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Livro - Texto Unidade I - Historia da America Contemporanea

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Prévia do material em texto

Autores: Profa. Ivy Judensnaider
 Prof. Dávius da Costa Ribeiro Sampaio
 Prof. Vinícius Carneiro de Albuquerque
Colaborador: Prof. Gabriel Lohner Grof
 
História da América 
Contemporânea
Professores conteudistas: Ivy Judensnaider / 
Dávius da Costa Ribeiro Sampaio / Vinícius Albuquerque Carneiro
Ivy Judensnaider é bacharel em Ciências Econômicas pela Fundação Armando Álvares Penteado e licenciada em 
Matemática. É mestra pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no Programa de Estudos Pós-Graduados em 
História da Ciência e da Tecnologia e, atualmente, é professora da Universidade Paulista – UNIP nos cursos de Ciências 
Econômicas e Administração, onde coordena o curso de Ciências Econômicas no Campus Marquês (SP). Também atua 
no setor de publicações, sendo autora de inúmeros textos de divulgação científica publicados na web. Nos últimos dez 
anos, tem trabalhado na elaboração de textos e de livros para uso em ensino a distância.
Dávius da Costa Ribeiro Sampaio é bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelas 
Faculdades Integradas Alcântara Machado (Fiam) e mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero. É especialista 
em Ciência Política pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e em Comunicação e Educação pela Universidade 
de São Paulo. Leciona na Universidade Paulista – Unip os cursos de Jornalismo e Propaganda e Marketing, bem como 
programas de pós-graduação em comunicação como professor convidado. Atuou como jornalista por 25 anos em 
veículos de comunicação e assessorias de imprensa de instituições públicas e privadas.
Vinícius Carneiro de Albuquerque é historiador, formado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 
da Universidade de São Paulo e licenciado pela Faculdade de Educação da mesma universidade. Obteve o título de 
mestre pelo programa de História Social para o qual apresentou, em 2007, a dissertação Ceará: 1824. A Confederação 
das Províncias Unidas do Equador contra o Império do Brasil. Atualmente é professor do colégio e curso pré-vestibular 
Objetivo, instituição na qual atua há mais de dez anos, tendo amplo contato com modernas tecnologias utilizadas na 
preparação de aulas digitais em diversas plataformas midiáticas. Vinícius Carneiro de Albuquerque é também professor 
da Universidade Paulista na qual trabalha com especial interesse na área de Ensino à Distância voltada para a formação 
de professores de História.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
J92h Judensnaider, Ivy.
História da América Contemporânea. / Ivy Judensnaider, Dávius 
da Costa Ribeiro Sampaio, Vinícius Carneiro de Albuquerque. – São 
Paulo: Editora Sol, 2020.
228 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. História. 2. América. 3. Contemporaneidade. I. Sampaio, Dávius 
da Costa Ribeiro. II. Albuquerque, Vinícius Carneiro de III. Título.
CDU 97/98
U508.85 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Marina Bueno
 Virgínia Bilatto
Sumário
História da América Contemporânea
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O PRESENTE EXPLICANDO O PASSADO: AS VÁRIAS HISTÓRIAS SOBRE AS 
MUITAS AMÉRICAS ................................................................................................................................................9
2 SOBRE O PASSADO E O PRESENTE: O FIM DE UM SÉCULO E O COMEÇO DE OUTRO... .................15
2.1 A construção da hegemonia norte-americana: a Primeira Guerra Mundial ............... 33
Unidade II
3 CRISES NA AMÉRICA NO INÍCIO DO SÉCULO XX................................................................................ 43
3.1 A Revolução Mexicana ....................................................................................................................... 44
3.1.1 Terra e liberdade ...................................................................................................................................... 46
3.1.2 Crises no processo revolucionário.................................................................................................... 51
3.1.3 Cárdenas e a década de 1930 ............................................................................................................ 56
4 ESTADOS UNIDOS NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930........................................................................... 59
4.1 Os EUA e a Era dos Gângsteres ....................................................................................................... 62
4.2 A crise de 1929 e a Grande Depressão ........................................................................................ 65
4.3 O New Deal e a busca da solução para a Grande Depressão ............................................. 74
4.4 Guerra Civil Espanhola e o envolvimento de americanos ................................................... 76
4.5 Política de massas na América Latina .......................................................................................... 82
4.6 Política de massas: México ............................................................................................................... 82
4.7 Política de massas: Argentina ......................................................................................................... 85
Unidade III
5 SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E GUERRA FRIA .................................................................................. 99
6 DITADURAS MILITARES ...............................................................................................................................118
Unidade IV
7 AMÉRICAS NO PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL ........................................................................141
7.1 Estados Unidos e os anos 1960 e 1970: a emergência das reivindicações 
sociais e políticas .......................................................................................................................................142
7.2 Estados Unidos e o avanço do conservadorismo ..................................................................144
7.3 As Eras Reagan e Bush: a consolidação do discurso neoliberal ......................................145
7.4 A Era Clinton e a reação ao conservadorismo político .......................................................150
7.5 Era George W. Bush e o 11 de Setembro: a guerra ao terror ...........................................153
7.5.1 Bush (filho): conservadorismo com compaixão ...................................................................... 158
7.6 Era Obama: Yes, We Can ..................................................................................................................1617.6.1 Estados Unidos e o início da era Trump – 2017 ...................................................................... 168
7.6.2 América: território de tensões e enormes possiblidades nos anos iniciais 
da década de 2020 ..........................................................................................................................................170
7.7 Colômbia e o narcotráfico ..............................................................................................................170
7.8 Venezuela e Chávez ...........................................................................................................................173
7.9 Movimentos sociais e culturais nas Américas ........................................................................175
7.9.1 Movimentos sociais contra hegemônicos ................................................................................. 176
8 CULTURA NAS AMÉRICAS ..........................................................................................................................195
8.1 Cultura nas Américas: o caso das vanguardas .......................................................................201
8.2 Cultura nas Américas: o caso das vanguardas e o modernismo literário 
no Brasil .........................................................................................................................................................201
8.3 Cultura nas Américas: discurso de Gabriel García Márquez no recebimento 
do Nobel de Literatura: a solidão da América ................................................................................202
7
APRESENTAÇÃO
Na América Latina, as mudanças nos últimos anos foram apenas em grande quantidade, mas, ao que 
tudo indica, as sociedades americanas, de maneira geral, passaram por momentos únicos que por vezes 
foram críticos e, noutros casos, plenos de esperança e de olhares positivos em relação ao porvir.
A complexidade da história recente das Américas se reflete, neste livro-texto, em uma certa 
quantidade de temas que precisamos abordar para conseguirmos formar um debate que alcance 
minimamente os temas que julgamos mais relevantes e que mobilizaram a atenção de milhões de 
pessoas nos últimos anos.
Nossa escolha foi um ‘tom’ crítico em relação aos discursos oficiais e apologéticos, uma vez que 
consideramos que em sala de aula o professor de história sempre deve instigar o questionamento e 
o desenvolvimento de um senso crítico que possibilite a percepção de aspectos da realidade que vão 
muito além do senso comum. Nesse livro-texto, elencamos discussões que possam contribuir para uma 
sólida desmistificação de temas que aparecem diariamente na grande imprensa brasileira e que, se não 
forem explicados, não permitem ir além do senso comum.
Ao tratar da globalização, da anti-globalização, do terrorismo contemporâneo, do pós-ditaduras 
militares na américa latina, dos movimentos sociais contemporâneos e também de algumas discussões 
que aparecem nas Artes Americanas, consideramos que estamos contribuindo para desenvolver 
questionamentos que partam de diálogos com a realidade e não com a construção de verdades que 
impossibilitam os questionamentos mais necessários acerca do dia a dia desse ‘viver nas Américas’.
INTRODUÇÃO
Este livro-texto foi elaborado especialmente para a disciplina História da América Contemporânea. 
Nele, discutiremos a ascensão e a crise dos Estados populistas, os regimes autoritários e as aberturas 
democráticas, no século XX.
A análise historiográfica baseada na nova história política será predominante no nosso trabalho. 
Pretendemos fazer como reflexão final um apanhado das propostas e perspectivas modernizadoras para 
a América Latina ao longo dos séculos XIX e XX, investigando as demandas sociais presentes na região 
no final do século XX e princípios do XXI.
Para que possamos analisar os processos de consolidação dos Estados no decorrer do século XX, bem 
como os diversos projetos políticos na América, iremos focar nosso trabalho:
a) Na análise historiográfica a respeito dos projetos modernizadores para a América Latina e dos 
principais embates intelectuais sobre o assunto.
b) No estudo a respeito da presença norte-americana e da ação imperialista, caracterizando os 
principais levantes ocorridos na América Latina e estudando as propostas do Estado Populista.
8
c) Na análise sobre a invenção das nações, das identidades e sobre as relações existentes entre a 
industrialização, o capitalismo e o imperialismo.
d) Na discussão sobre os impasses contemporâneos relativos aos movimentos sociais, à globalização 
e às iniciativas antiglobalização.
Nosso objetivo é estimular a discussão econômica, política e social das Américas, considerando não 
apenas a visão eurocêntrica da História que, durante décadas, entendeu a narrativa americana apenas 
um apêndice da história europeia, mas levando em conta as várias histórias que compõem o percurso 
das várias Américas.
Em outras palavras, pretendemos que o discente compreenda a complexidade da construção das 
muitas histórias que narram as várias Américas.
9
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Unidade I
1 O PRESENTE EXPLICANDO O PASSADO: AS VÁRIAS HISTÓRIAS SOBRE AS 
MUITAS AMÉRICAS
Recentemente, os jornais alardearam o fato de o Brasil ter optado por não fazer o acerto das 
contribuições financeiras reservadas à OEA, preferindo, ao invés disso, colaborar com a Unasul.
