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1 UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO GABRIEL ALMEIDA BISPO GUIMARÃES D36JCF8 DESAFIOS DOS NOVOS MEIOS DE LOCOMOÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO São Paulo 2020 2 PROFESSOR SÉRGIO BRAGA DESAFIOS DOS NOVOS MEIOS DE LOCOMOÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO Trabalho de Conclusão de Curso DE Jornalismo, apresentado ao curso de Comunicação Social da Universidade Paulista – UNIP. São Paulo 2020 3 CATALOGAÇÃO NA FONTE UNIVIERSIDADE PAULISTA – UNIP Guimarães, Gabriel DESAFIOS DOS NOVOS MEIOS DE LOCOMOÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO / Gabriel Guimarães. - 2020. 130 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao Instituto de Ciência Sociais e Comunicação da Universidade Paulista, São Paulo, 2020. Área de Concentração: Comunicação Social. Orientador: Prof. Me. Sérgio Braga. 1. Mobilidade Urbana, Locomoção, São Paulo. I. Braga, Sérgio (orientador). II.Título Autorizo apenas para fins acadêmicos e científicos a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que citada a fonte. GABRIEL ALMEIDA BISPO GUIMARÃES 10 de Outubro de 2020 _______________________________ _________________ Assinatura Data GABRIEL ALMEIDA BISPO GUIMARÃES 4 DESAFIOS DOS NOVOS MEIOS DE LOCOMOÇÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Presidente: _____________________________________________ 2º Membro: _____________________________________________ 3º Membro: São Paulo , 10 de Outubro de 2020. 5 RESUMO Considerada a maior cidade do Brasil, São Paulo carrega responsabilidades que fazem jus ao seu posto de megalópole. É automático associar a capital paulista a trânsito, carros, agitação, caos etc. E isso se deve ao fato de que, quanto maior a cidade, mais vias ela receberá e, logo, mais movimento e congestionamento ela enfrentará. Em seus 465 anos de história, completados em 2019, São Paulo já apresentou diversos avanços quando se diz respeito a mobilidade urbana, segundo a Confederação Nacional de Transporte (CNT). Extensão dos corredores de ônibus, aumento de linhas e estações de metrô, instalação de ciclovias, legalização de transportes particulares (Uber, Cabify, 99) e investimento em patinetes elétricos são alguns dos exemplos mais familiares desses progressos. Porém, mesmo com tantos avanços, a cidade ainda enfrenta dificuldades para atingir um nível adequado no sistema de transporte urbano. Em pesquisas realizadas com os paulistanos, publicadas pela Rede Nossa São Paulo em 2017, concluiu-se que os problemas de mobilidade urbana é o principal motivo de insatisfação dos cidadãos. Estão previstos para os próximos anos a criação de 750 mil metros quadrados de novas calçadas, implantação de 150 quilômetros de novos corredores de ônibus e 16 terminais. Infelizmente, os moradores da capital não veem isso tudo sendo colocado em prática. Para muitos, como Rafael Calabria, pesquisador de mobilidade urbana do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), a causa disso tudo é a falta de recursos e investimentos que não se efetivam e nem saem do papel. De acordo com a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), comparada ao Sistema Único de Saúde (SUS) por exemplo, a mobilidade não possui nenhuma estrutura pré-organizada para investimento. Cabe ao governo e prefeitura se organizarem para tratar do principal assunto que São Paulo enfrenta diariamente. Palavras-chave: Mobilidade, Cidades, São Paulo 6 ABSTRACT Considered the largest city in Brazil, São Paulo carries responsibilities that live up to its status as a megalopolis. It is automatic to associate the capital of São Paulo with traffic, cars, agitation, chaos, etc. And this is due to the fact that the bigger the city, the more roads it will receive and, soon, the more traffic and congestion it will face. In its 465 years of history, completed in 2019, São Paulo has already presented several advances when it comes to urban mobility, according to the National Transport Confederation (CNT). Extension of bus corridors, increase in lines and subway stations, installation of cycle paths, legalization of private transportation (Uber, Cabify, 99) and investment in electric scooters are some of the most familiar examples of this progress. However, even with so many advances, the city still faces difficulties to reach an adequate level in the urban transport system. In surveys conducted with São Paulo residents, published by Rede Nossa São Paulo in 2017, it was concluded that urban mobility problems are the main reason for citizens' dissatisfaction. The creation of 750 thousand square meters of new sidewalks, the implementation of 150 kilometers of new bus corridors and 16 terminals are planned for the coming years. Unfortunately, residents of the capital do not see it all being put into practice. For many, like Rafael Calabria, a researcher on urban mobility at the Consumer Protection Institute (Idec), the cause of all this is the lack of resources and investments that do not take effect or even leave the paper. According to the National Urban Mobility Policy (PNMU), compared to the Unified Health System (SUS) for example, mobility does not have any pre- organized structure for investment. It is up to the government and city hall to organize themselves to deal with the main issue that São Paulo faces daily. Keywords: Mobility, Cities, São Paulo 7 LISTA DE IMAGENS Imagem 1 – Ciclovia Faria Lima...................................................................pg 72 Imagem 2 – Ciclofaixa localizada no bairro de Moema ................................pg 72 Imagem 3 – Bicicletário no Largo da Batata..................................................pg 73 Imagem 4 – Estação Bike Sampa Cinemateca..............................................pg 75 Imagem 5 – Campanha paulista aberta ........................................................pg 85 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Linhas do Metrô e trens da cidade de São Paulo.......................pg 15 Figura 2 – Esquema do Ciclo Perverso.......................................................pg 19 Figura 3 – Comparação entre o espaço viário ocupado por automóveis ônibus............................................................................................................pg 27 Figura 4 – Demandas de mobilidade em São Paulo....................................pg 29 Figura 5 – Região Metropolitana de São Paulo.............................................pg 56 Figura 6 - Rede cicloviária de São Paulo....................................................pg 78 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Extensão da infraestrutura cicloviária em km do municípcio de São Paulo.............................................................................................................pg 76 Tabela 2 – Dados selecionados dos municípios da Grande São Paulo...........................................................................................................pg 128 a pg 130 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃOser observado, são os PGV – Polos Geradores de Viagem. Segundo a Rede Íbero-Americana de estudo em Polos Geradores de Viagens (http://redpgv.coppe.ufrj.br/), os PGV são instalações ou lugares de diversas naturezas que apresentam atividades em uma escala capaz de exercer grande atratividade sobre a população, produzindo ou atraindo um número significativo de viagens. Sendo assim, demanda grandes espaços de carga e descarga, estacionamento, embarque e desembarque e isso tudo gera, consequentemente, potenciais impactos como a piora na circulação viária do entorno imediato e em alguns casos chegando a prejudicar toda a acessibilidade de uma região. Alguns exemplos de PGV (que também podem ser denominados PGT – Polos Geradores de Tráfego) são os hipermercados, as universidades, shoppings, hospitais, estações de transporte público, entre outros. Para a implementação de um PGV é importante a realização de estudos apropriados, respaldados tecnicamente, para que os impactos sejam previstos e tratados, minimizando os negativos a níveis aceitáveis e maximizando os positivos. Um sistema de transportes e uso do solo urbano sustentável deve: fornecer acesso à bens e serviços de forma eficiente para todos os habitantes da área urbana; proteger o ambiente, o patrimônio cultural e ecossistemas para a presente geração; não colocar em risco as oportunidades das gerações futuras para atingir pelo menos o mesmo nível de bem-estar daqueles que vivem agora, incluindo o bem-estar que deriva do ambiente natural e do patrimônio cultural (BLACK et al., 2002). Para atingir uma mobilidade urbana sustentável é necessário um processo participativo. O envolvimento ativo e aberto de todas as partes é muito mais efetivo do que qualquer meio convencional de persuasão. Deveriam ser formados grupos de debate incluindo especialistas, acadêmicos, políticos, pesquisadores e ativistas relacionados em diversas áreas como uso do solo, meio ambiente, questões urbanas transporte, ecologia e saúde pública. Apenas quando esses grupos se formarem que será possível um debate verdadeiro sobre mobilidade urbana sustentável. É preciso vontade de mudar e aceitação de uma http://redpgv.coppe.ufrj.br/) 46 responsabilidade coletiva (BANISTER, 2007). Com intuito de atingir a real efetividade de uma mobilidade sustentável, os governos precisam perceber que suas estratégias devem ser baseadas em grupos de medidas eficazes, em que cada uma reforce os efeitos das demais. Entende-se assim, que medidas isoladas são ineficientes para atingir o ideal de sustentabilidade e que apenas um conjunto de ações, associando esforços de todos os atores urbanos, como investidores, gestores e, principalmente, a população é capaz de atingir esse objetivo. 3.3 MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL NO BRASIL Primeiro é preciso entender o panorama geral da mobilidade brasileira nos últimos anos. Nos últimos sessenta anos observa-se o quanto a mobilidade urbana vem se modificando, principalmente devido ao crescimento acelerado e desordenado dos grandes centros urbanos e ao aumento da motorização da população. Estudando um pouco nossa história política vê-se como esse cenário foi montado. Desde o governo de Juscelino Kubitschek e seu Plano de Metas tem-se o sistema rodoviário como opção preferencial em detrimento do incipiente sistema ferroviário que estava em funcionamento. Além disso, o desenvolvimento da indústria automobilística brasileira e o consequente crescimento da frota de automóveis gerou inúmeros investimentos em infraestrutura rodoviária por todo território nacional. O Regime Militar e seu “milagre econômico” reafirmou a opção rodoviarista como principal no país o que ajudou a consolidar a indústria automobilística brasileira (DUARTE, 2007) Simultaneamente outro fenômeno ocorria, o modelo econômico adotado possuía um caráter concentrador de renda o que gerava grandes desigualdades regionais, que por sua vez estimulava o êxodo rural e a migração das cidades menores para as capitais, gerando o inchaço dessas cidades, o que resultou na periferização da malha urbana e maior intensidade no processo de favelização. Assim crescia a demanda, mas a oferta de 47 transporte público não acompanhou esse crescimento. Com o fim das linhas de bondes urbanos e com o serviço precário do transporte ferroviário, o ônibus se consagrou como mobilidade principal de transporte público. Nos anos seguintes, as principais cidades foram tomadas pela gestão rodoviarista e com ela começou a proliferação de viadutos, vias expressas, túneis e o alargamento das vias para tentar desafogar os pontos críticos da malha viária (DUARTE, 2007). O crescimento desordenado das cidades e a ascensão do transporte rodoviário, ambos abordados acima, resultaram na perda do padrão de sustentabilidade dos sistemas de mobilidade urbana. “O Brasil deixou de ter sistemas de transporte urbano que privilegiavam os deslocamentos coletivos, públicos, eletrificados e sobre trilhos para ter sistemas que privilegiavam os deslocamentos privados, individuais, rodoviários e carbonizados” (IPEA, 2014). Recentemente, a indústria automobilística brasileira viveu uma nova fase de expansão, aumentando ainda mais a taxa de motorização da população. Enquanto o sistema viário urbano não sofria significativas mudanças nos últimos quinze anos, a frota de motocicletas aumentou cinco vezes e a frota de automóveis quase que triplicou. Infelizmente, nossas políticas públicas adotadas nesses últimos anos facilitaram o transporte individual motorizado em relação ao transporte coletivo público (IPEA, 2014). O conceito de mobilidade urbana sustentável, aqui no Brasil, vem sendo discutido do âmbito das políticas públicas pelo Ministério das Cidades. Esse considera a mobilidade urbana sustentável “o conjunto de políticas de transporte e circulação que visa proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos não-motorizados e coletivos de transporte, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentáveis, ou seja, baseado nas pessoas e não nos veículos” (BRASIL, 2004). Importante considerar que todos os níveis de governo, federal, estadual e municipal desempenham um papel essencial na educação dos usuários de transporte no que diz respeito à necessidade de conservar energia, de reduzir a poluição e se engajarem em práticas de direção segura (RICHARDSON, 2005). 48 Para que essa mobilidade urbana sustentável seja implantada e assim possa propiciar uma melhora não só na qualidade de vida da população, mas também no mercado para o transporte público, é preciso a ação unificada do setor, e o mais necessário, superar os corporativismos e os interesses imediatistas. O Ministério das Cidades estipula que a elaboração de Planos Diretores de Transporte e da Mobilidade são obrigatórios em cidades com mais de 500 mil habitantes, são fundamentais para cidades com mais de 100 mil e muito importante para todos os municípios brasileiros. Sendo assim, foi elaborado um guia, chamado PlanMob, que orienta e estimula os municípios a elaborarem seus próprios planos (BRASIL, 2007). O PlanMob segue os princípios de duas diferentes Políticas Nacionais, a de Mobilidade Urbana Sustentável e a de Desenvolvimento Urbano e, assim, ele pretende ser um instrumento importantíssimo na construção de cidades mais eficientes, de cidades democraticamente geridas, ambientalmente sustentáveis, socialmente includentes e com maior qualidade de vida para a população (BRASIL, 2007). Essa nova abordagem da gestão de políticas de mobilidade urbana tem um ponto fundamental que unifica qualquer cidade do país, independentemente de sua localização, de sua economia e do seu tamanho. Esse ponto em comum é que todo e qualquer planejamento para qualquer cidade deveser orientado para as pessoas que ali habitam. O objetivo, então, é implementar um processo de desenvolvimento econômico sustentável, alterar significativamente o padrão de circulação e de urbanização dos municípios e garantir a inclusão social (BRASIL, 2007). 3.4 MOBILIDADE URBANA: COMO AVALIAR? Cada vez mais os conceitos de sustentabilidade, as considerações de impactos sociais, ambientais e econômicos de longo prazo são incorporadas na tomada de decisão. Isso resulta em uma crescente demanda por ferramentas de planejamento adequadas e entre elas estão os indicadores. 49 Esses indicadores ajudam na determinação de como as decisões de curto e médio prazo afetam, a longo prazo, os objetivos estratégicos. Esses indicadores devem ser selecionados cuidadosamente para serem capazes de refletir diversos impactos e perspectivas, e devem ser factíveis tanto na coleta de dados quanto em sua análise (LITMAN, 2008). Os indicadores são ferramentas que ajudam no esclarecimento de conceitos, na análise de políticas e na tomada de decisão. No campo da mobilidade urbana, têm sido feitas muitas tentativas para especificar e aplicar esses indicadores. O ponto principal é que não existe abordagem padrão e nem aplicação genérica, a função dos indicadores vai depender de cada contexto específico, podendo servir para diferentes usuários com preocupações e prioridades diferentes. Além disso, não se deve assumir que os indicadores fornecem respostas definitivas para problemas complexos. Os indicadores são guias, eles orientam a exploração de áreas complexas onde não há pleno conhecimento disponível, mas onde as ações são necessárias apesar de tudo. O melhor é que os indicadores podem ajudar na redução da complexidade de comunicação e de operação (GUDMUNDSSON, 2004). Para a implementação de uma política de mobilidade urbana sustentável, é fundamental que diversas outras políticas entejam articuladas de forma a auxiliar na construção de uma gestão integrada. A gestão integrada possui muitos aspectos a serem considerados em sua aplicação e um deles é a construção de indicadores de mobilidade adequados. Espera-se que os indicadores sejam capazes de captar não só a complexidade dos sistemas de mobilidade, mas também os fatores determinantes das escolhas de mobilidade feita por cada pessoa. Os indicadores devem ser instrumentos que facilitem a comunicação entre o estado e a sociedade (BRASIL, 2005). Os indicadores são muito variados quanto os tipos de sistemas que eles monitoram, mesmo assim existem algumas características em comum entre os indicadores mais eficazes: Relevância. Os indicadores apontam algo sobre o sistema que é 50 necessário saber; Compreensível. Sua mensagem é facilmente compreendida pelo público, mesmo os não especialistas; Confiável. O indicador fornece informações confiáveis sobre o sistema que ele está medindo; Dados acessíveis. Os indicadores devem fornecer informações enquanto ainda há tempo para ação (SUSTAINABLE MEASURES, 2006). Outro fator importantíssimo que é preciso destacar sobre os indicadores de sustentabilidade urbana é que esses se diferenciam de indicadores tradicionais. Enquanto os indicadores tradicionais consideram isoladamente os aspectos econômicos, sociais e ambientais, os indicadores de sustentabilidade buscam abordar em sua formulação características como a integração dos aspectos citados acima, a participação de diferentes atores e a visão a longo prazo (COSTA, 2008). Na política de transporte é muito frequente o uso de indicadores para avaliação e monitoramento, principalmente para comparar o desenvolvimento de políticas ou sistemas ao longo do tempo e no espaço. Mesmo ambos os processos, avaliação e monitoramento, dependendo muitas vezes de indicadores de desempenho, eles são muito distintos entre si. A avaliação é tipicamente um evento único, enquanto que o monitoramento é um processo contínuo que fornece diversos feedbacks para ajudar na tomada de decisão (GUDMUNDSSON, 2004). Segundo a Agência Europeia do Ambiente (European Environment Agency) existem diferentes tipos de indicadores e cada um deles transmite tipos de mensagens diferentes. Abaixo segue essa distinção feita pela Agência e que pode ser encontrada citada no trabalho de GUDMUNDSSON (2004): Indicadores de desempenho: comparam tendências ou estados com normas, padrões ou referências; Indicadores de efetividade de políticas: acompanha o papel da política nas mudanças observadas; 51 Indicadores descritivos: medem tendências ou situações de alguma área ou de alguma entidade; Indicadores de eficiência: incluem relações, combinações ou proporções de tendências descritivas; Índices: agregam diversos indicadores com o objetivo final de transmitir uma mensagem. Independentemente do tipo de indicador, todos eles possuem as mesmas características operacionais importantes, como a prestação de um cenário representativo; a fundamentação teórica baseada em termos técnicos e científicos; a capacidade de respostas às mudanças; a adesão a normas internacionais e ao consenso internacional sobre a sua validade; a redução da complexidade e a atualização em intervalos regulares, de acordo com procedimentos confiáveis (GUDMUNDSSON, 2004). Indicadores devem ser utilizados com o objetivo de conhecer as limitações do planejamento além de suas perspectivas. Mas, para LITMAN (2008), os indicadores são apenas um componente do processo global de planejamento, uma vez que esse inclui inúmeras outras etapas, como: consulta pública, identificação de metas e objetivos, definição dos problemas, identificar e avaliar as opções, implementação de programas, desenvolvimento de planos e políticas, estabelecimento de metas de desempenho e medição dos impactos. Fica entendido que, para atingir os objetivos esperados, é necessário um esforço em conjunto de diferentes grupos da sociedade e em todas as fases, como planejamento, execução e avaliação dos resultados. 3.5 ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – IMUS O objetivo do Índice de Mobilidade Urbana Sustentável (IMUS) é ser uma ferramenta de avaliação e monitoramento da mobilidade urbana, usada para revelar as atuais condições e mensurar os impactos de medidas e estratégias, visando a mobilidade 52 urbana sustentável (COSTA, 2008). O IMUS foi criado levando em consideração os princípios do desenvolvimento sustentável e foi adaptado à realidade das cidades brasileiras. Antes de começar a construção do índice, foi necessário estabelecer um referencial de mobilidade urbana sustentável. Para isso, foram chamados técnicos, gestores e especialistas de onze cidades brasileiras. Esse referencial buscava identificar o enfoque que tem sido dado à abordagem das questões de mobilidade nas cidades pesquisadas; identificar as diferenças entre a abordagem tradicional e o novo paradigma da mobilidade urbana em desenvolvimento; e caracterizar o conceito de mobilidade urbana sustentável com foco nas especificidades do contexto analisado (COSTA, 2008). O workshop realizado nas onze diferentes cidades do Brasil (Porto Alegre, Florianópolis, Belo Horizonte, Vitória, Goiânia, Aracaju, Maceió, Recife, Fortaleza, Palmas e Manaus), com o objetivo de construir esse referencial de mobilidade urbana sustentável, utilizou a metodologia Multicritério de Apoio à Decisão Construtivista (Multicriteria Decision Aid – Constructivist ou MCDA-C). Essa metodologia é uma técnica de avaliação que leva em consideração os muitos aspectos que o decisor considera importante. Esse método costumar ser muito utilizado em processos de tomada de decisão, pois ele permite que o decisor consiga identificar com clareza seus objetivos, consiga também mensurar esses objetivos e enxergar o impacto de todas as alternativas nos objetivos(COSTA, 2008). O IMUS utilizado como ferramenta de avaliação e monitoramento permite que os gestores urbanos aprendam com as experiências desenvolvidas por outros gestores e técnicos. Torna-se necessário reconhecer um referencial em planejamento, pois esse é bastante útil em gerar parâmetros de comparação entre diferentes cidades. Esse processo é chamado benchmarking. Benchmarking é um método no qual o melhor desempenho de uma determinada área é identificado e utilizado como base de comparação e possíveis transferências de práticas eficazes (GUDMUNDSSON, 2004). Ou seja, é essencial, através do IMUS, encontrar uma cidade que não só se torne referência às demais, mas que também auxilie 53 a submeter o próprio método a uma avaliação de desempenho. Desse modo, as principais características do IMUS: Hierarquia de Critérios. A partir do workshop (atividade de capacitação promovida pelo Ministério das Cidades) realizado com técnicos e gestores de nível municipal e metropolitano de onze cidades, foi possível criar essa hierarquia a partir de conceitos e elementos identificados por eles; Sistema de Pesos para os Critérios. Revela sua importância relativa. Cada tema avaliado considera ainda a importância das dimensões da sustentabilidade (Econômica, Social e Ambiental). Isso permite a avaliação dos impactos das ações setoriais sobre o sistema de mobilidade; Adoção de um Modelo de Agregação dos Critérios. O modelo permite sua compensação. Um conjunto de critérios de maior qualidade pode compensar um critério de baixa qualidade; Ferramenta de compreensão fácil e de aplicação simples. Não é necessário conhecer modelos matemáticos complexos e nem o uso de programas computacionais específicos. 