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1 ANTROPOLOGIA INTRODUÇÃO A antropologia, por definição, nada mais é do que o estudo do homem. Entretanto a Antropologia bíblica difere-se da Antropologia científica em fundamento, abordagem e propósito: • Fundamento: encontra-se exclusivamente na Revelação Especial de Deus ao homem; • Abordagem: feita a partir da visão bíblica do homem, e não, como propõe a antropologia científica, do homem pelo homem; • Propósito: demonstrar a postura privilegiada do homem em relação às demais criaturas, bem como sua atual deficiência moral diante de Deus; “A antropologia teológica ocupa-se unicamente com o que a Bíblia diz a respeito do homem e da relação em que ele está e deve estar com Deus”. A antropologia Bíblica “confina-se à Palavra de Deus e a corroboração que a experiência humana pode dar testemunho que confirma a verdade revelada”. O que há de comum entre a antropologia como ciência e a antropologia teológica é que ambas se ocupam em entender quem é o homem e o que ele faz. No campo das ciências, a biologia está interessada em estudar o homem geneticamente e compará-lo às demais espécies animais; a psicologia está interessada em conhecê-lo em sua conduta relacionai; a sociologia está interessada em conhecê-lo na sua história, desenvolvimento cultural, tecnológico e social nos diferentes grupos étnicos. No campo teológico, a antropologia está interessada em estudar o ser criado à imagem e semelhança de Deus, seu tempo de pureza moral, sua queda pelo pecado, seu comportamento depois de caído e seu interesse em buscar ou não a Deus e recuperar seu antigo status perdido no jardim do Éden. A antropologia teológica ocupa-se de estudar o homem não apenas como ser humano, mas como um ser eterno; sua grandeza em relação ao universo a ponto de haver mobilizado o Céu, quando o Criador enviou Seu Filho Unigênito à Terra para ter com o homem e se apresentar a ele como alguém capaz de recuperá-lo à condição original, perdida no Éden, assim que desobedecera a Deus. 1. DEUS COMO O CRIADOR Os escritores sagrados não hesitam em atribuir a Deus a criação do Universo. Consideram apropriado, portanto, tributar-lhe toda a reverência, o louvor e a glória devidos ao Criador. Os escritores do Antigo Testamento normalmente creditam a Deus a criação do universo físico, usando o verbo bara' - "ele criou". O primeiro versículo das Escrituras declara: "No princípio, criou Deus os céus e a terra" (Gn 1.1). Esta sucinta declaração antevê o restante de Gênesis l.4 Ao introduzir o tema da criação, Gênesis 1.1 responde a três perguntas: (1) Quando ocorreu a criação? (2) Quem é o sujeito da criação? (3) Qual é o objeto da criação? Gênesis 1.1 destaca o fato de um começo verdadeiro, ideia evitada pela maioria das religiões e filosofias, antigas e modernas. bara'... parece indicar que os fenômenos físicos vieram a existir naquela ocasião, e que não tinham existência prévia, na forma em que foram criados pelo fiat divino".5 Em outras palavras, até esse momento nada absolutamente existia, nem mesmo um átomo de hidrogênio. Do nada (latim ex nihilo) Deus criou os céus e a Terra. 2 De conformidade com Gênesis 1.1, o sujeito da criação é “Deus”. O verbo bara', em sua forma mais comum, é usado no hebraico somente no tocante a atividade divina, jamais se referindo a atividade "criadora" humana.6 A criação revela o poder de Deus (Is 40.26), sua majestade (Am 4.13), seu trabalho ordenado (Is 45.18) e sua soberania (SI 89.11-13). Como Criador, Deus deve ser reconhecido onipotente e soberano. Quem rejeita a doutrina bíblica da criação desdenha o reverente temor a Deus devido por força desses atributos. 2. A ORIGEM DO HOMEM Por certo não existe pergunta com maior bagagem de discussão do que esta: “De onde veio o homem?” Historicamente o homem, como ser intelectual, vem buscando respostas para essa pergunta. Desde a Antiguidade mais remota se encontra relatos de civilizações antigas que tentam responder a essa pergunta. No entanto, nenhuma resposta está próxima do fato narrado nas escrituras. Mas com certeza, muitas dessas tentativas já foram removidas das possibilidades aceitas pelos estudiosos e cientistas. Assim, é possível sistematizar essas respostas possíveis de maneira simples, como se pode observar nos próximos tópicos. 2.1. Evolução Ateísta A palavra evolução indica um processo crescente, desenvolvimento. Mas quando é aplicada ao homem tem seu significado muito mais expressivo, pois envolve suas origens. Assim, a Evolução Ateísta preocupa-se em responder a pergunta em pauta demonstrando apenas um processo natural no que tange a origem da primeira substância como do desenvolvimento desta. Não se pode negar ao certo que mudanças ocorreram através dos tempos, entretanto, para os evolucionistas, essas mudanças incluem a geração de novas espécies e de formas mais complexas a partir de formas de vida mais simples. Essa ótica dispensa a ideia de Deus ou de sua atividade, fato bem evidenciado pela identificação desta corrente ideológica. Isso pode ser demonstrado pelas palavras do próprio Charles Darwin, pai de muitos dos pensamentos dessa corrente: “Não darei absolutamente nada pela teoria da seleção natural se ela requerer adições milagrosas em qualquer de seus estágios”. Com obviedade, o que fundamenta esse tipo de raciocínio é a ciência naturalista. O livro que abre as portas do conhecimento para esse raciocínio é o Origem das Espécies, de Charles Darwin, publicado em 1859. Algumas objeções: Logicamente, essa teoria não tem como ser bíblica, assim algumas questões bíblicas podemser estampadas diante dela: - Qual a possibilidade de que a alma derivasse de um processo unicamente natural? - Quem poderia ter dado início ao primeiro movimento que desencadeou os outros? - Quando não existia vida, como surgiram as substâncias que hoje são absolutamente essenciais para a existência dos sistemas vivos? 