Logo Passei Direto
Buscar

Ferramentas de estudo

Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

Revista Foco | v.18 n.10 |e9954 | p.01-12 |2025 
1 
 
 
SE A EDUCAÇÃO É A BASE DE UMA SOCIEDADE, COMO 
ESPERAR QUALIDADE NO ENSINO QUANDO QUEM ENSINA 
ESTÁ ADOECENDO EM SILÊNCIO? 
 
IF EDUCATION IS THE FOUNDATION OF A SOCIETY, HOW CAN 
WE EXPECT QUALITY IN TEACHING WHEN THOSE WHO 
TEACH ARE SILENTLY GETTING SICK? 
 
SI LA EDUCACIÓN ES LA BASE DE UNA SOCIEDAD, ¿CÓMO 
ESPERAR CALIDAD EN LA ENSEÑANZA CUANDO QUIENES 
ENSEÑAN SE ENFERMAN EN SILENCIO? 
 
Rubia Tatiana Santana de Souza Frederico1 
 
DOI: 10.54751/revistafoco.v18n10-002 
Received: Sep 1 st, 2025 
Accepted: Sep 26th, 2025 
 
 
 
RESUMO 
Este artigo analisa criticamente a relação entre a qualidade da educação e o 
adoecimento docente, discutindo como as condições de trabalho, a intensificação da 
carga laboral e a falta de políticas públicas efetivas afetam a saúde física e mental de 
professores. Partindo de uma revisão bibliográfica qualitativa, foram mobilizados 
autores como Tardif, Freire, Saviani, Codo, Dejours e Patto, que discutem o trabalho 
docente, a precarização da profissão e os impactos da sociedade capitalista sobre a 
educação. Observa-se que o professor, ao mesmo tempo em que é cobrado como 
responsável central pela qualidade educacional, encontra-se em um processo crescente 
de desgaste e adoecimento, manifestado em casos de Burnout, depressão e abandono 
da carreira. O estudo demonstra que não é possível sustentar uma educação de 
qualidade sem políticas estruturais que garantam a valorização do trabalho docente e 
cuidados com sua saúde mental. Conclui-se que a melhoria do ensino está 
intrinsecamente ligada à dignidade e ao bem-estar de quem ensina, exigindo uma 
mudança de paradigma na gestão educacional e nas políticas públicas. 
 
Palavras-chave: Educação; trabalho docente; adoecimento; políticas públicas; saúde 
mental. 
 
ABSTRACT 
This article critically analyzes the relationship between the quality of education and 
teacher illness, discussing how working conditions, the intensification of workload, and 
the lack of effective public policies affect teachers' physical and mental health. Based on 
 
1Mestre em Gestão, Planejamento e Ensino. Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR). Av. Castelo Branco 82, Três 
Corações - MG, CEP:37410-000. E-mail: rubia.comercial@yahoo.com.br 
mailto:rubia.comercial@yahoo.com.br
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
2 
 SE A EDUCAÇÃO É A BASE DE UMA SOCIEDADE, COMO ESPERAR 
QUALIDADE NO ENSINO QUANDO QUEM ENSINA ESTÁ ADOECENDO EM SILÊNCIO? 
_____________________________________________________________________________________ 
 
a qualitative bibliographic review, authors such as Tardif, Freire, Saviani, Codo, Dejours, 
and Patto were mobilized, who discuss teaching work, the precariousness of the 
profession, and the impacts of capitalist society on education. It is observed that the 
teacher, while being held as the central figure responsible for educational quality, is 
undergoing a growing process of exhaustion and illness, manifested in cases of Burnout, 
depression, and career abandonment. The study shows that it is not possible to sustain 
quality education without structural policies that ensure the appreciation of teaching work 
and care for teachers' mental health. It is concluded that the improvement of teaching is 
intrinsically linked to the dignity and well-being of those who teach, requiring a paradigm 
shift in educational management and public policies. 
 
Keywords: Education; teaching work; illness; public policies; mental health. 
 
