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UNIVERSIDADE UNIGRANRIO 
 
 
 
ESCOLA DE CIÊNCIAS, EDUCAÇAO, LETRAS, ARTES E HUMANIDADES 
CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA 
 
 
 
ESCOLA DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO, LETRAS, ARTES E HUMANIDADES 
CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA 
 
 
 
 
Teologia Sistemática Cristologia e 
Pneumatologia 
 
 
Aluna: Elisa Ribeiro Frade 
Matrícula:0075773 
 
 
Trabalho apresentado à disciplina teologia sistemática cristologia e 
pneumatologia, lecionada pelo professor Márcio Simão de Vasconcellos 
 
 
Rio de Janeiro 
2025 
 
 
 
 
A TEOLOGIA DA ENCARNAÇÃO E A KÊNOSIS 
Introdução 
Entre os maiores mistérios da fé cristã estão a Encarnação e a Kênosis, dois temas que se entrelaçam 
e revelam o modo como Deus escolheu se comunicar e se doar à humanidade. A Encarnação afirma 
que Deus se fez homem em Jesus Cristo, o Verbo eterno que assumiu a condição humana (Jo 1,14). Já 
a Kênosis descreve o movimento de “esvaziamento” de Cristo, que, sendo Deus, assumiu a forma de 
servo e entregou-se em amor até a morte (Fp 2,5-11). 
Esses conceitos não são apenas dogmas distantes, mas expressões de uma teologia viva, centrada na 
revelação do amor divino. A partir dos evangelhos e das cartas paulinas, bem como de reflexões de 
teólogos contemporâneos como Vasconcellos (2016) e Gonçalves (2009), este trabalho propõe 
compreender esses mistérios e refletir sobre sua importância para a prática pastoral e para a vivência 
da fé cristã no mundo atual. 
 
1. Como conceituar a Teologia da Encarnação? 
A Teologia da Encarnação é o coração pulsante do cristianismo. Ela afirma que o Verbo eterno, por 
amor, “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Na teologia cristã, a Encarnação é o ápice da 
autocomunicação de Deus, um ato livre e amoroso pelo qual Ele entra na história humana, assumindo 
a fragilidade da criatura para elevá-la à comunhão divina. 
Karl Rahner (1982) define a Encarnação como o ponto culminante do processo de autocomunicação 
de Deus à humanidade. Para ele, o mistério da Encarnação revela que Deus não é um ser distante, mas 
“o absolutamente próximo”, aquele que, ao se fazer homem, mostra que o humano é o verdadeiro 
lugar da revelação divina. Nesse sentido, Rahner rompe com qualquer visão de um Deus inacessível e 
apresenta a Encarnação como o início da divinização do mundo. 
Já Hans Urs von Balthasar (1988) ressalta que, na Encarnação, Deus se “abandona” em amor à 
humanidade, tornando-se vulnerável para salvar. Essa entrega divina não é apenas uma descida, mas 
uma participação radical na condição humana, marcada pela dor, pelo limite e pela morte. Balthasar 
entende que a Encarnação é o drama do amor divino: o infinito entra no finito para restaurar o sentido 
da existência. 
João Batista Libânio (2005) interpreta a Encarnação como a manifestação do amor encarnado de 
Deus: um Deus que assume a vulnerabilidade humana para torná-la lugar de graça. Ele escreve que “a 
Encarnação é o gesto supremo de solidariedade divina”, pois nela Deus se compromete com o destino 
da humanidade (LIBÂNIO, 2005, p. 97). 
Do ponto de vista bíblico, o Evangelho de João apresenta o Cristo encarnado como a “luz verdadeira 
que veio ao mundo” (Jo 1,9), enquanto Mateus mostra o Emmanuel, “Deus conosco” (Mt 1,23). Em 
ambos, o mistério da Encarnação é apresentado não como um evento isolado, mas como o início da 
salvação. Jesus é Deus presente na história, o rosto humano do Pai. 
Na leitura de Alonso Gonçalves (2009), a Encarnação é a expressão do Reino de Deus que se faz 
realidade entre os pobres e excluídos. Para o autor, “Deus não age fora da história, mas dentro dela”, e 
por isso a Encarnação é também uma práxis pastoral — o amor de Deus que se traduz em serviço, 
proximidade e libertação. 
Assim, a Teologia da Encarnação nos ensina que a fé cristã é essencialmente encarnada: ela não se 
limita a crenças abstratas, mas se realiza na vida, na solidariedade e no compromisso ético. Deus não 
 
