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1 
 
Disciplina: Sociologia do crime e da violência 
Autores: M.e Andressa Ignácio da Silva 
Revisão de Conteúdos: Sérgio Antonio Zanvettor Júnior 
Revisão Ortográfica: Esp. Murillo Hochuli Castex 
Ano: 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
 
2 
 
Andressa Ignácio da Silva 
 
 
 
 
 
Sociologia do Crime e da Violência 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2019 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
3 
 
Editora São Braz 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Revisão de Conteúdos 
Sérgio Antonio Zanvettor Júnior 
 
Revisão Ortográfica 
Murillo Hochuli Castex 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
SILVA, Andressa Ignácio da. 
Sociologia do crime e da violência. – Curitiba: Editora São Braz, 2019. 
51 p. 
ISBN: 978-85-5475-365-8 
1. Crime. 2. Sociedade. 3. Violência. 
Material didático da disciplina de Sociologia do crime e da violência – Faculdade 
São Braz (FSB), 2019. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
4 
 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio 
Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 
299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e 
Extensão Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Apresentação da disciplina ............................................................................... 06 
Aula 1 – Sociedade, cultura e controle social ................................................... 08 
Apresentação da Aula 1 .................................................................................... 08 
 1.1 – Cultura e controle social ................................................................... 08 
 1.2 – Controle social, Estado e instituições sociais ................................... 12 
Resumo da aula 1 ............................................................................................. 15 
Aula 2 – O crime como problema social e sociológico ..................................... 17 
Apresentação da aula 2 .................................................................................... 17 
 2.1 – As transformações sociais na Europa e a consolidação da ciências 
sociais ............................................................................................................... 
 
17 
 2.2 – A criminologia e as concepções do crime ......................................... 19 
 2.3 – As concepções sociológicas clássicas sobre conflitos, crimes e 
violência ............................................................................................................ 
 
21 
Resumo da aula 2 ............................................................................................. 25 
Aula 3 – Uma arqueologia do crime e da violência na sociedade brasileira ..... 26 
Apresentação da aula 3 .................................................................................... 26 
 3.1 – Crime e violência, aspectos conceituais ........................................... 27 
 3.2 – A violência na história do Brasil ........................................................ 29 
 3.3 – O crime no Brasil contemporâneo .................................................... 31 
Resumo da aula 3 ............................................................................................. 35 
Aula 4 – Estado, Direito político: perspectivas sobre segurança pública ......... 36 
Apresentação da aula 4 .................................................................................... 36 
 4.1 – Violência, medo e repressão ............................................................ 36 
 4.2 – Crime, violência e o Estado Democrático de Direito ......................... 37 
 4.3 – Polícia e novas perspectivas sobre segurança pública .................... 40 
Resumo da aula 4 ............................................................................................. 43 
Resumo da disciplina ........................................................................................ 45 
Índice Remissivo ............................................................................................... 48 
Referências ....................................................................................................... 49 
 
 
 
6 
 
Apresentação da disciplina 
 
Nesta disciplina busca-se compreender o crime e a violência como 
fenômenos sociais e sociológicos. Ou seja, compreender suas ocorrências nas 
sociedades contemporâneas, em especial a brasileira, bem como compreender 
as principais análises e contribuições que a Sociologia oferece para o 
entendimento destes fenômenos. 
Para tanto, é fundamental compreender o processo de consolidação das 
sociedades, bem como o papel da vivência social para o desenvolvimento 
humano, na medida em que o crime e a violência são frutos dos conflitos 
gerados nas interações sociais. Sendo assim, cabe destacar como 
abordaremos na primeira aula que o ser humano é um ser social, ou seja, 
depende da convivência com seus iguais para o pleno desenvolvimento de 
suas habilidades. 
Entretanto, como será apresentado, a convivência traz consigo a 
necessidade de construção de padrões de comportamento, normas e regras. 
Diante destas regras, é necessário que os indivíduos as conheçam e 
concordem com elas. Ganhando importância, para tal objetivo, o processo de 
socialização. Entretanto, conhecer as regras sociais não impede o surgimento 
de conflitos e a violência. Nesse sentido, para a manutenção da sociedade 
moderna, tornam-se fundamentais instituições de controle social e repressão. 
Já na segunda aula, será abordado o processo de surgimento da 
Sociologia como ciência, tendo em vista que a disciplina surge com o objetivo 
de oferecer respostas para os graves problemas sociais da Europa do fim do 
século XIX. Em seguida, serão apresentadas as diferentes contribuições dos 
teóricos clássicos da Sociologia Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. 
Em seguida, na terceira aula, serão abordadas as múltiplas 
manifestações da violência na sociedade brasileira, ao longo diferentes 
períodos históricos. Buscando demonstrar como a violência é um fenômeno 
onipresente no processo de construção da nação brasileira, embora variando 
de meios, intenções e agentes. 
Por fim, na quarta aula, serão abordados o medo, a violência e as 
formas de enfrentamento da violência no Brasil contemporâneo. Buscando 
demostrar como as ações de repressão muitas vezes não obtém o efeito 
 
 
7 
 
desejado, por atacarem apenas a criminalidade, sem uma compreensão de 
suaspelo processo de pacificação da sociedade que, conforme citado 
anteriormente, é um processo de ruptura com os padrões de comportamentos 
medievais e a imposição de um controle das emoções da agressividade. A 
manifestação individual de agressividade e violência foi gradativamente 
restringida e deslegitimada pelo Estado, que passa a ter o monopólio do uso 
legítimo da força. 
Além de abrir mão do uso da força, nesse processo, os indivíduos abrem 
mão de certas liberdades em prol da coletividade. Para Aranão (2013), diante 
desta renúncia às liberdades individuais, caso os indivíduos não enxerguem 
razões ou vantagens em obedecer ao pacto social, o crime e a violência podem 
ocorrer. 
Da mesma forma, ainda de acordo com o autor, a falha no cumprimento 
dos direitos fundamentais garantidos nos instrumentos legais resulta em 
desigualdades, discriminação e marginalidade. Nesse sentido, esses 
fenômenos são efeitos da ineficiência de aplicação de políticas de garantia do 
bem-estar social. Com isso, a falta de acesso à educação, saúde, emprego, 
 
 
39 
 
moradia, alimentação de qualidade caracterizam-se como violações aos 
direitos fundamentais e dignidade de pessoa humana (ARANÃO, 2013). 
A situação de violações de direitos e ineficiência das instituições pode 
fomentar a violência e a criminalidade, na medida em que os indivíduos deixam 
de ver benefício na adesão ao pacto social. É fundamental destacar que esta 
perspectiva não equivale a dizer que a pobreza e as desigualdades são a 
causa direta da criminalidade, ou que as populações pobres sejam por suas 
condições sociais essencialmente criminosas e violentas, ou ainda que todos 
os indivíduos em situação de exclusão social atuem de forma criminosa ou 
violenta. 
Como sugere Aranão (2013), em acordo com a perspectiva sociológica, 
o crime e a violência são consequências, na perspectiva do autor das violações 
de direitos. [Entretanto, historicamente, o enfretamento à criminalidade e à 
violência se dão mediante políticas públicas de repressão do crime e não com 
políticas públicas que ataquem as suas causas, ou seja que promovam os 
direitos fundamentais]. 
De acordo com Dias (2012), as definições de “políticas públicas” são 
diversas, mas guardam o ponto comum de identificá-las com a ação do Estado. 
Estas estão, segundo o autor, identificadas com o poder social e correspondem 
a formas e/ou estratégias de lidar com assuntos públicos. 
O autor destaca a importância no campo dos estudos de políticas 
públicas da distinção entre dois termos no idioma inglês: politics e policies. O 
primeiro diz respeito aos processos de construção de consenso e às lutas pelo 
poder relacionados, por exemplo, à dinâmica eleitoral e partidária. O segundo é 
entendido como as ações do governo, que buscam assegurar a solidariedade 
interna de determinado Estado. 
O Estado é, por sua vez, ao mesmo tempo sujeito e objeto das políticas 
públicas. Enquanto sujeito, cabe ao Estado comandar, legislar e normatizar, 
impondo normas, arrecadando e distribuindo recursos etc, por outro lado, o 
Estado é sujeito na medida em que é influenciado pela sociedade civil em suas 
ações. 
 
 
 
 
 
40 
 
4.3 Polícia e novas perspectivas sobre segurança pública 
 
Na Antiguidade Clássica, a polícia era compreendida como um 
instrumento de organização da sociedade. Porém, a partir do século XVIII, 
passa a ser compreendida como um órgão de controle social do Estado. No 
Brasil, a polícia começa a se organizar com a chegada da família real 
portuguesa e a transferência da corte para a cidade do Rio de Janeiro. 
A polícia pode ser definida como o grupo de pessoas autorizadas por um 
grupo, geralmente o Estado, para regular as relações interpessoais dentro de 
uma comunidade mediante a aplicação da força física (BAYLEY, 2001, p.229). 
Um aspecto fundamental das instituições policiais é a possibilidade do 
uso da força. Entretanto, a questão dos limites ao uso da violência é também 
um ponto de conflito e tensões. Cabe ressaltar que o limite entre força legítima 
e violência está relacionado à forma como a sociedade interpreta a noção de 
violência: 
O paradoxo aqui é que, de um lado, é justamente a possibilidade de 
usar da força física que distingue os policiais do cidadão comum, 
desde que isso seja feito de forma legítima e dentro dos parâmetros 
de legalidade, necessidade e proporcionalidade, protegendo a sua 
vida e a de outro cidadão. Por outro lado, a fronteira entre o uso 
legítimo e ilegítimo da força letal é tênue e, por isso, as circunstâncias 
muitas vezes não são apuradas de forma adequada no Brasil. (IPEA, 
2018, p. 29). 
 
