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Curso Policiamento Orientado para Resolução de Problemas CRÉDITOS CONTEUDISTA: Cel PM Cícero, atualmente Cmt da 8ª Região de Polícia Militar da PMMG - Governador Valadares. CONTEUDISTA: Cap PM Alexandre Magno de Oliveira Assessor de Polícia Comunitária do Estado-Maior da Polícia Militar– PMMG. REFORMULADOR: Cap. PM Eliéser Antonio Durante Filho (PMPR) Subchefe da Coordenação Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança/SESP. 2 APRESENTAÇÃO Seja bem-vindo(a) ao curso Policiamento Orientado para Resolução de Problemas. Você já parou para pensar, mesmo que por um instante, na forma como os problemas recorrentes da comunidade, que acabam se transformando em ocorrências policiais, são enfrentados pela sua instituição? Este é o momento para que os operadores de segurança pública (OSPs), examinem por antecipação suas políticas públicas e práticas operacionais. E vislumbrem readequá-las às técnicas consagradas no setor privado, a fim de aperfeiçoar o serviço de segurança pública, que é prestado à sociedade brasileira. Conforme aponta o pesquisador Mark Harrison Moore, no livro Policiamento Moderno, o modelo tradicional de policiamento não só tem falhado na sua capacidade de controlar, prevenir e analisar as causas do crime, e de profissionalizar verdadeiramente o policiamento, como tem promovido o distanciamento pouco saudável entre a polícia e as comunidades por ela servidas (MOORE, 2003). Em 2012, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), publicou a 2ª edição do relatório referente ao Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre segurança pública, dedicada às percepções da população brasileira em relação a essa área e seus principais órgãos. Quanto ao grau de confiança nas instituições policiais, cerca de 20% dos entrevistados responderam que “não confiam” nas suas polícias estaduais, e aproximadamente 15% afirmaram não confiar nas instituições federais. Observe a tabela abaixo: TABELA 1 – CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES POLICIAIS (BRASIL) Instituiçõ es Confi a muito Confi a Confi a pouco Não confia NS/N R Polícia Militar 6,2% 31,3 % 40,6 % 21,4 0,5% Polícia Civil 6,0% 32,6 % 39,6 % 20,6 % 1,2% Polícia Federal 10,5 % 40,4 % 31,4 % 14,5 % 3,2% 3 Polícia Rodoviária Federal 8,9% 40,6 % 32,2 % 15,2 % 4,1% FONTE: IPEA, 2012, p. 6. Muito embora o “IBOPE Inteligência” (IBOPE, 2019) tenha demonstrado, mais recentemente, que o índice de confiança nas polícias cresceu 11 pontos nos últimos 10 anos – de 52 para 63 pontos, o patamar de “alguma confiança” (66 pontos) ainda não foi atingido, ficando distante de outras instituições como o Corpo de Bombeiros (88 pontos), as Igrejas (71 pontos) e as Forças Armadas (69 pontos). Neste curso a distância temos o propósito de apresentar outra estratégia de policiamento, “comprovadamente eficiente”, já utilizada em diversas organizações policiais pelo mundo afora. Este curso foi elaborado para potencializar as tarefas do OSP, que devem ser focadas nas causas dos problemas de segurança vividos pela comunidade. Sabe-se que toda sociedade (e a brasileira não é diferente) atravessa por diversos problemas no nível “global”, como desigualdade social, tráfico internacional de drogas e armas, terrorismo, tráfico de crianças, dentre outros, que muitas vezes não têm como ser resolvido pelos cidadãos no curto prazo. Mas é possível melhorar a qualidade de vida “local”, se os problemas diários, que mais incomodam os cidadãos, como pichações, vandalismos, perturbação do sossego, violência doméstica, presenças de pessoas em situação de rua, entre outros, forem identificados e solucionados pelos OSPs, com o apoio das lideranças comunitárias e segmentos específicos da comunidade. O grande desafio é como fazer? Este curso possibilitará a você, que é OSP, utilizar o método IARA: - Identificar os problemas vividos na sua comunidade; - Analisar as suas causas principais; - Responder com ações criativas; e 4 - Avaliar os seus impactos com o apoio da comunidade. Este curso criará condições para que você possa: 1) Ampliar conhecimentos para: - Conceituar policiamento orientado para o problema; - Descrever as eras da polícia moderna; - Descrever o método IARA (identificação, análise, resposta e avaliação); - Compreender o gerenciamento da rotina de trabalho; - Conceituar a teoria da oportunidade; e - Identificar o processo do “triângulo do crime”. 2) Desenvolver e exercitar habilidades para: - Analisar as estratégias do policiamento moderno; - Utilizar o método IARA para resolver os problemas de segurança pública; - Elaborar o diagrama de causa e efeito e o plano de ação (5W2H); - Aplicar o “triângulo do crime” na análise do problema; - Utilizar técnicas de prevenção situacional do crime. 3) Fortalecer atitudes para: - Reconhecer a importância de atuar em grupos de trabalhos orientados para o problema; - Valorizar as opiniões diferentes e convergi-las para solucionar o problema; - Desenvolver atitudes proativas para resolver os problemas em suas causas; e - Reconhecer a importância de atuar como facilitador (protagonista) do processo orientado para o problema. O curso está divido em 4 módulos: Módulo 1 – Fundamentos do policiamento moderno Módulo 2 – As metodologias de planejamento Módulo 3 – O Método IARA Módulo 4 – Prevenção Situacional do Crime 5 Reflexão: Antes de iniciar o módulo 1, leia o texto extraído do livro: “A Síndrome da Rainha Vermelha”, de Marcos Rolim (2006, p. 67). Texto extraído do livro A Síndrome da Rainha Vermelha “Vamos imaginar que você esteja passeando ao longo de um rio e que, subitamente, perceba que uma criança está sendo arrastada pela correnteza. Se você for uma pessoa minimamente solidária, por certo se jogará na água para tentar resgatar a criança. Suponhamos que você tenha sorte e que seu gesto seja resgatar a criança. Assim, como bom nadador, você consegue trazer a criança sã e salva em seus braços e tem razões de sobra para comemorar seu feito. Vamos imaginar agora que toda a vez que você passe por aquele lugar haja uma criança sendo levada pela correnteza, fazendo com que você seja, sempre, obrigado a repetir a mesma façanha. Certamente, as chances de salvar todas as crianças seriam menores e, ao mesmo tempo, o risco de você ser tragado pelas águas aumentaria. Mas, se isso ocorresse, pareceria evidente que algo estava acontecendo com essas crianças em um ponto anterior da correnteza. Portanto, tão logo a repetição das ocorrências fosse comprovada, parece-lhe não apenas o óbvio, mas urgente, descobrir o que estava acontecendo com as crianças antes de elas caírem na água. Então, você provavelmente iria percorrer as margens do rio em direção à sua nascente para tentar descobrir a causa de tão chocante e misteriosa sucessão de tragédias.” Imagine que o papel desempenhado pelas polícias modernas, é superar a “lógica” de agir reativamente, que obriga os policiais a “nadar” o tempo todo, para tentar salvar “crianças que já estão afogadas”. Agora, reflita sobre as questões a seguir: 1. Nós poderíamos aplicar essa metáfora ao serviço de segurança pública? 2. Como tem sido a sua atuação diante dos chamados da comunidade que se repetem no dia a dia do serviço policial? Você geralmente atua de forma reativa 6 ou de maneira proativa? 3. A sua instituição tem o costume de pensar ou planejar ações para “subir o curso do rio” e “identificar as causas dessa tragédia”? Se não, o que impede que isso ocorra? 4. Entre “salvar as crianças afogadas” ou “identificar o que gera os afogamentos”, que tipo de ação dá mais visibilidade na mídia e reconhecimento pela comunidade de sua instituição? Bons estudos! 7 MÓDULO 1 – FUNDAMENTOS DOPOLICIAMENTO MODERNO Neste módulo você terá a oportunidade de estudar as Eras do Policiamento Moderno, aprender sobre suas diferentes características e conhecer o processo de evolução do policiamento em cada momento histórico. Isso será fundamental para que você compreenda os quatro grandes grupos de estratégias de policiamento, que integram as diferentes experiências policiais acumuladas no mundo todo, inclusive pelo universo policial brasileiro. Você também irá aprofundar seus conhecimentos sobre a estratégia do policiamento orientado para o problema e a sua correlação com o policiamento comunitário. O conteúdo deste módulo está dividido em 4 aulas: Aula 1 - As eras do policiamento moderno Aula 2 - As estratégias do policiamento moderno Aula 3 - O histórico do policiamento orientado para o problema Aula 4 - A relação do POP com o policiamento comunitário A partir dos conhecimentos tratados neste módulo, você será capaz de: - Descrever as eras da polícia moderna; - Descrever as estratégias do policiamento moderno; e - Conceituar policiamento orientado para o problema. 8 AULA 1 - AS ERAS DO POLICIAMENTO MODERNO Na apresentação deste curso lhe foi oportunizado refletir sobre como as instituições de segurança agem diante de um problema na comunidade. Nos parece que, preferencialmente de modo reativo, não foi mesmo? Pois bem, nesta aula, você estudará a evolução do policiamento moderno e, especialmente, como surgiu essa lógica reativa do policiamento na sociedade ocidental. Você sabe como são divididas as eras do policiamento moderno? Para iniciar esta aula, lançamos para você um desafio. Assista ao vídeo a seguir (https://www.youtube.com/watch?v=TbGT65lDacM) e responda as seguintes perguntas: 1. O filme apresentado retrata um período do policiamento moderno. Qual período seria esse? 2. Como você acha que ele surgiu? 3. Você acha que as estratégias de policiamento implementadas no Brasil receberam alguma influência externa? Respostas: 1. O filme demonstra uma propaganda direcionada para as organizações policiais brasileiras, nos anos 60, período que está inserido na Era da Reforma. Esta era ficou marcada pelas incorporações de métodos gerenciais e operacionais, típicas da iniciativa privada, na maioria das organizações policiais da sociedade ocidental, inclusive na brasileira. O período temporal da Era da Reforma, apontado pelos estudiosos, inicia-se nos anos 30 e vai até os anos 80. 2. O policiamento moderno (como conhecido atualmente) surgiu na Inglaterra (1829), no instante em que se consolida a própria sociedade urbano- industrial, a partir do século XIX. 3. A sociedade brasileira tem características próprias, mas também é https://www.youtube.com/watch?v=TbGT65lDacM 9 formada baseando-se nas características da sociedade urbano-industrial, por isso é que recebe influência direta na maneira como se executa o serviço policial. O objetivo desta aula é destacar como são divididos os períodos distintos do policiamento e como o policiamento orientado para o problema é fruto da evolução das estratégias de policiamento moderno, através de seus elementos de inovação, nos Estados Unidos. Devido a influência dessa cultura nos países ocidentais, é necessário verificar como essas transformações refletem e embasam, até os dias atuais, as estratégias implementadas nas polícias latino-americanas. Valendo-se dos estudos de Kelling e Moore (1988), Dias Neto (2003) e Ransley e Mazerolle (2009), historicamente o policiamento nos EUA e das principais democracias pelo mundo pode ser dividido em quatro períodos fundamentais. Observe a Figura 1: Figura 1 - Linha temporal das eras do policiamento moderno. Fonte: Adaptado de Kelling e Moore (1988), Dias Neto (2003) e Ransley e Mazerolle (2009). Era da Política (1º período: 1830 - 1930) O período se destacava pelas relações estreitas entre a polícia e autoridades políticas, as quais nomeavam e contratavam os policiais. A polícia era organizada em estilo paramilitar, com foco em servir aos politicamente poderosos. Não havia profissionalização, a polícia era marcada pela corrupção e por desempenhar diversas funções sociais. Era uma época marcada por uma necessidade de ordem social e segurança, em uma sociedade dinâmica e em rápida mudança. Era da Reforma (2º período: 1930 – 1980) Chamada também de Era Profissional, o período foi marcado pela política ERA DA POLÍTICA 1830 - 1930 ERA DA REFORMA 1930 - 1980 ERA DA COMUNIDADE 1980 - 2000 ERA DA INCERTEZA 2000 - Dias atuais 10 de policiamento progressiva, liderada por August Vollmer e O.W. Wilson. Os cidadãos exigiam reformas e a remoção da política do policiamento. Com o movimento da profissionalização da atividade policial, surgiram as primeiras Academias de Polícia. Operacionalmente caracteriza-se pela aplicação da lei com foco no tradicional combate ao crime, na captura de criminosos e na repressão ao crime organizado. Era da Comunidade (3º período: 1980 - 2000) Também chamada de Era da Solução de Problemas com a Comunidade, o período se destaca pelas unidades de polícia trabalhando para identificar e atender às necessidades de suas comunidades. A parceria entre a polícia e a comunidade ganha fundamental importância, a polícia passa a se concentrar nos problemas que afetam a qualidade de vida das pessoas da comunidade. É fortemente influenciada pelas premissas da teoria das janelas quebradas. Surgiu devido à percepção de que parcerias comunitárias eficazes, podem ajudar a prevenir e solucionar crimes. Era da Incerteza (4º período: 2000 – dias atuais) Também chamada por alguns estudiosos de A Nova Era ou Era da Informação, a virada do século é marcada por ameaças extremamente difíceis de serem reconhecidas, como os ataques terroristas de 11 de setembro, exigindo pluralização do policiamento, adaptação constante e respostas de segurança interagências, mudando por completo a natureza dos esforços de policiamento na área de segurança interna. São criadas divisões de contraterrorismo e o desenvolvimento de inteligência acionável. A parceria com a comunidade continua em destaque, especialmente para reunir inteligência. A Era da Política caracterizava-se por um sistema de aplicação da lei, envolvendo um órgão permanente, com funcionários dedicados em tempo integral ao patrulhamento contínuo, visando à prevenção do crime (KELLING; MOORE, 1988). Neste contexto, a polícia desenvolvia um serviço amplo, pois não tinha ainda sua função social muito bem definida. 11 “A polícia conduzia inspeções sanitárias, zelava por crianças perdidas, checava óleo nas iluminações de rua, monitorava pesos e as medidas adotadas pelos comerciantes, concedia licença para pedintes de rua, controlava odores advindos dos curtumes, apreendia animais perdidos, obrigava as pessoas a criar seus porcos nos quintais e preservava o sabbath” (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7). Você sabia que ... O Sabbat ou Shabat se refere a um dia especial da religião judaica. É um dia da semana na qual os fiéis desta religião devem descansar e este dia, mais especificamente, é o Sábado. A ideia fundamental do Sabbat é não realizar qualquer atividade de trabalho. Esta obrigação imita o comportamento de Deus, que também descansou um dia depois de criar o mundo, como afirma a tradição judaica e cristã na Bíblia (Disponível em:<https://conceitos.com/sabbat/>. Acesso em: 23 out. 2020). A polícia era uma importante instituição responsável pelo bem estar social daquela sociedade, onde o grande objetivo era atender aos cidadãos e aos políticos locais. Certamente suas ações eram muito influenciadas pelas instituições político-partidárias locais, o que gerava uma enorme flexibilidade na atuação do policial. Para Dias Neto (2003), esta postura gerava uma enorme discricionariedadeno exercício das funções e, muitas vezes, hostilidade entre o policial e a própria comunidade, que para ser resolvida abusavam do emprego da força. Toda esta característica gerava, entre a polícia e a comunidade local, um vínculo muito forte. De modo geral, o patrulhamento a pé (pé firme, P.O, Cosme e Damião, a depender da Região do país) e/ou a cavalo integrava os policiais com os bairros, facilitando o fornecimento de serviços úteis para a comunidade. Por outro lado, a forte influência política e a descentralização do policiamento, sem uma supervisão adequada, permitia o agravamento da corrupção policial, caracterizando o policiamento da Era da Política como ineficiente e desorganizado. Segundo Goldstein (1990), as maiores críticas desse período estavam na violência e na corrupção policial, dentre outros desmandos, que foram evidenciados pela National Comminssion on Law Observance and Enforcement ocorrida em 1931, nos Estados Unidos. Outro grave problema era a forma de https://conceitos.com/trabalho/ https://conceitos.com/obrigacao/ https://conceitos.com/comportamento/ https://conceitos.com/sabbat/ 12 ingresso na carreira policial, resumida a uma oportunidade de emprego para protegidos políticos. Você sabia que ... Os únicos requisitos necessários para a indicação de um policial eram influência política e força física? [...] Não havia necessidade de treinamento preliminar, os policiais eram considerados suficientemente preparados para o exercício de suas funções se portassem um revólver, cassetete, algemas e vestissem um uniforme [...] Tratava-se de uma era de incivilidade, ignorância, brutalidade e corrupção (SKOGAN apud DIAS NETO, 2003, p. 7). Baseando-se nessas contradições, várias críticas surgiram, principalmente dentro da própria polícia. Para aprimorar esse serviço “os defensores das reformas lutavam pela incorporação dos métodos gerenciais e operacionais da iniciativa privada” (DIAS NETO, 2003, p. 9). O objetivo era criar um departamento policial “perfeito”, afora comumente chamado de modelo profissional. Portanto, havia um consenso que era preciso “blindar a polícia de interferências da política externa, centralizar as estruturas internas de comando e controle, delimitar a função do policial para prender os infratores da lei e formar o profissional de polícia”. As características dessa era policial estão num serviço profissional distante da comunidade, focado no combate repressivo do crime e que utiliza principalmente o automóvel e o telefone para implementar o radiopatrulhamento. É inegável que surge uma máquina burocrática eficiente e de um corpo profissional treinado, com as melhores tecnologias para o momento. Mas os policiais não conseguem identificar os problemas cotidianos dos cidadãos. Com essa lógica, o policial fica distante e inacessível às demandas políticas próprias do jogo democrático (DIAS NETO, 2003). Com o modelo profissional surge uma obsessão pela eficiência operacional e administrativa, dificultando o contato social sobre as decisões policiais. Uma das maiores críticas contra o modelo profissional, refere-se à ausência de controle sobre a conduta policial. Um movimento que aos poucos permitiu aos próprios cidadãos americanos representar a sociedade civil na apuração e no julgamento das denúncias contra abusos policiais. Esse foi um importante passo para ter algum controle externo sobre a polícia, mas acirrou, ainda mais, os ânimos entre 13 os ofendidos e os policiais. As atuais reformas na área policial, estão fundadas na premissa de que deve haver uma relação sólida e consistente entre a polícia e a sociedade, para que tenha efeito a política de prevenção criminal e a produção de segurança pública (DIAS NETO, 2003). Diante das iniciativas frustradas de relações públicas, ou de reforma na estrutura administrativa policial, surgem alternativas que fortalecem as ideias de partilhar entre a polícia e a comunidade, a tarefa de planejar e implementar as políticas de segurança pública. Iremos perceber que muitos dos aspectos da Era da Comunidade, são bases sólidas para as diferentes estratégias de policiamento da virada do século, mas sem a corrupção, clientelismo e outros problemas que caracterizavam a Era da Política. Os reformadores da Era da Comunidade buscaram o consentimento dos membros da comunidade e amplo apoio dos cidadãos; uma atuação policial completa com ênfase na prestação de serviços; uma estrutura organizacional descentralizada e responsiva; e relações de proximidade com os cidadãos. Um forte vínculo com os cidadãos seria alcançado por meio de patrulhamento a pé, resolução de problemas, preservação da qualidade de vida e uma série de outras táticas. Todas projetadas para garantir a satisfação dos cidadãos, notavelmente semelhantes às práticas que existiam antes do nascimento da Era da Reforma. As eras do policiamento moderno americano, são apresentadas para uma análise temporal (QUADRO 1). Nesta síntese, é possível perceber quais são as principais características de cada período e como ocorreu essa transformação que influenciou as principais estratégias de policiamento. Atenção! Deve-se ter o cuidado para não simplificar a análise de uma era policial somente em algumas características, sob o risco de distorcer todo um contexto histórico-social. Uma característica (total ou parcial) de um período, pode se repetir em outro, por exemplo: o relacionamento íntimo entre a polícia e a comunidade, presente tanto na Era da Política como na Era da Comunidade. Também é importante destacar que essas são características comuns entre a 14 maioria dos órgãos policiais naquele período, portanto, as datas são apenas parâmetros. Quadro 1 - Resumo comparativo das características das eras do policiamento moderno. Fonte: Adaptado de Kelling e Moore (1988), Dias Neto (2003) e Ransley e Mazerolle (2009). ELEMENTOS DAS ESTRATÉGIAS POLICIAIS CARACTERÍSTICAS DAS ERAS DO POLICIAMENTO MODERNO ERA DA POLÍTICA 1830 - 1930 ERA DA REFORMA 1930 – 1980 ERA DA COMUNIDADE 1980 – 2000 ERA DA INCERTEZA 2000 – Dias atuais Fonte de autoridade Políticos locais e a lei Lei e o profissionalismo Comunidade, lei e o profissionalismo Ampla gama de fontes legais, comunidade e parceiros terceirizados Função policial Prevenção e controle do crime, manutenção da ordem e serviços sociais em geral Controle do crime Prevenção e controle do crime e resolução de problemas Prevenção e o controle do crime com terrorismo adicional, responsabilidades regulatórias e políticas sociais Design organizacional Descentralizado e geográfico Centralizado e burocrático Descentralizado com autonomia responsável em nível tático e operacional e emprego de grupos de trabalhos especializados Equipes especializadas, centralizadas (unidades antiterroristas) e destacadas para manutenção da paz ou atuando com agências internacionais Relacionamento externo Estreito e pessoal (íntimo) Profissional (distante) e remoto Consultivo e profissional Consultivo e coercivo Gestão de demanda Ligações entre políticos e líderes policiais locais e interação direta entre a comunidade e a polícia Canalizadas através de uma central de despacho Baseada na análise de problemas subjacentes do crime e da desordem Baseada na análise de problemas subjacentes e de demandas colocadas por agências externas Programas e tecnologia Patrulhamento a pé Patrulhas preventivas e respostas rápidas às chamadas de serviço Patrulhamento a pé e o envolvimento da comunidade na solução de problemas Tecnologias da informação (p. ex., mapeamento do crime), novas tecnologias de vigilância e novas abordagens (p. ex., policiamento orientado pela inteligência, COMPSTAT, policiamento preditivo)que dependem de tecnologias da informação Resultados esperados Satisfação dos cidadãos e dos políticos locais Respostas rápidas para controlar crimes Indicadores de qualidade de vida e satisfação da comunidade Prevenção e controle do crime e do terrorismo, e a conformação com o Estado de Direito 15 Na próxima aula iremos ver um pouco mais sobre as estratégias de policiamento típicas da Era da Reforma e da Era da Comunidade. Mas caso você queira aprofundar seus conhecimentos sobre a Era da Incerteza, sugerimos a leitura dos trabalhos de Peak e Glensor (2007) e Ransley e Mazerolle (2009). 