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Pesquisa sobre percepções e reflexões de pesquisadores

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1 
 
Percepções e Reflexões de Pesquisadores – Uma Abordagem sobre Ética na Pesquisa 
 
Autoria: Ana Patricia Rodrigues Leite, Mauro Lemuel Alexandre, Marli de Fátima Ferraz da Silva Tacconi, 
Maria Valéria Pereira de Araújo 
 
Resumo 
 
A ética é um tema que suscita debates, dilemas e diferentes abordagens teóricas. Constitui-se 
em uma preocupação antiga do homem. O presente artigo trata-se de uma abordagem de 
cunho qualitativo que busca conhecer as percepções dos pesquisadores sobre a ética no 
processo de pesquisa. Como objetivo geral da pesquisa, buscou-se conhecer as percepções dos 
pesquisadores estudados a respeito da ética na pesquisa. Como objetivos específicos têm-se: 
identificar a percepção dos respondentes quanto ao que consideram ser ética na pesquisa; 
conhecer os aspectos mais importantes que norteiam a ética na pesquisa, na percepção dos 
pesquisados; levantar a percepção dos respondentes sobre a conduta ética do pesquisador em 
cada etapa do processo de pesquisa; conhecer os dilemas éticos que mais acometem os 
pesquisadores estudados durante cada etapa do processo de pesquisa e identificar como o 
respondente avalia as normas de conduta ética. Teoricamente, parte-se da visão de Brown 
(1993), que propõe que a ética é um processo, ou seja, em vez de ver a ética como um 
conjunto de regras ou punições, ou mesmo um código, com seus parâmetros, delimitando 
espaços, o autor define a ética como o processo de decidir o que deve ser feito. Considera-se a 
colocação de Creswell (2007), que afirma que as questões éticas devem ser consideradas e 
refletidas em todo o processo de pesquisa. Também destaca-se a abordagem de Resnick 
(2008), que enfoca a importância de se respeitar as normas éticas em pesquisa. Decidiu-se 
assim, dar continuidade a uma pesquisa quantitativa feita com pesquisadores em 
Administração da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) sobre a ética na 
pesquisa e apresentada no EnANPAD (Encontro da Asssociação Nacional de Pós-graduação 
e Pesquisa em Administração), em 2009. Sendo que o presente estudo aborda a questão da 
ética na pesquisa dentro de uma perspectiva qualitativa. Os sujeitos da pesquisa foram dez 
pesquisadores com trabalhos apresentados e publicados em evento científico nacional (33o. 
EnANPAD), na divisão acadêmica “Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade – 
EPQ” e que consentiram em participar da pesquisa. A partir das respostas, foram 
desenvolvidas análises de conteúdo, a fim de aprofundar a discussão sobre a dimensão ética 
no processo de pesquisa, de forma a representar contribuição empírica relevante na discussão 
do conhecimento sobre a ética na pesquisa científica. Com relação às percepções e reflexões 
dos pesquisadores estudados, sobre o tema ética na pesquisa, os resultados mostram que os 
respondentes relacionam a ética na pesquisa ao compromisso moral do pesquisador e também 
ao respeito às normas éticas. Constata-se, com relação aos dilemas éticos dos pesquisadores, 
que há uma grande preocupação quanto à conduta ética no que tange as questões de plágio nas 
pesquisas científicas e quanto ao anonimato dos respondentes. Conclui-se que a significativa 
maioria dos pesquisadores não conhece códigos de ética na pesquisa, mas os pesquisadores 
estudados acreditam ser fundamental a discussão, elaboração, divulgação e aplicação de 
códigos de conduta ética no processo de pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
1. Introdução 
 A ética é um tema que suscita debates, dilemas e diferentes abordagens teóricas. 
Constitui-se em uma preocupação antiga do homem. Desde o surgimento da filosofia, a ética 
vem sendo abordada com ênfase. Atualmente, está no centro dos debates sobre os limites da 
ciência. E esses debates envolvem os pesquisadores, as organizações, os cidadãos em geral, os 
juristas, os religiosos, os profissionais de diversas áreas e as comunidades científicas. 
Conforme Hutz (2008), até muito recentemente, não havia, no Brasil, uma 
preocupação institucional com os aspectos éticos da pesquisa. O pesquisador era o único 
árbitro da adequação ética de sua pesquisa, a sociedade concedia licença total a seus cientistas 
para experimentar e pesquisar em seres humanos das formas que julgassem apropriadas ou 
necessárias. Porém, dentro do processo de elaboração da pesquisa um ponto muito importante 
é a ética na pesquisa, que visa assegurar que ninguém seja prejudicado ou sofra conseqüências 
adversas por causa das atividades de investigação. (Cooper & Schindler, 2003). 
Na visão de Paiva (2005), devido à imprevisibilidade das conseqüências de uma 
investigação, é imperativo que a ética esteja sempre presente na elaboração de um projeto de 
pesquisa, sobretudo, quando esta lida com seres humanos. 
Como a pesquisa científica abrange pesquisadores e pesquisados, surgiu o interesse 
sobre o debate que envolve a responsabilidade ética do pesquisador e sua visão sobre as 
premissas éticas que envolvidas em um processo de pesquisa. Dessa forma, este trabalho dá 
continuidade a uma pesquisa quantitativa aplicada anteriormente, junto a pesquisadores em 
Administração da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) sobre a ética na 
pesquisa, e apresentada no EnANPAD - Encontro da Asssociação Nacional de Pós-graduação 
e Pesquisa em Administração, em 2009. 
Sendo que a presente pesquisa aborda de forma qualitativa o tema ética na pesquisa, 
enfocando pesquisadores que apresentaram trabalhos na divisão “Ensino e Pesquisa em 
Administração e Contabilidade – EPQ”, no 33o. EnANPAD, em 2009. Nesse sentido, 
apresenta-se o seguinte problema da pesquisa: Quais as percepções dos pesquisadores 
estudados sobre a ética na pesquisa? 
Como objetivo geral da pesquisa, pretendeu-se, com o presente estudo, “Conhecer as 
percepções dos pesquisadores estudados a respeito da ética na pesquisa”. Como objetivos 
específicos têm-se: identificar a percepção dos respondentes quanto ao que consideram ser 
ética na pesquisa; conhecer os aspectos mais importantes que norteiam a ética na pesquisa, na 
percepção dos pesquisados; levantar a percepção dos respondentes sobre a conduta ética do 
pesquisador em cada etapa do processo de pesquisa; conhecer os dilemas éticos que mais 
acometem os pesquisadores estudados durante cada etapa do processo de pesquisa e 
identificar como o respondente avalia as normas de conduta ética (códigos de ética na 
pesquisa científica). A partir dos objetivos apresentados, apresentam-se, a seguir, os 
pressupostos teóricos sobre o tema “ética na pesquisa”. 
 
