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Mente Cerebro 2016 03 MAR

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P E R C E P Ç Ã O 
A mão de borracha que é 
capaz de enganar o cérebro 
C R I A N Ç A 
Cobrança em excesso pode causar 
quadro de ansiedade no futuro 
Por que cachorros gostam 
tanto de seres humanos? 
P S I C A N Á L I S E 
A s c i d a d e s o n d e 
v i v e m o s s ã o e x t e n s õ e s 
d o e s p a ç o ps íqu i co 
p s i c o l o g i a • p s i c a n á l i s e • n e u r o c i ê n c i a 
N O S M U P A A 
O q u e func iona na prát ica? C â m e r a s rastre iam m o v i m e n t o s 
d o s o lhos para d e t e c t a r para o n d e a lunos d i r e c i o n a m a a t e n ç ã o 
e s e n s o r e s reve lam s e os e s tudantes e s t ã o in te ressados . 
C ient i s tas já s a b e m q u e espera r pe las respostas , c o n v e r s a r 
c o m c o l e g a s e mexer o c o r p o a j u d a m a fixar in fo rmações 
E S P E C I A L EPIGENÉTICA 
E S T R E S S E Q U E V O C Ê V I V E P O D E A L T E R A R O D N A D E S E U S F I L H O S E N E T O ! 
B I B L I O T E C A D O P R O F E S S O R 
Editora Segmento 
0 desejo de saber 
A docência e 
a filosofia da 
diferen 
Da psicanálise à filosofia e da 
sociologia à política, as opiniões e o 
legado de alguns dos maiores 
pensadores dos últimos séculos são 
analisados sob as mais distintas 
óticas nas publicações da Biblioteca 
do Professor da Segmento. 
A formação de quem 
ensina a pensar tem 
passagem obrigatória 
por estas páginas. 
À VENDA NAS LOJAS: 
kobo • Disponív App! Google play 
Acesse www.editorasegmento.com.br/ebooks e conheça outras 
publicações com a qualidade que só a Editora Segmento tem. segmento 
carta da editora 
D e s e j o d e s a b e r 
Aprender nos transforma. U m a criança que descobre a "mag ia " de juntar letras e, por meio dessa junção, inclui em seu universo palavras e seus significados, 
apropriando-se de informações que servem de base a ou-
tras mais sofist icadas, enriquece a própria subjetividade. 
U m engenheiro que define, por meio de cálculos, o peso 
e a pressão que determinada superfície suporta é capaz de 
construir c idades. H á , porém, aprendizados menos óbvios, 
mais sutis . Alguns deles se consolidam permeados por re-
flexões e vivências, modificam perspectivas, nos permitin-
do olhar outras coisas - ou, talvez, as mesmas , mas sob 
novas perspectivas. Há nesse movimento, porém, um apa-
rente paradoxo: quanto mais sabemos sobre nós mesmos 
e a respeito do mundo que nos cerca, mais nos damos con-
ta do quanto falta nos apropriarmos. 
Tanto do ponto de vista do indivíduo quanto do co-
letivo, a aprendizagem pode ser entendida como a mu-
dança de comportamento decorrente da experiência ob-
tida pela intervenção de fatores neurológicos, relacionais 
e ambienta is . Seguindo esse raciocínio, o aprender 
seria definido c o m o resultado da interação entre as 
estruturas menta is e o meio. É, portanto, algo vivo 
- e, a s s im c o m o nosso cérebro, em constante mu-
dança. Nesta edição de Mente e Cérebro, a proposta 
é aproximar descobertas da psicologia e da neuroci-
ência das salas de aula. 
E m vár ias partes do mundo , c ient istas têm se 
empenhado e m compreender os mecan i smos que 
concorrem para esse processo , o que o acelera e 
facil ita ou o dif iculta . E já que o assunto é apren-
d izagem, a verdade é que sabemos pouco a esse 
respeito - ou , pelo m e n o s , não tanto quanto gosta-
r íamos . Pior: apesar de os professores serem gran-
des interessados no t e m a , infel izmente não é nada 
raro que não tenham acesso a descobertas que po-
der iam facil itar muito seu trabalho - e t a m b é m a 
vida dos estudantes (e não apenas de escolas con-
vencionais ou de univers idades , mas de qualquer 
área, inclusive a técn ica ) . 
Embora seja impossível deixar de lado as dificul-
dades práticas entre educadores e cientistas, certa-
mente há interesse na proximidade entre quem ensina e 
quem estuda sobre como ensinar de modo mais eficiente. E 
parece inegável que conhecimentos sobre os mecanismos 
psicológicos e cerebrais interessem à ciência, bem como a 
prática do ensino diga respeito direto à ciência. Precisamos 
de troca - de conteúdo, experiência, teoria e prática. Mas , 
antes de tudo, é indispensável que haja desejo de saber. E 
isso, felizmente, também se aprende. Boa leitura! 
G L Á U C I A L E A L editora-chefe 
glaucialeal@editorasegmento.com.br 
3 
1 sumário | março 2016 
ãÊÊk 4 CAPA: SHUTTERSTOCK 
CAPA 
16 Psicologia na sala de aula 
por Dan ie l T. W i l l i ngham 
Nos últimos anos, a pesquisa neurocientífica 
trouxe muitas contribuições para a 
compreensão dos processos de aquisição e 
apropriação de informações. Ainda ass im, 
poucos professores sabem como orientar seus 
alunos a usar técnicas comprovadamente mais 
eficazes na hora de estudar 
26 A ciência da aprendizagem 
por Barbara Kantrowitz 
A maioria do que tem sido descoberto nos 
laboratórios ainda não tem aplicação prática 
nas escolas. Mas já é possível se beneficiar do 
que cientistas têm constatado 
14 Velhas drogas, novos usos 
p o r D a i s y Y u h a s 
Alguns medicamentos podem ter "efeitos 
colaterais" sobre o cérebro, prevenindo sintomas e 
comportamentos indesejáveis 
32 Pais exigentes demais, filhos ansiosos 
p o r M o r g e n E . P e c k 
Criação excessivamente rígida pode colaborar para que 
crianças tenham dificuldade de lidar com os próprios 
erros e sofram profundamente diante do mínimo sinal 
de fracasso 
36 Por que os cães gostam 
tanto de nós? 
p o r J u l i e H e c h t 
A genética e a oxitocina, conhecida como "hormônio do 
amor", ajudam a explicar o fato de cachorros preferirem 
os humanos aos de sua própria espécie - algo raro no 
mundo animal 
42 Espaço urbano, espaço psíquico 
p o r M a r i a C o n s u e l o P a s s o s 
Estabelecemos relações de afeto com os espaços que 
habitamos ou visitamos; os lugares assumem o papel de 
extensões do próprio eu 
60 Trabalho de um lado, 
vida pessoal do outro 
p o r S h a n n o n H a l l 
Para lidar com cobranças e evitar conflitos, profissionais 
com alta remuneração "negam" identidade profissional 
v fe> A t m 
especial - emgenética 50 Q que você vive muda o DNA de seus filhos e netos 
% poriv\|chael K. Skinner M pclÍMichael K. Skinner 
Experiências, estresse, substâncias químicas e alimentos podem alterar 
genes; algumas variações celulares são repassadas e influenciar não só a 
saúde de gerações futuras, como também as características físicas, mentais 
e até interferir na personalidade de nossos descendentes 
4 
seçoes 
CARTA DA ED ITORA 
PALAVRA D O LE ITOR 
8 
A S S O C I A Ç Ã O L IVRE 
Notas sobre atualidades, 
psicologia e psicanálise 
1 1 
NA REDE 
O que há para ver e ler na internet 
4 6 
GRANDES EXPERIMENTOS 
DA PS ICOLOGIA 
A ilusão da mão de borracha 
por Danie la Ovadia 
6 2 
L IVRO 
A inutilidade do inútil 
por Gláucia Lea l 
6 4 
L A N Ç A M E N T O S 
colunas 
1 2 
PS ICANÁLISE 
Que fim levaram os maníacos? 
por Christ ian Ingo L e n z Dunker 
6 6 
LIMIAR 
A hora e vez de Marcus Matraga 
p o r Sidarta Ribeiro 
nas bancas 
O que você nem sabe que pensa 
EDIÇÃOESPECI 
J v -
1NC0NSCIEN 
U M E S T R A N H O 
NA S U A C A B E Ç A 
Nem sempre nos damos conta, mas estamos sujei-
tos a sensações, percepções, sentimentos, anseios, 
conflitos e sintomas que escapam do âmbito da 
consciência. É bastante provável que várias vezes 
você tenha sido surpreendido por seus próprios 
pensamentos, desejos, emoções, reações e palavras 
- e os estranhado, quase como se não fossem seus. 
Ou mesmo tenha constatado o quanto suas percep-
ções cognitivas, visuais, auditivas ou mesmo suas 
memórias podem enganá-lo. A mente humana é 
tão complexa que é inevitável deparamos com dife-
rentes aspectos psíquicos, por vezes contraditórios. 
No especialMente e Cérebro 54, Inconsciente - Um estranho na sua cabeça, 
psicólogos, neurocientistas e psicanalistas exploram aspectos desse tema miste-
rioso sob diversas abordagens. Para a teoria freudiana, o Inconsciente é compre-
endido como instância psíquica, mas também há conteúdos que estão abaixo do 
nível da consciência e em muitos momentos se fazem presentes. Atualmente, 
pesquisadores estudam, em laboratório, temas como intuição e alucinações 
auditivas. A neurociência investiga até que ponto somos realmente livres para 
tomar decisões e o efeito das mensagens subliminares em nosso cérebro - e 
chega a conclusões surpreendentes. Não perca! 
no site 
Pesquisa, ética e informação 
Imagine que você fosse convidado para fazer parte de um projeto científico, 
participando como voluntário em uma pesquisa sobre a doença de Parkinson. 