16 AULA 2 - AS ESTRATÉGIAS DO POLICIAMENTO MODERNO Na aula anterior vimos que o policiamento das principais democracias do mundo, podem ser divididos em quatro períodos fundamentais, as chamadas Eras do Policiamento Moderno, o que nos permitiu compreender suas diferentes características e o processo de evolução do policiamento em cada momento histórico. Leia a citação abaixo: “A estrutura hierarquizada, militarizada dos departamentos de polícia, contrapunha-se à essência do verdadeiro profissionalismo. [...] Se tal fato serviu para propiciar certa uniformidade nos departamentos de polícia e eliminar abusos, acabou também, inibindo talentos e ambições entre os policiais (WALKER apud DIAS NETO, 2003, p. 16)”. Baseado na citação do professor americano Walker, para você, essa situação se aplica no contexto de sua organização? Dê um exemplo. Resposta: Conforme podemos perceber, as instituições policiais brasileiras (militar ou civil) também possuem características semelhantes, ou seja, com o objetivo de tornar o policial mais profissional, o seu contato direto com a comunidade ficou limitado e, de alguma forma, podou suas iniciativas para solucionar os problemas locais de forma criativa e audaciosa. A estratégia de policiamento direciona, dentre outros tópicos, os objetivos da polícia, seu foco de atuação, como se relaciona com a comunidade e as principais táticas a serem utilizadas. Uma estratégia que funcionou no passado, necessariamente, não tem que ser eficaz atualmente, principalmente em sociedades heterogêneas e conectadas em rede, pelo processo da globalização, com alto avanço tecnológico e informacional. A área de segurança pública não está fora desse contexto de (pós)modernidade, é 17 possível adotar políticas públicas para solucionar essas questões e almejar metas que atendam as comunidades locais. Importante destacar que a segurança pública acumulou experiências policiais diversas, na tentativa de atingir seus objetivos organizacionais, estabelecer seu profissionalismo e, em alguns locais, alcançar legitimação na própria comunidade. Mas não é um hábito, registrar essas estratégias no meio acadêmico e, principalmente, discuti-las nos órgãos policiais. Para correlacionar as 4 (quatro) principais estratégias do policiamento moderno com as respectivas Era da Reforma e Era da Comunidade, recorremos à evolução histórica apresentada por Moore e Trojanowicz (1988) e Kelling e Moore (1988), conforme a Figura 2, que você verá a seguir: Figura 02 - Estratégias do policiamento moderno. Fonte: Adaptado de Kelling e Moore (1988) e Moore e Trojanowicz (1988). Os quatro grandes grupos de estratégias acima nominadas, posicionadas dentro das respectivas eras do policiamento moderno, integram as diferentes experiências policiais acumuladas pelo universo policial, na tentativa de atingir seus objetivos organizacionais, alcançar uma legitimação e apoio das comunidades policiadas, muito praticado pelas instituições policiais até os dias atuais (OLIVEIRA, 2013). Veja a seguir em que consiste cada uma das estratégias de policiamento. 2.1. POLICIAMENTO TRADICIONAL OU COMBATE PROFISSIONAL DO CRIME (ERA DA REFORMA) A estratégia de policiamento que orientou mundialmente o policiamento moderno, a partir de 1930, e até hoje direciona a maioria das instituições policiais, é o policiamento profissional. É também denominado como policiamento tradicional ERA DA REFORMA 1930 - 1980 • Policiamento Tradicional ou Combate Profissional do Crime • Policiamento Estratégico ERA DA COMUNIDADE 1980 - 2000 • Policiamento Orientado para o Problema • Policiamento Comunitário 18 ou combate profissional do crime. Ela foi concebida num contexto histórico que buscava diminuir os conflitos urbanos que surgiam diante da ausência de estratégias policiais eficientes na Era da Política (1830-1930). O modelo tradicional de policiamento levou a polícia de um mundo de amadorismo, falta de lei e vulnerabilidade política, para um mundo de profissionalismo, integridade e independência política. Os principais motores desta transformação, segundo Moore e Trojanowicz (1988) foram: (1) uma focalização direta sobre o controle do crime como sendo a missão central da polícia (e somente dela); (2) um deslocamento na estrutura organizacional: de unidade geograficamente descentralizada, para uma estrutura centralizada com unidades subordinadas definidas pela função mais do que pela localização; (3) altos investimentos em tecnologia moderna e treinamento dos policiais. O objetivo do policiamento tradicional é criar uma força de combate do tipo militar, disciplinada e tecnicamente sofisticada, focada no controle e na resolução de crimes. As principais tecnologias operacionais dessa estratégia incluem a utilização de patrulhas motorizadas (de preferência automóveis), suplementadas com rádio, atuando de modo a criar uma sensação de onipresença e respondendo rapidamente aos chamados, principalmente aqueles originados pelo telefone 190 ou 911. Contudo, estudos posteriores apontaram alguns pontos fracos dessa estratégia, que nos farão compreender melhor as características das estratégias subsequentes: (1) sua tática essencialmente reativa, deixou lacunas na capacidade da polícia lidar com determinados tipos de delitos e delinquentes envolvendo pessoas sofisticadas e poderosas; (2) a prevenção do crime acabou sendo negligenciada, em favor do caráter reativo da ação policial, que atua após a ocorrência dos fatos; (3) pouca ou nenhuma ênfase é dada à mobilização comunitária e na análise das causas do crime; (4) há um grande distanciamento entre a polícia e a comunidade. 19 2.2. POLICIAMENTO ESTRATÉGICO (ERA DA REFORMA) O policiamento estratégico tenta melhorar o policiamento tradicional, acrescentando reflexão e energia à missão básica do controle e do combate ao crime (MOORE; TROJANOWCZ, 1988). Essa estratégia representou um novo esforço das instituições policiais na definição de um escopo competitivo para as suas ações, direcionando-as para determinados tipos de delitos. Dessa forma, enfatiza uma maior capacidade para lidar com os crimes que não estão bem controlados pelo modelo tradicional. O objetivo básico da polícia permanece o mesmo, que é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo continua centralizado. Através de pesquisas e estudos, a patrulha nas ruas é direcionada, melhorando a forma de emprego. O policiamento estratégico reconhece que a comunidade pode ser um importante instrumento de auxílio para a polícia. Recebem ênfase, os crimes praticados por delinquentes individuais sofisticados e associações criminosas, que geram grande repercussão devido ao grau elevado de violência ou ao método intricado, a exemplo dos homicídios em série, narcotráfico, pedofilia, gangues, crimes do colarinho branco e corrupção política. Essa estratégia de policiamento carece de uma alta capacidade investigativa, por isso, incrementou unidades especializadas de investigação. Mas apesar da polícia ter melhorado sua capacidade de lidar com os delitos de rua, a partir do emprego de patrulhas direcionadas, sua capacidade de prevenir o crime ainda é mínima. 2.3. POLICIAMENTOORIENTADO PARA O PROBLEMA (ERA DA COMUNIDADE) O policiamento para (re)solução de problemas, também conhecido como policiamento orientado para o problema (POP), é uma estratégia que tem como objetivo principal melhorar o policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção criminal. Essa estratégia “desafia a polícia a lidar com a desordem e situações que causem medo, visando um maior controle do crime” (OLIVEIRA, 2013, p. 376). 20 Para diversos autores “[...] o policiamento orientado para a solução de problemas conota mais do que uma orientação e o empenho em uma tarefa particular. Ele implica em um programa, com sugestões sobre o que a polícia precisa fazer” (SKOLNICK; BAYLEY, 2006a, p. 39). O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo causados por problemas específicos e talvez contínuos na mesma localidade. Conclui-se que o crime pode ser minimizado (ou até mesmo extinto) através de ações preventivas, para evitar que seja rompida a ordem pública. Essa estratégia exige da polícia um aumento do seu repertório de opções ao reagir contra o crime na sua causa raiz, o que implica em ir muito além do patrulhamento preventivo, investigação e detenções. 2.4. POLICIAMENTO COMUNITÁRIO (ERA DA COMUNIDADE) A estratégia de policiamento comunitário, vai ainda mais longe nos esforços para melhorar a capacidade da polícia. O policiamento comunitário, que é a atividade prática da filosofia de trabalho da polícia comunitária, enfatiza a criação de uma parceria eficaz e eficiente entre a comunidade e a polícia. O policiamento comunitário tem a necessidade de deixar a comunidade nomear seus problemas e buscar solucioná-los em parceria com a polícia. As instituições, como a família, a escola, a igreja, as associações de bairro e os grupos de comerciantes, são considerados parceiros imprescindíveis da polícia para a criação de um grupo coeso de colaboradores. O êxito da polícia está não somente em sua capacidade de combater o crime, mas na habilidade de criar e desenvolver comunidades competentes para solucionar os seus próprios problemas. A polícia comunitária como filosofia, muda os fins, os meios, o estilo administrativo e o relacionamento da polícia com a comunidade. O objetivo finalístico é para além do combate ao crime, pois permite a inclusão da redução do medo do crime, da manutenção da ordem e de alguns tipos de serviços sociais de emergência. Os meios englobam toda a sabedoria acumulada pela resolução de problemas (método IARA), o estilo administrativo muda de concentrado para desconcentrado, de policiais especialistas para generalistas. O papel da comunidade evolui de meramente 21 informar ou alertar a polícia, para participante do controle do crime e na criação de comunidades ordeiras. 22 AULA 3 - O HISTÓRICO DO POLICIAMENTO ORIENTADO PARA O PROBLEMA Na aula anterior vimos um pouco mais sobre as peculiaridades dos quatro grandes grupos de estratégias do policiamento moderno, que integram as diferentes experiências policiais acumuladas no mundo todo, inclusive pelo universo policial brasileiro. Vamos agora aprofundar um pouco os nossos conhecimentos sobre a estratégia do POP. Ainda durante o período da Era da Reforma, nos Estados Unidos, foi sugerido que a produtividade dos policiais, poderia melhorar se o trabalho policial fosse reorganizado com base em fatores motivadores. Tal sugestão resultou em uma forma de organização do trabalho policial que foi chamado de “Team Policing”. Você já tinha ouvido falar sobre o “Team Policing”? Muito popular nos anos 70, o Team Policing ou Policiamento por Equipes foi adotado nos Estados Unidos em resposta aos anseios populares por um policiamento mais sensível às demandas da comunidade e que respondesse melhor ao controle do crime e da desordem. Os policiais eram divididos em pequenos grupos, sob a regência de um líder, e designados, de modo permanente, para lidar com as chamadas e todos os tipos de problemas de uma determinada área ou bairro, agindo como generalistas. O conceito dessa estratégia estava começando a se mover para retornar ao policiamento orientado para comunidade. Mas no final, mesmo com alguns poucos resultados positivos, o experimento falhou por vários motivos: problemas no planejamento e pressa na implementação, o desconhecimento dos oficiais de patrulha sobre como deveriam atuar, dificuldades no processo de avaliação e os boicotes como resultado das resistências naturais ao processo de mudança (SKOLNICK; BAYLEY, 2006b; PEAK; GLENSOR, 2007). Além desse experimento, outros foram implementados durante o final da década de 1970 e início dos anos 80. O patrulhamento a pé tornou-se popular em muitas 23 localidades (Newark, New Jersey, Boston, Flint e Michigan). Foi observado que o patrulhamento a pé, era rapidamente percebido pela comunidade e, adicionalmente, aumentava a satisfação com o trabalho policial, levando a uma significativa redução da percepção dos problemas decorrentes de crimes pela vizinhança. Esses e outros estudos destruíram alguns mitos sobre o trabalho policial. Pesquisas realizadas na década de 70 sugeriram, que as informações poderiam ajudar a polícia a melhorar sua capacidade de lidar com o crime. Todos esses estudos e outros desenvolvidos sobre o policiamento a pé e a redução do medo do crime criou oportunidades para a polícia entender as crescentes preocupações da comunidade com os problemas de desordem, como, por exemplo, gangues e prostituição, etc. Os policiais descobriram que quando a polícia questionava os cidadãos sobre suas prioridades, eles ficavam agradecidos pela preocupação e forneciam informações úteis. PRINCÍPIOS DO NOVO MODELO Ao mesmo tempo, a abordagem do policiamento orientada para o problema, do professor Herman Goldstein, estava sendo testada em Madison/Wisconsin; Baltimore County/Maryland; e Newport News/Virgínia. Nesses estudos comprovou-se a satisfação dos policiais em trabalhar utilizando uma abordagem holística, sendo capazes de utilizar a solução de problemas com sucesso em parceria com outras agências. Da mesma forma, os cidadãos pareciam satisfeitos em trabalhar com a polícia para solucionar problemas locais. Os policiais receberam maior autonomia e foram treinados para analisar as causas subjacentes dos problemas e encontrar soluções criativas. Para Goldstein, o modelo orientado para a solução de problemas, requer não apenas mudança no trabalho policial, mas também, na estrutura organizacional da polícia. Embora o controle do crime permaneça uma função importante, a mesma ênfase é dada para a PREVENÇÃO. Ao utilizar esse modelo, os policiais fazem uma elevada utilização da discricionariedade e escapam da forma rotineira e padronizada de lidar com os incidentes do dia a dia. 24 RAZÕES PARA O SURGIMENTO DO POP Peak e Glensor (2007), resumem os fatores que prepararam o cenário para o surgimento do POP: - A dificuldade do policiamento tradicional para conter a criminalidade; - O crescimento da diversidade cultural e maior preocupação com a violação policial aos direitos das minorias; - A preferência pelo patrulhamento motorizado; - O aumento da violência; - A necessidade de gestões mais eficientes em razão do processo de desaceleração da economia; - Alto nível de dependência de equipamentos de alta tecnologia, ao invés do contato com a comunidade; - A ênfase na mudança organizacional, incluindo a descentralização e o aumento da discricionariedade dos policiais, dentre outros. Todos esses fatores contém um tema em comum: o isolamento da polícia da comunidade. A polícia havia sido pega pela síndrome dos “meios sobre os fins”, que media seu sucesso pelo número de prisões, rapidez das respostas aos chamados de serviço, etc. Ou seja, os fins da atuação policial frequentemente eram negligenciados, o quepor muito tempo sustentou a mentalidade do “nós contra eles”, por parte da polícia e dos cidadãos. 2.5. ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DO POLICIAMENTO ORIENTADO PARA O PROBLEMA Em adição a esse grupo de fatores descritos por Peak e Glensor (2007), o estudioso Herman Goldstein (1990) apresentou os elementos fundamentais do POP, que juntos constituem o núcleo de mudanças necessárias para se repensar o trabalho policial. 1. Agrupamento de incidentes como o problema A principal unidade de trabalho policial é o “incidente” ou “ocorrência”, como costumamos chamar. Durante um turno de serviço um profissional de segurança 25 pública, lida com situações de todas as ordens: furtos a residência, roubos à pessoa, perturbação do sossego, violência doméstica, pessoas em atitude suspeita, etc. Quando um policial atende uma ocorrência, ele geralmente está lidando com as manifestações superficiais de um problema mais complexo e não o problema em si. O modelo tradicional de atendimento faz com que os incidentes sejam tratados como um fato isolado. Ao reconhecer esse problema, o POP impulsiona a polícia para duas direções: reconhecer as relações entre os incidentes (semelhanças) e aprofundar as observações sobre as ocorrências, identificando as condições e fatores que estão em sua origem. 2. O foco em problemas como a preocupação central do policiamento Para o POP, o coração do policiamento consiste no tratamento de problemas substanciais da comunidade, que passam a ser a unidade de trabalho policial, transcendendo os limites da mera aplicação da lei. 3. Efetividade como objetivo final Para o POP, a efetividade do trabalho policial está relacionada com a forma de como a polícia lida com os problemas da comunidade. Eck e Spelman (1987) identificaram cinco graus variados de impactos que a polícia poderia ter sobre um problema: eliminação total do problema; redução do número de incidentes; redução da gravidade dos incidentes; desenvolvimento de métodos para melhor atender os incidentes; e a remoção do problema da esfera policial. 4. A necessidade de um processo sistemático de investigação O POP sugere que, identificado um problema por meio de agrupamento de incidentes recorrentes e similares, seja ele resolvido através de um processo de coleta e análise de dados sistemática, que permita compreender e responder de modo inteligente às causas que contribuem para sua ocorrência. 5. Dividindo e rotulando com precisão os problemas Denominar um determinado problema com um rótulo genérico pode dificultar ou 26 limitar o processo de análise do problema pela ausência de informações e levar a adoção de respostas igualmente genéricas que não atenderão às especificidades do problema. O POP chama a atenção para os cuidados de rotulagem, ensinando que quanto mais um problema for detalhado, delimitado, mais adequada serão as respostas para a sua solução. Exemplo: um problema rotulado apenas como “roubo” é genérico demais. Para respostas mais adequadas, poderíamos rotular como “roubo a farmácias, no período das 20h às 23h, especialmente nas sextas-feiras e sábados, na região central de Curitiba). 6. Análise dos múltiplos interesses envolvidos em um problema O POP orienta, que a polícia deve identificar todas as pessoas ou grupos que tenham relação com o problema, bem como os interesses sociais concorrentes. Esse processo de participação, além de ser um exercício saudável para a comunidade, ajuda a polícia a compreender os níveis de preocupação e a definir melhor as estratégias de enfrentamento. 7. Identificar e analisar as respostas atuais Antes de explorar maneiras novas e mais efetivas para lidar com um problema da comunidade, é importante estabelecer como a polícia tem costumeiramente enfrentado os incidentes que formam esse problema. Como muitas vezes as formas de responder a um determinado incidente são pessoais e inerentes a cada policial, torna-se interessante analisar os fracassos e os sucessos de cada iniciativa, tendo isso como um ponto de partida para a construção de alternativas que ataquem o problema em suas origens. 8. Buscando respostas específicas Um problema pode até demandar uma única resposta, mas as experiências com o POP, tem demonstrado a necessidade de um conjunto de alternativas que ataquem integralmente o problema e suas origens, incluindo, muitas vezes, respostas tradicionais tendentes à persecução criminal. Somado a isso, o POP também encoraja a busca de alternativas diversas e criativas, em especial as ações que envolvam a 27 participação da comunidade. 