2. Ética na Pesquisa: Algumas Considerações 
Na tentativa de compreender, inicialmente, o tema “ética”, serão expostas algumas 
definições e conceitos, alicerçados em abordagens de diversos teóricos. Conceituar ética não é 
uma tarefa simples, considerando-se que este campo de estudo é bastante complexo. A partir 
dessa abordagem inicial, serão feitas considerações sobre ética na pesquisa. 
 Parte-se então da afirmação de Brown (1993), que propõe que a ética é um processo, 
ou seja, em vez de ver a ética como um conjunto de regras ou punições, ou mesmo um código, 
com seus parâmetros, delimitando espaços, o autor define a ética como o processo de decidir 
o que deve ser feito. Brown (1993) entende que, no lugar de dizer às pessoas o que é certo, 
deve-se ensiná-las a descobrir o que é certo, para que encontrem o caminho, sozinhas. 
 
3 
 
Srour (2000), que coloca que a ética estuda as morais históricas, as relações e as 
condutas dos agentes sociais. O referido autor discute então o que é a moral, ou seja, um 
conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta que coletividades 
adotam. Chaui (2006) complementa afirmando que pode-se dizer que a ética é o estudo dos 
valores, e portanto que a ética é a reflexão sobre a moral. 
A reflexão sobre as normas, regras, leis e comportamentos, que formam amoral 
efetiva, dá-se o nome de ética. Desde o surgimento da filosofia, a ética vem sendo abordada 
com ênfase. Etimologicamente, a palavra ética tem sua origem no termo grego ethos, que por 
sua vez significa modo de ser, caráter. Por sua vez a palavra moral deriva do latim, mais 
precisamente do termo mos (singular) e mores (plural), significando costumes. (Polli & Vares, 
2008). 
 Já segundo Daft (2005) é difícil definir ética precisamente. De maneira geral, ética é o 
código de princípios morais e valores que governam os comportamentos de uma pessoa ou 
grupo com respeito ao que é certo ou errado. A ética estabelece padrões sobre o que é bom ou 
ruim na conduta e na tomada de decisão. 
 Srour (2000) discorre sobre duas correntes teóricas sobre ética: ética da convicção e 
ética da responsabilidade. E coloca que as duas correntes enfocam tipos diferentes de 
referenciais morais – prescrição versus propósitos – e configuram dois modos de decisão. Os 
agentes guiados pela ética da convicção seguem os imperativos da consciência, já os que se 
orientam pela ética da responsabilidade, guiam-se por uma análise de riscos. 
 O referido autor coloca que, nas duas correntes éticas fazem-se escolhas, porque em 
ambas a adesão a um curso de ação depende da concepção de mundo que os agentes têm ou 
da sua consciência da necessidade. Na ética da convicção não há aferição dos efeitos a serem 
gerados, há uma obediência a valores, as escolhas derivam de pressupostos e são dedutivas. 
Na ética da responsabilidade, os adeptos seguem duas etapas: primeiro refletem sobre os fatos 
e as condições presentes e, depois, deliberam. A legitimação das decisões calca-se num 
pensamento indutivo. (Srour, 2000). 
 Na visão de Jobim (2003), a ética sempre foi uma disciplina filosófica, mas há algum 
tempo perdeu a característica de um estudo exclusivamente teórico. No mundo moderno é 
crucial entender como as premissas éticas podem ser colocadas em prática pelas organizações 
e pesquisadores no seu dia-a-dia, especialmente em relação aos públicos interessados. Não 
existem verdades absolutas ou exatas em matéria de ética. Por isso, a reflexão permanente é 
necessária. (Moreira, 2002). 
Para Cooper e Schindler (2003) a ética pode ser definida como normas ou padrões de 
comportamento que guiam as escolhas morais referentes ao comportamento de cada um e a 
relação com as outras pessoas. Apesar da questão ética não ser recente, continua um problema 
atual na busca pela ciência. 
 Relacionando a ética com a ciência, vale ressaltar que, se a pesquisa científica envolve 
pesquisadores e pesquisados, pesquisadores e participantes, conforme coloca Paiva (2005), é 
importante que a ética conduza as ações de pesquisa, de modo que a investigação não traga 
prejuízo para nenhuma das partes envolvidas. 
Matheus (2008), analisando também a relação entre ética e ciência, discute que, ora 
aproximando-se, ora afastando-se, ética e ciência vivem, no mundo atual, uma fase de 
profunda exigência de reaproximação. O autor coloca que houve tempos em que estiveram 
separadas. Foram épocas em que os cientistas invocavam para si a liberdade de pesquisar sem 
estarem atados a normas ou limitados por qualquer tipo de censura que cerceasse sua 
liberdade para ampliar os horizontes do conhecimento. Passaram a repelir qualquer critério 
normativo externo à sua conduta, atribuindo caráter “a-ético” ao trabalho científico. 
Nos tempos atuais, esta independência da ciência passou a ser questionada. Mais 
recentemente, os próprios cientistas passaram a reduzir essa distância. Não bastou notar que 
 
4 
 
há um fundamento ético na busca do conhecimento e na necessidade de aproximação da 
verdade. Surgiu também a noção de que não se pode ser verdadeiro e injusto, do mesmo modo 
que não se pode ser falso, mas justo. (Matheus, 2008). 
Tais abordagens remetem à importância da ética na ciência, no sentido de discutir 
parâmetros éticos para a decisão de o que pesquisar, como pesquisar (conduta ética no 
processo de pesquisa) e como apresentar e utilizar os resultados da pesquisa, através do debate 
ético e da identificação dos interesses que orientam a pesquisa. 
 
