Buscar

3 BRASIL COLÔNIA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

3 BRASIL COLÔNIA
3.1 Sem Fé, sem Lei, sem Rei
Os habitantes originais do território que hoje é o Brasil eram múltiplos, em tribo, etnias, línguas. Eles viviam em comunidades caracterizadas pela inexistência da propriedade privada. O caráter comunitário da produção implicava em uma economia que buscava assegurar estritamente o que era para consumo.
Das várias línguas, a mais utilizada era o tupi, que não tinha a pronúncia da letra “F”, da letra “L” ou da letra “R”, o que foi utilizado pelos portugueses como uma forma de depreciação do índio porque, em se partindo de uma comparação com os europeus de época, como os índios não eram cristãos, não tinham fé; como não legislavam, não tinham lei, como não tinham chefe supremo, não tinham rei.
Para europeus era estranho não identificar alguém nas tribos com poder que pudesse ser colado acima dos demais. De fato havia o chefe da aldeia, mas não era muito maior que os dos chefes das malocas.
Quanto as leis, de fato eles não as tinham, não no modelo europeu que contava com códigos e com autoridades supremas que impunham a lei.
As grandes decisões eram tomadas pelo grupo de homens que se reunia para discutir, o que era valorizado era o poder da persuasão. 
Mas havia regras, elas não eram escritas porque os índios do território que Portugal tomou posse não tinham escrita. Eram regras variáveis de tribo para tribo mas algumas questões eram comuns.
A divisão do trabalho era feita através de critérios sexuais ou etários. Para alimentação havia algumas proibições, os animais domésticos se tornavam tabus alimentares. 
O casamento era preferencialmente realizado na forma avuncular, ou seja, matrimônio do tio materno com a sobrinha e era através destes que eram acertadas as alianças. Casar-se era tão simples quanto divorciar-se; após declaração de ambas as partes estava feito. A poligamia era permitida e o homem com mais de uma esposa tinha seu prestígio reforçado. A poliandria também existia em algumas tribos, havia a possibilidade de uma mulher ter vários maridos.
3.2 Os tratados antes do Brasil e limites de terras
Os primeiros documentos com valor jurídico relativos ao que chamamos hoje de Brasil são anteriores a própria existência jurídica do Brasil.
Alguns autores indicam a Bula Inter Coetera (de 1493) e o Tratado de Tordesilhas (de 1494) como sendo os documentos que trazem a posição de primeiros documentos jurídicos que afetaram o que é hoje o Brasil.
Mesmo antes da viagem de Colombo houve um Tratado celebrado entre Portugal e Espanha em 6 de março de 1480, o Tratado de Toledo, que dava a Portugal a exclusividade de águas e terras ao sul das Canárias.
A viagem de Colombo veio a estremecer o relacionamento entre as duas Coroas Ibéricas e fez com que o rei português D. João II, fundamentado no diploma de 1480 procurasse garantir seus direitos através de uma demonstração de força. 
Para defenderem-se, os Reis Católicos da Espanha, buscaram apoio no papa. Em 4 de maio de 1493 o Papa Alexandre VI expediu a Bula Inter Coetera.
Embora a demarcação da bula papal tenha salvaguardado as rotas portuguesas do Atlântico Sul, D. João II recusou-se a aceitá-la e pressionou a Espanha, que recém-saíra da guerra contra os Mouros e receava entrar em uma, outra guerra, para que um arranjo fosse feito.
Foi em Tordesilhas, em 7 de junho de 1494, o acordo que deu fim a longas negociações entre as duas coroas. Conforme a principal cláusula do diploma as duas monarquias estabeleciam o meridiano traçado a 370 léguas a oeste das Ilhas Cabo Verde, tudo que estivesse seria espanhol, a leste de Portugal.
3.3 O antigo sistema colonial e o primeiros documentos jurídicos na Colônia
O Brasil dos primeiros tempos não eram em nada interessante para Portugal. O Brasil era uma colônia e no Antigo Sistema Colonial a Colônia existe para dar lucros, para desenvolver a Metrópole, e os índios no Brasil não eram um mercado considerável.
O que havia de interessante era o pau-brasil, a árvore era considerada um produto “estancado”, ou seja, só o consentimento real dava o direito de exploração. Assim foram expedidos os primeiros documentos com valor jurídico, aqueles que davam, mediante pagamento prévio de uma soma, a indivíduos o direito de extrair, por um tempo determinado, a madeira. 
Portugal não tinha condições financeiras e humanas para empreender uma posse em um território tão vasto quanto era o Brasil. A solução encontrada foi uma espécie de “privatização” da colonização: as Capitania Hereditárias. Os donatários – maneira que eram chamados aqueles que recebiam as Capitania – ficaram responsáveis pelos investimentos de colonização.
Os indivíduos escolhidos para donatários recebiam as Cartas de Doação que indicavam a condição de posse de sua capitania. Eles tinham o privilégio de exercer a justiça, mas isto não era arbitrário, nem exerciam o poder judicial e legislativo de forma isolada, eram obrigados a seguir as leis do Reino e as Cartas Forais que delimitavam suas funções. Os forais eram importantes documentos jurídicos tendo em vista que delimitavam e indicavam poderes e deveres.
Cabia aos donatários nomear seu Ouvidor para exercer a jurisdição civil e criminal.
3.4 O município, o governo e a montagem de um aparato jurídico da Colônia
Com o fracasso do sistema de Capitanias, foi transladado para a colônia os princípios de administração local através do Município, com organização e atribuições políticas, administrativas e jurídicas semelhantes às da metrópole, seguindo a legislação metropolitana.
A criação do Governo Geral em 1548 demonstrava esta mudança de rumo. Enquanto com as Capitanias Hereditárias os donatários recebiam poderes soberanos, os Governadores estariam, ao mesmo tempo, sujeitos diretamente ao poder metropolitano e sujeitando a colônia a este controle. Cabia ao Governador Geral coordenar a defesa da terra contra ataques instalando fortes.
O Regimento ainda estabelecia que o Governador fizesse aliança com os índios e dessem auxílio em sua catequese evitando sua escravização e doando-lhes terras com vistas a integrar estas populações no sistema produtivo colonial.
A questão da não escravização do indígena é muitas vezes justificada com uma obra primorosa de marketing dos jesuítas que, interessados em ter índios livres para a catequese não desejavam que estes fossem escravizados.
Paralelamente ao interesse desta ordem, o índio não era interessante como escravo por dois motivos básicos: primeiro e mais importante, a escravidão indígena não atendia o principal pressuposto da relação metrópole colônia, isto é, a colônia deveria sua existência para dar lucros à metrópole.
