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RESUMO - DIREITOS HUMANOS CONTEMPORÂNEOS - Cap 1, 2 e 4

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DIREITO CONSTITUCIONAL I
ALUNA: THAYNÁ CARVALHO
RESUMO CAPÍTULOS 1,2 E 4. 
WEIS, Carlos – Direitos Humanos Contemporâneos
O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
DIREITOS HUMANOS: ELEMENTOS DE DEFINIÇÃO
Os direitos humanos se referem a todo e qualquer tratado ou declaração internacional sobre o tema, eles são o conjunto de normas que traduzem os valores e as preocupações relacionados como fundamentais para a existência digna dos seres humanos e da Humanidade. 
A contemporaneidade dos direitos humanos é marcada por sua positivação internacional.
Direitos fundamentais são os direitos humanos reconhecidos como tal pelas autoridades às quais se atribui o poder político de editar normas, são os direitos humanos positivados nas Constituições, nas leis, nos tratados internacionais. 
Os direitos humanos têm em foco a definição e proteção de valores e bens essenciais para que cada ser humano tenha a possibilidade de desenvolver as suas capacidades potenciais. 
A GLOBALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO INTERNO
A proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 1948, representa tanto o ponto de chegada do processo histórico de internacionalização dos direitos humanos como o traço inicial de um sistema jurídico universal destinado a reger as relações entre os Estados e entre estes e as pessoas. 
Deu início a um novo ramo do direito internacional público, o chamado direito internacional dos direitos humanos. 
O direito internacional dos direitos humanos apresenta como objetivo principal a estipulação e materialização dos direitos inerentes à dignidade humana, de modo que os Estados passam imediatamente ao pólo passivo da relação jurídica que tem no ser humano o detentor dos direitos positivados. Com essas normas lhes criam o dever de respeitar e assegurar os direitos humanos de seus habitantes, passam a condição de obrigados. 
O direito internacional dos direitos humanos recupera, em uma ordem jurídica globalizada, o significado que tiveram, em seu tempo, o Constitucionalismo e as Declarações de Direitos do século XVIII e XIX.
A criação de um sistema positivado não implica o abandono da raiz jusnaturalista dos direitos humanos. Eles não surgem da vontade dos Estados, mas são por estes positivados possibilitando que sejam reconhecidos como fontes formais que possam ser deduzidos em juízo ou perante organismo internacionais. 
A criação de um corpo normativo internacional de proteção e promoção dos direitos humanos identifica-se com os objetivos do Constitucionalismo liberal, ambos tem em vista proteger a pessoa contra a exacerbação do poder estatal. 
Se a doutrina da soberania nacional absoluta pouco vale diante da internacionalização do capital, do fluxo de mercadorias e da alocação dos meios de produção, é igualmente válido que se proponha a universalização dos direitos e garantias elementares dos seres humanos, criando um sistema normativo que se sobreponha às fronteiras estatais e impeça o aviltamento da condição de vida e trabalho da grande maioria da população do planeta. 
O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E SUA INCORPORAÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Esta constituição incorporou ao Direito Brasileiro as normas decorrentes dos tratados internacionais de direitos humanos ratificados pela República Federativa do Brasil. 
Tal novidade instaurou uma norma da chamada “Lei maior” de um estado preveja e permita que comandos advindos de textos legais internacionais a ela se incorporem, passando a fazer parte do direito interno, de modo a romper a soberania nacional absoluta dos Estados Nacionais. 
A hierarquia constitucional das normas de tratados internacionais
Artigo 5◦, parágrafo 2◦, que reza: “Os direitos e garantias, expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
A Carta Política nacional seguia uma tendência difundida mundialmente por diversas Constituições. 
Primeira posição: hierarquia equivalente à de lei federal
Advinda do debate nascido em face do direito internacional público, defendendo por equipará-las às leis ordinárias. 
“É pacífico no Direito Brasileiro que as normas internacionais convencionais têm força e hierarquia de lei ordinária. Em consequência, se o Brasil incorporar tratado que institua direitos ‘fundamentais’, estes não terão força senão de lei ordinária” 
Compreende a supremacia das normas constitucionais em relação aos tratados e atos internacionais. 
Se os tratados internacionais de direitos humanos tivessem hierarquia constitucional, seu procedimento de incorporação ao direito interno deveria ser congruente com aquele previsto para a aprovação de emenda constitucional. Enquanto o art. 60, parágrafo 2◦, da CF prevê que a proposta de emenda constitucional “será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos...”, sua inclusão na ordem jurídica interna se dava pela simples ratificação pelo Congresso Nacional do ato de adesão do tratado. Bastando para sua aprovação maioria simples dos parlamentares, seguido de decreto presidencial. 