 
As formas de organização e atuação das polícias variam de acordo com 
o país. Além disso, existem diferentes visões sobre a polícia, sua visão e 
forma de atuação. De acordo com Bayle (2001), na visão tradicional, a polícia é 
entendida como uma agência governamental responsável pela aplicação da lei. 
O papel da polícia é a solução de crimes e sua eficiência analisada pelo 
número de prisões. Nesse modelo, as formas de controle na polícia são 
altamente centralizadas. 
Nos anos 80, diante do aumento da violência e da criminalidade, este 
modelo passa a ser criticado nos Estados Unidos, em especial diante de 
estatística que indicavam que o aumento do efetivo de policiais não reduziu o 
índice de criminalidade nem aumentava o número de crimes solucionado, e 
que as patrulhas não reduziam o crime nem aumentavam o número de 
 
 
41 
 
suspeitos presos. Estes resultados, entre outros demonstraram que o modelo e 
estratégias da polícia tradicional necessitavam ser revistos. 
Já a polícia comunitária, de acordo com o mesmo autor, amplia o 
conceito original de polícia, passando a compreendê-la como parte dos 
serviços públicos de atenção integral aos cidadãos. Nesta perspectiva, o papel 
da polícia vai além da solução de crimes e sua eficiência avaliada pela 
ausência de crime e desordem. Nesse modelo, as relações com a comunidade 
são vistas como essenciais e serviço policial amigável nos contatos nas ruas. 
Um modelo de polícia comunitária pode ser uma forma de enfretamento 
à violência policial e aos abusos de autoridade, tendo em vista que, muitas 
vezes ocorrem divergências entre a lei e a prática policial efetiva. De acordo 
com Vasconcelos (2011), este descompasso ocorre muitas vezes em função 
da atividade prática contrastar fortemente com o conhecimento adquirido nos 
cursos formais da Academia de Polícia. 
Nesse sentido, assim como o crime na sociedade pode ser 
compreendido como abordado ao longo desta disciplina, como um sintoma de 
desregulação social, a violência policial, a corrupção e os conflitos com a lei por 
parte de membros de corporações podem ser compreendidos como 
sintomáticos da necessidade de reorganização dos modelos de polícia e 
policiamento. 
Assim, é necessária a construção de um consenso acerca da função 
social da polícia, passando de um modelo guiado pela manutenção repressiva 
da ordem para um modelo de diálogo com a sociedade, baseado no respeito 
aos direitos humanos (VASCONCELOS, 2011, p. 95). Ainda de acordo com o 
autor, o policial foi instituído pela sociedade para ser o principal defensor dos 
direitos humanos. 
Entretanto, como apontam Minayo, Assis e Oliveira (2011), pode-se 
afirmar que os policias também têm seus direitos fundamentais violados. Um 
indício é que um aspecto corriqueiramente negligenciado é a saúde física e 
mental dos policiais. De acordo com as autoras, mesmo no campo de 
pesquisas sobre segurança pública, são raros os estudos que abordam o tema: 
 
De modo geral, o sofrimento físico e mental é resultante do conjunto 
de situações vivenciadas no cotidiano do trabalho. Nesse contexto, 
identificamos fatores que associam problemas de condições e 
organização ocupacional – entre eles, escasso treinamento e falta de 
 
 
42 
 
planejamento das atividades– com excessiva jornada de trabalho, 
pouco tempo para descanso e lazer, precárias condições materiais e 
técnicas e baixos salário (MINAYO, ASSIS e OLIVEIRA, 2011, p. 
2206). 
 
 
Ainda de acordo com as autoras, é importante compreender as 
especificidades dos agravos à saúde dos policiais, destacando as condições de 
maior vulnerabilidade desses profissionais em relação à população em geral, 
sendo que fatores como os apresentados acima contribuem para elevadas 
taxas de adoecimento. 
Por fim, de acordo com Cubas (2010), o controle da polícia, interno e 
externo é fundamental nas sociedades democráticas. O controle interno é 
exercido pela linha de comando, bem como por órgãos específicos, como 
corregedorias que fiscalizam a atividade policial. Já o controle externo, ou 
seja, o controle civil reforça o trabalho dos administradores, atesta a 
legitimidade da atuação policial e favorece uma atuação cidadã e focada na 
promoção do bem-estar social. Nesse sentido, a Constituição de 1988 atribuiu 
ao Ministério Público o papel de fiscalização das polícias brasileiras. 
Ainda de acordo com Cubas (2010), é fundamental que em um Estado 
democrático existam estratégias democráticas e populares de controle da 
polícia e da Justiça. 
 
No caso do controle da atividade policial, a relação hierárquica parece 
não ser suficiente, uma vez que os próprios profissionais da 
segurança afirmam que a hierarquia da instituição, mesmo quando 
rigorosa, não torna indispensável o controle externo. Isso reforça a 
importância do trabalho em rede, conforme destacado por alguns 
autores. Considerando que os ouvidores não têm poder de sanção 
em relação às ilegalidades apuradas, a proximidade com outras 
agências como o Ministério Público, Defensorias Públicas, inclusive 
com os próprios comandos das polícias, pode acelerar o acesso às 
informações e processos, bem como favorecer o desenvolvimento de 
programas em conjunto para o aperfeiçoamento das atividades dos 
profissionais da segurança. (CUBAS, 2010, p. 93). 
 
 
 É importante destacar que o controle das instituições policiais depende 
da transparência institucional, ou seja, a sociedade precisa ter acesso a 
informações e conhecer a organização da instituição. Cabe destacar ainda que 
o profissionalismo, a legalidade e a qualidade do trabalho policial preservam a 
própria democracia. 
 
 
43 
 
A formulação e efetivação de políticas públicas de segurança são 
fundamentais para a manutenção da ordem social. Nesse campo, destaca-se, 
portanto, o Estado como agente promotor destas políticas. 
As polícias integram o sistema de controle social e são agentes de 
efetivação de politicas de segurança. Entretanto, historicamente no Brasil, as 
instituições policiais são utilizadas prioritariamente em ações de repressão. 
Como disto anteriormente, a busca pela diminuição da criminalidade demanda 
ações integradas com vistas, à compreensão das causas e atuação na ampla 
garantia de direitos. 
Diante de um processo dinâmico e multicausal, as forças policias não 
podem ser responsáveis sozinhas pela resolução da criminalidade. Além disso, 
é preciso a reflexão sobre o modelo de polícia e policiamento, bem como da 
garantia de direitos dos profissionais ligados à segurança pública. 
 
Resumo da aula 4 
 
Nesta aula destacamos que a sensação de insegurança da população e 
o medo podem ser fruto da difusão de notícias, ou dados sobre a violência, de 
forma exacerbada ou sensacionalista. Entretanto, a despeito de muitas vezes 
ser desproporcional, o medo pode gerar a demanda da população por 
estratégias de enfrentamento à violência. 
Abordamos ainda que uma das teses para as altas taxas de 
criminalidade seria a ocorrência de uma crise ética na sociedade. Tal crise 
significa que os indivíduos não aderem aos valores, práticas e normas 
previstas. 
A outra tese apresentada aponta que o Estado Democrático de Direito 
pressupõe um sistema de garantia de direitos e o respeito à dignidade da 
pessoa humana. Entretanto, o Estado muitas vezes falha no cumprimento dos 
direitos fundamentais garantidos nos instrumentos legais, resultando em 
desigualdades, discriminação e marginalidade. Diante de tais situações, caso 
os indivíduos não enxerguem razões ou vantagens em obedecer ao pacto 
social, o crime e a violência podem ocorrer. 
 
 
44 
 
A respeito disso, o enfretamento à criminalidade e à violência é feito por 
meio de políticas públicas de repressão do crime e não com políticas públicas 
que ataquem as suas causas, ou seja, que promovam os direitos fundamentais. 
Nesse contexto, ganha importância a polícia e sua ação. Entretanto as 
formas de organização e atuação das polícias variam de acordo com o país. 
Além disso, existem diferentes visões sobre a polícia, sua função, formas de 
atuação, de avaliação e monitoramento de sua eficiência. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Com base nas informações apresentadas ao longo desta 
aula, explique as principais características do modelo de 
polícia tradicional e do modelo de polícia comunitária. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
Resumo da disciplina 
 
Nesta disciplina buscou-se compreender o crime e a violência como 
fenômenos sociais e sociológicos e, desse modo, compreender suas 
ocorrências nas sociedades contemporâneas, em especial a brasileira, bem 
como as principais análises e contribuições que a Sociologia oferece para o 
entendimento destes fenômenos. 
Na primeira aula foi destacado o fato de o ser humano ser social, ou 
seja, que necessita da convivência com seus semelhantes para seu 
desenvolvimento. Destacou-se ainda que o processo de transmissão do 
conhecimento é um aspecto fundamental que distingue os seres humanos dos 
demais animais, na medida em que os seres humanos produzem, acumulam e 
transmitem conhecimentos. Assim, o conjunto de conhecimentos, percepções, 
visões de mundo compõem o que chamamos de cultura. 
A cultura, por sua vez, caracteriza-se como um processo de coerção, 
sendo assim, é uma forma de “imposição” de valores e práticas, na medida em 
que as práticas culturais, com seu uso, passam a fazer parte do cotidiano e 
influenciam os comportamentos coletivos. Tais práticas, com o tempo, geram 
regras que orientam a convivência social. 
Apontamos ainda que na vida em sociedade as vontades individuais são 
limitadas pelo coletivo, e regras sociais são criadas e aceitas com base na 
compreensão da necessidade de organizar as relações sociais. 
Nesse sentido, o controle social é um processo de regulação social, bem 
como um dos meios pelos quais a sociedade induz submissão aos padrões 
estabelecidos. Como visto na primeira aula, o processo civilizador teve como 
característica o controle dos instintos, afetos e sentimentos dos indivíduos e a 
incorporação de regras de comportamento e civilidade. Com a pacificação da 
conduta, os atos associados à violência passaram a ser regulados e 
repudiados. Com a consolidação do Estado Moderno, este passa a deter o 
monopólio da força. 
Na segunda aula destacou-se que a Revolução Industrial e a Revolução 
Francesa geram novos conflitos e problemas sociais que demandavam uma 
explicação. Objetivando compreender estes fenômenos sociais surge a 
Sociologia. Os teóricos clássicos da Sociologia Émile Durkheim, Karl Marx e 
 
 
46 
 
Max Weber possuem importantes contribuições para a compreensão da 
violência e do crime. 
Como apontado, para Durkheim, o crime pode ser compreendido como 
uma ação que vai contra as normas estabelecidas, então, contra a consciência 
coletiva. Mais do que isso, o crime, para Durkheim, é normal e tem uma função 
social, na medida em que a punição reforça a consciência coletiva. Entretanto, 
se a taxa de criminalidade aumenta ou assume proporções que comprometem 
a vida social, isso indicaria que a sociedade está em estado de anomia. Para o 
autor, o crime, portanto, não é causa da desintegraçãosocial, mas reflexo dela, 
sendo que altas taxas de criminalidade indicam que existem falhas nas regras 
de conduta ou nos valores morais. Por outro lado, podem apontar que as 
instituições que regulamentam o combate ao crime estão falhando. 
Max Weber, por sua vez, embora não tenha tomado o crime e a 
violência como objeto direito de suas obras, analisou o Direito e seu papel nas 
sociedades modernas. O autor considera que o Direito consolida orientações e 
parâmetros racionais a serem aplicados nas relações sociais, atuando como 
um mecanismo de controle. Por fim, para Karl Marx, a violência e a exploração 
são características estruturais do capitalismo. Para o teórico alemão, este 
sistema estaria pautado na propriedade privada dos meios de produção e na 
exploração dos trabalhadores. Além disso, tal sistema geraria, de acordo com 
os autores, desigualdades, miséria e exploração dos mais pobres. Nesse 
sentido, na perspectiva marxista, o crime pode ser compreendido como fruto 
das condições da sociedade de classes. 
Na terceira aula foram abordados diferentes usos da violência ao longo 
da história do Brasil, demostrando que a violência é um fenômeno social 
presente em diversos contextos da história brasileira, da colonização à 
Ditadura Militar. Embora as formas, meios e agentes se alteram ao longo dos 
diferentes períodos, a violência é onipresente na História do Brasil. Assim 
mesmo com a redemocratização e a Constituição de 1988 que lançou novos 
paradigmas para as relações sociais e políticas no Brasil, muitas mazelas 
geradas pelo violento processo histórico permanecessem e constituem 
desafios para a democracia brasileira. 
Apontou-se ainda que, em 2018, o Brasil contava com aproximadamente 
602 mil pessoas privadas de liberdade, sendo que homens representam 95% 
 