O segundo motivo era o interesse e, até certo ponto, a necessidade de Portugal de tornar os índios parte da obra de colonização. Como auxiliares dos governadores foram instituídos ainda três cargos, cada qual com Regimento próprio: o Provedor Mor da Fazenda , o Capitão Mor da Costa e o Ouvidor Mor. A princípio o Ouvidor Mor era independente, mas, poucos meses após a implantação do Governo Geral a função do Ouvidor vinculou-se ao Governador.
A colonização no Brasil cometeu um erro crasso, que levaria a outros erros ainda maiores: os portugueses transpuseram para a colônia o modelo idêntico ao que era utilizado em Portugal.
Nas vilas, nos municípios, havia toda uma série de cargos que chamaríamos, pela falta de denominação melhor, de jurídicos que eram ocupados (almotacés, juiz ordinário etc.), mas a jurisdição destes era tão imensa que tornava humanamente impossível cobrir todo território que se deveria.
Podemos indicar, através do estudo de Jônatas L. M. de Paula uma visão panorâmica da estrutura judiciária do Brasil colônia, principalmente depois da Ordenação Filipina:
• Ouvidor – além das funções administrativas cabia-lhe conhecer e julgar os processos cíveis e criminais.
• Juiz Ordinário ou da Terra – eleito entre os homes bons, tinham como função processar e julgar os processos cíveis e criminais.
• Juiz de Vintena –cabia-lhe julgar em processo verbal as questões de pequena monta.
• Almotacéis – competia-lhes questões sobre servidões urbanas e nunciações de obras novas.
• Juiz de Fora – substituía o juiz ordinário nas causas cíveis cujo valor não ultrapassasse mil réis nos bens móveis e nas localidades de até 200 casas.
• Juiz de Órfãos – cabia-lhe processar e julgar inventários, partilhas, causas decorrentes deles ou em que fosse parte deles menores ou incapazes, assim como as causas envolvendo tutela e curatela. 
Para o segundo e terceiro graus de jurisdição o órgão máximo era a Casa da Suplicação, com sede em Lisboa. Outros eram o Desembargo do Paço, a Casa do Porto, a Mesa da Consciência e Ordens, o Conselho Ultramarino, a Junta de Comércio, o Conselho do Almirantado, o Tribunal da Junta dos Três Estados, o Régio Tribunal ou Fazenda e o Tribunal do Santo Ofício.
3.5 O direito sob o domínio holandês no nordeste brasileiro
Entre 1580 e 1640, Portugal estava sob o domínio espanhol, sob o comando do rei Felipe II. Unindo a questão da incompatibilidade religiosa e a necessidade sempre crescente de afluxo de dinheiro, o rei Felipe adotou uma postura extorsiva no tocante aos impostos cobrados dos flamengos que rebelaram-se e fundaram um novo país na Europa, a “República das Províncias Unidas”. Este país já nascia como a maior potência comercial do mundo, possuindo uma frota de navios mercantes maior que a soma dos navios de todos os outros países.
Os flamengos eram os distribuidores dos produtos coloniais na Europa e financiadores de empresas nas colônias.
O nascimento da República das Províncias Unidas não ocorreu de forma pacífica, durante toda a segunda metade do século XVI eles lutaram contra Felipe II pela independência. Essa luta gerou a proibição tácita do rei Felipe II dos holandeses comercializarem com quaisquer de suas possessões, incluindo-se a região do açúcar no Brasil.
O fracasso da primeira tentativa de invasão ao território brasileiro não desanimou a Companhia das Índias Ocidentais, órgão holandês que detinha um monopólio – dado pelo governo da República das Províncias Unidas – do comércio da África e da América.
Com a conquista de quatro importantes capitanias pelos holandeses, a de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande do Norte iniciou-se o período conhecido como “Brasil Holandês”. 
Os holandeses do nordeste brasileiro adaptaram a estrutura jurídico-administrativa seguindo o modelo das instituições políticas holandesas. Foram instalados os Conselhos de Escabinos em substituição às Câmaras Municipais.
A legislação da Holanda deste período bem como a legislação que os holandeses impuseram na região brasileira que dominaram é pouco conhecida.
Havia pena de morte para alguns delitos. A pena de morte era executada de várias maneiras como enforcamento, morte pela espada, pela fogueira, entrega aos índios, esquartejamento.
Outras penas, um pouco menos severas. Eram aplicadas para extorsão, jogos de azar, incesto e adultério.
Eram considerados delitos também não plantar o número de covas de madioca ordenado por lei, vender carne ou matar gado sem licença, casar-se ou amigar-se com índios, realização por padre católico de casamento sem a observância das determinações do governo holandês, escarnecer o judeu, cristão de outra denominação ou blasfemar.
3.6 A legislação específica da região das Minas
A descoberta do ouro no Brasil não ocorreu, ao menos de todo, por acaso. Só no final do século encontraram jazidas importantes e provocaram uma grande mudança na colônia e na metrópole. O grande afluxo de pessoas gerava uma falência permanente no setor de produção de alimentos.
À medida que as jazidas foram sendo encontradas em maior número e a produção aurífera aumentava o governo metropolitano interessava-se, cada vez mais, em controlar esta atividade. Por isso há toda uma legislação específica para este setor no período, dentre outros podemos citar o Código Mineiro de 1603 e 1618 e o Regimento de 1702. 
O Código Mineiro estabelecia que todos os súditos do rei podiam extrair livremente o ouro, desde que reservassem para a Real Fazenda a quinta parte do produto.
O Regimento de 1702 é considerado o regimento mais importante porque alterou substancialmente os códigos anteriores e traçou as linhas básicas do sistema que persistiu até o fim do período colonial.
O regimento criou, então, um governo especial para as zonas auríferas: a Intendência das Minas que estava vinculada somente a Lisboa. As atribuições desta Intendência eram amplas.
Outra modificação efetuada pelo Regimento foi a substituição do Provedor, criado pelo Código Mineiro, por um Superintendente, com atribuições jurídicas mais extensas.
O sistema de arrecadação de impostos era o que mais importava para a metrópole, assim, a Coroa sempre busca meios de aperfeiçoar-se com o objetivo de não perder, de maneira alguma, os lucros advindos com a mineração
Em 1700 foram nomeados por decreto régio Provedores e Escrivães que seriam responsáveis pela fiscalização do pagamento dos quintos.
Em 1713 a Junta da Fazenda de Vila Rica propôs que se substituísse o quinto por uma quantia anual fixa, era o chamado sistema de fintas, mas a Coroa, em 1735 criou um sistema mais eficiente e mais cruel ainda do ponto de vista dos colonos: a “Taxa de Capitação dos Escravos e o Censo das Indústrias” que reunia a idéia do sistema de 1710 – cobrança per capta de escravos utilizados – incluindo escravos não utilizados na mineração e cobrando de pessoas livres que mineravam e todos da região das minas da mesma maneira
Em 1735 a Coroa voltou atrás novamente, entretanto, haveria um mínimo a ser pago, muito alto e portanto muito difícil de cumprir, o que levaria à Derrama.
