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História e Importância do QAE

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Renato soares

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DEDICATÓRIA
 Este livro busca resgatar a história do QAE nos seus
30 anos, como um presente especial para todos os servidores 
do quadro: os do passado e os do presente - que ajudaram a 
construir o quadro e o mantém vivo - e, principalmente, os 
do futuro, que terão nessas páginas o suporte que aqueles não 
tiveram.
Após a leitura deste livro, espero que você tenha percebido que 
as últimas três décadas de trabalho desses profissionais foram 
dedicadas à Educação e não existe motivo algum para não 
considerá-los como que eles são: educadores.
Esperamos firmemente que estas páginas sejam um motor 
para o surgimento de outras mais, para que as trajetórias desses 
educadores inspirem as futuras gerações e que os projetos e 
iniciativas se multipliquem e deem frutos que representem a 
categoria e a sua importância. Este é apenas o começo.
Vamos juntos!
4
AGRADECIMENTOS
A todos autores desta obra.
A revisora e historiadora Jaqueline de Oliveira.
A designer gráfica Thaís Alencar.
E a todos os profissionais do QAE que acreditaram e acreditam 
que é possível sermos protagonistas da nossa história.
5
 
AOE - Agente de Organização Escolar
ATPC - Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo
CTC - Certidão de Tempo de Contribuição
ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio
GDAE - Gestão Dinâmica de Administração Escolar
GOE - Gerente de Organização Escolar
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
INSS - Instituto Nacional do Seguro Social
PROUNI - Programa Universidade Para Todos
QAE - Quadro de Apoio Escolar da Secretaria de Educação 
do Estado de São Paulo
QSE - Quadro de Secretaria do Estado
RMSP - Região Metropolitana de São Paulo
SED - Secretaria Escolar Digital
SEDUC - Secretaria de Educação
TJSP - Tribunal de Justiça de São Paulo
UNIFACCAMP - Centro Universitário Campo Limpo 
Paulista
EFAPE – Escola de Formação dos Profissionais da Educação 
do Estado de São Paulo
LISTA DE
Abreviacoes,
~
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PREFÁCIO .............................................................................
INTRODUÇÃO .....................................................................
Capítulo 1 • POR QUE ESCREVER UMA HISTÓRIA 
DO QUADRO DE APOIO ESCOLAR DE SÃO PAULO 
O papel da história oral e das trajetórias para a construção da 
memória do QAE ............................................................................................................
O não-dito e a invisibilidade do QAE ...............................................................
Capítulo 2 • UM BREVE HISTÓRICO DA 
TRAJETÓRIA DOS “FUNCIONÁRIOS DA ESCOLA” 
NO BRASIL ............................................................................................
Os antecedentes dos “funcionários de escola”: do período 
colonial a Proclamação da República ..............................................................
Os antecedentes dos “funcionários de escola”: do Cidadãos 
e profissionais da Educação: do início da República a 
redemocratização .........................................................................................................
Da redemocratização aos dias de hoje ...........................................................
Capítulo 3 • O QUADRO DE APOIO ESCOLAR DO 
ESTADO DE SÃO PAULO .............................................................
Os “funcionários de escola” do estado de São Paulo antes da Lei 
do QAE: memórias .........................................................................................................
Os “funcionários de escola” do QAE do Estado de São Paulo: 
memórias ............................................................................................................................
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SUMÁRIO
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Capítulo 4 • INICIATIVAS DOS EDUCADORES DO 
QAE ............................................................................................................ 
QAE&QSE: O Blog da Cidadania ..........................................................................
Projetos “Leitura para quê te quero?” e Redação ENEM ....................
Dentro e fora da escola ...............................................................................................
Contando e ouvindo histórias ................................................................................
Pioneira .................................................................................................................................
Informação na palma da mão ...............................................................................
Representatividade e a Profaci .............................................................................
Capítulo 5 • DESAFIOS E SONHOS ......................................
Presente e futuro: algumas discussões ...........................................................
Para não concluir ............................................................................................................
Capítulo 6 • MANIFESTO DOS EDUCADORES DO 
QAE ............................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................
ANEXOS .................................................................................
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PREFÁCIO
Um legado. Esse é o meu objetivo na organização e publicação
do segundo livro sobre os profissionais do Quadro de 
Apoio Escolar. É a minha contribuição para uma categoria 
tão importante na vida da comunidade escolar e essencial 
para que a escola funcione. Olhando para trás, lá em 
junho de 2009 no meu ingresso, vejo o quanto a luta pela 
valorização profissional – envio de ofícios para a SEDUC-
SP e em mãos aos secretários da educação relatando nossas 
demandas, participação na reunião de polos pela valorização 
dos servidores e no congresso estadual de gestão democrática, 
live com o secretário da educação, participação no CMSP 
em defesa da categoria, participação efetiva nas orientações 
técnicas de GOEs da Diretoria de Ensino Região Guarulhos 
Sul, criação da Profaci, publicação dos livros, criação da 
pósgraduaçãoexclusiva ao QAE, entre outras ações - valeu a 
pena. As conquistas são fruto de engajamento, networking, 
persistência, paixão e muita paciência.
É claro que estamos longe do que acreditamos ser o ideal 
para a categoria, mas é certo que houve um significativo 
avanço nos últimos anos. Os próximos passos, passam pelo 
reconhecimento e valorização dos Secretários de Escola, 
Agentes de Serviços Escolares e Assistentes de Administração 
Escolar, incluí-los no reenquadramento funcional como os 
AOEs é fundamental para a continuidade desse avanço. A 
chegada de um novo governo reacende uma nova janela de 
oportunidades, diálogo e a esperança de conquistas para todos 
os profissionais do Quadro de Apoio Escolar.
Vamos juntos nessa!
Rodrigo Gabriel da Silva
Ex-Agente de Organização Escolar
CEO da Escola Profaci
9
“Nós temos saberes e contribuições 
importantes. Temos conhecimentos. 
O que sofremos é uma violência 
epistêmica que invalida, apaga e 
tenta dizimar a nossa contribuição 
intelectual pelo simples fato de não 
nos encaixarmos em um certo modelo 
- equivocado - do que é ser educador. 
Precisamos enquanto grupo, enquanto 
coletivo que somos, reivindicar o 
direito a sermos reconhecidos. Sermos 
vistos como o que de fato somos: 
sujeitos do processo. Este livro é uma 
grande oportunidade, ferramenta da 
instituição de uma nova perspectiva, 
de resistência e de estabelecimento 
de uma identidade que já existe, mas 
que não é reconhecida e, até por nós, 
desconhecida.” 
Edson Ferreira da Silva
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO 1
Por que escrever uma história do Quadro de Apoio 
Escolar de São Paulo
 A Lei 7.698/1992 - que criou o Quadro de Apoio 
Escolar da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo 
(QAE) - completou 30 anos no último mês de janeiro.projetos como, 
por exemplo, o coral, o sarau, o Silvia2 TV (canal no YouTube), 
o projeto de leitura, dentre outros.
A cidade em que atuo, Francisco Morato, localizada na Região 
Metropolitana de São Paulo (RMSP), é a cidade com o menor 
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região, segundo o 
IBGE. Para a maioria dos estudantes, a escola é o único espaço 
que eles têm para frequentar, realizar as interações sociais e, 
inclusive, ter lazer.
Não se pretende aqui confundir o papel da escola de dar conta 
da aprendizagem do educando, o que ela faz em um processo 
sistematizado e com profissionais qualificados para atender 
essa demanda. Contudo, existem muitas realidades locais, que 
muitas vezes são ignoradas ou são incentivadas e bem-sucedidas, 
a depender da Direção da Escola, que poderá incluir ou não, 
61
a comunidade escolar como um todo no processo de ensino-
aprendizagem, diferenciando as funções de cada segmento escolar, 
mas aproximando os sujeitos para o trabalho em equipe, sucesso 
dos projetos e melhora significativa dos índices oficiais, por 
exemplo, o IDEB, o caso exitoso do trabalho coletivo e articulado 
sob a gestão democrática do Diretor Ismar Pusti de Azevedo, na 
E.E. Jardim Silvia II.
Trabalhar com projetos já um desafio em si, pois um projeto 
não funciona como aula, não acontece em sala, geralmente ele é 
temático, mas isto não quer dizer que ele é um trabalho planejado 
nos espaços escolares e com objetivos claros: incentivar a leitura (no 
Ensino Fundamental) e a leitura interessada em provas (Ensino 
Médio). O projeto está dentro de um tempo estipulado, possui 
número de alunos e cada faixa etária tem textos ou obras literárias 
específicas. Além disso, um projeto precisa ser uma demanda da 
comunidade e discutido pela equipe escolar. No caso do projeto 
Leitura para quê te quero? houve adesão dos estudantes, apoio da 
comunidade e ele foi discutido e organizado em vários ATPCS. A 
implantação de um projeto enfrenta várias dificuldades: é nova a 
ideia de trabalhar com projetos na rede estadual de ensino regular, 
há dificuldades em articular o projeto entre a equipe, falta de 
materiais adequados para atividades etc.
Com a saída do Diretor de Escola Ismar Pusti e no contexto da 
pandemia de Covid-19, o projeto de leitura, além das dificuldades, 
passou a enfrentar problemas com a nova Direção da Escola, 
mesmo que ele estivesse respaldado legalmente (Resolução SE nº 
52/2011). A Direção divulgou que o funcionário que estava à 
frente do projeto de leitura, dentro do seu horário de trabalho, 
estava cometendo desvio de função. A situação se agravou com 
vários problemas de ordem processuais (judiciais e funcionais) e 
o projeto teve seu curso interrompido. No entanto, eu não desisti 
e mantive o contato com os alunos a distância para cumprir o 
ciclo do plano de trabalho autorizado pela Direção anterior. 
62
Faltavam apenas três meses para o término da última fase quando 
ele foi suspenso pela nova Direção da Escola. Mesmo ganhando 
um Mandado de Segurança no TJSP, o projeto de leitura não 
retornou.
O mais importante no serviço público não são os interesses pessoais 
dos servidores que nele trabalham, é dever de todo servidor público 
seguir o critério da impessoalidade. Em relação ao projeto de 
leitura eu garanti o meu papel de educador enquanto funcionário 
de escola e o direito à leitura dos alunos que procuraram o projeto e 
nele depositaram suas expectativas. Assim, continuei as atividades 
do projeto com as dificuldades apresentadas e busquei acreditar 
que o desafio era o de fazer os alunos do terceiro ano entrarem 
na faculdade. Uma delas passou com bolsa de estudos 100% no 
PROUNI na Universidade Paulista, no curso de Fisioterapia, 
outra também ingressou com bolsa de 100% na UNIFACCAMP, 
no curso de Nutrição. Elas foram aprovadas com notas do ENEM 
e, devido ao projeto de leitura, obtiveram notas altas em suas 
redações. Uma terceira estudante foi incentivada a conhecer os 
vestibulares das universidades estaduais.
Em relação ao Ensino Fundamental, com a proibição de falar com 
os alunos e suspensão do projeto de leitura, não dei continuidade, 
mantive contato e atividades de leitura inclusiva apenas com uma 
estudante com Síndrome de Down. Ela demorou para retornar 
às aulas presenciais porque esperava tomar a vacina contra 
Covid-19. O objetivo era aproximar a escola dela, mesmo com 
leitura e acompanhamento a distância, garantindo o direito da 
estudante à educação.
Por fim, vale ressaltar a importância da gestão democrática da 
escola em todos os sentidos: gestão, acadêmico e acolhimento da 
comunidade escolar para uma efetiva colaboração de todos com 
objetivo de construir uma escola que, para além de cumprir 
metas e preparar estudantes para o trabalho, os torne cidadãos 
que compreendam seu papel na sociedade e sejam protagonistas 
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de suas histórias.
Claudio Adão dos Santos
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Dentro e fora da escola
“Alguns me conhecem, outros não. Sou Wilmar, iniciei no Estado 
em 2008 como Agente de Organização Escolar, em 2010 me 
efetivei e em 2011 virei Secretário Designado, já em 2011 Gerente 
de Organização Escolar. Iniciei no Orkut onde foram as minhas 
primeiras contribuições para a categoria, aprendendo e ensinando. 
Muitos ainda não confiavam em mim. Foi no Facebook, ajudando 
o Edson e alguns outros, que ganhei visibilidade na categoria. Por 
um tempo ajudei o Edson no blog, mas não estava muito “afiado” 
para falar a mesma linguagem e acabei saindo.
Os grupos de ajuda criados principalmente no Orkut foram 
fundamentais para a evolução profissional na carreira; ali 
tornamos uma só família em busca do mesmo objetivo, uma 
vez que cada diretoria orientava de formas diferentes, os grupos 
eram a mesma linguagem; posso dizer que ali trabalhamos 24 
horas diárias, 7 dias por semana, 30 dias por mês e 365 dias 
no ano; não tínhamos horário fixo para responder e ajudar os 
colegas, então respondíamos sempre que conseguíamos, seja final 
de semana, férias, feriados, enfim, nos doávamos para fazer para 
os colegas o que o Estado carecia, que era o de ensinar o serviço ou 
mesmo o de esclarecer nossas dúvidas.
Como temporário, entrei na E.E.T.I. Brigadeiro Eduardo Gomes, 
uma escola pequena de 1º ao 5º ano, onde os alunos frequentavam 
das 7h às 16h10. Escola tranquila com alunos carentes das 
comunidades ao redor e do bairro da Vila Formosa, desempenhei 
a função com maestria. Fazia entrada e saída, olhava os intervalos 
e principalmente colaborava com os professores. Como as verbas 
do Estado nunca eram suficientes, fora do horário de serviço 
colaborava com a escola voluntariamente realizando pequenos 
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reparos, instalação de ventiladores, telas de pombos, tomadas e 
computadores. Percebi que o Governo havia enviado computadores 
novos e os antigos ficaram esquecidos e empoeirados, resolvi 
formatar e recuperar eles montando uma sala de computadores 
com jogos educativos para os alunos usarem na hora do intervalo. 
Além do projeto Jogos Educativos, também criei outros projetos no 
horário de almoço como TV educativa, jogos como cordas, damas 
e um pequeno stand de livros e gibis para leitura, criando um 
ambiente com pufes doados pela comunidade para que os alunos 
pudessem estar confortáveis.
No ano de 2009, o governo encerrou todos os contratos no mês de 
maio, o que ocasionou na falta de funcionários para atuarem nas 
escolas. O concurso estava em andamento, mas ainda em fase de 
perícias médicas. Para colaborar com a escola, permaneci por um 
mês atuando como AOE sem receber pelo estado. No ano de 2010, 
após o encerramento do meu contrato temporário, me efetivei no 
cargo de AOE, 01/03/2010 foi a data que mudou a minha vida. 
Já gostava de atuar como temporário, como efetivo poderia fazer 
muito mais pela Educação de São Paulo.
Em 2012, consegui a primeira Audiência Pública junto ao 
deputado Carlos Giannazi, e posteriormente mais duas. Na 
segunda já sentei à mesa de tribuna juntamente com o André e 
uma Agente de OrganizaçãoEscolar cujo nome não me recordo. 
Foi muito importante e trouxe mais visibilidade para a categoria. 
Falei um pouco da nossa luta na TV ALESP, fui convidado 
para um programa ao vivo e enviei a Ângela no meu lugar. 
Em 2013, junto com a Maria, Ângela e Selma, fizemos uma 
reunião com a Secretária Adjunta, Cleide, e o Chefe de Gabinete, 
Fernando Padula. Nessa ocasião, levamos o entendimento do 
artigo 133 que era recusado para os Gerentes de Organização 
Escolar e ali conquistamos a incorporação do mesmo. Em 2015, 
em uma paralisação independente do sindicato, junto com o 
Giannazi conseguimos entrar na SEDUC. Na época, fomos 
66
recebidos pelo Secretário de Educação José Renato Nalini e pelo 
Chefe de Gabinete Wilson Levi. Sem muito sucesso em termos de 
conquistas. Porém, quando os que paralisavam me elegeram para 
entrar, senti a obrigação de defender a categoria.
Ainda em 2013, iniciei a luta para levar o administrativo para 
a Secretaria Escolar Digital - SED, até então criada apenas para 
ser um diário de classe virtual, e o André, Coordenador na época, 
me ouviu e iniciamos a transferência do Administrativo para a 
plataforma. De lá para cá ainda faço sugestões que, aos poucos, 
se solidificam em mudanças. A maior conquista foi o BFE que 
ainda não está concluído. Fiquei Gerente de Organização Escolar 
até 2019, e fui elaborando planilhas automatizadas e quadros de 
legislação que atualizo até hoje gratuitamente a fim de otimizar 
o tempo das escolas. A partir de segunda-feira vou atualizar a 
Calculadora de Readaptado.
Em 2019, exonerei e assumi o cargo de Professor PEB I. Nessa 
trajetória ajudei e contribuí em quase todos os grupos do Nilton, 
e às vezes respondo às pessoas até mesmo em nossas mensagens 
privadas. Hoje estou atuando no CEPEA que pertence ao 
DEPLAN, CGRH, e ajudo “de dentro”, trazendo ainda soluções 
para a categoria. Nós fazemos o estudo de possíveis progressões ou 
promoções de toda Educação, impacto financeiro na folha mensal 
e anual, incluindo patronal. Estou à disposição para contribuir 
mais uma vez para uma categoria que está em meu coração. 