 
47 
 
deste total. Quanto à faixa etária, 53,91% eram jovens com idade entre 18 e 29 
anos, sendo que 54,96% negros. Quanto à tipificação penal, 27,58% das 
pessoas privadas de liberdade no Brasil respondem por roubo, cerca de 
24,74% respondem por tráfico de drogas e 11,27% respondem por homicídio. 
Por fim, na quarta aula destacou-se que a sensação de insegurança da 
população e o medo podem ser explicadas pela difusão de notícias, ou dados 
sobre a violência, de forma exacerbada ou sensacionalista. Destacou-se ainda 
que a nação brasileira se enquadra na categoria do Estado Democrático de 
Direito, caracterizado pela soberania popular, pela democracia representativa e 
participativa e por sistemas de garantia de direitos. Nesse sentido, no Estado 
Democrático de Direito, as leis são criadas pelo povo, para o povo e 
respeitando a dignidade da pessoa humana. 
Entretanto, como destacou-se, falhas no cumprimento dos direitos 
fundamentais garantidos nos instrumentos legais resultam em desigualdades, 
discriminação e marginalidade. A situação de violações de direitos e 
ineficiência das instituições, por sua vez, podem fomentar a violência e a 
criminalidade. 
O aumento da sensação de medo e insegurança e das taxas de 
criminalidade geram a demanda pela ação da polícia que, conforme destacado 
anteriormente, pode ser definida como o grupo de pessoas autorizadas pelo 
Estado para regular as relações interpessoais dentro de uma comunidade por 
meio da aplicação da força física. 
Entretanto, assim como o crime na sociedade pode ser compreendido 
como abordado ao longo desta disciplina, como um sintoma de desregulação 
social, a violência policial, a corrupção e os conflitos com a lei por partes de 
membros de corporações podem ser compreendidos como sintomáticos da 
necessidade de reorganização dos modelos de polícia e policiamento, tendo 
em vista que, como apontado, os policiais, muitas vezes, também têm seus 
direitos fundamentais violados. 
 
 
 
 
48 
 
 
 
Índice Remissivo 
 
A criminologia e as concepções do crime ......................................................... 
(Conceito; Efeitos; Social) 
 
19 
A violência na história do Brasil ........................................................................ 
(Controle; Cultural; Violento) 
 
29 
As concepções sociológicas clássicas sobre conflitos, crimes e violência ....... 
(Convívio; Criminal; Início) 
 
21 
As transformações sociais na Europa e a consolidação da ciência social ....... 
(Conflito; Cultura; Revolução) 
 
17 
Controle social, Estado e instituições sociais ................................................... 
(Agressivo; Convivência; Padrões) 
 
12 
Crime e violência, aspectos conceituais ........................................................... 
(Análise; Intencional; Legitimidade) 
 
27 
Crime, violência e o Estado Democrático de Direito ......................................... 
(Praticas; Previsto; Valores) 
 
37 
Cultura e controle social ................................................................................... 
(Conhecer; Convívio; Real) 
 
08 
Estado, Direito político: perspectivas sobre segurança pública ........................ 
(Compreende; Esperança; Influencia) 
 
36 
O crime como problema social e sociológico .................................................... 
(Bases Teóricas; Contesto; Violência) 
 
17 
O crime no Brasil contemporâneo .................................................................... 
(Criminalidade; Histórico; Violência) 
 
31 
Polícia e novas perspectivas sobre segurança pública .................................... 
(Atuação; Espera; Organização) 
40 
Sociedade, cultura e controle social ................................................................. 
(Conflitos; Desenvolver; Social) 
 
08 
Uma arqueologia do crime e da violência na sociedade brasileira ................... 
(Dinâmico; Perspectiva; Violento) 
 
26 
Violência, medo e repressão ............................................................................ 
(Fenômenos; Social; Utopia) 
 
36 
 
 
 
 
 
49 
 
 
 
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	As polícias integram o sistema de controle social e são agentes de efetivação de politicas de segurança. Entretanto, historicamente no Brasil, as instituições policiais são utilizadas prioritariamente em ações de repressão. Como disto anteriormente, a...
	Diante de um processo dinâmico e multicausal, as forças policias não podem ser responsáveis sozinhas pela resolução da criminalidade. Além disso, é preciso a reflexão sobre o modelo de polícia e policiamento, bem como da garantia de direitos dos profi...
	Índice Remissivocausas. Nesta aula serão abordadas, ainda, reflexões sobre os modelos 
de policiamento e as necessidades de transformações nas instituições policias, 
bem como atenção à saúde dos policiais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Aula 1 – Sociedade, cultura e controle social 
 
Apresentação da aula 1 
 
Nesta aula abordaremos o processo sócio-histórico de consolidação de 
instituições e mecanismos de controle social. Para tanto, discutiremos o papel 
da interação social e sociabilidade no desenvolvimento dos seres humanos, 
bem como os conflitos gerados nesse processo. 
Partindo da premissa de que os seres humanos são animais sociais, ou 
seja, dependem da interação com seus iguais para o seu pleno 
desenvolvimento, a resolução dos conflitos é essencial para a manutenção das 
sociedades. Entretanto, as formas de resolução de conflitos transformam-se ao 
longo do tempo. 
Será abordado o processo de pacificação que levou ao surgimento das 
sociedades modernas a partir das contribuições da Sociologia, do surgimento e 
consolidação de instituições de controle social e da relevância do processo de 
socialização. 
Cabe destacar que o Estado Moderno se consolida como detentor do 
monopólio legítimo da força, atuando como agente de controle social a partir de 
diferentes instituições. 
 
1.1 Cultura e controle social 
 
O ser humano é um ser social. Isso significa dizer que a convivência 
com seus semelhantes é fator essencial. Entretanto, outras espécies também 
vivem em grupos, ou seja, a vida em coletividade não é exclusividade dos 
seres humanos. 
Sendo assim, cabe a reflexão sobre a especificidade do ser humano e 
sua vivência em grupo. Tal reflexão está presente em diversos autores, de 
áreas como a Filosofia, Sociologia, Antropologia, História, Ciências Políticas, 
entre outras. Nesse sentido, buscaremos compreender as implicações do 
convívio social e seus desdobramentos, em especial o crime e a violência. 
Afirmar que o ser humano é um ser social significa dizer que o contato 
com seus semelhantes é essencial para que possa desenvolver suas 
 
 
9 
 
habilidades e potencialidades. Casos de seres humanos privados do convívio 
com seus semelhantes, como os meninos-lobo, demostram que estes 
apresentam alterações drásticas em seu desenvolvimento. 
 
Pesquise 
Para um aprofundamento sobre os meninos-lobo e seu 
desenvolvimento, acesse o link: 
http://www.oarquivo.com.br/variedades/curiosidades/2612-
amala-e-kamala-a-historia-das-meninas-lobo.html 
 
Mais do que somente o convívio com seus semelhantes, um dos 
aspectos que distingue o ser humano dos outros animais é a linguagem. A 
linguagem, por meio da representação simbólica e abstrata, permite ao ser 
humano comunicar suas experiências e sua compreensão do mundo, bem 
como transmitir os conhecimentos. Das pinturas rupestres, papiros, aos livros, 
e à internet, a linguagem permite aos seres humanos comunicar e compartilhar 
seus conhecimentos. 
O processo de transmissão do conhecimento é outro aspecto 
fundamental que distingue os seres humanos dos demais animais. Os seres 
humanos produzem, acumulam e transmitem conhecimentos. O conjunto de 
conhecimentos, percepções, visões de mundo compõe a cultura de 
determinada civilização ou sociedade. 
O conceito de cultura tem múltiplas acepções, é um conceito complexo e 
difícil de ser sintetizado. De acordo com Eduardo Iamundo (2013), a palavra 
cultura tem múltiplos sentidos, incluindo o de senso comum (associado à 
erudição e escolaridade). O conceito de cultura varia de acordo com a ciência, 
a teoria e o autor que o utiliza. 
Uma das concepções possíveis compreende a cultura como as 
realizações humanas nos mais variados campos: científicos, artístico, 
tecnológico, usos, costumes, forma de organização do trabalho, portanto, todas 
as manifestações que marcam a presença do homem. (IAMUNDO, 2013, p. 
193). Outra concepção possível é apresentada pelo antropólogo norte-
 
 
10 
 
americano Clifford Geertz (1989), segundo o qual a cultura é uma teia de 
significados tecida pelo homem, que orienta a existência humana. 
A despeito das divergências, Roque de Barros Laraia (2001) sugere uma 
definição segundo a qual: 
 
Culturas tratam-se dos sistemas (de padrões de comportamento 
socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades 
dos homens às suas condições biológicas, sendo que o modo de vida 
das comunidades inclui tecnologias e meios de organização 
econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e 
organização política, crenças e práticas religiosas etc. (LARAIA, 
2001, p. 59). 
 
 
É importante reforçar que as culturas são múltiplas, fruto de um 
processo complexo. Nascem da interação entre os homens, de suas 
experiências e necessidades em determinada sociedade e época. 
Compreendendo o ser humano como ser social e o papel da cultura, 
conforme exposto acima, cabe destacar outro aspecto importante. De acordo 
com Eduardo Iamundo (2013), a cultura também se caracteriza como um 
processo de coerção, ou seja, é uma forma de “imposição” de valores e 
práticas. De acordo com Eduardo Iamundo (2013), as práticas culturais, com 
seu uso, passam a fazer parte do cotidiano e influenciar os comportamentos 
coletivos. Tais práticas, com o tempo, geram regras que orientam a convivência 
social. 
Para o autor, as leis normatizam juridicamente as práticas sociais que 
determinada sociedade entende como aceitáveis (IAMUNDO, 2013, p.136). 
Entretanto, ainda de acordo com o autor, mesmo que fruto de práticas 
consolidadas, as leis, por si só, não geram obediência. Nesse sentido, reforça-
se a importância do processo de socialização, levando os indivíduos a 
internalizarem as regras da sociedade em que vivem. 
As práticas culturais são formas de coerção, ou seja, impõem ao 
indivíduo formas de agir e/ou pensar. Estas práticas são transmitidas ao 
indivíduo no processo de socialização. 
 
Os processos de socialização podem ser compreendidos como um 
compêndio de interações entre seres humanos, das quais estes 
participam ativamente e assim tornam-se membros de determinada 
sociedade e cultura. Por meio de tais processos, os indivíduos 
 
 
11 
 
internalizam uma série de valores, formas de agir e maneiras de 
pensar (GRIGOROWITSCHS, 2008, p. 40). 
 
 
É importante destacar que o processo de socialização não ocorre de 
forma uniforme, ou seja, nem todos conhecem igualmente as práticas culturais. 
Outro aspecto fundamental é que mesmo conhecendo as práticas, valores e 
maneiras de pensar de sua sociedade, o indivíduo pode agir de forma distinta 
da desejada. 
Nas sociedades complexas, as proporções da sociedade, o número de 
indivíduos, as diferenças sociais e culturais dificultam ainda mais o processo de 
socialização. Nestas sociedades, se tornam necessárias diferentes formas e 
instituições de controle social, conforme abordaremos a seguir. 
Cabe destacar que sociedades simples também constituem redes de 
controle social e produzem formas de regulamentar a vida dos indivíduos. 
Nestas sociedades, a coerção, ou seja, a pressão e/ou repressão que a 
sociedade exerce sobre o indivíduo pode ser exercida por meio da moral, 
honra, religião, magia, entre outros mecanismos. 
 
