abril e 13 de agosto de 1855, por um menino de 16 anos, chamado Joaquim Maria Machado de Assis, 1839-1908 (Figura 3); e do Diccionario da Lingua Brasilica e da Flora Fluminense, em 26 de agosto de 1856, por um certo "J. d'Alencar", 1829-1877 (Figura 4), um ano antes de sair do prelo a primeira edição de um romance que virou clássico, intitulado guarani. 104Brasil de D. Pedro II também tinha um imperador-leitor um catálogo dos livros reservados em seu aposento, de 1884, lista, por exemplo as Fábulas de La Fontaine, em francês e em tradução do padre e poeta português Filinto Elísio (1734-1819); as Obras completas do filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903); famoso ensaio de descrição física do mundo, Cosmos, de Humboldt; e Memorial de Ste. obra em 8 volumes, publicada pelo conde Las Cases, relatando suas conversas com Napoleão, de 1815 a 1816. D. Pedro II, assim como a Impe- ratriz D. Thereza Cristina Maria, tinha biblioteca particular, onde, sob a administra- ção de bibliotecários, eram controlados livros que ele mesmo lia; constam do acervo da Biblioteca Nacional livros de registro das "sahidas dos livros para os aposentos de S. M. o Imperador"." Sua biblioteca, incorporando a biblioteca da imperatriz e muitos papéis avulsos, foi dividida por recomendação do próprio Im- perador, antes de partir para o exílio em 1889, entre a Biblioteca Nacional e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a condição de que, nesses lugares, recebesse os nomes de "Coleção Thereza Cristina Maria" e "Coleção Princesa Leopoldina", respectivamente. A biblioteca do Imperador, objeto de seus cuidados antes de partir para o exílio, foi digna de uma recomendação do próprio Manuel Deodoro da Fonseca, chefe do Governo Provisório e primeiro Presidente constitu- cional do Brasil, ao Ministro da Justiça, para que zelasse "pelos bens do Impera- dor, em especial, a Biblioteca".56 Como os livros do Imperador, outras centenas de livros, jornais, gravuras foram incorporados à Bibliotheca boa parte, um dia, foi de posse privada, com registros de modos de ler, de um ou de sucessivos leitores. Nesse contexto, as bibliotecas vêm sendo estudadas como referenciais da di- mensão intelectual de seus como se a propriedade fosse uma garantia de leitura no entanto, há grande distância entre a "biblioteca imaginária"," a biblio- teca construída a partir de intenções de leitura⁵⁹ e a "biblioteca lida"; esta, sim, forma- dora de idéias e ideais. Se um livro é uma entidade, com corpo e alma, feito à imagem do corpo hu- que ganha sentido quando essas duas partes, conjugadas, estabelecem uma relação intelectual e esotérica com o leitor, sua existência exclusivamente material não pode constituir metáfora de conhecimento assimilado. Embora a presença de um livro possa ser "sentida" pelo "leitor potencial", o livro é um fenômeno que se tor- na um fator de mudança, apenas, quando passa a ser um fato de cultura isto é, lido. Quando Gabriel Naudé, no século XVII, dessacralizou e classificou a biblioteca, provocando uma verdadeira ruptura com a concepção humanística do livro, rejeitan- do, em parte, a abordagem refutando a privatização de seu conteúdo, ele permitiu uma visão global da como se fosse um livro só; como se cada prateleira, "lida" da esquerda para a direita e de cima para baixo, fosse uma linha escrita e cada face de estante, a mancha de texto de uma página para 105Naudé, as estantes da biblioteca eram as páginas de um livro, e como livro que era, a biblioteca precisava ser lida, do início ao fim, e deveria ser "um lugar de