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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CCSA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS COMPONENTE CURRICULAR: GESTÃO DE EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS DOCENTE: WASHINGTON JOSÉ DE SOUSA MARIA SELMA BARBOSA DA SILVA DIAS NATAL - RN 2025.2 2 MARIA SELMA BARBOSA DA SILVA DIAS ATIVIDADE I - Conceitos Iniciais de Gestão Social e Economia Solidária NATAL – RN 2025.2 3 Conceitos Iniciais de Gestão Social e Economia Solidária A gestão social propõe uma forma alternativa de organização da sociedade e da economia, baseada na participação cidadã, na autogestão e na cooperação. Refletir sobre as bases teóricas da gestão social nos ajuda a compreender como romper com os modelos excludentes do sistema tradicional. Questões para reflexão e debate em sala: 1. O que diferencia a gestão social da gestão tradicional no setor privado e no setor público? De acordo com o texto, a principal diferença entre a gestão social e a gestão tradicional no setor privado (empresarial) e no setor público está no foco, nas formas de decisão e na participação. Exemplos: • Gestão social envolve decisões negociadas entre sujeitos, com poucos ou ne- nhum caráter burocrático/tecnocrático, priorizando relações diretas, participação dos inte- ressados e aprendizagem coletiva. • Gestão empresarial é voltada para lucro e eficiência interna, com tomada de decisão mais formalizada e orientada a resultados econômicos. • Gestão social se desenvolve a partir da sociedade civil, com autonomia para iniciar, discutir e resolver problemas por meio de organizações da sociedade civil (terceiro setor) e comunidades, mesmo que possa colaborar com governos, empresas ou outras enti- dades. • Gestão pública (governamental) envolve ações estatais, políticas públicas e es- truturas do Estado, com decisões que normalmente emergem do aparato público. Para tanto, a gestão social promove desenvolvimento local e participação a partir da organização autônoma da sociedade civil (ONGs, associações, cooperativas, empreendimentos solidários), com foco no interesse público não lucrativo e na mediação de interesses entre atores interessados. Não se restringe nem ao lucro privado nem à intervenção estatal; nasce da iniciativa privada de interesse público na sociedade civil e pode incorporar, posteriormente, ações de governos ou empresas, sem perder a autonomia da sociedade civil. 2. Em sua opinião, por que é importante considerar as práticas sociais e culturais locais na organização de empreendimentos solidários? As práticas sociais e culturais locais é essencial por várias razões: • Relevância e aceitação: projetos que dialogam com valores, normas e rotinas da comunidade tendem a ser mais aceitos, usados e apoiados por quem vai se beneficiar. • Legitimidade e confiança: respeitar saberes locais fortalece a credibilidade da iniciativa, facilita parcerias com lideranças, associações e atores formais da região. • Adequação dos modelos: soluções únicas para um território evitam desenho “copiado” de fora que não funciona na prática, reduzindo desperdícios e resistência. 4 • Sustentabilidade: compreender práticas de cooperação, redes de ajuda mútua, formas de financiamento comunitário e gestão de risco aumenta a probabilidade de conti- nuidade. • Inclusão e equidade: considerar diversidade local (turmas, etnias, gênero, gru- pos vulneráveis) evita excluir pessoas que já possuem formas próprias de organização e apoio. • Aprendizado social: a partir do conhecimento local, é possível cocriar soluções com aprendizagem coletiva, estimulando protagonismo e autonomia. • Mitigação de conflitos: conhecer o contexto ajuda antecipar tensões entre inte- resses diferentes e estabelecer mecanismos de mediação alinhados com a realidade regio- nal. • Eficiência operacional: logística, comunicação e canais de disseminação adap- tam-se ao modo como a comunidade consome informação e interage, reduzindo barreiras. • Valor agregado: empreendimentos solidários que respeitam cultura e práticas locais tendem a gerar impacto social mais profundo e duradouro. 