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ISSN: 2763-6704 REDES-Revista Educacional da Sucesso 
Vol 1, n.1, 
2021 
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MAIS AMOR SEM FAVOR: A POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO 
JURÍDICO DO POLIAMOR FRENTE AOS 
VALORES MONOGÂMICOS NO BRASIL 
Yllen Garcia Gomes de Albuquerque1 
 
RESUMO: O presente artigo tem por escopo analisar a possibilidade dos indivíduos adeptos 
ao poliamorismo serem reconhecidos pelo Direito como entidade familiar, obtendo a 
regulamentação de suas relações, frente aos valores monogâmicos brasileiro. No decorrer de sua 
abordagem, é usado o método dedutivo, com o procedimento histórico e analítico, bem como as 
técnicas de pesquisa bibliográfica e documental. Nesse contexto, será aludida a evolução história 
vivenciada pelo instituto familiar, seus conceitos e atributos, além de explanar a doutrina do 
Poliamor, vista por diferentes óticas científicas e por fim, discutir sobre a possível legalização 
dessas relações plúrimas em um ordenamento que tem por base a monogamia. Observa-se um 
impasse relacionado à matéria: a omissão do sistema jurídico em debater sobre a existência das 
uniões poliafetivas e como proceder em tal situação. Assim sendo, o tema apresentado mostra-se 
de profunda relevância, pois objetiva resguardar a liberdade e a proteção de pessoas que se 
encontram à margem da sociedade, além de trazer importantes reflexos nas áreas do direito 
familiar e sucessório e ainda no âmbito cultural e social. Portanto, a referente temática, mesmo 
sendo uma realidade estampada, não se encontra discutida na atual jurisprudência, nem avaliada 
pelo aparato legislativo deste país, demonstrando a urgente necessidade de enxergá-los, iniciar 
estudos aprofundados e inseri-los no ordenamento sócio-jurídico, no intuito de solucionar tal 
insegurança legal. 
 
Palavras-chaves: Entidade familiar. Monogamia. Reconhecimento jurídico do Poliamor. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A família sempre foi um organismo de grande importância jurídica, econômica, 
cultural e social, sendo então, inclusa na rede de proteção estatal. A Constituição Federal 
deixa expresso seu valor, considerando-a “base da sociedade”, conforme o artigo 226. 
Atualmente, no Brasil, assim como nos demais países ocidentais, o modelo familiar 
padrão e predominante é o monogâmico, deixando desamparados indivíduos que não se 
enquadram nos parâmetros impostos por tais diretrizes. 
Deste modo, aqueles que não seguem a doutrina monogâmica, encontram-se 
discriminados e sem respaldo legal, a exemplo dos adeptos ao poliamorismo, uma 
ideologia que defende a vivência do amor de uma forma não convencional e poliafetiva, 
ou seja, os envoltos estabelecem um relacionamento afetuoso com mais de uma pessoa 
ao mesmo tempo, onde ambos livremente concordam com tal prática. Pode-se observar 
uma relação não exclusiva, consentida e de boa-fé, todavia, passa despercebida pelo 
 
1 Pós-graduanda em Direito Civil e Processo Civil pela Faculdade Sucesso- FACSU. Graduada no curso 
de Direito pelo Centro Universitário de Patos- UNIFIP. 
 
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sistema jurídico-estatal, tornando-se um grande problema. 
Destarte, o presente artigo propõe uma discussão teórica dentro do ramo do 
Direito de Família, acerca da possibilidade dos relacionamentos poliamoristas serem 
reconhecidos pelo aparato legal brasileiro como uma das formas de entidade familiar, 
com o objetivo de cessar esta insegurança jurídica. 
Os argumentos aqui utilizados não possuem a intenção de criticar a monogamia 
como escolha pessoal, tampouco tomar partido por um dos lados. O real intuito, diante 
da diversidade das uniões afetivas contemporâneas, é refletir sobre a imposição 
normativa do valor monogâmico na construção familiar, fato este que o torna único e 
excludente, confrontando com direitos individuais, a liberdade e dignidade da pessoa 
humana. 
Utilizou-se de recortes bibliográficos para confecção da presente pesquisa, 
extraídos de diversas fontes como: a doutrina, leis e jurisprudência atual, bem como faz 
uso do procedimento histórico, para melhor compreender a temática. 
No desenvolvimento, pretende-se, primeiramente, elucidar a conceituação, 
características e a evolução histórica do instituto familiar. Na segunda sessão descreve 
a doutrina poliamorista com suas peculiaridades, estudada por diversas áreas científicas, 
sendo finalizado com a terceira sessão, a qual discute a possibilidade da legalização do 
poliamor como entidade familiar, frente à predominância dos valores monogâmicos. 
Portanto, o estudo da temática em comento é de fundamental importância para o 
ordenamento jurídico e todo meio social, visto que abrange a unidade familiar, bastante 
resguardada pelo Estado, além de mostrar a evolução dos variados modelos de família 
baseados na afetividade, associada à necessidade do Direito em acompanhar tais 
alterações, não restando assim, omissões e inseguranças legislativas. 
 