Por muito tempo a atividade de pesquisa foi considerada isenta de considerações de 
ordem ética. A neutralidade do pesquisador era exigência inexorável e a confiabilidade 
dos resultados se depreendia da capacidade de se descolar de seus valores para se ater 
exclusivamente ao rigor do método. Assim, da pesquisa se cobrava tão-somente a 
observância rigorosa dos métodos e procedimentos, abstraídas as conseqüências da 
aplicação de seus resultados. Desde que "científico", o conhecimento gerado 
legitimava-se, e o pesquisador poderia ter certeza de servir à causa nobre do progresso 
da ciência. Na linguagem corrente, "pesquisa" tornou-se denominação genérica para a 
coleta de dados e produção de informações em áreas variadas. A atividade tem sido 
valorizada mais pela "confiabilidade" das fontes e rigor dos métodos de coleta, 
tratamento e análise do que pelas conseqüências e usos possíveis dos resultados 
produzidos. (Campos & Costa, 2008, p.38). 
 
 Em outra linha de pensamento, diferente a visão de Brown (1993), apresentada 
anteriormente, Churchill e Peter (2005) acreditam que a relação entre pesquisador e 
participantes deve ser mantido dentro de rígidos limites éticos e que para desenvolver, de 
forma ética, uma investigação é necessário que o respondente não possa sofrer nenhum dano 
físico, desconforto, dor, embaraço ou perda de privacidade. 
O ato de planejar uma atividade de pesquisa é imprescindível para a manutenção da 
integridade moral. Os pesquisadores devem identificar os modos como a privacidade poderia 
ser invadida e evitar que isso aconteça. Portanto, uma pesquisa responsável é a que se 
antecipa aos possíveis problemas éticos e não aquela que se justifica posteriormente a 
realização da investigação. (Churchill & Peter, 2005). 
 Fundamentando-se em outras pesquisas, Santos e Silva Neto (2000), colocam que os 
casos de má conduta ética dos pesquisadores podem ser resultantes das motivações e 
ambições dos pesquisadores frente ao sistema competitivo no qual se realiza a atividade 
científica e frente à ideologia do sucesso, ocasionando a fabricação de dados, fraudes, plágio 
dentre outros que podem não ser percebidos pelo público em geral, mas que prejudicam a 
própria ciência; ou ainda, pela necessidade de originalidade que faz com que o cientista por 
puro orgulho gere disputas, rivalidade e até mesmo o roubo de idéias. 
 Conforme Cooper e Schindler (2003), a pesquisa ética exige integridade pessoal do 
pesquisador, do coordenador do projeto e do patrocinador da pesquisa, remetendo a questão 
ao indivíduo, as pessoas, que são subjetivos. As pessoas que integram uma organização, uma 
sociedade, ou uma comunidade científica possuem formações culturais e científicas 
diferentes, experiências sociais diversas e opiniões distintas sobre os fatos da vida. Por isso, 
os códigos de ética têm a missão de padronizar e formalizar o entendimento sobre um assunto 
(Moreira, 2002). 
 Nesta mesma visão, Cooper e Schindler (2003), colocam que de forma geral o 
pesquisador profissional deve desenvolver e seguir um código de ética, com padrões que 
regulem sua atividade, permita a proteção aos interesses públicos e de sua profissão, 
adequando o comportamento e principalmente que seja aplicável a prática investigativa. 
 Creswell (2007) coloca que as questões éticas devem ser consideradas e refletidas em 
 
5 
 
todo o processo de pesquisa. Kennedy (2006) considera que a integridade da pesquisa inclui a 
incorporação de códigos de ética pessoais e profissionais no projeto de pesquisa, e também 
inclui aderir a estes códigos enquanto o estudo é realizado. A autora coloca que a forma como 
são interpretadas as questões éticas na pesquisa pode ser intensamente pessoal,ou seja, é uma 
área complexa e muitas vezes ambígua. 
A elaboração de pesquisas científicas em organizações deve ser algo que adicione 
valor ao corpo do conhecimento. Uma pesquisa acadêmica em gestão é um assunto filosófico 
que inclui a questão de como pesquisar, requerendo dos pesquisadores, um entendimento da 
natureza dos processos necessários para a criação do conhecimento, com a utilização de uma 
abordagem de pesquisa que seja sólida. O problema é que o processo de condução de uma 
pesquisa é altamente subjetivo. (Remenyi, Williams, Money, & Swartz, 1998). 
O assunto da responsabilidade ética do cientista e as reflexões sobre o impacto da 
ciência e da tecnologia sobre a vida social e sobre o ser humano não é algo moderno. 
Contudo, foram os efeitos catastróficos do progresso da técnica e da ciência após a primeira 
guerra mundial e no período entre ela e a segunda guerra mundial que trouxeram à tona a 
importância de refletir sobre a responsabilidade do cientista. (Santos & Silva Neto, 2000). 
 As primeiras normas éticas formais surgiram com o Código de Nuremberg, em 1947, 
em resposta às atrocidades da experimentação médica dos nazistas. Foi o primeiro documento 
ético internacional contendo preceitos disciplinadores às atividades científicas, e que passou a 
requerer dos pesquisadores: o consentimento livre do sujeito na pesquisa, a redução de riscos 
e incômodos, a possibilidade de revogação de autorização pelo sujeito, a proporcionalidade 
entre riscos e benefícios, a obrigatoriedade de pesquisa prévia em animais etc. Assim, tais 
preceitos buscaram resgatar alguns referenciais mínimos para um agir ético marcando, 
portanto, o nascimento da primeira norma de ética aplicada. (Lino, 2008; Hutz, 2008). 
Em 1964, foi assinada a Declaração de Helsinque, que propunha a criação e 
implantação de Comitês de Ética em Pesquisa, o que foi incluído na quase totalidade dos 
Códigos e Normas de Pesquisa em Saúde. A partir da Declaração de Helsinque vários órgãos 
oficiais dos principais centros envolvidos em pesquisas redigiram normas e diretrizes 
próprias. (Greco & Mota, 1998). 
Nos anos seguintes, especialmente nas décadas de 1960 e 1970, surgiram e se 
consolidaram vários códigos e normas legais para pesquisa com seres humanos nos Estados 
Unidos, Canadá e Europa (Hutz, 2008). Inicialmente, a preocupação ética recaia sobre as 
práticas de pesquisa de experimentação com seres humanos e só depois do final dos anos 
sessenta e durante os anos setenta é que surgem novas preocupações e contestações da 
sociedade quanto aos efeitos das pesquisas sobre a humanidade. (Santos & Silva Neto, 2000). 
No Brasil, a primeira diretriz específica sobre pesquisas em seres humanos foi a 
Resolução n° 1 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão ligado ao Ministério da Saúde, 
de 13/6/1988. Essa diretriz imputa ao Ministério da Saúde a responsabilidade de emissão das 
normas técnicas para a realização de pesquisas para a saúde e determinar a periodicidade e as 
características da informação sobre a pesquisa. Seguindo em linhas gerais as diretrizes 
internacionais já estabelecidas. (Greco & Mota, 1998). 
Essa primeira regulamentação brasileira com relação à ética na pesquisa com seres 
humanos representou um importante avanço, embora seu alcance aparentemente tenha se 
limitado a alguns hospitais, especialmente os ligados às universidades, que estabeleceram 
comissões de ética para avaliar projetos de pesquisa. (Hutz, 2008). Ainda conforme a referida 
autora, até muito recentemente, não havia, no Brasil, uma preocupação institucional com os 
aspectos éticos da pesquisa. O pesquisador era o único árbitro da adequação ética de sua 
pesquisa. A sociedade concedia licença total a seus cientistas para experimentar e pesquisar, 
em seres humanos da forma que julgassem apropriadas ou necessárias. 
 
