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Capítulo 5 SENSAÇÃO te do movimento do fogo, de sua temperatura, aroma e bele- APREENDENDO MUNDO: za? ALGUNS PRINCÍPIOS BÁSICOS Para representar mundo em nossas cabeças, devemos de- tectar a energia física do ambiente e codificá-la como sinais Limiares neurais, um processo denominado tradicionalmente sensação. Adaptação Sensorial E temos de selecionar, organizar e interpretar nossas sensações VISÃO um processo denominado percepção. Em nossas experiên- cias quotidianas, sensação e percepção combinam-se em um Input do Estímulo: a Energia Luminosa processo contínuo. Neste capítulo e no Capítulo 6. reduzire- Olho mos a marcha desse processo com o objetivo de estudar as suas Processamento da Informação Visual partes. Visão Colorida Começaremos pelos receptores sensoriais e avançaremos até níveis mais elevados de processamento. Os psicólo- gos se referem à análise sensorial relativa ao nível de entra- Input do Estímulo: Ondas Sonoras da como processamento do tipo inferior ou ascendente A Orelha (bottom-up). O Capítulo 6 focaliza o modo como nossas Em Foco: Um Ruído Barulhento Incomoda Muita Gente mentes interpretam que os nossos sentidos detectam. Nós Perda Auditiva e Cultura Surda construímos percepções utilizando tanto as sensações prove- Em Foco: Vivendo em um Mundo Silencioso nientes do processamento bottom-up que chega ao cérebro quanto nossas experiências e expectativas, que psicólogos Os SENTIDOS denominam processamento do tipo superior ou descenden- Tato te (top-down). Pensando Criticamente sobre: Caminhar sobré Brasas Falhas na percepção podem ocorrer em qualquer nível entre Paladar a detecção sensorial e a interpretação perceptiva. Por exemplo, Olfato os olhos de uma pessoa que tenha nascido com catarata podem Posição Corporal e Movimento não estar aptos a detectar a luz, tornando inútil equipamento de processamento visual de nível superior. Pessoas com dano cerebral revelam a importância de outras conexões na cadeia de sensação-percepção. Após perder uma área do lobo temporal essencial para o reconhecimento de faces, a paciente "E.H." passou a sofrer de uma condição chamada de prosopagnosia. V inte e quatro horas por dia estímulos do mundo externo Ela apresenta sensação completa, mas percepção incompleta. bombardeiam nosso corpo. Enquanto isso, nosso cérebro Ela pode sentir as informações visuais é capaz inclusive de flutua em um mundo interior silencioso, macio e em completa relatar com precisão as características de uma face embora escuridão. Isso levanta uma questão que precede a fundação da seja incapaz de reconhecê-las. Diante de uma face desconhe- psicologia em milhares de anos, e que ajudou a inspirar seus ini- cida, ela não tem reação. Diante de uma face familiar, seu sis- ciadores há mais de um século: como mundo exterior chega tema nervoso autônomo responde com um aumento da transpi- ao nosso interior? ração. Ainda assim ela não tem a menor idéia de quem é a pes- Para modernizar a questão: como nós construímos a repre- soa. Ao observar a própria face em um espelho, ela permanece sentação do mundo exterior? representamos o cre- intrigada. Por conta de sua lesão cerebral, ela não é capaz de um pitar, o tremular e o odor fumacento da como pa- processamento do tipo superior (top-down), ou seja, ela não é drões de conexões neurais ativas? E como, a partir da neuro- capaz de relacionar seu conhecimento armazenado a seu input química da vida, podemos criar nossa experiência conscien- sensorial. APREENDENDO MUNDO: ALGUNS PRINCÍPIOS BÁSICOS APRESENTAÇÃO PRÉVIA: Começaremos com questões que subliminares muito fracos para serem percebidos? Por que envolvem todos sistemas sensoriais: Que estímulos atin- nos mantemos inconscientes aos estímulos gem limiar de nossa atenção consciente? Será que, sem como é caso do relógio que exerce pressão sobre nosso que saibamos, podemos ser influenciados por estímulos pulso?SENSAC 137 sensoriais permitem aos organismos a obtenção das Nosso grau de alerta a esses estímulos tênues ilustra nossos informações necessárias. Considere: limiares absolutos o mínimo estímulo necessário para detec- tarmos um estímulo em particular (luz, som, pressão, gosto e Uma rã, que se alimenta de insetos voadores, tem em seus olhos odor). Psicólogos geralmente medem limiares absolutos pelo células receptoras que disparam apenas em resposta a objetos registro da estimulação necessária para apontarmos seu apare- pequenos, escuros e que se movimentem. Uma rã pode mor- cimento em 50% das vezes. Para testarmos nosso limiar abso- rer de fome, se for coberta por moscas paradas. Mas basta uma luto para sons, um especialista em audição expõe cada um dos delas voar, para "detector de insetos" da rã disparar. ouvidos a vários níveis de som. Para cada tom, teste auditivo Uma larva de bicho-da-seda macho possui receptores espe- define onde, na metade das vezes, a pessoa detecta estímulo, cializados em captar o odor dos feromônios produzidos por e onde, na outra metade, isso não ocorre. Para cada um dos sen- um bicho-da-seda fêmea a mais de um quilômetro de distân- tidos, o ponto 50-50 define o limiar absoluto. cia. E ela precisa liberar menos de um bilionésimo de grama para atrair todos os machos da região. Nós somos desenhados de forma semelhante para detectar quais são, para nós, as condições importantes do ambiente. Nossos ouvidos são mais sensíveis para ouvir as sonoras relativas ao som das consoantes e ao choro de um bebê. A natureza oferece sensores para as necessidades de cada um. LIMIARES Nós existimos em um oceano de energia. Neste momento, eu e você estamos sendo bombardeados por raios X e por ondas de rádio, por luz infravermelha e ultravioleta, e também por ondas sonoras de alta e baixa freqüências. Para tudo isso nós somos cegos Carol Lee/Tony Stone Images e surdos. Os sentidos humanos dificilmente esgotam todas as possibilidades sensoriais (Hughes, 1999). Outros animais detec- tam um mundo que está fora do alcance da experiência humana. Detecção de sinais Pássaros usam seu compasso magnético. Morcegos e golfinhos Quão rapidamente é possível perceber sinais de radar para um ob- localizam presas através de um sonar (percebendo eco a partir jeto que se aproxima? Mais rapidamente: (1) se você espera por ele, dos objetos). Em um dia nublado, as abelhas navegam pela de- (2) se é importante que você detecte e (3) se você estiver da luz polarizada a partir de um sol invisível (para nós). As cortinas de nossos sentidos estão abertas por uma peque- na fenda, permitindo que tenhamos consciência de apenas uma Detecção de Sinais área restrita deste oceano de energia. A psicofísica é estudo sobre A detecção de um estímulo fraco, ou sinal, não depende apenas como a energia física se relaciona com nossas experiências psi- da intensidade deste (como tom em um teste audiométrico), cológicas. Que estímulos nós podemos detectar? Em qual inten- mas também de nosso estado psicológico nossas experiênci- sidade? Quão sensíveis nós somos à mudança de estímulos? as, expectativas, motivações e estado de alerta. A teoria da detecção de sinais prediz quando iremos detectar sinais fracos, Limiares Absolutos medidos como nossa taxa de "acertos" ou de "alarmes falsos". Para alguns tipos de estímulos nós somos extremamente sensíveis. Teóricos da detecção de sinais têm observado que os limiares De pé no topo de uma montanha em uma noite escura e de atmos- absolutos variam. Pais exaustos de um recém-nascido vão per- fera límpida, podemos, supondo que nossos sentidos estejam per- ceber tênue choramingar do bebê, mas não perceberão feitos, ver a chama de uma vela no topo de outra montanha a 50 sons mais altos sem tanta importância para eles. A responsivida- quilômetros de distância. Podemos sentir o vento em nossas bo- de também aumenta em situações de terror em guerra, onde a falha chechas. E podemos até mesmo sentir o cheiro de uma gota de na detecção de um intruso pode significar a morte. Uma sentine- perfume em um apartamento de três quartos (Galanter, 1962). la de guarda sozinha à noite pode perceber e atirar na direção de um barulho praticamente inaudível. Com sua responsivida- de aumentada aparecem mais alarmes falsos. Em tempos de paz, quando a sobrevivência não está em jogo, a mesma sentinela ne- cessita de um estímulo maior antes de sentir o perigo. Os teóricos da detecção de sinais procuram entender por que Limites sensoriais as pessoas respondem de forma diferente ao mesmo estímulo, e O zumbido de um mosquito pode por que as reações de uma mesma pessoa variam de acordo com soar como uma bomba de mergu- as circunstâncias. A detecção de sinais pode ter conseqüências lho, graças a nosso baixo limiar de vida ou morte quando as pessoas são responsáveis por reco- para sons dessa Mas nhecer sinais de radar, observar detectores de armas em aero- grito de um morcego, por ser portos ou monitorar sinais em uma unidade de terapia intensi- muito alto, pode parecer silencio- va. Estudos da detecção de sinais têm demonstrado, por exem- Nossos ouvidos são mais sen- plo, que a vigilância das pessoas diminui apos aproximadamente síveis a sons na faixa de freqüên- trinta minutos de terem percebido o aparecimento de um estí- cia da humana mulo discreto. Mas essa diminuição depende da tarefa, do perí-138 CAPÍTULO CINCO odo do dia e até mesmo de quantas vezes o participante se exer- cita periodicamente (Warm & Dember, 1986). Percentual 100% de detecções Tente esta antiga adivinhação com um grupo de amigos. corretas "Você está dirigindo um ônibus com 12 passageiros. Na primei- ra parada, 6 passageiros saem. Na segunda, 3 saem. Na tercei- 75 ra, mais 2 saem, porém 3 entram. Qual é a cor dos olhos do motorista?" Será que seus amigos detectaram sinal quem é motorista? no meio do barulho da charada? 50 Estimulação Subliminar Em 1956, um relatório falso gerou uma grande controvérsia. Ele 25 afirmava que o público de cinema de Nova Jersey estava sendo Estímulos subliminares influenciado pela exibição de mensagens imperceptíveis como "BEBA COCA-COLA e COMA PIPOCA" (Pratkanis, 1992). Muitos anos depois, a controvérsia irrompeu novamente. Di- 0 Baixo Limiar Médio zia-se que anunciantes manipulavam consumidores com a im- absoluto pressão quase imperceptível da palavra sexo em biscoitos e de Intensidade do estímulo imagens eróticas em embalagens de bebidas. Dizia-se que le- tras de rock continham "mensagens que poderiam ser ouvidas se tocadas de trás para a frente e que, mesmo se Fig. 5.1 Limiar absoluto tocadas da forma adequada, poderiam persuadir as pessoas que Eu sinto cheiro ou não? Quando são detectáveis em menos de as ouvissem de forma inconsciente. Com a esperança de inva- das vezes, estímulos são "subliminares" Limiar absoluto éa inten dir nosso inconsciente, empresas oferecem fitas cassete com sidade com que podemos detectar um estímulo metade das mensagens para ajudar a perder peso, parar de fumar ou apri- morar a memória. Essas fitas contêm sons que imitam o movi- mento das ondas no mar. Esses sons mascaram mensagens como chinhos ou casais românticos), quanto negativas (como lobiso "Eu sou magro", "fumar faz mal à saúde" ou "Eu vou me sair mens ou cadáveres), um instante antes de participantes ve bem nas provas, pois domino toda a Apelos desta na- rem slides de pessoas (Krosnick et alii, 1992). Embora os parti- tureza atendem a dois pressupostos: que inconscientemente cipantes percebessem conscientemente apenas um flash de luz podemos sentir o estímulo subliminar (literalmente "abaixo do eles deram mais classificações positivas para as pessoas cujas limiar"), e que, sem nossa ciência, esses estímulos têm um ex- fotos tinham sido associadas a cenas positivas. As pessoas de traordinário poder de sugestão. Será que podemos mesmo sen- alguma forma apresentavam um olhar amável se suas fotos tir tais estímulos? Será que eles têm de fato tais poderes? seguissem imediatamente a bichinhos imperceptíveis do que a Podemos sentir estímulos abaixo de nosso limiar absoluto? um imperceptível lobisomem. Os caracteres chineses não fami- Em certo sentido a resposta é claramente afirmativa. Lembre- liares pareciam mais agradáveis se fossem precedidos por um se de que o limiar "absoluto" é apenas o ponto a partir do qual breve e imperceptível flash de uma face sorridente do que a uma detectamos um estímulo metade do tempo (Figura 5.1). Neste face contrariada (Murphy & Zajonc, 1993). E estudantes de gra- limiar ou em um ponto levemente abaixo dele, é possível, algu- duação avaliavam seus temas de pesquisa de forma mais nega- mas vezes, detectar o estímulo. A resposta é sim em outro sen- tiva pouco depois de verem o rosto zangado e imperceptível de tido também. Pessoas que demonstram total ignorância quando seus orientadores como se a desaprovação de seu orientador questionadas a fazer algum julgamento perceptivo por exem- estivesse no subconsciente deles (Baldwin et 1991). plo, quando têm que decidir qual de dois pesos extremamente Considere também como uma imagem ou uma palavra invi- similares é mais pesado usualmente o fazem ao acaso. Algu- sível pode antecipar sua resposta a uma pergunta posterior. Em mas vezes nós sabemos mais do que pensamos saber. um experimento típico a imagem ou a palavra é rapidamente pro- jetada, sendo então substituída por um estímulo que a "masca- interrompendo processamento cerebral antes da percep- Como pensar de forma não crítica sem a psicologia: James ção consciente. Imagine a si mesmo em um experimento de Vicary, um pesquisador da área de marketing, estava desem- Moshe Bar e Irving Biederman (1998) realizado com seus estu- pregado. Ele planejou uma brincadeira com a propaganda dantes da University of Southern California. As chances de subliminar COMA PIPOCA, a partir do auxílio de locutores e re- nomear uma imagem simples como um martelo, projetado por pórteres não críticos. Vicary recebe uma enorme soma de di- 47 eram menos de uma em sete. Mas que ocor- nheiro das empresas de publicidade pelos serviços prometidos reria se você visse a imagem novamente na mesma posição após então, desapareceu (Rogers, 1993, 1994). 15 minutos e após vinte apresentações de outras imagens? As chances de você nomear martelo agora seriam uma em três. E como se a segunda apresentação associada com a primeira fos- Podemos ser afetados por estímulos tão fracos que passam se capaz de despertar seu cérebro para torná-lo consciente da despercebidos? Experimentos recentes demonstraram que, sob imagem. De forma similar. se a palavra imperceptível pão fosse certas circunstâncias, a resposta pode ser de novo sim. Um es- projetada e então mascarada, você poderia detectar uma palavra tudo projetou imagens subliminares tanto positivas (como bi- como mais rápido que não relacio-SENSAÇÃO 139 como garrafa ou lâmpada (Bornstein & Pittman, 1992; RA. O efeito das 352 mensagens subliminares nos especta- Carr 1987; Marcel, 1983). O efeito é intrigante: algumas dores da empresa canadense? Nenhum! A partir da considera- vezes nós sentimos que não sabemos e não podemos descrever. ção de todas as evidências, afirmam os pesquisadores Anthony Assim, nós podemos processar uma informação sem estar Pratkanis e Anthony Greenwald (1988), "procedimentos subli- consciente dela. Um breve e imperceptível estímulo evidente- minares oferecem pouco ou nenhum valor aos praticantes do mar- mente dispara uma resposta fraca que evoca um sentimento, keting". embora não ocorra a ciência do estímulo. Aquilo que o pensa- mento consciente não pode reconhecer o coração pode saber. Limiares Diferenciais Esse fenômeno de priming subliminar agrega muitas outras Para funcionarmos efetivamente, nós precisamos de limiares evidências que apontam para o poder, assim como para os ris- absolutos baixos o suficiente para permitir a detecção de ima- cos, da intuição (Myers, 2002). gens, sons, texturas, sabores e cheiros importantes. Precisamos Mas será que o fato da sensação subliminar confirma as afir- detectar também pequenas diferenças entre os estímulos. Um mações sobre a persuasão subliminar? Será que os anunciantes músico precisa detectar mínimas discrepâncias na afinação de podem realmente manipular com a "persuasão escondida"? Existe um instrumento. Um provador de vinho precisa ser capaz de um quase-consenso entre os psicólogos pesquisadores que não. detectar leves diferenças de sabor entre vinhos de duas safras. Seu veredicto é similar aos dos astrônomos sobre os astrólogos: E pais precisam detectar o som da de seu próprio filho em eles estão corretos ao afirmarem que as estrelas e os planetas es- meio às vozes de outras crianças. tão lá fora, mas isso não implica afirmar que corpos celestes afe- limiar diferencial (também