Ao analisar o preferencial alinhamento brasileiro com outros países latinos (especialmente a Argentina, 
a Bolívia, o Equador e a Venezuela), Coutinho (2015) foi incisivo: tal política estaria representando 
o gradual afastamento brasileiro dos Estados Unidos, país bastante crítico em relação aos governos 
populistas de esquerda da América do Sul.
Aliás, não à toa, no início de março de 2015, Barak Obama fez um pronunciamento no qual classificou 
a Venezuela como uma ameaça à segurança dos Estados Unidos. A declaração de Obama provocou 
imediata reação do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e de outros presidentes cujos governos de 
esquerda têm se inspirado no exemplo do já falecido Chávez.
Figura 1 – Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro
 Saiba mais
A OEA – Organização dos Estados Americanos – foi fundada em 1948 
e, hoje, reúne os 35 Estados independentes das Américas. É o maior fórum 
governamental, político, jurídico e social do hemisfério, e seu alcance vai 
além dos países americanos, já que a organização concedeu o status de 
observadores a 69 outros Estados e à União Europeia (EU).
10
Unidade I
Para conhecer mais sobre a OEA, sugerimos que visite o site da 
Organização. Disponível em: http://www.oas.org/pt/. Acesso em: 29 maio 
2015.
Segundo Coutinho,
No ano passado, o Brasil deu um passo drástico no esfriamento das relações 
com os Estados Unidos, ao se recusar a pagar a sua contribuição obrigatória 
à Organização dos Estados Americanos (OEA), entidade que reúne as 
nações das Américas do Sul, Central e do Norte. Dos 8,1 milhões de dólares 
esperados, o Brasil depositou apenas 1 dólar, conforme revelou o jornal Folha 
de S.Paulo em janeiro passado. Para este ano, são previstas contribuições de 
10 milhões de dólares, mas até o momento o Brasil não realizou nenhum 
repasse para organização. Acreditava-se que o calote era resultado de um 
contingenciamento do orçamento do Itamaraty. No entanto, a reportagem 
de VEJA fez uma análise das transferências internacionais realizadas nos 
últimos anos e descobriu uma curiosa coincidência: no ano passado, o Brasil 
transferiu para União das Nações Latino Americanas (Unasul) 16,24 milhões 
de reais – o equivalente a mais de 6 milhões de dólares, considerando a 
cotação nas datas dos pagamentos. O repasse para a Unasul foi mais que 
o dobro do previsto no Orçamento da União aprovado pelo Congresso: 7,2 
milhões de reais. Em 2013, a contribuição brasileira para a Unasul, entidade 
multilateral criada por Hugo Chávez, foi de apenas 344.000 reais. O calote 
na OEA, portanto,é intencional. Não faltou dinheiro. Simplesmente, a 
diplomacia petista optou por privilegiar a Unasul e negligenciar a OEA 
(COUTINHO, 2015, p. 1).
Conforme a notícia publicada no site do Ministério da Educação no dia 2 dez. 2014 – Sase realiza 
seminário com países da Unasul,
a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) é formada pelos doze países da 
América do Sul. O tratado constitutivo da organização foi aprovado durante 
Reunião Extraordinária de Chefes de Estado e de Governo, realizada em 
Brasília, em 23 de maio de 2008 (BRASIL, 2014).
Na capital do Chile, Santiago, ainda em 2008, a Unasul estabeleceu o Conselho de Defesa 
Sul-Americana. Em 2011, a Argentina, o Brasil, a Bolívia, o Chile, o Equador, a Guiana, o Peru, o Suriname, 
o Uruguai e a Venezuela ratificaram o tratado da Unasul.
11
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Figura 2 – Reunião da Unasul em Lima, Peru (2012)
O alinhamento do grupo de países da Unasul com os Estados Unidos não é automático. Pelo contrário, 
as iniciativas norte-americanas de intervenção em outros países com a desculpa de coibir o narcotráfico 
têm causado conflitos entre os países participantes da Unasul e o governo dos Estados Unidos. Afinal,
A despeito da existência de uma série de acordos bilaterais e regionais e de 
um crescente padrão de segurança cooperativa presente nestas sub-regiões, 
a fluidez das novas ameaças transnacionais e a própria influência da agenda 
doméstica estadunidense acabam por caracterizar a América Central e o 
Caribe como uma terceira fronteira insegura ou propriamente uma zona 
geoestratégica instável e de passagem de fluxos ilícitos. No caso da América 
do Sul, enquanto a vertente do Oceano Atlântico, que corresponde ao espaço 
regional dos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), é caracterizada 
como um arco de estabilidade em função do relativo êxito dos processos 
cooperativos na área de segurança e defesa; em contraposição, a vertente 
do Oceano Pacífico, que corresponde ao espaço dos países da Comunidade 
Andina de Nações (CAN), se revela enquanto um arco de instabilidade 
justamente por apresentar zonas potenciais de conflitos armados e um 
padrão de convergência castrense que é extremamente irregular devido aos 
momentos de avanços e recuos (SENHORAS, 2010, p. 12).
 Observação
Uma das fontes de conflito diplomático e econômico entre os Estados 
Unidos e outros países americanos tem relação com o narcotráfico. É curiosa 
a insistência norte-americana em deter a produção de drogas ao invés de 
coibir o consumo. Afinal, os Estados Unidos são justamente os principais 
consumidores das drogas produzidas na América Latina e Central. Se 
tomarmos como pressuposto o fato de a ausência da demanda condicionar 
a ausência de oferta, temos aqui um quadro inverso, no qual a demanda 
norte-americana estimula a oferta latino-americana de drogas. Apesar 
disso, a ação do governo norte-americano sempre visou a destruição dos 
12
Unidade I
centros de oferta do produto, inclusive como argumento e justificativa para 
intervenções militares em outros países. A invasão do Panamá em busca da 
captura de Noriega, em 1989, representou o quão longe o governo dos EUA 
estava disposto a ir para destruir a fonte de produção das drogas.
A pergunta que emerge é, certamente, a seguinte: como países tão próximos geograficamente 
podem apresentar atuações políticas tão distintas?
Ao que tudo indica, há várias Américas: uma, ao Norte, formada por países ricos e industrializados 
e que colaboram entre si, quando possível, para a manutenção da hegemonia econômica e cultural. 
Aliás, não parecem ser outros os objetivos que nortearam a criação da Nafta e da Alca. Outra América, 
em contrapartida, é aquela formada pelos países que ainda estão em desenvolvimento e que vêm 
enfrentando dificuldades na superação de obstáculos tais como a pobreza, a fome, a dependência 
econômica da exportação de bens primários e a instabilidade política e social.
 Observação
A Nafta – North American Free Trade Agreement – é a organização que 
reúne México, Canadá e Estados Unidos. A Alca – Área de Livre Comércio 
das Américas – inclui 35 países autônomos, exceto Cuba, alvo de embargo 
econômico dos Estados Unidos desde a década de 1960.
Com esse contexto em mente, é mais fácil compreender os motivos que levaram o Brasil a buscar a 
proximidade com outra organização, a IIRSA – Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional 
Sul-Americana, criada em 2000, durante a I Reunião de Presidentes da América do Sul. Naquela ocasião, 
foram discutidos aspectos relacionados à democracia, ao tráfico de drogas, ao comércio internacional e 
à integração da infraestrutura física, que deveria ser atingida dentro do prazo de dez anos.
Assim, a estratégia brasileira define-se pela construção de um espaço 
próprio sul-americano, forjando um bloco que se articulasse em várias 
áreas, indo além das questões comerciais, dado que essa era a esfera 
que mais implicava tensionamentos na agenda negocial. Mais do que 
integrar-se à América do Sul, o desafio primeiro é ainda integrar a América 
do Sul. Construir um bloco sul-americano que possa fazer sentido além 
do seu significado geofísico, desenhando uma região política, econômica 
e socialmente integrada. Nessa linha, iniciativas na área de cultura, 
educação, saúde, saúde animal, ciência e tecnologia, segurança, comércio, 
infraestrutura, turismo, são trabalhadas pelo governo brasileiro em um 
novo horizonte regional (COUTO, 2010, p. 25).
No documento resultante dessa reunião (documento esse ratificado por todos os países da América 
do Sul, com exceção da Guiana Francesa), identificaram-se as obras de interesse de vários países, bem 
como as formas de investimento para o seu custeio. Ainda, foi sugerida a adoção de regimes normativos 
13
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
que facilitassem a operação conjunta de sistemas energéticos, de comunicação e de transporte. No 
contexto da IIRSA, a região amazônica é estratégica: em primeiro lugar, é ali que se situa a maior 
floresta tropical do mundo; em segundo, sua bacia hidrográfica alcança não apenas parte significativa 
do território brasileiro, mas também se ramifica por outros países da América Latina (Equador, Peru e 
Colômbia), como pode ser visto na figura a seguir.
Figura 3 – A Bacia Amazônica é uma das maiores reservas de água doce do planeta
 Saiba mais
Para conhecer melhor a IIRSA, consulte o site da organização. Disponível 
em: http://www.iirsa.org/. Acesso em: 29 maio 2015.
Finalmente, esse contexto também nos permite compreender as dificuldades pelas quais o processo 
de formação do Mercosul vem passando. O Mercosul, Mercado Comum da América do Sul, é uma 
iniciativa da Argentina, do Brasil, do Paraguai e do Uruguai. Além dos países fundadores, também são 
associados ao Mercosul a Bolívia, o Chile, o Peru, a Colômbia, o Equador, a Guiana e o Suriname.