6 
 
A Resolução n° 1/1988, do CNS, após amplos debates com as comunidades científicas 
e a sociedade civil - foi reformulada em 1996, tornando-se a Resolução n° 196/96, do CNS. 
Foram mantidos os mesmos princípios da precedente, fundamentando-se nos principais 
documentos internacionais sobre pesquisas envolvendo seres humanos e na legislação 
brasileira a respeito. (Greco & Mota, 1998). 
E a partir da Resolução n° 196/96, foi criada a Comissão Nacional de Ética em 
Pesquisa (CONEP), que é uma comissão do Conselho Nacional de Saúde (CNS), com 
constituição designada pela Resolução nº 246/97, com a função de implementar as normas e 
diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Tem função consultiva, 
deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente com uma rede de Comitês de 
Ética em Pesquisa (CEPs), organizados nas instituições onde as pesquisas se realizam. A 
CONEP e os CEPs têm composição multidisciplinar com participação de pesquisadores, 
estudiosos de bioética, juristas, profissionais de saúde, das ciências sociais, humanas e exatas 
e representantes de usuários. (CONEP, 2008). 
A referida resolução (n°. 196/96) incorpora, sob a ótica do indivíduo e das 
coletividades, quatro referenciais básicos da ética: autonomia, não maleficência, beneficência 
e justiça, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, 
aos sujeitos da pesquisa e ao Estado (CNS, 2008). Na referida resolução, que trata dos 
aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, é colocado que a eticidade da 
pesquisa implica em: 
a) Consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos 
vulneráveis e aos legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa 
envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-los em sua dignidade, respeitá-los em 
sua autonomia e defendê-los em sua vulnerabilidade; 
b) Ponderação entre riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou 
coletivos (beneficência), comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo 
de danos e riscos; 
c) Garantia de que danos previsíveis serão evitados (não maleficência); 
d) Relevância social da pesquisa com vantagens significativas para os sujeitos da 
pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos vulneráveis; o que garante a igual 
consideração dos interesses envolvidos, não perdendo o sentido de sua destinação 
sócio-humanitária (justiça e eqüidade). 
A Resolução nº 196/96 caracteriza uma pesquisa como ética, também pela sua 
relevância social, preservando o sentido de sua destinação sócio humanitária. A resolução 
ainda determina que, as pesquisas em comunidades, sempre que possível, deverão traduzir-se 
em benefícios cujos efeitos continuem a se fazer sentir após sua conclusão e assegurar aos 
sujeitos da pesquisa os benefícios resultantes do projeto, seja em termos de retorno social, 
acesso aos procedimentos, produtos ou agentes da pesquisa. (CNS, 2008). 
 Tacsan (2003), por sua vez, destaca alguns princípios da ética na pesquisa: o princípio 
de beneficência - tange a obrigação de reunir os esforços de modo a garantir o bem-estar ao 
sujeito da investigação, além do dever de maximização dos benefícios prováveis, e 
minimização no caso de possíveis danos; o princípio de justiça - evoca o amparo a grupos 
culturais e sociais, raciais e étnicos; o princípio de segurança - visa à garantia de que o 
trabalho não causará qualquer dano aos envolvidos; e o princípio do consentimento informado 
- visa a garantir que o sujeito da pesquisa esteja consciente de cada uma das etapas do 
trabalho investigativo e que poderá ser interrompido sob controle e, se isso ocorrer, estará o 
sujeito da pesquisa devidamente apto a desvincular-se livremente do processo investigativo. 
 Na visão de Resnick (2008) existem várias razões que demonstram a importância de se 
respeitar as normas éticas em pesquisa, e destaca que, as normas promovem os objetivos da 
pesquisa, tais como o conhecimento e a verdade, de forma a ser evitado o erro. Como7 
 