9. Adotando uma postura proativa O POP encoraja um papel proativo da polícia em três dimensões complementares: na identificação dos problemas emergentes na comunidade, por meio de uma análise apurada dos incidentes; assumindo um papel de protagonista, em que não fique apenas aguardando as solicitações da comunidade; e, incorporando um papel de defensor da própria comunidade, buscando a resolução daqueles problemas que realmente preocupam e incomodam a comunidade por ele representada. 10. Potencializando o processo de tomada de decisão e ampliando o controle No POP as decisões são realizadas em sistema corresponsabilidade entre a polícia e a comunidade. Isso torna o processo de decisões por parte da polícia mais robusto e legitimado, pois os riscos e as cobranças acerca da efetividade das ações, são divididas com a comunidade. No mesmo sentido, esse sistema de mútua colaboração para resolução de problemas amplia o controle das pessoas e autoridades sobre a atividade policial. 11. Avaliando os resultados das respostas recém-implementadas O POP tem um compromisso com o processo de avaliação, o que exige o desenvolvimento de habilidades, procedimentos e técnicas de pesquisa para analisar problemas e avaliar a efetividades das respostas implementadas. Lembre-se: A noção de policiamento orientado para solução de problemas, surge neste cenário como um novo paradigma do trabalho policial, fundamentado na ideia de que é possível a aplicação da metodologia no cotidiano do serviço policial, em sistema de parceria com a comunidade, capaz de responder de modo mais efetivo na redução ou eliminação dos problemas. 28 AULA 4 - A RELAÇÃO DO POP COM O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO Baseado no texto da aula anterior, como você conceituaria o policiamento orientado para o problema? Resposta: Trata-se de mais um meio de engajamento social. A premissa baseia-se no conceito de que a polícia deixa de reagir ao crime (crime fighting policing) e passa a mobilizar os seus recursos e esforços na busca de respostas preventivas para os problemas locais (problem-oriented policing); ao invés de reagir contra incidentes, isto é, aos sintomas dos problemas, a polícia passa a trabalhar para a solução dos próprios problemas. A noção do que constitui um problema desde uma perspectiva policial expande-se consideravelmente para abranger o incrível leque de distúrbios que levam o cidadão a evocar a presença policial (BRASIL, 2019, p. 29). O POP foi detalhado por Goldstein, em 1979, com a seguinte definição “[...] a resolução de problemas constituía o verdadeiro propósito do policiamento e propugnava por uma polícia que identificasse e buscasse as causas dos problemas subjacentes às repetidas chamadas policiais” (CERQUEIRA, 2001). Dessa forma, Goldstein busca, através de um estudo metodológico, demonstrar que a polícia deve agir nas causas e não apenas nos efeitos. O policiamento orientado para o problema encontra sustentação teórica com a colocação de Clarke e Felson (1998), pois argumentam que o comportamento individual é resultado da interação entre o indivíduo e o ambiente. Essa colocação assegura que a oportunidade pode ser considerada a principal causa do crime. Clarke e Felson Os autores,entretanto, têm preferido utilizar a palavra “abordagem das atividades rotineiras” para se referirem à teoria das oportunidades, uma vez que no sentido estrito da palavra, nenhuma delas pode ser considerada uma teoria. 29 Embora a teoria das oportunidades seja frequentemente utilizada para estudo das causas do crime, sua aplicação tem sido maior nos crimes contra o patrimônio. Por sua versatilidade, ela também pode ser utilizada para o entendimento de todos os tipos de crimes, inclusive os crimes contra a pessoa. Por acreditar que o medo do crime favorece o aumento das taxas de crime e a decadência dos bairros, inúmeros programas de redução do medo foram desenvolvidos, alguns em parceria com a comunidade. A abordagem das atividades rotineiras, teve início a partir das explicações utilizadas para os crimes predatórios em um artigo escrito por Cohen e Felson, em 1979. A teoria pode ser resumida considerando que “para que um crime ocorra deve haver convergência de tempo e espaço em, pelo menos, três elementos: um provável agressor, um alvo adequado, na ausência de um guardião capaz de impedir o crime”. Essa estratégia de policiamento implica em mudanças estruturais da polícia, aumentando a discricionariedade do policial (aumento de sua capacidade de decisão, iniciativa e de resolução de problemas). O POP desafia a polícia a lidar com a desordem e situações que causem medo, visando um maior controle do crime. Os meios utilizados são diferentes dos anteriores e inclui um diagnóstico das causas subjacentes do crime, a mobilização da comunidade e de instituições governamentais e não-governamentais. Encoraja uma descentralização geográfica e a existência de policiais generalistas e capacitados. A solução de problemas pode ser parte da rotina de trabalho policial e seu emprego regular pode contribuir para a redução ou solução dos crimes, melhorar a sensação de segurança e, até mesmo, diminuir a desordem física e moral vivenciada nos bairros. Solucionar problemas no policiamento não é novidade, a diferença é que o policiamento orientado para o problema apresenta um método analítico. O model SARA (modelo IARA) é formado pelo acróstico de cada fase. Ele foi concebido por John Eck e William Spelman, que no de 1987, implantara o POP no departamento de polícia de Newport News, sob supervisão de Herman Goldstein. 30 4.1. CORRELAÇÃO ENTRE O POP E O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO Qual é a relação entre a estratégia de policiamento comunitário com o policiamento orientado para o problema? Resposta: Alguns estudos apresentam as diferenças entre policiamento orientado para o problema e policiamento comunitário, e a maioria acredita que o POP é um método a ser utilizado no policiamento comunitário. O policiamento orientado para o problema permite ser implementado de duas formas, com o envolvimento comunitário ou isoladamente, enquanto o comunitário, essencialmente precisa do envolvimento da comunidade. O POP e o policiamento comunitário têm uma relação de complementaridade e os estudiosos divergem ao afirmar “quem nasceu primeiro” e quem é a “ferramenta” de quem. De uma maneira geral, o que tem prevalecido é a ideia de que a solução de problemas é a estratégia que permite praticar a filosofia do policiamento comunitário. Ele (o método de solução de problemas) possibilita o exame das causas subjacentes que provocam a repetição dos crimes e desordens, auxiliando os policiais a identificar problemas, analisá-los, desenvolver respostas e avaliar os resultados. Herman Goldstein é considerado por muitos como o principal arquiteto do policiamento orientado para o problema. Seu livro, “Policing a Free Society” (1977), está entre as mais frequentes obras citadas na literatura policial. Um trabalho posterior, “Problem Oriented Policing” (1990), aborda com mais profundidade e riqueza o assunto. O termo POP foi impresso pelo autor, em 1979, como resultado de sua frustração em constatar a insistência dos policiais em responder aos incidentes apenas com operações. O autor critica a ênfase que é dada à rapidez do atendimento em detrimento da qualidade do resultado. Para Goldstein, o telefone, mais do que qualquer política ou estratégia interna ou externa, ditava as ações da polícia. 31 O POP deve envolver a comunidade para descobrir com maior clareza quais são os problemas que realmente a incomoda. Mas muitas unidades policiais montam grupos temporários, como “força tarefa”, para solucionar os problemas sem, muitas vezes, ouvir a comunidade. Dessa forma, a polícia utiliza a estratégia do POP, mas não realiza o policiamento comunitário. É importante frisar que, nesse caso, não é possível agregar algum juízo de valor certo ou errado, uma visão maniqueísta, pois, em algumas situações é necessário dar uma resposta imediata à comunidade, principalmente, se for a intenção dar sensação de segurança. O certo é que esse tipo de resposta provisória é frágil e geralmente não tem soluções definitivas para um problema. O policiamento comunitário e o POP estimulam a polícia a ser mais imaginativa no que toca aos métodos operacionais. E, principalmente, ampliam a percepção das polícias para metas que vão além dos objetivos de lutar contra o crime e exercer um policiamento tradicional. As estratégias organizacionais sugerem trocar burocracias de comando e controle, extremamente centralizadas, por organizações profissionais descentralizadas. Elas procuram redefinir os objetivos gerais de policiamento, alterar os principais programas operacionais e as tecnologias usadas, encontrar a legitimidade e a popularidade do policiamento. É uma mudança de comportamento de todo o público interno, em todos os níveis organizacionais (estratégico, tático e operacional), bem como da relação com os líderes governamentais e comunitários. Observe agora a Figura 3: Figura 03 - Diagrama de bases filosóficas do policiamento moderno. Fonte: Moreira (2004) apud Oliveira (2013, p. 378). 32 Como você pode perceber, as estratégias de policiamento, apesar de terem características distintas, não são concorrentes, elas têm um sentido de complementaridade ao longo do tempo. Cada estratégia é um trabalho desenvolvido para o seu contexto histórico e busca suprir uma lacuna, que ainda não era abordada ou desenvolvida na tarefa policial, da estratégia anterior. Com a evolução do policiamento, as estratégias institucionais foram ampliando o campo de atuação policial para melhor responder aos desafios do seu tempo. 33 Finalizando: Nesse Módulo você viu... As eras do policiamento moderno: política, da reforma, da comunidade e da incerteza; As estratégias de policiamento: policiamento tradicional, comunitário, orientado para o problema - POP; Relação entre o POP e o policiamento comunitário. 34 MÓDULO 2 – AS METODOLOGIAS DE PLANEJAMENTO No módulo 1 você viu como são estruturadas as Eras do Policiamento Moderno e as principais estratégias de policiamento que decorrem das Eras da Reforma e da Comunidade, com especial ênfase no policiamento orientado para o problema. Neste módulo, você terá a chance de estudar os conceitos de planejamento estratégico e seus desdobramentos, e fazer o link com as estratégias de policiamento estudadas no módulo anterior. Você irá conhecer também um pouco mais sobre “sistema de gestão para atingir metas” e a relação existente entre o POP e o Ciclo PDCA. O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas: Aula 1 - O que é planejamento estratégico; Aula 2 - Sistema de gestão para atingir metas; Aula 3 - A relação do POP com o ciclo PDCA. A partir dos conhecimentos tratados neste módulo, você será capaz de: - Conceituar planejamento estratégico; - Conceituar metas; - Compreender o gerenciamento da rotina de trabalho; e - Correlacionaro POP com o Ciclo PDCA. 35 AULA 1 - O QUE É PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Por que planejar? Para iniciar esta unidade, propomos a você um desafio. Leia o texto: “O IRÔNICO SORRISO DO GATO”, de Mário Sergio Cortella e responda as perguntas que seguem após o texto. O IRÔNICO SORRISO DO GATO Mário Sergio Cortella A escolha dos caminhos depende do lugar almejado Há alguns meses, participando de um congresso sobre O professor e a leitura de jornal, pude debater a respeito da "overdose" ferramental que invade cada vez mais o cotidiano social e, sem dúvida, também o mundo da escola. Relembrávamos nesse debate uma das mais contundentes reflexões sobre a vida humana e que não pode ser esquecida, tamanha é a importância que carrega também para o debate pedagógico: Alice no País das Maravilhas, escrita no século XIX pelo matemático inglês, Charles Dodgson (que deu a si mesmo o apelido Lewis Carroll). Nessa obra, Alice cai, ela está atrás de um coelho e cai em um mundo desconhecido (na verdade, a menina cai dentro de si mesma). Entre as inúmeras personagens fantásticas da obra, duas delas estão muito próximas de nós: uma é um coelho que está sempre atrasado, correndo para lá e para cá com o relógio na mão; a outra é um gato do qual somente aparece o sorriso, somente ficam visíveis os dentes e, às vezes, o rabo. Há uma cena que a gente não deve ocultar – principalmente quando se fala em ferramentas para o trabalho pedagógico e, muitas vezes, da percepção equivocada da tecnologia como redentora da educação: o encontro de Alice com o gato, contando resumidamente, na cena - Alice está perdida, andando naquele lugar e, de repente, vê no alto da árvore o gato. Só o rabão do gato e aquele sorriso. Ela olha para ele lá em cima e diz assim: _"Você pode me ajudar?" 36 Ele falou: _"Sim, pois não." Pergunta Alice: _"Para onde vai essa estrada?" O Gato respondeu com outra pergunta (que sempre devemos nos fazer): _"Para onde você quer ir?". _"Eu não sei, estou perdida. Diz Alice O Gato, então, diz assim: _"Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve." Para quem não sabe para onde vai, serve de qualquer maneira o jornal, a revista, o livro, a internet, o videocassete, o cinema, etc. E aí, qualquer um de nós, na ansiedade de modernizar o modelo pedagógico, eletrifica sofregamente a sala de aula ou, mais desesperadamente, sonha em fazer isso, imaginando o quanto o trabalho seria espetacular com esses instrumentos. Daí, se possível, o professor enche a sala de aparatos tecnológicos, como se, para fazer algo que interesse às pessoas, precisasse eletrificar continuamente o processo, metendo aparelhos eletrônicos ligados para todo o lado. Muitos dizem que, como os alunos estão habituados com isso, precisamos modernizar o ensino. Será? Depende da finalidade do "para onde se desejar ir". Se você sabe para onde quer ir, vai usar a ferramenta necessária. O que se deve modernizar não é primeiramente a ferramenta, mas sim o tratamento intencional dado aos conteúdos trabalhados na escola. Por isso, é preciso trazer sempre na memória o ditado chinês que diz: "Quando você aponta a lua bela e brilhante, o tolo olha atentamente a ponta do seu dedo." Disponível em:<http://aescolareinoencantado.blogspot.com/2012/07/o- ironico-sorriso-do-gato.html>. Acesso em: 25 nov. 2020. 1. Na sua organização, as atividades de policiamento são planejadas envolvendo o nível de execução (linha de frente)? 2. Existe rotina para gerenciar as atividades diárias do policial militar? http://aescolareinoencantado.blogspot.com/2012/07/o-ironico-sorriso-do-gato.html http://aescolareinoencantado.blogspot.com/2012/07/o-ironico-sorriso-do-gato.html 37 Resposta: 1. Uma das características do policiamento profissional (tradicional) é a centralização do planejamento, geralmente na seção operacional. A estratégia de policiamento orientado para o problema propõe que o planejamento deve envolver todos os níveis organizacionais, principalmente o nível de execução, para evitar que o policial fique perdido, sem saber para onde seguir quando se deparar com um problema. 2. Existem várias rotinas de gerenciamento, que facilitam a execução e o acompanhamento das metas propostas para o policial. Uma organização que almeja executar o policiamento com qualidade tem que focar no objetivo organizacional, para dar um “norte” para as pessoas. Ao responder a essas perguntas, você refletiu sobre a importância do planejamento, envolvendo principalmente o nível operacional (atividade de base ou linha de frente), bem como sobre a necessidade de desenvolver formas de gerenciar diariamente as tarefas, com o estabelecimento de metas para cada setor do sistema de segurança pública e defesa social. Agora pense por um instante sobre o significado da palavra PLANEJAMENTO. Depois observe atentamente a charge abaixo (FIGURA 4) e responda: Figura 4 – Charge sobre gerenciamento de projetos. Fonte: Projeto Diário Consultoria e Treinamento. Disponível em:<https://www.projetodiario.net.br/humor-charge-em-gerenciamento-de- projetos>. Acesso em: 31 out. 2020. https://www.projetodiario.net.br/humor-charge-em-gerenciamento-de-projetos https://www.projetodiario.net.br/humor-charge-em-gerenciamento-de-projetos 38 1. Na FIGURA 4, qual o “assunto” ilustrado: produção, finanças, marketing ou saúde? 2. Quais são os “elementos” necessários para prestar esse serviço? 3. Qual é o “tempo” para sua realização? 4. Quais “unidades organizacionais” precisam ser envolvidas para prestar esse serviço: departamentos, grupos de pessoas ou divisões de serviço? 5. Quais são as “características” que envolvem esse processo: simples ou complexo; ênfase na qualidade ou quantidade; estratégico ou tático; confidencial ou público; formal ou informal; econômico ou oneroso? Respostas: 1. A Figura retrata o planejamento de uma cirurgia médica, ou melhor, a sua ausência. 2. O assunto abordado é saúde. 3. Os elementos necessários para planejar este serviço estão vinculados ao objetivo do hospital, às estratégias utilizadas para prestar o serviço, às políticas internas, aos orçamentos, às normas de conduta médica, aos princípios éticos, dentre outros. 4. O tempo ou período para executar esse serviço é curto. 5. Para que esse serviço seja executado é necessário o envolvimento de outros setores, dentro do hospital: Departamento de Enfermaria, Departamento do CTI, Grupo de anestesistas, serviço “terceirizado” de entrega de materiais (medicamentos, sangue, instrumentos cirúrgicos, etc.). É possível inferir que esse planejamento tem a característica de ser complexo, focado na qualidade, operacional, confidencial (envolve pessoas que devem ter sua identidade preservada), formal e econômico (ou, até mesmo caro, se imaginar que é um procedimento muito difícil de ser realizado). Ao responder às perguntas da página anterior, você estabeleceu as cinco dimensões do planejamento, que podem ser observadas no QUADRO 2: 39 Assunto abordado Elementos Tempo Unidades Organizacionais Características ▪ Marketing ▪ Finanças ▪ Segurança ▪ Saúde ▪ Recursos Humanos ▪ Propósitos ▪ Objetivos ▪ Estratégias ▪ Políticas internas ▪ Programas ▪ Orçamentos ▪ Normas ▪ Códigos de Conduta ▪ Manuais de Procedimentos ▪ Curto ▪ Médio ▪ Longo ▪ Departamento de Negócios ▪ Departamento de Investigação ▪ Seção de Finanças ▪ Divisão de Combate ao Crime Organizado ▪ Seção de Prevenção Criminal ▪ Complexo ou Simples ▪ Prioriza a qualidade ou quantidade ▪ Estratégico, Tático ou Operacional ▪ Confidencial ou Público ▪ Formal ou Informal ▪ Econômico ou Oneroso Quadro 2 – As cinco dimensões do planejamento. Fonte: Adaptado de Steiner (1969). O conceito de planejamento é muito mais abrangentedo que podemos imaginar, pois cada organização possui suas próprias especificidades e o define de acordo com suas perspectivas. Mas Steiner (1969) defende essas cinco dimensões como forma de facilitação para a estruturação de um planejamento. Mas afinal, o que é Planejamento? O planejamento é um processo sistemático e constante de tomada de decisões para se alcançar uma situação futura desejada (objetivos organizacionais), de modo mais eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de esforços humanos e recursos pela empresa. 