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STAIGER A Arte da Interpretação

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EMIL STAIGER
-.-
. .....
A ARTE DA INTERPRETAÇÃO
A arte de interpretarasobraspoéticasde linguaalemãI) nãopodeserreivindicadapelosactuaishistoriadoresda literatura como mérito exclu-
sivamenteseu.Ela é tão antigaou mesmomaisantiga
quea cienciada literaturaalemãZ).Friedrich e August
SchlegeI.Schiller nas suas cartas sob~e.Os anos de
aprendizagemdeWilhelm Meister., Goetheemmuitas
recensões,Herder e Lessing nalgumas dissertações
dão-nosexemplosde interpretacõesfeitas coma mais
delicada sensibilidadeartística e por vezes até com
métodosque seria hoje uma perdoávelfraquezacon-
siderar como modernos. Também Diltbey, Scberer.
Haym e Hehn são grandes mestresneste domínio,
apesar de terem noções muito diferentesdas nossas
quantoao significadoda suaobra critica'). Não exis-
tirá provávelmentenenhumimportantehistoriadorda
literatura a quem não tenha surgido o problemade
queagoranosocupamos.
No entantocomo direcção científica - devidamente
apoiadapor umadialéctícapolémicaemanifestospro-
gramáticas- aínterpretação_oJ}a e:x.eg~ILqll_1t.r~v.~la
a imanenciados textos, só se impós nos últimos dez
ou quinze anos'): Só agora nos é afirmado que ao
investigador da literatura interessa apenas o texto
literário e queele se devepreocupartãosomentecom
aquilo que se encontra realizado e expressona lin-
guagemdo poeta5). A biografia, por exemplo, fica
fora do campode acção do verdadeiro investigador
da literatura.
A vida não se associatanto á arte comoGoetheacre-
ditavae comodesejavafazercrer aosoutros.Emcaso
algum,afirma-se.se podeesclarecerum poemaa par-
tir de dados biográficos.A própria personalidadedo
poetaé tambémdestituidade interessepara o filólogo
consciente,pois que e a psicologiaque se deve ocu-
par como enigmada existenciadosvalores artisticos.
A História das ldeias não atingetambémo objectivo
que se pretende,pois que entrega a obra de arte
literária aos filósofos, e só ve por conseguintenum
poemaapenasaquilo que todo o filósofo compreende
melhordo quequalquerpoeta.O positivista- que se
norteia pela pergunta: .0 que é herdado e o que é
aprendido?"- erra no uso que faz da lei da causali-
dadedascienciasda Natureza.e pareceesquecerque
a obra de criação artística. exactamenteporque é
criada, nunca pode derivar, nunca pode descender
doutra.
Não é destemodo que se alcancaa essenciaespeci-
fica, nemé assimquese podefazerjustiça a sublimi-
dade do mundo poético. Somentequem interpreta,
quemnão olha nempara a direitanempara a esquer-
da, e quesobretudonão espreitao,qu.~e_stápor trás
da poesia,fãz inteir_~jl.\.stiçã.'_ã,_.P-gesia.ressalvando
assim ãso~.!~!~inia'-da cie~,a, lileratm:a.Quer o
destinoda investigaçao'nne que todo o movimento
desperteimediatamentea maisviva oposicão,masao
contrário do que seria de supor, esta tem o' condão
de mantertambémvivo o programadessemovimento.
Contra a Interpretaçãoe a sua reivindicaçãode ser a
única ciencia da literatura com direito a essenome,
tem-seafirmadomais ou menoso seguinte:O inves-
tigadorqueve a suasalvaçãoapenasna interpretação
fazda necessidadeumavirtude.
Pois no dominio da biografia pouco resta hoje que
fazer:a vida de todosos escritoresimportantesfoi já
lU
investigadae apresentadaem profundidade.Com a
mesmaminúciatambémse investigouas origense as
fontesondeo poetase inspir<JuC).De modoquedepois
dos grandessábios do século passado.nenhumestu-
dioso comtemporãneopoderáaspirar á famacom re-
cursoá história dos assuntose motivosliterários'}ou
entãocomo estudodasfontes.Emvez de admitireste
estadode coisas declara-seagora que o antigo nada
vale e estabelece-seum objectivo inatingível para a
ciencia: - seria possível fixar o conteúdodas ideias
dasobras literárias. tal comotem feito a História das
Ideias - mas aquilo que é autenticamente poético
escapaás descriçõescientíficãS:-- ---'. --
Pois. de acordo com a expressãofavoritaque se usa'
neste caso, a poesia é irracional. Isto é comprovado
de modo suficientementeclaro a partir da obra dos
principais criticos interpretativos,que revelam uma
predilecção evidente pelos textos .dif!ceis'.pelapoe-
sia repleta de ideias filosóficas, por exemplo,pelos
últimos livros de Hõlderlin, ou, pelos "Sonettenan
Orpbeus. de Rilke. No entanto,longe de nos ofere-
cereminterpretaçõessuficientementeamplasque cor-
respondama um ideal intrinseco,limitam-sea comen-
tários ainda feitos no estilo antigo, e exercitam-se
entãona história de metafisica.Se umavez porémten-
taremcompreendera sérioum simplicíssimomilagre8)
poético- emtextos'fáceis' e imediatamenteapreen-
síveis, que para a ciencia são afinal muito mais difí-
ceis de entender- se então se esforcarempor com-
preendernumpequenopoemaaquilo quenos comove,
raramente conseguemultrapassar as mais penosas
imitações em prosa, e nunca vão para além dum
palavreadoimpressionista').
Que nos apresentemmesmoos mais subtis estudos
sobrea métrica,a sintaxeou os motivos.Ficamainda
assimdependentesdo seu gosto e dos seus sentimen-
tos individuais. No entanto,diga-se a'verdade.além
dos impressionistasnão temossenãoo enfado.Quem
gostarámesmoassimde os ler? Quem dará atenção'
a umamisturatão fatalde pedantariae de gostoartis-
tico? Seria fácil continuar ininterruptamenteestadis-
puta, mas com mera teoria pouco se conseguiráde
decisivo10).Tentarei deste modo dar um exemplo
duma interpretacão,meditando.a cada passo dado,
para ver aondeesteme leva, e para ver ainda se ela
sejustifica emtermosda cienciada literatura.
Quanto a escolha do nosso objecto de interpretacão
é natural que eu já não me sinta inteiramentelivre,
Acabamosde ouvir queos.int.é.rpretesp.r~terem.te.x~9s
dificeis por não serem assim obrigadosa tratar tão
directamenteda essenciapoética,e por e.ntãose lhes
exigir, antesde mais,que comenteme expliquemtex-
tos reconhecidamentedifíceis. Impõe-se-meportanto
a escolhade umtexto tão "fácil. quequalquercomen-
tário seja sup~rnuo.
Deveráalém disso ser um poema.visto queumapeça
de teatroou um romanceexigiriamaqui muitotempo.
Escolhoo poemade Mõrike "Auf eine Lampe".Estes
versosnão necessitamser comentados.Quem souber
alemãocompreenderáfacilmenteo teor do texto. O
intérprete,porém,arroga-sea dizer. emtermos~ientí-
ficos. algumacoisa sobre o poema,abranQe'1Ídó'(sem
os destruirl o mistério e a bl!l~~~deste, ao mesmo
tempoque como conbecimelitoassimadquiridoapro-
fundao prazer e o valor da obra de arte literária em..
questão.Será isso possivel? Põe-se aqui o problema
de sa~':.r..o.ql.!E!.deverá ser afíilãf ã'ciência. .
'i ;Hã muitotemponos ensinaa hermenêuticaquepode-
r :moscompreendero todo a partir da parte.e a partea
, Ipartirdotodo.Trata-seaquidocirculohermenêutico.
e hoje já não lhe chamamos"vitiosus", po~os;
da ontoloqia.Jie.Beide.g9êLque~..9,.J:õnheçimen~oi
humano se_desenvol:\l!!~.?im~Tambéma física e a.
matemáticanão conseguemprogredir senão deste
;rmodo.Não ternosportantoqueevitar o circulo; deve-
i \ "I1lQ.S...JiI1'''Sesforcar-nospor encontrar a forma mais
'certa de entrar nele "). Como se processa.porém'uQ
circulo J:1~r~e!1_ê~~c~t!a.qéncia d~~iter!!!ura?
Nós lemosversos;eles nos invocame solicitam"). O
teor pode-nosparecerapreensível.No entantoainda
o não compreendemos.Mal sabemosainda o que é
que no poemaverdadeiramentenos enfrenta.e não
sabemostambémcomo o todo se relacionae unifica.
. I Mas os versosnos invocam e solicitam.Sentimo-nos
incliiiã'cÍõs-ã'~I;;:s-':;utra-~ez.a ~propriar-nosda sua
magiae do conteúdoque entrevemose pressentimos
obscuramen!e.Apenas os teóricos racionalistascon-
testarãoque assimseja. A principio nadacompreen-
demosverdadeiramente.Senli.mo-nos,jj.penastocados
e ~M!..2..!fl:qs,mas esta imDr~-s~ã~injriai"ri.;~
aq~~_.CU!~ta fu.!.u}:~~el1~~~!gl!!f!c~r~parançs13).