A modelagem por esses meios [repreensão por meio do embaraço, 
medo, vergonha, culpa] objetiva a tornar automático o comportamento 
socialmente desejável, uma questão de autocontrole, fazendo com 
que o mesmo pareça à mente do indivíduo resultar de seu livre 
arbítrio e ser de interesse de sua própria saúde ou dignidade humana 
(ELIAS, 1994, p.153). 
 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
No livro A Sociedade Contra o Estado, o 
antropólogo francês Pierre Clastres (1934-1977) 
aborda as relações de poder. O livro reúne 
artigos sobre as pesquisas de campo com as 
populações indígenas da América do Sul 
(Guayaki, Guarani, Chulupi, Yanomamie os 
Guaranis Mbyá) realizadas entre 1962 a 1974. 
 
Como aponta Norbert Elias (1994), a civilização é um processo, ou seja, 
caracteriza-se pela mudança, construção, avanços e retrocessos. Nas 
 
 
12 
 
sociedades complexas emergem novos meios de controle social e novas 
instituições. Nesse sentido, nas sociedades modernas o Estado atua no 
controle social, buscando manter os comportamentos dos indivíduos dentro dos 
padrões estabelecidos. 
 
1.2 Controle social, estado e instituições sociais 
 
A vida social exige previsibilidade e padrões de comportamentos. Nesse 
sentido, na vida em sociedade as vontades individuais são limitadas pelo 
coletivo. As regras sociais são criadas e aceitas com base na compreensão da 
necessidade de organizar as relações sociais. Como dito anteriormente, além 
do processo de socialização, são necessários meios de administração, controle 
social e sanções dos comportamentos que ferem as práticas consideradas 
aceitáveis e as leis estabelecidas pela sociedade. 
O controle social, de acordo com Lucia Zedner (1996), diz respeito ao 
processo de regulação social, bem como aos meios pelos quais a sociedade 
induz submissão aos padrões estabelecidos. Tal conceito se opõe à visões 
segundo as quais a ordem social seria natural ou fruto do consenso entre os 
indivíduos. De acordo com a autora, nas sociedades urbanas, industriais e 
modernas, o consenso se torna cada vez mais frágil e são necessárias novas 
formas e instituições de controle social. 
As instituições sociais modernas consolidam-se em meio ao processo de 
racionalização, analisado pelo sociólogo Max Weber e que pode ser definido 
como: 
 
O resultado da especialização científica e da diferenciação técnica 
peculiar à civilização ocidental. Consiste na organização da vida, por 
divisão e coordenação das diversas atividades, com base em um 
estudo preciso das relações entre os homens, com seus instrumentos 
e seu meio, com vistas à maior eficácia e rendimento. Trata-se, pois, 
de um puro desenvolvimento prático operado pelo gênio técnico do 
homem. (FREUND,1975, p. 19). 
 
 
 Entre as instituições sociais analisadas por Weber, destaca-se o Estado 
Moderno ocidental. Este é definido como uma comunidade humana para a qual 
o território faz parte de suas características e reclama para si (com êxito) o 
monopólio da coação física legítima (WEBER, 1982, p. 98). 
 
 
13 
 
É importante destacar que o monopólio da força é uma das principais 
características do Estado Moderno. Porém, a violência não é o único meio de 
exercício do poder por parte do Estado. Como aponta Marcos Augusto Maliska 
(2006) a família e até mesmo a igreja, ao longo do tempo, usaram a força física 
como instrumento de poder e dominação. 
Ao longo do processo evolutivo, os seres humanos, em diferentes 
sociedades, desenvolveram diferentes formas de sociabilidades e culturas. É 
importante reforçar que cultura constitui padrões de comportamento 
socialmente transmitidos, que, por sua vez, geram coerção sobre os 
comportamentos individuais. Ou seja, o convívio em sociedade implica que os 
indivíduos não ajam pautados apenas em suas vontades, desejos ou 
interesses. 
 O processo civilizador, conforme análise de Elias (1994), teve como 
característica o controle dos instintos, afetos e sentimentos dos indivíduos e a 
incorporação de regras de comportamento e civilidade. De acordo com o autor, 
houve um processo de ruptura com os padrões de comportamentos medievais, 
como a crueldade, tortura, pilhagem e uso da força e violência para resolução 
de conflitos (como por exemplo nos duelos) e a imposição de um controle das 
emoções da agressividade. A manifestação individual de agressividade e 
violência foi gradativamente restringida e deslegitimada pelo Estado, que 
passou a proibir duelos, a restringir o uso de armas, a criminalizar justiceiros e 
à agressão física. 
A pacificação da conduta tornou-se um padrão dos “civilizados” e os atos 
associados à violência passaram a ser regulados e repudiados. Com a 
consolidação do Estado Moderno, este passa a deter o monopólio da força. Ou 
seja, os indivíduos e demais instituições “abrem mão” do uso da violência, em 
detrimento da ação do Estado como regulador da vida social. 
 O exercício do poder é definido por Max Weber (1982-1999) como 
dominação. De acordo com o autor, existem três tipos básicos de dominação: 
 
 Dominação tradicional; 
 Dominação carismática; 
 Dominação racional-legal. 
 
 
 
14 
 
 Na dominação tradicional, o exercício do poder é legitimado pela 
crença nas tradições e a autoridade baseada nos costumes. Na dominação 
carismática, o exercício do poder é pessoal e a autoridade baseada na crença 
nas qualidades do líder. Já a dominação racional-legal, típica do Estado 
Moderno, é fundamentada no reconhecimento dos regulamentos estabelecidos 
pela racionalidade e a autoridade legitimada pela lei (WEBER, 1999). 
 Como aponta Maliska (2006), um aspecto essencial no Estado Moderno 
é a burocracia. Na medida em que o exercício do poder demanda a definição e 
distribuição de competências e a aplicação de regulamentos e equipes 
qualificadas para o exercício de diferentes funções. Para Weber (1999), a 
burocracia representa uma organização racional, impessoal, eficiente e 
pautada na legalidade para o exercício da autoridade racional-legal. Nesse 
sentido, a burocracia na teoria weberiana favoreceria o cumprimento da lei, o 
bem-estar e a manutenção da ordem social. 
 Para o exercício do poder e do monopólio legítimo da força, consolidam-
se instituições entre as quais podemos destacar o sistema prisional, o judiciário 
e as polícias. Estas são instituições fundamentais no processo de controle 
social, ou seja, conforme apontado anteriormente, no processo de regulação 
social e na obediência aos padrões estabelecidos. 
Cabe destacar a importância do Direito, que nas sociedades ocidentais 
modernas substitui outros meios na solução dos conflitos de interesse, como a 
violência. Nesse sentido, o Direito consolida orientações e parâmetros 
racionais a serem aplicados nas relações sociais, atuando como um 
mecanismo de controle. Entretanto, é necessária a consolidação de trâmites 
burocráticos e instituições especificas: 
 
[...] a lei implica a existência de várias instituições denominadas 
instituições jurídicas, tais como tribunais, juízes, promotores, 
advogados, assistentes jurídicos e outras tantas. Essas instituições 
requerem o Estado e, por consequência, a autoridade, que entendida 
como pessoa ou grupo de pessoas legalmente investida do poder de 
execução das sanções cabíveis para cada caso individual. 
(IAMUNDO, 2013. p.197). 
 
 
Nas sociedades ocidentais, a partir da consolidação do Direito Moderno, 
os conflitos passam a ser regulados pelo poder judiciário. A prisão, por sua vez, 
como aponta Michel Foucault (1987), emerge como forma de punição em 
 
 
15 
 
detrimento das formas medievais, como o suplício público e a tortura. A partir 
do século XIX, a prisão impõe-se como principal mecanismo punitivo. 
A polícia, por sua vez, deve ser compreendida como instituição essencial 
no uso da força legítima por parte do Estado, na medida em que outras 
instituições podem recomendar medidas coercivas e mesmo direcionar seu 
uso, como fazem, respectivamente, as legislações e cortes, mas os policiais 
são os agentes executivos da força (BAYLEY, 2001, p. 20). 
É importante destacar, para os fins desta disciplina, que a consolidação 
de instituições e mecanismos de controle social são essenciais nas sociedades 
ocidentais modernas. Para tal, são definidas e distribuídas competências, 
aplicações de regulamentos, bem como constituídas equipes para o exercício 
de diferentes funções. Ou seja, o controle social demanda a organização 
burocrática do Estado. 
Entretanto, tendo em vista o conceito weberiano de burocracia, é 
evidente a discrepância entrea realidade, em especial a brasileira e o tipo ideal 
desenvolvido pelo autor. Cabe ressaltar que a Sociologia e mais 
especificamente a Sociologia da Violência apontam a importância do bom 
funcionamento do Estado, das instituições e da burocracia para a ordem social. 
Por outro lado, demostram como a ineficiência do Estado, das instituições de 
controle social e da burocracia podem favorecer a violência. 
 
Resumo da aula 1 
 
Nesta aula foi abordada a importância da interação social no 
desenvolvimento, habilidades e potencialidades dos seres humanos. 
Distinguindo-se de outros animais, o ser humano não apenas interage com 
seus iguais, é capaz de representar, simbolizar, comunicar suas experiências e 
sua compreensão do mundo. 
Ou seja, o ser humano constrói e transmite suas formas de pensar, agir, 
se comportar e seus costumes. Este conjunto de práticas e padrões de 
comportamento constituem a cultura de determinado povo ou sociedade. A 
cultura, por sua vez, também é uma forma de pressão sobre os 
comportamentos individuais, influenciando os indivíduos a se comportarem de 
acordo com o que é aceitável na sociedade em que vivem. 
 
 
16 
 
A vida social exige previsibilidade e padrões de comportamento. Nesse 
sentido, na vida em sociedade as vontades individuais são limitadas pelo 
coletivo. As regras sociais são criadas e aceitas com base na compreensão da 
necessidade de organizar as relações sociais. 
O processo civilizador levou ao controle dos instintos, afetos e 
sentimentos dos indivíduos e à incorporação de regras de comportamento e 
civilidade. Houve, portanto, uma ruptura com os padrões de comportamentos 
medievais, como a crueldade, a tortura, a pilhagem e o uso da força e violência 
para resolução de conflitos (como por exemplo nos duelos) e a imposição de 
um controle das emoções da agressividade. A manifestação individual de 
agressividade e violência foi gradativamente restringida e deslegitimada pelo 
Estado, que passou a proibir duelos, a restringir o uso de armas, a criminalizar 
justiceiros e promover a agressão física. 
O Estado, por sua vez, é fruto do processo de racionalização 
característico da modernidade. Este se caracteriza pelo monopólio legítimo da 
força, pela prevalência da dominação racional legal e pela organização da 
burocracia. No campo do controle social, o Estado Moderno atua por meio do 
Direito, do poder judiciário, do sistema prisional e da polícia. 
Entretanto, o mal funcionamento das instituições acima podem favorecer 
a violência e colocar em risco o bom funcionamento da sociedade, conforme 
será abordado nas aulas a seguir. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Com base nos argumentos apresentados nesta aula, 
discorra sobre como o monopólio da violência por parte do 
Estado favorece a manutenção da ordem nas sociedades 
modernas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
Aula 2 – O crime como problema social e sociológico 
 
Apresentação da aula 2 
 
Nesta aula abordaremos as principais contribuições das Ciências 
Sociais, em especial da Sociologia, para a compreensão dos conflitos, do crime 
e da violência. Para tanto, faz-se necessário compreender o contexto sócio-
histórico de surgimento da Sociologia, tendo em vista que os graves conflitos e 
problemas sociais da época culminaram com o surgimento da disciplina. 
Analisaremos, ainda, a concepção de criminologia, suas principais 
vertentes e as principais ideias de cada uma delas. É importante destacar que 
esta aula abordará o pensamento sociológico e da criminologia do século XVIII 
e XIX. O objetivo é demostrar as bases teóricas consolidadas sobre o tema. 
 