2.2. Evolução Teísta A evolução teísta afirma que Deus direcionou, usou, e controlou o processo da evolução natural para “criar‟ o mundo e tudo o que nele existe. A ideia presente nessa ideologia nada mais é do que a tentativa de incluir em apenas um raciocínio ambas respostas, o evolucionismo e o criacionismo. Esse raciocínio é expresso por cientistas religiosos que fazem algumas alterações no processo normal da evolução e na literatura bíblica, mas sem conseguir adaptar satisfatoriamente os argumentos contraditórios das correntes. Um exemplo clássico desse fato é a origem de Eva. Segundo eles, Adão surgiu de uma espécie preexistente de vida que Deus resolveu soprar o 3 espírito de vida, mas Eva surgiu de uma intervenção especial de Deus no processo da evolução. Ou seja, a evolução só deu conta da raça humana do gênero masculino. Essa corrente ideológica consegue responder ao menos algumas das perguntas feitas anteriormente, pois reconhece que Deus é esse “ser invisível” que deu o pontapé inicial para desencadear esse processo. As bases utilizadas pela evolução teísta são a Bíblia e a ciência. Algumas objeções: Embora algumas questões sejam respondidas, nascem outras um pouco mais intrigantes, como podemos notar abaixo: - Se a evolução é natural, qual a necessidade da intervenção de Deus? - Se Deus é poderoso para intervir na criação da mulher, por que não fez com o homem? - Por que Deus deixaria em sua autorrevelação uma descrição inexata de sua criação? - Qual o papel da descrição da criação do homem nas escrituras? - Deus seria incapaz de criar o mundo ex-nihilo? 2.3. Criação A criação é a resposta encontrada nas escrituras para a pergunta em pauta, e por certo é a mais correta dentre as anunciadas. Embora exista muitas visões dessa criação, a principal característica dessa ideologia é que ela tem unicamente a Bíblia como fundamento. Isso não significa que todos os conceitos científicos devem ser descartados, mas que a ciência em si não controlaou altera a interpretação natural dos relatos bíblicos. O que se pode descrever em poucas palavras sobre o homem na criação é que Deus criou o primeiro a partir do pó da terra e com seu sopro de vida (Gn.1.27; 2.7). Assim, nunca existiu uma criatura “preexistente”, ou subumana, muito menos um processo que fizesse com que a criação de Deus fosse aperfeiçoada. Algumas Objeções: Como é óbvio, essa posição em relação às origens do homem nunca foi considerada como ciência, e sim como fé cega. Por esse fato, todos os adeptos de correntes ideológicas diferentes deixam suas questões tentando afogar o relato bíblico da criação do homem. - Qual o caráter científico da Bíblia? - Se Deus é tão poderoso para criar o homem, por que o fez tão imperfeito? - Se existe um Deus, por que Ele deixou pistas na natureza que contradizem o relato bíblico? 3. A CRIAÇÃO DO HOMEM O homem criado por Deus (cf. Mt.19.4; Rm.5.12-19; 1Co.15.45-49; 1Tm.2.13), e não existe verdade mais estupenda do que esta. Somente Deus seria a causa suficiente e razoável para explicar a complexidade da vida humana. Somente na palavra de Deus pode-se encontrar uma revelação especial das atividades de Deus na CRIAÇÃO do universo e de tudo o que nele existe. “Nenhuma outra literatura no mundo é tão repleta de revelação direta destinada a informar a mente do homem e orientar pesquisas científicas como essas primeiras páginas da Bíblia”. Quando Deus quis fazer algo ainda mais excelente de tudo o que já havia feito, pensou em algo parecido com Ele mesmo: aí, criou o homem. Após haver feito a luz no primeiro dia; a expansão das águas e dos céus no segundo dia; a separação da terra seca das águas, a produção da vegetação com todo o seu encanto, no terceiro dia; a expansão dos luminares para o dia e para a noite, no quarto dia; os peixes do mar e as aves do céu no quinto dia; e, depois de haver feito todos os animais, ainda no mesmo dia, 4 Deus fez o homem à Sua imagem, conforme à sua semelhança no sexto dia. Antes de fazer o homem portanto, Deus deixou a casa bem montada para ele. Criação pode ser compreendida como origem com desígnio, pois é impossível que o homem tenha capacidade de imaginar um Ser Pessoal como criador, sem que o tenha conhecido como tal. Outro fato interessante, é que na criação Deus preocupou-se em formar todos os outros seres vivos a fim de que o homem pudesse ter o ambiente perfeito para viver. Ou seja, tudo o que era essencial para a existência do homem já havia sido criado por Deus. Seguindo esse raciocínio podemos ressaltar alguns fatos, ressaltados abaixo. 3.1. O homem foi criado diretamente por Deus Ao observar o primeiro relato bíblico da criação, não se pode chegar à outra conclusão senão que o homem é resultado da intervenção direta de Deus. Observe o versículo: “Criou Deus, pois, o homem...” (Gn.1.27). Esse versículo inibe a possibilidade da utilização de um processo evolutivo para a formação do homem. Deus não utilizou formas “preexistentes” ou subumanas de vida para formar Adão. Assim Deus não soprou o fôlego da vida em um “macaco-quase-homem” que veio a ser o primeiro homem. No segundo relato da criação podemos percebem que Deus não se utilizou de formas orgânicas menos desenvolvidas para formar o homem, mas “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra”. Dessa maneira podemos dizer que “essa passagem reforça o fato da criação especial a partir de materiais inorgânicos, não apoiando a ideia de uma criação derivada de alguma forma de vida prévia”. Entretanto alguns atestam que a referência ao pó da terra pode ser considerada como uma forma alegórica para um ser vivo preexistente. Mas devemos desconsiderar essa possibilidade, pois o próprio Deus afirmou que o homem voltaria ao pó quando morresse, mas o homem nunca volta a um estado animal na sua morte (Gn.3.19). Portanto, temos que admitir, se cremos que a Palavra de Deus é infalível e inerrante como ela afirma ser, que não existe outra possibilidade verdadeira para a origem do homem fora das escrituras. Deus criou o homem de fato, e isso não pode ser negado. 