denominado diferença ape- tam diretamente nossas vidas. A pesquisa de laboratório revela nas perceptível ou DAP) é a menor diferença que uma pessoa é im efeito sutil e fugaz sobre o pensamento. Ativar pessoas se- capaz de diferenciar entre dois estímulos metade das O dentas com a sede pode, portanto, por um bre- limiar diferencial aumenta com a magnitude do estímulo. As- intervalo, tornar uma bebida mais refrescante e persuasiva sim, se adicionarmos 10 gramas a um peso de 100 gramas, você et alii, 2002). Mas as fitas dos vendedores prometem algo será capaz de notar a diferença; se adicionar 10 gramas a um diferente: um efeito poderoso e duradouro sobre o comportamen- peso de 1 quilo não será capaz de perceber, pois a diferença de Experimentos, como o descrito no Capítulo 1, mostram que limiar aumentou. Há mais de um século, Ernst Weber percebeu fitas subliminares não têm efeito diferente dos relacionados que, apesar da magnitude, dois estímulos precisam se diferen- de um placebo um efeito em que a pessoa acredita (Moore, ciar em uma proporção constante para sua diferença ser percep- 1998; Pratkanis et alii, 1994; Smith & Rogers, 1994). tível. Esse princípio de que a diferença de limiar não é uma Por exemplo, a Canadian Broadcasting Corporation usou um medida constante, mas uma proporção constante do programa popular de sábado à noite para veicular mensagens é tão simples e tão amplamente usado que ainda nos referimos subliminares 352 vezes (Advertising Age, 1958). Questionados a ele como a lei de Weber. A proporção exata varia, dependen- adivinhar a mensagem, nenhum dos quinhentos assinantes do do Para uma pessoa normal a diferença conseguiu. Quase a metade, porém, relatou sentir estranhamente entre duas luzes, elas devem variar em 8%. Dois objetos devem fome e sede durante o programa. Mas esse era um efei- variar em peso por pelo menos 2%. E dois tons devem variar expectativas. A mensagem real era TELEFONE AGO- em freqüência apenas 0,3% (Teghtsoonian, 1971). A lei de Weber é uma aproximação grosseira. Ela funciona bem para estímulos sensoriais não extremos, e é paralela a al- gumas experiências de nossa vida. Se o preço de uma barra de nada me faltará chocolate de 50 centavos aumenta 5 centavos, os compradores faz repousar em verdes campinas percebem a diferença; de forma similar, pode ser necessário um leva-me aumento de 4.000 libras em uma Mercedes de 40.000 para sal- para junto das águas serenas Restaura minha alma: tar aos olhos dos potenciais compradores de um desses carros. Em ambos os casos, o preço aumentou em 10%. O princípio de pelos caminhos da justiça por amor ao seu nome. Weber assim se define: nossos limiares para detecção de dife- Ainda que eu ande pelo vale renças têm uma proporção aproximadamente constante do ta- da sombra e da morte, não temerei mal: manho do estímulo original. porque me acompanhas; e seu cajado me sustenta. ADAPTAÇÃO SENSORIAL Prepara-me uma mesa na presença de meus inimigos: Ao entrar na sala de estar de seu vizinho, você sente um aroma e me unge a cabeça com óleo, desagradável. Você se pergunta como ele pode agüentar aquilo, e minha taça transborda mas, em alguns minutos, você não o percebe mais. Ao mergulhar Bondade e misericórdia estarão comigo em uma piscina, você treme e reclama do frio. Pouco depois um em todos dias da minha vida: amigo chega e você diz: "Venha logo, a água está ótima!" Es- e habitarei ses exemplos que ilustram a adaptação sensorial a redução na casa do SENHOR de nossa sensibilidade para estímulos que não se modificam (para para todo sempre. experimentar esse fenômeno, mova seu relógio uns dois centíme- tros acima de seu pulso: você o sente mas apenas por alguns 0 limiar diferencial momentos). Após a exposição constante a um estímulo, nossas Nessa cópia do salmo 23, gerada por computador, tipo de letra células nervosas passam a disparar com menos freqüência. de cada linha muda imperceptivelmente. Quantas linhas são ne- Por que, então, ao olharmos fixamente para um objeto, sem cessárias para você perceber a menor diferença observável? piscar, ele não desaparece do nosso campo visual? Porque, im-140 CAPÍTULO CINCO perceptivelmente para nós, nossos olhos se movem o tempo todo, dades lógicas. Se for mostrada uma palavra a uma pessoa, el: o suficiente para garantir que o estímulo retiniano mude conti- vai desaparecer. e novas palavras a partir de partes dela vão nuamente. aparecer e sumir. Esse fenômeno antecipa a principal conclu são do próximo capítulo: nossas percepções são organizadas de Para 9 em cada 10 pessoas e para apenas 1 em casa 3 pes- acordo com a imposição de nossa mente. soas que sofrem de esquizofrenia a flutuação dos olhos é des- Embora a adaptação sensorial reduza nossa sensibilidade. ela ligada quando eles acompanham um alvo em movimento oferece um importante benefício: ela permite que foquemos em (Holzman & Matthysse, 1990). alterações informativas de nosso ambiente, sem nos distrairmos com estímulos constantes não informativos de roupas, cheiros ou barulhos da rua. Nossos receptores sensoriais estão alerta para Mas o que de fato aconteceria se pudéssemos parar o movi- novidades; se eles se aborrecerem com repetições, eles se liber- mento de nossos olhos? Será que as paisagens simplesmente de- tarão para estímulos mais importantes. Isso reforça uma lição sapareceriam como os odores? Com o objetivo de decifrar a res- fundamental: nós percebemos o mundo não exatamente como posta a essas questões, os psicólogos desenvolveram instrumen- ele é, mas como mais útil que o percebamos. tos engenhosos para manter uma imagem constante na retina. Nossa sensibilidade à alteração dos estímulos ajuda a expli- Imagine que tivéssemos uma voluntária, Maria, com um desses car poder da televisão de chamar a atenção. Cortes, instrumentos um projetor em miniatura montado em uma len- zoom, planos e barulhos repentinos demandam atenção. Pesqui- te de contato (Figura 5.2a). Quando os olhos de Maria se mo- sadores da televisão se maravilham com a capacidade dela de vem, a imagem do projetor se move também. Dessa forma, não prender a atenção deles mesmos. Mesmo durante conversas in- importa para onde ela olhe, a imagem estará lá. teressantes, o pesquisador de mídia Percy Tannenbaun (2002) Se projetássemos o perfil de uma pessoa por meio desse ins- afirma não conseguir parar de olhar periodicamente para a tela. trumento, o que Maria veria? Em primeiro lugar, ela veria um Os limiares e a adaptação sensorial não são as únicas afini- perfil completo. Mas em alguns segundos, assim que seus re- dades entre os sentidos. Todos os sentidos recebem estimula- ceptores começassem a se cansar, a situação ficaria estranha. ção sensorial, transformam-na em informação neural e enviam- Ponto após ponto a imagem desapareceria, para logo após rea- na para o cérebro. Como esses sentidos operam? Como nós en- parecer e então desaparecer em fragmentos reconhecíveis ou xergamos? Ouvimos? Cheiramos? Saboreamos? Sentimos dor? como um todo (Figura 5.2b). De modo interessante, o desapa- Vamos começar com a visão, o sentido que as pessoas mais recimento e o reaparecimento de uma imagem ocorre em uni- prezam. HB H B 3 4 BEER PEER PEEP BEE BE (a) (b) Fig. 5.2 Agora você vê, agora você não vê! (a) Um projetor montado sobre uma lente de contato faz a imagem projetada se mover com olho. (b) Inicialmente a pessoa vê a ima- gem estabilizada, mas logo vê fragmentos desaparecendo e reaparecendo. (De "Stabilized images on the de R. M Copyright © 1961 Scientific American, Inc. Todos OS direitos reservados.) REVEJA E REFLITA APREENDENDO MUNDO: ALGUNS PRINCÍPIOS BÁSICOS Para estudarmos a sensação temos que estudar também uma ques- No entanto extremamente sensi a essa Nosso tão ancestral: como mundo externo é representado dentro de limiar absoluto para qualquer de é nossa cabeça? Em outras palavras, como OS estímulos externos que lação capaz ser em 50% das chegam ao nosso corpo são transformados em mensagens que detecção de sinais relatam que nosso limiar absoluto individual nosso cérebro é capaz de compreender? vana com nosso estado Limiares Experimentos revelaram nós podemos processa: informações a partir de estimulos para serem Cada espécie vem equipada com níveis de sensibilidades que nhecidos Em condições específicas de ocorrência permitem a sobrevivência e crescimento. Nós percebemos ape- aiguns oportunistas inescrupulosos poderiam por nas uma pequena parcela do oceano de energia que nos rodeia. de mensagensSENSAÇÃO 141 Para sobreviver e prosperar, um organismo precisa ter limiares sensibilidade para odores, sons e toques constantes ou roti- diferenciais baixos suficiente para detectar alterações mínimas neiros. em estímulos Em humanos, limiar diferencial (tam- Teste a Si Mesmo: Qual é a distinção entre sensação e percep- bém denominado diferença apenas perceptivel) aumenta propor- ção? cionalmente à magnitude do estímulo um princípio denomina- do lei de Pergunte a Si Mesmo: Cite alguns tipos de adaptação sensor Adaptação Sensorial que você tenha experimentado nos últimos dias. fenômeno da adaptação sensorial focaliza nossa atenção As respostas ao Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no apêndice situado em alterações informativas nos estímulos, ao diminuir nossa final do livro. VISÃO APRESENTAÇÃO PRÉVIA: Um dos maiores mistérios da nature- tromagnético varia das imperceptíveis ondas curtas dos rai- za não é exótico nem imperceptível; ao contrário, faz parte do os gama, passando pela banda larga que nós vemos como a senso comum: como nosso corpo material constrói nossa expe- luz visível, até chegar às ondas largas que compõem a trans- riência e consciência visual? Como transformamos partículas missão de rádio. Outros organismos são sensíveis a outras de energia luminosa em imagens coloridas? espectro. Para exemplificar, as abelhas não podem ver o vermelho, mas podem ver a luz ultravioleta (ver Uma parte da genialidade de nosso corpo está na sua capacida- exemplo em Olhos Diferentes, neste capítulo e no encarte de de converter um tipo de energia em outra. A transdução colorido). sensorial é o processo pelo qual nossos sistemas sensoriais con- Duas características físicas da luz e do som ajudam a de- vertem a energia do estímulo em mensagens neurais. Nossos terminar nossa experiência sensorial com eles. O comprimento olhos, por exemplo, recebem energia luminosa e coordenam uma de onda da luz a distância entre um pico de onda para se- surpreendente proeza: eles operam a transdução da energia em guinte (Figura 5.4a) determina sua cor (a cor que experi- mensagens neurais que o cérebro, então, processa naquilo que mentamos, como o azul ou o verde). A intensidade, a quanti- nós conscientemente vemos. Como ocorre esse fenômeno fan- dade de energia nas ondas luminosas (determinada pela ampli- tástico? tude de onda ou altura), influencia o brilho (Figura Para entender como nós transformamos energia física em sensação de cor, nós precisamos entender primeiro a janela da nossa mente, o olho. Ambas as fotos: Thomas Eisner, Cornell OLHO A no olho através da córnea, que protege olho e curva a luz para fornecer o foco. A luz então passa através da pupila, uma abertura pequena e ajustável (Figura 5.5). O ta- manho da pupila (e, conseqüentemente, a quantidade de luz que entra no olho) é regulado pela íris, um músculo localizado em University torno da pupila. A íris ajusta a entrada de luz por meio de sua dilatação e constrição, em resposta à intensidade da luz, e até Olho humano Olho de uma abelha mesmo em resposta a nossas emoções internas. Quando esta- mos apaixonados, nossos sentimentos dilatam a pupila, um Olhos diferentes sinal discreto de interesse. A singularidade de cada íris permi- Em se tratando da visão, o organismo dos seres humanos e das abelhas é sensível a diferentes comprimentos de onda. Compare te que aparelhos de scan confirmem a identidade das pes- modo como uma flor é registrada pelo olho humano e pelo olho da soas. abelha. A abelha detecta comprimentos de onda ultravioleta refle- Atrás da pupila está o cristalino, que foca os raios que en- tidos, capacitando-a para ver pólen cobrindo 0 campo, onde elas tram em uma imagem sobre a superfície posterior do olho. Ele podem encontrar OS nutrientes. Os diferentes nichos ecológicos faz isso alterando sua curvatura em um processo denominado ocupados por espécies distintas exigem sensibilidade para estí- acomodação. A superfície do globo ocular, sensível à luz, onde mulos diferentes. (A reprodução colorida desta figura encontra-se raios luminosos são focados, é um tecido com múltiplas ca- no encarte em cores.) madas, denominado retina. Há séculos os cientistas sabem que quando a imagem de uma vela passa através de uma pequena abertura, sua imagem em es- pelho aparece invertida em uma parede escura localizada atrás O INPUT DO ESTÍMULO: A ENERGIA LUMINOSA da abertura (como na Figura 5.5). Isso é desnorteante. Se a re- Em termos científicos, o que atinge nossos olhos não são as tina recebe a imagem de cabeça para baixo, como podemos ver cores e sim pulsos de energia eletromagnética que nosso sis- mundo de forma adequada? Uma das hipóteses era a de que a tema visual percebe como cor. O que nós vemos como luz sensação ocorria no cristalino. Percebendo que funcionamen- visível é apenas uma estreita faixa do espectro da radiação to não era esse, Leonardo da Vinci levantou outra hipótese: tal- eletromagnética. Como a Figura 5.3 ilustra, esse espectro ele- vez os fluidos oculares alterassem os raios luminosos, reinver-142 CAPÍTULO CINCO Luz branca Prisma Parte do espectro visível para humanos Raios X Raios Raios Radar Faixas de radiofusão Circuitos gama ultravio- infraver- AC leta melhos 10⁻⁵ 10⁻³ 10⁻¹ 10¹ 10³ 10⁵ 10⁷ 10¹³ Comprimento de onda em nanômetros (bilionésimo de metro) Fig. 5.3 O espectro da energia eletromagnética Esse espectro varia de raios gama, tão curtos como diâmetro de um átomo, até as ondas de rádio de mais de um quilômetro e meio de comprimento. A estreita faixa de comprimentos de ondas visíveis ao olho humano (mostrada aumentada) estende-se das ondas mais curtas de luz azul-violeta até as ondas mais compridas de luz vermelha. (A reprodução colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.) Comprimento de onda curto = freqüência Grande amplitude alta (cores azuladas, (cores vivas, sons barulhentos) sons de altura elevada) Comprimento de onda longo = freqüência. baixa (cores avermelhadas, Pequena amplitude sons de baixa altura) (cores foscas, sons suaves) (a) (b) Fig. 5.4 As propriedades físicas das ondas (a) As ondas variam em comprimento, a distância entre picos sucessivos. A número total de comprimentos de ondas que podem passar um ponto em um dado momento, depende do comprimento da onda. Quanto mais curto comprimento da onda, mais alta a freqüência. (b) As ondas também variam em amplitude, a altura do pico até cavado. A amplitude de onda determina a intensi- dade das cores e dos sons. (A reprodução colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.)SENSAÇÃO 143 Retina Pupila Cristalino Fóvea (ponto de foco central) Nervo óptico na direção do córtex visual do cérebro Íris Córnea Ponto cego Fig. 5.5 O olho Raios luminosos refletidos pela vela passam através da da pupila e do cristalino. A curvatura e a espessura do cristalino mudam para colocar em foco na retina objetos próximos ou distantes. Os raios luminosos propagam-se em linha reta. Assim, raios da parte superior da vela atingem a parte inferior da retina, e OS do lado esquerdo da vela atingem o lado direito da retina. A imagem da vela projetada na retina está então de cabeça para baixo e invertida. tendo a imagem para a posição correta quando alcançava a reti- lino focam a imagem de qualquer objeto na retina (Figura na. Mas então, em 1604, o astrônomo Johannes Kepler demons- 5.6a). Na miopia, a forma alterada do globo ocular foca raios trou que a retina recebia a imagem do mundo de cabeça para luminosos na frente da retina (Figura 5.6b). Se você for mío- baixo (Crombie, 1964). E como poderíamos entender este mun- pe, sua percepção de objetos próximos é muito mais precisa do? De acordo com Kepler: "Eu deixo isso para os filósofos da que a de objetos distantes, mas se você for extremamente mí- natureza." ope, não verá nada claramente. Óculos, lentes de contato ou Na categoria de "filosofia da natureza" eventualmente estão cirurgia a laser para corrigir a forma da córnea podem resol- incluídos pesquisadores em psicologia que descobriram que a ver esse problema. Um estudo recente com 479 crianças reve- retina não lê a imagem como um todo. Seus milhões de células lou dados curiosos: 10% das crianças que dormiam no escu- receptoras convertem a energia luminosa em impulso neural. ro antes dos dois anos tornaram-se míopes, do mesmo modo Esses impulsos são enviados para o cérebro e construídos ali em que 34% das crianças que dormiam com uma luz discreta e uma imagem percebida aparentemente na orientação adequada, 55% das que dormiam em um quarto iluminado (Quinn et alii, ou seja, "de cabeça para cima". 