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Lúcia Maria Sálvia Coelho 
RORSCHACH CLÍNICO – MANUAL BÁSICO 
EDITORA DIDÁTICA LTDA. 
Copyright © Lúcia Maria Sálvia Coelho 
Nenhuma parte desta publicação pode ser gravada, 
armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada, 
reproduzida por meios eletrônicos ou outros quaisquer 
sem a autorização prévia da editora, do autor e colaboradores. 
Direção editorial: Liana Maria Salvia Trindade 
Projeto gráfico, editora ção: Raimundo Lopes Pereira 
Desenho da Capa: Flávia Aparecida Chammas Campos de Araújo 
Tiragem: 1.000 exemplares 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) 
Rorschach clínico : manual básico / Lúcia Maria Sálvia 
Coelho organização. São Paulo : Terceira Margem 
2.002. 
Vários colaboradores. 
1. Teste de Rorschach 2. Teste de Rorschach - Prática 
3. Testes psicológicos 1. Título. 
00-0796 CDD-I 55.2842 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
1. Método de Rorschach : Técnicas projetivas: 
Psicologia 155.2842 
2. Rorschach : Método : Técnicas 
projetivas Psicologia 155.2842 
A. Ira, 79 40 Arod. Conj. 43B 
CEP 04082-000 — Moema - SP 
Teefone/Fax (Cxxii) 5042-4594 
E-mau: terceiramargem@uol.com.br 
COLABORADORES 
• Cana Anauate- Psicóloga formada pela Universidade Paulista, Especialista em Rorschach e Monitora do 
2’ ano na Sociedade Rorschach 
de São Paulo. 
• Flávia Aparecida Chammas Campos de Araújo- Psicóloga, Artista Plástica, Especialista em 
Rorschach e Profa. da Sociedade Rorschach 
de São Paulo, Mestranda em Arte-Educação. 
• Giseile B. Petri M. Costa — Psicóloga, Especialista em Rorschach e Coordenadora de Cursos da 
Sociedade Rorschach de São Paulo. 
• Lilian Pasqualini Casado — Psicóloga, Especialista em Rorschach. Membro da InternationalAcadeniy 
ofLaw and Mental Health — Brazilian 
Branch. 
• Lúcia Maria Sálvia Coelho — Psicóloga, Profa. Universitária Especialista em Rorschach, Profa. da 
Sociedade Rorschach de São 
Paulo, Mestre em Filosofia das Ciências e Doutora em Ciências Médicas. 
• Manoel Carlos Pinheiro Sálvia — Engenheiro, Diretor Técnico Internacional da Indústria da Borracha 
(Goodrich), Responsável pela Análise Estatística das Pesquisas da Sociedade Rorschach de São Paulo, autor 
do livro: Controle Estatístico de Qualidade (Publ. interna Filipinas e México). 
• Maria Cristina Barros Maciel Pellini — Psicóloga, Mestre em 
Psicologia, Especialista em Rorschach, Presidente e Profa. da Sociedade 
Rorschach de São Paulo e Profa. da Universidade São Marcos e 
Faculdade Paulistana. 
• Maria Inês Falcão — Psicóloga, formada pela UNISA- Universidade de 
Santo Amaro, Especialista em Rorschach, Profa. da Sociedade Rorschach 
de São Paulo e Psicóloga encarregada do Serviço de Psicologia do 
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de 
Medicina da Universidade de São Paulo. 
• Simone Brunhani — Psicóloga, Especialista em Rorschach e em Psicoterapia Psicanalítica e Profa. da 
Sociedade Rorschach de São 
Paulo. 
• Vanda Cianga Ramiro — Psicóloga, Especialista em Rorschach, Mestre em Psicologia, 1° Secretária, 
Tesoureira e Profa. da Sociedade Rorschach 
de São Paulo e Profa. da Universidade São Marcos. 
 
SUMÁRIO 
COLABORADORES . 8 
PREFÁCIO 
Lúcia Maria Só/via Coelho 9 
INTRODUÇÃO 13 
TÉCNICA DE APLICAÇÃO DA PROVA 
Maria Cristina Barros Maciel l’e/lini 21 
PARTE 1- SIMBOLOS E CRITÉRIOS DE CLASIFICAÇÃO 
1 — LOCALIZAÇÃO DAS RESPOSTAS: Modalidades de Observação 
Landa Cianga Ramiro 37 
Critérios dc Classificação 37 
Modalidades Principais: G, P, p 37 
Modalidades Secundárias: GE, F 42 
Modalidades Secundárias Menos Frequentes: p’, PG, GP 45 
2 - FATORES DETERMINANTES: SISTEMA CONATIVO 
DETERMINANTE FORMAL (RF) 
Maria Inês Falcão e Carla Anauate 49 
Critérios de Classificação 49 
Freqüência e Qualidade Formal (F+, F-, F) 50 
Precisão das Imagens 55 
Tipos de RF quanto ao modo de processamento das imagens 57 
SISTEMA COGNITIVO 
DETERMINANTE DE MOVIMENTO (RM) 
Flávia Aparecida Chamnias Campos de ArazUo 61 
Critérios de Classificação 61 
Movimento Humano (M) 62 
Movimento Animal (m) 68 
Movimento Inanimado (m’) 71 
Graus de energia segundo Piotrowski 76 
DETERMINANTE DE PERSPECTIVA (RPS) 
Giseile B. Petri AI. Cosia 79 
Critérios de Classificação 79 
Perspectiva Tridimensional (Ps) 80 
Perspectiva à partir da noção espacial (ps) 86 
SISTEMA AFETIVO-EMOCIONAL 
DETERMINANTE CROMÁTICO (RC) 
Simone Brunhani 93 
Critérios de Classificação 93 
Integração Formal: FC 95 
Predomínio Cromático: CF 96 
Reação Imediata: C 97 
AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO DAS FORÇAS SUBJETIVAS (EQ e EQ’) 
Lilian Pasqualini Casado 103 
Erlibnistypus (EQ) 103 
Variante de EQ:EQ’de Silveira 106 
6 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
DETERMINANTE LUMINOSIDADE (RL) 
Giselie B. Pelri M. Costa 111 
Critérios de Classificação III 
Integração emocional (L e C’) 112 
Expressão inter-sensorial: relevo e tacto: (1) 125 
Sensação Subjetiva: (1’) 131 
3. CATEGORIZAÇÃO DAS IMAGENS 
CONTEÚDO DAS RESPOSTAS 
Giselie B. Petri M. Costa 135 
Critérios de Classificação 135 
Categorias de Conteúdo 136 
Figura animal (A) Humana (H) 139 
Areas de interesses 153 
PARTE II- ELABORAÇÃO DO PSICOGRAMA 
Lúcia Maria Sálvia Coelho 159 
Tipo de Trabalho Mental 159 
1. Capacidade Associativa (R) e Tempo de Resposta (T) 159 
2. Observação da Realidade 161 
2.1. Tipo de Percepção — Indice Perc 161 
MODALIDADES PRINCIPAIS 161 
Tabela 1—Resposta Globais (G) 161 
Tabela 2— Pormenor Primário (P) 162 
Tabela 3 — Pormenor Secundário (p) 162 
MODALIDADES SEC(JNDÁRIAS 163 
Protocolo Total 163 
1. Espaço Primário: E 163 
2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, PG, p’) 163 
Conjunto Monocromático 164 
1. Espaço Primário E 164 
2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, Pg, p) 165 
Conjunto Cromático 165 
1. Espaço Primário 165 
2. Global com Espaço (GE) e Outras Modalidades (GP, Pg, p) 166 
2.2. Qualidade Formal das Modalidades Principais 166 
3. Qualidade de Elaboração das Experiências 167 
3.1. Exame das Condições Externas (%F) 167 
Mobilização dos Recursos Subjetivos (Lambda) 167 
3.2. Flexiblidade do Pensamento 168 
3.3. Elaboração Intelectual lntrínseca(Z) 169 
4. Nível da Comunicação Verbal 170 
Faixa de Interesses. Categorias de Conteúdo 170 
5. Processo de Adaptação à Realidade (R.M.1.) 171 
a) Esfera Conativa — Julgamento da Realidade (%F+) 172 
b) Esfera Afetiva — Ligação Emocional ao ambiente (%A) 172 
c) Esfera Cognitiva — Assimilação Lógica (%V) 172 
Construção do Índice e Intervalos de Variação 172 
a) Setor Conativo: Julgamento de Realidade 172 
b) Setor Afetivo: Ligação Emocional 173 
c) Setor Cognitivo: Padrões Culturais 173 
6. Mecanismos Inusuais de Reação 173 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL CLÍNIco 7 
1. Nível de Expressão dos Ivíecanismos 173 
1. Nível de Observação 173 
11. Nível de Elaboração 177 
III. Nível de Comunicação 182 
II. Feitio de Personalidade 184 
1. Condições Afetivo-Emocionais: AF 184 
Equilíbrio das Forças Subjetivas Eq e Eq’ 185 
Nível de Adaptação Emocional (L+C’): (1+1’) 186 
Níveis de Expressão dos Afetos FC:CF:C (Conteúdos e Mecanismos) 186 
2. Estudo do Self 187 
3. Dinâmica Psíquica Atual 187 
3.1. Direção em que Aplica a Ativação Psiquica (ou Energia Mental) 187 
3.2. Confronto entre os Processos Cognitivos e as Condições 
Afetivo-Emocionais 188 
a) No Plano Manifesto 189 
b) No Plano Latente 190 
e) Tipos de Confrontos: Exame da Dinâmica da Personalidade 190 
4. Disposições Conativas 191 
III. Sinais Psicodiagnósticos 194 
1. Choques Psicológicos: Expressões Diversas da Ansiedade 194 
Choques Afetivos (chC) 194 
Choque Emocional 197 
2. Sinais Psicodiagnósticos 200 
1. Série de Molly I-Iarrower 201 
2. Série de Piotrowski 203 
PARTE III - ANÁLISE ESTATÍSTICA E DADOS NORMATIVOSEXEMPLOS DE F, F e F° (sendo todas F Ordinárias) 
Pranchas 
1 (p22)” parecem os seios de uma mulher” = 
(p24) “tem tipo uma saia” = P4 ampulheta (mesma gestalt de 
saia): F 
II (P 2) “Bota” = F 
II (p31) “A boca de um camelo” = F 
III (P 8) “Os pulmões” 
III (E24) “Um vaso” = F (taça grande / tigela) 
IV (p 21) “Duas cabecinhas aqui de perfil” F 
IV (G) “cabeça de buldogue” = 
V (P3) “Seta indicando direção a seguir” = P3 palito de fósforo (mesma gestalt de seta) = F+ 
V (PiO) “Duas cabeças de jacaré” = F 
VI (p21) “As garras de uma aranha” = F 
VII (G) “Parece um colar” = F 
VII (E7: metade inferior) “Um Rato” = F° 
(Continuação) 
ROPSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 
ANÁLiSE QUALiTATiVA dAs RF 
Uma vez que as respostas de forma ocupam lugar central no psicograma, as mesmas foram 
extensamente estudadas, notadamente por Schachtel (2) Além da distinção da freqüência na qual a 
resposta de forma é encontrada na população, ele também procedeu a uma análise qualitativa 
desse tipo de resposta, que podiam variar entre: 
1) uma resposta imparcial, 2) uma resposta criativa e 3) uma resposta permeada de fatores 
dinâmicos. 
RESpOSTAS dE FoRI1A ORdiNÁRiA 
Schachtel (2) verificou que algumas pessoas fazem associações que envolvem apenas análise crítica 
entre a resposta dada e a configuração da mancha, com um caráter de “familiaridade fechada e, 
muitas vezes, estereotipada ou mesmo rígida”, resultantes da “rígida necessidade e da preocupação 
com a realização de uma meta estreitamente definida”, a qual denominava como F Ordinário. 
São respostas que carregam em si íntima semelhança com a forma 
das manchas, e o examinando apenas as reconhece como tal. 
EXEMPLOS DE F ORDINÁRIO: 
Pranchas 
A “Uma borboleta. Inq.: Em tudo (G). A borboleta é assim: tem as asas, as anteninhas e o corpo no 
meio. Aqui está igualzinho: 
uma borboleta.” G F+AV 
53 
 
Pranchas 
 
VIII (p26) “No meio, o corpo de uma borboleta” F° 
 
VIII (p2’4) “Parece a boca de um jacaré” F° 
 
IX (E23: Invertida) “Parecem embriões” = F° 
 
X (P14) “Uma taça” P14 vaso (mesma gestalt de taça) = F+ 
 
X (P3) “Parece uma boca” = F 
 
X (PIO) “As trompas de um ovário” = P4 esôfago (mesma de trompas) = F gestalt 
 
54 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
(Continuação) 
Pranchas 
II A “Um avião. lnq.: Vejo ele nesse espaço (E5). Vejo o contorno dele, que é mais fino em cima e vai 
alargando para dar o formato 
da asa do avião. Bati o olho e logo vi.” E F+ obj 
III A “Um peixe. Inq.: Aqui nesse pedaço (P5). Dá para ver direitinho o corpo, a barbatana, o rabo.” P F+ A 
V A “Um morcego. lnq.: No todo (G). Porque tem as asas, o corpo e as patinhas dele bem desenhadas aqui, ó.” 
G F+ AV 
VII v “Um abajur. Inq.: No meio, nesse espaço em branco (E7). 
Olha: aqui é a cúpula do abajur e aqui em baixo é a base dele. 
Olhei e logo vi o contorno dele; igualzinho a um abajur, né.” 
E F+ obj 
VIII A “Uma árvore. lnq.: Aqui em cima (P5). Pelo jeito que tem essa parte, só pode ser uma árvore, com a 
copa dela que vai abrindo 
por causa dos galhos.” P F+ bt 
X A “Duas pessoas. lnq.: (P9) Elas estão aqui, nesse pedaço: vejo bem a cara delas: contorno do olho, do nariz 
e da boca.” P F+ H 
RESpOSTAS dE FORMA EspEciAL 
Em contraponto com as respostas de F+ Ordinário, existem respostas mais criativas, oriundas de uma 
oscilação entre a observação atenta da forma e a possibilidade de experimentar a sensação que a 
forma oferece. Schachtel (2) comenta sobre o processo empático do examinando com a forma, envolvido nesse 
tipo de resposta: “o observador reage ao ritmo e à melodia da forma”. 
Salienta-se nas respostas de forma especial a qualidade mais dinâmica e mais pessoal que o F+ Ordinário, 
porque o examinando experimenta relações outras com a forma, que podem vir combinadas com cinestesia, 
com cor ou qualquer outro determinante do psicograma. 
O que melhor caracteriza o F+ Especial é a riqueza e complexidade da resposta que, quando 
comunicada, “revela diretamente o interesse e o caráter vívido” (grifo nosso) na apreensão do 
percepto. Vale ressaltar que são as características da imagem associada ao borrão que 
prevalecem na comunicação da resposta, e 
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 55 
não aspectos relacionados ao próprio examinando; este consegue manter uma distância ótima 
entre si e a mancha. A riqueza da resposta é verificada através do conhecimento que o sujeito 
demonstra em relação à imagem associada àquele borrão, indicando maior criatividade. 
EXEMPLOS DE FORMA ESPECIAL 
RESpOSTAS dE FORMA DNMiCA 
Nas respostas dinâmicas, o que prevalece não é a freqüência com que tal associação ocorre. Nesse 
sentido, encontramos respostas dinâmicas relacionadas a F, F ou F° além de, como dito 
anteriormente, relacionadas à outros determinantes que não a forma das manchas. 
O que marca a diferenciação da resposta dinâmica com as demais respostas é que, como bem disse 
Schachtel (2), “os objetos não são contemplados isoladamente, mas sim em uma relação dinâmica 
com o sujeito (...) o objeto é imaginado e percebido como algo com um significado real ou 
potencial vivo para o sujeito observador” (grifos nossos). 
Assim sendo, as respostas dinâmicas refletem uma ligação emocional do examinando com a forma 
percebida; dito de outra maneira, a carga emocional permeia o trabalho mental e a 
percepção é, portanto, parcial e diretamente relacionada ao sujeito, diminuindo a distância entre o 
que é observado (imagem associada à mancha) e o observador (examinando). 
 
Pranchas 
 
IV 
v “Uma tocha alta com uma pira olímpica. Ela está no centro (P5) 
e ao redor dela tem uma fila de cavalos de cabeça abaixada (E24 e 
espaços externos), prestando reverência à pira, como se fosse um 
totem ou símbolo. E como uma cena mística: cavalos abaixados 
ao redor dela e a pira é um elemento artificial aí’. P (E) F+ art 
IV “Um monstro que está de costas segurando as folhas de uma palmeira e olhando a paisagem” . G F+ H 
 
56 PORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 
EXEMPLOS DE FORMA DINÂMICA 
Pranchas 
IV Detalhe superior lateral: (P4) “Pequenos débeis braços, minúsculos e muito magros, fazem-me pensar em meus 
próprios 
braços...” P F+ pH 
VI Invertida, (PiO): “Dois homenzinhos carecas em um 
esconderijo, que os protege do perigo”. P FH 
1 (P9): “Sentindo como se eu pudesse encontrar muitos portos, 
abrigos, no desenho que poderiam fornecer certa espécie de 
segurança, esconderijo talvez”. P F + pz 
IX Porção cor de rosa: (P “Uma das minhas fantasias na relação sexual: pênis entre os dois seios”. P F sx 
VII (O): “Uma espécie de pagode, mas o teto está faltando e um vale; se fosse inundado por uma carga d’água, seria 
impossível sair”. 
GF±arq 
VII (O): “Um porto, não muito protegido”. O F + ggr 
III “Um porto bem protegido, além dos quebra-mar em ambos os lados, a mancha vermelha central oferecia boa 
proteção”. 
P F + (C) ggr 
IX (P5) parte superior da prancha: “Esta é a coisa fálica, pouca obstrução à sua”. P F-sx 
VII “Parece uma passagem nessa figura, para escapar do centro”. PF + arq 
VIII (p21): “Uma espada penetrando no corpo de um animal”. PF-ml 
1 (p22) “Seios de mulher, ânsia de rasgar a coisa entre eles, talvez 
eu não deseje mais olhar para isso, gostaria de cortar a linha 
central e dobrar essas partes.” p’ F+sx 
IV (O): “Impressão assim de uma pele de um animal, pele de urso estendida no chão. É meio impressionante, está morto, 
sem vida. É horrível este. Impressionante este, sabe que eu não consigo ter tapete de bicho no chão, dá uma sensação 
assim (faz cara feia).” 
OF+AV 
VI (P9): “Pênis em estado de recolhimento. “P F-sx 
RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 57 
CLASSiFiCAR COMO FORMA ApESAR dE PARECER 
SER OUTRO DETERMiNANTE: 
— Quando o movimento só aparece no inquérito perguntar ao sujeito se ele já havia visto antes; caso 
contrário, se a pessoa só viuno 
inquérito, classificar como F e colocar o M como resposta adicional. 
Prancha 
Associação: “Uma mulher”. Inq.: “Uma mulher. Tem os braços para o alto, ela está dançando, parece balé”. 
Classificação: 
F+(M) 
— Quando se vê apenas partes de seres humanos ou animais, mesmo que estas partes estejam em 
movimento, classifica-se como F. Para ser resposta de movimento tem que se ver o ser humano ou animal 
inteiro. 
Prancha 
VIII “O braço de uma pessoa dando adeus”. Classificação: F+ 
— Negação de cor - o sujeito constrói a imagem pela forma mas não consegue ignorar a cor: esta se interpõe 
quase atrapalhando a 
percepção. 
Prancha 
VIII Associação: “Um rato”. lnq.: “Tem o formato de um rato. Embora aqui esteja cor de rosa e não existem 
ratos cor de rosa.” 
Classificação: F+ (C) 
— Condensação de cor ou cor forçada- o sujeito força a participação da cor de forma arbitrária. 
Prancha 
X “Um caranguejo azul”. Classificação: F+ (C) 
58 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 
— Projeção de cor - o sujeito coloca cor em uma figura monocromática 
Prancha 
1 “Uma borboleta amarela”. Classificação: F+ (C) 
— Determinante adicional - que não se refere a figura como um todo. 
Prancha 
II “Dois macacos de smoking”. Classificação: F+ (C’) 
Nota: A resposta é macaco, sendo o smoking apenas acessório e, portanto, não podemos juntar as 
duas respostas; não é o macaco 
que é preto, e sim o smoking. 
— Qualidade acessória do tom monocromático - quando as cores preto, branco ou cinza são 
descritas apenas como uma qualidade específica que complementa o percepto, deixando como 
determinante principal da percepção a forma. 
Prancha 
V “Morcego, porque tem asas, perninhas, cabeça,... e é preto”. 
Classificação: F+ (C’) 
CONCLUSÃO 
Pudemos ver que as Respostas de Forma, por tratarem-se do tipo de associação mais 
freqüentemente encontrado nos protocolos da Prova de Rorschach (seja em indivíduos normais, em 
deficientes ou doentes mentais) mereceu grande atenção dos que se dedicaram ao método. 
Fica patente, pois, a importância de um inquérito realizado adequadamente para a correta 
classificação desse tipo de resposta evitando-se, assim, índices mais altos do que os que deveríamos 
encontrar. Isso ocorre em virtude de existirem outras classificações — e, consequentemente, outros 
dinamismos psicológicos 
— que têm a forma implícita em seus próprios determinantes. 
RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO 59 
A importância da classificação correta dos diferentes tipos de Respostas de Forma reside no fato de 
estarmos tratando de dinamismos psicológicos que, embora relacionados ao grau de contato com a 
realidade, terão variações de significado de acordo com a freqüência da resposta (F, F ou F°) e com 
a análise qualitativa procedida nestas respostas (F Ordinário, F Especial ou F Dinâmico). 
Este capítulo visa minimizar erros de classificação destas 
respostas, a fim de traduzir o real dinamismo psicológico envolvido 
nas respostas de forma. 
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS 
1. RORSCHACH, H. Psicodiagnóstico. Método e Resultados de uma Experiência 
Diagnóstica de Percepção (Interpretação de 
Formas Fortuitas). São Paulo, Ed.Mestre Jou, 2 ed., 1974. 
2. SCHACHTEL, E.G. Experimental Foundation ofRorschach Test. New York, Basic Books, 
1966. 
3. KORSCHIN, S.J. Form Perception and Ego Function, in: Rickers, Ovsiankina, M.A. 
Rorschach Psychology, New York, Wiewysons, 
1960. 
4. COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade. Psicodiagnóstico de Rorschach, entrevistas 
e anamnese heredológica em 102 
examinandos. São Paulo, Atica, 1975. 
5. SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psicograma. São Paulo, EdBras, 1985. 
6. COELHO, L.M.S.; SALVIA, M. C. P. - Estudo Estatístico dos Fatores do Rorschach em 
População Normal - São Paulo 
(publicação interna da Sociedade Rorschach de São Paulo), 1997. 
7. BECK, S.J. The Rorschach Experiment. Ventures em Blind Diagnosis. New York, Grune & 
Statton, 1960. 
8. SMALL, L. Manual para la Local izacion y Classficacion del Test de Rorschach. Buenos 
Aires, Editorial Paidós, 1979. 
9. SOCIEDADE RORSCHACH DE SAO PAULO. Tradução 
Adaptada e Atualizada das Tabelas de Localização de Beck e 
Small para Classificação da Prova de Rorschach. Can-Editoração 
- Produção Gráfica, 1998. 
10. KLOPFER, B. Developments in the Rorschach Technique. New York, World Book Co., 
1942. 
60 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 
11. RAPAPORT, D. Manual ofDiagnostic Psychological Testting. New York, Josiah Macy, Jr. 
Foundation, 1946. Testes de Diagnóstico Psicológico. Trad. de LOEDEL, E. Buenos Aires, 
Editorial Paidós, 1964. 
 
DETERMINANTE DE MOVIMENTO — RM 
FIÁviA APARECIdA C[IAMMAS CAMpos dE ARAÚjO 
As respostas de movimento são aquelas em que o sujeito atribui cinestesia às formas e cores que 
constituem os cartões de Rorschach. 
Referem-se a um fenômeno perceptual diferente e por vezes, dificil de descrever ou mesmo de 
identificar, pois contém tensões dirigidas sem o deslocamento fisico no espaço. Ou seja, o 
examinando experimenta diante de um estímulo estático uma sensação de movimento, e inclui em 
seu percepto o deslocamento. 
As respostas de movimento são de fundamental importância para a compreensão da personalidade e 
portanto, merecem especial atenção em sua classificação devendo ser apuradas com rigor. Assim 
sendo, ao classificarmos uma resposta como movimento devemos estar atentos, pois não é 
necessário a ocorrência de uma movimentação visível para que a resposta seja considerada 
cinestésica, e sim a sensação de movimento. 
Algumas vezes o examinando se utiliza do próprio corpo para explicar tais respostas, seja 
gesticulando ou assumindo uma postura corporal. E neste sentido que ressaltamos a importância da 
realização de um inquérito cuidadoso, pois é normalmente nesta etapa que esclarecemos se houve 
realmente cinestesia ou não na construção da resposta, já que a mera utilização de um verbo não 
indica necessariamente a sensação de movimento. 
Estas sensações cinestésicas podem ser atribuídas à figuras 
humanas, animais, ou à objetos inanimados ou abstratos, admitindo 
assim três classificações diferentes: 
— M para o movimento humano 
— m para o movimento animal 
62 PORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 
— m’ para o movimento subjetivo 
Passemos então, a tratar da classificação e apuração de cada 
uma destas respostas. 
MOViMENTO HUMANO — M 
As respostas de movimento humano referem-se a figuras 
humanas ou humanóides, realizando uma atividade explícita, como 
no exemplo citado por Silveira : 
Protocolo 694 
Prancha 
III “...Parece duas figuras meios macabras que estão tramando alguma coisa, mexendo nesse caldeirão [P1, 
P7] (1: ‘Abaixadas e conluiando...’) P M H V” 
Portanto, classificamos como M sempre que a resposta 
produzida pelo sujeito obedecer a condição fundamental de empatia 
cinestésica, e envolver: 
1 - Figuras humanas reais, percebidas de corpo inteiro, 
realizando alguma atividade espontânea. 
N° Pranchas 
1. 1 “Uma mulher dançando.” Inq. (P4) “É uma mulher direitinho, 
tem as pernas, a cinturinha, o corpinho dela, igual de bailarina. 
Parece que tá girando assim (gestos), com as mãozinhas aqui 
para cima, igual uma bailarina, rodopiando, rodopiando 
(gestos).” P M H V 
2. II “Dois anões brincando de pirulito que bate-bate.” Inq.: (G) É 
tudo isso aqui, a impressão que eu tenho é que eles estão 
batendo as mãos assim (gestos), e cantando ‘pirulito que bate bate pirulito que já bateu...’ São anões por que 
tem umas 
perninhas curtinhas, uns bracinhos, até meio tortinho, igual de 
anão.” G M H V 4,5 
3. III ‘Duas pessoas servindo uma mesa.” lnq.: (P1) “Olha aqui, a 
cabeça o corpo, tal, e estão se curvando aqui, (gestos) servindo 
a mesa que é essa parte aqui (P7).” P M H V 3,0 
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁsico 
63 
N° Pranchas 
4. 
5. 
x 
x 
Nos exemplos 4e 5, apesar de sugerir queda livre, existe uma intenção no movimento, por esse 
motivo é atribuído M. 
N° Prancha 
Atenção: Partes do corpo vistas isoladamente, em movimento, não são consideradas como RM; 
pois segundo Aníbal Silveira5, referem-se apenas a uma interpretação ideativa, ou um modo de 
descrever o segmento interpretado. Assim sendo, quando este tipo de resposta aparecer 
classificamos como Forma. 
N° Prancha 
7. V 
Compare a diferença deste exemplo para com o exemplo 6, no 
qual apesar de o examinando referir-se apenas ao movimento da mão, 
o corpo da pessoa foi percebido em sua totalidade. 
 
“Um homem caindo de pára-quedas.” Inq.: “(PIO) Bem aqui, 
no meio é o homem, olha só o corpinho dele, aqui (P4) é o 
pára-quedas...ele está caindo assim, quase que 
flutuando...(gestos).” 
 
PMH 
 
“Uma pessoa que se atirou do precipício, ela está se 
suicidando.” lnq.: (P3) ‘ ‘Aqui com o os bracinhos para cima, 
ela pulou e agora está caindo, não sei dizer...ela está se 
suicidando.” P M H______________________________________ 
 
6. 1 “Uma pessoa dando adeus.” lnq.: (P4) “É uma pessoa 
aqui, as pernas, o corpo e aqui a mãozinha pra cima, 
acenando. É como aquelas pessoas que ficam paradas 
no porto acenando para o navio (gestos).” P M H 
 
Uma pessoa com um chapéu estranho, Na realidade, 
eu vejo só a cabeça . . . engraçado, parece que ela 
vira para um lado e para o outro, como se procurasse 
alguma coisa.” Inq.: (P6) “Olha aqui, a cabeça 
redondinha, com um chapéu tipo daqueles de ‘bobo 
da corte’, com duas pontas. E ela vira pra lá e pra cá, 
procurando alguma coisa. Só isso.” P F+ pH 
 
64 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 
No entanto, algumas vezes o sujeito mesmo vendo apenas uma parte do corpo, acaba por incluir a gestalt de 
um corpo completo em sua percepção. Assim, se no exemplo 7o examinando dissesse : “vejo a cabeça de um 
bobo da corte, olhando para um lado e para o outro. E como se ele estivesse atrás de um muro, procurando 
alguma coisa.”, classificaríamos como: P M H. Aqui, o muro aparece como um recurso para completar a 
gestalt. 
Esta condição de figura percebida por inteiro é válida também 
para os itens que serão discutidos a seguir. 
2 - Seres humanos religiosos, fantásticos ou míticos, 
realizando uma atividade, mesmo que esta seja superior às 
capacidades do homem. 
N° Pranchas 
8. 1 “Fantasminhas.” lnq.: (E26) “Aqui, eles estão com os braços 
assim esticados, como se estivessem indo assustar as pessoas 
juntos, (gestos).” E M H 
9. II “Uma bruxa voando.” lnq.: (P2) “Olha ela aqui, é igualzinho, 
ela está na vassoura voando no céu, bem rapidinho. Aqui 
seria o cabo da vassoura e aqui ela, com chapéu e tudo, ela 
deve estar com muita pressa, por que ela voa muito rápido!” 
PM H 
10. 111 “Dois gnomos saltitantes.” lnq.: (P2) “Aqui, um de cada lado. 
Aqui o chapéu comprido que eles usam. o corpinho e os 
bracinhos. São saltitantes por que eu tenho a impressão de 
que eles estão pulando e mexendo os bracinhos assim 
(gestos).” 
PMH 
11. IV “Um monstrão correndo.” lnq.: (G) “ É isso tudo. Tem uma 
cabecinha, os bracinhos aqui, e as pernas enormes. E como se 
ele tivesse correndo com o pernão aberto, assim (gestos) 
meio desajeitado.” 
G M H V 2,0 
Atenção: Para ser classificada como M, sempre que a resposta se referir a seres fantásticos ou mitológicos, 
a característica humana 
deve ser prevalente. 
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 65 
3 - Seres humanos em alguma postura que exija tensão 
muscular para mantê-la. 
Nestes exemplos, mesmo em se tratando de posturas praticamente imóveis, estas só são 
conseguidas através de tensão muscular; por este motivo é que classificamos como M e não 
como Forma. 
Atenção: os exemplos 14 e 15, normalmente seriam classificados como F, sendo 
classificados como M somente quando o sujeito menciona espontaneamente a expressão de 
relaxamento, assim, computamos o movimento por que consideramos que existe uma 
expressão de relaxamento, envolvendo uma reação muscular e pela atitude de expectativa. 
j 
 
N° Pranchas 
 
12. III 
(v) — “Duas bailarinas nas pontas dos pés, assim curvadas para frente.” lnq.: (P2) “ E aqui. Elas tão com 
as perninhas juntinhas (p25) e tão na pontinha dos pés. O corpo é essa parte, curvado para frente, 
assim, como quando elas agradecem ao público.” P M H 
13. X 
“Duas pessoas agarradas numa rocha.” lnq.: (P6) “São estes azuis aqui. O corpo deles, as 
pernas e os braços. Eles estão agarrados na rocha para não cair, desse jeito assim (gestos).” 
P M H 
 
N° Pranchas 
 
14. V 
“Uma pessoa relaxada numa encosta.” lnq.: (P4) “A pessoa é aqui, tem a cabeça, o corpo, e 
ela está assim bem relaxada, como se tivesse largadona assim.” P M H 
15. VI 
VI — “Um homem deitado numa cama de hospital.” Inq.: 
(P9) “Aqui seria a cama e aqui o cara, assim recostado, como se ele estivesse esperando a 
sua recuperação, ele está esperando sua alta.” P M H 
 
66 RORSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO 
4—Movimentos externos, porém controlados pelo indivíduo. 
No exemplo 16, o movimento da capa é conseqüência do movimento realizado pelo homem, sendo 
diferente deuma capa que balança ao vento, como veremos mais adiante, na classificação de 
movimento subjetivo, O mesmo vale para o movimento das fitas, no exemplo 17. 
5 — Animais realizando movimentos próprios de seres 
humanos. 
Note que nestes casos, para considerarmos M, o movimento realizado tem que ser 
necessariamente específico de seres humanos, e 
quejamais poderiam ser executados por animais. Nos exemplos citados, 
 
N° Pranchas 
 
16. V 
“Um homem correndo, com uma espécie de fantasia, uma capa.” Inq.: (G) “O homem é aqui no 
centro. A impressão que eu tenho é que ele tá correndo na minha direção, e a capa se abre, assim.” 
G M H - 1,0 
17. X 
“Duas moças daquelas que animam torcida, não sei se tem um nome certo para isso.” lnq.: 
(P9+P1) “As moças são aqui (P9), elas tem o corpo bem alongado, parece que elas tão 
pulando e mexendo isso aqui (P1). Não sei o nome disso... seria um monte de fitas juntas 
que elas estão balançando, pra lá e pra cá.” P M H 
 
N° Pranchas 
 
18. II 
“ Dois cachorros se beijando.” Inq.: (P1) “Os cachorros são aqui, o corpo, as patas , a orelha e a 
carinha deles. Tão se beijando, por que eles tão assim, como se tivessem esfregando a boca um no 
outro. E uma cena bem amorosa essa, como num beijo de despedida.” P M A V 3,0 
19. VIII 
- “Dois ursos apostando uma corrida.”Inq.: “Os ursos são aqui (P1), estão com as patas assim (gestos) 
como se estivessem correndo para ver quem chega primeiro no topo desta montanha aqui (P4). A 
montanha é pelo formato... O que chegar primeiro lá em cima vai ser o vencedor.” 
P M A V 3,0 
 
RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁsico 
os movimentos assumem uma conotação nitidamente humana pois 
cachorros não se beijam, assim como ursos não apostam corrida, ou pelo menos não têm 
essa intenção. 
Personagens tais como Tio Patinhas, Mickey, etc, quando em 
atividade, também são classificados como M, pois apesar de ser 
tratarem de animais, são totalmente humanizados. 
N° Prancha 
20. 111 
6 — Expressões faciais, desde que não representem algo simbólico, e que sejam percebidas em 
figuras vistas como um todo. 
Neste caso, para manter a expressão facial percebida pelo examinando, é necessário tensão 
muscular, semelhante ao que já foi discutido no item 3. Porém, se a expressão facial 
representar uma força abstrata, classificamos como Forma. 
N° Prancha 
Outra possibilidade, é o sujeito descrever uma expressão facial, sem o envolvimento de 
ação ou emoção por parte da figura percebida, 
ou seja, as figuras são descritas como ‘engraçadas’, ‘grotescas’, 
67 
 
“O pato Donald arrumando a mala dos sobrinhos dele.” lnq.: 
(P1) “Ele seria aqui nessa parte, a cabeçacom o bico de pato, 
o corpo.. .e ele está mexendo aqui (P7), não sei parece um tipo 
de uma bolsa, por isso eu disse que era uma mala. Do outro 
lado seria um dos sobrinhos, o Huguinho, sei lá, eles estão 
arrumando uma mala para viagem.” P M A 3,0 
 
N° Prancha 
 
21. II 
“Duas pessoas brigando.” Inq.: (G) “Aqui uma pessoa e do outro lado a outra. Tem a cabeça, 
o corpo e as pernas aqui dobradas. Elas estão brigando por que parece que elas estão olhando 
bravas uma para a outra, parece que elas estão franzindo a testa assim (examinando franze a 
testa). Então devem estar brigando.” G M H V 4,5 
 
22. II “Duas pessoas com raiva uma da outra.” lnq.: (G) “É na 
figura toda, uma de cada 1 ado. Aqui os bra ços, o co rpo e a 
cabeça. ..não sei....o jeito do rosto me lembra raiva.” 
G F+ HV4,5 
 
 
68 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
‘desagradáveis’, devido aum detalhe. Neste caso também classificamos 
como Forma e não como M. 
MOViMENTO ANiMAl — M 
Para classificarmos uma resposta como m, devemos obedecer 
às mesmas considerações de tensão muscular e cinestesia, porém 
atribuidas à animais em atividade. 
As condições de classificação são semelhantes àquelas exigidas pela categoria M, portanto, não nos 
estenderemos na discussão dos exemplos aqui apresentados. Os movimentos percebidos devem ser 
necessariamente típicos de animais, como ilustra o exemplo de Silveira5: 
Protocolo 674: 
Prancha 
V “Aqui parece um morcego, visto de assim, de cima, voando (1: Este me parece que está mesmo 
voando...) 
G m A V .“ 
Podemos dizer então, que serão classificadas como m, todas as 
respostas referentes a: 
1 — Animais, reais ou fictícios, vistos de corpo inteiro, como 
agentes de uma ação. 
N° Prancha 
 
N° Prancha 
 
23. II 
“Duas pessoas brincando.” lnq.: (G) “Elas estão aqui, a cabeça, o corpo, os braços...não sei 
explicar por que estão brincando, acho que é por eu vejo elas com uma cara engraçada, me 
lembra cara de palhaço. E isso.” 
G F+ H V 4,5 
 
24. VIII “Dois ursos subindo em uma árvore.” lnq.: (PI+P4) “Os 
ursos são estes (P1), á a impressão que eles estão subindo 
aqui (P4); parece que vão devagar, colocando uma pata de 
cada vez (gestos).” 
 
P m A V 
 
 
PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 69 
Vale ressaltar aqui, a diferença para com o exemplo 19, pois 
subir em árvores é um movimento próprios de ursos. 
Note também aqui, a diferença para com o exemplo 11. São repostas muito parecidas. No primeiro 
as características humanas foram ressaltadas, enquanto que aqui, prevalecem as características de 
uma forma animal. 
N° Prancha 
Neste último exemplo, atribuímos m, devido ao fato de que gatos possuem um controle do corpo 
enquanto caem, na medida em que eles são capazes de movimentarem durante a queda livre para 
caírem em pé. 
2 — Animais treinados em ação. 
Neste exemplo, temos um animal realizando uma atividade tipicamente humana, no 
entanto, esta pode ser aprendida pelo animal 
(geralmente macacos, animais circenses, etc.) através de treinamento; 
 
N° Prancha 
 
25. IV 
“Um monstro horrível, é assustador, parece que ele está correndo para matar alguém.” Inq.: 
(G) “E um monstro horroroso, aqui é a cabeça, as garras abertas assim (P4), prontas pra 
atacar alguém, as patas, e aqui em baixo, o rabo cheio de espinhos venenosos, olha aqui os 
espinhos. A minha idéia é que tá correndo, a procura de alguém, o primeiro que ele encontrar 
ele vai matar.” G m A 2,0 
 
26. III “Um gato caindo.” Inq.: 
impressão de que ele está 
(P2) “Nessa parte aqui, dá a 
em plena queda, com o rabo 
para cima, e se torcendo todo, como fazem os gatos.” 
Pm A 
 
 
N° Prancha 
 
27. IV 
“Um macaco andando de bicicleta.” lnq.: (G) “Aqui seria o corpo, a cabeça, as patas da 
fernte aqui no quido, os pés e aqui (P1) seria bicicleta. Me parece que que ele está pedalando 
assim (gestos)” 
GmA 2,0 
 
70 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
passando então a tratar-se de um movimento espontâneo daquele 
animal, porém o examinando precisa ressaltar a idéia de treinamento. 
Atenção: A atividade deve ser plausível ao animal percebido, ou seja, deve ser habitualmete 
observada no aminal. 
Partes animais vistas isoladamente, em movimento, não são classificadas como m, 
equivalentemente ao que já foi abordado com relação à M. Acreditamos que apresentar exemplos 
aqui, seria alongar demasiadamente nossa exposição. 
3 — Animais em alguma postura que necessite de tensão 
muscular para mantê-la. 
4 — Movimentos externos, porém como consequencia do movimento animal. 
5 — Expressão facial animal, desde que não se refira a uma força abstrata. 
 
N° Prancha 
 
28. II 
“Dois cachorrinhos assim de pé.” Inq.: (P6) “Sabe quando ele ficam sentadinhos assim nas 
patinhas de trás, esperando alguma coisa do dono? Então, é isso aqui seria o focinho, a 
orelha pequena, o corpo todo durinho, sentadinho aqui, assim (gestos).” P m A V 
 
N° Prancha 
 
29. 1 
“Uma dela e 
pólen caindo 
abelha voando.” lnq.: (G) “É tudo, aqui o corpo as asas. Parece que ela voa 
bem rápido e aqui é o (p23) que ficou grudado em suas patinhas, e vai 
enquanto ela voa.” G m A 6,0. 
 
