Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

1 
 
 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“É preciso dar as crianças do nosso 
continente, principalmente das classes 
menos favorecidas, o direito de se 
apropriarem da língua escrita em toda a 
sua complexidade. Dar-lhes o direito de 
saber ler criticamente a palavra escrita 
pelos outros e o direito de escreverem 
seus próprios textos, colocar suas 
próprias palavras. Alfabetizar não é 
luxo, é um direito. Se a alfabetização não 
é concebida desta maneira, não vale a 
pena lutar pela alfabetização”. 
Emilia Ferreiro 
 
 
 3 
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA COMO BASE PARA A 
ALFABETIZAÇÃO EFETIVA. 
 
 
Regina Daucia de Oliveira Braga 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
 Idênis Glória Belchior 
Silvana Nascimento de Carvalho 
Sandro Garabed Ischkanian 
Eliana Drumond 
 
A consciência fonológica é reconhecida como um elemento central no processo de alfabetização, 
sendo a habilidade de perceber, identificar e manipular os sons da língua falada (fonemas) um pré-
requisito para a aprendizagem efetiva da escrita alfabética (Silva; Frade, 2007; Santos, 2020). 
Estudos clássicos de Ferreiro e Teberosky (1986) evidenciam que a psicogênese da língua escrita 
permite compreender como as crianças constroem o conhecimento sobre o sistema de escrita, 
passando por fases que vão da escrita pré-silábica à silábica-alfabética, revelando a importância da 
consciência fonológica no reconhecimento da relação entre fonema e grafema. Autores como 
Soares (1985; 2004) destacam que a alfabetização não se resume à decodificação de palavras, mas 
envolve o letramento, que engloba o uso funcional da leitura e da escrita na vida cotidiana. Nesse 
contexto, a consciência fonológica atua como ponte entre a oralidade e a escrita, facilitando a 
aquisição da leitura e da escrita de forma sistemática e significativa. A pesquisa de Santos (2020) 
demonstra que intervenções direcionadas ao desenvolvimento fonológico no bloco inicial de 
alfabetização aumentam significativamente a eficiência da aprendizagem, evidenciando que 
crianças com habilidades fonológicas desenvolvidas apresentam desempenho superior na 
aquisição do sistema de escrita. A abordagem pedagógica deve considerar princípios da 
epistemologia genética de Piaget, que enfatiza o papel ativo do sujeito na construção do 
conhecimento (Caetano, 2010; De Pádua, 2009; Garcia, 1997). Sob essa perspectiva, o ensino da 
consciência fonológica deve ser mediado por atividades que estimulem a descoberta e a reflexão 
sobre os sons da língua, respeitando o ritmo de desenvolvimento cognitivo das crianças. 
Metodologias integradoras que combinam leitura, escrita e jogos fonológicos potencializam a 
alfabetização efetiva (Barbosa, 1990; Batista et al., 2012). Aspectos sociolinguísticos também são 
relevantes, uma vez que o conhecimento da língua e de suas variações influencia diretamente a 
aprendizagem da escrita (Bagno, 2005; Castanheira, 2007). Estudos históricos apontam que a 
alfabetização no Brasil passou por diferentes paradigmas metodológicos, desde métodos 
tradicionais baseados na repetição até abordagens construtivistas e integradoras, sendo a 
consciência fonológica um elemento constante para a eficácia da aprendizagem (Abaurre, 1996; 
Elias, 2000; Frade, 2007). A alfabetização efetiva depende do desenvolvimento da consciência 
fonológica, que atua como fundamento para a decodificação e compreensão do sistema de escrita 
alfabética. Investir em práticas pedagógicas que promovam habilidades fonológicas desde os anos 
iniciais contribui para a construção de leitores e escritores competentes, garantindo não apenas a 
alfabetização, mas também o letramento crítico e funcional. 
 
Palavras-chave: Consciência fonológica; alfabetização; letramento; psicogênese da língua escrita; 
fonema; aquisição da escrita. 
 
 4 
PHONOLOGICAL AWARENESS AS A BASIS FOR 
EFFECTIVE LITERACY. 
 
Regina Daucia de Oliveira Braga 
Simone Helen Drumond Ischkanian 
Gladys Nogueira Cabral 
 Idênis Glória Belchior 
Silvana Nascimento de Carvalho 
Sandro Garabed Ischkanian 
Eliana Drumond 
 
Phonological awareness is recognized as a central element in the literacy process, as the ability to 
perceive, identify, and manipulate the sounds of spoken language (phonemes) is a prerequisite for 
the effective learning of alphabetic writing (Silva; Frade, 2007; Santos, 2020). Classic studies by 
Ferreiro and Teberosky (1986) demonstrate that the psychogenesis of written language allows us 
to understand how children construct knowledge about the writing system, progressing through 
stages from pre-syllabic to syllabic-alphabetic writing, highlighting the importance of 
phonological awareness in recognizing the relationship between phoneme and grapheme. Authors 
such as Soares (1985; 2004) emphasize that literacy is not limited to word decoding but involves 
literacy practices, which encompass the functional use of reading and writing in daily life. In this 
context, phonological awareness acts as a bridge between oral language and writing, facilitating 
the acquisition of reading and writing in a systematic and meaningful manner. Santos (2020) 
shows that interventions aimed at developing phonological skills in the initial literacy stage 
significantly enhance learning efficiency, demonstrating that children with well-developed 
phonological abilities perform better in acquiring the writing system. The pedagogical approach 
should consider the principles of Piaget's genetic epistemology, which emphasizes the active role 
of the learner in constructing knowledge (Caetano, 2010; De Pádua, 2009; Garcia, 1997). From 
this perspective, teaching phonological awareness should be mediated by activities that encourage 
exploration and reflection on language sounds, respecting the children‘s cognitive development 
pace. Integrative methodologies that combine reading, writing, and phonological games further 
enhance effective literacy (Barbosa, 1990; Batista et al., 2012). Sociolinguistic aspects are also 
relevant, as knowledge of language and its variations directly influences writing learning (Bagno, 
2005; Castanheira, 2007). Historical studies indicate that literacy in Brazil has undergone different 
methodological paradigms, from traditional repetition-based methods to constructivist and 
integrative approaches, with phonological awareness consistently contributing to effective 
learning (Abaurre, 1996; Elias, 2000; Frade, 2007). Effective literacy depends on the development 
of phonological awareness, which serves as a foundation for decoding and understanding the 
alphabetic writing system. Investing in pedagogical practices that promote phonological skills 
from early years contributes to the formation of competent readers and writers, ensuring not only 
literacy but also critical and functional literacy. 
 
Keywords: Phonological awareness; literacy; literateness; psychogenesis of written language; 
phoneme; writing acquisition. 
 
 
 5 
1. INTRODUÇÃO 
A consciência fonológica é a capacidade de reconhecer, manipular e refletir sobre os sons 
da fala, incluindo rimas, sílabas e fonemas, sendo um pilar essencial para a alfabetização efetiva, 
pois permite à criança ligar os sons às letras e decifrar palavras escritas. Seu desenvolvimento, 
quando estimulado desde a educação infantil por meio de atividades lúdicas e jogos, facilita a 
aquisição da leitura e da escrita, tornando a aprendizagem do sistema alfabético mais natural e 
fluida. 
A Teoria da Psicogênese compreende que toda criança passa por níveis estruturais da 
língua escrita, criando hipóteses que favorecerão que ela, em seu devido tempo, se aproprie da 
complexidade do sistema alfabético. Durante esse percurso, o erro é fundamental porque provoca 
conflitos cognitivos, desenvolvendo os esquemas mentais da criança. 
Ferreiro e Teberosky (1986) nomearam esses níveis como pré-silábico, silábico, silábico-seja respeitada, promovendo maior eficácia 
no aprendizado da leitura e da escrita. 
A consciência fonológica, portanto, não é apenas habilidade técnica, mas ferramenta para 
a construção de compreensão profunda sobre a língua escrita. Ao trabalhar de maneira sistemática 
do global ao específico, o professor proporciona condições para que a criança explore, teste 
hipóteses e avance de forma autônoma, consolidando estratégias cognitivas que serão aplicadas 
em diferentes contextos de leitura e escrita ao longo da vida. 
A abordagem progressiva favorece o desenvolvimento de habilidades metacognitivas, 
pois a criança aprende a monitorar seu próprio desempenho, identificar dificuldades e reorganizar 
suas estratégias. O conhecimento sobre padrões sonoros e a capacidade de manipular unidades 
fonológicas tornam-se recursos cognitivos que auxiliam não apenas na alfabetização inicial, mas 
também na compreensão de textos mais complexos e na produção escrita. 
A alfabetização baseada na consciência fonológica, seguindo a progressão do global ao 
específico, assegura que a criança construa uma compreensão robusta do princípio alfabético. O 
processo respeita o ritmo cognitivo individual, valoriza a experimentação e o erro construtivo, 
integra dimensões sociais e culturais e promove a aquisição de habilidades fundamentais para a 
leitura e escrita eficazes, preparando o sujeito para interagir com a língua escrita de forma 
autônoma, crítica e significativa. 
2.5. INTEGRAÇÃO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS LÚDICAS E SIGNIFICATIVAS 
O desenvolvimento da consciência fonológica na alfabetização é um processo que 
envolve a percepção, segmentação e manipulação dos sons da fala, incluindo palavras, sílabas e 
fonemas. Atividades lúdicas, jogos, rimas, parlendas e exercícios de manipulação de fonemas 
mostram-se eficazes nesse processo, pois permitem que a criança vivencie os sons de forma 
concreta e prazerosa. A literatura reforça que a aprendizagem lúdica aumenta o engajamento 
infantil e facilita a internalização dos conceitos sonoros da língua, criando conexões entre o ouvir, 
falar, ler e escrever, conforme apontam Frade (2007) e Garcia (1997). O uso de recursos digitais, 
atividades em grupo e parlendas amplia ainda mais essas experiências, consolidando o vínculo 
entre teoria e prática e tornando a alfabetização mais significativa e contextualizada ao cotidiano 
da criança. 
Jean Piaget, psicólogo suíço, dedicou grande parte de sua obra à epistemologia genética, 
investigando a origem, a formação e o desenvolvimento do conhecimento humano. Seu interesse 
 
 27 
central reside na construção ativa do conhecimento pela criança, considerando que ela não nasce 
com conceitos prontos, mas com estruturas cognitivas, como memória, raciocínio e pensamento, 
que permitem a assimilação e a adaptação ao meio. Castanheira (2007, p. 34) reforça que ―o 
interesse fundamental de Piaget é a construção do conhecimento. Ao estudar essa construção, 
vale-se do princípio de que a criança, ao nascer, não traz consigo nenhuma forma de conhecimento 
inato, não se reduzindo o conhecimento à simples cópia dos objetos exteriores.‖ Esse princípio 
fundamenta a compreensão de que a alfabetização deve respeitar o estágio de desenvolvimento 
cognitivo da criança, permitindo-lhe absorver e construir o conhecimento progressivamente. 
 
O interesse fundamental de Piaget é a construção do conhecimento. Ao estudar essa 
construção, vale-se do princípio de que a criança, ao nascer, não traz consigo nenhuma 
forma de conhecimento inato, não se reduzindo o conhecimento à simples cópia dos 
objetos exteriores. A criança, entretanto, nasce com estruturas de conhecimento, como o 
raciocínio, a memória e o pensamento. Assim, Piaget refere-se ao potencial genético e 
mediante o aproveitamento desse potencial é que se dará a construção do conhecimento. 
(Castanheira, 2007, p. 34) 
 
O conceito de assimilação, central na teoria de Piaget, descreve a incorporação de 
elementos externos por esquemas conceituais já existentes no sujeito. De Pádua (2009, p. 24) 
explica que ―assimilação significa interpretação, ou seja, ver o mundo não é simplesmente olhar o 
mundo, mas é interpretá-lo, assimilá-lo, tornar seus alguns elementos do mundo.‖ No contexto da 
alfabetização, isso implica que a criança transforma suas experiências sonoras em representações 
gráficas, criando hipóteses sobre a relação entre fonemas e grafemas. O erro, nesse processo, não 
deve ser encarado como falha, mas como oportunidade construtiva para reflexão e reorganização 
cognitiva, reforçando o aprendizado ativo e significativo. 
 
