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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ANALÍCA PROF.: FÁBIO GRANDIS LEPRI ESPECTROFOTOMETRIA DE ABSORÇÃO MOLECULAR NO VIS (VII) E VIS (VIII) DE MISTURAS BINÁRIA (DICROMATO-PERMANGANATO). PAULO VITOR DA SILVA BRAGA (622028038) Niterói - RJ 11/09/2025 1. INTRODUÇÃO A análise multicomponente por espectrofotometria de absorção molecular na região do UV-Vis, tradicionalmente realizada com reagentes cromogênicos específicos para cada componente ou por meio da separação dos elementos interferentes, enfrenta limitações práticas significativas. Muitas vezes, não se dispõe de um reagente exclusivo para cada espécie, e a etapa de separação dos interferentes presentes nas amostras mostra-se trabalhosa e demorada. Consequentemente, a análise espectrofotométrica simultânea de misturas costuma ser restrita à determinação parcial de um ou dois componentes, utilizando bandas de absorção características que apareçam isoladas. Sistemas com mais de dois componentes são geralmente analisados em etapas, quantificando um componente por vez. Assim, as pesquisas em análise multicomponente simultânea por espectrofotometria UV-Vis têm avançado no sentido de superar a necessidade de separação prévia dos interferentes, permitindo a determinação simultânea de um número crescente de componentes, o que contribui para a redução do tempo e custo das análises [1]. A interferência espectral por sobreposição de bandas ocorre quando sinais espectrais de diferentes elementos ou moléculas se cruzam, dificultando a distinção clara dos picos correspondentes a cada componente na análise espectroscópica. Esse fenômeno é comum em técnicas como espectroscopia de absorção atômica, onde a sobreposição de linhas ou bandas pode levar a erros na identificação e quantificação dos analitos. Para minimizar essas interferências, são empregadas estratégias como a escolha de comprimentos de onda alternativos, ajustes na temperatura e composição da chama, bem como o uso de métodos instrumentais que aumentam a resolução espectral. A correta identificação e resolução dessas interferências são fundamentais para assegurar a precisão e a confiabilidade nos resultados analíticos [2]. Durante um período, as pesquisas relacionadas à análise multicomponente simultânea por espectrofotometria UV-Vis sofreram lentidão devido à alta complexidade dos cálculos necessários para o processamento dos dados e ao estágio ainda inicial do desenvolvimento computacional. Contudo, na década de 1980, o avanço acelerado da ciência da computação proporcionou a redução dos custos dos computadores, facilitando a popularização dos microcomputadores nos laboratórios químicos. Atualmente, é comum que espectrofotômetros UV-Vis sejam integrados a microcomputadores para aquisição, controle e tratamento dos dados, tornando a análise multicomponente simultânea uma ferramenta cada vez mais atrativa para a comunidade científica. Adicionalmente, o surgimento da Quimiometria, ramo da química que aplica métodos matemáticos e estatísticos para solucionar problemas químicos contribuiu significativamente para revigorar o interesse e promover avanços nessa área [3]. Quando se tem mistura de duas espécies, ambas com capacidade absortiva, há a possibilidade de se determinar simultaneamente a concentração de ambas as espécies. Para que isso seja possível, o pico de absorção máximo de uma espécie deve acontecer em um comprimento de onda onde a absorção da outra seja negligenciável. Um exemplo para esse tipo de determinação é a da mistura dicromato + permanganato [4]. A absortividade apresenta uma capacidade aditiva, ou seja, a absorbância medida