N° Prancha 
 
30. VII 
“Um cachorro muito bravo.” Inq.: (P3+PI0) “Aqui seria o corpo dele (Pio), bem peludo, por 
que no dá para ver as patas, o pelo cobre elas, por causa desse contorno aqui. E aqui seria a 
cabeça com a orelha levantada para cima. Ele está bravo por que está rosnando, mostrando 
os dentes assim (gestos).” P m A 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 71 
MOViMENTO SubjETivo — 
Para classificarmos o m’, como nos casos anteriores a empatia 
cinestésica deve estar presente e ser espontânea, sendo que o movimento projetado deve 
necessariamente, decorrer de um modo subjetivo de interpretar a prancha. 
O movimento subjetivo pode referir-se tanto ao movimento de seres inanimados, forças da natureza 
ou abstratas, como também pode ser atribuído à figuras humanas ou animais, que neste caso, 
deixam de ser os agentes ativos da ação e passam a agentes passivos, como ilustram os exemplos de 
Silveira4’5: 
Protocolo 1166 
Temos portanto dois momentos distintos para classificar o m’, quando o movimento referir-se a 
objetos inanimados ou forças abstratas, e quando o movimento subjetivo for atribuído à humanos ou 
animais. De acordo com Lúcia Coelho2, classificamos o primeiro como m’ e o segundo como m’2. 
Apesar de possuírem basicamente o mesmo significado, o m’ corresponde a uma atividade 
cognitiva, enquanto que o m’2 refere-se predominantemente a uma atitude emocional, com teor 
ansioso. 
Assim sendo, classificamos como m’ sempre que houver: 
 
Prancha 
VIII “...Alguma coisa se abrindo (P5), mas presa por ligamentos (P3); no sei o que. (Inq: E uma coisa que eu senti, como 
se estivesse acontecendo (espontaneamente). P m’ ab .“ 
Protocolo 964 
Prancha 
IX “...nestes últimos, o s sujeitos são ativos. 
 
N° Pranchas 
 
31. II 
“Uma nave espacial, em pleno vôo.” Inq.: (E5) “Aqui no meio, tem bem o jeito de nave 
espacial, igual aquelas da Nasa. Ela está voando, subindo, como aquele ônibus espacial que 
eles tem o Discovery, é isso, é o lançamento do Discovery, subindo para o espaço (gestos).” 
E m’1 ml 
32. VIII 
“Uma bandeira, tremulando ao vento.” lnq.: (P5) “Ah! É o formato de uma bandeira assim 
meio retangular. Parece que ela está balançado com o vento assim (gestos).” P m’1 art 
 
N° Pranchas 
 
33. II 
“Um meteoro caindo.” lnq.: “(P2) Aqui, tem o formato irregular da pedra, e eu vejo ele 
caindo numa queda terrível.” P m’1 nat 
34. X 
“Um homem caindo.” Inq.: “(P3) Bem aqui, no meio é o 
homem, é como se alguém empurrou ele, e agora ele está 
caindo.” P m’2 H 
35. II 
“Um cachorro...engraçado a sensação que eu tenho é de que ele está caindo, e vai se 
esborrachar no chão, probezinho.” Inq.: (P2) “Aqui, o corpinho dele, não sei, parece que 
está mesmo caindo, e vai se esborrachar todo no chão, assim (gestos).” P m’2 A 
 
PORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 73 
3 — Seres humanos ou animais em ações contidas ou 
bloqueadas. 
N° Pranchas 
36. 1 “Uma pessoa aqui no meio, ... engraçado, parece que ela 
tá presa no meio dessas coisas aqui, não sei bem o que é 
isso.” lnq.: (P4) “A pessoa é aqui, olha só, o corpo, os 
pés, a aqui em cima tem as mãos para cima, é como se 
essa coisa que tem do lado prendesse ela...ela se estica, 
tenta sair, mas não pode, esse negócio não deixa...coitadinha, está mesmo enroscada!” P m’2 H V 
37. V “Dois búfalos, se empurrando.” lnq.: (G) “É a figura 
toda. Eles estão numa situação dificil, os chifres se 
cruzaram e eles não conseguem mais se soltar, eles vão 
se empurrando assim (gestos) e como são igualmente 
fortes não conseguem sair do lugar.” G m’2 A 1,0 
Nestes exemplos, apesar de haver uma intenção de movimento 
por parte da pessoa e dos animais, esta é jneficaz, pois uma força 
externa maior os impede de completar o movimento pretendido. 
4 — Movimento atribuído à conceitos abstratos. 
Como ilustram esses exemplos, o m’ pode ou não conter forma, sendo que apenas a 
sensação de movimento está presente. 
OuTRos FATORES QUE DEVEM SER CoNsidERAdos NA 
CkssiFicAçÃo DE UMA RM 
Algumas vezes o movimento é mencionado apenas no inquérito, 
ou seja, o examinando durante a associação não menciona o movimento 
 
N° Pranchas 
 
38. IX 
- “Uma magia.” lnq.: (G) “Eu vejo tudo isso aqui como 
se fosse algo mágico, uma magia que vem assim 
(gestos) e vai influenciando tudo por onde ela passa, é 
alguma coisa cósmica, etérea que vem assim (gestos).” 
O m’1 ab 
39. X “Ácidos ribonucleicos em transformação.” lnq.: (O) 
“Me dá idéia de uma movimentação, sei lá, parece líquidos se misturando, por isso eu disse 
que são ácidos ribonucleicos, daqueles que tem dentro da célula, é isso aí.” O m’1 ab 
 
74 RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 
e posteriormente o faz durante a fase de inquérito. Neste caso precisamos esclarecer se o 
movimento foi percebido durante a associação ou não. 
Esta pergunta deve ser feita pelo aplicador todas as vezes que o movimento surgir somente 
no inquérito, e tem a finalidade de precisar se a sensação cinestésica foi percebida na 
associação, porém não mencionada, ou se foi acrescentada pelo examinando na fase de 
inquérito. 
Assim, se resposta à pergunta do examinador no exemplo supra 
citado for que ‘o movimento já tinha sido percebido antes’, 
classificamos: G m A V 1,0 
Caso o sujeito diga que só percebeu a cinestesia durante o 
inquérito, o movimento é classificado como determinante adicional: 
GF+(m) A V 1,0 
O mesmo vale para M e m’. 
Pode ocorrer ainda, de o examinando ‘retirar’ o movimento 
mencionado na associação, como demonstram os exemplos a seguir: 
 
N° Prancha 
 
40. 1 
“Um morcego.” Inq.: (G) “É igualzinho a um morcego, e está voando, heim, batendo as 
asas.” (você já tinha percebido que o morcego está voando na primeira vez que viu afigura, 
ou só agora?) 
 
N° Pranchas 
 
41. IX 
“Uma explosão atômica, subindo assim.” Inq.: (G) “É uma explosão atômica. A foto foi 
tirada bem na hora que o cogumelo se formou.” G F+ fg - 5,5 
42. VIII 
“Um cachorro andando.” lnq.: (P1) “É bem parecido, aqui a cabeça, as patas. E a posição 
que ele está, com uma pata na frente da outra, é uma posição de quem está andando. E 
isso.” P F+ A V 
43. VII 
“Uma estátua de duas bailarinas em um passo de dança.” Inq.: (G) “São duas e elas tão 
fazendo um paço de dança bem complicado, meio torcido. E uma estátua por que tem esta 
base aqui em base em baixo.” 
G F+ H V 2,5 
 
RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 75 
Nestes exemplos as respostas foram desvitalizadas por se tratarem de fotos, estátuas, ou deduzidas 
em virtude do formato da figura. A classificação nestes casos, é pela forma, ou qualquer outro 
determinante que estiver emjogo. Esse dinamismo é considerado como tendência à resposta de 
movimento. Anotamos abaixo da classificação efetuada -)M, )m, ou .+m’, conforme o caso. 
Além destes, há outros três fatores importantes que devem ser 
considerados na classificação de uma RM, e que possibilitam uma 
análise mais aprofundada destas respostas. 
a) Qualidade Formal 
Assim como nas respostas de forma, também para os 
determinantes M e m, atribuímos os sinais +, - , ou ° , obedecendo 
aos mesmos critérios para a classificação de F+, F- e F°. 
b) Tipo de movimento 
Consideramos dois tipos principais de movimento: extensor, que exprime a expansão do corpo no 
espaço; e o flexor, que exprime o retraimento ou contração do corpo no espaço. Como envolve 
extensão ou contração muscular, o tipo de movimento presente nas respostas, é apurado apenas para 
os determinantes M e m. 
De acordo com Piotrowisk3, os movimentos que partem do centro da figura para as bordas, e 
aqueles que partem de baixo para cima, são considerados extensores. Os movimentos que partem da 
borda para o centro da figura, e os que partem de cima para baixo, são considerados flexores. 
c) Grau de energia mental 
Devemos apurar também, o grau de energia implícito para o 
movimento interpretado. Para tal apuração utilizamos a escala proposta 
por Piotrowisk (1965). 
De acordo com Aníbal Silveira5, “tanto em relação à figura humana como em referência a animais 
não antropóides o ‘movimento’ que determina a associação pode oferecer qualquer um dos graus de 
energia” transcritos na tabela a seguir: 
76 ROPSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 
TABELA 1 — Graus de energia de movimento segundo 
Piotrowisk (in Silveira5) 
Pr 1, (G): “Dois policiais espaldeirando uma vítima” — M 
Pr II (P6): “Dois cães em luta.” — m 
Grau 2 — Movimento global do corpo 
Pr VII (O): “Duas moças dançando.” — M 
Pr VIII (P1+P4): “Animal subindo numa árvore.” — m 
Grau 3 —Movimento parcial do corpo 
Pr IX (P1): “Mulher segurando um menino pela orelha — M 
(segundo o inquérito pode ser apenas F)* 
Pr VIII (P6): “Boi levantando a cabeça” — m 
(para nós, m ou F, segundo inquérito; porém não 
consideramos M nem m para segmento isolado) 
Grau 4 — Movimento contido ou retido 
Pr IX (P6): “Homem amarrado e imobilizado no chão” —M 
(para nós, m’ ou simplesmente F, conforme o inquérito) 
Pr III (P2): “Animal pendurado pela cauda” — m 
(para nós, m’ ou F como acima) 
Grau 5 — Movimento ativo, porém em obediência àforça ct ravidade 
Pr III (P1): “Dois homens curvados” — M 
(para nós, M ou F, conforme o inquérito) 
PrX —posição invertida- (Pio): “Ave caindo em vôo planando 
-m 
(para nós, m’ ou F, como acima) 
Grau 6 - Movimento de completa submissdo, passivo 
Pr V —perfil- : “Pessoas dormindo, numa encosta” — M 
(para nós, simplesmente F) 
Pr X -ápice para o lado- (P13): “Cão dormindo” — m 
(para nós, simplesmente F) 
* Mesmoque classifiquemos como F apuramos o grau de energia de M e m implícitos 
Finalmente, com a adição destes três fatores completamos a classificação das respostas de movimento. Os 
exemplos apresentados anteriormente, foram por motivos didáticos, classificados de maneira incompleta. A 
fim de ilustrar as notações da qualidade, grau e tipo de movimento em uma resposta, retomemos a 
classificação de alguns exemplos citados neste capítulo: 
RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 77 
N° Prancha 
1. 1 (P4): “Uma mulher dançando.” P M+ H V 
gr 2 ext 
3. III (P1): “Duas pessoas servindo uma mesa.” P M+ H V 3,0 
gr2 flex 
6. 1 (P4): “Uma pessoa dando adeus.” P M+ H V 
gr3 ext 
4. X (PIO): “Um homem caindo de pára-quedas.” P M + H 
gr5 flex 
14. “Uma pessoa relaxada numa encosta.” 
P F+ H ou P M+ H (conforme o caso) 
gr6 gr6flex 
25. IV (G): “Um monstro horrível, é assustador, parece que ele 
está correndo para matar alguém.” G m+ A 2,0 
grl ext 
29. 1 (G): “Uma abelha voando” G m- A 1,0 
gr2 ext 
35. 1 (P4): “Uma pessoa aqui no meio, ... engraçado, parece 
que ela tá presa no meio dessas coisas aqui, no sei bem o 
que é isso.” 
P m’2 H V 
gr4 
42. VII (G) “Uma estátua de duas bailarinas em um passo de 
dança.” 
G F+ H V 2,5 
gr2 —*M 
78 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
1. COELHO, L. — “Série Movimento — Vertente Intelectual”, apostila de publicação interna da 
Sociedade Rorschach de São Paulo, 1970. 
2. ___________. — “L ‘Anxieté et la Construction des Imagens dans 
1 ‘epreuve de Rorschach. “— Psychologie Medicale — Paris — 1989. 
3. PIOTROWSKI, Z. A. “Perceptanalysis “, Philadelphia. ExLibris, 
1965. 
4. SILVEIRA, A. — “Emprego Subjetivo de Movimento, como Ampliação e como Restrição da 
Categoria Movimento de Objeto Inanimado “, apostila de publicação interna da Sociedade Rorschach 
de São Paulo. 
5. — “Prova de Rorschach: Elaboração do 
Psicograma”, São Paulo, ed. Brasileira, 1985. 
 
DETERMINANTE PERSPECTIVA (RPS) 
GiSEL[E B. PETRI M. COSTA E LÚCiA MARiA SALViA CoElho 
HERMANN Rorschach ao longo do desenvolvimento de seu método 
de investigação da personalidade fez notar que muitas vezes as interpretações de claro e escuro 
serviam para representar a noção 
de espacialidade dentro da construção da imagem mental (H. Rorschach pág. 224). Neste caso, o 
significado psicológico implícito neste tipo de resposta retrataria uma dinâmica psíquica distinta 
daquela onde a diferença de tons traz apenas o efeito de luminosidade na superfície da imagem. 
Vários autores, entre eles Binder, Klopfer, Beck e Piotrowski, registram estas diferenças através de 
notação específica para as respostas de claro e escuro e para aquelas que se utilizam da projeção do 
espaço. Klopfer foi o primeiro a sistematizar a classificação destas respostas, mostrando que 
existem ocasiões onde a terceira dimensão é percebida sem que a diferença de tons seja notada. 
Mas, foi a partir das contribuições de Silveira que esta dinâmica pode revelar sua especificidade: 
enquanto as respostas que se utilizam das diferenças de tons marcam uma reação afetiva íntima, tais 
modalidades de respostas, que implicam o uso do espaço na formação da imagem, representam uma 
construção predominantemente iii electual. No momento gostaríamos apenas de relembrar a 
importância de uma classificação que permita uma adequada elucidação das dinâmicas psíquicas, 
assim como esclarecer os vários níveis destas respostas dentro da série perspectiva. Por hora, 
restringimo-nos ao modo de classificá-las, reservando para uma outra ocasião a discussão de sua 
interpretação. 
As forças afetivo-emocionais que determinam a aplicação da 
inteligência no exame do mundo exterior só é possível de ser aferida 
através da análise global do psicograma. A série perspectiva nos traz 
80 RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 
particularmente o grau de objetividade ou de subjetividade refletida na construção de distância no 
percepto. Assim sendo, o critério para as diferentes ordens de respostas na série perspectiva, Ps, ps, 
ps’, é, como nos demais determinantes, o nível de objetividade. 
Determinante Ps 
Classificamos, portanto, como Ps toda resposta de perspectiva 
onde a forma é bem delineada, predominando sobre a percepção de 
distância. 
Exemplo 
N° Prancha 
Entretanto, este tipo de construção da imagem, onde a forma se impõe à distância, pode ser 
elaborado através da conjunção de 
diferentes propriedades do estímulo: 
a — organização de perspectiva linear em tomo da percepção de 
estruturas diferentes, distribuídas na linha do horizonte, com 
consideração da posição e proporção das diferentes áreas. Nestes 
casos, há um esforço intelectual maior de construção por indução 
— exemplos 2 a 6. 
b — disposição simétrica das manchas em tomo de um eixo 
vertical com apreensão da noção de afastamento ou proximidade 
através dos contrastes de luminosidade — exemplos 7 a 22 
e — apreensão da simetria da mancha, originando respostas de 
reflexo — exemplos 23 a 29 
a - Exemplos 2 a 6: 
As respostas Ps que apresentam maior grau de elaboração e organização da imagem são aquelas que 
abrangem duas ou mais áreas distintas, interpretadas como conteúdos diferentes que compõem uma 
cena complexa. Grande parte destas respostas devem ser desdobradas em duas ou mais 
classificações de modo a permitir a representação adequada dos processos psíquicos envolvidos. 
 
1. 1 “...Uma brincadeira de roda entre 3 crianças 
(G)...” (Inq: “Uma criança à frente — P4 — e 
duas atrás — em P2 — estão de mãos dadas”): Ps 
 
RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁsico 81 
N° Pranchas 
2. II “...Castelo no alto de uma colina (P4) com um lago em 
frente (E5) e cercado por uma floresta (Pó). Na frente do 
lago há um grande arbusto (P3). Acima da colina, atrás do 
castelo, tochas de fogo que o iluminam (P2)..”: GE Ps 
arq 
P CF fg 
3. III “...Duas mulheres (P1) em um palco todo enfeitado. Mais 
à frente a ribalta (P7), entre eles e por trás a decoração do 
palco (P2 e P3). Enfeites de papel crepon vermelho com 
diferentes formas artísticas...”: 
GPsH 
P CF art 
4. IV (j)osição invertida) — “. ..Uma fonte de mármore com 
figuras mitológicas que se projetam para a frente (Pó). Em 
baixo dos arcos (os 2 P4) dá até para perceber o ralo (P3) 
aqui no centro onde a água pode escorrer. Agora ela está 
saindo em jatos para o alto (P1) e respingando nas figuras 
(p extemos à P1). Mármore por causa da cor ou da pedra 
escura...”:G Ps (C’) arq 
P m’ nat 
5. X “...Uma longa avenida (E30) com leões decorativos (os 2 
P2) mais à frente, ao lado do portal (PiO). Uma ponte tipo 
japonesa (Pó) ligando os dois canteiros de flores que 
contomam a estrada (2 P9). Mais longe, já no alto, uma 
torre ou castelo (P11). Os leões estão de perfil, patas para 
frente do tipo que enfeitam os jardins (P2). Canteiros 
compridos com rosas ou flores vermelhas. ..só percebo à 
distância, não dá para ver bem as flores...”: 
P(E) Ps arq 
P F+ A 
P CF bt 
6 “...O encontro entre duas paredes. Aqui (P11) a quina da 
parede e aqui (E laterais) a parede. À frente, uma piscina 
(E abaixo de P1 1)...”: P (E:, Ps arg 
b - Exemplos de 7 a 22: 
Nesta categoria encontram-se respostas onde as variações de luminosidade e a proporção das áreas 
contribuem para a associação de uma imagem percebida à distância ou com diferentes níveis de profundidade. 
82 PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
Estas respostas, em geral, correspondem a um esforço de evocação de uma experiência. São 
elaborações mais concretas e a luminosidade ajuda na percepção de distância. Quando a percepção 
de luminosidade participa apenas no sentido de facilitar a construção de espaço, não a 
classificamos, estando integrada à percepção de Ps. 
— A classificação C’ refere-se a cor das pedras. 
 
N° Prancha 
7. 1 “...Parece ummorro no mato...pedras por ali, algumas 
 
meio soltas. O morro (perfil de P2), pedras mais à frente 
 
(P8) meio soltas. Do jeito como se vê em pedreiras, meio 
 
de longe. O morro ao longe e as pedras na frente, devem 
 
ter rolado. Pedra ou mato por causa da cor escura...”: P 
 
Ps(C’) ggr 
— A classificação de C’ corresponde à cor da pedra ou do mato. 
N° Pranchas 
8. X “...Um despenhadeiro, este vazio lá em baixo (E30) e 
 
aqui na encosta (P9) algumas saliências da rocha que 
 
servem de apoio (P6)...”: E (P) Ps ggr 
9. IV (posição invertida) “...Um castelo ao longe (P1) e um 
 
cavaleiro sobre o cavalo indo na direção do castelo (P7). 
 
Dá para ver o cavalo pela diferença de tons aqui 
 
(divisão entre P2 e P7) que faz o contorno das costas do 
 
cavaleiro e a traseira do cavalo...”: 
 
P Ps arq 
 
PMH 
10. 1 “...Estas duas elevações (p22) lembram montanhas 
 
vistas ao longe...lembram montanhas que vi quando 
 
criança em um passeio com os meus pais...”: P Ps ggr 
II. VII “...Uma cidade cheia de prédios (pormenores em P8). 
 
Eles são pequenos e mal definidos porque estão sendo 
 
vistos de longe...”: 
 
p Ps arq 
12. VII “...A entrada de uma caverna (G). Uma caverna que se 
 
forma dentro daquelas pedras pesadas, grandes e cinzas. 
 
Tem uma abertura nelas, uma entrada (E)...”: 
 
GE Ps(C’) ggr 
 
RORSCHACH CLtNIco — MANUAL BÁsico 83 
N° Pranchas 
13. VI “...Umas pedreiras (P4). Pedreiras altas com precipícios. 
Tenho visto isto no Rio de Janeiro e em 
Caraguatatuba...”: P Ps ggr 
14. III “...Terreno montanhoso (P1 1) com diferentes 
elevações...”: P Ps ggr 
15. IX —“...Uma cachoeira (E8), a água cai de muito alto. Acho 
que o que dá a impressão de altura é o fato destas partes 
aqui serem de cores diferentes. Podem ser pedras 
diferentes (?) não que as pedras sejam coloridas. E mais 
o fato de serem diferentes...”: GE Ps ggr 
16. IV — “...Um gigante (G — P4) na frente de duas pessoas de 
braços abertos (P4). O gigante é tudo isso aqui e os 
braços não fazem parte do gigante porque são de 
tonalidade mais escura, parece que estão atrás dele...”: 
G Ps H V 
17. IX posiçãotodo o ambiente onde elas estão...”: P M H V 
E øs(C’)fg 
 
N° Prancha 
 
29. IX 
“...Parece o cogumelo (E8) da bomba atômica. Me faz lembrar do filme O Império do Sol, 
quando o menino vê o cogumelo à distância...”: E Ps fg 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 87 
Determinante ps’ 
Classificamos como ps’ sempre que na construção da imagem não houver participação da configuração 
formal, impondo-se apenas a noção de espaço. São respostas onde se destaca a difusão pura sem limites. Os 
exemplos ilustrativos da categoria ps’ estão nos exemplos entre os números 36 e 40: 
N° Pranchas 
36. IV “...Uma bruma (G)...dá a sensação de estar perdido na 
bruma. Sabe como é? A gente não vê nada, vai andando 
mas não sabe onde pisa...não sabe onde vai parar...”: 
G ps’ ab 
37. II “...Parece um buraco muito fundo, tão fundo que se eu 
jogar uma moeda, não vou ouvir ela tocar no chão...”: 
E ps’ ab 
38. VIII “...Um terremoto que acabou de acontecer. A terra aqui 
(P8 + P2) onde abriram estas fendas (E entre P4, P5 e 
P2). As fendas são enormes e se você olhar dentro delas, 
corre o risco de cair no centro da terra, dá até 
vertigem...”: E (P) ps’ ab 
39. V “...Não sei te explicar...é como se este meio (refere-se 
ao eixo central) estivesse muito longe atraindo todo este 
resto (G) para ele mesmo. Digamos que é o buraco 
negro que atrai tudo para si mesmo...”: G ps’ ab 
40. IX “...Dizem que quando a gente morre, tem uma luz muito 
forte que parece que nos chama, tipo um chamado de 
Deus. E isso que eu vejo aqui (E8)...é como se fosse um 
túnel que nos leva embora, lá para outra vida, O túnel 
tem uma luz ofuscante...”: E ps’(I’) ab 
A importância do inquérito para a classificação 
das respostas de perspectiva 
Muitas vezes, a associação é feita de tal modo que não nos fica clara a posição da forma na percepção do 
espaço. Para tanto, o inquérito deve ser feito no sentido de esclarecer qual a classificação mais apropriada: Ps, 
ps ou ps’. Em alguns casos, a resposta deve ser desdobrada para não perdermos o dinamismo implícito. 
Vejamos os exemplos a seguir (exemplos situados entre os números 41 e 45): 
88 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁsico 
— Neste caso, a percepção ocorreu em dois momentos: primeiro houve a percepção de espaço em 
contraposição à percepção formal das rochas e dos homens (Ps), em um segundo instante, houve a 
percepção da distância sem qualquer segurança formal, vendo-se sob perigo de vida (ps’). A 
classificação deve registrar estes dois momentos. 
— Nota-se que aqui a percepção do movimento está condicionada à percepção do espaço. Por esta 
razão, é necessário que a classificação espelhe esta relação mútua, não se devendo desmembrála. O 
espaço é percebido como profundo e sem limites sendo, portanto, uma classificação ps’. 
 
N° Pranchas 
 
41 X 
“...Dois homens (P6) tentando passar de uma rocha para outra (P9). Estão de mãos dadas e 
um ajuda o outro...Nossa!...quando estavam passando caiu algo do bolso de um deles e eles 
olharam para baixo (E30) e só então perceberam o perigo que estavam correndo: O lugar é 
tão alto que eles não podem enxergar o final, se eles cairem vão morrer...”: 
P M (Ps) H 
E ps’ ab 
 
N° Prancha 
 
42. X 
“...Uma parte de um satélite artificial se soltou (P3) e está caindo. Caindo para sempre 
porque ele está perdido no espaço, está sendo atraído pelo sol (?) Não vejo o sol, vejo só um 
vazio horrível, sem nada...Tá certo que tem esses montes de desenhinhos em volta mas não 
me dizem nada...Podem ser lixo espacial, dizem que o espaço está cheio deles...”: P (E) m’ 
(ps’) ci 
 
N° Prancha 
 
43. VII 
“...A entrada de uma caverna...Quando você pegou a figura, antes que eu acabasse de pegá-la 
nas mãos, já tinha visto a caverna (G) com uma entrada no meio (E) mas, agora. ..quando 
olho...mais me chama a atenção a entrada dela em si porque é muito profunda, parece que 
não tem fim, é infinita...”: 
GE Psggr 
E ps’ ab 
 
RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 89 
— Assim como no exemplo 41, a percepção se deu em dois momentos, fazendo-se necessário 
registrá-los em duas classificações. No primeiro momento a entrada estava delineada pela forma da 
caverna (Ps). Num segundo momento, a profundidade se tornou maior e a forma se perdeu (ps’). 
— Apesar desta resposta incluir o espaço e a mancha global (índice de construção intelectual) e partir 
de alguma configuração formal (a rachadura), sua elaboração se mostra muito subjetiva e centrada 
na percepção espacial, desconsiderando a forma. Por esta razão, a classificação mais apropriada é 
ps’. 
- A partir deste exemplo, pode-se notar a integração da resposta de perspectiva ps (através da 
percepção de fumaça, desaparecida ao longo da elaboração da resposta) numa noção de perspectiva 
mais elaborada e definida Ps (presente na percepção de uma ilha distante). No caso, ao contrário dos 
exemplos 41 e 43, houve uma integração de ps em Ps, uma elaboração da mesma resposta, não 
sendo necessário desmembrá-la. A integração dos determinantes de luminosidade neste exemplo 
será analisada no capítulo sobre luminosidade, no exemplo 17 do subtítulo 1’. 
 
N° Prancha 
 
44. V 
“...Parece que eu vivia em uma redoma. Tudo era assim sem nada, não dava para enxergar 
nada (E). Um dia rasgou o teto da redoma (G) e eu olhei para fora. Se abriu esta rachadura 
(G), olhei para fora...Mas, não gostei...não tem nada, é um infinito, um nada que vai longe e 
não acaba nunca, a gente vê que não é nada, só uma existência em vão...”: GE ps’ ab 
 
N° Prancha 
 
45. VII 
“...Aqui no meio (P6) parece um fumegueiro, uma fumaça bastante encorpada. . 
.Na realidade, vendo melhor, parece uma ilha, ao longe, pegando fogo. Fica aquela imagem preta no 
fundo, como nos filmes de guerra. Isso é um incêndio nas casas simples de pescadores, como acontece 
nos filmes de guerra, quando a paisagem fica toda escura e queimada...”: P Ps (C’) pz 
 
90 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
Mecanismo inusual de reação do ângulo de visão 
Não se pode confundir a classificação de perspectiva com o mecanismo inusual de reação do ângulo 
de visão. Nestes casos, não existe a busca do espaço mas um modo diferente de contemplar a 
realidade. O mecanismo ângulo de visão aponta para uma tendência a uma elaboração próxima 
àquela implícita no determinante perspectiva mas, se mostra insuficiente na capacidade de 
elaboração construtiva (exemplos 46, 47 e 48). 
— Nesta resposta, a percepção de desproporção ou deformação é causada exclusivamente pelo ângulo 
de visão, não tendo sido notada nenhuma diferença entre planos. Observe a diferença apontada no 
exemplo abaixo: 
Aqui, ao contrário do exemplo 47, na percepção de desproporção há uma concepção de 
planos diferentes: um “acima de mim” e, outro 
na “minha altura”, devendo-se considerar uma resposta de perspectiva. 
 
N° Prancha 
 
46. 1 
“...Um morcego voando (G). Parece que eu estou vendo ele voando de cima para baixo...”: 
GmAV 
Angulo de visão 
47. IV 
“...Parece um gigante (G). Parece que eu estou pequena perto dele e ele muito alto. Parece 
desproporcional, meio deformado até...”: G F+ H V Angulo de visão 
 
N° Prancha 
 
48. IV 
“...Parece um gigante (G). Ele parece muito alto porque está desproporcional: as pernas 
grandes, parecem mais próximas de mim e a cabeça pequena, parecem distantes de mim...”: 
G Ps H V 
 
RORSCHACH CIJNCO — MANUAL BÁSICO 91 
BIBLIOGRAFIA 
COELHO, L. M. S. — Epilepsia e personalidade - ia ed. São Paulo, 
Ed. Atica, 1975. 
RORSCHACH, H. — Psicodiagnóstico - 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre 
Jou, 1978. 
SILVEIRA, A. — Prova de Rorschach: elaboração do psico grama - 
ia ed. São Paulo, Editora Brasileira Ltda, 1985. 
 
DETERMINANTE CROMÁTICO 
SiMONE BRUNIIAMi 
No Rorschach, as Respostas de Cor (RC) estão relacionadas à esfera 
Afetiva. As funções da afetividade são as funções básicas,fundamentais, que presidem os primeiros 
contatos do indivíduo 
com a realidade externa e que são essenciais á sua sobrevivência e 
mesmo à realização de qualquer trabalho mental. 
No Rorschach encontramos aspectos ligados às funções afetivas básicas (representadas pelas 
respostas C e CF) e aspectos ligados aos sentimentos que pressupõe o amadurecimento individual 
baseado na assimilação das regras de sociabilidade (respostas FC). 
QuANdo CLASSiFiCAR UMA RESpOSTA COMO RC 
A resposta de cor pode ser inteiramente ou em parte determinada pelos valores cromáticos dos 
borrões. A cor (vermelho, verde, azul ou amarelo) deve influenciar a percepção deste tipo de 
resposta. Não é suficiente que o estímulo seja uma porção colorida, a resposta também deve incluir 
um objeto imaginado com as mesmas cores das porções selecionadas. 
E preciso que seja cor e não os tons acromáticos branco, cinza ou preto. Embora possa ocorrer o 
mecanismo projeção de cor em mancha acromática. A cor pode ser nomeada no processo de 
associação livre ou no inquérito, O inquérito é importante para verificar se o sujeito sente que está 
percebendo um objeto colorido e que a cor deu à sua resposta um elemento que não existiria se a 
área não fosse colorida. Entretanto, é possível, ainda que rara, a ocorrência de nC como 
determinante da resposta. 
94 RORSCHACH CLÍNIcO — MANUAL BÁSICO 
Devemos aqui diferenciar as RC genuínas dos mecanismos de reação desencadeados pela percepção 
do estímulo cromático: 
nomeação de cor, negação de cor, referência ao vermelho, comentários sobre as cores. 
No Inquérito: O que nessa mancha te faz pensar em...? 
Descreva melhor o que você viu. 
Quando a resposta vem acompanhada por comentários ou 
adjetivos: flor exótica, chapéu fantasia, pedras preciosas. Deve-se questionar sobre o motivo que 
levou o examinando a atribuir tais qualidades, pois geralmente elas foram sugeridas pela cor da área 
interpretada. 
Em casos de dúvida usar a miniatura das manchas que são acromáticas (folha de localização) e se o 
sujeito tiver uma reação diversa daquela apresentada na mancha original será uma RC, isto é, 
quando facilitar o processo de interpretação para sua resposta, teremos umaRC. 
NÃo CLASSiFICAR COMO RC 
Quando o sujeito apenas designar a localização mencionando 
cor. 
Resposta cromática para uma área acromática. Classificar como 
F e anotar o mecanismo como “projeção cor”. 
Exemplos: 
 
 
Pranchas 
 
1. VI Tapete amarelo 
 
2. IV Bandeira francesa com listras vermelha. verticais azul, branca e 
 
RORSCHACH CLiN1c0 — MANUAL BÁSICO 95 
Tipos PRiNcipAis dE RC: FC, CF, C. 
A preponderância da forma na elaboração do estímulo colorido 
— FC — traduz reação adequada a situações que mobilizam de modo direto a afetividade; 
quando prevalece o valor cromático — CF — sendo a forma vaga e pouco significativa, a 
resposta indica menor subordinação aos dados da realidade na expressão dos afetos; e 
quando uma resposta baseia-se exclusivamente na cor percebida pelo examinando — C — ela 
traduz liberação direta dos impulsos afetivos sem consideração pelas condições do 
ambiente. 
FC 
Resposta determinada em primeiro lugar pela forma, sendo a cor um atributo complementar 
que facilita reconhecimento, mas também determinada apreciavelmente pela cor. São 
respostas designadas como resposta de forma e cor. 
N° Pranchas 
1. VIII P2+P5 - “Aqui um rosto de uma pessoa. lnq.: também pelas cores, 
lembra o rosto de uma pessoa. Os olhos, o rosto, a boca rosa, a 
bochechinha vermelha”. 
2. II P3 — “Uma fruta selvagem já muito madura. Inq.: lembra fruta, tipo 
abacaxi, mas com forma diferente. Madura] porque é muito 
vermelha. 
3. III P3 — “Aqui no meio uma borboleta bonita. Inq.: pelo formato, 
lembra uma borboleta bonita, vermelha”. 
4. Iii P2 — “Uma guitarra. lnq.: o formato de uma guitarra, o braço e onde 
se tocaria. Pelo formato e pela cor, guitarra elétrica é dessa cor”. 
5. VIII G —“Um carrossel aqui. lnq.: mais esse telhado (P) e as cores, o teto 
e o colorido do carrossel”. 
6. VIII P1 — “Dois pulmões. Inq. Pelo posicionamento, bem abertos, o 
formato deles. A cor também, um rosa bem clarinho”. 
7. IX P6+p21 — “Umas sementes. Inq.: essas coisinhas embaixo com essas 
raizinhas para cima. O formato redondinho, essas raizinhas por onde 
o caule sai. E aqui tem verde, uma planta, pode ser uma planta pelo 
verde”. 
8. III P3 — “Gravata borboleta. Que tipo? Daquelas que parece um laço de 
fita, quando se usa este tipo de gravata? Os homens usavam 
antigamente nas cerimônias, podem ser de diferentes cores, aqui ela 
é vermelha.” 
96 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
N° Pranchas 
9. X P4 — “Tipo uma baratinha. lnq.: o formato e um pouco a cor, um 
pouco de tudo”. 
10. X P7 — “ratos aqui. Inq. Ratos porque me parece rato e é cinzento né!” 
11. X P4 — “Dois caranguejos. Inq.: o formato também e a cor, rosinha, 
mais a conchinha dele”. 
12. X P7 — “Um inseto aqui. Inq.: um inseto, é esse maiorzinho, pela cor e 
pelo formato, parece um besouro, uma barata sei lá”. 
13. X P4p — “Bigodes que se usa em festa de Carnaval. Inq.: como 
fantasia, por isto são verdes”. 
14. VIII G — “Um quadro de uma pintora norte americana que pinta caveira 
de boi, flores e cores bem fortes, lembra por causa desse carnaval de 
cores. Inq.: essa parte cinza, um chifrão para os lados, olhos, a boca 
e os chifres, O cinza, a caveira com as cores pastéis e não fica 
sombria, fica bonito”. 
15. VIII P2 — “A pétala de uma papoula. Inq. pela coisa irregular e pela cor 
meio rosada”. 
CF 
Resposta determinada primeiramente pela cor da mancha sem deixar de considerar a forma, 
que no entanto, tem um papel secundário, uma vez que mesmo que a forma se modifique a 
resposta continua sendo plausível. 
N Pranchas 
1. II P3 “Parece uma mancha de menstruação. Inq.: a cor vermelha, 
uma mancha assim.” (a mancha pode assumir diferentes formatos 
sem comprometer a idéia de menstruação). 
2. II G “Uma xilogravura. lnq.: tudo, é que eu gosto dessas coisas, não 
é uniforme, é uma mancha, as cores estão misturadas, um colorido 
bonito.” 
3. II G “Uma borboleta machucada. Inq.: as asas, a cabeça, estaria 
sangrando. Sangrando porque está vermelho, além disto tem uma 
mancha de sangue aqui, parece que está machucada.” 
Gi F(C)+AIPCF sg 
4. P3 “Coração. Inq.: o formato não tá muito não, mas a cor 
vermelha, lembra coração, lembra sangue”. 
5. VIII P8 “Uma árvore.Inq.: uma árvore, acho que pelo verde, aqui mais 
laranja, acho que foi pelas cores que me passou a idéia de uma 
árvore.” 
6. IX GE “Um mapa. Inq.: aqui seria o mar (E) e esses recortes o mapa, 
as cores diferentes em cada Iuar. parecem as cores de livro.” 
RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁsico 97 
N° Pranchas 
7. IX G “Aqui tá me lembrando sorvete. Inq.: essas bolas de morango, 
pistache, pelas cores, uma em cima da outra, bolas de sorvete.” 
8. X G “Aqui parece o mar, com corais, peixes, tudo colorido e bonito. 
Inq.: são cores vivas, tudo solto na água. As cores e os formatos. 
Um colorido vivo.” 
9. X P11 “Parece aquelas plantas do mar, algas. Inq.: esse azul lembra 
plantinhas do mar, pelo formato e pela cor”. (Forma inadequada e 
variável das algas). 
10. X P2 “Dois ovos fritos. lnq.: a cor, o vermelho da gema. Não tá o 
formato que você vê na foto, mas lembra ovo frito, amarelinho”. 
11. III P1 “Essa coisa vermelha parece pulmão. Inq.: pulmão essa parte 
vermelhinha, o formato também e a cor, porque tudo de dentro do 
corpo é meio vermelho, lembra sangue.” 
12. X G “Carnaval, carnaval dos insetos. Inq.: pelas cores e por estar 
tudo espalhado.” 
13. 11 P3 “Sangue espirrado, por ser vermelho, por estar espirrado para 
fora aqui.” 
14. IX G “Uma labareda, uma tocha, algo assim. Inq.: a foto é muito 
bonita, um colorido muito bonito, fogo pelo formato e a cor, 
pareceuma labareda.” 
c 
Respostas determinadas exclusivamente pela cor das manchas 
sem levar em conta a forma. Respostas cromáticas primárias. 
Exemplos: 
 
N° Pranchas 
 
1. II P3 “Sangue aqui. Inq.: Sangramento, sangue, porque é vermelho.” 
2. II 
P3 “Aqui o sistema reprodutor feminino. Inq.: útero, algo assim, evidenciado em vermelho, pela cor 
que lembra sangue.” 
3. VIII G “Um mapeamento do cérebro. Inq.: quando você tá fazendo exame e eles colocam corante e sai 
assim, pelas cores, rosa, azul, pelo colorido.” 
 
98 ROESCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 
DiSTiNÇiO ENTRE F E FC 
Quando o sujeito se referir à forma e à cor em sua percepção, 
classificamos como FC. 
Exemplo 
DiSTiNÇÃO ENTRE FC E CF 
Sempre que a formada mancha puder ser modificada sem perder 
a plausibilidade da resposta, sem fazê-la nem mais nem menos plausível 
a resposta será CF; por outro lado, se as mudanças na interpretação 
da área mudarem a plausibilidade da resposta, teremos FC. 
 
N° Pranchas 
 
4. IX 
G “Uma pintura. Inq.: porque é colorido, misturando rosa com laranja, e o azul com esse 
mais clarinho, essas tonalidades, pintura sem forma, só usando tinta.” 
5. X P13 “Mamão aqui. Inq.: pela cor, laranjinha, parece mamão.” 
6. IX 
P “Luz.Inq.: relacionada a essa cor laranja que vai 
clareando. P C (1’) ab 
7. X 
P “Aqui nesse pedaço eu vejo sangue coagulado. Inq.: 
sangue porque é vermelho e está coagulado porque essa cor está diferente do vermelho vivo, 
está meio azulado.” 
 
N° Pranchas 
 
1. III 
P “Laço de fita. Inq.: o que na mancha fez você ver laço de fita?” tem um nó no meio e o 
laço de cada lado. Este laço de fita que você está vendo, onde ele pode ser usado? As 
crianças usam na cabeça ou serve para fazer pacotes de presente. Só pacotes de presente, 
não serve para outro tipo de pacote? Lembrei de presente porque é colorido (FC). Caso não 
faça esta distinção a resposta será F+. 
 
RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
DiSTiNÇÃO ENTRE CF E C 
Nas respostas C o sujeito encontra um conceito cuja cor coincide com a do borrão. E ocaso de 
SANGUE ou FOGO aplicado às regiões vermelhas,de AGUA ou CEU nas partes azuis, de TERRA 
e VEGETAÇAO nas porções, pardas ou verdes. Neste caso, a qualidade cromática é diretamente 
associada a aspectos abstratos. 
Nesses casos, o uso da cor é evidente, a dúvida é quanto ao papel representado pela forma: 
fenômenos percebidos em diferentes situações concretas e que passam a constituir propriedades 
exclusiva que as define. 
Se o sujeito tiver apontado indiferentemente para os diversos vermelhos do cartão dizendo apenas: 
“Isto é sangue”será C. Na maioria das vezes sangue é visto como “escorrido, espalhado, pingando” 
aí, será CF pois tais referências sugerem a presença de forma. 
No inquérito não perguntar: Como você vê este sangue? Pois 
poderia sugerir um elemento formal não existente anteriormente. Dizer: 
mais alguma coisa sobre este sangue? 
As C são raras e mesmo as interpretações como “água”ou 
“fogo”quase sempre têm alguma influência da forma na mancha. 
COR FORÇAdA OU CoNdENSAçÃo dE COR 
O examinando pode levar em conta a cor da área a qual ele identificou através do aspecto formal, 
sem conseguir, no entanto, integrar uma resposta FC, uma vez que FC corresponde ao 
reconhecimento de um objeto ou ser concreto, onde F e C compõem mesmo conceito. 
Exemplo 
99 
 
N° Pranchas 
 
1. II 
P2 (parte superior) “Mancha de sangue”pode igualmente plausível se a forma dessa 
área inteiramente diferente, manchas de sangue não têm forma típica. Será uma CF. 
ser 
for 
uma 
2. VIII 
P2 “Borboleta” esta área não pode ser modificada prejudicar a plausibilidade da 
resposta 
sem 
 
100 RORSCHACH CIJNICQ — MANUAL BÁSICO 
Exemplos 
Entretanto, se a resposta for: Urso de desenho animado, por isto rosado, a classificação deverá ser 
FC. Ou ainda: 
N° Pranchas 
Neste caso, a atribuição de uma emoção, ou de qualquer significado abstrato, acompanha a 
percepção mais objetiva da forma 
do animal, deverá também ser classificado como P F+ (C) A V. 
Tipos dE CONTELJdO E QuALidAdE FoRMAL dAs RC 
O fato das RC corresponderem à disposições afetivas, altamente individualizadas inválida a 
verificação da frequência estatística das formas que por vezes integram ou acompanham a 
construção das imagens correspondentes. Portanto, não lhes inscrevemos a qualidade formal na 
classificação, ao contrário do que se fez com as RM. Este procedimento diferente decorre do fato de 
se tratar de dinamismos diversos: as RM correspondem a elaborações cognitivas baseadas em dados 
do ambiente externo, portanto mais compartilhadas nas experiências interpessoais, permitindo a 
comparação entre as concepções do examinando e as da comunidade. 
A natureza positiva ou negativa das RC decorrem da conotação agradável, prazeirosa, amigável ou 
construtiva do conteúdo percebido, ou por outro lado, da qualidade desagradável, repugnante, 
mórbida ou destrutiva do 
 
N° Pranchas 
 
1. VIII 
P1 “Um urso . . .(descreve a forma) só que parece estranho porque não existe urso vermelho, parece que 
foi pintado de modo artificial’: P F+ (C) A V 
 
2. VIII P1 
de 
“Um felino com muita raiva. 
raiva porque está muito verm 
Felino pela forma, dá idéia elho. ...vermelho de raiva”. 
 
RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 101 
BIBLIOGRAFIA 
COELHO, Lúcia Maria Sálvia — Epilepsia e Personalidade - r’ ed. 
São Paulo, Ed. Atica, 1975. 
SILVEIRA, Anibal — Prova de Rorschach: Elaboração do Psicograma 
- P ed. São Paulo, Editora Brasileira Ltda, 1.985. 
 
AVALIAÇÃO DO EQUILÍBRIO DAS FORÇAS SUBJETIVAS: Eo 
E Eo 
LiLAN PASQUALiNi CAsAdo 
OEQUILíBRIO das forças subjetivas fornece a dinâmica psíquica fundamental do indivíduo, a 
combinação específica das funções afetivas, cognitivas e conativas. 
O índice Eq traduz o tipo de vivência que é estabelecido com a realidade, o modo como o 
indivíduo tende a viver e reagir perante as diferentes situações, principalmente nos 
relacionamentos interpessoais. Este índice expressa as características subjacentes ao 
comportamento manifesto, atual e consciente. 
O índice Eq’, aponta para tendências mais profundas ou latentes da personalidade, que 
poderão ser desenvolvidas pelo examinando, ou, se tornarem manifesta mediante 
determinadas condições e situações especiais. 
A comparação entre os índices Eq e Eq’ nos revela se há harmonia ou não, entre as reações 
afetivas (RC) subordinadas conscientemente às elaborações intelectuais (M) e as reações 
afetivas (RC) relacionadas com as tendências mais subjetivas e habitualmente não 
exteriorizadas (m e m’). 
1. ÍNDICE Eq: M: RC 
As respostas M e RC (FC,CF,C) representam respectivamente os dinamismos intrínsecos 
da esfera intelectual e da esfera afetiva. As diferentes possibilidades de combinações e 
proporções numéricas entre estes determinantes é denominada índice Eq. O índice Eq 
refere-se 
104 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
aos diversos tipos de contato afetivo que o indivíduo estabelece com o ambiente e o conjunto de 
tendências de personalidade que normalmente se mostram no comportamento. Portanto, caracteriza 
especialmente o modo de interação mantida nas relações interpessoais, considerando ainda 
variações decorrentes de circunstâncias ambientais e reações emocionais momentâneas. 
E importante para a interpretação deste índice assinalar o fato que as respostas M expressam os 
aspectos mais desenvolvidos da personalidade, a compreensão da motivação do indivíduo e seus 
modos habituais de contato com os demais. Aferem também as concepções lógicas, auto—
afirmação, auto-imagem, utilização de valores próprios, empatia, o amadurecimento emocional nos 
relacionamentos interpessoais, a capacidade de conter as reações afetivas espontâneas e também 
refrear manifestações mais impulsivas. Para Piotrowsky (1965), o significado básico das respostasManoel Carlos Pinheiro Sálvia e Lúcia Maria Sálvia Coelho 211 
1. Conceitos Elementares 211 
2. População Normal 213 
3. Tabelas 219 
Tabela Geral 221 
Tabela 1 — Modalidades 225 
Tabela II — Modalidades Mono 228 
Tabela III — Modalidades Color 231 
Tabela IV — Adaptação â Realidade 234 
Tabela V — Feitio de Personalidade 237 
Tabela VI — Condições Afetivo-Emocionais em Disposição Conativa 240 
Tabela VIl—Elaboração 244 
Frequência Acumulada 245 
Curvas de Frequëncia Acumulada 245 
Distribuição dos Resultados: Grupo de Examinandos Normais 251 
ANEXOS 
Diagramas: Modalidades Secundários 253 
Diagramas: Conjunto Monocromático 253 
Diagramas: Conjunto Cromático 254 
 
PREFÁCIO 
A elaboração de novos modelos científicos do psiquismo humano, nos quais os processos 
psicológicos articulam-se com fenômenos relacionados à atividade cerebral e à determinantes de 
ordem sócio-cultural, vem estimulando o desenvolvimento de estudos e investigações sobre 
atenção, memória, pensamento, consciência e mais recentemente, emoção. A partir desses modelos 
teóricos, o aperfeiçoamento de procedimentos experimentais para o exame de processos psíquicos 
evidencia a exigência de maior rigor metodológico e conceptual no campo da psicologia. 
Paralelamente a esse movimento da psicologia teórica e experimental, observa-se a influência 
crescente do pragmatismo norte- americano na psiquiatria e na psicologia clínica. O procedimento 
empírico, de comparação indutiva de sintomas comportamentais, passa a ser adotado como norma 
dominante na categorização dos fenômenos psicopatológicos. Em decorrência, conceitos da 
psicologia tradicional 
- caráter, temperamento, traços de personalidade - são reformulados, de modo preciso, à partir de 
definições operacionais, passíveis de verificação empírica mas não integrados em modelos teóricos 
mais amplos. Multiplicam-se as escalas e questionários como instrumentos de avaliação de 
expressões sintomáticas comportamentais: a quantificação dos fenômenos tem primazia sobre o 
exame direto das condições mentais do paciente. Na área clínica apenas afastam-se desse 
procedimento os exames neuropsicológicos, nos quais são valorizadas as modalidades qualitativas 
do processamento das experiências, de acordo com modelos neurológicos da atividade cerebral. 
Levando em conta o fato da psicologia clínica focalizar sua atividade no estudo de caso, ou seja, no 
exame do modo com que um distúrbio psicopatológico ou um conflito emocional afeta a dinâmica 
de personalidade e interfere na modalidade particular de integração do paciente ao ambiente fisico e 
social, consideramos indispensável a sistematização crítica dos conhecimentos que deverão ser 
utilizados 
10 RORSCHACH CúNIco — MANUAL BÁSICO 
pelos profissionais dessa área. O exame de um caso clínico não exclui a utilização do procedimento 
rigoroso, que segue as diretrizes fornecidas por conhecimentos baseados na atividade prática, com a 
proposição de quadros nosológicos, mas que necessariamente implica a utilização de um modelo 
científico do psiquismo humano. Ao mesmo tempo que a construção de um conhecimento clínico 
supõe a síngularidade da existência de um ser humano, ele também deve possibilitar a realização de 
pesquisas que forneçam informações sobre a natureza dos desvios psicopatológicos e dos diferentes 
modos de enfrentamento dos conflitos individuais. Se os resultados dessas pesquisas possuem um 
menor poder explicativo que o das pesquisas experimentais, nem por isso elas são menos úteis e 
indispensáveis para levantar questões e fornecer sugestões aos modelos científicos. 
O projeto em que se baseia o presente trabalho situa-se nesse contexto atual da atividade clínica. 
Procuramos iniciar os psicólogos na utilização coerente e racional de um instrumento de exame 
psicológico de ordem mais complexa e sensível que a maioria das avaliações comportamentais que 
vêm sendo adotadas. A prova de Rorschach exige ao mesmo tempo a utilização racional de 
conhecimentos teóricos sobre o psiquismo humano e o procedimento sistemático e objetivo de 
identificação e codificação das variáveis envolvidas durante a realização da prova. Os dados 
fornecidos pela prova de Rorschach fornecem informações válidas sobre a estrutura da 
personalidade e os processos psicológicos por ela mobilizados. O uso do Rorschach na clínica 
amplia o conhecimento sobre a personalidade e a natureza dos distúrbios mentais do paciente 
examinado, fornecendo indicações sobre a natureza e a gravidade dos sintomas que apresenta, assim 
como sobre os recursos psicológicos que ele dispõe e as modalidades de tratamento ao qual ele deve 
ser submetido. Entretanto, o uso desta prova psicológica oferece inúmeras dificuldades devido à 
complexidade dos processos nela envolvidos. Assim, já é problemática a distinção dos fatores da 
prova e a construção de índices, uma vez que esse procedimento exige o conhecimento dos 
processos psíquicos por ela mobilizados, assim como o exame dos resultados, pois as variáveis 
estudadas nem sempre se distribuem segundo uma curva normal, o que dificulta a avaliação 
estatística e o próprio confronto com uma população normal de referência. Além disso, a utilização 
do Rorschach por um clínico supõe competência teórica e experiência profissional consistente para 
a análise e interpretação do psicograma. 
RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL CLINIc0 11 
Apesar dessas dificuldades, o estudo da prova de Rorschach pode ser uma descoberta fascinante 
para o psicólogo. Na medida em que ele for aprendendo a utilizar os recursos que ela oferece, mais 
profundo e sensível será seu conhecimento sobre o ser humano, e é com o intuito de iniciá-lo nessa 
aventura que escrevemos o Manual de Rorschach Clínico. 
Lúcia Coelho 
 
INTRODUÇÃO 
PROCURAMOS aqui expor de modo claro e sucinto os critérios 
adotados no Sistema de Silveira para a análise e codificação dos processos psicológicos 
mobilizados durante a prova de Rorschach. 
O propósito deste manual é o de estabelecer os critérios e procedimentos técnicos indispensáveis à 
aplicação da prova e à classificação das respostas, que deverão compor o psicograma. Iniciamos o 
leitor na utilização de procedimento coerente e sistemático desde a colheita dos dados, durante a 
prova, até a análise e exposição dos resultados. 
Todo relatório de um protocolo individual, assim como toda pesquisa no campo clínico, deverá 
basear-se em um referencial teórico sobre a dinâmica psíquica normal, o qual será utilizado como 
critério para a construção da população normal de confronto. 
As condições para a utilização da prova de Rorschach em outras áreas profissionais — como a 
Antropologia, a Psicologia Genética, Orientação Pedagógica ou Seleção Profissional — e que 
implicam em metodologia e pressupostos teóricos específicos, serão examinadas em outras 
publicações. Exporemos em outro volume as questões fundamentais de ordem teórica e 
experimental sobre as concepções decorrentes do modelo sistêmico evolutivo do psiquismo humano 
que norteiam a sistematização e interpretação dos dados fornecidos pela prova de Rorschach. 
Portanto, o presente volume contém apenas os critérios básicos adotados para a aplicação do 
Rorschach e a classificação das respostas, os valores estatísticos encontrados para os diferentes 
fatores e índices da prova e a sistematização dos resultados para a elaboração de relatórios clínicos 
tal como são feitos no Sistema de Silveira. 
O Manual de Rorschach Clínico foi organizado em três partes, precedidas por um capítulo sobre as 
condições de aplicação da prova. 
O capítulo inicial de Maria Cristina B. M. Pellini apresenta as condições técnicas de 
aplicação da prova de Rorschach e o material 
para o registro dos dados da prova (folhas de distribuição e súmula 
14 RORSCHACH ClíNIco — MANUAL BÁSICO 
do psicograma). Além dos esclarecimentos sobre o modo de transcrever as respostasde movimento humano é: 
“O M representa a concepção de vida de acordo com o qual o indivíduo ajusta-se a 
realidade. O M significa a maior parte dos esforços integrados que estabilizam a relação 
entre o indivíduo e seu meio ambiente como mecanismo dirigido que o leva a desempenhar 
certos papéis vitais nos relacionamentos interpessoais, determinando direta ou 
indiretamente a conduta externa.” 
As respostas cromáticas (RC) correspondem as expressões da afetividade. Referem-se tanto às 
funções afetivas básicas como às de integração ao ambiente fisico e também aos tipos de respostas 
afetivas no âmbito social. As categorias de respostas cromáticas (FC, CF, C) diferem quanto ao 
grau com que os impulsos da individualidade atuam no comportamento. Quanto mais fraco o 
elemento formal mais forte é a expressão do afeto e vice-versa. 
CONSTRUÇÃO do íNdkE: 
O índice Eq é obtido pela comparação entre o número absoluto das respostas de movimento 
humano ou antropóide M e a ponderal 
das respostas cromáticas RC (FC, CF e C). 
No cálculo numérico os determinantes em adicional no deverão ser computados. 
 
Eq = RC 
 
Onde : RC FC 0,5 
(Valores ponderais) 
CF = 1,0 C 
 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 105 
Para Silveira (1985), “a comparação dos valores ponderais se faz em dois modos. “ou as 
tendências afetivo-intelectuais, tomadas em seus conjunto são suplantadas pelo predomínio 
do esforço conativo ou elas se manifestam livremente e os termos que as compõem podem 
ser confrontados entre si. Se predomina o coeficiente ponderal M, haverá tendência para a 
introversão; se ao contrário, predominar a soma ponderal cromática, a extroversão 
constitui o traço dominante. Definido estas duas situações subjetivas é hábito, desde 
Rorschach, indicar o dispositivo do primeiro caso como tipo M, o segundo como tipo C”. 
(p.lOl) 
Cabe ressaltar que as concepções de Hermann Rorschach sobre introversão e extroversão diferem 
das de Jung. O “introversivo” de Rorschach é denominado “tipo M” e o “extroversivo” “tipo C”. A 
diferença fundamental é que para Jung introversão e extroversão são mecanismos psicológicos 
incompatíveis e excludentes. Para Hermann Rorschach estes dois mecanismos são diferentes, 
pontos extremos de um continuum, e não opostos. Nas várias possibilidades de combinações dos 
dinamismos (equilíbrio entre M e de RC ou ausência de ambas) ou no predomínio de uma destas 
forças subjetivas (M ou RC) encontramos informações sobre os recursos utilizados na adaptação 
afetiva à realidade. As diferentes relações entre os tipos de adaptação e a proporção M: RC foi 
denominado por Hermann Rorschach de Erlebnistypus (tipo de experiência). 
D[siqNAçÃo AdOTAdA: 
A relação M: RC ou “Eq” foi chamada por Silveira de “Equilíbrio das forças subjetivas”, pois 
segundo ele “não é o equilíbrio da experiência o que o índice traduz: é a própria 
experiência, esta resultante do equilíbrio de forças da personalidade (Ibid, p. 102)”. Silveira 
não aceita a expressão deste índice em tipos fixos e recomenda o estudo dinâmico destes recursos 
da personalidade. 
2. ÍNDICE Eq’: RM : RC 
CONSTRUÇÃO do íNdiclE: 
Segundo a concepção de Silveira, o índice Eq’ é uma variante 
do índice Eq. Os mesmos valores ponderais atribuídos às respostas 
106 RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 
cromáticas do Erlebnistypus foram aplicadas de forma similar às respostas de movimento, pois as 
respostas M, m, e m’ surgem nos protocolos de adultos médios em proporções comparáveis às de 
FC, CF e C, conforme estudo com população normal a proporção M: m : m’ resulta em 3,4: 1,7 : 
0,6 e a FC : CF: C em 3,0 : 2,2 : 0,1. 
O índice Eq’ é obtido pela comparação entre a soma ponderal das respostas de movimento humano 
ou antropóide (M), movimento animal (m) e movimento subjetivo (m’) e a ponderal das respostas 
cromáticas FC, CF e C. 
Eq’ = RM : RC 
Onde: RM M=0,5m1,Om’1,5 
RC FC =0,5CF=1,0C=1,5 
As respostas de movimento animal (m) são representadas como reações imaturas e menos 
integradas à realidade objetiva através dos recursos lógicos, sendo mais pertinentes às noções 
afetivas da criança. Por sua vez, as respostas de movimento subjetivo (m’) traduzem tendências 
ainda mais profundas, impulsos reprimidos durante o desenvolvimento psicológico e pouco 
integradas a personalidade. São estes dinamismos intelectuais menos desenvolvidos (m e m’) que 
também atuarão na atividade intelectual peculiar ao adulto (M). 
3. CONFRONTO ENTRE OS ÍNDICES Eq e Eq’: 
A comparação entre Eq e Eq’ nos informa sobre a concordância (harmonia) entre o comportamento 
manifesto (nível consciente e mais atual, M) e as tendências mais profundas, latentes, ligadas às 
concepções e fantasias infantis (m) e /ou às aspirações e repressões (m’). Para Silveira (1985), 
“Mediante o índice Eq, confronto entre M e )JC, podemos avaliar a estrutura de 
personalidade, tal como se manfesta nas relações pessoais na época do exame ... afórmula 
Eq. como variante do cotejo clássico (Eq ‘) permitirá verficar além disso, se as tendências 
de ordem intelectual mais ligadas à vida emocional interferem no plano consciente, 
modificando as reações em caso de tensão.” (p. 131-132) 
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 107 
4. DINÂMICAS DO ÍNDICE Eq: 
4.1. Tendência à introversão: M> RC 
Nesta situação ocorre o predomínio das respostas de movimento 
sobre a ponderada das respostas cromáticas (Tipo M de Hermann 
Rorschach). 
Quanto maior for o número de M frente a somatória ponderada das RC, maior é a tendência à 
introversão, em viver sem influência dos outros, em organizar e desenvolver os próprios 
pensamentos e de agir em função das próprias idéias. A adaptação ao ambiente se faz por meio do 
pensamento, precedido pela compreensão intelectual das situações. Maior também será a 
seletividade às solicitações e a percepção determinada pela escala pessoal de valores, pois, os 
interesses estão mais voltados para a vida intra-psíquica do que às solicitações externas, O contato 
social é restrito mas os vínculos estabelecidos são profundos e estáveis. Em indivíduos neuróticos, 
quanto mais elevado o número de M e menor for a somatória ponderada de RC, maior será a 
tendência a desenvolverem sintomas do tipo ideativo (idéias obsessivas) ao invés de sintomas 
motores (atos compulsivos). 
Portanto, neste tipo de adaptação as concepções intelectualizadas 
prevalecem sobres as reações afetivas. 
Obs.: Para compreensão mais abrangente do índice é importante considerar a qualidade formal das 
respostas M (positivas ou negativas), a velocidade em que foi produzido, grau de originalidade, tipo 
de movimento (extensor, flexor, bloqueados), o grau de energia segundo Piotrowiski, o tipo de II 
associado à resposta M (se figura real, com características próximas ou distantes das do examinando 
ou se as figuras são estereotipadas), M solitário ou relacionado, M em pormenor primário, M em 
pormenor secundário, M associado em respostas vulgares, M em respostas de conteúdo animal. 
4.2. Tendência à extroversão : Mconsiderar o tipo das RC (FC:CF:C),o significado do conteúdo das RC (+ ou 
-), o índice Af e Impulsividade (indicadores de mobilização afetiva primárias e da expressão mais 
direta dos impulsos). 
4.3. Ambigüal: M RC, equivalência numérica dos índices entre M e RC 
Este tipo de adaptação não se caracteriza pelo predomínio das respostas cromáticas sobre as de 
movimento ou vice-versa, mas pela ocorrência numericamente próxima representantes dos 
componentes intelectuais e afetivos, sugerindo predisposição para contatos interpessoais como 
também para observações intelectuais. 
4.4. Ainbigüal dilatado: M RC, sendo ambos os índices > 2 equivalência numérica entre 
o M e RC, sendo ambos 
os índices > 2 
A ocorrência numericamente elevada de ambos os componentes (intelectuais e afetivos) poderia ser 
interpretada como indicador de uma maior predisposição para contatos com pessoas e com o 
ambiente circundante, bem como, para a observação intelectual, introspecção e elaboração criativa a 
partir dos estímulos apreendidos. Porém, para interpretação mais precisa é necessário análise 
qualitativa das respostas cinestésicas e cromáticas. Nesta dinâmica há mobilização dos recursos 
afetivo-intelectuais ao experenciar as diferentes situações e no contato com os demais. 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 109 
4.5. Tendência à coartação : M e Z RCA título de ilustração, temos dois exemplos retirados da obra de 
Silveira (3): 
Protocolo 606 
 
Prancha 
 
VII 
P6: “Aqui torres”. 
velho, mei 
parece uma igreja, não? (1: “Porque está caiada de 
o sujo”) P C’ arq 
A capelinha com duas 
novo: outro lado já mais 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 113 
Neste exemplo, torna-se claro o reconhecimento concreto e imediato presente na construção desta 
resposta: a percepção da igreja em suas experiências está aqui representada, tal como foi 
apreendida. Trata-se, portanto, da repetição de uma aprendizagem sem um complexo processo de 
construção pessoal. 
Protocolo 690 
Prancha 
p em P4 - Descobri outra: seria o retrato de uma mulher, nua, vista de trás’. (1: “Aqui dentro (do P4, 
metade superior, isto é, P4-p24): estes tons mais clarinhos; as costas, uma parte do 
ombro; não isto (P3): uma pintura” p L pH 
Neste exemplo, é evidente o processo ativo de construção. Não houve reconhecimento passivo 
como a percepção da cor da igreja mas, ao contrário, um esforço de dedução sobre os diferentes 
matizes presentes na mancha. 
A resposta classificada como C’, portanto, representa sempre a aplicação de um aprendizado 
concreto na realidade externa. Esta classe de determinantes está representada pelo emprego das 
cores branca, preta ou cinza, como os exemplos a seguir atestam: 
Exemplos: 
Há, portanto, latente à construção destas respostas, um reconhecimento imediato tanto das 
características formais da figura como também de seu significado emocional. Assim, na 
elaboração destes perceptos, o papel da forma pode ocupar diferente importância, 
 
N° Pranchas 
 
1. X P8: “Aqui vejo uma pulga: com as pernas bem articuladas e sua cor preta “: P C’ A. A importância da 
cor é fundamental para o reconhecimento da pulga 
2. X 
E29: “Parece aqueles anjinhos branquinhos que se coloca nas árvores de natal, tem 
cabecinha e mãozinhas e aquele corpinho cheinho e branquinho, lembro aqueles enfeites de 
natal” E C’ art 
 
114 RORSCACH CUNICO — MANUAL BÁsico 
a ser pesquisada durante o inquérito. Ou seja, existem respostas preferencialmente formais e 
acrescidas da cor (como mais um detalhe que a torna semelhante a sua correspondente na realidade 
externa) e, aquelas cuja forma fica secundária ao valor da cor como fator de reconhecimento. 
Veremos alguns exemplos: 
Exemplo: 
Esta resposta exemplifica a importância secundária da cor preta pois, se nao fossem os olhos pretos, a mosca 
ainda poderia ser 
identificada. O mesmo pode ser percebido nos exemplos a seguir: 
Exemplos: 
N° Prancha 
4. II P6” Dois frades, um de cada lado, fazem lembrar aquelas 
gravuras religiosas: os frades todos com aquelas roupas 
pretas “: P F (C’) H. 
5. X P11” A torre Eiffel pelo formato e pela cor, O que mais me 
faz pensar em Torre Eiffel é a forma com esses vários 
tracinhos (aponta o contorno da figura), lembra a 
construção cheia de ferro e não maçiça da Torre Eiffel. A 
cor escura também ajuda a associar com construções como 
esta embora, não me lembro se a Torre Eiffel é cinza ou 
avermelhada”: P F+ (C’) arq 
6. VII P3” Cabeça de elefante. O que mais me fez pensar em 
cabeça de elefante foi a tromba (p21). Depois vi que era 
cinza como um elefante e, conclui que de fato parece 
mesmo com a cabeça de um elefante”: P F+ (C’) pA. 
Porém, em outras ocasiões, a cor é primordial para o 
reconhecimento da imagem, como mostram os exemplos abaixo: 
 
N° Prancha 
 
3. III P1 (posição invertida)” Uma mosca, pelo aspecto de seu corpo bem forte, pelas patas (P5) para frente e, 
pelos olhos (P4) bem grandes e pretos”: P F (C ‘) A 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 115 
Exemplos: 
N° Pranchas 
7. 111 P4” Uma bola de boliche porque é redonda e preta “: P C’ 
art. Se não fosse pelo fato dela ser preta, não seria uma bola 
de boliche. Neste caso, a forma tem um valor secundário ao 
reconhecimento da imagem. 
8 IX E23” Um pinguim, pelo formato do corpinho com as costas 
pretas e a barriguinha branca “: E (p) C’ A. Igualmente neste 
exemplo, o pinguim foi reconhecido principalmente por sua 
característica fundamental, suas cores embora, o 
examinando possa ter checado a forma de seu corpo. 
9. IX pequeno espaço lateral ao p30:” Um dente, porque lembrei, 
por ser comprido e branco, é um dente direitinho sem tirar, 
nem por”: E C’ pH. 
10. 1 E29” Um montinho de neve. Eu já peguei neve na mão e 
fica assim mesmo, bem branquinho e esse jeito de 
montinho”: E C’ nat. 
Enfim, para a c1assificaço de F (C’) ou C’ puro, é necessário 
proceder um inquérito cuidadoso onde fique clara a participaçAo das 
cores preta, branca e cinza na construção da figura. Por exemplo: 
Exemplos: 
 
N° Pranchas 
 
li. V 
G” Um morcego porque é bem parecido: aquela carinha de rato, mais ou menos nesta 
altura, assim enterrada no meio das asas, asas para baixo com seus radares aqui no alto e as 
perninhas aqui em baixo. Também pelo fato dele ser preto porque a maioria dos morcegos é 
preto”: G F (C’) A V 
12. V 
G “ Um morcego porque lembra bem, com essas asonas 
grandes e pretas. Lembra aquele morcego preto que o 
batmam projeta no céu”: G C’ A. Neste segundo exemplo, é 
evidente a participação fundamental da cor preta para a 
associação feita pelo examinando. 
 
116 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
Esporadicamente, ainda, as cores branca, preta e cinza são utilizadas para um reconhecimento de 
um significado emocional na realidade externa de uma maneira muito básica e primitiva mas, não 
deixa por isso de se reportar ao C’, uma vez que se trata da aplicação de um processo de aculturação 
que se repete frente experiências novas. Neste sentido, o que importa é a relação de 
reconhecimento na construção da resposta e não a precisão da forma, como veremos nos 
exemplos a seguir: 
Exemplos: 
Por fim, cumpre ainda lembrar que muitas pessoas usam a palavra escuro ou claro com a intenção 
de mencionar as cores enquanto, outras falam de preto ou branco para esclarecer o impacto da 
tonalidade das manchas em seu aparelho perceptivo, ficando mais uma vez ao encargo do inquérito 
esclarecer o real uso das tonalidades das manchas. Por exemplo: 
Exemplo: 
O L, ao contrário, é sempre a construção de um significado na realidade objetiva a partir da 
percepção dos diferentes nuances. Esta resposta pode ser de qualquer natureza, vaga, 
abstrata ou definida. Veja as respostas a seguir: 
 
N° Prancha 
 
13. III 
P6 + p22”uma pessoa, o rosto (P6) e o corpo (p22). Esta cor branca ( p não localizado dentro 
de p22) é o bumbum que sempre é branco1’: P F (C’) H. 
14. II 
P1” Um pedaço de carvão, sei lá acho que pela cor, olhei e logo lembrei do carvão, assim 
bem pretinho”: P C’ nat. 
 
N° Prancha 
 
15. 111 
P1” Mulheres com roupa velório. São mulheres 
por parecem de coque”: P F 
escura, devem causa dos 
seios, (C’) H V. 
estar 
salto 
em 
um 
e 
nuca, 
 
Exemplo: 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
117 
Exemplo. 
 
N° Prancha 
 
1. VIII 
p não localizado dentro de P5”Um esquema geométrico. Tipo aqueles esquemas de vetores. Sei lá, é 
meio esquisito mas, parece as flechas em diferentes direções aqui no mais escuro”: p L ab - apesar de 
ser um pouco vaga em sua forma, é uma construção pessoal elaborada na mancha. 
 
N° Prancha 
 
2 VIII p não localizado dentro de P5”Um anjo. Está bem definido. 
Aqui dentro, olha as asas, a cabeça, o corpo, as pernas”: p L ‘ 
 
Exemplo: 
 
N° Prancha 
 
3. VI 
p não localizado dentro de P Uma arara de lado, com a cabeça pequena e um rabo bem 
longo”: p L A 
 
118 
Exemplo. 
Prancha 
4. 
RORSCHACH CLÍNLCO — MANUAL BÁsico 
L 
 
VI p no vejo o localizado contorno 
dentro 
arredondado 
de 
P3” O sol, 
do sol’: p 
aqui no mais claro L nat. 
 
 
Exemplo. 
 
N° Prancha 
 
5. IX 
dentro de E8, algumasnuances muito tênues podem ser utilizadas na construção da 
resposta” Castelos de contos de fada com a torre central mais alta e as laterais menores”: p 
L arq. 
 
1 
 
 
Exemplo: 
 
N° Prancha 
 
6. IV p não localizado dentro de G “ Um pé de alface, pelo 
 
formato das folhas sobrepostas”: p L ai 
 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
Estes exemplos mostram perceptos que ocorreram inteiramente em p não localizados, 
demarcados exclusivamente pela diferença de tons. No entanto, podem ocorrer casos onde 
há uma apreensão de uma área configurada por seu contorno externo, sendo 
complementada internamente por algum detalhe construído pelos diversos matizes. Neste 
caso, a classificação será em primeiro lugar a forma, ficando 
como adicional o L. 
Exemplo: 
Exemplo: 
119 
 
N° Prancha 
 
7. 1 
parte superior de P4” Duas pessoas namorando numa rede. Estão com as cabeças juntas, 
olhando para o céu e apontando para as estrelas. A rede está aqui, neste mais escuro’: P F+ ( 
L) H. 
 
N° Prancha 
 
8. IV 
P4 em posição lateral “ Um acróbata fazendo acrobacia com os olhos vendados. O corpo todo torto 
naquelas posições de acrobacia e dá para ver aqui no mais escuro um lenço amarrado na altura de seus 
olhos”: P M (L) H 
 
RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 
Muitas vezes, conforme os exemplos 7 e 8, a diferença de tons é aplicada de maneira bem 
definida dentro de uma área facilmente demarcada. Porém, outras vezes, a utilização das 
diferentes gradações de luz incrementa da mesma forma determinado percepto mas, com 
menor precisão, como atestam os exemplo 9 e 10: 
Exemplo. 
Exemplo: 
120 
 
N° Prancha 
 
9. III 
P9” Uma mulher carregando uma bolsa. aberta pois posso ver o forro 
por causa escura aqui”: P F (L) H V. 
9 
A bolsa (P4 ) 
está 
desta marca 
mais 
 
N° Prancha 
 
10. VI 
metade superior de P4, na posição lateral” Um tricô na agulha: aqui (p25) a ponta da agulha 
cheio de lã e aqui (borda logo abaixo com tons cinza claro e cinza escuro) a barra da futura 
blusa, dá para enxergar que são pontos maiores”:P F (L) art 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁsico 
É muito comum a utilização do claro e escuro para a demarcação de traços faciais: 
Exemplo: 
Exemplo: 
121 
1 
 
N° Prancha 
 
11. IX 
P1 “ Um japonesinho sorrindo, ele tem uma camiseta estampada com letras japonesas. Tem uma espada 
em uma mão e na outra, uma toalha. Vejo pelo formato do rosto e do corpo até a cintura, O queixo e o 
sorriso, assim como a espada são bem visíveis por estarem em outra tonalidade. A toalha é o resto 
desta área, pelo formato irregulart: 
PF(L)H. 
 
N° Prancha 
 
12. VII 
P3” Um rosto maligno: tem um nariz pontudo e um topete na frente. Ele me parece maligno 
pelos olhos neste mais claro e, principalmente, pela boca cerrada com alguns dentes 
aparecendo nestes pontinhos mais clarostt: 
PF(L)pH. 
 
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 
Obs. 1: Esta área mais clara correspondendo aos olhos não é considerada L dada a frequência com 
que ocorre. O L atribuído à resposta está em relação à percepção apenas da boca e dos dentes. 
Exemplo: 
122 
 
N° Prancha 
 
13. VI 
P3” 
nari 
Cristo 
z, bigod 
com os braços 
e e barba”: P F ( 
abertos, 
L) 1-1. 
vejo aqui seus olhos, 
 
Obs. 2: Os espaços muito pequenos que complementam o percepto 
 
são considerados também como L por corresponderem mais 
 
a uma atitude de análise e dedução intelectual do que a uma 
 
atitude de oposição, representada pela resposta de espaço. 
 
Os exemplos a seguir poderão ilustrar melhor estes casos: 
 
Exemplo: 
N° Prancha 
14. X p28” Uma pessoa bem magrinha. Lembra uma pessoa pelo 
 
formato do corpo com os bracinhos para o alto...parece de 
 
vestido e as perninhas embaixo. Estes branquinos aqui so 
 
os olhos”: p F (L) H. 
 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 
123 
Obs. 3: Embora a maioria dos determinantes L puro acompanhe a modalidade p, é possível 
encontrar respostas de L em áreas correspondentes ao P. Ocasionalmente, a construção do 
percepto atinge o limite de uma área facilmente localizada mas, é preciso notar que não foi 
o feitio do contorno que determinou a resposta, como os exemplos a seguir vem 
testemunhar. 
 
N° Prancha 
 
15 1 
P4: “Uma pessoa de boca aberta. Pelo formato, parece uma mulher. As pernas juntas, a saia, 
os braços para cima e a boca aqui neste branquinho, ela parece que está de boca aberta” P F ( 
L ) H V 
 
N° Prancha 
 
16 IX p26: “Uma bota de cano alto, buraquinhos”: p F (L) vst. dá para ver os botões nestes 
 
124 
RORSCHACH CUNIco — MANUAL BÁSICO 
L 
 
N° Prancha 
 
17 VIII 
P6: “Um perfil feminino: a testa, o nariz e o queixo aqui no contorno. Aqui dentro, nestes 
mais escuros, parecem as dobras do lenço que cobre sua a cabeça”: P L pH. 
 
N° Prancha 
 
18 X 
P15: “ Um duende, olhando a paisagem ao longe, parece calmo...tem as mãos no bolso, o chapéu 
pontudo...Vejo o contorno de sua barba, o colete mais escuro, as calças guardadas dentro das botas. O 
jogo de tons dentro desta figura me permite visualizar cada detalhe”: P L H. 
 
N° Prancha 
 
19 VII 
P4: “ Duas mulheres se beijando na boca. As cabeças delas estão aqui (PIO), não dá para definir direito, 
o que me está mais claro são os perfis delas com as bocas encostadas”: 
P L pH 
 
ROPSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 
125 
Determinante 1 - Quando as tonalidades de luz são percebidas mais em função de sensações 
subjetivas táteis e menos relacionadas à percepção na realidade externa, tabulamo-las de 1, sendo 
muito comuns as sensações de textura e de relevo. Desta forma, o determinante 1 refere-se a uma 
experiência tátil como demonstra o exemplo a seguir, retirado da obra de Silveira (3): 
Protocolo 702 
Prancha 
X P13: “O 1 an. 
 
Obs. 
4: Da mesma forma que pelos, músculos e tecidos como de monstra 
 
os exemplos acima, a idéia de cheio ou sólido 
 
também aferem à sensação de textura. Vejam os exemplos 
 
5, 6, 7 e 8. 
N° Pranchas 
5 X P11: “ Alvéolos e a artéria no meio. Lembra uma artéria 
 
porque está no meio e é mais compridinha. Dos lados, 
 
parecem dois alvéolos porque são redondinhos e porque 
 
parecem cheinhos. Dá a impressão de ter ar dentro 
 
P F (1) an. 
6 II P2: “Algo inflado. Dá a impressão de ser algo que 
 
encheram de ar e ficou assim estufado. Parece que se eu 
 
apertar faz assim (gesto), não parece nada muito 
 
definido...Também não seria uma bexiga, é mais a sensação 
 
de cheio de ar mesmo”: P 1 ab. 
 
RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 127 
De igual maneira, a formação de uma imagem nas manchas do Rorschach pode vir 
acompanhada de uma percepção de uma área mais concentrada do que a outra. Esta 
observação revela também uma elaboração ligada a um contato íntimo com o estímulo, 
definindo, portanto, mais uma forma de experiência tátil, sendo classificada como 1. 
Observe o exemplo 9: 
Muitas vezes, a percepção de relevo se confunde com a idéia de perspectiva. Neste sentido, 
é importante que o inquérito confirme se houve a experiência subjetiva de um espaço, onde 
foi construída uma imagem em profundidade (determinante de perspectiva) ou a percepção 
dos diferentes tons permitiu uma associação relacionada ao relevo mas cuja imagem se 
mantém num mesmo plano (determinante luminosidade). Os exemplos 10, 11, 12 e 13 
permitem maior esclarecimento: 
 
N° Pranchas 
 
7 VI 
P4: “ Um navio de petróleo daqueles que ficam em alto mar. Pensei primeiro em navio pelo formato do 
casco e do mastro no meio mas, fiquei encasquetado com esse cinza, dá a impressão daqueles navios 
pesados que nem conseguem andar rápido. Então, lembrei desses navios que ficam em alto mar “:P F 
(1) obj. 
8 VII 
P6: “ Estatueta de bronze. Deve ser aquelas obras de arte 
que não parecem nada porque não tem forma de nada mas, 
é de bronze porque está mais escuro aqui no meio e isso faz 
eu ter a impressão de um material compacto, pesado 
P 1 art. 
 
N° Prancha 
 
9 IX 
E8 + P5: “Uma fonte de água. Aqui no meio, é o eixo da fonte de onde brota a água porque aqui a 
tonalidade é mais escura e, portanto, a água está mais concentrada, aqui dos lados a água está 
dispersando no ar porque a tonalidade está bem leve”: E (P) F (1) arq. 
 
10. VI P1: “ Uma cadeia de montanhas. A forma desta figura me 
fez lembrar aqueles mapas fisicos que a gente estuda na 
escola em geografia. O contorno irregular e estas 
diferenças de tons servem para indicar as características do 
relevo desta região: os dobramentos modernos, por 
exemplo, do Chile”: P F (1) mp. E diferente quando o 
examinando descreve uma vista aérea onde o espaço está 
presente, será uma resposta de perspectiva (ver capítulo 
sobre perspectiva, observação 3). 
11. III P7: “ Uma caixa toráxica. Parece uma caixa toráxica pelo 
formato côncavo que os ossos fazem. Estes traços 
cinzinhas assim, pelo seu aspecto leve e voltado para trás 
dão uma sensação de ser côncavo o suficiente para abrigar 
aqui dentro, neste espaço, outro orgão, por exemplo, o 
______ ptlmão”:P(E)F(l)an. 
128 
PORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 
 
N° Prancha 
 
12. VI 
O na posição invertida: “Uma ferramenta pendurada na parede. Esta forma, lembra bem uma 
ferramenta e o resto do cartão, aqui dos lados (referindo-se ao espaço), pode ser a parede. 
Essa diferença de tons aqui, em todo o contorno da figura, dá também a impressão da 
ferramenta sobressair em relação à parede, tipo holografia”: GE F (1) obj. Embora o 
examinando descreva a parede atrás da ferramenta, sugerindo uma visão em perspectiva, não 
houve o uso do espaço mas, apenas, uma percepção de relevo ao referir-se ao corpo da 
ferramenta. 
 
