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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6584-4 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 8 4 4 Código Logístico 59181 Sabe-se que, independentemente do nível de ensino, para que o trabalho docente ocorra, é necessário planejamento, rotinas e avaliação, com conteúdo e objetivos claros que garantam o processo de ensino- -aprendizagem. Além disso, é fundamental que os professores e os alunos possam contar com o amparo e auxílio do pedagogo. Com base em todas essas questões, é ressaltado, no decorrer dos capítulos deste livro, o papel do pedagogo – desde a educação infantil até o ensino médio –, buscando reflexões que possam enriquecer o significado da educação básica e sua qualidade. PRISCILA CHUPIL PR ISC ILA C H U PIL ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO BÁSICA Organização didática da educação básica Priscila Chupil IESDE 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: karen roach/Evgeny Karandaev/Shutterstock envatoelements CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C487o Chupil, Priscila Organização didática da educação básica / Priscila Chupil. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 88 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6584-4 1. Ensino - Metodologia. 2. Prática de ensino. 3. Educação pré-escolar. I. Título. 19-61713 CDD: 371.3 CDU: 37.026 Priscila Chupil Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário Internacional (Uninter). Professora no ensino superior, ministrando as disciplinas de Didática e Gestão Escolar. Atua também como psicopedagoga clínica. SUMÁRIO 1 O trabalho do pedagogo na educação infantil 9 1.1 Características das crianças da educação infantil 10 1.2 A educação infantil e sua função social 17 1.3 Múltiplos papéis do pedagogo na educação infantil 20 2 Organização didática na educação infantil 23 2.1 Planejamento e práticas educativas 24 2.2 A metodologia no ensino de crianças pequenas 28 2.3 Avaliação na educação infantil 31 3 Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 37 3.1 Processo de transição e adaptação para o ensino fundamental 37 3.2 Identidade do pedagogo nos anos iniciais do ensino fundamental 40 3.3 Planejamento com os professores 44 3.4 Métodos e metodologia para enriquecer o trabalho docente 46 3.5 Orientações para avaliação 52 4 Organização didática do ensino fundamental – anos finais 56 4.1 Da infância para a adolescência 56 4.2 O papel do pedagogo nos anos finais do ensino fundamental 59 4.3 Métodos para atrair a atenção dos alunos 61 4.4 Como avaliar? 63 5 Desafios do pedagogo no ensino médio 67 5.1 A idade da pressão 67 5.2 A formação continuada do professor para além da sua especialização 70 5.3 O papel do pedagogo no ensino médio e na educação profissional 73 6 Organização didática do ensino médio e da educação profissional 77 6.1 Envolvendo os professores e os alunos no aprendizado 77 6.2 Projetos interdisciplinares e o Enem 80 6.3 A escola e as novas exigências da sociedade contemporânea 83 7 Gabarito 85 APRESENTAÇÃO Sabe-se que, independentemente do nível de ensino, para que o trabalho docente ocorra, é necessário planejamento, rotinas e avaliação, com conteúdo e objetivos claros que garantam o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, é fundamental que os professores e os alunos possam contar com o amparo e auxílio do pedagogo. Nesse viés, no primeiro capítulo, discorremos sobre o trabalho do pedagogo na educação infantil, reconhecendo inicialmente as características das crianças nessa faixa etária, a função social dessa etapa da educação, bem como o papel do pedagogo nessa fase. No segundo capítulo, tratamos da organização didática na educação infantil em que, pautados nos conhecimentos do Capítulo 1, será possível visualizar os planejamentos e práticas educativas, bem como metodologias e a avaliação pertinente à criança pequena. O terceiro capítulo propõe reflexões sobre a organização didática no ensino fundamental – anos iniciais. Em especial, esse capítulo trata inicialmente da transição entre a educação infantil e o ensino fundamental – anos iniciais e suas implicações. Além dessa questão, é abordado o reconhecimento do papel do pedagogo nesse nível, assim como sua atuação frente ao planejamento dos professores, com metodologias que possam enriquecer o trabalho em sala de aula e a avaliação. Ainda a respeito do ensino fundamental, o quarto capítulo tratará dos anos finais. Iniciamos com uma reflexão sobre o processo de transição entre a infância e a adolescência. Veremos também o papel do pedagogo, bem como sua atuação com os alunos e professores dessa etapa, fora de sala de aula. No quinto capítulo, tratamos os desafios do pedagogo no ensino médio. Inicialmente, refletimos sobre a idade típica do ensino médio, suas características e desafios. Nesse contexto, surgem novos desafios para o pedagogo e para o professor, que vão além de sua formação inicial. Tratar dessas questões e do papel do pedagogo no ensino médio é uma questão necessária. No último capítulo, abordamos a organização didática do ensino médio e da educação profissional, assim como o envolvimento efetivo entre professores, alunos e pedagogo nesse processo. Será ressaltada a necessidade de reflexão sobre novas metodologias e projetos interdisciplinares que atinjam a abrangência de exigências do aluno nessa faixa etária, voltadas a sua formação para os vestibulares e o Enem. Com base em todas essas discussões, será ressaltado, no decorrer dos capítulos, o papel do pedagogo na educação básica, do início ao fim, buscando reflexões que possam enriquecer o significado da educação básica e sua qualidade. Bons estudos! O trabalho do pedagogo na educação infantil 9 O trabalho do pedagogo na educação básica, em todos os seus aspectos, seja em sala de aula ou no acompanhamento de todos os processos dentro da escola, requer muita organização, além de direcionamento e clareza. Isso é oportunizado pela for- mação pedagógica. Dessa forma, o pedagogo pode assumir o trabalho em sala de aula como professor, desde a educação infantil até o quinto ano do ensino fundamental, ou como gestor, coordenador e orienta- dor no ensino fundamental anos finais e ensino médio, acompa- nhando, assim, o trabalho dos demais professores. Diante da complexidade que envolve todos esses níveis, inicial- mente, é preciso compreender o trabalho do pedagogo no nível que é base de desenvolvimento de todos os outros: a educação infantil. Organizar os processos didáticos nessa fase escolar é um gran- de e prazeroso desafio. Essa organização tem por responsabilida- de o desenvolvimento humano, em que cada processo tem um valor imensurável, especificidades únicas, e necessita de um cui- dado especial. Mas o que torna esse momento tão importante? Que caracte- rísticas correspondem ao universo infantil da criança entre zero e cinco anos? Para compreender melhor algumas questões iniciais, vamos tratar, neste capítulo, da função social desse primeiro con- tato da criança com a escola, o qual é determinante para todo o seu desenvolvimento escolar. Trataremos também das características das crianças da educa- ção infantil, conhecimento fundamental para que o professor pos- sa organizar, planejar e executar suas aulas. Vamos lá? O trabalho do pedagogo na educação infantil 1 10 Organização didática da educação básica Estágio sensório-motor: compreende o primeiro estágio do desenvolvimento,relevante em todos os aspectos da vida. Ao implantar nossa identidade, realçamos nosso modo de pensar, agir e viver que foram construídos com base em nos- sa educação e nossas vivências. Nesse sentido, a identidade profissional também é desenvolvida por meio de estudos, vivências e experiências, que devem nos levar a acreditar e desenvolver o trabalho de maneira ética e coerente com o papel que ocupamos. Essa mudança de papel, ora professor, ora coor- denador, ou ainda atuando em ambientes empresariais, cabe muito bem na formação do pedagogo, uma vez que o profissional de pedago- gia pode atuar nas mais diferentes organizações voltadas ao trabalho com educação, como escolas, empresas, ONGs e hospitais. Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 41 Com relação à identidade do pedagogo, construída ao longo de seus estudos e de sua experiência profissional, Marcelo (2009) reconhece a identidade profissional como um processo de aprendizagem ao lon- go da vida, visto que seu desenvolvimento é interminável. Nessa pers- pectiva, faz-se necessário considerar que os professores e pedagogos precisam constantemente questionar-se: “Quem eu quero ser?” e, com isso, buscar saber qual é o seu espaço na sociedade. Brzezinski (2011, p. 122) afirma também que a identidade profissional é uma identidade coletiva, pois vai se delineando. E no caso do pedagogo, tal como o professor, as re- lações de trabalho se estabelecem no interior da escola, no con- texto da comunidade, mas o pedagogo, por força de lei em vigor, atua também em espaços não escolares. Dessa forma, a atuação do pedagogo se amplia a diferentes áreas, e sendo estas relevantes em todos os campos de atuação e níveis, vamos pensar agora no que se refere especificamente ao ensino fundamental. Quais saberes e questões devem ser considerados pelo pedagogo para firmar sua identidade e personificação em sua prática? Inicialmente, é preciso deixar evidente que a escola precisa dos sa- beres e das práticas que o pedagogo realiza. Para Pimenta (1996, p. 248), o “fazer pedagógico que ultrapassa a sala de aula, configura-se como essencial na busca de novas formas de organizar a escola para que esta seja efetivamente democrática’’. As DCN para o curso de Pedagogia definem o pedagogo como pes- soa habilitada para atuar no ensino, na gestão e na organização de projetos educacionais, sistemas, unidades e na produção e difusão do conhecimento, nas mais diversas áreas da educação, tendo a docência como base obrigatória de sua formação e identidade de profissional. Com isso, o papel da formação inicial do pedagogo remete ao trabalho em sala de aula. Porém, sua formação abrange outras áreas que se responsabilizam frente ao trabalho docente e à organização escolar. Nesse momento, vamos evidenciar a identidade do pedagogo en- quanto professor do ensino fundamental e refletir sobre essa identida- de, a qual é construída desde os anos iniciais de sua formação, durante a graduação, até o que os anos de prática em sala de aula o transfor- mam, por meio de suas experiências. 42 Organização didática da educação básica Nesse sentido, podemos considerar a importância da práxis, isto é, a relação entre teoria e prática, que traz sentido ao que o professor faz em sala de aula e contribui para o desenvolvimento da sua identidade frente a sua ação. O conceito de práxis remete ao processo de reflexão-ação-reflexão. O ato de refletir sobre a sua prática e agir sobre ela torna o profes- sor muito mais próximo da realidade e capaz de pensar em estratégias para mudar sua prática – mudanças essas tão necessárias diante dos desafios diários da sala de aula, em especial no ensino fundamental. Nessa etapa, os desafios do pedagogo/professor estão relacionados inicialmente ao processo de alfabetização e letramento. A alfabetização, além de representar fonemas (sons) em grafe- mas (letras), no caso da escrita, e representar os grafemas (le- tras) em fonemas (sons), no caso da leitura, os aprendizes, sejam eles crianças ou adultos, precisam, para além da simples codi- ficação/decodificação de símbolos e caracteres, passar por um processo de ‘compreensão/expressão de significados do código escrito’. (PARANÁ, 2015, p. 7) O trabalho minucioso com fonemas e grafemas faz parte de um primeiro momento e deve ser desenvolvido com total clareza, pois é a base para uma boa compreensão escrita durante os processos de alfabetização e letramento. De acordo com Soares (2013), esses dois processos introduzem a criança e o adulto que ainda não passou pelo processo de alfabetiza- ção ao mundo da escrita. Segundo a autora, a alfabetização é o processo pelo qual a criança adquire o sistema con- vencional de escrita, enquanto o letramento se refere ao desenvolvimento do uso desse sistema em práticas de leitura e escrita. A alfabetização é um proces- so complexo e que não ocorre somente nos anos iniciais. Ler e es- crever é um dos princi- pais objetivos dos anos iniciais, porém letrar e inserir o aluno em um Figura 2 A alfabetização é um dos principais objetivos dos anos iniciais. wavebreakmedia/Shutterstock Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 43 mundo de criticidade e interpretação da realidade é um processo que se estende por todo o ensino fundamental e que deve ser objeto de preocu- pação e constante trabalho do pedagogo que atua nesse nível de ensino. Saber as especificidades dessa etapa e desenvolver um trabalho que venha ao encontro dessas características, muitas vezes, direciona o pedagogo a se tornar um especialista em alfabetização – o que abran- ge um campo de muitas descobertas e novas possibilidades. Contudo, o ensino fundamental traz outros desafios, relacionados à continuidade desse processo ao longo dos demais anos, e que vão ser tratados na próxima seção. Por isso, a identidade do pedagogo en- quanto professor dessa etapa vai se expandindo no que se refere à formação continuada, para a compreensão especificamente em letra- mento, criticidade e autonomia e, ao trabalhar com habilidades e com- petências, contribui para o ser cidadão. A identidade do pedagogo no ensino fundamental pode ser cons- truída como professor e como gestor, ou seja, aquele que acompanha o andamento do trabalho desenvolvido na escola, o trabalho do profes- sor, seu sucesso e insucesso. Conforme Lück (2013, p. 39), é importante ter em mente que o fracasso escolar de um aluno não acontece apenas no final do ano e nem por acaso, ou por culpa do professor. Ele acontece no dia a dia, desde as primeiras aulas do ano letivo, a partir de pequenas aprendizagens que dei- xam de acontecer, que ficam desatendidas pelos professores e que vão se acumulando no dia a dia, gerando mais dificuldade, insucessos e construindo gradualmente uma atitude discente negativa em relação ao processo de aprender. Nessa perspectiva, o gestor assume grande responsabilidade sobre o que acontece também em sala de aula, uma vez que participa indire- tamente do planejamento do professor, com orientações, por meio do contato com os pais, da estruturação do currículo e demais demandas que envolvam a aprendizagem dos alunos. Entendemos, assim, que a busca pela identidade do pedagogo no ensino fundamental estará pautada na sua escolha de atuação, no aprofundamento teórico realizado frente a essa escolha e, principal- mente, na sua predisposição, tão característica da pedagogia, que sig- nifica o compromisso transformador frente aos educandos, seja em sala de aula seja como gestor desse processo. 44 Organização didática da educação básica 3.3 Planejamento com os professores Videoaula Pensar no papel do pedagogo no ensino fundamental pode remeter ao trabalho como gestor, direcionado aos professores, com orientação direta de seu trabalho e planejamento. Ao pensar em planejamento nessa etapa, inicialmente, o pedagogo deve orientar o professor sobre alguns cuidados específicos, como a atenção relativa à diversidadecul- tural e cognitiva que se pode encontrar nas turmas, principalmente no período de alfabetização e letramento. Outro fator que merece especial atenção do pedagogo ao realizar essas orientações é a delicadeza da transição entre a educação infantil e o ensino fundamental. O pedagogo, nesse sentido, é o profissional responsável por abrir caminhos que tragam ao trabalho do professor mais sentido e significado, buscando soluções para situações cotidia- nas e processos em sala de aula. Sabemos que, nos anos iniciais do ensino fundamental, o professor é o responsável por ministrar praticamente todas as disciplinas, com exceção de Arte e Educação Física, que competem aos profissionais for- mados nessas áreas. Cabe então trabalhar com as demais disciplinas a fim de tornar os saberes integrados e investir em desenvolver habilida- des e competências nessas áreas. Assim, planejar adequadamente cada aula e cada momento requer criatividade, busca de soluções para contemplar os alunos que apresen- tam dificuldades na aprendizagem, bem como para aqueles que possuem facilidades ao aprender, uma vez que demandam um tempo de planeja- mento individualizado com atividades complementares. Nesse momento, o pedagogo surge como um apoiador desse processo, aquele que acom- panha esse trabalho e, com o professor, busca caminhos e soluções. Essas novas soluções abrangem a necessidade de inovar os pro- cessos didáticos, propor novas metodologias, novas visões diante das dificuldades e facilidades de aprendizagem. Abrir novos caminhos e desenvolver novos pensamentos faz parte do trabalho do pedagogo frente aos professores. Essas orientações e esses acompanhamentos podem ocorrer confor- me a organização de trabalho do pedagogo, sendo semanalmente ou quinzenalmente, com reuniões específicas ou em grupo. O importante Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 45 é a manutenção diante do que é feito e produzido e, principalmente, a intencionalidade de melhorar e ampliar o que é feito. Além disso, o apoio por parte do pedagogo é importante quando há contato dos professores com os pais, oferecendo respaldo aos docentes diante de dúvidas e con- flitos para que as informações sejam claras e direcionadas à necessidade do momento. Por ser o início de uma nova fase e novas adaptações, nesse período do ensino fundamental, não somente as crianças, mas também as famílias passam por um momento de dúvidas e descobertas. Consequentemente, recorrem ao professor e ao pedagogo para que, por meio de um trabalho integrado, prezem pelo desenvolvimento da criança. Todo esse caminho a ser desenvolvido pela escola para que a apren- dizagem da criança ocorra, bem como a forma de trabalho e o que será desenvolvido, é registrado e seguido por meio do currículo, documento que traz diretamente o que deve ser trabalhado em cada ano. Por isso, ele deve ser revisto e atualizado com frequência. Para esclarecer dúvidas de pais e apresentar a proposta curricular da escola, o pedagogo deve ter o currículo como algo vivo e em constante transformação. Nesse momento, ele deve contar com o auxílio do profes- sor, pois é ele quem está à frente em sala de aula, logo, ele percebe o que pode ser melhorado e ampliado a cada ano. Dessa forma, é perceptível a necessidade, mais uma vez, de se estabelecer um trabalho integrado entre professor e pedagogo, em que este realizará um trabalho não de fiscalizador, mas de orientador da prática docente, integrado nas deman- das diárias. Dentro dessas demandas, o pedagogo precisa também preocupar- -se com outras tarefas que envolvem sua função, como a de participar da escrita e atualização do Projeto Político Pedagógico (PPP); realizar os conselhos de classe; registrar atas; elaborar pautas a serem discutidas; integrar-se no convívio com as famílias e, tudo isso, sem perder a essência da atuação em sala de aula. Desse modo, seu trabalho estará mais voltado às reais necessidades dos professores e da escola como um todo. Portanto, ainda que em posição de gestor, o pedagogo deve pensar na realidade da sala de aula e contribuir positivamente para esse espa- ço em conjunto com o professor, visando um objetivo único: a aprendi- zagem dos alunos. Por isso, a qualidade do trabalho dos professores é 46 Organização didática da educação básica uma responsabilidade conjunta e de interação para garantir e otimizar a aprendizagem. Dessa maneira, o pedagogo deve priorizar uma boa comunicação, clara e ética, que transmita informações necessárias, sem dúvidas, re- ceios ou constrangimentos, com o intuito de um trabalho que vise ao crescimento mútuo e à busca de um mesmo objetivo, e não que se torne algo impositivo ou fiscalizador. Esse auxílio frente ao planejamento e, consequentemente, à forma- ção docente reflete nas relações de aprendizagem dentro da escola, pois um educador-educando que permite que o educando, enquanto aprende, também ensine, tornando-o um educando educador. […] Isso implica em todo educando e educador como sujeitos de saberes, inacabados como seres humanos com possibilidades de formarem-se como sujeitos críticos, reflexivos, capazes de re- fletirem sobre sua própria prática, no sentido de transformá-la. (SANTOS, 2009, p. 128) Logo, o pedagogo e o professor aprendem mutuamente durante todo o processo e constroem caminhos adequados à aprendizagem dos alunos, superando desafios e elaborando práticas diferentes e sig- nificativas a cada momento. 3.4 Métodos e metodologia para enriquecer o trabalho docente Videoaula Ao pensar em como a as aulas devem ser desenvolvidas no ensino fundamental, inicialmente, devemos entender a diferença entre o que é método e o que é metodologia, pois essa compreensão levará o pro- fissional à clareza do que será elaborado. O método de ensino se refere a uma postura geralmente adotada pela escola e que reflete a forma de ensinar e conduzir os processos em sala de aula daquela instituição. Podemos ter, por exemplo, os mé- todos mais tradicionais de ensino, em que o centro do processo é o professor e o aluno é um expectador e receptor de conhecimentos. Outro exemplo é o método de ensino construtivista, em que as prá- ticas têm como centro do processo de aprendizagem o aluno. Este pos- sui um papel ativo e de construção do conhecimento com o professor, em que trabalham e constroem juntos. Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 47 Já a metodologia consiste na opção de práticas efetivas de sala para que a aprendizagem aconteça. Essas metodologias podem variar con- forme a intencionalidade do professor, o número de alunos, ou até mes- mo a proposta da escola. Por exemplo, uma escola que segue um método construtivista, pode trabalhar com metodologias ativas, pois elas colocam o aluno como protagonista da sua aprendizagem e são responsáveis pelo ato de aprender com autonomia e cri- ticidade. Contudo, a metodologia escolhida pelo professor em de- terminado momento pode ser também um trabalho individua- lizado e mais voltado à atenção sem, necessariamente, a inte- ração entre alunos, ou seja, as metodologias alteram conforme cada aula e intenção. Dessa forma, para que o pedagogo oriente o professor em seu pla- nejamento, ele precisa ter claro inicialmente o método e a metodologia adotados pela escola em que atua. Após conhecer o método adotado, é o momento de escolher as me- todologias adequadas para o ensino fundamental – ano iniciais. A esco- lha da metodologia pode estar relacionada às características dos alunos Figura 3 O método de ensino tradicional tem o professor como centro do processo de ensino-aprendizagem. Figura 4 Metodologias recentes propõem mais autonomia para que o aluno seja o prota- gonista de sua aprendizagem. Iakov Filimonov/S hu tte rs to ck Iakov Filimonov/Shutterstock ou da turma no geral, uma vez que adequações podem ser feitas para ir ao encontro das necessidades dos educandos. 48 Organização didática da educação básicaAs metodologias que compõem o dia a dia em sala de aula são as mais variadas e contam com uma diversidade de possibilidades de ade- quações, as quais podem ocorrer de um nível para outro, por exemplo, um determinado tipo de trabalho em grupo no ensino médio pode ser adaptado para ser utilizado no ensino fundamental. Entre os recursos a serem utilizados nas metodologias em sala de aula, a tecnologia é considerada um dos maiores desafios das escolas contemporâneas. Isso porque não basta tê-la, é preciso saber usá-la como ferramenta integrada às demais metodologias, uma vez que é um instrumento próximo da realidade do aluno. Por exemplo, as tecnologias podem ser utilizadas por meio de jogos interativos, apoio ou comple- mento ao que se foi desenvolvido previamente. Os recursos tecnológicos podem ser utilizados como metodologia de diferentes formas: por meio de aplicativos para a realização de exercí- cios, exposição de conteúdo via apresentações previamente preparadas pelo professor, uso de vídeos e sites interativos para exemplificar teorias. De qualquer modo, é um recurso que pode ser utilizado para o desenvol- vimento de uma metodologia a fim de trazer diferentes possibilidades de aprendizagem. O aluno do ensino fundamental já espera e acolhe muito bem a utilização desses recursos nas aulas, pois estão em uma fai- xa etária extremamente competitiva, curiosa e aberta a novos desafios e conhecimentos, geralmente de maneira espontânea e interessada. Publicado no portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia, o artigo Facilitar a aprendi- zagem: ajudar aos alunos a aprender e a pensar, do autor Leandro S. Almeida, traz uma reflexão sobre a forma com que o professor direciona suas aulas e estabelece o contato com o aluno e o conhecimento. Esse contato ocorre durante todo o ano letivo, por meio do planejamento e da execução das práticas do professor em sala de aula. Acesso em: 22 jan. 2020. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-85572002000200006&script=sci_abstract&tlng=pt Artigo Seja qual for o método ou a metodologia escolhida, o objetivo é o mesmo: a formação sólida dos alunos, de modo que eles percebam a beleza e a diversidade encontrada nas formas de aprender e obter o conhecimento. Ninguém melhor do que o pedagogo, especialista em aprendizagem e em métodos, para refletir e criar com sua equipe de professores as melhores estratégias com esses recursos. Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 49 Apesar disso, as metodologias ativas são o grande desafio encon- trado nas escolas no ensino fundamental. Mas o que são essas meto- dologias? Como planejá-las? Como aplicá-las? Nem sempre é tão fácil inseri-las no cotidiano escolar pelo fato de ser algo novo e, muitas ve- zes, ainda não incluso na formação docente. 3.4.1 Metodologias ativas Para destacar a importância do uso das metodologias ativas, é ne- cessário compreender de fato o que são essas abordagens e como a forma de aprender está diretamente ligada a elas. Moran (2017b, p. 2) define metodologias ativas da seguinte forma: São estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada, híbrida. [...] A junção de metodologias ativas com modelos flexíveis, híbridos traz contribuições impor- tantes para o desenho de soluções atuais para aprendizes de hoje. A proposta das metodologias ativas apresenta um novo modelo para permanência de interesse nos estudos na vida do aluno, com a intenção de mostrar um novo olhar sobre a educação. Uma proposta de inovar com projetos, aulas invertidas, pesquisas, discussões, prática, professor mediador e aluno ativo são possibilidades de uma educação significativa a todos os envolvidos dentro do processo de aprendizagem. Para se trabalhar com metodologias ativas, inicialmente, é neces- sário que a escola tenha bem definido fatores como as características particulares que cada região do território brasileiro apresenta. Assim como a economia e a cultura da comunidade escolar, que apresenta uma grande diversidade nas regiões, a adaptação ao contexto é neces- sária dentro da realidade de cada escola. Por isso, generalizar o ensino é uma opção contraditória para o ce- nário brasileiro. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), a igualdade é necessária somente no sentido de ofertar a todos uma educação que compreenda as singularidades de atendimento de cada aluno e garanta sua permanência na escola. Já a equidade tem um viés de respeitar as particularidades do aluno e a região pertencente. Assim, diante de todas as atribuições do pedagogo, vale ressaltar também o seu papel em orientar e trazer esse novo contexto para o dia a dia do professor, visto que as metodologias ativas devem ser suas aliadas, auxiliando para aulas mais dinâmicas, compartilhamento dos 50 Organização didática da educação básica conteúdos, envolvimento maior dos alunos nas atividades propostas e uma visão mais ampla das dificuldades, construindo, assim, estratégias para contorná-las. Como argumento e comprovação da necessidade de práticas me- todológicas diferenciadas, a pirâmide de Dale (1969 apud CAMARGO; DAROS, 2018) apresenta formas diferentes de aprendizagem, asso- ciadas ao percentual de retenção do conhecimento, em que o aluno encontra-se passivo em assistir a uma palestra, realizar uma leitura, utilizar recursos audiovisuais ou uma simples demonstração; em con- trapartida, está ativo ao discutir em grupos com argumentos, praticar o conhecimento e ensinar os outros. Dessa forma, o pedagogo pode ter clareza da necessidade de me- todologias inovadoras, e transmiti-la aos professores. Para um proces- so de aprendizagem mais significativo, dentro da realidade, podemos contar com alguns exemplos de metodologias ativas, como a apren- Figura 5 Pirâmide de Dale 5% 10% 20% 30% 50% 75% 85% Percentual de retenção do conhecimento Assistir a uma palestra (escutar) Ler Utilizar recursos audiovisuais Demonstrar/ uso imediato Argumentar/ discussão em grupo Praticar o conhecimento Ensinar os outros Passivo Ativo Fonte: Camargo e Daros, 2018. Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 51 dizagem em espiral, o mapa mental e o storytelling (narração de histórias), sugeridos por Camargo e Da- ros (2018). A aprendizagem em espiral desenvolve as com- petências: ampliação de conceitos, síntese, siste- matização de conhecimentos, análise de conteúdos mais complexos, comparação, expressão de opinião (oral e escrita) acerca de um assunto, comunicação, estudo colaborativo e associação de ideias. Essa estratégia permite exercícios argumenta- tivos e parte da ideia de que, de modo individual, o aluno expõe seus pensamentos por meio de um texto selecionado pelo docente, mesmo que não tão bem elaborado e com poucos argumentos. O mapa mental desenvolve a capacidade de sin- tetizar, ordenar, organizar e associar as ideias com o intuito de aprimorar a aprendizagem e a memoriza- Figura 6 Aprendizagem em espiral Pensar Analisar Sintetizar Argumentar Aplicar Pensar Analisar Sintetizar Aplicar Ab er t/ Sh ut te rs to ck ção. Utilizando uma abordagem não linear de encadeamento de infor- mações, esse recurso permite ao cérebro conseguir armazená-las de maneira sintetizada. Ele retrata, nos mínimos detalhes, a relação conceitual entre as in- formações do conteúdo ou texto a ser trabalhado, as quais tendem a estar fragmentadas e difusas, tanto em textos curtos quanto longos, dificultando a memorização e assimilação do conteúdo. Esse recurso ilustra ainda ideias e conceitos – como a relação de simetria e de causa e efeito – de modo inteligente, permitindo ligações rápidas em forma de resumo para melhor compreensão. O storytelling (narração de história) desenvolve as competências de argumentação oral e escrita, criatividade, cooperação, colaboração e empatia. Essa estratégia é utilizada paraaprimorar as habilidades de contar e inventar histórias por meio de um determinado personagem. A personagem pode ser real ou inventada pelos alunos – isso muda de acordo com a matéria e o assunto estudado. Para utilizar o storytelling, é necessário iniciar a abordagem com uma situação-problema e pro- porcionar aos alunos uma exposição do tema. 52 Organização didática da educação básica A parte central dessa estratégia é a personagem, a qual deverá ter desejos, necessidades, problemas, conflitos ou obstáculos; além de passar por transfor- mações no decorrer da história. O aluno deverá tam- bém criar algo concreto dessa personagem, proporcionando mais vida e enriquecendo mais sua história. Com essa estratégia, os conceitos abstratos passam a ser mais concretos e os alunos vivenciam uma sensibilidade maior com as histórias compartilhadas. Tais metodologias enriquecem o trabalho em sala de aula e, no geral, são muito bem aceitas pelos alu- nos do ensino fundamental, que, por sua faixa etária, se sentem mais motivados em expressar-se, expor suas ideias, compartilhar e construir conhecimentos com os colegas. nf ss tu di 0/ Sh ut te rs to ck Figura 7 O storytelling desenvolve competências como argu- mentação oral e escrita e criatividade. 3.5 Orientações para avaliação Videoaula Assim como as metodologias, as rotinas e a forma de condução das aulas no ensino fundamental devem ter o cuidado necessário à fase do desenvolvimento em que a criança se encontra, bem como a clara per- cepção da delicadeza desse momento de transição da educação infan- til para o ensino fundamental. Nesse contexto, as formas de avaliação também são uma preocupação pertinente. Por mais que os alunos agora passem a ser avaliados de maneira diferente do que eram na educação infantil, os mecanismos escolhidos devem fugir daqueles que simplesmente classificam os alunos sem o intuito de trabalhar com as diferenças e estimular as potencialidades, pois é preciso que haja mudanças de acordo com a realidade dos alu- nos, levando sempre em consideração as habilidades e competências de cada um. De acordo com Luckesi (1995, p. 33), “a avaliação pode ser caracte- rizada como uma forma de ajuizamento da qualidade do objeto ava- liado, fator que implica uma tomada de posição a respeito do mesmo, para aceitá-lo ou transformá-lo”. Ou seja, o objetivo de um processo de Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 53 avaliação deve ser direcionado ao processo de ensino-aprendizagem, à compreensão do que o aluno sabe, do que ele não sabe e quais os pon- tos a serem reforçados e desenvolvidos para se atingir as habilidades esperadas para o momento. No que se refere à avaliação do aluno do ensino fundamental – anos iniciais, é essencial considerar que os instrumentos de avaliação não precisam necessariamente ser representados por meio de notas expressas em provas e testes. Estes fazem parte do contexto escolar, porém é necessário compreender que avaliar o rendimento do aluno durante o processo de ensino-aprendizagem abre a possibilidade de, ainda durante o processo, atuar sobre as dificuldades dos alunos e le- var à superação de obstáculos. Dessa forma, a avaliação deve estar em consonância com o plane- jamento do professor de modo contínuo, por meio de atividades coti- dianas que apenas situem o professor de como está o entendimento e rendimento do aluno até determinado momento. Para se ter nítido o caminho a seguir e como conduzir o processo de avaliação, devemos conhecer os tipos de avaliação e suas intenções. Conforme Hoffmann (2005), podemos destacar dois tipos de avaliação, sendo a primeira conhecida como diagnóstica, que permite ao profes- sor verificar inicialmente em que momento se encontra o desenvolvi- mento do aluno, seu processo de evolução e detectar dificuldades para que sejam trabalhadas, repensando seu planejamento quando neces- sário. Ou seja, diagnosticar se aproxima de verificar, conhecer a situa- ção de cada aluno. A segunda maneira de avaliar é por meio da avaliação formativa, que visa superar dificuldades verificadas anteriormente e formar, ao longo do processo, o modo mais adequado para se trabalhar com o aluno no momento em que ele se encontra, conforme suas necessidades. O processo de transição da educação infantil para os anos iniciais do ensino fun- damental: desafios e possibilidades, das autoras Joana Zanatta, Vera Inês Mar- con e Maria Lucia M. Maraschin, apresentado durante o XII Congresso Nacio- nal de Educação (EDUCERE), traz a aproximação da necessidade de um olhar diferenciado do professor que trabalha na transição da educação infantil para o ensino fundamental. Acesso em: 22 jan. 2020. https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/21717_9248.pdf Artigo 54 Organização didática da educação básica De qualquer forma, a avaliação no ensino fundamental deve ser um processo contínuo, que possibilite o acesso ao conhecimento, de verifi- cação da aprendizagem do aluno e de reflexão sobre a atuação docente. CONSIDERAÇÕES FINAIS Refletir sobre os anos iniciais do ensino fundamental é algo extre- mamente instigante. A transição da educação infantil para o ensino fundamental é um marco de mudança no crescimento da criança, e o pedagogo, como profissional que atua diretamente com essa faixa etária, sendo coordenador ou professor, tem a responsabilidade de tornar esse momento tranquilo e significativo. Para isso, vimos que a construção da identidade do pedagogo deve estar ligada ao embasamento teórico, o qual torna a pessoa sensível frente às necessidades das crianças no período de transição entre a educação infantil e o ensino fundamental e de uma nova construção de conhecimentos. Nesse percurso, as reflexões sobre planejamento, métodos e avaliação são instrumentos de constante cuidado e análise, uma vez que represen- tam o caminho a ser percorrido na busca por métodos diferenciados que contemplem a aprendizagem dos alunos, levem à superação de obstácu- los de aprendizagem e tornem o aprender algo instigante e motivador. ATIVIDADES 1. Ao orientar o professor, o coordenador pedagógico deve destacar fatores que influenciam no fazer cotidiano da sala de aula, como os saberes e as peculiaridades apresentados pela criança ao ingressar no ensino fundamental. Com relação à proposta pedagógica, quais são esses fatores envolvidos? 2. Um elemento muito importante no papel do coordenador pedagógico é a práxis. Em que consiste esse termo? 3. Para um fazer significativo e planejado com objetividade em sala de aula, é necessário que o pedagogo/professor identifique a diferença entre método e metodologia. Qual é a diferença entre eles? Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 55 REFERÊNCIAS BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site. pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. BRZEZINSKI, I. Pedagogo: Delineando Identidade(s). Revista UFG, n. 10, jul. 2011. Disponível em: https://www.proec.ufg.br/up/694/o/10_iria_brzezinski.pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. CAMARGO, F.; DAROS, T. A sala de aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre: Penso, 2018. HOFFMANN, J. Pontos e contrapostos: do pensar ao agir em avaliação. 9 ed. Porto Alegre: Mediação, 2005. LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 1995. LÜCK, H. Avaliação e monitoramento do trabalho educacional. Petrópolis: Vozes, 2013. MARCELO, C. Desenvolvimento Profissional Docente: passado e futuro. Revista de Ciência da Educação, n. 8, p. 7-22, jan./abr. 2009. Disponível em: http://www.unitau.br/files/ arquivos/category_1/MARCELO___Desenvolvimento_Profissional_Docente_passado_e_ futuro_1386180263.pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. MORAN, J. Como transformar nossas escolas em instituições inovadoras?: Novas formas de ensinar a alunos sempreconectados. 2017a. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/ moran/wp-content/uploads/2017/08/transformar_escolas.pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. MORAN, J. Metodologias ativas e modelos híbridos na educação. 2017b. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/wp-content/uploads/2018/03/Metodologias_Ativas.pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. PIMENTA, S. G. Panorama atual da didática no quadro das ciências da educação: Educação, pedagogia e didática. In: PIMENTA, S. G. Pedagogia, ciência da educação? São Paulo: Cortez, 1996. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Educação Básica. Alfabetização e Letramento. Curitiba, 2015. Disponível em: http:// www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/programa_aceleracao_estudos/ alfabetizacao_letramento.pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. SANTOS, A. R. J. Currículo, conhecimento e cultura escolar. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. SOARES, M. Alfabetização e Letramento. São Paulo: Contexto, 2013. 56 Organização didática da educação básica Cada etapa da educação básica tem suas peculiaridades. Assim como a educação infantil, o ensino fundamental apresenta características próprias de trabalho, pois compreende uma nova faixa etária do desenvolvimento do aluno, novos desafios e demandas que tornam o trabalho do pedagogo diferenciado. Neste capítulo, trataremos de questões voltadas à atuação do pedagogo no ensino fundamental – anos finais, etapa a partir do qual o pedagogo não atua mais em sala de aula, mas como o organizador dos processos escolares. Essa reflexão acerca da aplicação de saberes pedagógicos vista de fora da sala de aula e a análise do comportamento de uma nova faixa etária são essenciais para o desempenho do pedagogo na escola. Trata-se de um novo desafio, pois, nessa etapa, o profissional terá a oportunidade de colocar em prática todo o seu conhecimento sobre aprendizagem, desenvolvimento humano e organização do trabalho pedagógico em prol da relação dos professores com a equipe escolar. Organização didática do ensino fundamental – anos finais 4 4.1 Da infância para a adolescência Videoaula Com a conclusão do ensino fundamental – anos iniciais, o aluno ini- cia uma nova fase do seu desenvolvimento humano com muitas mu- danças e transformações, que implicam tanto na vida escolar como na vida social dos, agora, pré-adolescentes. Esse período engloba os anos finais do ensino fundamental, que compreende do 6º ao 9º ano. Nessa fase, a criança está, aproximadamente, entre os onze e catorze anos, ou seja, no período da puberdade. Organização didática do ensino fundamental – anos finais 57 Calligaris (2000, p. 9), ao refletir sobre a adolescência, relata que nossos adolescentes amam, estudam, brigam, trabalham. Bata- lham com seus corpos, que se esticam e se transformam. Lidam com as dificuldades de crescer no quadro complicado da família moderna. Como se diz hoje, eles se procuram e eventualmente se acham. Mas, além disso, eles precisam lutar com a adolescência, que é uma criatura um pouco monstruosa, sustentada pela imagina- ção de todos, adolescentes e pais. Além de todas as mudanças físicas pe- las quais os pré-adolescentes passam, uma das características dessa fase, que se apresenta de modo latente, é o desenvol- vimento bastante acentuado e significativo da linguagem, assim como da expressão oral e escrita, agora mais madura e própria da idade. Juntamente com essa maturação, há uma expectativa de que nessa idade o aluno consiga se expressar de maneira clara e objetiva e de que, por meio da fala e da escrita, ele apresente melhor concordância, bem como um pensamento organizado e bem expressado, o que traz novas responsabilidades à sua aprendizagem. Segundo Piaget (1998), espera- -se que o aluno consiga realizar determinadas atividades, pois ele está no estágio das operações formais, ou seja, já possui a noção de conser- vação numérica, probabilidade, hipóteses e abstração de pensamento. O estudo Infância e adolescência na sociedade contemporânea: alguns aponta- mentos, da autora Leila Maria Ferreira Salles, publicado na revista Estudos de psicologia, trata-se de uma visão psicológica desse momento de transforma- ção que é a passagem da infância para a adolescência. Ótima leitura, pois aproxima as discussões deste capítulo da necessidade de se conhecer quem é esse aluno, agora pré-adolescente. Acesso em: 22 jan. 2020. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2005000100005 Artigo Nessa fase, o pensamento lógico-concreto leva o pré-adolescente a manipular mentalmente a representação do mundo que internalizou nas fases anteriores. Apesar de conceitos abstratos ainda serem de difícil com- Figura 1 Na puberdade, ocorrem muitas mudanças: as bioló- gicas, resultantes da idade, e as sociais e educacionais, resultantes da transição nas séries escolares. Monkey Business Images/Shutterstock preensão para ele, as regras sociais começam a fazer sentido, permitindo- -lhe se apresentar com mais autonomia e julgar o certo e o errado. Outro fator considerável é a mudança hormonal, que proporciona mudanças físicas e afeta também o humor desse pré-adolescente, que busca, nesse momento, compreender a si e ao mundo. Assim, o desejo de se posicionar e ganhar um papel na sociedade se mistura à necessi- dade de proteção de uma criança. Com todas essas mudanças sociais, emocionais e afetivas, o estudante do ensino fundamental – anos finais enfrenta desafios de maior comple- xidade que exigem de sua organização maior lógica de raciocínio e maior reflexão sobre a aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento. Nessa fase, o adolescente se compreende como sujeito em desen- volvimento, com suas características individuais e culturais, e busca identidade e inserção social, que demandam práticas diferenciadas nas salas de aula. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, é frequente, nessa etapa, observar forte adesão aos padrões de comportamento dos jovens da mesma idade, o que é evidencia- do pela forma de se vestir e pela linguagem utilizada por eles. Isso requer dos educadores maior disposição para entender e dialogar com as formas próprias de expressão das culturas juve- nis, cujos traços são mais visíveis, sobretudo, nas áreas urbanas mais densamente povoadas. (BRASIL, 2010, p. 110) Ge or ge R ud y/ Ai r A rt/ Sh ut te rs to ck Figura 2 A cultura digital possui forte influência sobre os pré-adolescentes, o que requer novas estratégias de trabalho na escola. 58 Organização didática da educação básica Organização didática do ensino fundamental – anos finais 59 Além dessas questões típicas da idade, é necessário considerar tam- bém que, nos dias atuais, a cultura digital propõe mudanças ainda mais significativas a essa faixa etária. As tecnologias da informação e comu- nicação proporcionam ao pré-adolescente (e às demais fases) o acesso a uma diversidade de conteúdos e um maior dinamismo em relação às interações sociais, à cultura digital, às respostas imediatistas e a uma grande gama de informações variadas. Ou seja, além de essa fase do desenvolvimento humano trazer variadas transformações, também conta com diferenciais do mundo externo que a tornam ainda mais desafiadoras para o trabalho escolar. Assim, essas mudanças influenciam o meio em que o pré-adoles- cente vive, para que ele também mude e se adapte, principalmente quando se trata do ambiente escolar. Nesse contexto, novas estraté- gias e possibilidades de ensino devem ser consideradas a partir dessas mudanças de caraterísticas que trazem novas necessidades de estímu- los e vivências. 4.2 O papel do pedagogo nos anos finais do ensino fundamental Videoaula Sabendo de todo o contexto do qual faz parte a faixa etária dos alu- nos de ensino fundamental – anos finais, percebemos que a escola tem um grande desafio ao contribuir para a formação das novas gerações. Essa contribuição abrange o compromisso em relação aodesenvolvi- mento do aluno, em estimular reflexões e análises aprofundadas de conhecimentos que contribuam tanto para o desenvolvimento indivi- dual quanto para a sua ação como cidadão transformador do meio em que vive. Para que isso ocorra, é necessário que a escola internalize novas formas de vivenciar a aprendizagem, com diferentes formas de comu- nicação de abordagens democráticas e interativas, entre professor, alu- no e mundo. Nesse contexto – e para que essa educação ocorra –, o pedagogo é o profissional responsável por tecer os caminhos que chegam a esses re- sultados. Ele deve atuar juntamente com o corpo docente, delineando projetos que, além de levar ao contexto do desenvolvimento escolar, contribuirão para a reflexão sobre o futuro. 60 Organização didática da educação básica Dessa forma, a atuação do pedagogo nesse nível de ensino é di- ferente dos níveis anteriores, pois, antes, além de sua atuação como gestor ou coordenador pedagógico, esse profissional poderia ser também professor de sala de aula. Para ministrar aulas no ensino fundamental – anos finais, o professor precisa necessariamente ser um especialista, ou seja, ser licenciado em História, Geografia, Língua Portuguesa, Matemática etc. Nesse momento, o pedagogo surge como um orientador do ensino. Ele irá trabalhar diretamente com professores, orientando a elabora- ção e aplicação de planejamentos, atendendo aos alunos com ênfase na orientação educacional, realizando todo o trabalho de coordenação ou gestão pedagógica da escola, além de realizar a elaboração e a atua- lização do Projeto Político Pedagógico (PPP) – o principal documento que atribui identidade à escola por trazer, de maneira minuciosa, todos os processos que a envolvem, regendo o trabalho escolar e refletindo a proposta educacional da escola. Pensando sobre cada etapa da atuação do pedagogo no ensino fundamental – anos finais, podemos analisar diferentes momentos, a iniciar pelo trabalho a ser desenvolvido com o professor licenciado em diferentes áreas. É sabido que o pedagogo não domina, em sua forma- ção, os conteúdos das áreas do conhecimento desse nível de ensino. Por isso, nessa etapa, ele atuará como canal de comunicação entre os professores, buscando estabelecer um trabalho interdisciplinar, orien- tando os planejamentos de acordo com as características das turmas, ou ainda nos casos de inclusão. O profissional pensará, juntamente com cada professor, em estratégias diferenciadas para levar os alunos a compreenderem determinados conhecimentos. Sendo assim, o trabalho conjunto do pedagogo com o do professor se torna complementar, pois, enquanto este possui seu conhecimento específico da disciplina, aquele domina o trabalho com metodologias diferenciadas e compreende as diferentes formas com que o ser hu- mano aprende. No que se refere ao aluno da etapa de aprendizagem em questão, o pedagogo poderá ser o orientador educacional que guiará as turmas em direção à resolução de conflitos em grupo ou à superação da falta de hábitos de estudos, que são primordiais para o bom desenvolvimen- to do aprendizado. Esse trabalho se estende também às famílias, uma Organização didática do ensino fundamental – anos finais 61 4.3 Métodos para atrair a atenção dos alunos Videoaula Um dos maiores desafios do pedagogo em relação ao trabalho de orientação aos professores é pensar uma metodologia adequada aos alunos do ensino fundamental – anos finais. Ou seja, é preciso considerar as peculiaridades da faixa etária dos alunos nessa etapa de ensino, suprir as necessidades diferenciadas de aprendizagem, de interação com o conhecimento e socializar adequadamente com seus pares. Por isso, ao se pensar em métodos que atraiam os pré-adolescen- tes, é necessário considerar e lembrar que, nesse momento, as inte- rações sociais estão em evidência, assim como a maior capacidade de autonomia e abertura para diferentes práticas de ensino. De acordo vez que o apoio familiar é essencial para o sucesso do estudante. Nesse momento, cabe ao pedago- go compreender os contextos familiares e auxiliar aluno e família a conduzirem hábitos que possam colaborar para a aprendizagem do aluno. Algumas vezes, nessa fase de desenvolvimento, o pedagogo precisará intervir em casos de conduta in- disciplinar ou de não aceitação das regras, já que é um momento de muitas mudanças e novidades para os alunos. A organização do ensino é outra forma de atuação do pedagogo no ensino fundamental – anos finais. Essa organização se inicia com as- pectos legais, como a formulação ou atualização do PPP, já que é por meio desse documento que as famílias e a comunidade escolar po- dem ter conhecimento da identidade da escola, compreendendo como ela funciona. Além de ser um documento com base legal, o PPP rege o trabalho do pedagogo escolar, uma vez que esse profissional deve fazer cumprir e zelar para seja cumprido tudo o que nele se apresenta. Dessa forma, podemos perceber que o papel do pedagogo nos anos finais do ensino fundamental ganha importância diferenciada e foco específico nas questões organizacionais e de contato com professores e alunos em situações específicas. Ad am ov a M ar iy a/ Sh ut te rs to ck Figura 3 Resistência às regras, indisciplina e alguma rebeldia são características da pré-adolescência. 62 Organização didática da educação básica com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ao longo do ensino fundamental – anos finais, os estudantes se deparam com desafios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de se apropriarem das diferen- tes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas. Tendo em vista essa maior especialização, é importante, nos vários componentes curriculares, retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental - Anos Iniciais no con- texto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à am- pliação de repertório dos estudantes. Nesse sentido, também é importante fortalecer a autonomia desses adolescentes, ofere- cendo-lhes condições e ferramentas para acessar e interagir criti- camente com diferentes conhecimentos e fontes de informação. (BRASIL, 2018, p. 60) Cada um dos elementos trazidos pela BNCC reforça a importância de um processo contínuo entre as etapas de ensino. Assim como a transição da educação infantil para o ensino fundamental – anos ini- ciais requer a sensibilidade de um período transitório, com a retomada de conceitos, a transição para o ensino fundamental – anos finais não é diferente. Nesse sentido, é preciso que as metodologias também sejam mantidas nessa linha de continuidade, pois não são apenas as crianças que precisam de aulas diversificadas. Para que isso ocorra, Dewey (apud TEIXEIRA, 1957, p. 21) já mencio- nava que o processo educativo não pode ter fins elaborados fora dele próprio. Os seus objetivos se contêm dentro do processo e são eles que o fazem educativo. Não podem, portanto, ser elabora- dos senão pelas próprias pessoas que participam do processo. O educador, o mestre é uma delas. A sua participação na elabo- ração desses objetivos não é um privilégio, mas a consequência de ser, naquele processo educativo, o participante mais experi- mentado e, esperemos, mais sábio. Assim, para possibilitar essa atuação do professor como participan- te de um processo de construção do conhecimento, algumas ferramen- tas e métodos – que suprem a necessidade dos pré-adolescentes – são sugeridos por Camargo e Daros (2018): • Scribble Press: permite contar histórias com imagens e fotos. • StoryKit: permite que aluno crie conteúdo interativo, utilizando som e imagem. No vídeo Pré-adolescência, adolescência e juventude, publicado pelo canal A Melhor Família do Mundo, o Dr. Italo Marsili fala sobre o programa do projeto do blog Como Educar seus Filhos, sobre as várias eta- pas do desenvolvimento juvenil e da adolescência – saberes essenciais para o pedagogo que irá interagir com essa faixa etária. Disponívelem: https://www.youtu- be.com/watch?v=JoByaYWvAnA. Acesso em: 22 jan. 2020. Vídeo Organização didática do ensino fundamental – anos finais 63 • Motion Math: jogo em 3D baseado no estudo de frações. Simula uma viagem ao espaço, na qual, para avançar no percurso, o alu- no deve mover frações para locais corretos na escala numérica. Dentre as metodologias, uma boa sugestão é o debate inteligente, que possibilita a troca e o gerenciamento de informações, argumenta- ção, trabalho em equipe e desenvolvimento de ideias, ou seja, habili- dades em evidência nos alunos de ensino fundamental – anos finais. Para realizar esse método, o professor inicialmente escolhe um tema, o qual deve ter diferentes pontos de vista. Os alunos formam grupos com quatro integrantes, mas trabalham em dupla. Cada dupla deve preparar uma apresentação de 10 a 15 minutos e colocar seus apontamentos, defendendo seu posicionamento para a outra dupla. Ao final das apresentações, a turma poderá discutir e trocar ideias so- bre os pontos de vista. Atividades como essa proporcionam o respeito mútuo, incentivando o aluno a contra-argumentar respeitosamente em vez de criticar a pes- soa, tentando entender as diferenças e os posicionamentos dos outros. O pedagogo deve, portanto, orientar o professor a seguir uma linha de metodologias e estratégias que contemplem questões que alcan- cem o desenvolvimento cognitivo dos alunos nessa faixa etária. 4.4 Como avaliar? Videoaula Avaliar na educação infantil e no ensino fundamental – anos iniciais já é uma tarefa que requer cuidado e critério ao elaborar e pensar so- bre essas etapas, e no ensino fundamental – anos finais isso não é di- ferente. Avaliar o desempenho da aprendizagem requer instrumentos capazes de identificar, por meio de diferentes perspectivas e observa- ções, se o aluno alcançou os objetivos preestabelecidos inicialmente. Caso isso não ocorra, com base também na avaliação, surge a possibi- lidade de verificar quais são as formas de levá-lo a isso, seja com mu- danças na metodologia em aula para auxiliar na compreensão do que está sendo proposto, seja na própria forma de avaliar. Para tanto, os instrumentos avaliativos devem ser os mais varia- dos. Contudo, devemos dar preferência aos de caráter cumulativo e contínuo, conforme orienta a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) – Lei n. 9.394/1996. Assim, os alunos poderão ser avaliados por diferentes perspectivas, possibilitando que o professor verifique suas dificuldades. Para aplicar as diferentes formas de avaliação, é necessário com- preender o que elas significam, até porque, dentro do trabalho do pedagogo, essa clareza sobre os tipos de avaliação pode e deve ser repassada para todo o grupo docente. Para compreender o que é a avaliação cumulativa, vamos recor- rer ao próprio nome desse tipo de avaliação, que nos remete à pala- vra acúmulo. Assim, é o acúmulo de possibilidades que o professor cria ao acompanhar cotidianamente o rendimento do aluno, ao in- tervir nos momentos oportunos e até mesmo ao orientá-lo a saber como buscar a solução para suas dúvidas. Ela é cumulativa e contí- nua porque não é realizada apenas no final de todo um processo, mas considerada durante a aprendizagem. Todo esse processo e cuidado cumulativo e contínuo, além de demonstrar ao professor tais dados, leva em consideração o fato de que cada aluno aprende de maneiras diferentes. Nesse caso, se o professor planeja diferentes formas de avaliar, ele estará contem- plando também os diversos modos de se expressar e de demonstrar o conhecimento utilizados por cada aluno. Pensar sobre essa perspectiva ressalta ainda mais o trabalho do pedagogo escolar como coordenador, pois ele será o articulador que levará todos os professores a praticarem as avaliações de ma- neira contínua. Entre as preocupações que o pedagogo deve ter para conduzir esse trabalho de avaliação está o de sempre ressaltar entre os professores a necessidade de co- nhecerem seus alunos, analisando as carac- terísticas de cada um, suas dificuldades e até mesmo os aspectos familiares. Dessa maneira, a condução do tra- balho se dará de modo mais próxi- mo das capacidades de cada um. Nesse sentido, é importante considerar que, muitas vezes, os pré-adolescentes não atingem o objetivo esperado em Figura 4 Atividades extraclasse, como as feiras de ciências, são excelentes formas de avaliação para essa etapa do ensino. Pataporn Kuanui/Shutterstock 64 Organização didática da educação básica Organização didática do ensino fundamental – anos finais 65 provas formais devido a questões emocionais relativas à pressão que esse momento traz. Se o professor conhece bem seu aluno por acom- panhá-lo continuamente, perceberá, consequentemente, se um baixo rendimento em determinada prova se deve a um fator cognitivo ou emocional. Destacamos, mais uma vez, a necessidade de haver, além das provas padrões – ainda utilizadas por muitas instituições escolares –, avaliações diferenciadas. Uma das alternativas é investir em pro- jetos extraclasse, como as feiras de ciências, as literárias e muitas outras possibilidades, por meio das quais os alunos possam buscar co- nhecimentos e expressá-los de diferentes formas. Sabemos que, do 6º ao 9º ano, o aluno possui uma capacidade ainda maior de expressão, criatividade, autonomia e busca por diferentes for- mas de comunicação. Tais atividades diferenciadas de avaliação, além de favorecerem esse momento do desenvolvimento do aluno, propi- ciam a avaliação vista por diferentes olhares. Cabe ressaltar, assim, que o papel do pedagogo no ensino funda- mental – anos finais é essencial para dar sentido ao processo avaliativo, uma vez que, além de aplicar as práticas citadas, ele precisa, também, integrar todos os professores e levá-los a trabalharem a partir dessa mesma perspectiva. Assim, a continuidade dos estudos do pré-adoles- cente e a maneira que ele é visto serão justas e eficazes. CONSIDERAÇÕES FINAIS O ensino fundamental – anos finais é uma fase tão especial quanto as anteriores. É preciso disponibilizar o cuidado e a atenção que os alu- nos dessa etapa precisam, visto que se trata de um momento de grandes transformações e novidades, não somente físicas e psicológicas, mas tam- bém escolares. O olhar do pedagogo nesse período deve ter um foco diferente, uma vez que seu papel, agora, é de coordenação dos processos, tanto do pon- to de vista do aluno quanto do professor, que necessita do trabalho des- se profissional para conduzir, alinhar e direcionar da melhor forma cada caso de aprendizagem. Essa variação do papel do pedagogo pode se dar de aluno para alu- no, de ano para ano, de professor para aluno ou até mesmo para tratar 66 Organização didática da educação básica de casos de inclusão. Dessa forma, reconhecemos o pedagogo como um profissional indispensável no cotidiano escolar, não só em sala de aula, mas também nesse momento, como um guia do trabalho docente. ATIVIDADES 1. Em qual etapa do desenvolvimento humano se encontra o aluno do ensino fundamental – anos finais e quais são as características que o pedagogo deve conhecer para melhor lidar com essa fase no ambiente escolar? 2. Analise por quais demandas o pedagogo é responsável em seu trabalho junto aos professores do ensino fundamental – anos finais. 3. Quais são as indicações de como deve ocorrer o processo de avaliação no ensino fundamental – anos finais? REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC; SEB; DICEI, 2010. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site. pdf. Acesso em: 6 jan. 2020. CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. CAMARGO, F.; DAROS, T. A sala de aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre: Penso,2018. PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998. TEIXEIRA, A. Ciência e arte de educar. Educação e Ciências Sociais, v. 2, n. 5, p. 5-22, ago. 1957. Disponível em: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/ciencia.html. Acesso em: 22 jan. 2020. Desafios do pedagogo no ensino médio 67 Já sabemos a relevância do pedagogo na educação infantil e no ensino fundamental – anos iniciais e finais. Agora, vamos refletir sobre sua atuação no ensino médio, que se torna ainda mais ampla, pois suas preocupações são voltadas também à formação profissional dos alunos. Nessa fase, o aluno, agora adolescente, além de todos os desafios que a idade traz, depara-se, também, com novas decisões, com uma visão mais realista do futuro e dos estudos que direcionarão os rumos de sua vida profissional. Sendo assim, analisaremos, neste capítulo, as formas de trabalho e os desafios encontrados pelo pedagogo nessa etapa final da educação básica chamada ensino médio. Desafios do pedagogo no ensino médio 5 5.1 A idade da pressão Videoaula É por volta dos quinze anos de idade que o adolescente ingressa no ensino médio. Nessa fase, acontecem muitas alterações de humor, de concentração e de interesse pelo que o rodeia. Por ser um momento repleto de diferentes sensações, o pedagogo, que atua orientando os professores desses alunos, deve compreender que, por conta dessas diferentes sensações, algumas posturas são essenciais para o bom convívio e desenvolvimento das aulas. Ao se deparar com uma situação de conflito com os adolescentes, é preciso ter sabedoria para lidar com o caso, pois suas reações podem ser adversas. Dessa maneira, o confronto não é uma boa solução para casos como esse, uma vez que, provavelmente, o adolescente está ape- nas buscando uma forma de se expressar e de se impor na sociedade. 