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As boas práticas nas negociações Apresentação A negociação faz parte da vida diária, e as oportunidades para se negociar estão por toda parte. Embora algumas pessoas possam parecer negociadores natos, a negociação é fundamentalmente uma competência analítica e comunicacional que pode ser adquirida por qualquer um. Nesta Unidade de Aprendizagem, refletiremos sobre a negociação sob uma ótica mais ampla, apresentando dez boas práticas para o negociador que deseja aperfeiçoar, de forma contínua, suas competências. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer como a negociação é, ao mesmo tempo, uma arte e uma ciência.• Identificar boas práticas que todo negociador deve seguir para realizar negociações de sucesso. • Consolidar o aprendizado das práticas de negociação.• Infográfico Neste infográfico, apresentam-se as dez boas práticas na negociação. Conteúdo do livro Quando se trata de negócios, existem várias formas de se realizar uma negociação. Isso porque, geralmente, cada negócio tem sua particularidade, pontualidade e especificidade. Contudo, há boas práticas que podem ser utilizadas em negociações de diversos âmbitos. As premissas básicas de uma negociação, partem no geral, de estudos e conhecimentos do negociador, nos quais podem ser ampliados por protocolos de análise de interesses, conflitos e possíveis divergências. Considerando isso, nem sempre realizar uma negociações é fácil. Pois, em alguns casos há uma complexidade de conseções que precisa ser ajustada, para que a negociação forneça ganhos mútuos, possibilitando uma continuidade da relação. No capítulo As boas práticas nas negociações, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer como a negociação pode ser interpretada e quais são as boas práticas que levam à consolidação do ato negocial. Boa leitura. NEGOCIAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Reconhecer como a negociação é ao mesmo tempo uma arte e uma ciência. > Identificar boas práticas que todo negociador deve seguir para realizar negociações de sucesso. > Consolidar o aprendizado das práticas de negociação. Introdução Ao ouvir falar em negociação, a maioria das pessoas logo pensa em ativida- des comerciais. No entanto, pode-se dizer que a vida é uma eterna fonte de negociações. Desde pequenos, aprendemos a negociar o que queremos em face ao que o outro também quer. Nesse sentido, a negociação é um ato de alinhamento de interesses, e ter boas práticas de negociação pode levar ao sucesso de um empreendimento, por exemplo. Além disso, existem técnicas específicas para concretizar uma negociação, incluindo o uso de perguntas, a prática de escutar e a inversão de papéis. De modo geral, o ato de negociação é ao mesmo tempo uma arte que pode ser aprendida e também uma ciência que pode ser aprimorada por técnicas e táticas praticadas em acordos, tratados, alianças, convênios, pactos, entre outros. Neste capítulo, você vai conhecer o conceito de negociação, assim como as melhores práticas a serem adotadas e como elas podem ser utilizadas para o sucesso e a consolidação de um negócio. As boas práticas nas negociações Nathália Caroline Faria A arte e a ciência da negociação De acordo com Montipó, Druzian e Silva (2015), uma negociação pode ser definida como um processo de interação social que exige boa comunicação entre uma ou mais pessoas para barganhar seus interesses até chegar a um senso comum. Para tanto, negociar abrange um acordo de ganhos mútuos, independentemente da área de atuação ou da vida pessoal. Todavia, para negociar é preciso ter habilidades tangíveis para alcançar os objetivos indivi- duais e coletivos. Segundo os autores, as negociações vão desde o segmento empresarial, com metas a serem cumpridas, até os acordos nupciais, em que as partes determinam como o casamento será regido em termos contratuais ou até mesmo formalizações verbais. Já de acordo com Dutra (2015), uma negociação pode ser interpretada como uma ação diplomática, que nasce