1999). A acuidade, ou precisão da visão, pode ser afetada por dis- O astigmatismo é o oposto da miopia. Aqui, os raios de luz torções na forma do olho. Normalmente a córnea e crista- de objetos próximos alcançam a retina antes de terem propicia- (a) (b) (c) Fig. 5.6 (a) Visão normal Raios de luz convergindo na retina de um olho normal. Isso ocorre tanto para objetos próximos quanto para objetos distantes, com OS ajustes necessários da curvatura do cristalino. (b) Visão míope No olho de pessoas que apresentam miopia, OS raios de luz provenientes de objetos distantes se focam antes da retina Quando sua imagem atinge a retina OS raios se espalham e a visão fica embaçada. (c) Visão hipermétrope No olho de uma pessoa que apresenta hipermetropia, OS raios de luz de objetos próximos entram em foco depois da retina, resultando em imagens borradas.144 CAPÍTULO CINCO do uma imagem com foco (Figura 5.6c). Em crianças, a habili- A Retina dade de acomodação dos olhos geralmente supera esses proble- Se você acompanhasse uma partícula isolada de luz até dentro mas; por isso, elas raramente precisam de óculos mas elas de seu olho, poderia ver que ela primeiro abre caminho através podem sofrer de estrabismo e ter dores de cabeça em decorrên- da camada exterior de células da retina, até chegar aos seus re- cia do uso dos músculos extra-oculares. Pessoas com astigma- ceptores em camadas mais internas, os cones e os bastonetes tismo leve podem não descobrir o problema até a meia-idade, (Figura 5.7). A energia luminosa que atinge OS cones e OS quando o cristalino perde sua capacidade de mudar de forma bastonetes produz alterações químicas que geram sinais neurais. rapidamente. Elas começam então a ter problemas para ver ob- Estes sinais ativam as células bipolares vizinhas, que por sua jetos próximos. vez ativam células ganglionares vizinhas. Os axônios dessa rede de células ganglionares convergem como fibras de uma corda para formar o nervo óptico que conduz a informação para cérebro. Aproximadamente milhão de informações podem ser enviadas de cada vez pelo nervo óptico, através de milhão de fibras ganglionares. nervo auditivo, que permite a audição, Lewis, Y.Y. Zeevi, F.S. Werblin, carreia muito menos informação, através de suas meras 30.000 fibras.) Na parte onde o nervo óptico deixa os olhos não exis- tem células receptoras criando um ponto cego (Figura 5.8). Os cones estão concentrados em torno da fóvea, a área de foco central da retina (Figura 5.5). De fato, a fóvea tem apenas nes, sem bastonetes. Diferentemente dos bastonetes, muitos 1969 cones têm suas células bipolares próprias, que ajudam a manter a individualidade de suas informações até o córtex, que dedica Bastonetes em forma de bastão e cones de forma cônica boa parte de sua superfície para impulsos provenientes da fóvea. Conforme demonstra a microscopia eletrônica, "bastonetes" e Isso preserva a informação mais precisa dos cones, tornando-os nes" são nomes bastante precisos. Os bastonetes são mais sensí- mais hábeis para detectar finos detalhes (os bastonetes não têm veis à luz do que OS cones, que são, por sua vez, sensíveis à cor. essa linha direta com o cérebro; eles dividem as células bipola- Esse é motivo pelo qual mundo parece desprovido de à noi- res com outros bastonetes; assim, suas mensagens chegam ao te. Alguns animais noturnos, como OS sapos, as ratazanas e mor- cérebro de modo combinado). Para ilustrar, se você escolher uma cegos, apresentam a retina quase inteiramente composta por palavra nesta sentença e fixar seu olhar, as palavras que estive- bastonetes, capacitando-os para exercerem suas funções em am- rem a poucos centímetros de distância ficarão borradas. Isso bientes pouco iluminados. Esses animais provavelmente apresen- ocorre porque a imagem delas incidirá sobre áreas mais perifé- tam visão precária para cor. ricas da retina, onde os bastonetes predominam (Tabela 5.1). 2. Em retorno a reação química ativa as células bipolares 3 2 1 1. A luz que entra no olho e Cone dispara uma reação fotoquímica nos bastonetes e cones por trás da retina. Luz Célula ganglionar bipolar Corte Impulso neural transversal da retina Luz Bastonete Em direção ao córtex visual Nervo óptico 3. As células bipolares então ativam as células ganglionares, cujos axônios convergem para formar nervo óptico. Esse nervo transmite informação para o córtex visual no lobo occipital do cérebro. Fig. 5.7 A reação da retina à luzSENSAÇÃO 145 Fig. 5.8 ponto cego Onde nervo óptico deixa olho (Figura 5.7) não há células receptoras. Isso cria um ponto cego em nossa visão. Para comprovar isso, feche olho esquerdo, olhe para ponto na figura e mova a página a uma distância de seu rosto (em torno de 30cm) até carro desa- parecer. Na visão diária ponto cego não prejudica sua visão porque seus olhos se movem e porque um olho capta o que outro perde. PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO VISUAL RECEPTORES NO OLHO HUMANO A informação visual atravessa níveis progressivamente mais Cones Bastonetes abstratos. No nível de entrada, a retina que nada mais é que 120 milhões uma parte do cérebro que migrou para o olho durante o desen- Número 6 milhões volvimento fetal processa a informação antes de enviá-la para Localização na retina Centro Periferia o córtex. As camadas neurais da retina não são apenas uma pas- Sensibilidade em luz difusa Baixa Alta sagem para o impulso elétrico; elas também ajudam a codificar Sensível a cor? Sim Não e a analisar a informação sensorial. A terceira camada neural no olho de um sapo, por exemplo, contém células "detectoras de Sensível a detalhes? Sim Não insetos" que disparam apenas em resposta a estímulos de movi- mento semelhante, por exemplo, ao de uma mosca. Nos olhos humanos, a informação que sai da retina, de seus Os bastonetes permitem a visão em-preto-e-branco; já os quase 130 milhões de receptores do tipo cones e bastonetes, é cones permitem que vejamos as cores. Se a iluminação di- recebida e transmitida por cerca de 1 milhão de células gangli- minui, os cones se tornam ineficazes. Os bastonetes, porém, onares, cujas fibras formam o nervo óptico. Uma célula permanecem sensíveis na luz fraca, pois vários bastonetes so- ganglionar típica responde ao contraste luz/escuro apresentado mam seus estímulos tênues, conectando-se a apenas uma por suas células receptoras. Isso ajuda o cérebro a detectar bor- célula bipolar. É por conta disso que não somos capazes de das e outros detalhes importantes do mundo visual. Mas a mai- ver cores na penumbra. Dessa forma, cones e bastonetes per- or parte do processamento da informação ocorre no cérebro. mitem tipos especiais de sensibilidade os cones encarregam- Todas as áreas da retina mandam suas informações para áreas se dos detalhes, e os bastonetes possibilitam enxergar com correspondentes do lobo occipital o córtex visual na área pos- pouca luz. terior do cérebro (Figura 5.9). Quando entramos em um teatro escuro ou apagamos a luz à A mesma sensibilidade que permite às células retinianas en- noite, nossas pupilas se dilatam para permitir que mais luz al- viar informações para o cérebro pode levá-las a disparar infor- cance os bastonetes na periferia da retina. Isso leva geralmente mações de forma inadequada. Desvie seus olhos para a esquer- 20 minutos ou mais antes de a adaptação ser completa. Você da, feche-os e então gentilmente esfregue o lado direito do olho pode demonstrar a adaptação ao escuro fechando ou cobrindo direito por sobre a pálpebra com a ponta do seu dedo. Perceba um olho durante 20 minutos ou mais. Diminua então a luz até que uma mancha de luz à esquerda se move junto com o movi- não ser quase mais possível ler este livro com o seu olho aberto. mento do seu dedo. Por que você vê a luz? Por que do lado es- Agora abra o olho tapado e leia (com facilidade). Esse período querdo? de adaptação ao escuro é uma das formas de adaptação dos nos- Nossas células retinianas são tão responsivas que mesmo a SOS sistemas sensoriais; ela é semelhante à transição natural pressão pode fazer com que disparem. Mas o cérebro interpreta crespuscular entre o pôr-do-sol e o escurecer. esse disparo como luz. E, além disso, ele interpreta como se a Sabendo tudo isso sobre o olho, você pode imaginar por que luz estivesse à esquerda, local de onde habitualmente vem a luz um gato vê muito melhor à noite do que nós? Existem pelo menos que atinge a retina à direita. duas razões: a pupila do gato pode se abrir muito mais que a nossa, permitindo a entrada de mais luz; e o gato tem uma pro- Detecção de características porção maior de bastonetes (Moser, 1987). Mas existe um pro- Quando registram informação na sua região do campo visual, blema: por ter menos cones, o gato vê menos detalhes e cores as células ganglionares individuais enviam sinais para o córtex que você. visual. Os ganhadores do Prêmio Nobel, David Hubel e Torsten146 CAPÍTULO CINCO Área visual do tálamo Nervo óptico Quiasma óptico Trato Retina óptico Córtex visual Fig. 5.9 Via neural dos olhos até o córtex visual Os neurônios dos nervos ópticos se dirigem para tálamo, onde fazem sinapses com neurônios que seguem para córtex visual. Wiesel (1979) demonstraram que o cérebro tem neurônios idéia básica é a de que a percepção nasce da interação de mui- detectores de características que recebem a informação e res- tos sistemas neurais, cada um responsável por uma tarefa sim- pondem a padrões específicos das cenas a determinados tipos ples. de limites, ângulos e movimentos. Por exemplo, uma célula córtex visual passa a informação para os lobos temporal e específica do cérebro pode responder maximamente a uma bar- parietal. Uma área do lobo temporal situada imediatamente atrás inclinada a um ângulo de 2 horas (Figura 5.10). Se a barra da orelha direita permite que percebamos rostos. Se essa área estiver inclinada de forma diferente digamos, a um ângulo de estiver danificada, você poderá ter dificuldades em reconhecer 3 horas ou 1 hora- a célula permanece em repouso. As células semblantes familiares, mas será capaz de reconhecer outros ob- que detectam padrões passam essas informações para outras jetos. Outras áreas do cérebro se acendem em estudos de resso- células que respondem apenas a padrões mais complexos. A nância funcional quando a pessoa vê imagens do corpo humano Respostas das celulas Estímulo Fig. 5.10 Eletrodos registram a maneira como células individuais no córtex visual de um macaco respondem a estímulos visuais distintos Hubel e Wiesel ganharam 0 prêmio Nobel pela descoberta de que a maioria das células no córtex visual responde apenas a características particulares por exemplo, à borda de uma superfície ou barra em um ângulo de 30 graus na parte direita superior do campo visual Características mais complexas disparam células detectoras de nível superior que integram informação a partir das mais simplesSENSAÇÃO 147 Ishai, Ungerleider, Martin and Haxby/NIMH Rostos Cadeiras Casas e cadeiras Casas Fig. 5.12 Como o cérebro percebe Quando você fixar olhar neste cubo de Necker, em decorrência Fig. 5.11 O cérebro revelador da constante estimulação da retina, sua percepção e a atividade Rostos, casas e cadeiras ativam áreas diferentes do cérebro. (A re- neural correspondente em seu cérebro vai mudar a cada breve produção colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.) intervalo de tempo. ou de objetos inanimados (Downing et alii, 2001). Danos a es- sugerem que qualquer imagem, como um rosto, pode ser que- sas áreas bloqueiam outros tipos de percepção enquanto pou- brada em padrões relacionados a alterações na intensidade da pam o reconhecimento de rostos. Alguns pesquisadores acredi- luz que podem ser descritos matematicamente. Dessa forma, ao tam que fantásticas combinações de atividade do lobo temporal enxergar, o cérebro pode realmente estar processando códigos ocorrem enquanto as pessoas olham para rostos, sapatos, gatos, matemáticos que representam uma determinada imagem casas e outras categorias de objetos (Figura 5.11). "Nós pode- (Kosslyn & Koening, 1992; Marr, 1982). Neurocientistas tra- mos falar se uma pessoa está olhando para um sapato, cadeira balhando com especialistas em computação estão simulando a ou rosto, com base nos padrões de sua atividade cerebral", es- configuração interconectada do cérebro, com redes em múlti- creveu o pesquisador James Haxby (2001). plos níveis. Seu objetivo é construir sistemas de visão artificial Outras células cerebrais relacionadas a funções superiores que respondam de forma semelhante às respostas dadas pelo respondem a cenas específicas, como um rosto ou braço em mo- nosso sistema visual. Por exemplo, eles simularam redes neu- vimento em uma direção em particular. O psicólogo David rais que respondem do mesmo modo que os humanos à imagem Perrett e seus colaboradores (1988, 1992, 1994) relataram que ilusória de um triângulo como o da Figura 5.13 como se esti- para importantes eventos e objetos biológicos, o cérebro de vessem reagindo a um triângulo de verdade (Finkel & Sajda, macacos (e certamente o nosso) tem uma "vasta enciclopédia 1994). visual" distribuída por células que respondem a um estímulo mas Processamento Paralelo não a outros. Perrett identificou células nervosas especializadas Considere alguns casos reais de dificuldades visuais especí- em responder a olhares específicos, ângulos da cabeça, postura ficas produzidas por lesões cerebrais específicas (de ou movimentos corporais. Outros agregados celulares integram Hoffman, 1998): essa informação e disparam apenas quando as pistas em con- junto indicam a direção e a aproximação de alguma pessoa. A análise instantânea que permitiu a sobrevivência de nossos an- cestrais também ajuda um jogador de futebol a se antecipar na direção do gol, como a um pedestre a antecipar o movimento de outro pedestre. Da mesma forma que a sua percepção do cubo de Necker na Figura 5.12 muda a cada poucos segundos, assim ocorre com a sua atividade no córtex visual. Embora a mesma imagem conti- nue a incidir sobre a retina, o cérebro constrói variadas percep- ções. Os pesquisadores também células nervosas que se ativam ou não, na dependência de como um macaco per- cebe uma determinada imagem, conforme registrado pelo mo- vimento de elevar e baixar os olhos (Barinaga, 1997; Logothetis & Schall, 1989). Esses estudos nos lembram que nosso sistema visual opera tanto no nível superior (top-down) como no nível inferior (bottom-up). A atividade cerebral que sustenta nossa Fig. 5.13 Um exemplo da realidade virtual do cérebro: con- percepção combina o input sensorial com nossas crenças e ex- tornos ilusórios pectativas. Redes neurais simuladas respondem ao triângulo ilusório da mes- Pesquisadores continuam debatendo a natureza precisa das ma forma que os seres humanos como se fosse um triângulo real, características e padrões que as células cerebrais detectam. Eles e não apenas três faces de Pac-Man.148 CAPÍTULO CINCO Ao olhar para a bandeira americana, o senhor W. era capaz Em decorrência disso, a retina projeta informações não ape- de ver as linhas e as estrelas. Mas "era se eu visse uma nas para uma área do córtex visual, mas também para várias parte aqui e a outra ali, e tivesse que colocá-las juntas para outras áreas, cada uma delas se tornando ativa em resposta à ver o que elas significavam". estimulação retiniana. Quando o cérebro integra a informação O senhor I., um artista que sofrera uma concussão aos 65 anos, visual, processamentos subseqüentes em outra área não conseguia mais ver cores, apenas tons cinza. Tomates lobo temporal, permitem-nos reconhecer uma imagem, como, pareciam pretos; flores, uma variedade de tons cinza. Mes- digamos, a rainha Elizabeth. O processamento completo de re- mo na sua vívida imaginação as cores tinham ido embora. conhecimento facial exige um tremendo poder do cérebro A senhora M., que sofrera um acidente vascular cerebral pró- 30% do córtex, 10 vezes a área dedicada à audição. E as com- ximo da parte posterior de ambos hemisférios, não conse- putações exigidas para a coordenação sensório-motora são guia mais perceber o movimento. Pessoas se movendo em mais complexas até que as computações envolvidas no racio- um quarto pareciam "de repente estar aqui ou ali, mas eu não cínio lógico. Atualmente dispomos de computadores capazes podia vê-las se movendo". Era