2.1 As transformações sociais na Europa e a consolidação das Ciências 
Sociais 
 
Como apontado anteriormente, no processo de interações entre os seres 
humanos surgem conflitos. A natureza dos conflitos, bem como as formas 
como são resolvidos se alteram ao longo da história e variam de acordo com as 
diferentes culturas. O surgimento da Sociologia como ciência está diretamente 
relacionado ao surgimento de conflitos e à busca por novas formas de 
solucioná-los. 
Desde a Antiguidade Clássica, autores como Platão e Aristóteles 
debruçaram-se sobre o crime, suas causas e efeitos na sociedade. Na Idade 
Média, a violência, o terror e o autoritarismo faziam parte das relações sociais. 
O tratamento dado aos criminosos ou opositores era marcado pela violência e 
terror. Execução pública, tortura, quebra de ossos, desmembramentos, 
exposição das vísceras, entre outras práticas, reforçavam a violência como 
forma de punição aos desvios da norma estabelecida. 
Porém, o fim da Idade Média, a crise do feudalismo e a ascensão do 
capitalismo são alguns dos fatores que levaram a uma profunda transformação 
no continente europeu. Tais fatos culminam nas grandes revoluções, a 
Revolução Industrial e a Revolução Francesa. 
 
 
18 
 
A Revolução Industrial foi o conjunto de mudanças que aconteceram na 
Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal característica desta revolução foi o 
processo de inovação tecnológica. A construção de máquinas a vapor leva a 
substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas. 
Cabe ressaltar que até o final do século XVIII, a maioria da população europeia 
vivia no campo, atuava na agricultura de subsistência ou na manufatura. 
Com a Revolução Industrial, alteraram-se as relações econômicas, 
sociais e de produção da época. O concomitante processo de cercamento 
transformou as terras comunais em propriedades privadas, levando ao êxodo 
rural e à ruptura com a organização econômica de base agrária. Os 
camponeses dirigiram-se aos núcleos urbanos, propiciando mão de obra barata 
e abundante. Entretanto, como dito anteriormente, as inovações tecnológicas e 
o uso de máquinas no processo produtivo diminuíram significativamente a 
oferta de postos de trabalho. 
Um alto índice de desemprego, condições de trabalho aviltantes, 
jornadas de trabalho que poderiam ultrapassar 16 horas diárias, acidentes de 
trabalho, baixos salários são apenas alguns dos graves problemas sociais 
gerados pela Revolução Industrial. As epidemias, altas taxas de violência, falta 
de moradias, aumento da mendicância e criminalidade também colocavam a 
sociedade da época em alerta. 
A Revolução Francesa, por sua vez, corresponde ao conjunto de 
agitações, de revoltas ocorridas entre 1789 a 1799 na França. O grande legado 
desta revolução foi a mudança na concepção e na prática da política, fruto da 
insatisfação com a monarquia absolutista e com os privilégios da aristocracia e 
dos religiosos. A burguesia francesa, com apoio de trabalhadores urbanos e 
camponeses, promoveu uma série de protestos e revoltas que culminaram com 
o fim do Antigo Regime. 
 A Revolução Francesa buscou novos princípios para a ação política, 
simbolizados no lema revolucionário: liberdade, igualdade e fraternidade. 
Nesse contexto, a reorientação dos princípios do Estado, bem como a 
participação da burguesia no poder político se consolidam. Entretanto, o 
princípio de igualdade, tão caro aos revolucionários, não anula as 
desigualdades sociais que permanecem, apesar do novo ordenamento jurídico. 
 
 
19 
 
É nesse contexto de surgimento de novos conflitos que as Ciências 
Sociais e em especial a Sociologia se desenvolvem. Em tal conjuntura, a 
Sociologia foi compreendida como uma forma de buscar soluções para os 
conflitos e problemas sociais europeus. 
Vídeo 
Tempos Modernos (1936, Charles Chaplin). 
Este clássico do cinema apresenta uma 
abordagem dos dilemas e conflitos da 
sociedade moderna, bem como dos dramas e 
dificuldades enfrentados pelos indivíduos que 
buscam se adequar às novas normas, práticas 
e comportamentos. 
 
2.2 A criminologia e as concepções do crime 
 
Como dito anteriormente, diferentes autores, desde a Antiguidade 
Clássica, abordaram a questão do crime, suas causas e efeitos na sociedade. 
No séculoXVIII, com as grandes transformações ocorridas na Europa, novas 
abordagens de base científica sobre o crime se consolidaram. 
De acordo com João Farias Júnior (1993), a criminologia pode ser 
compreendida como o estudo do fenômeno da criminalidade e suas causas. 
Conforme destaca o autor, a criminologia tem forte caráter interdisciplinar e 
diferentes vertentes e perspectivas. Ainda de acordo com o autor, no seu início, 
a criminologia buscava explicar as origens da delinquência. Pensava-se que 
eliminando as causas seria possível extinguir seus efeitos, ou seja, prever e 
eliminar o crime. 
De acordo com Luiz Flávio Gomes (2002), entre as diferentes teses e 
abordagens da criminologia, podemos destacar: a Escola Clássica, a Escola 
Positiva e a Sociologia Criminal. 
Na concepção da Escola Clássica, o crime era visto como fato 
individual, isolado e concebido como uma ação contrária à norma jurídica. 
Nesse sentido, não há foco na personalidade ou na realidade social do 
criminoso para compreender o crime. Para os representantes desta escola de 
 
 
20 
 
pensamento da criminologia, o criminoso escolheria de forma livre e soberana 
infringir a lei. 
Os principais representantes desta escola foram: Gian Domenico 
Romagnosi (1761-1835), na Itália, Jeremias Bentham (1748-1832), na 
Inglaterra e Paul Johann Anselm Ritter Von Feuerbach (1775-1833), na 
Alemanha (GOMES, 2002, p. 176). Ainda de acordo com Gomes (2002), a 
Escola Clássica, apesar de suas contribuições, não aprofundava suas 
investigações nas causas do crime, na medida em que considerava a livre 
decisão do autor como foco de análise. 
A Escola Positiva, por sua vez, teve como maior representante o 
médico italiano Cesare Lombroso. Este autor desenvolveu, com base na teoria 
da evolução das espécies de Darwin, a tese do criminoso nato. De acordo com 
Gomes (2002), para Lombroso, o criminoso era um homem menos civilizado 
que os demais membros da sociedade. A teoria lombrosiana partia do princípio 
de que o comportamento era biologicamente determinado. Para construir sua 
teoria, Lombroso utilizou o método da antropometria (medição de corpos), 
com vistas a encontrar evidências no formato de crânios, olhos, nariz e boca 
que apontassem para um padrão fenotípico (aparência) dos criminosos. 
 
Vocabulário 
Antropometria: método de identificação dos criminosos 
apoiado na descrição do corpo humano (medidas, fotografias, 
impressões digitais). 
 
 
A partir do século XIX, em especial após o 3º Congresso Internacional 
de Antropologia Criminal realizado em Bruxelas, em 1892, a Escola Positiva é 
alvo de duras críticas e começa a se consolidar a Sociologia Criminal. De 
acordo com Gomes (2002), a Sociologia Criminal busca na sociedade os 
fatores que expliquem as causas que motivam o crime. O sociólogo francês 
Émile Durkheim é um dos principais representantes desta escola de 
pensamento. 
 
 
 
21 
 
2.3 As concepções sociológicas clássicas sobre conflitos, crime e 
violência 
 
Como dito anteriormente, as Ciências Sociais, em especial a Sociologia, 
se desenvolvem em um contexto de fortes transformações e surgimento de 
novos conflitos. Em tal conjuntura, a Sociologia foi compreendida como uma 
forma de buscar soluções para os conflitos e problemas sociais da sociedade 
europeia. Entre os estudiosos que refletiram sobre os dilemas deste tempo 
estão: Augusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Em acordo 
com os objetivos desta disciplina, abordaremos a seguir as principais reflexões 
destes autores sobre os temas: conflitos, crime e violência. 
O francês Augusto Comte é considerado o fundador da Sociologia e do 
Positivismo. A perspectiva positivista de Comte rompeu com explicações 
teológicas para os fenômenos naturais e sociais. Para Comte, os fenômenos 
sociais, assim como os naturais, obedeciam a leis gerais que poderiam ser 
observadas e explicadas de forma racional e científica. Sendo assim, Comte 
defende a Sociologia como ciência própria para a investigação dos fenômenos 
sociais. De acordo com o autor, a Sociologia tomaria como base os métodos 
das ciências naturais. 
De acordo com João Ribeiro Júnior (2003), um aspecto fundamental da 
perspectiva de Comte é a compreensão de que a ciência pode entender e 
prever os fenômenos sociais. E, mais do que isso, poderia orientar as 
transformações da realidade social. Na perspectiva positivista de Comte, a 
sociedade se assemelha a um organismo vivo, no qual cada parte desempenha 
uma função. O bom funcionamento destas partes é essencial para a 
manutenção da ordem, o desenvolvimento e o progresso da sociedade. 
Ainda de acordo com Ribeiro Júnior (2003), na perspectiva positivista o 
crime e a violência apontariam para a ineficiência dos processos coercitivos da 
sociedade. Além disso, de acordo com o mesmo autor, Comte acreditava que 
os indivíduos eram naturalmente egoístas. Sendo assim, a educação deveria 
fomentar nos indivíduos o altruísmo e o senso de colaboração. 
Comte é uma das importantes influências intelectuais do grande 
pensador francês Émile Durkheim. Émile Durkheim nasceu em 1858, na 
França, nomeado docente na Universidade de Bordeaux, em 1887, ajudando a 
 
 
22 
 
criar o primeiro curso de Ciências Sociais e, em 1990, fundando o 
departamento de Sociologia nesta universidade. O positivismo, a abordagem 
científica dos fenômenos sociais e a busca por uma metodologia para o estudo 
da sociedade são parte do legado de Comte no pensamento durkheimiano. 
É fundamental destacar que a sociedade, para Émile Durkheim, é mais 
do que a soma dos indivíduos, é um sistema formado pela associação deles. 
Não existe ser humano sem interação, não há, entretanto, uma decisão 
deliberada por existir ou não interação. Pode-se afirmar que tanto os fatos 
sociais quanto a própria sociedade são fruto das interações entre os indivíduos. 
De acordo com Sidnei Ferreira Vares (2011), a sociedade, na concepção 
durkheimiana, é um conjunto de regras, normas e padrões de conduta 
produzidos pelos indivíduos em suas interações. Ou seja, uma síntese de 
relações entre seus membros. Sendo assim, a sociedade, na perspectiva de 
Durkheim, não pode ser compreendida com base em critérios biológicos ou 
psicológicos. Nesse sentido, Durkheim sugere que a Sociologia tome como 
objeto de análise os fatos sociais: 
 
É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer 
sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou então ainda, que é geral 
na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência 
própria, independente das manifestações individuais que possa ter. 
(DURKHEIM, 2002, p.11). 
 