 
 
 
se revelou em um trono celestial, mas em uma manjedoura. A encarnação é o gesto divino que 
dignifica a humanidade e santifica o cotidiano. 
 
2. Como conceituar Kênosis? 
A palavra Kênosis vem do grego kenoō, que significa “esvaziar-se”. Ela descreve o mistério de Cristo 
que, sendo Deus, renuncia à sua glória para assumir a condição de servo (Fp 2,5-8). Essa autodoação é 
o caminho da salvação e o modelo da verdadeira humildade. 
Para Márcio Simão de Vasconcellos (2016), a Kênosis é “a revelação do amor de Deus que se 
despoja de poder para instaurar a paz” (VASCONCELLOS, 2016, p. 835). O esvaziamento de Cristo é 
um gesto de amor radical e libertador, no qual Deus se apresenta não como dominador, mas como 
servo. Ele vence não pela força, mas pelo amor. 
Joseph Ratzinger (Bento XVI), em Introdução ao Cristianismo (2005), explica que a Kênosis é a 
forma suprema de revelação de Deus, porque somente um Deus que se humilha pode ser 
compreendido como amor. O esvaziamento não diminui o ser divino, mas o manifesta plenamente. É 
nesse movimento que o cristão entende que o poder de Deus é o poder de servir. 
Leonardo Boff (1994) complementa que a Kênosis tem também uma dimensão social e pastoral. Em 
Jesus, Deus “desce” até a humanidade para erguer os oprimidos. Ele não salva de fora, mas de dentro 
da história. O Cristo kenótico é aquele que se faz solidário com a dor humana, revelando que a 
redenção acontece na comunhão com os pequenos e sofridos. 
O apóstolo Paulo propõe a Kênosis como modelo de vida cristã. Ele exorta: “Tende em vós os 
mesmos sentimentos que houve em Cristo Jesus” (Fp 2,5). Assim, o esvaziamento não é apenas uma 
atitude divina, mas um chamado ético para o discípulo. Ser cristão é esvaziar-se do egoísmo, da busca 
de poder e da autossuficiência, para deixar que o amor de Deus se manifeste. 
Hans Urs von Balthasar (1988) afirma que a Kênosis é a essência da Trindade: um amor eterno que 
se doa e se recebe. No Filho, esse amor assume a carne e a cruz. A Kênosis, portanto, é o reflexo 
terreno de uma realidade divina eterna — o amor que se entrega sem reservas. 
Segundo Vasconcellos (2016, p. 841), “a Kênosis é a resposta divina à violência humana: o amor 
desarmado que vence o mal pelo bem”. Essa frase sintetiza a dimensão libertadora da Kênosis. Ela é a 
base de uma teologia da paz, na qual o amor é a única força capaz de transformar o mundo. 
Em resumo, a Kênosis é o coração da revelação cristã: o Deus que se esvazia para se comunicar, que 
se humilha para exaltar, e que morre para dar vida. É a espiritualidade da entrega e da reconciliação, a 
pedagogia divina do amor. 
 