Figura 4 – Foto oficial dos presidentes dos países pertencentes 
ao Mercosul e de presidentes de países convidados
14
Unidade I
Desde o início, a proposta de um mercado comum que não o incluísse os Estados Unidos lhes era 
extremamente desagradável. Assim, para além de todas as dificuldades existentes na união comercial de 
países com graves problemas de dependência econômica e de instabilidade política, os Estados Unidos 
passaram a criar obstáculos ao sucesso do projeto do Mercosul.
Fechada a porta do “livre-comércio” via Alca, os Estados Unidos 
reposicionaram seu projeto estratégico de integrar as economias da região 
com base em seus interesses econômicos, políticos e comerciais, por meio 
da ‘negociação’ de acordos bilaterais com o Chile (2003), o Peru (2005) e 
a Colômbia (2006). Para Batista Júnior (2008, p. 227-228), ‘esses acordos 
bilaterais não diferem muito entre si, uma indicação de que não há 
propriamente negociação com Washington, mas a aceitação pura e simples 
de um contrato de adesão. Negociam-se apenas aspectos secundários, 
minúcias operacionais, prazos de implementação etc’.Como observou o 
economista norte-americano e Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, 
‘em matéria de tratados de livre-comércio, os Estados Unidos não negociam, 
impõem’ (KLEMI; MENEZES, 2013, p. 92).
 Saiba mais
Para saber mais sobre o Mercosul, consulte o site disponível em: http://
www.mercosul.gov.br/. Acesso em: 29 maio 2015.
Qual o motivo de levantarmos esses aspectos tão recentes logo no início de um livro-texto sobre 
História das Américas? Não deveríamos iniciá-lo ao final do século XIX, quando as lutas pela emancipação 
política já haviam libertado a maior parte do continente das amarras dos laços coloniais que submetiam 
as colônias às metrópoles? Qual o motivo de começarmos com os conflitos de agora, ao invés de trazê-los 
como resultado de um mosaico histórico em que várias narrativas se cruzaram e se sobrepuseram?
A resposta é simples: escrever sobre a História das Américas significa escrever várias histórias sobre 
várias Américas. São muitas as narrativas que conduzem a história e o destino dos muitos países tão 
próximos geograficamente, mas tão distantes em termos de passado e de perspectivas de futuro. Para 
que possamos olhar para o passado, o fazemos de um ponto de vista do presente. Por sua vez, esse 
presente nos indica que os conflitos modernos encontram suas raízes em um passado não tão distante, 
mas extremamente complexo e cuja compreensão deve incluir fragmentos de várias narrativas.
Assim, para que o contexto atual possa ser objeto de reflexão crítica, discutiremos as heranças 
históricas do final do século XIX para o século XX, dando foco principal ao imperialismo dos Estados 
Unidos e aos avanços do capital. Também discutiremos as relações entre o Brasil e os Estados, o 
movimento operário norte-americano, o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos, a construção 
da liderança continental, a I Guerra Mundial, os 14 Pontos de Wilson, o fracasso da Liga das Nações e as 
realizações culturais do início do século XX.
15
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
2 SOBRE O PASSADO E O PRESENTE: O FIM DE UM SÉCULO E O COMEÇO DE 
OUTRO...
Em abril de 1900, Paris recepcionou a Exposição Universal de 1900, a feira mundial organizada com 
o objetivo de expor as vitórias e conquistas tecnológicas do século XIX e de preparar os espíritos para 
aquele que seria o maior século de todos, o século XX. A Europa estava em festa: de todos os lados do 
continente, chegavam expositores e visitantes, homens de negócios e empreendedores ansiosos para 
entrar em contato com os produtos metalúrgicos e de engenharia desenvolvidos pelos mais diversos 
parques industriais europeus.
Não era a primeira vez que uma exposição desse porte era realizada.
A partir de 1851, realizavam-se as primeiras exposições universais, que 
se constituíam na mais condensada representação material do projeto 
capitalista de mundo. Reuniam, num mesmo espaço, representações das 
regiões em expansão (países europeus e Estados Unidos emergentes), das 
regiões sob pleno regime colonial e das regiões distantes (do ponto de vista 
imperialista), promissoras fontes de matérias-primas, como a América Latina. 
Uma verdadeira representação do mundo, tal como concebido pela filosofia 
dominante. O próprio fato de se fazer este tipo de representação correspondia 
a que, em função da expansão capitalista, o mundo estava, agora, todo ligado 
em redes de interdependência econômica. Tornava-se um só e assim era 
representado nas exposições universais, apenas que totalmente edulcorado, 
é claro, como um mundo ideal. E estas representações eram feitas o mais 
materialmente possível, isto é, fisicamente construídas, tridimensionais, 
palpáveis e visíveis, em forma de exposições. A linguagem expositiva que 
adotavam estava associada às práticas mais amplas, especialmente a dos 
museus, com sua representação visual e seus sistemas de objetos, uma 
museografia (BARBUY, 1996, p. 211).
Figura 5 – A Torre Eiffel foi construída especialmente para a Exposição Universal de Paris, de 1889
16
Unidade I
 Saiba mais
A projeção do filme dos irmãos Lumière aconteceria em Paris de 1900, 
ápice da inovação tecnológica.
Esta projeção é discutida em:
A INVENÇÃO de Hugo Cabret. Dir. Martin Scorcese. Estados Unidos, 
2011. 126 min.
A presença de países do Novo Continente também não causava qualquer espanto: se a Europa 
crescia e enriquecia, isso se devia, em grande parte, aos recursos naturais das terras americanas.
Começava aí a grande fantasia. A chegada a esta área da Exposição representava 
o descortinar da América inter e subtropical, um mundo promissor, pleno de 
riquezas e possibilidades, quase em estado natural, apenas saído de um longo 
sono, graças à Europa, tanto pelo movimento industrial e universalizante 
que ele teria provocado como pela própria presença do imigrante europeu. 
Despertando, afinal, e oferecendo suas riquezas naturais como bilhete de 
acesso ao festim industrial (BARBUY, 1996, p. 214).
De fato, a feira materializava o discurso hegemônico e vencedor do capital que já havia se disseminado 
pela Europa e que, em função da crise do final do século XIX, havia procurado salvação nos mercados 
ainda não capitalistas da América, da Ásia e da África. Em outras palavras, a História das Américas, 
aquela que seria contada a partir do século XX, fundava-se nos obstáculos encontrados pelo capitalismo 
no território europeu.
A Grã-Bretanha, potência dominante do sistema anterior, começava perder 
sua capacidade de manter-se como centro da economia mundial e, devido 
ao crescente déficit comercial com os EUA e a Alemanha, adotara desde 1880 
uma política de expansão na África, Ásia e Oceania, que ficou conhecida como 
imperialismo. A questão fundamental em relação ao sistema internacional 
é que a Segunda Revolução Industrial estava criando novas realidades 
econômicas internacionais, as quais começavam a subverter a relação 
existente entre as várias potências, que até agora havia sido controlada pela 
diplomacia inglesa. A partir de então a existência de um mercado interno 
de porte e com uma capacidade potencial de crescimento, passou a ser uma 
condição fundamental para o desenvolvimento econômico, num mundo 
onde crescia a concorrência e o protecionismo (VISENTINI, 2012, p.116).
A História das Américas não apenas se vinculava à história do capitalismo europeu, mas se faria a 
partir da construção da hegemonia política e econômica do capitalismo norte-americano: o século XX 
17
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
seria, indubitavelmente, o século americano, e a “outra” América (a que não ficava ao norte) iria girar 
em torno desse eixo de poder e domínio fortemente criado pelos Estados Unidos.
Os Estados Unidos apareciam como forte candidato à supremacia mundial, 
apesar das excelentes relações diplomáticas que o país possuía com a Inglaterra. 
Os EUA se haviam expandido pela América do Norte, criando um império 
doméstico compacto, detentor de uma dimensão continental, com grandes 
recursos naturais, e uma posição insular, devido à inexistência de vizinhos que 
pudessem ameaçá-lo e a projeção para dois oceanos, que além de proteger o país, 
colocavam-no face ao cenário europeu e asiático, simultaneamente. Além disso, 
Washington adotou uma eficaz política comercial protecionista, fechando seu 
mercado interno às mercadorias estrangeiras, mas não aos capitais, imigrantes 
e empreendimentos de outros países. Este conjunto de fatores obviamente 
operava no sentido de uma erosão do liberalismo, prejudicando a Inglaterra, 
cuja reação era a de buscar a expansão colonial (VISENTINI, 2012, p. 117).
O território americano crescia ou por meio da compra de terras ou por meio da simples ocupação. 
As estradas de ferro garantiam o acesso e a livre circulação de pessoas e mercadorias, e o Império 
americano expandia-se com o vigor necessário para a sustentação do capitalismo.
Ao observarmos a atitude da política externa norte-americana percebe-se 
que boa parte desses “desejos” se manifestou mesmo antes da GuerraCivil, 
momento em que, para alguns, os Estados Unidos teriam alcançado o patamar 
de potência industrial. As preocupações estratégicas dos homens da política 
externa norte-americana já se manifestavam favoravelmente à incorporação 
de algumas áreas limítrofes desde fins do século XVIII, quando o país ainda não 
havia desenvolvido sua potencialidade industrial. Com vistas a atender a essas 
necessidades de segurança, áreas como Cuba e Nicarágua se apresentavam, 
de forma mais sistemática, como alvos privilegiados desde a década de 1840. 