54 CAPÍTULO 2 4 A QUESTÃO URBANA E DA MOBILIDADE URBANA EM SÃO PAULO O município de São Paulo é dotado de números expressivos: ocupa uma área de 1.521 km², é habitado por mais de 12 milhões de pessoas e possui uma frota de veículos superior aos 8 milhões, sendo 70% automóveis, 13% motos, 1,9% caminhões e 0,5% ônibus. É a maior metrópole brasileira e uma das maiores do continente americano. Numa cidade com estas dimensões um dos principais desafios é garantir a mobilidade cotidiana. Diversos autores – a exemplo de SPECK, 2016; HARVEY, 2012 E GEHL, 2010 – cada um a sua maneira, têm realizado a crítica ao urbanismo e buscado possibilidades para alterar a realidade das cidades. Parece não haver qualquer dúvida a respeito dos diversos problemas ocasionados pelo uso massivo de modais motorizados de transporte, especialmente, os carros. Tais males atingem diversas esferas, como a circulação viária, a saúde da população e, num plano mais abrangente, o meio ambiente. Para GEHL (2010:3): Por décadas, a dimensão humana tem sido um tópico de planejamento urbano esquecido e tratado a esmo, enquanto várias outras questões ganharam mais força, como a acomodação do vertiginoso aumento do tráfego de automóveis. Além disso, as ideologias dominantes de planejamento – em especial, o modernismo – deram baixa prioridade ao espaço público e às áreas de pedestres e ao papel do espaço urbano como local de encontro dos moradores da cidade. O conceito de dimensão humana está assentado na crença de que as pessoas devem ter a primazia no uso do espaço. Assim, é necessário criar e/ou reconfigurar espaços e planejar práticas espaciais nas quais os veículos motorizados não sejam os pro- tagonistas. Mais que isso, é importante criar espaços vivos, seguros, sustentáveis e saudáveis (GEHL, 2010). Acreditamos que a reapropriação do espaço urbano pelas pessoas é um fator essencial para assegurarmos tais atributos. O trabalho de SPECK (2016) é um dos que contribuíram fortemente para essa 55 forma de pensar que ora defendemos. Tendo como referência um conjunto de cidades estadunidenses de diversos portes, SPECK (2016:20) reflete sobre a necessidade de se criar ou remodelar os espaços urbanos que permitam a circulação de pedestres de maneira proveitosa, segura, confortável e interessante, pois em suas palavras. O pedestre é uma espécie extremamente frágil, o canário da mina de carvão da habitabilidade urbana. Sob as condições corretas, esta criatura se desenvolve e se multiplica. SPECK (2016:10) Há a necessidade de se produzir ambientes capazes de atrair as pessoas e criar mecanis- mos que estimulem, antes de tudo, o encontro. Criar estratégias que visem à vitalidade urbana ou a mobilidade ativa, isto é, aquela na qual os deslocamentos se utilizam da energia humana, como nos deslocamentos a pé e de bicicleta, por exemplo. Dessa maneira, reverter a tendência à atomização que o automóvel proporciona. Apesar de nunca ter sido declarada uma guerra, muitas cidades americanas parecem ter sido feitas e refeitas com a incumbência de derrotar os pedestres. Vias alargadas, calçadas diminuídas, árvores suprimidas, guias rebaixadas para dar acesso às lanchonetes e drive-thru e imensas áreas de estacionamento de quarenta mil metros quadrados reduziram nossas paisagens urbanas a zonas de automóveis, nas quais a vida dos pedestres é apenas uma possibilidade teórica. Speck (2016:26) As afirmações se referem às cidades americanas, mas é possível assegurar a existência de paralelos no município de São Paulo. São abundantes os exemplos de novas vias abertas e/ou a cessão de espaços ajardinados ou não asfaltados para a ampliação do número de faixas de rolamento. Tais práticas trafegam na contramão da dimensão humana e reforçam a tendência à cidade para o automóvel. Em sua trajetória de desenvolvimento urbano, ocorrida ao longo do século XX, o automóvel gradativamente ascendeu à condição de protagonista deixando às pessoas os papeis coadjuvantes, no que diz respeito às políticas de mobilidade. 4.1 DESAFIOS À VISTA: A CRISE DA MOBILIDADE COTIDIANA EM SÃO PAULO 56 A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é uma classificação administrativa de uma área composta por 39 municípios, sendo o município de São Paulo o maior e mais rico. Embora a mancha urbana seja contínua, os municípios têm administrações independentes. A área metropolitana foi criada no final dos anos 60 e atualmente não há uma agência de desenvolvimento integrado. Figura 5 – Região Metropolitana de São Paulo Fonte: IBGE19 A maior parte da infraestrutura é resultado de planejamento e investimentos realizados pelos municípios individualmente (ver anexo ), porém existem consórcios intermunicipais e investimentos estaduais e federais em infraestrutura compartilhada por vários municípios. São Paulo é o sexto maior aglomerado urbano do mundo, comparável em 19 Disponível em Acesso em 07 out 2020. 57 população a metrópoles como Cidade do México, New York, Shanghai e Mumbai Enquanto Mumbai, Shangai e Nova Iorque apresentam altas densidades em áreas centrais, com rápida redução em direção às periferias, já São Paulo segue um padrão distinto de densidades, mais parecido com a Cidade do México, no qual grande parte mancha urbana tem densidades em patamares similares. Comparando Nova Iorque com São Paulo, a primeira cidade apresenta altas densidades em uma área relativamente pequena, de aproximadamente 7 por 12 km, e os bairros periféricos apresentam uma rápida queda de densidades. Já a mancha urbana de São Paulo possui áreas adensadas em patamares médios espalhados de forma descontínua em um raio de até 30 km do centro histórico. 4.2 CRESCIMENTO O núcleo urbano que originou a metrópole foi criado em meados do século XVI, em um planalto entre a junção dos rios Tamanduateí e Anhangabaú, 700 m acima do nível do mar e 70 km para o interior do continente. A topografia e hidrografia do localforneciam mobilidade e de defesa para os nativos, que já ocupavam a área antes da colonização. No século XVI, três grupos religiosos portugueses se estabeleceram na região, definindo o embrião do núcleo histórico de São Paulo. O poder religioso e político, juntamente com a boa acessibilidade da área, fizeram desse núcleo urbano o mais importante de sua região (BARBOSA, 2001). No entanto, a maioria da população era rural e vivia de uma agricultura de subsistência, cercado por tribos nativas, enquanto que a aldeia era um lugar para ocasiões religiosas, sociais e políticas (Barbosa, 2001; Taynay, 1953). Durante os três primeiros séculos de sua existência, foram construídas uma série de estradas que ligam o núcleo para o litoral e interior. Em meados do século XIX, a localização estratégica da cidade no cruzamento permitiu torná-la uma zona de comércio regional durante o crescimento do comércio interno no Brasil, concentrando as atividades 58 religiosas, administrativas e comerciais. Nesse momento, a pequena vila ainda não apresentava distinções funcionais ou sociais de áreas urbanas: edifícios civis e religiosos foram cercados por habitações (Villaça, 2001). Casas urbanas eram espaços de produção e de residência para família, agregados e os escravos, e o comércio era realizado principalmente nas ruas. Do lado de fora do núcleo urbano, dois cinturões concêntricos foram desenvolvidos: o primeiro consistia principalmente em casas onde as famílias ricas viviam temporariamente ou permanentemente (Rolnik, 1997) e o segundo consistia em fazendas forneciam alimentos para a cidade e atividades que exigiam muito espaço ou eram consideradas repulsivas, tais como hospitais, cemitérios e fábricas de pólvora (Lagenbuch, 1971 apud Barbosa, 2001). O crescimento da cidade se acelerou no século XIX devido ao crescimento econômico regional. Naquela época, o estado de São Paulo tornou-se cada vez mais importante no contexto nacional devido à sua alta produtividade de café, principal produto de exportação nacional na época. Mais uma vez, a posição da cidade de São Paulo como um ponto nodal de transporte e o comércio que se seguiu que fomentaram o desenvolvimento de ferrovias para transportar a produção de café para exportação. Essas ferrovias, construídas a partir da década de 1870, permitiram o desenvolvimento de outros tipos de infraestrutura urbana e o início da industrialização brasileira. No final do século XIX, o crescimento econômico atraiu um número crescente de pessoas para o local: agricultores e industriais se mudavam para a cidade para realizar atividades sociais e econômicas, enquanto os camponeses buscavam trabalho nas fábricas. O núcleo histórico foi se tornando cada vez mais comercial e de entretenimento, se consolidando como a primeira e mais importante centralidade da metrópole, enquanto outros usos se expandiram principalmente na horizontal. A população mais rica foi para o oeste, evitando congestionamentos e más condições de saneamento do núcleo histórico, habitando terras com melhor topografia. As fábricas e população mais pobre seguiram para o leste, devido à mobilidade fornecida pelas ferrovias e disponibilidade de água para a produção industrial. A partir do final do 59 século XIX até a década de 1980, a economia de São Paulo cresceu baseada principalmente em suas indústrias. Um elevado número de imigrantes nacionais e internacionais foi atraído para trabalhar em fábricas, fazendo a população da cidade de São Paulo crescer 130 vezes entre 1890 e 1980 (IBGE, 2014). Nesse século, a região metropolitana sofreu uma conurbação de centralidades urbanas. Na primeira metade do século XX, o centro histórico cresceu em tamanho, expandindo verticalmente e horizontalmente, e iniciou um processo de partição. O núcleo histórico perdeu afluência e passou a ser conhecido como "Centro Velho", enquanto um "Novo Centro" surgiu em continuação ao anterior e começou a servir as classes mais altas (Villaça, 2001). Outros novos subcentros comerciais destinados à população mais pobre emergiram mais longe do centro histórico. Áreas residenciais mais próximas aos centros velho e novo cresceram verticalmente. Nesse período, classes mais altas viviam no sudoeste, classes médias viviam entre as classes superiores e a área central e a população mais pobre vivia no centro histórico, no leste, perto das fábricas e em áreas cada vez mais periféricas. As ferrovias também possibilitaram o espalhamento das fábricas para fora município de São Paulo. Nesse período, a região do ABC, a sudeste do município de São Paulo, se tornou o polo industrial mais forte fora desse município na RMSP. Esse crescimento foi influenciado pelos tipos de transporte presentes em diferentes períodos da história da metrópole. Até os anos 1900, os bondes de tração animal eram os únicos fornecedores de transporte coletivo na metrópole. No início do século 20, a operação de bondes elétricos possibilitou uma expansão inicial da área urbana. No entanto, da década de 1920 em diante, o modal rodoviário tornou-se o foco das políticas de desenvolvimento. A capacidade de tráfego rodoviário era a principal preocupação da administração pública para a mobilidade. Os automóveis e ônibus tornaram-se os principais fornecedores de transporte, ao mesmo tempo que os bondes elétricos foram abandonados. Por um lado, o transporte rodoviário proporcionou mais flexibilidade para o crescimento do tecido urbano em todas as direções, mas também trouxe os impactos negativos que vemos hoje 60 na metrópole. O modal rodoviário também mudou a localização de fábricas, que passaram a se localizar perto das novas avenidas de alta velocidade. Outro aspecto importante do processo de crescimento de São Paulo é sua forma descontínua de ocupação da terra. A urbanização da metrópole foi marcada pelo processo chamado de especulação imobiliária, no qual lotes urbanizados ou não eram deixados vazios como investimentos, enquanto os lotes em áreas periféricas, longe de linhas de transporte e outras infraestruturas, eram vendidos para a população mais pobre. Esperava-se que, quando houve densidade populacional suficiente, as linhas de ônibus seriam estendidas para aquelas áreas, fazendo com que os lotes se valorizassem. Esse processo levou a um crescimento fragmentado espalhado da cidade (Bacelli apud Barbosa, 2001). Na segunda metade do século 20, o "Centro Velho" sofreu um processo de deterioração, no qual houve um aumento no número de cortiços. As atividades comerciais e de negócio se expandiram em direção ao sudoeste, com edifícios mais adequados às novas tecnologias e o shopping centers. Indústrias começaram a deixar o município de São Paulo e alocar em outras cidades da região metropolitana e a construção vertical difundiu-se na área metropolitana como um todo. Durante as últimas duas décadas do século XX, a economia da metrópole se tornou crescentemente baseada em serviços para empresas, tais como serviços financeiros, serviços, consultorias, escritórios de advocacia e agências de publicidade (Meyer, Grostein e Biderman, 2004). Isso porque a cidade fornece um ambiente altamente diversificado, com muitos clientes em potencial e força de trabalho especializada. Com a mudança da economia de São Paulo de industrial para serviços, cidades industriais da região metropolitana estão se tornando cidades dormitórios, enquanto as fábricas estão se mudando gradualmente para cidades menores no interior do estado. 4.3 PROBLEMAS E PROPOSTAS NO SÉCULO XXI 61 O modelo de crescimento de São Paulo teve como consequência a redução da acessibilidade espacial, com um grande número e extensão de congestionamentos, superlotação do transporte coletivo e periferização da população mais pobre. A somatória dos problemas de saúde provocados pelas condiçõesambientais e redução de horas destinadas a descanso e atividades de lazer devido ao tempo gasto em locomoção têm impacto direto sobre a qualidade de vida, afetando não apenas os cidadãos, mas também toda a atividade produtiva e o sistema de saúde. CINTRA (2014) estima que os prejuízos em produtividade e saúde dos atuais níveis de congestionamento na metrópole chegue a 1% do PIB brasileiro anualmente. O crescimento populacional sem expansão da infraestrutura adequada como escolas, postos de saúde e equipamentos culturais e de lazer para atender à demanda crescente, associado ao espalhamento da metrópole e falta de infraestrutura de transporte adequada levam ao cenário descrito por Rolnik (1999) como exclusão territorial: a população mais pobre enfrenta a viagens longas e desconfortáveis para trabalhar e acessar os equipamentos urbanos. Por concentrar qualidades num espaço exíguo e impedir que elas sejam partilhadas por todos, os espaços mais bem equipados da cidade sentem-se constantemente ameaçados por cobiças imobiliárias, por congestionamentos, por assaltos. (Rolnik, 1999, p. 2) Em 2012, a Secretaria de Transportes Metropolitanos do município de São Paulo realizou simulações computacionais da capacidade de suporte da infraestrutura considerando o crescimento da cidade no modelo atual e com uma descentralização de empregos com adensamento no entorno do transporte sobre trilhos para o horizonte de 2025. O estudo conclui que não há mudança significativa para os dois cenários nos indicadores de: saturação de vias, lotação do transporte sobre trilhos; e utilização de automóveis. 62 O espalhamento de empregos gerou um balanceamento dos usuários nos dois sentidos das linhas de transporte sobre trilhos, menor concentração de poluentes no centro expandido e maior nas periferias, e leve redução de tempo de viagem e distância residência- trabalho para população de renda mais alta. Esses resultados reforçam a necessidade de modais menos poluentes de transporte. Existe uma grande quantidade de grupos sociais com diferentes propostas para melhorar a vida em São Paulo. Em 2012, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo realizou um compêndio com diagnósticos e propostas de políticas públicas para o desenvolvimento de São Paulo nas próximas décadas. As ações são separadas tematicamente nos itens: coesão social, desenvolvimento urbano, melhoria ambiental, mobilidade e acessibilidade e oportunidades de negócio. Além disso, são propostos projetos catalizadores para essa mudança. Com relação à estrutura espacial, o plano advoga por uma cidade compacta e policêntrica, com equidade social. Para isso ele considera necessário: 1. Incremento das atividades produtivas para as áreas mais periféricas, onde são escassas; 2. a criação e a estruturação de centralidades de uso misto em todo o tecido urbano; e 3. O adensamento populacional em áreas mais centrais, especialmente, no centro expandido, onde há grande oferta de trabalho e emprego. (são paulo, 2012, p.251). O novo plano diretor, aprovado em 2014, apresenta uma resposta a essas propostas. 4.4 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE O sistema viário da Região Metropolitana de São Paulo é composto de avenidas 63 radiais que se interceptam no centro histórico e anéis centralizados na mesma região. Destacam-se as vias Marginal Tietê (1) e Marginal Pinheiros (2), que seguem os rios de mesmo nome, e as Avenidas dos Bandeirantes (3) e Salim Farah Maluf (4), que definem o centro expandido da capital com as vias anteriores. A área do centro expandido da capital é sujeita ao rodízio municipal de veículos. Esse programa proíbe uma parcela dos carros de circular no local nos horários de pico e foi implantado em 1997 com o objetivo de reduzir a poluição atmosférica, mas hoje tem como principal mérito a redução dos congestionamentos nos horários de pico. O sistema de transporte coletivo sobre trilhos é composto atualmente por 4 linhas de metrô e 6 linhas de trem. As linhas de trem são remanescentes das linhas de trem instaladas na região no final do século XIX. No entanto, apenas no final do século XX iniciou- se um esforço para o aumento do nível de serviço e o aumento da densidade de estações nas áreas mais centrais da metrópole, mudando seu foco de uma escala interurbana para uma escala mais local. Já a implantação do sistema de metrô foi iniciada na década de 1970, com o foco de transporte local. O transporte coletivo na metrópole também conta com corredores e faixas exclusivas de ônibus No início do século XXI, transporte coletivo recebeu grande quantidade de investimentos públicos em de transporte. No entanto, grande parte desses investimentos foram gastos em subsídios em vez de aumentar a capacidade de transporte (Rolnik e Klintonwitz, 2011). De 1997 a 2012, houve um aumento de 72% de comprimento nas linhas de metrô enquanto houve um aumento de 90% em viagens. Em comparação com outras megacidades, São Paulo apresenta uma realidade mais próxima da Cidade do México, com predominância de automóveis e transporte coletivo insuficiente (LSE Cities, 2011). Casiroli (2008) mostra que, mesmo na Praça da 64 Sé, em um dos pontos de maior acessibilidade por transporte coletivo em São Paulo, para um mesmo tempo de viagem, chega-se a uma distância consideravelmente mais longe de automóvel do que de ônibus. Em 2014, o município de São Paulo iniciou um amplo processo de realização de ciclovia. Apesar de críticas sobre a falta de necessidade dessas ciclovias em alguns locais, isso é um passo importante no esforço da promoção do transporte em bicicleta na cidade de São Paulo. 4.5 REGULAÇÃO DA TERRA NO SÉCULO XXI Os municípios da região metropolitana de São Paulo possuem legislação própria para a regulação da terra. Nesse trabalho, vamos analisar apenas a legislação do município de São Paulo devido à sua maior importância em termos de tamanho, população, geração de empregos e centralidade. Ao longo da sua história, a regulamentação da terra no município de São Paulo esteve focada em suas áreas centrais e mais ricas. Ela se destinava a excluir usos indesejados de nessas áreas e formalizar os usos de terra existentes, ao invés de planejar um futuro diferente (Rolnik, 1997). Em 1997, o uso do solo no município de São Paulo era regido pelo zoneamento aprovado em 1972, que permitia maior densidade e usos mistos em torno do centro novo e velho, onde a maioria das atividades terciárias era localizada até a década de 1960, e no leste, onde havia uma quantidade maior de população mais pobre e as fábricas. No entanto, esse zoneamento restringia densidade e usos em direção ao oeste, onde a população mais rica residia (Feldman, 2005). A cidade de São Paulo aprovou em 2014 um novo plano diretor e a lei de zoneamento está sendo revista no momento da redação desta pesquisa. Esse plano estabelece as bases para políticas e regulamentos para o desenvolvimento da cidade pelos próximos 16 anos. Uma das principais questões abordadas pelo plano diretor é a 65 direção do crescimento que será permitido no município. Seus principais objetivos para a estrutura espacial da cidade são: (i) Conter o crescimento horizontal (expansão) (ii) Promover o adensamento das áreas subutilizadas com infraestrutura (iii) Reduzir os deslocamentos, equilibrando a relação entre o emprego local e habitação Este plano pretende manter densidades mais elevadas ao longo das linhas de transporte coletivo, seguindo uma abordagem mais orientada para o transporte coletivo do que anteriormente, que concentrava o crescimento em torno de grandes avenidas (Figura 21). Nessas áreas, é permitido o coeficiente de aproveitamento máximo de 4. Fora dessas áreas, o coeficiente máximo é 2. Apesar de melhor distribuídos,esses coeficientes são semelhantes aos do regulamento anterior. O novo plano diretor traz alguns instrumentos inovadores sobre os eixos de adensamento: (iv) Incentivos para edifícios de uso misto e os usos não- residenciais no piso térreo de edifícios residenciais, tornando as calçadas mais interessantes e proporcionando espaços comerciais em bairros residenciais. (v) Requisitos e incentivos para edifícios de doar parte do seu lote para uso público, em troca de maior área construída acima da parte doada, aumentando o espaço para o transporte não motorizado. (vi) Quantidade mínima de unidades por lote, o que reduz a diminuição da densidade esperado devido à construção de unidades maiores. (vii) Restrição do número de lugares de estacionamento não considerados na área total construída permitida, reduzindo o incentivo ao uso do automóvel. 