durante a análise de uma amostra contendo mistura é a soma das absorbâncias dos analitos medidas separadamente, num comprimento de onda comum às 3 análises. De acordo com a lei de Lambert – Beer, a absorbância é diretamente proporcional à absortividade molar e a concentração, enquanto o caminho óptico se mantém constante [4] . Levando tudo isso em conta, é possível estabelecer as seguintes relações: C1*(ε1)λ1 + C2*(ε2)λ1 = A λ1 (1) C1*(ε1)λ2 + C2*(ε2)λ2 = A λ2 (2) Quando solucionadas para cada componente da mistura, fornecem: C1 = ((ε2)λ2 * Aλ1 - (ε2)λ1 * Aλ2) / ((ε1)λ1 * (ε2)λ2 - (ε2)λ1 * (ε1)λ2) (3) C2 = ((ε1)λ1 * Aλ2 - (ε1)λ2 * Aλ1) / ((ε1)λ1 * (ε2)λ2 - (ε2)λ1 * (ε1)λ2) (4) 2. OBJETIVO Determinação simultânea de dicromato e permanganato (mistura binária) na amostra desconhecida e medir o espectro de absorção dos constituintes da mistura binária. 3. MATERIAIS E REAGENTES • Béquer; • Balão volumétricos; • Pipeta graduada; • Pera de borracha; • Fotômetro de feixe simples; • Cubetas; • Provetas; • Solução padrão K2Cr2O7 4,0 x 10-3 mol/L; • Solução padrão de KMnO4 1 x 10-3 mol/L; • H2SO4 0,5 mol/L 4. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Transferiu-se 25,00 mL da solução padrão de K2Cr2O7 para um béquer de 50 mL e completou-se o volume com H2SO4 0,5 mol / L. Fez-se o mesmo procedimento para a solução padrão de KMnO4. Após isso, ajustou-se o seletor de comprimento de onda para faixa de onda de 400 - 600 nm para cada um. Em seguida, foram preparados em 8 balões de 50,00 mL as soluções, adicionou-se em 4 balões, 10,00; 15,00; 20,00; 25,00 mL a solução padrão K2Cr2O7 4,0 x 10-3 mol / L e nos outros 4 adicionou-se em 10,00; 15,00; 20,00; 25,00 mL a solução padrão de KMnO4 1,0 x 10-3 mol / L. Todas estas soluções foram medidas suas absorbâncias no comprimento de onda de 440 nm e 525 nm. Em seguida, adicionou-se em um balão volumétrico de 25,00 mL, 10 mL da solução de dicromato e 10 mL da solução de permanganato e avolumou-se com H2SO4 0,5 mol/L e mediu-se a absorbância em 440nm e 525 nm. 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1. Medição dos espectros de absorção do dicromato, permanganato e da mistura binário De acordo com o gráfico abaixo é evidenciado que o dicromato (curva vermelha) apresenta seu máximo de absorbância em aproximadamente 440 nm, enquanto o permanganato (curva azul) tem seu pico máximo em torno de 525 nm. A curva referente à mistura binária (verde) reflete a soma das absorbâncias dos dois íons ao longo dos diferentes comprimentos de onda. Além disso, percebe-se que o espectro do permanganato possui vários picos na região entre 500 nm e 600 nm, sendo o principal em 525 nm. O dicromato apresenta uma banda de absorção larga, decrescendo após 500 nm. A mistura evidencia o fenômeno de sobreposição espectral. Gráfico 1: Sobreposição dos espectros de absorção de dicromato e de permanganato e uma mistura binária das duas. O gráfico demonstra a sobreposição dos espectros de absorção, indicando que, em certas faixas, ambos os íons absorvem simultaneamente. Esse fato precisa ser considerado para a determinação quantitativa dos componentes em uma amostra misturada, pois a absorbância medida pode conter contribuição dos dois analitos (permanganato e dicromato). Para evitar interferências e garantir maior seletividade, utilizamos o comprimento de onda onde cada íon apresenta seu máximo de absorção (440 nm para dicromato e 525 nm para permanganato). A mistura evidencia como a Lei de Lambert-Beer se aplica: a absorbância total equivale à soma das absorvâncias individuais, possibilitando cálculos de concentração por meio de equações simultâneas quando ambos os componentes têm