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CIÊNCIAS HUMANAS 
E SOCIAIS 
PROFESSOR
Esp. Pablo Araya Santander
ACESSE AQUI 
O SEU LIVRO 
NA VERSÃO 
DIGITAL!
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2178
EXPEDIENTE
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. 
Núcleo de Educação a Distância. SANTANDER, Pablo Araya.
Ciências Humanas e Sociais. 
Pablo Araya Santander.
Maringá - PR: Unicesumar, 2020. 
216 p.
“Graduação - EaD”. 
1. Ciências 2. Humanas 3. Sociais. EaD. I. Título. 
FICHA CATALOGRÁFICA
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 
Coordenador(a) de Conteúdo 
Roney de Carvalho Luiz
Projeto Gráfico e Capa
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho
e Thayla Guimarães
Editoração
Andreza Diniz
Design Educacional
Kaio Vinicius Cardoso Gomes
Revisão Textual
Monique Coloni Boer
Ilustração
André Azevedo
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 301 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
ISBN 978-85-459-2078-6
Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional 
Débora Leite Diretoria de Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria 
de Pós-graduação, Extensão e Formação Acadêmica Bruno Jorge Head de Produção de Conteúdos Celso 
Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos 
Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão 
de Projetos Especiais Yasminn Zagonel
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de 
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de 
EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi 
DIREÇÃO UNICESUMAR
BOAS-VINDAS
Neste mundo globalizado e dinâmico, nós tra-
balhamos com princípios éticos e profissiona-
lismo, não somente para oferecer educação de 
qualidade, como, acima de tudo, gerar a con-
versão integral das pessoas ao conhecimento. 
Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profis-
sional, emocional e espiritual.
Assim, iniciamos a Unicesumar em 1990, com 
dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, 
temos mais de 100 mil estudantes espalhados 
em todo o Brasil, nos quatro campi presenciais 
(Maringá, Londrina, Curitiba e Ponta Grossa) e 
em mais de 500 polos de educação a distância 
espalhados por todos os estados do Brasil e, 
também, no exterior, com dezenasde cursos 
de graduação e pós-graduação. Por ano, pro-
duzimos e revisamos 500 livros e distribuímos 
mais de 500 mil exemplares. Somos reconhe-
cidos pelo MEC como uma instituição de exce-
lência, com IGC 4 por sete anos consecutivos 
e estamos entre os 10 maiores grupos educa-
cionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos edu-
cadores soluções inteligentes para as neces-
sidades de todos. Para continuar relevante, a 
instituição de educação precisa ter, pelo menos, 
três virtudes: inovação, coragem e compromis-
so com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, 
para os cursos de Engenharia, metodologias ati-
vas, as quais visam reunir o melhor do ensino 
presencial e a distância.
Reitor 
Wilson de Matos Silva
Tudo isso para honrarmos a nossa mis-
são, que é promover a educação de qua-
lidade nas diferentes áreas do conheci-
mento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
P R O F I S S I O N A LT R A J E T Ó R I A
Esp. Pablo Araya Santander
Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá (UEM/2003) e 
em Teologia pela Faculdade de Teologia de São Paulo da Igreja Presbiteriana Inde-
pendente do Brasil (Fatipi/2014). Pós-graduado em Educação, Sociedade e Ensino 
Religioso pela Faculdade de Educação São Luís. É professor de Sociologia do Ensi-
no a Distância do Centro Universitário de Maringá (Unicesumar) e pastor da Igreja 
Presbiteriana Independente do Brasil.
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K2736506U0. 
A P R E S E N TA Ç Ã O D A D I S C I P L I N A
CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
É com muita satisfação que apresento a você, caro(a) aluno(a), o livro Ciências Humanas e So-
ciais, que acompanhará o desenvolvimento da sua formação acadêmica. As Ciências Humanas 
e Sociais são aquelas que estudam o ser humano e a sua relação com a sociedade – seus 
discursos estão interligados. 
Darei enfoque especial, num primeiro momento, às três primeiras unidades do livro. Na área 
das Ciências Humanas, teremos o privilégio de aprofundar-nos na Filosofia e na História. Já 
nas Ciências Sociais, aprenderemos um pouco mais sobre as três principais ciências desse 
saber: Sociologia, Antropologia e Ciência Política. 
Na Filosofia, procuro prepará-lo(a) como um participante ativo na busca pelo saber e pelo 
pensar, apresentando os principais termos, assuntos e pensadores. Para isso, buscaremos 
alcançar o entendimento e a análise dos principais filósofos por meio de uma viagem histórica 
desde o seu início aos nossos dias. Ao contrário dos cursos de Filosofia mais avançados, a lei-
tura poderá ser relativamente mais simples, o que poderá criar uma boa base para aumentar 
seu conhecimento e seu pensamento crítico diante da nossa realidade. 
Em História, conheceremos as diferentes etapas da nossa trajetória, entenderemos o desen-
volvimento no decorrer dos tempos e seus principais personagens e eventos, verificaremos 
os métodos e as técnicas do trabalho do historiador, a fim de valorizar a contribuição dessa 
área tão importante para o conhecimento do mundo e a compreensão do presente.
Com a Sociologia, veremos que toda a ciência serve, fundamentalmente, para resolver proble-
mas, estes que, em muitos casos, são de natureza social, uma vez que suas causas derivam de 
problemas de organização e funcionamento da sociedade. Portanto, encontraremos, nessa 
disciplina, uma excelente ferramenta que pode apontar soluções práticas para o nosso dia a 
dia por meio da análise metodológica da sociedade em que vivemos.
D A D I S C I P L I N AA P R E S E N TA Ç Ã O
A Antropologia é um tema essencial para a sua formação, visto que permite adquirir conheci-
mentos fundamentais sobre o ser humano: sua evolução, sua interação com o habitat e sua 
organização social e cultural. Da arqueologia pré-histórica à antropologia aplicada, por meio 
do estudo de diferentes civilizações e raças, juntamente com a abordagem do trabalho de 
campo do antropólogo, integraremos o objetivo desta disciplina.
Descobriremos que a Ciência Política tem, como objetos de estudos, o poder e o Estado. Em 
suma, verifica a distribuição e a organização do poder em uma sociedade. Portanto, veremos 
que a ação do cientista político no contexto social é fundamental, pois orienta no processo 
decisório em relação ao seu desenvolvimento integral, acentuando o espírito humanista, 
progressista e democrático em nossas ações.
Na quarta unidade, veremos a relação que existe entre as Ciências Humanas e Sociais e a 
Religião. Além disso, saberemos o que Karl Marx, Sigmund Freud, Friedrich Nietzsche e Jean-
-Paul Sartre pensam sobre o conceito de religião e de Deus.
Por último, iremos debruçar-nos sobre alguns temas contemporâneos do nosso atual con-
texto: sociedade do consumo, sociedade líquida, sociedade do cansaço e sociedade hiperco-
nectada. Esse conjunto de assuntos mostra o quão complexa é a tarefa do pesquisador das 
Ciências Humanas e Sociais em desvendar e descobrir os rumos atuais da sociedade para, 
assim, apontar novos caminhos.
ÍCONES
Sabe aquela palavra ou aquele termo que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-la(o) melhor da maneira mais simples.
conceituando
No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida 
para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos. 
quadro-resumo
Neste elemento, você fará uma pausaNão poderíamos, porém, definir o útil de outra maneira?
Platão definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em be-
nefício dos seres humanos. Já Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da sabedo-
ria, o conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar 
para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes. 
Kant afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma 
para saber o que pode conhecer e o que pode fazer, que possui, como finalidade, a 
felicidade humana. Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo ape-
nas contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transfor-
má-lo, transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos. Nesse 
mesmo sentido, Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver 
e mudar nosso mundo. E, assim, Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho 
árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a 
felicidade. Qual seria, então, a utilidade da Filosofia?
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não 
se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos 
for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for 
útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política 
for útil; se der a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscien-
tes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para 
todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes 
de que os seres humanos são capazes.
Fonte: Chauí (2014, p. 29)
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eu recomendo!
Convite à Filosofia
Autor: Marilena Chauí
Editora: Ática
Sinopse: A partir do princípio de que a vida cotidiana é toda fei-
ta de crenças silenciosas, da aceitação de evidências que nunca 
questionamos porque nos parecem naturais e óbvias, a autora 
analisa, nesse livro, a Filosofia e sua utilidade como forma de in-
dicação de um estado de espírito e respeito pelo saber.
livro
Filosofando – Introdução à Filosofia
Autor: : Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires 
Martins
Editora: Moderna
Sinopse: A Filosofia trabalha com conceitos. Mas não pense que, 
por isso, ela se distancia da vida. Ao contrário, os problemas fi-
losóficos surgem do nosso embate com o cotidiano e desenca-
deiam reflexões cheias de significados que, por sua vez, nos levam a novos ques-
tionamentos. Por exemplo, na época em que se fala tanto em ética e cidadania, 
estaremos diante de conceitos vazios se não soubermos aguçar a capacidade de 
reflexão crítica e a autonomia do pensar e do agir. Nessa obra de leitura clara e 
instigante, as autoras convidam para o debate não só os alunos em sala de aula, 
mas também todos os que estão dispostos a filosofar.
livro
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eu recomendo!
Merlí
Ano: 2016
Sinopse: Criada por Héctor Lozano e dirigida por Eduard Cortés, a 
série em catalão tem três temporadas e cumpre muito bem com 
sua premissa: mostrar como a Filosofia pode ser apaixonante e 
divertida, sobretudo quando é conduzida por um professor nada 
convencional em seus métodos de ensino.
filme
O Nome da Rosa
Ano: 1986
Sinopse: Uma adaptação da obra de Umberto Eco, que retrata 
a Itália no ano 1327. O frei Guilherme de Baskerville recebe a 
missão de investigar a ocorrência de heresias em um mosteiro 
beneditino. 
Comentário: Ótimo filme para apreciar os detalhes históricos da 
época.
filme
Canal de vídeos do filósofo e educador Mario Sérgio Cortella, com vários 
vídeos sobre o papel da Filosofia no cotidiano. 
https://www.youtube.com/channel/UCyTS929PXJSUiBEFSzdypgg
 
Site da USP com vários links para acesso a conteúdo, artigos e discussões 
de Sociologia.
http://ensinosociologia.fflch.usp.br/links
conecte-se
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
anotações
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PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Pensamento e conceitos intro-
dutórios de Augusto Comte, Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber • Ciência Política • Antropologia. 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
• Conhecer os conceitos e os pensamentos de autores clássicos da sociologia: Augusto Comte, Émile 
Durkheim, Karl Marx e Max Weber • Estudar conceitos fundamentais da Ciência Política • Compreender 
conceitos importantes da Antropologia.
PRINCIPAIS ESCOLAS E
CONCEITOS DAS
Ciências Sociais
PROFESSOR 
Esp. Pablo Araya Santander
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), vimos, na Unidade 1, sobre o conceito e a origem da 
Sociologia. Neste segundo momento, abordaremos, em primeiro lugar, a 
figura de Augusto Comte, considerado um dos fundadores desse campo de 
estudos. Posteriormente, dialogaremos sobre os três principais autores da 
Sociologia Clássica, conhecidos carinhosamente como os “três porquinhos” 
da Sociologia: Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Inevitavelmente, 
se você decidir caminhar pela carreira acadêmica das Ciências Sociais, será 
imprescindível aprofundar-se nesses autores. Não há como escapar. Eles 
são de suma importância e suas ideias marcaram – e ainda trazem – muitas 
respostas para a nossa realidade, mesmo nos dias de hoje.
Na verdade, existe amplo consenso na comunidade científica social, que 
acredita que o trabalho intelectual desses pensadores representa o alicerce 
da fase moderna da pesquisa empírica sociológica.
Brevemente, será abordada sobre a biografia de cada um dos autores 
e suas influências acadêmicas. Em seguida, haverá uma breve menção e 
explicação dos principais desenvolvimentos, mecanismos, conceitos, clas-
sificações e métodos especificamente elaborados por cada um deles para a 
constituição da Sociologia enquanto ciência: as relações sociais de produ-
ção marxistas, o fato social durkheimiano e ação social weberiana.
Posteriormente, serão descritos alguns conceitos-chave da Ciência Po-
lítica (poder, Estado, democracia e cidadania) e da Antropologia (cultura, 
etnocentrismo, relativismo cultural, cultura de massa e indústria cultural).
É preciso ressaltar que, de forma alguma, este estudo pretende tornar-se 
um desenvolvimento exaustivo da impressão de cada um desses autores e 
conceitos. A obra de cada um deles é muito ampla, profunda e complexa. 
Contudo, de forma modesta e sintetizada, apenas desejo oferecer-lhe uma 
primeira apresentação comparativa entre eles, pois são fundamentais, tam-
bém, para o nosso estudo. 
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PENSAMENTO E CONCEITOS
INTRODUTÓRIOS
de Augusto Comte,
Émile Durkheim, Karl
Marx e Max Weber
Augusto Comte nasceu em Montpellier, no sul da 
França, em 1798, em um período de crise social, 
profundos abismos e sequelas de períodos anterio-
res, como a Revolução Industrial (com a invenção 
das máquinas a vapor e as máquinas de costura), a 
Revolução Francesa e a Universidade Napoleônica, 
o rápido avanço das ciências naturais e o regime 
do laissez-faire (expressão em francês, que remete 
ao liberalismo na economia) na esfera econômica, 
transformações que, ao mesmo tempo, levaram à 
secularização e à racionalização do pensamento.
Figura 1 - Augusto Comte (1798-1857), pensador francês, fundador do Positivismo e da Sociologia
No decorrer do século XIX, em virtude da Revolução Científica e do Iluminismo, 
surgiu, no contexto europeu, uma corrente epistemológica que tinha como ca-
racterística exaltar e valorizar o método científico para compreender os eventos 
da natureza. Chamamos tal movimento de Positivismo.
O fato de acreditar que o método científico poderia trazer a solução para os 
mais diversos problemas da sociedade fez com que Augusto Comte construísse 
a ideia de uma Ciência da Sociedade. Por meio dela, poderiam tentar atravessar 
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o período turbulento em que se encontravam, aplicando as técnicas da ciência 
para analisar os mecanismos da sociedade.
Augusto Comte é considerado, portanto, opai da Sociologia. Contudo, ele 
mesmo começou a chamá-la, primeiramente, de Filosofia Positiva ou Física So-
cial, e, posteriormente, modificou o termo: 
 “ Acredito que devo arriscar, desde agora, este termo novo, sociologia, 
exatamente equivalente à minha expressão, já introduzida, de física 
social, a fim de poder designar por um nome único esta parte com-
plementar da filosofia natural que se relaciona com o estudo posi-
tivo do conjunto das leis fundamentais apropriadas aos fenômenos 
sociais (COMTE apud MORAES FILHO, 1989, p. 61).
Comte estava inserido no mundo intelectual num momento em que preocupa-
ções e estudos sobre a sociedade e os fenômenos sociais estavam em ascensão. 
Graças às suas grandes qualidades analíticas e de síntese, ele criou seu próprio 
sistema filosófico e de política positivista ao aproveitar tudo o que foi proposto 
por outros autores até então.
Segundo Comte, a anarquia que reinou na Europa depois da grande crise pro-
vocada pela Revolução Francesa se deu pelo fato de que os povos careciam de um 
sistema universal de princípios. Seria necessário estabelecer, entre a população, a 
harmonia necessária para cimentar uma ordem social comum, na qual os indiví-
duos pudessem desenvolver pacificamente suas atividades. É por isso que Comte se 
propôs à missão de buscar um remédio, como se a desordem social fosse realmente 
uma enfermidade e, tratou dessa questão de modo que fosse exatamente assim: um 
cientista à procura da cura de uma doença; no caso, uma doença social. 
Ele pensou ter encontrado uma nova Filosofia. As primeiras declarações sobre 
essa nova ciência tornaram-se conhecidas por meio de vários ensaios publicados 
entre 1816 e 1825. Nesse intervalo, ele estruturou uma série de ideias claramente 
sistematizadas em seu famoso curso ensinado em Paris, que contou com a pre-
sença de intelectuais da época e que foi publicado entre 1830 e 1842, nos seis 
volumes do Curso de Filosofia Positiva. O objetivo dessa nova ciência era:
1. Proporcionar – ao pensamento das pessoas como seres individuais e úni-
cos – um sistema de crenças para unificar o espírito coletivo.
2. Estabelecer um conjunto coordenado de regras sobre crenças comuns de 
determinado sistema a ser analisado.
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3. Determinar uma organização política, que seria aceita por todos os indi-
víduos. Ela responderia a todas as aspirações intelectuais e preceitos mo-
rais. É claro que um sistema de crença só pode ser aceito por todos, se for 
baseado em um tipo de conhecimento incontestável. Por isso, essa nova 
Filosofia Positiva, tenta ser, antes de tudo, uma teoria do conhecimento 
que se recusa a admitir outra realidade que não os fatos e, nada além 
disso. Ela deveria dedicar-se exclusivamente à investigação da realidade, 
rejeitando todo conhecimento a priori e toda especulação metafísica. 
Comte sintetiza essa ideia:
 “ Entendo por Física Social a ciência que tem por objeto próprio o 
estudo dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito 
que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, 
isto é, como submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta 
é o objetivo especial de suas pesquisas. Propõe-se, assim, a explicar 
diretamente, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do 
desenvolvimento da espécie humana, considerado em todas as suas 
partes essenciais; isto é, a descobrir o encadeamento necessário de 
transformações sucessivas pelo qual o gênero humano, partindo de 
um estado apenas superior ao das sociedades dos grandes macacos, 
foi conduzido gradualmente ao ponto em que se encontra hoje na 
Europa civilizada. O espírito desta ciência consiste, sobretudo, em 
ver, no estudo aprofundado do passado, a verdadeira explicação do 
presente e a manifestação geral do futuro (COMTE, 1989, p. 53).
Lei dos três estados
Augusto Comte acreditava que a sociedade passava por fases ou estados e que, 
nesse sentido, atravessaria de um estado mais atrasado ou primitivo para um 
mais avançado, como se houvesse uma linha de progresso entre o início e o final.
O primeiro estado é o teológico. Aqui, a mente e os pensamentos são guiados 
por conceitos religiosos. É um estado fictício, provisório e preparatório. Nele, a 
mente procura as causas e os princípios das “coisas”, as mais profundas, longínquas 
e inatingíveis. Existem três fases diferentes: fetichismo, no qual coisas são perso-
nificadas e a elas são atribuídas um poder mágico ou divino; politeísmo, em que 
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as atividades são removidas das coisas materiais para transferi-las a uma série de 
divindades, cada uma apresentando um grupo de poderes: águas, rios, florestas 
etc.; e monoteísmo, uma fase superior, na qual todos esses poderes divinos são 
reunidos e concentrados em um chamado Deus.
Nesse estado, a imaginação predomina e corresponde à infância da humanida-
de. É também a disposição primária da mente, que recai em todas as épocas e apenas 
uma evolução lenta pode fazer com que o espírito humano se separe dessa concep-
ção para passar para outra. O papel histórico do estado teológico é insubstituível.
O estado metafísico ou estado abstrato é essencialmente crítico e transitório. 
É um estágio intermediário entre o estado teológico e o positivo. Nele, a busca é 
pelo conhecimento absoluto. A metafísica tenta explicar a natureza dos seres, a sua 
essência e as suas causas. Contudo, para isso, não recorre a agentes sobrenaturais, 
mas a entidades abstratas. A mente, que outrora se preocupava com as questões 
mais distantes, desta vez, aproxima-se cada vez mais das “coisas”. No estado anterior, 
quando tudo se resumia a um conceito de Deus, aqui é a natureza, a grande entidade 
geral que irá substituí-lo. Entretanto, esta unidade é mais fraca, tanto mental quanto 
socialmente. O caráter do estado metafísico é, acima de tudo, crítico e negativo, 
como uma preparação para a transição para o estado positivo; algo como uma 
espécie de crise da puberdade no espírito humano antes de atingir a fase adulta.
O último é o estado positivo. Ele é real e definitivo. Nele, a imaginação está su-
bordinada à observação. A mente humana adere às “coisas”. O positivismo busca ape-
nas os fatos e as suas leis, não as causas ou os princípios das essências ou substâncias; 
atém-se ao que é positivo, àquilo que está posto ou definido: é a filosofia dos dados. 
Renuncia ao que é inútil, tenta conhecer e se fixa apenas nas leis dos fenômenos.
Figura 2 - Positivismo: ciência, acima de tudo 
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Em síntese, a leis dos três estados do conhecimento busca demonstrar a evolução 
do pensamento humano. Parte das crenças religiosas passa pela metafísica até 
atingir o seu ápice, com a verdade dos fatos, obtida por meio da observação e do 
que é possível provar pelo método científico.
Estática e Dinâmica Social
Comte dividiu o objeto de estudo da Sociologia em duas grandes áreas: a 
Estática Social e a Dinâmica social, termos sinônimos de ordem e progres-
so, respectivamente. É por meio desses dois elementos que o autor pretendia 
compreender as dinâmicas da sociedade.
A Estática Social, ou teoria das instituições, como a denomina, destaca o 
consentimento universal ou a ordem social em determinado momento. A So-
ciologia tenta encontrar as leis que regulam essa ordem, que depende de muitos 
fatores, como a raça, o clima, os instintos dos indivíduos, mas, principalmente, 
das ideias, tendo em vista que elas são as promotoras da mudança.
A sociedade funcionaria como unidade orgânica. Não é exatamente como um 
organismo, mas se parece muito com ele. Os órgãos sociais são as instituições, sendo 
os primordiais: a religião, a família, a educação e a política econômica. Instituições 
são definidas como as menores unidades sociais potencialmente autossuficientes.
Na sociedade, três tipos diferentes de forças agiriam simultaneamente: a mate-
rial, a intelectual e a moral. Seriam elas que proporcionariam dinâmica à estrutura 
da sociedade. Essas forças ou esses poderesseriam baseados, respectivamente, 
em força, razão e afeição. O poder material se concentraria nos ricos, o poder 
intelectual nos sábios e o poder moral estaria com as mulheres. Os dois últimos se 
combinariam para constituir apenas um poder, que, sob a qualificação espiritual, 
estaria destinado a modificar o poder material.
A complexidade e a integração da estrutura social são baseadas na divisão do 
trabalho, na qual existem relações de solidariedade, cooperação e subordinação, 
com as variações determinadas pelas diferenças naturais dos indivíduos.
Em síntese, a Estática Social enfatiza o consentimento universal que as di-
ferentes partes que formam a ordem social têm entre si. Por isso, é importante 
observar e descobrir as leis que regulam a ordem social, que está correlacio-
nada com a ordem do intelecto.
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Émile Durkheim
Émile Durkheim, nascido em 1858, na França, também veio de uma família de 
origem judaica e foi filósofo sociólogo e antropólogo. Seu trabalho mais influente 
para a formação da Sociologia diz respeito às regras do método sociológico (1895).
Regras do Método Sociológico 
Comte, Marx e outros teóricos contemporâneos lançaram as bases para o de-
senvolvimento da Sociologia, mas em sua época, ela ainda não tinha o status de 
uma disciplina formal nem estava elencada como disciplina nas universidades. 
Ela precisava ganhar um lugar na academia, ao lado das Ciências Naturais. O 
trabalho de Durkheim na França foi um avanço nesse sentido.
Inspirado no ambiente positivista e no progresso de Auguste Comte, Dur-
kheim propôs a implementação da abordagem positiva para o estudo racional 
dos fenômenos sociais, abandonando o método especulativo filosófico apoiado 
na imaginação. Desejava analisar os fenômenos sociais a partir da perspectiva 
das leis naturais. Para este pensador, a vontade humana não seria capaz de 
modificar a sociedade porque tem suas próprias leis, que só seriam descobertas 
pela ciência. Apenas por meio do método sociológico seria possível ter uma 
previsão científica e agir sobre ela no futuro. 
Fato Social
A partir de sua abordagem positivista, ele propôs pensar a Sociologia em termos 
equivalentes à Biologia, na qual procurava estabelecer uma analogia necessária 
entre o vital e o social. O método sociológico deveria, portanto, imitar o biológico, 
fundamentado em pura observação, experimentação e comparação. As diretrizes 
do chamado monismo metodológico estavam presentes nesta perspectiva, o 
qual defendia apenas um modelo científico válido para todas as disciplinas, o das 
Ciências Naturais, que objetivava a constituição de leis ou as afirmações gerais 
de alcance abrangente pela observação e experimentação. 
O próximo passo seria então, o de formular um primeiro programa de pesquisa 
para a Sociologia como disciplina institucionalizada. Durkheim a organizou em três 
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partes principais: a) o debate com autores clássicos e contemporâneos; b) a fixação 
do objeto e método da Sociologia; e 3) sua aplicação prática para resolver as crises 
sociais. Este pensador concebia a Sociologia como uma ciência de dimensão emi-
nentemente prática, capaz de diagnosticar males sociais e, portanto, de impedi-los 
também, além de propor alternativas para o futuro, sob uma forma rigorosa de 
acesso ao conhecimento, longe da Filosofia Social e de meros achismos metafísicos.
Como bom empirista que era, Durkheim atribuiu à Sociologia o estudo das 
realidades, isto é, dos fatos sociais, buscando construir uma ciência factualista e 
afastada de ideologias. Acreditava que, para esclarecer os fatos sociais, era neces-
sário abster-se e despir-se de todos os preconceitos e perspectivas pessoais, para 
não influenciar o resultado final da pesquisa metodológica. A seguir, observe a 
definição do autor sobre fato social: 
 “ É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exer-
cer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou, ainda, toda maneira 
de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo 
tempo, possui uma existência própria, independente de suas mani-
festações individuais (DURKHEIM, 2007, p.13).
De acordo com a sua definição, para serem considerados fatos sociais, os eventos 
da vida em sociedade deveriam ter, obrigatoriamente, três características: coerção, 
exterioridade e generalidade. Por coerção, podemos entender que todo ser humano, 
para viver em sociedade, precisa respeitar e seguir um conjunto de regras preestabe-
lecidas impostas pelo grupo social ao qual ele pertence, como se fosse uma pressão 
coercitiva imposta ao indivíduo, mesmo que seja contra a sua vontade. Você não 
pode fazer o que bem quer, não é verdade? Temos, em cada época, por exemplo, uma 
forma própria de vestimenta. Na maio-
ria dos casos, submetemo-nos ao que 
a moda do momento diz o que deve-
mos usar. Se não me visto dessa forma, 
sou ridicularizado pelos demais. É um 
tipo de punição por não estar vestido 
como a maioria. Pois bem: quando os 
homens se opõem a certas regras, sur-
gem as punições sociais para possibili-
tar a convivência harmoniosa mínima.
Figura 3 - Apontamentos surgem quando 
não nos submetemos às regras sociais
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A exterioridade é a segunda característica do fato social. Nela, constrói-se a 
ideia de que existem realidades que se manifestam fora das consciências indivi-
duais. Situações que estavam além do pesquisador, que lhe eram impostas desde 
o mundo material, antes de seu nascimento, e próprias da consciência comum 
ou coletiva. Existem, portanto, fatos que não dependem da nossa consciência ou 
atitude individual, simplesmente são exteriores a nós e não temos como interferir 
para que desapareça. Por exemplo: quando nascemos, já temos ao nosso redor 
uma estrutura de dinâmicas sociais que estava ali antes mesmo de nascermos. 
Quando começamos a estudar, toda a estrutura educacional já está formada. 
Entramos na pré-escola, depois seguimos para o ensino fundamental, ensino 
médio, faculdade, especializações e tudo isso já estava funcionando de acordo 
com as suas próprias estruturas. Não há como fugir.
Na generalidade, nota-se que o fato social precisa ter uma representação cole-
tiva. Para que seja analisado com a regra do método científico de Durkheim, o fato, 
para ser social, precisa, necessariamente, apresentar uma forte representatividade 
no grupo. Além disso, ele se repete em todos os indivíduos porque lhes é imposto. 
Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica
De acordo com Durkheim, Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica 
são conceitos relacionados à divisão do trabalho nas sociedades. Nesse sentido, 
são teorias sobre o modo de como os sistemas de colaboração e cooperação são 
estabelecidos entre os indivíduos de acordo com as necessidades e capacidades 
de cada um. A partir dessa teoria, Durkheim buscou explicar como a divisão do 
trabalho é a principal fonte de solidariedade social nas comunidades.
A Solidariedade Mecânica é aquela que ocorre em sociedades com pouca 
ou nenhuma divisão no trabalho, nas quais as funções são geralmente as mesmas 
para todas as pessoas, independentemente de seu estado ou de sua condição 
social. Nesse sentido, os vínculos de cooperação e colaboração são estabelecidos 
entre os indivíduos para a realização de tarefas ou o cumprimento de objetivos 
que não demandam capacidades especiais. Por isso, é o tipo mais primitivo de so-
lidariedade, que normalmente acontece em contextos rurais e familiares, apoiado 
em um sentimento de união, produto do senso de igualdade entre os indivíduos 
e de uma comunidade de crenças e sentimentos.
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A Solidariedade Orgânica é aquela que acontece nas sociedades que têm 
divisão acentuada do trabalho. Portanto, é característico das sociedades capi-
talistas modernas, em que os indivíduos se especializam em diferentes tarefas 
e conhecimentos, o que gera uma rede de interdependências na qual todas as 
pessoas precisam dos serviços ouconhecimentos dos outros. Nesse sentido, a soli-
dariedade orgânica estabelece um sistema de relações funcionais, quando os laços 
de cooperação entre os indivíduos são produzidos com base nos conhecimentos 
e nas soluções que cada um pode proporcionar para as necessidades do outro.
Anomia
A organização de um grupo social é apresentada com uma grande relevância para 
as Ciências Sociais e, em particular, para a Sociologia. Suas características afetam 
diretamente o modo como os indivíduos desenvolverão suas vidas, as regras que 
terão de respeitar e os costumes que devem continuar para não se sentirem excluídos.
Muito tem sido escrito em relação à organização da sociedade e à manei-
ra como afeta a vida dos indivíduos. Durkheim afirmou que a sociedade é a 
responsável por integrar os indivíduos que dela fazem parte e por regular seus 
comportamentos a partir do estabelecimento de certas normas e padrões. O autor 
argumentou que, se a sociedade cumpre isso adequadamente – tanto a comuni-
dade quanto cada um de seus membros –, alcançará uma ordem estável que lhes 
permitirá desenvolver-se de forma plena. Quando isso não acontece, a sociedade 
cai em uma situação de anomia, ou seja, perde a força para regular e integrar 
indivíduos, e por conta disso, muitas consequências adversas podem ocorrer, 
como o suicídio, amplamente estudado por este autor.
O trabalho de Durkheim sobre a modernidade, contexto no qual a anomia é 
apresentada, exibe várias posturas. Em alguns casos, o autor considera a moder-
nidade como uma fonte de riqueza e interdependência, para que os indivíduos 
possam desenvolver-se plenamente. Em outros, ao contrário, considera esse tem-
po de maneira negativa, pois a diversidade pode gerar angústia e preocupação, 
além de ser marcada pela subjetividade e pela incerteza.
Durkheim definiu a sociedade como o conjunto de sentimentos, ideias, 
crenças e valores que surgem da organização individual. Segundo o pensador, 
essa sociedade cumpre duas funções: a de integrar os indivíduos entre si e a de 
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regular as relações entre eles. Quando a segunda não é exercida adequadamente, 
os indivíduos se encontram em uma situação de anomia, o conceito que ocupa 
papel central em seu trabalho. 
O autor fez uma análise da transformação da sociedade como consequência 
da mudança do modelo econômico e produtivo, isto é, da chegada do capitalismo 
e da industrialização. A sociedade da modernidade parece marcada por uma 
grande variedade de interesses, crenças e pensamentos, assim como pela divisão 
do processo produtivo. Nessa perspectiva, a anomia se refere à ausência de um 
conjunto de regras que governam as relações entre as diversas funções sociais, que 
se tornam provenientes da divisão do trabalho e da especialização, características 
da modernidade. Dado que essa transformação foi rápida e profunda, a sociedade 
passa por uma crise de transição devido ao fato de que os padrões tradicionais de 
organização e regulação foram deixados para trás e não houve tempo suficiente 
para outros acordos e regras surgirem com as novas necessidades apresentadas.
No decorrer da sua obra, o autor argumentou que as duas situações em que 
há sinais claros de anomia estão na esfera econômica e na que advém da situação 
conjugal. Ambas são as que mais contribuem para a taxa de suicídios, segundo 
a teoria durkheimiana. Em relação à primeira área (econômica), a anomia é de-
rivada, como se argumenta na Divisão Social do Trabalho – livro lançado em 
1893 –, pela mudança acelerada nos sistemas produtivos. As normas, que antes 
serviam para organizar o grupo, tornaram-se obsoletas e não foram substituídas 
por outras capazes de responder adequadamente às novas condições.
A ausência de regras representa um problema sério (por não haver limites 
para que os indivíduos suponham alcançar qualquer coisa que desejem), o que 
gera alto grau de frustração ante a não realização de suas expectativas.
Por conseguinte, Durkheim também apontou uma anomia conjugal, que tem 
a ver com o enfraquecimento do casamento, como aconteceu com o restante das 
instituições sociais. Para ele, o casamento é uma fonte de estabilidade, especialmente 
para o homem que, segundo ele, é dominado, desde cedo, por desejos e paixões. Ao 
contrair o casamento, o homem entra em uma instituição que coloca limites em 
suas ações, dá-lhe a estabilidade e a ordem que até aquele momento lhe faltavam.
Todavia, o casamento tem efeito oposto para a mulher. Esta não é dominada 
pelas paixões características do homem e, portanto, não é necessário que uma 
instituição lhe imponha limites, ao contrário, o casamento é apresentado como 
uma forma de regulamentação excessiva que a faz sentir-se presa e frustrada.
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Figura 4 - Para Durkheim, o casamento é uma forma de regulamentação 
Se as regras da moral conjugal estão enfraquecidas, conforme têm acontecido 
com a transformação das instituições sociais tradicionais, os deveres pelos quais 
os cônjuges estão sujeitos uns aos outros serão menos respeitados. As paixões 
e os apetites que esta instituição da moralidade regula serão desequilibrados 
devido à falta de regulação. Os envolvidos, incapazes de apaziguar-se, sofrerão 
desencanto e, com isso, a taxa de suicídio aumentará. O homem, acima de tudo, 
deixará de sentir-se satisfeito com a mulher que tem ao seu lado e as paixões que 
tinha, quando solteiro, reaparecerão.
Como podemos observar, a anomia é, para Durkheim, um mal crônico que se 
caracteriza pela falta de limites às ações individuais, seja porque não existem regras 
que as regulam, seja porque não há forças coletivas capazes de sustentá-las como tal.
Suicídio
Durkheim lidou com o suicídio como fato social. Isso quebra a tendência tra-
dicional de considerá-lo como fenômeno estritamente individual e, portanto, 
apenas como objeto da psicologia ou da moralidade.
Para chegar a essa conclusão, o autor trabalhou com a taxa anual de suicídio, 
que existe em vários países europeus desde a década de 60 do século XIX. Ao 
analisar essas taxas, notou que estas tendiam a permanecer constantes ou com 
pequenas mudanças durante longos períodos de tempo. Ele também percebeu 
que a taxa de suicídio difere entre países e entre comunidades sociais. 
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A primeira causa de morte por atos de violência no mundo não são os acidentes de trân-
sito, os homicídios nem os conflitos armados, mas o suicídio. Esse dado desconcertante 
foi revelado em outubro de 2002, em Bruxelas, numa reunião da Organização Mundial de 
Saúde (OMS) para divulgar as conclusões do Relatório Mundial sobre Violência e Saúde.
As mortes por suicídio aumentaram 60% nos últimos 45 anos, segundo a OMS. Quase um 
milhão de pessoas se mata todos os anos – em um universo até 20 vezes superior de ten-
tativas. Na maioria dos países desenvolvidos, a violência autoinfligida é a primeira causa 
de morte não natural. No Brasil, ela ocupa a terceira posição – aqui as taxas de mortalida-
de por acidentes de trânsito e homicídios estão entre as maiores do mundo.
Fonte: Christante (2010, p. 33-35).
explorando Ideias
Ele dá o exemplo de como havia menos suicídios na comunidade católica, com-
parados às comunidades protestantes. Contudo, entre os judeus, as taxas eram 
ainda menores do que entre os católicos. A partir disso, deduziu que o suicídio 
é, antes de tudo, um fato social e que as suas causas são sociais e não individuais 
ou puramente psicológicas, como era explicado até aquele momento. Durkheim 
propôs identificar as diferentes causas sociais do suicídio. A partir disso, distin-
guiu quatro tipos de suicídio, de acordo com os resultados estudados. São eles:
• Suicídio egoísta: acontece quando os laços sociais são muito fracos. Na 
ausência da integração na sociedade, o suicida realiza sua vontade de 
cometer suicídio pelo sentimento de não pertencimento à sociedade. Seu 
individualismo excessivo, produto da desintegração social, não permite 
que ele se perceba como indivíduosocial que é. 
• Suicídio altruísta: é exatamente o oposto do tipo egoísta ou individua-
lista. O suicida se sente “demasiadamente integrado”, pois as relações e os 
laços são muito fortes. Durkheim dá o exemplo de povos primitivos, em 
que os idosos deveriam cometer suicídio (quase que obrigatoriamente) 
quando não podiam mais defender-se sozinhos. Suicidavam-se pelo gru-
po. Os kamikazes japoneses e os homens-bomba são exemplos desse tipo. 
É também chamado de suicídio heroico.
• Suicídio anômico: ocorre em sociedades cujas instituições e os vínculos 
de convivência estão em situação de desintegração ou anomia. Esse tipo 
de suicídio ocorre em sociedades em que os limites sociais e naturais são 
mais flexíveis, isto é, quando há falta de regulação social.
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• Suicídio fatalista acontece quando as regras às quais os indivíduos são 
submetidos são excessivamente opressoras. O indivíduo prefere a pos-
sibilidade de abandonar a situação em que se encontra. É exatamente o 
oposto do tipo anômico.
Esses quatro modelos suicidas, na realidade, conforme Durkheim aponta, estão 
relacionados entre si, criando tipos compostos que explicam os diferentes casos.
Karl Marx
Karl Marx nasceu em 1818 na Prússia, então rei-
no alemão, em uma família de origem judaica, de 
classe média alta e educada. Posteriormente, seu 
pai se converteu ao luteranismo. Foi economis-
ta, filósofo, jurista, jornalista, pensador socialista 
e militante comunista. Ele nunca se considerou 
um sociólogo profissional, embora buscasse 
compreender cientificamente a sociedade e a for-
ma pela qual a mudança social acontecia. Dois de 
seus trabalhos mais importantes no desenvolvi-
mento sociológico foram: Contribuição à Crítica 
da Economia Política (1859) e O Capital (1867).
Marxismo
Chamamos de marxismo o conjunto de ideias políticas, econômicas e filosóficas 
que nascem com o trabalho de Karl Marx. É uma doutrina ou um corpo ideológico 
que dialoga com as três fontes ideológicas mais avançadas da Europa do século XIX: 
o socialismo francês (Saint-Simon, Fourier, Proudhon), a filosofia clássica alemã 
(Feuerbach, Hegel) e a economia política inglesa (David Ricardo, Adam Smith).
Friedrich Engels chamou o marxismo ou o comunismo de “socialismo cien-
tífico”, para diferenciá-lo dos socialismos pequeno-burgueses ditos “moderados”, 
do socialismo utópico francês ou do socialismo anarquista. Hoje, faz parte da 
ideologia dos principais movimentos trabalhistas de todo o mundo.
Figura 6 - Karl Marx
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Marx criticou todos os filósofos antes dele, que se limitaram a apenas inter-
pretar o mundo, quando deveriam contribuir para sua transformação. No ideário 
comunista, é nítido o fato de que não basta fazer perguntas sobre a realidade 
para entendê-la. É preciso transformá-la. É vital que a classe trabalhadora e, es-
pecialmente, o aluno e os jovens que começarão a trabalhar, mantenham atitude 
de lutar com espírito internacionalista e tenham a formação política necessária 
para fazer uma crítica contundente ao sistema capitalista.
O movimento comunista não emergiu de Marx, mas do movimento proletário 
do século XIX. Marx morreu em plena atividade pela busca do seu ideal político. Isso 
significa que devemos considerar todos os outros autores que contribuíram para o 
marxismo – como Engels, Lenin, Trotsky, Rosa de Luxemburgo, Ernesto Guevara 
e Antônio Gramsci). Por isso, o movimento não deve ser aceito como um dogma 
inflexível, mas usado para analisar a realidade em constante transformação. Além 
disso, o marxismo pode ter a sua teoria ressignificada pelas conclusões que a classe 
trabalhadora extrai das suas novas condições materiais de trabalho, dos movimentos 
emancipatórios das mulheres, das raças e das comunidades oprimidas, entre outros. 
Materialismo Histórico
Karl Marx concebeu a História a partir de uma visão materialista. Isto é, ele con-
siderou que tanto as relações jurídicas quanto as formas de Estado não poderiam 
ser entendidas por si mesmas ou pela evolução geral do espírito humano, mas 
considerando suas raízes nas condições materiais da existência, isto é, nas forças 
produtivas – os instrumentos tecnológicos de trabalho, as habilidades laborais e, 
principalmente, o sujeito social que exercia o trabalho sobre a natureza e a socie-
dade – e nas relações sociais de produção – os vínculos sociais que se estabeleciam 
entre os seres humanos para produzir e reproduzir sua vida material e cultural, e 
que, no modo de produção capitalista, expressavam a contradição antagônica entre 
os detentores dos meios de produção e os detentores da força de trabalho. 
Assim, as causas de todas as transformações históricas não foram encontra-
das nas mudanças no campo das ideias dos seres humanos, nem foram primor-
dialmente mudanças políticas, mas giraram sempre em torno do poder social 
e econômico das classes. Essas, por sua vez, nasceram e existiram a partir das 
condições materiais em que a sociedade de uma época produziu e mudou o que 
era necessário para o seu sustento.
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Essas forças produtivas e as relações de produção pertenciam a um cer-
to modo de produção de determinada época, e se encontravam inseridas na 
estrutura econômica ou na sociedade civil. Todas as outras questões, tanto 
ideológicas (visões de mundo e cultura) quanto políticas (leis, instituições go-
vernamentais e poder coercitivo), pertenciam ao âmbito da superestrutura 
ideológico-política, que estava condicionada e a serviço das necessidades de 
reprodução da estrutura material econômica. 
Qualquer produto fabricado pelo homem é o resultado da combinação de 
três elementos: o objeto do trabalho que é, direta ou indiretamente, uma maté-
ria-prima produzida pela natureza; o instrumento de trabalho, que é um meio 
de produção mais ou menos desenvolvido e criado pelo homem (dos primeiros 
tacos de madeira e machados de pedra esculpida às máquinas automáticas mais 
refinadas de hoje); e o sujeito do trabalho, isto é, o trabalhador. Como o trabalho 
é sempre, em última instância, social e não individual, o sujeito do trabalho está 
inevitavelmente embutido nas relações sociais de produção.
Embora o objeto e o instrumento de trabalho sejam elementos imprescindí-
veis em toda a produção, as relações sociais de produção não podem ser concebi-
das de maneira “reificada”, ou seja, não devem ser vistas como se fossem relações 
entre coisas, ou entre homens e coisas. As relações sociais de produção dizem 
respeito às relações entre os homens e somente isso. Elas reúnem o conjunto de 
relações que os homens constroem na produção de sua vida material.
Cada sociedade de determinado país, em um dado momento, é sempre ca-
racterizada por um conjunto de relações de produção. Uma sociedade sem este 
conjunto, seria um país sem trabalho ou produção de materiais, isto é, um país 
sem habitantes ou sociedade. Entretanto, cada conjunto de relações sociais de 
produção não implica necessariamente na existência de um modo de produção 
estabilizado, nem a homogeneidade dessas relações.
Em períodos históricos de profundas transformações sociais, podemos reco-
nhecer conjuntos de relações de produção que não têm a natureza de um modo 
de produção estabilizado. Um exemplo típico é o período de predominância da 
pequena produção de mercadorias (séculos XV-XVI), em que nem as relações 
entre servos e senhores prevalecem, nem a de capitalistas e produtores assala-
riados. Prevaleceu, neste momento, a relação dos produtores livres que tinham 
acesso direto aos meios de produção.
Marx fez uma análise profunda da estrutura e do desenvolvimento do ca-
pitalismo, oferecendo uma nova teoria da sociedade e mudança social. Como 
intelectual revolucionário, desenvolveu uma busca teórica para fundamentar uma 
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prática de transformação revolucionária da sociedade, buscando integrar teoria 
e prática. Sua obra se caracteriza como uma ruptura com os escritos filosóficos 
até aquele momento, poisse limitaram a apenas interpretar o mundo quando, na 
verdade, ele precisava ser transformado.
Luta de classes
No decorrer da história, sempre houve confronto entre as classes. Nas sociedades 
escravistas (Grécia e Roma na Antiguidade), os proprietários livres e os escravos 
tinham uma relação antagônica. No seio da sociedade do Estado feudal, o con-
fronto foi estabelecido entre nobres e eclesiásticos, por um lado, e servos, por 
outro. Marx não se gabava de ter descoberto o conceito de classes sociais, apenas 
o considerava inserido nas relações de trabalho:
 “ Não me cabe o mérito de ter descoberto a existência das classes na 
sociedade moderna ou a luta entre elas. Muito antes de mim, alguns 
historiadores burgueses tinham exposto o desenvolvimento históri-
co desta luta de classes e alguns economistas burgueses a anatomia 
econômica das classes. O que eu fiz de novo foi demonstrar: 1) que a 
existência das classes está ligada apenas a determinadas fases históri-
cas do desenvolvimento da produção, 2) que a luta de classes conduz 
necessariamente à ditadura do proletariado, 3) que esta mesma dita-
dura constitui tão somente a transição para a abolição de todas as clas-
ses e para uma sociedade sem classes (MARX; ENGELS, 2016, p 33).
Figura 8 - Trabalhadores em greve
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A revolução teria como objetivo alcançar uma sociedade perfeita, na qual não 
haveria exploradores nem explorados. Para isso, a abolição da propriedade priva-
da, ou seja, a socialização dos meios de produção, será imprescindível, evitando 
a mera substituição dos antigos proprietários por novos.
Mais-valia
Em suma, mais-valia significa o excedente de trabalho não pago e que os bur-
gueses se apropriam. Esse valor poderia ser definido como trabalho não pago ao 
trabalhador, o qual permanece nas mãos do capitalista, que tem, na mais-valia, a 
base da sua acumulação monetária.
Para entender a noção de mais-valia, devemos levar em conta que cada mer-
cadoria tem o seu preço correspondente, que está relacionado ao tempo de tra-
balho necessário para sua produção. A força de trabalho também é considerada 
pelo marxismo como uma mercadoria, cujo valor está ligado ao custo para que 
o trabalhador possa subsistir.
A apropriação de mais-valia é a exploração pelo capitalismo. De acordo com 
Marx, o capitalista pode aumentar o nível de exploração por meio da maximiza-
ção da mais-valia absoluta (estender a jornada de trabalho, mantendo o mesmo 
salário) ou da mais-valia relativa (investe em tecnologia para reduzir o tempo 
de produção sem aumentar o salário).
Este conceito é essencial para compreender as relações sociais na perspectiva 
marxista, gera tensão e oposição entre as classes. 
Max Weber
Considerado por muitos como um dos fundado-
res da Sociologia moderna, juntamente com Karl 
Marx e Émile Durkheim, o sociólogo e historia-
dor alemão Max Weber, nasceu em 21 de abril de 
1864 em Erfurt, Alemanha. Filho de um oficial 
rico e liberal e uma mãe calvinista e religiosa, sua 
vida transitou entre o mundo acadêmico e a polí-
tica em uma época em que a Alemanha, a Europa Figura 9 - Max Weber
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e o mundo todo estavam em plena ebulição: testemunhou o nascimento do Im-
pério Alemão em 1871 e sua extinção em 1918 após a Primeira Guerra Mundial. 
Do mesmo modo, ele viveu o apogeu da expansão territorial europeia na África 
e na Ásia e a Segunda Revolução Industrial.
Como um grande observador das inovações de seu tempo, ele concentrou 
seu trabalho em duas mudanças cruciais: o nascimento de estados-nações mo-
dernos baseados em uma burocracia profissional e a expansão do capitalismo 
ocidental em todo o mundo.