de uma boa relação de troca, considerando um sistema ou uma cadeia toda de interesses. Nesse sentido, a arte e a ação de negociar abrangem uma ou mais finalidades (diretas e/ou indiretas), habi- lidades, estratégias defensivas ou ofensivas e práticas prudentes ou ousadas. Na concepção de Daychoum (2016), existem diferentes tipos de negociação (cooperativas e distributivas) e perfis de negociador (pragmático, analítico, afável e expressivo). Além disso, a negociação é algo que ocorre por vontade própria das partes e segue etapas de preparação, abertura, exploração, apresentação, classificação, ação final, controle e avaliação. Sucintamente, uma negociação não se trata de capacidade e competência, e sim de algo que as pessoas podem aprender, fazer e desenvolver. Assim, as negociações geralmente envolvem uma interação flexível, tangível, intangível, lógica e emocional entre duas ou mais pessoas, grupos e até organizações. Em certo sentido, o processo é uma tentativa de resolver conflitos de interesse, uma vez que as pessoas desejam coisas distintas. Nesse âmbito, pode-se encarar uma negociação como um processo cientí- fico, porque consiste em solucionar um ou mais problemas de maneira coletiva/ conjunta. Porém, para encontrar uma resolução, é preciso ter criatividade para criar, sustentar ou reivindicar um possível valor. Note que, para resolver um problema coletivo/conjunto, a ciência se mistura com a arte, uma vez que requer criatividade, perspicácia e um pouco de oportunismo. Ainda de acordo com Daychoum (2016), a boa comunicação interpessoal, a psicologia, a prática e o talento são fundamentais para o ato de negociação, o que novamente une a ciência e a arte. Já segundo Dutra (2015), negociar em si já é uma arte. Historicamente, a negociação está enraizada na sociedade desde que a barganha existe, e aceitar ou não as condições do próximo não As boas práticas nas negociações2 é algo passivo. A arte de negociar é uma ciência nada exata, dado que pode haver certa resistência ou competitividade por alguma das partes envolvidas. No entanto, essa arte pode ser aperfeiçoada e desenvolvida por qualquer indivíduo. Diante disso, a negociação pode ser vista como uma ação multidisciplinar, especialmente voltada para o diálogo e para a escuta ativa. Na verdade, segundo Lewicki, Saunders e Barry (2014, p. 99), sequer é preciso que uma “negociação tenha êxito para conseguir um resultado satisfatório”. Contudo, na maior parte das vezes, por mais que haja resistência, quando os atores estão numa negociação a intenção das partes é chegar num acordo final. Por isso, negociam seus interesses. Em concordância com Lewicki, Saunders e Barry (2014), Mendes (2020) explica que a negociação abrange várias disciplinas, incluindo psicologia, economia, direito, gestão, relações internacionais, ciência política e história da diplomacia. Nesse sentido, desde 1980 a análise de negociação vem sendo estudada em três etapas. A primeira diz respeito aos preceitos cognitivos, com foco na confiança, fixação, decisão comportamental, ciência política, psicologia e revolução cognitiva. A segunda etapa, ainda segundo Mendes (2020), aborda a psicologia social como uma forma cognitiva de negociação em relações sociais, considerando os seguintes itens: identificação de vieses dada a percepção e as motivações sociais, desconhecimento face à intenção do próximo, desvalorização reativa e erro de atribuição. Por serem sociais, essas características podem resultar em engano de julgamento pelas emoções do eu e do outro, além de incluir situações emocionais, crenças e impactos comportamentais causais. Na terceira etapa, o processo de socialização é subjetivo, interpretativo da realidade, político, ideológico e cultural em nível individual. Nessa etapa, as decisões são baseadas em contextos sociais e particulares, e em alguns casos essencialmente egoístas, em que o intuito é materialou de poder, a fim de ganhar a negociação a qualquer custo. Negociar é tão comum que qualquer pessoa em alguma fase da