Logo Passei Direto
Buscar
LiveAo vivo
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

O Sujeito 
no Labirinto
Um Ensaio Psicológico
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
O Sujeito no 
Labirinto
Um Ensaio Psicológico
José Antônio Damásio Abib
ESETec 
2007
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Copyright © desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2007. 
Todos os direitos reservados
Abib, J.A.D.
O sujeito no labirinto - um ensaio psicológico. José Antônio Damásio 
Abib, 1a ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2007.
82p. 21cm
1. Filosofia da Psicologia
2. Psicologia e Pós-modernismo
3. Psicologia do Comportamento
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4 ISBN 85 88303 82 - 5
ESETec Editores Associados
Capa: Diva Benevides Pinho
(acrílico sobre tela) 
www.divabenevidespinho.ecn.br
Solicitação de exemplares: eset@uol.com.br 
Trav. João Rela, 120 B - Vila Bastos - Santo André - SP 
CEP 09041-070 
Tel. 4990 56 83/ 4438 68 66 
www. esetec. co m. br
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
http://www.divabenevidespinho.ecn.br
mailto:eset@uol.com.br
Sumário
A p re se n ta çã o 7
P re fá c io 9
Introdução: Do Sujeito na Psicologia ao 
Sujeito Pós-Moderno 11
I - O Sujeito na Psicologia 15
1. W. Wundt: O Sujeito como Experiência............... 1 q
2. W. James: O Sujeito como Consciência.......... 22
3. G. H. Mead: O Sujeito como Consciência Social 28
4. B. F. Skinner. O Sujeito Verbal.......................... 34
5. B. F. Skinner: O Sujeito Ético............................... 38
6. Um Balanço......................................................... 41
II - O Sujeito Pós-Moderno 43
7. A Morte do Sujeito.................................................. 44
8. Psicologias Modernas do Sujeito....................... 49
9. O Sujeito Interior................................................... 52
10. Linguagem e Sujeito........................................... 55
11. Identidade Social................................................ 58
12. Diversidade Cultural............................................ 61
13. Nota..................................................................... 66
14. O Adeus à Cultura da Identidade...................... 68
15. Psicologia e Filosofia do Sujeito........................ 71
16. Sujeito, Individualismo e Ética ....................... 73
17. O Sujeito e 0 Labirinto..................................... 76
R e fe rê n c ia s ........................................................... 78
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Apresentação
O Sujeito no Labirinto é o título provocativo do novo livro do Prof. 
José Antonio Damásio Abib, que tenho a honra de apresentar. Labirintos 
trazem aos psicólogos a lembrança dos instrumentos de investigação do 
comportamento animal que serviram de base a tantas teorias psicológicas, 
particularmente da primeira metade do século passado. Mas para um 
conhecedor de literatura como o Prof. Abib, apreciador dos escritos de Jorge 
Luis Borges (não mencionado diretamente neste ensaio, mas cuja presença 
me parece sensível, escondida talvez atrás de algum espelho), o labirinto é 
mais ainda literário e filosófico, como os de Borges e Umberto Eco.
O que se pode encontrar nesse labirinto o leitor descobrirá ao percorrer 
o texto do Prof. Abib, mas ele pode ficar seguro de que, mesmo que o labirinto 
não tenha um centro ou uma saída, guiado pela mão segura do autor, o leitor 
não ficará perdido. Trata-se, sem dúvida, de um livro suficientemente claro 
numa primeira leitura atenta, mas também bastante rico para releituras e para 
despertar o interesse pela leitura dos pensadores que nele são tratados, desde 
os autores pós-modernos que tratam da noção de sujeito até os esquecidos 
clássicos da psicologia, nos quais o Prof. Abib encontra antecipações deste 
pensamento. Quem sabe até o leitor não vá mais querer sair do labirinto, 
buscando também os autores, tanto recentes quanto clássicos, a cuja leitura 
ou releitura esse livro nos introduz e nos convida.
O autor observa que os pensadores clássicos da Psicologia 
abordados em seu estudo pouco freqüentam as salas de aula dos cursos de 
Psicologia em nosso país ou, quando o fazem, são pouco compreendidos. 
Infelizmente, essa negligência em relação aos clássicos não significa uma 
cobertura mais aprofundada dos autores atuais. Muito pelo contrário, no 
início do Século XXI, penso que o ensino da Psicologia em nosso país ainda 
se concentra, freqüentemente, em temas da primeira metade do século 
passado. Assim, esse fivro, além de instigante e provocativo para os 
professores e profissionais da Psicologia, Filosofia e áreas afins, certamente 
constituirá também material valioso para nossos cursos de graduação e pós- 
graduação. E faz-se necessário também agradecer ao autor pelo prazer que 
a leitura de seu texto proporcionou.
Júlio César Coelho de Rose 
Professor Titular do Departamento de Psicologia da UFSCar
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Prefácio
Este livro tem três propósitos. Primeiro, fazer o esboço de uma 
psicologia do sujeito. Segundo, fazer o esboço de um discurso pós- 
moderno sobre o sujeito. Terceiro, fazer um esboço do encontro dessa 
psicologia com esse discurso.
A psicologia do sujeito apresentada neste ensaio fundamenta-se 
não só em autores que são autênticos clássicos, como Wilhelm Wundt, 
William James e George Herbert Mead, que dificilmente freqüentam as 
salas de aula da psicologia, mas também em um autor que reiteradamente 
é acusado de promover precisamente uma psicologia sem sujeito: Burrhus 
Frederic Skinner. O discurso pós-moderno apresentado nesse ensaio toma 
como ponto de partida a declaração, paradoxal à primeira vista, da morte 
do sujeito.
De um lado, foram tais constatações - estranhas - que deram 
origem a esse livro. Com efeito, como psicologias do sujeito, com 
tonalidades tão originais, como as dos clássicos da psicologia, não 
freqüentam as salas de aula da disciplina? Como uma psicologia complexa 
e atual do sujeito, como a de Skinner, é ignorada por seus detratores e 
até mesmo por seus defensores? Como a crítica pós-moderna constrói 
teorias do sujeito ao mesmo tempo em que declara a sua morte?
De outro lado, vários acasos deram origem a esse livro. Na 
verdade, foram eles que me permitiram perceber todo esse conjunto de 
estranhezas. Durante longos anos minha experiência como professor das 
disciplinas epistemologia da psicologia e história da psicologia na 
Universidade Federal de São Carlos - SP conduziu-me aos textos de 
Wundt, James, Mead e Skinner. Tive também a oportunidade de 
desenvolver, por um período de dois anos, de 1989 a 1991, um projeto de 
pós-doutorado com o Dr. Steinar Kvale na Universidade de Aarhus na 
Dinamarca. Centrado na psicologia do sujeito, esse projeto foi estimulado 
pelo professor Kvale com a finalidade de contemplar o discurso pós- 
moderno sobre a morte do sujeito.
Desde então, desde as minhas conversas com o professor Steinar, 
minhas reflexões sobre o sujeito ganharam ao longo desses anos a
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antonio OamAsio Abib
perspectiva da crítica pós-moderna, que, ao fim e ao cabo, é umade sujeito ético.
É melhor começar dizendo que provavelmente todo ou quase 
todo o comportamento humano é verbal. Essa característica do 
comportamento humano deve-se à definição de comportamento verbal 
apresentada por Skinner em seu livro Comportamento verbal, de 1957. 
Verbal é o comportamento que é modelado e mantido por conseqüências 
mediadas, ou que é efetivo somente através da mediação de outras 
pessoas. Não-verbal é o comportamento que é modelado e mantido por 
conseqüências não-mediadas, ou que é efetivo sem envolver a mediação 
de outras pessoas. É possível com um gesto, com uma expressão facial 
ou corporal, com um comportamento vocal ou escrito, produzir 
conseqüências efetivas através do comportamento de outras pessoas. 
Uma pessoa pode comentar que está com uma terrível dor de cabeça e 
receber de uma outra um comprimido. Lançando um olhar fulminante um 
pai pode fazer seu filho parar imediatamente de arreliar sua irmãzinha. 
Comentar que está com uma terrível dor de cabeça e lançar um olhar 
fulminante são exemplos de comportamento verbal. Deve-se ressaltar 
que o comportamento verbal pode ser não só mantido, mas também 
modelado por conseqüências mediadas. O comportamento de um médico 
é modelado pelo comportamento de seu professor quando, gradualmente 
e por diferenciações sucessivas, ele aprende a fazer um diagnóstico 
medico. Se uma criança aprende sozinha a subir em uma árvore, seu 
comportamento é não-verbal. Mas é verbal se aprendeu a fazê-lo com 
seu pai. Se uma criança sobe na árvore, mas ninguém sabe dizer se esse 
comportamento foi mediado ou não, não é possível decidir se é ou não 
verbal. A possibilidade de existência de comportamento humano não-
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
verba! está sempre em aberto. Na verdade, à medida que Skinner relaciona 
a imitação com o comportamento ecóico, um tipo de comportamento verbal 
que envolve reproduções não só de sons, mas também de sinais e 
maneirismos, a definição de comportamento verbal torna-se bem mais 
ampla do que quando se limita aos processos de modelagem e 
manutenção do comportamento. Pois a imitação é um dos principais 
processos de aquisição e manutenção mediada de comportamento. Sem 
que possa ser impugnada de uma vez por todas, a possibilidade de 
comportamento não-verbal torna-se ainda mais limitada com esse 
alargamento da definição de comportamento verbal. Se à definição mais 
inclusiva de comportamento verbal, essa que inclui a imitação, for 
acrescentado o fato de que nas sociedades ocidentais a educação substitui 
em larga escala a experiência direta das pessoas, como diria Skinner, a 
experiência com as contingências, torna-se ainda mais evidente a presença 
do comportamento verbaf e o ocaso do comportamento não-verbal.
Talvez o comportamento não-verbal se restrinja ao comportamento 
filogenético de animais e seres humanos. O comportamento filogenético 
é todo o comportamento que produz conseqüências de sobrevivência, 
por exemplo, procurar alimento, fugir de predadores, fazer a corte, construir 
o ninho. Mas mesmo nesses casos pode-se perguntar se o comportamento 
verbal não desempenhou algum papel na evolução do comportamento. 
Por exemplo, a imitação não terá exercido nenhum papel na evolução da 
corte, da reprodução sexual e da construção de ninhos?
Os comportamentos não-verbais são comportamentos 
inconscientes. Mas há também comportamentos inconscientes que são 
verbais. Através da imitação, chimpanzés aprendem a limpar e lavar 
batatas, tornando-as salgadas e lisas, estimulantes per se, reforçadoras. 
O comportamento é verbal não-vocal e inconsciente. Comportamentos 
inconscientes podem ser não-verbais e verbais não-vocais e se distinguem 
dos comportamentos conscientes porque esses são verbal-vocais.
Comportamentos não-verbais são efetivos: a reprodução é 
realizada, o ninho é construído, o alimento é encontrado. Comportamentos 
verbais não-vocais também são efetivos: a batata do chimpanzé é limpa 
e lavada com sucesso, a árvore é galgada habilidosamente pela criança 
(que aprendeu a fazê-lo com seu pai). O comportamento não-verbal é 
cognitivo: produz conseqüências efetivas de sobrevivência. O 
comportamento verbal não-vocal também é cognitivo: produz 
conseqüências reforçadoras. Há, então, nessas duas versões de 
comportamento inconsciente, cognição inconsciente. Com base na noção 
de comportamento inconsciente, pode-se tomar a cognição inconsciente 
como sendo equivalente ao inconsciente cognitivo. Isso significa dizer 
que há uma série de equivalências que explicam o inconsciente cognitivo 
remetendo-o à cognição inconsciente e essa ao comportamento 
inconsciente não-verbal ou verbal não-vocal.
35
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Oamásio Ablb
Uma das versões mais divulgadas do inconsciente cognitivo é o 
inconsciente reprimido. O inconsciente reprimido refere-se a comportamentos 
submetidos a um processo conflitante de punição e reforço. Freqüentemente 
a punição é aplicada a comportamentos que estão sob controle de 
reforçadores, de conseqüências estimulacionais per se, sem valor de 
sobrevivência, que fortalecem o comportamento que os produz. Reforçadores 
não só não têm significado biológico, ou se alguma vez o tiveram, deixaram 
de ter, como também são capazes de ocasionar desvantagens biológicas. 
Mas, apesar disso, fortalecem o comportamento que os produz. Reforçadores 
fortalecem o comportamento sem reduzir necessidades e impulsos biológicos 
e são diferentes de conseqüências de sobrevivência (que têm valor biológico) 
precisamente porque não têm valor biológico. Isso é verdade mesmo no 
caso dos reforçadores sobrepostos a conseqüências de sobrevivência 
naturais, como água, alimento, sexo, fuga de predadores, que fortalecem o 
comportamento por duas razões. De um lado, porque são conseqüências de 
sobrevivência naturais, reduzem necessidades e impulsos biológicos ou têm 
valor biológico; de outro, porque são conseqüências reforçadoras, são 
conseqüências estimulacionais per se.
Uma criança que se masturba é reforçada pela estimulação produzida 
pela masturbação, mas essa estimulação não tem qualquer significado 
biológico. Se esse comportamento ocorrer no contexto de uma comunidade 
religiosa, será severamente punido. E mais, provavelmente a criança será 
chamada de depravada se essa comunidade tiver uma têmpera vitoriana. 
Comunidades com essa índole acreditam que o comportamento sexual deve 
limitar-se rigorosamente à sua função biológica de reprodução da espécie. 
O problema será sempre o de estabelecer os limites entre a mera reprodução 
biológica e a estimulação per se. O comportamento sexual é tolerado até 
certa medida em algumas culturas. Quando esse limite é ultrapassado, no 
homossexualismo, por exemplo, a punição é o principal procedimento utilizado 
pelos membros da cultura para enfraquecê-lo (Skinner diz que se trata do 
conflito entre o velho Adão e a consciência judaico-cristã). Evidentemente 
um comportamento só pode ser punido se acontecer. No processo de 
formação do inconsciente reprimido o comportamento acontece, é reforçado, 
e depois é punido. Decorre desse processo a formação de comportamentos 
de fuga e esquiva bem como o enfraquecimento dos comportamentos que 
foram reforçados e punidos. Os reforçadores fortalecem o comportamento 
antes da produção de conseqüências biológicas. Os reforçadores táteis da 
masturbação, e no caso de adolescentes, os reforçadores orgásticos e 
ejaculatórios, fortalecem o comportamento antes da reprodução sexual. Se 
esse comportamento começar a ser punido, comportamento sexual 
inconsciente e reprimido estará em curso.
O conhecimento que existe no inconsciente reprimido tem suas 
características peculiares. Por exemplo, não é possívelafirmar que o 
comportamento sexual é efetivo da mesma maneira no inconsciente cognitivo- 
reprimido e no inconsciente cognitivo-não-reprimido. No inconsciente
36
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
cognitivo-reprimido, a efetividade da cognição é realizada no contexto de 
uma clandestinidade que não se verifica no inconsciente cognitivo-não- 
reprímido. Trata-se, enfim, de formas distintas de efetividade inconsciente do 
comportamento sexual. No inconsciente reprimido as contingências punitivas 
desempenham um papel preponderante. A pessoa sente estímulos aversivos 
condicionados produzidos pela emissão de comportamentos que foram 
punidos, e foge ou se esquiva deles. A comunidade verbal descreve os 
sentimentos produzidos por esses estímulos atribuindo-lhes nomes como 
vergonha ou culpa. Nem por isso, nem por terem um nome e uma descrição, 
a pessoa toma consciência desses sentimentos ou é capaz de alterá-los. 
Isso só acontecerá se a comunidade verbal for capaz de ensiná-la a descrever 
e alterar as contingências punitivas bem como as condições corporais que 
controlam seus sentimentos. Mas a tarefa não é simples porque os 
comportamentos de fuga e de esquiva dificultam a tomada de consciência, 
seja das contingências e dos estímulos aversivos condicionados produzidos 
pela emissão do comportamento punido, ou dos sentimentos controlados 
por tais contingências e estímulos. Trata-se de uma situação desoladora 
porque o comportamento não aparece para a comunidade verbal e ela não 
tem como ensinar a pessoa a tomar consciência das contingências, dos 
comportamentos e sentimentos.
A tese de que provavelmente todo ou quase todo o comportamento 
humano é verbal significa que provavelmente a evolução e aquisição do 
comportamento são mediadas pelo comportamento de outrem. A cognição é 
uma característica marcante desses comportamentos e, na medida em que 
é mediada por outrem, é de natureza social. Mas, então, a cognição é social 
porque, em última análise, é verbal. As mediações sociais são mediações 
verbais, quer dizer, o comportamento verbal é o ponto de partida para a 
análise do comportamento social. Se for dito que o sujeito é cognição social, 
o que se diz, em última análise, é que ele é cognição verbal. Uma cognição 
que pode ser inconsciente ou consciente. Pois, como já foi dito, a consciência 
é comportamento verbal-vocal.
O que é, então, o sujeito? O sujeito é cognição verbal, inconsciente 
ou consciente (a possibilidade de existência do sujeito não-verbal não é 
examinada aqui). Quando ainda identificava o sujeito com a pessoa, em 
seu livro Sobre comportamentalismo, de 1974, Skinner afirmava que há um 
sujeito que conhece e um sujeito conhecido, ou na sua linguagem, há dois 
sujeitos na mesma pele. O conhecedor é a pessoa que descreve e o 
conhecido é a pessoa descrita. Novamente, como em Mead: como uma 
pintura abstrata, o sujeito refere a si mesmo: é auto-referente. Ou, pode-se 
dizer, o eu refere-se ao me. O eu é o sujeito que descreve o me. Trata-se de 
ilimitadas descrições, porque o comportamento verbal-vocal pode descrever 
não só comportamentos não-verbais, mas também comportamentos verbais 
não-vocais e comportamentos verbal-vocais. Enfim, o sujeito é a relação 
entre o eu e o me, é relação cognitiva verbal, consciente ou não, ou 
simplesmente, o sujeito é verbal.
37
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
5. B. F. Skinner: O Sujeito
Ético
Uma indagação do sujeito ético em Skinner envolve duas pesquisas. 
Uma se refere ao sujeito verbal. O sujeito ético é verbal no sentido examinado 
aqui. Outra se refere ao exame de três sentimentos: Eros, philia e ágape. O 
filósofo Anaré Comte-Sponville diz em seu Pequeno tratado das grandes 
virtudes, de 1995, que Eros, philia e ágape referem-se a sentimentos sobre 
os quais os filósofos se debruçam quando refletem sobre o amor. São, em 
uma palavra, sentimentos amorosos. Da perspectiva do comportamentalismo 
radical de Skinner, as conseqüências do comportamento fortalecem ou 
enfraquecem o comportamento e também produzem sentimentos. Eros e 
philia são sentimentos produzidos respectivamente por conseqüências 
naturais e reforçadoras. Philia é o sentimento que acompanha o 
comportamento que produz conseqüências reforçadoras. Em Questões 
recentes na análise do comportamento, de 1989, Skinner apresenta exemplos 
notáveis que sustentam essa afirmação. Diz ele que philia é o amor dedicado 
a Brahms, a Renoir, a Dickens, a Veneza, a personagens literários, a crianças, 
a amigos. Artistas, lugares, pessoas são amados porque são estimulantes 
per se, são reforçadores. Desde os anos 50 Skinner já observava que o 
tilintar de um sino ou o cintilar de um objeto reforça o comportamento de 
bebes e, após argumentar que é praticamente impossível atribuir tais efeitos 
a uma história de condicionamento, comenta que, mais tarde, esses “bebês” 
podem ser reforçados por espetáculos coloridos ou por orquestras. Pode-se 
ainda acrescentar a essa lista o amor às conseqüências estimuladoras 
relacionadas com “vícios", "pecados”: glutonaria, luxúria, violência, alcoolismo, 
drogação.
Eros refere-se ao deleite que acompanha as conseqüências de 
sobrevivência produzidas pelo comportamento sexual. Deve-se desconfiar 
dessa afirmação por envolver uma redução de Eros ao comportamento 
filogenético. É bem o que Skinner acha quando comenta que insetos 
provavelmente não desfrutam de si mesmos ao copularem filogeneticamente 
(na verdade os insetos só estarão condenados à cópula filogenética, se a
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
evolução não os tiver preparado para conseqüências reforçadoras). Eros 
envolve deleite sexual, mas não pode ser identificado meramente com 
comportamento sexual filogenético. Sem o comportamento sexual filogenético 
certamente não haveria Eros. Mas Eros não é deleite sexual se o sexo for 
entendido simplesmente como comportamento reprodutivo. Eros se constitui 
com o advento do reforço. A partir do comportamento sexual filogenético, 
eventos como o toque da pele e dos lábios adquire a capacidade de estimular 
per se o comportamento sexual. Surgem os reforços primários e Eros passa 
a acompanhar os comportamentos que são chamados de carícias: carícias 
táteis, visuais, olfativas, sonoras, gustativas. Com o advento desses reforços 
primários surge o erotismo. É bem por isso que, diz Skinner, o amor materno 
é erótico, mas não é sexual. Os estímulos táteis como o toque da pele e o 
beijo são por si suficientes para produzir deleite erótico. Recorde-se: 
reforçadores são conseqüências estimulacionais que não têm valor de 
sobrevivência. Explicar a suscetibilidade a esses estímulos provavelmente 
remete à filogênese. Com efeito, é possível que os estímulos táteis, visuais, 
olfativos, sonoros e gustativos tenham adquirido a função de reforçadores 
por estarem originalmente relacionados com o comportamento sexual 
filogenético. A suscetibilidade às conseqüências da ação teria que ser 
compreendida como suscetibilidade, não só às conseqüências de 
sobrevivência naturais, mas também às conseqüências estimulacionais per 
se, constituídas pelo comportamento sexual filogenético, que, no entanto, 
teriam sido desvinculadas evolutivamente desse comportamento.
Os reforçadores produzem deleites distintos: Eros e philia referem- 
se a deleites distintos. Mas onde reside exatamente a diferença? Skinner 
acha que é difícil responder a essa questão. Diz, por exemplo, que é quase 
eroticamente que os amantes de Brahms tocam e ouvem suas obras e que 
é quase como forma de arte que algumas vezes são praticados a corte e o 
ato de amor.Philia refere-se à beleza e à amizade. Mas é erótica, a beleza? 
Ou, é erótica a amizade? E o erotismo é beleza, é amizade? No diálogo O 
banquete, Platão argumenta que há uma ascese de Eros, que começa 
com a atração física por uma pessoa, alcança sua beleza, e tem seu 
desfecho na contemplação da idéia (ou da forma) de beleza em si. Na Ética 
a Nicômacos, Aristóteles disse que philia refere-se à amizade, o amor 
incondicional ao amigo. Provavelmente a diferença entre esses dois tipos 
de sentimentos relaciona-se com a direção do reforço. No caso de philia, o 
reforço é dirigido ao outro e sentimos alegria por seu bem-estar e felicidade: 
há nisso, beleza e amizade. Ou há amor-alegria, como argumenta 
eloquentemente Espinosa, em sua Ética, de 1677. No caso de Eros, o outro 
nos reforça e, mesmo que não haja reforço sexual, a estimulação per se 
difere da estimulação sexual apenas no que se refere ao seu contexto de 
ocorrência. Com efeito, estimulações visuais, auditivas, olfativas, gustativas, 
táteis, podem ocorrer ou não no contexto da atividade sexual.
Eros é o amor que se realiza somente na falta e que se entedia na 
sua realização efetiva. Diria Skinner que Eros é o amor que se realiza
39
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antonio Damasio A b it
somente na privação e que se entedia na saciação. Eros é o amor-egoísmo, 
carente, privado, é o amor aflito pela posse do ser amado. Eros é o amor- 
paixão, é o amor platônico, é o amor-morte: amor-ausência. Uma 
possibilidade de escapar do tormento de Eros é investir na amizade erótica. 