um desafio colocar o chá em de jogar xadrez com campeão Garry Kasparov, mas esta- uma xícara, pois o líquido parecia estar congelado e ela não mos muito longe de robôs computacionalmente motivados era capaz de perceber seu movimento na xícara. (Você pode que possam jogar tênis com Venus Williams, e não apenas experimentar a mesma perda da sensação de movimento se limpar a casa. ocorrer uma estimulação magnética na área correspondente Essas observações revelam o notável poder da inteligência de seu cérebro.) visual humana. Impulsos neurais viajam um milhão de vezes mais lentamente que as mensagens internas de um computa- Esses e outros casos sugerem que, diferentemente dos compu- dor, porém, apesar do desenvolvimento de câmaras de segu- tadores, que seguem um padrão passo a passo serial, nosso cé- rança ligadas a softwares para o reconhecimento de faces, rebro se engaja em um processamento paralelo, o que signifi- nossos cérebros vencem qualquer computador reconhecendo ca que nós podemos executar várias coisas ao mesmo tempo. um rosto familiar de forma instantânea. "Você pode comprar Nós construímos nossas percepções por meio do trabalho inte- uma máquina de xadrez capaz de vencer um mestre", disse grado de diferentes equipes visuais, trabalhando em paralelo. Donald Hoffman (1988, p. xiii), "mas ainda não pode comprar Destrua ou danifique a estação de controle neural de uma uma máquina de visão capaz de vencer a visão de uma criança subtarefa visual e algo de peculiar resultará. de 2 anos." O cérebro divide a cena visual em subdimensões, como cor, A distribuição de tarefas visuais para os diferentes grupos profundidade, movimento e forma, e trabalha em cada aspecto neurais de trabalho explica os casos peculiares de disfunção simultaneamente (Livingstone & Hubel, 1988). Como David visual. Quando uma pessoa perde uma porção do córtex Rumelhart (1989) explicou, a divisão de trabalho entre redes devido a acidente vascular ou cirurgia, pode ocorrer uma ceguei- neurais especializadas e sobrepostas explica a lentidão do cére- ra em parte do campo visual, um fenômeno denominado visão bro: cega. Se mostrarmos uma série de traços no campo cego, essa Embora o cérebro tenha componentes tem muitos pessoa relata não estar vendo nada. Quando solicitada a desses componentes. O cérebro humano contém bilhões des- conjecturar se os traços estão na vertical ou na horizontal, ela ses elementos processadores. Diferentemente de organizar oferece, seguramente, a resposta correta. Quando afirmamos computações com inúmeras etapas seriais, como é o caso de "Você acertou todas!", ela fica surpresa. Essa pessoa claramen- sistemas [computadores] cujas etapas são extremamente rá- te sabia mais do que achava saber. Ela é capaz de apertar uma pidas, o cérebro precisa se desdobrar em muitos elementos mão estendida que não consegue ver. Existem, ao que parece, processadores que conduzem suas atividades cooperativa- pequenas mentes agentes sistemas de processamento paralelo mente e em paralelo. operando de forma automática. Cor Movimento Profundidade Processamento paralelo Estudos de pacientes com lesão cerebral sugerem que cérebro delega trabalho de processar movimento, forma e profundi- dade a áreas distintas. Após desmontar uma cena, como cérebro integra essas subdimensões em uma imagem percebida? A res- posta para essa questão é Santo Graal da pesquisa sobre visão. (A reprodução colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.)SENSAÇÃO 149 De fato, "visão não vista" é como o psicólogo David Milner (2003) da Universidade de Durham descreve os dois sistemas do cérebro "um que nos dá a percepção consciente, e nutro que guia as nossas ações". Ao segundo sistema ele deno- minou "zumbi interno". Milner descreveu uma mulher com dano cerebral que podia ver pequenos detalhes, como o cabelo no no dorso de uma mão, sem ser capaz de reconhecer a mão. Ela não de usar os dedos polegar e indicador para estimar o amanho de um objeto. No entanto, quando tinha que pegar um m objeto com esses dedos ela o fazia adequadamente. Ela sabe mais tem ciência. Percepção Sem percepção Outros sentidos processam a informação com a mesma ve- Fig. 5.14 A sombra de uma percepção ocidade e complexidade. Ao abrir a porta dos fundos, você re- conhece o aroma da cozinha antes mesmo de entrar. Ao atender Pouco após ter visto uma face, ondas cerebrais detectadas por vários eletrodos no couro cabeludo ficam momentaneamente sin- telefone, você reconhece a de um amigo no momento em cronizadas. As linhas entre pontos dos eletrodos indicam au- que ele diz "oi". Uma fração de segundos após esses eventos mento da sincronia. (De Rodriguez et alii, 1999.) estimularem nossos sentidos, milhões de neurônios estarão si- multaneamente coordenados na extração de características es- senciais, comparando-as com a experiência passada, e identifi- cando o estímulo (Freeman, 1991). Esse entendimento científico do processamento da informa- No instante em que seu cérebro une as informações, permi- ção sensorial é ilustrado pela reflexão do neuropsicólogo Roger tindo a sua irmã que seja reconhecida em um mar de rostos, agru- Sperry (1985): "Os insights da ciência acrescentaram razões para distantes de neurônios sincronizarão momentanea- a admiração, o respeito e a reverência." Pense a respeito: quan- mente sua O registro do EEG revela a integração das do se olha-para alguém, informação visual é enviada para o partes distribuídas do cérebro que realizaram seus cérebro como milhões de impulsos nervosos, sendo então cons- processamentos: por aproximadamente um quarto de segundo, truída a partir de suas características componentes e composta milhares de neurônios emitem sinais em uma freqüência de 40 como uma imagem dotada de significado; essa imagem é, en- ciclos por segundo, criando ondas gama (Rodriguez et alii, tão, comparada com imagens previamente armazenadas e reco- 1999). Por esse breve momento, áreas distantes do cérebro co- nhecidas como, por exemplo, a sua avó. O processamento total laboram, e o resultado é algo que nenhum grupo neural isolado (Figura 5.15) é mais complexo que transportar um carro, peça poderia alcançar: um reconhecimento consciente (Figura 5.14). por peça, e depois remontá-lo por meio do trabalho de operári- Detecção de características: células Abstração: células detectoras do cérebro cerebrais de nível respondem a superior respondem à características informação combinada elementares - de células detectoras barras, bordas ou de características gradientes de luz Processamento da retina: Reconhecimento: bastonetes e cones cérebro combina a receptores células imagem construída com bipolares células imagens armazenadas Tim Bieber/ The Image Bank ganglionares Cena Fig. 5.15 Resumo simplificado do processamento da informa- ção visual150 CAPÍTULO CINCO OS especializados. Tudo isto ocorre instantaneamente, sem es- três cores primárias vermelho, verde e azul. Assim, eles infe- forço e de forma contínua. riram que o olho deveria ter três tipos de receptor, um para cada tipo de cor. VISÃO COLORIDA Anos mais tarde, pesquisadores mensuraram a resposta de vá- Nós falamos como se os objetos possuíssem cor. Nós dizemos, rios cones para diferentes estímulos de cor e confirmaram a te- "Um tomate é Talvez você já tenha ponderado so- oria tricromática (três cores) de Young-Helmholtz, que sim- bre esta antiga questão: "se uma árvore cair em uma floresta e plesmente afirma que a retina tem três tipos de receptores ninguém ouvir, será que ela emite algum ruído?" Nós podemos cores, cada um especialmente sensível a uma das três cores E perguntar o mesmo no tocante às cores: se ninguém vir o toma- surpresa! Essas cores são, de fato, vermelho, verde e azul. Quan- te, será que ele é vermelho? do estimulamos combinações desses cones, nós vemos as A resposta é não. Primeiramente, o tomate é qualquer coisa, res. Por exemplo, não existem receptores sensíveis ao menos vermelho, pois ele rejeita (reflete) os comprimentos de Nós vemos o amarelo quando os receptores vermelhos verdes onda do vermelho. Em segundo lugar, a cor do tomate é uma são estimulados em conjunto. construção mental. Como Isaac Newton (1704) percebeu, "os Se você está tentando interpretar tudo isso a partir de seu co- raios (de luz) não são coloridos". A cor, como todos os outros nhecimento da mistura de tintas, é melhor pensar de novo. A aspectos da visão, não reside nos objetos, e sim no grande tea- mistura de tintas é uma mistura subtrativa pois ela subtrai 0 tro de nossos cérebros. Mesmo enquanto sonhamos, nós perce- comprimento de onda da reflexão da luz. Quanto mais cores você bemos as coisas em cores. misturar, menos comprimentos de onda podem ser refletidos de No estudo da visão, um dos mistérios mais básicos e intri- volta. Dessa forma, misturando a azul com o amarelo, sobra gantes é como vemos o mundo em cores. Como, a partir da ener- apenas o verde para ser refletido de volta. Combinando verme- gia luminosa que atinge a nossa retina, o cérebro cria nossa ex- lho, azul e amarelo, nenhuma onda de luz será refletida, e você periência de cor e essa quantidade de cores? Nosso limiar di- verá a cor preta ou marrom. Mas misturando as luzes, como ferencial para as cores é tão baixo que somos capazes de discri- Young e von Helmholtz fizeram, haverá mistura de cor aditiva, minar cerca de 7 milhões de diferentes variações de cor (Geldard, pois o processo adiciona comprimentos de onda e, conseqüen- 1972). temente, aumenta a luz ao combinar, por exemplo, as luzes Pelo menos a maior parte de nós consegue. Para uma em cada vermelha, azul e verde, fabricaremos a luz branca (Figura 5.16). cinqüenta pessoas, a visão é deficiente em cores essa pessoa A maior parte das pessoas com deficiência para enxergar cor é, em geral, do sexo masculino, pois trata-se de uma deficiência não é na verdade Elas simplesmente perdem a fun- ligada ao sexo. Para entender por que algumas pessoas apresen- ção de seus cones vermelhos ou verdes. Sua visão é dicromática tam deficiência para a visão de cor, será interessante entender (duas cores) em vez de tricromática, tornando difícil a distin- primeiro como funciona a visão normal de cor. ção entre verde e vermelho, conforme observamos na Figura O moderno trabalho de investigação sobre o mistério da vi- 5.17 (Boynton, 1979). Os cães também não têm receptores para são de cor começa no século XIX, quando Hermann von o comprimento de onda vermelho, fazendo com que tenham uma Helmholtz teorizou a partir dos insights de um físico inglês, limitada visão dicromática (Neitz et alii, 1989). Thomas Young. Young e von Helmholtz sabiam que qualquer Pouco tempo depois de Young e von Helmholtz terem ela- cor poderia ser criada pela combinação das ondas luminosas das borado a teoria tricromática, o fisiologista Ewald Hering apon- Fritz Goro, LIFE Magazine, © Year TIME Inc. Reimpresso com permissão. Combinação de cores subtrativas Combinação de cores aditivas Fig. 5.16 Mistura de cores subtrativa e aditiva A combinação de cores distintas subtrai comprimentos de onda. A combinação das três cores primárias produz preto. A combinação de luzes é aditiva, porque comprimentos de onda de cada luz, na combinação, alcançam olho, e a combinação de todas as três cores primárias luminosas produz branco. (A reprodução colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.)SENSAÇÃO 151 Um século atrás, os pesquisadores confirmaram a teoria do processo oponente de Hering. Após ter deixado as células re- ceptoras, a informação visual é analisada em termos de cores oponentes, verde e vermelho, azul e amarelo, além de preto e branco. Na retina e no tálamo (onde os impulsos oriundos da retina são retransmitidos rumo ao córtex visual), alguns neurô- nios são "ligados" pelo vermelho ou "desligados" pelo verde. Outros são ligados pelo verde e desligados pelo vermelho (DeValois & DeValois, 1975). Assim, se você detectar uma dessas cores em um determinado ponto da retina, não será pos- sível detectar simultaneamente a cor oposta no mesmo ponto, ou seja, você nunca verá um vermelho esverdeado. Processos oponentes explicam as pós-imagens, como na de- monstração da bandeira, na qual nós cansamos nossa resposta ao verde olhando continuamente para este. Quando, depois, fi- xarmos o olhar no branco (que contém todas as cores, incluindo o vermelho), apenas a parte vermelha do par vermelho/verde vai disparar normalmente. A solução presente para o mistério da visão de cor é basica- Fig. 5.17 Visão deficiente para cores mente a seguinte: o processamento das cores ocorre em dois Pessoas que sofrem de deficiência para vermelho-verde apresen- estágios. Os cones vermelho, verde e azul da retina respondem tam, também, dificuldade para perceber número que está no in- em graus variados a diferentes estímulos de cor, como a teoria terior do desenho. (A reprodução colorida desta figura encontra- tricromática de Young-Helmholtz sugerira. Seus sinais são en- se no encarte em cores.) tão processados pelas células do processo oponente que estão no trajeto para o córtex visual. Constância da Cor tou que outros aspectos do mistério da visão de cor permaneci- Nossa experiência da cor depende de algo além da informação am não resolvidos. Por exemplo, nós vemos o amarelo quando do comprimento de onda, recebida por cones tricromáticos e misturamos as luzes vermelha e verde. Mas como as pessoas transmitida pelas células do processo oponente. cegas para o verde e o vermelho podem ainda enxergar o ama- Esse algo a mais é o contexto que nos cerca. Se você olhar relo? E por que o amarelo parece ser uma cor pura e não uma apenas uma parte de um tomate, sua cor parece mudar com a mistura de verde e vermelho, da mesma forma que o roxo é para modificação da luz. Mas se você olhar o tomate inteiro como vermelho e azul? parte de uma tigela de vegetais frescos, sua cor permanecerá Hering encontrou uma pista na ocorrência.de um fenômeno constante mesmo com as mudanças de luminosidade e compri- conhecido como "pós-imagem ou imagem persistente". Quan- mento de onda um fenômeno chamado de constância da cor. do você olha para um quadrado verde por algum tempo, e de- Dorothea Jameson (1985) observou que uma ficha colorida de pois olha para uma folha de papel em branco, você vê verme- azul sob uma iluminação de interior combina com o comprimen- lho, a cor oponente do verde. Olhe para um quadrado amarelo e to de onda refletido por uma ficha dourada à luz do sol. Porém, verá depois sua cor oponente, o azul, na folha em branco (como se você trouxer um pássaro azul para dentro de casa, ele não se na demonstração na Figura 5.18). Hering relatou que existiam tornará um pintassilgo. Da mesma forma, uma folha verde de dois processos de adição de cores, um responsável pelo verme- um marrom pode, quando a iluminação muda, refletir a lho versus o verde e um pelo amarelo versus o azul. mesma luz que o galho marrom. Porém, para nós, a folha conti- Fig. 5.18 Efeito pós-imagem ou imagem posterior Olhe fixamente para centro da bandeira por um minuto e depois desvie olhar para o ponto no espaço em branco que está ao lado dela. O que você vê? (Após cansar sua resposta neural para preto, verde e amarelo, você deve ver suas cores oponentes.) Fixe olhar em uma parede branca e observe como tamanho da bandeira aumenta com a distância da projeção! (A reprodução colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.)152 CAPÍTULO CINCO nua verde. Coloque óculos de esquiar de cor amarela, e após alguns instantes a neve estará tão branca quanto antes. Embora possamos considerar natural a constância de cor um privilégio, é um fenômeno realmente admirável. Ele demonstra que nossa experiência da cor advém não do objeto a cor não está apenas na folha isolada mas de tudo, também, de tudo o que está em torno. Você e eu vemos as cores graças à computação que nosso cérebro realiza da luz refletida por qual- quer objeto sendo esse objeto relativo a outros objetos cir- cundantes. Em um contexto que não varie, nós mantemos a constância da cor. Mas o que ocorre se houver uma mudança no contexto? Tendo em vista que o cérebro computa a cor de um objeto rela- tivo a seu contexto, a cor percebida muda (como pode ser ob- servado na Figura 5.19). Esse princípio de que nós percebe- R. Beau Lotto at University College, London mos objetos em seu contexto ambiental e não isoladamente é especialmente significativo para artistas, decoradores e estilistas de moda. Nossa percepção da cor de uma parede ou de uma pin- celada de tinta em uma tela é determinada não apenas pela cor da Fig. 5.19 A cor depende do contexto tinta na lata, mas pelas cores circundantes. Podemos, então, extra- Acredite ou não, estes três discos azuis