RESUMEN 
Este artículo analiza críticamente la relación entre la calidad de la educación y el 
padecimiento docente, discutiendo cómo las condiciones laborales, la intensificación de 
la carga de trabajo y la falta de políticas públicas efectivas afectan la salud física y mental 
de los profesores. A partir de una revisión bibliográfica cualitativa, se movilizaron autores 
como Tardif, Freire, Saviani, Codo, Dejours y Patto, quienes discuten el trabajo docente, 
la precarización de la profesión y los impactos de la sociedad capitalista en la educación. 
Se observa que el docente, al mismo tiempo que es considerado responsable central de 
la calidad educativa, atraviesa un proceso creciente de desgaste y enfermedad, 
manifestado en casos de Burnout, depresión y abandono de la carrera. El estudio 
demuestra que no es posible sostener una educación de calidad sin políticas 
estructurales que garanticen la valorización del trabajo docente y el cuidado de su salud 
mental. Se concluye que la mejora de la enseñanza está intrínsecamente ligada a la 
dignidad y al bienestar de quienes enseñan, lo que exige un cambio de paradigma en la 
gestión educativa y en las políticas públicas. 
 
Palabras clave: Educación; trabajo docente; enfermedad; políticas públicas; salud 
mental. 
 
 
1. Introdução 
 
A educação é reconhecida como pilar fundamental para o 
desenvolvimento de uma sociedade democrática, justa e inclusiva. Entretanto, 
discutir qualidade no ensino implica, necessariamente, refletir sobre as 
condições de vida e trabalho daqueles que estão à frente do processo educativo: 
os professores. O título deste artigo, formulado em tom de questionamento, 
remete ao paradoxo central do debate: como esperar uma educação 
transformadora se os docentes estão adoecendo física e psicologicamente em 
silêncio? 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
3 
 Rubia Tatiana Santana de Souza Frederico 
_____________________________________________________________________________________ 
 
O trabalho docente, historicamente, esteve ligado a uma dimensão 
vocacional, associado a ideias de missão, doação e comprometimento quase 
incondicional com a formação de cidadãos. Essa visão, apesar de reconhecer a 
relevância social da profissão, também contribuiu para naturalizar a sobrecarga 
e invisibilizar as condições concretas de trabalho vividas pelos professores. Nos 
últimos anos, com as mudanças sociais, tecnológicas e econômicas, a 
intensificação do trabalho tornou-se ainda mais evidente, colocando em xeque o 
equilíbrio entre expectativas sociais e condições reais de exercício da docência 
(Enguita, 1991; Tardif, 2002). 
No contexto contemporâneo, marcado pela expansão do capitalismo 
global e pela intensificação das demandas sobre o trabalho docente, o professor 
passa a acumular funções que extrapolam o ato de ensinar. Além de lidar com a 
complexidade das relações pedagógicas, é exigido dele que atue como gestor 
de conflitos, psicólogo, assistente social e articulador comunitário, muitas vezes 
sem apoio institucional adequado (Tardif, 2002; Codo, 2006). Essa multiplicidade 
de papéis é reforçada pela crescente cobrança por resultados, pelo impacto das 
avaliações externas e pela expectativa de que a escola resolva problemas 
estruturais da sociedade, como violência, desigualdade social e exclusão digital. 
Nesse cenário, cresce o número de pesquisas que denunciam o aumento 
de casos de Burnout, depressão, ansiedade e abandono da profissão entre 
professores. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022), 
os transtornos mentais relacionados ao trabalho estão entre as principais causas 
de afastamento em diversas categorias profissionais, sendo os professores um 
dos grupos mais afetados. No Brasil, levantamento da Confederação Nacional 
dos Trabalhadores em Educação (CNTE, 2021) indica que mais de 60% dos 
docentes já manifestaram sintomas de esgotamento profissional, relacionados à 
sobrecarga de trabalho, baixa valorização salarial e falta de apoio psicossocial. 
Esses fenômenos não são apenas problemas individuais, mas refletem a 
precarização estrutural do trabalho docente, marcada por baixos salários, falta 
de reconhecimento social e ausência de políticas consistentes de saúde mental 
e valorização da carreira (Dejours, 1999; Oliveira, 2004). Ao mesmo tempo, a 
lógica neoliberal aplicadaàs políticas educacionais tem acentuado um modelo 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
4 
 SE A EDUCAÇÃO É A BASE DE UMA SOCIEDADE, COMO ESPERAR 
QUALIDADE NO ENSINO QUANDO QUEM ENSINA ESTÁ ADOECENDO EM SILÊNCIO? 
_____________________________________________________________________________________ 
 