66 No entanto, o plano segue a tradição da regulação do solo de São Paulo de se desestimular o adensamento em bairros centrais da metrópole (Figura 22). O plano define os seguintes objetivos de desenvolvimento para a “Macroárea de Urbanizacao Consolidada”, uma área com alta quantidade de empregos e infraestrutura de transporte: I - controle do processo de adensamento construtivo e da saturação viária, por meio da contenção do atual padrão de verticalização, da restrição à instalação de usos geradores de tráfego e do desestímulo às atividades não residenciais incompatíveis com o uso residencial; II - manutenção das áreas verdes significativas; III - estímulo ao adensamento populacional onde este ainda for viável, com diversidade social, para aproveitar melhor a infraestrutura instalada e equilibrar a relação entre oferta de empregos e moradia; IV - incentivar a fruição pública e usos mistos no térreo dos edifícios, em especial nas centralidades existentes e nos eixos de estruturação da transformação urbana (São Paulo, 2014, grifo nosso). A ambiguidade contida no texto a respeito do estímulo ao adensamento nessa zona mantém o paradigma de proteção de bairros centrais do adensamento. Resta saber como o novo zoneamento tratará as áreas. Já as áreas mais periféricas da metrópole são classificadas como “Macroárea de Redução da Vulnerabilidade Urbana”, com objetivo de: I - fortalecer as capacidades de proteção social a partir de melhorias nas condições de vida, de convivência e de acesso às políticas públicas; II - incentivar usos não residenciais nos Eixos de Estruturação da Transformação Urbana e centralidades de bairro, para gerar empregos e reduzir a distância entre moradia e trabalho; III - incentivar a consolidação das centralidades de bairro existentes, melhorando a oferta dando prioridade à implantação de serviços, comércios e equipamentos comunitários, mediante participação da população local nas decisões; IV - promover a urbanização e regularização fundiária dos assentamentos urbanos precários, dotando-os de serviços, equipamentos e infraestrutura urbana completa e garantindo a segurança na posse e a recuperação da 67 qualidade urbana e ambiental; V promover a construção de Habitação de Interesse Social; VI - melhorar e completar o sistema de mobilidade urbana, com a integração entre os sistemas de transporte coletivo, ferroviário, viário, cicloviário e de circulação de pedestres, dotando-o de condições adequadas de acessibilidade universal e sinalizações adequadas, nos termos da legislação vigente; VII - minimizar os problemas existentes nas áreas com riscos geológico-geotécnicos, de inundações e decorrentes de solos contaminados e prevenção do surgimento de novas ocupações e de situações de vulnerabilidade; VIII compatibilizar usos e tipologias de parcelamento do solo urbano com as condicionantes geológico-geotécnicas e de relevo; IX - proteger, recuperar e valorizar os bens e áreas de valor histórico, cultural, paisagístico e religioso. (São Paulo, 2014, grifo nosso). O incentivo a usos não residenciais é válido para a geração de diversidade e comércio local. No entanto, é questionável se as empresas que são o carro chefe da economia da metrópole terão disposição de se afastarem de seus pares, reduzindo de forma significativa as distâncias entre moradia e trabalho. A configuração socioespacial do município de São Paulo resultou em um espaço prenhe de problemas para a realização da mobilidade cotidiana, no qual algumas parcelas da população encontram uma condição de sérias dificuldades para a realização de seus deslocamentos cotidianos, o que configura a chamada crise da mobilidade cotidiana. Uma parcela da crise da mobilidade urbana em São Paulo decorre da primazia que os automóveis possuem em relação aos outros modais de transporte no uso do espaço urbano. Em 2012, estimava-se que nos horários de pico mais de 70% do leito carroçável era utilizado pelos carros, o restante se dividia entre os ônibus, os caminhões e as motos. A alta quantidade de automóveis utilizando o espaço viário é um ponto importante para a análise sobre a crise de mobilidade, uma vez que esses veículos possuem pequena capa- cidade de transporte e, mormente, levam apenas uma pessoa, acarretando a ampliação no tempo dispendido para a realização dos deslocamentos cotidianos. O Inventário de emissões atmosféricas do transporte rodoviário de passageiros no Município de São Paulo, estudo desenvolvido pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), aponta que os carros respondem por 1/3 das pessoas deslocadas, mas são 68 responsáveis por 72% dos gases de efeito estufa jogados na atmosfera, enquanto os ônibus transportam 40% das pessoas, mas respondem por apenas 3,1% da carga de poluentes. A desproporção é assustadora. Entretanto, centrar a análise apenas sobre a opção pelo uso do automóvel é um equívoco, é necessário considerar que as adversidades na realização da mobilidade cotidiana decorrem de um conjunto de causas diversas e complexas, cujas origens são assincrônicas e resultam, por fim, nas péssimas condições para a circulação viária. Compreendemos que os congestionamentos, apontados como os vilões da mobilidade, são apenas a expressão mais visível de um processo socioespacial mais amplo que envolve, por exemplo: 1. a localização dos polos geradores de emprego e a distância das moradias dos trabalhadores; 2. a condição precária do serviço de transporte coletivo público, especialmente, nas áreas mais periféricas e o estímulo contínuo para a aquisição de carros por toda a população; 3. as diferentes densidades populacionais presentes no município de São Paulo; 4. o estímulo à densificação de algumas parcelas do espaço urbano – realizada por meio da difusão do processo de verticalização – sem a necessária contrapartida uma melhor oferta de meios de transporte coletivo; e 5. a interação entre os homens, as máquinas e as vias que compõem o ambiente de condução. Em São Paulo, os principais polos geradores de trabalho se localizam nas áreas mais centrais da cidade em contrapartida a maior parte da população vive distante dessas áreas. A título de exemplo, em 2007, as áreas correspondentes as subprefeituras da Lapa, de Pinheiros, da Móoca, da Vila Mariana e da Sé, geravam 46% dos empregos da cidade de São Paulo em contrapartida detinham apenas 16% da população. A desigual distribuição dos meios de transportes contribui para compreender os diferentes tempos de deslocamento casa-trabalho verificados no município. Outros 69 trabalhos como os Antico (2003), Currie (2004), Gabriel et al. (1996) e Minocha et al. (2008) indicam na mesma direção e colocam em tela outras variáveis como a questão racial. Esse quadro de deficiência de provimento dos meios de transportes coletivos nas áreas mais populosas e mais associado ao longo tempo de deslocamento e às políticas de aquisição de automóveis fez com que houvesse um salto tantona aquisição quanto no uso dos automóveis para a realização dos deslocamentos cotidianos. O conjunto de dados e informações trazidos à luz, quando associados às dimensões espaciais do município, permitem traçar um quadro que exprime a heterogeneidade e a complexidade que constituem a realidade do município de São Paulo. Tais informações servem de subsídios para refletir sobre as dificuldades existentes na formulação de políticas públicas de mobilidade cotidiana que sejam efetivas para todo o conjunto da população. 4.6 PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E OBJETIVOS DA PNMU E OS PLANOS DE MOBILIDADE URBANA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. A Política Nacional de Mobilidade Urbana, instituída em 2012, regulamentou o inciso XX2 do artigo 21º e o artigo 182º3 da Constituição Federal Brasileira bem como atende a dispositivos previstos no artigo 2º e no artigo 40º do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2010). Considerando que a Constituição Federal foi promulgada em 1988, passaram mais de duas décadas até que os desígnios relativos à mobilidade urbana fossem finalmente regulamentados. É relevante ressaltar que a PNMU conferiu aos municípios a prerrogativa de construir seus próprios planos de mobilidade urbana. A seguir apresentamos os princípios, as diretrizes e os objetivos da Política Nacional de Mobilidade Urbana: 70 Art. 5o A Política Nacional de Mobilidade Urbana está fundamentada nos seguintes princípios: I - acessibilidade universal; II - desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e ambientais; III - equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo; IV - eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano; V - gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana; 1. Esse inciso trata das diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos. 2. Esse artigo se refere à política de desenvolvimento urbano, executa- da pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. VI - segurança nos deslocamentos das pessoas; VII - justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços; VIII - equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros; e IX - eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana. Art. 6o A Política Nacional de Mobilidade Urbana é orientada pelas seguintes diretrizes: I integração com a política de desenvolvimento urbano e respectivas políticas setoriais de habitação, saneamento básico, planejamento e gestão do uso do solo no âmbito dos entes federativos; IIprioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado; III - integração entre os modos e serviços de transporte urbano; IVmitigação dos custos ambientais, sociais e econômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas na cidade; V incentivo ao desenvolvimento científico-tecnológico e ao uso de energias renováveis e menos poluentes; VI priorização de projetos de transporte público coletivo estruturadores do território e indutores do desenvolvimento urbano integrado; e VII integração entre as cidades gêmeas localizadas na faixa de fronteira com outros países sobre a linha divisória internacional. Art. 7o A Política Nacional de Mobilidade Urbana possui os seguintes objetivos: 71 I - reduzir as desigualdades e promover a inclusão social; II - promover o acesso aos serviços básicos e equipamentos sociais; III - proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se refere à acessibilidade e à mobilidade; IV - promover o desenvolvimento sustentável com a mitigação dos custos ambientais e socioeconômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas nas cidades; e V - consolidar a gestão democrática como instrumento e garantia da construção contínua do aprimoramento da mobilidade urbana. VI - segurança nos deslocamentos das pessoas; VII - justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços; VIII - equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros; e IX - eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana. Os princípios, as diretrizes e os objetivos constituem o elo que une os planos de mobildade urbana, de caráter municipal, à Política Nacional de Mobilidade Urbana. Servem assim para transpor para escalas menores, mais próximas ao local e ao cotidiano, os conceitos mais abstratos cuja formulação ocorrem numa escala superior, de caráter mais generalizado porque serve de parâmetro para todo o país. 4.7 EM DIREÇÃO À DIMENSÃO HUMANA: O PLANO DE MOBILIDADE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (PLANMOB/2015) Em seu célebre livro, Cidade para as pessoas, Gehl (2010:3) afirma: Uma característica comum de quase todas as cidades – independente da localização, economia e grau de desenvolvimento – é que as pessoas que ainda utilizam o espaço da cidade são cada vez mais maltratadas. Lançado em 2015, após dois anos de construção, o Plano de Mobilidade do município de São Paulo traçou metas para a realização da mobilidade urbana em São Paulo por um período de 15 anos. Seu conteúdo é coerente com o Plano Diretor Estratégico de São Paulo e as bases sob os quais estão assentadas as propostas são alinhadas às dire- trizes, aos princípios e aos objetivos da PNMU e dialogam tanto com as 72 perspectivas de GEHL (2010) como de SPECK (2016) porque visam tanto a dimensão humana quanto à mobilidade ativa. As ações destacadas a seguir foram implantadas no município de São Paulo a partir do ano de 2013. 4.8 EM PROL DA MOBILIDADE ATIVA: OS ESPAÇOS PARA AS BICICLETAS O modal cicloviário, geralmente, não é planejado para ser o principal modal de transporte. Pensa nas bicicletas para a realização de trajetos curtos e para uso complementar nas pontas do deslocamento, ou entre a casa e o modal de transporte coletivo e/ou entre o modal e o trabalho. Os espaços voltados a este uso foram valorizados nas políticas públicas implantadas a partir de 2013. Àquela época, o município contava com 70 km de vias destinadas à circulação de bicicletas. A partir de então, a gestão municipal ampliou de modo expressivo as áreas destinadas à circulação de bicicletas. Ao final do ano de 2016, o município de São Paulo dispunha de 498 km de vias permanentes destinadas à circulação cicloviária. Destes, 468 km eram de ciclovias ou ciclofaixas e outros 30 km de ciclorrotas distribuídas por diversas áreas da cidade; além de contar com bicicletários e outros espaços de apoio para os ciclistas. As imagens a seguir, demonstram como são as ciclofaixas espalhadas pela cidade: 73 Imagem 1 – Ciclovia Faria Lima Fonte: VÁ DE BIKE (2016)20 Imagem 2 – Ciclofaixa localizada no bairro de Moema Fonte: G1 (2014)21 20 Disponível em Acesso em 07 out de 2020. 21 Disponível em Acesso em 07 out 2020. 74 Imagem 3 – Bicicletário no Largo da Batata Fonte: MOBILIZE22 22 Disponível em Acesso em 07 outubro de 2020. 75 Imagem 4 – Estação Bike Sampa Cinemateca Fonte: CET23As ciclorrotas correspondem a apenas 30 km das estruturas a disposição dos ciclistas, pois são aquelas que oferecem menor segurança aos ciclistas, pois trata-se de pista compartilhada com outros veículos e cuja sinalização horizontal informa a preferência para ao ciclista. Estes espaços não estão especificados no Código Brasileiro de Trânsito (CBT) e são indicados apenas para vias secundárias, com baixo fluxo de circulação e limite de velocidade. Espera-se que os motoristas guardem distância dos ciclistas e realizem a ultrapassagem em baixa velocidade. Por outro lado, as ciclofaixas e as ciclovias são estruturas contidas no Código Brasileiro de Trânsito e possuem características capazes de garantir maior segurança aos 23 Disponível em Acesso em 07 out 2020. 76 ciclistas, pois são sinalizadas e possuem elementos de separação específica do espaço para os ciclistas. As ciclofaixas são parte da pista de rolamento destinada a circulação exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização específica. Já as ciclovias são pistas próprias destinadas à circulação de ciclos, separada fisicamente do tráfego comum IPTD (2015:5). A bicicleta tem um papel essencial numa política de mobilidade ativa e na qual a dimensão humana é valorizada, pois trata-se de um veículo movido à propulsão humana, cujo uso massivo tem o condão de redistribuir o espaço viário levando o modo não motorizado a ampliar seu espaço sobre os modais motorizados. Em 2017, a malha cicliviária paulista, possuia cerca de 619,1 km de vias que possuem o tratamento específico. Porém, são 468 km de ciclovias e ciclofaixas permanentes (CET, 2017) Tabela 1 – Extensão da infraestrutura cicloviária em km do municípcio de São Paulo Fonte:MALATESTA (2014) O PlanMob prevê, ao todo, a construção de 1.300 km de malha cicloviária até o ano de 2030, o que, se concretizado, deixaria, em termos mundiais, a cidade numa posição confortável em relação a disponibilidade de espaços para usos bicicletas nos 77 deslocamentos cotidiano. 4.9 BICICLETAS E PATINETES PASSARAM A SER CADA VEZ MAIS UTILIZADAS COMO ALTERNATIVA DE TRANSPORTE No início desta década, a implementação de ciclovias na cidade de São Paulo se tornou rotina, especialmente no centro expandido da cidade. Todavia, não devemos esquecer que a bicicleta não passou a ser utilizada como meio de locomo ção apenas em 2010. Ela é utilizada desde o século XIX nas cidades brasileiras, com grande popularidade no século XX. Só que o seu uso era marginalizado As políticas públicas encaravam a bicicleta como um instrumento de recrea ção, uma vez que os espaços destinados de forma exclusiva para ela eram encontrados predominantemente nos parques da cidade. Trabalhadores, que muitas vezes utilizavam a bicicleta como principal meio de locomo ção, tinham que dividir as avenidas com carros, ônibus e motos, que, muitas vezes, não respeitavam os espa ços mínimos para um ciclista andar com seguran ça. Inspirado em cidades como Amsterdã e Copenhague, que utilizaram e implementará políticas públicas voltadas para a bicicleta como instrumento de mobilidade urbana, a cidade come çou a implementar as ciclofaixas. Como toda mudança de direcionamento de políticas públicas, houve muitas reclamações no início, mas logo as ciclofaixas passaram a ser mais aceitas e utilizadas pelos cidadãos da cidade. 78 Figura 6 - Rede cicloviária de São Paulo Fonte: CET24 Junto a isso, começaram a surgir diversas iniciativas privadas que contribuíram para popularizar o uso da bicicleta como meio de locomoção na cidade, tão importante quanto o carro, moto, ou qualquer outro elemento. As bicicletas compartilhadas são um 24 Disponível em Acesso em 07 out de 2020. 79 belo exemplo disso. É possível alugar uma em vários pontos da cidade, assim como deixá-las em diversos pontos. De forma mais recente, especialmente em meados do ano passado e neste ano, o patinete elétrico entrou em evidência. Eles se mostraram excelente alternativa de transporte, especialmente para curta distância. Várias empresas ao redor do mundo passaram a oferecer o servi ço, especialmente nas grandes cidades, como São Paulo. Assim como ocorreu durante o início da implantação das ciclofaixas, houve muita resistência. Só que dessa vez a resistência não veio da popula ção de maneira geral, mas sim do próprio poder público. Vários foram os argumentos utilizados para tentar inviabilizar o patinete elétrico. Eles chegaram a ser apreendidos e uma série de restrições sobre o seu uso foram feitas. Os motivos alegados foram os riscos que estes causam ao usuário, assim como a má utilização e armazenamento dos mesmos em um espaço público da cidade, as cal çadas. Todavia, podemos perceber o claro viés parcial destas afirmativas, uma vez que a maioria dos acidentes envolvem os carros, mais do que qualquer outro instrumento de transporte, como a bicicleta, moto ou mesmo o patinete. Além disso, são os carros que ocupam maior parte do espa ço público em nossas cidades. Dessa maneira, os patinetes elétricos e bicicletas vieram para ficar. Apresentam uma solução muito eficiente de mobilidade urbana, especialmente para curta e médias distâncias. O empreendedorismo do setor, assim como a utiliza ção de tecnologia disruptiva para a populariza ção destes elementos tem sem mostrado fundamental para a sua rápida popularização. Afinal, quase todas as pessoas possuem smartphone, independentemente da classe social. Sendo assim, estes novos modais devem ser vistos não como uma barreira a mobilidade urbana na cidade de São Paulo, mas como um instrumento para otimizar e reduzir os problemas de mobilidade na cidade, especialmente substituindo o uso dos automóveis particulares para curta e médias distâncias. Medidas para mesclar o uso destes elementos com outros importantes meios de locomoção, como ônibus e metrô, devem ser pensados e estudados. Somente dessa forma 80 teremos uma maior efetividade da mobilidade urbana na cidade de São Paulo: otimizando velhos elementos com a incorporação de novas tecnologias e ideias. 81 CAPÍTULO 3 5 A ‘MICROMOBILIDADE’ QUEBRANDO BARREIRAS A Grow Mobility, fusão entre a mexicana Grin e a brasileira Yellow, opera mais de 135 mil bicicletas e patinetes elétricos no mundo todo. A empresa foi a responsável por identificar um nicho de mercado e uma solução para esses percursos menores. Pouco tempo depois dessa inovadora ideia no mercado da mobilidade, as viagens de curta distância passaram a ser cada vez mais comuns. Portanto, é nítido notar que esse tipo de tecnologia vem quebrando barreiras para melhorar a acessibilidade e as condições de transporte nas grandes cidades, resultando em uma solução bastante eficaz. Essa ‘’micromobilidade’’ transforma o jeito de se deslocar e reflete em uma menor dependência dos veículos tradicionais, voltando ainda para uma mobilidade mais sustentável e saudável em cima, apenas, de 2 rodas. Surpreendentemente, a cidade de São Paulo teve a taxa de adesão mais rápida entre as cidades onde a Grow Mobility opera, segundo Milton Acher, diretor executivo de relações governamentais da empresa. A micromobilidade urbana se tornou um dos maiores interesses de grandes indústrias do mundo inteiro. Em 2018, a frota desses tipos de veículos ultrapassoua marca de 300 milhões. Especialistas explicam esse crescimento com base na preferência das pessoas por um meio de transporte que reduza o congestionamento, além de ser mais sustentável, diminuindo a emissão de carbono e gases de efeito estufa. Infelizmente, o maior problema que o brasileiro ainda enfrenta é a burocracia para e regulamentação de fatores que auxiliem na rotina do cidadão. As autoridades ainda vivem na ‘’idade da pedra’’ e não estão preparadas para o mínimo de regularidade, como na Europa e nos Estados Unidos por exemplo. Isso desencadeia problemas graves, inclusive de segurança, já que não existe 82 normas adequadas para o uso desses equipamentos nas ruas paulistanas, gerando risco de acidentes entre pedestres, carros, ônibus etc. Conforme dito, o crescimento desenfreado do número de patinetes é um fato real, digno de preocupação quando se trata de São Paulo. Os especialistas temem que a falta de legislação e infraestrutura leve a capital paulista no mesmo parâmetro de desperdício da China, por exemplo, que possui um número alarmante de bicicletas compartilhadas estocadas em depósitos e sem uso. Para Lucian de Paula, não existe uma preparação específica para receber esses equipamentos, o que não significa que eles não possam ser utilizados. Ademais, a cidade está em evolução constantemente, precisando de melhorias em diversos outros fatores, como os ônibus e metrôs, e isso não os impede de funcionar normalmente na capital. Os benefícios que os patinetes e as bicicletas elétricas trazem a sociedade, vão além de melhorias na mobilidade, deslocamento, sustentabilidade, poluição sonora, economia etc. Trata-se de uma forma de recreação que tomou conta do dia a dia do cidadão paulistano, que busca diariamente maneiras de facilitar sua rotina agitada. Além de ser uma maneira do indivíduo se movimentar mais, é um jeito divertido e diferente de se deslocar pela cidade, saindo da monotonia enfrentada pelas pessoas, que normalmente precisam encarar ônibus e metrôs lotados ou congestionamento e horas dentro do carro. Esse fato se volta para a questão dos ‘’pingentes’’, mencionados anteriormente, podendo ser relacionados aos usuários de patinetes e bicicletas. Todavia, ainda há alguns pontos a serem ajustados. Segundo a jornalista Gabriela Stela, esse tipo de veículo é efetivo para o problema da mobilidade urbana apenas nos bairros mais ricos de São Paulo. Já nos pontos mais afastados e nas periferias, o trânsito continua caótico com transportes públicos desumanos. ‘’A melhor forma de fazer esses transportes competirem de verdade para a mobilidade, é aumentando o alcance deles’’ afirmou. A empresa mexicana de patinetes elétricos Grin chegou no Brasil depois de uma parceria com o aplicativo de entregas Rappi. O projeto, que começou em São Paulo, 83 tem o objetivo de alcançar 12 mil patinetes em todo o país. Em relação aos patinetes da Grin, os usuários só precisam acessas o aplicativo da Rappi, ou da própria Grin, e se cadastrar. Nos 3 primeiros minutos de uso, a taxa de cobrança é de 3 reais e, depois disso, é cobrado 0,50 centavos para cada minuto que o passageiro usar. Além disso, quem usar pela primeira vez tem direito a uma viagem de 10 minutos sem pagar nada, uma forma que a empresa encontrou de permitir que os usuários façam um ‘test-drive’. Os patinetes da empresa Yellow funcionam da mesma forma. Porém, só podem ser utilizados entre as 8h e 20h, caso contrário, o usuário será taxado em 100 reais. Depois de instalar um dos aplicativos, o usuário deve fazer o desbloqueio do patinete a partir do seu QR Code para começar a pilotar. Além dessas empresas, atualmente as mais conhecidas, existe a Scoo, que chegou em São Paulo em 2018. Até então, os veículos dessa empresa ficam concentrados na Avenida Paulista, Faria Lima e na região do Ibirapuera, considerados os locais de mais presença de patinetes na cidade. Para usar um patinete da Scoo, também é só baixar o aplicativo e desbloquear pelo QR Code. A diferença é que, nos primeiros quatro minutos o usuário paga 1 real, após isso será cobrado 0,25 centavos por minuto. Em 2017, entrou em vigor o decreto do ex Prefeito João Dória, que regulariza o sistema de compartilhamento de bicicletas na cidade, com o mesmo modelo dos serviços de Uber, por exemplo. As bicicletas são dos banco Itaú e atualmente também é possível alugar bikes do Bradesco. 