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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO COORDENADORIA GERAL DE ESPECIALIZAÇÃO, APERFEIÇOAMENTO E EXTENSÃO VICTOR HUGO GRISÓLIA DA CONCEIÇÃO AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO Natureza satisfativa ou preparatoria? São Paulo/SP 2014/2 2 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO COORDENADORIA GERAL DE ESPECIALIZAÇÃO, APERFEIÇOAMENTO E EXTENSÃO VICTOR HUGO GRISÓLIA DA CONCEIÇÃO AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO Natureza satisfativa ou preparatoria? Trabalho apresentado à coordenadoria do curso de Especialização em Direito Processual Civil, em andamento por essa Instituição de Ensino Superior, como requisito para a conclusão do módulo “Tutelas de urgência e procedimentos especiais” – Turma C. São Paulo/SP 2014/2 3 Sumário Considerações Iniciais.............................................................................................................................6 1.Dos Acórdãos.......................................................................................................................................6 1.1. Análise fático-jurídica..................................................................................................................6 1.2. Pela Prevenção.............................................................................................................................7 1.3. Pela Não Prevenção.....................................................................................................................7 Considerações Finais..............................................................................................................................8 Referências bibliográficas.......................................................................................................................9 4 Considerações Iniciais Na atual sistemática processual civil, encontram-se três modelos básicos de processo, a saber: de conhecimento, de execução e cautelar. No primeiro, busca-se, aprioristicamente, o pronunciamento judicial para reconhecimento e aplicação de determinada norma ou conjunto de normas à situação de fato delimitada nos autos. Nos feitos executivos, almeja-se o efetivo cumprimento de mandamento judicial ou daquele contido em documento cuja força executiva é atribuída pela lei. Já nos processos cautelares, objeto deste estudo, objetiva-se garantir a eficácia do futuro ou atual processo de conhecimento ou de execução.1 As medidas cautelares, via de regra, tem caráter provisório e instrumental. Provisório porque perduram até substituição pela medida definitiva ou até que ocorra situação nova que as tornem (as medidas cautelares) desnecessárias. Ademais, o processo cautelar surgiu da necessidade de se assegurar a existência do processo principal, resguardando-se o “bem da vida” a ser perseguido neste, daí porque dizer-se que é instrumental, já que garante a eficácia de um instrumento (pois, como se sabe, a doutrina classifica o processo como instrumento do direito material, por meio do qual este é aplicado e, portanto, já que o processo cautelar visa, em princípio, assegurar o regular processamento da demanda principal, apresenta-se como “instrumento do instrumento”)2. E é exatamente da instrumentalidade e da cautelaridade do processo que surge a controvérsia que será tratada adiante, já que muito se discutiu e ainda se discute na doutrina e jurisprudência pátrias se as ações cautelares, que encerram sua finalidade em si mesmas, teriam natureza preparatória ou meramente satisfativa. Tal questão apresenta-se de suma importância tendo em vista que o juiz que processar a ação cautelar seria, via de regra, prevento para processamento da ação principal. Diante disso, pergunta-se: caso se reconheça a existência de medidas cautelares de caráter satisfativo, o juiz que se pronunciou na ação cautelar seria prevento para julgar a ação principal ou esta deveria ser distribuída de forma livre? Para tanto, faz-se necessária a análise de dois acórdãos recentemente proferidos por Câmaras do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, como passa a expor. 1 WAMBIER, Luiz Rodrigues & TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: processo cautelar e procedimentos especiais, volume 3 – 13 Ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2014, p. 49/50. 2 FILHO, Vicente Greco. Direito processual civil brasileiro, volume 3: processo de execução a procedimentos especiais – 19 Ed. – São Paulo : Saraiva, 2008, p. 167. 