A ideia seria "emprestar" seu cérebro para ser escaneado. Com o estudo, os 
neurocientistas esperavam comprovar que exames de neuroimagem em adultos 
poderiam revelar os primeiros sinais de perda de dopamina. E após a realização 
dos exames os cientistas não encontrassem nenhum indício desse problema, 
mas detectassem a "presença de algo desconhecido em sua cabeça". Foi isso 
que viveu o jornalista Jamie Talan, especializado em divulgação científica. Ele 
conta sua experiência, faz questionamentos sobre o quanto importa a leigos ter 
informações sobre prognósticos (que nem sempre se confirmam) de doenças 
sem cura e discute os impasses éticos enfrentados por cientistas. Leia no site 
www.mentecerebro.com.br 
Acompanhe a (amentecerebro no Instagram 
Saiba com antecedência qual será o tema da próxima capa 
www.mentecerebro.com.br 
NOTÍCIAS Notas sobre fatos relevantes nas áreas de psicologia, psicanálise e neurociência. 
AGENDA Programação de cursos, congressos e eventos. 
OS ARTIGOS PUBLICADOS NESTA EDIÇÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS AUTORES E NÃO EXPRESSAM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DOS EDITORES. 
março 2016 • mentecérebro 5 
mente 
cérebro 
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Diretoria: Carolina Martinez, 
Mareio Cardial, Rita Martinez 
e Rubem Barros 
Diretor editorial: Rubem Barros 
Editora-chefe: Gláucia Leal 
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(revisão), Luiz Carlos Loccoman e Karin 
Hetschko (tradução) 
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Edição n° 278, março de 2016, 
ISSN 1807156-2. 
Distribuição nacional: DINAP S.A. 
Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, 1678. 
palavra do leitor 
esouizofreÍTa 
M a c o n h a 
S E M A C U S A Ç Ã O 
O U D E F E S A 
Tenho lido muita coisa sobre o 
uso da maconha na imprensa 
em geral, mas é raro encontrar 
uma reportagem que traga in-
formação clara e de qualidade, 
baseada em es tudos (o que 
não quer dizer, logicamente, que sejam verdades 
absolutas, mas pelo menos são dados com respaldo cien-
tíf ico). Por isso, fiquei em dúvida se valeria a pena investir 
tempo e dinheiro na edição 277 de Mente e Cérebro, que 
traz o tema estampado na capa . Terminei por comprar e 
tive uma grat íss ima surpresa com a reportagem "Efeito 
da maconha no cérebro", uma verdadeira "aula" sobre o 
tema , sem parcialidade, acusações ou defesas (em minha 
opinião, algo difícil de fazer quando se trata de um tema 
que evoca tantas pa ixões ) . Não sou de escrever para 
redações, mas o que é bom deve ser exaltado, por isso 
cumpr imento a autora, Fernanda Teixeira Ribeiro, e toda 
a equipe pelo trabalho. 
Antônio F. Lima - São Paulo, SP 
O PODER DO 
T O Q U E 
ANER Cl anatec 
C O R P O E D A N Ç A 
Gostei muito do título "A l inguagem da pele" e da carta da 
editora-chefe Gláucia Leal , bem como da matéria de capa 
de novembro 2015, " O poder do toque" , e também de 
outros artigos apresentados pela revista Mente e Cérebro. 
Os textos são muito oportunos e bem-vindos esses temas 
neste tempo de individual ismo exacerbado e, paradoxal-
mente, de tanta carência de afeto e comunicação face a 
face. Aproveito para sugerir que publiquem um artigo sobre 
o s is tema biodanza, que tem um modelo teórico baseado 
no princípio biocêntrico e trabalha a reeducação afetiva, 
atuando no s is tema l ímbico-hipotalâmico. Grata , 
Leda Lage - Belo Horizonte, MG 
1NC0MSC1ENTE 
S O B R E A I N T U I Ç Ã O 
Muito boa a edição especial Incons-
ciente - Um estranho na sua cabeça. A 
se leção de art igos está p r imorosa . 
Não dá vontade de parar de ler. Gostei 
especia lmente da entrevista "Pensar ?ns£ 
com a intuição", do psicólogo Thomas 
Goschke . A l i ás , gostar ia de sugerir 
que a Mente e Cérebro pub l i casse 
e n t r ev i s t a s c o m m a i s f r e q u ê n c i a ; 
todas as vezes que publicam é muito 
b o m : p e r g u n t a s i n t e l i g e n t e s , 
e n t r e v i s t a d o s i n t e r e s s a n t e s . 
Quero mais ! 
Maria Eduarda C. - Recife, PE 
F E L I C I D A D E E C A F É 
Planejar e pensar em ter um 
bom futuro é impor tan te , 
desde que não se sacrifique 
d e m a i s o presente . . . a f ina l 
a tal felicidade é ac ima de 
tudo viver bem cada d ia . 
A vida é como café: se deixar esfriar, 
perde a g raça . O b o m é saborea r 
ainda quente e com parc imônia para 
aproveitar bem o prazer de 
cada gole. 
Susana Souza 
- via Facebook 
M A I S B O N I T A 
Mente e Cé-
rebro e s t á 
c a d a d i a 
m a i s boni ta 
e consistente. 
Parabéns! 
Olívia Lobato 
- via Facebook 
CONCURSO CULTURAL: ESCREVA E G A N H E U M LIVRO! 
Mande sua opinião sobre um dos artigos desta edição para o e-mail redacaomec@editorasegmento.com.br ou uma sugestão e concorra a um livro. 
Por limitação de espaço, tomamos a liberdade de selecionar e editar as cartas recebidas. O premiado deste mês é Antônio F. Limo - São Paulo, SP. 
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As cores primárias de Mondrian 
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B U S C O U R E P R E S E N T A R U M A " R E A L I D A D E P U R A " C O M S U A A R T E A B S T R A T A 
# #/V s ' ' n n a s r e t a s n o s d izem a verdade", escreveu Piet 
J \ Mondrian (1872-1944) . Filho de um pastor, o artista 
holandês cresceu em um ambiente que condenava a car-
reira artística e tentou ser professor antes de dedicar-se à 
arte e, posteriormente, criar os primeiros trabalhos que 
inauguraram o mov imento conhecido como neoplasti-
c i smo , marcado pela busca por uma "real idade pura" , 
representada por l inhas retas e cores pr imárias . Trabalhos 
do artista, realizados em diferentes fases de sua trajetória, 
f icam expostos no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) 
em São Paulo até abril e depois seguem para Brasí l ia , Belo 
Horizonte e Rio de Janeiro, na mostra Mondrian e o movi-
mento De Stijl. 
A exposição traz cerca de 70 obras de artistas neoplás-
t icos, sendo 30 delas de Mondr ian . De Stijl é o título da 
revista na qual Mondrian e outros nomes publicavam textos 
explicando e defendendo seu esti lo. A estética abstrata e 
objetiva do artista reflete, segundo estudiosos de sua bio-
grafia e suas obras , uma tentativa de al inhar princípios de 
todas as doutrinas religiosas - questão importante para 
Mondrian, considerando-se sua rígida formação famil iar- , 
buscando representar uma espécie de verdade essencial . 
O crítico de arte Donald Kuspit , que escreveu sobre a obra 
de Mondrian da perspectiva psicanal ít ica, define sua arte 
l impa e abstrata como uma subl imação da visão caótica 
que o pintor t inha do mundo . 
De acordo com o curador da most ra , Pieter Tjabbes, 
a seleção das obras e a forma como são organizadas têm 
o objetivo de mostrar ao visitante todo o percurso que 
Mondrian percorreu antes de chegar ao seu inconfundível 
estilo de "ordenamento do caos" - ele produziu trabalhos 
com influências pós-impressionistas e cubistas , por exem-
plo. "Aqueles retângulos coloridos que povoam até hoje o 
imaginário do moderno, e são tão facilmente reconhecíveis, 
não nasceram de uma hora para outra, nem por acaso" , diz 
Tjabbes. Grande parte do acervo é procedente do Museu 
Municipal de Ha ia , na Holanda, que reúne a maior coleção 
do mundo de obras de Mondr ian . 
8 
^ * associação livre 
Mondrian e o movimento De Stijl. Centro Cultural Banco 
do Brasil (CCBB) de São Paulo. Rua Álvares Penteado, 112, 
Centro, São Paulo. De quarta a segunda, das gh às 2ih. 
Informações: (11) 3113-3651. Grátis. Até 4 de abril. Tempo-
radas em outras capitais: Brasília, com início em 21 de abril; 
Belo Horizonte, em 20 de julho, e Rio de Janeiro, a partir 
de 12 de outubro. 
Considerada um distúrbio distinto do aut ismo até o DSM-4, a 
s índrome de Asperger atualmente é definida como transtorno do 
espectro autista (TEA) na quinta e atual versão do manua l . Ca-
racteriza-se, entre outros aspectos, por dif iculdades em interagir 
socialmente e o interesse por áreas específicas de conhecimento. 
Não raro, pessoas com os s intomas chegam à vida adulta sem 
diagnóstico e enfrentam muitos problemas em relacionamentos 
e na vida profissional . Desordem que não anda só, e m cartaz em 
São Paulo, retrata um pouco dessa realidade ao mergulhar no 
universo do adolescente aspie Stevie. 
Filho de um pai ausente, Stevie tem problemas para expressar 
o que sente e entender l inguagem não literal. Ao sair à rua para 
procurar a i rmã que saiu às escondidas para namorar, Stevie 
torna-se obcecado pela ideia de que provocou um grave acidente. 
De acordo com o diretor da peça, Carlos Ba ld im, o protagonista 
representa de maneira exacerbada o que de certa forma todos nós 
sent imos em algum momento - des locamento, incompreensão 
dos próprios sent imentos e dificuldade de comunicação . 
Desordem que não anda só. Viga Espaço Cénico. Rua Capote Valente, 1323, Pinheiros, 
São Paulo. Sábados, às 2ih; domingos, às içjh, e segundas, às 2ih. R$20. Até 28 de março. 
março 2016 • mentecérebro 9 
associação l ivre 
P R O T Ó T I P O permite que 
pacientes usem talheres 
e escrevam, por exemplo; 
previsão é que entre no 
mercado ainda em 2016 
• TECNOLOGIA 
Startup cria luva capaz 
de controlar tremores do 
Parkinson 
Tudo começou quando o estudante de medicina Faii Ong 
visitou uma paciente de 103 anos com sintomas avançados 
de Parkinson que havia perdido muito peso. "Ela demorava 
mais de uma hora para tomar uma sopa por causa dos tre-
mores nas mãos" , diz Ong . Com outros colegas do Imperial 
College de Londres, pensou em uma maneira inovadora de 
melhorar a qualidade de vida de pessoas com a doença. 