3.2. O homem foi criado em distinção das outras criaturas Outro fato que deve ser percebido na criação do homem é que ele não foi criado nem derivado de outras criaturas. Na descrição de Gênesis, Deus cria o reino vegetal distinto do animal, e o homem distinto de ambos. Observe: “E disse: Produza a terra relva, ervas, que deem fruto semente, e árvores frutíferas que deem fruto segundo a sua espécie, cujo a semente esteja nele” (Gn.1.11) Essa identificação exata de Deus em relação ao reino vegetal inclui até mesmo a condição da semente do fruto das árvores. Mas não se encontra aqui nenhuma referência ou semelhança com os animais ou o homem, mas declara que sua reprodução é única e exclusiva segundo a sua espécie, ou como declara o próximo versículo “conforme a sua espécie”. Fato similar acontece com os animais marinhos e as aves: “Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas espécies” (Gn.1.21) Note que cada ser criado por Deus é criado segundo a sua espécie. E o mesmo acontece com os animais selváticos: “E fez Deus os animais selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie.” (Gn.1.25) Assim, cada categoria de animal foi criada em conformidade com sua própria espécie, bem como a sua reprodução de acordo com essa conformidade. Segue-se que não se pode afirmar a 5 partir do relato bíblico que houve nalgum momento da criação um processo evolutivo, mas cada animal foi criado segundo a sua espécie. E, tendo isso como fundamento, na criação do homem não podemos atribuir a utilização de um outro ser vivo para a sua formação. Pois além de ser criado a partir do pó da terra, não pertence à espécie de nenhum outro ser vivo. Portanto, o homem é distinto de qualquer outra forma de vida. 3.3. O homem foi colocado numa posição exaltada O fato de que o homem não pertence à categoria dos animais pode ser percebido em função da criação distinta dos outros seres vivos, como uma espécie distinta de ser vivo e pela posição distinta que tem das demais criaturas. Essa distinção em termos de posição pode ser observada na declaração: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toa a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra” (Gn.1.26). 3.3.1. O que significam imagem e semelhança de Deus As palavras hebraicas de Gênesis 1.26,27 são tselem e demuth, o equivalente às palavras gregas eikon e homoiosis (que em latim são imago e similitude). Tselem significa imagem moldada, uma figura moldada, imagem no sentido concreto da palavra (2Rs.11.18; Ez.23.14; Am.5.26). Já demuth também se refere à ideia de similaridade, mas num aspecto mais abstrato ou idealístico. Segundo Addison Leitch, “o autor bíblico parece estar tentando expressar uma ideia muito difícil, na qual deseja deixar claro que o homem, de alguma maneira, é o reflexo concreto de Deus Os animais foram todos criados como “seres viventes”; porém, o homem foi criado à imagem e à semelhança de Deus. O que significa isso? O que a Bíblia quer dizer com “imagem” de Deus? Isso, em primeira instância, pressupõe que Deus teria um corpo como o humano e que nós, seríamos meras réplica miniaturizadas dele. A imaginação do homem recorreria para as Suas características físicas como altura, cor dos olhos, cor do cabelo, etc. A Bíblia descreve a Deus como tendo forma humana. Fala dos Seus olhos, Sua boca, Seus ouvidos, Seus pés, Suas costas, Suas mãos, Seus dedos. Diz que Ele fala, que Ele ouve, que Ele anda, que Ele se assenta, que Ele cheira. Mas todas estas conotações não passam de antropomorfismos para descrever os movimentosde Deus numa linguagem humana; contudo, não é realmente isso que o termo “imagem de Deus” quer dizer, mesmo porque a Bíblia é categórica em afirmar que Deus é Espírito (Jo 4.24). Como então entender a expressão Imago Dei? Seria a capacidade humana de raciocinar? Este foi o palpite de muitos pensadores cristãos ao longo da História, mas não expressa exatamente a “imagem”, como veremos mais adiante. Outras sugestões para decifrar a expressão Imago Dei também foram aventadas como: a pureza moral de Deus; capacidade de decisão; a imortalidade; a capacidade de dominar o mundo, etc. Com base em Eclesiastes 7.20 que diz: “Na verdade, não há homem justo sobre a terra, que faça bem e nunca peque” já se tirou à seguinte conclusão: o termo “justo” é reto, assim, a semelhança de Deus consiste em que Deus tem uma postura ereta, desse modo, o homem é semelhante a Ele por ser ereto. Essa é uma persistência em relacionar a imagem física do homem a uma suposta imagem física de Deus. Há também, historicamente, um esforço de se distinguir imagem e semelhança, como se ambas tratassem de aspectos peculiares, porém, por “semelhança, subentende-se que, em sendo feito à imagem de Deus, o homem deve ser Seu representante na Terra, exercendo autoridade sobre a criação. Alguns Pais da Igreja como Orígenes e Clemente de Alexandria 6 relacionavam a imagem às características físicas do homem, e a semelhança às qualidades provindas de Deus. O termo “semelhança” aparece somente uma vez no versículo 26: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...”, depois lê-se: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou”. Não que a palavra “semelhança” seja insignificante, mas se houvesse algum destaque nela que a diferenciasse do outro termo, certamente ela reapareceria. Ao que tudo indica, o termo apenas corrobora o primeiro, até mesmo para amenizá-lo, a fim de que dele não suscitasse a ideia de uma réplica física. Para os teólogos da Reforma não havia distinção entre imagem e semelhança, porém os termos não são sinônimos. Adauto Lourenço não apenas salienta a distinção quanto ainda discorre sobre a distorção que houve na semelhança: O pecado distorceu a semelhança de Deus criada em nós. Continuamos tendo a sua imagem, pois Deus nunca deixará de ser quem é, mas não possuímos mais a sua semelhança. (vemos como isso ocorre nos Salmos 115.2-8 e 135.15-18). Olhamos para o ser humano e vemos apenas uma semelhança distorcida da pessoa de Deus. Por isso à medida que conhecemos mais e mais sobre a pessoa de Deus, passamos a conhecer também um pouco mais sobre nós. Passamos a entender também a quão desastrosa foi a nossa queda no pecado, a qual extinguiu quase que completamente a semelhança que Deus colocara em nós. Continua, no entanto, havendo indagação sobre o significado dessa imagem. O que ela quer dizer? Primeiramente, serve para distinguir o homem dos demais seres animais. De todas as espécies animais, o macaco é o que mais se aproxima do homem, tanto é que essa foi a primeira e grande suspeita de Darwin. Durante muitos anos, após o surgimento da teoria da evolução os devotos da Ciência diziam em alto e bom som que o homem era proveniente do macaco, afinal a diferença física entre eles é de apenas 5%. Para qualquer pessoa, ávida por acreditar na evolução, essa hipótese parecia bem propícia para uma espécie de discurso conclusivo sobre a questão. No entanto, apesar das semelhanças físicas, o macaco comporta-se como qualquer outro animal irracional. Sua inteligência é da mesma categoria dos demais seres sem que haja qualquer similitude da qual se possa dizer que ambos, homem e macaco, procedam do mesmo tronco genético. Tudo então voltou à estaca zero. ADENDO: Literalidade de Gênesis Este adendo visa detalhar ainda um pouco mais que as informações colhidas nos tópicos anteriores podem ser verídicas pelo fato de que o texto base para tal é literal e demonstrado com real diante das demais Escrituras. Jardim Literal “E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. (...) Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn.2.8,9,15) Após o ato imediato da criação do homem, nota-se o seguinte texto que demonstra claramente a criação do Ambiente do Primeiro homem. Nota-se que Deus é a causa primeira deste Jardim que está localizado na terra, que já havia sido criada. A localização descrita pelo autor bíblico sugere que este Jardim estava situado na região da Palestina. Nos versículos que seguem podemos notar esse fato: “E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços (...) O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates” (Gn2.10, 14) 7 Os nomes de rios mencionados neste texto são muito bem conhecidos e Norman Geisler chega a sugerir que a Bíblia situa os rios na Assíria, atual Iraque. As informações bíblicas são muito bem arranjadas, e isso faz com que alguns teólogos acreditem em uma inserção de informações posteriores. Mas tal informação é especulativa, visto não existir informações que sustentem essa opinião. Por causa das especulações teológicas colocadas sobre o texto de Gênesis, é importante demonstrar que as evidências dão suporte para a interpretação normal do texto, que neste caso é literal. Normalmente as objeções lançadas sobre a mitologia relacionada com o Jardim do Éden é colocada em função da inexistência de artefatos arqueológicos que evidenciem tal existência. Contudo, é necessário que se demonstre que após a queda Deus selou o Jardim (Gn.3.24), isso impossibilitaria que qualquer evidência arqueológica fosse encontrada. Outro detalhe que merece atenção é que não existem evidências de que Adão ou Eva tenham se aplicado à produção de artefatos neste Jardim, nem mesmo se empenhado a qualquer espécie de construção. Ou seja, sem tais fatos é impossível que se encontre evidências arqueológicas. Se existisse, ainda, qualquer evidência, com o Dilúvio elas seriam destruídas (Gn.6-9; cf. 2Pe.3.5, 6). A inclusão dos rios Tigre e Eufrates, que são reais, parece sugerir que o Jardim seja igualmente literal. A preocupação do autor bíblico em demonstrar os rios deve reportar-se ao fato de que tal Jardim seja também real. Um ponto que merece destaque dentre os mencionados, é que o Novo Testamento testemunha sobre os fatos relacionados ao Jardim como reais. Fala da criação de Adão e Eva (Mt.19.4; 1Tm.2.13) e de seu pecado original (1Tm.2.13; Rm.5.12). Assim, esses eventos reais precisam de um Ambiente Real para acontecer, um lugar geográfico. Adão Histórico-literal A argumentação que proporciona a interpretação mítica ou irreal é a consideração de que o autor utiliza-se de um estilo poético, repleto de paralelismo com outros mitos antigos e a suposta contradição entre o relato e a ciência. No entanto, para os escritores bíblicos, tanto Adão quanto Eva, são personagens históricos, e encontrados em uma leitura literal de Gênesis. O primeiro fato que evidencia a condição histórica de Adão é a própria narrativa de Gênesis. Embora muita discussão exista neste ponto, para aqueles que consideram o texto como fonte fidedigna de informações é o ponto de partida. Observe que o autor sempre demonstra Adão como uma pessoa real. Se Adão fosse irreal não poderia ter gerado filhos, e na narrativa de Gênesis ele perpetua a espécie humana, gerando filhos à sua imagem (Gn.5.3). Outro detalhe importante dentro da narrativa de Gênesis é que a sentença “Este é o registro”, ou “são estas as gerações” encontradas para registrar a história do povo hebreu (cf. Gn.6.9; 10.1; 11.10, 27; 25.12,19) é usada para o registro da Criação (2.4) e para Adão e Eva e seus descendentes (5.1). Fora da narrativa de Gênesis é possível encontrar Adão como personagem histórico. Na cronologia encontrada em 1Cr.1.1, Adão encabeça a genealogia mais extensa das escrituras (1.1 - 9.44), que demonstra a historicidade das tribos de Israel e a importância da linhagem davídica. Mas para que esta genealogia tenha valor real é necessário que os personagens envolvidos sejam igualmente reais. O Novo Testamento testemunha a favor da historicidade de Adão. Em Lc.3.38 Adão é designado como um ancestral literal de Jesus, e este, posteriormente, referiu-se a Adão e Eva como os primeiros “homem e mulher” literais, fazendo da união deles a base para o casamento (Mt.19.4). 8 Paulo em Romanos declara que a morte foi trazida ao mundo por um homem real (Rm.5.12, 14). Em Coríntios, Paulo faz uma comparação entre Cristo e Adão (1Co.15.45). Para Timóteo, Paulo afirma que primeiro foi criado o homem e depois a mulher (1Tm.2.13, 14). Ou seja, se as comparações e citações paulinas sobre os diversos assuntos que aborda fossem baseadas em mitologia, as asseverações morais seriam nada mais do que afirmações equivocadas e inválidas. Entretanto, não parece ser esse o caráter que Paulo escreve. Tanto ele, como os autores do Novo Testamento tem por certo de que os acontecimentos narrados em Gênesis são fatos. Assim, é impossível não crer na historicidade de Adão. 4. A CONSTITUIÇÃO DO HOMEM Neste tópico, apenas desejamos refletir sobre essas questões, em submissão ao que está revelado nas Escrituras. E vamos meditar sobre a constituição do homem, segundo algumas concepções e à luz da Palavra de Deus. Há diversas correntes de pensamento quanto à constituição do homem. Algumas são indicadas a seguir. 4.1. Unitarianismo. Também chamado de monismo. E uma corrente doutrinária que ensina que o homem é um só todo, uma só parte, não havendo qualquer divisão em sua constituição; ou seja, não existe alma ou qualquer parte do ser humano que sobreviva à morte. Para os unitaristas ou monistas, o ser humano se constitui de uma unidade indivisível. Eles não acreditam na existência da alma e do espírito, admitindo que essas expressões referem-se apenas a uma unidade psicofísica do ser humano. As palavras “carne” nos Antigo (hb. basar) e Novo Testamentos (gr. sarx), bem como “corpo” (gr. soma), referem-se ao “ser humano por inteiro, porque, nos tempos bíblicos, ele era considerado unificado”. 4.2. Dicotomismo. Essa doutrina ensina que só há dois elementos, ou partes constitutivas, do homem: a parte material e a imaterial. Baseiam-se no fato de os termos “alma” e “espírito”, às vezes, na Bíblia, serem sinônimos, ou intercambiáveis entre si. E sustenta sua opinião partindo de textos que lhes parecem indicar esse entendimento (cf. Jó 27.3). 