Fundei o grupo de WhatsApp para GOEs, o “amiGOES”, e dois 
grupos SED.”
Wilmar Galdêncio de Oliveira Júnior
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Contando e ouvindo histórias
“Como tenho uma formação em Psicologia, sempre tive projetos 
que giravam ao redor disso. Eu tinha um projeto de orientação 
vocacional aos sábados, durante duas horas. Além disso, durante 
um tempo tive a iniciativa de organizar uma roda de escuta, 
com que as meninas se interessaram e trouxeram uma série de 
temas importantes e delicados, como bulimia, automutilação… 
Isso me deu a ideia de um projeto para o Setembro Amarelo, 
mas infelizmente a escola não tinha para onde encaminhar os 
alunos com algum problema. No Ensino Fundamental I, eu 
comecei a fazer um curso de contação de histórias na biblioteca. 
Essa experiência me fez escrever um conto sobre bullying, que eu 
gostaria de publicar e depois disponibilizar para utilização nas 
escolas.”
Carolina Soares Manfio
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Pioneira
“Eu fiquei, então, designada Secretária e acabei saindo da escola 
em que eu estava, que era em Mauá, e fui para uma escola em 
São Paulo. E lá eu tinha bastante autonomia para fazer o que 
eu quisesse, a diretora era super tranquila, e eu comecei a me 
engajar mais nas coisas fora daquela coisa só da secretaria. Então, 
por exemplo: o primeiro bônus foi feito só para professores, e aí 
eu estava ali, olhando o Diário Oficial e de vez em quando eu 
olhava o site da Secretaria de Educação, para dar uma olhada 
mesmo, ver o que tinha de novo, até que um dia eu vi lá “Bônus 
para os profissionais da Educação”, aí eu fiquei feliz, fui ler todo 
o texto e era para os professores. “Profissionais da educação” só 
eram os professores, e era R$500 sei lá, na época. Eu sei que eu 
fiquei muito, mas muito, muito, brava. E o que eu fiz? Na hora 
eu entrei lá no e-mail e mandei para a Secretária de Educação 
toda a minha indignação, dizendo que eu trabalhava mais de 
oito horas por dia, que eu tinha mais contato com o pessoal da 
escola do que com a minha própria família, que eu passava muito 
mais tempo na escola resolvendo os problemas da escola… Que 
a Diretoria, como sempre, tudo pedia para ontem… Eu fiquei 
muito brava. Sei que eu escrevi um monte de coisa e mandei o 
e-mail.
Eu encaminhei o e-mail para todas as escolas da minha 
Diretoria, dizendo assim: “Pessoal, olha o que eu mandei para 
a [Secretaria de] Educação”, e aí o pessoal “Ai, parabéns!” e tal, 
e ficavam mandando coisas, só que a gente era muito novo na 
internet e ninguém se deu conta de que a gente estava enviando 
para todos. Então todas as vezes que alguém mandava alguma 
resposta, respondia para todos, aí a caixa de correio congestionou, 
a Diretoria de Ensino ficou muito brava, a dirigente me chamou, 
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mas antes ela escreveu um e-mail dizendo “é justa a causa, porém 
não deveria ter feito pelos computadores da rede”. Quando o 
pessoal leu “é justa a causa”, todo mundo parou de responder 
porque imaginou assim “é justa causa”, vão demitir todo mundo! 
[risos] Eu fui chamada, tive que assinar uma advertência, porque 
eu congestionei tudo… Mas, e até hoje eu não sei se foi por tudo 
isso ou se não foi, no mês seguinte a gente teve o primeiro bônus de 
R$500, então, assim: eu não sei, tá? Não sei dizer se foi isso ou se 
não foi, mas eu fiquei muito feliz.
Passado isso, em 2003 teve lá um concurso, foi o primeiro 
concurso para secretários, como eu já estava designada desde 
sempre eu prestei esse concurso e acabei passando. E é aquilo, né? 
Infelizmente, o Estado não disponibiliza um curso, não dá nada 
para a gente, tudo a gente aprende na raça. Aí o que acontece? 
Na própria Legislação dizia: quem já era designado, caso passasse, 
tinha que ser admitido, no caso nomeado, no nível em que 
estivesse do cargo, na época. E eu já estava no nível III, mas como 
não entendia nada disso, fui na [Secretaria de] Fazenda: “Olhem 
isso aqui, eu não tinha que estar no nível III?”, então o rapaz da 
Fazenda disse para mim que não, e ele foi mal-educado comigo, 
gritou e falou um monte, disse que era o primeiro concurso, que 
eu não tinha que querer estar no nível III… Em resumo: sentei 
lá na escada da Fazenda e só chorei, mas tudo bem, passou. Com 
o tempo eu descobri que não era na Fazenda, eu tinha que ter 
ido na [Secretaria de] Educação para reclamar, porque na minha 
Diretoria, na época, ninguém sabia o que fazer, mas na Educação 
eles iam rever e podiam ter feito alguma coisa, mas eu fiquei lá 
no nível inicial.
Após isso, eu comecei a fazer parte, a ser atuante dentro das coisas 
da Educação. Inclusive, quando abriu o GDAE, convocando 
quem quisesse participar, eu me inscrevi. Só que, assim, eu não 
entendia muito também que precisava ter curso de informática, e 
acabou que nem me deram resposta porque eu tinha essa lacuna 
70
no meu currículo. Mas eu sempre fiquei ali, tentando fazer as 
coisas funcionarem, porque eu achava que era uma coisa legal...
Em 2011, veio a nova alteração na Legislação e nós estávamos 
conversando pelo Twitter, que era uma rede nova, e o pessoal 
começou a falar com o [Fernando] Padula, que era o Chefe de 
Gabinete. Foi quando em uma brincadeira falamos para ele: “E 
aí, dá para nos atender? Vamos tomar um café?” e ele aceitou. 
Eram para ser apenas 30 minutos, mas nós ficamos 4 horas com 
ele. Conversamos, ele explicou a Legislação e disse todos os motivos 
pelos quais estava realizando todas as mudanças e a gente não 
tinha o que fazer. Nós tentamos 102 emendas para o projeto de 
lei, mas nada foi aceito. Inclusive a Afuse ficou brava porque nós 
éramos Secretários de Escola e eles achavam que deveriam ser os 
responsáveis, por fim a gente entrou em um acordo e colocamos 
que foram eles que tiveram essa ideia de fazer as emendas. Na 
verdade, foram 103. Uma delas foi feita por uma pessoa que não 
tinha nada a ver com a gente e que pedia, inclusive, que alteração 
fosse feita para o pessoal daSaúde. Não sabia nem o que estava 
falando, mas tudo bem.
A partir de 2011, quando veio o secretário Herman [Voorwald], 
ele abriu uma rede de conversas, dando o pontapé inicial para 
deixar o funcionário participar. Na época, eu fui representante 
das Diretorias Leste de 1 até 5. Quando ele veio ele foi para 
São Mateus, para aquelas reuniões onde ele conversava e ouvia 
funcionários, diretores, professores e supervisores, para tentar fazer 
esse “bem-bolado” e propor a reestruturação, que foi quando ele fez 
a [Lei] 1144 e a [Lei] 1143 que era dos professores, ou melhor, do 
pessoal docente. Então, a gente foi lá, conversou, falou a respeito 
do que a gente precisava, do que a gente podia mudar, teve muita 
coisa que eles atenderam: às nossas necessidades de informática e 
de informatizar a Administração Escolar - eles criaram a SED 
para dar uma melhorada -, porém como tudo no Estado, é bem 
complicado. Eles criam, tem ideias, mas eles não fazem no dia a 
71
dia, então eles não têm a prática, só tem a teoria. Muitas coisas 
eram propostas para dar certo e quando chegava na escola não 
funcionavam, porque existem barreiras, existem várias coisas que 
tem que ser feitas para chegar naquele resultado. Então era bem 
difícil.
O que aconteceu: eu pedi remoção da escola em que eu estava, 
para uma escola mais perto da minha casa e quando eu cheguei 
lá, eu já tinha um GOE. Como eu era secretária efetiva, a 
menina tinha medo que eu quisesse a função dela, pela qual eu 
não tinha interesse nenhum, porque eu já estava saindo da outra 
escola porque eu não queria mais ser GOE e você só não tinha 
prejuízo se você se removesse. Então eu me mudei, fui para aquela 
escola, e como ela tinha muito medo porque ela sabia que eu tinha 
muitos anos de experiência e o Diretor já me conhecia, acabou 
que eles me deixaram meio que de escanteio, não me deram nada, 
nenhum papel específico, eu ficava lá sentada, atendia um pai, 
um telefone, assim, não fazia nada.
E como eu não tinha nada de tão importante para fazer, comecei 
a me engajar mais com o pessoal da SED. Fazíamos os testes, até 
que a Selma conseguiu autorização da diretora dela para levar as 
crianças para fazer as fotos para o sistema. Na época, para fazer 
os testes da Secretaria Escolar Digital, eles queriam saber se dava 
para colocar todas as crianças, se era demorado, como era que 
fazia… E fizeram até uma reportagem na escola da Selma, na 
Diretoria Centro, com o [Cesar] Tralli, mostrando como é que 
fazia foto para colocar na SED. E quando recebi esse convite, 
porque todos nós no grupo recebemos esse convite, fui perguntar 
para o diretor se a nossa escola poderia participar, mas ele não 
estava. Então eu liguei na Diretoria e falei: “olha, eu queria 
saber se pode” e responderam, “olha, primeiro, você não deveria 
estar perguntando, você teria que perguntar para o diretor que 
ele perguntava para a gente, e outra: que negócio é esse de SED 
que vocês têm acesso e a gente da Diretoria não?” Então ficou 
72
uma situação meio [incômoda] assim, então eu deixei para lá. 
Na época, na reportagem diziam que as fotos iam servir para caso 
uma criança desaparecesse, para fazer projeções de envelhecimento 
e coisas assim, então esse era o intuito principal. Depois disso, 
nunca mais nada foi comentado e tudo bem.
Então nós começamos a criar coisas na SED, criamos diversos 
modelos para facilitar questões nas escolas. Então, assim: nós 
tínhamos modelo de autorização para tirarmos fotos das crianças 
na escola, nós tínhamos o modelo de cadastro do responsável, 
criamos vários modelos de acordo com o que está na SED para 
que a gente pudesse facilitar o trabalho na escola, para que a gente 
pudesse preencher. Então, assim, uma das primeiras coisas que eu 
fiz, já que eu não tinha o que fazer na minha escola, foi colocar 
o responsáveis nas turmas de 1ª a 4ª série, mas não consegui 
colocar todos porque estava sozinha naquele projeto e só podia me 
dedicar a ele quando realmente não tinha outras coisas para fazer. 
Quando eu pedi a remoção de volta para a escola em que eu estava 
anteriormente, conversei com a diretora e com o pessoal e esse 
projeto realmente ganhou uma repercussão. Fizemos um mutirão 
e na época, como era uma escola de Ensino Médio, o coordenador, 
o professor-mediador, o pessoal de secretaria, o pessoal do pátio, 
todo mundo aprendeu a colocar as fotos no sistema. Então a gente 
fazia assim: em um dia, a gente colocava foto de duas turmas do 
período da manhã, duas da tarde e duas da noite. Colocávamos as 
fotos dos alunos, avisávamos aos pais e pedíamos as autorizações. As 
fotos e o preenchimento do responsável a gente fez na rematrícula, 
a partir do documento para o qual tínhamos o modelo, então os 
pais preencheram telefone, e-mail e CPF. Quem não tinha e-mail 
a gente criava na hora, tinha algumas professoras readaptadas, 
três, na verdade, e elas também auxiliaram bastante. Depois que 
já tínhamos conseguido informatizar todos os alunos, recebemos o 
contato da Secretaria de Educação nos parabenizando e querendo 
os detalhes de como tínhamos feito tudo, foi bem legal. Para a 
73
gente foi bem gratificante.
Eu fui mantendo contato com o pessoal da SED, e nesse meio 
todo tinha o pessoal que também manteve, como a Selma, o 
Wilmar, a Maria, enfim, várias pessoas foram para a SEEDUC 
conversar. Falamos com o Padula, com a professora Cleide, foi 
quando a gente pediu que na próxima evolução, quando tivesse, 
para eles aproveitarem a pós-graduação. Por quê? O Assistente 
de Administração entrou no Estado em 1992, com a necessidade 
de ter o nível superior. Se não tivesse nível superior, não era 
Assistente de Administração Escolar. E eles nunca puderam 
ter um reenquadramento porque o máximo que tinha era até 
o Ensino Superior. Então a nossa luta era essa: pedir que eles 
acrescentassem a pós-graduação para que eles tivessem uma única 
evolução, um reenquadramento, porque eles estavam sempre ali 
[sem evolução salarial]. Então a gente conversou com a Cleide, 
com o Padula, e eles “ai, um dia vai ter e tal”. Teve, mas não 
para eles, porque os funcionários que são considerados extintos não 
entraram para os reenquadramentos, então eu acho interessante 
que a Lei 888/2000, ela trata que o Agente de Serviços Escolares, 
por exemplo, é extinto, já a nova, de 2011, não fala. Só que o 
Agente de Serviços não existe, não tem cargo para ele mais, não 
tem concurso para ele, ele não faz parte, não tem nada. Só o 
Agente de Organização Escolar que conseguiu alguma coisa, o 
resto está considerado extinto, mesmo não estando no papel, e não 
teve nada de aumento e nem nada. [...]
Então a gente foi, conversou com o Padula, fui junto com o Wilmar, 
e a gente levou o modelo do livro-ponto. O modelo do livro-ponto 
foi feito pelo Claudio Lux e mais um menino do interior que eu 
não lembro o nome, então a gente tinha vários colegas, de vários 
lugares tanto do interior quanto da capital, que iam criando os 
documentos que a gente fazia. Por exemplo: eu fiz a ficha 100 em 
1999, só que eu fiz só a ficha 100 e eu não tinha muita noção de 
fórmula e tal e alguém foi lá, pegou o modelo que eu tinha feito, 
74
e modificou, colocou fórmula, deu uma aprimorada e ficou bem 
legal, então com o tempo a gente foi atualizando os documentos 
e aqueles documentos que a gente fazia manual, nós próprios 
fomos criando e transmitindo uns para os outros. Em muitas 
Diretorias eles não usavam os documentos porque não era oficiais, 
mas as Diretorias que eram mais flexíveis deixavam a gente 
usar. Começamos a fazer a ata final e outras coisas, todas elas 
dentro da informática. Hoje, se você procurar na rede, tem muito 
documento informatizado, mas que foi criado pelo pessoal, pelos 
próprios funcionários para facilitar o nosso trabalho. Por exemplo: 
em 2017, eu tinha contato com o pessoal da SED, a gente tinha os 
e-mails e WhatsApp, então quando tínhamos qualquer problema 
conseguíamos falar diretamente para eles. Os testes que foram feitos 
como Diário de Classe Online, dependeram muito desse contato 
que nós estabelecemos. A SED foi organizando tudo ao vivo, in 
loco, graças à nossa colaboração. O salto que a SED teve se deveu 
em grande parte aos funcionários de escola que se interessaram 
o suficiente para manter contato com as pessoas de lá de dentro. 
Então assim, eu tenho muito orgulho de ter participado de tudo 
isso, infelizmente eu vim embora para Portugal, infelizmente no 
sentido de que eu amava muito o que eu fazia, mas felizmente 
porque eu estou aqui, estou bem, estou com o meu marido, mas 
eu acabei saindo do Estado, pedi exoneração, porque a própria 
Diretoria não soube fazer a minha contagem juntando o tempo 
de Portugal, que era um direito meu, e eu não achei nenhum 
advogado que tratasse de previdência estadual, o pessoal é todo 
do INSS, ninguém conhece nada do Estado, acabei deixando 
para lá e por vinte e tantos dias eu não me aposentei, acabei me 
exonerando, mas eu estou aguardando agora a minha CTC para 
poder fazer então pelo INSS.”
Ângela de Paula
75
Informação na palma da mão
“Em 2012, eu formei um grupo regional em Ribeirão Preto, 
chamado Agente de Organização Escolar de Ribeirão Preto, foi 
quando eu conheci o Edson por causa do blog dele. Houve muito 
sucesso do grupo e todo o material que o Edson postava eu lia, 
aprendia, porque não tínhamos nenhum material para trabalhar. 
Ele foi uma escola para mim. Hoje eu administro dezessete 
grupos da Facebook e mais oito pelo WhatsApp, fora os grupos do 
sindicato.”