Por fim, dizia-se que a incorporação do tratado internacional como norma constitucional poderia levar à violação do art. 60, uma vez que o tratado internacional perderia sua vigência pela mera denúncia, consubstanciada em simples ato do Presidente, ao passo que as normas constitucionais de direitos humanos são tidas como cláusulas pétreas. 
Tal incongruência levaria à conclusão de que as normas internacionais não poderiam ter hierarquia constitucional. 
Segunda posição: hierarquia de norma constitucional formal
Os argumentos dessa corrente igualmente baseavam-se na interpretação sistemática da Constituição, mas a ela incorporavam elementos ligados à natureza jurídica das normas de direitos humanos e de desenvolvimento do direito internacional dos direitos humanos. 
A obra de John Locke, que contribuiu decisivamente, para a consolidação de tal pensamento: “O poder do Legislativo, em seus limites extremos, restringe-se ao bem público da sociedade. É poder que não tem outro objetivo senão a preservação, e, portanto, não poderá ter nunca o poder de destruir, escravizar ou propositalmente empobrecer os súditos”. 
As finalidades mais importantes da Constituição consistem na proteção e promoção da dignidade humana. Aí que a doutrina constitucional entende as normas de direitos humanos como materialmente constitucionais. 
São esses princípios de regência, superiores à ordem jurídico-positiva mesmo quando não estejam formulados em normas constitucionais expressas. De seu pensamento decorre que a função do Estado, de proteger e promover dignidade humana, indica a impossibilidade de lhes conferir hierarquia infraconstitucional mesmo quando provenham de tratados internacionais.
No art. 5◦, parágrafo 2, da CF, reconhece-se como fontes dos direitos humanos os princípios constitucionais e os tratados internacionais. Esses mesmo que não integrassem a CF, materialmente deveriam ser tratados como de hierarquia superior às leis ordinárias. 
O conteúdo dos direitos fundamentais é decisivamente constitutivo das estruturas básicas do Estado e da Sociedade. 
A introdução desta “cláusula aberta” na CF de 1988 indicava que para os direitos humanos também os tratados internacionais ratificados pelo País constituíam fonte de direitos subjetivos de natureza constitucional, surgindo a necessidade de harmonizar esta nova realidade com as demais normas. 
Antes da solução que se tentou chegar era possível vislumbrar uma terceira linha interpretativa. 
Terceira posição: hierarquia de norma constitucional material
Tal linha de pensamento busca superar o empecilho formal daquela ao pleno reconhecimento dos direitos humanos internacionais como parte integrante da Constituição. 
Os parágrafos primeiro e segundo do artigo quinto possuem uma relação para esclarecerque o fato de a constituição prever a aplicabilidade imediata das normas de direitos humanos não suprime a necessidade de sua expressa ratificação. 
O artigo que confere ao STF poder de decidir sobre a constitucionalidade de tratado internacional não deve ser aplicado aos direitos humanos, os quais têm privilégio hierárquico. 
Os demais tratados internacionais têm força hierárquica infraconstitucional, os direitos enunciados em tratados internacionais de proteção dos direitos humanos detêm natureza de norma constitucional. 
Tal posição de supremacia dos direitos humanos é plenamente amparada pela atual Constituição. 
Emenda Constitucional 45: reconhece que as normas do direito internacional dos direitos humanos podem não ser entendidas como formalmente constitucionais embora guardem forte materialidade constitucional. 
Processo de elaboração dos tratados: Se inicia pela confecção de uma declaração ou resolução do órgão superior de alguma organização internacional a pedido de vários Estados-Membros. 
- Inicia-se o processo de elaboração de um tratado internacional, em que os princípios enunciados vão converter em normas vinculantes sendo convocadas diversas reuniões para debater o tema. 
- Uma vez aprovado, o tratado tem sua entrada em vigor condicionada à ratificação de certo universo de Países. 
- Sua incorporação passa pelo crivo dos dois Poderes que representam a vontade popular, o Executivo e o Legislativo. 
A posição do STF
A corte primeiramente firmou posição pela prevalência da norma interna, tendo alterado sua posição para reconhecer que o Pacto de San José se sobrepõe à legislação ordinária pátria. (Exemplo Habeas Corpus).
A esses diplomas internacionais sobre o direitos humanos é reservado lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da Constituição porém acima da legislação interna. 
O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante. 
