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AULA 1 VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS E SOCIAIS Prof.ª Andressa Ignácio da Silva 2 CONVERSA INICIAL Mecanismos de construção e superação da violência pessoal e social Nesta aula, serão abordados aspectos conceituais no que diz respeito aos conflitos e à violência. A compreensão desses fenômenos, bem como a atuação profissional no âmbito do enfrentamento e superação do conflito e da violência demandam análise dos seus processos históricos, formas, tipos, manifestações e principais características. Sendo assim, serão inicialmente delimitadas as diferenças conceituais entre conflito e violência. Em seguida, abordaremos os principais tipos e manifestações de cada um dos fenômenos. Tendo em vista o fato de que o ser humano se desenvolve no meio social, é fundamental compreender o papel do processo de socialização na formação dos indivíduos. No que tange ao conflito e à violência, as instituições sociais que atuam na socialização desempenham importante papel, na medida em que atuam na internalização, pelos indivíduos, dos padrões sociais de comportamento. Por fim, serão abordados os processos de controle social e suas características, bem como o papel do direito e das instituições jurídicas no processo de controle social, nas sociedades modernas. Serão apontadas, ainda, algumas das perspectivas contemporâneas à luz das quais os conflitos e a violência podem ser compreendidos. Essas diferentes técnicas e perspectivas de atuação no enfretamento e superação da violência serão trabalhadas posteriormente, de forma mais aprofundada. TEMA 1 – CONFLITO E VIOLÊNCIA – ASPECTOS CONCEITUAIS Os conflitos estão presentes em diferentes períodos da história da humanidade. Mais do que isso, é possível afirmar que os conflitos são inerentes às relações humanas. Tal afirmação, no entanto, pode gerar estranhamento, em especial diante da compreensão de senso comum segundo a qual o conflito é algo negativo, perigoso ou indesejável. Do ponto de vista das ciências humanas, as concepções de conflito são diversas, bem como seus significados e papel no desenvolvimento das sociedades. Sendo assim, para fins desta disciplina, é importante destacar 3 algumas dessas concepções. De fundamental importância, ainda, é estabelecer a diferença conceitual entre conflito e violência. 1.1 O conceito de conflito e seus significados De acordo com Anthony Giddens (2017), o termo conflito é comumente utilizado, de forma genérica, para designar tensões de nível microssocial ou macrossocial. Nessa perspectiva genérica, o termo pode ser usado, por exemplo, tanto para designar uma briga entre vizinhos, quanto para se referir a uma guerra entre potências mundiais. Diante de tal fato, faz-se necessária a classificação dos conflitos, quanto a sua dimensão e abrangência, em duas categoriais: os conflitos sociais e os conflitos interpessoais. Os conflitos sociais são objeto de investigação de disciplinas como a antropologia, a sociologia e outras ciências humanas. Tais disciplinas buscam compreender as dinâmicas de busca por poder, riquezas e status que levam à formação de grupos com identidades e interesses distintos (Giddens, 2017, p. 312). Nesse sentido, adotando uma definição prática, o conflito social pode ser distinguido como a luta entre grupos sociais por supremacia, envolvendo tensões, discórdia e choque de interesses (Giddens, 2017, p. 311). Os conflitos interpessoais, por sua vez, conforme apontam Cristina Amélia de Carvalho (1998) e Robert E. Quinn et al. (2003), são gerados principalmente pelas diferenças entre indivíduos. Essas diferenças podem ser de estilos, culturas, percepções, visões de mundo, formas de agir etc. Tais conflitos podem ser classificados ainda quanto a sua forma: se explícita ou latente (quando, embora ele ainda não seja percebido, haja potencial, em alguma situação, para a emergência de um conflito). Embora, como afirmado anteriormente, eles sejam inerentes às relações sociais, os conflitos podem ser mediados, evitando-se maiores danos às relações sociais e interpessoais. Cabe destacar ainda que os conflitos sociais e interpessoais se distinguem da violência e suas manifestações, conforme abordaremos a seguir. 