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<p>A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO</p><p>AULA 1</p><p>Prof. Cassio Gonçalves de Azevedo</p><p>2</p><p>CONVERSA INICIAL</p><p>Em gramática, aprendemos que o sujeito é um dos termos mais</p><p>importantes de uma oração, de uma frase, seja ela pronunciada, seja escrita.</p><p>Geralmente, o localizamos antes do predicado, embora também possa vir</p><p>depois. De uma ou outra forma, trata-se do termo sobre o qual se declara alguma</p><p>coisa. Ele pode ser um sujeito simples ou composto, quando se tem um ou mais</p><p>de um termo que se refere(m) ao sujeito; pode ser implícito ou oculto, quando</p><p>indiretamente enunciado; ou, ainda, indeterminado, quando não se pode</p><p>determinar quem ou o que é o sujeito da frase. O sujeito pode, assim, ser um</p><p>lugar, quando, por exemplo, dizemos que A Amazônia possui uma diversidade</p><p>exuberante, em que o sujeito é a Amazônia; ou um objeto, se dissermos que A</p><p>caneta é azul. Pode ser um espaço temporal, por exemplo, a Antiguidade ou a</p><p>Idade Média. Em suma, pode ser qualquer coisa que comporte predicados,</p><p>atributos.</p><p>A palavra sujeito também pode ser utilizada como adjetivo, com a</p><p>conotação de submissão ou subordinação, quando, por exemplo, dizemos que</p><p>um indivíduo está sujeito a uma determinada situação ou circunstância. Já no</p><p>senso comum, que é o conhecimento advindo das experiências mais imediatas</p><p>do ser humano com a realidade, a ideia de sujeito nos é quase que</p><p>automaticamente equivalente à de pessoa, por exemplo, quando dizemos um</p><p>sujeito pulou o muro; ou que determinado sujeito pode ser assim ou assado, de</p><p>modo que o sujeito se apresenta como sinônimo de um indivíduo, de uma</p><p>pessoa, de um ser em especial, um ser humano, a quem também conferimos</p><p>atributos ou ações.</p><p>Porém, como conceito, o termo sujeito abrange nuances muito mais</p><p>multifacetadas e complexas, diferindo sua significação conforme a terminologia</p><p>específica a cada área que o conceitua, que o operacionaliza. Podemos falar do</p><p>conceito de sujeito para a filosofia e, nesse campo do saber, veremos uma</p><p>proliferação de matizes que irão conferir ao conceito de sujeito diferentes</p><p>aspectos, conforme o prisma filosófico sob o qual se queira abordá-lo. Essa</p><p>tarefa, por sinal, não nos convém, pois o que vamos perscrutar é a emergência</p><p>da noção de sujeito, mais do que o conceito em si, no campo da psicanálise.</p><p>Para tanto, situaremos apenas a emergência do sujeito como advento da</p><p>modernidade, como convém fazê-lo, para, na sequência, desmembrá-lo em</p><p>3</p><p>algumas possibilidades decorrentes da evolução de algumas áreas. Veremos,</p><p>assim, brevemente, a título de contextualização e contraposição, duas</p><p>concepções de sujeito articuladas a algumas implicações teóricas e práticas que</p><p>as engendraram, a saber: o sujeito moderno ou cartesiano e o sujeito dos direitos</p><p>humanos.</p><p>Esse breve percurso nos servirá para adentrar, pelo contraste, no campo</p><p>inaugurado por Freud e na noção de sujeito que dele decorre para verificar não</p><p>a especificação do conceito, tarefa que coube a outro psicanalista posterior, mas</p><p>seus fundamentos, suas incidências e seus ecos. Para tanto, aprenderemos o</p><p>conceito revolucionário de pulsão, forjado por Freud e desenvolvido durante</p><p>toda a sua obra para dar materialidade à dimensão econômica do aparelho</p><p>psíquico. Veremos, ainda, como as pulsões se desenvolvem durante as fases do</p><p>desenvolvimento da libido, o que ficou conhecido como desenvolvimento</p><p>psicossexual; para, na sequência, adentrarmos no importante conceito de</p><p>recalque.</p><p>Sobre o recalque, nos deteremos sobre o mecanismo dessa operação</p><p>psicológica para, então, compreender sua importância para a constituição do</p><p>aparelho psíquico tal como concebido na teoria freudiana. Verificaremos</p><p>algumas das consequências que o recalcamento da pulsão acarreta para a</p><p>constituição do aparelho psíquico, tal como a clivagem deste entre consciência</p><p>e inconsciência.</p><p>Por fim, na seção “Na prática”, veremos algumas aplicabilidades do que</p><p>foi desenvolvido e, por fim, retomaremos brevemente ao que foi estudado ao</p><p>longo dela.</p><p>TEMA 1 – O SUJEITO MODERNO</p><p>É comum se atribuir ao filósofo francês Renè Descartes (1596-1650) e ao</p><p>seu Discurso do método, de 1637, a concepção do sujeito moderno. Descartes</p><p>(2005) foi, sem dúvida, um dos pilares da ciência, e sua operação consistiu em</p><p>realizar um corte com a tradição filosófica ao instituir, com base em um</p><p>determinado ceticismo, um ponto de certeza sobre o qual se pôde erigir todo um</p><p>saber. Esse ponto não é um ponto qualquer, mas um ponto em que o sujeito</p><p>desvela o mundo e a si próprio pelo processo do pensamento e da consciência.