Nilton Cesar Amorim
76
Representatividade e a Profaci
“O meu interesse fez com que eu construísse um laço com a 
Diretoria de Ensino Guarulhos Sul (DERGSUL) que aumentou 
consideravelmente após a minha designação como Gerente de 
Organização Escolar (GOE). Aproveitando essa relação, comecei 
a propor soluções como a criação do grupo de GOEs no WhatsApp 
que se tornou uma excelente ferramenta de trabalho. Com a 
chegada da Daniele Inacio, Analista Administrativo, ao CRH da 
Diretoria de Ensino, atuando no treinamento e desenvolvimento 
dos profissionais da equipe administrativa das escolas, consolidou-
se a boa parceria. Sob a coordenação da Teresa Emiko, Diretora 
do Centro de Recursos Humanos, e comando da Dirigente Maria 
Aparecida do Nascimento Barretos, as orientações técnicas tiveram 
um salto, sendo a DE com o maior número de Orientações de 
Trabalho do Estado. Foram realizadas muitas intervenções ligadas 
à qualidade de vida e promoção do bem-estar dos servidores, 
com foco na melhoria contínua das práticas dos profissionais 
envolvidos, às quais tive oportunidade de participar ativamente.
Durante os estudos, comecei a entender melhor a carreira e ver 
que existiam poucas possibilidades para a valorização salarial 
e profissional. Naquele momento éramos regidos pela Lei 
Complementar nº 888/2000 que trazia a Evolução Funcional 
como grande oportunidade de crescimento. Mas no ano de 2011, 
o então Secretário da Educação, Herman Voorwald, realizou 
diversas reuniões de polos no estado inteiro com o objetivo de 
ouvir os profissionais da rede em relação às demandas e críticas 
para construirmos de forma coletiva uma educação de qualidade 
para São Paulo, algo inédito até aquele momento. Eu tive a 
grande oportunidade, por indicação da Diretoria de Ensino, de 
77
participar desses encontros, levando também as demandas da 
categoria para melhorias.
Conforme fui absorvendo esse conhecimento da legislação, percebi 
que tinha um caminho árduo pela frente para a valorização 
profissional através dos processos internos de Certificação de 
Gerente de Organização Escolar e Concurso de Promoção do 
QAE, ambas provas com muito conteúdo para estudar. Mas 
essas eram as tão aguardadas oportunidades, então decidi não 
desanimar e buscar as minhas próprias realizações. Entre abril 
e maio de 2012 aconteceu o primeiro processo de certificação 
para Gerente de Organização Escolar, uma prova realizada de 
forma online em um dos polos da FGV, com um conteúdo bem 
extenso. Para você ter ideia, o conteúdo programático da prova de 
Conhecimentos e Habilidades Técnicas tinha 85 itens para estudo 
divididos em: Conhecimentos Básicos (Interpretação de Texto; 
Informática Básica e Administração Pública) e Conhecimentos 
Específicos (Gestão da Vida Escolar; Gestão de Recursos Humanos; 
Gestão do Atendimento e Gestão de Recursos Internos) e, por fim, 
o Inventário Comportamental.
Além de tudo isso, para ser certificado era preciso aproveitamento 
geral igual ou superior a 60% e, em cada área de conhecimento, um 
percentual mínimo para aprovação. Após muito estudo, realizei a 
prova e fui aprovado e, portanto, obtive a Cerificação do GOE. 
Percebi que nesta nova função como GOE, minha influência 
seria ainda maior em benefício dos colegas da categoria e poderia 
liderar um movimento de valorização, independente do sindicato, 
a Afuse, no caso do QAE (que já obteve muitas conquistas para a 
classe). Uma das ideias que sempre trouxe muito firme comigo ao 
longo da minha vida é que podemos ser, cada um, protagonistas 
de nossa trajetória e que juntos - nessa mentalidade - conseguimos 
mudar o rumo das coisas.
Continuei nessa jornada, enviando inúmeros ofícios à Secretaria 
de Educação com propostas de melhorias para o Quadro de Apoio 
78
Escolar, com demandas vindas dos próprios colegas do quadro e 
obtivemos respostas e muitos resultados positivos. De 2014 para 
cá, tive a oportunidade de entregar em mãos um desses ofícios aos 
então Chefes de Gabinete Fernando Padula e Wilson Levy, ao 
último Secretário João Cury Neto que embora com uma passagem 
curta, foi fundamental para o avanço e cumprimento dos direitos 
do QAE, como a regulamentação da Progressão e realização do 
Concurso de Promoção do QAE em 2018, e ao atual Secretário 
Rossieli Soares da Silva, através da minha dirigente de ensino.
Neste mesmo ano, percebi que já tinha o conhecimento necessário 
para ajudar os colegas do QAE a também serem aprovados na 
certificação de GOE que aconteceria em 14 de dezembro de 2014, 
pois havia entendido o caminho das pedras. Foi então que tive a 
ideia de criar um grupo de estudos, para que pudéssemos ajudar uns 
aos outros. Chamei um amigo, o Cláudio Adão, para me ajudar 
na facilitação e liderança dos estudos e iniciamos, em novembro, 
o grupo de estudos com aproximadamente 20 profissionais que 
demonstraram interesse. As aulas foram realizadas em quatro 
domingos, na EE Parque Jurema III, com a autorização da 
dirigente, visto que a unidade fazia parte do programa Escola 
da Família. Criamos fóruns de discussão, realizamos simulados, 
revisamos o edital, compartilhamos o conhecimento e o resultado 
foi a aprovação de 80% do grupo. Foi sensacional!
Ao final dos encontros, recebi um bom feedback dos colegas que 
expressaram a importância dos nossos encontros, não apenas pelo 
conhecimento teórico, mas também pela motivação que todos 
adquiriram coletivamente. Naquele momento eu compreendi 
que não poderíamos parar, ou nos restringir apenas aos colegas de 
Guarulhos, mas a todos os integrantes do QAE no estado de São 
Paulo. Nascia ali um grande objetivo, ir além, que mais tarde se 
transformaria no projeto chamado Profaci.
Mas como eu atingiria todo esse público? Realizar os encontros de 
maneira presencial seria inviável, foi quando parti para a internet. 
79
No início do ano de 2015 estava realizando um curso online e as 
primeiras aulas apresentavam a plataforma de estudas, o Moodle, 
muito utilizada por diversas universidades. Naquele momento 
tive um insight, “Por que não criar uma plataforma online 
de estudos exclusiva para os profissionais do QAE?!. Teríamos 
conteúdo online para a Certificação GOE e Promoção do QAE 
facilitando, assim, o acesso mesmo de quem morasse no interior 
do estado, aumentando muito as possibilidades de aprovação para 
esses profissionais tão desvalorizados. A plataforma seria uma 
forma de democratizar o acesso ao conhecimento, informar quais 
os requisitos para participardos certames e criar uma comunidade 
de ajuda mútua. Fiz uma consulta online de interesse em alguns 
grupos de Facebook dos AOE-s e tive uma boa devolutiva que 
serviria de base para dar sequência à ideia. Alguns meses depois, 
100 dos colegas consultados se transformaram nos primeiros 
alunos da Profaci.
Mas como criei essa plataforma? Após algumas pesquisas no 
Google, encontrei o Leandro Maiotte, consultor de Moodle, e após 
explicar a ideia da Profaci, fechei a contratação do site, logomarca 
e implantação da plataforma de estudos. Contudo, ele me disse: 
“Rodrigo, vou te ensinar através de vídeos tutoriais como incluir os 
conteúdos de videoaulas, PDF’s sobre esses conteúdos, simulados, 
enfim, a organização de toda a plataforma é por sua conta”. Foi 
então que passei madrugadas e madrugadas assistindo os tutoriais 
dele e implantando na plataforma da Profaci, naquele momento 
era toda a bibliografia da Promoção do QAE, contida na Portaria 
CGRH 03-2013, ou seja, mais de 40 conteúdos. Em três meses 
estava tudo pronto.
Lançamos o projeto em 20 de agosto de 2015 e o maior retorno 
que tive foi a gratidão das pessoas ao me relatarem que o curso 
foi fundamental para sua aprovação e que isso representou um 
resgate de autoestima, um aumento na autoconfiança e um leque 
de novas possibilidades que se abriam. Minha assertividade com a 
80
Profaci foi grande devido ao fato de eu estar na mesma posição dos 
alunos, sentindo as mesmas dores, sofrendo com a invisibilidade 
da categoria, com a falta de valorização, com a baixíssima 
remuneração salarial e com a ausência de representatividade na 
Secretaria da Educação para o QAE. Em todo momento em que 
eu pensava em desistir do projeto, recebia mensagens de gratidão 
e via que estava fazendo a diferença na vida de milhares de 
profissionais, e eu não tinha o direito de interromper esse ciclo que 
até hoje dá excelentes frutos. Hoje, a Profaci possui um Polo EAD 
na FECAF e conta com graduação e pós-graduação cujo público-
alvo são os profissionais do QAE que vão poder ter, assim, o maior 
aproveitamento do reenquadramento e dos futuros processos de 
promoção do QAE.
No final de 2016, a Secretaria de Educação do Estado de São 
Paulo lançou um projeto para discutir a modernização da gestão 
democrática nas escolas públicas paulistas. A ideia foi unir 
todos os interessados: estudantes, servidores, professores, gestores, 
pais/responsáveis e sociedade civil para um esforço coletivo de 
aperfeiçoamento de Grêmios Estudantis, Escola da Família, 
Conselhos de Escolas e Associações de Pais e Mestres com o objetivo 
de ampliar a cultura democrática no cotidiano das escolas e de sua 
comunidade. Todo esse esforço culminou no Congresso de Gestão 
Democrática realizado em novembro de 2017 em São Paulo. 
Fui convidada para participar deste congresso representando 
os profissionais do QAE, mas naquele momento como ouvinte. 
Lembro que a Dani Inacio recomendou que eu interviesse caso 
houvesse a possibilidade falar em nome dos funcionários, foi ali 
que eu decidi criar essa oportunidade. Logo no primeiro encontro, 
enquanto agradecia à Raquel Fávero, Coordenadora Executiva 
do Projeto, por dar voz aos profissionais do Quadro de Apoio 
Escolar, a mesma, após indagar se eu era AOE, me perguntou se 
gostaria de participar do segundo encontro como expositor, pois 
um dos participantes não estaria presente. Eu vi a oportunidade 
81
bem na minha frente e mais que depressa a agarrei, podendo mais 
uma vez ser bem-sucedido representando os profissionais do QAE.
Exonerei em maio de 2021, para me dedicar ao empreendedorismo 
com a Profaci e mantenho comigo o desejo de lutar pela valorização 
dos profissionais do QAE. O sonho de atuar de forma mais intensa 
em prol dos profissionais do QAE foi realizado a partir da minha 
contratação como consultor da EFAPE exclusivamente para a 
formação continuada dos profissionais do quadro. Ano passado 
organizei e lancei “Prazer, somos AOE’s”, livro que conta as 
trajetórias de alguns dos profissionais do Quadro de Apoio Escolar 
do Estado de São Paulo, “Perseguindo o inconformismo”, a minha 
autobiografia e, agora este livro, que busca resgatar a história do 
QAE nos seus 30 anos, como um presente especial para todos os 
servidores do quadro: os do passado e o do presente - que ajudaram 
a construir o quadro e o mantém vivo - e, principalmente, os do 
futuro, que terão nessas páginas o suporte que aqueles não tiveram.
Rodrigo Gabriel da Silva
82
83
 Pelo que vimos até aqui, podemos sem dúvidas 
afirmar que a história do QAE é marcada por limites e 
possibilidades. Neste capítulo, você vai conhecer um pouco 
sobre as maiores dificuldades do quadro e de seus profissionais, 
assim como as expectativas deles para o futuro. A seguir, nos 
confrontaremos com questões espinhosas, com dores, receios 
e conformismos. Entretanto, descobriremos que, para alguns, 
ainda existe espaço para sonhar.
CAPÍTULO 5
Desafios e sonhos
84
Presente e futuro: algumas discussões
“A terceirização pulverizou muito os cargos e, hoje, não sabemos 
quem é concursado e faz parte do QAE ou do QSE e quem não 
é. Isso foi uma mudança muito profunda que vivi nesses anos. 
Eu acredito que o que a gente precisa é de identidade. A gente 
tem um lado muito legal, afetivo, que apresentamos para muita 
gente, para os estudantes, pais e comunidade, mas não temos 
reconhecimento enquanto profissionais da Educação. No futuro, 
gostaria que nos dessem uma nova nomenclatura, profissionais 
ou educadores de apoio. Eu espero que o caminho para essa 
valorização e reconhecimento seja bem curto, pois já são trinta 
anos esperando e lutando por isso.”
Edson Ferreira da Silva
85
_______________________________________________ 
14 SANTOS; CAMARGOS. Op cit. 2012, p. 372
 Em alguns estados e cidades brasileiras, como no Rio 
de Janeiro por exemplo, os profissionais que se enquadram 
nas funções desempenhadas pelos AOE’s são denominados 
“Agentes Educadores”. Obviamente, a nomenclatura do cargo/
função não é o único fator determinante para a construção 
da identidade do funcionário de escola como educador. Mas, 
sem dúvidas, é um referencial importante para a construção 
de uma memória coletiva mais semelhante à realidade e ao 
cotidiano desses profissionais.
 A questão da terceirização, também abordada, é 
determinante. A construção do coletivo e da clara identificação 
de um grupo é hoje dificultada pelo avanço da terceirização de 
funcionários. Essa “pulverização”, bem destacada pelo Edson, 
dificulta a identificação do coletivo e auxilia no esvaziamento 
de pautas.
 Em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos 
(IHU), em maio de 2012, o sociólogo Ricardo Antunes 
disse que a terceirização é, atualmente, a porta de entrada 
para a precarização e intensificação da jornada de 
trabalho. Enquanto alguns apontam a terceirização como 
algo benéfico e inevitável, que reduz os gastos e aumenta 
a qualidade, para Antunes ela “é, em si e por si, nefasta e 
tem que ser combatida”, tendo em vista que é utilizada 
para reduzir “custos e para aumentar a divisão e, com isso, 
dificultar a organização e a resistência de trabalhadores”14.
Monlevade destaca que “na contramão da luta travada no 
campo educacional pela valorização dos trabalhadores em 
educação, os processos de terceirização rompem a lógica 
86
_______________________________________________ 
15 MONLEVADE. Op cit., p. 373.
que os move, baseada na busca pela valorização, por meio 
da formação inicial e continuada, remuneração condigna 
e condições de trabalho, de modo que possam contribuir 
política e pedagogicamente para a construção de uma escola 
pública de qualidade socialmente referenciada.” 15
“Desta vez, atuando em uma escola maior, com 3 turnos de 
funcionamento, atendendo o Ciclo II e o Ensino Médio, E.E. 
Maria Montessori, contávamos com 44 classes formadas. Único 
funcionário da manhã, tinha que dar conta de 3 andares. Foram 
momentos difíceis, pois a clientela da escola não colaborava. Naminha primeira semana recebi ameaças de morte ou mesmo que 
iriam me agredir, simplesmente porque não aceitavam ordens.
Entre idas e vindas, em janeiro de 2011 fui convidado pelo 
Diretor da Escola Sr. Luiz a ser designado Secretário de Escola, 
e ali começou meu primeiro desafio. Nunca havia entrado na 
secretaria; não conhecia os sistemas que na época eram muitos 
como: PortalNet, JCAA, JBOE, PAEC, PAPC, JATI, enfim, teria 
que aprender tudo isso em em uma escola grande que vivia o caos 
funcional, pois tudo estava atrasado e os professores já não tinham 
muita paciência para esperar. Entrei nos grupos de Secretários do 
Yahoo e em diversos grupos do QAE espalhados pelo ORKUT. Em 
minha região, Leste 5, muitos secretários se recusavam a ensinar; 
os poucos e raros que me ajudaram eram de escolas muito longe, 
então dificultava muito o aprendizado. Por essa razão, para 
dar conta de tudo, minha jornada ampliou de 8 horas diárias 
87
para 16 horas, ou seja, entrava às 7 horas da manhã e saía às 
23 horas, e muitas vezes saía meia-noite. Tudo para aprender e 
conseguir tirar as demandas do atraso e posso dizer que sou muito 
grato às Secretárias de Escola Silvana do Brigadeiro e Ivanir do 
Congonhas do Campo que deram o combustível para iniciar a 
subida na função.
No ano de 2012 sofri o primeiro impacto de estar na SEDUC-
SP, dedicar-me ao trabalho e, como já mencionei, sem horário 
para sair do serviço. Deixei muitas e muitas vezes minha família 
em segundo plano, o que ocasionou minha primeira separação. 
Com isso, fiquei depressivo, tomando remédios como Fluoxetina, 
Sertralina, passando por psiquiatras, psicólogos, e ao mesmo tempo 
cuidando da escola. Com a chegada da primeira certificação de 
GOE, entrei em colapso. Mudei para outra cidade e gastava muito 
para chegar a minha escola, além do financeiro, demorava de 3 a 
4 horas para chegar ao trabalho, e isso foi desanimando. Cheguei 
a pensar em exoneração por diversas vezes até que fiz amizade 
com a Diretora da escola vizinha, a Regina, que se tornou uma 
irmã. Ela mora na mesma cidade que fui morar e passou a me dar 
carona sem me conhecer, sem pedir ajuda em combustível, enfim, 
foi meu alicerce para poder me levantar.