40 Figura 5 – Planejamento. Fonte: Conteudista. O planejamento deve potencializar os resultados e minimizar as deficiências, procurando proporcionar à organização uma situação de maior efetividade. Os aspectos acima apresentados, interagem entre si, e compõe um dos princípios do planejamento cuja fórmula administrativa para desenvolver o sucesso da estratégia pode ser observado a seguir: Figura 6 – Fórmula administrativa para desenvolver o sucesso da estratégia. Fonte: Conteudista. O objetivo do planejamento é desenvolver processos, técnicas e atitudes administrativas, que proporcionem uma situação viável de avaliar as implicações futuras de decisões presentes. Isto é definido em função do objetivo organizacional, que facilitará a decisão no futuro, de modo mais rápido, coerente, eficiente e eficaz. O exercício sistemático do planejamento, tende a reduzir a incerteza envolvida no processo de tomada de decisão e aumenta a chance de alcançar os objetivos e desafios enfrentados. Neste sentido, recorremos a um outro princípio do planejamento - princípio da maior penetração e abrangência – onde compreendemos que o planejamento pode provocar uma série de modificações nas características e atividades da empresa •É fazer as tarefas de maneira adequada para resolver os problemas, guardar os recursos, cumprir seu dever e reduzir seus custos. Eficiência •É fazer as tarefas certas para produzir alternativas criativas, maximizar a utilização dos recursos, obter resultado e aumentar o lucro. Eficácia •É a capacidade da empresa coordenar de forma constante, no tempo, esforços e energias, tendo em vista o alcance dos resultados globais. Efetividade 41 como: Figura 7 – Princípio da maior penetração e abrangência. Fonte: Conteudista. Baseado nesse diagrama, quais são as modificações que você acha que podem ocorrer numa empresa? Resposta: - As modificações relacionadas às pessoas podem corresponder à necessidade de treinamento, substituições, transferências, avaliações periódicas, premiação, dentre outras. - Na tecnologia, as modificações estão relacionadas com a evolução dos conhecimentos para desempenhar aquela tarefa, uma nova maneira de desenvolver aquele serviço ou produzir o produto, no ajuste do ambiente. - No sistema, as modificações podem ocorrer na divisão das responsabilidades, na desconcentração da empresa, na descentralização dos serviços, na criação de novas instruções, dentre outros. A partir do conceito de Planejamento podemos substituir o termo “situação futura desejada” por “objetivos globais escolhidos pela organização para serem alcançados no longo prazo”. E para concretizar esses objetivos em situações complexas, como a segurança pública, por exemplo, é necessário selecionar o caminho com maior probabilidade de acerto em relação ao futuro. Podemos compreender a Estratégia como sendo esse caminho, aquele que busca alcançar os objetivos organizacionais, que define a ordem de importância e prioridade em uma hierarquia de objetivos. Portanto, a estratégia é um meio, e não um fim em si mesma (CHIAVENATO, 2003). Lembre-se: No Módulo I abordamos as principais estratégias de policiamento da Era da PESSOAS TECNOLOGIAS SISTEMAS 42 Decisões estratégicas Planejamento estratégico Decisões táticas Planejamento tático Decisões operacionais Planejamento operacional Reforma e da Era da Comunidade, onde tivemos a oportunidade de conhecer os objetivos institucionais da polícia em cada um dos períodos, seu foco de atuação, como se relacionavam com a comunidade e as principais táticas empregadas. E assim chegamos a uma definição de Planejamento Estratégico: “maneira pela qual uma organização pretende aplicar uma determinada estratégia para alcançar os objetivos propostos” (CHIAVENATO, 2003, p. 236). Ocorre que o planejamento estratégico pensa a estratégia para um horizonte temporal de longo prazo. Por isso Steiner (1969) afirma que todas as estratégias devem ser divididas em subestratégias para sua implementação. A operacionalização da estratégia provoca um conjunto de hierarquias, em diferentes níveis e com diferentes perspectivas de tempo, o que enseja no desdobramento de planejamentos táticos (médio prazo) e operacionais (curto prazo), conforme podemos observar na pirâmide organizacional a seguir (FIGURA 8): Figura 8 – Pirâmide organizacional. Fonte: Adaptado de Oliveira (2001, p. 45) apud Caetano e Sampaio (2016). Nessa concepção de “pirâmide organizacional”, há uma clara divisão na tomada de decisões, que respeita a escala hierárquica ocupada pelo gestor (CAETANO; SAMPAIO, 2016). Nível estratégico Nível tático Nível operacional 43 Considerando os níveis hierárquicos apresentados na pirâmide organizacional, o planejamento pode ser dividido em três níveis, observe o Quadro 3: Planejamento Estratégico: é o planejamento mais amplo e abrange toda a organização. ▪ É projetado no longo prazo, tendo seus efeitos e consequências estendidos a vários anos pela frente. ▪ Envolve a empresa como uma totalidade, abrange todos os recursos e áreas de atividade, e preocupa-se em atingir os objetivos em nível organizacional. ▪ É definido pela cúpula da organização (no nível institucional) e corresponde ao plano maior ao qual todos os demais estão subordinados. Planejamento Tático: é o planejamento que abrange cada departamento ou unidade da organização. ▪ É projetado para o médio prazo, geralmente para o exercício anual. ▪ Envolve cada departamento, abrange seus recursos específicos e preocupa-se em atingir os objetivos departamentais. ▪ É definido no nível intermediário, em cada departamento da empresa. Planejamento Operacional: é o planejamento que abrange cada tarefa ou atividade específica. ▪ É projetado para o curto prazo, para o imediato. ▪ Envolve cada tarefa ou atividade isoladamente e preocupa-se com o alcance de metas específicas. ▪ É definido no nível operacional, para cada tarefa ou atividade. Quadro 3 – Níveis distintos de planejamento Fonte: Adaptado de Chiavenatto (2003, p. 171). 44 AULA 2 – SISTEMA DE GESTÃO PARA ATINGIR METAS Com base na aula anterior, observamos que é a partir da Estratégia Organizacional que são definidos: - As metas que se quer atingir; - Os produtos ou serviços que a organização pretende oferecer; - Consumidores ou clientes a serem servidos; - Tecnologia a ser utilizada; e - A situação em que o trabalho deve ser desenvolvido. A gestão de metas significa justamente administrar os recursos disponíveis (tempo, dinheiro e pessoas) em direção aos objetivos organizacionais da empresa. Neste tocante, observe a citação abaixo: Não se gerencia o que não se mede... Não se mede o que não se define... Não se define o que não se entende... Não há sucesso no que não se gerencia... William Edwards Deming Baseado na citação do professor americano Deming, para você, o que é meta? Dê um exemplo. Resposta: - Meta é a quantificação dos objetivos. Estamos falando de tarefas específicas (definição de responsabilidades), que precisam ser realizadas de forma regular (em um prazo, um tempo específico) e a um certo custo (valores) para se alcançar os objetivos determinados.Ou seja, é o caminho a ser percorrido para que se possa atingir o objetivo desejado. Querem ver um exemplo simples? - Objetivo: Concluir o curso de inglês, nível intermediário, até o mês de março de 2022. - Metas: Fazer a matrícula do curso até o dia 15 de fevereiro de 2021; Pagar 45 as mensalidades de R$ 250,00 até o 5º dia útil de cada mês, por 12 meses consecutivos; Frequentar no mínimo 90% das aulas presenciais; Atingir nota superior ou igual a 7,0 nas avaliações escritas e orais. A lógica entre objetivos e metas é aquela observada no texto de Mário Sérgio Cortella, da última aula: não é possivel chegar a um lugar se você não souber que lugar é esse e que caminho deve seguir. Neste tocante, vislumbramos os objetivos para serem alcançados no médio e no longo prazo, e as metas no curto prazo. O que não pode ser quantificado não pode ser definido como meta. Observe que a palavra método é formada pela união dos termos meta + hodos = caminho. É a maneira de como fazer; é um sistema de práticas, técnicas e regras usadas pelas pessoas que trabalham em uma disciplina. De forma simples, uma estratégia define as metas que se querem atingir, os principais produtos ou serviços, tecnologias e processos de produção que serão utilizados. Por isso, elaborar metas é quantificar cada objetivo, atribuir valores (custos), estabelecer prazos (tempo) e definir responsabilidades. A partir do estabelecimento das metas que as partes interessadas poderão realizar o monitoramento e avaliação da estratégia, atestando se estão no caminho certo ou não. A estratégia orienta, ainda, a maneira como a instituição irá se relacionar com seus funcionários, seus parceiros e seus clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo descobre a melhor maneira de usar sua instituição para enfrentar os desafios ou para explorar as oportunidades. Gerenciar a rotina de tarefas, é garantir meios para que o nível operacional atinja resultados de produtividade e qualidade esperados pelo nível institucional. Geralmente, as empresas modernas utilizam o sistema de gestão para formular, desdobrar e atingir metas. Esse processo de gerência envolve os três níveis hierárquicos. Você sabia que: - As metas não podem ser estabelecidas ao acaso. Elas devem ser definidas a partir de indicadores de desempenho. Uma meta sempre representa uma oportunidade: um valor compreendido entre o resultado atual e o melhor resultado 46 conhecido para este indicador; - Indicadores de Desempenho: possuem como objetivo medir o grau de alcance dos objetivos estratégicos e influenciar o comportamento das pessoas na busca desses objetivos. Junto com as metas, são responsáveis, por determinar se a organização está desempenhando em direção à sua estratégia e na velocidade certa. O nível estratégico é responsável pela formulação estratégica e estabelece metas anuais e a longo prazo para a empresa. O nível tático tem o dever de desdobrar essas metas, através de diretrizes e normas. O nível operacional tem como tarefa cotidiana atingir e gerenciar as rotinas de trabalho para cumprir as metas pactuadas. Perceba como todos os atores envolvidos, em todos os níveis, devem estar voltadas para atingir esse objetivo: Figura 9 – Sistema de gestão para atingir metas. Fonte: Adaptado de Freitas (2003) apud Oliveira (2013). Atenção! O gerenciamento da rotina só pode ser realizado com metas. As metas são os insumos, o início do trabalho do gerenciamento. Não se atinge metas sem que se façam mudanças. Nível Estratégico Estabelecer metas Formulação estratégica METAS DA EMPRESA Desdobrar metas e medidas Desdobramento das diretrizes Nível Tático Atingir metas Gerenciamento da rotina do trabalho Nível Operacional 47 AULA 3 - A RELAÇÃO DO POP COM O CICLO PDCA Conforme foi visto na aula anterior, é no nível operacional que ocorre o gerenciamento da rotina do trabalho para atingir as metas, visando melhorar a qualidade do serviço prestado ou do produto produzido. Foi Walter A. Shewhart, que deu um salto significativo no conceito de qualidade, pois associou as técnicas estatísticas à realidade da empresa de telefonia Bell Telephone Laboratories. Shewarth, desenvolveu os gráficos de controle, que utilizam maciçamente os princípios estatísticos, bem como o próprio ciclo PDCA. Perceba que PDCA é uma sigla formada pelo anagrama das palavras em inglês de cada fase desse ciclo, que direciona as atividades de plan = planejar, do = fazer, check = verificar e action = agir. Observe a FIGURA 10 abaixo: Figura 10 – Ciclo PDCA. Fonte: Adaptado de Oliveira (2013). 48 A Figura 10 detalha a sequência de tarefas que deve ser desencadeada para atingir uma meta e, consequentemente, aperfeiçoar a qualidade de uma empresa. E você? Sabe quais são as principais vantagens de se aplicar o método PDCA em uma instituição? Resposta: Segundo Falconi (2009 apud Caetano e Sampaio, 2016) as principais vantagens são: - A melhoria e estabilização de resultados pela participação coletiva no gerenciamento institucional; - A uniformização da linguagem e a melhoria da comunicação; - A compreensão dos papeis individuais e coletivos no esforço institucional; - O aprendizado continuado; - Obtenção de resultados a partir da utilização das várias áreas da ciência; e, - A melhoria da absorção das melhores práticas do setor privado. Um dos maiores méritos do método PDCA, é exatamente difundir o conhecimento organizacional, ao mesmo tempo que busca os melhores resultados na sua área de atuação. Após observado o Ciclo PDCA, vamos conhecer um pouco mais de cada uma de suas etapas: ▪ Plan (Planejar) – é a primeira etapa do ciclo, que trata justamente do planejamento, cujos pressupostos são a identificação de problemas ou objetivos e o estabelecimento dos respectivos planos de ação. ▪ Do (Fazer) – vencida a etapa anterior, esta é a hora de colocar em curso as medidas planejadas. Deve-se enfatizar a importância das pessoas que integram a organização, já que, sem o envolvimento delas, esse modo gerencial está fadado ao fracasso. A condição essencial para que isso ocorra é o desenvolvimento prévio de sólidos conteúdos de liderança. ▪ Check (Verificar) - a próxima etapa é fazer a checagem dos resultados. Neste momento é que se obterá informações e conhecimento sobre o processo, e a compreensão sobre eventuais necessidades de correção. 49 ▪ Action (Agir) – compreendidas as falhas, o processo deve ser retomado e as mudanças implementadas. A conscientização e o treinamento dos integrantes da organização são essenciais, bem como o reforço do método e a padronização de procedimentos. A partir dos conceitos estudados no Módulo 1, sobre a estratégia do policiamento orientado para o problema, você conseguiria correlacionar suas premissas com o método PDCA? Então observe a Figura 11 abaixo e perceba a semelhança da metodologia, observando o fluxo das atividades entre o ciclo PDCA e o método IARA. Figura 11 – Sara modelo (Método IARA). Fonte: Adaptado de Oliveira (2013). Resposta: Conforme podemos observar, o Ciclo PCDA, que foi uma ferramenta gerencial desenvolvida em 1924, serviu de inspiração aos professores americanos John Eck e William Spelman para o desenvolvimento do SARA Model (modelo IARA), que é uma metodologia utilizada na estratégia de policiamento orientado para o problema. O método IARA é uma técnica voltada para a melhoria da qualidade do serviço policial, conforme veremos no próximo módulo. • Analise suas causas. • Responda com ações. • Identifique os problemas locais. • Avalie todo processo. ASSESSMEN T Avaliar SCANNING Identificaçã o ANALYSIS Análise RESPONSE Resposta 50 Finalizando: Nesse Módulo vocêviu... Noções sobre o que é o planejamento estratégico; Sistemas de gestão para atingir metas: estabelecer metas, desdobrar metas e medidas, atingir metas; Ciclo PDCA – plan = planejar, do = fazer, check = verificar e action = agir; Relação entre o POP e o ciclo PDCA. 51 MÓDULO 3 – MÉTODO IARA No módulo 2, você estudou algumas metodologias utilizadas para construir um planejamento de serviços e o gerenciamento de rotina de trabalhos, que podem ser perfeitamente adaptados para o serviço de segurança pública. Neste módulo, você irá estudar cada passo do método IARA individualmente, e descobrir a forma de aplicá-lo para solucionar os problemas “recorrentes” que incomodam a comunidade e, via de regra, se transformam em ocorrências policiais, sobrecarregando os serviços das instituições de segurança pública. Terão, ainda, contato com algumas ferramentas de gestão que podem contribuir para que cada etapa do processo seja realizada com maior efetividade. E para reforçar o conteúdo, você irá encontrar dentro do material um “Estudo de Caso” baseado em informações reais, para que você possa exercitar as ferramentas de gestão de cada uma das etapas do método IARA. Além disso, você terá a oportunidade de conhecer algumas boas práticas do policiamento orientado para o problema, que lhe permitirão reconhecer a importância dessa estratégia policial e reforçar o repertório preventivo da sua atuação policial. O conteúdo deste módulo está dividido em 5 aulas: Aula 1 – Identificação; Aula 2 – Análise; Aula 3 – Resposta; Aula 4 – Avaliação; Aula 5 – Iniciativas de sucesso com o POP. A partir dos conhecimentos tratados neste módulo, você será capaz de: - Compreender o método IARA (identificação, análise, resposta e avaliação); - Utilizar o método IARA para resolver os problemas de segurança pública; - Elaborar o diagrama de causa e efeito e o plano de ação (5w2h); - Ter atitudes proativas para resolver os problemas em suas causas; e - Conhecer algumas boas práticas do POP. 52 AULA 1 – IDENTIFICAÇÃO Você já parou para pensar sobre o que é um problema policial? Para iniciar esta aula, temos um desafio para você. Observe atentamente a charge e responda: Figura 12 – Charge Dengue. Fonte: Um Balaio de Notícias: SP: Grande Epidemia de Dengue. Disponível em:<http://umbalaiodenoticias.blogspot.com/2015/04/sp- grande-edpidemia-de-dengue.html>. Acesso em: 2 nov. 2020. 1. Essa figura refere- se a qual problema vivenciado na sociedade brasileira? 2. Ele ocorre de maneira uniforme em todo território brasileiro e durante todos os meses do ano? 3. Quais são as principais estratégias para combatê-lo? Resposta: 1. A figura retrata um ambiente hospitaleiro para o mosquito Aedes aegypti, o vetor da “dengue”, que é um grave problema contemporâneo. Para relembrar, epidemia é uma doença que surge rapidamente num lugar e acomete, em pouco tempo, grande número de pessoas. 2. A dengue, apesar de ser uma doença que afeta milhares de pessoas, quase que simultaneamente, não tem sua distribuição em todo o território brasileiro de forma homogênea. Por exemplo: Numa mesma cidade, se os bairros de mesma quantidade de população forem comparados, é possível identificar os que têm maior ou menor número de vítimas. Ainda, analisando os períodos http://umbalaiodenoticias.blogspot.com/2015/04/sp-grande-edpidemia-de-dengue.html http://umbalaiodenoticias.blogspot.com/2015/04/sp-grande-edpidemia-de-dengue.html 53 que ocorreram as últimas epidemias é fácil notar que o vetor propaga a doença, principalmente, nos meses após as chuvas, depois que o ambiente fica favorável para a eclosão das larvas. 3. Como já conhecido, a dengue é uma doença causada por um vírus e caracterizada por cefaleia, dores nos músculos e nas articulações, comprometimento de vias aéreas superiores, febre, dentre outros sintomas. Uma vez contraída a doença, o procedimento é tomar remédios, hidratar-se e repousar (estratégias reativas). De forma isolada, esses procedimentos não acabam com a doença, somente aliviam os sintomas. As soluções mais eficientes para resolver o problema é interromper o ciclo de vida do mosquito (estratégias proativas), seja através da aplicação de inseticidas, eliminação dos depósitos de água parada, educação dos cidadãos, etc. Qual a relação da epidemia da dengue com o policiamento orientado para o problema? Trata-se do mesmo assunto: “solução de problemas”. Uma das diferenças básicas é o campo da ciência utilizado para elaborar “as respostas”, a dengue na área da “saúde” e o crime na área da “segurança.” Solucionar problemas no policiamento não é uma situação nova. A diferença é que o policiamento orientado para o problema, apresenta um método para trabalhar as causas do problema, que geralmente também é utilizado no policiamento comunitário: “o método IARA”. A solução de problemas pode ser parte da rotina do trabalho policial e seu emprego regular pode contribuir para a redução ou solução dos crimes, melhorar a sensação de segurança e, até mesmo, diminuir a desordem física e moral vivenciada nos bairros. O primeiro passo é reconhecer que as ocorrências (que possuem um mesmo padrão de repetição) são “incidentes” de um problema maior, que precisam ter suas origens (causas) bem compreendidas para ser solucionado. No policiamento tradicional (radiopatrulhamento) a ação do policial é como receitar um analgésico para quem está com dengue. Traz alívio temporário, mas não resolve o problema, pois o mosquito (vetor) permanece picando as demais 54 pessoas. O remédio é necessário para aquele instante, assim como atender uma ocorrência policial, mas a solução é provisória e limitada. Como a polícia não soluciona as causas ocultas que criou o problema, ele, muito provavelmente, voltará a ocorrer. No policiamento orientado para o problema, o ideal é compreender como esse problema está ocorrendo para buscar a melhor forma de responder a ele. No caso em questão poderíamos analisar o problema sob diferentes perspectivas: - atingir o ciclo de vida do vetor (mosquito); - eliminar os locais onde tem água parada (pneus velhos, garrafas, vasos, dentre outros); - aplicar um inseticida ou; - desenvolver novos medicamentos para ter uma solução mais duradoura ou minimizar esse problema. Para criar uma resposta adequada, os policiais utilizam as informações obtidas a partir do atendimento das ocorrências, de outras fontes da própria comunidade, de pesquisas, etc., para terem uma visão clara do problema. Após esse procedimento, podem lidar com as condições subjacentes ao problema. O serviço policial, no contexto do policiamento orientado para o problema, é muito semelhante ao serviço médico preventivo, observe a comparação feita no texto abaixo: O médico (policial) fala com o paciente (comunidade) para descrever sua doença (violência de gênero – briga de marido e mulher). Algumas vezes a solução está unicamente com os pacientes (a comunidade). Por exemplo, retirar os objetos que possibilitam a concentração de água parada e limpar sua casa (o marido e sua esposa decidem participar de uma terapia de casal, para evitar as brigas repetidas e fazer aconselhamento de casais na comunidade religiosa onde participam). Algumas vezes isso será resolvido pelo médico (o policial) e pelo paciente (a comunidade) trabalhando juntos, isto é, uma mudança de comportamento acompanhado por medicação (mediação do conflito na delegacia policial). Ou apenas o profissional, o médico (a polícia), pode resolver o problema através de uma cirurgia (aplicação severa da lei). Ou, ainda, temos que aceitar o fato de que alguns problemas simplesmente não podem ser resolvidos, como uma doença terminal, por exemplo (problemas sociais graves)” (MOREIRA, 2005 apud OLIVEIRA, 2013). 55 Serviço médicopreventivo Goldstein (2003) citado por Rolim (2006) faz uma importante comparação entre o serviço público de segurança e o serviço médico. “A polícia tem sido tradicionalmente ligada ao crime, assim como os médicos têm sido relacionados à doença”, entretanto, a ciência médica já conseguiu construir um objeto de estudo, mais delineado, sob a ótica positivista da modernidade, as doenças são classificadas em especialidades, programas preventivos são experimentados (dentro de um sistema lógico). Em contraste, na segurança pública a criminalidade ainda é tratada com muito empirismo pelos operadores do sistema de segurança pública; apesar de ser um tema recorrente nas agendas de qualquer programa de políticas públicas. ESTUDO DE CASO (baseado na construção de um cenário fictício) Agora que você já sabe o contexto do policiamento orientado para o problema, faça a leitura do Anexo 1 - “Estudo de Caso: Bairro Santa Terezinha”, que foi baseado em problemas reais de uma comunidade mineira, para que você possa desenvolver as atividades práticas ao longo do módulo, rodando o ciclo do método IARA. Veja como ocorre a 1ª fase do método IARA – Identificação. Observe o ciclo abaixo: Figura 13 – 1ª fase do método IARA – Identificação. Fonte: SCD/EaD/Segen. 