Trata-se da coexistência de dois sistemas normativos paralelos, ambos vigentes no País, mas que têm mecanismos próprios e estanques de criação, modificação ou extinção de suas previsões, afastando os problemas que surgem quando se pretende a fusão de ambos. 
CLASSIFICAÇÃO E CONTEÚDO DOS DIREITOS HUMANOS
A classificação mais usualmente encontrada é a que identifica três categorias de direitos humanos, com características decorrentes dos valores que inspiraram sua criação. 
Primeira geração: surgiu com as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVII, fruto do liberalismo e de sua formulação pelo Iluminismo. 
- Direitos humanos de inspiração liberal são aqueles essencialmente de autonomia e de defesa.
- Têm o caráter de normas de distribuição de competências entre o Estado e o indivíduo, com nítida ampliação do domínio da liberdade individual. 
- Denominados direitos individuais. 
Segunda geração: Surge em decorrência da deplorável situação da população pobre das cidades industrializadas da Europa Ocidental, constituída sobretudo por trabalhadores expulsos do campo ou atraídos por ofertas de trabalho nos grandes centros. 
- Resposta ao tratamento oferecido pelo capitalismo industrial.
- Floresce diversas doutrinas de cunho social, defendendo a intervenção estatal. 
- Diferente da primeira geração, essa propõe o alargamento da competência estatal, requerendo a intervenção do Poder Público para reparar as condições materiais de existência da população. 
- Constitucionalismo Social
- Constituição Francesa (1848), Mexicana (1917) e Alemã (1919). 
Terceira Geração: corresponde a direitos concernentes a toda a Humanidade, como superação do mundo cindido entre Estados desenvolvidos e subdesenvolvidos. 
- Podem ser elencados os direitos ao meio ambiente sadio, à paz, ao desenvolvimento, à livre determinação dos povos – entre outros. 
Quarta Geração: Decorrentes do desenvolvimento da globalização política.
- São direitos da quarta geração o direito à democracia, à informação e ao pluralismo. 
Tais gerações não são nada além de uma tentativa de tornar mais palatável a noção da historicidade dos direitos humanos. 
Os direitos fundamentais passaram na ordem institucional a manifestar-se em três gerações sucessivas, que traduzem sem dúvida um processo cumulativo e qualitativo. 
A classificação conforme o direito internacional: os direitos humanos civis e políticos, os econômicos, sociais e culturais e os direitos globais.
Direitos civis: direitos de liberdade que têm por objeto a expansão da personalidade sem interferência do Estado ou de terceiros. Tem como objeto a proteção dos atributos que caracterizam a personalidade moral e física do indivíduo. (Liberdades-autonomia)
Direitos políticos: exercidos frente ao ou no Estado, como poderes da pessoa de tomar parte na vida política e na direção dos assuntos políticos de seu País. (Liberdades-participação)
Direitos econômicos: baseado no poder estatal de regular o mercado, em vista do interesse público. 
Direitos sociais: forma de tutela pessoal, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos.
Direitos culturais: se relacionam aos elementos portadores de referências à identidade, à ação e à memória da sociedade brasileira, em suas várias expressões, compostos por bens físicos e espirituais. 
A redação dos pactos internacionais de 1966 e a questão das “normas programáticas”
No caso dos direitos civis e políticos, o pacto põe como regra seu exercício imediato, aparecendo como exceção aqueles que dependam da medida legislativa para tanto. 
Os direitos no pacto previstos são de exercício progressivo, a depender do esforço interno e mesmo da “assistência e cooperação internacionais”. 
É facultado aos países em desenvolvimento não garantir aos estrangeiros os mesmos direitos econômicos, sociais e culturais. 
Normas progmáticas: implantação progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais. 
As normas que comportam os direitos sociais, econômicos e culturais são frequentemente tidas pelos diversos aplicadores do Direito como progmáticas, como um ideal constitucionalizado, ou como normas que só poderão se aplicadas se houver integração legislativas infraconstitucionais. 
A constituição Federal de 1988 trouxe importantes parâmetros para que se possa compreender melhor o tema da eficácia de suas normas. 
Primeira regra(art. 5, parágrafo 1): As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. 
As normas que definem os direitos econômicos, sociais e culturais devem ser interpretadas no sentido de se lhes garantir aplicação imediata, gerando direitos para seus titulares. 
Vigência e eficácia das dimensões de direitos humanos
Visto que as normas definidoras de direitos humanos têm plena efetividade constitucional, passa o debate a girar em torno da validade formal (vigência) e da validade fática (eficácia) da norma. 
Para que haja vigência: é necessário a sua elaboração por um órgão competente formal e materialmente e que tenham sido seguidas as prescrições legais concernente ao processo de sua produção. 