RORSCHACH CLiNico — MANUAL BÁSICO 
129 
Neste exemplo, a diferença de tons não é usada como uma sensação tátil mas, dentro de 
uma construção intelectual e, portanto, não se trata do determinante 1 e sim do L. De 
qualquer maneira, o exemplo tem como objetivo apontar para a necessidade de muita 
cautela ao analisar as respostas onde o uso da diferença de tons pode ser confundido com a 
percepção de perspectiva. A idéia de tridimensão (classificação do determinante 
perspectiva) deve obrigatoriamente ocupar-se do espaço fisico, enquanto que a diferença de 
tons pode criar uma idéia de relevo ou de planos sobrepostos, sem o uso do espaço (ver 
capítulo sobre perspectiva). 
Enfim, o importante para a classificação do 1 é a experimentação 
tátil de uma imagem concebida no ambiente externo. Veja, a partir 
dos exemplos 14 e 15, o caráter tátil que permeia a formação da 
imagem e que, portanto, reflete a natureza do contato com 
determinados aspectos da realidade externa: 
 
N° Prancha 
 
13. VIII 
P4: “ Um ser com as pernas abertas e o corpo debruçado para frente. Os pés aqui ( p 
22), os ombros aqui no contorno superior. Na frente do corpo, vejo o topo da sua 
cabeça, projetada para frente. A cabeça dá para ver por este tom mais claro “: P F (L) 
H. 
 
N° Prancha 
 
14. II 
P2: “ Chapéu de espuma. Parece chapéu pelo formato comprido e arredondado na ponta. A 
diferença de tons dá a impressão dele ser de espuma...olhando dentro dele até parece meio 
poroso como uma espuma de verdade”: 
P F (1) vst. 
15. III 
P4: “Protetor de orelha. Pelo formato um pouco ovalado, é bem parecido com aqueles 
protetores de orelha que se vende em países frios. Ele é bem quentinho, parece que é de lã. 
Estes mais clarinhos aqui dentro me lembram aqueles pelinhos que ficam um pouco em pé 
nos tecidos de lã pura P F (1) vst. 
 
130 RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 
Determinante 1’ - O determinante 1’ é aferido sempre que a associação do examinando referir-se 
a uma sensação interna, predominantemente tátil mas extremamente subjetiva e independente dos 
parâmetros estruturais da mancha. Neste sentido, a ausência completa de estrutura à sensação 
descrita pelo examinando é um dado diferencial na classificação do 1’, como veremos no exemplo 
de Silveira 
(3): 
Protocolo 720 
Prancha 
VII G: Dá a impressão de algodão...podia ser lã...mas dá a 
sensação de muito macia, talvez lã, sei lá... 
(1: “O conjunto. São flocos, fofos, macios...’): G 1’ vst. 
A idéia de “macio” pode ser percebida pelo examinando de diferentes formas, por exemplo, o 
examinando pode referir-se à textura de macio dentro de uma resposta mais vinculada à estrutura da 
mancha (determinante 1) ou, simplesmente associar a uma sensação basicamente interna ( 
determinante 1’). Vejamos os exemplos: 
Assim como nos casos anteriores, o determinante 1’ pode ocupar o lugar principal na classificação - 
ao participar de maneira predominante na construção do percepto (1’ ) - ou, vir em adicional a uma 
percepção formal (F(l’)) ou a qualquer outro determinante mais preponderante na resposta 
(Det.(l’)), como os exemplos a seguir podem ilustrar: 
 
N° Pranchas 
 
1. VI 
P1: “Dá a impressão exata de paina, sabe tipo aqueles algodões que nascem em paineiras? E 
mais pelo jeitão e, aqui dentro, nestas manchinhas, por estes pinguinhos mais escuros, 
lembra bem aquelas tramas entre os fios que deixa a paina macia e sedosa”: P 1 nat. 
2. VI 
P1: “Me parece um casaco quente. É a forma de casaco, aqui as mangas e dá a impressão de 
ser aberto no meio, por causa da simetria. (7) Não sei porque ele me parece quente.. .parece 
aconchegante, macio.. .talvez esse tom, lembra algo quente”: P F (1’) vst. 
 
VII 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
ES: “Um diamante. Parece aquelas pedras preciosas bem lapidadas: 
primeiro pelo formato assim triangular e depois porque este brilho é inconfundível “ : E F (1’) obj. A pedra preciosa foi percebida por seu aspectoformal e 
acrescida por uma sensação que independe das características estruturais da mancha, relacionando-se a uma sensação inteiramente subjetiva de brilho. 
O: ‘Eu não vi nada além de uma coisa feia, talvez um bicho.. .É uma coisa preta, cinza escuro. ..uns contomos que saem .umas coisinhas 
para fora.. algo muito nojento “: O 1’ A 
P13: “Parece um caracol. Lembra um caracol pelo volume do corpo assim gordo com a cabecinha para fora. Também... o aspecto dessa 
cor.. .dá a impressão de um corpo mole, meio gosmento : P F(l’) A. 
o - “Algo molhado... caiu e molhou. Olha até respingou aqui (p23). Parece molhado, não sei te explicar porque. Dá vontade até de passar a mão assim. ..Ai, 
que esquisitol “ : O 1’ ab. 
P3: ‘ Uma chama. Chama de um fogo qualquer: pode ser de fósforo, fogueira... sei lá. ..É mais a forma comprida com esse jogo de vários tons aqui dentro. 
Existe sempre um jogo de tonalidades dentro do fogo”: 
P F(l’) fg. 
P4: “Um rosto com expressão de tristeza. É um rosto amorfo, não vejo traços. A sombra, esta coloração dá uma idéia de tristeza” P 1’ ab. 
O: “Um palhaço de festa de criança. Parece um palhaço principalmente pelo sapato com este bico comprido e também pelo rosto (P3) e 
pelos braços (P4). Eu associei a festa de criança, além lógico pela própria figura do palhaço, por causa da sua roupa com estas tonalidades 
diferentes. É uma roupa com muitos tecidos diferentes o que dá esta tonalidade diferente, um certo brilho, ficou legal! Não dá para ver os 
tecidos mas seu efeito” O F (1’) H V. 
10. IV O: “Uma alga do mar. Pensei em alga do mar porque o que chama a 
atenção nelas é a sua tonalidade. Quase não dá para ver seu corpo e a 
sua forma porque 90% de seu corpo é água. O que faz sua presença é 
simplesmente a sua tonalidade, meio transparente” O 1’ A 
11. IV O (na posição invertida): “Um pulmão doente. O formato lembra 
pulmão: arredondado nas pontas e simétrico dos lados.. .acho até que 
aqui no meio é a coluna do coitado Parece doente pela cor assim 
desbotada, parece que o pulmão está desmilinguindo.. .se 
desfazendo.. ele está em fase terminal’ O F (1’) an. 
12. VIU O: ‘Fluidos de um corpo. Pelo aspecto destas figuras.. .parecem viscosas 
e tendem a se aglutinar pela aparência pegajosa mesmo delas, só’ O 1’ 
an. 
13. VI O: ‘Sabe o que me parece? Quando a gente sai no meio do mato em 
noite de lua cheia. Não vejo nada especificamente, apenas a claridade d’o 
luar na noite’: O 1’ ab 
O determinante 1’, muitas vezes, é computado para registrar alguma sensação interna bastante 
intensa que o examinando não é 
capaz de identificar como efeito dos diferentes matizes da mancha. 
3. 
Prancha 
II 
131 
4. 
IV 
5. 
x 
6. 
1 
7. 
IX 
8. 
9. 
IV 
132 ROPSCHACH CLiNICO — MANUAL BÁSICO 
N° Prancha 
14 X P8: “ Ácaros. Lembram ácaros porque so esquisitinhos: 
tem corpinho arredondado e antenas. Também porque eles 
me parecem asquerozos, nojentos, horriveis...ô coisinha 
feia’: P F( 1’) A. 
15 V G: Uma borboleta estranha, daquelas que traz azar. 
Borboleta pelo formato e traz azar porque é muito feia, 
desajeitada...desprovida de beleza...talvez porque seja 
assim sem cor”: G F (1’) A V. 
16 II P1: “Uma carne prensada (P1 + P2). Porque é assim (gesto 
de amassado), algo que já morreu. Aqui (P2) ainda vai 
morrer...porque ainda no está com este aspecto de 
prensado” P 1’ an. 
Enfim, cumpre assinalar que os diferentes determinantes de luminosidade não podem ocupar uma mesma 
classificação. Ou seja, não é possível termos, por exemplo, o C’ como determinante principal e o L como 
adicional - C’ (L) ou, ainda o L com o 1’ em adicional - L(l’) - Nestes casos devemos avaliar com cuidado a 
elaboração da resposta a fim de decidir a melhor opção: desmembrar a resposta ou classificar apenas o 
determinante que alude a um maior desenvolvimento na elaboração da imagem. 
Houve nesta resposta apenas uma classificação uma vez que o examinando suplanta a 
inicial percepção do 1 a partir de sua evolução 
para a percepção do C’. 
Os determinantes L e C’ indicam uma maneira mais amadurecida de reagir 
emocionalmente em função da maior participação do estímulo objetivo na utilização dos 
tons. Em contrapartida, os determinantes 1 e 1’ correspondem à reações emocionais mais 
imaturas. 
 
N° Prancha 
 
17 VII 
P6: ‘ Aqui no meio parece um fumegueiro, uma fumaça bastante encorpada. . .Na realidade, vendo 
melhor, parece uma ilha, ao longe, pegando fogo. Fica aquela imagem preta no fundo, como nos filmes 
de guerra. Isso é um incêndio nas casas simples de pescadores, como acontece nos filmes de guerra, 
quando a paisagem fica toda escura e queimada”: P Ps (C’) pz. 
 
RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁsico 133 
Desta forma, quando temos a partipação de dois determinantes, um mais primitivo e outro mais 
amadurecido, numa mesma elaboração, como no exemplo 17, consideramos apenas aquele mais 
amadurecido, concluindo uma integração do primeiro ao segundo. Ou seja, nesta resposta acima, o 
examinando descreve para o examinador cada fase da construção de sua imagem mental, de modo 
que podemos perceber claramente a passagem do 1, quando o examinador relata a percepção de 
algo encorpado (pois está referindo-se a uma percepção tátil baseada nas características da mancha), 
para o C’, quando o examinador faz sobressair a cor preta, presente nas queimadas vistas em filmes 
de guerra (referindo-se a um padrão emocional aprendido culturalmente). 
Existem, no entanto, respostas que seguem outra dinâmica onde, por exemplo, vários determinantes 
de luminosidade podem estar compondo um mesmo percepto, mantendo uma participação distinta e 
não compensada como o exemplo n°17 demonstra. Nestes casos devemos desmembrar a resposta a 
fim de preservar o mecanismo presente no trabalho mental do examinando. Veja o exemplo a 
seguir: 
N° Prancha 
18. IX P3 + E8: “Dois magos (P3) em volta de uma lâmpada mágica 
(E8) assistindo ao futuro deles. Eles estão muito 
compenetrados. Penso em dois magos por causa dos chapéus 
pontudos e pelas mãos muito compridas segurando a lâmpada 
mágica. Dá até para ver a marca do braço junto ao corpo (L). 
Eles parecem compenetrados por causa da grossa sombrancelha 
franzida sobre os olhos (L), estão com os olhos fixos dentro da 
lâmpada. Disse lâmpada primeiro pelo formato e, depois por 
causa do brilho que emite dela (1’). É um brilho misterioso 
que oculta muitos detalhes da vida dos magos”: 
P F (L) 1-1 V (para os magos) e E F (1’) obj (para lâmpada). 
Nesta resposta, os determinantes de luminosidade ocupam lugares diferentes embora participem de 
uma mesma elaboração. Por esta razão, utilizamos o artificio do desmembramento de resposta a fim 
de explicitar os diferentes dinamismos psicológicos presentes neste percepto. 
134 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
Nota: Os exemplos citados neste capítulo foram adaptados para terem como determinante adjunto 
apenas a forma (F) com o fim de facilitar nossa exposição. Foi feita apenas uma excessão no 
exemplo 17 onde achamos didática a incorporação do ps pelo Ps e do 1 pelo C’. Também ocultamos 
a qualidade formal das respostas de forma para termos a atenção centrada somente no 
esclarecimento da classificação do determinante luminosidade. 
BIBLIOGRAFIA 
COELHO, L. M. 5. - Epilepsia e personalidade - ia ed. São Paulo, 
Ed. Atica, 1975. 
RORSCHACH, H. — Psicodiagnóstico - 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre 
Jou, 1978. 
SILVEIRA, A - Prova de Rorschach: elaboração dopsicograma - ia 
ed. São Paulo, Ed. Brasileira Ltda, 1985. 
 
CONTEÚDO DAS RESPOSTAS 
GISEflE B. PETÍRi M. CosiA 
OEXAME de Rorschach é antes de tudo um método de investigação da personalidade uma vez que 
retrata, através da percepção, o funcionamento dos processos mentais de modo amplo e 
profundo. Coelho, em Fundamentos Epistemológicos de uma Psicologia Positiva (pág. 169), 
sublinha que “a percepçãorepresenta a abertura do homem para o mundo”, lembrando exatamente 
que não se trata apenas do início de um processo de observação e captação das informações 
externas mas, de um trabalho psíquico dinâmico que envolve toda a personalidade. A percepção 
requisita desde o funcionamento cerebral até processos mentais inconscientes, além de modelar suas 
relações com o ambiente físico e social. H. Rorschach em sua obra (pág. 17) assinala: “Na medida 
em que a percepção possa ser considerada como uma integração associativa de engramas com 
complexos recentes de sensações, a interpretação das manchas pode ser considerada como uma 
percepção na qual o esforço de integração do complexo sensorial com o engrama é tão grande que 
se efetua conscientemente como um esforço integrativo”. 
Principalmente Piotrowski e Silveira desenvolveram uma análise deste método de exame psíquico 
pautada na compreensão sistemática dos processos mentais que participam da construção da 
imagem através da percepção. Portanto, a classificação, segundo o modelo de Silveira, deve 
registrar a dinâmica particular do psiquismo em cada percepto de modo que a construção do 
psicograma venha revelar uma estrutura sistematizada e integral da personalidade. Nestes termos, o 
conteúdo da resposta fornecida às manchas representa uma fase final do processo de percepção 
quando o sujeito categoriza sua imagem mental dentro de uma cadeia de significados adotada pela 
coletividade. Ou sej a, o conteúdo é uma codificação de uma experiência única e particular 
li 
136 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 
para um sistema verbal passível de comunicação interpessoal. Enquanto a modalidade corresponde à 
captação seletiva dos estímulos no ambiente e os determinantes representam as elaborações psíquicas, os 
conteúdos apontam para a utilização da linguagem na comunicação. Consequentemente, o conteúdo, dentro 
de uma classificação das respostas às manchas, é a categoria mais sujeita ao controle consciente. 
Por esta razão, na classificação de uma resposta no exame de Rorschach, o conteúdo corresponde à expressão 
verbal daquilo que o sujeito vê nas manchas. Ou seja, na classificação da resposta, o conteúdo assinalado é 
estritamente aquele comunicado verbalmente. Para tanto, servimo-nos de uma tabela de conteúdos onde 
encontram- se listadas as diversas categorias dentro das quais as respostas às manchas se agrupam. 
TABELA 1 — Lista das categorias utilizadas na classificação das respostas de 
Conteúdo 
 
Abrev. Conteúdo Exemplos 
A Figura Animal Cavalo, elefante, pulga, crustáceo 
pA Parte de fig. animal Crina, rabo, pata 
H Figura Humana Pessoa, mulher, Jesus Cristo, saci 
pH Parte da fig. 
Humana Olho, cabelo, braço, cabeça 
ab Abstração Emoções, números, letras, figuras geométricas 
ai Alimento Frutas, carnes, pratos preparados, legumes 
an Anatomia Ossos, músculos, órgãos internos, produtos produzidos pelo corpo como urina, fezes, 
saliva... 
ant Antiguidade Seres ou objetos pré-históricos 
arq Arquitetura Construções, casas, pontes, ninhos, formigueiros, viadutos 
art Arte Pinturas ou esculturas, instumentos musicais ou notas 
bt Botânica Árvores, plantas, folhas, madeira, pau 
ci Ciência Lâmina de microscópio, átomos, bactérias, informações que exigem conhecimento 
científico 
fg Fogo Fogo, fumo, fumaça, explosão 
ggr Acidente geográfico Ilha, rio,montanha 
mp Mapa Mapa do Brasil, da Europa 
ml Referência militar Espada, faca, revólver, foguete 
nat Natureza Agua, areia, pedra, sol 
nv Nuvem Nuvem, bruma, neblina 
obj Objeto Mesa, porta, vaso 
pz Paisagem Sempre que a resposta envolva a construção de uma cena 
ri Religião Crucifixo, hóstia, terço 
sg Sangue Sangue 
sx Sexo Orgãos genitais externos e internos desde que associados à reprodução 
vst Vestimenta Saia, avental, chapéu, bota 
 
RORSCHACH CLíNCO — MANUAL BÁsico 137 
Apesar de contarmos com uma tabela como referencial, é importante, na classificação dos 
conteúdos, analisar o percepto dentro de seu contexto. Consequentemente, algumas dúvidas podem 
surgir pois, muitas vezes, o percepto pode ser entendido dentro de duas ou mais categorias, O 
inquérito, nestes momentos, deve pesquisar qual o sentido mais importante naquela associação para 
uma classificação adequada do conteúdo. Procuramos abaixo selecionar alguns grupos de categorias 
que podem trazer dúvidas, ilustrando, através dos exemplos, o conceito mais exato destes 
conteúdos. Lembramos, contudo, que sempre que as respostas às manchas trouxerem dúvidas 
quanto à classificação apropriada, o inquérito é o único e o melhor instrumento de que dispomos: 
— Conteúdos A e ai (exemplos 1 a 3) 
— Conteúdos A e an ou H e an (exemplos 4 a 11) 
— Conteúdos A e pA ou H e pH (exemplos 12 a 18) 
— Conteúdos A e ci (exemplos 19 e 20) 
— Conteúdos A e H (exemplos 21 a 36) 
— Conteúdos an e sx/ sx e pH (exemplos 37 a 44) 
— Conteúdos an e sg (exemplos 45 a 47) 
— Conteúdos an e ci (exemplos 48 a 51) 
— Conteúdos pz/nat/ggr (exemplos 52 a 60) 
— Conteúdos obj/ ml! art (exemplos 61 a 74) 
— Conteúdos ggr e arq (exemplos 75 a 77) 
— Conteúdos rl e ab (exemplos 78 a 83) 
— Conteúdos ant e art (exemplos 84 a 87) 
— Conteúdos vst e art (exemplos 88 a 90) 
Conteúdos A e ai 
 
N° Pranchas 
 
1. X 
P2 — “Um peixe amarelinho, igual aqueles de aquário, com 
o rabo bipartido assim...e as branquias aqui dos lados...”: P 
FC A 
2. VI 
P1 —“ Sardinha...é bem aquelas sardinhas que se vende em mercado, pelo formato assim aberto...”: P 
F+ ai V 
3. IX P3 — “Um camarão...dessa cor mesmo, quando frito, fica assim dessa cor dourada...”: P FC ai 
 
RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 
Conteúdos A e an/ II e an 
— Neste exemplo, o aspecto anatômico na percepção de “burro” está muito mais presente do que a 
percepção de animal. 
— Quando, no entanto, a percepção de animal imperar, mesmo que de modo desvitalizado, o 
conteúdo deverá permanecer como A 
(Animal) — veja os exemplos 6 e 7. 
N° Prancha 
De maneira semelhante deve-se dar o raciocínio quando o impasse na classificação incluir 
pA ou an e H/pH ou an. Exemplos: 
N° Prancha 
138 
 
N° Pranchas 
 
4. 1 
P2 — prancha na posição lateral - Um burrinho, pelas 
orelhas grandes, pelo porte, parece de quatro patas e o 
formato do corpo...”: 
P F+ A 
5. 1 P2 — prancha na posição lateral — “Parece uma vez que eu 
estava passeando no campo e vi um burro jogado no mato 
. 
 
morto...ele estava assim...sem os olhos, buracos no lugar, os urubus deviam ter comido 
(refere-se às diferenças de tons na altura dos olhos) e sangue pisado pelo corpo todo nestes 
tons mais claros e mais escuros aqui dentro...”: P F+ (1) an 
 
6. VI P3 — “...Uma borboleta...acho que ela está morta porque 
 
está sem cor, sem vida...Tem o corpinho aqui no meio, as 
 
asas laterais...está intacta mas...parece morta, sem vida...”: 
 
P F+ (1’) A 
7. VI 
P4 — posição invertida — “...Parece um cachorro de pelúcia apoiado nas patas traseiras, é daqueles que dá corda e 
ele pula para trás, pelo formato principalmente e pela diferença de tons que faz lembrar os pelinhos...”: P F+ 
(1) A 
 
8. 1 P4 — “...Uma pessoa com as mãos (P 1) para cima...”: 
 
P F+ H V 
 
9. 1 
P4 — “. ..Um cadáver que acabou de ser desfeito, só dá para ver as mãos aqui em está em 
estado de putrefação...”: P F+ an 
desenterrado, 
está 
cima (P 1). Ele 
já 
 
ROSCHACH CLíNico MANUAL BÁSICO 139 
Obs. 1: Ainda neste ítem, cabe discutirmos o conteúdo feto. A resposta de feto deve ser 
classificada como an e não como H uma vez que ainda não apresenta as característica humanas do 
interelacionamento que, de maneira breve, corresponde à interpretação das respostas humanas, a 
ser, em outro momento exaustivamente discutido. 
— Nesta resposta, embora o conceito principal seja tapete, sendo portanto,de utilidade doméstica 
(obj), o conceito de animal encontra- se intrínseco, devendo-se manter, portanto, o conteúdo animal 
(A). O mesmo não se nota no exemplo 13 que, por perder as características animais, o conteúdo 
permanece como objeto ( obj): 
 
N° Prancha 
10. IX P4 + PIO — Uma criançinha sentadinha com a lingua de 
fora...”: 
P F+ H V 
li. IX P4 + PIO — “...Parece direitinho um feto, cabeça grande, 
chupando o dedo, corpinho ainda miúdo e pouco definido...”: P F+ an V 
Conteúdos A e pAI H e Ph 
N° Prancha 
12 VI G — “...Um tapete de pele...Parece tapete daqueles sítios de 
antigamente. ..dá para ver que é bem rústico. ..aqui seriam as 
patas e aqui a cabeça...”: O F+ A V 
 
N° Prancha 
 
13. VI 
P1 — “...Um tapete...pelo formato, sabe aqueles 
antiderrapantes para chuveiro? E sempre assim com esse 
formato irregular, alguns até imitam pezinhos, outros sao 
como estes, apenas irregular...”: 
P F+ obj 
14. V 
PIO — “...É direitinho uma cabeça de jacaré, pelo formato...”: 
P F+ pA 
 
140 RORSCHACH CLiNICO — MANUAL BÁSICO 
Nesta resposta, embora só uma parte do animal esteja sendo circunscrita na prancha, o sujeito o está 
concebendo de maneira integral, 
devendo ser, portanto, classificada com o conteúdo A (animal). 
N° Pranchas 
16. VII P1 “...Parece o rosto de um índio porque dá para ver o 
perfil, a testa, o nariz e a boca com uma pena na cabeça...”: 
P F+ pH V 
17. Vil P9 — “...Uma mulher dançando: a cabeça (P1) com um 
grande coque, a mão virada aqui (p21), a cintura (entre P2 e 
PiO) e o resto do corpo dançando...”: P M+ H V 
18. VIII Parte central de P4 — “...Uma dançarina se preparando para 
entrar em cena atrás de uma porta tipo de bar, sabe aquelas 
que não vão até o final e abre no meio? Vejo o arranjo em 
seu cabelo aqui (p24) parece aqueles enfeites que espanhola 
usa no cabelo, seus pés estão aqui embaixo (p não 
localizado no final de P4) e aqui (lateral superior de P4) 
seus braços se arrumando. Aqui ( p30 é o lugar onde a 
porta vai se abrir...é só começar a música!...”: P M+ (Ps) H 
— De maneira semelhante ao exemplo 15, a dançarina, no contexto da resposta, está sendo concebida de 
maneira integral, não 
sendo coerente notarmos pH. 
Conteúdos A e ci 
 
N° Prancha 
 
15. V 
P4 + P6 — ‘.Parece um veado escondido dentro de umas folhagens ou talvez de uma moita. ..Imagino 
que ele está dentro porque vejo a cabeça com seus chifres aqui (P6), algo encorpado no meio que deve 
ser alguma planta e suas pernas aqui (Pio). Só falei folhagens ou moita porque não sei dizer que 
forma é essa...o corpo de veado não é assim.. .como imagino os veadinhos soltos na mata, penso que 
aqui está desta forma por causa das plantas, deve ter entrado dentro de alguma moita...”: P F+ A 
 
N° Prancha 
 
19. X P8 — “...Uma pulga por ser preta e ter estas patinhas fininhas em um corpinho miúdo...”: P C’ A 
20. X 
P15 “...Lembra bem uma ameba... é disforme, unicelular e 
eucariota. ..além de gelatinosa, lembra esta textura...”: 
P F+ (1’) ci 
 
Conteúdos A e H 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁsico 
Respostas como monstros, vultos, seres ou sincréticas (por 
exemplo, mistura de animal com humano) requerem um inquérito minucioso para que seja 
possível identificar as características, animais ou humanas, que mais fundamentam a 
resposta. Vejam os exemplos a 
seguir: 
— Neste exemplo, o conteúdo mais apropriado é o humano (H) uma vez que a idéia de ameaça, da 
maneira descrita pelo examinando, 
está mais presente na relação interpessoal. 
- Apesar do sincretismo presente na resposta, houve uma identificação com o percepto quanto à 
qualidade humana, prevalecendo 
o conteúdo H. 
 
N° Prancha 
 
21. IV 
G — “...Um monstro andando e arrastando o rabo (?) Ele é 
grande, muito peludo e pesadão. Tem um rabo bem grande 
e aquelas peles grossas e ásperas...”: G F+ (1) A V 
22. IV G — “...Um monstro andando e arrastando o rabo (?) Um pé grandão e os braços abertos 
vindo para cima de mim. Tem um rabo enorme, é um tipo de mutação genética e acho que 
não deu certo...EIe ficou muito agressivo...”: G F+ H V 
23. 1 
P2 — “...Um vulto...não sei...É quando a gente está em um lugar e vê uma sombra se 
aproximando e foge antes de ver vulto de quê...(?) Não sei te dar nenhuma 
descrição, é uma sombra bem vaga...a cor e algum formato de ser...Humano 
ou animal, não sei...”: P C’ H 
 
N° Prancha 
 
24. V 
G — “...Um ser, meio homem, meio animal: Tem o corpo de homem (P7), a asas (P4), orelhas de coelho 
(P8) e pernas de antílope (P9). Tipo uma caricatura da decadência da 
humanidade...”: G F+ H 
 
142 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁsico 
Nesta resposta, ao contrário da anterior, não houve um identificação com o lado humano do monstro mas uma 
percepção ligada ao aspecto animalesco deste ser, ligando-o a um “monstro medieval”, sendo mais acertada a 
classificação A. 
Os conteúdos A e H ainda merecem alguns comentários por serem os mais frequentes na população média e 
apresentarem maior importância para a interpretação da personalidade. Por estas razões, também é o conteúdo 
mais valorizado em uma classificação, sendo, sempre que possível, enfatizado na notação da resposta. Vejam 
os exemplos: 
N° Prancha 
26. X metade de P6 — “... Um cachimbo em madeira esculpida. Tem a 
forma de cachimbo com aquela parte mais gordinha na ponta e 
aquela mais comprida que vai à boca na extremidade. No cachimbo 
esculpiram o corpo de unia mulher. As pernas na parte coniprida 
e a partir dos braços fica mais largo e côncavo de modo a se colocar 
o fumo dentro, ficou bonito.., O cachimbo é a mulher inteira...”: 
PF + H 
27. VIII P1 —“... Parece aqueles brinquedinhos de plástico que vem dentro 
de ovos de páscoa, é comum vir estes bichinhos, por causa da 
forma e da cor : P FC A V 
28. III P1 — “...É o simbolo da união, uni desenho de um homem e uma 
mulher de mãos dadas : P F + H V 
29. Vil P3 — “... Unia nuvem com formato de cabra porque o jeito lembrava 
nuvem, mas depois vi que o fomiato é de cabeça de cabra...”: PF - pA 
- A classificação inicial seria” P ps nv ‘ mas durante o processo associativo , a imagem de nuvem foi 
transformada em uma imagem animal. Nestes casos o que prevalece é a imagem final e, portanto, parte 
animal (pA). 
 
N° Prancha 
 
25. IV 
G — “...Bicho com um pé desproporcional, com o corpo em tripé. A cabeça é de naja (P3), o corpo (G) é 
de geléia, bem desfigurado e parece embolorado, meio pegajoso, os braços (P4) são cobras e os pés 
(P6) são humanos. Não sei explicar que ser é esse, um bicho tripé, um monstro medieval...”: 
G F+ (1’) A V 
 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 43 
Enfim, as figuras humanas ou animais podem ser percebidas de forma real ou distorcida, podem ser 
fantásticas, idealizadas ou desfiguradas, podem ser desvitalizadas ou dinâmicas tendo sempre preservado seu 
conteúdo H ou A. Vejam alguns exemplos: 
N° Pranchas 
31 III P1 — “...Duas mulheres cozinhando em um tacho...”: 
P M+ H V (H realista) 
32 III P3 — “...Uma borboleta voando...”: P m+ A V (A realista) 
33 1 G — “...Tipo de um anjo com asas e mãos erguidas.. também 
pode ser uma fada fazendo magia com as mãos...”: G M+ H 
V (H fantástico) 
34 X PIO — posição invertida — “...Um cavalo voador, vejo a 
frente do cavalo aqui (P5) correndo em minha direção...só 
que ele tem asas (P4) e, portanto, está voando em minha 
direção...”: P m- A (A fantástico) 
35 1 P4 — “...Uma boneca, pelo contorno do corpo, com aquelas 
saias bem redondas e os braços esticados assim para frente, 
parece aquelas bonecas que eu tinha quando criança...”: P 
F+ H V (H desvitalizado) 
36 X P1 — “...Parece o signo de câncer porque o símbolo dele é 
um caranguejo...Olhando ele assim...parece feito de estrelas 
no céu, distante...formando várias patinhas, é um 
caranguejo feito de estrelas...gostomuito de horóscopo...”: 
P ps A 
Conteúdos an e sxl sx e p11 
Para o conteúdo anatomia ( an), notamos os órgãos internos do 
corpo, os produtos do corpo (tais como urina, fezes, saliva etc) e 
perceptos que incluem a percepção de doença ou ferimento. 
Para o conteúdo parte humana (pH), consideramos partes 
externas do corpo humano. 
 
N° Prancha 
 
30. X 
P14 — “...Aqueles troféus que é uma estátua de figura 
humana...E bem comprido e tem uma forma definida de 
corpo humano, parece os troféus do óscar, não perco um...”: 
P F+ H 
 
144 ROPSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
Para o conteúdo sexo ( sx), referimos aos órgãos sexuais ou qualquer percepção que envolva a idéia de 
procriação ou interesse sexual. Assim sendo, os órgãos internos ligados a um destes interesses deve ter seu 
conteúdo mais ligado a sx do que a an, assim como os órgãos ligados à sexualidade tem seus conteúdos 
ligados a sx e não a pH. 
N° Pranchas 
37. X P11 — “...Um pênis ereto (P14) e os testículos (P8) dos 
lados, pelo formato...”: P F- sx 
38. IX P3 — “...Olhando assim, lembra bem os pulmões, pelo 
formato e um de cada lado...”: P F- an 
39. IV G — “...Um útero (G) com as trompas aqui (P6)...Lembra 
bem a parte interna da mulher...”: G F- sx 
40. IV p30 — “...Aqui parece o ánus, só pela aparência...”: p F+ sx 
41. VIII P2 — “...Parece o tórax de uma mulher, os peitos aqui (P6), 
bem opulentos...”: P F- sx 
42. VI P1 — “...0 peito de uma pessoa muito magra, aqui (eixo 
central) o osso esterno e aqui (refere-se às diferenças de 
tons) as peles sobrando, por isso eu disse que é uma pessoa 
muito magra...”: 
P F- (1) pH 
43. X P3 — “...Parece a campainha na garganta e as amígdalas dos 
lados...E igualzinho quando a gente abre a boca e enxerga 
lá no fundo...Aqui também parece fundo, não sei porque...Acho que é porque é pequenininho...Parece 
amígdala e a campainha por causa do formato e da cor também...”: P FC pH 
44. X P3 — “...Me faz lembrar quando minha filha tirou as 
amígdalas.. .0 médico pôs um negócio parecido com esse 
num vidrinho e mostrou para a gente...Não lembro do 
formato direito, lembro que era vermelho e me deu calafrios 
na espinha...”: P CF (1’) an 
Conteúdos an e sg 
Embora o sangue seja um produto interno corporal, seu significado raras vezes aponta para uma preocupação 
ou interesse proprioceptivo, estando mais ligado aos impulsos mais básicos da personalidade. Nestes termos é 
importante, discriminarmos o contexto onde o conteúdo sangue aparece. Os exemplos a seguir ilustrarão esta 
diferença: 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 145 
N° Pranchas 
45. 11 P2 — “...Parece uma mancha de sangue, parece que caiu no 
chão e ficou esta marca espirrada...”: P CF sg 
46. X P9 - “...Sangue coagulado, parece alguma doença grave, 
tipo o Ebola que estoura tudo por dentro, deve ficar assim 
esse sangue coagulado, por ser vermelho e ter umas áreas 
mais escuras mostrando onde está coagulado...”: P CF(l) an 
47. II P1 + P2 - Uma pessoa caída ao chão, deve estar ferido, 
deve ter sido um acidente de moto (?) pela posição dele no 
chão com o corpo largado e os braços esticados (P4) Aqui 
(P2) é o sangue saindo da cabeça dele por ser vermelho e 
quando eu olho tenho até a sensação da poça estar 
crescendo, aumentando de volume...”: P F+ H 
P CF ( m’) sg 
Obs. 2: Independentemente de anatomia, a resposta ciência é assinalada sempre que, para sua elaboração, o 
sujeito se valer de um 
conhecimento específico. Veja o exemplo a seguir: 
N° Pranchas 
 
Conteúdo an 
e 
ci 
N° Pranchas 
 
48. VIII 
P3 — “...É certinho uma coluna vertebral com as costelas aqui dos lados...”: P 
F+ an V 
49. V 
metade superior de P5 P6 — “...Um mesencéfalo. (?) Porque tem quatro colículos aqui. 
Se você fizer um corte na altura da emergência do nervo óculo-motor e 
olhar o mesencéfalo no sentido rostral-caudal, a gente vê assim. ..os quatro 
colículos. O local exato do mesencéfalo é mais ou menos aqui, é impreciso. 
Mas a semelhança com esta figura é incrível, o formato, a disposição e a 
distância entre eles...”: P Fo ci 
 
50. VII P4 — “...Uma roda hidráulica. As turbinas são movidas a 
 
água ou a vapor e estão conectadas a um gerador para 
 
produzir a energia elétrica. Nesta composição de máquinas 
 
tem uma roda hidráulica parecida com esta...”: P F- ci 
51. X 
P14 — “...Um tubo de ensaio, pelo formato comprido e pela 
largura, é direitinho...”: 
P F+ ci 
 
146 ROSCHACH CUNCO — MANUAL BÁsico 
Conteúdo pzlnatlggr 
Consideramos o conteúdo paisagem (pz) sempre que houver 
uma construção de uma cena. Esta cena pode incluir aspectos da 
natureza ou não. Veja os exemplos: 
N° Prancha 
— Nesta resposta a fumaça (ps) está integrada na construção de uma perspectiva maior e com forma definida 
(Ps), não sendo necessário 
computá-la. 
O conteúdo natureza implica a percepção de fenômenos ou propriedades comuns ao habitat natural como 
areia, terra, água, enchente, eclipse e assim por diante. Destes, isolamos como uma categoria à parte os 
conteúdos bt, fg, nv em função da peculiaridade dos interesses a eles correspondentes. 
N° Pranchas 
53. VII G — “...Parecem pedras, umas sobre outras. Pelo formato 
principalmente do modo como estão sobrepostas...”: G F+ 
nat 
54. VI G — “...Eu me lembro de quando morava no Canadá...às 
vezes vazava na garagem um pouco de gelo, derretia e 
depois endurecia de novo e ficava assim, com essa 
tonalidade. A gente pegava uma pá e descolava ela do chão, 
era muito legal...”: G 1 nat 
55. IX P5 — “...Parece água, tipo torneira aberta, fica escorrendo 
água assim direto, um desperdício...por ser assim comprido 
e sugere o movimento da água, não vejo a torneira, só a 
água...”: Pm’nat - - 
 
52 G — prancha na posição lateral - Aqui parece um gordão de 
moto (P1), andando numa estrada de terra (P3) porque é 
comprida e laranja, cor de terra mesmo, à beira de um rio de 
forma que aqui (na parte debaixo) reflete a imagem toda. 
Aqui é a fumaça que sai da moto dele. Deve estar frio e a 
fumaça (P4) aparece mais...”: 
G Ps pz 
P M+ H 
P CF nat 
 
RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 47 
O conteúdo geográfico (ggr) aponta para uma percepção mais ligada aos acidentes físicos 
da natureza. Neste sentido, enquanto água é categorizado como nat, rio é compreendido 
entre os conteúdos ggr, diferenciando ambos de pz. Compare os exemplos de nat acima 
com os de ggr abaixo: 
— Apesar desta resposta referir-se a uma visão geográfica, houve uma construção de elementos 
diferentes compondo uma cena e, 
portanto, predomina o conteúdo paisagem (pz). 
Obs. 3: Quanto à percepção dos acidentes geográficos, os mapas ocupam uma categoria à 
parte, como demonstra o exemplo. 
 