3. Como você entende o papel do cidadão/gestor em processos participativos? Entendo o papel do cidadão/gestor em processos participativos como agente ativo, central para a construção de decisões que afetem a comunidade. O Cidadão: Ele é coprotagonista do processo. Seu papel vai além de "ser ouvido". Exemplos: • Participa da formulação de políticas e projetos desde o início; • Cocria soluções, trazendo sua experiência de vida, saberes e realidades locais; • Assume responsabilidades na implementação e no monitoramento; • Exige transparência e justiça, fortalecendo o controle social. Dessa forma, a participação cidadã, é direito e dever, e não favor concedido por governos ou instituições. O Gestor: Ele é facilitador de processos democráticos e corresponsáveis. Exemplos: • Cria condições institucionais para a participação (espaços, metodologias, recursos); • Garante equidade e inclusão, especialmente de grupos historicamente silencia- dos; • Adapta políticas e ações com base no diálogo contínuo com a sociedade. Além disso, o gestor, nesse modelo, não detém o monopólio da decisão, ele compartilha o poder e se dispõe a aprender com o território. 4. A autogestão é viável em qualquer contexto? Quais os desafios mais comuns? A autogestão é um princípio central da gestão social e da economia solidária, e, ao mesmo tempo, uma prática profundamente desafiadora. Em essência, a autogestão propõe que as pessoas diretamente envolvidas em um processo, projeto ou organização assumam 5 coletivamente a responsabilidade pelas decisões, pelo planejamento, execução e avaliação. Trata-se de uma prática democrática radical, que rompe com a lógica de chefia, controle vertical e dependência de autoridades externas. No entanto, a viabilidade da autogestão não é automática nem universal: ela depende de uma série de fatores históricos, sociais, econômicos, culturais e institucionais. Em de- terminados contextos, ela pode florescer com mais facilidade; em outros, encontra obstá- culos estruturais e subjetivos mais duros de superar. Apesar dos potenciais de transformação, a implementação da autogestão apresenta diversos desafios, sendo os mais comuns: • Desigualdade de participação: Mesmo em ambientes autogestionários, pode haver uma desigualdade de poder entre os participantes, com determinados grupos (por exemplo, homens, pessoas mais escolarizadas) dominando as decisões. • Falta de recursos e apoio institucional: A autogestão pode enfrentar grandes dificuldades financeiras, especialmente em um contexto de escassez de recursos públicos e falta de apoio institucional. A depender do modelo de organização, muitas vezes falta o acesso a crédito, assistência técnica e mercado de venda para produtos ou serviços. • Conflitos internos: A gestão coletiva exige o comprometimento e a cooperação contínuos de todos os envolvidos. Quando surgem divergências de interesses ou falta de capacidade de mediação de conflitos, a unidade do grupo pode ser comprometida. Para tanto, a autogestão é uma prática potencialmente transformadora, que, quando bem implementada, pode gerar autonomia, solidariedade e justiça social em comunidades e grupos. No entanto, sua viabilidade não é garantida em qualquer contexto. A presença de condições estruturais favoráveis, como cultura democrática, educação popular e apoio institucional, é fundamental para que essa prática não só seja possível, mas também efetiva. A autogestão, ao ser aplicada de forma consciente e bem orientada, representa um dos caminhos mais promissores para a transformaçãosocial e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. 5. Como os conceitos de solidariedade, cooperação e democracia aparecem na sua realidade? A aplicação dos conceitos de solidariedade, cooperação e democracia na realidade cotidiana depende fortemente do contexto social, político e econômico. Quando analisados sob a ótica de uma sociedade mais justa e inclusiva, esses princípios se entrelaçam com práticas cotidianas e movimentos sociais, refletindo um desejo de transformação dos mo- delos tradicionais e hierárquicos de organização. Esses conceitos são mais do que abstrações teóricas; eles se materializam em ações concretas e estruturas sociais que visam criar uma sociedade mais equitativa e participativa. Vamos examinar como eles podem se manifestar em diferentes esferas da realidade. • Solidariedade: É um dos pilares da economia solidária, um conceito que se fundamenta na ajuda 6 mútua e na interdependência. Diferente da lógica capitalista que privilegia a competição individual, a solidariedade nos coloca diante da necessidade de reconhecer a unidade das pessoas, especialmente em situações de crise ou desigualdade. Em muitos contextos urbanos e rurais, comunidades desenvolvem formas de solidariedade cotidiana que vão desde ações de apoio emergenciais até estruturas organizativas formais. Em várias regiões, especialmente em áreas de