descober- tas e um instrumento de Essa biblioteca, porém, não tinha fim, posto que era Esta visão revolucionária da biblioteca, que marca a transição para as modernas práticas biblioteconômicas, vigorava, evidentemente, na reconstrução da Real Bibliotheca, um século depois o saber e poder, na Bibliotheca, se organiza- vam sob a aparente dispersão e heterogeneidade de uma biblioteca universal. Hoje, a Biblioteca Nacional, graças à lei do depósito legal, é o "abrigo mandatório da experiência editorial brasileira";65 teoricamente, tudo que se imprime no Brasil está em suas estantes. Em contrapartida ao cumprimento da lei, a Biblioteca Nacional deve publicar a Bibliografia Brasileira periódico que documenta acervo captado. Boa parte desse acervo já pode ser consultado via Com uma energia arrebatadora, a Real Bibliotheca, Bibliotheca Nacional e Pú- blica da Corte e, finalmente, Biblioteca Nacional, mantém-se, subvertendo processo natural de degradação dos suportes que registram as informações que guarda. esta- do da documentação reflete nível de "silêncio da biblioteca" são muitas as cole- ções por catalogar, muitos livros por restaurar. Mas bibliotecas "não são torres de marfim de vozes abafadas (...), constituem ancoradouros essenciais na viagem para maior Se o uso contínuo de um livro é um fator de degradação, não-uso é a decretação de sua morte. Essa "morte" do livro, ignorada, apesar de estar em franco andamento, desde a "explosão iniciada com advento da tipografia e implementada no final do século XVIII, é mais grave que a discutida substituição do livro tradicional pelo livro em suporte eletrônico trata-se da morte intelectual e não material do livro como um coma imposto a saberes que, porque não foram catalogados, não se sabe que existem. Se "os livros são a medicina da alma, para que serviriam tais farmacopéias intelectuais se remédios que contêm não estão dispostos com ordem [e disponíveis para consulta]?".69 Se, na biblioteca me- dieval, livros eram tão valiosos que ficavam acorrentados às estantes; se a impren- sa tipográfica libertou livros de suas cadeias, multiplicando-os, retirando-os das estantes fechadas para alinhá-los, lado a lado, pelas lombadas; na biblioteca de hoje os livros "esperam" pelo leitor, prontos para uma relação "libertinamente "Nós celebramos as bibliotecas porque honramos a A Biblioteca Nacional brasileira e a Biblioteca Nacional portuguesa partilham documentos que se complementam, em um processo metafórico de gênese mútua, que conta a mesma história de uma biblioteca real fato inédito na História da cultu- ocidental, que sublinha um caráter pouco considerado na história das relações e identidade entre Brasil e Portugal: os livros, que expõem e dispõem pensamento histórico, político, social e cultural de gerações passadas para gerações de leitores do presente e do futuro. 106Figura 3 Registro de consulta de Joaquim Machado d'Assis, 13 ago. 1855. Figura 4 Registro de consulta de J. d'Alencar, 26 ago. 1856. NOTAS 1 Bibliotecária da Fundação Biblioteca Nacional (Brasil); Professora da Escola de Biblioteconomia da Uni- versidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO). 2 HALLEWELL, Laurence. livro Brasil (sua São Paulo: T.A. Queiróz: Ed. USP, 1985. xxxix + 693 p. p. 31. 3 MANCHESTER, Alan K. A transferência da Côrte Portuguêsa para o Rio de Janeiro. In: KEITH, Henry H., EDWARDS, S. F. (org.). Conflito continuidade na sociedade brasileira. Trad. de José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. 351 194-195. 