Weber defendia que a Sociologia não poderia tornar-se uma ciência exata 
comparável à matemática ou à física, uma vez que os princípios nos quais ela se 
baseava eram humanos, portanto suscetíveis de serem subjetivos e não objetivos.
Da mesma forma, Weber desenvolveria o que mais tarde seria conhecido 
como “individualismo metodológico”, assegurando que apenas indivíduos, igual-
mente suscetíveis à subjetividade, são agentes ativos. Seu método e o problema 
da modernidade levaram Weber a explorar as relações entre a produtividade 
econômica e o contexto cultural da sociedade.
Ação social 
De acordo com Weber, ação é entendida como um comportamento humano 
em que o indivíduo, ou indivíduos, que o produzem o estabelecem com um 
sentido subjetivo. Para a Sociologia, a ação social se refere, de maneira geral, a 
uma conduta individual orientada pelas ações do outro, que podem acontecer 
no presente ou no futuro próximo. Ela só se realiza quando há uma intenção de 
relacionamento entre um ser humano e outro. Por exemplo: comprar um carro 
a partir da opinião de outra pessoa.
Para definir diferentes tipologias de ação social, Weber enfatizou a indisso-
ciabilidade entre a sociedade e os fatores culturais que a afetam. A metodologia 
para classificar os tipos de ação parte de um princípio que se baseia nas causali-
dades culturais, que supõem a previsibilidade das ações: 1. A ação racional com 
relação a fins; 2. A ação racional com relação aos valores; 3. A ação afetiva; 4. A 
ação tradicional. Cada tipo de ação ou comportamento emitido pelo indivíduo 
parte de valores, objetivos propostos e valores e meios que ele possui.
1. A ação racional com relação a fins – agir racionalmente de acordo com 
os fins desejados. Nesta ação, os meios são racionalmente calculados para 
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serem atingidos. Por exemplo: o aluno terá uma prova. Ele usa o estudo 
como meio racional para tirar uma boa nota.
2. A ação racional com relação aos valores – é uma ação advinda de cren-
ças em valores individuais adquiridos ao longo da vida e dos contextos 
sociais e culturais vividos. Não é o fim que orientará a ação. Por exemplo: 
minha religião afirma que tenho que casar virgem.
3. A ação afetiva – determinada por afetos e estados sentimentais atuais. 
Por exemplo: encontro um(a) amigo(a) e o(a) encontro(a) abraçá-lo(a), 
movido pelo sentimento afetivo da saudade.
4. A ação tradicional – determinada por costume, tradição e hábito forte-
mente enraizado. Por exemplo: todos os domingos, almoço macarronada, 
porque meus pais sempre fizeram assim.
A ética protestante e o espírito do capitalismo
O livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905) é uma das 
obras mais conhecidas de Max Weber. Nesse estudo, o autor elaborou a argumen-
tação de que os valores presentes na religião protestante influenciaram grande-
mente o desenvolvimento do capitalismo no mundo ocidental.
É uma característica do pensamento de Max Weber a crítica à concepção 
materialista da história. Para o sociólogo alemão, não são apenas os interesses 
econômicos que determinam a evolução histórica, o movimento das classes e as 
grandes correntes sociais. Os fatores psicológicos e religiosos são muito impor-
tantes na sociedade e influenciam diretamente a dinâmica social. A partir dessa 
ideia, Weber passou a olhar, na história das religiões, as concepções que favorece-
ram ou frearam o desenvolvimento do capitalismo, e chegou à conclusão de que 
este é herdeiro do calvinismo e do puritanismo, ou seja, de correntes originadas 
na Reforma Protestante, cujo pensamento predominante era de que a salvação 
viria por meio de uma incessante atividade moral e material.
Embora o reformador João Calvino tivesse adotado as ideias essenciais de 
Lutero em sua juventude (negação da autoridade papal, livre interpretação da Bí-
blia e salvação pela fé), logo surgiram discrepâncias doutrinárias, particularmen-
te no que dizia respeito à predestinação. Na teologia calvinista – que prevaleceria 
com algumas variações em vários países da Europa central, do norte e entre os 
puritanos ingleses, dos quais a emigração e o puritanismo americano prossegui-
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ram –, a onisciência divina conhece o destino 
de todo homem. O ser humano é salvo não 
por suas boas obras, mas porque foi escolhidopor Deus para esse destino. Por conseguinte, 
boas ações são também um comportamento 
previsto por Deus, de modo que os homens 
destinados à salvação também estão destina-
dos a levar uma vida correta e justa: “A fé sem 
obras é morta” (Tg 2, 14-26) (BÍBLIA, 1969). 
Essa doutrina teve um efeito profunda-
mente moralizante entre os fiéis, que, de algu-
ma forma, esforçaram-se para alcançar uma 
integridade moral absoluta,a qual lher permitia supor que estavam entre o grupo 
dos escolhidos para a salvação. O trabalho é supervalorizado como instrumento 
de Deus para dar dignidade humana. A vida boêmia, com gastos, bebidas e pros-
tituição, é tratada como pecado e, por isso, não deve ser praticada pelos protes-
tantes. Com isso, conseguem destinar o dinheiro para outro fim ou, até mesmo, 
guardar, o que, para Weber, era sinal de um princípio de acumulação de riquezas.
Para os calvinistas e puritanos, impulsionados especialmente por dar a todos 
os valores humanos um significado sagrado e obter, a partir daí, a confirmação de 
da escolha para a salvação por meio da fé, o trabalho e sua organização racional 
tornaram-se ordem divina. Na verdade, o trabalho, para o calvinista, é uma fé e 
uma missão que precisa ser executada como planos da vontade celestial. Dedi-
cado ao trabalho e aos negócios, o homem organiza e racionaliza o trabalho e a 
produção, enriquece a vida humana e interpreta sua vitória comercial da mes-
ma forma que suas realizações no aperfeiçoamento moral: uma confirmação da 
escolha de Deus, tanto para a própria salvação quanto para toda a sua família.
O objetivo não é a acumulação de capital nem a satisfação e a alegria que pode 
produzir, mas, sem ser um fim em si mesmo, esse objetivo guia a organização da 
vida. O trabalho do homem de negócios moderno, portanto, tem fundamento re-
ligioso. A organização e a disputa comercial estão intimamente ligadas a uma visão 
de mundo segundo a qual os melhores, ou seja, os eleitos, organizam-se, produzem 
e enriquecem, enquanto os outros, os não eleitos, perdem fatalmente suas batalhas.
Com essas conclusões, a vida social e econômica é revelada, na filosofia de 
Weber, como determinada por elementos irracionais e imprevisíveis, e a história 
se manifesta como um processo muito mais complexo do que o descrito pelo 
Figura 11 - João Calvino
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marxismo, no qual a luta de classes é considerada como a origem e o motor da 
história. Dentre os diversos sistemas econômicos, como o capitalismo, a visão 
da vida e os fatores psicológicos têm importância predominante na vida da 
sociedade. Até o próprio capitalismo pode ser entendido como uma religião – 
a religião da atividade e da vitória – tipicamente ligada à concepção ocidental 
de vida. O seu oposto não seria tanto o espírito proletário e comunista, mas o 
espírito de renúncia e de contemplação.
Dominação, obediência e legitimidade
Os três mecanismos utilizados pela autoridade política são: domínio, obediência e 
legitimidade. A submissão não é alcançada por uma violência explícita, mas pela 
adesão dos indivíduos. Ela não pode ser explicada sem recorrer a mecanismos 
como a fascinação pelo poder. A ritualização deste, a aceitação inquestionável 
da sua legitimidade e a persuasão são crenças sem as quais Estado algum pode 
sobreviver e precisam ser amplamente divulgadas.
A dominação é uma construção social e, por isso, estudar os mecanismos de cria-
ção de obediência ou de docilidade é essencial em qualquer teoria do poder. A relação 
de forças desiguais (lembre-se que toda a ação social é uma relação social) teria que 
dificultar o estabelecimento de uma ordem social, e, ainda assim, esta existe porque 
mecanismos foram utilizados para torná-la não apenas legítima, mas até mesmo 
desejável para os seres humanos. É, por isso, que a análise das condições da produção 
da crença na legitimidade é um elemento básico no trabalho de Weber, visto que 
demonstra como a dominação gera obediência e a obediência gera legitimidade.
Para Weber, dominação é 
 “ […] um estado de coisas pelo qual uma vontade manifesta (man-
dato) do dominador ou dos dominadores influi sobre os atos de 
outros (do dominado ou dominados), de tal sorte que em um grau 
socialmente relevante estes atos têm lugar como se os dominados 
tivessem adotado por si mesmos e como máxima de sua ação o 
conteúdo do mandato (obediência) (WEBER, 1994, p. 699).
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Há, de acordo com a classificação estabelecida por Weber, três tipos ideais de legiti-
midade e dominação, sendo que, cada uma, gera seu próprio nível de racionalidade: 
dominação tradicional, dominação carismática e a dominação racional-legal.
• Dominação tradicional é a aquela que se baseia na crença na santidade 
da tradição e daqueles que dominam em seu nome.
• Dominação carismática se baseia na crença de que um indivíduo possui 
alguma habilidade ou característica que o faz “especial”. 
• Dominação racional-legal é aquela que ocorre nos Estados modernos. 
É a expressão da racionalização: formal, baseada em procedimentos, pre-
visível, calculável e burocrática. 
A burocracia é, para Weber, o pilar fundamental do Estado Moderno de direito, 
pois cumpre um papel racional. Se existe um estado de direito, deve haver neces-
sariamente uma burocracia que dê significado e estrutura organizacional à lei. 
Essa é a figura do burocrata. Se a lei é abstrata, impessoal e igualitária, o burocrata 
deve ser exatamente assim também. O burocrata, separado de todos os interesses 
pessoais, recrutado por um procedimento objetivo baseado na qualificação e no 
mérito, é, portanto, o instrumento efetivo da lei.
Todos os sistemas organizacionais eficazes são baseados na burocracia: o 
Estado, a empresa e até as Igrejas (o sacerdote não deixa de ser o burocrata da fé). 
Sem burocracia, não há racionalização nem sociedade baseada na lei. Assim, o 
ethos burocrático (racionalidade e impessoalidade) permeia as sociedades mo-
dernas. A burocratização é a nova servidão, pois é a servidão da lei.
Desencantamento do mundo
Com a crescente racionalização, o ser humano moderno deixa de acreditar em 
poderes mágicos e superstições. Com isso, passa a viver em um mundo desen-
cantado. O que Weber chama de “irracionalidade ética do mundo” vem do an-
tagonismo dos valores ligados à intuição especulativa e da realidade, tal qual é 
apresentada. O mundo moderno experimenta grande dificuldade em produzir 
novos deuses ou novos valores.
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O pensador estava convencido de que a racionalidade instrumental de nossa 
era técnica, ou seja, o processo de racionalização que elimina o mistério da exis-
tência e nos faz sentir capazes de dominar tudo por meio da ciência, não conseguia 
acalmar a ansiedade humana – de encontrar um significado transcendente para a 
vida. Certamente, o avanço do conhecimento científico produziu desencantamen-
to sistemático do mundo. Todavia, com isso, ele não destruiu o mistério, pois se 
refugiou em outros níveis da realidade, dos quais emerge com força renovada em 
termos de reivindicação moral, segundo a qual a vida deve ter significado superior.
Sociologia Contemporânea
Pierre Bourdieu
Foi um dos sociólogos mais relevantes da segunda metade do século XX. Suas 
ideias são de grande relevância tanto na teoria social quanto na Sociologia empí-
rica, especialmente na Sociologia da cultura, educação e estilos de vida. Sua teoria 
se destaca como uma tentativa de superar a dualidade tradicional da Sociologia 
entre estruturas sociais e objetivismo, por um lado, contra ação social e subjeti-
vismo, por outro. Para isso, está equipado com dois novos conceitos, o habitus e 
o campo, além de reinventar o termo capital, já estabelecido.
De acordo com o sociólogo francês, as pessoas acumulam, lutam e compe-
tem pela distribuição de diferentes recursos para ter uma posição melhor na 
sociedade. Segundo Michel Foucault, filósofo também francês, existem três tipos 
de capital, cada um deles com uma lógica específica. Podemosdefini-los como: 
Capital econômico (que se mede e acumula em objetos e dinheiro); Capital 
social (refere-se à influência, capacidade de ativação e mobilização social); e Ca-
pital cultural (são os conhecimentos e objetos acumulados, que nos permitem 
demonstrar externamente nosso nível cultural). 
De todo o seu trabalho, ele elaborou conceitos controversos que foram ques-
tionados por seu determinismo. Foucault, por exemplo, sustenta que a escola 
reproduz diferenças familiares, sociais e de classe, porque seleciona e legitima 
aqueles que são culturalmente mais dotados, em virtude da sua origem familiar. 
Nesse sentido, a escola funciona como um mecanismo de mobilidade social, 
mas também de marginalização e discriminação. Tudo isso está relacionado 
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à afirmação de Bourdieu sobre o status social da classe média, que ele acredita 
ser baseado em recursos extraídos do sistema educacional, portanto, a principal 
capital da classe média é a cultural.
Para Bourdieu, todos os capitais tendem a converter-se em capital econômico. 
Em contrapartida, o capital social fornece vínculos sociais e prestígio derivado 
do prestígio alheio, o qual gera o sentimento de pertencimento. O capital social 
acumula-se de maneira coletiva, mas de forma altamente seletiva e exclusivista. 
A distribuição dos diferentes tipos de capital resulta na criação dos mapas, em 
que cada indivíduo e cada grupo serão colocados em uma posição diferente em 
relação ao tipo e à quantidade de capital que possuir.
Algo importante a ser lembrado, em Bourdieu, é que, para ele, não há poder 
global que domine toda a sociedade, porque a sociedade está inserida em uma 
multiplicidade de pequenas lutas de poder em campos diferentes, nos quais os 
capitais são distribuídos de acordo com as suas próprias regras. Além disso, in-
divíduo não aprende as regras, mas as incorpora. Ele as possui em seu corpo 
pelas práticas cotidianas e habituais. Práticas diárias serão aquelas disposições 
incorporadas à ação, que norteiam nossas decisões e, para Bourdieu, são cha-
madas de habitus. O habitus é um processo pelo qual a cultura é reproduzida e 
determinados valores e comportamentos são naturalizados.
Segundo o sociólogo francês em questão, a naturalização do mundo social é 
funcional a uma forma de dominação baseada na violência simbólica exercida 
por quem as recebe, pois são eles quem a internalizaram como característica de 
sua própria identidade. Em suma, pensar na ideia de violência simbólica implica 
necessariamente pensar no fenômeno de dominação nas relações sociais, espe-
cialmente sua eficácia, seu modo de operação e a base que a torna possível.
A forma paradigmática da violência simbólica é, para o autor, o fenômeno da 
dominação masculina, que, longe de ser apenas uma violência exercida pelos ho-
mens sobre as mulheres, é um processo complexo de dominação que afeta os agen-
tes, independentemente do sexo. Formas e fenômenos de violência e dominação 
simbólicas podem ser encontrados nos mais diversos eventos sociais e culturais: na 
esfera da linguagem, no campo educacional, em múltiplas classificações sociais etc.
Com a expressão “violência simbólica”, Bourdieu pretende enfatizar a maneira 
como os dominados aceitam sua própria condição de dominação como legítima. 
O poder simbólico não usa violência física, mas violência simbólica. É um poder 
legitimador que desperta o consenso dos dominadores e dos dominados, pois 
supõe a capacidade de impor a visão legítima do mundo social, suas divisões e a 
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capacidade de impor os meios para entender e adaptar-se ao mundo social por 
meio de um senso comum, que disfarça o poder econômico e político, ao contri-
buir, assim, para a reprodução de atitudes de acordos sociais desiguais.
Florestan Fernandes
É uma das figuras intelectuais mais importantes do Brasil no século XX. Seu 
nome está intimamente ligado à institucionalização da Sociologia como disci-
plina científica no Brasil, especificamente, à tradição acadêmica da Universida-
de de São Paulo (USP), mas, também, ao pensamento marxista, e à militância 
política. Essas duas facetas de sua trajetória de vida constituem uma fonte de 
tensões centrais, que vão desde o tempo dedicado à cada atividade, passando 
pela coexistência de estruturas interpretativas, à coerência entre teoria e prática. 
Alguns pesquisadores argumentaram que essas duas facetas correspondem a dois 
períodos diferentes de sua carreira, tendo como marco temporal o surgimento 
da ditadura militar em 1964.
Alguns estudiosos da vida e obra de Florestan analisam essa transição como 
duas grandes etapas de sua biografia, marcadas por uma ruptura epistemoló-
gica: a fase “acadêmico-reformista” (1945-1968, neste, o ano em que é expulso 
da USP) e a “político-revolucionária” (1968-1986, ano em que é eleito deputado 
federal pelo Partido dos Trabalhadores). Outros, em contrapartida, suscitaram 
uma sensação de continuidade e progressão, na qual os conceitos analíticos são 
esclarecidos ao articular os aspectos acadêmico-universitário e político-militante.
Em vários escritos, este estudioso deixou testemunho de sua infância e de 
sua formação inicial, que ocorreu durante um tempo de grandes transforma-
ções para o país: a queda da antiga República, a crescente pressão das massas 
populares urbanas sobre a vida social e a chegada de Getúlio Vargas ao poder. 
Esses depoimentos não apenas permitem conhecer alguns dados de sua tra-
jetória, mas também observar a construção de um relato autobiográfico em 
uma chave sociológica na qual são constantemente destacados os cruzamentos 
entre a história pessoal e o condicionamento da estrutura social, ponto fun-
damental de sua perspectiva sociológica.
Filho de uma imigrante portuguesa, Maria Fernandes, empregada doméstica e 
lavadeira, Florestan perdeu o pai e a irmã com tenra idade e deixou a escola no ter-
ceiro ano do ensino fundamental para ajudar a mãe. Cresceu nos bairros populares 
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de São Paulo, mudando de residência constantemente. Trabalhou como engraxate 
e garçom em vários negócios: açougue, padaria, alfaiataria, entre outros. Para ele, 
essa situação de vida constituiu uma marca profunda em sua carreira intelectual.
Apesar de ter abandonado a escola ainda jovem, Florestan continuou seus 
estudos informalmente; primeiro, com os livros de um amigo de sua mãe, depois 
na biblioteca de sua madrinha. Anos depois, ele conseguiu terminar o ensino 
regular (fez sete anos em três) e entrou na USP em 1941, aos 21 anos, local em 
que sua brilhante carreira decolou. Para dar esse passo importante em sua vida, 
precisou prestar serviço militar, estudar datilografia e enfrentar a dificuldade 
de ter aulas de francês com professores europeus que chegavam à universidade.
Sua experiência de vida está ligada a, pelo menos, dois aspectos centrais 
de sua perspectiva sociológica: o questionamento das possibilidades de os 
sujeitos sociais serem construtores ativos da história e um posicionamento 
claro a favor dos setores populares.
Por fim, para entender a perspectiva sociológica de Florestan Fernandes, é ne-
cessário colocá-la no campo intelectual-acadêmico do período considerado. Du-
rante a década de 30, ocorreu um importante processo de reformulação do pensa-
mento social brasileiro, articulado com a nascente institucionalização das Ciências 
Sociais. Nesta fase, são publicados os grandes ensaios de interpretação nacional de 
Gilberto Freyre (1933), Sérgio Buarque de Holanda (1936) e Caio Prado Júnior 
(1942). Tais trabalhos expressam profunda preocupação com a formação histórica 
do Brasil como fonte para explicar seus males e obstáculos contemporâneos para 
a mudança social. Embora a preocupação faça parte da tradição do pensamento 
brasileiro desde o século XIX, essa geração atingiu impacto fundamental na pro-
dução acadêmica universitária, consolidada nas décadas seguintes.
Em relação à sua perspectiva sociológica como herança do movimento de 
reformaeducacional, mas também de professores estrangeiros que chegavam 
à USP, foi fortemente afirmada a possibilidade e a necessidade de adotar uma 
abordagem científica dos problemas sociais. Essa posição tem duas vertentes: por 
um lado, sustenta a importância da reflexão em oposição à tradição do ensaio 
social. Desde os primeiros escritos de Florestan aos trabalhos de seus professores 
e colegas, é possível traçar a exigência da reflexão baseada em dados empíricos 
de instrumentos analíticos precisos, independentemente da qualidade das inter-
pretações gerais. Por outro, e acima de tudo, essa posição implica uma definição 
política contra o conservadorismo ideológico (católico e militar), que rejeita a 
ciência por estar relacionada a supostos vínculos comunistas. Diante desta ideia, 
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a defesa da “ciência do social” implica no compromisso com um pensamento ra-
dical comprometido com o entendimento efetivo da realidade brasileira e guiado 
pelas possibilidades de sua transformação.
Além disso, nessa concepção científica de análise social, Florestan rejeitou 
os estudos culturalistas, que enfatizam as peculiaridades culturais do Brasil 
como fator explicativo. Pelo contrário, com base na influência dos professores 
franceses e, em parte, na ideologia liberal e marxista, seus estudos estão incli-
nados a uma perspectiva universal e estrutural de análise das relações sociais, 
mas sem nunca abandonar as considerações da especificidade histórica. Essa 
perspectiva permite, por exemplo, revelar os problemas de desigualdade social 
e atraso estrutural da sociedade brasileira.
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Caio 
Prado Junior
Em 1933, Gilberto Freyre publicou Casa Grande e Senzala. Influenciado pela 
antropologia cultural americana nas décadas de 30 e 40, Freyre se dedicou à aná-
lise da formação da sociedade patriarcal, que destaca a colonização portuguesa e 
a presença de negros na formação do Brasil. Seus estudos deram continuidade às 
análises de Nina Rodríguez e Silvio Romero, considerados antecedentes imedia-
tos da Antropologia e da Sociologia. Diante das posições racistas que levantaram 
a necessidade de um embranquecimento da sociedade, Freyre desenvolveu a tese 
da “democracia racial” do Brasil. Se, por um lado, essa tese apresentou a miscige-
nação como fator construtivo e positivo, por outro, contribuiu de alguma maneira 
para o mito da ausência de preconceitos raciais no país.
Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda publicou o livro Raízes do Brasil, no 
qual analisou o abismo entre o país ideal, liberal, moderno, europeizante e o país 
real, suas necessidades e singularidades históricas. Formado na Alemanha, este 
estudioso se identificou com o historicismo. No livro, ele manifestou interesse 
nas tensões entre permanência e mudança social, além de dar visibilidade aos 
personagens anônimos da história brasileira.
Caio Prado Júnior, em contrapartida, publicou, em 1942, sua principal obra, 
a Formação do Brasil Contemporâneo, de estilo marxista, na qual as classes so-
ciais aparecem pela primeira vez como uma categoria analítica central, mas em 
uma perspectiva que enfatiza as peculiaridades locais do desenvolvimento capi-
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talista brasileiro. Esse texto abre uma linha de estudo sobre o caráter da economia 
colonial, seguida e posteriormente enriquecida por outros intelectuais, como 
Florestan Fernandes, Fernando Novais e Celso Furtado. 
Essa geração de intelectuais representou uma espécie de articulação entre 
a tradição ensaística do pensamento social enraizada no século XIX e o esta-
belecimento de parâmetros científicos e acadêmicos da produção intelectual 
para as próximas décadas.
De acordo com uma definição clássica, o poder é entendido como o desejo de 
alguém querer que a sua vontade seja aceita e manifesta, independentemente da 
opinião dos demais. Juntamente com o conflito, o poder é um elemento constitu-
tivo da política. É competitivo, pode ser adquirido, exercido, procurado, mantido 
e até expandido. Por meio dele, é fornecida uma ordem, a qual busca articular as 
diferenças existentes em determinada sociedade.
 “ É a capacidade de agir, de produzir efeitos sobre indivíduos ou grupos 
humanos e, para tanto, é preciso ter a posse de meios que permitam 
alcançar os efeitos desejados. O poder não é um ser, mas uma relação; 
um conjunto de relações por meio das quais indivíduos ou grupos de 
indivíduos interferem na atividade de outros indivíduos na atividade 
de outros indivíduos ou grupos (ARANHA, MARTINS, 2005, p. 256).
2 
CIÊNCIA 
POLÍTICA
O PODER MILITAR: 
devido ao controle que 
exercem sobre as forças 
armadas de um país, 
permite a um indivíduo, 
uma instituição ou um 
grupo de homens
dominar a vontade dos 
cidadãos por medo da 
repressão militar.33
22
O PODER POLÍTICO:
baseado na possibilidade
de exercer coerção,
de usar força legal, que é 
equivalente à aplicação
da própria lei.
Esse poder político é 
amparado pela burocracia 
e poder estatal.
O poder político só pode
ser realmente efetivo se 
incluir o consentimento
dos governados.44
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Pode-se dizer que existem diferentes modos de exercer poder, como fé, religião, 
força física, poder psicológico ou mental, o poder do dinheiro ou qualquer outro 
mecanismo que possa influenciar o comportamento humano. É válido reiterar 
que há múltiplas formas de poder resultantes das diferentes funções desempe-
nhadas por seus detentores na sociedade, por exemplo.
O conceito de poder é algo abstrato, mas produz efeitos visíveis sobre quem sofre 
suas consequências. A forma de divisão abordada anteriormente se manifesta em 
relações sociais implícitas ou explícitas. No caso das relações implícitas, não somos 
capazes de perceber factualmente como o exercício do poder é manifestado (po-
der ideológico, por exemplo). Já, nas relações explícitas, vemos claramente a forma 
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com a qual determinado poder atua (o poder militar, por exemplo). Em todos os 
casos, nota-se que as relações de poder fazem parte da vida cotidiana. No entanto, 
isso não significa que essa situação seja desejável, já que o poder implica em uma 
obrigação por parte do subordinado, que é privado de sua liberdade de escolha.
O conceito de poder despertou grande interesse das mais variadas ciências 
no decorrer da história. Tem sido investigado, a partir de diferentes áreas do 
mundo do conhecimento, como a Sociologia, a Ciência Política, a Psicologia, 
a História e, claro, a Filosofia.
Na Sociologia, é um conceito-chave por meio do qual estudamos como um 
grupo social ou um indivíduo pode impor seus interesses. Para a Ciência Polí-
tica, representa o objeto central de seu estudo, juntamente com a pesquisa das 
relações políticas. A Psicologia, por sua vez, concentra-se na análise das relações 
interpessoais de poder. A História também é responsável por analisá-las a partir 
de seu ponto de vista, focando em quem e como tem sido usado ao longo do 
tempo. Já a Filosofia procura descrever essa complexa ideia para saber quais 
são suas características e seus conceitos por meio da ética e da filosofia política.
Do ponto de vista filosófico, tanto a ética quanto a filosofia política analisam 
os mecanismos de controle que o poder utiliza, os quais são praticados sobre os 
grupos sociais, bem como as ideologias que permitem exercer e justificar certas 
formas políticas, como o Estado, os partidos, as instituições e os grupos sociais.
Estado
A Sociologia do Estado, uma subárea da Sociologia, estuda as relações entre o 
Estado e a sociedade civil. Sob essa perspectiva, por um lado, o Estado represen-
ta um conjunto de mecanismos e processos que demandam a centralização e a 
descentralização do poder e o surgimento de instituições especializadas em sua 
administração. Por outro, seu objetivo é alcançar o bem comum e a felicidade 
dos cidadãos, bem como uma convivência ordeira. As relações com a sociedade 
civil nem sempre são harmoniosas, embora devamser. Iremos aprofundar-nos 
no conceito de Estado, o que é, quais são seus limites e como é organizado.
O Estado é uma comunidade estabelecida em determinado território. É es-
tabelecido por meio de uma ordem legal, a qualcria um corpo de funcionários e 
garante poder legal autônomo. Tenta realizar o bem comum no campo da comu-
nidade e forma uma unidade política superior, independente e soberana.
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Por meio de seus governantes, regula a atividade econômica, gerencia os gastos 
públicos e os impostos e determina as políticas tributárias. Além disso, garante a livre 
concorrência e evita abusos na atividade econômica geral. O sucesso das funções eco-
nômicas do Estado é garantia de prosperidade e desenvolvimento para os cidadãos.
Vivemos em uma época em que o poder político mostra sua fraqueza diante 
da poderosa concorrência com o mercado financeiro e o poder da mídia. Não é 
de surpreender-se que, em tal situação, a soberania dos diferentes Estados esteja 
ameaçada, pois o espaço da soberania estatal está em crise diante dos novos for-
matos da globalização. O Estado enfrenta dificuldades especiais quando se trata, 
por exemplo, de controlar, mobilizar, organizar, implementar ou garantir direitos.
A família foi uma das primeiras estruturas sociais a surgir na história. Mais 
tarde, outras formas diferentes foram desenvolvidas, como o bando, a tribo, o 
clã etc. O termo “Estado” foi introduzido por Maquiavel em seu sentido jurídico 
e político. No entanto, o Estado já existia a partir das culturas egípcia, grega e 
romana. No decorrer da história da humanidade, o conceito de Estado e sua 
classificação mudaram. Apesar de ser estruturado de formas diferentes, duas são 
as formas mais básicas de classificação: unitária e federal.
Na estrutura unitária, o Estado unitário é uma instituição organizada de tal 
maneira que o poder político se concentra em apenas um centro de decisão. Neste 
tipo de Estado, não há diversidade territorial ou regional. O governo, contudo, pode 
delegar e revogar competências para subunidades territoriais, como municípios ou 
províncias. Pode ser centralizado ou descentralizado. Na estrutura unitária centrali-
zada, o poder, em sua totalidade, reside na administração central. Já na estrutura uni-
tária descentralizada, o poder é distribuído em regiões ou comunidades autônomas.
Na estrutura federal, a organização estatal é composta de diferentes órgãos, 
como estados, associações, grupos, sindicatos etc. Esses organismos se associam, a 
fim de delegar algumas liberdades ou poderes próprios a uma instância superior, 
no caso, o Estado federal ou a federação. Eles mantêm, contudo, certa soberania e 
autonomia, uma vez que algumas competências pertencem exclusivamente a eles. 
Este tipo de sistema também possui duas variantes: confederação de Estados ou 
Estado federal. A primeira é uma comunidade de Estados soberanos, que surge 
como consequência de um processo associativo entre Estados independentes. O 
segundo, por sua vez, é formado por Estados particulares, cujos poderes regionais 
têm autonomia e até soberania para seu funcionamento interno. 
Na história do pensamento político, diferentes teorias sobre a sociedade e o 
Estado foram realizadas. Conceitos como “estado de natureza”, “contrato social” 
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e “leis naturais” contribuíram com reflexões que nos aproximam da realidade 
social e política dos nossos dias.
Os primeiros teóricos sobre o Estado foram os autores clássicos Platão e Aris-
tóteles. Ambos refletiram sobre o modelo político vigente da época, a cidade-es-
tado ou a pólis, cuja concretização ideal de uma entidade autossuficiente traria 
a satisfação das necessidades da comunidade.
Para Platão, o homem assina o contrato de cidadania, termo que aparece em 
sua obra República. Pelo contrato de cidadania o ser humano opta por pertencer a 
um Estado e acorda com ele um pacto, pelo qual é obrigado a cumprir as leis, mes-
mo que sejam injustas. Para entender completamente o significado dessa doutrina, 
é necessário entender que ser homem e ser cidadão é o mesmo para esse filósofo.
Se a sociedade, para Platão, deriva de um pacto, para Aristóteles é algo na-
tural, consequência do fato de o ser humano ser naturalmente sociável. E essa 
natureza instintivamente atrai todos os homens para associações políticas. Em 
outras palavras, para esse filósofo, o homem é um “animal político”.
Dessa forma, o que caracteriza o ser humano não é apenas o fato de viver em 
sociedade, mas também de lidar com as coisas da pólis ou do bem comum, que 
é a atividade nobre por excelência do ser humano. O Estado é, então, uma organi-
zação política que resulta da associação de indivíduos, famílias e povos. Também 
tem uma origem natural e sua finalidade é resolver as necessidades básicas da vida 
e garantir que os cidadãos possam satisfazê-las. O núcleo original da comunidade 
social ou política é a família, porque o conceito de Estado, para Aristóteles, baseia-se 
na coexistência diária. Pequenas associações de grupos familiares dão origem ao 
surgimento da aldeia e a associação de aldeias dá origem à constituição da cidade. 
Na teoria moderna do Estado, surge um conceito central para a Ciência Po-
lítica: o contratualismo. Este compreende um conjunto de teorias políticas, que 
veem a origem da sociedade e o fundamento do poder político em um contrato 
social. A organização social e a vida dos membros da sociedade dependem de um 
acordo que permita estabelecer os princípios básicos de convivência: o contrato 
social. O contratualismo moderno, por exemplo, representa uma teoria acerca 
da legitimidade da soberania política. De forma breve, falaremos sobre as três 
teorias clássicas do contratualismo: a teoria absolutista de Hobbes, a teoria liberal 
de Locke e a teoria de soberania de Rousseau.
Thomas Hobbes é um dos filósofos mais representativos da teoria absolu-
tista. O Estado estabelece, como resultado de um pacto, o contrato comunitário. 
Em virtude desse acordo, o ser humano cede parte de sua liberdade a uma en-
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tidade superior, capaz de evitar que o confronto entre os diferentes interesses 
individuais se transforme em um conflito social. Dessa forma, a “guerra de todos 
contra todos” é evitada e precisa ser assim, pois, para Hobbes, o ser humano é 
egoísta e antissocial por natureza – daí deriva a sua famosa frase: “o homem é o 
lobo do homem”. Além disso, tende a satisfazer seus próprios interesses, mesmo 
em detrimento de seus pares.
Em síntese, o Estado aparece como um poder total e absoluto, que dita as leis 
e a moral. Ela é imposta à vontade dos membros da sociedade, que lhe deram seus 
direitos. O Estado se torna um instrumento necessário que, ao assumir direitos, 
garante a paz e a harmonia entre os indivíduos ao pôr fim ao estado de terror 
antes de sua criação. A sociedade civil, como a organização de todos súditos, está 
sujeita ao poder do Estado.
John Locke é a referência quando falamos da teoria liberal do Estado. Para 
este filósofo, a sociedade, em sua origem, estava no chamado estado de nature-
za, que seria o estado no qual os seres humanos desfrutariam de certos direitos 
naturais, como a vida, a liberdade e a propriedade. No entanto, os indivíduos 
violaram essa lei natural ao não observarem estritamente os mandatos de equi-
dade e justiça. Portanto, s bens que cada pessoa possui nesse estado não estão 
assegurados e a sua segurança é incerta. Para garantir uma vida digna e pacífica, os 
indivíduos cederam seus direitos a um grupo de soberanos, mas tendo em mente 
que tal atribuição não é perpétua ou irrevogável. Locke, então, reconhece o direito 
à rebelião se o soberano não cumprir os limites do acordo. O Estado, que deve 
proteger os direitos de seus representantes, surgiria sob esse contrato de parceria.
No século XVIII, a figura de Jean-Jacques Rousseau se destacou e sua con-
tribuição para a teoria do Estado é seu conceito de soberania. De acordo com 
ele, o direitopara conhecer um pouco 
mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos. 
explorando Ideias
Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e 
transformar. Aproveite este momento! 
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online e aprenderá de maneira interativa usando a tecno-
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CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01 UNIDADE 02
UNIDADE 03
UNIDADE 05
UNIDADE 04
FECHAMENTO
AS ORIGENS DA 
SOCIOLOGIA,
ANTROPOLOGIA, 
CIÊNCIA POLÍTICA, 
FILOSOFIA E
HISTÓRIA
10
PRINCIPAIS ESCOLAS 
E CONCEITOS DAS
CIÊNCIAS SOCIAIS
50
104
PRINCIPAIS ESCOLAS
E CONCEITOS DAS
CIÊNCIAS HUMANAS
– FILOSOFIA E 
HISTÓRIA
146
A RELIGIÃO NAS
CIÊNCIAS 
HUMANAS
E SOCIAIS
175
FORMAS DE 
ORGANIZAÇÃO
DA SOCIEDADE
E DILEMAS ATUAIS
209
CONCLUSÃO GERAL
1
AS ORIGENS DA SOCIOLOGIA,
ANTROPOLOGIA, 
CIÊNCIA POLÍTICA, 
Filosofia e História
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Origens da Sociologia • Origens 
da Antropologia • Origens da Ciência Política • Origens da Filosofia • Origens da História.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
• Conhecer o conceito e as origens da Sociologia • Conhecer o conceito e as origens da Antropologia 
• Conhecer o conceito e as origens da Ciência Política • Conhecer o conceito e as origens da Filosofia 
• Conhecer o conceito e as origens da História.
PROFESSOR
Esp. Pablo Araya Santander
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, apresentaremos um panorama das prin-
cipais disciplinas das Ciências Humanas e Sociais, a saber: Sociologia, 
Antropologia, Ciência Política, Filosofia e História. Buscaremos constan-
temente destacar a etimologia do nome da disciplina que nos propomos 
a estudar e o histórico do surgimento da ciência, no que concerne aos 
seus principais aspectos – desde a gênese aos dias atuais. 
Na Sociologia, por exemplo, você conseguirá visualizar claramente: o 
que é sociologia, a origem do termo, como ela surgiu enquanto ciência, 
para que serve e a sua importância como disciplina para compreender 
a sociedade em que estamos inseridos. Veremos também, que essa área 
é vital para que consigamos situar-nos como seres humanos no nosso 
contexto histórico tão peculiar. 
Com a Antropologia, veremos a importância de reconhecermos os 
aspectos culturais que nos são transmitidos até os dias de hoje. Veremos 
as várias vertentes dessa vasta ciência que estuda o ser humano nos seus 
mais diversos meios culturais. Na Ciência Política, analisaremos o termo 
política, surgido na Grécia Antiga, o que é e para que serve, além da sua 
evolução até os dias atuais e a sua importância para compreendermos 
as dinâmicas do Estado e das relações de poder existentes dentro dele.
A Filosofia, caro(a) aluno(a), dispensa apresentações. É a arte de 
pensar. Pensar para quê? Em tempos nebulosos, em que se valoriza o 
pragmatismo a todo custo, em um mundo cada vez mais materialista e 
consumista, por que deveríamos importar-nos com uma disciplina que 
não nos trará retorno financeiro imediato? E, por último, temos a fa-
migerada História, que nos mostra como a humanidade caminhou em 
tempos longínquos. Precisamos compreender os erros do nosso passado, 
para que não pratiquemos os mesmos no presente.
Deleite-se, saboreie e aproveite este conteúdo. Se possível, com uma 
boa xícara de café!
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ORIGENS DA 
SOCIOLOGIA
Para nortearmos o nosso estudo, precisaremos, em primeiro lugar, deixar bem 
claras as definições sobre o tema que nos propomos a tratar nesta unidade. Os 
seres humanos, desde os primórdios, estabelecem entre si relações sociais que 
fazem parte do seu dia a dia. Essas relações surgem de acordo com as necessida-
des pontuais de cada contexto e existem para que haja convívio minimamente 
pacífico. Nesse sentido, as interações surgem ora em virtude do comportamento 
do ser humano, ora de acordo com as regras estabelecidas pela sociedade ou pelo 
grupo ao qual pertence. Hoje mesmo, você pode perguntar-se:
• Leio este livro por que quero ou por obrigação imposta pela sociedade?
• Estudo Teologia por que gosto ou por pressão exercida pela minha fa-
mília?
• Ajo conforme o que penso ou tenho que moldar-me às regras de conduta 
vigentes?
• Ajo de acordo com os meus pensamentos ou me preocupo muito com o 
que os outros pensam?
Embora você responda que há prevalência da vontade pessoal em alguma des-
sas perguntas, normalmente, agimos e pensamos de acordo com as circunstâncias 
sociais atuais. Somos agentes ativos dentro de uma sociedade, a qual possui dinâ-
mica própria, com regras específicas que devemos respeitar para poder interagir.
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Você sabe para que serve o estudo da Sociologia? Acesse o QR Code e descubra!
conecte-se
Acordamos cedo, vamos ao trabalho, à escola ou à faculdade, porque, de ante-
mão, essas instituições já existiam. Isso independe da sua vontade. Caso queira 
adequar-se aos parâmetros atuais da sociedade, será a sua atividade, mesmo que 
você não queira. Por que trabalhar? Por que estudar? Por que o trabalho está assim 
definido para nós? Poderia ser de outra forma? E o estudo? Essa configuração 
da educação como padrão pré-configurado em escolas e universidades é a mais 
adequada para os dias de hoje? Todas essas perguntas e buscas por respostas e 
explicações são objetos de estudo da Sociologia.
Figura 1 - Crianças indo à escola
A Sociologia, portanto, é a ciência que estuda o comportamento social das pes-
soas, dos grupos, e da organização das sociedades. Nessa dinâmica, o sociólogo 
busca compreender o ser humano em seu contexto social específico, suas inter-
ferências nesse local social e, ao mesmo tempo, verifica e analisa de que forma a 
sociedade, como estrutura dinâmica, influencia e molda o comportamento do 
ser humano. Como essa sociedade não entra em colapso? Como é possível que 
o caos não tome conta da humanidade? Essas são perguntas que o estudioso da 
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sociologia precisa saber responder. O autor Alex Inkeles afirma que: “Se quisés-
semos exigir que o problema básico a que se dirige o sociólogo fosse descrito em 
uma única frase, responderíamos: procura explicar a natureza da ordem social e 
da desordem social” (INKELES, 1974, p. 46).
O sociólogo busca compreender como os processos e as estruturas da sociedade 
funcionam, a fim de sugerir possíveis alternativas para uma melhor harmonia social. 
Para isso, o profissional da Sociologia deve buscar ferramentas científicas para rea-
lizar tal análise, conforme Pedro Scuro Neto salienta: “A postura científica, por sua 
vez, engloba a ênfase criativa da ação e dos processos sociais, quando aborda os pro-
blemas de estabilidade e integração das sociedades modernas” (SCURO, 2004, p. 4).
Figura 2 - Interação social 
Em suma, temos como objeto do estudo sociológico: o homem na sociedade e 
a sociedade no homem. Esse ser humano só é, de fato, ser humano em sua com-
pletude diante de outro ser humano, inserido em determinada realidade social, 
como afirma Delson Ferreira: 
 “ [...] o ser humano só se faz como tal diante de outro, seu semelhante, 
com o qual estabelece mecanismos diversos de interação constante. 
É essa interação, na origem entre indivíduos no final entre os grupos 
e sociedades inteiras, que define outra das características humanas 
fundamentais: a da vida social” (FERREIRA, 2009, p. 28). 
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No quadro a seguir, temos uma lista dos tópicos do objeto de estudo sociológico, 
em que muitos autores, de cursos de introdução à Sociologia, concordariam com 
relação ao seu conteúdo:
UM ESQUEMA GERAL DO OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA
I. Análise Sociológica: Cultura Humana e Sociedade; Perspectiva Sociológica; 
Métodode governar não é algo a priori e de origem divina, mas depende 
da vontade geral dos governados. A soberania deixa, assim, de residir em uma 
pessoa e é transferida para toda a comunidade política, que será responsável por 
legitimar a ação de governar. Para Rousseau, o estado da natureza é caracterizado 
pela liberdade, igualdade e bondade.
O contrato social consiste em um pacto pelo qual os egoísmos individua-
listas são eliminados por meio da submissão de cada cidadão à vontade geral 
unânime. O modelo político proposto por Rousseau seria a democracia direta. O 
Estado é, para ele, um meio de desenvolvimento moral da humanidade, portanto 
deve tentar alcançar o bem comum. Dessa forma, o pensamento deste estudioso 
influenciou diretamente na superação do modelo absolutista e foi um dos pilares 
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da doutrina política liberal, em que outros pensadores também deram contribui-
ções decisivas, como Montesquieu, que formulou o princípio da separação de 
poderes, em virtude do qual seria possível evitar abusos na ação governamental 
e garantir o respeito aos direitos dos que eram governados.
Os três poderes que Montesquieu formulou são: o poder executivo, pró-
prio do governo; o poder legislativo, vinculado ao Parlamento; e o poder 
judiciário, ligado aos juízes.
Cidadania
As experiências fundamentais da política ocidental vêm de duas realidades políticas 
da antiguidade: a pólis (polis) grega e a república (res publica) romana. Muito do 
nosso vocabulário político surge a partir dessas duas formas ou realidades políticas. 
O conceito de cidadão e cidadania nasceu nesses dois contextos e continua até hoje.
Para adequarmos historicamente as referências de ambas as experiências 
políticas, devemos retomar a ideia de cidade-estado, que serve tanto para Grécia 
quanto para Roma. Já o conceito de pólis é utilizado apenas na Grécia. A política 
da cidade-estado remonta ao mundo grego, desde meados do século VII a.C. à 
conquista de Alexandre, o Grande, no século IV a.C., e no mundo romano, a partir 
de meados do século V a.C. até a fase da república tardia.
A cidade-estado é uma realidade política da Antiguidade, o que não ocorre 
novamente na história política do Ocidente. Suas características essenciais eram: 
extensão territorial reduzida, para que seus habitantes se conhecessem; suficiên-
cia econômica; autarquia; e, especialmente, independência política.
Nas cidades-estados gregas, o papel ativo do cidadão se tornou realidade pela 
primeira vez na história política do Ocidente, e a República Romana, no que lhe 
diz respeito, também definiu, pela primeira vez, o status legal de um cidadão, que 
consiste no reconhecimento de seus direitos e deveres.
No decorrer do tempo, esta concepção de cidadania foi gradativamente reformu-
lada. Hoje, a definição mais usada é a que se refere como uma relação jurídica entre 
o indivíduo e o Estado. A maioria das pessoas no mundo são cidadãs legais de um 
ou outro Estado, o que lhes dá permissão a certos privilégios ou direitos. Ser cidadão 
também impõe algumas obrigações em termos daquilo que é esperado da pessoa 
sujeita à sua jurisdição. Portanto, os cidadãos cumprem certas obrigações para com 
o seu Estado e, em contrapartida, podem esperar a proteção de seus interesses vitais.
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Hoje em dia, cidadania é muito mais do que uma construção legal e se refere, 
entre outras coisas, ao senso pessoal de pertencimento, por exemplo, ao sentimen-
to de pertencer a uma comunidade que você pode atuar e influenciar diretamente. 
A dimensão política da cidadania diz respeito aos direitos e às responsabilidades 
em relação ao seu sistema político. Seu desenvolvimento advém do conhecimento 
do sistema político e da promoção de atitudes democráticas e participativas.
Na relação entre o indivíduo e a sociedade, podemos distinguir quatro dimen-
sões que correspondem aos quatro subsistemas que se pode reconhecer numa 
sociedade e que são essenciais para a sua existência: a dimensão político-legal, 
a dimensão social, a dimensão cultural e a dimensão econômica. 
A dimensão político-legal da cidadania se refere aos direitos e às responsa-
bilidades de acordo com o sistema político pré-estabelecido. A social tem a ver 
com o comportamento dos indivíduos em uma sociedade e requer certo grau de 
lealdade e solidariedade. A cultural diz respeito à consciência de um patrimônio 
cultural comum e é desenvolvida por meio do conhecimento deste, da história e 
das competências básicas (competência linguística, leitura e escrita). A dimensão 
econômica se refere à relação do indivíduo com a força de trabalho e o mercado 
consumidor. Supõe o direito ao trabalho e a um nível mínimo de subsistência.
Essas quatro dimensões de cidadania são alcançadas por meio dos processos de 
socialização que ocorrem na escola, nas famílias, nas organizações civis, nos partidos 
políticos, bem como por meio de associações, meios de comunicação de massa e vi-
zinhança. Cada pessoa deve ter a possibilidade de exercer todas as quatro dimensões 
de forma equilibrada e equitativa, caso contrário, a cidadania plena não será efetivada
Tal processo, contudo, não acontece de forma natural. É necessário que te-
nhamos consciência de que ele se realiza por uma árdua busca de construção, 
principalmente por parte dos cidadãos, conforme afirma Libanio: 
 “ A cidadania não é dom natural e muito menos concessão do Estado. 
É conquista construção, exercício cotidiano, papel social. Num país 
como o nosso – que carece dos serviços sociais básicos, tais como 
saúde, educação, saneamento, habitação, emprego, etc. O exercício 
da cidadania consiste fundamentalmente em transformar o direito 
formal a todos esses serviços, garantidos na Constituição, em rea-
lidades concretas, efetivas na vida do povo (LIBANIO, 1995, p. 42). 