 
DEFINIÇÕES DO TERMO FAMÍLIA: CARACTERÍSTICAS E EVOLUÇÃO 
DO INSTITUTO FAMILIAR 
 
Ao se avaliar as especificidades acerca da família, é necessário apreciar 
inicialmente os traços históricos, compreender os conceitos e funções, a possibilidade 
do seu reconhecimento jurídico e a relevância da família para a humanidade. 
O termo “família” não pode ser considerado apenas um instituto com diretriz 
unicamente biológica ou natural, contudo deve analisá-lo de forma associada, como um 
 
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artefato cultural, uma vez que está em processo de construção contínua e possui reflexos 
no meio social, econômico e jurídico. 
Considerada uma instituição, bem como um mecanismo de socialização 
essencial, a família é necessária à sociedade, manifestando-se como algo mais 
significativo que apenas um agrupamento de indivíduos enlaçados pelo matrimônio ou 
por uma ligação parental; é uma comunhão de vidas, marcados pela afetividade, 
contendo em seu interior relações particulares, como também, financeiras. Não há como 
o sujeito existir independente do seu espaço social, visto que a “representação de si 
constrói-se no cruzamento de interações diversas [...]: tornamo-nos nós mesmos na troca 
com aqueles que nos envolvem, que nos fazem aquilo que somos” (KAUFMANN, 2002, 
p. 84). 
Em âmbito econômico, a família perdura como importante peça de produção 
desde antes da época industrial, tendo em vista um maior destaque na efetuação de 
alguns planejamentos e atividades quando existe no seio familiar um incentivo e a 
parceria entre os membros, comparado a situações que os mesmo atuam de forma 
isolada. (BÉNABENT, 2003, p. 01) 
Em relação ao aspecto forense, a entidade familiar se encontra presente nos 
ordenamentos jurídicos, de forma que gera efeitos para o Direito, tendo o Estado o 
encargo de zelar pela proteção da estrutura familiar e ainda de regulamentá-la perante 
os valores e normas que a cercam, fazendo jus a uma ampla e merecedora proteção 
jurídico-estatal. Lembrando que essa intercessão por parte do Estado, em detrimento de 
assuntos familiares, deve ser refletida e discutida com cautela. (BIROLI, 2014) 
Nessa linha de pensamento, reforça Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 23) ao 
afirmar que “Em qualquer aspecto em que é considerada, aparece a família como uma 
instituição necessária e sagrada, que vai merecer a mais ampla proteção do Estado.” 
É inegável o modo como o instituto familiar se faz presente em todas as 
dimensões da vida, desde os assuntos individuais aos coletivos. A família demarca sua 
força e influência, atravessando todas as épocas, vivências e searas de proteção legal. 
Destarte, a estrutura familiar carrega uma notável importância, de modogeral e 
especialmente quando se trata de sua evolução, assim FARIAS e ROSENVALD (2013, 
p. 41) apresenta o seguinte posicionamento: 
 
[...] a família tem o seu quadro evolutivo atrelado ao próprio avanço do 
homem e da sociedade, mutável de acordo com as novas conquistas da 
humanidade e descobertas científicas, não sendo crível, nem admissível, que 
 
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esteja submetida a ideias estáticas, presas a valores pertencentes a um 
passado distante, nem a suposições incertas de um futuro remoto. É 
realidade viva, adaptada aos valores vigentes. 
 
 
Deste modo, a mutação dos meios familiares que é revelada no cotidiano, se 
mostra descrita no próprio progresso da humanidade, a qual vive em constante mudança, 
não sendo a família, portanto, uma estrutura fixa, presa aos ditames do passado ou até 
mesmo a uma possibilidade incerta de futuro. 
Sendo reconhecido como o elemento social mais antigo da humanidade, a família 
e o vasto ramo do direito que dela nasce, encaminham todos a buscar compreender 
melhor seu conceito e sua evolução no decorrer dos séculos. (GONÇALVES, 2014) 
No decurso de muitos anos, a definição de família estava interligada à sagrada 
união matrimonial, formando um modelo de família tradicional, composto por um 
homem, uma mulher e seu(s) filho(s), sendo então o homem considerado o patriarca, 
enquanto a esposa e filhos eram hierarquicamente inferiores, devendo àquele 
obediência. (DIAS, 2017). 
Essas referências perduraram no transcorrer do tempo, até esbarrar no período da 
Revolução industrial, onde o casamento ganhou uma maior liberdade entre os nubentes, 
de forma que passou de algo arranjado para um laço de amor duradouro como principal 
projeto. Posto isto, o sentimento ganha espaço e relevância, chegando ao que está sendo 
construído hoje em dia, onde o afeto é o foco principal. (MELLO, 2017) 
Assim sendo, atualmente vivenciamos o período da pós-modernidade, o qual é 
representado por relacionamentos afetuosos, os quais possuem como objetivo o bem 
estar próprio e de seu parceiro, contudo, demonstra-se presente uma facilidade e 
naturalidade para romper, caso não queiram continuar juntos, assim como é para iniciar 
a relação amorosa. 
De acordo com Zygmunt Bauman (2004, p.35), os relacionamentos 
contemporâneos caracterizam-se pela inexistência de um compromisso com mais 
seriedade, de modo que a preservação de uma relação estável, fundada no amor 
duradouro e íntegro, é rejeitada em comparação às uniões líquidas, termo este usado pelo 
autor para descrever as atuais relações, sendo estas então, compostas por uma grande 
instabilidade e fragilidade. 
Conseguinte, Enézio de Deus Silva Júnior, 2007, retrata que “a família hodierna 
escapa ao normatizável (...)”, restando necessário observar a diversificação que existe 
 