4.3. Tricotomismo. Os chamados tricotomistas entendem que o homem é formado de três partes distintas: corpo, alma e espírito. Seu ensino honra as Escrituras e se harmoniza com elas, pois, de acordo com a Bíblia, o homem tem uma constituição tríplice, sendo formado de espírito, alma e corpo (I Ts 5.23). Reflitamos sobre cada uma dessas partes. 5. O ESPÍRITO DO HOMEM Ao soprar no homem o “fôlego de vida”, Deus o fez “alma vivente”, ou um ser que tem vida. Nesse sopro, o Criador infundiu, no interior do homem, sua parte espiritual. Por esse fôlego, ele adquiriu o princípio vital, que o anima. O espírito é a parte imaterial do homem, que, juntamente com a alma, forma “o homem interior”. Disse Paulo: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus” (Rm 7.22). O apóstolo ensinava sobre a luta entre a carne, ou a natureza carnal do homem, e o espírito, que provém de Deus, e acentuava que o “homem interior” tinha prazer na lei de Deus. Em outro versículo, lemos: “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” (2 Co 4.16); neste texto, vemos o “homem exterior”, o corpo, e “o interior”, a parte imaterial do homem. Podemos dizer que esse “homem interior” é o conjunto espiritual, formado pela alma e pelo espírito (I Ts 5.23). Espírito, do hebraico ruah, e do grego pneuma, significa literalmente “sopro”, ou “vento”: “Então soprou um vento do Senhor, e trouxe codornizes do mar...” (Nm 11.31); “E quanto aos 9 anjos, diz: O que de seus anjos faz ventos e de seus ministros, labareda de fogo” (Hb 1.7; veja mais: Êx 15.8; Jó 4.9; 12.10; 15.30; 2 Sm 22.16; 2 Ts 2.8). O termo “espírito” é empregado de várias maneiras no Novo Testamento. Refere-se a anjos (Hb 1.7); sopro (Jo 12.10, 15,30; 2 Ts 2.8); denota “aparição” (ou fantasma, para os místicos e supersticiosos, Lc 24.37); serve também em circunstâncias adjetivas, para designar qualificações boas ou más de uma pessoa: pobres de espírito (Mt 5.3); espírito de escravidão (Rm 8.15); espírito de profundo sono (Rm 11.8); espírito de ciúmes (Êx 5.14); espírito de luxúria (Os 4.12), etc.; o espírito de Elias (sobre Eliseu) referindo-se aos atributos ou virtudes (não à pessoa) de Elias (Lc 1.17; 2 Rs 2.15); fato esse repetido anos mais tarde com relação a João Batista (Mt 17.10-12; cf. Ml 4.5). O espírito tem inteligência própria (Cl 1.9). Entretanto, o espírito do homem, como elemento que compõe a sua natureza é uma substância. 6. A ALMA DO HOMEM A palavra “alma”, no Antigo Testamento, é nepesh. No Novo Testamento é psyque, que tem o sentido de “alma” e de “vida”; está ligada ao termo psíquicos, que tem o sentido de “pertencente a esta vida”. E a base das experiências conscientes. A alma pode ter três áreas de significados: “(a) psyche, no sentido da base impessoal da vida, a própria vida; (b) a parte interior do homem; (c) uma alma independente em contraste com o corp.־ No sentido impessoal, a alma equivale à própria vida. No sentido de ser “parte interior do homem”, refere-se à sua personalidade, ou à pessoa (cf. 2 Co 1.23). O texto de Levítico 17.10-15 dá uma diversidade de sentidos à palavra “alma”: 1) “contra aquela alma que comer sangue eu porei a minha face e a extirparei do seu povo” (v. 10); aqui, “alma” significa a própria pessoa. 2) “Porque a alma da carne está no sangue...” (v.11); neste sentido, “alma” significa a vida do corpo, dos tecidos, que são alimentados pelo sangue. 3) “Nenhuma alma dentre vós comerá sangue...” (v.12); novamente, refere- se à pessoa. 4) “a alma de toda a carne; o seu sangue é pela sua alma”; aí vemos referência à vida de toda a carne, e que o sangue seria derramado pela vida do transgressor. Tanto nepesh (hb.) como psyche (gr.) indicam o princípio vital da vida humana, física ou animal. Quando Deus disse que o homem fora feito “alma vivente” e, em relação aos animais, que a terra produzisse “alma vivente”, usou a mesma expressão — hb. nepesh hayya. No entanto, como vimos em item anterior, o homem é distinto do animal, por várias razões: autoconhecimento e autodeterminação, por exemplo. Assim, a alma do homem é profundamente diferente da alma do animal. No Novo Testamento, vemos várias referências sobre o significado de alma. Jesus disse: “Quem quiser salvar a sua vida [psyche], perdê-la-á...” (Mc 8.35; cf. Mc 10.45; Mt 20.28). “Não estejais ansiosos quanto à vossa vida...” (Mt 6.25). Nesse sentido, “alma” se refere à vida. Em sentido teológico, a alma é a sede das emoções e dos sentimentos. Jesus disse: “A minha alma está profundamente triste até a morte” (Mc 14.34). A alma se entristece. “É a parte sensível da vida do ego, a sede das emoções — do amor (Ct 1.7), do anseio (SI 36.62) e da alegria (SI 86.4)”. O texto que melhor distingue alma de espírito é I Tessalonicenses 5.23: “e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. Aqui temos a palavra “alma” significando a parte interior do ser, distinta do 10 espírito, porém,intrinsecamente a ele ligada, for- mando o “homem interior” (Rm 7.22). Ver também Hebreus 4.12; Lc 1.46,47. Horton assevera: “A alma sobrevive à morte porque é energizada pelo espirito, mas alma e espírito são inseparáveis porque o espírito está entretecido na própria textura da alma. São fundidos e caldeados numa só substância. Como vimos, a alma faz parte do “homem interior” do ser unida ao espírito. Intrigantes questões têm sido formuladas sobre a origem da alma. A alma é introduzida no corpo; Ela é formada durante a concepção? A alma é preexistente? Há, basicamente, três teorias acerca da origem da alma, todas elas evocando fundamento bíblico. 6.1. Teoria da preexistência. É um dos fundamentos da doutrina espírita. Segundo essa ideia, as almas existem, em esferas diversas do mundo espiritual, e entram no corpo gerado, no processo chamado reencarnação. Para os defensores dessa doutrina, a alma peca, na vida presente, e, para se redimir, precisa purificar-se, voltando a se integrar num outro corpo humano, sucessivamente, durante inumeráveis existências. Antes mesmo de ser uma doutrina, codificada por Alan Kardec, principal expoente do espiritismo, a teoria da preexistência da alma teve o apoio de filósofos, como Platão e Filo, e de teólogos cristãos, como Orígenes de Alexandria (185 a 254). Essa teoria tem origem no maniqueísmo, doutrina pela qual se ensinava que o espírito era puro, ao lado da alma, que já preexistia. Quanto ao corpo, seria intrinsecamente mau, bem como a matéria à sua volta. Tal teoria não tem qualquer fundamento bíblico, pelas seguintes razões: 1) O homem foi feito alma vivente somente após o sopro de Deus, no momento inicial da criação do primeiro ser humano, na face da Terra; antes de Adão, não há qualquer indicação, nas Escrituras, da existência de almas, guardadas numa espécie de “celeiro de almas”, num lugar, nos planetas, como entendem os espíritas. 