 
 A partir da concepção de fato social, é fundamental compreender as 
suas características: 
 
O fato social é reconhecível pelo poder de coerção externa que 
exercer ou é suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a presença 
de poder é reconhecível por sua vez, seja pela existência de alguma 
sanção determinada, seja pela resistência que o fato opõe a qualquer 
empreendimento individual que tenta violentá-lo. Todavia, podemos 
defini-lo também pela difusão que apresenta no interior do grupo, 
desde que, de acordo com as precedentes observações, se tenha o 
cuidado de acrescentar como característica segunda e essencial, que 
ele existe independentemente das formas individuais que toma ao se 
difundir. (DURKHEIM,2002, p.8). 
 
 
Em suma, o conceito de fato social, na teoria de Durkheim, aponta que a 
sociedade influencia a forma de ser, pensar e agir dos indivíduos. Além disso, 
de acordo com Quintaneiro, Barbosa e Oliveira (2002), para Durkheim, as 
 
 
23 
 
sociedades modernas geram um alto grau de interdependência entre os 
indivíduos, ou seja, na medida em que há maior divisão social do trabalho, 
cada indivíduo especializa-se em uma função/profissão, dependemos dos 
demais membros da sociedade para sobreviver. 
Além disso, para Durkheim, as sociedadesse mantêm integradas em 
função da existência da consciência coletiva, esta pode ser definida como um 
conjunto de valores, normas, regras de conduta e prescrições. Nesta 
perspectiva, o crime pode ser compreendido como uma ação que, vai contra as 
normas estabelecidas, contra a consciência coletiva. Cabe ressaltar que, de 
acordo com Quintaneiro, Barbosa e Oliveira (2002), Durkheim aponta que a 
consciência coletiva e, portanto, a compreensão das regras e, por conseguinte, 
o que é considerado crime, mudam ao longo do tempo e variam de sociedade 
para sociedade. 
Mais do que isso, o crime, para Durkheim, é normal e tem uma função 
social, na medida em que a punição reforça a consciência coletiva e fortalece a 
regra. Entretanto, se a taxa de criminalidade aumenta a cada dia ou assume 
proporções que comprometem a vida social, isso indica que a sociedade está 
em estado de anomia. 
A anomia é definida por Durkheim (2010) como estado de ausência ou 
desintegração das normas sociais, desrespeito às regras comuns, às tradições 
e práticas estabelecidas. Sendo assim, o crime não é causa da desintegração 
social, mas reflexo dela. As altas taxas de criminalidade, de acordo com a 
abordagem de Durkheim, apontam que existem falhas nas regras de conduta 
ou nos valores morais. Por outro lado, podem apontar que as instituições que 
regulamentam o combate ao crime estão falhando. 
A compreensão de Weber se distingue consideravelmente da 
perspectiva de Durkheim. O pensador alemão Max Weber, nascido em 1864 e 
jurista de formação, desenvolveu abordagem distinta sobre a própria 
Sociologia, seus métodos e objetivos. 
Para Weber, a ciência é procedimento racional, que busca explicar os 
fatos. As ciências sociais, por sua vez, têm por objetivo reconstituir os atos 
humanos, compreender o significado que estes tiveram para os agentes, o 
universo de valores adotados por um grupo social ou indivíduo enquanto 
membro de uma determinada sociedade. 
 
 
24 
 
Nesse sentido, a teoria weberiana se afasta de abordagens que utilizam 
conceitos amplos, genéricos ou buscam por estabelecer leis gerais. Tais 
abordagens, na perspectiva de Weber, afastam o cientista social da realidade e 
da materialidade dos fenômenos. As construções teóricas devem ter coerência 
com fatos e ações reais, caso contrário, são apenas hipóteses. Portanto, a 
partir da realidade social infinita, cabe ao cientista social observar, selecionar, 
organizar e identificar regularidades, com o intuito de compreender as 
especificidades do objeto estudado e seus significados. 
O crime e a violência não são objeto direito de análise de Weber. Porém, 
uma contribuição fundamental da teoria de Weber para a compreensão dos 
fenômenos do crime e da violência é sua análise do Direito. Jurista de 
formação, Max Weber (1999) compreende o Direito Moderno como fruto de um 
processo de racionalização, que contribui para diminuir o poder dos sistemas 
tradicionais de dominação. 
Nas sociedades ocidentais modernas, o Direito substitui outros meios na 
solução dos conflitos de interesse, como a violência. Nesse sentido, o Direito 
consolida orientações e parâmetros racionais a serem aplicados nas relações 
sociais, atuando como um mecanismo de controle. 
O conflito social é a base da análise da sociedade desenvolvida por Karl 
Marx, pensador alemão nascido em 1818. Para o autor, as sociedades são 
historicamente divididas em grupos em constante conflito. Tal conflito é 
motivado pela disputa por poder e riqueza. 
Cabe ressaltar que a violência e a exploração são, de acordo com Marx 
e Engels (2007), características estruturais do capitalismo. Para os autores, 
este sistema estaria pautado na propriedade privada dos meios de produção e 
na exploração dos trabalhadores. Além disso, tal sistema geraria 
desigualdades, miséria e exploração dos mais pobres. 
Para Marx, o Estado configura-se como uma instituição de defesa dos 
interesses da burguesia. Da mesma forma, o Direito atuaria como uma 
ferramenta de legitimação da classe dominante. Um fator apontado por Marx e 
Engels (2007) é a atuação do Estado e do Direito na tutela e proteção da 
propriedade privada. 
Nesse sentido, na perspectiva marxista, o crime pode ser compreendido 
como fruto das condições da sociedade de classes. Porém, o crime como 
 
 
25 
 
reação individual à opressão é facilmente reprimido pelo Estado, pelo Direito e 
pelas demais instituições de controle social. Entretanto, a repressão do crime 
não o elimina, na medida em que suas causas remontam às características 
estruturais da sociedade capitalista. 
A principal contribuição das Ciências Sociais para a compreensão do 
conflito, do crime e da violência é a ruptura com explicações religiosas, 
biológicas ou estritamente psicológicas. Sendo assim, a despeito das 
divergências quanto à compreensão do fenômeno, busca-se analisá-lo com 
foco nos fatores sociais. Nesse sentido, o crime deixa de ser pensando como 
desvio moral, psicológico para ser compreendido como problema social e 
sociológico, conforme abordado pelos teóricos clássicos da Sociologia, em 
especial por Émile Durkheim. 
 
Resumo da aula 2 
 
Nesta aula abordamos o contexto de fortes transformações e surgimento 
de novos conflitos que marcaram o desenvolvimento das Ciências Sociais, em 
especial da Sociologia. Em tal conjuntura, a Sociologia foi compreendida como 
uma forma de buscar soluções para os conflitos e problemas sociais da 
sociedade europeia. 
Foram apontadas, ainda, as diferentes teses e abordagens da 
criminologia dos séculos XVIII e XIX com destaque para: a Escola Clássica, a 
Escola Positiva e a Sociologia Criminal. 
Esta perspectiva de intervenção social esta fortemente presente no 
pensamento de Augusto Comte, considerado o fundador da Sociologia e do 
Positivismo. A perspectiva positivista de Comte rompeu com explicações 
teológicas para os fenômenos naturais e sociais. Para Comte, os fenômenos 
sociais, assim como os naturais, obedeciam a leis gerais que poderiam ser 
observadas e explicadas de forma racional e científica. O crime e a violência, 
para Comte, apontariam para a ineficiência dos processos coercitivos da 
sociedade. 
Abordamos, ainda, que Émile Durkheim, por sua vez, desenvolveu o 
conceito de fato social, apontando para a influência da sociedade na forma de 
ser, pensar e agir dos indivíduos. Durkheim analisou ainda o alto grau de 
 
 
26 
 
interdependência entre os indivíduos em função divisão social do trabalho. O 
crime, para Durkheim, é normal e tem uma função social, na medida em que a 
punição reforça a consciência coletiva, ou seja, fortalece a regra. 
Por fim, foi abordada a perspectiva de Karl Marx segundo a qual o crime 
pode ser compreendido como fruto das condições da sociedade de classes. 
Como reação individual à opressão, o crime é facilmente reprimido pelo 
Estado, pelo Direito e pelas demais instituições de controle social, fato que não 
o elimina, na medida em que suas causas remontam às características 
estruturais da sociedade capitalista. 
 
Atividade de Aprendizagem 
Com base nas contribuições de Émile Durkheim abordadas 
nesta aula, discorra sobre a relação entre crime e anomia para 
o autor. 
 
 
 
 
Aula 3 – Uma arqueologia do crime e da violência na sociedade brasileira 
 
Apresentação da aula 3 
 
Nesta aula abordaremos as dinâmicas da violência na sociedade 
brasileira. Partindo da contribuição do livro clássico Arqueologia da violência 
(CLASTRES, 2004), no qual o autor aponta para o papel da guerra e da 
violência para a manutenção das comunidades indígenas. 
Publicado originalmente em 1977, o livro é fruto de longos anos de 
pesquisa de campo entre comunidades indígenas Guayaki, Guarani, Chulupi e 
Yanomami. Nesta obra, o autor demostra por meio de pesquisa etnográficas 
que a guerra não é fruto apenas da violência e agressividades dos povos 
indígenas, consideradosprimitivos e não civilizados por muitos teóricos. A tese 
defendida por Clastres é de que a guerra cumpre uma função social nas 
sociedades analisadas. Para o autor, os conflitos com outras etnias 
 
 
27 
 
fortaleceriam o senso de identidade dos grupos e impediria a construção de 
uma sociedade pautada em um poder centralizado, hierárquico e com figura de 
um líder. 
A pesquisa de Clastres oferece perspectivas sobre a pergunta frequente 
no que diz respeito ao crime e à violência: Seriam o crime e a violência 
universais? Estariam presentes em todas as sociedades e épocas? Com base 
nessas reflexões, serão abordados os diferentes usos da violência ao longo da 
história do Brasil. Por fim, com base em alguns dados sobre a violência no 
Brasil contemporâneo, buscaremos demostrar como estes apontam para a 
necessidade de reflexão sobre a ação do Estado, das instituições e sobre o 
modelo de segurança pública. 
 