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hoje em dia nos seios familiares, produto de uma série de modificações advindas de 
vários eixos na sociedade. Consequentemente, “a família é anterior ao Direito e a sua 
configuração não pode estar aprisionada nos moldes jurídicos postos em dado momento 
histórico, com base na ideologia dominante à época. A família é cultural e afetiva (…)” 
(BRUNET, 2001, p. 82 apud JÚNIOR, 2007, p. 39-40). 
A família ganhou previsão constitucional, sem deixar dúvidas sobre sua 
importância para o direito, sendo tratada no artigo 226 da Carta Magna como “base da 
sociedade”, recebendo uma visão despatrimonializada, enfatizando a pessoa como 
objeto central, pois como afirma GAGLIANO e PAMPLONA (2012, p.63), “a família 
deve existir em função dos seus membros, e não o contrário”. 
Percorrendo esse processo de constitucionalização e acompanhando o 
desenvolvimento dos seres em sociedade, o Direito de Família se distancia daquela 
posição conservadora, presente em épocas passadas. “[...] Agora, qualquer norma 
jurídica de direito das famílias exige a presença de fundamento de validade 
constitucional. Essa é a nova tábua de valores da Constituição Federal [...]” (DIAS, 2013, 
p. 36). 
Sendo isto exposto, levanta-se a discussão acerca de quais tipos familiares a 
Constituição Federal considera como agente detentor da custódia estatal. Além do 
padrão de família conservadora, encontra-se expresso em parágrafos do artigo 226 da 
Lei Maior, a união estável e a família monoparental. Entretanto, a doutrina discorre a 
cerca da existência de outros novos arranjos familiares, de forma que, os expressos no 
presente artigo são apenas exemplificativos. 
Neste sentido, dispõe Paulo Lobo, apud Pablo Stolze ( 2016, pg 48): 
Os tipos de entidades familiares explicitados nos parágrafos do art. 226 da 
constituição são meramente exemplificativos, sem embargo de serem os 
mais comuns, por isso mesmo merecendo referencia expressa. As demais 
entidades familiares são tipos implícitos incluídos no âmbito de 
abrangência do conceito amplo e indeterminado de família indicado no 
caput. Como todo conceito indeterminado, depende de concretização dos 
tipos, na experiência da vida, conduzindo a tipicidade aberta, dotada de 
ductilidade e adaptabilidade. 
 
Atualmente, o conceito de família recebeu novas fórmulas em sua composição, 
deixando de ser exclusivo perante a sociedade o modelo patriarcal, “(...) é impraticável 
um formato único que dê conta da família e das relações humanas.” (VALENTE & 
WAIDEMAN, 2005, p.119). 
Ao discorrer sobre a família moderna, Maria Berenice Dias (2015, p.43) explana 
que “O novo modelo de família funda-se sobre os pilares da repersonalização, da 
 
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afetividade, da pluralidade e do eudemonismo, impingindo nova roupagem axiológica 
ao Direito de Família”, demonstrando assim, que o Direito deve acompanhar a mudança 
temporal do instituto familiar. A título de exemplo, podem ser citadas estruturas que não 
estão descritas no texto constitucional: as famílias homossexuais, as simultâneas ou 
paralelas e ainda as poliafetivas. 
As uniões poliafetivas, por sua vez, destacam-se como base deste trabalho, sendo 
descrito por Rodrigo da Cunha Pereira (2016, p. 233) como a “a união afetiva 
estabelecida entre mais de duas pessoas em uma interação recíproca, constituindo 
família ou não”. 
Ligada a poliafetividade, um fenômeno societário conhecido como “Poliamor”, 
em especial, tem sido alvo de discussões doutrinárias, jurídicas e sociais, por fugir do 
tipo tradicional e convencional de união amorosa comumente adotada no âmbito jurídico 
brasileiro, sendo o mesmo, portanto, objeto de estudo a seguir. 
 