Criou uma startup para captar f inanciamento e desenvolveu 
a GyroGlove, um protótipo de luva inteligente que usa a 
tecnologia de giroscópios - mecan i smos semelhantes aos 
que mantêm a estabil idade de satélites no espaço. 
Testes iniciais most ram que o disposit ivo pode reduzir 
os tremores em até 8 0 % , permit indo que pacientes consi-
gam usar talheres e escrever, por exemplo. O protótipo está 
em aperfeiçoamento e a previsão é que entre no mercado 
ainda em 2016. 
• DANÇA 
Sintonia entre o corpo e a mente 
Na primeira quinzena de março, a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp) traz dez espetáculos inter-
nacionais para os palcos paul istanos. U m dos destaques é a 
montagem belga An old Monk, em curta temporada no Sesc 
Bom Retiro. O ator Josse De Pauw, t ambém autor do texto, 
interpreta um velho mongeque dança , medita e pratica o si-
lêncio para abordar a sintonia entre mente e corpo. Quando ela 
ocorre? Quando nos deixamos levar pela música? Ou quando, 
sós , nos si lenciamos? O u ela é impossível? Eleito portrês vezes 
o melhor ator da Bélgica, De Pauw faz jus à complexidade da 
proposta. O título em inglês do espetáculo é uma referência 
ao compositor de jazz Thelonious Monk. 
An old Monk. Sesc Bom Retiro. Alameda Nothmann, 185, Bom Retiro, São Paulo. De 
9 a 13 de março, às 18h. R$ 20. Informações: (11) 3332-3600. 
10 
o que há para ver e ler | flâ rede 
O dicionário de sentimentos inomináveis 
TSudoclasm: a melancól ica sensjação de que não haverá 
l \ futuro suficiente para fazer t i ldo que se pretende; lu-
< talica: o insight de que rótulos são criações da sociedade 
í e não são sufic ientes para definir a identidade; zenosyne: a 
I incómoda impressão de que os dias estão passando rápido 
s demais . Você já sentiu algo parecido que não conseguiu 
nomear? Esses são alguns dos verbetes cr iados pelo de-
signer gráfico John Koenig para buscar definir o que chama 
de "tr istezas obscuras" . Cada palavra inventada é definida 
com um vídeo narrado pelo artista. O s videoverbetes, com 
legendas em português, estão reunidos no site do projeto: 
wvvw.dictionaryofobscuresorrows.com. 
O D E S I G N E R G R Á F I C O John Koenig cria v deoverbetes para definir o que chama de "tristezas obscuras" 
CENTRO DE FORMAÇ XO E ESTUDOS 
TERAPÊUTICOS [ A FAMÍLIA 
S e j a u m 
P r o f i s s i o n a l 
n a Á r e a d e 
H u m a n a s 
e S a ú d e ! L d l ) 3 0 2 1 . 7 9 7 6 | 3 0 2 1 . 0 9 0 8 w w w . c e f a t e f . c o m . b r c e f a t e f @ c e f a t e f . c o m . b r 
C U R S O S D E 
• P O S - G R A D U A Ç A O 
Terapia Familiar Sistémica 
Terapia Sexual na Saúde e Educação 
Serviço Social no Campo Sociojurídico 
Gestão Familiar na Dependência de Drogas 
Gestão Sistémica das Perdas, Morte e Luto 
Atendimento à Pessoa com Deficiência na Família, Saúde e Educação 
• E X T E N S Ã O 
Genograma: Um Recurso Terapêutico 
Perdas, Morte e Luto - Formas de Acolhimento à Dor 
Introdução à Terapia Cognitiva 
• C A P A C I T A Ç Ã O 
Desenho Dirigido no Atendimento à Criança e o Adolescente 
Elaboração de Laudos, Re/atórios e Pareceres 
Abordagem Familiar na Drogadependência 
I Serviço Social em Hospital Público e Privado 
V psicanálise inconsciente a céu aberto 
Que fim levaram 
os maníacos? 
H O J E A M A N I A P E R D E U T O D A D I G N I D A D E , R E S T A N D O - L H E E S T E 
E S T R A N H O T Í T U L O D E B I P O L A R I D A D E , A P E N A S P O R Q U E E L A S E 
T O R N O U M O D E L O E R A Z Ã O D E N O S S A N O R M A L O P A T I A 
C H R I S T I A N I N G O 
L E N Z D U N K E R 
Q uando a loucura se tornou objeto da consciência médica, em mea-
dos do século 18, ela era reconhecida, 
sobretudo, como uma forma de mania. 
Hoje, quando falamos que alguém tem 
uma mania, é apenas um modo de dizer 
que está apegado demais a um tema, 
assunto ou ideia. Em uma época na qual 
nossa liberdade se define cada vez mais 
como uso desimpedido de nossos gos-
tos, a mania quase se despatologizou. 
Por outro lado, o termo está reservado 
para um grau mais grave e elevado de 
inconveniência e periculosidade, presen-
te na expressão "maníaco" . 
A melancolia-mania tem uma origem 
grega, assim como a esquizofrenia-pa-
ranoia vem do universo judaico-cristão. 
Ela implica, de certa forma, alguém estar 
possuído pelos deuses sem perder sua 
humanidade. Em seu Tratado médico 
filosófico, de 1801, Pinel distinguia entre 
os alienados que perderam a razão e os 
maníacos intermitentes, ou seja, aqueles 
para os quais não há nenhuma anomalia 
na qualidade no pensamento, na ima-
ginação, na percepção ou na memória , 
mas apenas alterações quantitativas. 
Seu discípulo Esquirol acentuou essa 
diferença ao postular a distinção entre a 
lipemania (depressão) e as monomanias 
(delírios temáticos). Logo em seguida, 
Jean-Pierre Falret mostra que depressão 
e mania formam um mesmo quadro, 
chegando à ideia de loucura circular, 
consagrada por Kraepl in , em 1889, 
c o m o loucura man íaco-depress i va . 
Ass im como a depressão, só que como 
seu contrário estrutural a mania acelera, 
intensifica ou adensa uma forma de 
vida que já estava lá, tornando-a mais 
vibrante. Ela não transporta o sujeito 
para outro mundo, mas faz com que 
esse mundo seja retinto de cores e bri-
lhos, como que animado pelos deuses. 
U m a descr ição parc imoniosa de 
uma crise maníaca poderia ser a se-
guinte: a pessoa adquire um senso de 
ligação ou conexidade entre co isas , 
pensamentos e afetos. Isso a torna des-
temida e decidida habilitando-a a correr 
riscos e empreender desafios imprová-
veis. Ao mesmo tempo, ela sente uma 
disposição inexaurível para o trabalho e 
uma implicação extremamente pessoal e 
envolvente em tudo que está fazendo. O 
ritmo de vida se acelera. O sono se torna 
quase desnecessário. Caminhos e rela-
ções que não deram certo rapidamente 
são abandonados, sem custo, pois o 
importante é o futuro. Sua atenção é ao 
mesmo tempo muito focal e periférica, 
e sua confiança em si , inabalável. Ela 
adquire uma alta estima invencível, um 
senso de produtividade aumentado e 
uma elevadíssima proatividade sentindo 
que a vida e o mundo lhe reservam com 
um destino grandioso. 
Mudando um pouco os termos, é 
tudo o que um empregador gostaria de 
ouvir na entrevista de seleção de pesso-
al, com um bónus: é tudo verdade. Ou 
pelo menos o sujeito acredita e pratica 
o que diz, apesar das consequências 
desast rosas que uma atitude as s im 
pode trazer. É o que se espera de nossos 
alunos, sem nos darmos conta de quan-
to isso é opressivo. O modelo redivivo 
e feliz do indivíduo empreendedor, e de 
seus ideais devastadores. A máscara 
mais desejável para vestir em nossos 
amores e amigos que nos co locam 
"para c ima" . O mandamento laico que 
se encontrará em todos os manuais 
de autoajuda e gestão organizacional. 
Todos estes que nada querem saber 
do terrível " a m a n h ã " depressivo que 
espreita a mania . O u seja, hoje a mania 
perdeu toda dignidade, restando-lhe 
esse estranho título de bipolaridade, 
apenas porque ela se tornou modelo e 
razão de nossa normalopatia. 
CHRISTIAN INGO LENZ DUNKER, 
psicanalista, professor titular do Instituto 
de Psicologia da Universidade 
de São Paulo (USP). 
12 
NISE DA SILVEIRA /H 
G U E R R E I R A D A P A Z 
A história da brasileira, discípula de Jung, que revolucionou a psiquiatria com Meto e Arte! 
Teatro, música e dança em um espetáculo multimídia. 
Dramaturgia, Direção | Performance Daniel Lobo | Monja Coen como 'A Voz do Inconsciente' 
Coreografa Ana Botafogo | Trilha original Joáo Carlos Assis Brasil 
Diretora-assistente Cilianf Bedin | Participações em vídeo Ferreira Gullar e José Celso Martinez Corrêa 
"Texto belíssimo! Impregnado de humor, 
humanidade e eventualmente de um 
furor semelhante ao das grandes 
tempestades. 0 diretor Daniel Lobo criou 
uma encenação fascinante." Lionel Fischer - Crítico teatral 
"Cerimónia da vida! 
Surpreendentemente bem humorado. 
Louvação das teses, experiências e 
intuições da Dra. Nise." JORNAL 0 ESTADO DE S. PAULO Jefferson Del Rios 
Mfhor V 
Trilha Original 
briginal / 2012; 
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fármacos 
/ 
Velhas drogas, 
novos usos 
R E C E N T E M E N T E F O I D E S C O B E R T O Q U E D E T E R M I N A D O S 
M E D I C A M E N T O S P O D E M T E R " E F E I T O S C O L A T E R A I S " S O B R E 
O C É R E B R O , P R E V EN I N D O N Ã O S Ó S I N T O M A S , M A S T A M B É M 
C O M P O R T A M E N T O S I N D E S E J Á V E I S 
por Daisy Yuhas, jornalista 
Desenvolver um fármaco não é tarefa fácil . Algo em torno de 9 5 % dos novos compostos é repro-vado antes de eles se tornarem disponíveis para o uso clínico. O s gastos são especialmente altos 
quando o assunto é medicamento para tratar problemas 
relacionados ao s i s tema nervoso central . Remédios que 
chegam a ser comercia l izados com sucesso somam um 
custo médio de US$ 1,8 bilhão. Agora, os pesquisadores 
recorrem cada vez mais aos produtos já existentes no 
mercado. Comprovadamente seguras para o c o n s u m o 
humano e não raro compreendidas em nível molecular, as 
já conhecidas pílulas de hoje podem ser a novidade médica g 
de amanhã . O s efeitos colaterais em um homem podem | 
ser a cura de outro. 