vulnerabilidade social, práticas de solidariedade tornam-se essenciais para a sobrevivência coletiva. Redes informais de apoio, como mutirões comunitários para a construção de moradias ou a distribuição de alimentos em situações de crise, são exemplos claros de como a solidariedade pode estruturar a organização social. Organizações como bancos de alimentos, cooperativas de trabalho e feiras solidárias são expressões formais dessa solidariedade, buscando não apenas a sobrevivência material, mas também a dignidade e o empoderamento dos membros da comunidade. Desse modo, A solidariedade não se limita à ajuda pontual, mas se traduz também em ações coletivas de transformação social. Ela constrói laços que unem as pessoas em torno de um objetivo comum: a justiça social e o bem-estar coletivo. A economia solidária propõe que, por meio da cooperação e da gestão compartilhada, é possível criar alternativas sustentáveis que reduzam desigualdades e fortaleçam os vínculos comunitários. • Cooperação: É um valor central na construção de alternativas de gestão social e no funcionamento das cooperativas e outras iniciativas de economia solidária. Ela implica na divisão equitativa de recursos, na gestão coletiva e no fortalecimento das relações sociais. Diferente de modelos empresariais tradicionais, nos quais a competição e a hierarquia predominam, a cooperação implica em uma organização horizontal, onde todos têm voz nas decisões. No contexto de organizações autogestionárias, a cooperação se reflete em práticas como a gestão compartilhada de recursos, a divisão de tarefas e a tomada de decisões coletivas. Em iniciativas como cooperativas de trabalhadores rurais, associações de moradores e feiras de produtos locais, as pessoas colaboram para alcançar objetivos comuns, reforçando os laços de solidariedade e criando redes de apoio. Embora a cooperação seja uma prática poderosa, ela enfrenta desafios significativos. A falta de confiança, a desigualdade de poder e a dificuldade em conciliar interesses diversos podem minar a eficácia das iniciativas cooperativas. Além disso, a falta de acesso a recursos e apoio institucional pode ser um obstáculo à sustentabilidade das iniciativas cooperativas. O sucesso da cooperação depende da qualidade das relações entre os membros e da capacidade de estabelecer mecanismos de gestão democrática e resolução de conflitos. • Democracia: A Democracia, enquanto conceito e prática, é uma parte essencial de qualquer movimento de gestão social ou economia solidária. No entanto, a democracia não se limita às esferas institucionais formais, mas deve se estender à gestão comunitária e decisões coletivas em contextos como cooperativas, associações e conselhos de participação. A democracia em tais contextos é entendida como democracia direta, onde todos têm a 7 oportunidade de influir nas decisões que afetam a vida coletiva. A gestão democrática em organizações autogestionárias garante que todos os membros possam participar igualmente do processo decisório. Cooperativas de trabalhadores, associações comunitárias e movimentos sociais são exemplos de como a democracia direta pode ser implementada em práticas coletivas. Esses espaços de decisão não apenas garantem direitos de participação, mas também estimulam a cidadania ativa, contribuindo para uma maior coesão social e fortalecimento da sociedade civil. A implementação de uma democracia real nas organizações comunitárias e na economia solidária enfrenta desafios como a falta de experiência democrática entre os membros, a dificuldade de conciliar interesses diversos e o impacto de estruturas sociais desiguais sobre as decisões coletivas. Superar esses desafios exige educação popular contínua, capacitação política e a construção de mecanismos de transparência e prestação de contas. Portanto, os conceitos de solidariedade, cooperação e democracia são fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e participativa, especialmente no contexto da gestão social e da economia solidária. Embora a aplicação desses princípios seja repleta de desafios, as práticas comunitárias e autogestionárias têm mostrado como esses valores podem se materializar na realidade cotidiana. A solidariedade fortalece a cooperatividade, que por sua vez, é essencial para garantir decisões democráticas e processos coletivos eficazes. Portanto, a solidariedade, a cooperação e a democracia não são apenas ideais, mas práticas vivas, que moldam alternativas reais e sustentáveis à organização social e econômica vigente.