107KITZINGER, Alexandre Max. Resenha história da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, desde sua fundação até a abdicação de d. Pedro I. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janei- 76, pt. 1, 145-271, 1913 (1915). 230. 5 PINHEIRO, Julio Cesar, PINHEIRO, Ana Virginia. Joaquim Silvério dos Reis: aspectos contábeis de uma traição. Revista Brasileira de Contabilidade, Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 28, n. 116, 60-70, mar./abr. 1999. p. 64-65. 6 SOUTO MAIOR, Manoel da Cunha. Atestado de Manoel da Souto Almirante da Real Armada e Comandante da Esquadra que trouxe Príncipe Regente para o Brasil, de que recebeu Joaquim Silvério dos Reis e sua família, a bordo de um dos navios da esquadra, por ordem de Sua Alteza Real. Rio de Janei- Γo, Bordo da Nau Príncipe Real, 9 mar. 1808. 2 p. mss. Cópia autenticada pelo tabelião Joaquim Carlos da Rocha Pita, em 4 jan. 1809. (BNBrasil II-30, em C.1082,19, doc. 3). 7 DOMINGOS, Manuela D. Olhares de viajantes estrangeiros sobre a Real Biblioteca Pública da Corte (1796- 1822). Cadernos de Biblioteconomia. Arquivística Documentação. Lisboa: Associação Portuguesa de Biblio- tecários, Arquivistas e Documentalistas, n. 2, 105-113, 1994. p. 111. 8 ESTATUTOS da Real Bibliotheca: mandados ordenar por Sua Magestade. Rio de Janeiro: na Regia Typographia, 1821. [8] f. f. 1, § (impresso, com 32 parágrafos BNBrasil/DiMss 49, 7, 8). Disponível na Internet: http://www.unicamp. br/iel/memoria/Acervo/estatuto1821.htm. 9 CHARTIER, Roger. A bistória cultural entre práticas e representações. Trad. de Maria Manuela Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; Lisboa: Difel, 1990. 244 96. 10 RELASÃO historica do Terremoto sucedido em Lxa. no primero. de Novembro de 1755, com huma Relasão das perdas de Homens, Igrejas, Palacios, Cazas, Diamantes, Moveis, Mercadorias etc. Pre- cedida de hum discurso politico, sobre as vantagens q Portugal podia tirar da sua mesma infelicidade, na qual o Autor descobre os meios q os Inglezes tinhão the a este tempo praticado, arruinar esta Monarchia. Haya: Casa de Philanthrope, 1755?. 207 p. mss 181, 200 (BNBrasil/DiMss I-11, 1, 4) 11 A biblioteca do rei é "perfeita e completa em tudo", "digna de ser imitada" "a totalidade de seus títulos define uma biblioteca ideal, livre das objeções impostas por qualquer coleção particular, ultrapassando os limites inerentes às recolhas e às compilações". In: CHARTIER, Roger. A ordem dos livros. Trad. Leonor Graça. Lisboa: Vega, Passagens, 1997. 160, [1] 12 BIBLIOTECA Nacional. In: GRANDE Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro: Delta [c1973]. 15 V.V. 2, p. 892. 13 CUNHA, Lygia da Fonseca Fernandes. o acervo da Biblioteca Nacional. In: BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Brasil, 1900-1910. Rio de Janeiro, 1980. p. 143-182. 14 "Portugal está hoje no cazo d'un Povo nascente (...). Todos os Estados estão obrigados a suprir a neces- sidade de Portugal". In: POMBAL, Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de. Discurso político sobre as vantagens, que o reino de Portugal pôde alcançar da sua desgraça por occasião do memoravel Terramoto do primeiro de Novembro de 1755. "Cópia fiel do seu original Authographo, que existia no cartorio do preclarissimo Desembargador P. no anno de 1783". Mandada tresladar por Manoel José Antunes. [S.1.], 1840. 195, [4] mss. (FBNBrasil/DiMss I-12,1,14). 15 CHARTIER, A bistória...., op. cit, p. 36, nota 8. 16 OTLET, Paul. Traité de documentation le livre sur le livre théorie et pratique. Bruxelles: Mundaneum, 1939. 431, 11, viii 36. 