5.1 DOS CARROS ÀS PESSOAS: AS RUAS ABERTAS À POPULAÇÃO Em consonância com o Inciso I, do artigo 23 da PNMU, que diz respeito a restrição 84 e ao controle de acesso e circulação, permanente ou temporário, de veículos motorizados em locais e horários predeterminados, o poder público municipal instituiu formalmente uma ação com o objetivo de abrir o espaço aos pedestres e restringir a circulação de veículos em algumas vias da cidade. Em 28 de junho de 2015, a Avenida Paulista, um símbolo da cidade de São Paulo, foi fechada para a circulação automobilística. No lugar dos veículos, as faixas foram ocupadas por famílias e grupos de pessoas que realizavam piqueniques e por crianças que brincavam na pista; artistas de rua faziam shows, ambulantes estendiam tecidos no chão e vendiam produtos enquanto muitas pessoas andavam a pé, de skate, de bicicleta, etc pelas faixas cotidianamente ocupadas por carros. 85 Imagem 5 – Campanha paulista aberta Fonte: PAULISTA ABERTA25 Enfim, a abertura da Avenida Paulista para as pessoas simboliza a possibilidade de outras formas de ocupar o espaço. Quatro meses depois da experiência piloto, a Prefeitura institucionalizou a ação e a Avenida Paulista passou a ficar aberta aos pedestres aos domingos, das 10 às 17 horas. Ao final do ano de 2016, após longa tramitação foi publicada a lei 16.607/16 que sintetiza essa prática com a instituição do programa Ruas Abertas. O segundo artigo da referida lei explica que o programa Ruas Abertas consiste na destinação temporária ou 25 Disponível Acesso em 07 out 2020. 86 permanente de trechos de vias públicas, praças e largos para atividades de lazer, esporte, cultura e engloba três modalidades: Ruas de Cultura e Lazer. As ruas de Cultura e Lazer tem como objetivo designar a ocupação de alguns espaços viários à ocupação por pedestres, em horários regulados, entre as 10 e as 16 horas, em domingos e feriados. Iniciativas dessa natureza são essenciais porque permitem aos moradores fortalecerem seus vínculos com os vizinhos, possibilitam ainda que pontualmente a realização de práticas aeróbicas além de fomentar uma cultura de uso e ocupação dos espaços públicos. 5.1 VISANDO A COLETIVIDADE Outra iniciativa importante foi a criação e a difusão por diversas áreas da cidade de faixas exclusivas para ônibus, à direita das vias por onde circulam esses veículos. Estas, em sua grande maioria, possuem horários regulados nos quais os fluxos são privativos aos ônibus. Em geral, nos horários de pico da manhã ativam-se as faixas que funcionam na direção bairro-centro e no horário de pico da tarde são acionadas as faixas que se voltam à direção centro-bairro. Em 2013, a cidade possuía 90 km de faixas exclusivas para ônibus, ao final de 2016 eram 500 km, um aumento de 450%. A opção pela política de faixas tem contornos conjunturais: de um lado trata-se de uma iniciativa menos custosa – e também menos eficiente – de reduzir o tempo de deslocamento que a instalação de corredores de ônibus, cujos projetos lançados em 2013 (mesmo ano de um conjunto grande de manifestações populares cujo estopim foi a elevação no preço das tarifas de transporte) foram questionados por instâncias administrativas, como o Tribunal de Contas do Município etambém por membros da Câmara de Vereadores. Os resultados de medidas dessa natureza ultrapassam escalas, pois a opção de exclusividade para os ônibus tem o condão de ampliar a velocidade média dos ônibus, o que pode estimular o uso do transporte coletivo ao invés do individual e também reduzem o volume de materiais poluentes que são dispersados no ar e concorrem para a 87 deterioração da qualidade do ar (Iema, 2014). Em uma escala macro é possível verificar benefícios. Em microescala as batalhas são outras, há que se dialogar com os agentes envolvidos amiúde. Houve muita reclamação de parte de comerciantes que tinham vagas para automóveis em frente aos seus estabelecimentos e também de donos de carros que antes podiam estacionar seus carros em faixas agora convertidas em espaços exclusivos para o modal coletivo. 5.2 A VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO E O CAMINHO PARA REALIZAR MORTES Outra política adotada pelo poder público municipal foi a redução das velocidades médias das vias de circulação. Embora a adesão a proposta de redução de velocidade tenha ocorrido em 2011, o compromisso de atender às metas foi encampado sistematicamente pela municipalidade apenas a partir do ano de 2013. Os debates decorrentes do Programa Década de Segurança Viária, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) após estudos realizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apresentaram dados alarmantes, em 2011 a cidade ostentava o índice de 12 mortos/100.00 habitantes e se comprometeu a reduzir esse número pela meta- de até o ano de 2020 (CET, 2016). A redução das velocidades foi parte do pacote de medidas que visava alcançar esse objetivo. O marco simbólico da redução das velocidades médias foi apresentado em 20 de julho de 2015 quando as vias Marginais dos rios Tietê e Pinheiros tiveram seus limites de velocidades revistos para baixo. Essas duas vias por conta do volume e do papel que desempenham na articulação dos fluxos viários marcaram a colocação de uma bandeira nessa temática. Em dezembro de 2015 foi concluída a padronização do valor da velocidade máxima permitida nas vias arteriais da cidade em 50 km/h, restando poucas exceções a este valor (pistas expressas e centrais das marginais – 70 e 60 km/h, parte do eixo norte-sul– 60 km/h, e pista expressa da Av. Prof. Abraão de Morais – 70 km/h). CET (2016:1) 88 A medida tinha como caráter essencial a segurança viária, uma vez que em velocidades menores é possível manter a velocidade média no deslocamento com níveis maiores de segurança. Em menor escala também se pode aferir a redução dos níveis de poluição atmosférica e sonora. A segurança viária foi o fator que essencialmente guiou a política de redução de velo- cidade, pois o grau de lesão no corpo humano não é proporcional à velocidade. Os efeitos são exponenciais. Outro fator essencial em relação à velocidade é a relação entre a capacidade física de realização da frenagem e a compatibilidade velocidade na via. Também nesse indicador a curva não é proporcional, mas exponencial. Assim, numa frenagem a 50 km/h um veículo percorre 65 metros até conseguir cessar seu movimento, mas a 100 km/h a distância não é o dobro, 130 metros, mas sim 200 metros. A diminuição de velocidade proporciona tempos menos exigentes de percepção e reação, além de exigir distâncias menores para manobras seguras, o que diminui significativamente a formação de “ondas” no tráfego (o famoso “anda e para”). E, ao diminuir a intensidade e a frequência dos conflitos de troca de faixas e de acessos, harmoniza o tráfego inclusive nas transposições entre pistas. Além disto, os ganhos com a redução da gravidade e da frequência dos acidentes impactou direta e positivamente na fluidez viária. CET (2016:7) As medidas implantadas tiveram êxito parcial, pois verificou–se uma redução gradativa no número de acidentes e de mortes nas vias da cidade. Com a implantação da política de redução de velocidades médias, gradativamente o número de mortes foi caindo, permanecendo estável num primeiro momento, entre os anos de 2012 e 2014. Posteriormente os números foram caindo até patamares próximos à meta da ONU para a década que é de 6 mortos por 100 mil habitantes. Um dado, porém, é essencial, nas vias marginais dos rios Tietê e Pinheiros, onde os limites de velocidade foram revistos em 2016, o número de mortos aumentou. A revisão dos limites de velocidade para baixo redundou em acentuada queda no número de mortes em dois, a volta aos limites anteriores redundou em aumento no vítimas fatais, revertendo a curva verificada nos meses anteriores quando vigoravam limites menores de velocidade. 89 5.4 CONTRAMÃO O ano de 2017 simbolizou a realização de mudanças de direção administrativa do município de São Paulo. Essas mudanças dizem respeito tanto às propostas políticas, em âmbito mais geral, quanto às políticas de mobilidade urbana, em particular. A nova administração mudou a rota estabelecida, aquela contida no Plano de Mobilidade Urbana da cidade de São Paulo. Ainda que termos-chave, como mobilidade ativa, continuem presentes nos planejamentos atuais, tais como o Plano de Metas (2017- 2020), construído pela atual administração, as ações até agora implantadas seguem em direção oposta. Estão na contramão, pois as políticas que tinham a mobilidade ativa em seu âmago estão sendo senão destruídas ao menos descontinuadas. O resultado mais visível foi o crescimento da insegurança e da violência para aqueles que não circulam na cidade empregando modais motorizados. Uma primeira impressão de que ocorreriam mudanças na condução dessas políticas é o fato de que as informações sobre a extensão e a localização das estruturas voltadas a esse modal deixaram de ser atualizadas pela prefeitura com constância. A política de valorização de circulação do modal cicloviário por exemplo passa por alterações que significam a supressão de ciclofaixas e a eventual transformação em ciclorrotas. Aparentemente, continua-se a valorizar o ciclista, mas as ciclorrotas não são segregadas, o que faz com que as bicicletas tenham que disputar espaços com modais motorizados. Tais iniciativas potencialmente ampliam o espaço dos modais motorizados por que, nessa situação, carros e bicicletas vão disputar o mesmo e a força dos motores, associada ao histórico de acidentes fatais envolvendo carros e bicicletas, aumentam a insegurança dos ciclistas, grupo que aferiu um aumento de letalidade da ordem de 23% em 2017. No ano de 2016 foram 30 vítimas de acidentes fatais, envolvendo bicicletas, o número saltou para 37 em 2017. 90 Ao longo do ano de 2017, muitas reportagens denunciaram a prática de apagar ciclo- faixas por diversas áreas da cidade (Diógenes, 2017). Gradativamente, algumas ciclo- faixas foram sendo desestruturadas sem que houvesse diálogo ou nova contabilização das estruturas existentes. Outra atitude que caminha em direção contrária às políticas de valorização do modal cicloviária foi a criação da lei 16.738/2017 cujo escopo altera a lei 14.266/2007 que versa sobre o Sistema Cicloviário do Município de São Paulo. As alterações propostas, de certo modo, formalizam as práticas que vinham sendo denunciadas, pois o artigo 6º passou a ter a seguinte formulação. O Sistema Cicloviário do Município de São Paulo deverá ser composto preferencialmente por faixas compartilhadas e ciclovias, sendo que a opção por ciclofaixas deverá ser adotada apenas quando não houver indicação técnica para a implantação de faixas compartilhadas e quando houver disponibilidade de espaço físico ou de recursos financeiros para a construção de uma ciclovia, desde que as condições físico-operacionais do tráfego motorizado sejam compatíveis com a circulação de bicicletas. Também o artigo 4º, parágrafo único recebeu nova redação, A implantação dos trechos cicloviários............................................................................................................ 13 CAPÍTULO 1 .................................................................................................................. 14 2 APURAÇÃO DE DADOS ............................................................................................ 14 2.1 O QUE É MOBILIDADE URBANA?....................................................................... 17 3. CIDADE, ACESSIBILIDADE E ESTRUTURA URBANA ....................................... 19 3.1 BENEFÍCIOS DE AGLOMERAÇÃO ...................................................................... 19 3.1.1 ECONOMIAS DE ESCALA EXTERNAS ÀS ORGANIZAÇÕES ........................ 20 3.1.2 COMPARTILHAMENTO DE RECURSOS ......................................................... 20 3.1.3 DIVERSIFICAÇÃO ............................................................................................. 21 3.1.4 APRENDIZADO ................................................................................................. 21 3.1.5 ECONOMIAS DE ESCALA INTERNAS ÀS ORGANIZAÇÕES .......................... 22 3.1.6 DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES .............................................................. 23 3.1.7 CIDADE, ACESSIBILIDADE E DECISÕES DE LOCALIZAÇÃO ........................ 25 3.1.8 ESTRUTURA ESPACIAL E FORMA URBANA .................................................. 33 3.1.9 TRANSPORTE SUSTENTÁVEL ........................................................................ 34 3.1.10 DA ESTRUTURA ESPACIAL URBANA .......................................................... 35 11 3.1.11 ESCALA .......................................................................................................... 36 3.1.12 ARRANJO DE DENSIDADES ......................................................................... 36 3.1.13 ARRANJO DE ATIVIDADES ........................................................................... 37 3.1.14 ESTRUTURA ESPACIAL PARA UM TRANSPORTE SUSTENTÁVEL .......... 40 3.2 MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL ............................................................. 42 3.3 MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL NO BRASIL .......................................... 46 3.4 MOBILIDADE URBANA: COMO AVALIAR? .......................................................... 48 3.5 ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL– IMUS ............................... 51 4 A QUESTÃO URBANA E DA MOBILIDADE URBANA EM SÃO PAULO ............... 54 4.1 DESAFIOS À VISTA: A CRISE DA MOBILIDADE COTIDIANA EM SÃO PAULO. 55 4.2 CRESCIMENTO..................................................................................................... 57 4.3 PROBLEMAS E PROPOSTAS NO SÉCULO XXI.................................................. 60 4.4 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE ............................................................... 62 4.5 REGULAÇÃO DA TERRA NO SÉCULO XXI ......................................................... 64 4.6 PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E OBJETIVOS DA PNMU E OS PLANOS DE MOBILIDADE URBANA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. ........................................ 69 4.7 EM DIREÇÃO À DIMENSÃO HUMANA: O PLANO DE MOBILIDADE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (PLANMOB/2015)............................................................................. 71 4.8 EM PROL DA MOBILIDADE ATIVA: OS ESPAÇOS PARA AS BICICLETAS ....... 72 4.9 BICICLETAS E PATINETES PASSARAM A SER CADA VEZ MAIS UTILIZADAS COMO ALTERNATIVA DE TRANSPORTE ................................................................. 77 5 A ‘MICROMOBILIDADE’ QUEBRANDO BARREIRAS ............................................... 81 5.1 DOS CARROS ÀS PESSOAS: AS RUAS ABERTAS À POPULAÇÃO ................. 83 5.1 VISANDO A COLETIVIDADE ................................................................................ 86 5.2 A VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO E O CAMINHO PARA REALIZAR MORTES 87 5.4 CONTRAMÃO ........................................................................................................ 89 6 UM IDEAL DE MOBILIDADE URBAMA ................................................................ 93 6.1 CIDADES CAMINHÁVEIS ..................................................................................... 93 12 6.2 A CIDADE PLANEJADA ........................................................................................ 96 6.3 O MODELO DO ESPAÇO COMPARTILHADO ..................................................... 99 7 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 101 9 APÊNDICES ....................................................................................................... 111 9.1 MOBILIDADE NO DIA A DIA: PAUTA E ENTREVISTAS ................................ 111 9.1.1 PAUTAS ............................................................................................................ 111 9.1.1.2 PAUTA FONTE 1 – LUCIAN DE PAULA ......................................................... 111 SUGESTÃO DE PERGUNTAS: ................................................................................... 112 SUGESTÃO DE PERGUNTAS: ................................................................................... 113 9.1.1.3 PAUTA 3 - MARCO PAGETTI ...................................................................... 113 SUGESTÃO DE PERGUNTAS: ................................................................................... 114 SUGESTÃO DE PERGUNTAS: ................................................................................... 115 SUGESTÃO DE PERGUNTAS: ................................................................................... 116 9.2 ENTREVISTAS ................................................................................................ 117 9.2.1 ENTREVISTA 1 - LUCIAN DE PAULA MEMBRO DA CAMÊRA TÉMATICA DE BICICLETA DE SÃO PAULO.................................................................................. 117 9.2.2 ENTREVISTA 2 JORNALISTA E ESCRITORA GABRIELLA STELLA .......... 120 9.2.3 ENTREVISTA 3 – JORNALISTA MARCO PAGETTI ..................................... 122 9.2.4 ENTREVISTA 4 – JORNALISTA RENAN FIUZA........................................... 124 9.2.5 ENTREVISTA 5 – JORNALISTA MATHEUS TEIXEIRA ................................ 125 10 ANEXOS ............................................................................................................. 128 10.1 DADOS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO 128 13 1 INTRODUÇÃO A mobilidade urbana é um tema que está cada vez mais familiarizado ao cidadão. Os gestores das nossas cidades têm tentado enfrentar essa questão de diversas formas, especialmente nas grandes metrópoles como São Paulo. Isso não ao acaso, mas devido aos problemas de mobilidade se fazerem mais presentes em grandes cidades, uma vez que há mais pessoas e a logística para a sua locomoção se torna mais complexa. O modo como as pessoas se locomovem pela cidade muda bastante dia após dia. Inicialmente, os barcos eram os principais meios de transporte. Eles eram utilizados tanto pelos nativos, quanto pelos colonizadores, jesuítas e, posteriormente, Bandeirantes. Junto às carroças movidas a tração animal, foi o meio de locomoção mais utilizado até meados do final o século XIX e início do século XX, quando o modelo ferroviário (trens e bondes elétricos) — inicialmente, e rodoviário — posteriormente, passou a ser privilegiado. Com o crescimento da cidade de São Paulo, que em 1900 contava com 200 mil pessoas e atualmente conta com mais de 12 milhões, os problemas para transportar tanta gente para um lado ou outro da cidade aumentaram. Muitas solu ções foram apresentadas ao longo deste tempo, como o aumento das vias da cidade, criação e extensão das linhas de metrô, entre outros. Entretanto, uma nova solu ção temdeverá ser precedida pela realização de audiências públicas e pela apresentação de estudos de demanda, de viabilidade e de impacto viário, os quais deverão ser integralmente divulgados em sítio eletrônico próprio. O principal motivador das críticas à nova redação diz respeito à necessidade de apresentar estudos de demanda, viabilidade e impacto viário. A massificação do uso de modais de transporte ocorrem quando o poder público utilizando suas prerrogativas de construção e de controle do espaço cria políticas e produz espaços capazes de induzir a demanda pela bicicleta. Trata-se de instilar o modal não-motorizado em relação aos modais motorizados. A criação de mecanismos, como a necessidade de apresentação de estudos de demanda, contribui para a imobilização ou descontinuidade da política de valorização do modal cicloviário. Ações desse jaez não apenas não contribuem com a mobilidade ativa e a dimensão humana como caminham em desacordo com as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. 91 Da mesma forma que as ciclofaixas foram sendo retiradas, o Programa Ruas Abertas também passou a sofrer com descontinuidades e/ou falhas no processo de execução. Primeiramente, avenidas importantes como a Avenida Sumaré, que deviam ser abertas aos pedestres deixaram de receber os agentes responsáveis por executar essas ações. Posteriormente, outras vias, em outras áreas do município passaram a ter os mesmos problemas. Em matéria publicada em maio de 2017, o Jornal Folha de São Paulo reportava que outras vias pertencentes ao programa Ruas Abertas, como a Engenheiro Luiz Gomes Cardim Sangirardi, localizada na Aclimação, na zona central e a Avenida Koshun Takara, no Jardim Peri, na zona norte da cidade de São Paulo também não recebiam mais os agentes responsáveis por realizar as intervenções que barram os veículos e libera o espaço aos pedestres. A desmobilização para a sustentação das ações em áreas menos simbólicas que a Avenida Paulista resulta em abandono do programa, sem que haja muito alarde. Por fim, em desacordo com as indicações de ordem técnica que indicavam a eficácia da política de redução de velocidade máxima dos carros nas vias marginais ao rios Tietê e Pinheiros, foi realizada a revisão dos limites de velocidade, voltando aos valores vigentes até o primeiro semestre do ano de 2015. É possível considerar que a alteração de uma única variável, o limite máximo de velo- cidade, não responde plenamente a todas as causas de acidentes que redundam em vítimas fatais nessas vias. A realidade, porém, não deu sustentação a esta hipótese, pois o número de óbitos nessas vias aumentou após a reedição dos antigos limites máximos de velocidade. Em 2016, as vias marginais tiveram 26 vítimas fatais, no ano seguinte foram contabilizadas 32 vítimas, um aumento de 23%. A defesa da redução dos limites de velocidade de circulação viária é uma prática que tem sido adotada em diversas metrópoles. Nas áreas urbanas mais movimentadas de Londres, o limite é de 32 km/h; em Nova York, 40 km/h; Roma e Barcelona, estabeleceram o limite de 50 km/h e as cidades Santiago e Buenos Aires, estipularam o limite máximo de 60 km/h. São Paulo conduziu na contramão e, em duas artérias essenciais à articulação viária da cidade, a velocidade 92 máxima foi para 90 km/h. Coincidentemente, nessas duas vias a letalidade aumentou. 