3.1 Crime e violência aspectos conceituais 
 
Como abordado até o momento nesta disciplina o conflito, o crime e a 
violência são fenômenos complexos e que permitem múltiplas abordagens. 
Entretanto, é importante compreender as especificidades históricas e culturais 
deste fenômeno, na medida em que as dinâmicas culturais estabelecem 
diferentes padrões de conduta e comportamento e, por conseguinte, definem 
aquilo que é considerado aceitável ou não em determinada sociedade e época. 
Cabe ressaltar ainda que as culturas são dinâmicas; modificam-se ao 
longo do tempo. Sendo assim, também os comportamentos considerados 
aceitáveis se alteram. 
De acordo com Arthur Arblaster (1996), não existe uma definição 
consensual de violência. De modo geral, ela pode ser compreendida como 
qualquer agressão física contra seres humanos, cometida com a intenção de 
lhes causar dano, dor ou sofrimento. (ARBLASTER, 1996, p. 803). O autor 
aponta, porém, algumas considerações necessárias sobre a concepção geral 
de violência, entre as quais podemos destacar: 
 
 A intencionalidade; 
 A legitimidade; 
 Os meios. 
 
 
 
28 
 
Quanto à intencionalidade, é importante considerar não apenas a 
intenção explícita do autor, cabe também considerar as consequências dos 
atos cometidos. Nesse sentido, para Arblaster (1996), ato de violência não é 
apenas aquele em que se tem a intenção de gerar dano a outrem; também o 
são atos que têm como consequência danos a outras pessoas. 
No que diz respeito à legitimidade, é preciso considerar os aspectos 
legais e/ou morais do uso da violência. Como abordamos anteriormente, com a 
consolidação do Estado Moderno, esta passa a deter o monopólio da força, ou 
seja, os indivíduos e demais instituições “abrem mão” do uso da violência em 
detrimento da ação do Estado como regulador da vida social. Além disso, 
conforme aponta Weber (1999), o Estado atua no campo da dominação 
racional legal, ou seja, fundamentado no reconhecimento dos regulamentos 
estabelecidos pela racionalidade e a autoridade legitimada pela lei. Sendo 
assim, o uso da força legitimado pela lei não seria considerado violência, na 
medida em que, de acordo Arblaster (1996), violência designa apenas o uso 
ilegítimo da força. 
Por fim, quanto aos meios de exercício da violência, Arblaster (1996) 
aponta que esta não se limita aos meios que geram dano físico, ou ações que 
possam gerar dano físico ou psicológicos indiretamente (como privação de 
água, alimento ou sono, trabalhos forçados, entre outros) também são 
considerados violência. 
O crime, assim como a violência, não tem uma definição unânime. De 
acordo com Paul Rock (1996), o crime pode ser compreendido como uma 
infração do direito penal, ou uma infração ao bem público, passível de punição. 
Esta definição, no entanto, tem caráter fortemente legalista e institucional. É 
importante destacar de acordo com o autor, que mesmo em sociedade, sem a 
figura do Estado e de códigos jurídicos, a concepção de crime está presente. 
Sendo assim, uma concepção mais abrangente e cultural entende o 
crime como uma violação de hábitos e costumes (ROCK, 1996, p. 150). Outro 
aspecto importante é que, ao violar os hábitos e costumes estabelecidos, o 
crime representa um ultraje à sociedade, gerando danos a comunidade. 
Na atualidade, são comuns os debates sobre a violência e criminalidade. 
Nos meios de comunicação ou nas redes sociais repercutem-se 
cotidianamente crimes e casos de violência. Muitas vezes, diante desta 
 
 
29 
 
exposição, cria-se a impressão de que a sociedade está à beira de um colapso 
e a criminalidade fora do controle. 
Entretanto, análises mais aprofundadas produzidas no campo da 
Sociologia da Violência podem contribuir para melhor compreensão do 
fenômeno. Não se trata, portanto, de minimizar a criminalidade como problema 
social. Assim, nos termos sugeridos por Émile Durkheim, compreender o crime 
como fato social é questão sociológica. 
Cabe, portanto, relembrar, que para Durkheim, o crime não é causa da 
desintegração social, mas reflexo dela. Ou seja, as altas taxas de criminalidade 
apontam que existem falhas nas regras de conduta, nos valores morais ou nas 
instituições que regulamentam o combate ao crime. 
 
3.2 A violência na história do Brasil 
 
De acordo com a historiadora Mary Del Priori (2017), a violência é um 
fenômeno social presente em diversos contextos da história brasileira. Mesmo 
antes da chegada dos portugueses, a guerra era parte da dinâmica social das 
diferentes etnias indígenas. 
No Brasil Colônia (1540-1822), a violência foi amplamente utilizada 
como forma de dominação das populações indígenas e na conquista de 
território. Um dos agentes da violência no Brasil colonial foram os 
bandeirantes, responsáveis por expedições que tinham a intenção de localizar, 
combater e escravizar indígenas hostis à colonização, localizar e destruir 
quilombos formados por negros e indígenas fugidos dos núcleos coloniais e a 
busca por metais preciosos. 
A mão de obra escravizada foi amplamente utilizada no Brasil até fim do 
Império. No processo de escravização e controle dos escravizados, a violência 
era amplamente aplicada, sendo: 
 
Algo que radica no centro da vida social no Brasil escravista. Ela 
refere-se ao fato de que boa parte daquilo que instituía a 
possibilidade de um "campo" de negociação e conflito entre senhores 
e escravos radicava na questão do exercício do castigo. O que se 
negociava, basicamente, eram seus limites. (LIMA, 2002, p. 132). 
 
 
 
30 
 
De acordo com Prudente (1988), a violência no contexto escravocrata, 
além de amplamente utilizada era considerada moral e juridicamente legítima. 
Assim como a escravização de indígenas e africanos, além de ser um negócio 
lucrativo, era legalmente regulamentado. Além disso, os castigos físicos como 
forma de controle e punição dos escravizados era considerado prerrogativa do 
senhor de escravos. 
No período Imperial (1822-1889), destaca-se o uso da força para 
controlar revoltas e rebeliões no território brasileiro. De acordo com Almeida 
(2015), a repressão aos movimentos revoltosos se dava, via de regra, de forma 
violenta e com muitas baixas. O autor destaca que a disparidade numérica e de 
recursos bélicos transformava, muitas vezes, as batalhas em chacinas de 
opositores. Além disso, a tortura, a execução e, em alguns casos, a exposição 
dos líderes reforçava o uso da violência e do medo como forma de exercício do 
poder. 
Se a Abolição da Escravatura e a Proclamação da República marcam a 
modernização do Brasil, levam também ao surgimento de novos agentes e 
formas de violência. No campo, os coronéis emergem como figuras que 
mobilizam a violência como forma de dominação. No meio urbano, por sua vez, 
os escravizados recém libertos enfrentam um contexto de pobreza, falta de 
empregos e habitação que levaram ao surgimento das favelas. 
 
Amplie Seus Estudos 
SUGESTÃO DE LEITURA 
Os Sertões é uma obra do escritorEuclides da 
Cunha (1866-1909). A obra narra os 
acontecimentos da sangrenta Guerra de 
Canudos, liderada por Antônio Conselheiro (1830-
1897), que ocorreu no Interior da Bahia, durante 
1896 e 1897. 
 
Da Era Vargas (1930) à Ditadura Militar (1964-1985), a violência foi 
utilizada como forma de ascensão e permanência no poder. Mais uma vez, a 
 
 
31 
 
repressão violenta de revoltas e protestos, a perseguição, prisão, tortura e 
execução de opositores foi usada como forma de controle e poder. 
Podemos observar que as formas, meios e agentes se alteram ao longo 
dos diferentes períodos, porém, a violência é onipresente na História do Brasil. 
No bojo do processo de redemocratização, a Constituição de 1988 lança novos 
paradigmas para as relações sociais e políticas no Brasil. Porém, as mazelas 
geradas pelo violento processo histórico permanecem e constituem desafios 
para a democracia brasileira. 
 
3.3 O crime no Brasil contemporâneo 
 
Como citado anteriormente, são diversos os debates sobre a violência e 
criminalidade no mundo contemporâneo. Além disso, a repercussão nos meios 
de comunicação e redes sociais de crimes e casos de violência, gera, muitas 
vezes, na opinião pública a sensação de medo diante do risco de um colapso 
social e da criminalidade fora do controle. 
De acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça, em 2018, o 
Brasil contava com aproximadamente 602 mil pessoas privadas de liberdade. 
Sendo que homens representam 95% deste total. Quanto à distribuição 
geográfica, cabe destacar que o estado de São Paulo concentrava 28,73 da 
população carcerária masculina (BRASIL, 2018, p. 27). 
O perfil da população carcerária brasileira aponta que cerca de 53,91% 
eram jovens com idade entre 18 e 29 anos sendo que 54,96% eram negros. Já 
no que diz respeito à escolaridade, 71,15 % tinham nível fundamental completo 
e apenas 2% da população carcerária brasileira possui nível superior completo. 
Quanto à tipificação penal, conforme aponta o gráfico abaixo, 27,58% 
das pessoas privadas de liberdade no Brasil respondem por roubo. Cerca de 
24,74% respondem por tráfico de drogas e 11,27% respondem por homicídio 
(BRASIL, 2018, p.38). Sendo assim, 63,59% das pessoas privadas de 
liberdade respondem aos tipos penais citados. 
 
 
 
 
32 
 
Fonte: BRASIL, 2018, p. 39. 
 
De acordo com Andrade e Diniz (2013), a década de 1980 marca uma 
alteração significativa na taxa de homicídios no Brasil. Segundo os autores, as 
taxas de homicídios no Brasil possuem duas características. A primeira é que a 
concentração ocorre nas capitais em relação às demais cidades dos estados. 
Ou seja, de 1980 a 2000, as taxas de homicídios das capitais costumavam ser 
maiores que a média do estado. Um segundo aspecto é que, no geral, no 
período citado, havia uma concentração nas regiões metropolitanas. Ou seja, 
havia uma tendência de as regiões metropolitanas apresentarem taxas de 
homicídios maiores do que a média do estado e do que a média nacional. 
Porém, a partir dos anos 2000, há uma alteração nos indicadores de 
homicídios no Brasil. Ainda de acordo com Andrade e Diniz (2013), dados 
apontam que a partir de 1999 houve uma desaceleração no aumento da taxa 
de homicídios nas regiões metropolitanas. Entretanto, observou-se no mesmo 
período o aumento das taxas em cidades do interior e com menor população, 
com isso, a taxa de homicídios passa a crescer mais no interior do que nas 
regiões metropolitanas e capitais. 
Entretanto, de acordo com Andrade e Diniz (2013), a análise dos dados, 
de 1980 a 2010, aponta não apenas para a interiorização ou disseminação da 
violência. De acordo com os pesquisadores, as alterações na ocupação, a 
consolidação de novas aglomerações urbanas, os ciclos econômicos e polos 
de desenvolvimento regionais, a reorganização do espaço urbano e os 
deslocamentos populacionais levam à redistribuição territorial do crime. 
 