56 Inicialmente é preciso saber o que é um problema? Problema é aquilo que nos incomoda e é objeto de discussão, que pede alguma solução, que tem a conotação negativa, em qualquer domínio do conhecimento. Afinal, o que é um problema policial? Para Goldstein (1990) e Eck e Spelmann (1987), no contexto do POP, um “problema” apresenta algumas nuances: - Um agrupamento de incidentes semelhantes, relacionados ou recorrentes, em vez de um único incidente isolado; - Uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia; Combinando esses elementos podemos definir um problema como um grupo de incidentes que ocorrem em uma comunidade, que são semelhantes de uma ou mais maneiras e que são preocupantes para a polícia e o público. Cerqueira (2001, p.92), define problema como sendo “qualquer situação que cause alarme, dano ameaça ou medo, ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade, principalmente incidentes que possam parecer isolados, mas que possuem certas características comuns, tais como um padrão, uma vítima ou uma localização geográfica comum”. Perceba que os autores, apesar de terem conceitos diferentes, não se restringem em limitar o problema policial simplesmente “ao crime ou contravenção”, e também não “generalizam” o problema policial. Por exemplo: Uma dificuldade financeira vivida por uma família, que é uma questão privada, não cabe uma intervenção policial, num primeiro momento. Se fosse assim, a polícia abraçaria tudo que fosse problema social, para ser solucionado, perdendo o seu foco de atuação. Com relação à definição de “problema”, importa destacar que os incidentes podem ser similares, ter um padrão, nos seguintes aspectos: 57 Parece não haver limite para os tipos de problemas que um policial pode enfrentar e existem vários tipos de problemas em que se pode utilizar o modelo de solução de problemas: uma série de roubos em uma determinada localidade; “surf” de jovens sobre trens; briga de gangs; venda de drogas na porta da escola; alcoolismo e desordem em local público; roubo e furto de carros; vadiagem; alarmes disparados em áreas comerciais; problemas de tráfego e estacionamento; pichação; prostituição de rua; dentre outros tipos. Geralmente, os cidadãos se preocupam com problemas relacionados com o a. Comportamento ou tipo de infração • Este é o indicador mais comum e demonstra como as pessoas atuam. Consomem álcool? Usam drogas ilícitas? Ocorre a venda de drogas? As pichações são constantes? Como praticam o delito? b. Localização • Problemas ocorrem em Zonas Quentes de Criminalidade (Hot spot), tais como centro da cidade, parques onde gangues cometem crimes, complexos residenciais infestados por assaltantes, etc. Ou seja, um grupo de incidentes que acontecem em um mesmo local. c. Pessoas • Um problema pode ser identificado em termos de indivíduos (infratores, denunciantes, vítimas), ou de um aglomerado de pessoas com interesses comuns (consumidores de um centro comercial), ou um grupo (gangues) ou de uma família; ou com base em uma condição determinada que os diferencie, como as pessoas em situação de rua, alcoolistas, pessoas portadoras de necessidades especiais, etc. d. Tempo • Qual período ocorre? De forma sazonal, no mesmo dia da semana, na mesma hora da noite? Por exemplo: o problema ocorre durante o congestionamento de trânsito? Na proximidade de bares? Durante o horário de saída dos alunos do período noturno? Durante o período de atividades de turismo? e. Eventos • Crimes podem aumentar durante alguns eventos específicos, como por exemplo: durante o carnaval, após um show de rock, feriados prolongados, etc. 58 crime, porém, muitas vezes, os problemas relacionados à qualidade de vida podem ser mais importantes para seus níveis de conforto diário. Cabe ao policial orientar a comunidade onde trabalha no momento de selecionar o problema. Antes de continuar, gostaríamos de saber se você já ouviu falar sobre o conceito das Pequenas Vitórias ou Small Wins? As pessoas costumam procurar por problemas em grande escala, definindo- os em termos de “gangues armadas”, “crime organizado”, “crime violento”, etc. Vistos dessa maneira, os problemas se tornam tão grandes que são difíceis de lidar. Percebendo isso, um estudioso chamado KARL WEICK criou o conceito de “pequenas vitórias”. Alguns problemas são tão profundos, estáveis e enraizados que são “impossíveis” de serem eliminados. O conceito de “pequenas vitórias” ajuda a entender a natureza da análise e a resolver o problema. Embora uma pequena vitória possa não ser importante, uma série de pequenas vitórias pode ter um impacto significativo no todo do problema. Eliminar os danos (venda de drogas, venda de bebidas, etc.) é uma estratégia sensível e realista para reduzir o impacto do comportamento da briga de gangues (quebrar um problemão em probleminhas). A ideia de pequenas vitórias é também uma boa ferramenta quando trabalhada em grupo. Hipólito e Tasca (2012) afirmam que a identificação de problemas da comunidade não é uma tarefa complexa, mas exige equilíbrio entre a percepção da comunidade, a disposição e habilidade da polícia em ouvir as demandas e a responsabilidade na utilização do conhecimento adquirido. Neste tocante, geralmente são três os grandes grupos que identificam problemas: a comunidade, os gestores da polícia e os policiais de ponta. O objetivo primário dessa etapa (Identificação) é conduzir um levantamento preliminar para determinar se o problema realmente existe e se uma análise adicional é necessária. Para facilitar a seleção de um problema, no método IARA, o profissional de segurança precisa fazer as seguintes perguntas: 59 Figura 14 – Levantamento preliminar. Fonte: SCD/EaD/Segen. Se o policial encontrou respostas afirmativas (sim) para as três perguntas, então ele deve continuar com o método IARA. Se encontrou pelo menos uma resposta negativa (não), o problema deve ser novamente discutido com grupos envolvidos, para ser delimitado, ou deve ser tratado com a estratégia de policiamento tradicional. Lembre-se: É preciso perceber se o problema está associado a um evento “repetitivo” que gera dano, medo ou desordem. Se o incidente com que a polícia está lidando não se encaixa dentro dessa definição de problema (fatos repetitivos), então o modelo de solução de problemas não deve ser aplicado e a questão deve ser tratada com estratégia policial tradicional. Observe como age um paramédico diante de um acidente de trânsito: ele atuasomente de maneira emergencial. Agora, a molde este exemplo para a área de segurança: No período de 24 meses uma determinada comunidade tem como principal problema as ocorrências de “violência doméstica” (briga entre marido e esposa), mas, nesse período, teve um assalto a um ônibus coletivo. Nesse caso, a ocorrência de assalto ao ônibus deve ser encaminhada de forma tradicional, ou seja, identificar o cidadão infrator, prender, elaborar o inquérito policial, dentre outras providências policiais. Na verdade, o problema no contexto do POP é classificado em três categorias para facilitar a sua identificação. Veja quais são estas categorias: 60 Atenção! É muito comum nas primeiras reuniões com a comunidade, os policiais ficarem “totalmente perdidos”, diante de tantos problemas que são expostos, muitos deles de ordem pessoal. Nesse caso, o policial deve ficar atento e ouvir as reclamações. Esse é um momento de sondar os moradores, pois está nascendo (ou fortalecendo) um elo de confiança entre a comunidade e o policial. Entretanto, o policial deve propor uma maneira mais “criativa” para lidar com esses problemas, ou seja, se todos ficarem reclamando nada acontecerá. Você verá adiante um método muito simples que facilita o trabalho. Quando a reunião tiver mais de 10 pessoas é importante fazer a divisão delas, para fazer a classificação dos problemas. Deve ser exposto um formulário para classificar os problemas em grupo e explicar o significado de cada categoria. 1. Crime / Contravenção • São fatos típicos, antijurídicos, definidos em lei. Geralmente estão tipificados no Código Penal ou outra legislação específica como a Lei de Crimes Ambientais, Estatuto da Cidade, entre outros. Exemplos: Furto, roubo a mão armada, manter em cativeiro animal silvestre sem licença, iniciar um loteamento urbano sem o licenciamento ambiental, fazer doação de alimentos em período eleitoral, dentre outros. 2. Medo do crime • São os atos referentes à sensação de insegurança. Exemplos: Medo de sair de casa, a desconfiança de denunciar um delito à instituição policial, medo de ir para a escola, medo de ficar sozinho em casa, dentre outros. 3. Desordem física ou moral • São fatos que se referem à aparência das coisas ou dos comportamentos das pessoas, que não constituem um crime / contravenção (propriamente dito); mas facilita sua ocorrência. Exemplos: Praticar a prostituição na porta de um condomínio, grafitar (com autorização do proprietário do imóvel) o muro numa rua deserta, manter um lote vago com a vegetação elevada e sem o devido cercamento. 61 A própria comunidade (dividida em pequenos grupos de cinco pessoas, no máximo) deve discutir e preencher o formulário, para depois cada grupo apresentar o seu trabalho aos demais participantes. Essa é uma metodologia simples, mas que direciona os trabalhos de forma construtiva e lógica. Lembre-se: É preciso ter uma visão de todos os problemas, hierarquizá-los, e no final (de forma democrática), o grupo envolvido no processo deve priorizar um problema, por vez, para ser solucionado. A tentativa de resolução de todos os problemas ao mesmo tempo leva a resultados quase sempre insatisfatórios, em decorrência da falta de concentração de esforços e de recursos, que sempre são limitados. Assim, é certo que fatores podem ajudar no processo de priorização do problema: - O impacto do problema na comunidade (em dimensão e custos) - A presença de condições que ameacem a vida; - O interesse da comunidade e o grau de mobilização para resolvê-lo; - A potencial ameaça a direitos fundamentais; - O grau com que o problema compromete o relacionamento entre polícia e comunidade; - O interesse dos policiais de ponta e o seu compromisso com o processo de análise de resolução do problema. Certamente, a utilização de instrumentos, ferramentas ou metodologias para apoiar o processo de identificação e priorização são essenciais para dar foco e agilidade a uma tarefa que, realizada sem método algum, tende a gerar dificuldades de condução, diante dos múltiplos interesses dos envolvidos. Agora exercite seu conhecimento. Leia novamente o “Estudo de Caso: Bairro Santa Terezinha” (Anexo 1) e identifique os principais problemas. Em seguida classifique-os em três categorias. Para facilitar há um formulário (Anexo 2 – Diagrama para identificação de problemas) que pode inclusive ser utilizado nas reuniões com a comunidade. 62 AULA 2 – ANÁLISE Agora que já identificou “o problema”, veja como ocorre a 2ª fase do método IARA, a análise desse problema. Observe o ciclo ao lado: Figura 15 – 2ª fase do método IARA – Análise. Fonte: SCD/EaD/Segen. O segundo estágio – ANÁLISE, é o coração do processo e, por isso, tem grande importância no esforço para a solução do problema. Você acha que é possível propor uma resposta adequada sem conhecer as causas do problema? O propósito da análise é aprender, o máximo possível, sobre o problema para poder identificar suas causas. É importante coletar muitas informações sobre o problema, para adicionar as que foram obtidas ainda na 1ª fase – IDENTIFICAÇÃO. Uma análise completa envolve o máximo de pessoas e grupos afetados, buscando descrever todas as causas possíveis do problema, avaliando todas as atuais respostas e sua efetividade. Faça uma rápida avaliação; se o problema não estiver claramente definido deve retornar para a 1ª fase, conforme a linha pontilhada 1 do ciclo. Importante! Muitas pessoas simplesmente saltam a fase da análise, acreditando ser óbvia a natureza do problema (considerando só os dados da polícia) sucumbindo ante a pressa para obter a solução. Solucionadores de problema devem resistir a essa tentação ou então se arriscam a lidar com um problema irreal, implementando soluções inadequadas e comprometendo todo o método IARA. 63 Na fase de análise é imprescindível construir conhecimento em todas as partes envolvidas no processo. Mas quais são as informações necessárias para se ter um retrato fiel do problema? Para este fim, Goldstein (1990) sugere algumas perguntas tendentes a gerar esse conhecimento, que podem ser organizadas em três categorias de questionamentos: - As relacionados aos atores envolvidos no problema; - Sobre incidentes que compõe o problema; e, - Sobre as ações empreendidas pela comunidade e órgãos governamentais em relação ao problema. A quantidade e qualidade das informações obtidas, têm impacto decisivo na solução do problema, por isso, todas as possíveis informações sobre o problema devem ser obtidas e registradas pelo policial. Observe o rol não exaustivo de fontes de informações que podem subsidiar essa fase (HIPÓLITO; TASCA, 2012): 1. Comunidade - Entrevistas com pessoas que tem sofrido com o problema, fazer um levantamento sobre o perfil da área (iluminação, lotes vagos, lixos, entulhos, presença de indigentes) e um perfil da população (número de afetados, hábitos, idade, etc.), brainstorming durante as reuniões do CONSEG, questionários, distribuição de urnas e formulários, etc. 2. Estudos Acadêmicos - São as monografias, dissertações e teses desenvolvidas pelas instituições policiais e as próprias universidades/faculdades. É importante fazer essa revisão bibliográfica sobre o problema escolhido, para verificar se existe algum tipo de solução apresentada em outro local ou que possa ser adaptada aquele local. 3. Instituições Públicas - Estatísticas, mapas de geoprocessamento, características socioeconômicas, geográficas do ambiente onde o problema ocorre, informações de inteligência, disque- denúncia, entrevistas com marginais que já foram apreendidos, informações com outras instituições. 4. Órgãos da Imprensa - Pesquisar sobre como que o "problema" está sendo veiculado pelos meios de comunicação, especialmente em mídias de bairro (jornal, rádio comunitária, folhetos),64 noticiários TV, mídia impressa, mídias sociais, entre outras. 5. Registros Policiais - São informações constantes dos bancos de dados e outros registros de organismos policiais, tais como registros de ocorrências, boletins de ocorrências, termos circunstanciados, inquéritos policiais, autos de prisão em flagrante, análises criminais, dados estatísticos, mapas de geoprocessamento, etc. 6. Policiais da Linha de Frente - São aqueles que comumente lidam com os incidentes que integram o problema, logo são detentores de valiosas informações sobre suas origens e possíveis ações corretivas. 7. Vítimas - São os atores impactados pelo problema e por isso possuem um nível de conhecimento sobre ele que deve ser carreado para o processo de análise. 8. Infratores - Utilizando a criatividade, é possível obter informações importantes sobre o problema com aqueles que são responsáveis direta ou indiretamente por suas ocorrências. Deve ficar claro que a comunidade não faz parte da área de inteligência das instituições policiais, por isso, os líderes comunitários não devem ser cobrados para fazer investigação criminal. A comunidade pode e deve participar dessa coleta de dados, através da denúncia anônima ou outra forma que preserve sua segurança. TRIÂNGULO PARA ANÁLISE DE PROBLEMA (TAP) Você sabe quais são os elementos essenciais para ocorrer um crime? Basicamente são necessários três elementos para que um problema policial possa ocorrer. Observe a Figura 16 abaixo: 65 Figura 16 – Triângulo para análise de problema (TAP). Fonte: Adaptado de Peak e Glensor (2008, p. 77). O TAP ajuda os policiais na análise do problema, sugere onde são necessárias mais informações e auxilia no controle e, principalmente, na prevenção criminal. O relacionamento entre esses três elementos (vítima, infrator e ambiente) pode ser explicado da seguinte forma: Se existe uma vítima e ela não está em um ambiente que facilita a ocorrência de crimes, não haverá crime. Se existe um infrator e ele está em um local onde o ambiente favorece, mas não há nada ou ninguém para ser vitimizado, então não haverá crime. Se um infrator e uma vítima não estão juntos em ambiente onde ocorrem crimes, também não haverá crime. Parte do trabalho de análise do crime consiste em descobrir, ao máximo, sobre vítimas, infratores e locais onde existem problemas para entender o que está provocando o problema e o que deve ser feito a respeito disso. Os três elementos precisam estar juntos antes que um crime ou comportamento danoso ocorra: um infrator (alguém que está motivado para praticar o crime), uma vítima (um desejável e vulnerável alvo deve estar presente) e um ambiente (a vítima e o infrator precisam estar juntos, ao mesmo tempo, no mesmo local). Se os três elementos do TAP estão presentes repetidamente em um padrão de incidente e acontecem de forma recorrente, remover um desses três elementos pode 66 impedir o “padrão” e prevenir futuros crimes. Leia alguns trechos de uma reportagem que expõe um problema muito comum nos grandes centros urbanos: PICHAÇÕES INVADEM PRÉDIOS DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA Os pichadores seguem desrespeitando as autoridades e fazendo pichações em prédios públicos e privados, principalmente no Centro Histórico de João Pessoa. Nem o prédio da Associação do Comércio escapa das pichações. Prédios particulares da principal avenida da cidade, a Epitácio Pessoa, e de diversos bairros, a exemplo de Jaguaribe e Cruz das Armas, também não escapam das pichações. [...] Os pichadores geralmente agem com spray, canetas hidrocor ou tinta comum. Não respeitam os imóveis, sejam eles públicos ou privados, e pintam nomes ou códigos de grupos específicos que só eles identificam. As pessoas que veem (sic) as pichações nas ruas ficam imaginando como eles conseguem subir em prédios tão altos para realizarem a ação de pichação, sem sofrerem um acidente e sem serem vistos. Na verdade, disse a comerciária Ana Maria, os pichadores não respeitam empresários nem gestores públicos. "Me parece que eles disputam entre eles quem faz mais pichações em locais mais altos. Até em locais com letreiros informando sobre a proibição de cartazes ou pichações não são respeitados. Para eles esses locais são inspiradores e desafiadores", disse Ana Maria. Segundo o síndico de um dos prédios alvo de pichadores na Avenida Epitácio Pessoa, Leonardo Pessoa, nem ele nem as pessoas que têm salas alugadas não sabem como e nem a hora que os pichadores entraram no imóvel. Ele disse que já fez Boletim de Ocorrência em uma delegacia e o escrivão informou que a pena para quem for pego fazendo pichações varia de três meses a um ano de detenção, além de multa. [...] FONTE: A União. Disponível em:<https://auniao.pb.gov.br/noticias/caderno_paraiba/pichacoes-invadem- predios-do-centro-historico-de-joao-pessoa>. Acesso em: 26 nov. 2020. https://auniao.pb.gov.br/noticias/caderno_paraiba/pichacoes-invadem-predios-do-centro-historico-de-joao-pessoa https://auniao.pb.gov.br/noticias/caderno_paraiba/pichacoes-invadem-predios-do-centro-historico-de-joao-pessoa 67 Lembre-se: No último módulo deste curso (Módulo 4), mais especificamente na aula 2, você irá complementar seus estudos sobre o Triângulo de Análise de Problemas, com a inserção das partes intervenientes vinculadas a cada um dos lados do triângulo, detalhados por Clarck e Eck (2003). Figura 17 – Triângulo para análise de problema pichações. Fonte: Conteudista. Utilizando o TAP para analisar o problema, observamos que no vértice “ambiente” temos os prédios públicos e privados do Centro Histórico de João Pessoa. As “vítimas” são os proprietários (empresários e inquilinos dos prédios) e os gestores públicos (administração pública). Os infratores são as pessoas que fazem a pichação. Perceba que a remoção de um ou mais desses elementos irá atenuar o problema. As estratégias para isso são limitadas apenas pela criatividade dos policiais, validade das pesquisas e habilidade para formular respostas conjuntas com a comunidade, especialmente os jovens. Você verá como o TAP é importante. Ele facilita a elaboração das 68 RESPOSTAS, que é a 3ª fase. Veja o exemplo a seguir: Proibir a venda de tinta “spray” para menores, utilizar tintas não-adesivas nas fachadas e muros para proteger a pintura e desencorajar os pichadores. Entretanto, as soluções mais criativas associam a punição dos pichadores e permissão da grafitagem em locais públicos. É preciso “direcionar os talentos” dos jovens para atividades “construtivas”, o jovem precisa de referencial e gosta de desafios impossíveis. Em alguns bairros existem “áreas reservadas” para pichação, geralmente áreas que estavam depredadas, onde são feitos concursos de arte sob a supervisão de autoridades municipais, como diretores de escolas, líderes religiosos, dentre outros. Perceba que nenhuma dessas alternativas são exclusividades das instituições policiais. Os policiais devem, constantemente, procurar maneiras de compreender como esses três elementos se relacionam para gerar o problema. Em resumo, o TAP permite que policiais analisem um problema e descubram o que o torna persistente. Para apoiar esse processo de análise e evitar que alguma variável importante deixe de ser observada, alguns solucionadores de problemas, tem utilizado complementarmente o diagrama de causa e efeito. Você já ouviu falar em diagrama “espinha-de-peixe”? Observe a Figura 18 abaixo: Figura 18 – Diagrama de causa e efeito. Fonte: Oliveira (2013, p. 392). Esse diagrama foi elaborado pelo químico japonês Karou Ishikawa para servir como uma das ferramentas para aumentar a qualidade dos serviços desenvolvidos 69 nas indústrias. Também é de fácil aplicação ao contexto policial, pois facilita o desencadeamento lógico das ideias. Quando utilizadoda forma correta, orienta a atuação dos policiais e lideranças comunitárias na análise do problema. Também é conhecido como diagrama de Ishikawa, diagrama de causa e efeito ou diagrama 6-M (devido as letras iniciais das principais causas). Observe que o diagrama causa e efeito é uma forma de caracterizar o problema, resumindo e identificando as causas principais e secundárias. As causas são as condições que, em conjunto, tornam provável a ocorrência de um fenômeno. Importante! Às vezes é necessário fazer várias reuniões para preencher todo o formulário. É importante ter cuidado com a divulgação do conteúdo dessas informações (pessoais) para não ferir a ética das pessoas, principalmente das vítimas ou dos próprios infratores analisados, pois o diagrama é muito objetivo. ORIENTAÇÕES PARA PREENCHIMENTO DO DIAGRAMA CAUSA E EFEITO Observe como são simples os passos para preencher o formulário, depois da definição do problema principal: 1. Envolve-se o maior número de pessoas que conhece o problema numa dinâmica brainstorming; 2. Preenche-se os retângulos (espinhas grandes) com as causas principais que afetam o problema; 3. Preenche-se as espinhas média, com as causas secundárias que afetam as causas principais; 4. As causas que parecem exercer um efeito mais significativo sobre o problema devem ser sinalizadas no diagrama; 5. Define-se o título do diagrama. Observe no diagrama, como que essas orientações devem ser aplicadas no contexto policial. Lembre-se de que esse diagrama é bem objetivo, ele é uma síntese das informações e sua apresentação limita-se a uma folha de papel, tamanho A4. No entanto, a utilização do diagrama de causa e efeito, no contexto da segurança pública, exige algumas adaptações nos grupos causais, conforme você pode observar 70 na próxima figuras: Figura 19 – Diagrama de causa e efeito adaptado para o contexto da segurança pública. Fonte: Hipólito e Tasca (2012, p. 203). VÍTIMA/GUARDIÃO Neste campo devem ser colocadas as principais características das vítimas: idade, comportamento delas durante o dano/crime, perfil profissiográfico, se já foram vítimas (ou não), dentre outras. INFRATOR/CONTROLADOR Neste campo devem ser colocadas as principais características dos agressores: idade, modus operandi, perfil profissiográfico, se estão foragidos (ou não), dentre outras. POLÍCIA MILITAR Neste campo deve constar como que a PM atua nesse problema: quantas ocorrências já registrou, quais são os equipamentos geralmente utilizados (viaturas, telefones, tonfa, etc.), atuação da guarnição policial local (reativa ou proativa), dentre outras. AMBIENTE/RESPONSÁVEL Neste campo deverão ser listadas as informações sobre o local e período que o problema geralmente ocorre (dia, horário, mês), de preferência pesquisar por período comparativos para ter um “padrão” mais consistente sobre o local e horário que ocorre o problema. 