5 1. Dos Acórdãos Conforme alhures mencionado, segue ementa dos acórdãos proferidos pela Câmara Especial e pela 28ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 3 que, respectivamente, decidiram pela prevenção e não prevenção do juízo que processou a cautelar de natureza satisfativa para o processamento e julgamento da ação principal. Ementa: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. Ação proposta posteriormente à cautelar de exibição de documentos. Prevenção do Juízo em que tramitara a ação cautelar. Conexão por acessoriedade. Inteligência dos artigos 108, 796 e 800, caput, todos do Código de Processo Civil. Conflito julgado procedente. Competência do MM. Juízo suscitado. (Conflito de competência n. 0035511-74.2014.8.26.0000, Relator(a): Camargo Aranha Filho, Comarca: São José do Rio Preto, Órgão julgador: Câmara Especial, Data do julgamento: 03/11/2014, Data de registro: 04/11/2014) Ementa: EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. Concessão dos benefícios da justiça gratuita. Pedido não apreciado em primeiro grau. Impossibilidade de análise em segundo grau sob pena de infringência aos princípios do duplo grau de jurisdição e do devido processo legal. Pleito de reunião das ações de busca e apreensão e de exibição de documentos. Propositura de prévia ação cautelar que não justifica aprevenção do juízo, máxime ante o seu caráter satisfativo. Inaplicabilidade da regra prevista no art. 219 do Código de Processo Civil, ante a ausência de conexão entre os processos. Recurso conhecido em parte e, na parte conhecida, desprovido. (Agravo de Instrumento n. 2156269-48.2014.8.26.0000 , Relator(a): Dimas Rubens Fonseca, Comarca: Praia Grande, Órgão julgador: 28ª Câmara de Direito Privado, Data do julgamento: 21/10/2014, Data de registro: 23/10/2014) 1.1. Análise fático-jurídica A primeira ementa, que acompanha o voto proferido nos autos de n. 0035511- 74.2014.8.26.0000, refere-se a conflito de competência suscitado em razão da recusa do magistrado que conduziu o processo cautelar de exibição de documento em processar a ação principal. O Ilustre Relator entendeu pela acessoriedade e relação de dependência do processo cautelar em relação à ação principal, reconhecendo, via de consequência, a prevenção do suscitado para promover o processamento e julgamento da ação principal. O segundo caso, trata-se de agravo de instrumento interposto em face da decisão que rejeitou exceção de incompetência, deixando de reconhecer a prevenção do juízo que conduziu a cautelar. Fundamenta, o Relator, que a ação de exibição de documento tem contorno satisfativo, o que quer dizer que, com a apresentação do documento em juízo, encerra aí a pretensão da parte. Se ela o utilizará (o documento) para fundamentar nova demanda ou se decidir que o documento não é hábil a 3 Cópia integral dos acórdãos ao final. 6 instruir ação futura, o caminho a ser trilhado pela parte nada tem a ver com a ação cautelar que já entregou integralmente ao Autor o que este foi buscar em juízo. 1.2. Pela Prevenção Os estudiosos mais tradicionais entendem que o processo cautelar sempre visa resguardar,proteger, viabilizar “o bom andamento” do processo principal, mesmo nos casos em que a pretensão do Autor seja apenas a apresentação de documentos em juízo ou somente a produção antecipada de uma prova que corre o risco de se deteriorar. GRECO FILHO ao dispor sobre a ação cautelar de exibição sustenta que sua finalidade é a constatação de um fato para resguardar interesse probatório futuro4. Observa-se que os argumentos aduzidos pelos estudiosos que defendem a posição em comento fundam-se tão somente no caráter preparatório, acautelarório e instrumental das medidas cautelares, tais como quando introduzidas no ordenamento jurídico pátrio. Tais doutrinadores, por entenderam que a ação de exibição faz parte do rol das ações cautelares e por isso sempre assegurará a satisfação de outro processo, sustentam que todas as disposições aplicáveis ao procedimento cautelar serão irrestritamente impostos à cautelar nominada em comento e, portanto, o juízo que conceder provimento jurisdicional em sede da ação de exibição será prevento para julgar a ação principal que, inclusive, deve ser proposta no prazo de 30 (trinta) dias, conforme dicção do artigo 806 do diploma processual civil. Contudo, data máxima vênia, tais argumentos apresentam-se sobremaneira ultrapassados e contrários à processualística moderna, como se observa pelo segundo acórdão, que se passa à análise. 1.3. Pela Não Prevenção É certo que o espírito das cautelares é exatamente o de assegurar que o provimento jurisdicional dado à parte em eventual processo de conhecimento/execução seja efetivamente usufruído pelo jurisdicionado. Ocorre que, necessária se faz uma distinção entre as diversas espécies de cautelares nominadas dispostas no Código de Processo Civil atual, sob pena de, inclusive, prejudicar o jurisdicionado que, por exemplo, entenda que a prova produzida antecipadamente ou o documento ou a coisa exibidos na verdade o prejudicará e opte pelo não ajuizamento da principal. Nesse sentido, HUMBERTO THEODORO JUNOR leciona que a ação de exibição de documento “não visa [...] privar o demandado da posse do bem exibido, mas apenas a propiciar ao promovente o contato físico direto, visual, sobre a coisa.5” 4 FILHO, Vicente Greco. Op. cit., p. 196. 