A procura por satisfazer essa demanda por segurança não estava, nesse 
sentido, vinculada aos desígnios econômicos de uma nação industrializada. A 
necessidade de viabilizar um meio de comunicação que possibilitasse unidade 
territorial colocava-se de forma prioritária para os membros da política externa 
do país, também em torno desse período. E foi justamente com esse objetivo que 
membros do governo norte-americano apoiaram e estimularam, não somente 
ações como a do empresário Vanderbilt na Nicarágua, mas também fizeram 
vista grossa para a intensa atividade dos flibusteiros norte-americanos. Cuba 
também estava incluída nessa perspectiva. As preocupações iniciadas ainda em 
fins do XVIII, e que permaneceram por todo o século XIX, fundamentavam-se 
no medo de uma ameaça europeia que partisse de Cuba. Demonstrações de um 
desejo crescente de aquisição da ilha acabaram por ser contidas, não apenas 
por questões de política interna, mas, principalmente, pela possibilidade de 
confronto com a Espanha e outras nações, que poderiam acompanhá-la numa 
atitude de retaliação” (MENDES, 2005, p. 182).
18
Unidade I
Figura 6 – Expansão do território norte-americano
O século XX seria o século norte-americano, sem qualquer sombra de dúvida. Se o Velho Mundo 
havia encontrado uma saída de emergência para os seus problemas de mercado (tanto consumidor 
quanto fornecedor), as novas terras descobertas se voltariam contra as metrópoles “descobridoras”, e 
não apenas tornando-se independente.
Os Estados Unidos, que já haviam conquistado posições importantes no Pacífico 
e estavam presentes na Bacia do Caribe, fizeram sua entrada triunfal na política 
mundial em 1898. Neste ano, entraram em guerra com a Espanha, transferindo 
para seu controle Cuba, Porto Rico e Filipinas. Os dois últimos tornaram-se 
territórios coloniais norte-americanos, e Cuba, uma espécie de semicolônia, 
frustrando as aspirações dos grupos que lutavam pela independência nestas 
possessões espanholas quando ocorreu a invasão americana. Em 1903 
Washington, agindo através de dissidentes panamenhos emigrados, promoveu 
a independência do Panamá em relação à Colômbia, anexando a área em que 
se encontravam interrompidas as obras do canal transoceânico, concluindo-o 
e inaugurando-o em 1914. As Filipinas eram estratégicas para a presença 
norte-americana na Ásia, dando maior consistência à política de portas abertas 
em relação à China. Quanto ao Caribe, por sua vez, transformava-se no mare 
nostrum estadunidense, controlando a passagem marítima do Atlântico para 
o Pacífico, e abrindo caminho para a expansão econômica que se iniciava 
em direção à América do Sul. No subcontinente sul-americano os Estados 
Unidos apoiavam-se numa “aliança não escrita” [...] com a recém-proclamada 
república brasileira, como forma de penetração comercial e financeira, com a 
qual esperavam contrabalançar a presença econômica inglesa, principalmente 
na Argentina (VISENTINI, 2012, p. 122).
19
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Pressões dos EUA
Áreas de influência dos EUA
Figura 7 – O imperialismo norte-americano: em 1898, após a Guerra Hispano-Americana, 
os Estados Unidos reafirmaram sua presença em Cuba, Porto Rico, Guam e Filipinas
 Saiba mais
Cuba apenas conseguiu garantir sua independência em 1902. No 
entanto, a intervenção americana se manteve até 1909, tendo os Estados 
Unidos concordado com a independência da ilha às custas de manter 
sua posse em Guantânamo, local em que se construiu uma prisão para o 
interrogatório de suspeitos de atos terroristas, especialmente após o ataque 
às Torres Gêmeas, em 2001.
Sobre o tema, sugerimos que os alunos assistam a dois filmes:
CAMINHO para Guantanamo. Dir. Michael Winterbottom. Reino Unido, 
2006, 95 minutos.
QUESTÃO de Honra. Dir. Rob Reiner. EUA, 1992, 138 min.
Ao final do século XIX e início do século XX, o capitalismo inglês e americano se disseminava por 
todos os cantos da América. No Chile, por exemplo, havia colocado as mãos em boa parte da economia 
chilena, praticamente dependente da exploração do salitre. Neste país, os ingleses já eram donos das 
minas desde que o Chile vencera a Bolívia e o Peru na Guerra do Pacífico (1878 – 1883).
20
Unidade I
De Tarapacá até Antofogasta, as terras ricas em nitratos forneciam o ouro branco que se formava após 
o processo de evaporação das águas filtradas pela geografia dos Andes. Esses nitratos eram utilizados 
para a fabricação de pólvora e de moedas, e também serviam de fertilizante para a agricultura. Como 
outros países da América Andina, essa era a base econômica de um Chile mono-extrativista, que exportava 
salitre e importava produtos manufaturados, totalmente à mercê das oscilações de preço no mercado 
internacional. Aliás, a exportação de minérios ainda é uma das principais atividades do Chile atualmente.
Minérios
Prata
Ferro
Estanho
Cobre
Ouro
Chumbo
Esmeralda
Venezuela
Colômbia
Perú
Bolívia
Chile
Figura 8 – A América Latina e a exportação de minérios
O negócio do salitre havia se tornado a principal atividade econômica do Chile após o paulatino 
abandono da monocultura agrícola. Afinal, a exportação de salitre representava mais vantagens 
competitivas no mercado internacional.
21
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Assim, em 1890, 52% das rendas obtidas em exportação vinham do 
comércio do salitre, e quase 60% da exploração salitreira estava nas mãos de 
estrangeiros, especialmente ingleses. A figura do inglês Thomas North, dono 
da companhia distribuidora de água potável, de quinze oficinas salitreiras, 
quatro ferrovias, proprietário do Banco de Tarapacá e Londres e da companhia 
distribuidora de alimentos, é emblemática e simbólica do predomínio inglês 
nos negócios chilenos. O Império Britânico expandia-se; concomitantemente, 
os países recém-saídos da condição de colônia ocupavam-se com a busca 
de suas identidades como Estados-nação. Assim, se a atuação da sociedade 
chilena originava-se dos elos construídos entre a comunidade inglesa e a 
burguesia nacional, do ponto de vista político-econômico a fricção se dava 
nos movimentos do capital privado – nacional e internacional – e o setor 
público. [...]. De qualquer forma, tanto a elite oriunda do capital nacional 
quanto a elite com origem no capital estrangeiro apoiavam-se na força 
repressora do Estado para garantir a continuidade dos negócios e do lucro 
que o salitre trazia, fazendo inclusive uso de forças policiais para garantir 
a ordem em dias de pagamento dos salários dos operários salitreiros. Em 
1907, a participação do salitre chegaria a 44% das rendas chilenas com 
exportação, rendas essas advindas dos impostos aduaneiros, já que todo o 
negócio de exploração, produção e transporte do salitre estavam em mãos 
estrangeiras (JUDENSNAIDER, 2007).
Deve-se ressaltar, porém, que os Estados Unidos e o imperialismo europeu não haviam apenas 
exportado para o restante da América os modos de produção capitalistas: o clima de revolta e de 
descontentamento dos trabalhadores também alcançaria a América do Sul sob a forma de ideias 
anarquistas, comunistas e socialistas. A combinação entre as condições desumanas de trabalho nas 
minas e a propagação dos ares revolucionários se mostraria explosiva: em 1907, uma revolta promovida 
pelos mineiros da região do Atacama acabaria por entrar na história das Américas como um dos maiores 
massacres de trabalhadores no início do século XX, justamente aquele século associado, ao menos naimaginação coletiva, ao progresso e ao desenvolvimento.
Em Iquique [ao norte do deserto do Atacama], o ambiente era insalubre: os 
mineiros trabalhavam de oito a dez horas por dia; no verão, enfrentavam 
temperaturas elevadas e, no inverno, extremamente baixas; a água não era 
potável, e o esforço para carregar o salitre era subumano. Os trabalhadores, 
dependendo da mina, estavam submetidos ao pó asfixiante, aos perigos 
dos explosivos usados para explorar as minas e às tragédias por mau 
funcionamento do maquinário utilizado na extração e refino do salitre. Eram 
comuns os castigos físicos e os mineiros também estavam sujeitos aos gases 
venenosos, em locais que careciam de luz, água e ventilação apropriada. Sem 
qualquer proteção social, sequer recebiam salário: ao invés de dinheiro, mesmo 
que a título de injusta remuneração pelo esforço de extrair o oro blanco da 
terra, recebiam vales, fichas cambiáveis apenas nos locais autorizados pelos 
proprietários das minas, embora a lei proibisse particulares de emitir moeda 
22
Unidade I
ou algo semelhante. No mundo todo, o crescimento do proletariado trazia à 
tona o debate sobre as condições de vida e de trabalho, bem como discussões 
a respeito da utilização da greve como instrumento de luta e defesa dos 
interesses dos operários. Não apenas na extração de salitre, que empregava 
cerca de 35 mil trabalhadores em 1907 (no total, 110 mil trabalhadores em 
todo o setor salitreiro, sendo destes 66 mil chilenos e 12 mil bolivianos), mas 
em todas as áreas da economia chilena: eram os operários mal tratados e mal 
remunerados, e as greves eram frequentes (JUDENSNAIDER, 2007).
No caso de Iquique, vários elementos apontam para a participação de operários anarquistas no 
fomento, na organização e na condução da greve, tais como as lideranças do norte-americano José 
Briggs e de Luis Olea Castillo, considerados próximos ao movimento anarquista. Afinal, os Estados 
Unidos haviam recebido imigrantes da Europa que, em contato com o pensamento de Marx, Engels 
e Trotsky, estavam cientes do poder de força dos trabalhadores organizados em sindicatos. John Reed 
(1887 – 1920) é um exemplo perfeito do homem americano que, embora tendo origem em berço 
burguês, entrou em contato com os ideais revolucionários do final do século XIX: ao conhecer a IWW 
(Industrial Workers of the World), Reed passou a militar politicamente. Já como jornalista, cobriu greves 
e movimentos de emancipação na América Latina, o que incluiu a Revolução Mexicana e a participação 
nos levantes da Revolução Bolchevique. Aliás, os ventos revolucionários de esquerda também atingiriam 
outros intelectuais americanos, tais como o ganhador do Nobel de Literatura John Steinbeck: em várias 
de suas obras, podemos perceber a influência dos ideais de esquerda e os movimentos revolucionários 
resultantes da tomada de consciência de classe dos trabalhadores.