93 CAPÍTULO 4 6 UM IDEAL DE MOBILIDADE URBAMA 6.1 CIDADES CAMINHÁVEIS A proposta de construção de “comunidades caminháveis” se insere em uma estratégia de compactação urbana, principalmente no que se refere à redução das distâncias e dos deslocamentos, dando prioridade ao deslocamento a pé ou por bicicleta, propondo a distribuição dispersa dos núcleos (comunidades caminháveis) interconectados e conformando uma rede na escala da cidade e da região. Essa proposta é pautada na ideia de definição limite para ocupação contínua do território e na interpenetração cidade- natureza (Lemos, 2015). De acordo com o TOD (Transit Oriented Development)26, o Instituto desenvolvido pela Associação de Trens de Alta velocidade dos Estados Unidos da América (US High Speed Rail Association - USHSR) – instituição que trabalha para promover e acelerar a implantação de comunidades sustentáveis, de uso misto, viáveis em torno de estações ferroviárias – define que o raio caminhável de uma estação está entre ¼ a ½ de milha, o que corresponde de 400m a 800m. A rota a pé precisa ser segura, confortável e agradável para estimular a caminhada e o ciclismo de, e para a estação. Espaços públicos bem definidos, salas exteriores, bancos e mesas que convidem o pedestre a descansar, bares com ambientes externos que ocupem e deem vida à cidade devem constar do projeto urbano. O Instituto ainda sugere dez princípios a serem desenvolvidos. São eles: 1. Implantar estações em locais com maior potencial de número de 26 http://www.tod.org/home/about.html http://www.tod.org/home/about.html 94 passageiros e oportunidades de desenvolvimento; 2. Definir um raio de meia milha ao redor da estação como maior densidade, desenvolvimento de uso misto; 3. Criar uma faixa de densidades altas ao redor da estação, reduzindo as vizinhanças existentes; 4. Implantar a estação em local estratégico para que haja o desenvolvimento em todo seu perímetro; 5. Criar uma praça pública diretamente em frente a um ou mais lados do edifício da estação; 6. Criar ruas de varejo e cafés que levem às entradas das estações ao longo das principais conexões para pedestres; 7. Reduzir o estacionamento na estação, localizá-lo a um ou dois quarteirões de distância, direcionando o fluxo de pedestres ao longo das ruas de varejo; 8. Melhorar as conexões multimodais, tornando as transferências fáceis, diretas e confortáveis; 9. Incorporar bikeshare, uma rede de bikeway abrangente, e grandes áreas de estacionamento de bicicletas; 10. Utilizar a estação como um catalisador para o desenvolvimento principal da área e grande comércio ao redor da estação. A mobilidade urbana se inicia ao se caminhar pelas calçadas, ciclovias e acessos ao sistema de transporte público. A caminhabilidade é um indicador da sustentabilidade como paradigma do desenvolvimento urbano e humano. 95 Faz-se necessário que o indivíduo tome consciência e considere sua locomoção como parte da energia produzida e consumida por si próprio, indispensável para a sua saúde e para o sucesso do planejamento urbano: As cidades devem criar modelos de circulação em que o trânsito seja compreendido como “um meio para se chegar a um destino e não um fim em si mesmo, de sorte que os espaços públicos acolham o tráfego de veículos, o convívio entre as pessoas e outras funções espaciais em contínuo equilíbrio”. (Monderman apud Pinheiro, 2018, p.2) Como garantir a mobilidade urbana? Como implantar transporte de média capacidade, inteligente, resiliente em cidade caminhável? Como incentivar o uso do transporte público? Como torná-lo atrativo? É possível obrigar o indivíduo a usar o transporte público? Para Speck (2017), os 10 passos da caminhabilidade são os seguintes: o Passo 1: Utilizar o automóvel em ocasiões adequadas o Passo 2: Mesclar os usos para que a caminhada seja útil o Passo 3: Adequar a localização dos estacionamentos o Passo 4: Investir em transporte de alta capacidade o Passo 5: Adequar a geometria viária à proteção do pedestre o Passo 6: Acolher as bicicletas o Passo 7: Criar espaços agradáveis para caminhar o Passo 8: Plantar árvores o Passo 9: Criar faces de Ruas Agradáveis e Singulares o Passo 10: Eleger prioridades dos locais mais apropriadosà caminhada 96 6.2 A CIDADE PLANEJADA A cidade deve ser caminhável, com acessibilidade, ser adensada (de forma a ter o custo e o benefício adequados para investimentos em sua infraestrutura), preservar o meio ambiente e a saúde da população, e trazer benefícios à sua governança. No Brasil, existem várias cidades planejadas: Brasília, Goiânia, Belo Horizonte. No Rio de Janeiro, o bairro da Barra da Tijuca é outro exemplo. Seus traçados são planejamentos modernistas, onde o conceito de caminhabilidade é praticamente zero. Nesse modelo, as grandes vias de automóveis são estruturais e proporcionam conforto para as pessoas que trabalham no Centro e moram no subúrbio. Em alguns casos, os polos geradores de viagens encontram-se a distâncias significativas, e muitas vezes o transporte público não alcança esses locais.Em decorrência disso, os problemas provocados pela má conservação do ambiente levaram organizações e comissões mundiais a protagonizarem movimentos em favor da emissão de carbono zero. Os automóveis passaram a ser vistos como os “vilões” das cidades, por emitirem maiores quantidades de carbono em grandes engarrafamentos. O esforço mundial para a diminuição das emissões de carbono incentiva a utilização de transportes considerados limpos, ou seja, aqueles que utilizam a energia limpa, reduzindo as emissões de poluentes. De acordo com a Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ON Enviramental)27, o transporte é responsável por cerca de um quarto das emissões de poluentes, e aumenta mais rápido que qualquer outro setor, chegando a um terço até 2050. O Plano de Ações da Organização das Nações Unidas (ONU)28 determina a gestão sustentável dos recursos naturais do planeta, principalmente medidas para diminuir as emissões de carbono, com foco nas mudanças climáticas A cidade sustentável é geralmente fortalecida se grande parte do seu transporte 27 https://www.unenvironment.org/news-and-stories/story/seven-ways-fix-warming-planet 28 nacoesunidas.org http://www.unenvironment.org/news-and-stories/story/seven-ways-fix-warming-planet 97 puder se dar por meio da mobilidade verde, ou seja, deslocar-se a pé, de bicicleta ou por transporte público. Esses meios proporcionam acentuados benefícios à economia e ao meio ambiente, reduzem o consumo de recursos, limitam as emissões e diminuem o nível de ruídos. Outro aspecto sustentável importante é o aumento da atratividade exercida pelos sistemas de transporte público, quando os usuários se sentem seguros e confortáveis caminhando ou indo de bicicleta para e a partir dos ônibus, trens e veículos sobre trilhos. Um bom espaço público e um bom sistema público de transportes são simplesmente, os dois lados da mesma moeda. (Gehl, 2015, p. 7) As cidades vêm se modernizando através de aplicativos e rastreadores, chips e outros tipos de identificadores de comportamento, de maneira a atender às necessidades tecnológicas e às formas de relacionamento. Porém, não há nenhuma solução tecnológica que seja eficaz sem que esta trabalhe em parceria com a educação e a civilidade. A mobilidade é um componente essencial à saúde das cidades. Essas não podem ser pensadas para os carros. O ritmo do encontro é o ritmo da caminhada. É preciso desenhar a nossa cidade para que o espaço do pedestre seja determinante, e os outros modos leves de deslocamento, como a bicicleta, também sejam favorecidos. O transporte público precisa ser de qualidade, e oferecer confiabilidade, conforto e dignidade ao usuário (Lerner apud Gehl, 2015, p. XII). Em muitos casos internacionais, experiências bem-sucedidas comprovam a importância do planejamento sistêmico na qualidade do ambiente urbano. Aqui versamos sobre conceito de caminhabilidade ao planejamento do transporte público, ou seja, vislumbra a democratização do espaço da cidade onde as pessoas não precisem usar o carro no dia a dia, uma vez que terão sua mobilidade garantida, com qualidade e conforto. 98 O Estatuto das Cidades (2004)29 determinava que fosse elaborado, para cidades com população maior que 500 mil habitantes, um Plano de Mobilidade Urbana para garantir o deslocamento de pessoas e de bens no espaço urbano. O conceito para elaboração do Estatuto das Cidades propõe quatro diretrizes estruturais da política desenvolvida pelo Ministério das Cidades: a inclusão social, a sustentabilidade ambiental, a gestão participativa e a democratização do espaço público. Para cumprir essa lei, foi regulamentado, em 2007, um plano federal de mobilidade urbana, o PlanMob 2007-2015. Através dos planos de Mobilidade Urbana, a cidade deve propor seu desenvolvimento levando em consideração modelos do pensamento sustentável, inteligente, resiliente, caminhável. O planejamento do transporte público de massa é parte fundamental do projeto de funcionamento da cidade. O eixo estrutural do município deve ser projetado para que o cidadão obtenha o maior índice de mobilidade possível: PlanMob é uma contribuição do Ministério das Cidades para estimular e orientar os municípios no processo de elaboração dos Planos Diretores de Transporte e da Mobilidade, obrigatórios para as cidades com mais de 500 mil habitantes, fundamental para as com mais de 100 mil habitantes e importantíssimo para todos os municípios brasileiros. (PLANMOB, 2007, p. 5) Renato Boareto, diretor de Mobilidade Urbana e do Departamento de Mobilidade do Ministério, responsável pela elaboração do documento PLANMOB (2007), esclarece as diretrizes: O compromisso do Governo Federal com a construção de um país para todos, tendo o direito à mobilidade como meio de se atingir o direito à cidade. O primeiro afirma o compromisso do Governo Federal com a construção de um país para todos, tendo o direito a mobilidade como meio de se atingir o direito à cidade. O segundo demonstra a preocupação com as 29 Lei Federal 10.257 de 10 de julho de 2001. 99 gerações futuras e com a qualidade de vida nas cidades. O terceiro traduz a busca pela construção da democracia política, econômica e social. E o quarto complemento se refere ao princípio da equidade no uso do espaço público A importância estratégica desta nova abordagem é tanta, que o Ministério das Cidades decidiu avançar na obrigação legal e incentivar a elaboração do PlanMob por todas as cidades com mais de 100 mil habitantes e as situadas em regiões metropolitanas e em regiões de desenvolvimento integrado. (PLANMOB, 2007, p. 15) A Lei nº 12.587, da Mobilidade Urbana, estipulou até 2015 o prazo para que toda cidade com mais de 20 mil habitantes apresentasse seus projetos. Já para as cidades maiores que 100 mil habitantes, ficou regulamentada que, para que seus projetos entrassem em programas de financiamento, seria necessária a apresentação do plano de Mobilidade Urbana. Atualmente, a cidade de qualquer tamanho que não tem projetos de mobilidade urbana não consegue recursos para a área. O papel do transporte no planejamento das cidades é estrutural, uma vez que somente o transporte público de massa é considerado democrático em relação à ocupação do espaço de circulação e compartilhamento das vias. 6.3 O MODELO DO ESPAÇO COMPARTILHADO O desenho urbano deve ser pensado – como no exemplo do espaço compartilhado do urbanista Hans Monderman (Delaqua, 2012) aplicado na Holanda– integrando a estrutura do transporte público de massa aos carros e à atividade humana. A caminhabilidade beneficiará a segurança do indivíduo, e o uso e a ocupação do solo projetarão o desenvolvimento do município e beneficiarão o transporte de forma equilibrada: O modelo do “espaço compartilhado” (“Shared Space”) planejado por Hans Mondeman aposta numa mudança no10 0 desenho urbano que procura integrar o tráfego e as atividades humanas e não ser isoladas a partir daquele, como geralmente acontece. O projeto do “Espaço Compartilhado” nasceu em 2004 e foi financiado em parte pela União Europeia, para ser implantado na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Holanda e Inglaterra. (Delaqua, 2012, p.1) O espaço compartilhado enfatiza a equivalência entre o veículo motorizado e o pedestre, o carro deixa de ter prioridade no espaço e passa ter a mesma prioridade que todos os outros usuários da rua, estejam eles a pé, de bicicleta ou motorizados. A retirada do sinal de trânsito dá ao motorista uma responsabilidade em verificar o entorno e negociar com os outros usuários a sua posição na rua. Um dos trabalhos emblemáticos de Monderman é a transformação de uma junção de cinco ruas em Oosterwolde (Holanda) em uma praça pública, onde circulam tranquilamente pedestres, ciclistas e condutores. O pavimento vermelho é uma característica de todos os desenhos e destaca os limites do “Espaço Compartilhado”. A filosofia por trás desse conceito expressa a crença na convicção de que um espaço livre de regulações encoraja um comportamento responsável por parte de cada usuário. Em consequência, pode promover uma maior segurança e qualidade urbana no lugar do que com a sinalização convencional, onde antes apenas circulavam dezenas de automóveis em uma praça pública, faixas de pedestres com sinais de trânsito impõem a ordem do trânsito. O desenho urbano é restruturado, e ciclistas, pedestres e motoristas passam a circular tranquilamente. O revestimento em cor vermelha no piso destaca os limites do “espaço compartilhado”. Sem sinalização de travessia em um ponto específico, ao adentrarem no pavimento diferenciado os motoristas diminuem a velocidade e passam a negociar a ordem de passagem 10 1 7 CONCLUSÃO O crescimento desordenado das cidades é um dos principais problemas do Brasil, e soluções sustentáveis de sistema de transporte são discussões fundamentais para a melhoria da mobilidade nas cidades brasileiras. Já é evidente que uma cidade baseada em transporte individual é inviável e que medidas de compartilhamento de vias e transportes inteligentes são as discussões que devemos provocar em busca do planejamento sustentável. A falta de investimentos em modais de alta capacidade e a sobrecarga nos sistemas de ônibus provocam a rede clandestina de lotações e sistemas de vans ilegais, ou muitas vezes a compra de um carro velho que vai sobrecarregar ainda mais o sistema viário. As cidades precisam de redes de transportes, iniciando pelas calçadas com inclinações eficientes para idosos e deficientes, pavimentação segura e paisagem agradável, sistemas de ciclovias e praças de uso compartilhado com sinalização eficiente. Uma questão que deve ser levada em consideração é a estrutura que a cidade deve investir no desenho urbano para que torne atrativa a caminhabilidade: tornar as áreas centrais e as áreas ao redor da estação atrativas e confortáveis é a forma que o município tem de adensar áreas prioritarias para investimento de redes de água, luz, internet e outras facilidades necessárias ao desenvolviemnto sustentável. O planejamento de ciclovias, calçadas, praças, ruas iluminadas e atrativos durante as caminhadas irá incentivar o usuário do transporte individual a optar pelo transporte publico. O planejamento sistêmico é a forma mais completa de se pensar a gestão de uma cidade. A complexidade de seus fluxos devem ser analisados de forma a envolver o urbanismo e o desenvolvimeto econômico do município, prevendo a integração de todos os modais disponíveis , incluindo pontos de maior densidade e planejando a inserção de edificações abandonadas para a revitalização da cidade e o seu desenvolvimento. Quanto maior for o número de viagens que o cidadão fizer, maior será o índice de mobilidade do município. A chegada dos carros compartilhados, das bicicletas elétricas, dos patinetes e 10 2 de vários outros transportes que inovam a maneira de se deslocar por São Paulo, trouxeram um debate muito importante sobre o papel deles dentro da capital. Aos poucos, o Estado vai entendendo qual a sua responsabilidade dentro dessa logística. O poder público deve se preparar para o futuro com tecnologias que ofereçam serviços simples e de custo reduzido para os cidadãos. Para os entrevistados que tocaram no assunto de mobilidade e urbanismo, o sucesso da mobilidade depende de parcerias público-privadas que devem ser estabelecidas com o objetivo de fornecer e gerenciar informações de maneira regulada. 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALFELD, L. E. System Dynamics. Vol 1: Urban Dynamics, Encyclopedia of Life Support System (EOLOSS). S. l.: s. n., 1975. ALOUCHE, P.L. VLT: um transporte moderno, sustentável e urbanisticamente correto para as cidades brasileiras. Anais da 14ª Semana de Tecnologia Metroferroviária. S. l.: 2008. ARAÚJO, K.; ANDRADE, M. “Análise de desempenho de um corredor BRT sob a ótica da velocidade operacional via redes de petri coloridas”, em Revista Produção Online. Florianópolis, SC, v. 18, n. 3, p. 938-962, 2018. Antico, C. (2003). Onde morar e trabalhar na Região Metropolitana de São Paulo. Tese (Doutorado) –. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 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Se especializando em Economia Urbana e Gestão Pública pela PUC-SP. Atualmente é arquiteto da Pró-Reitoria de Planejamento da Universidade Federal de São Paulo. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Planejamento Urbano e Políticas Públicas de Mobilidade. Enfoque: Através destas informações, eu busquei perguntar sobre assuntos relacionados a visão do urbanista em relação ao que ele pensa sobre o encaixe que bicicletas e patinetes podem ter em reação ao espaço que São Paulo tem. 112 Fonte: Urbanista Lucian de Paula Sugestão de Perguntas: A cidade está preparada para os novos meios de locomoção que estão chegando? Em uma cidade tão grande como São Paulo, as bikes e patinetes podem concorrer com transportes mais rápidos de que forma? As ciclofaixas em São Paulo estão em um bom estado? No que elas podem melhorar? A cidade comporta uma só via exclusiva para patinetes? Qual meio de locomoção você acha mais atraente no quesito rapidez? Você acha que bikes e patinetes podem ser um impulso para temas se ter menos trânsito na cidade? Você acha que vai demorar quanto tempo para que bicicletas e patinetes caiam no gosto popular? 9.1.1.2 Pauta Fonte 2 – Gabriella Stella Retranca: Mobilidade Urbana Data: 18/09/2019 Horário: 12:00 Horas Pauteiro: Gabriel Guimarães Repórter: Gabriel Guimarães Tema: Desafios dos novos meios de locomoção na cidade de São Paulo Histórico: A Entrevistada Gabriella Stella nasceu no dia 5 de novembro de 1991, é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Foi colaboradora nas revistas TPM, Claudia, Marie Claire, Cult, e Guia Quatro Rodas. 113 Enfoque: Através destas informações, eu busquei perguntar sobre assuntos relacionados a visão com olhar de periódico que ela tem por ter traçado sua carreira em revistas e em relação ao que ele pensa sobre o encaixe esses novos meios de locomoção podem ter com a cidade de São Paulo. Fonte: Jornalista Gabriella Stella Sugestão de Perguntas: A Mobilidade Urbana em São Paulo é boa? O que você acha que pode melhorar Na mobilidade Urbana? Você aprovou os novos meios de locomoção que estão hegando? Qual destes, bicicleta ou patinete, é mais útil? No quanto São Paulo pretende evoluir para termos um uso total deste meio de locomoção? Você acha importante leis para este transporte? Essas novas tecnologias são positivas para a diminuição do número de carros De que forma as bikes e patinete podem competir com transportes considerados tradicionais? 9.1.1.3 Pauta 3 - Marco Pagetti Retranca: Mobilidade Urbana Data: 1/10/2019 Horário: 19:30 Pauteiro: Gabriel Guimarães Repórter: Gabriel Guimarães 114 Tema: Desafios dos novos meios de locomoção na cidade de São Paulo Histórico: O Entrevistado Marco Pagetti é Jornalista, Locutor e Mestre de Cerimônias. Atua na área desde 2006 realizando diversos trabalhos em Rádio e TV, tendo passado por diversas áreas. No momento é apresentador de telejornais na VTV, afiliada do SBT. Enfoque: Através destas informações, eu busquei perguntar sobre assuntos relacionados a visão do jornalista em relação ao audiovisual que é seu forte com o que a mobilidade urbana em São Paulo ainda pode evoluir. Fonte: Jornalista Marco Pagetti Sugestão de Perguntas: São Paulo está preparada para esses novos meios de locomoção que foram introduzidos na sociedade? As leis para bikes e patinetes serão mais resistentes ao poder público? As ciclofaixas podem ser divididas tanto para bikes como para patinetes? Quais equipamentos seriam ideais para evitar acidentes? O estado de São Paulo está recebendo bem esses novos meios de locomoção? Quais estabelecimentos poderiam servir de parceiros e serviriam de terminal para esses transportes? Vocês acham que esses aplicativos de transporte estão ajudando as pessoas e praticar mais atividade física? Um estado do tamanho de São Paulo tem espaço para novos meios de locomoção? Áreas residenciais precisam de quais tipos de ajustes para também serem também lugares que a população utiliza bikes e patinetes? 9.1.1.3 Pauta 4 – Renan Fiuza Retranca: Mobilidade 115 Urbana Data: 6/10/2019 Horário: 13:00 Horas Pauteiro: Gabriel Guimarães Repórter: Gabriel Guimarães Tema: Desafios dos novos meios de locomoção na cidade de São Paulo Histórico: O Entrevistado Renan Fiuza é funcionário da TV Tribuna afiliada da Rede Globo Enfoque: Através destas informações, eu busquei perguntar sobre assuntos relacionados a visão do jornalista a respeito do que ele pensa sobre os novos meios de locomoção e sabendo que ele conhece sobre assuntos buscando dados sobre o tema e como eles podem somar para saber o quão eles podem ser importantes para a cidade. Fonte: Renan Fiuza Sugestão de Perguntas: A cidade está preparadapara os novos meios de locomoção que estão chegando? Em uma cidade tão grande como São Paulo, as bikes e patinetes podem concorrer com transportes mais rápidos de que forma? As ciclofaixas em São Paulo estão em um bom estado? No que elas podem melhorar? A cidade comporta uma só via exclusiva para patinetes? Qual meio de locomoção você acha mais atraente no quesito rapidez? Você acha que bikes e patinetes podem ser um impulso para temas se ter menos trânsito na cidade? Você acha que vai demorar quanto tempo para que bicicletas e patinetes 116 caiam no gosto popular? 