Assimilação é a incorporação do elemento externo (objeto, acontecimento) por um 
esquema conceitual do sujeito. ―Em outras palavras, assimilação significa interpretação, 
ou seja, ver o mundo não é simplesmente olhar o mundo, mas é interpretá-lo, assimilá-lo, 
tornar seu alguns elementos do mundo.‖ (De Padua, 2009, p. 24) 
 
A psicogênese da língua escrita, estudada por Ferreiro e Teberosky (1986), evidencia que 
a criança passa por fases distintas — pré-silábica, silábica e alfabética — na construção do 
conhecimento sobre o sistema de escrita. Em cada fase, a consciência fonológica desempenha 
papel crucial, permitindo que a criança perceba correspondências sonoras e desenvolva estratégias 
para decodificar palavras. Mendonça e Mendonça (2011) destacam que intervenções pedagógicas 
que estimulam a percepção de fonemas, sílabas e rimas fortalecem significativamente a 
aprendizagem da leitura e da escrita, criando bases sólidas para a alfabetização inicial. 
Castanheira (2007, p. 39) também enfatiza que o erro é parte essencial da aprendizagem, 
qualificando-o como ―erro construtivo‖, que permite à criança testar hipóteses, avaliar suas 
estratégias e reorganizar seus esquemas cognitivos. Esse entendimento promove um ambiente de 
 
 28 
ensino seguro, no qual a experimentação e a reflexão são valorizadas, fortalecendo tanto a 
consciência fonológica quanto o desenvolvimento da autonomia no uso da língua escrita. 
A integração entre teoria e prática, baseada em Piaget e Ferreiro, sugere que atividades 
pedagógicas devem ser planejadas respeitando o estágio cognitivo da criança e promovendo 
experiências sonoras concretas. Jogos de segmentação de sílabas, identificação de rimas e 
manipulação de fonemas conectam percepção auditiva e escrita, facilitando a aprendizagem do 
sistema alfabético e fortalecendo o letramento funcional. 
A literatura também aponta que recursos tecnológicos e digitais podem potencializar o 
desenvolvimento da consciência fonológica, ao oferecer estímulos auditivos e visuais que 
reforçam a correspondência entre som e letra. O trabalho em grupo, com parlendas e atividades 
lúdicas, favorece a interação social e a construção coletiva do conhecimento, alinhando-se à 
perspectiva de que a linguagem escrita é socialmente construída (Castanheira, 2007). 
O ensino da leitura e da escrita não deve se limitar à decodificação mecânica de palavras, 
mas incluir a compreensão das relações sonoras e a reflexão metalinguística, promovendo uma 
alfabetização significativa. Ferreiro e Teberosky (1986) ressaltam que a criança constrói hipóteses 
sobre o sistema de escrita, testando e ajustando suas ideias progressivamente, enquanto Mendonça 
e Mendonça (2011) destacam a importância de atividades sistemáticas que desenvolvam a 
consciência fonológica desde os primeiros anos escolares. 
A consciência fonológica atua como ponte entre a linguagem oral e escrita, permitindo 
que a criança compreenda que as palavras faladas podem ser segmentadas em unidades sonoras 
menores e representadas graficamente. Silva reforça que essa habilidade não é apenas técnica, mas 
estratégica, pois facilita a leitura fluente, a escrita e a compreensão textual, preparando o aluno 
para desafios futuros de letramento. 
Atividades pedagógicas, como jogos de ―liga-letra e som‖, segmentaçãosilábica com 
palmas e identificação de fonemas iniciais, tornam o aprendizado mais concreto e divertido. Frade 
(2007) observa que práticas integradas, que combinam leitura, escrita e exploração sonora, 
aumentam significativamente a eficiência do ensino, promovendo engajamento, motivação e 
resultados consistentes na alfabetização inicial. 
O planejamento didático deve respeitar a diversidade cognitiva e linguística da turma. 
Bagno (2005) destaca que a variação linguística influencia diretamente o desenvolvimento da 
consciência fonológica, sendo essencial considerar o contexto sociocultural da criança para evitar 
estratégias homogêneas que não atendam às necessidades individuais. 
Santos (2020) evidencia que intervenções direcionadas ao desenvolvimento fonológico 
nos primeiros anos escolares aumentam o desempenho na aquisição da escrita, reforçando a 
relevância de práticas pedagógicas estruturadas e contínuas. Nesse sentido, a consciência 
 
 29 
fonológica não deve ser trabalhada isoladamente, mas integrada à leitura, escrita e compreensão 
textual, garantindo aprendizagem significativa. 
Soares (1985, 2004) e Magda Soares (2004) apontam que a alfabetização envolve 
múltiplas facetas, incluindo o letramento funcional, e que o desenvolvimento da consciência 
fonológica é indispensável para que a criança se torne leitora e escritora competente. 
A abordagem de Piaget e Ferreiro permite compreender que cada criança constrói seu 
conhecimento a partir de experiências concretas, testando hipóteses e ajustando suas estratégias de 
acordo com os resultados obtidos, enquanto o educador atua como mediador desse processo. 
Castanheira (2007) reforça que a escrita deve ser concebida como fenômeno socialmente 
construído, conectando a consciência fonológica às práticas culturais, históricas e linguísticas do 
sujeito. Esse entendimento amplia a visão do professor sobre o ensino da leitura e escrita, 
favorecendo atividades contextualizadas e significativas. 
A utilização de recursos tecnológicos, jogos, parlendas e atividades coletivas oferece 
oportunidades para explorar fonemas, sílabas e rimas de maneira lúdica e interativa, fortalecendo a 
ponte entre teoria e prática e promovendo aprendizagens duradouras. 
A alfabetização efetiva depende do desenvolvimento progressivo da consciência 
fonológica, da valorização do erro construtivo e do respeito ao estágio cognitivo da criança, 
conforme defendem Piaget, Ferreiro, Castanheira, Frade e Mendonça. A articulação entre teoria, 
prática pedagógica e contexto social garante uma alfabetização sólida, significativa e capaz de 
preparar o aluno para desafios futuros de leitura e escrita. 
A literatura revisada demonstra que crianças com consciência fonológica bem 
desenvolvida apresentam maior facilidade na decodificação, escrita e compreensão textual, 
evidenciando que essa habilidade constitui a base fundamental para a alfabetização efetiva. 
 
2.6. CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA COMO BASE PARA A ALFABETIZAÇÃO 
EFETIVA. 
 
A consciência fonológica é reconhecida como um dos pilares centrais para a 
alfabetização eficaz, pois possibilita que a criança compreenda a relação entre sons da fala e suas 
representações gráficas. Durante o processo de aprendizagem, as estruturas cognitivas da criança 
tentam assimilar novas informações; contudo, quando essas estruturas preexistentes não 
conseguem integrar completamente o conhecimento, é necessário um ajuste. De Padua (2009, p. 
25) descreve esse mecanismo como acomodação, afirmando que as estruturas mentais se 
modificam ―para atender e se adequar às necessidades e singularidades do objeto‖, adaptando-se a 
novas situações e promovendo avanços cognitivos. 
A acomodação, segundo De Padua (2009, p. 25), não deve ser entendida como uma 
simples reação a estímulos externos, mas como uma variação ativa do comportamento, capaz de 
 
 30 
transformar as estruturas mentais. Esse processo evidencia que a aprendizagem não é meramente 
mecânica, mas fruto de construção interna, permitindo que o indivíduo assimile conceitos 
complexos, como o funcionamento do sistema alfabético, e desenvolva autonomia em suas 
práticas de leitura e escrita. 
 
A acomodação é uma variação de comportamento e não uma mera reação a determinados 
estímulos, pois a capacidade de variação das estruturas mentais deixa claro que mesmo as 
mais simples reações não são processos simplesmente mecânicos; a acomodação é a 
origem do processo de aprendizagem. (De Padua, 2009, p. 25) 
 
No contexto da alfabetização, a consciência fonológica funciona como mediadora entre a 
linguagem oral e escrita. Abaurre (1996) enfatiza que para que a escrita seja adquirida 
efetivamente, o sujeito deve refletir sobre a fala, reconhecendo padrões sonoros e estabelecendo 
correspondências entre fonemas e grafemas. Esse exercício metalinguístico é essencial, pois 
permite que a criança compreenda que a escrita é uma representação simbólica e sistemática da 
linguagem falada, possibilitando a leitura e produção textual com significado. 
 
[...] em contato com a representação escrita da língua que fala, o sujeito reconstrói a 
história da sua relação com a linguagem. A contemplação da forma escrita da língua faz 
com que ele passe a refletir sobre a própria linguagem, chegando, muitas vezes, a 
manipulá-la conscientemente... (Abaurre, 1996, p. 145) 
 
A construção da consciência fonológica envolve múltiplas habilidades, que se 
desenvolvem progressivamente, incluindo percepção de rimas, segmentação silábica, identificação 
de fonemas iniciais e finais e manipulação de sons em palavras. Essa progressão, do global ao 
específico, garante que a criança consolide suas hipóteses sobre a escrita de maneira estruturada, 
evitando sobrecarga cognitiva e facilitando a internalização do princípio alfabético, conforme 
defendido por Ferreiro (1986). 
Além disso, a reflexão sobre a escrita contribui para o desenvolvimento de habilidades 
metacognitivas. Abaurre (1996, p. 145) observa que ―em contato com a representação escrita da 
língua que fala, o sujeito reconstrói a história da sua relação com a linguagem‖, passando a 
manipular conscientemente os elementos da língua escrita. Essa experiência não apenas aprimora 
a capacidade de leitura e escrita, mas também fortalece o pensamento crítico e a compreensão das 
regras linguísticas. 
O erro desempenha papel central nesse processo de construção. Ao testar hipóteses sobre 
os sons e letras, a criança inevitavelmente cometerá equívocos. Contudo, tais erros não devem ser 
vistos como falhas, mas como oportunidades de aprendizagem, permitindo ajustes nos esquemas 
cognitivos e promovendo a equilibração descrita por Piaget. A consciência fonológica se consolida 
à medida que a criança corrige e refina suas hipóteses, integrando a teoria à prática. 
 
 31 
A alfabetização, portanto, não se limita à memorização de letras ou palavras, mas envolve 
a construção ativa de conhecimento sobre a linguagem escrita. O desenvolvimento da consciência 
fonológica possibilita que a criança compreenda o valor funcional e comunicativo da escrita, 
estabelecendo uma relação significativa com a língua e promovendo autonomia na leitura e 
produção textual. 
A prática pedagógica que valoriza a consciência fonológica deve propor atividades 
diversificadas, como jogos de rimas, segmentação de palavras, identificação de fonemas e escrita 
de palavras inventadas. Essas experiências permitem à criança explorar o sistema alfabético, testar 
hipóteses e desenvolver estratégias cognitivas para a leitura e escrita, reforçando a importância do 
processo construtivo da aprendizagem. 
A integração entre teoria e prática é essencial. Ao aplicar os conceitos de Piaget sobre 
assimilação e acomodação, aliados à perspectiva de Abaurre sobre reflexão consciente da 
linguagem, o professor consegue mediar a alfabetização de forma eficaz. Cada intervenção 
pedagógica deve consideraro estágio de desenvolvimento da criança, respeitar seu ritmo de 
aprendizagem e promover experiências que estimulem a construção ativa do conhecimento. 
A consciência fonológica constitui a base para uma alfabetização efetiva porque atua 
como ponte entre a linguagem oral e a escrita, permitindo que a criança compreenda que a fala 
pode ser decomposta em unidades sonoras menores — palavras, sílabas e fonemas — e que essas 
unidades podem ser representadas graficamente. Essa habilidade favorece o desenvolvimento de 
competências metalinguísticas, isto é, a capacidade de refletir sobre a própria língua, identificar 
padrões sonoros, comparar palavras e avaliar relações entre som e grafia, competências 
fundamentais para a leitura e escrita autônomas. 
A consciência fonológica cria condições para que a criança experimente o erro de 
maneira construtiva, reconhecendo equívocos como parte natural do processo de aprendizagem. 
Essa abordagem permite que o sujeito construa hipóteses sobre o sistema de escrita, teste 
diferentes estratégias de decodificação e ajuste sua compreensão progressivamente, fortalecendo 
não apenas a capacidade técnica de escrever, mas também a habilidade de interpretar e produzir 
textos com sentido. O erro, nesse contexto, deixa de ser visto como falha e passa a ser indicador de 
desenvolvimento cognitivo e oportunidade de reflexão pedagógica. 
A alfabetização fundamentada na consciência fonológica também possibilita à criança 
compreender a escrita como um sistema simbólico e funcional, que vai além da simples 
transcrição de sons. Ao perceber que cada letra ou grupo de letras representa fonemas específicos 
e que essas combinações seguem regras e padrões, o aluno internaliza as convenções do sistema 
alfabético, compreendendo sua aplicabilidade em contextos sociais e culturais distintos. Isso 
fortalece a relação entre leitura e escrita, promovendo habilidades de codificação e decodificação 
que se tornam automáticas e transferíveis para novas situações comunicativas. 
 