Nesse sentido, se não houver participação, não haverá cidadania, pois apenas ao atuar 
poderemos ver o processo de construção de conquista da cidadania ser transforma-
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do. Essa participação, ao mesmo tempo, gera senso de pertencimento e de atuação 
para modificação de uma realidade, além de ser a pedra angular da democracia.
Democracia
Etimologicamente, democracia significa “o poder do povo” e tem origem nas pa-
lavras gregas kratos (poder) e demos (povo). Se analisarmos o significado exato 
do termo, teremos algumas dificuldades, porque ele teve diferentes interpretações 
ao longo da história. Formas absolutamente diferentes de governo se intitularam 
democracia. No entanto, existem elementos comuns que caracterizam esse mo-
delo: indica uma entidade política, uma forma de Estado e de governo, em que o 
povo escolhe livremente aqueles que governarão. 
A origem da elaboração do conceito de democracia acontece, num primeiro 
momento, na democracia ateniense, que tem, como figura principal, Péricles. Ele 
foi o maior líder político de Atenas na segunda metade do século V a.C. e seu 
sistema político girava em torno da assembleia popular. Além disso, ele definiu 
o sistema de governo como uma democracia, pois o poder não estava nas mãos 
de uma minoria, mas de todo o povo.
A característica especial da democracia ateniense é que as pessoas participa-
vam diretamente das decisões, mas somente denominados homens livres pode-
riam participar da vida política – o que excluía mulheres, escravos, menores de 
idade e estrangeiros. O centro do poder político em Atenas, bem como sua ins-
tituição mais conhecida e mais identificada com a democracia, foi a Assembleia. 
Esse modelo grego corresponde ao que hoje chamamos de democracia direta. O 
povo, formado por cidadãos, tem soberania e o exerce diretamente.
Nesse período, merecem destaque filósofos como Aristóteles, que acreditava que 
a única forma possível de governo corresponde ao governo do povo, pelo povo e 
para povo. Em contraste, Platão criticava a democracia ateniense porque, para ele, a 
república deve estar nas mãos de profissionais habilitados, não de cidadãos comuns.Na Roma antiga, semelhante à democracia ateniense, as ideias implementadas 
foram as de Aristóteles. O poder foi dividido em várias instituições, baseado na par-
ticipação dos cidadãos – mas excluindo, também, escravos, mulheres e estrangeiros 
– e estava nas mãos de pessoas ricas e proprietárias de terras, chamados de patrícios. 
Pessoas comuns ou plebeus tiveram pouca influência na vida política. O poder real 
estava no Senado, um conselho de anciãos de origem nobre, que aconselhava os reis.
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O período medieval não foi nada democrático, no sentido do que estudamos até 
o momento, pelo fato de o poder estar submetido a Deus, ou seja, o poder do povo 
estava nas mãos da Igreja. Com o Renascimento, Deus deixa de ser o centro e dá 
lugar ao ser humano, que, a partir desse momento, renasce e se desenvolve. Durante 
os séculos XV e XVI na Europa é enfatizada, novamente, a importância da participa-
ção dos cidadãos em interesses políticos, para promover a estabilidade da República, 
deixando para trás a vida passiva e contemplativa defendida pelo cristianismo.
Nos séculos XVI e XVII, as principais ideias desse período incluíram a defesa 
do indivíduo e suas liberdades. A intervenção do Estado e dos poderes públicos 
estava limitada à vida econômica, política e social. O indivíduo, considerado um 
ser racional por natureza, tinha, então, uma série de direitos que deveriam ser 
respeitados. O poder era dado aos cidadãos, que elegiam seus representantes de 
maneira livre e soberana, e foi dado fim à supremacia da Igreja Católica Romana, 
o que fragmentou a unidade religiosa da Idade Média e promoveu a pluralidade 
e o pensamento livre. É o chamado período do liberalismo.
Para começar a descrever a democracia do século XVIII, precisamos com-
preender, primeiramente, o caso dos Estados Unidos. Depois da sua declaração 
de independência em 1776, após amarga batalha contra a Grã-Bretanha, os EUA 
passaram por um processo de aplicação de sua forma democrática de governo, 
que começou com a ratificação de sua constituição em 1787. Pretendia-se criar 
um governo federal único, com um presidente da república, um congresso e um 
senado, em que residiriam os poderes legislativos.
Em 1789, na França, aconteceu a Revolução Francesa, uma mudança po-
lítica muito importante, não apenas para a França, mas também para outros 
países que utilizariam os seus preceitos como exemplo. Tal revolução signifi-
cou o triunfo de um povo oprimido e cansado das injustiças, dos privilégios 
da nobreza feudal e do estado absolutista.
No século XIX, a democracia se baseava na soberania popular, na liberdade 
e na igualdade social. O novo conceito objetivou superar algumas desigualdades 
e alguns privilégios do velho liberalismo. Nesse período, a figura do proletariado 
emergiu e se identificou como classe. Ocorreu, então, a luta entre o proletariado 
contra a burguesia e o Estado, uma vez que este se recusou a aceitar as exigências 
dessa nova classe e seu direito a ter um papel na vida social e política da sociedade.
Atualmente, a democracia está situada como forma dominante de governo 
no mundo. Vários eventos aconteceram para que ela se consolidasse: o sufrágio 
universal (incorporação do voto dos pobres e das mulheres), o desaparecimento 
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Será que vivemos, de fato, em uma democracia, com tudo que nos deveria ser assegurado?
pensando juntos
ou o enfraquecimento das monarquias, a queda das ditaduras militares latino-
-americanas, a descolonização da maior parte da Ásia e da África, o direito de 
voto de minorias raciais nos EUA etc.
A afirmação da pessoa humana, no contexto democrático atual, a respeito da 
sua individualidade, sua autonomia e a proteção dos direitos individuais surgiram 
em oposição às monarquias absolutas e aos despotismos que, historicamente, não 
observaram nenhum desses limites. Isso significou conceder a todas as pessoas, 
em consideração à sua humanidade e personalidade, direitos e proteções iguais 
e a mesma capacidade de independência de julgamento, tanto em suas vidas 
pessoais quanto em seus julgamentos políticos.
Quando os cidadãos agem unicamente em favor de seus interesses, suas am-
bições e seus fins privados com apatia e insatisfação com os limites impostos pela 
responsabilidade, o compromisso com o público, a convivência cívica e as insti-
tuições democráticas, lidamos com um dos fenômenos sociais mais arriscados e 
mais difíceis de reverter. Para isso, é preciso abordar a construção da cidadania e 
de um mundo público guiado pelos princípios, pelas instituições e pelos direitos 
estabelecidos nas constituições democráticas. O senso coletivo deve prevalecer 
nas mais diversas discussões sobre a vida em sociedade.
Para a filósofa Hannah Arendt, as sociedades modernas, com as inseguranças 
do mundo do emprego, as pressões por status social, a busca pelo poder e o foco 
pelas necessidades econômicas – em detrimento das políticas e cívicas – geraram 
costumes extremamente individualistas e de alienação da política. Os cidadãos não 
são levados a pensar por si mesmos, ao pensamento crítico e à participação e preocu-
pação com as consequências de suas ações sobre os direitos dos outros, sobre a vida 
pública e o bem comum. Pelo contrário, os costumes associados a uma sociedade de 
empregados de instituições caracterizadas por hierarquias serão os da obediência a 
crítica à autoridade, da acomodação a qualquer preço e do individualismo egoísta.
Como podemos notar, há muito que ser desvendado e estudado na democra-
cia no que tange à participação de nós, como cidadãos, na construção de uma 
sociedade devidamente democrática.
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3 ANTROPOLOGIA
Parte da confusão com o conceito de cultura surge quando a palavra é usada 
como expressão e manifestação das artes plásticas ou da música clássica, quando 
se interpreta que as pessoas educadas e conhecedoras das artes e de outras pessoas 
“têm cultura”, assumindo que há um tipo de escada para os “incultos” (carentes de 
cultura). Em contrapartida, também é utilizada para nomear grupos humanos 
não muito conhecidos, como a cultura ianomâmi ou cultura guarani. Muitas 
pessoas se confundem com esse duplo sentido, mas os professores parecem ter 
preferência pelo primeiro significado, pois alguns se reconhecem e são reconhe-
cidos pelos outros como pessoas “educadas” ou “cultas”.
Para a Antropologia, cultura é o nome comum que indica uma forma parti-
cular de vida, de pessoas, de um período ou de um grupo humano. Está ligada à 
apreciação e análise de elementos como valores, costumes, normas, estilos de vida, 
formas ou implementos materiais, organização social etc. Poderíamos dizer que 
ela aprecia o presente ao observar para o passado que lhe deu forma. Qualquer 
um dos elementos da cultura analisada vem das tradições do passado, com seus 
mitos, lendas e costumes de tempos distantes. Assim, o conceito antropológico 
nos permite apreciar variedades de culturas particulares: de determinada região, 
do aldeão, do camponês, de criação, mulheres, jovens, cultura universitária, cul-
turas étnicas, cultura da educação, cultura religiosa etc.
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A primeira definição antropológica de relevância foi a do antropólogo Ed-
ward Burnett Tylor que, em um parágrafo simples, o primeiro de seu livro, deixou 
uma definição que ainda é utilizada nos dias de hoje: 
 “ Tomando em seu amplo sentido etnográfico (cultura) é este todo com-
plexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou 
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como 
membro de uma sociedade (TYLOR apud LARAIA, 2006, p. 25).
A definição de Tylor hoje é considerada vaga e pouco precisa, porque é muito 
aberta, ou seja, faz uma pequena lista do que esse autor considera ser parte da 
cultura (conhecimento, crenças, arte, moral, leis, costumes), o que deixa aberta 
a possibilidade de incluir quaisquer outros elementos quando diz “ou qualquer 
outra capacidade ou hábitosadquiridos”. O problema é que, mesmo com a passa-
gem de todos esses anos desde que Tylor publicou sua famosa definição, não há 
ainda um termo que seja unânime no que diz respeito à cultura para antropólogos 
em todo o mundo, o que nos mostra que esse é um dos termos mais difíceis de 
definir no vocabulário antropológico.
Franz Boas (2004), antropólogo norte-americano, ressaltou o caráter parti-
cular de cada cultura no campo da diversidade cultural. Ele desenvolveu uma 
tese que contradiz as teorias do evolucionismo utilizadas em sua época. Cada 
cultura, ele nos dirá, é o resultado de algumas condições naturais e históricas que, 
no entanto, não são determinantes. Para Boas, cultura pode ser definida como a 
totalidade das reações e atividades mentais e físicas que caracterizam o comporta-
mento dos membros individuais de um grupo social, coletiva e individualmente.
Ruth Benedict, antropóloga também norte-americana, enfatizou a condição 
seletiva da cultura ao entender que cabe uma escolha entre as inúmeras possibi-
lidades oferecidas. Assim, cada cultura apresentará um perfil específico e único. 
Foi Benedict quem introduziu o conceito de padrão cultural.
Alfred Louis Kroeber, discípulo de Franz Boas, afirmou que os fenômenos 
culturais respondem a uma lógica própria, na qual o indivíduo está incapacitado 
de intervir mesmo que esteja fora do alcance de sua vontade: o sujeito por si só 
não constrói o projeto, mas este lhe é dado por meio da herança social.
Na interpretação de Bronislaw Malinowski, a cultura se constitui em resposta às 
necessidades elementares do ser humano: alimentação e reprodução. Esse antropólo-
go apontou que a cultura dos seres humanos está inevitavelmente ligada à necessidade.
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Podemos notar que, além das construções sobre o conceito de cultura, a pró-
pria cultura é dinâmica. A mudança é um requisito da sua natureza integrada. 
É evidente que tais processos adquirem profundidade especial na transição das 
sociedades tradicionais para as modernas, além de constituírem objeto de estu-
do de grande importância para as Ciências Sociais devido às repercussões. Em 
qualquer caso, a mudança está implícita na cultura.
Etnocentrismo e relativismo cultural
Etnocentrismo significa conferir valor mais alto à própria cultura do que à do 
outro, ao utilizar os próprios padrões culturais para julgar o que é diferente. Em 
suma, considera a própria cultura como superior às demais. Na vida cotidiana, é 
bem perceptível nos juízos de valor daqueles que veem pessoas de outras culturas 
como esquisitas e atrasadas. Há até certo desprezo com relação ao outro, mas essa 
percepção requer reflexão crítica. O etnocentrismo dificulta e impede a com-
preensão das culturas de outros povos, além de gerar intolerância e preconceito.
O conceito de etnocentrismo está ligado ao desenvolvimento da teoria antro-
pológica. Embora pareça estranho que, nos primórdios da Antropologia, a dis-
cussão sobre esse conceito não tenha aparecido, perceberemos que a ausência da 
maturidade científica reflete o surgimento da noção de etnocentrismo. Pelo fato 
de todo o desenvolvimento teórico antropológico estar no Ocidente, raramente se 
ponderava que a cultura ocidental era vista como superior em relação às demais.
As culturas não existem isoladamente e nem surgem de forma aleatória. 
Elas têm, em si mesmas, fortes razões para existir, cada uma com a sua pecu-
liaridade. É importante perceber que é errado tentar entender uma cultura 
ao utilizar padrões de outra cultura.
A lógica da cultura requer que nós a penetremos, apreendendo os elementos 
que a compõem. Um claro exemplo sobre a análise cultural aconteceu comigo e 
com a minha família quando, em determinado momento, precisei mudar-me para 
uma pequena cidade no interior do Paraná com, mais ou menos, vinte e três mil 
habitantes, e minha família me acompanhou. Nunca havíamos experienciado uma 
dinâmica cultural tão peculiar. O choque cultural, a princípio, fez-me acreditar que 
as culturas que eu tinha vivenciado em cidades maiores era melhor do que aquela 
cultura de cidade pequena, todavia, comecei a perceber que precisava mergulhar 
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Acesse o QR Code e aprenda um pouco mais sobre Antropologia, 
etnocentrismo e relativismo cultural.
conecte-se
e compreendê-la para poder relacionar-me com as pessoas de forma saudável, sa-
bendo que a cultura delas era diferente, não inferior à da minha família.
Oposto ao etnocentrismo – e como forma de combatê-lo –, surgiu o conceito 
de relativismo cultural, que consiste em colocar-se no lugar do outro para en-
tender sua cultura; em adotar os padrões culturais da sociedade que se pretende 
estudar, para entender sua lógica interna. No entanto, devemos entender que esse 
relativismo não deve ser radical. É evidente que as culturas não são iguais e nem 
seus valores precisam ser completamente aceitáveis. A interpretação radical desse 
conceito nos levaria a aceitar práticas culturais inteiramente inaceitáveis, como 
aquelas referentes à submissão incondicional de mulheres ou ao apedrejamento 
até a morte. O relativismo é apenas um princípio que nos guia sobre como en-
tender outra sociedade. O fato de o antropólogo tornar-se membro da cultura 
que estuda não significa abdicar de sua neutralidade científica.
Práticas culturais que negam os direitos humanos são repreensíveis sob qual-
quer ponto de vista. Isso não contradiz o princípio do relativismo cultural, segun-
do o qual o antropólogo, ou o cientista social em geral, deve tentar colocar-se no 
lugar do estudado para melhor entender sua cultura.
Por meio do relativismo cultural, o movimento em defesa dos direitos das 
minorias culturais se difundiu em todo o mundo. Também alcançou as mino-
rias religiosas e, em geral, todos os grupos humanos que possuem suas próprias 
peculiaridades culturais, inclusive fazendo parte dos Estados ditos democráticos.
Cultura de massa e indústria cultural
Desde o Renascimento, foi estabelecido, na Europa, a distinção entre cultura 
de elite (arte e cultura das classes altas) e cultura popular (as tradições e expres-
sões culturais das pessoas comuns, do povo).
A cultura de elite ou “cultura superior” correspondia à cultura formalizada 
reconhecida como tal, expressa em obras de arte e caracterizada por autoria reco-
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nhecida, refinamento, prestígio social e valor político. As primeiras tecnologias de 
comunicação (pergaminho, papel e impressão) e tecnologias de expressão artística 
apareceram associadas à cultura de elite e contribuíram para moldar a cultura letra-
da, fundamentalmente baseada na escrita, que caracteriza a história do Ocidente.
A cultura popular ou “cultura inferior” correspondia às histórias orais, aos 
ritos populares, ao folclore, ao artesanato e à música popular. Constituía-se como 
a expressão de identidade de grupos sociais mais ou menos diferenciados e ti-
nha estreita relação com a vida cotidiana. Caracterizada pelo anonimato, pela 
espontaneidade, ausência de prestígio social ou valor político, sua natureza era 
essencialmente pragmática e oral. Não havia refinamento ou abstração.
O desenvolvimento de novas formas de vida urbana e o surgimento da massa 
(populacional) no final do século XIX introduziram importantes mudanças nessa 
dinâmica cultural. Ao mesmo tempo, o surgimento de novos meios de expressão, 
como a fotografia, o cinema, a imprensa, o rádio, a TV e, em nossos dias, a internet, 
deu origem a uma nova esfera cultural, singularizada pela amplitude de seu público 
e pelo surgimento de novos gêneros e temas, e novas mídias e linguagens estéticas.
Com a industrialização das formas de expressão pelas tecnologias de comuni-
cação e expressão artística, a forma de cultura do século XIX até os nossos dias foi 
radicalmente transformada. A obra de arte deixou de ser algo singular e passou a 
adquirir valor econômico. Dependendo da reprodutibilidade e do valor econômicode seus produtos nas novas condições de mercado, tanto a cultura de elite quanto 
a cultura popular se tornaram acessíveis pela primeira vez a um público de massa.
A própria dinâmica do mercado, decisiva na estrutura de novas formas de 
vida social, impôs também novas condições aos produtos culturais: a cultura deve 
seduzir e, ao mesmo tempo, proporcionar valor de troca. Nasceu, assim, a ideia da 
cultura de massa como processo de absorção e transformação da cultura de elite 
e da cultura popular nas condições econômicas e sociais da sociedade de massa.
O fator decisivo dessa transformação é que a cultura, a tecnologia, a indústria e 
o fator econômico são unificados. Com a cultura das massas, nasceu o consumo da 
cultura e o conceito de indústria cultural. Essa mercantilização, juntamente com a 
consequente padronização da esfera cultural, tornou-se fonte frequente de críticas.
Na sociedade de massas, a cultura se torna valor de identidade social e aspecto 
importante da vida social. Com isso, o Estado começa a intervir na cultura, com 
o objetivo de dar acesso a todos, de forma igualitária, por meio de subsídios, 
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fundações, políticas de desenvolvimento cultural, entre outros. O papel da mídia, 
nesse contexto, é duplo: como produtores e disseminadores da cultura de massa.
A cultura de massa foi fortemente criticada nos anos 50 a 70 pelos pensadores 
europeus, especialmente a Escola de Frankfurt e a tradição marxista, que via nela 
uma superestrutura projetada para assegurar a sobrevivência dos mecanismos de 
poder característicos do modo de produção capitalista. O filósofo Louis Althusser 
fala de “ideologia da mídia” e Gramsci de “hegemonia da mídia”.
Segundo esses dois autores, é quase impossível fugirmos dessa dinâmica de 
olharmos para a cultura como objeto de consumo, mas basta buscarmos cami-
nhos alternativos de produção cultural e arte que ainda não foram completamen-
te imersos na mercantilização da cultura.
Antropologia brasileira
Darcy Ribeiro
Nasceu em 26 de outubro de 1922 em Montes Claros, Minas Gerais. Estudou So-
ciologia e Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP). Em 1947, trabalhou 
como pesquisador e etnólogo no Serviço de Proteção aos Indígenas. Chegou a dirigir 
o Departamento de Etnologia de 1952 a 1966. Em 1953, fundou o Museu do Índio 
e dirigiu o Centro de Pesquisa Educacional (Capes) e o Departamento de Pesquisa 
Social da Campanha de Erradicação do Analfabetismo. Em 1961, foi Ministro da 
Educação e Cultura. Fundou a Universidade de Brasília (UnB), onde ocupou a rei-
toria entre 1962 e 1963, e foi chefe da Casa Civil da Presidência da República. Foi 
exilado para o Uruguai e viajou para o Chile e Peru, ensinando Antropologia. Em 
1976, foi anistiado e voltou ao Brasil. Foi vice-governador do estado do Rio de Ja-
neiro, deputado e senador da República. Em 1976, retomou o ensino na UnB. Além 
disso, realizou vários trabalhos antropológicos entre grupos indígenas brasileiros.
Sua autoria inclui inúmeros livros sobre religião, mitologia, línguas indígenas e 
sistemas culturais. Entre seus trabalhos, estão: O Processo Civilizatório (1968), Uni-
versidade Necessária (1969), As Américas e a Civilização (1970), Os Brasileiros: 
Teoria do Brasil (1972) e O Povo Brasileiro: a Formação e o Sentido do Brasil (1995).
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Darcy Ribeiro se dedicou aos estudos sobre identidade latino-americana e 
suas pesquisas e publicações se concentraram no processo de civilização e nas 
configurações socioculturais dos povos da América Latina. Seu conhecimento 
sobre povos irmãos o levou a propor novas categorias de interpretação, enfren-
tando o chamado mundo ocidental.
De acordo com suas ideias, a América Latina tem identidade própria como 
um povo novo, com a mistura de indígenas, europeus e africanos. Um povo que 
busca a integração em uma grande comunidade de nações com destino comum 
em nível continental. Devido à sua experiência na organização e estruturação da 
UnB, Darcy Ribeiro foi convidado por alguns governos e algumas universidades a 
fazer abordagens estruturais para mudanças no ensino superior. Ele estudou Re-
formas Universitárias no Peru, na Venezuela, no Uruguai, no México e no Chile.
Visitou inúmeras universidades e centros de estudos latino-americanos, nos quais 
apontou o caminho intelectual para fortalecer a integração latino-americana. Segun-
do suas ideias, é necessário criar uma consciência latino-americana para consolidar 
esse novo povo, síntese de várias culturas. É preciso encontrar o autêntico modelo po-
lítico, socioeconômico e cultural, que emerge da própria realidade latino-americana.
Ele foi um dos representantes mais importantes da escola evolucionista de 
Antropologia. Suas ideias foram levantadas por meio do estudo do processo de 
civilização, segundo o qual há uma evolução sociocultural, que serve de base para 
estudos sobre o processo de formação étnica e sobre os problemas de desenvol-
vimento enfrentados pelos povos americanos. Para alcançar profundo conhe-
cimento dos povos, é essencial conhecer as etapas da evolução sociocultural no 
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decorrer do tempo em um esquema global e, com as contribuições da Arqueolo-
gia, Etnologia e História, conseguir localizar qualquer sociedade, extinta ou atual, 
e o seu contínuo desenvolvimento sociocultural.
Essa teoria civilizadora o levou a estudar o desenvolvimento histórico da Amé-
rica Latina, desde o mundo antigo ao final do século XX, passando por suas vá-
rias fases ou estágios, verificando, também, o impacto das revoluções tecnológicas. 
Para interpretar as estruturas políticas, sociais, econômicas, culturais, educacionais 
parciais e as características de países desenvolvidos e subdesenvolvidos – como 
a América Latina –, é preciso entender seu processo civilizacional e o impacto 
das revoluções tecnológicas. Isso também indica que não se pode compreender o 
desenvolvimento de universidades da América Latina nos séculos XIX e XX sem 
interpretar essas instituições de ensino superior no processo de civilização, além de 
sua posição em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
A evolução sociocultural, concebida como sucessão de processos gerais da 
civilização, possui caráter progressivo, evidente no movimento que levou o ho-
mem da condição tribal aos contextos macrossociais nacionais modernos. Os 
processos civilizatórios gerais que o compõem também são movimentos evo-
lutivos por meio dos quais novas formações socioculturais são configuradas. 
Nesses processos, Darcy Ribeiro destacou a presença de povos desenvolvidos e 
subdesenvolvidos do mundo moderno.
Essas ideias o levaram a refletir sobre a cultura latino-americana, atrasada no 
processo de civilização mundial e dependente dos países com maior desenvolvi-
mento econômico e cultural, em sua órbita neocolonial. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade, tivemos uma diversidade de temas relacionados às Ciências So-
ciais, especificamente. Num primeiro momento, aventuramo-nos em conhecer os 
conceitos dos principais autores da Sociologia. Em Augusto Comte, vimos a busca 
incessante por transformar o estudo da sociedade em algo altamente científico. Para 
ele, somente os resultados advindos dos métodos científicos seriam válidos. Foi um 
grande passo na busca por explicações que fugiam das habituais superstições da épo-
ca, transformando o estudo das dinâmicas sociais numa sólida disciplina acadêmica. 
Por meio de Marx, Weber e Durkheim – os grandes clássicos da Sociologia –, 
verificamos ideias, conceitos, visões sobre o trabalho, as relações sociais e o que 
eles compreendiam dos processos que estavam sendo desenvolvidos em suas 
épocas. Marx, feroz crítico do sistema capitalista, analisou a história da humani-
dade como uma eterna luta de classes. Os antagonismos, segundo ele, explicam 
os acontecimentos históricos até os seus dias. Weber postulou, por meio de sua 
obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, publicadoem 1905, a ideia 
de que os pressupostos e a doutrina protestante fizeram emergir o capitalismo 
tal qual se instaurou. Em Durkheim, quando estudou acerca da anomia social, 
foi um dos primeiros autores que tratou o suicídio como um fenômeno social. 
Segundo ele, a desesperança com o mundo, proporcionada pela sociedade, faz 
com que as pessoas deem fim à própria vida.
Na Ciência Política, abordamos quatro ideias essenciais para essa disciplina 
e para nós mesmos nos dias atuais: poder, Estado, democracia e cidadania. Com-
preender esses conceitos, suas origens e as consequências que trazem para a nossa 
sociedade, faz-nos pensar que vale à pena escrever e estudar esses assuntos, pois 
são vitais para nossa vida em sociedade. 
Na área da Antropologia, estudamos a forma como a cultura se tornou, ao 
longo dos anos, um objeto de consumo para a sociedade de massas. Vimos, tam-
bém, como é importante analisar a cultura de outros povos de acordo com o 
relativismo cultural, para não nos tornarmos etnocêntricos. 
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na prática
1. Para Émile Durkheim, os fatos sociais constituem modos de ação e representação 
amplamente estendidos dentro de uma sociedade específica, compartilhados pela 
maioria de seus membros. De acordo com o que estudamos nesta unidade, explique 
o que é fato social para Durkheim. 
2. O materialismo histórico vê, no desenvolvimento dos modos de produção de bens 
materiais necessários à existência do homem, a principal força que determina toda 
a sua vida social, condicionando também a transição de um regime social para outro. 
Sem produzir bens materiais, nenhuma sociedade pode existir. A partir desse pen-
samento, o que é materialismo histórico, de acordo com a definição de Karl Marx?
3. O pensamento de Max Weber exerceu influência extraordinária em nosso tempo, 
influência esta que abrange o amplo território das Ciências Sociais e também se 
estende aos domínios da Filosofia. Seu trabalho sociológico monumental responde 
à tentativa de superar o desencantamento do mundo e encontrar uma saída para a 
irracionalidade ética que o autor diagnosticou. Por que, segundo Weber, a moderni-
dade trouxe para o ser humano a ideia de desencantamento do mundo?
4. A diluição de fronteiras, a perda da soberania, a crise do Estado nacional, o surgi-
mento de novos movimentos sociais, cidadãos, formas de cidadania e identidades e 
novos atores no cenário internacional (regiões de países, nações sem Estado) fazem 
parte do contexto fluido e mutável que caracteriza a Política nas primeiras décadas 
do século XXI. Conforme o que estudamos nesta unidade, você acredita que a busca 
pela cidadania se dá de forma natural? Explique.
5. Nas situações em que surgem conflitos entre culturas, as crenças etnocêntricas de 
superioridade geralmente estão ligadas a sentimentos de desconfiança e medo, 
bem como a ações destinadas a limitar o contato com membros do outro grupo e 
a exercer discriminação. Em meio a conflitos culturais violentos, o etnocentrismo é 
acompanhado por xenofobia, discriminação, preconceito, separação física de grupos 
e presença recorrente de estereótipos negativos em relação ao outro. Assim, elabore 
um texto dissertativo no qual conceitue o que é etnocentrismo. 
100
aprimore-se
INFRAESTRUTURA E SUPERESTRUTURA EM MARX
Há diversos conceitos importantes para a compreensão de todo o pensamento de Karl 
Marx. Destacaremos, neste pequeno texto, dois deles: infraestrutura e superestrutura.
Ao dedicar-se a compreender a organização da sociedade capitalista e sua estru-
tura social, Marx percebeu que a sociedade poderia ser dividida em infraestrutura 
e superestrutura. Para ele, a infraestrutura se trata das forças de produção, com-
postas pelo conjunto formado pela matéria-prima, pelos meios de produção e pelos 
próprios trabalhadores (as relações de produção se dão em: empregados-empre-
gados, patrões-empregados). Trata-se da base econômica da sociedade em que se 
dão, segundo Marx, as relações de trabalho – as marcadas pela exploração da força 
de trabalho no interior do processo de acumulação capitalista. A superestrutura é 
fruto de estratégias dos grupos dominantes para a consolidação e perpetuação de 
seu domínio. Trata-se da estrutura jurídico-política e da estrutura ideológica (Esta-
do, religião, arte, meios de comunicação etc.).
Para a consolidação e perpetuação da dominação das classes dominantes, são 
utilizadas estratégias que demandam ora uso da força, ora da ideologia (MARX, 
1993). Um exemplo de um instrumento de uso da força é o Estado, o qual possui o 
uso da força legitimado pela ideologia. Para Marx, o Estado está sempre à serviço da 
classe dominante, buscando manter o status quo.
Ideologia
A ideologia é a tática de tornar certas ideias verdadeiras e aceitas pela sociedade, sen-
do elas criada pela classe dominante de acordo com seus interesses. Como dizia Marx,
 “ As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominan-
tes; isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, 
ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem 
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aprimore-se
à sua disposição os meios de produção material dispõe também dos 
meios de produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos 
aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos 
quais faltam os meios de produção espiritual. As ideias dominantes 
nada mais são que a expressão ideal das relações materiais dominan-
tes, são as relações materiais dominantes apreendidas como ideias; 
portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a 
classe dominante, são as ideias de sua dominação (MARX, 1993, p. 72).
Ideologia e estrutura social
O uso da força, muitas vezes, deve ser justificado por ideias coletivamente aceitas. 
Por esse motivo, a classe dominante busca produzir e disseminar ideias que legiti-
mem as ações do Estado em prol de seus interesses. Da mesma forma, a ideologia 
cumpriria o papel de justificar as relações de trabalho e a existência das desigualda-
des sociais, bem como da exploração do homem sobre o homem.
Para Karl Marx,
 “ É evidente que eles o fazem em toda a sua extensão, portanto, entre 
outras coisas, que eles dominam também como pensadores, como 
produtores de ideias, que regulam a produção e distribuição das 
ideias de seu tempo; e, por conseguinte, que suas ideias são as ideias 
dominantes da época (MARX, 1993, p. 72).
Nesse sentido, a superestrutura seria responsável pela manutenção das relações 
sociais existentes na infraestrutura e esta possibilita a sua existência, pois toda a 
riqueza necessária para manter a superestrutura seria, segundo Marx, produzida na 
infraestrutura por meio das nas relações de produção e de troca.
Fonte: adaptado de Bodart (2019, on-line)². 
102
eu recomendo!
Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber
Autor: Tania Quintaneiro
Editora: UFMG
Sinopse: Uma excelente síntese das ideias dos três principais au-
tores da sociologia, com linguagem fácil e acessível, mas profun-
da e direta.
livro
Os Clássicos da Política
Autor: Francisco W. Weffort
Editora: Ática
Sinopse: Para aqueles que desejam conhecer os textos funda-
mentais da Ciência Política selecionados por professores da Uni-
versidade de São Paulo, esse livro é uma introdução com as prin-
cipais teorias dos autores clássicos da Ciência Política.
livro
Um conceito Antropológico
Autor: Roque de Barros Laraia
Editora: Zahar
Sinopse: Esse livro tem uma linguagem clara e didática. Além dis-
so, aborda o conceito de cultura por um viés antropológico, que 
acredito ser o mais profundo em suas análises.
livro
103
eu recomendo!
House of Cards
Ano: 2013
Sinopse: O congressista Francis Underwood e sua mulher, Claire, 
fazem de tudo para conquistar seus objetivos, não importa o que 
aconteça. Um mundo político recheado de ganância, corrupção e 
luxúria na capital Washington.
Comentário: Série que explicita as relações dos bastidores do po-
der nos Estados Unidos. Vale a pena assistir.
filme
Palestra realizadapelo historiador Leandro Karnal no teatro Carlos Urbim na 62ª 
Feira do Livro de Porto Alegre, em 8 de novembro de 2016, com o tema: por que 
os cursos de Filosofia e Sociologia incomodam?
https://www.youtube.com/watch?v=ssZheBX1CFc
conecte-se
3
PRINCIPAIS ESCOLAS
E CONCEITOS DAS
CIÊNCIAS HUMANAS
– Filosofia e História
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Principais escolas e conceitos das 
Ciências Humanas – Filosofia • Filosofia Contemporânea • Principais escolas e conceitos das Ciências 
Humanas – História (Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea).
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
• Conhecer as principais escolas e conceitos das Ciências Humanas – Filosofia • Compreender a Filosofia 
Contemporânea • Entender as principais escolas e conceitos das Ciências Humanas – História (Idade 
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea).
PROFESSOR 
Esp. Pablo Araya Santander
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), na unidade passada, estudamos as três principais dis-
ciplinas das Ciências Sociais: Sociologia, Antropologia e Ciência Política. 
Nesta unidade, iremos aprofundar-nos um pouco mais acerca dos temas 
que introduzimos na Unidade 1, contudo, iremos limitar-nos a abordar 
alguns temas relacionados a duas disciplinas das Ciências Humanas: Fi-
losofia e História. Saliento que os temas propostos serão estudados com 
duas intenções: conduzi-lo(a) para que tenha conhecimento de acordo 
com uma abordagem simples, introdutória e de visão panorâmica sobre as 
duas disciplinas. Não tenho a pretensão de ter aqui um aprofundamento 
dos temas, em virtude da sua enorme complexidade e extensão. 
No estudo da Filosofia, você terá, num primeiro momento, a compreen-
são da passagem do mito à Filosofia. Como você verá, o desejo dos primeiros 
filósofos era a busca por uma verdade absoluta sobre os fenômenos que acon-
teciam à sua volta. Os mitos já não davam mais as respostas que eles busca-
vam. Era preciso mais do que isso. Posteriormente, discutiremos o período 
inicial da história da Filosofia com os filósofos pré-socráticos, passando por 
Sócrates, Platão e Aristóteles. A base de toda a Filosofia se molda nesse início 
do pensamento humano. Nas Filosofias Patrística e Escolástica, encontramos 
a fusão de conceitos da doutrina cristã com a influência dos pensadores 
filosóficos. A Patrística é conhecida como o período dos Pais da Igreja, que 
são primeiros cristãos responsáveis por elaborar, de forma organizada e sis-
tematizada, as doutrinas do cristianismo. Com isso, constrói-se uma espécie 
de Filosofia da religião cristã. Após um grande salto, veremos, na Filosofia 
Moderna, a ciência do método em René Descartes, grande intelectual dessa 
época, que atuou nas mais diversas áreas do conhecimento. No idealismo 
alemão, veremos a teoria dialética de Hegel (tese, antítese e síntese), utilizada 
até os dias de hoje, inclusive em teses e dissertações acadêmicas.
Na disciplina de História, você conhecerá os principais acontecimentos 
e características históricas da Idade Média, da Idade Moderna e da nossa 
Idade Contemporânea.
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PRINCIPAIS ESCOLAS
E CONCEITOS DAS 
CIÊNCIAS HUMANAS
– Filosofia
Do mito à Filosofia: na Unidade 1, abordamos as origens da Filosofia e o que seria o 
pensar ou o refletir filosófico. Agora, partiremos para a discussão sobre o seu surgi-
mento, em que pese a seguinte questão: a Filosofia teria nascido pela transformação 
e pelo amadurecimento dos relatos míticos ou devido à sua ruptura com os mitos?
Figura 1 - A Queda de Faetonte (1604), de Peter Paul Rubens
Definir uma data de início para a Filosofia é tão complicado quanto definir uma 
idade para o universo. Historicamente, o nascimento da Filosofia foi proposto 
por volta do século VI a.C., em Jônia, nas costas da Ásia Menor.
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Quando o homem primitivo começou a perguntar-se sobre tudo o que en-
contrava ao seu redor, ele concentrou sua atenção em fenômenos naturais, como 
a chuva, o trovão, o terremoto e o nascimento de um ser vivo. Observe algumas 
perguntas que poderiam ter surgido nessa época: qual força move os ventos? Por 
que chove? Quem produz terremotos? Quem criou o céu, os animais e as plantas?
Em muitos povos antigos, essas questões foram respondidas a partir de explica-
ções que ligavam os seres sobrenaturais às mudanças ocorridas na natureza ou na 
vida dos homens. Essa foi a primeira tentativa de interpretação do mundo e dos seus 
fenômenos. O próprio homem acreditava que sua fortuna ou seu infortúnio eram 
frutos de uma intervenção divina. A essas primeiras explicações chamamos de mitos.
O mito é uma narrativa sobre a origem das coisas, do homem ou do universo. 
Algumas características sobre esse fenômeno são: utilização de alegorias que 
traduzem as relações existentes no universo ou na vida; tem como protagonistas 
divindades que influenciam o movimento do universo ou a vida dos homens; 
é uma maneira de representação do universo. Tem, por finalidade, explicar a 
realidade e a origem do universo, do homem, da ordem da sociedade, dos ideais 
éticos e morais ou do comportamento 
que os homens devem ter para alcan-
çar a grandeza. A narração é baseada 
na imaginação, na poesia e na religião 
para dar explicações e propósitos para 
a existência. Eles são classificados em 
mito teogônico (histórias sobre a ori-
gem dos deuses) e mito cosmológi-
co (histórias sobre o nascimento do 
mundo e do universo, do cosmos).
A Filosofia nasce, portanto, da necessidade de o ser humano obter respostas mais 
racionais sobre as questões da vida e o mito começa a não mais satisfazer as in-
quietudes do homem. Foi necessário um longo tempo de maturação para chegar 
a conclusões convincentes e precisas.
Em primeiro lugar, ao observar um fenômeno natural, o homem elaborou 
questões sobre quem ou o que o produz. Não tendo os recursos suficientes para 
uma investigação profunda sobre as causas do fenômeno, começou a inventar a 
possibilidade de intervenção de seres sobrenaturais com poder suficiente para 
mover os ventos, a terra ou dar vida aos seres existentes.
Figura 2 - Hércules e a morte da Hydra
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Muitos desses seres imaginários são representados com formas e qualidades 
humanas. Assim, em vários mitos, há personalidades responsáveis pela guerra, pelas 
colheitas ou pelos prazeres, como o vinho ou a criação do homem e do universo.
Diante disso, os mitos proporcionavam certa segurança à vida dos homens, 
uma vez que davam respostas à vida prática no trabalho, à vida moral, à organi-
zação social, à guerra e ao destino:
 “ “primitivas”, o mito se constitui um discurso de tal força que se en-
tende por todas as dependências da realidade vivida; não se restrin-
ge apenas ao âmbito do sagrado (ou seja, da relação entre a pessoa e 
o divino), mas permeia todos os campos da atividade humana. Por 
isso, os modelos de construção mítica do real são de natureza sobre-
natural, isto é, recorre-se aos deuses para compreender a origem e a 
natureza dos fatos (ARANHA; MARTINS, 2004, p. 72).
Além disso, o mito serviu para personificar e deificar as forças naturais. Também 
explicava os fenômenos naturais e sociais como desejo de vontade divina, que 
age na vida e na natureza humana.
Conforme o ser humano passou a compreender o ciclo das estações e o mo-
vimento das estrelas, as explicações míticas começaram a ser insuficientes. Por 
essa razão, outro tipo de interpretação com explicação racional que respondesse 
às mesmas perguntas era necessário. Os gregos, direcionados pela curiosidade, 
não se contentavam com as explicações míticas, por isso, foi-lhes dada a tarefa 
de procurar um princípio que desse alicerces a todas as coisas. Tal princípio foi 
denominado logos, a explicação que não se baseava em suposições sobrenaturais, 
mas em explicações racionais, alicerçadas em argumentos que fundavam o pen-
samento filosófico. Assim, a Filosofia se fez necessária para entender o princípio 
que move o mundo deum ponto de vista lógico.
A filosofia inicia quando os elementos míticos são substituídos por elementos 
racionais, lógicos ou naturais nas explicações. Mitos não podem mais ser fontes 
de conhecimento, porque cada povo tem os seus e todos são passíveis de crítica. A 
É possível ainda falarmos em mitos contemporâneos?.
pensando juntos
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ideia de necessidade substitui a arbitrariedade imposta pelo capricho dos deuses, 
descobrindo-se a constância de certas leis.
Período Pré-Socrático ou cosmológico
O primeiro período da Filosofia grega é também chamado de período cos-
mológico, porque se preocupa com a reflexão sobre a natureza e suas mu-
danças. Além disso, os filósofos dessa época estavam preocupados com a 
origem de todas as coisas (arkhé, arché).
Os pré-socráticos tentam explicar a realidade existente a partir de algo 
(princípio, arché) que está “dentro das coisas”. Nessa busca, eles não se liberta-
ram completamente dos elementos míticos. Aos poucos, a explicação mítica 
foi abandonada, substituindo-a por pela racionalidade, embora não seja feita 
imediatamente. Atendendo a essa busca, os filósofos pré-socráticos podem ser 
classificados em: monistas – para os quais há apenas um princípio que explica 
todas as coisas – e pluralistas – que acreditam na diversidade de princípios.
Tales de Mileto (585 a.C.) é considerado, de acordo com a tradição, o primei-
ro filósofo da história. Também é tido como um dos 
sete sábios da Grécia por prever um eclipse que pôs 
fim à guerra entre os lídios e medas (28 de maio de 
585 a.C.). Enquanto empresário, mostrou como ficar 
rico ao negociar azeitonas para demonstrar que não 
estava interessado apenas no dinheiro. Enquanto 
matemático, criou o famoso teorema de Tales. Tam-
bém foi astrônomo e, por fim, filósofo. Todavia, seu 
pensamento ainda mantinha elementos míticos.
Heráclito de Éfeso (500 aC) afirmou que o universo 
está em contínua evolução, em incessante transforma-
ção, em movimento contínuo – “tudo flui”. A autoria 
da famosa frase “você não pode se banhar duas vezes 
no mesmo rio” é atribuída a ele.
Tal evolução ou mudança, contudo, não é irracional 
ou caótica, mas feita de acordo com uma lei ou um 
logos interno. A lei que governa o universo é a luta 
Figura 3 - Tales de Mileto
Figura 4 - Heráclito
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dos opostos (dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome). A ordem e a 
harmonia do universo vêm dessa contradição, da luta dos opostos. O cosmos não 
fez nenhum dos deuses ou dos homens, mas foi, é, e sempre será, o fogo vivo. O 
fogo é o princípio material, causa de movimento e mudança. Heráclito, o criador 
da dialética, afirmou que a natureza obedece ao princípio dialético, uma evolução 
contínua de acordo com uma lei que lhe dá ordens.
A Filosofia de Parmênides de Eleia está estritamente relacionada ao pen-
samento de Heráclito, porque é a manifestação de sua reação contra ela. Para 
Parmênides, o ser é único, eterno, ilimitado, imutável e imóvel. Em sua visão, a 
mudança não é possível e a existência é eterna.
Além dos filósofos mencionados, outros mais 
foram muito importantes nesse período: Anaxi-
mandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Pitá-
goras de Samos (teorema de Pitágoras), Xenófo-
nes de Colofão, Zenão de Eleia, Melisso de Samos, 
Empédocles de Agrimento, Filolau de Crotona, 
Arquitas de Tarento, Anaxágoras de Clazomenas, 
Leucipo de Mileto e Demócrito de Abdera.
Acadêmicos e filósofos concordam que a figura de Sócrates e, consequentemen-
te, todo o seu pensamento, pode não ter sido inteiramente seu. Sócrates nunca 
incorporou sua filosofia em um texto e a única coisa escrita sobre ele é produto 
dos seus seguidores, como Platão e Xenofonte.
Muitos pensadores ousam dizer que Platão chegou a colocar em Sócrates os 
seus próprios pensamentos, especialmente nos últimos livros que escreveu. Por 
isso, é muito difícil discernir entre o que seus discípulos pensaram e o que Sócrates 
realmente defendeu e acreditou. Portanto, não há escolha a não ser tomá-la como 
verdadeira, sempre tendo em mente que, se surgir alguma contradição, é provável 
que ela tenha vindo daqueles que escreveram sobre ele e não do próprio Sócrates.
O círculo aristocrático agrupado em torno de Sócrates era o centro da luta 
ideológica e política contra a democracia em Atenas. Faziam parte desse círcu-
lo: Platão, Crítias (que, após a derrota da democracia, liderou os trinta tiranos 
de Atenas), os traidores Alcibíades e Xenofonte. Pouco depois da vitória da 
reação, o poder democrático foi restaurado e Sócrates foi condenado à morte 
por sua atividade antipopular.
Figura 5 - Sócrates (469-399)
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Figura 6 - A Morte de Sócrates, de Jacques Louis David (1787)
O princípio filosófico essencial de Sócrates era seu método dialético. Sócrates estu-
dou profundamente temas relacionados à cosmologia e outras variantes que o aju-
dariam a entender o universo e o mundo em que vivemos. No entanto, sua decepção 
em relação ao método científico aplicado nas ciências naturais, juntamente com 
a grande rejeição às perspectivas relativistas que os sofistas ensinavam na época, 
fizeram-no decidir por procurar o caminho para alcançar as definições universais.
Para Sócrates, as principais definições não eram questão relativa, então ele 
gerou um método indutivo por meio do qual se poderia chegar ao verdadeiro 
conhecimento do mundo e de seus elementos. Segundo ele, a verdade era a mes-
ma, independentemente do lugar ou do indivíduo. Dessa forma, ele começou a 
aplicar o que seria chamado de método socrático. Com isso, Sócrates pretendia 
dialogar com amigos e conhecidos, sempre objetivando uma definição universal.
O método indutivo consistia em duas partes: a ironia, por meio da qual o ho-
mem percebe sua própria ignorância das coisas, e a maiêutica (parto das ideias), 
caracterizada por perguntas e respostas cada vez mais específicas, até alcançar 
um conhecimento particular.
Para Sócrates, era extremamente importante que o indivíduo reconhecesse sua 
própria ignorância, pois sem esse passo não haveria espaço para a verdade. Depois 
que a pessoa com quem ele dialogava aceitasse seu desconhecimento sobre um 
assunto, Sócrates se empenhava em fazer perguntas que seu parceiro respondesse 
por conta própria, cada vez mais aprofundadas sobre o tópico em questão.
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Sócrates usou esse método dialético pelo resto de sua vida. Isso é evidente 
em quase todos os livros de Platão, que apresentam seu professor em conversas 
com diferentes personagens sobre diversos temas que buscava definir. Ele man-
tinha e divulgava a necessidade de os seres humanos “cuidarem de suas almas” 
em detrimento das prioridades da época, que incluíam preocupar-se com uma 
carreira, a família ou mesmo uma jornada política na cidade. 
O filósofo conseguiu espalhar seu conhecimento entre amigos próximos, 
com a intenção de estimular suas próprias buscas por virtude e sabedoria. Da 
mesma forma, ele acreditava que a verdadeira felicidade vinha do fato de ser 
moralmente correto, isto é, que somente o homem moral poderia realmente viver 
uma vida feliz. Defendia, além disso, a ideia de que havia uma natureza humana 
universal, com valores igualmente universais, que todo homem poderia usar 
como guia para agir moralmente no cotidiano.
Política
Para Sócrates, as ideias e as verdadeiras essências das coisas pertencem a um 
mundo que só o homem sábio pode alcançar. Por isso, manteve firmemente uma 
posição, segundo a qual o filósofo era o único homem apto a governar.