9.1.1.4 Pauta 5 – Matheus TeixeiraData: 20/10/2019 Horário: 19:00 Horas Pauteiro: Gabriel Guimarães Repórter: Gabriel Guimarães Tema: Desafios dos novos meios de locomoção na cidade de São Paulo Histórico: O Jornalista Matheus Teixeira é Mestrando em Mídia e Tecnologia pela Unesp e pesquisador do Grupo de Pesquisa Periódicos de acesso aberto, comunicação científica e escrita jornalística (Universidade Federal do Tocantins). Especialista em Comunicação Empresarial e Governamental, e bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Atualmente trabalha na Rede Bandeirantes. Enfoque: Através destas informações, eu busquei perguntar sobre assuntos relacionados a visão do jornalista em relação a como ele utiliza estes meios de locomoção e como a sociedade deve se comportar com esta novidade. Fonte: Jornalista Matheus Teixeira Sugestão de Perguntas: Qual o ponto fraco na sua opinião a respeito das bikes e bicicletas? Quais são os equipamentos essências para uso destes meios de locomoção? Qual código de trânsitos as bicicletas usam para seguir um padrão? Quais dicas você dá para os ciclistas e quem usa patinete que estão iniciando? Porque você escolheu a bicicleta como meio de locomoção para ir trabalhar? 117 As regras para patinetes estão sendo regulamentadas, quais são as principais leis? Qual a percepção que você tem sobre os patinetes? 9.2 ENTREVISTAS 9.2.1 Entrevista 1 - Lucian de Paula membro da Camêra Tématica de Bicicleta de São Paulo Gabriel: A cidade está preparada para os novos meios de locomoção que estão chegando? Lucian: Não há uma preparação específica, mas isso não significa que eles não possam ser utilizados desde já. Toda a cidade está sempre em evolução constante. Há necessidade de melhoria para pedestres, bicicletas, ônibus, etc. mas eles podem operar hoje. Com patinetes é a mesma coisa. Gabriel: Em uma cidade tão grande como São Paulo, as bikes e patinetes podem concorrer com transportes mais rápidos de que forma? Lucian: Claro que sim. Porque as bicicletas e patinetes já são mais rápidos. Em São Paulo já tivemos 14 edições do Desafio Intermodal, onde várias equipes saem da Berrini rumo à prefeitura de São Paulo num dia útil com saída às 6 da tarde. A bicicleta ganhou praticamente todas as edições (já perdeu para o Helicóptero, mas também já ganhou do Helicóptero). O carro é sempre um dos piores tempos. Até a caminhada é mais viável. A capacidade de aceleração não se traduz num meio de transporte mais rápido, apenas mais letal em caso de colisão. 118 Gabriel: As ciclofaixas em São Paulo estão em um bom estado? Lucian: Primeiro é preciso deixar claro que qualquer ciclofaixa, por pior que seja, é melhor do que andar na rua disputando espaço com carros. O principal fator de segurança que a ciclofaixa oferece é a delimitação do espaço. Não é o tachão que está protegendo, é a segregação. As ciclofaixas da cidade apresentam variados estados de conservação, mas nunca receberam manutenção nestes últimos 3 anos de gestão Dória/Covas. Agora teve início um programa de manutenção que deve refazer mais de metade das ciclovias. Gabriel: No que elas podem melhorar? Lucian: As ciclofaixas existentes precisam melhorar na largura. Foram feitas de maneira tímida, com o mínimo viável, de modo a retirar o mínimo possível de espaço dos automóveis. Mas as ciclovias são como calçadas, elas são passeio público. É necessária largura para que as pessoas possam se ultrapassar tranquilamente, e é necessário espaço para que se possa andar lado a lado com alguém, mantendo uma conversa. O sistema como um todo precisa melhorar em termos de dar continuidade à implantação e fazer a conexão de todos os trechos existentes. Com as dimensões de São Paulo é necessário melhorar simplesmente expandindo a malha, independente da forma que for feita. Melhorias podem vir depois do uso, mas é urgente simplesmente expandir e alcançar novos lugares. Gabriel: A cidade comporta uma só via exclusiva para patinetes? Lucian: A cidade comporta, nós só precisamos definir o uso do espaço. Mas não haveria motivo para uma via exclusiva para patinetes. O trânsito urbano tem que ser de baixa velocidade para ser receptivo e seguro para todos. Nos 119 locais com maiores velocidades (e "maior", dentro de uma cidade, deveria ser 40km/h) devem existir ciclovias para a proteção dos usuários. Patinetes e bicicletas são suficientemente próximos que podem perfeitamente dividir a infraestrutura de segurança, não há motivo para uma via segregada exclusivamente para patinetes. Gabriel: Qual meio de locomoção você acha mais atraente no quesito rapidez? Lucian: Indiscutivelmente a bicicleta para a maioria dos deslocamentos. Os dados da pesquisa Origem e Destino 2017 mostram que, dos deslocamentos motorizados privados (carros, motos, táxis, uber, escolares e fretados) 15% são de menos de 1km, 50% são de menos de 3,5km e 70% das viagens são de menos de 7km. Distâncias perfeitamente caminháveis ou cicláveis. E a bicicleta é consistentemente mais rápida e prática do que o automóvel. Para deslocamentos mais longos o metrô é mais atraente, mas ele conecta partes específicas da cidade. Gabriel: Você acha que bikes e patinetes podem ser um impulso para temas se ter menos trânsito na cidade? Lucian: Já são. Gabriel: Você acha que vai demorar quanto tempo para que bicicletas e patinetes caiam no gosto popular? Lucian: Bicicletas já fazem 200.000 viagens por dia em São Paulo. A ciclofaixa de lazer atrai 100.000 pessoas todos os domingos para andar de bicicleta. Os parques ficam cheios de pessoas pedalando. O gosto já existe. Faltam condições seguras para que o grosso da população possa usar a bicicleta para as atividades cotidianas, simplesmente porque é um modal extremamente prático. Falta a infraestrutura deixar de ser hostil 120 9.2.2 Entrevista 2 Jornalista e escritora Gabriella Stella Gabriel: A Mobilidade Urbana em São Paulo é boa? Gabriela: Se for comparar com outras cidades de outros países, acho a mobilidade complicada, mas se tratando de Brasil e das longas distâncias, acho que ela se desenvolve bem no meio caótico e desfavorável geograficamente. Gabriel: O que você acha que pode melhorar Na mobilidade Urbana? Gabriela: São Paulo foi pensada para carros, onde o espaço que resta fica com os outros modelos de deslocamento. Uma maneira de melhorar a cidade e pensar na visão do pedestre, tanto para o ir e vir, como para o viver comunitário, o metrô precisa ser ampliado de todas as pontas, e maneiras colaborativas de mobilidade precisam ter espaço de desenvolvimento. Gabriel: Você aprovou os novos meios de locomoção que estão chegando? Gabriela: Os novos meios de locomoção como patins e bicicletas? Acho bacana, mas só posso considerar como mobilidade urbana no momento em que saírem dos bairros elitizados e forem para todas as camadas da cidade, afinal, são Paulo não é apenas Pinheiros e o entorno da paulista. Gabriel: Qual destes, bicicleta ou patinete, é mais útil? 121 Gabriela: Acho o patinete mais útil pela leveza, as bicicletas são mais fáceis de desregular e sempre pego algumas mais pesadas que o normal. Gabriel: No quanto SP pretende evoluir para termos um uso total deste meio de locomoção? Gabriela: Não vejo a cidade querendo ampliar o uso desses veículos, justamente por não pensarem no pedestre, nem fora do ambiente elitizado da cidade. Gabriel: Você acha importante leis para este transporte? Gabriela: Acho importante alguma regulamentação de segurança e ações públicas para conscientização das pessoas no seu uso cotidiano. Gabriel: Essas novas tecnologias são positivas para a diminuição do número de carros Gabriela: A penas são efetivas para diminuição de carros nos bairros ricos da cidade, como faria Lima, Pinheiros,Berrini e paulista, fora isso, a cidade continua com trânsito caótico e transporte público desumano. Gabriel: De que forma as bikes e patinete podem competir com transportes considerados tradicionais? Gabriela: As melhores formas de fazer esses transportes competiram de verdade para mobilidade é aumentando o alcance deles fazendo com que estejam em todas as pontas e disponibilidade da cidade. 122 9.2.3 Entrevista 3 – Jornalista Marco Pagetti Gabriel: São Paulo está preparada para esses novos meios de locomoção que foram introduzidos na sociedade? Marco: Acredito que não. Uma cidade como São Paulo precisa de infraestrutura para comportar tantos novos meios de locomoção. Porém, só se faz necessário a partir do uso, então, creio que as adequações serão feitas. Gabriel: As leis para bikes e patinetes serão mais resistentes ao poder público? Marco: Pelo contrário, deverão ser resistentes com ajuda do poder público. Gabriel: As ciclofaixas podem ser divididas tanto para bikes como para patinetes? Marco: Acredito que tendo regras e tendo um maior respeito acho que não teria problema Gabriel: Quais equipamentos seriam ideais para evitar acidentes? Marco: O ideal é que, tanto bike quanto patinete, tosos tenham sinalizações de segurança, e o usuário use equipamentos próprios, como capacete Gabriel: O estado de São Paulo está recebendo bem esses novos meios de locomoção? 123 Marco: Sim, a evolução tecnológica rompe as barreiras burocráticas. Gabriel: Quais estabelecimentos poderiam servir de parceiros e serviriam de terminal para esses transportes? Marco: Acredito que terminais rodoviários, grandes shoppings, hipermercados, ou qualquer lugar que disponha de uma vaga dedicada para ser exclusiva para a entrega e retirada desses transportes. Gabriel: Vocês acham que esses aplicativos de transporte estão ajudando as pessoas e praticar mais atividade física? Marco: Não. Pelo contrário, eles automatizam algo que exigiria esforço físico, como pedalar ou "remar" no patinete. Gabriel: Um estado do tamanho de São Paulo tem espaço para novos meios de locomoção? Marco: Sim. Todo tipo de facilidade em transporte num estado com população como a de São Paulo é bem vida. Gabriel: Áreas residenciais precisam de quais tipos de ajustes para também serem também lugares que a população utiliza bikes e patinetes? Marco: Acredito que asfaltamento e rampas de acesso já falicitariam a mobilidade 124 9.2.4 Entrevista 4 – Jornalista Renan Fiuza Gabriel: Quantos quilômetros de ciclovias a cidade de São Paulo possui? Renan: São Paulo Já conta com mais de 140 quilômetros de ciclovias implementadas pela Prefeitura entre junho e 10 dezembro deste ano. Somados aos 63 quilômetros de vias exclusivas para bicicletas que já existiam, o município conta agora com 204 quilômetros em operação. Gabriel: E quais são as condições dessas ciclovias em relação a segurança, integração de ciclovias de um bairro para o outro? Renan: São Paulo possui uma boa malha de ciclovias. Vejo que, em alguns pontos, elas estão mais cuidadas e seguras de que em outros. Principalmente em bairros nobres e comerciais a estrutura é melhor. Gabriel: Poucas linhas de metrô e trem possuem bicicletário ou são integradas com as ciclovias. Como fazer com que as linhas de trem e metrô já existentes e as que estão em construção sejam integradas de várias maneiras com as bicicletas? Renan: Acredito que um sistema integrado e havendo uma motivação por parte de quem cuida do metrô eles podem conviver e se integrar nos próximos anos. Gabriel: Pensando nos terminais de ônibus e nas linhas de trem e metrô que possuem bicicletário, como fazer uma melhor integração onde o passageiro 125 possa levar a bike dentro do ônibus, pegar o trem ou metrô e usar a ciclovia? Renan: Incentivar o público por meio de campanhas pode ser uma opção. Desde que haja estrutura para a utilização das bikes. Gabriel: Levando em consideração a bicicleta como um novo meio de transporte mais barato e prático, como fazer com ele seja seguro em meio ao caos que é o trânsito de São Paulo? Renan: Infelizmente vivemos em uma cidade extremamente perigosa e riscos de roubos sempre assombrarão que anda de bicicleta, o que resta é se prevenir e andar em grupo e torcer por uma política de segurança mais forte. Gabriel: Tendo em vista o crescente uso da bicicleta como meio de transporte e aliado ao sucessivo uso dos aplicativos, o que dizer sobre as empresas que alugam bikes e a forma como elas atuam em São Paulo? Renan: Acho que deveriam ter mais pontos de parada e crescer o número de lugares em que esses aplicativos atuam. Gabriel: Considerando o alto crescimento dos transportes alternativos como patinete e skate, como fazer com que as ciclovias que foram, inicialmente, projetadas para o uso das bikes, possam dar conta dessa alta demanda das ciclovias, além das pessoas que utilizam as ciclovias para a prática de corrida? Renan: A tecnologia terá sempre espaço. Agora há a necessidade de todos se adaptarem às novas formas de meios de locomoção existentes. 9.2.5 Entrevista 5 – Jornalista Matheus Teixeira 126 Gabriel: Qual o ponto fraco na sua opinião a respeito das bikes e bicicletas? Matheus: Risco e falta de fiscalização. A ausência de regulamentação de veículos compartilhados, como patinetes elétricos e bicicletas, pode comprometer a segurança do paulistano. Gabriel: Quais são os equipamentos essências para uso destes meios de locomoção? Matheus: os equipamentos devem ter buzina, espelho, sinalização. Entretanto, não exigem que o ciclista use capacete. Não há regras para equipamentos para o uso do patinete elétrico só a do capacete . Gabriel: Qual código de trânsitos as bicicletas usam para seguir um padrão? Matheus: No caso das bicicletas, o usuário pode contar com o Código de Trânsito Brasileiro. Gabriel: Quais dicas você dá para os ciclistas e quem usa patinete que estão iniciando? Matheus: O usuário precisa ter uma percepção de risco e saber se vai conseguir dominar todas situações, como uma batida ou um desvio. Além disso, é necessário que se tenha um plano de trajeto e não improvisar, porque isso gera imprevistos. Gabriel: Porque você escolheu a bicicleta como meio de locomoção para ir trabalhar? Matheus: Nem sempre há ônibus disponível na minha região. Quando vejo que vai demorar a passar, pego a bicicleta e vou direto. No caminho de volta, faço a mesma coisa. 127 Gabriel: As regras para patinetes estão sendo regulamentadas, quais são as principais leis? Matheus: Ficou estabelecido o uso obrigatório de capacete. Além disso, a norma proíbe circulação desses veículos nas calçadas. Eles podem andar apenas nas ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas ou em ruas com limite de velocidade de até 40 km/h. Gabriel: Qual a percepção que você tem sobre os patinetes? Matheus: As pessoas devem compreender que, principalmente, os patinetes elétricos não são brinquedos. Agora, você tem esses veículos entrando no espaço comum das pessoas, públicos. É necessário ter a consciência de que estão se deslocando junto a outras pessoas, veículos e ciclistas. 128 10 ANEXOS 10.1 DADOS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO Tabela 2 – Dados selecionados dos municípios da Grande São Paulo 129 130 Fonte: RMSP30 30 Disponível em Acesso em 07 out 2020. 1 INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 2 APURAÇÃO DE DADOS 2.1 O QUE É MOBILIDADE URBANA? 3. CIDADE, ACESSIBILIDADE E ESTRUTURA URBANA 3.1 BENEFÍCIOS DE AGLOMERAÇÃO 3.1.1 Economias de escala externas às organizações 3.1.2 Compartilhamentode Recursos 3.1.3 Diversificação 3.1.4 Aprendizado 3.1.5 Economias de escala internas às organizações 3.1.6 Desenvolvimento das Cidades 3.1.7 Cidade, Acessibilidade e Decisões de Localização 3.1.8 Estrutura Espacial e Forma Urbana 3.1.9 Transporte Sustentável 3.1.10 da Estrutura Espacial Urbana 3.1.11 Escala 3.1.12 Arranjo de densidades 3.1.13 Arranjo de atividades 3.1.14 Estrutura Espacial para um Transporte Sustentável 3.2 MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL 3.3 MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL NO BRASIL 3.4 MOBILIDADE URBANA: COMO AVALIAR? 3.5 ÍNDICE DE MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL – IMUS 4 A QUESTÃO URBANA E DA MOBILIDADE URBANA EM SÃO PAULO 4.1 DESAFIOS À VISTA: A CRISE DA MOBILIDADE COTIDIANA EM SÃO PAULO 4.2 CRESCIMENTO 4.3 PROBLEMAS E PROPOSTAS NO SÉCULO XXI 4.4 INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE 4.5 REGULAÇÃO DA TERRA NO SÉCULO XXI 4.6 PRINCÍPIOS, DIRETRIZES E OBJETIVOS DA PNMU E OS PLANOS DE MOBILIDADE URBANA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. 4.7 EM DIREÇÃO À DIMENSÃO HUMANA: O PLANO DE MOBILIDADE DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO (PLANMOB/2015) 4.8 EM PROL DA MOBILIDADE ATIVA: OS ESPAÇOS PARA AS BICICLETAS 4.9 BICICLETAS E PATINETES PASSARAM A SER CADA VEZ MAIS UTILIZADAS COMO ALTERNATIVA DE TRANSPORTE 5 A ‘MICROMOBILIDADE’ QUEBRANDO BARREIRAS 5.1 DOS CARROS ÀS PESSOAS: AS RUAS ABERTAS À POPULAÇÃO 5.1 VISANDO A COLETIVIDADE 5.2 A VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO E O CAMINHO PARA REALIZAR MORTES 5.4 CONTRAMÃO 6 UM IDEAL DE MOBILIDADE URBAMA 6.1 CIDADES CAMINHÁVEIS 6.2 A CIDADE PLANEJADA 6.3 O MODELO DO ESPAÇO COMPARTILHADO 7 CONCLUSÃO 9 APÊNDICES 9.1 MOBILIDADE NO DIA A DIA: PAUTA E ENTREVISTAS 9.1.1 Pautas 9.1.1.2 Pauta Fonte 1 – Lucian De Paula Sugestão de Perguntas: 9.1.1.2 Pauta Fonte 2 – Gabriella Stella Sugestão de Perguntas: (1) 9.1.1.3 Pauta 3 - Marco Pagetti Sugestão de Perguntas: (2) 9.1.1.3 Pauta 4 – Renan Fiuza Sugestão de Perguntas: (3) 9.1.1.4 Pauta 5 – Matheus Teixeira Sugestão de Perguntas: (4) 9.2 ENTREVISTAS 9.2.1 Entrevista 1 - Lucian de Paula membro da Camêra Tématica de Bicicleta de São Paulo 9.2.2 Entrevista 2 Jornalista e escritora Gabriella Stella 9.2.3 Entrevista 3 – Jornalista Marco Pagetti 9.2.4 Entrevista 4 – Jornalista Renan Fiuza 9.2.5 Entrevista 5 – Jornalista Matheus Teixeira 10 ANEXOS 10.1 DADOS DOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULOchamado a atenção, e reflete um movimento global: patinetes elétricos e bicicletas compartilhas. Com o intuito de contextualizar esse novo desafio da mobilidade urbana em São Paulo, assim como destacar o seu histórico neste desafio, fizemos este breve artigo sobre o assunto. Falaremos um pouco sobre o histórico de mobilidade urbana da cidade, assim como o contexto em que estas novas solu ções surgiram. 14 CAPÍTULO 1 2 APURAÇÃO DE DADOS Antes de dar início ao tema principal deste trabalho, vamos focar rapidamente nos números apurados em relação a transporte e mobilidade em São Paulo. Em relação aos ônibus da capital paulista, os moradores contam com um sistema operado por 17 consórcios que são formados por empresas e cooperativas. Dentro disso, 14 mil veículos funcionam e há mais de 1.300 linhas em operação atualmente. Por dia, quase 2 milhões de pessoas circulam nos terminais urbanos da capital. Segundo dados da Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, aproximadamente 7 milhões de passageiros são transportados por dia, número bastante significativo. Porém, por mais linhas e veículos que existam na capital, o cidadão ainda encontra dificuldades na hora de pegar um ônibus. Diversos fatores estão ligados a isso: falta de manutenção, congestionamento, tarifas altas, difícil acesso para deficientes etc. Voltando o foco para os outros meios de transporte comuns em São Paulo, os carros são o tipo de veículo que mais roda nas vias paulistas. Segundo o IBGE, só em 2016 foram registrados mais de 5 milhões de carros viajando pela capital. Depois deles, estão as motos, motonetas, caminhões, caminhonete, camioneta, utilitário, micro-ônibus e tratores. Os carros, conforme dito, são os veículos que mais ocupam espaço nas vias, um total de 88%. Porém, eles transportam apenas 30% das pessoas na cidade. Ou seja, motoristas que poderiam compartilhar a viagem em um transporte público, preferem viajar sozinhos em seus carros particulares, causando mais caos e congestionamento nas rodovias da cidade. Os ônibus, por exemplo, transportam 40% dos cidadãos, mas ocupam apenas 3% das vias. Estima-se que, em média, o paulistano gasta três horas por dia no congestionamento, levando em conta todos os 15 deslocamentos pela capital. Em 2019 a cidade e São Paulo também conta com quase 500 km de ciclofaixa exclusivas para ciclistas, segundo dados da CET (Companhia de Engenharia e Tráfego). Mas, para conseguir viajar de bicicleta, o cidadão precisa de vagas especiais para esse tipo de transporte, já que não é possível estacionar a bicicleta em qualquer local da cidade como um carro, por exemplo. Por isso, a capital possui cerca de 6.200 vagas em bicicletários públicos, dentre elas, 121 estão instaladas nos terminais de ônibus e nas estacoes do Metrô e CPTM. Apesar da teoria ser consideravelmente boa, na prática, ciclistas ainda estão entre os índices de maiores acidentes causados no trânsito. Figura 1 – Linhas do Metrô e trens da cidade de São Paulo Fonte: METRÔ EM SP (2012)1 1 Disponível em Acesso em 07 out 2020. 