</p><p>Tendo a dúvida como método, Descartes (2005) suspende quaisquer</p><p>possibilidades de certeza com exceção de uma única, qual seja, a de que se</p><p>4</p><p>duvida; e, portanto, se pensa. Nenhuma realidade externa (res extensa) pode</p><p>garantir ao indivíduo um valor de verdade, haja vista a potencialidade</p><p>enganadora dos seus sentidos; porém, o fato de esse indivíduo estar pensando</p><p>se impõe, daí sua máxima Cogito, ergo sum, ou seja, Penso, logo sou</p><p>(Descartes, 2005).</p><p>Ocorre que o objetivo de Descartes é fixar um princípio que sirva de</p><p>base ao saber. Um ponto de certeza. E é essa decisão que o leva a</p><p>recusar as informações vindas da palavra revelada tanto quanto as</p><p>informações colhidas pelos sentidos. Isso porque os sonhos – quer</p><p>dizer, os sentidos – fornecem dados que são ilusórios. No fim, o terreno</p><p>da realidade sensorial é movediço. Portanto, sua dúvida resulta em um</p><p>ato. Um ato do intelecto. De deixar cair todos os pressupostos. Em</p><p>consequência e ao longo das duas primeiras meditações, ele se despe</p><p>de tudo o que sabe ou acredita saber. Assim sendo, deixa cair alicerces</p><p>que escoram seu saber até ficar nu, a sós com sua razão, momento</p><p>em que uma certeza fulgurante se lhe impõe: a certeza de ser pelo fato</p><p>de pensar. Enquanto pensante, sou. De cogitans, sum. (Cabas, 2009,</p><p>p. 106-107)</p><p>Trata-se, então, não apenas da articulação do ser como sustentado pelo</p><p>processo do pensar, a res cogitans ou substância pensante; mas do próprio</p><p>discurso do saber tomando como objeto o seu agente, ou seja, numa formulação</p><p>em que o pensamento implica o sujeito que o pensa, e o corolário dessa</p><p>operação é um sujeito de conhecimento, dotado de autoconsciência e razão.</p><p>Mas o que é este eu que pensa, e que portanto existe? É um ser</p><p>pensante (res cogitans). O pensamento afirma-se como o atributo</p><p>principal do sujeito, sua essência. Nada mais do que o ato de pensar é</p><p>capaz de defini-lo enquanto “eu” que, sendo assim, não é outra coisa</p><p>do que uma consciência autorreflexiva. É o mesmo “eu” que pensa e</p><p>que, por pensar, descobre-se enquanto “eu”. Assim, “eu”,</p><p>“consciência”, e “sujeito”, são termos equivalentes, cuja essência</p><p>consiste na faculdade de pensar. (Ribeiro, 1995, p. 24)</p><p>Ora, esse sujeito identificado com o pensamento, capaz de conduzi-lo</p><p>pelos caminhos de uma dúvida hiperbólica, levada até as últimas consequências,</p><p>pode, por meio da própria atividade de pensar, conhecer o mundo e a si próprio,</p><p>ou seja, saber sobre si e sobre sua realidade. Trata-se, portanto, do sujeito da</p><p>certeza, da autoconsciência, daquele que coincide consigo próprio, indivisível</p><p>quando reduzido às últimas consequências pelo seu processo de pensar.</p><p>TEMA 2 – O SUJEITO DE DIREITOS E DEVERES</p><p>O advento do sujeito moderno, sua progressiva secularização,</p><p>desvinculando-se das imposições dogmáticas que restringiam seu acesso ao</p><p>conhecimento ou o condicionavam a quaisquer outras alteridades para além do</p><p>5</p><p>próprio sujeito, esse novo sujeito com liberdade de consciência para autogerir</p><p>suas próprias ações, com base na assunção de seu pensamento racional,</p><p>impulsionará outra corrente filosófica que se valeu do conceito de sujeito com</p><p>vistas a criticar e interferir na organização da sociedade. No entanto, foram</p><p>necessárias revoluções que promoveram profundas transformações tanto no</p><p>campo político quanto na própria estrutura social, para que, ao conceito de</p><p>sujeito moderno, fossem incrementadas outras nuances.</p><p>No mais, é justamente a obsolescência dessas estruturas políticas</p><p>(ceifadas no findar do século XVIII pelo cutelo da guilhotina) que</p><p>marcará o fim do Antigo Regime e o advento de um novo laço. Um laço</p><p>onde o súdito – acorrentado à vontade do suserano – é libertado dessa</p><p>tirania pela pura soberania da Lei. A profunda reformulação dos</p><p>fundamentos jurídicos, concluída pela Revolução Francesa, transforma</p><p>o súdito em sujeito. A partir desse momento o sujeito é sujeito da lei.