têm cores (A re- ir a seguinte lição: as comparações governam nossas percepções. produção colorida desta figura encontra-se no encarte em cores.) REVEJA E REFLITA VISÃO Cada órgão do sentido recebe O estímulo, transforma-o em sinais processamento paralelo. A via visual representa de forma fiel a neurais e envia estas mensagens neurais para cérebro. Nós ana- estimulação retiniana, mas a representação cerebral incorpora lisamos brevemente como esse processo ocorre na visão. nossas crenças, interesses e expectativas. Input do Estímulo: A Energia Luminosa Visão Colorida A energia que experienciamos como luz visível é uma parte pe- Pesquisas sobre como vemos as cores confirmam duas teorias do quena do amplo espectro de radiação eletromagnética. Os tons e século XIX. Primeiramente. conforme a teoria tricromática (três brilhos que percebemos na luz dependem de seu comprimento de cores) de Young-Helmholtz sugere, a retina contém três tipos de onda e de sua intensidade. cones, sendo cada um deles mais sensível ao comprimento de onda de cada uma das três cores primárias da luz (verde, vermelho e Olho Após entrarem no olho e serem focadas pela lente do cristalino, as azul). Em segundo lugar, como afirma a teoria do processo oponen- ondas de luz atingem a retina. Os cones, estruturas da retina que te, sistema nervoso codifica a informação relacionada a cor, a pro- são sensíveis à luz, e os bastonetes, que são sensíveis à cor, con- veniente dos cones em pares de cores oponentes, como é demons- vertem a energia luminosa em impulsos neurais, que são codifica- trado no fenômeno da pós-imagem e confirmado pela mensuração dos pela retina antes de viajarem ao longo do nervo óptico até dos processos oponentes no interior dos neurônios visuais do tála- mo. O fenômeno da constância da sob iluminação variável cérebro. mostra que nosso cérebro constrói nossa experiência da Processamento da Informação Visual No córtex, neurônios individuais, denominados detectores de ca- Teste a Si Mesmo: Relembre a rápida seqüência existente entre racterísticas, respondem a características específicas de um estí- 0 ato de enxergar e de reconhecer alguém mulo visual. Sua informação é acumulada para ser interpretada por Pergunte a Si Mesmo: Se você fosse forçado a desistir de um dos células cerebrais de níveis mais complexos. Subdimensões da vi- seus sentidos, qual seria? Por quê? são (cor, movimento, profundidade e forma) são processadas se- As respostas ao Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no apêndice situado no parada e simultaneamente, ilustrando a capacidade cerebral para final do AUDIÇÃO APRESENTAÇÃO PRÉVIA: Não tão misterioso, mas ainda assim lhor aqueles que têm freqüência na faixa semelhante à da voz fantástico, é outro dos aspectos de nossa experiência quotidi- humana. Nós somos admiravelmente sensíveis a sons ana: processo pelo qual nós convertemos as ondas de pres- uma óbvia bênção para a sobrevivência de nossos ancestrais são aérea em mensagens neurais que nosso cérebro interpreta quando caçavam ou eram caçados, e ao murmúrio de um como uma sinfonia sonora dotada de significado. Como faze- (Se nossos ouvidos fossem muito mais sensíveis, poderíamos ouvir o constante assobio do movimento das moléculas do ar.) mos isso? que agride nosso sistema causando perda auditi- Nós somos também altamente sensíveis à diferença entre sons. va? Como é viver sem ouvir? Nós facilmente detectamos diferenças entre milhares de vozes Como nossos outros sentidos, a audição é altamente adaptativa. humanas, o que nos ajuda a reconhecer imediatamente a Nós ouvimos uma ampla variedade de sons, mas ouvimos me- daqueles que conhecemos.SENSAÇÃO 153 Para ouvir, assim como para ver, uma questão fundamental permanece como fazemos isso? Como transformamos a ener- gia sonora em mensagens neurais que o cérebro interpreta como um som em particular, vindo de algum lugar em especial? INPUT DO ESTÍMULO: ONDAS SONORAS Toque o teclado de um piano e a energia do estímulo resultante são ondas sonoras moléculas de ar se encontrando, cada uma empurrando a próxima, exatamente como uma multidão saindo de um concerto por uma saída estreita. As ondas resultantes da John Assady, Gordon Shepherd, and David Corey/Massachusetts General Hospital compressão e expansão do ar se parecem com as ondulações produzidas quando jogamos uma pedra em um lago. Como nós nos movemos em um oceano de moléculas que estão em movi- mento, nossos ouvidos detectam essas breves modificações da Seja amável com as suas células ciliares da orelha interna pressão do ar. Eles, então, as transformam em impulsos neurais, Quando vibram em resposta ao som, estes 50 a 60 cílios mostra- que nosso cérebro codifica como som. A força, ou amplitude, dos no topo de uma célula ciliada produzem um sinal elétrico. das ondas sonoras determina a sua intensidade ou audibilidade (loudness). As ondas também variam em comprimento e, con- seqüentemente, em freqüência (lembre-se da Figura 5.4). Sua determina sua altura (pitch): ondas longas têm bai- nós toleramos um estímulo um trilhão de vezes mais intenso que xa freqüência e uma altura menor. Ondas curtas têm alta fre- uma luz tênue vagamente perceptível.) Porém, quando ocorre a e uma altura maior. Uma flauta produz ondas sonoras exposição prolongada a sons acima de 85 decibéis, pode ocor- mais rápidas e curtas que uma tuba. rer perda auditiva (Figura 5.20). Decibéis são a unidade de medida para a energia sonora. O limiar absoluto para a audição é arbitrariamente definido como A ORELHA 0 decibel. A cada 10 decibéis corresponde um aumento de dez Para ouvir, nós temos que de alguma forma converter as ondas vezes no som. Dessa forma, a conversa normal (60 decibéis) é sonoras em atividade neural. Mas como? A orelha humana re- 10.000 vezes mais alta que um sussurro de 20 decibéis. E a pas- solve esse problema por meio de um mecanismo intrincado de sagem tolerável de um trem de metrô (100 decibéis) é 10 bilhões reação em cadeia (Figura 5.21). Em primeiro lugar, a orelha de vezes mais alto que o som mais fraco detectável. (Para a luz externa visível canaliza as ondas sonoras até o tímpano, uma membrana delicada que vibra com as ondas sonoras. A orelha média então transmite as vibrações do tímpano através de um pistão formado por três pequenos ossos (martelo, bigorna e es- tribo) para um tubo cônico, enrolado como a concha de um ca- racol localizado na orelha interna e denominado cóclea. As vi- Decibéis 140 prolongada brações que chegam fazem com que a membrana da cóclea (ja- amplificada) 130 nela oval) vibre o líquido que preenche o tubo. Esse movimen- distância acima de to ocasiona ondulações na membrana basilar, que é revestida 120 Trovão provoca pelas células ciliadas, assim denominadas em decorrência de jato a 110 perda de suas finíssimas projeções em forma de cílio. Ao final dessa se- 150 metros audição qüência, as ondulações da membrana basilar balançam essas 100 Trem de metrô a 6 metros células ciliadas. movimento das células ciliadas dispara im- 90 pulsos nas fibras nervosas adjacentes, que por sua vez conver- gem para formar o nervo auditivo. Através dessa cadeia mecâ- 80 Esquina de rua movimentada nica de eventos, as ondas sonoras fazem com que as células 70 ciliadas da orelha interna enviem mensagens neurais para o cór- 60 Conversa normal tex auditivo do lobo temporal. Da vibração do ar para o movi- mento do pistão que produz ondulações em um líquido; das on- 50 dulações ao impulso elétrico que chega ao cérebro: voilà! Eis o 40 Sala típica trajeto da audição. Meu voto para a parte mais fantástica do processamento au- 30 ditivo vai para as células ciliadas, que quando lesionadas res- 20 Sussurro pondem pela maior parte das perdas auditivas. Em 1997, Howard Hughes Medical Institute relatou "esses feixes tremu- 10 lantes que nos permitem admirado com a "extrema sen- 0 Limiar de audição sibilidade e velocidade" dessas células. A cóclea tem 16.000 delas, o que pode parecer muito até que comparemos com os 120 milhões de receptores ou fotorreceptores de um olho só. Mas Fig. 5.20 A intensidade de alguns sons comuns consideremos sua responsividade. A deflexão de um fino feixe Estabelecendo uma estimativa aproximada, a trovoada que acom- de um cílio, na extremidade de uma célula ciliada, da largura de panha relâmpago tem uma intensidade de 120 decibéis. um átomo o equivalente a mover uma polegada a Torre Eiffel154 CAPÍTULO CINCO Orelha (a) Orelha externa média Orelha interna Canais semicirculares Ossos da Osso orelha média Nervo auditivo Cóclea Ondas sonoras Tímpano Canal auditivo Janela oval (onde estribo se liga) Cóclea parcialmente desenrolada Córtex auditivo do lobo temporal Bigorna Martelo Estribo (b) Nervo auditivo Ondas Fibras nervosas para nervo auditivo sonoras Membrana basilar com projeções de células ciliadas Tímpano Janela oval Movimentação de líquido na cóclea Ampliação da orelha média e da orelha interna mostrando a cóclea parcialmente desenrolada para melhor visualização Fig. 5.21 Como transformamos as ondas sonoras em impulsos neurais que são interpretados pelo nosso cérebro (a) A orelha externa afunila as ondas sonoras para tímpano. Os OSSOS da orelha média amplificam e transmitem as vibrações do tím- pano através da janela oval para a cóclea (repleta de líquido). (b) Conforme é evidenciado neste detalhe da orelha média e da orelha interna, as mudanças de pressão que ocorrem no líquido coclear produzem a ondulação da membrana basilar, balançando as células ciliadas na sua superfície. O movimento das células ciliadas dispara impulsos para a base das células nervosas, cujas fibras convergem para formar nervo auditivo. (Com a finalidade de obter maior clareza, a cóclea é mostrada aqui parcialmente desenrolada.) faz com que a célula alertada dispare uma resposta neural. Além no entanto, delicadas e frágeis. Buzine-as com um ruído inces- disso, na mais alta freqüência perceptível, as células ciliadas sante de uma britadeira e as células ciliadas vão começar a se podem ligar e desligar a corrente neural milhares de vezes por fundir ou empalidecer (ver seção Em Foco: Um Ruído Barulhen- segundo. Como você pode esperar de algo tão sensível, elas são, to Incomoda Muita Gente). EM FOCO UM BARULHENTO MUITA GENTE A vida moderna é barulhenta. tráfego ruge. As máquinas das fábri- dando sobre ele as fibras se amassam mas retornam à forma anterior; cas fazem estardalhaço. Britadeiras estouram pavimento Para es- porém, se colocarmos um móvel pesado por um longo tempo, elas não capar para sons mais agradáveis, corredores se exercitam ao som de vão retornar à forma original. música intensa em seus fones de ouvido. Com a industrialização, ferramentas poderosas e recreações baru- A intensidade de todo esse ruído causa um problema. Exposições lhentas, a de americanos de 45 a 64 anos que "não conse- breves a sons extremamente intensos, como disparo de uma arma guiam ouvir e entender fala normal" cresceu em 87% nas duas decádas de fogo próxima do ouvido, e exposição prolongada a sons após 1971 (do National Health Interview Survey, 1994). como música amplificada; podem provocar a lesão das células recep- mesmo OS clubes e academias que usam comumente música acima toras e dos nervos auditivos (Backus, 1977; West & Evans, 1990). Cé- de 100 decibéis podem estar danificando a saúde de seus clientes. lulas ciliadas têm sido comparadas com as fibras de um carpete. An- (continua)SENSAÇÃO 155 EM FOCO UM BARULHENTO INCOMODA MUITA GENTE (Continuação) Pete Townshend, do grupo de rock The Who, enviou um cheque de tes próximos do novo pioraram (Hygge et 2002). Pessoas que vivem dólares para a Hearing Education and Awareness for com barulho contínuo em fábricas, em casa perto de aeroportos ou em por conta de sua própria perda auditiva. Embora rock-and-roll esteja apartamentos ao lado de linhas de trem ou de auto-estradas também para ficar, a triste verdade é a de que a audição dos roqueiros não sofrem de altas taxas de doenças ao estresse: pressão alta Como regra geral, se você não consegue falar em tom acima de um ansiedade e ataques de pânico são comuns (Evans et alii, 1995). ruído, este é potencialmente perigoso, sobretudo se for prolongado Mas é realmente ruído que causa o'estresse? Vários experimen- (Roesser, (Pessoas que passam seus dias dirigindo um trator ou tos em laboratório sobre OS efeitos do ruído sugerem uma manuseando uma britadeira devem usar protetores de ouvido.) E se resposta. Em um desses experimentos; David Glass Jerome Singer experimentarmos a sensação de uma campainha na orelha após a ex- (1972) gravaram fitas do barulho de máquinas de escritório e de pes posição a uma máquina barulhenta ou música alta, nós estamos sendo soas falando uma mistura de línguas. Enquanto eles executavam com nossas infelizes células ciliadas. Como a dor nos alerta para as tarefas, OS trabalhadores ouviam as fitas, às vezes alto, as vezes corporal, um zumbido para um possível dano baixo, e em intervalos previsíveis e imprevisíveis. A despeito das con- E equivalente auditivo do sangramento. "Camisinha, ou melhor ain- dições, as pessoas rapidamente se adaptavam ao ruído previsível, e da, abstinência" dizem educadores sexuais. "Protetores de orelha, cumpriam adequadamente a maior parte das tarefas. Porém quando ou melhor, se afaste" dizem OS educadores da audição expostas mais tarde ao imprevisível, fizeram mais erros em tare- afeta não apenas mas também nosso compor- fas já conhecidas, e reagiram mais rapidamente com tamento. Em tarefas que requerem atenção, pessoas em ambien- Conclusão: ruído e especialmente estressante quando não pode te barulhento trabalham de forma menos eficiente e cometem mais ser antecipado ou controlado. que explica por que berro ante erros Quando aeroporto internacional de Mu- cipado de alguém no microfone pode ser muito mais perturbador que nique abriu, OS escores de memória duradoura è leitura de estudantes mesmos decibéis de mesmos. Nessas ocasiões desejamos que vizinhos do antigo aeroporto aumentaram, enquanto estudan- nossas orelhas tivessem pálpebras. E como percebemos o ruído? Não é, como você pode ter ima- Embora a teoria espacial explique como ouvimos os sons agu- ginado, pela intensidade da resposta das células ciliadas. Um som dos, ela não explica como ouvimos os sons graves, pois os si- suave e puro ativa apenas as poucas células relacionadas à sua nais neurais que estes geram não estão tão especificamente lo- freqüência. Sons mais altos ativam as células da vizinhança. calizados na membrana basilar. A teoria da freqüência sugere Assim, o cérebro pode identificar a intensidade (audibilidade) uma explicação alternativa para a detecção da altura. Toda a do som pelo número de células ativadas. membrana basilar vibra com a onda sonora que chega, dispa- Se uma célula ciliada perde sua sensibilidade para sons sua- rando impulsos neurais para o cérebro na mesma taxa dessa onda. ves, ela pode ainda responder a sons mais elevados. Isso ajuda Se a onda sonora tem uma freqüência de 100 ondas por segun- a explicar outra surpresa: na verdade, sons mais elevados pare- do, então 100 pulsos por segundo serão conduzidos através do cem tão altos para pessoas com ou sem perda auditiva o que nervo auditivo. Dessa forma, o cérebro pode ler a altura a partir explica por que pessoas com severas dificuldades auditivas não da freqüência dos impulsos neurais. querem todos os sons (altos ou suaves) amplificados. Elas gos- A teoria da freqüência pode explicar como percebemos sons tam do som comprimido, ou seja, que os sons suaves sejam graves; isso porém é muito problemático: neurônios indivi- amplificados mais que os sons altos (uma característica das duais não podem disparar mais de 1.000 vezes por segundo. modernas próteses auditivas digitais). Como essa teoria poderia então justificar nossa capacidade para apreender sons com freqüência superior a 1.000 ondas por se- Como Percebemos a Altura? gundo (grosseiramente, acima de um terço do teclado de um Como podemos saber se um som é de alta como é o piano)? Consideremos o princípio da descarga da artilharia: tal trinado agudo de um pássaro, ou de baixa como o como os soldados que alternam seus disparos (enquanto uns som grave do ronco de um caminhão? O pensamento corrente atiram, outros recarregam suas armas), um grupo de células sobre como discriminamos a altura, da mesma forma que pen- neurais pode alternar seus disparos. Através dos disparos em samento corrente da discriminação da cor, combina duas teorias. rápida sucessão eles podem atingir combinadamente uma fre- A teoria espacial de Hermann von Helmholtz supõe que nós qüência superior a 1.000 vezes por segundo. ouvimos alturas diferentes porque diferentes ondas