vida pessoal ou profissional já teve experiência nesse âmbito. Tradicionalmente, as pessoas associam o termo negociar aos negócios comerciais, já que nesse segmento negociar com fornecedores, clientes, acionistas, colaboradores e afins é algo constante. Por isso, compreender os processos e técnicas de negociação pode aprimorar os resultados, tornando as decisões dos agentes mais rápidas. As boas práticas nas negociações 3 Segundo Lewicki, Saunders e Barry (2014), são várias as razões que levam as pessoas a negociar, mas o objetivo sempre pende para a atratividade e a compensação do tempo gasto, do esforço empregado e das alternativas fortemente vantajosas. Numa negociação comercial de vendas, a arte está na conquista do cliente, independentemente da natureza dos serviços ou dos produtos ofertados. Nesse sentido, a arte de convencer o cliente a adquirir um produto ou serviço requer estratégias de convencimento de compra. No entanto, não há uma fórmula única para isso, porque as táticas de venda variam de acordo com cliente, produto, vendedor e entre outros. Dessa ma- neira, cada venda tende a envolver uma estratégia diferente de abordagem, exigindo do vendedor boas práticas de negociação, estudo, contato com a clientela e afins. Já para Mendes (2020), a arte da negociação é tida como uma solucionadora de conflitos e a ciência como a própria negociação em si. Dessa maneira, a arte é uma prática que deve ser cultivada, mas que precisa ser estudada como uma ciência, quer seja pelas abordagens racionalistas, sociocognitivas, neoeconômicas ou ideacionais. Nesse sentido, pode-se concluir que a arte de negociar é um fator que pode ser aprendido e aprimorado pela prática, que exige criatividade, capacidade de se colocar no lugar do próximo e intuição. Contudo, a arte é mais difícil de ser definida do que a ciência, por ser um tópico mais fluído. Por outro lado, a ciência é uma abordagem intrínseca da negociação, que faz parte do dia a dia. Para tanto, é mais sistematizada que a arte e se norteia em modelos e técnicas. Boas práticas na negociação Quando se fala de práticas de negociação, logo se pensa em maneiras de obter um desfecho positivo e satisfatório para um acordo. Porém, isso não está relacionado a formas de manipular ou ludibriar uma ou mais pessoas, e sim à criação de métodos de concordância e consenso que otimizem os resultados de uma negociação. Para isso, existem técnicas praticadas no mercado que visam a sustentabilidade de um relacionamento de negócio, tal como a resolução de conflitos (MENDES, 2020). Segundo Lewicki, Saunders e Barry (2014), antes de identificar as melhores práticas a serem implementadas numa negociação, é preciso responder um protocolo. A partir disso, é possível discernir as melhores práticas a serem adotadas. Sendo assim, a primeira indagação do protocolo consiste na pauta que deve ser seguida na negociação. Essa pauta deve ser estruturada com As boas práticas nas negociações4 base social, contendo reflexos preliminares sobre os riscos e prioridades que as partes têm sobre a negociação. O segundo elemento do protocolo é onde ocorrerá a negociação, se num escritório, em casa, na rua, etc. A terceira pergunta do protocolo diz respeito ao tempo que a negociação deve durar: dias, horas, meses ou anos. O quarto passo do protocolo é qual estratégia aderir se a negociação falhar, se será possível recorrer a terceiros, fazer outro acordo ou usar outras técnicas. Por fim, o quinto e último item do protocolo é como fazer a negociação ser efetivada, se será assinado um acordo formal ou se será realizado um contrato, isto é, a maneira como serão legalizadas as discussões preliminares da negociação. Respondido o protocolo, as boas práticas podem ser focadas no pro- blema, no tipo de pessoa, na satisfação dos interesses, nos critérios legais ou informais e no benefício mútuo. Ainda de acordo com Lewicki, Saunders e Barry (2014), as boas práticas de negociação se iniciam primordialmente com o uso de perguntas, depois com a prática de escutar e a inversão de papéis. A primeira prática citada se divide em perguntas administráveis e não administráveis. As administráveis são as que despertam a atenção da outra parte, como “Quanto isso vai custar?” e “Temos outra solução?”