Para que haja eficácia: mais complicado, possibilidade de a norma poder ser obedecida e não aplicada pelos tribunais ou, se desobedecida pelos indivíduos a ela subordinados, ser aplicada pelos órgãos jurídicos. 
É possível afirmar que os direitos civis e políticos extraem sua validade fática pelo simples ato de ser positivados, sendo eficazes diante da simples omissão estatal. 
A eficácia das normas de direitos sociais, de outra forma, depende da ação estatal, geralmente complexa e que requer ações coordenadas, dando-se forma progressiva e limitada pelas possibilidades materiais. 
Vê-se que a própria estruturação do Estado brasileiro para o fim de “erradicar a pobreza e marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” decorre da obrigatoriedade das normas de direitos econômicos, sociais e culturais, que vinculamas políticas publicas, não podendo pensar atualmente, que tal se dá como simples liberalidade do governo. 
Os novos direitos carregam consigo demandas daqueles que não têm seus direitos reconhecidos ou viabilizados. 
No sistema internacional igualmente caminha-se para a superação da noção de que esta dimensão de direitos tem características de implementação gradual. As nações unidas têm elaborado sucessivos estudos e pareceres no sentido de dar maior concretude às obrigações internacionais assumidas pelos Estados.
O esforço em garantir a justiciabilidade dos direitos sociais também se tem dirigido a dar maior precisão e clareza aos textos internacionais dos quais se originam.
Há casos em que direitos econômicos, sociais e culturais são fruíveis imediatamente, enquanto há alguns direitos civis e políticos que não o são. Por exemplo: Direito à livre escolha profissional e o direito a fundar sindicato ou a filiar-se ao de sua escolha. Mais além, há direitos humanos liberais eu requerem medidas do Poder Executivo para que se realizem.
Traços distintivos das dimensões de direitos humanos e sua complementaridade 
Os direitos civis e políticos só podem ter justificação se os relacionados à comunidade forem também promovidos e protegidos. 
O direito internacional dos direitos humanos tem como preocupação atual garantir a implementação dos direitos previstos.
Negar caráter jurídico aos direitos econômicos, sociais e culturais significa retirar a eficácia dos outros, se ou quando seu exercício pleno depender do acesso aos meios de vida adequados. 
A preocupação com a implementação dos direitos humanos tem mostrado que os avanços legislativos só podem ser alcançados se houver ênfase quanto ao conjunto de pessoas necessitadas de proteção. 
Parece claro que a evolução da matéria tem caminhado no sentido de fundir os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais, com a criação de novos direitos voltados a situações ou grupos sociais específicos, ditos “vulneráveis”. 
A complementariedade passa a redefinir o conteúdo dos direitos humanos e os mecanismos de sua implementação. 
A liberdade é dependente da existência de condições de vida digna a todas as pessoas. 
Contemporaneamente os direitos humanos têm unidade conceitual e visam, em última análise, a proteger integralmente a dignidade do ser humano. O que ocorre é a existência de dois tipos de medidas que podem ser demandadas do Estado para garantir a eficácia dos direitos humanos. 
Os direitos humanos “globais” e sua especificidade
Vem se construindo uma nova classe de direitos humanos recentemente, chamada de “direitos globais”, que ainda carecem de tratamento uniforme. 
Esses direitos objetivam proteger os interesses que transcendem a órbita individual, o que os torna distintos dos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais. 
Sua preocupação é a de garantir a existencialidade concreta do gênero humano, ameaçado mesmo de perecimento ou grande sofrimento caso não se adotem medidas que recuperem o padrão de vida não apenas deste ou daquele indivíduo ou grupo, mas de toda a Humanidade. 
Surgiu da ameaça à sobrevivência de toda a espécie pelo desenvolvimento tecnológico. 
Direito ao meio ambiente sadio, à paz, ao desenvolvimento sustentável, à livre determinação dos povos, ao patrimônio da humanidade. 
Um ponto dificultoso é a identificação do titular das obrigações derivadas de tais direitos.
Os direitos humanos globais são marcados pela constante inovação, acompanhando os extraordinários avanços tecnológicos, como a Declaração Universal do Genoma Humano e dos Direitos Humanos e a clonagem de seres. 
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS
INERÊNCIA	
A noção de que os direitos humanos são inerentes a cada pessoa, pelo simples fato de existir como ser humano, decorre do fundamento jusnaturalista de base racional adotado pelo direito internacional dos direitos humanos. 
“a dignidade inerente a todos os membros da família humana e seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”.