de gestão que privilegia resultados quantitativos em detrimento de processos 
formativos, transformando o professor em mero executor de tarefas pré-
definidas, enfraquecendo sua autonomia e sua identidade profissional (Apple, 
2005; Antunes, 2018). 
Assim, discutir qualidade educacional exige ir além dos indicadores de 
desempenho escolar e considerar as condições objetivas e subjetivas que 
determinam a atuação dos professores. Afinal, a qualidade do ensino está 
intrinsecamente ligada ao bem-estar dos profissionais que o constroem 
diariamente. Sem docentes saudáveis, motivados e reconhecidos, qualquer 
discurso sobre educação de excelência corre o risco de se tornar apenas retórica 
vazia. 
Este estudo, portanto, tem como objetivo analisar a relação entre o 
adoecimento docente e a qualidade educacional, a partir de uma revisão 
bibliográfica crítica. A questão central que orienta a reflexão é: é possível garantir 
qualidade na educação se os professores não encontram condições de trabalho 
dignas e apoio para sua saúde física e mental? Ao trazer diferentes autores e 
perspectivas sobre o tema, pretende-se contribuir para ampliar o debate sobre a 
valorização docente, apontando para a necessidade de políticas públicas mais 
consistentes e de uma transformação cultural que reconheça a docência não 
apenas como missão, mas como uma profissão que requer condições dignas de 
exercício e cuidado integral com seus trabalhadores 
 
2. Referencial Teórico 
 
2.1 Trabalho Docente e Intensificação Laboral 
 
A docência, historicamente, carrega um conjunto de responsabilidades 
que vão além da transmissão de conteúdos. Segundo Tardif (2002), o trabalho 
do professor é uma prática social complexa, atravessada por condicionantes 
históricos, sociais e institucionais. Nos últimos anos, essa prática tem se 
intensificado devido às políticas de responsabilização e às avaliações externas, 
que transferem para o professor a carga de resultados muitas vezes alheios às 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
5 
 Rubia Tatiana Santana de Souza Frederico 
_____________________________________________________________________________________ 
 
condições reais de ensino (Saviani, 2007). A pressão por desempenho, aliada à 
falta de infraestrutura adequada, faz com que os docentes enfrentem uma rotina 
de exigências crescentes, sem que haja, na mesma medida, suporte material ou 
humano. 
Apple (2003) destaca que a lógica neoliberal impôs à educação uma 
racionalidade empresarial, em que eficiência e produtividade passaram a ser 
critérios centrais de avaliação, deslocando a dimensão humana e formativa do 
processo. Nesse modelo, a escola passa a ser tratada como empresa, os alunos 
como clientes e os professores como funcionários avaliados pela sua 
capacidade de cumprir metas. Essa lógica de mercado resulta em sobrecarga 
de trabalho e em um processo de desprofissionalização, no qual o professor 
perde autonomia, tendo suas práticas pedagógicas condicionadas por diretrizes 
externas e padrões de qualidade meramente quantitativos. 
Essa intensificação laboral, conforme Antunes (2018), está diretamente 
relacionada ao fenômeno da precarização do trabalho, comum em diferentes 
setores, mas particularmente grave na educação. O acúmulo de funções, a 
extensão da jornada para além do espaço escolar incluindo correção de provas, 
elaboração de planos de aula e atividades burocráticas e a ausência de tempo 
para formação continuada refletem um quadro de desgaste permanente. Tal 
cenário contribui não apenas para o adoecimento físico e psicológico dos 
professores, mas também para o enfraquecimento da qualidade educacional, 
uma vez que limita a criatividade, a inovação pedagógica e o vínculo entre 
docente e estudante. 
 
2.2 Adoecimento Psíquico e Burnout 
 
O adoecimento docente tem sido objeto de crescente atenção nas 
pesquisas em educação e saúde, visto que as condições de trabalho nas escolas 
têm impactado diretamente a saúde física e mental dos professores. Dejours 
(1999) já apontava que o sofrimento no trabalho não é fruto apenas de fatores 
individuais, mas de um contexto organizacional que expõe o trabalhador a 
exigências incompatíveis com seus recursos e reconhecimentos. No caso da 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
6 
 SE A EDUCAÇÃO É A BASE DE UMA SOCIEDADE, COMO ESPERAR 
QUALIDADE NO ENSINO QUANDO QUEM ENSINA ESTÁ ADOECENDO EM SILÊNCIO? 
_____________________________________________________________________________________ 
 