17 NAUDÉ, Gabriel. Advis pour dresser une bibliothèque. Paris: chez François Targa, 1627. 166 [1] (BNBrasil/ DiOra 2A,4,14) a publicação desta obra deu ao autor reconhecimento internacional; em sua honra, o nome "Gabriel" foi dado ao servidor das Bibliotecas Nacionais européias, na Web (cf. http:// funnelweb.utcc.utk.edu/-lahlou/naude2.htm). 18 BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, [1978]. 294 19. 19 PERDIGÃO, Feliciano Marques. Inventário dos livros que existião em Fevereiro do corrento anno de 1782 Gabinête Do Augustissimo Monarca e Fidelissimo Rey Nosso D. José I. [S.1.], 9 maio 1782. 1 mss. (BNBrasil/DiMss I-13,4,4). 20 o Erário Régio era um "organismo criado no reinado de d. José I, pela carta de lei de 22 de dezembro de 1761 (...) para garantir o exercício do poder absoluto (...), [de modo a a dispersão das cobranças e despesas e (...) possibilitar uma gestão completa e sistemática das contas públicas (...). Todo o fundo documental pertencente ao Erário (...) é imprescindível para o estudo da vida financeira do Brasil 108colonial". In: PAIXÃO, Judite Cavaleiro. Fontes do Tribunal de Contas de Portugal para a história do Brasil Colônia. Acervo revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 10, n. 1, p. 57-71, jan./jun. 1997. 60, 64. 21 MANCHESTER, op. cit., nota 2. 22 ALMEIDA, José Egídio Álvares de. Cobrança dos gastos com preparação da Nau Medusa, para a da Corte, feitos por Felisberto Acciaoli da Babia, Antonio de e José Egídio de Almeida. s.d. 1 p. mss. (BNBrasil/DiMss II-30, 23, 2). 23 o transporte para Brasil da Livraria Real largos meses depois da ida da Corte -, em diversas fases, de modo quase catastrófico, saldou-se com a abertura, no continente Americano, dessa Biblioteca Real tomada pública, no Rio de Janeiro, em 1809." In: INSTITUTO DA BIBLIOTECA NACIONAL E DO LIVRO (Portugal). Guia da Biblioteca Nacional. Lisboa 1996. 83 16. 24 CARVALHO, Gilberto Vilar de. Biografia da Biblioteca Nacional: (1807 1990). Rio de Janeiro: Irradia- ção Cultural, 1994. 222 p. p. 38 25 KITZINGER, op. cit., p. 23, nota 3. 26 GAMA, João de Saldanha da. Catálogo da Exposição permanente dos Cimélios da Bibliotheca Nacional. Rio de Janeiro: Typ de G. Leuzinger, 1885. 1059, [22] p. p. 17. 27 SILVA, Pereira da apud KITZINGER, op. cit., 23, nota 3. 28 Iter. refere-se ao "itinerário" do documento, desde a sua distribuição. É possível verificar de um documento a partir da análise de marcas de propriedade (ex libris, ex dono, carimbos, super libris), de etiquetas variadas (de livreiros, papeleiros), de outros documentos anexos (cartas, anota- ções, recibos de aquisição), de registros de entrada em coleções variadas (notações padronizadas), e ou- tros registros que indiquem a "sorte" do documento, como a literatura que documenta a história de cole- ções (catálogos, inventários). In: PINHEIRO, Ana Virginia. Glossário de Codicologia e Documentação. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 115, 123-213. 1995 (publicado em 1998). p. 182. 29 Ex dono: "marca manuscrita, colocada num livro por seu possuidor, podendo constituir uma assinatura, uma frase ou um texto curto que o identifique." In: PINHEIRO, Glossário..., op. cit., nota 27. 30 o manuscrito Perfeito: emblemas de D. João de Solórzano, parafrazeados em sonetos portuguezes, e offerecidos ao Serenissimo Senbor D. João Principe do Brasil pello baxarel Francisco Antonio de Novaes Campos, em 1790, está armazenado na Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional brasileira e apresen- ta o carimbo do Infantado. A doação está documentada em Alvará da Rainha, emitido em Lisboa, de 13 de fevereiro de 1798 (Arquivo Nacional da Torre do Tombo/Chancelaria de Dona Maria I, Liv. 56, fol. 38, vo), transcrito na edição fac-similada do manuscrito (p. 179), publicada em Lisboa, em 1985, pelo Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, com prefácio, introdução, comentário e índices pela Prof. Maria Helena de Teves Costa Ureña Prieto. 