sonoras Portanto, a teoria espacial explica melhor como sentimos al- disparam atividade em diferentes locais ao longo da membrana turas elevadas, e a teoria da freqüência explica melhor como ou- basilar da cóclea. Assim, cérebro pode determinar a altura de vimos alturas baixas, e algumas combinações das duas teorias um som reconhecendo de que parte da membrana ele recebeu ajudam a explicar como lidamos com a faixa intermediária. OS sinais neurais. Quando o prêmio Nobel Georg von Békésy (1957) fez orifícios na cóclea de porcos-da-índia e de cadáve- Como Localizamos Sons? res humanos e observou seu interior dentro delas por meio de Por que nós não temos apenas uma orelha grande talvez aci- um microscópio, ele descobriu que a cóclea vibra em resposta ma do nosso nariz? Para ouvir melhor você, como disse'o Lobo aos sons, como um cobertor balançado. As freqüências produ- Mau para a Chapeuzinho Vermelho. Assim como a colocação zem vibrações amplas próximas do início da membrana coclear, de nossos olhos permite o senso de profundidade, a localização e baixas, próximas do final. de nossas duas orelhas nos permite sentir o som estereofonica-156 CAPÍTULO CINCO cabeça. Você vai descobrir facilmente quando 0 som vier dos lados, porém cometerá alguns erros quando ele vier de de trás, de baixo ou da frente. Isso ocorre porque, quando tentar localizar o som, inclinará a cabeça, e assim suas orelhas recebe- rão informações discretamente diferentes. Ar PERDA AUDITIVA E CULTURA SURDA A estrutura delicada e intrincada das orelhas as torna vulne- ráveis a danos. Problemas com o sistema mecânico que con- duz as ondas sonoras para a cóclea causam a perda auditiva condutiva. Se o tímpano estiver perfurado, ou se OS ossículos da orelha média perderem a capacidade de vibrar, a habilida- de da orelha de conduzir as vibrações diminui. Próteses au- Sombra de som ditivas digitais melhoram a audição pela amplificação das vi- brações de freqüências (geralmente alta nas quais a audição da pessoa é mais fraca, e também pela compressão dos sons (amplificando sons suaves mas não os sons altos). Fig. 5.22 Como localizamos os sons As ondas sonoras atingem uma orelha mais rápido e intensamen- te do que a outra. A partir dessa informação, nosso ágil cérebro cal- cula a localização do som. Sendo assim, as pessoas que perdem Experimentos estão tentando também restaurar a visão totalmente a audição em uma orelha, em geral, apresentam difi- com uma retina biônica (um microchip de 2 de diâ- culdade para localizar sons. metro com 5.000 células solares que estimulam a retina danificada) e com uma câmara de vídeo e computador que es- timulam córtex visual. Em ensaios de testes, ambas as ferra- mente ("em três dimensões"). A pequena diferença nas mensa- mentas permitiram que cegos tivessem uma visão parcial gens sentida pelo uso de dois microfones para criar o efeito es- (Dobelle, 2000; Steenhuysen, 2002). tereofônico imita a pequena diferença das mensagens sonoras recebidas por nossas duas orelhas. Danos às células ciliadas receptoras da cóclea ou de seus ner- Duas orelhas são melhores que uma por pelo menos duas ra- vos associados podem causar perda auditiva sensorioneural zões. Se um carro buzinar à sua direita, sua orelha direita rece- (ou surdez neural). Algumas doenças podem provocar perda au- be um som mais intenso e um pouco antes que a orelha esquer- ditiva sensorioneural; é mais freqüente, porém, que alterações da (Figura 5.22). Como o som viaja a uma velocidade de 750 biológicas ligadas à idade (Figura 5.23) e exposição prolonga- milhas por hora, e nossas orelhas estão separadas apenas por al- da a barulhos incômodos ou à música a causem. Uma vez gumas polegadas, a diferença de intensidade e o atraso de tem- destruídos, esses tecidos permanecem mortos, um aparelho au- po são extremamente pequenos. Porém, nosso sistema auditivo ditivo pode amplificar som bastante para ativar as células pode realmente detectar diferenças ínfimas (Brown & Deffen- da vizinhança. Em alguns animais, como tubarões e pássaros, bacher, 1979; Middlebrooks & Green, 1991). A menor diferen- as células ciliadas podem se regenerar, e cientistas descobriram ça perceptível na localização de dois sons pode corresponder a formas de estimular quimicamente as células ciliadas de porcos- uma diferença de tempo de 0,000027 segundo! Programas da-índia e de ratos (Forge et alii, 1993; Warchol et alii, 1993). computacionais de áudio podem emitir sons de duas caixas com Esses achados aumentam as esperanças de que possamos, de atrasos variáveis de tempo e intensidade correspondentes àque- alguma forma, estimular a cóclea humana a regenerar suas cé- les experimentados pelos ouvidos a partir de várias localizações. lulas ciliares restabelecendo a audição daqueles com surdez resultado pode ser uma percepção realística de, digamos, uma neural. abelha zumbindo em uma orelha, voando depois pelo quarto e, Até então, a única maneira de restabelecer a audição para pes- finalmente, voltando a zumbir próximo da outra orelha (Harvey, soas com surdez neural era um tipo de orelha biônica im- 2002). plante coclear. Esse artefato eletrônico transforma os sons em Com a informação auditiva, assim como com a visual, o cé- sinais elétricos que, ligados ao nervo coclear, convertem algu- rebro usa o processamento paralelo colocando equipes neu- mas informações sobre sons para cérebro. O implante aju- rais especializadas para trabalhar simultaneamente em diferen- da crianças surdas a adquirir capacidade de comunicação oral e tes subtarefas. Corujas (e provavelmente humanos, também) pro- pode colaborar também para torná-las menos dispersas e impul- cessam as diferenças de tempo em uma via neural, e diferenças sivas (Quitner et alii, 1994; Svirsky et alii, 2000). Os implantes de intensidade em outra, antes de convergir suas informações mais modernos possibilitam também restabelecimento da au- para localizar som (Konishi, 1993). dição em boa parte dos adultos (embora não seja possível para Assim, de que forma somos capazes de localizar um som que adultos surdos cujo cérebro na juventude não tenha aprendido a seja proveniente de uma distância das duas orelhas, processar som). como os que vêm diretamente pela frente, por trás, por cima ou O uso de implantes cocleares é alvo de muitos debates. Mais por baixo de nós? Não muito bem. Por quê? Porque esses sons de 90 por cento das crianças surdas têm pais ouvintes. a maior atingem as duas orelhas ao mesmo tempo. Sente-se de olhos fe- parte deles querendo que seus filhos experimentem seu mundo chados e peça a um amigo para estalar OS dedos ao redor da sua de sons e linguagem verbal. A The National Association ofSENSAÇÃO 157 Amplitude (intensidade) exigida Uma para a percepção 20-29 anos vez relativa em um grupo entre 20 e 29 anos de idade 30-39 anos 10 vezes mais 40-49 anos intensa 50-59 anos 100 vezes mais 60 anos ou mais intensa 1.000 vezes mais intensa 32 64 128 256 512 1024 2048 4096 8192 16384 Freqüência do tom em ondas por segundo baixa altura elevada Fig. 5.23 Pessoas mais velhas tendem a ouvir bem freqüências mais baixas, porém sofrem perda auditiva para as mais Saltas perda na alta freqüência resulta da degeneração neural próxima do início da membrana basilar. Essa descoberta permite confirmar teoria espacial, na qual tons diferentes ativam diferentes partes da basilar. (De Wever, 1949.) que advoga a cultura surda, afirma que a surdez não é uma de- 1998). Faminto por um impulso aferente, o córtex auditivo de ficiência, contestando o uso de implantes em crianças que se pessoas surdas se torna responsivo ao toque e ao estímulo visu- tornam surdas antes de aprenderem a falar. A cultura surda ad- al (Finney et alii, 2001; Levanen et alii, 1998). voga que as pessoas que usam a língua de sinais não são defici- Como resultado de uma vida inteira de cegueira e surdez, entes do ponto de vista lingüístico. Em seu livro de 1960, Sign cérebro de Helen Keller tinha áreas normalmente dedicadas aos Language Structure, o lingüista William Stokoe, da Gallaudett estímulos visuais e auditivos disponíveis para outros usos, como University, mostrou o que mesmo as pessoas que utilizam a lín- a discriminação tátil. Embora pessoas surdas não tenham habili- gua de sinais não haviam percebido: a língua de sinais é uma dades superiores na leitura, a compensação visual pode explicar completa com sua gramática própria, sintaxe e se- por que muitos são engenheiros, matemáticos e arquitetos com- mântica. Como a língua de sinais americana não nenhu- petentes. O físico Stephen Hawking disse que, ao perder a funci- ma relação com outras línguas como o inglês, aqueles que ape- onalidade, seu corpo o forçou a usar o cérebro para outras ativi- nas a aprendem têm dificuldades para aprender a ler e a escre- dades, tornando seu pensamento mais original (Uehling, 1998). mais tarde. Algumas escolas e familiares em decorrência Aqueles que tiveram sua audição diminuída com a idade ou desse fato ajudam as crianças surdas a se tornarem bilíngües em por doença que viveram fora da cultura surda e podiam ouvir língua de sinais e na língua falada e escrita da cultura local, por são mais propensos a se descrever como deficientes. Entre as exemplo, usando um discurso que une os sinais ao inglês pessoas que experimentaram perda auditiva, o National Center (Holloway, 2000). for Health Statistics estima que apenas 1% nasceu surdo. Aqueles Algumas pessoas da cultura surda advogam ainda que a sur- que perderam sua audição não devem pensar em si mesmos como dez poderia ser considerada "aumento visual" ao invés de "de- pessoas deficientes (o que rotula o indivíduo) para reconhecer ficiência auditiva". Pessoas que perdem um canal de comuni- que são pessoas com uma dificuldade (descrevendo tal dificul- cação parecem compensá-lo com um aumento discreto de suas dade). Para pessoas que nunca aprenderam a língua de sinais, a outras habilidades sensoriais (Backman & Dixon, 1992; Levy perda da audição pode realmente criar uma deficiência social. & Langer, 1992). Músicos cegos são mais capazes que que Helen Keller disse que "descobriu que a surdez era mais grave A enxergam de desenvolver um tom perfeito (Hamilton, 2000). que a cegueira. A cegueira afasta as pessoas das coisas. Com uma orelha tampada, cegos têm maior precisão que pes- surdez afasta as pessoas das pessoas". soas que vêem para localizar a fonte de um som (Lessard et alii, EM FOCO VIVENDO EM UM MUNDO SILENCIOSO As pessoas que vivem com perda auditiva formam um grupo hetero- da língua de sinais; outros, especialmente que ficaram surdos mais gêneo. Alguns são profundamente surdos; outros têm audição tarde, sao "orais" conversam com as pessoas por meio da leitura la da Alguns sao surdos pré-linguais (antes do desenvolvimento da lin- bial ou da leitura de notas escritas. Outros ainda se movem (continua) entre as guagem); outros conheceram mundo dos sons: Alguns se utilizam158 CAPÍTULO CINCO EM FOCO UM MUNDO SILENCIOSO (Continuação) duas culturas. Aqueles que cresceram entre outros surdos se identifi- mas vezes essa tendência pode ser incapacitante. Eu preciso lutar cam mais com a cultura surda e têm mais auto-estima. Crianças sur- com ela tempo todo das que crescem em uma casa que utiliza a língua de sinais, por pais Eu sei. Minha mãe, com quem nos comunicávamos por meio de surdos ou ouvintes, têm maior auto-estima e se sentem mais aceitas notas escritas em um "quadro mágico" apagável, passou seus últimos (Bat-Chava, 1993, 1994). doze anos de vida em um mundo silencioso, afastada do estresse de Cerca de um quarto das crianças surdas é atendida em escolas inter- tentar se comunicar com alguém fora do pequeno círculo de familia- nas; metade em programas de educação especial de escolas públicas. E res e amigos antigos. Com 0 declínio de minha própria audição numa OS remanescentes estão parcial ou totalmente inseridos em classes re- trajetória semelhante à de minha mãe, surpreendi-me sentando pró- gulares, por vezes ajudados por um intérprete de língua de sinais (Kirk ximo ao centro nas festas e reuniões, procurando cantos quietos em & Gallagher, 1989). Como seus colegas ouvintes, alguns deles têm um usando telefones especiais com controle de volume e aprendizado mais lento, outros são brilhantes. Virtualmente todas as cri- pedindo à minha mulher que fizesse as chamadas para amigos cujos anças, sejam surdas ou ouvintes, usando língua de sinais ou falando, apre- sotaques fossem diferentes do Mas a maior frustração veio sentam uma notável habilidade para aprender linguagem (Meier, 1991). quando, com ou sem a ajuda de próteses auditivas, eu não podia rir de Ainda assim, todas as crianças surdas enfrentam desafios uma piada da qual todos gargalhavam; quando, após repetidas tenta- (Braden, 1994). Como OS conteúdos acadêmicos são fundamentados tivas, eu não conseguia entender a questão daquela pessoa exaspera- em linguagem falada, sua aprendizagem escolar pode ser prejudica- da e não podia fingir; quando eu não conseguia ouvir as notas graves da. Desafios sociais são ainda maiores. Incapazes de se comunicar da tuba que meu filho tocava na orquestra da ou quando mem- da maneira ordinária, as crianças surdas e seus colegas ouvintes bros da família diziam "não tem problema" após terem tentado três lutam para coordenar as brincadeiras. Adolescentes podem experi- vezes me contar algo pouco importante. mentar exclusão social e uma resultante baixa autoconfiança. Mes- À medida que minha mãe ficou mais velha, ela percebeu que pro- mo adultos cuja perda começou mais tarde podem descobrir que curar contato social simplesmente não valia seus esforços. Porém, para desafios podem trazer toda sorte de embaraços. "É quase universal colunista de jornal Kisor, a comunicação é merecedora de todos OS entre OS surdos procurar causar para OS ouvintes menor barulho esforços. "Assim, na maior parte do tempo, eu rangerei dentes e possível", relata Henry Kisor (1990, p.244), um editor de jornais de seguirei em frente" (p. 246). Alcançar, conectar, se comunicar com OS Chicago e colunista que perdeu sua audição aos 3 anos. "Nós pode- outros, mesmo através de um abismo de silêncio, é afirmar nossa hu- mos ser desconfiados e nos apagar ao ponto da invisibilidade. Algu- manidade e afirmar a nós mesmos como seres REVEJA E REFLITA AUDIÇÃO O Input do Estímulo: Ondas Sonoras Perda Auditiva e Cultura Surda As ondas de pressão que experimentamos como som variam em Perdas auditivas relativas a condutividade e a desordens neurais e amplitude e, portanto, de modo correspondente em podem ser causadas por exposição sons por tom e altura. doenças pela As pessoas que vivem com perda auditiva A Orelha enfrentam desatios Implantes permitir Através de uma cadeia de eventos mecânicos, as ondas alguma chanças surdas Mas sur- viajam pelo canal auditivo causando minúsculas vibrações da advoga. que a de uma no Transmitidas via ossículos da orelha média para a questionan sobre essa melhora cóclea, que é preenchida DOI um essas vibrações criam um Teste a Si Mesmo transfor movimento nas células ciliadas, disparando mensagens mamos em para Pergunte a Si Mesmo: Se você tivesse que Pesquisas sobre como percebemos tom sustentam tanto a te- gostana de receber um implante coclear? oria que explica melhor a sensação de sons quan- dos surdos adultos to a teona da que explica sensação dos sons ou para filho Nós localizamos som pela detecção de não correspondente ças de intensidade e timing do recebido por cada uma das oreihas OS OUTROS SENTIDOS APRESENTAÇÃO PRÉVIA: Acontecimentos extraordinários es- Para OS humanos. OS principais sentidos são a visão e a audição. tão escondidos dentro dos quatro outros sentidos correntes: tato, Nós dependemos deles. particularmente para a gustação, olfato e senso de posição e movimentação corporal. cérebro deu a esses sentidos a prioridade na alocação de Quais são essas experiências? E que se nós restringir- tecido cortical. Para outros as prioridades diferem. mos input de qualquer um desses sentidos? Tubarões e contam com extraordinário justifi-SENSAÇÃO 159 cado pelas grandes áreas relacionadas ao olfato. Mesmo assim, sem nossos sentidos de tato, olfato, gustação e senso de posição movimentação corporal, nós humanos seríamos seriamente prejudicados, e nossas capacidades de perceber o mundo seri- Água Água am devastadoramente diminuídas. fria morna Se você tivesse que perder um sentido, qual você preferiria que fosse? Se pudesse ter apenas um, qual escolheria? Embora não seja o primeiro sentido a vir à mente, o tato pode CALOR ser seu sentido prioritário. Começando pelo início, o tato é es- sencial para nosso desenvolvimento. Como relatamos no Capí- tulo 3, bebês prematuros ganham