3.7 Brasil colônia – organização social
A ampliação comercial levou a necessidade de expansão em busca de novos mercados produtores e consumidores. Foi nesse contexto que Portugal, impulsionado pela necessidade de obter mercadorias, devido a escassez, lançou-se em viagens marítimas para alem das costas portuguesas em direção ao sul do Atlântico. E foi numa dessas viagens, que por um erro de percurso, como narra a nossa história que, em 22 de abril de 1500, Portugal aporta na Terra de Vera Cruz.
Os nativos que aqui se encontravam possuíam grande diversidade de tribos, etnias, línguas. Viviam em comunidades onde a terra era de todos e o que se produzia era destinado estritamente ao próprio consumo não havendo assim excedentes de produção, senão raras vezes, e ai então acontecia a troca com outras tribos.
Todo o grupo contribuía para o sustento da tribo e ninguém obrigava ninguém a nada. As decisões eram tomadas pelo grupo de homens reunidos no centro da aldeia e as ordens dos chefes eram cumpridas, não por pura obediência, mas sim pelo poder de persuasão. 
Embora não houvesse leis escritas, pois os índios que habitavam a colônia portuguesa não tinham escrita, haviam regras que variavam de acordo com as tribos, mas no aspecto geral havia semelhanças quanto essas regras.
Aos homens cabia a tarefa de caçar, guerrear e preparar a terra para o plantio. As mulheres cuidavam da agricultura, preparo de alimentos e artesanato em geral.
Os portugueses, que já possuíam status de Estado e viviam sob um regime monárquico absolutista, onde o rei centralizava todo o poder, muito estranharam o modo pelo qual se organizavam as comunidades. Eles não divisavam a presença de alguém que exercesse poder sobre os demais, já que os chefes de cada maloca possuíam poder quase equivalente ao chefe da aldeia. Não havia também leis com códigos, como era o modelo europeu, nem autoridades que as fizesse cumprir.
3.8 O direito português em território brasileiro
Naturalmente, como não podia deixar de ser, o direito que os portugueses trouxeram para o território que hoje é o Brasil foi o que vigorava em Portugal, onde vigoravam as Ordenações Afonsinas e diversas legislações extravagantes.
O Brasil colonizado por Portugal refletiu sempreos interesses econômicos da metrópole e em função deles se articulou. Instalando-se uma cultura agrária, baseada no latifúndio, para servir de economia complementar aquela que realizava o controle do monopólio. 
Os donos dos latifúndios eram a elite dominante em posição oposta aos que eram utilizados na mão-de-obra e sustentavam a economia. Essa era a organização social do Brasil Colônia. A estrutura política foi importada de Portugal e o povo nativo foi submetido a ela sem sequer tomar consciência.
No que diz respeito a cultura implantada aqui pelos lusitanos, essa era absolutista e autoritária, vinculada aos ideários da Igreja Católica. 
Foi nesse contexto histórico que se deu o surgimento do Direito no Brasil e por algum tempo conviveram o Direito do povo que aqui vivia, que era um direito informal, com o direito transposto de Portugal e imposto no Brasil colônia, o que culminava em divergências de idéias e práticas. Imperava a coexistência de duas organizações sociopolíticas diferenciadas: de um lado o excesso de burocracia e formalismo do outro, a existência de relações primarias – burocracia x patrimonialismo. 
O choque cultural resultou a desestruturação de aproximadamente 6 milhões de pessoas que aqui viviam. Os índios eram vistos como não humanos e em 1531, os padres dominicanos solicitaram ao papa a assinatura de uma bula declarando que os nativos eram homens, e não bestas, não escravos.
3.9 Período pré-colonial
Os tratados antes do Brasil e Limites de terras
O Tratado de Toledo foi o primeiro do gênero, que regulamentava a posse de terras ainda não descobertas. O Tratado foi firmado muito antes de a projeção marítima espanhola se iniciar realmente, coisa que só ocorreu com Colombo. Ele dava a Portugal todas as terras a serem descobertas ao sul das Canárias, garantindo o controle luso sobre a costa africana e sobre o Caminho das Índias.
As ilhas descobertas por Colombo em 1492 no Mar do Caribe estavam situadas ao sul das Canárias para desespero da Espanha. Os reis católicos solicitaram então ao papa que procedesse a uma divisão do mundo entre os dois reinos, de forma a assegurar à Espanha as terras a descobrir a ocidente de um meridiano distante 100 léguas para oeste do Arquipélago de Cabo Verde. Em 4 de maio de 1493 o Papa Alexandre VI expediu a Bula Inter Coetera, realizando assim os anseios dos reis espanhóis.
Embora a Inter Coetera tenha salvaguardado as rotas portuguesas do Atlântico Sul, ainda assim não era interessante para Portugal e por isso D. João II recusou a mediação papal e entabulou tensas negociações com a Espanha, que redundaram na assinatura do Tratado de Tordesilhas em de junho de 1494. Assim, Lisboa assegurava-se do controle de todas as terras a descobrir a oriente de um meridiano mais afastado, 370 léguas para oeste de Cabo Verde. 
3.10 Primeiros documentos jurídicos da colônia
A descoberta da América não despertou inicialmente, interesse dentro do contexto comercial que se iniciava, entre Europa e Oriente. O caso brasileiro não foi exceção a essa realidade, mesmo porque aqui não havia nenhum produto de valor comercial que pudesse atrair a atenção da monarquia portuguesa ou da burguesia mercantil. Qualquer tentativa de aproveitamento da terra implicaria em gastos para a Metrópole e todos os recursos portugueses estavam sendo aplicados nas Índias Orientais.
Apesar da importância secundária, era inegável a preocupação estatal com o reconhecimento e a proteção desse território. Diversas expedições foram realizadas para procurar no Brasil riquezas que pudessem ser exploradas e ao mesmo tempo combater invasores estrangeiros (principalmente espanhóis e franceses). Essas expedições não conseguiram descobrir os tão sonhados metais preciosos, que só foram encontrados no final do século XVII (uma das bases do sistema mercantil era o metalismo). No entanto, localizaram nos litorais brasileiros um produto de importância menor que viabilizou o surgimento de um incipiente comércio: o do pau-brasil.
A exploração dessa madeira, que era utilizada na tintura de tecidos europeus, tornou-se a principal atividade econômica do período pré-colonial. Esse comércio tornou-se viável graças ao escambo com os indígenas e ao surgimento de algumas poucas feitorias no litoral.