absorção significativa em determinado λ. 5.2. Construção das Curvas Analíticas As concentrações dos padrões foram calculadas a seguir. Para a solução padrão de K2Cr2O7 4,0 x 10-3 mol / L, usando a fórmula de diluição (C1*V1 = C2*V2). - Padrão 1 em 10,00 mL: 4,0 x 10-3 * 10,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,0008 mol / L - Padrão 2 em 15,00 mL: 4,0 x 10-3 * 15,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,0012 mol / L - Padrão 3 em 20,00 mL: 4,0 x 10-3* 20,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,00166 mol / L - Padrão 4 em 25,00 mL: 4,0 x 10-3 * 25,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,002 mol / L Com esses valores, plota-se as curvas analiticas (gráfico 2) do dicromato nos seguintes comprimentos de ondas: 440 nm e 525 nm, de acordo com os dados da tabela abaixo: Volume da solução K2Cr2O7 (mL) Concentração da solução K2Cr2O7 diluída (mol / L) Absorbância em 440 nm Absorbância em 525 nm 10,00 0,0008 0,357 0,024 15,00 0,0012 0,544 0,044 20,00 0,0016 0,752 0,056 25,00 0,002 0,993 0,074 Tabela 1: Valores de absorbância encontradas para as soluções de dicromato nos comprimentos de ondas de 440 nm e 525 nm. Gráfico 2: Curva de calibração da solução de dicromato em 440 nm e 525 nm. Observa-se analisando o gráfico 2, que o comprimento de onda máximo de absorção é de 440 nm, e consequentemente apresenta um melhor coeficiente de correlação linear comparado ao de 525 nm. Calculando o mesmo para a solução padrão de KMnO4 1,0 x 10-3 mol / L, temos que: - Padrão 1 em 10,00 mL: 1,0 x 10-3 * 10,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,0002 mol / L - Padrão 2 em 15,00 mL: 1,0 x 10-3 * 15,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,0003 mol / L - Padrão 3 em 20,00 mL: 1,0 x 10-3 * 20,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,0004 mol / L - Padrão 4 em 25,00 mL: 1,0 x 10-3 * 25,00 = C2 * 50,00 C2 = 0,0005 mol / L. Com esses valores, plota-se as curvas analiticas (gráfico 3) do permanganato nos seguintes comprimentos de ondas: 440 nm e 525 nm, de acordo com os dados da tabela abaixo: Volume da solução KMnO4 (mL) Concentração da solução KMnO4 diluída (mol / L) Absorbância em 440 nm Absorbância em 525 nm 10,00 0,0002 0,014 0,352 15,00 0,0003 0,031 0,564 20,00 0,0004 0,042 0,747 25,00 0,0005 0,058 0,942 Tabela 2: Valores de absorbância encontradas para as soluções de permanganato nos comprimentos de ondas de 440 nm e 525 nm. Gráfico 3: Curva de calibração da solução de permanganato em 440 nm e 525 nm. Observa-se que de acordo com o gráfico 3, o permanganato apresenta maior absorção no comprimento de onda de 525 nm, logo apresenta uma maior linearidade nesse comprimento de onda nessa curva analítica, diferentemente do dicromato que é no de 440 nm. 5.3. Cálculo das concentrações na amostra desconhecida Considerando as absortividades molares das substâncias como sendo os coeficientes angulares das retas do gráfico 2 e 3, podemos aplicar as seguintes equações, considerando a tabela a seguir: Substância Absorbância em 440 nm Absorbância em 525 nm Amostra desconhecida 0,492 0,537 Tabela 3: Medida da amostra desconhecida. C1 = ((ε2)λ2 * Aλ1 - (ε2)λ1 * Aλ2) / ((ε1)λ1 * (ε2)λ2 - (ε2)λ1 * (ε1)λ2) C2 = ((ε1)λ1 * Aλ2 - (ε1)λ2 * Aλ1) / ((ε1)λ1 * (ε2)λ2 - (ε2)λ1 * (ε1)λ2) Sendo a espécie 1 o dicromato e a espécie 2 o permanganato, e ⋋1 = 440 nm e ⋋2 = 525 nm. Temos que: C1 = (143 * 0,537) - (1953 * 0,492) / (143 * 40,5) - (529 * 1953) C1 = 8,61 * 10-4 mol/L de dicromato C2 = (40,5 * 0,492) - (529 * 0,537) / (143 * 40,5) - (529 * 1953) C2 = 2,57 * 10-4 mol/L de permanganato Comparando com o valor esperado, pode-se calcular o erro relativo para cada