Vulgarmente faz-se uma demarcação nítida entre amizade e Eros: são 
amores que não se confundem. Mas nada impede que a amizade seja 
erotizada ou que Eros torne-se amistoso. Basta quo sejamos capazes de 
dirigir o reforço ao outro e sentir alegria pelo seu bem-estar bem como de 
sentir a estimulação per se do reforço que nos é dirigido pelo outro. Eros 
perde o peso do egoísmo e adquire a leveza da alegria. A amizade, a leveza 
da alegria, torna-se sensual sem se tornar pesada. Essa possibilidade foi 
belamente explorada por Milan Kundera no seu romance A insustentável 
leveza do ser. O romancista tcheco refere-se ao conceito de amizade erótica 
como itinerário para galgar a leveza do ser. Infelizmente, como já diz o 
títuio do livro, o que predomina é o peso do ser, o peso de viver. O romance 
é trágico: nada é sustentável: nem a leveza, nem o peso de viver. Mas há 
uma magistral defesa da literatura da leveza concebida como função 
existencial feita pelo romancista italiano Italo Calvino no seu provocativo 
livro Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas.
Há uma dupla direcionalidade envolvendo as conseqüências naturais 
e reforçadoras. Uma pessoa pode fortalecer com conseqüências naturais ou 
reforçar o comportamento de outra e vice-versa. A possibilidade de ágape se 
formar depende de voltar-se o direcionamento das conseqüências naturais e 
reforçadoras para o outro. Mas não pode estacionar nesse nível, pois essas 
conseqüências produzem erotismo, beleza, e amor incondicional ao amigo, 
mas não ágape, o amor incondicional à humanidade. Com philia, ágape está 
em curso, mas só começa a aparecer quando o amor incondicional elevar-se, 
quando o amor incondicional ao amigo se generalizar, quando alcançar todas 
as pessoas, todos os agrupamentos humanos, todas as culturas. Mas não só. 
Essa generalização, que já se configura como um resultado extraordinário de 
uma educação bem-sucedida, precisa ainda ultrapassar sua dimensão de 
presença,: precisa dirigir-se para o futuro. Esse é o momento crucial de ágape. 
No ápice, ágape refere-se ao amor incondicional à vida, à natureza, ao gênero 
humano, às obras da natureza e do homem, ao desenvolvimento humano, às 
próximas gerações. Ágape é o amor-celebração da criação do cosmos, da 
natureza, da humanidade. O sujeito agápico lida com conseqüências de ordem 
cultural: lida com conseqüências que promovam a sobrevivência dos grupos 
sociais, das culturas e do amor agápico.
O sujeito ético é o sujeito agápico. Eros, philia e ágape, os 
sentimentos fundamentais para a elaboração de uma teoria do amor, estão 
presentes na formação do sujeito ético. Com efeito, as contingências 
filogenéticas, ontogenéticas e culturais em que o sujeito ético é educado 
produzem inevitavelmente os sentimentos amorosos. O sujeito psicológico 
(o sujeito erótico, estético, amigo) é o ponto de partida de formação do 
sujeito ético (o sujeito agápico).
40
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
6. Um Balanço
A psicologia moderna libertou o sujeito dos fantasmas da psicologia 
metafísica: o sujeito não é nem pressupõe a mente ou a matéria. A psicologia 
moderna é pós-metafísica, pois concebe o sujeito no campo da experiência 
fenomenal. Segundo as versões de psicologia pós-metafísica examinadas 
aqui, o sujeito é processo volitivo-afetivo-ideativo (Wundt), consciência 
(James), consciência social (Mead), verbal-agápico (Skinner). A experiência 
é inerente a todas essas concepções de sujeito: a consciência e a consciência 
social são processos da experiência. A partir de Mead o método de 
investigação da experiência é modificado. Até então a investigação da 
experiência fundamentava-se na observação livre da psicologia da experiência 
interna e na observação controlada de Wundt. Com Mead, a investigação da 
experiência passa a ser fundamentada no estudo do comportamento. Essa 
guinada continua com Skinner, como pode ser verificado, por exemplo, na 
análise da relação entre o comportamento ético e os sentimentos. Outro 
aspecto importante dessa virada metodológica consiste na concepção do 
sujeito verbal. O sujeito verbal pode ser consciente ou inconsciente; e é 
cognitivo, em ambos os casos, mesmo quando o inconsciente é reprimido, 
quer dizer, o inconsciente reprimido é cognitivo. Até então a consciência 
referia-se a um eu observador, seja na observação controlada de Wundt ou 
no segmento presente da consciência de James ou ainda no observador 
social de Mead. Com Skinner, a consciência, o eu observador, torna-se verbal. 
Constitui-se desse modo a possibilidade de estudar a consciência e o 
inconsciente através da investigação do comportamento verbal.
Da perspectiva dessas diversas acepções de sujeito, os sujeitos 
psicológico e epistemológico estão tão interligados que parecem indiscemíveis. 
Somente por um artifício de perspectiva o sujeito epistemológico é diferenciado 
do sujeito psicológico, pois, como Wundt demonstrou, o sujeito cognitivo é 
ao fim e ao cabo o sujeito volitivo-afetivo-ideativo. Não é outra a conclusão 
que podemos extrair da análise de James, pois, como fluxo da consciência, 
o sujeito cognitivo conhece determinado por seus interesses e por sua 
experiência pessoal, direta e particular. Não só os seus interesses, mas 
também a idiossincrasia de suas experiências conferem um colorido individual
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Oamàsio Abib
ao conhecimento. O sujeito relacional de James trava uma conversação na 
qual o eu e o me dialogam na atmosfera de uma psicologia individual do 
conhecimento.
A conversação do sujeito dialógico, que em James não ultrapassa a 
esfera da consciência individual, é transformada e ampliada quando Mead 
mostra sua gênese social. Embora a teoria dialógica e social de Mead tenha 
uma vertente psicológica e outra epistemológica, nota-se uma ênfase do 
psicólogo social na vertente epistemológica da teoria, isso pode ser verificado 
quando, ao distinguir a experiência subjetiva da experiência reflexiva, atribui 
a tarefa de controlar a experiência subjetiva ao sujeito da experiência reflexiva. 
O sujeito relacionai de Mead travauma conversação na qual o eu e o me 
dialogam na atmosfera de uma psicologia social do conhecimento.
Comparados esses dois sujeitos, o sujeito, por assim dizer, 
dialógico-individual de James, e o sujeito dialógico-social de Mead, o de 
James é mais subjetivo, é mais psicológico; já o de Mead, é mais objetivo, 
é mais sociológico. É bem possível que um psicólogo sinta mais simpatia 
pelo sujeito de James, e um sociólogo ou um psicólogo social, pelo de 
Mead. Haveria nessas escolhas um duplo equívoco. Não é porque James 
enfatizou a experiência subjetiva que essa experiência não tenha uma 
explicação social, Não é também porque Mead enfatizou a experiência 
reflexiva que essa experiência não tenha uma explicação subjetiva. As 
experiências reflexivas e subjetivas são interdependentes, Não é aqui o 
local apropriado para apresentar evidências para a tese da interdependência 
dessas experiências, mas referências básicas scbre o assunto podem ser 
encontradas em um exame mais detalhado da obra de Mead e também na 
obras de construtivistas sociais (Vygotsky, por exemplo) e de construcionistas 
sociais (Gergen, por exemplo).
Ao galgar o patamar da reflexão, o sujeito dialógico-social, de 
Mead, transforma-se no sujeito ético. Essa passagem, que institui o sujeito 
ético fincando as raízes do sujeito dialógico-social na experiência reflexiva, 
e não na experiência subjetiva, pode dar a impressão, equivocada, de 
que o sujeito ético é frio e insensível. Esse equívoco é imediatamente 
afastado se lembrarmos que o sujeito ético é crítico da sociedade. Sendo 
assim, não pode ser frio e insensível e, de fato, não é.
A noção de sujeito ético, de Mead, pode ser enriquecida se for 
lida sob o ponto de vista de Skinner. Com efeito, a transição do sujeito 
psicológico para o sujeito ético, isto é, a passagem da experiência subjetiva 
para a experiência reflexiva, não significa transição de um estado de 
sentimento para um de não sentimento. Significa - isto sim - a passagem 
de Eros e phida para ágape. A formação do sujeito ótico não prescinde da 
existência do sujeito psicológico. Ao contrário, Eros e philia são 
sentimentos necessários para a gênese de ágape. O sujeito ético nasce 
juntamente com ágape. Em uma palavra, o sujeito ético é o sujeito agápico, 
ou, dito com mais precisão, é o sujeito verbal-agápico. Se for admitido 
que ágape seja o sentimento amoroso mais edificante, se for lembrado 
que Eros e philia participam de sua formação, não é evidente que o sujeito 
verbal-agápico, a consciência verbal-agápico, é a síntese mais requintada 
de uma educação sentimental bem sucedida?
42
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
/ / - O Sujeito 
Pós-Moderno
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
7. A Morte do Sujeito
Não deixa de ser paradoxal escrever um texto sobre o sujeito pós- 
moderno quando as tendências do discurso pós-moderno consistem 
precisamente na declaração da morte do sujeito. Tomada ao pé da letra, a 
declaração da morte do sujeito impugna, aparentemente desde o princípio, 
qualquer investigação acerca do sujeito. Mas trata-se de uma declaração 
paradoxal porque é feita por um sujeito: o sujeito está presente no ato em que 
declara sua morte. O discurso pós-modemo do sujeito começa assim: irônico.
A declaração da morte do sujeito é um ataque à filosofia do sujeito. 
Os alvos preferidos dessa critica são as idéias de que o sujeito é uma 
substância e uma agência. Embora a concepção filosófica substancialista do 
sujeito seja antiga, pós-modernistas argumentam que o entendimento do 
sujeito como substância constitui-se em um dos aspectos básicos da 
modernidade. E efetivamente confirmam seu ponto de vista porque quando 
descrevem o sujeito substancial o fazem apoiando-se em referências 
modernas, freqüentemente volumosas, sejam elas literárias, filosóficas ou 
científicas. Em seu ensaio Pós-modernismo e subjetividade, de 1992, Lavlie 
caracteriza o sujeito substancial moderno como um centro. Como um centro, 
diz Lavlie, o sujeito é um princípio de identidade.
O princípio de identidade relaciona-se com o conceito de substância 
- um conceito que remonta à Antigüidade, às obras de Platão e Aristóteles. A 
substância refere-se ao ser: ao que subsiste ou ao que está sob: a natureza 
ou essência. Um ser sem substância é inconcebível. Com essa caracterização 
da substância tem início o essencialismo grego, que distingue o ser, a essência 
necessária, de seus acidentes ou propriedades, as essências não-necessárias. 
Por exemplo, filósofos gregos afirmam que o ser do homem, sua essência 
necessária, reside na razão. Dizer de um homem que ele é sem razão, ou é 
um dito que não se refere a um homem, ou é um dito em que há contradictio 
in adjecto, quer dizer, há uma contradição de palavras em que o predicado 
(sem razão) nega a noção de razão introduzida pelo sujeito (homem). As 
essências necessárias não mudam: um homem não pode perder a sua
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaie Psicológico
essência de ser racional, se perdê-la deixará de ser e de existir como homem. 
Não haverá, por outro lado, qualquer contradição se alguém afirmar que um 
homem é negro ou islâmico, pois sua essência não é afetada por sua origem 
ou religião. As essências acidentais são propriedades que podem mudar: os 
homens podem ter qualquer origem ou religião sem que isso afete sua 
essência racional. A substância é o que dura ou o que permanece apesar 
das mudanças de suas propriedades acidentais. Se a faca tem cabo de 
madeira ou de metal pouco importa, o que ela não pode é perder o fio. 
Quando se diz que o sujeito é um princípio de identidade, o que está sendo 
dito é que ele é uma substância. Pois mantém sua identidade por ser uma 
substância, uma unidade no curso de mudanças, concebíveis ou reais, de 
suas propriedades acidentais,
Em seu ensaio Pós-modernismo e as ciências humanas, de 1992, 
Lather refere-se, criticamente, ao sujeito moderno como uma agência reificada: 
como princípio ativo reduzido ao estatuto de uma coisa. O sujeito seria uma 
coisa ativa: uma coisa que pensa e que sente e que age. Como agência, 
como coisa ativa, a coisa é causa, é causa do sentimento, do pensamento, 
da ação. Na filosofia do substancialismo a alma é essa coisa ativa, deliberativa 
e responsável, como já dizia James. Em seu ensaio Psicologia pós-moderna 
do sujeito refletida na ciência e nas artes, de 1992, Young cita um trecho da 
Divina comédia de Dante que corrobora essa visão da alma. Nesse trecho, o 
poeta italiano medieval refere-se ao espírito pleno de poder, soprado na 
matéria da natureza, o cérebro, pelo primeiro Motor, o Criador, que se dedica 
ao que é ativo em sua natureza, vivendo e sentindo como alma unitária. Ao 
se referir ao sujeito como coisa ativa, Lather está frisando que a substância, 
ou a essência necessária, dessa coisa chamada ‘sujeito' comporta um 
princípio de ação.
Em seu ensaio Tecnologia e o sujeito: do essencial ao sublime, de 
1996, Gergen rotula o discurso moderno, que vê o sujeito como princípio de 
atividade e de unidade subjetiva, de essencialismo psicológico. O sujeito, 
que já fora pensado como sendo a alma, como James já observara, é 
identificado por Gergen como sendo a mente. Quer dizer, a mente não só é 
ativa, mas também é idêntica a si mesma, ao longo de toda a sua existência. 
Ao fim e ao cabo, o sujeito é princípio de atividade e de unidade subjetiva da 
mente. É contra essa concepção de sujeito que se insurge o discurso pós- 
moderno, No construcionísmo social, uma das versões do discurso pós- 
moderno, talvez a mais importante orientação filosófica da psicologia social 
do presente, o discurso sobre o sujeito é compreendidocomo discurso social, 
seja ele moderno ou pós-moderno. Pode-se perguntar como o discurso social 
leva à crença na existência da alma ou da mente. Pode-se perguntar, por 
exemplo, como o discurso religioso da Idade Média íevou Dante a afimiar 
que a alma fora soprada no cérebro pelo Criador. Ou como se chegou a 
acreditar que a alma é deliberativa e responsável.
Deixando a alma em paz, como diria James, pode-se dirigir uma 
pergunta dessa natureza ao discurso relativo à existência da mente, como
45
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José António DamAsio A b it
fez Gergen. O psicólogo social norte-americano indaga quais são as 
características do discurso social que levam as pessoas a acreditar que existe 
algo como a mente. Apoiado na análise de discurso, Gergen argumenta que 
juízos ontológicos afirmativos - dizer: ‘isto existe’ - baseiam-se na 
homogeneidade discursiva dos participantes do discurso. Há inicialmente 
um acordo relativo às categorias de existência de processos mentais, como, 
por exemplo, as emoções. Mas o acordo deve ser amplo. Gergen inclui, 
nesse caso, acordos acerca de emoções como medo, raiva, tristeza. Se o 
acordo for mais restrito e envolver grupos mais marginalizados ou mais cultos, 
a credibilidade na existência do processo mental é menor. Gergen inclui, 
nesse caso, termos como ‘ansiedade existencial’, ‘acesso de melancolia’, 
‘mal do século'. Deve haver acordo também em relação à expressão do 
processo psicológico. Expressões que se referem consistentemente a estados 
psicológicos lhes conferem uma credibilidade maior em relação a sua 
existência do que expressões inconsistentes. No primeiro caso Gergen inclui 
as expressões relativas às emoções de medo, raiva, tristeza, entre outras; e 
no segundo caso inclui as expressões de amor. Ele chega a dizer que há 
uma desconfiança entre os estudiosos da ciência da emoção em relação à 
pesquisa do amor, isso porque o amor pode ser expresso por adoração, 
esquiva, suicídio, homicídio. Precisa haver acordo ainda com relação ao 
contexto das expressões de estados psicológicos. Referindo-se a condições 
nas quais ocorrem tais expressões, Gergen afirma que as pessoas acreditam 
na existência da raiva porque, entre outras coisas, ela ocorre em situações 
de conflito, de frustração ou de injustiça, e que dificilmente acreditariam na 
existência dessa emoção se ela ocorresse na ausência dessas situações. 
Por exemplo, quando alguém estivesse ouvindo um concerto de Brahms ou 
se estivesse no meio de uma sossegada contemplação. Finalmente deve 
haver um acordo sobre o valor social do estado psicológico. Gergen comenta 
que a crença na existência de doença mental ressalta mais o valor social dos 
procedimentos terapêuticos do que a crença na existência do poder da 
bruxaria, que, como se sabe, conduziu em tempos idos à execução das 
pessoas possuídas por tal poder. Quer dizer, se as conseqüências sociais de 
um estado psicológico são socialmente bem avaliadas então a crença na 
existência do estado está garantida.
Gergen fundamenta-se no construcionismo social para explicar como 
o discurso social moderno constrói a mente e o sujeito. A compreensão desse 
discurso pode ser apreciada melhor no contraponto com o discurso social 
que constrói a fragmentação do sujeito. O ensaio de Gergen continua a ser 
uma introdução elucidativa ao assunto. Ele localiza os discursos sociais mais 
recentes sobre o sujeito no que chama de tecnologias de reíacionaiidade 
humana. Essas tecnologias referem-se às transformações de toda ordem, 
na civilização tecnológica, que aproximam e expõem as pessoas umas às 
outras de modos até então desconhecidos. Essa nova situação cultural está 
no cerne de novos discursos sociais que contribuem para minar a 
homogeneidade discursiva moderna referente ao sujeito. Surgem então
46
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito nç Labirinto: Um ensaio Psicológico
múltiplas ontologias, contestação de expressões, apropriações de contextos 
e objetivos controversos.
As tecnologias de comunicação romperam com toda ordem de limites 
culturais, comunitários, étnicos, e produziram uma saturação social que abalou 
a base referencial do sujeito. Gergen diz que já não se sabe mais se existe 
um gosto estético superior, se existe criatividade real, se existe um sentimento 
moral, se existe um livre-arbítrio, se existe doença mental. Há uma crise de 
ordem ontológica que multiplica os candidatos à existência de essências 
tomando cada vez mais difícil deliberar qual deles representa a essência do 
sujeito. Operou-se uma transformação ontológica de relativa homogeneidade 
discursiva para uma aflitiva heterogeneidade discursiva.
A comunicação explosiva de modos de vida reflete-se também nos 
modos de expressão dos estados psicológicos. Gergen retoma as diversas 
expressões de amor para mostrar como tal diversidade contribui para uma 
descrença na existência dessa emoção. Argumenta também que o fato de 
uma expressão, por exemplo, o comportamento criminoso, poder ser atribuída 
a diversos estados emocionais, dificulta a identificação do estado psicológico 
real, verdadeiro, realmente existente, responsável por tal comportamento. É 
importante ressaltar que o estudo de casos complexos envolvendo os múltiplos 
efeitos de um fator bem como os efeitos singulares de múltiplos fatores é 
uma situação comum na ciência e na psicologia. Obviamente Gergen sabe 
disso. O que o psicólogo social está enfatizando é a explosão de situações 
desse tipo criadas pela mídia e pela telecomunicação da civilização 
tecnológica. Cita, por exemplo, as tentativas da televisão e do cinema de 
multiplicar, com propósitos dramáticos, formas culturalmente desconhecidas 
de expressões amorosas.
Essa multiplicidade que atinge a ontologia dos estados psicológicos e 
seus modos de expressão alcança também os contextos expressivos. Gergen 
refere-se à apropriação de contextos por subculturas e dá o exemplo de grupos 
religiosos que se apropriam das linguagens do rock e da música romântica, 
transformando o significado da música religiosa bem como do rock e da música 
romântica. A multiplicação dos contextos de expressão torna variável o 
significado psicológico da expressão. A situação é similar à da variabilidade 
dos modos de expressão. Combinadas essas variabilidades, o modo de 
expressão toma-se um signo com muitos significados, conclui Gergen.
Essa multiplicidade que Gergen identifica no discurso social mais 
recente sobre a mente e os estados mentais amplia-se, mais uma vez, e 
alcança a homogeneidade discursiva referente aos objetivos sociais. A 
comunicação entre os grupos sociais propiciada pela tecnologia contribuiu 
para que, por exemplo, comunidades de negros, homossexuais e feministas 
percebessem o caráter opressivo do discurso moderno sobre o sujeito. Esses 
grupos, diz Gergen, assumiram como causa comum a crítica a esse discurso. 
Dirigem suas críticas a temas como os seguintes: doença mental, quociente 
de inteligência geral, racionalidade androcêntrica. Critica contundente, que 
termina por atingir a crença na existência da mente e dos estados mentais.
47
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Jose Antonio Damàsio Abíb
Com efeito, a mente e os estados mentais são vistos como construção de 
um discurso social politicamente orientado para a contenção da expressão 
de diferenças. Da perspectiva dessa crítica, torna-se difícil defender a 
existência de estados psicológicos mesmo se suas conseqüências sociais 
forem bem avaliadas. E isso por dois motivos. Primeiro porque já há uma 
crítica referente à existência dos estados psicológicos entendidos como 
expressão de uma mente e de um sujeito. Segundo porque as diferençasentre os grupos sociais ganham expressão efetiva, o que dificulta um consenso 
sobre o que são boas conseqüências sociais.
A crítica pós-modema compreende o sujeito como discurso. Quer 
dizer, e repetindo, moderno ou pós-moderno, o sujeito é discurso. Quando 
se opta pelo discurso pós-moderno, esvaziam-se os princípios de atividade e 
identidade presentes no discurso moderno acerca do sujeito. Pois o sujeito 
pós-moderno é acêntrico. Fyelde, em seu ensaio sobre PeerGyint, naturalismo 
e a dissolução do sujeito, de 1968, e Voung, no ensaio já citado, recorrem a 
uma imagem esclarecedora do sujeito acêntrico. Trata-se da imagem do 
sujeito cebola presente na obra PeerGynt do escritor norueguês Henrik Ibsen. 
Na quinta cena do quinto ato, Peer Gynt pega uma cebola para comer. Começa 
a descascá-la, e associa cada camada do bulbo vegetal com cada um dos 
papéis que representou. Mas, para seu desespero, constata que não é mais 
do que as camadas da cebola, pois não descobre nenhum centro, melhor, 
descobre, nos termos de Ibsen, que é ar vazio, espaço vazio. Como Peer 
Gynt, o sujeito acêntrico é fragmentado, vazio. Acêntrico, o sujeito pós- 
moderno não é nem princípio de identidade nem princípio de atividade, é 
discurso fragmentado.
Lather expressa certo receio em relação ao discurso pós-moderno 
sobre o sujeito, pois observa uma tendência à reificação do sujeito 
fragmentado, que ela chama, também, de sujeito fraturado, esquizóide. 
Considerando essa tendência, Lather chega a dizer que falta uma teoria pós- 
modema adequada acerca do sujeito. Em seu livro Introdução a psicologia 
narrativa, de 2000, Crossley expressa uma insatisfação similar ao tentar 
assimilar uma teoria pós-modema do sujeito na psicologia narrativa. O que 
orienta a crítica dessas autoras ao discurso pós-moderno sobre o sujeito é a 
questão da identidade. O problema é como tratar com o princípio da unidade 
subjetiva da perspectiva do sujeito acêntrico. A questão que as inquieta é 
esta: como pensar no princípio de identidade sem um centro? Crossley 
concorda que o sujeito é acêntrico, mas quer recuperar o sentido de unidade 
subjetiva para dar conta da sensação de “subjetividade real" que as pessoas 
experimentam quando fazem narrativas, bem-sucedidas ou não, de si. Como 
se verá dentro de instantes essas autoras padecem da “insatisfação humeana”. 