 
33 
 
De acordo com o Atlas da Violência (IPEA, 2018), os homicídios 
representam 10% das mortes no Brasil, sendo os homens e jovens as 
principais vítimas. Ainda de acordo com dados do Atlas, a taxa de homicídios 
no Brasil apresentou aumento de 14% entre 2006 e 2016. Cabe ressaltar, 
entretanto, as enormes disparidades nos dados quando são distribuídos por 
estado. Pois enquanto o estado de São Paulo teve uma redução de 46,7% na 
taxa de homicídio no período analisado, o estado do Maranhão apresentou 
aumento de 121%. Cabe destacar ainda que 71% dos homicídios são 
cometidos como uso de armas de fogo. 
A Lei 11.343/2006, conhecida como Lei Antidrogas, alterou a legislação 
vigente e incluiu a distinção entre usuário e traficantes. Entretanto, não há 
definição dos parâmetros da distinção entre o uso e o tráfico. A indefinição ou 
brechas na lei é apontada por Cortina (2015) como um dos elementos que 
podem explicar o aumento da taxa de encarceramento por tráfico de drogas. 
Como destaca a autora, dados apontam para um aumento na taxa de 
encarceramento por tráfico tanto entre os homens quanto entre as mulheres. 
Ainda de acordo com Cortina (2015), pesquisas apontam para o 
aumento do encarceramento feminino. No sistema prisional, 62% das mulheres 
em privação de liberdade foram enquadradas no tipo penal de tráfico de 
drogas. 
É importante destacar que os dados de violência e criminalidade no 
Brasil contribuem para o aumento da sensação de insegurança e para o medo 
na população brasileira. O medo pode ser definido como o hábito que se tem, 
em um grupo humano, de temer uma ameaça real ou imaginária (DELUMEAU, 
1989, p. 24). Partindo desta definição, pode-se estabelecer uma distinção entre 
medo e angústia, sendo o primeiro referente a algo que se pode fazer frente a 
angústia referente ao desconhecido, a algo temido justamente por não ser 
identificável. 
Segundo o mesmo autor, a angústia no século XX tornou-se a 
contrapartida da liberdade, na medida em que aventurar-se é abandonar a 
segurança e enfrentar riscos. Sendo a angústia um “medo sem objeto”, o 
homem incapaz de lidar com essa situação precisa transformá-la em medo de 
algo ou alguém. Ou seja, o homem fabrica o medo, elege determinadas coisas, 
pessoas ou grupos para evitar a angústia. 
 
 
34 
 
Contemporaneamente, a mídia tem importante papel na disseminação 
do medo, como demonstra Glassner (2003), no que diz respeito à cobertura 
dada ao crime, em grande medida sensacionalista, generalizadora, tomando 
fatos isolados como tendências e espetacularizando a violência. De acordo 
com o autor, pesquisas realizadas nos Estados Unidos constataram que os 
principais medos dos americanos são baseados em dados/notícias veiculadas 
pelos meios jornalísticos. 
A produção deste clima de medo é fundamental para “legitimar” junto à 
população as ações dos aparelhos estatais contra a violência. Porém, 
conforme abordamos ao longo desta disciplina, os estudos sociológicos 
sugerem que o enfretamento à ocorrência de altas taxas de criminalidade e 
violência aponta para problemas de ordem estrutural na sociedade. Pode-se 
observar que, sendo um sintoma da desregulação social e da falha das 
instituições, o combate ao efeito não alcança os resultados necessários se não 
são encarados os causadores do crime da violência. Diante deste cenário, 
fazem-se necessárias reflexões sobre a eficiência das instituições de controle 
social e de seus mecanismos. Nesse sentido, as últimas décadas têm sido 
marcadas por discussões acerca do papel das polícias e a necessidade de 
alterações nos modelos e padrões de policiamento. 
O processo arqueológico de compreensão dos fenômenos sociais 
pressupõe uma análise de múltiplas dimensões entre as quais: históricas, das 
relações sociais, das transformações da sociedade, das visões de mundo e 
ideologias. 
Embora a violência esteja presente ao longo do processo histórico 
brasileiro, suas formas de manifestação se alteram ao longo detempo. Um 
fator fundamental é a compreensão da legitimidade, dos agentes e instituições 
que utilizam e controlam o uso da violência. 
Sendo assim, ganha importância o papel do Estado na regulamentação, 
em acordo com sua função social, dos conflitos ocorridos na sociedade, bem 
como na construção de mecanismos burocráticos para controle da vida social. 
Os dados sobre violência, crimes e o sistema carcerário podem nos oferecer 
uma breve visão da dinâmica complexa do controle social da violência, bem 
como reforçar a necessidade de reformulação da política de segurança diante 
 
 
35 
 
das demandas sociais, das mudanças de paradigma nos sistemas de 
policiamento e no papel da repressão. 
 
Resumo da aula 3 
 
Nesta aula apontou-se uma perspectiva sobre o papel social da guerra e 
da violência, podendo-se observar que o conflito pode cumprir um papel social 
na manutenção da sociedade. Nesse sentido, apontamos para as diferentes 
manifestações e usos da violência ao longo da história do Brasil. 
Como vimos, a violência foi amplamente utilizada como forma de 
dominação e controle das populações indígenas no processo de colonização. 
Além disso, o uso da força e da violência como forma de punição estavam na 
base do processo de controle da mão de obra no sistema escravocrata. Já no 
Período Imperial, o uso da força e da violência foi uma ferramenta utilizada no 
controle de revoltas, rebeliões e controle de núcleos de resistência, como os 
quilombos. 
Desde o coronelismo até a Ditadura Militar, o uso da força e da violência, 
embora não exclusivamente, para o acesso e manutenção do poder foi 
utilizado em diferentes momentos da história política do Brasil. A 
redemocratização e a Constituição de 1988 trazem novos paradigmas e 
fundamentam o Estado Democrático de Direito. Nesse contexto, a legitimidade 
do uso da força é regulamentada. 
Entretanto, a violência e a criminalidade não apenas permanecem, como 
aumentam ao longo dos anos. Sendo assim, colocam-se novos desafios ao 
Estado, no que diz respeito a sua atuação nas politicas de segurança pública. 
Alguns do novos debates e perspectivas sobre a atuação do Estado e da 
sociedade civil nesse campo serão apresentados na próxima aula. 
Atividade de Aprendizagem 
Com base no conteúdo desta aula e em seus conhecimentos 
prévios, discorra sobre um episódio, situação, fato da História 
do Brasil em que a violência tenha sido utilizada. Aponte quais 
foram as motivações do uso da violência, os meios utilizados, 
a intencionalidade, bem como os agentes/autores da violência 
e os principais afetados. 
 
 
36 
 
Aula 4 – Estado, Direito e polícia: perspectivas sobre segurança pública 
 
Apresentação da aula 4 
 
Nesta aula abordaremos algumas reflexões e contribuições sobre as 
políticas públicas de segurança, partindo da compreensão de que as 
demandas e expectativas da população podem ser influenciadas por 
percepções distorcidas acerca do fenômeno da violência e da criminalidade. 
Além disso, o Estado democrático de Direito pressupõe a ação do Estado na 
garantia de direitos fundamentais e na manutenção da ordem. 
Na medida em que compreendemos que uma sociedade de paz 
absoluta é utópica, ao mesmo tempo que o medo e a sensação de insegurança 
são bastante presentes, faz-se necessário refletir sobre o papel e função da 
segurança pública e das instituições envolvidas. 
Entretanto, como veremos ao longo desta aula, existem diferentes 
visões sobre a polícia, seu papel, suas ações e a eficiência desta no 
enfrentamento à criminalidade. Diante disso, o diálogo entre sociedade civil e 
instituições tem sido apontado como uma estratégia para a melhoria da 
efetividade das politicas públicas de segurança. 
 
4.1 Violência, medo e repressão 
 
Como afirmado ao longo desta disciplina, uma sociedade sem crime e 
violência é utópica. A ocorrência destes fenômenos sociais é normal, sendo 
necessária a atenção ao aumento repentino ou sucessivo na taxa de violência. 
Diante não apenas do avanço quantitativo das situações de violência, mas 
também da sensação de medo da população, buscam-se diversas formas de 
controle do crime e da violência. 
Paradoxalmente, em muitos casos, o meio utilizado para combate ao 
crime é a repressão e a violência. Desse modo, muitas vezes a violência é 
utilizada com o pretexto ou objetivo de garantir a paz e a ordem social. Nesse 
contexto, é importante considerar o papel do medo na legitimação de posturas 
violentas de repressão ao crime e à violência. 
 
 
37 
 
Como aponta Glassner (2003), a sensação de insegurança da 
população e o medo podem ser frutos da difusão de notícias, dados sobre a 
violência, de forma exacerbada ou sensacionalista. É importante destacar que 
isso não significa que o medo da violência seja infundado, já que os dados 
estatísticos apontam para a elevada taxa de criminalidade. O ponto levantado 
pelo autor é que a propagação de casos de violência pode gerar ansiedade e 
medo desproporcional nos indivíduos. 
De acordo com o mesmo autor, pesquisas realizadas nos Estados 
Unidos constataram que os principais medos dos americanos são baseados 
em dados/notícias vinculadas pelos meios jornalísticos. 
A produção deste clima de medo gera, em muitos casos, o clamor 
popular pelo enfrentamento à violência e é usado para fundamentar e legitimar 
as ações do Estado contra a violência. Entretanto, o enfrentamento, quando 
realizado com base na repressão pode fortalecer a sensação de medo e 
fomentar o aumento da criminalidade. 
Com isso, a sensação de medo generalizado pode levar a uma cobrança 
de ação cada vez mais “repressora” do Estado naturalizando-se as práticas 
violentas e muitas vezes extremistas deste, dissimulando as causas da 
violência. Além disso, observa-se que em contexto de medo generalizado há a 
valorização do papel “combativo”, ao invés de preventivo da polícia. 
Configura-se, então, um círculo vicioso, na medida em que o medo 
generalizado legitima ações repressivas por parte do Estado. Estas ações, por 
sua vez, podem ser violentas e, sendo amplamente divulgadas na mídia, 
aumentam ainda mais a sensação de medo. 
Como afirma Glassner (2003), é preciso considerar ainda que muitos 
grupos se beneficiam desta sensação de medo generalizado, surgindo daí o 
que alguns autores chamam de “indústria do medo”, que tem como objetivo 
lucrar com a venda de produtos e serviços que passem uma impressão de 
segurança aos seus consumidores. 
 
4.2 Crime, violência e o Estado Democrático de Direito 
 
De acordo com Breunig (2018), uma das explicações para as altas taxas 
de criminalidade seria a ocorrência de uma crise ética na sociedade brasileira. 
 
 
38 
 
Ou seja, os indivíduos não adotam valores, práticas e normas previstas. Sendo 
assim, as taxas de violência e criminalidade seriam sintoma de uma crise 
profunda na sociedade. 
Outro aspecto fundamental decorrente desta compreensão é que, se a 
violência e a repressão são os únicos meios adotados no enfretamento à 
criminalidade, isso denota a falta de adesão da população às regras. Isto é, se 
o uso da força, da repressão e da polícia são os únicos meios de manter a 
ordem, os indivíduos obedecem por medo e não por consciência ou 
concordância com a norma. Além disso, como aponta Max Weber, existem 
diferentes formas de dominação (dominação racional-legal, dominação 
tradicional e dominação carismática) e alerta que o uso da força não pode ser a 
única forma de gerar obediência. 
De acordo com Aranão (2013), a nação brasileira enquadra-se na 
categoria do Estado Democrático de Direito. Este caracteriza-se pela soberania 
popular, pela democracia representativa e participativa e por sistemas de 
garantia de direitos. No Estado Democrático de Direito, as leis são criadas pelo 
povo, para o povo e respeitando a dignidade da pessoa humana. 
Como apontando anteriormente, a consolidação do Estado-Nação foi 
precedido

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