 Saiba mais
Para saber mais sobre as lutas sociais nos séculos XIX-XX no Chile, leia:
TOSO, S. G. Transición en las formas de lucha: motines peonales y 
huelgas obreras en Chile (1891-1907). Historia (Santiago), v. 33, p. 141-225, 
2000. Disponível em: http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pi
d=S0717-71942000003300004. Acesso em: 1 jun. 2015.
Para saber mais sobre John Reed, sugerimos que assista ao filme:
REDS. Dir. Warren Beatty. EUA, 1981, 194 minutos.
Dentre as obras de John Steinbeck, sugerimos que leiam:
STEINBECK, J. Luta incerta. São Paulo: Record, 1963.
Em Iquique, deflagrada a greve, a pauta de reivindicações estava centrada nas questões específicas 
da atividade mineradora: a substituição dos vales por dinheiro (já que, muitas vezes, os salários eram 
23
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
pagos por meio de vales a serem consumidos nas lojas da própria empresa mineradora), a construção de 
escolas noturnas, a melhoria das condições de trabalho nas salitreiras e liberdade de movimento para os 
trabalhadores (eles não podiam sair das oficinas, tampouco receber visitas externas sem a aprovação e 
o consentimento dos administradores).
O final do conflito envolveu o uso de força: enquanto a Intendência negociava com os grevistas, as 
forças militares atacaram os grevistas: há cem anos, em 21 de dezembro de 1907, os trabalhadores de 
Santa Maria de Iquique foram assassinados e a greve encerrada.
Segundo Judensnaider (2007),
Em 1970, Luis Advis compôs a Cantata de Santa Maria de Iquique, que logo se 
tornou um hino em prol dos movimentos operários durante as décadas de 1970 
e 1980. A matança ainda inspirou obras literárias (e as de Hernan Rivera Letelier 
e Eduardo Devés são as mais conhecidas) que, mesclando o gênero literário e 
o estudo histórico, preencheram as lacunas que a ausência de fontes primárias 
e outras fontes documentais nos deixaram de herança. Quanto às velhas 
oficinas salitreiras abandonadas no desértico clima árido, elas hoje revelam 
apenas vestígios da riqueza que um dia o salitre trouxe ao Chile. Segundo o 
emocionado e poético texto do escritor, educador e investigador Juan Adrada, 
à paisagem dos pampas salitreiros somam-se as fantasmagóricas sombras do 
antigo clube da sociedade huberstoniana, com seus bilhares, cozinhas, salão de 
bailes e piscina. O portentoso teatro municipal é prova da pujança da região no 
começo do século XX, bem como as velhas máquinas, casas de operários, trilhos 
de trem. Símbolos de um passado glorioso e de lutas, as Oficinas Salitreiras de 
Humberstone e Santa Laura, da região de Tarapacá e Antofogasta, província de 
Iquique, empreenderam pedidos em 2003, junto à Unesco, para serem alçadas 
à condição de Patrimônio Mundial (JUDENSNAIDER, 2007).
 Saiba mais
Procure a Cantata de Santa Maria de Iquique, de Luis Advis, na internet.
Sugerimos que pesquise sobre a Cantata no site: www.cancioneiros.com.
O salitre permaneceu como principal produto exportado pelo Chile até 1929, quando a extração e 
a comercialização do minério entraram em franca decadência por conta da crise internacional oriunda 
da Quebra da Bolsa de Nova Iorque. A partir dali, a indústria chilena se veria forçada a substituir as 
importações de manufaturados pela produção industrial local (e o Brasil também passaria pelo mesmo 
processo) e o cobre ocuparia o lugar que antes pertencera ao salitre, àquele momento substituído pelo 
amoníaco sintético produzido na Alemanha. Ainda, paulatinamente, o predomínio do capital inglês 
cederia espaço ao capital norte-americano.
24
Unidade I
Falemos do presente: atualmente, o cobre representa 30% do total de exportações chilenas (o Chile 
é responsável por 40% das exportações mundiais do metal). Recentemente, um incidente com mineiros 
no deserto de Atacama chamou novamente a atenção da comunidade internacional: em 2010, 33 
mineiros ficaram soterrados em uma mina no Atacama durante 69 dias. Resgatados por meio de uma 
ação heroica televisionada para o mundo todo, a aventura acabou por trazer para o debate as condições 
ainda extremamente insalubres do trabalho nas minas.
Figura 9 – Mina de cobre no Atacama, Chile
De qualquer forma, com ou sem protestos, o século XX seria o século americano. Em outras palavras, 
os conflitos e as revoltas dos trabalhadores não criariam empecilhos e dificuldades ao crescimento e a 
expansão do capital americano: a política do Big Stick trataria de defender os interesses do capitalismo 
americano a qualquer preço e a qualquer custo. Afinal, a interpretação da Doutrina Monroe feita pelo 
presidente Roosevelt autorizava o uso da força e a intervenção em outros países, conforme discurso 
feito ao Congresso Nacional em 1904.
Qualquer país cujo povo se conduza bem, pode contar com nossa sincera 
amizade. Se uma nação demonstra que sabe atuar com eficiência e 
decência razoáveis nos assuntos oficiais e políticos, se mantém a ordem 
e cumpre seus compromissos, não precisa temer a intervenção dos 
Estados Unidos. A má conduta crônica ou a impotência que traz como 
resultado o desligamento dos laços com a sociedade civilizadapodem 
obrigar, na América, o mesmo que em outras partes, à intervenção 
de alguma nação civilizada e, no Hemisfério Ocidental, a adesão dos 
Estados Unidos à Doutrina Monroe pode obrigar os Estados Unidos, por 
mais repugnante que seja, nos casos de má conduta ou impotência, 
ao exercício da força de política internacional (ROOSEVELT, 1904 apud 
HEINSFELD, 2015, p. 3).
A Doutrina Monroe preconizava a defesa do território americano de toda e qualquer iniciativa de 
colonização por parte de nações europeias. Em contrapartida, a Política do Big Stick (“Política do Grande 
Martelo”, martelo esse que seria utilizado “em apoio” ao diálogo e à negociação durante conflitos) 
defendia o direito de os Estados Unidos intervirem em nações americanas em caso de algum tipo de 
ameaça aos seus interesses comerciais e políticos.
25
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Na década de 1820, o presidente James Monroe proferiu a famosa Doutrina 
que assumiu seu nome, influenciado em grande medida por seu Secretário 
de Estado, John Quincy Adams. A mesma baseava-se em dois pressupostos 
fundamentais. Em primeiro lugar, reconhecia o direito de liberdade e 
independência dos recém-formados países na América Latina, considerando 
que os mesmos não deveriam ser objeto de “futuras colonizações por 
qualquer potência europeia”. Complementando essa consideração, assinalava 
que seriam entendidas como uma ameaça direta aos Estados Unidos da 
América as tentativas realizadas com objetivos recolonizadores por parte 
das nações europeias. Parcela significativa daqueles que escrevem sobre 
as origens do imperialismo norte-americano apresentam essa data como 
um momento-chave para o processo. Assinala este grupo de historiadores 
que a Doutrina Monroe, normalmente lembrada pelo lema “A América para 
os americanos”, marcaria uma proposta já de manifesto desejo de avançar 
pelo conjunto do continente. Caracterizaria, assim, ainda nesse momento, 
a vontade de supremacia que os Estados Unidos se reservava o direito de 
possuir (MENDES, 2005, p. 168).
A Doutrina Monroe receberia o estímulo de dois fenômenos distintos, mas interligados: em primeiro 
lugar, a corrida expansionista para o oeste já havia colaborado para dotar os americanos da crença em 
um destino natural que levaria os Estados Unidos à expansão contínua. Em segundo lugar, a imaginada 
superioridade norte-americana em relação ao restante da América de colonização portuguesa e 
espanhola alimentava a ideia mítica de um direito inalienável de conquistar territórios alheios.
Os interesses americanos levariam os Estados Unidos à busca, inclusive, de um canal interoceânico. 
Para isso, os americanos colaboraram com as rebeliões na Colômbia com o objetivo de tirarem desse país 
a região do Panamá. Essa meta acabou sendo atingida quando a nação colombiana autorizou os Estados 
Unidos, em caráter perpétuo, a utilizar uma faixa de terra para a construção de um canal que ligasse o 
território norte-americano ao oceano.
Figura 10 – O Canal do Panamá, inaugurado em 1914, possibilitou 
uma via de acesso entre os oceanos Atlântico e Pacífico
Nesse contexto, parece natural, portanto, que o Brasil tenha procurado se aliar ao parceiro mais 
poderoso do continente. Assim,
26
Unidade I
A aproximação do Brasil com os EUA foi o resultado dos condicionantes 
internos, atendendo interesses dos grupos agro-exportadores, e é evidenciada 
pelo próprio Rio Branco: “Os Estados Unidos são o principal mercado para o 
nosso café e outros produtos”. Desta forma “tudo nos aconselha, portanto, 
a cultivar e a estreitar cada vez mais esta amizade”. (AHI, 31.01.1905) Nesta 
política de aproximação com os EUA, marco geopolítico da “Era Rio Branco”, 
um dos aspectos mais significativos ocorreu no início de 1905, com a elevação 
da Legação Brasileira em Washington em Embaixada, atitude que teve 
reciprocidade por parte dos EUA. Visando defender-se das críticas recebidas 
pela criação da Embaixada nos EUA, Rio Branco, utilizando o pseudônimo de 
J. Penn, publica um artigo (JORNAL DO COMMERCIO, 12.05.1906), visando 
demonstrar, historicamente, a importância das relações brasileiras com os 
EUA. Segundo Rio Branco (1948b, p. 137-138), o Brasil foi o primeiro país do 
continente a aceitar os princípios da Doutrina de Monroe. Para isto, em sua 
opinião, o Brasil, ‘desde os primeiros dias da revolução que o separou da mão 
pátria, pôs particularmente empenho em se aproximar politicamente dos 
Estados Unidos da América, aderiu logo à doutrina de Monroe e procurou 
até concluir, sobre a base dessa doutrina, uma aliança ofensiva e defensiva 
com a Grande Nação do Norte’” (HEINSFELD, 2015, p. 4).
A relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos não se dava de forma equitativa: os maiores 
compradores do café brasileiro sabiam dos problemas de superprodução e de oscilação dos preços no 
mercado internacional. Apesar disso,
do ponto de vista brasileiro – de suas elites –, as relações comerciais com os 
Estados Unidos foram praticamente perfeitas durante quase toda a Primeira 
República. As principais exportações da nação entravam no lucrativo 
mercado norte-americano em volumes cada vez maiores; no entanto, a 
dependência crescente deste mercado aproximou ainda mais o Brasil do 
gigante estadunidense que começava a aparecer, ao mesmo tempo em 
que enfraquecia os velhos laços econômicos com os ingleses, situação que 
se refletiu nas novas políticas diplomáticas, com maior ênfase a partir da 
conflagração dos conflitos mundiais. A nova elite do café vendia a maior 
parte do seu produto aos Estados Unidos e ambicionava agradar – ou, pelo 
menos, não alhear de si – o seu melhor freguês. Desta maneira, assim como 
o poder político se deslocou, nos últimos decênios do século XIX, de uma 
elite para outra, assim se deslocou o ponto focal do interesse internacional 
do Brasil” (ALVES, 2004, p. 89).
 Observação
Ainda hoje, a exportação de produtos agrícolas é a principal atividade 
econômica do Brasil. Durante o ano de 2013, e tendo como ponto de partida 
27
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
o Porto de Santos, exportamos soja para China, Tailândia e Holanda; açúcar 
para China, Bangladesh e Indonésia; e café para Alemanha, Estados Unidos 
e Japão. Em termos de valores, as exportações para a China alcançaram 
US$ 8,7 bilhões, para os Estados Unidos alcançaram US$ 5,9 bilhões 
e, finalmente, para a Argentina, exportamos cargas no valor de US$ 4,1 
bilhões.
Claro que as relações com a “Grande Nação do Norte” não seriam sempre tão amigáveis. O 
expansionismo norte-americano alcançaria também o Brasil: ao final do século XIX e no começo do XX, 
a região do Acre foi alvo de disputa entre o Brasil, a Bolívia e os Estados Unidos, sendo o interesse dos 
três países fruto das perspectivas comerciais relacionadas à exploração da borracha. O fato de o Acre 
ser um estado de fronteira com outros países e com a Amazônia também aumentava sua importância 
estratégica.
Figura 11 a e b – A posição estratégica do Acre
Em 1899, os Estados Unidos se comprometeram, caso fosse deflagrada uma guerra entre o Brasil e a 
Bolívia, a auxiliar esta última na defesa do Acre. As intenções da Bolívia em relação à região eram bem 
antigas, e apenas as dificuldades de acesso haviam, até então, impedido qualquer iniciativa mais eficaz 
por parte do governo boliviano.
Destarte, longe dos centros políticos e administrativos, o Acre nunca 
fora habitado até 1869, quando os brasileiros começaram a penetrar 
naquele vale. Seu povoamento, porém, só tomou impulso após a grande 
seca que, em 1877, assolou o Nordeste brasileiro, particularmente o 
Ceará, e os proprietários de seringais passaram a recrutar mais e mais 
retirantes, como força de trabalho disponível, para empregá-los na 
extração da borracha, matéria-prima, cujo consumo pelas indústrias 
nos EUA e na Europa, em virtude da técnica da vulcanização, aumentava 
rapidamente, tornando-a uma das principais fontes de divisas do Brasil 
(BANDEIRA, 2000, p. 152).
28
Unidade I
A autoproclamaçãodo espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias como presidente do Estado 
Independente do Acre tornou a situação de equilíbrio na região mais frágil. O governo brasileiro, ao 
mesmo tempo que se recusou a intervir militarmente, também se mostrou pouco receptivo a qualquer 
intervenção norte-americana no conflito. A situação só foi controlada a partir da assinatura de um 
protocolo
pelo qual o Acre passaria, pelo prazo de 30 anos, à administração do 
Bolivian Syndicate, do qual W. E. Roosevelt, primo de Theodore Roosevelt, 
vice-presidente dos E.U.A, aparecia como um dos seus sócios. Esse protocolo 
afigurou-se ao Brasil inquietante, na medida em que transferia para o 
Bolivian Syndicate, uma espécie de companhia colonial privilegiada, uma 
chartered company, como as existentes na África, a plenitude do governo 
civil do Acre, com direitos soberanos, entre os quais o de manter polícia e 
equipar uma força armada ou barcos de guerra, para a defesa dos rios ou 
conservação da ordem interna (BANDEIRA, 2000, p. 154).
 Saiba mais
Sobre a figura de Luiz Galvez Rodrigues de Arias, sugerimos o seguinte 
romance:
SOUZA, M. Galvez, imperador do Acre. Ed. Marco Zero, 1983.
Sobre uma análise literária e historiográfica do romance de Márcio 
Souza, sugerimos a leitura do seguinte texto:
ROCHA, R.; PANTOJA, T. As mobilidades da sátira na metaficção 
historiográfica: uma leitura de Galvez, imperador do Acre. Estudos de 
Literatura Brasileira Contemporânea, n. 25, 2005. p. 121-147. Disponível 
em: http://periodicos.unb.br/index.php/estudos/article/viewArticle/2143. 
Acesso em: 1 jun. 2015.
O protocolo acirrou a animosidade entre o Brasil e os Estados Unidos. Afinal, o acordo envolvia a 
concessão do Acre ao Bolivian Syndicate, que nada mais era do que a representante de várias companhias 
norte-americanas. Para o governo brasileiro, era claro que o protocolo apenas formalizava a concessão de 
parte do território do Amazonas aos Estados Unidos. Após assumir o Ministério das Relações Exteriores, 
o Barão do Rio Branco tratou de buscar alternativas para a resolução do conflito.
Segundo Doratioto (2000),
O Barão do Rio Branco fazia parte de uma geração intelectual 
que tinha ‘temor obsessivo’ de que o Brasil sofresse invasão das 
29
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
potências expansionistas, perdendo autonomia ou parte de território. 
Os intelectuais brasileiros da época ficaram impressionados com o 
espetáculo imperialista, das grandes potências dividindo entre si 
territórios estrangeiros, e, ainda, da presença, no Brasil, de grande 
quantidade de imigrantes, quando o país possuía amplos espaços vazios, 
passíveis de conquista (DORATIOTO, 2000, p. 134).
O Tratado de Petrópolis (1903) resultou das intensas e incansáveis negociações do Barão do Rio 
Branco, e nele o governo brasileiro incorporou o Acre em troca de indenização à Bolívia e ao Bolivian 
Syndicate. Ao final do conflito, as empresas norte-americanas haviam sido indenizadas e os bancos 
norte-americanos haviam lucrado com a concessão de crédito para que o Brasil pudesse efetuar as 
indenizações prometidas.
Este evento não seria único em termos do previsível resultado no qual os Estados Unidos sairiam 
ganhando às custas de outra nação. Ao contrário: o anteriormente descrito se repetiria, com outros 
atores e em outros cenários: de fato, ele representava a promessa que o século XX anunciava e que 
só faria se evidenciar ao longo das décadas seguintes: os conflitos (nem sempre explícitos) entre o 
capitalismo desenvolvido da América do Norte (em especial, dos Estados Unidos) e o capitalismo em 
(lento) desenvolvimento na América Central e na América Latina. Assim, enquanto nestas últimas os 
Estados nascentes, recém-libertos da condição de meros acessórios das metrópoles, ainda precisavam 
lidar com o peso da herança colonial representado pela escravidão e pela relação de dependência 
econômica com os grandes centros industrializados. Na América do Norte, a situação era distinta: o 
processo de urbanização acentuava-se cada vez mais e forças sociais antes excluídas dos processos 
decisórios passavam a se organizar e a demandar direitos e espaço.
O contraste não poderia ser maior: se, no Brasil, o Barão de Mauá era levado à falência após ter 
encarado de frente uma disputa com o capitalismo britânico, nos Estados Unidos as mulheres saíam em 
busca da conquista de espaço político. Segundo Méndez,
a elaboração de um discurso político feminista está intimamente associada 
às mudanças ocorridas, principalmente a partir da Segunda Revolução 
Industrial, que trouxeram consigo transformações na divisão sexual do 
trabalho, em consequência de uma maior inserção feminina no trabalho 
considerado produtivo. Assim, parte-se do princípio de que o avanço do 
capitalismo e o consequente ingresso das mulheres no mundo do trabalho 
colaboraram para desestabilizar a divisão entre o mundo público (reservado 
aos homens) e o privado (lugar das mulheres). Ao ingressar em esferas 
anteriormente reservadas aos homens, as mulheres passaram a se organizar, 
para reivindicar o reconhecimento de sua igualdade e autonomia, e a elaborar 
um contraponto aos saberes científicos e filosóficos que justificavam a dita 
‘inferioridade’ feminina, a suposta inaptidão para assuntos públicos, como a 
política (MÉNDEZ, 2011, p. 51).