Se Sócrates concordou ou não com a democracia é uma questão controver-
sa. Embora seja muito claro que Platão criticou essa forma de governo, não é 
certo que Sócrates diria o mesmo. É bem possível que muitas das frases e senten-
ças de Sócrates sobre a democracia foram apenas o produto criativo de Platão.
Platão é reconhecido como uma das figuras 
mais importantes da Filosofia ocidental e, até mes-
mo, práticas religiosasdevem muito ao seu pensa-
mento. Ele foi o fundador da Academia, o primei-
ro instituto de ensino superior da época. Algumas 
das suas contribuições mais importantes à filosofia 
foram: a teoria das ideias, a dialética, a anamnese 
ou a busca metódica pelo conhecimento.
Figura 7 - Platão (428-347 a.C.)
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Aluno de Sócrates e, por sua vez, professor de Aristóteles, que era seu aluno mais 
proeminente na Academia, Platão expressou seus pensamentos na forma de diá-
logos, ao utilizar elementos dramáticos que facilitaram a leitura e a compreensão 
de suas ideias, recriando e exemplificando situações tratadas com bastante efe-
tividade. Tal qual Sócrates, ele estabeleceu as bases da Filosofia, da política e das 
ciências ocidentais. Foi considerado um dos primeiros pensadores que conseguiu 
conceber e explorar todo o potencial da Filosofia enquanto prática, ao analisar 
temas dos pontos de vista ético, político, epistemológico e metafísico.
A educação de Platão era ampla e profunda. Diz-se que ele foi instruído por 
vários personagens nobres de seu tempo. No ano de 407 a.C., quando tinha 20 
anos, conheceu Sócrates. Esse encontro foi absolutamente decisivo, já que este se 
tornou seu professor. Naquela época, Sócrates tinha 63 anos e os ensinamentos 
foram estendidos por oito anos, até a sua morte. 
O pensamento de Platão foi muito influenciado pela Filosofia pitagórica, 
desde os seus primórdios. Para ele, era a alma e não o corpo a verdadeira essência 
do ser. De fato, o corpo era um obstáculo na busca da verdade e na ampla expres-
são do ser em seu aspecto mais essencial. Acreditava que a alma vinha de uma 
dimensão superior, na qual estaria em contato com a verdade. Em algum mo-
mento, a alma se rendeu aos prazeres baixos ou inferiores e, como consequência, 
foi forçada a reduzir-se ao mundo conhecido, tornando-se aprisionada no corpo.
Uma das noções desenvolvidas por Platão foi chamada de teoria das três 
partes da alma. Essas partes eram a alma concupiscente, a alma irascível e a alma 
racional. Platão considerou que esses elementos eram as faculdades da alma.
A alma irascível estava ligada à capacidade de ordenar os outros, assim como 
à força de vontade. Relacionava-se à força e ao ímpeto e, ao mesmo tempo, com 
ambição e raiva. A alma racional era aquela que Platão considerava a faculdade 
superior entre todas as outras. Relacionava-se à inteligência e à sabedoria e, se-
gundo Platão, eram os filósofos quem possuíam essa faculdade mais desenvol-
vida. A alma concupiscente, por sua vez, era a mais inferior de todas as outras e 
estava ligada ao impulso natural de evitar a dor, assim como pela busca do prazer. 
Platão indicou que este elemento promoveu o gosto por bens de natureza mate-
rial, o que dificultou a busca da verdade e a essência das coisas
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Mito da caverna
Esta é a alegoria que melhor explica ou concebe a dualidade que Platão expôs. 
Segundo o mito da caverna, existe uma área ligada a ideias ininteligíveis, e há 
outra claramente associada ao mundo sensorial, que nós experimentamos. Uma 
vida dentro de uma caverna corresponde 
a um mundo sensorial, assim como a vida 
fora da caverna está relacionada ao mundo.
Para Platão, viver dentro da caverna 
implica em viver na escuridão e na submis-
são absoluta aos prazeres mundanos. Sair 
da caverna é uma representação de deixar 
para trás a busca pelos prazeres para ir em 
busca do conhecimento. Quanto mais nos 
aproximamos do conhecimento, mais nos 
distanciamos da caverna e mais perto es-
tamos da verdade.
Aristóteles (384 322 a.C.)
Aristóteles elaborou um dos mais profundos e completos sistemas filosóficos da 
Filosofia antiga. Seu pensamento se estendeu a diversas áreas do conhecimento: 
Lógica, Física, Biologia, Psicologia, Metafísica, Ética, Política, Sociologia e Estética.
Embora tenha começado como discípulo de Platão, logo rompeu com ele e 
construiu seu próprio sistema, que teve grande influência na Filosofia posterior, 
tanto no mundo árabe quanto no mundo cristão. Nesse sentido, a partir do século 
XIII, graças ao trabalho de Tomás de Aquino, o pensamento aristotélico dominou 
o pensamento ocidental, tanto o filosófico quanto o científico, até que, no século 
XVII, Galileu de um lado e Descartes de outro desenvolveram uma nova ciência 
(a física moderna) e uma nova filosofia (o racionalismo).
Aristóteles negou a existência do mundo das ideias. Para ele, estas não são 
encontradas em um mundo separado, mas nas próprias singularidades e concre-
tudes, de onde as obtemos por meio da abstração.
Em nosso mundo, há uma multidão de seres que, de acordo com sua natureza 
Figura 8 - Mito da caverna
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ou modo de ser, pertencem a diferentes gêneros e espécies. Entretanto, os seres 
pertencentes à mesma espécie possuem a mesma essência. Para Aristóteles, esta 
é o que torna as coisas o que são. Assim, a essência do cachorro, por exemplo, é o 
que faz com que o cachorro seja cachorro. No mundo, há muitas raças de cachorro 
e há também o cachorro do meu vizinho, os cachorros da polícia etc. Todos eles 
são seres individuais e concretos, mas, ao mesmo tempo, compartilham algo em 
comum – a essência de cachorro.
Conhecimento
Aristóteles também negou a existência das almas e do conhecimento inato. Se-
gundo ele, o entendimento humano é como um papel em branco, sem qualquer 
conteúdo cognitivo. Entretanto, o conhecimento é adquirido por meio dos sen-
tidos. Ele distinguiu nos seres humanos dois tipos de faculdades: as faculdades 
sensíveis e as faculdades intelectuais.
As sensíveis são compostas dos sentidos externos: visão, audição, olfato, pala-
dar e tato e os sentidos internos: senso comum, memória e imaginação. As inte-
lectuais são constituídas pela compreensão do agente e pelo entendimento do 
paciente. Entendimento do agente é aquele que realiza a abstração das essências, 
enquanto o paciente é quem as recebe.
Para Aristóteles, os sentidos identificam as singularidades e concretudes por 
meio da sensação, enquanto o entendimento identifica as essências universais 
por meio das ideias. A este respeito, o conhecimento humano autêntico é o co-
nhecimento intelectual.
Ética
Tal qual o restante de sua Filosofia, a ética aristotélica é puramente teleológica. 
De acordo com os princípios filosóficos, partiu da própria natureza humana. De 
lá, o filósofo observou que todos os seres humanos, por natureza (physis), estão 
propícios à felicidade. O problema surge ao determinar em que consiste tal es-
tado, pois, para alguns, a felicidade está nos negócios, para outros, em riquezas 
ou honras etc. Como descobrir qual é a verdadeira felicidade do ser humano?
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Teleologia: ciência que se pauta no conceito de finalidade (causas finais) como essencial na 
sistematização das alterações da realidade, ao haver uma causa fundamental que rege, por 
meio de metas, propósitos e objetivos, a humanidade, a natureza, seus seres e fenômenos.
Fonte: adaptado de Dicio ([2019], on-line)4.
explorando Ideias
De acordo com Aristóteles, a felicidade do ser humano tem relação intrínseca 
com o bem próprio e exclusivo do ser humano. Em que consiste o bem? Ao res-
ponder a essa pergunta, devemos prestar atenção às características da natureza 
humana. O bem próprio do ser humano tem relação essencial com a natureza. 
Aristóteles concluiu que o bem próprio e a felicidade autêntica dos seres humanos 
dependem do correto exercício das referidas faculdades sensíveis e intelectuais.
Filosofia Patrística e Escolástica
Filosofia Patrística: a patrística é conhecida com um período do pensamento 
filosófico cristão ocorrido do século II ao VII d.C. Falamos, neste momento, dos 
chamados Pais da Igreja, aqueles cuja tarefa fundamental era escrever obras que 
expusessem a doutrina cristã. Eles são os verdadeiros iniciadores da filosofia 
cristã, ao mesmo tempo em que desenvolveram a estrutura eclesial da fé basea-
da no cristianismo. Normalmente, dois grupossão distinguidos de acordo com 
a linguagem usada para escrever seus trabalhos, embora a diferença entre eles 
ultrapasse a mera linguagem. Esses grupos são:
1. Pais gregos: aqueles autores que, usando o grego como língua e conceitos 
da Filosofia grega, construíram a estrutura do que seria a filosofia e a 
teologia cristãs. Eles se basearam no pensamento platônico e a influência 
dos gregos deu caráter especulativo aos seus escritos, o que marcou o 
pensamento cristão.
2. Pais latinos: são os autores que escreveram em latim e, a partir da cultura 
romana, contribuíram para a formação do pensamento cristão. Isso se 
tornou importante em meados do terceiro século, quando o latim su-
plantou o grego como língua litúrgica oficial da comunidade cristã no 
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Acesse o QR Code e conheça um pouco mais sobre quem foi Santo Agostinho. 
conecte-se
Ocidente. Os conteúdos metafísicos que aparecem em seus escritos se 
devem à influência da cultura grega, especificamente o platonismo, que 
já estava presente nas primeiras formulações do pensamento cristão.
A tarefa que a patrística realizou foi a de iniciar a construção de um pensamento 
cristão a partir do pagão. Essa tarefa começou em Alexandria, com a criação da 
escola catequética cristã Didascalion (Didascalium ou Didaskaleion). Ali, apare-
ceram as correntes platônicas, estoicas e filonianas, que criaram as condições para 
o desenvolvimento posterior do pensamento cristão. Pode-se dizer que, entre os 
Pais da Igreja, houve uma avaliação positiva sobre a Filosofia como ciência, pois 
passaram a considerá-la capaz de ajudar a entender melhor a fé. Isso fez com que 
surgissem conceitos cristãos a partir da terminologia grega. Assim, os conceitos 
retirados dos gregos assumiram novo significado na estrutura da Filosofia cristã.
Santo Agostinho
Santo Agostinho, bispo de Hipona, é con-
siderado o grande mestre da Idade Média. 
Ele elaborou o primeiro sistema completo 
do pensamento cristão, que nasceu como 
resultado das controvérsias que surgiram 
ao tentar definir a verdadeira doutrina 
cristã. Começou essa tarefa depois da sua 
conversão, em 386 d.C. Em um esforço 
incessante para esclarecer o significado 
correto dos conceitos cristãos, Santo Agos-
tinho determinou a terminologia da Filo-
sofia cristã predominante até o século XIII. Figura 9 - Santo Agostinho
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Ele combateu as ideias de três movimentos: o maniqueísmo, que admitia a exis-
tência de dois princípios originais no mundo em luta permanente, Ormuz (leve, 
bom) e Ariman (escuro, mal), ambos presentes no homem por meio da alma 
corpórea; o donatismo, que defendia a separação total e absoluta da Igreja e do 
Estado. De acordo com ele, os sacerdotes que colaboraram com o Estado per-
deram sua pureza e não poderiam administrar os sacramentos; e, por último, o 
pelagianismo, que assumia que o homem poderia fazer o bem por si mesmo, 
rejeitando, assim, o pecado original.
As ideias que Santo Agostinho elaborou como resultado dessas controvérsias 
formam um sistema filosófico que se tornou parte da doutrina oficial da Igreja. 
Ele argumentou que a Filosofia ajudaria a tornar a verdade cristã compreensível, 
seguindo o modelo neoplatônico tanto na busca da verdade quanto na maneira 
de interpretar o conhecimento.
Livre arbítrio
O homem nasce com uma vontade debilitada. Essa vontade é entendida como 
livre arbítrio, isto é, a capacidade de escolher livremente. Ela se deteriora no ho-
mem quando este se inclina mais a favor do mal do que do bem. Para resolver esse 
problema, Santo Agostinho se baseou em uma intervenção externa, derivada da 
redenção, que prometia ajudar o homem a recuperar o seu estado de equilíbrio e 
dar-lhe a possibilidade de tomar decisões. Seria por meio da ajuda da graça que 
o livre-arbítrio se transformaria em liberdade.
Escatologia da História
A escatologia é a doutrina que trata daquilo que acontecerá no fim do mundo e 
da humanidade, a fim de explicar o destino do homem como membro de uma 
coletividade. A escatologia patrística buscou encontrar o significado da história 
humana, que deveria estar relacionada à História Sagrada e à visão escatológica 
da Bíblia. Ao levantar a história a partir dessa perspectiva, foi iniciada muito mais 
uma Teologia da História do que uma Filosofia de fato.
Em seu livro A Cidade de Deus, de 426 d.C., Santo Agostinho descreveu que a 
capacidade humana de seguir ou não os ditames de Deus torna possível falar da 
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existência de duas cidades. Elas representam a comunidade de homens que segue 
as ordens divinas e a que segue as suas próprias ordens. A primeira é baseada no 
amor de Deus e a segunda no amor próprio.
O ponto de partida é a luta permanente entre duas tendências – uma positiva e 
outra negativa –, enquanto há, no ser humano, uma luta constante entre as influên-
cias da carne e do espírito. Santo Agostinho apresentou essa luta como a batalha 
entre duas cidades: a cidade terrena (o Estado) e a cidade celestial (a Igreja). A única 
influência benéfica que Agostinho vê nessa disputa é que ambas as cidades são 
governadas por valores espirituais, que buscam interesses divinos e não terrestres.
Daí, nasceu a ideia de que o Estado deve levar todos até a cidade celestial, 
pois deve ser regido por interesses espirituais. Essa foi a base da teoria política 
chamada de cesaropapismo, na qual a Igreja é a comunidade formada por cristãos 
fiéis que buscam por Deus e por justiça, e que o Estado deve submeter-se à Igreja. 
Essa teoria serviu para justificar o predomínio temporal da Igreja sobre o Estado.
Escolástica (século XIII ao XV)
A palavra escolástica vem do latim schola, que significa escola. No início, o termo 
foi usado para designar o conhecimento cultivado nas escolas medievais e ensina-
do sob a direção de um professor. Mais tarde, foi usado para designar o material 
ensinado e o método de ensino usado nas escolas. Em seu significado etimológico, 
não expressa nenhuma corrente de pensamento específico, mas de que o ensino, na 
Idade Média, era praticado em escolas monásticas, episcopais ou palatais.
Escolástica cristã
O escolasticismo cristão nada mais é do que a especulação teológico-filosófica 
cultivada e desenvolvida nas escolas e universidades medievais. Todos os sistemas 
filosóficos cristãos foram inspirados pelo aristotelismo e pelo agostinismo neopla-
tônico, nascidos e desenvolvidos à sombra da Teologia nas escolas medievais. Aos 
poucos, alcançaram autonomia no desenvolvimento de uma síntese doutrinária.
O século XIII é considerado o momento da maturidade da Filosofia Escolás-
tica. Caracteriza-se por grandes sínteses doutrinais teológico-filosóficas. Nesse 
período, destacaram-se Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino.
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São Tomás de Aquino começou a estudar Aristóteles, o que o levou a concluir 
que a incompatibilidade entre a Filosofia aristotélica e a fé cristã era falsa. Ele é o 
criador do sistema filosófico cristão que mais influenciou a cultura do Ocidente 
e um dos autores mais importantes no ensino acadêmico da Igreja.
Ele foi abertamente a favor da autonomia da razão naquilo lhe é própria. Afir-
mou a capacidade do homem de compreender 
o universo e as suas leis, o que não significa que 
há duas verdades, mas apenas uma, que pode ser 
trilhada por caminhos diferentes. Segundo ele, o 
objetivo final de todo conhecimento é Deus. Nós 
chegamos a ele mediante a revelação, mas tam-
bém pode ser conhecido por meio da razão.
Ele se preocupou com a sistematização e expo-
sição da doutrina cristã sobre Deus. Segundo ele, a 
existência de Deus é o primeiro dado da revelação, 
por isso, ele a tomou como ponto de partida e foi 
essência de todo o seu sistema teológico-filosófico. 
Filosofia Moderna
René Descartes é considerado o pai da Filosofia Moderna. Sua participação foi 
ativa em diversas áreas: Filosofia, Física, Matemática e Medicina. Suas teoriasdariam forma ao que passou a ser conhecido como “mecanicismo” e sua obra 
O discurso do método, publicado pela primeira vez em 1637, lançaria as bases 
da pesquisa científica moderna.
Descartes nasceu em 31 de março de 1596 em 
Turena, França, em uma família pertencente à bai-
xa nobreza. A morte prematura de sua mãe fez com 
que o jovem fizesse todas as espécies de perguntas 
sobre a vida. Com onze anos, entrou no Collège 
Henri IV de La Flèche, uma escola jesuíta em que 
ele se destacou especialmente graças aos seus pri-
meiros dons intelectuais e onde aprendeu Física, 
Filosofia Escolástica e Matemática.
Figura 10 - São Tomás de Aquino
Figura 11 - René Descartes
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Com 18 anos, Descartes entrou na Universidade de Poitiers, na qual estudou 
Direito e Medicina. Depois de completar seus estudos, mudou-se para a Holan-
da em 1618 e se alistou como voluntário em vários exércitos. Foi uma etapa em 
que demonstrou grande interesse pela guerra, mas desistiu da vida militar e se 
dedicou a viajar pela Europa.
Utilizou a sua teoria da ciência do método para aplicá-la a todas as ciências 
do universo, o que fez com que a metafísica deixasse de ser o fundamento neces-
sário para entender o que o rodeava, embora, para ele, Deus não estivesse ausente.
Descartes também criou as leis da ótica geométrica relacionadas à reflexão e 
à refração. No campo da Matemática, criou a álgebra de polinômios e, junto com 
Fermat, a geometria analítica. Ele também enunciou e simplificou as propriedades 
fundamentais das equações e notações algébricas.
Empirismo inglês
Desenvolveu-se na Inglaterra, do século XVI ao XVIII, uma filosofia com pre-
ceitos claramente definidos. Francis Bacon, David Hume, George Berkeley, John 
Locke e mais uma série de pensadores se opuseram, em certa medida, à Filosofia 
de Descartes, que estudamos anteriormente. Foi também uma resposta histórica 
ao racionalismo, como uma crítica aos conceitos de sua metafísica e sua teoria do 
conhecimento, além de refutar os conceitos metafísicos da Filosofia Escolástica.
A Filosofia inglesa apresenta duas características que a difere das anterio-
res: uma preocupação menor com questões estritamente metafísicas (buscando 
interação com a teoria do conhecimento) e a Filosofia do Estado. Nasceu daí o 
Espírito Iluminista, que tentou remover da Filosofia seu desejo de transcendên-
cia e a busca incessante pelo absoluto. Procurou-se um fundamento diferente, 
estritamente racional, que não fosse essencialmente religioso e que servisse de 
base para a nova concepção do mundo.
Para construir essa visão exclusivamente racional, é necessário marcar alguns 
limites. A razão não é absolutamente precisa, como afirmam os dogmáticos (a 
Escolástica ou a Filosofia de Descartes), nem é completamente incerta, como os 
céticos radicais afirmavam. Por serem defensores árduos da religião, tentaram 
desacreditar da razão e mostrá-la como algo inútil, fazendo uso do ceticismo e a 
ideia de impor a sua fé de maneira intolerante.
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Locke
Locke é o iniciador da teoria do conhecimento propriamente dita, porque se propôs a ana-
lisar cada uma das formas de conhecimento que possuímos, a origem de nossas ideias e 
dos nossos discursos. Seguindo a trilha aberta por Aristóteles, Locke também distinguiu 
graus de conhecimento, a começar pelas sensações até chegar ao pensamento.
Para o racionalismo, a fonte do conhecimento verdadeiro é a razão, que opera por si mes-
ma, sem o auxílio da experiência sensível e controlando-a. Para o empirismo, a fonte de 
todo e qualquer conhecimento é a experiência sensível, responsável pelas ideias da razão 
e controlando o trabalho da própria razão.
Essas diferenças, porém, não impedem que haja elemento comum a todos os filósofos a 
partir da modernidade, qual seja, tomar o entendimento humano como objeto da inves-
tigação filosófica.
Fonte: adaptado de Chauí (2014, p. 167).
explorando Ideias
Para os empiristas, a posição com relação à razão é mais humilde, mas é mais 
realista. A razão pode fornecer-nos crenças razoáveis e verdades que têm uma 
possível certeza, portanto são úteis, embora não sejam imutáveis, pois podem mu-
dar com o tempo, aperfeiçoando-se. Além disso, essa corrente filosófica acreditava 
que a obtenção do conhecimento humano deveria vir por meio da experiência 
de vida pelo uso dos sentidos.
Idealismo alemão
Em geral, a palavra idealismo se aplica à doutrina filosófica que define a ideia 
como princípio de conhecimento e, ao mesmo tempo, da realidade. Esta é redu-
zida ao pensamento, à ideia. Seus principais representantes são: Emmanuel Kant 
e Georg Wilhelm Friedrich Hegel.
O idealismo alemão de Kant, chamado de idealismo crítico ou transcendental, 
é um idealismo relativo, visto que não exclui totalmente a existência real do ob-
jeto, apenas priva as formas de conhecimento da realidade objetiva. Kant define 
o idealismo transcendental como aquele que considera os fenômenos em seu 
conjunto como simples representações.
Na Crítica da Razão Pura, publicada pela primeira vez em 1781, Kant submeteu 
a razão científica à crítica, definindo conceitos prévios para estabelecer o valor e a 
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A influência da filosofia hegeliana
Hegel exerceu grande influência no desenvolvimento do pensamento político posterior, 
e seus seguidores se dividiram em dois grupos opostos, denominados esquerda e direita 
hegeliana. Essa cisão foi provocada por uma querela de origem religiosa incitada por Da-
vid F. Strauss, teólogo e autor de Vida de Jesus, na interpretação do pensamento de Hegel.
Os da direita são os discípulos conservadores e mantêm a filosofia idealista do mestre; na 
política, defendem o estado prussiano e, na religião, seguem o luteranismo. Os da esquer-
da transformam a filosofia idealista em materialista; na política, defendem a anarquia ou 
um regime socialista e, na religião, são ateus ou anticristãos. Entre estes estão Feuerbach 
e, posteriormente, Marx e Engels, os quais, ao realizarem a inversão do idealismo hegelia-
no, assentam as bases do materialismo dialético: “A dialética de Hegel foi colocada com a 
cabeça para cima ou, dizendo melhor, ela que se tinha apoiado exclusivamente sobre sua 
cabeça, foi de novo reposta sobre seus pés.
Fonte: Aranha (2004). 
explorando Ideias
possibilidade da ciência. Essa obra está dividida em três partes: Estética Transcen-
dental, que trata do valor do conhecimento sensível para estabelecer a possibilidade 
da Matemática como ciência; Analítica transcendental, que aborda o valor dos 
conceitos do entendimento para estudar a possibilidade da Física como ciência; e 
a Dialética transcendental, que trata do valor das ideias da razão para estabelecer 
a possibilidade da Metafísica como ciência. Essa é a base do idealismo alemão.
Hegel, por sua vez, parte da consideração de que 
o princípio supremo, a realidade absoluta, é a ideia. A 
ideia é o começo, o desenvolvimento e o fim de tudo, 
é o ser que constitui a essência de todas as coisas.
Para Hegel, a Ideia está em perpétuo devir (vir a 
ser). A partir dela, desdobra-se toda a realidade tal 
qual é, ou a ideal. Nesse caso, a dialética é a lei que 
rege todo o processo da realidade e o desdobramento 
da ideia nesse estado é uma exibição dialética.
A evolução por meio da qual a ideia se desdobra é explicada pelo método dialé-
tico, que consiste em três fases: tese, antítese e síntese. Na tese, a ideia é posta ou 
afirmada; na antítese, o que foi afirmado é contestado ou limitado; na síntese, a 
ideia e sua limitação são unidas e integradas à totalidade.
Figura 12 - Hegel
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FILOSOFIA
CONTEMPORÂNEA
Escola de Frankfurt
Durante os anos da República de Weimar, na Alemanha, às vésperas da chegada 
de Hitler ao poder, um grupo de filósofos fundou o Instituto de Pesquisa Social 
na cidade de Frankfurt, dedicado principalmente ao estudo do marxismo e suas 
repercussões políticas e sociais. Seu trabalho permaneceu para a posteridadeCientífico na Ciência Social.
II. Unidades Fundamentais da Vida Social: Atos Sociais e Relações So-
ciais; A Personalidade do Indivíduo; Grupos (onde se incluem Classe e Etnia); 
Comunidades: Urbanas e Rurais; Associações e Organizações; Populações; 
Sociedade.
III. Instituições Sociais Básicas: Família e Parentesco; Econômicas; Políticas 
e Jurídicas; Religiosas; Educacionais e Científicas; Diversões e Bem-estar; Esté-
ticas e Expressivas.
IV. Processos Sociais Fundamentais: Diferenciação e Estratificação; Coope-
ração, Acomodação e Assimilação; Conflito Social (Inclui Revolução e Guerra); 
Comunicação (inclui Formação, Expressão e Mudança de Opinião); Socializa-
ção e Doutrinação; Avaliação Social (o Estudo dos Valores); Controle Social; 
Divergência Social (Crime, Suicídio etc.); Integração Social; Mudança Social.
Quadro 1 - Objeto de estudo da Sociologia / Fonte: Inkeles (1974, p. 27).
Como surgiu a Sociologia?
A Sociologia surge como ciência moderna para responder aos desafios da nova 
formatação dos processos e das estruturas da modernidade. Desde os primórdios, 
os indivíduos interagem por meio de relações que objetivam satisfazer necessida-
des vitais ou simplesmente de caráter intrínseco aos anseios e às dúvidas sobre si 
mesmos. Essas relações podem surgir diretamente advindas dos próprios indiví-
duos ou de acordo com as demandas e regras do grupo social em que convivem. 
A Revolução Francesa e a Revolução Industrial trouxeram uma nova confi-
guração do que se entendia até aquele momento, de como era o funcionamento 
de uma sociedade. A Revolução Industrial, ocorrida na Europa no decorrer dos 
séculos XVIII e XIX, definiu novas formas de economia, sociedade e tecnologia. A 
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progressão da produção em massa gerou alguns dilemas: por um lado, o desenvol-
vimento tecnológico barateava os custos de produção, o que aumentava a produ-
tividade e otimizava o processo de armazenamento e transporte de mercadorias. 
Por outro, no âmbito do trabalho desse novo momento, exigia muitas horas dos 
trabalhadores que chegavam a trabalhar acima de 16 horas por dia.
Figura 3 - Crianças trabalhando em mina de carvão
Nas cidades, o “progresso” e o desenvolvimento da atividade industrial fizeram surgir 
áreas degradadas e miseráveis. Os dilemas decorrentes dessa fase de intensa urbani-
zação deram origem à necessidade de repensar os novos rumos das questões sociais.
As mudanças dessa época foram tão radicais, que somente podem ser com-
paradas com as que ocorreram no período Neolítico e podem ser resumidas 
como o abandono do modelo agrário de produção e comércio, do trabalho e da 
sociedade, por um modelo urbano, mecanizado e industrializado. A produção 
em larga escala e com abundante uso das máquinas tinha como objetivo reduzir 
o tempo e os custos de produção.
É importante entender as novas formas de organização que surgiram por 
meio do processo de industrialização, pois, de fato, alterou drasticamente todo 
o contexto social mundial (DIAS, 2010, p. 22-24). Em primeiro lugar, houve a 
substituição progressiva do trabalho humano por máquinas. Com isso, um me-
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nor número de trabalhadores conseguiria produzir uma quantidade maior de 
produtos, contrapondo a produção artesanal ou doméstica. A segunda caracte-
rística é a divisão do trabalho e a necessidade de organização. Progressivamente, 
a especificidade das tarefas na linha de produção passou a aumentar. As tarefas 
repetitivas altamente especializadas tiravam a capacidade de pensamento intelec-
tual do operário, o que fez com que o acesso de crianças e mulheres ao mercado 
de trabalho fosse facilitado.
Figura 4 - Crianças trabalhando em mina de carvão em 1911
Em terceiro lugar, foram realizadas as mudanças culturais no trabalho. Os traba-
lhadores ainda estavam acostumados com a produção rural e artesanal em am-
bientes domésticos. Acostumá-los à nova rotina de trabalho da indústria foi um 
dos grandes desafios desse novo momento, então urbano. Em quarto lugar, houve 
a produção de bens em grandes quantidades. Se antes só era produzido aquilo que 
atendesse à demanda local, passou-se, então, a produzir itens em grande quanti-
dade a preços mais baixos, sem perder a qualidade. Por último, surgem os novos 
papéis sociais: o empresário (industrial) capitalista e o operário. O empresário 
detém os meios de produção e o operário atua com a sua força de trabalho. Para 
o estudioso Karl Marx, a relação interdependente entre esses dois atores da nova 
cena mundial faz parte da essência do sistema capitalista.
REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL
MUDANÇAS
OCORRIDAS 
NOS SÉCULOS
XVII E XIX
Substituição progressiva
do trabalho humano
por máquinas.
A divisão do trabalho
e a necessidade de
sua coordenação.
Mudanças culturais
no trabalho.
Produção de bens em
grande quantidade.
Surgimento de novos
papéis sociais (operários e 
empresários capitalistas ).
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Quadro 2 - Revolução Industrial e suas consequências / Fonte: Dias (2010, p. 22).
O leque de estruturas sociais se tornou muito diversificado. Compreender essa de-
manda abrangente caracterizou-se como um desafio, como afirma Reinaldo Dias:
 “ Partindo de uma realidade rural, em que as funções e relações so-
ciais apresentavam pouca complexidade, as sociedades europeias 
(primeiramente a inglesa) se depararam, no século XIX, com es-
truturas sociais mais complexas, que se desenvolveram em torno 
da nova realidade industrial” (DIAS, 2010, p. 4). 
Para Nelson Dalcio Tomazi, a Sociologia é fruto da Revolução Industrial e “nesse 
sentido é chamada de ‘ciência da crise’ – crise que essa revolução gerou em toda 
a sociedade europeia” (TOMAZI, 1993, p. 1).
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ORIGENS DA 
ANTROPOLOGIA
Em qual imagem você, caro(a) aluno(a), pensa quando ouve falar sobre Antro-
pologia? O que vem à sua mente com relação à profissão de um antropólogo? 
Alguém que estuda a interação cotidiana de uma tribo, de grupos sociais ou, 
quem sabe, que estuda os fósseis dos hominídeos? Se você pensou nessas duas 
hipóteses, não está tão perdido assim. Contudo, as possibilidades que essa área 
oferece vão muito mais além. 
O significado etimológico da palavra antropologia (antrophos – homem; lo-
gos – estudo) seria, literalmente, o estudo do homem. Preocupa-se, portanto, em 
estudar o ser humano na sua completude, especialmente sua relação com a cultura.
De forma sucinta, a Antropologia estuda a realidade humana, assim como 
os seus aspectos biológicos 
e sociais. Poderíamos dizer 
que é uma área que tem a 
função de estudar a nature-
za, as formas de organização 
social e o passado dos seres 
humanos com um objetivo 
bem específico: estabelecer 
o que significa ser homem 
Figura 5 - Trabalho de investigação arqueológica
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e mulher em determinados contextos histórico-sociais. Daí, verificamos que a 
Linguística e a Arqueologia estão interligadas à Antropologia.
Além disso, a Antropologia, enquanto estudo científico, serve para designar a 
ciência que investiga o ser humano de maneira holística (completa, total, inteira), 
combinando, em apenas uma disciplina, metodologias e abordagens das Ciências 
Naturais e das Ciências Humanas e Sociais, assim como da Filosofia. Assim, o 
papel do antropólogo é compreender as dinâmicas dos diversos membros de 
determinada sociedade, o que implica, muitas vezes, tornar-se parte de tradições, 
rituais e costumes da cultura em estudo. A observação e o trabalho de campo 
são as ferramentas metodológicas mais importantes que o antropólogo utiliza 
para compreender quais são os significados compartilhados e qual a dinâmica 
de funcionamento da cultura estudada.
Na Antropologia, conseguimos identificar três categorias principais. Por um 
lado, temos a Antropologia social e cultural, que estuda os seres humanos como 
personagens coletivos que vivem em sociedade e que, portanto, são produtores de 
cultura, mas, ao mesmo tempo, um produto dela. Nesse caso, precisamos especi-
ficarcomo uma das análises mais lúcidas dos problemas da sociedade capitalista e 
da cultura do século XX. Max Horkheimer, Theodor Adorno, Walter Benjamin, 
Herbert Marcuse, Leo Löwenthal, Félix Weil, Gershom Scholem, Eric Fromm e 
Friedrich Pollock foram os fundadores do que ficou conhecido como Escola de 
Frankfurt (a cidade de Frankfurt era, então, um dos focos culturais mais ativos 
da Europa), cujo pensamento continuou em uma nova geração, à qual perten-
cem Jürgen Habermas, Claus Offe e Axel Honneth. Seus críticos os acusaram de 
desenvolver propostas teóricas sem envolvimento na ação prática para desen-
volvê-las. Nesse sentido, George Lukács afirmou que estavam hospedados em 
um hotel com vista para um abismo vazio.
Os trabalhos realizados pelos autores que são membros da Escola de Frank-
furt podem ser considerados como abordagem multidisciplinar ao estudo e à re-
flexão de teorias e fenômenos sociais. Embora mantivessem uma posição adversa 
sobre as principais correntes de pensamento presentes (que tiveram seu início nos 
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séculos passados), os pesquisadores se basearam na teoria crítica do marxismo. 
Estavam inclinados ao idealismo e até ao existencialismo para o desenvolvimento 
de seus postulados. Foram altamente influenciados pela Filosofia crítica proposta 
por Kant e tinham a dialética e a contradição como propriedades intelectuais.
Seu método crítico apareceu como resposta ao fascismo e ao nazismo, mas 
também ao fracasso do marxismo ortodoxo. Esses aspectos, juntamente com a 
incapacidade da classe trabalhadora europeia de combater a hegemonia capitalista, 
tornaram imperativo o fato de repensar o significado de dominação e emancipação, 
colocando os pilares de uma teoria social da ação política em uma base mais sólida.
De acordo com os teóricos dessa escola, a leitura ortodoxa que o marxismo 
havia recebido havia despido o pensamento de Marx sobre seu verdadeiro potencial 
crítico. Era necessário, portanto, rejeitar algumas suposições doutrinárias típicas 
dessa ortodoxia, como a noção de inevitabilidade histórica, a primazia do modo 
de produção no curso da história e a ideia de que a luta de classes e os mecanismos 
de dominação ocorrem somente nos limites privados do processo de trabalho. 
Consequentemente, a linha de pensamento mantida por esses autores desva-
loriza a esfera econômica, direcionando a atenção para verificar a forma de como 
a subjetividade é constituída, bem como para a maneira como as esferas culturais 
e a vida cotidiana representam um novo terreno para a dominação.
A crítica da razão instrumental ocupa lugar importante na teoria crítica. A ra-
zão instrumental é concebida como herança do Iluminismo, movimento que exa-
cerbou o racionalismo que atravessa toda a modernidade. A razão desempenhou 
papel progressivo em toda a modernidade, atingindo seu clímax na Filosofia 
histórica de Marx. A partir desse momento, foi despojada de sua dimensão crítica 
e se tornou elemento de legitimidade a serviço da dominação. O Positivismo é 
a expressão mais contundente dessa tendência, desenvolvido como uma síntese 
de várias tradições hegemônicas de pensamento na teoria social ocidental, cuja 
nota comum é o desenvolvimento de modos de pensar metodológicos baseados 
nas ciências naturais e em princípios dogmáticos de observação e quantificação.
Em sua crítica ao Positivismo, a Escola de Frankfurt demonstrou os mecanis-
mos de controle ideológico do capitalismo avançado. É uma linha de pensamento 
que reduz a ciência a uma metodologia baseada na descrição, classificação e genera-
lização de fenômenos sem preocupar-se em distinguir o essencial do não essencial, 
privando-a de todas as dimensões críticas. O cientista burguês fica impotente para 
agir autonomamente, visto que naturaliza o estado das coisas existentes, ao atuar 
como unidade individual e isolada, sem importar-se em questionar a realidade.
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A teoria crítica também ofereceu novos conceitos que ajudam a analisar o pa-
pel das instituições como agentes de reprodução cultural e social. De acordo com 
essa linha de pensamento, a sociedade avançada reduz a cultura a mercadorias 
gerenciadas por uma indústria de massa, que lhe confere a função de fechar todos 
os sentidos do homem, tornando-o o meio mais eficaz para encobrir a domina-
ção. Em geral, a crise cultural do capitalismo avançado pode ser apontada em três 
aspectos. Em primeiro lugar, a arte como tal se tornou impossível, perdendo sua 
autonomia, autenticidade e, portanto, sua essência. Em segundo, a própria cultura, 
tomada em sua totalidade, deixa sua dimensão negativa, desenvolvendo-se como 
obscurecimento e negação total da consciência. Finalmente, a cultura é organi-
zada como uma instituição superestrutural reduzida à indústria de massa para 
consumo. Ao apontar o elo entre poder e cultura, é revelada a maneira pela qual 
as ideologias dominantes são constituídas por diferentes formações culturais. A 
cultura estabelece, nessa perspectiva, um vínculo particular com a base material 
da sociedade. Isso possibilita compreender problemas, como sua articulação com 
os interesses dos grupos dominantes, sua gênese e os papéis desempenhados na 
constituição das relações de poder e resistência, o que permite a análise de escolas 
e universidades como parte de uma organização mais ampla da sociedade.
Jürgen Habermas
O filósofo e sociólogo Jürgen Habermas chegou aos noventa anos (nasceu em 18 de 
junho de 1929) e permanece como um dos intelectuais mais influentes da Alema-
nha, depois de uma longa carreira como acadêmico e ensaísta, em que contribuiu 
permanentemente para interpretar as notícias políticas de seu país e do mundo.
Para alguns, Habermas foi a eminência cinzenta da revolta de 1968 na Ale-
manha; para outros, ele ainda é o último representante da chamada Escola de 
Frankfurt e é praticamente unânime a ideia de que ele é o último filósofo alemão 
cuja influência excedeu os limites do mundo acadêmico. Seu trabalho acompa-
nha, como comentário permanente, a evolução da Alemanha e do mundo desde 
o pós-guerra, e talvez isso explique o eco que teve em suas obras.
Em 1956, após breve período como jornalista, Theodor W. Adorno, um dos 
principais representantes da Escola de Frankfurt, convidou-o para trabalhar no 
lendário Instituto de Pesquisa Social, que acabara de voltar a funcionar após fe-
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chamento forçado durante a era nazista. A partir daí ele começou a elaborar uma 
série de abordagens para explicar e também renovar a então nova democracia 
alemã. O marxismo permaneceu como ferramenta de análise, como havia sido 
para os fundadores da Escola de Frankfurt, mas deixou de ser, pelo menos para 
ele, uma verdadeira alternativa política.
Os livros de Jürgen Habermas se multiplicaram com ritmo sistemático e 
avassalador nas últimas quatro décadas, em um dos projetos mais atraentes da 
Filosofia da segunda metade do século XX. É difícil que alguém interessado nos 
problemas da sociedade contemporânea não tenha encontrado suas reflexões 
sobre ética e teoria da ação, Sociologia, Filosofia da Linguagem ou teorias da 
argumentação. A isso, devemos acrescentar suas frequentes intervenções na dis-
cussão de problemas mais próximos da vida pública. Alguns dos livros de Ha-
bermas representam marcos na discussão da Filosofia com várias disciplinas da 
análise social e, com menos frequência, estabelecem um diálogo com correntes, 
como a filosofia da língua anglo-saxônica ou as filosofias pós-heideggerianas da 
Alemanha e da França, relativamente longe do ponto de partida de Habermas, a 
teoria crítica da Escola de Frankfurt.
Esse pensador desperta a desconfiança de filósofos do direito e da política 
(como aconteceu em outros países) porque tenta dar uma visão global, alternativa 
às correntes dominantes nessas disciplinas e do sistema jurídico e político das 
sociedades democráticas a partir de sua teoria da ação comunicativa. Mostra 
como sociedades complexas coordenamações no nível normativo por diferen-
tes meios (política, direito) e como esses meios são constituídos por uma tensão 
estrutural entre duas características das normas: as normas são impostas, visto 
que são legais e, ao mesmo tempo, valem desde que essa legalidade seja legítima. 
Coordenamos nossas ações dentro de normas positivas e consideramos aceitável 
a sua força em virtude da sua validade.
A gênese do projeto intelectual de Habermas é a teoria crítica da Escola de 
Frankfurt e, especialmente, seu primeiro programa, quando Horkheimer, nos 
anos 30, abordou as sociedades contemporâneas, concentrando-se na análise de 
suas formas de racionalidade e crítica. Seus primeiros trabalhos, segundo essa 
herança, pretendiam resgatar, em controvérsia com positivismo e hermenêutica 
pós-heideggeriana, uma noção de razão crítica e inseri-la em um projeto polí-
tico-social emancipatório. Como esse projeto não podia permanecer no campo 
filosófico puro, a reconstrução da razão crítica teve de ser desenvolvida no diálogo 
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com as Ciências Sociais. A análise das formas da possível razão crítica deveria, 
portanto, passar pela reconstrução dos processos sociais como formas de raciona-
lização. E, de fato, a discussão científico-social abrange grande parte do trabalho 
de Habermas nas décadas de 70 e 80. Contudo, esse diálogo filosófico com as 
teorias e disciplinas sociais contemporâneas o levou a afastar-se de Marx e da 
primeira geração da Escola de Frankfurt. O local da crítica à economia política 
foi ocupado pela teoria dos sistemas (em discussão com Niklas Luhmann), pela 
análise das formas de integração social (seguindo Durkheim) e pela tipologia das 
formas de ação social (seguindo os passos de Weber e Mead).
Recentemente, tem estudado e escrito sobre Filosofia da Religião, criando, 
assim, um novo conceito adotado por muitos – de uma era pós-secular. Seus 
trabalhos da juventude: Conhecimento e Interesse (1968) e Teoria da ação comu-
nicativa (1981) continuam a ser lidos e estudados. Além de serem seguidos cons-
tantemente por estudos e ensaios nos quais há aproximação constante ao mundo 
atual a partir da tradição filosófica alemã.
Hannah Arendt
Hannah Arendt foi uma filósofa política alemã, que, mais tarde, tornou-se norte-
-americana. Teve origem judaica e é considerada uma das mais influentes filósofas 
do século XX. A privação de seus direitos, a perseguição de pessoas de origem 
judaica na Alemanha, em 1933, bem como o breve encarceramento que sofreu 
no mesmo ano contribuíram para sua decisão de emigrar. Sua nacionalidade foi 
retirada, o que a tornou apátrida até obter a cidadania norte-americana.
Trabalhou como jornalista e professora e publicou importantes obras sobre 
filosofia política, mas não gostava de ser classificada como filósofa. Arendt de-
fendeu o conceito de pluralismo na esfera política e, graças a isso, desenvolveu o 
conceito de igualdade política entre as pessoas. Criticava a democracia represen-
tativa e preferia um sistema de conselhos ou formas de democracia direta. Devido 
ao seu pensamento independente, à teoria do totalitarismo, aos seus trabalhos 
sobre filosofia existencial e sua reivindicação pela discussão política, essa pen-
sadora desempenhou papel central nos debates contemporâneos. Como fonte 
de descrições, empregou, além de documentos filosóficos, políticos e históricos, 
biografias e obras literárias. Seus trabalhos mais importantes são:
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A Condição Humana: pensamento baseado no nascimento do indivíduo e 
não na morte, como a de Heidegger. Foi publicado em 1958 e, nele, a pensadora 
se dedicou principalmente à filosofia e desenvolveu a ideia do nascimento, na 
qual inicia a capacidade de fazer um novo começo. O indivíduo tem a tarefa de 
configurar o mundo, em conexão com outras pessoas. Refere-se às condições 
básicas da vida ativa do ser humano, que Arendt delimita: trabalhar, produzir, agir.
A Vida do Espírito: trabalho desencadeado e inspirado pelas críticas do juízo 
kantiano. Ela planejava estudar em profundidade as três atividades do espírito: 
pensamento, vontade e julgamento, embora sempre ligadas à ação e, portanto, 
sem deixar de pensar em política. Logo, todo o interesse no pensamento deve 
estar centrado na ação, compreendê-la e pensar no que é feito.
Sobre a Violência: o termo “violência”, em seu sentido mais elementar, refere-
-se aos danos causados às pessoas por outros seres humanos. As experiências tota-
litárias do século XX estenderam esse uso da violência a uma escala e intensidade 
sem precedentes na história da humanidade – e é nesse contexto que esse livro 
de Hannah Arendt pode ser enquadrado. Para a Filosofia Política, a violência em 
estudo tem duas faces: a violência organizada do Estado ou a que se rompe à sua 
frente. Isso levou muitos a pensar que a violência é, principalmente, uma forma 
de exercício de poder. A posição inicial da autora em Sobre a Violência consiste 
no estudo aprofundado da violência política em suas encarnações extremas no 
mundo contemporâneo e em sua cuidadosa separação entre violência e poder 
político. Este é o resultado de uma ação cooperativa, enquanto a violência do 
século XX está ligada à ampliação da destruição causada pela tecnologia.
Michel Foucault
Historiador, psicólogo, filósofo e teórico social, Michel Foucault foi um dos grandes 
pensadores do século XX, cujas ideias geraram grande impacto e exerceram muita 
influência em todo o ambiente cultural francês da época. Ele foi reconhecido mun-
dialmente por suas ideias sobre instituições sociais, especialmente prisões, sistema 
de saúde e Psiquiatria, bem como por seus estudos sobre sexualidade humana.
Nascido em 15 de outubro de 1926 na cidade de Poitiers, França, e sob o nome de 
Paul-Michel Foucault, o pensador francês cresceu em um ambiente formal no qual 
estudos e conhecimentos eram considerados essenciais – seu pai era um renomado ci-
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rurgião francês. Após histórico acadêmico cheio de altos e baixos, Foucault conseguiu 
entrar na famosa École Normande Supérieure, reconhecida por ser um dos berços dos 
melhores especialistas e pensadores de humanidades da França. Lá, sua permanência 
foi um dos estágios mais difíceis. Depois de sofrer depressão e várias tentativas de 
suicídio, ele ficou nas mãos de um psiquiatra por longo tempo. Durante esse período, 
adquiriu paixão pela Psicologia, o que o levou a formar-se em Psicologia e Filosofia.
Após várias outras vivências, Foucault retornou à França com a intenção de 
concluir seu doutorado, durante o qual aceitou uma posição no Departamento de 
Filosofia da Universidade Clermont-Ferrand. Durante esse período de sua vida, 
ele se tornou um escritor prolífico, com a maioria de seus textos focados em Psi-
cologia, Psiquiatria e saúde mental. Enquanto suas publicações subsequentes se 
concentraram em questões relacionadas à política, questões sociais e sexualidade. 
Durante os anos em que se interessou pela corrente estruturalista, Foucault 
foi considerado parte da corrente, tendo o mesmo nível de outros grandes pen-
sadores, como Jacques Lacan ou Claude Lévi-Strauss. Apesar disso, ele rejeitou 
completamente a ideia de ser considerado defensor do estruturalismo. Embora, 
no início, tenha se concentrado principalmente em questões de saúde mental e 
Psicologia, bem como nas instituições que a controlam, suas contribuições mais 
importantes e reconhecidas estão no campo das Ciências Sociais e política.
Foucault viveu em um tempo de grandes mudanças e convulsões sociais e, por 
isso, estava muito interessado no presente ao qual ele pertencia, fazendo reflexões 
excepcionais sobre os sistemas e as relações de poder da época. Antes de tudo, é ne-
cessário especificar que, ao falar sobre poder, esse pensador não se ateve apenas ao 
governo ou às instituições, mas também às relações de poder que ocorrem em todas as 
áreas da sociedade, conhecidas como poder social. Este é constituído por uma signifi-
cativaparcela de pequenas esferas de poder, localizadas abaixo das grandes potências, 
como o governo ou a igreja. Para ele, essas esferas de poder estão em níveis diferentes 
e dependem umas das outras para se manifestar de maneira sutil e disfarçada.
