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Reincidência Criminal: o fracasso do Estado na aplicação da pena e a privação imposta pela sociedade.

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REINCIDÊNCIA CRIMINAL: “o fracasso do Estado na 
aplicação da pena e a privação 
imposta pela sociedade”. 
 
 
Willen Rarytton de Souza Rosa 
 
01 de dezembro de 2015 
 
 
 
Resumo 
 
O objetivo do presente artigo é demonstrar o quanto o Estado e a sociedade falham 
em diversos aspectos, que por consequência provocam a reincidência do sujeito a 
vida do crime. Um deles está ligado à aplicação da pena, uma vez que mesmo 
apenado anteriormente, o individuo volta a praticar atos delituosos por não se 
amedrontar suficientemente com a penalidade imposta, e o outro se refere à 
exclusão e privação promovida pela sociedade, em não aceitar o reingresso de tais 
indivíduos em seu meio, devido a isso, voltam à prática reiterada de atos ilícitos, por 
não terem outra coisa para fazer. 
 
PALAVRAS-CHAVES: Reincidência. Estado. Privação. Sociedade. 
1. Introdução 
 
 É cada vez maior o número de crimes, muitas vezes hediondos, 
cometidos por agentes que reiteram repetidas vezes a mesma prática delituosa. A 
luta pela redução desses índices é constante e árdua. Um dos instrumentos utilizado 
para tentar coibir tal prática é o aumento da pena para o individuo que volta a 
delinquir. 
 Alguns pensamentos dizem que tais agentes voltam para o mundo do 
crime, depois de já terem sidos condenados por um crime anterior, pelo fato de 
desrespeitarem as leis penais que são impostas, pois não se amedrontam com a 
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punibilidade. Há outros que dizem que, pelo fato de serem considerados criminosos 
a própria sociedade os exclui e não os aceita facilmente em seu meio, o que 
proporciona a volta para vida criminosa, por não terem outra coisa para fazer. 
Observamos aqui uma linha tênue que será discutida ao discorrer desse trabalho. 
2. Conceito de reincidência 
 
 Antes de direcionarmos para o objetivo do presente artigo, cabe ressaltar 
o conceito de reincidência criminal, fornecido pelo atual Código Penal brasileiro e 
pelas doutrinas. 
De acordo com o artigo 63 do Código Penal, “Verifica-se a reincidência 
quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, 
no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior”. 
Portanto se analisarmos esse conceito, pra que um indivíduo seja 
considerado reincidente, deve ser levado em consideração duas consequências são 
elas: primeira, que o sujeito só pode ser considerado reincidente quando houver 
sentença definitiva de mérito, condenatória; isso exclui da reincidência as ações 
penais ainda pendentes de recurso, com trânsito em julgado somente para a 
acusação e, sobretudo, os inquéritos policiais em desfavor do sujeito. A segunda 
consequência é que o sujeito deve cometer o novo crime após a sentença transitar 
em julgado, o que implica que, se cometer antes, ou no dia do trânsito em julgado, 
não pode ser considerado reincidente. 
Nos dias atuais, conforme interpretação do doutrinador GOMES (2004), 
“há reincidência quando o agente comete nova infração penal, depois de ter contra 
si condenação pretendente ou transito em julgado”. 
 Ao afirmar sobre a reincidência o ilustre doutrinador GRECO (2008), 
ressalta que três são os fatores essenciais para sua caracterização, são eles: “1º) 
prática de crime anterior; 2º) transito em julgado da sentença condenatória; 3º) 
prática de novo crime, após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”. 
Dentre outras palavras quando um agente é condenado por um crime que 
não cabe mais recurso, ou seja, quando não há mais a possibilidade de novas 
indagações acerca do assunto, e o juiz fixa um sentença, aquele individuo que por 
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ventura praticar novo crime dentro do intervalo de tempo de 5 anos, será 
considerado reincidente, e será penalizado por isso. No Brasil o método utilizado é o 
aumento da pena para o novo crime, com intuito de puni-lo com mais rigor, para 
tentar reduzir suas praticas nocivas. Com o conceito definido de reincidência 
podemos avançar na discussão. 
3. Realidade da reincidência no Brasil 
 