Escambo - Troca de bens e serviços sem a intermediação do dinheiro. Logo após a chegada dos portugueses no Brasil, o escambo foi intensamente empregado nas relações entre europeus e ameríndios para carregamento do pau-brasil. Os índios cortavam a madeira e a deixavam na praia, para ser colocada nos navios, em troca recebiam facas, espelhos e bugigangas de fabricação européia.
As feitorias eram estruturas comerciais, em geral fortificadas e situadas no litoral, que serviam de entrepostos com o interior das colônias.
Dessa forma o que se realizou no Brasil entre 1500 e 1530 não passou de um reconhecimento superficial do litoral da nova terra e a implantação de atividade extrativa do pau-brasil, através do arrendamento de sua exploração a particulares. Para tanto foram construídas feitorias na chamada “costa do pau-brasil”, o que não implicou em início de povoamento. Também foram enviadas algumas expedições, chamadas de “guarda-costas”, em vista de presença francesa no litoral, através da ação de corsários, já que os demais países europeus não reconheciam o Tratado de Tordesilhas.
Razões que levaram Portugal a inaugurar a colonização do Brasil. 
Podemos entender colonização como o ato de submeter um determinado território, política e economicamente, em função dos interesses de uma Metrópole. Nesse sentido o Brasil começou a ser realmente colonizado por volta de 1530 pelos seguintes motivos:
- o progresso da centralização política européia já que a medida que os países conseguiram superar a crise geral do Feudalismo, o poder centralizado se efetivou e procurou novos mercados, organizando-se assim as bases do capitalismo comercial e do absolutismo. Decorrente dessa situação surgiu rivalidades entre as grandes potências européias, passando os pioneiros, Portugal e Espanha, a ser ameaçados pelo crescimento de outras nações;
- a descoberta de metais preciosos no México e no Peru (entre 1517 e 1524) pelos espanhóis, aguçando assim a cobiça dos portugueses e fazendo com que a América fosse vista de forma diferente;
- a contestação dos tratados luso-espanhóis pelos outros países, já que os documentos sacramentados pelo Papa foram postos em xeque, após a Reforma que trouxe consigo a quebra da soberania papal. A legitimidade da posse das terras divididas pelo Tratado de Tordesilhas só era aceita se acompanhada de ocupação e não apenas da posse jurídica.
- a crise do comércio português com a Índia, gerada principalmente pelas grandes despesas que o Estado tinha com a manutenção do seu império colonial (soldos as tripulações, fortalezas, armamentos, pensões, etc.) e pelos entraves que esse próprio Estado criava ao desenvolvimento da burguesia portuguesa, fazendo com que os lucros da distribuição dos produtos se transferissem para os comerciantes flamengos. Além disso, a concorrência feita pelos demais países (Inglaterra, França e Holanda) geravam uma baixa no preço das especiarias o que prejudicava Portugal.
• Período Colonial (1530-1822)
Em 1530, o envio da expedição chefiada por Martim Afonso de Sousa indica a preocupação colonizadora do rei D. João II, já que essa expedição paralelamente a atividades de exploração do litoral e afundamento de navios franceses fundou os dois primeiros núcleos de povoamento efetivo do Brasil: São Vicente e Piratininga (atual São Paulo). Alem disso na primeira vila foi criado o primeiro engenho de açúcar, o de São Jorge dos Erasmos. Entretanto não seria através do sistema de expedições financiadas pela Coroa que a ocupação da terra iria adiante: era necessário garantir a posse simultânea de todo o litoral para sua defesa, transferir para particulares o ônus da colonização e criar na América uma alternativa ao comércio do Oriente. Tais objetivos só poderiamser atingidos com a criação do sistema de Capitanias Hereditárias.
• Capitanias Hereditárias
Visto que Portugal não tinha condições financeiras e humanas para empreender uma posse em um território tão vasto quanto era o Brasil, a solução encontrada foi uma espécie de “privatização” da colonização: as Capitanias Hereditárias.
Capitania era o termo utilizado para designar um imenso lote de terra doado pelo Estado português. Capitão donatário, portanto, era o homem que recebia do Rei ou herdava de sua família a capitania hereditária. 
O estado português precisava colonizar as terras, mas estava mergulhado em uma profunda crise. A alternativa escolhida pelo rei foi repassar os custos da colonização para particulares. Desta forma, os capitães donatários seriam os responsáveis pelo controle e pela posse das terras recebidas, e, para não perdê-las, deveriam investir em sua colonização. Portanto, as capitanias foram doadas somente àqueles que, donos de excelente situação financeira, pudessem custear a empresa da colonização. 
As terras brasileiras eram muito distantes da Metrópole e as notícias que chegavam de lá não eram muito animadoras: noticias de monstros que habitavam o oceano, calmarias e tempestades eram freqüentes; nas novas terras, matas gigantescas, antropófagas e não havia sinal de riqueza mineral.
É importante saber que os capitães donatários além de direitos sobre suas terras, também tinham deveres a cumprir para com Rei de Portugal. Portanto, além de arcar sozinhos com os gastos da colonização, os capitães tinham ainda que dividir os lucros com o Estado.
O sistema foi estruturado através de dois documentos que foram entregues aos donatários. Esses documentos eram:
• - a Carta de Doação;
• - o Foral. 
Pela Carta de Doação o rei estabelecia os direitos (recebimento de taxas, distribuição de terras, nomeação de autoridades administrativas e juízes) e os deveres (todas as despesas da colonização e ajuda a povoadores) do donatário, a localização de sua capitania e os objetivos do sistema. O rei doava ao donatário somente o direito de administrar a capitania, não de possuí-la efetivamente;
Pelo Foral, eram confirmados a doação e os privilégios feitos ao donatário, mas se estabeleciam também os direitos e impostos que os colonos deveriam pagar ao donatário e ao rei. 
Pelo estudo desses dois documentos podemos concluir que:
• A capitania era hereditária, inalienável e indivisível;
• O donatário não seria proprietário da capitania, deveria administrá-la, exercer nela a justiça e cobrar impostos, parte dos quais eram seus, e a outra parte do rei; 
• as terras da capitania deveriam ser divididas em sesmarias, doadas a colonos que para ali quisessem se transferir. O donatário poderia reservar para si uma dessas sesmarias, isenta de impostos, exceto do dizimo;
• os colonos estavam sujeitos a lei e a justiça do donatário, que para isso poderia nomear funcionários;
• o rei reservava para si o direito de cunhar moedas, as rendas obtidas nas alfândegas, o monopólio do pau-brasil, pertencia a ele o quinto dos metais encontrados nas capitanias e o dizimo cobrado em nome da Ordem de Cristo.