No entanto, segundo o próprio pensador, o principal obstáculo à realização de 
uma revolução é a manutenção das relações de poder, de acordo com o que acontecia 
na época, o que exigia examinar e analisar essas relações por uma natureza social.
Em uma de suas publicações mais conhecidas, A Microfísica do Poder (1980), 
Foucault conduziu uma revisão das relações de poder por meio de duas dinâ-
micas de domínio diferentes: contrato, em que se materializa no poder de tipo 
opressor e jurídico, e se baseia em sua legitimidade; e dominação, que se estabe-
lece em termos de repressão e submissão.
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Foucault insistia no ponto de vista de que o conflito não está apenas no poder 
do governo, mas também em todas as subestruturas com relações de poder que 
o sustentam. Seguindo essa ideia, ele persistia que a análise das relações de poder 
não deve começar pelo poder do governo, que é necessário, então, começar pelas 
subesferas menores de poder, que o alimentam e possibilitam sua manutenção. 
Por fim, Foucault determinou que o principal papel dos pensadores deve estar 
dentro da sociedade, acompanhando-a na luta contra as formas de poder que 
nela existem. Suas principais obras são: 
A História da Loucura (1961): primeiro trabalho relevante de Foucault, no 
qual analisou e revisou o tratamento dado ao conceito de loucura ao longo da 
história ao enfatizar a evolução do tratamento dado ao paciente.
As Palavras e as Coisas (1966): nesse trabalho, o pensador fez uma reflexão 
sobre como todos os períodos históricos são distinguidos, apresentando uma 
série de condições fundamentais da verdade, que estabelecem o que é aceitável e 
como essas condições evoluem e mudam no decorrer do tempo.
A Arqueologia do Saber (1969): outra das obras mais relevantes do pensador 
francês, na qual realizou um exame ou uma análise da funcionalidade e do poder 
das frases enquanto unidades básicas de fala.
Vigiar e Punir (1975): nessa obra, por meio do estudo do direito penal e es-
pecificamente do regime penitenciário do século XVIII ao século XIX, Foucault 
estudou a presença de relações de poder, tecnologias de controle e a microfísica do 
poder presente em nossa sociedade. Ele desenvolveu duas teses: a primeira é que 
a punição sofreu mutações, o que implica não em sua melhoria ou piora, não sua 
humanização ou racionalidade, como normalmente é afirmado, mas à transforma-
ção, que responde a mudanças político-econômicas das sociedades ocidentais. Se 
trata, portanto, de um estudo de métodos punitivos ante a economia e a política. 
A segunda baseia-se na afirmação de que há um conjunto de elementos e técnicas 
materiais que servem como armas, canais de comunicação e pontos de apoio às 
relações de poder e de saber, que envolvem os corpos humanos e os dominam, 
tornando-os objeto de conhecimento. A tese é de que as práticas penais não são 
consequências das teorias jurídicas, mas um capítulo da anatomia política.
História da Sexualidade (1976-1984): o filósofo materializou esse trabalho 
em três volumes diferentes, nos quais o uso da sexualidade é revisto como regi-
me de poder, bem como o uso de prazeres sexuais ao longo da história. Quando 
Foucault morreu, em 1984, escrevia o quarto volume dessas reflexões, focadas na 
sexualidade e no cristianismo.
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PRINCIPAIS ESCOLAS
E CONCEITOS DAS 
CIÊNCIAS HUMANAS
– HISTÓRIA
(Idade Média, Idade Moderna 
e Idade Contemporânea)
Idade Média
Quando estudamos sobre a Idade Média, falamos de um período histórico que 
vai do século V ao XV. São dez séculos de história, que começou com a queda do 
Império Romano do Ocidente, no ano de 476 d.C., e terminou no final do século 
XV, em 1492, com a descoberta do continente americano.
Sobre o período medieval, precisamos ater-nos exclusivamente aos eventos e 
acontecimentos que ocorreram na Europa. O motivo é muito simples: as carac-
terísticas que nos levam a assim denominar um espaço de tempo de 1000 anos 
respondem a características que só aconteceram no continente europeu. Para al-
guns historiadores, classificar a história em períodos tem caráter eminentemente 
eurocêntrico, como se não houvesse acontecido nada nos demais continentes. 
Mesmo assim, a Idade Média foi uma época histórica que deixou marcas profun-
das no continente. Foi caracterizado por importantes acontecimentos históricos, 
com grandes mudanças culturais, políticas, religiosas, sociais e econômicas, tor-
nando-se um dos períodos mais fascinantes da história.
A passagem da Idade Antiga para a Idade Média não foi algo imediato, mas 
se desenvolveu gradualmente por meio da transição em diversas áreas. Na eco-
nomia, o modelo de produção escrava foi substituído pelo feudalismo; na so-
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O feudalismo é um sistema político, social e econômico definido pela troca de serviços 
e rendas entre o vassalo (servo) e o senhor feudal (suserano); sistema em que a terra e o 
direito eram cedidos ao vassalo em troca de serviços e rendas.
Fonte: adaptado de Dicio ([2019], on-line)³. 
explorando Ideias
ciedade, a cidadania romana desapareceu e surgiram os estamentos medievais; 
na política, ocorreu uma decomposição das estruturas centralizadas romanas e 
a dispersão de poder entre os povos bárbaros; e, na cultura, houve a substituição 
da cultura clássica pelo teocentrismo cristão ou muçulmano.
Tradicionalmente, dividimos o período em duas partes: Alta Idade Média, que 
abrange o período do século IX ao XI. Nesse momento, houve o crescimento do 
feudalismo ou do modo de produção feudal, baseado em uma força de traba-
lho servil e focada nos senhorios ou domínios senhoriais. Politicamente, é um 
momento de descentralização do poderio, no qual os reis têm pouco poder, se 
comparados aos grandes senhores feudais. A Baixa Idade Média, por sua vez, 
começa no início do século XII e vai até meados do século XV. Foi um momento 
de reabertura, no qual cidades e atividades comerciais lentamente ganharam 
importância novamente e um novo grupo social emergiu: a burguesia. Além 
disso, começaram a desenvolver-se as primeiras transformações que, mais tarde, 
fariam surgir o capitalismo na Idade Moderna.
A Filosofia, durante a Idade Média, foi uma ciência intimamente relacionada 
à religião, o que tornava difícil sua separação com a Teologia. Entre os temas 
mais discutidos estavam a relação entre fé e razão, liberdade do homem e plano 
divino e a interpretação, a partir desse novo prisma religioso, dos ensinamentos 
de grandes filósofos pré-cristãos, como Platão e Aristóteles.
Idade Moderna
A passagem da Idade Média para a Idade Moderna não aconteceu de forma 
abrupta. Não foi uma mudança provocada por uma revolução motivada por 
mudanças radicais na sociedade nem pela monarquia ou pelas propriedades 
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eclesiásticas que dominaram na Idade Média e queriam continuar a exercer o po-
der; pelo contrário: o passo a caminho da Idade Moderna foi uma lenta e gradual 
transformação, que tomava forma desde os últimos séculos da Alta Idade Média. 
Com isso, novas ideias começaram a aparecer, como o humanismo, a burguesia, 
os estados e as nações, as cidades, as artes e as novas correntes de pensamento.
O aumento demográfico impulsionou o desenvolvimento de cidades e mo-
vimentos populacionais (camponeses que migravam para a cidade), o que deu 
origem a novos grupos sociais. Na área urbana, a alta burguesia comercial e 
financeira se tornou um grupo social com grande poder econômico e, além dis-
so, passou a participar de cargos governamentais e cresceu assustadoramente, 
facilitado pelo crescimento das cidades e pelo aumento do comércio. Embora 
monarcas, clérigos ou nobres ocupassem posições dominantes, seus poderes 
econômicos foram superados, emmuitos casos, pela alta burguesia.
Houve profundas mudanças nas ideias e concepções dos homens sobre diver-
sos temas. Foi a época do desenvolvimento do humanismo, que rejeitava precei-
tos teológicos e abraçava o 
pensamento crítico, que de-
fendia o individualismo do 
homem. O Renascimento 
marcou o salto da era me-
dieval para a era moderna 
e trouxe consigo grandes 
transformações culturais 
não apenas nas artes, mas 
também nas ciências, nas le-
tras e nas formas de pensar.
Esse período se caracteriza pela rejeição de muitos dos princípios do conhe-
cimento medieval e pela admiração da antiguidade greco-romana. Teve como 
objetivo recuperar o conhecimento clássico, no qual buscava uma nova escala 
de valores para o indivíduo. Diante da sociedade medieval, em que tudo girava 
em torno do conceito de Deus, durante o Renascimento, o homem se tornou o 
centro do universo ao utilizar a razão como fonte de conhecimento e ao buscar 
a verdade por meio da reflexão pessoal e da pesquisa.
Figura 13 - Estátua de Davi, realizada por Michelangelo.
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Mecenas: pessoa que patrocina as artes, a ciência ou o ensino.
Fonte: o autor.
explorando Ideias
Trouxe, além disso, como marcas essenciais, a redescoberta das culturas clássicas 
grega e romana, o humanismo e o antropocentrismo. A arte renascentista girava em 
torno do ser humano, mas isso não significa que deixou de ser religiosa. Além da Igre-
ja, surgiram novos mecenas, como os mercadores ricos e os membros da monarquia.
Graças ao novo patrocínio, a arte deixou de desempenhar funções exclusivamente 
religiosas e surgiram novos gêneros e temas retratados – como retratos, nudezes, 
paisagens e figuras mitológicas. Na arquitetura, além de igrejas, passaram a ser 
construídos palácios, prefeituras e universidades.
No âmbito religioso, surgiu, com grande importância, a Reforma Protestante, 
que representou uma cisma gerada na Igreja Católica no século XVI e teve importan-
tes consequências políticas, econômicas e religiosas, 
levando à criação do Cristianismo Protestante.
Apesar dos movimentos anteriores com pedi-
dos de mudança para a Igreja Católica, a Refor-
ma começou em 1517, quando o monge católico 
alemão Martinho Lutero escreveu suas noventa 
e cinco teses. Ele defendia uma ampla reforma 
da Igreja Católica, que era a autoridade religiosa 
dominante na Europa Ocidental.
Suas palavras de protesto se concentraram no estado espiritual e material da 
Igreja, especialmente sua vasta riqueza, poder e corrupção generalizada de alguns 
de seus sacerdotes. Essas críticas não eram novas e Lutero não foi o primeiro a 
propor mudanças. Contudo, a então recente invenção da impressão possibilitou 
que as suas palavras se espalhassem rapidamente pela Europa, onde alcançaram 
grande impacto. Uma de suas publicações mais importantes foi uma tradução 
alemã da Bíblia, que permitiu que muitas pessoas a lessem pela primeira vez, 
porque, até então, tinha sido escrita principalmente em latim e só podia ser lida, 
até aquele momento, por padres. A partir daí, pessoas comuns puderam formar 
suas próprias opiniões sobre a fé.
Figura 14 - Martinho Lutero
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Lutero tinha a intenção de reformar a Igreja e não de dividi-la. Sua visão do 
cristianismo, no entanto, contrapunha-se aos princípios básicos da Igreja e a au-
toridade do papa, o que colidia com a hierarquia eclesiástica e, em 1521, o monge 
foi excomungado devido ao crescente movimento protestante pelo Papa Leão X.
A Reforma foi, sem dúvida, um dos eventos mais importantes da história europeia 
e mundial, que levou à formação de todas as vertentes do protestantismo que existem 
hoje. Também gerou violência entre os dois poderes para a supremacia na Europa 
durante séculos. Em alguns lugares, essas feridas ainda não sararam completamente.
No campo político, o Absolutismo surgiu como forte sistema de governo. 
Desde o final da Idade Média até o século XVIII, a forma de governo que carac-
terizou a maioria dos estados europeus foi a monarquia absoluta, na qual o rei 
controlava todos os poderes do Estado e a sua legitimidade era considerada um 
direito divino. O monarca tinha, em suas mãos, os poderes executivo, legislativo 
e judiciário, o comando do exército e das instituições e toda a administração do 
Estado. Além disso, todas as instituições que historicamente foram usadas para 
aconselhar o rei foram desprezadas, como aconteceu com as cortes. Tal sistema 
dependia fundamentalmente da nobreza, que, como grupo dominante, tinha as 
principais posições e privilégios, bem como a propriedade das terras. A burguesia, 
ainda com poder escasso, crescia aos poucos em influência.
Das monarquias absolutas da Idade Moderna, temos o protótipo mais claro 
em Luís XIV (Rei Sol), rei da França, cujo go-
verno também serviu de modelo para outros 
soberanos. O monarca francês chegou ao tro-
no depois de um período de instabilidade em 
seu país e no qual os presidentes do Conselho 
Real tiveram grande peso. Por essa razão, Luís 
XIV subiu ao trono com a firme convicção de 
governar de forma personalística, individua-
lista, confiando na crença do tempo em que os 
reis governavam por direito divino e recebiam 
seu poder de Deus. Por essa razão, acreditava 
que seu governo deveria ser justo e pessoal. 
Dele vem a frase: “O Estado sou eu”.
Desde o início do século XV, o crescimento da economia europeia impulsionou 
a recuperação do comércio e aumentou a demanda por alguns bens importados. 
Figura 15 - Rei Luís XIV
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A transformação mais notável ocorrida nos séculos XV e XVI foi a expansão 
comercial da Europa, que impulsionou a busca de novos mercados fora de seu 
território, o que resultou em viagens de exploração marítima.
A burguesia comercial e mercantil das cidades europeias impulsionou a ex-
pansão marítima. As monarquias, que consolidavam seu poder ao organizarem 
um aparato complexo de governo, também investiram fortemente nesse novo 
comércio para sustentar as crescentes despesas do Estado. As áreas comerciais 
mais importantes foram o Mediterrâneo e o Mar do Norte. A partir daí, as rotas 
comerciais foram expandidas, conectando-as à Europa Oriental, à Ásia e à África. 
Os avanços científicos e as novas técnicas de navegação facilitaram o desenvol-
vimento de novas expedições, como a de Cristóvão Colombo, em 1492, que am-
pliou o mundo conhecido. Podemos afirmar, ainda, que esse processo de expan-
são culminou, no século XIX, com o imperialismo e os processos de colonização.
Idade Contemporânea
A Idade Contemporânea é o período atual em que vivemos. Iniciada com a Re-
volução Francesa, com a queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, essa fase, que 
vem depois da Idade Moderna, é também conhecida como pós-modernidade.
Nesse intervalo, o mundo passou por profundas transformações sociais, cul-
turais, políticas e econômicas. É uma fase caracterizada pelo nascimento da in-
dústria, pelos avanços da pesquisa científica, pelo aprimoramento da tecnologia 
e pela constante evolução dos meios de comunicação e transporte. Seu início foi 
bastante marcado pela Filosofia iluminista e deu origem à Revolução Francesa, 
que enfatizou a importância do uso da razão acima de tudo.
O desenvolvimento e a consolidação do regime capitalista no Ocidente e, 
consequentemente, as disputas pelas grandes potências europeias pelos territó-
rios, pelas matérias-primas e pelos mercados consumidores também marcam o 
período. A configuração do poder político burguês também foi acompanhada 
pelo desenvolvimento econômico capitalista, estabelecido como uma forma de 
organização econômica para todos os continentes do mundo.
Outra característica da época contemporânea é a formação dos Estados 
nacionais e o conceito de nação ou nacionalismo, que buscava preservar a iden-
tidade de cada país, o que originou inúmeras disputas territoriais na Europa e 
nas zonas coloniais. As duas grandes guerras mundiais que ocorreram no século 
XX tiveram suas origens no nacionalismo.U
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Figura 16 - (a) Saudação nazista a Hitler durante o hino da nação, em 9 de outubro de 1935; 
(b) Soldados na trincheira na Primeira Guerra Mundial
Observe algumas características que diferem a Idade Contemporânea dos outros 
períodos:
• A consolidação do capitalismo como sistema econômico.
• O desenvolvimento industrial.
• A ascensão política e econômica da burguesia industrial, principalmente nos 
países europeus.
• A consolidação do regime democrático a partir de meados do século XIX.
• As disputas entre as grandes potências europeias, que brigavam por mercados 
consumidores, fontes de matéria-prima e conquista de territórios. Originaram 
movimentos conhecidos como Imperialismo e Neocolonialismo.
• O amplo desenvolvimento tecnológico, principalmente a partir de meados do 
século XX.
• No início do século XX, os Estados Unidos avançaram como potência mundial.
• O surgimento da globalização da economia a partir de meados do século XX.
O grande historiador Eric J. Hobsbawm, falecido em primeiro de outubro de 2012, 
descreveu as principais características dessa fase por meio de quatro obras essen-
ciais: o primeiro analisa as transformações sociais e políticas que acompanharam a 
transição do Antigo Regime para a Europa burguesa – A Era das Revoluções (1789-
1848). O segundo livro tem foco na era do esplendor do capitalismo industrial e a 
consolidação da burguesia como classe dominante – A Era do Capital (1848-1875). 
O terceiro estuda o advento do imperialismo e termina com o surgimento de con-
flitos entre as grandes potências – A Era dos Impérios (1875-1914). Por último, – Era 
dos Extremos (1914-1991) – relata o período das duas grandes guerras até o início 
dos anos noventa, com as suas consequências, crises e incertezas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final de mais uma unidade com um pouco mais 
de conhecimento sobre as Ciências Humanas. Vimos como foi lenta e gradual a 
passagem do mito ao pensamento filosófico: foram séculos de busca do ser hu-
mano para abandonar os relatos míticos, os quais baseavam-se em divindades ou 
forças sobrenaturais para explicar os fenômenos e acontecimentos da vida. Será 
que isso acontece ainda hoje? Em pleno século XXI, podemos afirmar que cem 
por cento das pessoas se utilizam apenas da razão para explicar os fatos? Será 
que assassinamos o pensamento mítico? Será que os nossos valores são regidos 
apenas pelo pensamento racional? E a religião? Deixo essas questões para que 
você exercite a sua reflexão filosófica.
Estudamos toda a complexidade do pensamento filosófico, desde a sua ori-
gem até o idealismo alemão no século XIX. Nos pré-socráticos, verificamos a 
insistência que tinham em afastar-se das explicações mitológicas de sua época, 
buscando os primeiros passos para conseguir as respostas de forma mais racional. 
Em Sócrates, conhecemos o método indutivo, muito divulgado e utilizado por sé-
culos. Sobre Platão, vimos que o Mito da Caverna é a sua síntese teórica acerca do 
mundo das ideias. Sair da caverna é viver uma vida de pensamento racional e de 
felicidade. Significa fugir da escuridão da ignorância (hoje, poderíamos chamar 
de senso comum?) para um estágio de luz e sabedoria. Você já saiu da caverna?
Compreendemos, ainda, a importância que a Filosofia escolástica teve no 
pensamento do cristianismo ocidental, tendo como principal representante San-
to Agostinho. Na verdade, muito do que se encontra hoje na doutrina da igreja 
cristã dos nossos dias é resultado das ideias dessa escola tão distante na questão 
temporal. A Reforma Protestante, iniciada oficialmente por Martinho Lutero 
também foi influenciada por esse movimento escolástico. Posteriormente, vimos 
brevemente diversos períodos históricos até chegarmos à idade contemporânea, 
com os seus desafios e fatos mais importantes que marcam a nossa época.
140
na prática
1. A filosofia surgiu a partir do momento em que o ser humano deixou a escuridão 
primitiva – na qual utilizava mitos para explicar eventos do universo – e começou 
a usar a razão para responder tanto as perguntas antigas quanto as novas que se 
apresentavam. Tendo em vista essa descrição e o conteúdo que estudamos nesta 
unidade, descreva o que é mito.
2. Sócrates dividiu o conhecimento em duas grandes áreas: a do mundo exterior e a do 
mundo interior. O homem é, em si, um mundo tão profundo e rico quanto o mundo 
da natureza. Os filósofos anteriores, sem exceção, dedicaram-se ao conhecimento do 
mundo físico e, por esse motivo, sempre se perguntavam sobre os últimos elementos 
constitutivos da realidade, a possibilidade de movimento, a formação do universo etc. 
Os sofistas fizeram uma alusão passageira ao homem, colocando-o como critério de 
todo o conhecimento; no entanto, em Sócrates encontramos a preocupação com a 
palavra “retórica” – a arte de persuadir –, não com o próprio homem. Este filósofo foi 
o primeiro dedicado à pesquisa do homem, que abriu um novo campo para a reflexão 
filosófica. Tendo em vista o que aprendemos sobre o pensamento socrático nesta 
unidade, escreva em que consistia o método indutivo de Sócrates.
141
na prática
3. A Patrística é caracterizada pela defesa racional do cristianismo contra os ataques da 
filosofia pagã e pela aceitação de verdades filosóficas que concordam com a revela-
ção cristã. Sua importância reside no fato de que é a primeira tentativa de unificar a 
religião e a filosofia cristã. Os primeiros pensadores cristãos usaram a Filosofia para 
explicar racionalmente seus dogmas.
Quem foi o principal filósofo da Patrística? Qual a sua relevância para o período?
4. Renascimento é o nome dado no século XIX a um amplo movimento cultural que 
ocorreu na Europa Ocidental durante os séculos XV e XVI. Foi um período de tran-
sição entre a Idade Média e o início da Idade Moderna. Seus principais expoentes 
estão no campo das artes, embora também tenha havido renovação nas Ciências 
Naturais e Humanas. Ao considerar o que foi abordado nesta unidade, quais são as 
características do Renascimento?
5. O Absolutismo monárquico surgiu como uma evolução no acúmulo do poder das 
monarquias, que aumentou a partir da Alta Idade Média e atingiu seu auge na mo-
dernidade. Desenvolva um texto dissertativo no qual descreva o que é o Absolutismo.
142
aprimore-se
AS VERDADES DA RAZÃO
Raciocinar não é algo que aprendemos em solidão, mas algo que inventamos ao nos 
comunicar e nos confrontar com os semelhantes: toda razão é fundamentalmente 
conversação. “Conversar” não é o mesmo que ouvir sermões ou atender a vozes de 
comando. Só se conversa - sobretudo só se discute - entre iguais. O hábito filosófico 
de raciocinar nasceu na Grécia, junto com as instituições da democracia [...] Afinal 
de contas, a disposição a filosofar consiste em decidir-se a tratar os outros como se 
também fossem filósofos: oferecendo-lhes razões, ouvindo a deles e construindo a 
verdade, sempre em dúvida, a partir do encontro entre umas e outras. Em resumo, 
buscando a verdade.
Essa é justamente a missão da razão cujo uso todos nós compartilhamos. [...] 
Na sociedade democrática, as opiniões de cada um não são fortalezas ou castelos 
para que neles nos encerremos como forma de autoafirmação pessoal: “ter” uma 
opinião não é “ter” uma propriedade que ninguém tem o direito de nos arrebatar. 
Oferecemos nossa opinião aos outros para que a debatam e por sua vez a aceitem 
ou refutem, não simplesmente para que saibam “onde estamos e quem somos”. E é 
claro que nem todas as opiniões são igualmente válidas: valem mais as que têm me-
lhores argumentos a seu favor e as que melhor resistem à prova de fogo do debate 
com as objeções que lhe sejam colocadas.
[...] A razão não está situada como um árbitro semidivino acima de nós para re-
solver nossas disputas; ela funciona dentro de nós e entre nós. Não só temos que 
ser capazes de exercer a razão em nossas argumentações como também – e isso é 
143
aprimore-semuito importante e, talvez, mais difícil ainda – devemos desenvolver a capacidade 
de ser convencidos pelas melhores razões, venham de quem vierem. [...] A partir 
da perspectiva racionalista, a verdade buscada é sempre resultado, não ponto de 
partida: e essa busca inclui a conversação entre iguais, a polêmica, o debate, a con-
trovérsia. Não como afirmações da própria subjetividade, mas como caminho para 
alcançar uma verdade objetiva por meio das múltiplas subjetividades.
Fonte: Savater (2001, p. 43-44).
O MUNDO E A CONSCIÊNCIA
O dualismo cartesiano e a doutrina da total separação das substâncias levam, no li-
mite, a um estranhamento da consciência em relação ao mundo. Mas hoje sabemos 
que a consciência não pode ser posta como uma entidade absolutamente autôno-
ma e separada, a não ser em termos estritamente metodológicos. Por isso somos 
levados a considerar não apenas o problema das relações entre a consciência e o 
mundo, como também a questão, para nós talvez mais premente, da consciência no 
mundo. Pois o progresso e a obtenção da sabedoria através do correto exercício da 
razão são inseparáveis da consideração da história da humanidade, em que Descar-
tes toca apenas superficialmente.
Hoje sabemos que todas as realizações humanas, e mesmo a relação do homem 
com aquilo que eventualmente o ultrapassa e o transcende, passam pela mediação 
da história, que é necessariamente o nosso contexto de conhecimento e de ação.
144
aprimore-se
Isso nos leva a procurar saber, principalmente diante do desenvolvimento histórico 
dos últimos tempos, até que ponto o homem é senhor de suas próprias realizações. 
Há elementos para acreditar que, embora os meios que o progresso técnico e cientí-
fico colocou à disposição dos homens tenham um alcance incalculável, a capacidade 
de servir-se de tais meios para promover os fins mais compatíveis com a felicidade e a 
dignidade humanas é limitada. Para Descartes, a sabedoria deveria aproximar meios 
e fins. Mas ele concebia essa relação sem a mediação significativa do desenvolvimen-
to histórico que obrigatoriamente aí se interpõe. A experiência nos ensinou que o 
progresso do saber nem sempre caminha junto com o progresso da sabedoria e que 
os homens por vezes parecem ter dificuldades para lidar com os frutos do conheci-
mento: os produtos da ciência ameaçam voltar-se contra nós. E essa uma perspectiva 
que contraria completamente as mais autênticas aspirações da filosofia cartesiana, 
mas que, ainda assim, se coloca como distorção a ser compreendida a partir do ideal 
de conhecimento como domínio e posse da natureza.
Desse modo, podemos dizer que a filosofia de Descartes projeta a luz e a som-
bra. A consciência humana, através do saber e dos produtos desse saber, pode ilu-
minar o mundo e a vida. Mas, se o progresso do saber não estiver vinculado aos 
parâmetros de autonomia, liberdade, dignidade e felicidade, o futuro do homem 
pode apresentar-se como um horizonte sombrio.
Entre essas duas faces da herança cartesiana cabe ao homem escolher.
Fonte: Silva (1993, p. 103-104).
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eu recomendo!
A República
Autor: Platão
Editora: : Lafonte
Sinopse: A República é a obra mais importante de Platão. Nesse livro, 
o autor aborda diversos dos seus pensamentos políticos, afirmando 
que a República seria o caminho para uma sociedade melhor.
livro
A Era das Revoluções
Autor: Eric J. Hobsbawn
Editora: Paz e Terra
Sinopse: Em A Era das Revoluções, Habsbawn (considerado um dos 
melhores historiadores de nosso tempo) realiza um excelente pa-
norama dos acontecimentos históricos ocorridos entre 1789 e 1848. 
livro
Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: um filme que retrata brilhantemente a transição para a 
era industrial. De forma irônica, faz uma crítica aos “avanços” do 
capitalismo.
filme
Site com várias entrevistas com pensadores contemporâneos das mais diversas 
áreas.
https://www.institutocpfl.org.br/cafe-filosofico/
conecte-se
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A RELIGIÃO NAS
CIÊNCIAS 
HUMANAS
e sociais
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Ciências Humanas e Sociais e o 
conceito de religião • Religião: ópio do povo, em Karl Marx • Religião: morte de Deus, em Nietsche • 
Religião: uma projeção, segundo Freud • Religião: existencialismo e liberdade em Sartre.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
• Verificar a relação entre as Ciências Sociais e a religião • Compreender o conceito de religião para Karl 
Marx • Estudar a teoria de Friedrich Nietzsche sobre a concepção de Deus • Analisar o conceito de religião 
para Sigmund Freud • Compreender o conceito de Deus na Filosofia existencialista de Jean-Paul Sartre.
PROFESSOR 
Esp. Pablo Araya Santander
INTRODUÇÃO
Olá, caro(a) aluno(a)! Nesta unidade, estudaremos a relação existente entre 
as Ciências Humanas e Sociais diante do conceito de religião e da existência 
de Deus para alguns pensadores. Deve ficar claro que o enfoque dado aos 
fatos que chamamos de transcendentes na abordagem religiosa terão olhar 
altamente ligado à visão da religião como um fenômeno.
Num primeiro momento, analisaremos o papel e a função da religião 
como um fenômeno social e as suas principais características. Para isso, 
buscaremos a conceituação de um dos maiores especialistas da sociologia 
da religião de todos os tempos: Émile Durkheim. É vital compreendermos 
a forma como esse tema funciona e as suas principais características para 
podermos verificar a sua influência no meio social e como se relaciona com 
os seres humanos na sua individualidade.
Analisaremos, em seguida, a visão de Karl Marx sobre a religião e a 
sua famosa frase “a religião é o ópio do povo”. Veremos quais são as razões 
para que esse autor tenha percebido a religiosidade como uma droga que 
paralisa o ser humano diante das situações da vida. Em terceiro lugar, veri-
ficaremos a conceituação de Friedrich Nietzsche acerca do Deus represen-
tado na modernidade em que ele vivia. Devemos ter cuidado para analisar 
tal questão de forma a não interpretar a teoria desse autor com um viés 
religioso preconceituoso, no qual nos vemos imergidos em nossos dias de 
polarização. Após isso, discorreremos sobre a religião como uma projeção 
ou prospecção dos desejos humanos conforme a teoria de Sigmund Freud. 
Abordaremos, por fim, a filosofia existencialista, em especial, sobre as ideias 
de Jean-Paul Sartre e o que pensava sobre Deus e religião. Veremos que a 
concepção de liberdade é muito importante para esse autor e como ela é vi-
tal para o entendimento da relação entre o ser humano e a transcendência.
Desejo-lhe bons estudos!
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CIÊNCIAS HUMANAS E
SOCIAIS E O CONCEITO
DE RELIGIÃO
As crenças e práticas religiosas não se manifestam apenas como experiências 
íntimas, subjetivas e simbólicas da vida privada das pessoas. O aspecto religioso 
e espiritual habita também na esfera pública e afeta a participação das pessoas 
religiosas nas controvérsias e nos desafios do nosso tempo.
A religião desempenha papel importante na sociedade, nas políticas dos 
governos e na vida das pessoas. Na concepção de Émile Durkheim, as religiões 
representam um conjunto de sistemas coordenados de crenças e práticas es-
pecíficas que definem o sagrado, ou seja, prescrevem uma ordem sobre certos 
fenômenos ou elementos cuja existência ocorre em algo transcendental, fora 
da realidade da vida cotidiana.
Figura 1 - A diversidade religiosa é objeto de estudo das Ciências Sociais 
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O que é definido como sagrado é, muitas vezes, colocado em um plano ina-
cessível ou proibido. A partir daí, são geradas crenças e práticas que estão liga-
das umas às outras, que formam uma comunidade moral única, chamada Igreja, 
caracterizada por ter um conjunto de crenças específicas que são pronunciadas 
por seus líderes e aceitas por seus adeptos.
Um dos propósitos mais importantes das religiões é regular o relacionamento 
de seus adeptos com o que é definido como sagrado em um contexto espiritual,que pode ser representado por um ou vários deuses. As grandes religiões, com 
algumas exceções (como budismo e hinduísmo), são monoteístas. Ao estabele-
cer o sagrado, as religiões definem, ao mesmo tempo, o que é profano, ou seja, 
delimitam os comportamentos e as práticas que são proibidas em seus códigos e 
suas condutas morais. É, por isso, que a religião, por meio de múltiplas proibições, 
exerce enorme influência sobre o comportamento das pessoas, e, por conseguinte, 
sobre a sociedade. Segundo Durkheim,
 “ Todas as crenças religiosas conhecidas [...] supõe uma classificação 
das coisas [...] em duas classes ou em dois gêneros opostos, designa-
dos [...] pelas palavras profano e sagrado. A divisão do mundo em 
dois domínios, compreendendo, um tudo o que é sagrado, e outro 
tudo o que é profano, tal é o traço distintivo do traço religioso [...] 
(DURKHEIM,1989, p. 68).
Em um esforço para organizar os fenômenos que definem a sua manifestação, 
baseiam-se em duas noções fundamentais: crenças e ritos. As crenças são repre-
sentações que contêm valores morais e são frequentemente associadas a imagens 
místicas ou a seres que existem além deste mundo e da experiência humana. Os 
ritos são modos de ação expressos em cerimônias (às vezes, de grande comple-
xidade) em que os elementos que formam a base das crenças são consolidados. 
Textos sagrados, muitos dos quais são revisados ao longo do tempo, definem o 
que é estabelecido como crenças e ritos que devem ser usados em ocasiões defi-
nidas. Por exemplo, na Igreja Católica, uma crença importante é a virgindade de 
Maria, mãe de Jesus. Os ritos de batismo, casamento ou morte são característicos 
de muitas religiões com variantes de acordo com suas respectivas crenças.
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Figura 2 - Tana Toraja, Indonésia. Homens vestidos tradicionalmente, que dançam no círculo 
ao redor de porcos abatidos e de búfalos para a cerimônia fúnebre
Da perspectiva de Durkheim, os ritos não são muito diferentes de outras práticas 
morais, exceto pelo objeto a que se dirigem. A natureza especial desse objeto e 
a sua sacralidade são estabelecidas por crenças. Consequentemente, um rito não 
pode ser definido sem referência a uma ou mais crenças. Para Durkheim, estas 
envolvem um sistema de classificação, que demarca e fixa o sagrado e o profano, 
transformando esses dois campos em opostos quase absolutos. De acordo com o 
o autor, todos os ritos religiosos eram sagrados, embora sua sacralidade variasse; 
e alguns ritos eram considerados mais sagrados do que outros em qualquer reli-
gião. Também notou que esse antagonismo radical é comum a todas as religiões, 
mas as formas de contraste variam. As fronteiras entre os dois campos também 
não poderiam ser absolutamente fechadas, pois as religiões dependem de algum 
contato entre o sagrado e o profano, conforme ele explica:
 “ A coisa sagrada é, por excelência, aquela que o profano não deve, 
não pode impunemente tocar. Certamente, essa interdição não 
poderia desenvolver-se a ponto de tornar impossível toda comu-
nicação entre os dois mundos; porque se o profano não pudesse 
de nenhuma forma entrar em relação com o sagrado este não ser-
viria para nada. Mas, além desse relacionamento ser sempre, por si 
mesmo, operação delicada que exige precauções e iniciação mais 
ou menos complicada, ela sequer é possível sem que ele próprio se 
torne sagrado em alguma medida e em algum grau. Os dois gêneros 
não podem se aproximar e conservar ao mesmo tempo sua natureza 
própria (DURKHEIM, 1989 p. 71-72).
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A conversão cristã, por exemplo, não faria muito sentido sem essa área de contato, 
sem a possibilidade do que é profano tornar-se sagrado e vice-versa.
Durkheim assim definiu as crenças e os ritos: 
 “ As crenças religiosas são representações que exprimem a natureza 
das coisas sagradas e as relações que têm entre si e com as coisas 
profanas. Os ritos são, afinal, regras de conduta que prescrevem o 
modo como o homem se deve comportar perante as coisas sagradas 
(DURKHEIM, 1989, p. 24).
Para esse pensador, a formação de uma religião dependia então de um sistema 
para classificar o sagrado e o profano e uma série de ritos ou rituais em torno 
das coisas sagradas. Portanto, a religião seria constituída quando se formasse um 
conjunto ritualístico correspondente a um sistema de classificação do sagrado, 
do sagrado e das crenças próprias.
O autor francês apontou três dimensões importantes da religião: (1) que esta 
é um fenômeno cultural, porque envolve crenças, valores, normas, rituais, e ceri-
mônias, que constroem a identidade coletiva de um grupo de pessoas; (2) abarca 
um conjunto de ritos – que inclui costumes, cerimônias e regras para o culto 
religioso –, dos quais os membros de uma comunidade religiosa participam e 
se identificam. Esses ritos estão ligados a crenças; (3) a religião oferece a seus 
membros a confiança de que a vida tem um significado essencial, que os ajuda a 
compreender a totalidade de suas vidas, estabelecendo diferenças entre o sagrado 
e o profano e seus relacionamentos.
Na definição durkheimiana, a religião é um fenômeno “eminentemente co-
letivo” e, portanto, sujeito à análise sociológica. O autor afirmou que as religiões, 
particularmente aquelas estabelecidas há muito tempo, como o judaísmo, são 
instituições fundamentalmente sociais, que criam forte consciência coletiva. Para 
o autor, a religião era um fato social. Numerosos sociólogos nos dias de hoje ainda 
utilizam a definição de Durkheim realizada no início do século XX. É ,também, 
a definição mais comum em livros de introdução à sociologia. Isso mostra a im-
portância do seu clássico As formas elementares da vida religiosa, publicado pela 
primeira vez em 1912, para o entendimento da dinâmica religiosa em nossos dias.
Outro sociólogo da religião, Max Weber (1864-1920), argumentou que, na rea-
lidade, é a pessoa, isto é, cada participante, quem cria a religião. Em sua obra A ética 
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Ao acessar o QR Code, você se aprofundará na teoria de Max Weber
sobre a ética protestante e o espírito capitalista. Vamos lá?
conecte-se
protestante e o espírito do capitalismo, publicado pela primeira vez em 1905, essa tese 
é confirmada. Esse autor trabalhou no sentido de mostrar como a doutrina advinda 
da Reforma Protestante impactou o crescimento e o avanço do capitalismo.
Quando o protestante calvinista trabalha duro e economiza dinheiro em vez 
de gastá-lo, é movido pela ideia de predestinação, pensando que isso garantirá 
a sua salvação. O sucesso no trabalho também pode ser interpretado como um 
sinal de que Deus o escolheu para ser salvo. Isso faz com que ele se sinta mais 
confortável. No entanto, como a ética protestante também exige que o indivíduo 
viva modestamente – sem luxo desnecessário –, o dinheiro ganho, em vez de ser 
gasto, deve ser colocado em contas de poupança ou investido, o que faz com que 
haja aumento do movimento do sistema capitalista.
Weber acreditava que os princípios do protestantismo alavancaram o desenvol-
vimento do capitalismo. Segundo ele, a abordagem racional da religião implica 
na sua modificação, perdendo as suas características, tornando-se, aos poucos, 
Figura 3 - A relação entre protestantismo e capitalismo para Max Weber
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2014
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Peter Berger apresenta um diagnóstico da situação das religiões na sociedade ocidental 
moderna, defendendo a tese de que os processos infraestruturais concretos desta so-
ciedade trouxeram como reflexo a “secularização”. Esta, por sua vez, não impediu, como 
muitos argumentam, o impulso religioso que motivou os homens a aderirem à religião de 
forma intensa, dando base para o que ele caracteriza como “dessecularização”; sendo o 
mundo de hoje, portanto, e com algumas exceções, tão impetuosamente religioso quanto 
antes. O que implica dizer que embora não seja possível determinar com precisão como 
será o futuro dos diversos movimentosreligiosos, Berger sustenta que não há razão para 
pensar que o mundo do século XXI será menos religioso do que o mundo anterior. Essa 
nova dinâmica levou as religiões a operarem com a lógica de mercado, o que implicou na 
necessidade de adaptação de seus ritos e crenças, de forma a atender a demanda das 
consciências individuais.
Fonte: Oliveira (2012, p. 7).
explorando Ideias
menos importante. Para o capitalismo, isso também funciona quando os prati-
cantes não são calvinistas. Com o tempo, a razão para economizar deixa de ser 
um esforço para ganhar a salvação, para tornar-se um fim em si mesmo.
A religião, dessa maneira, transforma a sociedade e, ao mesmo tempo, sua função 
social também é alterada sem que haja intenção para isso. A sociedade mudou, porque 
os fiéis tentaram cumprir as regras da religião. Isso levou Weber a concluir que ações 
individuais são importantes. É, acima de tudo, o ator quem cria e mantém a estrutura, 
sem necessariamente estar consciente ou entendendo o significado do que faz. 
De Durkheim a Weber, todos os sociólogos da religião tiveram que questionar 
se o fator mais importante seria a estrutura em geral da sociedade ou a ação do 
indivíduo. Alguns optaram por um ou outro, enquanto outros tentaram combinar 
as duas ideias contraditórias. Peter Berger argumentou que as pessoas criam a 
religião, o que a torna parte do indivíduo. Isso cria interação entre o indivíduo e 
a religião com influência mútua. 
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RELIGIÃO:
ÓPIO DO POVO,
em Karl Marx
A famosa frase “a religião é o ópio do povo” é considerada a síntese da concepção 
marxista sobre a religião, mas não é uma exclusividade sua. Diversos autores se 
referiram à religião dessa forma antes de Karl Marx.
A principal base teórica para a crítica da religião feita por Marx foi realizada 
por Ludwig Feuerbach:
 “ Temos de colocar no lugar do amor de deus, o amor dos homens, 
como uma única, verdadeira religião, no lugar da fé em um deus, a fé 
no homem em si, em sua força, a fé em que o destino da humanidade 
não depende de um ser fora ou acima dela, mas dela própria, que o 
único diabo do homem é o próprio homem (NOGARE, 1990, p. 90).
Marx considera que a experiência religiosa não é algo que realmente exista. 
Apesar de ser de família de origem judia, ele se declara publicamente ateu. Para 
ele, a dimensão humana em relação ao transcendente é inexistente, pois não se 
pode comprovar de forma racional. Contudo, o pensador alemão, em nenhum 
momento da sua teoria filosófica, busca refutar os argumentos da religião como 
um princípio básico ou de suma importância. Não se encontram em seus escri-
tos, embates utilizando argumentos explícitos que embasem o ateísmo contra 
a crença religiosa, por exemplo. Quando olhamos para a sua filosofia da crítica 
da religião, encontramos a base da sua argumentação, no fato de que a religião 
funciona como um mecanismo de alienação.
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Alienação na Sociologia de Karl Marx
A palavra alienação vem do Latim “alienus”, que significa “de fora”, “pertencente a outro”. A 
alienação é estar alheio aos acontecimentos sociais, ou achar que está fora de sua realidade. 
Karl Marx em sua obra Manuscritos econômico-filosóficos usou o termo para descrever a 
falta de contato e o estranhamento que o trabalhador tinha com o produto que produzia.
A alienação na sociologia de Marx é descrita também como um momento onde os homens 
perdem-se a si mesmos e a seu trabalho no capitalismo. Para Marx as relações de classe 
eram alienantes, pois o trabalhador assalariado se encontrava em uma posição de barganha 
desigual perante o capitalista (empregador). Dessa forma o capitalista conseguia dominar a 
produção e o trabalhador.
Fonte: Scott (2006). 
explorando Ideias
 A religião, segundo Marx, precisa ser estudada objetivamente. Isso significa, que, do 
seu ponto de vista, devemos estudar a religião da mesma forma que estudamos qual-
quer outra manifestação, buscando ver sua relação com outras experiências humanas 
e, especialmente, seu vínculo com as condições econômicas e sociais da sociedade. 
Marx criticou a religião como uma forma de alienação em três sentidos. Em 
primeiro lugar, é uma experiência de algo irreal, que não existe. Ao apoiar-se 
em Feuerbach, Marx considerava que não foi Deus quem criou o homem, mas 
o homem quem criou Deus. A síntese de toda a alienação consiste em afirmar 
que o sujeito realiza uma atividade que o faz perder toda a sua identidade, o seu 
próprio ser. Na alienação, o sujeito se anula. Para ele, é exatamente isso o que 
acontece na religião: o homem pega o que tem de melhor em si mesmo (a vonta-
de, a inteligência e a bondade) e projeta para fora de si, no âmbito do infinito, do 
além, do inexistente. A religião, pressupõe a existência de um Deus infinito que se 
opõe a uma realidade finita, em que o ser humano também se faz presente. Essa 
perspectiva desvaloriza toda a realidade do homem, em detrimento da realidade 
transcendente ou divina, inventada pelo próprio ser humano.
Em segundo lugar, a religião é uma alienação porque desvia o homem do 
único reino no qual a salvação e a felicidade são realmente possíveis: o mundo 
humano, o mundo da finitude expresso na vida social e econômica. Ao confortar 
o homem do sofrimento deste mundo ao sugerir que no “outro mundo” haverá 
justiça e felicidade plena, tira a capacidade, energia e determinação para mudar 
as situações sociais, políticas e econômicas que são realmente culpadas pelo seu 
sofrimento. Por isso, a religião é considerada uma ilusão, pois anestesia o ser hu-
mano, tornando-o imóvel diante da realidade e, assim, é apontada como o “ópio 
do povo”. Leia, a seguir, a passagem em que essa expressão aparece:
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 “ É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião, a 
religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o 
sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou vol-
tou a se perder. Mas o Homem não é um ser abstrato, acocorado fora 
do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. 
Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência 
invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião 
é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua 
lógica em forma popular, o seu point d’honneur espiritualista, o seu 
entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua 
base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da 
essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira 
realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indiretamente, 
a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.
 A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da 
miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro 
da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma 
de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.
 A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens 
é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as 
ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma 
condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe 
da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.
 A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para 
que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que 
lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta 
o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua rea-
lidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, 
a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu 
verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta 
do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.
 Consequentemente, a tarefa da história, depois que o outro mundo 
da verdade se desvaneceu, é estabelecer a verdade deste mundo. A tare-
fa imediata da filosofia, que está a serviço da história,é desmascarar a 
auto alienação humana nas suas formas não sagradas, agora que ela foi 
desmascarada na sua forma sagrada. A crítica do céu transforma-se 
deste modo em crítica da terra, a crítica da religião em crítica do direito, 
e a crítica da teologia em crítica da política (MARX, 2005, p. 146-147).
https://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade
https://pt.wikipedia.org/wiki/Raz%C3%A3o
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Considerando o contexto de pobreza, você acha que Deus realmente quis que fosse assim? 
pensando juntos
O ser humano, em vez de buscar a transformação da sua própria realidade, con-
forma-se com a situação que lhe foi imposta. É como se dissesse: “Deus quis que 
eu vivesse na pobreza”, “é minha sina ter esses sofrimentos de pobreza e escassez”.
A religião, segundo Marx, faz com que o sentimento de indignação seja suplan-
tado por um conformismo em algo que não existe. No contexto turbulento do 
século XIX em que esse autor viveu, os funcionários do clero e os religiosos, como 
parte da classe dominante, utilizavam a religião, segundo ele, como forma de 
manipulação social, e serviu de legitimação para usar o transcendente para esta-
belecer uma ordem injusta. A religião era uma fonte de alienação e conformismo, 
que precisava ser desmascarada.
Em terceiro lugar, a crítica mar-
xista também se estende ao fato de 
que a religião tende a tomar parti-
do, não pelas classes desfavorecidas, 
mas de acordo com os interesses da 
classe dominante, perpetuando-a 
no poder. Em muitos casos, utili-
za-se até de justificativas teológicas 
para legitimar o domínio de um 
grupo social sobre outro.
Marx considerou que a superação da religião era necessária e que deveria passar, 
obrigatoriamente, pela superação do sistema de classes sociais com a instalação 
do comunismo. A diferença em relação ao pensamento de Feuerbach se encontra 
justamente nessa questão. Para este autor, o banimento da religião seria possível por 
meio da simples superação intelectual com a crítica filosófica e racional da religião. 
Marx, contudo, acreditava que seria necessário, fundamentalmente, a modificação 
das condições econômicas que tornaram a religião possível, isto é, o desapareci-
mento da ordem social criada a partir da existência da propriedade privada. Em 
uma sociedade comunista, não haveria religião porque não existiria a alienação e, 
como explicado anteriormente, a religião surgiu como consequência da alienação.
Figura 4 - Criança trabalhando em um lixão
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RELIGIÃO:
MORTE DE DEUS,
em Nietzsche
Uma das frases mais conhecidas na história do pen-
samento humano é, sem dúvida, a frase “Deus está 
morto” (Gott ist tot, no original alemão), escrito pelo 
filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) no 
início do Livro Três de A Gaia Ciência (1882). 