No ano de 2015 consegui a segunda certificação e voltei a exercer 
a função de GOE na E.E. Senador Paulo Egydio de Oliveira 
Carvalho. Mais uma escola enorme e na época tinham mais de 
100 professores lotados e classificados ou com exercício na Unidade 
Escolar. Essa escola, que poderia ser a ascensão da minha carreira, 
quase se tornou um pesadelo. Na minha DE e em outras, era 
considerado um funcionário exemplar, com muitos conhecimentos 
e dominância em coisas relacionadas a SEDUC. Administrava 
junto com o Nilton Cesar Amorim diversos Grupos do Facebook, 
bem como era o dono de alguns grupos. No WhatsApp, criador do 
SED 1.0 e SED 2.0, entre outros; grupos os quais convidei pessoas 
da SED (envolvidas diretamente com a construção do sistema) 
88
para participarem ativamente e escutar a Base das Escolas ou 
mesmo para agilizar na correção de possíveis erros de sistema.
Mas por que seria um pesadelo? Foi quando iniciou por parte 
de uma pessoa que covardemente se escondia atrás do anonimato 
(quando se trata de denúncias inverídicas não se tem coragem de 
mostrar a verdadeira face), comecei a sofrer denúncias e denúncias 
por todo tipo de assunto inimagináveis; vivenciei por quase dois 
anos assédio moral dessa pessoa covarde, onde a cada semana, mês, 
tinha que ficar respondendo as acusações e provando que eram 
inverídicas. A inveja do ser humano não tem limites, e passar por 
uma humilhação de ter sempre 1, 2 ou 3 supervisores perguntando 
sobre você para outras pessoas, me deixava muito triste e arrasado, 
pois sempre lutei para ajudar as pessoas não importasse o dia e 
horário, e ter que sofrer por conta de uma pessoa problemática. 
Das mais de 30 acusações, consegui uma a uma, mês a mês, 
provar que eram inverídicas e que a pessoa autora apenas estava 
perseguindo a minha pessoa por estar sempre em evidência nos 
assuntos da educação. Cansado de tantas acusações, não poderia 
mais viver “pisando em ovos”; foi quando “comi” literalmente a 
legislação de Gerente de Organização Escolar e encontrei uma 
brecha; e em dezembro de 2015, fui o primeiro funcionário a 
conseguir esse feito de não ficar impedido de ser designado Gerente 
de Organização Escolar após a cessação.
Em toda minha vivência em termos de Secretaria da Educação 
do Estado de São Paulo, fiz muito pela categoria que vai 
desde ensinamentos, capacitações, construção de planilhas 
denominadas calculadoras automatizadas como: Auxílio 
Transporte, Readaptação, Evolução Funcional pela via não 
acadêmica, imposto de Renda Retido na Fonte, ou para controle 
como Cadastro de Alunos, Cadastro de Servidores, referências 
de legislação, entre muitas outras, enfim, todas elas as quais são 
atualizadas até atualmente. Como já citado anteriormente, nem 
tudo são flores, existem muitas pessoas invejosas e maldosas que 
89
querem te derrubar gratuitamente, pessoas essas que plagiam seu 
trabalho copiando ou mesmo substituindo o nome dos arquivos e 
se autointitulando autores. É triste e deplorável que pessoas assim 
ainda estejam atuando na Secretaria da Educação, essas não são 
dignas de estarem nessa classe que muito faz pela Educação do 
Estado de São Paulo. Por fim, no ano de 2019, exonerei do cargo 
de Agente de Organização Escolar, para ingressar na rede como 
Professor de Educação Básica I. E mesmo estando em outra classe, 
ainda contribuo muito com o QAE, apesar desses contratempos, 
amo de coração essa categoria que merece muito a valorização do 
Governo do Estado de São Paulo. Hoje, estou atuando no CGRH, 
precisamente no CEPEA.”
Wilmar Galdêncio de Oliveira Júnior
90
“ A teoria é boa mas geralmente não atinge a prática. Sou secretária 
de escola e não tenho perspectiva de mudança financeira. Outra 
questão do quadro é a robotização da ação, as pessoas deixam 
de mudar. A pessoa bate um carimbo por trinta e cinco anos, 
continua o mesmo carimbo, o mesmo papel. As gerações mudaram 
e o quadro precisa ser mudado. Quando o Rodrigo falou que a 
tentativa do livro era achar uma identidade para o QAE, eu 
fiquei pensando… A gente não constrói uma identidade sem o 
reconhecimento do outro. Vem alguém e fala que você é “tio”, vem 
alguém e fala que você é o “inspetor”, ou o “tio da secretaria” e tal… 
Mas é que é tão ampla e tão importante a atuação do QAE como 
educador, só que é um educador que não tem esse nome porque 
não é reconhecido entre os pares. No geral, não é reconhecido 
pelo professor que o secretário ou o agente é um educador, por 
exemplo. Mas pelas crianças é, e precisamos levar em consideração 
que é uma educação, que na verdade é um cuidado. O agente é 
um ponto de cuidado e de apoio muito importante. As pessoas 
se reduzem. Quem se considera um nada, como trabalha? E se 
quando me esforço, não tenho o reconhecimento dos demais, como 
seguir? Eu sempre trabalhei em livrarias, então comecei a fazer 
Pedagogia e um amigo meu falou que tinham aberto um concurso 
na área da educação. Fiz o de Agente e o de Secretária. Optei 
pelo segundo. O problema é que eu entrava sempre para assumir 
o lugar que já era de alguém, o que nunca me deixou confortável 
e fazia com a equipe não se sentisse confortável comigo, não foi 
fácil e nem simples.”
Carolina Soares Manfio
91
“De todos os cargos que tive, o mais complicado foi o de secretária. 
No primeiro mês, quando eu estava fazendo uma substituição, 
perdi cerca de quatro quilos devido ao volume de trabalho.”
Audineia Almeida dos Santos
92
_______________________________________________ 
16 SANTOS; CAMARGOS. Op cit. 2012, p. 366.
 Os três relatos acima abordam, de alguma forma, 
adoecimentos físicos e psicológicos que são, em última 
instância, provocados pela sobrecarga e pela falta de 
reconhecimento sofrida pelos educadores do QAE. 
 Santos e Camargos destacam que: “se a categoriatrabalho torna-se referência na constituição do modo de vida 
do homem, no estabelecimento das suas relações afetivas e na 
construção das suas habilidades e competências, ela também 
assume papel fundamental em sua saúde física e mental.” 16
 Por isso, é extremamente importante que o 
reconhecimento e a valorização do quadro passe por uma 
abordagem global e que pensem os mais diversos sujeitos da 
categoria.
93
“Iniciei em 2010 como AOE, o reenquadramento me ajudou 
muito porque cheguei até a faixa 6C. Estive com o Rodrigo 
auxiliando desde o início da Profaci. É possível ter melhoras, apesar 
de tantas dificuldades e diante do governo e SEDUC deixarem o 
QAE sempre por último na prioridade das ações da Educação. 
No cargo de secretário de escola ou de GOE as demandas são 
extremamente extenuantes. Muitas vezes, fiquei para além do 
meu horário. Quanto mais problemas a escola tem, mais difícil se 
torna o trabalho, nesse quesito eu dei sorte. A escola, assim como 
a Diretoria de Ensino, não tinham grandes problemas. Um dos 
problemas que temos é da regulamentação das nossas atividades, 
ainda que elas estejam juridicamente muito bem definidas. Falta 
supervisão e modernização da carreira. Exonerei em Agosto para 
assumir o cargo de Professor do Ensino Médio e Técnico na ETEC 
CEPAM e ETEC Perus.”
Claudio Adão dos Santos
94
“Iniciei como Inspetor de Alunos em 1986, em um processo 
seletivo. No início foi difícil, foi havendo vários concursos. Eu 
não tenho como falar muito em mudanças negativas. Eu gosto 
muito do trabalho na escola, para mim sempre foi extremamente 
gratificante, é o tipo da coisa que me completa. Claro que tem 
uma parte boa em termos funcionais que eu melhorei bastante, 
eu fui atrás de graduação, de pós-graduação. A melhor parte para 
mim é a energia da escola, a energia move a gente. Eu sou formada 
em Ciências Biológicas e em Pedagogia, com uma pós-graduação 
em gestão escolar. Eu espero que sejamos melhor reconhecidos na 
Educação. A Educação não se faz só com o professor, a Educação 
passa pelo portão da escola, passa pela servente que varre o pátio, 
passa pela secretaria, passa por todos nós.”
Virginia Pupolim
95
“O que eu espero? Eu costumo dizer que eu sou um sonhador, eu 
respiro a Educação, eu faço com amor, mas nem só de sonhos vive 
a realidade. Nós sempre esperamos mudança. Hoje, estamos em 
uma fase. O AOE está no seu ano.”
Nilton Cesar Amorim
96
Para não concluir
 A construção de identidade é, como dissemos no início 
deste livro, um processo complexo e que não depende apenas 
de uma decisão autônoma, mas de um reconhecimento social. 
Após a leitura destas páginas, espero que você tenha percebido 
que as últimas três décadas de trabalho desses profissionais 
foram dedicadas à Educação e não existe motivo algum para 
não considerá-los como que eles são: educadores.
 Esperamos firmemente que estas páginas sejam 
um motor para o surgimento de outras mais, para que as 
trajetórias desses educadores inspirem as futuras gerações e 
que os projetos e iniciativas se multipliquem e deem frutos 
que representem a categoria e a sua importância. 
 Este é apenas o começo. Vamos juntos!
97
CAPÍTULO 6
Manifesto dos educadores do QAE
 Nós, autores e profissionais do QAE que contamos 
nossas histórias neste livro, acreditamos que ainda chegará o 
tempo no qual todos os funcionários do Quadro de Apoio 
Escolar (QAE) e do Quadro de Servidores da Educação 
(QSE) serão considerados e, principalmente, tratados como 
EDUCADORES, sem distinção do lugar que ocupam dentro 
ou fora das escolas. Todos os profissionais da Educação - 
desde os da limpeza até os dirigentes de ensino - sejam eles 
professores, funcionários administrativos ou operacionais são 
EDUCADORES, e nossos Governantes precisam aprender, 
entender e saber a respeito.
98
 Nós, servidores do QAE e do QSE, somos 
fundamentais para o processo ensino-aprendizagem. Somos 
nós que conhecemos como a palma de nossas mãos toda a 
comunidade escolar, alunos, pais e responsáveis, professores e 
gestores. Somos nós que conhecemos também toda rotina para 
que a engrenagem escolar funcione. Sabemos que os prédios 
escolares representam o coração da rede estadual de ensino e 
que toda a estrutura advinda das diretorias regionais e órgãos 
centrais colaboram com os trabalhos desenvolvidos nas salas 
de aula, secretarias, pátios e demais ambientes das unidades 
escolares. Somos autores, sujeitos e aprendizes sempre, do 
Secretário da Educação do Estado de São Paulo ao terceirizado 
da limpeza, numa escala que, sem o peso do juízo e de valor 
hierárquico, devem representar o destino da Educação que 
não é outro senão o da LIBERTAÇÃO.
 A última década foi marcada por avanços significativos 
para a nossa carreira, mas esses ainda são insuficientes para 
refletir a valorização que merecemos. Na rede estadual de São 
Paulo devemos concretizar e legitimar essas vitórias no dia a 
dia, de forma a assegurar nossos direitos frente um Governo 
que trabalha para retirá-los nos mais diversos âmbitos, sejam 
eles previdenciários, trabalhistas e/ou sociais. Não podemos 
nos calar e não devemos deixar que nos calem! A luta é 
constante e devemos nos manter combativos em direção a 
uma carreira mais justa e ao reconhecimento de nosso papel 
enquanto EDUCADORES. Hoje, mais do que nunca, é 
necessário carimbar nossa condição.
 É importante que destaquemos que cada profissional 
da área da Educação, dentro e fora da escola, tem um papel 
muito próprio na vida de cada aluno, mas que o nosso olhar 
é extremamente especial. Quantas vezes nos dispusemos a 
ouvir e aconselhar? Quantas vidas vimos mudadas após um 
99
olhar diferenciado para o aluno “problemático”? Muitas 
crianças, jovens e até adultos têm nesses profissionais um 
confidente que, por vezes, chega a ocupar o lugar que deveria 
ser assumido por um familiar ou amigo, mas que infelizmente 
não é. Valendo-nos de uma citação ouvida numa reunião de 
Diretoria de Ensino “somos todos anjos de uma única asa, que 
precisamos do outro para conseguir voar...” e relembrando 
várias situações vivenciadas nas escolas pelas quais passamos, 
conseguimos crer que SOMOS TODOS EDUCADORES e 
é necessário que haja esse reconhecimento.
 Diante de tudo o que já vivenciamos, vimos e ouvimos, 
é necessário que, no mínimo, tenhamos um piso salarial justo, 
em semelhança com o que ocorreu com os profissionais do 
Magistério ainda em 2008. Além disso, é necessário que mais 
ações sejam dirigidas para a valorização da nossa categoria, 
entre elas: o oferecimento de capacitações, cursos de nível 
técnico, superior e pós superior, além de uma jornada de 
trabalho mais justa e com condições mais dignas para que 
possamos ter um papel ainda mais significativo na formação 
de nossos estudantes.
 Ser educador vai além do conhecimento acadêmico 
(que, inclusive, muitos de nós também possuímos, ainda 
que isso seja completamente ignorado), ser educador é ser 
presente, empático e principalmente saber fazer a diferença. 
E nós fazemos a diferença. Sabemos disso e os alunos e alunas 
que veem em nós um firme alicerce para a sua sobrevivência 
física e emocional no ambiente escolar também o sabem. O 
famoso escritor brasileiro Rubem Alves dizia que “há escolas 
que são gaiolas e há escolas que são asas”, nós estamos aqui para 
nos certificar que, para os nossos estudantes, a segunda opção 
seja a verdadeira. O conhecimento liberta e temos a certeza de 
100
que contar as nossas experiências enquanto profissionais da 
Educação abre caminhos para conhecermos outras situações 
que acontecem cotidianamente nas escolas. Valorizar os 
profissionais do QAE e a memória do quadro é, sobretudo, 
acreditar no potencial humano de cada um que está engajado 
na luta de fazer a diferença. Recordemos e sigamos!
Ângela de Paula
Aparecida Moreira Gomes
Audineia Almeida dos Santos
Carolina Soares Manfio
Claudio Adão dos Santos
Edson Ferreira da Silva
Ivanete Aparecida Guimarães Camilo
Nilton Cesar AmorimRodrigo Gabriel da Silva
Tânia da Conceição Moutinho Santos
Valmir Barbosa
Virginia Pupolim
Wilmar Galdêncio de Oliveira Júnior
101
 
ALVES, Vinicius Prado. Funcionários de escola: um novo 
sujeito na disputa pelas políticas educacionais. Dissertação 
(Mestrado em Educação) - Setor de Educação, Universidade 
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Dissertação (Mestrado em Educação). Escola de Filosofia, 
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104
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Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/
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Altera a Resolução SE 52, de 9- 8-2011, que dispõe sobre as 
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SÃO PAULO. (Estado). Resolução SE n.º 12, de 17-
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integrantes do Quadro de Apoio Escolar e do Quadro da 
Secretaria da Educação, e dá providências correlatas, 2017b. 
Disponível em: http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/
arquivos/12_17.HTM?Time=13/07/2020%2016:27:24.
105
SÃO PAULO. (Estado). Resolução SE n.º 54, de 28-8-2018. 
Dispõe sobre o processo de progressão, relativo aos anos de 
2015 e 2018, 20, aplicável aos integrantes do Quadro de 
Apoio Escolar abrangidos pela Lei Complementar n.º 1.144, 
de 11-07-2011, e dá providências correlatas, 2018b. Dis-
ponível em: http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/ arquiv-
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SÃO PAULO. (Estado). Resolução SE n.º 70, de 14-11-
2018. Altera a Resolução SE 54, de 28-8-2018, que dispõe 
sobre o processo de progressão, relativo aos anos de 2015 e 
2018, aplicável aos integrantes do Quadro de Apoio Escolar 
abrangidos pela Lei Complementar n.º 1.144, de 11-07-
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âmbito da administração direta e autarquias, cria a Contro-
106
ladoria Geral do Estado, dispõe sobre a Assistência Técnica 
em Ações Judiciais, altera as Leis nº 10.261, de 28 de out-
ubro de 1968, e nº 500, de 13 de novembro de 1974, as Leis 
Complementares nº 180, de 12 de maio de 1978, nº 367, 
de 14 de dezembro de 1984, nº 432, de 18 de dezembro de 
1985, nº 907, de 21 de dezembro de 2001, nº 1.034, de 4 
de janeiro de 2008, nº 1.059, de 18 de setembro de 2008, 
nº 1.079, de 17 de dezembro de 2008, nº 1.080, de 17 de 
dezembro de 2008, nº 1.093, de 16 de julho de 2009, nº 
1.104, de 17 de março de 2010, nº 1.122, de 30 de junho 
de 2010, nº 1.144, de 11 de julho de 2011, nº 1.157, de 2 
de dezembro de 2011, nº 1.164, de 4 de janeiro de 2012, nº 
1.195, de 17 de janeiro de 2013, nº 1.245, de 27de junho 
de 2014, nº 1.317, de 21 de março de 2018, e nº 1.354, de 
6 de março de 2020, revoga a Lei nº 1.721, de 7 de julho de 
1978, as Leis Complementares nº 1.078, de 17 de dezembro 
de 2008, nº 1.086, de 18 de fevereiro de 2009, e nº 1.121, 
de 30 de junho de 2010, e dá providências correlatas. Diário 
Oficial do Estado de São Paulo: Seção I, São Paulo, 131 
(203), p. 1-5, 22 out. 2021b. Disponível em: http://dobus-
cadireta.imprensaoficial.com.br/default.aspx?DataPublica-
cao=20211022&Cadern o=DOE-I&NumeroPagina=1.