14 
9 
> 
9 
9 
t , 
> 
9 
f 
DROGAS 
REINVENTADAS 
BEXAROTENO: 
de quimioterapia 
de linfomas 
cutâneos para 
tratamento de 
Alzheimer 
MIFEPRISTONE: 
de abortivo para 
antidepressivo 
1 
GABAPENTINA: 
de prevenção 
da epilepsia 
para alívio de 
abstinência 
MINOCICLINA: 
de medicação 
contra acne 
e redutor de 
artrite para 
estabilizador de 
esquizofrenia 
COMO FUNCIONA 
No corpo, o bexaroteno ativa um receptor químico 
que afeta a forma como as células se desenvolvem. 
Ao ativar esse receptor no cérebro, o agente 
estimula a destruição de placas características do 
Alzheimer e ajuda a bloquear a ação de proteínas 
que causam a morte de neurónios. 
A mifepristona foi originalmente desenvolvida 
para bloquear o neurotransmissor glucocorticoide 
para tratar depressão. No entanto, cientistas 
descobriram um interessante efeito colateral: o 
fármaco interrompe a ação da progesterona, um 
neurotransmissor necessário durante a gravidez. 
Controvérsias sobre o aborto interromperam 
pesquisas sobre a substância por décadas. Agora, 
a droga tem sido novamente estudada para ser 
utilizada como antidepressivo. 
A ação da gabapentina é parecida com a de 
alguns neurotransmissores. Uma de suas 
funções é normalizar a atividade da amígdala, 
o que pode aliviar os sintomas de abstinência 
de dependentes químicos. A sonolência, um 
dos principais efeitos colaterais, pode ser uma 
grande aliada no tratamento de adictos, que não 
raro têm problemas para dormir. 
A minociclina é uma droga anti-inflamatória 
capaz de atravessar facilmente a barreira 
hematoencefálica. Por isso, cientistas se 
perguntavam se o agente químico poderia 
ajudar também a proteger as células cerebrais. 
Eles descobriram que o fármaco diminui 
alguns sintomas da esquizofrenia, incluindo 
o retraimento social e a apatia. A hipótese é 
que a substância bloqueia o glutamato, um 
neurotransmissor relacionado à psicose. 
EVIDÊNCIAS PRÓXIMOS PASSOS 
t ) 4) t ) 
Estudos com humanos em andamento. 
Pesquisas de grande porte não 
constataram a eficácia do fármaco até o 
momento. Entretanto, algumas evidências 
sugerem que mais pacientes poderão 
responder ao medicamento se receberem 
a dosagem apropriada. Pesquisadores 
investigam também novas drogas com 
ação similar à da mifepristona, mas sem 
inibir a progesterona. 
Um estudo com 150 usuários de maconha 
pretende repetir os resultados de uma ^ 
pesquisa anterior menos abrangente. 
O objetivo é reduzir os sirtomas de ^ 
abstinência. Outros ensaios em andamento ^ 
focam variados tipos de dependência. % 
Uma pesquisa com 175 pessoas 
procura replicar descobertas anteriores I 
e incorporara neuroimagem para 
compreender melhor as mudanças no 
cérebro associadas ao tratamento. 0 
AMANTADINA: 
de remédio 
contra a gripe 
para provocar 
reações em 
pacientes em 
estado vegetativo 
PROPRANOLOL: 
de alívio de 
ansiedade para 
diminuir o 
racismo 
A amantadina pode atravessar a barreira 
hematoencefálica e provocar alterações 
nos neurotransmissores. Há muito tempo 
pesquisadores vêm tentando encontrar uma 
maneira de utilizar a substância no tratamento 
de doenças do cérebro. A novidade é que eles 
descobriram que a droga ajuda pacientes com baixa 
consciência ou em estado vegetativo a recuperar 
a consciência. Eles acreditam que o fármaco eleve 
gradualmente a atividade da dopamina, o que 
favorece a excitação cerebral e sua unidade. 
O propranolol reduz a pressão arterial e 
a ansiedade bloqueando a noradrenalina, 
responsável por uma parte das respostas do 
organismo ao estresse. Seu efeito calmante 
também diminui o juízo preconcebido 
relacionado à etnia. 
A eficácia da amantadina no tratamento 
de distúrbios da consciência levou 
cientistas a estudar sua ação em outras 
lesões cerebrais traumáticas. 
Pesquisadores desenvolvem um grande 
estudo sobre o tema. Eles estão interessados 
na neurobiologia relacionada ao preconceito, 
e não na "cura" do racismo. O trabalho 
também levanta questões éticas sobre como 
os efeitos colaterais da medicação podem 
influenciar atitudes pessoais. 
março 2016 • mentecérebro 15 
C I E N T I S T A S JÁ S A B E M : M A R C A R O S T R E C H O S 
M A I S S I G N I F I C A T I V O S D O S T E X T O S C O M C A N E T A S 
C O L O R I D A S O U M E S M O R E L E R V Á R I A S V E Z E S 
A M E S M A L I Ç Ã O N Ã O A J U D A T A N T O N O 
P R O C E S S O D E A P R E N D I Z A D O Q U A N T O R E T O M A R 
O A S S U N T O E S T U D A D O A L G U M A S V E Z E S E M 
D I N Â M I C A S D E G R U P O E C O N V E R S A S C O M O S 
C O L E G A S . A I N D A A S S I M , P O U C O S P R O F E S S O R E S 
E N C O R A J A M O S A L U N O S A O P T A R P O R T É C N I C A S 
C O M P R O V A D A M E N T E M A I S E F I C A Z E S 
por Daniel T. Willingham 
O AUTOR 
DANIEL T. W I L L I N G H A M , doutor em psicologia, 
professor da Universidade da Virgínia. 
março 2016 • mentecérebro 17 
capa 
Um equívoco c o m u m 
das escolas é pensar 
que o ensino de 
conteúdo é menos 
importante que o 
de habi l idades de 
pensamento crít ico 
ou estratégias 
de resolução 
de problemas 
maioria dos professores concorda 
que é importante que os alunos se 
lembrem do que lêem. No entanto, 
u m a das coisas mais comuns em 
escolas e cursos universitários é vê-
-los debruçados sobre livros ou foto-
cópias, com canetas marca-texto na 
mão , destacando passagens pertinentes - que 
muitas vezes incluem a maior parte da página. 
No final do semestre os estudantes se preparam 
para as provas, voltando aos textos e relendo 
os parágrafos coloridos. 
Vár ias pesquisas têm mostrado, porém, 
que destacar trechos e relê-los está entre as 
mane i ras menos eficazes de as pessoas se 
lembrarem do conteúdo que leram. U m a téc-
nica muito mais eficaz é a dinâmica de grupo. 
U m estudo já replicado mostra que alunos que 
lêem determinado texto uma vez e tentam lem-
brá-lo em três ocasiões obtêm notas em torno 
de 5 0 % maiores nas provas, em comparação 
aos colegas que leram o mesmo texto e depois 
o releram três vezes . E ainda ass im muitos 
professores ins istem em e n c o r a j a r - o u pelo 
menos em não desencorajar - as técnicas que 
a ciência provou serem ineficazes (veja na pág. 
21 artigo do professor Carl Wíeman, ganhador do 
Nobel de Física de 2001). 
Esse é apenas um s intoma do f racasso 
geral de integrar o conhecimento científico na 
escola . Muitas ideias comuns sobre educação 
desaf iam princípios de cognição e aprendi-
z a g e m . U m equívoco c o m u m em a lgumas 
escolas é pensar que o ensino de conteúdo 
é menos importante que o de habilidades de 
pensamento crítico ou estratégias de resolu-
ção de problemas. Pesquisadores sabem que 
cr ianças devem aprender 
as conexões entre letras e 
sons e que se beneficiam 
mais quando essa instru-
ção é planejada e explícita. 
É fácil dizer que os pro-
fessores devemse esforçar 
mais para acompanhar a 
c iência , mas ens inar já é 
uma profissão muito traba-
lhosa. E é difícil para um não 
especialista separar pesqui-
sas científicas da avalanche 
de falação e pseudociência. 
Vendedores de panaceias caras e supostamente 
baseadas em pesquisas científicas fazem lo-
bby de produtos que podem até ter validade, 
mas ainda não foram profundamente testados. 
Teorias de aprendizagem matemática, por exem-
plo, sugerem que jogos de tabuleiro lineares 
(mas não circulares) aumentam a prontidão para 
a área de exatas em pré-escolares, mas a ideia 
precisa de estudos em grande escala. 
Como os educadores devem saber quais 
práticas adotar? U m a instituição que consul-
te pesquisas e as resuma poderia resolver o 
problema. A medicina fornece um precedente: 
médicos praticantes não têm tempo para se 
manter atualizados com as dezenas de milhares 
de artigos de pesquisa publicados anualmente, 
que podem sugerir uma mudança de tratamen-
to. Em vez disso, eles confiam em sumários 
respeitáveis de pesquisas, publicados todo ano, 
que concluem se as evidências acumuladas 
apoiam mudanças na prática médica. Professo-
res não têm nada semelhante a essas revisões 
competentes: estão por conta própria. 
O Departamento de Educação dos Estados 
Unidos ( D O E , em inglês) tentou, no passado, 
levar rigor científico ao ens ino. A câmara What 
Works, criada em 2002 pelo Instituto de Ciên-
cias Educacionais do D O E , avalia currículos, 
programas e materiais de sala de aula, mas 
seus padrões são estritos e professores não 
têm participação no processo de verificação, 
t a m p o u c o na ava l iação - e isso é c ruc ia l . 