68 Organização didática da educação básica Assim, o sentimento de companheirismo e parceria pode trazer uma condução diferenciada para os momentos de aprendizagem. Esse período de instabilidade requer momentos de escuta, acolhida de sugestões e reflexões que levarão o adolescente a se sentir parte do processo em que está inserido. Por consequência, com o desenvolvi- mento desse relacionamento interpessoal e o interesse despertado, a aprendizagem ocorrerá de maneira efetiva. Para compreender ainda mais esse momento em que o aluno já se encontra, que Piaget (2001) chama de estágio das operações formais, o pedagogo pode buscar, em diferentes áreas, conhecimentos que em- basarão sua orientação aos professores. Uma dessas áreas é a Neurociência, que explica a instabilidade de humor e as reações dos adolescentes em uma mudança de sinapses. É no córtex frontal que essas funções são reorganizadas, assim como ocorre na primeira infância, permitindo novas conexões, que levarão o adolescente à maturidade neural e à vida adulta. Essas questões vão ao encontro de um momento que, além de mui- tas mudanças, traz também novas responsabilidades, principalmente para os alunos do último ano do ensino médio. É a fase da vida em que há uma grande cobrança, principalmente da família, em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ao vestibular e, conse- quentemente, à escolha de uma profissão. Além disso, separar-se da turma que até então o acompanhava por muito tempo pode ser um dos fatores emocionais com o qual o adolescente tem dificulda- de em lidar. Como citado, uma das questões desafiadoras é o Enem, que foi criado em 1998 para avaliar a qualidade do ensino médio no país e, ao mesmo tempo, servir como ingresso ao ensino superior; ou seja, é um mo- mento em que, por meio de um exame, o aluno demos- tra o conhecimento adquirido durante sua vida escolar. Outro fator desafiador e que exige grande preparo dos estudantes é o vestibular, conhecido exame para in- gresso no ensino superior. Ele também é parte da pres- são vivida pelo aluno, que deve se preparar para a prova em si e escolher sua futura profissão. Figura 1 As mudanças dessa fase, so- madas à cobrança, são algo difícil para o adolescente. Monkey Business Images/Shutte rst oc k córtex frontal: área do cérebro responsável pelo planejamento e controle das emoções. Glossário Desafios do pedagogo no ensino médio 69 Essa escolha, no entanto, pode ser feita ainda mais cedo, no próprio ensino médio. A educação profissional é uma modalidade de ensino encontrada na educação básica e sua oferta ocorre por meio de cursos técnicos, de formação inicial e continuada. Esses cursos, a nível de en- sino médio integrado, destinam-se aos alunos que concluíram o 9º ano do ensino fundamental – anos finais. Para além dessa preocupação quanto à formação profissional, qual curso fazer, que profissão seguir etc., há, muitas vezes, a necessida- de de conciliar estudo e trabalho. Tais desafios, em alguns momentos, podem gerar a evasão escolar, ou seja, a desistência de estudar. É im- portante deixar claro que a evasão não é somente responsabilidade do próprio aluno ou da família, uma vez que a escola e os professores podem ter sua parcela de responsabilidade. Ao pensarmos no âmbito familiar, podemos considerar que a pre- sença da família na escola, quando os alunos estão no ensino médio, é bem menor em comparação aos outros níveis. Isso acontece porque muitas famílias pensam que esse aluno já tem autonomia suficiente para conduzir sua vida escolar. No entanto, nem todos conseguem li- dar com essa fase de maneira autônoma. Assim, a ausência familiar pode acarretar a falta de interesse e comprometimento do aluno para com os estudos. Consequentemente, essa desmotivação gera desistên- cia. Apesar dessa análise geral da situação de evasão escolar, é preciso estudar os casos individualmente e com muita atenção, pois cada um possui uma característica diferente. Segundo Brandão, Baeta e Rocha (1983, p. 38), o fenômeno da evasão e repetência está longe de ser fruto de ca- racterísticas individuais dos alunos e suas famílias. Ao contrário, reflete a forma como a escola recebe e exerce a ação sobre os membros desses diferentes segmentos da sociedade. Por isso, consideramos não somente a família, mas também a esco- la como corresponsável pela evasão escolar. Isso porque é clara a falta de tratamento individualizado ao aluno (BRANDÃO, 1983). A impressão de que agora o aluno “cresceu” e de que ele não precisa de todos os cuidados como no ensino fundamental não é verdadeira. A individualidade diante das dificuldades, das facilidades e da cultu- ra do aluno deve ser vista pelos pedagogos e professores em todos os níveis de ensino, considerando as peculiaridades de cada um. A conse- quência desse cuidado, juntamente com o apoio da família e um traba- 70 Organização didática da educação básica lho direcionado de orientação a esses desafios, seria a diminuição de alunos desistentes. Ainda entre os desafios está a necessidade de lidar com a sexualida- de e o namoro, elementos novos para quem acabou de sair da infância. É nessa fase que os interesses pessoais mudam por conta da transfor- mação hormonal, que vai aos poucos inserindo o adolescente na idade adulta. Por isso, focar nos estudos e pensar em namoro, nas obriga- ções com a família, no Enem e no vestibular são demandas que agora surgem na vida do adolescente com mais intensidade em todo o período do ensino médio. Em qualquer um desses momentos, o pedagogo responsável por esses processos deve organizar as formas efetivas de sucesso de aprendizagem e as orientações e vivências dos alunos. Deve, ainda, auxiliar o professor, que também enfrenta gran- des desafios nessa fase, para que, em cada ano do ensino médio, saiba adequar-se às necessi- dades daquele momento. Chegar ao ensino médio não é garantia de maturidade para vivenciá-lo. A maturidade e a forma como lidar com cada momento da vida escolar é reflexo das fases anteriores, desenvol- vidas no ensino fundamental. 5.2 A formação continuada do professorpara além da sua especialização Videoaula Sabemos que os professores que trabalham com os alunos de ensi- no fundamental – anos finais e ensino médio são licenciados em uma área específica. Nesse sentido, cabe ao pedagogo orientar os professo- res sobre o trabalho integrado e auxiliá-los em possíveis dificuldades que possam ter com as metodologias. Hoje, o mercado de trabalho exige profissionais cada vez mais capa- citados e inovadores, e o pedagogo também é o profissional competen- te para trazer tal capacitação aos professores, por meio da formação continuada na escola. Figura 2 A descoberta da sexuali- dade e os relacionamentos são desafios tanto para os alunos quanto para pedago- gos e professores. LightField Studios/Shutterstock Desafios do pedagogo no ensino médio 71 Há algum tempo, a graduação era suficiente para conseguir bons cargos e manter-se no mercado de trabalho. Hoje, devido à globaliza- ção e à tecnologia, uma demanda diferenciada, em relação à maneira da aquisição do conhecimento, exige que profissionais busquem sabe- res aprofundados e novas formas de exercer a docência. Dessa forma, ao pensarmos em uma atualização constante dos pro- fissionais, estamos falando em uma formação continuada que abrange os professores licenciados nas mais diversas áreas e o pedagogo. Figura 3 A formação continuada coloca o professor de volta na posição de estudante. Monkey Business Images/ Shutterstock Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) implementou o conceito de formação continuada, que visa valorizar e orientar a for- mação dos profissionais da educação. Sendo assim, ela é considerada um direito de extrema importância para os profissionais da educação. A orientação de que o profissional de pedagogia deve, durante sua carreira, passar constantemente por formação continuada é algo que os cursos de graduação em pedagogia precisam trazer desde o início. Assim, o pedagogo que busca a formação para superar seus próprios desafios diante da profissão e de situações vivenciadas no dia a dia escolar terá subsídios para trabalhar com seu grupo de professores, trazendo diferentes benefícios para o cotidiano escolar. 72 Organização didática da educação básica Esses benefícios iniciam a partir do momento em que o professor busca aprimorar suas práticas e dá um novo sentido e significado a suas aulas. Isso pode ocorrer por meio de dinâmicas diferenciadas, com metodologias que aproximem o aluno do conhecimento de ma- neira ativa e participativa. Ao mesmo tempo, essa prática cria subsídios que auxiliam o professor a perceber possíveis problemas no processo de aprendizagem dos alunos. Práticas tradicionais, em que o aluno é apenas o receptor do conhe- cimento, estão totalmente ultrapassadas para as características das crianças e dos adolescentes de hoje. Dessa forma, para que os alunos possam aprender de maneira saudável em momentos de pressão, como no ensino médio, eles precisam se sentir engajados e motivados na bus- ca pelo conhecimento. Essa consciência de constante transformação da prática docente só será evidente por meio da formação continuada. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), como documento nor- teador da educação em nosso país, também evidencia a formação continuada como pauta obrigatória nas escolas diante da busca pela educação de qualidade, estabelecendo a necessidade de que as esco- las criem formas de: • criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter processos permanentes de formação docen- te que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem; • manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pe- dagógica e curricular para os demais educadores, no âmbito das escolas e sistemas de ensino. (BRASIL, 2018, p. 17) Tais instrumentos e direcionamentos voltados à formação continua- da levam o professor a compreender que a própria cultura escolar ne- cessita se aprimorar quanto às exigências do mundo atual. Não basta apenas formar alunos com saberes teóricos, é necessário desenvolver habilidades que venham ao encontro das características das novas ge- rações e do mercado de trabalho, que é uma das preocupações no en- sino médio. Sendo assim, desenvolver competências socioemocionais, saber fazer uso das tecnologias digitais e agir de maneira efetiva na socie- dade, com base nos conhecimentos adquiridos, é o que se espera da formação atual para os alunos de ensino médio. O pedagogo à frente da coordenação desse trabalho deve estar engajado em fazer com que Desafios do pedagogo no ensino médio 73 essa realidade ocorra na escola. Uma das maneiras de efetivar esse acontecimento é por meio da formação continuada. Segundo o Parecer CNE/CEB (Conselho Nacional de Educação/Câ- mara de Educação Básica) n. 5, de 2011, é fundamental reconhecer: a juventude como condição socio-histórico-cultural de uma ca- tegoria de sujeitos que necessita ser considerada em suas múl- tiplas dimensões, com especificidades próprias que não estão restritas às dimensões biológica e etária, mas que se encontram articuladas com uma multiplicidade de atravessamentos sociais e culturais, produzindo múltiplas culturas juvenis ou muitas ju- ventudes. (BRASIL, 2011, p. 12-13) Dessa forma, considerando essa multiplicidade cultural e social, o ensino não pode permanecer igual. Por isso, a forma de ver e agir em educação se modifica e apropria-se conforme os novos tempos, as no- vas realidades e as necessidades diferentes das instauradas até então. O vídeo Especialista em educação fala da formação de professores no Brasil, publicado pelo canal TV Senado, traz uma análise sobre a formação dos professores da educação básica no Brasil, tratando tanto dos pe- dagogos quanto dos professores formados nas licenciaturas. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=63h6U 4drFLU. Acesso em: 22 jan. 2020. Vídeo 5.3 O papel do pedagogo no ensino médio e na educação profissional Videoaula O pedagogo que atua no ensino médio, além de conhecer todos os desafios vinculados a essa etapa da educação básica, deve conhecer as possibilidades que esses mesmos desafios trazem à educação profis- sional, a qual pode ocorrer durante o ensino médio. Contudo, o papel do pedagogo está em torno da formação conti- nuada do professor que trabalhará nesse nível de ensino – médio ou profissional– e do auxílio constante nas demandas que surgirem aos alunos. Nessa perspectiva, é necessário o entendimento inicial do que é a educação profissional. Prevista pela LDB, a educação profissional tem a finalidade de pre- parar o indivíduo para a entrada no mundo do trabalho e exercer uma profissão. Para isso, são disponibilizadas duas modalidades de apren- dizagem. A primeira, a Educação de Jovens e Adultos (EJA), é voltada àqueles alunos que estão retomando seus estudos em outras fases da vida. A segunda, a nível de ensino médio, articula a formação dessa etapa com a preparação profissionalizante. Paralelamente a essas possibilidades, o novo ensino médio, aprova- do pelo governo em 2017, tem o objetivo de levar o jovem a conhecer 74 Organização didática da educação básica as transformações do mercado de trabalho, disponibilizando, assim, uma formação mais atualizada. Com isso, o aluno tem a possibilidade de definir os rumos a serem seguidos em seus estudos de acordo com suas afinidades e interesses pessoais. A BNCC, por sua vez, é o documento responsável por nortear essa nova forma de conduzir o ensino médio e orienta para que esse novo currículo seja organizado por meio da oferta de diferentes arranjos cur- riculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, os quais serão: • Linguagens e suas tecnologias • Matemática e suas tecnologias • Ciências da natureza e suas tecnologias • Ciências humanas e sociais aplicadas • Formação técnica e profissional Apenas as disciplinas de Português, Matemática e Língua Inglesa se- rão obrigatóriasdurante os três anos de ensino médio. Com essa realida- de, cabe aos estados e municípios organizarem seus currículos com base na BNCC, assim como o projeto da escola e a realidade da comunidade. Essa organização tem como principal envolvido o pedagogo, pois ele é o articulador responsável por conduzir, em conjunto com a equipe escolar, as melhores formas de organizar e tornar real os conhecimen- tos trabalhados no ensino médio. Para que esse movimento ocorra, as escolas precisam ter clara a necessidade de tratar a teoria e a prática de maneira integrada, em que os saberes trabalhados na formação continuada dos professores sejam verdadeiramente aplicados em sala se aula. Ao tratar da forma- ção profissional, o pedagogo e a escola estão investindo, juntamente, na formação do cidadão autônomo, com conhecimentos que possibili- tem a sua produção na sociedade por meio de sua prática profissional, superando desigualdades. Desse modo, com todos os detalhes que constituem o trabalho ao longo do ensino médio, fica clara a necessidade da integração do pe- dagogo com os demais envolvidos no ambiente escolar, a fim de co- laborarem para essa formação. Assim, busca-se garantir um trabalho No livro Pedagogos em cena: espaços de atuação e expe- riências profissionais, vemos o registro da reflexão teóri- ca e prática de pedagogos sobre seus espaços de atuação profissional e/ou suas trajetórias acadêmicas/ profissionais, o que propicia a reflexão sobre os aspectos tratados neste capítulo. MAGALHAES, J.; SOUZA, R.; RAMOS, M.; ARAUJO, A. L. Jundiaí: Paco Editorial, 2019. Livro Desafios do pedagogo no ensino médio 75 pedagógico efetivo, que contribua para a formação de alunos e profes- sores, possibilitando ao aluno adolescente exercer, de maneira efetiva, seu papel de cidadão. CONSIDERAÇÕES FINAIS O pedagogo é aquele que articula e auxilia na aplicação de métodos de aprendizagem em diferentes níveis de ensino. Sua profissão, assim como a dos professores, requer uma formação continuada e a busca constante por formas de trabalho atualizadas em diferentes ambientes. No caso do ensino médio, tendo em vista a formação específica dos professores em diferentes áreas, o pedagogo é aquele que orienta e auxilia nas questões didáticas e metodológicas, as quais podem ajudar a prática em sala de aula. Essa preocupação ocorre em todos os níveis de ensino, porém é nessa fase final do ensino básico que os alunos possuem uma carga maior de responsabilidades. Além disso, pensar e traçar os melhores caminhos que direcionarão a vida do estudante, também em um âmbito profissional, traz ao peda- gogo e aos professores envolvidos uma responsabilidade ainda maior e mais próxima da formação de um cidadão crítico e atuante na sociedade. ATIVIDADES 1. A adolescência, fase em que se está iniciando o ensino médio, é um momento de muitas transformações biológicas e psicológicas. Essas transformações alteram o modo dos adolescentes de agir e reagir diante de algumas situações. Reflita e escreva sobre como o pedagogo deve atuar diante desse contexto. 2. Durante todos os anos da educação básica, a presença da família é tratada como relevante no processo. No ensino médio, essas questões mudam um pouco. De acordo com as reflexões do capítulo, escreva qual é a ação da maioria das famílias nessa fase e qual é a consequência. 3. Durante este capítulo, tratamos do papel do pedagogo no ensino médio. Escreva algumas das ações que o pedagogo exerce nessa etapa da educação e que contribuem para o processo de ensino-aprendizagem. 76 Organização didática da educação básica REFERÊNCIAS BRANDÃO, Z.; BAETA, A. M. B.; ROCHA, A. D. C. O estado da arte da pesquisa sobre evasão e repetência no ensino de 1º grau no Brasil (1971-1981). Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, DF, v. 64, n. 147, p. 38-69, maio/ago. 1983. BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Câmara de Educação Básica. Parecer n. 5, de 4 de maio de 2011. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 de janeiro de 2012. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ index.php?option=com_docman&view=download&alias=8016-pceb005-11&category_ slug=maio-2011-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 22 jan. 2020. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site. pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. PIAGET, J. Inteligencia y afectividad. Buenos Aires: Aique Grupo Editor, 2001. Organização didática do ensino médio e da educação profissional 77 Ao longo da história, a educação passou por muitos momentos de transformação. Diferentes tendências, métodos e metodologias fazem parte de cada momento vivido dentro das escolas. Essas modificações trouxeram ampliações de possibilidades e melhorias que contribuí- ram para a aquisição do conhecimento pela humanidade. Hoje, não é diferente. Ao tratarmos do ensino das diferentes etapas – educação infantil, ensino fundamental e o ensino médio –, é emergente uma nova perspectiva frente aos desafios de uma so- ciedade tecnológica e ágil na assimilação do conhecimento. Por isso, muitos são os desafios que escolas e professores en- frentam em busca de ações indispensáveis, como o envolvimento efetivo entre professor e aluno, o desenvolvimento de projetos in- terdisciplinares que transforme e torne a educação mais próxima das vivências e dos desafios diários. Sendo assim, neste capítulo, refletiremos sobre tais fatores edu- cacionais e sobre formas de tornar o ensino diferenciado e signifi- cativo no ensino médio e na educação profissional. Organização didática do ensino médio e da educação profissional 6 6.1 Envolvendo os professores e os alunos no aprendizado Videoaula Ao pensar em aprendizado, seja na educação infantil, no ensino fun- damental, ou até mesmo no ensino médio, muitos fatores precisam ser considerados para que o processo de ensino e aprendizagem ocorra, como o ambiente, os recursos utilizados, as metodologias e a afetividade. Os fatores estruturais, de recursos e de metodologias devem ser constantemente atualizados, e a relação professor-aluno deve ser alvo 78 Organização didática da educação básica de preocupação e cuidado do pedagogo durante o trabalho na escola, pois sabemos que essa questão é um dos caminhos para que o propó- sito educacional não venha a fracassar. Desse modo, entendendo a escola como um local propício para que o conhecimento seja construído, sistematizado, elaborado e aplicado, as condições escolares devem ser favoráveis para que isso ocorra. Nesse sentido, o envolvimento do professor com o aluno no pro- cesso de aprendizagem reflete em muitos pontos no resultado. A afetividade, confiança mútua, curiosidade e pesquisa são construídas juntamente com os alunos, em uma caminhada contínua e rica de no- vas possibilidades em cada momento. Além disso, a boa instrumentalização do professor, a clareza sobre os objetivos a serem atingidos, o amparo dado pelo pedagogo durante o ano letivo, aliados à aproximação positiva com o aluno, são funda- mentais para que a construção do conhecimento ocorra de maneira efetiva. A consciência de que esses aspectos caminham juntos deve fa- zer parte da formação do professor e do trabalho do pedagogo escolar como condutor dessa tarefa. Mudar a realidade de que o professor é apenas alguém em sala para mediar conhecimento e aproximá-lo do aluno de modo mais envolvente, considerando ainda as dificuldades e facilidades de cada um, é um dos desafios do pedagogo. Isso porque ainda se percebe certa resistência de alguns professores em aproximar-se dos alunos de ensino médio, seguindo a crença de que estes não precisam mais de apoio emocional. Na relação professor-aluno, é necessário estabelecer o entendi- mento de que o professor possui um papel social e político frente à for- mação do aluno. Assim, ele pode assumir uma postura crítica diante dedesde o nascimento até, aproximadamente, os dois anos de idade. Nesse estágio, a criança começa a identificar o ambiente à sua volta, ou seja, suas capacidades sensoriais estão sensíveis a essas novas descobertas e prontas para recebê-las. Além de compreender esse meio, a criança começa a agir sobre ele, onde sua percepção atua na identificação inicial do que é imediatamente percebido pelos seus sentidos. 