SÃO PAULO. (Estado). Lei Complementar n.º 1363, de 
13/12/2021. Dispõe sobre a concessão do Abono-FUNDEB 
aos profissionais da educação básica da rede estadual de 
ensino, na forma que especifica, e altera a Lei Complementar 
nº 1.144, de 11 de julho de 2011. Diário Oficial do Estado 
de São Paulo: Seção I, São Paulo, 131 (237), p. 1, 14 dez. 
2021c. Disponível em: http://dobuscadireta.imprensaoficial.
com.br/default.aspx?DataPublicacao=20211214&Cadern 
o=DOE-I&NumeroPagina=1.
107
SÃO PAULO (Estado). Subsecretaria de Gestão Legisla-
tiva da Casa Civil. Lei n.º 17.372, de 26 de maio de 2021. 
Cria o Programa Bolsa do Povo e dá outras providências. 
Diário Oficial do Estado de São Paulo: Seção I, São Paulo, 
131 (101), p. 01, 27 mai. de 2021d. Disponível em https://
www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2021/lei-17372-
26.05.2021.html.
108
ANEXOS
Última capa (e layout) do 
www.qaeqse.blogspot.com
109
Reunião na SEDUC-SP 
wn 2014 que culminou na 
conquista da incorporação 
dos décimos de GOE.
Agentes de Organização 
Escolar lotam Audiência na Alesp 
(vídeo youtube)
Agentes de Organização 
Escolar pedem socorro 
 (vídeo youtube)
110
Agentes de Organização 
Escolar cria podcast 
para judar alunos a se 
prepararem para o ENEM 
(Matéria)
Agente de Organização lança 
livro contando trajetórias 
destes profissionais nas 
escolas estaduais 
(Matéria)
Gestão Democrática juntos 
somos melhores 
(vídeo youtube)
Período daTarde - 
Planejamento & Formação 
QAE & SEDUC - 
Centro de Mídias
 (vídeo youtube) 
Live Diálogo com a Rede - 
Secretário Rossieli e AOE 
Rodrigo
(vídeo youtube)
Agora o Quadro de Apoio 
Escolar tem uma 
pósgraduação exclusiva! 
 (vídeo youtube)
111
112
113
114É uma 
feliz oportunidade que essa data coincida com um momento 
tão importante para os mais diversos tipos de debates em nosso 
país. Aproveitando a ocasião, organizamos este livro, que é uma 
obra comemorativa que se propõe a resgatar a memória do 
QAE, de forma a colaborar com o processo de reconhecimento 
e valorização da categoria, posto em marcha após anos de lutas 
e de mobilizações, muitas vezes independentes, como as que 
deram origem a estas linhas que você está lendo.
11
 Este livro foi escrito por muitas mãos e busca, talvez 
de maneira ambiciosa, ser uma ferramenta importante na 
construção de uma identidade para o QAE, fator primordial 
para a maior parte dos trabalhadores e trabalhadoras que o 
compõem. O fortalecimento do sentimento de pertencimento 
e do reconhecimento da prática vinculada à Educação é 
sumamente importante para a valorização dos profissionais 
do quadro e, consequentemente, para a conquista de 
novos direitos, espaços na sociedade e, principalmente, na 
comunidade escolar. 
 Mas como essa história poderia ser contada? Como 
a memória de um quadro tão amplo e diverso pode ser 
resgatada em poucas páginas? Essas foram questões pensadas 
cuidadosamente e de forma coletiva:
 Como você viu acima, se chegou à conclusão de 
que a história do QAE está de forma definitiva vinculada às 
trajetórias dos profissionais que o construíram nestes últimos 
30 anos. De fato, leis, decretos e disposições burocráticas 1 
moldam os cargos e funções públicas, mas nada é tão factual 
e real quanto o cotidiano, o chão da escola, a vivência. Como 
sabemos, as projeções e teorias caminham, muitas vezes, longe 
da prática. É por isso que ao mesmo tempo em que procuramos 
privilegiar os pontos de partida inaugurados por legislações 
e que buscamos abordar as análises dos poucos especialistas 
que tematizaram o papel e a importância dos funcionários 
da educação não-docentes, optamos por dar protagonismo 
às nossas histórias que, de fato, foram as que construíram a 
trajetória do QAE.
_______________________________________________ 
1 As principais legislações referentes ao Quadro de Apoio Escolar serão abordadas ao 
longo de todo o livro, principalmente nos relatos dos profissionais consultados. Para ter 
acesso a uma tabela sistematizada, consulte o anexo ao fim do livro.
12
 Assim, tivemos a ideia de reunir de forma remota 
diversos profissionais do quadro - da ativa, aposentados e 
exonerados - para conversarmos um pouco sobre as suas 
trajetórias e, principalmente, sobre os antecedentes, a 
formação, os desafios e os sonhos do QAE. Construímos este 
livro a partir de longos debates, desabafos e ideias em um 
grupo de WhatsApp e em reuniões por videoconferência, 
partindo de um ponto que privilegiava um resgate do passado 
do Quadro de Apoio Escolar da Secretaria de Educação do 
Estado de São Paulo.
 Em 2021 publicamos Prazer, somos AOE’s, em que 
alguns Agentes de Organização Escolar do QAE contaram as 
suas trajetórias pessoais e, principalmente, profissionais. Esta 
obra teve e continua alcançando uma repercussão extremamente 
positiva e tem atingido o nosso principal objetivo: contribuir 
para a valorização do Quadro de Apoio Escolar, através de 
“A história do quadro pode se confundir 
com a história dos profissionais, quero dizer, 
se formos nos ater aos fatos das reformas, 
dos reenquadramentos, que identidade 
poderemos construir? Algo que tenha a cara 
de todos? É possível?” 
Carolina Soares Manfio
13
uma busca por maior visibilidade para a categoria. Dessa vez, 
fizemos um pouco diferente: demos preferência aos relatos 
que nos ajudem, de forma mais objetiva, a resgatar a história 
daqueles que realizam as atividades de secretaria escolar, 
acompanhamento dos estudantes nos momentos em que não 
estão com atividades executadas pelos professores, atividades 
de limpeza, merenda e vigilância, ou seja, aqueles e aquelas 
que são o coração da escola.
 Ao longo deste livro, contaremos com as contribuições 
inestimáveis de diversos profissionais do QAE, as quais serão 
destacadas no texto assim como as passagens acima, de Edson 
Ferreira da Silva e Carolina Soares Manfio, profissionais que 
aparecerão novamente nas próximas páginas. É a história do 
QAE contada por quem a construiu e a constrói todos os dias, 
destinada especialmente às próximas gerações de educadores 
do quadro.
 Entretanto, este não é um livro definitivo e nem 
acabado sobre a história do QAE. É o ponto de partida para 
resgatar uma memória que precisa, ainda que aos poucos, ser 
conhecida e apropriada pela coletividade. O reconhecimento 
das potencialidades desses profissionais não cabem nas 
palavras “tio” e “tia” e, na escola moderna, a Educação não 
acontece apenas na sala de aula. Queremos e precisamos ser 
reconhecidos como sujeitos do processo e sabemos que o 
primeiro passo para isso é contarmos a nossa história. 
14
“Vamos escrever esta história e disputar a 
narrativa, mostrando nossa importância 
para a Educação.” 
Claudio Adão dos Santos
15
O papel da história oral e das trajetórias para a 
construção da memória do QAE
 Conforme destacamos, este livro tem uma base 
metodológica: a história oral. Essa metodologia, tomada 
de empréstimo do campo da História, foi a nossa aposta 
para contarmos a trajetória do Quadro de Apoio Escolar 
embasados, principalmente, nos desafios enfrentados ao longo 
dessas três décadas de existência. Ainda que compreendamos 
que a desvalorização do QAE se enquadra em um contexto 
de descaso generalizado com a Educação, não é segredo que 
representamos a parcela mais marginalizada e excluída desse 
todo. 
 Ainda que tenhamos avançado nos últimos anos, 
nada nos foi dado de forma gratuita e todos os resultados são 
reflexos de mobilizações dos profissionais e, muitas vezes, de 
suas iniciativas pessoais. Além disso, devido ao nosso extenso 
rol de atividades, a tarefa de resgate da memória do quadro 
e, consequentemente, da construção de uma nova identidade 
para ele, se torna muito complexa:
16
“Quando falamos em identidade, falamos em 
algo que não é construído autonomamente, 
toda construção identitária parte de um 
reconhecimento que o outro oferece, que o outro 
reforça. Neste sentido, percebemos que não houve 
a construção da identidade do Quadro de Apoio 
como um quadro de educadores, pois nunca 
nos reconheceram como tal e aqui não é uma 
reclamação, é um fato. O Agente de Organização 
Escolar foi identificado como um agente escolar, 
parece redundante, mas é completamente 
diferente de dizer que era um agente educador. 
Também há uma confusão, aquela que diminui 
uma condição mais digna e genuína da posição 
do agente, a de que o agente é um cuidador. O 
cuidador tem um papel importantíssimo de apoio, 
apoio no sentido de base mesmo, para que a escola 
funcione. O agente é a escuta da mãe, o braço do 
professor e o colo do aluno. Mas tudo isso ainda é 
menosprezado e está preso numa narrativa de falta 
de valor, seja moral ou econômico. Sempre escutei 
pessoas do quadro se dizendo e se reconhecendo, 
que é o mais grave, sem esse tal valor. Pelo que vi 
esse livro tem esse propósito… Estou curiosa para 
saber como pensam em fazer isso. Resgatar ou criar 
uma identidade para esse pessoal no seu rol é um e 
no seu cotidiano é outro.”
Carolina Soares Manfio
17
 O sociólogo austríaco Michel Pollak, em seu texto 
Memória, Esquecimento, Silêncio destaca que:
 A memória coletiva que tentaremos desconstruir é a 
de que o QAE é composto, basicamente, por “tios” e “tias” 
que contribuem apenas de forma superficial com o processo 
educativo. Ainda que a função do QAE se restringisse ao 
“cuidado” e ao “apoio”, estas são por si, em um ambiente 
escolar, práticas educadoras. Limitar o conceito de educação 
ou o ato de educar somente ao que pode ser quantificado ou 
medido através de avaliações, não é compatível com a escola 
Ao privilegiar a análise dos excluídos, dos margin-
alizados e das minorias, a história oral ressaltou a 
importânciade memórias subterrâneas que, como 
parte integrante das culturas minoritárias e dom-
inadas, se opõem à “memória oficial”, no caso a 
memória nacional. Num primeiro momento, essa 
abordagem faz da empatia com os grupos domi-
nados estudados uma regra metodológica e reabil-
ita a periferia e a marginalidade. Ao contrário de 
Maurice Halbwachs, ela acentua o caráter destrui-
dor, uniformizador e opressor da memória coletiva 
nacional. Por outro lado, essas memórias subter-
râneas que prosseguem seu trabalho de subversão 
no silêncio e de maneira quase imperceptível aflo-
ram em momentos de crise em sobressaltos bruscos 
e exacerbados. A memória entra em disputa. Os 
objetos de pesquisa são escolhidos de preferência 
onde existe conflito e competição entre memórias 
concorrentes 2. 
_______________________________________________ 
2 POLLAK, Michel. “Memória, esquecimento, silêncio”. In: Estudos Históricos, Rio de 
Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 4.
18
do século XXI, que deve ser apta a formar indivíduos em um 
contexto em que as habilidades socioemocionais são mais 
importantes do que em qualquer outro momento de nossa 
história. A escola é um eixo fundamental e todas as suas 
engrenagens giram em torno de um único objetivo: educar. 
Logo os seus funcionários são, em essência, educadores, 
principalmente quando consideramos os moldes do QAE, em 
que os profissionais estão definitivamente ligados ao espaço 
escolar, não podendo exercer suas funções em qualquer outro 
lugar.
 Além disso, nos próximos capítulos conheceremos 
alguns projetos de educadoras e educadores do QAE que 
deixam ainda mais clara a complexidade e importância do 
quadro para a construção de uma educação de qualidade no 
estado de São Paulo. Obviamente, isto só é possível a partir 
da História Oral, através da análise de trajetórias pessoais que 
ressaltam a realidade, por trás da expectativa instituída pela 
Legislação. Sabemos, todavia, que mesmo a partir de uma 
metodologia assertiva não é possível construir uma análise ou 
uma pretensa identidade que tenha a “cara de todos”.
 O QAE é múltiplo. É invisibilizado. Possuímos histórias 
de profissionais extremamente engajados, inconformados, 
combativos e criativos. Do outro lado, temos aqueles que 
não possuem perspectivas, são conformados, territoriais e 
burocráticos. O Quadro de Apoio Escolar é complexo como 
todos os coletivos, mas há algo que sempre os une: a memória, 
a história. E por que, em 30 anos, ela nunca foi contada? Por 
que, em três décadas de existência, uma organização coletiva 
em direção a um resgate como esse nunca foi realizada? Se o 
maior remédio para uma crise de identidade é a construção 
da memória, por que esse caminho nunca foi traçado antes? 
Tentaremos responder nas próximas linhas.
19
O não-dito e a invisibilidade do QAE
“Se apagarmos a chama da indignação, 
não conseguiremos nenhuma mudança. 
Nós temos uma inteligência que talvez os 
amedronte.” 
Edson Ferreira da Silva
 O esquecimento, o silenciamento e o apagamento são 
importantes armas de poder. O “não-dito” tem uma função 
importante, principalmente quando tratamos de grupos 
que estão, por algum motivo, à margem dos que recebem 
visibilidade cotidianamente. A dificuldade de articulação 
de um coletivo passa pela ausência de identidade, quando 
definido nos termos colocados pelos pedagogos Catarina 
Santos e Edmilson Camargos:
Entende-se por constituição de identidade, neste 
estudo, o processo de construção de simbologias, 
ressignificação de palavras e ritos, fazeres e afazeres 
característicos de um determinado grupo social e 
perceptíveis por outros setores da sociedade com os 
quais convive. Um grau mais elevado na constitu-
ição da identidade de um determinado segmento 
social ocorre quando, ao praticar uma ação inten-
cional e específica conjugando saberes históricos 
com fazeres práticos específicos, estabelecidos pelas 
suas atribuições funcionais, ele se percebe autôno-
20
mo, para se defender e lutar por seus direitos em 
todos os aspectos, organiza-se em torno de uma 
pessoa jurídica, associação ou sindicato, para rep-
resentá-lo nos embates com o governo, no caso dos 
servidores públicos3. 
_______________________________________________ 
4 Dado retirado do Cadastro Funcional da Educação da SEE-SP. In: BARBOSA, 
Andreza. et al. “Contratação, carreira, vencimento e jornada dos profissionais da 
educação estadual paulista (1995-2018). In: Educ. Soc., Campinas, v. 43, e245702, 
2022, p. 2. 
_______________________________________________ 
5 ALVES, Vinicius Prado. Funcionários de escola: um novo sujeito na disputa pelas 
políticas educacionais. Dissertação (Mestrado em Educação) - Setor de Educação, 
Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2018, 112 p. 
_______________________________________________ 
3 SANTOS, Catarina de Almeida; CAMARGOS, Edmilson Ramos. “Terceirização e 
adoecimento dos funcionários de escola”. In: Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 6, 
n. 11, jul./dez. 2012, p. 64. Disponível em: . Acesso em: 
jul. 2022. 
 Logo, nesse contexto, a construção de uma identidade 
para o QAE se faz necessária para as conquistas mais almejadas 
pela categoria: valorização profissional e econômica, com uma 
política ampla - e que contemple todo o quadro - de salários e 
progressão de carreira, qualificação e formação continuada que 
reconheça este grupo e suas especificidades enquanto sujeitos 
do processo de ensino-aprendizagem, atores do espaço escolar 
e, claro, gestores. 
 O poder de mobilização de quase 45 mil profissionais4 
, se organizados, é gigantesco. O pedagogo Vinícius Prado 
Alves5 coloca que os funcionários de escola tendem a 
constituir, cada vez mais, sujeitos coletivos importantes no 
campo de disputas por políticas educacionais, o que pode ser, 
para muitos, considerado um risco.
21
 Mais a frente vocês vão perceber que não raras foram 
as medidas disciplinares sofridas por profissionais do QAE 
que, de alguma forma, criavam algum núcleo de mobilização 
individual e/ou coletiva, ou simplesmente que se destacavam 
em seus trabalhos, rompendo o ciclo interminável de apatia. 