 32 
Uma abordagem pedagógica eficaz deve integrar reflexão, prática estruturada e 
progressão cognitiva, iniciando por habilidades mais amplas e perceptíveis, como rimas e 
segmentação silábica, e avançando gradualmente para a análise fonêmica detalhada. Esse percurso 
respeita o desenvolvimento neurolinguístico da criança, evitando sobrecarga cognitiva, e garante 
que cada etapa da aprendizagem seja significativa e consolidada antes da introdução de novos 
desafios. 
Ao alinhar atividades lúdicas, jogos, leitura compartilhada e recursos tecnológicos com a 
consciência fonológica, o educador cria experiências diversificadas que fortalecem a motivação, o 
engajamento e a compreensão do sistema de escrita. A criança não apenas aprende a ler e escrever, 
mas também constrói autonomia, senso crítico e habilidades de letramento funcional, capazes de 
serem aplicadas em diferentes contextos sociais, acadêmicos e culturais, preparando-a para 
desafios futuros e para uma participação ativa no mundo letrado. 
 
3. CONCLUSÃO 
A consciência fonológica se apresenta como alicerce fundamental para a alfabetização, 
proporcionando à criança a compreensão das relações entre sons e letras e permitindo que a 
aprendizagem da leitura e escrita seja um processo significativo e duradouro. Ao desenvolver 
habilidades fonológicas, a criança não apenas decodifica palavras, mas também constrói bases 
cognitivas que favorecem a autonomia, a reflexão e a capacidade de organização da linguagem 
escrita em diversos contextos. 
O domínio da consciência fonológica possibilita que a criança se aproxime da escrita de 
forma ativa e criativa. Ao explorar rimas, sílabas, fonemas e estruturas linguísticas, ela constrói 
hipóteses sobre o funcionamento do sistema alfabético, testando e ajustando suas estratégias de 
maneira contínua. Esse processo reforça a ideia de que a alfabetização não é um ato mecânico, 
mas uma jornada cognitiva marcada por descobertas e experimentações, que fortalece a confiança 
e o interesse pelo aprendizado. 
A consciência fonológica favorece a prevenção de dificuldades de leitura e escrita, pois 
permite que a criança reconheça padrões sonoros, estabeleça correspondências precisas entre sons 
e grafemas e desenvolva habilidades metalinguísticas desde cedo. Esse preparo cognitivo reduz 
barreiras futuras, estimulando a fluência e a compreensão textual, e fornece bases sólidas para o 
sucesso escolar em todas as etapas da educação formal. 
O reconhecimento do erro como parte do processo de aprendizagem, inerente ao 
desenvolvimento da consciência fonológica, reforça o papel construtivo da experiência escolar. 
Cada equívoco se torna uma oportunidade de reflexão e ajuste, promovendo o desenvolvimento de 
 
 33 
estratégias de resolução de problemas, persistência e autonomia. O aprendizado é enriquecido, 
tornando-se mais profundo, duradouro e significativo. 
A alfabetização baseada na consciência fonológica abre possibilidades para metodologias 
inovadoras e diversificadas. Jogos, brincadeiras, atividades lúdicas e interações sociais podem ser 
utilizados para fortalecer a percepção sonora, tornando o processo mais atraente e motivador. Essa 
abordagem evidencia que o aprendizado é ativo e prazeroso, estimulando não apenas a 
competência técnica, mas também a curiosidade e o engajamento da criança. 
A progressão do global ao específico na consciência fonológica contribui para um 
desenvolvimento gradativo e sustentável das habilidades cognitivas. Ao começar com rimas e sons 
gerais e avançar para a segmentação silábica e fonêmica, a criança consolida cada etapa de 
maneira sólida, evitando sobrecarga cognitiva e garantindo que cada conquista seja internalizada. 
Esse percurso metodológico valoriza o ritmo individual, permitindo que cada criança se 
desenvolva conforme suas potencialidades. 
O fortalecimento da consciência fonológica não beneficia apenas a alfabetização inicial, 
mas também prepara a criança para uma aprendizagem contínua ao longo da vida. A habilidade de 
refletir sobre a linguagem e manipular fonemas serve como base para compreensão de textos 
complexos, escrita criativa, análise literária e desenvolvimento de competências linguísticas 
avançadas, ampliando as possibilidades de comunicação e expressão em diferentes contextos. 
A integração entre teoria e prática pedagógica é potencializada quando se considera a 
consciência fonológica como eixo central. Professores que compreendem seu papel como 
mediadores do conhecimento podem planejar atividades estratégicas, observar o progresso 
individual e adaptar intervenções para atender às necessidades específicas de cada criança. Essa 
atuação personalizada fortalece a confiança do aluno e amplia as oportunidades de sucesso na 
alfabetização. 
A consciência fonológica promove a equidade educacional, oferecendo a todas as 
crianças, independentemente de seu contexto, a chance de desenvolver habilidades cognitivas 
essenciais. Ao estruturar a aprendizagem de forma progressiva e inclusiva, é possível reduzir 
desigualdades e garantir que cada sujeito tenha acesso a experiências significativas de leitura e 
escrita, consolidando o direito à educação de qualidade. 
A consciência fonológica como base para a alfabetização efetiva revela um horizonte 
promissor, em que a aprendizagem é construtiva, significativa e ampliadora de oportunidades. Ela 
permite que a criança se torne leitora e escritora competente, reflexiva e autônoma, capaz de 
interagir com a língua escrita de forma crítica e criativa. Investir no desenvolvimento dessas 
habilidades é investir no futuro da educação, garantindo que cada aluno possa explorar plenamente 
seu potencial cognitivo, social e cultural, abrindo caminho para uma sociedade mais alfabetizada, 
consciente e inovadora. 
 
 34 
REFERÊNCIAS 
ABAURRE, Maria Bernadete. Os estudos linguísticos e a aquisição da escrita. In:CASTRO, 
M. F. P. O método e o dado no estudo da linguagem. Campinas: Editora da Unicamp, 1996, p. 
111-165. 
 
BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1990. 
 
BATISTA, A. A. G. et al. Pró Letramento - Programa de Formação Continuada de 
Professores dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental: alfabetização e linguagem. 
Brasília: MEC, 2012. 
 
BAGNO, Marcos. A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira. São Paulo: 
Parábola, 2005. 
 
CAETANO, Luciana Maria. A epistemologia genética de Jean Piaget. ComCiência, Campinas, 
n. 120, 2010. Disponível em: . Acesso em: 
14 set. 2025. 
 
CASTANHEIRA, Salete Flôres. Estudo etnográfico das contribuições da sociolinguística à 
introdução ao letramento científico no início da escolarização. 320f. 2007. Dissertação 
(Mestrado em Educação). Universidade de Brasília - Faculdade de Educação. Brasília: 2007. 
 
DE PÁDUA, Gelson Luiz Daldegan. A epistemologia genética de Jean Piaget. Revista 
FACEVV, Vila Velha (ES), n. 2, p. 22-35, 2009. 
 
ELIAS, M. D. C. De Emílio a Emília: A trajetória da Alfabetização. São Paulo: Scipione, 2000. 
 
FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes 
Médicas Sul, 1986. 
 
FRADE, Isabel Cristina Alves. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da 
alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Educação, Santa Maria (RS), v. 32, 
n.01, p.21-40, 2007. 
 
GARCIA, Sônia Maria Dos Santos. A construção do conhecimento segundo Jean Piaget. 
Ensino em Re-vista, Uberlândia (MG), v. 6, n. 1, p. 17-28, jul/1997-jun/1998. 
 
MENDONÇA, Onaide Schwartz; MENDONÇA, Olympio Correa de. Psicogênese da língua 
escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. Caderno de formação: 
formação de professores, Unesp, v. 2, n. 1, p. 36-57, 2011. 
 
SANTOS, K. A Articulação entre o ensino e o aprendizado do sistema de escrita alfabética e 
da consciência fonológica no bloco inicial de alfabetização. Dissertação (Mestrado em 
Educação) - Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. 2020. 
 
SILVA, T. Consciência fonológica. In: FRADE, I. C. A. da S.; M. da G. C. Val; M. das G. de C. 
Bregunci (Orgs.). Glossário Ceale: de Termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. 
Belo Horizonte: Faculdade de Educação da UFMG. 
 
SOARES, M. As muitas facetas da alfabetização. São Paulo: Cadernos de pesquisa, p.19-24, 
1985. 
 
 
 35 
SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Poços de Caldas: Revista 
Brasileira de Educação, n° 25, p.5-17, 2004. 
 
SOARES, Magda. Alfabetização e Letramento: caminhos e descaminhos. Revista Pedagógica 
de 29 de fevereiro de 2004, ed. Artmed. 
 
SOUSA, A. M. Isabela. E por falar em ensino fundamental de nove anos, mais um equívoco: 
agora não precisamos mais alfabetizar... Agora é só letrar?. Revista Educação por Escrito – 
PUCRS, v.3, n.2, dez. 2012. 
 
SOUSA, A. S., OLIVEIRA, G. S., & ALVES, L. H. (2021). A pesquisa bibliográfica: princípios 
e fundamentos. Cadernos da FUCAMP, 20(43). https://revistas.fucamp.edu.br/index.php/ 
cadernos/article/view/2336.Acesso em: 13 set. 2025. 
 
VIEIRA. R. O sistema de escrita Ortográfico e os problemas para a aquisição de escrita dele 
decorrentes. Rio de Janeiro: Caderno de Resumos III JEL, 2006. 
 
YOUNG, E. Sete camundongos cegos. São Paulo: Martins Fontes, 2011. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 36alfabético e alfabético, cada um representando uma etapa na compreensão progressiva da escrita e 
da correspondência entre fonemas e grafemas. 
No nível pré-silábico, a criança ainda não diferencia a escrita de outros sistemas gráficos, 
utilizando desenhos ou sinais para representar ideias. Esse estágio é marcado por tentativas 
globais, buscando compreender a lógica do sistema de escrita. 
Weisz (1990, p. 73 apud Mendonça; Mendonça, 2011, p. 38) descreve um momento 
crucial na aprendizagem da escrita: ―[a criança] começa diferenciando o sistema de representação 
escrita do sistema de representação do desenho. Tenta várias abordagens globais (hipótese pré-
silábica), numa busca consistente da lógica do sistema, até descobrir - o que implica uma mudança 
violenta de critérios - que a escrita não representa o objeto a que se refere e sim o desenho sonoro 
do seu nome.‖ Esse trecho evidencia o ponto de partida da alfabetização efetiva, mostrando que a 
criança inicialmente percebe a escrita de maneira global, associando sinais visuais a significados, 
mas ainda sem compreender a relação entre som e letra. 
No estágio pré-silábico, a criança não reconhece que cada letra corresponde a um som 
específico; em vez disso, tenta representar palavras ou ideias de forma simbólica ou figurativa. 
Weisz mostra que essa fase não é um erro a ser corrigido, mas uma etapa natural do 
desenvolvimento cognitivo, em que a criança explora a escrita e testa hipóteses sobre seu 
funcionamento. Essa exploração global é essencial, pois prepara o terreno para o entendimento de 
que a escrita codifica a língua falada. 
O trecho enfatiza que a transição para o entendimento do ―desenho sonoro‖ exige uma 
mudança radical de critérios cognitivos, ou seja, a criança precisa abandonar a percepção de que o 
desenho representa o objeto e compreender que a escrita representa sons. Esse momento de 
mudança, descrito como ―violenta‖, é característico do desenvolvimento fonológico, pois envolve 
 
 6 
o reconhecimento consciente de unidades sonoras que constituem a fala. É aqui que a consciência 
fonológica se torna central: a criança passa a perceber que palavras são formadas por sons 
distintos, que podem ser manipulados e mapeados graficamente. 
A hipótese silábica, que geralmente surge logo após a compreensão do desenho sonoro, 
demonstra como a criança começa a conectar fonemas a grafemas, ainda que de maneira parcial. 
Cada letra ou grupo de letras passa a representar uma sílaba, gerando conflitos cognitivos que 
estimulam o raciocínio sobre o sistema alfabético. Esses conflitos são positivos, pois indicam que 
a criança está ativa na construção de seu conhecimento sobre escrita e linguagem, elemento 
fundamental para uma alfabetização efetiva. 
O desenvolvimento da consciência fonológica nesse contexto é a base para a 
decodificação de palavras. Ao perceber que a escrita reflete os sons da fala, a criança consegue 
identificar, segmentar e manipular fonemas, facilitando a leitura e a escrita. Weisz, fornece um 
panorama claro de como a alfabetização não é apenas o aprendizado mecânico de letras, mas um 
processo cognitivo complexo, em que o domínio do som da língua antecede e fundamenta a 
aquisição do sistema escrito. 
 