exemplo, o autor cita que as proibições quanto à falsificação ou adulteração de dados da 
pesquisa promovem a verdade e evitam o erro ou fraude. O autor destaca ainda que, a 
pesquisa envolve, muitas vezes, grande cooperação e coordenação entre diferentes pessoas, 
em disciplinas e instituições distintas, e assim os padrões éticos promovem valores que são 
essenciais ao trabalho em conjunto, tais como confiança, responsabilidade, respeito mútuo e 
justiça. 
A Conferência Mundial da Unesco de 1999, em Budapeste, Hungria, na sua declaração 
final, recomenda: "Todos os cientistas devem se comprometer a respeitar elevados padrões 
éticos e um código de ética - baseado em normas relevantes espelhadas em instrumentos 
internacionais de direitos humanos - estabelecido por profissionais da ciência". (Pesquisa 
Fapesp, 2008). 
Porém, como salientam Polli e Vares (2008), a ética de um profissional, tal como o 
pesquisador, não pode ser reduzida aos códigos de ética, que na verdade constituem códigos 
morais, mas deve ser a busca por uma reflexão crítica sobre a ação do profissional no seu 
espaço de trabalho, que deve fundamentar seu bem-estar e o dos outros, uma vez que o 
trabalho se dá por uma relação. A ética como reflexão crítica ajuda a analisar os fundamentos 
morais que norteiam as ações de cada pesquisador ou profissional. (Polli & Vares, 2008). A 
seguir os procedimentos metodológicos que fundamentam o presente trabalho de pesquisa. 
 
3. Procedimentos Metodológicos 
 
 O método de pesquisa que foi adotado no presente estudo trata-se do método 
exploratório (Selltiz & Cook, 1976), com uma abordagem essencialmente qualitativa, que deu 
continuidade a uma pesquisa quantitativa elaborada, em 2008, a partir do levantamento feito 
com pesquisadores em Administração da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte) sobre a ética na pesquisa. 
 Para atender melhor o objetivo da pesquisa, o presente estudo adotou a seguinte 
combinação de métodos para aquisição de conhecimentos: 
 a) Revisão da literatura com vistas ao objeto de estudo, objetivando formar um marco 
teórico e clarificar conceitos relacionados à ética na pesquisa; 
 b) Consulta aos especialistas em ética na pesquisa, visando à clarificação de conceitos, 
à preparação do instrumento de pesquisa e ao enriquecimento do conhecimento; 
 c) Aplicação da pesquisa de campo junto aos pesquisadores, buscando analisar 
inicialmente a percepção dos mesmos quanto à ética na pesquisa. 
 A partir de discussões ocorridas durante a apresentação, no 33o. EnANPAD (Encontro 
da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração), ocorrido em 
setembro de 2009, de um primeiro trabalho quantitativo sobre ética na pesquisa, surgiu a idéia 
de abordar de forma qualitativa e aprofundada o tema ética na pesquisa. Alguns debatedores, 
na ocasião, questionaram: “O que é ética na pesquisa?”. A partir desse questionamento 
decidiu-se pesquisar a percepção dos autores de trabalhos da divisão acadêmica relacionada a 
pesquisa. 
 Foram coletados dados primários e secundários. A coleta de dados primários envolveu 
a aplicação da pesquisa de campo junto a pesquisadores selecionados, através de envio de 
instrumento de pesquisa, não estruturado, com cinco questões abertas, para dissertação dos 
respondentes. 
 As questões abertas enfocavam os seguintes pontos: percepção dos pesquisadores 
sobre a ética na pesquisa; aspectos que devem nortear a ética na pesquisa; avaliação dos 
respondentes quanto a conduta ética do pesquisador em cada etapa do processo de pesquisa; 
que dilemas éticos acometem ou acometeram os pesquisadores durante um processo de 
pesquisa, e avaliações que os pesquisadores fazem com relação às normas de conduta ética. 
 
8 
 
 Assim sendo, os sujeitos da presente pesquisa foram pesquisadores com trabalhos 
apresentados e publicados no 33º. EnANPAD, na divisão acadêmica “Ensino e Pesquisa em 
Administração e Contabilidade – EPQ”, devido ao fato que essa área comporta o tema “Ética 
na pesquisa”. 
 Através dos anais do referido evento, foram coletados os endereços eletrônicos dos 
pesquisadores da área escolhida. O envio das questões foi feito por e-mail, devido à dispersão 
geográfica dos sujeitos da pesquisa, distribuídos por vários estados do país. Foram enviados e-
mails solicitando participação na pesquisa para 40 (quarenta) pesquisadores selecionados, 
sendo que 10 (dez) consentiram em participar da presente pesquisa e responderam as cinco 
questões abertas enviadas. As fontes de dados secundários foram: levantamento bibliográfico 
em livros, artigos, periódicos, sites da internet e consultas as normas éticas para a pesquisa 
científica. 
 A análise dos dados levantados juntos aos pesquisadores foi essencialmente 
qualitativa, de forma a subsidiar e classificar as informações levantadas, o que permitiu 
aprofundar o conhecimento sobre o tema da ética na pesquisa. Para a abordagem qualitativa 
foi utilizada a análise de conteúdo, de forma a descrever os conteúdos das mensagens e 
permitir a inferência de conhecimentos relativos a estas mensagens. (Bardin, 1977). 
 A análise de conteúdo foi iniciada com uma leitura preliminar de todas as colocações 
de cada um dos respondentes. A partir da leitura, foi possível separar as principais frases de 
cada questão da pesquisa e separar em grupos relacionados aos objetivos da pesquisa 
(percepção dos pesquisadores sobre a ética na pesquisa; aspectos devem nortear a ética na 
pesquisa; avaliação dos respondentes quanto a conduta ética do pesquisador em cada etapa do 
processo de pesquisa; dilemas éticos acometem ou acometeram os pesquisadores durante um 
processo de pesquisa; avaliações que os pesquisadores fazem com relação às normas de 
conduta ética). 
 As categorizações das análises feitas foram elaboradas com base na extração de 
palavras ou conjunto de palavras consideradas mais significativas em categoria inicial, e 
posteriormente foram sintetizadas em categorias intermediárias, chegando-se a categoria final, 
que correlacionou as diversas classes encontradas criando um conceito unificado. 
 Pretendeu-se, assim, a partir da pesquisa aplicada, procurar aprofundar a discussão 
sobre a dimensão ética no processo de pesquisa, de forma a representar contribuição relevante 
no conhecimento sobre a ética na pesquisa científica. A seguir serão apresentadas as 
discussões sobre as percepções dos pesquisadores sobre ética na pesquisa. 
 