É uma frase, que, até hoje, gera discórdia entre mui-
tos crentes e ateus. Estes últimos tendem a encontrar 
vários argumentos e evidências contra a existência de 
Deus, como o problema do mal e a aparente capacidade 
da ciência natural para dar conta da origem do universo.
A partir do final da Idade Média, a filosofia ocidental iniciou um longo processo 
de separação da religião e adotou caráter marcadamente crítico com o que tra-
dicionalmente era dado como verdadeiro. Essa crítica foi exacerbada no século 
XIX, no final do período moderno, o que causou uma crise profunda: nada per-
manecia alheio à crítica ou à dúvida, nada parecia indubitavelmente verdadeiro. 
Nesse ambiente de crise e incertezas, surgiu a filosofia de Friedrich Nietzsche.
Com a célebre frase, Nietzsche quer dizer que a ideia de Deus como funda-
mento de valores éticos e a certeza foram desprezadas, ou seja, é uma ideia cuja 
vida chegou historicamente ao fim. Deus havia sido tomado como a base sobre 
a qual se estabeleciam as verdades que tínhamos como válidas. Quando a base 
Figura 5 - Friedrich Nietzsche
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Figura 6 - Ser humano em busca de Deus
desaparece sob nossos pés, não temos mais a verdade para apoiar-nos e, com isso, 
caímos no niilismo, na desolada percepção de que nada é verdadeiro.
Constatar que “Deus está morto” é perceber que as ideias absolutas, imutáveis 
e universais não são mais possíveis. As construções metafísica, ética e cultural 
emergidas dessa ontologia que nega a realidade e afirma um “além” entrou em 
colapso. Apenas o vazio permanece, um trono (de Deus) sem ocupante e a per-
plexidade dos homens que, sem essa orientação, não podem mais viver.
Essa ideia de Nietzsche aparece em várias versões. A mais conhecida, e uma 
das mais importantes, encontra-se no excerto a seguir, de A Gaia Ciência, livro 
publicado pela primeira vez em 1882:
 “ Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã 
acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar in-
cessantemente: “Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se 
encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele des-
pertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? 
Perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? Disse outro. 
Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou num navio? 
Emigrou? – Gritavam e riam uns para os outros. O homem louco 
se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para 
onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós o matamos – vocês 
e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como 
conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja 
para apagar o horizonte? […] Não ouvimos o barulho dos coveiros 
a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – 
também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua 
morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre 
os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então 
possuíra sangrou inteiro sob nossos punhais – quem nos limpará 
este sangue? (NIETZSCHE, fragmento 125, 2001, p.147-148).
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Para Nietzsche, a morte de Deus representa um estado psicológico que afronta o 
ser humano. Em outro momento, em sua obra Assim falava Zaratrusta, de 1883, 
o autor reafirmou essa ideia:
 “ Suplico-vos, meus irmãos! Permanecei fiéis à terra e não acrediteis 
naqueles que vos falam de esperanças extraterrestres! Envenenado-
res, eis o que eles são, quer o saibam quer não. Desdenhadores da 
vida é o que eles são, uns moribundos, eles próprios envenenadores, 
eis o que eles são, quer o saibam quer não. Desdenhadores da vida 
é o que eles são, uns moribundos, eles próprios envenenadores, de 
quem a terra está farta: pois desapareçam! Outrora, a ofensa a Deus 
era o maior ultraje, mas Deus morreu e, com ele, morreram também 
esses sacrilégios. Agora, o que há de mais terrível é ultrajar a terra e 
dar mais apreço às entranhas do inescrutável do que ao sentido da 
terra! (NIETZSCHE, 1998, p. 12-13).
Ao perder progressivamente sua fé em Deus, Nietzsche perdeu o respeito por 
todo o sistema de valores criado pelo cristianismo no Ocidente. Como afirmou 
Ivan Karamazov, personagem de Fiódor Dostoiévski em Os Irmãos Karamazov: 
“Sem Deus tudo seria permitido”. Assim, a morte de Deus é um fato irreversível, 
que traz consigo a perda dos valores que existiam até então. Quando discorreu 
sobre valores, não se referiu apenas a “valores morais” que podem ser substituídos 
por outros, mas ao próprio sentido da vida.
O filósofo desenvolveu sua crítica da moralidade ocidental em duas obras: 
Além do Bem e do Mal (1886) e A Genealogia da Moral (1887). O método genea-
lógico permite estudar como os conceitos morais surgiram e foram impostos 
como valores aceitos por todos a partir da força do grupo social que os impõe. A 
crítica da cultura ocidental deve, então, começar pela moral, uma vez que, para 
ele, todas as manifestações filosóficas, científicas e religiosas de um povo não são 
mais do que as manifestações de seu sistema de valores, ou seja, da moraldesse 
grupo social. O povo expressa, em seus valores, suas qualificações morais, sua 
gana pelo poder, sua atitude para com vida.
Nietzsche rejeitava o dogmatismo moral, que consiste em acreditar na objeti-
vidade e subjetividade dos valores morais. Segundo ele, os valores morais não têm 
existência objetiva, mas são, em contrapartida, projeções da nossa subjetividade, 
das nossas paixões, dos nossos sentimentos e interesses.
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Outro viés da análise desse pensar filosófico de Nietzsche é o fato de que a 
modernidade criou características que fizeram o ser humano acreditar mais nas 
suas potencialidades individuais (criadas pelo estímulo à utilização da razão) e 
começasse a desapegar-se da necessidade de uma ajuda transcendente vinda da 
religião, especificamente de Deus. A ciência e o uso da razão preconizados pelo 
período iluminista – que antecedeu o contexto de Nietzsche – fizeram com o 
ser humano visse na ciência uma nova religião em que poderia apegar-se, como 
vemos em Martha de Almeida:
 “ Assim, partindo do princípio de que, na modernidade, Deus não pode 
mais servir de pressuposto para a construção de qualquer forma de 
pensamento, o homem moderno substitui a fé em Deus (teologia), pela 
fé no homem (ciência), já que é ele mesmo quem instaura a ciência e 
lhe dá validade, concedendo-lhe estatuto de verdade. Consequente-
mente, desaparecem os valores absolutos, as essências, os fundamentos 
divinos, os dogmas, dando lugar à ideia de progresso, de qualidade 
de vida, de evolução histórica, de controle e mensuração da vida. 
Assim, ao afirmarmos a morte de Deus estamos também afirmando, 
como o insensato da praça pública, que foi o homem que o matou. Este 
homem, que se coloca no lugar de Deus, é chamado por Nietzsche de 
o último homem. O homem da modernidade que inventou o trabalho 
e a ciência buscando, com isso, controlar a vida e alcançar sua própria 
felicidade, através da sociedade de consumo, desfrutando do conforto 
oferecido pelas coisas materiais. (ALMEIDA, 2009, p. 223).
Como podemos notar, a famosa frase vista até o momento não significa que 
Nietzsche acreditava que um Deus existia e que havia morrido, mas se trata de 
uma metáfora. O filósofo queria expressar que o Deus cristão não é mais a fonte 
confiável de princípios morais absolutos.
A perda de uma base absoluta de moralidade leva à crença de que a vida como 
tal não tem significado. Portanto, argumenta Nietzsche, é necessário buscar uma 
base absoluta mais profunda do que os valores e as crenças. A solução, de acordo 
com ele, seria encontrar nossos próprios valores enquanto indivíduos, para gerar 
nosso sistema de valores e, assim, darmos sentido à vida.
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RELIGIÃO:
UMA PROJEÇÃO,
segundo Freud
A religião foi tema central no pensamento freudiano. Isso é demonstrado por 
meio de duas das suas obras: Totem e Tabu (1913) e Moisés e o Monoteísmo (1938). 
Apesar de ter crescido em uma família religiosa judaica e estudar na sinagoga 
local durante a infância, Sigmund Freud, o pai da psicanálise, dizia-se ateu e 
acreditava que a ideia da existência de Deus era insustentável.
Não podemos esquecer-nos, contudo, de que a teoria de Freud nasceu em uma 
época em que o Império Austro-Hún-
garo era o centro de uma corrente pre-
dominante do pensamento positivista. 
Além do mais, foi um período carac-
terizado por um grande desenvolvi-
mento industrial e das Ciências Na-
turais. O racionalismo e a incessante 
busca pelo afastamento de teorias que 
não poderiam ser comprovadas cien-
tificamente faziam parte do contexto 
histórico em que Freud se encontrava.
Ele considerava a religião como uma neurose e que, às vezes, aproxima-se peri-
gosamente da loucura. Além disso, via a religiosidade como ameaça à liberdade 
Figura 7 - Freud e sua mãe, Amalia Freud, em 1925
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e à verdade e, em última análise, à felicidade dos seres humanos. Ele classificou a 
religião como uma neurose obsessiva universal, que funciona com uma ilusão 
que tenta encobrir os desejos mais primitivos dos seres humanos:
 “ Segundo ele, existe uma espécie de compromisso entre pulsão e 
desejo, “isto é, de uma transação ou pacto estabelecido entre a pul-
são, por um lado, e a proibição da satisfação dessa mesma pulsão, 
por outro”. Entretanto, tal pacto deixa o sujeito alienado e diante do 
recalcamento, tanto o neurótico como o religioso são motivados 
pelas culpas e se escondem mediante cerimoniais.
 O indivíduo neurótico cria uma série de defesas devido às pul-
sões sexuais que as teme e, da mesma forma, acontece com os reli-
giosos quanto a seus instintos antissociais e egoístas. Para Sigmund 
Freud, por meio da religião, muitas vezes o humano faz o que ela 
própria proíbe. Deste modo, Freud identifica a religião como uma 
“neurose obsessiva universal” (WERNECK, 2016, on-line)5.
Partindo desses pressupostos, Deus seria uma projeção de nossos próprios dese-
jos inconscientes de segurança e proteção. Tal qual a criança sente forte inclinação 
para com o pai ao buscar a força necessária para defendê-la na adversidade, o 
crente também confia sua segurança a um Deus pai que o protege e dissipa os 
medos diante das dificuldades da vida.
Na teoria psicanalítica, fica claro que a origem da religião se encontra no com-
plexo infantil de Édipo, pelo qual Deus se apresenta como pai sublimado. É o ser 
humano quem cria a fé em Deus a partir de sua impotência e dos seus medos. O 
peso da ciência diminuirá gradualmente diante da influência da religião. A tarefa 
do homem maduro, do homem da ciência, consiste em deixar de lado a esperança 
em tudo que há no além e concentrar suas forças na vida terrena.
Para Freud, a força das representações religiosas são realizações dos mais 
antigos e intensos desejos da humanidade. O ser humano projeta na religião os 
mais diversos desejos da condição de um ser desamparado: o desejo de encon-
trar proteção contra perigos da vida, de obter justiça face à injustiça social, de 
prolongar a vida depois da morte, de uma resposta para as origens e os mistérios 
dos relacionamentos entre o corpo e a alma. A origem da força das representações 
religiosas é a soma da intensidade desses desejos.
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Freud foi aprovado brilhantemente nos exames de conclusão dos estudos secundários. 
Já se destacava por falar latim, grego, iídiche, alemão, francês, inglês e tinha noções de 
italiano e espanhol. Nesse período, trocou cartas com seu amigo de escola Eduard Silbers-
tein – cartas riquíssimas que mostram seus interesses, seus ídolos e seus pensamentos 
de jovem. Ingressou na Universidade de Viena em 1873 optando por fazer medicina. Ini-
ciou os estudos na universidade aos 17 anos buscando, não uma carreira tradicional de 
médico, mas assumindo uma postura filosófico-científica mais próxima do seu perfil de 
homem que buscava conhecimento e tinha profunda curiosidade. Esse perfil o levou a 
aceitar vários desafios e o fez desvendar alguns dos enigmas da humanidade. Por causa 
disso, também pesquisou em várias áreas, o que atrasou sua formação em medicina. Seu 
interesse era a natureza humana e foi influenciado em toda sua formação acadêmica por 
vários intelectuais de sua época.
Fonte: adaptado de Mednicoff (2008, p. 52).
explorando Ideias
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O existencialismo é uma corrente filosófica e literária que estuda a condição hu-
mana a partir dos princípios da liberdade e da responsabilidade individuais, os 
quais devem ser analisados como fenômenos independentes de justificativas reli-
giosas, filosóficas ou racionais, ou seja, independentes de categorias preconcebidas.
Como corrente de pensamento, o existencialismo teve início no século XIX, 
mas somente na segunda metade do século XX alcançou seu apogeu. O caráter 
heterogêneo dessa linha impede que seja considerada como uma escola unificada. 
No entanto, as tendências que se manifestaram no movimento compartilham 
algumas características. A primeira delas é aque, por cultura, entendemos a capacidade de conceber o mundo de forma 
simbólica, aprender e transmitir símbolos ou conceitos a outros seres humanos, 
e transformar o ambiente e a própria personalidade por meio do uso desses sím-
bolos. Por outro lado, encontramos a Antropologia biológica ou física, que estuda 
a variabilidade biológica de grupos humanos ao longo de sua história, sem levar 
em conta aspectos culturais. A última categoria, mas não menos importante, é a 
Antropologia filosófica, que tenta dar sentido ao ser humano enquanto ser social, 
ao questionar: o que é o homem?
Veja a conceituação realizada por Marconi e Presotto: 
 “ [...] a Antropologia visa ao conhecimento completo do homem, o 
que torna suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, 
uma conceituação mais ampla a define como a ciência que estuda o 
homem, suas produções e seu comportamento. O seu interesse está 
no homem como um todo - ser biológico e ser cultural -, preocu-
pando-se em revelar os fatos da natureza e da cultura. Tenta com-
preender a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço 
e no tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca 
também a compreensão das manifestações culturais, do compor-
tamento e da vida social. (MARCONI e PRESOTTO, 2010, p. 2).
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Se pudéssemos adjetivar a Antropologia, definiríamos em três termos: a) Holís-
tica (integral), pois tenta combinar o estudo de várias disciplinas sobre o ser hu-
mano, com maior enfoque à própria Antropologia – aqui também o vemos como 
um ser identificado com determinado grupo social; b) Comparativa, no sentido 
de que ela tenta verificar as possíveis semelhanças e diferenças entre culturas 
diferentes, antes de verificar as suas principais características; e c) Progressiva, 
pois tende a verificar a evolução dos seres humanos ao longo da história. Para 
isso, temos que diferenciar a evolução propriamente dita, biológica ou física, que 
se transmite geneticamente e, a progressão cultural, na qual podemos verificar as 
mudanças de comportamento, crenças, linguagens, usos, costumes e rituais que 
se perpetuam por meio do ensino e da aprendizagem.
Como surgiu a Antropologia?
A Antropologia surge como uma disciplina independente durante a segunda me-
tade do século XIX. Um dos fatores que favoreceu a sua aparição foi a propagação 
da teoria evolucionista, que, no campo dos estudos sobre a sociedade, deu origem 
ao evolucionismo social. Entre os principais autores está Herbert Spencer – um dos 
maiores pensadores do seu tempo –, filósofo, psicólogo, sociólogo e naturista, que 
foi a figura mais destacada do evolucionismo filosófico e positivista de sua época. 
Aplicou leis evolucionistas à Filosofia e à sociedade. No entanto, essas aplicações 
darwinistas justificaram a dominação de alguns povos sobre outros, bem como a 
supremacia de uma raça humana sobre outra. Assim como ele, os primeiros antro-
pólogos pensavam que, tal qual a evolução das espécies de organismos simples para 
os mais complexos, as sociedades e culturas humanas tinham que seguir o mesmo 
processo, para produzir estruturas complexas dentro de sua própria sociedade.
Figura 6 - Evolução humana
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Desde o final do século XIX, a abordagem adotada pelos primeiros antropólogos 
foi contestada pelas gerações seguintes. Depois da crítica de Franz Boas à An-
tropologia Evolutiva do século XIX, a maioria das teorias produzidas por antro-
pólogos da primeira geração é considerada ultrapassada. Durante o século XIX, 
surgiram, então, várias correntes antropológicas, dentre elas: o culturalismo, nos 
Estados Unidos, no início do século; a etnologia, na França; o funcionalismo 
estrutural, o estruturalismo antropológico e a antropologia marxista.
Lewis Henry Morgan (1818-1881) também é considerado um dos pais da 
Antropologia Moderna. Ele apresentou avanços no que concerne às relações de 
parentesco (estudou mais de 70 tribos indígenas) que foram fundamentais para 
que determinado grupo fortalecesse os laços internos de pertencimento. Na linha 
das teorias evolucionistas que dominaram completamente o pensamento cientí-
fico e antropológico do século XIX, seus estudos sobre o comportamento tribal 
levaram-no a propor, em sua obra A Sociedade Primitiva (1877), uma teoria 
da evolução cultural baseada na transição por três etapas: selvageria, barbárie e 
civilização. A presença de certas instituições e técnicas definiriam cada estágio.
Os evolucionistas se propuseram, portanto, a traçar o caminho seguido pelo 
ser humano desde suas origens, representado por povos “primitivos” – vistos 
como inferiores –, ao estado chamado de “civilização” – visto como superior.
No final da Segunda Guerra Mundial, grande parte dos países mais pode-
rosos do mundo já havia conseguido desenvolver uma Antropologia de nível 
profissional, que lhes permitia fortalecer sua identidade como nação. Na verdade, 
a Antropologia Cultural foi utilizada de forma ideológica em muitas situações, 
para justificar ações do colonialismo europeu em face dos conhecimentos que 
tinham sobre determinadas culturas. Esse processo, chamado de ocidentali-
zação, justificou a dominação e a exploração de culturas tidas como inferiores.
Para facilitar a nossa compreensão sobre a Antropologia, veremos, no quadro 
a seguir, a principal classificação dessa área de estudos. 
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Antropologia 
Cultural
É aquela que considera que as diferenças são causadas 
não pelas características da raça, mas, primordialmente, 
pela cultura. Os antropólogos culturais tendem a espe-
cializar-se em um campo específico, como economia, 
política ou religião. Seu método de estudo é frequente-
mente baseado no trabalho de campo, que envolve a 
observação in loco e a descrição da atividade de deter-
minado grupo social. Temos, aqui, dois conceitos-chave: 
a etnografia, que descreve uma cultura em seu habitat, 
e a etnologia, que consiste na comparação de dois ou 
mais modelos culturais.
Antropologia 
Linguística
É a área da Antropologia que estuda a diversidade lin-
guística em diferentes sociedades humanas em relação a 
determinados contextos culturais.
Arqueologia
Os arqueólogos procuram evidências de culturas pas-
sadas. A recuperação desses vestígios é muito útil para 
biólogos e antropólogos culturais.
Antropologia 
Aplicada
Vertente que utiliza as informações obtidas de outras 
especializações antropológicas para resolver problemas 
interculturais em áreas como saúde e desenvolvimento 
econômico, por exemplo.
 
Quadro 3 - Divisão clássica da Antropologia / Fonte: o autor.
Conforme vimos no quadro anterior, a antropologia está em constante diálogo 
com as mais diversas disciplinas. Utiliza conceitos e técnicas que abrangem a 
evolução biológica da espécie humana, os contextos históricos, a sociologia, os 
estudos culturais e até chega a apontar possíveis diagnósticos futuros sobre a 
relação entre o ser humano e a cultura, conforme salientam Marconi e Presotto:
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 “ A Antropologia, embora autônoma, relaciona-se com outras ciên-
cias, trocando experiências e conhecimentos.
Como ciência social, oferece e recebe dados teóricos e metodo-
lógicos da Sociologia, da História, da Psicologia, da Geografia, da 
Economia e da Ciência Política. Como ciência biológica ou natural, 
liga-se à Biologia, à Genética, à Anatomia, à Fisiologia, à Embrio-
logia, à Medicina. Também a Geologia, a Zoologia, a Botânica, a 
Química e a Física vêm oferecendo indispensável contribuição aos 
estudos antropológicos na busca da compreensão dos problemas 
comuns a todas essas disciplinas.
A Antropologia, considerada a mais jovem das ciências, teve de 
aguardar o desenvolvimento dos conhecimentos ligados à Geologia, 
à Genética, à Biologia, à Sociologia para que se pudesse desenvolver. 
Pode-se afirmar que, somente após os conhecimentos da célula e 
da evolução terem sido formulados e aplicados ao homem, é que a 
Antropologia se sistematizou e progrediu comode que, para o existencialismo, a 
existência humana precede a essência. Isso significa que a reflexão filosófica não 
deve basear-se na formulação de categorias abstratas e transcendentes, como a 
ideia, os deuses, a razão ou a moral, mas com base na própria condição da exis-
tência humana. Opõe-se ao racionalismo e ao empirismo, centrado na valoriza-
ção da razão e do conhecimento como princípio transcendente, seja postulado 
como ponto de partida da existência ou como orientação vital. Também se opõe 
à hegemonia da razão como base da reflexão filosófica.
Ao questionar a hegemonia do pensamento racional, o existencialismo pro-
põe focar a visão filosófica sobre o próprio sujeito e não sobre categorias abstratas 
ou supraindividuais. Dessa forma, retorna à consideração do sujeito e seu modo 
de existir diante do universo como experiência individual e individualizada. A 
partir disso, formula a sua principal hipótese: se a existência precede a essência, 
5 
RELIGIÃO:
EXISTENCIALISMO
E LIBERDADE
em Sartre
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Será que a existência de Deus serve apenas para colocar limite nos nossos comportamentos?
pensando juntos
então a chave da reflexão está no modo de existência e não em seu fim ou propó-
sito. Portanto, o ser humano é livre e independente de qualquer categoria abstrata.
É preciso atentar-se, contudo, para o fato de que, no existencialismo, a liberda-
de implica na plena consciência de que as decisões e as ações pessoais influenciam 
o ambiente social, o que nos torna corresponsáveis pelo bem e pelo mal infligidos 
aos outros. Não aborda a morte da moral, como Nietzsche havia proclamado, 
mas, entre essas responsabilidades, estaria o combate à injustiça, por exemplo.
Segundo Jean-Paul Sartre, uma das motivações dos seres humanos para criar 
Deus foi a justificativa de não desejarem exercer a sua liberdade. Diante do vazio 
existencial e das angústias, foi preferível criar um Deus que limitasse as ações para 
que não sofrêssemos as consequências da liberdade criadas por nós mesmos. Ao 
negar Deus, o ser humano poderia, em primeiro lugar, ser livre e não precisaria 
desculpar-se diante das atitudes impostas pelas regras criadas por Ele:
 “ Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem, por 
conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, 
uma possibilidade que se apegue. Antes de mais nada, não há descul-
pas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será 
nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada 
e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é 
livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não 
encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem 
o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de 
nós, no domínio do luminoso dos valores, justificações ou desculpas. 
Estamos sós e sem desculpas (SARTRE, 1970, p. 227-8).
Essa é a crítica que faz Sartre com relação a não existência de Deus. Se Ele, de 
fato, não existe, não existiriam regras ou valores objetivos para o procedimento 
da ação humana. De acordo com o filósofo, esses limites e valores simplesmente 
não existem, conforme o texto que transcrevemos. Com isso, o autor nos passa 
a impressão de que a ética ficaria em segundo plano na dinâmica dos relaciona-
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mentos em sociedade. Para ele, o ser humano deve ser o criador desses novos va-
lores, tendo em vista que, sem a presença de Deus, está livre para construir novos 
paradigmas para a sua existência. Em seu livro O existencialismo é um humanismo 
(1946), ele afirma que deveríamos agir pensando no fato de como seria se todos 
agissem de determinada forma. Por isso, o ser humano poderia ser a medida da 
sua própria moral sem precisar recorrer a algo inexistente para nortear a sua vida.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos a mais um final de unidade com o sentimento de que há muito mais 
a dizer sobre todos os assuntos abordados, mas o propósito foi o de realizar 
uma introdução a assuntos muito complexos e densos em seu conteúdo. Há 
uma literatura extensa e variada para cada um dos temas estudados. Contudo, 
ao levar este conhecimento a você, desejei que a superficialidade de meras 
citações sobre os temas não bastasse, então tentei abordar os aspectos mais 
importantes sobre como personalidades marcantes da nossa história mais 
recente se relacionaram com o campo religioso. 
A religião, vista como fenômeno religioso pelos cientistas sociais, têm caracte-
rísticas bem peculiares e marcantes. As crenças e os ritos são duas características 
que existem, segundo os cientistas, em todas as religiões. Interiormente, é preciso 
acreditar em algo que satisfaça e dê propósito à existência (crença). Quando pratico 
os rituais em que acredito, exteriorizo as práticas das minhas crenças de forma a 
perpetuar essas ações para as próximas gerações. Por isso, a religião não pode ser 
feita com apenas um indivíduo. Ela precisa ter caráter coletivo. Além disso, vimos 
sua importância na dinâmica das mudanças sociais. Weber foi claro em perceber 
que o capitalismo recebeu um grande incentivo do protestantismo para crescer.
Os quatro autores que vimos – Marx, Nietzsche, Freud e Sartre – viveram 
em épocas marcadas pelo uso da razão e tentaram buscar explicações para os 
principais dilemas humanos. Todos eles foram influenciados por pensamentos 
que viam Deus e o fenômeno religioso como algo criado pelo ser humano para 
satisfazer inquietações e desejos e, assim, aliviar os sofrimentos, as angústias e as 
incertezas da vida. É preciso estudá-los, então, tendo em vista a influência alta-
mente racional e de desencanto da realidade.
168
na prática
1. Émile Durkheim examinou a religião sem circunscrever a subjetividade de religiosos, 
de crentes ou a do próprio investigador. Apegando-se à neutralidade ética típica da 
Sociologia científica, propôs que o estudo da religião exigisse livrar-se de todas as 
ideias preconcebidas. Dentro do sistema religioso, qual é o significado de crença 
para Durkheim?
2. Para Karl Marx, a religião implica não apenas a verdadeira miséria da vida humana, 
mas uma forma de protesto contra esta, como se a religião, em certo sentido, de-
pendesse precisamente da miséria do mundo e da realidade que atormenta a alma 
humana. De acordo com os nossos estudos, por que Marx considera que a religião 
é o ópio do povo?
3. A imagem de Deus ocupava um lugar na mente dos europeus, uma imagem que 
representava a moralidade e a razão de ser dos seres humanos Esse lugar deveria 
ser ocupado, segundo Nietzsche, para mais do que apenas um homem: é o super-
-homem quem vem substituir Deus; seus valores e suas ideias guiarão o homem 
a partir de agora. Qual é o sentido da afirmação de Nietzsche quando afirma que 
Deus está morto? 
4. Sigmund Freud, em sua busca por uma resposta à psicogênese da religião, pôs 
grande ênfase na questão do pai. A posição do pai como um todo poderoso e o 
resgate da figura paterna como fonte de proteção contra o desamparo humano 
foram a resposta que ele encontrou às necessidades religiosas. De acordo com a 
teoria psicanalítica, qual é a origem da religião?
5. As contribuições de Jean-Paul Sartre no campo da Filosofia permitiram maior es-
clarecimento de certos aspectos do existencialismo, corrente cujo conceito em seu 
auge adquirira tanta amplitude que, como o próprio autor apontou, não significava 
absolutamente nada. De acordo com o que estudamos nesta unidade, o que significa 
a afirmação de Sartre em dizer que a “existência precede a essência”?
169
aprimore-se
NIILISMO
A corrosão, a desvalorização, a morte do Sentido. A falta de finalidade, de resposta 
ao “porquê”. Os valores tradicionais depreciam-se; princípios e critérios absolutos 
dissolvem-se. A bússola, que outrora nos orientava, apesar das crises, das rupturas, 
das ilusões, da substituição frenética de rotas, explodiu em nossas mãos. A vertigem 
subverte pensamento e ação. Filosofia,arte, política, moral; a cultura, a sociedade, 
as crenças, as instituições, tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A 
superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despeda-
çada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro. É o niilismo 
— conceito fundamental, imprescindível para compreender o pensamento filosófico 
dos últimos dois séculos —, signo do nosso tempo, fenômeno ubíquo, complexo, 
multifacetado; ao mesmo tempo, causa, patologia e oportunidade.
De modo geral, é possível considerar o niilismo um movimento “positivo” — 
quando mediante um labor de crítica e desmascaramento nos revela a abismal 
ausência de cada fundamento, verdade, critério absoluto e universal e, portanto, 
convoca-nos diante da nossa própria liberdade e responsabilidade, agora não mais 
garantidas, nem sufocadas ou controladas por nada. Pode-se considerá-lo também 
um movimento “negativo” — quando a acentuar-se, nessa dinâmica, são os traços 
destruidores e iconoclastas, como os do declínio, do ressentimento, da incapaci-
dade de avançar, da paralisia, do “tudo-vale” e do perigoso silogismo: se Deus (a 
verdade, o princípio) está morto, então tudo é permitido.
Mas o que é, propriamente, o niilismo? Qual é a sua trama? Quais são as fibras 
que compõem a história do termo, do conceito e dos seus problemas? De que modo 
se daria o seu ultrapassamento (que não é — atente-se — simples superação dialéti-
ca, mas sim contramovimento inaudito de sentido)?
O termo niilismo deriva do latim nihil, nada. Essa origem revela um primeiro sen-
tido do conceito, que remete a um pensamento fascinado e obcecado pelo nada. 
Seguindo tal perspectiva o niilismo poderia ser encontrado ao longo de toda a his-
170
aprimore-se
tória do pensamento ocidental: do sofista Górgias (c.490-c.388 a.C.) — com as céle-
bres teses nada é; e se alguma coisa fosse, não poderia ser conhecida; e se fosse 
conhecível, seria inexprimível — à mística e à teologia negativa; do poeta e filósofo 
italiano Giacomo Leopardi (1798-1837) — o nada é o princípio de Deus e de todas as 
coisas — à pergunta fundamental “por que o ser e não, antes, o nada?”; de Wilhelm 
Gottfried Leibniz (1646-1716) e Friedrich Wilhelm Joseph Schelling (1775-1854), ao 
chamado “pessimismo” de Arthur Schopenhauer (1788-1860).
Na realidade as relações entre o niilismo, o nada e a negação são muito mais radi-
cais, complexas e profundas do que se possa imaginar. Seja como for, os estudos mais 
importantes sobre o tema separam nitidamente os dois conceitos, pondo de lado o 
nada para se concentrar no niilismo considerado como fenômeno histórico, um evento 
ligado à modernidade e à sua crise. Niilismo no sentido estrito, portanto, tal como 
surgiu na filosofia do século XIX e depois, com uma intensa força contaminadora, es-
pecialmente no século XX, e cuja análise é orientada por uma série de pressupostos. 
Quando o termo é utilizado pela primeira vez? Quando, e em que contexto, o conceito 
é utilizado filosoficamente? Qual é a razão essencial do aparecimento do niilismo? 
Quando e como o mais inquietante e perturbador de todos os hóspedes, como o de-
finiu Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), penetrou em nossos lares?
As primeiras ocorrências do termo remontam à Revolução Francesa quando fo-
ram definidos como “niilistas” os grupos “que não eram nem a favor nem contra a 
Revolução”. Um membro da Convenção, barão de Cloots, declarou no seu discurso 
de 26 de dezembro de 1793 que “a República dos direitos do homem não é nem teís-
ta nem ateia, é niilista”. De todo modo, e para além das indicações etimológicas e le-
xicográficas, o primeiro uso propriamente filosófico do conceito é localizado no final 
do século XVIII — em meio aos debates e às controvérsias que caracterizam a fun-
dação do idealismo —, mais especificamente na carta, escrita em 1799, de Friedrich 
171
aprimore-se
Heinrich Jacobi (1743-1819) a Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) na qual o idealismo 
é acusado de ser um niilismo. Filósofos como Friedrich von Schlegel (1772-1829) e 
Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) intervêm na discussão servindo-se do 
termo. Na Rússia, uma vez transposto do restrito âmbito filosófico e literário para o 
plano social e político, o niilismo passa a designar um movimento de rebelião contra 
a ordem estabelecida, o atraso, o imobilismo da sociedade e os seus valores. É com 
Nietzsche que a reflexão filosófica sobre o niilismo alcança o seu mais alto grau, com 
um pensamento radical que mostra as origens mais remotas do fenômeno, vale 
dizer, o platonismo e o cristianismo, e não só diagnostica a doença do nosso tempo 
como tenta indicar um remédio.
O século XX, século do niilismo, abre-se com a morte de Nietzsche e com a crise 
de uma Razão que sucumbirá aos horrores de duas guerras mundias, do fascismo 
e do nazismo, do Holocausto e de Auschwitz. O niilismo infiltra-se, encontra a proje-
tualidade onipotente da ciência e da técnica, impregna a atmosfera cultural de toda 
uma época, transforma-se em uma “categoria” fundamental no laboratório filosófi-
co contemporâneo. Nesse sentido, entre os momentos mais significativos, podemos 
destacar o confronto entre Martin Heidegger (1889-1976) e Ernst Jünger (1895-1998) 
em torno do “ponto zero” do niilismo e do seu ultrapassamento; o renovado e mais 
intenso interesse pelo pensamento nietzschiano na França (a chamada “Nietzsche-re-
naissance”), em especial as reflexões de Gilles Deleuze (1925-95); a filosofia desespera-
da e negativa de Emil Cioran (1911-95); a idéia de niilismo como essência da civilização 
ocidental de Emanuele Severino (n.1929); a desconstrução de Jacques Derrida (1930-
2004); as reflexões sobre niilismo e sentido de Jean-Luc Nancy (n.1940); e o “pensa-
mento fraco” e a apologia do niilismo de Gianni Vattimo (n.1936). 
Fonte: Pecoraro (2007, p. 7-10).
172
eu recomendo!
As Formas Elementares da Vida Religiosa
Autor: Émile Durkheim
Editora: Martins Fontes
Sinopse: As Formas Elementares da Vida Religiosa, originalmente 
publicado em 1912, é o primeiro grande estudo da sociologia da 
religião. Nele, Émile Durkheim constrói, a partir do estudo da reli-
gião aborígene australiana, uma complexa teoria sobre religião e 
o sagrado dentro dos processos de integração social.
livro
A Ideologia Alemã
Autor: Karl Marx e Friedrich Engels
Editora: Boitempo Editorial
Sinopse: A Ideologia Alemã é uma obra escrita por Karl Marx e 
Friedrich Engels em Bruxelas entre 1845 e 1846, mas só foi pu-
blicada em 1932 por David Ryazanov por meio do Instituto Marx-
-Engels-Lenin em Moscou. Nesse texto, encontramos muitas das 
principais teses do materialismo histórico pela primeira vez no pensamento mar-
xista. O tema da alienação é desenvolvido, assim como a descrição das formas 
de propriedade ao longo da história: tribal, comunal e feudal. Algumas formas 
do modo de produção capitalista são analisadas como trabalho assalariado e as 
formas tomadas pela ideologia ou consciência social dominante são descritas de 
acordo com a base econômica de determinado período histórico.
livro
173
eu recomendo!
A Gaia Ciência
Autor: Friedrich Nietzsche
Editora: Companhia de Bolso
Sinopse: A Gaia Ciência é um compêndio de todo o pensamento 
de Nietzsche. Partindo da ideia libertadora de que a vida deixou 
de ser uma obrigação, Nietzsche entra com alegria e leveza nos 
terrenos pantanosos da ciência, da moral e da religião para trazer 
à luz o seu significado. Depois de rejeitar a razão como guia para o conhecimento, 
o filósofo atinge um estado de liberdade de pensamento em que é possível rir 
de si mesmo: é a cerimônia em que o riso encontra sabedoria. Por meio desse 
pensamento lúdico, alguns temas com os quais o filósofo lidará em suas obras 
posteriores são trazidos à luz: a morte de Deus, o amor fati e o eterno retorno, 
bem como o caráter ficcional associado à sua filosofia: Zaratustra.
livro
Moisés e monoteísmo,compêndio de psicanálise e outros 
textos
Autor: Friedrich Nietzsche
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: Freud discute as origens do monoteísmo e oferece suas 
conclusões sobre o que ele entende como as verdadeiras origens 
e o destino de Moisés e seu relacionamento com o povo judeu. 
Freud percebe, em seu ensaio, um paralelismo entre a evolução do povo judeu 
e os casos de neurose individual. O pai da psicanálise sustenta que Moisés não é 
judeu, mas um egípcio que transmite ao povo judeu o monoteísmo do faraó Akhe-
naton. Os judeus, de acordo com a tese de Freud, assassinam Moisés, abando-
nando a religião que lhes havia transmitido, esquecendo-se coletivamente desse 
fato após algum tempo. Quando, posteriormente, essa memória reprimida vem à 
tona, o povo judeu e sua religião se originam.
livro
174
eu recomendo!
O existencialismo é um humanismo
Autor: Jean-Paul Sartre
Editora: Vozes de Bolso
Sinopse: O existencialismo é um humanismo se tornou um clássi-
co do pensamento ocidental do século XX, especialmente porque 
apresenta um caminho claro e acessível, não só o pensamento 
de Jean-Paul Sartre, mas também as propostas fundamentais do 
existencialismo. Em certo sentido, esse breve texto resume as chaves de toda a 
obra posterior de Sartre, uma vez que o pensador francês sempre permaneceu 
fiel aos princípios básicos delineados nele. O pensamento de Sartre é revelado 
como um instrumento muito útil para enfrentar o presente.
livro
Quando Nietzsche Chorou
Ano: 2007
Sinopse: Lou Salomé é uma jovem cujo objetivo é ajudar um pro-
missor filósofo alemão chamado Friedrich Nietzsche (Armand As-
sante), que mergulha numa profunda depressão espiritual que 
atormenta seus pensamentos. Para isso, ele recorre ao famoso 
médico vienense Josef Breuer (Ben Cross), que terá que tratá-lo 
sem saber que está sendo psicanalisado. Entretanto, tanto o mé-
dico quanto o filósofo se descobrirão compartilhando a sabedoria que cada um 
conhece, chegando a lançar as bases do que hoje conhecemos como Psicanálise.
filme
Como relacionar a alegria e o trágico? A relação entre esses dois elementos é pensa-
da pelo filósofo Roberto Machado a partir da filosofia trágica de Nietzsche. Para que 
a vida fosse afirmada, seria preciso combater o pessimismo causado pelo niilismo, o 
niilismo passivo. No programa, Roberto apresenta os outros tipos de niilismo e tam-
bém a resposta encontrada por Nietzsche à passividade e ao pessimismo.
https://www.youtube.com/watch?v=SKrGcdy6J3g
conecte-se
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FORMAS DE ORGANIZAÇÃO
DA SOCIEDADE
e dilemas atuais
PLANO DE ESTUDO 
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Sociedade de consumo • Socie-
dade líquida • Sociedade do cansaço • Sociedade hiperconectada.
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
• Compreender as características e as percepções da sociedade de consumo • Analisar as contribuições 
de Zygmunt Bauman acerca do panorama da sociedade líquida • Estudar a teoria da sociedade do 
cansaço • Verificar as experiências e teorias sobre a sociedade hiperconectada.
PROFESSOR
Esp. Pablo Araya Santander
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à última unidade! Aqui, trataremos de 
temas mais contemporâneos e, portanto, mais aptos a serem desvendados 
por estudos futuros. Serão incógnitas e dinâmicas próprias que aparecem 
na sociedade dos nossos dias e que necessitam da nossa especial atenção, 
uma vez que estamos imersas nela. Discutiremos sobre assuntos que pos-
sibilitam nossos posicionamentos, pois temos propriedade de afirmar ou 
negar o que está ao nosso redor.
O primeiro deles será o tema da sociedade de consumo. Compreende-
remos o conceito de consumo de acordo com a perspectiva histórica desde 
a Revolução Industrial aos nossos dias. Aprenderemos a importância de 
percebermos a forma com a qual temos lidado com as nossas reais neces-
sidades e como a percepção crítica sobre as consequências de um consumo 
desmedido é fundamental. Verificaremos que há uma diferença vital entre 
o consumo em si e o ato desmedido do consumismo. 
Por meio do estudo apurado do sociólogo polonês Zygmunt Bauman 
a respeito da nossa realidade, aprenderemos sobre a chamada sociedade 
líquida, tão teorizada por ele. Em seguida, exploraremos um tema razoa-
velmente novo no campo das Ciências Humanas e Sociais – com pouca 
pesquisa sobre o assunto até o momento –, a dita sociedade do cansaço. 
Veremos que a nossa sociedade do desempenho e do trabalho excessivo 
tem deixado as pessoas com marcas profundas, não somente de cansaço 
físico, mas de certo esgotamento, por sermos tão exigidos nessa dinâmica 
capitalista tão competitiva.
Conheceremos ainda os desafios de viver em uma sociedade hiperco-
nectada, que está inserida em um mundo hiperconectado. Este mundo é 
aquele em que a Internet tem se tornado tão indiscutível quanto a eletri-
cidade, por exemplo. Veremos a relação objeto-pessoas, pessoas-objetos, 
objetos-objetos e as relações humanas em um contexto no qual a conexão 
nas redes sociais exibe uma aparência de sociabilidade real.
Desejo-lhe bons estudos!
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SOCIEDADE DO 
CONSUMO
A sociedade de consumo, ou sociedade de consumo de massa, é um termo usado 
em Economia e Sociologia para designar o tipo de sociedade que corresponde 
a um estágio avançado do desenvolvimento industrial capitalista, caracterizado 
pelo consumo maciço de bens e serviços, disponível graças à produção destes. A 
expansão, a aceleração do consumo e a sua posição como articulador das relações 
de convivência social é um fenômeno do século XX. Todo movimento histórico 
ao redor da produção industrial precisa ser analisado para compreendermos de 
que forma a cultura consumista chegou até nós.
A chamada sociedade de consumo surgiu como resultado da produção em 
massa de bens (ativada pelo taylorismo e fordismo), que revelou que era mais 
fácil fabricar os produtos do que vendê-los. Agora, o esforço daquele que em-
preendia foi transferido para a comercialização dos itens produzidos por meio 
da publicidade, do marketing, das vendas a prazo, entre outros. 
Edward Taylor (1856-1915), no início do século XX, elaborou uma teoria que 
buscava obter o máximo de rendimento com o mínimo de tempo: o taylorismo. 
Essa otimização e maximização no processo de produção era estudada cientifi-
camente, de forma a garantir resultados cada vez melhores. Com isso, as linhas de 
produção foram montadas e tornaram o trabalhador muito mais parecido com 
uma máquina do que um ser humano com todas as suas capacidades de abstração 
e pensamento. A ideia era deixar muito nítida a divisão de quem era responsável 
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Keynesianismo: o economista britânico John Maynard Keynes acreditava que a principal 
causa das crises era a baixa demanda, derivada das baixas expectativas dos consumido-
res. Ele propôs o intervencionismo como mecanismo para estimular a demanda e regular 
a economia em tempos de depressão. Keynes estudou os problemas adjuntos da econo-
mia, como desemprego, investimento, consumo, produção e poupança. Seus argumentos 
construíram a base da macroeconomia.
Fonte: o autor.
explorando Ideias
pela execução das tarefas e quem deveria ser o ser pensante, que sabia as técnicas 
de como produzir. Taylor desenvolveu o conceito de que, com o controle rígido 
da linha de produção em que os operários se encontravam, fazia deles muito mais 
produtivos. Influenciado pela ideia de Taylor, Henry Ford expandiu o conceito de 
produção em série, principalmente, no que se refere à fabricação de automóveis. 
Até aquele momento, o processo de produção dos carros era praticamente artesa-
nal. Ford treinava seus fun-
cionários para que produ-
zissem e se especializassem 
em apenas uma área da 
linha de montagem. Com 
isso, conseguiu aumentar o 
número de unidades pro-
duzidas, popularizando e 
facilitando o consumo de 
carros por todo o mundo.
Figura 1 - Ford 1896, um carro a motor movido à gasolina, 
que seu fabricante, Henry Ford, chamou de Quadriciclo
Esse tipode produção favorecia, contudo, muito mais o empresário do que os tra-
balhadores. Ao empresário, é garantido o lucro pelo processo de maximização da 
produção. O trabalhador, por sua vez, deixa de pensar, reproduzindo apenas algo 
que lhe é imposto. Perde, com isso, todo o aproveitamento da sua inventividade 
e capacidade crítica de analisar os processos que estão à sua volta.
O taylorismo, o fordismo e as políticas keynesianas são as grandes inovações 
econômicas que, juntamente com as contribuições tecnológicas – como eletrici-
dade, petróleo e motor de combustão interna – da Segunda Revolução Industrial, 
lançaram as bases do capitalismo durante o século XX.
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Nos Estados Unidos, o American Way of Life (estilo de vida americano), começou a 
ser divulgado e vendido como exemplo para todo o mundo. Tal modo de vida estava 
baseado no consumo extremo de todos os tipos de artigos como uma das principais 
formas de realização pessoal. O seu auge aconteceu no período que antecedeu a Se-
gunda Guerra Mundial e se estendeu até meados da Guerra Fria. Valores culturais, 
como o crescimento intelectual ou espiritual, foram deixados em segundo plano. 
A imagem vendida era de uma felicidade exposta, representada, normalmente, por 
uma família feliz, em que a sua realização advinha da possibilidade de consumir e 
ter posses. O exagero e a ostentação de bens também fizeram parte desse cenário.
Após a Segunda Guerra Mundial, a nova lógica apoiada por técnicas gerenciais, 
pesquisa de mercado e publicidade fez com que a norma de consumo penetrasse em 
todas as áreas da vida. A partir daí o consumo começa a depender da publicidade e 
da promoção de vendas. Conforme já estudamos, o consumo de massa caracteriza-se 
por uma padronização da oferta de produtos para o maior número de pessoas que 
é possível atingir. Esse modelo de consumo organizado a partir da oferta gerou um 
consumidor idealizado, que se sentia homogêneo em relação ao restante da sociedade.
Entraram em cena, de forma determinante no avanço do consumismo, os 
setores de marketing e publicidade. Esta poderosa indústria da persuasão uti-
liza elementos sociológicos, psicossociais, cognitivos e culturais, com alto grau 
de tecnologia e profissionalismo para deixar os produtos desejáveis. Colocam 
em movimento as motivações primárias e os instintos dos consumidores. Os 
desejos são racionalizados a fim de culminarem na ação de consumo, mas os 
apresentam como se fossem derivados de uma decisão pessoal e voluntária.
A partir de 1970 até 
a década de 90, começou 
a Terceira Revolução In-
dustrial (como alguns 
chamam) ou revolução da 
microeletrônica, da au-
tomação e da ciência da 
computação, possibilitada 
graças às novas mídias, aos 
robôs e aos computadores.
Figura 2 - AEG 80 Series - Computador alemão dos anos 70 
no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia da Catalunha 
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Nesse período também surgiu o toyotismo, nome que se refere ao novo processo 
de produção encabeçado pela fábrica japonesa Toyota. Trata-se de um conceito de 
produção mais flexível realizado de acordo com a demanda (on demand). A ideia 
básica é que apenas o que o mercado necessita deve ser produzido, assim os custos 
de armazenamento são reduzidos e os riscos de superprodução são evitados.
Houve grande mudança no deslocamento da mão de obra das fábricas e indús-
trias em direção ao setor de serviços (escritórios, comércios, transporte etc.). Isso se 
deve à necessidade de manter uma estrutura de comunicação e publicidade mais 
ativa. Nesse panorama histórico iniciado no início do século XX até os dias atuais, 
surge a chamada sociedade pós-industrial, caracterizada por crescimento econô-
mico que está ligado, sobretudo, à necessidade de conquistar novos mercados (o 
que dá especial importância à propaganda). É uma sociedade que precisa de mais 
consumidores do que de trabalhadores. Surge também a crescente importância das 
indústrias de lazer, que exploram o tempo livre dos cidadãos. Dessa perspectiva 
mercantil e despersonalizada, a tendência é de que os sujeitos deixem de ser vistos 
como indivíduos e se tornem meras funções sociais ou números.
Aqui, faz-se necessário distinguir os conceitos de consumo e de consumismo. 
Enquanto o consumo é considerado uma ação de consumir ou gastar produtos 
de vários tipos, com a particularidade de serem utilizados para o bem-estar do ser 
humano e satisfazerem suas necessida-
des imediatas, o consumismo é enten-
dido como o consumo de produtos que 
não são necessários e são rapidamen-
te substituíveis por outros igualmente 
desnecessários e de pouca duração. 
Além disso, o consumismo baseia-se 
na produção em massa e na exploração 
irracional dos recursos naturais para 
alcançar a venda massiva de produtos.