"Algumasvezesestecontactoe encontrocomo poema
não se realizalogo à primeiraleitura. Muitasvezes o
::oraçãopermanece-nosfechado.Entãopara fazerboa
figura conse~imos na melhor das hipótesespapa-
guear a respeitodo poeta algo que aprendemosdecor. Não somosno entantoinvocadosa renovar.não
solicii'ãdõsãaprofundara apeid~pçãóI4fd'aobracria-
odora. Com isto chego a mais uma razão por que se
justifica a minha escolha dos versos de Mõrike: pai").
elessinto amore eles solicitam-me"); é.R!?r.-onfi"T"" !:
autenticidadedeste encontroQue me atrevo " ;nter-:;
p.!&4::!as.Estoubem cienteque nos domíníossolenes
da ciência uma tal confissão não poderá deixar de
causarescándalo.P.~!sque o ma~s.~,~bjectivodossen~;:
limentospassaagora a 'vale'r'comobase de trabalho
científico.
No entantonãopossonemqueronegarqueassimseja.
Acredito mesmo que este sentimento "subjectivo.
esiêjcibemde acordocom a ,ciência- comâ ciêncía
da literatura!- e. que só assím ela entre na posse
dos seusplenosdireitos. Não será que repetidamente
nos asseguramque a essênciados valorespoéticosse
subtraiás leis do entendimento.e que,por estarpara
além dumaexplicaçãocausal.ela escapaá zonaonde
essasleis geraissão válidas?E não é penosover que.
por tomaremconsideraçãoeste infeliz estadode coi-
sas. a investigaçãoda ciência da literatura se veja
obrigadaa afastare a pôr de lado os elementosin-
compreensíveis,ou seja. aquilo que é essencial na
poesia.para se entregar.depois de uma desculpade-
sastrada,â tarefa de tratar o não-essencial?Ou não
será lastimoso que só com remorsos ela ceda aos
valores poéticosuma posição mais central. afligindo-
-se entãocom o sentimentode assimquasedesertar
do rigor verdadeiramentecienlifico?
Isto não significa senão que seria assâs curiosa a
situação da ciência da literatura: quem a seguisse
teriade ser infiel ou á ciênciaou â literatura.Se esti-
vermosporém preparadospara acreditar em algo a
que se possa chamar ciéncia da literatura. teremos
entãode a fundamentarde acordocoma essênciados
valores poéticos,e de a ':I.Iiç~rS:!!L!!9_1}2S~Qal)Jor,na
nossa veneração pela poesia, ou seja. teremos de
b,~..!,o_bre a.'pureza imediata dos sentimentos'0)
quea poesiasuscitaemnós. '
12
Permanecetodavia de pé o seguInte:será isso p.ossi-
vel1Adio paramaistardeumarespostae chamoagora
a atençãopara algumasconsequênciasdestaargumen-
tação.sé a ciência da literatura se basearna nossa
aptidãopara sentire perceber.ou seja.no §entimenta.
imediatoque a poesiaevoca_~ó~. isso significará,
em primeiro lugar. que nem todos podemdedicar-se
aos estudosliterários"). Exige-se talento.e. além da
capacidadede aplicaçãocienlifica. tambémum rico e
sensivelcoração,umaalma_p-Q.liç~ntd.çaemcujas cor-
dasse possamfazersentiros maisvariadose diversos
tons.Além dissodesapareceassimo abismoque ainda
hoje separao "mero" amador do perito erudito: im-
põe-seagoraquecadasábioda literaturaseja também
ao mesmotempo um ~te at!\~lltico,que começa
semprecomo amormaispuro e singelo.acompanhan-
do depoiscada gestoseu com profundaveneraçãoe
comdesveladorespeito.
Se assim proceder.ele não será culpado de nenhu-
ma falta de tacto.E o que assim fizer já não causará
.nem ofensa nem desânimoao verdadeiroadmirador
da poesia - isto pressupondo-se que o estudioso da
literaturatenharealmentetalentoe queos seussenti-
mentos.ou melhor.a s.ua_~-2!!~,ãO:piH!!,:!,entire_perce-
ber não tenhamerrado. J: naturalmenteisso que im-
imrta e quesemprese pretende.Destemodoos crité-
rios válidos para a nossaaptidão-para-sentir-e-perce-
ber serão tembémos critérios da nossa ciência da
literatura.
Para nos acercarmosmais do ámagodesteproblema
perguntemos"-Que apreendemosnó. no tU2.S.SQ.J>.Linu:iU)
encontrocom um poema?Nesta altura não é aindao
conteúdototal. que só nos será reveladodepoisduma
leitura mais minuciosae profunda.Não são também
os pormenores.emboraalguns pormen<?resse fixem
já emnós.TrMA-se antesde um espiritoque "nim" e
vitaliza o todo e QUe...=.~hamos rli7"Tpor-
qyê. emborao sintamosdis1.in1aJIl.ente_-=-_,~Q.D_s_~n:i~
t9~uro_nQJ!~9rmenQ[es. Ritmo'"I é o nomeque
eu dou a este espírito ou sentimento.isto no sentido
queGustavBeckíngfixa no seu livro "O ritmomusical
como lonte de apercepção"").
Becking pede aos seus leitores paÇapegaremnuma
pequenavara e para bateremdescontraidamenteao
compassoduma música.Observa-sepor exemplo.no
casode Mozart. que todoo ouvintecomsensibilidade
musicalbatecomum ritmo diferentedaquelede Bach
ou Schumann.Todo o compositortem um "bater-dia-
gramálico"!.) característico.Esta "figura de toque-.
que podemosrepresentarnum diagrama.é o ritmo
tornadovisivel. é o ritmo que dominaatravésduma
fugaou sonata.ou seja. o tipo de movimento.a entoa-
ção.
Beçkingtentouportantoalgo de semelhantea Sievers.
Rutz e NohI. Parece-meno entanto que com maior
êxito pois que na música o bater do ritmo não se
seguetãorápidamentecomono casodassílabasacen-
tuadasdos versos.e tambémporque a músiç.a..impõe
a suavontadede modomais irresistivelque a poesia.
que_trmai~diSêretanes!e--~entJg9.Trata-seno entanto.
em ambos os casos, do mesmo fenómenoartístico.
Beckingexpõe entdo.ou pejo menossugerefrequen-
temente.COUlQ_RJ'i.1nlo(no sentidoquelhe atribuimos)
determinao desenvolvimentoou ,até mesmotoda a
estruturainternadascompoSiçÕes.
Beethoven.çujoo:b.;t~~-diagram';:i.ico"ê um ~eptoá lei
da gravidade.tema sua ênfasenos cumes,compondo
numtipode melodiase de figurasde acompanhamento
diferentesde Mozart. cujo ritmo desce semprecom
facilidade e ligeireza. O eslilo duma obra musical
baseia-seportantono ritmo. O mesmoacontececom
a criação'literária: tambémaqui o estilo dependedo
ritmo.
Perguntemosporém:O que é o eSlilo?li) Chamamos
, ~- ~~àquilo que numaobra"perfeita- ou mesmono
--- c'ôli}untoda obra completadumautorou de todaurna
época- hilJlDj)niziU2S.-S~u:uij.f~mmt.!t~spe.ctos.Reco-
nhecemoso estilo barroco tanto'num pequeno altar
comoemtodoum palácio.O estilo pessoalde Schiller
estáexpressotanto no "Wilhelm TeU" comono "Lied
von derGlocke". O estilode "HermannundDorothea"
f~lill!Ír na constrnrãodos versosassj{!L!;.0.D10Jla
escolhados motivos e na seQuénciadas i~Un-
I/di~i~. A. mulliplicidade torna-seurna atravésdo
I estilo; ele é o que é constantenas mudanças.Por isso
mesmoaquilo que é efémeroadquireum significado
eternoatravésdo estilo e por isso mesmotambémas
obrasde arte são perfeitasquandoé completaa har-
moniae unanimidadedo seueslilo.
Quando o !.!.!!n2duma poesia !!,2.smove, quando a
nossaçapacidadede sel!t!L.!L~rceb.!!.rnão emperrae
quandoo cOraçã..ose nos abre,então,talvez quedum
modoobscuromasno entantoaindaassimperceptivel.
apreen'!I!~~.t~.co!!!.<.?~?lid_'!.~~li.bele~acaracteristica
dessa-poesia.A I:m>!"ri" ;nlprprp',,(";;nronsisi.I:..J:m.::;
.ornar clara esta percepcão,em o transformarnuma i
percepçãosusceptivelde ser comunicadae entendida.i
eI.!!..-Q_c:l9J:11men1aL..e...cQJJ\Pr.QX!!L...Ç!uantoaos seus por-!
menores""J.
-Neste ponto o investigadorafasta-sedaquele que é
apen,!samanteda literatura.O amantedá-sepor satis-
feito com um sentimentogeneralizadoe contenta-se
com uma posse mais ou menos indistinta. Poderá,
quando muito. atentar neste ou naquele pormenor
.através duma leitura mais minuciosa. Não sente,
-y>orém,a necessidade~rovar a harmon.i~Lç.QI!Lill!e
JS partes se inteqramno todo 011rnrnn n Indo est-á
de perleltoacordo com as partes.O factoc!~stiL<te:
mõiiSii-ac~o--;erPOsSlVerCÕÕSmüia base da nossa
_ciência~3). -0-' - o' .0.__.-
Tambémaqui se poderiaperguntarsenão seria muito
mais seguro comecarimediatamentecom a demons-
tracão,quer dizer,coma simplesconstatacãodo facto
observado.sem fazerdo sentimento.vago e indistinto
comoé, o nossopontode partida.A respostaseria de
novo: sem o prilJleiro~nrnnlro "iIU!a vag~gu~!i!.ste
s~j!!.._e.!,I..naJj~...P~[c~p.!;.ionaria_.Nã!LP.oderia.'ée.r.a..9r-
deJ\~ç~çuumi.Qadeda (j!Ui!.Não saberiasequero que
há nesta de impo~tante.O valor e as caracteris=-"
licas individuais do poema ficar-me-iam vedadas.