</p><p>Sujeito de direitos e deveres. Sujeito da modernidade – uma</p><p>concepção com a qual concordam e da qual comungam as mais</p><p>diversas correntes da filosofia política. Por esse viés abrem-se as</p><p>portas à questão da cidadania, da mesma maneira que o estatuto da</p><p>subjetividade conduz ao problema dos direitos das minorias. É a</p><p>apologia dos direitos. É a epifania da liberdade subjetiva [...]</p><p>A filosofia política, assim, voltou seu aparato crítico para as relações de</p><p>poder que vigoram nas sociedades para identificar no sujeito seu efeito, e a</p><p>emancipação do ser de pensamento como advento da modernidade resultou em</p><p>uma consciência moral que inevitavelmente precisou perpassar as relações do</p><p>sujeito com o outro.</p><p>De fato, a ideia de sujeito revela uma parte da história das conquistas</p><p>humanas nos campos da moral, da cidadania e dos direitos humanos.</p><p>Isso porque o sujeito não é apenas um ser capaz de agir moralmente,</p><p>já que ele também se apresenta como um portador de direitos e</p><p>deveres, ou seja, ela é capaz de alcançar e assumir a condição de</p><p>cidadão. O sujeito-cidadão se define a partir de sua relação com as</p><p>leis, instituições e esferas de poder. Aqui ele encontra os meios para a</p><p>atuação social e a manifestação da sua consciência política. O sujeito,</p><p>como já mostramos, é determinado por sua individualidade e, da</p><p>mesma maneira, por suas relações e experiências compartilhadas.</p><p>Suas ações cotidianas são orientadas por princípios legais e valores</p><p>morais. É isso, aliás, que define sua condição de sujeito de direitos.</p><p>(Pequeno, 2016, p. 34)</p><p>Teóricos como Foucault, por exemplo, irão justamente apontar seu</p><p>arsenal crítico para denunciar a falta de efetividade dessa formalidade jurídica</p><p>no que diz respeito à liberdade dos sujeitos por ela designados: “No</p><p>entendimento de Foucault, o sujeito é um ponto mínimo imerso numa trama. Um</p><p>elemento sem relevo em meio às pressões de uma microfísica do poder” (Cabas,</p><p>2009, p. 111).</p><p>6</p><p>Vemos, portanto, que o sujeito da filosofia política se define por meio de</p><p>suas relações com o outro, seu semelhante, e com o outro da cultura, da</p><p>estrutura da sociedade objetivada na forma do conjunto de leis, mesmo que</p><p>implícitas. O espaço a ser debatido pelas várias correntes filosóficas, nesse</p><p>âmbito, é o da liberdade que esse sujeito pode gozar nas suas relações sociais,</p><p>numa determinada sociedade, no tempo. Logo, a interrogação recai sobre a</p><p>maquinaria do outro, ou seja, sobre o lugar que uma determinada organização</p><p>social, simbólica, reserva ao indivíduo a ela sujeito.</p><p>Ocorre que, tanto para a filosofia política como para a Crítica</p><p>Contemporânea (a crítica de Foucault), o Sujeito é sempre deduzido.</p><p>Isso significa que é extraído por meio de uma dedução cuja premissa</p><p>reside no Outro. Na presença do grande Outro. Nas relações de poder</p><p>que vigoram numa sociedade dada. Depreende-se que, nesse</p><p>contexto, o Sujeito não representa uma questão. A questão é o Outro.</p><p>Nesse sentido, o Sujeito não é mais que um efeito. O produto de uma</p><p>sobredeterminação. Uma cristalização. (Cabas, 2009, p. 112)</p><p>Essas breves explanações acerca do percurso e das possibilidades que</p><p>o conceito de sujeito ensejou no campo da filosofia nos servirão para melhor</p><p>especificar o conceito de sujeito que a psicanálise irá colocar em pauta, bem</p><p>como aquilatar com mais precisão o valor da subversão que o discurso</p><p>psicanalítico representa.</p><p>TEMA 3 – A PULSÃO</p><p>Um dos mais inovadores e surpreendentes conceitos forjados por Freud</p><p>para dar conta da excentricidade da experiência humana é o conceito de pulsão.</p><p>Substrato último da dimensão econômica da metapsicologia freudiana, o</p><p>conceito de pulsão vem propiciar as bases materiais que sustentam a</p><p>animosidade psíquica, subjacente ao aparelho psíquico e às representações</p><p>inconscientes (Cabas, 2009, p. 56).</p><p>Desde os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, de 1905, Freud já</p><p>chamara atenção para a origem somática das pulsões, isto é, já as localizara em</p><p>zonas erógenas do corpo. Contudo, em 1915, no texto As pulsões e suas</p><p>vicissitudes, Freud (1996) as localiza numa região fronteiriça entre o corpo e o</p><p>psíquico.</p><p>Se agora nos dedicarmos a considerar a vida mental de um ponto de</p><p>vista biológico, um ‘instinto’ nos aparecerá como sendo um conceito</p><p>situado na fronteira entre o mental e o somático, como o representante</p><p>psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e</p><p>7</p><p>alcançam a mente, como uma medida da exigência feita à mente no</p><p>sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo.</p><p>(Freud, 1996, p. 127)</p><p>Importa atentar para o fato de que a tradução utilizada na citação anterior</p><p>decorre da tradução inglesa, em que o termo alemão Trieb, pulsão, foi traduzido</p><p>como instinct, instinto. Esse adendo é absolutamente fundamental, pois nele</p><p>reside uma distorção conceitual de magnitude conhecida em psicanálise.</p><p>Diferentemente do instinto, que se processa de forma intermitente e que possui</p><p>um objeto específico para sua satisfação, a pulsão é uma força constante e não</p><p>possui, como veremos, um objeto específico. Nessas particularidades residem</p><p>algumas das principais diferenças no regime de funcionamento que rege a</p><p>experiência humana e a difere do modo de operação do reino animal.</p><p>Feito esse adendo, voltemos ao texto sobre as pulsões para verificar que,</p><p>nele, Freud (1996) se debruça sobre a estrutura daquelas para decompô-la como</p><p>tendo uma força, que é constante; um fim, que é sempre a satisfação; um</p><p>objeto, que é variável; e uma fonte, que é somática. A finalidade das pulsões é</p><p>a satisfação, e esta consiste na diminuição da excitação infligida ao aparelho</p><p>psíquico, no que a pulsão é imperativa. Trata-se de uma excitação constante</p><p>(Konstant Kraft), sentida como tensão, desprazerosa, proveniente de fontes</p><p>internas (zonas erógenas) que almejam satisfação, ou seja, a redução dessa</p><p>excitabilidade que perturba a homeostase do organismo, ou, nos termos de</p><p>Freud, apoiado no filósofo alemão G.T. Fechner, o princípio da constância.</p><p>Quando uma determinada ação muscular se estende na direção da supressão</p><p>desse estímulo perturbador, o que se tem é a redução dessa tensão e a</p><p>consequente satisfação, sentida como prazer.</p><p>É importante notar que, diferentemente dos estímulos externos que</p><p>podem ser intermitentes, o estímulo provocado pelas pulsões provêm do próprio</p><p>organismo, ou seja, não se pode, portanto, correr de suas investidas e de sua</p><p>premência. Além do mais, no que diz respeito às fontes das pulsões, Freud as</p><p>privilegia como sendo as bordas dos orifícios corporais, por exemplo, a boca e o</p><p>esfíncter anal, o que nos chama atenção para sua estrutura de furo. Adiantamos,</p><p>desde já, que essas características pulsionais, por exemplo, de suas fontes,</p><p>serão fundamentais para a compreensão do que virá a se constituir como</p><p>sujeito, e que nos propomos a abordar.</p><p>De tal modo que o mais importante, nesse contexto, é ressaltar que a</p><p>fonte passa a ter a função de um furo e a causa freudiana o estatuto</p><p>8</p><p>de uma falta. No fundo, isso implica que quando se trata da causa o</p><p>que está em jogo é a falta. E que a falta é a causa do ato e, por</p><p>extensão, que o furo é, no plano pulsional, o sustentáculo material do</p><p>lugar do sujeito. Entende-se: na experiência freudiana. (Cabas, 2009,</p><p>p. 60)</p><p>Essa característica da estrutura</p><p>das fontes pulsionais, por assim dizer,</p><p>hiante, soma-se a outra, a da falta de um objeto inerente, e ambas marcam as</p><p>pulsões com uma característica indelével, a da falta, pois, no que diz respeito</p><p>aos objetos pulsionais, Freud (1996, p. 128) identifica as seguintes</p><p>características:</p><p>O objeto [Objekt] de um instinto é a coisa em relação à qual ou através</p><p>da qual o instinto é capaz de atingir sua finalidade. É o que há de mais</p><p>variável num instinto e, originalmente, não está ligado a ele, só lhe</p><p>sendo destinado por ser peculiarmente adequado a tornar possível a</p><p>satisfação. O objeto não é necessariamente algo estranho: poderá</p><p>igualmente ser uma parte do próprio corpo do indivíduo. Pode ser</p><p>modificado quantas vezes for necessário no decorrer das vicissitudes</p><p>que o instinto sofre durante sua existência, sendo que esse</p><p>deslocamento do instinto desempenha papéis altamente importantes.</p><p>Faz-se importantíssimo ressaltar, mais uma vez, que a tradução utilizada</p><p>no trecho anterior também substituiu o termo alemão Trieb por instinct, ou seja,</p><p>traduziu por instinto o que Freud (1996) denominou pulsão. Como já adiantamos,</p><p>diferentemente do regime instintual dos animais, que se satisfazem com objetos</p><p>específicos, o ser humano é extremamente plástica quanto aos objetos que lhe</p><p>são meios para obtenção de satisfação. Depreende-se, desses aspectos</p><p>estruturais das pulsões, um funcionamento assaz particular, pois, diferente do</p><p>instinto, que vigora e regula o funcionamento animal com demandas</p><p>intermitentes e objetos específicos, a pulsão é uma força constante, e isso se dá</p><p>não apenas em função da morfologia de sua fonte, em forma de furo ou buraco,</p><p>mas também em virtude dessa falta de objeto que lhe é constitutiva.