 Não precisa-se de pesquisas ou dados de levantamento, para saber que 
o Brasil encontra-se em uma situação alarmante. A violência está intrínseca no meio 
da sociedade, causando uma podridão resultante de diversos fatores. Medidas têm 
sido tomadas com intuito de reduzir tais atos, como a criação de leis mais severas, e 
a privação de liberdade mais massiva. 
 Conforme dado do PNUD (Programa das Nações Unidas para o 
Desenvolvimento, 2013) “o percentual de reincidência no Brasil é um dos mais 
altos”. O País se depara com vários fatores que propiciam tal percentual, tais como: 
os deficientes programas de reabilitação, as condições carcerárias, e a “Inter 
criminalidade” que tais agentes possuem dentro de um mesmo ambiente, ou seja, as 
chamadas “redes do crime” nos cárceres. Todos esses são indícios que de alguma 
forma o Estado está falhando. 
Para comprovar a tese, segundo a última Instância: Agência Brasil de 
2011, no Brasil, sete em cada dez presos que deixam o sistema penitenciário voltam 
ao crime, uma das maiores taxas de reincidência do mundo, disse o presidente do 
STF (Supremo Tribunal Federal) e do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), ministro 
Cezar Peluso. Segundo ele, atualmente cerca de 500 mil pessoas cumprem pena 
privativa de liberdade no Brasil. “A taxa de reincidência no nosso país chega a 70%. 
Isto quer dizer que sete em cada dez libertos voltam ao crime. É um dos maiores 
índices do mundo”. 
Dados estes, preocupantes, que nos induzem a indagar o “Porquê?” 
deste elevado índice. 
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4. Por que voltam a delinquir? 
4.1. O fracasso do Estado 
 
Contudo partimos do seguinte pretexto: Por que o indivíduo volta à vida 
do crime? Pelo fracasso na aplicação da pena, resultante da falta de agentes 
punidores ou pela privação imposta pela sociedade? Ambos os fatores influenciam 
para que tais sujeitos voltem a delinquir. O Estado tenta de imediato proporcionar a 
justiça, punido cada vez mais severamente um individuo, com intuito de que ele 
“apreenda” que suas ações não são corretas. A “justiça passou a significar punição” 
conforme diz SIDMAN (1995, p. 81). 
Segundo SIDMAN (1995, apud SANONI, 2012, p. 5), “a punição apenas 
ensina o que não fazer; assim, não se sabe quais seriam as decorrências da 
utilização da mesma. A punição tem por objetivo diminuir a emissão de uma 
resposta indesejável. Encarcera-se um criminoso a fim de que ele pare com a 
emissão de respostas que causam dano à sociedade, ou seja, criminosas; pune-se 
para que ele não mais viole as leis e a sociedade. Ocorre que se trata apenas de 
uma supressão da sua presença na sociedade – ele é “arrancado” da sociedade e 
não se lhe ensina o modo correto de agir”. 
Não que estejamos dizendo que tais sujeitos devam ficar soltos, pelo 
contrário, devem ser penalizados pelo que fez, seria uma barbárie dizer que um 
estuprador ou homicida não seriam punidos pelo que fizeram, devem ser punidos e 
severamente, porém, do jeito que são tratados cotidianamente, certamente não 
mudaram seu comportamento, pois o que falta é um preparo para reinserção desses 
agentes na sociedade. Os programas que hoje são adotados pelas instituições 
carcerárias, em sua grande maioria não cumprem com a função de “reeducar”, ao 
invés disso, criam patologias sociais. 
No entanto, a punição como uma vertente da “justiça”, pode até trazer 
para a vítima, em curto prazo, um espirito de vitória, ou seja, “a justiça foi feita”, 
todavia, basta analisar com olhos críticos e perceber que em longo prazo não foi 
possível permanecer com essa “suposta justiça”. Vamos supor a seguinte situação: 
“Dois sujeitosabordam uma menina de 15 anos em plena luz do dia, ela não 
consegue se defender, sendo arrastada para uma casa abandonada, onde ali 
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começam os abusos sexuais, porém, testemunhas viram os sujeitos levando à 
menina à força para casa, contataram a polícia que logo chegaram ao local e 
abordaram os sujeitos”. Lembrando que os dois em comunhão de esforços e 
conjunção de vontade abusaram da menina. Entretanto, passado todo tramite 
processual, apenas um indivíduo será condenado pelo fato de ser reincidente no 
estupro, o outro como não tinha praticado estupro “ainda” permanecerá solto. E 
então surgem os questionamentos; Como assim? Por que ficará solto? Cadê a 
justiça? São as perguntas que fazemos e que de maneira desprezível são 
respondidas “As prisões estão superlotadas, nada pode ser feito”, isso significa que 
agora existe a possibilidade do 1º estupro sem punição “estupre a primeira vez, que 
você não será punido”, que sociedade é essa? Que não pune o individuo pelo ato 
que praticou, independentemente se esta lotada ou não o sujeito deve ser punido 
pelo que fez, por que senão o verdadeiro significado de justiça some, e dar lugar a 
um simples “passar de mão na cabeça do sujeito”. 
É notório que o Estado falha de maneira visível frente a esses problemas 
rotineiros (administrativos, estruturais e organizacionais) são alguns pontos que 
“devem” ser refeitos, para quem sabe possa-se atingir a finalidade proposta, que 
seria o bem comum, porém é uma tarefa que exige uma árdua discussão, não 
apenas de representantes que “dizem” representar o povo, mais sim de todos nós. 
Mas como discutir sobre algo assim, quando somos fantoches deste sistema?. 
4.2. Privação imposta pela sociedade 
 