[a criança] começa diferenciando o sistema de representação escrita do sistema de 
representação do desenho. Tenta várias abordagens globais (hipótese pré-silábica), numa 
busca consistente da lógica do sistema, até descobrir - o que implica uma mudança 
violenta de critérios - que a escrita não representa o objeto a que se refere e sim o desenho 
sonoro do seu nome. Neste momento costuma aparecer uma hipótese conceitual que 
atribui a cada letra escrita uma sílaba oral. Esta hipótese (hipótese silábica) gera inúmeros 
conflitos cognitivos, tanto com as informações que recebe do mundo, como com as 
hipóteses de quantidade e variedade mínima de caracteres construída pela criança. 
(Weisz, 1990, p. 73 apud Mendonça; Mendonça, 2011, p. 38). 
 
A análise de Weisz evidencia que a alfabetização efetiva depende do reconhecimento 
gradual de sons e letras, sustentado pelo desenvolvimento da consciência fonológica. Sem essa 
habilidade, a criança permaneceria na hipótese pré-silábica, incapaz de compreender a lógica da 
escrita alfabética. A transição descrita — do desenho ao som — confirma que atividades que 
promovam o reconhecimento de rimas, sílabas e fonemas desde a educação infantil são essenciais 
para preparar a criança para uma leitura e escrita competentes. 
A contribuição de Weisz reforça que a consciência fonológica não é um complemento, 
mas a base do aprendizado da escrita. A alfabetização efetiva surge da capacidade da criança de 
perceber e manipular sons, transformando hipóteses pré-silábicas em compreensão alfabética 
funcional, o que permite a decodificação precisa e a fluência na leitura. 
Nesse momento, surge a hipótese silábica, na qual a criança atribui a cada letra escrita 
uma sílaba oral, gerando inúmeros conflitos cognitivos, tanto com as informações recebidas do 
mundo quanto com suas hipóteses sobre quantidade e variedade mínima de caracteres. 
 
 7 
A consciência fonológica é a habilidade de perceber as unidades sonoras da língua, como 
palavras, sílabas, rimas e fonemas, e não constitui um método de alfabetização, mas uma 
habilidade que se relaciona diretamente com o processo de aprender a ler e escrever. 
Ela permite que a criança compreenda que as palavras são compostas por sons que podem 
ser manipulados e associados a letras, facilitando a decodificação e a aprendizagem do sistema 
alfabético. 
A criança desenvolve decodificação ao aprender a associar os sons (fonemas) às letras 
(grafemas), o que é crucial para a leitura e a escrita. 
Crianças com boa consciência fonológica apresentam maior facilidade em aprender a ler 
e escrever, tornando-se leitores fluentes. 
Ao focar nos sons, a criança entende a relação entre a linguagem falada e a escrita, 
facilitando a compreensão do que é lido e melhorando a aprendizagem de novos vocabulários. 
O desenvolvimento da consciência fonológica pode ser estimulado por atividades lúdicas, 
como jogos, músicas e brincadeiras que exploram rimas, aliterações e a segmentação de palavras 
em sílabas e fonemas. 
Um ambiente rico em linguagem, que inclui leitura compartilhada e escuta ativa, ajuda a 
criança a perceber os sons da fala e fortalece suas habilidades metalinguísticas. 
A educação infantil é um momento chave para iniciar atividades que desenvolvam a 
consciência fonológica, conforme reconhecido pela BNCC, garantindo que a criança tenha base 
sólida antes do ensino formal da leitura e escrita. 
Combinar o trabalho com sons e elementos visuais, como letras de feltro, fortalece a 
conexão entre o som e o símbolo, facilitando a associação entre fonema e grafema. 
A consciência fonológica é uma habilidade metalinguística ampla, que envolve perceber, 
segmentar e manipular sons da fala em diferentes unidades, desde palavras e rimas até sílabas e 
fonemas, funcionando como ponte entre a linguagem oral e o sistema de escrita. 
Seus principais componentes incluem rimas, para reconhecer padrões sonoros no final 
das palavras; sílabas, para segmentar a palavra em unidades maiores; e fonemas, para perceber os 
sons mínimos que compõem cada palavra. 
A consciência fonológica é a habilidade de perceber, refletir e manipular os sons da fala 
em diferentes níveis, como rimas, sílabas e fonemas, e constitui a base da alfabetização. Ela 
permite à criança compreender que a escrita é um sistema que representa sons, possibilitando a 
decodificação das palavras e a construção do conhecimento sobre o funcionamento do sistema 
alfabético (Vieira, 2006). A consciência fonêmica, um subconjunto da fonológica, foca 
especificamente nos fonemas — as menores unidades sonoras da língua que distinguem 
significados — e exige maior refinamento auditivo, sendo um marcocrucial para a alfabetização 
efetiva. 
 
 8 
Um exemplo prático ajuda a diferenciar esses níveis: ao analisar a palavra ―mato‖, a 
criança, no nível de rima, percebe que ela rima com ―gato‖; no nível silábico, consegue segmentar 
a palavra em ―ma-to‖; e no nível fonêmico, identifica e manipula os fonemas /m/ /a/ /t/ /o/. Esse 
processo ilustra a progressão natural do global ao específico, permitindo à criança internalizar a 
lógica do sistema alfabético antes de lidar com unidades sonoras mais abstratas. 
Pesquisas indicam que a sequência didática ideal deve começar com habilidades amplas, 
como reconhecimento de rimas, avançando gradualmente para a segmentação silábica e, 
finalmente, para a manipulação dos fonemas (Young, 2011). Essa abordagem respeita o 
desenvolvimento neurolinguístico infantil, evitando sobrecarga cognitiva e promovendo uma 
aprendizagem significativa. 
No nível de rimas, a criança percebe padrões sonoros semelhantes no final das palavras, 
como em ―pato‖, ―gato‖ e ―rato‖, desenvolvendo sensibilidade auditiva e a percepção de 
regularidades sonoras. Esse tipo de exercício pode ser ampliado com outras combinações, como 
―bola‖, ―escola‖ e ―carambola‖, ou ―sol‖, ―farol‖ e ―rol‖, permitindo que a criança identifique 
semelhanças sonoras mesmo em contextos diferentes. Trabalhar com rimas ajuda não apenas na 
percepção auditiva, mas também na memorização e ampliação do vocabulário, pois a criança 
passa a reconhecer padrões recorrentes na língua e a relacionar palavras de forma lúdica e 
significativa. 
No nível silábico, a criança aprende a segmentar palavras em partes sonoras maiores, 
como ―ba-na-na‖ em três sílabas, ou ―a-ba-ca-te‖ em quatro sílabas, o que facilita a codificação da 
palavra na escrita. Esse processo pode ser reforçado com atividades que envolvem bater palmas a 
cada sílaba, movimentar objetos para cada parte da palavra ou cantar canções segmentando as 
palavras. Outras palavras que podem ser exploradas incluem ―ca-sa‖, ―a-mor‖ e ―pe-da-co‖, 
ajudando a criança a perceber que a escrita reflete a divisão sonora da fala. A segmentação silábica 
desenvolve consciência da estrutura das palavras e prepara a criança para compreender que cada 
sílaba corresponde a sons que podem ser escritos. 
No nível fonêmico, a criança identifica sons individuais, como /f/ /a/ /k/ /a/ em ―faca‖, 
construindo a base para a correspondência grafema-fonema. Esse nível exige atenção auditiva 
mais refinada e pode ser explorado com exemplos como: /p/ /a/ /t/ /o/ em ―pato‖, /g/ /a/ /t/ /o/ em 
―gato‖, /c/ /a/ /n/ /e/ /l/ /a/ em ―canela‖ ou /b/ /o/ /l/ /a/ em ―bola‖. Atividades de manipulação 
fonêmica, como trocar o /f/ de ―faca‖ pelo /b/ para formar ―baca‖, ou separar os sons e pedir que a 
criança os reconstrua, fortalecem a habilidade de discriminar sons e aumentam a precisão na 
escrita. Esse nível é crucial, pois estabelece a compreensão de que cada letra representa um som 
específico e que a combinação de sons forma palavras com significado, sendo a base para a 
alfabetização efetiva. 
 
 9 
A progressão do global ao específico — da rima, à sílaba, ao fonema — garante que a 
criança desenvolva uma consciência fonológica sólida e gradual. Trabalhar todos esses níveis 
permite que ela perceba padrões sonoros, compreenda a estrutura das palavras e aprenda a 
manipular os sons de forma criativa, promovendo a leitura e a escrita de forma fluente e 
significativa. 
É importante ressaltar que letras representam sons, mas não são os próprios sons. A 
confusão entre grafema e fonema pode prejudicar a alfabetização, pois a criança precisa 
compreender que o som é uma entidade abstrata, independente do símbolo gráfico que o 
representa. 
O desenvolvimento progressivo de todos os níveis da consciência fonológica proporciona 
habilidades metalinguísticas, como refletir sobre a própria língua, e fortalece a capacidade de 
decodificação, permitindo que a criança manipule palavras oralmente e por escrito com segurança. 
Essa prática cria a base para leitores e escritores competentes, capazes de compreender textos 
complexos e interpretar significados de forma autônoma. 
A sequência recomendada no ensino da consciência fonológica é: primeiro, o 
reconhecimento de rimas; depois, a segmentação silábica; e, por fim, a identificação e 
manipulação dos fonemas. Essa progressão fortalece a base fonológica, acelera o reconhecimento 
automático de palavras e contribui para a fluência leitora. 
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça a importância da consciência 
fonológica desde a Educação Infantil, especialmente no Campo de Experiência ―Escuta, Fala, 
Pensamento e Imaginação‖, que propõe que a criança perceba as características sonoras da 
linguagem. No Ensino Fundamental, a unidade temática ―Sistema de escrita alfabética e 
ortografia‖ valoriza a relação som-grafema, integrando oralidade, leitura e escrita para 
desenvolver habilidades fonológicas (Sousa; Oliveira; Alves, 2021). 
Atividades lúdicas, como jogos de rimas, músicas e brincadeiras que segmentam palavras 
em sílabas e fonemas, são estratégias eficazes para o desenvolvimento da consciência fonológica. 
Além disso, um ambiente rico em linguagem, com leitura compartilhada e escuta ativa, fortalece a 
percepção auditiva e a habilidade de discriminar sons. 
Combinar o trabalho com sons e elementos visuais, como letras de feltro, reforça a 
correspondência entre fonemas e grafemas, consolidando a aprendizagem da leitura e escrita de 
forma concreta e significativa. 
Ao trabalhar do global ao específico, a criança desenvolve não apenas a consciência 
fonológica, mas também a segurança na manipulação das palavras, facilitando o acesso à leitura 
fluente e à escrita autônoma. 
A alfabetização efetiva depende do desenvolvimento da consciência fonológica, que atua 
como alicerce para a decodificação de palavras, o reconhecimento de padrões sonoros e a 
 