31 Dos 8 Livros de Horas manuscritos e iluminados, dos séculos XIV e XV, existentes no acervo da Biblio- teca Nacional brasileira, 4 trazem o carimbo do Infantado. 32 Por exemplo, a obra de Franscisco de Sá de Miranda, Comedias famosas portuguesas..., Lisboa, por Antonio Alvarez, 1622, 157 f., apesar de reproduzir o texto revisto e emendado pela Inquisição, foi incluída no Index dos livros proibidos, publicado em 1628. Ainda assim, a Biblioteca Nacional brasileira guarda um exemplar com o carimbo Da Real Bibliotheca e uma anotação manuscrita a tinta; "Expurgadas por ordem do Sto. seguida da assinatura "D. João" (cf. CATÁLOGO de raridades..., op. cit., nota 20, p. 264, verbete 47). 33 Várias das marcas identificadoras de itens e coleções incorporados foram verificadas ao longo da operacionalização do Subprojeto Integração do Acervo Histórico, de 1982 a 1987, na Biblioteca Nacional brasileira, coordenado a partir de 1984 pela Bibliotecária Ana Virginia Pinheiro (cf. CATÁLOGO de rarida- des bibliográficas recuperadas pelo Subprojeto Integração do Acervo Histórico: séculos XV a XVII. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, 103, 237-304, 1983). 34 Ex "refere-se a vinheta gravada ou impressa, contendo o nome ou a divisa do proprietário da obra, que aparece colada no verso ou reverso da capa de livros de sua In: PINHEIRO, Glossá- rio..., op. cit., nota 27. 35 Super libris. "marca de propriedade aposta na encadernação de uma unidade In: PINHEI- RO, Ana Virginia. Que é livro raro?: uma metodologia para o estabelecimento de critérios de raridade biblio- gráfica. Rio de Janeiro: Presença; Brasília: Instituto Nacional do Livro, 1989. 71 p. 61. 10936 MARTINS, Wilson. A palavra escrita. 2. ed. rev. e atualizada. São Paulo: Ática, 1996. 519 p. 357. 37 GALVÃO, Benjamin Franklin Ramiz. Diogo Barbosa Machado. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Ja- neiro, 1, p. 1-43, 248-65 1876-1877; v.2, p. 128-191, 1876-1877; 3, p. 162-181, 279-311,1877-1878; V. 8, 221-431, 1880-1881. CATÁLOGO dos livros da livraria de Diogo Barbosa Machado, distribuídos por ele em matérias e escrito por suas próprias mãos. s.d.]. 111 f. mss. cópia (BNBrasil/DiMss 15,1,2). 39 PINHEIRO, Que é livro raro?..., op. cit., p. 46, nota 34. 40 CATÁLOGO dos livros existentes em poder de Manoel Joaquim da Sa. Porto, Mercador de Livros, da compra que fes à Preta Joaquina, herdeira, e testamenteira do falecido Manoel Ignacio da Alvarenga, rellativo ao que na data de hoje entrega ao S'. Juiz de Fora desta Cidade. Rio de Janeiro, 28 fev. 1815. Disponível na Internet: http://www.unicamp. br/iel/memoria/Acervo/catalog91815.htm 12 jul. 1999. 41 COUTINHO, Rodrigo de Sousa, conde de Linhares. [Parecer sobre a vinda da Família Real para 1807? f. mss. (BNBrasil/DiMss II-30, 35, 20). 42 CARVALHO, Gilberto Vilar de. Biografia da Biblioteca Nacional: (1807 a 1990). Rio de Janeiro: Irradia- ção Cultural, 1994. 222 p. p. 46. 43 MÜLLER, João Guilherme Christiano. Carta ao Sr. Domingos de Sousa Coutinho, descrevendo embar- que da biblioteca do Sr. Araújo de Azevedo na Nau Medusa, que a trouxe para Brasil, com a Corte Portuguesa. [Lisboa], 10 jan. 1808. 4 mss (BNBrasil/DiMss I-29,20,1, n. 88). 