4 1.2 O conceito de violência e seus significados O conceito de violência é complexo e de difícil síntese. Diferentes áreas do conhecimento produziram definições distintas sobre o fenômeno. Soma-se ainda o fato de que as manifestações da violência são diversas, bem como as interpretações sobre o fenômeno. É fundamental destacar, no que tange à compreensão da violência, que as características gerais do conceito de violência variam no tempo e no espaço, segundo os padrões culturais de cada grupo ou época (Paviani, 2016, p. 8). Apesar de endossar a dificuldade de definição do conceito de violência, Arthur Arblaster (1996, p. 803) sugere que a violência pode ser compreendida como qualquer agressão física contra seres humanos, cometida com a intenção de lhes causar dano, dor ou sofrimento. O autor destaca ainda que violência deve ser compreendida tendo em vista três aspectos centrais: a intencionalidade, a legitimidade e os meios (Arblaster, 1996). A intencionalidade diz respeito à necessidade de considerar não apenas a intenção explícita do autor de uma violência. Ou seja, é necessário considerar também as consequências dos atos cometidos. Nesse sentido, para Arblaster (1996), um ato de violência não é apenas aquele em que se tem a intenção de gerar dano a outrem. Também o são atos que têm como consequência danos a outras pessoas. A legitimidade diz respeito à necessidade de considerar os aspectos legais e/ou morais do uso da violência. Segundo Arblaster (1996), o uso da força legitimado pela lei não seria considerado violência. Um exemplo de uso legítimo é a polícia, que tem amparo legal para uso da força e da violência para fins de manutenção da ordem social. Sendo assim, para o autor, violência designa apenas o uso ilegítimo da força. Por fim, quanto aos meios de exercício da violência, Arblaster (1996) aponta que esta não se limita aos meios que geram dano físico. Ações que possam gerar dano físico ou psicológicos indiretamente também são consideradas violentas. A definição de Arblaster (1996) alinha-se à definição de violência defendida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Cabe destacar que tal definição é adotada por instituições do Estado brasileiro, sendo a violência compreendida como: 5 [...] o uso da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. (OMS, 2002, p. 5 citada por Brasil, 2005, p. 19) Como reiterado anteriormente, a violência é um fenômeno recorrente em diferentes sociedades. Entretanto, como abordaremos a seguir, os tipos de violência, bem como suas manifestações, são diversos. TEMA 2 – TIPOS DE VIOLÊNCIA E SUAS MANIFESTAÇÕES Na conjuntura brasileira, em especial nos meios urbanos, a violência ganha destaque como tema recorrente na mídia, mas também no cotidiano dos indivíduos. A violência figura ainda como um importante problema social, demandando ação do Estado no sentido de promoção de políticas públicas. Sendo assim, o enfrentamento da violência requer dos profissionais com ela envolvidos a compreensão de suas dinâmicas. É importante destacar que, assim como a conceituação de violência, a classificação de seus tipos e manifestações também apresenta significativas divergências, de acordo com a área e autores. Diante de tal fato, optou-se, para fins desta disciplina, pela utilização de conceitos adotados por órgãos oficiais nacionais e internacionais, bem como de conceitos desenvolvidos por autores empublicações oficiais. 2.1 Tipos de violência De acordo com a OMS (2002), quanto às suas manifestações empíricas, a violência pode ser classificada em: violência dirigida contra si mesmo (autoinfligida); violência interpessoal; e violência coletiva. Aos tipos de violência pode ser incluída ainda, de acordo com Minayo (2007), a violência criminal. A violência dirigida contra si mesmo, também chamada autoinfligida, diz respeito aos comportamentos suicidas (suicídio, ideação suicida e tentativas de suicídio) e autoabusivos (agressões a si mesmo e automutilações). Já a violência interpessoal divide-se em duas subcategorias: a violência intrafamiliar, que ocorre entre parceiros íntimos e membros da mesma família (OMS, 2002; Brasil, 2005); e a violência comunitária, que ocorre no ambiente social, entre indivíduos sem laço de intimidade (OMS, 2002). 