Quando muito eu seria apenascapazde verificar em
que medida a obra é exteriormentepárecida com
outrasobras.
E mesmoneste trabalho enladonhoeu não estaria
protegidocontraaquele-lipo dedesajeiladosepedan-
tescos erros. que tão fácilmentesurgem quando se
pretendeestabelecercomcritériosmecànicoso paren-
tescoou a dependênciade urnaobra de arte. A base
espiritual da nossaalma e do sentimentoocasionado
pela obraé indispensávelnãosó ao.primeiroencontro
como tambémpara a própria demonstracão. Apenas
quandoa voz que vem das profundezasda alma nos
guia e acautélaconseguimosevitar todos-osescolhos.
todos os becossemsaidae todosos equívocosa que
até os mais inteligentessucumbemquando confiam
apenasno espirito estritamenteracional.Como Sche-
lling uma vez afirmou: -Haverá um erL!L<l.b~oJJ.ttCL.do.
espiri~4?-'I1~':;~~!1ca..~I!I~rroabsolutoda alma"!').
No entantocomoseprocessaestademonstracão?
Pode mesmosucederque,quandose submeteo texto
a um examehistóricoe filológico mais exacto,surja
algo querejeite o nossoprimeiroencontro.Possocitar
aqui um exemplo passadocomigo: entre as ca~ções
popularesalemãsque Brahmsmusicou!S1encontra-se
o seguintepoema:
"In stH/erNachl
Zur erslenWachl
Ein Stimm'begunnlzu k/agenõ
Der néichlgeWind
Hat süssund lind
ZumirdenK/anggelragen..." !")
Evidentementeque a música me seduziu.Em todo o
caso convenci-meque se tratavadumaantiga cancão
popular e estive mesmo disposto a inclui-Ia numa
antologiade cançõespopulares.Porém,comofilólogo,
trateide a investigare não a encontreiemlado algum,
acabandofinalmentepor descobrirquenosmeadosdo
século passadoZuccalmagliose havia inspirado nos
versos religiosos "Trutz-Nachtigall", da autoria de
Spee,para escrevereste poemade amor.No caso de
Speeo lamentonocturnorefere-sea CristoemGethse-
. manee a primeiraestrofereza assim:
"Bei slilIer Nachl
Zur erslenWachl
Ein Stimmsich gunnl zu k/agen
/ch nahmin achl.
Was die da sagl.
Tal hin mil Augen sch/agen")"
Em consequênciadesta descoberta noto agora que
logo a primeiraestrofeé demasiadosuavee sentimen-
tal para urna antiga cancão popular; o vento doce e
amenoque leva consigo o lamentodistante toca já
nos limites da feminidadetipica dos ullrarománticos.
- ~E!..l}1aneiraalgumaé vergonhosoreconhecerum
lapso destes.O leigo poderá regozijar-secom um tal
equivocopor pane dumespecialista.Poréma honesti-
dadee modéstiado perito conscientefaz que estese
aperceba.que,emboraele devaestaremcondiçõesde
situarrazoàvelmenteobrasdemaiorextensãoe enver-
gadura,meiadúziade versosconstituiumabasemuito
presunçosapara conjecturashistóricas.Dep.Qisde me
convencera atentarno enquadramentodo poemae de
o reforcar com ressonándas históricas posso agora
ouvi:io em todasas suas partiçularidades.SQ.Y..-iISSim
d;L...Qpiniãoque o pWenrleT limitarm'O.:.!1QsAO...texto
p!W\ tLAdaracio_de um" nbJ:a...de~r~JLli.te[áriaJlão
p~~ ~..':~oao.~o.l,-er.:Q.a.
Vollemos porém ao nosso poema.Nós conhecemos
o autor: l>1õrike.Saber o nome do autor é já em si
importante'S)e isto não deixará de facilitar imensoa
nossatarefa.Sabemosquandoestepoetaviveu e esta-
mos tambéminformadosquantoà sua evolucãoartis-
lica.Procuramosdestemodosaberemque época.e. se
possivel. em que ano foi escrito o poema "Auf eine
Lampe", e a nossa sensibilidadepermite-nossituar
tantoo tom comoo conteúdona úllima fase criadora
do artista. Não nos enganamos..Auf eine Lampe"
surgiu depois do "ldilio do lago de Constància",em
1846.juntamentecom o "Aceno dos deuses",-A ima-
gem dos amantes","Datarasuavelons., .Presentede
Natal", "Inscrição num relógio.; ou seia para o fim
qaquele tardio periodo de floresci.mentade...poesia
clássicaa~~.E!_~~~av~.~e.;;~inad.()este.~.m.h9.de.Horácio
e dumaj;!rendadasuábia".
Já no conhecimentodestes dados sentimos agora
maioi"confii;ça -qu~~dotentamosapreendera métrica
e o texto!G);
"Noch unverrückl,o schõneLampe,schmücltesldu,
An /eichlenKellen zierlich au/gehangenhiei,
Die Deckedesnun iasl vergessnenLuslgemachs.
Auf deinerweissenMarmorschaIe.derenRand
Der EfeukranzvongoldengrünemErz umilicht.
13
c.h.
Schlingl trôhlicheineKinderschardenRingelreihn. menteimpedidode avançare não conseguireipôr os
\Vie reizendalies!lachend,undsanHerGeisl versos em acordo como motivo,nemtão pouco á es-
Des ErnslesdochergossenumdieganzeForm- trutura sintáxica ou " escolha das imagens com a
Ein KunslgebildderechlenArl. Wer achletsein? métrica.A este repeito apresenta-se-nosum exemplo
Was aberschônisl, selig scheintes in ihmselbstSO}." muito conhecidoe muito pertinente:a leitura de poe-
O poemaé semdúvida..Á!!.i.SQ.e.Jm:onfundível.Enca- mas maisantigoscomose estestivessemsido escritos
deia-se mesmoassimna tradi.Ç~.Jl!!~.S ~b.~~~ no estilo posteriorde Goethe.
G~e Schiller.NotamosqiieSe encontracomposto SetomarmospoemasdeHaller, Gryphusou Hofmanns-
em trimelrosjãmbicos,ou melhor,emtrimetrossema waldau poderemosaplicar-Iheso ritmo de Goethe").
tésis apõs cada duas silabas e sem a acumulaçãode O método pode inclusiv~mentelograr algum êxito
ictos pesados.Enfim. o mesmotipo de pé que Goethe numaleiturasuperficial,aliásdo mesmomodoqueum
moldouna segundapartedo "Fausto"e em"Pandora". concertode rlach pode ser tambémtocado numaes-
Ao verso regular,que Mõrike empregaaqui comuma cala de Mozart. Porém num dado momentoacabare-
con;te alternànciade silabas acentuadase átonas, mos por esbarrar num obstáculoque nos impedede
damoso nomede senário.Cornona maior parte dos avançar.O trecho torna-se-nosentão estranhoe in-
conceitos métricos este nome não se revela muito compreensívele recusa-sea se.L.JUlquadrj!doEo.çj'!ixi:
adequado,mas isso pouco nos interessaaqui. Basta- lho demasiado estreito dos nossos precOnCeÜ9J..e
-nos reconhecerque E:.~~~~tenceà tradiçãoclássica. passa a repugnar ao leitor ou passa pelo menos a
O confronto com o yocaJml.árioutilizado no poema deixá-Io frio e indiferente.Neste caso a interpretação
lembra-nosos estudosdê""estéticafeitos por Goethee fracassa.
Schiller. Encontramostermos como Geist (espirito), . :'Sepelo contrárioum intérpretetiver sido devidamente
Form (forma),Kunstgebilde(estruturaou formação:~aliciado pelo poema,conseguirámostrarentão que o
artistica - obradearte),e reizend(encantador).sen- trechoemquestãoé coerentpp ..Clpq",,,in,e queo
do estevocábuloutilizadonumsentidoquehoje geral- culpadoda dissonáncianão é o poetamassim o leitor
mentenos escapae que assinalaalgo de subtil que por causados seuspreconceitosgoetheanos.Se eume
nos excita, algo que nos estimula e encanta.Além encontrar numa pista certa, se os meus sentimentos
disso a escolha..yocabular deixa-nospressentir uma não me tiverem enganhado,então a cada passoserei
certa inclinacão para os preciosismos,predilecção compensadocom a felicidade de reconhecer a har- '.
esta que não se fazia ainda sentír durante o período monia da obra e poderei ver aue tudo s~s.onçentra,1 .r
do alto-classicismoe quese manifestacomclarezana completae reúne numaunidade.De todos os lados o~
palavra"Luslgemach",aposentode prazer.Consul- poemã-grlta-meóse!J..~~c?'rdo;e cadapercepçãoleva! "-. ,
tando o dicionário de Grimm encontraremos,como a uma outra, e ca..d~.,,-r~Sl?guese torna então visível: ~,'~.