N° Prancha 
 
56. VI 
P3 — “...Geysers, sabe aqueles furos que se formam no chão e sai aqueles vapores fervendo do subsolo? 
Então, eu vi muitos desses no noroeste dos Estados Unidos, no estado de Wyoning em um parque 
chamado Yellow Stone, é muito legal. Este aqui está espirrando água fervendo por causa destas pontas 
e todo o movimento que ele sugere. Quando espirra também sai muito vapor (P3) por causa do tom 
desta figura que envolve o jato de água aqui no meio (eixo central)...”: P m’(ps) nat 
 
N° Pranchas 
 
57 VII 
GE — posição invertida — “...A entrada de uma caverna. Um buraco (E) cavado em pedras fortes e 
antigas como estas...”: 
GE F+ ggr 
58 VI P1 — “...O Grand canyon. O vale muito profundo lá embaixo (P12) e as rochas altíssimas aqui em cima. 
A diferença de tons aqui no meio (P12) me ajudou a ter a idéia de que era um vale...”: P Ps pz 
 
N° Prancha 
 
59. IX 
E8 — “...Um azuizinha e 
qu 
lago 
ase 
tr 
por 
ansp 
ser 
aren 
arredondado e ter essa água te...”: p CF (1’) 
ggr 
 
N° Prancha 
 
60. VII P1 P F — “...Parece o mapa da América do Sul, peloformato...”: 
- mp 
 
148 POPSCHACH CiJNIc0 — MANUAL BÁSICO 
Conteúdos obj/ mil art 
Embora estes três conteúdos possam trazer dúvidas no momento 
da classificação, seus significados são bastante distintos: 
— O conteúdo obj (objeto) diz respeito a uma categoria de utilitários práticos e rotineiros como lápis, panela, 
travesseiro. 
— O conteúdo ml (referência militar) demarca instrumentos de agressão ou de ordem militar 
— O conteúdo art (arte) reporta-se a objetos que não tem um valor prático mas que são adornados pelo Homem. 
Podem ser percebidos como feios ou bonitos pelo sujeito. Os exemplos a seguir esclarecerão estas diferenças: 
N° Pranchas 
61. IX P4 — “...Uma âncora. Pelo formato e pelas marcas de 
ferrugem que dá essa diferença de tons...”: P F+ (1) obj 
62. IX 
P4 — .. .Uma ancora. Pelo formato, me faz lembrar aqueles 
enfeites náuticos. Acho bonito tudo que se refere ao mar, 
aqueles nós de marinheiro, navios super detalhados e 
âncoras deste tipo. ..Tenho vontade de decorar minha casa 
inteira assim...”: P F+ art 
63. ‘ P5 — “...Uma fac a...parece um punhal e uma lâmina 
acima...só pelo formato...”: P F- ml 
64. VII P5 — “...Urna faca, meu pai fazia sempre churrasco nos fins 
de semana e tinha uma faca que gostava mais do que outras, 
era mais adequada para cortar carne, era parecida com 
esta...”: P F- obj 
65. II ES — “...Um foguete da NASA, está subindo alcançando o 
espaço...”: E m’ ml 
66. II ES + P6 — “...Um avião de passageiros (E) voando no meio 
das nuvens (P...”: E (P) m’ (ps) obj 
67. II ES — “...Um abajour aceso. Pelo formato da cúpula e pela 
luz que irradia...”: E F+ (1’ ) obj 
68. II ES — “...Um leque aberto, é a forma direitinho, daqueles 
espanhóis que se pendura na parede, decorativa..”: P F+ art 
69. VIII P5 —“...Uma bandeira verde balançando ao vento...”: P m’ 
(FC)art 
70. IX E8 — “...Aqueles vasos rústicos que os índios fazem, assim 
circular e bem artesanal, pela forma...”: P F+ art 
PORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 149 
Obs. 4: Na categoria art muitas vezes encontramos a resposta “máscara”. No entanto, é necessário que o 
inquérito revele realmente a percepção de um adorno e não uma forma de se referir a uma expressão mais 
marcante. Veja os exemplos: 
Conteúdos ggr e arq 
O conteúdo arq (arquitetura) diz respeito a toda construção que requeira habilidades especiais por 
parte do construtor, ou seja, não é encontrada pronta na natureza. Desta forma, enquanto baía é 
conteúdo ggr, um canal para navios passarem é conteúdo arq. Igualmente, é considerado conteúdo 
arq construções feitas por animais como ninho, teia ou similares. 
N° Pranchas 
 
N° Pranchas 
 
71. VIII 
G — “...Um escudo, pelo formato e pelas cores. Não estou pensando naquelas armas defensivas de 
antigamente. Estou pensando naquelas figuras em forma de escudo mas que servem de brasão, 
representando uma família ou um clube sabe? Geralmente estes escudos são bastante coloridos e tem 
letras simbolizando algo. Tenho a impressão de letras aqui (p sem localização dentro de P5) por serem 
mais escuras..,”: G FC (L) art 
72. VIII 
G — “...Um escudo. Aquelas armas de antigamente. Tinha a lança e o escudo. Hoje a gente só vê em 
museu e é bastante decorativa...”: G F+ art 
 
N° Pranchas 
 
73. 1 
GE — “...Uma máscara. É uma máscara de carnaval. Aqui (P7) as cordinhas para amarrar 
atrás e na frente ela tem quatro olhos para assustar os outros. ..Acho que está mais para 
Halloween do que para carnaval...”: GE F+ art 
74. 1 
GE — “...Uma máscara. Tem cara de malvado...Acho que 
por causa destes olhos assim para cima e uma boca com um 
sorriso malévolo. Deve ser uma pessoa ruim...”: GE F-F pl-I 
 
75. IV G — prancha na posição invertida - “... Uma fonte. Aqui (P1) é a 
água espirrando para cima, aqui (P6) são os adornos em volta da 
fonte e o resto é a fonte de pedra escura por isso disse granito...”: 
G Ps (m’) arq 
 
150 RORSCHACH CLENICO — MANUAL BÁSICO 
Conteúdos ab e ri 
O conteúdo ab (abstração) refere-se a conceitos construídos como forma de representação genérica, quer 
envolvam sinais, como conceitos matemáticos, números ou figuras geométricas, quer sentimentos e emoções. 
No conteúdo ri (religião) inclui-se objetos utilizados na prática religiosa qualquer que seja. Por esta razão, 
figuras religiosas como Cristo, por exemplo, são consideradas como conteúdo humano (H). A idéia de Deus, 
por outro lado, é entendida dentro da idéia de conteúdo abstrato (ab). Vejamos os exemplos: 
N° Pranchas 
78. 1 E30 — “...Nossa Senhora caminhando meio de costas com 
seu manto branco, vejo os seus pés aqui na frente...”: E M (C’)H 79. VI G “...Um andor, aqueles suportes de 
transportar imagens de 
santas nas procissões, pelo formato. Aqui nas pontas as 
pessoas pegam e colocam sobre os ombros...”: G Fo ri 
80. IX E8 — “...Uma benção divina...Não sei por que...acho que 
essa tonalidade azul brilhante parece um banho de 
tranquilidade sobre nossas cabeças, parece a presença de 
Deus...”: E C (1’) ab 
81. II P3 — “...Uma mancha de tinta caída no chão, pelo vermelho 
e pelo formato assim espirrado...”: P CF ab 
82. X P3 — “...Parece a letra “V” pelo formato...”: P F- ab 
83. VIII G — “...A paz pelas cores... eu acho que o que faz falta na 
vida das pessoas é um pouco de cor. Se todos pudessem ver 
o colorido das próprias vidas, teria mais paz e as pessoas 
não precisariam perturbar a vida dos outros...”: G C ab 
 
N° Pranchas 
 
76. IV 
G — “...Uma montanha e aqui (P5) uma queda d’água. A 
água cai com fúria apesar de estreito, cai de alto porque é 
fino na ponta e largo embaixo dando uma impressão de 
altura...”: G m’ ggr 
(ângulo de visão) 
77 IV 
G — prancha na posição invertida “...Uma casinha de João de barro porque fica assim tipo uma 
montanhinha e é escuro sugerindo terra...”: G C’ arq 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 151 
Conteúdo ant e art 
O significado fundamental da categoria “antiguidade” (ant) é o interesse por realidades pré-históricas, 
correspondendo assim a conteúdos tais como dinossauros, fósseis, utensílios comuns na pré- história, como 
por exemplo na época da idade da pedra lascada e assim por diante. 
Secundariamente, podemos incluir nesta categoria alguns 
conteúdos que expressam interesse pela cultura da Antiguidade como 
é o exemplo do pergaminho. 
Deve-se tomar cuidado com protocolos de crianças onde a resposta dinossauro tem uma outra conotação dada 
a frequência destes animais em desenhos ou histórias infantis. Neste caso, seu significado aproxima-se mais 
do conteúdo animal (A) do que antiguidade (ant). 
N° Pranchas 
84. 1 P4 — “...Nossa! Lembra tanto uma Trilobita. As Trilobitas 
foram um dos primeiros seres vivos a habitar a Terra, lá 
pelo período cambriano. Parece pelo formato e também 
pela cor porque a gente só tem notícia dela pelos fósseis né? 
E, fóssil é, em geral, dessa cor...”: P C’ ant 
85. VIII metade de P5 — “...Um papiro, pelo formato de papel só que 
com as bordas irregulares e... estas diferenças de tons me 
fazem lembrar aquelas tramas que ficam impressas na 
superfície do papiro, daqueles originais, é claro porque hoje 
em dia tem muita falsificação...”: P F+ (1) ant 
86. VII PIO — “...Aqueles achados pré-históricos...pontinhas de 
lança, pedras para corte...sabe o que eu quero dizer? Esta 
parte aqui (PIO) parece aquelas pedras dos homens pré- 
históricos que a gente vê em museu, pelo formato...”: 
P F+ ant 
No entanto, objetos antigos que guardam atualmente um valor 
decorativo tem seu conteúdo ligado a arte. 
 
N° Prancha 
 
87 IV 
P4 + E — “...Aqui me faz lembrar uma harpa, sabe aquele instrumento de cordas triangular super usado 
na idade média? Então aqui (P4) é a moldura e dentro (E) imagino as 
cordas...”: P (E) Fo art 
 
152 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 
Conteúdos vst e art 
— Ofornecidas na 
fase associativa de realização do Rorschach, a autora informa sobre o modo de encaminhar o 
inquérito, procedimento fundamental para a classificação correta das respostas. 
A PRiMEIRA PARTE 
Símbolos e Critérios de Classificação — é composta por cinco capítulos que abrangem os 
diferentes componentes a serem codificados nas respostas aos estímulos do Rorschach: as 
modalidades de organização do campo perceptual, as categorias de fatores 
determinantes das respostas, o conteúdo verbal correspondente à diferentes tipos de 
categorização semântica das imagens e, quando for o caso, o registro da freqüência da 
resposta (Vulgar ou Popular). 
O capítulo 1— Localização das Respostas: Modalidades de Observação — refere-se ao modo 
com que os examinandos percorrem o olhar, distribuindo sua atenção nas diferentes áreas que 
compõem os estímulos nas diferentes pranchas do Rorschach, durante a organização do campo 
perceptual. A autora, Vanda Cianga Ramiro, após esclarecer a distinção entre as categorias 
principais e secundárias de localização, expõe em seu texto os critérios para a classificação das 
diferentes modalidades de respostas, apresentando exemplos que facilitam a compreensão do leitor. 
Os capítulos II, III e IV abrangem as diferentes categorias de fatores determinantes, cada uma 
delas representando os processos psíquicos subjacentes ao modo com que o examinando mobiliza 
seus recursos subjetivos para a construção de diferentes imagens. 
Cabe aqui uma breve referência às concepções de Silveira na identificação de categorias de 
determinantes como expressões paradigmáticas do processamento psicológico de experiências 
individuais, pela ativação dinâmica de diferentes sistemas e funções definidos por um modelo 
teórico de personalidade. 
No modelo de Silveira, as funções psíquicas organizam-se em 
sistemas dinâmicos e evolutivos que permitem a distinção teórica de 
três setores da personalidade: afetividade, conação e inteligência. No 
RORSCI-IACH CLiNico — MANUAL BÁSICO 15 
Rorschach, cada série de fatores determinantes irá traduzir a expressão predominante de sistemas de 
uma ou mais esferas da personalidade (sistemas intrínsecos ou extrínsecos). Os fatores de cada série 
de categorias determinantes referem-se aos diferentes níveis de amadurecimento das funções 
psíquicas mobilizadas durante a prova (critério diacrônico) enquanto que cada categoria representa 
um setor específico da personalidade, na expressão da dinâmica atual do psiquismo (critério 
sincrônico). 
Assim, a série de respostas de forma indica o modo e a extensão com que o examinando mobiliza os 
recursos conativos ao examinar as condições do ambiente externo e a ele subordinar as próprias 
condições subjetivas e necessidades afetivas. Pelo fato de refletir a aplicação da inteligência ao 
exame da realidade, as respostas de forma exprimem dinâmismos de ordem conativa e 
extrinsecamente intelectuais. 
As séries de respostas de movimento e de perspectiva traduzem processos cognitivos de diferentes 
ordens: aqueles que correspondem à elaboração de concepções autônomas e criativas do indivíduo, 
desenvolvidas nas diferentes fases de amadurecimento psicológico (RM) e aquelas que dependem 
da experiência concreta relacionada à concepção subjetiva da posição espacial, tendo o corpo como 
parâmetro referencial (RPs). Enquanto as RM correspondem à processos de ordem basicamente 
cognitivos, as RPs implicam necessariamente a integração das funções cognitivas e conativas. 
Os determinantes das séries cromática e de luminosidade representam experiências de ordem 
afetiva. Enquanto as RC traduzem a expressão de impulsos afetivos primários ligados à 
sobrevivência e de sentimentos complexos decorrentes das experiências interpessoais, as RL 
decorrem de imagens suscitadas pelo interesse afetivo, mas que resultam de noções ou de 
concepções cognitivas que provocam intensa repercussão emocional: processo de ordem afetivo-
cognitivo. 
A distribuição dos 
diferentes fatores, em 
cada série de categorias 
de determinantes do 
Rorschach, acha-se sintetizada 
na figura do 
tetraedro desenhado por 
Silveira. 
m 
?1 
lá ROPSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 
O capítulo II — Determinante Formal (RF) - examina a atuação das funções conativas que 
presidem a estabilização da atenção para o julgamento das condições do ambiente externo e o 
controle coordenado dos impulsos subjetivos mobilizados durante o trabalho mental. Neste capítulo 
as autoras Carla Anauate e Maria Inês Falcão expõem os critérios adotados para a classificação das 
respostas determinadas pela forma dos estímulos selecionados nas manchas de Rorschach. 
Estabelecem ainda a distinção necessária entre diferentes propriedades no processo de estruturação 
formal das imagens: 
qualidade formal (F+,F-,F), nitidez e precisão da forma percebida (precisa, esquemática, vaga) e 
tipos de atuação dos processos cognitivos e emocionais na expressão dominante do processo 
conativo responsável pelo reconhecimento dos padrões formais da resposta (concreta, especial e 
dinâmica). Os exemplos de RF elucidam a distinção entre estes diferentes tipos de RF. 
O capítulo III — Determinantes Cognitivos - abrange duas categorias distintas de fatores que 
correspondem à expressões diversas 
do processamento cognitivo das experiências. 
Assim, o ilem III.] — Determinantes da Série Movimento (RM) - refere-se ao processo 
cognitivo em que são evocadas imagens em movimento e que resultam da elaboração intrínseca de 
experiências fundamentais ao examinando durante o processo de desenvolvimento da auto-
afirmação nas relações interpessoais. Esse tipo de trabalho mental implica em maior grau de 
abstração e raciocínio dedutivo intimamente associado à concepção temporal das experiências. 
Neste texto, Flavia Aparecida Chammas expõe os critérios utilizados para a classificação das 
diferentes categorias de RM (M, m, m’) propondo exemplos que elucidam a expressão do processo 
cognitivo representado em cada tipo de imagem. A autora indica ainda a distinção entre dois tipos 
principais de movimento (extensor e flexor) e assinala a exigência da avaliação da qualidade formal 
das RM, como informação valiosa para a análise do processo mental examinado. Na parte final 
deste texto acha-se reproduzida a “Escala de Graus de energia de movimento”, adaptada por 
Silveira à partir da concepção de Piotrowiski. A avaliação do grau de energia mobilizado para a 
realização do movimento correspondente à imagem mental evocada pelo examinando apenas deverá 
ser interpretada quando, em um protocolo, houver um número superior à três RM, abrangendo pelo 
menos duas categorias diferentes 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 17 
O item III. 2 — Determinante Perspectiva- examina uma outra ordem de processos cognitivos: 
aqueles que expressam a concepção espacial das construções elaboradas pelo examinando. Nesse 
caso a coordenação dos elementos, distribuídos segundo uma vertente espacial, depende da 
intervenção conjugada das funções conativas, ou motoras, diretamente associadas na noção 
subjetiva de orientação espacial, e a elaboração cognitiva da imagem correspondente. Trata- se 
portanto de um processo cognitivo-motor, abrangendo sistemas de diferentes setores da 
personalidade. 
Neste texto, Giseile B. Petri M. Costa examina os diferentes níveis de construção da noção espacial 
(Ps, ps, ps’) indicando o critério para a classificação das respostas correspondentes à cada nível. De 
modo a distinguir a importância do fator espacial na elaboração de diferentes tipos de RPs, a autora 
se detém na análise dos exemplos por ela mencionados. 
O capítulo IV — Determinantes Afetivo-emocionais - abrange as duas séries de fatores 
determinantes que correspondem à expressão 
da afetividade: RC e RL. 
O item IV] — Determinantes Cromáticos - expõe os critérios adotados para a classificação de 
uma respostaconteúdo vestimenta (vst) implica a designação genérica de peças do vestuário. No entanto, não raras 
vezes, o examinando faz menção a uma representação artística das roupas, merecendo, nestes casos, o 
conteúdo arte (art). 
N° Pranchas 
88 III P3 — “...Um laço de fita vermelho, pelo fomato com o 
nózinho no meio e as laterais uniformes...”: P FC vst 
89 II P2 — “...Um turbante daqueles que os árabes usam na 
cabeça. Estes traços aqui no meio mais escuros e mais 
claros dá a impressão que é onde os tecidos se 
encontram...”: P F+ (1) vst 
90 X P9 + P6 — “...Parecem aquelas roupas majestosas dos 
reis...Um manto vermelho todo bordado. Como gostavam 
de roupas trabalhadas! O cinturão azul no meio. E daquelas 
roupas que a gente vê em filmes de reis e rainhas ou em 
museus, cheios de... talvez de pedrarias no cinturão. Tenho 
a impressão de bordado pela diferença de tons aqui no 
vermelho e, pensei em pedrarias no cinturão porque é mais 
carregado de azul de um lado do que do outro, penso que na 
parte que dobra para fechar atrás não pode ter tantas pedras, 
devem ser safiras azuis, lindíssimas...”: P FC (1) art 
Em função da riqueza do método de Rorschach é impossível agruparmos todas as possíveis discussões que 
possam surgir na escolha do conteúdo mais adequado na resposta. Agrupamos aqui aquelas mais comuns, 
procurando conceitualizar de maneira mais rigorosa o seu significado. Contudo, gostaríamos, mais uma vez 
de lembrar a importância do inquérito para tirar as dúvidas de classificação no momento da aplicação. 
Gostaríamos ainda de sublinhar que na notação do conteúdo é importante atentarmos para os dois valores que 
se cruzam em dinâmicas muito peculiares, o valor da linguagem na comunicação interpessoal 
— fundamental na classificação e análise quantitativa (tabela 1) — e o valor do estímulo afetivo delimitando as 
áreas de interesse — importante na análise qualitativa (tabela 2): 
• O valor da linguagem na comunicação interpessoal está implícito em cada categoria de conteúdo. Os 
conteúdos listados na tabela 1 
RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 
resumem os interesses expressos na linguagem comum, específico da codificação grupal. A função 
primordial da linguagem é a comunicação e, para tanto, o conteúdo deve destacar a idéia ou o 
conceito a que determinada resposta refere-se. 
O valor do estímulo afetivo delimitando as áreas de interesse. 
Para tanto, devemos nos reportar à construção da imagem em cada associação, abstraindo um 
campo de interesses mais particular. Coelho (2) assinala que” o estabelecimento da noção, a partir 
da captação dos dados externos, sofre a necessária interferência de um determinado tipo de 
expectativa que nos leva a formular uma ou mais hipóteses sobre o significado ou a categoria 
daquilo que percebemos”. Deve-se, para tanto, verificar a especificidade de cada resposta no tocante 
à qualidade do interesse afetivo inscrito na motivação do trabalho mental: mais ligados às 
necessidades afetivas primárias, socialmente mais diferenciados, de caráter intelectual 
culturalmente diferenciados ou concernentes às preocupações cotidianas ou vagas (tabela 2). 
Muito embora, a utilização, na categorização da resposta, de um rótulo socialmente estipulado 
diminua a ênfase da expressão pessoal, a adequada classificação nos permite caracterizar os tipos de 
interesses conscientes que o sujeito dispõe. A classificação dos conteúdos na Escola de Silveira 
atém-se, assim como já propunha Hermann Rorschach, à verbalização manifesta do examinando. 
Como, no entanto, a verbalização do sujeito alude à adaptação de um interesse pessoal a um sistema 
de codificação social, é fundamental que se tenha, no momento da atribuição de um conteúdo a uma 
resposta ao Rorschach, uma tabela de categorias cujas definições sejam bem claras e definidas. Ou 
seja, cada categoria deve em si representar um grupo de interesses delimitado ao qual a resposta 
pode ou não se enquadrar. Não basta termos uma estatística simples dos conteúdos mais fornecidos 
se várias destas respostas encerram o mesmo o grupo de interesses. Neste sentido, a multiplicidade 
de conteúdos ao nosso ver torna-se redundante. Por exemplo, a resposta de raio X tantb pode se 
enquadrar no conteúdo de anatomia (an) — representando uma preocupação somática — quanto referir-
se a um interesse científico, devendo ser notado como ciência (ci). Da mesma maneira, não 
fazemos, no momento da classificação, diferença entre o H ( figura humana) ou o A (figura animal) 
real ou fantasioso, como muitos autores defendem, 
153 
154 PORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 
pois todos os conteúdos, depois do cálculo e no momento da interpretação, merecem uma análise 
mais cuidadosa e em relação ao resto do psicograma e na sua peculiaridade. Esta análise deve ser 
cuidadosa e atenta ao contexto do psicograma de um modo geral pois embora cada conteúdo 
represente um grupo específico de interesses, as suas relações com a estrutura e a dinâmica da 
personalidade em questão guarda importante singularidade. Conteúdos de igual valor no sistema de 
codificação grupal, por exemplo religião (ri), pode representar diferentes níveis de interesse 
afetivo. Assim sendo, apesar de apresentarmos por hora uma tabela para fins didáticos (tabela 2), a 
interpretação dos interesses de cada um deve seguir outros cuidados e critérios que serão melhor 
discutidos em um outro trabalho dirigido à interpretação dos resultados. Nosso objetivo no presente 
momento encontra-se centrado no trabalho de classificação e este tipo de análise deve ser feita 
qualitativamente. 
Tabela 2 — Distribuição dos conteúdos em grupos específicos de 
interesse 
A compreensão mais profunda e singular de cada conteúdo só pode ser alcançada correlacionando-o 
com as modalidades e determinantes que participaram do processo de percepção. O significado 
latente do conteúdo explícito deve ser revelado através do estudo de suas relações com os dados 
gerais do psicograma. Entretanto, é digno de nota assinalar que na Escola de Silveira não se estuda 
isoladamente o conteúdo verbal que ignora o processo de percepção e elaboração da imagem. 
Silveira concorda com os preceitos de Piotrowski e Mucchielli entre outros, entendendo a 
interpretação simbólica dos conteúdos das respostas arbitrária e muito perigosa, apesar de não negar 
o seu valor projetivo. Assim como não tem sentido interpretar os sonhos baseado em um dicionário 
de sonhos, é descabida a atribuição abusiva de significados simbólicos a cada categoria de 
conteúdos ou a cada prancha. 
 
Grupos de interesse Conteúdos Expectativa 
Interesses centrais 1-1 + pH + A + pA + 
an 75% 
Necessidades afetivas primárias an, fg, sg, mi, sx 
. 
25% distribuídas em pelo menos três 
categorias 
Socialmente mais 
diferenciados 
ri, ant, art 
Preocupações cotidianas e vagas vst, obj, pz, nat, bt 
 
PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 155 
BIBLIOGRAFIA 
COELHO, L.M. S. — Epilepsia e personalidade - ia ed. São Paulo, 
Ed. Atica, 1975. 
COELHO, L. M. S. — Fundamentos Epistemológicos de uma 
Psicologia Positiva - ia ed. São Paulo, Ed. Atica, 1982. 
RORSCHACH, H. — Psicodiagnóstico - 8 ed. São Paulo, Ed. Mestre 
Jou, 1978. 
SILVEIRA, A. — Prova de Rorschach: elaboração do psico grama - 
ia ed. São Paulo, Editora Brasileira Ltda, 1985. 
 
ELABORAÇÃO DO PSICOGRAMA 
LuciA MARiA SÁLviA COELhO 
DE modo a sistematizar os resultados da prova, distinguimos, para o 
protocolo total e, separadamente, para os conjuntos de pranchas monocromáticas e cromáticas, três 
áreas principais: TIPO DE 
TRABALHO MENTAL, FEITIO DE PERSONALIDADE E 
CATEGORIZAÇÃO VERBAL DAS EXPERIÊNCIAS no caso, o 
CONTEUDO deverá ser examinado em função dos dados das áreas 
anteriores. 
1 - TIPO DE TRABALHO MENTAL 
A análise do tipo de trabalho mental abrange os dinâmismos presididos pelas funções cognitivas, 
nos diferentes níveisde processamento das experiências, tal como se apresentam na construção das 
imagens durante a prova de Rorschach. 
1 — Capacidade Associativa e Tempo de Produção das Respostas 
A capacidade associativa corresponde ao número total de respostas classificadas: no protocolo total 
(R), no conjunto monocromático (Riu) e no conjunto cromático (Rc). Portanto, R indica a 
quantidade dos processos mentais mobilizados durante a prova para a elaboração de cada uma das 
respostas. Nesse caso devemos distinguir entre o número de imagens suscitadas pela percepção das 
pranchas do Rorschach, (1) baseadas na evocação subjetiva de experiências em função de diferentes 
propriedades estruturais dos estímulos (memória, percepção e atenção) e a quantidade dos processos 
psíquicos codificáveis para a classificação da 
160 RORSCHACH CLiNICO — MANUAL BÁSICO 
resposta ( R). Uma mesma imagem poderá envolver mais de um processo psíquico, exigindo o uso 
da técnica de desdobramento, de modo a se obter mais de uma classificação, ou resposta, ou então, 
diferentes imagens poderão ser fundidas em uma única classificação. Portanto, o número de 
imagens evocadas (1) não coincide necessariamente com o número de respostas (R) 
No presente manual, apenas será considerado o número total de respostas, uma vez que análise 
específica das imagens, exige um nível de conhecimento mais avançado sobre os processos 
psíquicos superiores, sendo apenas útil no quadro de pesquisas experimentais sobre memória e 
imagem mental (Coelho, 1980). 
VALORES ESPERADOS: 
R total do protocolo: Faixa de variação:28 —62 
Rmonocromáticas: Faixa de variação: 12—26 
Rcromáticas: Faixa de variação: 16-36 
O tempo de produção das respostas, para cada prancha,indica a rapidez do processo mental. Neste 
caso, distinguimos o tempo de reação inicial, para a expressão da primeira associação (TRI) e o 
tempo decorrido para a produção do total das respostas, em cada prancha (T). Deste modo 
avaliamos dois aspectos temporais do trabalho mental. No caso, apenas é relevante a alteração do 
ritmo associativo no exame de cada prancha — quando TRI e/ou TT sofrem acentuada variação nas 
diferentes pranchas: reação imediata (TRI demasiadamente curto, isto é inferior à 18 segundos) ou 
demasiadamente lento (TRI 1 minuto). Na prova de Rorschach, a avaliação do tempo de produção 
fornece informações sobre o ritmo associativo espontâneo do examinando ao efetuar um trabalho 
mental, e não propriamente a habilidade em produzir com maior ou menor rapidez as respostas, 
aspecto apenas estudado nos psicotestes para avaliação do nível de inteligência (QI). Assim, o que 
deverá ser avaliado é: a) a estabilidade no ritmo temporal do trabalho mental no protocolo total, e 
em separado, nos conj untos monocromático e colorido; b) o tempo médio transcorrido para a 
elaboração das respostas do protocolo (T/R), incluindo o exame diferencial entre os T/R do 
conjunto monocromático e colorido. Neste aspecto não há qualquer interesse em se estabelecer 
intervalos normais de variação. 
2 — Nível da Observação da Realidade 
2.1 — Tipo de Percepção: Índice Perc 
61 
Este índice indica o estilo perceptual do examinando, ou seja, o modo com que 
habitualmente ele distribui sua atenção na observação dos 
diferentes eventos do ambiente. 
Cada uma das modalidades principais e secundárias registradas no psicograma em estudo 
deverá ser reduzida ao valor percentual correspondente ao total das respostas. Portanto, G x 
1 OO/R; P x 1 OO/R; p x 100/R; etc., o mesmo procedimento deverá ser adotado para os 
conjuntos monocromáticos e coloridos, em função do número de respostas de cada um 
deles (Rm e Rc). 
Em seguida é suficiente consultar as tabelas construídas para cada 
modalidade para o registro no índice de Perc. 
Nota: As modalidades G e P se distribuem segundo uma curva 
estatística normal (ver tabela pág. 225) enquanto que para as demais utilizaremos avaliação não 
paramétrica (freqüência acumulada ver tabela pág. 251). Cabe notar que essas tabelas apenas devem 
ser utilizadas psrs protocolos com número de respostas pelo menos igual ao valor mínimo da faixa 
de valor normal: R total = 28 (ou +); R mono = 12 (ou +) e R cromático = 16 (ou +). Quando os 
valores de R forem inferiores, a análise deve ser aproximada e qualitativa. 
MODALIDADES PRINCIPAIS 
TABELA 1- RESPOSTAS GLOBAIS (G) 
RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 
 
Protocolo Total Monocromáticas Co1oridIs 
Valores (%) Símbolo Valores Símbolo Valores Símbolo 
CLINIc0 — MANUAL BÁSICO 
Portanto, segundo Silveira: 
Expectativa = 1 desvio / expectativa 1/1 = 1, isto é, 100% ou GE no índice Perc 
Valor obtido = 2 
Desvio = +1 
Quando: 
Expectativa = 1 desvio / expectativa: 2/ 1 = 2, isto é, 200% ou GEI no índice 
Perc 
Valor obtido = 3 
Desvio = +2 
Expectativa 1 desvio / expectativa: 3/1 3, isto é, 300% ou GE2 no índice Perc 
Valor obtido = 4 
Desvio +3 
Do mesmo modo, quando a ocorrência das três modalidades inusuais (GP, PG, p’), ou de pelo menos uma 
delas, superar de 100% ao valor esperado, que éo de 1%, elas (ou ela) deverão ser registradas no índice Perc. 
Assim, por exemplo: 
GP = 1 
PG = O 
p’ = 1,asomaGP+PG+p’2,sendo: 
expectativa = 1 desvio/expectativa 11 = 1 ou 100%. 
Desvio = +1 
Neste caso, no índice Perc deverá constar GP e p’, e assim por 
diante. Os valores entre 6 e 9 pertencerão à classe E, pois não atingem à 
200% além do esperado. Do mesmo modo, os valores entre 9 e 12 
deverão ser registrados como El e assim por diante. Uma maneira mais 
simples em consultar diretamente os valores nos diagramas das págs. 253 
e 254. 
Conjunto Monocromático: 
1. Espaço Primário: 
No caso, o valor médio de E é igual a 2,2 , mas a mediana e a moda são iguais a zero, uma vez 
que corresponde a uma resposta rara. Considerando a freqüência relativamente alta de E nas pranchas 1 e VII, 
optamos por adotar 2 como valor referencial. 
Portanto, segundo Silveira: 
Expectativa = 2 
Valor obtido = 4 
Desvio = +2 desvio / expectativa = 2,2 = 1 ou 100% ou E no índice Perc. 
RORSCI-IACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 165 
Quando: 
Valor obtido 6 
Expectativa 2 
Desvio +4 desvio / expectativa 42 = 2 ou 200% ou El no índice Perc. 
Valor obtido 8 
Expectativa 2 
Desvio +6 desvio / expectativa 6»2 3 ou 300% ou E2 no índice Perc. 
Nota: Como no protocolo total, os valores intermediários deverão ser registrados na classe inferior 
correspondente. Uma maneira mais simples 
em consultar diretamente os valores nos diagramas das págs. 253 e 254. 
2. Global com Espaço (GE) e outras Modalidades inusuais (GP, PG, p’) 
Os valores aproximados das médias das modalidades G, P, p e E respectivamente, 37%, 52%, 
6% e 2% atingem à 97% do total. Restam 3% de probabilidade de ocorrência das modalidades 
mais raras. No conjunto monocromático, a incidência de GE é tão freqüente quanto à de E, 
portanto, a expectativa de GE corresponde ao valor 2. 
Para o registro de GE no índice Perc o procedimento adotado será 
portanto, o mesmo que aquele que utilizamos para E. 
Para registro no índice Perc das modalidades inusuais, (GP, PG e p’), ou de pelo menos uma delas, 
a sua ocorrência deverá superar a 100% do esperado que é o de 1% das respostas totais. Portanto, o 
procedimento será semelhante ao utilizado para o protocolo total. 
Conjunto Cromático: 
1. Espaço Primário: 
Na tabela estatística verifica-se que para a modalidade Eo valor 
médio é ode 4,9 e a mediana 4,4 enquanto a moda é zero. Assim, usaremos 
4 como valor referencial. 
Portanto, segundo Silveira: 
Expectativa 4 
Valor obtido 8 
Desvio = +4 desvio! expectativa = 4,4 = 1, isto é, 100% ou E no índice Perc. 
Quando: 
Valor obtido = 12 
Expectativa 4 
166 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 
Desvio = +8 desvio / expectativa 84 2, isto é, 200% ou EI no índice Perc. 
Valor obtido = 16 
Expectativa = 4 
Desvio = +12 desvio / expectativa 124 = 3, isto é, 300% ou E2 no índice Perc. 
Nota: Como no protocolo total, os valores intermediários deverão ser registrados na classe inferior 
correspondente. Uma maneira mais simples 
em consultar os valores nos diagramas das págs. 253 e 254. 
2. Global com espaço (GE) e outras Modalidades Inusuais (GP,PG,p’) 
Os valores aproximados das médias das modalidades G, P, p e E respectivamente, 9%, 79%, 6% e 
4% atingem à 98% do total. Restam 2% de probabilidade de ocorrência das modalidades mais 
raras. No conjunto cromático, a incidência de GE corresponde a 1%, restando o valor 1% para as 
demais modalidades não usuais. 
Deste modo, o procedimento a ser adotado tanto para GE como 
para as demais modalidades não usuais, será semelhante aquele que 
adotamos para o protocolo total em relação a GP, PG e p’. 
Portanto, segundo Silveira: 
=2 
Expectativa = 
Desvio = +1 desvio / expectativa 1,1 = 1, isto é, 100% ou seja, GEI no 
índice Perc. 
E assim por diante. 
O mesmo deverá ser feito em relação às modalidades GP, PG, p’. Uma maneira mais simples em 
consultar os valores nos diagramas das 
págs. 253 e 254. 
2.2 Qualidade Formal das Modalidades Principais 
Uma vez avaliado o índice de Percepção e o tipo de respostas globais que prevalece no protocolo, 
devemos verificar a qualidade formal das modalidades principais. Desse modo, no exame do 
trabalho mental de um examinando, poderemos constatar em que medida a apreensão das 
implicações genéricas das situações (G), dos dados concretos e imediatos que se impõem por si 
mesmos (P) e de pormenores pouco evidentes, que para serem percebidos exigem esforço analítico 
(p), se aproximam do modo objetivo com que o indivíduo normal adulto examina os eventos 
externos. 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 167 
Uma modalidade terá qualidade positiva quando a imagem correspondente tiver uma forma 
bem vista (F+) como determinante, ou quando tiver freqüência vulgar mesmo que elaborada a partir 
de outros fatores determinantes. Quando o fator determinante for uma forma negativa, (F-), a 
modalidade que a acompanha será considerada como de má qualidade formal. No protocolo geral, o 
total de cada modalidade principal (G, P, p) deverá ter sua qualidade formal positiva ter pelo menos 
três vezes maior em relação à negativa (3:1). 
3. — Nível de Elaboração das Experiências 
3.1 — Exame das Condições Ambientajs e Mobilização dos 
Recursos Subjetivos 
A extensão com que o examinando volta sua atenção para o exame 
dos eventos externos pode ser avaliada pela proporção das construções 
formais em relação ao total das respostas do protocolo: %F. 
VALORES ESPERADOS: 
Protocolo Total: Faixa de variação 57 - 72 
Uma informação importante pode ser obtida sobre o modo com que o impacto afetivo direto 
(estímulo colorido) intervém na extensão com que o indivíduo se volta para as circunstâncias do 
ambiente externo. Por isso avaliamos o índice %F para os conjuntos de estímulos monocromáticos e 
cromáticos. Na população normal pudemos verificar: 
Conjunto Monocromático: Faixa de variação 65 —85 
Conjunto Cromático: Faixa de variação 46—68 
No processamento das informações captadas do ambiente externo intervém a mobilização dos 
recursos e necessidades subjetivas do examinando. A extensão com que os fatores subjetivos são 
mobilizados pode ser avaliada pelo índice lambda, onde os fatores determinantes não formais (R - 
F) são comparados com o total das respostas formais: 
 
%F= R (F+ + F- + F°) x 100 
R total 
 
168 RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 
Lambda (R-F) sendo F= (F+ + F- + F°) 
F 
Protocolo Total: Faixa de variação 0,36—0,78 
A mobilização das condições subjetivas, avaliada por lambda, é afetada pela presença de estímulos 
que atuam diretamente na afetividade do examinando (estímulos coloridos). Nesse caso, o índice 
lambda deve ser calculado separadamente para os conjuntos monocromático e colorido. Esta 
avaliação com os protocolos da população normal evidenciou uma distribuição dos valores de 
lambda, em cada conjunto de estímulos, que, ao contrário do que ocorre com o protocolo total, não 
resulta em uma curva estatística normal. Por isso não pudemos usar as medidas paramétricas para a 
determinação dos intervalos de variação, recorremos então aos resultados dos quartís (ver Parte III 
do Manual). 
Conjunto Monocromático: Faixa de variação: 0,20 —0,45 
Conjunto Cromático: Faixa de variação : 0,56— 1,00 
3.2 — Flexibilidade do Pensamento 
A elaboraçãodas experiências será tanto mais rica e flexível quanto maior for a variedade dos 
fatores determinantes. Os tipos de determinantes das respostas de um protocolo de Rorschach 
variam de um examinando a outro, entretanto as categorias de nível superior, que representam 
concepções amadurecidas e sentimentos socialmente mais convergentes, deverão superar as 
categorias de ordem mais subjetiva e egocêntrica. Assim, para cada série: M>m+m’; Ps>ps+ps’; 
L+C’>l+l’ e FC> CF+C. Em trabalho anterior, com 100 adultos normais, obtivemos as seguintes 
proporções médias: 
 
M : m : m’ = 3,4: 1,7 : 0,6 (M = 0 apenas em 7% dos protocolos) 
Ps : p5 : ps’ = 1,7 : 0,7 : O (Ps O em 23% dos protocolos) 
FC : CF: C 3,0 : 2,2 : 0,1 (FC O apenas em 7% dos protocolos 
L : 1 : 1’ 0,6 : 0,4 : 0,2 (L = O em 64% dos protocolos) 
C’ 1,2 (C’ O em 39% dos protocolos) 
 
RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 169 
Estes valores servem apenas como referência teórica, pois a integração harmônica do psiquismo 
humano decorre de fatores diversos e variáveis entre diferentes indivíduos e em diferentes fases do 
desenvolvimento 
3.3 — Elaboração Intelectual Intrínseca: ElablR ou Z 
A capacidade do indivíduo combinar, abstrair e generalizar o sjgnificado de suas experiências 
manifesta-se de modo evidente na construção de imagens globais, e sobretudo nas globais 
combinadas. As respostas globais simples resultam da observação concreta das características da 
gestalt da mancha, que evocam diretamente padrões formais fixados na memória (protótipos), 
envolvendo o raciocínio indutivo, por comparação. Por outro lado, as globais combinadas decorrem 
de um processo mental mais complexo, no qual o indivíduo abstrai (isola) determinadas 
propriedades do estímulo, para em seguida combiná-los através do raciocínio dedutivo, atribuindo-
lhes um significado. Este tipo de raciocínio será ainda mais complexo quando não apenas se aplicar 
às condições estruturais do estímulo, percebido como figura, mas também no empenho em integrar 
as condições secundárias, habitualmente consideradas como pano de fundo (E). 
A elaboração de uma experiência pode ainda decorrer da focalização da atenção em aspectos 
concretos, de ordem prática (P), ou ainda em pormenores menos evidentes, cuja percepção depende 
de esforço analítico (p). A integração de dois ou mais desses aspectos em um significado mais 
complexo decorre da capacidade de elaboração intelectuaL 
O índice de organização (Z) de Beck permite a avaliação objetiva desta capacidade intelectual. 
Beck atribui o valor Z apenas: “As respostas em que duas ou mais porções da figura são 
vistas relacionadas entre si, e quando o signficado percebido na combinação, ou em 
qualquer porção componente, depender unicamente da própria organização do percepto” 
(Beck, 1960, pg59). 
O valor organizacional é apenas atribuído às respostas que forem determinadas, pelo menos em 
parte, pela forma; nenhuma resposta originada inteiramente nos valores cromáticos ou na 
luminosidade sem forma, possui elaboração. As respostas vagas, mal articuladas ou baseadas em 
articulações arbitrárias ou delirantes também não recebem valor Z. Portanto, o índice Z de Beck, 
aqui designado como Elab, avalia o grau de 
170 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 
e1aborção racional das experiências. De modo a verificar os processos de elaboração das 
experiências pautados em concepções irracionais ou demasiadamente subjetivas (como ocorre, por 
exemplo nos protocolos de psicóticos) fazemos computação à parte e indicamos o resultado como 
Z2. Entretanto, este índice não será utilizado aqui, uma vez que exige maior aprofundamento 
teórico. 
Em nosso estudo estatístico avaliamos os resultados do índice 
Elab/R: 
Protocolo total: Faixa de variação 0,90 —1,70 
Conjunto Monocromático: Faixa de variação 0,71 — 1,49 
Conjunto Colorido: Faixa de variação 0,90 — 1,90 
TABELA DE BECK- VALORES DEZ 
4. Nível de Comunicação Verbal 
Faixa de Interesses: 
Categorias de Conteúdos 
De modo indireto, o campo de interesses desenvolvidos pelo 
examinando em sua existência atual pode ser avaliado pela diversidade 
dos conteúdos verbalizados nas respostas. 
Estabelecemos como satisfatória a ocorrência de pelo menos três categorias distintas, além 
daquelas relativas aos conteúdos usuais (figuras animais, figuras humanas e respostas de 
anatomia), em 25% das respostas do protocolo total. 
Quando houver rebaixamento no número dos conteúdos animais e 
humanos e prevalência de uma ou duas outras categorias, podemos inferir 
restrição de interesses ou preocupação predominante (perseveração de 
IL 
 