O reconhecimento da inerência é premissa racional para a construção da noção de direitos humanos, porque a existência do ser humano livre, anterior à criação do Estado, permite a limitação da ação deste ou seu direcionamento para a criação de condições favoráveis à vida em sociedade.
O reconhecimento do caráter inerente dos direitos humanos exerce mais outra função: a de propiciar constante alteração do sistema normativo dos direitos humanos, sempre que se renovar a “dignidade inerente a todos os membros da família”. 
Estabelece um equilíbrio dinâmico entre direito natural e direito positivo. 
Consequência direta é a noção de Estado de Direito, centrada na ideia de que o respeito as normas preestabelecidas é uma garantia do ser humano contra o Estado. 
Sendo inerentes aos seres humanos, esses direitos se apresentam em constante mutação, acompanhando e interferindo na evolução social.
UNIVERSALIDADE
A concepção universal dos direitos humanos decorre da ideia de inerência, a significar que estes direitos pertencem a todos os membros da espécie humana, sem qualquer distinção fundada em atributos inerentes aos seres humanos ou na posição social que ocupem. 
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e, dotados que são de razão e consciência, devem comportar-se fraternalmente uns com os outros”. 
Direitos decorrentes da natureza imutável do ser humano.
A partir das revoluções do século XVIII, as declarações de direitos entraram em voga, ganhando grande difusão mundial e, com isso, gerando uma ideia de universalidade. 
A internacionalização dos direitos humanos a partir de 194 trouxe significado às questões de direitos humanos que já não se encontravam mais restritas à órbita interna dos Estados, surge o direito internacional público, no sentindo de reconhecer um bem comum internacional, tendo nos direitos humanos um dos fundamentos para a paz. Os seres humanos passam a figurar como sujeitos de direitos no plano internacional. 
A preocupação com o Relativismo surge como efeito colateral da globalização ocasionada pela extraordinária velocidade da circulação de informações e o decorrente choque de culturas e valores distintos. 
“A Declaração Universal dos Direitos Humanos enuncia uma concepção comum a todos os povos dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana e declara obrigatória para toda a comunidade internacional”. 
Isso se deve ao fato de almejar a garantia efetiva, e para todas as pessoas, de um nível condizente de vida com aquele princípio moral universal. 
INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA 
“13. Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais torna-se impossível”. 
“Todos direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados”.
A indivisibilidade está ligada ao objetivo maior do sistema internacional de direitos humanos, a promoção e garantia da dignidade do ser humano. Ao se afirmar que os direitos humanos são indivisíveis, se está a dizer que não existe meio termo: só há vida verdadeiramente digna se todos os direitos previstos no direito internacional dos direitos humanos estiverem sendo respeitados, sejam civis e políticos, sejam econômicos, sociais e culturais. 
A interdependência diz respeito aos direitos humanos considerando em espécie, ao se entender que um certo direito não alcança a eficácia plena sem a realização simultânea de alguns ou de outros direitos humanos. E essa característica não distingue direitos civis e políticos ou econômicos, sociais e culturais, pois a realização de um direito específico pode depender (como geralmente ocorre) do respeito e promoção de diversos outros, independentemente de sua classificação.
Mais recentemente a noção de interdependência foi enriquecida com o advento dos direitos humanos voltados à proteção de bensde interesse de toda a Humanidade, como o desenvolvimento sustentado, ao meio ambiente sadio, ao patrimônio genético, à paz, que visam criar as condições de vida necessárias ao respeito dos demais direitos humanos. 
TRANSNACIONALIDADE
“Os direitos fundamentais da pessoa humana são reconhecidos e protegidos em todos os Estados, embora existam algumas variações quanto à enumeração desses direitos, bem como quanto à forma de protegê-los. Esses direitos não dependem da nacionalidade ou cidadania, sendo assegurados a qualquer pessoa”. 
A característica da transnacionalidade dos direitos humanos também tem como finalidade a proteção do ser humano quando se lhe recusam uma nacionalidade e a proteção estatal dela decorrente.
Teve origem no surgimento de grandes contingentes populacionais desvinculados da figura do Estado-Nação, decorrentes da erosão dos grandes impérios europeus ocorrida no final da I Guerra Mundial. Surgiu então, nesse contexto, o apátrida, figura que vagava pela Europa sem rumo e sem direitos. Surgiu assim os primeiros tratados para tutelar os “não-cidadãos”, visando a lhes conferir mecanismos de proteção, como embrião do moderno direito internacional dos refugiados. 
Se à pessoa não forem garantidos os direitos fundamentais, tem a ordem internacional o dever de intervir, em face do caráter transcendental dos direitos humanos.

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