exemplo onde esta expressãoé aplicada, apenas 0_:, ~onfirmaaquilo que já era anteriormentecco.nhecido.j '
"PersianischeRosental" de Olearius. Vemos que se' A interpretação torna-se nesse momento evidente.I ; i)
trata portantode uma derivaçãotipicamentebarroca. Toda a verdadeda nossaciência da literalura baseia- ;". ~\
Não haverá certamenteninguém. nem aqueles que -sesobreestetipo de evidência. '. ;>
fingemdesinteresse,queousemenosprezaruma ajuda Porém surgem-nosde novo algumasdificuldades.O
tão pertinentee eficaz,mesmoque estanosseja dada estilo do poema que constitui o nosso objecto de
pelos biõgrafose por uma filologia.positivista.Aliás estudonão é susceptívelde ser apreendidoemtermos
a arte da interpretação.literária fundamenta-~esobre de conceitos.Podemosinclusivamenteinventar para 7i;õ.Q.~.
o amploe vastoconhecimentoque todoum seculode este efeito nomes como BiedermeierS5)e classicismo.
ciência de literatura alemãacumuloupara nós, reco- No entanto sob tais conceitos estilisticosincluem-se
nhecendohaveraqui somentepoucacoisa querejeitar bonse mauspoemas,romancese dramas30).
e muitoqueagradecer31).Quantomaisantigafor uma-o Mas a singularidadee a beleza espe~íficado poema
poesia.mais ficamosdependentesda ciênciada litera- .Auf eine Lampe" não é aqui abrangida.Poderei tal-
tura e maisnecessidadeteI!!2~..~e)~y~st~g!\r.JiI!!I~_éL vez descobrir uma "figura de toque""} como a de
1inm~~.9~'!!...~__poe~aco~o o fundo histórico eDLque Becking.Teria nessecaso ao menosum simbolopara
s~i~.)sto é particularmenteverdadequantoà litera- a unidade flutuante do poema.Porêm.sem o respec-
tura anterioraosmeadosdo séculopassado.que está tivo texto, as figuras de toque não passamde hiero-
muito mais expostaa equívocosdo que o leitor des- glifos ainda não decifradose só têm significadopara
prevenidopoderásupor. quemtenhajá antescompreendidoo poema.
A .demonstração"processa-semais ou menosnestes O estilo individual do poemanão é a forma, nem o
moldeS.emboranunca da mesmamaneiraS!).À aper- conteúdo,não é nema ideia nemo motivo do poema:
cepçãoinicial33)junta-se a demonstração,completan- é. sim, todos esteselementosunidos,e por isso dize-..
do-se assimo circulo hermenéuticoda interpretação mos que a perfeição duma obra de arte se baseiano
literária. Há no entantoque reconhecerque estamos facto de tudo se unir e harmonizB:Lno e~tilo.Não é
apenasno início. A j~~açã2_1?!ogr.1i!iç~_utloI9..: porémconvenientepretend.erdeduzir qualquerdestes
gica 'poderá,quantoaos aspectosdo tempoe do es- elementosa partir dum outro: por exemplo,a forma
paço, revelar-mese me encontro numa pista certa. partindo-sede umaideia,de urnaideologia ou deuma
.T..Q9.aviaI!ãom,:é~ado apreenderaindaa indíviduali- concepçãodo mundo; ou então. vice-versa, para se
; dade específicadesta obra de arte. (Creio que não chegar aos motivos, às ideias e à matéria literária,
haveráninguémtão louco queacrediteser um poema comose estes fossemdeterminadose obedecessema
constituidopor uma mera amálgamadas mais subtis umalei ou "mandamento"da forma.Na verdadeam-
e variadas correntese tradições,ou aínda que ele bos os métodos foram já tentados.Todavia o critico
possaserdeduzidoa partir do mundo-ambienteque o que não se deixa arrastarpara o sectarismoterá de
condiciona.)R~s.tSl::.mePojsY~r.!ftcar...!I.ba:nnonia..~.f.Q!!-afirmar que um poetaprocededumamaneirae outro
~ênciainte':,"a do poema. O objecto i~e~iato da m.inha ~
mterpretaçao passa agora a ser o eshlo lDconfundlvel- Max Beckmann(1884-19501."Despedlda-.Extraidodi! umacolec-
mente característico do poema. Também quanto a este ç~oparticularde Munique,e publicadocoma amáv<!laulorlzacão
aspecto me parece possível uma demonstração. da Edlt6raR. Plper Verlag.Munique,emcnJo livro, "Relancede
. _ ... Bf'Ckmann- Documenlose conferências(196ZIaparece.C.Bllde
A mmha apercepçao Inicial pode no entanto estar aul Bedemaun.Dokumenleuud Vorlrage". Herausgegebenvon
errada. Nesse caso ficarei a certa altura inesperada- H. M. von Erlfa QudE. Cllpel.)
0_.li'
c.h.
Schlingl trõhlicheineKinderschardenRingelreihn. menteimpedidode avançare não conseguireipôr os
\Vie rejzendalies!lachend,undsanHerGeisl versos em acordo como motivo,nemtão pouco á es-
Des Ernsles doeh ergossen um die ganze Form - trutura sintáxica ou " escolha das imagens com a
Ein KunslgebildderechlenArl. Wer achletsein? métrica.A este repeito apresenta-se-nosum exemplo
Was aberschônist,selig scheintes in ihmselbstSO}." muito conhecidoe muito pertinente:a leitura de poe-
O poemaé semdúvida..Á!!.if-Qe.)l),çonfundível.Enca- mas maisantigoscomose estestivessemsido escritos
deia-se mesmoassimna tradis~.Jl!!~.S -<;b.~~~ no estilo posteriorde Goethe.
G~e Schiller.Notamos!jiíeSe encontracomposto SetomarmospoemasdeHalIer, Gryphusou Hofmanns-
em trimelrosjàmbicos,ou melhor,emtrimetrossema waldau poderemosaplicar-lheso ritmo de Goethe"").
tésis após cada duas silabas e sem a acumulaçãode O método pode inclusiv~mentelograr algum êxito
ictos pesados.Enfim, o mesmotipo de pé que Goethe numaleiturasuperficial,aliásdo mesmomodoqueum
moldouna segundapartedo "Fausto"e em"Pandora". concertode rlach pode ser tambémtocado numaes-
Ao verso regular,que Mõrike empregaaqui comuma cala de Mozart. Porém num dado momentoacabare-
con;tã';ítealternànciade silabasacentuadase átonas, mos por esbarrar num obstáculo que nos impedede
damoso nomede senário.Como na maior parte dos avançar.O trecho torna-se-nosentão estranhoe in-
conceitos métricos este nome não se revela muito compreensivele recusa-sea se.L.JUlquadrj!doEC>..Çfiixi:
adequado,mas isso pouco nos interessaaqui. Basta- lho demasiado estreito dos nossos preconce.il9J.~e
-nos reconhecerque E:J~ertence à tradiçãoclássica. passa a repugnar ao leitor ou passa pelo menos a
O confronto com o yocaJrnl.árioutilizado no poema deixá-lo frio e indiferente.Neste caso a interpretação
lembra-nosos estudosd'ê'"estéticafeitos por Goethee fracassa.
SchilIer. Encontramostermos como Geist (espirito), . :'Sepelo contrárioum intérpretetiver sido devidamente
Form (forma),Kunstgebilde(estruturaou formação:~aliciado pelo poema,conseguirámostrarentão que o
artística - obradearte),e reizend(encantador),sen- trechoemquestãoé coerenlpp "ilpqn"iln,e queo
do estevocábuloutilizadonumsentidoquehoje geral- culpadoda dissonáncianão é o poelamassim o leitor
mentenos escapae que assinala algo de subtil que por causados seuspreconceitosgoelheanos.Se eume
nos excita, algo que nos estimula e encanta.Além encontrar numa pista certa, se os meus sentimentos
disso a escolha..yocabular deixa-nospressentir uma não me tiverem enganhado,então a cada passoserei
certa inclinacão para os preciosismos,predilecção compensadocom a felicidade de reconhecer a har- ,
estaquenãose faziaaindasentirduranteo período moniada obrae podereiver auetudos~s.oncentra,1.r;..;;.'
do aIto-classicismoe quese manifestacomclarezana completae reúne numaunidade.De todos os lados o: ...,
palavra "Lustgemach",aposentode prazer. Consul- poemã""grlta-meóSE;!!J..~ã:"c?'rdo;e cada percepçãoleva, "-.;A,
tando o dicionário de Grimm encontraremos,como a uma outra, e c~d~.':.r~.c<?.9:uese torna então visível; ~"~.
exemplo onde esta expressão é aplicada, apenas 0_" ~onfirma aquilo que já era anteriormente cC/.nhecido.j . '
"PersianischeRosental" de Olearius. Vemos que se' A interpretação torna-se nesse momento evidente.I ; i)
trata portantode uma derivaçãotipicamentebarroca. Toda a verdadeda nossaciência da literatura baseia- ;'( ~\
Não haverá certamenteninguém. nem aqueles que -sesobreestetipo de evidência. '. ;>
fingemdesinteresse.queousemenosprezaruma ajuda Porém surgem-nosde novo algumasdificuldades.O
tão pertinentee eficaz,mesmoque estanos seja dada estilo do poema que constitui o nosso objecto de
pelos biógrafose por uma filologia.posilivista.Aliás estudonãoé susceptivelde ser apreendidoemtermos
a arte da interpretação.literária fundamenta-~esobre de conceitos.Podemosinclusivamenteinventar para !1::..R.~.
o amploe vastoconhecimentoque todoum seculode este efeito nomes como BiedermeierS5)e classicismo.
ciência de literatura alemãacumuloupara nós, reco- No entanto sob tais conceitos estilístic:osincluem-se
nhecendohaveraqui somentepoucacoisa querejeitar bonse mauspoemas,romancese dramas3A).
e muitoqueagradecer31).Quantomaisantigafor uma-o Mas a singularidadee a beleza espe~íficado poema
poesia.mais ficamosdependentesda ciênciada litera- "Auf eine Lampe" não é aqui abrangida. Poderei tal-
tura e maisnecessidadeteI!!2~.~e)~y~st~g!\r.JiI!!I~_éL vez descobrir uma "figura de toque""} como a de
Iinm~!!.9!!'!!...~._poe~aco~o o fundo histórico em..que Becking.Teria nessecaso ao menosum simbolopara
s~!!!.)sto é particularmenteverdadequantoà litera- a unidade flutuante do poema.Porém,sem o respec-
tura anterioraosmeadosdo séculopassado.queestá tivo texto, as figuras de toque não passamde hiero-
muito mais expostaa equívocosdo que o leitor des- glifos ainda não decifradose só têm significadopara
prevenidopoderásupor. quemtenhajáantescompreendidoo poema.