. Já as não administráveis são aquelas que remetem a algum tipo de dificuldade, geram certo desconforto ou um ato defensivo da outra parte, tal como “Você sabia que não podemos pagar por isso?” Aqui, a boa prática de perguntar contribui para a criação de estratégias táticas para evitar colapsos ou impasses. A segunda boa prática, a de escutar, consiste em identificar as possibi- lidades de ajuste ou adaptações dos próprios interesses ou até mesmo dos interesses coletivos. Lewicki, Saunders e Barry (2014) cita como exemplo a relação entre um psicólogo e seu cliente, em que a escuta é fundamental para adquirir as informações e melhor atender o paciente. Já a inversão de papéis, a terceira boa prática, envolve discussões prolongadas que possibilitam aos negociantes compartilhar suas visões ou posições, o que facilita a solução de conflitos. Um exemplo é a formalização de um contrato de trabalho, em que as partes negociam as horas a serem trabalhadas, o salário, os fatores internos e externos do ambiente laboral, entre outros. Montipó, Druzian e Silva (2015) citam como boas práticas de negociação flexibilidade, parceria, lealdade, transparência, respeito, meios de fideliza- ção, promoção de ganho mútuo, estabelecimento de princípios, conquista da confiança, oferta de alternativas e agregação de valor e de um diferen- cial. Como complemento, Mendes (2020) apresenta como boas práticas fir- meza, honestidade, comunicação explícita e direta e minimização de riscos. As boas práticas nas negociações 5 De modo geral, são inúmeras as boas práticas que podem ser aplicadas no ato de negociar. As diretrizes do negócio é que vão determinar tais práticas. Contudo, dentre as práticas mais citadas, a escuta e a comunicação passiva são as mais comuns. Lewicki, Saunders e Barry (2014) também acredita que na área de nego- ciação, levando em conta os diferentes relacionamentos e práticas, os estu- dos fornecem uma sequência distinta para lidar com conflitos e problemas. No entanto, por mais que exista uma gama de boas práticas, a implementa- ção, a gestão e a manutenção são especiais. Caso não sejam específicas ao relacionamento, o resultado pode ser prejudicial. Para que a boa prática de criação de valor seja eficiente, por exemplo, é preciso que o sistema de nego- ciação seja colaborativo, sem que as partes pensem em tirar vantagens uma da outra. Afinal, no momento de barganhar, o foco da criação de valor pode ser desviado por um dos agentes, o que pode alterar o enfoque do negócio. Já segundo Daychoum (2016), uma tática viável para escolher as boas práticas de uma negociação é investigar o perfil do negociante, uma vez que há práticas específicas para cada tipo de perfil (expressivo, afável, analítico, programável). Saber identificar o perfil do negociante é primordial para o planejamento das boas práticas, assim como para excluir práticas não benéficas, que podem romper com um negócio sem ao menos entrar no processo de discussão. De acordo com Mendes (2020), quando os agentes envolvidos numa negocia- ção conseguem construir um conjunto de boas práticas, o resultado pode ser interessante e levar a ganhos mútuos. No entanto, é preciso manter a mente aberta e sempre aprimorar a capacidade de aperfeiçoamento das práticas, por- que negociar não é algo estável, e sim oscilante. Essas circunstâncias exigem capacidade de se adaptar aos novos interesses, demandas e oportunidades. Aliás, em algumas circunstâncias, em cada ato de negociação (processos), as práticas podem ser alteradas, sendo preciso comparar e modificarnovas alternativas, dado que a negociação segue etapas até ser concluída, e pode sofrer alterações de interesse e conflito ao longo de cada processo. Por fim, pode-se dizer que as boas práticas devem ser planejadas e proje- tadas