 10 
construção do sentido na leitura. A atenção pedagógica a todos os níveis — rimas, sílabas e 
fonemas — garante que a criança avance de forma consistente na aprendizagem da escrita. 
Essa abordagem progressiva respeita o ritmo de cada criança, evitando sobrecarga 
cognitiva, e prepara o terreno para a alfabetização plena, onde a leitura e a escrita se tornam 
ferramentas de comunicação e pensamento crítico. 
Trabalhar a consciência fonológica de forma sistemática desde a Educação Infantil é 
essencial para a alfabetização efetiva, garantindo que a criança compreenda que a escrita 
representa sons e que esses sons podem ser manipulados, formando palavras e construindo 
significado. 
2. DESENVOLVIMENTO 
O desenvolvimento da consciência fonológica é fundamental para a alfabetização, pois 
permite que a criança compreenda que a escrita representa sons da fala e que esses sons podem ser 
manipulados para formar palavras. Trabalhar essa habilidade de forma lúdica é essencial para 
despertar o interesse das crianças e favorecer a aquisição da leitura e da escrita, tornando o 
processo mais natural e significativo (Frade, 2007). Atividades práticas, como rimas, segmentação 
silábica e jogos fonêmicos, auxiliam a criança a perceber padrões sonoros, desenvolver 
habilidades metalinguísticas e consolidar a relação entre fonema e grafema, que é a base para a 
decodificação efetiva. 
No nível de rimas, a criança é estimulada a perceber sons finais semelhantes entre 
palavras, como ―pato‖, ―gato‖ e ―rato‖, desenvolvendo sensibilidade auditiva e percepção de 
regularidades sonoras. Essa prática pode ser expandida com outras combinações, como ―bola‖, 
―escola‖ e ―carambola‖, ou ―sol‖, ―farol‖ e ―rol‖, permitindo que a criança identifique 
semelhanças sonoras em diferentes contextos e ampliando seu vocabulário. Além disso, o uso de 
parlendas e versos populares, como ―Lá em cima do piano, tem um copo de veneno…‖, favorece a 
diversão e a aprendizagem, pois a criança associa a linguagem falada à musicalidadedos sons, 
fortalecendo sua atenção auditiva e a memória lexical. 
A segmentação silábica, por sua vez, permite que a criança divida palavras em partes 
sonoras maiores, como ―ba-na-na‖ ou ―ca-dei-ra‖, associando cada segmento a uma unidade de 
escrita. Atividades práticas, como bater palmas a cada sílaba ou utilizar blocos e figuras para 
representar partes da palavra, ajudam a criança a perceber a estrutura sonora e facilitam a 
codificação na escrita. Segundo Garcia (1997, p. 20), essa consciência das sílabas promove a 
organização da linguagem interna, sendo um passo intermediário entre a percepção global da 
palavra e a análise detalhada dos fonemas. 
O desenvolvimento fonêmico exige um nível mais refinado de percepção auditiva, no 
qual a criança identifica e manipula os sons individuais que compõem as palavras. Por exemplo, 
 
 11 
em ―faca‖ (/f/ /a/ /k/ /a/) ou ―bola‖ (/b/ /o/ /l/ /a/), a criança aprende a relacionar cada fonema a sua 
respectiva letra, consolidando a correspondência grafema-fonema. Jogos como o ―dado sonoro‖, 
no qual a criança deve dizer palavras iniciadas por determinado som ou letra, ou a memória de 
sons iniciais, promovem o treino fonêmico de forma lúdica e significativa. Mendonça e Mendonça 
(2011, p. 45) destacam que esse tipo de atividade aumenta a precisão na escrita e acelera a 
aprendizagem da leitura. 
Alinhar essas práticas à BNCC garante que o trabalho com a consciência fonológica 
esteja estruturado e sistematizado desde a Educação Infantil (Frade, 2007). O Campo de 
Experiência ―Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação‖ propõe que a criança perceba características 
sonoras da linguagem, enquanto, no Ensino Fundamental, a unidade ―Sistema de escrita alfabética 
e ortografia‖ reforça a relação som-grafema, garantindo que a alfabetização seja baseada em 
compreensão e significado, e não apenas em decodificação mecânica. 
Atividades práticas, como rimas e parlendas, segmentação silábica com palmas e jogos 
fonêmicos, permitem que o educador observe o progresso individual de cada criança, adaptando 
estratégias para turmas multisseriadas ou com diferentes níveis de desenvolvimento (Mendonça; 
Mendonça, 2011, p. 53). Um exemplo real é o caso da professora Luciana, do 1.º ano de uma 
escola pública em Salvador, que, ao aplicar parlendas e segmentação silábica, observou avanços 
significativos na leitura e escrita de seus alunos. Ela relatou que ―eles passaram a ouvir e escrever 
melhor. Era como se tivessem ligado uma chave linguística‖, demonstrando o impacto direto do 
trabalho sistemático com consciência fonológica. 
É importante ressaltar que consciência fonológica não se confunde com regras 
gramaticais ou sintaxe. Trabalhar apenas fonemas, sem integrar leitura, escrita e compreensão 
oral, reduz o efeito das atividades. A alfabetização efetiva ocorre quando o desenvolvimento 
fonológico está a serviço do significado, fortalecendo tanto a decodificação quanto a compreensão 
leitora (Frade, 2007). 
Integrar teoria e prática, utilizando jogos, atividades lúdicas, recursos digitais e estímulos 
auditivos, promove uma alfabetização consistente e significativa, garantindo que a criança 
compreenda a relação entre som e grafema, desenvolva habilidades metalinguísticas e avance de 
forma progressiva no domínio da leitura e da escrita. 
2.1. METODOLOGIA DA PESQUISA PARA DELINEAMENTO DO ARTIGO 
A presente pesquisa adota uma abordagem qualitativa de cunho bibliográfico e 
documental, centrada na análise interpretativa dos discursos científicos sobre a consciência 
fonológica como base para a alfabetização efetiva. Segundo Brito, Oliveira e Silva (2021), a 
pesquisa bibliográfica é fundamental para compreender significados, sentidos e processos 
relacionados às práticas pedagógicas, permitindo a investigação de fenômenos educacionais 
 
 12 
complexos sem depender de quantificações numéricas. Essa escolha justifica-se pela necessidade 
de interpretar a dinâmica do aprendizado da escrita e da leitura, considerando a singularidade do 
desenvolvimento cognitivo das crianças e as contribuições da literatura científica já consolidada. 
Quanto ao tipo de pesquisa, optou-se pela investigação bibliográfica, cujo objetivo é 
reunir, sistematizar e analisar a produção científica existente sobre consciência fonológica, 
alfabetização e letramento. De acordo com Sousa, Oliveira e Alves (2021), esse tipo de estudo 
fundamenta-se na exploração de obras previamente publicadas, incluindo artigos científicos, 
dissertações, livros e documentos eletrônicos, servindo de base para a construção do referencial 
teórico e para a análise crítica das práticas pedagógicas. Por meio dessa sistematização, é possível 
identificar o estado da arte da área, bem como lacunas e contradições presentes na literatura. 
A pesquisa também apresenta caráter documental, ao incluir materiais acessados em 
bases digitais e científicas, como SciELO, CAPES e periódicos especializados, permitindo o 
levantamento de estudos atualizados e com relevância acadêmica comprovada. Essa abordagem é 
particularmente importante no contexto da consciência fonológica, pois possibilita reunir 
evidências sobre como diferentes autores conceituam essa habilidade, como ela se desenvolve ao 
longo do processo de alfabetização e quais práticas pedagógicas têm demonstrado maior eficácia 
na aprendizagem da leitura e da escrita. Ao selecionar obras com rigor metodológico, a pesquisa 
assegura a consistência teórica necessária para fundamentar análises críticas, evitando conclusões 
superficiais ou contraditórias sobre a aplicação da consciência fonológica em sala de aula. 
Os critérios de seleção das obras consideraram não apenas a atualidade e relevância 
temática, mas também o enfoque pedagógico, a clareza conceitual e a aplicabilidade prática das 
recomendações dos autores. Dessa forma, o estudo incorpora contribuições de psicólogos, 
linguistas e educadores, como Ferreiro e Teberosky, que analisam o desenvolvimento da 
psicogênese da língua escrita, bem como pesquisas contemporâneas sobre letramento e 
alfabetização que evidenciam a centralidade da consciência fonológica. Essa integração de 
diferentes perspectivas permite construir uma visão abrangente sobre o papel dessa habilidade na 
aprendizagem inicial da leitura e escrita, mostrando que seu desenvolvimento é condição essencial 
para a alfabetização efetiva. 
A estratégia metodológica de análise documental contribui para compreender, de forma 
sistemática, como os conhecimentos teóricos se traduzem em práticas pedagógicas. Por meio 
dessa abordagem, é possível identificar quais atividades — como jogos de rimas, segmentação 
silábica e manipulação de fonemas — são mais eficazes para desenvolver a consciência fonológica 
e, consequentemente, facilitar a aquisição do sistema alfabético. A documentação científica 
fornece subsídios para avaliar o impacto dessas práticas sobre diferentes perfis de alunos, 
considerando variáveis cognitivas, linguísticas e socioculturais, o que é fundamental para propor 
intervenções educacionais mais inclusivas e contextualizadas. 
 
 13 
A utilização de fontes documentais garante que a pesquisa não se limite a opiniões ou 
experiências isoladas, mas se baseie em evidências robustas e verificáveis sobre a consciência 
fonológica. Ao consolidar dados teóricos e práticos, essa metodologia oferece suporte para a 
construção de estratégias pedagógicas que promovam uma alfabetização efetiva, mostrando de 
forma clara que o domínio da percepção e manipulação dos sons da fala constitui o alicerce sobre 
o qual se constrói a leitura e a escrita. O caráter documental da pesquisa fortalece a confiabilidade 
das conclusões e reforça a centralidade da consciência fonológica na educação infantil e nos anos 
iniciais do Ensino Fundamental. 
O levantamento inicial dos dados envolveu a identificação de palavras-chave recorrentes 
na literatura, como ―consciênciafonológica‖, ―alfabetização‖, ―fonema‖, ―letramento‖ e 
―psicogênese da língua escrita‖. Essa triagem permitiu mapear um conjunto de obras que discutem 
a temática sob diferentes perspectivas, possibilitando a construção de um panorama crítico e plural 
das contribuições teóricas e metodológicas. Posteriormente, realizou-se a leitura exploratória dos 
títulos e resumos, filtrando textos aderentes aos objetivos do estudo, com atenção à diversidade de 
enfoques, à profundidade das análises e à coerência conceitual. 
Após a seleção, os textos foram submetidos à leitura analítica, com o objetivo de 
identificar elementos comuns, tensões e contribuições singulares sobre a consciência fonológica e 
sua relação com a alfabetização efetiva. 
A análise dos dados ocorreu por meio da categorização temática e do cruzamento entre os 
achados, permitindo evidenciar recorrências e contrastes entre experiências pedagógicas, estudos 
de caso e reflexões teóricas. Sousa, Oliveira e Alves (2021) ressaltam que a sistematização 
criteriosa das informações e a verificação da consistência dos dados são essenciais para evitar 
contradições e interpretações equivocadas. 
As categorias de análise foram definidas a partir dos objetivos específicos da pesquisa: (i) 
fundamentos teóricos da consciência fonológica, (ii) estratégias pedagógicas para 
desenvolvimento de habilidades fonológicas, e (iii) impactos da consciência fonológica na 
alfabetização inicial. Esse cruzamento possibilitou compreender como diferentes autores 
conceituam a alfabetização, interpretam a relação entre fala e escrita e indicam práticas 
pedagógicas efetivas para o ensino da leitura e da escrita. 
O termo ―alfabetização‖ é abordado historicamente como a aquisição das tecnologias da 
leitura e escrita, na qual a leitura é entendida como a capacidade de decodificar sinais gráficos e a 
escrita como a capacidade de codificar os sons da fala. 
O estudo enfatiza que a consciência fonológica constitui a base para a alfabetização 
efetiva, pois é a partir dela que a criança consegue perceber, segmentar e manipular os sons da 
língua, permitindo a decodificação precisa e a construção do sentido textual. 
 