A "demonstração.processa-semais ou menosnestes O estilo individual do poemanão é a forma, nem o
moldeS.emboranunca da mesmamaneira32).À aper- conteúdo,não é nema ideia nemo motivo do poema:
cepçãoinicial33)junta-se a demonstração,completan- é. sim, todos esteselementosunidos,e por isso dize-.
do-se assimo circulo hermenéuticoda interpretação mos que a perfeição duma obra de arte se baseiano
literária. Há no entantoque reconhecerque estamos facto de tudo se unir e harmoniz":Lno es.tiJo.Não é
apenasno inicio. A jIlY!it~atã2_1?!ogr.1i!iç~_ui.loI9.: porémconvenientepretenderdeduzir qualquerdestes
gica 'poderá,quantoaos aspectosdo tempoe do es- elementosa partir dum outro: por exemplo,a forma
paço, revelar-mese me encontro numa pista certa. partindo-sede umaideia,de umaideologia ou deuma
.T.Q..<lavial!ãom,:é dadoapreenderaindaa indíviduali- concepçãodo mundo; ou então, vic:e-versa,para se
'dade específicadesta obra de arte. (Creio que não chegar aos motivos, às ideias e à matéria literária,
haveráninguémtão louco queacrediteser um poema comose estes fossemdeterminadose obedecessema
constituidopor uma mera amálgamadas mais subtis umalei ou "mandamento"da forma.Na verdadeam-
e variadas correntese traditões, ou ainda que ele bos os métodos foram já tentados.Todavia o critico
possaserdeduzidoa partir do mundo-ambienteque o que não se deixa arrastarpara o sectarismoterá de
condiciona.)R~s.t.iI=.m~pojsY~r.!f!.car...a.ba:nnonia..~.f.~- afirmar que um poetaprocededumamaneirae outro
~ênciainte':,"ado poema.O objectoi~e~iatodam.inha ~
mterpretaçaopassaagora a ser o eshlolnconfundlvel- MaxBeckmann\1884-19501."Despedlda-.Exlraidodi!umacolec-
mentecaracteristicodo poema.Tambémquantoa este ç~oparticulardeMunique,e publicadocoma amáv<!lautorlzacão
aspectomeparecepossivelumademonstração. daEdltllraR. PlperVerlag,Munique,emcujolivro,"Relancede
. _ ... Bf'Ckmann- Documenlose conlerênclas(19621aparece.C"Bllde
A mmha apercepçaoInicial pode no entanto estar aul BedemanD.DokumeDleuudVorlrage".Herausgegebenvou
errada. Nesse caso ficarei a certa altura inesperada- H. M. vonErflaQudE. Clipel.)
doutra. EdgarAllan Poe diz-nospor exemploque de:
senvolveutodoo seupoema"TheRaven"") basel:mdo-
-seno refrão "nevermore".
Mas já Schiller confessa-nosque partia sempre de
ideias. Isto todavia não tem grande interessepara
nós,se, emvez de nos dedicarmosa estudosbiográfi-
cos,quisermosexplicar e aclarar umaobra de arte",.
Só somos forcados a evocar razões quando a obra
demonstra deficiéncias e falhas, pois, se o poeta
logrou atingir a perfeicão,não se notarána sua obra
vestígiosdo processohistórico da sua criação.Neste
caso não tel.. sentido artistico perguntar se isto de-
pendedaquilo,pois queumelementopaira livremente
sobre o outro, e tudo se encontra'equilibrado num
jogo de relaçõeslivres '°1.
Poderemosmesmodizer d~lmamaneira geral que a
categoria da causalidadenão tem qualquer valor e
aplicacão onde se encontrar e apreendera beleza
pura, tal comoesta é. "Entãonão há nada que funda-
mentarou defender,pois causae efeitocaducamaqui.
Em vez de recorrer ao "porque", ou então ao "por
estarazão"dasexplicaçõesracionalistas,nósdevemos
descrever.Não se trataporémde descreverarbitrária-
mentemas sim numa tal relacão com o original que
esta reveletão inalienávele mais profundae interior
quequalquerprocessode causualidade").
Encontramoso estilo na execuçãoliterária, na ideia,
no motivo.O sentidoestilislico do modocomose con-
cebeo mundo,ou seja,da "Weltanschauung",não tem
primaziasobrea rima. nemestasobrequalqueroutro
elementoda obra. E quantomaisperfeitofor um poe-;
ma maior a paridade dq~ S~1:l!!.JI.~~ctQs.No entanto
e'ssesaspectossó ganharãoverdadeirosentidoquando
integradosno seu contexto.Se eu extrair por exemplo
algo para efeitos dum exame - em que as suas rela-
ções com o todo sejam excluidas,e que o considere
.isoladamente- acabareipor cair numseco e mesmo
fraudulentoesquemalismo.
Não medevopermitir afirmaçõestão abstractascomo
as seguintes:uma construçãosintáctica de natureza
paratácticaexprimesossegoe tranquilidade,enquanto
que uma hipotáctica expressatensãoe,. A primeira
tambémpodeser lírico-volátil, e a segundarudemente
circunstanciada.Na "Jungfrau von Orleans"U) de
Schiller. na cena "Johanna-Montgomery"o emprego
de jambose trimetrosrenecteum augepatéticoe uma
intensa emocão.Os mesmosversos regularese não
rimados,quando empregadosem "Auf eine Lampe",
de Môrike, comunicam-nosa maravilhosae reclusa
tranquilidadedumjá quaseesquecidoobjectode arte.
I:: certo que se pode aqui replicar que só o esquema
métrico permaneceuo mesmo.mas que ao fim e ao
cabo os versos são diferentes:Schiller tem uma ca-
dênciaimperial.Mõrike soa-noscautelosoe prudente.
Mesmoestaafirmacãopodeser comprovadano texto,
por exemplo.chamandoa atençãoora para a impor-
tância das consonantesem Schil1er,ora para a suavi-
dadedasmodulacõesvocálicasemMõrike.
Schiller:
"Du bist desTodes!Eine brit"scheMulter zeugtedich.
Hall ein.Furchtbare!Nicht denUnverteidigten
Durchbohre!Weggeworfenhabich Schwertund
Schild . . ." '"
Mõrike:
"Noch unverrückt.o schõneLampe,schmückestdu,
An lefi::hlenKel/en zierlichauigehangenhier ..." n)
Enfim, dois mundos tonais muito diferentes.SchilJer
permite-sea liberdadede omitir algumaspalavras do
discurso de Johanna. Isso seria inconcebívelno tre-
cho de Mõrike e uma única palavra omitida teria o
efeito de uma pedrada lancada sobre a superfície
16
argênteaque a linguagemtece. E assimpor dianteI
Os meios cientificos apuraram-se suficientemente
para nos deixar reconhecerdiferençasprosódicas.No
entanto mais cedo ou mais tarde chega-seàs fron-
teiras daquilo que é susceptivelde ser provado, e
então apenasn.osé P...e.!!.1!!..tid..Q?~z~ll.!!' ~eg1,!I)do_a
nossasensibilidade,os v~x:.s.Q_s_§.QaIILdes1aou daquela
mélI~~rã:ÚÍna tal-afirmac~<:!J>E.I!eJ!Q.I:~m_c~mE~~r-
-se. libertando-seassimdo seu subjectivisma se eu
conseguirunir ó aspectotonal aosoutrosqueexistem
no poema.
Por isso atento no modo como Mõrike estrutura os
seus versos.Na maioriados casosa divisão versifica
correspondea unidades semânticas,sendo por isso
assinaladascomum ponto ou vírgula; porémisto não
sucedesempreassim,e por duas vezes a frase não
terminano fim do verso:
.AuJ deinerweissenMarmorschale.derenRond
Der Efeukranzvon go/dengrünemErz umilichl ..." 16)
"Wie reizendalies! lachend.und ein sanflerGefsl
Des Ernslesdochergossenumdie ganzeForm . . ."")
.Numa obra de arte tão curta e tão cuidadosamente'
estruturadatais transbordosde versopara versoassu-
memumaimportânciamuitosignificativa.Elestendem.
a veJar ligeiramentea E:strutura,que nos é mesmo
assim visivel. Todo o poema se articuJa de modo
semelhantee parece-nosentãoqueo poemase divide
em gruposde três versos'~).Os primeirostres versos
constituemumaoracãogramatical:
"Noch unverrückl,o schõneLampe,schmückestdu,
An leichlen Kettenzierlich auJgehangenhier,
Die Deckedesnun iasl vergessnenLuslgemachs."40)
Os seguintestres versosformama segundaoracão:
"Aui deinerweissenMarmorschale,derenRand
Der Efeukranzvon goldengrünemErz umffichl,
Schlingtirõhlich eineKinderschard~nRingelreihn."..)