com foco nos protocolos, revisando procedimentos e políticas, priori- zando os objetivos, agregando parcerias e conhecimento, oferecendo bônus, inovando, procurando soluções viáveis, variando as ofertas de negociação, estabelecendo critérios e incentivos, optando pela negociação democrática, criando e recebendo feedbacks, sempre adotando boas práticas éticas de saber ouvir e se comunicar. As boas práticas nas negociações6 Consolidação das práticas de negociação Segundo Lewicki, Saunders e Barry (2014), para consolidar as práticas de ne- gociação, o negociador passa por um processo de aprendizado. Os desfechos das práticas podem melhorar ou piorar um quadro de negociação, e a forma com que a negociação vai se consolidar depende das estratégias utilizadas ao longo desse processo. A consolidação de negociações depende de uma visão sistêmica que não pode ser estudada de maneira isolada. É preciso compreender a conclusão e o desfecho de cada fase identificando a harmonização, o elo e a continuidade de cada uma das etapas da negociação até concluir o negócio. A concretização do negócio identifica o potencial da empresa, por exemplo, em consolidar e cativar um acordo perante a concorrência, o que gera um bom conceito para a clientela. De acordo com Dutra (2015), a consolidação de um negócio pode ser vista também como um estreitamento da relação de confiança e do comprome- timento com as práticas de negociação de ganhos mútuos (ganha-ganha), envolvendo sinceridade, coerência, credibilidade, compromisso, boa-fé, per- sistência, paciência, transparência, ética e competência. Ainda segundo o autor, a negociação não acontece somente no momento de interlocução, pois a relação de confiança, por exemplo, se consolida com ações interpessoais, contínuas, transparentes, coerentes e sistemáticas. Para tanto, o hábito ou prática de ouvir e prestar atenção nas informações antes mesmo da efetivação de uma negociação consolida a relação de confiança. Ganha-ganha é uma expressão comumente utilizada no ramo dos negócios para expressar a ideia de práticas de negociação em que todos ganham e ninguém perde. Ou seja, o ganho de um não anula o ganho do outro, pelo contrário, se uma parte negociante ganha a outra parte também tende a ganhar. Nesse sentido, a soma dos ganhos de ambas as partes nunca vai ser nula ou zero. Porém, existem outros termos, como ganha-perde, que em negócios distributivos indicam que uma das partes tende a ganhar e a outra a perder com a consolidação do acordo. As boas práticas nas negociações 7 No caso de profissionais que fazem negociações diariamente, a consoli- dação das competências é base prioritária para o ambiente de uma empresa (MONTIPÓ; DRUZIAN; SILVA, 2015). A maleabilidade, a proatividade e a qualidade são fatores que estimulam as boas práticas como forma de construto viabiliza- dor de desfechos ganha-ganha, o que novamente consolida um relacionamento em vários aspectos. Em contrapartida, os diferentes modelos de negociação é que vão determinar o resultado de quem ganha e quem perde, ou se ambos ganham. Em massa, as negociações cooperativas podem ser interpretadas como acordos em que os atores optam por cooperar com o objetivo de obter ganhos em comum ou atingir os mesmos objetivos, caso seja de interesse comum das partes envolvidas, como, por exemplo, numa cooperativa agrícola. Já no modelo de negociação distributivo de negociação, sempre um agente ganha e outro perde. Nesse caso, os interesses são opostos. Dessa maneira, é preciso conciliar as práticas de negociação de acordo com sua natureza, a qual, por isso, deve ser sempre determinada de antemão. De acordo com Mendes (2020, p. 166), outra maneira de consolidar as boas práticas é “preparar o terreno para conversações formais, [e] esta fase é utilizada para consolidar os canais de comunicação e iniciar a construção de uma relação entre as partes”. Note que para o autor o primeiro passo para a consolidação das boas práticas é a construção de uma “ponte” para superar possíveis conflitos. Com