1.1 Características das crianças da educação infantil Videoaula Ao pensarmos nas características da criança de educação infan- til e identificarmos a fase que se estende até os cinco anos de idade, deparamo-nos com um mundo cheio de descobertas e novas possibi- lidades que sustentam a base para o desenvolvimento integral do ser humano, ou seja, frente aos aspectos cognitivos, emocionais, sociais e motores. A criança é um todo integrado, composto por esses aspectos, que geram seu desenvolvimento e aprendizagem. Muitas pesquisas em relação ao desenvolvimento infantil foram e são realizadas. Dentre os autores que trouxeram contribuições para que hoje possamos compreender a relevância dessa fase, estão Piaget, Vygotsky e Wallon. Recentemente, outros autores trouxeram conheci- mentos voltados ao desenvolvimento motor como um dos pontos prin- cipais nesse processo de evolução. Outra área que muito tem contribuído para o entendimento do ser humano é a neurociência, que busca, na compreensão do cérebro, no- vas descobertas voltadas ao desenvolvimento e à aprendizagem. Va- mos, então, conhecer um pouco sobre cada uma dessas contribuições. Iniciaremos por Piaget, que acredita na aprendizagem como uma “interpretação pessoal do mundo, ou seja, é uma atividade individuali- zada, um processo ativo no qual o significado é desenvolvido com base em experiências” (MOREIRA, 1995, p. 34). Para ele, essas experiências são vivenciadas ao longo da primeira infância, em que o desenvolvi- mento infantil ocorre em quatro estágios (MOREIRA,1995). O trabalho do pedagogo na educação infantil 11 Esse momento proporciona ao professor a possibilidade de traba- lhar diversos estímulos referentes aos cinco sentidos: tato, visão, olfa- to, paladar e gustação. A partir do momento em que a criança começa a compreender o mundo por meio desses sentidos, consequentemente, a aquisição da aprendizagem será melhor. Estágio pré-operacional: inicia-se aproximadamente aos dois anos de idade e estende- -se até os seis ou sete anos. A principal característica a ser desenvolvida nesse momento é a capacidade simbólica e o desenvolvimento da linguagem. Essas transformações ocorrem no decorrer desse estágio, que deve ser o marco dos estímulos relacionados à fala e aos materiais que compõem os espaços por elas vivenciados. Nesse estágio, encontram-se as crianças de educação infantil, que já estão em fase de preparação para o ingresso no ensino fundamental. Nessa fase, graças ao início de uma capacidade maior de abstração, a criança começa a interagir com o mundo da leitura e da escrita. Por tratar-se de estágio de transição, é importante lembrar que as ativida- des lúdicas e concretas ainda se fazem necessárias. Estágio das operações concretas: ocorre dos seis aos doze anos, aproximadamente. Está- gio em que a criança se torna apta a manipular mentalmente os símbolos internos que construiu durante o período sensório-motor. Nesse estágio, agora com a capacidade de abstração mais desen- volvida, surge a necessidade de estimular ainda mais a autonomia de pensamento e trabalho com regras e grupos. Estágio operatório formal: inicia-se a partir dos onze anos. Nesse estágio, a criança já possui capacidade de pensar abstratamente, criar hipóteses, observar, relacionar e finalizar. 12 Organização didática da educação básica Nessa fase, a criança está com várias funções cognitivas já maduras, porém os estímulos e desafios devem sempre fazer parte das aulas e dos projetos em sala. Figura 1 Os quatro estágios de desenvolvimento segundo Piaget IE SD E Br as il S/ A 0 a 2 anos – Sensório-motor 2 a 7 anos – Pré-operacional 7 a 11 anos – Operações concretas 11 em diante – Operatório formal O trabalho do pedagogo na educação infantil 13 Compreendidas as fases que, para Piaget, marcam o desenvol- vimento infantil, podemos perceber que a criança, na educação infantil, se encontra no estágio sensório-motor e pré-operacional. Por isso, é essencial que o pedagogo conheça e compreenda as possibilidades e os limites do trabalho efetivo com as crianças nessas fases. Os aspectos emocionais e sociais também fazem parte de todo esse contexto de desenvolvimento. Associada a eles, surge a afe- tividade, considerada por Piaget como a parte responsável pelo desenvolvimento da inteligência na infância e por propiciar cons- tantes interações (PIAGET, 2001). Esta, para o autor, é entendida em dois aspectos: • A afetividade estimula, acelera e perturba as operações da inteligência, ou seja, causa um movimento em suas ações que a levam a desenvolver novas experiências. • A afetividade ajuda nas construções das estruturas cogniti- vas, pois, ao viver novas experiências, interage, constrói, re- solve problemas e busca soluções para diferentes situações. Para o autor, a afetividade pode provocar modificações nas estruturas de desenvolvimento da inteligência, porém “não pode nem produzir nem modificar as estruturas” (PIAGET, 2001, p. 103). Ainda, em sua perspectiva, o desenvolvimento psicológico é en- tendido como único, pois, durante toda a vida, existe uma relação entre as construções afetivas e cognitivas. Henri Wallon também contribui fortemente para o entendi- mento do desenvolvimento infantil. Seu trabalho sobre o tema foi baseado no estudo das personalidades em cada faixa etária e contemplou aspectos da motricidade e da inteligência. Ele con- sidera cinco estágios principais do desenvolvimento da criança , sendo os três primeiros parte da educação infantil (WALLON apud CARDOSO, 2015). São eles: 14 Organização didática da educação básica Impulsivo emocional (0 a 3 me- ses/3 meses a 1 ano): trata-se do período em que os bebês estão desenvolvendo as condições sensório-motoras, como olhar e pegar, explorando o ambiente e as relações emocionais que ele traz. O bebê começa sua desco- berta do mundo e de si próprio. É a fase em que o pedagogo tem as melhores oportunidades de desenvolver sentidos, como o tato, a visão, entre outros, que constituirão a base para os de- mais desenvolvimentos ao longo de cada estágio. Personalismo: divide-se em três etapas: crise de oposição (3 a 4 anos), idade da graça (4 a 5 anos) e imitação (5 a 6 anos). Nesse estágio, o que prevalece, de maneira geral, é a construção das relações afetivas, a cons- trução de si. Contudo, a criança ainda não consegue desenvolver a empatia, ou seja, ela ainda não consegue se colocar no lugar do outro. Suas vontades imperam e, por isso, o entendimento do con- vívio e das relações começa a ser um desafio e a ganhar sentido. Sensório-motor e projetivo (1 ano a 18 meses/3 anos): trata-se de quando a criança começa a explorar o ambiente em que está inserida nos aspectos físicos e a simbolizar, conseguindo reconhecer certos objetos apenas pronunciando o nome, não havendo necessidade de possuir ou tocar o objeto concreto. Além disso, predominam aspec- tos referentes à cognição, já que a criança compreende comandos, co- meça a conceber a diferença entre o sim e o não, imita ações e reproduz o que o adulto solicita, iniciando o desenvolvimento de memória e atenção com pequenas brincadeiras e descobertas cotidianas. 0 a 1 ano Impulsivo Emocional 1 a 3 anos Sensório-motor e Projetivo 3 a 6 anos Personalismo O trabalho do pedagogo na educação infantil 15 Categorial (6 a 11 anos): estágio mais voltado para o desenvol- vimento cognitivo em si, pois a criança está em processo de alfabetização. Lembrando que esse processo se estende por todo o ensino fundamental, no sentido de aprimorarcada necessidade em sala de aula de maneira reflexiva e imparcial. De acordo com Pimenta (1999), é preciso compreender inicialmen- te o conceito desse professor reflexivo, pois o termo se tornou mais uma expressão da moda do que uma meta de transformação propria- mente dita. Nesse sentido, mais uma vez, aparece a necessidade de se estabelecer uma relação da teoria com a prática, pois se o profes- sor reflete sobre os processos, é necessário também agir sobre eles. No livro Pedagogia da ter- nura, Luiz Schettini Filho desenvolve um conceito de ternura aplicado à prática pedagógica como um instrumento de valo- rização da pessoa, tendo em vista a singularidade de cada indivíduo. Longe de ser um livro teórico, o autor se vale da exempli- ficação para desenvolver sua pedagogia, tornando o texto, ao mesmo tempo, prático e reflexivo. SCHETTINI FILHO, L. 3. ed. Petrópo- lis: Vozes, 2011. Livro Organização didática do ensino médio e da educação profissional 79 Já para Libâneo (2005, p. 76), é fundamental questionar o tipo de reflexão que o professor precisa para alterar sua prática, pois a reflexão sobre a prática não resolve tudo, a experiência refleti- da não resolve tudo. São necessárias estratégias, procedimentos, modos de fazer, além de uma sólida cultura geral, que ajudam a realizar o trabalho e melhorar a capacidade reflexiva sobre o que e como mudar. Assim, mais uma vez, teoria e prática caminham juntas e devem re- fletir resultados visíveis, voltados à elaboração de estratégias que apro- ximem professor, aluno e metodologias, para que juntos construam o conhecimento e convivam em um ambiente escolar saudável e intera- tivo. Lembrando que, no ensino médio, o pedagogo é o responsável para que todo esse trabalho ocorra e por orientar professores frente a dificuldades nessa condução. Portanto, a boa relação profissional en- tre pedagogo e professor é imprescindível para que ocorra a interação entre professor e aluno durante o aprendizado. Com esse trabalho, há muitas possibilidades de se estabelecer essa relação entre professor e aluno, principalmente nos momentos de construção de conhecimento em sala de aula, durante pesquisas, tra- balhos em grupo e situações de desafio, em que o aluno deve se sentir parte desse grupo, assistido pelo professor e, consequentemente, con- fiante a caminhar com autonomia. Para que isso aconteça, o diálogo é um elemento essencial. Freire (2005, p. 91) acrescenta que o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereça- dos ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode re- duzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca de ideias a serem consu- midas pelos permutantes. Ou seja, por meio de algumas estratégias simples, como o diá- logo, é possível envolver alunos e professores no processo de en- sino-aprendizagem, tornando o ensino significativo e voltado ao desenvolvimento humano. Entre outras possibilidades de se estabelecer uma relação constru- tiva e prazerosa entre professor e aluno, está a de que o aluno precisa perceber a aplicabilidade prática daquilo que está sendo tratado em 80 Organização didática da educação básica sala de aula, em que parte do seu cotidiano será aplicado. Essa apro- ximação da relação entre teoria e prática é algo que o professor deve incluir durante o desenvolvimento de suas aulas. Com isso, a valorização e o respeito mútuo entre professor e aluno acontecem, uma vez que, ao perceber sentido nas aulas, o aluno automaticamente participará mais e se aproximará do professor para se posicionar ou solucionar dúvidas. Dessa maneira, com criatividade e investimento no diálogo, são abertas novas portas com inúmeras possibilidades de trabalho integra- do e efetivo em sala de aula para professor e aluno. 6.2 Projetos interdisciplinares e o Enem Videoaula As possibilidades de aprendizado atualmente são diversas. As tec- nologias acabaram com as barreiras de comunicação entre os mais va- riados locais do mundo e, consequentemente, suas culturas. Assim, o conhecimento se tornou de fácil acesso para muitas pessoas. A partir desse panorama, devemos reconhecer que a escola, por ser um local de socialização, de troca mútua e construção do conhecimen- to, não pode continuar com metodologias que hoje não fazem sentido para a nova geração de alunos, já que é possível adquirir conhecimento de diversas maneiras, independente do ambiente escolar. Nessa perspectiva, é importante que a escola reconheça a integra- ção das áreas do conhecimento em seu ambiente e fora dele. A geo- grafia está relacionada à história, assim como a língua portuguesa e a matemática estão também. As ciências são vivenciadas cotidianamen- te, pois fatores humanos e ambientais nos rodeiam a todo momento, interagindo uns com os outros. Por isso, não é cabível tratar os saberes de maneira fragmentada e distante da sua aplicação prática. É necessário olhar o conhecimento como integrado e interdisciplinar, ou seja, relacionando as disciplinas de maneira que elas façam sentido em seu uso. Para que isso aconteça, o projeto pedagógico das escolas precisa ser revisto e reelaborado nessa nova perspectiva, voltada ao pensamen- to crítico, integrado e com aplicabilidade clara no dia a dia. A revisão do projeto pedagógico da escola pode ser conduzida pelo pedagogo e construída de maneira democrática, em que a participação de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem é de extrema impor- tância para manter as características da cultura escolar, mesmo diante de grandes mudanças. A partir desse novo olhar interdisciplinar, surge a oportunidade de desenvolver metodologias ativas de aprendizagem e projetos di- ferenciados que alcancem novas formas de construir conhecimento. Essa nova construção torna o aluno mais ativo e autônomo para a sua aprendizagem e crítico ao buscar novos conhecimentos. Para que essa nova perspectiva ocorra no ambiente escolar durante o processo de ensino-aprendizagem, é necessário inicialmente que pe- dagogo e professores façam um bom planejamento. Nesse momento, evidencia-se o papel do pedagogo como aquele que faz a intermedia- ção para que a interdisciplinaridade ocorra, pois, no ensino fundamen- tal – anos finais e no ensino médio, em que há um professor para cada disciplina, ele precisa estar integrado e planejar juntamente com as de- mais áreas para garantir esse olhar abrangente sobre os temas. Figura 2 É importante sair até mes- mo do ambiente tradicional da sala de aula e propor trabalhos em grupo em outros espaços da escola, como a biblioteca. M on ke y Bu si ne ss Im ag es /S hu tt er st oc k Figura 1 Aulas expositivas podem se tornar enfadonhas, gerando distração e distanciamento entre professor e alunos. IIIII IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII como integrado e interdisciplinar, ou seja, relacionando as disciplinas de maneira que elas façam sentido em seu uso. Para que isso aconteça, o projeto pedagógico das escolas precisa ser revisto e reelaborado nessa nova perspectiva, voltada ao pensamen- to crítico, integrado e com aplicabilidade clara no dia a dia. A revisão do projeto pedagógico da escola pode ser conduzida pelo pedagogo e construída de maneira democrática, em que a participação de todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem é de extrema impor- tância para manter as características da cultura escolar, mesmo diante de grandes mudanças. A partir desse novo olhar interdisciplinar, surge a oportunidade de desenvolver metodologias ativas de aprendizagem e projetos di- ferenciados que alcancem novas formas de construir conhecimento. Essa nova construção torna o aluno mais ativo e autônomo para a sua aprendizagem e crítico ao buscar novos conhecimentos. Para que essa nova perspectiva ocorra no ambiente escolar durante o processo de ensino-aprendizagem, é necessário inicialmente que pe- dagogo e professoresfaçam um bom planejamento. Nesse momento, evidencia-se o papel do pedagogo como aquele que faz a intermedia- ção para que a interdisciplinaridade ocorra, pois, no ensino fundamen- tal – anos finais e no ensino médio, em que há um professor para cada disciplina, ele precisa estar integrado e planejar juntamente com as de- mais áreas para garantir esse olhar abrangente sobre os temas. Figura 2 É importante sair até mes- mo do ambiente tradicional da sala de aula e propor trabalhos em grupo em outros espaços da escola, como a biblioteca. M on ke y Bu si ne ss Im ag es /S hu tt er st oc k Organização didática do ensino médio e da educação profissional 81 82 Organização didática da educação básica A partir desse planejamento, diversas possibilidades de integração podem surgir, como o desenvolvimento de uma peça de teatro, ou a elaboração de plataformas interativas. Essas são ferramentas que vão ao encontro do interesse dos adolescentes, permitindo-lhes a obten- ção de conhecimento de diferentes formas, bem como a socialização e a expressão, elementos tão importantes nessa fase da vida. Para o sucesso desse processo, a escola deve conversar como um todo. É necessária a ação integrada entre professores e pedagogo para garantir o suporte diante dos planejamentos e desafios que possam surgir, e entre professores e alunos para que o momento de constru- ção do conhecimento seja prazeroso e rico em possibilidades. Com essa boa condução, o processo interdisciplinar se tornará parte da cul- tura escolar e, consequentemente, dessa nova forma de o aluno visua- lizar a aprendizagem. Por isso, essa aprendizagem necessita de um olhar inovador, pois, hoje, até mesmo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) adota cada vez mais um viés interdisciplinar, crítico e amplo do conhecimento re- lacionado às ciências e à sociedade. Assim, para que esse objetivo seja alcançado, são necessários alguns cuidados específicos ao pensar no planejamento de uma proposta interdisciplinar. Inicialmente, é preciso ter claro as prioridades de estudo. No caso de projetos voltados a contemplar as competências cobradas no Enem, os professores que se propuserem a desenvolver o projeto in- terdisciplinar precisam saber quais objetivos devem ser alcançados com esse trabalho. Um exemplo de trabalho interdisciplinar é o estudo das obras literárias pertinentes ao Enem ou aos vestibulares, pois é possível observar, dentro dessas leituras, fatores geográficos, históricos, na- turais e políticos. Assim, seja esperando um bom resultado no Enem ou aplicando em qualquer outro momento da vida, os conhecimentos interdiscipli- nares fazem parte dessa nova perspectiva de ensino-aprendizagem, os quais não podem deixar de ser alvo de cuidado e trabalho do peda- gogo nas escolas. O livro Pedagogia da Auto- nomia: saberes necessários para a prática educativa trata de maneira direta e sensível a necessidade de um olhar especial do pro- fessor sobre a sua prática, sobre a sua ação frente à formação do aluno e aos reflexos na construção do ser cidadão. FREIRE, P. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. Livro Organização didática do ensino médio e da educação profissional 83 6.3 A escola e as novas exigências da sociedade contemporânea Videoaula A sociedade atual passa constantemente por transformações que modificam comportamentos e estruturas sociais. Assim, a escola, como agente transformador do cidadão, deve acompanhar essas mudanças e suprir as necessidades contemporâneas. Nesse sentido, ela deve munir-se de um acervo de possibilidades que formem um aluno cada vez mais integrado e ativo nessa sociedade. Po- rém, os caminhos para que isso ocorra devem ser planejados em prol da busca por superações de obstáculos que a escola ainda encontra. No vídeo Educação na sociedade do conhecimento, publicado pelo canal vivianemosevideos, Viviane Mosé fala sobre as mu- danças sociais que impactam diretamente no modo de ser, pensar e agir do ser humano. Consequentemente, essas mudanças ocorrem também no interior da escola. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=v- qkUWJINT_k. Acesso em: 22 jan. 2020. Vídeo Nessa perspectiva, a tecnologia digital ainda é uma dessas dificuldades, tanto pelo uso dos próprios pro- fessores, que algumas vezes não dominam as ferra- mentas, quanto na sua utilização em sala de aula, que precisa ocorrer de maneira integrada e como recurso importante nas dinâmicas – no formato de pesquisa, nas descobertas, no complemento, na criticidade e até mesmo para desenvolver o olhar crítico do aluno. Ou seja, não basta utilizar slides ou passar ví- deos para os alunos em sala, é necessário utilizar as tecnologias digitais para uma ação efetiva com a participação dos alunos, por meio de jogos, plata- formas interativas, pesquisas diferenciadas, entre outras possibilidades. Com relação à motivação dos alunos, levá-los à sensibilização e a uma participação efetiva nas aulas de maneira articulada e ativa é ou- tro desafio. O uso de tecnologias digitais e de metodologias ativas é um caminho para superá-lo. Assim, a mediação do conhecimento ocorre partindo principalmen- te de metodologias ativas, aproximando o aluno, despertando interes- se e motivação em descobrir novos conhecimentos, além de buscar superação diante de dificuldades. Para que tudo isso ocorra, é necessário repensar a forma de conduzir as aulas, pois essa questão diz respeito também às competências sociais e emocionais dos alunos. Saber conviver e lidar com as diferenças faz parte dessa forma de pensar a educação. 