4. Percepções sobre Ética na Pesquisa 
 
 A análise foi dividida em cinco partes, a primeira tratou de abordar a percepção dos 
pesquisadores sobre a ética na pesquisa. A segunda parte buscou levantar quais aspectos 
devem nortear a ética na pesquisa, na visão dos pesquisados. Já a terceira parte, apresenta 
como os pesquisadores avaliam a conduta ética do pesquisador em cada etapa do processo de 
pesquisa. A quarta parte da análise discute que dilemas éticos acometem ou acometeram, os 
pesquisadores durante um processo de pesquisa. E a quinta parte aborda quais as avaliações 
que os pesquisadores fazem com relação às normas de conduta ética (códigos de ética na 
pesquisa). 
 Os sujeitos da presente pesquisa foram 10 (dez) pesquisadores com trabalhos 
apresentados e publicados no 33º. EnANPAD. Foram definidos, assim, números 
identificadores para cada pesquisador, de acordo com a ordem da devolução do instrumento 
de pesquisa respondido (de 1 a 10). Por exemplo, definiu-se: “Pesquisador 1”; “Pesquisador 
2”, e assim sucessivamente. 
 
 
9 
 
• Percepção dos pesquisados sobre o que é ética no processo de pesquisa 
 Primeiramente cada pesquisador foi questionado sobre a sua percepção sobre o que é 
ética na pesquisa. As respostas dadas pelos pesquisadores se dividiram em duas categorias de 
significados, descritas a seguir. 
 
a) Ética no processo de pesquisa é ter compromisso moral com todas as 
pessoas/instituiçõesenvolvidas diretamente ou não na pesquisa. 
 A primeira categoria focalizou a ética na pesquisa como um compromisso moral, ou 
seja, a capacidade do pesquisador de responder sobre seus atos e intenções. De forma que não 
cometa ações que cause danos a outros. Na opinião dos respondentes, ética na pesquisa 
condiz com a “responsabilidade do pesquisador”, traduzindo-se em “escolhas moralmente 
harmônicas”, de forma a conduzir corretamente o processo de pesquisa, sem ferir a moral 
estabelecida. Observa-se uma possível relação com a ética da responsabilidade (Srour, 2000), 
que apregoa que somos responsáveis por aquilo que fazemos. 
 A percepção de que a ética na pesquisa está relacionada com a moral, relaciona-se com 
as conceituações de Srour (2000) e Chaui (2006). Srour (2000) coloca que a ética estuda as 
morais históricas, as relações e as condutas dos agentes sociais. E na visão do autor, moral é 
um conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta que coletividades 
adotam. Para Chaui (2006) a ética é a reflexão sobre a moral. 
 Destacam-se as colocações dos pesquisadores 4 e 9, respectivamente: “Ética no 
processo de pesquisa diz respeito ao compromisso do pesquisador para com os pesquisados e 
os interessados na pesquisa”; “Ética na pesquisa é a atuação segundo parâmetros de busca 
da verdade e respeito com o objeto de pesquisa e com as pessoas envolvidas”. 
 Dessa forma, pode-se discutir então, a partir da percepção dos pesquisadores 
estudados, que a ética na pesquisa está relacionada ao compromisso moral, ou seja, que se 
constitui a partir de uma reflexão sobre o conjunto de valores, regras de comportamento e 
código de conduta adotado por pesquisadores. 
 
b) Ética na pesquisa está relacionada ao respeito às normas éticas. 
 A ética na pesquisa deveria ser compreendida então como o respeito às normas de 
conduta ética estabelecidas para os pesquisadores. O pesquisador 3 coloca que “a ética na 
pesquisa são princípios relacionados à dimensão social do campo da ciência, que estabelece 
normas pelas quais a atividade acadêmica deve ser conduzida”. O que aponta um 
direcionamento para uma ética da convicção (Srour, 2000), que se pauta por valores e normas 
previamente estabelecidos. 
 O pesquisador 2 cita alguns princípios que acredita que devem ser seguidos pelos 
pesquisadores: “(...) não plagiar, citar as fontes, dar crédito a quem é de direito. Pedir 
autorização formal para divulgar informação alheia, mesmo quando houve um acordo tácito. 
Não enganar para conseguir o que se quer”. 
 O relato a seguir também corrobora com a visão que a ética na pesquisa está 
relacionada ao respeito às normas. 
 
Pesquisador 6 – A ética no processo de pesquisa, na minha percepção, é respeitar 
diversas ‘normas’, tais como: (1) ser transparente ao descrever a metodologia e a 
análise dos resultados, (2) não deixar oculto nenhum resultado encontrado na 
pesquisa, para não haver viés nem manipulação de dados, (3) respeitar o anonimato 
da empresa ou pessoa na pesquisa, caso não queira ser identificada, (4) não fazer 
plágio em relação à pesquisa de outros autores. 
 
 
10 
 
Compro-
misso 
moral 
Respeito
às 
normas
Ética 
Ética na 
pesquisa 
 A Figura 1 ilustra as categorias relacionas às percepções dos pesquisadores quanto a 
ética no processo de pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Percepções de pesquisadores sobre a ética na pesquisa 
Fonte: Dados da pesquisa, 2009. 
 
 
• Aspectos que devem nortear a ética na pesquisa, na visão dos pesquisados 
 
 A partir da análise de todas as categorias, verificou-se que os aspectos que devem 
nortear a ética na pesquisa referem-se aos valores pessoais, na visão dos pesquisados, e são 
relacionados abaixo: 
- Compromisso; 
- Integridade; 
- Responsabilidade; 
- Neutralidade; 
- Transparência; 
- Respeito; 
- Honestidade; 
- Seriedade; 
- Confidencialidade quando necessárias ou condicionadas. 
 
 Na visão do pesquisador 7, “um princípio básico a reger as pesquisas deveria ser a 
produção de conhecimento, e seu compartilhamento com a comunidade científica e com a 
sociedade. A própria natureza da pesquisa e sua proposta estão a serviço de algo maior (...)”. 
 