isso, é possível conciliar interesses estabelecendo um cessar-fogo e estabilizando a confianças entre as partes. Nesse aspecto, num primeiro momento da fase de conceção, o princípio da negociação se encontra na preparação dos negociantes, para que não che- guem despreparados para o ato de negociar. Isso ainda demonstra interesse e compromisso para com a contraparte, o que contribui para a reputação do negociante e gera valor. Outro aspecto a destacar nessa etapa é conhecer o negócio a fundo e a sinalização. Para conhecer o negócio a fundo, o ator pode investigar o perfil do(s) negociante(s), seus dados financeiros, expectativas, interesses e afins, permitindo estabelecer uma estratégia guiada pelos in- teresses e resoluções de conflitos. Na sinalização, o agente pode utilizar as boas práticas para sinalizar à outra parte sugestões assertivas, que levem à consolidação do negócio ou à afirmação de hipóteses que possam ser trabalhadas (DUTRA, 2015). Posteriormente, a segunda fase da consolidação envolve reunir-se “à mesa”. Nessa etapa, a negociação acontece de maneira lenta e nada linear. Nesse momento, não existe uma fórmula ideal, e os atores discutem seus interesses, trocam argumentos e propostas. Inicia-se então um processo negocial de perspectivas comuns e discordantes. A partir daí, os agentes As boas práticas nas negociações8 escolhem a melhor opção, a partir da qual acreditam que obterão sucesso, enquadrando critérios para as trocas de benefícios ou punições sucessoras, com o mínimo de discordância possível. Observe que essa etapa se concentra na gestão do ambiente e das crises conflituais, a fim de encontrar soluções e resoluções que suspendam o conflito e gerenciem as questões centrais subjacentes ao conflito de maneira tática. Nessa etapa, os negociantes podem estabelecer princípios básicos, como um primeiro esboço do contrato, utilizando soluções e hipóteses intermediárias, como aconteceu entre a República Popular da China e o Reino Unido na consolidação do estatuto de Hong Kong, em que ambas as repúblicas concordaram sobre o princípio de negociação “um país, dois sistemas” (MENDES, 2020). Na segunda fase da consolidação, as hipóteses são consideradas um verdadeiro estreitamento da negociação, porque reduzem o escopo do agente pela troca de concessões (sinais para a solução de conflitos) até chegar à consolidação final da transação. Outra fase de consolidação diz respeito à discussão dos detalhes, em que são fixadas as normas gerais de um ato negocial. Ao avançar para a etapa de detalhes, incrementa-se os conceitos e princípios mais amplos de compromisso mútuo, especificando o que cada parte deve cumprir para que o acordo se consolide. Geralmente, é a etapa mais hostil, competitiva e longa de um ato negocial. Porém, é o momento em que os detalhes são fina- lizados e passíveis de mensuração e reequilíbrio de ganhos. Nessa fase, os negociantes tomam suas decisões finais e assinam um acordo ou consentem com um aperto de mãos, caso seja um acordo informal sem a necessidade de um contrato assinado. Na quarta fase de uma consolidação vem a ratificação. Em acordo infor- mais, essa fase pode ser vista como desnecessária. Contudo, sempre está presente na negociação, especialmente se for preciso entrar em aborda- gens litigiosas e jurídicas. Nos contratos formais, assinados e oficializados, a ratificação já é conhecida entre as partes desde os primórdios do ato ne- gocial e tem aparo jurídico. Na maioria das vezes, quando é preciso entrar com um advogado para que a outra parte consolide a execução do contrato, a ratificação já é o suficiente para um ganho de causa. As boas práticas nas negociações 9 Maisdo que uma formalidade, a ratificação do acordo é o que oficializa o fecho da negociação. Até à ratificação, permanece a possibilidade de uma ou mais partes procurarem rever ou de outra forma alterar os termos do resultado negociado (MENDES, 2020, p. 167). Considerando isso, quando se trata de consolidação de um negócio, pode- -se concluir que todas