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ASPECTOS INICIAIS 29. ETIOLOGIA 30. DIARREIA FUNCIONAL 31. INTOLERÂNCIA À LACTOSE 32. ALERGIA ALIMENTAR 33. DOENÇA CELÍACA 34. OUTRAS CONDIÇÕES 35. CONSTIPAÇÃO INTESTINAL 36. ASPECTOS INICIAIS 37. ETIOLOGIA 38. CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL 39. AGANGLIONOSE INTESTINAL CONGÊNITA 40. VÔMITOS E REGURGITAÇÕES 41. ASPECTOS INICIAIS 42. ETIOLOGIA 43. DOR ABDOMINAL 44. CÓLICA DO LACTENTE 45. HIDRATAÇÃO VENOSA 46. APÊNDICE: OUTROS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS 47. QUADROS ALÉRGICOS E DIVERSOS DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES 48. DOENÇAS DAS TONSILAS E ADENOIDES 49. RINITE ALÉRGICA 50. OBSTRUÇÕES DAS VIAS AÉREAS 51. NARIZ 52. LARINGE, TRAQUEIA E BRÔNQUIOS 53. SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DO LACTENTE 54. FIBROSE CÍSTICA 55. DEFICIÊNCIA DE ALFA-1-ANTITRIPSINA 56. ÁREA DE TREINAMENTO 57. QUESTÕES DA APOSTILA medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina 58. TABELA DE EXAMES 59. BÔNUS APOSTILA _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Aqui há o video de apostila 1.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DIARREIA AGUDA NA INFÂNCIA DIARREIA AGUDADIARREIA AGUDA Aqui há o video de apostila 2.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO DEFINIÇÕESDEFINIÇÕES As doenças diarreicas continuam sendo importante causa de mortalidade infantil, porém, houve uma expressiva redução no número de óbitos nas últimas décadas. Nos anos 70, ocorriam 70 óbitos para cada mil nascidos vivos; atualmente, o número caiu para 15 óbitos para cada mil nascimentos. A diarreia é caracterizada pela perda excessiva de água e eletrólitos através das fezes, resultando em aumento de volume e frequência das evacuações, com diminuição na consistência fecal. Em termos práticos, definimos diarreia como a ocorrência de três ou mais evacuações amolecidas em um período de 24 horas . Também é possível caracterizarmos o evento pela identificação de volume fecal superior a 10 ml/kg/dia, e m crianças, ou mais do que 200 g/dia, em adultos. Atente para o fato de que devemos ter cuidado com essa definição quantitativa ao avaliarmos lactentes, principalmente aqueles em aleitamento materno exclusivo. Essas crianças podem apresentar fezes liquefeitas cerca de oito a dez vezes ao dia após cada mamada, por u m reflexo gastrocólico exacerbado, sem que isso tenha qualquer conotação patológica. Normalmente, o intestino delgado de um adulto absorve cerca de 10–11 litros de água (proveniente da alimentação e das secreções digestivas) e o cólon absorve 0,5 litro. Nas crianças, o volume de líquido que chega ao trato gastrointestinal é da ordem de 285 ml/kg/dia. Deste modo, as doenças que cursam com desordens absortivas do delgado produzem uma diarreia de grande volume, ao passo que aquelas que comprometem o cólon cursam com diarreia de menor volume. Veja na algumas caracterizações importantes. Tabela 1Tabela 1 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina TAB. 1TAB. 1 DIARREIA — DIARREIA — CLASSIFICAÇÕES INICIAIS.CLASSIFICAÇÕES INICIAIS. DEFINIÇÕES Diarreia agudaDiarreia aguda Quadro de diarreia com duração inferior a 14 dias. Tem, na maioria das vezes, etiologia infecciosa, recebendo, por isso, a denominação de diarreia aguda infecciosa ou gastroenterite. Diarreia persisDiarreia persis tentetente É a diarreia que se perpetua por 14 dias ou mais. Recebe na literatura várias outras denominações: diarreia aguda prolongada, diarreia protraída, diarreia intratável e síndrome pós-enterite. Até 10% das diarreias persistentes causam problemas nutricionais e contribuem para a mortalidade na infância. Decorre, provavelmente, de algum fator (como desnutrição ou a introdução recente de leite de vaca na dieta) que impediu a regeneração do enterócito após um episódio de diarreia aguda. Diarreia crônicaDiarreia crônica É a diarreia que se estende por um período superior a 30 dias, podendo ou não haver síndrome de má absorção associada. Alguns livros indicam que um período superior a 14 dias é definidor de cronicidade. DisenDisen teriateria É definida pela eliminação de fezes sanguinolentas, em pequeno volume, frequentemente acompanhadas de tenesmo e dor abdominal. Traduz clinicamente uma inflamação do cólon. MECANISMOS ETIOPATOGÊNICOSMECANISMOS ETIOPATOGÊNICOS Ocorrerá diarreia sempre que houver quebra de equilíbrio entre absorção e secreção de solutos no trato gastrointestinal. Os mecanismos envolvidos caracterizam a diarreia como: osmótica, secretora ou invasiva ( ). TAB. 2TAB. 2 DIARREIA — DIARREIA — CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS MECANISMOS.CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS MECANISMOS. Tabela 2Tabela 2 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina MECANISMOS ETIOPATOGÊNICOS OsmóticaOsmótica A diarreia osmótica é caracterizada pela retenção de líquidos dentro do lúmen intestinal como consequência da presença de solutos osmoticamente ativos não absorvidos, que carreiam a água para dentro da alça intestinal. São exemplos destes solutos: magnésio, fosfato, lactulose, sorbitol e carboidratos. Essa diarreia, na maior parte das vezes, é secundária a um processo infeccioso que lesa o enterócito. Os carboidratos não absorvidos ficam no lúmen intestinal e levam ao aumento da osmolaridade intraluminal. No cólon, as bactérias intestinais fermentam os açúcares presentes na luz, formando ácidos orgânicos e gases, que irritam a mucosa e deixam o pH fecal ácido. A presença de açúcar nas fezes pode ser detectada pelo Clinitest ® . Esse tipo de diarreia, aparentemente, melhora com o jejum. A diminuição do pH fecal é responsável pela produção do eritema perianal (dermatite). Os gases produzidos determinam grande distensão abdominal, cólicas e fezes explosivas. Exemplos: uso de laxantes, deficiência de lactase e má absorção de glicose-galactose. SecretoraSecretora A diarreia secretória tem como característica o aumento de secreção intestinal de água e eletrólitos, principalmente os ânions cloreto e bicarbonato. Esse fenômeno pode ser ocasionado por toxinas virais e bacterianas ou pela ação direta de patógenos que aumentam a concentração intracelular dos nucleotídeos cíclicos (como o AMP e o GMP) e também do cálcio, promovendo a secreção ativa de água e eletrólitos pelos enterócitos. É o tipo caracterizado por maior volume fecal, com sódio fecal elevado (> 70 mEq/L). A desidratação ocorre rapidamente. Exemplos: ativação AMPc (cólera, E. coli enterotoxigênica, Shigella, Salmonella, Campylobacter ); ativação GMPc (toxina E. coli, Yersinia); mecanismo cálcio-dependente (toxina de C. difficile, neuroblastoma, tumor carcinoide). InvasivaInvasiva Na diarreia invasiva (inflamatória) ocasionada por algumas bactérias ( Shigella , Salmonella , Campylobacter etc.), a lesão medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina bactérias ( Shigella , Salmonella , Campylobacter etc.), a lesão da célula epitelial do intestino impede a absorção de nutrientes. Nessa situação pode haver também um componente secretor, uma vez que a mucosa invadida produz substâncias (bradicinina e histamina) que estimulam a secreção de eletrólitos para o lúmen intestinal.bloquear as narinas e os orifícios da tuba auditiva. Eventualmente, estas estruturas linfoides funcionam como uma fonte de infecção, o que contribui para o edema e a disfunção da tuba. SEIOS PARANASAISSEIOS PARANASAIS Os seios paranasais (seios da face) se desenvolvem nos ossos da face como cavidades revestidas de epitélio ciliar e secretor de muco, como continuação ou prolongamentos da cavidade nasal. O desenvolvimento dos seios da face se inicia entre o terceiro e o quinto mês de gestação, mas ocorre de forma mais pronunciada após o nascimento. Essas estruturas crescem durante toda a infância e adolescência. Existem quatro seios paranasais: maxilares, etmoidais, frontais e esfenoidais. Os seios maxilares e os etmoides (anterior e posterior) são os primeiros a se formarem. No neonato, eles são visíveis somente pela tomografia computadorizada de alta resolução. Na radiografia simples de seios da face, pode-se visualizar o seio etmoidal ao redor de um ano; e o seio maxilar, por volta dos quatro anos. O seio frontal começa sua expansão no osso frontal aos dois anos, sendo identificado pela radiografia simples somente aos sete anos de idade. Em algumas crianças, essa visualização é mais tardia. O seio esfenoide é identificado pelo exame radiológico em torno dos cinco anos ( ). FIG. 6 Figura 7 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os seios paranasais drenam suas secreções através dos óstios, que são diminutos orifícios (1–3 mm) dentro dos meatos (conchas ou cornetos) na parede lateral da via nasal. Os seios maxilares, os frontais e os etmoidais anteriores drenam através de óstios no meato médio (abaixo do corneto médio); o esfenoidal e os etmoidais posteriores drenam no recesso esfenoetmoidal, abaixo do corneto superior ( ). FIG. 7 Figura 8 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A parede dos seios é revestida por mucosa respiratória — epitélio colunar ciliado com produção de muco. O movimento ciliar se faz sempre no sentido do óstio, sendo um importante mecanismo de limpeza e desinfecção dessas cavidades, que são normalmente estéreis. A tomografia computadorizada de alta resolução dos seios paranasais é usada para a identificação de anormalidades, como sinusite, embora isso não seja habitualmente necessário, e desordens congênitas. A radiografia simples é menos sensível; contudo, achados como espessamento de mucosa superior a 4 mm, nível hidroaéreo e opacificações são bastante sugestivos de sinusite. Entretanto, estes achados são pouco sensíveis e específicos em menores de cinco anos, já que antes desta idade as cavidades paranasais são pouco desenvolvidas. LARINGELARINGE A laringe é a porção cartilaginosa da via aérea, em posição cervical alta, que se continua superiormente com a faringe e inferiormente com a traqueia ( ). FIG. 8 Figura 9 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A laringe é formada por quatro cartilagens: a epiglote, uma cartilagem revestida por epitélio estratificado, com a função de fechar a abertura da laringe durante a deglutição; as aritenoides; a tireoide ou “pomo de adão”; e a cricoideia, que circunda a via aérea bem abaixo das cordas vocais e representa a porção mais estreita das vias aéreas em crianças menores de dez anos. A glote é a abertura da laringe. As cartilagens dão sustentação à laringe e contêm os pontos de origem e inserção dos músculos fonadores (que agem sobre as cordas vocais). Durante a respiração, as cordas vocais encontram-se abertas. Entretanto, durante a fonação, estas pregas fibroelásticas são tensionadas, encostando uma na outra, para que o ar expelido dos pulmões faça-as vibrar, produzindo a voz. O tom de voz depende não só do grau de tensão e da espessura das cordas vocais, mas também da ressonância produzida pela cavidade nasal e bucal. A inflamação das cordas vocais na laringite aguda manifesta-se como rouquidão. A laringe é ricamente inervada com receptores da tosse. Na porção inferior da laringe, quase na junção laringotraqueal, encontra-se a cartilagem cricoide. A inflamação desta região, como ocorre na laringotraqueíte ou FIG. 9 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina cartilagem cricoide. A inflamação desta região, como ocorre na laringotraqueíte ou crupe, é a maior causa de estridor. RINOFARINGITES VIRAISRINOFARINGITES VIRAIS A nasofaringite viral ou resfriado comum é a desordem infecciosa mais comum da infância , de natureza benigna e autolimitada. A definição anatômica de resfriado comum é de uma nasofaringite (ou rinofaringite) de etiologia viral que leva à inflamação da mucosa do nariz, faringe e seios paranasais. O resfriado comum predispõe a criança a complicações bacterianas, como a otite média aguda e a sinusite bacteriana. A faringite bacteriana, por sua vez, não é uma complicação do resfriado comum. É importante que esteja clara a diferença entre resfriado e gripe , termos erroneamente usados como sinônimos. A gripe é uma doença sistêmica epidêmica causada pelo vírus influenza, caracterizada clinicamente por febre alta, mialgias e prostração. No resfriado, os sinais e sintomas são mais restritos às vias aéreas superiores. ETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIAETIOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA As crianças pequenas possuem a média de quatro a oito episódios de resfriados comuns por ano (e pasmem, 10–15% delas chegam a ter 12 episódios de resfriado/ano), ao passo que os adultos apresentam uma frequência mais baixa. Tais cifras explicam por qual razão tais infecções são as campeãs de absenteísmo ao trabalho e à escola. Felizmente, a incidência da doença declina após os três anos de vida. Os períodos do ano de maior incidência são: outono, inverno e primavera. A sazonalidade depende do agente, por exemplo: rinovírus — início do outono e final da primavera; influenza e Vírus Sincicial Respiratório (VSR) — inverno; parainfluenza — final do outono; coxsackievírus — verão (“resfriado do verão”). O principal dado epidemiológico para a aquisição do resfriado comum é o contato com pessoas doentes. Em relação aos agentes implicados, encontramos o seguinte: medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina PRINCIPAIS VÍRUS ASSOCIADOS AO RESFRIADO COMUM ● Rinovírus: principal agente causador do resfriado comum! ● Coronavírus. ● Vírus sincicial respiratório. ● Metapneumovírus. ● Influenza. ● Parainfluenza tipos 1 a 4. ● Adenovírus. ● Enterovírus. Os rinovírus são agentes típicos de vias aéreas superiores, causando bronquite e pneumonia apenas raramente. Outros vírus são agentes clássicos das infecções de vias aéreas inferiores, por exemplo: pneumonia viral (VSR, influenza A e B) e bronquiolite (VSR, parainfluenza, adenovírus e metapneumovírus). As crianças são os maiores reservatórios para os vírus e, geralmente, propagam e adquirem a infecção em creches e escolas. Os vírus são transmitidos sob a forma de gotículas e partículas maiores, que são levados ao meio ambiente através de tosse e coriza de crianças afetadas e, principalmente, por contato com mãos e objetos (fômites) que contenham secreções contaminadas. O doente passa a mão no nariz com coriza e toca na mão de outra pessoa que, por sua vez, leva o vírus ao seu nariz, ou aos seus olhos, estabelecendo assim o ciclo de contaminação. Portanto, lembre-se deste conceito: a principal forma de transmissão dos vírus causadores do resfriado, principalmente o rinovírus e VSR, é o contato direto, e não a via inalatória como pode parecer à primeira vista. PATOGÊNESEPATOGÊNESE Os vírus invadem as células epiteliais colunares ciliadas das vias aéreas superiores, promovendo uma resposta inflamatória local. A bradicinina é um importante mediador, porém a histamina não parece ter um papel significativo. A mucosa torna- se congesta (edemaciada, eritematosa) por vasodilatação, enquanto a produção de muco exacerba-se. As citoquinas atraem neutrófilos para o local, explicando a coriza medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina muco exacerba-se. As citoquinas atraem neutrófilos parao local, explicando a coriza purulenta, mesmo na ausência de superinfecção bacteriana. A rinorreia e a tosse resultam de estimulação de fibras colinérgicas locais. Dentro de 24 horas após o início da infecção, uma IgA específica encontra-se presente nas secreções e, após uma semana, anticorpos das classes IgG e IgM contra o vírus são encontrados no soro, conferindo imunidade, principalmente para o sorotipo de rinovírus responsável pelo quadro clínico. A infecção por rinovírus e por adenovírus traz imunidade permanente sorotipo-específica. Entretanto, como há inúmeros sorotipos diferentes, o paciente ainda poderá ter muitos resfriados por rinovírus ao longo de sua vida. O vírus influenza apresenta alta capacidade automutagênica e, por isso, mesmo o desenvolvimento de imunidade específica não é suficiente para prevenir novas infecções. A infecção por parainfluenza e o VSR não conferem imunidade duradoura. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período de incubação costuma ser de um a três dias. Inicia-se com uma sensação de garganta “arranhando”, de duração máxima de três dias, evolui com espirros, obstrução nasal e rinorreia. A coriza (rinorreia) e a obstrução nasal (congestão dos cornetos) estão sempre presentes, definindo clinicamente a síndrome da nasofaringite. A coriza é abundante, sendo clara nos primeiros três dias, mas frequentemente se torna purulenta nos últimos dias. Esta modificação na cor da secreção não deve ser interpretada como resultado de infecção bacteriana secundária, refletindo apenas a descamação epitelial e a presença de polimorfonucleares. A obstrução nasal prejudica muito a alimentação dos lactentes, que são respiradores nasais preferenciais. Os vírus influenza, VSR e adenovírus podem cursar com sintomas gerais, como febre e mialgias. A ocorrência desses sintomas é incomum quando a síndrome é causada por rinovírus. A tosse surge em 30% dos casos, observada principalmente durante o sono, devido ao gotejamento pós-nasal. Nessa situação, o decúbito dorsal faz com que as secreções “pinguem” nas vias aéreas posteriores e promovam tosse. A duração média do resfriado comum é de uma semana, e apenas 10% dos casos mantêm clínica por duas semanas. A febre pode ser alta. Cerca de 59% dos afetados apresentam temperatura axilar superior a 39ºC e, por isso, a febre não deve ser um sinal clínico usado isoladamente na diferenciação entre uma infecção viral e bacteriana. Em lactentes, algumas vezes observamos um período prodrômico caracterizado por anorexia, inquietude, amolecimento das fezes e vômitos. A rinoscopia anterior demonstra edema e hiperemia dos cornetos e, da mesma forma, pode-se observar discreta hiperemia de orofaringe. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina forma, pode-se observar discreta hiperemia de orofaringe. A otite média aguda é a principal complicação bacteriana do resfriado comum , podendo estar presente em até 30% dos casos. Geralmente, as crianças acometidas apresentam uma mudança na gravidade da doença e passam a apresentar febre alta, irritabilidade e dor de ouvido. A sinusite é uma complicação menos comum. Uma crise de asma brônquica pode ser deflagrada ou agravada pela infecção viral. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO A avaliação laboratorial com hemograma, VHS, cultura e isolamento de vírus de secreções de orofaringe ou nasais não é necessária, sendo o diagnóstico clínico. Os principais diagnósticos diferenciais são com: ( 1 ) rinite alérgica: em que predominam sintomas de espirros e prurido nasal recorrentes e deflagrados por alérgenos ambientais; ( 2) corpo estranho no nariz: secreção nasal é unilateral e fétida; muitas vezes sanguinolenta; ( 3 ) sinusite bacteriana aguda: presença de sintomas persistentes ou graves, como estudaremos adiante; ( 4 ) coqueluche: tosse proeminente e persistente, com acessos paroxísticos; e ( 5) sífilis congênita: rinorreia serossanguinolenta persistente com início até três meses de vida. TRATAMENTOTRATAMENTO A terapia deve ser dirigida para as queixas e os sintomas apresentados. ● Antitérmicos: uso com cautela, sendo recomendado na presença de temperatura axilar superior a 38ºC. Isso porque o tratamento agressivo da febre em infecções por rinovírus e VSR pode aumentar o tempo de excreção viral. O acetaminofeno e a dipirona podem ser utilizados. O ácido acetilsalicílico não é recomendado por causa de sua associação com a síndrome de Reye nas infecções por influenza. O Ministério da Saúde recomenda para tratamento da febre o paracetamol (200 mg/ml) na dose de 1 gota/kg/dose 6/6h e a dipirona (500 mg/ml) na dose de 1 gota/2 kg/dose 6/6h ou, ainda, ibuprofeno (50 mg/ml) 2 gotas/kg/dose 8/8h. ● Instilação de soluções salinas isotônicas nas narinas e uma boa hidratação são medidas úteis para fluidificar as secreções. Em casos de pais tabagistas, a exposição ambiental à fumaça de cigarro deve ser evitada ao máximo. Os pais devem ser orientados quanto aos sinais de gravidade, retornando para medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os pais devem ser orientados quanto aos sinais de gravidade, retornando para reavaliação dentro de 48h. O Ministério da Saúde não recomenda o uso de anti-histamínicos e descongestionantes nasais de administração tópica e/ou oral para crianças menores de dois anos. Em relação aos antivirais, os inibidores da neuraminidase (oseltamivir e zanamivir) têm uma modesta redução na duração dos sintomas e redução na evolução para otite média nos casos provocados pelo vírus influenza. Grandes obstáculos à sua utilização são a dificuldade de se fazer a distinção etiológica entre os diversos vírus causadores do resfriado e a necessidade de administração precoce, preferencialmente nas primeiras 48 horas dos sintomas. A medida preventiva mais eficaz contra o resfriado é lavagem frequente das mãos ou pelo menos após o contato direto com algum suspeito de resfriado. IMUNIZAÇÃOIMUNIZAÇÃO Não existe vacina contra o rinovírus, o principal agente etiológico do resfriado comum, mas existe proteção vacinal contra o vírus influenza. Como o influenza é responsável por apenas pequena parte dos resfriados comuns, as pessoas se protegem mais contra a gripe do que propriamente contra o resfriado. A vacina anti-influenza faz parte do calendário do Ministério da Saúde, devendo ser administrada anualmente durante as campanhas para as populações contempladas. Aqui há o video de apostila 10.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. OTITE MÉDIA AGUDAOTITE MÉDIA AGUDA INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO A Otite Média Aguda (OMA) é uma das doenças mais frequentes na criança. A maior prevalência da OMA ocorre durante os dois primeiros anos de vida. Cerca de 80% das crianças abaixo de três anos terão, pelo menos, um episódio de OMA. A recidiva também é um aspecto epidemiológico frequente na doença entre as crianças pequenas, estimando-se que até 50% delas terão mais de um episódio. A incidência medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina pequenas, estimando-se que até 50% delas terão mais de um episódio. A incidência de OMA declina após os dois anos. Os principais fatores de risco para OMA são: ● Idade: as crianças menores de dois anos apresentam maior risco de desenvolver OMA, devido à imaturidade imunológica e à própria anatomia da tuba auditiva, que é mais curta e mais horizontal nesta faixa etária, prejudicando os seus mecanismos antirrefluxo e de drenagem da orelha média. A ocorrência do primeiro episódio de OMA antes dos seis meses é um fator de risco importante para a recorrência das OMA. Além disso, a hipertrofia das tonsilas adenoidianas, localizadas próximo ao óstio de drenagem da tuba, pode também contribuir para a obstrução ao fluxo de saída proveniente da orelha média, aumentando assim o risco de retenção de coleção e desenvolvimento de infecção; ● Sexo: meninos são um pouco mais afetados que meninas; ● Etn ia : há controvérsias na literatura, embora alguns trabalhos mostrem preponderância em brancos; ● Perfil socioeconômico: a pobreza é considerada um fator de risco,na medida em que favorece a existência de aglomerações, higiene inadequada, menor acesso ao sistema de saúde e pior perfil nutricional; ● Aleitamento artificial: o aleitamento materno comprovadamente reduz os casos de OMA em crianças; ● Tabagismo passivo; ● Exposição a outras crianças: irmãos, permanência em creches e escolas; ● Anomalias congênitas: anomalias craniofaciais, como fenda palatina e síndrome de Down, concorrem para um prejuízo ao funcionamento adequado da tuba auditiva; ● Ausência da vacina antipneumocócica e anti-influenza. Imunodeficiências, como hipogamaglobulinemia, deficiência de subclasses de IgG, deficiência de IgA. ETIOLOGIAETIOLOGIA Os agentes etiológicos frequentemente identificados nos casos de otite média aguda medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os agentes etiológicos frequentemente identificados nos casos de otite média aguda são: S. pneumoniae , H. influenzae não tipável e Moraxella catarrhalis . A importância exata de cada um desses agentes modificou-se nos últimos anos. Aceita-se que o pneumococo e o hemófilo sejam os responsáveis pela maior parte dos quadros, e que o papel da Moraxella seja menos importante. Em lactentes jovens, que estão hospitalizados e em neonatos, outras bactérias podem causar OMA, tais como: Streptococcus do grupo A, Staphylococcus aureus e Gram-negativas. Muitos vírus, especialmente o rinovírus e o VSR, são comumente encontrados nos exsudatos da orelha média, algumas vezes em associação com bactérias. Ainda não se sabe ao certo o seu papel etiopatogênico na inflamação da orelha média, ou seja, se sozinhos já seriam capazes de produzir a OMA, ou se facilitariam a adesão de bactérias e prejudicariam a função imune local. PATOGÊNESEPATOGÊNESE A maioria dos episódios são complicações de infecções do trato respiratório superior. A base fisiopatológica é a disfunção da tuba auditiva, condição fundamental para o desenvolvimento da otite. Acredita-se que com a tuba auditiva obstruída, a ventilação da orelha média esteja prejudicada. Nesse momento, cria-se uma pressão negativa nesta câmara, estimulando a secreção de muco por seu epitélio. O muco acumula-se na orelha média, agora um espaço totalmente fechado. A infecção viral da tuba também pode contribuir diretamente para a formação deste muco. Episódios intermitentes de aspiração, refluxo ou insuflação da tuba podem lançar as bactérias colonizadoras da nasofaringe na cavidade da orelha média. Algumas dessas bactérias encontram o meio ideal para se proliferarem, produzindo a reação inflamatória piogênica que se manifesta como uma OMA. O acúmulo de pus na orelha média funciona como um “abscesso”, provocando abaulamento da membrana timpânica, que cursa com intensa otalgia, o principal sintoma da OMA. Se a OMA não for tratada, após alguns dias, a tendência é que o pus na orelha média encontre uma via de saída (autodrenagem), através de uma pequena perfuração na membrana timpânica. Nesse momento, a otalgia melhora, e a criança elimina secreção purulenta pelo ouvido (otorreia). A suscetibilidade do lactente a infecções repetidas do trato respiratório é considerada um fator predisponente significativo. A presença de irmãos, a permanência em creches, o refluxo gastroesofágico, a alimentação com mamadeiras, a natação (especialmente em piscinas aquecidas), a exposição passiva à fumaça de cigarro, o edema alérgico e a presença de massas nasofaringianas (incluindo a hipertrofia de adenoides) podem influenciar o desenvolvimento de otite média em algumas crianças. Vamos agora estudar em detalhes cada um dos fatores mais importantes medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina crianças. Vamos agora estudar em detalhes cada um dos fatores mais importantes relacionados à gênese da OMA: ● Resfriado comum: este é o principal fator predisponente de OMA, sendo esta a complicação mais comum do resfriado (5–30% dos casos). A liberação de citoquinas e mediadores inflamatórios leva à obstrução e disfunção da tuba auditiva, com acúmulo de secreção dentro da orelha média, a qual funciona como um meio de cultura para bactérias; ● Hipertrofia da adenoide: a adenoide é a tonsila faríngea, descrita como uma massa linfoide “esparramada” na parede posterior e no teto da nasofaringe. Alguns autores utilizam o termo “adenoides” (em vez de “adenoide”), embora seja uma estrutura única. Em crianças entre seis meses a três anos de idade, a adenoide atinge o seu maior crescimento, sofrendo um processo natural de involução após esta faixa etária, até praticamente desaparecer na adolescência. Algumas crianças apresentam a adenoide bem hipertrofiada, o que provoca obstrução do óstio tubário e predispõe à OMA de repetição. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS SINTOMASSINTOMAS Os sintomas variam de acordo com a idade da criança. Geralmente, em maiores de dois anos, a suspeita clínica é fundamentada na queixa da dor de ouvido (otalgia) pela própria criança, associada a febre, astenia, inapetência e hipoacusia flutuante. Por outro lado, a clínica pode não ser tão evidente em crianças menores de dois anos, justamente, a faixa etária em que a doença é mais prevalente. Estas podem apresentar sinais indiretos de otalgia, como: levar a mão até o ouvido, irritabilidade, choro intenso, dificuldade para dormir. A febre da OMA pode ser baixa ou alta. Crianças menores também podem apresentar sintomas gastrointestinais inespecíficos (anorexia, náuseas e vômitos). Um dado fundamental na história da doença é a presença de um episódio prévio de resfriado comum antecedendo as manifestações acima descritas. Otorreia, fluida ou purulenta, pode ocorrer em um terço dos casos, e neste caso o diagnóstico torna-se evidente. SINAISSINAIS OTOSCOPIAOTOSCOPIA medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina O exame otoscópico é uma ferramenta fundamental para o diagnóstico da OMA, e deve ser sempre realizado diante de um quadro clínico típico ou nas crianças pequenas com sintomas inespecíficos (choro, irritabilidade, vômitos) iniciados após um quadro de resfriado comum. A membrana timpânica normal é levemente côncava, transparente (cabo do martelo bem visualizado), brilhante (reflexo luminoso, chamado de “triângulo luminoso”) e móvel à insuflação pneumática ( ) . Na OMA, a otoscopia revela uma membrana timpânica hiperemiada, convexa e abaulada, de coloração alterada (hiperemia difusa, opacificação e pontos esbranquiçados) e com perda da mobilidade. O abaulamento é o dado mais específico para o diagnóstico de OMA ( ) . Figura 10 _ Figura 11 _ _ FIG. 10 Membrana timpânica normal, mostrando o cabo do martelo e o triângulo luminoso. _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina As alterações na otoscopia nem sempre são de fácil visualização, especialmente em lactentes menores, nas quais o quadro clínico pode evoluir rapidamente para complicações intracranianas. A hiperemia isolada da membrana timpânica não deve ser considerada com alteração suficiente para definir o diagnóstico de OMA, pois outras condições não patológicas podem cursar com vermelhidão e congestão, como, por exemplo, o choro e a irritabilidade durante o exame. A miringite bolhosa é uma forma incomum de OMA, caracterizada pela presença de bolhas e eritema na membrana timpânica, causada pelas mesmas bactérias. A miringite bolhosa também pode fazer parte da infecção pelo Mycoplasma pneumoniae , um germe causador de pneumonia atípica. Em casos duvidosos, existem outros exames complementares que podem ser empregados pelo otorrinolaringologista, como: ( 1 ) timpanometria e impedanciometria acústica: investigam a mobilidade e a complacência timpânica. Confirmam a presença de efusão em casos de otoscopia duvidosa; ( 2) timpanocentese com cultura: indicada nos casos refratários de OMA, na sepse em menores de três meses de vida, na presença de complicações supurativas associadas e nas crianças com imunodeficiência. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO O diagnóstico de OMAé feito com base nas características clínicas abaixo: ● Otorreia não provocada por otite externa; ou ● Sinais de efusão na orelha média + sinais de inflamação. O achado mais significativo no diagnóstico da OMA é o abaulamento da MT, com sensibilidade de 67% e FIG. 11 A: Membrana timpânica hiperemiada, abaulada e opacificada. B: Visualização de uma MT perfurada. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina no diagnóstico da OMA é o abaulamento da MT, com sensibilidade de 67% e especificidade de 97%. O diagnóstico não deve ser estabelecido se não for evidenciada presença de efusão na orelha média. TRATAMENTOTRATAMENTO MEDIDAS GERAISMEDIDAS GERAIS ● Analgesia: pode ser feita com paracetamol, dipirona ou ibuprofeno. ANTIBIÓTICOSANTIBIÓTICOS A decisão de antibioticoterapia para OMA na infância leva em consideração fatores como idade e quadro clínico, conforme orienta a . Leia atentamente. TAB. 13TAB. 13 TRATAMENTO TRATAMENTO DA OTITE MÉDIA AGUDA — QUANDO PRESCREVER O ANTIMICROBIANODA OTITE MÉDIA AGUDA — QUANDO PRESCREVER O ANTIMICROBIANO E QUANDO É POSSÍVEL OBSERVAR.E QUANDO É POSSÍVEL OBSERVAR. *Sinais de gravidade: aparência tóxica, otalgia persistente > 48 horas, febre alta (> 39°C) nas últimas 48 horas, ou se o acompanhamento posterior for duvidoso. Resumindo as indicações de início obrigatório de antibióticos na OMA: ● Presença de otorreia; ● Tabela 13Tabela 13 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Presença de sinais de gravidade; ● OMA bilateral em 25 dB por mais de seis meses ou bilateral por mais de três meses (tubo de timpanostomia); ● OMC supurativa ou OMC colesteatomatosa (timpanoplastia + mastoidectomia + reconstrução ossicular). MASTOIDITEMASTOIDITE Toda OMA cursa com algum grau de mastoidite, por contiguidade entre a mucosa da orelha média e a mucosa das células da mastoide. Este envolvimento é subclínico. O processo se reverte, geralmente, após a antibioticoterapia para OMA. Contudo, numa minoria de casos, o processo inflamatório se estende para o periósteo da mastoide no osso temporal, provocando sintomas de edema, vermelhidão e dor retroauricular na topografia do processo mastoideo. O tratamento é feito com antibioticoterapia medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina na topografia do processo mastoideo. O tratamento é feito com antibioticoterapia venosa e miringotomia e deveser realizada tomografia computadorizada de mastoide. Em casos mais graves, pode haver uma evolução para uma osteomielite da parte petrosa do osso temporal, levando à destruição do osso trabecular; é visível na tomografia como desaparecimento dos septos ósseos nas células da mastoide. Na petrosite aguda, pode aparecer a síndrome de Gradenigo, caracterizada pela tríade: OMA secretora, paralisia da mirada lateral por comprometimento do nervo abducente (VI par) e dor orbitária ipsilateral, por comprometimento do ramo oftálmico no nervo trigêmeo. Os principais agentes da mastoidite aguda são os pneumococos e o hemófilo não tipável. Aqui há o video de apostila 12.