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Havia uma vez — ou melhor, havia esta manhã, nesta cidade de prédios suados e tédio posto à venda — uma mensagem que parecia salvar vidas. Chegou por volta das oito, como se o sol, também ele enganoso, tivesse decidido colaborar: "Chá milagroso cura X", dizia a primeira linha, seguida de depoimentos em letras maiúsculas, um link que levava a uma página truncada e uma imagem com um estetoscópio e um selo que não existia em nenhum órgão oficial. Ana, que colecionava cuidados e receios, leu e sentiu o frio habitual: esperança e medo entrelaçados.
Narrar a travessia dessa mensagem é contar uma pequena história de epidemia dentro da epidemia. A notícia falsa na saúde não se move como um rio tranquilo; é uma enxurrada que corta vales de desconfiança e deposita sedimentos de prejuízo. Ana encaminhou o texto para três grupos: família, amigos íntimos, um grupo de trabalho. Em menos de uma hora, a corrente duplicou. O conteúdo tinha respostas fáceis para dores antigas, promessas de cura sem receita, e um tom que se fazia de autoridade — um artifício que funciona como verniz: parece legítimo à distância.
Como em qualquer reportagem, há elementos objetivos. A disseminação de desinformação sobre saúde se alimenta de mecanismos psicológicos previsíveis: emoção intensa facilita o compartilhamento; o viés de confirmação faz com que aceitemos o que reforça nossas crenças; a autoridade simulada — um selo, um nome médico citado sem referência — confere credibilidade a quem pouco verifica. Plataformas digitais aceleram o processo com algoritmos que priorizam engajamento, não veracidade. Nesse cenário, boatos ganham corpo de notícia e a notícia verdadeira vira rumor em segundo plano.
Mas a narrativa não é só técnica: tem rostos. O tio de Ana, que tinha medo de vacinas por histórias contadas em barzinho, leu um áudio que afirmava que a vacina "muda o DNA". Ele acreditou. Evitou a imunização, e sua eventual internação por uma doença evitável transformou a desinformação em tragédia pessoal. Em outro bairro, uma professora perdeu dias de trabalho por seguir um tratamento alternativo divulgado em um vídeo com milhares de visualizações; o suposto especialista falava com firmeza, e o calor da plateia virtual abafava perguntas essenciais.
Jornalisticamente, é preciso mapear consequências: redução de adesão a campanhas de vacinação, uso indevido de remédios, demora no diagnóstico, e sobrecarga de serviços de saúde. Economicamente, a desinformação custa caro — desperdício de recursos, aplicações improdutivas, crises de confiança institucional. Socialmente, corrói laços: familiares brigam por crenças, comunidades se fragmentam. Políticas públicas e profissionais da saúde lutam numa corrida contra o tempo e contra a viralidade.
Há, porém, defesas possíveis. A verificação de fatos, prática jornalística que hoje se estende a checadores independentes, é uma muralha prática: confirmar fontes, checar estudos citados, buscar posicionamentos de sociedades científicas, inspecionar a URL de origem. A alfabetização midiática — ensinar a ler a notícia como texto e contexto — é a outra muralha. E há, ainda, o papel humano: comunicação clara e empática por parte dos profissionais de saúde, que reconheçam medos e apresentem evidências sem paternalismos, reduzindo o espaço para que narrativas simplistas prosperem.
No conto que é a vida cotidiana, Ana decidiu não reenviar o tal "chá milagroso". Em vez disso, conversou com o irmão médico, que respondeu com paciência e links para fontes confiáveis. No grupo, alguns agradeceram; outros já haviam tomado atitudes baseadas na mensagem. A manhã já havia perdido a inocência. A cidade continuou seu ruído, a mensagem continuou sua jornada, mas a escolha de Ana apontou para uma ética mínima: a de pausar antes de compartilhar, de buscar confirmação, de lembrar que informação em saúde carrega consequência.
A narrativa termina sem um final definitivo — porque a luta contra fake news é, por definição, contínua. O leitor fica com imagens simples: uma tela acesa, dedos que hesitam, vozes que questionam. E com um fato jornalístico: mitos na saúde não desaparecem apenas pela refutação técnica; eles precisam ser desarmados por histórias confiáveis, por redes de confiança, por educação que transforme receptor em leitor crítico. É um trabalho paciente, feito de pequenas decisões. Ana fez a sua; outras manhãs trarão outras mensagens e a mesma exigência: ver, checar, agir.
PERGUNTAS E RESPOSTAS:
1) O que torna uma notícia de saúde “fake”?
Resposta: Alegações sem evidência científica, ausência de fontes confiáveis, uso de testemunhos isolados e manipulação emocional.
2) Por que fake news sobre saúde se espalham tão rápido?
Resposta: Porque emocionam, confirmam crenças prévias e são amplificadas por algoritmos que privilegiam engajamento.
3) Como verificar uma informação médica antes de compartilhar?
Resposta: Conferir fontes (estudos, órgãos de saúde), checar autoria, buscar posicionamentos de sociedades científicas e checadores independentes.
4) Qual o impacto real das fake news na saúde pública?
Resposta: Redução de vacinas, tratamentos indevidos, atrasos no diagnóstico, aumento de hospitalizações e perda de confiança nas instituições.
5) O que profissionais e cidadãos podem fazer para combater isso?
Resposta: Comunicação clara e empática pelos profissionais; educação midiática e hábito de checar informações pelos cidadãos antes de compartilhar.

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