Mas, antes, é necessário apresentar concretamente a psicologia do sujeito 
que é criticada pelo discurso pós-moderno.
48
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
8. Psicologias Modernas
do Sujeito
Em seu livro Discurso e psicologia social, de 1987, Potter e 
Wetherell apresentam três teorias psicológicas que são, dizem, as mais 
centrais no desenvolvimento da psicologia do sujeito. As teorias 
psicológicas do sujeito são: teoria do traço, teoria do papel social, teoria 
humanista. Cada uma dessas psicologias lega à posteridade uma imagem 
do sujeito, que são, respectivamente, as imagens da alma honesta, do 
ator e do sujeito autêntico. O que se defende na teoria do traço é que o 
sujeito é uma personalidade e, como uma personalidade, consiste de 
uma configuração peculiar de capacidades, habilidades e atributos, sendo 
seus traços únicos, podendo, dessa forma, ser mensurados com testes e 
inventários de personalidade. Quando se diz que o sujeito é extrovertido 
ou introvertido arrola-se uma configuração de traços que definem um tipo 
de personalidade. Potter e Wetherell apresentam uma descrição de 
Eysenck e Eysenck do sujeito extrovertido como uma pessoa que tem 
muitos amigos, que gosta de festas, que não gosta de estudar sozinho. 
Por essa descrição, o sujeito extrovertido é sociável. Mas não é apenas 
isso. Ele é também impulsivo, sempre tem uma resposta pronta, gosta de 
mudanças, prefere estar movimentando-se e fazendo coisas, nem sempre 
é uma pessoa confiável, e seus sentimentos não são firmemente 
controlados. Nessa teoria considera-se que a personalidade é mais 
importante do que as situações e os contextos em que a pessoa vive: 
situações e contextos têm muito pouca influência na personalidade. Uma 
pessoa extrovertida o é em qualquer situação e contexto. Ela nem simula 
nem dissimula sua personalidade: é uma alma honesta. Almas honestas 
têm somente uma identidade, não têm crises de identidade, já que sua 
unidade subjetiva transcende situações e contextos.
Na teoria do papel social defende-se, com base na metáfora da 
dramaturgia, que o sujeito é um ator (role-ptayet) social. Nessa teoria 
predominou inicialmente a imagem do sujeito sólido. Em seus ensaios,
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio D amásio Abíb
Fjelde e Young fazem uma análise do sujeito na dramaturgia teatral e 
dizem que, desde a Antigüidade até meados do século XIX, predominou 
na representação teatral a imagem do sujeito sólido, o que transformava 
toda a representação em desempenho do estado sólido. Durante todo 
esse período, o sujeito sólido esteve presente em todos os personagens 
ou disfarces de identidade que representou. A representação referia-se às 
múltiplas expressões ou disfarces do estado sólido. Mas, como já foi 
observado, em PeerGynt, o sujeito sólido transformou-se no sujeito cebola.
Potter e Wetherell fazem uma apresentação da teoria do papel 
social que é muito próxima da imagem do sujeito cebola (se o leitor achar 
muito irreverente chamar o sujeito de cebola, chame-o de sujeito Peer 
Gynt). De acordo com essa teoria, o sujeito desempenha diversos papéis 
na sociedade, que dependem, não só de sua posição social, mas também 
de sua percepção das situações e contextos com os quais se defronta. 
Um sujeito pode apresentar uma configuração de traços de personalidade 
com predomínio de traços extrovertidos sobre traços introvertidos, mas 
disso não decorre que suas ações serão predominantemente extrovertidas. 
Ao contrário, elas podem ser predominantemente Introvertidas se ele 
perceber que são mais adequadas às situações e aos contextos. O sujeito, 
aqui, não é uma personalidade, mas sim uma criatura social. A criatura 
social é uma invenção das posições sociais existentes na sociedade. 
Impessoal e supra-individual, a posição social define um conjunto de 
atividades - um papel - que devem ser assumidas por seus ocupantes. As 
pessoas ocupam diversas posições na sociedade, especialmente nas 
sociedades modernas, nas sociedades complexas: aprendem várics papéis 
sociais, transformam-se em várias criaturas sociais ou em vários sujeitos. 
Adquirem várias identidades, tornam-se vítimas das crises de identidade, 
tornam-se almas insinceras, assumem fachadas, escondem-se atrás de 
máscaras. As pessoas transformam-se em artistas, atores, atrizes, e os 
traços, que os defensores da alma honesta atribuem à personalidade, 
são atribuídos aos papéis. Mas as máscaras não são vistas como disfarces 
de um sujeito sólido, elas não passam de disfarces de disfarces, não 
passam de camadas de cebola. Esse sujeito não é somente um ator: é 
também um jogador. Sendo assim, joga de acordo com o papel que 
considera apropriado ao papel que o outro jogará. Mas não só. Joga 
também de acordo com o papel que acha que os outros esperam que ele 
jogue. Como jogador, é um sujeito estratégico que tentará obter vantagens 
sobre os outros. Oportunista e tolo, dirão os psicólogos humanistas.
Oportunista, é evidente. Mas tolo, por quê? Porque age como 
vítima de circunstâncias sociais. Potter e Wetherell comentam que os 
psicólogos humanistas criticam os defensores da teoria do papel social 
porque esses não percebem que na dramaturgia existe atrás da máscara 
do ator um sujeito real, um sujeito que por todo o tempo da representação 
monitora o desempenho de seu personagem. Essa concepção do sujeito
50
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS:perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
na dramaturgia, que é similar à concepção do sujeito sólido, reflete a 
crença dos psicólogos humanistas na existência do sujeito autêntico. O 
sujeito autêntico, verdadeiramente autêntico, é autônomo, e busca o seu 
próprio desenvolvimento, busca a auto-realização e especialmente busca, 
por esforço próprio, realizar suas próprias esperanças. Nesse processo 
de crescimento, o sujeito pode se defrontar com dificuldades que inibem 
sua livre expressão, precisa, pois, se redescobrir, e as recomendações 
dos psicólogos humanistas são as de que ele procure ser espontâneo, de 
que tente simplesmente viver, Uma pessoa pode, contudo, ter sido 
submetida a sofrimentos tão profundos que só é capaz de se expressar 
por suas máscaras. Nesse caso a terapia pode ajudá-la a retirar suas 
camadas de falsos sujeitos, suas máscaras, até que, gradualmente, 
alcance camadas mais profundas e autênticas de ser.
Os pós-modernistas não aceitam as psicologias do sujeito que 
promovem as imagens de alma honesta, sujeitos sólido e autêntico. 
Percebem nessas acepções de sujeito a presença da filosofia do 
substancialismo. Desse modo a crítica pós-moderna da filosofia do sujeito 
alcança a psicologia do sujeito. Qualquer tentativa dessas psicologias no 
sentido de compatibilizar a tensão que envolve os princípios de unidade e 
diversidade subjetiva está fadada a cair nos braços da filosofia 
substancialista do sujeito. Mas essa crítica não aprofunda a distinção 
entre o sujeito substancial e o sujeito interior. Como será visto a seguir, 
quando se presta atenção a essa distinção, há pelo menos uma psicologia 
que, passando ao largo de concepções substancialistas do sujeito, tenta 
compatibilizar os princípios de unidade e diversidade subjetiva. Trata-se 
da psicologia do sujeito que foi concebida por William James. Retoma-se 
James. Não só para aprofundar, demarcando seu local filosófico específico, 
o contexto intelectual que o conduz à sua acepção de sujeito, mas também 
para elucidar a tensão que envolve os princípios de unidade e diversidade 
subjetiva. Na filosofia ocidental essa história aparentemente começa com 
o filósofo escocês David Hume (1711-1776).
51
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
9. O Sujeito Interior
Em seu livro Sumário do tratado da natureza humana, de 1740, 
Hume fez uma crítica da filosofia substancialista do sujeito atacando 
precisamente a noção de substância. Hume criticou a filosofia substancialista 
cartesiana que defende a existência de duas substâncias: uma mental, outra 
material. O filósofo escocês não encontra nenhuma impressão, nenhuma 
percepção forte e viva, de substância mental ou material que possa utilizar 
como base para derivar uma idéia correspondente de substância mental ou 
material. De acordo com Hume, na ausência de uma impressão 
correspondente, nenhuma idéia, nenhuma percepção mais fraca e menos 
viva, tem significado. Sendo assim nenhuma idéia de substância, mental ou 
material, tem significado. Na investigação de uma suposta substância mental, 
podem ser verificadas impressões, como sensações de calor e frio, 
sentimentos de amor e ódio, pensamentos, mas, afirma Hume, não se verifica 
nenhuma impressão de uma mente ou de um espírito que teria essas 
impressões. Não é possível, conseqüentemente, afirmar que tais impressões 
pertencem a uma mente ou a um espírito. O máximo que se pode declarar é 
que a mente ou o espírito são compostos por essas impressões.
Na tradição aparentemente inaugurada por Hume o sujeito 
desaparece como um centro de atividade e de identidade. Mas, mesmo 
na ausência de um centro, sente-se que os princípios de atividade e 
identidade são necessários para descrever a experiência. Em seu livro O 
conceito de mente, de 1949, Ryle comenta que Hume não ficou satisfeito 
com suas conclusões, pois achava que alguma coisa a mais, e alguma 
coisa importante, deve existir. Hume inquietava-se com esta questão: se 
não existir alguma coisa a mais, como poderei descrever minha própria 
experiência? Como já foi mencionado, Rusself concorda, em seu livro Os 
problemas da filosofia, com a critica de Hume, mas também não fica 
satisfeito com suas conclusões, pois acha que é necessário admitir um 
conhecimento direto do eu, senão não seria possível dizer, por exemplo,
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
‘eu conheço meu ato de ver o sol’. Hume e Russetl já se viam às voltas 
com o dilema que, desde então, foi tema da crítica da filosofia 
substancialista do sujeito, o dilema de como estabelecer um princípio de 
continuidade da experiência ou de identidade subjetiva sem o 
reconhecimento da existência de um centro.
A insatisfação de Hume com sua própria teoria (bem como a de 
Russell) pode ser interpretada de acordo com o comentário de James, de 
que ele, Hume, ao ser acometido da grande doença do pensamento 
filosófico, tentou encontrar o mundo atrás do espelho. Hume não encontra 
a impressão de um substrato, de um centro de duração, de um princípio 
de identidade subjetiva, permanece, em decorrência, filosoficamente 
adoentado, desejando ardentemente descobrir um princípio de 
continuidade escondido atrás do espelho. Hume teria pretendido encontrar 
uma unidade mais real do que aquela que foi proposta por James, quando 
argumentou que se o sujeito é o fluxo da consciência e que se o fluxo 
envolve continuidade e mudança, então a unidade das partes do fluxo é 
tão real quanto a sua separação. James sustentou que a continuidade e a 
diversidade da experiência ficam preservadas desse modo no fluxo. O 
psicólogo norte-americano está argumentando que o sujeito é 
simultaneamente princípio de unidade e de diversidade. E atribui o mérito 
do princípio de unidade ao substancialismo e ao transcendentalismo e o 
mérito do princípio de diversidade ao associacionismo humeano. Mas, 
conclui James: faltava uma teoria que concebesse o sujeito como 
temporalidade para percebê-lo como continuidade e mudança. Sem deixar 
de reconhecer os méritos dessas filosofias, James dirige-lhes uma crítica 
ácida e em seguida constrói uma teoria psicológica do sujeito que 
compatibiliza os princípios de unidade e diversidade subjetiva, longe, como 
diz ele, das nuvens do substancialismo.
Comparada com a crítica pós-moderna da filosofia do sujeito, a 
crítica de James é bem mais generosa porque reconhece os méritos dessa 
filosofia ao tentar elaborar uma teoria do sujeito no intuito, entre outros, de 
compatibilizar os princípios de unidade e diversidade subjetiva. A crítica 
pós-moderna da filosofia do sujeito lembra, em muitos aspectos, a crítica 
humeana ao substancialismo. As semelhanças são tão notáveis que se 
pode pensar até mesmo em uma reedição contemporânea de questões 
que interessam à filosofia do sujeito. Um exame superficial do discurso 
pós-moderno parece revelar a vitória do princípio da diversidade subjetiva. 
Mas, como observou Gergen, o discurso predominante sobre o sujeito é q 
discurso moderno, o discurso que atesta a predominância do princípio da 
unidade subjetiva, que, na psicologia, é belamente ilustrado com as imagens 
da alma honesta e dos sujeitos sólido e autêntico. As insatisfações referentes 
à multiplicidade do sujeito persistem, quando, por exemplo, pós-modernistas 
expressam o temor de reificação do sujeito fragmentado ou da perda de 
sensação de “subjetividade real”. Em última análise, esse conflito discursivo 
atesta, ao fim e ao cabo, a vitalidade da filosofia do sujeito.
53
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Jose Antônio Damásio A b it
No seu clássico, James abriu umaperspectiva inovadora para a 
psicologia do sujeito, pois mostrou que é necessário evitar a doença filosófica 
que não poupou nem Hume nem Russell, A psicologia do sujeito não deve 
buscar o princípio de unidade subjetiva nem na substância, no espírito, na 
alma ou na mente, nem no Ego puro ou no eu penso transcendental kantiano, 
ou, seja lá no quer for, por exemplo, no olho que vê, mas que não vê que 
vê. Nem deve, enfim, a psicologia do sujeito, estilhaçar o sujeito e, 
filosoficamente adoentada, almejar descobrir um sujeito unitário, buscando 
a redenção de sua ação na miragem de um mundo ali, atrás do espelho. 
Uma psicologia do sujeito, como disse James, deve permanecer no campo 
fenomenal, e procurar aí, nesse campo, harmonizar os princípios de 
identidade e diversidade subjetiva. Com a reedição contemporânea do 
debate em torno dos princípios de identidade e diversidade subjetivas, um 
debate de certo modo falsamente polarizado como discurso moderno versus 
discurso pós-moderno, pois, afinal, Hume é um pensador moderno, a 
psicologia do sujeito, de James, contém sugestões interessantes de como 
compatibilizar tais princípios.
Em 1890, James construiu uma psicologia fenomenal do sujeito 
que, em que pese, e muito, os seus méritos, é uma teoria individualista do 
sujeito. Nesse gênero de teoria o sujeito é princípio de explicação da ação: 
explica-se a ação a partir de um sujeito interior, mas não se explica a gênese 
social desse sujeito. Em seu livro Mente, sujeito e sociedade, Mead fez 
uma crítica desse tipo a Wundt quando disse que o autor alemão explicou 
a ação comunicativa humana a partir de um sujeito cuja origem social não 
foi estabelecida. Ainda de acordo com Mead, James também não investiga 
os processos sociais que poderiam explicar a constituição do sujeito. O 
psicólogo social comenta que teorias individualistas do sujeito criam um 
sujeito misterioso, um sujeito interior cuja origem social permanece 
silenciada.
Psicologias individualistas do sujeito não se alinham 
automaticamente com a filosofia do substancialismo. A imagem de um 
sujeito interior está presente nas psicologias de Wundt e James, mas não a 
imagem de um sujeito substancial. A crítica pós-moderna alcança essas 
duas imagens do sujeito e, nesse sentido, as psicologias de Wundt e James 
não escapam à crítica. Mas é necessário distinguir a crítica à imagem do 
sujeito interior da crítica à imagem do sujeito substancial. Caso contrário, a 
crítica à imagem do sujeito substancial leva consigo psicologias, como as 
de Wundt e James, que são críticas da noção de substância. A crítica pós- 
modema deixa escapar desse modo uma ótima oportunidade de enriquecer 
seu discurso com psicologias do sujeito que desde longa data já acusavam 
as dificuldades da filosofia do substancialismo. Mas, apesar de não 
distinguirem com clareza o sujeito substancial do sujeito interior, os pós- 
modernos defendem uma teoria social do sujeito.
54
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
10. L inguagem e Sujeito
Potter e Wetherel! declaram que o que caracteriza especificamente 
o sujeito social pós-moderno é a sua construção por práticas de linguagem, 
que, em última instância, são práticas sociais. Tentativas de elucidar essa 
caracterização do sujeito social pós-moderno podem se apoiar no 
construtivismo social. Há uma tendência no discurso pós-moderno que se 
orienta por epistemologias construtivistas que abrangem desde o 
construtivismo radical até o construtivismo social. O laço que envolve essas 
epistemologias é o de serem todas elas fundadas na linguagem. Em seu 
ensaio A construção do conhecimento, de 1994, em que apresenta o 
construtivismo radical, Glasersfeld considera a linguagem como um dos 
quatro ingredientes (os outros três são o ceticismo, a adaptabilidade e a 
cibernética) básicos dessa versão de construtivismo. Glasersfeld faz, na 
verdade, um comentário autobiográfico sobre a importância da linguagem 
para sua elaboração do construtivismo radical. Ele diz que se alguém tiver 
uma educação como a dele, que cresceu aprendendo três línguas natais, 
terá a impressão de que o mundo será diferente quando, por exemplo, falar 
alemão, italiano ou inglês. E essa impressão o levará a se perguntar quat 
desses mundos é o correto. Mas logo se dará conta de que a pergunta é 
impertinente porque para o falante de uma língua a sua maneira de ver o 
mundo é a correta. Concluí Glasersfeld que cada grupo lingüístico está 
correto e que, portanto, não existe correção além do grupo.
Potter e Wetherell identificam o construtivismo social com o 
construcionismo social na forma em que foi apresentado por Gergen em 
seu bem conhecido ensaio O movimento construcionista social na psicologia 
moderna. Gergen teria, segundo Potter e Wetherell, coordenado e 
apresentado no seu texto de 1985 estudos de diversas fontes que podem 
ser descritos como expressões do construtivismo social. Gergen não deixa 
de reconhecer essa identificação quando inclui uma nota importante em 
seu texto sobre o movimento construcionista social na qual escreve que o
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Jose Antonio Damàsio A b /t
termo construtivismo tem sido associado ao mesmo movimento e cita 
como referência o livro organizado por Paul Watzlawick, A realidade 
inventada, de 1981. Mas Gergen prefere o termo construcionismo porque, 
de um lado, pretende evitar o construtivismo estruturalista de Piaget e o 
construtivismo nas artes plásticas, liderado pelo artista russo Vladimir 
Tatlin (1885-1956), e, de outro lado, quer vincular o construcionismo social 
com a obra seminal de Berger e Luckmann, A construção social da 
realidade, de 1966.
Em seu texto de 1985, Gergen faz uma série de indagações 
inquietantes acerca da relação da linguagem com o mundo, Seguem-se 
algumas delas. Se o uso de uma palavra sofre restrições do contexto 
lingüístico, como se pode afirmar que ela mapeia a realidade? Se uma 
categoria teórica reiaciona-se com a observação através de uma definição, 
como se pode dizer que a categoria reflete o mundo? Se uma proposição 
teórica só pode ser compreendida na rede conceituai da teoria, qual é o 
aspecto da rede conceituai que é desafiado quando uma proposição não 
é confirmada? Em que pesem as diferenças entre o construtivismo radical 
e o construcionismo social (pois, afinal, embora seja um crítico do 
construtivismo estruturalista de Jean Piaget, Glasersfeld está muito 
próximo do pensador suíço), Glasersfeld e Gergen estão fazendo uma 
crítica da filosofia representacional da linguagem.
Apoiando-se na crítica da idéia de linguagem privada, feita 
originalmente por Ludwig Wittgenstein, em 1953, nas Investigações 
filosóficas, Gergen argumenta que a linguagem é o resultado do processo 
de comunicação social. Dessa perspectiva um indivíduo com uma 
linguagem privada não á capaz de se comunicar, na verdade, não é 
possível nem mesmo afirmar que tenha uma linguagem. A linguagem 
depende do grupo social, como diz Glasersfeld, ou do contexto lingüístico, 
como diz Gergen e, sendo assim, não pode mapear o mundo, não pode 
refletir o mundo, não pode oferecer uma imagem correta do mundo. A 
filosofia representacional da linguagem abre espaço para a filosofia 
constituinte da linguagem. A linguagem não representa o mundo: ela 
constitui o mundo. Descontextualizada do processo de comunicação social, 
a linguagem presta-se à idéia de representar objetos do mundo externo 
ou do mundo interno. Na vigência da filosofia representacional da 
linguagem os sujeitos substancial e interior são concebidos como objetos 
internos reais suscetíveis de serem representados pela linguagem. 
Entendida como representação da realidade, a linguagem exerce seu poder 
representacional, seja na esfera do sujeito ou das coisas do mundo externo.
Potter e Wetherellcomentam que, com a virada na filosofia da 
linguagem, o sujeito, tomado como objeto de conhecimento, também deixa 
de ser representado pela linguagem. Constituído pela linguagem e pelo 
processo de comunicação social, o sujeito deixa de ser realidade para ser 
construção social: sua realidade não passa de construção social, é
56
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
realidade inventada. O sujeito é invenção social. É realidade social 
inventada por discursos. Os discursos são métodos de construção do 
sujeito. As teorias psicológicas do sujeito, por exemplo, as teorias do traço, 
do papel social e humanista, são, segundo Potter e Wetherell, métodos 
de construção do sujeito. Argumentam que todos esses métodos são 
legítimos para construir o sujeito. Pode ser que nesta ou naquela 
circunstância uma maneira de falar ou de teorizar seja mais adequada do 
que outra. Os discursos nem são necessariamente incompatíveis nem 
são necessariamente inconciliáveis. Dizem Potter e Wetherell: pode-se 
até tentar compatibilizar essas três teorias na construção do sujeito. Muda- 
se, enfim, a maneira de pensar sobre o sujeito, que deixa de ser uma 
pesquisa acerca do que ele é para ser uma investigação acerca de qual é 
a teoria ou o discurso que o constrói.
57
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
11. Identidade Social
Com a virada social que assenta nos processos sociais e na 
linguagem a formação do sujeito, o princípio de identidade social preenche 
o vazio deixado pelo princípio de identidade subjetiva. Desde Mead, desde 
aquele momento crucial de ruptura em que o psicólogo social norte- 
americano mudou o eixo da investigação do sujeito, desde àquela hora 
em que criticou a psicologia individualista do sujeito e inaugurou a psicologia 
social do sujeito; a psicologia social, caminhando na contramão da filosofia 
substancialista e da psicologia da interioridade do sujeito, encontrou na 
identidade social o conceito que, como diria Mead, desfez o mistério do 
sujeito. O principio de identidade social na obra de Mead é tão hegemônico 
que ele relega a um segundo plano a experiência subjetiva.
Com a virada social o debate travado em torno dos princípios de 
unidade e diversidade subjetiva desloca seu foco de atenção para os 
princípios de identidade e diversidade social. Sem dúvida alguma, os 
conceitos que formam a teoria de Mead, conceitos que ressaltam os 
contextos formativos do sujeito, como a adoção do papel do outro, a 
brincadeira, o jogo, a ação comunicativa e participante, as linguagens e 
as mentes, apontam decisivamente para o reconhecimento do princípio 
de diversidade social. Mas há um aspecto do conceito de outro generalizado 
que pode contribuir para a prevalência do princípio de identidade social. 
Trata-se da referência desse conceito à comunidade como um todo ou à 
estrutura social. Como exemplifica Crossley, o sujeito pode adotar o papel 
da estrutura social de que o adultério é imoral e errado, devendo ser 
penalizado. Esse sujeito refere-se ao me na teoria de Mead e não deixa de 
aludir ao sujeito sólido, não o sujeito sólido substancial, mas o sujeito 
sólido como princípio de identidade social. No entanto, o sujeito é também 
um eu, um princípio de ação crítica e de impulso que transforma o me, 
que transforma o outro generalizado. O sujeito não é, portanto, tão sólido 
quanto parece. Ele pode adotar papéis sociais de subgrupos sociais
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
conflitantes com a estrutura social. Pode, continuando com o exemplo de 
Crossley, adotar o papel de que o casamento é uma instituição patriarcal 
burguesa ultrapassada, o que o levaria a repensar a moralidade e a 
legalidade envolvidas na questão do adultério (a legislação brasileira 
descriminalizou recentemente o adultério). Ao adotar um papel social 
conflitante com o da estrutura social de referência, o sujeito pode iniciar 
ações visando à transformação dessa estrutura. A solidez do sujeito 
desmancha-se assim nos conflitos que envolvem a estrutura social e os 
subgrupos da sociedade.