 14 
A metodologia qualitativa, combinada com o levantamento bibliográfico e documental, 
oferece subsídios teóricos e práticos essenciais para analisar a alfabetização como um processo 
interligado à consciência fonológica. Essa abordagem permite não apenas reunir dados sobre o 
desenvolvimento da percepção e manipulação dos sons da fala, mas também interpretar de forma 
crítica como diferentes estratégias pedagógicas influenciam o progresso da leitura e da escrita nas 
crianças. Ao adotar uma perspectiva qualitativa, a pesquisa concentra-se na compreensão profunda 
dos fenômenos educacionais, explorando significados, contextos e relações entre a consciência 
fonológica e a alfabetização, em vez de limitar-se a medidas quantitativas superficiais. 
O levantamento bibliográfico fornece uma base sólida ao reunir e sistematizar produções 
científicas que abordam a psicogênese da língua escrita, o desenvolvimento fonológico e práticas 
pedagógicas efetivas, permitindo identificar consensos, divergências e lacunas na literatura. Por 
meio da análise documental, que inclui periódicos, dissertações, livros e materiais digitais 
disponíveis em plataformas como SciELO e CAPES, é possível examinar evidências empíricas 
sobre a implementação de atividades de consciência fonológica em contextos educacionais 
variados, desde escolas públicas até experiências internacionais de referência. 
Essa combinação metodológica possibilita integrar diferentes perspectivas teóricas — 
como a de Ferreiro e Teberosky sobre as fases da construção da escrita, a de Soares sobre 
alfabetização e letramento, e a de Piaget sobre desenvolvimento cognitivo — e traduzi-las em 
implicações práticas para o ensino. Ao relacionar teoria e prática, a pesquisa permite compreender 
como atividades como segmentação silábica, reconhecimento de rimas e manipulação fonêmica 
contribuem para a decodificação das palavras, favorecendo a alfabetização efetiva. 
A metodologia qualitativa, apoiada em fontes documentais, permite observar os desafios 
enfrentados pelos educadores na aplicação dessas estratégias, considerando aspectos 
sociolinguísticos, culturais e individuais dos alunos. Essa abordagem crítica possibilita a reflexão 
sobre quais métodos pedagógicos são mais adequados para estimular a consciência fonológica e 
como eles podem ser adaptados para diferentes contextos de aprendizagem. 
A integração entre abordagem qualitativa, levantamento bibliográfico e análise 
documental fortalece a compreensão da alfabetização como um processo profundamente 
interligado à consciência fonológica. 
A metodologia permite não apenas identificar práticas bem-sucedidas, mas também 
propor intervenções pedagógicas embasadas em evidências, promovendo um ensino da leitura e da 
escrita mais eficiente e significativo. 
A pesquisa contribui para consolidar a consciência fonológica como fundamento 
indispensável da alfabetização efetiva, evidenciando sua centralidade no desenvolvimento de 
habilidades de decodificação, fluência leitora e compreensão textual. 
 
 
 15 
Tabela 1: Consciência Fonológica como Base para a Alfabetização Efetiva. 
Autor Teoria / Contribuição Relação com o tema da pesquisa 
Abaurre, Maria 
Bernadete (1996) 
Estudos linguísticos e 
aquisição da escrita, 
analisando como a linguagem 
influencia a alfabetização 
Fundamenta a compreensão de como a 
consciência fonológica se relaciona com 
a aquisição do sistema alfabético e a 
construção de hipóteses de escrita 
Barbosa, José 
Juvêncio (1990) 
Alfabetização e leitura; 
abordagem sobre estratégias 
pedagógicas 
Destaca a necessidade de intervenção 
pedagógica sistemática para desenvolver 
habilidades fonológicas na alfabetização 
inicial 
Batista, A. A. G. et 
al. (2012) 
Programa Pró-Letramento: 
formação de professores e 
práticas de alfabetização 
Reforça a importância da formação 
docente para implementação de 
atividades de consciência fonológica em 
sala de aula 
Bagno, Marcos 
(2005) 
Sociolinguística e norma 
oculta; influência da variação 
linguística na educação 
Demonstra que a consciência fonológica 
deve considerar contextos socioculturais 
e diversidade linguística na alfabetização 
Caetano, Luciana 
Maria (2010) 
Epistemologia genética de 
Piaget; desenvolvimento 
cognitivo infantil 
Auxilia na compreensão de como a 
consciência fonológica se desenvolve 
segundo estágios cognitivos da criança 
Castanheira, Salete 
Flôres (2007) 
Contribuições da 
sociolinguística para o 
letramento científico 
Mostra a relação entre consciência 
fonológica e práticas de leitura e escrita 
contextualizadas socialmente 
De Pádua, Gelson 
Luiz Daldegan 
(2009) 
Epistemologia genética e 
construção do conhecimento 
Apoia a ideia de que a consciência 
fonológica é mediadora do aprendizado 
ativo da leitura e escrita 
Elias, M. D. C. 
(2000) 
Trajetória histórica da 
alfabetização no Brasil 
Contextualiza a importância da 
consciência fonológica na evolução das 
metodologias de alfabetização 
Ferreiro, Emília; 
Teberosky, Ana 
(1986) 
Psicogênese da língua escrita; 
fases do desenvolvimento da 
escrita 
Fundamenta a centralidade da 
consciência fonológica no processo de 
aquisição da escrita, da pré-silábica à 
alfabética 
Frade, Isabel Cristina 
Alves (2007) 
Métodos de alfabetização e 
ensino; perspectivas históricas 
Indica práticas pedagógicas que 
favorecem o desenvolvimento de 
consciência fonológica e habilidades de 
leitura e escrita 
Garcia, Sônia Maria 
Dos Santos (1997-
1998) 
Construção do conhecimento 
segundo Piaget 
Demonstra como a consciência 
fonológica se relaciona com a atividade 
cognitiva da criança no aprendizado da 
escrita 
Mendonça, Onaide 
Schwartz; Mendonça,Olympio Correa de 
(2011) 
Psicogênese da língua escrita; 
contribuições e equívocos 
Reforça a importância da intervenção 
pedagógica para o desenvolvimento da 
consciência fonológica na alfabetização 
Santos, K. A. (2020) Articulação entre ensino do 
sistema alfabético e 
consciência fonológica 
Evidencia que estratégias de ensino 
fonológico aumentam significativamente 
o desempenho inicial na leitura e escrita 
Silva, T. Definição e fundamentos da 
consciência fonológica 
Apresenta conceitos claros sobre 
consciência fonológica, fonemas, sílabas 
e rimas, essenciais para a alfabetização 
 
 
 16 
Soares, M. (1985, 
2004); Magda Soares 
(2004) 
Letramento e alfabetização; 
múltiplas facetas do ensino 
Destaca que a alfabetização não é apenas 
decodificação, mas integração de leitura, 
escrita e consciência fonológica 
Sousa, A. M. Isabela 
(2012) 
Discussão sobre alfabetização 
e letramento 
Alerta para equívocos contemporâneos 
no ensino da leitura e escrita, reforçando 
a necessidade da consciência fonológica 
Sousa, A. S., 
Oliveira, G. S., & 
Alves, L. H. (2021) 
Pesquisa bibliográfica; 
princípios metodológicos 
Apoia a análise crítica e sistemática da 
literatura sobre consciência fonológica e 
alfabetização 
Vieira, R. (2006) Sistema de escrita ortográfico 
e dificuldades na 
aprendizagem 
Evidencia os desafios que crianças 
enfrentam na correspondência fonema-
grafema, reforçando a relevância da 
consciência fonológica 
Young, E. (2011) Sete camundongos cegos; 
narrativa educativa 
Fornece exemplos práticos de estratégias 
lúdicas para estimular percepção 
auditiva e consciência fonológica 
Fonte: BRAGA, Regina Daucia de Oliveira; ISCHKANIAN, Simone Helen Drumond; CABRAL, Gladys Nogueira; 
BELCHIOR, Idênis Glória; CARVALHO, Silvana Nascimento de; ISCHKANIAN, Sandro Garabed; DRUMOND, Eliana, 2025. 
 
2.2. CENTRALIDADE DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NO PROCESSO DE 
ALFABETIZAÇÃO 
A consciência fonológica é reconhecida como uma habilidade metalinguística essencial, 
permitindo que a criança perceba, segmente e manipule os sons da fala, como palavras, sílabas e 
fonemas. Ferreiro e Teberosky (1986) e Mendonça e Mendonça (2011, p. 38) destacam que essa 
competência é pré-requisito fundamental para a aprendizagem da leitura e da escrita, pois 
possibilita à criança estabelecer correspondências precisas entre fonemas e grafemas, facilitando a 
decodificação das palavras e a construção do sistema alfabético. Crianças com desenvolvimento 
fonológico bem estruturado apresentam maior fluência e segurança na leitura e escrita, 
evidenciando a centralidade dessa habilidade no processo de alfabetização. 
Para compreender plenamente o papel da consciência fonológica na alfabetização, a 
pesquisa definiu categorias de análise que orientam a discussão e estruturam a investigação: (i) 
fundamentos teóricos da consciência fonológica, (ii) estratégias pedagógicas para o 
desenvolvimento de habilidades fonológicas e (iii) impactos da consciência fonológica na 
alfabetização inicial. Cada uma dessas categorias oferece um olhar específico sobre como a 
criança constrói a relação entre fala e escrita, permitindo um mapeamento detalhado do percurso 
de aprendizagem e das práticas educativas mais eficazes. Sousa, Oliveira e Alves (2021) ressaltam 
que essa abordagem sistemática é fundamental para organizar a literatura existente, identificar 
lacunas e extrair contribuições relevantes para a prática pedagógica. 
Na categoria dos fundamentos teóricos, a pesquisa concentra-se na compreensão das 
bases cognitivas e linguísticas que sustentam a consciência fonológica. Ferreiro e Teberosky 
(1986) descrevem que a criança, ao atravessar as fases pré-silábica, silábica e alfabética, constrói 
 
 17 
hipóteses progressivas sobre o sistema de escrita, o que evidencia a necessidade de um olhar 
aprofundado sobre os princípios que regem o desenvolvimento fonológico. Mendonça e 
Mendonça (2011) reforçam que essa construção não ocorre de maneira linear, mas envolve 
conflitos cognitivos que estimulam a reflexão sobre os sons da língua e a relação entre fonema e 
grafema, mostrando que a alfabetização depende da internalização dessas relações sonoras. 
A segunda categoria, voltada às estratégias pedagógicas, concentra-se nas práticas que 
permitem o desenvolvimento sistemático da consciência fonológica. Atividades como 
identificação de rimas, segmentação silábica, jogos de fonemas iniciais e manipulação de palavras 
têm mostrado resultados positivos na aquisição da leitura e da escrita (Frade, 2007; Garcia, 1997). 
Essas estratégias permitem que a criança compreenda, de forma lúdica e significativa, a estrutura 
da língua, facilitando a transição do reconhecimento global da palavra para a análise detalhada de 
suas unidades sonoras. Além disso, a utilização de recursos digitais, parlendas e músicas favorece 
o engajamento e amplia a exposição a diferentes padrões fonológicos, fortalecendo o aprendizado. 
A terceira categoria, referente aos impactos da consciência fonológica na alfabetização 
inicial, permite avaliar de que forma o domínio das habilidades fonológicas contribui para a 
decodificação eficiente, a fluência leitora e a construção do letramento. Estudos indicam que 
crianças com habilidades fonológicas desenvolvidas apresentam desempenho superior em tarefas 
de leitura e escrita, maior autonomia e melhor compreensão textual (Ferreiro & Teberosky, 1986; 
Bagno, 2005). Essa análise evidencia que o desenvolvimento da consciência fonológica não 
apenas facilita a alfabetização mecânica, mas também promove o letramento crítico e funcional, 
integrando linguagem oral e escrita de forma consistente. 
O cruzamento dessas categorias permite ainda identificar relações entre teoria e prática, 
mostrando que o ensino da leitura e da escrita deve ser mediado por atividades que considerem o 
desenvolvimento cognitivo da criança, respeitando seu ritmo e oferecendo desafios progressivos. 
Sousa, Oliveira e Alves (2021) enfatizam que essa articulação entre análise teórica, práticas 
pedagógicas e evidências empíricas garante que as intervenções educativas sejam eficazes, 
contextualizadas e capazes de promover uma alfabetização sólida e significativa. 
O delineamento por categorias oferece uma estrutura analítica robusta, capaz de organizar 
o conhecimento sobre consciência fonológica e alfabetização, orientar a prática docente e sustentar 
intervenções pedagógicas baseadas em evidências, reforçando o papel central da consciência 
fonológica na construção de leitores e escritores competentes. 
Bagno (2005, p. 136) ressalta que, ao adquirir competência em língua escrita, a criança 
não realiza uma simples transcrição para o sistema escrito, mas múltiplas transcrições inter-
relacionadas, que ocorrem de forma progressiva. Esse processo envolve a passagem do informal 
para o formal, do não-padrão para o padrão, demonstrando que a alfabetização é complexa e exige 
 
 18 
compreensão profunda dos sons da língua. A consciência fonológica atua como mediadora 
cognitiva, conectando a linguagem oral à escrita de maneira sistemática e significativa. 
 