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA DOUTRINA POLIAMORISTA 
 
Investigadas as peculiaridades sentimentais, manifestadas desde os antepassados 
até o século atual, a ideologia do poliamor se posiciona pelo amparo à multiplicidade do 
afeto, como uma opção diferente da monogamia e do romantismo. Os apreciadores deste 
referido movimento defendem sua realidade como uma ponte para a desestruturação do 
“amor romântico” (FREIRE, 2013). 
Os vínculos humanos praticados de forma não-monogâmica, consentidos pelos 
envolvidos, não é uma construção recente, existe há muito tempo, não sendo, entretanto, 
possível estipular onde se originou essa conduta. Enquanto que o termo “poliamor”, na 
qualidade de identificação relacional, nasce nos Estados Unidos em 1990, sendo, 
portanto, considerado atual (CARDOSO, 2010, p. 10-11). À vista disso, a 
poliafetividade retrata uma nova perspectiva no que concerne à prática e compreensão 
das uniões amorosas e sexuais. 
Sob a ótica da Psicologia, o poliamor é considerado um atributoque alguns 
indivíduos dispõem em se relacionar de modo afetuoso com mais de uma pessoa num 
mesmo período temporal. Há um ponto que diferencia o poliamor da traição: o 
consentimento. As partes poliamoristas comprometidas concordam em realizar essa 
prática amorosa paralela, ao passo que não sentem a fidelidade conjugal ferida. 
 
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Inexistem confrontos entre os referidos indivíduos, visto que consentem pela liberdade 
do parceiro convive intimamente com outras pessoas (MAZZO; ANGELUCI, 2014). 
Pablo Stolze Gagliano (2008, p. 51) discorre: 
O poliamorismo ou poliamor, teoria psicológica que começa a descortinar-
se para o Direito, admite a possibilidade de coexistirem duas ou mais 
relações afetivas paralelas, em que os seus partícipes conhecem e aceitam 
uns aos outros, em uma relação múltipla e aberta. 
 
Percebe-se a ausência de uma cobrança por exclusividade, uma vez que acordam 
entre eles pelo livre envolvimento com outros indivíduos. De modo sucinto, falta apego 
ao passo que sobra amor. 
Seguindo nesta linha de raciocínio, Jade Aguilar (2013, p.109) esclarece que a 
doutrina poliamorosa nasceu através do realce em possuir diferentes companheiros 
amorosos, o que não implica em “dormir com qualquer um”, mas sim, no enlace de uma 
relação não exclusiva, confiável, terna e em pé de igualdade. Nesta perspectiva, o 
poliamor acautela também o apreço da individualidade em detrimento da posse. O 
vínculo se firma na união de seres completos, e não pela junção de metades (LINS, 
2014). 
Conforme entendimento de Giovana Pelagio Melo (2010), no poliamorismo 
existe a possibilidade de maior troca entre os sujeitos envolvidos, reproduzindo, 
portanto, uma forte harmonia na relação de modo a evitar frustações, ou seja, é como 
uma visão mais desprendida do próprio amor. Fazer parte desta prática não pressupõe 
uma busca desenfreada por novos relacionamentos íntimos tentando substituir outros 
afetos, mas alcançar e manter uma liberdade pessoal, a qual desencadeia na evolução de 
elos sentimentais, a exemplo da amizade. 
Posto isto, Antônio Cerdeiro Pilão (2017, p. 09) pormenoriza o presente termo 
estudado, dando-lhe uma classificação: 
 
O termo poliamor, criado nos anos 1990, nos Estados Unidos, se refere à 
possibilidade de estabelecer múltiplas relações afetivo- sexuais de forma 
concomitante, consensual e igualitária. É possível classificar três modelos 
básicos de relação poliamorista que se dividem em “abertas” e “fechadas”. 
Isso é, no primeiro caso, há a possibilidade de novos amores e, no segundo, 
temos a “polifidelidade”, ou seja, a restrição das experiências amorosas: 1- 
“Em grupo”. Quando mais de duas pessoas têm relações amorosas entre si; 
2- “Rede de relacionamentos interconectados”. Quando cada poliamorista 
tem mais de um relacionamento em casal – ou seja – os parceiros de uma 
pessoa não o são entre si; 3- “Mono/poli”. Quando um dos parceiros tem 
mais de um relacionamento e o outro, por opção, limita-se a um único 
parceiro. 
 
 
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Cabe evidenciar que a pluralidade relacional entre pessoas ou grupos, 
apresentada anteriormente, em suas variadas formas, onde os próprios envoltos nessa 
rede afetiva optam por compartilhar e viver essa experiência amorosa, demonstra um 
ponto de diversificação na sociedade dos dias atuais. 
Defender a prática da poliafetividade constitui um grande valor moral, ao passo 
que se busca resguardar a oportunidade de viver esse vínculo sexual e íntimo, sob uma 
diferente ótica sentimental, verificando-se, assim, uma escolha revolucionária. Freire 
explica que “a filosofia adotada no poliamor considera que amar uma única pessoa pelo 
resto da vida é algo inconcebível”, visto isso, os praticantes protegem o interesse pela 
multiplicidade afetiva e ainda defendem que “o caráter ético do poliamor deriva de sua 
forte ênfase sobre o amor, a intimidade, o compromisso de consenso e a honestidade” 
(FREIRE, 2013, p. 43). 
Contrapondo esta visão, pode-se destacar a doutrina religiosa, a qual carrega 
forte influência perante a população, uma vez que condenam os enlaces não- 
monogâmicos presumindo serem estes um afronte às escrituras divinas. Mazzo e 
Angeluci (2014) discorrem: 
 
Percebe-se, porém, que além dos entraves jurídico-sociais, as relações não-
monogâmicas defrontam-se, ainda, com dogmas religiosos. A religião que, 
sem dúvida alguma, exerce bastante influência em nossa sociedade, julgam-
nas imorais, promíscuas e repletas de pecado, vez que são, supostamente, 
contrárias à vontade Divina. 
 