ELAB 1 11 111 IV PRANCHAS VIII IX X 
V VI VII 
G 1,0 4,5 5,5 2,0 1,0 2,5 2,5 4,5 5,5 5,5 
P. Adj 4,0 3,0 3,0 4,0 2,5 2,5 1,0 0 2,5 4,0 
P. Dist. 6,0 5,5 4,0 3,5 5,0 6,0 3,0 3,0 4,5 4,5 
Mancha com 
•Espaço 3,5 4,5 4,5 5,0 4,0 6,5 4,0 4,0 5,0 6,0 
 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 171 
conteúdo ou temática) afetando a ligação emocional espontânea com o 
ambiente ou o convívio interpessoal. 
No caso de ocorrer distribuição das respostas em um número 
elevado de categorias de conteúdo podemos supor dispersão de interesses. 
Os conteúdos mais freqüentes em um protocolo normal são os de figuras animais (%A médio37%) 
e os de figuras humanas (%H médio entre 10 e 20), que indicam respectivamente, ligação 
emocional espontânea ao ambiente e interesse pelo comportamento humano. Em cada categoria, a 
percepção da figura integral (A e H) deverá ser pelo menos três vezes superior à percepção de suas 
partes do (pA e pH). 
De modo a caracterizar a gama específica de interesses 
desenvolvidos pelo examinando, distinguimos os seguintes tipos de 
motivações: 
a) interesses afetivos primários (an, sx, ai, fg, sg ,ml) 
b) interesses cotidianos, vagos ou superficiais (obj, bt, vst, ggr, mp, nat, nv) 
c) interesses culturalmente mais diferenciados (art, ci, arq, ri, ah, pz, ant) 
A análise mais profunda dos conteúdos humanos, das imagens 
originais ou daquelas de ordem dinâmica, deverá ser efetuada durante o 
exame do Feitio de Personalidade. 
5. Processo de Adaptação à Realidade: Índice RMI 
O fato do indivíduo voltar a sua atenção às condições do ambiente externo (%F) e ter noção da 
realidade, à partir das informações sensoriais, não implica necessariamente que eie se adapte às 
imposições do ambiente externo. O processo de adaptação à reaiidade se faz de modo contínuo e 
supõe a conjugação harmônica da atividade psíquica das diferentes esferas da personalidade. 
A integração às exigências da realidade depende do interesse afetivo em manter uma ligação com o 
ambiente, do julgamento objetivo dos eventos externos e da assimilação das normas de pensamento 
adotadas pela maioria e que compõem o consensus social. A complexidade desse processo 
cognitivo traduz-se no Rorschach pelo índice RMI de Silveira. 
O índice RMI compõe-se de três fatores que representam a participação específica das funções da 
personalidade mobilizadas no 
processo de adaptação à realidade. 
172 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
a) Esfera Conativa - Julgamento de Realidade: %F+ 
A atenção adequada aos estí mulos externos permite o controle do processo perceptivo e 
ojulgamento imparcial da realidade. Graças ao controle e coordenação conativa, os impulsos 
afetivos e osjulgamentos de valor subordinam-se às condições do ambiente objetivo. 
b) Esfera Afetiva — Ligação Emocional ao Ambiente: %A 
A ligação afetiva ao ambiente depende do interesse em intervir sobre a realidade. Esse interesse não 
se exprime diretamente através dos sentimentos ou da sensibilidade afetiva, mas decorre do 
estabelecimento de uma ligação emocional, ou sei a, do estímulo da afetividade sobre os processos 
cognitivos. No Rorschach, os interesses são representados pelas categorias de conteúdo; sendo a 
figura animal a categoriamais freqüente nos protocolos de indivíduos adultos e predominante nos 
de crianças. O conteúdo animal decorre de nexos afetivo-emocionais vitais, estabelecidos de modo 
espontâneo e diretamente influenciados porjulgamentos de valor, traduzindo o interesse de corrente 
ao apego afetivo ao ambiente. 
c) Esfera Cognitiva: Assimilação Lógica dos Valores Sociais: %V 
A capacidade do indivíduo assimilar as normas da realidade tal como elas são reconhecidas pela 
maioria é fundamental para a existência social. A %V traduz o grau de amadurecimento intelectual, 
considerado socialmente, portanto em função da construção interpessoal da realidade. 
A intensidade da participação de cada um dos fatores do índice fornece indicações sobre a dinâmica particular 
do processo examinado. 
Valores estatísticos da população normal: 
a) Setor Conativo: Julgamento da Realidade 
%F+ Protocolo Total: Faixa de variação 78% -89% 
%F+ Conjunto Monocromático: Faixa de variação 80% - 94% 
%F+ Conjunto Colorido: Faixa de variação 76% - 87% 
 
RMI= %F+ + %A + %V 
3 
 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 173 
b) Setor Afetivo: Ligação Emocional 
6. Mecanismos Inusuais de Reação: 
A apreciação do modo específico de cada probando reagir diante dos estímulos da prova de 
Rorschach permite a distinção de um grupo de mecanismos que por não corresponderem 
necessariamente a distúrbios psíquicos de ordem patológica podem ser denominados “mecanismos 
inusuais de reação”. Além disso, a investigação dos dinamismos psicológicos subjacentes a tais 
reações torna-se indispensável para a interpretação destes mecanismos. 
Deste modo procuramos distinguir os diferentes mecanismos de reação segundo o nível do trabalho 
mental em que eles se traduzem e de acordo com a participação diversa das funções de 
personalidade implicada em cada um deles. Sintetizamos a interpretação deste aspecto da prova de 
Rorschach nos itens que se seguem. 
Nível de Expressão dos Mecanismos 
1 — Nível de Observação: 
1. Simetria (SIM):No mecanismo SIM, o probando sente necessidade de encontrar ordem e 
estabilidade nas condições externas 
para com elas poder interagir. 
A “simetria” pode ocorrer, de modo atenuado, em protocolos de 
indivíduos normais mas inseguros e pouco espontâneos. A “simetria” 
 
%A Protocolo Total: Faixa de variação 33% - 42% 
%A Conjunto monocromático: Faixa de variação 35% — 48% 
%A Conjunto cromático : Faixa de variação 28% - 38% 
c) Setor Cognitivo: Padrões Culturais: 
%V Protocolo Total: Faixa de variação 17 % — 29% 
%V Conjunto Monocromático: Faixa de variação 17 % — 34% 
%V Conjunto Cromático: Faixa de variação 16 % — 25% 
RMI Protocolo Total: Faixa de variação: 44 %—52% 
RMI Conjunto monocromático: Faixa de variação: 44%— 58% 
RMI Conjunto cromático: Faixa de variação: 40 % -50% 
 
174 RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 
consiste na busca insistente de uma simetria perfeita das manchas. O examinando observa cada 
detalhe de um lado da mancha e compara-o com o detalhe correspondente, do outro lado. Muitas 
respostas nas quais o examinando menciona a ocorrência da mesma imagem em ambos os lados das 
pranchas, sem estabelecer relação entre eles, decorrem do mecanismo SIM. 
Exemplo: 
Pr. P1 direito e esquerdo - “ Dois pássaros, um igual ao outro ou 
com pequenas diferenças”. (corresponde ao fator (2) de Exner) 
Apenas consideramos SIM quando após o probando ter 
mencionado o caráter simétrico das manchas, buscar, nas pranchas 
seguintes, a confirmação desta simetria. 
Não utilizamos um critério meramente quantitativo, como fazem alguns autores ao estabelecer um 
número mínimo de ocorrências da referência à simetria dos estímulos. Para nós, o mais importante 
é a expressão qualitativa da busca atenta da simetria dos estímulos, antes da formulação de uma 
resposta. 
2. Persevera ção da área (Pers. A)— tipo particular de aderência aos estímulos. Fixação da 
atenção em uma determinada área onde o 
probando elabora uma série de respostas. 
3. Condensação Sincrética (Cond. S.) — observação de características incompatíveis com a 
natureza da imagem percebida: figuras humanas com partes animais(HIA), com partes vegetais 
(H/bt) ou com partes de objetos (H/obj). 
Exemplos: 
Pr. IV G “Homem com cara de inseto” (fIA). 
Pr. IV G “Homem com braços de galhos”(H/bt). 
Pr. VII P1 “Rosto de menina com cabeça de chaminé” (Hlobj). 
Mais raras são as imagens que ligam de modo arbitrário partes do 
corpo humano (ou A). 
Exemplo: 
Pr. X P5 “Cabeça com pernas”. 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 75 
Este mecanismo traduz a intervenção de noções incoerentes na percepção da realidade, quando 
diferentes imagens sejustapõem de modo sincrético. Tal fenômeno pode ser observado em imagens 
oníricas ou em alucinações visuais, mas também pode ser utilizado na construção artística (obras 
surrealístas, pintura de H. Bosch, etc). Portanto sua ocorrência não deve ser considerada como de 
ordem patológica quando o examinando indicar a natureza fantástica ou poética da imagem 
percebida. 
A condensação sincrética corresponde aproximadamente ao 
mecanismo “combinação incongruente” (INCOM) referido por 
Exner. 
4. Referência ao eixo (Ref Ex.) — o probando utiliza a linha central vertical da mancha, como 
referência às suas associações aos estímulos ambíguos do Rorschach. Este mecanismo ocorre 
sempre que houver menção reiterada da existência de um eixo, ou linha central, nas diferentes 
pranchas, podendo ou não elaborar suas respostas em função de sua existência. Como por exemplo: 
“A linha central sempre me faz pensar em coluna vertebral que sustenta o organismo”. Ou, como 
ocorrência de uma expressão mais abstrata: “Do centro vem uma força que mantém ligados todos os 
elementos”. 
5. Fragmentação (Fragm.)— este foi estudado especialmente por Minkowska (1956) que o 
considera como patognomônicos de esquizofrenia, em oposição à mecanismos como o de ligação 
(lien), frequentes em epilépticos. Designou este mecanismos como Spaltung (em inglês, splitting). 
A Fragm ocorre quando uma imagem, animal ou humana, for percebida de modo fragmentado: 
tronco, membros inferiores e superiores, cabeça, nariz, boca, distribuídos aleatoriamente. Por vezes, 
este mecanismo aparece de modo atenuado, com a referência da impressão de que a imagem 
humana (ou animal) percebida, acha-se aberta pela metade, ou dividida ao meio. 
Este mecanismo indica profunda dissociação da imagem somática, 
sendo encontrado em esquizofrênico, e também assinalado, em protocolos 
de pacientes com alterações básicas de identidade subjetiva. 
6. Perda de limites somátjcos (Lim.) — o mecanismo que indica falta de limites entre os órgãos 
internos e a aparência externa de uma imagem humana (ou animal), é frequentemente observado em 
desenhos infantis, mas também em pacientes psicóticos. Designamos este mecanismo como “falta 
de limites na perceção corporal (Lilvi)”. Como no mecanismo 
176 RORSCHACII CUNCO — MANUAL BÁSICO 
anterior, em adultos, ele revela profundos distúrbios da percepção subjetiva 
do próprio corpo. 
7. Referência ao Tamanho (Ref T): este mecanismo implica na impressão proprioceptiva de 
força, peso, fragilidade, tamanho, espessura, que é referida como qualidade específica de uma 
estrutura formal ou de um ser vivo. Comum em protocolos de crianças pequenas, no adulto este 
mecanismo traduz auto-percepção subjetiva de insegurança, ou quando projetada em figuras ou 
objetos externos, ele indica sentimento de impotência e fragilidade diante da força e poder 
exercidos contra si mesmo. Passalacqua e Grovenhorst, que adotam um ponto de vista psicanalítico, 
referem que este mecanismo é frequente em depressivos, associando-se por vezes a condutas auto-
destrutivas. Para estes autores, Ref. T., traduz sentimento de “carga densa e pesada sobre si, em 
um ego frágil e incapaz de suportá-la “. 
Bohm menciona o fato deste mecanismo tersido designado pelo neurologista Guirdham como 
“essential qualüy asterognostic” (EQA), mas segundo Bohm, esta designação decorre de um 
equívoco linguístico, poiso “a” indica negação, e o correto seria: “essential quality sterognostic”. 
Preferimos designar o mecanismo a partir de uma de suas expressões mais correntes (observação do 
tamanho). 
8. Ângulo de Visão: o mecanismo de ângulo de Visão (AV) ocorre quando o probando examina as 
manchas sob um prisma pessoal, colocando-se especialmente em relação à imagem percebida. 
Assim, como uma câmara de cinematográfica, o probando coloca-se acima, ou abaixo da imagem 
percebida, avaliando-a segundo um plano de superioridade ou de inferioridade em relação a si 
próprio. Incapaz de elaborar uma imagem tridimensional, que exigiria maior esforço construtivo 
(Ps) e a noção de própria posição no ambiente, o probando percebe os estímios segundo um ângulo 
subjetivo, enfatizando a estrutura distorcida da imagem, concebida como bidimensional. Assim por 
exemplo, na prancha IV: “Um homem imenso, visto de baixo para cima, com pés enormes (P6), 
cabeça (P3) e braços pequenos (P4). Estou olhando de baixo e ele parece muito grande”. 
Ainda que a elaboração formal do percepto seja adequada, o fato do examinado participar da 
imagem percebida, adotando um ângulo de visão de baixo para cima, sugere seu sentimento de 
inferioridade, nas relações interpessoais. 
De modo semelhante, a visão de uma cena distante, mas não 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 177 
concebida como plano tridimensional, ou de uma imagem reduzida devido ao fato do probando 
colocar-se na situação, como distante, ou como acima do objeto percebido, reflete o sentimento 
subjetivo de afastamento ou de superioridade em seu relacionamento como o ambiente. No cinema, 
a câmara subjetiva provoca no espectador sentimentos desta ordem. 
9. Reversão (Rev.)— mancha percebida como “fundo” e espaço como “figura” (alteração do 
princípio de ‘pregnância” na percepção). Pode resultar tanto da crítica negativista ou da 
originalidade no modo de encarar os fatos, como da insegurança emocional e preocupação 
exagerada com os obstáculos (carência de autonomia). 
10. Necessidade de ligação (lien de Minkowska) — após ter fornecido algumas respostas, o 
examinando sente necessidade em ligá-las entre si, ainda que de modo arbitrário, indicando as 
partes onde cada imagem se liga à outra. 
II. Nível de Elaboração: 
1. Posição e Número (Pos. N°) — ambos os mecanismos foram considerados por Piotrowski 
(1957) como patognômicos de esquizofrenia. Entretanto, Silveira (1963) faz a ressalva de que eles 
podem ocorrer, ainda que raramente, em protocolos de indivíduos normais, uma vez que exprimem 
o predomínio do subjetivismo no processo associativo. 
No mecanismo POS o percepto baseia-se exclusivamente na disposição da área selecionada em 
relação ao estímulo global. No caso, a observação abstrata afasta-se dos padrões concretos da 
realidade, obedecendo a um critério irracional que escapa ao raciocínio lógico. 
Assim, por exemplo, uma resposta dada à área central da prancha III (P3): “coração”- na qual o 
probando considera que a relação espacial do coração no corpo é da mesma ordem que a relação 
entre o pormenor central e a mancha lateral, percebida como corpo. Neste caso, a percepção do 
“coração”, baseia-se apenas no fato da mancha encontrar-se na posição central do corpo. 
O mecanismo POS pode ser apurado como determinante quando não houver outro fator como 
primário, para a constituição 
da resposta. 
O mecanismo Número também decorre da alteração da observação abstrata, mas no caso referente à 
noção de quantidade, independentemente 
da consideração das características formais dos estímulos. 
178 RORSCI-IACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 
Este mecanismo pode surgir de modo atenuado, como mera quantificação dos elementos das áreas 
que compõem as diferentes pranchas. Por exemplo, na prancha 1: “Quatro Triângulos” (Espaços 
centrais). Mais grave é sua ocorrência, onde o número de elementos passa a dar significado ao 
percepto: Por exemplo, na prancha III: “Uma família”- onde os cinzas laterais (P1) são percebidos 
como pais e o elemento central, inferior (P7) como filho. O número três provocou a associação 
“família” sem que o probando fosse capaz de identificar formas humanas. Certamente nesta 
resposta também contribui a posição central da mancha, designada como “filho”. 
2. Condensação Fabulató ria (Cond. Fab.): combinação arbitrária e irracional de diferentes 
imagens. Neste tipo de condensação, a elaboração se baseia em fantasias infantis ou em nexos 
emocionais primários que interferem no pensamento racional. Como ocorre no mecanismo de 
“condensação sincrética”, este mecanismos pode indicar um recurso ao imaginário não constituindo 
necessariamente uma indicação de distúrbio psicopatológico. 
Exemplos: 
Pr. X P5+P4 invertida — “Um homem levantando dois aviões”. 
Pr. IX P9 + P6— “Uma cobra fumando cachimbo”. 
Pr. X P8 + P14 — “Duas pulgas fazendo um brinde com uma taça muito alta”. 
Portanto, o que caracteriza este mecanismo é o modo absurdo ou inadequado em que duas ou mais 
imagens se associem. O significado afetivo prevalece sobre o julgamento da realidade. A 
condensação fabulatória é designada por Bohm (1957) como “combinação fabulatória”, ela é 
frequente em protocolos de neuróticos, onde o valor atribuído à imagem impede o exercício do 
pensamento lógico para construção da imagem. Os perceptos integrados por nexos afetivos podem 
assumir significado dinâmico, indicando, no caso, conflitos emocionais do examinando. 
3. Perplexidade (Ppl) — incapacidade inicial do examinando em fornecer uma resposta à prancha, 
quando, ele expressa surpresa diante da dificuldade apresentada pelo estímulo. Sentindo-se inseguro 
quanto á sua capacidade cognitiva para resolver a situação da prova, que então, 
RORSCHACI-I CLíNICO — MANUAL BÁSICO 179 
lhe parece problemática, muitas vezes solicita a ajuda ou esclarecimentos 
ao examinador. 
4. Rejeição ou Inibição (Rej. ou Inib.) — incapacidade em elaborar qualquer resposta mesmo 
após a reapresentação ulterior da prancha rejeitada. Inibição alteração quantitativa ou qualitativa 
das respostas a uma determinada prancha. Elevação do tempo de reação Ambos os mecanismos 
resultam de graus diversos de alteração do trabalho mental mas traduzem uma dinâmica subjetiva 
semelhante. 
5. Mecanismos que ocorrem nas pranchas cromáticas (CR0) — Dentre os mecanismos que 
refletem alteração no processamento de estímulos cromáticos (CR0), que mobilizam diretamente a 
afetividade do probando, destacamos: a cor forçada, nomeação de cor, referência ao 
vermelho, negação de cor. Todos eles decorrem da dificuldade do probando em integrar as 
experiências afetivas e de expressar de modo harmônico seus sentimentos. Na “cor forçada” incapaz 
de integrar a qualidade cromática da mancha à sua estrutura formal (FC ou CF), o probando, apenas 
a nomeia, ou a nega, ou ainda introduz artificialmente uma razão para sua presença. 
Exemplo: 
Pr. VIII - “Dois ursos (e observando o fato de serem vermelhos) 
devem estar com raiva, por isto vermelhos” 
No caso do probando apenas mencionar as cores: laranja, verde, rosa, não conseguindo integrá-los 
em uma interpretação, ele expressa labilidade afetiva, liberação impulsiva dos afetos, com 
deficiência do juízo crítico e da elaboração refletida. A nomeação da cor (nC) é frequente, segundo 
Bolim, em protocolos de oligofrênicos, epilépticos e pacientes com lesões cerebrais. Mas o autor 
observa que em crianças até cinco anos de idade, a sua ocorrência é normal. 
Os autores argentinos interpretam este mecanismo como resultante de defesa mágica contra a 
expressão dos afetos, interferindo no processamento normal do pensamento. Distinguem ainda, com 
muita pertinência, a nC de descrição técnica das cores com um matiz intelectual e crítico. Apesarde 
interpretarem também este mecanismo como resultante de uma defesa contra a expressão dos 
afetos, reconhecem que ele é comum em protocolos de artistas e intelectuais. 
RORSCHACH CUNCO — MANUAL BÁSICO 
Verificamos que a descrição de cores expressa sensibilidade 
estética em protocolos cujos índices revelam flexibilidade mental e 
criatividade. 
No mecanismo “negação de cor”, descrito por Piotrowski como “color denial”(1957), o probando 
rejeita o fato de ter utilizado o estímulo cromático, apesar da evidência de sua utilização no 
percepto, por exemplo: na prancha X: (P6) “maçãs, só a forma”. Porém esta área além de apresentar 
a configuração formal de uma maçã também possui a sua cor. Piotrowski interpreta este mecanismo 
como traduzindo inibição intencional dos afetos por temor de experimentar decepções no convívio 
interpessoal. 
A interpretação de Bohm sobre este mecanismo coincide com aquele do autor norte-americano o 
que nos parece evidente é a rejeição do probando em expressar seus afetos, ainda que este tenha 
sido mobilizado durante o processo associativo na produção de resposta cromática. 
O mecanismo de “referência ao vermelho” ocorre nas pranchas II e III, cujos estímulos 
mobilizam de preferência os impulsos afetivos primários, conforme constatou Silveira (1968) ao 
construir o seu índice de impulsividade. 
Para Bohm, a “atração ao vermelho”, consisti um mecanismo oposto ao “choque cromático”(ChC). 
Mas este autor, considera “choque” mesmo que apenas ocorra uma diminuição das respostas nas 
pranchas cromáticas. 
Apesar de considerarmos este critério como insuficiente para assinalar um fenômeno tão grave 
como o ChC, concordamos (com base na avaliação do índice Imp), com a interpretação de Bohm do 
mecanismo Ref. V.: segundo o autor, este mecanismo habitualmente ocorre com outros desvios do 
protocolo que indicam caráter impulsivo. E, neste caso, a ansiedade diante da expressão de 
impulsos afetivos básicos, expressa pelo ChC, opõe-se à liberação impulsiva dos afetos, indicado 
pelo ref. V. 
A interpretação deste mecanismo como indicador de impulsividade, foi confirmada por Fazzani 
(1994) em sua tese de mestrado sobre Rorschach de indivíduos que haviam cometido crimes 
violentos. Nesta população ele encontrou este mecanismo, associado a outros fatores da prova, 
indicativos de elevada impulsividade. 
Como Fazzani, não apenas registramos a presença de Ref. V. quando ocorre aumento de respostas 
aos estímulos das pranchas II e III, mas sobretudo o fazemos quando o probando apenas menciona a 
presença do vermelho, sem conseguir utilizá-lo em sua resposta. 
180 
RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 181 
Em todas estas modalidades de CR0, a presença do estímulo colorido provoca no probando uma 
reação afetiva imediata, não controlada pelos processos conativos ou cognitivos, revelando 
incapacidade de integração e expressão dos sentimentos nas relações interpessoais. 
6. Fabulação (Fab.) — Ainda relacionado à expressão afetiva, o mecanismo de fabulação (FAB) 
ocorre com certa frequência em protocolos de indivíduos que se deixam levar pela imaginação, 
projetando emoções ao observarem o comportamento alheio. No Rorschach, este mecanismo se 
expressa pela atribuição de sentimentos ou intenções em figuras humanas, frequentemente em 
rostos, ou mesmo em figuras animais. 
Não ocorrem exclusivamente em respostas cinestésicas, podendo 
indicar atribuição subjetiva de sentimentos ou intenções na observação 
do comportamento alheio mais do que expressão da própria afetividade. 
Bohm refere que este mecanismo foi constatado, pela primeira vez por Guirdham (1935) e 
ulteriormente adotado por outros rorschachistas. Este autor designou como “essential quality 
emotional” ou EQA, a projeção de expressões mímicas em figuras humanas, observando que, este 
mecanismo é frequente em indivíduos com talento artístico. 
Merey e Niger (1947), assim como Passalacqua e Gravenhorst 
(1988), interpretam a presença de FAB com conteúdos de ameaça como 
indicativa de traços paranóides. 
Basicamente consideramos FAB como resultante da atribuição 
subjetiva e arbitrária de sentimentos e intenções ao comportamento alheio. 
7. Auto-referência (A. R.) — o examinando se identifica com a figura percebida, atribuindo-lhe 
características físicas que reconhece em si mesmo, por vezes elaborando situações análogas áquelas 
por ele vividas. 
8. Duplo (Duplo) — elaboração de imagens percebidas como duas figuras que atuam, ou que se 
submetem á uma mesma situação. Estas figuras humanas ou animais são percebidas como idênticas 
(gêmeos, clones) ou semelhantes (irmãos, companheiros), ou ainda como uma imagem refletida no 
espelho. 
9. Liberação (Lib) — incapacidade em controlar respostas inadequadas mesmo considerando-os 
como incorretas. Neste caso, devemos distinguir a liberação decorrente de patologia orgânica 
cerebral (ver sinais de Piotrowski) 
182 ROPSCHACH ClíNICO — MANUAL BÁSICO 
III. Nível de Comunicação: 
1. Persevera çâo Temática (Pers. T) — respostas predominantes de uma determinada categoria de 
conteúdo (geralmente sx ou an). Para a interpretação deste mecanismo torna-se indispensável a 
verificação da qualidade formal destas respostas e das categorias de determinantes a elas associadas. 
Caso a perseveração ocorra de modo acentuado, deve- se utilizar a técnica de repasse imediato das 
pranchas: solicita-se ao probando para que ele procure elaborar outras respostas além daquelas cujo 
conteúdo foi perseverado. Neste caso o examinador deverá interpretar cada protocolo de per si e em 
seguida confrontar os resultados obtidos. 
2. Persevera ção de Resposta (Pers. A) (“Aderência alternada fundamental de Bovet”) — 
ocorrência do mesmo conteúdo em diferentes pranchas, sendo que em sua maioria elas 
correspondem elaborações adequadas aos estímulos. 
3. Repetição (Rpt) — na mesma prancha ou em pranchas consecutivas o examinando dá exatamente 
a mesma resposta. Ou sej a, volta a utilizar, em estímulos diferentes, uma resposta que lhe pareceu 
adequada para uma primeira situação. Consiste em um tipo de preenchimento “como compensação 
á incapacidade de interpretar outros estímulos. Em protocolos de crianças pequenas, a repetição é 
designada como solução “varinha mágica”. 
4. Crítica à Interpretação (Crt. 1.) — este mecanismo traduz uma atitude de insegurança e de 
auto-exigência quanto à adequação de suas decisões. Pode apresentar-se de modos diferentes: 
comentário sobre sua incapacidade, respostas em forma negativa ou interrogativa, ou 
ainda referência á possíveis alternativas daquilo que ele perceber. 
5. Crítica às Manchas (Crt.M) — neste caso, ao contrário do mecanismo anterior, o examinando 
atribui o erro ao modo com que os estímulos se apresentam, por vezes supondo que o “desenhista” 
cometeu um engano que deveria ser corrigido. 
6. Contaminação (Cont.) — mecanismo que envolve de modo mais complexo todo o trabalho 
mental, ainda que se expresse no momento da 
verbalização da resposta. Neste mecanismo uma mesma área da mancha 
RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 183 
poderá sugerir duas associações diferentes mas que se fundem em um 
conceito único. 
Exemplos: 
Pr. IV — “O figado de um poderoso homem político”.O examinando percebeu de modo global, um 
figado, mas ao mesmo tempo, um homem grande e poderoso, que lhe sugeriu a idéia de político. 
Em seu trabalho mental não lhe foi possível isolar cada tipo de imagem, levando-a a perceber como 
uma só realidade. 
Pr. 1 — “Um morcego escondido em um rochado”. Também como global, o examinando percebeu a 
imagem de um morcego, mas ao mesmo tempo de um rochedo. Ao mesmo tempo que olha para a 
prancha “vê” o morcego e a rocha, não conseguindo isolar as imagens. 
Pr. X (P12) — “Uma tourada”. O examinando percebeu ao mesmo 
tempo a imagem de um toureiro com sua espada e a do touro com os 
chifres fundindo ambas imagens no conceito:Tourada. 
Nestes exemplos, os examinandos apenas tomaram conscjência do 
resultado de fusão das imagens, sentindo dificuldade em discernir cada 
uma de per si. 
Este tipo de mecanismo apenas foi encontrado em protocolos de 
psícóticos, traduzindo grave comprometimento no trabalho mental. 
7. Frases esteriotipadas (Etp)— de modo automático, o examinando repete a mesma frase ao 
olhar para as diferentes pranchas do Rorschach, como um modo de compensar sua dificuldade, ou 
de preencher, de modo mecânico, o silêncio que se estabelece durante uma prova, que para ele 
corresponde à uma situação inusual. 
8. Neologismo ou Paralogias (Log) — termos individuais criados pelo examinando para expressar 
o que percebe nos estímulos, ou que decorrem de uma concepção baseada em uma lógica afetiva, 
que se afasta do pensamento racional. Este mecanismo ocorre com freqüência na expressão verbal 
de psicóticos não constituindo necessariamente um mecanismo exclusivo daprovade Rorschach. 
9. Modos Particulares de Expressão Verbal: articulação krita, ou demasiadamente rápida das 
palavras, prolixidade nas respostas, expressão 
confusa das idéias com frases sem nexo (“salada de palavras”). 
184 RORSCHACH CUNICO MANUAL BÁSICO 
lO. Comentários ou Associações Paralelas (Com): Mecanismo que indica a necessidade do 
examinando de escapar da situação da prova: 
falando sobre os próprios problemas, expressando livremente associações de idéias sugeridas á 
partir de uma resposta ao Rorschach, ou ainda, de modo mais grave, utilizando estímulos do 
ambiente externo para elaborar suas respostas. 
II - FEITIO DE PERSONALIDADE 
1 — Condições Afetivo-Emocionais: 
O exame central das condições afetivo-emocionais abrange o estudo do índice de Afetividade (AO, 
do índice de Impulsividade (Imp), dos dois níveis de avaliação do equilíbrio das forças subjetivas 
(EQ e EQ’), das diferentes expressões emocionais (RL) e afetivas (RC). 
ÍNDICE DE AFETIVIDADE: 
Af = R(II,IILVIII,IXX) 
R( 1,1V, V, VI,VII) 
Faixa de variação:1,2 — 1,8 
Como todo índice do Rorschach, o resultado numérico de Af apenas dá uma indicação geral do grau 
de sensibilidade afetiva, ímpondose portanto o exame das respostas e dos mecanismos que 
prevalecem no conjunto de estímulos cromáticos de modo a verificar a dinâmica emocional que 
acompanha a reatividade do examinando às situações que mobilizam diretamente seus afetos e 
sentimentos. 
ÍNDICE DE IMPULSIVIDADE: 
Imp =R( II, III ) 
R(VIII,IX,X) 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁsico 185 
Faixa de Variação: 0,33 — 0,71 
Valores obtidos por Silveira em 40 examinandos normais e que não apresentavam qualquer 
dificuldade de ordem afetiva relacionada à pressão de impulsos primários. Imp. média=: 0,34 DP = 
0,05, contrastando com o valor médio de 0,57 que ele obteve em sua população de 100 
examinandos normais, da qual foram extraídos os 40 casos. 
Portanto, a interpretação do resultado do índice de Imp deverá levar em conta: que os valores 
situados no interior da faixa de variação (0,33 —0,71), porém próximos do limite máximo de 0,71 
deverão ser considerados como traduzindo impulsividade elevada mas dentro dos limites de 
normalidade. 
A análise qualitativa do processo responsável pelo resultado do índice Imp deverá levar em conta a 
possibilidade de inibição de respostas diante das pranchas IX ou X ou poderá ocorrer, por outro 
lado, o “choque afetivo” ante às prancha II ou III, afetando o resultado do índice de impulsMdade. 
Equilíbrio das Forças Subjetivas 
EQM:RC 
O termo Cromático em EQ: FC, resposta cromática mais freqüente e portanto menos carregada 
de subjetividade, recebe o valor ponderal mínimo de 0,5, enquanto que C , por corresponder à 
expressão mais direta e subjetiva dos afetos, recebe o de 1,5. A resposta CF corresponde a um 
dinamismo intermediário, daí ser-lhe atribuído o valor ponderal 1,0. 
Variante do EQ 
EQ’ -RM :RC 
O termo Movimento em EQ’: dado que M, me m’ surgem no 
protocolo do adulto médio em proporções comparáveis às de FC, CF e 
C, Silveira utiliza os mesmos valores ponderais para M (0,5), m (1,0) e 
m’(l ,5). 
RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁsIco 
Através dos resultados de EQ e EQ’ poderemos fazer o exame das disposições afetivas do 
examinando quando confrontadas com as suas concepções intelectuais mais amadurecidas (EQ) ou 
quando consideradas as concepções imaturas, habitualmente não exteriorizadas. (EQ’). 
EXPRESSÕES EMOCIONAIS E AFETIVAS 
Níveis de adaptação emocional 
O processo emocional corresponde à repercussão da noção subjetiva de um significado - deduzido 
dos diferentes tons de luminosidade (RL) ou reconhecido no tom monocromático de uma superficie 
(C’) - sobre os diferentes níveis de expressão dos afetos. 
Adaptação emocional do adulto implica na proporção: 
L+C’> 1+1’, sendo que C’ deverá ser maior que L para indicar um modo mais espontâneo e 
produtivo de integração emocional ao ambiente. A prevalência das emoções mais imaturas 
1 e 1’ tanto poderá consistirem um sinal de ansiedade como imaturidade ou simples retração 
emocional nas relações com o ambiente. Para a avaliação destas proporções deveremos levar em 
conta as respostas adicionais, com um valor de 0,5 ponto, cujo significado será influenciado pelo 
determinante principal da resposta. 
Níveis de expressão dos afetos - análise das respostas 
cromáticas: 
a) Estudo da proporção, considerando como adequada: 
FC>CF+C; 
b) Análise do conteúdo das RC : conotação positiva ou negativa; 
c) Mecanismos de reação que interferem na expressão dos afetos: 
inibição ou rejeição, condensação cor, referência ao vermelho, nomeação de cor, comentários 
relativos à cor; ou mecanismo 
CR0; 
d) A ausência de RC (assim como a de RM) tem um significado que deve ser interpretado, ao 
contrário do que ocorre com a ausência de RPs ou de RL, freqüente em protocolos normais. 
186 
ROPSCHACH CUNIc0 — MANUAL Bisico 187 
2. Concepções Centrais para a Identificação do Self 
Processos Cognitivos que Intervém na Dinâmica de 
Personalidade: 
As concepções, papéis e valores centrais do examinando referentes a si mesmo, assim como o grau 
de objetividade dos julgamentos e da intensidade com que intervém na dinâmica de personalidade, 
podem ser avaliadas através da análise das RM e das figuras humanas percebidas de modo dinâmico 
(atribuição de sentimentos ou intenções mesmo que sem percepção de movimento): 
a) Estudo da proporção M:m:m’, sendo a expectativa M>2 e M>m+m’; 
b) Análise dos tipos de movimento humano (flexor ou extensor), da qualidade formal (positiva ou 
negativa) e do grau de energia envolvido para a realização da atividade projetada (escala de 
Piotrowiski) 
e) Análise das figuras humanas percebidas em movimento ou de modo dinâmico (reais, idealizadas, 
fantasiadas ou disfarçadas, fictícias, monstruosas ou distorcidas), do grau de precisão da imagem 
percebida (vagas, distantes, nítidas, próximas, identificadas quanto ao sexo, profissão ou contexto 
histórico). 
3. Dinâmica Psíquica Atual: 
3.1. Direção em que se Aplica a Ativação Psíquica ( ou energia mental) 
G/R - O total de G (simples e combinados com diferentes qualidades formais) em relação ao total de 
produção no protocolo (R). O valor desejável é o 0,25. A condição básica para o planejamento das 
experiências é o investimento da energia mental para a apreensão das implicações mais amplas das 
experiências. Essa capacidade será tanto mais diferenciada quanto maior for o número de Globais 
Combinadas com boa qualidade formal. 
G:M - O planejamento das ações, que depende da capacidade de 
abstração em extrair significados genéricos das situações — expressos 
188 RORSCHACH CLÍNICO MANUAL BÁSICO 
por G — deve ser comparado à elaboração criativa e pessoal das experiências, que revela as 
aspirações do adulto — representada por M. Na maioria dos casos é mais freqüente formular projetos 
do que exercer a autonomiano desempenho do trabalho mental criativo e original. Donde a 
ocorrência predominante da proporção equivalente a 3:1, com relação a G e M. Se a ocorrência de 
ambos os elementos do protocolo pelo aspecto quantitativo,já é suficiente para indicar disposições 
particulares de personalidade, a análise qualitativa de ambos os fatores (tipos de G e de M e 
respectiva qualidade formal) poderá fornecer informações mais específicas sobre a dinâmica 
psíquica examinada. O desequilíbrio da proporção 3:1 poderá decorrer tanto de uma ambição 
exagerada na formulação dos projetos com escassa autonomia para realizá-los (exagero de G em 
relação a M), como da tendência exagerada ao devaneio e à introspecção com reduzida iniciativa 
para a execução dos projetos (exagero de M em relação a G). 
M: C - Neste confronto consideramos dois planos distintos da atividade mental: a capacidade de 
auto-afirmação no exame das condições externas — expressas em M — e a liberação direta e irrefletida 
de impulsos afetivos não subordinados às condições do ambiente. No protocolo de indivíduos 
adultos, é rara a ocorrência de C e é esperada a presença de pelo menos 2M, indicando maturidade 
Psicológica. Quando MPs. Quando invertida, ela sugere sentimento de inadequação ou necessidade imatura 
de dominar o ambiente. 
3.2 — Confronto entre os Processos Cognitivos e as Condições Afetivo-Emocionais 
O índice EQ, confronto entre M e SC fornece indicações sobre a estrutura da personalidade, tal 
como se manifesta nas relações interpessoais na época do exame, segundo a concepção de Silveira. 
O índice EQ’ permitirá verificar, além disso, se as fantasias e concepções irracionais (m em’) 
interferemna autonomia consciente do examinando, modificando o 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 
seu modo de reagir na interaç.o com os Geniais quando sob tensão, ou quando diminui o 
controle consciente. 
De modo a avaliar a dinâmica psíquica mais ampla que caracteriza 
a personalidade atual do examinando confrontamos, no plano manifesto e 
latente do comportamento, as concepções intelectuais e os processos 
a) No Plano Manifesto: 
Vertentes Intelectual e Afetivo-Emocional (Ps + M):( L + C) 
As respostas de movimento humano (M) correspondem às elaborações intelectuais 
fundamentalmente ligadas à estrutura da personalidade e indispensáveis ao estabelecimento 
consciente da auto-afirmação no desenvolvimento do self, e da formulação individual e criadora 
dos dados do ambiente. Este processo cognitivo deve ser comparado com os impulsos afetivos (C) 
que se expressam de modo direto no comportamento e que podem intervir nas ações do indivíduo 
psicologicamente amadurecido, embora habitualmente sejam reprimidos pelo convívio social. 
Todavia, nem M exprime todo processo cognitivo nem os impulsos traduzidos em C podem deixar 
de ser modulados pelas reações emocionais. 
Assim, no setor intelectual, a autonomia individual e o desenvolvimento de papéis básicos 
durante a evolução do pensamento lógico no processo de socialização,-representados por M - não 
são suficientes para a plena adaptação à realidade. As solicitações do contexto situacional impõem-
se sobre as concepções pessoais. O indivíduo deve situar-se objetivamente frente às exigências da 
realidade externa, comparando-se com os demais de modo a definir sua posição no ambiente. Tal 
dinamismo, que antecede o pleno desenvolvimento da auto-afirmação, acha-se representado na 
prova de Rorschach pelo determinante Ps. 
No setor afetivo, as emoções que decorrem das noções advindas da expressão direta dos impulsos 
(C) e de suas conseqüências, se exprimem no fator L. Este processo emocional, quando em 
situações normais, favorece a atitude cautelosa e sensível do examinando ao expressar seus afetos 
No estudo da dinâmica psíquica consciente comparamos os processos cognitivos com os 
afetivo-emocionais, incluindo em cada setor os dois pólos opostos mas não antagônicos: as 
reações derivadas do estímulo ambiente e exercidas como adaptação (Ps e L) e as 
propriedades intrínsecas devidas à própria estrutura da personalidade (Me C). 
189 
afetivo-emocionais. 
190 RORSCHACH CUNCO — MANUAL BÁsico 
b) No Plano Latente 
Vertentes Intelectual e Afetivo-Emocional - (m+ m’): (1+ l’+ C’) 
As reações intelectuais latentes, representantes de uma fase anterior do desenvolvimento, em 
que as concepções ainda se acham subordinadas aos juízos de valor, as fantasias emocionais que 
caracterizam a adaptação imatura do indivíduo no ambiente, são traduzidas no Rorschach pelos 
determinantes m e m’. Tais concepções, na realidade, nunca desaparecem inteiramente da vida 
mental do ser adulto. Ao contrário do que ocorre com o modo subjetivo com que a criança pequena 
se situa no ambiente (traduzidas no Rorschach por ps e ps’), as concepções decorrentes 
dejulgamentos de valor (m em’) intervêm indiretamente nas concepções de ordem racional (M). 
Por outro lado, como expressão latente das reações emocionais e que permanecem como 
pano de fundo de toda experiência afetiva, mesmo as mais adaptadas, estão as reações subjetivas 
fundamentalmente associadas ao sentido do tato. Esse tipo de contato sensual preside as primeiras 
ligações da criança com a realidade externa; e, na idade adulta, concorre, em plano inconsciente, 
para dar um sentido afetivo e pessoal às experiências objetivas. E representado na prova de 
Rorschach pelo determinante 1, o qual pode ser acrescido, e às vezes substituído, pelo determinante 
1’. Além disso, como representativo de uma adaptação emocional que, embora adequada, é mais 
superficial e menos criadora que L, temos as reações expressas pelo determinante C’, dependentes 
de experiências concretas e indutivas com o ambiente. Tal adaptação permanece como forma latente 
de ligação com a realidade externa, mesmo nos casos em que a elaboração lógica predomina sobre 
os juízos de valor. 
Em suma, de modo análogo ao que procedemos com o índice EQ’, comparamos as tendências 
intelectuais que permanecem em plano profundo (m e m’) , interferindo indiretamente sobre as 
concepções abstratas do indivíduo adulto (M), com as reações emocionais também subjetivas e 
menos criadoras, e que igualmente estão presentes em todo contato afetivo com a realidade (1, l’e 
C’). 
e) Tipos de Confrontos: Exame da Dínâmica da Personalidade 
As comparações entre as proporções (M + Ps ) : (E + C) e 
(m + m’) : (1 + C’) nos permite avaliar o grau de harmonia na dinâmica de 
personalidade, entre o trabalho intelectual e as reações afetivo-emocionais, 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
por um lado, no plano manifesto e, por outro, em nível latente de consciência. Quando (Ps + M) 
supera o valor de (L + C), em um dado protocolo, verificamos que as concepções intelectuais 
prevalecem sobre as reações afetivo-emocionais. Neste caso, a dinâmica coincide com o 
tipo introversivo do índice EQ. Quando na proporção, prevalecer o segundo membro, as 
expressões afetivas dominam o psiquismo, tal como ocorre no tipo extratensivo do índice EQ. Ou 
ainda, quando ambos os membros tiverem igual valor, teremos uma dinâmica ambigual- dilatada 
ou então coartada (no caso dos valores de ambos os membros da proporção serem inferiores à 3). 
As informações fornecidas pela análise dos fatores conscientes que compõem a proporção são de 
ordem mais especifica, individualizada e variável, que aquelas fornecidas pela análise do índice EQ. 
De fato, não apenas o resultadonumérico dos valores confrontados como também a intensidade 
com que cada um deles se apresenta no protocolo, nos fornecerá indicações precisas e atuais sobre a 
personalidade em estudo. De modo semelhante, o confronto entre as proporções (m + m’): (1+ C’) 
indica a interferência predominante das fantasias (m e m’) ou das expressões mais primárias das 
emoções (1 e C’) no piano da consciência. Neste caso, é importante no apenas confrontar os 
resultados com o valor do índice EQ’ como também com os fatores conscientes das respectivas 
esferas da personalidade: (m+ m’) com (Ps + M) e (1+ C’) com (L + C) 
Trata-se aqui de um estudo particular da dinâmica de personalidade, 
peculiar a cada examinando, portanto não se justificaria a avaliação 
estatística dos resultados. Cabe ainda ressaltar que quando os 
determinantes que compõem as proporções estudadas aparecem como fatores adicionais das 
respostas, eles deverão ser computados com o valor 0,5 ponto. 
4. Disposições Conativas 
A subordinação das concepções e necessidades subjetivas às condições do mundo exterior 
traduz-se na prova de Rorschach pela predominância percentual do determinante F sobre 
quaisquer outros fatores determinantes. 
A capacidade de manter estável a atenção para o julgamento objetivo das situações é 
avaliada no Rorschach pelo índice %F+. Esta capacidade não decorre de uma estrutura 
estática mas de um processo essencialmente dinâmico e fundamental para a aquisição do 
conhecimento e para a integração no ambiente. Pelo fato de refletir a aplicação da 
191 
192 RORSCHACH CliNico — MANUAL BÁSICO 
inteligência ao exame da realidade objetiva consideramos que F+ exprime dinamismos 
extrinsecamente intelectuais e decorrentes das funções conativas da personalidade. 
Por outro lado, os fatores afetivo-emocionais e cognitivos constituem o conjunto de disposições 
individuais que absorvem a atividade explícita. De fato, o rendimento da atividade explicita, em 
função das exigências externas, depende da capacidade do indivíduo de subordinar as próprias 
concepções cognitivas e as necessidades afetivas às condições concretas do ambiente. 
O controle seletivo e a modulação das disposições subjetivas para o exercício e a manutenção da 
atividade consciente decorre das funções da esfera conativa. O conjunto desse processo conativo foi 
considerado por Binder como o componente “formativo-ativo” ou sofropsíquico da personalidade. 
Na prova de Rorschach a avaliação da eficiência desse processo 
mental pode ser feita através do índice de conação , concebido e testado 
por Silveira (1944-55). 
Construção do Índice Conação 
Para a construção do índice, Silveira utilizou as duas modalidades 
de expressão da forma na prova de Rorschach: 
a) como valor quantitativo ou F total, que inclui F+, F- e F°. Deste total de respostas formais 
(RF) ele subtraiu o número de respostas de todo o protocolo (R), em valor percentual. Deste modo 
ele obteve a percentagem de todas as respostas do protocolo que não foram determinadas 
exclusivamente pela forma das manchas e que traduzem o conjunto de expressões afetivo-
emocionais e cognitivas mobilizadas durante aprova, isolando assim os processos conativos em 
ação: %(R-F). 
b) como índice qualitativo %F+ do qual se subtrai o valor de % (R-F) permitindo avaliar o grau 
de eficiência e objetividade da atividade 
explícita. 
Portanto o índice resulta em: 
Con = %F+ — % (R-F) ou, para facilitar o cálculo: 
Con %F+ —(100 - %F)j 
L 
RORSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO 193 
Os valores obtidos para a nossa população normal foram muito próximos daqueles obtidos por 
Silveira, mas com desvio padrão relativamente maior, (ver Parte III do Manual) o que nos levou a 
adotar a faixa de variação referida a seguir. 
Protocolo Total: Faixa de variação: 44 à 55% 
Embora Silveira tenha calculado sistematicamente o índice de conação para os conjuntos de 
estímulos monocromáticos e coloridos, ele não fez avaliação estatística nestes subgrupos. Em nossa 
população o cálculo estatístico evidenciou que enquanto para conjunto monocromático a 
distribuição dos valores se faz segundo uma curva normal, o mesmo não ocorre com os valores do 
conjunto cromático, dada a grande variedade de reações individuais à estimulação afetiva direta, por 
isto, para este último caso optamos pela utilização estatística dos quartís, como referência (ver Parte 
III do Manual). 
Conjunto monocromático:Faixa de Variação 56 à 68 
Conjunto cromático: Faixa de Variação:39 à 45 
O fato do índice de conação e a %F+ terem valores mais baixos nos conjuntos coloridos indica 
que mesmo no psiquismo normal a ativação direta dos afetos interfere na imparcialidade 
dojulgamento de realidade e no controle conativo para a expressão pertinente e produtiva da 
atividade explícita. 
Embora implicando uma reflexão teórica, que escapa ao propósito deste manual, convém notar que 
os valores do índice de conação que superam o limite máximo da faixa de variação normal não 
indicam elevado rendimento da atividade explícita. Eles apenas refletem a dependência exagerada 
do indivíduo às condições externas, sua deficiência de autonomia em suas iniciativas, com rigidez 
(ou escassez) dos recursos pessoais que seriam desejáveis ao exercício da auto-afirmação no 
ambiente. 
Por outro lado, os valores do índice de conação que não atingem ao limite mínimo esperado 
indicam dificuldade de manutenção dos propósitos, incapacidade em reprimir as ações inadequadas 
ou desinteresse pelos eventos externos. 
A interpretação clínica deste índice deverá levar em conta as 
categorias de determinantes (R-F) que enriquecem, ou que desgastam, o 
rendimento da atividade explícita. 
194 RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
III - SINAIS PSICODIAGNÓSTICOS 
1. Choques Psicológicos: Expressões Diversas da Ansiedade. 
Os diversos autores atribuem como sinal de “choque” pequenos desvios no comportamento, 
subjetivo ou explícito, ante as diferentes pranchas. Desta forma, estes sinais são habitualmente 
analisados prancha por prancha, ganhando variadas denominações, como: choque ao vermelho, 
choque ao movimento, choque ao azul e assim por diante. Esta prática, no entanto, por não se 
mostrar fecunda à interpretação dos protocolos, foi reavaliada por Silveira (1963), sistematizando-a, 
tornando- a precisa e imprescindível na avaliação psícodiagnóstica. “Pela singularidade e pelo valor 
diagnóstico que implica, o choque psicológico — em última análise expressão da ansiedade — deverá 
ser considerado com critério rigoroso para que se torne válido” (Silveira). Com esta finalidade, o 
autor assinala a necessidade de agrupar as reações do examinando frente ao conjunto de estímulos 
coloridos ou frente aquele monocromático, como forma de garantir a natureza homogênea das 
reações: choque afetivo (ligado aos estímulos coloridos) e choque emocional (ligado aos estímulos 
monocromáticos). Os desvios psicológicos que traduzem o fenômeno de choque psicológico foram, 
portanto, reunidos por Silveira em dois grupos (colorido e monocromático), obedecendo uma escala 
de dez sinais decrescentes, quanto à intensidade do dinamismo, devendo ser analisados 
separadamente em cada conjunto de pranchas. Coelho (1980), dando continuidade ao seu trabalho, 
atribuiu valores ponderais específicos aos desvios em função da importância do comprometimento 
mental revelado por cada um deles, tornando mais criteríosa a aferição do choque psicológico. 
Portanto, deve-se realçar aqui a necessidade de comparar os desvios abaixo especificados entre os 
conjuntos monocromáticos e coloridos sendo considerados choques apenas aqueles que se 
mantiverem diferentes e peculiares ao conjunto de pranchas em questão. Ainda cumpre assjnalar 
que em protocolos onde houver repassagem, os dados utilizados na tabulação de choque deve 
referir-se somente à primeira associação. 
CHOQUE AFETIVO (chC) 
Ordem decrescente de alteraçãocomo determinada pela qualidade cromática da área examinada. O fato das RC 
corresponderem à reações afetivas imediatas, coordenadas em maior ou menor grau pelo controle 
motor (FC, CF, C) faz com que as associações verbais do examinando sejam freqüentemente 
acompanhadas por comentários ou qualificações de valor sobre aquilo que foi percebido, o que 
facilita a distinção entre as RF e RC. 
Além de orientar o leitor sobre o critério distintivo dessas respostas, Simone Brunhani elucida, e 
fornece exemplos, sobre a natureza da estruturação das imagens que deverão ser codificadas como 
FC, CF ou C. A autora assinala ainda a possível ocorrência de mecanismos de reação 
desencadeados pela presença dos estímulos coloridos mas que não constituem respostas 
classificáveis. Examina particularmente o fenômeno da cor forçada ou condensação de cor, onde há 
uma interferência no processo de integração da qualidade cromática à forma percebida [(F(C) )]. A 
utilização do significado semântico das diferentes RC e não da qualidade formal desta categoria de 
determinantes é explicada no final de seu texto. 
Ainda no interior do item IV 1 — mas em um texto à parte, 
Lilian Pasqualini Casado analisa o confronto entre as RC e as RM 
18 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 
para o exame do Equilíbrio das Forças Subjetivas, designado por 
Rorschach como Erlibnislypus. 
Neste texto a autora explica o modo com que Silveira concebe os índices EQ e EQ’, fornecendo 
indicações para o cálculo e interpretação dos resultados do confronto. Distingue assim os diferentes 
tipos de equilíbrio das forças subjetivas. Considerando o fato de não se tratar de tipos opostos, mas 
diferentes, a autora distingue como “tendências” os valores obtidos no cálculo desses índices. 
O índice EQ’ de Silveira constitui uma variante do índice original de Rorschach, em que o 
confronto se faz entre a somatória ponderal das RM (M, m e m’) e a somatória ponderal das RC 
(FC, CF e C). A avaliação dos dois índices permite a informação sobre o modo do examinando se 
comportar, em relação à disposição afetiva, quando se considera o plano mais amadurecido e 
autônomo dos processos cognitivos (EQ) e quando são examinadas concepções imaturas 
habitualmente não exteriorizadas no comportamento explícito (EQ’). 
O item IV 2 — Determinante Luminosidade - refere-se à vertente emotiva da personalidade, 
cujos processos envolvem a integração das noções e concepções cognitivas e a repercussão afetiva 
que produzem. Por se tratar de uma categoria de respostas que oferece maior divergência entre os 
diferentes Sistemas de Rorschach quanto à codificação e interpretação dos processos subjacentes à 
sua produção, a autora deste texto, Giselle B. Petri M. Costa, tece algumas considerações iniciais de 
ordem teórica. Em seguida passa a examinar os tipos de elaboração das imagens codificadas como 
L, C’, 1 e 1’, detendo-se na análise dos exemplos por ela fornecidos. 
O capítulo V — Categorização Semântica das Imagens: 
Conteúdos das Respostas - redigido por Giselle B. Petri M.Costa, 
encerra a primeira parte do manual. 
SEqUNdA PARTE 
Elaboração do Psicograma — Apresentamos neste capítulo os índices, proporções e correlações 
dinâmicas que compõem a súmula dos resultados — do protocolo total e de cada conjunto principal 
de estímulos: monocromático e colorido. Indicando a seqüência a ser seguida para a organização 
dos dados do psicograma, distinguimos 
RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 19 
os itens que abrangem o exame do Trabalho Mental e aqueles 
relativos à análise do Feitio de Personalidade. 
No exame do Trabalho Mental distinguimos os três níveis dos processos cognitivos mobilizados 
durante a prova de Rorschach: 
observação (distribuição da atenção na definição do campo perceptual), elaboração 
(construção das imagens à partir dos fatores determinantes) e comunicação 
(categorização verbal das imagens). Além disso, definimos os Mecanismos Inusuais de 
Reação em função do modo que intervêm no processamento da resposta. 
No Feitio de Personalidade, os processos afetivo-emocionais, as disposições conativas e a 
dinâmica psíquica atual são analisadas de modo mais detido. Na parte final destacamos os 
critérios para a atribuição dos choques psicológicos — afetivo (ChC) e emocional (ChL) — e aqueles 
utilizados na construção das escalas dos sinais psicodiagnósticos de distúrbios psicógenos (escala de 
Molly Harrower) e de alterações psíquicas associadas à lesões cerebrais (escala de Piotrowiski). 
TERCEiRA PARTE 
Análise Estatística e Dados Normativos — Nesta terceira parte do livro encontram-se todos os 
dados referentes ao estudo estatístico dos fatores e índices dos protocolos que compõem o grupo de 
examinandos normais ,utilizado como população de referência. 
Este capítulo inicia-se com a exposição do critério de normalidade adotado para a seleção dos 
examinandos da população normal. Em seguida, Manuel Carlos Salvia comenta a questão da 
distribuição estatística das variáveis do Rorschach, referindo-se a estudos atuais e justificando a sua 
utilização de técnicas específicas de avaliação dos resultados. 
No final do capítulo, encontram-se as tabelas e gráficos dos fatores do Rorschach no grupo de 
examinandos normais. Os resultados do estudo estatístico de cada fator e índice da prova 
permitiram o estabelecimento dos intervalos de variação, utilizados na elaboração do psicograma, 
tal como exposto na segunda parte do livro. 
Lúcia Coelho 
 