71 OUTROS ÓRGÃOS/ENTIDADES Neste campo deve constar como que os demais órgãos públicos e entidades agem com esse problema, como que é a participação deles: Poder Judiciário, Poder Legislativo, Prefeitura Municipal, ONG, igrejas, Conselhos Comunitários de Segurança Pública, dentre outros colaboradores. POLÍCIA CIVIL Neste campo deve constar como que a PC atua nesse problema: quantos inquéritos / diligências já registrou, quais são os equipamentos geralmente utilizados (viaturas, telefones, etc.), nº de delitos elucidados, postura da equipe policial (reativa ou proativa), dentre outras. Veja um exemplo desenvolvido no âmbito do 2º Batalhão de Polícia Militar de Chapecó, em Santa Catarina, onde o Diagrama de Causa e Efeito foi utilizado para analisar o problema da letalidade violenta (homicídio), tentativa de homicídio e lesões corporais naquele município, índices que estavam aquém do desejado pelo Comando Geral da Polícia Militar de Santa Catarina: 72 Figura 20 – Diagrama de causa e efeito adaptado para o contexto da segurança pública. Fonte: Dos Santos e Tasca (2014, p. 192). Agora vamos praticar a segunda etapa do método IARA. Baseado no “Estudo de Caso: Bairro Santa Terezinha” (Anexo 1) e no problema escolhido por você (exercício da Identificação - 1ª fase), preencha o diagrama de causa e efeito (Anexo 3). Depois compare com o diagrama preenchido. 73 AULA 3 – RESPOSTA Agora que já está identificado e analisado “o problema”, você aprenderá como se desenvolve a 3ª fase do método IARA, a resposta para o problema. Observe o ciclo abaixo: Figura 21 – 3ª fase do método IARA – Resposta. Fonte: SCD/EaD/Segen. Depois de o problema ter sido claramente definido e analisado, a polícia enfrenta outro desafio: procurar o meio mais efetivo de lidar com ele, desenvolver ações adequadas com baixo custo e o máximo de benefício. Esse estágio do modelo IARA focaliza o desenvolvimento e a implementação de respostas para o problema. Antes de entrar nessa etapa, a polícia precisa superar a tentação de implementar respostas prematuras e certificar-se de que já tenha analisado o problema. Tentativas de resolver rapidamente o problema são raramente efetivas em longo prazo. Faça uma rápida avaliação, se o problema não estiver claramente analisado deverá retornar à 2ª fase, vide linha pontilhada. Para desenvolver respostas adequadas, solucionadores de problema devem rever suas descobertas sobre os três lados do TAP (vítima, infrator e ambiente) e desenvolver soluções criativas para lidar, pelo menos, com dois lados do triângulo. É importante lembrar que a chave para desenvolver respostas adequadas é certificar-se de que as perguntas certas foram feitas, se as respostas são bem focadas 74 e diretamente associadas as descobertas feitas na fase de análise do problema (Diagrama Causa e Efeito). Segundo Goldstein (1979; 1990), existem várias alternativas que podem ser exploradas em cada problema, dentre elas destacam-se (apud HIPÓLITO; TASCA, 2012, p. 206-208): - Mudanças físicas e técnicas; - Alterações na prestação de serviços governamentais; - Fornecimento de informações confiáveis pela comunidade; - Desenvolvendo novas competências e habilidades nos policiais; - Novas formas de autoridade (ciclo completo de polícia); - Desenvolvendo novos recursos na comunidade; - Ampliação da regulação; - Ampliação do uso de posturas municipais; - Utilização do zoneamento; - Atenção concentrada em infratores e reincidentes; - Prestando informações a comunidade; - Mobilizando a comunidade; - Utilizando formas já existentes de controle social em apoio à ação comunitária. Nesse cenário, as possíveis soluções de problemas podem ser organizadas dentro de cinco grupos (ECK; SPELMAN, 1987): 75 1ª Eliminar totalmente o problema • A proposta é a ausência total das ocorrências. É improvável que a maior parte dos problemas possa ser totalmente eliminada, principalmente os crimes. 2ª Reduzir o número de ocorrências geradas pelo problema • Aqui, o objetivo é a redução de ocorrências proveniente do problema, geralmente é o mais alcançado no contexto policial. 3º Reduzir a gravidade dos danos • A efetividade para esse tipo de solução é demonstrada constatando-se que as ocorrências são menos danosas, depois da intervenção do método IARA. 4º Lidar melhor com velhos problemas • Tratar o maior número de participantes de modo mais humano, reduzir os custos, melhorar a capacidade de lidar com a ocorrência, ou seja, promover satisfação para as vítimas, reduzindo custos e outro tipo de medida que possa que esse tipo de solução é efetivo. 5º Desconsiderar o problema como um assunto da polícia • A efetividade deste tipo de solução está em a polícia constatar e comprovar que o problema não está no seu raio de atuação, devendo, assim encaminhá-lo para os organismos ou pessoas que tem essa responsabilidade.Atenção! Somente depois de esgotadas as possibilidades de criação de alternativas, é que se deve passar para a verificação de viabilidade de cada ação. Uma preocupação importante é a tendência a generalização de respostas tradicionais. A experiência tem demonstrado que o segredo está em balancear o conjunto de ações, contemplando tanto as estratégias inovadoras quanto as respostas tradicionais. 76 Figura 22 – Combinação das alternativas. Fonte: SCD/EaD/Segen. A variedade e a combinação das alternativas, dependerão sempre da complexidade e amplitude das causas que geram a ocorrência do problema. Assim, a definição de quais ações serão desencadeadas primeiro, conforme Goldstein (1990), demanda uma análise voltada a priorizar aquelas que atendam as seguintes preocupações: - O impacto na redução do problema e da sua gravidade; - O grau de intervenção na vida da comunidade e sua dependência do uso de força e imposições legais; - A aceitação da comunidade impactada; - Os custos inerentes à implementação; - A capacidade da atuação policial e sua disponibilidade de recursos; - O nível de impacto nas relações da polícia com os demais envolvidos no problema; - A facilidade com que a ação será executada. 77 Nesta etapa, assim como nas anteriores, algumas ferramentas de gestão podem contribuir para a sua consecução. Para isso, recomendamos a utilização do diagrama 5W2H também conhecido nos países de língua portuguesa como 4Q1POC, muito utilizada na administração de empresas para gerenciar um plano de ação para elaborar um serviço ou produto, no nosso caso, solucionar um problema de segurança pública. DIAGRAMA 5W2H OU 4Q1POC Estrutura do Plano de Ação Perguntas Características What? O que será feito? Etapa a cumprir Who? Quem vai fazer? Definição do responsável When? Quando será feito? Cronograma How much? Quanto custará? Investimento Why? Por quê? Razões para realização Where? Onde será feito? Local físico How? Como será feito? Descrição da execução Quadro 4 – Diagrama 5W2H. Fonte: SCD/EaD/Segen. As tarefas do plano de ação devem ser devidamente priorizadas e listadas por ordem cronológica. Esse documento é uma ótima ferramenta para gerenciar o andamento dos trabalhos e garantir a produtividade de reuniões realizadas com a comunidade. Veja a seguir (QUADRO 4) um exemplo de plano de ação que contempla alguns dos elementos da matriz 5W2H e acrescenta a dimensão referente aos indicadores, que permitirão na 4ª etapa do método IARA – avaliação – verificar se os resultados esperados foram alcançados. Rótulo do problema: crimes contra a vida e letalidade violenta em Chapecó. Objetivo (o quê?): reduzir e controlar os índices de letalidade violenta, lesões corporais graves e tentativa de homicídio, nos bairros Efapi, São Pedro e Passo dos Fortes em Chapecó, área da 3ª Cia do 2º BPM. Indicador (como avaliar?): reduzir os indicadores da letalidade violenta (homicídios) e tentativa de homicídios em 50% e o indicador das lesões corporais em 20%, visando atingir as metas estabelecidas no Plano de Comando (nível bom ou neutro). Período do Projeto (quando?): outubro de 2014 à 0utubro de 2015 (1 ano) CAUSA 1 Intensidade do tráfico e uso de drogas em especial nos bairros 78 (por que será feito?) Efapi, São Pedro e Passo dos Fortes, envolvendo jovens e adolescentes; Meta 1.1 (como será feito e por quem?) Desenvolver uma rede de proteção social por meio de ações em conjunto com a Prefeitura, por meio da Secretaria de Juventude Esportes e Lazer (SEJEL), Universidades, Assistência Social, Ministério Público e Consegs, visando envolver crianças, adolescentes e jovens que estejam na faixa de risco em especial aquelas reincidentes, carentes e com tempo ocioso nos bairros Efapi e São Pedro em atividades esportivas, de lazer e cultura, aproveitando, inclusive, o potencial esportivo da cidade, com a finalidade de construir oportunidades diversas daquelas envolvendo atividades ilícitas, reduzindo a oportunidade para tráfico de drogas nesses locais; Atividade/Ação 1.1.1 Agendar reunião com os representantes dos diversos órgãos mencionados a fim de expor o problema e desenvolver estratégia de ação; Marco/Entrega 1.1.1.1 Ata de reunião; Atividade/Ação 1.1.2 Apresentação do Plano de Ação; Marco/Entrega 1.1.2.1 Plano de ação aprovado; Atividade/Ação 1.1.3 Implementação das ações do plano de ação; Marco/Entrega 1.1.3.1 Relatórios, atas, certificados, realeses; Meta 1.2 Intensificar e promover palestras por meio do PROERD envolvendo o maior número de pais, jovens e adultos da comunidade com relação ao problema das drogas e seus efeitos sociais, propondo a criação de espaços dentro e fora das escolas propícios para a resolução de conflitos envolvendo nessa atividade policiais, alunos multiplicadores, alunos universitários da área da assistência social e psicologia. Atividade/Ação 1.2.1 Agendamento das Palestras e realização das palestras; Marco/Entrega 1.2.1.1 Realese das palestras prestadas; Atividade/Ação 1.2.2 Capacitação de policias para mediação de conflitos extrajudiciais; Marco/Entrega 1.2.1.2 Certificados de conclusão do curso; Meta 1.3 Aproximar e aumentar os canais de comunicação entre a polícia e a comunidade; Atividade/Ação 1.3.1 Desenvolver um canal de comunicação pela internet em que seja possível à comunidade em geral relatar os problemas de segurança pública identificados e vivenciados em seu bairro e sugerir ações; Marco/Entrega 1.2.1.1 Disponibilização de página desenvolvida online; Meta 1.4 Aumentar a ostensividade por meio de patrulhamento ostensivo a pé nos bairros Efapi, São Pedro e Passo dos Fortes nos pontos críticos de tráfico de drogas de forma a demonstrar a presença do Estado nesses locais e promover uma maior aproximação polícia/ comunidade por meio do atendimento de outras demandas do local e estabelecendo um contato com os moradores do bairro; Atividade/Ação 1.4.1 Readequar as escalas policiais; Marco/Entrega 1.2.1.1 Aprovação das escalas policiais; Quadro 5 – Modelo adaptado da matriz 5W2H. Fonte: Adaptado de Dos Santos e Tasca (2014, p. 192). 79 Você já elaborou um plano de ação antes? Agora você terá um desafio para exercitar sua criatividade e “construir” respostas baseadas em táticas TRADICIONAIS e ALTERNATIVAS. Baseado no “Estudo de Caso: Bairro Santa Terezinha” (Anexo 1) e na análise de suas causas (2ª fase), preencha o Plano de Ação (Anexo 4) e depois compare com o diagrama adaptado e preenchido ao final. 80 AULA 4 – AVALIAÇÃO O que verdadeiramente se deseja com o esforço de análise e resolução de problemas, é ampliar a efetividade do trabalho policial, por isso torna-se essencial avaliar os resultados alcançados. Portanto, vencidas as etapas anteriores, você irá aprender como conduzir a 4ª fase do método IARA - a avaliação das ações implementadas. Figura 23 – 4ª fase do método IARA – Avaliação. Fonte: SCD/EaD/Segen. A avaliação “é o processo científico usado para determinar se um problema declinou e se a solução foi a causa do declínio” (ECK, 2013, p. 12). Isso deve acontecer desde o início do processo, até à conclusão dos esforços, conforme se observa no ciclo acima. A avaliação poderá produzir informações que leve você sua equipe a retornarem para estágios anteriores do método IARA para fazerem readequações, especialmente quando as respostas não apresentarem resultados positivos esperados. Lembre-se: A avaliação é importante por dois motivos principais: (1) garantir à sociedade o acompanhamento do desempenho da polícia e o emprego de recursos públicos e (2) permitir que a polícia aprenda sobre as estratégias desenvolvidas e que são efetivas para lidar com determinados problemas (HIPÓLITO; TASCA, 2012). 81 Outro aspecto relevante a ser observado,é a precisão com que os problemas são definidos e a qualidade de sua análise, pois permitirão estabelecer a melhor forma de medir os resultados alcançados. Essa definição, também chamada de indicadores de desempenho, precisa ser clara e mensurável. Observe, por exemplo, o objetivo traçado para enfrentar um “problema de tráfico de drogas”: reduzir o problema das drogas. Se empregarmos termos ambíguos ou genéricos, não há como determinar o desempenho esperado do grupo envolvido com a resolução do problema. Agora, se o mesmo problema fosse delimitado como “pontos de tráficos de drogas que geram medo nos membros da comunidade”, os objetivos poderiam ser estabelecidos como redução ou eliminação dos pontos de tráficos de drogas e a redução da sensação de insegurança da comunidade daquela localidade. Abaixo, listamos alguns indicadores tradicionais e alternativos que podem ser utilizados como parâmetro para nos dizer se determinados tipos de problemas da comunidade estão sendo impactados: Tradicional ▪ Número de prisões; ▪ Número de apreensões; ▪ Número de crimes reportados; ▪ Número de solicitações de atendimento; ▪ Diminuição do tempo de resposta. Alternativo ▪ Redução dos indicadores de vitimização; ▪ Redução do medo dos cidadãos em relação ao problema; ▪ Aumento da satisfação do cidadão com respeito à maneira com que a polícia está lidando com o problema; ▪ Aumento dos salários para comerciários de uma área-alvo; ▪ Aumento do valor venal dos imóveis; ▪ Diminuição do número de imóveis pichados; ▪ Diminuição da vadiagem; ▪ Menos lotes sujos, carros abandonados; ▪ Menos cercas elétricas instaladas; ▪ Diminuição de matérias jornalísticas referente a uma área- alvo. Quadro 6 – Indicadores de desempenho tradicionais e alternativos. Fonte: Adaptado de Oliveira (2013). 82 De modo geral, o processo de avaliação permeia todo o método IARA, desde a identificação e definição do problema (1ª fase), a fase de análise (2ª fase) até a fase de resposta, onde se desenvolve uma estratégia para impactar o problema com divisão de responsabilidades (3ª fase). Eck (2013), divide essa fase em dois tipos de avaliação: A avaliação de processo, que acompanha e tenta garantir a integridade da resposta; e a avaliação de impacto, que busca verificar a efetividade das respostas aplicados ao problema. Alguns questionamentos podem nos ajudar a compreender melhor o papel da avaliação de processo: - Será que a resposta foi implementada conforme o planejado? - Será que todas as componentes da resposta funcionaram? Ou, de forma mais brusca, será que fizemos, mesmo, tudo aquilo que dissemos que faríamos? Resumidamente, uma avaliação de processo nos diz muito sobre os elementos “o que aconteceu, quando e quem”, apesar de não demonstrar até que ponto a resposta afetou o problema. Mas, ainda assim, é muito útil para determinar a forma como iremos interpretar os resultados da avaliação de impacto. Neste mesmo sentido, a avaliação de impacto nos coloca os seguintes questionamentos: - Será que o problema diminuiu? - Se sim, existem boas razões para acreditar que a diminuição decorreu das respostas implantadas? Podemos dizer que na avaliação de impacto, existem duas partes: a medição do problema e a comparação sistemática das alterações às medições. A avaliação é criada de forma a nos fornecer o máximo de evidências, se o esquema de avaliação estabelecido for fraco, ele até demonstrará se um problema declinou, mas não nos fornecerá garantias de que resposta foi a causa do seu declínio. Atenção! A avaliação de impacto, especificamente, será a comparação da situação inicial identificada na análise do problema, com a situação pós-aplicação das respostas, e será baseada nos indicadores definidos no plano de ação (FREITAS, 2007 apud HIPÓLITO; TASCA, 2012, p. 217). 83 Observe o Quadro 7 que apresenta as possíveis interpretações decorrentes dos resultados das avalições de processo e impacto: Resultados da avaliação do processo A resposta foi implementada como o planejado ou quase. A resposta não foi implementada ou foi implementada de uma forma radicalmente diferente da planejada. Resultados da avaliação do impacto O problema declinou? A) Evidências de que a resposta causou o declínio. C) Sugere que outros fatores poderão ter causado o declínio, ou de que a resposta foi acidentalmente eficaz. O problema não declinou? B) Evidências de que a resposta foi ineficaz e de que deverá ser tentada uma nova resposta. D) Pouco se aprendeu. Talvez se a resposta tivesse sido implementada conforme o planejado, o problema teria declinado (especulação). Quadro 7 – Interpretando os resultados das avaliações de processo e impacto Fonte: Adaptado de Eck (2013) Ao final da etapa de avaliação e diante dos resultados alcançados, uma nova realidade se apresentará, que poderá servir de parâmetro para um futuro planejamento de estratégias. Observe os possíveis encaminhamentos no Quadro 8 a seguir: Ações de Melhorias Resultados = Indicadores Servirá como novo diagnóstico a ser utilizado no planejamento de novas ações, visando reduzir ainda mais as causas ou até mesmo eliminá-las. Ações Corretivas Resultados ≠ Indicadores Servirá de parâmetro para o planejamento, no sentido de identificar falhas no próprio processo de planejamento, ou corrigir eventuais ações que se 84 mostrarem inócuas ou ainda redimensionar os indicadores de avaliação propostos. Quadro 8: Análise de resultado do processo de avaliação Fonte: Adaptado de Pacheco (2003 apud Hipólito; Tasca, 2012). A avaliação é, obviamente, chave para o modelo IARA. Se as respostas implementadas não são efetivas, as informações reunidas durante a etapa de análise devem ser revistas. Novas informações podem ser necessárias novamente a coletada, antes que uma nova solução possa ser desenvolvida e testada. 