C ient i s tas podem ana l i sa r pesquisas , mas 
professores entendem de educação. O pro-
pósito dessa instituição seria o de produzir 
informações que pudessem ser usadas para 
modelar o ensino e a aprendizagem. 
Muitos professores prec isam perder as 
noções de que o cérebro dos meninos é mais 
apto a atividades espaciais que o das meninas, 
por exemplo. Pode-se dizer que o trabalho de 
levar informações científ icas precisas sobre 
cognição e aprendizagem a professores seja 
responsabilidade de faculdades de educação, 
do governo e de organizações profissionais de 
professores, mas essas instituições em geral 
não colocam esse objetivo como prioridade. 
Talvez um conselho nacional de revisão de 
estudos sobre aprendizagem fosse a maneira 
mais simples e rápida para transpor um grande 
obstáculo para a melhoria em muitas escolas. 
18 
E m tempos de internet, quando 
qualquer in formação está ao 1I-
cance de a lguns toques , podemos 
ter a impressão de que acessar os 
resultados na hora favorece a ab-
sorção de in formação. Vários estu-
dos , po rém , c h a m a m atenção para 
os benefícios de não receber uma 
resposta às nossas perguntas tão 
rap idamente . Quando fazemos 
um teste , t emos maior chance de 
memor i za r a alternativa correta 
se a ouv imos depois de a l g u r s 
segundos , e m vez de acessá-la 
ins tantaneamente . 
Para compreender por que isso 
ajuda a apurar a aprendizagem, 
pesquisadores da Univers idace 
Estadual de lowa pediram a estu-
dantes universitários que dessem 
seu melhor palpite para perguntas 
triviais como " Q u e m inventou a 
palavra nerd?" e "Qua l é a cor do 
sangue dos gafanhotos?" e avalias-
sem seu grau de curiosidade ?m 
relação ao assunto . Para metade 
das perguntas, os participantes 
t iveram acesso à informação cor-
reta imediatamente depois de ter 
respondido às perguntas. Para as 
demais , t iveram de esperar q jatro 
segundos ou escutar a resposta 
ISSO FUNCIONA NA PRÁTICA! 
Vem crescendo o número de estudos sobre como absorvemos conte-
údo. Resultados consistentes sugerem que determinadas estratégias, 
como lembrar aos alunos que a inteligência não é algo fixo e "pron-
to" , podem ser determinantes para aprimorar a aprendizagem e o 
desempenho. Esse campo de pesquisa pode oferecer indicações s im-
ples e preciosas que a judam a trazer muitos ganhos. Confira alguns 
dos mais recentes estudos que exploram esses campos . 
Tenha paciência e 
mantenha a curiosidade 
com intervalos imprevisíveis de 
dois , quatro ou oito segundos. Em 
seguida, os voluntários participa-
ram de uma tarefa não relacionada, 
com o objetivo de distraí-los e, 
só então, foram testados sobre o 
quanto absorveram das questões a 
que haviam respondido. 
O s resultados desse experi-
mento , publ icados em novembro 
2014 na Memory G£ Cognition, con-
f i rmam os benefícios dessa estra-
tégia de aprendizado, mas mos-
t ram que ela depende da cur iosi-
dade: em testes de acompanha-
mento , os participantes acertaram 
mais vezes quando receberam as 
respostas depois de um tempo , 
porém, apenas em relação a ques-
tões de seu interesse. O s pesqui-
sadores sugerem que esse atraso 
incentiva os a lunos a antecipar a 
in formação, o que aumenta o nível 
de atenção quando a recebem. 
O efeito foi mais forte quando a 
resposta era dada em intervalos 
imprev is íve is , o que está de acor-
do com estudos anteriores que 
mos t ram que a atenção é reforça-
da quando a sequência de eventos 
é incerta . Então, quando estudar 
co m um amigo, peça a ele que re-
vele a informação correta somente 
depois de alguns segundos , sem 
que você saiba quantos . M a s , se 
preferir fazer isso soz inho , tente 
resistir ao desejo de pesquisar no 
Google ou procurar u m a resposta 
imediata : dê palpites antes . 
A l iás , quem cunhou a palavra 
nerd foi o escr itor e cartunista 
amer icano Theodor Seuss Ge i se l , 
conhec ido por Dr. Seuss , morto 
em 1991 . E o sangue dos gafanho-
tos é branco. Se você estava pen-
sando sobre i sso , a demora pode 
ter a judado a gravar essa informa-
ção em sua m e m ó r i a . 
(Por Tori Rodriguez, jornalista) 
março 2016 • mentecérebro 19 
Salve um 
arquivo para 
lembrar o 
conteúdo 
de outro 
O a rmazenamento digital de dados se tor-
nou parte do cot idiano, seja na forma de 
l istas de contatos e eventos do smartpho-
ne, seja no acesso constante aos enormes 
estoques de conhec imento guardados na 
n u v e m . Pesquisas anteriores já hav iam 
apontado que guardar informações nes-
ses locais nos torna menos propensos a 
recordá-las, provavelmente porque enten-
demos que não prec i samos memor izar 
algo que já está sa lvo . " M a s isso também 
pode liberar recursos menta is e memór ia 
para outros conteúdos" , a rgumentam os 
c ient istas cognit ivos Ben jamin Storm e 
Sean Stone, ambos da Univers idade da 
Cal i fórnia em Santa Cruz . 
O s dois conduziram uma série de expe-
rimentos em que pediram aos voluntários 
que estudassem uma lista de oito palavras. 
Para um grupo, os pesquisadores disseram 
que deveriam salvar o arquivo e para o outro, 
que apenas fechassem o documento. Em 
seguida, os participantes estudaram uma 
Mexa o corpo logo depois de estudar 
De forma geral , manter o corpo em 
mov imento colabora para a saúde do 
cérebro, o que ajuda a apr imorar a capa-
cidade de raciocinar e fixar o que apren-
demos . Agora , novos estudos revelam 
outras constatações importantes rela-
c ionadas à prática de exercícios f ís icos : 
marcar o horário do treino logo após 
adquir ir a lgum aprendizado ajuda a re-
ter melhor as in formações . Em diversos 
exper imentos , constatou-se que pes-
soas que part ic iparam de exercícios de 
muscu lação um pouco antes de estudar 
se sa í ram melhor e m testes de recorda-
ção após horas , dias ou semanas . 
Especialistas acreditam que a excita-
ção física é a chave para a fixação. Exercí-
cios podem estimular o corpo de maneira 
similar a experiências emocionais - e sa-
bemos que memórias afetivas são as que 
mais duram. O s pesquisadores advertem, 
porém, que a atividade física produz, no 
máximo, um efeito de suporte - o mais 
importante, obviamente,é se dedicar aos 
estudos antes de qualquer coisa. (T. R.) 
segunda lista. Mais tarde, um teste de memória avaliou o 
quanto os participantes se lembravam dos vocábulos. 
O s pesquisadores observaram que aqueles que salva-
ram o pr imeiro arquivo se recordaram mais da lista 
do segundo , de acordo com artigo publ icado em feve-
reiro do ano passado na revista Psychological Science. 
Esse efeito não foi observado quando o processo de 
gravação não era comprovadamente confiável ou se o 
documento acessado pr imeiramente mostrava apenas 
duas palavras . O s pesquisadores cogitam que é como 
se os voluntár ios t i vessem usado o a rmazenamento 
digital c o m o u m a capacidade externa para "transfer i r" 
as d e m a n d a s da memór ia . Eles sugerem que podemos 
aproveitar e s sa pecul iar idade, sa lvando imediatamente 
as in formações de que não prec isamos para consul ta 
posterior. A s s i m , rea locamos recursos para aprender. 
(Simon Makin, jornalista) 
Distrações 
úteis 
E m certas c i r cuns tânc ias , a distra-
ção pode colaborar para o aprendi-
zado . A raiz dessa argumentação 
está no fato de que a memór ia 
tende a func ionar por meio de 
assoc iações e o que aprendemos 
e m u m a s i tuação nem sempre 
pode ser lembrado e m outra . De 
maneira notável , pesquisadores já 
demons t r a ram que palavras deco-
radas durante u m mergulho são 
mais fáceis de serem recordadas 
n u m ambiente subaquát ico do que 
em terra seca . Agora , ps icólogos 
da Univers idade Brown sugerem 
algo semelhante e m relação à dis-
tração. Para chegar a es sa conclu-
são , os pesquisadores t re inaram 
48 voluntár ios para atingir u m alvo 
na tela de um computador uti l izan-
do um touchpad instável (que po-
der ia , por exemplo , mover o cursor 
na d iagona l ) . Depois , aval iaram a 
capac idade dos part icipantes de 
atingir rap idamente a marca . Du-
4 
rante essas etapas , os voluntár ios 
foram selec ionados aleator iamente 
para fazer uma segunda tarefa rela-
c ionada à capacidade de manter a 
atenção: contar letras em u m a tela . 
O s que foram distra ídos durante 
apenas u m a fase demonst ra ram 
baixo desempenho na hora do tes-
te, mas aqueles que part ic iparam 
da tarefa de calcular letras tanto 
durante o t re inamento quanto 
durante a aval iação se sa í ram tão 
bem quanto os que f izeram o mes-
mo , mas sem sofrer interferência, 
segundo artigo publ icado em feve-
reiro na Psychological Science. 
O s cientistas concordam que o 
consenso entre muitos especialistas 
é que a distração é algo negativo 
para o aprendizado. No entanto, 
se você souber de antemão que vai 
passar por um teste que interfere 
na atenção ou que terá de enfrentar 
um ambiente perturbador, uma boa 
alternativa para evitar ser pego de 
surpresa é tentar s imular as distra-
ções enquanto estuda ou treina. 
(Nathan Collins, jornalista) 
março 2016 • mentecérebro 21 
5 
> r f -
Chega de aulas expositivas! 
A L U N O S D E C I Ê N C I A S A P R E N D E M M E N O S Q U A N D O S E N O N Í V E L U N I V E R S I T Á R I O , A E V I D Ê N C I A É C L A R A ! 