Não obstante, não adiantaria apenas que o Estado mudasse seu jeito de 
agir, é imprescindível que a sociedade também mude seus pretextos hipócritas, 
assim como diz o ilustre Doutrinador e professor YAROCHEWSKY(2012): 
 
“Prisão é de fato uma monstruosa opção. O cativeiro das cadeias perpetua-
se ante a insensibilidade da maioria, como uma forma ancestral de castigo. 
Para recuperar, para ressocializar, como sonham os nossos antepassados? 
Positivamente, jamais se viu alguém sair de um cárcere melhor do que 
entrou. E o estigma da prisão? Quem dá trabalho ao indivíduo que cumpriu 
pena por crime considerado grave? Os egressos do cárcere estão sujeitos a 
uma outra terrível condenação: o desemprego. Pior que tudo, são atirados a 
uma obrigatória marginalização. Legalmente, dentro dos padrões 
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convencionais não podem viver ou sobreviver. A sociedade que os 
enclausurou, sob o pretexto hipócrita de reinseri-los depois em seu seio, 
repudia-os, repele-os, rejeita-os. Deixa, aí sim, de haver alternativa, só o ex-
condenado tem uma solução: incorporar-se ao crime organizado. Não é 
demais martelar: a cadeia fabrica delinquentes, cuja quantidade cresce na 
medida e na proporção em que for maior o número de condenados.” 
Infelizmente não basta jogar toda a culpa no estado, sem antes olharmos 
para nós mesmos, é fácil colocar a culpa nos outros, mas difícil é aceitar que você 
também é culpado nessa historia, MANDELA ( ) diz: “A prioridade é sermos 
honestos conosco. Nunca podemos ter um impacto na sociedade se não nos 
mudarmos primeiro. Os grandes pacificadores são todos, pessoas de grande 
integridade e honestidade, mas também, de humildade”, ou seja, não basta querer 
mudar o mundo sem antes mudarmos nossas atitudes e mentalidades, precisamos 
quebrar os tabus que nos prendem ao passado, visando o futuro, agindo no agora. 
Mas não vamos generalizar que todos os agentes são criminosos e 
devem sempre ficar presos, há as exceções que tentam lutar por uma vida melhor, 
pois o sofrimento passado nesses locais inóspitos serviu de alguma forma para 
construir em si mesmo uma nova perspectiva. Mas infelizmente somos tão “cegos”, 
que nem imaginamos o sofrimento vivido por esses presos dentro de lugares 
escuros, com privação de ar, de luz, de sol, sem contar com as celas que em sua 
maioria se encontram superlotadas, a falta de privacidade, a tortura, os abusos 
sexuais, a alimentação que nem sempre vem a ser de boa qualidade, e mesmo 
depois de terem passado por tudo isso, quando tentam voltar para sociedade 
dificilmente são aceitos pelo fato de terem sidos presos anteriormente, que 
desprezível é nossa atitude de não aceitarmos e excluirmos, e mesmo assim com 
ironia clamamos por justiça, esquecendo que o ponto de partida para termos uma 
“justiça melhor” está no como agimos em relação a tais situações, para 
ARISTÓTELES (___, apud NASSETI, 2006) "A justiça é a virtude que nos leva a 
desejar o que é justo”, sendo assim, seria justo repudiar de maneira cruel os 
indivíduos que tentam mudar? 
A partir dessas reflexões, acredita-se que há uma conjuntura de 
elementos atuando para que um indivíduo volte a delinquir, seja por fracassos por 
parte do Estado, seja pela privação de regresso por parte da sociedade, são 
estímulos que podem e levam efetivamente o sujeito de volta a vida do crime. 
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5. Considerações Finais 
 
