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TESTE DE RORSCHACH Teste projetivo que avalia estrutura e dinâmica afetivo-emocional, bem como o trabalho cognitivo-intelectual. Busca descobrir mais o “como” do que “o quê”. Consiste num processo de construção e não de simples identificação de imagens. Aníbal Silveira: A estrutura da personalidade é um conjunto de funções subjetivas hierarquicamente organizadas, inata e coexistentes, ligadas ao funcionamento cerebral, o qual resulta da comunicação com o meio externo e interno. - Há três esferas: AFETIVA, CONATIVA E INTELECTUAL (estudadas a partir de funções psíquicas distintas). AS TRÊS ESFERAS SÃO: AFETIVA Setor básico da personalidade que corresponde aos instintos (manutenção da vida) e sentimentos (sociabilidade, relações interpessoais). São funções que buscam a satisfação das necessidade de sobrevivência e as necessidades sociais. É analisada nas Respostas de Cor (FC, CF, C) e nos índices de impulsividade (IMP) e de afetividade (AF). CONATIVA Setor de funções que antecedem o comportamento explícito e dirigem o trabalho mental (percepção, adaptação e comunicação com o meio). Possui três funções: INICIATIVA: desencadeia a ação explícita e estimula percepção e raciocínio. MANUTENÇÃO: administra a estabilidade, mantém a atenção e o raciocínio. INIBIÇÃO: seleciona as ações mais adequadas, refreando impulsos impertinentes. É analisada nas Respostas de Forma (F+, F-, F0). Essas funções se associam à contração muscular: estimula, retém ou mantém. Desta forma, produz e controla os movimentos. O desenvolvimento harmônico dessas três funções garante o “bom caráter” (indivíduos com disposição para agir, sociáveis, que assumem responsabilidades e têm autocontrole de impulsos). A preponderância de uma das funções gera “transtorno de caráter”. INTELECTUAL Setor das funções psíquicas que estabelecem a observação, a adaptação lógica e a captação de fenômenos externos e subordinam o trabalho mental às exigências da realidade externa. Pode ser: Intrínseca: potencial pra resolver logicamente as situações. Analisada pelas Respostas de Movimento (M, m, m’). Extrínseca: potencial intelectual em relação ao meio. Analisada pelas Respostas de Perspectiva (Os, os, os’). PROCEDIMENTOS PARA A APLICAÇÃO RAPPORT: Informações sobre a natureza da prova: avaliação da personalidade a aplicação para qualquer pessoa, qualquer idade, nível cultural etc. o caráter sigiloso a finalidade da aplicação a função do observador em caso de aprendizagem COLETA DE DADOS: Dados pessoais Condições de saúde Disposição física e mental para realização do teste APLICAÇÃO DO TESTE FASE DE ASSOCIAÇÃO Associação e construção livre do examinando frente às manchas. Deixar claro que: É preferível o termo “manchas” por ser ambíguo e de melhor compreensão. Não existem respostas certas e erradas (não é teste de inteligência). PROCEDIMENTOS Anotar posição da prancha Anotar expressões do examinando (fisionomia e corpo) Anotar Tempo de Reação Inicial (TRI) – quando é dada a primeira resposta Estimulação: após a devolução da primeira prancha, o aplicador pode estimular mais respostas (pode ser feita a estimulação até a prancha III). Anotar Tempo Total – qd ele devolve após as associações feitas ou depois da estimulação. (Se ele ficar muito tempo com a prancha ou der muitas respostas, pode-se interrompê-lo.) Colocar a prancha devolvida virada pra baixo e mostrar a seguinte. Caso ele não veja nada, passa-se para a seguinte sem insistir e se anota “INIBIÇÃO”. Neste caso, após a apresentação da X, deverá ser feita REPASSAGEM parcial ou total, antes do Inquérito. REPASSAGEM OCORRERÁ QUANDO HOUVER: 1) INIBIÇÃO em 1 até 3 pranchas. Se ocorreu com: I a VII – reapresentar apenas as inibidas. VIII, IX e X – repassar TODO O TESTE. 