E S P E R A Q U E O U Ç A M P A S S I V A M E N T E 
A maior ia dos professores de c iênc ias , em especial os 
universitár ios , prega a ideia de que é preciso buscar a 
verdade por meio de dados e exper imentação cuida-
dosa . No entanto, quando ent ram e m sala de aula , em 
geral usam métodos u l t rapassados e inef icazes . A f r a -
ção esmagadora de cu r sos de graduação de ciências é 
ministrada por um professor que dá aulas exposit ivas 
a a lunos , mesmo diante de vár ias centenas de estu-
dos que mostram que métodos de ens ino alternativos 
demonst ram muito maior aprendizagem dos alunos e 
índices mais baixos de insucesso . 
E s ses diversos métodos t êm vár ios n o m e s , inclu-
sive aprendizagem at iva . Sua caracter í s t ica c o m u m é 
que , e m vez de ouvir pas s i vamente , a lunos pas sam 
o tempo de aula envo lv idos e m responder pergun-
tas , resolver p rob lemas , d i scut indo so luções c o m os 
colegas e rac ioc inando sobre o mater ia l de es tudo , 
enquanto obtêm retorno regular de seu professor . 
C o m o relatado e m um estudo de 2012 pela Nat ional 
Academy o f Sc iences e em u m a anál i se deta lhada pu-
bl icada on-l ine e m ma io na revista Proceedings ofthe 
National Academy of Sciences USA, e s sa abordagem 
melhora a aprend izagem e m todas as d isc ip l inas de 
c iênc ias e de engenhar ia tanto e m cursos introdutó-
rios quanto nos avançados . 
Há muitas maneiras diferentes de introduzir a 
aprendizagem ativa. E m turmas menores , muitas vezes 
estudantes trabalham em grupos para completar uma 
série de etapas que compõem um problema maior. Nas 
turmas de 100 a 300 alunos, instrutores cos tumam 
usar disposit ivos que permitem aos jovens transmitir 
respostas ao professor instantaneamente pressionando 
um botão de seu assento. A s s i m , u m professor logo 
vê qual o índice de estudantes que compreendem o 
material . As melhores perguntas são desafiadoras e 
envolvem a compreensão e o uso de conceitos básicos , 
em vez de memor ização s imples . Quando a maior ia da 
classe erra a resposta, o professor faz os jovens discu-
tirem com os v iz inhos e responderem novamente . En-
quanto isso, ele escuta essas conversas e proporciona 
ajuda direcionada aos alunos. Com qualquer uma des-
sas técnicas , o professor ainda passa u m bom tempo 
falando, mas os ouvintes são alunos que foram prepa-
rados para aprender. Eles entendem por que o conteú-
do vale a pena e como ele pode ser usado para resolver 
problemas. Atualmente o material está em um contexto 
que faz sent ido, em vez de ser dado como um conjunto 
de fatos e procedimentos sem sentido que os alunos só 
podem memor iza r sem entendimento. 
A pesquisa educacional sobre aulas para o jardim até o 
fim do ensino médio oferece uma imagem menos clara a 
favor da aprendizagem ativa. Isso porque a pesquisa com 
alunos é difícil , com muito mais (loisas fora do controle 
dos pesquisadores. Talvez a variável mais importante 
seja o nível desigual e muitas vezes o baixo domínio do 
assunto pelos professores. Como a aprendizagem ativa 
requer prática e feedback sobre pensar como um cien-
tista, exige especialização consideravelmente maior do 
docente no assunto. 
Apesar das ev idências científ icas que apoiam a 
aprend izagem at iva , por que o uso dessas técnicas é 
tão raro? U m dos motivos parece ser a compreensão 
bas icamente falha da aprendizagem. A maior ia das 
pessoas ( incluindo professores e admin i s t radores de 
inst i tuições de ens ino) acredita que o aprendizado 
ocorre com u m a pessoa s implesmente ouv indo um 
professor. I sso é verdade se a lguém está aprendendo 
algo muito s imples , como "coma o fruto ve rme lho , 
não o verde" , mas do ponto de vista neurológico o 
aprendizado complexo , inclusive o pensamento cien-
tíf ico, exige a interação para possibi l i tar ao cérebro 
a s sumi r novas capac idades . 
O motivo mais importante para o ensino superior 
não alterar metodologias, no entanto, é que não existe 
incentivo. O fato é que não há nenhum incentivo para 
o uso de técnicas de ensino eficazes baseadas em pes-
quisa, além de superstição pedagógica e do hábito; na 
verdade, poucas, ou nenhuma, universidades monitoram 
o tipo de técnicas de ensino usadas em suas salas de 
aula. Enquanto isso for verdade, futuros alunos não terão 
como comparar a qualidade da educação que receberão 
em diferentes instituições, e ass im nenhuma instituição 
precisa melhorar. (Por Carl Wieman, ganhador do Nobel de 
Física de 2001) 
capa 
E inusitado, mas pode aumentar 
a criatividade e o foco 
Deite-se por alguns minutos para 
estimular insights. Pessoas nes-
sa posição conseguem resolver 
anagramas de forma signif icat iva-
mente mais rápida do que os quepermanecem em pé 
Vista-se para a ocasião. Se vai es-
tudar, prepare-se: prefira roupas 
l impas e confortáveis , mas evite 
p i jamas . U m estudo publicado na 
Psychological Science mostrou que, 
cur iosamente , estudantes da área 
de biomedic ina que usavam jaleco 
branco demonst ra ram maior foco 
Sorrir mesmo quando estamos tris-
tes pode ajudar a aumentar a criati-
vidade. Pessoas que apresentaram 
estados mentais e f ís icos contradi-
tórios (se recordaram de algo triste 
enquanto davam risada ou ouviam 
uma mús ica feliz com a expressão 
aborrecida) demonst raram mais fa-
cilidade para "pensar fora da caixa" 
Tonificação da linguagem, 
educação precoce no berço 
Cientistas da Univers idade de Rutgers desenvolveram testes para determinar se os bebés c o m audição normal 
processam os sons de modo profundo dentro do cérebro (gráfico abaixo). Eles estão ana l i sando se um jogo cria-
do por eles (gráfico ao lado) pode preparar cr ianças mais novas a falar, ouvir, ler e escrever. 
À e s p e r a d e " A h á ! " 
O Laboratório de Estudos sobre a 
Infância da Rutgers coloca uma touca 
de eletrodos em bebés para registrar a 
atividade cerebral enquanto eles ouvem 
sons variados. Primeiro, as crianças 
escutam tons de alta frequência (ao lado), 
que estimulam determinado padrão 
de ondas cerebrais (à esquerda). Tons 
de alturas diferentes (B) se intercalam 
com os tons iniciais e provocam uma 
mudança temporária na onda cerebral (a 
resposta ahá!) conforme o cérebro detecta 
a mudança (à direita). U m a resposta 
mais lenta ou mais fraca a esta alteração 
súbita na altura pode predizer problemas 
posteriores de linguagem. 
Padrão auditivo 1 
Tons A Silêncio 
1 1 
Tempo • 
Padrão de ondas cerebrais 1 
Tempo-
Padrão auditivo 2 
Tons A Tons B 
i • • i 
Tempo • 
Padrão de ondas cerebrais 2 
Tempo 
Resposta ahá! 
2 4 
Tente isto: coloque uma in formação 
fundamenta l em um tipo de letra di-
fícil de acompanhar . E m u m estudo 
de 2 0 1 1 , voluntários que leram algo 
numa fonte desconhecida ou pouco 
legível se recordaram mais da informa-
ção do que aqueles que t iveram a lei-
tura fáci l . O tamanho da letra, po rém , 
não fez diferença. 
Direção preferencial 
C o m a tomograf ia por ressonância magnét ica por di fusão 
os pesqu isadores tornam vis íveis as f ibras da substânc ia 
cerebral b ranca . As regiões claras cor respondem às áreas 
nas quais a água só pode se mover de forma l imitada (aniso-
t róp ica ) , por exemplo , ao longo dos filamentos neura is . Por 
outro lado, estão escuras as regiões do cérebro com difusão 
i l imitada ( isotrópica) da água, por exemplo , nos ventr ícu los . 
As imagens pequenas as mos t ram em detalhe: anisotrópica 
(no alto) e isotrópica (embaixo). 
B r i n c a d e i r a s p a r a o s p e q u e n o s 
O s bebés na Rutgers podem aprender a processar a altura ( f requência do s o m ) de fo rma ma i s eficiente enquanto 
t a m b é m se d i ve r tem . A c r iança aprende a v i rar a cabeça e m resposta aos tons B (à direita), m a s não aos tons A (à 
esquerda), e é r e c o m p e n s a d a c o m um trecho de u m vídeo na resposta correta . O r i tmo de sequênc ias de tons se 
acelera , e a c r i ança aprende a responder cada vez ma i s c o m maior prec isão , nesse r i tmo acelerado. 
* Se estiver difícil 
de ler, coloque a 
revista na horizon-
tal , pouco abaixo da 
altura dos olhos e a 
incline para frente. 
Tons A Tons B 
II 
Recompensa visual para uma 
resposta correta de virada de cabeça 
1 
-
março 2016 • mentecérebro 25 
C Â M E R A S D E V Í D E O R A S T R E I A M M O V I M E N T O S D O S O L H O S P A R A D E T E C T O R 
P A R A O N D E A L U N O S D l R E C I O N A M S U A A T E N Ç Ã O , E S E N S O R E S D E P E L E R E V E L A M 
S E O S E S T U D A N T E S E S T Ã O I N T E R E S S A D O S O U E N T E D I A D O S . O S R E S U L T A D O S A I N D A 
N Ã O C H E G A R A M À S E S C O L A S , M A S A N O V A M E T O D O L O G I A J Á D E S A F I A C R E N Ç A S 
E S T A B E L E C I D A S A O M O S T R A R Q U E P R O F E S S O R E S N Ã O P O D E M S E R A V A L I A D O S C O M 
B A S E A P E N A S E M S U A S C R E D E N C I A I S A C A D É M I C A S , Q U E O T A M A N H O D A S A L A D E 
A U L A N E M S E M P R E É P R I M O R D I A L E Q U E A L U N O S P O D E R Ã O R E A L M E N T E F I C A R M A I S 
M O T I V A D O S S E F I Z E R E M E S F O R Ç O S P A R A C O M P L E T A R A S T A R E F A S D U R A N T E A S A U L A S , 
C O M S U P E R V I S Ã O E J U N T O C O M O S C O L E G A S 
por Barbara Kantrowitz 
MyL nna Fisher apresentava um seminário para uni-
MgJÊL versitários sobre atenção edistração de crianças 
W W pequenas quando notou que as paredes da sala 
% H estavam nuas . Isso a fez refletir sobre as salas 
de aula da pré-escola, que c o s t u m a m ser decoradas com 
cartazes alegres, mapas coloridos, gráficos e trabalhos de 
arte. Ela se quest ionou, então, sobre que efeito todo aquele 
est ímulo visual exerce sobre cr ianças , que são muito mais 
suscetíveis à distração que seus a lunos da Universidade 
Carnegie Mellon. Esse tipo de decoração afeta a capacidade 
de aprendizado das cr ianças? 