A multiplicidade dos institutos familiares, apesar de possuir força constitucional 
em detrimento das normas infraconstitucionais presentes no ordenamento jurídico, 
todavia, é influída pelos valores religiosos e morais, levando em conta a predisposição 
do legislador em enveredar pela proteção dos bons costumes, almejando o resguardo de 
princípios tradicionalistas. Embasado em prejulgamentos, o parlamentar usando de sua 
autoridade, regulamenta a melhor forma das pessoas agirem, fixando condutas ajustadas 
à moralidade atual (DIAS, 2015, p. 56). 
De acordo com Pablo Stolze Gangliano (2008, p. 51-61) a aprovação social ao 
que se refere à liberdade privada em escolher os modelos de união afetiva está interligada 
aos estudiosos da Doutrina Civilista, os quais precisam abordar o tema de modo 
cauteloso, coerente e sem descriminação, e, essencialmente, em conformidade com o 
Princípio da Dignidade Humana, sendo este utilizado como base para os 
relacionamentos afetuosos. 
 
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Em vista disso, nota-se uma forte anunciação da dignidade da pessoa humana, 
sendo então, a definição de família posta de maneira mais receptiva, permitindo aos 
sujeitos uma maior liberdade na procura de sua felicidade afetiva, de modo que melhor 
assista sua intimidade (FISCHER, 2017). 
Para os grupos de famílias poliafetivas a dignidade humana se encontra 
desprotegida quando há negação da legitimidade desses indivíduos na qualidade de 
entidade familiar. A falta de reconhecimento jurídico ocasiona instabilidade, além de 
priva-los de direitos fundamentais, a exemplo disto, o da livre escolha afetiva, sendo 
acrescentada ainda a exposição dos mesmos a situações de caráter preconceituoso, pois 
obstaculiza o acolhimento e aceitação popular (OLIVEIRA, 2018). 
Destarte, frente à realidade sofrida devido à imposição da natureza monogâmica 
das relações, os membros que vivem a ideologia poliamorosa, em busca da validação de 
sua identidade, seguem à mercê das diretrizes legais estabelecidas, as quais não 
fornecem esclarecimentos sob suas condições enquanto família, e principalmente, um 
respaldo que ponha fim a esta insegurança jurídica. 
 
POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO JURÍDICO DO POLIAMOR 
FRENTE À MONOGAMIA 
 
Atualmente no ordenamento pátrio, o instituto da monogamia prevalece perante 
os vínculos matrimoniais, seja no âmbito do próprio direito cível, o qual rege o 
casamento, impedindo a realização de um novo casório àqueles que são nubentes, 
conforme descrição do artigo 1.521, inciso VI, do Código Civil, seja na seara criminal, 
com previsão no artigo 235 do Código Penal, transcrito neste o crime de bigamia. 
Elisa de Assis Freire (2013, p. 27) expõe que “A monogamia é o padrão aceito 
para as relações amorosas na cultura ocidental.” Considerada assim, modelo de 
estruturação familiar, em virtude dos costumes e de toda uma construção histórica e 
religiosa prevalente, o que de fato reflete na construção legislativae jurisprudencial, a 
exemplo do Brasil. Entretanto, os adeptos ao Poliamorismo seguem uma convicção 
diversa, mantendo relacionamentos plúrimos no intuito de constituir uma entidade 
familiar, contrariando o sistema conservador. 
Cumpre registrar a diferenciação entre o Poliamor e os relacionamentos 
simultâneos ou paralelos, visto que em ambos residem a multiplicidade de membros e 
 
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podem ser confundidos na prática, sendo este último comumente discutido nos tribunais. 
Assim discorre Maria Berenice Dias (2014): 
 
(...) Em face da estrutura monogâmica da sociedade brasileira, a bigamia é 
criminalizada e o casamento impõe o dever de fidelidade. Ainda que alvo 
do repúdio social, vínculos afetivos concomitantes nunca deixaram de 
existir, e em larga escala. Mais frequentes são as famílias paralelas, quando 
o homem mantém duas entidades familiares de forma simultânea. Quando a 
convivência forma uma única entidade familiar, chama-se de união 
poliafetiva, ou, mais precisamente, de poliamor. 
 