</p><p>De modo que, partindo de uma fonte em forma de furo, não tendo objeto</p><p>específico e sendo, portanto, uma força constante, o que se apresenta é uma</p><p>espécie de montagem aparentemente fadada à insatisfação. Vale lembrar,</p><p>ainda, que as pulsões, como uma medida da exigência feita à mente no</p><p>sentido de trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo,</p><p>precisam ser inscritas no psiquismo para que uma via de acesso a sua satisfação</p><p>se faça reconhecer. Essa inscrição, como veremos, nunca se dá por completo,</p><p>de modo que resta sempre um mais além, pulsional, que insiste.</p><p>9</p><p>TEMA 4 – O RECALQUE</p><p>Tendo como pano de fundo as divergências entre autores que ainda se</p><p>valiam do termo psicanálise para nomear suas práticas, que já não mantinham</p><p>com aquela nenhuma relação, como a de Carl G. Jung, por exemplo, Freud</p><p>(1996) decide resumir, em 1914, A história do movimento psicanalítico, em que</p><p>se refere ao recalque (traduzido erroneamente, a seguir, como repressão) da</p><p>seguinte maneira:</p><p>A teoria da repressão é a pedra angular sobre a qual repousa toda a</p><p>estrutura da psicanálise. É a parte mais essencial dela e todavia nada</p><p>mais é senão a formulação teórica de um fenômeno que pode ser</p><p>observado quantas vezes se desejar se se empreende a análise de um</p><p>neurótico sem recorrer a hipnose. Em tais casos encontra-se uma</p><p>resistência que se opõe ao trabalho da análise e, a fim de frustrá-lo,</p><p>alega falha de memória. O uso da hipnose ocultava essa resistência;</p><p>por conseguinte, a história da psicanálise propriamente dita só começa</p><p>com a nova técnica que dispensa a hipnose. A consideração teórica,</p><p>decorrente da coincidência dessa resistência com uma amnésia,</p><p>conduz inevitavelmente ao princípio da atividade mental inconsciente,</p><p>peculiar à psicanálise, e que também a distingue muito nitidamente das</p><p>especulações filosóficas em torno do inconsciente. Assim talvez se</p><p>possa dizer que a teoria da psicanálise é uma tentativa de explicar dois</p><p>fatos surpreendentes e inesperados que se observam sempre que se</p><p>tenta remontar os sintomas de um neurótico a suas fontes no passado:</p><p>a transferência e a resistência. Qualquer linha de investigação que</p><p>reconheça esses dois fatos e os tome como ponto de partida de seu</p><p>trabalho tem o direito de chamar-se psicanálise, mesmo que chegue a</p><p>resultados diferentes dos meus. Mas quem quer que aborde outros</p><p>aspectos do problema, evitando essas duas hipóteses, dificilmente</p><p>poderá escapar à acusação de apropriação indébita por tentativa de</p><p>imitação, se insistir em chamar-se a si próprio de psicanalista. Eu me</p><p>oporia com maior ênfase a quem procurasse colocar a teoria da</p><p>repressão e da resistência entre as premissas da psicanálise em vez</p><p>de colocá-las entre as suas descobertas. Essas premissas, de</p><p>natureza psicológica e biológica geral, na verdade existem e seria útil</p><p>considera-las em outra ocasião; mas a teoria da repressão é um</p><p>produto do trabalho psicanalítico, uma inferência teórica legitimamente</p><p>extraída de inúmeras observações. (Freud, 1996, p. 26, grifos do</p><p>original)</p><p>No mesmo volume das obras completas que citamos, encontramos o texto</p><p>O recalque, de 1915, prenunciado n’As pulsões e suas vicissitudes. Nele,</p><p>apreenderemos que essa operação psicológica é correlata da cisão do aparelho</p><p>psíquico em atividade consciente e inconsciente, e que sua essência “[...]</p><p>consiste simplesmente em afastar determinada coisa do consciente, mantendo-</p><p>a à distância” (Freud, 1996, p. 152).</p><p>O autor especifica que a ação do recalque incide sobre o representante</p><p>pulsional no sistema psíquico consciente, não impedindo que continue a existir</p><p>no inconsciente e se proliferando no escuro:</p><p>10</p><p>Sob a influência do estudo das psiconeuroses, que coloca diante de</p><p>nós os importantes efeitos da repressão, inclinamo-nos a</p><p>supervalorizar sua dimensão psicológica e a esquecer, demasiado</p><p>depressa, o fato de que a repressão não impede que o representante</p><p>instintual continue a existir no inconsciente, se organize ainda mais, dê</p><p>origem a derivados, e estabeleça ligações. Na verdade, a repressão só</p><p>interfere na relação do representante instintual com um único sistema</p><p>psíquico, a saber, o do consciente. (Freud, 1996, p. 153-154, grifo do</p><p>original).