85 AULA 5 – INICIATIVAS DE SUCESSO COM O POP Para compreender melhor os conceitos e a prática do POP, vamos apresentar a síntese de 3 (três) iniciativas de sucesso onde o método IARA foi empregado para a resolução de problema da comunidade: CASO 1 – VARREDURA DE RUA, ESTILO BROADWAY Revitalizando um distrito comercial de dentro para fora Departamento de Polícia de Green Bay, Wisconsin, Distrito de Fort Howard IDENTIFICAÇÃO: Um distrito comercial no centro da cidade, havia se tornado uma área de alto índice de criminalidade, marcada por lixo, garrafas de bebida quebradas e pessoas que viviam na rua, muitas vezes bêbadas e fazendo confusão. ANÁLISE: Os policiais descobriram uma alta concentração de crimes em comparação com o resto da cidade e uma demanda desproporcional por serviços policiais e de resgate. A análise dos registros policiais indicou que aproximadamente 20 pessoas, estavam envolvidas na maioria das reclamações do bairro. Além disso, moradores do bairro e líderes empresariais, perderam a fé na polícia para responder à desordem na área. RESPOSTA: A polícia liderou um esforço comunitário, para fazer cumprir as ordenanças públicas sobre o consumo de bebidas alcoólicas em espaços abertos, desocupação de parques municipais, comportamentos obscenos e lascivos. Eles também trabalharam para aumentar a regulamentação da licença para vendas de bebidas alcoólicas, mobilizar os cidadãos para comparecerem às reuniões do conselho municipal, modificar o projeto ambiental da área, usar o sistema judicial para vincular os alcoólatras aos recursos de tratamento, obter a cooperação de donos de lojas e tabernas para negar a venda de bebidas alcoólicas a pessoas embriagadas. AVALIAÇÃO: Após o início de uma iniciativa de solução de problemas em 1995, a Broadway Street foi transformada em um distrito comercial em expansão. De 1993, quando não havia policiais comunitários no local, até1999, após os policiais estarem no local por 4 anos, a área experimentou uma redução de 65% no total de chamadas policiais e uma diminuição de 91% na demanda de resgate serviços de esquadrão para lidar com lesões resultantes de agressões. De 1995 a fevereiro de 86 2000, o distrito comercial da Broadway ganhou mais de US $ 8,4 milhões em novos investimentos públicos e privados, 410 novos empregos e 33 novos negócios. O Caso 1 foi vencedor do concurso Goldstein Awards 1999. Se quiser saber um pouco mais sobre o caso, acesse:<https://popcenter.asu.edu/sites/default/files/library/awards/goldstein/1999/99- 22(W).pdf>. CASO 2 - REDUZINDO O CRIME E A DESORDEM EM MOTÉIS E HOTÉIS Departamento de Polícia de Chula Vista, California IDENTIFICAÇÃO: Em meados da década de 1990, organizações empresariais pediram a ajuda da cidade para melhorar a qualidade e a segurança dos motéis de Chula Vista. Em resposta, a polícia aumentou a fiscalização nos motéis e implementou uma nova lei exigindo que todos os hóspedes do motel se identificassem com documentos contendo fotos, no ato do check-in. Apesar desses esforços, a polícia continuou a responder a um grande número de chamadas de serviços em motéis, que continuaram sendo plataformas para atividades criminosas e inibiam os esforços para trazer turistas para a cidade. Com um mandato de melhoria, o pessoal da polícia, junto com outros funcionários da cidade e grupos empresariais, começaram a trabalhar em um projeto de policiamento voltado para o problema, buscando melhorar os níveis de segurança pública nos motéis. ANÁLISE: Os problemas em motéis foram analisados de várias maneiras, incluindo entrevistas com usuários e gerentes de motéis; levantamentos ambientais; análise de chamadas para serviço (CFS), crime e dados de prisão; e uma revisão abrangente da literatura relativa ao crime e à desordem em motéis. A equipe do projeto testou e rejeitou uma série de hipóteses sobre a causa dos problemas nos motéis de Chula Vista. Por fim, a equipe do projeto concluiu que os gerentes e proprietários de motéis poderiam controlar efetivamente o crime e a desordem em suas propriedades por meio de boas práticas de gestão - se optassem por fazê-lo. RESPOSTA: Trabalhando juntos, os funcionários da Polícia, do Departamento de Posturas do Município (Code Enforcement) e da Câmara de Comércio passaram https://popcenter.asu.edu/sites/default/files/library/awards/goldstein/1999/99-22(W).pdf https://popcenter.asu.edu/sites/default/files/library/awards/goldstein/1999/99-22(W).pdf 87 vários anos entrando em contato com gerentes e proprietários de motéis, oferecendo informações sobre a natureza e o nível dos problemas nos motéis e como esses problemas poderiam ser reduzidos. A equipe do Departamento de Posturas municipal iniciou um programa anual de inspeção de motéis em 2003, para garantir que as propriedades atendessem aos códigos estaduais e locais de habitação. No entanto, esses esforços não reduziram substancialmente os problemas de segurança pública em motéis. Em 2005 e 2006, a polícia trabalhou com funcionários do Ministério Público, Planejamento e Construção, Desenvolvimento Comunitário, Finanças e Corpo de Bombeiros para desenvolver uma lei que permitisse à cidade responsabilizar os motéis pelo cumprimento de um padrão de desempenho de segurança pública baseado no CFS. AVALIAÇÃO: ▪ A análise para chamados de serviços - CFS para motéis de Chula Vista - diminuiu 49%; ▪ Crimes violentos e crimes contra pessoas em motéis diminuíram 49%; ▪ As detenções por drogas em motéis diminuíram 66%; ▪ A qualidade e aparência de vários motéis melhoraram significativamente; ▪ Melhores práticas de gestão de motéis; ▪ O número de quartos de motel que não atendiam aos padrões básicos de segurança diminuiu de pelo menos 378 para 0; ▪ Aumento da taxa de ocupação transitória agregada relatada à cidade. O Caso 2 foi vencedor do concurso Goldstein Awards 2009. Se quiser saber um pouco mais sobre o caso, acesse:<https://popcenter.asu.edu/sites/default/files/library/awards/goldstein/2009/ 09-47(W).pdf>. CASO 3 - SÃOS E SALVOS: REDUZINDO O CRIME VIOLENTO DA ECONOMIA NOTURNA Havering Community Safety Partnership, Londres, Reino Unido https://popcenter.asu.edu/sites/default/files/library/awards/goldstein/2009/09-47(W).pdf https://popcenter.asu.edu/sites/default/files/library/awards/goldstein/2009/09-47(W).pdf 88 IDENTIFICAÇÃO: Em resposta ao declínio urbano, a Estratégia Urbana de Romford encorajou o crescimento de locais noturnos, levando ao aumento da violência noturna. A maior parte da violência ocorria das 21h às 6h de sexta-feira e sábado. Em 2009 para 2010, Romford teve a maior taxa de violência por 100.000 visitantes de toda região metropolitana central, experimentando um aumento de 27% na violência relatada pela polícia nos três anos anteriores e um aumento de 16% em vítimas de agressão atendidas pelas ambulâncias. A mídia divulgou a reputação de Romford quanto à violência na região. Pesquisas mostraram que 37% dos residentes achavam que o comportamento bêbado e turbulento era um problema e 55% dos residentes se sentiam inseguros depois de escurecer. O custo socioeconômico foi estimado em £ 5,1 milhões ($ 8,1 milhões). ANÁLISE: Homens entre 18 e 29 anos foram desproporcionalmente representados como vítimas e agressores, enquanto a pesquisa qualitativa descobriu que uma proporção esmagadora havia consumido altos níveis de álcool (85% das vítimas). A análise demonstrou uma ligação clara com o álcool, envolvendo pessoas desconhecidas umas das outras. Os principais problemas identificados incluíam a inadequada proteção de pessoas intoxicadas e preços de bebidas irresponsáveis (encorajando o consumo desenfreado de bebida). As respostas anteriores focaram na detecção tardia de ofensas ao invés de remover potenciais ofensores, sem medo das consequências, espaço não regulamentado, gargalos na rua e grande volume de instalações fechando juntas, forçando todos a saírem ao mesmo tempo, potencializando confrontos. Lesões geradas por pedaços de vidro e garrafas geravam um custo mais alto para os serviços e maior risco para as vítimas RESPOSTA: Implementadas respostas desenvolvidas através do grupo de parceria Safe & Sound, envolvendo as principais partes interessadas. Oferecidos serviços de proteção às vítimas e potenciais vítimas (embriagados em situação de vulnerabilidade) através de uma ligação de rádio eficaz entre: instalações licenciadas, operadores de CCTV, polícia, pastores de rua e operadores da Safe Haven e Street Triage. Adotadas condições de licenciamento para controle do uso de garrafas e 89 copos de vidro; proibido as promoções de bebidas irresponsáveis e a restrição de anúncios de bebidas alcoólicas com grandes descontos. Esquemas de proibições entre as instalações licenciadas para impedir a oportunidade de reincidentes. Uso de CCTV e ScanNet para fortalecer a vigilância e aumentar a detecção de criminosos. Controles de licenciamento necessários para espaços externos e redesenho da cena da rua. Estabelecimento de horários escalonados e estendidos para auxiliar na dispersão da multidão. AVALIAÇÃO: ▪ Redução de 29% nas chamadas de ambulância para lesões e doenças que agora podem ser tratadas na triagem; ▪ Economia anual de £ 437k ($ 688k) com a redução de agressões envolvendo vidros e garrafas; ▪ Mais de 215 impedidos de entrar na cidade por períodos de 3 semanas a 5 anos; ▪ Aumento na proporção de criminosos identificados, aumento das detecções, aumentando a confiança com mais vítimas dispostas a prosseguir com as acusações; ▪ Redução de 58% na violência comparativamente com os anos de 2009/10; ▪ Economia social total de £ 3 milhões / US $ 4,7 milhões. O Caso 3 foi vencedor do concurso Goldstein Awards 2015. Se quiser saberum pouco mais sobre o caso, acesse:<https://popcenter.asu.edu/content/2015- goldstein-awards-winner-finalists>. Lembre-se: O “Prêmio Herman Goldstein” reconhece policiais e agências policiais de destaque, tanto nos Estados Unidos como em todo o mundo, que se envolvem em esforços inovadores e eficazes de resolução de problemas e alcançam sucesso https://popcenter.asu.edu/content/2015-goldstein-awards-winner-finalists https://popcenter.asu.edu/content/2015-goldstein-awards-winner-finalists 90 mensurável na redução de crimes específicos, desordem e problemas de segurança pública. As agências policiais cujos projetos resolvem com sucesso um crime comunitário recorrente ou problema de desordem podem concorrer ao prêmio. Informações para submeter um projeto bem sucedido de policiamento orientado para o problema podem ser encontradas junto ao site do Center for Problem-Oriented Policing, através do link:<https://popcenter.asu.edu>. Quem sabe, em um futuro muito próximo, você e sua equipe de trabalho também concorram ao “Prêmio Herman Goldstein”? Agora que você já sabe por onde começar, mãos à obra!!! https://popcenter.asu.edu/ 91 Finalizando: Nesse Módulo você viu... O método IARA (identificação, análise, resposta e avaliação); Diagramas que podem ser utilizados; Casos de sucesso do POP. 92 MÓDULO 4 – PREVENÇÃO SITUACIONAL DO CRIME No módulo 3 você estudou como é desenvolvido o método IARA e as diferentes ferramentas de gestão que podem ser utilizadas em cada fase. Agora, neste módulo 4, você irá aprender um pouco mais sobre a prevenção situacional do crime, a teoria da oportunidade e as abordagens da criminologia do ambiente, e como essas diferentes teorias se inter-relacionam. Além disso, você irá conhecer algumas técnicas de prevenção que passarão a fazer parte do seu repertório de conhecimento para orientar a comunidade a se proteger melhor dos delitos. O presente conteúdo irá complementar os conhecimentos adquiridos no módulo anterior, permitindo que você os use quando for rodar o método IARA para resolver algum problema com a sua comunidade. O conteúdo deste módulo está dividido em 3 aulas: Aula 1 – Vitimização repetida; Aula 2 – Teoria da oportunidade; Aula 3 - Técnicas de prevenção situacional do crime. A partir dos conhecimentos tratados neste módulo, você será capaz de: - Compreender o conceito vitimização repetida e a sua relação com outros padrões nos problemas de segurança pública; - Conceituar a teoria da oportunidade; - Identificar o processo do “triângulo do crime”; - Aplicar o “triângulo do crime” na análise do problema; e - Utilizar as técnicas de prevenção situacional do crime. 93 AULA 1 – VITIMIZAÇÃO REPETIDA Você sabe o que é revitimização ou vitimização repetida? Clarke e Eck (2003) vão explicar a vitimização repetida a partir do conceito do princípio de Pareto. O princípio de Pareto foi criado no século XIX, por um economista italiano chamado Vilfredo Pareto que, ao analisar a sociedade, concluiu que grande parte da riqueza se encontrava nas mãos de um número demasiado reduzido de pessoas. Após concluir que este princípio seria válido para muitas áreas da vida cotidiana, estabeleceu o designado método de análise de Pareto (20-80%), que significa que um pequeno número de causas (geralmente 20%) é responsável pela maioria dos problemas (geralmente 80%). Atualmente o princípio de Pareto serve de base para o Diagrama de Pareto, uma importante ferramenta de controle da qualidade desenvolvida por Joseph M. Juran (regra 80-20) que permite compreender a concentração de crimes em locais e pessoas, podendo ser utilizada como argumento para explicar as vítimas repetidas, agressores repetidos, zonas quentes de criminalidade e locais de risco. Figura 24 – Análise de Pareto (20-80%). Fonte: SCD/EaD/Segen. 94 Resposta: “De acordo com muitas das definições, na repetição da vitimização, ou revitimização, o mesmo tipo de incidente criminal é experienciado pela mesma vítima, - ou virtualmente a mesma – ou alvo, dentro de um período de tempo específico, como um ano por exemplo. A repetição da vitimização refere-se ao número total de ofensas experienciadas por uma vítima, ou alvo, incluindo a inicial e as subsequentes ofensas” (WEISEL, 2005, p. 10). A repetição (ou recidivismo) estaria em conformidade com a regra 80-20, uma vez que uma pequena quantidade de vítimas seria responsável por uma grande proporção de toda a vitimização. Clarke e Eck (2003) citam, por exemplo, os resultados de uma Pesquisa Criminal Britânica onde restou demonstrado que pouco mais de 4% de todas as vítimas sofreram 40% dos crimes relatados no período de um ano, incluindo crimes, como roubos, agressões sexuais e violência doméstica. Os autores citam, ainda, que a agressão acontece rapidamente e, frequentemente, dentro de uma semana a partir da primeira vitimização, embora o tempo varie de acordo com o tipo de ofensa. De acordo com Weisel (2005), a “propensão” de alguns indivíduos, domicílios ou negócios se tornarem vítimas pode estar associada a alguns fatores: • consumo de álcool e droga; • falhas na proteção da propriedade; • isolamento físico; • envolvimento com atividades de risco ou proximidade com o infrator/agressor. A vitimização repetida sofre variação em razão do tempo, do espaço e do tipo de crime. As pesquisas de vitimização, as entrevistas com as vítimas e com os infratores, juntamente com os levantamentos sobre crime, têm sido as fontes primárias para os estudos de vitimização repetida. Comparando os dados do International Victimization Survey, Weisel (2005) observa que a vitimização repetida é mais comum para os crimes violentos, como, por exemplo, na agressão sexual (46%) e ofensas corporais (41%), do que nos crimes contra o patrimônio, como vandalismo em veículos (25%). 95 Uma das principais características da vitimização repetida diz respeito ao tempo entre a primeira agressão e a repetição. A vitimização repetida pode ocorrer no prazo de uma semana ou ainda no prazo de 24 horas, sendo esse período considerado de risco elevado e, por isso mesmo, crucial para a prevenção. Após o período de risco elevado, o risco declina gradativamente até que a vítima esteja na mesma condição de risco que as demais pessoas. Um estudo sobre revitimização para os crimes contra o patrimônio demonstra que 60% das recorrências se deram no prazo de um mês após o incidente inicial. Por essa razão, um dos melhores indicadores para previsão da repetição é o próprio tempo, ou seja, quanto mais próximo da vitimização inicial, maior o risco de nova agressão, o que é determinante para as ações de prevenção. A demora para agir (ou reagir) pode significar perda da oportunidade para uma boa prevenção. Weisel (2005) e Clarke e Eck (2003), afirmam que o período de tempo entre a agressão inicial e a repetição, varia de acordo com o tipo de crime. No caso específico da violência doméstica, 15% da repetição ocorre dentro de um dia. O tempo entre uma ofensa e outra pode ser mensurado na forma de horas, dias, semanas e meses, dependendo de como os dados se apresentam. Além da variação em relação ao tempo, Weisel (2005) aponta o ambiente como uma variável que influencia na repetição. A repetição, afirma e reflete o sucesso da primeira agressão, isto é, em decorrência do primeiro incidente ter sido exitoso, o infrator ganha confiança e acumula aprendizado sobre o alvo ou a vítima, conhecimento que ele utiliza para repetir a agressão. Existem duas razões primárias para a recorrência. A primeira estaria relacionada com o papel do agressor e do aprendizado decorrente da primeira agressão (boost account) e o segundo explica a repetição em termos de atração e vulnerabilidade davítima/alvo (flag account), características que tenderiam a permanecer constantes ao longo do tempo. Observe no Quadro 9 abaixo os vários padrões de vitimização repetida: Verdadeiras Vítimas Repetidas São exatamente os mesmos alvos ou vítimas que foram inicialmente vitimizados no decurso de um ano. 96 Vítimas Próximas São as vítimas ou os alvos que estão fisicamente próximos da vítima original e que podem ser similares a esta em alguns aspetos importantes. Por exemplo, apartamentos próximos de uma unidade residencial assaltada têm tendência a conter bens idênticos, a ter idênticas vulnerabilidades físicas, e uma configuração comum. Eventuais Repetições Referem-se às vítimas repetidas que são, eventualmente, idênticas à vítima original em alguns aspetos importantes. Por exemplo, os novos ocupantes de uma moradia que foi anteriormente alvo de assalto. Vítimas Crónicas São as vítimas repetidas que sofrem de diferentes tipos de vitimização ao longo do tempo, como assaltos, violência doméstica e roubo. Este fenômeno é, também, conhecido como vitimização múltipla. Quadro 9 – Tipos de repetição da vitimização. Fonte: Adaptado de Weisel (2005, p. 18). De acordo com Weisel (2005) e Clarke e Eck (2003), a vitimização repetida pode estar associada com outros padrões de crime que podem se relacionar e até se sobreporem, não sendo mutuamente exclusivos. Para muitos crimes a vitimização repetida será mais comum em áreas com alta concentração de criminalidade, pois, nessas áreas, tanto as pessoas quanto os locais estão sob um risco maior de vitimização. Os padrões de criminalidade listados abaixo podem aparecer associados à vitimização repetida: Zonas quentes de criminalidade (hot spot) São áreas com concentração de crime devido à incidência de crimes do mesmo tipo ou de tipos diferentes. Produtos quentes (hot products) São bens roubados com frequência por causa de sua vulnerabilidade ou atratividade (fáceis de carregar e de vender). 97 Agressores/Infratores repetidos (repeat offenders) Pessoas que cometem muitos crimes. Crimes em série (crime series) Crimes que, em razão do modo, parecem ter sido realizados pelo mesmo infrator. Podem ter concentração espaço-temporal ou um modo peculiar. Locais de risco (risky facilities) Locais que atraem ou geram uma quantidade desproporcional de crimes. Saiba mais ... Em muitos casos, a vitimização repetida será mais comum em áreas de alta concentração de criminalidade, pois, nessas áreas, tanto as pessoas quanto os locais estão sob um risco maior de vitimização. Além disso, essas áreas são reconhecidas pela carência de meios para impedir a recorrência rapidamente, através das medidas de proteção. Nessas áreas, a concentração de vítimas repetidas pode gerar as zonas quentes de criminalidade. Como resultado, os especialistas criaram o termo “ponto quente” (hot dot), para representar os indivíduos e locais (criminoso, vítima ou testemunhas) que possuem relação direta com vários eventos criminosos. Por exemplo, um jornaleiro que diariamente presencia ataques de infratores a motoristas desatentos no semáforo, em frente ao seu ponto de venda, será considerado um “Hot Dot”. 98 AULA 2 – TEORIA DA OPORTUNIDADE Você sabe quais são as principais origens do crime? De um modo geral, a criminologia tem procurado direcionar seus estudos para entender as causas que levam um indivíduo a cometer um crime. Uma série de teorias tem procurado explicar a propensão maior ou menor de indivíduos para o crime em razão de características individuais, psicológicas e sociais. Entender por que e de que maneira alguns ambientes proporcionam maiores oportunidades para o crime, do que outros, tem sido o desafio da criminologia. Clarke e Felson (1998) ressaltam que o comportamento individual é resultado da interação entre o indivíduo e o ambiente. Por isso, asseguram que a oportunidade pode ser considerada a principal causa do crime. Os autores, entretanto, têm preferido utilizar a palavra “abordagem” para se referirem à teoria da oportunidade, uma vez que no sentido estrito da palavra, nenhuma delas pode ser considerada uma teoria. Resposta: Segundo os pesquisadores Cano e Soares (2002) se poderia distinguir as diversas abordagens sobre as causas do crime em cinco grupos: a) teorias que tentam explicar o crime em termos de patologia individual; b) teorias centradas no homo economicus, isto é, no crime como uma atividade racional de maximização do lucro; c) teorias que consideram o crime como subproduto de um sistema social perverso ou deficiente; d) teorias que entendem o crime como uma consequência da perda de controle e da desorganização social na sociedade moderna; e e) correntes que defendem explicações do crime em função de fatores situacionais ou de oportunidades (apud CERQUEIRA; LOBÃO, 2003, p. 4). TEORIA DA OPORTUNIDADE A teoria da oportunidade (crime opportunity theory) considera o elemento “oportunidade” uma das principais causas do delito. Ela afirma que o comportamento do infrator é resultado da interação entre o indivíduo com o ambiente e as oportunidades decorrentes. 