44 CONVENÇÃO para o ajusto das reclamações públicas dos Governos do Brasil e Portugal, reciprocamente. Rio de Janeiro, 29 ago. 1825. 3 f. mss. (BNBrasil/DiMss I-31, 31, 7). 45 CATÁLOGO da Bibliotheca da Academia dos Guardas Marinhas, creada por Ordem de S. A. R. na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Quartel do Commando da dos Guardas Marinhas, e Direcção da respectiva Real Academia, 24 jul. 1812. 1 17 (BNBrasil/DiMss 7,4,92). 46 "Neste mmo. Reydo. De S. D. João principia a ser conhecido mais contantemte. o R. Archivo com o titulo de Torre do Tombo em razão do lugar em q. se achava, e denelle se ter depozitado o antigo Liv. de recabedo regni, Tombos da coroa, ou Proprios da Coroa (...)". In: RIBEIRO, João Pedro. Memorias autbenticas para servirem à Historia do R. Archivo da Torre do Tombo. Lisboa, 1807. 1 v, f. 6 (BNBrasil/ DiMss I-13,2,12). 47 JOÃO, Príncipe Regente de Portugal, 1799-1816. Decreto de criação do Archivo Militar, ficará annexo á Repartição da Guerra, mas q' será tambem dependentte das outras Repartiçoens do Brazil, Fazenda, e Marinha, assim q' todos os Meus Ministros d'Estado possão ali mandar buscar, ou copear os Planoz de q' necessitarem para o Meu Real Serviço (..). Sou outro sim Servido, q' omesmo se forme logo em huma das salas, q' ora servem de aula Militar (...). Rio de Janeiro, 7 abr. 1808. In: COUTINHO, Rodrigo de Sousa, conde de Linhares. [Memorial da Transferência da Corte, organizado pelo Conde de 1807-1812? 2 mss V. 1, p. 401-402 (BNBrasil/DiMss I-29, 20, 2, n. 77). 48 ANSELMO, Arthur. Estudos de História do Livro. Lisboa: Guimarães, [c1997]. 189 p. p. 157. 49 PERIÓDICOS brasileiros em microformas: catálogo coletivo, 1984. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1985. 503 p. 241. 50 RIBEIRO, João, apud LIMA, Oliveira. Formação bistórica da nacionalidade brasileira. 2. ed. Rio de Ja- neiro: Topbooks, 1997. 295 218-219. 51 "Por Aviso da Secretaria d'Estado dos Negocios do Imperio, de 9 de Outubro do corrente anno de 1833, foi determinado que nesta Bibliotheca Nacional e Publica, se tomasse o nome das Pessoas que pedissem obras para ler, e que ao lado delle se escrevesso o Livro, ou Livros que pedissem; que se lhes fizesse saber que quando acabassem de ler, deverião entregar ao official, que lhes deu, para por no assento nota de recibido, dando-se-lhes então uma chancela para entregar ao porteiro, e poderem sahir da Casa (...)". In: CONSULTA pública Biblioteca [Rio de Janeiro], 1833-1856. 15 mss. V. 1, p. [1]. (BNBrasil/ DiMss 52 Cf.: "Os registros de leitura permitem um mapeamento quantitativo (...). Porém, no universo da história da leitura, as constatações estabelecidas por números com relação ao que foi lido, quando e por quem, não são suficientes. necessário ir além e buscar as razões e as formas da leitura no passado". In: DeNIPOLI, Cláudio. Deusdedit, Joakim, seus livros e autores. Publicado em são Paulo, na Revista Brasileira de História, 11018, n. 35, 1998. Disponível na Internet: 0188(98)0183514 53 RIZZINI, Carlos. livro, jornal a tipografia Brasil: 1500-1822, com um breve estudo geral sobre a informação. Ed. fac-similar. Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1988. 445 [4] p. 306. 54 LIVROS que foram para o aposento de S. Majestade o Imperador, em janeiro de 1884. Rio de Janeiro, Quinta da Boa Vista, 1 jan. 1884. 1 mss. (BNBrasil 55 RAPOSO, Ignacio Augusto. Livro de registro de dos livros para S. M. Imperador. Rio de Janeiro, Quinta Imperial, 2 jan. 1883-1 jan. 1884. 