84 Organização didática da educação básica CONSIDERAÇÕES FINAIS Em qualquer etapa de ensino, da educação infantil ao ensino médio, é notório o importante papel do pedagogo e do professor para o desenvol- vimento efetivo do ser humano. Para que esse desenvolvimento ocorra, é necessário que o processo de conduzir o pensar pedagógico pelos mais diferentes caminhos seja traçado aproveitando a beleza e a diversidade de cada fase da criança e do adolescente. Nesse caminho, pudemos perceber que não bastam conhecimentos científicos para que o professor realize um bom trabalho – estes são ape- nas a base que norteia a prática –, é preciso que a prática seja prazerosa, significativa, crítica, criativa e adequada às necessidades individuais e co- letivas dos alunos. A influência que se exerce na formação do ser humano na condução da sua aprendizagem é o sentido da educação. Por isso, olhar essa edu- cação com delicadeza e cuidado, é essencial ao pedagogo/professor que estará à frente desse processo que marca e faz a diferença na vida e na formação humana. ATIVIDADES 1. Conforme refletimos neste capítulo, para que a escola esteja no caminho das necessidades sociais contemporâneas, é necessário que o professor adote encaminhamentos e posturas específicas em sala de aula. Com relação à metodologia aplicada, comente como você acredita ser a dinâmica adequada para a condução das aulas de hoje. 2. A interdisciplinaridade hoje é um conceito de grande importância a ser aplicado nas escolas. Sendo assim, descreva o conceito de interdisciplinaridade e o motivo dessa importância. 3. Entre os desafios encontrados pela escola na sociedade contemporânea, o uso das tecnologias ainda é um fator a ser trabalhado. Comente por que esse recurso ainda é um desafio nas escolas. REFERÊNCIAS FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2005. LIBÂNEO, J. C. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2005. PIMENTA, S. G. Professor: formação, identidade e trabalho docente. In: PIMENTA, S. G. (org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 1999. Gabarito 85 GABARITO 1 O trabalho do pedagogo na educação infantil 1. As habilidades socioemocionais consistem em competências a serem trabalhadas, praticadas e aprendidas na educação infantil. Elas devem estar relacionadas ao convívio social e, consequentemente, envolvemfatores emocionais. Sua importância se destaca no momento em que o desenvolvimento dessas competências torna a criança um cidadão bem resolvido com suas emoções e integrado ao convívio com o próximo. 2. O período sensório-motor (0 a 2 anos) ocorre mediante a exploração do mundo por meio dos sentidos. A criança precisa tocar, provar os objetos. É uma fase de muita curiosidade e exploração do meio e, por isso, o professor deve estar atendo a todos os estímulos necessários para seu desenvolvimento amplo. Já no período pré-operacional (2 a 7 anos), no qual a criança conclui a educação infantil e já é inserida nos primeiros anos do ensino fundamental, há o estabelecimento de uma representatividade para os símbolos presentes no cotidiano, tal como atribuir nomenclaturas para pessoas ou coisas. Dentro do estágio pré-operacional, estão presentes algumas funções simbólicas, como a identificação e a apropriação de identidade, além da capacidade de classificação e compreensão, essenciais para o desenvolvimento infantil. Esse período tem ainda como elemento principal os estímulos à alfabetização. 3. Educar consiste no ato de abrir possibilidades de aprendizagem para a criança, com momentos planejados e intencionalidade de desenvolver cognição e novos saberes. Paralelo a esse ato, o cuidar consiste nas necessidades essenciais que a criança de educação infantil requer e focaliza o preparo para as habilidades emocionais e de convívio com o próximo. 2 Organização didática na Educação Infantil 1. Dentro dessa preocupação, é necessário que o pedagogo conheça a faixa etária e a realidade de seus alunos, planeje com intencionalidade, definindo objetivos claros e utilizando uma metodologia que alcance os alunos de maneira construtiva. 86 Organização didática da educação básica 2. O dia do brinquedo, além de ser um momento agradável para as crianças, possui uma função social. Nesse dia, a criança aprende a compartilhar, cuidar do que não é seu, respeitar a vontade dos colegas, além de desenvolver a imaginação e a criatividade. 3. Após uma primeira ocasião de sondagem da turma, em um segundo momento, é importante o pedagogo manter a avaliação de modo contínuo, ou seja, não considerando apenas resultados finais, mas também a evolução que o aluno teve ao longo do processo. 3 Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 1. Dentro da proposta pedagógica, o coordenador deve ter claro a necessidade de continuidade no processo de privilegiar o movimento, os saberes prévios e o contexto sociocultural. Com base nesses três elementos, a proposta é cuidar para que a peculiaridade de cada aluno seja preservada. 2. A práxis diz respeito à relação entre teoria e prática. É ela que concede sentido ao que o professor realiza em sala de aula e contribui para o desenvolvimento da sua identidade frente a sua ação, pois apresenta elementos teóricos de sua formação que fazem sentido em situações do dia a dia. 3. O método de ensino se refere a uma postura geralmente adotada pela escola e que reflete a forma de ensinar e conduzir os processos de sala de aula daquela instituição. Já a metodologia consiste na opção de práticas que ocorrem efetivamente em sala para a aprendizagem acontecer e para desenvolver o conhecimento. 4 Organização didática do ensino fundamental – anos finais 1. Segundo Piaget, o pré-adolescente se encontra na fase das operações formais, na qual ele apresenta melhor concordância e um pensamento organizado e bem expressado na fala e na escrita. O aluno tem a noção de conservação numérica, probabilidade, hipóteses e abstração de pensamento, bem como manipula mentalmente a representação do mundo que internalizou nas fases anteriores. Apesar de conceitos abstratos ainda serem de difícil compreensão para ele, as regras Gabarito 87 sociais começam a fazer sentido, permitindo-lhe se apresentar com mais autonomia e julgar o certo e o errado. 2. Nessa etapa, o pedagogo atuará como canal de comunicação entre os professores, buscando estabelecer um trabalho interdisciplinar e orientando planejamentos de acordo com as características das turmas ou, ainda, nos casos de inclusão. Pensará, juntamente com cada professor, em estratégias diferenciadas para levar os alunos a compreenderem determinados conhecimentos. 3. Inicialmente, a avaliação é cumulativa, ou seja, por meio de diferentes possibilidades cotidianas. O professor cria formas de acompanhar o rendimento do aluno, de intervir nos momentos oportunos e até mesmo de orientá-lo a saber como buscar a solução para suas dúvidas. Ela é cumulativa e contínua porque não é realizada apenas no final de todo um processo, mas considerada durante a aprendizagem. 5 Desafios do pedagogo no ensino médio 1. O pedagogo deve orientar os professores que trabalham nesse nível, levando-os a compreender que esse período de instabilidade psicológica requer momentos de escuta, acolhida de sugestões e reflexões, que levarão o adolescente a sentir-se parte do processo em que está inserido durante as aulas. 2. O ensino médio é uma etapa em que algumas famílias não acompanham mais os alunos. Isso ocorre até mesmo pelas transformações que ocorrem nas estruturas emocionais e sociais do adolescente. No entanto, esse acompanhamento ainda é importante, mesmo prezando pela autonomia do aluno. Uma das consequências dessa falta de acompanhamento é a evasão escolar. 3. O pedagogo no ensino médio assume o papel de organizador dos processos que conduzem esse nível de formação e da educação profissional. Ele atua em questões voltadas à atualização do currículo escolar, à formação continuada de professores e à aplicação da teoria e da prática no ambiente escolar. 6 Organização didática do ensino médio e da educação profissional 1. O professor precisa inicialmente estar bem instrumentalizado, com clareza nos objetivos a serem atingidos, bem amparado pelo pedagogo 88 Organização didática da educação básica durante o transcorrer do ano escolar e proporcionar a aproximação com o aluno para que a construção do conhecimento ocorra de maneira efetiva. A consciência de que esses aspectos caminham juntos deve fazer parte da formação do professor e do trabalho do pedagogo escolar como condutor do trabalho pedagógico. Além de conhecimento científico, é necessário o conhecimento do perfil do aluno e de novas metodologias. Essas metodologias são o grande diferencial do trabalho, uma vez que, ao optar por metodologias diferenciadas, o aluno será ativo diante do seu processo de aprendizagem. Assim, a metodologia deve ser voltada a estimular a participação e a autonomia. 2. Interdisciplinaridade é o tratamento integrado do conhecimento entre as áreas. Os professores planejam aula fazendo a relação entre as matérias e sua aplicabilidade prática. Hoje, a interdisciplinaridade vem ao encontro do perfil do estudante do mundo atual, devido a sua relação próxima do cotidiano e das possibilidades de trabalhos atrativos e diferenciados, que tornam o ensino instigante para o aluno. 3. O uso das tecnologias nas escolas ainda é um desafio por dois pontos principais: o primeiro trata-se da resistência ou falta de instrução de alguns professores, e o outro é quando são utilizadas de maneira superficial nas aulas. A tecnologia deve estar integrada como recurso significativo. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6584-4 9 7 8 8 5 3 8 7 6 5 8 4 4 Código Logístico 59181 PRISCILA CHUPIL PR ISC ILA C H U PIL ORGANIZAÇÃO DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO BÁSICAa escrita ano a ano. A capacidade cogniti- va e de abstração estão em pleno desenvolvimento. Ie sd e Br as il S/ A Adolescência (a partir de 11 anos): nesse estágio, a pessoa, agora adolescente, está desen- volvendo os valores morais e pessoais. O que mais predomina nessa idade é a afetividade, pois se estabelecem fortes relações sociais e, principalmente, há a necessidade de se posicionar no mundo, colocar suas ideias e ser aceito socialmente. 3 a 6 anos Personalismo 6 a 11 anos Pensamento Categorial 11 em diante Puberdade e Adolescência 16 Organização didática da educação básica Desse modo, por meio das diferentes concepções voltadas às fases do desenvolvimento infantil, percebemos que, desde o nascimento, a criança passa por momentos intensos de transformação e que são pre- dominantes em seu desenvolvimento. Na educação infantil, além dos conhecimentos sobre as fases do desenvolvimento e a importância da afetividade, outro fator de extre- ma relevância é o desenvolvimento motor, que é marcado pelo aper- feiçoamento das habilidades de locomoção e pela ampliação dessas possibilidades. Dentro dessas habilidades, temos aquelas relacionadas ao desenvolvimento motor amplo, como correr, saltar, pular em um pé só, pedalar, entre outras, e ao desenvolvimento motor fino, como o movimento de pinça – essencial para a escrita. Tais conhecimentos nos trazem uma visão ampla sobre as caracte- rísticas das crianças e o seu desenvolvimento. Porém, recentemente, a neurociência trouxe novas contribuições, que complementam o papel do pedagogo frente ao trabalho com o desenvolvimento infantil e nos fazem refletir ainda mais sobre o assunto. Todas as funções desenvolvidas nos aspectos citados anteriormen- te estão diretamente ligadas ao sistema nervoso. Este desempenha vá- rios papeis que fazem parte do controle do organismo. Normalmente, as atividades rápidas do organismo são controladas pelo sistema ner- voso, como as contrações musculares e os fenômenos viscerais que se modificam depressa. O sistema nervoso recebe milhares de estímulos a partir das infor- mações de diferentes órgãos sensoriais. Na sequência, abrange todas elas para designar a resposta a ser realizada pelo organismo. Se não fossem os bilhões de células que formam o sistema nervoso, não seria possível termos a capacidade sensitiva, tão importante durante toda a vida, que começa a se desenvolver logo na primeira infância – no perío- do sensório-motor. Portanto, para entender o mecanismo de aprender, é preciso saber um pouco sobre o funcionamento do sistema nervoso central, o orga- nizador dos nossos comportamentos: Cada tipo de habilidade ou comportamento pode ser bem rela- cionado a certas áreas do cérebro em particular. Assim, há áreas habilitadas a interpretar estímulos que levam à percepção visual O trabalho do pedagogo na educação infantil 17 e auditiva, à compreensão e à capacidade linguística, à cognição, ao planejamento de ações futuras, inclusive movimento, e assim por diante. (RELVAS, 2010, p. 14) Sendo assim, o desenvolvimento humano é algo extraordinário e complexo, desde o nascimento. Nesse âmbito, o pedagogo é o entende- dor principal desse desenvolvimento, levando em consideração todos os fatores que envolvem a aprendizagem, seu maior campo de atuação. Compreender as características do desenvolvimento da criança de educação infantil e como ela aprende leva o pedagogo a tornar seu trabalho em sala de aula mais concreto e significativo, planejando aulas de acordo com a capacidade cognitiva da criança e promovendo evolu- ções constantes em seu desenvolvimento. Não podemos esquecer que a educação infantil possui uma grande função no desenvolvimento, em seus mais diferentes aspectos – afeti- vo, cognitivo, motor –, e uma função social de grande relevância para a formação do cidadão. 1.2 A educação infantil e sua função social Videoaula Para compreender os aspectos específicos relacionados à educação infantil e, assim, atribuir sentido à sua função social, vamos inicialmente tratar da concepção de infância. Podemos nos basear, inicialmente, no texto do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI): A concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam diferentes maneiras de se considerar as crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. (BRASIL, 1998, p. 21) Esse reconhecimento do ser individual se inicia na educação infantil, que é o momento em que a criança tem o primeiro contato com o am- biente escolar. Nesse instante, ela traz para si a responsabilidade de que a apresentação a esse novo mundo, agora fora do ambiente familiar, seja repleta de boas experiências e riqueza de novos conhecimentos. 18 Organização didática da educação básica Sabe-se que a criança de hoje não é a mesma de antigamente. Em todo o mundo, a infância não é tida como um padrão único e imutá- vel. Tal como todos os aspectos sociais que nos rodeiam, ela também sofre mudanças. Você faz parte do processo social e humano de constante trans- formação. Essa transformação chega também ao ambiente escolar; à construção de novos sujeitos, que, hoje, habitam diferentes configu- rações de organização familiar, participam das diferentes práticas de criação dos filhos e da divisão de tarefas; e aos papéis que modificam a criação da criança pequena e, consequentemente, tornam cada vez mais coletiva a responsabilidade sobre sua educação e seu cuidado. Não podemos deixar de atribuir ainda mais valor e respeito à identi- dade da educação infantil para o desenvolvimento da criança, além de repensar constantemente a ação pedagógica que nela é aplicada. Essa ação pedagógica deve ter o objetivo de desenvolver as habili- dades cognitivas, motoras, emocionais e afetivas da criança, a fim de formá-la e torná-la uma pessoa capaz de identificar suas próprias indi- vidualidades e de atuar coletivamente. Nesse sentido, incentiva-se as habilidades socioemocionais, que são as competências que podem ser ensinadas, praticadas e aprendidas tanto na escola quanto em casa, por meio de diversas atividades, e que são consideradas a base do de- senvolvimento humano. Dentro desse contexto de relevância social e cognitiva, devemos ter claro, ainda, que a educação infantil desempenha um trabalho preven- tivo quanto a dificuldades de aprendizagem, pois proporciona o supor- te necessário para que as demais aprendizagens ocorram durante a vida escolar. A responsabilidade da educação infantil é muito grande. Por esse motivo, é preciso pensar seriamente sobre as possibilidades de atua- ção, mediando os estímulos que serão oferecidos à criança em seu crescimento por meio de um processo evolutivo, visando atingir o mais amplo desenvolvimento biopsicossocial 1 O desenvolvimento biopsicosso- cial considera todos os âmbitos do desenvolvimento: o biológi- co, o psicológico e o social. 1 . A banalização ou a subvalo- rização de sinais que apontam para o desenvolvimento infantil podem adiar a tomada de decisão em oferecer à criança os atendimentos ne- cessários, trazendo prejuízos na aprendizagem escolar e no desenvol- vimento biopsicossocial da criança (AYRES, 2012). O livro Educação Infantil: teoria e práticas para uma proposta pedagó- gica trata de questões amplas sobre a função da educação infantil no desenvolvimento da criança, além de trazer exemplos de como essa prática deve acontecer de forma significativa. AYRES, S. N. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Livros O trabalho do pedagogo na educação infantil 19 Além disso, os pedagogos precisam ter a consciência de que o tra- balho com a realidade sociocultural que a educação infantil requer está diretamente ligado ao ato de educar e de cuidar. Apesarde sentidos distintos, educar e cuidar são premissas para a educação infantil, pois segundo o RCNEI: Educar é propiciar situações de cuidados, brincadeiras e apren- dizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude de aceitação, respeito e confiança, e o acesso pelas crianças aos co- nhecimentos mais amplos da realidade cultural e social. (BRASIL, 1998, p. 23) Assim, o ato de educar envolve questões de maneira direcionada, com a intencionalidade que um objetivo deve ser alcançado. Precisa ser pensado em prol da faixa etária das crianças a serem atendidas e que desenvolvam questões necessárias para seu desenvolvimento, sejam elas cognitivas, afetivas ou sociais. Contudo, na educação infantil, além de educar é necessário tam- bém cuidar, o que o RCNEI define do seguinte modo: Cuidar significa a base do cuidado humano, é compreender como ajudar o outro a desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva em procedimentos específicos. (BRASIL, 1998, p. 24) Dessa forma, cuidar representa uma necessidade primária do ser humano para que ele possa se desenvolver. Por meio das relações estabelecidas, cuidar se torna parte até mesmo de uma necessidade. Quando tratamos de educação infantil, esse cuidado, muitas vezes, também é efetivo frente à dependência que crianças menores ainda apresentam. Por isso, cuidar e educar caminham juntos nessa cons- trução social e humana da criança na educação infantil, suprindo suas necessidades básicas e agindo com intencionalidade no seu desenvol- vimento cognitivo, afetivo, motor e social. Por conta de todos esses aspectos e pela relevância destacada des- se período do desenvolvimento infantil, cada vez mais os professores e a sociedade podem visualizar a educação infantil como a base de sus- tentação para toda a vida escolar e social das crianças. Trata-se de um período único e de extrema importância em suas vidas. 