A estrutura social, a comunidade como um todo, comporta a 
existência de grupos sociais. Há, então, o outro generalizado e os grupos 
sociais. Mas Mead refere-se ao outro generalizado como grupo social, no 
singular. Daí sua referência a subgrupos sociais. O psicólogo social 
identifica o outro generalizado com o grupo social dominante e reconhece 
a existência de subgrupos sociais que circulam a margem do poder jurídico- 
moral constituído pelo outro generalizado. A distinção é esclarecedora 
porque se, de um lado, a estrutura social refere-se a um ordenamento 
jurídico-moral, de outro lado, esse ordenamento representa o poder político 
do grupo social dominante. O outro generalizado não se reduz a uma 
abstração jurídico-moral, mas representa o poder político do grupo social 
dominante. A noção de outro generalizado tem esse sentido forte de 
estrutura social jurídico-moral ordenada pelo poder político do grupo 
dominante. Mas tem também o sentido fraco de conflito de ponto de vista 
com os dos subgrupos sociais. Se em vez do sentido forte (o de estrutura 
social jurídico-moral ordenada pelo poder político do grupo dominante) 
se tomar o sentido fraco (o ponto de vista do grupo dominante em conflito 
com o dos subgrupos sociais), o conceito de outro generalizado passa a 
referir-se à totalidade dos grupos sociais existentes. O sujeito será 
constituído por vários outros generalizados que podem ser conservadores 
e reacionários ou progressistas e revolucionários. O sujeito social sólido 
evapora-se no conflito dos papéis sociais adotados pelos indivíduos na 
sua convivência com os diversos grupos sociais. Esse comentário 
transforma o texto de Mead porque sua distinção entre grupos e subgrupos 
sociais é abandonada, uma distinção que reflete sua insistência no sentido 
forte do conceito de outro generalizado.
A teoria social pós-moderna do sujeito promove aberta e 
francamente o princípio de diversidade social. Os pós-modernos têm, por 
assim dizer, horror à Idéia de identidade. Um exemplo desse horror 
encontra-se na avaliação que Potter e Wetherell fazem da teoria dos papéis 
sociais. Embora apresentem essa teoria em oposição às teorias humanista 
e do traço, não a poupam da crítica que dirigem às psicologias do sujeito. 
Pois vêem na teoria dos papéis a presença do princípio de identidade 
social. Mas deve-se observar que, na crítica da teoria dos papéis sociais, 
Potter e Wetherell não distinguem com clareza o sujeito sólido do sujeito 
cebola. O que fazem é uma exposição da teoria do papel social centrada
59
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damásio Abib
na imagem do sujeito ceboia e uma crítica a essa teoria centrada na 
imagem do sujeito sólido, como se ambas as imagens circulassem 
livremente na teoria. Mas. foi dito que, na dramaturgia, como Fjeld e Young 
argumentaram, a imagem do sujeito sólido predominou até o século XIX, 
quando então cedeu lugar à imagem do sujeito cebola. Na medida em 
que a metáfora da dramaturgia é relevante para a teoria dos papéis sociais, 
é de se esperar que essa teoria apresente evolução similar. Uma resposta 
rigorosa e segura, todavia, só pode sei fornecida por uma investigação 
histórica da carreira e do destino da teoria dos papéis sociais.
60
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
12. Diversidade Cuiturai
Já é lugar comum ouvirdizer que Skinner nega a existência do 
sujeito. Sua psicologia tem sido, por isso, freqüentemente caractèrizada 
como uma psicologia sem sujeito. Mas o que Skinner não aceita são as 
filosofias substancialistas e individualistas do sujeito. Como alma ou como 
mente, o sujeito inicia a ação, eis o que Skinner nega. O sujeito como 
princípio de ação inexplicável, eis novamente o que Skinner refuta. O 
psicólogo norte-americano argumenta que o sujeito não é princípio de ação, 
mas produto e, sendo assim, precisa ser explicado. O sujeito é produto da 
evolução natural, pessoal e cultural. Esse produto, ou como Skinner gosta 
de dizer, esse ponto, esse lócus, é o resultado do processo evolutivo. O 
sujeito é um ponto, um lócus, um ponto de chegada da evolução natural, 
pessoal e cultural. Após demarcar o processo de produção do sujeito, Skinner 
mostra, em praticamente tudo o que escreve acerca do sujeito, que ele é 
ativo. Diz ele que o homem é modificado pelas conseqüências de suas 
ações, mas que essas conseqüências ocorrem porque o homem transforma 
o mundo com sua ação. Quer dizer, é o homem que produz as 
conseqüências que terminam por modificá-lo. Do mesmo modo como fez 
Mead, Skinner desvinculou o conceito do sujeito iniciador da ação do 
conceito do sujeito transformador do mundo. Se p sujeito não inicia a ação, 
isso de modo algum implica que seja passivo, o processo que explica o 
sujeito como produto pode ser transformado pelo sujeito.
No texto de 1989, onde critica mais uma vez a noção de sujeito 
como princípio de ação, Skinner faz uma correção na sua psicologia do 
sujeito. Trata-se de uma retificação, que, naturalmente, ele considera como 
uma evolução da teoria do comportamento: consiste em remover a 
identidade entre os conceitos de pessoa e sujeito. A pessoa, diz Skinner, 
é diferente do sujeito e ambos são diferentes do organismo. Skinner 
relacionou esses conceitos com a teoria conseqüencialista do 
comportamento. As conseqüências de sobrevivência naturais produzem
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José A ntòn/o ü amásio Abib
organismos, as conseqüências reforçadoras e culturais produzem 
respectivamente pessoas e sujeitos. O psicólogo norte-americano faz uma 
distinção entre o organismo e o corpo que é importante para compreender 
a maneira como discorre posteriormente acerca do sujeito. Com efeito, 
afirma que o organismo é um corpo que faz coisas e que por isso é mais 
do que um corpo físico; com razão, pois corpos físicos não são organismos, 
não são corpos que fazem coisas. Apóia-se na etimologia para fazer essa 
distinção: órgão e organismo relacionam-se com trabalho.
Se a pessoa e o sujeito fazem coisas é porque são organismos. 
Mas não é só isso. A noção de pessoa relaciona-se com a palavra máscara 
que os atores usavam nos teatros grego e romano antigos. As pessoas, 
explica Skinner, são semelhantes aos diversos papéis dramatúrgicos 
representados por um ator, e afirma que as contingências de reforço produzem 
repertórios com porta menta is que são chamados de pessoas, papéis, 
máscaras. Haverá tantas pessoas em um organismo, tantas personalidades 
múltiplas, diz Skinner, quantas forem as diferentes contingências de reforço. 
Na época em que identificava a pessoa com o sujeito, no livro Sobre 
comportamentalismo, por exemplo, a pessoa era o eu que refere a si mesmo 
ou o eu que refere ao me. Há, diz Skinner, um sujeito (ou uma pessoa) que 
conhece e um sujeito (ou uma pessoa) conhecido, ou na sua linguagem, há 
dois sujeitos (ou duas pessoas) na mesma pele. O conhecedor é a pessoa 
(ou o sujeito) que descreve e o conhecido é a pessoa (ou o sujeito) descrita, 
mantendo-se sempre preseme que a pessoa é um organismo, mas que as 
descrições que são feitas são provenientes de contingências verbais de reforço. 
Mais uma vez, há uma pluralidade de pessoas, de sujeitos, há, por exemplo, 
na mesma pele, os sujeitos que controlam e os sujeitos controlados, como 
se pode verificar nos regimes alimentares, na atividade física, no controle 
das emoções, e por aí afora.
Em seu texto mais recente, Skinner distingue a pessoa do sujeito. 
A noção de pessoa refere-se aos repertórios comporta menta is, às máscaras, 
que podem ser observados por todos. Do mesmo modo como os 
expecta dores de uma peça teatral podem ver os papeis representados pelo 
ator, todos podem ver as pessoas, todos podem ver seus repertórios 
com porta mentais. Já a noção de sujeito refere-se à introspecção ou ao ato 
de sentir as condições corporais que são produzidas pelas conseqüências 
reforçadoras. Skinner afirma que o sujeito só pode ser observado por ele 
mesmo. Poder ser observado por todos ou somente por si mesmo estabelece 
a diferença específica entre os conceitos de pessoa e de sujeito. As 
conseqüências reforçadoras produzem comportamentos e condições 
corporais que formam pessoas e sujeitos. No curso desse processo os 
sujeitos aprendem a descrever as condições corporais que participam de 
sua formação. Convém ressaltar, no entanto, que os repertórios 
comportamentais e condições corporais que formam pessoas e sujeitos 
são repertórios e condições corporais de um organismo. Conseqüentemente 
quando se diz que as condições corporais são descritas por sujeitos,
62
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
entenda-se que a descrição refere-se a condições corporais que são sentidas 
por organismos. Os organismos sentem as condições corporais produzidas 
pelas conseqüências reforçadoras, e como os sujeitos são organismos, 
eles também sentem essas condições. Mas, diferentemente dos organismos, 
os sujeitos aprendem a descrever essas condições sentidas com suas 
comunidades verbais. Andando certa vez em um parque vi uma criança 
tentando agarrar um quati. O animal pôs-se em fuga desenfreada e escutei 
a mãe dizer ao seu filho: “não faça isso que ele fica com medo”. Pode-se 
afirmar que o quati fugiu de uma conseqüência que, a um só tempo, é 
aversiva e geradora de condições corporais que foram sentidas pelo animal 
Mas não se pode afirmar que tenha sentido medo. Medo é o nome de uma 
descrição verbal que os sujeitos humanos aprendem com comunidades 
verbais, mas que só temerariamente pode ser atribuído aos animais. 
Certamente sabe-se que o quati sente algo, é o que diz nossa observação 
e intuição bem como a teoria com porta mental de Skinner, mas não se sabe 
o quê sente. Para responder a essa questão seria necessário perguntar 
qual é a descrição que a comunidade verbal de quatis faria do quê ele 
sente quando a criança tenta agarrá-lo e ele foge. Mas o que seria uma 
comunidade verbal de quatis?
O sujeito, afirma categoricamente Skinner, não é observado por 
todos, como as pessoas o são. Mas ressalta-se, aqui, que a observação 
privilegiada do sujeito refere-se a observações silenciosas de si e não a 
algo privado e inacessível aos outros. A idéia de eventos privados - à 
espera de uma linguagem que os representem como eles são realmente 
ou verdadeiramente - fundamenta-se na concepção insustentável de que 
há eventos observáveis em si mesmos, independente de teorias, 
inferências, construções conceituais, jogos de linguagem e comunidades 
verbais. Em suas Investigações filosóficas, Wittgenstein demonstrou a 
impossibilidade de uma linguagem privada, mas é bem por esquecer essa 
lição do filósofo que se tece a esperança de que o quê é sentido possa ser 
observado, experimentado e medido, e que, ao fim e ao cabo, o 
conhecimento derivado dessa investigação tenha validade geral ou até 
mesmo universal. Em um texto já relativamente antigo, Skinner, materialista 
metafísico? "Never mind, no matter”, de 1982, e em outro mais recente, 
Teorias do comportamento e subjetividade na psicologia, de 1997, procurei 
mostrar, da perspectiva do pensamentocrítica 
da filosofia do sujeito. Nesse ínterim desenvolvi um projeto, que foi apoiado 
pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) com uma bolsa de 
produtividade em pesquisa no período de 2000 a 2005, no intuito de sondar 
as relações envolvendo a psicologia do sujeito e o discurso pós-moderno. 
Foi com esse projeto que vi a possibilidade de mostrar as convergências 
que envolvem a psicologia do sujeito e o discurso pós-moderno.
A meu ver, a hora mais difícil do prefácio de um livro é a dos 
agradecimentos. Certamente não seremos capazes de agradecer a todas 
as pessoas pelo peso que suportaram enquanto o texto se fazia. Muitas 
vezes sequer sabemos que sofrimentos infligimos a elas enquanto 
pensamos que estamos fazendo algo importante. Agradeço a todos aqueles 
que de um modo ou de outro tiveram que suportar algum peso por causa 
desse livro. Agradeço também àqueles que foram um estímulo para que 
esse ensaio pudesse vir à luz, especialmente agradeço aos meus filhos, 
Aleksei e Stavros, por sua presença; à minha mulher, Miryam, por seus 
comentários; aos meus alunos, peio peso que tiveram de suportar, e ao 
CNPq pela bolsa que me concedeu em um período crucial para o 
desenvolvimento desse projeto.
Depois de tantos anos de ensino, projetos, pesquisas e apoios, o 
leitor poderia estranhar um livro tão breve acerca de um assunto tão vasto. 
Por que não um livro de trezentas ou quinhentas páginas? Eu diria que 
um ensaio, breve e leve, talvez combine melhor com esboços.
José Antônio Damásio Abib
10
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Introdução:
Do Sujeito na Psicologia ao 
Sujeito Pós-Moderno
A idéia de um sujeito substancial, que teria vigorado na 
modernidade, embora, na verdade, seja bem mais antiga, é o alvo preferido 
da crítica dos pensadores pós-modernos. Tão incisiva e influente é essa 
crítica que boa parte do discurso pós-moderno pode ser caracterizada 
como crítica da filosofia substancialista do sujeito. Trata-se de uma crítica 
que alcança também a psicologia do sujeito. Pois existem psicologias do 
sujeito, como as que se encontram na teoria dos traços de personalidade 
e na psicologia humanista, que estão fundamentadas na filosofia 
substancialista do sujeito.
Desde o século XIX, e também no século passado, encontram- 
se críticas da filosofia substancialista do sujeito nas obras de psicólogos 
como Wilhelm Wundt (1832-1920), William James (1842-1910), George 
Herbert Mead (1863-1931), e Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), que 
são semelhantes à crítica dos pensadores pós-modernos, Mead e Skinner 
criticam também a idéia de um sujeito interior, presente nas psicologias 
de Wundt e James. A distinção entre a noção de sujeito substancial e de 
sujeito interior é passada por alto no discurso pós-moderno, mas não nas 
psicologias de Mead e de Skinner. Nesse sentido, há uma tendência na 
psicologia do sujeito que alarga a crítica pós-moderna da filosofia 
substancialista do sujeito.
Mas não é apenas da perspectiva da crítica da filosofia do sujeito 
que a psicologia do sujeito desses clássicos se aproxima do discurso pós- 
moderno. Há, também, notáveis e surpreendentes semelhanças quando, 
depois do trabalho da crítica, as concepções acerca do sujeito nessas 
psicologias e no discurso pós-moderno são sondadas e comparadas.
O sujeito no labirinto é um ensaio psicológico que trama uma 
reflexão sobre o sujeito buscando sua fonte de inspiração na filosofia e 
psicologia òo sujeito e no discurso pós-moderno. O título O sujeito na 
psicologia, assunto da primeira parte do ensaio, é enganoso se o leitor
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damásio Abib
pensar que estará diante de uma apresentação exaustiva das acepções 
de sujeito na psicologia ou se pensar que as teorias examinadas o foram 
de modo cabal, completo. Importantes psicologias modernas do sujeito 
que podem dialogar criticamente com a filosofia do sujeito e com o discurso 
pós-moderno não foram examinadas, por exemplo, a psicologia genética 
de Jean Piaget e a psicologia sócio-histórica de Lev Vygotsky.
Uma razão para a escolha das psicologias do sujeito aqui 
examinadas foi a de mostrar que a crítica da filosofia do sujeito e que 
teorias do sujeito já estão presentes na obra dos fundadores da psicologia 
moderna: Wundt e James. Outra razão foi a de dar voz ao perspectivismo 
de Wundt, ao empirismo radical de James e aos pragmatismos de Mead 
e Skinner no intuito de promover o encontro dessas filosofias com a filosofia 
do construtivismo pós-moderno, a versão do discurso pós-moderno que 
é examinada nesse livro.
Nem todo o construtivismo é pós-moderno. O de Jean Piaget, por 
exemplo. O construtivismo de Piaget é moderno na medida em que a 
psicologia genética se filia ao estruturalismo, contribuindo significativamente 
para o seu desenvolvimento. Nos passos da psicologia da Gestalt, uma 
das vertentes constituintes da filosofia e psicologia estrutura lista do século 
XX, a psicologia genética de Piaget explicou o que foi deixado intocado 
pela obra de autores como Kurt Koffka e Wolfgang Köhler: a gênese das 
estruturas. Mas, apesar de Piaget ter se dedicado ao estudo da construção 
das estruturas, é o estruturalismo que fundamenta a psicologia genética.
E, como já é lugar comum no debate envolvendo pensadores modernos e 
pós-modernos, o discurso pós-moderno é pós-estruturalista. Justifica-se, 
desse modo. que o construtivismo de orientação estruturalista, ou 
simplesmente o construtivismo estruturalista, com ênfase na gênese 
biológica das estruturas, como o de Piaget, não seja examinado aqui. No 
entanto a vertente pós-estruturalista do discurso pós-moderno não é tema 
desse ensaio: são feitas apenas três breves referências a Michel Foucault 
e nenhuma a Jacques Derrida ou a Güles Deleuze.
A proximidade do construtivismo radical de Ernst Von Glasersfeld 
com o construtivismo estruturalista de Piaget desperta, naturalmente, a 
suspeita de que se trata de outra versão moderna de construtivismo. Mas 
há razões de sobra para aproximar o construtivismo radical do construtivismo 
pós-moderno. Com efeito, Glasersfeld é um crítico tenaz da concepção 
representacional do conhecimento, que ele acha que está presente na obra 
de Piaget, bem como um ardoroso defensor da concepção constituinte da 
linguagem. São esses aspectos do construtivismo radical que o colocam 
inexoravelmente na rota do discurso pós-moderno e que contribuem para 
elucidar seu radicalismo. Por isso, ainda que brevemente, será dito algo 
acerca dessa versão de construtivismo.
Os construtivismos pós-modernos tratados, aqui, são: o 
construtivismo social e o construcionismo social nas formas em que foram 
apresentados respectivamente por Jonathan Potter e Margaret Wetherell,
12
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
e Kenneth Gergen. Na verdade, Potter e Wetherell não distinguem o 
construtivismo social do construcionismo social. Mas Gergen evita o termo 
construtivismo, pois não quer confundir o construcionismo social nem com 
o construtivismo estrutura lista de Piaget nem com o movimento artístico 
russo conhecido como construtivismo. Dito isso, não se vê, à primeira 
vista, quais seriam as razões que ainda poderiam justificar a distinção 
entre o construtivismo social e o construcionismo social. Mas há este 
motivo: o construtivismo social tem um caráter mais geral do que o 
construcionismo social. Com efeito, existe, ao menos, uma versão de 
construtivismo social que é diferente do construcionismo social. Trata-se 
da psicologia sócio-histórica de Lev Vygotsky, que Cari Ratner, em seu 
livro A psicologia sócio-histórica de Vygotsky: aplicações contemporâneas, 
dede Skinner, os limites de uma 
ciência de sentimentos orientada por uma noção ingênua de observação 
bem como as possibilidades de investigar sentimentos nos contextos do 
comportamento verbal, da linguagem e da cultura.
O sujeito, diz Skinner, refere-se ao quê ele sente: o sujeito sente 
ou observa algo. Quer dizer, o ato de sentir (ou a introspecção) é 
fundamental para explicar o sujeito. Em 1982 eu dizia que o ato de sentir 
é uma relação que envolve a resposta de sentir - e mais especificamente, 
digo agora, a resposta de sentir a auto-estimulação produzida pela 
condição corporal - e o quê é sentido. Há então o sujeito que sente e o
63
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Aniúnia Damásto AO/b
sujeito que é sentido. Por outro itinerário reencontra-se o sujeito como 
relação entre o eu e o me. Trata-se do reencontro do sujeito verbal. Com 
efeito, o eu, o sujeito que sente ou que faz introspecção, que observa, na 
verdade, descreve; e o me, o sujeito que é sentido, é o sujeito descrito. 
Há um sujeito descritor e um sujeito descrito, construídos, ambos, pela 
comunidade verbal. De modo similar pode-se afirmar que há uma pessoa 
que sente e outra que é sentida. Mas, nesse caso, o quê a pessoa sente 
é repertório de comportamento e o que descreve é o repertório sentido. 
Há, portanto, a pessoa que conhece - a que descreve - e a pessoa 
conhecida - a que é descrita.
Se a palavra como for referida à descrição verbal do quê é sentido, 
o sujeito refere-se a como ele sente sua condição corporal. Por exemplo, 
e são exemplos de Skinner, louvor por boas ações produz auto-estima, 
ações bem-sucedidás produzem autoconfiança, punição de 
comportamentos moralmente irresponsáveis produz sentimento de 
responsabilidade. MaS é necessário ressaltar que as conseqüências 
reforçadoras variam de cultura para cultura: o que reforça em uma cultura 
pode não reforçar em outra. Isso significa dizer que as conseqüências 
reforçadoras dependem das comunidades verbais. Logo, os sentimentos 
também. Não há condições corporais que, independentemente de como 
são sentidas nesta ou naquela cultura, se prestem a uma demarcação de 
sentimentos. Não existe, em suma, uma condição corporal que possa ser 
sentida igualmente por todos em qualquer cultura e em qualquer período 
da história, pois o quê é sentido depende de como é sentido, que, por sua 
vez, depende da evolução das comunidades verbais.
Skinner afirma que a etologia estuda o comportamento dos 
organismos, que a análise do comportamento estuda o comportamento 
das pessoas, e que cabe à antropologia e à história o estudo de práticas 
culturais que constituem sujeitos. Coerente com seu ponto de vista, defende 
a tese de qué a evolução cultural é um processo exclusivamente humano. 
Trata-se de um processo, diz Skinner, que produz um conflito cultural de 
grande magnitude parã a humanidade. E por quê? Pelo fato de que uma 
cultura prepara seus membros somente para um mundo que é semelhante 
àquele eril que ela mesma evoluiu. As comunidades verbais que ensinam 
as pessoas e os sujeitos a descrever seus próprios comportamentos e 
sentimentos representam linguagens e culturas evoluídas. O comportamento 
verba! que as pessoas e os sujeitos aprendem e com os quais descrevem 
os próprios comportamentos e sentimentos é indissociável das comunidades 
verbais, das linguagens ou das culturas. Qualquer descrição do mundo e 
do sujeito não representa um mundo e um sujeito descontextualizados da 
linguagem e da cultura. Com o comportamento verbal descreve-se um 
mundo e um sujeito constituído pela linguagem de uma cultura. Uma 
descrição dessa natureza não significa representação, significa constituição. 
A descrição verbal é constituinte do mundo e do sujeito porque é contextuai. 
O anti-representacionismo e o contextualismo, ao lado do
64
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeita na Labirinto: Um ensaie Psicológico
comportamentalismo e do conseqüencialismo, são, como em Mead, 
características básicas da filosofia do pragmatismo que atravessa de ponta 
a ponta a teoria de Skinner acerca do sujeito
Skinner não tem um conceito equivalente ao conceito de outro 
generalizado de Mead. Não há nenhuma comunidade verbal que possa 
alcançar essa posição. A análise do comportamento é na sua essência uma 
análise do controle social do comportamento e, nesse sentido, é uma análise 
do poder de produção das comunidades verbais: produção de 
comportamentos, sentimentos e conhecimento desses produtos. É dessa 
perspectiva que Skinner faz uma extensa análise das agências de controle, 
como o Estado, a economia, a religião, a educação, e a psicoterapia e, 
portanto, é dessa mesma perspectiva que os sujeitos são produzidos e 
conhecidos. Os sentimentos também: a auto-estima, a autoconfiança, o 
sentimento de responsabilidade moral são produzidos por técnicas de controle, 
quer dizer, por técnicas de poder: como os controles aversivos e positivos 
que operam nas culturas humanas, que operam nas contingências verbais, 
que se transformam, com a evolução das culturas, nas contingências atuais 
de controle. Contingências e técnicas de controle que podem ser enfrentadas 
com os contracontroles ou simplesmente com a fuga e a esquiva de tais 
contingências e exercícios de poder.