docência, o acúmulo de funções, a desvalorização social da profissão e a 
pressão por resultados imediatos configuram um cenário propício ao estresse 
crônico, à ansiedade e ao Burnout. 
Estudos recentes evidenciam que o Burnout caracterizado pela exaustão 
emocional, pela despersonalização e pela redução da realização profissional 
tornou-se um fenômeno recorrente entre professores (Codo, 2006; Carlotto; 
Câmara, 2008). Esse quadro é agravado pela falta de apoio institucional, pela 
precarização salarial e pelas condições de trabalho que dificultam a construção 
de relações pedagógicas significativas. Além disso, o isolamento e o 
silenciamento do sofrimento docente contribuem para que muitos profissionais 
adoeçam em silêncio, recorrendo a afastamentos e, em casos mais graves, 
abandonando a carreira. 
Para além do impacto individual, o adoecimento docente compromete a 
qualidade educacional, pois professores adoecidos tendem a ter menos energia 
para investir em metodologias inovadoras, no fortalecimento do vínculo afetivo 
com os alunos e na mediação de conflitos escolares. Oliveira (2004) ressalta que 
não é possível dissociar a saúde do professor da qualidade do ensino, uma vez 
que a prática pedagógica é relacional e depende da vitalidade emocional do 
docente. Assim, discutir políticas de saúde mental na educação significa também 
discutir políticas de valorização docente, de formação continuada e de 
reestruturação das condições de trabalho. 
 
2.3 Educação como Prática Libertadora e Humanizadora 
 
Paulo Freire (1996) destaca que ensinar não consiste apenas em 
transferir conhecimento, mas em criar condições para que os sujeitos se tornem 
críticos e autônomos. A educação, nesse sentido, deve possibilitar que 
estudantes compreendam o mundo em que vivem e atuem de maneira 
consciente sobre ele, promovendo o desenvolvimento integral e a reflexão sobre 
a realidade. 
Essa prática libertadora, entretanto, depende das condições de trabalho 
do professor. Sem garantias mínimas de dignidade, respeito e valorização 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
7 
 Rubia Tatiana Santana de Souza Frederico 
_____________________________________________________________________________________ 
 
profissional, o exercício docente se torna limitado, comprometendo a capacidade 
do educador de exercer seu papel de mediador do conhecimento e da cidadania. 
Arroyo (2011) reforça que a desvalorização dos profissionais da educação 
não prejudica apenas os trabalhadores, mas também fragiliza todo o projeto 
democrático da escola pública. A precarização das condições de trabalho 
compromete a função social da escola, restringindo seu potencial de inclusão, 
formação crítica e transformação social. 
 
2.4 Políticas Públicas e a Precarização do Magistério 
 
A precarização do trabalho docente possui raízes históricas ligadas à 
forma como a educação foi estruturada em sociedades capitalistas periféricas, 
como o Brasil. Saviani (2007) e Hypolito (2011) apontam que, à medida que a 
escolarização se expandia, a carreiradocente sofria desvalorização, refletida em 
sobrecarga de trabalho e baixos salários, comprometendo a qualidade de vida e 
a motivação dos professores. 
Nas últimas décadas, Oliveira (2004) observa que as políticas 
educacionais têm priorizado metas quantitativas, como índices de aprovação e 
desempenho escolar, em detrimento da valorização do profissional docente. 
Essa ênfase em resultados numéricos desconsidera a complexidade do trabalho 
pedagógico e os desafios cotidianos enfrentados pelos professores. 
O resultado é um ciclo de desgaste: professores desmotivados e 
adoecidos impactam negativamente a qualidade do ensino, o que gera maior 
cobrança social sobre eles e, consequentemente, intensifica a precarização. 
Assim, as políticas públicas, ao não considerar a valorização docente, acabam 
reforçando a vulnerabilidade da profissão e comprometendo a função social da 
escola. 
 