20 Organização didática da educação básica 1.3 Múltiplos papéis do pedagogo na educação infantil Videoaula Assim como em todos os níveis de ensino, na educação infantil são vários os papéis assumidos pelo pedagogo. Porém, o que se diferencia nesse nível é a delicadeza do momento, no sentido de compreender fa- tores de adaptação diferentes dos demais níveis de construção de base e desenvolvimento específico, que marcarão toda a vida escolar do alu- no. Por isso, inicialmente, entende-se que seu papel principal é enten- der o que representa essa fase cognitiva e de desenvolvimento infantil, assim como suas fases e os principais momentos em que cabem os estímulos necessários para um desenvolvimento amplo e efetivo. Dessa forma, entende-se que o pedagogo que trabalha com a edu- cação infantil assume o papel de mediador do conhecimento, criando oportunidades de desenvolver pensamento, imaginação, criatividade e proporcionado integração social, refletindo constantemente sobre sua ação frente a esses processos. De acordo com o conceito de ação docente, a profissão de edu- cador é uma prática social. Como tantas outras, é uma forma de se intervir na realidade social, no caso, por meio da educação que ocorre não só, mas essencialmente, nas instituições de ensi- no. Isso porque a atividade docente é ao mesmo tempo prática e ação. (PIMENTA; LIMA, 2008, p. 41) Para que esse processo ocorra, o pedagogo deve utilizar sua base teórica de conhecimento, a fim de elaborar práticas que alcancem as necessidades da idade no contexto da educação infantil. Essas práticas compreendem desde o ato de brincar até o investimento de rotinas com intencionalidades diferenciadas, proporcionando adequações du- rante o planejamento para que os projetos possam ser desenvolvidos de forma significativa para a criança, contemplando, assim, as mais va- riadas dificuldades. Além de educar, o professor também precisa ter cuidado e zelo pela criança. Ele deve realizar tais atividades de maneira simultânea e inte- grada. Esse cuidado envolve, também, acompanhar e orientar a família, que precisa estar presente no desenvolvimento da criança e incorpora- da a essa responsabilidade. Pedagogo, aluno e família devem caminhar rumo ao melhor desenvolvimento da criança. Baseado em uma história real, Escritores da Liberda- de narra os desafios en- frentados pela professora Erin Gruwell ao perceber que os problemas da es- cola são provenientes da comunidade e que eles começam a agir sobre ela também. Esse filme demonstra a importância e o potencial da formação humana e as influências do professor sobre ela, reforçando os múltiplos papéis do pedagogo/ professor. Direção: Richard LaGravenese. EUA: Paramount Pictures, 2007. Filme O trabalho do pedagogo na educação infantil 21 Essa é uma das maiores peculiaridades da educação infantil, uma vez que o desenvolvimento do trabalho necessita efetivamente do cumprimento de todos esses personagens: escola, família e aluno. Por ser pequena, a criança ainda se apresenta dependente em muitos as- pectos, que se tornam parte integrante das responsabilidades da famí- lia e da escola ao ingressar na vida escolar. Assim, na educação, consideramos múltiplos os papéis do peda- gogo, que são visualizados em dois aspectos: enquanto professor e enquanto pedagogo. Dentre as características que mais contemplam esse profissional, estão: conhecer a criança; planejar as atividades de acordo com sua faixa etária; contemplar e respeitar cada momento do seu desenvolvimento; e proporcionar relação saudável e próxima com as famílias e demais envolvidos no trabalho pedagógico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreender quem é a criança que está na educação infantil e a fun- ção e a importância dessa fase escolar no desenvolvimento humano são questões fundamentais. Durante o planejamento das aulas, o pedagogo, na função de professor desse nível ou de coordenador pedagógico, deve ter clareza dessa importância, fazendo uso de metodologias que respeitem os aspectos emocionais da criança e da sua faixa etária. Subestimar a capacidade infantil com metodologias ineficazes pode ser prejudicial ao progresso da criança. Por isso, é importante sempre plane- jar as aulas tendo em vista as fases do desenvolvimento infantil estudadas neste capítulo. Assim, cabe ao pedagogo a responsabilidade de, ao atuar como do- cente ou coordenador da educação infantil, conhecer as características e capacidades cognitivas da criança, para, então, propor uma atuação significativa. ATIVIDADES 1. Sabemos que, atualmente, o estímulo às habilidades é essencial para a formação completa da criança. Com base nisso, escreva o significado de habilidades socioemocionais e argumente o porquê de sua importância. 22 Organização didática da educação básica 2. Sabendo que o período sensório-motor e o período pré-operacional correspondem às fases em que a criança está na educação infantil, como as características desses períodos determinam o desenvolvimento da criança? 3. Na educação infantil, o pedagogo deve se preocupar com o ato de educar seus alunos, mas também deve se preocupar com o ato de cuidar. Comente a relação entre esses dois fatores: cuidar e educar. REFERÊNCIAS AYRES, S. N. Educação Infantil. Teoria e práticas para uma proposta pedagógica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Vol. 1. Brasília: MEC, 1998. Disponível em: https://www.novaconcursos. com.br/blog/pdf/referencial-curricular-nacional-educacao-infantil-pref-limeira-sp.pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. CARDOSO, M. G. Importância da Afetividade na Educação Infantil. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Plena em Pedagogia) – Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2015. Disponível em: http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/10463/1/PDF%20-%20Michelle%20Gertrudes%20Cardoso.pdf. Acesso em: 22 jan. 2020. MOREIRA, M. A. Teorias de Aprendizagens. São Paulo: EPU, 1995. PIAGET, J. Inteligencia y afectividad. Buenos Aires: Aique Grupo Editor, 2001. PIMENTA, S. G.; LIMA, M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez, 2008. RELVAS, M. P. Neurociência e Educação, potencialidades dos gêneros humanos em sala de aula. Rio de Janeiro: WAK, 2010. Organização didática na educação infantil 23 Além de um ato complexo, o trabalho com crianças da educação infantil é um ato de grande amor, responsabilidade e organização, pois, a cada ação, o pedagogo necessita de intencionalidade e de planejamento frente ao que será executado. Para isso, iremos refletir sobre a organização didática necessária ao trabalho na educação infantil. Inicialmente, o planejamento e as práticas educativas são os grandes momentos nos quais o pedagogo irá pensar sobre as mais amplas questões que envolvem a tomada de decisões sobre os processos educacionais em sala de aula. Para optar pela prática ou metodologia mais adequada, o planejamento das aulas perpassa por preocupações voltadas à faixa etária da criança e, consequentemente, pelas suas capacidades cognitivas e pelas condições do espaço de atuação; ou seja, os recursos que a escola disponibiliza. Paralelamente, o pedagogo deve se preocupar com sua formação continuada e a busca por novas possibilidades metodológicas. A partir dessa preocupação inicial, é necessário, também, refletirmos sobre a continuidade e a verificação desse processo, ou seja, os resultados a serem avaliados. Precisamos nos perguntar: a aula, ou o projeto, alcançou os objetivos propostos? Atingiu os alunos a ponto de contribuir com novos conhecimentos e sistematizá-los? A avaliação também serve para o próprio pedagogo rever sua prática e repensar possíveis melhorias nesse processo. Organização didática na educação infantil 2 24 Organização didática da educação básica Cada um desses elementos ganha proporção teórica e direcionamento legal, uma vez pautados no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Esse documento trata justamente das referências base para todo o desenvolvimento do trabalho na educação, sua significância e cuidados em cada momento. Então, vamos refletir mais a fundo sobre essas questões? 2.1 Planejamento e práticas educativas Videoaula O ato de planejar faz parte da atividade humana. Planejamos nosso dia, nossas férias, o quanto economizaremos para trocar de carro etc. O planejamento está em nossas vidas nas formas mais amplas e, até mesmo, nas atividades mais simples, como o que cozinhar para o jantar ou que caminho seguir para chegar ao trabalho de maneira mais rápi- da; enfim, planejamos constantemente. Esse mesmo planejamento que faz parte do nosso dia a dia também ocorre no ambiente de trabalho, independentemente da profissão. No entanto, ao pensarmos especificamente sobre as atividades desenvol- vidas em sala de aula, o planejamento certamente se torna o principal aspecto que as move, pois também é o ponto de partida para que os pro- cessos curriculares, cognitivos e organizacionais ocorram efetivamente. Algumas escolas organizam reuniões pedagógicas no início e duran- te o ano letivo, nas quais planejam suas ações anuais, e os professores, por sua vez, organizam suas práticas e como elas irão ocorrer a cada momento: os eventos, as avaliações, as tarefas, a metodologia a ser utilizada e o material didático, isto é, o dia a dia em sala de aula. Já o trabalho desenvolvido pelo pedagogo na educação infantil deve ser seguido de intencionalidade, objetivos e recursos que tornem essas práticas significativas. Nesse sentido, o que irá assegurar, em boa parte, o sucesso dessas ações é a formação de pedagogos cientes da importância de suas práticas. É preciso formar os professores em sua prática docente diária e ins- truí-los quanto ao saber prático, como profissionais da educação, em Organização didática na educação infantil 25 relação ao conjunto de recursos didáticos que podem ser usados no exercício da docência (JULIATTO, 2013). É uma exigência dos alunos que os profissionais do magistério exerçam a atividade com responsabilida- de e competência. Assim sendo, a docência é um trabalho fundamental prestado à coletividade, uma vez que dela decorrem consequências im- portantes, que podem ser boas ou más. A partir dessa reflexão sobre a relevância da prática docente, entendendo o planejamento como um dos principais pontos a serem tratados, ele não deve ser considerado algo simples e óbvio, mas, sim, ser visto com a delicadeza que o trabalho do professor requer, pois, dessa forma, renderá bons frutos de modo organizado, estruturado, eficiente e prazeroso, tanto para o pedagogo como para o aluno. Para que esse alinhamento ocorra, o RCNEI (BRASIL, 1998) traz eixos norteadores que indicam o trabalho a ser desenvolvido para um ensino de qualidade nessa etapa e que, por isso, devem fazer parte do plane- jamento do professor: • O primeiro deles trata de identidade e autonomia. Esse eixo ressalta a importância de despertar na criança o sentimento de ser único, conhecendo suas qualidades e potenciais. Entendemos que, a partir do momento em que o aluno conhece e compreen- de a si mesmo, consequentemente as relações com os demais será mais saudável e produtiva. • A matemática refere-se ao desenvolvimento, desde cedo, do raciocínio lógico e do raciocínio matemático, que formam a base para toda a sequência de entendimentos da criança nos anos posteriores relativos a esses temas e para a busca de solução de problemas. • Natureza e sociedade trazem todas as discussões de mundo, envolvendo conhecimentos de história, geografia e ciências de maneira integrada. Em seu planejamento, o professor deve levar a criança a se sentir como parte do meio em que vive e, automa- ticamente, responsável por ele. • O trabalho com a música é outro fator importante, visto que esse conhecimento, desde o início, proporciona grandes benefícios ao desenvolvimento neuronal e à criatividade. • O movimento vem, também, como aspecto relevante, pois, na educação infantil, o desenvolvimento motor está em um dos seus períodos mais evidentes. Tanto a motricidade ampla (como correr, O livro Planejamento na Sala de aula traz, de maneira objetiva, aspectos importantes e que devem ser considerados pelo professor ao planejar e executar suas aulas. Trata, também, da relação tão importante entre planejamento e avaliação. GANDIN, D.; CRUZ, C. H. C. 4. ed. São Paulo: Vozes, 2010. Livro 26 Organização didática da educação básica saltar, organizar-se no espaço) quanto a motricidade fina (movi- mentos de escrita) são elementos de extrema importância e que devem, portanto, ser contemplados no planejamento do professor. • Diretamente ligada à motricidade está a linguagem oral e escri- ta. O movimento da escrita e a expressão corporal possuem uma forte ligação com os pré-requisitos para a alfabetização, que virá nos anos posteriores. Essa ligação se dá ao fato de que a criança, inicialmente, por meio de suas expressões corporais, desenvolve a sua linguagem, a qual, quando bem estabelecida, abre cami- nhos para que seja feito o seu registro no papel. • O trabalho com as artes visuais é outro fator que deve ser con- siderado, pois contribui para o desenvolvimento das habilidades motoras e desenvolve a criatividade e o conhecimento de ele- mentos, tais como cores, formas e texturas, que levam a criança a essa identificação de mundo, tão necessária nessa fase. Além desses eixos, podemos falar em princípios e valores como algo importante nessa etapa, para um ensino de qualidade. Eles de- vem ser inseridos no cotidiano das aulas do professor, pois a fase de zero a seis anos é uma época em que a socialização, o convívio com os demais, o entendimento e a aceitação de regras começam a ser desen- volvidos gradativamente.Considerando esses eixos, devemos analisar quais fatores envol- vem o ato de planejar na educação infantil. Desse modo, o número de alunos em sala, inicialmente, é um fator de extrema importância ao se pensar em um planejamento para uma aula ou, ainda, para um ano letivo. Assim, pensar e elaborar a prática a partir do número de alunos seria, até mesmo, o ponto principal desse planejamento. As turmas de educação infantil, no geral, apresentam um número reduzido de alunos em comparação às do ensino fundamental. Mesmo com esse diferencial, faz parte da prática do pedagogo considerar o número de alunos em sala para a concretização do que se imaginou. Identificado o espaço a ser trabalhado, os recursos disponíveis a serem utilizados e as possibilidades de realização, conforme a quanti- dade de alunos, outro fator essencial para o planejamento adequado do professor é conhecer a faixa etária dos alunos e o que cada uma de- las significa. Afinal, as características das crianças em suas respectivas Organização didática na educação infantil 27 idades e as fases de desenvolvimento interferem no planejamento do professor, que deve preparar atividades viáveis para essas realidades. Além de o professor conhecer e aprofundar seus conhecimentos sobre as fases do desenvolvimento infantil, ele deve também tomar cuidado para que o planejamento e o direcionamento das atividades estejam de acordo com as condições de aprendizagem dos alunos, a fim de não desfavorecer suas capacidades, mas, sim, encorajar as crianças em seu desenvolvimento, com o cuidado de não ultrapassar o que é característico de cada fase. Por isso, ao iniciar um novo ano, muitos pensamentos e dúvidas vêm à cabeça dos pedagogos: será que a turma tem um comportamento agi- tado? Será que terei muitos alunos com dificuldades de aprendizagem? Boa parte dessa curiosidade inicial, e até mesmo de certa ansieda- de, pode ser resolvida nas primeiras semanas de aula, quando se é aconselhado realizar um levantamento inicial das facilidades e das di- ficuldades de cada aluno. Ressalta-se, nesse momento, as facilidades pelo fato de que o pedagogo deve identificar, também, os pontos em que os alunos se destacam, visto que esta será uma informação precio- sa no planejamento estratégico anual e, até mesmo, nos trabalhos em grupos entre os alunos. Por meio desse levantamento, a elaboração de estratégias será mais direcionada, pois, conhecendo as dificuldades existentes, o pedagogo poderá planejar a melhor maneira de encaminhar a aula para que esses desafios sejam superados. No caso da educação infantil, ficam evidentes as questões voltadas ao desenvolvimento motor, socialização e oralidade. Realizado esse levantamento e detectadas todas as características iniciais que a turma e a instituição escolar apresentam, torna-se neces- sário, então, planejar de acordo com esses aspectos. Na educação infantil, os conteúdos vêm distribuídos de maneira contínua e gradativa. Devemos lembrar que a criança, nessa faixa etá- ria, aprende também por meio de repetições; assim, é preciso ensiná-la diversas vezes e de diferentes formas um mesmo tema. Ou seja, algo trabalhado em fevereiro deve ser relembrado mês a mês até dezem- bro, para que, aos poucos, as novas descobertas ganhem sentido. 28 Organização didática da educação básica Outro momento que deve aparecer no planejamento do professor e que é um fator a ser trabalhado é o aprender a compartilhar brin- quedos, o que gera certa socialização. Este não é tema de aula, é algo diário, assim como a hora da roda e outras metodologias que serão vistas logo após. Segundo Libâneo (2004, p. 222), o planejamento é um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar e a problemática do contexto social. A escola, os professores e os alunos são integrantes da dinâmica das relações sociais; tudo o que acontece no meio escolar está atravessado por influências econômicas, políticas e culturais que caracterizam a sociedade de classes. Isso significa que os elementos do planejamento escolar – objetivos, conteúdos, métodos – estão recheados de implica- ções sociais, têm um significado genuinamente político. Por essa razão, o planejamento é uma atividade de reflexão acerca das nossas opções; se não pensarmos detidamente sobre o rumo que devemos dar ao nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses dominantes da sociedade. Dessa forma, planejar uma aula é algo complexo, não óbvio, em que deverá haver cautela com os detalhes e com as possibilidades. Assim, nesse processo, também cabe ao professor a flexibilidade, a adaptação do proposto com sua realidade e a predisposição para criar e inovar. 2.2 A metodologia no ensino de crianças pequenas Videoaula A escolha pela melhor metodologia em sala de aula envolve sele- cionar métodos que possam colaborar de maneira significativa para o desenvolvimento da criança. Sabemos que o ser humano aprende em grupo, mas seu desenvol- vimento ocorre de modo individual, pois cada um possui uma capaci- dade e lógica diferentes frente ao que lhe é apresentado. Considerando essa diversidade na forma de aprender, é necessário que, ao planejar suas aulas, o pedagogo opte por metodologias e procedimentos que contribuam para a evolução do processo de aprendizagem infantil. Desse modo, dentro dessas metodologias existem rotinas utilizadas em sala de aula que indiretamente trazem para a criança grandes pos- sibilidades de desenvolvimento oral, social e humano, além de conhe- cimentos cognitivos. É preciso ter claro que a metodologia é o caminho percorrido entre a elaboração do planejamento e a verificação da aprendizagem com a avaliação, esta que deve ter como objetivo não somente a verificação do rendimento do aluno, mas também a função de ser um instrumento de percepção, em que o professor refletirá sobre sua prática, readap- tando-a se necessário. Para isso, o professor pode utilizar diferentes estratégias, as quais podem, até mesmo, fazer parte da rotina da sala de aula de educação infantil. Um exemplo bastante conhecido e utilizado é a hora da roda. Mas, por que esse momento é tão importante? Nele, as crianças inicialmente sentam em forma de círculo no chão para iniciar a atividade, o que, a princípio, já é um exercício desafiador para as crianças dessa faixa etária, pois seu autocontrole motor ainda está em desenvolvimento. Assim sendo, sentar e ouvir o outro é uma prática a ser treinada e realizada diariamente. Além de executar essas ações, a criança desenvolve oralidade, sequência temporal e memória, que são elementos importantes no desenvolvimento infantil. Organização didática na educação infantil 29 Figura 1 A hora da roda promove elementos importantes no desenvolvimento infantil. Rawpixel.com/Shutterstock sibilidades de desenvolvimento oral, social e humano, além de conhe- cimentos cognitivos. É preciso ter claro que a metodologia é o caminho percorrido entre a elaboração do planejamento e a verificação da aprendizagem com a avaliação, esta que deve ter como objetivo não somente a verificação do rendimento do aluno, mas também a função de ser um instrumento de percepção, em que o professor refletirá sobre sua prática, readap- tando-a se necessário. Para isso, o professor pode utilizar diferentes estratégias, as quais podem, até mesmo, fazer parte da rotina da sala de aula de educação infantil. Um exemplo bastante conhecido e utilizado é a hora da roda. Mas, por que esse momento é tão importante? Nele, as crianças inicialmente sentam em forma de círculo no chão para iniciar a atividade, o que, a princípio, já é um exercício desafiador para as crianças dessa faixa etária, pois seu autocontrole motor ainda está em desenvolvimento. Assim sendo, sentar e ouvir o outro é uma prática a ser treinada e realizada diariamente. Além de executar essas ações, a criança desenvolve oralidade, sequência temporal e memória, que são elementosimportantes no desenvolvimento infantil. Organização didática na educação infantil 29 Figura 1 A hora da roda promove elementos importantes no desenvolvimento infantil. Rawpixel.com/Shutterstock Além disso, o dia do brinquedo também é um momento privilegiado no que diz respeito ao desenvolvimento da imaginação e criatividade. Projetos diferenciados fazem parte das metodologias utilizadas na edu- cação infantil. Eles devem ser desenvolvidos nas aulas pela escolha de um tema ou, ainda, pelo interesse das próprias crianças. Esses projetos podem ter duração semanal, quinzenal ou se estender por um bimestre, semestre ou ano. Trata-se de uma maneira especial de tornar o conhecimento inter- disciplinar, com uma visão mais concreta e próxima da realidade da crian- ça. Dessa forma, tem-se claro que as metodologias a serem utilizadas com crianças pequenas requerem criatividade e intencionalidade. Para que essa rotina aconteça, o RCNEI (BRASIL, 1998) traz algumas sugestões relacionadas à organização didática, para que o professor possa contemplar cada parte do processo. A primeira seria com relação à organização do tempo, ou seja, o tempo de trabalho educativo, de brincadeiras e do exercício das roti- nas; isto é, do planejamento em si para que o tempo seja aproveitado da melhor forma. A segunda trata da organização do espaço e seleção de materiais, que, na verdade, faz parte do planejamento do professor, separando os materiais e espaços pertinentes a cada prática. Assim, não basta sa- ber o que fazer, mas também quando e onde. A observação, o registro e a avaliação formativa referem-se às observações e aos registros constantes que o professor deverá fazer ao longo de suas aulas, tema que será aprofundado na próxima seção. Dessa forma, entende-se que a metodologia e as rotinas vivencia- das em sala de aula precisam ser permeadas por intencionalidade, por objetivos alicerçados na prática e por um conjunto de ações que levem o professor a aprimorar cada vez mais as suas práticas. O fato de relatar situações que já aconteceram, falando de forma a ser entendido pelos demais, ajuda a desenvolver questões de oralida- de essenciais à criança. Salvo esses importantes fatores, há também a socialização e o respeito ao próximo; saber ouvir o que o outro tem a dizer é uma habilidade a ser desenvolvida, assim como esperar sua vez de falar, o que gradativamente contribui para a organização mental de ideias e controle de ações da criança. Outro exemplo de metodologia a ser utilizada na educação infantil é o hábito de deixar claro para as crianças a rotina do dia. A partir do momento em que a criança identifica o que acontecerá durante o pe- ríodo em que ficará na escola, seu grau de ansiedade se estabiliza. Esse hábito traz, também, benefícios para a organização mental da criança e controle do tempo. Desse modo, o pedagogo pode expor essa rotina de diferentes formas, como em formato de imagens, palavras ou sím- bolos que representem cada momento: hora da roda, educação física, lanche, atividade e assim por diante. O dia do brinquedo é outra forma de tornar as aulas atrativas e di- vertidas para a criança. No entanto, sua função é acima de tudo social. Geralmente, as escolas elegem um dia específico da semana em que os alunos trazem seus brinquedos para brincar na escola. Nesse dia, a criança aprende a compartilhar, cuidar do que não é seu, respeitar a vontade dos colegas e socializar. O pedagogo, ao planejar esse momen- to, deve ter a consciência dessas questões e explorar situações de con- flito que os alunos podem enfrentar, orientando-os adequadamente. 