1 mss (BNBrasil 56 FONSECA, Deodoro. Recomendação do Marechal Deodoro da Fonseca ao Ministro da Justiça, para que zelasse pelos bens do Imperador, em especial, a biblioteca. 188?]. mss. (BNBrasil TM43,3). 57 Cf. JOBIM, José Luís. Por que é importante pesquisar a biblioteca pessoal de Machado de Assis? Disponí- vel na Internet: http://www.unicamp. br/iel/histlist/jobim.html. 10 maio 1999. 58 Cf. BARBOSA, João Alexandre. A biblioteca imaginária, ou cânone na História da Literatura brasileira. Disponível na Internet: br/iel/histlist/joaoa.html. 10 maio 1999. 59 Cf.: "Quantos livros! Já leu todos? No início eu achava que esta frase só fosse pronunciada por pessoas de escassa intimidade com o livro (...). Mas a experiência me ensinou que também é pronunciada pelas pessoas mais inesperadas. Pode-se dizer que se trata quase sempre de pessoas que concebem as estantes como mero depósito de livros lidos (...)". In: ECO, Umberto. o segundo diário mínimo. Rio de Janeiro: Record, 1993. 284 p. P. 191-193: Como justificar uma biblioteca particular. 60 JOUHANDEAU, Marcel, apud COSTA, Américo de Oliveira. A biblioteca e seus habitantes: (painéis, mon- tagens, slides). 2. Ed. Rio de Janeiro: Achiamé; Natal: Fundação José Amaro, 1982. 436 34. 61 Cf. FLAUBERT, Gustave. Oeuvres complètes. Paris: Éditions du Seuil, [s.d.]. 2 t. T. 1, p. 78-83: Bibliomanie: conte. 62 Cf. NAUDÉ, Gabriel, op. cit., nota 16. 63 GABRIEL Naudé. In: BIBLIOTECA NACIONAL (França). Tous les savoirs du monde. de l'humanisme au siècle des Lumières. Disponível na Internet: http://www.bnf.fr/web-bnf/pedagos/dossitsm/nouvsys.htm. 21 maio 1999. 64 Cf. BORGES, Jorge Luis. Ficções. Trad. Carlos Nejar. 6. Ed. São Paulo: Globo, 1995. 168 84-92: A biblioteca de Babel. 65 HERKENHÖFF, Paulo. Biblioteca Nacional: a bistória de uma coleção. Rio de Janeiro: Salamandra, 1996. 263 16. 66 BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). [Catálogos on line da Fundação Biblioteca Nacional. doc. eletrônico (http://www.bn.br). 67 FREEDMAN, James. Em louvor à biblioteca. Trad. de Salvyano Cavalcanti de Paiva. Diálogo, 6, n. 1, 47-49, 1993. P. 49. 68 Cf.: "Geme o Mundo opprimido, ou esmagado debaixo do peso enorme de papeis impressos; diluvio incessante: se o universal durou 40 dias, e 40 noites, este não conhece limites, nem pormette fim. Escreve- se Politica, Legislação, theorias de governo, Economias, e de tudo isto escrevem todos; porque todos escrevem Jomaes, Gazetas, Periodicos, todos promettem, e annuncião melhoramentos, reformas, venturas, riquezas, illustrações, e indefinitos progressos de Civilisação, ou derramamento de luzes taes, que mostrão já constituidos os homens naquelle estado de perfeição, que parece mais compativel com a natureza ange- lica, que com a condição humna. epidemico, he geral vicioso prurito de escrever, e he já desespera- damente insanavel!". In: MACEDO, José agostinho de. Parecer sobre a obra do P. M. Doutor Fr. Fortunato de S. Boaventura, Monge de Alcobaça, intitulada "História Chronologia, e Critica da real Abbadia de Alcobaça"... Lisboa: na Impressão regia, 1827. 10 publicadas como preliminares do mesmo livro. 69 COTTON DES HOUSSAYES, J. dos deveres e das qualidades do bibliotecário; discurso pronunciado na Assembléia Geral da Sorbonne, a 23 de dezembro de 1780. Trad. do francês por Cintra Macedo Barroso. In: UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO. Centro de Ciências Humanas. Escola de Biblioteconomia. Os 80 anos da primeira Escola de Biblioteconomia do Brasil. Ed. Comemorativa. Rio de Janeiro, 1991. 48, [1] p. p. 41-48. 70 FREEDMAN, op. cit., p. 49, nota 60. 111