As capitanias Hereditárias, enquanto sistema de colonização fora um fracasso considerável, somente duas, a de Pernambuco e São Vicente conseguiram obter êxito montando um esquema produtivo baseado em fortuna própria e ajuda financeira de grupos mercantis estrangeiros. A razão do fracasso da maioria das Capitanias deveu-se a:
- falta de interesse ou de capacidade administrativa de alguns donatários; 
- falta de capitais de outros; 
- problemas de defesa da capitania contra indígenas ou estrangeiros (não havia força militar profissional no Brasil); 
- a Metrópole e as próprias capitanias entre si não tinham condições de prestar auxilio umas as outras devido as distancias;
- algumas capitanias tinham melhores condições naturais que outras.
De qualquer maneira o sistema serviu para fixar o colono ao Brasil, dar inicio a produção açucareira e assegurar a posse da terra.
• Governo Geral (1548)
“... se Vossa Alteza não socorre a essas capitanias e costas do Brasil, ainda que nos percamos a vida e fazendas, Vossa Alteza perdera o Brasil.”
(Carta do Capitão Donatário Luis Góes a El-Rei de Portugal, 1548).
Alem das dificuldades de administrar as Capitanias devido principalmente a distância entre a Colônia e a Metrópole, a Coroa percebeu ainda excesso de autonomia em alguns donatários e decidiu partir para um sistema mais centralizado, aos moldes do absolutismo mercantilista.
A centralização administrativa veio com o sistema de Governo Geral que passou a vigorar no Brasil em 1548, através do Regimento de Tome de Souza, decretado pelo rei D. João III. Este documento não extinguiu as capitanias hereditárias, mas transformava muitas delas em propriedades efetivas do rei (capitanias reais). A Bahia é um exemplo e lá surgiu a primeira capital, Salvador. 
Para agilizar a administração alguns cargos foram criados como os de: 
- Provedor-Mor da Fazenda: responsável pelas finanças: proteger os interesses do rei, em relação a cobrança de impostos e monopólios: prover cargos; 
- Capitão Mor da Costa: encarregado da defesa; 
- Ouvidor-Mor: responsável pela justiça: organizar judiciariamente a colônia, já que em algumas capitais a falta de autoridade dos donatários fizera com que imperasse grande desordem. 
Essas atribuições, não eram tão respeitadas na pratica, mesmo porque a colonização portuguesa no Brasil cometeu o erro de trazer para a colônia o modelo idêntico ao que era utilizado em Portugal, menos no tocante a cobrança de impostos e, levando-se em conta a diferença de extensão dos dois territórios era remota a possibilidade desta copia dar muito certo.
• As Câmaras Municipais
O surgimento das primeiras vilas coloniais gerou na Metrópole a necessidade de criação de um órgão de administração local, visando um maior controle das terras descobertas. A Coroa fez opção por um sistema já experimentado em Portugal e desde os tempos das Capitanias Hereditárias funcionam no Brasil as Câmaras Municipais. A princípio, instaladas para controle da colonização, as Câmaras acabaram descentralizando a administração. Isso porque suas funções concentravam poder nas mãos de particulares, membros de uma pequena elite local latifundiária, os chamados “homens bons”. Estes homens podiam tributar, fiscalizar, legislar e ate mesmo julgar pequenos crimes. Eram poucos cargos, geralmente vereadores e juízes ordinários. Estes últimos, com a nova centralização do século XVII, passaram a ser nomeados pelo Conselho Ultramarino, vindos da própria corte e sendo chamados por isso, de Juizes-de-Fora. 
3.11 Justiça no Brasil colônia
As funções da justiça se confundem com a administração do Estado, os juízes não precisam ter formação em Direito e os suspeitos de práticas criminosas são processados sem serem ouvidos e sem contarem com o auxílio de advogado. Estranhos para nós, esses procedimentos estavam presentes e faziam parte da organização da Justiça no Século XVIII, no Brasil Colônia e, em especial, em Minas Gerais.
Em sua tese de mestrado, Carmem Silvia Lemos (2005), “A Justiça local: os juízes ordinários e as devassas da comarca de Vila Rica (1750-1808)‘’ pesquisou processos, inventários, testamentos, entre outros documentos. No século XVIII, o Brasil, ainda colônia de Portugal, vivia sob o regime monarquista, onde não havia a divisão dos três poderes, característica dos regimes democráticos atuais. Nesse contexto, a Justiça funcionava como um instrumento decisivo no processo de consolidação do Império Português e se confundia com as funções administrativas do Estado monárquico, como a fiscalização da administração pública, afirma Carmem Lemos. A Justiça no reino de Portugal era aplicada segundo as determinações de alguns códigos legislativos, em especial as Ordenações Filipinas de 1603.
Durante o período colonial, o órgão superior da Justiça, o Desembargo do Paço, ficava sediado em Portugale os Tribunais da Relação, que lhe sucediam, ficavam espalhados pela metrópole e em seus domínios coloniais. No Brasil, até 1751, havia somente um Tribunal de Relação, situado na Bahia, quando, com o declínio da produção açucareira e com o interesse voltado para a exploração de ouro, foi criado o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro, ao qual a comarca de Vila Rica, atual Ouro Preto, ficou vinculada.
Nas sedes das comarcas e nas vilas com grandes números de habitantes, havia a presença de ouvidores e dos juízes de fora, que eram os magistrados de carreira de mais baixa instância. Em Vila Rica, não havia a presença do juiz de fora e a principal autoridade judiciária da comarca era o ouvidor.
- Juízes ordinários
Ainda na execução das funções da Justiça e previsto pela legislação portuguesa, havia a figura dos juízes ordinários. Eles exerciam funções semelhantes às do juiz de fora, ou seja, eram responsáveis pelas decisões de 1ª. Instância, mas não faziam parte da carreira da magistratura e não era exigida uma formação em Direito. Em Vila Rica, os juízes ordinários eram eleitos entre os “homens bons do lugar”, a elite local, e exerciam o cargo de presidente do Senado da Câmara (estrutura legislativa municipal), acumulando funções administrativas e Judiciais. Conforme Lemos, “ao mesmo tempo em que eram responsáveis por processos cíveis e criminais da população local, tinham que legislar sobre assuntos municipais e administrar o Senado da Câmara”, destaca a pesquisadora.
Mas, apesar dessa sobreposição de funções, os juízes ordinários costumavam exercê-las em locais diferentes. De acordo com Carmem Lemos, as questões administrativas eram todas resolvidas no Senado da Câmara, já os procedimentos judiciais, como a inquirição de testemunhas, eram realizados nas residências particulares dos juízes ordinários, denominados na época de “casas de morada”.