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. INFECÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRALINFECÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Existe um pequeno risco de meningite, abscesso (epidural, subdural ou parenquimatoso) ou tromboflebite do seio lateral. Estas complicações supurativas são bastante graves e exigem tratamento específico sem demora. São mais incidentes em portadores de OMC supurativa ou colesteatomatosa. SINUSITESINUSITE INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO Idealmente, deve-se empregar o termo rinossinusite no lugar de sinusite, uma vez que as mucosas do nariz e seios paranasais são contíguas embriológica, e anatomicamente, e respondem de forma similar à terapia clínica. Embora a rinossinusite ocorra com certa frequência na infância, ela é de difícil reconhecimento. Normalmente, o comprometimento da mucosa nasal por um processo infeccioso viral é acompanhado de acometimento dos seios paranasais, que usualmente é autolimitado e passa despercebido. Por outro lado, uma infecção bacteriana pode ter uma evolução grave e levar a complicações supurativas. A rinossinusite é classificada como: ● Viral autolimitada; ● Bacteriana aguda: com duração inferior a quatro semanas e resolução completa dos medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Bacteriana aguda: com duração inferior a quatro semanas e resolução completa dos sintomas; ● Bacteriana subaguda: com mais de quatro semanas, porém menos de doze; ● Crônica: com sinais e sintomas que persistem por mais de doze semanas. Para a correta compreensão fisiopatológica das rinossinusites infecciosas na infância, lembre-se de como ocorre o desenvolvimento e a pneumatização dos seios da face ao longo dos anos, visto anteriormente: ● Ao nascimento: apenas os seios etmoidais são pneumatizados; ● 4 anos: pneumatização dos seios maxilares; ● 5 anos: pneumatização dos seios esfenoidais; ● 7–8 anos até a adolescência: pneumatização dos seios frontais. ETIOLOGIA E PATOGÊNESEETIOLOGIA E PATOGÊNESE A secreção dos seios paranasais caminha através dos óstios, em direção aos meatos (cornetos), que formam a parede lateral da via nasal. A posição anatômica dessas estruturas faz com que a motilidade ciliar do epitélio seja o fator mais importante para uma drenagem bem-sucedida. A causa mais comum de rinossinusite é uma IVAS de etiologia viral, geradora de edema e inflamação da mucosa com produção de muco espesso, que obstrui os seios paranasais e permite proliferação bacteriana secundária. Aproximadamente 5 a 13% dos resfriados comuns em crianças complicam com sinusite bacteriana aguda. Outro fator predisponente é a rinite alérgica, que leva a edema de mucosa, prejudicial à drenagem do óstio sinusal. Outras condições associadas a alterações da mucosa ou do transporte mucociliar incluem ar frio e seco (cânula nasal de oxigênio), refluxo gastroesofagiano, fibrose cística, imunodeficiência e discinesia ciliar. A obstrução anatômica da drenagem dos seios, seja por pólipos, corpos estranhos, adenoides hipertrofiadas, tumores (rabdomiossarcoma) ou desvio de septo, se medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina adenoides hipertrofiadas, tumores (rabdomiossarcoma) ou desvio de septo, se constitui em outro fator de risco importante para o aparecimento de infecção paranasal. Um batimento ciliar ineficiente e/ou a presença de um fator obstrutivo para a drenagem promove o acúmulo de secreções no interior dos seios paranasais. As secreções retidas funcionam como um “meio de cultura” para o crescimento de bactérias. Resumidamente, destacamos que os principais fatores de risco para sinusite bacteriana aguda são: ● Resfriado comum (principal causa); ● Rinite alérgica (segunda causa); ● Exposição à fumaça de cigarro (pais fumantes); ● Anormalidades estruturais (ex.: desvio de septo, corpo estranho nasal, pólipo nasal, hipertrofia de adenoide etc.); ● Disfunção ciliar (fibrose cística, síndrome de Kartagener); ● Imunodeficiência humoral; ● Refluxo gastroesofágico; ● Tubos e sondas nasotraqueais: a sinusite é uma complicação infecciosa em potencial nos pacientes internados nas UTIs que utilizam dispositivos nasais. Estes obstruem os óstios de drenagem dos seios, predispondo à infecção geralmente por micro- organismos resistentes; ● Imunossupressão: principalmente encontrada nos pacientes com transplante de medula óssea ou naqueles portadores de malignidades pode se desenvolver uma sinusite fúngica por Aspergillus (mucormicose), grave e com potencial disseminação para o sistema nervoso central. Os agentes que mais comumente causam rinossinusite bacteriana aguda são o S. pneumoniae , o H. influenzae não tipável e a M. catarrhalis. Na sinusite subaguda prolongada e na sinusite crônica, os micro-organismos isolados são o Staphylococcus coagulase negativa, o S. aureus , o Streptococcus alfa-hemolítico e os anaeróbios. A presença de múltiplos micro-organismos é bem mais comum na medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina os anaeróbios. A presença de múltiplos micro-organismos é bem mais comum na rinossinusite crônica do que na aguda. A incidência de bactérias resistentes à betalactamase se aproxima de 50% nos casos crônicos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ao contrário da criança maior e do adolescente, a criança menor (e espessamento de mucosa é desnecessário, pois tem pouca especificidade em menores de cinco anos. Estudos radiológicos ditos “positivos” podem ser encontrados em meninos e meninas saudáveis ou em pacientes com infecções virais não complicadas do trato respiratório superior. Portanto, a presença de achados radiológicos de sinusite define apenas um processo inflamatório do seio, mas não auxilia na diferenciação etiológica do processo. Em outras palavras, o esclarecimento da causa (viral versus bacteriana), que é o fator fundamental para decisão terapêutica, não é alcançado com esses exames. Assim, em crianças menores de cinco anos, os exames radiológicos não são indicados. Há controvérsias quanto à indicação da radiografia simples em crianças maiores de seis anos com suspeita clínica de sinusite. Nos adolescentes e adultos, o exame radiológico é rotineiramente necessário. Veja abaixo as principais alterações radiológicas compatíveis com a sinusite ( ): SAIBA MAISSAIBA MAIS De acordo com o EPOS ( European position paper on rhinosinusitis and nasal polyps ), a rinossinusite aguda é dividida em viral, pós-viral e bacteriana. A rinossinusite aguda viral nada mais é do que o resfriado comum e, para seu diagnóstico, deve-se levar em conta a duração dos sintomas por menos de dez dias. Já a rinossinusite pós-viral caracteriza-se por piora dos sintomas após o quinto dia de evolução da doença ou persistência dos sintomas por mais de dez dias. Perceba que, pelos critérios anteriores, esse seria um quadro persistente, portanto já seria indicativo de infecção bacteriana, e justificaria o uso de antimicrobiano — mas pelo EPOS não! Finalmente, a rinossinusite bacteriana é definida quando o paciente apresenta pelo menos três dos seguintes sinais e sintomas: secreção nasal espessa/purulenta; dor local intensa (em geral unilateral); febre maior que 38°C; aumento da velocidade de hemossedimentação (VHS) ou proteína C-reativa (PCR); "dupla piora" dos sintomas. Figura 13 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Espessamento mucoso (> 4 mm); ● Opacificação (velamento) do seio (comparar com o seio contralateral); ● Nível hidroaéreo. O conhecimento das incidências específicas para visualização dos seios da face também é importante na hora da requisição da solicitação da radiografia ( ): FIG. 13 A: Nível hidroaéreo no seio maxilar direito e espessamento mucoso à esquerda. B: Velamento do seio maxilar esquerdo. Figura 14 _ _ FIG. 14 AVALIAÇÃO DOS SEIOS DA FACE. As incidências são: medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Incidência de Caldwell (frontonaso): Posteroanterior (PA) com a fronte e o nariz encostados no filme. Melhor visualização dos seios etmoidais e frontais (adulto); ● Incidência de Waters (mentonaso): Posteroanterior (PA) com o queixo e o nariz encostados no filme. Melhor visualização dos seios maxilares; ● Incidência lateral (perfil): melhor visualização dos seios esfenoidal (crianças maiores) e frontal (adultos); ● Incidência axial: melhor visualização das paredes posterolaterais dos seios maxilares. O estudo tomográfico para o diagnóstico é caro e muitas vezes requer sedação da criança para aquisição de imagens adequadas, o que pode ser um transtorno ( ). A transiluminação ajuda menos ainda, uma vez que os seios da face normalmente são assimétricos em crianças. As incidências são: A: Caldwell (frontal); B: Waters (semiaxial); C: Lateral; e D: Axial. Figura 15 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A aspiração dos seios paranasais para identificação microbiológica é recomendada em crianças imunossuprimidas, na presença de complicações e na infecção não responsiva à antibioticoterapia. FIG. 15 A: Aspecto normal dos seios maxilares. B: Espessamento mucoso do seio maxilar direito. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A rinite alérgica, um fator predisponente para a rinossinusite, pode ser confundida com infecção dos seios paranasais. Esta condição pode ser detectada por uma triagem de IgE in vitro o u pelo teste cutâneo intradérmico. Outro método para identificação da rinite alérgica é a análise citológica da secreção nasal. O achado de eosinófilos, plasmócitos e mastócitos, identificados pela coloração de hematoxilinaeosina, confirma a presença dessa desordem. O teste do suor para o diagnóstico de fibrose cística é recomendado para crianças com rinossinusite de repetição, principalmente se existirem manifestações pulmonares. Os testes de transporte mucociliar, pouco empregados em nosso meio, são utilizados na suspeita diagnóstica de discinesia ciliar, incluindo a síndrome de Kartagener (sinusite de repetição, situs inversus e bronquiectasias). Na prática, os pediatras devem iniciar a antibioticoterapia com base somente em dados clínicos. Os estudos radiológicos contribuem pouco, uma vez tomada a decisão em tratar o paciente. TRATAMENTOTRATAMENTO Recomenda-se o tratamento antimicrobiano das rinossinusites agudas da infância para evitar complicações supurativas, embora se saiba que 50–60% delas se resolveriam espontaneamente, sem a necessidade de antibioticoterapia. Para crianças maiores, a escolha inicial poderá ser feita com amoxicilina 45–50 mg/kg/dia ou cefuroxima, cefpodoxima, cefixima ou levofloxacina, para pacientes alérgicos à penicilina. Azitromicina e sulfametoxazol + trimetoprima não são indicados pelo alto risco de resistência. Indica-se a amoxicilina + clavulanato na dose de 80–90 mg/kg/dia para criançase das amígdalas é também conhecido como angina. Em relação à etiologia, podemos afirmar que os agentes virais (75%) e, menos comumente, os bacterianos, respondem pela maioria dos casos. Crianças menores de três anos raramente apresentam doença bacteriana. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina de três anos raramente apresentam doença bacteriana. ETIOLOGIAETIOLOGIA VÍRUSVÍRUS Os principais vírus causadores de faringite são adenovírus, coronavírus, enterovírus, rinovírus, vírus sincicial respiratório, Epstein-Barr Vírus (EBV) e Herpes-Simplex Vírus (HSV). O rinovírus, o coronavírus, o parainfluenza e o influenza podem causar faringite, entretanto, nesses casos, a inflamação da garganta é acompanhada dos outros comemorativos de um resfriado comum. O adenovírus (agente da febre faringoconjuntival), o coxsackievírus A (agente da herpangina), o EBV (agente da mononucleose infecciosa) e o HSV produzem uma faringite com características mais específicas, como veremos adiante. Raramente, o HIV pode ser agente das faringoamigdalites (a faringoamigdalite faz parte da síndrome de soroconversão). BACTÉRIASBACTÉRIAS Entre os agentes bacterianos, o estreptococo-beta-hemolítico do grupo A de Lancefield ( Streptococcus pyogenes ) é o agente mais importante na gênese da doença, principalmente na faixa etária compreendida entre 5–15 anos. Cerca de 15– 20% dos casos de faringoamigdalite, na faixa etária referida, são provocados pelo estreptococo. A escarlatina é uma síndrome clínica que congrega faringoamigdalite exsudativa e um exantema com aspecto de lixa, provocada pela produção de toxinas eritrogênicas estreptocócicas. As maiores preocupações dos pediatras em relação ao estreptococo são com as complicações em longo prazo, destacando-se a febre reumática pelo risco de provocar graves sequelas cardíacas. Outros agravos que não podem deixar de ser mencionados em relação à infecção são a glomerulonefrite pós- estreptocócica e as complicações supurativas (abscesso retrofaríngeo e abscesso periamigdaliano). Mais raramente, micro-organismos como o Streptococcus do grupo C, Mycoplasma pneumoniae e o Arcanobacterium haemolyticum encontram- se envolvidos em episódios de faringites em adolescentes e adultos jovens, simulando uma faringoamigdalite estreptocócica com exantema, semelhante ao da escarlatina. Nos adolescentes sexualmente ativos e em casos de abuso sexual na infância, não podemos afastar a possibilidade de faringite gonocócica ( Neisseria gonorrhoeae ) , embora esta infecção seja na maioria das vezes assintomática ou oligossintomática. Devemos considerar o diagnóstico de difteria ( Corynebacterium diphtheriae ) em casos de faringite aguda com presença de membranas acinzentadas nas amígdalas, pilares e úvula. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Cerca de 10–30% das crianças em idade escolar são carreadoras do estreptococo do grupo A na orofaringe de forma assintomática. A principal fonte de contágio são os pacientes sintomáticos, que transmitem facilmente a bactéria através da secreção nasal e da saliva (perdigotos). O contato próximo é o grande fator de risco para a transmissão, explicando o predomínio da doença no início do período escolar e em regiões de baixo nível socioeconômico, com aglomeração de pessoas. Vale frisar que o reconhecimento e o tratamento precoces da faringoamigdalite estreptocócica têm importante papel no controle da doença, já que, após 24 horas do início da antibioticoterapia, o paciente não mais elimina o agente. Sem tratamento, o contágio perdura algumas semanas além da fase sintomática. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Semiologicamente, podemos dividir as faringoamigdalites de acordo com seu aspecto clínico em: ● Eritematosas: apresentam-se com hiperemia e congestão da superfície tonsilar. A principal etiologia é viral. No sarampo, por exemplo, também verificamos lesões esbranquiçadas na mucosa jugal — conhecidas como manchas de Koplik; ● Eritematopultáceas: encontram-se hiperemia e edema associados a um exsudato amarelado não aderente nas criptas e na superfície tonsilar. Destacamos a faringite estreptocócica e a faringite por EBV neste grupo. Lembrar que o Epstein-Barr vírus provoca, além da amigdalite, aumento importante das tonsilas, linfadenomegalia cervical, rash e esplenomegalia; ● Pseudomembranosas: há formação de placas esbranquiçadas aderentes ao tecido amigdaliano, que podem invadir a faringe, palato e úvula. Destaca-se, neste grupo, a difteria, doença causada pelo Corynebacterium diphtheriae e de início insidioso com sintomas gerais, de febre, mal-estar, cefaleia, astenia e dor de garganta. O exsudato é branco acinzentado e muito aderente. A tentativa de retirada provoca sangramento abundante; ● Ulcerosas: as úlceras podem ser do tipo superficial (vesículas), como ocorre na herpangina (causada pelo coxsackie A) e a angina herpética ( Herpesvirus hominis ). Ulcerações profundas são vistas na angina de Plaut-Vincent (infecção por germes fusoespiralares, caracterizada por ulceração profunda unilateral e de odor fétido), na tuberculose, sífilis e imunodeficiências. Entretanto, a divisão acima proposta não deve ser utilizada de forma absoluta. Sabe- medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Entretanto, a divisão acima proposta não deve ser utilizada de forma absoluta. Sabe- se que vírus podem cursar com amigdalites eritematopultáceas (ex.: EBV e adenovírus) e infecções bacterianas com amigdalites apenas eritematosas. FARINGITE ESTREPTOCÓCICAFARINGITE ESTREPTOCÓCICA A faringite estreptocócica se inicia com queixas pouco específicas, como cefaleia, dor abdominal e mal-estar, e a criança pode apresentar náuseas, vômitos e febre de até 40ºC. Algumas horas após, o paciente relata dor de garganta com intensidade variável. O exsudato recobrindo as amígdalas pode ser evidente. O edema de úvula pode também ocorrer. A linfadenopatia cervical anterior ou submandibular (única) é precoce e os linfonodos aumentados são dolorosos. O achado clínico de maior consistência para o diagnóstico é a presença de hiperemia das amígdalas e pilares amigdalianos, acompanhada ou não de exsudato, associada a petéquias em palato mole ( ). Outros dados que sugerem a angina estreptocócica são a idade entre 5 e 15 anos e a ausência de outras manifestações de acometimento do trato respiratório superior. Figura 16 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A faringite estreptocócica é incomum em crianças com menos de três anos de idade. A doença tem um pico de incidência na faixa etária já citada, podendo, entretanto, ocorrer ao longo de toda a infância e vida adulta. A principal complicação é a formação de abscessos peritonsilares e na parede lateral da faringe. A glomerulonefrite aguda e a febre reumática são sequelas conhecidas da infecção estreptocócica. Em crianças debilitadas pode haver formação de úlceras grandes e crônicas na faringe. A infecção não invasiva da faringe encontra-se associada à síndrome do choque tóxico estreptocócico. A faringoamigdalite estreptocócica evolui quase sempre com resolução espontânea após 4–5 dias em média, mesmo sem o uso de antibióticos. Entretanto, a condição não é considerada benigna pelo risco, em torno de 3%, das complicações já citadas ( ) e grande transmissibilidade quando não tratada. FIG. 16 FARINGITE ESTREPTOCÓCICA. A: Observa-se a presença de exsudato amigdalino. B: Observa-se a presença de petéquias. Tabela 15Tabela 15 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ) e grande transmissibilidade quando não tratada. TAB. 15TAB. 15 PRINCIPAIS PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DA FARINGITE ESTREPTOCÓCICA.COMPLICAÇÕES DA FARINGITE ESTREPTOCÓCICA. AGUDASAGUDAS TARDIASTARDIAS ● Abscessos peritonsilares e retrofaríngeos. ● Grandes ulcerações amigdalianas (crianças debilitadas). ● Síndrome do choque tóxico estreptocócico. ● Glomerulonefrite difusa aguda pós- estreptocócica. ● Febre reumática. ● PANDAS (desordem neuropsiquiátrica autoimune pediátrica).FARINGITES VIRAISFARINGITES VIRAIS ● Associada ao resfriado comum: nestes casos a faringite não costuma estar associada a dor intensa e odinofagia. Geralmente, a criança apresenta dor de garganta moderada ou queixa-se de “garganta arranhando e coçando”. Secreção nasal, tosse, mal-estar, anorexia e febre usualmente se encontram presentes, indicando o diagnóstico na maioria dos pacientes. No exame clínico, a faringe apresenta-se eritematosa e edemaciada. Eventualmente, observamos exsudato no palato e nos folículos linfoides amigdalianos, indistinguíveis dos encontrados na doença estreptocócica. Os linfonodos cervicais podem estar aumentados e, às vezes, dolorosos, mas poliadenopatia é mais comum do que um único linfonodo doloroso. ● Adenovírus: a faringite por adenovírus geralmente é mais intensa, com sintomas proeminentes de mialgia, cefaleia, calafrios e febre de mais de 38,3ºC, que persiste por cinco a seis dias. A dor de garganta é importante e exsudatos amigdalianos e eritema de toda orofaringe são notados ao exame físico. Um achado muito sugestivo de infecção pelo adenovírus é a presença de conjuntivite, do tipo folicular, encontrada em até metade dos casos. Nesta situação, estamos diante da febre faringoconjuntival . Tabela 15Tabela 15 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Coxsackie A: a infecção pelo vírus coxsackie A determina uma forma incomum de faringite: a herpangina. No exame físico, notamos pequenas vesículas (1 a 2 mm), localizadas em palato mole, úvula e pilares amigdalianos anteriores . As lesões geralmente se rompem e originam úlceras esbranquiçadas. As manifestações incluem febre alta, dor de garganta e disfagia. Em alguns pacientes, um quadro de dor abdominal e anorexia pode ser semelhante ao de apendicite aguda. A infecção pode evoluir com miocardite. O coxsackie A-16 pode causar a síndrome mão-pé-boca. Nesta doença, além da faringotonsilite ulcerosa, existem lesões papulovesiculosas em mãos e pés. ● Epstein-Barr: dor de garganta ocasionada por uma amigdalite exsudativa ocorre em cerca de metade dos casos de mononucleose infecciosa pelo EBV. Febre, linfadenopatia cervical e esplenomegalia são encontradas e sugerem a presença desta infecção viral. Quando o diagnóstico não é realizado corretamente, a prescrição de ampicilina para uma suposta amigdalite bacteriana dá origem a um exantema típico em até 90% dos casos. A pesquisa do anticorpo heterófilo (pelo teste de Paul-Bunnel ou Monotest) confirma os casos duvidosos nas crianças maiores de quatro anos. Os sinais e sintomas agudos podem permanecer por até quinze dias; alguns pacientes referem fadiga no período convalescente, que pode durar por meses. Na , você pode ver um resumo destas alterações. TAB. 16TAB. 16 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM PACIENTES COM MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM PACIENTES COM FARINGITES VIRAIS AGUDAS.FARINGITES VIRAIS AGUDAS. AssociaAssocia da ao resfriadoda ao resfriado comumcomum Secreção nasal, tosse, anorexia e adenopatia cervical. AdenovíAdenoví rusrus Febre faringoconjuntival: febre, faringite, conjuntivite não purulenta e linfadenopatia pré-auricular e cervical. CoxCox sackiesackie Herpangina: pequenas úlceras e vesículas no palato mole e pilares da amígdala. Herpes-SimplexHerpes-Simplex Múltiplas úlceras no palato, adenopatia cervical dolorosa com ou sem gengivoestomatite. Epstein-BarrEpstein-Barr Mononucleose infecciosa: adenopatia cervical, Tabela 16Tabela 16 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Mononucleose infecciosa: adenopatia cervical, eventualmente generalizada, esplenomegalia e exantema após uso de ampicilina. Aqui há o video de apostila 14.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. AVALIAÇÃO COMPLEMENTARAVALIAÇÃO COMPLEMENTAR O primeiro passo no diagnóstico de faringite aguda é diferenciar uma infecção viral de bacteriana, que muitas vezes (apenas pelo quadro clínico) pode ser difícil. O swab de orofaringe, seguido de cultura em ágar sangue, possui uma elevada especificidade e sensibilidade na identificação do S. pyogenes . Apesar dos resultados falso-positivos (ex.: crianças carreadoras sadias) e falso-negativos (ex.: coleta inadequada de material ou uso prévio de antibióticos), a cultura continua sendo o padrão-ouro para o diagnóstico. Os testes de detecção rápida de antígenos estreptocócicos (imunoensaio óptico e sondas de DNA com quimioluminescência), a partir de material colhido com swab , fornecem um resultado quase imediato. Esses métodos têm sido recomendados por muitos autores, embora não sejam realizados com frequência em nosso meio. Os testes apresentam uma elevada especificidade, mas sensibilidade inferior a da cultura. A sorologia pareada não é útil no manejo da amigdalite estreptocócica, uma vez ser necessária a demonstração de aumento de dois títulos na dosagem da Antiestreptolisina O (ASO) entre o soro colhido na fase aguda e convalescente (duas a três semanas após). Nesta situação, a doença já teria chegado ao fim, e a chance de prevenir uma sequela não supurativa, como a febre reumática, estaria perdida. O leucograma não diferencia com confiabilidade entre infecções bacterianas e virais, não sendo um dado laboratorial consistente. Em casos de infecção estreptocócica, leucocitose acima de 12.000 células/mm³ em geral é encontrada, porém não é específica. As sorologias virais não costumam ser solicitadas, a não ser em casos suspeitos de mononucleose infecciosa. Aqui há o video de apostila 15.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DIAGNÓSTICO DIFERENCIALDIAGNÓSTICO DIFERENCIAL medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DIAGNÓSTICO DIFERENCIALDIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Apesar de muitos sinais e sintomas em comum, algumas infecções faríngeas infrequentes devem ser consideradas quando determinado quadro clínico se encontra presente. Entre os quadros virais, citamos a herpangina, a mononucleose infecciosa e a febre faringoconjuntival, já discutidas anteriormente. A presença de membranas muitas vezes impõe um diagnóstico diferencial com a difteria. Geralmente, a membrana diftérica é única e localiza-se também em áreas fora d a amígdala, como a úvula e os pilares amigdalianos, enquanto o exsudato decorrente de infecção estreptocócica e associada à mononucleose infecciosa é múltiplo e restrito às amígdalas. A história vacinal é de grande valor no diagnóstico diferencial. TRATAMENTOTRATAMENTO A maioria das faringites agudas é provocada por vírus e não necessita de terapia específica, à exceção da faringite por herpes-simplex em pacientes imunossuprimidos, para os quais o aciclovir parenteral deve ser prescrito. A antibioticoterapia deve ser utilizada na angina estreptocócica. Se iniciada dentro dos primeiros nove dias após início da faringite, o uso de antibióticos é capaz de prevenir o surgimento de febre reumática. Infelizmente, este efeito protetor não é observado na glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica. Outras complicações que podem ser evitadas com os antimicrobianos são as supurativas, como os abscessos peritonsilares. O antibiótico utilizado é a penicilina em suas diversas formas. A penicilina benzatina é citada por muitos como a droga de escolha utilizada em dose única, intramuscular, de 600.000 UI (crianças com peso 20 kg ou 27 kg; isso varia conforme a referência consultada). As alternativas orais são: amoxicilina (50 mg/kg/dia, dez dias) ou macrolídeos (eritromicina ou azitromicina). Com o início da terapia antibiótica, ocorre defervescência dentro das primeiras 24 horas. Os analgésicos são usados para alívio da dor. USO DE ANTIBIÓTICOS NA FARINGITE ESTREPTOCÓCICA ● medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Previne a febre reumática se utilizada dentro dos primeiros nove dias após o início. ● Previne o surgimento de complicações supurativas. ● Não previne o surgimento de glomerulonefrite difusa aguda. ● Leva à defervescência dentro das primeiras 24 horas de uso. Crianças que fazem faringotonsilitesde repetição (> 7 episódios no último ano; > 5 episódios/ano nos últimos dois anos; ou > 3 episódios/ano nos últimos três anos) podem ser candidatas à realização de tonsilectomia/adenoidectomia. COMPLICAÇÕESCOMPLICAÇÕES As complicações supurativas da faringoamigdalite estreptocócica são os abscessos retrofaríngeo e o periamigdaliano. Sua abordagem terapêutica deverá ser feita conforme se segue. ABSCESSO RETROFARÍNGEOABSCESSO RETROFARÍNGEO Complicação bastante rara, predominando em crianças entre três e quatro anos, geralmente do sexo masculino. Nesta faixa etária, o espaço retrofaríngeo (localizado entre a parede posterior da faringe e a fáscia pré-vertebral) é rico em tecido linfoide, recebendo toda a drenagem linfática da cavidade oral, faringe e fossas nasais. Uma infecção das vias aéreas superiores nesta faixa etária pode raramente disseminar bactérias para este espaço, levando à formação de um abscesso. Após os cinco anos, este tecido linfoide retrofaríngeo involui; sendo, por este motivo, rara a ocorrência de abscesso local nos escolares e adolescentes. Os principais sintomas clínicos são a febre, irritabilidade, dificuldade de engolir, rigidez cervical ou até torcicolo por contratura da musculatura paravertebral. Além disso, podem ocorrer voz abafada, estridor e dificuldade respiratória. À ectoscopia, verificamos abaulamento local. A etiologia costuma ser polimicrobiana: estrepto do grupo A + aneróbios da cavidade oral + estafilococos. O diagnóstico por imagem do abscesso retrofaríngeo pode ser obtido através da radiografia lateral do pescoço, em que se observa um aumento do espaço retrofaríngeo (maior que o diâmetro de um corpo vertebral). A tomografia computadorizada cervical é confirmatória ( ). Há risco de vida, pois o abscesso pode: ( 1) obstruir as vias aéreas; ( 2) drenar espontaneamente provocando grave pneumonia aspirativa; ou ( 3) levar a uma mediastinite (letalidade de 50%) por extensão da infecção por contiguidade. Por isso, a conduta é internar imediatamente a criança, iniciar antibioticoterapia parenteral e proceder à drenagem de urgência Figura 17 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina a criança, iniciar antibioticoterapia parenteral e proceder à drenagem de urgência (percutânea guiada por tomografia computadorizada ou cirúrgica) quando houver obstrução das vias aéreas ou quando o tratamento clínico não estiver sendo eficaz. _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ABSCESSO PERIAMIGDALIANOABSCESSO PERIAMIGDALIANO PERITONSILARPERITONSILAR Este abscesso é mais frequente que o retrofaríngeo. Esta complicação predomina nos adolescentes. O mecanismo é a rotura da cápsula posterior da amígdala palatina infectada, lançando bactérias no espaço periamigdaliano, preenchido normalmente por tecido frouxo. Este diagnóstico deve ser diferenciado do abscesso dos espaços submandibular e sublingual (angina de Ludwig) — uma complicação de infecções dentárias ou periodontais da arcada inferior. O quadro clínico do abscesso periamigdaliano é clássico: intensificação da dor de garganta, surgindo intensa disfagia e trismo em grau variado. O exame da orofaringe demonstra um abaulamento inflamatório unilateral rechaçando a amígdala e a úvula para o lado oposto (edema do palato mole), como mostrado na . Conduta: internação + antibiótico venoso + drenagem. FIG. 17 A: Observem o abscesso na região anterior à vértebra cervical (indicado pelas setas pretas). B: Aumento do espaço retrofaríngeo (indicado pela seta preta). Figura 18 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina OUTRAS COMPLICAÇÕESOUTRAS COMPLICAÇÕES A síndrome de Lemierre é uma complicação da faringite provocada pelo Fusobacterium necrophorum , caracterizada pela tromboflebite da veia jugular interna com êmbolos pulmonares sépticos, levando a infiltrados pulmonares e hipóxia. OBSTRUÇÃO INFLAMATÓRIA AGUDA DAS VIASOBSTRUÇÃO INFLAMATÓRIA AGUDA DAS VIAS AÉREAS SUPERIORESAÉREAS SUPERIORES Aqui há o video de apostila 16.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A epiglotite, laringotraqueobronquite e laringite espasmódica aguda são termos que se aplicam às doenças da laringe; estas desordens têm como característica clínica comum o estridor inspiratório e graus variados de dispneia e tiragem. Apresentam como evento fisiopatológico básico a presença de edema, podendo também ocorrer espasmo laríngeo. As afecções dividem-se em doenças supraglóticas (epiglotite) e infraglóticas (laringotraqueíte, ou crupe viral). Essas condições assumem grande importância em lactentes e crianças pequenas, que possuem uma via aérea com diâmetro reduzido. Dessa forma, para um mesmo grau de inflamação, estes pacientes estão predispostos a um estreitamento mais significativo da via aérea do que as crianças maiores. EPIGLOTITE AGUDAEPIGLOTITE AGUDA ETIOLOGIAETIOLOGIA FIG. 18 ABSCESSO PERIAMIGDALIANO. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ETIOLOGIAETIOLOGIA Embora o H. influenzae tipo b tenha sido a causa habitual da epiglotite aguda na era pré-vacinal, o S. pyogenes , o S. pneumoniae e o S . aureus são mais comumente encontrados hoje. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO Esta doença representa a forma mais grave de obstrução inflamatória aguda das vias aéreas superiores. Tem como característica uma instalação aguda, com insuficiência respiratória precoce. Acomete crianças entre dois e cinco anos. Seu curso é fulminante, com febre alta, dor de garganta, sialorreia, dispneia, obstrução respiratória rapidamente progressiva e prostração. Em questão de horas, a epiglotite pode evoluir para obstrução completa da via aérea e morte, a menos que o tratamento adequado seja realizado. A criança geralmente acorda no meio da noite, com febre alta, afonia, sialorreia e dificuldade respiratória moderada ou intensa com estridor. Ela costuma sentar-se para frente com o pescoço hiperestendido e, ocasionalmente, em posição de tripé. A boca permanece aberta com a língua protrusa. Alguns pacientes progridem rapidamente para o choque, caracterizado por palidez, cianose e rebaixamento do nível de consciência. O padrão-ouro para diagnóstico de epiglotite é a visualização de uma epiglote vermelho-cereja, grande e edematosa, por exame direto (laringoscopia). Na suspeita de epiglotite, a inspeção da orofaringe, utilizando-se um abaixador de língua, pode levar a laringoespasmo reflexo seguido de parada cardiorrespiratória e deve, portanto, ser evitada. A posição supina também deve ser evitada, pois a mudança de posição da epiglote pela gravidade pode aumentar a obstrução da via aérea. Se o diagnóstico for provável com base em critérios clínicos, deve-se tomar medidas imediatas para exame e controle das vias aéreas por médicos habilitados em intubação traqueal ou traqueostomia. Se o diagnóstico for considerado possível, embora improvável, em um paciente com obstrução aguda das vias aéreas superiores, deve-se obter uma radiografia lateral da nasofaringe e vias aéreas superiores antes do exame físico da faringe, mas a criança não pode permanecer desacompanhada, em nenhum momento, de alguém capacitado em obtenção de uma via aérea. A radiografia lateral cervical revela o "sinal do polegar”, que representa justamente o edema da epiglote ( ). Na prática, a radiografia não está indicada e a manipulação para o procedimento pode ser fatal. Figura 19 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina não está indicada e a manipulação para o procedimento pode ser fatal. _ FIG. 19 A: medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina TRATAMENTOTRATAMENTO A epiglotite é uma emergência médica. Se diagnosticada por inspeção da epiglote ou por exame radiográfico, ou se fortemente suspeitada em uma criança enferma, deve ser tratada imediatamente com estabelecimento de via aérea artificial. Mais comumente, procede-se à intubação traqueal (traqueostomia é menos utilizada), independentemente do grau de desconforto respiratório da criança.Após a intubação, geralmente ocorre uma melhora clínica importante. Após esse procedimento, hemograma, hemoculturas e cultura das secreções faríngeas devem ser colhidos e a antibioticoterapia iniciada. Ceftriaxona (cefalosporina de terceira geração) e cefuroxima (cefalosporina de segunda geração) ou meropenem são antibióticos prescritos com frequência; a via de administração é a parenteral, enquanto se aguarda o resultado da cultura e do antibiograma. Outros antimicrobianos que podem ser empregados são as associações ampicilina/sulbactam ou amoxicilina + clavulanato. A duração média da terapia com essas drogas é de sete a dez dias. A epinefrina e os glicocorticoides são ineficazes. A epiglotite remite após alguns dias de antibióticos, e a traqueostomia ou o tubo traqueal podem ser retirados. O tempo médio de intubação varia em torno de dois dias ou um pouco menos. A decisão de extubar é tomada quando se observa um escape de ar ao redor do tubo ou através da visualização da redução do edema da epiglote com o uso de laringoscopia. A profilaxia com rifampicina poderá ser indicada para os contactantes domiciliares nos casos de doenças pelo H. influenzae . LARINGOTRAQUEÍTE VIRAL AGUDALARINGOTRAQUEÍTE VIRAL AGUDA ETIOLOGIAETIOLOGIA O vírus Parainfluenza tipos 1, 2 e 3 são responsáveis por cerca de 75% dos casos. No restante dos casos, a doença é causada por outros vírus, como o influenza, o A: Sinal do polegar. B: Epiglote vermelho-cereja. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina restante dos casos, a doença é causada por outros vírus, como o influenza, o adenovírus e o VSR. A maioria dos pacientes com crupe viral tem entre três meses e cinco anos de idade, mas a doença devida ao H. influenzae e Corynebacterium diphtheriae é mais comum entre dois e cinco anos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A laringotraqueíte viral aguda, ou crupe viral, é a forma mais comum de obstrução aguda das vias aéreas superiores, geralmente de origem viral. A maioria dos pacientes tem uma infecção do trato respiratório superior durante vários dias antes da tosse com características de crupe (ladrante) se manifestar. Com o comprometimento progressivo das vias aéreas, ocorre uma sequência típica de sinais e sintomas. No início, há apenas a tosse ladrante ou metálica com estridor inspiratório leve. À medida que a obstrução aumenta, o estridor torna-se contínuo e é acompanhado de piora da tosse, rouquidão, batimento das asas do nariz e retrações supra, sub e intercostais. A temperatura pode estar apenas um pouco elevada. Os sintomas são tipicamente piores à noite e as manifestações regridem gradualmente no decorrer dos dias. É uma doença autolimitada cuja duração média é de aproximadamente três a cinco dias. O diagnóstico é feito quando temos uma criança pequena com história recente de um resfriado, evoluindo dias depois com a tríade rouquidão + tosse metálica + estridor (síndrome do crupe). Na prática, estabelecemos o diagnóstico apenas em bases clínicas, sem a necessidade de qualquer exame complementar. Cabe-nos destacar, entretanto, que a radiografia de pescoço, embora não seja necessária, poderá revelar o sinal da torre, que corresponde ao estreitamento da via aérea infraglótica pelo edema inflamatório ( ).Figura 20 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina TRATAMENTOTRATAMENTO A maioria das crianças com laringotraqueíte viral aguda pode ser tratada em casa. As crianças com quadros mais graves, que podem ser caracterizados pela presença de sinais de desconforto respiratório ou pela presença de estridor em repouso, devem receber nebulização com adrenalina no pronto-socorro. O efeito da adrenalina sobre a obstrução alta dura apenas duas horas, após as quais pode ser verificado o retorno do estridor. O emprego de glicocorticoides, como a dexametasona (0,6 mg/kg, por via oral ou IM) ou budesonida (por inalação), é recomendado, em dose única na emergência, para evitar a recidiva da obstrução após a nebulização com adrenalina. O efeito máximo da corticoterapia vai ocorrer algumas horas após a aplicação e durar por dois a três dias. Se, neste meio tempo, o estridor voltar, pode-se repetir a nebulização com adrenalina. Por esta razão, após a primeira nebulização com adrenalina, estas crianças devem ser observadas por algumas horas na emergência e, se houver melhora, poderão ser liberadas. Nas crianças que não apresentam os quadros mais graves, recomenda-se apenas o uso de corticoides. A avaliação da gravidade e o tratamento proposto com base nesta FIG. 20 LARINGOTRAQUEÍTE VIRAL AGUDA. Observe as setas brancas mostrando o estreitamento da via aérea na topografia da laringe. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina uso de corticoides. A avaliação da gravidade e o tratamento proposto com base nesta classificação podem ser conferidos nas e . TAB. 17TAB. 17 ESCORE CLÍNICO PARA ESCORE CLÍNICO PARA ABORDAGEM DE ESTRIDOR.ABORDAGEM DE ESTRIDOR. Escore total: 8 = grave. TAB. 18TAB. 18 TRATAMENTO DO CRUPE TRATAMENTO DO CRUPE VIRAL.VIRAL. GRAVIDADE DOS SINTOMAS INTERVENÇÃO Crupe leve ● Dexametasona: 0,15–0,3 mg/kg. ● Alta para casa. Crupe moderado ● Nebulização com l-epinefrina: 5 ml. ● Dexametasona: 0,3–0,6 mg/kg ou budesonida inalatória: 2 mg. ● Observação por 3–4 horas e alta para casa ou admissão hospitalar. Crupe severo ● Nebulização com l-epinefrina: 5 ml. ● Dexametasona: 0,6 mg IM. ● Admissão na unidade de terapia intensiva. Tabelas 17 18 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E COMPLICAÇÕESDIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E COMPLICAÇÕES LARINGITE ESTRIDULOSA AGUDALARINGITE ESTRIDULOSA AGUDA CRUPE ESPASMÓDICOCRUPE ESPASMÓDICO O crupe espasmódico é uma doença semelhante à laringotraqueobronquite, porém acomete crianças mais novas, entre um e três anos, e os achados de infecção estão ausentes. A etiologia é controversa e fatores alérgicos e psicológicos também são importantes. O início do quadro é súbito, geralmente à noite, precedido por coriza leve a moderada e rouquidão. A criança acorda ansiosa, com uma tosse metálica característica, inspiração ruidosa e dificuldade respiratória. Normalmente não há febre, e a dispneia pode ser agravada por agitação. Em geral, a intensidade dos sintomas diminui dentro de várias horas, com melhora importante no outro dia, restando apenas rouquidão leve e tosse. Aqui há o video de apostila 17.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. TRAQUEÍTE BACTERIANATRAQUEÍTE BACTERIANA A traqueíte bacteriana é, na verdade, uma complicação da laringotraqueíte viral, sendo causada mais comumente pelo S. aureus , seguindo-se a M. catarrhalis e o H. influenzae não tipável. Pode levar à obstrução fatal das vias aéreas. Suspeita-se dessa condição quando uma criança que vinha com quadro de laringotraqueíte viral aguda está evoluindo com piora clínica e não responde ao tratamento com nebulização com adrenalina, que será descrito a seguir. Intubação ou traqueostomia, além de antibioticoterapia apropriada, são medidas eficazes. OUTRAS CONDIÇÕESOUTRAS CONDIÇÕES O crupe diftérico é precedido por uma infecção das vias aéreas superiores durante vários dias, com desenvolvimento dos sintomas mais lentamente, embora a obstrução possa ocorrer de forma súbita. Pode ocorrer um corrimento nasal seroso ou serossanguinolento. O exame da faringe revela a típica membrana branco medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ou serossanguinolento. O exame da faringe revela a típica membrana branco acinzentada sobre as amígdalas cuja tentativa de remoção promove sangramento local. Há linfonodos cervicais grandes, que causam um aspecto de "pescoço de touro”. A intensa disfagia na quase ausência de febre ou febre pouco relevante diferencia a amigdalite diftérica daquela provocada pelo S. pyogenes e por EBV. A aspiração de corpo estranho também pode gerar obstrução respiratória aguda em crianças de seis meses a dois anos. O quadro é súbito, com tosseAs bactérias invadem a mucosa e podem chegar à submucosa, com consequente aparecimento de sangue e leucócitos nas fezes (> 5 leucócitos por campo). Exemplos: Salmonella, Shigella, amebíase, Yersinia, Campylobacter. Aumento da motilidadeAumento da motilidade Há diminuição do tempo de trânsito intestinal por aceleração da peristalse. As fezes têm aspecto normal. Dentre as principais causas, destacamos a síndrome do intestino irritável e o hipertireoidismo. DiminuiDiminui ção da motilidadeção da motilidade Há defeito na unidade neuromuscular, com estase e supercrescimento bacteriano. Dentre as principais causas, destacamos a pseudo-obstrução intestinal e a síndrome da alça cega. DiminuiDiminui ção da área deção da área de superfíciesuperfície Neste último caso, há diminuição da capacidade intestinal de absorção de água, eletrólitos e nutrientes de uma forma geral. O aspecto das fezes é aquoso. São exemplos: síndrome do intestino curto e doença celíaca. Algumas alterações na motilidade intestinal eventualmente justificam diarreia em crianças. Citamos como exemplo a síndrome do intestino irritável, a síndrome do intestino curto (após ressecção intestinal maciça) e o hipertireoidismo. ETIOLOGIAETIOLOGIA O termo gastroenterite aguda denota quase sempre uma causa infecciosa para a diarreia, que pode ser provocada por vírus, bactérias ou protozoários. Os agentes são medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina diarreia, que pode ser provocada por vírus, bactérias ou protozoários. Os agentes são transmitidos por via fecal-oral, através da ingestão de água ou alimentos contaminados. Nos países desenvolvidos, os principais agentes causadores de diarreia aguda são os vírus; nos países em desenvolvimento, o rotavírus e as bactérias constituem os dois mais importantes agentes etiológicos. Vamos estudar com mais detalhes a diarreia causada pelo rotavírus, dada sua importância epidemiológica, e você poderá conhecer mais sobre os outros agentes virais na . Aqui há o video de apostila 3.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. TAB. 3TAB. 3 AGENTES AGENTES VIRAIS CAUSADORES DE DIARREIA.VIRAIS CAUSADORES DE DIARREIA. VÍRUS CAUSADORES DE DIARREIA AGUDA RotavírusRotavírus ● Mecanismo etiopatogênico: osmótico e secretor (via toxina NSP4). ● Agente viral mais frequente em crianças pequenas ( 14 dias. AstrovíAstroví rusrus ● Faixa etária: 1–3 anos. ● Sem sazonalidade. ● Estão associados a infecções nosocomiais, surtos de diarreia em creches e diarreia em imunodepri midos. ● Clínica: diarreia leve a moderada. ● Duração: 1–4 dias. Hepatite AHepatite A ● Período de incubação: 15–50 dias. ● Transmissão: ingestão de ostras e mariscos contaminados, carnes malcozidas e água contaminada. ● Clínica: diarreia, colúria, icterícia, sintomas “gripais” (febre, cefaleia, mal-estar, dor abdominal e náusea). ● Laboratório: elevação TGO, bilirrubinas. Sorologia anti-IgM hepatite A positiva. VÍRUSVÍRUS ROTAVÍRUSROTAVÍRUS medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ROTAVÍRUSROTAVÍRUS EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA Representa a causa mais comum de diarreia grave em menores de dois anos de idade, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. É um RNA-vírus com sete grupos identificados A, B, C, D, E, F e G. Os grupos A e B são os principais responsáveis pelas doenças em humanos e o grupo C causa surtos ocasionais. São as proteínas VP4 e VP7 do capsídeo externo as responsáveis pela indução de formação de anticorpos. A infecção é mais comum nos meses de inverno nas regiões de clima temperado. É excretado nas fezes antes e após a doença clínica e a transmissão se estabelece por via fecal-oral. CLÍNICACLÍNICA Manifesta-se após um período de incubação inferior a 48 horas (pode variar entre um e sete dias), com febre baixa e vômitos seguidos de diarreia aquosa, que persiste por até cinco ou sete dias. Os vômitos e a febre geralmente cessam no segundo dia de doença. As fezes não possuem sangue ou leucócitos. A desidratação se instala rapidamente. A recuperação ocorre com tratamento reidratante adequado. Acredita- se que a diarreia seja provocada pela destruição das células epiteliais do topo das vilosidades do intestino delgado ( ). Essas têm função digestiva (hidrólise de dissacarídeos) e absortiva (água e eletrólitos). Dessa forma, com a infecção existe uma menor capacidade de digerir dissacarídeos, o que aumenta a osmolaridade intraluminal e leva à diarreia por um mecanismo osmótico. Ao mesmo tempo, o processo de transferência de sódio e água que depende da absorção de açúcar no intestino superior torna-se menos eficaz. Não bastasse isso, o vírus também secreta uma enterotoxina viral (NSP4), que aumenta a secreção de eletrólitos. O efeito global é uma perda significativa de eletrólitos e água. O resultado é diarreia, seguida de desidratação. As crianças desnutridas e aquelas com doença intestinal subjacente são mais propensas a adquirir essa infecção intestinal. O diagnóstico diferencial inclui algumas doenças diarreicas virais (adenovírus entérico, astrovírus e calicivírus), outras causas infecciosas (bactérias e protozoários) e, mais raramente, condições cirúrgicas (obstrução intestinal, apendicite). Fluxograma 1 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO O diagnóstico é confirmado com ensaio imunoenzimático (ELISA) de amostras fecais, que identificam o rotavírus do grupo A com uma sensibilidade e especificidade de 90%. A aglutinação em látex é outra técnica disponível para detecção do patógeno, porém com menor sensibilidade que o ELISA. Isso não costuma ser rotineiramente indicado na prática. TRATAMENTOTRATAMENTO Os principais objetivos da terapia são a prevenção e o tratamento da desidratação e, secundariamente, a manutenção do estado nutricional. BACTÉRIASBACTÉRIAS As infecções bacterianas podem levar ao estabelecimento de um quadro de diarreia por vários mecanismos, como sumarizado no . FLUXOGRAMA 1 DIARREIA PELO ROTAVÍRUS — PATOGENIA DAS ENTERITES VIRAIS. Fluxograma 2 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os agentes envolvidos e as suas principais características estão assinaladas na . TAB. 4TAB. 4 AGENTES BACTERIANOS AGENTES BACTERIANOS CAUSADORES DE DIARREIA.CAUSADORES DE DIARREIA. BACTÉRIAS CAUSADORAS DE DIARREIA AGUDA Vibrio Vibrio cholerae cholerae ● O soro grupo 1 é o único patogênico. Possui dois subtipos: clássico e El Tor (responsável pelas epidemias recentes). ● Transmissão: fecal-oral (principalmente mariscos e peixes malcozidos). É necessário um grande inóculo (aproximadamente 108) para causar doença, pois normalmente o vibrião é destruído pela acidez gástrica. Por isso, o uso de bloqueadores H1e inibidores da bomba de prótons predispõe à doença grave. ● Clínica: vai desde pacientes assintomáticos, diarreia leve ou moderada (90% dos casos) até casos graves, que podemsufocante e, em geral, sem sinais prodrômicos de infecção. VIAS AÉREAS INFERIORESVIAS AÉREAS INFERIORES PNEUMONIASPNEUMONIAS INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO O termo pneumonia define um quadro genérico de “inflamação do parênquima pulmonar”, provocado na maioria das vezes por agentes infecciosos. Entretanto, há diversas outras causas não infecciosas (20%), como aspiração de alimento e/ou ácido gástrico, corpos estranhos e pneumonite induzida por drogas ou radiação. Não podemos esquecer que a pneumonia pode complicar um episódio de bronquiolite. Entre as infecções respiratórias agudas do trato respiratório inferior, a pneumonia é a principal causa de morbidade e mortalidade infantil, especialmente em países em desenvolvimento. A pneumonia é responsável por cerca de 19% das mortes em crianças menores de cinco anos. As infecções em neonatos e outros hospedeiros comprometidos são mais graves do que em lactentes e crianças maiores sadias. Se os mecanismos de defesa estiverem intactos, a pneumonia não ocorre. Alguns fatores de risco podem estar presentes, facilitando o surgimento de pneumonia, principalmente em crianças menores de dois anos. Os principais fatores de risco para as pneumonias comunitárias são a desnutrição, baixa idade, a presença de comorbidades e a gravidade da doença, que podem concorrer para o óbito. Há outros fatores que também se associam com maior morbidade e a mortalidade, como baixo peso ao nascer, permanência em creche, episódios prévios de sibilos e pneumonia, ausência de aleitamento materno, vacinação incompleta, variáveis socioeconômicas e ambientais. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina vacinação incompleta, variáveis socioeconômicas e ambientais. Iremos estudar diversas formas de pneumonias, causadas por diferentes agentes etiológicos, e a distinção entre estas várias formas é baseada em critérios clínicos e radiológicos. Os dados clínicos mais essenciais na prática médica, principalmente nos países em desenvolvimento como o Brasil. A Organização Mundial da Saúde preconiza a valorização da queixa de “tosse e frequência respiratória elevada” como indicativo de pneumonia em crianças menores de cinco anos. Para isso, os seguintes pontos de corte devem ser valorizados para definição de taquipneia: ● 5 anos> 5 anos M. pneumoniae,Chlamydophila pneumoniae, S. pneumoniae, M. tuberculosis. Aqui há o video de apostila 18.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. Tabela 19 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina OBSERVAÇÃO Segundo as referências norte-americanas, após os cinco anos, o agente bacteriano mais prevalente nas pneumonias comunitárias já é o M. pneumoniae , deixando o S. pneumoniae em segundo lugar… Mas fiquem atentos! O seu raciocínio do que diz respeito à etiologia não develevar em conta apenas a idade do paciente: ● Crianças ≥ 5 anos com pneumonia de início agudo, geralmente com condensação lobar ou derrame pleural — o agente etiológico mais comum é o S. pneumoniae ; ● Crianças ≥ 5 anos com sintomas de vias aéreas superiores precedendo a pneumonia, com infiltrado parenquimatoso intersticial na radiografia de tórax — o agente mais comum é o M. pneumoniae . PNEUMONIA VIRALPNEUMONIA VIRAL ETIOLOGIAETIOLOGIA O VSR é responsável pela maioria dos casos de pneumonia, especialmente durante a lactância, porém o parainfluenza, adenovírus, rinovírus, varicela-zóster, influenza, CMV, herpes simples e enterovírus também podem causar pneumonia. Em geral, as infecções virais do trato respiratório inferior são bem mais comuns durante os meses de inverno. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A maioria das pneumonias virais é precedida por vários dias de sintomas respiratórios, como tosse, coriza e obstrução nasal. Embora a febre geralmente esteja presente, a temperatura costuma ser mais baixa do que na pneumonia bacteriana (muito embora isso não seja critério absoluto). Uma infecção grave pode ser acompanhada de cianose e dificuldade respiratória. A maioria das crianças recupera- se sem intercorrências e não apresenta sequelas. Uma exceção é o desenvolvimento de bronquiolite obliterante após a infecção pelo adenovírus. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A radiografia de tórax caracteriza-se por infiltrados difusos, podendo ser acompanhados de hiperinsuflação. A leucometria em crianças com pneumonia viral tende a ser normal ou apenas um pouco elevada (crianças. Distensão abdominal pode estar presente, refletindo dilatação gástrica devido ao ar deglutido ou íleo paralítico. Rigidez de nuca sem infecção meníngea também pode ser proeminente, sobretudo com o envolvimento do lobo superior direito. CRIANÇAS E ADOLESCENTESCRIANÇAS E ADOLESCENTES Os sinais e sintomas são semelhantes aos dos adultos. Após uma infecção respiratória alta leve e breve, há o início de calafrios seguidos por febre de até 40,5ºC. Os achados torácicos anormais incluem retrações, batimento de asas do nariz, macicez, murmúrio vesicular diminuído e estertores crepitantes no lado afetado. Os achados físicos modificam-se durante o curso da doença. Os sinais clássicos de consolidação são observados do segundo ao terceiro dia da doença e se caracterizam por macicez à percussão, aumento do frêmito, sopro tubário e o desaparecimento dos estertores. Pode haver derrame pleural concomitante. ACHADOS LABORATORIAIS E RADIOGRÁFICOSACHADOS LABORATORIAIS E RADIOGRÁFICOS A leucometria está elevada para 15.000–40.000/mm³, com predomínio de polimorfonucleares. Contagens 60%). ● Apneias. ● Extremo desconforto respiratório. ● Hipotensão arterial. *Sociedade Brasileira da Pneumologia e Tisiologia. COMPLICAÇÕESCOMPLICAÇÕES DERRAME PLEURALDERRAME PLEURAL É a principal complicação das pneumonias bacterianas, e no Brasil acontece em 40% das crianças internadas. Os principais agentes etiológicos são os mesmos encontrados em pneumonias não complicadas: S . pneumoniae , S . aureus e H. influenzae . O S. pneumoniae é o agente mais encontrado em crianças, em todas as faixas etárias, inclusive lactentes. Apesar do aumento da frequência de pneumococos resistentes à penicilina, não tem sido identificado um aumento de complicações associadas a infecções causadas por cepas resistentes. O S. aureus deve sempre ser considerado como etiologia possível principalmente em crianças menores de um ano e que apresentem lesões cutâneas associadas. Ao exame físico, podemos verificar macicez à percussão, diminuição da ausculta e postura antálgica (pseudoescoliose). Entretanto, como nenhum dos sinais e sintomas é patognomônico desta afecção, devemos sempre pesquisá-la quando não houver melhora clínica após 48–72h de antibioticoterapia venosa. A radiografia de tórax revela velamento do seio costofrênico em derrames pequenos ou uma hipotransparência com uma linha côncava ascendente, separando o líquido do parênquima pulmonar em casos de derrames maiores. A incidência de Laurell (decúbito lateral com raios horizontais) ajuda a avaliar e quantificar derrames livres. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina (decúbito lateral com raios horizontais) ajuda a avaliar e quantificar derrames livres. Em casos de dúvida, principalmente em pequenos derrames, a ultrassonografia de tórax pode ser uma ferramenta útil, pois possibilita a avaliação da quantidade de líquido e melhor local para toracocentese ou drenagem. A tomografia excepcionalmente tem indicação no derrame pleural complicado. A tomografia de tórax com utilização de contraste intravenoso fornece um benefício adicional ao planejamento cirúrgico, pois diferencia o espessamento pleural de pulmão consolidado e também avalia o comprometimento intraparenquimatoso, identificando outras complicações, como, por exemplo, o abscesso pulmonar. Toda criança com derrame pleural (≥ 1 cm) deve ser puncionada (toracocentese) para realização do diagnóstico do líquido (transudato × exsudato × empiema) e internada para antibioticoterapia venosa. O processo inflamatório pleural pode ser dividido em três tipos: 1. Pleurite seca: o processo infeccioso desencadeia a formação de uma pequena quantidade de líquido amarelo seroso na pleura visceral e pequenos pontos de adesão. Clinicamente, manifesta-se como dor pleurítica, ou seja, aquela exacerbada com a respiração profunda e tosse. Na radiografia de tórax aparece com uma linha pleural mais espessada; 2. Pleurite serofibrinosa: é aquela em que existe produção de secreção inflamatória em maior quantidade. Pode ser apenas decorrente de transudação de líquido por diferenças nas pressões hidrostática e oncótica (transudato) ou por transudação de líquido + proteínas + células (exsudato), resultante de um aumento da permeabilidade capilar pelo processo inflamatório local. A definição bioquímica de exsudato requer pelomenos um dos seguintes: proteínas pleurais > 3,0 g/dl; razão proteína pleural/proteína sérica > 0,5; LDH pleural > 200 UI/L; razão LDH pleural/LDH sérico > 0,6; e pH 100.000/µL. O empiema evolui em três estágios: ( 1 ) estágio exsudativo: secreção espessa livre entre as superfícies pleurais; ( 2) estágio fibrinopurulento: há formação de septos fibrosos e loculação do fluido espesso na pleura parietal espessada; e ( 3) estágio de organização: há intensa proliferação de fibroblastos e formação de cavidades abscedadas com paredes muito espessas. O pulmão pode ficar colapsado e envolvido por uma carapaça inelástica. O tratamento para os derrames pleurais são os antibióticos parenterais contra os principais germes e a drenagem tubular simples (fechada) quando houver indicação. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina principais germes e a drenagem tubular simples (fechada) quando houver indicação. Cerca de 15–35% dos derrames pleurais necessitarão de drenagem fechada. Leia abaixo as indicações de drenagem torácica fechada: ● Volume grande de líquido que cause desconforto respiratório (ex.: taquipneia, dispneia, queda de saturação); ● Pus franco; ● pHdas crianças com infecção nasofaríngea. As manifestações clínicas surgem entre um e três meses de vida (após o período em que a conjuntivite se inicia). O quadro é insidioso e cursa com tosse persistente, taquipneia e, como o próprio nome já sugere, ausência de febre. Ao exame do aparelho respiratório é possível a identificação de estertores, sendo que a sibilância não é comum. ACHADOS LABORATORIAIS E RADIOGRÁFICOSACHADOS LABORATORIAIS E RADIOGRÁFICOS Um achado laboratorial característico é a presença de eosinofilia no sangue periférico. A avaliação radiográfica indica a presença de sinais de hiperinsuflação com discretos infiltrados intersticiais ou alveolares. TRATAMENTOTRATAMENTO O tratamento poderá ser feito com eritromicina (50 mg/kg/dia, VO, 6/6/horas, por 14 dias) ou azitromicina. É interessante notar que as conjuntivites neonatais associadas com a clamídia sempre devem receber o tratamento sistêmico justamente para tratar, ao mesmo tempo, a possível infecção nasofaríngea associada que levaria à pneumonia. Aqui há o video de apostila 20.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. BRONQUITEBRONQUITE Bronquite corresponde à inflamação da parede brônquica associada a diversas condições, como causas: ( 1 ) inflamatórias: asma; ( 2 ) pneumopatias crônicas: displasia broncopulmonar, bronquiectasias, fibrose cística, discinesia ciliar, tráqueo e broncomalácia; ( 3 ) doenças crônicas: desordens da deglutição, refluxo gastroesofágico, cardiopatia congênita e imunodeficiências; ( 4 ) malformações congênitas: anéis vasculares (compressão extrínseca de estruturas de vias aéreas) e hemangiomas (compressão intrínseca); ( 5 ) aspiração de corpo estranho; ( 6) infecções: vírus, Chlamydia , Ureaplasma , Mycoplasma pneumoniae , Bordetella pertussis e Mycobacterium tuberculosis . medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina pertussis e Mycobacterium tuberculosis . A bronquite aguda é uma síndrome de etiologia predominantemente viral, sendo a tosse o principal sintoma. A nasofaringite pode estar associada à bronquite aguda. Assim, associados aos sintomas respiratórios altos (coriza e obstrução nasal), sintomas constitucionais e tosse protraída persistem por uma a três semanas. O escarro pode ser purulento por causa da descamação do epitélio. A doença é autolimitada. Por sua vez, a bronquite crônica é uma entidade bem definida em adultos e caracteriza-se por tosse produtiva por três meses/ano ou mais durante no mínimo dois anos. Em adultos, cerca de 80% das doenças obstrutivas pulmonares crônicas estão relacionadas à história de tabagismo. Na infância, os casos de bronquite crônica são encontrados na fibrose cística, displasia broncopulmonar e bronquiectasias. BRONQUIOLITE VIRAL AGUDABRONQUIOLITE VIRAL AGUDA INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO A definição de bronquiolite viral aguda é um tanto quanto controversa. Geralmente, assume-se que o quadro pode ser caracterizado como uma síndrome clínica que acomete crianças menores de dois anos e cursa com sintomas de doença das vias aéreas superiores (como coriza), seguidos por infecção e inflamação da vias aéreas inferiores resultando em sibilância e estertores. Para fins de pesquisas, é comum a descrição de que a bronquiolite é o primeiro episódio de sibilância em uma criança menor de dois anos com achados clínicos de doença do trato respiratório inferior. Aos dois anos, quase todas as crianças já foram infectadas pelo VSR, principal agente da doença. A doença é mais grave entre o primeiro e terceiro mês de vida. Determina hospitalizações prolongadas, reinternações frequentes e elevado índice de uso de antibióticos. É a causa mais frequente de hospitalizações em lactentes. Ocorre mais frequentemente no inverno, porém em regiões tropicais, como a maior parte do Brasil, as epidemias não são bem definidas. ETIOLOGIAETIOLOGIA medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A bronquiolite é uma doença viral predominante. O VSR é responsável por mais de 50% dos casos. Dentre os outros agentes, destacam-se o parainfluenza e o adenovírus 7 e 21 (importante agente causador da bronquiolite obliterante). Outros agentes emergentes cuja incidência vem aumentando são o metapneumovírus e o bocavírus humano (isolado ou em coinfecção com o VSR). Bactérias que costumam causar pneumonias não causam bronquiolite. Porém, algumas vezes, podem ser identificadas infecções concomitantes. A fonte de contaminação é geralmente um membro da família ou outra criança da creche. A forma de transmissão ocorre através do contato com secreções da pessoa contaminada. A disseminação de partículas virais através de aerossol não é uma via de contágio importante para o VSR. A inoculação do VSR ocorre através da superfície da mucosa nasal; o indivíduo permanece assintomático por três a cinco dias e então inicia os sintomas de vias aéreas superiores. Suspeita-se que a disseminação para as vias aéreas inferiores ocorra por aspiração das secreções da nasofaringe, embora o mecanismo exato seja ainda alvo de controvérsias. Os profissionais de saúde que manuseiam crianças com bronquiolite transmitem o vírus principalmente através das mãos e, por isso, recomenda-se a lavagem das mãos como medida fundamental para o controle da infecção nosocomial. FISIOPATOLOGIAFISIOPATOLOGIA A bronquiolite aguda é caracterizada por obstrução inflamatória dos bronquíolos (edema, muco, acúmulo de fibrina e debris celulares — ). Ocorre uma alteração na relação ventilação/perfusão, com consequente hipoxemia, retenção de CO 2 e acidose respiratória. A resistência à passagem é maior durante a expiração, resultando em sibilância e em uma obstrução valvular, dificultando a eliminação do ar e aumentando o volume residual, com hiperinsuflação. Se a obstrução valvular for completa, o ar aprisionado será progressivamente reabsorvido, resultando em atelectasias. Nos casos mais graves, pode haver comprometimento do parênquima pulmonar, com evolução para pneumonia viral ou infecção bacteriana secundária. Figura 27 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os lactentes apresentam condições anatomofisiológicas das vias aéreas que os tornam mais vulneráveis aos processos de obstrução bronquiolar e consequente sibilância. Primeiro, a resistência ao fluxo de ar é inversamente proporcional à quarta potência do raio, ou seja, qualquer inflamação da mucosa e acúmulo de secreção nas vias respiratórias corresponde a grande aumento na dificuldade de passagem do ar. A parede torácica muito complacente do lactente possibilita que, durante a inspiração, a pressão negativa exercida produza um colabamento das vias aéreas e consequente atelectasia. Os lactentes também apresentam um número muito maior de linfócitos, neutrófilos e, principalmente, mastócitos e eosinófilos no conteúdo alveolar. Assim, a produção de mediadores inflamatórios (histamina, leucotrienos e interleucinas) deflagrada por uma agressão infecciosa é também mais proeminente. Desse modo, conseguimos compreender melhor por que os lactentes apresentam tantos episódios de sibilância mediante uma infecção. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICOMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO Geralmente, há um pródromo com sintomas leves de vias aéreas superiores, como espirros e rinorreia. A criança pode apresentar temperatura normal ou bastante elevada (38,5ºC–39ºC). Gradualmente, o quadro respiratório deteriora, com tosse paroxística, dispneia e irritabilidade. A criança é sempre taquipneica, o que interfere com a aceitação da dieta. Na maior parte dos casos, não há outras queixas como diarreia ou vômitos. A apneia pode ser um sintoma mais comum que a sibilância em lactentes menores de dois meses e ocorre como consequência da insuficiência respiratória e da imaturidade do centro respiratório, que responde de forma ineficiente à hipóxia e hipercapnia. FIG. 27 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ineficiente à hipóxia e hipercapnia. O exame físico é caracterizado pela presença dos sibilos (inspiratórios ou bifásicos, dependendo dograu de obstrução) e prolongamento do tempo expiratório. Sinais de estresse respiratório incluem taquipneia (aumento da frequência respiratória) e dispneia (ex.: batimento de aletas nasais, retrações intercostais e subcostais). Os principais fatores de risco associados a uma evolução mais grave são: faixa etária 60, cianose central, saturaçãointramuscular. Recomendam-se aplicações mensais a intervalos de trinta dias, a se iniciar um mês antes da estação associada a uma maior sazonalidade para infecção pelo VSR, totalizando cinco doses (o momento de início é diferente nas várias regiões do país). O Ministério da Saúde disponibiliza o palivizumabe nas seguintes situações: ● Prematuros até 28 semanas e seis dias de idade gestacional, menores de um ano de idade; ● Crianças portadoras de cardiopatia congênita com repercussão hemodinâmica demonstrada até o segundo ano de vida; ● Crianças portadoras de doença pulmonar crônica da prematuridade, independentemente da idade gestacional, até o segundo ano de vida. A Sociedade Brasileira de Pediatria também inclui em suas recomendações os bebês prematuros nascidos entre 29 e 31 semanas e seis dias de idade gestacional, especialmente nos primeiros seis meses de vida. Em outubro de 2023, a Anvisa autorizou, no Brasil, o uso de um novo anticorpo monoclonal para a prevenção da infecção por VRS em lactentes, o nirsevimabe. Ainda sem previsão de disponibilização no SUS, o nirsevimabe será comercializado nas clínicas privadas e é recomendado de forma universal para todos os menores de 1 ano de idade em dose única. Para as crianças com comorbidades específicas, uma segunda dose é feita no segundo ano de vida. LAVAGEM DE MÃOSLAVAGEM DE MÃOS medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Como o VSR é principalmente veiculado através do contato direto, a lavagem das mãos torna-se medida fundamental para a prevenção da transmissão nosocomial. BRONQUIOLITE OBLITERANTEBRONQUIOLITE OBLITERANTE INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO A Bronquiolite Obliterante (BO) é uma doença conforme seu título sugere: obstrução crônica de bronquíolos e pequenas vias aéreas. É rara, e na infância é provocada por fibrose de bronquíolos após um insulto infeccioso agudo. ETIOLOGIAETIOLOGIA Os agentes infecciosos mais comumente associados à BO são: adenovírus (sorotipos 3, 7 e 21), influenza, parainfluenza, sarampo, Vírus Sincicial Respiratório (VSR), varicela, Mycoplasma pneumoniae e B. pertussis. Entretanto, outras causas também podem ser citadas, tais como: ● Pós-transplante de medula óssea; ● Doenças do tecido conjuntivo: artrite reumatoide juvenil, lúpus eritematoso sistêmico, esclerodermia, síndrome de Sjögren; ● Inalação de fumaça tóxica: NO 2 e NH 3 ; ● Aspiração: doença do refluxo gastroesofágico, corpos estranhos; ● Drogas: penicilinamina e cocaína. Após o insulto inflamatório agudo, ocorre um processo de reparo anormal do epitélio respiratório com obstrução do lúmen dos bronquíolos terminais, bronquíolos respiratórios e ductos alveolares. A BOOP ( Bronchiolitis Obliterans Organizing Pneumonia ) nada mais é do que a BO cujo processo de fibrose se estendeu para os ductos alveolares e alvéolos com proliferação de fibroblastos. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina CLÍNICACLÍNICA A doença caracteriza-se por episódios de recorrência de dispneia, tosse crônica e produção de escarro. Ao exame físico observam-se sibilos, estertores e hipoxemia. A radiografia simples de tórax revela áreas irregulares de hipertransparência associadas a bronquiectasias, melhor definidas através da tomografia computadorizada de tórax. A espirometria revela um distúrbio ventilatório obstrutivo crônico. Contudo, o padrão-ouro para estabelecer o diagnóstico é a biópsia pulmonar. TRATAMENTOTRATAMENTO O uso prolongado de corticoides, imunomoduladores como sirulimus, tacrolimus e ciclosporina em aerossol são algumas das possibilidades de tratamento, embora não haja terapia definitiva. COQUELUCHECOQUELUCHE DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A coqueluche ou “tosse comprida” é uma infecção respiratória que afeta as vias aéreas superiores, traqueia e brônquios, cuja marca clínica é a tosse paroxística. Possui alta taxa de transmissibilidade e elevados índices de morbimortalidade, especialmente entre crianças pequenas. ETIOLOGIAETIOLOGIA A doença é provocada pela Bordetella pertussis na maior parte dos casos. A B. parapertussis é um agente ocasional. EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA A coqueluche é uma infecção altamente transmissível, com taxas de ataque próximas a 100% em indivíduos suscetíveis expostos aos aerossóis contaminados. Naqueles completamente imunizados, a infecção é subclínica em 80% dos casos. Nem a doença natural nem a vacinação completa garantem a imunidade duradoura e permanente. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina natural nem a vacinação completa garantem a imunidade duradoura e permanente. Após três a cinco anos da vacinação, os títulos de anticorpos protetores começam a declinar e, após dez anos, são praticamente inexistentes. TRANSMISSÃOTRANSMISSÃO O homem é o único reservatório natural, e ainda não foram encontrados portadores crônicos da infecção. A transmissão ocorre pelo contato com gotículas de orofaringe eliminadas pela fala, tosse e espirro do indivíduo contaminado. O período de transmissão ocorre desde o quinto dia após o contato com o doente até a terceira semana do início da crise paroxística. Em lactentes menores de seis meses, pode prorrogar-se por até quatro a seis semanas do início da tosse. O período de maior transmissibilidade é a fase catarral. CLÍNICACLÍNICA A coqueluche evolui em três fases sucessivas: (1) fase catarral (1–2 semanas): após um período de incubação de 3–12 dias, iniciam-se sintomas leves, como febre baixa, rinorreia, espirros, tosse e lacrimejamento, semelhante a um “resfriado”; (2) fase paroxística (2–6 semanas): inicia-se com a intensificação da tosse e desaparecimento dos sintomas catarrais. A tosse é seca, irritativa e intermitente ou paroxística (ocorre em acessos ou crises). O quadro clínico típico é de uma criança aparentemente bem, quando subitamente apresenta fácies de ansiedade, e inicia uma tosse seca e irritativa, com cinco a dez tossidas em uma única expiração. Durante os acessos de tosse, o paciente coloca a língua para fora, fica com a face avermelhada ou cianótica pelo esforço, podendo ser seguida por apneia ou vômitos. A seguir, ocorre uma inspiração forçada com a glote parcialmente fechada, o que gera um som de “guincho”. Os paroxismos de tosse podem ocorrer até trinta vezes em 24 horas, principalmente à noite; (3) fase de convalescença (2–6 semanas): caracteriza-se pelo desaparecimento dos paroxismos de tosse e aparecimento da tosse comum, que pode prolongar-se por até três meses. Infecções respiratórias de outra natureza podem afetar o indivíduo e causar reaparecimento dos paroxismos de tosse. Os lactentes jovens (menores de três meses) não apresentam estas fases clássicas. A fase catarral pode durar poucos dias e não ser percebida, e no lugar da tosse paroxística surgem acessos de engasgos, dificuldade de respirar e pletora facial. Pode ocorrer apneia e cianose sem tosse. No período neonatal, a apneia com cianose é mais comum na coqueluche que nas infecções por VSR. Paradoxalmente, nos lactentes a tosse e o guincho podem se tornar mais típicos na fase de convalescença. Na coqueluche, os achados medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina tornar mais típicos na fase de convalescença. Na coqueluche, os achados semiológicos de infecção do trato respiratório inferior, tais como taquipneia, dispneia, estertores e sibilos estarão presentes apenas se houver pneumonia associada, que poderá ser causada pela própria B. pertussis ou outras etiologias. Hemorragias conjuntivais e petéquias no tronco superior podem ser observadas. Aqui há o video de apostila 22.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICAVIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA As manifestações clínicas são variadas e é importante um alto índice de suspeição. Veja como o Ministério da Saúde caracteriza os casos suspeitos em função da faixa etária do paciente. ● Indivíduo com menos de seis meses de idade: todo indivíduo, independentemente do estado vacinal, que apresente tosse de qualquer tipo há dez dias ou mais associada a um ou mais dos seguintes sintomas:» Tosse paroxística — tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas (cinco a dez), em uma única expiração; » Guincho inspiratório; » Vômitos pós-tosse; » Cianose; » Apneia; » Engasgo. ● Indivíduo com idade igual ou superior a seis meses: todo indivíduo que, independentemente do estado vacinal, apresente tosse de qualquer tipo há 14 dias ou mais associada a um ou mais dos seguintes sintomas: » Tosse paroxística — tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas (cinco a dez), em uma única expiração; » Guincho inspiratório; » medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina » Vômitos pós-tosse. AVALIAÇÃO COMPLEMENTARAVALIAÇÃO COMPLEMENTAR Deve ser realizada coleta de material de nasofaringe e isolamento da B. pertussis por cultura ou pela técnica de PCR, realizadas antes do início do antibiótico ou até no máximo três dias depois. Não são disponíveis técnicas sorológicas adequadas. O leucograma revela leucocitose (15.000 a 100.000/mm³) com linfocitose, bastante característico da fase catarral. A eosinofilia não ocorre na coqueluche. Um curso grave é observado nos casos de leucocitose extrema e trombocitose muito acentuada. A radiografia de tórax geralmente é normal, mas em lactentes internados pode ser observado infiltrado peri-hilar com aspecto de asa de borboleta, também descrito como "coração borrado" ou "coração franjado" ( ). A presença de consolidação sugere pneumonia associada. Figura 29 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DIAGNÓSTICO DIFERENCIALDIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os principais diagnósticos diferenciais são com a bronquiolite viral aguda, traqueobronquites, laringites e com os agentes que provocam uma síndrome “coqueluchoide” clinicamente similar à coqueluche, tais como: Bordetella parapertussis , M. pneumoniae , C. trachomatis , C. pneumoniae e adenovírus (1, 2, 3 e 5). COMPLICAÇÕESCOMPLICAÇÕES As principais complicações descritas são: ( 1 ) respiratórias: pneumonia por B. pertussis, pneumonias por outras etiologias, ativação da tuberculose latente, atelectasias, pneumotórax, ruptura de diafragma; ( 2 ) neurológicas: encefalopatia aguda, convulsões, coma, hemorragias intracerebrais, estrabismo e surdez; ( 3) outras: hemorragias subconjuntivais, otite média por B. pertussis, epistaxe, edema de face, úlcera de frênulo lingual, hérnias (umbilicais, inguinais e diafragmáticas), conjuntivite, desidratação e desnutrição. TRATAMENTOTRATAMENTO Os macrolídeos são as medicações de escolha. Atualmente, preconiza-se o uso da azitromicina 1x/dia por cinco dias (que pode também ser usada em menores de um ano) como primeira escolha ou da claritromicina 12/12h por sete dias como segunda escolha. A eritromicina, apesar de eficaz, possui problemas, como dificuldade de adesão por ser administrada de 6/6h por sete a quatorze dias, e causar hipertrofia de piloro em menores de um mês de vida. Nos casos de contraindicação ao uso de macrolídeos, indica-se o sulfametoxazol + trimetoprima. QUIMIOPROFILAXIAQUIMIOPROFILAXIA Os pacientes internados com coqueluche deverão ser mantidos em isolamento por gotículas até cinco dias após o início do antibiótico macrolídeo. De forma similar, as crianças e profissionais com coqueluche também deverão se ausentar de escolas e FIG. 29 Coqueluche — infiltrado peri-hilar ("coração felpudo"). medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina crianças e profissionais com coqueluche também deverão se ausentar de escolas e creches por cinco dias após o início do antibiótico. A quimioprofilaxia é feita com azitromicina, no mesmo esquema utilizado para tratamento, e é indicada para os comunicantes nas seguintes situações: 1. Com idade inferior a um ano, independentemente da situação vacinal. Os recém- nascidos devem ser avaliados pelo médico; 2. Com idade entre um e sete anos não vacinados, com situação vacinal desconhecida ou que tenham tomado menos de quatro doses de vacina com componentes pertussis ; 3. A partir de sete anos de idade que tiveram contato íntimo e prolongado com um caso suspeito de coqueluche, se: ● Tiveram contato com o caso-índice no período de 21 dias que precederam o início dos sintomas do caso até três semanas após o início da fase paroxística; ou ● Tiverem contato com um comunicante vulnerável no mesmo domicílio; 4. Que trabalham em serviço de saúde ou com crianças. Consideram-se comunicantes vulneráveis: ● Recém-nascidos que tenham contato com sintomáticos respiratórios; ● Crianças com menos de um ano de idade, com menos de três doses de vacina pentavalente ou tetravalente ou DTPa; ● Crianças menores de dez anos de idade, não imunizadas ou com esquema vacinal incompleto (menos de três doses de vacina com componentes pertussis ); ● Mulheres no último trimestre de gestação; ● Pessoas com comprometimento imunológico; ● Pessoas com doença crônica grave. Ainda conforme o Ministério da Saúde, os comunicantes são os membros da família ou pessoas que vivem na mesma casa ou que frequentam habitualmente o local de moradia do caso. Aqueles que passam a noite no mesmo quarto, como pessoas institucionalizadas e trabalhadores que dormem no mesmo espaço físico. Outros medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina institucionalizadas e trabalhadores que dormem no mesmo espaço físico. Outros tipos de exposições podem definir novos comunicantes, como no caso de situações em que há proximidade entre as pessoas (±1 metro) na maior parte do tempo e rotineiramente (escola, trabalho ou outras circunstâncias que atendam a este critério), dentro do intervalo entre o início do período catarral até três semanas após o início do período paroxístico da doença (período de transmissibilidade). APÊNDICE: OUTROS DISTÚRBIOS GASTROINTESTINAIS INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO O quadro de doença diarreica aguda, que você já estudou, é um dos principais distúrbios gastrointestinais contemplados nas provas de pediatria. Todavia, é importante que este estudo seja complementado com a avaliação de condições não infecciosas que levam ao desenvolvimento de diarreia crônica, e também com a avaliação de outras patologias do tubo digestivo que não se apresentam, necessariamente, por diarreia. É sobre isso que falaremos a partir de agora, agrupando as diversas condições em função da queixa principal mais comumente identificada. Considere este material um adendo ao nosso módulo de gastroenterologia na clínica médica e se prepare para rever alguns assuntos já estudados. Ao final deste capítulo, vamos aproveitar para complementar o estudo da criança com desidratação. Você já conhece os planos de prevenção e tratamento da desidratação nas crianças com diarreia aguda. Falaremos, brevemente, sobre alguns aspectos relacionados à terapia de hidratação de manutenção. Aqui há o video de apostila 23.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DIARREIA CRÔNICADIARREIA CRÔNICA Dúvidas Acadêmicas do CapítuloTESTE SEU CONHECIMENTOConfira as dúvidas acadêmicas do capítulo clicando aqui medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ASPECTOS INICIAISASPECTOS INICIAIS DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A diarreia crônica pode ser definida como aquela que dura mais de 14 ou 30 dias (não há consenso!) e também se caracteriza pelo aumento do volume e/ou frequência de evacuações com perda de água, eletrólitos e nutrientes. ETIOPATOGENIAETIOPATOGENIA Do mesmo modo que ocorre nos quadros de diarreia aguda, vistos no capítulo inicial desta apostila, temos mecanismos osmóticos, secretórios, relacionados com a redução na área de superfície absortiva, relacionados com alterações da motilidade intestinal ou relacionados com processos inflamatórios. AVALIAÇÃO COMPLEMENTARAVALIAÇÃO COMPLEMENTAR INVESTIGAÇÃO DE MÁ INVESTIGAÇÃO DE MÁ ABSORÇÃO DE CARBOIDRATOSABSORÇÃO DE CARBOIDRATOS ● pH fecal: os valores normais do pH fecal em lactentes em aleitamento materno são de 4,6 a 6,0 e naqueles em aleitamento artificial são de 5,5 a 8,5. Nas crianças maiores, os valores situam-se entre 6,5 e 7,5. Valores mais baixos que a referência,isto é, que traduzem maior acidez, indicam má absorção de carboidratos. ● Pesquisa de substâncias redutoras nas fezes (Clinitest ® ): um resultado > 2+ sugere m á absorção de carboidratos. Os carboidratos em excesso na luz intestinal são fermentados por bactérias intestinais e transformados em ácidos orgânicos que podem ser detectados pelo teste. ● Teste de exalação do hidrogênio: depois de uma noite de jejum, o açúcar para o qual se suspeita de deficit de absorção (ex.: lactose) é oferecido por via oral na dose 1–2 g/kg. Nas síndromes disabsortivas, não haverá digestão do açúcar e este não será absorvido no intestino delgado. Ao chegar ao cólon, as bactérias da flora o processarão e produzirão hidrogênio através das reações químicas. Este hidrogênio é absorvido pela mucosa e pode ser detectado no ar exalado dos pulmões. Valores superiores a 10 ppm acima do valor de jejum são anormais. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina superiores a 10 ppm acima do valor de jejum são anormais. ● Biópsia: a biópsia de delgado também permite a medida das dissacaridases (lactase, maltase e sacarase) da mucosa, sendo outro método importante na avaliação do deficit de absorção de carboidratos. É o método padrão-ouro, sendo, entretanto, muito invasivo. INVESTIGAÇÃO DA MÁ INVESTIGAÇÃO DA MÁ ABSORÇÃO DE GORDURASABSORÇÃO DE GORDURAS ● Avaliação quantitativa da gordura fecal: durante três dias coletam-se as fezes do paciente. Através do coeficiente de absorção de gordura (%) = [Gordura Ingerida (g) — Gordura Fecal (g)] / Gordura Ingerida x 100, obtemos o percentual de gordura perdida através das fezes. Geralmente, crianças normais conseguem absorver mais de 95% da gordura ingerida na dieta. Recém-nascidos prematuros e lactentes muito jovens têm essa capacidade reduzida a 75% e 90%, respectivamente. Por isso, o achado de gordura nas fezes destas crianças não deve ser interpretado como anormal. Valores de gordura fecal acima de 3 g/24h caracterizam a esteatorreia. ● Avaliação qualitativa fecal: uma outra maneira de detectar a presença de gorduras nas fezes é pelo exame microscópico em lâmina após adição do corante Sudan III (que marca gordura). INVESTIGAÇÃO DA MÁ INVESTIGAÇÃO DA MÁ ABSORÇÃO DE PROTEÍNASABSORÇÃO DE PROTEÍNAS ● Hipoalbuminemia sérica: a perda intestinal de proteínas manifesta-se com hipoalbuminemia. Entretanto, as principais causas de hipoalbuminemia na infância decorrem de doenças renais e, portanto, a medida de proteínas na urina é fundamental para afastar ou confirmar sua origem. ● Alfa-1-antitripsina fecal: esta proteína é resistente à hidrólise no trato gastrointestinal e sua detecção nas fezes é um teste útil para rastreio de enteropatias perdedoras de proteínas. INVESTIGAÇÃO DA FUNÇÃO INVESTIGAÇÃO DA FUNÇÃO PANCREÁTICA EXÓCRINAPANCREÁTICA EXÓCRINA medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Teste do suor: como a fibrose cística é a causa de insuficiência pancreática exócrina mais comum na infância, toda criança com síndrome disabsortiva deve ser avaliada para a doença. ● Elastase-1 fecal: esta enzima é uma endoprotease pâncreas-específica e não se altera mesmo com a reposição exógena de enzimas pancreáticas. É um teste da função exócrina muito sensível. Valores menores que 100 mcg/g são anormais. ● Tripsinogênio sérico: na fibrose cística encontramos um tripsinogênio sérico elevado nos primeiros anos de vida devido ao extravasamento da enzima para o sangue a partir dos ácinos obstruídos. Com o passar do tempo, por volta dos 5–7 anos de vida, seus níveis caem muito. ● Quimotripsina fecal: é uma enzima proteolítica pancreática cujos níveis fecais refletem a atividade do pâncreas exócrino. É necessária a coleta de fezes por 24 horas, e valores abaixo de 2 U/grama de fezes obrigam a investigação de fibrose cística. ● Aspirado duodenal: é o padrão-ouro de estudo da função exócrina pancreática. Uma sonda é introduzida através de métodos endoscópicos e posicionada no duodeno. Realizam-se então medidas de bicarbonato, tripsinogênio e lipase após a estimulação com secretina e colecistoquinina. INVESTIGAÇÃO DA MUCOSA INVESTIGAÇÃO DA MUCOSA INTESTINALINTESTINAL ● Biópsia de delgado: permite o diagnóstico de doenças como enteropatia sensível ao glúten (doença celíaca), infecção por giardia, linfangiectasia intestinal e abetalipoproteinemia. ETIOLOGIAETIOLOGIA Quanto à etiologia, as diarreias crônicas podem ser classificadas em dois grandes grupos: doenças que cursam com perda de peso e má absorção de gorduras (síndromes disabsortivas) e aquelas que mantêm o estado nutricional da criança inalterado ( ) .Fluxograma 3 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Outra forma de alocar as principais doenças que cursam com diarreia crônica é agrupá-las em ordem de frequência e de acordo com a faixa etária. Veja a . TAB. 22TAB. 22 ETIOLOGIA DA DIARREIA CRÔNICA POR FAIXA ETÁRIA.ETIOLOGIA DA DIARREIA CRÔNICA POR FAIXA ETÁRIA. DIARREIA FUNCIONALDIARREIA FUNCIONAL _ FLUXOGRAMA 3 ETIOLOGIA DA DIARREIA CRÔNICA. Tabela 22 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A diarreia funcional está inserida dentro do conjunto de distúrbios funcionais do trato gastrointestinal. Os distúrbios funcionais são aqueles em que não há qualquer anormalidade estrutural ou anatômica dos órgãos que sejam responsáveis pelos sinais/sintomas; geralmente, as crianças são saudáveis e bem nutridas. PATOGÊNESEPATOGÊNESE A diarreia funcional é uma das principais causas de diarreia crônica nos primeiros anos de vida. Cabe notar que não há alterações no transporte de água e de eletrólitos, não há esteatorreia e a absorção de glicose é normal. Mecanismos que levam ao quadro podem incluir fatores nutricionais, tais como o consumo excessivo de sucos de frutas, a ingestão excessiva de carboidratos com pouca quantidade de gordura, bem como a ingestão de sorbitol em grandes quantidades. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro tem início na fase de lactente ou pré-escolar e se caracteriza pela presença de quatro ou mais evacuações não associadas à dor com fezes não formadas. É importante notar que a criança não demonstra qualquer perturbação por isso e tem crescimento adequado. Esta condição já foi chamada de diarreia crônica inespecífica. O diagnóstico pode ser estabelecido pelos critérios de Roma IV, mostrados na . TAB. 23TAB. 23 DIARREIA FUNCIONAL.DIARREIA FUNCIONAL. Todos os critérios abaixo: 1. Quatro ou mais defecações diárias, indolores, com fezes volumosas e malformadas; 2. Sintomas duram mais de quatro semanas; 3. Início entre 6 e 60 meses; 4. Ausência de deficit de crescimento se a ingestão calórica for adequada. Tabela 23 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Ausência de deficit de crescimento se a ingestão calórica for adequada. TRATAMENTOTRATAMENTO A primeira medida é a tranquilização dos pais, garantindo a benignidade e transitoriedade do quadro. A orientação tradicional sempre foi o ajuste nos quatro “F” da alimentação: Fat — aumento da gordura na dieta, pois frequentemente os pais reduzem o aporte de lipídios diante do quadro. As gorduras têm por função lentificar o trânsito intestinal; Fiber — aumentar a ingestão de fibras (legumes, verduras e leguminosas), que absorvem água, ácidos graxos e sais biliares, evitando que ao chegarem ao cólon estimulem excessivamente a motilidade; Fluid — redução da ingesta de líquidos; Fruit — substituir os sucos pela fruta em pedaços, pois, assim, aumentamos a ingestão de fibras; além disso, sucos em excesso contêm sorbitol e altas concentrações de frutose e glicose que podem agir osmoticamente na luz intestinal e piorar a diarreia. O 5º “F” refere-se aos Fármacos, que são usados apenas em casos de exceção. Atualmente, a ênfase principal na orientação nutricional tem sido a limitação na oferta de sucos de frutas e de frutose. Aqui há o video de apostila 24.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. INTOLERÂNCIA À LACTOSEINTOLERÂNCIA À LACTOSEA intolerância à lactose é um quadro que se instala por deficiência da enzima lactase, presente nas células epiteliais maduras localizadas no topo das microvilosidades intestinais. A deficiência enzimática leva a uma diarreia osmótica pela presença de lactose não digerida na luz intestinal. Exames laboratoriais revelam pH reduzido nas fezes, presença de substâncias redutoras e teste do hidrogênio exalado positivo. A intolerância secundária à lactose, a forma mais frequente de má absorção de lactose, se estabelece em situações diversas nas quais há lesão de mucosa intestinal (como nos quadros de doença celíaca, alergia à proteína do leite de vaca e doença diarreica pelo rotavírus). Estes quadros devem ser diferenciados da deficiência congênita de lactase , uma doença muito rara causada por mutações no gen da lactase, levando à deficiência completa da enzima. Cabe também ressaltar, que a hipolactasia do adulto é outra condição comum, e caracteriza-se pelo declínio fisiológico da expressão da lactase na borda em escova. A expressão da enzima é máxima aos três anos de vida, mas cai gradualmente com o avançar da idade. A expressão clínica da doença depende dos grupos étnicos. Na avaliação complementar podem ser feitos os testes descritos inicialmente para investigação da má absorção de carboidratos. O tratamento inclui a restrição dietética de lactose e a medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina má absorção de carboidratos. O tratamento inclui a restrição dietética de lactose e a reposição da enzima lactase, disponível comercialmente. Aqui há o video de apostila 25.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. ALERGIA ALIMENTARALERGIA ALIMENTAR DEFINIÇÕESDEFINIÇÕES As reações adversas a algum alimento dividem-se em dois grupos: ● Reações tóxicas; ● Reações não tóxicas: intolerância e alergia. O termo intolerância alimentar se refere a qualquer manifestação clínica desencadeada pela ingestão de determinado alimento não relacionada a mecanismo imunológico; como ocorre nos casos já estudados de intolerância à lactose. A alergia alimentar é um mecanismo de hipersensibilidade mediada imunologicamente, desencadeado pela exposição a determinado antígeno proteico. EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA Os alimentos mais responsabilizados pelas alergias alimentares na infância são leite de vaca, ovo, trigo e soja. Estes quadros costumam ser transitórios. Já na população adulta, os alimentos mais identificados são amendoim, castanhas, peixe e frutos do mar. FISIOPATOLOGIAFISIOPATOLOGIA O trato gastrointestinal entra em contato com inúmeras substâncias estranhas (antígenos alimentares e micro-organismos) e, por isso, dispõe de mecanismos protetores imunes e não imunes para garantir o não adoecimento do indivíduo. Os principais mecanismos de barreira não imunes são: acidez gástrica, enzimas digestivas, motilidade intestinal, barreira epitelial, muco e flora bacteriana residente. Entre os fatores imunes destacamos a presença do GALT ( Gut Associated Lymphoid Tissue ) que inclui os linfócitos T da lâmina própria, placas de Peyer, citocinas e IgA secretória. A imaturidade destes mecanismos em recém-nascidos e lactentes torna medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina secretória. A imaturidade destes mecanismos em recém-nascidos e lactentes torna este grupo vulnerável ao desenvolvimento de doenças do trato gastrointestinal. A alergia alimentar se desenvolve quando há perda do mecanismo de tolerância aos antígenos alimentares e produtos bacterianos da flora, com o desencadeamento de reação imune e inflamatória: hipersensibilidade mediada por IgE — responsável pelas manifestações mais imediatas — ou hipersensibilidade mediada por células (linfócitos T e macrófagos) — responsáveis pelas manifestações tardias. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A expressão clínica das alergias alimentares é muito variável e envolve principalmente os tratos digestivo, respiratório e pele. As reações mediadas por IgE aparecem cerca de minutos ou horas após a ingestão de determinado alimento; as reações não mediadas por IgE podem ser mais tardias, levando cerca de 24 a 72 horas para aparecer, ainda que possam surgir poucas horas após o contato com o alimento. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES INTESTINAISINTESTINAIS ● Proctite alérgica: manifesta-se geralmente nas primeiras três a seis semanas de vida através de evacuações com muco e estrias de sangue. Ocorre mesmo em crianças em aleitamento materno exclusivo, com passagem de proteínas heterólogas pelo leite materno, vindo a sensibilizar o bebê. ● Síndrome da enterocolite induzida por proteína alimentar (“FPIES” — Food Protein Induced Enterocolitis Syndrome ): também é um quadro não IgE mediado, que está associado principalmente com o leite de vaca e a soja, mas pode estar associado com outros alimentos. O lactente desenvolve diarreia, cólicas intensas, vômitos e, não raramente, desidratação e acidose metabólica. Mesmo não sendo um evento mediado por IgE, as manifestações surgem pouco tempo após a exposição ao alimento. ● Enteropatia alérgica: apresenta-se clinicamente de modo semelhante à doença celíaca — com diarreia crônica, esteatorreia, perda de proteínas, deficit de peso e estatura, e deficit nutricionais. ● Esofagite eosinofílica: condição que se manifesta como disfagia para alimentos sólidos, náuseas e vômitos, principalmente em crianças maiores e adolescentes. Nas crianças menores há dificuldades alimentares e manifestações de refluxo. O medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina hemograma revela eosinofilia, e a biópsia de esôfago revela hiperplasia da camada basal e aumento de eosinófilos na mucosa (15 ou mais eosinófilos por campo de grande aumento), sendo a biópsia fundamental para o diagnóstico. ● Síndrome de alergia oral: é um exemplo de sintoma IgE mediado. Caracteriza-se pelo desenvolvimento de edema de lábios, língua com sensação de prurido associado e edema de pálpebras. MANIFESTAÇÕES CUTÂNEASMANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS É muito frequente a associação entre alergia alimentar e manifestações cutâneas. Os principais quadros são da dermatite atópica e urticária. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIASRESPIRATÓRIAS As manifestações são do tipo rinite, rinoconjuntivite, asma e broncoespasmo induzidos por alimento. Aqui há o video de apostila 26.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO A história clínica tem um papel fundamental na avaliação da criança com alergia alimentar. Lembre-se de que há diferentes mecanismos que levam ao quadro de alergia alimentar (IgE mediados ou não IgE mediados) e isso terá implicância nos exames indicados. A investigação dos quadros mediados por IgE inclui a pesquisa de IgE específica para o alimento suspeito, isso pode ser feito in vitro ou in vivo. A avaliação in vivo consiste nos testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (teste de punctura). São utilizados alérgenos padronizados ou in natura e observa-se a formação de pápulas no local da aplicação, quando o teste for positivo. Já a avaliação in vitro é possível pela dosagem de IgE sérica específica para diversos alérgenos. O teste de provocação oral continua sendo o método mais confiável para o diagnóstico de alergia alimentar, usado tanto na avaliação dos quadros IgE mediados quanto dos não IgE mediados. Nesta avaliação, o paciente é submetido à exclusão do medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina alimento suspeito da dieta por um período. Após isso, é feita a oferta progressiva do mesmo, em intervalos regulares, sob monitorização. Esta avaliação permite a confirmação ou exclusão do diagnóstico e também a avaliação da aquisição de tolerância a alimentos após um diagnóstico de alergia. Os testes podem ser classificados como aberto (paciente e médico cientes do que está sendo ofertado), simples-cego (apenas o médico sabe) ou duplo-cego e controlado por placebo (quando nenhuma das partes sabe o que está sendo ofertado). Dependendo do tipo de reação suspeita, o teste deve ser realizadolevar ao choque e morte em poucas horas. Os casos típicos caracterizam-se por início súbito, com diarreia aquosa profusa (grande perda de água, sódio, bicarbonato e potássio), com fezes líquidas amarelo-esverdeadas, com odor peculiar de peixe, sem muco ou sangue, “água de arroz” (riziformes). Não há dor abdominal ou febre!!! ● Existem portadores crônicos. E. coli E. coli EnterotoEnteroto xigênicaxigênica (ECET)(ECET) ● Mecanismo etiopatogênico: secretor através da produção de enterotoxinas — termolábil e termoestável, que aumentam o AMPc e GMPc, respectivamente. ● É a principal causa de diarreia bacteriana no Brasil. ● FLUXOGRAMA 2 DIARREIA BACTERIANA E MECANISMOS ENVOLVIDOS — PATOGENIA DAS INFECÇÕES BACTERIANAS. Tabela 4Tabela 4 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Acomete indivíduos de todas as idades. Causa a diarreia do viajante. ● Transmitida principalmente através da água e alimentos contaminados. ● Clínica: evacuação abundante, aquosa e explosiva, sem muco ou leucócitos, com náuseas e dor abdominal. Dura em média três a cinco dias. ● Não há febre. E. coli E. coli EnteropaEnteropa togênicatogênica (ECEP)(ECEP) ● Mecanismo etiopatogênico: osmose e secreção. Ocorre adesão e destruição das microvilosidades e inflamação da lâmina própria. ● Ocorre em áreas com más condições de higiene, sendo um patógeno importante em lactentes (apenas em ambiente apropriado e com supervisão médica; em testes considerados de baixo risco, a avaliação pode ser feita ambulatorialmente. TRATAMENTOTRATAMENTO Consiste na eliminação dos alimentos que contenham os antígenos responsáveis pela alergia da dieta da criança. Nos quadros de alergia à proteína do leite de vaca, as mães de bebês amamentados exclusivamente ao seio materno devem realizar uma dieta isenta de leite de vaca e seus derivados. É importante fazê-las compreender que nas alergias o desencadeamento do processo de doença não depende da quantidade do antígeno ingerido; bastam pequenas frações para instalação do quadro clínico. Nas crianças em aleitamento artificial, são recomendadas as seguintes fórmulas em substituição: ● Fórmulas à base de hidrolisado proteico: são fórmulas que contêm proteínas bastante fracionadas, formando oligopeptídeos e aminoácidos. É o tratamento de escolha na alergia à proteína do leite de vaca em todas as crianças menores de seis meses e nas crianças maiores de seis meses com os quadros não IgE mediados (nos quadros IgE mediados em maiores de seis meses pode ser considerado o uso de fórmulas à base de soja); ● Fórmulas à base de aminoácidos: são aquelas que contêm a menor unidade proteica — o aminoácido, praticamente isento de potencial alergênico. Destinado a casos muito graves, que não respondem a fórmulas hidrolisadas. DOENÇA CELÍACADOENÇA CELÍACA ENTEROPATIA SENSÍVEL ENTEROPATIA SENSÍVEL AO GLÚTENAO GLÚTEN DEFINIÇÃODEFINIÇÃO medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DEFINIÇÃODEFINIÇÃO Este quadro já foi extensamente estudado em seu módulo de gastroenterologia. É uma enteropatia mediada imunologicamente após a exposição ao glúten da dieta em pessoas geneticamente predispostas. Acomete 3 a 13:1.000 pessoas. A doença é mais frequente em criança com síndrome de Down (50 vezes mais comum), diabetes tipo 1, tireoidite, síndrome de Turner, síndrome de Williams e deficiência seletiva de IgA. PATOGÊNESEPATOGÊNESE A presença do glúten contido em alimentos como trigo, centeio e cevada desencadeia uma reação imunológica, envolvendo os linfócitos T presentes na lâmina própria. A resposta inflamatória desencadeia na mucosa alterações como atrofia de microvilosidades e hiperplasia de criptas, iniciadas no intestino delgado com extensão distal variável. Consequentemente, há redução da superfície de absorção e redução da capacidade digestiva, pois há menor concentração de enzimas digestivas presentes nas células imaturas das criptas. Além disso, as secreções pancreáticas também se encontram reduzidas como resultado dos baixos níveis de secretina e colecistoquinina. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico na doença celíaca é muito variável. O caso clássico é de pré-escolar com diarreia crônica (fezes pálidas, volumosas, com odor fétido, gordurosas), dificuldade de ganho ponderoestatural, com distensão abdominal, irritabilidade, perda muscular e hipotonia. Outros sintomas como vômitos, anorexia, prolapso retal, edema e baqueteamento digital também podem estar presentes. Tais manifestações têm início apenas após a introdução da alimentação complementar com alimentos contendo glúten. A forma não clássica pode apresentar-se de forma oligossintomática: baixa estatura, anemia ferropriva resistente ao tratamento, anemia macrocítica por deficiência de folato e vitamina B12, osteoporose, hipoplasia de esmalte dentário, artralgias e artrite e constipação refratária ao tratamento. Aqui há o video de apostila 27.