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No filme, esse processo de adaptação cultural e imposição de padrões fica evidente em diversas cenas. Por exemplo, quando os agentes disfarçados participam de um concurso de moda e precisam desfilar e se vestir de acordo com os padrões estéticos da elite branca. Essa cena ilustra o ponto de Skinner sobre como a cultura reforça certos comportamentos e estilos de vida, punindo ou ridicularizando aqueles que não seguem tais regras. O fato de eles não dominarem completamente os códigos daquele grupo gera situações de constrangimento e quase os denuncia como impostores. Outro exemplo está na cena em que as personagens participam de uma roda de amigas em um shopping, onde percebem a necessidade de adotar uma linguagem específica e até mesmo reproduzir gírias e modos de falar para serem aceitas. Esse episódio reforça a ideia de que os grupos sociais controlam padrões de comunicação que, segundo Skinner, funcionam como reforços culturais. Além disso, a dimensão racial é fundamental para compreender a crítica implícita do filme. O próprio disfarce de dois homens negros se transformando em mulheres brancas da elite já aponta para o impacto do racismo estrutural, pois evidencia que, para serem aceitos em certos espaços de prestígio e poder, eles precisaram literalmente mudar de cor e de classe social. Isso revela como a sociedade valoriza mais fortemente os corpos brancos, associando-os à beleza, ao status e ao poder. Nesse sentido, o filme, mesmo no tom humorístico, expõe o quanto o racismo define quem pode ou não ocupar determinados espaços de prestígio. Esse ponto é reforçado em outras passagens, como quando os protagonistas, ainda disfarçados, são vítimas de comentários velados sobre aparência, reforçando a ideia de que a branquitude ocupa uma posição de referência cultural. O humor, nesse caso, atua como um recurso de crítica social, permitindo que reflexões mais profundas sobre desigualdade racial e cultural sejam levantadas de forma acessível ao público. Um estudo que contribui para essa discussão é o artigo de Bonilla-Silva (1997), “Rethinking Racism: Toward a Structural Interpretation”, publicado na American Sociological Review. Nesse trabalho, o autor argumenta que o racismo não deve ser entendido apenas como preconceito individual, mas como um sistema estrutural que organiza práticas sociais e distribui privilégios de forma desigual. Essa perspectiva ajuda a compreender melhor a mensagem do filme, pois em As Branquelas o humor exagerado escancara justamente essas barreiras invisíveis, mostrando que a cultura dominante (branca e elitista) impõe padrões que excluem e marginalizam outros grupos. Outro artigo que amplia essa análise é o de Crenshaw (1989), “Demarginalizing the Intersection of Race and Sex”, publicado na University of Chicago Legal Forum. Nesse trabalho, a autora introduz o conceito de interseccionalidade, explicando como raça e gênero se entrecruzam na experiência das mulheres negras, produzindo opressões específicas. Essa perspectiva é especialmente relevante para compreender o filme, já que os protagonistas não apenas se tornam "brancos", mas também "mulheres", enfrentando, ainda que de forma caricatural, os dilemas e pressões sociais ligados a esse lugar de fala. Assim, a interseccionalidade amplia a crítica, mostrando que as estruturas sociais discriminatórias não se limitam a um único eixo, mas funcionam de forma sobreposta e complexa. Portanto, ao relacionar Skinner com As Branquelas, percebemos que o filme não apenas mostra como os reforços culturais moldam comportamentos, mas também denuncia, de forma satírica, o peso do racismo e do sexismo na manutenção desses padrões sociais. Assim, a análise vai além da comédia, permitindo refletir sobre como as estruturas culturais e raciais influenciam diretamente a vida em sociedade e como a mudança dessas práticas pode abrir espaço para transformações mais igualitárias. Referências bibliográficas (ABNT): BONILLA-SILVA, Eduardo. Rethinking Racism: Toward a Structural Interpretation. American Sociological Review, v. 62, n. 3, p. 465-480, 1997. CRENSHAW, Kimberlé. Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics. University of Chicago Legal Forum, v. 1989, n. 1, p. 139-167, 1989.