Porêm,em seguida.a estruturatorna-semais solta e
no terceíro grupo aparece-nosum travessão.'j a ter-
minaro segundoverso:
"Wie reizendafies!lachend,undein sonflerGeist
DesErnstesdochergossenum die ganzeForm-'"')
O terceiro verso contemuma frase a que se segue
umafrase interrogativa.
"Ein Kunslgebild der echlenAr/. Wer achletsein?"53)
1O-nospossível reunir tambémestes três versos num
grupo,e, maisque nãoseja por umaquestãode sime-
tria, sentimos quase que compelidosa faze-Ia.Este
grupoé porémmaissolto, e. o que é mais importante.
ele não se torna uma unidade fechada.A pergunta,
emboranão exigindo uma resposta,causano entanto
uma certa intranquilidadee apontapara além do ter-
ceiro verso. Por fim, cuidadosamentepreparadosob
formade uma sentenca,aparece-noso último versoa
coroartodoopoema:
"WasaberschõniSl,seligscheinlesin ihmselbs/."54)
Serâque constituium quartogrupo?Estariamosjusti-
ficadosa dizer quesim.Esteverso,que ocupao lugar
dumquarto terceto.fica tambémcomo seu pesotri-
plicado por razãodo seuconteúdosentencioso_livre-
mo-nos porêm de insistir demasiadamentenumatal
exegese.JJma tal estruturaCãodo poemaé semdúvida
possível mas ela não pretende apresentar-secomo
esquemarígido. Aliás, dum modo encantador,o ele-
mentoestático é para o fim eliminadopor um movi-
mentoSS).
n ,_ ~
Bembard Scbullze, "Mlgof IV". Plástico a cores. Colecç~o LIlo.
NI~ermayr~ Wlesbaden. Agradecemos a reproducllo A gentileza
da revista -Das KUDslwerk- tA obra de arfe.. de Badea-Badeo.
em cujo número de Outubro de J963 aparece o estudo de HaDDs
Tbeodor Aemmtng sobre Bernhard Schultze.
Não é que a própria lâmpadase pareça assim1 Ela
está suspensapor correntesque nos oferecemuma
configuraçãolinear, de contornosnítidos e bem visí-
veis. O poeta atribuiu assimuma "forma"- no sen-
tido clássico.1)- à própria lâmpada.Mas em tomo
desta forma derrama-seum espírito sério e sensato,
mas igualmenteligeiro e suave,um espirHocomalgo
de húmidoe fluido, que suavizaa rigidez dos contor-
nos. O bandode criançasquebrincam à rodaencon-
tra-se"alegremente"constituido,ou sejadumamanei-
ra mais livre. E por fim, na coroa de hera verde-dou-
rada, acrescentam-senovas tonalidadesde cor, que
discretamentese distingueme sobressaemda forma
plásticadistante.do mesmomodo que as modulações
vocálicas reduzem o distanciamentocausado pelo
verso semrima.
Espero que seja agora mais fácil reconhecercomo
todos esteselementosse relacionam.O inefável-con-
substancial>7)que serve de objecto às minhasobser-
vaçõesé o estilo. Se quisermosencontrarum termo
para caracterizareste inefável poderemoschamar-lhe
.o"encantador"").no sentidoprímitivo atribuidoa este
: conceito.Na verdade Mõrike não nos subjuga,não
nos arrebata,não nos embriaga.Pelo contrário,o que
nos fazo "tranquilomágicoquevivia nasmontanhas.
- assimlhe chamariaGottfriedKeller maistarde- é
en-cantar-nosdumadistánciajudiciosamentebemcal-
culada.
Não seriamuitodifícil comprovardummododiferente
o cunho inconfundível e individual do encanto de
Mõrike. Isto poderia ser conseguidopor uma análise
das modificaçõesconstantesque surgemna constru-
ção das suas frases, por exemplo,o modo como, a
titulo de experiência.a palavra "reizend"59)é melho-
rada mas não eliminadapelo vocábulo "Iachend"10),
como quem procura a expressãoadequadaquando
fala. Ou entãoo modocomoa partir desteligeiro tom
de conversase eleva e sobressaio ponderadojuizo
estético: .uma autênticaobra de arte""). Eu poderia
inclusivamentedocumentarcom toda uma estatistica
de sonsa oscilaçãoentrea distánciae a aproximação
que encontramosno fim. Devo no entantotomar em
consideracãoa que público me dirijo. Em certascir-
cunstânciaspode-sejustificar que se demonstrenum
único exemplotodos os nossosmétodosartisticosl'!j,
para provarcomocadae todoo elementodumaautên-
tica obrade arte se concentrae manifestano estilo.
No entantoum tal ensaionão exigiria sómentecui-
dado e paciência,senãotambém,diria eu, uma certa
habilidade ou mesmoartimanhano modo da apre-
sentação13).Pois como cada fenómenose encontra
aquientrepares&4)raramenteseconsegueconstruirtISj
e chegaraos.resultadoscom a sequênciaque no de-
senvolvimentooudecursodumproblemaou dumabio-
grafia parecemjá estar ditados pelo desenrolardos
factosobjectivos.Queminterpretacorresempreo ris-
co de apresentarapenasum apanhadode aperçus
isolados como se pon,entura estivessea fazer uma
lindacolecçãode borboletas.
Além disso quanto mais nos esforçamospor atingir
detalhescompletose exaustivos maior a probabili-
dadede sermosacusadosde pedantariaeruditae de
repisar apenas aquilo que todo o leitor entendido
compreendeulogo após poucas alusões. Será que
devemosfazer-nossurdos quandoum critico nos diz
não haver no âmbito da ciência da literatura nada
maisfastientoe insípídoqueumainterpretaçãoexaus-
tiva, ou.quandoafirmaqueos estudiososda literatura
destroemo últimorestode elegânciaquetalvez ainda
lhesestivessereservado?
Não é muito vulgar que no âmbito das ciências se
discutamproblemasreferentesà elegânciadeestilo"").
18
Pelo contrário certos estudiososconsiderammuitas
vezesumaquestãodehonraquese renuncieà arte de
escreverbem.Sem dúvida isto constituiuma atitude
sóbrianos temposidos emque foi precisocerrar filei-
ras para distinguir e libertar a história,comociência,
dahistóriacomocrónica.lendaou mito.
Hoje todaviaum investigadorjá não temnecessidade
de provar a seriedadee objectividadeda sua ciência
comum péssimoe deseleganteestilo. Se tiver ídeias
jcí esc1arecidasquanto à :ma tarefa e se já estiver
seguro quanto ao métodoa empregar,então poderá,
de consciênciatranquila,esforcar-sepor atingir uma
apresentacão agradável.redigindo os seus trabalhos
de modoa que não sejamapenasos colegasda espe-
cialidade a colher beneficios e ensinamentos.Duma
maneirageral "os mestresdo mesmooficio. nao sao
inc1usivamenteos melhorese maiscompreensivoslei-
tores,e causariaverdadeiro espantose pretendêsse-
mos dirigirmo-nosexclusiva e precisamentea eles.
A nossatarefanão consisteapenasemexpor o conhe-
dmento,-ie'mosde cuidarque numpúblico mais vasto
se mantenhavivo o sentido e o amor pela poesia;
temosde fazer tambémcomque a palavradumpoeta
- tantasvezes abusadae mal interpretada- seja
vista a uma luz mais justa e pura./Poucos estarão
todavia verdadeiramentea' altúril duma tão "difícil
tarefa de protecçãoquotidiana",")Em qualquer caso
nãopodemosignorarqual o âmbitodasnossasrespon-
sabilidades,e a arte-de-escrever-bemestásemdúvida
incluída nestes requisitos. A própria natureza do
nosso assuntotorna aconselhávelque o crítico-inter-
pretadorcultive a arte daexpressão.
O critico podeser dotadoao ponto de desenvolverconl'espirito e inteligência a matériamais reni-
tente,os aspectossintâcticos.métricos,a tonalidade,
etc. - não escapará todavia à censura daqueles
a que se dírige se insistir em ver a salvaç~óda sua
pesquisaapenasnos pormenores.Nem todos deixam
quea poesiase Ihes insinue destemodo.Compreende-
-se que muitos leitores. mesmcos melhores,afirmem
quenão Ihes interessamessasminudosidades;ou que
talvez seja interessa11teouvi-Ias uma vez. mas que
elascedoperdemo seuatractivo.
Vamos dar ouvidos a estas vozes. e desta vez de-
sistiremosde aplicar aos versos deMõrike instrumen-
tos de interpretaçãocada vez mais pormenorizados.
Em vez disso entrevemosurna outra possibilidadede
projectar uma luz ainda mais clara sobre o texto.
Começámosesta interpretaçãoabordandodo exterior
o nossoassunto,e só entrámosno espaçoartísticodo
poemadepoisde algumasconsideraçõessobre a vida
do poeta e sobre a transmissãode certos dados da
tradiçãoliterária.Trata-seagorade sairnovamentedo
espaçoartístico do poemapara tomarcontactocomo
seuambiente,
O jovem Mõrike, autordas cançõesde "Peregrina. e
do "MalerNolten", não delineiacontornose áreastão
definidascomoem"Aur eine Lampe".O seuelemento
preferidoé anteso tempo,
Ele vive fascinado por recordacões.último rei de
Orplid "', queescutaos sons que lhe vêm do passado,
da sua infância,de povos distantes.das lendasherói-
cas.A músicadominaem toda a parte,nos motívose
na linguagem.e os sons revestem-seaqui dumaam-
biênciaromânticaque apenasos ouvidos mais sensí-
veis pressentemcomo se fosse um último e remoto
eco. A dor da despedida,algumasvezes num sofri-
mentopassadoquenão morre, torna-seaudível. Ines-
..