peso mais rápido e têm um crescimento precoce se forem estimulados por massagens ma- nuais. Ratos bebês privados do toque de suas mães produzem menos hormônio do crescimento e têm taxas metabólicas mais baixas uma boa maneira de se manter vivo até sua mãe voltar, mas uma reação que aborta o crescimento se for mantida. Ma- cacos bebês que podem cheirar, ver e ouvir mas não tocar suas mães ficam desesperadamente infelizes; aqueles que eram separados por uma tela com buracos, que permitiam o toque, eram menos miseráveis. Como amantes, nós queremos tocar, beijar, aconchegar. Fig. 5.24 Morno + frio = quente Dave Barry pode estar certo ao dizer que a pele "impede as Quando água gelada passa através de uma mangueira e água con- pessoas de verem o interior de nosso corpo, que é repulsivo, e fortavelmente morna passa por outra, nós percebemos a combina- previne nossos órgãos internos de cair no chão". Mas a pele faz ção como uma sensação de um calor que queima. muito mais. Nosso "sentido do tato" é na realidade uma mistura de pelo menos quatro sensações distintas pressão, calor, frio e dor. Dentro da pele temos tipos diferentes de terminações ner- Dor vosas especializadas. Tocando vários pontos da pele com um Seja grato à dor ocasional. A dor é uma forma de o nosso corpo pincel macio, um fio quente ou frio e um alfinete, veremos que nos informar que algo está errado. Dirigindo sua atenção para alguns pontos são especialmente sensíveis à pressão, outros ao uma queimadura, pancada ou ruptura, ela o avisa para que mude calor e ao frio, e outros ainda à dor. Será que isso significa que sua atitude imediatamente. As poucas pessoas nascidas sem a cada terminação nervosa é um receptor para cada uma das sen- capacidade de sentir dor podem experimentar graves ferimentos sações básicas da pele, da mesma forma que os cones dos olhos sem estar conscientes dos sinais de perigo da dor. Geralmente para as cores básicas? elas morrem quando adultos jovens. Sem o desconforto que nos Surpreendentemente, não há uma relação simples entre o que faz mudar de posição, suas articulações falham por uso exces- sentimos em um determinado ponto e o tipo de terminação ner- sivo, e sem os avisos da dor, os efeitos de infecções e ferimentos vosa encontrada lá. Apenas a pressão tem receptores identifica- se acumulam (Neese, 1991). Mais numerosos são aqueles que dos. A relação entre receptores e calor, frio e dor permanece um vivem com dor crônica, que funciona como um alarme que não mistério. As outras sensações da pele são variações das quatro desliga. As pessoas que sofrem com dores persistentes e recor- sensações básicas (pressão, calor, frio e dor): rentes na região lombar, de artrite, de cefaléia e de dores relaci- Estímulo em pontos de pressão adjacentes causa cócegas. onadas ao câncer levantam duas questões: o que é a dor?; como ela pode ser controlada? Toques leves repetidos em pontos de dor causam coceira. Toques em pontos adjacentes de frio e pressão causam a QUE É A A dor é uma propriedade, não apenas dos sensação de umidade, que você pode experimentar tocando sentidos na região onde sentimos -, mas também do metal frio e seco. Da mesma forma que um sonhador pode ver com os olhos fe- Estímulo em pontos vizinhos de calor e frio produz a sensa- chados e um ouvinte pode escutar uma campainha no mais ab- ção de "quente". Os pontos de frio respondem tanto a tem- soluto silêncio, 7 em cada 10 amputados podem sentir dor ou peraturas muito baixas quanto a muito altas. Nós sentimos movimento nos membros não existentes (Melzack, 1992, 1993). como quente quando um estímulo ativa tanto pontos de frio (Um amputado pode também tentar pular da cama sobre um quanto de calor (Figura 5.24). membro fantasma ou pegar uma xícara com uma mão fantas- ma.) Mesmo os que nascem sem um membro às vezes perce- As sensações do tato envolvem, porém, mais que a estimu- bem sensações de um membro ausente. cérebro, desconfia lação tátil. Cócegas produzidas pela própria pessoa produzem Melzack (1998), vem preparado para "receber informações de menor ativação do córtex somato-sensorial que aquelas produ- um corpo com membros". zidas por outra pessoa ou por alguma coisa (Blakemore et alii, Essas "sensações de membros fantasmas" indicam que a dor, 1998). O cérebro é sábio o suficiente para ser mais sensível a assim como imagens e sons, pode ser erroneamente interpretada estimulação inesperada. pelo cérebro em decorrência de atividade espontânea do sistema160 CAPÍTULO CINCO nervoso central, que não recebe os estímulos sensoriais. Um fe- do grupos de digitadores australianos sofreram crises de dor nômeno semelhante ocorre com os outros sentidos. Pessoas com importantes durante a metade da década de 1980, por conta de perda auditiva experimentam o som do'silêncio: sons fantasmas seu trabalho repetitivo sem qualquer anormalidade física ob- uma sensação de ter uma campainha nas orelhas, um zumbido. servável (Gawande, 1998). A idéia de René Descartes, propos- Pessoas que perdem a visão por glaucoma, catarata, diabetes ou ta há mais de três séculos, está errada. A dor não é apenas um degeneração macular às vezes experimentam visões fantasmas fenômeno físico de nervos agredidos mandando impulsos para alucinações que não são assustadoras (Ramachandran & o cérebro como se uma corda fosse puxada e tocasse um Blakeslee, 1998). (Quando ficou completamente cega, minha cérebro cria a dor. A dor produzida por atividade cerebral pode sogra lúcida podia ver visitantes silenciosos no seu quarto, fazendo ser disparada com ou sem aferência sensorial, disse Melzack coisas estranhas como andar na parte de trás de sua cama.) Danos (1999) complementando sua teoria prévia do portão da dor. Um neurais no sistema de gustação podem produzir de forma similar cérebro em um jarro pode experimentar a dor e as outras expe- sabores fantasmas, como água gelada parecendo extremamente riências sensoriais. doce (Goode, 1999). Outros podem experimentar odores fantas- Existe também algo além das memórias da dor na dor que mas, como o de comida estragada. Moral: para ver, ouvir, sabo- sentimos. Em experimentos, e após procedimentos médicos, as rear, cheirar e sentir, nós necessitamos não apenas de um corpo, pessoas avaliaram a duração da dor. Suas primeiras memórias mas também de um cérebro. Sem cérebro, sem dor. do evento eram relacionadas ao final da dor, e não a seu mo- Diferentemente da visão, no entanto, o sistema da dor não é mento mais intenso. Daniel Kahneman e seus colaboradores localizado em uma única via neural, evoluindo de um aparelho (1993) descobriram esse fato quando solicitaram que pessoas receptor para uma área definida do cérebro. Além disso, não mergulhassem a mão em água dolorosamente gelada por 60 existe um único tipo de estímulo que dispare a dor (como a luz segundos, e então colocassem a outra mão em água com a mes- dispara a visão), e não há um receptor específico (como os co- ma temperatura pelo mesmo tempo, e depois por mais 30 se- nes e bastonetes da retina) para a dor. De fato, em baixa inten- gundos em água um pouco menos fria. Curiosamente, quando sidade, um estímulo que produz a dor pode causar outras sensa- eram perguntadas sobre que tarefa preferiam repetir, a maior ções, incluindo calor ou frio, maciez ou aspereza. parte disse que a mais longa, com mais dor no total porém com Embora nenhuma teoria para a dor explique todos os achados menos no final. Quando foi solicitado a pacientes que haviam avaliáveis, a clássica teoria do portão para o controle da dor do sido submetidos a exame do cólon que lembrassem da dor, suas psicólogo Ronald Melzack e do biólogo Patrick Wall (1965, 1983) memórias eram de forma semelhante relacionadas mais ao fi- ainda fornece um modelo utilizável. Melzack e Wall acreditavam nal do exame que a sua duração total. que a medula espinhal contém um "portão" neurológico que tan- Para os médicos a implicação é clara: é melhor diminuir gra- to pode bloquear os sinais da dor como deixar que passem para o dativamente a intensidade de um procedimento doloroso que cérebro. A medula espinhal contém pequenas fibras finas nervo- acabá-lo abruptamente. Em um experimento, um médico fez isso sas que conduzem a maior parte dos sinais da dor, e fibras largas durante um exame do cólon aumentando o tempo de descon- que conduzem a maior parte dos outros sinais. Quando o tecido forto em um minuto, mas diminuindo a intensidade (Kahneman, sofre uma agressão, as fibras finas se ativam e abrem o portão 1999). Embora esse desconforto tenha aumentado o tempo de neural, e você sente a dor. A atividade das fibras mais grossas fecha exame, esta "diminuição" proporcionou lembranças menos do- o portão da dor, desligando-a. lorosas do que as dos exames com final abrupto. Em um fenô- Ou seja, uma forma para tratar a dor crônica é estimular (ele- meno paralelo, pessoas avaliam uma vida imaginária terrível tricamente, com massagem ou acupuntura) o "fechamento do com um ano moderadamente ruim adicionado, de forma melhor portão" pela atividade das fibras mais largas (Wall, 2000). Es- que uma vida terrível com um final abrupto. E avaliam melhor fregar a área ao redor de um dedo machucado criará um estímu- uma vida maravilhosa com um final abrupto que uma vida se- lo competitivo que vai bloquear algumas mensagens de dor. Se melhante adicionando alguns anos médios (Diener et alii, 2001). coloca gelo em uma escoriação, você não só vai controlar o edema mas também vai disparar mensagens de frio que vão fe- char o portão. Algumas pessoas com artrite usam unidades de Embora o treinamento Lamaze reduza a dor do parto, a maior estimulação elétrica portáteis próximas a áreas dolorosas. Quan- parte das pacientes Lamage exige anestesia local durante 0 do a unidade estimula os nervos da área, a pessoa sente uma mesmo. Algumas na expectativa de um "parto natural sem sensação de vibração ao invés de dor (T. Murphy, 1982). dor" sentiram-se desnecessariamente culpadas e como se fa- Melzack e Wall acreditavam que o portão da dor poderia ser lhassem (Melzack, 1984). Melzack defendia da mesma forma fechado também pelo cérebro. As mensagens do cérebro para a que próprio programa Lamaze que treinamento para parto medula ajudariam a explicar algumas influências psicológicas preparava a mulher para "enfrentar um evento que é extrema- sobre a dor. Quando estamos distraídos da dor e anestesiados mente doloroso e, ao mesmo tempo, uma das experiências mais pela liberação de endorfinas, nossa experiência com a dor pode significativas de sua vida". estar bem Lesões induzidas pelo esporte podem pas- sar despercebidas até o final de um jogo. Durante uma partida de basquete em 1989, o jogador da Universidade de Ohio, Jay CONTROLE DA Se a dor é onde o corpo encontra a mente Burson, quebrou seu pescoço e continuou jogando. Claramen- se é realmente um fenômeno físico e psicológico então ela te, há mais na dor do que aquilo que receptores estimulam. deve ser tratada tanto física quanto psicologicamente. Depen- Isso também é óbvio para diferentes níveis de tolerância à dendo do tipo de sintoma, controle clínico da dor seleciona dor entre pessoas que parecem estar experimentando a mesma uma ou mais terapias de uma lista que inclui drogas, cirurgias, quantidade de dor (Symbaluk et alii, 1997). Esse fenômeno pode acupuntura, estimulação elétrica, massagem, exercícios, hipnose. explicar aparentes influências sociais sobre a dor, como quan- relaxamento e distração.SENSAÇÃO 161 PENSANDO CRITICAMENTE SOBRE: DA MATERIA PELA MENTE: CAMINHAR SOBRE BRASAS popular costuma apresentar do caminhar sobre cozinhando em um forno a 350 graus Toque a forma de do brasas com algum sensacionalismo Por algum dinheiro, podemos ter bolo e se toque bolo carvão, am condutor po- aulas controle da mente sobre que supostamente nos bre de calor e você ficará bem. Bolos e carvão conduzem algum ca- alterar nossa corporal. caminhando lor Assim e melhor não ficar em contato com eles por muito tempo, ardendo sem sentir dor ou se queimando Oresultado ou aprenderá, de forma dura, que quem hesita está perdido. uma nova capacidade descoberta de subjugar medos de dois ou menos que leva para atravessar rapidamente as eu posso fazer algo considerado diz exalta- brasas poem cada em contato com elas por de se- do das chamas, posso quase tudo gundo e menos de um segundo por pé no total Molhar pes em gra Cientistas céticos têm endereçado um olhar mais frio sobre an ma úmida ou água pode prover mais isolamento (um fenômeno fami- nas brasas (Leikind & McCarthy 985, 1988) eles di- qualque um que já usou dedos úmidos para apagar uma vela ou zem, não repousa em um poder mental que altere sentidos mas na testar metal quente). Com esses fatos em mente cientistas incrédu- conduti calor das brasas de Pense em um bolo los fizeram a caminhada sem treinamento de "mente sobre matéria" método Lamaze para o parto combina várias dessas técni- Essas moléculas de comida são sentidas por cinqüenta a cem de controle da dor. Entre elas estão o relaxamento (por meio células receptoras gustativas que projetam cílios na forma de de respiração profunda e relaxamento muscular), a contra-esti- antena através dos poros. Algumas células respondem principal- mulação (por meio de massagens suaves) e a distração (por meio mente a moléculas com sabor doce, outras a moléculas com sa- de atenção concentrada em, digamos, uma paisagem calma). bor salgado, azedo ou amargo. Não é muito difícil disparar uma Após Everett Worthington e seus colaboradores (1983) terem resposta. Se um jato de água for sobre a sua língua, basta a adição mulheres nessas técnicas, elas eram capazes de mer- de um pouco de concentrado doce ou salgado por menos de um gulhar as mãos em água gelada e tolerar facilmente. A dor era décimo de segundo para chamar sua atenção (Kelling & Halpern, ainda mais tolerável quando "técnicos" confiáveis as encoraja- 1983). Quando um amigo pedir só "uma saboreada" de seu como maridos e amigos íntimos encorajam mulheres no drinque, você pode tirar o canudo após uma fração de segundo. método Lamaze para o parto. Os receptores de sabor se reproduzem a cada uma ou duas se- Distrair pessoas com imagens prazerosas ("pense em um am- manas, ou seja, se você queima a língua com comida quente, isso biente calmo e confortável") ou dirigir sua atenção para longe pouco interessa. No entanto, à medida que envelhecemos, o núme- do estímulo doloroso ("conte de trás para maneiras ro de papilas gustativas diminui, assim como a sensibilidade especialmente eficazes de aumentar a tolerância à dor (Fernandez gustativa (Cowart, 1981). (Não é de se estranhar que adultos co- & Turk, 1989; McCaul & Malott, 1984). princípio funciona mam alimentos com sabor forte, aos quais as crianças resistem.) O em situações de cuidados de saúde. Uma enfermeira bem trei- cigarro e o álcool aceleram o declínio das papilas e a sensibilidade. nada pode distrair pacientes com medo de agulha conversando A pesquisadora sobre a gustação Linda Bartoshuck (1993) com eles e pedindo que olhem para o outro lado enquanto a in- revelou outras constatações fascinantes sobre o paladar: serem na pele. Para pacientes hospitalizados, uma janela com vista agradável pode ter efeito relaxante e de distração. Exami- Nossas respostas emocionais ao paladar são pré-fabricadas. nando os registros de um hospital na Pensilvânia, Roger Ulrich Ponha uma substância doce ou amarga sobre a língua de um (1984) descobriu que pacientes cirúrgicos que estavam em quar- recém-nascido, e sua face reagirá como a de um adulto. tos com vista para algumas árvores necessitavam de menos Pessoas sem língua ainda são capazes de sentir gosto por meio medicação analgésica e ficavam menos tempo internados que de receptores na parte posterior e no céu da boca. aqueles que, em quartos idênticos, tinham vista para uma pare- Se você perder o paladar de um dos lados da língua, prova- de. Como a dor está no cérebro, distrair a atenção do cérebro velmente não vai perceber. Isso ocorre porque o outro lado ficará supersensível. Além disso, o cérebro não localiza bem pode garantir maior alívio. o paladar: embora a linha média da língua tenha poucos recep- PALADAR tores, nós sentimos o sabor como se viesse de toda a língua. Como o tato, a gustação envolve primordialmente quatro sensa- Nós podemos não sentir bem o sabor ou o odor da maior parte ções básicas: de doce, salgado, e azedo (McBurney & dos nutrientes gordura, proteína, amido ou vitaminas (açúcar é Gent, 1979). A maioria dos outros sabores são variações desses. uma exceção). Mas nós rapidamente aprendemos o sabor e o odor Investigadores se frustraram ao pesquisar fibras especializadas de alimentos que sejam nutritivos ou que estejam