30
Unidade I
 Saiba mais
Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), conhecido como Barão de 
Mauá, foi um dos primeiros empresários brasileiros. Sua atuação incluiu o 
comércio, as finanças e a indústria, tendo sido responsável pela implantação 
da primeira ferrovia brasileira, pela criação do Banco do Brasil e pelo projeto 
de iluminação da cidade do Rio de Janeiro.
Vítima da associação entre os conservadores nacionais e o capitalismo 
estrangeiro, acabou por ir à falência.
Para saber mais sobre o tema, sugerimos o filme:
MAUÁ, O imperador e o rei. Dir. Sergio Rezende, Brasil, 1999, 135 min.
Realmente, o contraste era imenso. No Brasil, buscava-se defender o direito de o país desenvolver-se 
com autonomia. Nos Estados Unidos, o capitalismo em pleno vigor fomentava a luta por autonomia de 
forças sociais até então ignoradas ou tidas como irrelevantes.
 Lembrete
Os ventos das lutas sociais chegariam até o restante da América, mas 
isso só aconteceria com o estabelecimento efetivo das forças do capitalismo 
nesses locais.
Em outras palavras, a luta por direitos políticos por parte de mulheres e outros segmentos sociais 
acompanharia o processo de desenvolvimento e expansão do capitalismo.
 Lembrete
No caso dos movimentos pelos direitos feministas, da mesma 
forma como o movimento sindical se organizaria a rebote da própria 
expansão da industrialização e do processo de urbanização, o movimento 
feminista também acompanharia o crescimento econômico trazido pelo 
desenvolvimento capitalista.
De forma simbiótica e, ao mesmo tempo, dialética, os movimentos 
sindicais e feministas se alimentaram do próprio crescimento do capitalismo.
31
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Deve-se ressaltar um aspecto importante da luta das feministas, que ficaram conhecidas como 
sufragettes, já que defendiam a ideia do sufrágio universal, o direito ao voto extensivo às mulheres, nem 
sempre suas lutas tiveram origem em questões tipicamente feministas. Segundo Méndez,
na maioria dos casos, a consciência feminista manifestava-se lado a lado 
com o engajamento das mulheres em outras causas libertárias. Foi assim, por 
exemplo, nos Estados Unidos, onde, no século XIX, muitas foram opositoras ao 
regime escravista. Ao contrário da imagem que em alguns casos é disseminada, 
boa parte das feministas do século XIX não pretendiam ser como os homens 
ou ocupar seus espaços, mas apenas almejavam acesso aos mesmos direitos, 
ou seja, ao reconhecimento da sua liberdade: “A mulher precisa não de agir ou 
dominar como mulher e sim de uma natureza para evoluir, um intelecto para 
discernir, uma alma para viver livremente, e a possibilidade de desenvolver sua 
potencialidade”,declarou, no final do século XIX, a feminista norte-americana 
Margaret Fuller (MÉNDEZ, 2011, p. 52).
Figura 12 – A potiguar Celina Guimarães Viana foi a primeira mulher brasileira a votar no Brasil, em 1927
 Saiba mais
Para saber mais sobre o voto feminino no Brasil, sugerimos 
a visita ao arquivo de áudio em comemoração aos 83 anos da 
promulgação do voto feminino no Brasil. Disponível em: http://radios.
ebc.com.br/viva-maria/edicao/2015-02/voto-feminino-no-brasil 
-completa-83-anos-nesta-terca. Acesso em: 1 jun. 2015.
Também sugerimos que assista ao filme:
OS BOSTONIANOS. Dir. James Ivory. EUA, 1984, 115 minutos.
32
Unidade I
A relação existente entre o fomento de movimentos por direitos civis e o capitalismo era visível. 
Afinal, havia sido o próprio capital a preconizar a educação feminina para que ele pudesse dispor de 
mais mão de obra.
Em outras palavras,
a proliferação do feminismo no século XIX pode ser associada a vários 
fenômenos, vinculada, indubitavelmente, ao processo de implementação 
e consolidação do capitalismo. O incremento da instrução escolar para a 
população feminina foi uma demanda da sociedade capitalista. Era necessário 
capacitar minimamente as mulheres da classe proletária para o desempenho 
das atividades laborais. Ao mesmo tempo, aquelas pertencentes a classes 
mais elevadas passaram a ter acesso à leitura e à escrita, pois ser letrada 
constituía um atributo necessário à boa esposa e mãe de família. Os graus 
de instrução variavam de acordo com a classe social, mas, em meados do 
século XIX e princípios do século XX, até mesmo as operárias possuíam mais 
facilidades de acesso à alfabetização. Portanto, é possível afirmar que, nesse 
período, um número significativo da população feminina dos Estados Unidos 
e da Europa sabia ler e escrever. A massificação da alfabetização teve uma 
repercussão fundamental para a proliferação de ideias emancipacionistas 
entre as mulheres (MÉNDEZ, 2011, p. 52).
Embora os Estados Unidos fizessem questão de defender uma política de insulamento em relação 
à Europa, de lá vinham os ares emancipacionistas, da mesma forma como de lá haviam partido os 
movimentos trabalhistas, anarquistas e socialistas. Assim, parece crível que a união formada pelos ideais 
políticos revolucionários do final do século XIX e pelo aumento de participação da mão de obra feminina 
nas fábricas resultariam na matéria-prima necessária para a explosão dos movimentos sufragistas e 
pelos direitos civis.
Dessa forma, é possível afirmar que o avanço do sistema capitalista incidiu 
para estruturar novas relações sociais de gênero. A Revolução Industrial 
utilizou-se, em larga escala, da mão de obra feminina diante da possibilidade 
de uma maior extração da mais-valia. Esse processo acentuou a exploração 
da mulher na sociedade, pois o capitalismo evidenciou para o âmbito do 
mundo público a discriminação que as mulheres enfrentavam no mundo 
privado. Todavia o ingresso das mulheres na produção possibilitou um 
crescente movimento de organização das trabalhadoras, que passaram a 
reivindicar direitos iguais e a transformação de um sistema que as oprimia 
pela sua condição de mulher e de trabalhadoras. Ao mesmo tempo, o 
crescente acesso à instrução contribuiu para incrementar a luta pela 
emancipação feminina a partir das camadas médias da sociedade, através 
do acesso feminino a profissões que anteriormente eram exclusivas dos 
homens (MÉNDEZ, 2011, p. 55).
33
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
2.1 A construção da hegemonia norte‑americana: a Primeira Guerra 
Mundial
No início do século XX, a América era o grande palco em que se desenrolava a política norte-americana 
do Big Stick. Por meio dela, os Estados Unidos procuravam aumentar sua presença em todo o território. 
A interpretação de Roosevelt sobre a Doutrina Monroe preconizava a defesa intransigente dos interesses 
yankees em todo o continente. Segundo Visentini (2012),
a rapidez com que emergiu a nova política exterior norte-americana 
deveu-se tanto às dimensões alcançadas pela economia deste país, que 
precisava projetar-se para fora, como também à preocupação dos Estados 
Unidos em relação à presença de enclaves europeus no Caribe, na América 
Central e nas Guianas. Estes poderiam vir a servir de cabeça de ponte para 
o estabelecimento de impérios coloniais europeus na região, tendo em 
vista a debilidade da maioria dos Estados latino-americanos de então. A 
Amazônia foi uma das regiões que, com o ciclo da borracha, correram este 
risco (VISENTINI, 2012, p. 122).
Este cenário não poderia conter atores mais díspares. Enquanto a América do Norte desenvolvia-se 
a largos passos, a América Central buscava se defender do avanço norte-americano e a América Latina 
equilibrava-se com sua economia baseada em atividades primário-exportadoras e com a sua busca pela 
maturidade política após os processos de independência e de formação republicana.
Apesar da existência de enclaves coloniais na América Central e no Caribe 
e da ascendência da economia europeia sobre a região, esta constituía uma 
área de países independentes e ocidentalizados. Gradativamente, contudo, a 
penetração norte-americana estava subordinando a região e desalojando os 
interesses europeus, do norte para o sul. As Conferências Pan-Americanas, 
as intervenções na Bacia do Caribe (Cuba, Porto Rico, Nicarágua, Haiti e 
Panamá) e a “aliança não escrita” com o Brasil (mútuo apoio não declarado 
entre os dois países na política continental, articulada pelo Barão do Rio 
Branco) eram os instrumentos de tal política. Dela resultou a sujeição de 
Cuba, o controle sobre o canal do Panamá, o estabelecimento de bases 
militares e a instalação de regimes ditatoriais que garantiam os interesses 
das companhias dos Estados Unidos no mare nostrum norte-americano. 
Na América do Sul, o Brasil encontrava-se no auge da mono-exportação 
agrícola e de um sistema federativo liberal-oligárquico que procurava 
disputar a supremacia regional com a Argentina. A região andina, por sua 
vez, vivia uma situação de agitação social e instabilidade política, alternada 
com regimes ditatoriais, e uma limitada presença na economia mundial, 
fenômeno agravado pela constituição dos impérios coloniais europeus. 
A área de maior importância era o Cone Sul, onde o Chile, o Uruguai e, 
principalmente, a Argentina encontravam-se fortemente vinculados à 
economia europeia, especialmente a inglesa (VISENTINI, 2012, p. 122).
34
Unidade I
No Chile, na Argentina e no Uruguai, a burguesia e o processo de urbanização marcavam a paisagem. 
No México, a queda de Porfirio Diaz (1911) provocou uma imensa mobilização popular; dessa guerra 
civil, restou o domínio do PRI (Partido Republicano Institucional), que governaria o México por décadas, 
até o início do século XXI.