6 A violência coletiva diz respeito ao âmbito macrossocial, político e econômico, incluindo guerras, ataques terroristas e ataques econômicos com o objetivo de estabelecer dominação (OMS, 2002). Por fim, a violência criminal é praticada por meio da agressão grave contra as pessoas, por atentado à sua vida e aos seus bens (Minayo, 2007, p. 31). De acordo com Cerqueira (2018, p. 3), o Brasil, em 2016, registrou 62.517 homicídios, índice equivalente a uma taxa de 30,3 mortes por mil habitantes, que corresponde a 30 vezes a taxa da Europa. É fundamental destacar que a violência é fruto das relações sociais. Sendo assim, os tipos de violência, bem como as suas manifestações, podem mudar de acordo com a sociedade e com períodos históricos. 2.2 Formas de manifestações da violência É importante reiterar que as classificações das manifestações da violência apresentam significativas divergências entre autores e áreas do conhecimento. Mantém-se, portanto, a utilização de conceitos adotados por órgãos nacionais e internacionais em publicações oficiais. Nesse sentido, uma classificação abrangente das manifestações da violência é apontada em Brasil (2005, p. 14-15), segundo a qual: [...] a violência física, que atinge diretamente a integridade corporal e que pode ser traduzida nos homicídios, agressões, violações, roubos a mão armada; a violência econômica que consiste no desrespeito e apropriação, contra a vontade dos donos ou de forma agressiva, de algo de sua propriedade e de seus bens. Em terceiro lugar, a violência moral e simbólica, aquela que trata da dominação cultural, ofendendo a dignidade e desrespeitando os direitos do outro. Por sua vez, Minayo (2007) sugere que as manifestações da violência podem ser divididas em: violência física, violência psicológica, violência sexual e violência por negligência, abandono ou privação de cuidado. A violência física é aquela em que há o uso da força para produzir lesões, traumas, feridas ou incapacidades (Brasil, 2001, citado por Minayo, 2007, p. 38). Ela corresponde a 50,16% dos casos de violência contra a mulher registrados por via do Ligue 180, em 2015 (Brasil, 2016, p. 11). A violência psicológica, por sua vez, contempla agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, rejeitar, humilhar a vítima, restringir-lhe a liberdade ou, ainda, isolá-la do convívio social. Indica também a rejeição de pessoas, na inter-relação (Minayo, 2007, p. 39). Cabe destacar que esse tipo de 7 violência corresponde a 30,33% dos casos de violência contra a mulher registrados por via do Ligue 180, em 2015 (Brasil, 2016, p. 11). A violência sexual, por sua vez, diz respeito ao ato ou ao jogo que ocorre nas relações hetero ou homossexuais e visa estimular a vítima ou utilizá-la para obter excitação sexual nas práticas eróticas, pornográficas e sexuais impostas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças (Minayo, 2007, p. 39). A violência sexual corresponde, de acordo com Brasil (2018), a 20% dos atendimentos a crianças e adolescentes vítimas de violência atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Já a violência por negligência, abandono ou privação de cuidados é uma forma de violência caracterizada pela ausência, recusa ou deserção do atendimento necessário a alguém que deveria receber atenção e cuidados (Minayo, 2007, p. 39). Tal violência tem como principais vítimas crianças e idosos. Entre 2010 a 2012, 68,7% das denúncias recebidas pela Secretaria de Direitos Humanos, acerca de violência contra idosos, tinham como motivo principal a negligência (Brasil, 2014). Tendo em vista os diferentes tipos e manifestações da violência, bem como suas configurações, de acordo com os contextos sócio-históricos e culturais, é fundamental compreender que o enfretamento à violência demanda ações multidisciplinares, com atuação de diferentes instituições sociais. TEMA 3 – PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA Os seres humanos são animais sociais que produzem, acumulam e transmitem conhecimentos. O conjunto de conhecimentos, percepções, visões de mundo compõe a cultura de determinada civilização ou sociedade. A cultura pode ser compreendida como as realizações humanas nos mais variados campos: científico, artístico, tecnológico, usos, costumes, forma de organização do trabalho, portanto, todas as manifestações que marcam a presença do homem no mundo (Iamundo, 2013, p. 193). Ainda de acordo com Iamundo (2013), a cultura também se caracteriza como um processo de coerção, ou seja, é uma forma de “imposição” de valores e práticas, na medida em que, com seu uso, as práticas culturais passam a fazer parte do cotidiano e influenciar os comportamentos coletivos. Tais práticas, com o tempo, geram regras que orientam a convivência social. 