TÉCNICA DE APLICAÇÃO DA PROVA DE RORSCHACH 
MARiA CRiSTINA BARROS MAciEI PEI[ir.i 
APROVA de Rorschach envolve um processo de construção! 
elaboração interna e não meramente de identificação de imagens. A principal virtude do 
método de Rorschach é geralmente seu 
poder de fornecer um padrão integrado de personalidade global e, em seguida, articular este 
padrão de maneira quantitativa específica, em numerosas dimensões da personalidade. Este 
efeito, ainda único entre os processos de avaliação, tornou-se possível, até certo ponto, pela 
maneira que Rorschach definiu sua tarefa a partir de um ponto de vista sistemático. Seu 
interesse inicial era chegar à natureza das modalidades básicas de funcionamento 
subjacentes a toda atividade psíquica de um indivíduo. Ele foi bastante explícito 
enfatizando que seu alvo era descobrir “como”, antes de “o que” a pessoa experimenta. Isso 
significa procurar não só pelos conteúdos específicos das preocupações, esperanças e 
temores mas pela maneira através da qual estes eventos psíquicos vêm à tona, se expandem, 
com ressonâncias vivas da atmosfera ao redor, ou como reações racionalmente controladas. 
A preocupação é mais com o formal ou funcional do que os aspectos do conteúdo, 
substantivos da personalidade. 
Segundo Coelho (1980) “A capacidade do indivíduo de reproduzit associar, modficar 
combinar e expressar as imagens obtidas a partir de dez cartões que constituem o 
psicodiagnóstico de Rorschach está diretamente relacionada à sua imaginação e ao seu 
comportamento criador. A imaginação não resulta de uma faculdade única, mas da ação 
conjunta das funções afetivas, conativas e intelectuais” (p. 111). 
Na sucessão da apresentação dos dez cartões, verifica-se que 
os borrões de tinta são bastante diferentes entre si quanto ao nível de 
22 RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 
homogeneidade, presença do vermelho, presença de tons pastéis, equilíbrio na disposição espacial 
da mancha no cartão, simetria, dispersão, participando todas estas características de maneira mais 
ou menos expressiva na elaboração das respostas. 
A apresentação de uma prancha na Prova estimula diretamente a visão que integra as experiências 
através dos outros sentidos e que, conjuntamente com a audição, nos oferece uma noção de como 
percebemos a realidade. Tudo o que acontecer a partir deste momento terá que ver com as 
disposições próprias, internas e externas, do examinando: condiçõesPsíquica 
a) Sinais mais significativos de distúrbios inconscientes (somatória 11 pontos). 
RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 195 
1. Rej. Total ou parcial: 
Incapacidade para associar ante as pranchas II, III ou VIII, especialmente. E considerado como Rej 
parcial ou bloqueio quando após haver Rejeitado na fase associativa, o sujeito consegue dar pelo 
menos uma resposta no repasse. 
A exclusão de choque na prancha IX deve-se ao fato dela ser o estímulo da prova que oferece maior 
dificuldade associativa, facilitando a ocorrência do mecanismo de Perplexidade ou, quando provoca 
reação emocional isto se deve a conflitos de ordem atual e consciente. 
A rejeição da prancha X decorre de processo distinto, uma vez que ela habitualmente favorece 
maior número de respostas. No caso, a sua rejeição não deverá ser considerada como choque 
quando decorrer da reação negativa do examinando (sobretudo daquele com G elevado) diante da 
dispersão dos estímulos =3 pontos. 
2. Degradação do nível formal: 
Queda da %F+, substituição de F+ por F (do tipo arbitrário ou 
vago ou dinâmico) ou aumento da %F- quando comparada com o grupo 
monocromático = 2 pontos. 
3. Desvio do fator M: 
Ausência de M, desvio de M para F (Inibição ou tendência à M) 
ou então: M ou igual á 50% nas monocromáticas) nversão do tipo: pH>H ou RH = O 
apenas no conjunto monocromático. = 2 pontos 
Observações: 
— Os sinais 1 e 2 referem-se a distúrbios na integração com a realidade, geralmente caracterizados 
como extrema rigidez. 
— O sinal 3 é distinto do sinal 3 do choque cromático devido ao fato dele não corresponder 
propriamente a distúrbios na identidade subjetiva, 
1 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 199 
mas sobretudo à dificuldade de auto-afirmação no contato interpessoal, decorrente quer da 
preocupação exagerada do examinando com a posição ocupa no ambiente, ou em identificar as 
ameaças externas (Ps e L) quer, devido ao refúgio em fantasias e concepções irracionais (m em’). 
— Os sinais 4 e 5 traduzem fuga de envolvimento direto nas situações, tensão emocional e conflitos 
no convívio interpessoal. 
b) Sinais de ordem mais cognitiva, ainda que também decorrentes de distúrbios emocionais 
inconscientes 
(somatória 5 pontos). 
6. Subjetivismo 
a) Ocorrência de 1’ e um m’2 ou ps’ como determinante principal apenas no conjunto 
monocromático. Q, 
b) Exagero de um destes determinantes — ocorrência de um destes fatores como principal e 0,5 ponto 
como adicional, cuja soma ultrapasse aquela dos fatores mais desenvolvidos da respectiva escala: 
1’> 1 +L ou C’; m’2> m’+ m +M; ps’ 1, pela raridade deste fator a sua mera presençajá é 
significativa. Ou, 
c) Ocorrência de ambos os desvios anteriores. Pontuação: 1 ponto 
7. Mecanismos anormais: como em CHC, mas que ocorram exclusivamente no conjuntomonocromático. =1 ponto 
8. Diminuição da Elab.: Como em CHC mas em relação às pranchas, IV, V e V1I= 1 ponto. 
9. Alterações de Tempo e da Produtividade: 
a) Tipo inibição: Aumento do Tempo total das monocromáticas ou da T/R (pelo menos 25% maior 
que o das cromáticas) ou TRI > ou igual à 1 minuto em uma das pranchas IV, V e VII. Associado à 
redução no número de respostas (Rm 26). 
200 POPSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
10. Restrição das Categorias como em CHC 
Escassez de categorias na faixa de conteúdos, quer devido ao aumento do conteúdo A, quer à 
perseveração de conteúdos primários. Ou redução da faixa de conteúdo quando comparada à do 
conjunto cromático. Desvios associados à de restrição na faixa de determinantes — como em CHC. 
SOMATÓRIA TOTAL: 16 pontos . A ocorrência de 8 ou mais 
pontos será considerada como “Choque emocional”. 
2. SINAIS PSICODIAGNÓSTICOS 
A configuração de conjuntos particulares de desvios dos fatores de Rorschach, considerados como 
específicos a determinados tipos de alterações psicopatológicas, tem sido objeto de inúmeras 
investigações desde a criação da prova. 
A maioria das pesquisas parte do estudo de protocolos de indivíduos com diagnóstico de distúrbios 
mentais, como depressão, esquizofrenia, neurose, personalidade psicopática, epilepsia, buscando 
encontrar no psicograma do Rorschach carapterísticas exclusivas a cada um destes distúrbios, e 
ausentes em protocolos de indivíduos normais ou de pacientes com outros quadros clínicos. Trata-se 
de um procedimento indutivo, de valor explicativo e preventivo reduzido, mas útil para a 
exploração dos distúrbios mentais tais como eles se expressam no grupo de pacientes examinados, 
possibilitando o levantamento de questões e hipóteses teóricas interessantes. 
Não cabe aqui a exposição de outro tipo de método de investigação: 
o método do hipotético- dedutivo, mais rigoroso e de maior poder explicativo, pois ele é raramente 
adotado no campo clínico. 
Atualmente, devido ao predomínio do procedimento empírico e da avaliação quantitativa dos 
distúrbios mentais, a busca de “sinais psicodiagnósticos” no Rorschach tomou-se ainda mais 
freqüente, junto com a criação de novas escalas e questionários psicológicos. 
A pesquisa dessas configurações significativas de sinais deve 
prosseguir, entretanto devemos utilizar com muita prudência os resultados 
numéricos dessas escalas psicodiagnósticas, eles apenas permitem levantar 
a suspeita da ocorrência possível de um distúrbio psicopatológico. Apenas 
a análise específica dos fatores envolvidos nessas escalas poderá trazer 
maior esclarecimento sobre a natureza do distúrbio examinado. 
PORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 2O 
Por não considerarmos ainda como suficientemente testado o valor dos sinais de ansiedade (Coelho, 
L. e Costa L., 1987-1988) e o de agressividade ( Fazzani, R e Coelho, L., 1993) exporemos aqui 
apenas duas séries de sinais: os Sinais Psicógenos de Molly Harrower e os Sinais Lesionais de 
Piotrowiski. Estas séries são sistematicamente incluídas na elaboração do psicograma do Rorschach 
clínico, por terem se revelado úteis para o diagnóstico diferencial e sobretudo para expressar 
dinamismos psicopatogênicos peculiares. 
1. SÉRIE DE MOLLY HARROWER: Distúrbios Psicógenos (Adaptação de Anibal Silveira em 
1942 e reavaliação empírica 
de Coelho, em 1999.) 
A Série de Harrower, com as ligeiras modificações sugeridas na época por outros autores, consiste 
nos seguintes sinais, designados segundo a nomenclatura original (MH) e na nomenclatura de 
Silveira (AS). Na última coluna encontram-se os valores ponderais atribuídos por Molly Harrower e 
aqueles sugeridos por Coelho, com base em sua pesquisa (Boletim da Sociedade Rorschach de São 
Paulo -2000). 
Total 17 16 
* Valor mínimo de somatória de sinais para 
consideração de distúrbios psicógenos no Critico 8 7 
protocolo de Rorschach examinado. 
 
SINAIS 
(MII) (AS) 
CONDIÇÕES 
INICIAIS 
- 
MODIFICAÇAO 
(Outros A utores) 
VALOR 
PONDERAL 
M.II. COELhO 
R 
M 
R 
M 
R M FM 2M ou 
FM = O 0,5 1 
%F %F F>ou50% ou%F ou = 50% ou %A + anta > ou =65% 1 0,5 
% Anat % an % anat > ou = 50% 
 
1 0,5 
CS CHC Choque à Cor (Rejeiçâo, inibição ou aItL) 
 
2 3 
SS CHL 
Choque de 
Som breado (o 
mesmo, em IV e 
VI) 
3 3 
 
202 RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 
Molly Harrower atribuiu valores ponderais aos sinais de modo a distinguir o valor discriminativo de 
cada um deles: os sinais Fa, FC e SS receberam peso 3; os sinais M e CS receberam peso 2; os 
sinais %F, %A, %Anat e R receberam peso 1, e foi dado o peso de 0,5 pontos para o sinal FM. 
Sendo a somatória total igual a 17,5. 
Ainda nesse mesmo trabalho, a autora levanta a questão sobre o valor de sua Série de Sinais para o 
diagnóstico diferencial entre pacientes neuróticos, psicóticos e orgânicos. E, de fato ela verificou a 
possibilidade de ocorrência de cinco sinais em pacientes com alterações lesionais ou funcionais do 
Sistema Nervoso Central: R, M, %F, Fa e %A. Porém nesses protocolos, o diagnóstico diferencial 
tornava-se possível devido a alterações típicas , além de apresentarem igualmente um número 
elevado de sinais da Série de Piotrowiski, concebida pelo autor em seu estudo sobre esse tipo de 
transtornos orgânicos. Em relação aos protocolos de pacientes psicóticos, Harrower encontrou 
igualmente a possibilidade de ocorrência de cinco ou mais sinais de sua Série, sendo que os sinais 
FM e CS eram aqueles cuja ocorrência oferecia maior poder de discriminação, pois raramente 
ocorriam em psicóticos. Além disso, a população psicótica se distinguia pela ocorrência de 
mecanismos típicos, tais como contaminação, respostas bizarras, discrepância entre a qualidade das 
formas, etc. 
Feitas tais considerações, concluiu-se pela aceitação da validade desses sinais como indicadores da 
intervenção, total ou parcial, de fatores psicógenos na etiologia dos casos clínicos, com a importante 
ressalva de que nenhum dos sinais, considerados isoladamente, eram patognomônicos. 
Desde 1943, Anibal Silveira introduz em seu sistema de avaliação da prova de Rorschach os sinais 
de Molly Harrower. Entretanto, seu critério para a classificação das respostas e para a avaliação dos 
choques psicológicos, por serem mais rigorosos, permitiram maior fidedignidade à série original 
dos sinais psicógenos. 
Convém ainda mencionar o comentário final de nosso artigo (Coelho 2000): “embora útil, como 
elemento de pesquisa, o agrupamento dos resultados, em conjuntos significativos de 
desvios em fatores espec(ficos da prova de Rorschach, de modo a correlacioná-los aos 
distúrbios mentais examinados pelo clínico, não autoriza a atribuição de um diagnóstico 
psiquiátrico. A dinâmica psíquica, normal ou patológica, tal como ela é apreendida 
através da Prova de Rorschach, é de ordem mais profunda e espec(flca que os desvios 
psicopatológicos codificados pela nosologia psiquiátrica. Portanto, a ocorrência signfl 
cativa de sinais de Harrower em um protocolo de Rorschach 
RORSCHACH CUNIco — MANUAL BÁSICO 203 
indica a presença de distúrbios psicógenos que interferem, de modo particulai na dinômica 
de personalidade de cada examinando, mas em si mesmos, esses sinais não são 
patognomônicos de um quadro clínico, tal como ele é codificado na classificação das 
doenças mentais “. (pg. 64) 
2. SÉRIE DE PIOTROWISKI 
Segundo a experiência de Piotrowiski (1937), a ocorrência de cinco ou mais sinais desta série é 
indicativade desorganização mental decorrente de lesões cerebrais. Portanto, o que estes sinais 
indicam é a presença de distúrbios mentais decorrentes de alterações orgânicas do sistema nervoso 
central, e não simplesmente o diagnóstico de lesões cerebrajs, efetuado pelo neurologista. 
1 
 
NO. SÍMBOLO SIGNIFICADO 
1. R Total de respostas inferior a 15. 
2. T Tempo médio de reação por resposta superior a 1 minuto 
3. M Uma única resposta M, ou menos 
4. nC Uma resposta nC, ou mais de uma, como determinante: o examinando considera a nomeação de 
cor como resposta satisfatória, sem necessidade de explicação. 
5. %F+ %F+ inferior a 70% ( ou 75%, para Silveira) 
6. 
7. Aut 
Resposta automática: frases esteriotipadas, de preenchimento. Foram observadas originalmente 
por Oberholzer, o paciente responde com uma frase habitual, não pertinente, como uma reação 
mecânica diante de situações não familiares. 
Lib 
Liberação de respostas inadequadas, por incapacidade de reprimi-las, apesar de reconhecê-las como tais. Os 
examinandos as consideram como absolutamente incorretas pois. esses pacientes supõem que existam respostas 
certas ou erradas no Rorschach. Nesse caso eles se dão conta de que pelo menos uma de suas respostas é absurda, 
mas não consegue inibi-Ia. Este mecanismo decorre do fato dos pacientes com lesões cerebrais terem a capacidade 
de autocrítica conservada, mas de não conseguirem corrigir seus erros. Sentem-se impotentes no controle da 
expressão verbal., apesar de estarem firmemente convictos de cometerem um engano. A Lib pode ocorrer em um 
protocolo de adulto normal, mas neste caso, isto se deve à consciência do examinando das inúmeras possibilidades 
de interpretação oferecidas pelos estímulos do Rorschach, e dele ter se precipitado na escolha de sua resposta. 
 
204 PORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
Para Piotrowiski (1937) os sinais mais significativos são: nC, Ppl, Aut; e, a ocorrência de 
cinco dos sinais da Série seria suficiente para se diagnosticar lesão cerebral como causa de 
alterações mentais. Silveira valorizatambém aocorrênciado sinal %F+. Pretendemos 
investigar essa série de sinais, tal como fizemos com a série de Harrower, mas no caso, será 
necessária a utilização conjunta de alguns testes neuropsicológicos para o exame dos 
pacientes 
O estudo de várias das Séries de Sinais Psicodiagnósticos propostas pelo Sistema 
Compreensivo de Exner nos parece igualmente interessante. Mas no caso, será preciso 
identificar previamente as implicações teóricas de cada índice da série considerada, de 
modo a tornar possível a transposição dos fatores envolvidos para o nosso sistema de 
classificação das respostas. 
 
NO. SÍMBOLO SIGNIFICADO 
8. PpI 
Perplexidade, falta de confiança na própria capacidade. Corresponde à uma atitude de surpresa diante da 
dificuldade apresentada pelo estímulo , quando o examinando solicita alguma ajuda ou esclarecimento. Esses 
pacientes sentem-se inseguros quanto à capacidade cognitiva, necessitam do apoio do examinador, e mesmo 
quando tentam dar alguma resposta, ficam perguntando se ela é ou não correta. Portanto a Ppí se revela através 
das expressões verbais e reações comportamentais do examinando. 
9. Rpt 
Repetição da mesma resposta em pelo menos três diferentes pranchas, por perseveração de um tipo especial. 
Corresponde à simples reutilização, em estímulos dilbrentes, de uma resposta que pareceu , ao examinado, 
adequada para uma situação .A primeira , desta série de respostas, pode até ser precisa e de boa qualidade formal, 
mas as demais são geralmente arbitrárias e mal definidas. 
10. %V Percentagem de respostas vulgares inferior à 25%, indicando certo grau de dificuldade de apreensão 
dos padrões de pensamento, que compõem o consensus social. 
 
RORSCHACH CúNico — MANUAL BÁSICO 205 
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SILVEIRA, A — Resposta à Cor, e Correlatas, na Prova de Rorschach. 
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SILVEIRA, A — Prova de Rorschach: Elaboração do Psico grama, 
Brasileira Ltda, São Paulo, 1985. 
 
ANÁLISE ESTATÍSTICA E 
DADOS NORMATIVOS 
MANUEL CARLOS PINhEiRO SÁLVIA E 
LÚCiA MARiA SÁLviA COELhO 
GRUPO DE REFERÊNCIA: POPULAÇÃO NORMAL 
Critério de Seleção dos examinandos 
EM trabalho publicado em 1997 pela Sociedade Rorschach de São 
Paulo, acham-se referidos os critérios adotados para a construção de nossa população normal de 
examinandos. Basta aqui lembrar que 
a seleção dos 100 protocolos de Rorschach de indivíduos normais obedeceu a um critério teórico do 
conceito de normalidade. Segundo esse conceito, a normalidade psíquica não corresponde à uma 
realidade estatística, ela não se define com uma média correlacionada a um grupo social. Não 
decorre de uma acomodação aos padrões dominantes de comportamento, mas ela é concebida como 
uma noção limite que define o máximo da capacidade mental do indivíduo para a adaptação às 
condições do ambiente. Nesse caso, os pacientes com distúrbios psíquicos não se diferenciam tanto 
da maioria quanto eles se afastam das suas condições habituais de existência, pela alteração, ou 
mesmo ruptura, da harmonia da dinâmica de personalidade. 
Não cabe aqui a discussão do conceito de normalidade psíquica, reportamos o leitor para a consulta 
do livro de G. Canguilham: “Le normal et lepathologique” e do artigo de Ruy B. Mendes 
Filho:” O conceito de normalidade em Psiquiatria”, onde o autor expõe as concepções de 
Silveira. 
Portanto, a população aqui estudada não representa a população 
média brasileira, mas é composta por brasileiros cujo comportamento foi 
observado por Silveira ou Coelho no decorrer de pelo menos dez anos 
212 PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
— sendo que dentro desse período foram submetidos à prova de Rorschach 
- e que apresentaram integração harmônica ao ambiente, sem desvios 
graves de conduta ou de personalidade, quer de ordem dinâmica quer de 
ordem estrutural, 
Critério semelhante foi adotado por II Rorschach (1932) e por S. Beck (1950) para a composição 
de seus grupos normais de referência, apesar destes autores não terem observado o comportamento 
dos examinandos durante um período mais prolongado. 
Mais recentemente, Exner (1994) incluiu em sua população normal examinandos “sem história 
psiquiátrica conhecida” e que se apresentaram como voluntários para serem submetidos à prova 
de Rorschach. Reuniu assim urna amostra de “setecentos (700) adultos não pacientes, estratificados 
por distribuição geográfica e parcialmente pelo nível sócio- econômico”. A idade média destes 
examinandos é a de 32 a 36 anos, com amplitude de 19 à 70 anos, sendo 50% de cada sexo. (Exner, 
1994, pgs 199-200). 
E interessante observar que, apesar do critério rigoroso de seleção estatística para a obtenção de 
protocolos de Rorschach de uma população média norte —americana, Exncr não encontrou 
diferença significativa em relação às variáveis demográficas (estado civil, educação, faixa etária, 
raça, local de residência e nível sócio econômico), com exceção do nível nove da Escala de 
Hollingshead e Redlich de classe social. O nível 9 corresponde à indigentes, que entretanto 
puderam ser incluídos no grupo geral “sem afetar signfIcativamen1e nem as médias, nem os 
desvios padrões” dos fatores do Rorschach (Ibid,pg 201). E, mesmo desdobrando os fatores do 
Rorschach em inúmeras categorias, definidas empiricamente pelo confronto indutivo de tipos de 
respostas e comportamentos observáveis, Exner verificou que grande parte dos resultados 
estatísticos foi de ordem “não-paramétrica” 
Pudemos também constatar que parte dos fatores e índices dos protocolos de Rorschach de nossos 
examinandos não se distribuíram segundo urna curva de Gauss, sendo que alguns apresentaram 
elevado desvio padrão. Este fato se deve sobretudo aos modos variáveis com que os processos 
psíquicos se articulam, em diferentes indivíduos, na integração harmônica da personalidade. Este 
fato deverá ser levado em conta em um trabalho futuro, com maior número de protocolos de 
Rorschach, onde procuraremos distinguir os principais estilos de integração psicológica, de modo a 
formar subgrupos de examinandos normais. 
Desde que a distinção dos fatores do Rorschach, e a construção de 
índices, se pautem em conceitos teóricos bem definidos, consideramos 
RORSCHACH CUNiCO — MANUAL BÁsico 213 
indispensável a utilização de um grupo de protocolos de Rorschach de examinandos normais que 
sirva de referência no estudo de casos individuais, em condições normais ou com distúrbios 
psicopatológicos. Entretanto, é preciso ressaltar que os resultados estatísticos e as faixas normais de 
variação, estabelecidas para cada índice do Rorschach, possuem apenas valor relativo. Os resultados 
numéricos apenas fornecem indicações gerais sobre as condições atuais do processo psíquico em 
exame. Como nos testes de exame neuropsicológico, é indispensável a análise dos elementos que 
compõem os índices, a intensidade com que intervém no resultado, e a interação que mantém com 
os outros fatores do psicograrna. 
2. Características da população 
Dentre os 100 examinandos, 47 são do sexo feminino e 53 do sexo 
masculino. A idade média do grupo é 28,3 com amplitude de 19 a 60 
anos, 
Todos os examinandos pertencem à classe média, 44% são 
estudantes (medicina, psicologia, pedagogia, filosofia, curso secundário); 
38% exercem profissão liberal (médicos, psicólogos, assistentes social, 
engenheiros e advogados); 8% são técnicos e professores secundários, 
2% são comerciantes, 1% militar e os 7% restantes exercem atividades 
domésticas. 
Em relação ao grau de escolaridade: 82% com curso universitário 
completo ou em andamento; 12% com curso secundário e 6% completaram 
cursos técnicos. 
Dentre os protocolos de Rorschach, 49 foram aplicados e avaliados por Anibal Silveira, e os 51 
restantes aplicados e avaliados por Lucia Coelho(40 protocolos) ou aplicados por psicólogos 
especialistas no Rorschach (11 protocolos) formados pela Sociedade Rorschach de São Paulo. A 
classificação e elaboração dos 100 protocolos foram revistas por Coelho de modo a garantir a 
fiabilidade dos resultados. 
ESTUDO ESTATISTICO DOS FATORES DO RORSCHACH 
Normalização dos Resultados 
Além do critério teórico utilizado para a seleção de examinandos “normais” para comporem um 
grupo de referência, devemos levar em conta as possibilidades e a pertinência da utilização de testes 
estatísticos,. paramétricos ou não-pararnétricos. 
214 RORSCHACH ClíNico — MANUAL BÁsico 
As variáveis do Rorschach que permitem a utilização de testes 
estatísticos paramétricos são aquelas cujos valores se distribuem segundo 
uma curva de Gauss, ou curva normal. 
As curvas normais são aquelas que preenchem as seguintes 
características. 
a. Curto sis igual a três (3). 
b. Assimetria igual a zero ,ou seja é simétrica ,em relação a média. 
e. O Desvio Padrão é igual a zero no ponto da curva em que fica a 
média. 
d. Desvio.Padrão igual a Área da Curva abrangida pelo desvio padrão 
+1 ou — 1 desvio padrão 68,26% 
+2 ou —2 desvio padrão 95,46% 
+3 ou — 3 desvio padrão 99,73% zz 
Nota: a = desvio 
X média 
As curvas normais, ou de Gauss, são teóricas, na prática as curvas que se aproximam destas 
condições são consideradas normais. O problema para os pesquisadores em ciências humanas 
consiste em determinar o grau de aproximação considerado. Este critério é variável de um autor 
para outro e também em relação ao tipo de variável considerada. 
De modo a indicar os valores que serão adotados para considerar 
que um conjunto de dados tende a formar uma curva normal ,vamos 
rever os comentários de alguns autores sobre o assunto. 
D.J.Viglione em seu artigo Basic Considerations Regarding Data Analysis (page 198) no 
livro Personalily and Clinical Psychology Serie (editado por Irving B. Weiner.,1995 )Afirma: 
“Ifa distribution isfound to be reasonable normal,parametric approaches to data analysis 
may be appropriated “. 
Entretanto o autor não mencionou nenhum campo numérico de variação considerado por ele como 
“reasonable”, possivelmente porque este valor depende do grau de complexidade da variável 
estudada. Assim no campo da psicologia a tolerância deve ser maior que no campo das 
—3a —2a —la X +la +2a +3a 
ROSCHACH CUNCO — MANUAL BÁSICO 215 
Ciências Exatas. O mesmo autor (página 201) observa: “...parametric statistics are routilely 
employed because the data are transformed into a normal curve. 
Na tabela dos resultados dos fatores e índices do Rorschach na população nonnal apresentada no 
livro “The Rorschach: A Comprehensive System” de J.E Exner (1994), o autor assinala com 
parênteses, as variáveis que se afastam da distribuição normal (variáveis não-paramétricas) 
Embora Exner não explicite o critério adotado para considerar uma distribuição de variáveis como 
normal., ele aceita as variáveis como tendendo para curva normal desde que seus resultados 
estatísticos variem dentro do seguinte campo: Média / D.P * de 0,24 a 5,3; Curtosis** de 2,16 a 
11,87; Assimetria de -1,11 à 1,28. 
Notas 
* A média dividida pelo desvio padrão (D.P) indica quantos D.P de variação foram aceitos. 
* * o sistema de Curtosis adotado por Exner estabelece o valor zero 
para o ponto maior da curva normal ,esta é a razão dos números negativos que aparecem na suas 
tabelas .0 outro sistema usado em estatística atribui para este ponto o valor igual a 3 
(três),eliminando portanto números negativos, este segundo sistema éo usado neste nosso trabalho. 
Exner usou uma combinação dos diversos dados estatísticos para estabelecer se a curva tendia para 
normal ou não . E , com razão, o autor considera que o conjunto de oito medidas:— média, desvio 
padrão, mediana, moda, amplitude, freqüência, assimetria e curtosis deve proporcionar uma medida 
muito mais exata sobre as proporções e índices do Rorschach que qualquer uma delas considerada 
isoladamente. 
Outro aspecto a ser considerado é aquele relativo ao tamanho da amostra que se pretende estudar. 
Em seu livro “Estatística”, P.L de Oliveira Costa Neto, observa: “....se a distribuição da 
população não for normal, mas a amostra for suficientemente grande, resultará, do 
teorema do limite central, que no caso de população infinita ou amostragem com 
reposição, a distribuição da amostra de x será aproximadamente normal sendo 
aproximada essa conclusão é extensível ao caso amostragem sem reposição se populações 
finitas porém razoavelmente grandes .“ pag.48 
216 RORSCHACH CUNCO — MANUAL BÁsico 
De um modo geral, os estatísticos consideram 40 como um número 
mínimo razoável para a composição de urna amostragem., sendo 1000 
valor ideal. 
CRITÉRIOS ADOTADOS PARA A 
NORMALIZAÇÃO DOS RESULTADOS 
Conforme constatamos, não existe um critério absoluto que permita determinar quais os valores 
estatísticos que deveriam ser adotados para se considerar que a distribuição de urna variável tende, 
ou não, para uma curva normal, o que permitiria o uso de testes estatísticos pararnétricos. 
Decidimos então adotar um critério mais conservador para estabelecer os parâmetros básicos para 
aceitação de uma curva como passível de ser considerada corno normal. Dentre as medidas 
estatísticas utilizadas, atribuímos maior peso as seguintes: 
VARIAÇÃO 
Dentre os 100 protocolos de Rorschach de indivíduos normais utilizados para elaboração da obra 
“Estudos Estai ísticos dos Fatores do Rorschach em população Normal” (publicação interna 
da Sociedade Rorschach de São Paulo — 1997), noventa e quatro (94) protocolos obedeceram os 
critérios aqui estabelecidos. Os resultados obtidos para essa população acham-se descritos nas 
tabelas e gráficos anexos. 
TABELAS ESTATÍSTICAS 
PARAMÉTRICA — inclui índices com distribuição normal. 
NÃO PARAMÉTRICA — tabelas de freqüência acumulada de todos os índices, considerados 
“não - pararnétricos” colocados em ordem crescente. Para informações adicionais e para visualizar 
os intervalos que se deseja estabelecer, consulte os onze gráficos, relaciona os índjces com os 
valores acumulados em porcentagens (Exceto para %p’, que apenas ocorreu em um protocolo). 
 
 
de até 
Curtosis 2,10 3,90 
Assimetria 0,90 +0,90 
MédiaJD.P. >oul,20 11,00 
 
RORSCHACH CUNICO — MANUAL BÁSICO 
217 
TABELAS 
11 
III 
IV 
V 
VI 
VII 
Obs.: Modalidades — Conjunto monocromático 
Obs.: Modalidades — Conjunto Cromático 
Adaptação à Realidade 
Adaptação à Realidade (Monocr. e Cromático) 
Cond. Afetivo Emocionais e Disp. Conativas. 
ZI, relação entre ELAB/R 
BIBLIOGRAFIA 
CANGUILHEM, G. - Le normal et lepathologique - Paris, PUF. 1972. 
COELHO, L e Salvia,M.C. Estudo Estatístico dos Fatores do 
Rorschach em população Normal (Pubi Interna Sociedade 
Rorschach de São Paulo). 1997. 
EXNER, J. Em - The Rorschach . A comprehensive system vol 1 (trad 
para o espanhol: de M.E.Ramírez - El Rorschach: Un sistema 
comprehensivo. Madrid, ed. Psimática. 1993 
MENDES Filho, R.B. — sobre o conceito de normalidade em psiquiatria. 
In.: Boletim da Sociedade Rorschach de São Paulo, Vol. 1 no 2 — Agosto-Dezembro. 1982. 
OLIVEIRA Costa Neto, P.L. - Estatística São Paulo,ed Edgard 
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VIGLIONI, D. J. - Basic Considerations regarding data analysis In 
Weiner, I.B (Ed), Personality and Clinical Psychological Series (pp 
195-226). Hilisdale, NJ.: Lawrence Erlbaum Associates. 1995. 
 
