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MICROBIOLOGIA Olá! Podemos conceituar a Microbiologia como a ciência que estuda os eucariontes considerados inferiores (no ponto de vista evolutivo) e os procariontes. Sendo assim, os principais objetos de estudo dessa área são bactérias e arqueas (procariontes); algas, protozoários e fungos (eucariontes inferiores); vírus, viroides, virusoides e príons. Nesta aula, iremos abordar sobre as origens da microbiologia e como se deu o interesse por estudar tais seres. Além disso, iremos compreender como os microrganismos podem ser classificados. Bons estudos! AULA 1 – INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA 1 INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA No sentido etimológico, o termo Microbiologia veio de três palavras gregas: mikros (pequeno), bios (vida) e logos (estudo), isso evidencia que a ciência é responsável por estudar os organismos microscópicos e suas funções biológicas, ou seja, examinam suas estruturas, formas, características fisiológicas e bioquímicas, reprodução e seu relacionamento com o ambiente ou com o hospedeiro (tanto maléfico quanto benéfico). Quase todos os organismos estudados são unicelulares, isto é, são formados por uma única célula que realiza todas as atividades vitais. A célula sempre será uma unidade básica da vida, não importa a complexidade do organismo em questão, formada, basicamente, por: ➢ Citoplasma: Um complexo orgânico coloidal composto por lipídios, proteínas e ácidos nucléicos. ➢ Membrana plasmática: Uma estrutura formada por uma bicamada fosfolipídica que delimita as células vivas, controla a entrada de solutos e separa o citoplasma do meio extracelular. ➢ Núcleo: A região onde fica armazenado o material genético do organismo. Vale ressaltar que os organismos procariontes possuem núcleo, porém, ao contrário dos eucariontes, não é delimitado por uma membrana denominada carioteca (CARVALHO, 2010). Sob um ponto de vista mais abrangente, todos os sistemas biológicos possuem características em comum, sendo elas: ➢ Capacidade de se reproduzir; ➢ Habilidade de ingerir ou assimilar alimentos ou nutrientes, com o intuito de crescer e obter energia; ➢ Capacidade de excretar produtos tóxicos; ➢ Habilidade de adaptação ou até de gerar respostas para as alterações ambientais; ➢ Ser suscetível a mutações (CARVALHO, 2010). Todos os microrganismos possuem sistemas peculiares para serem estudados, levando em conta as atividades genéticas, fisiológicas e bioquímicas, essenciais para a manutenção da vida. A maioria desses organismos conseguem crescer e se reproduzir rapidamente, como é o caso de algumas espécies bacterianas capazes de fazer 100 gerações em cerca de 24 horas. As atividades metabólicas dos microrganismos são semelhantes às dos animais e dos vegetais superiores. A título de exemplo, podemos citar as leveduras, que usam a glicose visando obter energia, de modo similar às células dos mamíferos, demonstrando que o sistema enzimático também se encontra em tais organismos. A Microbiologia possibilita o estudo detalhado desses seres vivos, acompanhando suas atividades vitais durante a reprodução, o crescimento, o envelhecimento e a morte. Dependendo das mudanças no ambiente que vivem, tais atividades podem ser alteradas, mudando a forma de crescimento e o padrão genético sem causar prejuízos letais à célula. Dentre os grupos microbianos mais relevantes, temos os fungos, os protozoários, as bactérias, as algas e os vírus, que também possuem alguns aspectos semelhantes a uma célula viva. 1.1 A Evolução da Microbiologia No século XIII, o frade Robert Bacon (1220 – 1292) sugeriu que a doença era gerada por organismos invisíveis, uma afirmação que foi reforçada e defendida pelos médicos Girolamo Fracastora (1478 – 1553) e Von Plenciz (1705 – 1786), no entanto, nenhum dos dois tinha provas contundentes. No ano de 1665, o cientista Robert Hooke (1635 – 1703) foi capaz de observar e descrever as células em um pedaço de cortiça, o que deixou subentendido que as plantas e os animais possuíam partes elementares em comum, por mais complexos que fossem (ACTOR, 2007). O consenso é que o cientista holandês Anthony van Leeuwenhok (1632 – 1723) foi o primeiro a conseguir observar protozoários e bactérias, descrevendo-os, em seus relatos, como pequenos “animáculos”. O termo bactéria foi usado, pela primeira vez, pelo zoólogo alemão Christian Ehrenberg (1785 – 1876), por meio do termo “bacterium”, que significava “pequeno bastão”. 