</p><p>O autor especifica que a ação do recalque incide sobre o representante</p><p>pulsional no consciente, mas isso não impede que ele aja sobre “[...] todos os</p><p>derivados” (Freud, 1996, p. 154, grifo nosso), o que possibilita que cadeias de</p><p>associações ideativas possam ascender à consciência. E Freud (1996, p. 157)</p><p>prossegue, ressaltando o caráter móbil das pulsões subjacentes aos seus</p><p>representantes pulsionais:</p><p>Até esse momento, em nosso exame, tratamos da repressão de um</p><p>representante instintual, entendendo por este último uma ideia, ou um</p><p>grupo de ideias, catexizadas com uma quota definida de energia</p><p>psíquica (libido ou interesse) proveniente de um instinto. Agora, a</p><p>observação clínica nos obriga a dividir aquilo que até o presente</p><p>consideramos como sendo uma entidade única, de uma vez que essa</p><p>observação nos indica que, além da ideia, outro elemento</p><p>representativo do instinto tem de ser levado em consideração, e que</p><p>esse outro elemento passa por vicissitudes de repressão que podem</p><p>ser bem diferentes das experimentadas pela ideia. Geralmente, a</p><p>expressão quota de afeto tem sido adotada para designar esse outro</p><p>elemento do representante psíquico. Corresponde ao instinto na</p><p>medida em que este se afasta da ideia e encontra expressão,</p><p>proporcional a sua quantidade, em processos que são sentidos como</p><p>afetos. A partir desse ponto, ao descrevermos um caso de repressão,</p><p>teremos de acompanhar separadamente aquilo que acontece à ideia</p><p>como resultado da repressão e aquilo que acontece à energia instintual</p><p>vinculada a ela. (Freud, 1996, p. 157, grifo do original)</p><p>Ou seja, Freud aponta para a cisão entre a inscrição psíquica de uma</p><p>pulsão, seu representante no campo do inconsciente e sua base material</p><p>econômica, a pulsão propriamente dita. Não nos é possível, nos limites de que</p><p>aqui dispomos, acompanhar em detalhes como Freud (1996) esmiúça o</p><p>mecanismo do recalque, por exemplo, no texto O inconsciente, que se segue ao</p><p>texto d’O recalque, mas contentamo-nos</p><p>em concluir que o mecanismo do</p><p>recalque denuncia a divisão da estrutura psíquica e que incide sobre os</p><p>representantes psíquicos das pulsões parciais. Essa é a via que nos subsidiará</p><p>na compreensão da noção de sujeito para Freud (1996), noção de uma</p><p>subjetividade dividida, clivada entre processos conscientes e inconscientes, bem</p><p>como entre um funcionamento puramente pulsional e outro simbólico.</p><p>11</p><p>TEMA 5 – FASES DA PULSÃO: LIBIDO</p><p>Convencionaram-se chamar de desenvolvimento psicossexual as fases</p><p>em que preponderam diferentes pulsões parciais que vão se somando e se</p><p>sobredeterminando, em um processo que não é linearmente progressivo, mas</p><p>complexo e dinâmico, posto que até regressivo. As pulsões balizadas pela ação</p><p>do recalcamento chamou-se de libido, e o desenvolvimento psicossexual, o</p><p>processo por meio do qual essa libido (pulsão sexual) se desenvolve</p><p>atravessada pelos cinco estágios: as fases oral, anal, fálica, de latência e genital,</p><p>mediadas sempre pelo outro.</p><p>Não nos ocuparemos em detalhar, aqui, cada estágio pelo qual a pulsão</p><p>é atravessada, mas apenas indicaremos que a estruturação da subjetividade</p><p>freudiana passa pelo histórico a que são submetidas as pulsões, no processo de</p><p>desenvolvimento psicossexual das vicissitudes a que as pulsões vão sendo</p><p>expostas, e a conformação subjetiva que se vai adotando por meio dessa</p><p>demarcação.</p><p>Salientamos que esses impulsos que são originados nas zonas</p><p>erógenas são denominados de pulsões. Essas pulsões estão situadas</p><p>na fronteira entre o corpo e a psique dos indivíduos e sempre fazem</p><p>pressão para obterem satisfação. A satisfação está sempre em parte</p><p>relacionada ao próprio corpo e em parte aos objetos externos. Elas</p><p>funcionam independentemente umas das outras e por isso são</p><p>chamadas de pulsões parciais. Seus objetos podem ser os mais</p><p>variáveis possíveis e elas podem encontrar diversos tipos de</p><p>satisfação. Entretanto, a frustração dessas pulsões é que vai</p><p>determinar como as pessoas se relacionam com os outros e com a</p><p>cultura. Daí a importância da educação como agente civilizatório, pois</p><p>é através da educação que a criança passa a tentar ter um domínio</p><p>sobre esses impulsos, sejam eles sexuais ou agressivos. É através da</p><p>internalização das diversas proibições dirigidas a esses impulsos que</p><p>a criança aprende a