Segundo Carmem Lemos, em alguns estudos, o juiz ordinário, por não ter formação em Direito, aparece como um obstáculo ao cumprimento da legislação em sua área de atuação, mas aparece entre os letrados e a elite local. No entanto, constatou-se que os cargos de juiz ordinário tinham a ajuda de assessores jurídicos no momento de redigir as sentenças. Os mesmos juízes estavam sujeitos à fiscalização pelos ouvidores exercida de forma a controlar a comarca.
Um dado interessante e se assemelha com a situação atual do Poder Judiciário é a preocupação com os prazos processuais. Já no século XVIII, a legislação portuguesa procurava estabelecer limites temporais para a atuação dos juízes ordinários que atuavam frente às devassas: procedimento jurídico que era previsto na legislação portuguesa e utilizado pelos juízes para a inquirição sumária de testemunhas na apuração de delitos que atrapalhavam a tranqüilidade pública. No Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, há devassas que tratam de agressões, homicídios, furtos, fuga de presos, incêndios, feitiçaria, extravia de diamantes, ente outros. 
4 BRASIL REINO
No século XIX Napoleão tomava tantos territórios quanto o desejavam a burguesia francesa com o objetivo de obter e manter mercados através do domínio político e territorial. A Inglaterra utilizou sua superioridade marítima e impôs o “Bloqueio Marítimo da França” atingindo todos os aliados de Napoleão. Os burgueses franceses responderam a este bloqueio naval com o “Bloqueio Continental”, estabelecido pelo Decreto de Berlim em 1806 e de Milão em 1807, que impunha um bloqueio comercial a Inglaterra com objetivo de impedir a concorrência dos produtos ingleses e o enfraquecimento da economia inglesa.
Portugal, que desde o final da União Ibérica caíra na órbita econômica da Inglaterra, teve dificuldades em tomar uma posição de imediato, bem como a Espanha: “Se aderissem ao Bloqueio à Inglaterra ocuparia suas colônias, se não aderissem à França ocuparia as metrópoles. 
Napoleão pressionou D. João (príncipe regente português) através de uma serie de “ultimatuns” onde exigia que Portugal declarasse guerra a Inglaterra e confiscasse os bens dos ingleses residentes no país. O governo inglês, por outro lado, ameaçava apreender a frota portuguesa para que não caísse em poder de Napoleão. Diante desse impasse, D. João decidiu aceitar a proteção inglesa e vir para o Brasil. 
4.1 A corte portuguesa no Brasil e a subordinação a Inglaterra
A partir da vinda da corte portuguesa, criou-se no Brasil um aparelho de governo e administração, uma orientação econômica e social e houve a transformação do Rio de Janeiro no centro de autoridade política do Brasil. Surgiu dessa forma uma “política brasileira”, o que, para o Brasil, nação que se formava, era fundamental. Garantiu-se também o ingresso da colônia de forma direta, na esfera de domínio da Inglaterra, já que esse país, aproveitando-se da difícil situação política da monarquia portuguesa, obteve o acesso direto do mercado brasileiro através de vantajosos acordos comerciais.
Medidas significativas foram tomadas no período joanino na economia, na política interna e administração e na política externa:
- decretação, em 28 de janeiro de 1808, da Abertura dos Portos, que pôs fim ao monopólio comercial português no Brasil, fixando-se em 24% “ad valorem” os direitos alfandegários sobre as importações, atendendo a três interesses Básicos: ao do governo português, necessitado de recursos para a manutenção da Corte, e por isso, interessado no incremento do comércio externo que permitiria cobrança de tarifas, ao da Inglaterra, que ha muito, investia contra o monopólio comercial e ao da camada senhoril brasileira, que desejava ver-se livre das restrições econômicas metropolitanas. 
- assinatura, em 1810, de três tratados: um de Amizade e Aliança, outro de Comércio e Navegação e um último que vem regulamentar as relações postais entre os dois reinos. O segundo, que maiores efeitos tiveram sobre a economia brasileira, determinava que os produtos britânicos passassem a pagar 15% de impostos nas alfândegas brasileiras, enquanto que os portugueses pagariam 16% e os dos demais países continuariam com a taxa de 24%.
Apesar de constar nos tratados uma falsa reciprocidade, na prática, as condições foram extremamente desiguais entre os dois países. Em longo prazo, esse tratado teve efeitos danosos para a economia brasileira, pois, alem de provocar déficits orçamentários crônicos enquanto durou (ate 1843), dada à baixa arrecadação tarifaria, inviabilizou qualquer tentativa de industrialização no país.
-fundação do Banco do Brasil, em 12/10/1808, para emitir moeda, gerir fundos para manutenção da Corte, facilitar o pagamento dos soldos e promover transações mercantis;
- revogação, em 01/04/1808, do Alvará proibitivo das indústrias. Do ponto de vista da economia brasileira, esta simples decisão jurídica não foi suficiente para promover um surto manufatureiro, por dupla razão: o trabalho escravo e a concorrência inglesa. Apesar de tudo, um pequeno desenvolvimento atingiu os setores têxteis e metalúrgicos.
- a efetivação da chamada “Inversão Brasileira” o órgão responsável pelo Brasil passou a ser Ministério do Reino, enquanto, que Portugal e as colônias da África ficavam a cargo do Ministério da Marinha e Ultramar. Para cá foram transplantados todos os órgãos dos Estados portugueses: Ministérios, Real Erario, conselho de Estado, Conselho Supremo Militar etc. E um transplante o que se verifica, sem que se respeite a nova sociedade. Com a instalação da Corte no Rio de Janeiro, abriu-se aos senhores rurais a oportunidade de intervir diretamente no centro das decisões políticas. Opunham-se aos seus interesses, entretanto, a camada mercantil, na qual predominava os portugueses, camada essa apoiada na nobreza burocrática, que acompanhara o rei na fuga e que se constituía no verdadeiro núcleo do poder.
- elevação do Brasil a categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves por ocasião do Congresso de Viena (1815). Para que a dinastia de Bragança fosse considerada “legítima”, e, portanto, merecedora derespeito e reconhecimento pelas demais potências absolutistas, era necessário que habitasse o reino, ou seja, que voltasse a Portugal. O impasse foi resolvido com a elevação do Brasil a Reino. Além disso, a nova situação do Brasil consolidava a posição dos portugueses no continente, como monarquia absolutista, importante num momento em que a América toda partia para governos republicanos, o que não era interesse da política reacionária do Congresso de Viena. 