2) Inibição em MAIS DE 3 pranchas: repassar TUDO 3) Número total de respostas inferior a 15: repassar TUDO 4) Perseveração de conteúdo ou respostas (mais da metade for de anatomia ou ter o mesmo conceito): repassar TUDO. A repassagem deve ser feita com tranquilidade, como se fosse procedimento de rotina. Ocorrendo inibição de novo, deve-se anotar que houve REJEIÇÃO. CONT. FASE DE INQUÉRITO Após a fase de associação e possível repassagem, as pranchas são reapresentadas e serão feitas perguntas sobre as associações com o objetivo de compreender o processo de percepção e elaboração de cada resposta. PROCEDIMENTOS Mostrar a folha de localização e dizer que serão anotadas ali as respostas. Anotar no mapa o contorno onde foi visto (modalidade da resposta). Perguntar o que naquela mancha fez ele chegar ao que observou (determinante da resposta). Persistindo dúvidas por parte do examinando sobre como ele chegou àquela construção, solicitar que descreva melhor ou indagar que características lembraram tal imagem. Todos os adjetivos usados devem ser inquiridos (o que trouxe a ideia de que a borboleta era bonita, p.ex.). CAMINHOS PARA NORTEAR O INQUÉRITO É necessário que o aplicador construa hipóteses sobre os determinantes utilizados: Forma: o contorno observado Cor: quando leva em consideração as cores Movimento: quando projeta movimento na mancha Luminosidade: a diferença de tons nas manchas Perspectiva: percepção de profundidade, planos diferentes Se ele acrescentar novas características, perguntar se viu ali na hora ou já tinha percebido. Se ele vir novas imagens, anotar da mesma forma. Se não mencionar cor em nenhum momento, considerar daltonismo ou cegueira às cores => mostrar prancha X e pedir pra nomear as cores. O ideal é que ocorra em uma sessão, mas, caso se prolongue, pode-se interromper dps da fase de associação, e continuar outro dia (preferencialmente no dia seguinte, mas pode ser até uma semana). ENCERRAMENTO: Informar o término, dando espaço para que ele coloque suas impressões acerca da experiência. CLASSIFICAÇÃO ONDE viu, O QUE foi visto, QUAIS características MODALIDADES ÁREAS em que o examinando viu suas respostas. 1 – MODALIDADES PRINCIPAIS Definem o modo de atender à realidade exterior. Correspondem a um dinamismo normal de percepção. RESPOSTA GLOBAL – G Respostas que correspondem à mancha toda. Avalia a capacidade de percepção dos aspectos amplos das situações. GLOBAL IMEDIATA (Gi): resposta a partir da observação imediata da mancha e dela por inteiro. Ex.: borboleta na mancha toda GLOBAL COMBINADA (Gc): observação imediata ou sucessiva de duas ou mais gestalts, compondo o todo. Ex.: Um gigante em cima de uma árvore / Duas meninas brincando RESPOSTA DE PORMENOR PRIMÁRIO – P Respostas localizadas em partes da mancha, frequentemente observadas pela população, independente do tamanho da área selecionada. (Procurar frequência no Mapa de Localização) Pormenor primário: 1 a 15 => 1:22 (4,5% de frequência) RESPOSTA DE PORMENOR SECUNDÁRIO – p Respostas observadas em partes da mancha, cuja frequência é inferior a 1:22. Pormenor secundário: 16 em diante. Não constando no mapa, será considerada pormenor secundário. 2 - MODALIDADES SECUNDÁRIAS Quando a ocorrência é rara e revela variações subjetivas menos frequentes estatisticamente. Resposta de Espaço (E) e Resposta Global de Espaço (GE) RESPOSTA DE ESPAÇO – E Quando o examinando atribui ao espaço em branco uma resposta. Também se deve consultar o Mapa de Localização de Beck. Ex.: Noivinhas – E30 Um foguete – E5 RESPOSTA GLOBAL COM ESPAÇO – GE São respostas que abrangem toda a mancha, incluindo alguma região branca (independente do tamanho ou da quantidade de espaços incluídos). Ex.: Uma máscara. Os olhos estão na parte branca. – GE OBS: Se o examinando COMBINA algum espaço em branco com alguma outra parte da figura (pormenor primário ou secundário), é preciso compor as diferentes modalidades. Ex.: Uma caverna. A caverna está aqui (P1), parecem pedras. E aqui no branco é a entrada da caverna (E5). = P(E) Pode ocorrer o contrário tb. O espaço em branco compor o principal e o pormenor ser o borrão como elemento secundário. Ex.: Esse espaço em branco parece um violino (E8) e aqui mais escuro seriam as cordas (P5). = E(P)As combinações podem ser: P(E), E(P), p(E), E(p). DETERMINANTES São as características da mancha que fizeram o examinando construir a resposta. RESPOSTAS DE FORMA – RF (F+, F-, F0) Resposta construída pela percepção do formato, o contorno da mancha, sem atribuir outra característica. A Resposta de Forma é o determinante mais frequente. No entanto, no Inquérito convém descobrir se de fato só o formato determinou a resposta. São classificadas como F+, F-, F0. Identificar a modalidade Informar a posição da prancha Não encontrando, ver se há indicação de outra modalidade. Não havendo, ver se há semelhança de gestalt. Ex.: onça em felino. F+ = mais frequente F- = menos frequente F0 = não foi encontrada nenhuma forma. São informações obtidas na Fase de Inquérito. As características consideradas correspondem a COR, MOVIMENTO, LUMINOSIDADE, PERSPECTIVA E FORMA. Respostas de Forma – RF (F+, F-, F0) Respostas de Cor – RC (FC, CF, C) Respostas de Movimento – RM (M, m, m’) Respostas de Perspectiva – RPs (PS, os, os’) Respostas de Luminosidade – RL (L, C’ l, l’) RESPOSTAS DE COR Quando as cores das manchas determinam ou colaboram na identificação da resposta (descobertas por meio do inquérito). RESPOSTAS DE FORMA E COR – FC Percepção da forma é precisa e a cor contribui, é associada à forma. Ex.: É um canário amarelo./ Vejo um rosto e esse vermelho é de queimado de sol. RESPOSTAS DE COR E FORMA – CF A cor da mancha é que determina a resposta e a forma vem secundariamente. Ex.: Manchas de sangue, porque esse vermelho dá ideia de sangue. São verduras, o verde lembra alface, repolho, etc. RESPOSTAS DE COR SEM FORMA – C Não considera nenhum formato, apenas atribui à cor um significado (geralmente abstrato). Ex.: Sangue, porque é vermelho. Alegria, euforia, carnaval, porque é bem colorido. DISTINÇÃO ENTRE FC E CF: FC – Forma predominante. Se a mudança do contorno mudar a resposta, é uma FC. CF – A cor é determinante. Se a forma se modificar e ainda assim a ideia continuar plausível, é um CF. OUTROS TIPOS DE REAÇÃO À COR: Nomeação de cor: apenas dá o nome da(s) cor(es), sem interpretação. Ex.: Verde, rosa, laranja. Projeção da cor: atribui uma cor à mancha não colorida. Ex.: Uma borboleta. Corpo, asas, linda, toda dourada. Crítica à cor: percebe a cor, mas não a integra à resposta, criticando-a. Ex.: É uma onça, apesar de rosa; não existem onças rosas. (Deve-se assinalar o mecanismo de crítica à cor.) RESPOSTAS DE MOVIMENTO Quando o examinando projeta cinestesia nas figuras. O movimento é sentido e não nomeado por dedução. Muitas vezes o examinando reproduz o movimento com o corpo ou mostra alguma tensão muscular. Há três tipos de movimento: Humano, Animal e Subjetivo. OBS: São consideradas por muitos autores as respostas mais importantes. Atribui-se +, - e 0, assim como na forma. MOVIMENTO HUMANO – M Respostas de forma humana em movimento. Pessoas reais ou não, realizando uma atividade espontânea Ex.: Duas mulheres lavando roupa, agitando os braços. Figuras humanas, reais ou não, numa postura, sendo necessária tensão muscular para mantê-la. Ex.: Bailarina na ponta dos pés, braços erguidos. Figuras inteiras em movimento, ainda que só se veja uma parte do corpo. Ex.: Nadador saindo de uma rocha. Embora só se veja a cabeça. (P11) Animais realizando ações humanas. Ex.: Gorila dirigindo uma moto. (G) MOVIMENTO ANIMAL – m Respostas com figuras de animais fazendo movimento típico de animal (ação espontânea ou treinada). Ex.: Dois ursos subindo a montanha. (P1) OBS: Não será “m” animal executando ação tipicamente humana, que é impossível de ser feita por animais, ou partes de animal percebidas sozinhas (ex.: cauda abanando – Forma). MOVIMENTO SUBJETIVO – m’ Objetos, elementos da natureza ou abstratos em movimento (ex.: árvore balançando com o vento [G]). Humanos ou animais em movimento por conta de forças externas (ex.: esquilo caindo, foi jogado pelo vento). Humanos ou animais em movimento contido, retido (ex.: lutadores de sumô, com força igual, os