1.2 Biogênese e Geração Espontânea O interesse científico se direcionou aos microrganismos após sua descoberta, estimulando a procura pela origem dos seres vivos. Entre os anos 384 e 322 a.C., Aristóteles entendia que os animais conseguiam nascer, de forma espontânea, das plantas, do solo ou de outros animais, uma ideia que continuou vigorando até o século XVII. A base para tal teoria era que as larvas poderiam ser encontradas durante a decomposição da carne, no entanto, o pesquisador Francesco Redi (1626 – 1697) questionava essa informação. Isso o fez iniciar um estudo que consistia em colocar a carne em três potes: um aberto, outro fechado e outro coberto com gaze. As moscas atraídas pelo cheiro da carne colocaram seus ovos nela ou na cobertura de gaze, o que levou ao surgimento das larvas, no entanto, não surgiu nenhuma larva no pote fechado (imagem 1). Imagem 1 – Experimento com carne de Francesco Redi Fonte: https://iplogger.com/22utn6 O fisiologista italiano Lazzaro Sapallanzani (1729 – 1799), ferveu um caldo por uma hora e fechou o frasco. Logo após, nenhum microrganismo apareceu, no entanto, os resultados não convenceram, mesmo comprovando os achados anteriores de Redi. Alguns anos depois, dois outros pesquisadores conseguiram comprovar os experimentos. O químico alemão Franz Schulze (1815 – 1873), conseguiu enquanto aerava infusões fervidas, possibilitando que o ar atravesse soluções ácidas. Por sua vez, o médico alemão Theodor Schwann (1810 – 1882) forçava o ar através de tubos aquecidos. Em nenhum dos casos houve o surgimento de microrganismos, no entanto, os defensores da geração espontânea não foram convencidos e argumentaram que tanto o calor quanto o ácido impediam o crescimento dos microrganismos. Outra comprovação vei com o cientista francês Louis Pasteur (1822 – 1895), através de um experimento em um frasco pescoço de cisne com soluções nutritivas. Tais soluções foram fervidas no frasco, permitindo que o ar não filtrado e não tratado poderia passar para fora ou para dentro. No entanto, os micróbios ficaram no pescoço do frasco e não na solução (ACTOR, 2007). Imagem 2 – Experimento de Louis Pasteur Fonte: https://iplogger.com/2SwKE4 Por fim, o físico britânico John Tyndall (1820 – 1893) conduziu uma experiência para comprovar que a poeira tinha microrganismos. Caso o local seja estéril e não entre poeira soprada pelo vento, o caldo estéril não terá crescimento microbiano por período indeterminado. 1.3 Os microrganismos e sua posição no mundo No ano de 1866, Ernest Heinrich Haeckel (1834 – 1919), um importante zoólogo alemão, sugeriu enquadrar os microrganismos em um reino particular, semelhante ao animal e vegetal, denominado reino Protista, que seria formado somente por seres unicelulares, ou seja, essa classificação iria englobar as algas, bactérias, protozoários e fungos. Com a evolução da microscopia óptica, foi possível analisar mais detalhadamente as estruturas dos microrganismos, o que originou a divisão em eucariontes e procariontes, com base na diferença da configuração celular. Os procariontes englobam as bactérias e as algas azuis, também conhecidas como cianofíceas, enquanto os eucariontes englobam fungos, protozoários e demais algas, além dosvegetais e animais. Em 1969, o biólogo Robert Whittaker elaborou outro sistema de classificação formado por cinco reinos, que era embasado na forma que o organismo se alimenta e obtém seus nutrientes. Isso separou os microrganismos em três dos cinco reinos, os protozoários e algas microscópicas se mantiveram no reino Protista, as bactérias e cianobactérias foram transferidas para o reino Monera e os bolores e as leveduras foram enquadradas no reino Fungi (ACTOR, 2007). Na época, prevalecia a ideia de que os procariontes eram ancestrais dos eucariontes superiores, por causa de sua simplicidade estrutural. No entanto, os estudos de Carl Woese et al. (1976) demonstraram que as vias evolutivas dos eucariontes e procariontes aconteceram de formas diferentes, mesmo tendo um ancestral comum. O estudo consistia em comparar o arranjo nucleotídico do RNA ribossômico de diversos organismos, caso as diferenças sejam muito evidentes, a relação entre eles seria muito distante. Dentre os seres procariontes, foi encontrado um terceiro tipo de sequência que difere dos anteriores. 1.4 Teoria microbiana da doença Como já citado anteriormente, Von Plenciz sugeriu que determinados seres vivos seriam a causa de algumas doenças, que diferiam conforme o causador. O médico Oliver Holmes (1809 – 1894) também defendia essa tese afirmando que a febre puerperal era contagiosa, sendo causada por um germe transmitido de uma mulher para outra através dos médicos ou das parteiras. Com base nisso, o médico húngaro Ignaz Semmelweis (1818 – 1865) começou a utilizar antissépticos nas atividades obstétricas. Em outro contexto, Louis Pasteur começou a estudar alguns métodos empregados na produção de cervejas e vinhos, constatando que a fermentação microbiana de grãos e frutas gerava álcool. Com isso, Pasteur recomendou que os microrganismos indesejados fossem eliminados por meio do calor, que deveria ser intenso suficiente para tornar o micróbio inofensivo sem afetar o sabor da fruta. Desse modo, os sucos começaram a ser aquecidos entre 62 e 63 °C no período de uma hora e meia para conseguir o resultado pretendido. O procedimento passou a ser chamado de pasteurização em homenagem ao cientista, se tornando o método mais usado na fabricação de derivados de leite e alimentos fermentados, um fato que se mantém atualmente. Partindo para outras práticas, o médico alemão Robert Koch (1843 – 1910) começou a estudar o carbúnculo hemático, uma enfermidade que acometia o gado caprino, bovino e poderia ser passada para o ser humano. Ele detectou, no sangue dos animais afetados, bacilos típicos que tinham as extremidades cortadas em ângulos retos, tais microrganismos foram inoculados em meios de cultura para serem observados na microscopia. Ele observou que somente uma espécie tinha crescido e, com isso, pegou essa cepa e injetou em alguns animais para constatar se ficavam doentes e manifestavam alguns sintomas do carbúnculo. Desse modo, Koch conseguiu isolar os mesmos microrganismos que tinha isolado no laboratório, comprovando, pela primeira vez, que as bactérias também causavam doenças em animais. Com base nesse experimento, algumas hipóteses de Koch ficaram estabelecidas, entre elas: ➢ Um determinado microrganismo pode sempre estar associado uma doença específica; ➢ O microrganismo pode ser cultivado e isolado artificialmente em um laboratório, gerando uma cultura pura; ➢ A cultura pura irá gerar a doença esperada quando inoculada em um animal; ➢ Podemos recuperar a mesma cultura dos animais infectados no experimento. 1.5 Características dos microrganismos As diferentes áreas da Biologia sempre procuram caracterizar os organismos vivos que estuda. Quando comparadas, as características podem gerar um novo sistema de classificação de espécies similares. Uma cultura que contém apenas uma espécie de microrganismo é chamada de cultura pura ou cultura axênica, não importa o número de organismos gerados. Caso a cultura tenha duas ou mais espécies, algo muito comum em ambiente natural, ela é chamada de cultura mista. As características de um microrganismo devem ser agrupadas, com detalhes, nos seguintes tópicos: ➢ Características culturais: incluem suas demandas atmosféricas, nutricionais e ambientais; ➢ Características morfológicas: dizem respeito ao aspecto das colônias e de suas células; ➢ Características metabólicas: consiste na detecção das reações químicas ou bioquímicas essenciais para sua sobrevivência; ➢ Características antigênicas: componentes celulares que possuem similaridades com outras espécies; ➢ Características genéticas: engloba a composição do material genético. Nos tópicos seguintes, iremos descrever brevemente sobre alguns dos principais microrganismos estudados na Microbiologia. 1.5.1 Protozoários Consistem em microrganismos unicelulares com células eucariontes. Possuem algumas semelhanças com os animais, uma vez que não têm parede celular ou clorofila e ingerem partículas de alimentos. Sua movimentação acontece por meio de flagelos, cílios ou pseudópodes. Estão muito presentes na natureza, em especial nos ambientes aquáticos, alguns também são prejudiciais ao ser humano, como no caso das giárdias (Giardia lamblia) e das amebas (diversos exemplares, sendo a Entamoeba histolytica a mais famosa) (CARVALHO, 2010). 1.5.2 Algas Possuem algumas similaridades com as plantas devido à presença de clorofila e da parede celular em suas células, além de também conseguirem realizar fotossíntese. São seres eucariontes, com espécies multi e unicelulares, algumas são prejudiciais ao ser humano pela capacidade de obstruir caixas d’água, de sintetizar toxinas ou se multiplicarem em piscinas. Por outro lado, algumas espécies são empregadas nas indústrias farmacêutica, alimentícia e cosmética, além de possuírem alguns compostos que podem ser usados nos laboratórios, como o ágar, empregado na cultura bacteriana (CARVALHO, 2010). 1.5.3 Fungos Também possui exemplares multi e unicelulares. São seres eucariontes com uma parede celular bem rígida. Em relação à nutrição, os fungos não conseguem ingerir alimentos, sua obtenção de nutrientes se restringe à absorção de nutrientes presentes no ambiente (CARVALHO, 2010). 1.5.4 Bactérias São seres procariontes, uma vez que não possuem a carioteca (membrana nuclear), nem outras organelas celulares presentes nos eucariontes, como o complexo de Golgi e os retículos endoplasmáticos. As bactérias podem ser autotróficas (produzem o próprio alimento) ou heterotróficas (obtêm nutrientes vindos de outros seres vivos) (CARVALHO, 2010). 1.5.5 Vírus São considerados o limiar entre um ser vivo e um ser inanimado, uma vez que não possuem células como as descritas anteriormente, possuem apenas um envolupe ou capa protéica com material genético, podendo ser RNA ou DNA, ou ambos (retrovírus). Por não terem componentes celulares para se reproduzir ou fazer o metalismo de forma independente, precisam de células vivas para auxiliá-los nessa tarefa e, por este motivo, não se sabe se são ou não seres vivos (CARVALHO, 2010). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACTOR, J. K. Imunologia e microbiologia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. CARVALHO, I. T. Microbiologia básica. Recife: EDUFRPE, 2010. WOESE, C. R. et al. A comparsion of the 16S ribossomal RNA from mesophilic and termophilic bacilli: some modifications in the sanger method for RNA sequence. Journal of Molecular Evolution. v. 7, p. 197-213, 1976.