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO Os três principais testes sorológicos para pesquisa de doença celíaca são os medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os três principais testes sorológicos para pesquisa de doença celíaca são os anticorpos antigliadina, antiendomísio e antitransglutaminase. A avaliação habitualmente indicada na abordagem inicial é a dosagem de antitransglutaminase IgA. Em crianças com clínica sugestiva de doença celíaca e com anticorpos negativos, deve-se descartar a possibilidade de deficiência de IgA. As diretrizes europeias mais atuais indicam que a avaliação da IgA sérica total seja sempre feita. O diagnóstico definitivo é tradicionalmente feito através da biópsia de intestino delgado com achados histopatológicos compatíveis com a doença: atrofia de microvilosidades, alongamento de criptas, aumento do número de linfócitos da lâmina própria e diminuição da altura das células epiteliais. Atualmente, há consensos que consideram aceitável o estabelecimento do diagnóstico mesmo sem a biópsia em crianças e adolescentes que apresentem títulos muito elevados de anticorpo antitransglutaminase tecidual (10 vezes acima do limite superior da normalidade) e um teste antiendomísio também positivo. TRATAMENTO E TRATAMENTO E PROGNÓSTICOPROGNÓSTICO A base do tratamento consiste na retirada do glúten da dieta através da exclusão de alimentos que contenham trigo, cevada e centeio. A aveia em si não é tóxica, mas devido a sua contaminação pelo trigo, também pode ser retirada da dieta, em especial no início do tratamento. Derivados do malte também não devem ser consumidos. Os alimentos permitidos são grãos (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão-de- bico), arroz, óleo, azeite, vegetais, tubérculos, frutas, hortaliças, ovos, leite e derivados, e carnes. Logo após o início da dieta, já é possível verificar rápida remissão dos sintomas, melhora da irritabilidade, da mineralização óssea e reversão do deficit de peso e estatura. A doença celíaca está associada ao linfoma intestinal e outras formas de câncer, como adenocarcinoma de intestino delgado, faringe e esôfago. Diversos estudos mostram que a dieta isenta de glúten, quando iniciada precocemente nestes pacientes, previne o desenvolvimento de malignidades. OUTRAS CONDIÇÕESOUTRAS CONDIÇÕES FIBROSE CÍSTICAFIBROSE CÍSTICA A doença é uma das causas de diarreia crônica na infância e iremos estudá-la em medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A doença é uma das causas de diarreia crônica na infância e iremos estudá-la em mais alguns parágrafos, em conjunto com outros distúrbios respiratórios da infância. SÍNDROME DE SÍNDROME DE SHWACHMAN-DIAMONDSHWACHMAN-DIAMOND Síndrome autossômica recessiva caracterizada por insuficiência pancreática exócrina, baixa estatura, neutropenia cíclica e alterações esqueléticas. Acomete 1:20.000 nascidos vivos. Estes pacientes podem ser diferenciados daqueles com fibrose cística por um teste do suor normal e alterações esqueléticas típicas. Trombocitopenia e anemia também são achados comuns. Muitos podem evoluir para uma síndrome mielodisplásica. SÍNDROME DE PEARSONSÍNDROME DE PEARSON É uma doença mitocondrial cuja mutação afeta a fosforilação oxidativa. Manifesta-se com anemia macrocítica, sideroblastos em anel, trombocitopenia e insuficiência pancreática. LINFANGIECTASIA LINFANGIECTASIA INTESTINALINTESTINAL A linfangiectasia intestinal é uma doença caracterizada pela obstrução dos vasos linfáticos intestinais, de natureza congênita (primária) ou secundária a alguma outra condição (como pericardite constritiva, insuficiência cardíaca congestiva, tuberculose abdominal, linfoma). Sua forma congênita está frequentemente associada a algumas síndromes genéticas (Turner, Noonan e Klippel-Trenaunay). A linfa (rica em proteínas, gorduras e linfócitos) drena para a luz do intestino delgado, resultando em uma perda entérica destes produtos. As consequências para o organismo são: hipoalbuminemia, edema, ascite, deficiência de vitaminas lipossolúveis, hipogamaglobulinemia e linfocitopenia. ABETALIPOPROTEINEMIAABETALIPOPROTEINEMIA É uma doença autossômica recessiva causada por uma mutação no gene que codifica uma das lipoproteínas do quilomícron. Na abetalipoproteinemia não há quilomícrons, nem VLDL, nem LDL nem ApoB em decorrência do defeito genético que impede a formação destas estruturas a nível linfático. Assim, vamos ter um medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicinaque impede a formação destas estruturas a nível linfático. Assim, vamos ter um quadro clínico caracterizado por fezes esteatorreicas desde o nascimento, dificuldade de desenvolvimento e ganho ponderal, e deficit de proteínas lipossolúveis, especialmente A, E e K. A carência das vitaminas leva aos quadros típicos das hipovitaminoses. SÍNDROME DO INTESTINO SÍNDROME DO INTESTINO CURTOCURTO A síndrome do intestino curto é resultante da perda de uma porção significativa do comprimento do intestino delgado com ou sem perda adicional de intestino grosso, resultando em um quadro de má absorção generalizada ou de alguns nutrientes isoladamente, dependendo da região acometida. Ao nascimento, o intestino delgado tem entre 200–250 cm, comprimento que aumenta para 300–800 cm na fase adulta. As ressecções durante a infância apresentam melhor prognóstico que aquelas realizadas na vida adulta, uma vez que ainda há potencial para crescimento intestinal. Além da extensão (comprimento) retirada, é também importante observar a região intestinal ressecada, pois cada segmento é responsável pela absorção específica de determinados nutrientes, e isso influencia a expressão clínica da síndrome de má absorção. Por exemplo, a retirada do íleo distal implica má absorção da vitamina B12 e sais biliares. Veja na a indicação do que será afetado em função do segmento ressecado. Figura 30 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina De um modo geral, as ressecções de jejuno são mais bem toleradas que as do íleo, pois este se adapta ao longo do tempo a absorver água e nutrientes, tal como fazia o segmento proximal. A retirada de íleo provoca profundas modificações na reabsorção de água e eletrólitos. Há diversas condições que podem levar ao quadro, como exemplificado na . TAB. 24TAB. 24 CAUSAS DA SÍNDROME DO INTESTINO CURTO.CAUSAS DA SÍNDROME DO INTESTINO CURTO. CONGÊNITACONGÊNITA ● Síndrome do intestino curto congênita. ● Atresias intestinais múltiplas. ● Gastrosquise. RESSECÇÃO INTESTINAL CIRÚRGICARESSECÇÃO INTESTINAL CIRÚRGICA ● Enterocolite necrosante. ● Vólvulo com ou sem má rotação. ● Doença de Hirschsprung. ● Peritonite meconial. ● Doença de Crohn. ● Trauma. O tratamento inicial é feito com nutrição parenteral total por várias semanas, seguida de início de dieta enteral trófica (hidrolisado proteico + triglicerídeos de cadeia média), com progressão gradual para dietas de maior complexidade. CONSTIPAÇÃO INTESTINALCONSTIPAÇÃO INTESTINAL FIG. 30 Tabela 24 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina CONSTIPAÇÃO INTESTINALCONSTIPAÇÃO INTESTINAL ASPECTOS INICIAISASPECTOS INICIAIS DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A definição de constipação é relativa e envolve aspectos como consistência, frequência e dificuldade de evacuação. A constipação funcional é um processo que tende a autoperpetuação quando não interrompido: a evacuação dolorosa inibe a criança de esvaziar o reto, levando à maior retenção, gerando um ciclo vicioso que tende a agravar progressivamente a situação. É sabido que a distensão do reto em longo prazo provoca uma redução da sensibilidade do reflexo de defecação e da efetividade da peristalse. EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA A constipação é o distúrbio da defecação mais comumente encontrado. Há estudos epidemiológicos que chegam a indicar uma prevalência de cerca de 30% na população pediátrica. Na maioria das vezes (90–95%), deriva de origem funcional e apenas uma minoria é secundária à doença orgânica. ETIOLOGIAETIOLOGIA Os quadros de constipação incluem condições orgânicas e os quadros de constipação funcional, como mostrado no .Fluxograma 4 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina CONSTIPAÇÃO FUNCIONALCONSTIPAÇÃO FUNCIONAL DEFINIÇÃODEFINIÇÃO É a causa mais comum de constipação crônica na infância. Pode e deve ser diferenciada da constipação “orgânica” através da história e do exame físico. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A constipação funcional costuma ter início apenas após o período neonatal, diferentemente daquilo que ocorre em malformações anatômicas ou na doença de Hirschsprung. Caracteristicamente, o quadro se instaura após um evento em que há passagem dolorosa do bolo fecal pelo reto, desencadeando o ciclo vicioso: dor → retenção fecal → constipação → dor. A dor durante a evacuação pode ser sugerida pela presença de comportamentos típicos e pela postura que a criança adota: contração da musculatura glútea, extensão rígida das pernas enquanto está deitada; algumas crianças se agacham ou se escondem para evacuar. Quando a criança consegue evacuar, elimina fezes volumosas e de grande calibre. FLUXOGRAMA 4 ETIOLOGIA DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Em alguns casos, há incontinência fecal por retenção (escape fecal ou soiling ), que pode ser a queixa inicial e pode ser confundida com episódios de diarreia. Isso ocorre pelo escoamento de fezes líquidas ao redor do bolo fecal endurecido e impactado na constipação. Ao exame físico, constatamos grande bolo fecal palpável na região suprapúbica e, ao toque retal, é possível verificar uma ampola dilatada e preenchida com fezes. A presença de anormalidades cutâneas (como massas, tufos capilares) na coluna dorsal associada ao desaparecimento dos reflexos cutâneo-superficiais cremastérico e retal deve levantar a suspeita de lesão medular. A ausência de reflexos profundos em membros inferiores associados à espasticidade pode sugerir síndrome da medula ancorada. Na presença de história e exame físico típicos, exames complementares são desnecessários. Veja na quais são os critérios de Roma IV para o diagnóstico de constipação funcional em crianças. TAB. 25TAB. 25 CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL.CONSTIPAÇÃO FUNCIONAL. IDADEIDADE CRITÉRIOS CRITÉRIOS Crianças 4 anos e adolescentes ≥ 2 critérios seguintes, ≥ 1×/semana, por no mínimo um mês (com critérios insuficientes para síndrome do intestino irritável): 1. ≤ 2 evacuações/semana; 2. ≥ 1 episódio de incontinência fecal/semana; 3. Postura retentiva ou retenção voluntária excessiva de fezes; 4. História de evacuação dolorosa ou endurecida; 5. Grande massa fecal no reto; 6. Fezes de grande diâmetro que podem obstruir o vaso sanitário. Após a avaliação adequada, os sintomas não podem ser plenamente explicados por outra condição médica. Aqui há o video de apostila 28.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. TRATAMENTOTRATAMENTO ● Orientação da família a respeito da benignidade do quadro, mas também da necessidade de adoção de medidas comportamentais e medicamentosas para tratamento da condição. ● O tratamento farmacológico envolve medidas de desimpactação do bolo fecal (quando há fecaloma ou impactação) e de amolecimento das fezes, tornando as evacuações menos dolorosas. » Desimpactação fecal: pode ser feita por via oral (com polietilenoglicol) ou com enemas por via retal. Costumam ser necessários de três a cinco dias. » Tratamento de manutenção: deve ser iniciado apenas após a desimpactação, quando medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina esta for indicada. Os laxativos usados diariamente podem ser o polietilenoglicol (atualmente considerado a primeira escolha), o leite de magnésia e a lactulona. O óleo mineral ainda é citado em algumas fontes. Cabe lembrar que este não pode ser usado em menores de dois anos e em crianças com distúrbios da deglutição, pelo risco de broncoaspiração e desenvolvimento de pneumonialipoídica. ● Outras medidas: » Indicação de dieta rica em fibras, incluindo o uso de suplementos de fibras: isso é algo encontrado na literatura, mas bastante questionável; » Estímulo para a prática de atividades físicas; » Medidas de treinamento de toilette : atender prontamente o desejo de evacuar (nas crianças com controle esfincteriano). Estimular a tentativa de evacuação após as refeições principais. Se a criança estiver iniciando o treinamento esfincteriano, este deve ser postergado para após o tratamento da constipação; » Outras intervenções: as evidências acerca do uso de probióticos para o manejo da constipação ainda são limitadas. AGANGLIONOSE AGANGLIONOSE INTESTINAL CONGÊNITAINTESTINAL CONGÊNITA DOENÇA DE HIRSCHSPRUNGDOENÇA DE HIRSCHSPRUNG DEFINIÇÃODEFINIÇÃO É uma doença caracterizada pela ausência de células ganglionares nos plexos nervosos de Meissner e Auerbach na parede intestinal. Resulta de uma falha de migração neuroblástica do segmento intestinal proximal para o distal. A inervação anormal do intestino começa no esfíncter anal interno e se estende proximalmente por um comprimento intestinal variável. Em 75% dos casos o segmento agangliônico é restrito ao retossigmoide e, em apenas 10%, todo cólon está depletado dos plexos nervos submucoso e mioentérico. EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA A doença de Hirschsprung afeta 1:5.000 nascidos vivos, com uma predileção pelo medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A doença de Hirschsprung afeta 1:5.000 nascidos vivos, com uma predileção pelo sexo masculino. Pode também haver associação com algumas síndromes (como a síndrome de Down) e outras malformações (cardiopatias, malformações geniturinárias). MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas podem iniciar-se ainda no período neonatal em recém-nascidos a termo, pelo atraso na eliminação de mecônio, que normalmente acontece até 48 horas de vida. Se não há passagem do conteúdo intestinal, ocorre dilatação das alças proximais, a pressão intraluminal aumenta resultando em isquemia e deterioração da barreira mucosa. Assim, criam-se condições favoráveis para proliferação bacteriana, configurando o quadro de enterocolite. No período neonatal, a doença de Hirschsprung deve ser diferenciada do íleo meconial, síndrome da impactação meconial e atresia intestinal. Em algumas crianças é possível que ocorra a passagem do mecônio através do cólon agangliônico, mas desenvolverão ao longo do tempo um quadro de constipação crônica, com deficit de crescimento, desenvolvimento e dificuldade de ganho ponderal. Ao exame físico, estas crianças também apresentarão massa fecal palpável no quadrante inferior esquerdo e região suprapúbica, mas de modo diferente do que é verificado na constipação funcional, o toque retal revela uma “ampola vazia”. Além disso, as fezes destas crianças são de pequeno volume, em fita ou caproicas. Não é comum a ocorrência de incontinência fecal. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO A avaliação diagnóstica pode incluir a realização de alguns exames funcionais e de imagem, mas o diagnóstico definitivo é estabelecido pela avaliação histopatológica de espécime obtido por biópsia. As radiografias abdominais contrastadas mostram o segmento intestinal agangliônico constrito e o segmento proximal saudável superdistendido. Esta zona de transição é bem demarcada na doença (cone de transição), como evidenciado na .Figura 31 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A manometria anorretal tem sua indicação cada vez mais limitada, mas pode ser utilizada para medir a pressão do esfíncter anal interno enquanto um balão é insuflado no reto. Em pessoas normais, este procedimento de distensão retal resulta em um reflexo que leva à diminuição progressiva da pressão do esfíncter anal interno. Nos pacientes com a aganglionose, esta pressão não cai ou, paradoxalmente ao que se esperaria, se eleva ainda mais com a distensão do reto. O diagnóstico é, de fato, estabelecido pela biópsia retal, que deverá ser realizada 2 cm acima da linha pectínea para garantir uma boa amostra de submucosa. Os achados clássicos são: ausência de células ganglionares entre as camadas circular e longitudinal da muscular, com a presença de aumento na espessura dos feixes nervosos. Além disso, o método da acetilcolinesterase mostra reação fortemente positiva nos troncos nervosos dos segmentos agangliônicos (há uma concentração elevada de acetilcolina no segmento agangliônico e um correspondente aumento da atividade de acetilcolinesterase). Aqui há o video de apostila 29.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. TRATAMENTOTRATAMENTO O tratamento de escolha é a cirurgia, que consiste basicamente na retirada do segmento agangliônico. Inicialmente, pode ser feita uma colostomia temporária e, seis a doze meses depois, o trânsito pode ser definitivamente reconstruído através da anastomose do coto proximal com o reto. VÔMITOS E VÔMITOS E REGURGITAÇÕESREGURGITAÇÕES FIG. 31 DOENÇA DE HIRSCHSPRUNG. Distensão abdominal intensa e radiografias contrastadas mostrando segmento constrito (agangliônico) e segmento dilatado proximal (normal). medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina VÔMITOS E VÔMITOS E REGURGITAÇÕESREGURGITAÇÕES ASPECTOS INICIAISASPECTOS INICIAIS Regurgitações são movimentos de eliminação do conteúdo gástrico para esôfago e boca sem associação com esforço. É um sintoma não associado ao estresse e muito frequente nos lactentes, que comumente apresentam um quadro de refluxo gastroesofágico fisiológico. Este quadro frequentemente se resolve com o tempo e desenvolvimento/amadurecimento do trato gastrointestinal. Vômitos são também movimentos de expulsão do conteúdo gástrico através da boca, mas resultantes de um reflexo altamente coordenado, que se inicia com hipersalivação, ânsia de vômito involuntária, violento abaixamento do diafragma e contração dos músculos abdominais com relaxamento da cárdia. Todo este processo é coordenado pelo centro do vômito, localizado na área postrema do tronco cerebral. Perceba: vômitos implicam esforço e algum grau de estresse. ETIOLOGIAETIOLOGIA As principais causas que podem levar ao desenvolvimento de vômitos variam em função da faixa etária, como mostrado na . TAB. 26TAB. 26 PRINCIPAIS CAUSAS DE VÔMITOS, CONFORME FAIXA ETÁRIA.PRINCIPAIS CAUSAS DE VÔMITOS, CONFORME FAIXA ETÁRIA. REFLUXO REFLUXO GASTROESOFÁGICO FISIOLÓGICOGASTROESOFÁGICO FISIOLÓGICO REGURGITAÇÕES INFANTISREGURGITAÇÕES INFANTIS Tabela 26 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina REGURGITAÇÕES INFANTISREGURGITAÇÕES INFANTIS DEFINIÇÃODEFINIÇÃO O Refluxo Gastroesofágico (RGE) é o retorno passivo de conteúdo gástrico para dentro do esôfago. Pode ter um caráter fisiológico e ocorrer em crianças e adultos, não estando associado a qualquer doença e não provocando qualquer consequência clínica. Nos adultos o RGE ocorre, eventualmente, após as refeições, sendo assintomático na maioria das vezes. Nos recém-nascidos e lactentes, o RGE é mais frequente e mais sintomático, manifestando-se através de regurgitações. FISIOPATOLOGIAFISIOPATOLOGIA Nos primeiros meses de vida, a competência do Esfíncter Esofágico Inferior (EEI) é deficitária, permitindo o refluxo do conteúdo gástrico. Nesta fase da vida, a pressão do EEI é baixa, alcançando os valores de adulto apenas com seis a sete semanas de vida. Essa pressão reduzida se deve a fatores como: menor massa muscular funcionante do esôfago e estruturas circunvizinhas e comprimento reduzido do esôfago abdominal. Além disso, os mecanismos de clareamento esofágico também são deficientes, pois: 1) o efeito protetor gravitacional é perdido com a predominante postura de decúbito horizontal; 2) o peristaltismo é imaturo; e 3) a produção de saliva é baixa. Com base no exposto, percebemos porque o refluxo gastroesofágico é um evento tão frequente nos recém-nascidos e lactentes. Vamos rever estes mecanismos com mais detalhes ao estudarmos a doença do refluxo gastroesofágico em alguns parágrafos. CLÍNICA E PROGNÓSTICOCLÍNICAE PROGNÓSTICO O quadro clínico é de um lactente saudável, com estado nutricional preservado, que inicia um quadro de refluxo mais evidente entre dois e quatro meses de vida, com tendência a melhora a partir do 2º semestre de vida e resolução entre um e dois anos. O refluxo ou regurgitação fisiológicos podem ocorrer de uma a diversas vezes ao dia, geralmente com volumes pequenos (15–30 ml). A frequência das regurgitações é variável, mas não há outros sintomas ou sinais importantes associados, mantendo ganho ponderal satisfatório. Esta história evolutiva obedece ao progressivo amadurecimento dos mecanismos antirrefluxo com o passar da idade, adoção da postura ereta facilitando a ação da gravidade e modificação da consistência alimentar, que deixa de ser líquida medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina gravidade e modificação da consistência alimentar, que deixa de ser líquida predominantemente e torna-se pastosa a sólida. Cerca de 80% dos lactentes têm os episódios de regurgitação resolvidos aos seis meses e 90% aos doze meses. Vejam os critérios diagnósticos para os quadros de regurgitação infantil, como proposto na classificação de Roma IV ( ) . TAB. 27TAB. 27 REGURGITAÇÕES INFANTIS.REGURGITAÇÕES INFANTIS. Presença de ambos os critérios abaixo, para crianças de 3 semanas a 12 meses de vida: 1. Regurgitações ≥ 2x/dia durante 3 ou mais semanas; 2. Ausência de náuseas, hematêmese, aspiração, apneia, deficit de crescimento, dificuldades de alimentação e/ou deglutição ou postura anormal. TRATAMENTOTRATAMENTO TRANQUILIZAÇÃO DOS TRANQUILIZAÇÃO DOS PAISPAIS Garantir aos pais a transitoriedade do quadro e a sua ausência de complicações em longo prazo. A exposição passiva ao fumo deve ser coibida, posto que aumenta os episódios de RGE. POSTURALPOSTURAL A criança deve ser mantida em posição vertical por 20–30 minutos após as mamadas. A posição para o sono deve ser a posição supina; a posição prona é desencorajada pelo risco de morte súbita do lactente. Na posição supina, a cabeceira pode ser elevada em ângulo de 30–40 graus. MEDIDAS DIETÉTICASMEDIDAS DIETÉTICAS As crianças em aleitamento materno exclusivo devem ser mantidas neste regime, com eventuais correções na técnica. Nas crianças em aleitamento artificial, podem ser adotadas medidas de espessamento das fórmulas. Este espessamento reduz a Tabela 27Tabela 27 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina adotadas medidas de espessamento das fórmulas. Este espessamento reduz a frequência e o volume das regurgitações visíveis, mas não tem impacto importante na ocorrência dos refluxos ácidos. Aqui há o video de apostila 30.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DOENÇA DO REFLUXO DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICOGASTROESOFÁGICO DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é caracterizada pelo refluxo de conteúdo gástrico para dentro do esôfago, causando manifestações clínicas de gravidades variáveis, com ou sem complicações, tais como a esofagite. FISIOPATOLOGIAFISIOPATOLOGIA A DRGE é o resultado do desequilíbrio entre fatores que protegem a mucosa (barreira antirrefluxo, clareamento esofágico, resistência mucosa) e fatores que lesam a mucosa (características físico-químicas do material refluído, volume e duração do contato com a mucosa). Dos fatores que lesam a mucosa, destacamos o potencial destrutivo do ácido clorídrico, pepsina e ácidos biliares que atuam promovendo a desnaturação proteica celular. Vamos estudar cada um deles separadamente. BARREIRAS ANTIRREFLUXOBARREIRAS ANTIRREFLUXO ● Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI): é composto por musculatura lisa circular que permanece fechado em condições de repouso e se abre somente durante a deglutição e durante os relaxamentos transitórios. Seu estado, portanto, é exercer uma barreira contra o refluxo através de sua contração tônica. O aumento na frequência dos episódios de relaxamento transitório do EEI é o principal fator na etiopatogênese da DRGE. ● Fatores periesfincterianos: estruturas circunvizinhas ao EEI também auxiliam o seu fechamento: 1) pinçamento diafragmático, que enlaça o esôfago quando se contrai, diminuindo sua luz; 2) incisura cardíaca (ângulo de Hiss), que corresponde a uma projeção mucosa ao nível da transição esôfago gástrica; 3 ) roseta mucosa, que consiste em pregas elásticas que ao se contraírem levam ao fechamento da cárdia; 4) medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina consiste em pregas elásticas que ao se contraírem levam ao fechamento da cárdia; 4) ligamento frenoesofágico, que ancora a transição esofagogástrica ao diafragma. CLAREAMENTO ESOFÁGICOCLAREAMENTO ESOFÁGICO Consiste na capacidade do esôfago de permanecer sempre vazio, evitando assim o contato das substâncias oriundas do estômago com a mucosa. Este processo é possível graças à presença de ondas peristálticas, que propagam adiante qualquer conteúdo refluído, e da saliva, que tem o poder de induzir novas ondas peristálticas e de neutralizar parte da acidez gástrica. RESISTÊNCIA DA MUCOSARESISTÊNCIA DA MUCOSA A membrana celular, as fortes junções celulares do epitélio esofagiano e o muco intercelular constituem os principais elementos que garantem proteção da mucosa contra os íons de hidrogênio. Além disso, existem vários sistemas tampão intra e extracelulares que visam neutralizar a acidez. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As crianças manifestam episódios de regurgitações diários, contínuos ou intervalados, com períodos de acalmia. Algumas crianças ficam extremamente irritadas. Quando estes episódios são intensos, há perda de peso e deficit de crescimento. Se o material refluído ganha a árvore traqueobrônquica, pode haver desenvolvimento de faringite, laringite, traqueíte, bronquite, pneumonias de repetição até crises de apneia. Os sintomas respiratórios são mais frequentes durante o sono. Crianças maiores podem queixar-se de sintomas como azia, queimação retroesternal, disfagia consequentes à esofagite. O sangramento de pequena monta por longos períodos leva à depleção de ferro e ao desenvolvimento de anemia. A síndrome de Sandifer é caracterizada pela postura anormal da cabeça e pescoço, que permanecem em hiperextensão na tentativa de evitar o refluxo. É uma manifestação mais rara da doença. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina AVALIAÇÃO COMPLEMENTARAVALIAÇÃO COMPLEMENTAR Nas crianças maiores e com um quadro clínico mais característico, o diagnóstico de DRGE pode ser estabelecido apenas com base na anamnese e no exame físico. Os exames complementares são úteis em casos selecionados, especialmente para exclusão de outros diagnósticos. É importante observarmos que nenhum dos exames atualmente disponíveis é capaz de permitir toda esta avaliação. Os seguintes exames são discutidos na avaliação destes pacientes: RADIOGRAFIA RADIOGRAFIA CONTRASTADA DE ESÔFAGO, ESTÔMAGO ECONTRASTADA DE ESÔFAGO, ESTÔMAGO E DUODENODUODENO É um exame de baixo custo e sua execução é simples. Permite a avaliação do trato digestivo alto e a identificação de alterações estruturais anatômicas que podem ser confundidas com a DRGE, mas não é indicada para a documentação desta condição. Pode ser indicada quando há disfagia, vômitos biliosos ou suspeita de volvo, obstrução, estenose, membrana. ULTRASSONOGRAFIA ULTRASSONOGRAFIA ESOFAGOGÁSTRICAESOFAGOGÁSTRICA Não deve ser recomendada para avaliação de DRGE, nem no lactente nem nas crianças maiores. O exame não distingue o refluxo fisiológico dos quadros de DRGE. CINTILOGRAFIA CINTILOGRAFIA GASTROESOFÁGICAGASTROESOFÁGICA Permite a identificação do RGE mesmo após dieta com pH neutro, avalia o esvaziamento gástrico e detecta a aspiração pulmonar (em pacientes com sintomas respiratórios crônicos e refratários). Não é rotineiramente indicada. PHMETRIA ESOFÁGICAPHMETRIA ESOFÁGICA Permite a quantificação do RGE e correlaciona os episódios com os sinais e sintomas, mas não detecta os episódios de refluxo não ácidos ou fracamente ácidos. As principais indicações para esteexame são: avaliação de sintomas atípicos ou não digestivos; pesquisa de RGE oculto; avaliação da resposta terapêutica em pacientes com esôfago de Barrett ou com DRGE de difícil controle; avaliação pré e pós- medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina com esôfago de Barrett ou com DRGE de difícil controle; avaliação pré e pós- operatória do paciente com DRGE. A impedanciometria intraluminal esofágica acoplada a um sensor de pHmetria, por sua vez, é um método mais recente e que detecta os episódios de refluxos ácidos, fracamente ácidos e não ácidos. Além disso, detecta o movimento tanto de sólidos quanto de líquidos e gases. ENDOSCOPIA DIGESTIVA ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA COM BIÓPSIAALTA COM BIÓPSIA Permite a avaliação macroscópica da mucosa e a obtenção de material para análise histopatológica. É indicada para avaliação da presença de esofagite e permite a distinção entre os quadros de DRGE de condições que podem ter manifestações semelhantes, como a esofagite eosinofílica. TRATAMENTOTRATAMENTO Também fazem parte do arsenal terapêutico as medidas de orientação aos pais, postura da criança e manejo dietético. As atuais diretrizes norte-americanas e europeias orientam que, nas crianças menores de um ano, após orientações para se evitar a hiperalimentação e o espessamento de fórmulas, sejam usadas fórmulas à base de hidrolisados proteicos ou seja feita a retirada de leite e derivados da dieta materna, no caso das crianças em aleitamento exclusivo. Entretanto, nos casos de DRGE, muitas vezes faz-se necessário o uso de medicações, que são divididas em dois grupos principais: procinéticos e redutores da acidez gástrica. PROCINÉTICOSPROCINÉTICOS Atuam aumentando a pressão no EEI e acelerando o tempo de esvaziamento gástrico. Apesar de serem comumente usadas, não há documentação de que estas medicações sejam eficazes na redução dos relaxamentos transitórios do EEI e, como tínhamos citado anteriormente, estes são os principais eventos fisiopatológicos relacionados com a DRGE. Se não bastasse isso, tais medicações possuem efeitos colaterais que são mais importantes que seus eventuais benefícios. Isso é válido tanto para a metoclopramida quanto para a bromoprida e a domperidona. REDUTORES DA ACIDEZ REDUTORES DA ACIDEZ GÁSTRICAGÁSTRICA medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Os antagonistas do receptor H2 da histamina diminuem a acidez gástricas e já foram bastante utilizados. Desde 2019, o uso da ranitidina foi suspenso pelo FDA ( Food and Drug Administration nos Estados Unidos da América, EUA) e logo após, foi suspensa em nosso país, por isso não contamos mais com essa droga na DRGE. ● Inibidores da bomba de prótons (pantoprazol, esomeprazol, lansoprazol, rabeprazol e dexlansoprazol): drogas muito eficazes no tratamento da esofagite. São indicados quando houver esofagite erosiva, estenose péptica do esôfago ou esôfago de Barrett, condições incomuns em lactentes. São considerados a primeira linha para o tratamento das crianças. A cirurgia de fundoplicatura está reservada aos casos que não respondem ao tratamento medicamentoso e que apresentam graves complicações esofagianas (estenose), respiratórias e nutricionais (desnutrição grave). A seguir, um fluxograma publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria que organiza o tratamento dos lactentes com suspeita de DRGE ( ).Fluxograma 5 _ _ FLUXOGRAMA 5 ALGORITMO DE TRATAMENTO DOS LACTENTES COM SUSPEITA DE DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO. APLV: Alergia à Proteína do Leite de Vaca; PLV: Proteína do Leite de Vaca; FeH: Fórmula extensamente Hidrolisada; FAA: Fórmula de Amino-Ácidos; TPO: Teste de Provocação Oral. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ESTENOSE HIPERTRÓFICA ESTENOSE HIPERTRÓFICA DO PILORODO PILORO EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA Acomete cerca de 1–3/1.000 nascidos vivos, mais comum entre crianças brancas e meninos (relação 4:1). A prole de mulheres e, em um grau menor, de homens que tiveram a doença têm risco aumentado de desenvolvê-la. Quando uma mulher teve este quadro, 20% de seus filhos e 10% de suas filhas terão o mesmo diagnóstico. Além disso, a incidência da doença é maior em bebês com sangue tipo B e O. Existe também associação com outras síndromes e malformações: fístula traqueoesofágica, hipoplasia/agenesia de frênulo labial inferior, síndrome de Apert, síndrome de Zellweger, trissomia do 18 e síndrome de Cornelia de Lange. ETIOLOGIAETIOLOGIA Os mecanismos que produzem a hipertrofia desproporcional do piloro não são completamente conhecidos. Suspeita-se que uma inervação anormal, alterações nos níveis de prostaglandinas, hipergastrinemia e redução nos níveis de óxido nítrico possam ser fatores implicados na patogênese da doença. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A doença tipicamente manifesta-se após as três primeiras semanas de vida (mas podem aparecer desde a 1ª semana, como somente após o 5º mês), com vômitos pós-alimentares que pioram progressivamente. São vômitos de características não biliosas, uma vez que a obstrução é proximal à ampola de Vater — ponto de escoamento da secreção biliar. Logo após o vômito, o lactente está faminto. Com a intensificação dos vômitos surgem as consequências metabólicas: alcalose metabólica hipoclorêmica (por perda de ácido clorídrico), desidratação, perda de peso (ou ganho inadequado de peso) com desnutrição e com potássio sérico geralmente mantido, apesar da quantidade corporal total estar reduzida. Ao exame físico, pode- se palpar uma massa móvel, firme, de aproximadamente 2 cm de comprimento, em forma de oliva, localizada à direita da região epigástrica ao lado da borda hepática. Após a alimentação, é possível visualizar as ondas peristálticas do estômago através do abdome, representando a tentativa do órgão em vencer aquela obstrução mecânica. Após os vômitos, quando a parede abdominal está mais relaxada, é possível uma palpação tecnicamente mais fácil. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DIAGNÓSTICO DIAGNÓSTICO COMPLEMENTARCOMPLEMENTAR ULTRASSONOGRAFIA DE ULTRASSONOGRAFIA DE ABDOMEABDOME Os critérios diagnósticos são espessamento muscular pilórico maior que 3–4 mm, diâmetro acima de 10–14 mm e comprimento acima de 15–19 mm. RADIOGRAFIA RADIOGRAFIA CONTRASTADACONTRASTADA Podemos encontrar os seguintes sinais: alongamento do canal pilórico; saliência da musculatura dentro do antro (sinal do ombro); estrias paralelas de bário dentro da luz estreitada (sinal do duplo trato). TRATAMENTOTRATAMENTO O tratamento inicial consiste na correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos. A terapia definitiva consiste na pilorotomia a Ramstedt, caracterizada pela secção parcial das fibras musculares do piloro. SÍNDROME DOS VÔMITOS SÍNDROME DOS VÔMITOS CÍCLICOSCÍCLICOS DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A Síndrome dos Vômitos Cíclicos (SVC) caracteriza-se por episódios recorrentes de vômitos, que duram horas ou dias, intercalados por períodos assintomáticos. Esta condição também integra o grupo das desordens funcionais da infância, que podem ter seu diagnóstico estabelecido pelos critérios de Roma. ETIOLOGIAETIOLOGIA Existem algumas teorias etiopatogênicas para explicar a SVC, dentre elas: 1) distúrbio associado à enxaqueca, hipótese defendida pela elevada prevalência (80%) de migrânea nos parentes de primeiro grau das crianças com SVC e pela evolução para enxaqueca na fase adulta; 2 ) desordens mitocondriais; 3 ) desordens do sistema nervoso autônomo, haja visto a exuberância de sintomas simpaticomiméticos medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina nervoso autônomo, haja visto a exuberância de sintomas simpaticomiméticos associados aos vômitos (ex.: palidez, sudorese, taquicardia e hipertensão). MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A SVC inicia-se por volta de 2–5 anos, mas pode ser observada em lactentes e adultos. A frequência dos episódios de vômitos é variável (média de doze episódios ao ano), durando em média 2–3 dias, com quatro ou mais crises de vômitos por hora. Geralmente,estes episódios de vômitos ocorrem pela manhã ou ao acordar. Pode haver pródromos como náuseas, palidez, sudorese, intolerância a luz ou barulho, cefaleia, letargia, dor epigástrica e diarreia. Os principais fatores precipitantes são infecção, estresse físico e psicológico. Dependendo da intensidade dos episódios eméticos, uma série de complicações poderão advir, tais como: desidratação, alcalose hipoclorêmica (perda de ácido clorídrico gástrico), desnutrição, síndrome de Mallory-Weiss e broncoaspiração/pneumonias. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO Segundo os critérios Roma IV, o diagnóstico da síndrome dos vômitos cíclicos pode ser feito com base nos sinais/sintomas descritos na . TAB. 28TAB. 28 SÍNDROME DOS VÔMITOS CÍCLICOS.SÍNDROME DOS VÔMITOS CÍCLICOS. 4 ANOS> 4 ANOS Todos os critérios abaixo: Tabela 28 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina 1. ≥ 2 episódios de vômitos, com ou sem ânsia de vômitos/náusea, durando horas a dias, dentro de um período de seis meses; 2. Episódios são estereotipados em cada paciente; 3. Episódios são intercalados com períodos assintomáticos (semanas a meses), nos quais o paciente retorna a sua saúde basal; 4. Após avaliação médica apropriada, os sintomas não podem ser atribuídos a outras causas médicas. TRATAMENTOTRATAMENTO O tratamento dos episódios agudos inclui hidratação e o uso de antieméticos. Para a prevenção são usadas medicações como: ciproeptadina em menores de cinco anos e amitriptilina nos maiores de cinco anos. DOR ABDOMINALDOR ABDOMINAL CÓLICA DO LACTENTECÓLICA DO LACTENTE É considerada uma síndrome comportamental identificada em crianças com idade entre um e quatro meses e que se caracteriza por períodos de choro prolongado e um comportamento difícil de ser acalmado. Não é possível identificar a causa do choro e é justamente isso que causa a preocupação por parte dos cuidadores. Não há nada que prove que a causa do choro seja a dor abdominal, embora isso seja frequentemente presumido pelos pais. Os critérios diagnósticos para a cólica do lactente, segundo Roma IV, estão descritos na . TAB. 29TAB. 29 CÓLICA DO LACTENTE.CÓLICA DO LACTENTE. Todos os critérios abaixo: 1. Um lactente com menos de cinco meses de idade no início e término dos sintomas; Tabela 29 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Um lactente com menos de cinco meses de idade no início e término dos sintomas; 2. Períodos recorrentes e prolongados de choro do lactente ou irritabilidade relatados pelos cuidadores, sem causa óbvia e que não podem ser prevenidos ou resolvidos pelos mesmos; 3. Ausência de febre, deficiência de crescimento ou qualquer outra evidência de doença. Não existe tratamento analgésico ou nutricional eficaz. A conduta é a orientação dos pais quanto à benignidade de transitoriedade dos sintomas. Algumas evidências recentes indicam que o uso de probióticos pode reduzir os episódios de choro, mas revisões sistemáticas não confirmaram isso. DORES ABDOMINAIS DORES ABDOMINAIS FUNCIONAISFUNCIONAIS INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO A dor abdominal crônica é caracterizada por um quadro de dor abdominal constante ou intermitente com duração de pelo menos dois meses (ou três meses, segundo alguns autores). As condições que levam ao desenvolvimento de dor abdominal crônica incluem condições orgânicas e não orgânicas (dores funcionais). O termo dor abdominal recorrente ainda é usado por alguns autores e foi originalmente empregado para descrever um quadro caracterizado por três ou mais episódios de dor abdominal graves o bastante para interferir nas atividades diárias, em um período de três meses ou mais, e sem nenhuma causa orgânica subjacente conhecida. A queixa de dor abdominal é bastante comum na população pediátrica e os distúrbios funcionais são responsáveis por boa parte dos casos. As causas orgânicas devem ser suspeitadas, principalmente na presença de sinais de alarme, como: história familiar de doença intestinal inflamatória, doença celíaca ou úlcera péptica; dor persistente nos quadrantes abdominais direitos; disfagia ou odinofagia; vômitos persistentes; sangramento digestivo; diarreia noturna; presença de artrite, doença perianal, perda ponderal involuntária, desaceleração do crescimento, atraso puberal; e febre não explicada. Diversas condições orgânicas que levam ao desenvolvimento de dor podem ser encontradas na TAB. 30TAB. 30 Tabela 30 . medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina TAB. 30TAB. 30 CAUSAS ORGÂNICAS DE DOR ABDOMINAL.CAUSAS ORGÂNICAS DE DOR ABDOMINAL. TRATO GASTROINTESTINALTRATO GASTROINTESTINAL Constipação crônica ● Comportamento retentivo com dor à evacuação. ● Fezes secas, finas (caproicas), endurecidas. ● Fezes palpáveis na ampola retal. Intolerância à lactose ● Dor abdominal associada à ingestão de lactose. ● Cólicas abdominais, distensão gasosa e diarreia. Enteroparasitose (giardíase) ● Inapetência. ● Distensão abdominal, cólicas, flatulência e diarreia. Doença inflamatória intestinal ● Deficit de crescimento. ● Fezes sanguinolentas, diarreia, dor abdominal. Doença péptica ● Dor epigástrica em queimação, que piora ao acordar e antes das refeições. Colecistite ● Dor abdominal em quadrante superior direito que piora após as refeições. Pancreatite ● Dor abdominal em quadrante superior com irradiação para o dorso, e que piora com as refeições. ● Vômitos. TRATO GENITURINÁRIOTRATO GENITURINÁRIO Infecção do trato urinário ● Dor suprapúbica ou em flancos. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Urolitíase ● Dor progressiva em flancos, com irradiação para região inguinal ou escrotal. Aqui há o video de apostila 31.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Existem vários distúrbios funcionais que cursam com dores abdominais e que apresentam padrões bem caracterizados. A definição de cada um deles é dada, mais uma vez, pelos critérios de Roma IV, como você pode conferir nas TAB. 31TAB. 31 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DISPEPSIA FUNCIONAL.CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DISPEPSIA FUNCIONAL. Um ou mais dos sintomas incômodos abaixo, pelo menos quatro dias por mês, por pelo menos dois meses antes do diagnóstico: 1. Plenitude pós-prandial; 2. Saciedade precoce; 3. Dor ou queimação epigástricas não relacionadas com a defecação. Após a avaliação apropriada, os sintomas não podem ser explicados por outra condição médica. Há dois subtipos de dispepsia funcional: síndrome do desconforto pós-prandial e síndrome da dor epigástrica, em função dos sintomas predominantes. TAB. 32TAB. 32 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL.CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL. Todos os critérios, por pelo menos dois meses antes do diagnóstico: 1. Dor abdominal ≥ 4 dias/mês associado a um ou mais dos seguintes: ● Relacionada à defecação; ● Tabelas 31 , 32 , 33 e 34 . medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Mudança na frequência da evacuação; ● Mudança no aspecto das fezes. 2. Nas crianças com constipação, a dor não melhora após a resolução da constipação (as crianças que apresentam melhora da dor apresentam constipação, não síndrome do intestino irritável); 3. Após avaliação apropriada, os sintomas não podem ser explicados por outra causa médica. TAB. 33TAB. 33 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA ENXAQUECA ABDOMINAL.CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA ENXAQUECA ABDOMINAL. Todos os critérios abaixo ocorrendo no mínimo duas vezes, presentes por pelo menos seis meses antes do diagnóstico: 1. Episódios paroxísticos de dor intensa, periumbilical, na linha média ou difusa, durando uma hora ou mais (deve ser o sintoma mais intenso do paciente); 2. Episódios são separadospor semanas a meses; 3. A dor é incapacitante e interfere com a execução de atividades rotineiras; 4. Padrão estereotipado dos sintomas em cada paciente; 5. A dor é associada a dois ou mais dos seguintes: a. Anorexia; b. Náusea; c. Vômito; d. Cefaleia; e. Fotofobia; f. Palidez. Após avaliação apropriada, os sinais e sintomas não podem ser explicados por outra causa médica. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina TAB. 34TAB. 34 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DOR ABDOMINAL FUNCIONAL NÃO ESPECIFICADA.CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DOR ABDOMINAL FUNCIONAL NÃO ESPECIFICADA. Todos os critérios abaixo por no mínimo quatro vezes ao mês, por pelo menos dois meses antes do diagnóstico: 1. Dor abdominal contínua ou episódica, que não ocorre unicamente durante eventos fisiológicos (como alimentação e menstruação); 2. Critérios insuficientes para o diagnóstico de síndrome do intestino irritável, dispepsia funcional e enxaqueca abdominal; 3. Após apropriada avaliação, a dor abdominal não pode ser explicada por outra condição médica. TRATAMENTOTRATAMENTO A maior parte dos estudos que avaliam o tratamento das condições citadas anteriormente as agrupam em um grande conjunto, mas há algumas particularidades. Nos quadros de dispepsia funcional, a orientação é que sejam evitados os alimentos que agravam os sintomas e o uso de anti-inflamatórios. Nos pacientes cuja principal manifestação é a dor, é possível o uso de medicações como os inibidores de bomba de prótons e os antagonistas dos receptores de histamina. Há poucos estudos randomizados que abordam o tratamento da síndrome do intestino irritável em pediatria. Há alguns dados que suportam o uso de probióticos e a eliminação da dieta de oligossacarídeos, dissacarídeos e monossacarídeos fermentáveis. Já nas crianças com enxaqueca abdominal, parece haver benefícios com o uso de pizotifeno, e também de tratamentos profiláticos com amitriptilina, propranolol e ciproeptadina. HIDRATAÇÃO VENOSAHIDRATAÇÃO VENOSA INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOmedicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO Nas páginas iniciais desta apostila, conversamos sobre uma das possíveis indicações para a terapia de hidratação venosa: a necessidade da reparação de deficit, encontrados nos pacientes com hipovolemia. Porém, a hidratação venosa pode ser necessária em outras situações, como naquelas em que as perdas fisiológicas normais não podem ser repostas pela via oral ou enteral. Este tipo de indicação é comumente referido como terapia de manutenção e é necessário em várias situações na prática pediátrica: crianças que necessitam de jejum por procedimentos cirúrgicos; crianças impossibilitadas de receberem líquidos pela via oral. É importante frisar que existem diversas formas de determinarmos como será feito o “cálculo” para os líquidos de manutenção de uma criança, e os diversos serviços de pediatria podem seguir protocolos diferentes. TERAPIA DE MANUTENÇÃOTERAPIA DE MANUTENÇÃO Os líquidos usados para a manutenção têm que ser capazes de repor as perdas fisiológicas de água e alguns eletrólitos que ocorrem pela urina, fezes, pele e pulmões. Desta forma, evitam a desidratação, previnem distúrbios eletrolíticos, previnem a cetoacidose e a degradação proteica. Habitualmente, esta manutenção é feita com a administração de soluções de glicose, sódio e potássio. As necessidades hídricas podem ser estimadas de acordo com o consumo calórico, que varia em função do peso. São recomendados 100 ml de água para cada 100 kcal/dia. A antiga proposta de Holliday e Segar ainda é usada por muitos serviços e recomenda que o volume diário a ser ofertado seja calculado da seguinte forma ( ): TAB. 35TAB. 35 CÁLCULO DO VOLUME HÍDRICO DIÁRIO.CÁLCULO DO VOLUME HÍDRICO DIÁRIO. PESOPESO VOLUMEVOLUME ≤ 10 kg 100 kcal/kg (100 ml/kg). 10–20 kg Tabela 35 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina 10–20 kg 1.000 kcal + 50 kcal/kg para cada kg acima de 10 kg. (1.000 ml + 50 ml/kg para cada kg acima de 10 kg). > 20 kg 1.500 kcal + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg. (1.500 ml + 20 ml/kg para cada kg acima de 20 kg). O volume máximo nas 24 horas costuma ser de 2.400 ml. Podem ser utilizadas soluções de glicose a 5 ou 10%. A solução final irá atender uma parte das necessidades calóricas normais do indivíduo e será o bastante para impedir a cetose e evitar a degradação proteica. Porém, é importante frisar o seguinte: nem sempre a necessidade calórica adequada será atendida e o paciente poderá perder peso. Logo, nos casos em que o período de jejum se prolongue, há necessidade de nutrição parenteral. Além disso, há vários fatores que podem interferir nas perdas normais de água e eletrólitos que o indivíduo apresenta, como quadros de febre, taquipneia, traqueostomia. Tudo isso torna necessária a supervisão cuidadosa com ajustes constantes. As necessidades eletrolíticas de manutenção recomendadas são de 3 mEq de Na + /100 kcal/dia e 2 mEq de K + /100 kcal/dia. Para isso, é feito o acréscimo de sódio (NaCl) e potássio (KCl) nas soluções. Em vigência de determinadas condições, outros eletrólitos podem ser acrescentados na solução empregada. Para calcular os volumes, é importante saber que: ● NaCl 20%: 1 ml = 3,4 mEq de Na + ● KCl 10%: 1 ml = 1,3 mEq de K + ● KCl 19,1%: 1 ml = 2,5 mEq de K + Veja um exemplo prático de como faríamos o cálculo da hidratação para uma criança de 9 kg que necessita de hidratação de manutenção por jejum pré-operatório: ● Volume a ser infundido nas 24 horas: 100 ml/kg, ou seja, 900 ml (9 x 100). Poderemos oferecer este volume na forma de soro glicosado 5%; ● Para cada 100 ml da solução, iremos acrescentar 3 mEq de sódio e 2 mEq de potássio. Logo, acrescentaremos 27 mEq de sódio e 18 mEq de potássio. Basta fazer uma regra medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Logo, acrescentaremos 27 mEq de sódio e 18 mEq de potássio. Basta fazer uma regra de três e sabemos que isso pode ser obtido, respectivamente, com 7,9 ml de NaCl 20% e 13,8 ml de KCl 10%; ● O volume total de soro glicosado (900 ml), NaCl 20% (7,9 ml) e KCl 10% (13,8) será dividido em etapas e infundido ao longo de 24 horas. É fundamental notar que este cálculo acima leva à formulação de uma solução hipotônica, com risco de hiponatremia e, por conta disso, é algo que vem sendo bastante criticado nos últimos anos. Cada vez mais a recomendação é de que sejam utilizadas soluções isotônicas, com menos risco de desenvolvimento de hiponatremia. Estas soluções apresentam uma concentração de sódio semelhante à encontrada no plasma, oscilando entre 135–144 mEq/L. A concentração de sódio dos fluidos isotônicos usados pode variar de 131 a 154 mEq/L. Aqui há o video de apostila 32.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. APÊNDICE: OUTROS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS QUADROS ALÉRGICOS E DIVERSOS DASQUADROS ALÉRGICOS E DIVERSOS DAS VIAS AÉREAS SUPERIORESVIAS AÉREAS SUPERIORES DOENÇAS DAS DOENÇAS DAS TONSILAS E ADENOIDESTONSILAS E ADENOIDES INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO As amígdalas palatinas (que chamaremos simplesmente de amígdalas ou tonsilas), as adenoides (ou tonsilas faríngeas), as amígdalas linguais e o tecido linfoide da parede posterior encontram-se dispostos de forma circular na faringe e compõem o anel de Waldeyer. Essas estruturas são responsáveis pela defesa contra infecções e são mais ativas, do ponto de vista imunológico, nas crianças entre quatro e dez anos. É importante lembrar que a maior hipertrofia adenotonsilar é observada nas crianças Dúvidas Acadêmicas do CapítuloTESTE SEU CONHECIMENTOConfira as dúvidas acadêmicas do capítulo clicando aqui medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina entre três e seis anos, com a involução sendo notada a partir dos oito anos. ETIOLOGIA E ETIOLOGIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICASMANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Diversos processos patológicos distintos podem acometer estas estruturas. As tonsilas podem apresentar quadros de infecção aguda; os processos infecciosos crônicos podem acometer as tonsilas e asadenoides; a hipertrofia dessas estruturas pode ser causa de obstrução respiratória e desordens do sono; e, por fim, as neoplasias, como os linfomas, podem acometer as tonsilas. Cada um destes processos levará ao estabelecimento de quadro clínicos distintos. A s manifestações clínicas das infecções agudas já foram extensamente estudadas anteriormente. As infecções crônicas das tonsilas e da adenoide podem levar ao surgimento de halitose, odinofagia crônica e sensação de corpo estranho. As tonsilas, nestes casos, costumam ter tamanhos variados e apresentam grande quantidade de debris nas suas criptas. Os micro-organismos comumente encontrados nos quadros crônicos incluem bactérias produtoras de betalactamase e tanto os anaeróbios quanto os aeróbios podem ser responsáveis pelo processo. Já nos quadros de hipertrofia adenotonsilar podemos identificar alterações como respiração bucal, obstrução nasal, fala hiponasal, hiposmia e diminuição do apetite. As manifestações durante o sono incluem roncos, engasgos ou francos episódios de apneia. Os pacientes que apresentam obstrução mais intensa e apneias evidentes durante o sono são portadores da síndrome da apneia obstrutiva do sono. Ao exame físico, é possível identificarmos tonsilas aumentadas, embora isso não determine o grau da obstrução. A avaliação do tamanho da adenoide é possível pela radiografia lateral da região cervical ou pela realização de endoscopia flexível ( ) .Figura 32 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina As manifestações clínicas que apontam para as neoplasias tonsilares incluem o rápido aumento unilateral de uma tonsila, principalmente se houver manifestações sistêmicas associadas. TRATAMENTOTRATAMENTO O manejo das infecções crônicas deve incluir antimicrobianos eficazes para germes produtores de betalactamase. A s tonsilectomias e as adenoidectomias podem ser feitas separadamente ou em conjunto. As principais indicações de adenotonsilectomia são os quadros de aumento de tonsilas palatinas e faríngeas acompanhados de alterações respiratórias durante o sono, que também cursam com alterações no crescimento, prejuízo no rendimento escolar, ou outras alterações no comportamento. A tonsilectomia pode ser considerada nos quadros de faringites de repetição, como havíamos citado no manejo das faringites agudas. Para esta recomendação podem ser usados os critérios de Paradise: infecções recorrentes (pelo menos sete vezes ao FIG. 32 Uma radiografia sem anormalidades do espaço pós-nasal em uma criança. O limite posterior da passagem de ar pela nasofaringe está assinalado com uma linha pontilhada. A seta que faz impressão sobre esta linha representa as adenoides. O espaço pós-nasal encontra-se estreitado na hipertrofia adenoidiana. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ser usados os critérios de Paradise: infecções recorrentes (pelo menos sete vezes ao ano; ou pelo menos cinco vezes por ano nos últimos dois anos; ou pelo menos três vezes anuais nos últimos três anos), que devem ser acompanhadas de uma ou mais das seguintes manifestações ou avaliações: febre > 38°C, adenopatia cervical dolorosa, exsudato tonsilar ou pesquisa positiva para estreptococo do grupo A. RINITE ALÉRGICARINITE ALÉRGICA EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA O termo “rinite” é usado para caracterizar uma inflamação e/ou disfunção da mucosa nasal, levando ao surgimento de sintomas como obstrução nasal, rinorreia, espirros, prurido nasal e hiposmia. As rinites crônicas podem ser separadas em quatro grupos principais: rinites infecciosas, rinite alérgica, rinite não alérgica não infecciosa e rinite mista. A rinite alérgica é a forma mais comum, desencadeada pela inalação de alérgenos em um indivíduo previamente sensibilizado. A rinite alérgica é uma das condições crônicas mais comuns na prática pediátrica. Os sintomas se iniciam ainda na fase de lactente, mas o diagnóstico é normalmente estabelecido aos seis anos de idade. O diagnóstico no primeiro ano de vida não é uma tarefa simples, posto que as infecções das vias aéreas superiores levam ao surgimento de manifestações clínicas bastante semelhantes. Existem duas condições básicas fundamentais para a instalação da rinite alérgica, que são a presença de um indivíduo imunologicamente sensível e a presença do alérgeno no meio ambiente. PATOGÊNESEPATOGÊNESE O desencadeamento da doença começa quando ocorre a ligação entre o antígeno inalado do meio ambiente que se liga à molécula de IgE presente na membrana dos mastócitos. Tem-se, então, o início da fase aguda precoce, caracterizada pela degranulação dos mastócitos e liberação dos mediadores pré-formados: histamina, prostaglandina 2 e leucotrienos. Na fase aguda tardia, que se inicia de quatro a oito horas após a exposição, há a infiltração de células da mucosa: basófilos, eosinófilos, neutrófilos, mastócitos e células mononucleares. Os eosinófilos liberam mediadores pró-inflamatórios, como leucotrienos, proteínas catiônicas, peroxidase eosinofílica, interleucinas e fator de crescimento de colônias. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS Os sintomas da rinite alérgica podem ser sazonais ou perenes. A forma sazonal está relacionada com a sensibilização e a exposição a polens. Já os sintomas perenes estão relacionados com a exposição de modo contínuo, como a que se estabelece pelo contato com alérgenos domésticos. Os principais alérgenos são aqueles oriundos de ácaros da poeira, de baratas, fungos ou outras fontes alergênicas. Os sintomas típicos são: prurido nasal, congestão, rinorreia aquosa, espirros em salva associados aos sintomas de conjuntivite (eritema, prurido conjuntival, lacrimejamento e fotofobia). É comum verificarmos a saudação alérgica, um hábito dos alérgicos caracterizado pela passagem da palma da mão sobre o nariz levantando a sua ponta. Esta manobra alivia momentaneamente o prurido e o gotejamento, mas realizada de forma repetida deixa uma marca horizontal na pele acima da ponte nasal — prega nasal transversa. Cerca de 60% das crianças alérgicas apresentam edema bipalpebral e uma coloração azul-acinzentada abaixo das pálpebras (“olheiras”), atribuída à estase venosa. Em muitas também é possível verificar a dupla prega palpebral conhecida como linha de Dennie-Morgan. É frequente haver associação entre rinite e conjuntivite alérgica nas crianças atópicas. A congestão nasal crônica, que frequentemente piora à noite, propicia a respiração bucal e os roncos, interferindo sobremaneira com a qualidade do sono. Da mesma forma, a respiração bucal constante leva ao desenvolvimento de uma elevação do lábio superior, eversão do lábio inferior, arqueamento do palato (palato em ogiva), mordida aberta e narinas estreitas, em um continuum de alterações anatômicas que tornam a face com um aspecto alongado, configurando o que chamamos de fácies adenoidiana. Através da rinoscopia anterior podemos verificar a mucosa nasal pálida e edemaciada, contrastando com a mucosa da rinite infecciosa, que é, na maioria das vezes, avermelhada. O exame da cavidade nasal também nos permite a identificação de pólipos, tumores, corpos estranhos e desvio de septo. A presença de secreção purulenta e espessa torna impositiva a pesquisa de infecção associada. A classificação é estabelecida em função da frequência dos sintomas e gravidade dos mesmos, como mostrado na TAB. 36TAB. 36 Tabela 36 . medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina TAB. 36TAB. 36 CLASSIFICAÇÃO DA RINITE ALÉRGICA.CLASSIFICAÇÃO DA RINITE ALÉRGICA. QUANTO À DURAÇÃOQUANTO À DURAÇÃO ● Intermitente: os sintomas estão presentes em menos de quatro dias por semana ou menos que quatro semanas. ● Persistente: os sintomas estão presentes em quatro ou mais dias por semana e por quatro ou mais semanas. QUANTO À INTENSIDADEQUANTO À INTENSIDADE ● Leve: nenhuma das características citadas abaixo está presente. ● Moderado a grave: um ou mais dos seguintes itens está presente: distúrbio do sono, prejuízo dasatividades diárias, lazer e/ou esportes; prejuízo das atividades na escola e no trabalho; sintomas insuportáveis. Aqui há o video de apostila 33.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. LABORATÓRIOLABORATÓRIO Os principais exames complementares na avaliação da criança com rinite alérgica são os Testes Cutâneos de Hipersensibilidade Imediata (TCHI) pela técnica de puntura e a avaliação dos níveis séricos de IgE específica para os alérgenos. Os testes in vivo (TCHI) apresentam maior percentual de resultados falso-negativos em crianças menores e idosos. É importante salientar que os resultados positivos nos TCHI e a presença de IgE séricas específicas só devem ser valorizados quando associados com manifestações clínicas alérgicas. TRATAMENTOTRATAMENTO CONTROLE DE CONTROLE DE AMBIENTE E MEDIDAS DIVERSASAMBIENTE E MEDIDAS DIVERSAS Consiste na eliminação ou redução dos alérgenos desencadeadores das crises de rinite. Sendo assim, medidas como retirada de animais domésticos, cobertura de colchões e travesseiros com material plástico lavável, lavagem de roupas de cama com água quente (> 55ºC), limpeza de superfícies (chão, móveis) diariamente, medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina com água quente (> 55ºC), limpeza de superfícies (chão, móveis) diariamente, abstenção de objetos que retenham poeira (ex.: animais de pelúcia) são algumas das estratégias recomendadas. A lavagem nasal com solução salina é um tratamento adjuvante. Pode ser recomendada a lavagem nasal com solução salina isotônica de uma a duas vezes ao dia, especialmente antes da utilização de alguns dos medicamentos tópicos que veremos adiante. MEDICAMENTOSOMEDICAMENTOSO ANTI-HISTAMÍNICOSANTI-HISTAMÍNICOS Os anti-histamínicos atuam no alívio dos sintomas da fase imediata (prurido, espirros e rinorreia) e também atuam, parcialmente, no alívio dos sintomas da fase tardia (bloqueio nasal). Os anti-histamínicos clássicos de primeira geração apresentam facilidade para penetração na barreira hematoencefálica, podendo desencadear sedação e outros efeitos colaterais. Já os de segunda geração possuem poucos efeitos no sistema nervoso central, pela baixa passagem através da mesma barreira. Deste modo, os de segunda geração devem ser priorizados no tratamento da rinite alérgica em toda a população pediátrica. Os anti-histamínicos podem ser o único tratamento nos casos de rinite intermitente leve. Os anti-histamínicos tópicos nasais apresentam eficácia similar aos sistêmicos, com início de ação mais rápido e grande controle sobre a obstrução nasal. O s anti-histamínicos H1 clássicos ou de primeira geração incluem: cetotifeno, clemastina, ciproeptadina, dexclorfeniramina, hidroxizina e prometazina. Já os anti- histamínicos H1 não clássicos ou de segunda geração são: cetirizina, levocetirizina, loratadina, desloratadina, ebastina, epinastina, fexofenadina, rupatadina e bilastina (os dois últimos não são usados em pediatria). A idade mínima para a utilização da maioria deles costuma variar entre seis meses e dois anos. CORTICOSTEROIDESCORTICOSTEROIDES Também podem ser de uso tópico ou sistêmico. A corticoterapia sistêmica não é rotineiramente empregada, estando restrita a utilização por curto período de tempo, para alívio de sintomas graves. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os corticosteroides tópicos nasais são bastante úteis no tratamento da rinite alérgica e promovem melhora de todos os sintomas, incluindo as manifestações oculares. Quando comparados aos anti-histamínicos, mostram-se mais eficazes. Devem ser prescritos para os pacientes com quadro persistente ou moderado-grave. As opções em nosso meio são o furoato de mometasona e o furoato de fluticasona (ambos liberados para maiores de dois anos); a budesonida e o propionato de fluticasona (liberados para maiores de quatro anos); e a ciclesonida e o dipropionato de beclometasona (liberados acima de seis anos). DESCONGESTIONANTESDESCONGESTIONANTES Promovem a vasoconstrição, com rápido alívio do bloqueio nasal nos pacientes com rinite alérgica. Podem ser de uso tópico ou sistêmico. Os de uso sistêmico não devem ser usados em menores de quatro anos e aqueles disponibilizados em formulações de liberação prolongada não podem ser usados em menores de 12 anos. Os de uso tópico, por sua vez, podem ser usados apenas por curto período de tempo, pelo risco de desenvolvimento de rinite medicamentosa de rebote. Não podem ser usados em menores de seis anos. OUTROSOUTROS ● O cromoglicato de sódio compõe o arsenal terapêutico para tratamento da rinite alérgica, mas é inferior aos anti-histamínicos e aos corticosteroides nasais. São uma alternativa terapêutica para os lactentes, mas necessitam de várias aplicações diárias, o que dificulta a adesão ao tratamento. ● Os antagonistas de receptores de leucotrienos (montelucaste de sódio é o encontrado no Brasil) não são considerados a primeira linha de tratamento dos pacientes com rinite alérgica, mas podem ser uma alternativa nos casos em que há associação de rinite alérgica e asma. Existe uma crescente preocupação com efeitos colaterais do tratamento, em especial com distúrbios neuropsiquiátricos. ● A imunoterapia alérgeno-específica é considerada o único tratamento capaz de modificar o curso da doença e permite que os benefícios se prolonguem mesmo após a interrupção do tratamento. A imunoterapia é feita por via subcutânea ou sublingual e visa modular o sistema imunológico, reduzindo a sua responsividade a antígenos do medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina visa modular o sistema imunológico, reduzindo a sua responsividade a antígenos do meio ambiente. Para isso, são administradas ao indivíduo quantidades pequenas de extrato alergênico com concentrações progressivamente maiores. Pode ser considerada no tratamento de adultos e das crianças com cinco ou mais anos com quadros intermitentes moderados/graves e nos casos persistentes. ● Os anticorpos monoclonais humanos ou humanizados , parte do arsenal terapêutico da asma brônquica, vem sendo considerados também no manejo dos quadros de rinite alérgica e de outras condições alérgicas. OBSTRUÇÕES DAS VIAS OBSTRUÇÕES DAS VIAS AÉREASAÉREAS NARIZNARIZ ATRESIA DE COANASATRESIA DE COANAS EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA É a anomalia congênita mais comum do nariz; afeta cerca de 1:7.000 nascidos vivos. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS Consiste em um septo ósseo (90%) e/ou membranoso (10%), interrompendo a comunicação entre uma ou ambas as narinas e a faringe. Quando o quadro é unilateral, a criança pode permanecer assintomática por muito tempo. Nos quadros bilaterais, há desconforto respiratório logo após o nascimento, pela dificuldade de respiração bucal neste período, com o típico relato de melhora “com o choro”, pela abertura da boca. Eventualmente, as crianças menores que conseguem respirar melhor pela boca apresentam cianose durante as mamadas. Em cerca de 50–70% dos casos, existem outras anomalias congênitas associadas. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO O diagnóstico de suspeição é feito pela incapacidade de introdução da sonda de aspiração 3–4 cm adentro da nasofaringe. A rinoscopia por fibra óptica e a tomografia medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina aspiração 3–4 cm adentro da nasofaringe. A rinoscopia por fibra óptica e a tomografia computadorizada da região permitem a melhor visualização das alterações. TRATAMENTOTRATAMENTO Em casos de obstrução bilateral é necessária a intubação orotraqueal com colocação em prótese ventilatória para garantir a oxigenação. O tratamento definitivo consiste no reparo cirúrgico endoscópico. CORPO ESTRANHOCORPO ESTRANHO ETIOLOGIAETIOLOGIA Alimentos, sementes, pedaços de borracha, papel, pedras, esponjas e pequenos brinquedos são alguns exemplos de objetos introduzidos nas narinas por crianças pequenas. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS Os sinais/sintomas principais são descarga nasal fétida e purulenta unilateral, epistaxe unilateral, obstrução nasal unilaterale respiração bucal. Objetos de material alcalino, como pequenas pilhas ou baterias, podem levar à destruição do septo nasal. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO A presença da descarga e obstrução nasal unilateral deve levantar a suspeita diagnóstica. A colocação de um espéculo nasal e visualização direta com auxílio de um otoscópio permite a observação do corpo estranho e a sua remoção com pinças apropriadas. TRATAMENTOTRATAMENTO A colocação de um anestésico tópico, fórcipe e sucção nasal remove a maioria dos corpos estranhos. A infecção secundária geralmente é resolvida com a simples remoção do objeto. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Aqui há o video de apostila 34.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. PÓLIPOS NASAISPÓLIPOS NASAIS ETIOLOGIAETIOLOGIA Pólipos são tumores benignos pedunculados que se originam da mucosa nasal ou da mucosa de seios cronicamente inflamados. Os locais mais comuns de aparecimento de pólipos são o meato médio nasal (a partir dos seios etmoidais) e a região antrocoanal (a partir do seio maxilar). A causa mais comum de polipose nasal na infância é a fibrose cística, mesmo na ausência de outros sintomas típicos da doença. Cerca de 50% das crianças com fibrose cística desenvolverão pólipos nasais. Outras causas incluem: rinite alérgica e sinusite crônica. A associação de alergia à aspirina, asma e pólipos nasais é denominada tríade de Samter. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS Há obstrução nasal, associada à fala nasalada e respiração bucal, além de descarga mucoide ou mucopurulenta. À ectoscopia, observa-se massa acinzentada. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO A melhor visualização é feita através da nasofibroscopia e tomografia computadorizada de face. A mucosa nasal sadia distingue-se do pólipo por ser rosa brilhante. TRATAMENTOTRATAMENTO O s descongestionantes tópicos auxiliam parcialmente na redução do edema associado ao pólipo e alívio da descarga e obstrução. Os pólipos etmoidais respondem ao uso de corticoides nasais tópicos e sistêmicos com redução do seu tamanho. Os pólipos antrocoanais geralmente não se associam a nenhuma doença sistêmica e, por isso, resolvem-se apenas com a remoção cirúrgica. LARINGE, TRAQUEIA E LARINGE, TRAQUEIA E BRÔNQUIOSBRÔNQUIOS medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina LARINGE, TRAQUEIA E LARINGE, TRAQUEIA E BRÔNQUIOSBRÔNQUIOS LARINGOMALÁCIALARINGOMALÁCIA MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS O principal sinal da obstrução ao nível da laringe é o estridor, um ruído predominantemente inspiratório. Cerca de 60% dos casos de estridor crônico de origem congênita em lactentes são provocados por laringomalácia, a anomalia congênita mais comum da laringe. O estridor é inspiratório, exacerbado pelo choro, agitação ou alimentação, posição supina e infecções virais das vias aéreas. Geralmente, inicia-se nas duas primeiras semanas de vida e aumenta progressivamente até os seis meses. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO Pode ser feito com base no quadro clínico e confirmado através da laringoscopia flexível, visualizando-se o colabamento das estruturas laríngeas durante a inspiração. A broncoscopia está indicada em quadros de obstrução mais grave, pois 15 a 60% dos pacientes apresentam anomalias brônquicas associadas. TRATAMENTOTRATAMENTO Pode-se assumir uma conduta expectante, pois a maioria dos casos resolve-se espontaneamente conforme a criança cresce. A traqueostomia ou laringoplastia são reservadas apenas para casos de obstrução muito graves e com complicações como cianose, cor pulmonale e restrição de crescimento. Aqui há o video de apostila 35.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. CORPO ESTRANHOCORPO ESTRANHO EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA A aspiração de corpo estranho é mais frequente entre lactentes e pré-escolares. Cerca de 73% dos casos acontecem em crianças menores de três anos, faixa etária muito predisposta a este tipo de agravo devido à grande exploração do ambiente e objetos, medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina predisposta a este tipo de agravo devido à grande exploração do ambiente e objetos, um comportamento típico nesta idade. Os principais corpos estranhos aspirados são alimentos, moedas, balões e nuts. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS A s manifestações irão variar em função do ponto da via aérea obstruído e da gravidade da obstrução. O quadro pode passar por três estágios distintos. O primeiro deles corresponde ao evento inicial, quando há paroxismos de tosse e engasgo, e quando pode ocorrer a obstrução completa. Quando não há obstrução completa, segue-se um segundo estágio, em que há um intervalo assintomático. Neste período, o corpo estranho está impactado e pode não ser feito o diagnóstico da aspiração (o local mais comum de impactação é o brônquio direito). O terceiro estágio corresponde ao desenvolvimento de complicações: há o desenvolvimento de erosões, obstrução e infecções no local da impactação. É importante ressaltar que nem sempre a história da aspiração será evidente mas, quando o relato estiver presente, não pode ser ignorado e deve ser feita a investigação. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO Apenas 10–25% dos corpos estranhos são radiopacos e aparecem na radiografia de tórax. Na suspeita, deve ser indicada a broncoscopia, mesmo sem alterações radiográficas. TRATAMENTOTRATAMENTO Durante o evento agudo, a primeira conduta é definir a gravidade da obstrução. Quando há obstrução grave, são indicadas manobras para desobstrução da via aérea enquanto o paciente estiver consciente, como descrito a seguir: ● Lactentes menores de um ano: recomenda-se que o profissional de resgate se sente ou se ajoelhe, segurando a criança com a barriga para baixo, cabeça mais baixa que o tronco, tronco apoiado no antebraço, e queixo do bebê fixado pela mão do profissional; com a outra mão, o profissional do resgate golpeia cinco vezes o dorso, virando o bebê de barriga para cima em seguida; para que então cinco compressões esternais sejam aplicadas; lembrar-se sempre de manter a cabeça da criança mais medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina baixa que o corpo. Caso seja possível a visualização do corpo estranho na cavidade oral, retirá-lo com a mão. Em caso de insucesso, repetir a sequência. Caso o paciente evolua com perda de consciência, procede-se ao início da reanimação cardiorrespiratória; ● Crianças acima de um ano: realizar a manobra de Heimlich, que consiste em compressões abdominais (direção para dentro e para cima), estando a criança sentada ou de pé e o profissional de resgate atrás dela. Do mesmo modo, caso a criança evolua com perda de consciência, iniciam-se as manobras de reanimação cardiorrespiratória. Aqui há o video de apostila 36.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. SÍNDROME DA MORTE SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DOSÚBITA DO LACTENTELACTENTE DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) é definida pela morte de uma criança menor de um ano de forma súbita, não explicada pela história clínica e pelo exame post mortem, que inclui a autópsia completa e análise da cena do óbito. Destacamos que a autópsia completa é fundamental para exclusão de causas previsíveis de morte como: infecção, anomalias congênitas, trauma não intencional e abuso físico. Um diagnóstico diferencial muito relevante é a sufocação intencional, que não pode ser distinguida da SMSL pela autópsia. Neste caso, torna-se fundamental a investigação da cena e dos pais. EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA Nos EUA, as taxas de SMSL antes de 1992 oscilavam em torno de 1,3–1,4/1.000 nascidos. A partir de então, a Academia Americana de Pediatria passou a recomendar o sono na posição não prona, como estratégia para reduzir a incidência da doença, e em 2015 já se verificou uma queda nas taxas para 0,39/1.000 nascidos vivos. Esta redução nas taxas de mortalidade foi atribuída, portanto, à redução na posição prona (“barriga para baixo”) durante o sono, substituindo-o pela posição supina (“barriga para cima”). PATOLOGIAPATOLOGIAmedicina livre, venda proibida,colite pseudomembranosa. A colite pseudomembranosa é caracterizada por uma síndrome disentérica, com tenesmo, distensão abdominal, dor, febre e desidratação, podendo evoluir para megacólon tóxico e óbito. ● Os antibióticos mais comumente envolvidos são cefalosporinas, ampicilina, clindamicina e metotrexato. O quadro pode surgir dias após o início destes agentes ou meses após seu término, e não é uma reação dose- dependente. ● O tratamento de casos graves é feito com metronidazol ou vancomicina oral. Bacilus Bacilus anthracis anthracis ● Período de incubação: dois dias a semanas. ● Associada à ingestão de carne malcozida. ● Clínica: náusea/vômitos, mal-estar e diarreia sanguinolenta. ● Duração: semanas. ● Tratamento: penicilinas (primeira escolha) e ciprofloxacino (segunda escolha). Bacilus Bacilus cereus cereus ● Afeta todos os grupos etários. ● medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Toxina pré-formada. ● Transmitida através de água e alimentos contaminados. ● Período de incubação de uma a seis horas e duração da doença de 24 horas. ● Clínica: vômitos comumente, febre raramente e diarreia pouco importante. StaphyloStaphylo coccus coccus aureus aureus ● Afeta todos os grupos etários. ● Transmitida através de água e alimentos contaminados. ● Período de incubação de uma a seis horas e duração de 24 horas. ● Clínica: vômitos comumente, febre raramente e diarreia pouco importante. ClostriClostri dium dium botubotu linum linum ● Período de incubação: crianças e adultos (12–72 horas) etwitter @livremedicina PATOLOGIAPATOLOGIA Não existe qualquer achado na autópsia que seja patognomônico da SMSL. Entretanto, alguns achados como petéquias podem ser verificados em até 95% dos casos. Algum grau de edema pulmonar também pode ser verificado. A razão fisiopatológica destes achados não é conhecida. Além disso, o tronco cerebral das vítimas exibe diversas alterações bioquímicas e de sinapses que apontam para uma condição de hipóxia crônica, de instalação anterior ao evento de morte. Existe nos lactentes vítimas de SMSL uma redução da capacidade de despertar diante de uma condição de hipóxia, provavelmente por alterações nos centros respiratório e cardiovascular no tronco encefálico. O núcleo arqueado, localizado na região ventral do bulbo, é um dos responsáveis pelo mecanismo de sono-vigília e controle das funções autonômicas. Algumas crianças vítimas da SMSL parecem ter uma redução volumétrica (hipoplasia) deste núcleo, condição encontrada em até 60% dos casos. FATORES DE RISCOFATORES DE RISCO Existem diversos fatores de risco relacionados com a condição ( ) . O conhecimento e a intervenção sobre os fatores de risco modificáveis é fundamental para redução do número de casos. TAB. 37TAB. 37 FATORES DE RISCO PARA A SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DO LACTENTE.FATORES DE RISCO PARA A SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DO LACTENTE. FATORES DE RISCO MATERNOS E PRÉ- NATAIS FATORES DE RISCO DO LACTENTE Elevação da alfafetoproteína no 2º trimestre. Idade (pico de dois a quatro meses). Tabagismo materno. Sexo masculino. Uso de álcool. Raça/etnia (afro-americanos). Uso de drogas ilícitas (cocaína, heroína). Deficit de crescimento. Deficiência nutricional. Ausência de chupetas. Ausência de pré-natal. Tabela 37 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Ausência de pré-natal. Prematuridade. Baixo nível socioeconômico. Posição prona e decúbito lateral durante o sono. Mães jovens. Doença febril recente. Baixo nível de escolaridade. Tabagismo passivo. Mães solteiras. Colchão e travesseiro muito macios. Intervalo curto entre duas gestações. Dormir com os pais na mesma cama. Hipóxia intraútero. Estresse térmico ou superaquecimento. Restrição ao Crescimento Intrauterino (RCIU). Clima frio, sem aquecimento central. FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO NÃO MODIFICÁVEISNÃO MODIFICÁVEIS 1. Raça: os afro-americanos, indígenas americanos e nativos do Alaska têm duas a três vezes maior risco de SMSL que os lactentes brancos. Esta maior prevalência tem sido associada às condições socioeconômicas desfavoráveis e à situação ambiental adversa. 2. Sexo: o sexo masculino é cerca de 30–50% mais acometido que bebês do sexo feminino. 3. Condições socioeconômicas: a SMSL pode acometer criança de qualquer estrato social, mas verificam-se maiores taxas nas classes pobres. FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO MODIFICÁVEISMODIFICÁVEIS 1. Fatores pré-natais: fatores como ausência de assistência perinatal, crescimento medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Fatores pré-natais: fatores como ausência de assistência perinatal, crescimento intrauterino restrito, redução do intervalo entre duas gravidezes, baixo peso ao nascer e prematuridade são algumas condições associadas à SMSL. 2. Tabagismo: o tabagismo materno é o principal fator de risco associado à SMSL. Este risco é proporcionalmente maior quanto maior for o número de pessoas fumantes na casa, quanto maior o número de pessoas fumantes no mesmo quarto do lactente e quanto maior a carga tabágica diária. 3. Drogas e álcool: um estudo indiano mostrou que o consumo de álcool antes da concepção e no primeiro trimestre aumenta de seis a oito vezes o risco de SMSL. 4. Sono: a posição prona está fortemente relacionada à morte súbita. Inicialmente, as campanhas da AAP recomendavam a posição supina e de decúbito lateral para o sono, mas verificou-se que a posição lateral é instável e o bebê pode rolar e assumir a prona durante a noite, o que duplica o risco de morte em comparação ao decúbito dorsal (supina). Logo, a orientação atual de posição segura para o sono é decúbito dorsal (barriga para cima) ou supina. Cabe aqui ressaltar que a supina não aumenta o risco de regurgitação, broncoaspiração, cianose e apneia, como podem pensar os pediatras. Vários estudos realizados atestam a segurança desta posição. Superfícies muito fofas e macias também devem ser evitadas, bem como o hábito de colocar o bebê para dormir na mesma cama com os pais. Um ambiente seguro e recomendado é que o bebê durma em seu próprio berço, no quarto dos pais. 5. Alimentação: o aleitamento materno é uma medida benéfica e traz consigo inúmeras vantagens, que podem ser novamente conferidas por você no volume 2 de Pediatria. Contudo, os estudos confeccionados até hoje carecem de conclusões definitivas para estabelecer a amamentação como estratégia protetora em relação à morte súbita. De qualquer forma, há consenso sobre os benefícios do aleitamento materno em relação a outros aspectos, consagrando definitivamente esta prática nos primeiros meses de vida. O uso de chupetas também foi fator relacionado à proteção contra a SMSL. 6. Genética: algumas variações genéticas têm sido verificadas entre lactentes com SMSL, principalmente em relação aos canais iônicos de sódio e potássio, transportador de serotonina, genes do sistema nervoso autônomo, complemento C4 e IL-10. Aqui há o video de apostila 37.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. GRUPOS DE RISCO GRUPOS DE RISCO AUMENTADO PARA SMSLAUMENTADO PARA SMSL IRMÃOS DA VÍTIMA DA IRMÃOS DA VÍTIMA DA SMSLSMSL medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina IRMÃOS DA VÍTIMA DA IRMÃOS DA VÍTIMA DA SMSLSMSL Os próximos filhos dos pais de uma vítima de SMSL terão risco aumentado para o mesmo evento, corroborando a hipótese fisiopatológica de que fatores genéticos associados a fatores ambientais atuam sobre a criança, promovendo condições para o desencadeamento do processo de morte súbita. PREMATURIDADEPREMATURIDADE O peso de nascimento entre 1.000–1.499 g e de 1.500–2.499 g representa quatro e três vezes mais risco para SMSL, respectivamente. MANEJO CLÍNICOMANEJO CLÍNICO Não há até o presente momento nenhum exame de triagem com sensibilidade e especificidade adequadas que possa identificar os lactentes sob risco de SMSL. Portanto, cabe ao médico repassar aos pais as recomendações da Academia Americana de Pediatria que visam reduzir os principais fatores de risco associados à condição: ● Todos os lactentes (prematuros e a termo) devem ser colocados para dormir na posição supina. O decúbito lateral não deve ser usado; ● É recomendado que o lactente seja colocado para dormir em seu próprio berço, com superfície firme dentro do quarto dos pais, próximo da mãe para facilitar os cuidados; ● O colchão deve ser firme. Colchões de água, sofás ou superfícies muito fofas devem ser evitados; ● Travesseiros, colchas, mantas, peles de animais, brinquedos de pelúcia devem ser mantidos longe do berço em que dorme o bebê; ● Evitar o hiperagasalhamento e o hiperaquecimento; ● O bebê poderá ficar na posição prona desde que esteja acordado e que seja supervisionado; ● A chupeta poderá ser utilizada após o aleitamento materno estar bem estabelecido; deverá ser oferecida ao bebê próximo à hora de dormir; medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● O tabagismo durante a gestação e o tabagismo passivo deverão ser evitados. SAIBA MAISSAIBA MAIS ALTE e BRUE O termo ALTE refere-se ao termo Apparent Life-Threatening Event , uma condição definida por uma alteração aguda na respiração e comportamento do lactente, que encerra quatro características fundamentais: 1 ) apneia — que pode ser central (sem movimentos torácicos aparentes) ou obstrutiva; 2 ) mudança de cor — variação de pálida, cianótica, pletórica ou eritematosa; 3) modificação no tono — geralmente flacidez, mas pode haver rigidez; 4) engasgo ou sufocação. Geralmente, o cuidador acredita que a criança está morrendo, mas há recuperação dos sentidosapós estimulação ou ressuscitação. Embora a idade gestacional ainda não possa ser considerada um fator de risco pelos diversos estudos realizados, muitos lactentes com ALTE nasceram com menos de 37 semanas. Desde 2016, a Academia Americana de Pediatria passou a recomendar que o termo ALTE fosse substituído pelo termo BRUE ( Brief Resolved Unexplained Event — evento inexplicável breve resolvido). O termo se aplica à observação de um evento breve (de até um minuto, mas em geral com duração entre 20 e 30 segundos), já resolvido, em crianças menores de um ano, com pelo menos uma das seguintes características: ● Cianose ou palidez; ● Esforço respiratório ausente, diminuído ou irregular; ● Alteração do tônus muscular (hipo ou hipertonia); ● Alteração da responsividade. Veja uma comparação entre a caracterização de ALTE e BRUE na tabela abaixo. DIFERENÇAS ENTRE DEFINIÇÕES DE ALTE E BRUE Ao avaliarmos os pacientes com BRUE, alguns critérios devem ser preenchidos para o paciente ser considerado de baixo risco e poder ser conduzido sem investigação ou necessidade de hospitalização. Os critérios são os seguintes: _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina FIBROSE CÍSTICAFIBROSE CÍSTICA DEFINIÇÃODEFINIÇÃO Aqui há o video de apostila 38.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. A Fibrose Cística (FC) é uma doença multissistêmica, herdada por um traço autossômico recessivo que leva à alteração de um canal condutor de cloreto transmembrana presente em vários epitélios de glândulas exócrinas no organismo. O resultado é uma disfunção destes epitélios, caracterizada pela sua incapacidade de secretar o íon cloreto em resposta ao AMP cíclico. As principais manifestações da doença referem-se às múltiplas e repetidas infecções de vias aéreas, insuficiência pancreática e elevada concentração de cloreto no suor. A FC é a causa de insuficiência pancreática mais comum na infância. EPIDEMIOLOGIAEPIDEMIOLOGIA A incidência da FC é variável, mas a condição é mais comum em populações brancas do norte da Europa, América do Norte e Austrália/Nova Zelândia, mas pode ser encontrada em várias outras populações. No Brasil, temos uma incidência estimada de 1/9.000 a 9.500 nascidos vivos. A sobrevida dos pacientes diagnosticados vem aumentando em vários países no mundo. No Brasil, ainda é inferior ao encontrado em países como os Estados Unidos, mas, felizmente, a idade média dos pacientes acompanhados em centros de referências está aumentando. ● Idade superior a 60 dias; ● Se pré-termo: idade gestacional de pelo menos 32 semanas ou idade gestacional corrigida de 45 dias; ● Primeiro episódio e BRUE; ● Duração do evento inferior a um minuto; ● Sem necessidade de reanimação cardiopulmonar; ● Ausência de achados significativos na anamnese; ● Ausência de alteração ao exame físico. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina FISIOPATOLOGIAFISIOPATOLOGIA Existem mais de 2.000 mutações diferentes no canal de cloreto, também chamado CFTR ( Cystic Fibrosis Transmembrane Regulator ), que podem determinar: ausência de síntese, bloqueio de processamento, bloqueio na regulação, condutância alterada, síntese reduzida do canal ou degradação precoce da proteína. As consequências diretas desta ampla variabilidade genotípica são diferentes níveis de expressão fenotípica, ou seja, condições clínicas que variam desde uma doença muito grave até doenças que vão se manifestar apenas na adolescência. Os epitélios das glândulas exócrinas são incapazes de secretar o íon cloreto em resposta ao AMPc, e excessivas quantidades de sódio são absorvidas a partir do lúmen das vias aéreas. A água segue o movimento dos solutos e, portanto, a consequência mais direta é a desidratação das secreções com importante modificação das suas características reológicas, que se tornam espessas e viscosas. Assim, no pulmão ocorre diminuição do batimento ciliar, impactação de muco e proliferação de bactérias, principalmente S. aureus, P. aeruginosa e Burkholderia cepacia, instalando-se um processo de obstrução e inflamação crônicas. Raciocínio semelhante de ressecamento de secreções e impactação nas vias de drenagem pode ser exportado para pâncreas, vias biliares, epitélios do trato gastrointestinal, epitélio reprodutor etc. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS ● Trato respiratório: superior — sinusite, pólipos nasais; inferior — infecções de repetição, bronquiolite, pneumonias, bronquiectasias, bronquite, atelectasias, pneumotórax, aspergilose broncopulmonar alérgica, cor pulmonale . Sabe-se que a FC leva à perda progressiva da função pulmonar e esta taxa de declínio é inversamente relacionada com a sobrevida. Portanto, exames complementares são necessários e solicitados periodicamente na tentativa de detectar a infecção precocemente e tratá-la de maneira oportuna e precoce. ● Trato gastrointestinal: cerca de 20% das crianças com FC apresentam obstrução intestinal ao nascimento por íleo meconial (impactação de mecônio espesso). Algumas podem apresentar perfuração intestinal intraútero e desenvolver um quadro de peritonite meconial detectado após o nascimento pela presença de calcificações peritoneais e de escroto visíveis na radiografia abdominal. Mais de 85% das crianças evoluem com uma síndrome disabsortiva por disfunção enzimática do pâncreas exócrino, manifestada por fezes gordurosas, flatulência, distensão abdominal, desnutrição ou dificuldade de ganho ponderal e deficiência das vitaminas lipossolúveis medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina desnutrição ou dificuldade de ganho ponderal e deficiência das vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). Por volta da segunda década de vida, sintomas de disfunção do pâncreas endócrino também podem ser verificados, como hiperglicemia, glicosúria e poliúria. Trinta por cento dos adolescentes em torno de quinze anos manifestam sintomas de disfunção hepática. A cirrose biliar é bem menos comum, vista em apenas 2 a 3% dos pacientes: icterícia, ascite, hematêmese e hiperesplenismo. Outras condições que podem estar associadas à FC são: prolapso retal (até 20% das crianças entre 6 e 36 meses), intussuscepção, vólvulo, apendicite, atresia intestinal, refluxo gastroesofágico e colelitíase. ● Trato geniturinário: atraso puberal em aproximadamente dois anos. Mais de 95% dos homens são azoospérmicos por falha no desenvolvimento dos ductos de Wolff. A fertilidade feminina também está diminuída. ● Glândulas sudoríparas: excessivas perdas de sal através da pele (os pais podem referir que o sal “brota” da pele das crianças e que estas têm o suor salgado) podem levar à hiponatremia, especialmente durante episódios de gastroenterite e temperaturas elevadas. Também podem desenvolver alcalose hipoclorêmica. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO O teste do suor possui elevada sensibilidade e especificidade (> 95%), sendo também simples e de baixo custo. Consiste na dosagem do cloreto no suor (mínimo de 75 g) pelo método da iontoforese através da estimulação com pilocarpina durante trinta minutos. O resultado do teste do suor quantitativo é considerado positivo quando a dosagem de cloreto é igual ou maior que 60 mmol/L e negativo quando menor que 30 mmol/L. Resultados do teste do suor entre 30 mmol/L e 59 mmol/L são considerados inconclusivos e requerem encaminhamento para um centro de referência especializado, para avaliação adicional. Resultados falso-positivos podem ser encontrados em situações como: insuficiência adrenal não tratada, hipoparatireoidismo, hipotireoidismo, diabetes insipidus, síndrome nefrótica, pan- hipopituitarismo e mucopolissacaridoses. Por outro lado, condições como edema e hipoproteinemia podem gerar resultados falso-negativos. O teste de triagem neonatal consiste na dosagem sérica do tripsinogênio, uma enzima pancreática que é refluída para circulação em função da obstrução dos ductos pancreáticos. Quando superior a 70 ng/ml deverá ser repetida ainda no primeiro mês de vida. Caso persista positiva, o bebê deverá realizar o teste do suor. Os livros de pediatria indicamque o diagnóstico da FC é feito com dois testes do suor medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Os livros de pediatria indicam que o diagnóstico da FC é feito com dois testes do suor positivos (cloro ≥ 60 mEq/L) em dias separados e este teste está indicado em qualquer uma das seguintes situações: sintomas clínicos compatíveis o u história familiar compatível ou teste de triagem positivo. Em 2024, o Ministério da Saúde publicou um "Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Fibrose Císticas". Neste documento, encontramos um fluxograma que já indica a realização do teste genético para a identificação das variantes patogênicas ou provavelmente patogênicas no gene CFTR para todos os indivíduos com resultado do teste do suor positivo ou inconclusivo. O teste genético também deve ser considerado nas crianças com triagem neonatal positiva e teste do suor negativo, caso tenham manifestações clínicas sugestivas. Aqui há o video de apostila 39.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. TRATAMENTOTRATAMENTO 1. Antibioticoterapia: existem ainda muitas dúvidas em relação ao momento ideal de se iniciar a terapia antimicrobiana: se antes dos sintomas, se na presença de colonização de vias aéreas apenas, se na presença de inflamação, quando exatamente? A indicação formal do início do antibiótico é a presença de sinais e sintomas de exacerbação: febre, aumento da frequência e intensidade da tosse, expectoração amarelada ou amarelo-esverdeada, redução do apetite, intolerância ao exercício, aumento da frequência respiratória, hemoptise, fadiga ou sonolência. Além disso, piora da ausculta respiratória e alterações do VEF1 ou modificações radiográficas também são levadas em consideração para decisão de início de tratamento. Além das exacerbações, outras duas condições são indicações de antibioticoterapia: 1) colonização de orofaringe positiva e anticorpos séricos aumentados para Pseudomonas aeruginosa ; e 2) pacientes colonizados cronicamente com S. aureus e Pseudomonas . Os pacientes cronicamente infectados e que apresentam exacerbações pulmonares deverão ser internados para realização de antibioticoterapia venosa por 14 a 21 dias com: oxacilina + amicacina + ceftazidima (este é apenas um dos esquemas descritos; idealmente estes pacientes devem ter seu perfil bacteriológico — colonização — avaliado e conhecido). 2. Agentes mucolíticos: os mais estudados são aqueles à base de DNase recombinante, que clivam o DNA do muco, tornando-o mais fluido. 3. Nebulização: com salina a 7%, 4x/dia. O salbutamol em aerossol pode ser administrado antes das nebulizações. 4. Lipase: o uso de lipase recombinante tem por objetivo substituir a lipase pancreática medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ausente na doença e reduzir as consequências da má absorção de gorduras. A dose recomendada é 1.000 unidades/kg/refeição. A maioria das formulações para terapia de reposição enzimática disponíveis no mercado contém lipase, protease e amilase. De acordo com a gravidade d o deficit nutricional, também pode ser necessária a reposição de vitaminas lipossolúveis. 5. Outros: suporte nutricional, fisioterapia respiratória. Para pacientes com fibrose cística são recomendadas vacinas especiais, além daquelas oferecidas no calendário básico. A perda de sal pelo suor e a grande superfície corporal trazem risco para desidratação e distúrbios eletrolíticos e, por isso, os recém-nascidos e lactentes em uso de leite materno ou de fórmulas infantis devem receber suplementação do íon cloreto e do sódio, na dose de 2,5–3 mEq/kg/dia. Os moduladores de CFTR (exemplos: ivacaftor, o lumacaftor + ivacaftor, tezacaftor + ivacaftor, ivacaftor + tezacaftor + elexacaftor) representam uma classe de medicamentos capazes de aumentar a produção, o processamento e/ou a função da CFTR. A indicação para estas terapias depende do tipo de mutação apresentada pelo paciente. DEFICIÊNCIA DE DEFICIÊNCIA DE ALFA-1-ANTITRIPSINAALFA-1-ANTITRIPSINA DEFINIÇÃODEFINIÇÃO A deficiência de alfa-1-antitripsina é uma desordem rara, pouco reconhecida clinicamente, podendo afetar o pulmão, o fígado e raramente a pele. O quadro clínico principal é a colestase em neonatos, cirrose em lactentes e enfisema no início da fase de adulto jovem. A alfa-1-antitripsina é uma proteína sérica sintetizada pelo fígado com atividade antiprotease, ou seja, inibição das enzimas proteolíticas liberadas por leucócitos e bactérias mortas. A deficiência de alfa-1-antitripsina, a principal de todas as antiproteases, leva à destruição progressiva do parênquima pulmonar por acúmulo da elastase sintetizada pelos neutrófilos e ao quadro clínico de enfisema. No fígado, os precursores malformados da alfa-1-antitripsina se acumulam dentro do retículo endoplasmático, o que, por motivos ainda não completamente conhecidos, levam à cirrose. A alfa-1-antitripsina é geneticamente determinada por mais de vinte alelos, sendo o mais importante o sistema M. O genótipo normal é conhecido como PiMM. Podem medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina existir os genótipos nulos, nos quais nenhuma molécula de AAT é sintetizada, e estes casos geralmente manifestam a forma mais grave da doença; e os genótipos deficientes, nos quais se observam apenas 30% da produção de ATT. Neste último caso, o alelo Z predispõe à doença clínica. Os genótipos deficientes mais frequentemente associados à doença são: PiZZ (1/2.000–4.000), PiZ-, PiSZ e PiZI. MANIFESTAÇÕES MANIFESTAÇÕES CLÍNICASCLÍNICAS Fique atento(a): no início da infância o quadro clínico não é respiratório, mas sim hepático. Sintomas de colestase (icterícia, acolia fecal) com hepatomegalia estão presentes na primeira semana de vida, podendo haver evolução deste quadro para completa resolução, doença hepática persistente ou cirrose. As crianças maiores podem apresentar hepatomegalia assintomática ou doença hepática crônica. Apenas poucos pacientes com genótipo PiZZ podem iniciar durante a infância sintomas pulmonares crônicos, como: dispneia, sibilância, tosse e enfisema. O tabagismo aumenta muito o risco de evolução para enfisema. DIAGNÓSTICODIAGNÓSTICO A dosagem sérica de alfa-1-antitripsina (valor normal: 180–280 mg/dl) revela níveis reduzidos. O genótipo poderá ser determinado através de técnicas de PCR ( Polymerase Chain Reaction ). TRATAMENTOTRATAMENTO O tratamento inclui medidas gerais como vacinação (ex.: antipneumocócica e anti- influenza), combate agressivo e precoce das pneumonias com agentes antimicrobianos, uso de broncodilatadores para alívio da doença obstrutiva e contraindicação absoluta ao tabagismo. Além disso, pode-se instituir a terapia de reposição com a enzima derivada de plasma humano. Dúvidas Acadêmicas do CapítuloTESTE SEU CONHECIMENTOConfira as dúvidas acadêmicas do capítulo clicando aqui medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Questões da ApostilaREALIZAR AS QUESTÕES Realize as questões de concursos selecionadas para esta apostila e depois confira os comentários da nossa equipe acadêmica. Tabela de ExamesVER TABELAExames laboratoriais em clínica médica. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicinaAssociada à infecção por: Salmonella , Shigella , Campylobacter e Cryptosporidium . ● Síndrome de Guillain-Barré: associada à infecção por Campylobacter . ● Nefropatia por IgA: associada à infecção por Campylobacter . ● Glomerulonefrite: Shigella , Yersinia e Campylobacter . ● Síndrome hemolítico-urêmica: E. coli O157:H7 e Shigella . ● Anemia hemolítica: Campylobacter e Yersinia . ● Eritema nodoso: Yersinia , Campylobacter e Salmonella . TRATAMENTOTRATAMENTO _ Tabela 4Tabela 4 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina TRATAMENTOTRATAMENTO O manejo terapêutico visa, essencialmente, evitar a desidratação, que pode levar à morte e à desnutrição. O reconhecimento da desidratação deve ser imediato, para a escolha do plano terapêutico mais adequado. Antes de analisarmos cada um dos planos, saiba um pouco mais sobre uma das principais soluções usadas para o manejo da desidratação: a solução de reidratação oral. SOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO ORALSOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO ORAL A Solução de Reidratação Oral (SRO) é uma mistura de água, glicose e eletrólitos direcionada para a reposição hidroeletrolítica por via oral de crianças com desidratação. Sua eficácia baseia-se no mecanismo acoplado de absorção de água- glicose-sódio da mucosa intestinal, que não se altera em boa parte dos episódios de diarreias agudas. A primeira SRO desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) teve sua composição modificada nas últimas décadas. A nova formulação da SRO, atualmente recomendada pela OMS/UNICEF, tem menor osmolaridade (245 mOsm/L), devido à menor concentração de sódio (75 mEq/L) e de glicose (75 mMol/L), e tem igual ou maior eficácia que a solução anterior, usada por várias décadas. Na , você confere a comparação entre essas soluções. TAB. 7TAB. 7 SOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO SOLUÇÃO DE REIDRATAÇÃO ORAL — COMPOSIÇÃO.ORAL — COMPOSIÇÃO. Tabela 7Tabela 7 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina CONDUTA TERAPÊUTICA SEGUNDO O MINISTÉRIO DACONDUTA TERAPÊUTICA SEGUNDO O MINISTÉRIO DA SAÚDESAÚDE O Ministério da Saúde propõe a avaliação de alguns parâmetros clínicos e, a partir disso, a avaliação do estado de hidratação e a instituição do plano terapêutico apropriado. Olhe atentamente a para perceber como isso é feito e depois leia com mais atenção os detalhes relacionados a cada um dos planos terapêuticos. TAB. 8TAB. 8 MANEJO DO MANEJO DO PACIENTE COM DIARREIA — MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2023.PACIENTE COM DIARREIA — MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2023. 1 Variáveis para avaliação do estado de hidratação do paciente que tem maior relação de sensibilidade e especificidade, segundo a Organização Mundial da Saúde. 2 A avaliação da perda de peso é necessária quando o paciente está internado e evolui com diarreia e vômito. Obs.: caso haja dúvida quanto à classificação (variáveis de desidratação ou de desidratação grave), deve-se estabelecer o plano de tratamento considerado no pior cenário. Aqui há o video de apostila 5.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. Tabela 8Tabela 8 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina PLANO APLANO A PARA PREVENIR A DESIDRATAÇÃO PARA PREVENIR A DESIDRATAÇÃO NO DOMICÍLIONO DOMICÍLIO 1. Ingerir/oferecer mais líquido que o habitual para prevenir a desidratação: ● O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, chá, suco e sopas) ou Solução de Reidratação Oral (SRO) após cada evacuação diarreica e episódio de vômito. ● A quantidade de líquidos extras após cada evacuação diarreica pode ser calculada da seguinte forma: » Menores de um ano: 50–100 ml após cada evacuação; » 1–10 anos: 100–200 ml após cada evacuação; » Maiores de 10 anos: quantidade que o paciente aceitar. ● Não utilizar refrigerantes e não adoçar o chá ou suco. 2. Manter a alimentação habitual para prevenir a desnutrição: ● Continuar o aleitamento materno. O único líquido que deve ser oferecido para as crianças em aleitamento materno exclusivo, além do leite materno, é a solução de SRO; ● Manter a alimentação habitual para as crianças e os adultos. 3. Levar o paciente imediatamente ao estabelecimento de saúde se: ● Não melhorar em 2 dias. ● Apresentar qualquer um dos sinais de alerta abaixo: » Piora na diarreia; » Recusa de alimentos; » Vômitos repetidos; » Sangue nas fezes; medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Sangue nas fezes; » Muita sede; » Diminuição da diurese. 4. Orientar o paciente ou acompanhante para: ● Reconhecer os sinais de desidratação e sinais de alerta; ● Preparar e administrar a solução de reidratação oral; ● Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos). 