99 Apesar da teoria da oportunidade (também conhecida por teoria das atividades rotineiras), ser frequentemente utilizada para estudo das causas do crime, sua aplicação tem sido maior nos crimes contra o patrimônio. Mas, por sua versatilidade, pode ser também utilizada para o entendimento de todos os tipos de crimes, inclusive os crimes contra a pessoa. A teoria das atividades rotineiras (routine activities theory), teve início a partir das explicações utilizadas para os crimes predatórios em um artigo escrito por Cohen e Felson, em 1979. A teoria pode ser resumida considerando que, “para que um crime ocorra deve haver convergência de tempo e espaço em, pelo menos, três elementos: um provável infrator, um alvo adequado, na ausência de um guardião capaz de impedir o crime” (CLARKE; FELSON, 1998, p. 4). Um provável infrator, um alvo adequado e a ausência do guardião são os elementos mínimos necessários para a ocorrência do crime, e a ausência de um deles significa que o crime não ocorrerá. Portanto, é necessário que estejam reunidos não apenas no mesmo local, mas também na mesma hora. Por esse motivo, a abordagem das atividades rotineiras exige mais do que a existência de um infrator, requer um alvo/vítima vulnerável e um ambiente propício, ou seja, um ambiente que forneça as condições ideais para que o crime ocorra. É reconhecido que os requisitos do crime podem ser manejados de modo a reduzir ou prevenir o delito. Resumindo, um crime não ocorrerá se tanto o alvo quanto o local não ofereçam oportunidades para que um delito específico ocorra. O termo “alvo adequado” pode se referir tanto a uma pessoa quanto a um negócio ou um produto. Se o crime é um arrombamento de comércio, então o alvo adequado deve ser um local em que se acredita haver dinheiro ou um produto com valor de revenda. Se o crime é um roubo na rua, então o alvo adequado será uma pessoa que é percebida carregando objetos de valor para o infrator, distraída, desprotegida e, provavelmente, sem condições de reagir, conforme observam Farrell e Pease (2005). As palavras “percebida” e “adequada” são importantes, já que o mesmo alvo pode ser percebido de modos distintos por infratores diferentes. O mesmo 100 alvo pode ser percebido como adequado para um infrator e não ser considerado adequado para outro. A percepção do alvo como adequado ou não, eleva ou reduz o risco. Farrell e Pease (2005) argumentam que um infrator potencial pode ser qualquer um, dependendo das circunstâncias. Para os autores a maioria das pessoas possui um criminoso interior e é capaz de pensar como um ladrão. No trânsito, exemplificam, um atraso pode gerara oportunidade para o motorista correr mais do que o permitido e desobedecer ao semáforo. Sob a influência do álcool e excitação, a maioria das pessoas se torna desordeira e pronta para, ante uma provocação, reagir com violência. De igual forma, pessoas com histórico criminal pregresso mais facilmente aproveitarão quando uma oportunidade surgir, seja um carro destrancado, uma carteira esquecida, etc. Isso, segundo Farrel e Pease (2005), explica a flexibilização dos termos “potencial”, “provável” e “motivado” utilizados para caracterizar o infrator. Da mesma maneira que ocorre com o infrator, o guardião capaz de prevenir o crime é também flexível e pode ser qualquer um, dependendo das circunstâncias. O termo não se refere apenas à ação da polícia. Pode ser um trabalhador cuja janela de frente para a rua lhe permite vê-la ou um vizinho que ouve ou assiste uma cena de violência doméstica, ou seja, guardião pode ser qualquer um que seja capaz de impedir a agressão, seja por intervenção direta, seja chamando a polícia. Lembre-se: Guardião pode ser o vigia de uma escola, o vendedor de uma loja, o motorista de táxi ou de ônibus ou o funcionário de um restaurante. Todos podem prover guarda. Algumas ações podem incrementar a capacidade de guarda, como, por exemplo, melhoria da iluminação da casa e da rua, aparar o jardim da residência ou capinar o mato do lote ao lado, assim como amigos e colegas andando juntos no caminho da escola ou do trabalho. A abordagem das atividades rotineiras, utiliza o Triângulo para Análise de Problema (TAP) que é também conhecido como triângulo do crime para ilustrar a ocorrência do delito. Essa teoria, originalmente formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, declara que um crime predatório ocorre 101 quando um agressor provável e um alvo adequado se encontram no tempo e no espaço, sem a presença de um guardião competente [...]. Ela não faz distinção entre uma vítima humana e um alvo inanimado, porque os dois podem despertar o interesse do infrator. E ela define um guardião capaz em termos tanto de atores humanos quanto de equipamentos de segurança. Essa formulação conduz ao triângulo para análise de problema original com os três lados representando o infrator, o alvo e a localização ou local. A polícia tradicionalmente lida com o crime com foco no infrator, esforçando-se para identificá-lo e prendê-lo. A abordagem das atividades rotineiras requer que se examine uma gama maior de fatores como informações sobre as vítimas e sobre o local. Além disso, Clark e Eck (2003) recomendam que, nos esforços de prevenção, a polícia e a comunidade estejam atentas às partes intervenientes vinculadas a cada um dos lados do triângulo que podem tanto auxiliar quanto atrapalhar nas possíveis respostas ao problema (FIGURA 13): - Para o alvo/vítima, o controle é o guardião, geralmente pessoas protegendo a si mesmas, os seus próprios pertences e os pertences dos membros da família, amigos e colegas de trabalho. Guardiães também incluem a polícia e a segurança privada. - Os infratores, por sua vez, são fortemente influenciados, tanto positivamente quanto negativamente, por pessoas com as quais se importam, como os pais, irmãos, professores, amigos e cônjuges. Esses são denominados controladores. - E um ambiente, em regra, é controlado, vigiado ou administrado por alguém – responsável, como por exemplo, um motorista de ônibus ou um professor na escola, proprietários e gerentes de bares que vendem bebidas alcoólicas, locatários, ou assistentes de voo de aviões comerciais. 102 Figura 25 – Triângulo para análise de problema com as partes intervenientes. Fonte: Adaptado de Peak e Glensor (2008, p. 77) e Clarke e Eck (2003, p. 38). O triângulo para análise de problema com as partes intervenientes, apresenta-se como uma ferramenta de análise que permite visualizar o problema em foco, estudar a relação entre os lados, as características e similaridades buscando descobrir o máximo possível de informações sobre o problema estudado. 10 PRINCÍPIOS DA TEORIA DA OPORTUNIDADE Clarke e Felson (1998) concluíram que a oportunidade causa o crime. A partir dessa premissa, os autores estabeleceram dez princípios acerca da relação do crime com as oportunidades: 1. As oportunidades desempenham um papel nas causas de todos os crimes. - A teoria da oportunidade aplica-se geralmente a delitos contra a propriedade, contudo, os autores concluíram que a oportunidade tem um papel importante a desempenhar em todas as classes de crimes, incluindo a violência. 2. As oportunidades do crime são altamente específicas. 103 - Cada tipo de crime ocorre de maneira distinta. Por exemplo, um roubo a uma farmácia tem características diferentes de um roubo a veículo. 3. As oportunidades para o crime são concentradas no tempo e no espaço. – A incidência criminal varia significativamente considerando o local, a hora do dia e o dia da semana, refletindo as oportunidades para que ele ocorra. Por exemplo, pode ser que em determinados horários do dia, alguns locais sejam mais perigosos do que outros. 4. As oportunidades para o crime dependem da forma como as atividades ocorrem diariamente. – Criminosos e seus alvos podem variar de acordo com os itinerários para o trabalho, escola e atividades de lazer. Furtos a residência, frequentemente ocorrem quando as pessoas estão fora de sua residência, seja viajando ou quando estão no trabalho ou na escola. 5. Um crime produz oportunidade para outro. – Na prática um delito pode conduzir a outro. Por exemplo, um roubo à mão armada a uma joalheria, no caso de resistência por parte das vítimas, pode levar o infrator a efetuar um disparo, ocasionando desde uma lesão corporal até o resultado morte, um latrocínio. 6. Alguns “alvos” são mais tentadores para o crime de acordo com as oportunidades. – O acrônimo VIVA (Valor, Inércia, Visibilidade e Acesso) pode resumir esse princípio, pois a partir dessas variáveis, o infrator pode sentir-se mais ou menos tentado à ação criminal. Um alvo pode ser tanto um objeto quanto uma pessoa, cuja posição no espaço e no tempo indica seu grau de risco de um ataque criminoso. 7. Mudanças sociais e tecnológicas produzem novas oportunidades para o crime. – As novas tecnologias comercializáveis são alvos preferenciais dos infratores, a exemplo de laptops, smartphones, fones de ouvido de última geração, etc. 8. O crime pode ser prevenido pela redução da oportunidade. – Métodos de prevenção reduzem as oportunidades do delito e devem ser estabelecidos para cada situação específica. 104 9. Reduzir a oportunidade nem sempre desloca o crime. – Todas essas maneiras diferentes de reduzir as oportunidades de crime encontraram a mesma objeção, que tudo o que fazem é mover o crime, não evitá-lo. Esta teoria de "deslocamento" vê o crime como sendo alterado de cinco maneiras principais: ▪ o crime pode ser movido de um local para outro (deslocamento geográfico); ▪ o crime pode ser transferido de um momento para outro (deslocamento temporal); ▪ o crime pode ser direcionado de um alvo para outro (deslocamento do alvo) ▪ um método de cometer crime pode ser substituído por outro (tático deslocamento); ▪ um tipo de crime pode ser substituído por outro (deslocamento do tipo de crime). 10. A redução acentuada de oportunidades pode produzir amplos declínios dos índices de crime. – Focar nas medidas de prevenção, a fim de minimizar as oportunidades, produz um declínio considerável dos índices de criminalidade. Você sabia que ... A criminologia ambiental, diferentemente das abordagens tradicionais da criminologia, tem o seu foco de atenção no crime e suas dimensões, e não na figura do criminoso ou as suas motivações? Enquanto as escolas tradicionais de criminologia entendem o delito como um fenômenocausal, fortuito, aleatório, os pesquisadores da criminologia ambiental defendem o delito como um fenômeno seletivo, onde o infrator procura o lugar (ambiente), o momento mais oportuno (oportunidade) e a vítima propícia. Além da abordagem das atividades rotineiras, existem outras teorias formuladas no âmbito da criminologia ambiental: 105 - Teoria da Escolha Racional (Rational Choice Theory): essa teoria pressupõe que determinados fatores conduzem o infrator a tomar uma decisão por cometer ou não um delito. É a escolha racional dos custos (consequências que se está disposto a correr) e o benefício a ser obtido com a prática delituosa. Nas décadas de 60 e 70, os pesquisadores Derek Cornish e Ronald Clarke trabalharam em um projeto de investigação relacionado ao tema. - Teoria do Padrão Criminal (Crime Pattern Theory): associada aos pesquisadores Paul e Patricia Brantingham, a teoria do padrão criminal aponta que os crimes não são cometidos no tempo e no espaço aleatoriamente. As rotinas costumam criar um modelo de deslocamento das pessoas - em um espaço geográfico e em um certo período de tempo -, que poderá ser rastreado por infratores motivados que buscam um determinado alvo ou vítima de acordo com seu objetivo. 106 AULA 3 – TÉCNICAS DE PREVENÇÃO SITUACIONAL DO CRIME Na aula anterior você conheceu um pouco mais sobre a teoria da oportunidade e demais abordagens da criminologia do ambiente, e como essas diferentes teorias se inter-relacionam. A prevenção situacional é uma das várias abordagens que podem ser aplicadas na prevenção do delito e da vitimização repetida e que tem como fundamento as diferentes abordagens da criminologia do ambiente. Podemos conceituar a prevenção situacional como uma: “estratégia de prevenção centrada em ações dirigidas à redução das oportunidades para a prática de crimes e violências na sociedade, através do aumento dos custos, aumento dos benefícios e/ou redução dos benefícios associados à prática de crimes e violências” (BRASIL, 2005, p. 52). O objetivo da prevenção situacional é criar condições de gestão, design e manipulação de ambientes que imponham dificuldades ou desestimulem a prática delitiva. Para tanto, Cornish e Clarke (2003) propuseram cinco categorias principais de medidas situacionais para reduzir os crimes: ▪ As que aumentam o esforço da ofensa; ▪ As que aumentam o risco da ofensa; ▪ As que reduzem a recompensa da ofensa; ▪ As que reduzem as provocações para o delito; ▪ As que removem as desculpas para o delito. Dessas categorias surgiram 25 técnicas de prevenção situacional do crime (Quadro 10), que foram pensadas para fornecer uma análise conceitual de estratégias situacionais e oferecer orientação prática sobre seu uso na redução de oportunidades criminais. A ampliação gradual da missão de prevenção situacional do crime, é um desenvolvimento muito bem-vindo. Mas é valido lembrar, conforme concluem Cornish e Clarke (2003), que como em qualquer outro lugar, as técnicas de 107 controle pressupõem um infrator desmotivado ou despreparado, em quem o desejo de ofender pode ainda ser fraco. Quando aplicadas a infratores motivados em busca de oportunidades, essas técnicas - embora não incitem ainda mais o infrator - podem apenas sugerir a necessidade de mudança de alvos. CATEGORIA TÉCNICAS Aumentar os esforços 1 Dificultar o acesso ao alvo ou vítima - Bloqueios e imobilizadores da coluna de direção - Telas antifurto - Embalagens à prova de violação 2 Controlar o acesso às instalações - Entradas telefônicas - Acesso via cartão eletrônico - Proteção de bagagens 3 Inspecionar as saídas - Exigência de carteirinhas para saídas - Exporte documentos - Etiquetas de mercadorias eletrônicas 4 Desviar a atenção dos infratores - Fechamento de ruas - Banheiros separados para mulheres - Bares dispersos 5 Controlar armas e ferramentas - Armas “inteligentes” - Desativando telefones celulares roubados - Restrinja vendas de tinta spray para jovens Aumentar os riscos 6 Ampliar a vigilância - Tome precauções de rotina: - Saia em grupo à noite, deixe sinais de ocupação e transporte telefone celular - Implante projetos de vigilância entre vizinhos 7 Investir na vigilância natural - Iluminação das ruas melhorada - Projeção de espaço defensivo - Apoie denunciantes (fornecimento de apitos/sirenes) 8 Reduzir o anonimato - Identificação dos taxistas - Decalques “Como estou dirigindo?” - Uniforme escolar 9 Utilizar gestores locais - CCTV (circuito fechado de televisão) para ônibus de dois andares 108 - Dois funcionários para lojas de conveniência - Recompensa da vigilância 10 Fortalecer a vigilância local - Câmeras - Alarme contra ladrões - Guardas de segurança Reduzir as recompensas 11 Ocultar os alvos - Estacionamento fora da rua - Listas telefônicas de gênero-neutro - Caminhões de transporte de metais preciosos não identificados 12 Remover os alvos - Sons de carro removíveis - Refúgio de mulheres - Cartões pré-pagos para pagar telefonemas 13 Identificar os bens - Bens identificados - Veículos licenciados e partes demarcadas - Marcação do gado 14 Interromper os mercados - Monitore casas de penhora - Controle classificados - Licencie vendedores de rua 15 Negar benefícios - Mercadorias com etiquetas de tinta - Limpeza de grafitagem - Lombadas Reduzir as provocações 16 Reduzir frustrações e estresses - Filas eficientes e serviços educados - Expansão de assentos - Músicas relaxantes/luzes suaves 17 Evitar disputas - Separe áreas distintas para torcidas de futebol rivais - Reduza a superlotação em bares - Afixação de preços de passagem de táxi 18 Reduzir a excitação emocional - Controle a pornografia violenta - Promova o bom comportamento nos campos de futebol - Proíba discriminação racial 19 Neutralizar a pressão dos colegas - “Idiotas bebem e dirigem” - “Não faz mal dizer não” - Disperse encrenqueiros na escola 20 Desencoraje imitações - Repare rapidamente os atos de vandalismo 109 - V-chips em TV’s (restrição de conteúdo para crianças e adolescentes) - Censure detalhes do modus operandi Remover as justificativas 21 Definir regras - Acordos de locação - Códigos contra o assédio - Registro nos hotéis 22 Publicar instruções - “Proibido estacionar” - “Propriedade privada” - “Apague focos de incêndio” 23 Alertar as consciências - Placas com limite de velocidade à beira das estradas - Assinaturas em declarações de clientes - Sair sem pagar é roubar 24 Incentivar a obediência - Facilitação do checkout (procedimentos de verificação de saída) em bibliotecas - Sanitários públicos - Latas de lixo 25 Controlar drogas e bebidas alcoólicas - Disponibilização de etilômetros/alcoolímetros em bares - Intervenção dos servidores - Eventos em que não tenham bebidas alcoólicas Quadro 10 – 25 Técnicas de prevenção situacional do crime. Fonte: Adaptado de Cornish e Clarke (2003, p. 90). Para finalizar a nossa aula, vamos praticar um pouco, fazendo um exercício mental sobre problemas reais e comuns na área de segurança pública, aplicando algumas das técnicas de prevenção situacional do crime. Com base no Quadro 10, estabeleça um conjunto de 2 ações que possam contribuir na prevenção dos problemas abaixo apresentados, considerando: ao menos uma técnica de prevenção situacional do crime e diferentes categorias, por ação apresentada: 110 1. Roubo de smartphones de estudantes da escola do anel central da cidade; 1. Roubo de smartphones de estudantes da escola do anel central da cidade Categoria: Técnica: Ação 1: Categoria: Técnica: Ação 2: 1. Roubo de smartphones de estudantes da escola do anel central da cidade Categoria: Aumentar os riscos; Técnica: Ampliar a vigilância; Ação 1: Preferiros deslocamento em grupo, especialmente no período noturno; Categoria: Reduzir as recompensas; Técnica: Ocultar os alvos; Ação 2: Evitar o uso dos smartphones durante os deslocamentos, mantendo-os bem guardados, de modo que não chame a atenção de infratores motivados. 2. Pichação nos prédios comerciais da avenida principal do bairro; 2. Pichação nos prédios comerciais da avenida principal do bairro Categoria: Técnica: Ação 1: Categoria: Técnica: Ação 2: 2. Pichação nos prédios comerciais da avenida principal do bairro 111 Categoria: Reduzir as recompensas; Técnica: Negar benefícios; Ação 1: Utilizar tintas não-adesivas nas fachadas dos comércios para proteger a pintura e desencorajar os pichadores; Categoria: Aumentar os riscos; Técnica: Fortalecer a vigilância local; Ação 2: Empregar câmeras de vigilância de alta definição e sensores de presença com acionamentos de luzes. 3. Arrombamento a veículos no estacionamento de um grande conjunto de apartamentos; 3. Arrombamentos a veículos no estacionamento de um grande conjunto de apartamentos Categoria: Técnica: Ação 1: Categoria: Técnica: Ação 2: 3. Arrombamentos a veículos no estacionamento de um grande conjunto de apartamentos Categoria: Aumentar os esforços; Técnica: Dificultar o acesso ao alvo; Ação 1: Estabelecer controle rígido de acesso a pedestres e veículos ao interior do condomínio; Categoria: Aumentar os riscos; Técnica: Fortalecer a vigilância local; Ação 2: Contratar serviços de vigilância privada, incluindo rondas internas rotineiras. 4. Prostituição no período noturno, na principal via de acesso ao bairro. 112 4. Prostituição no período noturno, na principal via de acesso ao bairro Categoria: Técnica: Ação 1: Categoria: Técnica: Ação 2: 4. Prostituição no período noturno, na principal via de acesso ao bairro Categoria: Aumentar os riscos; Técnica: Investir na vigilância natural; Ação 1: Implementar melhorias de iluminação pública; Categoria: Aumentar os esforços; Técnica: Dificultar o acesso ao alvo; Ação 2: Realizar operações policiais nos horários de maior circulação de veículos na principal via de acesso do bairro, com vistas a identificação e registro de usuários dos serviços de prostituição. 113 Finalizando: Nesse Módulo você viu... O fenômeno da vitimização repetida; A teoria das oportunidades e o triângulo do crime; Prevenção situacional do crime; e Realizou atividades referentes a casos comuns da segurança pública. 114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Justiça. Secretária Nacional de Segurança Pública. Guia para prevenção do crime e da violência. Brasília: SENASP, 2005. Disponível em:<https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca- publica/senasp-1/guiapreven__o2005.pdf>. 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