30 Organização didática da educação básica Figura 2 O dia do brinquedo tem a socialização como principal função. Ra wp ixe l.c om / S hu tte rs to ck Organização didática na educação infantil 31 Além disso, o dia do brinquedo também é um momento privilegiado no que diz respeito ao desenvolvimento da imaginação e criatividade. Projetos diferenciados fazem parte das metodologias utilizadas na edu- cação infantil. Eles devem ser desenvolvidos nas aulas pela escolha de um tema ou, ainda, pelo interesse das próprias crianças. Esses projetos podem ter duração semanal, quinzenal ou se estender por um bimestre, semestre ou ano. Trata-se de uma maneira especial de tornar o conhecimento inter- disciplinar, com uma visão mais concreta e próxima da realidade da crian- ça. Dessa forma, tem-se claro que as metodologias a serem utilizadas com crianças pequenas requerem criatividade e intencionalidade. Para que essa rotina aconteça, o RCNEI (BRASIL, 1998) traz algumas sugestões relacionadas à organização didática, para que o professor possa contemplar cada parte do processo. A primeira seria com relação à organização do tempo, ou seja, o tempo de trabalho educativo, de brincadeiras e do exercício das roti- nas; isto é, do planejamento em si para que o tempo seja aproveitado da melhor forma. A segunda trata da organização do espaço e seleção de materiais, que, na verdade, faz parte do planejamento do professor, separando os materiais e espaços pertinentes a cada prática. Assim, não basta sa- ber o que fazer, mas também quando e onde. A observação, o registro e a avaliação formativa referem-se às observações e aos registros constantes que o professor deverá fazer ao longo de suas aulas, tema que será aprofundado na próxima seção. Dessa forma, entende-se que a metodologia e as rotinas vivencia- das em sala de aula precisam ser permeadas por intencionalidade, por objetivos alicerçados na prática e por um conjunto de ações que levem o professor a aprimorar cada vez mais as suas práticas. 2.3 Avaliação na educação infantil Videoaula Executadas todas as estratégias e tomados todos os cuidados perti- nentes à garantia do bem-estar e da educação da criança, como visua- lizar os resultados desse processo? Para essa questão, só existe uma resposta: avaliar. Esse ato na edu- cação infantil está diretamente ligado à tomada de decisões. Decisões 32 Organização didática da educação básica essas relacionadas à própria atuação profissional do pedagogo, aos processos que envolvem as rotinas da escola e a efetivação de sua pro- posta curricular e à aprendizagem dos alunos. Segundo Sousa (2008, p. 56), o ato de avaliar deve estar fundamentado nos seguintes pontos: 1. Continuidade: a avaliação deve estar presente durante todo o processo educacional, e não somente em períodos específicos; 2. Compatibilidade com os objetivos propostos: a avaliação deve estar em conformidade com os objetivos definidos como nortea- dores do processo educacional para que venha realmente cum- prir a função de diagnóstico; 3. Amplitude: a avaliação deve estar presente em todas as pers- pectivas do processo educacional, avaliando assim todos os com- portamentos do domínio (cognitivo, afetivo e psicomotor); 4. Diversidade de formas: para avaliar devemos utilizar as várias téc- nicas possíveis, visando também avaliar todos os comportamentos. Após essas reflexões sobre a importância da continuidade, compati- bilidade, amplitude e diversidade da avaliação, devemos também pen- sar de modo mais prático a avaliação em momentos diferentes, porém com mesmo grau de importância. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, sancionada em dezembro de 1996, estabelece, na Seção II, referente à educação infantil, artigo 31, inciso I, que a avaliação deve ocorrer “mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promo- ção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental” (BRASIL, 1996). Assim, o primeiro momento seria o de avaliar os conhecimentos prévios dos alunos, descobrindo o que eles já sabem sobre o que preci- sa ser desenvolvido naquele estágio. Uma vez que as crianças sempre têm algo a apresentar a partir da realidade social em que vivem, é im- portante a sensibilidade do pedagogo, pois essa verificação inicial trará informações para a elaboração do seu planejamento. O momento da avaliação pode aparecer,no caso da educação infan- til, no formato de brincadeiras, rodas de conversa e, também, realizan- do uma entrevista com os pais para conhecer mais sobre a realidade da criança, suas habilidades e possíveis dificuldades, levando em conside- ração a perspectiva da família. Um segundo momento está relacionado ao processo. As estraté- gias ao longo do período, os erros, os acertos, as dificuldades encontra- Organização didática na educação infantil 33 das no caminho, as habilidades, as aprendizagens e os conhecimentos adquiridos pelos alunos no decorrer das aulas devem ser considerados ao realizar a avaliação do aluno. No caso da educação infantil, esse momento da avaliação pode ocorrer por meio de instrumentos de acompa- nhamento em que o professor faz anota- ções diárias do rendimento dos alunos, observando a evolução que tiveram e o que ainda precisa ser alcançado. Esse instrumento pode ser em formato de fichas, em que o pedagogo irá registrar diariamente a evolução dos alunos. Outra forma impor- tante de acompanhamento fre- quente é a observação da resolução das atividades. Dessas duas formas, o pedagogo conse- guirá observar de maneira proces- sual e contínua a evolução da criança nos âmbitos social e cognitivo. De acordo com o RCNEI (BRASIL, 1998), a avaliação nessa etapa deve ser processual e destinada a auxiliar na evolução da aprendizagem, for- talecendo a autoestima das crianças. Nesse documento, a avaliação é entendida, prioritariamente, como um conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e, com isso, ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças. É um elemento indissociável do processo educativo que possi- bilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar situações que gerem avanços na aprendizagem das crian- ças. Tem como função acompanhar, orientar, regular e redirecio- nar esse processo como um todo (BRASIL, 1998, p. 59). Dessa forma, espera-se visualizar os resultados das aprendizagens, ou seja, o que efetivamente foi desenvolvido e assimilado pelos alunos. Essa etapa pode ocorrer com atividades direcionadas, que intencional- mente analisam o que o aluno atingiu em termos de conhecimento e desenvolvimento, como “avaliações finais”. Phat1978/Shutterstock Figura 3 A participação da família no processo de avaliação na educação infantil. 34 Organização didática da educação básica Torna-se importante visualizar, durante cada um desses tipos de avalia- ção e em diferentes momentos, a diversidade que compõe a sala de aula. Cada aluno é único em seu desenvolvimento, e o sucesso ou não de sua aprendizagem dependerá de diferentes fatores que devem ser considerados pelo professor. Sabe-se que os estímulos externos nessa fase são um marco importantíssimo frente ao desenvolvimento do alu- no. Crianças mais estimuladas desde cedo apresentarão desempenho mais acelerado. Esses estímulos podem ocorrer com a simples exposi- ção da criança a diferentes materiais desde cedo, com formas e cores diversas, participando de contação de histórias e utilizando brinquedos educativos. Porém, muitas podem não apresentar esses estímulos pre- coces e, assim, se desenvolverão no seu tempo. Nesse sentido, o planejamento de uma aula e, consequentemente, a sua avaliação e a do aluno devem partir de princípios em que a diver- sidade, bem como as dificuldades e deficiências, sejam consideradas. Muitas vezes, esse momento necessita de um olhar diferenciado do pe- dagogo, no que diz respeito à adaptação das avaliações para a capacida- de cognitiva em que a criança se encontra, respeitando suas limitações. Após todo esse acompanhamento e cuidado, outro momento muito importante é a devolutiva das avaliações aos pais. Na maioria das escolas de educação infantil, isso ocorre na forma de relatórios, nos quais o desenvolvimento da criança é descrito sob a perspectiva pedagógica em seus diferentes aspectos (afetivo, cognitivo, motor e outros). A entrega desse relatório pode ocorrer bimestralmente, trimestralmente ou semestralmente, com a presença dos pais em reunião com o professor. Por se tratar de um momento importante do desenvolvimento in- fantil, as famílias precisam acompanhar e atentar-se a todos os âmbitos de desenvolvimento de seus filhos. Nesse sentido, cabe ao pedagogo a qualidade dessa devolutiva, sabendo apontar, com seus conhecimen- tos teóricos, quais os aspectos a serem trabalhados com a criança, o por quê e de que forma. Dessa maneira, busca-se a aproximação com a família em prol do desenvolvimento da criança, estabelecendo um trabalho com união e parceria. Por fim, o feedback que é dado às crianças com relação ao seu de- senvolvimento tem uma grande importância nesse processo. Explicar com clareza o que precisam fazer, o que se espera, e dizer como se No vídeo Reflexões sobre a avaliação na escola infantil, publicado pelo canal Instituto Advento, Jussara Hoffmann, em uma entrevista, relata os processos e desafios de avaliar na educação infantil, tema tratado aqui de maneira prática e pró- xima à realidade aplicada em sala de aula. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=FL3gjVUWs2M. Acesso em: 22 jan. 2020. Vídeo Organização didática na educação infantil 35 saíram no resultado é motivador e importante para perceberem o ca- minho a ser trilhado. Lembrando que a valorização das conquistas e do quanto a criança conseguiu se desenvolver dentro de sua capacidade deve ser vista pelo pedagogo. No que se refere às crianças, a avaliação deve permitir que elas acompanhem suas conquistas, suas dificuldades e suas possi- bilidades ao longo de seu processo de aprendizagem. Para que isso ocorra, o professor deve compartilhar com elas aquelas ob- servações que sinalizam seus avanços e suas possibilidades de superação das dificuldades (BRASIL, 1998, p. 60). Assim, percebemos que avaliar é um processo importante, rico em conhecimentos da individualidade de cada um, e é também uma ferra- menta de autoavaliação para o pedagogo, pois, por meio desses resul- tados, ele perceberá o quanto a sua prática está tendo sucesso em sala de aula, ou o quanto é necessário revê-la. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entendemos a educação infantil como a base que sustenta o de- senvolvimento cognitivo, afetivo e motor do ser humano. Dessa forma, ressaltamos a importância de o pedagogo ter claro os processos que a compõem. Desde o planejamento à escolha pela metodologia adequada e ao processo de avaliação, torna-se rico esse momento de descobertas e de novas possibilidades de desenvolvimento. Fica evidente que o pedagogo, como o principal profissional que conduz os saberes nessa etapa da educação, deve prezar pelo bom desenvolvimento da criança, favorecendo a criação das bases que o sus- tentarão para toda a sua vida escolar e social. Lembrando que essa atua- ção do professor-pedagogo deve pautar-se no profundo conhecimento teórico e no entendimento das recomendações legais apresentados por documentos como o RCNEI, que traz apoio e direcionamento ao tra- balho do professor e é seu grande aliado no trabalho desenvolvido na educação infantil. Seja o professor em sala de aula ou o pedagogo escolar, o profissional que atua na educação infantil tem a missão de fazer com que os proces- sos ocorram da melhor forma, prezando por uma organização didática que contemple todas as necessidades das crianças nesse momento. 36 Organização didática da educação básica ATIVIDADES 1. Discorra sobre as preocupações que o pedagogo deve ter ao realizar o planejamento na educação infantil. 2. Dentre as diferentes metodologias utilizadas na educação infantil, o dia do brinquedo possui um significado muito importante frente ao desenvolvimento infantil. Escreva sobre seus benefícios. 3. Ao pensarmos sobre avaliação, podemos considerar que ela deve ser feita nos primeiros momentos com a turma, sendo realizada novamente durante o processo e, também, no final do período.O que se espera obter com a avaliação em um segundo momento, durante o processo de aprendizagem? REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília DF, 23 dez. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394. htm. Acesso em: 22 jan. 2020. BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC, 1998. JULIATTO, C. I. De professor para professor, falando de educação. Curitiba: Champagnat, 2013. LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 2004. SOUSA, C. P. Dimensões da avaliação educacional. São Paulo: Vozes, 2008. Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 37 Após a jornada que a criança percorre durante o período na educação infantil e os desafios enfrentados, iniciamos um perío- do cheio de possibilidades e que exige um novo olhar voltado ao desenvolvimento. Nessa fase que se inicia, a criança se apresenta um pouco mais madura e aberta às novas descobertas; é o mo- mento em que novas capacidades cognitivas são experimentadas. Os anos iniciais do ensino fundamental contam com a beleza de uma criança capaz de compreender o próximo e de socializar de uma maneira diferente, que a leva a uma integração mais efe- tiva. Essa fase conta também com a inserção no mundo letrado por meio da leitura e escrita aprendidas durante a alfabetização. Corresponde, portanto, a uma fase de transição da educação infantil para o ensino fundamental, em que é preciso compreender o papel do pedagogo em relação à didática, metodologia e avalia- ção empregadas pelos professores em sala de aula. Neste capítulo, vamos refletir sobre esse tema e fatores como planejamento e mé- todos pertinentes ao ensino fundamental – anos iniciais. Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 3 3.1 Processo de transição e adaptação para o ensino fundamental Videoaula O universo da educação infantil é repleto de criatividade, imagina- ção, cor e movimento. Brincar faz parte do dia a dia e as atividades são diversificadas e lúdicas. Porém, ao fim do último ano letivo dessa fase da educação, a criança é inserida em uma nova realidade. 38 Organização didática da educação básica Salas de aula diferentes, trabalho individualizado, silêncio e uma gama diferente de atividades são disponibilizadas para as crianças, al- gumas vezes esquecendo que o ingresso nessa nova etapa da educa- ção básica não representa o final da infância. Tal processo, algumas vezes, pode ocasionar certa resistência por parte das crianças, ou até mesmo desmotivação com o ambiente escolar, por não encontrar tan- to tempo de liberdade de criação, para brincar e resolver com esponta- neidade suas atividades. Esses fatores, mesmo não sendo uma regra, representam uma rea- lidade comum nesse momento de transição da educação infantil para o primeiro ano do ensino fundamental. Por isso, torna-se um motivo de atenção e cuidado por parte do pedagogo que acompanha esse mo- mento, a fim de que não se perca a infância com mudanças repentinas de postura por parte do professor em sala de aula. Em nosso país, esse momento de transição já foi discutido e modi- ficado algumas vezes. A Lei n. 11.274 de 2006 reduziu para seis anos a idade de ingresso da criança no ensino fundamental e, em 2016, a Emenda Constitucional n. 59/2009 determinou que as crianças de qua- tro e cinco anos devem ingressar na educação infantil. Dessa forma, o ingresso da criança na escola passa a ser mais cedo, o que nos faz pensar que esse ambiente deve estar adequadamente apropriado para recebê-la, em todos os aspectos, desde os físicos e curriculares até a formação de pedagogos e professores. Tanto a necessidade de uma transição tranquila para o ensino fundamental quanto a garantia de espaços adequados de permanência na escola são ressaltados nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), aprovadas em 2010. Elas se preocupam em estabelecer a relação entre esses dois pe- ríodos – a educação infantil e o ensino fundamental – como uma continuida- de, e não uma quebra que possa afetar o de- sempenho e a motivação da criança em aprender e em permanecer o ambiente escolar. Figura 1 A entrada no ensino fundamental representa grandes mudanças na vida da criança. Monkey Business Images/Shutterstock Organização didática no ensino fundamental – anos iniciais 39 Para tanto, destaca-se que a formação do pedagogo, responsável pelo trabalho nesses níveis, seja como professor seja como coordena- dor pedagógico, deve estar voltada aos saberes e às peculiaridades que essa fase apresenta, estando sempre ciente de questões como: • A contínua necessidade de brincar e a interação com os seus co- legas por meio de atividades lúdicas. • A peculiaridade de cada um e o respeito às diferenças, relaciona- das a fatores emocionais e cognitivos. • O desenvolvimento de uma proposta pedagógica que continue priorizando o movimento durante as aulas, destacando a diver- sidade de atividades propostas, os saberes prévios e o contexto sociocultural. Desse modo, se os procedimentos e cuidados utilizados até então na educação infantil forem tratados como uma continuidade no ensino fundamental, todos os aspectos maturacionais que se espera da crian- ça virão gradativamente. As novas configurações de turma, professo- res, ambiente, autonomia e hábitos diferentes de estudos, bem como a curiosidade pelo novo, devem ser elementos de motivação e anseio por novas experiências. Dentro das novas experiências, vários fatores devem ser considera- dos, estes que vão desde o planejamento e formação do professor até elementos predominantes dessa mudança, como o processo de avalia- ção, o qual deve ser visto como algo que faz parte da aprendizagem, e não como um desafio negativo. O conceito de avaliação deve ser recebido pelo aluno por meio de um trabalho consciente e direcionado do professor ou pedagogo que assume a turma. É ele que deve explicar o sentido, processo e objetivo de cada atividade realizada, pois a prática de provas que geralmente surge nesse período, muitas vezes, não é encontrada na educação in- fantil. Sabe-se que muito do que o aluno levará para a sua vida acadê- mica é respaldo de uma fase de base inicial, como o momento tratado aqui, ou seja, os primeiros anos da educação básica. Na educação in- fantil e no ensino fundamental, o aluno cria alicerces que serão a base da sua vida acadêmica no que se refere à leitura, à escrita, ao letramen- to e aos hábitos de estudos. É preciso ainda ter cuidado quanto às expectativas das famílias em relação aos novos desafios encontrados pelos filhos nessa nova fase de 40 Organização didática da educação básica ensino. O pedagogo deve, nesse momento, adotar uma postura aco- lhedora, de escuta e segurança, que transmita confiança e serenidade frente às novas fases da vida escolar da criança. Ou seja, em todos os momentos, o olhar do pedagogo durante essa transição deve ser per- meado por sensibilidade e clareza, com o intuito de tornar esse mo- mento algo prazeroso e significativo. Publicado no portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia, o artigo A pré-escola e a construção da autonomia, das autoras Patrícia Ligocki Silva e Tâ- nia Mara Sperb, traz uma reflexão sobre o preparo da criança na educação infantil para se adaptar ao ensino fundamental. Acesso em: 22 jan. 2020. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X1999000100007 Artigo Por fim, cabe ressaltar que cada criança e cada família apresentam peculiaridades, como tempos diferentes de aprendizagem, de adapta- ção e formas diferentes de lidar com processos de mudanças. O peda- gogo, como profissional à frente desse processo, deve ter estratégias, de acordo com o ambiente em que atua, que as auxiliem nesse proces- so de transição. 3.2 Identidade do pedagogo nos anos iniciais do ensino fundamental Videoaula Compor a própria identidade é extremamente