8 As práticas culturais são formas de coerção, ou seja, que impõem ao indivíduo formas de agir e/ou pensar. Essas práticas são transmitidas ao indivíduo no processo de socialização, definido como processo pelo qual os indivíduos internalizam uma série de valores, formas de agir e maneiras de pensar (Grigorowitschs, 2008, p. 40). O processo de socialização pode ser dividido em socialização primária e secundária. A primeira é realizada pela família, caracteriza-se pela afetividade e intimidade e insere a criança no mundo social, especialmente por meio da linguagem. Já a segunda é realizada pela escola, religiões, no trabalho, por grupos sociais etc. e caracteriza-se pela aquisição de saberes específicos (Berger; Berger, 1973). A eficiência do processo de socialização é fundamental para a manutenção da ordem social, na medida em que tal processo transmite aos indivíduos as práticas culturais consolidadas na sociedade, bem como delimita os comportamentos que não são aceitáveis ou desejáveis. A violência por sua vez, pode ser considera uma prática social indesejada, nas sociedades. Sendo assim, uma socialização eficaz pode colaborar para o enfrentamento da violência, na medida em que exerceria coerção sobre os comportamentos individuais, fomentando os comportamentos desejáveis e restringindo os socialmente reprovados. Para tal, é de fundamental importância que as instituições de socialização (família, escola, igrejas, Estado etc.) difundam valores como o respeito às diferenças, à dignidade da pessoa humana aos direitos humanos. Entretanto, cabe destacar que o processo de socialização não garante que os indivíduos atuarão de acordo com as regras sociais estabelecidas. Sendo assim, são fundamentais também mecanismos de controle social, entre os quais podemos incluir o direito. TEMA 4 – DIREITO, JUDICIALIZAÇÃO E ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA O direito pode ser um importante mecanismo de prevenção e resolução de conflitos e da violência. De acordo com Migueis e Silva (2016), o direito tem como função básica garantir a ordem social. Cabe ainda ao direito, de acordo com os mesmos autores, atuar na harmonização das relações sociais e na resolução de conflitos (Migueis;Silva, 2016). 9 Diante das funções sociais do direito, este pode ser compreendido como um mecanismo de controle social. O controle social, por sua vez, de forma geral diz respeito aos mecanismos utilizados para que os indivíduos se comportem de acordo com as regras sociais estabelecidas. O controle social pode ser classificado em dois tipos básicos: controle social formal e controle social informal. O controle social formal diz respeito às leis, regras e normas institucionalizadas em determinada sociedade. Já o controle social informal, às crenças, costumes, valores e tradições compartilhadas pelos membros de uma sociedade. Quanto às formas, o controle social pode ser dividido em: formas de controle interno e formas de controle externos. As formas de controle interno estão relacionadas à internalização de ideias e valores pelos indivíduos. Já as formas de controle externos são ações punitivas usadas na repressão às ações que não condizem com as normas estabelecidas pela sociedade. De acordo com Weber (1999), nas sociedades ocidentais modernas houve um processo de racionalização, no qual o direito substitui outros meios na solução dos conflitos de interesse. Ou seja, com base em orientações e parâmetros racionais aplicados nas relações sociais, o direito atua como um mecanismo de controle social. A atuação do direito no processo de controle social inclui a punição dos atos que violam as práticas consolidadas pela sociedade. Embora, como afirmado anteriormente, os conflitos sejam intrínsecos às relações humanas, eles podem gerar violências e serem tipificados como crimes. De acordo com Paul Rock (1996), o crime pode ser compreendido como uma infração do direito penal ou uma infração ao bem público, passível de punição. Ou, de forma mais abrangente e cultural, o crime pode ser compreendido como uma violação de hábitos e costumes (Rock, 1996, p. 150). Nesse sentido, o crime, ao violar os hábitos e costumes estabelecidos, representa um ultraje à sociedade, gerando danos à comunidade. Conforme Diógenes V. Hassan Ribeiro (2013), o conceito de judicialização diz respeito ao processo no qual questões políticas, sociais e morais são resolvidas pelo Poder Judiciário. Tal fenômeno pode ser explicado, de acordo com o autor, pelo aumento de complexidade da sociedade, que demanda soluções, inclusive, do sistema jurídico (Ribeiro, 2013, p. 26). 