Resta lembrar ainda que o Período Joanino foi uma época de razoável progresso cultural, tendo sido criados as escolas médicas da Bahia e do Rio de Janeiro, a Academia de Belas Artes, a Biblioteca Real, a Imprensa Regia, o Teatro Real de São João, a Academia Militar. Também, neste período, veio ao Brasil, em 1816, a Missão Artística Francesa, que teria grande influência sobre as artes plásticas brasileiras. Foram fundados os primeiros jornais (oficiais). Em 1816, com a morte de Maria I, o Príncipe Regente foi coroado como D. João VI.
- A política externa joanina caracterizou-se como expansionista: em 1809, uma expedição militar portuguesa conquistou a Guiana Francesa sob a justificativa de exercer represália contra a França, devido a invasão de Portugal (em 1815, o Congresso de Viena determinou a devolução do território). 
- anexação da Banda oriental do Uruguai, parte do antigo Vice Reino do Prata, pertencente a Espanha. Inicialmente, sob o pretexto de defender os interesses de sua esposa Dª. Carlota Joaquina, da casa real espanhola, D. João interveio na região, em 1811. A Inglaterra, porém não via com bons olhos a expansão portuguesa no Prata e obrigou D. João a retirar suas forças da região em 1813. Em 1816, ocorreu nova invasão, sendo o Uruguai, em 1821, anexado ao Brasil com o nome de Província Cisplatina (até 1828). 
4.2 O processo de independência do Brasil
O processo de independência começa com o agravamento da crise do sistema colonial e se estende até a adoção da primeira Constituição brasileira, em 1824. As revoltas do final do século XVIII e começo do XIX, como a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e a Revolta Pernambucana de 1817, mostram o enfraquecimento do sistema colonial. A independência dos EUA e a Revolução Francesa reforçam os argumentos dos defensores das idéias liberais e republicanas. Cresce a condenação internacional ao absolutismo monárquico e ao colonialismo. Aumentam as pressões externas e internas contra o monopólio comercial português e o excesso de impostos numa época de livre comércio. A instalação em 1808 da Corte portuguesa no Brasil contribui para a separação definitiva das duas nações. A abertura dos portos e a criação do Reino Unido do Brasil praticamente cortam os vínculos coloniais e preparam a independência. Com a Revolução do Porto, em 1820, a burguesia portuguesa tenta fazer o Brasil retornar à situação de colônia. 
A partir de 1821, as Cortes Constituintes – o Parlamento lusitano – obrigam Dom João VI a jurar lealdade à Constituição por elas elaborada e a retornar imediatamente a Portugal. No Brasil fica Dom Pedro, como regente. 
Pressionado pelas Cortes Constituintes, Dom João VI chama dom Pedro a Lisboa, mas o príncipe regente resiste às pressões, que considera uma tentativa de esvaziar o poder da monarquia. Forma-se em torno dele um grupo de políticos brasileiros que defende a manutenção do status do Brasil no Reino Unido. Em 29 de dezembro de 1821, Dom Pedro recebe um abaixo-assinado pedindo que não deixe o Brasil. Sua decisão de ficar é anunciada no dia 9 de janeiro do ano seguinte. O episódio passa à história como o Dia do Fico. 
Principal ministro e conselheiro de Dom Pedro, José Bonifácio luta num primeiro momento pela manutenção dos vínculos com a antiga metrópole, resguardando o mínimo de autonomia brasileira. Convencido de que o rompimento é necessário, passa a ser o principal ideólogo da independência política do Brasil, sendo conhecido desde então como Patriarca da Independência. Fora da corte, outros líderes liberais atuam nos jornais e nas lojas maçônicas, fazendo pesadas críticas ao colonialismo português e defendendo a total separação da metrópole. 
Em 3 de junho de 1822, Dom Pedro recusa fidelidade à Constituição portuguesa e convoca a primeira Assembléia Constituinte brasileira. Em 1º de agosto baixa um decreto declarando inimigas as tropas portuguesas que desembarcarem no país. Cinco dias depois assina o Manifesto às Nações Amigas, redigido por José Bonifácio. Nele, Dom Pedro justifica o rompimento com as Cortes Constituintes de Lisboa e assegura “a independência do Brasil, mas como reino irmão de Portugal”. 
Em protesto, os portugueses anulam a convocação da Assembléia Constituinte brasileira, ameaçam com o envio de tropas e exigem o retorno imediato do príncipe regente. No dia 7 de setembro de 1822, numa viagem a São Paulo, Dom Pedro recebe as exigências das cortes. Irritado, reage proclamando a independência do Brasil. Em 12 de outubro de 1822 é aclamado imperador pelos padres do reino e coroado pelo bispo do Rio de Janeiro em 1º de dezembro, recebendo o título de Dom Pedro I. No início de 1823 realizam-se eleições para a Assembléia Constituinte da primeira Carta do império brasileiro. A Assembléia é fechada em novembro por divergências com Dom Pedro I. Elaborada pelo Conselho de Estado, a Constituição é outorgada pelo imperador em 25 de março de 1824. Com a Constituição em vigor e vencidas as últimas resistências portuguesas nas províncias, o processo de separação entre colônia e metrópole está concluído. A independência, entretanto, só é reconhecida por Portugal em 1825, quando Dom João VI assina o Tratado de Paz e Aliança entre Portugal e Brasil. 
4.3 Textos e documentos
“O GRITO DO IPIRANGA”
Pedro Américo
“ O Grito do Ipiranga” é, sem duvida, uma das principais obras do pintor brasileiro Pedro Américo (1843-1905). Encomendada pelo governo de São Paulo, em fins do século XIX, encontrava-se, hoje, no Museu do Ipiranga. Nesse painel percebe-se, através da meticulosidade dos detalhes e da grandiosidade da composição, uma preocupação em fazer da “Independência” um tema épico, entendido como o momento maior da própria história do Brasil. Pedro Américo destacou-se no cenário artístico do século passado como um artista vinculado, tanto por seu temperamento como por seu próprio estilo, ao romantismo. Em parte, sua obra inspira-se nos “grandes temas históricos”, “dignos de serem retratados”, como por exemplo, “Batalha do Avaí” e “Passagem do Chaco”, acerca da guerra do Paraguai.
Em seu “O Grito do Ipiranga” as ações estão centradas em torno d figura de D. Pedro, quase mitológica, “verdadeiro artífice” da independência, apresentado com cores vibrantes, repletas de romantismo. No entanto, no canto inferior esquerdo, um boiadeiro (seria o povo?) apenas, de fora para dentro para dentro, a cena central. Carregado de simbolismo, o quadro permite varias interpretações acerca da construção do mito.