Uma vez reconhecidas as relações entre ler, escrever, escutar e falar, também se 
reconhece que, as crianças adquirem competência em língua escrita, elas não estão 
fazendo uma simples transcrição para a escrita. Elas estão fazendo uma série de 
transcrições relacionadas que, portanto, não ocorrerão todas ao mesmo tempo: por 
exemplo, do informal para o formal (...) do possivelmente não – padrão para o padrão. 
(Bagno, 2005, p. 136) 
 
Frade (2007, p. 26) enfatiza que os métodos de alfabetização centrados na percepção 
infantil consideram unidades de análise variadas, como palavra, frase e texto. Inicialmente, o 
reconhecimento global permite que a criança interprete palavras e sentenças de forma intuitiva, 
enquanto progressivamente realiza análises mais detalhadas,segmentando unidades menores 
como sílabas e fonemas. Esse movimento do global para o específico evidencia a necessidade de 
desenvolver a consciência fonológica de maneira gradual e articulada. 
 
Buscando atuar na compreensão, estes defenderam a inteireza do fenômeno da língua e 
dos processos de percepção infantil. Estes métodos tomam como unidade de análise a 
palavra, a frase e o texto e supõem que baseando-se no reconhecimento global como 
estratégia inicial, os aprendizes podem realizar posteriormente um processo de análise de 
unidades que dependendo do método (global de contos, sentenciação ou palavração) vão 
do texto à frase, da frase à palavra, da palavra à sílaba. (Frade, 2007, p. 26) 
 
A teoria da psicogênese da língua escrita, proposta por Ferreiro e Teberosky (1986), 
demonstra que a criança percorre fases estruturais na aquisição da escrita: pré-silábica, silábica, 
silábico-alfabética e alfabética. Em cada fase, a consciência fonológica desempenha papel 
decisivo, permitindo que a criança reconheça padrões sonoros, estabeleça relações entre letras e 
sons e construa hipóteses sobre o funcionamento do sistema de escrita. Mendonça e Mendonça 
(2011, p. 42) afirmam que a intervenção pedagógica adequada em cada etapa aumenta 
significativamente a eficiência da alfabetização. 
No nível pré-silábico, a criança começa a diferenciar o sistema de representação escrita 
do desenho, tentando abordagens globais para compreender a lógica da escrita. Weisz (1990, p. 73 
apud Mendonça; Mendonça, 2011, p. 38) explica que nesse estágio surgem hipóteses iniciais, nas 
quais a criança atribui significados gráficos a objetos, sem ainda perceber a relação sonora entre 
fonema e grafema. O desenvolvimento da consciência fonológica nesse momento inicia-se de 
forma intuitiva, sendo estimulada por atividades lúdicas e exploração auditiva da linguagem. 
Durante a fase silábica, a criança estabelece correspondências entre sílabas e grafemas, 
utilizando hipóteses conceituais que associam cada letra a uma unidade sonora. Esse estágio é 
caracterizado por conflitos cognitivos, pois a criança precisa reconciliar suas percepções intuitivas 
com as regras do sistema alfabético. Ferreiro e Teberosky (1986) destacam que a intervenção 
 
 19 
pedagógica, com atividades de segmentação e reconhecimento de padrões, facilita a transição para 
a fase silábico-alfabética, onde a escrita se torna mais estruturada e precisa. 
A consciência fonológica é trabalhada de maneira sistemática a partir da percepção global 
da palavra, avançando para níveis mais detalhados. No nível das rimas, a criança identifica 
padrões sonoros finais, como em ―pato‖, ―gato‖ e ―rato‖, desenvolvendo sensibilidade auditiva e 
percepção de regularidades linguísticas. Essa habilidade inicial prepara o terreno para a 
segmentação silábica e posterior análise fonêmica, formando a base para a decodificação eficiente 
da escrita. 
Na segmentação silábica, atividades como bater palmas para cada sílaba ou dividir 
palavras em blocos sonoros ajudam a criança a compreender a estrutura das palavras. Por 
exemplo, ―ba-na-na‖ ou ―ca-dei-ra‖ permitem que o aprendiz perceba as unidades sonoras maiores 
que compõem a palavra, facilitando a codificação e memorização das letras correspondentes. 
Garcia (1997, p. 22) observa que essas estratégias contribuem para a organização da linguagem 
interna e para a construção de habilidades metalinguísticas essenciais. 
O nível fonêmico, que envolve percepção e manipulação de fonemas, é o estágio mais 
refinado da consciência fonológica. Atividades práticas, como jogos de fonemas iniciais, memória 
de sons e ―dado sonoro‖, permitem que a criança relacione cada som à letra correspondente, 
consolidando a correspondência grafema-fonema e promovendo a fluência na leitura. Mendonça e 
Mendonça (2011, p. 45) afirmam que o treino sistemático desses sons reduz erros de escrita e 
acelera a aquisição da leitura. 
A integração de recursos lúdicos e tecnológicos, alinhada à BNCC, reforça a 
aprendizagem da consciência fonológica. A utilização de parlendas, músicas e jogos digitais 
estimula a percepção auditiva, o reconhecimento de padrões e a exploração das unidades sonoras 
da língua, tornando o processo de alfabetização mais envolvente e significativo (Sousa, Oliveira & 
Alves, 2021). 
A alfabetização efetiva depende da articulação entre teoria e prática. Ferreiro e Teberosky 
(1986) demonstram que, para além da decodificação, a criança precisa compreender a função 
comunicativa da escrita, utilizando a consciência fonológica como ponte entre linguagem oral e 
escrita. Essa perspectiva enfatiza a importância de atividades integradas, que conectem leitura, 
escrita, fala e escuta. 
Bagno (2005, p. 138) destaca que a alfabetização deve considerar variações linguísticas e 
contextos socioculturais, pois a percepção fonológica está diretamente ligada à experiência oral da 
criança. A exposição a diferentes sons e palavras, aliada à prática consistente, fortalece a 
habilidade de discriminação fonêmica e prepara o aluno para lidar com a diversidade linguística da 
sociedade. 
 
 20 
Frade (2007, p. 28) enfatiza que a análise gradual das unidades de escrita — do texto à 
frase, da frase à palavra e da palavra à sílaba — promove a internalização de regras ortográficas e 
reforça a consciência fonológica. Esse método permite que o aluno avance com segurança, 
construindo conhecimento de forma progressiva e integrada. 
O acompanhamento individualizado do desenvolvimento fonológico possibilita 
identificar dificuldades específicas de cada criança. Mendonça e Mendonça (2011, p. 53) 
ressaltam que intervenções direcionadas aumentam o desempenho na leitura e escrita, garantindo 
que a alfabetização seja não apenas mecânica, mas significativa e funcional. 
O desenvolvimento da consciência fonológica contribui diretamente para o letramento, 
pois permite que a criança use a leitura e a escrita de forma consciente e crítica, integrando o 
conhecimento adquirido à vida cotidiana (Ferreiro & Teberosky, 1986; Mendonça; Mendonça, 
2011). Essa abordagem fortalece a autonomia do aprendiz e promove a construção de leitores e 
escritores competentes. 
A centralidade da consciência fonológica no processo de alfabetização é evidente ao 
analisar a literatura especializada. Os estudos demonstram que a habilidade de perceber, 
segmentar e manipular os sons da língua constitui o alicerce sobre o qual se constrói a leitura, a 
escrita e o letramento efetivo (Ferreiro & Teberosky, 1986; Bagno, 2005; Frade, 2007; Mendonça; 
Mendonça, 2011). A integração entre teoria, prática pedagógica e evidência científica garante uma 
alfabetização consistente, significativa e adaptada às necessidades de cada criança. 
2.3. BASE TEÓRICA DA PSICOGÊNESE DA LÍNGUA ESCRITA 
A psicogênese da língua escrita, proposta por Ferreiro e Teberosky (1986), oferece um 
olhar profundo sobre o processo de alfabetização, mostrando que a aquisição da escrita não é 
simplesmente a memorização de símbolos, mas um percurso de construção ativa do conhecimento. 
As crianças constroem hipóteses sobre a escrita, experimentando diferentes formas de representar 
os sons da fala, e passam por fases distintas de desenvolvimento: pré-silábica, silábica, silábico-
alfabética e alfabética. Cada fase revela o pensamento da criança sobre a relação entre sons e 
letras, demonstrando a complexidade cognitiva envolvida nesse processo e evidenciando a 
necessidade de práticas pedagógicas que considerem essas etapas como fundamentais. 
No estágio pré-silábico, observa-se que a criança ainda não compreende que a escrita 
representa sons, mas começa a perceber a função social da escrita, registrando símbolos que 
possuem significado apenas para ela. Esse momento é crucial, pois introduz a criança no universo 
da escrita, estabelecendo a base para a construção de hipóteses mais avançadas. É nesse período 
que seformam as primeiras ideias sobre o que significa escrever, embora a correspondência entre 
fonema e grafema ainda não esteja presente. 
 
 21 
Ao avançar para a fase silábica, a criança passa a associar letras a sons, mas ainda de 
forma parcial e muitas vezes redundante. A escrita passa a refletir a fala, porém sem seguir regras 
convencionais. Essa etapa evidencia a importância do acompanhamento pedagógico atento, que 
permita observar os avanços cognitivos da criança e estimular a consciência fonológica de maneira 
lúdica e significativa. O erro deixa de ser apenas um equívoco e passa a ser uma fonte de 
informação sobre o processo de aprendizagem. 
A fase silábico-alfabética marca a transição entre a escrita intuitiva e a convencional. A 
criança começa a reconhecer que algumas letras representam sons específicos, embora ainda 
misture estratégias silábicas e alfabéticas. A alfabetização deixa de ser exclusivamente mecânica, 
tornando-se um processo de reflexão sobre a língua escrita. O papel do professor é, então, mediar 
essas descobertas, promovendo atividades que estimulem a análise dos sons da fala e sua 
correspondência com os grafemas, consolidando a compreensão do sistema alfabético. 
Quando a criança alcança a fase alfabética, compreende que cada letra corresponde a um 
fonema específico e que a escrita segue regras convencionais. É nesse estágio que se consolida a 
capacidade de decodificar e codificar palavras de maneira eficiente. A consciência fonológica 
torna-se elemento-chave, pois permite que a criança perceba as unidades sonoras da língua, 
identifique padrões e aplique o conhecimento de forma autônoma, tornando a leitura e a escrita 
habilidades funcionais e significativas. 
Segundo Frade (2007, p. 23), ―para o ensino dos sons, há uma sequência que deve ser 
respeitada, segundo a escolha de sons mais fáceis para os mais complexos‖. Essa orientação é 
fundamental para o método sintético, que organiza a aprendizagem do mais simples para o mais 
complexo. A aplicação dessa sequência facilita a compreensão progressiva das relações fonema-
grafema, permitindo que a criança construa suas hipóteses com base em experiências concretas e 
estruturadas. 
Atividades que se restringem à repetição mecânica de sons e letras podem limitar o 
desenvolvimento da escrita. Quando a criança apenas reproduz exercícios sem refletir sobre as 
relações entre sons e símbolos, ela não constrói compreensão sobre o funcionamento do alfabeto. 
A alfabetização, nesse contexto, torna-se um ato de memorização e não de construção cognitiva, 
prejudicando a internalização dos conceitos fundamentais para a leitura e a escrita autônomas. 
A assimilação e a acomodação, conceitos centrais da teoria piagetiana, explicam como a 
criança processa novas informações durante a alfabetização. A assimilação ocorre quando a 
criança incorpora novas experiências aos esquemas mentais existentes, enquanto a acomodação 
exige a modificação desses esquemas para integrar informações que não se encaixam nos padrões 
prévios. Garcia (1998, p. 19) descreve esse mecanismo como ―um processo interno de passagem 
progressiva de um patamar de equilíbrio a outro, cada vez mais estável‖, destacando o caráter 
dinâmico do aprendizado. 
 