10 Tal fenômeno pode ser compreendido, segundo o mesmo autor, como uma tendência de aumento da demanda por controle social externo, nas relações sociais (Ribeiro, 2013). Entretanto, como apontado anteriormente, é essencial ao processo de manutenção da sociedade que os indivíduos sejam socializados de forma eficaz, favorecendo assim o controle interno. Nesse sentido, na medida em que os conflitos sociais e interpessoais demandam cada vez mais ação do Poder Judiciário; bem como quando há – como no caso da sociedade brasileira – reiterado aumento das taxas de violência e criminalidade, podemos inferir que o processo de socialização apresenta falhas. Segundo Ribeiro (2013), o aumento da judicialização, por si só, não garante a diminuição dos conflitos e da violência. O autor defende ainda a desjudicialização, ou seja, a possibilidade de solução de conflitos de interesse sem ações judiciais (Ribeiro, 2013). Nesse sentido, novas estratégias de superação dos conflitos têm sido adotadas também no âmbito do Poder Judiciário, bem como formas de prevenção da violência em diferentes esferas e com atuação de diferentes instituições. TEMA 5 – PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS SOBRE A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA A compreensão contemporânea acerca dos conflitos reforça o seu entendimento como inerentes às interaçãos sociais. Nesse sentido, a existência do conflito é aceita como uma parte inevitável do funcionamento social e das relações interpessoais. Os conflitos podem manifestar-se, na escala individual, em diferentes etapas do desenvolvimento do sujeito, tendo em vista que, desde o seu nascimento, os indivíduos precisam desenvolver estratégias de sobrevivência, negociar demandas contraditórias ou opostas apresentadas nas instituições sociais (familia, escola, religião, trabalho etc.). Na escala social, o desenvolvimento das sociedades ocorre por etapas que implicam, usualmente, situações de mudança, mobilizadas por conflitos na etapa anterior. Embora possa ser concebido como negativo, algo que se deve evitar, o conflito pode ser construtivo, quando resulta em esclarecimento (Kant, 2010). Ou seja, quando funciona como uma forma de expressão de emoções e estresse; quando as partes entendem as necessidades dos outros e utilizam o conflito para construir cooperação e confiança. Entretanto, o conflito pode ser destrutivo 11 quando desvia energia, polariza grupos e aprofunda diferenças; as partes tomam posições acreditando que seu modo é correto e desenvolvem sentimentos negativos em relação aos outros. O enfrentamento das situações de conflito demanda a compreensão de uma enorme gama de antecedentes pessoais, predisposições, frustrações, tensões, influências, pressões etc. que estão na base do conflito. Sendo assim, não é possível compreender e intervir nos conflitos sem o minucioso estudo dos elementos que os geram. Parte da natureza humana, os conflitos podem propiciar oportunidades para se adquirir novas habilidades, gerar transformações sociais, bem como mediar situações que desencaderiam conflitos posteriores ou de maiores proporções. O enfrentamento da violência também perpassa a compreensão das dinâmicas sociais desse fenômeno, bem como de suas manifestações e principais locus de ocorrência. Nesse sentido, no campo da promoção de politicas públicas, é essencial a pesquisa e coleta de dados que subsidiem o planejamento das ações. No Brasil, diferentes processos de monitoramento, pesquisa, prevenção e enfrentamento do conflito e da violência têm sidos adotados. Mais adiante serão abordadas perspectivas como mediação e resolução de conflitos, conciliações, socialização para a cultura da paz, comunicação não violenta, antipunitivismo, entre outras. 12 REFERÊNCIAS ARBLASTER, A. Violência. In: OUTHWAITE, W.; BOTTOMORE, T. (Org.). Dicionário do pensamento social do século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. p. 803-804. BERGER, P.; BERGER, B. Socialização: como ser um membro da sociedade. In: FORACCI, M. M.; SOUZA MARTINS, J. Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. São Paulo; Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1973. p. 200-214. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na saúde dos brasileiros. 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