“ACLAMAÇÃO DE D. PEDRO NO CAMPO DE SANTANA”
J. Baptiste Debret
O pintor e desenhista francês, Jean Baptiste Debret (1768-1840), veio ao Brasil em 1816, como membro da missão artística francesa, que atendeu convite de D, João VI. Ao regressas à França, em 1831, publicou o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, ou Estada de um artista francês no Brasil de 1816 a 1831, formado por centenas de ilustrações em que retrata cenas de rua, tipos humanos, paisagens e, também, os “grandes eventos”. A contribuição iconográfica de Debret é de inestimável valor sentimental para se compreender melhor a realidade social do Brasil nas primeiras décadas do século XIX.
A aclamação de D. Pedro I como imperador do Brasil se deu a 12 de outubro de 1822, em cerimônia realizada no Campo de Santana, atual Praça da Republica, no Rio de Janeiro.
Através da observação critica dessa obra é possível perceber o distanciamento das massas populares, evidentemente “fora do balcão” em que se encontra o imperador. Um jornal da época, A gazeta do Rio, n° 157, daterça feira, 31 de dezembro de 1822 referiu-se ao acontecimento com fervor e entusiasmo: “Raiou finalmente este dia tão desejado, a última meta de nossos votos. (...) Viva o Invicto Pedro, Viva o salvador do Brasil, viva o nosso Imperador – ressoaram finalmente (as vozes dos admiradores de D. Pedro I), e foram repetidas com o último entusiasmo, amor e fidelidade... / 
4.4 A Reorganização do Estado Português no Brasil e a Entrega do 
Mercado Brasileiro
A partir de 11 de março de 1808, iniciou-se a montagem do Estado português no Brasil. Transplantaram-se todos os órgãos do Estado português: os ministérios do Reino, da Guerra e Estrangeiros, da Marinha e Ultramar, o Real Erário (que em 1821 passou a ser chamado de Ministério da Fazenda). Outro órgãos administrativos e da justiça foram também recriados: Conselho de Estado, Desembargo do Paço, Mesa da Consciência e Ordens, Conselho Supremo Militar.
Era um governo totalmente fora da realidade social do país. O modelo transposto para o Brasil era baseado no espírito tradicional do Antigo Regime.
O velho hábito português imigrou junto com a Família Real e os milhares de parasitas que a acompanharam. Somente uma coisa mudou, embora o ônus do crescimento de impostos tenha recaído sobre os brasileiros, a viagem dos impostos era menor.
Com o objetivo de melhor arrecadar e visando ter uma instituição que pudesse servir como tesouro real, inclusive emitindo moeda para cobrir gastos crescentes é que foi criado em 12 de outubro se 1808 o Banco do Brasil através de alvará.
O Banco do Brasil nasceu para ser um instrumento de finanças do Tesouro Real. O governo pôde a partir de então, emitir moeda e custear o que fosse necessário para o governo de D. João, mesmo que fosse para cobrir rombos causados pela já instalada corrupção.
Assim vê-se, no período de reinado no Brasil a passagem da herança de dependência econômica de Portugal para seu território na América, principalmente através do Tratado de Aliança e Amizade de 1810 e o Tratado de Comércio e Navegação do mesmo ano.
A baixa taxação de produtos ingleses fez com que o custo de vida no Brasil ficasse um pouco menos oneroso, entretanto a curto prazo não só, praticamente, entregou o comércio do Brasil aos ingleses, como também trouxe prejuízo ao Brasil no tocante ao comércio com outros países.
Embora possamos afirmar, principalmente depois dos Tratados de 1810 que os ingleses ganharam o Brasil, não podemos deixar de indicar que os portugueses reagiram a isso e D. João teve que estabelecer-se no meio termo. 
Já na Abertura dos Portos é possível ver ambigüidade, já que afirma-se o caráter provisório da medida e excluem-se o pau-brasil e outros gêneros estancados. Posteriormente, principalmente após 1810, vários decretos foram baixados com o intuito de proteger, ou ao menos, tentar proteger, o comércio português.
Entre o liberalismo e o monopolismo mercantilista ficaram as leis de D. João para a economia brasileira. Esta ambigüidade gerou atritos que refletiram na época da independência do Brasil.
4.5 A Justiça no Período Joanino
A estrutura judiciária foi transposta para o Brasil. A primeira providência tomada foi no sentido de uma Justiça Militar que deveria cuidar, inclusive, de questões relativas as armadas e armadores. Esta foi providenciada através da instalação do Conselho Supremo Militar e de Justiça constituído por dois conselhos relativamente independentes: o militar e o de justiça.
O Conselho de Justiça ficaria responsável pelo conhecimento e decisão dos processos criminais cujos réus tivessem direito a foro militar e também deveria ser submetido ao Conselho de Justiça. 
No tocante a tribunais superiores o governo do Regente fundiu os dois principais Tribunais Portugueses, foi instituído a “Meza do Desembargo do Paço, e da Consciência e Ordens”, isto sem acabar com os tribunais já existentes em Portugal. O tribunal no Brasil era composto de um presidente e de desembargadores nomeados pelo regente. 
Não havia nenhuma utilidade em fechar a Casa da Suplicação de Lisboa. Este tribunal em Lisboa acabou por se transformar em uma Corte de Justiça profissionalizada, onde se julgava conforme as leis e que não se diferenciava essencialmente das outras Relações do Reino.
Mas não se compreendia uma Corte sem uma Casa de Suplicação e a Corte estava no Rio de Janeiro
Desta forma criou-se por alvará em 10 de maio de 1808 a Casa de Suplicação elevando a hierarquia da Relação do Rio de Janeiro e completando seus quadros com magistrados e outros que a nova condição exigia. 
Em 10 de maio de 1808 também foi criado o cargo de Intendente Geral de Polícia com jurisdição sobre juízes criminais que poderiam recorrer à ele porque detinha o poder de prender e soltar presos para investigações.
Na semana anterior da criação do cargo de Intendente o Brasil tomou por herança, pelas mãos e pena de D. João uma das mais estranhas “anomalias jurídicas” que se tem conhecimento na Idade Moderna e Idade Contemporânea: o Juiz Conservador da Nação Britânica. 
Esta anomalia era um Juiz escolhido pelos ingleses e somente ele poderia julgá-los. Mas a compensação, que só existiria de fato se houvesse a criação do Juiz Conservador na Nação Portuguesa com sede na Inglaterra, nuca veio.
4.6 A Elevação do Brasil à Condição de Reino Unido
Não se podia mais afirmar que o Brasil era colônia, mas não tinha havido a preocupação de dizer o que era o país. Todas as nações da Europa já designavam o Brasil como Reino. O que faltava era o aval legal da Lei Portuguesa. Isto foi feito pela Carta de Lei 16 de dezembro de 1815 que acrescentava ainda Algarves ao conjunto de Reinos Unidos.

Continue navegando