3. Metodologia 
 
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica de caráter 
qualitativo, fundamentada na análise crítica de produções acadêmicas sobre 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
8 
 SE A EDUCAÇÃO É A BASE DE UMA SOCIEDADE, COMO ESPERAR 
QUALIDADE NO ENSINO QUANDO QUEM ENSINA ESTÁ ADOECENDO EM SILÊNCIO? 
_____________________________________________________________________________________ 
 
trabalho docente, saúde mental e políticas educacionais. De acordo com Gil 
(2010), a pesquisa bibliográfica permite reunir e interpretar contribuições já 
sistematizadas por outros autores, constituindo-se em um caminho adequado 
para compreender fenômenos complexos e multifatoriais, como o adoecimento 
docente. 
A seleção das obras baseou-se em critérios de relevância acadêmica e 
atualidade, contemplando tanto autores clássicos da educação como Paulo 
Freire, Dermeval Saviani e Maurice Tardif quanto estudiosos da saúde do 
trabalhador, como Christophe Dejours e José Codo. Também foram consultados 
artigos disponíveis em bases como SciELO, CAPES Periódicos e Google 
Acadêmico, priorizando publicações entre 2000 e 2025. 
A abordagem qualitativa, segundo Minayo (2017), possibilita compreender 
a subjetividade do fenômeno investigado, valorizando interpretações que vão 
além de dados quantitativos. Assim, este artigo não se restringe a índices de 
adoecimento, mas busca articular os sentidos atribuídos pelos autores ao 
sofrimento docente e suas implicações na qualidade educacional. 
 
4. Resultados e Discussões 
 
4.1 O Adoecimento como Expressão da Precarização Docente 
 
Os estudos analisados convergem ao afirmar que o adoecimento docente 
não é um fenômeno isolado, mas expressão da precarização estrutural da 
profissão. Codo (2006) evidencia que o Burnout tem se tornado recorrente entre 
professores brasileiros, sinalizando uma crise de ordem psicossocial que reflete 
as condições de trabalho inadequadas. 
A intensificação do trabalho, caracterizada por turmas numerosas, 
excesso de tarefas burocráticas e baixos salários, amplia o desgaste físico e 
emocional, minando a motivação e a saúde dos educadores. Essa sobrecarga 
compromete não apenas o desempenho docente, mas também a qualidade do 
ensino oferecido aos alunos. 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
9 
 Rubia Tatiana Santana de Souza Frederico 
_____________________________________________________________________________________ 
 
Dejours (1999) destaca que o sofrimento psíquico surge quando o 
trabalhador não consegue realizar sua atividade de acordo com seus valores e 
princípios. No caso dos professores, muitos ingressam na carreira movidos por 
ideais de transformação social, buscando impactar positivamente a vida dos 
estudantes. 
Quando essas expectativas entram em choque com a realidade do 
trabalho precarizado, os educadores se deparam com frustração constante, 
impotência e adoecimento, evidenciando que o mal-estar docente é um reflexo 
direto das condições estruturais da profissão. 
 
4.2 Impactos na Qualidade da Educação 
 
O adoecimento docente repercute diretamente no processo de ensino-
aprendizagem. Professores exaustos, ansiosos ou doentes tendem a apresentar 
menor engajamento, absenteísmo e, em muitos casos, abandono da carreira 
(Oliveira, 2004). Esse cenário compromete a qualidade da educação e aprofunda 
desigualdades, sobretudo em escolas públicas localizadas em contextos sociais 
vulneráveis. 
Freire (1996) enfatiza que a prática educativa exige esperança e 
compromisso ético com o estudante. Quando o professor se encontra adoecido, 
essas dimensões ficam comprometidas, fragilizando a construção de uma 
educação libertadora. 
 
4.3 O Silêncio do Adoecimento 
 
Muitos professores adoecem em silêncio, sem buscar apoio institucional, 
seja por medo de estigmatização, seja pela inexistência de políticas de 
acolhimento. Esse silêncio reflete uma realidade preocupante, na qual o mal-
estar docente permanece invisível para a sociedade e para a própria escola. 
Arroyo (2011) aponta que a cultura escolar ainda tende a culpabilizar o 
professor pelo fracasso educacional, desconsiderando as condições objetivas do 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
10 
 SE A EDUCAÇÃO É A BASE DE UMA SOCIEDADE, COMO ESPERAR 
QUALIDADE NO ENSINO QUANDO QUEM ENSINA ESTÁ ADOECENDO EM SILÊNCIO? 
_____________________________________________________________________________________ 
 
trabalho e as limitações estruturais enfrentadas pelos educadores. Essa postura 
aumenta a pressão sobre os docentes e contribui para o isolamento emocional. 
O isolamento prolongado intensifica o sofrimento psíquico, gerando 
sentimentos de impotência, frustração e desmotivação. Quando o adoecimento 
não é reconhecido e enfrentado, os efeitos repercutem não apenas na vida 
pessoal do professor, mas também na qualidade do ensino e na aprendizagem 
dos alunos. 
Romper esse silêncio exige políticas públicas consistentes que 
reconheçam o professor como sujeito de direitos. É fundamental garantir 
programas de saúde mental, acompanhamento psicológico e condições de 
trabalho dignas, promovendo um ambiente escolar que valorize e proteja os 
educadores. 
 