-" '.~.:
quecivel.a horada manhãfaz-sesentirrepetidamente,
e "entãooatrevido dia desafina""), já ameacandode
irromperno céu.
Aconteceo mesmocom as horasda madrugada,pois
a desejadamanhã não aparecee não quer libertar
dos fantasmasda noite a insone e angustiadaalma
do poeta.Mõrike, com a alma esgotadapelos misté-
rios nocturnos,fita o dia, - e é assimque nos apa-
rece,no limiar dos tempos,no fim do Romantismoeno principio duma outra época, cuja sobriedadeo
feria, emboratalvez lhe tivessetambémpermitidoes-
queceros golpes mais profundose o horror e o en-
tontecerinsuportáveldo passado.
Ele tambémnão foi poupadoà necessidadede deixar
para trás os sonhos da infância e da adolescência,
para,comohomemadulto,fazerfrenteàs dificuldades
do dia. Mesmoassim,durantealgum tempo,ele con-
tinuou a entreter-secomos antigospadrõesartisticos.
Ao mesmotempoflorescee atingeumaperfeicãocada
vez maior um tipo de arte jâ antes ocasionalmente
anunciada,a poesiaclassicista,quese filia consciente-
menteem Goethe e nos mestresda poesia lírica da
antiguidadeclássica.Ali dominaa dimensãoespacial
do presente70):a observacãoe a visualizacãoprepon-
deramsobreas impressõese sobreo ambiente;a rima
cede lugar aos disticos e a outras antigas medidas
métricas,cuja virtude consistiamenosno seu aspecto
!\.farlaLulse KaschnJt:t. lac.simUe do poema -Na praia-o
tonal que no critério de estruturacão.Mesmoassimo
nossotimido Mõrike não perdenestestrabalhosclas-
sicistas a sua inconfundivelindividualidade.
Não lhe ocorre tornara artenumpadrão,nemprocura
orientar a vida de acordo com um modeloválido, tal
como o fez Goethe em HHermannund Dorothea.. A
possibilidadeda arte ser um factor educalivoe peda-
gógicojá não o seduzia,estandomuito longe de pen-
sar que pudessecaber a ele a vocacãode educare
melhorara humanidade.Os fins sociaise cosmopolitas
do classicismoalemãojá haviamentãoperdidoa sua
validade,e no mundode MDrike falta a presençado
futuro e do devir. Ele reconheceapenasa belezado
presente.masmesmoassimapenascomorestoou ves-
tigio, como espaço que foi poupado e isolado num
ambientesóbrioe hostil.:r:assimo circulo do "silêncio
demoniaco"71),em que se encontra "a bela faia. 72),
assimo túmuloda mãede Schiller,e também,no jar-
dim,a sua árvore favorita,emquegravou o nomede
Hõlty a), lugaresportantoquese distinguiampor uma
ligação com o passado. ou então - talvez o lugar
mais puro e ainda intacto - o "aposento do prazer" 74)
emque se encontraa bela lâmpada.Sim, ela estáali
"quase esquecida"75)."permaneceainda 'intacta"71),
mas por quanto tempo?Ninguém presta atençãoà
obra de arte. Sõmenteele, poeta,se apercebeda sua
discretabeleza.
19
Ele próprio acaba de entrar. vindo lá de fora. do
mundo'do trabalho. do dia-a-dia. que o emurchece.
comoa todos.Quempoderia afinal resistir ao espirito
da época")1 No entanto os mais nobres "órgãos do
seu espirito" não morreramainda de todo. Eles são
excitadospela presençada obra de arte. e. enquanto
ele medita7"),todo o belo mundodo passadoressus-
cita de novo. parecendo-lhemais uma vez vivo e
presente,e. para usar aqui uma expressãodo poema
"ReminiscênciaDivina" 70).é como que "cercadode
encanto".0).pois o poetajá não estáhabituadoa tais
vivencias.Sim, apesarde tudo a beleza ainda o en-
canta,do mesmomodoque tambéma nós nos encan-
tamos seusversos.
Cremosquea partir da situaçãohistóricada épocade
Morike, nos é agora mais fácil compreendero
encantodo poema.O poeta não se apresentacomo
donoda casaemqueestápenduradaa lâmpada.Aliás
já não parecehaver ali um dono.No entanto.emvez
de se considerarum estranho,ele senteque pertence
ali, e atreve-sepelo menosa considerar-secomo um
espiritoafim e comoum iniciado.Talvez seja exacta-'
mentenistoquesebaseiaa belaemelancólicamagiado
poema.Mõrike não consideraa lâmpadaumaobra de
arte do mesmomodoque o faria Goethe.ou seja. em
veneracão fraterna e como estruturaorgânica,~ujas
leis e co-relaçõestêm semelhançae parentescocom
aquelasque regemo corpoe o espiritohumano.
A coroa de hera e a roda-de-crianças-a-brincartem
sobre o observadorum efeito mais decorativo.quer
dizer, ele tende a ver a obra de arte mais dum
ponto exterior que interior. Ele não se identifica
totalmentecom a obra, não se sente completamente
unido a ela, comotambémo não faz em relaçãoâ sua
infância. para a qual talvez a roda-dE-criançasseja
uma evocacão dolorosa: meio-perto. meio-longe.
"meio-prazer, meio-dor" .') como nos diz o poema
"Primavera"r-).
t sobretudono último versoqueestavoz se faz ouvir
commaiorclareza:
"Porém,o quebelo é. parece-nosconteremsi mesmo
a felicidade"""). "O Belo mantém-sefeliz por si pró-
pno" .'\ diz-nosGoethe na segundaparte do Fausto.
Goethenão temdúvidas a esterespeitoe fala-nosde
modo decididoe sem qualquer ambiguid3de.Mõrike
não vai tão longe.Ele já não temsuficientefé e con-
fiancana suaprópriapessoaparasaberao certoquais
os atributos do Belo. Arrisca-se. quando muito, a
dizer: "Porém.o que belo é. parece-nosconterem si
mesmoa felicidade".E. com uma subtilezae um re-
quintesó possivelnumepigono65).Mõrike vai mesmo
ao ponto de substituir "por si próprio" por "em si
mesmo'..): 'parece-nosconterem si mesmoa felici-
dade". Se tivesse escrito "por si próprio" ter-se-ia
identificadodemasiadamentecoma lâmpada.
A lâmpadadistancia-sede novo quando nos parece
conter "em si mesma" a felicidade.Tudo se passa
comose o observadorjá tivessedeixadoo aposento
e pensasseagora na lâmpada.Estas meditacõescon-
dizemperfeitamentecoma suanatureza.umavez que
se sentefora da sua época,comoalguémque nasceu
demasiadotarde.No entantoa meditaçãoconsola-o.
pois que o Belo não carecede aprovação.não neces-
sita ser apreciadopor estar contido em si próprio.
por ser auto-suficiente;- umaconsolação,semdúvi-
da. masmesmoassimdolorosa.pois deixa a cada um
o seupróprio reino: â Belezao aposentoquaseesque-
cido,ao homema monotoniae a indiferençado quoti-
diano.
Com isto acabo de considerar dum modo sucinto o
poemade Mõrike emfunçãode todaa "épocagoethe-
20
ana".7), procurando igualmente fazer justiça à sua
unidadeestilisticaem termosdas suas relaçõeshistó-
ricas.Trate-se dum caminhoque vale semprea pena
seguir.Vemosa quemse aparentaumpoeta.e vemos
tambémem que traçosele se distinguedaquelescom
quemtemmaisafinidades.
Não nos devemoslimitar aqui nemà épocaem que o
poetaviveu. nemà literaturaalemã.Deveriamosmes-
mo tomar em conta a Iileratura da humanidadein-
teira, um ideal que na ,verdadeninguématinge mas
que não deve ser esquecidopelos germanistas.Neste
sentidotendemosa darmo-nospor satisfeitosemnossa
própria casa. ficando alheios à importânciada tradi-
ção a que os anglicistas e romanistasprestammais
atenção.
O poema"A uma Jámpada"oferece-nospejo menos
um paralelo coma lírica grega.O titulo não foi neste
casoconcebidoá laia de inscricãomaslembra-nosos
cabeçalhosda poesiaautênticamenteepigramática.Na
..AnthologiaPalatina",colectâneade quinzeséculos
de epigramasgregos.encontramostextos espiritual-
menteaparentadosá poesiade Mõrike. especialmente
na épocada poesia heJenista.sob os nomesde Teó-
erito. Erina. Anas, Manasalcas, Calimachos - uma
épocaportantoque Mõrike gostavade abordar,como
demonstramas suastradueõesde Teócrilo.Nesta altu-
ra a poesiahelenistajá não se relacionaà Polis. como
naturalmenteaconteciano caso dos poetasdo quinto
século.