Enquanto o poliamorismo abarca o consentimento dos envoltos referente às 
particularidades amorosas e sexuais e o intuito de construir um núcleo familiar singular, 
a relação simultânea trata de vínculos mantidos de modo paralelo por aquele que já 
possui laços matrimoniais ou de companheirismo, sendo o dever de fidelidade violado, 
visto a outra parte não aceitar ou conhecer a relação extraconjugal do parceiro. 
Desta maneira, os Tribunais, de modo majoritário, indeferem pedidos de 
reconhecimento de união estável quando um dos indivíduos é casado com outrem e 
mantem o vínculo conjugal de fato, impossibilitando que relações concomitantes sejam 
juridicamente legalizadas, conforme pode ser observado no julgado do Supremo 
Tribunal de Justiça abaixo: 
 
“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DE 
DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C PEDIDO DE 
ARROLAMENTO E PARTILHA DE BENS. UNIÃO ESTÁVEL 
CONCOMITANTE A CASAMENTO SEM SEPARAÇÃO DE FATO. 
1. À luz do disposto no § 1º do artigo 1.723 do Código Civil de 2002, a 
pedra de toque para o aperfeiçoamento da união estável não está na 
inexistência de vínculo matrimonial, mas, a toda evidência, na inexistência 
de relacionamento de fato duradouro concomitante àquele que pretende 
proteção jurídica. Nesse viés, apesar de a dicção da referida norma também 
fazer referência à separação judicial, é a separação de fato (que, 
normalmente, precede a separação de direito e continua após tal ato formal) 
que viabiliza a caracterização da união estável de pessoa casada. 2. 
Consequentemente, mantida a vida em comum entre os cônjuges (ou seja, 
inexistindo separação de fato), não se poderá reconhecer a união estável de 
pessoa casada. Nesse contexto normativo, a jurisprudência do STJ não 
admite o reconhecimento de uniões estáveis paralelas ou de união estável 
concomitante a casamento em que não configurada separação de fato. 3. 
No caso dos autos, procedendo-se à revaloração do quadro fático delineado 
no acórdão estadual, verifica-se que: (a) a autora e o réu (de cujus) 
mantiveram relacionamento amoroso por 17 anos; (b) o demandado era 
casado quando iniciou tal convívio, não tendo se separado de fato de sua 
esposa; e (c) a falta de ciência da autora sobre a preexistência do casamento 
(e a manutenção da convivência conjugal) não foi devidamente demonstrada 
na espécie, havendo indícios robustos em sentido contrário. 4. Desse modo, 
não se revela possível reconhecer a união estável alegada pela autora, uma 
vez que não foi atendido o requisito objetivo para sua configuração, 
consistente na inexistência de relacionamento de fato duradouro 
 
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concomitante àquele que pretende proteção jurídica. 5. Uma vez não 
demonstrada a boa-fé da concubina de forma irrefutável, não se revela 
cabida (nem oportuna) a discussão sobre a aplicação analógica da norma 
do casamento putativo à espécie. 
6. Recursos especiais do espólio e da viúva providos para julgar 
improcedente a pretensão deduzida pela autora. (REsp 1754008/RJ, Rel. 
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 
13/12/2018, DJe 01/03/2019) 
 
A validação de uniões estáveis concomitantes enquanto entidade familiar 
encontra-se incabível pelo fato da natureza monogâmica presente no referido instituto. 
Deste modo, esse vínculo paralelo é descrito como concubinato, segundo artigo 1.727 
do Código Civil, o qual não dispõe de repercussões jurídicas, seja nas questões 
particulares ou ainda quanto aos efeitos patrimoniais, em virtude da sua falta de proteção 
pelo direito de família (MONTEIRO e TAVARES DA SILVA, 2012, p. 63/64, 68 e 71). 
Os julgados oriundos dos tribunais pertinentes ao direito de família, ainda que 
mais evoluídos e em sintonia com a realidade, em comparação ao aparato legislativo, 
enrijecem assim como a maior parte da doutrina, a preponderância da 
mononormatividade. 
O protótipo monogâmico que repercute nos sistemas jurídicos sociais revela a 
ligação entre mononormatividade e a monogamia, ao passo que esta é a base que aquela 
encontra para se estruturar e consequentemente tornar-se respeitada enquanto preceito 
que rege os laços conjugais, repercutindo nas leis e no ordenamento jurídico brasileiro 
(NAMUR, 2008 apud TEIXEIRA; RODRIGUES, 2010, p. 121-122). 
Desta maneira, os indivíduos que optam pela multiconjugalidade, como os 
poliamoristas, buscam aberturas no aparato legal, visando à regulamentação de suas 
relações, pois inexiste, no presente momento, jurisprudência consolidada pelas cortes 
superiores do país que trate a respeito. 
Posto isto, é necessário destacar um episódio: a oficialização em cartório de 
uniões não-monogâmicas, onde o primeiro caso se deu em Tupã-SP no ano de 2012, no 
qual foi lavrada uma “escritura declaratória de união estável” entre um homem e duas 
mulheres, com o intuito de assegurar garantias aos envolvidos conforme demonstra o 
seguinte trecho do documento: 
“Os declarantes, diante da lacuna legal no reconhecimento desse modelo de 
união afetiva múltipla e simultânea, intentam estabelecer as regras para 
garantia de seus direitos e deveres, pretendendo vê- las reconhecidas e 
respeitadas social, econômica e juridicamente, em caso de questionamentos 
ou litígios surgidos entre si ou com terceiros, tendo por base os princípios 
constitucionais da liberdade, dignidade e igualdade”.(Notícia disponível em 
http://www.ibdfam.org.br/noticias/4862/novosite). 
http://www.ibdfam.org.br/noticias/4862/novosite)
 