um, sabendo que o valor de permanganato esperado é de 2,50 * 10-4 mol/L e o de dicromato é de 1,00 * 10-3 mol/L, como é mostrado abaixo: Para o permanganato: ( I 2,50 * 10-4 - 2,57 * 10-4 I / 2,50 * 10-4 ) * 100 = 2,8 % Para o dicromato: ( I 1,00 * 10-3 - 8,61 * 10-4 I / 1,00 * 10-3 ) * 100 = 13,9 % Então, nota-se que para o permanganato o experimento foi bem sucedido, pois não houve uma diferença significativa entre o valor calculado e esperando dando um erro somente de 2,8%, porém para o dicromato houve uma grande diferença entre o valor calculado e esperado, por conta de erros instrumentais e pessoais durante o experimento, ocasionando um erro elevado de 13,9%. 5.4. Comprovação do princípio da aditividade da Lei de Lambert-Beer A absorbância total de uma solução a um dado comprimento de onda é igual à soma das absorbâncias dos componentes individuais da solução. Esse é o princípio da aditividade da Lei de Lambert-Beer, com isso podemos calcular a absorbância teórica nos comprimentos de ondas de 440 nm e 525 nm e compararmos com os valores medidos na tabela 4. Substância Absorbância em 440 nm Absorbância em 525 nm Mistura binária conhecida 0,452 0,424 Tabela 4: Medida da mistura binária conhecida. Calculando as absorbâncias teóricas: AT = Adicromato+ Apermanganato= εdicromato * 1 * Cdicromato + εpermanganato * 1 * Cpermanganto AT em 440 nm = 529 * 1 * 0,0008 + 143 * 0,0002 = 0,4518 AT em 525 nm = 40,5 * 1 * 0,0008 + 1953 * 1 * 0,0002 = 0,423 Note que de acordo com a tabela o valor medido é aproximante o valor teórico, comprovando a aditividade da Lei de Lambert-Beer. Como o erro aqui em 525 nm foi de ~0,24%, ele está muito abaixo desse limite (abaixo de 1-2%) logo, o valor é totalmente aceitável pela literatura para sistemas de referência como dicromato–permanganato, o mesmo vale para o comprimento de onda de 440 nm , o erro foi de 0,044%, logo, o valor totalmente aceitável pela literatura. ( I 0,424 - 0,423 I / 0,423) * 100 = 0,24 % ( I 0,452 - 0,4518 I / 0,4518) * 100 = 0,044 % 6. CONCLUSÃO A partir dos dados obtidos e as curvas plotadas com esses valores, conseguiu-se identificar o comprimento de onda máximo para cada espécie e determinar a concentração da solução desconhecida da mistura binária (permanganato-dicromato). A espectrometria de absorção molecular se mostrou eficaz na identificação e determinação de permanganato na mistura binária, porém para o dicromato não se mostrou adequada, por erros instrumentais, pessoais e por conta da complexidade elevada da preparação das amostras a serem analisadas. Sendo assim, a técnica se mostrou eficiente para sistemas com boa separação de bandas de absorção, porém apresenta maior suscetibilidade a erros quando ocorre sobreposição espectral. O princípio de aditividade da Lei de Lambert-Beer foi comprovado na mistura binária, mostrando que esse princípio é válido para análise. Comprovado pelos cálculos, onde a absorbância teórica foi aproximadamente igual a absorbância medida. 7. BIBLIOGRAFIA [1] SKOOG, Douglas A.; HOLLER; CROUCH. Princípios de Análise Instrumental. 6ª edição. Bookman, 2009. [2] UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (UFJF). Espectroscopia atômica. Juiz de Fora: UFJF, 2019. Disponível em: . Acesso em: 14 set. 2025. [3] HARRIS, D. C. Quantitative Chemical Analysis. 10. ed. Nova Iorque, NY, USA: W.H. Freeman, p. 690, 2020. [4] Apostila de Análise Instrumental I Experimental - Universidade Federal Fluminense, p. 9, 2023. https://www2.ufjf.br/nupis/wp-content/uploads/sites/350/2019/07/aula-4-Absor%C3%A7%C3%A3o-at%C3%B4mica.pdf https://www2.ufjf.br/nupis/wp-content/uploads/sites/350/2019/07/aula-4-Absor%C3%A7%C3%A3o-at%C3%B4mica.pdf