São parcas as referências de Skinner à noção de identidade, e é 
bastante significativo que em uma de suas mais extensas referências, que 
se encontra em Sobre comportamentalismo, tenha relacionado essa noção 
com o sujeito como um ponto, como um lócus, como um produto da história 
natural, pessoal e cultural, enfim, com um sujeito único. Um sujeito que. do 
ponto de vista da história natural, só não seria único se tivesse um gêmeo 
idêntico, mas que seria único sob qualquer circunstância do ponto de vista 
de sua história pessoal e cultural. A noção de identidade, subjetiva ou social, 
sofre assim seu último golpe com a noção de sujeito único. Síntese de 
organismo, pessoa e sujeito, a idéia de sujeito único alarga o conceito de 
sujeito. Com efeito, stricto sensu o conceito de sujeito refere-se ao sujeito 
verbal construído pelas comunidades verbais, refere-se, em outras palavras, 
ao processo de descrição do ato de sentir construído pelas comunidades 
verbais; mas lato sensu, refere-se à história única que é constituída pela 
diversidade e complexidade oriundas da história natural, pessoal e cultural.
Skinner inaugura uma psicologia cultural centrada no conflito de 
poderes e de conhecimento e pode-se resumir brevemente a passagem da 
psicologia social de Mead para a psicologia cultural de Skinner dizendo-se 
o seguinte: substitua o outro generalizado pelas comunidades verbais. O 
princípio de diversidade cultural aflora belamente e a cultura da identidade 
social é deixada para trás.
65
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
13. Nota
Pode-se recorrer a inúmeros exemplos históricos e antropológicos 
para apoiar o ponto de vista de que sentimentos são constituídos pelas 
culturas e pela história. Em seu livro A psicologia sócio-histórica de 
Vygotsky. aplicações contemporâneas, Ratner menciona alguns desses 
exemplos. Diz esse autor que o amor romântico passou a existir nos 
Estados Unidos e na Inglaterra somente no século XIX. Antes disso, era 
mais um dever controlado por contingências econômicas do que um 
sentimento requintado, e atualmente está se transformando, está perdendo 
seu caráter de compromisso em favor da liberdade pessoal e do 
enriquecimento da experiência amorosa. Do mesmo modo, o amor materno 
t»l como é reconhecido na atualidade só surgiu no século XIX, Na Inglaterra 
puritana o recém-nascido era visto como um ser depravado que precisava 
ser disciplinado. Araiva que os povos llongot das Filipinas e os Kaluli de 
Nova Guiné sentem não é de ordem pessoal. Predominam entre eles os 
vínculos de solidariedade que controlam as implicações sociais da raiva 
e, para os Kaluli, basta uma retribuição qualquer, como uma quantidade 
de dinheiro, para esquecê-la, o que é diferente da raiva pessoal, que 
normalmente exige um pedido de desculpas. Os léxicos referentes a 
sentimentos são também impressionantemente distintos, o inglês tem 
400 palavras para referir-se a sentimentos, o chinês, 750 (e o português, 
teria quantas?). Há também belas criações poéticas que apóiam a tese 
referente à diversidade contextuai de sentimentos. Em sua poesia 
subversiva da ordem capitalista, o grande poeta brasileiro, Manoel de 
Barros, escreve em Matéria de poesia, de 1974, obra reeditada em 
Gramática expositiva do chão: poesia quase toda, de 1990, que: “Tudo 
aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no 
mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros serve para 
poesia” (p. 180). Ou ainda: “Os loucos de água e estandarte servem demais 
O traste é ótimo O pobre diabo é colosso” (idem, ibidem). Em seu
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
iluminador ensaio sobre a poesia do poeta mato-grossense, intitulado A 
poesia ao rés do chão, uma introdução a Gramática expositiva do chão, 
Berta Waldman ressalta que os objetos que não têm valor de troca, que a 
eleição da pobreza, e que os homens desligados da produção, os 
vagabundos, os andarilhos, os loucos, os idiotas de estrada, constituem 
o leitmotiv da poesia de Manoel de Barros. Desligados do sistema de 
produção capitalista, o que sentem os degredados dessa sociedade? 
Sentem auto-estima, autoconfiança ou responsabilidade moral, esses 
sujeitos que não têm como valor o valor de troca? Ou melhor, como sentem 
o quê sentem? Quais são suas comunidades verbais? A tendência que o 
ser humano tem de violar contextos constitutivos de sentimentos decorre 
provavelmente de uma tendência mais primeva que o leva a atribuir seus 
sentimentos aos seres. O belíssimo poema de Alberto Caeiro, o Guardador 
de rebanhos, esse clássico da língua portuguesa, publicado em 1911- 
1912, ilustra essa tendência. Escreve o grande poeta que “os poetas 
místicos dizem que as flores sentem E dizem que as pedras têm alma E 
que os rios têm êxtases ao luar”. O nosso poeta não concorda com os 
poetas místicos: “Mas flores, se sentissem, não eram flores, Eram gente; 
E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não eram pedras; E se 
os rios tivessem êxtases ao luar, Os rios seriam homens doentes”. Continua 
o autor do Guardador, “Os poetas místicos são filósofos doentes”, grave 
juízo, pois “os filósofos são homens doidos”. Filósofo doente e homem 
doido, os poetas místicos adoecem os rios, as pedras, as flores. Solene, 
surge a voz do poeta, a voz do Guardador, “É preciso não saber o que são 
flores e pedras e rios Para falar dos sentimentos deles. Falar da alma das 
pedras, das flores, dos rios, É falar de si próprio e dos seus falsos 
pensamentos. Graças a Deus que as pedras são só pedras, E que os rios 
não são senão rios, E que as flores são apenas flores” (1998, 233, XXVfll, 
p. 219). Vou correr o risco de falar depois do poeta e dizer que se o ser 
humano já é capaz de atribuir seus próprios sentimentos a corpos físicos, 
como rios e pedras, não é de se admirar que os atribua a corpos orgânicos, 
e muito menos que, já incontido pela doidice e doença, e com a razão 
ainda mais abalada pelas semelhanças dos corpos orgânicos, veja nesses 
corpos seus próprios medos, alegrias e tristezas.
67
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
14. O Adeus à Cultura da
Identidade
Na filosofia ocidental foi com Hume e na psicologia foi 
provavelmente com Wundt e James que o princípio de identidade substancial 
começou a ruir. Já com Wundt e James surge uma tendência de buscar a 
identificação do sujeito com processos psicológicos ao mesmo tempo em 
que se evita, a todo custo, sondar o que ainda poderia haver atrás desses 
processos. Se Wundt e James localizam esses processos respectivamente 
na experiência e na consciência, a curiosidade sobre o sujeito acaba aí: 
nada de olhar atrás do espelho. Não há nada atrás do espelho! Mas, com 
razão, Wundt e James podem ser acusados de se solidarizarem com o 
princípio de identidade subjetiva relegando o sujeito a uma condição de 
interioridade inexplicável. Essa acusação não pode ser estendida a Mead, 
embora se possa acusá-lo de defender o princípio de identidade social com 
base no conceito de outro generalizado. Tomado, no entanto, no sentido 
fraco, o conceito de outro generalizado dá margem à noção de diversidade 
social. Com o conceito de comunidades verbais e de sujeito único de Skinner, 
as ambigüidades da noção de outro generalizado podem ser resolvidas. 
Com efeito, embora uma comunidade verbal seja capaz de produzir 
comportamentos, sentimentos e descrições com um grau de uniformidade 
similar ao outro generalizado de Mead, Skinner alude é ao convívio com 
diversas comunidades verbais. Dar uma oportunidade a essa alusão significa 
abrir-se à diversidade conflitante de culturas e abandonar de vez os princípios 
de identidade subjetiva e social.
Com a demonstração de que os sujeitos são produzidos, a 
psicologia do sujeito contribui para esclarecer a imagem do sujeito como 
sujeição, não tanto no sentido da filosofia política, em que o sujeito é o que 
obedece 30 soberano, ou o que não é cidadão porque não é livre. Mas no 
sentido em que o sujeito está submetido a controles sociais, culturais e 
históricos, que se apresenta dominado, quer como princípio de identidade 
social, histórica e cultural, quer como princípio de identidade subjetiva. A
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicoíógico
psicologia do sujeito aponta desse modo para a necessidade de se criticar 
e de se esvaziar a cultura da identidade, em qualquer de suas dimensões: 
substancial, subjetiva, social, cultura!, histórica.
A psicologia moderna do sujeito, não aquela que promove as 
imagens de alma honesta, de sujeito sólido e de sujeito autêntico, mas a 
que parte de Wundt e James, e se desenvolve com Mead e Skinner, começa 
então a se encontrar com o discurso pós-moderno. Nesse discurso o 
esvaziamento do princípio de identidade substancial está na base da imagem 
do sujeito vazio e, naturalmente, das devastadoras crises de identidade 
que se propagam na vida contemporânea e que, como comenta Crossley, 
têm alimentado a obsessão por celebridades, consumos, alimentos e 
psicoterapias. O discurso pós-moderno vê, contudo, nas crises de identidade 
uma trajetória de conhecimento e libertação. Crossley refere-se a um texto 
de Gergen, O sujeito saturado: dilemas da identidade na vida contemporânea, 
de 1991, no qual o psicólogo social elaborou, como já diz o título de seu 
ensaio, o conceito de sujeito saturado. Gergen, diz Crossley, vê uma 
saturação social, vê múltiplas perspectivas de olhar ou de vozes do gênero 
humano nas sociedades complexas. As pessoas defrontam-se, como nunca 
dantes, com vozes, com olhares, que contextualizam a verdade de suas 
identidades, que lhes mostram o quanto as suas realidades sociais e 
subjetivas são construções de suas sociedades e culturas. Teixeira Coelho, 
em seu texto A revolução silenciosa, de 2003, refere-se a um comentário de 
Edward Said no qual o pensador palestino afirma que é tedioso e sem 
propósito as pessoas interessarem-se por si mesmas e por suas raízes. O 
que importa, segundo o autor palestino, diz Coelho, é a identidade múltipla. 
Não é necessário um grande esforçode imaginação para compreender o 
ponto de vista de Said, é só pensar por um momento o quanto a preocupação 
com as raízes tem fomentado conflitos e guerras de toda sorte na história 
do gênero humano.
Michel Foucault abre seu texto O sujeito e o poder, de 1982, 
afirmando que não teria sido seu objetivo nos últimos vinte anos de seu 
trabalho analisar o fenómeno do poder ou elaborar seus fundamentos. Seu 
propósito, diz o pensador e psicólogo pós-estruturalista, teria sido o de 
criar uma história dos diferentes modos utilizados pela cultura ocidental 
para transformar os seres humanos em sujeitos. O assunto de Foucault é 
o sujeito. Por que então se dedica o filósofo ao estudo do poder? Porque a 
palavra sujeito tem dois significados que sugerem formas de poder que 
subjugam. Com efeito, pode-se estar sujeito a uma outra pessoa por controle 
e dependência ou pode-se estar sujeito à sua própria identidade por um ato 
de autoconhecimento. Evidentemente são distintas as visibilidades dessas 
formas de sujeição, a última é mais difícil de ser vista como forma de 
sujeição. Afinal, quem diria de imediato que a busca sôfrega pela identidade 
substancial, subjetiva, pessoal, histórica, cultural, social é a busca sôfrega 
pela sujeição? Pois bem, é disso que se trata, diz Foucault. A identidade 
refere-se à sujeição a centros de poder. O poder, diz Teixeira Coelho, não
69
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damàsto Abib
está em um único ponto, não está apenas no Estado, na classe social ou 
no partido político. O sujeito não está vergado apenas sob esses poderes. 
As identidades sociais relacionadas com papéis hierarquicamente 
superiores, o género, a etnia são alguns exemplos de poderes que circulam 
na sociedade. Na verdade, Foucault demonstrou em Microfísica do poder, 
um livro de 1979, organizado por Roberto Machado, a circulação 
disseminada dos poderes nas instituições sociais. A despossessão do sujeito 
não pode ser enfrentada na perspectiva da cultura da identidade substancial, 
subjetiva ou social. A cultura da identidade cega o sujeito, que deixa de ver 
o quanto é escravo de sua própria identidade.
70
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
15. Psicologia e Filosofia
do Sujeito
A psicologia do sujeito passa ao largo da filosofia do sujeito, mas 
não, obviamente, da filosofia como um todo. A psicologia do sujeito de 
Wundt é fundamentada em seu perspectivismo. A psicologia do sujeito de 
James é sustentada pelas filosofias do empirismo radical e do 
pragmatismo, embora somente a primeira tenha sido examinada aqui. As 
psicologias do sujeito de Mead e de Skinner são sustentadas pela filosofia 
do pragmatismo. Aqui, isso foi mais claramente apresentado em Mead do 
que em Skinner, Mas os aspectos básicos do pragmatismo são facilmente 
verificáveis na psicologia do sujeito de Skinner. O comportamentalismo e 
o conseqüencialismo são evidentes. O anti-representacionismo pode ser 
verificado na impossibilidade do comportamento verbal descrever objetos, 
eventos e processos do mundo, como eles realmente são. Esse tipo de 
comportamento verbal que Skinner chama de tacto não pode ser 
compreendido como representação. E também o autotacto, o 
comportamento verbal que descreve o ato de sentir os estímulos 
controlados pelas condições corporais, não descreve o ato de sentir como 
ele realmente é. Como o tacto, o autotacto não pode ser compreendido 
como representação. Essas restrições devem-se ao contextualismo da 
psicologia de Skinner e referem-se a uma relação indissolúvel entre 
aquisição de tactos, de autotactos e comunidades verbais. O 
comportamento verbal existe em relação indissociável com linguagens e 
com comunidades verbais.
As inovações introduzidas por Mead e Skinner no pragmatismo 
filosófico, as de conceber a linguagem (Mead) e o comportamento verbal 
(Skinner) como o contexto de formação do sujeito, correspondem, no 
âmbito da psicologia, à virada ocorrida na filosofia da linguagem, que 
expulsou a mente de seu local privilegiado de representação do mundo e 
do sujeito. No seu texto de 1989, Psicologia social e a revolução errada, 
em que faz uma ácida crítica à revolução cognitiva, Gergen refere-se a 
essa revolução, a revolução na filosofia da linguagem, precisamente ao
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Jasé Antônio Damásio A b it
declarar que não se trata mais de investigar as relações entre a mente e 
o mundo, mas de examinar as relações entre as palavras e o mundo. Da 
perspectiva da psicologia pode-se entender a virada da filosofia da mente 
para a filosofia da linguagem como uma virada da teoria individualista do 
sujeito para a teoria social do sujeito, cujo início deve-se a Mead.
Crítico da filosofia do sujeito, o discurso pós-moderno é discurso 
filosófico. O construtivismo que é inerente a esse discurso é filosofia com 
referências filosóficas de longa tradição. No prefácio do livro que editou 
em 1981, A realidade inventada, Watzlawick, como Gergen, critica o uso 
do termo construtivismo, e sugere, em seu lugar, indagação da realidade, 
mas termina adotando o termo construtivismo. Arrola ainda uma longa 
lista de filósofos e de tradições filosóficas que sustentam o construtivismo. 
Encontram-se nessa lista autores como Immanuel Kant, Wilhelm Dílthey, 
Edmund Husserl, Ludwig Wittgenstein, Erwin Schrödinger, Werner 
Heisenberg, Berger e Luckmann, entre outros. Glasersfeld busca as raízes 
filosóficas do construtivismo radical nos filósofos céticos, na obra de 
Charles Darwin, e nos fundadores da cibernética. Como já foi mencionado, 
Potter e Wetherell referem-se ao construtivismo social relacionando-o com 
o trabalho síntese de Gergen, de 1985, e Crossley endossa a posição de 
Potter e Wetherell. Como também já foi mencionado, Gergen relaciona o 
construcionismo social com o texto de Berger e Luckmann - um texto que 
tem forte referência fenomenológica. Na verdade a referência de Gergen 
é bem mais extensa e inclui filósofos relacionados com a tradição do 
construtivismo, resguardadas, obviamente, as diferenças relacionadas ao 
construtivismo de Piaget.
O perspectivismo de Wundt, o empirismo radical de James, as 
psicologias pragmatista de Mead e Skinner, encontram-se com o 
construcionismo social. Trata-se de encontros filosóficos, e como esses 
encontros se referem ao sujeito, referem-se, em última análise, à filosofia 
do sujeito. A psicologia do sujeito e o discurso construcionista social pós- 
moderno do sujeito são críticos de certas filosofias do sujeito. Mas, 
aparentemente, não há como conceber a noção de sujeito sem uma 
filosofia do sujeito. A psicologia do sujeito e o discurso pós-moderno do 
sujeito partilham da crítica a certas filosofias do sujeito e encontram-se 
por vias filosóficas distintas, o perspectivismo, o empirismo radical, o 
pragmatismo e o construcionismo social, na defesa de filosofias do sujeito 
que não negam a sua capacidade de transformar o mundo. Mas sem 
ingenuidade: é necessário compreender que o sujeito vive em regimes de 
sujeição que precisam ser conhecidos e transformados, pela ação política, 
diz Foucault, pela ação ética, dizem Mead e Skinner. Em síntese, pela 
ação ética e política, porém é necessário estar bastante alerta para que a 
ação ética não reproduza formas de sujeição, o que significa dizer que 
todo projeto ético precisa ser posto sob suspeição. À ética cabe a prioridade 
das metas, e à política não cabe somente o papel estratégico dos meios, 
mas também, e principalmente, a prioridade da crítica.
72
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
16. Sujeito, individualismoe Etica
O que é afinal o sujeito? Não se deve fazer essa pergunta, foi o 
que disseram Potter e Wetherell. Mas por que não? Porque não é possível 
encontrar uma caracterização definitiva do sujeito, e qualquer tentativa 
nesse sentido envereda por uma ontologia realista e uma epistemologia 
representacional indefensáveis. Quando Wundt e James afirmaram que o 
sujeito é processo deram um passo decisivo na contramão dessa ontologia 
e epistemologia que foi definitivamente afastada quando Mead o inscreveu 
na vida social e Skinner disse que ele é como ele se sente. Afinal o como 
não se refere a vias de acesso que deixam intocados os processos. As 
vias de acesso inventam. Não há vários caminhos que conduzem a Roma? 
Cada caminho inventa uma Roma. Quando Gergen declara que o sujeito 
é discurso e Potter e Wetherell afirmam que os discursos são métodos de 
construção do sujeito, o que dizem é que o quê o sujeito é depende de 
como o discurso social o constrói.
Os pragmatismos e o construcionismo social são epistemologias 
sociais. Isso significa dizer que é impossível declarar de antemão o que é 
o sujeito. Por isso essa pergunta precisa ser silenciada. Faz parte da cultura 
filosófica do Ocidente perguntar pelo ser: o que é? Lembra-se de Sócrates? 
Provavelmente a pergunta sobre o que é o sujeito não se calará. Mas 
quando for feita, o melhor é continuar a indagação com esta outra pergunta: 
quais são os discursos que constróem o sujeito? Ou: como o quê o sujeito 
é, é inventado por discursos?
Nada disso impede, todavia, que o sujeito seja visto das múltiplas 
perspectivas do conhecimento, que se fale do sujeito psicológico, do sujeito 
social, do sujeito cognitivo, do sujeito ético, do sujeito político. A primeira 
resposta que se pode dar à pergunta sobre o que é o sujeito é esta: a de que 
ele é complexo e não pode ser reduzido a qualquer perspectiva de 
conhecimento. Sendo complexo, segue-se uma segunda resposta que
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damàÿio Abib
consiste em dizer que não é possível saber o quê elo é se a investigação não 
contemplar todas essas áreas de conhecimento. O ponto principal dessa 
argumentação reside na observação de que todas essas perspectivas estão 
inter-relacionadas na pesquisa do sujeito, O sujeito cognitivo é um sujeito 
social que, por sua vez, é sujeitado a controles, às técnicas de controle, aos 
regimes de poder. A cognição é social e é produzida por poderes sociais. Do 
mesmo modo, o sujeito psicológico sente como suas comunidades verbais 
sentem, e conhece os seus sentimentos sob o controle de contingências que 
vigoram como regimes de poder nas comunidades verbais.
Mas ainda há o sujeito ético. Pode-se falar do individualismo de 
nações, de pessoas, de indivíduos. O individualismo é herdeiro da cultura 
da identidade. Cultura da primeira pessoa, eu primeiro, cultura do narcisismo, 
que promove uma competição de todos contra todos, que não promove a 
compreensão de outras mentes, que são vistas como sendo remotas e 
inacessíveis. Cultura que promove um sentido de isolamento e desespero, 
eis a caracterização da cultura da identidade feita por Gergen, em Tecnologia 
e o sujeito: do essencial ao sublime. O notável escritor norte-americano, 
Paul Auster conta em seu romance, Mr. Vertigo, a história de um menino 
que aprendeu a levitar com um mestre húngaro. Somente na última página 
do romance revela o segredo da levitação: o menino aprendeu a parar de 
ser ele mesmo, e isso criou um vazio dentro de seu corpo, que se tornou 
mais leve do que o ar ao seu redor. Começou então a pesar menos do que 
nada, diz Auster, fechou os olhos, abriu os braços, evaporou e começou a 
subir no ar. A descrição de Auster lembra certamente a doutrina budista da 
vacuidade e da negação do ego, uma filosofia religiosa Oriental que teria 
precedido por milênios a crítica de Hume.
A ética pode ser um caminho para substituir o individualismo e a 
cultura da identidade. O pensamento ético de Skinner pode contribuir para 
esclarecer esse caminho. O indivíduo é organismo, pessoa e sujeito, e, 
com todo cuidado, pois é necessário respeitar as interfaces das 
conseqüências naturais, reforçadoras, e culturais, pode-se dizer que o 
organismo é Eros, que a pessoa é phiiia, e que o sujeito é ágape. O 
organismo e a pessoa, os sentimentos eróticos e belos, são constituintes 
do que pode ser denominado de ética conseqüencialista da presença: ética 
cujas conseqüências sâo imediatas e próximas. Essa ética pode tratar com 
a questão da justiça, com a distribuição equilibrada de bens pessoais e de 
bens do ou»ro. O sujeito e o sentimento de ágape são constituintes do que 
pode ser denominado de ética conseqüencialista do futuro: ética cujas 
conseqüências são proteladas e distantes. Como ética do amor, como 
ágape, vale repetir o que já foi dito em outro lugar, a ética do futuro volta-se 
para o amor à natureza, às culturas, às novas gerações, ao desenvolvimento 
humano. Uma ética do futuro é uma defesa da criação, seja ela criação 
humana (as culturas), ou criação da natureza (os seres naturais). E mais: 
orienta-se, uma ética do futuro, por uma nova ontologia e filosofia do direito 
que afirmam e reconhecem a existência de direitos insólitos, como os direitos
74
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
à existência da natureza e das culturas. A dificuldade de compreender uma 
ética do futuro reside exatamente na novidade introduzida pela discussão 
referente à existência de direitos tão insólitos. Finalmente, o 
antropocentrismo da ética da presença, na verdade, de todas as éticas 
tradicionais, como observa Oswaldo Giacoia Junior em seu ensaio Hans 
Jonas: o princípio responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização 
tecnológica, de 2000, representa mais um obstáculo à compreensão de 
uma ética do futuro, pois essa ética é pós-antropocêntrica.