Para verificar isso, a estudante de pós-graduação Karrie 
Godw in , or ientanda de Fisher, desenvolveu um experi-
mento com cr ianças do jardim de infância da Carnegie 
Mellon's Chi ldren's School , uma instituição experimental 
que funciona no campus . Dois grupos de 12 alunos cada 
um sentaram-se em uma sala alternadamente decorada ou 
totalmente vazia e ouviram três histórias sobre ciências e m 
A AUTORA 
BARBARA KANTROWITZ é editora sénior 
da Hechinger Report, empresa de notícias 
sem fins lucrativos focada em jornalismo 
educativo. Ela leciona na Columbia 
Journalism School e foi editora e jornalista 
da Newsweek por mais de 20 anos, cobrindo 
educação, saúde e questões sociais. 
26 
cada ambiente . O s pequenos voluntários foram filmados 
pelos pesquisadores , que mais tarde observaram o quanto 
cada cr iança prestou atenção aos relatos. Ao fim da leitura, 
fizeram perguntas sobre o que ouv i ram. As da sala de pa-
redes nuas eram mais propensas a prestar atenção e apre-
sentaram melhores resultados em testes de compreensão. 
Centenas de experiências como essa fazem parte de 
uma iniciativa para trazer conhecimentos científicos sobre 
aprendizagem para as salas de aula. Nos Estados Unidos , 
esse movimento começou com a lei No child left behind 
(Nenhuma criança deixada para t rás ) , em 2002. Na oca-
sião, foi fundado o Instituto de Ciência da Educação ( IES , 
na sigla em inglês) para incentivar cientistas a buscar o 
que foi descrito como "pesquisa cientif icamente vál ida" , 
em especial estudos controlados randomizados , que de-
fensores do IES cons ideram bastante confiáveis . Também 
foi cr iado o What Works Clearinghouse, espécie de banco de 
dados com informações variadas para educadores : desde 
comentár ios sobre currículos específ icos até técnicas de 
ensino baseadas em evidências. 
Agora, pesquisadores americanos estão usando a tecno-
logia emergente e novos métodos de análise de dados para 
criar experiências que teriam sido impossíveis há dez anos. 
Economistas descobriram como compactar os dados para 
simularestudos randomizados-que muitas vezes sãodifíceis 
e caros de adequar a escolas. Câmeras de vídeo rastreiam 
movimentos dos olhos para ver para onde alunos direcionam 
sua atenção; sensores de pele mostram se os estudantes 
estão interessados ou entediados. Grande parte das novas 
pesquisas supera a simples métrica de testes padronizados 
para avaliar a aprendizagem em andamento. "Estou inte-
ressado em medir o que realmente importa", afirma Paulo 
Blikstein, professor assistente da Faculdade de Educação da 
Universidade Stanford, que participa do desenvolvimentode 
novas tecnologias e técnicas de coleta de dados para capturar 
o processo de aprendizagem. Conhecer o bom desempenho 
março 2016 • mentecérebro 27 
dos alunos ao completarem uma tarefa é apenas 
parte da experiência. Cientistas também gravam 
a expressão dos alunos, a resposta galvânica 
da pele e as interações no grupo, entre outras 
coisas. Blikstein denomina essa abordagem de 
"análise multimodal da aprendizagem". 
A nova metodologia já desafia crenças am-
plamente estabelecidas ao revelar que professo-
res não podem ser avaliados com base apenas 
em suas credenciais académicas, que o tamanho 
da sala de aula nem sempre é primordial e que 
alunos poderão realmente ficar mais motivados 
se fizerem esforços para completar uma tarefa 
em sala de aula. Embora ainda haja muito a ser 
compreendido nesse campo, as constatações 
já c o m e ç a m a preencher a lgumas lacunas 
nesse quebra-cabeça extremamente complexo 
chamado educação. 
EM BUSCA DE PADRÕES 
Perguntas provocativas deflagram os resulta-
dos mais surpreendentes . Em uma série de 
experiências com estudantes do ensino funda-
mental II e médio, Blikstein tenta compreen-
der a melhor forma de ensinar matemática e 
ciências indo a lém, por exemplo, dos testes de 
múltipla escolha para avaliar o conhecimento 
dos a lunos . "Muito do que acontece em ciên-
cias exatas resulta em fracasso; é o processo 
de tentativa e erro que esperamos captar com 
essas novas ferramentas : levamos as crianças 
ao laboratório e passamos tarefas que envol-
vem algum tipo de projeto de engenharia ou de 
c iências" , conta Bl ikstein. Pesquisadores colo-
cam sensores no laboratório e, às vezes, nas 
próprias cr ianças . Depois , coletam os dados 
e os anal isam buscando padrões. " H á muitas 
coisas na forma como as pessoas aprendem 
que são contrárias à intuição; gostamos de 
desvendar esses m e c a n i s m o s mentais , por 
vezes equivocados, para entender o que de 
fato é eficiente." 
A aprend izagem baseada em "descober-
t a s " que ocorrem quando alunos desvendam 
s o z i n h o s os f a t o s , e m vez de recebê-los 
prontos , está e m voga u l t imamente . Bliks-
tein e seus colegas no Fabl_ab@School , uma 
rede de of ic inas educat ivas cr iada por ele em 
2009 , tentam at ingir a essênc ia da quanti-
dade de ins t ruções de que os a lunos real-
mente p rec i sam . Pais podem não gostar de 
ver seus f i lhos f rus t rados na esco la , mas 
Bl ikste in garante que "há níveis de frustra-
ção e de f racasso que são mui to produt ivos , 
são ó t imas mane i ras de aprender" . Em uma 
série de es tudos , ele e seus colegas tentaram 
descobr i r se a lunos aprend iam mais sobre 
um tópico de c iênc ia se a s s i s t i s sem primei-
ramente a u m a au la ou se f i zes sem u m a 
at iv idade exp lora tór ia . Ele c h a m o u a aula 
de "ouv i r d izer e prat icar" . O s a lunos foram 
d i v id idos e m do i s g r u p o s . U m c o m e ç o u 
c o m a at iv idade expos i t iva e o outro, com 
a exploratór ia . Pesqu i sadores repetiram o 
exper imento e m vár ias ocas iões e encon-
t ra ram resul tados cons i s ten tes : jovens que 
in ic ia ram c o m at iv idade prática se sa í ram 
2 5 % melhor que aqueles que part ic iparam 
antes da aula expos i t i va . 
O professor de adminis t ração e política 
Jordan Matsudaira , da Universidade Cornell , 
ajudou a ressuscitar uma antiga ferramenta de 
pesquisa económica e a empregou para obser-
var a utilidade de aulas de reforço. O método, 
estruturado nos moldes de acompanhamentos 
clínicos controlados e conhecido como análise 
de regressão-descont inu idade , c o m p a r a o 
rendimento de estudantes. No estudo sobre as 
aulas complementares, por exemplo, Matsudaira 
comparou alunos cujos resultados de testes 
ficaram pouco acima do nível que os tornava 
candidatos para as atividades de reforço com 
aqueles que estavam logo abaixo para verificar 
se as aulas adicionais melhoravam os resultados 
dos testes dos alunos. Conclusão: aulas a mais 
podem ser uma forma mais eficaz para melhorar 
o aprendizado que a redução do tamanho das 
turmas, por exemplo. 
Outros pesquisadores prospectam dados 
para monitorar o progresso de vários alunos 
ao longo do tempo. O professor Ryan Baker, da 
Universidade Columbia , presidente da Interna-
tional Educational Data MiningSociety, lembra 
que, quando trabalhava em seu doutorado 
no início dos anos 2000, acordava todas as 
manhãs às 6 horas para dirigir até uma escola 
onde passava o dia todo em pé, fazendo anota-
ções em u m a prancheta. Avance rapidamente 
uma década , e a rotina de trabalho de Baker 
parece muito diferente. Recentemente, ele e 
seus colegas conclu í ram uma pesquisa longi-
tudinal de sete anos para estudar os registros 
digitais sobre como milhares de estudantes do 
ensino fundamenta l II usaram um programa 
de tutoria e m matemát ica pela internet de-
nominado ASS ISTment s . O s pesquisadores 
rastrearam se os alunos entraram na faculdade 
e, se o f i zeram, para que tipo de faculdade em 
termos de exigência e em qual graduação para 
verificar se poderiam fazer conexões entre o 
uso do software e as conquistas académicas 
posteriores. 
" O Big Data nos permite observar duran-
te per íodos longos e olhar detalhes mui to 
prec i sos" , a f i rma Baker. Ele e seus colegas 
estavam especia lmente interessados em ver 
o que acontec ia com a lunos que es tavam 
"bur lando" o s i s tema - tentando passar por 
um conjunto particular de problemas sem se-
guir todos os passos . Acontece que burlar os 
problemas mais fáceis não foi tão prejudicial 
quanto ludibriar nos mais dif íceis. Alunos que 
resolveram as questões mais fáceis poderiam 
s implesmente estar entediados, enquanto os 
que trapacearam nas realmente compl icadas 
podem não ter entendido o mater ia l . Baker 
acredita que esse tipo de informação talvez aju-
de professores e orientadores a descobrir não 
só quais a lunos correm risco de ter problemas 
académicos , mas também por que eles estão 
em risco e o que pode ser feito para ajudá-los. 