lidar com seus limites e aprende a conviver em</p><p>sociedade. (Furtado; Vieira, 2014, p. 100)</p><p>Ou seja, as pulsões parciais não são integradas num todo coerente, posto</p><p>que provêm de diferentes fontes e almejam satisfações perpassadas por</p><p>diferentes objetos. Essas satisfações sofrerão ações frustrantes, dentre elas a</p><p>do recalcamento, haja vista que se constituem em etapas primitivas da</p><p>organização do sujeito e não coincidem com os ideais sociais da educação e das</p><p>barreiras psíquicas como nojo, vergonha etc. que vigoram na organização da</p><p>sociedade. A estruturação da subjetividade para Freud, portanto, vai se</p><p>consolidando em torno dessa demarcação que as frustrações vão impondo às</p><p>12</p><p>pulsões, ou seja, em torno das sucessivas frustrações às quais o indivíduo vai</p><p>sendo exposto e que vão modulando os seus imperativos pulsionais.</p><p>O fato é que Freud isolou essas modulações sob o nome de</p><p>“vicissitudes da pulsão” e, indo mais longe, observou que elas</p><p>compreendem uma série de alternativas, como a transformação no</p><p>contrário, o retorno contra a própria pessoa, o recalque e a</p><p>sublimação. Todavia, para além dos pormenores que incidem no</p><p>curso pulsional, para além dos percalços do impulso e para além das</p><p>nuances da modulação, o essencial é que esses destinos imprimem</p><p>uma torção ao circuito da pulsão. O termo merece destaque: torção. E</p><p>tais destinos modulam o impulso de um modo tal que acabam impondo-</p><p>lhe uma inflexão e obrigando-o a fazer o retorno. Assim, o curso se</p><p>completa quando o ciclo pulsional atinge o ponto de partida, a saber, a</p><p>fonte pulsional. E, no exato momento em que o circuito se fecha, um</p><p>efeito se inscreve no lugar de onde brotara o empuxo. Esse ponto</p><p>concerne ao sujeito. O sujeito enquanto determinado pela incidência</p><p>da pulsão.</p><p>Em consequência, temos de postular que a forma da pulsão demarca</p><p>um ponto muito preciso, um ponto específico: o lugar-do-sujeito.</p><p>(Cabas, 2009, p. 68, grifo do original)</p><p>Assim, como defende Cabas (2009, p. 73), o percurso que Freud percorre</p><p>no que diz respeito ao desenvolvimento da pulsão, e que apenas tangenciamos</p><p>aqui, “[...] tem por objeto um único desfecho: dar conta da questão do sujeito”,</p><p>na medida em que esse sujeito é</p><p>“[...] correlato da pulsão, um efeito da satisfação, [...] Que o lugar do</p><p>sujeito é congruente com a fonte pulsional. Que sua materialidade é da</p><p>ordem de um buraco. Que sua substância é da ordem de um furo e</p><p>que, por tudo isso, o sujeito freudiano é – em última instância – um dos</p><p>efeitos do real. (Cabas, 2009, p. 73)</p><p>NA PRÁTICA</p><p>Para efeitos de aplicabilidade prática, sugerimos que sejam tomadas</p><p>como exemplos as discussões a respeito da sexualidade humana, mais</p><p>especificamente, sobre o objeto de satisfação sexual. Como proceder, por</p><p>exemplo, diante do fato de que os objetos de satisfação sexual das pessoas,</p><p>diferentemente dos animais, não são rigidamente determinados pela natureza,</p><p>que não têm objeto inerente e fixo? Um tigre se relaciona sexualmente apenas</p><p>com outro tigre e, ao que tudo indica, sempre do sexo oposto. O mesmo não</p><p>ocorre com a espécie humana cuja sexualidade, para ficar dentro do campo tido</p><p>como normal, sem abordar os comportamentos sexuais patológicos, abrange</p><p>uma quantidade quase que ilimitada de possibilidades.</p><p>Se quisermos nos valer de argumentos com fins meramente reprodutivos</p><p>para determinar a normalidade da vida sexual humana, certamente</p><p>13</p><p>procederemos de modo bastante bizarro, pois não é necessário ir muito longe</p><p>para verificarmos, em nós próprios, a incidência de fantasias que ultrapassam os</p><p>fins reprodutivos e comportam contingências que em nada atendem aos fins de</p><p>reprodução. Ou seja, verificaremos a incidência da pulsão tanto no que diz</p><p>respeito à plasticidade de objetos que satisfazem as pulsões humanas como</p><p>veremos também sua incidência de força constante, haja vista que nossa</p><p>espécie não se restringe a períodos como os de cio.</p><p>FINALIZANDO</p><p>Vimos que a palavra sujeito comporta diferentes significações, desde o</p><p>senso comum, passando pela gramática, até adquirir o status de conceito, em</p><p>diferentes filosofias, com acepções distintas e com diferentes desdobramentos.</p><p>Sua emergência na modernidade decorre do cogito cartesiano, que, por meio da</p><p>dúvida metódica e hiperbólica em relação ao acesso humano à verdade,</p><p>postulou o pensamento como realidade incontestável fundamentando, inclusive,</p><p>na atividade racional a consistência do sujeito (Descartes, 2005).