A vida politica tinha entretantodegenerado,o estado
perdera a consagraçãoque gozava antes. e já não
mantinha sequer um vestigio de dignidade. Deste
modo os poetas voltavam-se para as zonas ainda
poupadasa estadecadência,exaltandoa felicidadeda
vida pastoril. enaltecendoos objectos eleitos. distin-
guindocomos seuslouvores túmulose outros lugares
sagrados.Tambémaquinosenlevaumasuaveauréola
de resignação.O destino destes poetas é de certa
maneira semelhanteao de Mõrike. Eles sentem-se
.mesmoepigonos.e tendema procurar casosraros ou
extremos.por dependeremafinal daquilo que é raro
e invulgar. Eles dominamtoda a variedadede tons e
superamem requintes e subtilezas todos os outros
poetas. No entanto já os abandonou.como aliás a
Mõrike. o conceitoda dignidadedo poetaque se iden-
tifica com o povo e que contribui para os fins da
colectividade.
Ao estabe]ecercomparaçõesdeste tipo nunca nos
devemosesquecerdasprofundasdiferençasquesepa-
ram naçõestão distintase tempostão distantes.Não
devemos todaviatambém depreciar a importância
desteencontrode épocasdiferentes.Ele confirma-nos
de modoclaro. que. para além dos abismosdo tempo
e do espaço.o Homempermanecesempreabertopara
os eternos valores humanos'"'I. E reconhecer-seesta
verdadeé de importánciafundamentalpara a inter-
pretação.protegendo-acontra um perigo a que ela
sucumbecomdemasiadafrequência.Pois quandocon-
centramostoda a nossaatencãosobre um objectode
estudo.temos a tendênciade julgar que o conheci-
mentoe a descriçãodeste objectoconstituema meta
final da ciência da literatura. Como atitude. como
moral.~omohipótesede trabalhotrata-se aqui duma
opinião ponderosa.Poder-se-iamesmoexplicar, que,
do mesmomodo que a perfeicão constitui a última
finaJidadede todos os esforçosartisticos.tambémela
deve fornecero último e mais elevadoideal daspes-
quisas votadas à arte. E pouco poderemosrefutar
quandonos disseremque assimé, e que tudo o resto
nãopassadeprefácioou introdução80).
No entantoseria penaque por causadumatarefatão
aliciantenos esquecêssemosdasoutrasa que também
somoschamados.Domesmomodoquea artedeinter-
pretar dependedas pesquisashistórkas e filológicas
ela deve esforçar-sepor servir estesramosda inves-
tigação.Estou convencidoque é precisamenteassim
- da aplicaros pT.?cessosda interpretaçãocomo seu
modo caracteristicode sitiar sem tréguasum deter-
minadoobjectoartistico- quemelhorconseguiremos
superar aquele tipo de divisões esquemáticasDO)que
ocasionamtantos juizos prévios e que muitas vezes
nos impedemde ler nas palavrasde um poetaaquilo
que ele lá realmenteescreveu.Nenhumapessoaque
jã tel1hainterpretadoexaustivamenteas obrastardias
de Lessing ou as do jovem Goethe.se apressaráa
fdzer uso dos conceitos -Irracionalismo Literário- e
-IIuminismo"O').
No entanto,semprequequeiraexpressar-see sempre
quedesejeapropriar-sede todaa imensidadeda maté-
ria quea enfrenta,a histórialiterária depende-detais
conceitos. Estes não podem porém ser automática-
menteaceitese necessitamde filtragense actualiza-
ções periódicaso.).Para seremválidas para a ciência
da literatura,estas renovaçõesnão podemser mera-
mentefundamentadasemespeculaçõesda história da
filosofia ou doutrasartesmágicas,impondo-semesmo
que resultemdumnovo e profundoexamedos textos,
tal comonosé dadopela interpretação.
O salto que demos do despretenciosopoema de
Mõrike para problemase questõestão vastasparece
um quantoexagerado.O poema,pequenocomoé, foi
escolhidopor razõesde ordemprática,maso método
descrito adapta-seigualmentebem a obras maiores.
No entantocertoscriticasasseveram,que,a partir das
obras já escritas,se pode concluir que este tipo de
arte de interpretaçãose prestarealmenteapenaspara
a poesialirica 93).
Nesta objecçãohá que separaras razõespuramente
pessoaisdos íundamentosobjectivos.Pode muitobem
ser que a maioria dos actuaiscriticos se sinta mais á
vontadeno campoda lirica. Não se depreendedai que
a causadesteestadode coisasestejanecessariamente
na natureza do método e podemo-Iaencontrar nas
capacidadesespecilkas destescriticas quemais facil-
mentese deixamcomoverpelo lirico quepelo dramá-
tico ou pelo épico. Talvez isto se explique também
pelo factode mesmoumpequenopoemadar tantoque
fazere exigir tantocuidadoe tacto quepor enquanto
apenaspoucoscriticos se atrevema tarefasde maior
extensãoe envergadura.
Seria no entantodificil provar que o dramae a epo-
peia se prestammenosà interpretaçãoque a lirica.
Conquanto que nos forem apresentadosversos não
necessitamosde estar alarmados.pois o seu ritmo
logonos comoverá.Guilhermevon Humboldtdemons-
trou numa brilhante exposição como o mundo das
personagenshoméricassurge da estruturado hexa-
metro.Mesmournapecade teatroemprosa,estejaela
escrita na linguagemda alta sociedadeou das mais
baixascamadaspopulares.não nos causaconfusão.
Pois na sequênciadascenas,na progressãodo tempo,
e na precipitaçãoou no desenlacedramáticoestão
ocultas e são apreensiveisqualidadesrítmiçasseme-
lhantes as de um verso. Hõlderlin interpretoupor
exemploo ritmo de tragédiasinteiras por analogia
comum único verso.Além disso: o ritmo.no sentido
que lhe atribui Becking.é o último e mais profundo
fundamentodaunidadeestilística,manifestando-senas
imagens,nas ideias, na atmosferae nas ambiências,
assimcomo no verso.Destemodo os romancese as
novelas estereotipadostal como nos apresenta o
Reader's Digesl. não são susceptíveisde aguentar
uma interpretação metodólogicamenteeficaz e ao
mesmotempofiel á arte.
Quanto mais pura, quantomais perfeita e mais coe-
rente a obra, tanto mais fácil será o nosso acessoa
ela. Nos dramasem prosapodem estarausentescer- .I
tos elementoscomo a prosódia,a métrica.as estrofes
e a rima. Talvez até a própria linguagemdo diálogo
tenhaapenasum valor estilistico indiferente.Mas por
outro lado isto é compensadopor factoresque faltam
num poema:uma estruturaçãomais extensa,organi-
zada em actos,a acuidadeda discussãointelectual,a
possibilidadedum problemaser apreendidocom cla-
reza e plena consciência.Naturalmenteteremosque
procederaqui de mododiferentedo queaCOD\..ce com
um poema.
Não devemosesquecer-nosporém que tambémcada
poema individual exige um tratamentodiferente.No
caso de Fleming"} não posso tomarem conta aquela
compreensãoimediata que pressUllonhoem Goetheõ
emC. F. Meyer.1) teremosde discutirlongamenteo
problemada apreensãoartística.1).o que seria des-
cabido para o estudo de Eichendorff97).E qualquer
tentativade esquematizaçãorígida é-nosaqui proibi-
da quer por cada umadestasobrasde artequer pelos
nossosleitores. t emmimpróprio queencontrofinal-
menterazões para proceder diferentementeem cada
caso individual.
Não sinto necessidadeda despejartodosos meusco-l
nhecimentossobre cadapoema,e não vejo vantagem .
em esgotarcompletamentetodos os textosde que me
ocupo. Aqui cativa-meuma característicada lingua-
gem,ali o encantoda estrutura.E. se não houver 0..-
propósitode apresentarum exemploescolar""),pare-
ce-me.que,emvez de ignorar estasprimeirasimpres-
sões'0) devo desenvolvê-Ias.Pois só consigo desper-
tar vida ondea vida medespertaa mim",.
Regresso com isto finalmenteao cunho e à. origem
pessoal de toda a interpretacão. Quer eu me limite
conscientementeàquilo quemais meatrainumpoema,
quer me esforce por atingir uma visão completa,a
minha interpretaçãoserá sempre unilateral. Pois eU:-
vejo sempreapenasaquilo que posso ver e que me
ocorreulogo no primeiroencontrocoma obrade arte.
Com isto de maneira nenhumapretendofazer aqui
uma apologia do relativismohistórico.Afinal eu pró-
prio, depois de examinaras minhasapercepçõesini-
ciais10'),dei-meao cuidádode demonstrarque elasse
justificavam.
No entantonão fica excluido que apareçaum outro
crítico com uma outra aclaração em que demonstre
que tambémas suas impressõeso não iludiram. Se
ambasestasinterpretaçõesestiveremcertasnãohave-
rá contradiçõesentreelas,mesmoqueabordem,quan-
to ao todo e quantoas particularidades.o poemade
mododiferente.Aliás essasinterpretaçõesdivergentes
terãomesmoo condãode me fazerpensarque todaa
autênticae viva obra de arte é verdadeiramentein-
finita adentro das suas fronteiras definidas. -Indivi-
duum est ineffabile"'
E pomo-nosa refIectir sobreumainsuperávelmáxima
humanistaque nos lembra que sómenteos homens
todos juntos conseguiriamapreendero humanocom-
pletamentee emtodaa suaprofundidade10!).Enquan-
to se mantiverviva a tradíção,o progressodesteco-
nhecimentodo Homem103)jamais terá um fim, e é a
esse progressoque a interpretaçãoserve dentro dos
quadrosda ciênciada literatura.Ela mantémvivo não
só o interessepelo Humanoqueé inerente~oHomem
mas talvez até uma outra finalidademais é,levadade
que o nosso saber ainda não se apercebe.Como re-
compensae prazeré-lhedadosondarasprofundidades
inesgotáveisda Arte.
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