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Texto 05 
 
TEMA 1 – REDES SOCIAIS COMO PALCO PARA O NARCISISMO 
TEMA 2 – CELEBRIDADES COMO OBJETOS NARCÍSICOS 
TEMA 3 – VALIDAÇÃO E RECONHECIMENTO 
TEMA 4 – DISTÚRBIOS DE IMAGEM 
TEMA 5 – ANSIEDADE E DEPRESSÃO 
 
Conversa inicial 
Anteriormente, trabalhamos questões referentes ao narcisismo, ao eu ideal e ao 
ideal do eu, ao narcisismo das pequenas diferenças e ao ciberespaço. Vimos, de 
forma isolada, cada um desses temas. Nesta etapa, iremos uni-los. Vamos, portanto, 
trabalhar com o tema algumas reflexões sobre o narcisismo e as redes sociais. 
Para organizar nossa reflexão, o conteúdo será dividido da seguinte forma: 
redes sociais como palco para o narcisismo, celebridades como objetos narcísicos, 
validação e reconhecimento, distúrbios de imagem e, finalmente, ansiedade e 
depressão. 
Você pode ver que temos muito o que discutir... Vamos começar? 
TEMA 1 – REDES SOCIAIS COMO PALCO PARA O NARCISISMO 
Vimos, em nossas duas primeiras etapas, que o narcisismo é parte natural do 
nosso desenvolvimento psíquico, mas que pode, sob certas circunstâncias, 
tornar-se patológico, com a necessidade de validação e a vulnerabilidade às críticas 
se fazendo presentes. As redes sociais, nesse contexto, tornam-se locais ideais para 
exibição do narcisista, uma vez que é dada primazia à imagem e exposição 
constante. 
Essa é uma realidade social de que não temos como escapar. Sendo assim, 
vamos entendê-la melhor? 
1.1 Declínio da ordem simbólica 
A ordem simbólica refere-se à estrutura de significados, valores e normas que 
regulam a vida social e psicológica dos indivíduos, sendo essencial para a formação 
da identidade e para a integração do sujeito na sociedade. Podemos dizer que é 
construída e mantida por meio de símbolos, mitos, narrativas culturais e instituições 
que fornecem um senso de estabilidade e continuidade. 
Nesse sentido, Bender (2023, p. 1) irá nos dizer que 
A ordem simbólica da qual emergem as identificações que estruturam o Eu é uma 
construção histórica e cultural que não possui causalidade material direta. Sendo 
assim, o que chamamos de identidade provém do campo ficcional, mas trata-se de 
uma ilusão necessária para que o indivíduo possa integralizar a experiência de ser 
‘si mesmo’ ao longo do tempo, costurando uma narrativa capaz de atribuir um 
sentido apaziguador à sua existência. A força do símbolo, isto é, a crença na sua 
legitimidade é o que determina o efeito que produzirá no psiquismo. 
Na contemporaneidade, contudo, é possível verificar uma crescente 
relativização dos valores e verdades que, anteriormente, eram considerados 
absolutos. Aliado a isso, temos mudanças econômicas; o advento das novas 
tecnologias, como a internet e as redes sociais; a crise das figuras de autoridade, 
como pais, líderes religiosos e instituições políticas; o crescimento do 
individualismo radical; e, finalmente, a secularização e a perda de influência das 
grandes religiões e filosofias na vida cotidiana. 
Todos esses fatores, somados, contribuíram para a desestabilização de 
estruturas tradicionais de significado e valor, gerando um enfraquecimento 
significativo da eficácia simbólica. As coordenadas simbólicas que antes 
organizavam nossa vida psíquica e social não existem mais. Bender (2023, p. 1) nos 
diz: “Quando a função simbolizante é muito forte, a subjetividade produzida tende a 
ser reprimida por sua crença em verdades vivenciadas como absolutas. Diante da 
relativização dos valores e certezas, diante da dúvida, a eficácia simbólica declina.” 