16 É importante mencionar, que o metrô de são paulo é composto por cinco linhas, que seriam: Linha 1 – Azul (Norte-Sul): Essa é a maior entre as linhas do metrô em São Paulo, e vai da Zona Norte até a Zona Sul. Apresenta um total de 23 estações e integração com as linhas amarela, vermelha e verde. É nessa linha que estão algumas das estações mais movimentadas, como a Portuguesa-Tietê e Sé, que faz a integração com a linha 3. Linha 2 – Verde (Avenida Paulista à região Sudeste): Quem deseja conhecer a Avenida Paulista, uma das mais famosas de Sampa, provavelmente vai usar bastante a linha verde. Ela conta com 14 estações da Vila Madalena até a Vila Prudente, na região Sudeste da cidade. Linha 3 – Vermelha (Barra Funda – Itaquera): Essa é a linha Leste-Oeste. Ela é bastante extensa, com 18 estações que vão da Barra Funda (na Zona Oeste) até Itaquera (na Zona Leste). Ela faz integração com a linha amarela e também exibe conexões com as linhas da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Linha 4 – Amarela (Butantã – Luz): A linha 4 vai da estação Luz até o Morumbi e é composta por 10 estações, faltando apenas uma para ser finalizada. Certamente essa é a linha mais moderna da América Latina. Traz a integração com as linhas vermelha e verde, fazendo conexão com a linha 9 da CPTM. Linha 5 – Lilás (Capão Redondo – Largo Treze): Essa linha está em constante expansão e conta, atualmente, com 16 estações. Ela vai de Adolfo Pinheiro até o Capão Redondo, fazendo conexão com a linha 9 da CPTM. Em 2018, segundo dados do Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito de São Paulo), o número de acidentes com ciclistas subiu mais de 9%. No último ano, 393 acidentes envolvendo ciclistas foram registrados. O número de pessoas que transitam de bicicleta cresce ano após ano e, infelizmente, o número de mortes também. Em 2018, 16 ciclistas morreram atropelados de janeiro a setembro. Na maioria dos casos, os acidentes envolvem automóveis. Isso porque, por mais que existam ciclofaixas em diversos pontos da capital, ainda não há uma estrutura totalmente favorável para esse tipo de transporte. Com isso, os cidadãos de bicicleta são obrigados a se 17 arriscar no meio dos carros. Em entrevista realizada com o urbanista Lucian de Paula, a ciclofaixa, por pior estado que se encontrem, é uma opção muito mais viável do que disputar espaço com os carros. ‘’O principal fator de segurança que a ciclofaixa oferece é a delimitação do espaço’’ contou. Para ele, essas vias ainda têm muito no que melhorar, pois foram feitas com investimentos tímidos para não tomar muito espaço dos carros nas ruas da cidade. É necessário, principalmente, que as ciclofaixas melhorem na largura, garantindo a segurança e a facilidade do ciclista. Além disso, ela completou dizendo que ‘’o sistema como um todo precisa melhorar em termos de dar continuidade à implantação e fazer a conexão de todos os trechos existentes. Com as dimensões de São Paulo, é necessário melhorar simplesmente expandindo a malha, independente da forma que for feita. ’’ 2.1 O QUE É MOBILIDADE URBANA? A expressão ‘’mobilidade urbana’’ carrega consigo alguns conceitos importantes a serem ressaltados. Embora pareça ser um conceito simples, ela engloba vários componentes que a influenciam diretamente: idade, posse de carro, renda, tamanho da família fazem parte desse grupo estrutural. Quando se analisa detalhadamente e afundo a mobilidade urbana, considerando os fatores citados, se chega à conclusão de que as crianças e os idosos, por exemplo, se movimentam menos do que pessoas com faixa etária produtiva. Outro dado curioso é que, uma família com menos pessoas se desloca mais do que um grupo familiar com mais integrantes. Isso porque se torna mais difícil dividir certas tarefas entre menos pessoas. Além disso, não é surpresa para ninguém que a posse de carro possui enorme 18 impacto no exercício da mobilidade individual, visto que um motorista com carro próprio se desloca muito mais por vários pontos da cidade. Logo, considerando a faixa econômica, os pobres se movimentam menos do que os ricos. Portanto, é possível concluir que a crise econômica é outro fator que gera problemas na mobilidade urbana de São Paulo. Uma vez que uma sociedade enfrenta cada vez mais desemprego e cada vez mais subempregos, a população viaja menos e pratica menos atividades. Outro índice importante de ressaltar é o aumento nos preços das passagens de ônibus, que já causou inúmeras manifestações entre os paulistanos, como no caso de janeiro de 2019, quando manifestantesse reuniram na Praça do Ciclista na Consolação para protestar contra o aumento da tarifa do transporte público. Esse aumento possui relação direta com a queda do número de passageiros que utilizam esse tipo de transporte público. De acordo com dados da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), o ônibus perdeu 35,6% de usuários pagantes em pouco mais de 20 anos. Consequentemente, com menos pessoas pagando para dividir o custo operacional e quase nenhum subsídio para as empresas controladoras, o valor da tarifa aumenta. Por outro lado, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), entre 2003 e 2008, a sociedade viu o índice de pessoas pobres cair consideravelmente. No início dos anos 2000, muitos acreditavam que, com a ascensão da internet, as pessoas teriam menos necessidade de deslocamentos. Atualmente, existe no mundo, um padrão de ordenameno viário e de mobilidade, que se baseia essencialmente na dependência do veiculo motorizado. Os sistemas que priorizam carros motorizados, propõem um modelo do coleivo em detrimento do individual, formando o esquema do ciclo perverso: 19 Figura 2 – Esquema do Ciclo Perverso Fonte: CNT (2017) e JACOBS (2011) Embora tenha trazido incontáveis facilidades, a conectividade também influenciou no compartilhamento de informações sobre determinados lugares, trânsito, cidades e o espaço social de um modo geral. Com isso, a internet foi capaz de proporcionar um aumento na mobilidade, que foi desencadeada pela melhora na renda brasileira e na facilidade para comprar um carro. 3. CIDADE, ACESSIBILIDADE E ESTRUTURA URBANA 3.1 BENEFÍCIOS DE AGLOMERAÇÃO As interações promovidas no meio urbano levam a ganhos sinérgicos, ou economias de escala, para pessoas e organizações públicas e privadas. Esses ganhos podem ser relacionados ao contato entre diferentes atores, ou a ganhos 20 internos às organizações. 3.1.1 Economias de escala externas às organizações Segundo JACOBS (2000, p. 130), “Um dos maiores trunfos de uma cidade, se não o maior, é formar comunidades com interesses comuns.” As economias de escala externas às organizações são caracterizadas pelos benefícios dos quais as organizações usufruem por estarem próximas umas das outras. Essas economias de escala são o resultado das decisões realizadas por uma grande quantidade de pessoas e empresas buscando seus próprios interesses e acontecem por meio do compartilhamento de recursos, diversificação e aprendizado (FUJITA E THISSE, 2013). Apesar de serem analisados pela ótica das organizações, esses benefícios também podem ser avaliados para o caso de pessoas e contatos sociais. 3.1.2 Compartilhamento de Recursos Um grande número de empresas possibilita uma maior especialização do trabalho com a criação de empresas intermediárias nas cadeias produtivas que permitem a terceirização de serviços (p. ex. contabilidade, limpeza). Isso aumenta a produtividade dos setores finais, possibilitando aumento de salários para a força de trabalho. Esse raciocínio também é válido para mercados consumidores e a viabilização de infraestrutura, serviços públicos e atividades sociais. Por exemplo, é necessária uma cidade consideravelmente grande para a viabilização da operação de uma orquestra. 21 3.1.3 Diversificação Uma grande aglomeração proporciona um maior número de profissionais para as empresas e um maior número de empregos para os profissionais. Com isso, é possível uma melhor compatibilização do posto de trabalho com as competências dos trabalhadores. As pessoas se beneficiam dessa diversidade por poderem escolher as atividades que mais as satisfazem e as empresas se beneficiam por poderem escolher pessoas mais produtivas para as funções. Além disso, o aumento de produtividade das empresas permite que essas paguem salários maiores a esses funcionários. O mesmo raciocínio pode ser aplicado para os mercados consumidores: um grande número de vendedores e compradores viabiliza a comercialização de uma maior diversidade de produtos e serviços. 3.1.4 Aprendizado O compartilhamento de informações aumenta o capital humano do local – tornando o trabalhador mais produtivo – e faz com que diferentes ideias sejam compartilhadas e combinadas facilitando a criação de novas ideias e a inovação. O compartilhamento de informações entre as pessoas pode ser realizado de forma explícita, com informações estruturadas, ou de forma tácita, com a transmissão informal e iterativa de informações não estruturadas. Enquanto a comunicação explícita pode ser realizada pelos atuais meios de telecomunicação, a comunicação tácita requer o contato face-a-face. Por exemplo, os primeiros passos no desenvolvimento de uma nova tecnologia requerem contatos repetidos entre os atores envolvidos para desenvolver uma forma comum de comunicação através de códigos comuns, para descobrir como interpretar informações personalizadas e para torná-las operacionais. Tal 22 processo é facilitado pela proximidade espacial. Além disso, a comunicação face-a-face é muitas vezes a origem de novas ideias, combinando conhecimentos de cada uma das partes que são cruciais para inovações. Atividades de pesquisa e desenvolvimento também exigem longos períodos de troca e discussão, durante os quais o conhecimento é gradualmente estruturado através de tentativas e erros. Essas trocas de ideias são eficazes de fato apenas na forma de encontros face-a-face frequentes2 (Fujita e Thisse, 2013, p. 190, tradução nossa). 3.1.5 Economias de escala internas às organizações As economias de escala internas às organizações são benefícios que decorrem de grandes investimentos voltados para o aumento da eficiência produtiva, o que incentiva a concentração da produção em um pequeno número locais de locais com plantas, instalações ou infraestrutura que permitem alta produtividade. Isso também é válido para a provisão de serviços públicos, como grandes hospitais e universidades. Essas economias de escala só trazem benefício para a organização caso a produtividade provida pela infraestrutura exceda os custos de transporte dos insumos para o local de fabricação e dos produtos para os locais de consumo. Segundo Fujita e Thisse (2013, p. 13, tradução nossa, grifo do autor), “altos custos de transporte promovem a dispersão das fontes, ao passo que baixo custos de transporte promovem sua concentração espacial”3. 2 For example, the initial steps in the development of a new technology require repeated contacts between the actors involved to develop a mutual way of communication through some common codes, to figure out how to interpret personalized information, and to make them operational. Such a process is facilitated by spatial proximity. Moreover, face- to-face communications are often the origin of new ideas, combining insights from each party that are crucial for innovations. Research and development also requires long periods of exchange and discussion, during which knowledge is gradually structured through repeated trial and error. Such exchanges of ideas are truly effective only in the form of frequent face-to-face meetings” (Fujita e Thisse, 2013, p. 190). 3 “high transport costs promote the scattering of sources, whereas low transport costs foster their spatial concentration” (Fujita e Thisse, 2013, p.13) 23 Em termos mais concretos, antes da Revolução Industrial, na indústria siderúrgica [na Europa], era possível para uma empresa ter uma posição competitiva com um tamanho muito pequeno. O pequeno tamanho do mercado, devido aos altos custos de transporte, tornava ainda mais fácil a operação em uma escala muito pequena. As coisas mudaram depois da primeira metadedo século XIX. O tamanho mínimo de uma empresa cresceu por causa do uso de equipamentos cada vez mais especializados, que, em contrapartida, requerem muito mais trabalhadores. Este crescimento no tamanho das empresas foi sustentado pela expansão do mercado, que por sua vez foi possível por causa da forte queda dos custos de transporte. Em resumo, as interações entre estas mudanças levaram a uma redução gradual do número de empresas, cujo tamanho aumentou4 (Fujita e Thisse, 2013, p. 13, tradução nossa). 3.1.6 Desenvolvimento das Cidades As primeiras aglomerações humanas surgiram há 7.000 anos, quando desenvolvimentos tecnológicos começaram a gerar produção agrícola excedente, liberando uma parcela da população para outras atividades. Essas pessoas passaram a se especializar em outras atividades e habitar pequenos assentamentos humanos, que permitiam ganhos de escala em atividades econômicas e na provisão de serviços públicos (Fugita e Thisse, 2013). 4 “In more concrete terms, before the Industrial Revolution, in the steel industry it was possible for a firm to have a competitive position with a very small size. The narrowness of the market, due to high transport costs, made it even easier to operate at a very low scale. Things changed after the first half of the nineteenth century. The minimal size of a firm grew because of the increasingly specialized equipment, which then required many more workers. This growth in the size of firms was sustained by the expansion of market areas, which in turn was possible because of the strong decline in transport costs. In brief, the interactions between these changes led to a gradual reduction in the number of firms, whose size increased” (Fujita e Thisse, 2013, p. 13). 24 Evidências históricas mostram que a existência de cidades aumentou a eficiência do comércio, indústria e governo, elevando-a a um nível inatingível com uma população dispersa. O exemplo de Adam Smith de agricultores nas montanhas escocesas, que trabalhavam em um grande número de atividades diferentes para sobreviver, fornece uma ilustração da validade desta afirmação. Uma vez que o impacto de retornos crescentes é reconhecido, as cidades podem ser vistas como “multiplicadores econômicos", ampliando o impacto das decisões individuais5 (Fugita e Thisse, 2013, tradução nossa). O crescimento das primeiras cidades foi baseado nas atividades comerciais em locais com grande fluxo de pessoas - como entroncamento de vias de transporte terrestre, portos – ou nos quais ocorriam encontros sociais religiosos ou da elite, que buscavam o conforto provido pelo meio urbano e maior interação com seus pares. Esses locais forneciam um grande mercado para a compra e venda de produtos agrícolas e manufaturados. Com o tempo, atividades complementares – como bancos, seguradoras e transportadoras - passavam a se desenvolver nessas cidades (O’SULLIVAN, 2012; FUJITA E THISSE, 2013). Após a revolução industrial, as indústrias passaram ser um novo indutor de crescimento das cidades. Elas podiam se localizar próximas às matérias-primas, ao seu mercado consumidor, a um terminal de transportes ou no meio do caminho, dependendo de onde os custos de transporte seriam minimizados (Zipf, 1949 apud Glaeser e Gottliebe,2009). As cidades industriais também se aproveitavam do compartilhamento de atividades complementares para a redução de custos de produção. Nesse período, enquanto detentores de meio de produção e operários se localizavam 5 “Historical evidence shows that the existence of cities has increased the efficiency of trade, industry, and government, raising it to a level unattainable with a scattered population. Adam Smith’s example of farmers in the Scottish Highlands, who had to work at a large number of different activities to survive, provides a contrary illustration of the validity of this assertion. Once the impact of increasing returns is recognized, cities may be “viewed as economic multipliers” magnifying individual decisions” (Fugita e Thisse, 2013).s 25 em cidades industriais, grandes centros urbanos e políticos atraíam detentores de capital que, assim como as elites da sociedade pré-industrial, buscavam o conforto e a vida social provida pelas grandes cidades (Fujita e Thisse, 2013). Na sociedade pós-industrial, a globalização e a facilidade de transporte e comunicações separaram atividades de concepção de produtos e produção em massa. Existem concomitantemente cidades de caráter comercial e influência local, cidades industriais vinculadas a sistemas de produção interurbanos ou internacionais, e grandes metrópoles nacionais ou globais, onde ocorrem grande parte das decisões gerenciais e inovação tecnológica. Além disso, a concentração populacional das grandes cidades aumenta a viabilidade de uma série de serviços locais, aumentando as opções de consumo da população e gerando uma grande quantidade de empregos no setor de serviços. 3.1.7 Cidade, Acessibilidade e Decisões de Localização A acessibilidade entre agentes necessária para as interações sociais e econômicas pode ser considerada uma função de três componentes: proximidade das atividades, descrita pela alocação espacial das atividades; pela mobilidade, deslocamento realizado pelos agentes; e pela conectividade permitida pela telecomunicação6 entre os agentes. Os parâmetros de mobilidade e proximidade interagem de forma antagônica. Conforme a proximidade entre atividades é reduzida, a necessidade de deslocamento aumenta. Já o parâmetro de conectividade permite um distanciamento de atividades sem a necessidade de deslocamento. O desenvolvimento das telecomunicações possibilitou o distanciamento das cadeias produtivas e o fenômeno da globalização: enquanto atividades de 6 Interação via meios eletrônicos, como a internet (Levine et al, 2012). 26 pesquisa e desenvolvimento de produtos são realizadas em grandes metrópoles de nações desenvolvidas, a produção é realizada em países com menores custos de produção (FUJITA E THISSE, 2013). Porém, o contato físico ainda é de extrema importância para as interações humanas devido à facilidade de transmissão de informações não estruturadas e à natureza física das infraestruturas, atividades sociais e de uma grande parte dos produtos e serviços entre empresas e para consumidores finais. A proximidade de atividades apresenta uma série de impactos no nível de sustentabilidade da área urbana. Considerando os mesmos hábitos de deslocamento, a proximidade gera menor custo, impacto ambiental e social dos deslocamentos de forma geral. Quando atividades estão mais próximas, os deslocamentos necessários para as interações são menores, requerendo um menor uso de recursos naturais e tempo da população, redução da poluição gerada por esses deslocamentos e redução dos custos das viagens. Além disso, a proximidade viabiliza a utilização de modais de menor impacto ambiental e social conforme mostra a representação da imagem abaixo. A aproximação de atividades gera uma demanda viável para o transporte coletivo e faz com que os deslocamentos sejam curtos o suficiente para o transporte não motorizado 27 Figura 3 – Comparação entre o espaço viário ocupado por automóveis e ônibus Fonte: Via Trólebus, 20127 Por exemplo, BERTAUD (2004) compara Atlanta e Barcelona: ambas tem populações semelhantes, mas a primeira é muito mais espalhada. Isso resulta em um número irrisório de viagens a pé em Atlanta, enquanto 25% das viagens são feitas a pé em Barcelona. Outros benefícios relacionados à proximidade são: uso mais eficiente da terra urbanizada, redução dos custos de infraestrutura eserviços públicos e aumento da eficiência energética (UNHABITAT, 2013a). No entanto, a proximidade pode gerar efeitos negativos. Considerando os mesmos hábitos de deslocamento, a utilização de automóveis e veículos movidos a combustíveis fósseis em ambientes urbanos densos pode gerar 7 ia Trólebus. Frase de José Serra que diz que “mais linhas de ônibus só vão engarrafar a cidade” irrita Urbanistas. Disponível em: . Acesso em: 07 out 2020. http://viatrolebus.com.br/2012/05/frase-de-jose-serra-que-diz-que-mais-linhas-de-onibus-so-vao-engarrafar-a-cidade-irrita-urbanistas/ http://viatrolebus.com.br/2012/05/frase-de-jose-serra-que-diz-que-mais-linhas-de-onibus-so-vao-engarrafar-a-cidade-irrita-urbanistas/ 28 congestionamentos, que aumentam as emissões de poluentes e gastos de tempo e outros recursos, e concentração de poluição atmosférica impactando negativamente a saúde da população. Outros efeitos negativos relacionados à proximidade de atividades são problemas sociais - ganhos de escala também se aplicam ao crime, diminuição da qualidade ambiental local por falta de áreas verdes e geração de ilhas de calor, e pouco espaço para a realização de atividades (GLAESER, 2011). Buscando mitigar esses efeitos negativos, as pessoas procuram se afastar, aumentando sua necessidade de deslocamento para a realização de interações. Os meios e a infraestrutura de transporte utilizados para os deslocamentos urbanos impõem uma restrição geográfica ao distanciamento das atividades. de transporte moldam nossas comunidades... As conexões que definem cidades sempre implicaram alguma forma de transporte... Em geral, cada novo tipo de transporte bem sucedido passa por três fases. Em primeiro lugar, os avanços tecnológicos permitem a produção em grande escala de uma maneira mais rápida de se mover, como um trem a vapor ou um carro. Em segundo lugar, se necessário, uma nova rede de transporte é construída para acomodar esta nova tecnologia. Em terceiro lugar, as pessoas e as empresas mudam suas localizações geográficas para tirar proveito desta nova modalidade de transporte8 (Glaeser, 2011, p. 167, tradução nossa). As escolhas de localização das pessoas e organizações dentro do tecido urbano são, portanto, determinadas pelas suas preferências no trade-off entre proximidade e mobilidade. A fim de maximizar as possibilidades de interação, os agentes tendem a se 8 Transportation technologies shape our communities, and modern sprawl is the child of the automobile. The connections that define cities have always entailed some form of transportation... Each successful new type of transportation generally goes through three phases. First, technological breakthroughs enable the large- scale production of a faster way to move, such as a steam-powered train or a car. Second, a new transportation network is built, if needed, to accommodate this new technology. Third, people and companies change their geographic locations to take advantage of this new mode of transport” (Glaeser, 2011 p. 167). 29 localizar onde o deslocamento necessário para executar essas interações requer menos esforço, considerando a infraestrutura de transporte disponível e a quantidade de espaço construído que se quer utilizar. Tal medida de esforço no deslocamento inclui custos financeiros, perda de tempo e desconforto. Desse modo, pesquisas indicam qual é o nível de satisfação do paulistano em relação aos diversos aspectos da sua cidade, o que inclui principalmente a questão de transportes; Figura 4 – Demandas de mobilidade em São Paulo Fonte: Pesquisa de qualidade de vida e serviços em SP – Rede Nossa São Paulo e IBOPE, 20169 Modais de transporte com velocidades diferentes facilitam a conexão de áreas mais afastadas geograficamente. Já acidentes geográficos dificultam as conexões entre locais geograficamente próximos. Essa relação também é afetada por diferentes modais de transporte utilizados por grupos de classes sociais e preferências distintas. GLAESER (2007) coloca que, nas cidades norte-americanas, as pessoas pobres são 9 Rede Nossa São Paulo. Dia Mundial Sem Carro - Pesquisa de qualidade de vida e serviços em SP. Disponível em: . Acesso em: 07 out de 2020. 30 atraídas para os centros das cidades enquanto os ricos vão para as periferias (GLAESER, 2007, p.11, tradução nossa). Normalmente pensamos que os custos de transporte são maiores para os ricos do que para os pobres, porque os ricos tem maior custo do tempo já que seus salários são maiores. Afinal, o tempo perdido é um dos elementos mais importantes dos custos de transporte... Essa lógica sugere que os ricos deveriam pagar mais por menores custos de transporte no centro da cidade, no entanto eles não são os maiores pagadores por essas áreas. Há duas explicações para esse fenômeno. Uma é dada por Becker (1965) que argumenta que o maior valor do tempo para o rico pode compensar o fato de que os ricos também quer viver onde a terra é barata, nas bordas da cidade... Uma visão alternativa é que os ricos e os pobres usam tecnologias de transporte diferentes (LeRoy and Sonstelie, 1983). Se os ricos usam automóveis e os pobres utilizam transporte coletivo, então os ricos podem ter custos menores de transporte por distância mesmo que seu tempo tenha um custo maior. [Uma evidência disso é o fato que] as taxas de pobreza parecem aumentar em áreas próximas às paradas de metrô. Essa competição pela terra foi teorizada por uma série de modelos econométricos, dos quais destacamos os modelos de Von Thünen e Alonso- Muth-Mills. O modelo de Von Thünen, teorizado em 1823, busca explicar o padrão de ocupação do solo por atividades agrícolas (NADALIN, 2011). Segundo Nadalin (2011, p. 223), “a grande inovação deste modelo é propor os custos de transporte como variável-chave na decisão de localização ao longo do espaço”. Considerando uma região geograficamente homogênea com um centro consumidor pontual, o modelo descreve que, se forem produzidos dois produtos, o mais caro gerará uma renda maior em relação à distância centro consumidor, aumentando o aluguel pago pela terra no local. Além disso, custos de transporte maiores levam a uma queda mais rápida 31 da renda em relação à distância. Com isso, formam-se os “anéis de Von Thünen”, “que correspondem a discos concêntricos que mostram a ocupação do espaço” (Monasteiro & Cavaltante, 2011). A teoria relacionada ao modelo de Von Thünen foi aplicada para a análise intraurbana com o modelo de Alonso (1964), posteriormente adaptado por Muth (1969, 1972) e Mills (1972) (Nadalin, 2011). O modelo, aplicável a cidades monocêntricas, busca mensurar a troca que as pessoas fazem entre os custos residenciais e os benefícios do bairro ou custos de transporte (Glaeser, 2007). Esse modelo introduziu o conceito do bid rent para o contexto urbano. Bid rent é definido “como a máxima disposição a pagar pela moradia em determinada localização”(Nadalin, 2011). Rodrigue et al (2013, tradução nossa) define a curva de bid rent como: Um conjunto de combinações de preços da terra e distâncias entre os quais o indivíduo (ou empresa) é indiferente. Isso descreve os preços que a família (empresa) estaria disposta a pagar em locais diferentes, a fim de atingir um determinado nível de satisfação (utilidade / lucros). A atividade com o maior lance em um ponto é, teoricamente, a atividade que irá ocupar este local.8 Esse conceito leva à conclusão de que “indivíduosenfrentam a decisão dupla do tamanho do lote que eles devem comprar e quão próximos ao centro eles devem se localizar”10 (Alonso, 1964, tradução nossa). Segundo NADALIN (2011), “a inclinação [da curva de bid rent] indica que quanto mais distante do centro, o aumento nos custos de transportes diminui a disposição a pagar ao mesmo tempo que será melhor consumir lotes maiores. 