</p><p>Essa emancipação do sujeito como alguém dotado da capacidade de</p><p>pensamento pavimentou diferentes concepções, inclusive com implicações</p><p>práticas, por exemplo, para a filosofia política, o que culminou com o sujeito dos</p><p>direitos humanos, que, como vimos, se define como o efeito das relações com</p><p>os outros indivíduos no interior de uma dada organização social e tem como</p><p>premissa o estatuto da cidadania, resguardado pelo conjunto de normas e leis</p><p>que nessa estrutura vigora e ao qual aquele se assujeita.</p><p>Essas referências nos serviram de contraste para especificar o espaço</p><p>que a teoria freudiana iria descobrir para aquilo que veio a se desenvolver como</p><p>o lugar do sujeito. Para tanto, iniciamos pela conceituação que Freud faz do</p><p>conceito de pulsão, localizando-o na fronteira entre o psíquico e o somático,</p><p>como uma exigência feita à mente pelo fato de ela não prescindir de um corpo</p><p>para advir. Fomos advertidos em relação à leitura do termo instinto, que, na</p><p>literatura freudiana, deve ser sempre lido como pulsão, pois trata-se justamente</p><p>de um conceito delimitador do campo inaugurado por Freud e que desvincula a</p><p>psicanálise</p><p>das teorias biológicas.</p><p>Vimos ainda que Freud operou uma espécie de desmontagem da pulsão,</p><p>identificando nela uma fonte, no corpo, que são as zonas erógenas; uma força,</p><p>que é constante (Konstant Kraft); um fim, que é obter a satisfação por meio da</p><p>14</p><p>redução da excitação desprazerosa que atenta contra o princípio da constância;</p><p>e um objeto, que é variável posto que não é inerente à pulsão. Essas</p><p>características conferem à pulsão uma montagem que parece fadada à</p><p>insatisfação, por si própria, na medida em que ela provem de uma estrutura em</p><p>forma de furo ou buraco e que não dispõe de um objeto que lhe seja inerente.</p><p>Não obstante, fomos ainda levados a compreender melhor uma das vicissitudes</p><p>à qual as pulsões são impostas e que dificulta ainda mais e particularmente suas</p><p>satisfações, a saber, o recalque.</p><p>Tido por Freud como a pedra angular da psicanálise, vimos que o</p><p>recalque opera afastando da consciência os representantes das pulsões, e que</p><p>estas continuam operando no sistema inconsciente, o que nos fez concluir que,</p><p>diferentemente do cogito cartesiano ou do sujeito da filosofia política, a noção de</p><p>sujeito para Freud se dispõe de tal modo que comporta uma divisão</p><p>intrapsíquica, um conflito inerente entre processos conscientes e inconscientes,</p><p>bem como entre um funcionamento puramente pulsional e outro simbólico.</p><p>Continuamos ainda verificando que as pulsões seguem um curso de</p><p>desenvolvimento em que o traço principal é sua superposição, bem como a</p><p>existência de processos de modulação, de resistência aos fins por elas</p><p>almejados. Por fim, concluímos que a estruturação da subjetividade freudiana se</p><p>dá em torno das sucessivas faltas impostas às satisfações pulsionais, e que a</p><p>posição subjetiva se constitui em torno dessas obstruções, por assim dizer, que</p><p>imprimem nas pulsões uma marca de insatisfação de onde emerge o sujeito</p><p>como um dos efeitos do real.</p><p>15</p><p>REFERÊNCIAS</p><p>CABAS, A. G. O sujeito na psicanálise de Freud a Lacan: da questão do</p><p>sujeito ao sujeito em questão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.</p><p>DESCARTES, R. Discurso do método. Porto Alegre: L&PM, 2005.</p><p>FREUD, S. A história do movimento psicanalítico, artigos sobre a</p><p>metapsicologia e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1996. (Edição</p><p>standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, v. 14).</p><p>FURTADO, L. A. R.; VIEIRA, C. A. L. A psicanálise e as fases da organização</p><p>da libido. Scientia, v. 2, n. 4. p. 92-107. Disponível em:</p><p><http://www.faculdade.flucianofeijao.com.br/site_novo/scientia/servico/pdfs/Scie</p><p>ntia_4/Psicologia/A_PSICANALISE_E_AS_FASES_DA_ORGANIZACAO_DA_</p><p>LIBIDO_Luis_Achiller_Rodrigues_Furtado_Camilla_Araujo_Lopes_Vieira.pdf>.</p><p>Acesso em: 1 abr. 2022.</p><p>PEQUENO, M. J. P. O sujeito dos direitos humanos. In: FERREIRA, L. de F. G.;</p><p>ZENAIDE, M. de N. T.; NADER, A. A. G. Fundamentos histórico-filosóficos e</p><p>político-jurídicos. João Pessoa: Ed. UFPB, 2016. (Educando em Direitos</p><p>Humanos, v. 1).</p><p>RIBEIRO, E. E. M. Individualismo e verdade em Descartes: o processo de</p><p>estruturação do sujeito moderno. Porto Alegre: Edipucrs, 1995.</p>