Nota-se que existem algumas características do consumo em nossa sociedade que 
são bem peculiares do nosso tempo. Muitas vezes, tornam-se tão impregnadas na 
cultura que se tornam valores – a ideia de que o ato de consumir traz felicidade 
é uma delas. A publicidade das empresas veiculadas nos meios de comunicação 
tem se encarregado de estabelecer uma correlação simplista e fácil entre consu-
mo e felicidade. Além disso, estimula-se a ideia de que a felicidade advinda do 
Figura 3 – O consumo como felicidade.
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consumo gera realização e satisfação pessoal, como se a atitude de comprar fosse 
capaz de preencher os vazios existenciais.
Será que esse modelo de consumo realmente nos traz felicidade? É possível, 
pelo menos, ser razoavelmente feliz em uma sociedade de consumo como a nossa? 
Da mesma forma que parece ser relevante analisar a sociedade de consumo a partir 
do prisma das aspirações geradas e dos modelos de vida prometidos, o impacto da 
sociedade de consumo em grande parte do mundo tem sido tão importante que, 
hoje, não é possível entender a ideia de felicidade sem um vínculo com o modelo 
de produção e consumo que nos governa.
Aristóteles afirmou que a eudemonia (em grego, εὐδαιμονία, eudaimonia) ou 
a plenitude do ser é um exercício virtuoso específico do ser e, até mesmo, o ob-
jetivo final que perseguimos. Desde então, a preocupação e a busca da felicidade 
têm sido um dos eixos fundamentais em praticamente todas as sociedades, mas 
com variações significativas. Sabemos que a felicidade é um conceito relativo 
fortemente influenciado por fatores culturais, mas a maioria das abordagens teó-
ricas coincide com o fato de que há necessidades básicas a serem atendidas como 
pré-requisito para alcançá-lo. Isso significa que a felicidade, às vezes, é concebida 
como um estágio mais global e até espiritual do que o bem-estar.
Do mesmo modo que o bem-estar material parece consistir em satisfazer as 
necessidades materiais, o alcance da felicidade é geralmente apresentado como um 
caminho com necessidades que vão muito além do fisiológico. Portanto, as diferentes 
abordagens adotadas sobre as necessidades humanas desde a Sociologia e a Psicolo-
gia têm proposto uma série de escalas que tentam abranger o máximo possível todos 
os tipos de fatores que entram em jogo quando se fala na felicidade das pessoas.
Em muitos estudos sobre felicidade, as relações sociais ocupam um lugar de 
destaque. Manter relações sociais amigáveis, emocionais e amorosas, é considerado 
fundamental pela ciência para alcançar o bem-estar: sabe-se que a presença de entes 
queridos altera positivamente a resposta do cérebro a situações ameaçadoras. Pessoas 
que passaram por uma situação estressante e receberam algum tipo de apoio verbal 
afetuoso tinham quantidades menores de cortisol no corpo – um hormônio relacio-
nado ao processo ativado diante do estresse –, em relação àquelas que passaram pela 
mesma situação, mas receberam apoio verbal de um estranho ou não receberam.
O paradigma neoliberal insiste que a competitividade é a chave do cresci-
mento e que lutar por nossos interesses nos fará felizes. No entanto, os diferentes 
estudos realizados sobre o bem-estarmostram como um ingrediente-chave a 
preocupação das pessoas em serem aceitas e valorizadas socialmente. A coopera-
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ção com os outros ainda oferece mais prazer do que o hedonismo: ser generoso, 
por exemplo, produz a sensação de bem-estar, pois ativa um circuito neuronal 
associado ao prazer e à recompensa, além de ativar diferentes hormônios as-
sociados à felicidade, como dopamina e ocitocina. Pessoas generosas têm mais 
amizades (de acordo com relatos), dormem melhor e superam mais facilmente 
os obstáculos do que as pessoas egoístas e autocentradas.
A felicidade é um elemento essencial para compreender o discurso vinculado 
à lógica de consumo, à política, à ideia de empreendedorismo, ao movimento de 
coaching, à prática de negócios e à produção de autoajuda, e, em geral, a uma in-
dústria crescente e lucrativa, que fornece uma infinidade de bens e serviços com 
a promessa de que os indivíduos saibam como viver de maneira mais completa, 
funcional e saudável, ainda mais se forem estimulados à prática do consumo.
Hoje, quase nada escapa do círculo vicioso de produção e hiperconsumo que 
se multiplica em si mesmo. Recebemos diária e constantemente um bombardeio 
de impactos de mensagens comerciais; na verdade, somos medidos, muitas vezes, 
como consumidores e classificados como público-alvo. Recebemos uma chuva 
sensorial, mas também cognitiva e emocional, constante e, às vezes, tão discreta 
que mal a notamos. Tudo isso acontece sem estarmos sequer preparados para 
tomar consciência dessa pressão, muito menos para nos defender contra ela, 
proteger menores de idade ou outros grupos sociais e coletivos mais vulneráveis. 
Supõe-se que é natural ou que sempre foi assim, que somos livres para optar e 
temos muita sorte de poder escolher entre tantas ofertas.
Em sua última fase, o consumo é apresentado como um processo de intensi-
ficação hedonista do presente pela contínua renovação dos produtos e serviços. A 
estética das sensações imediatas, passageiras e intensas promove as práticas do hi-
perconsumo. Nesse caso, novas necessidades não são criadas, mas individualizadas 
para o consumo de novos objetos de desejo como melhoradores, carregados de va-
lores simbólicos muito mais representativos para uma suposição ideal de bem-estar 
individual. Hoje, na sociedade de consumo, não é mais vendido um produto, mas 
uma visão, um conceito, um estilo de vida e, por isso, a construção da identidade 
da marca estará no centro do trabalho de comunicação das empresas.
Podemos ver, então, que o modelo da sociedade de consumo se caracteriza, 
além de criar falsas necessidades, por oferecer-nos, por meio do consumo, falsas 
satisfações às nossas reais necessidades, oferecendo-nos, na melhor das hipóteses, 
satisfações provisórias. Por isso, deduzimos que o motor dessa espiral consumista 
é a frustração, a insatisfação e, portanto, a infelicidade. Recebemos essas sensações 
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quando o consumo apenas nos dá momentos efêmeros de satisfação no momento 
da compra ou quando o consumo atua como falsa satisfação de uma insuficiência 
que continua a existir. Esses sentimentos nos fazem continuar a consumir, bus-
cando uma satisfação que nunca é plenamente realizada.
As expressões em que a sociedade de consumo se manifesta são tantas e o 
discurso é tão predominante, que podemos dizer que esse modelo se tornou 
parte de nossa cultura, pois atinge todas as áreas de nossa vida, o que permite 
pouquíssimas brechas para críticas ou propostas alternativas. Uma sociedade 
em que o consumo é tão relevante deixa o ser humano passivo e individualista, 
desvalorizando facetas humanas, como a criatividade e a cooperação.
Temos visto, contudo, de acordo com o andamento da situação, uma outra 
vertente. Não ter o que realmente precisamos produz insatisfação, mas ter mais 
do que o necessário não fornece nenhuma satisfação duradoura, pelo contrário: 
aquilo que é desfeito, imediatamente perde seu valor diante do que é desejado, o 
que faz o consumidor entrar em uma incessante (e, no fundo, muito insatisfatória) 
cadeia de gastos. Existem casos reais de indivíduos que compraram um carro 
para ver se poderiam, assim, sair da depressão em que se encontravam. Contudo, 
passado algum tempo, a alegria da aquisição (que sempre é passageira) se esgotou, 
voltando ao mesmo estágio depressivo anterior.
Esses comportamentos são uma consequência do profundo impacto psicoló-
gico das incessantes mensagens publicitárias, que incentivam as pessoas à busca 
pela felicidade e realização pessoal por meio da compra.
Outro ponto importante a analisar, nessa sociedade consumista, é o fato de 
não termos relação direta com o fabricante do objeto que compramos. Há não 
muito tempo, quando desejávamos comprar um terno, por exemplo, sempre re-
corríamos a um alfaiate, que tirava as medidas necessárias para a confecção. Com 
isso, mantínhamos certo contato com o profissional contratado, sabíamos da sua 
saúde, da sua família, enfim, do seu bem-estar. Com o crescente processo e apri-
moramento da confecção de ternos para o consumo em massa, o custo do pro-
duto caiu muito. O preço realizado pelo trabalho artesanal do alfaiate não ficou 
nada competitivo e, agora, tornou-se uma profissão que está quase em extinção. 
O problema dessa relação de distanciamento é que não nos importamos mais 
com as pessoas e as condições de trabalho em que elas estão para fornecer-nos 
aquele tão desejado produto. Não é raro, em nossos dias, termos o conhecimento 
de que grandes multinacionais se utilizam de mão de obra análoga à escravidão 
em diversos países para aumentar o seu lucro. Inseridos no mundo consumista 
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Este QR Code despertará em você uma nova perspectiva sobre o consumismo 
e sua influência nas relações humanas. Está preparado? Acesse e descubra!
conecte-se
em que estamos, não nos preocupamos com essas situações. Queremos apenas 
que o objeto de desejo e de consumo seja adquirido para satisfazer o nosso prazer.
Podemos verificar também que a cultura consumista afeta a sociedade em diver-
sos aspectos. Ela é prejudicial ao equilíbrio ecológico em sua totalidade, por exemplo. 
Existem muitos problemas relacionados ao consumo excessivo de recursos naturais 
feito em todo o mundo, bem como o fato de que os processos de produção geram, 
principalmente, poluição. Além disso, ingerimos cada vez mais produtos com agro-
tóxicos, pelo fato de aumentarem a produção e baratearem os custos.
No âmbito familiar, aumentamos desnecessariamente nossas despesas ao 
comprarmos produtos que poderíamos evitar ou reduzir. O endividamento das 
famílias nos cartões de crédito e a ampla facilidade de parcelamentos, muitas 
vezes, consomem todo o rendimento dos membros da família.
Outro mecanismo prejudicial utilizado pelo mercado para induzir ao consu-
mismo é a chamada obsolescência programada. Trata-se de um sistema artificial 
estabelecido pelos fabricantes para controlar a vida útil dos seus produtos. Ou 
seja, o produtor tem controle sobre a duração de sua mercadoria, normalmente 
para que tenham duração menor do que poderiam ter e estimulem, assim, o 
consumo. Isso foi criado para 
que o consumidor fosse força-
do a adquirir um produto novo 
igual ou similar. A maioria dos 
produtos é “programada para 
morrer” e, muitas vezes, quando 
esses dispositivos são danifica-
dos, é mais barato adquirir um 
novo do que consertá-lo.
Figura 4 - Obsolescência Programada: diversos com-
putadores sem conserto.
https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/2015
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A obsolescência programada garante grande demanda, pois as empresas têm 
mais benefícios e oferta contínua, o que influencia o desenvolvimento da economia 
por meio da aquisição desnecessária, de diversos produtos.
As consequências da obsolescência programada impactam diretamente o meio 
ambiente. Por meio dela, é preciso utilizar uma grande quantidade de recursos 
naturais para produzir constantemente esses itens que substituemos obsoletos. 
Nesse caso, é necessário considerar que alguns dos recursos naturais utilizados 
para a fabricação de alguns produtos são muito escassos. Outro ponto é a acumu-
lação de resíduos. Todos os aparelhos que não são mais usados são descartados e 
a má gestão governamental pode levar a aterros ilegais. Por terem elementos que 
podem contaminar o solo ou a água, é importante que eles sejam adequadamente 
gerenciados e que a vida útil dos dispositivos eletrônicos seja prolongada, a fim 
de reduzir o número de resíduos gerados.
Há, todavia, um movimento empregado para combater o modo como lida-
mos com o consumo em nossos dias: o consumerismo. Trata-se de um neolo-
gismo derivado da palavra inglesa consumerism, que tem como objetivo fazer 
com que as pessoas assumam a perspectiva de um consumo mais responsável. A 
partir disso, as principais razões para levar um consumidor a agir dessa maneira 
podem ser especificadas nos seguintes aspectos: 
• Contribuir ativamente para a realização dos direitos de informação, escolha do 
consumidor e reclamação.
• Solidariedade e respeito por todas as pessoas envolvidas no processo produtivo
• Proteger o meio ambiente.
• Comprar produtos e serviços sustentáveis.
• Evitar o desperdício e aplicar a regra dos três R’s: reduzir, reutilizar e reciclar.
• Contribuir para gerar empresas sociais e ambientais. 
• Ter participação mais ativa nas práticas e atividades de responsabilidade social.
Esse movimento é uma resposta do ser humano ao perceber que o atual quadro 
da atividade do consumo é muito prejudicial aos relacionamentos humanos e ao 
próprio planeta como um todo.
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2 SOCIEDADE LÍQUIDA
Quem de nós já não deve ter analisado como as formas de pensar e de ser de 
nossos avós são diferentes de como nós pensamos e agimos, não é mesmo? Pro-
vavelmente, eles se casaram com apenas uma 
pessoa, viveram na mesma casa por um longo 
tempo e trabalharam na mesma profissão du-
rante toda a vida. E nós? Como temos vivido?
No decorrer da história e, principalmente, 
na modernidade, várias instituições e estrutu-
ras sociais permaneceram intactas e inques-
tionáveis, nos quais os valores mais relevan-
tes foram associados à estabilidade, união e 
tradição. Em nossa realidade atual, eles foram 
dissolvidos e deram origem à chamada Mo-
dernidade Líquida, conceito elaborado pelo 
sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
A filosofia de vida, os valores e o que é considerado ético e moral mudaram 
drasticamente nos últimos anos devido a mudanças políticas e sociais a partir 
da segunda metade do século XX.
Figura 5 - Zygmunt Bauman
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No livro Modernidade Líquida, lançado em 1999, Bauman foi capaz de ex-
plicar os fenômenos sociais da era moderna e mostrar o que nos diferencia de 
gerações anteriores. A partir de 1999, o autor publicou uma série de obras que 
resumem os seus pontos de vista sobre a realidade social que nos rodeia: Amor Lí-
quido (2003), Vida Líquida (2005), Medo Líquido (2006) e Tempos Líquidos (2007).
A realidade líquida consiste em uma ruptura com as instituições e as estru-
turas estabelecidas. No passado, a vida era projetada especificamente para cada 
pessoa, que deveria seguir os padrões estabelecidos para tomar as decisões na 
sua vida. Na modernidade, o sociólogo afirmou que as pessoas já conseguiram 
livrar-se dos padrões e das estruturas que foram, ao longo do tempo, sendo pré-es-
tabelecidas e que, agora, cada um tem a capacidade de criar a sua própria medida 
de comportamento para determinar suas decisões e seu estilo de vida.
Na vida líquida, segundo Bauman, a sociedade está baseada no individualis-
mo e se tornou algo temporário e instável, que carece de aspectos sólidos. Tudo 
o que temos muda com uma curta data de validade, em comparação com as 
estruturas fixas do passado. Além disso, a individualização faz com que se perca 
a ideia de coletividade, cidadania e bem comum:
 “ o público é colonizado pelo privado; o ‘interesse público’ é reduzido 
à curiosidade sobre as vidas privadas de figuras públicas e a arte da 
exposição pública é reduzida à exposição pública de assuntos pri-
vados e à confissão pública de sentimentos privados (quanto mais 
íntimos melhor). As ‘questões públicas’ que resistem a essa redução 
tornam-se incompreensíveis (BAUMAN, 2001, p. 18).
O único interesse do cidadão individualista com relação aos interesses públicos 
é com relação à proteção do seu espaço na sua zona particular. O poder público 
deve garantir as liberdades individuais para que, assim, o ser humano consiga 
desempenhar a sua individualidade com segurança:
 “ As únicas duas coisas úteis que se espera e se deseja do ‘poder pú-
blico são que ele observe os direitos humanos, isto é, que permita 
que cada um siga seu próprio caminho, e que permita que todos o 
façam em paz –protegendo a segurança de seus corpos e posses, 
trancando criminosos reais ou potenciais nas prisões e mantendo 
as ruas livres de assaltantes, pervertidos, pedintes e todo tipo de 
estranhos constrangedores e maus (BAUMAN, 2001, p. 45).
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Inúmeras situações que Bauman nos apresentou há vinte anos em Modernidade 
Líquida e as obras seguidas se tornaram realidade em nossos dias. Ele conseguiu, 
com destreza, diagnosticar o funcionamento da sociedade atual e determinar a 
relação das novas gerações com conceitos como amor, trabalho ou educação.
O relacionamento dos nossos avós, por exemplo, é muito diferente dos rela-
cionamentos dos tempos líquidos ou pós-modernos. Hoje, há certo medo pelo 
compromisso. O “ficar” por uma noite ou por um momento é um exemplo claro 
desse conceito. O medo da desilusão amorosa e do sofrimento já não valem mais a 
pena e existe a visão de que há muito mais a perder do que a ganhar em uma relação.
Para Bauman, fica claro que, em nossos dias, há uma fragilidade dos vín-
culos. Essas relações são as que dão nome ao seu conceito de amor líquido. 
Para ele, o que será renunciado – a liberdade, por exemplo – é a principal razão 
para o medo do compromisso.
Estabelecer vínculo forte e comprometido não é fácil para muitas pessoas. Além 
disso, há um senso de responsabilidade e sacrifício pessoal que os indivíduos podem 
não estar dispostos a aceitar. É até possível que haja imaturidade pessoal, que im-
possibilita conceber uma autêntica relação sólida e estável para um projeto futuro.
O próprio Bauman explicou que muitas das relações de hoje são “cone-
xões”, em vez de “relacionamentos”. Não falamos apenas da primazia das novas 
tecnologias e das redes sociais, aquelas que nos unem a múltiplas pessoas no 
momento que escolhemos. Esse conceito vai um pouco além. O individualis-
mo procura apenas atender às necessidades específicas com um começo e um 
fim, daí a ideia de amor líquido. As emoções não podem ser retidas e escapam 
fugazmente das mãos até desaparecerem. 
Figura 6 - Namoro online
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Bauman afirmou ainda que o consumismo estabeleceu uma pedagogia perversa, 
na qual o imediatismo da satisfação do desejo e a coisificação das pessoas (trans-
formá-las em objeto) possibilitam a redução dos laços afetivos à sua forma mais 
depreciativa. O casal se torna uma “mercadoria” que, eventualmente, não satisfaz 
mais as necessidades a curto prazo.
O autor introduziu, no primeiro capítulo, a distinção entre amor e desejo:
 “ Em sua essência, o desejo é um impulso de destruição. E, embora de 
forma oblíqua, de autodestruição: o desejo é contaminado, desde o 
seu nascimento, pela vontade de morrer. Esse é, porém, seu segredo 
mais bem guardado — sobretudo de si mesmo.
O amor, por outro lado, é a vontade de cuidar, e de preservar o objeto 
cuidado. Um impulso centrífugo, ao contrário do centrípeto desejo. 
Um impulso de expandir-se, ir além, alcançar o que ‘está lá fora’. In-
gerir, absorver e assimilar o sujeito no objeto, e não vice-versa, como 
no caso do desejo. Amar é contribuir para o mundo, cada contri-
buição sendo o traço vivo do eu que ama (BAUMAN,2004, p. 24).
Muitos dos novos amantes pensam a partir da lógica dos consumidores, que 
buscam maximizar sua utilidade, seu prazer e, para isso, as relações superficiais e 
prontas são mais confortáveis. Como mercadoria, podem ser alteradas por outras, 
com a mesma facilidade com que são retiradas de uma prateleira de supermer-
cado. Isso explica o medo de estabelecer relações duradouras. Em uma análise 
de custo-benefício, é um investimento a longo prazo que causa nervosismo e 
insegurança, pois o resultado final não pode ser conhecido. O casamento e a 
família, instituições tradicionais da sociedade, sentem diretamente o impacto da 
superficialidade amorosa contemporânea. A família se tornou um investimento 
muito arriscado, o que se traduz em menos casamentos e menos filhos.
Outra característica dessa nova era é a busca e o interesse dos jovens por 
fazer viagens de vários meses ao redor do mundo, com o objetivo de romper 
barreiras e testemunhar realidades diferentes. Em Sociedade Líquida é descrito 
precisamente esse cenário, que convida ao movimento, ao fluxo e à busca de novas 
experiências, mas sem enraizar-se nas localidades. São cidadãos do mundo, mas 
de lugar algum ao mesmo tempo.
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Figura 7 - Viajar se tornou uma forma de não criar raízes,
uma das características da sociedade líquida
Essa filosofia baseada na busca de novas experiências e em ser um cidadão do 
mundo também se reflete no ambiente de trabalho na sociedade líquida. Os 
empregos têm mudado e o mercado atual demanda reformulações dentro das 
empresas em pouco espaço de tempo.
Em contrapartida, Bauman identificou a necessidade do dinamismo dos 
trabalhadores, e que, por isso, são cada vez mais cobrados para desempenha-
rem tarefas em diferentes áreas. As empresas estão à procura de pessoas com 
capacidade de se reinventarem e que tenham disponibilidade total, inclusive 
para viajar para outras cidades, se necessário. Por isso, elas precisam dar tudo 
no trabalho, mesmo sabendo que podem ser substituídas a qualquer momento 
se não atenderem às expectativas desejadas.
Outra importante abordagem na teoria de Bauman é a do consumismo, as-
sunto que abordamos anteriormente. No seu livro Vida para Consumo (2007), 
o autor afirmou que, nessa realidade líquida, o importante não é conservar os 
objetos, mas renová-los constantemente para satisfazer o espírito consumista. 
Nesse trabalho, podemos notar duas hipóteses: a hipótese geral, que é a tran-
sição de uma sociedade de produtores (sociedade sólida) para uma sociedade 
de consumidores (sociedade líquida) nos últimos anos; e a hipótese particular, 
que envolve uma reconfiguração da ideia moderna do sujeito cartesiano, que 
apropriadamente racionaliza seu entorno e seus objetos, a uma noção de sujeito 
convertida em um objeto ou produto. 
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Para verificá-las, o sociólogo elaborou três tipos ideais com base no modelo 
weberiano a partir da justificativa de que os ideais não são descrições da realidade 
social, mas ferramentas para sua análise; são abstrações que tentam capturar a 
singularidade de uma configuração composta por ingredientes que não são de 
todo especiais ou específicos. De acordo com ele, são janelas para entender a ge-
nealogia da sociedade líquida. O primeiro tipo ideal é o consumismo, concebido 
em sua relação oposta ou extrema com relação ao consumo. O segundo é consti-
tuído pela dinâmica que envolve a implementação do consumismo na sociedade 
de consumo. O terceiro, por sua vez, é uma consequência dos dois primeiros: o 
estabelecimento de uma cultura de consumo.
Para desenvolver o primeiro (consumismo), Bauman definiu primeiramente o 
consumo como parte da sobrevivência biológica, como parte inerente da vida huma-
na, porque é atribuído como essência que não muda no qualitativo, mas no quantita-
tivo. Só é variável quando as formas e quantidades de acumulação são modificadas. 
Ele chamou a transição do consumo para o consumismo de revolução consumista. 
A centralidade que o consumidor adquire na vida social, ou, na maioria das pessoas, 
no grupo social, ocorre quando seu objetivo passa a ser uma necessidade existencial 
ou imanente a uma necessidade construída para querer ou desejar algo.
O consumismo é estabelecido como um acordo social, como uma força que 
opera em outras esferas da vida pública, pois se constitui como uma forma de in-
tegração, estratificação e formação do indivíduo, principalmente porque adquire 
papel preponderante nos processos de autoidentificação de pessoas e coletivida-
des. Para ser um atributo da sociedade, desprezou o valor mais precioso da socie-
dade de produtores: o trabalho, pois este desempenhava papel vital na formação 
de instituições sociais. O trabalho outorgava um valor ao indivíduo diante da 
coletividade, pois definia uma identidade baseada na ocupação exercida pelo tra-
balhador. Atualmente, a lógica do emprego é colocada abaixo do ato de consumir.
Na sólida fase da modernidade, caracterizada pela dinâmica da produção, 
o indivíduo e a coletividade foram orientados a obter uma segurança que fosse 
resistente ao tempo, que fosse duradoura. De fato, essa era a justificativa para ter 
um pleno emprego: estabilidade.
Em contraponto, na direção da sociedade de consumidores, ou fase líquida 
da modernidade, percebe-se uma instabilidade de desejos e insaciabilidade das 
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necessidades individuais. Para o autor, os objetivos da vida (identidade, futuro) 
são configurados de maneira diferente e o que tinha valor (trabalho) deixa de ter 
vital importância. No entanto, ele não perdeu de vista o fato de que essas mudan-
ças têm raízes estruturais, causadas principalmente pelas mudanças das funções 
do papel do Estado, que privatizou e desregulamentou as atividades herdadas 
no período pós-guerra, para serem transferidas para poderosas multinacionais.
Nesse contexto, entende-se o motivo pelo qual a substantividade do tra-
balho é alterada pelas pressões econômicas. A força que o mercado adquire 
na órbita do setor público impõe novas formas de produção (distanciadas do 
trabalho) e novos padrões de produtividade e competitividade (que tendem a 
exacerbar os níveis de consumo).
Portanto, quando o indivíduo vive em constante incerteza sobre seu pos-
sível acesso ao trabalho, passa de uma identidade baseada no trabalho para 
uma identidade baseada no consumo. Ao perder peso, o valor dos indivíduos 
como seres produtivos na sociedade (trabalhadores, burocratas, profissionais), 
a ênfase passa a estar em outros conceitos, como tempo, liberdade ou felicidade 
enquanto novos objetivos de vida.
Nesse sentido, já que o elemento que seguirá o curso das sociedades atuais 
será a incerteza, o tempo será caracterizado por sequências, rupturas e des-
continuidades; será inconsistente e a própria ideia de tempo será quebrada na 
infinidade de momentos eternos.
Uma vez caracterizado o indivíduo consumista, Bauman desenvolveu o 
segundo tipo ideal (a sociedade de consumo), definida como um conjunto de 
condições de existência sob as quais as chances de a maioria dos homens e das 
mulheres adotar o consumismo antes de qualquer outra cultura são muito altas. 
Esse tipo de sociedade define seus membros com base em sua capacidade de 
consumir, pois gera um ambiente propício para avaliar, orientar e sancionar a 
velocidade de resposta de seus membros na escolha do modo de vida e, assim, 
são definidas as estratégias essenciais para pertencer a ela.
O poder de compra na sociedade de consumo está relacionado ao desem-
penho individual, pois consumir significa investir no próprio pertencimento à 
sociedade. Dessa maneira, as pressões sociais gerarão clima de reprodução de um 
sistema que vive de, para e a partir do consumo. Antes de consumir, você precisa 
tornar-se um produto – e é essa transformação que regula a entrada no mundo 
do consumo –, para ter, pelo menos, uma oportunidade razoável de exercer os 
direitos e cumprir as obrigações como consumidor.
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O terceiro tipo ideal (cultura consumista) foi desenvolvido com base nas carac-
terísticas que definem o indivíduo na sociedade de consumo: a liberdade de escolha 
e a liberdade de descartar os indesejados. Esse conceito, que historicamente tem 
sido encarado de maneira filosófica na formação de novas realidades, é concebido, 
agora, na modernidade líquida, como uma liberdade para escolher e consumir.
Liberdade e tempo andam de mãos dadas na lógica do consumismo. A liber-
dade de escolha será diretamente proporcional à urgência de decisão. Por esse 
motivo, a cultura consumista sugere viver com intensidade, com o máximo de 
aproveitamento do potencial do momento, porque a fórmula é que você aprenda 
rápido, mas se esqueça com a mesma velocidade.
A principal consequência do mundo oposto ao sólido cria ansiedade nas 
pessoas, segundo Bauman. A necessidade de reinventar-se no emprego faz com 
que muitos trabalhadores fiquem para trás e não atendam aos requisitos atuais, 
o que gera frustração. Além disso, a necessidade de relacionar-se vai contra a 
falta de compromisso e o medo de perder a liberdade. Na sociedade de hoje, 
não podemos apegar-nos, visto que tudo é mutável e efêmero. Tudo é líquido e a 
possibilidade de perder é mais do que provável.
 
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3 
SOCIEDADE DO
CANSAÇO
Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, em Sociedade do Cansaço (2010), de-
senvolveu uma análise sobre as consequências das normas culturais do mer-
cado neoliberal em nossas vidas.
Para ele, cada época tem a sua própria doença. A anterior teria sido viral, 
infecciosa, referindo-se a uma ameaça exterior (século XIX, cólera, pandemias 
etc.), e a enfermidade do século XXI seria “neuronal”. O ser que produz também 
é o que, ao mesmo tempo, sofre das doenças causadas por estresse, depressão, 
burnout, entre outras. O surgimento delas não seria de origem externa, mas 
interna, produzidos “por excessos de positividade”. Pouco a pouco e proporcio-
nalmente ao crescimento do desajuste, o colapso começa a acontecer.
Figura 8 - Homem moderno sobrecarregado com as demandas do trabalho
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A definição mais aceita sobre a síndrome de Burnout se fundamenta na perspectiva so-
cial-psicológica de Maslach & Jackson, que considera burnout uma reação à tensão emo-
cional crônica por lidar excessivamente com pessoas. É um construto formado por três 
dimensões relacionadas, mas independentes: a) exaustão emocional, caracterizada por 
falta de energia e entusiasmo, por sensação de esgotamento de recursos, que pode so-
mar-se ao sentimento de frustração e tensão nos trabalhadores; b) despersonalização, 
definida pelo desenvolvimento de insensibilidade emocional, que faz com que o profissio-
nal trate os clientes, os colegas e a organização de maneira desumanizada; c) diminuição 
da realização pessoal no trabalho, qualificado por uma tendência do(a) trabalhador(a) em 
avaliar-se de forma negativa, o que o(a) torna infeliz e insatisfeito(a) com seu desenvolvi-
mento profissional.
Fonte: adaptado de Carlotto e Palazzo (2006).
explorando Ideias
Cada sociedade cria seu “homem invisível”. Nesse caso, o invisível quer dizer o 
normal, aquele que não se destaca, que se confunde com a paisagem. O ser hu-
mano invisível que temos hoje é o ser humano que vive em estresse e que cumpre 
todas as metas. A mulher e o homem trabalhador, eficazes em todas as dimensões 
em que se propõem a trabalhar não se destacam em meio aos demais, pois todos 
estão à procura dos mesmos objetos e objetivos.
No entanto, Sociedade do Cansaço se refere ao efeito final de uma sociedade 
performática ou, como diria Byung-Chul Han, de uma sociedade do rendimen-
to. O filósofo, no primeiro capítulo, tenta explicar sua teoria a partir do mito de 
Prometeu ao afirmar que a águia é um relacionamento consigo mesmo, no qual 
há relação de autoexploração. A dor do fígado, que é indolor, tipifica o cansaço. 
Assim, Prometeu, como sujeito, torna-se vítima de um cansaço infinito. Essa seria 
a figura original da sociedade do cansaço.
Segundo o autor, a sociedade disciplinar de Foucault, com suas prisões, hospi-
tais e hospitais psiquiátricos, não corresponde mais à sociedade atual. Uma nova 
sociedade de academias, torres de escritórios, laboratórios genéticos, bancos e 
grandes shopping centers compõem o que ele chama de sociedade do rendimen-
to. O “sujeito da obediência” anterior foi substituído pelo “sujeito do rendimento”. 
Aquelas velhas muralhas que delimitaram o normal do anormal e toda a negati-
vidade da dialética que envolvia a sociedade disciplinar caíram. Hoje, a sociedade 
com desempenho positivo substituiu a proibição pelo verbo modal “poder”, com 
seu plural afirmativo “sim, nós podemos”. Motivações, empreendedorismo, pro-
jetos e iniciativas substituíram a proibição, o mandato ou a lei.
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O sujeito do rendimento está em guerra consigo mesmo, afirma Byung-Chul. Livre 
de um domínio externo que o obriga a trabalhar ou que o explora, submetido so-
mente a si mesmo, o sujeito do rendimento é abandonado à liberdade forçada ou à 
livre obrigação de maximizar seu desempenho. O excesso de trabalho se torna mais 
agudo e se torna uma autoexploração. Isso é muito mais eficaz do que a exploração 
vinda de outros, pois é acompanhado por um sentimento de liberdade.
O excesso de positividade também variou a estrutura e a economia da aten-
ção. A superabundância de estímulos e informações causou a fragmentação e a 
dispersão da percepção. Essa fragmentação ou atenção multitarefa à qual o sujeito 
contemporâneo está sujeito é uma capacidade que não apenas aparece nos seres 
humanos, explica o autor, mas é amplamente utilizada em animais selvagens. A 
multitarefa é uma técnica vital de sobrevivência na selva: um animal selvagem 
deve sempre estar ciente dos diferentes elementos de seu ambiente para evitar 
ser comido por outros predadores. Isso torna impossível mergulhar na contem-
plação. A capacidade de atenção profunda e contemplativa, da qual descem as 
grandes realizações da humanidade, é progressivamente substituída por supe-
ratenção e hiperatividade. A agitação permanente, a supremacia da vida ativa 
amplamente elogiada na sociedade performática não gera nada de novo, reproduz 
e acelera o que já existe. A sociedade da performance, como uma sociedade ativa, 
tem gradualmente se tornado uma sociedade dopada e ainda acrescenta que o 
uso de drogas inteligentes, que permitem operar sem alterações e maximizar 
desempenho, é uma tendência bem argumentada, mesmo por cientistas sérios 
que consideram irresponsável o uso dessas substâncias. O ser humano como um 
todo, não apenas o corpo, tem se tornado uma “máquina de performance”.
Esse é o estado de nossa sociedade, segundo Byung-Chul Han. As fronteiras 
do próprio corpo, da psique e da moral são constantemente varridas, dirigidas 
pelas possibilidades de pessoas que estão na ativa. É doloroso imaginar como esse 
processo acontece no ser humano em seu mundo de trabalho, justamente em uma 
sociedade em que o trabalho representa a totalidade da vida e existência humanas.
Essa dinâmica faz parte das concepções do sujeito de nossos tempos. Funciona 
como um mecanismo que mantém o ser humano como um ideal sempre efetivo e 
produtivo, conectado ao imediatismo da tecnologia, sobrecarregado pela dimensão 
da urgência das possibilidades do saber e acesso a tudo sem limites estabelecidos.
Os perigos advindos desse cansaço não dizem respeito apenas ao indivíduo 
e à sua saúde, mas também afeta toda a dimensão social e afetiva: ele isola e 
divide. A percepção do outro, assim como o autoconhecimento, requer tempo. 
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Han afirma que o cansaço faz com que as famílias desapareçam, as amizades 
sejam extintas e os relacionamentos amorosos fiquem desgastados. Para o autor, 
o cansaço funciona como uma forma de violência, porque tem a capacidade de 
destruir a vida comunitária e toda a proximidade entre os seres humanos.Historicamente, podemos analisar os altos e baixos das grandes civilizações e os 
eventos históricos de grande magnitude, como cataclismos naturais, guerras ou 
mudanças estruturais em sua sociedade.
A Revolução Tecnológica, derivada do advento da Internet, trouxe mudança 
de paradigma no modo como a sociedade se relaciona interna e externamente. 
Já nasceu a primeira geração em que a Internet é uma extensão da sua própria 
pessoa, o que, sem dúvida, significa que surgem novas formas de socialização.
Ela consolida a definição de Marshall McLuhan da sociedade da mídia nos 
anos 60, a da “aldeia global” e a da mídia como uma extensão de pessoas. Hoje, 
podemos perceber não somente que a Internet já é uma extensão de nós mes-
mos, mas que se tornou um processo que se globalizou, o que gerou e ainda gera 
impactos em todo o mundo.
No cenário mais positivo, até 2020, a sociedade conectada terá trazido progresso 
econômico, social e ambiental significativo para centenas de milhões de pessoas. 
Isso permitirá que todos, tudo e qualquer lugar estejam conectados em tempo real.
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A SOCIEDADE
HIPERCONECTADA
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Quais são as implicações e consequências de uma parte crescente da nossa 
sociedade estar interconectada uns aos outros e com acesso a informações ins-
tantâneas de forma tão natural? Muitos desses efeitos já fazem parte do nosso 
cotidiano e afetam poderosamente muitas áreas: a forma como vivemos, como 
consumimos, como nos comunicamos ou fazemos política.
As últimas eleições presidenciais foram claras em mostrar o uso da tecnologia 
e das redes sociais para eleger o novo presidente do Brasil. As chamadas fake news 
invadiram os celulares e computadores de todo o país, mostrando a importân-
cia do uso dessa tecnologia como disseminação de transmissão de conteúdo. 
O presidente eleito conseguiu alavancar a participação na web para convertê-
-la na tradução moderna do significado de militância política pouco utilizada 
até o momento, mas que, de repente, 
tornou-se simples, atraente, acessível 
e eficaz a qualquer um. Pessoas de 
todas as faixas etárias enviaram aos 
seus amigos vídeos do YouTube com 
as aparições do candidato e defen-
deram suas posições em discussões 
intermináveis em redes sociais como 
Facebook, Twitter e Instagram.
Uma nova cultura surge por meio da sociedade hiperconectada. Os seus elementos 
constituintes – indivíduos ou instituições – são unidos por linhas de comunicação 
virtual. Em nossa sociedade atual, estamos todos unidos por uma série de linhas de 
comunicação mais ou menos visíveis, expressas de uma forma ou de outra na rede.
Uma sociedade hiperconectada parte do pressuposto de que existe acesso à 
Internet quase que a todas as pessoas. Sem dúvidas, a situação ainda não é assim. 
Ainda há divisão digital relativa, na qual segmentos populacionais não podem 
acessar um computador ou uma conexão de banda larga por razões como eco-
nomia, cultura e território. 
A experiência de viver em uma sociedade assim ainda não é comum para a 
maioria dos usuários da Internet. O perfil do usuário médio da rede geralmente 
é o de uma pessoa que a usa geralmente para tarefas como acessar e-mail, ler 
notícias, pagar contas, visualizar extrato bancário, baixar músicas e filmes, com-
prar ingressos para shows e procurar algo para resolver problemas domésticos 
Figura 9 - As redes sociais trazem novas 
formas de relacionamento
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(como trocar um chuveiro, por exemplo). Se dissermos a esse usuário comum 
que ele vive em uma sociedade hiperconectada é possível que ele se surpreenda 
e, até mesmo, negue que esteja fazendo parte dela.
A grande questão é que o nível de conectividade começa a atingir níveis 
realmente surpreendentes: é perfeitamente normal que uma pessoa se levante 
pela manhã e acesse o seu celular smartphone antes mesmo de tomar o café da 
manhã, mas isso não acontece apenas na hora de levantar-se. Muitas pessoas 
sentem a necessidade de ver as suas redes sociais a todo o momento, para ver se 
algo mudou, se alguém curtiu ou comentou a foto postada.
Os adolescentes são os mais afetados nesse processo e podem tornar-se de-
pendentes do uso do aparelho. Uma nova rotina de vida é gerada: checar as redes 
sociais ou usar por alguns minutos o celular na hora de dormir e no momento 
de levantar-se. Em sala de aula, ao ministrar uma aula de Sociologia no Ensino 
Médio, alunos relatavam para mim que, até mesmo durante o banho, conversa-
vam e respondiam mensagens de seus “amigos”.
Ao retomarmos os conceitos de modernidade líquida e sociedade de con-
sumo de Zygumnt Bauman, podemos verificar que a falta de lealdade à vida 
sólida da modernidade é acompanhada pela ideia de derrotar o tempo. Esse é, em 
grande parte, um dos propósitos mais caros incorporados nos usuários de redes 
sociais. Os internautas tentam informar toda a sua vida privada a vários amigos 
(principalmente virtuais) para serem aceitos nesse espaço virtual. Cada notícia é 
recompensada, especialmente as triviais – que são as mais populares. Os usuários 
divulgam no espaço público virtual todo tipo de informação: desde o almoço a 
atividades diárias e rotineiras, passando pelos comentários até os tópicos em voga 
ou as atividades de lazer locais.
Como as redes sociais funcionam em tempo real, as informações da manhã 
já estão obsoletas ao meio-dia e o que é publicado à tarde não importa mais à 
noite. O que é necessário é atualizar o perfil praticamente minuto a minuto para 
continuar colhendo comentários e reações e aumentando o número de seguido-
res. O estresse causado pelos usuários na necessidade de ganhar tempo nas redes 
sociais é evidente quando os protagonistas fazem todo o possível para posicio-
nar-se como objetos rentáveis e atraentes no mercado virtual. É por isso que há a 
necessidade de fazer upload de fotografias, informar detalhes íntimos e renovar 
informações pessoais o tempo todo.
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Quais são os elementos positivos e negativos da tecnologia na sua vida?
pensando juntos
O sucesso desses espaços de comunicação virtual é que eles exaltam, enraí-
zam a cultura consumista e transformam o usuário em um objeto de consumo 
tão dispensável quanto os outros. É por isso que o máximo de redes sociais deve 
informar quantos seguidores e comentários você tem em seu perfil, para dizer-lhe 
qual é o seu valor no ciberespaço.
Essas redes consomem novas informações instantaneamente apenas para 
descartá-las quase que imediatamente. Portanto, seguindo a alegoria, talvez a 
verdadeira paixão das redes sociais seja produzir resíduos no espaço virtual. A 
questão relevante é que os usuários são, de fato, os objetos que podem rapidamen-
te passar da glória ao esquecimento, a depender de suas habilidades para atender 
às necessidades de outros concorrentes virtuais.
Uma das grandes promessas da tecnologia, e uma das causas da revolução 
que levou às telecomunicações, foi dar-nos a possibilidade de conectar-nos em 
tempo real com pessoas que estão a distâncias que, sem a ajuda de dispositivos 
tecnológicos, poderíamos levar horas, dias, semanas ou meses para alcançar, co-
nhecer e estabelecer algum tipo de relacionamento.
Além disso, a grande promessa da tecnologia que origina a conectividade 
a níveis extraordinários nos garantiu que teríamos muito mais comodidade e 
rapidez para acessar informações, mais tempo para nós mesmos e poderíamos, 
assim, desfrutar mais da vida. Contudo, não é isso que temos visto e presenciado.
Figura 10 - Conectados com muitos e sozinhos na multidão
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A solidão que, de acordo com estudos recentes, tem nos matado, é mais um re-
sultado de uma sociedade com indivíduos cada vez mais isolados. O isolamento 
é um sintoma do produto das relações da nossa sociedade atual.
É um fenômeno humano oriundo de uma abordagem relacional na era da 
modernidade. Na Antiguidade, a solidão não aparece, pelo menos da forma como 
vemos hoje, porque foi vivida em comunidade. Não houve divisãoentre o ser 
individual e o coletivo.
O “penso logo existo” é uma sentença cartesiana que enaltece o “eu” como o 
único fundamento da realidade. A partir desse momento, desenvolvimento e as 
transformações política, social, cultural, econômica e tecnológica da modernida-
de ocidental foram construídas, tendo o ser humano como referência.
Contudo, o sentimento de solidão parece ser contraditório à própria condição 
da existência humana. O relacionamento com outros seres humanos tende a ser o 
motor que nos leva a dar sentido à nossa existência, a criar a linguagem, os afetos 
e os sentimentos. Sentido que, embora possa acontecer por meio do indivíduo 
em si, sempre precisará ser comunicado, conversado e compartilhado.
Aristóteles acreditava na natureza social do animal humano, muito diferente 
da abordagem moderna do lobo solitário de Thomas Hobbes, que concebia a 
natureza humana como um estado de isolamento violento.
A solidão está longe de ser uma questão exclusivamente individual. Os sujeitos 
que se sentem isolados vivenciam condições psicossociais que aumentam o estresse: 
situação econômica desfavorável, perda de um ente querido, discussões entre familia-
res ou amigos, ruptura de um relacionamento e problemas legais ou trabalhistas, as-
sim como recessões econômicas, instabilidade política ou social no país onde se vive.
As conexões digitais nos oferecem a ilusão da companhia sem as exigências 
que a amizade real possui. Nossa vida conectada nos permite esconder-nos uns 
dos outros, mesmo ao estarmos conectados. Preferimos enviar mensagens a con-
versar pessoalmente. Além disso, as novas tecnologias permitem manter uma vida 
social efervescente sem sair de casa.
Este livro que escrevi, por exemplo, é direcionado para alunos que estudam 
um curso de educação a distância, cuja formação acadêmica se dará, quase cem 
por cento, dependendo do acesso à rede mundial de computadores. O contato 
de sala de aula com outras pessoas será substituído pela presença de uma tela e 
pela interação virtual com outros alunos.
As redes sociais são ferramentas poderosas, se usadas corretamente. Novas 
tecnologias podem levar-nos mais à integração do que ao isolamento. A chave é 
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manter um equilíbrio e não permitir que os relacionamentos virtuais substituam 
os relacionamentos pessoais. Muitas pessoas reclamam que não conseguem esta-
belecer relacionamentos próximos, previsíveis e genuinamente recompensadores, 
tanto de amizade quanto de relacionamento amoroso. Isso acontece porque as re-
lações são cada vez mais mediadas, menos definidas e, consequentemente, muito 
complexas. Os relacionamentos “cara-a-cara” são tão básicos quanto necessários 
e não podem ser substituídos por aqueles que vivem na Internet.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade de consumo aponta um fenômeno que determina o sistema econô-
mico pelos valores culturais. Essa realidade é uma ideologia ativa que dá sentido à 
vida do indivíduo por meio da aquisição de produtos e experiências organizadas.
Uma das críticas mais comuns à sociedade de consumo é a que a encara 
como um tipo de sociedade que se rendeu às forças do sistema capitalista e que, 
portanto, seus critérios e bases culturais estão sujeitos às criações disponíveis 
ao alcance do consumidor. Nesse sentido, os consumidores finais perderiam as 
características de serem pessoas humanas e individuais para serem consideradas 
uma massa de consumidores, que pode ser influenciada por meio de técnicas de 
marketing a criar, inclusive, falsas necessidades.
Em contraste com a modernidade sólida, a modernidade líquida é caracte-
rizada como uma realidade cultural oposta à estabilidade que existia no período 
anterior. Todo o imaginário de estabilidade política, social e cultural não tem mais 
o sentido ou a razão de ser de que outrora gozavam.
Na sociedade do cansaço, percebemos que a internalização do mal é uma 
consequência do sistema neoliberal que alcançou algo muito importante: não 
precisa mais exercer a repressão, porque já foi internalizada. O homem moderno 
é seu próprio explorador e vive apenas buscar do sucesso.
A sociedade hiperconectada, por sua vez, tem contribuído para elevar a qua-
lidade de vida das pessoas, aperfeiçoar a ciência e o progresso da medicina, di-
minuir os custos das comunicações e as ferramentas de trabalho. Seus benefícios 
podem ser muitos. Em contrapartida, ainda não se sabe quais serão os efeitos 
negativas. A perda de postos de trabalho devido ao uso de computadores é real, 
a extinção de postos de trabalho operacionais e a reavaliação de trabalhos de 
conhecimento é um fato irreversível.
203
na prática
1. Pode-se dizer que o American Way of Life é uma interpretação da Constituição 
dos Estados Unidos, para a qual todos os seres humanos foram feitos iguais e são 
dotados de certos direitos inalienáveis por seu criador: vida, liberdade e direito de 
buscar a felicidade. No contexto norte-americano, surgiu o chamado estilo de vida 
americano. Em que consistia? De que forma influenciou o aumento do consumismo?
2. O consumismo iniciou seu desenvolvimento e crescimento ao longo do século XX 
como consequência direta da lógica interna do capitalismo e do surgimento da 
publicidade – ferramentas que incentivam o consumo e geram novas necessida-
des no consumidor. Isso ocorreu principalmente no chamado mundo ocidental, 
posteriormente estendido a outras áreas, tornando-se popular o termo criado pela 
sociedade de consumo da antropologia social referente ao consumo em massa de 
produtos e serviços. Conforme nossos estudos, explique a diferença entre os termos 
“consumo” e “consumismo”
3. Zygmunt Bauman explicou como algumas tendências das sociedades do capitalismo 
avançado afetam as relações pessoais. A inclinação ao individualismo mostra as rela-
ções como um perigo para os valores da autonomia pessoal. Assim, descreva como 
esse autor analisou os relacionamentos humanos na sociedade moderna líquida.
4. A sociedade de autoexploração e autovigilância precisa ser reconhecida pelo próprio 
sujeito, que deve tornar-se, dessa maneira, o objeto de uma grande máquina que 
ainda está sendo construída. Como o filósofo Byung Chul-Han define a sociedade 
do cansaço?