5. Administrar zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias: ● Até seis meses de idade: 10 mg/dia; ● Maiores de seis meses de idade a menores de cinco anos: 20 mg/dia. PLANO BPLANO B PARA TRATAR A DESIDRATAÇÃO POR PARA TRATAR A DESIDRATAÇÃO POR VIA ORAL NA UNIDADE DE SAÚDEVIA ORAL NA UNIDADE DE SAÚDE O plano B deve ser realizado na unidade de saúde. Os pacientes deverão permanecer na unidade de Saúde até a reidratação completa. 1. Administrar solução de reidratação oral: ● Apenas como orientação inicial, o paciente deverá receber de 50 a 100 ml/kg (média de 75 ml/kg) para ser administrado no período de 4–6 horas. Obs.: a OMS cita a oferta de 75 ml/kg em 4 horas; ● A quantidade de solução ingerida dependerá da sede do paciente; ● A SRO deverá ser administrada continuamente, até que desapareçam os sinais de desidratação; ● medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Se o paciente desidratado, durante o manejo do Plano B , apresentar vômitos persistentes, administrar uma dose de antiemético ondansetrona (não utilizar em gestantes): ● Crianças de seis meses a dois anos: 2 mg (0,2 a 0,4 mg/kg); ● Maiores de dois anos a dez anos (até 30 kg): 4 mg; ● Adultos e crianças com mais de dez anos (mais de 30 kg): 8 mg. 2. Durante a reidratação reavaliar o paciente seguindo as etapas do quadro "avaliação do estado de hidratação do paciente” ( ). ● Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilize o Plano A . ● Se continuar desidratado, indicar a sonda nasogástrica (gastróclise). ● Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o Plano C . 3. Durante a permanência do paciente ou acompanhante no serviço de saúde orientar a: ● Reconhecer os sinais de desidratação; ● Preparar e administrar a solução de reidratação oral; ● Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água e higienização dos alimentos). Durante a terapia de reidratação, o aleitamento materno pode ser mantido, se tolerado. Outros alimentos devem ser reiniciados apenas após a reidratação. Se, após seis horas de tratamento, não houver melhora da desidratação, encaminhar ao hospital de referência para internação. PLANO CPLANO C PARA TRATAR A DESIDRATAÇÃO PARA TRATAR A DESIDRATAÇÃO GRAVE POR VIA GRAVE POR VIA ENDOVENOSA ENDOVENOSA NONO ESTABELECIMENTO DE ESTABELECIMENTO DE SAÚDE/HOSPITALSAÚDE/HOSPITAL 1. Administrar reidratação endovenosa — fase de expansão e fase de manutenção/reposição. Tabela 8 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina ● Fase de expansão: » Menores de um ano: SF 0,9% ou Ringer lactato, 30 ml/kg EV, em uma hora; e 70 ml/kg nas próximas cinco horas; » Maiores de um ano: SF 0,9% ou Ringer lactato, 30 ml/kg EV, em 30 minutos; e 70 ml/kg em 2 horas e 30 minutos. Obs.: para recém-nascidos ou menores de cinco anos com cardiopatias graves, começar com 10 ml/kg de peso. ● Fase de manutenção: » Reposição para todas as faixas etárias, conforme esquema apresentado na . TAB. 9TAB. 9 PLANO C — FASE DE MANUTENÇÃO/REPLANO C — FASE DE MANUTENÇÃO/RE POSIÇÃO PARA TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS.POSIÇÃO PARA TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS. 2. Avaliar o paciente continuamente. Se não houver melhora da desidratação, aumentar a velocidade de infusão/gotejamento: ● Iniciar a reidratação por via oral com soluçãode SRO, quando o paciente puder beber, Tabela 9 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Iniciar a reidratação por via oral com solução de SRO, quando o paciente puder beber, geralmente 2 a 3 horas após o início da reidratação endovenosa, concomitantemente. ● Interromper a reidratação por via endovenosa somente quando o paciente puder ingerir a solução de SRO em quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de solução de SRO necessária varia de um paciente para outro, dependendo do volume das evacuações. ● Observar o paciente por, pelo menos, 6 horas. ● Reavaliar o estado de hidratação e orientar quanto ao tratamento apropriado a ser seguido: plano A, B ou continuar com o C . CONDUTA TERAPÊUTICA SEGUNDO O CDCCONDUTA TERAPÊUTICA SEGUNDO O CDC A avaliação do estado de hidratação proposta pelo CDC, encontrada no livro Nelson — Tratado de Pediatria, apresenta algumas diferenças em relação ao que acabamos de ver. Veja na como isso é feito e depois veja algumas pequenas diferenças encontradas nos planos terapêuticos. TAB. 10TAB. 10 CENTERS FOR DISEASES CONTROL CENTERS FOR DISEASES CONTROL — CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO — CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO.DE HIDRATAÇÃO. SAIBA MAISSAIBA MAIS Você já deve ter visto em diversos textos pediátricos referências ao cálculo das necessidades hídricas basais de crianças. Existem diversas regras que nos permitem realizar esse cálculo. Uma das mais conhecidas e utilizadas é a regra de Holliday-Segar, usada como referência para a fase de manutenção apresentada na , que propõe o cálculo da seguinte maneira: ● Até 10 kg: 100 ml/kg/dia; ● 10 a 20 kg: 1.000 ml + 50 ml/kg/dia para cada kg acima de 10 kg; ● Acima de 20 kg: 1.500 ml + 20 ml/kg/dia para cada kg acima de 20 kg. O acréscimo dos eletrólitos pode ser feito da seguinte forma: ● Sódio: 3 mEq em 100 ml de solução; ● Potássio: 2 mEq em 100 ml de solução. Tabela 9 Tabela 10Tabela 10 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina CENTERS FOR DISEASES CONTROL CENTERS FOR DISEASES CONTROL — CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO — CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO.DE HIDRATAÇÃO. Obs.: a atual edição do Tratado de Pediatria da SBP apresenta uma tabela bastante semelhante à acima e inclui mais um parâmetro: Deficit de fluidos/kg de pes o (%): ● Hidratado: 100 ml/kg (> 10%). Aqui há o video de apostila 6.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DIARREIA AGUDA SEM DESIDRATAÇÃODIARREIA AGUDA SEM DESIDRATAÇÃO Está recomendada terapia de reposição de perdas com SRO após cada evacuação ou episódio de vômito em ambiente domiciliar, com o seguinte volume: ● 10 kg: 120–240 ml SRO. Crianças pequenas amamentadas deverão continuar recebendo o leite materno, e aquelas que recebem dieta adequada para idade devem permanecer com a alimentação habitual sem restrição calórica. _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina DIARREIA AGUDA COM DESIDRATAÇÃO LEVE A MODERADADIARREIA AGUDA COM DESIDRATAÇÃO LEVE A MODERADA Está recomendada a terapia de reidratação com SRO em ambiente hospitalar nas próximas 3–4 horas, da seguinte forma: ● 50–100 ml/kg SRO em 3–4 horas. Prosseguir com a terapia de reposição de perdas, conforme dito acima. DIARREIA AGUDA COM DESIDRATAÇÃO GRAVEDIARREIA AGUDA COM DESIDRATAÇÃO GRAVE Está recomendada a terapia de reidratação com Ringer lactato em ambiente hospitalar nas próximas horas da seguinte forma: ● 20 ml/kg EV de Ringer lactato até a perfusão e o estado mental melhorarem; ● 100 ml/kg VO de SRO nas próximas quatro horas ou soro glicosado a 5% e SF 0,9% em proporção 1:1, EV, 2× a taxa de manutenção. Prosseguir com a terapia de reposição de perdas da forma que foi preconizada acima ou administrando a SRO por sonda nasogástrica (gastróclise). Outra forma de repor as perdas, caso a via enteral não seja possível, é usar soro glicosado 5% e salina fisiológica 0,9% na proporção ¾:¼ com 20 mEq/L de KCl 10% EV. OUTROS ASPECTOS DO TRATAMENTOOUTROS ASPECTOS DO TRATAMENTO ALIMENTAÇÃO NA DIARREIAALIMENTAÇÃO NA DIARREIA O aleitamento materno deve ser mantido e estimulado mesmo durante a reidratação, quando as crianças estão recebendo o plano B. As crianças com aleitamento misto ou artificial devem continuar recebendo a dieta habitual após reidratadas. Os alimentos, inclusive leite de vaca, não devem ser diluídos para não reduzir o aporte calórico. Para as crianças com dietas em concentração inadequadas, fazer as correções necessárias. Ressalta-se a importância do aumento de uma ou mais refeições ao dia, para compensar as perdas causadas pela diarreia e evitar comprometimento do estado nutricional. Esta suplementação alimentar deverá ser mantida até a recuperação do estado de nutrição das crianças. Não há qualquer medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina restrição alimentar à gordura (óleo vegetal, manteiga etc.); não devendo ser retirada da dieta, devido ao seu alto teor calórico e porque não piora a evolução da diarreia. É importante lembrar que os líquidos de hidratação oral, inclusive a SRO, não substituem a alimentação. PROBIÓTICOSPROBIÓTICOS Segundo a OMS, os probióticos são “micro-organismos vivos (ex.: principalmente bactérias e leveduras) que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um efeito benéfico no hospedeiro”. ● Bactérias produtoras de ácido láctico ( Lactobacillus , Bifidobacterium ). ● Leveduras ( Saccharomyces boulardii ). Os probióticos, geralmente usados sob a forma de sachês/cápsulas ou alimentos (ex.: leite fermentado, iogurte e queijo), são capazes de contribuir para a microbiota digestiva através de três mecanismos básicos de ação: 1. Resistência à colonização por micro-organismos patogênicos: os probióticos, ao competirem por nutrientes e sítios de adesão, limitam a multiplicação de outros germes. Além disso, podem produzir substâncias antimicrobianas, como os ácidos orgânicos, inibidores da proliferação; 2. Imunomodulação: os probióticos demonstraram capacidade de modular ou inibir a produção de toxinas e de dano celular, provocados, por exemplo, pelo vibrião da cólera, E. coli e C. difficile. Verificou-se também aumento da produção de interleucinas, TNF, interferon, capacidade fagocítica, IgA secretória com o uso de probióticos; 3. Contribuição nutricional: parece haver melhora da digestão da lactose em humanos. Em fevereiro de 2023, a Sociedade Europeia de Gastrenterologia, Hepatologia, Nutrição Pediátrica (ESPGHAN) publicou um posicionamento sobre uso de probióticos em diversos quadros pediátricos, incluindo as diarreias agudas. A partir da avaliação de diferentes revisões sistemáticas, metanálises e estudos randomizados, foram feitas as seguintes recomendações: ● Para o manejo da diarreia aguda, podem ser usadas três cepas ( Saccharomyces medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Para o manejo da diarreia aguda, podem ser usadas três cepas ( Saccharomyces boulardii , Lacticaseibacillus rhamnosus e Limosilactobacillus reuteri ) e uma mistura de duas cepas ( L. rhamnosus e L. reuteri ). As cepas testadas reduzem, em média, um dia da duração de diarreia. USO DE MEDICAMENTOSUSO DE MEDICAMENTOS O adequado suporte hidroeletrolítico e nutricional é decisivo para reduzir a mortalidade e a morbidade por diarreia. Os medicamentos comumente utilizados para diarreia aguda, além de desnecessários, estão contraindicados. Refrigerantes têm osmolaridade elevada e podem piorar a perda hídrica. Veja os principais medicamentos que devem ter seu uso evitado na a seguir. TAB. 11TAB. 11 MEDICAMENTOS USADOS MEDICAMENTOS USADOS OU CONTRAINDICADOS NO TRATAMENTO DA DIARREIAOU CONTRAINDICADOS NO TRATAMENTO DA DIARREIA AGUDA.AGUDA. AntieméAntiemé ticos (metoticos (meto ‐‐ clopramicloprami da,da, clorproclorpro mazina)mazina) Podem provocar manifestação extrapiramidal e são depressores do sistema nervoso central. Podem dificultarou impedir a criança de ingerir o soro, podendo também causar distensão abdominal. A ondansetrona pode ser usada em casos de vômitos repetidos. Antiespasmódicos (elixir paregórico, atro‐ pínicos, loperamida, difenoxilato) Inibem o peristaltismo intestinal, facilitando a proliferação dos germes e, por conseguinte, o prolongamento do quadro diarreico. Podem levar à falsa impressão de melhora. Não devem ser empregados. Adstringentes (caolinpectina, carvão) Têm apenas efeito cosmético sobre as fezes, aumentando a consistência do bolo fecal, porém mantendo a perda de água e eletrólitos, além de espoliar sódio e potássio. Também não Tabela 11 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina e eletrólitos, além de espoliar sódio e potássio. Também não devem ser rotineiramente prescritos. Racecadotrila Medicação que diminui a secreção intestinal por inibir a encefalinase intestinal. Reduz a duração da diarreia e o volume das evacuações. Diversos estudos apoiam o uso dessas medicações. ANTIBIÓTICOSANTIBIÓTICOS Os antimicrobianos são raramente indicados, tendo sua recomendação restrita, principalmente, para o tratamento de quadros de disenteria ou de suspeita de cólera. DISENTERIADISENTERIA ● Iniciar antibioticoterapia para os pacientes com sangue nas fezes e comprometimento do estado geral, conforme o quadro de avaliação do estado de hidratação do paciente e/ou febre alta persistente, dor abdominal, tenesmo ou comprometimento sistêmico: » Crianças menores de três meses ou criança com imunodeficiência: ceftriaxona, 50 a 1 00 mg/kg, EV, uma vez ao dia. Se não estiver hospitalizada, administrar 1 ª dose intramuscular e referenciar ao hospital; » Crianças maiores de três meses com até 30 kg (até dez anos): azitromicina, 10 mg/kg/dia, VO, no primeiro dia, e 5 mg/kg/dia por mais quatro dias; ou ceftriaxona: 50 mg/kg, IM, uma vez ao dia, por três a cinco dias, como alternativa; » Crianças com mais de 30 kg (com mais de dez anos), adolescentes e adultos: ciprofloxacino, um comprimido de 500 mg de 12/12h, VO, por três dias; ou ceftriaxona, 50 a 100 mg/kg, IM, uma vez ao dia, por três a cinco dias, como alternativa. Obs.: crianças com quadro de desnutrição devem ter o primeiro atendimento em qualquer estabelecimento de saúde, devendo-se iniciar hidratação e antibioticoterapia de forma imediata, até que chegue ao hospital. ● Reavaliar o paciente após dois dias. Se persistir a presença de sangue nas fezes após 48 horas do início do tratamento: » Se criança (até dez anos): encaminhar para internação hospitalar; medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina » Se adulto, adolescente ou crianças com mais de dez anos: � Condições gerais comprometidas: administrar ceftriaxona 50 a 100 mg/kg, via IM, uma vez ao dia, por três a cinco dias, ou encaminhar para internação hospitalar. ANTIPARASITÁRIOSANTIPARASITÁRIOS Devem ser usados somente para: ● Amebíase: quando o tratamento de disenteria por Shigella sp. fracassar, ou em casos em que se identificam trofozoítos de Entamoeba histolytica englobando hemácias nas fezes, utilizar metronizadol, 50 mg/kg/dia, 3x/dia por dez dias. ● Giardíase: quando a diarreia durar 14 dias ou mais, ou se identificarem cistos ou trofozoítos nas fezes ou no aspirado intestinal, utilizar metronizadol, 15 mg/kg/dia, 3x/dia por cinco dias. PARA CÓLERAPARA CÓLERA ● Doxiciclina ou, como alternativa, azitromicina (MS, Guia de Vigilância em Saúde). Aqui há o video de apostila 7.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. DIARREIA PERSISTENTEDIARREIA PERSISTENTE Nas crianças com diarreia persistente que não apresentam desidratação, as seguintes medidas são recomendadas: ● Se menor que seis meses ou sinais de desidratação: encaminhar para uma unidade hospitalar. ● Informar sobre como alimentar uma criança com diarreia persistente. A alteração da dieta deve ser um dos pontos-chave (em geral, dieta sem lactose ou medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A alteração da dieta deve ser um dos pontos-chave (em geral, dieta sem lactose ou sem leite de vaca ou derivados inicialmente). O aleitamento materno deve ser mantido ou deve-se fazer a relactação, quando possível; ● Dar zinco oral; ● Informar sobre quando retornar imediatamente (ex.: incapaz de beber ou mamar no peito; piora do estado geral, aparecimento ou piora da febre); ● Marcar retorno em cinco dias; ● Na fase de convalescença, dar duas IDR (Ingestão Diária Recomendada) de polivitamínicos e minerais por duas semanas: » Vitamina A (retinol); » Vitamina B9 (ácido fólico); » Zinco; » Cobre; » Magnésio. ● Os quadros moderados a graves devem ser encaminhados para a internação. Aqui há o video de apostila 8.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. MEDIDAS PREVENTIVASMEDIDAS PREVENTIVAS As medidas profiláticas visam, sobretudo, dois aspectos: ● Reduzir a transmissão dos agentes patogênicos, diminuindo a frequência dos episódios diarreicos; ● Promover o bom estado nutricional da criança, diminuindo as complicações e mortalidade por diarreia. As seguintes medidas têm comprovado impacto na redução da morbimortalidade medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina por diarreia: ALEITAMENTO MATERNOALEITAMENTO MATERNO O leite materno, pelas suas qualidades bioquímicas e nutritivas, é o melhor alimento para a criança, principalmente no seu primeiro ano de vida. O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses reduz o número de infecções e diminui a contaminação decorrente do uso de mamadeiras e alimentos contaminados. Nas comunidades com precárias condições de saneamento, as crianças amamentadas com mamadeiras têm uma probabilidade 25 vezes maior de morrer por diarreia do que as crianças alimentadas exclusivamente com leite materno durante os primeiros meses de vida. Para amamentar convenientemente o lactente, deve-se proporcionar condições para que a mãe possa: 1. Iniciar a amamentação no seio, se possível dentro da primeira hora após o parto; 2. Dar o seio quantas vezes a criança solicitar; 3. Nos primeiros seis meses de vida deve-se manter o aleitamento materno exclusivo (não devem ser oferecidos líquidos, como água, chás ou leite); a amamentação ao seio deve ser mantida durante e após qualquer doença da criança. Deve ser mantida, sobretudo, nos casos de diarreia. PRÁTICAS ADEQUADAS DE DESMAMEPRÁTICAS ADEQUADAS DE DESMAME A introdução de novos alimentos deve ser a partir do sexto mês, os alimentos devem ser de boa qualidade nutritiva e preparados com boa higiene. Levando-se em consideração a disponibilidade de alimentos e hábitos culturais da família, a criança poderá se alimentar de frutas regionais, cereais, leguminosas, carne e ovos. O acompanhamento do estado nutricional é facilitado pelo controle periódico do peso através do uso da Caderneta da Criança. IMUNIZAÇÃOIMUNIZAÇÃO Atualmente, é possível oferecer alguma proteção contra a diarreia aguda por medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Atualmente, é possível oferecer alguma proteção contra a diarreia aguda por rotavírus, responsável por um elevado percentual das internações por diarreia em crianças. A Vacina Oral contra o Rotavírus Humano (VORH) foi introduzida no calendário vacinal brasileiro desde 2006 e atualmente é preconizada em duas doses: dois meses (1 mês e 15 dias até 3 meses e 15 dias) e aos quatro meses (3 meses e 15 dias até 7 meses e 29 dias). A vacinação para rotavírus tem sido preconizada pela OMS desde 1996, com redução expressiva na mortalidade infantil e no número de casos graves em menores de cinco anos. SANEAMENTO BÁSICOSANEAMENTO BÁSICO A disponibilidade de água em quantidade suficiente nos domicílios é a medida mais eficaz no controle das diarreias infecciosas. Nos lugares onde não existe saneamento básico, buscar solução juntamente com a comunidade para o uso e acondicionamento da água em depósito limpo e tampado. É importante a orientação sobre o destino do lixo, das fezes e o uso adequado das fossas domiciliares. A disponibilidadede rede de água e esgotos adequados reduz a morbidade por diarreia de maneira considerável. A educação da comunidade leva à valorização das condições de saneamento básico, tornando-a prioritária também para os governos. LAVAGEM DAS MÃOSLAVAGEM DAS MÃOS A higiene das mãos reduz a frequência dos episódios diarreicos. Deve-se lavar bem as mãos: 1. Após higienizar uma criança que acaba de evacuar; 2. Após a evacuação; 3. Antes de preparar a comida; 4. Antes de comer; 5. Antes de alimentar a criança. EDUCAÇÃO EM SAÚDEEDUCAÇÃO EM SAÚDE medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina O profissional de saúde deve necessariamente envolver a comunidade, não apenas como alvo de informações, mas repartindo com ela a responsabilidade de buscar alternativas para um eficaz trabalho preventivo. Para isso deverá: 1. Conhecer as práticas da população; 2. Valorizar as práticas adequadas; 3. Modificar as práticas inapropriadas. Deve-se aproveitar todas as oportunidades de contato com a mãe para discutir sobre: 1. A repercussão das medidas preventivas sobre os meios de transmissão da diarreia; 2. A evolução do quadro clínico da diarreia; 3. As consequências das doenças e os sinais de alerta que indicam a necessidade de buscar recursos de saúde; 4. O uso da TRO; e 5. A alimentação adequada da criança. Para a difusão de conceitos sobre a saúde, deverão ser utilizados todos os recursos disponíveis, como: mensagens educativas, cartazes, palestras e os meios de comunicação de massa disponíveis na comunidade. O mais importante, porém, é a comunicação direta — pessoa a pessoa — se possível, com demonstrações práticas, envolvendo diretamente as mães. Individualmente, a educação em saúde deve fazer parte de todo atendimento feito por qualquer membro da equipe de saúde. CONTROLE DAS EPIDEMIASCONTROLE DAS EPIDEMIAS Os surtos de diarreia infecciosa devem ser controlados com o máximo de eficácia e eficiência possíveis. Para isso, é necessário melhorar a identificação precoce das epidemias com a implantação das seguintes medidas: 1. Utilização de registro de casos para conhecimento da demanda; 2. medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina 2. Visita domiciliar quando houver suspeita de surto epidêmico; 3. Identificação da fonte de contaminação; 4. Retaguarda laboratorial para a identificação do agente etiológico; 5. Disponibilidade de tratamento adequado e oportuno para todos os casos; 6. Notificação imediata ao serviço de vigilância epidemiológica para as providências necessárias. INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO Aqui há o video de apostila 9.mp4, ele está na pasta 'videos apostila'. As infecções respiratórias são o principal motivo dos atendimentos a crianças nas emergências e postos de saúde. Somente as infecções de vias aéreas superiores respondem por cerca de 40 a 60% dos atendimentos pediátricos nas Américas. Cerca de 20 a 40% de todas as hospitalizações em crianças, com idade inferior a cinco anos, englobam causas como pneumonia, bronquite, bronquiolite e outras doenças do aparelho respiratório. A maioria dos óbitos por infecções respiratórias deve-se às infecções das vias aéreas inferiores, basicamente, a pneumonia. Os fatores de maior gravidade e mortalidade para as infecções respiratórias agudas na infância são: ● Aglomeração de pessoas; ● Baixa cobertura vacinal; Dúvidas Acadêmicas do CapítuloTESTE SEU CONHECIMENTOConfira as dúvidas acadêmicas do capítulo clicando aqui medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Baixa cobertura vacinal; ● Baixo nível socioeconômico; ● Baixo peso ao nascer; ● Desmame precoce; ● Desnutrição; ● Dificuldade e demora de acesso à assistência à saúde: o fator mais importante entre todos os demais; ● Elevado número de crianças menores de cinco anos na família; ● Tabagismo domiciliar. As infecções respiratórias agudas da infância podem ser subdivididas clinicamente em: ● Síndromes das vias aéreas superiores; ● Síndromes das vias aéreas inferiores. Esta classificação baseia-se nas diferenças anatômicas e clínicas particulares de cada um dos grupos. As infecções das vias aéreas superiores são tipicamente benignas e autolimitadas na maioria das vezes, extremamente frequentes, ocorrendo a uma frequência de quatro a oito episódios/ano em menores de cinco anos (principalmente na faixa etária entre 6 e 24 meses) e dois a quatro episódios/ano em adultos. Por sua vez, a pneumonia, como protótipo das infecções de vias aéreas inferiores, pode se apresentar de forma grave, produzindo taxas de mortalidade inaceitáveis em países em desenvolvimento como o Brasil. Do ponto de vista prático, as vias aéreas superiores compreendem: ● Fossas nasais; ● Faringe (nasofaringe, orofaringe e hipofaringe); ● Seios paranasais; ● medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Laringe; ● Traqueia. O termo vias aéreas inferiores se refere a: ● Brônquios e bronquíolos; ● Parênquima pulmonar. As principais síndromes clínicas das vias aéreas superiores são: resfriado comum, faringite, otites e sinusites; laringites, epiglotites e traqueítes. A bronquite, bronquiolite e pneumonias são as doenças agrupadas no contexto das desordens das vias aéreas inferiores. VIAS AÉREAS SUPERIORESVIAS AÉREAS SUPERIORES INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO Os principais fatores de risco para aquisição de infecções de vias aéreas superiores são: ● Baixa idade (6–24 meses, principalmente); ● Sexo masculino; ● Atopia; ● Deficiência imunológica; ● Anomalias craniofaciais e de palato; ● Creches; ● Irmãos mais velhos; ● Fumo passivo; ● Uso de chupeta; medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina Uso de chupeta; ● Aleitamento artificial. Em geral, as desordens do aparelho respiratório são de origem infecciosa, alérgica ou congênita. Dentre as causas infecciosas incluímos: o resfriado comum, a otite, a sinusite e a faringite. A hipertrofia da adenoide é, geralmente, secundária a processos infecciosos locais. Um caso de rinorreia ou obstrução persistente pode estar associado a condições subjacentes, como a presença de um corpo estranho ou um quadro alérgico (rinite alérgica). As síndromes infecciosas das vias aéreas superiores podem ser causadas por uma grande variedade de agentes, principalmente vírus e bactérias. Veja-os na . TAB. 12TAB. 12 AGENTES INFECCIOSOS AGENTES INFECCIOSOS RELACIONADOS COM AS INFECÇÕES RESPIRATÓRIASRELACIONADOS COM AS INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS.AGUDAS. ETIOLOGIA VírusVírus ● Picornavírus: abrange os rinovírus, o agente mais frequentemente responsável por 30– 40% das IVAS, e os enterovírus (coxsackie, echovirus e poliovírus). ● Adenovírus. ● Paramixovírus: parainfluenza, vírus sincici al respiratório, sarampo e caxumba. ● Ortomixovírus: influenza. Bactérias Bactérias ● Faringite: Streptococcus pyo genes (beta- hemolíti co do grupo A). ● Otite média aguda: Strepto coccus pneumo ‐ niae , Haemo philus influen zae não tipável, Moraxella catarrhalis e S. pyogenes . ● Sinusite: S. pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis e, nas sinusites crônicas (> 30 Tabela 12Tabela 12 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina catarrhalis e, nas sinusites crônicas (> 30 dias), o S. aureus e anaeróbios. ● Epiglotite: H. influenzae tipo b, S. pyogenes , S. pneumoniae e S. aureus . ANATOMIA E FISIOLOGIAANATOMIA E FISIOLOGIA Você pode estar tentado a pular estes parágrafos iniciais que abordam a anatomia das vias aéreas superiores ( e ), porém, sugerimos que não o faça. Uma melhor compreensão das várias estruturas que podem ser acometidas te dará outra capacidade de compreender tudo o que ocorre nos quadros infecciosos. Figuras 1 _ 2 _ _ FIG. 1 _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina CAVIDADE NASALCAVIDADE NASAL A cavidade nasal comunica-se posteriormente com a nasofaringe através de uma abertura chamada coana e, anteriormente, com o meio externo, por orifícios denominados narinas. O vestíbulo , uma pequena dilatação próximaà abertura de cada narina, é revestido de epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado, que contém folículos pilosos, glândulas sebáceas e sudoríparas. O mesmo tipo de epitélio que reveste as fossas nasais também reveste a faringe, a laringe, a traqueia e os brônquios, sendo chamado de epitélio respiratório; juntamente com a sua lâmina própria (tecido conjuntivo subjacente), constitui a "mucosa respiratória”. Por entre as células colunares do epitélio, existem as células caliciformes, produtoras de muco. A lâmina própria contém fibras colágenas e elastina, além de fibroblastos, mastócitos, macrófagos, células de Langerhans (apresentadoras de antígeno) e linfócitos T. Capilares, vênulas e arteríolas são abundantes. Na porção mais profunda, referida como "submucosa”, encontram-se diversas glândulas produtoras de muco e secreção serosa — são as glândulas submucosas. O muco contém uma glicoproteína que lhe confere propriedades viscoelásticas. Este fenômeno facilita a aderência de partículas oriundas do meio ambiente. Substâncias como lisozima e IgA secretória que possuem ação antimicrobiana, além de IgE, histamina e lactoferrina, são outros componentes desta secreção. Na porção anterior da cavidade nasal, os cornetos e os pelos do vestíbulo favorecem a deposição de partículas grandes, sendo as menores de até 6 μm, depositadas mais distalmente por sobre o epitélio. O batimento ciliar direciona o muco para a nasofaringe, onde a secreção costuma ser deglutida. FIG. 2 medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina direciona o muco para a nasofaringe, onde a secreção costuma ser deglutida. A parede nasal lateral é constituída pelos cornetos nasais (conchas ou meatos) superior, médio e inferior. Estas estruturas pareadas proporcionam um aumento na área de superfície da cavidade nasal, permitindo assim adequado aquecimento, umidificação e limpeza do ar inspirado. Os cornetos inferior e médio são os mais comumente envolvidos em casos de obstrução nasal. Os orifícios de drenagem dos seios maxilar, frontal e etmoidal anterior estão localizados abaixo do corneto médio. Abaixo do corneto inferior, está a abertura do ducto nasolacrimal. Logo atrás do corneto superior, desembocam os óstios do seio esfenoidal e etmoidal posterior. A parede medial, ou septo nasal, é formada por uma placa perpendicular do osso etmoide, o vômer e a cartilagem septal. Normalmente, a passagem de ar pelo nariz representa em torno de 50% da resistência total imposta à respiração. O batimento de asa do nariz, uma dilatação inspiratória das narinas, recurso observado em crianças com dificuldade de respirar, diminui muito essa resistência ao fluxo de ar inspirado. O nariz é, portanto, um importante órgão do sistema respiratório, participando das funções de olfato, filtração, aquecimento e umidificação do ar inspirado. O exame clínico (incluindo a rinoscopia) é suficiente para avaliar a maior parte dos casos de doenças da cavidade nasal. FARINGEFARINGE A faringe é uma via pertencente ao sistema digestivo e ao sistema respiratório e pode ser subdividida em três porções: nasofaringe, orofaringe e hipofaringe. A nasofaringe situa-se atrás da cavidade oral, acima do palato mole, e comunica-se com a cavidade nasal através das coanas, e não apresenta qualquer contato com o alimento. Em sua parede posterior encontram-se as tonsilas faríngeas ou adenoides. A cavidade timpânica se comunica com a nasofaringe por meio da tuba auditiva. A orofaringe estende-se do palato mole, acima, até a borda superior da epiglote, e se comunica com a boca pelo istmo orofaríngeo. As tonsilas palatinas, ou amígdalas, localizam-se na fossa tonsilar, estando cercadas pelas pregas palatoglossas e palatofaríngeas ( ). A laringofaringe ou hipofaringe estende-se da borda superior da epiglote até a borda inferior da cartilagem cricoide. Contém os recessos piriformes, um de cada lado da abertura da laringe, local onde corpos estranhos podem se alojar. Figura 3 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina O tecido linfoide da nasofaringe (adenoides — ) e da orofaringe (tonsilas palatinas e linguais) distribui-se em forma de anel, recebendo, por isso, a denominação de “anel linfático de Waldeyer”. Apresentam-se em posição privilegiada, estando na direção do fluxo mucociliar (onde partículas estranhas ficam aderidas) e na direção do fluxo de ar, que entra nas vias aéreas superiores. As amígdalas ou tonsilas palatinas formam as porções laterais do “anel”, entremeadas entre os arcos palatoglosso e palatofaríngeo, sendo facilmente visualizadas durante uma simples inspeção da orofaringe. As amígdalas ou tonsilas linguais representam a porção inferior do “anel” formadas por um conjunto de pequenas projeções linfoides na raiz da língua. A adenoide (amígdala ou tonsila faríngea) compõe a porção superior do “anel”. Constitui-se por uma massa linfoide “esparramada” na parede posterior e no teto da nasofaringe. As estruturas do anel de Waldeyer são formadas por um tecido composto por nódulos linfáticos, ricos em linfócitos B e um tecido interfolicular contendo linfócitos T. A sua função é garantir uma rápida resposta imunológica contra os patógenos que penetram nas vias aéreas superiores, embora não sejam essenciais para o ser humano, ou seja, a sua retirada não provoca nenhuma deficiência imune. As amígdalas palatinas possuem reentrâncias — as criptas, nas quais se acumulam micro-organismos e partículas, que têm o contato facilitando com o sistema imunológico local. FIG. 3 Figura 4 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A inflamação e a hipertrofia das amígdalas palatinas e adenoide são bastante frequentes na infância. A tonsila adenoidiana tende a crescer do nascimento até a faixa etária entre três e seis anos, para depois regredir paulatinamente até praticamente desaparecer na adolescência. Pela sua posição, uma adenoide hipertrofiada pode obstruir as tubas auditivas e as coanas, provocando episódios recidivantes de otite média aguda e prejuízo da respiração nasal (roncos e apneia do sono). As amígdalas palatinas alcançam a sua atividade e crescimento máximo entre 4–10 anos de idade, uma fase em que todo o tecido linfoide apresenta uma resposta exacerbada à exposição antigênica. ORELHA MÉDIAORELHA MÉDIA A orelha média, ou cavidade timpânica, encontra-se localizada no osso temporal, em sua porção petrosa. Seu limite anterior é constituído pelo canal carotídeo, o posterior pelas células mastoides, o lateral pela membrana timpânica e o medial pela parede lateral do ouvido interno ( ). _ FIG. 4 Figura 5 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A cavidade timpânica contém os ossículos (martelo, estribo e bigorna) responsáveis pela condução do som na orelha média. A membrana timpânica forma uma espécie de septo que separa o meato acústico externo (ouvido externo) da orelha média. A sua face lateral (revestida pela epiderme) é côncava quando a observamos pela otoscopia. Um dos sinais de coleção fluida na orelha média é o abaulamento da membrana timpânica. O martelo encontra-se conectado à membrana timpânica por meio de seu manúbrio. A ação do músculo tensor do tímpano sobre o martelo faz com que a membrana esteja sempre tensa, portanto sensível a qualquer vibração sonora ( ). _ FIG. 5 Figura 6 _ _ medicina livre, venda proibida, twitter @livremedicina A cavidade timpânica contém ar atmosférico devido à sua comunicação com a faringe (através da tuba auditiva ou trompa de Eustáquio). Esta disposição faz com que as pressões em ambos os lados da membrana do tímpano se encontrem igualadas. As principais funções da tuba auditiva são a ventilação, proteção e clearance da orelha média, e alterações na sua fisiologia são a base patogênica para o desenvolvimento da otite média aguda. Nas crianças, as tubas são mais horizontalizadas do que nos adultos, e sua abertura nasofaringiana contém numerosos folículos linfoides ao redor. As adenoides, localizadas na nasofaringe, podem, quando aumentadas,