Obs. Intelectual e adaptação à realidade — Modalidades 
dos 9 4 casos.psicológicas, ambiente, 
interesse e motivação. 
Inicialmente, devemos observar que a aplicação do RORSCHACH deve respeitar as condições 
básicas para a aplicação de uma prova psicológica, quanto ao ambiente físico (sala com pouca 
estimulação, tranqüila e bem iluminada), estabelecimento de um bom “rapporC’, privacidade, etc. 
Recomenda-se que as aplicações sejam feitas durante o dia, sob luz natural, mas caso não seja 
possível, que se disponha de boa iluminação, que não cause sombras ou altere a percepção de cores 
das manchas. 
Quanto à posição do examinador-examinando, recomenda-se que seja adequada às condições do 
ambiente de aplicação, desde que possibilite ao examinador visão do examinando e de suas reações 
corporais, bem como visão das pranchas e ainda, que o aplicador evite uma posição que cause maior 
constrangimento ao do examinando. 
Segundo Coelho (1980) “A sucessão das respostas à série de pranchas constitui a fase de 
associação espontônea. Durante esta fase o examinador deverá registrar exatamente as 
expressões verbais e mímicas do probando, o tempo que ele levou para enunciar a 
primeira resposta de cada prancha (Tempo de reação inicial - Tr i.) e o tempo total (T T) 
despendidoporprancha. Após afase associativa passamos para a fase de inquérito durante 
a qual devemos apurar os dinamismos determinantes do conteúdo verbal comunicado pelo 
examinando” (p. 111). 
MATERiAl NECESSÁRiO 
Além das pranchas de RORSCHACH (organizadas em ordem 
de 1 a X), viradas sobre a mesa: 1 cronômetro; 2 folhas de localização; 
2 canetas de cores diferentes; várias folhas de resposta em branco 
RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 23 
(em média 10 folhas). Este material deve ser organizado previamente 
pelo examinador. 
PROCEdiMENTO RARA ApLicAçÃo 
1. Contato inicial - “RAPPORT” 
Antes da aplicação propriamente dita, faz-se necessário o contato 
inicial, também denominado “rapport” entre o aplicador e o 
examinando. 
Do “bom rapport” depende o sucesso da aplicação. O aplicador 
deve propiciar um ambiente e contato acolhedor, com o objetivo de 
diminuir a tensão inevitável frente à situação de prova. 
Deve-se deixar claro para o examinando: 
— a natureza da prova — que trata-se de uma avaliação de traços de personalidade e não mede, 
exclusivamente, inteligência 
ou qualquer outra habilidade específica; 
— que pode ser aplicado em qualquer pessoa, de qualquer idade, grau de escolaridade, nível cultural 
ou sócio-econômico; 
— o caráter sigiloso da prova; 
— a finalidade pela qual o examinando está se submetendo à prova: para aprendizado do aplicador, 
pesquisa, diagnóstico psicológico, seleção profissional, solicitação de outro profissional, etc. 
— no caso de situação de aprendizagem, explicar a função do observador e a função do espelho. 
1.1. Coleta de Dados: 
Deve-se ser feita de modo descontraído pelo aplicador, pois faz 
parte do “rapport”, que só termina quando encerramos a aplicação. E 
importante pesquisar: 
— dados do examinando: idade, data de nascimento, naturalidade, grau de escolaridade, curso, 
profissão; 
— saúde: se o examinando faz uso de algum medicamento e, em caso afirmativo, verificar se, 
dependendo do motivo da aplicação, é importante pesquisar se o examinando faz uso de substâncias 
químicas, a freqüência e efeitos deste uso; 
24 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 
— disposição do examinando: indagar se está disposto, tem bom hábito de sono, se está bem 
alimentado. Caso o examinando esteja com muito sono ou fome, ou ainda indisposto ou muito 
tenso, apesar do rapport, deve-se adiar a aplicação. 
ApLicAçÃo PROpRiAMENTE DiTA: 
A aplicação do RORSCHACH divide-se em duas fases: 
ASSOCIAÇÃO e INQUERITO. 
AssociAçÃo: 
É a fase de associação e construção livre do examinando, frente 
aos estímulos (pranchas) que lhe são apresentados. 
Quando estiver claro para o aplicador, que coletou e forneceu 
todas as informações necessárias, estabelecendo assim um “rapport” 
satisfatório, dará as seguintes INSTRUÇOES: 
“Vou lhe mostrar algumas manchas de tinta e gostaria que você me dissesse o que você vê nelas, o 
que essas manchas parecem para você. Não se preocupe em acertar ou errar, porque não existem 
respostas certas ou erradas, as pessoas vêem coisas completamente dferenies umas das outras e, 
portanto, não há certo nem errado; o importante é que você se sinta à vontade para falar tudo 
aquilo que você vê nas manchas que vou lhe mostrar As manchas podem ser vistas em qualquer 
posição e vou anotar tudo o que você disser Anotarei também o tempo, mas não se preocupe com o 
tempo pois é um controle meu, você tem o tempo que achar necessário. Quando você terminar de 
ver, você me devolve a prancha”. 
É importante discutir alguns pontos destas instruções: 
1. Manchas —preferimos o termo “manchas” porjulgá-lo mais ambíguo e de fácil compreensão 
para qualquer pessoa. Alguns autores usam termos como “cartões”, “manchas de tinta”, “lâminas”, 
“pranchas”; 
2. Não existem respostas certas ou erradas — normalmente as pessoas associam a Prova de 
Rorschach a testes de 
inteligência, que apresentam respostas certas ou erradas, 
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 25 
por isso, é importante ressaltar que não existem estes tipos 
de respostas. 
Dadas essas instruções, entrega-se a Pr. 1 na mão do examinando 
ou na mesa (caso ele(a) não a pegue), acionando o cronômetro. 
O aplicador deverá então: 
— anotar a movimentação da prancha que o examinando fizer, usando o seguinte código: 
A posição “normal”- em que se entrega a prancha. 
v posição “invertida”- virada de “cabeça para baixo” 
> virada para a direita do examinando 
será feita a REPASSAGEM: 
l’ quando ocorreu Inibição em 1 ou até 3 pranchas: 
— caso a Inibição tenha ocorrido frente às Prs. 1 a VII - reapresentar apenas a(s) prancha(s) inibida(s), 
dando a 
seguinte instrução: 
“Vou lhe mostrar novamente essa(s) mancha(s) em que você 
não viu nada, quem sabe agora você vê algo nela(s) “. 
— caso a Inibição tenha ocorrido frente as Prs. VIII, IX ou X, repassar o teste todo, conforme justifica 
Coelho (1990): 
com o propósito de se restabelecer o ritmo associativo da série, o que irá facilitar a 
atenuação do bloqueio e a elaboração de respostas nos estímulos às pranchas finais” (p. 
22). 
2° quando ocorreu a Inibição em mais de três pranchas, 
independente de quais sejam elas, devemos repassar o teste todo: 
PORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 27 
“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as observe outra vez, e quem sabe 
agora veja algo naquelas que você não viu nada anteriormente, e outras coisas naquelas 
que já viu antes, caso queira”. 
3° quando o número total de respostas (nas 10 pranchas) for 
inferior a 15, também devemos repassar o teste todo: 
“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as 
observe outra vez e agora veja outras coisas além daquelas que já 
viu antes “. 
(caso não aumente a produção, iremos trabalhar apenas com as 
respostas obtidas); 
4° quando ocorreu perseveração acentuada de determinado conteúdo ou resposta (ex.: mais da 
metade das respostas dadas forem de anatomia, ou consistirem em um mesmo conceito, por 
exemplo “Borboleta”), devemos repassar todas as pranchas. 
“Vou lhe mostrar novamente as manchas para que você as 
observe outra vez, e veja outras coisas além de... 
Em todos os casos, as instruções da REPASSAGEM, quando necessária, devem ser dadas com 
tranqüilidade pelo aplicador, como se tratasse de um procedimento de rotina da prova; será anotado 
o 
T.R.I. e o T.T. da mesma maneira que na primeira associação (posteriormente, na avaliação 
quantitativa, serão somados apenas os tempos totais de cada pr. e será considerado como T.R.I. o 
tempo da la. associação). 
Quando apesar da REPASSAGEM, o examinando continuar não fazendo nenhuma associação à 
prancha(s) inibida(s), anotar na folha de respostas que houve REJEIÇÃO nas referidas pranchas, 
para posterior avaliação. 
INQUERiTO 
Terminada a fase de associação (com a repassagem, caso 
necessário, ou não), inicia-se a fase denominada INQUERITO, 
quando serão reapresentadas todas as pranchas ao examinando (exceto 
28 RORSCHACH CLÍNICO — MANUAL BÁSICO 
alguma rejeitada) e lhe serão feitas algumas perguntas, sobre as associações feitas, com o objetivo 
de compreender o processo de percepção desenvolvido e a elaboração de cada resposta. 
Assim, após reorganizar as pranchas em ordem (de 1 a X), mudar 
a cor de caneta, para discriminar melhor esses dois momentos da prova, 
dar as seguintes instruções: 
“ Vamos passar para uma nova etapa da prova. Agora eu vou mostrar-lhe novamente as 
manchas e vou pedir que você me explique cada uma das imagens que você viu. Vou fazer 
algumas perguntas para que eu possa entender como você foi construindo essas imagens 
em sua mente. Como que, através das manchas, você foi tendo essas idéias que você disse “. 
Mostrar para o examinando a folha de localização, dizendo que 
irá utilizá-la, mas deixá-la sob a mesa (ou no colo). 
Mostrar então para o examinando a Pr. 1: ‘Aqui você disse que 
viu um.. .mostre-me, contornando com o dedo em volta da mancha 
onde você viu um... 
Anotar no mapa de localização o contorno feito pelo examinando, obtendo-se assim a localização 
da resposta, ONDE o examinando concentrou a sua percepção (MODALIDADE DA 
RESPOSTA), que poderá ser na figura toda, ou em apenas parte dela. 
Passar então à pesquisa de “QUAIS” características da mancha 
determinaram a construção da imagem para o examinando 
(DETERMINANTE DA RESPOSTA). 
E a parte mais delicada e dificil, principalmente para o iniciante em RORSCHACH e é preciso 
muito cuidado ao fazer as perguntas para não induzir o examinando tendo como exemplo de 
resposta: “uma borboleta”, na Pr. 1, perguntar: 
“O que na mancha te fez pensar em uma borboleta? “; ou 
“O que te fez lembrar uma borboleta nessa mancha? “; ou 
“Quais características da mancha que te ajudaram a pensar nela como sendo uma 
borboleta? “; ou 
“Como você construiu, na sua cabeça, essa imagem de uma 
borboleta à partir dessa mancha? “. 
Podem ainda persistirem dúvidas quanto à construção da 
imagem por parte do examinando ou ter-se ainda a hipótese de que 
RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 29 
outras características da mancha também ajudaram na percepção da 
imagem citada. Nesse caso, pode-se inquerir: 
“Descreva-me melhor essa borboleta”. 
“Além do(a) . . .o que mais te fez pensar em borboleta nessa 
mancha?” 
“Há alguma característica da mancha que te ajudou a pensar 
como sendo uma borboleta?” 
ObsEnvAço 
— todos os adjetivos utilizados pelo examinando, devem ser inquiridos: 
Como por exemplo: “uma borboleta muito bonita”. 
“O que, na mancha, te deu a idéia de ser uma borboleta muito 
bonita?” 
— para “nortear” o INQUÉRITO, é necessário que o aplicador construa hipóteses sobre os 
determinantes utilizados pelo 
examinando, considerando: 
FORMA: quando ele utiliza o contorno das manchas; 
COR: quando considera as cores na construção de suas respostas; 
LUMINOSIDADE: as diferenças de tons no interior das manchas; 
MOVIMENTO: quando o examinando projeta cinestesia na mancha, ele “sente” movimento da 
mancha; 
PERSPECTIVA: quando há a sensação de profundidade, planos diferentes de construção da 
resposta. 
Evidentemente nenhuma pergunta deve ser feita de modo a induzir o examinando, por exemplo: ‘A 
cor da mancha também te ajudou a ver...?” Tais perguntas não devem ser feitas, pois elas irão 
intervir no modo pelo qual o examinando constrói a imagem. 
— quando acontecer urna resposta vaga, ambígua ou não definida, como por exemplo: “monstro”, é 
preciso saber se é 
30 RORSCHACH CLiNICO — MANUAL BÁSICO 
um monstro com características humanas ou de animal, pedindo-se para o examinando “explicar 
melhor”; o mesmo procedimento será feito quando na associação o examinando fala “uma pessoa” e 
no inquérito, faz referência apenas ao rosto, é preciso pedir-lhe que “explique melhor”; 
— quando no inquérito o examinando acrescenta outras características que não havia dito na 
associação, exemplo: 
“uma borboleta” (na associação).. .está voando (no inquérito); perguntar se elejá havia percebido 
que estava “voando” antes, ou só no segundo momento (inquérito); 
— caso o examinando veja outras coisas no Inquérito, anota-se da mesma forma e procede-se o 
inquérito na sequência; 
— se, ao final do inquérito, o examinando não tiver dado nenhuma resposta de cor, ou seja, não tenha 
levado em conta nenhuma das cores (azul, verde, vermelho, amarelo, laranja, rosa e marrom) em 
nenhum momento, podemos ter uma hipótese de daltonismo ou cegueira às cores; nesse caso, ao 
final da aplicação, apresentamos a prancha X e solicitamos que ele nomeie as cores; 
— o ideal é que a aplicação do RORSCHACH seja feita em uma única sessão, mas caso o tempo se 
prolongue demasiadamente, podemos interromper, após finda a associação e dar início ao inquérito 
pelo menos na prancha 1, e continuar em um outro dia (preferencialmente no dia seguinte). 
1.2. Encerramento: 
Ao final do inquérito da Pr. X, proceder o encerramento com o 
examinando, de modo tranquilo, dando espaço para que o mesmo 
coloque suas impressões sobre a experiência vivida. 
Agradecer sua participação e acompanhar o examinando ao sair 
da sala. 
RORSCHACH CUNIc0 — MANUAL BÁSICO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 
COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de Rorschach, entrevistas e 
anamnese heredológica em 102 
examinandos. São Paulo, Atica,1980. 
_______________ Questões e procedimentos na construção do 
Psico grama de Rorschach. In: Boletim da Sociedade Rorschach 
de S. Paulo. Edição Especial, São Paulo, 1990. 
35 
 
LocALizAçÃo DAS RESPOSTAS: MODALIDADES DE 
OBSERVAÇÃO 
VANdA CiANqA RAMiRO 
COMPREENDE-SE por MODALIDADE, a área da mancha onde o 
examinando percebeu um significado específico, a partir da 
observação intelectual, que lhe permitiu focalizar a atenção, 
influenciada pelas reações emocionais e pela capacidade de ação. Portanto, é “onde o examinando 
viu” a resposta, ou seja, o “campo perceptual”. 
No sistema de notações por nós utilizado, encontramos oito diferentes tipos de 
MODALIDADES, divididas em duas categorias: 
MODALIDADES PRINCIPAIS e MODALIDADES SECUNDÁRIAS, sendo que as 
principais caracterizam-se como as mais freqüentemente encontradas na população média, enquanto 
as secundárias apresentam freqüência menor ou até rara, pois segundo Silveira, 1985: “...as 
categorias de modalidades compõem dois grupos: umas, a que denominamos principais, 
porque na concepção de todos os autores, desde Rorschach, definem o modo de atender à 
realidade exterior, e outras menos encontradiças, cuja presença revela dinamismos 
peculiares do trabalho mental “(p. 35). 
1. Modalidades Principais - G P p 
São as mais freqüentes na população média, que correspondem 
a um dinamismo normal de percepção, demonstrando que o 
examinando é capaz de perceber a mancha de modo amplo (Resposta 
Global - G), os aspectos mais evidentes (Respostas de partes - 
pormenores primários - P) e os detalhes (Respostas de partes - 
pormenores secundários - p). 
38 RORSCHACH CLíNico — MANUAL BÁSICO 
1.1. Resposta Global - G 
Serão classificadas como G, as respostas que compreenderem a 
mancha toda ou que exclui apenas porções (decorrente de “crítica à 
mancha”), mas sempre respeitando a Gestalt global da mancha. 
Exemplos: 
Portanto, a associação do examinando deve abranger a figura toda, porém, há dois casos que 
consideramos como exceções a essa 
regra: 
— na prancha II — menos a parte inferior em vermelho, denominada P3 
— na prancha IV — menos a parte denominada P1 continuará sendo G (global), desde que o examinado 
reconheça que as partes citadas fazem parte de sua resposta, ainda que não saiba o que é: 
Exemplos: 
Deixará de ser G (Global), quando o examinando as excluir de sua resposta, quando então 
será classificada como um Pormenor 
Atípico (P atípico). 
Distinguimos dois tipos de Resposta Global, considerando-se o 
tempo que o examinando observa a figura e verbaliza sua resposta: 
 
Pranchas 
 
1 Borboleta, no desenho inteiro. 
IV Um gorila. 
V Um morcego, na figura toda. 
VII Nuvens. 
X O desenho todo me parece um jardim. 
 
Pranchas 
 
 
Borboleta, na figura int parte da borboleta seria. eira, emb ora aqui (P3) nã o sei qual 
 
Homem das neves, no seria isso (P1). desenho todo, mas não sei o que 
 
ROSCHACH ClíNico — MANUAL BÁSICO 39 
GLOBAL SIMPLES E GLOBAL COMBINADA. Neste último tipo distinguimos dois 
modos diversos de estruturação de imagem: 
imediata e sucessiva. 
a) Global Simples. reconhecimento imediato de uma única gestalt familiar, a partir da: - observação 
concreta (processo indutivo do 
pensamento), produzindo respostas bem delineares, objetivas; 
Exemplos: 
— da observação subjetiva, produzindo respostas vagas, pouco delimitadas. 
b) Global Combinada: reconhecimento imediato de duas ou mais gestalts familiares, compondo o 
global. 
1) GLOBAL COMBINADA IMEDIATA - o examinando constrói sua resposta a partir da 
observação imediata da mancha, “olha 
e constrói”, uma resposta. 
Exemplos: 
 
Pranchas 
 
1 Borboleta 
IV Um gigante 
VI Uma flor 
 
Pranchas 
 
IV O desenho todo parece algo macio. 
VI Essa figura lembra tristeza. 
X Uma festa, muito alegre e colorida. 
 
Pranchas 
 
IV Um gigante sentado em um tronco de árvore. 
X O findo do mar com seus vários elementos. 
III Ritual indígena, com as índias cozinhando e os enfeites da festa. 
 
40 RORSCHACH CLJNIc0 — MANUAL BÁSICO 
2) GLOBAL SUCESSIVA - construída de modo dedutivo pelo reconhecimento sucessivo de 
vários elementos que compõem uma cena percebida inicialmente, ou sei a, o examinando constrói 
sua resposta sucessivamente até compor o global. 
Exemplos 
Não incluímos na modalidade G: 
1. A resposta que incluía os espaços em branco (GE); 
2. Quando apenas por coincidência, todas as áreas por serem interpretadas, mas sem que o 
examinando atribuía um conceito geral 
para o conjunto das interpretações. 
Exemplos: 
Prancha 
VIII Dois felinos (P1), uma árvore (P8), uma flor 
colorida (P2) 
 
Pranchas 
 
III 
Um ritual indígena onde duas africanas estão batendo em um tambor (P1), aqui tem dois 
animaizinhos pendurados para o sacrificio (P2), e aqui um símbolo da tribo (P3), 
VIII 
São dois felinos (P1), estão atravessando de um penhasco para o outro (P2 e P8) para chegarem 
até o cume da montanha (P4). 
 
Pranchas 
 
VIII 
Dois ursos (P1), uma montanha em uma floresta (P4+P5), aqui (P2) um campo florido. Os ursos 
saem do campo para subirem a montanha. 
X 
Vejo siri (P1), caranguejos (P7), coral (P9), cavalos marinhos (P4), algas (P15), um casco de 
navio (P1 1), peixinhos (P12), plânctons, plantas marinhas, formando o fundo do mar. 
 
RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 41 
1.2. Resposta de Pormenor Primário - P 
Serão classificadas como P (letra “P” maiúsculo), todas as respostas localizadas em partes da 
mancha, freqüentemente selecionadas pela população média, independente do tamanho da área 
selecionada. 
Para sabermos se a região selecionada pelo examinando trata- 
se de uma região freqüente ou não, consultamos os Mapas de 
Localização, de cada prancha (ver tabela de Qualidade Formal). 
Observa-se que nos Mapas de Localização (Beck) os pormenores Primários (P), estão numerados de 
1 a 15 (inclusive), o que significa que aparecem com freqüência de pelo menos 1:22(4,5%) na 
população estudada para a padronização. 
Convém ressaltar que o tamanho da parte selecionada ou sua posição na prancha, não são levados 
em consideração na avaliação dele como um Pormenor Primário (P). O critério é unicamente a 
freqüência. 
Portanto, todas as respostas, que não abrangem a mancha toda, 
e localizam-se nas áreas mais freqüentemente escolhidas e mapeadas, 
terão como Modalidade - P (Pormenor Primário). 
Exemplos: 
Nota: teremos ainda, algumas respostas, localizadas em áreas menos freqüentes, não localizadas 
nos Mapas, que no entanto, ainda serão classificadas como Pormenor Primário Atípico. Estas serão 
encontradas na Tabela de Qualidade Formal de cada uma das pranchas. 
1.3. Resposta de Pormenor Secundário - p 
Serão classificados como Pormenor Secundário (letra “p” em 
minúsculo), as respostas localizadas em partes cuja freqüência de 
 
Pranchas 
 
1 Mulher (parte central da mancha) P1 
II Rosto (parte vermelha superior) 
VIII Felino (parte lateral em rosa) 
IX Magos (parte superior em laranja) 
X Torre (parte superior em cinza) 
 
42 ROPSCHACH CLíNico — MANUAL BÃsIco 
escolha pela população média foi inferior que 1:22. Consultando os Mapas de Localização de Beck, 
observamos que são consideradas as áreas numeradas apartir do número 16. 
As respostas obtidas, localizadas em região que não constar no Mapa de Localização da prancha 
correspondente, também serão classificadas como Pormenor Secundário, considerando-se a 
reduzida frequencia dessa área selecionada. 
Observamos ainda, que o tamanho da área selecionada (reduzido), não determina que a resposta seja 
classificada como Pormenor Secundário, o critério adotado continua sendo o de frequencia. 
Exemplos: 
- Pranchas 
2. Modalidades Secundárias 
São denominadas “secundárias”, as áreas selecionadas para construção das respostas, queapresentarem dois sentidos: raridade de ocorrência e por revelarem variações subjetivas menos 
acessíveis ao total estatístico. 
Atendendo este critério, encontramos: Resposta Global com Espaço, Resposta de Espaço, Resposta 
de Pormenor Inibitório, Resposta Global a partir de um Pormenor e Resposta Global com valor de 
Pormenor. 
2.1. Modalidades Secundárias mais Freqüentes - GE E 
2.1.1. Resposta Global com Espaço - GE 
Serão classificadas como GE, as respostas que o examinando abranger toda a mancha e ainda 
incluir alguma região de espaço em branco (independente do tamanho ou da quantidade de espaços 
incluídos). 
 
1 Cabeça de cachorro (parte inferior da região 
 
central da mancha) - p31. 
 
1 Avião (considerando a parte central vertical Mancha e a metade superior horizontal conjunto ) - p sem 
localização. 
da 
em 
 
RORSCHACH CLINICO — MANUAL BÁSICO 
Exemplos. 
2.1.2. Resposta de Espaço - E 
Classifica-se como Resposta de Espaço, quanto a modalidade, as respostas localizadas apenas nas 
partes em branco, não considerando-se as manchas de tinta, das pranchas, denominadas espaço ou 
fundo das figuras, resultado da inversão da “gestalt”perceptiva do examinando. 
Exemplos: 
Observamos que em nossa acepção teórica, não há divisão de respostas de Espaço primário 
e secundário, como é feito em relação 
às respostas de partes das manchas (pormenor primário e secundário). 
Nos mapas de localização de Beck, encontramos as regiões das 
pranchas classificadas como Espaço, mais frequentes, numeradas, no 
entanto, caso obtenhamos uma resposta de área em branco que não 
43 
 
Pranchas 
 
1 ‘‘Cabeça de raposa (em G), sendo que (E30) são os olhos e (E29) é a boca. 
II 
A4a.i espacial subindo (E5) com fumaça em volta 
(P6) e fogo (P2 e P3). 
V ‘‘Borboleta (em G) voando no céu (toda porção em branco, constitui o fundo da mancha) 
VII v Abajur (sendo G a cúpula e (E7) a lâmpada) 
VIII t’Mapa (sendo G, a terra e vegetação e no fundo em branco, a água). 
 
Pranchas 
 
1 ANoivinhas (espaços em forma de ‘triâgulos no centro da mancha - E30) 
II ANave espacial (espaço central da mancha - E5) 
VII AUm vaso (espaço central da mancha - E7) 
VIII ‘‘Asa deita (espaço entre parte inferior laranja e parte central verde - E32) 
IX ACálice (região central da mancha - E8) 
 
44 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 
seja mapeada, esta continuará sendo classificada como Resposta de 
espaço. 
Nota: Encontramos respostas, onde o examinando combina espaço em branco com partes da 
mancha (pormenor primário ou secundário), não constituindo uma GE. Nestes casos, não temos 
uma notação de modalidade específica, mas consideramos, na classificação, a “combinação”feita. 
Exemplo: 
Prancha 
II AJj caverna (onde P6 é a parede da caverna e E5 é a entrada) 
Neste exemplo, o examinando combinou um pormenor primário (P6) com um espaço em branco 
(E5); como neste caso a caverna é o elemento mais importante na construção da imagem, 
consideramos como modalidade principal o P e a modalidade E, será secundária, registrando-se: 
P(E). 
De forma inversa, poderíamos ter o espaço como elemento 
principal da resposta e um pormenor como secundário: 
Exemplo: 
Neste caso, o espaço foi o elemento do percepto, enquanto o pormenor foi o elemento 
secundário, logo, será classificado: E(P). 
Podemos ainda, ter respostas combinando espaço com pormenor 
secundário, onde o procedimento é o mesmo: E(p) ou p(E). 
Exemplo: 
 
Prancha 
 
IX ‘‘Um violino (onde braço, enquanto P5 cordas). 
E8 é o corpo 
é denominado 
do vi 
como 
olmo e 
sendo 
o 
as 
 
Pranchas 
 
11 
AFansma (onde o corpo é 
p27) - Classificação: E(p) 
no ES e os olhos em 
1 “Tartaruga (onde o corpo e pés em E26) - Classificação: cabeça é no p24 e os p(E) 
 
RORSCHACH CIJNIc0 — MANUAL BÁSICO 45 
2.2. Modalidades Secundárias menos Freqüentes - p’ PG GP 
2.2.1. Resposta de Pormenor Inibitório - p’ 
Serão consideradas p’- Pormenor Inibitório - as respostas decorrentes de certa inibição do trabalho mental, 
levando o examinando a destacar apenas uma parte de uma resposta considerada como frequente - como figura 
humana ou animal - porém, não conseguindo perceber toda a imagem correspondente. 
Embora estas partes sejam pormenores primários ou secundários, 
devido a peculiariedade do dinamismo psicológico ocorrido, são 
classificados como p’: 
Esta modalidade reflete um modo não habitual de trabalho 
mental, portanto, ocorre com pouca frequencia na população média. 
Segundo Silveira, são exemplos de p’: 
Exemplos. 
Pranchas 
P2 ou P5 vistos como asa ou então só a metade 
superior do P4 atípico, como seios. 
- p31 como pés, sem ver o corpo 
II p22 como pata de animal 
III P5, como pr. na posição normal, como perna humana, pontinhos claros em P6, vistos com 
olhos ou nariz (sem integrar a cabeça). 
IV P4 como braços, isoladamente. 
V P2 e P3 como antenas. 
VI Não há nenhum exemplo de p 
VII Pequenos pormenores em P1, percebidos como partes da face sem integrar o rosto. 
VIII Parte de P1 relativa à cabeça do animal 
IX Ápice P3 (parte superior) visto como cabeça do animal. p26 visto como nariz. 
X Não há nenhum exemplo de p’ 
46 RORSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO 
Há algumas exceções na classificação de partes não integradas 
ao todo, que não serão considerados p’, devido a freqüência, 
relativamente alta encontrada: 
Exemplos. 
2.2.2. Resposta Global, a partir de um pormenor - PG 
Serão classificadas como PG, as respostas resultantes de uma “generalização apressada” feita pelo 
examinando, levando-o a deduzir urna associação para a figura corno um todo, a partir da 
observação de uma parte da mesma, um pormenor. 
Neste caso, quando inquerido, o examinando mostra a figura toda como sendo sua resposta, mas 
justifica apenas a parte que reconheceu e desencadeou a “supergeneralização”, não conseguindo ver 
todo. 
Exemplo: 
Pranchas 
 
Pranchas 
 
II P4 como mãos. 
III P4 e P6 como cabeça humana 
IV P1 como cabeça humana ou animal 
V P1 como perna 
VIII P1 como corno cabeça humana 
IX P4 como cabeça humana 
X P5 como cabeça de coelho 
 
1 Caranguejo. lnq. No todo (G); (o que te fez ver o 
 
caranguejo?) As garras, só isso; (o que mais você vê do 
 
caranguejo?)Não vejo mais nada, só as garras, como eu 
 
vi as garras, só podia ser um caranguejo. 
IV 
Gigante. Inq. É inteiro (G); (o que te fez ver um gigante?). Os pés, enormes, igual pé de gigante, então o 
resto só pode ser um gigante, senão não teria sentido: 
(descreva as partes do gigante que você vê) só os pés, o resto não vejo, mas só pode ser por causa dos 
pés. 
 
RORSCHACH CLíNICO — MANUAL BÁSICO 
(Continuação) 
Este tipo de modalidade foi denominada por Hermann Rorschach 
e outros autores como “Global Confabulatória”, dado a 
frequência de ocorrência em examinandos com tendência a 
“fabulações” (delirantes ou não). 
2.2.3. Respostas Global com Valor de Pormenor - GP 
São respostas, resultantes da seleção de toda mancha(G), 
justificada como sendo uma parte de figura humana ou animal, desde 
que tal associação não seja frequente na população média. 
Para sabermos se a associação é frequente ou não na população média, é necessário consultar a 
tabela de Qualidade Formal. Caso a resposta não seja encontrada entre as respostas alistadas (em 
G), mesmo quanto uma gestalt semelhante, será classificada como GP. 
Segundo Silveira, 1985... “Este tipo de resposta aponta 
seguramente para dinamismo anormal epor isso raramente aparecerá 
em protocolos normais”(p. 139). 
Exemplos: 
Prancha 
‘‘Uma pata de elefante. lnq. No todo (G), parece a pata de um elefante, o formato é igual da pata de 
um elefante. 
— se procurarmos na Tabela de Qualidade Formal, não encontraremos “pata de elefante”em G, ou 
outra associação próxima, mesmo pela gestalt sugerida,então, a modalidade desta resposta será, 
GP. 
47 
 
Pranchas 
 
VII 
Índios, dois. lnq. (G) Tem pena de índio, então é índio. (descreva-me os índios?) Não sei, só estou 
vendo as penas uma de cada lado (mostraP5), então só podem ser índios. 
VI 
Vejo bigodes de gato aqui do lado, é um gato com certeza. Inq. (mostra bigodes em p26) é 
idêntico os bigodinhos do gato; (além dos bigodes o que te fez ver um gato nesta figura?) nada, só 
os bigodes, não poderia ser outra coisa com esses bigodes, é gato mesmo. 
 
48 RORSCHACH CLÍNIco — MANUAL BÁSICO 
BIBLIOGRAFIA 
COELHO, L.M.S. Epilepsia e Personalidade: Psicodiagnóstico de 
Rorschach, entrevistas e anamnese heredológica em 102 
examinandos. São Paulo, Atica, 1975. 
SILVEIRA, A. Prova de Rorschach: Elaboração do Psico grama. São 
Paulo, EdBras, 1985. 
 
Pranchas 
III 
AJ sorriso. Inq. É tudo (G), aqui é a boca sorrindo (P1), com o enrrugado que fica em cima do lábio (P3) 
e dos lados da boca (p2). 
IV 
‘‘Tórax de um orangotango,. Inq. (mostra em G) 
Só vejo o tórax e tem a textura do peito do macaco. 
V ‘‘Um bigode. Inq. No geral parece um bigode, bem imponente. 
VII Chifre de touro. lnq. Parece inteiro com um chifre, igual das touradas, tem esse modelo. 
 
 
DETERMINANTE FORMAL 
CíilA AN/\UATE E MARIA INS FALCÃO 
INTROdUÇÃO 
TOMANDO-SE a própria publicação de Hermann Rorschach podemos observar que, no 
Psicodiagnóstico, o autor denominava a prova de “Interpretação de Formas Fortuitas” . 
Nesse sentido, sua preocupação consistia em pesquisar os aspectos formais das respostas a fim de 
obter um “apanhado geral das funções 
de percepção e de concepção” (grifo do autor) (1)• 
Dito de outra forma, buscava-se (como ainda o fazemos) 
distinguir quais as características das manchas que se impõem à 
percepção do examinando: se relacionadas à forma apenas e/ou à 
outros fatores como cinestesia, cor, luminosidade ou perspectiva, 
uma vez que estas últimas também podem ter, em seu bojo, a 
participação da forma na construção da imagem assocjada. 
O QUE E FORMA? 
A forma é o aspecto mais importante do mundo visível, é o princípio ordenador do unjverso. E 
construtiva quando dá ordem e estrutura os borrões e destrutiva quando se torna estereotipada, não 
permitindo a flexibilidade. A visão reconhece as características peculiares de um objeto. A forma 
demanda um olhar ativo e seletivo, exige focalizacão, estruturação e atenção ativa. A percepção da 
forma é uma função da consciência relacionada a adaptação à realidade. A forma é o mais freqüente 
e o mais importante dos determinantes (2)• 
50 RORSCHACH CLÍNIcO — MANUAL BÁSICO 
FREQUÊNCiA dAS RESpOSTAS dE FORMA (RF) 
Após a investigação iniciada com o criador do método, outros estudiosos da Prova de Rorschach 
também preocuparam-se em estabelecer critérios para a freqüência das respostas de forma, 
destacando-se os trabalhos de Beck (7) e Small (8)• 
Sabemos que as RF são as mais freqüentemente encontradas nos protocolos de Rorschach. 
“mesmo nos casos particulares” (1) e, como bem situa Coelho (4), “ela é inerente a toda e qualquer 
porção das manchas e comum a toda a série”. Este tipo de percepção representa, em média, mais da 
metade das associações frente às manchas (1,2, 3,4, 5,6, 7, 8) A Sociedade Rorschach de São Paulo, 
baseada na elaboração do psicograma tal como definido pelo seu fundador, o Prof. Aníbal Silveira 
(5), utiliza-se de critérios estatísticos para verificação da freqüência do determinante forma, obtendo-
se dados atualizados no último estudo realizado pela Prof Lúcia Coelho (6) Devemos aqui assinalar 
uma distinção que nos parece fundamental para a classificação das RF. Trata-se da distinção entre 
qualidade formal, avaliada segundo a freqüência estatística com que determinadas áreas evocam 
conteúdos específicos, em função da pregnância formal neles encontrada, e a precisão formal, que 
correspondem ao grau de nitidez e da estruturação da imagem nas diferentes respostas produzidas 
pelo examinando. Qualidade e precisão formal correspondem a mecanismos perceptuais diversos, 
daí a necessidade de distingui-las. 
OuANdo CLASSiFiCAR LiMA RESpOSTA COMO RF? 
Apenas o contorno da figura é levado em conta pelo sujeito e nenhuma outra característica é 
considerada. E o mais comum em um protocolo. Aparece em média em 64,8% das respostas do 
protocolo, com faixa normal de variação entre 59% e 71%. O inquérito é fundamental para 
constatar não haver outra característica presente. A resposta é classificada em F, F- ou F° conforme 
a freqüênc.: da resposta dada. Segundo pesquisas estatísticas constatamos o sinal + ou — das 
respostas. Se a resposta não é encontrada na tabela, consideraremos F°. Usamos o termo forma 
estendida para falar a respeito de respostas que contêm uma resposta de forma porém há outro 
determinante junto, priorizando a resposta. Respostas M, m, Ps, FC, CF, C’, L necessariamente 
contém uma resposta de forma 
RORSCHACH CL1NIc0 — MANUAL BÁSICO 51 
implícita, mas não classificamos como RF, uma vez que não se trata 
do mesmo processo psíquico. 
DisTiNçÃo ENTRE AS RF 
A Prova de Rorschach é constituída de estímulos ambíguos e “as respostas dadas podem ser mais ou 
menos congruentes com a forma do estímulo” (4)• Desde Hermann Rorschach há um empenho no 
estabelecimento de critérios para distinguir respostas de forma bem vistas (F) das respostas de 
forma mal vistas (F) — e das menos freqüentemente encontradas (F°), segundo nossos estudos (4, 5)• 
Tal como procedia Hermann Rorschach, outros autores procuraram estabelecer medidas objetivas, 
portanto, segundo critério estatístico (5,7) Isto eqüivale dizer que respostas mais freqüentemente 
associadas a uma determinada área serão consideradas F, ao passo que as menos freqüentes serão 
consideradas F; as respostas que têm freqüência tão rara que sequer puderam ser tratadas 
estatisticamente serão F°. 
Alguns autores consideram como forma bem vista aquela que se enquadra no critério subjetivo 
do aplicador, ou seja, um julgamento particular (10 1 porém, acreditamos que tal procedimento 
acaba por prejudicar a análise, urna vez que confundem precisão com qualidade formal. 
Para definição das respostas consideradas como F, F- ou F°, utilizamos, atualmente, a Tradução 
Adaptada e Atualizada das Tabelas de Localização de Beck e Small para Classificação 
da Prova de Rorschach (9)• 
OuANdo CLASSiFiCAR COMÕ F F OU F°? 
— l Passo: Para objetivar, portanto, a classificação, procedemos a consulta da resposta na Tabela 
Atualizada de Qualidade Formal, citada anteriormente (9) Para cada prancha há uma folha de 
localização demarcando as áreas associadas e uma lista de respostas frente à elas, com indicação da 
qualidade formal da resposta de acordo com o ângulo de posição da prancha na qual a resposta 
foi associada (uma vez que a mesma pode variar, mudando, assim, a qualidade formal da resposta). 
Se nada consta na tabela sobre a 
52 ROPSCHACH CLINIc0 — MANUAL BÁSICO 
posição, esta foi vista em posição normal. 
Localizando a resposta em si dada pelo sujeito na referida tabela, podemos classificá-la conforme a 
indicação encontrada: F ou F. 
— 2° Passo: Quando não encontramos a resposta específica do sujeito para a área associada, devemos procurá-
la, quando indicado, na(s) área(s) citada(s) à frente da localização original do sujeito e, encontrando a resposta 
em uma área alternativa, podemos classificá-la conforme a orientação da tabela, portanto, como F ou 
F-. 
— 3° Passo: Se, ainda assim, não conseguimos encontrar a resposta dada, devemos procurar uma resposta 
que tenha uma gesta!t 
semelhante para classificarmos como F ou F. 
— 4° Passo: Ao final, se não encontrarmos a resposta do sujeito nos passos anteriores, classificamos como F°. 
Ressaltamos que fica reservada a classificação F° somente para aquelas respostas que não constam da 
Tabela de Localização, nem por aproximação.

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