 
• Avaliação dos pesquisados sobre a conduta ética do pesquisador em cada etapa do 
processo de pesquisa 
 
 A maioria dos pesquisadores estudados concordou que em cada etapa do processo de 
pesquisa devem ser refletidos parâmetros éticos na conduta do pesquisador. Ou seja, 
afirmaram que em todas as etapas da pesquisa devem ser observados limites éticos, sem 
priorizar uma ou outra etapa do processo. O que corrobora com as colocações de Creswell 
(2007), que afirma que as questões éticas devem ser consideradas e refletidas em todo o 
processo de pesquisa. 
 
 
11 
 
 Entre os pesquisadores estudados, destacam-se os discursos apresentados na Figura 2. 
 
Unidades 
 
Discursos 
Pesquisador 4 “Cada etapa do processo de pesquisa deve ser desenvolvida de forma 
neutra, sem a interferência do pesquisador nos resultados de cada uma 
das etapas” 
Pesquisador 5 “A má conduta pode aparecer em qualquer uma das diversas etapas de 
um processo de pesquisa” 
Pesquisador 6 “Cada etapa do processo de pesquisa representa um desafio ao 
pesquisador que precisa estar sempre se perguntando se o que está sendo 
feito está de forma ética e correta” 
Pesquisador 7 “Percebo que todo o processo de pesquisa tem ‘portas abertas’ para 
quem não tem escrúpulos” 
 
Figura 2. Avaliação dos pesquisados sobre a conduta ética do pesquisador no processo de pesquisa 
Fonte: Dados da pesquisa, 2009. 
 
 O pesquisador 6 detalhou a sua avaliação quanto a conduta ética em cada etapa do 
processo de pesquisa: 
- Na etapa de definição da questão de pesquisa, o pesquisador precisa tomar cuidado 
em relação ao que irá explorar, não pode ser algo que represente um prejuízo para 
outros. 
- Na etapa de referencial teórico, não pode haver plágio. 
- Na metodologia e coleta dos dados, é preciso definir uma metodologia mais 
adequada para coletar esses dados e principalmente, se a pesquisa for de campo, 
com entrevistas. Por exemplo, respeitar quem está sendo entrevistado, respeitar a 
integridade dessa pessoa, sem envolvê-la em questões que possam representar para 
elas um prejuízo. 
- Na análise dos resultados e conclusões, não pode haver manipulação dos dados, é 
preciso ser muito transparente em tudo que está sendo feito na pesquisa. 
 
• Dilemas éticos que acometem, ou acometeram, o pesquisador durante um processo 
de pesquisa 
 
 Com relação aos dilemas éticos que acometem ou já acometeram os pesquisadores 
durante um processo de pesquisa, observou-se que parte dos pesquisadores afirma não ter 
grandes dilemas éticos. Porém observou-se que, mesmo entre os pesquisadores que afirmam 
não terem dilemas éticos, há uma grande preocupação quanto à conduta ética no que tange as 
questões de plágio nas pesquisas científicas, pois citam o fato nas outras questões levantadas 
na pesquisa. 
 Os respondentes que confirmam terem dilemas éticos, colocam a preocupação em 
como devem citar os autores das idéias em seus trabalhos, assim como há a preocupação em 
captarem de forma fiel as entrevistas aplicadas. Outros aspectos destacados foram com 
relação ao anonimato das pessoas ou empresas pesquisadas, e a grande preocupação da 
publicação de mesmo trabalho em vários periódicos e congressos. 
 A partir de respostas dos pesquisadores em outras questões abordadas, foi possível 
agrupar discursos que remeteram aos dilemas e preocupações dos respondentes com a ética na 
pesquisa, o que está apresentado na Figura 3. 
 
 
 
12 
 
Unidades Discursos
 
Pesquisador 1 Tenho a preocupação permanente de citar o autor da idéia e não 
simplesmente pegar a idéia dele, mudar as palavras e colocá-lasem meu trabalho como se fossem minhas. Da mesma forma, nas 
entrevistas, tenho a preocupação em captar o mais fielmente 
possível o que o pesquisado está querendo dizer. Uma dica é 
redigir a fala e pedir que ele confirme ou modifique segundo o que 
estava dizendo. 
Pesquisador 3 Dilemas não, mas vejo alguns problemas relacionados à falta de 
ética no campo: plágio; ser co-autor de um trabalho sem ter 
contribuído para ele; publicar o mesmo trabalho em vários 
periódicos e congressos; ser parcial em avaliações de artigo, 
avaliando o trabalho mais pela adequação ao gosto do avaliador, 
do que pela contribuição do trabalho; participar de vários 
conselhos de revistas sem contribuir em nada no processo; 
favorecer amigos em publicações de periódicos; usar a influência 
nos comitês de avaliação como moeda de troca a favores, como, 
por exemplo, publicar alguns artigos. 
Pesquisador 4 Acredito que um dos grandes dilemas é a dificuldade de conseguir 
alcançar resultados desejados ou dificuldade de coleta de dados, o 
que pode fazer com o que o próprio pesquisador "informe" esses 
dados. 
Pesquisador 6 A maior dificuldade que tenho é como ao descrever um caso de 
uma empresa ou entrevistas com pessoas que não podem ser 
identificadas, como evitar dar pistas ao longo do texto que possam 
identificar quem é a empresa, por exemplo. 
 
Pesquisador 7 O desejo por resultados de curto prazo, produzem plágio de 
idéias, de estruturas textuais, e até de trabalhos inteiros. 
Quantos professores são cobrados por publicações? Esse dilema, 
tão discutido, provoca o fenômeno da “multiplicação” de 
pesquisas: um mesmo artigo é reescrito em 3 ou mais formatos e 
publicados com nomes diferentes, em diferentes eventos. 
Pesquisador 8 Por enquanto, o único dilema foi em relação aos temas 
investigados e às teorias que os embasam, visto que no campo da 
Administração a lógica instrumental e de mercado acaba 
influenciando nos modos de analisar os objetos de estudo. 
Pesquisador 9 Divulgação de nomes de pessoas ou empresas pesquisadas. 
Divulgação de dados confidenciais, sigilosos. 
 