1.2 Impacto das novas tecnologias 
As novas tecnologias, particularmente as plataformas de redes sociais, 
mudaram drasticamente a forma como nós interagimos. A comunicação, que antes 
se baseava em trocas simbólicas mais profundas e significativas, passou a ser 
mediada por plataformas que favorecem a rapidez e a superficialidade. Tal mudança 
tem implicações diretas na ordem simbólica, pois o significado e os valores 
simbólicos dependem de um processo comunicacional mais lento e reflexivo, algo 
que as novas tecnologias muitas vezes não promovem. 
Não é nenhuma novidade dizer que a imagem se tornou o principal meio de 
expressão e comunicação. As redes sociais, em particular, são centradas na 
visualidade, em que a aparência e a performance têm primazia sobre o conteúdo. 
Isso se reflete em uma mudança significativa na ordem simbólica: o simbólico é 
substituído pelo imagético, e o significado profundo é suplantado pela aparência 
superficial. Bender (2023, p. 2) irá nos dizer que, “[...] diante do relativismo absoluto 
e da impossibilidade de simbolização, a ficção das metanarrativas institucionais 
tem sido, em parte, substituída pelo simulacro imaginário.” 
Baudrillard (1991) vai nos dizer que simulacros são cópias ou representações 
que não possuem uma referência direta na realidade. Com as redes sociais, essa 
ideia se expande, pois a vida on-line, muitas vezes, se torna mais real que a vida 
off-line. Grande parte das pessoas passa a viver para o espetáculo, criando versões 
idealizadas de si mesmas que pouco, ou nada, têm a ver com suas vidas reais. 
Podemos, portanto, pensar que, diante da ausência de uma ordem simbólica 
forte e com a incorporação cada vez maior das novas tecnologias em nossas vidas, 
as identidades criadas on-line (simulacros) irão tomar o lugar das realidades 
simbólicas sociais. Há, portanto, uma retroalimentação do processo de declínio, 
favorecendo o estabelecimento de um ambiente em que o narcisismo pode 
prosperar sem as limitações do mundo físico. 
1.3 Narcisismo e construção da identidade 
Vimos, em etapa anterior, que o narcisismo é uma fase essencial do nosso 
desenvolvimento psíquico saudável, pois permite, por um lado, a construção da 
nossa autoestima por meio de uma identidade sólida e, por outro, o 
desenvolvimento equilibrado de nossas relações afetivas com os outros. Nos dias 
atuais, contudo, há uma intensificação das características narcisistas devido à 
ênfase na imagem e na autoexposição, especialmente nas redes sociais. Isso pode 
levar a uma exacerbação do narcisismo secundário, pelo qual a busca incessante 
por aprovação externa pode prejudicar a capacidade do indivíduo de se relacionar de 
forma saudável com os outros e consigo mesmo. 
Podemos afirmar, sem medo de errar, que, em nossa sociedade, há o predomínio 
de uma cultura em que a individualidade é celebrada e a construção da identidade 
torna-se um projeto central da vida de cada pessoa. Contudo, essa centralidade do 
eu muitas vezes leva a uma fragmentação da identidade, pela qual nos vemos, 
constantemente, moldando e ajustando nossa imagem para atender às expectativas 
externas, uma vez que nos tornamos cada vez mais dependentes do olhar do outro 
sobre nós (Bender, 2023). 
1.4 Cultura do exibicionismo 
A cultura do exibicionismo trata-se de um fenômeno contemporâneo em que a 
exibição da própria imagem, vida e realizações se torna uma prática central na vida 
social, especialmente mediada pelas redes sociais. Esse comportamento está 
intrinsecamente ligado ao narcisismo moderno, pelo que a necessidade de ser visto 
e reconhecido pelos outros se torna um imperativo quase universal. 
Gomes et al. (2015) vão nos dizer que redes sociais atuam como arenas 
públicas onde as performances de identidade são avaliadas e validadas por um 
público potencialmente global. A busca por visibilidade e reconhecimento se torna 
uma força motriz, impulsionada pelos algoritmos das plataformas, que privilegiam 
conteúdo popular e altamente visível. Esse ciclo de feedback positivo (mais 
visibilidade leva a mais validação, que leva a mais visibilidade) cria um ambiente em 
que a autoexposição se torna quase compulsiva. 