75
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
17. O Sujeito e o Labirinto
A cultura da identidade continua presente, como pode ser verificado 
nos textos de Crossley e Lather. Crossley chega a afirmar que o construtivismo 
social, tomado no sentido amplo de Potter e Wetherell, salva o discurso, 
mas perde o sujeito. No intuito de recuperá-lo combina paradoxalmente a 
epistemologia do construtivismo social com a epistemologia realista. Discurso 
certamente contraditório, pois qualquer noção de realidade no construtivismo 
social só pode ser aceita como construção social; e uma epistemologia realista 
está em franco desacordo com essa maneira de pensar. Uma maneira de 
encaminhar o problema da identidade encontra-se na teoria psicológica de 
James bem como na sugestão de comunicações discursivas de Potter e 
Wetherell, e até mesmo na noção de identidade múltipla de Said. Mas o que 
predomina no discurso pós-moderno é o princípio de diversidade subjetiva; 
o horror ao centro. Em seu livro A arqueologia do saber, de 1969, Foucault 
insiste em um descentramento no intuito de evitar todo e qualquer tipo de 
centro.
Talvez a melhor imagem que possa ser usada para descrever o 
sujeito pós-moderno seja a rede. Em seu livro Pós-escrito a o nome da rosa, 
de 1984, Umberto Eco declara que a rede é um labirinto. Não se trata do 
labirinto clássico, o labirinto grego, o de Teseu, o labirinto no qual ninguém 
se perde, o labirinto no qual se vai da entrada para o centro e do centro para 
a saída. Não se trata do labirinto que só inspira terror porque no seu centro 
está o Minotauro, o labirinto que seria um simples passeio se ali não estivesse 
o Minotauro, comenta Eco. Não se trata também do labirinto maneirista, o 
labirinto que é o modelo do processo de tentativa e erro,o labirinto em forma 
de raízes, uma espécie de árvore, com muitos becos sem saída, e com uma 
única saída que, no entanto, pode ser enganadora, observa Eco. A rede é o 
rizoma. Batizada com esse nome por Gilles Deleuze e Felix Guatarri, a rede 
é potencialmente infinita, não tem centro, não tem periferia, não tem saída, 
podendo um caminho ligar-se a outro qualquer. O rizoma é estruturável, 
mas jamais definitivamente estruturado, comenta Eco.
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
O sujeito pós-moderno é rede discursiva. É formado por várias 
entradas discursivas, mas nenhuma delas leva ao centro ou à saída. Não há 
como, portanto, buscar apoio fora do labirinto rizomático para decidir por 
este ou aquele discurso. O processo de deliberação começa com discursos 
e termina, quando termina, com discursos. O discurso rizomático é critico, 
todos os discursos são críticos de todos os discursos, todos os discursos 
são descentrados por todos os discursos; os discursos, os sujeitos, 
entreolham-se e se conhecem no labirinto. O labirinto é a realidade.
A realidade fora do labirinto não passa de um sonho ontológico 
realista do pensamento ocidental, a grande doença do pensamento filosófico, 
a tentativa de encontrar o mundo atrás do espelho. A realidade fora do labirinto 
é invenção discursiva: pensa-se que se descobre o que na verdade se inventa. 
Na imagem da realidade como labirinto o que importa é explicar o discurso 
que “descobre a realidade”. O sujeito não entra no labirinto e resolve um 
enigma, não descobre a saída do labirinto, não descobre a realidade. O 
sujeito é labirinto, é criatura do labirinto, nasce aí, no labirinto. O que se 
espera do sujeito é que ele seja capaz de conhecer o labirinto e as formas de 
sujeição discursiva que nele circulam. Talvez possa então abrir novos 
caminhos e ligá-los a outros caminhos, ética e politicamente mais defensáveis.
77
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Referências
Abib, J. A. D. (1982). Skinner, materialista metafísico? “Never mind, no 
matter”. Em B. Prado, Jr. (Org.), Filosofia e comportamento (pp. 
92-109). São Paulo: Brasiliense.
Abib, J. A. D. (1997). Teorias do comportamento e subjetividade na 
psicologia. São Carlos: Editora da Universidade Federal de São 
Carlos.
Abib, J. A. D. (1999). Empirismo radical e subjetividade. Psicologia: Teoria 
e Pesquisa, 15, 55-63.
Abib, J. A. D. (2005). Teoria social e dia lógica do sujeito. Psicologia: Teoria 
e Prática, 7, 97-106
Aristóteles. (1985). Ética a Nicômacos (M. da G. Cury, Trad.). Brasília: 
Editora Universidade de Brasília. (Trabalho original publicado em 
s.d.).
Auster, P. (s.d.). Mr. Vertigo (T. M. Nóbrega, Trad.). São Paulo: Círculo do 
Livro. (Trabalho original publicado em 1994).
Barros, M. de (1990). Matéria de poesia. Em M. de Barros (Org.), Gramática 
expositiva do chão (pp. 177-198). Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira. (Trabalho original publicado em 1974).
Berger, P. L. & Luckmann, T. (1978). A construção social da realidade (F. 
de S. Fernandes, Trad.). Petrópolis: Vozes. (Trabalho original 
publicado em 1966)
Caeiro, A. (1998). O guardador de rebanhos. Em M. A. Galhoz (Org.), 
Fernando Pessoa, obra poética (206-254, pp. 203-228). Rio de 
Janeiro: Nova Aguilar. (Trabalho original publicado em 1911).
Calvino, i. (1998). Seis propostas para o próximo milênio (I. Barroso, Trad ). São 
Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1988).
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
Coelho, T. (2003). A revolução silenciosa. Folha de São Pauto: Mais\ 02/ 
11/2003.
Comte-Sponville, A. (2000). Pequeno tratado das grandes virtudes (E. 
Brandão, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original 
publicado em 1995).
Cross ley, M. L. (2003). introducing narrative psychology: self, trauma and 
the construction of meaning. Philadelphia: Open Unniversity Press. 
(Trabalho original publicado em 2000).
Dewey, J. (1981). The development of american pragmatism. Em J. J. 
McDermott (Org.), The philosophy of John Dewey (pp. 41-58). 
Chicago: the University of Chicago Press. (Trabalho original 
publicado em 1922).
Eco, H. (1985). Pós-escrito a o nome da rosa (L. Z. Antunes & A. Lorencini, 
Trads.). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. (Trabalho original 
publicado em 1984).
Espinosa. (1979). Ética (J. de Carvalho, J. F. Gomes e A. Simões, Trads.). 
V. Civita (Org.), Espinosa (pp. 71-275). São Paulo: Abril Cultural. 
(Trabalho original publicado em 1677).
Fjelde, R. (1968). PeerGynt, naturalism and the dissolving self. The Drama 
Review, 13, 28-43.
Flanagan, O. (1997). Consciousness as a pragmatist views it. Em R. A. 
Putnam (Org ), The Cambridge companion to William James (pp. 
25-48). Cambridge: Cambridge University Press.
Foucault, M. (1982). The subject and power. Critical Inquiry, 8, 777-795.
Foucault, M. (1986). A arqueologia do saber (L. F. B. Neves, Trad.). Rio 
de Janeiro: Forense-Universitária. (Trabalho original publicado em 
1969).
Gale, R. M. (1997). John Dewey’s naturalization of William James. Em R. 
A. Putnam (Org ), The Cambridge companion to William James 
(pp. 49-68). Cambridge: Cambridge University Press.
Gergen, K. J. (1985). The social constructionist movement in modern 
psychology. American Psychologist, 40, 266-275.
Gergen, K. J. (1989). Social psychology and the wrong revolution. European 
Journal of Social Psychology, 19, 463-484.
Gergen, K. J. (1996). Technology and the self: from the essential to the 
sublime. Em D. Grodtn & T. Lindlof (Orgs.), Constructing the self 
in a mediated world (pp. 127-141). London: Sage Publications.
79
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Jvse Antônio Damàsio A b it
Giacoia, Jr. O. (2000). Hans Jonas: o princípio responsabilidade: ensaio 
de uma ética para a civilização tecnológica. Em M. A. de Oliveira 
(Org.), Correntes fundamentais da ética contemporânea (pp. 193- 
206). Petrópolis: Vozes.
Glasersfeld, E. von. (1996). A construção do conhecimento (J. H. 
Rodrigues, Trad.). Em Schinitman, D. F. (Org ), Novos paradigmas, 
cultura e subjetividade (pp. 75-83), Porto Alegre: Artes Médicas. 
(Trabalho original publicado em 1994).
Hume, D. (1975). Sumário do tratado da natureza humana (A. Aiex, Trad.). 
São Paulo: Companhia Editora Nacional. (Trabalho original 
publicado em 1740).
James, W. (1950). The principies of psychology. New York: Dover 
Publications. (Trabalho original publicado em 1890).
James, W. (1970). The meaning of truth: a sequel to pragmatism. United 
States of America: The University of Michigan. (Trabalho publicado 
em 1909).
Joas, H. G. H. (1985). Mead: a contemporary re-examination of his thought 
(R. Meyer, Trad.). Cambridge: The Mit Press. (Trabalho original 
publicado em 1980).
Kant, I. (1985). Crítica da razão pura (M. P. Santos & A. F. Mourão, Trads.). 
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. (Trabalho original 
publicado em 1781).
Kundera, M. (s.d ). A insustentável leveza do ser(J.B.C. da Fonseca, Trad.). 
Rio de Janeiro: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 
1982).
Lather, P. (1992). Postmodernism and the human sciences. Em S. Kvale 
(Org.), Psychology and postmodernism (pp. 88-109). London: Sage 
Publications
Levin, J, D. (1972). Theories of the self. Washington: Taylor & Francis.
Lovlie, L. (1992). Portmodernism and subjectivity. Em S. Kvale (Org.), 
Psychology and postmodernism (pp. 119-134). London: Sage 
Publications.
Machado, R, (Org.) (1981). Michel Foucault: microfisica do poder. Rio de 
Janeiro- Edições Graal. (Trabalho originalpublicado em 1979).
Mead, G. H. (1912). The mechanism of social consciousness. Journal of 
Philosophy, Psychology and Scientific Methods, 9, 401-406.
80
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaie Psicológico
Mead, G. H. (1913). The social self. Journal of Philosophy, Psychology 
and Scientific Methods, 10, 374-380.
Mead, G. H. (1962). Mind, self and society. Chicago: The University of 
Chicago Press. (Trabalho original publicado em 1934)
Morris, C. W. (1962). Introduction: George Herbert Mead as social 
psychologist and social philosopher. Em G. H. Mead. Mind, self 
and society (pp. ix-xxxviii). Chicago: The University of Chicago 
Press,
Nietzsche, F. (1987). Genealogia da moral: um escrito polêmico (P. C. 
Souza, Trad.). São Paulo: Brasiliense. (Trabalho original publicado 
em 1887).
Potter, J. & Wetherell, M. (1994). Discourse and social psychology: beyond 
attitudes and behavior. London: Sage Publications. (Trabalho 
original publicado em 1987).
Platão. (1979). O banquete (J. C. de Souza, Trad ). V. Civita (Org.), Platão 
(pp. 1-53). São Paulo: Abril Cultural. (Trabalho original publicado
em s.d.).
Ratner, C. (1995). A psicologia sócio-histórica de Vygotsky: aplicações 
contemporâneas (L. L. de Oliveira, Trad.). Porto Alegre: Artes 
Médicas. (Trabalho original publicado em 1991).
Russell, B. (1978). The problems of philosophy. Oxford: Oxford University 
Press. (Trabalho original publicado em 1912).
Ryle, G. (1980). The concept of mind. England: Penguin Books. (TrabaJho 
original publicado em 1949).
Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century-Crofts.
Skinner, B. F. (1974). About behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Skinner, B. F. (1989). Recent issues in analysis of behavior. Ohio: Merrill 
Publishing Company.
Strawson, G. (1997). ‘The self. Journal of Consciousness Studies, 4, 405- 
428.
Titchener, E. B. (1912). The schema of introspection. Disponível em: http:/ 
/psychoclassics.yorku.ca./Titchener/introspection.htm (Acessado 
em 12.10.2003).
Waldman, B. (1990). A poesia ao rés do chão. Em M. de Barros (Org.), 
Gramática expositiva do chão {pp. 11-32). Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira.
81
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damàsio Abib
Watzlawick, P. (1994). Prefácio (J. P. dos Santos, Trad ). Em P. Watzlawick 
(Org.), A realidade inventada (pp. 17-19). Campinas: Editorial Psy 
II. (Trabalho original publicado em 1981).
Watzlawick, P. (Org.). (1994). A realidade inventada (J. P. dos Santos, 
Trad.). Campinas: Editorial Psy II. (Trabalho original publicado em 
1981).
Wittgenstein, L. (1988). Philosophical investigations (G. E. M. Anscombe, 
Trad.). Oxford: Basil Blackwell. (Trabalho original publicado em 
1953).
Wundt, W. (1897). Outlines of psychology (C. H. Judd, Trad.). Disponível 
em: http://www.yorku.ca/dep/psych/classic/Wundt/Outlines/sec 
1.htm (Acessado em 01.03.1999).
Wundt, W. (1922). Grundriss derpsychologie. Leipzig. Alfred Kroner Verlag, 
(Trabalho original publicado em 1897).
Young, N. (1992). Postmodern self-psychology mirrored in science and 
arts. Em S. Kvale (Org.), Psychology and postmodernism (pp. 135- 
145). London: Sage Publications.
82
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
http://www.yorku.ca/dep/psych/classic/Wundt/Outlines/sec
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
ECOgraf
diagramação e impressão de livros por demanda
Rua Costa, 35 - Consolação - São Paulo-SP 
ecograf.grafica@terra.com.br 
Fone: (11) 3259-1915
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
mailto:ecograf.grafica@terra.com.br
A leitura do O sujeito no labirinto é um convite 
para percorrermos um itinerário solidamente 
traçado pelo Prof. José Antônio Damásio Abib. 
O principal objetivo do livro é mostrar que, 
enquanto sujeitos, estamos em um labirinto 
discursivo onde não há saída. Essa conclusão 
é cuidadosamente construída no decorrer do 
livro a partir de um debate entre W. Wundt, W. 
James, G. H. Mead, B. F. Skinner e 
representantes do chamado discurso pós- 
moderno (como K. L. Gergen, P. Lather, L. 
Levlie, e N. Young). Como resultado temos 
uma complexa e bela teoria do sujeito. Mas há 
ainda um segundo sentido para o título do livro: 
o labirinto é a filosofia da psicologia, na qual o 
leitor é lançado com este livro. Enquanto 
labirinto, a filosofia da psicologia pode parecer, 
em um primeiro momento, aterradora; mas de 
maneira elegante o autor nos mostra a 
virtuosidade de vivermos neste labirinto. 
Começamos percorrendo os escuros e 
empoeirados corredores dos clássicos da 
Psicologia, que ao final m ostram -se 
verdadeiras clareiras de onde partem vários 
outros caminhos, Um desses caminhos 
desemboca em um amplo corredor, onde 
ouvimos diferentes vozes falando ao mesmo 
tempo: o pós-modernismo. Novamente, o 
autor nos socorre e mostra que, por termos 
passado pela clareira dos clássicos, podemos 
começar a entender melhor o que a maioria 
dessas vozes está dizendo. Eis uma outra 
virtude do livro: mostrar como podemos viver 
neste labirinto que é a filosofia da psicologia. 
Com isso, a faceta assombrosa do labirinto aos 
poucos vai dando lugar à curiosidade: até onde 
esse caminho pode nos levar? O que 
aconteceria se tomássemos um outro 
caminho? Será que todos os caminhos levam a 
um mesmo lugar? E, aqui, encontramos mais 
uma valiosa lição que pode ser extraída deste 
livro: por não ser dogmático, o Prof. Abib nos 
desafia a construirmos nosso caminho neste 
labirinto.
Dr. Carlos Eduardo Lopes
Docente do Curso de Psicologia da Universidade 
Federal de Mato Grosso do Sul - Campus de 
Paranaíba, MS.
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!14/8/2015
14/8/2015INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damásio Abib é
psicólogo pela Universidade de 
Brasília, mestre em psicologia e doutor 
em ciências pela Universidade de São 
Paulo, pós-doutoremepistemologia da 
psicologia pela Universidade de 
Aarhus (Dinamarca). Sua tese de 
doutorado foi premiada em primeiro 
lugar no II Concurso de Teses 
Universitárias, Área de Filosofia, pela 
Secretaria da Cultura do Estado de 
São Paulo, em 1986. Foi docente do 
D epa rtam en to de F ilo s o fia e 
M etodo log ia das C iênc ias da 
Universidade Federal de São Carlos e 
professor orientador no Programa de 
Pós-Graduação em Filosofia dessa 
Universidade até 2003, quando se 
aposentou. Foi professor visitante nas 
Universidades de Aarhus, Federal de 
Santa Catarina e Federal do Paraná. 
Publicou vários ensaios e capítulos de 
livros sobre ep istem olog ia da 
psicologia. Publicou os livros Teorias 
do Comportamento e Subjetividade na 
Psicologia (EDUFSCar, São Carlos, 
1 9 9 7 ) e C o m p o r t a m e n t o e 
Sensibilidade: Vida, Prazer e Ética 
(ESETec, Santo André, 2007). 
Atualmente é pesquisador visitante do 
CNPq junto ao Departamento de 
Psicologia e Programa de Mestrado 
em Psicologia da Universidade 
Estadual de Maringá.
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!14/8/2015
14/8/2015INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
0 Sujeito no Labirinto é um ensaio sobre a constituição do 
sujeito em clássicos da psicologia e no discurso pós- 
moderno. Labirintos trazem aos psicólogos a lembrança 
dos instrumentos de investigação do comportamento 
animal que serviram de base a tantas teorias 
psicológicas, mas o labirinto de 0 Sujeito no Labirinto é 
mais literário e filosófico, como os de Jorge Luis Borgese 
Umberto Eco. O ensaio mostra que o sujeito é labirinto 
discursivo e que o labirinto é a filosofia da psicologia. O 
Sujeito no Labirinto mostra que, por termos passado pela 
clareira dos clássicos, podemos começar a entender 
melhor o que a maioria das vozes do discurso pós- 
moderno está dizendo. O Sujeito no Labirinto, além de 
instigante e provocativo para os professores e 
profissionais da psicologia, filosofia e áreas afins, 
certamente constituirá também material valioso para 
nossos cursos de graduação e pós-graduação.
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS1995, inclui no construtivismo social, uma psicologia que sequer é 
mencionada no texto seminal de Gergen, O movimento construcionista 
social na psicologia moderna, de 1985.
Pode-se argumentar que a psicologia sócio-histórica de Vygotsky 
é um construtivismo estruturalista, como o de Piaget, com ênfase, porém, 
na gênese social das estruturas. Não terá sido esta a razão - a presença 
do estrutura lis mo - que levou Gergen a ignorar a psicologia de Vygotsky? 
O construtivismo social não pode ser identificado com o construcionismo 
social, como querem Potter e Wheterell, pois tem ao menos duas versões. 
Uma refere-se à construção social de estruturas e outra à construção 
social de relações. O construcionismo social trata com a construção social 
de relações. As relações referem-se a dinâmicas e impermanências que 
não são contempladas pelas estruturas. O discurso pós-moderno trata 
com as relações em detrimento das estruturas. Esse certamente é um 
tema que aproxima o pós-estruturalismo do construcionismo social, a 
versão de construtivismo social que será examinada neste ensaio.
É muito difícil saber o que seria uma apresentação cabal, 
completa, de uma teoria do sujeito. Dedica-se um espaço razoável a cada 
uma das psicologias do sujeito examinadas aqui. Procuramos fazer 
esboços dessas teorias com o propósito de retomar alguns e desenvolver 
outros quando O sujeito pós-moderno estiver sendo examinado na segunda 
parte deste ensaio. O leitor pode achar que o esboço é incompleto em 
alguns casos e excessivo em outros. Ou que alguns traços são demasiado 
evocativos. Ou que não foram harmonizados com leveza. Eu diria que, 
aqui, foram traçados apenas alguns itinerários do Dédalo e que 
delineamentos adicionais foram deixados a cargo da imaginação do leitor.
13
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
/. O Sujeito 
na Psicologia
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
1. W. Wundt: O Sujeito como
Experiência
A nosso ver a principal característica da psicologia moderna 
consiste na guinada que ela imprimiu na reflexão sobre o sujeito. Ela é 
tão fundamental que se não tivesse acontecido a expressão o sujeito na 
psicologia provavelmente não teria sentido. Examinamos aqui essa virada 
e veremos em que aspecto a psicologia moderna representa uma ruptura 
radical em relação à psicologia tradicional.
Adentramos nessa jornada na boa companhia do psicólogo alemão 
Wilhelm Wundt através de seu livro Fundamentos de psicologia, de 1897. 
Wundt afirma que o sujeito existe na experiência. Isso equivale a dizer 
que a experiência é o lugar adequado para encontrar e caracterizar o 
sujeito. Explicar essas duas afirmações, uma sobre a existência do sujeito, 
outra sobre a sua natureza, é o objetivo principal deste capítulo.
O primeiro debate travado por Wundt é com a psicologia tradicional. 
Ele quer estabelecer as bases da psicologia moderna: a psicologia empírica. 
E para fazer isso tem de enfrentar a psicologia tradicional: a psicologia 
metafísica. Estamos diante do perene debate envolvendo o velho e o novo, 
no caso, a velha e a nova psicologia.
É no conceito de experiência que reside a principal diferença entre 
essas duas psicologias. A psicologia metafísica trata com a experiência 
não-fenomenal e a psicologia empírica trata com a experiência fenomenal. 
De acordo com Wundt, a psicologia metafísica explica os fenômenos 
subjetivos como manifestação de dois substratos que disputam o título de 
substância explicativa: a mente e a matéria. A psicologia espiritualista 
concebe a psicologia como ciência da mente, onde os fenômenos subjetivos 
são explicados como manifestação de uma mente-substância, uma mente 
não-fenomenal, uma mente que não aparece na experiência fenomenal. 
Por natureza supersensível e imortal, a mente-substância ou é 
fundamentalmente diferente da matérie (como no dualismo cartesiano) ou 
não (como no monismo ou na monudologia de Leibniz). A psicologia
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto. Um ensaio Psicológico
materialista concebe a psicologia como ciência do corpo, onde os fenômenos 
subjetivos são explicados como manifestação de uma matéria-substância 
A psicologia materialista nega a natureza supersensível da mente e, 
evidentemente, mantém uma relação conflituosa com a psicologia 
espiritualista, seja ela dualista ou monista. Da psicologia espiritualista pode- 
se derivar a idéia de que o sujeito existe como mente-substância e que é ou 
pressupõe essa substância. Da psicologia materialista pode-se derivar a 
idéia de que o sujeito existe como matéria-substância e que é ou pressupõe 
essa substância. Essas psicologias são indefensáveis uma vez que a 
explicação dos fenômenos subjetivos não deve ser investigada no campo 
da experiência não-fenomenal de uma substância mental ou material.
O sujeito não pode ser identificado nem com a matéria, com o corpo, 
como na psicologia materialista, nem com a mente, como na psicologia 
espiritualista. O sujeito não pode ser uma substância, seja ela mental ou 
materiai. O sujeito não existe no campo não-fenomenal da experiência. Existe, 
isto sim, no campo fenomenal da experiência. Situar o sujeito na experiência 
não-fenomenal é identificá-lo com fantasmas, seja com o fantasma mental, 
seja com o fantasma material (como a mente, a matéria é também um 
fantasma). O fantasma pode sentir sua existência, por exemplo, alguém pode 
dizer que sente sua existência fantasmal, mas sabe que é invisível, sabe que 
não existe na experiência fenomenal. O sujeito existe na experiência 
fenomenal, o que equivale a dizer que é imanente à experiência, que existe 
nela, e não fora dela; que não existe na experiência não-fenomenal, o que 
equivale a dizer que não tem uma existência transcendente à experiência, 
que não é um fantasma mental, ou material.