 Saiba mais
A queda de Porfírio Diaz se situa no contexto da Revolução Mexicana, 
para qual as participações de Emiliano Zapata e Pancho Villa (ambos em 
defesa dos camponeses e em luta pela posse de terras e reformas eleitorais) 
são figuras históricas de imensa importância.
Para saber mais, assista ao filme:
CHICOGRANDE. Dir. Felipe Cazals. México, 2010, 95 minutos.
Enquanto isso, a situação na Europa não era de tranquilidade, apesar do ritmo frenético e contagiante da 
Belle Époque, da modernidade e da urbanização que haviam acompanhado o processo de desenvolvimento 
capitalista. Em 1904, eclodiu a guerra russo-japonesa. Em 1905, a Revolução Russa, após a guarda do 
palácio do Czar abrir fogo contra manifestantes populares. Pressionada pelo Japão e pela situação interna, 
a Rússia acabou por perder territórios e comprometer mais ainda a sua já minada situação econômica.
 Saiba mais
Para saber mais obre o tema, sugerimos o filme:
O ENCOURAÇADO Potemkin. Dir. Sergueï Mikhailovich Eisenstein e 
Grigori Aleksandrov. União Soviética, 1925, 72 minutos.
O filme narra a revolta de soldados e marinheiros no contexto dos 
movimentos revolucionários russos do começo do século XX e é um marco 
na históriado cinema em função da sua arrojada montagem e da belíssima 
fotografia. Além disso, o filme contém várias cenas icônicas que entraram 
para a historiografia cinematográfica: esse é o caso da cena da escadaria, 
em que uma mãe é assassinada enquanto leva seu filho no carrinho, e que 
já foi alvo de homenagem de outros cineastas.
Reagindo à Entente Cordiale (aliança entre França e Inglaterra), a Alemanha buscou expandir-se na 
direção da África e do Mediterrâneo. Diante do fracasso de suas tentativas, as contradições implícitas 
nas estratégias imperialistas tornavam-se mais evidentes.
35
HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
O que o conflito russo-japonês e a crise franco-alemã demonstraram, 
como manifestação das forças profundas, foi a crise do imperialismo de 
tipo colonialista. Em suas linhas gerais, a expansão rumo ao mundo colonial 
atingira seus limites, pois a quase totalidade das regiões “vazias”, isto é, 
não pertencentes a nenhuma das potências, já havia sido conquistada. 
Quanto às demais, ou já se encontravam destinadas a alguma potência, 
sendo sua ocupação uma questão de tempo, ou haviam tido sua exploração 
coletiva decidida pelos grandes protagonistas das relações internacionais. 
Assim, tanto quantitativamente não existiam mais áreas a serem ocupadas, 
como qualitativamente a intensificação do desenvolvimento desigual 
e combinado do capitalismo (a defasagem entre o ritmo e o nível de 
desenvolvimento econômico entre regiões integradas dentro de um mesmo 
sistema) pressionavam por uma redivisão dos impérios coloniais, premiando 
os mais dinâmicos. A partir de então a tensão e as rivalidades cresceriam até 
a eclosão da guerra (VICENTINI, 2012, p. 130).
Os acontecimentos seguintes levariam o mundo à I Guerra Mundial. Em 28 de junho de 1914 o 
estudante bósnio Príncipe, pertencente a uma organização secreta sérvia, assassinou o herdeiro do 
trono austríaco em Sarajevo, o arquiduque Francisco Ferdinando. O atentado levou a Áustria a declarar 
guerra à Sérvia. Em seguida, a Alemanha declarou guerra à Rússia e à França. Não tardaria muito para 
que toda a Europa estivesse envolvida naquela que ainda é considerada a maior guerra de todas. De um 
lado, estava a Tríplice Entente (Rússia, Grã-Bretanha e França); do outro, a Tríplice Aliança (Alemanha, 
Áustria-Hungria e Itália).
Países neutros
Tríplice aliança e aliados Tríplice entente e aliados
Figura 13 – Cenário de alianças na I Guerra Mundial
Mais do que qualquer outro, o fator decisivo para a vitória seria a capacidade de abastecer as frentes 
de guerra com alimentos e armas.
36
Unidade I
Neste campo, já em 1915, a Entente ultrapassava os Impérios centrais. 
Em decorrência da maior amplitude das possessões coloniais da Entente, 
do bloqueio naval que os ingleses impuseram à Alemanha e do apoio 
financeiro e comercial dos Estados Unidos aos anglo-franceses (apesar da 
“neutralidade imparcial” de Washington), este bloco controlava recursos 
em âmbito planetário, como centro de um sistema econômico mundial, 
enquanto a Alemanha e seus aliados constituíam somente um bloco 
regional (VICENTINI, 2012, p. 135).
A guerra que ninguém queria, mas que todos estavam lutando, arrastou-se além do esperado. De 
fato, em 1917, ela chegara a um impasse. A Tríplice Aliança não conseguia competir com os Aliados, 
armados e apoiados pela imensa capacidade produtiva dos Estados Unidos. Apesar disso, já havia ficado 
claro que a Alemanha não se renderia com facilidade, e que vencê-la representaria um enorme custo.
Neste momento, os Estados Unidos começaram a preocupar-se com os rumos 
da guerra, particularmente com a intensificação da ofensiva submarina 
alemã, com a radicalização sociopolítica na Europa e, principalmente, com 
o esgotamento da Inglaterra e da França, países aos quais haviam feito 
empréstimos gigantescos. Até o fim de 1916, os Estados Unidos defendiam 
uma “paz sem vitória”, pois sua “neutralidade imparcial” tinha-lhe permitido 
obter muitas vantagens econômicas, passando de devedores a credores 
do velho continente. Em abril de 1917, Washington declarou guerra à 
Alemanha, mas era preciso criar um exército apto para este tipo de guerra, 
que o país não possuía. Todavia, se sua entrada definia os rumos da guerra, 
seu impacto ainda tardaria a manifestar-se (VICENTINI, 2012, p.138).
Havia chegado a hora de os Estados Unidos somarem um último ganho a todos os outros que 
já haviam sido amealhados ao longo do conflito. Assim, além dos ganhos materiais com a venda de 
alimentos e equipamentos para os países aliados da Europa, agora se apresentava o momento de se 
qualificar como única e legítima força do Novo Continente no cenário mundial.
 Observação
Em 1917, e assim como os Estados Unidos fariam, o Brasil também 
se juntaria às forças da Tríplice Entente. Incidentes com navios brasileiros 
nos mares europeus estimulariam os pedidos de populares para que o 
governo brasileiro entrasse definitivamente na guerra. O papel das forças 
brasileiras seria bastante limitado. Basicamente, nossa atuação se resumiria 
a enviar navios com medicamentos e ao compromisso de vigiar os mares 
do Atlântico. Aliás, grande parte do pequeno efetivo brasileiro enviado para 
a Europa acabou contraindo a terrível gripe espanhola. De fato, a posição 
do governo brasileiro foi a de, simbolicamente, demonstrar sua aderência e 
apoio aos interesses norte-americanos.
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HISTÓRIA DA AMÉRICA CONTEMPORÂNEA
Se a participação norte-americana havia sido decisiva para o fim da Guerra – e a vitória contra 
a Alemanha – nada mais natural que os Estados Unidos participassem ativamente das tratativas 
relacionadas aos tratados de paz ao término do conflito.
Dessa forma, Wilson propôs ao Congresso americano (e, a partir deste, à comunidade internacional) 
uma lista de quatorze pontos que, se aprovados e defendidos, poderiam não apenas manter a paz, mas 
impedir que outros conflitos ocorressem. Dentre esses pontos, destacavam-se a abolição da diplomacia 
secreta, a liberdade de comércio entre os países, a discussão das políticas colonialistas e, mais importante 
do que quaisquer outras recomendações, a criação de uma Liga das Nações que funcionasse como um 
fórum de debate e que garantisse a paz.
Segundo Hobsbawm (1995),
quanto ao mecanismo para impedir outra guerra mundial, era evidente que 
desmoronara absolutamente o consórcio de grandes potências europeias que 
se supunha assegurá-lo antes de 1914. A alternativa, exortada a obstinados 
politiqueiros europeus pelo presidente Wilson, com todo o fervor liberal 
de um cientista político de Princeton, era estabelecer uma Liga de Nações 
(isto é, Estados independentes) que tudo abrangesse, e que solucionasse 
pacífica e democraticamente os problemas antes que se descontrolassem, de 
preferência em negociação pública (“alianças abertas feitas abertamente”), 
pois a guerra também tornara suspeitos, como diplomacia secreta, os 
habituais e sensíveis processos de negociação internacional. Foi em grande 
parte uma reação contra os tratados secretos acertados entre os aliados 
durante a guerra, nos quais dividiram a Europa do pós-guerra e o Oriente 
Médio com uma surpreendente falta de atenção pelos desejos, ou mesmo 
interesses, dos habitantes daquelas regiões. Os bolcheviques, descobrindo 
esses documentos sensíveis nos arquivos czaristas, haviam-nos prontamente 
publicado para o mundo ler, e portanto exigia-se um exercício de redução 
de danos. A Liga das Nações foi de fato estabelecida como parte do acordo 
de paz e revelou-se um quase total fracasso, a não ser como uma instituição 
para coleta de estatísticas. Contudo, em seus primeiros dias resolveu uma 
ou duas disputas menores, que não punham a paz mundial em grande 
risco, como a da Finlândia e Suécia sobre as ilhas Âland. A recusa dos 
EUA a juntar-se à Liga das Nações privou-a de qualquer significado real 
(HOBSBAWM, 1995, p. 41).
Curiosamente, o fato de o Congresso dos Estados Unidos recusar-se a ratificar os acordos que 
criavam a Liga das Nações

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