10 “Individuals face double decision of how large a lot he should purchase and how close to the center of the city he should settle” (Alonso, 1964). 32 Ou seja, haveria uma disposição a trocar o aumento nos custos de transporte pela possibilidade de consumir mais espaço.” Para BERTAUD (2004), o formato dessa curva é influenciado pela cultura local. Isso leva a uma estratificação dos usos do solo com base na renda. Como usos comerciais normalmente se beneficiam mais de estarem próximos de outras empresas e têm maior renda que as famílias individuais, eles tendem a se aglomerar em pontos de interesse formando centralidades, enquanto residências vão sendo expulsas para locais mais periféricos. Este processo também induz a utilização mais intensiva das terras, com a utilização de parcelas menores de solo e verticalização. Segundo GLAESER (2011, p.11, tradução nossa), “quando a demanda por uma cidade sobe, os preços vão subir a menos que mais casas sejam construídas. Quando as cidades restringem novas construções, elas se tornam mais caras”11. Outra característica dessa competição pela terra é a destruição da diversidade. Em virtude do sucesso do lugar, que invariavelmente se deve a uma diversidade emergente e atraente, desenvolve-se nessa localidade uma concorrência acirrada por espaço... Os vencedores da concorrência por espaço representarão apenas uma pequena parcela dos muitos usos que geraram o sucesso conjuntamente. Sejam quais forem, o uso ou os usos que se destacam como mais lucrativos na localidade se reproduzirão cada vez mais, expulsando e suplantando os tipos de usos menos lucrativos...Assim, nesse processo, um ou alguns usos dominantes vencem...Esse processo destrói um organismo mais complexo e mais efetivo de sustentação econômica e social mutua. A partir daí, a localidade será abandonada pelas pessoas que a utilizam com fins outros que não os que 11 “when demand for a city rises, prices will rise unless more homes are built. When cities restrict new construction, they become more expensive” (Glaeser, 2011, p.11). 33 venceram a concorrência – pois os outros fins não existem mais (Jacobs, 2000, p. 269). Apesar de ter sido concebido inicialmente para cidades monocêntricas, o modelo foi estendido para considerar centros de emprego múltiplos (HENDERSON & MITRA, 1994 apud GLAESER, 2007). Esse modelo prevê que, em cidades com empregos descentralizados, há uma tendência de queda mais fraca dos preços em relação à distância do centro. BERTAUD (2004) apresenta a hipótese de que essa queda ocorre apesar da descentralização dos empregos porque, no centro geométrico da aglomeração, a soma das distâncias das viagens para todos os destinos em potencial será menor do que nos outros locais da cidade, o que definirá um maior valor da terra. 3.1.8 Estrutura Espacial e Forma Urbana O termo estrutura espacial urbana pode ser entendido como relação entre alocação de atividades e padrão de viagens resultante (Bertaud, 2004; Rodrigue, 2013). É importante, porém, diferenciar esse conceito da forma urbana. Rodrigue (2013, tradução nossa, grifo do autor) conceitua os termos da seguinte forma: Forma urbana. Refere-se à impressão espacial de um sistema de transporte urbano, assim como as infraestruturas físicas adjacentes. Em conjunto, eles conferem um nível de arranjo espacial para as cidades. Estrutura (espacial) urbana. Refere-se ao conjunto de relações decorrentes da forma urbana e suas interações subjacentes de pessoas, mercadorias e informações. Ela tenta avaliar em que medida estruturas urbanas específicas podem ser 34 conseguidascom sistemas de transporte específicos12. Descrevendo o processo urbano, HILLIER E VAIGHAN (2007, p. 1, tradução nossa) colocam que "A cidade social é o outro lado da cidade física: ela a traz à existência, e então age dentro dos limites que impõe"13. É importante observar que a cidade construída (forma) e a cidade social (estrutura) têm velocidades diferentes de mudança: o ambiente construído tem uma velocidade muito mais lenta de mudança e é mais permanente do que as atividades realizadas nele (WEGENER, 2004). Esses aspectos podem tornar a existência física e social da cidade incompatíveis. Por exemplo, áreas totalmente desenvolvidas da cidade podem estar subutilizadas devido a mudanças tecnológicas ou sociais, enquanto outras áreas podem ser mais densamente povoadas, mesmo sem infraestrutura adequada. Ao descrever os processos de mudança urbana, Wegener (2004) aponta aspectos da cidade física (redes, uso do solo, lugares de trabalho e habitação) com transformação muito lenta, e da cidade social (empregos, população, transporte de bens e viagens) com velocidade de transformação indo de lenta a imediata. 3.1.9 Transporte Sustentável 12 “Urban form. Refers to the spatial imprint of an urban transport system as well as the adjacent physical infrastructures. Jointly, they confer a level of spatial arrangement to cities. “Urban (spatial) structure. Refers to the set of relationships arising out of the urban form and its underlying interactions of people, freight and information. It tries to evaluate to what extent specific urban structures can be achieved with specific transport systems (Rodrigue, 2013). 13 “The social city is either side of the physical city: it brings it into existence, and then acts within the constraints it imposes.” (Hillier e Vaighan, 2007, p. 1) 35 O nível de sustentabilidade dos deslocamentos em uma área urbana está ligado aos hábitos de transporte de sua população, que descrevem a quantidade e modos dos deslocamentos realizados pelas pessoas. Eles são influenciados por uma série de fatores espaciais – forma e estrutura urbana-, e não espaciais Atualmente não existe um consenso sobre a causalidade entre os hábitos de transporte e fatores espaciais. As preferências modais das pessoas podem ser fruto das características dos bairros onde elas moram, ou elas podem selecionar bairros mais adequados por suas preferências- auto- seleção (LEVINE et al,2012). De qualquer forma, é importante que a cidade forneça elementos que possibilitem escolhas modais mais sustentáveis. Além da alocação de atividades, os hábitos de transporte estão ligados a (HICKMAN et al, 2009): Características socioeconômicas: o uso de automóveis está ligado à população de renda mais alta, enquanto a população de renda mais baixa prefere modos coletivos e não motorizado. Características culturais e pessoais Infraestrutura de transporte: existência de infraestrutura e desenho urbano adequados para diferentes modais Custos associados às viagens: custos fixos e variáveis relacionados com os modais, como custo da passagem, posse ou aluguel do veículo, custo do combustível, custo do estacionamento, etc. Propósito da viagem: viagens com o propósito de trabalho são menos flexíveis em termos de destino e modo. 3.1.10 da Estrutura Espacial Urbana 36 A estrutura espacial urbana pode ser caracterizada pelos seguintes fatores: Escala: medida pela densidade média em toda a área urbana Arranjo de densidades: distribuição das densidades dentro da área urbana Arranjo das atividades: distribuição das atividades dentro da áreaurbana Esses fatores interagem gerando impactos diferentes balanceamentos entre proximidade de atividades e mobilidade dos atores. 3.1.11 Escala A medida da escala da mancha urbana pode ser obtida pela densidade populacional média da área urbanizada. Manchas urbanas mais compactas, com maior densidade média, promovem maior proximidade entre as atividades. 3.1.12 Arranjo de densidades O arranjo de densidades pode ser medido pelo nível de centralização e agregação as atividades (Rodrigue, 2013, tradução nossa, grifo do autor). Centralização. Refere-se à alocação das atividades em relação a toda a área urbana. Uma cidade centralizada tem uma parcela significativa de suas atividades em seu centro, enquanto uma cidade descentralizada não tem. Grandes empregadores, como as 37 instituições financeiras são os principais motores da centralização. Agregação. Refere-se à alocação das atividades em relação a uma parte específica da área urbana. Um conjunto de atividades é, portanto, uma concentração em torno de um ponto focal específico, que tende a ser infraestruturas de transporte, como um nó rodoviário, um terminal de transporte coletivo ou uma cidade menor que tenha sido absorvida pela expansão da metrópole14. Diferentes arranjos de densidade afetam de formas distintas o padrão de viagens. Bertaud (2004) realiza uma simulação esquemática de vários arranjos espaciais para demonstrar a diferença entre as distâncias das viagens : Distância média ao centro (ADC): representa a distância média por pessoa até centro de gravidade da aglomeração, mostrando o desempenho da forma urbana no caso do padrão de viagens ser monocêntrico; Distância média entre pontos aleatórios (ADR): representa distância média por pessoa entre pontos aleatórios da aglomeração, mostrando o desempenho da forma urbana no caso do padrão de viagens policêntrico. 3.1.13 Arranjo de atividades 14 “Centralization. Refers to the setting of activities in relation to the whole urban area. A centralized city has a significant share of its activities in its center while a decentralized city does not. Large employers such as financial institutions are the main drivers of centralization. “Clustering. Refers to the setting of activities in relation to a specific part of the urban area. A cluster of activities is therefore a concentration around a specific focal point, which tend to be transport infrastructures such as a highway interchange, a transit terminal or a smaller town that has been absorbed by the expansion of the metropolis” (Rodrigue, 2013). 38 O arranjo de atividades pode ser medido pela relação de relação de empregos por habitantes nas diferentes unidades territoriais da mancha urbana. Burger e Meijers, 2012, consideram esse fator por duas abordagens: Abordagem morfológica: analisa a importância absoluta de um centro urbano em termos de tamanho e variedade de funções que ele oferece. Abordagem funcional: considera os fluxos entre centralidades, classificando centralidades por sua capacidade de atrair viagens da região metropolitana. Esta abordagem analisa a importância relativa de um centro urbano em termos de fornecimento de bens, serviços e empregos além daqueles equivalentes ao número de habitantes. Bertaud (2004) considera os padrões de deslocamentos diários para caracterizar esse arranjo de atividades: A. representa um modelo funcionalmente monocêntrico; B. representa um modelo morfologicamente policêntrico, com baixo nível de policentrismo funcional, ou seja, alta fragmentação; C. representa um modelo funcionalmente policêntrico, com baixa fragmentação; D. representa um nível de desenvolvimento entre o monocentrismo e o policentrismo funcional. Essas características das estruturas espaciais, porém, nem sempre são facilmente distinguíveis e dependem da escala de observação (Anas, Arnott e Small, 1998). De acordo com Bertaud (2004, p. 9, tradução nossa), “cidades monocêntricas e policêntricas são animais da mesma espécie 39 observadas em tempos diferentes de seu processo evolucionário”15. De forma geral, modelos monocêntricos geram maior proximidade já a somatória da distância de todos os pontos para o centro geométrico é menor de para qualquer outro ponto ou para vários destinos. No entanto, esses modelos podem gerar movimentos pendulares e gargalhos na infraestrutura de transporte. Modelos policêntricos são defendidos como forma de aproximação de empregos e residências, já que as pessoas poderiam morar nas proximidades de seus empregos, reduzindo suas distâncias de viagem. Segundo LEVINE (1998), fatores como famílias com rendimento de casal, mobilidade profissional e outros fatores que afetam a decisão residencial reduzem a disposição das famílias a se mudarem para locais próximos aos empregos. Além disso, a disposição das empresas se afastarem é questionável. Em metrópoles cuja economia é majoritariamente ligada a inovação e serviços, a proximidade entre empresas é essencial. Essas empresas pagam altos valores de terra para ficarem juntas de seus clientes - outras empresas - e fornecedores. Algumas atividades podem ser afastadas, como telemarketing, produção industrial, mas áreas de novos negócios e pesquisa e desenvolvimento se beneficiam com a proximidade gerada pelas estruturas monocêntricas e compactas (Fujita e Thisse, 2013; Burger e Meijers, 2012). Segundo Bertaud (2004), o conceito de vilas urbanas requer a fragmentação da área urbana, portanto a redução dos benefícios de escala trazidos por ela. O autor também afirma que o modelo nunca foi observado na realidade. 15 Monocentric and polycentric cities are animals from the same species observed at different times during their evolutionary proces. (Bertaud, 2004, p. 9) 40 As cidades satélites construídas em torno de Seoul e Shanghai são outros exemplos do conceito de vila urbana: pesquisas mostram que a maior pare das pessoas vivendo nessas novas cidades viajam para trabalhar na cidade principal, enquanto a maior parte dos empregos nas cidades satélites são desempenhados por pessoas vivendo na cidade principal16 (Bertaud, 2004, tradução nossa). A capacidade de uma megacidade manter um mercado unificado de trabalho é o verdadeiro limite a longo prazo de seu tamanho. A fragmentação do mercado devido a falhas de gestão ou infraestrutura deveria, portanto, resultar inicialmente em queda econômica e, finalmente, em uma perda de população (Bertaud, 2004, tradução nossa). Já HICKMAN et al (2009), apresentam uma opinião mais favorável a esse balanceamento. Segundo os autores, essa é uma condição necessária, mas não suficiente para reduzir as distâncias de viagens. “Correspondência qualitativa entre as habilidades, aspirações e tipo de trabalho é muito importante, assim como seu equilíbrio numérico”17 (Hickman et al, 2009, p.27, tradução nossa). Considerando uma escala mais local, a mistura de usos é ligada a uma maior vitalidade da área urbana e favorecimento do transporte não motorizado, tanto pela proximidade entre atividades diferentes quanto pela maior atratividade da rua. 3.1.14 Estrutura Espacial para um Transporte Sustentável Como resultado da análise realizada anteriormente, acreditamos 16 “The satellite towns built around Seoul and Shanghai are another example of the urban village conceit: surveys are showing that most people living in the new satellite towns commute to work to the main city, while most jobs in the satellite towns are taken by people living in the main city” (Bertaud, 2004). 17 “Qualitative matching between skills, aspirations and jobtype is critically important, as well as numerical balance” (Hickman et al, 2009, p.27). 41 que grandes metrópoles podem se beneficiar com a promoção de uma estrutura com uma área central compacta, com grande densidade de linhas de transporte coletivo, restrição de espaço para automóveis e infraestrutura para pedestres e bicicletas. Há uma tendência que essa área central contenha uma grande quantidade de empregos e residências para a população de mais alta renda. Clusters de alta densidade no entorno estações transporte coletivo de alta velocidade disponibilizam terra para classes médias e baixas e empresas voltadas a serviços locais e produção menos dependente dos ganhos de aglomeração entre empresas, mantendo a facilidade de acesso com a área central. Além disso, pessoas de maior renda com preferência por viverem em bairros de menor densidade podem viver nas proximidades desses clusters. Acreditamos ser vantajoso um planejamento multimodal como forma de reduzir as viagens individuais da população de maior renda e aumentar o acesso da população de menor renda, mais afastada das infraestruturas. Isso pode ser obtido com a provisão de estacionamentos e locação de bicicletas nas estações periféricas de transporte coletivo. Também é importante o investimento em conforto, segurança, gestão de gargalos e acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida. A prática comum advoga pelo desenvolvimento compacto, com níveis de densidade mínima que permitam o transporte coletivo e não motorizado (Embarq, 2014; Unhabitat, 2013a) e um maior adensamento e alocação de infraestruturas importantes nas áreas adjacentes ao transporte coletivo (Hickman et al 2009, Embarq, 2014). No entanto, os níveis de densidade mínimos e as distâncias que as pessoas estão dispostas a percorrer em modos não motorizados é fruto de debate. O Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte 42 Sustentável (Embarq, 2014), sugere maior adensamento em distâncias de até 650 dos pontos de transporte coletivo e existência de ponto de transporte coletivo a uma distância máxima de 1.000 metros e ideal de 500 de qualquer moradia, equivalente a 15 minutos (máx)/ 7 ou 8 minutos (desejável) de caminhada ou 5 minutos (máx)/ 3 minutos (desejável) em bicicleta. Outras características importantes para o desenvolvimento urbano sustentável são: fomentar o uso mistos, com a manutenção de elementos essenciais às comunidades - como supermercados, escolas e bancos – próximos às residências (Hickman et al 2009); e adotar um modelo de crescimento em continuidade com a mancha urbana com sistema viário aberto, ruas integradas à malha existente e quarteirões de comprimento máximo de 250 m (Embarq, 2014). 3.2 MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL Quando se fala em Mobilidade Urbana Sustentável, é preciso antes falar sobre alguns conceitos como qualidade de vida, desenvolvimento sustentável e transporte sustentável. Todos esses conceitos levam ao melhor entendimento de como atingir essa mobilidade. O desenvolvimento sustentável, sucintamente, é um desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder as suas próprias necessidades (AFFONSO, 2004) Desvendando um pouco mais esse conceito, primeiro é preciso entender a palavra- chave: desenvolvimento, ela incorpora ideais coletivos e pessoais além de aspirar um crescimento de uma sociedade evoluída. Tradicionalmente, a meta do desenvolvimento é o aumento da renda per capita, que se entende como um dos aspectos que caracteriza o padrão de vida de uma comunidade. 43 É importante ressaltar, quando se fala de renda, que a renda e o índice de mobilidade são diretamente proporcionais. Quanto maior a renda, maior o índice de mobilidade. Conforme o poder aquisitivo de uma população aumenta, aumenta também o número de viagens geradas, e aumenta a participação do transporte individual e isso independe do crescimento populacional (MAC DOWELL, 2015). Quando se busca desenvolvimento sustentável na literatura percebe-se que o ponto em comum são os meios para atingi-lo e esses meios são: conservação do ambiente; maior horizonte de tempo (futuro); equidade. Segundo Albano e Senna (1996) o primeiro mostra que o desenvolvimento sustentável precisa de uma cultura ambientalista. Não se pode considerar o meio ambiente como um fardo e sim como fonte de nosso bem-estar e de nossa existência. Atualmente, a produção de bens e serviço utiliza indiscriminadamente e com muito desperdício os recursos naturais. Buscando o desenvolvimento sustentável é necessário impor limitações na qualidade e na quantidade dos processos de produção, transporte e consumo. A deterioração do meio ambiente impede as melhorias do bem-estar social. O segundo meio diz respeito ao prazo do planejamento e das políticas. Além das ações de curto e médio prazo é preciso considerar principalmente as de longo prazo. Não se pode penalizar as gerações futuras com as más ações da geração atual. Uma boa ação política conjunta é indispensável para garantir um futuro para as próximas gerações. Por último, o terceiro meio, a equidade deve ser interpretada em dois sentidos muito importantes. O desenvolvimento sustentável preza a igualdade entre as pessoas, ou seja, reserva atenção especial aos menos favorecidos e busca a igualdade em relação ao tempo, ou seja, a geração atual e a futura. O próximo conceito a ser abordado é o de transporte sustentável. Segundo a definição da OCDE: “É um transporte que não coloca em perigo a saúde pública e os ecossistemas e que respeita as necessidades de mobilidade. É compatível com; uma utilização de fontes renováveis a uma taxa inferior àquela necessária à sua regeneração; utilização das fontes não renováveis a uma taxa 44 inferior àquela necessária ao surgimento de fontes renováveis de substituição.” Já o Centro para um Transporte Sustentável do Canadá (Centre for Sustainable Transportation18) define que: “Um transporte sustentável é aquele formado por um sistema que permite as pessoas e as sociedades de satisfazerem suas principais necessidades de acesso de uma maneira consistente e compatível com a saúde dos seres humanos e dos ecossistemas, sob o signo da equidade, para as gerações e entre elas; funciona eficazmente, oferece escolhas dos modos de transportes e apoia uma economia dinâmica; limita as emissões e os dejetos de maneira a não ultrapassar a capacidade do planeta em absorvê-los, reduz ao mínimo o consumo de fontes não renováveis, reutiliza e recicla seus compostos e reduz ao mínimo ruídos e a utilização da terra.” Debater sobre transporte sustentável é extremamente necessário para alcançar o desenvolvimento sustentável, pois ao mesmo tempo em que o transporte é uma atividade indispensável para o bom funcionamento de uma economia, de uma sociedade, promovendo a integração, ele também é um dos maiores consumidores de reservas de energia e de recursos naturais. Além disso, é notória a relação entre o crescimento econômico e os padrões de mobilidade. É importante perceber que, quando se fala de implementação do desenvolvimento sustentável, a produção de transporte tem grande interferência, principalmente na conservação do meio ambiente e consequentemente na projeção futura com qualidade de vida (ALBANO e SENNA, 1996). 18 2 Centre for Sustainable Transportation – O centro foi formado para ajudar a superar as barreiras para a realização de um transporte sustentável, no Canadá, através de informações e análises. Ele começou a funcionar em 1996 e é uma organização federal com sede em Winnipeg, Manitoba. 45 Um dos pontos importantes da interação entre o sistema de transporte e o uso e ocupação do solo que precisa