Elucidadas as diferenças entre os conceitos de experiência não- 
fenomenal e fenomenal, Wundt desloca a existência do sujeito do campo 
não-fenomenal da experiência para seu campo fenomenal. Mas existe 
ainda a tarefa de explicar a natureza do sujeito. Com efeito, Wundt tinha 
ainda a tarefa de responder a esta questão: o sujeito fenomenal, o que ele 
é? Em que consiste? O psicólogo alemão trava um segundo debate, agora 
com a própria psicologia empírica, para responder a questão. A psicologia 
empírica começa quando a experiência fenomenal substitui a experiência 
não-fenomenal como campo privilegiado de estudo da psicologia. E não 
começa com Wundt; mas sim, diz ele, com Locke, Kant, Beneke e Fortlage. 
Seu alvo? Já sabemos: a psicologia metafísica, que, de acordo com Wundt, 
tem sua origem em Aristóteles, Descartes e Leibniz.
O problema que Wundt vê na psicologia empírica relaciona-se 
novamente com o conceito de experiência. Essa psicologia cinde a 
experiência em duas. De um lado, a experiência interna; de outro, a 
experiência externa. Dessa perspectiva, a psicologia trataria com 
fenômenos próprios, diferentes dos fenômenos da experiência externa, 
seguindo as diretrizes do método introspectivo; e a ciência da natureza 
trataria também com fenômenos próprios, diferentes dos fenômenos da 
experiência interna, seguindo as diretrizes do método experimental (como
17
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damásio Abíb
na física) ou do método de observação naturalista (como na botânica, 
zoologia e mineralogia).
Essa diferença dos fenômenos e dos métodos da psicologia e da 
ciência natural terminapor reinstalar o campo não-fenomenal da 
experiência no âmbito da psicologia. Com efeito, a ciência natural 
investigaria a experiência externa como manifestação fenomenal da 
matéria; e a psicologia investigaria a experiência interna como 
manifestação fenomenal da mente, ou até mesmo da matéria, a depender 
naturalmente das posições adotadas pelos psicólogos diante do problema 
mente-corpo. Perde-se desse modo o conceito de experiência fenomenal 
e a grande inovação que é a de passar ao largo do problema mente- 
corpo, um problema que pertence ao campo não-fenomenal da experiência.
Evidentemente que Wundt não poderia concordar com a cisão 
da experiência realizada pela psicologia empírica. Assim como já refutara 
o conceito de experiência não-fenomenal, refuta, agora, os conceitos de 
experiência interna e externa. O conceito de experiência interna baseia- 
se na experiência fenomenai, mas não fecha definitivamente as portas à 
experiência não-fenomenal. É necessário exorcizar definitivamente os 
fantasmas dessa experiência. Wundt realiza essa tarefa recuperando a 
unidade da experiência. A psicologia da experiência interna destroça essa 
unidade: é necessário recuperá-la.
De acordo com Wundt, a experiência é uma só, mas pode ser 
vista de perspectivas diferentes. O psicólogo alemão resgata a unidade 
da experiência com a tese do perspectivismo. O perspectivismo refere-se 
à parcialidade bem como à complementaridade das perspectivas. As 
expressões estreia da manhã e estrela da tarde se referem ao objeto Vênus, 
mas se referem à Vênus sob perspectivas distintas. Estrela da manhã se 
refere ao planeta mais luminoso quando é visto próximo ao horizonte no 
amanhecer. Estrela da tarde se refere ao planeta mais luminoso quando 
é visto próximo ao horizonte no crepúsculo. As perspectivas são parciais 
e, conseqüentemente, nenhuma delas diz tudo o que pode ser dito sobre 
o objeto Vênus. Mas tudo pode ser dito sobre esse objeto se essas duas 
perspectivas esgotarem o universo das perspectivas possíveis e se forem 
tomadas como perspectivas complementares. Essas duas perspectivas 
não cindem o objeto Vênus em dois. Vênus continua a ser o mesmo 
objeto: sua unidade é preservada. Do mesmo modo que o objeto Vênus, 
a experiência é unitária, mas pode ser vista como experiência imediata e 
como experiência mediata. Nenhuma dessas perspectivas diz tudo o que 
pode ser dito sobre a experiência: são perspectivas parciais. Mas também 
são complementares, e como esgotam as perspectivas possíveis, dizem 
tudo o que pode ser dito sobre a experiência.
O conceito de experiência imediata se refere à totalidade da 
experiência subjetiva, isto é, se refere a tudo que usualmente é considerado 
subjetivo, como as sensações, os sentimentos, as emoções, volições e 
idéias. O conceito de experiência mediata se refere à totalidade da
18
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
experiência objetiva, isto é, se refere a tudo o que usualmente é considerado 
objetivo, como, por exemplo, os objetos físicos. O conceito de experiência 
mediata ou objetiva também se refere a um aspecto da experiência subjetiva 
que é a idéia do objeto. Essa dupla referência do conceito de experiência 
objetiva, que inclui os objetos e as idéias dos objetos, exclui todos os outros 
fenômenos subjetivos, como as sensações, os sentimentos, as emoções e 
volições. O conceito de experiência total se refere à complementaridade 
dessas perspectivas.
Feito esses esclarecimentos, é chegada a hora de examinarmos a 
natureza do sujeito. O sujeito existe na experiência fenomenal imediata e 
mediata, sem jamais ultrapassar o âmbito dessa experiência. Afastados os 
equívocos que consistem em conceber a existência e a natureza do sujeito 
no campo da experiência não-fenomenal e na experiência interna, podemos 
agora concebê-lo no campo da experiência fenomenal subjetiva e objetiva. 
Se o sujeito existe no campo fenomenal, não pode ser nada mais nada 
menos do que fenômeno. Mas em que consiste a idéia de fenômeno? Em 
parte já sabemos, fenômeno é o que aparece na experiência. Mas a idéia 
de fenômeno também tem outro sentido. Wundt diz que fenômeno é 
processo e não objeto, Como processo é parecido com o rio heraclitiano, 
está sempre se transformando, nunca é em um momento posterior o que 
foi em um momento precedente. Já os objetos, de acordo com Wundt, têm 
um caráter de relativa permanência que os processos não têm. Essa idéia 
de Wundt foi muito bem explicada por seu discípulo, o psicólogo inglês 
Edward Bradford Titchener (que fundou nos Estados Unidos um sistema 
próprio de psicologia) em seu texto O esquema da introspecção, de 1912. 
De acordo com Titchener, a noção de processo não se refere simplesmente 
a uma ocorrência no tempo. Processo é tempo. Toda experiência é, portanto, 
temporal. Com essas importantes observações, Titchener elucida as noções 
de processo, evento, ocorrência, estado e coisa. Ele diz que o progresso da 
experiência pode ser lento ou rápido. Pode ser tão lento que é possível 
relevar seu caráter processual; ou pode ser tão rápido que não pode ser 
apreendido temporalmente. No primeiro caso falamos de coisas ou de 
estados, no segundo de eventos ou ocorrências. Por isso Titchener diz que 
processo é um termo relativo: situa-se, por assim dizer, no espaço delimitado 
por eventos e coisas.
Declarar então que o sujeito existe no campo fenomenal da 
experiência subjetiva equivale a afirmar que ele é fenômeno ou que aparece 
como processo. Mas de qual processo se trata? Wundt responde: trata- 
se do processo volitivo-afetivo-ideativo. Já sabemos que o sujeito também 
existe no campo fenomenal da experiência objetiva. Mas o que significa 
dizer isso? Significa dizer que o sujeito é processo ideativo minus processo 
volitivo-afetivo. Aí está o sentido preciso do conceito de experiência 
objetiva: as idéias dos objetos não são "contaminadas” pelo processo 
volitivo-afetivo. A experiência não é objetiva somente porque trata com 
processos relativamente permanentes ou objetos, mas também porque
19
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damásio Abib
trata com idéias desvinculando-as do processo volitivo-afetivo. No 
processo ideativo da experiência objetiva o que se visa é o conceito ou a 
idéia do objeto. O processo volitivo-afetivo da experiência subjetiva carrega 
consigo sentimentos, emoções e desejos singulares; é um processo que, 
por assim dizer, “suja o conceito”, “suja a idéia".
O sujeito é subjetivo e objetivo, Como sujeito subjetivo é processo 
volitivo-afetivo-ideativo. Como sujeito objetivo é processo ideativo minus 
processo volitivo-afetivo. Estamos então diante de dois sujeitos: o sujeito 
psicológico e o sujeito epistemológico. O sujeito epistemológico é o sujeito 
objetivo: o sujeito que é processo ideativo. O sujeito psicológico é o sujeito 
subjetivo: o sujeito que é processo volitivo-afetivo-ideativo. A epistemologia 
dedica-se ao estudo do sujeito epistemológico. A psicologia dedica-se ao 
estudo do sujeito psicológico. A epistemologia estuda o processo ideativo 
do sujeito no contexto da lógica e de fundamentos racionais e empíricos. 
A psicologia estuda o processo ideativo do sujeito no contexto dos 
sentimentos, das emoções, das volições. Portanto, toda a experiência é 
subjetiva: o sujeito existe e circula por toda a experiência.
O solo conceituai da psicologia moderna do sujeito está 
estabelecido. Ao concluir essa tarefa, Wundt aplica o golpe de 
misericórdia na psicologia da experiência interna. Esse golpe é aplicado 
no método de investigação da psicologia introspectiva. De acordo com 
Wundt, a psicologia da experiência interna se equivocou ao diferenciar 
os sentidos externo e interno. O sentido externo refere-se à observação 
de objetosexternos que é feita através dos métodos de observação 
experimental e observação naturalista da ciência natural. O sentido 
interno refere-se à observação dos objetos internos que é feita através 
da introspecção. Essa diferenciação de sentidos e métodos baseia-se 
no equívoco da psicologia da experiência interna conceber os processos 
subjetivos como objetos. O sentido interno e a introspecção seriam 
adequados para observar e investigar objetos, mas não para observar e 
investigar processos. Conseqüentemente, Wundt condena 
veementemente essa psicologia porque ela utiliza de um método 
inexequível para investigar processos como sensações, sentimentos, 
emoções, volições e idéias. De acordo com Wundt, o método adequado 
para investigar processos é o método experimental. Com esse método 
podem-se produzir processos e modificá-los com interferências 
apropriadas. A observação de processos deve ser controlada, não pode 
ser introspectiva, não pode ser observação livre. O critério que leva 
Wundt a defender o uso do método experimental na psicologia é o caráter 
processual do assunto dessa ciência e não o desejo de imitar a ciência 
natural. A preocupação de Wundt com a adequação de métodos a temas 
verifica-se dc modo exemplar quando diz que a observação não- 
experimental na psicologia só é adequada na psicologia social, pois nesse 
caso os produtos mentais, como mito, linguagem, religião e costumes, 
têm o caráter relativamente permanente dos objetos. Trata-se, diz Wundt,
20
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
de produtos que podem ser estudados pela psicologia social com o 
propósito de elucidar os processos psicológicos que ocorreram em sua 
formação.
A guinada que foi impressa à reflexão sobre o sujeito pela psicologia 
moderna requer uma atenção especial à linguagem. Nossas referências ao 
sujeito estão mergulhadas no pensamento metafísico da filosofia ocidental 
desde seu alvorecer na Grécia Antiga. Quando dizemos que o sujeito pensa, 
ou que o sujeito sente, o termo sujeito refere-se a uma mente, alma ou espírito. 
É a alma, espírito ou mente que pensa ou que sente. Uma situação similar 
ocorre quando perguntamos pelo sujeito do conhecimento: acreditamos que 
existe um sujeito que conhece. Dissemos páginas atrás que o fantasma pode 
sentir sua existência e que uma pessoa pode sentir sua existência fantasmal. 
Quer dizer, uma pessoa pode acreditar que a alma, o espírito, a mente, o 
fantasma, é o sujeito de suas experiência, e que, ao fim e ao cabo, ela mesma 
é esse fantasma. Pode, enfim, acreditar na existência de fantasmas. Mas 
essa crença pode ser uma ilusão criada pela linguagem. O filósofo alemão 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) disse em sua obra Genealogia da morai: um 
escrito polêmico, de 1887, que a linguagem é sedutora. Teria sido por causa 
de seu aspecto sedutor que se petrificaram os erros fundamentais da razão, 
diz o filósofo. E um desses erros fundamentais seria a crença na existência 
do sujeito. Bem entendido, do sujeito fantasma. O que existe, continua a fala 
do filósofo, é a força: impulso, vontade. Ao dizer que o sujeito é processo 
volitivo-afetivo-ideativo, estamos identificando o sujeito com esse processo 
e temos que nos precaver contra a sedução da linguagem. Temos de escrever 
e falar de modo diferente. O sujeito tem desejos? Não. O sujeito é desejo. O 
sujeito pensa? Nào. O sujeito é pensamento. O sujeito sente? Não. O sujeito 
é sentimento. Por aproximadamente vinte e cinco séculos aprendemos a 
escrever e falar da primeira maneira: a maneira em que o fantasma tem 
desejos ou que pensa ou que sente. Mas experimente escrever e falar 
exorcizando o fantasma. Soa esquisito. O sujeito não é um fantasma que 
tem desejo ou que sente ou que pensa. O sujeito é desejo, o sujeito é 
pensamento, o sujeito é sentimento.
A mudança de lugar do sujeito, o deslocamento de sua existência 
do campo não-fenomenal da experiência para o campo fenomenal, requer 
que o uso do termo sujeito deixe de se referir aos processos da experiência 
fenomenal, de fora, como expressões fantasmagóricas, e passe a se referir 
a esses processo de dentro dessa experiência, sem fantasmas. Mas como
o sujeito é a totalidade dos processos da experiência, ele se refere sempre 
a si mesmo. Em uma palavra o sujeito é auto-referente. Sendo assim, ele 
não só conhece os objetos, mas também seus próprios processos, isto é, 
ele conhece a si mesmo. Como isso é possível?
A última década do século XIX presenciou o aparecimento de 
uma análise seminal dessa questão quando o famoso psicólogo norte- 
americano William James afirmou que o sujeito é consciência.
21
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
2. W. James: O Sujeito como
Consciência
Um exame dos Princípios de psicologia de James, de 1890, mostra
0 quanto o psicólogo norte-americano, tal como Wundt, é um crítico ácido 
de filosofias do sujeito. O substancialismo, como em Wundt, é uma de suas 
vítimas. As outras são o transcendentalismo kantiano e o associacionismo 
do empirismo inglês. Por trás da crítica de James existe uma teoria psicológica 
do sujeito orientada por sua filosofia do empirismo radical.
James introduz os termos self, I e me para se referir ao sujeito. 
Ele atribui qualquer um desses termos ao sujeito, e a primeira coisa a ser 
feita para compreender sua teoria psicológica do sujeito é elucidar sua 
concepção desses termos. Essa tarefa requer o exame de aspectos da 
teoria do fluxo da consciência que apresenta no seu livro. Mas antes 
disso é conveniente fazer um esclarecimento gramatical do uso dos termos
1 e me que podem ser traduzidos por eu e me. As palavras eu e me são 
classificadas gramaticalmente como pronomes pessoais, O termo eu é 
pronome do caso reto e exerce a função de sujeito da oração. O termo 
me é pronome do caso oblíquo e exerce a função de objeto, ou 
complemento, da oração. Nas orações ‘eu te magoei’, ‘eu quebrei a mesa', 
o termo eyse refere ao sujeito da oração. Nas orações ‘você me agrada’, 
você me desafia’, o termo me se refere ao objeto, ou complemento, da 
oração. O pronome me pode aparecer numa frase como pronome reflexivo. 
Nas orações ‘eu me esgotei’, feu me excedi’, o termo me é um pronome 
reflexivo. Como pronome reflexivo, o termo me se refere ao sujeito da 
oração tomado como objeto de sua própria ação. Constitui-se, desse 
modo, a possibilidade gramatical do sujeito referir a si mesmo como objeto.
Pode-se pensar que porque está garantida a possibilidade 
gramatical do sujeito referir-se a si mesmo, que também estejam 
garantidas as possibilidades ontológicas da auto-referência. Pode-se 
pensar que a auto-referência encontrada na oração gramatical só é 
possível porque a realidade se estrutura da mesma maneira. Podemos
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
estar enganados, pois, como Nietzsche já disse, a linguagem é sedutora. 
No seu livro Os problemas da filosofia, de 1912, o filósofo inglês Bertrand 
Russell confirma esse ponto de vista. Russell diz que as pessoas, quando 
olham para dentro de si mesmas, sempre encontram um sentimento ou 
um pensamento particular, mas não um eu que tem o sentimento ou o 
pensamento. Quer dizer, não existe contrapartida ontológica apoiando a 
auto-referência da oração gramatical. Mas a sedução, como toda sedução, 
é um terreno fértil para armadilhas, como a que pode ser verificada no 
comentário de Russel. O filósofo inglês procura o sujeito no campo 
fenomenal da experiência do mesmo modo como se procura fantasmas 
no campo não-fenomenai: procura um eu que tem o sentimento como se 
procura um fantasma que pensa ou que sente ou que deseja. Mas,como 
o sujeito, o eu é sentimento, o eu é pensamento, o eu é desejo.
Wundt pesquisou as possibilidades ontológicas da existência do 
sujeito orientado pelo perspectivismo. James se dedica a uma tarefa similar 
orientado pela filosofia do empirismo radical. No seu livro O significado 
da verdade, de 1909, descreveu sumariamente o empirismo radical. Diz 
aí que o empirismo radical consiste em um postulado, uma declaração 
de fato e uma conclusão generalizada. O postulado refere-se à primazia 
da experiência como ponto de partida para definir as coisas. A declaração 
de fato refere-se à noção de que a experiência de coisas e de relações 
entre coisas é direta e particular. A conclusão generalizada refere-se à 
idéia de que as relações entre as partes da experiência são elas mesmas 
partes da experiência. O debate filosófico começa com a experiência direta 
e particular no intuito de definir coisas e relações entre coisas e termina 
com essa experiência porque coisas e relações entre coisas são partes 
da experiência. O empirismo radical é uma defesa do monismo da 
experiência.
Com base na filosofia do empirismo radical e com uma terminologia 
adequada, self, I e me, James elabora sua teoria psicológica do sujeito. Diz 
que o sujeito é consciência, melhor, diz que é fluxo da consciência A 
consciência é processo, e sendo assim, como Wundt já havia argumentado 
com relação aos processos da experiência, transforma-se. Sendo fluxo, é 
contínua, modifica-se permanentemente como o rio heraclitiano. Com isso 
já se mencionam três características do fuxo da consciência. Primeira, a 
consciência é sempre de um sujeito. Essa característica deriva diretamente 
do empirismo radical na medida em que toda experiência é experiência direta 
e particular de um sujeito. Por isso James diz que toda consciência assume 
forma pessoal. As duas outras características da consciência são continuidade 
e mudança: a consciência é contínua e se transforma. Essas características 
estão implícitas na própria noção de processo, de fluxo, de temporalidade, e 
servem para indicar que a consciência é dinâmica. A natureza dinâmica da 
consciência não se deve apenas à sua temporalidade. A consciência também 
é cognitiva, mas a cognição é sempre interessada, a consciência flui
23
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antòmo Damè$io Abth
deliberanao e fazendo escolhas que se relacionam com os seus interesses. 
Assim, a consciência é cognitiva e volitiva. Cognição e vontade, essas 
características, completam a descrição que James faz do caráter subjetivo e 
dinâmico da consciência. Se o sujeito é consciência, fluxo da consciência, 
então pode ser descrito por todas as características desse fluxo. Pode-se 
dizer que há nele algo de pessoal e que é cognitivo e dinâmico. Em suma, o 
sujeito é pessoal, temporal, dinâmico, cognitivo e volitivo, e, de acordo com 
o empirismo radical, não pode ser mais do que isso.
Identificando o sujeito com o fluxo da consciência, James concebe 
o eu e o me nesse fluxo. O eu é a consciência julgadora. A consciência 
julgadora é o segmento presente do fluxo da consciência que presta 
atenção, conhece, delibera e escolhe. A consciência julgadora não pode 
ser conhecida no mesmo momento em que conhece. É necessário que 
mergulhe no passado e se torne objeto do próximo segmento do fluxo da 
consciência. O eu só pode ser conhecido quando se transforma em me. 
Sempre fluindo, o eu é um conhecedor como segmento presente do fluxo 
e é um conhecido, ou um me, como segmento passado do fluxo. A 
determinação do sujeito como temporalidade é fundamental para 
solucionar o problema de como o sujeito pode se transformar em me, ou 
em objeto de conhecimento de si mesmo. Se não se reconhece essa 
determinação, o eu não ultrapassa sua condição de Pensador, de postulado 
lógico, abstrato, hipotético e conceituai do conhecimento, como de fato 
foi pensado por Kant.
James identifica a consciência com o pensamento. Mas essa 
identificação precisa ser bem compreendida para que não se confunda o 
eu jamesiano com o Pensador, o Ego puro, kantiano. O sujeito é um 
segmento presente da consciência que pensa um segmento passado da 
consciência. Lato sensuconsciência é pensamento de primeiro grau, mas, 
stricto sensu, é pensamento de segundo grau porque o pensamento é 
tomado como objeto do próprio pensamento. James faz uma distinção 
clara quando diz que ciência (sciousness) refere-se ao pensamento de 
objetos, mas pensamento que não pensa sobre si mesmo; e que 
consciência (con-sciousness) refere-se ao pensamento que pensa sobre 
si mesmo. O sujeito, então, é uma relação. Com efeito, o sujeito (o self) é 
a relação entre o eu e o me.
James estabelece uma correspondência limitada entre sua 
terminologia e a terminologia de filósofos alemães para se referir ao sujeito. 
Os alemães utilizam os termos ego empírico e Ego puro. James diz que o 
termo me refere-se ao ego empírico. Contrariamente ao que se poderia 
pensar, mas coerente com a filosofia do empirismo radical, o termo eu, 
diz James, não se refere ao Ego puro. O Ego puro refere-se ao Eu penso 
como condição lógica do conhecimento na filosofia crítica de Kant. No 
seu livro, Crítica da razão pura, de 1871, Kant diz que se não houver um 
Eu penso, náo há como pensar a representação de coisa alguma. A 
representação seria impossível: nada seria. Apreciando o Ego puro da
24
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
filosofia de Kant, James diz que ele se refere ao Sujeito como correlato 
necessário do objeto, sendo apenas uma consciência que acompanha 
todas as noções e uma idéia simples e vazia que não pode ser conhecida. 
O Ego puro é transcendental ao conhecimento de si, não pode ser incluído 
na esfera dos objetos de conhecimento. James é um crítico implacável 
do Eu penso kantiano. Comenta que o Ego puro é um nada, um malogro 
ineficaz e fútil criado pela filosofia. Revelando mais simpatia pela Alma 
do substancialismo filosófico, James diz que o Ego puro é um simulacro 
barato da Alma, porque a Alma é ativa, delibera, é moralmente responsável, 
e permanente ao seu modo - características que faltam ao Ego puro.
A simpatia de James pela Alma não o seduz a ponto de defendê- 
la nos debates filosóficos e psicológicos. A Alma refere-se a uma entidade 
que duplica a consciência fenomenal. Refere-se à existência não- 
fenomenal de uma substância atrás do pensamento. James denuncia o 
caráter claramente metafísico dessa concepção e embora não pretenda 
demonstrar a não-existência da Alma sugere que o psicólogo se atenha à 
experiência, pois que não tem qualquer necessidade de ser metafísico. 