PROFESSOR DE ALTA QUALIDADE 
Novos estudos a judam a construir uma base 
de evidências inexistente no ens ino. Grover 
Whitehurst , diretor-fundador do l E S - e atual-
mente diretor do Brown Center on Education 
Policy e membro sénior da Brookings Institu-
tion - , lembra que quando começou a trabalhar 
no projeto em 2002, logo após o programa No 
child left behind entrar em vigor, o superinten-
dente de um distrito predominantemente de 
minorias pediu-lhe que sugerisse um currículo 
de matemática comprovadamente eficaz para 
os seus alunos. "Quando respondi que não ha-
via nenhum, ele não pôde acreditar estar sendo 
obrigado por lei a basear tudo o que fazia na 
pesquisa científica e não haver nenhuma na 
qual pudesse se fiar." Esse superintendente 
não estava sozinho. "Hav ia muito pouca pes-
quisa que realmente atendesse às necessida-
des dos educadores. A maioria dos trabalhos 
era escrita por académicos para serem lidos 
por académicos . " 
Muitos pesquisadores d i scordam dessa 
avaliação dura, mas a crítica forçou a comu-
nidade a examinar e explicar seus métodos e 
missão. Nos primeiros anos do IES, Whitehurst 
e outros frequentemente comparavam a ciência 
da educação com os estudos sobre drogas, 
que indicavam que pessoas que estudam as 
escolas deveriam testar currículos ou práticas 
pedagógicas da mesma forma que um pesqui-
sador farmacêutico testaria um novo fármaco. 
Estratégias e currículos que passassem no teste 
iriam para o What Works Clearinghouse. 
John Easton, atual diretor do IES eex-pesqui-
sador educacional na Universidade de Chicago, 
acredita que o Clearinghouse é especialmente útil 
como forma de o governo vetar produtos que os 
distritos escolares podem se sentir pressionados 
a comprar. "Acho que é uma fonte muito valiosa 
e confiável a quese pode recorrer e descobrir se 
há alguma evidência de que esse produto comer-
cial funciona", declara. O Clearinghouse agora 
abriga mais de 500 relatórios que resumem 
descobertas atuais sobre temas como o ensino 
de matemática para crianças pequenas, a escrita 
no ensino fundamental e auxílio a alunos no 
processo de candidatura à faculdade. Também 
revisou centenas de milhares de relatórios para 
auxiliar no discernimento entre a pesquisa de 
melhor qualidade e o trabalho mais fraco, in-
março 2016 • mentecérebro 29 
capa 
Pais podem não gostar 
de ver seus filhos 
enfrentando problemas 
na escola, mas cientista 
garante que há níveis 
de frustração e de 
fracasso que são 
muito produtivos 
e favorecem o 
aprendizado 
clusive estudos sobre temas 
como a eficácia das escolas 
conveniadas e pagamento 
por mérito para professo-
res, que informavam sobre 
o debate em curso sobre 
essas questões. 
Segundo W h i t e h u r s t , 
u m a das c o n t r i b u i ç õ e s 
mais importantes da ênfa-
se na ciência rigorosa foi 
uma mudança drástica na 
def in ição de u m profes-
sor de alta qualidade. No 
passado, a qual idade era 
definida pelas credenciais , como um diploma 
ou certif icação específ ica. "Agora, trata-se de 
eficácia na sala de aula, medida por observa-
ções e pela capacidade de um professor me-
lhorar os resultados das aval iações", af i rma. 
Embora ainda haja controvérsia significativa 
sobre como mensurar a eficácia de um pro-
fessor, Whitehurst acredita que a mudança na 
abordagem foi impulsionada pela comunidade 
de pesquisa , especialmente por economistas . 
Muitos pesquisadores se queixam de que a 
ênfase do IES em estudos controlados rando-
mizados ignorou outras metodologias poten-
cialmente úteis. Estudos de caso de distritos 
escolares , por exemplo, poderiam descrever 
práticas de aprendizado em ação da mesma for-
ma como escolas de administração empregam 
estudos de caso de empresas. " O quadro atual 
é realmente um ecossistema de metodologias, 
o que faz sentido, porque a educação é um 
fenómeno complexo" , afirma o professor de 
psicologia da educação Anthony Kelly, da Uni-
versidade George Mason. Para Easton, porém, 
estudos controlados randomizados t o m a m 
parte importante nesse processo, mas não 
necessariamente como "evento culminante" . 
Para ele, os estudos também podem ser úteis 
no início do processo de desenvolvimento de 
uma intervenção educativa para ver se algo está 
funcionando e se vale a pena investigar mais . 
NO MUNDO REAL 
Conseguir essa nova ciência em escolas ainda 
é um desaf io . " O problema com a pesquisa 
em educação , como em muitos outros cam-
pos , é que ela norma lmente se t raduz e m 
longas t ra jetór ias de t r aba lho" , cons ide ra 
Joan Ferrini-Mundy, diretora adjunta da Direc-
torate for Educat ion and H u m a n Resources . 
"É muito improvável que um único estudo, 
e m per íodo cu r to , p roduza impac to . " H á 
t a m b é m uma barreira de longa data entre 
o laboratório e a sala de aula . No passado, 
mui tos pesquisadores sent iam que não era 
sua função encontrar apl icações para seu tra-
balho no mundo real . E educadores , na maior 
parte das vezes , acredi tam que a experiência 
acumulada na sala de aula superava qualquer 
coisa que pesquisadores poderiam lhes dizer. 
O What Works Clearinghouse deveria ajudar 
a cobrir essa lacuna, mas em 2010 o General 
Accountabi l i ty Off ice ( G A O ) constatou que 
apenas 4 2 % dos distritos escolares pesquisa-
dos t inham ouvido falar dele. O levantamento 
do G A O verificou t ambém que apenas 3 4 % 
dos distritos acessaram o site do Clearinghouse 
pelo menos uma vez e que menos ainda o 
uti l izava com frequência . U m relatório atu-
alizado em dezembro de 2013 mostrou que 
a d i s s e m i n a ç ã o pe rmanec ia problemát ica . 
Easton e outros reconhecem a necessidade de 
um melhor direcionamento para as escolas. 
C o m o parte da so lução , o Clearinghouse já 
publicou 18 "guias práticos", que estabelecem 
o que se sabe sobre temas como ensinar in-
glês ou matemática para cr ianças pequenas. 
Cada um é compi lado por uma comissão que 
reúne pesquisadores , professores e adminis-
tradores escolares. " O s guias de boas práticas 
também podem orientar pesquisas futuras" , 
af irma a professora de psicologia Sharon Car-
ver, membro do comité de matemática para 
principiantes e diretora da Carnegie Mellon's 
Chi ldren's School . Ela pede a seus alunos de 
pós-graduação que leiam os guias relaciona-
dos com seu c a m p o e busquem áreas que 
precisam de mais exploração. 
Cada pergunta da pesquisa é uma tentativa 
de encaixar mais uma peça de um enorme que-
bra-cabeça. "Não acho que seja possível olhar 
para a educação pensando simplesmente se ela 
funciona ou não, como se fosse uma lâmpada", 
ressalta Joseph Merl ino, presidente da 21st 
Century Partnership for S T E M Education, uma 
organização sem fins lucrativos dos subúrbios 
da Filadélfia. "Não acredito que o conhecimento 
humano seja ass im. . . E m uma era mecânica, 
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es tamos acos tumados a pensar jnas coisas 
mecanicamente. Será que funciona? Você pode 
consertar? Não acredito que se possa corrigir a 
educação mais do que um pé de tomate. Você 
o cultiva. Você o nutre. E ele dá frutos." 
A organização de Merlino administrou um 
estudo controlado randomizado de cinco anos 
financiado pelo I ES sobre a eficácia da aplicação 
dos quatro princípios da ciência cognitiva para 
o ensino de ciências no ensino fundamental 
I I . Atr ibuíram aleatoriamente currículos mo-
dificados ou não a um total de 180 escolas na 
Pensilvânia e no Ar izona. Uma parte do expe-
rimento foi baseada em pesquisa de ciência 
cognitiva sobre como as pessoas aprendem 
por d iagramas . Pesquisadores descobr i ram 
que a lgumas das coisas que artistas gráficos 
colocam em um diagrama para incrementá-
-lo, como muitas cores, na verdade distraem o 
aprendizado. Verificaram ainda que estudantes 
precisam de instruções para ler diagramas. Esse 
é o tipo de resultado que poderia ser integrado 
no projeto de adoção de um novo livro. O s 
professores também poderiam ter tempo para 
explicar o significado de símbolos diferentes em 
um diagrama, como setas ou cortes. 
Fazer de educadores uma parte importante 
do processo de pesquisa também gera resulta-
dos significativos em sala de aula. Professores 
muitas vezes sentem que a experiência que 
adquiriram com a prática é ignorada e que em 
vez disso obtêm um novo currículo, suposta-
mente baseado em evidências periódicas, sem 
muita explicação de por que o novo é muito 
melhor que o antigo. No passado, pesquisa-
dores geralmente não sentiram que era seu 
papel explicar seu trabalho a professores. O 
compart i lhamento de conhecimento, porém, 
tem dois lados. No estudo sobre o currículo de 
ciências na Pensilvânia e no Arizona, professo-
res foram envolvidos na concepção inicial dos 
experimentos. "Eles eram mais como mestres, 
ensinavam e nos deram retorno; como o estudo 
foi realizado em escolas de verdade, em vez de 
laboratório, pesquisadores treinaram os profes-
sores enquanto o trabalho prosseguia", comen-
ta Nora Newcombe, professora de psicologia da 
Universidade Temple e principal pesquisadora 
do Spatial Intelligence and Learning Center. 
O u t r o s pesqu i sadores apontam para o 
mode lo da F in lând ia , onde as teor ias edu-
Primeiro a prática 
Estudo publicado on-line, 
na revista Proceedings of 
the National Academy of 
Sciences USA, revela que 
estudantes de ciências ma-
triculados em aulas exposi-
tivas tradicionais eram mais 
propensos à reprovação 
que os colegas que usavam 
técnicas de aprendizagem 
ativa, com resolução de pro-
blemas em grupo e feedback 
regular do instrutor 
C a d a l i nha rep resen ta a 
c o m p a r a ç ã o e m u m ún i co 
es tudo (67 e s t

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