dois não saem do lugar). RESPOSTAS DE PERSPECTIVA – RPs (PS, ps, ps’) Quando inclui projeção de profundidade, distância ou tridimensionalidade. Alguns autores consideram como dentro da série claro-escuro (luminosidade), mas Rorschach fazia distinções especialmente na tridimensionalidade. PERSPECTIVA COM FORMA PRECISA/DEFINIDA – Ps Resposta com base em planos diferentes de observação das figuras que aparecem em forma precisa. Ex.: Tem uma mulher ao fundo, no meio das rochas (G). Inquérito. Ela está bem ao fundo (P4) e aqui na frente tem as duas rochas (P2). PERSPECTIVA COM FORMA VAGA (p) A forma é secundária, é vaga e imprecisa, mas há a noção clara de planos diferentes, espaço, tridimensionalidade. Ex.: Explosão de fogos de artifícios no céus. Estouram fogos lá longe no céu. (G) PERSPECTIVA SEM FORMA – ps’ Não há forma e o examinando traz uma sensação subjetiva de distância, profundidade sem associar à presença da forma. Ex.: Infinito. (E7) Esse vazio dá uma sensação e infinito, profundo, sem fim, não gosto nem de olhar. RESPOSTA DE LUMINOSIDADE – RL (L, C’, l, l’) São consideradas diferenças de tons (claro-escuro) ou são usados os tons acromáticos (branco, preto e cinza) como elementos determinantes de resposta. RESPOSTAS DE FORMA PRECISA CONSTRUÍDA DENTRO DAS MANCHAS - L Respostas construídas pelo contraste de claro e escuro DENTRO da mancha, com forma precisa, bem delimitada em regiões das manchas pouco selecionadas pela população (é sempre uma modalidade de pormenor secundário). As respostas L podem ser construídas tanto nas pranchas monocromáticas quanto nas coloridas, pois se restringe à área interna das manchas, não considerando o contorno delas. Ex.: Um feto. INQ: (p sem localização dentro de P2). É igualzinho a um feto, a cabecinha, braços, pernas... RESPOSTAS DE FORMA ASSOCIADA AOS TONS ACROMÁTICOS – C’ Quando os tons acromáticos são usados como cor na resposta, com forma implícita na associação. Seria o equivalente a FC e CF, mas nas regiões acromáticas, sendo que o branco, o preto e o cinza devem ser determinantes da resposta. Ex.: Jarro de porcelana, por causa do branco. RESPOSTAS DE TEXTURA, RELEVO – l Quando construídas pela percepção dos contrastes de tons dentro das manchas, associadas à textura ou relevo. Ex.: Pelos de animal. Parecem fofos, algo bem peludo. RESPOSTAS DE SENSAÇÕES SUBJETIVAS – l’ Completa ausência de forma. Consideram-se só os tons acromáticos, sem haver menção de forma, e traz ideia abstrata e/ou sensações subjetivas. Ex.: Parece a morte. Essa cor preta lembra morte, luto. Brilho, acho que é luz divina. DETERMINANTE PRINCIPAL E DETERMINANTE ADICIONAL CONTEÚDOS É o “conteúdo” visto na mancha: um animal, pessoa, objeto, figura abstrata, fenômeno da natureza etc. Os conteúdos H (humano), A (animal) e pA (parte animal) têm prioridade. Logo, se o examinando viu uma estátua de homem, se classifica como H e não como obj (objeto) ou art (arte), DESDE QUE ele ressalte as características humanas. Figuras religiosas, fantásticas, extraterrenas, máscaras, esculturas como H ou pH. O mesmo se dará com animal. Um tapete de raposa será A e não obj. Se for algo preparado para comer, por exemplo, como um “filé de peixe”, será alimento. RESPOSTAS VULGARES Quando a resposta faz parte do conjunto de respostas mais comuns encontradas na população. Rorschach estabeleceu uma frequência de 1:3, mas a maior parte dos autores usa 1:6. Anota-se V quando a resposta é vulgar. Quando dois ou mais determinantes estão envolvidos na associação e é necessário identificar qual tem prioridade. Ex.: Um gorila peludo. É um gorila com pernas, braços, cabeça, e é todo peludo (mostra as manchas na figura). Primeiro vem a forma principal (gorila), depois vem a característica “peludo”. A forma “gorila” (F) é o determinante principal e “peludo”, que corresponde a luminosidade (l) é a secundária. (Gi F+ (l) A V 2,0) O determinante adicional pode surgir como nova característica no Inquérito (não como uma nova resposta, mas uma característica).