As referências de James à filosofia do substancialismo são de longo 
alcance (incluem as filosofias de Platão, Aristóteles, Hobbes, Descartes, 
Locke, Leibniz, Wolff e Berkeley). A filosofia do substancialismo 
provavelmente coincide com o início da filosofia ocidental, e um domínio 
pleno dos sentidos do termo substância provavelmente só é possível com 
o estudo da história do substancialismo. Mas, aqui, é suficiente entender 
o sentido geral de substância como tem sido indicado nos textos de Wundt 
e James: como entidade não-fenomenal, o que não tem qualquer interesse 
para uma psicologia da experiência.
James mostra que tanto o substancialismo quanto o 
transcendentalismo atribuem suas concepções de sujeito a uma Alma e a 
um Ego puro porque há o pressuposto de que somente assim é possível 
esclarecer o princípio de identidade do sujeito: a garantia de que o sujeito 
de hoje é o mesmo de ontem e, certamente, o mesmo de amanhã. Em 
seu livro Teorias do sujeito, de 1992, Levin diz que a acepção do sujeito 
como identidade refere-se ao pronome pessoal em Gótico Antigo: refere- 
se ao eu. Comenta então que o pronome pessoaleu refere-se ao sujeito, 
como na expressão eu faço isto e aquilo e, nesse sentido, é o mesmo eu 
que faz isto e aquilo. Ser hoje o mesmo de ontem, e ser amanhã o mesmo 
de hoje, é o que motiva a busca de uma Alma e de um Ego puro.
James não vê a necessidade de se buscar em entidades não- 
fenomenais a unidade do eu. Ele afirma que a identidade do eu encontra- 
se na unidade dos segmentos indecomponíveis do fluxo da consciência. 
Com efeito, no fluxo, os segmentos evanescentes podem relembrar e 
conhecer, e o eu pode dizer isto sou eu, ou não. James usa esse mesmo 
argumento para criticar o associacionismo inglês. Ao contrário do 
substancialismo e do transcendentalismo, o associacionismo não vê 
qualquer princípio de unidade na experiência que possa apontar para a
25
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damásio A b it
existência de um sujeito. Strawson, em seu texto sobre O sujeito, de 1997, 
afirma que o eu é uma ilusão criada pelo uso impróprio da linguagem. 
Diferentemente do substancialismo e do transcendentalismo, que apontam 
para a identidade não-fenomenal do sujeito, o associacionismo, uma 
filosofia que se situa nas antípodas do substancialismo e do 
transcendentalismo, aponta para a diversidade da experiência e, 
conseqüentemente, para a negação de um princípio de unidade que, no 
nível fenomenal, possa evidenciar a existência do sujeito. Para essa 
filosofia, comenta James, o sujeito não passa de um ser imaginário, de 
uma ficção que é denotada pelo pronome eu. James critica o filósofo 
associacionista inglês David Hume dizendo que ele não percebe que a 
unidade do fluxo é tão real quanto a sua separação e que procurar 
descobrir, como o fez Hume, uma unidade mais real do que esta, é recair 
na metafísica. James conclui sua crítica a Hume observando que, como 
os filósofos do substancialismo e transcendentalismo, também ele sofria 
da grande doença do pensamento filosófico: a tentativa de descobrir o 
mundo atrás do espelho.
O associacionismo não vê a unidade do fluxo da consciência por 
causa de sua concepção equivocada da consciência. O associacionismo 
não distingue entre processos e objetos e toma a consciência como objeto, 
e não como aquilo que ela efetivamente é: processo. Vista como objeto, a 
consciência é fragmentada em sensações, imagens, idéias, o que torna o 
seu fluxo invisível. Em seu texto O desenvolvimento do pragmatismo 
americano, de 1922, John Dewey afirma que James reinterpretou a 
psicologia introspectiva quando substituiu a concepção associacionista 
da consciência por uma concepção da consciência como processo, fluxo. 
Wundt já havia mostrado as insuficiências da introspecção livre e, em 
seu lugar, defendeu a observação controlada, a observação experimental. 
Agora Dewey está afirmando que a concepção de introspecção é 
modificada dependendo de como se concebe o que é observado. A 
introspecção na concepção de James não é equivalente à concepção de 
observação controlada de Wundt, mas também não é equivalente à 
introspecção dos filósofos associacionistas. E; en passant, é bom observar 
que foi a introspecção na acepção dos filósofos associacionistas que 
fundamentou a introspecção pura da psicologia da experiência interna.
Em um texto intitulado Empirismo radical e subjetividade, publicado 
em 1999, expliquei que a teoria de James do sujeito psicológico não recobre 
toda a teoria do filósofo norte-americano relativa ao sujeito. O empirismo 
radical de James é uma hipótese. Ele chama seu empirismo de radical 
exatamente para frisar o caráter hipotético do monismo da experiência. 
Não afirma dogmaticamente que tudo o que existe necessariamente faz 
parte da experiência fenomenal. Podem existir coisas que não fazem parte 
dessa experiência. Mas, diz ele, então, que não servem como material 
para o debate filosófico. O atributo radical do empirismo de James se 
refere a uma abertura e a um critério. Como critério serve para separar o
26
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
material filosófico do material não-filosófico e como abertura significa 
que nem tudo o que existe faz parte da experiência fenomenal. A abertura 
radical do empirismo de James verifica-se em diversos locais de sua obra. 
Flanagan, em seu texto Consciência da perspectiva do pragmatista, de 
1997, e Gale, em seu texto Wiiiiam James naturalizado por John Dewey, 
de 1997, argumentam que quando James trata de assuntos como o livre- 
arbítrio, o significado da vida, a imortalidade da alma e a ontologia, ele 
expressa sua simpatia pela mônada espiritual: entenda-se, a Alma.
A teoria do sujeito psicológico de James pertence à filosofia do 
empirismo radicai, mas a abertura dessa filosofia à possibilidade do sujeito 
não-fenomenal não se estende à psicologia. O sujeito é, como em Wundt, 
fenomenal, e é também cognitivo, mas, em todos os casos, a cognição 
ocorre sempre acompanhada da afetividade e da vontade. Wundt e James 
libertaram o sujeito: libertaram-no da Alma do substancialismo. James 
ampíiou significativamente essa tarefa quando recuperou a dignidade do 
sujeito empírico, mostrando que tanto o eu quanto o me são empíricos, 
negando que exista um sujeito com s minúsculo, o ego empírico do 
transcendentalismo, que seria assunto da psicologia; e um sujeito com S 
maiúsculo, o Ego puro do transcendentalismo, que seria assunto da 
filosofia. James deu outra contribuição importante à psicologia: criticou o 
associacionismo para mostrar que se pode pensar no princípio de unidade 
do sujeito sem abandonar o campo fenomenal.
Se fôssemos resumir a teoria do sujeito de James diríamos: o sujeito 
é consciência. Mas a noção de consciência não se esgota em seu sentido 
pessoal, temporal, dinâmico, cognitivo e volitívo. Ela também tem um sentido 
moral. Como consciência moral, o sujeito é consciência social. Quem faz 
essa afirmação é o psicólogo social norte-americano George Herbert Mead.
27
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
3. G. H. Mead: O Sujeito como 
Consciência Sociat
Em seu livro Mente, sujeito e sociedade, de 1934, Mead, além de 
preservar a terminologia self, I, me, de James, introduz uma perspectiva 
social radical na teoria do sujeito. O sujeito, diz ele, é formado na ação 
comunicativa e participante. O psicólogo social norte-americano apóia-se 
em sua filosofia do com porta menta lis mo social e no conceito de gesto de 
Wundt para explicar a ação comunicativa e não-participante e a ação 
comunicativa e participante. A ação comunicativa e não-participante pode 
ser verificada no ato social de ajustamento dos animais ou, como Mead 
também denomina, ‘conversação de gestos dos animais’ . Nessa 
conversação, os gestos estimulam ações que constituem o ato social. Um 
cão que é hostilizado por outro, por exemplo, por uma ameaça de pulo em 
sua garganta, coloca o rabo entre as pernas e foge. A resposta de fuga, 
estimulada pelo gesto de ataque, representa um ajuste ao gesto de ameaça. 
Diante do gesto de fuga, o cão hostil pode iniciar uma corrida desenfreada 
no encalço do cão em fuga. Essa resposta do cão hostil representa um 
ajuste ao gesto de fuga anterior do cão ameaçado. O ato social de 
ajustamento é um ato de adaptação social que envolve uma temporalidade 
e uma organização regulada por uma conversação de gestos.
A ação comunicativa verificada nos atos sociais de ajustamento 
dos animais baseia-se no significado dos gestos sociais. A resposta de 
um indivíduo ao gesto de outro é, ao fim e ao cabo, uma resposta ao 
significado do gesto. À primeira vista o cão que foge responde ao gesto 
de ameaça do cão hostil. Um exame mais acurado revela, no entanto, 
que o cão responde ao perigo potencialrepresentado pelo gesto de 
ameaça. O cão em fuga responde ao potencial desfecho do ato social 
iniciado pelo gesto de ameaça do cão hostil: ser apanhado e agredido 
pelo cão hostil. Os significados dos gestos sociais consistem nos seus 
eventuais desfechos, resultados, conseqüências. Mead explica o 
comportamento dos animais com base no significado dos gestos sociais.
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeita no Labirinto: Um ensaio Psicológico
Em outras palavras, é o significado dos gestos, dos estímulos sociais, e 
não somente o gesto, ou o estímulo, perse , que explica o comportamento 
dos animais. A ação comunicativa refere-se a essa relação tríplice, presente 
em todo ato social, que consiste no gesto de um animal ao significado do 
gesto de outro animal.
A ação comunicativa verificada nos atos adaptativos dos animais 
é primitiva, pois não é participante. Embora em um sentido elementar haja 
participação na ação comunicativa dos animais, pois se não houver o ato 
social de ajustamento não haverá comunicação, não se pode afirmar que 
há participação no sentido de compartilhamento de significados. No exemplo 
do ato social de ajustamento dos cães não há compartilhamento de 
significado. O cão em fuga responde ao significado da ameaça do cão 
hostil, responde à eventualidade de ser apanhado e agredido pelo cão hostil; 
mas o cão hostil não responde do mesmo modo ao significado de seu 
gesto, não responde ao significado que ele tem para o cão em fuga, o cão 
hostil não foge como o outro cão foge, o que ele faz é iniciar uma carreira 
desenfreada no encalço do cão em fuga. Esse é o sentido exato em que se 
pode falar em comunicação não-participante. Já a ação comunicativa dos 
seres humanos é mais evoluída porque é participante. Há nesse caso 
compartilhamento de significado. Por exemplo, as pessoas podem responder 
pelo menos de duas maneiras ao gesto social de um homem que, ao ver 
fumaça em um teatro, grita: fogo! Elas podem correr do fogo ou podem 
tentar apagá-lo. Se apagarem o fogo, o homem tende a apagá-lo; se 
correrem, ele tende a correr. O homem e as pessoas compartilham o mesmo 
significado. Há nesse caso comunicação participante. Há comunicação e 
significado nos dois tipos de ação comunicativa, mas só há participação na 
ação comunicativa é participante. Morris, na sua Introdução ao livro de 
Mead, em 1962, chama os gestos sociais da ação comunicativa e não- 
participante de signos e os gestos sociais da ação comunicativa e 
participante, de símbolos significantes. O símbolo significante é diferente 
do signo porque se refere a um gesto social que evoca no indivíduo que faz 
o gesto a mesma resposta que evoca em outro indivíduo, ao passo que 
essa evocação não é verificada no signo.
De acordo com Mead, o surgimento da ação comunicativa e 
participante e do símbolo significante é crucial para a transição do não- 
humano para o humano. Para o psicólogo social norte-americano, a 
humanidade surge com a linguagem, com a mente e com o sujeito. Surge, 
portanto, com o símbolo significante, já que a linguagem, a mente e o 
sujeito remetem a símbolos signifícantes. A linguagem, a mente e o sujeito 
são formações sociais uma vez que o símbolo significante é formado na 
ação comunicativa e participante. Mead passa então a explorar, mais 
detalhadamente, a ação comunicativa e participante através do processo 
social que consiste na adoção da atitude ou do papel do outro, no rôle- 
taking. Na verdade, Mead vê nesse processo a chave para compreender 
a ação comunicativa e participante. O homem que, ao ver fumaça no
29
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José Antônio Damásio Abib
teatro, gritou fogo, adotou em relação ao seu próprio gesto a atitude das 
outras pessoas. Evidentemente, um adulto já tem uma longa experiência 
de adotar atitudes e papéis de outras pessoas. Mas para explicar como 
se adquire essa experiência deve-se examinar o comportamento das 
crianças na brincadeira e nos jogos. O que Mead pretende é esclarecer 
que a aquisição de significados compartilhados através do processo de 
adoção do papel do outro é o passo fundamental para explicar a aquisição 
de simbolos significantes e, conseqüentemente, a formação da linguagem, 
da mente e do sujeito.
Na brincadeira a criança adota os papéis particulares de pessoas 
significativas, como os pais e amiguinhos, e no jogo adota os papeis de 
todos os participantes da atividade. Na brincadeira ela desempenha papéis 
sucessivos e o seu sucesso ou fracasso em um determinado papel é 
independente de seu sucesso ou fracasso em quaisquer um dos outros 
papéis. No jogo a situação e diferente. O sucesso de seu papel depende de 
seu sucesso em todos os outros papéis. Adotar o papel do outro tem 
significados diferentes na brincadeira e no jogo. Morris diz que a brincadeira 
e o jogo representam dois estágios de desenvolvimento do sujeito. Com 
efeito, na brincadeira, o outro é significativo e diversificado, o outro se refere 
à vanedade de papéis sociais, e é fundamental para que a criança aprenda 
a lidar com perspectivas sociais distintas e ser bem sucedida no desempenho 
de seus papéis. No jogo, o outro é constituído por várias pessoas que 
seguem e respeitam as mesmas regras. O outro se refere ao desempenho 
de papéis semelhantes, começa, na expressão de Morris, a experiência da 
criança com a estrutura social. Trata-se do outro generalizado.
Segundo Mead, com a adoção de papel do outro generalizado, a 
criança começa sua experiência com significados compartilhados e com 
símbolos significantes, começa a se formar como sujeito, como sujeito 
social, como me. A criança começa a adquirir uma linguagem, uma mente 
com o outro generalizado ou simplesmente com o me. Se o me é o outro 
generalizado, o que é, então, para Mead, o eu? É o observador. Por um 
lado, Mead diz que é o sujeito transcendental de Kant: condição lógica do 
conhecimento. Sendo assim, não pode, diz Mead em O mecanismo da 
consciência social, de 1912, e em O sujeito social, de 1913, tomar a si 
mesmo, como James já dissera, como uma experiência presente da 
consciência. Mas, por outro fado, Mead também segue os passos de James, 
quando diz que há uma auto-observação na memória, uma observação na 
qual se pode distinguir o observador e o observado. Dessa segunda 
perspectiva, o eu é sujeito e objeto: é, neste momento, um objeto observado, 
mas que foi um observador em um momento anterior. Tanto Mead quanto 
James concebem o sujeito como processo, trazendo consigo a marca da 
temporalidade. Esse eu que é observador e observado é, ao mesmo tempo, 
sujeito social, é o me. Com isso fica esclarecido que o me é observado e 
observador. Mas, se o eu é o me, o que efetivamente distingue um do 
outro?
30
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
De acordo com Mead, o eu é alguma coisa que não se encontra 
no me, e ao dizer isto termina por evocar a possibilidade de se restringir o 
significado do me ao controle social ou à ação convencional, habitual e 
conformista do sujeito. O eu, por outro lado, refere-se à ação crítica e 
criativa do sujeito. Trata-se da ação que analisa o me e resiste ao controle 
social e ao conformismo que ele representa. Em última análise, o eu 
transforma o me. Embora Mead faça essa distinção entre o eu e o me, 
deve-se dizer que o eu é de qualquer modo uma formação social. Do 
mesmo modo que o me, o eu é formado pelo outro generalizado. No 
entanto, o outro generalizado é formado por outros conformistas, críticos 
e rebeldes. Na formação do me predomina o outro conformista, o outro 
que representa o controle social; e na formação do eu predomina o outro 
crítico e rebelde, o outroque representa a transformação do controle social.
A observação de Mead de que o eu se refere a alguma coisa que 
não é dada no me tem, seguramente, um segundo significado. O eu è 
impulsivo. As ações impulsivas do eu defrontam-se freqüentemente com 
obstáculos criados pelas ações dos sujeitos sociais. O eu é obrigado a 
refletir sobre os fracassos do presente levando em consideração sua 
experiência passada e ponderando as possíveis conseqüências de seus 
atos futuros. Forma-se e desenvolve-se, desse modo, o eu cognitivo, a 
experiência reflexiva. Com o desenvolvimento da experiência reflexiva, o 
eu adquire conhecimento e controle de seus impulsos, tornando-se mais 
racional. Diz Mead que, finalmente, o sujeito forma-se como 
autoconsciência. A autoconsciência refere-se à experiência reflexiva, refere- 
se ao surgimento do sujeito socialmente constituído que pode ser tomado 
como objeto de intermináveis reflexões de si sobre si. Há uma objetividade 
social na teoria do sujeito de Mead, que é derivada do outro generalizado, 
das leis, normas, regras e costumes da estrutura social, que o psicólogo 
social não quer ver reduzida a uma teoria da consciência, a uma teoria 
psicológica do sujeito ou uma teoria subjetiva do sujeito, como a de James; 
pois a consciência refere-se à experiência subjetiva, à experiência de prazer 
e dor, à experiência privada. Quer, ao contrário, defender uma teoria 
epistemológica do sujeito, uma teoria reflexiva do sujeito, uma teoria da 
autoconsciência.
O eu observador, social, impulsivo e cognitivo, é também moral. 
As ações iniciais, críticas e inovadoras do sujeito podem produzir 
resultados imprevisíveis, e suas ações subseqüentes devem lidar com 
essas conseqüências, especialmente quando elas envolvem questões de 
ordem moral. O sujeito moral é precisamente aquele que recorre, não só 
à memória de experiências passadas e à sua capacidade limitada de 
previsão do curso de conseqüências futuras, mas também à cognição 
acerca da problemática moral envolvida, para, enfim, responsabilizar-se 
e procurar corrigir eventuais danos morais que possa ter causado ou vir a 
causar às pessoas.
31
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
José António Oomásio Abib
As bases conceituais da teoria social e dialógica do sujeito estão 
estabelecidas. A teoria é dialógica porque envolve a relação entre o eu e 
o me. Na verdade, pode-se dizer que esse dialogismo já se encontra em 
James, embora James não tenha uma teoria da formação social do sujeito. 
A teoria de Mead é uma teoria social porque apresenta uma notável 
explicação social de como se formam o e u e o me. Mas não é somente 
isso. Concebida como relação social dialógica no processo social da ação 
comunicativa e participante, essa relação aos poucos se internaliza até 
se transformar em pensamento. O sujeito, como disse James, é 
pensamento. Mas, como diz Mead, é pensamento social, Em síntese, o 
sujeito é autoconsciência social ou simplesmente consciência social.
Mead foi um filósofo que contribuiu ao lado de Charles S. Peirce, 
James e Dewey para fundar o pragmatismo filosófico norte-americano. 
Mead construiu uma teoria social e dialógica do sujeito que, ou reflete os 
fundamentos do pragmatismo filosófico, ou contribui para assentar os 
fundamentos dessa filosofia, ou ainda, expressa ambas as tendências 
simultaneamente. Debater essa questão não é um objetivo desse livro. 
Admite-se, aqui, simplesmente que a teoria social e dialógica do sujeito 
formulada por Mead é uma expressão do pensamento filosófico do 
pragmatismo - uma tese que já defendi no texto Teoria social e dialógica 
do sujeito, de 2005. Como manifestação dessa filosofia, ela tem quatro 
fundamentos: o comportamentalismo, o conseqüencialismo, o 
contextualismo e o anti-representacionismo. Esses fundamentos podem 
ser vistos como teses básicas do pragmatismo de Mead.
Hans Joas, o grande comentador de Mead, diz em seu livro G. H. 
Mead: um reexame de seu pensamento, de 1980, que o filósofo acreditava 
que Darwin foi uma figura chave para o recomeço da reflexão filosófica. 
Mead, segundo Joas, via na teoria de Darwin um modelo alternativo ao 
modelo filosófico vigente que deduz o comportamento e o conhecimento 
do mundo externo a partir da predeterminação de um sujeito. Mead achava 
que Darwin fornecera os meios para fundar todo o conhecimento no 
comportamento ao mostrar como um organismo se adapta ao seu 
ambiente para sobreviver. O comportamentalismo social de Mead é uma 
das melhores expressões dessa virada na teoria do conhecimento. Basta 
lembrar, neste momento, sua tese de que a linguagem, a mente e o sujeito 
são fundados na ação comunicativa e participante. A segunda tese do 
pragmatismo de Mead refere-se à explicação conseqüencialista do 
comportamento. A explicação do comportamento deve ser feita com base 
nas suas conseqüências. Evidências do conseqüencialismo de Mead 
podem ser verificadas na importância que ele atribui aos resultados finais 
(efetivos ou presumidos) do ato social, seja para esclarecer as noções de 
significado e experiência reflexiva, ou para, somente depois desse 
esclarecimento, basear-se nessas noções para explicar o comportamento. 
A terceira tese refere-se ao contextualismo, na qual afirma que a ação 
comunicativa e participante é o contexto social, quer dizer, o lugar onde
32
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
Sujeito no Labirinto: Um ensaio Psicológico
os símbolos significantes e, conseqüentemente, a linguagem, a mente e 
o sujeito, são constituídos; afirma, em última análise, que o simbolismo 
não pode de modo algum ser compreendido separadamente das ações 
sociais dos indivíduos envolvidos na ação comunicativa e participante. 
Finalmente, a quarta tese refere-se ao anti-representacionismo, que está 
impregnado de ponta a ponta pela sua concepção de linguagem. Essa 
tese enuncia que a linguagem não representa uma situação previamente 
dada, sequer haveria situação sem a linguagem, Isso porque a linguagem 
é constituinte da situação. Portanto, dessa perspectiva, dizer que a 
linguagem representa uma situação é equivalente a dizer que ela 
representa sua própria invenção, ou seja, a linguagem só representa a si 
mesma. Na teoria da consciência social, o sujeito cognitivo não representa 
nem figura qualquer realidade. Como uma pintura abstrata, o sujeito é 
anti-representacional. Na verdade é auto-referente: representa a si mesmo, 
ele é a sua própria representação. Em síntese, concluímos que a teoria 
da consciência social é orientada pela filosofia do pragmatismo filosófico, 
é filosofia pragmatista do conhecimento, é epistemologia social.
As teorias do sujeito como consciência e consciência social são 
diferentes, fundamentam-se respectivamente na experiência subjetiva e 
na experiência reflexiva. A teoria da consciência social visa à constituição 
do sujeito racional e moralmente responsável. Para alcançar essa meta, 
a experiência subjetiva precisa ser controlada; impulsos, sentimentos e 
emoções, precisam ser contidos. Ficamos desse modo com a sensação 
de que a constituição do sujeito moral expulsa a esfera afetiva da 
experiência: a esfera dos sentimentos. Uma resposta que possa conciliar 
a esfera afetiva com a esfera moral está, portanto, na ordem de nossa 
investigação. Vamos sondá-la na obra do psicólogo norte-americano B.
F. Skinner.
33
INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 14/8/2015
14/8/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!
 
 
 
INDEX 
BOOKS 
GROUPS 
 
 
4. B. F. Skinner: O Sujeito
Verbat
A noção de sujeito ético em Skinner requer um esclarecimento 
preliminar, Pois o sujeito ético é o sujeito verbal. Por isso o exame da resposta 
de Skinner será feito em dois capítulos. Neste pesquisaremos o conceito de 
sujeito verbal. No próximo investigaremos o conceito

Mais conteúdos dessa disciplina