2) Os maus atos e a depravação do homem são decorrem de uma causa primária: o pecado de Adão, que passou a todos os homens (Rm 5.12). A consequência, pois, é pessoal, individual e responsável; é de cada pessoa que peca, em sua existência atual, e não de pretensas existências anteriores ao seu nascimento; 3) Deus fez o homem, incluindo sua parte imaterial (espírito+alma) “e viu Deus que tudo que tinha feito era muito bom” (Gn 1.31). 6.2 Teoria criacionista. Trata-se de uma teoria segundo a qual Deus “faz as almas diariamente”, conforme ensinava Aristóteles. Polano dizia que “Deus sopra a alma nos meninos quarenta dias após a concepção, e nas meninas oitenta” (s!c); Jerônimo e Pelágio também acatavam esse entendimento, bem como a Igreja Católica Romana e os teólogos reformados, a exemplo de Calvino. Segundo Strong, Lutero se inclinava para o traducionismo*. Para Strong, os criacionistas se baseiam nos seguintes textos bíblicos: “e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12.7); “palavra do Senhor... e que forma o espírito do homem dentro dele” (Zc 12.1); “... e as almas que eu fiz” (Is 57.16). Mas a Bíblia não dá respaldo a essa teoria. OBS.: Segundo o traducionismo as almas são transmitidas pelos pais aos filhos. Alguns teólogos da Igreja primitiva criam nessa teoria, dentre eles, Apolinário, Rufino e Gregório de Nissa. Lutero adotava essa crença e, já desde os seus dias, os luteranos são traducionistas. Sua base teológica nasce em Gênesis 1.27; 2.7, quando Deus soprou nas narinas do homem. Não se lê que houvesse soprado nas narinas de Eva, quando Deus a fez a partir da costela de Adão. Ela estava incluída na alma de Adão. Como, depois de Adão, Deus cessou a obra da criação, logo, 11 toda a descendência humana (corpo e alma) decorrem dos lombos do primeiro (Gn 46.26; Hb 7.9,10). Essa teoria facilita a explicação para a “herança da depravação moral e espiritual do homem, que é assunto da alma e não do corpo”. Essa teoria apresenta várias dificuldades, como ter de admitir que a alma é uma substância divisível; de qual alma o filho se originaria, da alma do pai ou da alma da mãe? E se da alma de ambos, então a alma teria de seguir o mesmo caminho biológico do corpo, por meio do qual, as células do pai e da mãe, em processo de meiose, dividem-se, somando-se as duas metades, uma do pai e outra da mãe para formar a nova célula que servirá de embrião. Dentre outras objeções ainda possíveis de se levantar acerca dessa posição, caberia perguntar sobre Cristo. Se o filho herda a alma do pai ou da mãe ou de ambos, Jesus, forçosamente teria de herdar a alma de sua mãe que, como ser humano, não estava isenta de pecado. Com todas as dificuldades que esta teoria apresenta, Culver alia-se a Strong em concordância com ela. Ele diz que o traducionismo “satisfaz as exigências de Romanos 5.12-19, em que a atenção se concentra no problema do pecado original”. 6.3. Teoria participativa. Leite Filho afirmou: “Quando se afirma que a alma é criada é necessário fazer algumas distinções: a criação é uma produção do nada; a alma é produzida na matéria e não da matéria; a produção da alma necessita de uma realidade criada já existente; a ação divina não tem como objetivo uma alma separada e sim o homem completo. De fato, o homem, desde a fecundação, não é “um aglomerado de células”, como dizem os cientistas ateus e materialistas. É um ser completo, composto de espírito, alma e corpo. Toda nova pessoa humana é fruto da ação imediata de Deus e da dos pais: Deus e os pais produzem o sujeito inteiro, mas os pais podem produzi-lo so- mente enquanto é um ser material vivo, isto é, tem um corpo, e Deus o produz imediatamente enquanto é um ser pessoa, isto é, tem uma alma. Mver Pearlman, explicando a origem das almas, após a criação do homem, corrobora com esse entendimento: “A origem da alma pode explicar-se pela cooperação do Criador com os pais. No princípio duma nova vida, a divina criação e o uso criativo de meios agem em cooperação. O homem gera o homem em cooperação com “O Pai dos espíritos”. O poder de Deus domina e penetra o mundo (At 1 7.28; Hh 1.3) de maneira que todas as criaturas venham a ter existência segundo as leis que Ele ordenou. Portanto, os processos normais da reprodução humana põem em execução as leis de vida, fazendo com que a alma nasça no mundo”. Assim, podemos concluir que a alma humana se forma, segundo as leis da procriação, deixadas por Deus, numa cooperação entre os pais biológicos, e “o pai dos espíritos” (Hb 12.9). Cada vez que um gameta masculino se funde com um feminino, no casamento, ou fora dele, pela lei do Criador, forma-se um conjunto espírito+alma dentro do homem. Diz a Bíblia: “Fala o Senhor, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele” (Zc 12.1b). O modo como Deus atua na formação da alma é um mistério ao qual devemos nos curvar, em nosso conhecimento limitado. 7. O CORPO HUMANO Na visão tricotômica do ser humano, o corpo tem papel importantíssimo. É através dele que a alma se comunica com o mundo exterior. É no rosto que aparecem as expressões de alegria, tristeza, ira, sono, calma, entusiasmo, rancor, mágoa e tantos outros sentimentos próprios da natureza humana. Diz a Bíblia: “o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem” (Pv 27.19). Graças à ciência, hoje podemos conhecer o corpo humano melhor do que qualquer pessoa do passado, inclusive as que tenham vivido no tempo em que a Bíblia foi escrita. Nos dias atuais, 12 podemos conhecer melhor a grandeza, a per- feição (relativa) e o maravilhoso funcionamento do corpo humano, como obra-prima das mãos de Deus, o Criador maravilhoso e absoluto de todas as coisas. A dimensão material do corpo. Em Salmos 139.13-16, Davi exclamou, diante da formação e do desenvolvimento do corpo desde o ventre: “Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito hem. Os meus ossos não te foram encobertos,quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram 0 meu corpo ainda informe, e no teu livro todas estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nem ainda uma delas havia. Que maravilhosa declaração e quão diferente da teoria da evolução, que assevera: As origens da vida, do corpo, do homem e da inteligência ocorreram pelo “acaso” cego e sem propósito algum. Apresentaremos a seguir algumas informações sobre o corpo humano, a fim de que sintamos melhor a grandeza da obra criadora de Deus, ao fazer o homem das substâncias que há no pó da terra e lhe dar a vida, tornando-o sua imagem e semelhança. 