estragados. para cada uma dessas sensações básicas até a recente descoberta As papilas gustativas são certamente essenciais para o pala- de receptores para o amargo e para o doce, assim como de um dar, mas saborear um alimento exige mais que fazê-lo chegar à receptor para uma quinta sensação de "umami", mais reconheci- língua. Tampe o nariz, feche os olhos e peça a alguém que lhe do como o reforço de sabor glutamato de sódio (Chaudhari et alii, dê vários alimentos: uma fatia de maçã pode ser indistinguível 2000, Nelson et alii, 2001; Smith & Margolskee, 2001). de um pedaço de batata crua; um pedaço de carne pode ter o mes- 0 paladar é um sentido químico. Dentro de cada pequena mo sabor de papelão, sem seus odores, uma xícara de café frio papila de nossa língua, estão duzentos ou mais brotos gustativos, pode ter o mesmo sabor de uma taça de vinho tinto. Para guar- cada um contendo um pólo que captura a química da comida. dar um sabor, nós geralmente sentimos o aroma através de nos-162 CAPÍTULO CINCO nariz o que explica por que não é tão bom comer quando se olfato é surpreendentemente individual: você inala algo de al- está resfriado, e por que pessoas que perdem o olfato acreditam guém ou de qualquer coisa que você cheire. que perderam também parte do paladar. O olfato não apenas Como o paladar, o olfato é um sentido químico. Nós cheira- adiciona aspectos ao nosso paladar, ele também o altera: uma mos algo quando suas moléculas carreadas pelo alcançam um bebida com cheiro de morango aumenta nossa percepção de sua minúsculo grupo de células receptoras no topo de cada cavida- doçura. Trata-se da interação sensorial trabalhando o princí- de nasal (Figura 5.25). Esses receptores olfatórios ondulam pio de que um sentido pode influenciar outro. Odor mais textu- como anêmonas marinhas em um recife, respondendo seletiva- ra mais gustação é igual a sabor. mente ao aroma de um bolo que sai do forno, à fumaça de ci- De forma similar, nós percebemos de modo correto a locali- garro ou à fragrância de um amigo. Instantaneamente eles alertam zação de uma diretamente na nossa frente em parte porque nosso cérebro por meio de suas fibras axonais. Mesmo crianças nós também vemos a pessoa. Se nós virmos uma pessoa falando de colo e suas mães têm uma química na sua relação; elas rapida- uma sílaba enquanto ouvimos outra, poderemos perceber uma mente aprendem a reconhecer seus odores característicos terceira sílaba que misture as duas. Vendo os movimentos da (McCarthy, 1986). Alertada por um cheiro, uma mãe foca retor- boca para um ga enquanto ouvimos um ba, podemos perceber nando à praia é capaz de encontrar seu filho em um aglomerado um da fenômeno conhecido como efeito McGurk, descoberto de filhotes. É verdade que o olfato humano é menos apurado que pelo psicólogo Harry McGurk e seu assistente John MacDonald nossas excelentes visão e audição. Olhando pela janela para um (1976). O mesmo é verdade para o tato e a visão. Ao detectar jardim, nós vemos suas cores e formas com grandes detalhes, e um evento, o cérebro pode combinar simultaneamente sinais do ouvimos uma variedade de pássaros cantando, no entanto, só sen- tato e da visão, graças aos neurônios que se projetam do córtex timos algum cheiro se aproximarmos o nariz das flores. somato-sensitivo para o córtex visual (Macaluso et alii, 2000). A forma precisa com que os receptores olfatórios trabalham Ou seja, os sentidos interagem: visão, audição, tato, paladar e permanece misteriosa. Diferentemente da luz, que pode ser se- olfato não são canais totalmente separados. Na interpretação do parada em suas cores espectrais, um odor não pode ser separa- mundo, o cérebro mistura suas aferências. do em odores mais elementares. sistema olfatório não encon- na retina, que detecta uma miríade de cores com OLFATO células dedicadas ao verde, ao vermelho e ao azul. Os recepto- Inspire, expire. Inspire, expire. A respiração funciona aos pares res olfatórios reconhecem os odores individualmente. exceto em dois momentos: nascimento e morte. Todos os dias As moléculas odoríficas apresentam formas e tamanhos va- você inspira e expira aproximadamente 20.000 vezes, o que o riados, são tantos de fato, que temos muitos receptores diferen- mantém vivo, banhando suas narinas em uma corrente de mo- tes para reconhecê-los. Uma grande família de cerca de mil ge- léculas impregnadas de cheiros. A experiência decorrente do nes desenha as mais de mil proteínas que reconhecem as partí- Nervo olfativo Bulbo olfativo Células receptoras na membrana olfativa Passagem nasal As células receptoras nasais enviam informações neurais para cérebro. Moléculas de odor Fig. 5.25 O sentido do olfato Quando cheiramos uma rosa, moléculas de sua fragrância precisam alcançar OS receptores situados na extremidade do nariz. A inspi- ração leva an até esses receptores, realçando aroma. As células receptoras enviam mensagens para bulbo olfativo, no e depois para baixo, até o córtex olfativo primário localizado no lobo temporal, e para as partes do sistema límbico envolvidas na e na emoção.SENSAÇÃO 163 culas odoríficas em particular (Axel, 1995). Como o encaixe de Odores também têm o poder de evocar memórias e sentimen- uma chave em uma fechadura, as encaixam nes- tos. Uma linha direta liga a área do cérebro que recebe informa- ses receptores. Isso sugere que cada odor dispara uma combi- ções do olfato e os antigos centros límbicos relacionados a emo- nação de receptores, cuja atividade é interpretada pelo córtex ção e memória. olfato é primitivo. Séculos antes de o córtex olfativo. Como as 26 letras do alfabeto se juntam para formar ter desenvolvido suas áreas analíticas, nossos ancestrais mamí- muitas palavras, também as moléculas de odor se ligam a dife- feros já sentiam o cheiro de comida e de predadores. rentes combinações de receptores, produzindo 10.000 odo- Na obra Em Busca do Tempo Perdido, o escritor francês Marcel res que podemos detectar (Malnic et alii, 1999). Proust descreveu como o aroma e o sabor de uma fatia de bolo A habilidade para identificar cheiros atinge o máximo no embebida em chá ressuscitou memórias há muito esquecidas do início da vida adulta e declina gradativamente daí por diante quarto de sua tia na velha casa da família. cheiro e o sabor das (Figura 5.26). A despeito de nossa capacidade de discriminar coisas carregam sem vacilar, em uma minúscula e quase impalpável cheiros, não somos tão capazes para descrevê-los. Palavras re- gota de sua essência, a vasta estrutura das lembranças." tratam de forma mais adequada o som do café fervendo que o seu aroma. Em comparação com nossas experiências visuais e auditivas, o olfato é mais primitivo, e certamente mais difícil de descrever (Richardson & Zucco, 1989). Os humanos têm entre 10 e 20 milhões de receptores olfati- Um cão de caça tem mais de 200 milhões (Herz, 2001). Como qualquer cão ou gato com um bom nariz pode nos con- tar, cada um de nós tem uma assinatura química. (Uma exceção notável: um cão vai seguir os rastros de um gêmeo embora eles tenham sido feitos por outro [Thomas, 1974].) Animais que têm várias vezes mais receptores olfativos que nós podem utilizar esse sentido tanto para se comunicar como para se localizar. Muito antes de um tubarão ver a sua presa, ou a traça, a sua fê- mea, seu odor os direciona. Os salmões migratórios seguem tê- nues pistas olfativas de volta até sua "casa". Se forem expostos em uma ninhada a um de dois odores químicos, eles irão, ao O cérebro olfativo retornar 2 anos depois, procurar que correnteza está ligada ao Informações das papilas gustativas (seta cinza) trafegam para uma cheiro familiar (Barinaga, 1999). Para os humanos, também, a região do lobo temporal próxima daquela onde a informação olfati- atratividade dos cheiros depende de associações aprendidas va é recebida. O circuito do cérebro para olfato (seta preta) tam- (Herz, 2001). Bebês não vêm com uma preferência pronta pelo bém se conecta com áreas envolvidas no armazenamento da me- cheiro do leite de sua mãe, mas enquanto se alimentam eles a mória, que ajuda a explicar por que um odor pode disparar uma constroem. explosão de memória. Número de Mulheres e adultos jovens têm melhor sentido de respostas corretas olfato 4 Mulheres 3 Homens 2 10-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60-69 70-79 80-89 90-99 Faixas etárias Fig. 5.26 Idade, sexo e sentido do olfato Entre 1,2 milhão de pessoas que responderam a um questionário do tipo "arranhe e cheire" da National Geographic, mulheres e adultos jovens foram mais bem-sucedidos em identificar seis tipos de odor (Wysocki & Gilbert, 1989). Fumantes, alcoolistas e pessoas que so- frem de Alzheimer e Parkinson experienciam um decréscimo do sentido do olfato (Doty, 2001).164 CAPÍTULO CINCO Estudos de laboratório confirmam que, embora haja dificul- essa condição relatam se sentir sem corpo, como se este esti- dade em evocar odores pelo nome, nós temos uma admirável vesse morto, não fosse real, nem pertencesse a elas (Sacks, capacidade de reconhecer odores há muito esquecidos e os epi- 1985). Com a prática prolongada, Waterman aprendeu a andar sódios pessoais a eles associados (Engen, 1987; Schab, 1991). e a comer focando visualmente seus membros e direcionando- Odores agradáveis podem evocar memórias agradáveis os de maneira adequada. Mas se as luzes se apagassem, ele se (Ehrlichman & Halpern, 1988). cheiro do mar, a fragrância encolhia no chão, incapaz de se mover até que voltassem a acen- de um perfume ou aroma da cozinha de um parente amigo pode der a luz (Azar, 1998). Mesmo para resto de nós, a visão inte- trazer à mente tempos felizes. Tal é poder de um odor de aci- rage com a cinestesia. Fique em pé e coloque calcanhar direi- onar memórias e recuperar as emoções que estão a elas associa- to em frente aos dedos do pé esquerdo. Agora, feche os olhos e das. Esse é um fenômeno que a rede britânica de agências de você provavelmente balançará. viagem Lunn Poly entende muito bem. Para evocar as memóri- Um sentido vestibular associado monitora a posição e mo- as de deitar-se ao sol de uma praia paradisíaca, a companhia onde vimento da cabeça (e, por conseguinte, do corpo). Os giroscópios trabalhava espalhou o aroma do óleo de bronzear de coco em biológicos para esse senso de equilíbrio estão localizados na suas lojas (Fracassini, 2000). orelha interna. Nos canais semicirculares (Figura 5.21a) e no saco vestibular, que conecta canais com a cóclea, existem substâncias que se movimentam quando a cabeça gira ou balan- Impressione seus amigos com uma nova palavra para dia: ça. Esses movimentos estimulam os receptores ciliados nesses pessoas incapazes de ver experienciam a cegueira. Pessoas in- órgãos da orelha interna. Os receptores então enviam mensagens capazes de ouvir experienciam a surdez. Pessoas incapazes de para o cerebelo, localizado na parte de trás do encéfalo, capaci- sentir um aroma experienciam a tando-nos, assim, a sentir a posição de nosso corpo e manter nosso equilíbrio. Se você girar em torno de si mesmo e então parar abrupta- POSIÇÃO CORPORAL E MOVIMENTO mente, nem o líquido em seus canais semicirculares, nem seus Com apenas os cinco sentidos familiares que consideramos até receptores cinestéticos retornarão imediatamente para seu esta- agora, não poderíamos levar a comida à boca, ficar de pé ou do neutro. O efeito tardio enganará seu cérebro atordoado com estender-nos e tocar alguém. Seríamos impotentes. Para saber a sensação de que ainda está rodando. Isso ilustra um princípio exatamente como mover os braços para segurar a mão de alguém, subjacente à discussão do próximo capítulo sobre ilusões percep- nós precisamos de um sexto sentido. Você precisa saber a posi- tivas. Mecanismos que normalmente nos dão uma experiência ção correta dos braços e mãos e estar ciente das mudanças de precisa do mundo podem, em condições especiais, nos enganar. posição conforme você os move. Para dar apenas um passo, é A compreensão sobre o modo como nós somos enganados forne- necessário obter feedback de mais de 200 músculos e enviar ce pistas para entender o funcionamento do sistema perceptivo. instruções a eles. Nós estamos equipados com milhões de sensores de posição e Neste capítulo, nós adotamos uma perspectiva "bottom-up" movimento. Eles estão por todo o nosso corpo músculos, ten- para analisar o modo como experimentamos mundo. Come- dões e articulações e eles estão continuamente fornecendo infor- çamos verificando como nossos engenhosos receptores senso- mação para o cérebro. Se giramos nossos pulsos um grau, os riais operam a transdução da energia física em mensagens neu- sensores imediatamente relatam o fato. Esse sentido da posição das rais enviadas para o nosso cérebro. Nós adotamos, também, uma partes de nosso corpo e do movimento é denominado cinestesia. perspectiva "top-down" para investigar como nossa mente mo- Uma pessoa pode momentaneamente se imaginar cega ou dela a experiência. A dor, por exemplo, é uma resposta a infor- surda. Feche os olhos e tampe as orelhas e experimente a escu- mação que sobe tanto pela medula através de fibras finas quan- ridão silenciosa. Mas como seria viver sem o tato ou a cinestesia to desce a partir do foco de atenção da nossa mente. Nossas sem, portanto, ser capaz de sentir a posição dos membros ao experiências estão no cérebro por conta disso, o cérebro pode acordar durante a noite? Ian Waterman de Hampshire na Ingla- escolher como interpretar a atividade neural, ou pode mesmo terra sabe. Em 1972, aos 19 anos, ele contraiu uma rara infec- criar visões, sons e dor, sem qualquer estímulo externo. Sensa- ção viral que destruiu os nervos que lhe possibilitavam o senso ção e percepção são aspectos diferentes de um edifício comple- do tato suave, do movimento e da posição do corpo. Pessoas com to de como experienciamos mundo ao nosso redor. REVEJA E REFLITA Os OUTROS SENTIDOS Tato Paladar O sentido do tato é na realidade um conjunto de quatro sentidos 0 paladar, um sentido químico, é na verdade uma combinação de pressão, calor, frio e dor que se combinam para produzir outras cinco sensações básicas de doce. salgado azedo sensações como "quente" Uma teoria da dor diz que existe um umami- e dos aromas que interagem com a informação das papilas "portão" na medula espinhal que pode abrir para permitir que gustativas. A influência do olfato no nosso paladar é um exemplo sinais da dor sejam conduzidos através de fibras finas para alcan- da interação çar cérebro, ou fechar para prevenir a passagem da dor Como a Olfato dor é um fenômeno tanto fisiológico quanto psicológico, ela pode Como paladar, 0 olfato é um sentido mas não existem ser controlada por uma combinação de terapias físicas e psicoló- sensações básicas como as do tato e do Diferentemente gicas. das células receptoras da retina que percebem as cores pela suaSENSAÇÃO 165 quebra em partes, OS 5 milhões de células receptoras de olfato, das partes do corpo, e um sentido do equilíbrio, que monitora a com suas mais de mil proteínas receptoras reconhe- posição e movimento do corpo como um cem as moléculas do odor individualmente. Alguns odores dis- Teste a Si Mesmo: Como sentido do olfato se diferencia dos sen- param uma combinação de receptores. Como OS outros estímu- tidos da visão, do tato e do paladar? los, odores podem evocar espontaneamente memórias e senti- Pergunte a Si Mesmo: Você pode se lembrar de alguma vez em mentos que, com a atenção focada em alguma atividade, você não sentiu Posição Corporal e Movimento dor em decorrência de um ferimento ou queimadura? Finalizando, nosso funcionamento eficaz requer um sentido A respostas ao Teste a Si Mesmo podem ser encontradas no apêndice situado no cinestésico, que notifica cérebro da posição e dos movimentos final do livro. TERMOS E CONCEITOS PARA LEMBRAR sensação íris teoria do processo oponente percepção cristalino constância da con processamento bottom-up acomodação audição processamento top-down retina freqüência psicofísica acuidade altura (pitch) limiar absoluto miopia orelha média teoria da detecção do sinal astigmatismo orelha interna subliminar bastonetes cóclea limiar diferencial cones teoria do lugar lei de Weber nervo óptico teoria da freqüência adaptação sensorial ponto cego perda auditiva condutiva transdução fóvea perda auditiva sensorioneural onda luminosa detectores de características teoria do portão de controle cor processamento paralelo interação sensorial intensidade teoria tricomática (três cores) de cinestesia pupila Young-Helmholtz sentido vestibular Para continuar seu estudo revisão sobre conteúdo de Sensação, visite osite na web, deste livro, em myers Você encontrará teste práticos, exercícios de muitos artigos interessantes