Afinal, é importante manter alguns silêncios e certas rotinas 
pré-estabelecidas. O ideal é o que os funcionários sejam 
dóceis e conformados, caso contrário, poderão ser alvo de 
advertências, isolamentos, perseguições, dentre outras práticas 
infelizmente comuns:
 Nós esperamos, entretanto, que este livro contribua 
para a mobilização da categoria e para a criação de uma 
identidade que gere sentimentos verdadeiros de pertencimento, 
distanciados de qualquer temor ou repreensões. Talvez, 
ao fim da leitura, você sinta falta de alguns personagens, 
instituições ou associações que não fizeram parte da fala e das 
reminiscências dos profissionais-escritores deste livro, mas 
esses serão “não-ditos” e “silêncios” sobre os quais poderemos 
tratar em outras oportunidades literárias. Por enquanto, 
esperamos que aproveitem a leitura.
Essa tipologia de discursos, de silêncios, e também 
de alusões e metáforas, é moldada pela angústia de 
não encontrar uma escuta, de ser punido por aqui-
lo que se diz, ou, ao menos, de se expor a mal-en-
tendidos.6 
_______________________________________________ 
6 Op. cit.,1989, p. 8.
22
CAPÍTULO 2
Um breve histórico da trajetória dos “Funcionários 
da Escola” no Brasil
 O Quadro de Apoio Escolar faz parte de um 
espectro muito mais amplo: o de “funcionários de escola’’ 
ou “profissionais da educação”. É por isso que não é possível 
realizar uma tentativa de resgate da memória do QAE/São 
Paulo sem traçar um breve panorama sobre a história da 
atuação dos “profissionais de escola” no Brasil. Entretanto, 
aqui cabe destacar que, assim como no estado de São Paulo, a 
categoria sofre um processo de desvalorização e invisibilidade 
a nível nacional, o que pode ser destacado através de, entre 
outros mecanismos, da escassa produção intelectual sobre o 
tema.
23
 Mas por que a produção acadêmicasobre o tema 
é importante se é algo “distante” do cotidiano da escola? É 
porque é importante, de certa forma, que os intelectuais 
assumam a vanguarda de assuntos como este, porque auxiliam 
na pauta para estudos o que, de fato, é fundamental a nível de 
estabelecimento de políticas públicas.
 Ao realizarmos as pesquisas para a confecção deste 
livro, chegamos a um dado extremamente alarmante: pouco se 
fala, a nível literário e acadêmico, da importância da atuação 
dos profissionais da educação não-docentes. De fato, dos mais 
de 800 mil resultados reportados pelo Google Acadêmico a 
partir das chaves “educadores não docentes” e “funcionários 
de escolas”, apenas 0,01% desse contingente - cerca de 80 
trabalhos - abordam de forma tangencial a memória, a história 
e a atuação desses profissionais. Ainda mais preocupante: não 
há nenhum retorno para “quadro de apoio escolar” que diga, 
de fato, respeito ao QAE/SP 7. 
 De forma geral, há pouco esforço em resgatar a 
memória desses profissionais até mesmo por pesquisadores da 
História da Educação. A referência mais corrente, encontrada 
nos poucos artigos, dissertações e teses que tematizam a 
trajetória desses profissionais são as obras do filósofo, sociólogo 
e doutor em Educação brasileiro, João Antonio Cabral de 
Monlevade._______________________________________________ 
7 Entretanto, defendida em inícios de 2022, temos a dissertação de mestrado em 
Educação pela UNIFESP de Erick Dantas da Gama, Somos todos educadores? A ideia 
de “profissionais da Educação” entre os trabalhadores não docentes da rede estadual 
paulista. A dissertação, que será muito referenciada nos próximos capítulos, traz uma 
análise muito bem estruturada sobre a atuação e o papel do QAE para a Educação 
do estado, bem como problematiza o que é ser educador na contemporaneidade. Vale, 
sem dúvidas, a leitura. In: GAMA, Erick Dantas da. Somos todos educadores? A ideia 
de “profissionais da educação” entre os trabalhadores não docentes da rede estadual 
paulista. Guarulhos, 2022. 201 p. Dissertação (Mestrado em Educação). Escola de 
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Paulo.
24
 Monlevade começou os seus estudos sobre o tema em 
meados dos anos de 1990, acentuando a sua atuação na área 
após a conclusão de seu Doutorado, no ano 2000. É autor, 
dentre outras obras, de apostilas do Profuncionário, projeto 
elaborado pelo Ministério da Educação para os funcionários 
de escola, em 2005. Nas próximas páginas, contaremos com 
a contribuição dos estudos do filósofo e sociólogo para traçar 
um breve panorama da história dos funcionários de escola 
durante a história.
25
 
Os antecedentes dos “funcionários de escola”: do 
período colonial a proclamação da República
 A história dos “funcionários da educação” no Brasil 
está atrelada à própria história da educação. As primeiras 
agrupações de ensino remontam ao período colonial por 
iniciativa da Ordem dos Jesuítas (1540-1759), portanto 
tinham um caráter estreitamente vinculado à religião católica. 
No período das escolas jesuíticas, as funções secundárias eram 
exercidas pelos “irmãos coadjutores” (auxiliares), que, mesmo 
tendo instrução, viviam em posição de subalternidade em 
relação aos padres dentro dos colégios e seminários. 
 Eles desenvolviam suas atividades na cozinha, 
na sacristia das igrejas, na horta, no pomar e na fazenda, 
na enfermaria, na biblioteca, nas oficinas de costura, de 
marcenaria, de ferraria, de trabalho em couro, etc. Esse 
período foi também marcado pela divisão social do trabalho 
no interior da educação jesuítica: professores (padres) e irmãos 
coadjutores (auxiliares), que, por sua vez, eram auxiliados por 
escravos.
 A partir de 1759, com a expulsão dos jesuítas ordenada 
pelo Marquês de Pombal, o ensino passou a ser realizado 
em espaços privados, nas chamadas aulas régias. Sobre esse 
período, Monlevade destaca que:
26
Pouquíssimo se tem pesquisado acerca do pessoal 
que compunha o “corpo de educadores” do período 
das aulas régias (1772-1834). A visão reducionista 
dos estudiosos da educação escolar, que só conseg-
uem perceber em cena, nas escolas, professores e 
alunos, torna os demais “invisíveis”. A realidade, 
entretanto, é que sempre estiveram presentes nas 
escolas outros trabalhadores [...] Quem limpava a 
sala depois das aulas? Quem mantinha a provisão 
de água de beber e de lavar as mãos de mestres e 
discípulos? Quem “rondava” a sala para impedir a 
entrada de estranhos e controlar a saída dos estu-
dantes? Quem executava os “mandados” externos 
dos professores? A resposta, muda e invisível, mas 
que contribuía eficazmente para a manutenção do 
status quo no espaço escolar e no tempo social era: 
os escravos e escravas.8
_______________________________________________ 
9 MONLEVADE, Op. cit, 2009, p. 361. 
_______________________________________________ 
8 MONLEVADE, João Antonio Cabral de. “História e construção da identidade: 
compromissos e expectativas”. In: Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 3, n. 5, p. 
341, jul./dez. 2009. Disponível em: . Acesso em: jul. 2022.
 Monlevade coloca também que a ampliação do 
atendimento à educação e a criação de novas instituições 
educativas, como liceus, colégios e escolas normais, com a 
construção de prédios grandes e vários tipos de dependência, 
trouxeram à baila a necessidade de um quadro de pessoal 
diferenciado, além dos professores; “foi aí que nasceu a 
categoria dos funcionários da educação, não mais escravos, 
nem religiosos, mas funcionários públicos, assalariados.”9.
27
 Em fins do século XIX, esse processo se intensificou e 
se espalhou de forma definitiva para outras províncias, além 
da capital da Corte. O modelo exportado para as capitais era 
o do Colégio Pedro II, fundado em 1837 no Rio de Janeiro, 
berço da elite imperial. A expansão alcança novos patamares 
com a Proclamação da República, como veremos a seguir.
28
Os antecedentes dos “funcionários de escola”: do 
Cidadãos e profissionais da Educação: do início da 
República a redemocratização
 João Antonio Monlevade destaca que os funcionários 
da educação como conhecemos hoje são, indiscutivelmente, 
produto da complexificação dos ambientes de ensino, o que 
só ocorreu após a proclamação da República, com a separação 
entre Igreja e Estado. 
 No ensino primário, surgem os grupos escolares nas 
redes de ensino urbano das antigas províncias, que passaram 
a ser chamadas de “estados”. No ensino secundário, se 
disseminaram os colégios estaduais e as escolas normais, ou 
institutos de educação, primeiro nas capitais e cidades mais 
populosas e, depois de 1930, na maioria dos municípios. A 
rede federal assume a oferta da educação profissional, dotando 
cada capital de uma escola de “artes e ofícios”. Não admira 
que, nas décadas de 1910 e 1920, surja uma legislação 
inovadora sobre o “pessoal administrativo” das escolas, além 
de seus professores e diretores. Nesse momento aparecem as 
primeiras referências em portarias e diários oficiais das funções 
de porteiros, zeladores, secretários, escriturários, arquivistas, 
contínuos, inspetores de alunos, copeiros, serventes (agentes 
de manutenção e limpeza), auxiliares de biblioteca e de 
laboratórios.
 Para o provimento desses “funcionários” – palavra que 
se dissemina como designação da categoria dos não-docentes, 
embora não de forma exclusiva – ou se improvisam acessos 
por “livre nomeação” ou se organizam concursos públicos, da 
mesma forma como se fazia com os professores. Em outras 
palavras, mesmo que houvesse admissões por indicação política, 
foi construído um arcabouço legal funcional para organizar e 
29
prover o quadro de funcionários, inclusive por orientação do 
Governo Federal, seja no tempo em que a Instrução fazia parte 
da Pasta dos Negócios do Interior, seja no período Vargas, com 
Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde. No 
tempo da reforma Sampaio Dória, em São Paulo, em 1920, 
Oscar Thompsonrecomendava a ampliação dos quadros 
“docente e administrativo”, distinguindo-os dos gestores do 
sistema: “inspetores e orientadores pedagógicos”.
 Neste livro, a partir da referência de Monlevade, 
chamamos de “era da democratização do acesso escolar” o 
período de 1946 a 1986, quando convergem três movimentos: 
urbanização, aceleração do fluxo escolar e produção dos 
recursos humanos, materiais e financeiros na área da educação. 
Resultou daí uma explosão de matrículas na educação básica 
pública. Nesse momento, a escola passa a receber um grande 
quantitativo de crianças e adolescentes, incluindo as da 
população mais pobre nas médias e grandes e cidades. Ocorre 
aqui uma grande virada: a escola deixa de ser um mero espaço 
de instrução e passa a dividir com as famílias a tarefa mais 
complexa e ampla de educar.
 Neste período de democratização do ensino, o 
ingresso dos funcionários passou a ser feita por indicação, 
principalmente vinculada ao apadrinhamento político-
partidário de fazendeiros, coronéis ou autoridades locais, eram 
os chamados “servidores clientelísticos”. Sobre esse momento, 
João Monlevade destaca:
Foi assim restabelecido um continuum histórico 
entre o trabalho escravo e os “serviços de apoio” 
na educação, que tinha sido até certo ponto inter-
rompido pela imposição de alguma meritocracia 
entre 1889 e 1945. Não é preciso dizer que muitos 
30
desses subempregos eram trocados por votos dos 
funcionários e de suas famílias nas eleições munic-
ipais e estaduais, em favor de seus “empregadores”. 
Reforça-se então a invisibilidade dos funcionários. 
Um dos mais consagrados cientistas da educação 
brasileira, M.B. Lourenço Filho, autor de muitas 
obras sobre política e administração escolar, em 
seu livro Organização e Administração Escolar, 
verdadeira bíblia dos estudiosos da educação nesse 
período, com mais de trezentas páginas, embora 
reconheça a existência de “outros profissionais”, 
dedica-se somente a analisar o papel dos diretores e 
professores, como que passando uma borracha nas 
múltiplas funções executadas pelos “demais”.10 
_______________________________________________ 
10 MONLEVADE, Op cit, p. 366.
 A categoria dos funcionários de escola firmou-se, 
portanto, com a expansão educacional, no período entre 1934 
e 1988, no qual a população passou de 35 para 150 milhões de 
habitantes e tornou-se 75% urbana. Essa explosão populacional 
levou à criação de muitas escolas primárias e secundárias de 
grande porte, que passaram a exigir a presença de “novos tipos 
de trabalhadores” para a educação escolar: porteiros, auxiliares 
nas secretarias, bibliotecários, preparadores de experiências em 
laboratórios, vigias, agentes de limpeza, inspetores de alunos e 
merendeiras.
 Com o processo de redemocratização e, 
consequentemente, com a promulgação da Constituição de 
1988, a chamada Cidadã, muitas mudanças ocorreram no 
campo das mobilizações e lutas dos profissionais da educação 
que, nesse momento, passaram a reivindicar o seu status de 
elemento educador.
31
Da redemocratização aos dias de hoje
 Monlevade destaca que a década de 1980, período da 
chamada “redemocratização” do País, também foi marcada 
pela eclosão de vários movimentos sociais organizados, com 
destaque para o dos educadores, que lutaram em prol da 
escola pública, gratuita, laica e de qualidade. Com a realização 
das Conferências Brasileiras de Educação (CBE), esses 
movimentos articularam-se no Fórum Nacional em Defesa 
da Escola Pública, por ocasião da tramitação da atual Lei de 
Diretrizes e Bases (LDB), e intensificaram suas lutas sindicais. 
A luta pela valorização dos profissionais da educação foi ponto 
de convergência, incluindo os professores de todos os níveis de 
ensino e os “funcionários de escola”, gerando muitos debates, 
propostas e intervenções, com o objetivo de resgatar o valor 
social dos intelectuais trabalhadores e a garantia de uma 
educação pública crítica e comprometida com a transformação 
social.
 No final do período anterior, durante a abertura, 
que coincide com o aumento da inflação e as mobilizações 
dos trabalhadores para tentar segurar o poder de compra dos 
salários, também os professores e funcionários se “agitam” em 
fortes movimentos, com reivindicações e greves. Os professores 
públicos, impedidos constitucionalmente de se sindicalizarem, 
passaram a dar um caráter sindical a suas associações. Os 
funcionários de escola, vítimas de maior opressão, começaram 
a se “abrigar” em associações de professores, algumas com 
novas denominações: União dos Trabalhadores em Educação 
de Minas Gerais, Associação Mato-grossense de Profissionais 
da Educação, para ficar em dois exemplos. Ou então, partiram 
para fundar organizações próprias – o que aconteceu em São 
Paulo (Afuse), no Paraná e no Distrito Federal (SAE).
32
 A criação da Confederação Nacional dos Trabalhadores 
em Educação (CNTE), em 1990, tornou-se um marco na 
trajetória de lutas em defesa da unificação e fortalecimento 
dos trabalhadores da educação básica. Foi no âmbito da 
CNTE que os funcionários de escola pública organizaram-se e 
se unificaram, desencadeando um processo de luta para tornar 
todos os funcionários da educação básica educadores, que 
devem trabalhar articuladamente com os professores e demais 
especialistas.
 A partir da Constituição de 1988, os funcionários 
da educação passaram a ingressar nos quadros via concurso 
público, o que trouxe a eles a desvinculação do apadrinhamento 
político, permitindo a busca, por meio da luta e da legislação, 
do reconhecimento como profissional da educação.
 Nos últimos anos, um movimento do governo em 
direção a uma maior valorização do educador não docente 
vem ganhando, cada vez mais, contornos mais delineados. 
A sociedade ainda não assimilou que os funcionári-
os são educadores profissionais – e não meros 
ajudantes dos professores ou apoios das escolas. 
Embora admitidos como membros dos conselhos 
escolares, por conquista dos sindicatos de 1988 
para cá, seu papel como gestores ainda é muito 
frágil. Sua influência nas decisões das propostas 
pedagógicas se faz à revelia. Nas escolas privadas, 
ainda que muitas vezes tenham um reconhecimen-
to social pelos alunos e famílias, são quase sempre 
desvalorizados nas relações de trabalho. 11
_______________________________________________ 
11 MONLEVADE, Op cit, p. 367.
33
Uma mudança da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
(LDB) inseriu os funcionários de escola, que exercem funções 
técnico-administrativas nas redes de ensino, como profissionais 
da área de Educação. Para que essa categoria profissional fosse 
reconhecida e valorizada, foi criada a lei federal 13.054/2014 
12, que instituiu o dia 6 de agosto como o Dia Nacional dos 
Profissionais de Educação. Esse reconhecimento beneficiou 
cerca de um milhão de trabalhadores que atuam nas escolas de 
ensino básico. Nesta mesma linha, a lei estadual nº 17.566 de 
02 de setembro de 2022 institui o “Dia do Servidor Público” 
do Quadro de Apoio Escolar (QAE) e do Quadro da Secretaria 
de Educação (QSE), também a ser comemorado em 6 de 
agosto.
 
 Sobre essas leis, apesar de estabelecer um ponto de 
referência importante, visto que datas comemorativas são 
agentes sensíveis da memória coletiva, fica apenas no plano de 
discurso, pouco atingindo a prática.