7.1. Organização do corpo humano. O esqueleto humano constitui o arcabouço que sustenta os músculos, “protege os órgãos internos e permite uma grande variedade de movimentos”. É formado por 206 ossos e corresponde a 1/5 do peso total. Há 216 tecidos no corpo humano. O cérebro humano “corresponde a 2% do peso de um adulto médio, mas é responsável por 20% do consumo de oxigênio desse indivíduo. o cérebro tem um trilhão de células nervosas” e seus “sinais trafegam ao longo dos nervos até um máximo de 360 km/h: uma mensagem enviada da cabeça para o pé chega em I /50 de segundo... o cérebro de um homem pesa 1,4 kg; o cérebro de uma mulher pesa 1,25 kg”. Há no corpo humano glândulas, grupos de células que produzem hormônios ou substâncias que regulam o funcionamento do corpo. O ser humano produz duzentos hormônios diferentes. O seu sistema imunológico é tão especial, que um só linfócito produz um milhão de anticorpos por hora. De acordo com a Enciclopédia Seleções, “uma pessoa tem 2,5 milhões de glândulas sudoríparas; (...) o nariz humano tem 50 milhões de células receptoras, o que permite identificar os odores variados”. Esses são apenas alguns aspectos da formação e estrutura do corpo humano. Somente uma criação especial, por um Ser supremo e inteligente, poderia conceber, estruturar e dar vida a um sistema tão especial quanto o corpo humano. Mais uma vez temos a expressão de Davi: “Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado” (SI 139.14a). 7.2. Maravilha da procriação. Cada mês, num dos ovários da mulher, um óvulo se desenvolve e cresce. Com um milésimo de milímetro de diâmetro, é lançado numa das trompas de falópio; daí, o óvulo caminha em direção ao útero. Encontrando-se com um espermatozoide, que o penetre, será fecundado. Numa relação sexual, o órgão masculino lança cerca de duzentos a trezentos milhões de espermatozoides. Um só penetra no óvulo! O seu núcleo se funde como núcleo do óvulo, cada um com 23 cromossomos, formando o ovo ou zigoto, que passa a ter 46 cromossomos. Naquele momento, já estão devidamente programadas, pela molécula do DNA (ácido desoxirribo- nucléico), todas as características genéticas individuais do novo ser humano. Dentro de poucas horas, o zigoto começa a se dividir em duas, quatro, oito, dezesseis, 32, 64 células, e assim por diante. Essa divisão celular começa a ocorrer, ainda, na trompa, mesmo 13 antes de chegar ao útero. Chegando ao útero, o embrião, na forma de blastocisto se implanta no útero. Começa a gravidez. E a formação de um novo ser humano, e não apenas de “um amontoado de células”, como entendem os cientistas materialistas. Nos seus primeiros dias, as células que formam o embrião chamam-se células-tronco embrionárias. Conforme registra Lima’, elas se formam, após a fusão dos gametas masculino e feminino (espermatozoide e óvulo), quando surge um aglomerado de células. Após quatro dias, esse grupo de células começa a formar uma estrutura esférica, chamada blástula, apresentando duas partes, uma interna e outra externa. A parte externa formará a placenta, e a interna, o embrião. E na parte interna que estão as células capazes de gerar todas as células do organismo de um indivíduo'. Dentro de cinco dias, o embrião forma a blástula ou blastocisto, com aproximadamente cem células. As células internas do blastócito são as que ensejam maior interesse dos pesquisadores, por poderem transforma-se em todos os tecidos do corpo humano, por serem ainda indiferenciadas. Os cientistas materialistas já fazem uso das células-tronco embrionárias na pesquisa, visando a obter a cura de doenças degenerativas, como mal de Alzheimer, mal de Parkinson, diabetes, câncer e outros. No entanto, com base na Palavra de Deus, entendemos que isso afronta a sacralidade da vida, pois o embrião é um novo ser humano, programado pelas leis da biologia, para se desenvolver com sua individualidade. Destruir embriões ou praticar o aborto é um crime gravíssimo, que deveria ser considerado hediondo. Prosseguindo com a viagem do embrião, vemos que, com quatro semanas, o coração começa a bater, com apenas cinco milímetros de comprimento; com seis semanas, o embrião obtém toda a sua nutrição e oxigênio da placenta e do cordão umbilical; com oito semanas, agora denominado feto, mede 2,5 centímetros, e seus membros são identificáveis. Começa a se mexer, mas a mãe não sente. Com doze semanas, os principais órgãos internos aparecem... com 22 semanas, todos os sistemas do corpo já estão estabelecidos. Se nascer prematuramente, o bebê pode sobreviver com auxílio médico; com 38 semanas, o bebê já está completamente formado, com sua cabeça encaixada (posicionada para baixo com a face voltada para a pélvis), pronto para nascer. Diante disso, só a Bíblia pode expressar a grandeza da criação do homem: “Pois possuíste o meu interior; entreteceste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo terrível e tão maravilhoso fui formado; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe”. (Sl 139.13-16). 7.3. Desenvolvimento e morte do corpo. Todo ser vivo, incluindo o homem, nasce, cresce, desenvolve-se e morre. Essa é uma lei que só admite exceção para aqueles que, na segunda vinda de Jesus, estiverem vivos, no momento do arrebatamento da Igreja. Afora essa exceção, “aos homens está ordenado morrerem uma vez” (Hb 10.27). Em seu desenvolvimento, o homem passa pela infância, adolescência, juventude e idade adulta. Em cada uma dessas fases, seu desenvolvimento físico depende de alimentação, repouso, movimento, relacionamento humano e espiritual. A velhice é a fase do declínio das energias físicas e mentais. Depois, vem a morte. Para os que têm a salvação em Cristo Jesus, a velhice é uma fase de gratidão e esperança quanto ao porvir. Para os que não têm a certeza da vida eterna, a velhice é vista como o fim da vida, sem qualquer esperança de uma vida melhor. 