as etapas de um ato negocial precisam ser claramente conhecidas e executadas por ambas as partes para que o risco ou a ameaça de incompletude seja restringido. Nesse sentido, as boas práticas no ato negocial devem ser incorporadas para que os interesses sejam alinhados e o ganho mútuo estreite o relacionamento dos negociantes, tornando o negócio satisfatório e contínuo. Com isso, pode-se concluir que negociar é uma arte e saber aplicar essa arte é uma ciência. Nesse sentido, um ato negocial abrange aspectos de direito e deveres que devem ser consentidos ao longo das etapas de uma negociação. Dessa maneira, os benefícios mútuos e os detalhes de ratificação impactam na consolidação final do negócio. Sendo assim, encontrar boas práticas que conciliem as soluções dos possíveis conflitos e das vantagens mútuas é essencial para a concretização de negócios. Isso inclui organizar discussões coletivas, planejar um protocolo, ouvir com atenção, agregar valor, respeitar as opiniões, ter paciência em ouvir, mostrar interesse, criar alternativas, oferecer bônus, criar incentivos e inibir obstáculos do começo ao fim do negócio, todas elas medidas que são gatilhos fundamentais para a consolidação dos negócios. São práticas que, segundo pesquisas, se mostram determinantes para a satisfação das partes envolvidas num acordo (LEWICKI; SAUNDERS; BARRY, 2014). Por fim, se a negociação for benéfica e satisfatória para ambas as partes, a possibilidade de realizar uma nova negociação é notória. Caso contrário, é preciso iniciar uma nova abordagem de negociação, com práticas inovadoras para a fidelização do acordo, incluindo uma nova preparação do protocolo, uma nova investigação de interesses e uma nova sinalização de benefícios, testando novas hipóteses até a concessão de um novo acordo (MONTIPÓ; DRUZIAN; SILVA, 2015). Referências DAYCHOUM, M. Negociação: conceitos e técnicas. Rio de Janeiro: Brasport, 2016. DUTRA, S. R. A arte da negociação: Silvestre Pinheiro Ferreira e os jogos diplomáticos luso- brasileiros (1797-1825). 2015. 248 f. Tese (Doutorado em História) — Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, As boas práticas nas negociações10 2015. Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/bitstream/1/17757/2/Tese%20-%20 Sandra%20Rinco%20Dutra%20-%202015%20-%20Completa.pdf. Acesso em: 5 jun. 2023. LEWICKI, R. J.; SAUNDERS, D. M.; BARRY, B. Fundamentos de negociação. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. MENDES, P. E. Teoria e prática da negociação internacional. População e Sociedade, v. 34, p. 157-186, 2020. Disponível em: https://run.unl.pt/bitstream/10362/111247/1/ Revista_34_Artigo_11.pdf. Acesso em: 5 jun. 2023. MONTIPÓ, G. B.; DRUZIAN, G. L.; SILVA, V. A. Práticas de negociação em empresas do setor metal mecânico. Disciplinarum Scientia, v. 11, n. 1, 2015. Disponível em: https://periodi- cos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumSA/article/view/1853. Acesso em: 8 jun. 2023. Leitura recomendada MARASCHIN, M. U. (coord.). et al. Manual de negociação baseado na teoria de Harvard. Brasília: EAGU, 2017. Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/ documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/Biblioteca- Digital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Manual-de-negociacao-baseado-na-teoria- -Harvard.pdf. Acesso em: 8 jun. 2023. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito- res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. As boas práticas nas negociações 11 Dica do professor Assista ao vídeo a seguir e conheça as habilidades essenciais de um negociador. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/0e664b958cc8635b8c5b53e283b9666c Na prática O dilema do prisioneiro é um estudo interessante dentro da teoria de jogos que mostra de forma prática como a cooperação pode ser a saída, mesmo quando todos os incentivos dizem o contrário. Que tal ser um prisioneiro nesse nosso dilema? Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/9f58845b0efd08caa6333004a992c789