3. Em que sentido a Teologia da Encarnação e a Kênosis auxiliam na 
prática pastoral e na vivência da fé cristã hoje? 
A Teologia da Encarnação e a Kênosis não são apenas reflexões doutrinárias, mas caminhos de vida. 
Ambas apontam para uma espiritualidade encarnada, humilde e transformadora, que deve inspirar toda 
a ação pastoral da Igreja. 
Alonso Gonçalves (2009) lembra que a Encarnação é a base da práxis pastoral: Deus age na história 
por meio de pessoas e comunidades que se tornam sinais de sua presença. Assim, a pastoral que se 
inspira na Encarnação é uma pastoral de proximidade — uma Igreja que caminha com o povo, escuta 
 
 
 
 
suas dores e compartilha suas esperanças. 
Por outro lado, a Kênosis oferece à pastoral uma pedagogia do amor-serviço. O esvaziamento de 
Cristo se torna o paradigma do ministério cristão: servir antes de ser servido, amar antes de ser 
compreendido, perdoar antes de ser reconhecido. 
O teólogo Jon Sobrino (1992), em sua Cristologia a partir da América Latina , afirma que “seguir 
Jesus é continuar o seu caminho kenótico: viver a partir dos últimos, despojando-se de privilégios para 
revelar o rosto misericordioso de Deus”. Isso significa que a fé cristã autêntica só pode ser vivida 
quando se traduz em solidariedade e compromisso com os marginalizados. 
No contexto atual, marcado por desigualdades e indiferença, a Encarnação e a Kênosisconvidam a 
Igreja a uma presença transformadora. Uma pastoral kenótica é aquela que se despoja do poder e 
busca a comunhão. É uma Igreja que, como Cristo, não teme tocar as feridas da humanidade. 
Além disso, a espiritualidade kenótica se torna um antídoto contra o orgulho religioso e a 
autossuficiência institucional. O Papa Francisco, em sua teologia da misericórdia, ecoa esse princípio 
ao afirmar que “a Igreja deve ser um hospital de campanha, próxima dos feridos” (FRANCISCO, 
2014). Essa imagem sintetiza o espírito da Kênosis vivido pastoralmente. 
Em nível pessoal, a Encarnação e a Kênosis ajudam o cristão a compreender a fé como transformação 
interior. O Deus que se faz homem nos ensina a valorizar a vida, o corpo e a história. O Deus que se 
esvazia nos ensina a amar sem medida, a servir sem interesse e a viver com compaixão. 
Portanto, a vivência da fé cristã hoje deve ser uma fé encarnada e kenótica, uma fé que se 
compromete com a realidade, se solidariza com os sofredores e constrói a paz. A Teologia da 
Encarnação e a Kênosis formam o eixo de uma espiritualidade que humaniza e liberta, revelando que o 
verdadeiro rosto de Deus é o amor em ação. 
 
Conclusão 
A Encarnação e a Kênosis revelam o mistério mais profundo do cristianismo: um Deus que se doa. O 
Verbo se fez carne e, ao mesmo tempo, esvaziou-se por amor. Esses dois movimentos — descer e 
doar-se — definem o coração da fé cristã e apontam o caminho da Igreja. 
Refletir sobre esses mistérios é descobrir que a grandeza de Deus se manifesta na simplicidade e que a 
força divina se revela na fraqueza assumida por amor. A Encarnação e a Kênosis continuam sendo 
faróis que iluminam a caminhada da fé, lembrando-nos que ser cristão é encarnar o amor e esvaziar-se 
para servir. 
 
Referências Bibliográficas 
BOFF, Leonardo. Jesus Cristo Libertador: Ensaio de Cristologia Crítica para o Nosso Tempo. 14. ed. 
Petrópolis: Vozes, 1994. 
 GONÇALVES, Alonso. Reino de Deus e práxis pastoral: uma abordagem a partir da teologia de Jon 
Sobrino. Ciberteologia – Revista de Teologia & Cultura, Ano III, n. 23, 2009. Disponível em: 
https://www.academia.edu/9698277/Reino_de_Deus_e_pr%C3%A1xis_pastoral_Uma_abordagem_a_
partir_da_teologia_de_Jon_Sobrino. Acesso em: 12 jul. 2025. 
 LIBÂNIO, João Batista. Introdução à Teologia Fundamental. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2005. 
 RAHNER, Karl. Curso Fundamental da Fé. São Paulo: Paulinas, 1982. 
 SOBRINO, Jon. Cristologia a partir da América Latina: Esboço a partir do seguimento de Jesus . São

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