Diante disto, ao analisarmos esse tema com um pouco mais de 
criticidade, percebemos que é de suma importância sua discussão. Antes de apontar 
culpados por um fato ocorrido, observemos se nossas ações estão sendo realizados 
com o intuito de promover o bem comum, caso contrario se estivermos agindo de 
forma egoísta, orgulhosa e hipócrita, certamente nosso intrínseco está corrompido 
por essa podridão social, que nos cega, impedindo com que visualizemos maneiras 
melhores de promover a justiça, pois certamente não passamos de fantoches. 
Necessitamos de mudanças grosseiras, pois a melhor maneira de 
transformar esse atual quadro brasileiro é atacando suas causas e não apenas seus 
sintomas mais evidentes. O tema em debate é sem duvida apenas um dos inúmeros 
sintomas dessa estrutura que se encontra desmoronando. É notório que um sistema 
democrático, quando administrado de forma eficiente, organizada e responsável, 
tem grandes chances de ser prospero, entretanto, quando os governantes deste 
sistema visam atender seus anseios, desviando da finalidade inicialmente pretendia 
(bem comum), este se corrompe, e é justamente nessa mesma perspectiva que o 
Filósofo HOBBES (1651), disse “O homem é o lobo do homem”, sendo assim para 
ter o poder em suas mãos e capaz de desprender-se de princípios e atuar como um 
lobo; feroz, rápido, astuto e “traiçoeiro”. 
Com toda certeza não será fácil mudar algo que já está impregnando em 
nossa bagagem histórica, todavia, não é impossível. A reincidência criminal no Brasil 
é um assunto que exige e merece debates e discussões, e que por meio de 
trabalhos semelhante a este, possamos expor pela visão do telespectador, como 
este “filme”, de tragédias, angustias e decepções, está viralizando e contribuindo 
para que o sujeito delinquente regresse na vida do crime. 
 
 
 
 
 
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RECURRENCE CRIMINAL : " the failure of 
State in sentencing and deprivation 
imposed by society. " 
 
 
Willen Rarytton de Souza Rosa 
 
December 01, 2015 
 
 
 
Abstract 
 
The purpose of this article and show how the state and society fail in many ways, 
which consequently lead to the recurrence of the subject to life of crime. One of them 
is connected to the application of the penalty, since even convict earlier, the 
individual back to practice criminal acts by not frightening enough with the penalty 
imposed, and the other refers to exclusion and deprivation promoted by society, in 
not accepting the re-entry of such individuals in their midst, because of this,turn the 
repeated commission of unlawful acts, because they have something else to do. 
 
KEYWORDS: Recidivism . State. Deprivation. Society. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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6. Referências bibliográficas 
 
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Pietro Nasseti. São 
Paulo: Martin Claret, 2006. 
 
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GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal: parte geral. v. II. São Paulo: 
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GREGO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 10. Ed. Rio de 
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HOBBES, Thomas de Malmesbury. Leviatã, Forma e Poder de um 
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IAB, Instituto Avante do Brasil. Brasil: reincidência de até 70%. 
Disponível em < http://institutoavantebrasil.com.br/brasil-reincidencia-de-
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10 
 
 
 
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SANSONI, Miriam. Análise sobre a reincidência criminal na 
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SIDMAN, M. Coerção e suas implicações. São Paulo: Psy, 1995. 
YAROCHEWSKY, Leonardo Isaac. Da reincidência criminal. Belo 
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