4.4 Caminhos Possíveis 
 
A valorização docente é condição essencial para garantir a qualidade da 
educação. Saviani (2007) defende que políticas estruturais voltadas à carreira, 
salários justos e formação continuada são fundamentais para resgatar a 
centralidade da profissão e fortalecer o papel do professor na construção do 
conhecimento. 
Além disso, Goleman (1995), ao discutir a inteligência emocional, ressalta 
que o cuidado com os aspectos socioemocionais é decisivo para uma atuação 
eficaz em contextos educativos. Professores emocionalmente equilibrados 
conseguem lidar melhor com desafios cotidianos e desenvolver relações mais 
produtivas com seus alunos. 
Investir na saúde mental e no bem-estar dos docentes é, portanto, investir 
diretamente na qualidade da educação. Não é possível promover um ensino 
transformador sem professores saudáveis, motivados e reconhecidos, capazes 
de exercer sua função de forma crítica, autônoma e humanizadora. 
 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
11 
 Rubia Tatiana Santana de Souza Frederico 
_____________________________________________________________________________________ 
 
5. Conclusão 
 
Este artigo demonstrou que a qualidade da educação está 
intrinsecamente ligada às condições de vida e trabalho dos professores. O 
adoecimento docente, manifestado por altos índices de estresse, Burnout e 
depressão, não decorre apenas de fragilidades individuais, mas é consequência 
da precarização estrutural da profissão, que compromete tanto a saúde dos 
educadores quanto a eficácia do ensino. 
O sistema educacional, ao exigir resultados cada vez mais elevados sem 
oferecer respaldo material, psicológico e institucional adequado, cria um 
paradoxo: responsabiliza o professor pela qualidadedo ensino, mas o deixa 
vulnerável frente a condições adversas e sobrecarga constante. Essa 
contradição evidencia a necessidade de repensar políticas e práticas escolares 
para garantir justiça e apoio ao trabalho docente. 
Fica claro que não é possível sustentar um projeto educativo de qualidade 
sem enfrentar o problema do adoecimento docente. Investir em políticas públicas 
que promovam valorização profissional, formação continuada, carreira digna e 
cuidados integrais com a saúde do professor é condição essencial para a 
construção de uma educação eficaz e humanizadora. 
Como ressalta Freire (1996), ensinar exige esperança, mas essa 
esperança precisa ser cultivada em um terreno fértil, no qual a dignidade, o 
respeito e o bem-estar de quem ensina sejam prioridades. Sem esse cuidado, 
qualquer esforço educativo corre o risco de se tornar insuficiente, reforçando 
desigualdades e comprometendo o verdadeiro papel transformador da escola. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ARROYO, Miguel. Ofício de mestre: imagens e autoimagens. 12. ed. 
Petrópolis: Vozes, 2011. 
 
CODO, Wanderley (org.). Educação: carinho e trabalho. 4. ed. Petrópolis: 
Vozes, 2006. 
 
DEJOURS, Christophe. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: 
FGV, 1999. 
Revista Foco | v.18 n.10 | e9954 | p.01-12 |2025 
12 
 SE A EDUCAÇÃO É A BASE DE UMA SOCIEDADE, COMO ESPERAR 
QUALIDADE NO ENSINO QUANDO QUEM ENSINA ESTÁ ADOECENDO EM SILÊNCIO? 
_____________________________________________________________________________________ 
 
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática 
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 
 
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São 
Paulo: Atlas, 2010. 
 
GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. 
 
HYPOPOLITO, Álvaro. Trabalho docente e profissionalização. Educação e 
Sociedade, Campinas, v. 32, n. 117, p. 1139-1154, 2011. 
 
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa 
qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo: Hucitec, 2017. 
 
OLIVEIRA, Dalila Andrade. A reestruturação do trabalho docente: 
precarização e flexibilização. Educação e Sociedade, Campinas, v. 25, n. 
89, p. 1127-1144, 2004. 
 
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: 
Autores Associados, 2007. 
 
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: 
Vozes, 2002.

Mais conteúdos dessa disciplina