 Em termos materiais, a aprovação do novo FUNDEB, 
a partir da Lei 14.113 de 25 de dezembro de 2020, trouxe 
importantes alterações em relação ao antigo fundo (Lei 
11.494 de 20 de junho de 2007). Uma das mais importantes 
foi a inclusão de todos os não-docentes no processo. De 
acordo com a Emenda Constitucional n° 108, de 27 de agosto 
de 2020, que inseriu no rol de investimentos do fundo, o 
investimento a todos os profissionais da educação escolar não 
deve ser inferior a 70%, no que diz respeito à valorização/
_______________________________________________ 
12 BRASIL. Lei nº 13.054, de 22 de dezembro de 2014. Institui o dia 6 de agosto como 
Dia Nacional dos Profissionaisda Educação. Brasília: Presidência da República, Casa 
Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: . Acesso em 5 de julho de 2022
34
_______________________________________________ 
13 Para mais informações, acesse: . Acesso em 5 de agosto de 2022. 
remuneração. No modelo antigo, somente os profissionais do 
magistério tinham direito a este investimento, que possuía o 
mínimo de 60% de investimentos13.
 Em resumo, o que se observa é que apesar dos avanços 
observados a partir da Constituição de 1988, o cotidiano ainda 
é, quase 35 anos depois, muito distante da realidade que se 
pretendeu instituir. A luta por reconhecimento e pela reversão 
do processo de desvalorização histórica é uma constante para 
todos os funcionários de escola do Brasil ainda nos dias de 
hoje, e isso não é diferente no Estado de São Paulo.
35
CAPÍTULO 3
O quadro de Apoio Escolar do Estado de São Paulo
 O Quadro de Apoio Escolar - QAE foi criado pela 
Lei 7.698/92, e neste ano completou três décadas. Até a 
promulgação da lei, os funcionários de escola eram nomeados 
ou admitidos, respectivamente, nos termos da Lei n.º 180/78 
e da Lei n.º 500/74 e integravam o Quadro da Secretaria de 
Educação (QSE). Foram estabelecidos cinco cargos a partir da 
Lei 7698/92: Secretário de Escola, Servente de Escola, Inspetor 
de Alunos, Oficial de Escola e Assistente de Administração 
Escolar.
36
 Em termos de escolaridade mínima, o Assistente 
de Administração Escolar deveria ter o Ensino Superior 
Completo; o Secretário de Escola o Ensino Médio; o Inspetor 
de Alunos e o Oficial de Escola o Fundamental Completo; 
e, para o Servente de Escola, era admitido o Fundamental 
Incompleto.
 A partir da criação do QAE, os inspetores de alunos 
que eram do QSE passaram a fazer parte do quadro, dessa vez 
admitidos pela Lei 500/74 (mesmo quem era nomeado), o 
mesmo ocorreu com o secretário de escola, já os escriturários 
(agora com a designação do cargo de auxiliar administrativo) 
e auxiliares de serviços puderam permanecer nas escolas ou 
pedir transferência para as Delegacias de Ensino.
 A criação do Quadro de Apoio Escolar consolidou 
a função dos funcionários desse quadro como profissionais 
da Educação. O anterior QSE ou contratação a partir de 
outras vias, fazia com que esses trabalhadores não tivessem, 
necessariamente, uma relação intrínseca com a Educação. 
Como vai ser ressaltado por diferentes educadores que 
construíram este livro, esses profissionais poderiam exercer 
funções em diversas secretarias, não apenas na Educação. A 
partir do momento em que o QAE é criado, esses profissionais 
passam a ser, essencialmente, funcionários de escola, ou seja, 
estariam mais ou menos envolvidos em processos pedagógicos 
de suporte das mais diversas naturezas e imbuídos do papel 
 Com o advento da Lei Complementar 888/2000, 
foram extintas as funções e vagas de Inspetor de Alunos e as 
demais, juntamente com os cargos, foram unificadas com 
o cargo de Oficial de Escola e transformadas em cargos de 
Agente de Organização Escolar (AOE) e os cargos/funções de 
37
Servente de Escola passaram a Agente de Serviços Escolares 
(ASE).
 Em 2011 a Lei Complementar nº 1.144/11, instituiu 
o Plano de Cargos, Vencimentos e Salários para os integrantes 
do Quadro de Apoio Escolar, da Secretaria da Educação, e 
extinguiu (em sua vacância) os cargos de Secretário de Escola 
e Assistente de Administração Escolar, mantendo os cargos 
de Agente de Organização Escolar e Agente de Serviços 
Escolares e criou a função de Gerente de Organização Escolar 
(GOE). Para ser designado GOE é necessário que o Agente 
de Organização Escolar, o Secretário de Escola ou o Assistente 
de Administração Escolar passem por processo de certificação, 
regulamentada pelo Decreto nº 64.902/2020 e Resolução 
SEDUC 93/2020.
 A Lei Complementar nº 1.144/2011, trouxe a 
possibilidade de “Promoção” (a mudança de faixa) uma forma 
de aumentar o salário base em até 35%, desde que o interessado 
realize uma prova, apresente certificado de conclusão de 
curso de nível superior ao necessário para o ingresso (ASE e 
AOE - Certificado de Ensino Médio, e Secretário de Escola - 
Certificado de Ensino Superior), e tenha cinco anos de efetivo 
exercício no cargo (ou seja, contar com cinco anos da data 
da nomeação do cargo em exercício, independentemente 
de ter tido outro cargo/função anteriormente). Para a classe 
dos AOE’s, a Lei Complementar nº 1.361/21 trouxe uma 
valorização no processo de promoção, passando de 3 para 6 
faixas, de acordo com a titulação, a saber:
38
 E para o ano de 2022, devido a transição desta 
legislação, os Agentes de Organização Escolar tiveram a 
possibilidade de serem reenquadrados nas referidas faixas 
de acordo com sua titulação, a partir de requerimento, sem 
a necessidade da realização da prova de promoção e nem do 
interstício mínimo que também sofreu alteração, conforme 
tabela acima.
 Além da promoção, a Lei Complementar nº 
1.144/11, trouxe também a progressão (mudança de nível). 
A primeira progressão ocorre a partir da confirmação na 
investidura do cargo, ou seja, após o estágio probatório. Por 
isso, todos os funcionários que na promulgação da lei tinham 
mais de três anos de trabalho, passaram do nível A para o B 
automaticamente. A progressão foi normatizada pelo Decreto 
nº 63.471 de 2018 e Resolução SE 54 de 2018, para que a 
cada três anos exista a possibilidade de o funcionário progredir 
no nível superior.
 Assim, hoje nas escolas, apesar da terceirização, ainda 
existem alguns funcionários do QSE (auxiliares de serviços 
e auxiliares administrativos); alguns AOE’s categoria F (que 
fazem parte do QAE por integração, ou seja, prestaram 
concurso para Inspetor de Alunos antes de 1992) e poucos 
Assistentes de Administração Escolar e Secretários de Escola, 
39
cujo cargo deixará de existir na vacância (aposentadoria, 
exoneração ou óbito), e a cada vacância do cargo de Secretário 
de Escola será criado um cargo de Agente de Organização 
Escolar para o Estado.
 Pode-se, então, dividir a história dos “funcionários 
de escola” de São Paulo em dois momentos: pré e pós QAE. 
A seguir vamos conhecer histórias desses dois períodos que 
conquistam, em um primeiro momento, pela multiplicidade. 
Apesar de, muitas vezes, ocuparem os mesmos cargos, 
estes são desempenhados em cidades, escolas e realidades 
completamente diferentes. As mais diversas experiências 
acentuam a face complexa e múltipla do QAE, que deve ser 
uma marca da identidade que se pretende construir para esses 
educadores.
40
Os “funcionários de escola” do estado de São Paulo 
antes da Lei do QAE: memórias
“Eu tinha uma vizinha que era funcionária pública e aí me avisou 
que ia ter o concurso. Eu me inscrevi para inspetor porque eu não 
tinha o curso de datilografia, exigido para o cargo de escriturário. 
O quadro era o QSE - Quadro da Secretaria de Estado. Com 
exceção do Inspetor de Alunos, os funcionários dos demais cargos 
e funções do QSE poderiam atuar em qualquer instância, por 
exemplo: um auxiliar de limpeza, poderia trabalhar na Educação, 
na Saúde, na Justiça, em qualquer secretaria, desde que fosse do 
Estado. Entrei como Inspetor, em um concurso regionalizado por 
Diretoria de Ensino. No meu caso, no bairro em que eu morava 
só havia duas escolas, uma eu conhecia porque era na rua de casa 
e a outra eu não sabia nem onde ficava. E eu acabei conseguindo 
vaga para essa que eu não sabia onde ficava. Eu fiquei nervosa 
porque eu não conhecia nada (morava a pouco tempo no
bairro) e foi a maior torcida da supervisão “Não, você vai 
conseguir, porque é um bairro longe que ninguém de fora quer, só 
quem é de lá mesmo, então você vai conseguir!”. Por fim consegui 
mesmo nessa escola. A escola contava com mais de cinco mil alunos 
e só tinha vaga à noite e fazia doisou três meses que alguém
tinha sido assassinado na porta da escola e eu achava distante, 
tinha medo, mas tudo bem, acabei ficando à noite mesmo. No 
QSE, havia o servidor contratado livro-QAE30anos.indd 50 
27/01/2023 12:27:14 51 pela Lei 500/74 e o funcionário 
efetivo. No meu caso, eu fui contratada pela Lei 500. Eu não 
sabia as diferenças de um para outro, mas com o tempo eu fui 
descobrir que pela Lei 500 não era efetivo, mas que você ficava, 
41
teoricamente, efetivo, porque não era mandado embora.
Então a diferença do efetivo para o Lei 500 é que eu não teria, 
na época, direito à remoção, à licença-prêmio, sexta parte, por 
exemplo, mas isso mudou na Legislação que criou a SPPREV, que 
tornou o admitido pela Lei 500, efetivo para fins previdenciários, 
dando a eles quase todas as vantagens do efetivo. Ingressei em 
julho de 1991 e como não tinha direito as férias, ajudei na 
secretaria da escola no final do ano. Em 1992 pedi a exoneração 
da função de Inspetor de Alunos e prestei o concurso para Oficial 
de Escola. Meu primeiro dia foi substituindo o Secretário de 
Escola e praticamente nunca realizei o serviço de Oficial,
pois estive designada Secretário de Escola até prestar o primeiro 
concurso de Secretário de Escola do QAE em 2003, quando fui 
aprovada.”
Angela de Paula
42
 “Eu sou secretária de cargo e ingressei no Estado em 1991 
pela PRODENPAR como escriturária. Eu estava procurando 
emprego e fiquei sabendo que tinha uma vaga na secretaria de 
uma escola. Pediram para que eu fizesse um teste de datilografia, 
respondi a algumas perguntas e consegui a vaga. Nos primeiros 
dias fiquei muito assustada porque foram logo dizendo que não 
tinham tempo para me ensinar nada e que eu deveria “me virar” 
e aprender enquanto fazia as demandas da secretaria. A diretora 
cobrava bastante para que não usássemos muito material e como, 
no início, eu errava muito a datilografia, ficava sempre muito 
nervosa.”
Tânia da Conceição Moutinho Santos
43
Os “funcionários de escola” do QAE do Estado de 
São Paulo: memórias
“A lei foi criada em janeiro, eu entrei em agosto em um concurso 
diferente de todos os outros, foi regionalizado e feito por unidade 
escolar, a inscrição era realizada na própria escola, de forma 
bastante informal. Como candidato, tive que ajudar a organizar 
as fichas, acreditam? Claro que o processo foi idôneo, porque eu 
não conhecia ninguém, mas isso é para que vocês vejam o quão 
diferente era do que acontece hoje. A educação para mim não era 
estranha, porque eu fui aluno da primeira turma do CEFAM 
(Centro de Formação e Aperfeiçoamento para o Magistério), 
então eu conhecia a estrutura de uma escola. Entrei conhecendo 
muito o ambiente, mas ainda assim tive um grande impacto.
 Eu ingressei em uma unidade que não tinha funcionário 
nenhum, então foi muito estranho. A escola tinha sido recém-
inaugurada, em janeiro. Eu entrei como Oficial de Escola e três 
ou quatro meses depois fui designado Secretário. Na verdade eu 
já cuidava da parte administrativa desde agosto porque, como já 
disse, eu era o único funcionário, então já estava acostumado. Era 
uma escola de periferia, por que eu nutro bastante afeto até hoje. 
A grande mudança que não foi muito legal para a gente, mas que 
resolveu uma questão funcional do Estado, foi a fusão, no ano 
2000, das funções de Inspetor de Alunos e Oficial de Escola. Isso 
porque os Oficiais de Escola, ao ingressarem, passavam para um 
rol de atividades que não contava, necessariamente, com as funções 
de pátio - não que a gente não fizesse, já que éramos responsáveis 
pela entrada e saída de alunos… Mas a Lei 888/2000 fez com 
que muitos Oficiais de Escola, acostumados com suas atividades 
originais na secretaria, tivessem que ir para o pátio sem preparo 
44
nenhum. Foi um impacto muito grande para muita gente. Eu não 
cheguei a ir para o pátio, mas foi a mudança mais profunda que 
vivi nesses últimos anos, além da terceirização, que pulverizou 
muito os cargos e, hoje, não sabemos quem é concursado e faz 
parte do QAE e quem não é.”
Edson Ferreira da Silva
45
“Em 1992 criou-se o QAE. Então, o que acontece: quando houve 
a legislação que criava o QAE, quem era Inspetor de Alunos QSE 
veio automaticamente para o QAE, só que ficou como Lei 500, 
independente de como ele estava. Ele era outro quadro, ele entrou 
como Lei 500. Todos os antigos Inspetores de Alunos passaram a 
fazer parte do QAE. Foi criado, então, o Oficial de Escola e o 
Secretário de Escola, que já existia na Lei de 1986, mas passaram 
a fazer parte também do QAE. Porque o QAE como seria só para 
escola, deixou de poder ter funcionários remanejados para outras 
secretarias. E aí eles criaram também o Assistente de Administração 
Escolar. No caso, na época, o Assistente tinha que ter o Ensino 
Superior para ingressar, para o Secretário era necessário ter o 
Ensino Médio, para o Oficial de Escola ou para o Inspetor de 
Alunos tinha que ter o Ensino Fundamental Completo. E aí veio 
o Servente de Escola no lugar do Auxiliar de Serviços, porque o 
Auxiliar de Serviços não veio diretamente para o QAE como foi o 
caso do Inspetor de Alunos. Ele teve um concurso próprio. Quem 
ficou como Auxiliar de Serviços QSE está assim até hoje… E esse 
precisava ter o Ensino Fundamental Incompleto. 
 Quando foi ali no ano 2000, teve a primeira alteração na 
legislação de 1992, a Lei Complementar 888/2000, que passou 
então a nomear o Oficial de Escola e o Inspetor de Alunos como 
Agente de Organização Escolar. Então quem era Inspetor e quem 
era Oficial de Escola passou a fazer o mesmo trabalho. No início 
foi complicado porque alguns diretores mantiveram tudo como 
era, então a pessoa que era Inspetor continuou lá fora [no pátio], 
cuidando das crianças, e o pessoal que era da secretaria continuou 
na secretaria. Mas quando começaram as primeiras remoções, aí 
teve problema, porque teve gente que só trabalhava na secretaria 
e acabou, quando teve remoção, que ir para o pátio… E tinha 
46
aquela coisa: você tinha escolha quando você optava na hora do 
concurso, você escolhia: “Eu quero trabalhar na secretaria ou eu 
quero trabalhar no pátio”… Então, no meu caso, eu entrei como 
Inspetor e, em 1992, assim que mudou para o QAE, eu optei 
por trabalhar na secretaria, porque eu não me dava bem como 
Inspetora, eu não gostava de lidar com as crianças, não que fosse 
algo assim: “Ah, eu não suporto!”, não, mas eu achava muito mais 
interessante lidar com papéis. E aí eu prestei esse concurso para 
tentar ir para a secretaria, porque quando eu era Inspetora, como 
eu entrei no meio do ano de 1991, eu não tinha direito a férias 
no fim do ano, porque era um ano para você ter direito a férias. 
Aí eu fiquei na secretaria, em dezembro e janeiro, ajudando a 
fazer histórico, a fazer ficha 100, essas coisas… E aí eu fiquei 
apaixonada pelo trabalho, então quando teve a inscrição para o 
QAE eu tentei, e apesar de eu não ter a datilografia, a diretoria 
viu o meu trabalho e falou “não, não, não tem problema, a gente 
vai receber os livrinhos que vão ensinar a datilografia” e eu, 
bobinha, acreditei e prestei o concurso, acabei passando e fui para 
a secretaria.
 Então quando juntou o inspetor e o pessoal de secretaria, 
para mim não teve problema, porque eu já estava designada a 
secretaria. Apesar de ser Oficial, eu já estava designada secretária 
já havia algum tempo porque o concurso foi em julho e aí eu 
ingressei em agosto, dia 3 de agosto, e eu já fui direto para substituir 
a secretária. Então eu nunca exerci o papel de Oficial, sempre fui 
Secretária desde o primeiro dia que eu passei a Oficial de escola. 