Pesquisador 10 Problemas de co-autoria 
Quebra de confidencialidade do entrevistado ao seu chefe 
Divulgação do nome da organização sem o consentimento 
Uso das informações para uso comercial 
Ausência de retorno ao entrevistado, para mostrar qual foi o 
resultado final da entrevista 
 
Figura 3. Percepções sobre os dilemas éticos que acometem o pesquisador no processo de pesquisa 
Fonte: Dados da pesquisa, 2009. 
 
 Constata-se assim que, os principais dilemas ou problemas éticos que os pesquisadores 
estudados observam estão relacionados com as questões de plágio de idéias e/ou estruturas 
textuais (questão de autoria); fraude/manipulação de resultados; publicação repetida de 
mesmo trabalho (questão de ineditismo), como também as questões de anonimato dos 
pesquisados e confidencialidade dos dados. 
 
13 
 
• Avaliação dos pesquisadores com relação as normas de conduta ética (Códigos de 
ética na pesquisa) 
 
 Constatou-se que, a grande maioria dos pesquisadores estudados afirma não conhecer 
códigos de ética na pesquisa, mas os pesquisadores acreditam ser fundamental a discussão, 
elaboração, divulgação e aplicação de códigos de ética no processo de pesquisa. 
 O caso abaixo relatado por um dos respondentes exemplifica como há um 
desconhecimento da resolução 196/96 (resolução que indica as normas éticas nas pesquisas 
que envolva seres humanos no Brasil, e engloba todas as áreas de conhecimento, e não apenas 
a área médica). 
 
Na minha experiência como pesquisadora, não conheço nenhuma norma de conduta 
ética em pesquisa. Aliás, uma única vez, uma pessoa a quem pedimos para responder 
um questionário sobre motivação no trabalho do professor, recusou-se a respondê-lo. 
Para esta pessoa, o questionário deveria ser submetido ao comitê de ética da 
universidade. Na universidade não havia este comitê e na cidade que moro, apesar de 
duas universidades e diversas faculdades, só há um comitê de ética para pesquisa com 
seres humanos, mas na área médica, o que não era o caso. Antes de prosseguir com a 
pesquisa, usei o bom senso e pedi a alguns colegas do meu grupo de pesquisa que 
dessem uma olhada no questionário que havia sido formulado por um orientando, 
para verificar se havia alguma pergunta que feria ‘a questão ética’. Como não foi 
apontado nada neste sentido, prosseguimos com a pesquisa. (Pesquisador 1) 
 
 Um dos pesquisadores afirma que acha “fundamental a existência de um código de 
ética para guiar os pesquisadores, já que é um tema de extrema importância e não pode ser 
ignorado nunca”. Enquanto que o pesquisador 7 colocou que, “Posso ser honesta? Não me 
lembro de ter lido algum código de ética na pesquisa. Se existem, não sei nem onde localizá-
los... Depois dessa entrevista, vou buscar algo, porque fiquei um pouco constrangida com 
esse fato...”. A seguir serão apresentadas as considerações finais do presente estudo. 
 
5. Considerações Finais 
 A busca em conhecer as percepções dos pesquisadores estudados sobre o tema ética na 
pesquisa, a partir de uma perspectiva qualitativa, se revelou um processo estimulante e 
aprofundado. Verificou-se que há uma grande preocupação com alguns princípios éticos 
voltados à pesquisa científica, como também observam-se posturas críticas, por parte dos 
respondentes, com relação a conduta ética de pesquisadores, no contexto atual. 
Como coloca Paiva (2005), ainda que não exista uma abordagem única para a ética, 
considerando-se que o senso de moral é diverso e problemático, parece relevante caminhar em 
direção a um consenso entre os pesquisadores sobre o que “se pode fazer em pesquisa”, 
dentro de uma postura responsável e íntegra. 
Com relação à percepção dos pesquisadores estudados sobre o tema ética na pesquisa, 
pode-se concluir que os respondentes relacionam a ética na pesquisa ao compromisso moral 
do pesquisador e também ao respeito às normas éticas, e essas categorias refletem as 
percepções dos pesquisadores a respeito do que é ética na pesquisa. Destacando-se as 
conceituações dos pesquisados: “Ética no processo de pesquisa é ter compromisso moral com 
todas as pessoas/instituições envolvidas diretamente ou não na pesquisa” e “Ética na 
pesquisa está relacionada ao respeito às normas éticas”. 
Alguns aspectos foram destacados como norteadores da ética em um processo de 
pesquisa, que são: Compromisso; Integridade; Responsabilidade; Neutralidade; 
Transparência; Respeito; Honestidade; Seriedade e confidencialidade quando necessárias ou 
 
14 
 
condicionadas. Na visão dos pesquisadores estudados, o que norteia a ética na pesquisa são 
valores pessoais, que irão definir uma conduta ética na pesquisa. 
 Na percepção dos pesquisadores, em cada etapa do processo de pesquisa devem ser 
refletidos parâmetros éticos na conduta do pesquisador. Em todas as etapas da pesquisa 
devem ser observados limites éticos, sem priorizar uma ou outra etapa do processo. O que 
condiz com a visão de Creswell (2007), que afirma que as questões éticas devem ser 
consideradas e refletidas em todo o processo de pesquisa. O que vem a sinalizar a importância 
de uma postura reflexiva e crítica por parte dos pesquisadores. 
Com relação aos dilemas éticos dos pesquisadores, há uma grande preocupação quanto 
à conduta ética no que tange as questões de plágio nas pesquisas científicas, anonimato dos 
respondentes, manipulação de resultados e publicação de mesmo artigo em periódicos 
distintos. A grande maioria dos pesquisadores não conhece códigos de ética na pesquisa, mas 
constata-se que os pesquisadores estudados acreditam ser fundamental a discussão, 
elaboração, divulgação e aplicação de códigos de ética no processo de pesquisa. 
 Como abordagem inicial sobre a percepção de pesquisadores sobre o tema “ética na 
pesquisa”, pode-se afirmarconclusivamente que há um significativo caminho para as 
discussões teóricas e práticas sobre o tema. O estudo da ética na pesquisa carece de maior 
aprofundamento e conhecimento da sua importância por parte da comunidade acadêmica. 
 
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