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Consoante matéria publicada na plataforma do IBDF- Instituto Brasileiro do 
Direito de Família (2016), o 15° Ofício de Notas do Rio de Janeiro oficializou ainda 
outras escrituras deste mesmo teor, possibilitando algumas uniões poliafetivas, no 
decorrer dos anos de 2015 e 2016. 
Este fato provocou uma representação judicial da Associação de Direito de 
Família e das Sucessões – ADFAS, com o objetivo de obter a proibição das lavraturas 
de uniões poliafetivas, alegando a inconstitucionalidade da conduta, resultando assim na 
recomendação do Conselho Nacional de Justiça - CNJ, a qual suspendeu novas escrituras 
públicas dessa natureza, além das já existentes, até que houvesse regulamentação da 
matéria (MANSUR, 2016). 
Consequentemente, as feituras destas escrituras de união poliafetiva foram 
cessadas e no dia 26 de junho de 2018 o plenário do CNJ deliberou de modo definitivo 
pelo impedimento das mesmas no Brasil e este posicionamento se mantém até o 
momento atual (Notíciadisponível em https://www.cnj.jus.br/cartorios-sao- proibidos-
de-fazer-escrituras-publicas-de-relacoes-poliafetivas/). 
Parte da doutrina sustenta o não reconhecimento jurídico das uniões poliafetivas, 
como expressa Tavares da Silva (2014), ao declarar que o fato de existir 
relacionamentos pluriconjugais na prática não vincula a legitimação dos mesmos, 
usando para ratificar seu argumento, a excêntrica comparação com o ato de matar e 
roubar, que se faz presente na realidade e mesmo assim não devem ter amparo jurídico. 
É notório que a concepção tradicionalista resiste, persistem os prejulgamentos, 
atropelando a liberdade de escolha de alguns indivíduos, tornando as ideologias 
poliamorosas pouco discutidas no cenário sócio jurídico, permitindo que os adeptos 
continuem sofrendo discriminação no ambiente que estão inseridos. 
Na visão de França (2016, p. 20): “talvez o desafio de poliamoristas seja 
justamente o de mostrar para a sociedade, por vias também políticas, que eles e elas 
existem” bem como, que o amor “não pode ser visto no singular, como um sentimento 
que deve ser praticado socialmente de um único modo e vivido apenas com uma única 
pessoa” e por este motivo, segue o predomínio da monogamia como único e aceitável 
modelo familiar basilar. 
Por conseguinte, Maria Berenice Dias (2013, p. 54) descreve que: 
 
[...] justificativas não faltam a quem quer negar efeitos jurídicos [...] [ao 
poliamor]. A alegação primeira é afronta ao princípio da monogamia, 
https://www.cnj.jus.br/cartorios-sao-proibidos-de-fazer-escrituras-publicas-de-relacoes-poliafetivas/
https://www.cnj.jus.br/cartorios-sao-proibidos-de-fazer-escrituras-publicas-de-relacoes-poliafetivas/
https://www.cnj.jus.br/cartorios-sao-proibidos-de-fazer-escrituras-publicas-de-relacoes-poliafetivas/
 
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desrespeito ao dever de fidelidade – com certeza, rejeição que decorre muito 
mais do medo das próprias fantasias. O fato é que descabe realizar um juízo 
prévio e geral de reprovabilidade frente a formações conjugais plurais e 
muito menos subtrair qualquer sequela à manifestação de vontade firmada 
livremente pelos seus integrantes. 
 