Então, era mais difícil de trabalhar? Era. Porque você fazia tudo, 
era tudo manual, se tivesse hora-extra, você tinha que calcular a 
hora-extra… Na época, as pessoas que trabalhavam na secretaria 
e no pátio, todos os funcionários em geral, tinham direito a 210 
horas-extras por ano, então era publicado em Diário Oficial que 
você tinha direito às 210 horas, saía o seunome, e você fazia 
essas horas-extra e então recebia. Depois isso foi retirado, já não 
47
tinha mais direito. Mas essas horas-extras quando fazíamos, a 
gente tinha que calcular de forma manual, era bem complicado. 
O BFE era feito manualmente, enviado para a Diretoria e da 
Diretoria que eles davam andamento nos pagamentos. E aí você 
tinha que colocar o 09 em vermelho, né? Era uma coisa assim 
que era de praxe, e o resto era em azul. Então a gente tinha que 
assinar o BFE, o diretor assinava o BFE para ele ver que estava 
tudo “certinho”, então ia para Diretoria e era lá que eles resolviam 
se eles digitavam ou se eles mandavam lá para a SEEDUC, né? 
Na época eu não sei como chamava a SEEDUC. Mas, então 
era assim. E as horas-extras, no geral, a gente fazia aos sábados, 
quando tinha alguma reposição ou alguma outra coisa, então a 
gente recebia essas horas-extras. O Diário Oficial a gente lia no 
papel e precisávamos saber cada detalhe de cada coisa, como é que 
era confeccionada cada coisa, era complicado. Hoje não, hoje tá 
tudo mastigadinho lá, você só preenche os formulários, coloca a 
informação lá na internet e fica tudo resolvido.”
Ângela Fátima de Paula
48
“Houve a criação do QAE em 1992, com sua legislação própria, 
assim separando os funcionários da educação do QSE, o que limita 
os funcionários a circularem apenas entre escolas não há mais a 
possibilidade de atuação em outras secretarias, com pequenas 
exceções, ganhamos e perdemos, ganhamos pois até o presente 
momento a Secretaria de Educação concede mais benefícios ao 
QAE em relação ao QSE, porém dividiu a classe dos servidores, 
sendo que atendem a mesma secretaria; fizemos uma prova em 
nível de Unidade Escolar e passamos de escriturário para Oficial 
de Escola, o que abriu oportunidade para novas contratações de 
funcionários principalmente de candidatos que moravam nas 
adjacências da escola, cargo que posteriormente foi transformado 
no atual Agente de Organização Escolar e ficou mantido o cargo 
de Secretário, com Lei 1.144, fomos agraciados com alguns 
benefícios como a promoção por mérito e a progressão, institui-
se a função de GOE que trás um certo retorno financeiro para 
alguns mas em certos aspectos condicionou servidor por tratar-se 
de função de confiança. 
 Com o passar dos anos e a criação de novas Resoluções, 
Decretos e o aprimoramento do sistema as coisas foram se 
transformando, foi um avanço quando começaram a implantar 
os computadores com internet nas escolas, me recordo que quando 
disponibilizaram a Prodesp e passamos a contar com a impressora 
Laser Jet, ficamos entusiasmados com as novidades e nos ofereceram 
um curso; aqui na minha cidade, São José dos Campos, foi no 
SENAC, mas considero que foi apenas uma introdução, pois o 
curso foi de um mês para o Word, Excel, Power Point, Internet, 
comandos da Prodesp e mais um que não me lembro, acho 
que Access, tempos mais tarde fiz um cursinho básico com os 
meus próprios recursos. Também promoviam alguns encontros 
49
presenciais para darem treinamento principalmente quando 
ocorria alterações nos formulários, como forma de atualização em 
acordo com as Resoluções e Decretos vigentes.”
Valmir Barbosa
 “Eu ingressei como inspetor de alunos, em 1996. Quando houve 
a fusão, nos anos 2000, devido ao esvaziamento que estava sendo 
observado nas funções, eu fiquei praticamente sozinho na escola, 
então realizava funções de secretaria e atendimento de aluno no 
pátio. Em 2009 houve o primeiro concurso de AOE e eu entrei, 
foi quando passei a ter um cargo efetivo no Estado. Em 2011, eu 
assumi a função de GOE.”
Nilton Cesar Amorim
50
“Entrei em 1991 e fiz um concurso público que era para uma 
categoria função/atividade (Lei 500). Hoje eu estou muito 
informada devido à tecnologia, mas quando ocorreu a mudança 
com a criação do QAE, ainda era distante o pessoal de pátio e 
secretaria. O que mudou para mim é que me falaram que eu 
iria para outra escola porque a partir daquele momento eu teria 
um cargo efetivo. Mas nenhuma outra alteração porque se ainda 
hoje não chamam os profissionais para falar sobre a Legislação, 
naquela época ainda era mais complicado. A diferença é muita 
de quando eu entrei. Ingressei em 1991, como Inspetor de Alunos, 
passando como Agente. As dificuldades eram muitas. Não existia 
telefone na escola em que eu trabalhava, nós utilizávamos o 
orelhão em Nazaré Paulista. Comprávamos várias fichas na 
rodoviária e de lá ligar ou ir na casa do professor. Não tínhamos 
tecnologia, tampouco informação. Eu sempre fui do pátio, sempre 
me identifiquei nessa função. Uma coisa que me deixou triste lá 
atrás foi que em setembro de 1997 a escola em que eu estava foi 
municipalizada e todos tiveram que sair. Alunos e funcionários 
foram mandados para outra escola em meio ao ano letivo. Até 
hoje não aceitei. O que eu acho do trabalho aqui: paciência, 
paciência, paciência. Gosto muito de trabalhar com alunos e fico 
triste, por um lado, de pensar em aposentadoria. Vou sentir falta 
da correria e do contato com os jovens.”
Ivanete Aparecida Guimarães Camilo
51
“Eu tenho 31 anos de Estado, ingressei em maio de 1991. Fiquei 
sabendo do concurso por uma prima minha. O concurso tinha 20 
vagas, eu fiquei em 22º lugar, mas como houve desistências, eu 
consegui entrar. O cargo era para escriturário, depois passei a ser 
Oficial de Escola, que depois se tornou o Agente de Organização 
Escolar. Em seguida, fui designada secretária de escola e, hoje 
em dia, sou Gerente de Organização Escolar. Quando ocorreu 
a mudança para o QAE, precisei fazer uma prova interna para 
que houvesse a efetivação. A maior diferença que vejo é o fato de 
que, antigamente, era tudo manual, o que tornava o trabalho 
muito mais difícil. Utilizávamos máquina de datilografia, fax e 
telefone de discar! Prometeram que os computadores chegariam às 
escolas em 1998 e todos nós ficamos muito apreensivos porque não 
sabíamos nada sobre informática e o Estado não ofereceu nenhum 
curso ou treinamento, então aprendemos tudo sozinhos e, com 
o tempo, acostumamos. Em 2009 me transferi para uma escola 
nova que não tinha internet. Durante dois anos, eu precisava me 
deslocar para outros lugares, como a Diretoria de Ensino e outras 
unidades escolares para realizar todas as atividades burocráticas 
que dependiam de rede.”
Audineia Almeida dos Santos
52
“Eu comecei no Estado em 1991, por intermédio da 
PRODENPAR. Fiz o concurso para escriturária e depois para 
oficial de escola. Eu fiquei sabendo da criação do QAE pelo Diário 
Oficial e todos ficaram logo focados em estudar. Em 1994, pedi 
remoção para outra escola, e depois disso fui designada secretária. 
As dificuldades dos anos em que tudo era “manual” eram muito 
grandes, precisei fazer até mesmo um curso de datilografia. 
Fazíamos documentos enormes, declarações, portarias… Se 
errássemos uma letra, precisávamos começar tudo de novo. No meu 
caso, quando chegaram os computadores, recebemos um curso da 
própria Diretoria de Ensino, mas ainda assim precisei pagar um 
curso “por fora” para acompanhar as frequentes atualizações. É 
importante lembrar que apesar de os computadores terem chegado 
em 1998, a internet só iria chegar muito tempo depois. Fiquei 
fora da escola por um tempo e voltei em 2017, sem nenhuma 
designação e foi um pouco difícil. Agora, com essa nova lei do 
reenquadramento de 2022, estou feliz da vida!”
Aparecida Moreira Gomes
53
“Em 1992, com a criação do QAE, o que ocorreu foi uma espécie 
de concurso interno e fui efetivada como oficial de escola. Mas não 
houve uma grande divulgação da lei, apenas da oportunidade 
de efetivação e aumento de salário. Em 2006, fiz outra prova e 
me tornei secretária. Com todas as mudanças ocasionadas pela 
legislação de 2011, fiz todas as certificações e hoje estou como 
GOE. Estou há 31 anos na mesma escola, diferente de muitos 
outros colegas, nunca pedi remoção ou fui transferida para outro 
lugar. Acabei de concluir a pós-graduação e estou aguardandoa 
oportunidade de reenquadramento.”
Tânia da Conceição Moutinho Santos
54
“Era dezembro de 2008, eu estava trabalhando na secretaria da 
Faculdade Torricelli em Guarulhos, quando uma notícia em um 
site de concursos saltou aos meus olhos: era o concurso para Agente 
de Organização Escolar do Estado de São Paulo. No mesmo dia 
fiz a inscrição pela internet e paguei a taxa na última hora, 
em 31 de dezembro do mesmo ano. Fui aprovado e, em abril 
de 2009, já estava escolhendo a unidade de trabalho. A minha 
primeira opção era a EE Profª Maria Aparecida Rodrigues, pela 
memória afetiva, visto que foi onde eu estudei desde a primeira 
série até a conclusão do Ensino Médio. Porém, um pouco antes 
da minha escolha, as vagas para esta escola acabaram, fazendo 
com que eu optasse pela EE Profª Lindamil Barbosa de Oliveira, 
por indicação de um colega, também na escolha que aconteceu 
na EE Conselheiro Crispiniano. Foi tudo muito rápido e em 21 
de junho de 2009 entrei em exercício após a posse no cargo de 
AOE. A entrada naquele ambiente escolar, onde eu sempre me 
senti muito bem, foi muito prazerosa e era, na época, exatamente 
o que eu buscava. 
 Pelo edital, eu já sabia que o valor do salário-base 
era penas de R$654,86. Mas também tinha em mente outros 
benefícios que um servidor público possui - estabilidade, licença-
prêmio, quinquênios, progressão funcional, etc - e pensei: “Não 
é possível que seja só isso, R$654,86… Acho que dá para crescer 
na carreira, dá para ganhar muito mais, então vou com tudo!”. 
Mas quando cheguei dentro da unidade escolar para trabalhar, 
me deparei com um cenário estarrecedor, quase um banho de 
água fria no inverno: as pessoas estavam desanimadas, com a 
autoestima muito baixa, se sentiam muito desvalorizadas… O 
único sinal de paixão que ainda existia, transparecia somente 
durante as críticas ao governo! Quase tudo estava ruim, até o 
55
café estava amargo (risos)! Brincadeiras à parte, mesmo com a 
boa vontade dos servidores veteranos e a motivação dos colegas 
que ingressaram comigo, parece que o ambiente de trabalho não 
permitia ir além - seja pela burocracia do Estado ou pela falta de 
visibilidade da categoria, mesmo com a enorme importância para 
a comunidade escolar. 
 Para complicar ainda mais, não temos nenhum tipo 
de treinamento para começar a trabalhar, portanto é necessário 
aprender com os profissionais da própria unidade escolar (ou 
seja, não tinha para onde correr!). Dei sorte de ingressar em 
uma escola em q as pessoas gostavam de ensinar e tinham boa 
vontade, mas sei que nem todos os lugares são assim e isso é algo 
muito deficitário no Estado. Embora exista a EFAPE (Escola de 
Formação dos Profissionais de Educação), 99% de suas ações são 
voltadas para os profissionais do Quadro do Magistério. Então, 
logo na minha entrada nessa escola, procurei saber como poderia 
ter a oportunidade de crescer, Foi quando percebi que no Estado 
tudo é legislação, resolução, decreto… Comecei, naquele momento 
e por conta própria, a estudar as legislações do cargo para entender 
como tudo funcionava. Lembro que aprendi muito com o Nilton 
Cesar Amorim em suas postagens no Facebook sobre a carreira dos 
profissionais do QAE.”
Rodrigo Gabriel da Silva
56
CAPÍTULO 4
Iniciativas dos educadores do QAE
 Devido ao processo de invisibilização por que 
passa a categoria, é comum que muitos profissionais do 
QAE se encontrem estagnados, com baixa autoestima, ou 
simplesmente confortáveis e conformados com as rotinas que 
levam. Apesar de essa ser uma das faces tristes de toda essa 
história, é real e compreensível. Não deve ser apagada. É uma 
marca, uma consequência, além de ser extremamente comum.
57
 Entretanto, alguns educadores do QAE conseguiram, 
ao longo dos anos, gerenciar projetos das mais diversas naturezas 
dentro e fora de suas escolas, com os mais diferentes objetivos. 
Obviamente, muitos deles tiveram que lidar com obstáculos, 
perseguições, cansaço, desânimo… Mas, indubitavelmente, 
deixaram marcas na história do quadro que não poderiam 
ficar de fora desse resgate de memória. 
 Desde iniciativas nas redes sociais - blogs, grupos no 
Orkut, Yahoo! e, mais recentemente, no Facebook e WhatsApp 
- que lograram conectar e informar uma comunidade tão 
grande, passando por mobilizações pela informatização dos 
dados, ações políticas, por projetos educacionais e até mesmo 
pela construção de uma empresa voltada para a valorização 
dos educadores do QAE. Temos de tudo!
 Nesse, que é um dos capítulos mais bonitos dessa 
história, conheceremos algumas das muitas iniciativas incríveis 
de profissionais profundamente capacitados, de uma potência 
sem tamanho e de um compromisso claro com a Educação: 
os educadores do Quadro de Apoio Escolar do Estado de São 
Paulo. Aproveitem!
58
QAE&QSE: O Blog da Cidadania
“A informação para o QAE era muito escassa. A gente nunca teve 
uma representação que não fosse a Secretaria da Educação, nós 
não tínhamos um espaço em que pudéssemos conversar, porque 
ocupamos vários espaços, mas na verdade não temos um lugar 
específico para a gente. A legislação nos pede que ocupemos 
vários locais e várias funções ao mesmo tempo, mas não temos 
de fato um lugar. Hoje, está tudo mais fácil, mas até 2009 nós 
não tínhamos muitas coisas. As Diretorias não tinham site… 
Quem entra hoje imagina que sempre foi assim. Eu sou da época 
em que as reuniões eram informadas via telefone, escola por 
escola. Quando as redes sociais se cristalizaram, eu pensei em um 
espaço, criei um blog, mas ainda restrito a mim. Aos poucos fui 
abrindo para pessoas amigas, mas eu me sentia inseguro porque 
ainda estava descobrindo como fazer e gerir o espaço. Quando 
eu já estava mais confortável, uma pessoa aqui da cidade 
me deu a ideia de abrir o blog para todo público, isso foi em 
2009 ou 2011. O blog ficou grande e comecei a me dedicar a 
ele, como eu não tinha dinheiro para adquirir um domínio, ele 
ficou como blog mesmo, acessível como “qaeqse.blogspot.com.br”. 
 No blog eram postadas apostilas, normativos, manuais… 
Havia um vídeo fixo na página que representava o melhor 
dos ensinamentos: a voz e a fala das pessoas do povo. Eu 
comecei a postar também sobre os concursos, sobre remoções, e 
nos comentários sempre ocorriam discussões extremamente 
construtivas sobre a legislação. Em 2011, abri também a página 
do Facebook, começou tímida e em uma semana já estava com 
500 seguidores e, no fim, já estávamos com 15 mil seguidores. 
59
As mudanças legislativas me desanimaram um pouco. A página 
estava interessante, mas sofri muito hate e muitas ameaças. Eu 
era muito crítico. Eu tinha um e-mail que era vinculado à página 
e passei por muitos problemas. Foi o desgaste pessoal que me fez 
parar com o projeto. Ainda assim, O blog “QAE&QSE: O Blog 
da Cidadania” foi finalista na categoria Governo Aberto na 9ª 
Edição do Prêmio Mária Covas (São Paulo, maio de 2013). 
Inscrevi a página no concurso por ideia da Tathiana Santos, a 
nossa intenção nunca foi ganhar - ainda que tivesse sido muito 
legal - mas sim dar maior visibilidade para a categoria.”
Edson Ferreira da Silva
60
Projetos “Leitura para quê te quero?” e Redação 
ENEM
“O reconhecido projeto de incentivo à leitura para estudantes do 
Ensino Fundamental, o Leitura para quê te quero?, bem como o 
de leitura e redação para ENEM e vestibulares para os alunos do 
Ensino Médio, ocorreram entre 2019 e 2022.
O trabalho em equipe é fundamental para construirmos projetos 
na rede estadual de educação de São Paulo, isso porque o Agente 
de Organização participa deles de forma conjunta com professores 
e outros funcionários. Porém, um trabalho coletivo e que busque 
sucesso em colaboração, só é possível na escola regular se existir de 
fato uma gestão democrática. Neste sentido, sobre a experiência de 
desenvolvimento de projetos, a gestão democrática do Diretor de 
Escola Ismar Pusti de Azevedo (2018-2021) na Escola Estadual 
Jardim Silvia II possibilitou o sucesso de diversos

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