14 A morte — que pode ser física ou espiritual — é um fato que assusta a maioria das pessoas. Talvez porque o homem não foi programado, originalmente, para morrer. Ela entrou no mundo como consequência do pecado, do rompimento com Deus. Só a salvação em Cristo pode reverter a inclinação para a morte espiritual, que é a separação eterna de Deus. Já existem pessoas que esperam reverter a realidade da morte física através da ciência. Em países ricos, como os Estados Unidos, algumas pessoas já contrataram os serviços de empresas que se propõem a preservar o corpo, congelando-o a 196 graus negativos, a fim de que, um dia, se a ciência descobrir uma solução para o envelhecimento, e para a morte, seus donos possam ser reanimados. É a chamada criobiologia — biologia do congelamento da vida. A técnica utilizada chama-se hibernação. Nesse processo, o sangue do morto é retirado, substituído por um líquido anticongelante e colocado num cilindro de aço, num estado de suspensão criônica. Espera-se que, alguns séculos mais tarde, a ciência descubra como fazer a “ressurreição tecnológica”. Ê o homem mortal desejando a vida eterna por meios errados. Mas há cientistassérios que afirmam ser perda de dinheiro congelar pessoas. De fato, a lei da morte é inexorável. É consequência do pecado. Deus disse, no Éden, ao primeiro casal: “E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16,17). 8. A DIMENSÃO ESPIRITUAL DO CORPO Temos algumas expressões relacionadas às dinâmicas espirituais do corpo e suas configurações metafóricas. 8.1. Corpo do pecado (Rm 6.6). Nesta passagem, Paulo afirmou que uma vez que somos novas criaturas, devemos saber “que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado”. A expressão: “corpo do pecado” refere-se ao “velho homem”, que, antes de ser transformado por Deus, pela aceitação de Cristo como Salvador, vivia usando o corpo como instrumento para o pecado. Também disse o apóstolo Paulo, em Romanos 6.12-14: “Não reine, portanto, 0 pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça”. Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. 8.2. Homem exterior (2 Co 4.16). Disse Paulo: “Por isso, não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia”. Aqui, o apóstolo, ensinando sobre a ressurreição (2 Co 4.14), acrescenta que não devemos desfalecer diante das lutas que passamos nesta vida, pois, mesmo que o “homem exterior” — o corpo — se corrompa, envelheça e venha até a morrer, contudo o “homem interior” (espírito+alma), renova-se continuamente. 8.3. Casa terrestre (2 Co 5.1). Certamente, o apóstolo Paulo se referiu à temporalidade do corpo, em sua constituição física, como invólucro do espírito. De acordo com a Palavra de Deus, o destino do salvo é habitar nos céus, com Jesus, num corpo transformado, semelhante ao seu, quando ressuscitado (cf. Fp 3.21). O corpo celestial que nos será dado por Deus será a “nossa habitação, que é do céu” (2 Co 5.2). No entanto, enquanto estivermos aqui, não poderemos ter essa condição. 15 O “homem interior” não pode apresentar-se diante dos olhos humanos. Assim, precisa dessa “casa terrestre”, que é o corpo humano, com seus órgãos, tecidos e seus sentidos físicos. E casa temporária, morada passageira, visto que somos, na Terra, “peregrinos e forasteiros” (2 Pe 2.11). 8.4. Corpo desta morte (Rm 7.24). Ensinando sobre a luta entre a carne (natureza pecaminosa) e o espírito, o apóstolo Paulo, de forma eloquente, disse: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”. Paulo se referia ao fato de o pecado utilizar-se dos membros do corpo para praticar a iniquidade e a desobediência contra Deus, o que equivale a experimentar a morte espiritual (Ef 2.1). 8.5. Corpo abatido (Fp 3.21). Numa visão escatológica, Paulo estimula os filipenses a viver a fé com perseverança e alerta- os contra os “inimigos da cruz de Cristo” (v. 10). E, numa palavra de conforto e esperança, lhes assegura: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador; o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”. O corpo abatido é o corpo em sua condição humana, sujeito às doenças, à fraqueza, ao envelhecimento e à morte. Mas a promessa para os salvos é a de que, se permanecermos fiéis, um dia Deus nos ressuscitará, num corpo glorioso, semelhante ao de Jesus — Ele, ao ressuscitar, foi capaz de atravessar as paredes e vencer todas as forças da natureza. Assim será o corpo do salvo após a ressurreição ou o Arrebatamento da Igreja (I Co 15.42,43). 8.6. Templo do Espírito Santo (I Co 6.19,20). Mais uma vez, mostrando aos crentes que Jesus ressuscitou e nos ressuscitará, o apóstolo Paulo alerta os cristãos para não darem lugar ao pecado, visto que os nossos membros, do corpo físico, são, na verdade, “membros de Cristo”; e indaga, de modo incisivo: “Ou não sabeis que o nosso corpo é 0 templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus”. (I Co 6.19,20) Essa é uma exortação de alto significado espiritual, pois demonstra que o corpo físico tem elevado valor espiritual para Deus. Não é, como alguns pensam, que Deus só se interessa pelo espírito e pela alma (homem interior). Na realidade, Deus quer, pela salvação, alcançar o homem em sua tríplice constituição: espírito, alma e corpo. E isso é corroborado, como vimos, em I Tessalonicenses 5.23. Esta passagem não deixa dúvidas quanto ao valor espiritual do homem, incluindo o seu corpo, que também deve ser conservado irrepreensível para a segunda vinda. CONCLUSÃO A Antropologia Bíblica nos apresenta uma série de informações acerca do homem, segundo a visão das Escrituras, abordando, dessa forma, a sua interação com os outros seres criados por Deus, além de sua constituição moral, física, psicológica e espiritual. Desta forma, temos uma matéria de incrível relevância para o nosso entendimento de nossa existência na terra e nossa vocação celestial. BIBLIOGRAFIA BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã: São Paulo, 2001. CHAFER, Lewis Sperry, Teologia Sistemática. Hagnos: São Paulo, 2003, Vol II. 16 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Hagnos: São Paulo, 2003. Vol. I. RYRIE, Charles. Teologia básica. Mundo Cristão: São Paulo, 2004. RENOVATO, Elinaldo. Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. LOURENÇO, Adalto. Gênesis 1 e 2 - A mão de Deus na criação. S. José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2011. HORTON, Stanley. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008. BRUNELLI, Walter. Teologia para Pentecostais: Uma Teologia Sistemática Expandida – Vol. III. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2016.