5. Atualmente, uma nova categoria apareceu na classificação tipológica da comunica-
ção humana: a sociedade hiperconectada, que tem a capacidade de estar em lugares 
diferentes, mas, ao mesmo tempo, estar em conjunto, associando-se a redes de 
conexão social novas e complexas. Por que a sociedade hiperconectada tem gerado 
cada vez mais indivíduos solitários?
204
aprimore-se
A obsolescência programada (o fabricante interrompe/programa a vida útil dos 
produtos intencionalmente) aparece pela primeira vez na década de 30 como uma 
solução ao desemprego e à crise econômica que atingiu principalmente os Estados 
Unidos e em seguida vários países do mundo. A crise de 29, que levou os Estados 
Unidos a registrar 25% de desemprego da sua População Economicamente Ativa- 
PEA - teve início na segunda década do século XX, mais precisamente a partir de 
1925, quando a euforia pelo consumo deu lugar à depressão. A crise tem suas bases 
na mecanização que gerou muito desemprego, ou seja, a mudança da composição 
orgânica do capital, preconizada por Karl Marx no século XIX (Marx, 1996), e no au-
mento da produção, enquanto o salário permanência nos mesmos patamares.
Houve um aumento da oferta, mas a demanda não acompanhou. Registra-se 
uma crise de superprodução. As indústrias, sem alternativa pela baixa procura de 
seus produtos, diminuem a produção e começam a demitir funcionários, agravando 
ainda mais a crise; com isso, a crise naturalmente chega ao mercado de ações e seus 
reflexos logo são sentidos em todo o mundo. Os Estados Unidos não podiam contar 
com a ajuda de seus parceiros comerciais europeus, devido à recuperação por que 
passavam logo após a Primeira Guerra Mundial. Portanto, sem medir consequên-
cias, reduz suas compras e empréstimos a paísesciência do homem.
Mantém relações interdisciplinares mais íntimas com as ciências 
que centram seu interesse especificamente no estudo do homem e 
que emprestam a ela os dados pesquisados e acumulados em relação 
a todos os aspectos da existência humana: Sociologia, Psicologia, 
Economia Política, Geografia Humana, Direito e História.
A Antropologia vem firmando-se como ciência do homem que exige, 
cada vez mais, a cooperação entre os seus especialistas e os de outras 
ciências, pois cada série de problemas requer a utilização de métodos 
específicos altamente técnicos (MARCONI; PRESOTTO, p. 10).
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ORIGENS DA 
CIÊNCIA POLÍTICA
O que é política para você? Para que ela serve? Quando você ouve essa palavra, 
quais são os sentimentos invocados em você? São positivos ou negativos? Nor-
malmente, temos a percepção de que a política deve permanecer distante de nós 
e que somente os nossos governantes podem apropriar-se do termo, pois eles 
seriam, de fato, os políticos em atuação. Nós, enquanto pessoas comuns, não 
deveríamos pensar sobre política, nem sequer pensar sobre como ela funciona. 
Já ouviu a expressão de que “lugar de estudante é em sala de aula e não em mani-
festações”? Que a escola deveria servir apenas para o estudo e não como possível 
agrupamento de pessoas que “sai por aí” em manifestações?
Outro sentido que encontramos para a palavra é quando dizemos que “essa 
não é uma política da nossa empresa”, ou “não temos como política a prática dessa 
atividade na nossa escola”. Nesses casos, o termo empregado sugere a forma como 
determinada instituição orienta as suas decisões, como se a política adotada fosse 
um manual de instruções de práticas que podem ou não ser praticadas. Nesse sen-
tido, as políticas seriam diretrizes para orientar a ação. Serviriam como critérios 
a serem observados na tomada de decisões, sobre um problema que se repete em 
uma organização. Pode ser uma política geral, na qual as regras se aplicam a todos 
os níveis da empresa e tem alto impacto ou criticidade, por exemplo: políticas or-
çamentárias, políticas de remuneração, política de qualidade, política de segurança 
abrangente, entre outras. Também podem ser políticas específicas, que são as regras 
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que se aplicam a determinados processos, como: política de vendas, política de com-
pras, política de segurança de computadores, políticas de inventário, entre outros.
Caro(a) aluno(a), você observou como o termo “política” pode ser utilizado 
para vários significados? Para que fique mais evidente, buscaremos, por meio 
desta reflexão, analisar os diferentes significados e escopos do que se denomina 
por política, seja como uma indagação do conceito e sua interação com outras 
atividades e disciplinas em que o homem está inserido, seja como alcance das 
ideologias e reflexo das suas consequências nos mais variados grupos sociais.
Como surgiu a Ciência Política?
A palavra “política” se origina das palavras gregas polis, politeia, política e politiké.
• Polis: a cidade, o Estado, a área urbana ou urbanizada, o encontro dos 
cidadãos que compõem a cidade.
• Politeia: o Estado, a Constituição, o regime político, a República, a cida-
dania (no sentido do direito dos cidadãos).
• Política: plural neutro de políticos, aquilo que é político e cívico, tudo so-
bre o Estado, a Constituição, o regime político, a República e a soberania.
• Politiké (techné): a arte da política.
Figura 7 - Templo de Parthenon na colina da Acrópole, em Atenas, Grécia
A Ciência Política, no sentido de dar explicação ordenada e sistematizada do 
Estado, tem sido uma ciência desde a sua criação. Os gregos são os criadores da 
política e da Ciência Política. Para eles, este seria o estudo ou o conhecimento 
da vida comum dos homens, de acordo com a estrutura essencial desta vida, que 
é a constituição da cidade.
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O espaço político surge como lugar público no qual a vida política pôde tomar 
forma: a oratória, o espaço comum no qual temas de interesse geral, como ética e 
educação, podiam ser debatidos; era, para o povo grego, o terreno do comum. Na 
verdade, fazer política era participar da vida em comum, uma obrigação de cada 
cidadão para si e para os outros; desistir de fazer política significava renunciar 
ao governo e, portanto, deixar de ser livre.
A Grécia Antiga é, por assim dizer, a mãe da civilização europeia. Entre os gre-
gos, Aristóteles não foi apenas o principal promotor do conhecimento científico, 
mas também o autor de uma grande descoberta: que toda ciência tem sua indi-
vidualidade. Devemos a ele a política, a Ciência Política e a sua situação dentro 
das demais áreas da ciência. Para ele, o ser humano é um ser racional e social. Tal 
divisão ou ambiguidade de significado 
será fundamental para expressar o que 
será justo ou injusto na sociedade, o 
que é valioso ou não entre os homens, 
o que é que é prejudicial ou bom para 
o bem comum. Ele deu origem à ideia 
de que o ser humano é um animal 
político, ou seja, que necessita bus-
car a convivência com a comunidade, 
pois, sem ela, sente-se só e incompleto. 
Nessa perspectiva, a política, seria uma 
atividade inerente à natureza humana.
Em Protágoras, Platão considera o 
conceito de política como um co-
nhecimento concebido em termos de 
propósitos práticos. O filósofo tenta 
definir a essência das virtudes cívicas 
fundamentais que apresentam o co-
nhecimento do bem como a essência 
de todas as virtudes. Portanto, o filó-
sofo estaria apto para governar como 
um líder de Estado, já que seria tarefa 
a ser praticada por quem possui o co-
nhecimento do bem, isto é, o funda- Figura 9 - Estátua de Platão
Figura 8 - Estátua de Aristóteles
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mento do princípio que constrói uma sociedade e para o qual toda a existência 
humana deve ser dirigida. Assim, nesse mesmo diálogo, Sócrates é tido como 
mestre da “arte política”, absorvendo em si a tarefa de forjar os homens como 
bons cidadãos; Platão se refere à “técnica política” como busca de uma objetivi-
dade rigorosa, portanto, um conhecimento não específico das massas, mas um 
conhecimento filosófico supremo.
Aristóteles e Platão marcaram um pe-
ríodo específico em que as primeiras ideias 
sobre Ciência Política foram construídas. 
No decorrer da história, houve diversos 
pensadores importantes, que ajudaram 
para que a política encontrasse o seu es-
paço no campo das Ciências Sociais.
No século XVI, Maquiavel de destacou 
por dar o panorama da modernidade polí-
tica. Na segunda metade do mesmo século, 
Jean Bodin abordou sistematicamente os 
chamados fenômenos políticos.
Thomas Hobbes (1588 - 1679) afirmou 
que o pior inimigo de um homem é outro 
homem, expressando sua concepção de ser 
humano: o homem é o lobo do homem, e 
argumenta que viver com outros homens 
torna-o pior. A partir dessa posição, cons-
truiu o conceito de política relativo a quem 
detém o poder do governo, entendido como 
meio de manter vantagens e privilégios.
Figura 11 - Thomas Hobbes
No contexto do Iluminismo, surgiu Montesquieu, contestando várias teses de 
Aristóteles com o uso detalhado da razão. Com as suas teses, todos esses autores 
mencionados contribuíram para o estabelecimento da temática no longínquo 
século XIX. A partir desse momento, falar de Ciência Política passou a ser mais 
comum no cotidiano. Novos acadêmicos começam a aparecer e a interessar-se 
por essa dinâmica, o que permitiu o seu estabelecimento como ciência autônoma.
Figura 10 - Estátua de Maquiavel
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Alexis de Tocqueville deve ser mencionado com o uso do método de obser-
vação direta dos fatos. Augusto Comte estabeleceu as bases objetivas do método 
científico. Karl Marx contribuiu com uma nova explicação dos fenômenos do 
poder em geral. Com isso, no final do século XIX, o reconhecimento e a vida 
cotidiana permitiram que a Ciência Política se posicionasse no campo acadêmico.
Nos Estados Unidos, recebeu maior apoio e impulso paraestrangeiros, ocasionando com 
isso uma crise mundial.
Uma das alternativas para minimizar a crise instalada, veio do presidente eleito 
Franklin Roosevelt (1881-1945), que propôs, já no início do seu mandado em 1933, 
que o Estado passasse a interferir fortemente na economia. O resultado disso foi a 
criação de grandes obras de infraestrutura, salário-desemprego, assistência aos tra-
balhadores, e concessão de empréstimos. Estas políticas fiscais e monetárias tinham 
sua origem na escola keinesiana e um de seus maiores defensores foi seu criador 
John Maynard Keynes (1883-1946), economista britânico, cujos ideais serviram de in-
fluência para a macroeconomia moderna. Keynes defendia a intervenção do Estado 
na economia para diminuir a possibilidade das crises cíclicas do sistema capitalista.
205
aprimore-se
O primeiro passo para a obsolescência planejada deu-se em 1924. Um grupo de 
fabricantes de lâmpadas dos Estados Unidos e Europa se reuniram para determinar 
a vida útil das lâmpadas. O cartel S. A. Phoebus determinou que as lâmpadas deve-
riam ter uma vida útil de 1000 horas, contra as 3000 horas das que estavam sendo 
produzidas na época. As empresas Osram e Philips comandavam a reunião e os fa-
bricantes que não seguissem a determinação do grupo (cartel) seriam punidos com 
multas (Revista Printer’s, 1928). Portanto, a lâmpada que foi inventada por Thomas 
Edison em 1881 (neste período com 1.500 horas de vida), foi a primeira vítima da 
obsolescência programada.
A introdução do conceito de obsolescência programada surgiu pela primeira vez 
em 1932 pelo então investidor imobiliário americano Bernard London em seu folheto 
“Ending the Depression Through Planned Obsolescence” - Acabar com a depressão através 
da obsolescência planejada. Plano que não foi posto em prática pelas autoridades da 
época. A teoria de London, consistia em que todos os produtos deveriam ter seu ciclo 
de vida interrompidos (London, 1932), e assim os consumidores voltariam às compras, 
gerando mais procura e, portanto, mais emprego, pondo fim à crise.
Segundo London (1932), a tecnologia moderna aumentou a produtividade das em-
presas e consequentemente a qualidade dos produtos, dando uma vida útil maior. As 
pessoas, por estarem assustadas com a depressão, estavam usando tudo o que pos-
suíam por mais tempo, com isso, prolongando ainda mais a crise. O governo deveria 
estipular um prazo de vida aos produtos na sua criação, e o consumidor, ao adquirir 
o bem, já saberia o prazo de vida, que segundo London, depois do tempo expirado, 
estas mercadorias estariam legalmente “mortas”. As mercadorias obsoletas deveriam 
ser devolvidas para o governo que emitiria um cupom com um valor expresso para 
ajudar na aquisição de outra mercadoria. O vendedor utilizaria o cupom do consumi-
dor para trocar com impostos devidos ao governo federal. Se sua teoria fosse coloca-
da em prática, London garantiria que as fábricas não fossem parar de produzir, e as 
rodas das indústrias manteriam em movimento o emprego e a renda da população. 
206
aprimore-se
London chegou a propor, inclusive, um imposto (uma multa) sobre as pessoas que 
continuassem a utilizar produtos legalmente fora do prazo de validade (SLADE, 2006, 
p.77). Suas ideias não saíram do papel.
Já no bloco comunista na do Leste Europeu, a obsolescência programada não 
poderia ser aplicada. Pelo contrário, as indústrias criaram máquinas que chegavam 
a durar 25 anos. O sistema socialista da antiga União das Repúblicas Socialistas So-
viéticas (URSS) tinha uma outra concepção de produção. Não havia a figura do ca-
pitalista, e o Estado era dono do modo de produção. Com a falta de recursos, tanto 
matérias-primas quanto tecnológicos, faziam com que a obsolescência não fosse 
desejada, visto que causaria prejuízo para o Estado. Mas do outro lado, no Ocidente 
ela era amada e desejada, muitas vezes até projetada. London (1932) não sabia, 
mas sua ideia de que a vida das mercadorias deveria ser determinada pelos enge-
nheiros, projetistas, economistas, matemáticos, especialistas em suas áreas, seria 
copiada a partir da década de 50.
Após a crise de 29, o mundo assiste uma recuperação econômica e social por 
longos dez anos, mas esse período tem fim quando se inicia a Segunda Grande 
Guerra Mundial (1939-1945). Já nos anos 50, resgata-se a obsolescência programa-
da quando começa a utilizar os meios de comunicação para seduzir o consumidor, 
apresentando novos designs e produtos com novas funções. Desperta no consumi-
dor o desejo de ter o “novo”, o “moderno”, o produto da moda que a massa crítica ou 
social está utilizando, é a obsolescência percebida, companheira da planejada, cujos 
objetivos são um só: a intensificação do consumo.
Fonte: Conceição, Conceição e Araújo (2014, p. 91-93).
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eu recomendo!
Modernidade Líquida
Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Sinopse: Bauman examina, a partir da Sociologia, cinco noções 
básicas em torno das quais a narrativa da condição humana gira: 
emancipação, individualidade, tempo/espaço, trabalho e comuni-
dade – conceitos que estão hoje vivos e mortos, ao mesmo tempo.
livro
Vida para consumo
Autor: Zygmunt Bauman
Editora: Zahar
Sinopse: Nesse livro, Bauman continua e aprofunda a análise dos 
mecanismos pelos quais a sociedade atual, em sua fase de mo-
dernidade líquida, condiciona e projeta a vida dos sujeitos, focan-
do em suas particularidades como consumidores. Com o advento 
da modernidade líquida, a sociedade de produtores é transformada em sociedade 
de consumo. Nessa nova sociedade, os indivíduos são, simultaneamente, os pro-
motores do produto e o produto que promovem.
livro
Sociedade do cansaço
Autor: Byung-Chul Han
Editora: Vozes
Sinopse: A sociedade ocidental está sofrendo uma silenciosa mu-
dança de paradigma, um excesso de positividade que conduz a 
uma sociedade do cansaço.s são, simultaneamente, os promoto-
res do produto e o produto que promovem.
livro
208
eu recomendo!
Minimalismo – Um documentário sobre as coisas importantes
Ano: 2016
Sinopse: Diante do excesso de consumismo que prevalece na 
sociedade norte-americana, cresce um estilo de vida que se pro-
põe a conviver com o que é necessário: o movimento minimalis-
ta. Essa corrente social, que tem cada vez mais seguidores nos 
Estados Unidos, agora conta com um documentário produzido 
pela Netflix, que expõe suas ideias essenciais. Minimalismo expõe os benefícios 
do “menos é mais” por meio de numerosos testemunhos de pessoas que se de-
claram contra o atual modelo de sociedade baseado no consumismo e decidiram 
viver para priorizar pessoas a coisas
filme
Excelente texto que aborda a situação do nosso país, no qual notamos que a 
maioria da população está envolta no consumo desenfreado. “Pesquisa mostra 
que 76% não praticam consumo consciente no Brasil".
https://g1.globo.com/natureza/blog/amelia-gonzalez/post/2018/07/25/pesquisa-
-mostra-que-76-nao-praticam-consumo-consciente-no-brasil.ghtml
conecte-se
https://g1.globo.com/natureza/blog/amelia-gonzalez/post/2018/07/25/pesquisa-mostra-que-76-nao-praticam-consumo-consciente-no-brasil.ghtml
https://g1.globo.com/natureza/blog/amelia-gonzalez/post/2018/07/25/pesquisa-mostra-que-76-nao-praticam-consumo-consciente-no-brasil.ghtml
209
conclusão geral
conclusão geral
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final deste livro com a percepção de que muito ainda 
precisa ser desvendado sobre a relação do ser humano com a sociedade na qual 
está inserido. Percebemos o quão complexo é o saber humano, tanto no que con-
cerne aos seus dilemas individuais – como angústia, isolamento, desejo por respon-
der às questões elementares da vida humana, entre outros – quanto da forma como 
tem se organizado para viver socialmente da melhor forma possível.
A curiosidade do homem o levou a conhecer o seu ambiente natural e social. 
Proporcionalmente ao crescimento do conhecimento, a ciência define seus campos 
de estudo em disciplinas como Economia, Direito,consolidar-se. 
Multiplicaram-se estudos sobre forças políticas, eleições e questões relacionadas 
à distribuição de poder. É por isso 
que é um dos países em que o maior 
desenvolvimento da disciplina foi 
registrado. Além disso, a presença 
de circunstâncias internacionais, 
favoreceram seu avanço, especial-
mente no período entre guerras e, 
particularmente, após 1945, com 
a culminação da Segunda Guerra 
Mundial. O reconhecimento e a 
precisão de seu campo de estudo e 
conteúdo começaram a tornar-se 
mais palpáveis após esses eventos.
 
Enquanto disciplina, a Ciência Política 
continua em franco desenvolvimento 
e atingiu um nível de maturidade que 
lhe permitiu ter alto grau de autonomia. 
Contudo, enfrenta alguns problemas no 
que diz respeito aos seus métodos de 
pesquisa. Enquanto cientistas políticos 
norte-americanos concentram seus es-
tudos na elaboração de hipóteses e na 
busca de teorias, os europeus, por sua 
parte, tentam aproximar-se dos fatos e 
obter resultados mais concretos.
Figura 12 - Soldados em ação – Segunda Guerra
Mundial / Fonte: Pixabay ([2019], on-line)¹.
Figura 13 - Capitólio dos Estados Unidos
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Agora, a disciplina está na busca de abordagens que permitam integrar ambas 
as perspectivas e, assim, obter melhores resultados. Muitos dos métodos e abor-
dagens que ainda existem devem ser modernizados e adaptados às demandas 
do presente, a fim de serem mais eficientes e obterem maior credibilidade nos 
resultados que são lançados.
Em síntese, a Ciência Política se desenvolve e se aprimora como ciência e estuda 
os aspectos das relações existentes no Estado, as suas instituições e a sua relação 
com os seres humanos as quais fazem parte de sua composição. Seu objeto de es-
tudo principal é o Estado, entendido como a instituição que governa os indivíduos 
e que compõem um grupo social em um território específico, sobre o qual é seu 
dever legislar, extrair e distribuir recursos. Desse significado, surge o poder estatal, 
que defende e mantém uma ideologia própria, conforme visto nas atuais disputas 
políticas. Portanto, o objeto da Ciência Política, em suma e de forma abrangente, 
seria o estudo do Estado e das relações de poder; estuda a teoria e a prática da 
política, desde sua doutrina às manifestações individuais. Os sistemas de compor-
tamento da sociedade em relação à política, a influência disso na sociedade e as 
interações entre atores políticos e indivíduos também são analisados por cientistas 
políticos ou graduados em Ciência Política. Seu trabalho baseia-se na observação 
e na compreensão correspondente de atos e manifestações políticas, para formular 
princípios e regras comuns a essa disciplina e seu funcionamento. Para isso, inte-
rage com outras disciplinas, a maioria pertencente ao campo das Ciências Sociais.
Se você gostou dessa disciplina e pensa em atuar na área, aqui vão algumas 
dicas com relação à sua atividade: o pensamento crítico é apresentado como a 
habilidade fundamental que os profissionais devem ter, bem como uma capa-
cidade desenvolvida da observação e da percepção para entender os diferentes 
fenômenos políticos enfrentados. Logo, suas funções podem ser exercidas no 
campo diplomático e na própria política (assessoria de vereadores, deputados, 
senadores), trabalhando em conjunto com governos e órgãos oficiais, mas tam-
bém em consultoria ou assessoria a diferentes empresas. Além disso, a carreira 
acadêmica como cientista político conta, no Brasil, com várias universidades 
conceituadas, com longo histórico de atividades.
É uma carreira vasta no que se refere aos campos de atuação, uma vez que 
várias organizações internacionais estão constantemente à procura de pessoal 
treinado para realizar tarefas de consultoria no exterior. Além disso, diplomatas 
e investigadores políticos cumprem a maioria de suas funções em outros países.
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ORIGENS DA 
FILOSOFIA
As novas formas de comunicação, publicidade e marketing geraram, nos últimos 
anos, novas oportunidades de emprego para graduados em Ciência Política. Assim, 
aqueles que inicialmente se limitaram a ensinar ou trabalhar em agências governa-
mentais, atualmente trabalham como assessores discursivos de várias autoridades 
ou associações políticas, e até mesmo, como assessores de imagem e campanha.
A Filosofia não é apenas uma área específica destinada apenas a pensadores 
extraordinários e excêntricos, como normalmente pensamos. Podemos todos 
filosofar quando, por exemplo, estamos imersos nas nossas tarefas cotidianas, e 
fazemos perguntas a nós mesmos sobre a vida e sobre o universo.
Somos curiosos por natureza. Desejamos sempre encontrar o sentido do que 
está à nossa volta e queremos que, de alguma forma, os questionamentos sejam 
solucionados por meio do nosso raciocínio. É natural, portanto, querer saber sobre 
o mundo que nos rodeia e qual o nosso papel no contexto que nos encontramos.
Ao mesmo tempo, temos uma capacidade intelectual tremenda que nos per-
mite, além de questionarmos, racionalizarmos possíveis respostas e, mesmo sem 
perceber, quando praticamos essa dinâmica, praticamos também a Filosofia. Esta 
consiste muito mais no processo de tentar encontrar respostas a perguntas 
imprescindíveis, mediante a razão, sem aceitar as normas ou os conceitos tradi-
cionais pré-concebidos, do que no fato de encontrar as respostas.
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Não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, 
precisamente porque o pensar é próprio do homem como tal.
(Antonio Gramsci).
pensando juntos
De acordo com o que discutimos, temos a impressão de que a Filosofia seria 
utilizada, portanto, somente no campo das ideias, sem nenhuma relação com 
aspectos práticos do nosso cotidiano, como se a função do filósofo fosse a de ape-
nas especular sobre questões teóricas longe da nossa realidade material. Muitos 
afirmam nos nossos tempos: “Filosofia não serve para nada”, “Filosofia não gera 
renda para o país”, “do que adianta pensar e nada fazer”. Continuariam a dizer, 
ainda, que o melhor seria cultivar disciplinas e atividades que tenham impacto 
real na sociedade em que vivemos e que esqueçamos toda ciência ou disciplina 
como a Filosofia, a sociologia e a antropologia, que não geram riqueza para o 
país e para a sociedade. É como se a Filosofia tivesse a capacidade de somente 
atrapalhar a vida prática das pessoas, pois ela aponta questões que nos auxiliam.
Figura 14 - Pensar: inquietação e reflexão filosófica
Na verdade, a Filosofia nos alerta de que existem determinados aspectos da nossa 
vida, que são muito importantes para a nossa existência e que precisam vir à tona 
para pensarmos sobre eles. Por exemplo, a todo o momento, perguntamo-nos: “que 
horas são?”. Parece uma pergunta simples, mas é um questionamento profundo que 
não paramos para pensar que se trata de uma questão temporal. Na realidade, o 
tempo é uma das questões mais antigas e cruciais do pensamento filosófico. Contu-
do, ficamos preocupados apenas com a nossa relação com o tempo, no aqui e agora, 
como se as horas do nosso relógio fossem a única preocupação que poderíamos ter.
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Muitos filósofos tentaram decifrar a 
questão do espaço-tempo, no decorrer 
dos séculos. Os primeiros filósofos acredi-
tavam que o tempo só se limitava na dire-
ção do passado. Já os pensadores da idade 
média, contestaram essa ideia, afirmando 
que existia um “finitismo temporal”, onde 
o passado teria um tempo limitado.
Durante toda a história da Filosofia não tivemos uma resposta clara e inequívoca 
acerca da pergunta sobre o tempo e lidamos com esse fato como se não houves-
se importância alguma. Pense comigo: se nos atentarmos e pensarmos sobre o 
tempo e o papel que temos nele, daremos muito mais importância e sentido para 
a forma de vida que levamos. Elencaremos prioridades e atitudes que nos farão 
aproveitar todos os momentos da vida de forma mais intensa. Conflitos e atritos 
que tínhamos como importantes,deixam de ser, pois agora, pensando filosofica-
mente, compreendo que existem coisas mais relevantes e que preciso me atentar 
a elas. Coisas pequenas ficam para trás.
Isso tudo nos mostra que agimos em nosso dia a dia, de forma instantânea e 
que, se formos analisar a fundo, deixamos muitas questões importantes de lado.
Outra questão acerca dessa introspecção sobre a importância da Filosofia, é que 
existem algumas questões que são intrínsecas aos seres humanos: qual o sentido 
da vida? Onde me encaixo, como pessoa, dentro uma sociedade tão dinâmica e 
consumista? Será possível sobreviver numa sociedade se não sei como agir nela? É 
mais importante ter um conhecimento acerca do mundo ou de mim mesmo? Essas 
perguntas nos mostram que, pensar filosoficamente demanda tempo para raciocinar 
e, ao mesmo tempo, gera em nós sentido e propósito de vida quando encontrados.
Não encontrar respostas ou não entender algo gera em nós um sentimento de 
insatisfação e, até mesmo, tristeza. Diante de uma dor muito intensa, por exemplo, 
a primeira pergunta que nos vem à mente é: Por quê? Por que isso aconteceu comi-
go? Por que isso aconteceu neste exato momento da minha vida? E justamente, um 
dos alívios para a dor do sofrimento, é conhecer a verdade, ou o porquê daquilo ter 
acontecido. Ao nos encontrarmos com a verdade, há satisfação e contentamento, pois 
localizamos a resposta necessária para enfrentar aquela dor. Quando conseguimos 
explicar o motivo do nosso sofrimento a alguém, conseguimos nos sentir recon-
fortados, pois, de alguma forma, damos sentido e significado àquilo que passamos
Figura 15 - Que horas são?
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Figura 16 - O pensar e o questionar fazem parte de nós
É muito nítido que, para essa demanda tão humana do saber, são demandados 
diferentes graus e níveis de conhecimento. Você pode sentir-se satisfeito com 
pouco, mas também pode tentar saber o máximo que puder. Esse anseio é muito 
necessário em nosso tempo, pois existem questões que são muito complexas, e 
não conseguiremos administrá-las com abordagens parciais ou superficiais, visto 
que os problemas não são resolvidos assim; pelo contrário, são agravados. 
É impossível separar a teoria filosófica das questões práticas da vida. Note que 
toda proposta ou pensamento filosófico advém de uma demanda que pretende 
responder a alguns problemas morais e sociais de determinada cultura, de seres 
humanos de alguma época e que se encontram cheios de incertezas e ansiedades. 
Não surgem do acaso. Primeiro, manifestam-se as questões da vida e, por meio 
delas, o nosso pensar filosófico é acionado para compreendermos essa demanda.
Constatamos então, que a Filosofia é um desafio que exigirá de nós um espíri-
to questionador e crítico acerca da nossa realidade. Ao mesmo tempo, incentiva-
-nos pela busca da verdade para que, assim, consigamos livrar-nos de amarras que 
nos foram transmitidas, a fim de criarmos nosso próprio ponto de vista sobre o 
assunto. Normalmente, é peculiar daqueles que possuem o espírito questionador 
o desejo de ser autêntico, de escapar do engano, da farsa, da superficialidade e 
também, de adquirir a capacidade de enfrentar desafios sem render-se facilmente. 
Espero que essa pequena introdução da disciplina gere em você o mesmo desejo 
de sempre buscar a verdade com ousadia, e que se sinta atraído pela aspiração do 
conhecimento de forma crítica e racional.
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Como surgiu a Filosofia?
É sempre salutar, quando começamos a estudar determinada ciência, que bus-
quemos o seu significado etimológico. A palavra “filosofia” vem de duas raízes 
gregas: philos, que deriva de philia e significa amizade ou amante, e sophia, que 
significa sabedoria e, por isso, usualmente traduzimos o termo por amor ao co-
nhecimento ou amizade pela sabedoria. Com isso, podemos dizer que Filosofia 
significa o ato de respeitar, admirar, desejar a sabedoria ou o conhecimento.
Em latim, sabedoria se expressa com o termo sapientia, que vem do sapere, que 
significa, em sentido amplo, conhecimento. Aquele que é sábio é o bom conhecedor, 
aquele que julga corretamente, porque domina os assuntos que estudou. Em sentido 
estrito, sapere se refere ao bom gosto, com paladar apurado. Portanto, quem exerce 
conhecimento filosófico, geralmente tem “paladar” habituado à busca pela verdade.
O termo “sábio” também tem histórico na Filosofia. Conta a história que foi Pitá-
goras quem começou a usar a palavra “filósofo”, quando questionado sobre qual era 
a sua atividade. Ele respondeu que não era um apreciador da arte, mas que era me-
ramente um filósofo; para tornar-se melhor compreendido, ele fez uma comparação 
com as Festas Olímpicas, dizendo que alguns vieram para competir, outros para fazer 
negócios e outros apenas pelo prazer de ver o espetáculo – estes seriam os filósofos.
Considera-se que a Filosofia tenha nascido na Grécia, especificamente, nas 
colônias jônicas da Ásia Menor, no século VI a.C., a partir do momento em 
que os pensadores começam a questionar os motivos pelos quais os problemas 
que a natureza apresentava acontecerem por meio de reflexões racionais. Esse 
processo, de explicar racionalmente a origem do mundo, assim como a sua 
ordem, é chamado de cosmologia.
Figura 17 - Vista da Acrópole ao pôr do sol, Atenas, Grécia
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Baseados na nossa tradição ocidental, sabemos que os gregos foram os primeiros 
que desejaram abandonar as explicações tradicionais e conservadoras dos fenô-
menos que ocorriam à sua volta, apoiadas nos mitos e divindades, para dar lugar 
às explicações da natureza, do ser humano e da realidade que viviam, por meio 
do uso exclusivo da razão. Podemos perceber que a capacidade de questionar 
racionalmente tudo que nos rodeia deu origem ao pensamento filosófico.
De acordo com Marilena Chauí, os historiadores costumam dividir a história 
da sociedade grega em quatro períodos ou fases:
 “ 1. a da Grécia homérica, correspondente aos 400 anos narrados pelo 
poeta Homero, em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisséia;
2. a da Grécia arcaica ou dos sete sábios, do século VII ao século V 
antes de Cristo, quando os gregos criam cidades como Atenas, Es-
parta, Tebas, Megara, Samos, etc., e predomina a economia urbana, 
baseada no artesanato e no comércio;
3. a da Grécia clássica, nos séculos V e IV antes de Cristo, quando a 
democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística entra no apo-
geu e Atenas domina a Grécia com seu império comercial e militar;
4. e, finalmente, a época helenística, a partir do final do século IV 
antes de Cristo, quando a Grécia passa para o poderio do império 
de Alexandre da Macedônia, e, depois, para as mãos do Império 
Romano, terminando a história de sua existência independente 
(CHAUÍ, 2005, p. 39).
O período do surgimento da Filosofia teria acontecido na Grécia Antiga, alcan-
çando o seu apogeu na Grécia Clássica, e foi durante o período helenístico que 
se expandiu para as mais diversas regiões fora da Grécia. Em cada momento da 
história, a Filosofia adquiriu determinadas características, conforme o contexto 
em que estava inserida. Questões e problemáticas surgiram e, assim, o pensamen-
to filosófico passou a proporcionar amplo diálogo com a cultura e a sociedade, 
sugerindo apontamentos, respostas e diferentes perguntas para aquele momento.
Os saberes, os questionamentos e as respostas desenvolvidas em determina-
da época servem para que os futuros filósofos tenham um campo de partida e 
prossigam, seja para dar novo significado, seja para criticar algum assunto. Na 
próxima unidade iremos aprofundar-nos em cada um desses períodos com os 
seus respectivos pensadores. De forma sintetizada, na tabela a seguir seguem as 
principais fases da Filosofia na história:
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Filosofia Antiga (do séc. VI a.C. ao séc. VI d.C.)
• Período socrático (final do séc. V e todo o séc. IV a.C.)
• Período sistemático (final do séc. IV ao final do séc. III a.C.)
• Período helenístico (final do séc.III a.C. ao séc. VI d.C.)
Filosofia Patrística (do séc. I ao séc. VII d.C.)
Filosofia Medieval (do séc. VII d.C. ao séc. XIV d.C.)
Filosofia da Renascença (do século XIV d.C ao século XVI d.C.)
Filosofia Moderna (do séc. XVII d.C. a meados do séc. XVIII d.C.)
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do séc. XVIII ao começo do séc. XIX)
Quadro 4 - Fases da Filosofia / Fonte: o autor.
O que é História? Para que serve? Os primeiros historiadores gregos, como He-
ródoto, afirmavam que nós, como seres humanos, diferenciamo-nos das demais 
espécies pela curiosidade em saber o que aconteceu antes de nós. Mota (2005) 
aponta que, para o escritor e lexicógrafo brasileiro Aurélio Buarque de Holanda, 
História é a “narração metódica dos fatos notáveis ocorridos na vida dos povos, 
em particular, e na vida da humanidade, em geral”. Para Sérgio Buarque de Holan-
da, historiador e sociólogo, “[...] a história é o estudo do que os homens do passa-
do fizeram, da maneira pela qual viviam, das ideias que tinham” (MOTA, 2005). 
A etimologia da palavra “história” é de origem grega e significa investigação, 
testemunha ou, ainda, procurar por algo. Poderíamos dizer que História é o con-
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ORIGENS DA 
HISTÓRIA
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junto de eventos realizados pelo homem no passado. Não é apenas o conjunto de 
acontecimentos do passado, porque isso incluiria tudo o que aconteceu no planeta 
desde a sua origem. A História, portanto, tem como protagonista o ser humano. A 
professora Selma Fonseca, tem uma definição bastante didática para o nosso estudo:
 “ A história busca compreender as diversas maneiras como homens 
e mulheres viveram e pensaram suas vidas e a de suas sociedades, 
através do tempo e do espaço. Ela permite que as experiências sociais 
sejam vistas como um constante processo de transformação; um 
processo que assume formas muito diferenciadas e que é produto 
das ações dos próprios homens. O estudo da história é fundamental 
para perceber o movimento e a diversidade, possibilitando compa-
rações entre grupos e sociedades nos diversos tempos e espaços. Por 
isso, a história ensina a ter respeito pela diferença, contribuindo para 
o entendimento do mundo em que vivemos e também do mundo 
em que gostaríamos de viver (FONSECA, 2003, p. 40).
Vários historiadores refletiram, desde o início, a respeito de uma definição sobre 
si mesma. No entanto, a partir do século XIX, aumentou consideravelmente o 
debate sobre como fazer ou desenvolver os caminhos da História e quais são as 
maneiras de transformá-la em uma ciência como as demais.
A História é também a ciência que estuda os fatos do passado e dialoga in-
tensamente com os mesmos métodos de análise científica das Ciências Sociais 
(Sociologia, Antropologia e Ciência Política). Não é uma ciência exata, como 
Matemática, Física, ou Química, porque, devido ao seu objeto de estudo, as inter-
pretações dos historiadores sobre determinado acontecimento dependem, entre 
outros aspectos, da subjetividade de análise de cada um deles. Além disso, nem 
todas as hipóteses podem, de fato, acontecer. Nesse sentido, o intuito da História 
é encontrar uma explicação objetiva e uma lógica possível a partir dos dados 
conhecidos sobre o passado ou um evento concreto deste. 
Em determinadas épocas, existiram diferentes métodos para estudar essa área. 
Desde os primeiros historiadores gregos e romanos, os quais dedicavam-se a des-
crever tudo o que observavam, ouviam ou liam sobre um lugar ou uma cidade em 
particular, todos tiveram o seu próprio método para analisar os acontecimentos.
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O Iluminismo caracterizou-se como um movimento filosófico, político e cultural desen-
volvido na Europa durante o século XVIII, que defendia, acima de tudo, o uso da razão, o 
conhecimento e a educação como base do progresso social. Propunha uma reorganiza-
ção profunda da sociedade baseada em princípios racionais.
Fonte: o autor.
explorando Ideias
O conjunto de técnicas e métodos para fazer História é chamado de histo-
riografia. Homens e mulheres de cada época elaboraram sua própria visão desse 
campo de estudos. A historiografia tem como objetivo refletir sobre a própria 
história da disciplina; não estuda apenas sobre os fatos do passado, mas busca 
compreender a maneira como foram interpretados.
Como surgiu a História?
Anteriormente ao século XIX, a História tinha caráter moralizante e exemplificador, 
com a intenção clara de perpetuar na memória as notórias personagens e os gran-
des eventos. Durante séculos, pensou-se que o que deveriam ser lembrados eram 
os feitos e as ações dos Estados e das civilizações mais importantes, a vida e a obra 
dos reis e governantes, as guerras e os tratados, as instituições e as lutas pelo poder.
A História se escrevia por meio da coletânea de bons relatos e passou a acreditar 
que o seu nascimento fora possível por meio de grandes personagens. O relato e a 
história literária criaram uma História que não tinha, portanto, rigor intelectual. Tal 
concepção experimentou uma mudança notável a partir do período do Iluminismo.
No início do século XIX, a História teve muita aceitação como disciplina, por 
assim dizer. Ao mesmo tempo, novos métodos permitiram iniciar as investigações 
de forma mais profunda: arqueologia, filologia e egiptologia, além do surgimento 
das primeiras campanhas de escavação. Nessa mesma época, começaram a apa-
recer as primeiras compilações de fontes históricas e as primeiras grandes obras.
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Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la.
 (Edmund Burke)
pensando juntos
Contudo, no âmbito da organização das universidades, a História adquiriu signi-
ficado diferente, sendo chamada de Ciência Histórica. Isso representou a separa-
ção definitiva entre o discurso científico daquele meramente literário.
Você ainda deve perguntar-se: para que estudar História? Essa disciplina, 
enquanto relato dos acontecimentos do passado, é algo que todos devemos co-
nhecer. Seria muito difícil entender quem somos como indivíduos sem saber-
mos quem são e o que fizeram nossos pais, mães, avôs e avós. Da mesma forma, 
como coletividade, conhecer nosso passado nos ajuda a entender melhor o nosso 
presente. Somente se compreendermos adequadamente o que acontece agora, 
poderemos projetar algo melhor para o nosso futuro.
A História prepara os jovens para o mundo em que vivem. É bem verdade que, 
para entrar no mundo do trabalho, os alunos não precisarão demonstrar conhe-
cimento histórico. Contudo se não o tiverem, não terão visão crítica da sociedade 
em que vivem. Apesar disso, essa disciplina fornece a você, aluno(a), os elementos 
necessários para entender o presente, uma vez que busca compreender tudo o 
que é humano como um todo e, tal qual a ciência social, é a mais próxima da vida 
cotidiana, por isso, pode explicar as engrenagens da sociedade. Essa área tem 
função claramente pedagógica, requer aprendizado ativo e crítico e serve para 
adquirir hábitos e técnicas de estudo e trabalho. Cito a seguir alguns elementos 
que possibilitam melhor compreensão histórica:
Figura 18 - Hieróglifo egípcio
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Assim como as demais disciplinas que vimos até o momento, a História também 
mantém vínculo estreito com várias outras ciências, por exemplo, quando os his-
toriadores precisam pesquisar, localizar ou coletar informações, sendo necessária 
uma colaboração – é o caso da Pré-História. Como não há fontes escritas, todas 
as informações são fornecidas por outras fontes, como: a Arqueologia, que presta 
toda a informação obtida em um campo; a Paleontologia, a qual fornece dados 
sobre os restos e, a fauna e a flora associados a esse local, as quais ajudam a 
datar ou a conhecer a dieta desses 
habitantes; a Antropologia auxilia 
com estudos comparativos e, gra-
ças a eles, podemos compreender 
a organização social; a Geografia, 
a Sociologia, a Filosofia ou a Car-
tografia: outras ciências que ajuda-
rão o historiador em suaintenção 
de ser o mais objetivo possível ao 
explicar os fatos do passado.
Figura 20 - Livros antigos e manuscritos 
são fontes imprescindíveis 
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Embora as diferentes civilizações que existiram na história do mundo (maias ou 
incas, egípcios ou assírios, gregos ou romanos, chineses ou indianos) tenham con-
tado o tempo de maneira diferente, os historiadores, como cientistas, não tiveram 
escolha, senão concordar em dividi-la de maneira mais ou menos consensual e 
universal em períodos históricos. Observe no quadro a seguir. 
Período Datação
Pré-História
De: a origem do homem (4 milhões de anos).
Até: o aparecimento da escrita (4.000 a.C.).
Idade Antiga
De: o aparecimento da escrita (5.000/4.000 a.C.)
Até: a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.).
Idade Média
De: a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.).
Até: a queda do Império Romano do Oriente (1453).
Idade Moderna
De: a queda do Império Romano do Oriente (1453).
Até: a Revolução Francesa (1789).
Idade 
Contemporânea
De: a Revolução Francesa (1789).
Até a atualidade.
Quadro 5 - Períodos Históricos / Fonte: o autor.
Os historiadores chegaram a um consenso para medir o tempo histórico. Cada 
período tem características em comum com outros – certo tipo de organização 
social, política, econômica e determinado estilo de produção artística e cultural. 
Quando um desses aspectos muda significativamente, falamos de uma época ou 
de um período histórico diferente.
Apesar de essa divisão ser bastante difundida, não significa que não apre-
sente problemas e críticas. Alguns dos mais importantes são: a) na Pré-História, 
falta-nos a informação de longos períodos históricos nos quais não sabemos 
exatamente como a humanidade evoluiu; b) essa divisão da história se baseia, em 
muito, na evolução da civilização europeia; c) as datas que separam uma idade 
da outra não podem levar em conta que os processos históricos não terminam 
ou começam de maneira abrupta. Portanto, há elementos de um período que 
sobrevivem e passam para o próximo, e características do novo período que co-
meçam a aparecer no anterior.
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final desta primeira unidade depois de eviden-
ciarmos a importância de cada uma das cinco disciplinas que nos propomos a 
estudar. Vimos que a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política, a Filosofia e 
a História dialogam entre si em diversos momentos, demonstrando que não há, 
em cada uma delas, autonomia por completo. Ao contrário, verificamos que há 
entrelaçamento de conhecimentos que são, a todo momento, compartilhados. 
Com o surgimento da Sociologia, analisamos o quão importante é perce-
bermos a nossa realidade enquanto seres humanos que necessitam de vínculos 
com outros, para que a sociedade desenvolva a sua dinâmica. A interação entre 
os seres humanos e a relação com a sociedade e as suas instituições fazem parte 
do objeto de estudo do sociólogo.
Na Antropologia, a cultura é analisada na sua completude e, mesmo assim, 
a cada momento, vemos que novos caminhos se abrem, devido à interação 
constante do ser humano com o meio em que se encontra. Como ciência, foi 
utilizada de forma a justificar a superioridade europeia para sentir-se no direito 
de colonizar determinados territórios.
Com a Ciência Política, vimos que devemos ficar atentos ao discurso de 
que a política é uma área específica de certos atores da sociedade. Desde a sua 
origem, na Grécia Antiga, o termo sempre teve como premissa a participação 
das pessoas na vida comunitária.
De acordo com o estudo apresentado na Filosofia, percebemos que o pen-
samento de muitas pessoas que acreditam que essa disciplina não serve para 
nada deve ser analisado com mais cuidado. O pensar sobre a nossa existência, 
por exemplo, é vital para compreendermos muitos dilemas pessoais que nos 
dão sentido e razão para vivermos com dignidade.
Na História, lidamos com o fato de que precisamos atentar-nos ao nosso 
passado, conhecê-lo e interpretá-lo, para dar significado ao nosso presente e 
elaborar hipóteses para o nosso futuro.
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na prática
1. Leia o trecho a seguir, extraído de O que é Sociologia, de Carlos Benedito Martins, e 
discorra sucintamente sobre o conceito de Sociologia.
Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento 
moderno. A evolução do pensamento científico, que vinha se constituindo desde 
Copérnico, passa a cobrir, com a sociologia, uma nova área do conhecimento 
ainda não incorporada ao saber científico, ou seja, o mundo social. Surge pos-
teriormente à constituição das ciências naturais e de diversas ciências sociais. A 
sua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorrem uma 
constelação de circunstâncias, históricas e intelectuais, e determinadas inten-
ções práticas. O seu surgimento ocorre num contexto histórico específico, que 
coincide com os derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e 
da consolidação da civilização capitalista. A sua criação não é obra de um único 
filósofo ou cientista, mas representa o resultado da elaboração de um conjunto 
de pensadores que se empenharam em compreender as novas situações de 
existência que estavam em curso.
2. Tanto o etnocentrismo quanto o relativismo cultural são posições e atitudes que 
afetam a construção social da imagem do outro. Ambos constituem visões sobre 
a alteridade, muito comum na história da humanidade, da qual o conhecimento 
científico não está separado. O etnocentrismo é uma visão que, ao julgar os modos 
de vida e o pensamento de outras pessoas, usa a perspectiva do observador como 
um padrão do que é apropriado, avançado ou civilizado. Tendo em vista o conteúdo 
que estudamos nesta unidade, explique em qual fase da história a Antropologia foi 
utilizada para justificar a exploração de um povo pelo outro.
3. A ciência política se originou da filosofia política, um ramo da Filosofia especializado 
em relacionamentos entre indivíduos e sociedade. Contudo, hoje, é independente 
de sua antecessora e considerada uma ciência relativamente recente, cujo verda-
deiro desenvolvimento ocorreu no século XX, após a Segunda Guerra Mundial. Seu 
papel é lidar com as relações de obediência e dominação que ocorrem dentro da 
organização política, a fim de construir um método objetivo para entender a origem 
e o funcionamento social dessas estruturas. De acordo com o que estudamos nesta 
unidade, discorra sobre o objeto de estudo da ciência política. 
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na prática
4. No sexto século antes de Cristo, circunstâncias sociais e culturais trouxeram os 
primeiros filósofos da Grécia Antiga. Esses pensadores buscavam um princípio fun-
damental que explicava o universo, racionalizando a concepção religiosa que antes 
estava implícita em mitos e textos sagrados. A partir disso, desenvolva um texto 
dissertativo sobre o que é necessário para realizar a reflexão filosófica. 
5. A História é uma ciência social cujo campo de estudos é o passado dos seres huma-
nos, mas nem todo passado é conhecido e estudado. Os historiadores seleciona-
ram fatos que, por várias razões, são considerados importantes e dignos de serem 
conhecidos como fatos históricos. Os pesquisadores organizaram e sistematizaram 
esse conhecimento cronologicamente, para ordená-los. Tal conhecimento é o que 
é estudado no atual decorrer da história universal. Assim, escreva um texto disser-
tativo, no qual você deve evidenciar a importância do estudo da História. 
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aprimore-se
Inútil? Útil? O primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? Para que 
e para quem algo é útil? O que é o inútil? Por que e para quem algo é inútil? O senso 
comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. 
Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando utilidade 
e a famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a Filosofia é 
inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil.

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