 22 
O desequilíbrio cognitivo resultante do contato com informações novas é essencial para a 
aprendizagem. Ao enfrentar situações desafiadoras, a criança precisa reorganizar seu 
conhecimento, questionar suas hipóteses e buscar soluções para os conflitos que surgem. Esse 
esforço cognitivo não apenas fortalece a compreensão da escrita, mas também desenvolve 
habilidades metacognitivas que serão úteis em diversos contextos de aprendizagem. 
De Padua (2009, p. 25) ressalta que, quando o sujeito entra em contato com um objeto 
desconhecido, pode ocorrer um conflito com esse objeto, demandando ajustes cognitivos. No 
contexto da alfabetização, isso significa que a criança precisa experimentar, errar, revisar e adaptar 
suas estratégias de escrita até que a representação dos sons da fala se torne coerente com as 
convenções da língua escrita. Esse processo de equilibração é contínuo e reflete a busca constante 
por estabilidade cognitiva. 
 
O sujeito, ao entrar em contato com um objeto desconhecido, pode entrar em conflito com 
esse objeto, ou seja, no processo de assimilação, o que é novo, às vezes, oferece certas 
resistências ao conhecimento e para conhecer esse objeto o sujeito precisa modificar suas 
estruturas mentais e acomodá-las. E é a esse processo de busca do equilíbrio dessas 
modificações que Piaget denominou equilibração. (De Padua, 2009, p. 25) 
 
A prática pedagógica deve, valorizar a exploração e a experimentação. Atividades que 
incentivem a criança a escrever livremente, criar hipóteses sobre grafemas e refletir sobre os sons 
da língua contribuem para o avanço nas fases da psicogênese. O erro deixa de ser penalizado e 
passa a ser interpretado como indicador do estágio de desenvolvimento da criança, oferecendo 
subsídios para intervenções pedagógicas adequadas. 
A consciência fonológica não se limita à identificação de sons isolados, mas envolve 
percepção de rimas, segmentação de palavras, reconhecimento de fonemas iniciais, médios e 
finais, além de análise de padrões sonoros. Essa habilidade é um pré-requisito para a alfabetização 
eficaz e deve ser trabalhada de maneira sistemática, respeitando o ritmo de cada criança e 
promovendo experiências significativas que conectem fala e escrita. 
O ensino da leitura e da escrita, portanto, deve integrar teoria e prática, considerando as 
hipóteses da criança sobre a língua escrita e promovendo atividades que respeitem as fases da 
psicogênese. A mediação do professor é decisiva nesse processo, atuando como facilitador do 
conhecimento e como observador atento, capaz de identificar avanços e dificuldades, oferecendo 
suporte para a construção do entendimento pleno da escrita. 
A interação social desempenha papel fundamental na alfabetização. Trocas entre pares, 
leitura compartilhada e discussões sobre textos favorecem o desenvolvimento cognitivo e 
linguístico, reforçando a compreensão das funções sociais e comunicativas da escrita. A 
aprendizagem deixa de ser um processo isolado, tornando-se parte de um contexto de experiências 
significativas e colaborativas. 
 
 23 
É importante ressaltar que o domínio do código escrito não é o único indicador de 
alfabetização. Compreender o valor comunicativo da escrita, reconhecer gêneros textuais, 
interpretar e produzir mensagens coerentes são competências que se consolidam paralelamente ao 
desenvolvimento das habilidades técnicas. Essa perspectiva amplia a visão do processo 
alfabetizador, tornando-o mais completo e contextualizado. 
A psicogênese da língua escrita oferece um quadro teórico robusto para compreender o 
percurso da alfabetização. Ferreiro e Teberosky (1986) mostram que a escrita é construída 
gradualmente, em fases, e que a consciência fonológica, a assimilação, a acomodação e a 
equilibração são elementos centrais nesse processo. A prática pedagógica orientada por esses 
conceitos garante que a alfabetização seja significativa, respeitando o ritmo individual da criança e 
promovendo a construção ativa do conhecimento. 
O processo fônico, quando integrado às teorias da psicogênese, deixa de ser uma mera 
instrução técnica e passa a ser um caminho de reflexão e descoberta. O ensino estruturado, que 
respeita a sequência do mais fácil para o mais complexo, aliado à exploração das hipóteses da 
criança, possibilita um aprendizado sólido e duradouro, preparando o sujeito para o uso funcional 
e crítico da escrita em diferentes contextos. 
Compreender a psicogênese da língua escrita implica reconhecer que alfabetizar não é 
ensinar letras, mas mediar a construção de significado. É proporcionar à criança experiências que 
permitam decodificar, interpretar, produzir e refletir sobrea língua escrita, garantindo que cada 
etapa do desenvolvimento seja respeitada e que o conhecimento seja construído de maneira ativa, 
autônoma e significativa. 
2.4. IMPORTÂNCIA DA PROGRESSÃO DO GLOBAL AO ESPECÍFICO NA 
CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA 
A alfabetização baseada na consciência fonológica respeita a progressão do 
desenvolvimento cognitivo infantil, iniciando-se com habilidades mais globais, como percepção 
de rimas e jogos com sons, evoluindo gradualmente para a segmentação silábica e, por fim, 
atingindo o nível fonêmico, no qual a criança consegue discriminar e manipular sons individuais 
dentro das palavras (Mendonça; Mendonça, 2011). Esse encadeamento progressivo permite que as 
habilidades metalinguísticas sejam construídas de maneira sólida, prevenindo sobrecarga cognitiva 
e favorecendo a internalização dos princípios do sistema alfabético. 
Segundo Ferreiro (1986), ―não é possível, em um sistema alfabético de escrita, conceber 
que a criança aprenda a ler e escrever sem compreender como funciona o princípio alfabético‖. 
Essa afirmação evidencia que o aprendizado da leitura e da escrita não é apenas mecânico, mas 
exige compreensão das relações entre sons e letras, reforçando a necessidade de progressão 
 
 24 
gradual do global ao específico. A criança precisa primeiro perceber padrões gerais, como rimas e 
sílabas, antes de lidar com unidades sonoras mais complexas, como os fonemas. 
Ferreiro baseou suas investigações na teoria da Epistemologia Genética de Piaget, que 
propõe compreender o desenvolvimento do conhecimento como um processo ativo e progressivo, 
em que a criança constrói hipóteses sobre o mundo e reorganiza seus esquemas cognitivos a partir 
da interação com o ambiente. Aplicando esse conceito à escrita, Ferreiro considerou que a 
aquisição da linguagem escrita não ocorre de forma passiva, mas como um processo de construção 
contínua, em que a criança formula hipóteses sobre o sistema alfabético, testa suas ideias e ajusta 
sua compreensão conforme recebe feedback do meio. 
Nesse sentido, Castanheira (2007, p. 39) enfatiza que a linguagem escrita não pode ser 
reduzida a um mero ato de codificação de sons em letras, porque ―obriga o sujeito a enquadrar 
todos esses elementos no universo cultural, social e histórico do qual faz parte, passando, assim, a 
ser concebida como um objeto socialmente construído‖. Ou seja, a escrita está intrinsecamente 
ligada às práticas sociais e culturais, e seu aprendizado envolve não apenas aspectos cognitivos, 
mas também experiências vivenciadas no contexto familiar, escolar e comunitário. 
 
Ferreiro inspirou suas investigações sobre a aquisição da leitura e da escrita na teoria da 
Epistemologia Genética de Piaget. Objetivava revelar que a linguagem escrita possui uma 
natureza complexa, construída por signos linguísticos, e que não poderia ser reduzida ao 
simples processo de codificação, […] que obrigavam o sujeito a enquadrar todos esses 
elementos no universo cultural, social e histórico do qual faz parte, passando, assim, a ser 
concebida como um objeto socialmente construído. (Castanheira, 2007, p. 39) 
 
Essa perspectiva reforça a importância de contextualizar a alfabetização, reconhecendo 
que o desenvolvimento da consciência fonológica — habilidade de perceber, segmentar e 
manipular os sons da fala — não ocorre isoladamente. Para planejar uma alfabetização efetiva, é 
necessário levar em conta o ambiente sociocultural da criança, suas interações, os valores e as 
práticas linguísticas às quais está exposta. Dessa forma, a abordagem de Ferreiro, aliada à visão de 
Castanheira, destaca que ensinar a ler e escrever envolve tanto o domínio das regras do sistema 
alfabético quanto a inserção da criança em práticas sociais significativas que estimulem a reflexão 
sobre a linguagem. 
Compreender a escrita como um fenômeno socialmente construído amplia o olhar do 
educador, indicando que estratégias pedagógicas que desenvolvam a consciência fonológica 
devem ser articuladas a contextos reais de uso da linguagem, promovendo aprendizagens mais 
significativas e duradouras. 
O processo de alfabetização, nesse sentido, envolve não apenas o domínio técnico da 
correspondência entre fonemas e grafemas, mas também a construção de hipóteses sobre o 
funcionamento da escrita no mundo social. À medida que a criança interage com textos e signos, 
ela vai testando suas ideias, produzindo hipóteses e verificando se suas suposições correspondem à 
 
 25 
realidade da escrita. Esse exercício constante de tentativa e erro é essencial para consolidar a 
aprendizagem e promover a autonomia no uso da língua escrita. 
Ao tentar compreender a escrita, a criança passa por um processo de equilibração, 
conforme descrito por Piaget. Esse mecanismo envolve a assimilação de novas informações e a 
acomodação de esquemas existentes para incorporar o que é desconhecido. Em outras palavras, a 
criança é levada a reorganizar suas estruturas cognitivas diante de informações que geram conflito, 
buscando restaurar o equilíbrio mental e, ao mesmo tempo, avançar em sua compreensão sobre a 
escrita. 
Não se pode subestimar o papel do erro no processo de aprendizagem da escrita. Segundo 
Castanheira (2007, p. 39), ―na busca pela acomodação, o erro certamente acontecerá, no entanto, é 
o chamado ‗erro construtivo‘, que constitui-se como etapa fundamental no processo de construção 
da aprendizagem‖. Ou seja, o erro deve ser compreendido como parte natural do desenvolvimento 
cognitivo da criança, funcionando como um indicador do estágio em que ela se encontra e 
oferecendo oportunidades para reflexão, análise e ajuste das hipóteses que está construindo sobre 
o sistema de escrita. 
 
Não se pode desprezar a hipótese de que a criança começará a desenvolver na tentativa de 
alcançar a equilibração, decorrente do conflito cognitivo gerado pelas novas informações 
que lhe foram apresentadas. Na busca pela acomadação, o erro certamente acontecerá, no 
entanto, é o chamado ‗erro construtivo, que constitui-se como etapa fundamental no 
processo de construção da aprendizagem. (Castanheira, 2007, p. 39) 
 
Essa concepção transforma a visão tradicional de falha em uma abordagem positiva e 
pedagógica: cada equívoco produzido pela criança revela suas tentativas de compreender a 
correspondência entre sons e letras, bem como a lógica interna da escrita. Dessa forma, o erro 
deixa de ser apenas um obstáculo e passa a ser um recurso de aprendizagem, permitindo ao 
educador identificar padrões de pensamento, lacunas conceituais e avanços na compreensão da 
língua escrita. 
Reconhecer o erro como construtivo promove a construção de um ambiente de 
aprendizagem seguro, no qual a criança se sente encorajada a experimentar, testar hipóteses e 
explorar diferentes estratégias de leitura e escrita sem medo de julgamento. Essa abordagem 
contribui para a autonomia cognitiva e fortalece a consciência fonológica, pois a criança aprende a 
perceber, segmentar e manipular sons de forma mais consciente e crítica. 
Incorporar a perspectiva do erro construtivo no planejamento pedagógico significa 
valorizar a tentativa e o processo de aprendizagem, e não apenas o resultado final. Atividades que 
permitem exploração, repetição e correção gradual, alinhadas ao desenvolvimento da consciência 
fonológica, reforçam a ideia de que cada erro é uma oportunidade de aprofundar a compreensão 
do sistema de escrita e de consolidar habilidades essenciais para a alfabetização efetiva. 
 
 26 
A progressão do global ao específico é essencial para que a criança consiga integrar 
gradualmente novas informações sem sobrecarga cognitiva. Por exemplo, antes de segmentar 
palavras em fonemas, a criança deve ser capaz de reconhecer sílabas, padrões de rima e sons 
iniciais, estabelecendo uma base sólida que favoreça a compreensão do sistema alfabético. Esse 
percurso garante que cada etapa do desenvolvimento

Mais conteúdos dessa disciplina