7 Já para LUIZ RODRIGUES WAMBIER e EDUARDO TALAMINI a cautelar de exibição pode assumir tanto o caráter acautelatório quando visa realmente assegurar que o documento seja utilizado em ação futura, como o caráter satisfativo, já que o fim precípuo é conhecer e fiscalizar determinada coisa ou documento6. Mister ressaltar que WAMBIER e TALAMINE, que entendem ser possível atribuir o caráter acautelatório à ação de exibição, sustentam que em nenhum dos casos (exibição cautelar preparatória ou satisfativa) será aplicada a regra do artigo 806 do Código de Processo Civil (necessidade de ajuizamento da ação principal), já que para eles, assim como para o professor HUMBERTO THEODORO JUNIOR, referida ação não tem caráter constritivo de direitos7. Ainda, vale trazer à baila brilhante explanação dos eminentes processualistas LUIZ GUILHERME MARINONI e SÉRGIO CRUZ ARENHART que em sua obra disciplinam que Está claro que a medida em questão não possui natureza cautelar. Não se destina ela a proteger a tutela de algum direito, nem sequer objetiva assegurar situação jurídica tutelável. Tal como ocorre com a medida de exibição, a função da asseguração de prova é simplesmente a de proteger direitos processuais (a ação e a defesa). São medidas, então, que se relacionam com a eficácia do processo e não, pelo menos diretamente, com a proteção de interesses materiais8. Daí se depreende que para a doutrina moderna o que se busca é a finalidade para a qual o instituto foi criado e o que este mesmo instituto visa tutelar. Como muito bem exposto por MARINONI e ARENHART, se se admitir que a ação de exibição visa assegurar algo, pode-se dizer que se busca, portanto, a proteção dos direitos processuais das partes, não havendo que se falar em acautelar direitos materiais, ao menos não diretamente. Em decorrência dos argumentos aqui compilados, resta dizer que a doutrina e a jurisprudência modernas, em sua maioria tem admitido que a medida preparatória de exibição não gera prevenção, eis que desde logo satisfaz (e não assegura) a pretensão do Autor; é medida que exaure-se em si mesma com a simples apresentação dos documentos9. 5 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil : processo de execução e cumprimento da sentença, processo cautelar e tutela de urgência, volume 2. – 42.Ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2008, p. 660. 6 WAMBIER, Luiz Rodrigues & TALAMINI, Eduardo. Op. cit., p. 125. 7 IDEM, p. 131. 8 MARINONI, Luiz Guilherme &; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: Processo Cautelar, volume 4. – 3. Ed. – São Paulo : Revistas Dos Tribunais, 2011, p. 261. 9 NEGRÃO, Theotonio. & GOUVÊA, José Roberto F. Código de processo civil e legislação processual em vigor. - 41. Ed. - São Paulo : Saraiva, 2009, p. 1005. 8 Considerações Finais Imperioso verificar que com o tempo o instituto das ações cautelares evoluiu, atingindo hoje discussões muito mais condizentes com o momento processual atual. Com o devido respeito aos que entendem pelo caráter puramente cautelar da ação de exibição e, via de consequência, pela prevenção do juízo que conduziu a ação preparatória para o processamento da ação principal, observa-se que a doutrina e a jurisprudência que em sua maioria tem entendido pela satisfatividade da cautelar de exibição tem bases que melhor coadunam com o espírito das leis. Assevera-se isso porque o autor da exibição pode, inclusive, convencer-se que os documentos ou a coisa apresentada em juízo não tem força probatória suficiente para resguardar a pretensão que planejava buscar com a ação principal, o que demonstra certa distância entre esta e aquela, não havendo razões mais fortes no sentido de tornar o juízo da cautelar de exibição prevento para o processamento da ação principal. Assim, retomando o questionamento esposado nas considerações iniciais, infere-se que hodiernamente a determinadas cautelares, como a de exibição, foi reconhecido o caráter satisfativo, que se traduz no alcance da pretensão do Autor no bojo da própria ação de cautelar, não gerando, portanto, o efeito de tornar prevento o juiz para o conhecimento da ação principal que, conforme alhures mencionado, fica a cargo do autor intentá-la ou não. 9 Referências bibliográficas • FILHO, Vicente Greco. Direito processual civil brasileiro, volume 3: processo de execução a procedimentos especiais – 19 Ed. – São Paulo : Saraiva, 2008; • MARINONI, Luiz Guilherme &; ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de Processo Civil: Processo Cautelar, volume 4. – 3. Ed. – São Paulo : Revistas Dos Tribunais, 2011; • NEGRÃO, Theotonio. & GOUVÊA, José Roberto F. Código de processo civil e legislação processual em vigor. - 41. Ed. - São Paulo : Saraiva, 2009; • THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: processo de execução e cumprimento da sentença, processo cautelar e tutela de urgência, volume 2. – 42.Ed. – Rio de Janeiro : Forense, 2008; • WAMBIER, Luiz Rodrigues & TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil: processo cautelar e procedimentos especiais, volume 3 – 13 Ed. – São Paulo : Editora Revista dos Tribunais, 2014. Sítios eletrônicos acessados • Superior Tribunal de Justiça <www.stj.jus.br>, acessado em 08/11/2014, às 10h00min. • Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo <www.tjsp.jus.br>, acessado em 08/11/2014, às 10h15min. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ConsideraçõesIniciais 1. Dos Acórdãos 1.1. Análise fático-jurídica 1.2. Pela Prevenção 1.3. Pela Não Prevenção Considerações Finais Referências bibliográficas
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