A monogamia tornou-se um modelo amoroso fixo e inflexível, “[...] um pacto 
público socialmente aceito, vigiado e aplicado pela civilização cristã- monogâmica, que 
insiste em fechar os olhos para as relações não monogâmicas” (VIEGAS, 2017, P. 
167). 
Demonstra-se mais cômodo manter os padrões engessados de uma sociedade 
conservadora ao invés de dar abertura aos reais parâmetros familiares pós-modernos. 
Essa reprovabilidade impositiva retira a liberdade de escolha de muitos sujeitos, que 
mesmo manifestando seu desejo e havendo a concordância de todos os inclusos na 
relação, precisam da aprovação social e do reconhecimento legal de um sistema que 
segue sem enxergá-los. 
Maria Berenice Dias (2013, p. 54) aponta que: “[...] Negar a existência de 
famílias poliafetivas como entidade familiar é simplesmente impor a exclusão de todos 
os direitos no âmbito do direito das famílias e sucessório”. Dentro de um ordenamento 
jurídico que preserva a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental, “[...] 
é indigno dar tratamento diferenciado às várias formas de filiação ou aos vários tipos de 
constituição de família” (PEREIRA, 2012, p. 121). 
Negar o reconhecimento das uniões plúrimas demonstra o descaso com a 
autonomia privada, a liberdade e ainda o desrespeito com a dignidade da pessoa humana. 
Hoje, enxerga-se como inapropriado seguir um modelo familiar que não seja o 
monogâmico, a legislação não oferta outra escolha, mesmo sabendo que existem, 
permitindo que esse impasse seja sustentado sem nenhuma resposta. 
A sociedade pós-moderna tem firmado cada vez mais a busca pela felicidade e a 
afetividade como base para as relações familiares, portanto, se faz necessário abraçar a 
realidade vivida, admitir a dimensão familiar multifacetada contemporânea, como o 
poliamor, abarcar a diversidade plúrima das uniões e inseri-las sob a proteção estatal, 
assegurando a todos, por igual, o direito de amar. 
 
CONCLUSÃO 
Ao longo do presente artigo buscou-se analisar o desenvolvimento do instituto 
familiar no transcorrer do tempo, visto a aparição de novos modelos afetivos, como o 
 
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poliamor, além de discutir a expectativa de legitimação dessa ideologia contemporânea 
e multifacetada diante da imposição normativa monogâmica no Brasil. 
A família apresenta-se como um universo de proteção progressiva do próprio ser 
humano, assim como da máquina estatal. Todo indivíduo tem sua função no centro 
familiar, de modo que cada qual oferta sua parcela de contribuição, criando vínculos 
recíprocos, alimentando o sustento afetivo e material de todos os membros. Deste modo, 
o instituto familiar consolida suas ramificações no âmbito social, econômico e jurídico, 
por isso é sempre alvo de importantes debates. 
Atravessando a evolução histórica da família brasileira, é evidente a preminência 
da monogamia como modelo exclusivo, sustentada por poderosos dogmas religiosos e 
culturais conservadores. No entanto, nas últimas décadas, formas alternativas de 
vínculos afetivos tem buscado seu reconhecimento diante da sociedade, amparadas pela 
a afetividade como base da construção familiar. 
O referido Poliamor, é um exemplo vivo da suplantação dos preceitos 
monogâmicos como único modo aceitável de união afetiva. Entidades familiares 
poliamoristas são reais, as relações plúrimas amorosas precisam ser notadas e acolhidas 
como igualmente válidas, ao invés de sofrer repressão social e das instituições políticas. 
Precisam-se expandir os debates em todas as esferas públicas, pois os afetos humanos 
extrapolam a obrigatoriedade em seguir um rígido padrão imutável. 
O mundo contemporâneo convida todos a revisar os protótipos absolutos 
estabelecidos, os quais não se harmonizam com os povos, nem com o tempo, acentuando 
a inviabilidade de se eleger verdades homogêneas, em virtude de sua relatividade e 
parcialidade. Além disso, o Estado deve intervir minimamente no instituto familiar, fato 
este que obstaculiza interferências impertinentes e injustificadas, até porque esta 
intercessão deve se dar com o objetivo de protegê-lo. 
O Direito de Família caminha de forma mais humanizada, o que traduz sua 
repersonalização. Não é digno permanecer nessa negativa de direitos fundamentais a 
indivíduos que constroem seus arranjos familiares firmado na boa-fé, liberdade, 
afetividade e respeito. É mais plausível flexibilizar valores e normas jurídicas, ao invés 
da dignidade da pessoa humana. O Direito existe não somente para criar regras, mas 
especialmente para preservar tal dignidade. 
É visível a carência jurisprudencial, as cortes superiores do país ainda não 
possuem posicionamento sobre a matéria e a última resposta que se tem foi proferida em 
 
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2018 com a decisão do Conselho Nacional de Justiça suspendendo as escrituras de 
uniões poliafetivas. Desde então, prevalece uma insegurança jurídica escancarada, 
comprovando o quanto essa temática e as pessoas nela envoltas carecem de atenção por 
parte do ordenamento jurídico, político e social. 
Portanto, visto que o Poliamor traduz um relacionamento composto por pessoas 
livres e iguais que, consensualmente, se unem no intuito de edificar uma família, fundada 
nos mesmo valores constitucionais das demais, é incabível impor entraves, limitando a 
afetividade destes indivíduos. Manter o valor monogâmico compulsório,reconhecido 
como o único válido, é ilegítimo. 
O sistema jurídico brasileiro necessita despir-se dos preceitos inflexíveis, 
acompanhar os arranjos familiares pós-modernos e enfim, reconhecer o poliamor como 
uma identidade relacional, concedendo-os proteção normativa e honrando os princípios 
da afetividade e dignidade da pessoa humana. 
 
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