Atualmente, a popularidade é, muitas vezes, confundida com sucesso ou valor 
social e isso é extremamente perigoso, pois sua busca incessante pode ocasionar 
consequências psicológicas negativas quando o objetivo nãoé alcançado. Iremos 
abordar essa questão um pouco mais adiante. 
TEMA 2 – CELEBRIDADES COMO OBJETOS NARCÍSICOS 
Quando nos propusemos a desenvolver o tema algumas reflexões sobre 
narcisismo e redes sociais, escolhemos alguns tópicos que consideramos 
fundamentais. As celebridades, sem sombra de dúvida, são um deles. Não podemos 
ignorar que elas são um fenômeno particularmente relevante no contexto 
contemporâneo, em que a constante exibição midiática é fator intensificador de 
identificação narcísica por parte do público. 
Devemos, portanto, buscar compreender um pouco melhor essa relação 
complexa entre o eu e o outro e os impactos psicossociais dessa adoração em 
massa que pode tanto reforçar quanto distorcer a percepção de identidade e valor 
pessoal. 
2.1 Contextualizando 
Para a psicanálise, objeto é um termo que se refere ao alvo da pulsão, ou seja, 
àquilo pelo qual a pulsão se orienta para alcançar satisfação. Os objetos não são 
necessariamente pessoas; podem ser partes do corpo, objetos reais ou até 
representações psíquicas. Na concepção freudiana, o objeto é, em muitos casos, 
secundário à pulsão, que é o aspecto primário da constituição da subjetividade. 
Em Introdução ao narcisismo, Freud (2021) descreve como a libido, 
originalmente direcionada ao próprio eu, pode ser redirecionada a objetos externos. 
Contudo, mesmo quando direcionada a objetos externos, essa escolha pode manter 
um caráter narcísico. Sendo assim, objetos narcísicos seriam aqueles escolhidos 
pelo sujeito por sua capacidade de refletir ou representar aspectos do próprio eu. 
Em uma escolha narcísica, o indivíduo projeta em um objeto externo (pessoa, ideia, 
figura pública...) aspectos de si mesmo, ou de seu ideal de eu, ou de suas 
aspirações. 
As escolhas narcísicas de objeto, para Freud (2021), baseiam-se em o que o 
sujeito é (reflexo de uma autorreferência, em que o objeto é visto como uma 
extensão ou espelho do próprio sujeito); o que o sujeito foi (busca-se no objeto uma 
versão anterior de si mesmo ou uma idealização do passado); o que gostaria de ser 
(ideais que ele ainda não atingiu); em alguém que foi parte de si (antiga conexão do 
sujeito que foi essencial em sua formação). 
Quando um objeto é investido narcisicamente, torna-se um reflexo do eu e nossa 
relação com esse objeto tende a ser marcada por expectativas de confirmação e 
validade da nossa própria identidade. Caso pensemos em um narcisismo 
patológico, teremos relações disfuncionais, em que o outro será valorizado não por 
suas qualidades, mas pelo que ele representa para nosso eu. É possível vermos isso 
em casos de figuras públicas (como as celebridades) idealizadas e transformadas 
em objetos narcísicos por seus admiradores. 
2.2 Celebridades como objetos narcísicos 
As celebridades, em nossa sociedade, se tornaram ícones culturais e símbolos 
de sucesso, beleza, poder e perfeição, que são atributos que boa parte das pessoas 
aspiram alcançar. Esse fenômeno é, ainda, reforçado pela cultura do exibicionismo e 
pelas redes sociais, que criam uma ilusão de proximidade entre figuras públicas e 
seus seguidores. 
Ortiz (2016) destaca outro ponto importante. Segundo ele, numa sociedade de 
consumo (como a nossa), que promove e sustenta a cultura das celebridades ao 
criar um mercado ávido por notícias, imagens e produtos associados a essas figuras 
públicas, tornam tais celebridades em símbolos consumíveis, cujas imagens e 
narrativas são constantemente reproduzidas e comercializadas. 
Aliado a isso, temos Bender (2023), que afirma que o vazio identitário é 
preenchido por figuras que fornecem uma ilusão de identidade e completude, como 
as celebridades, que são consumidas não apenas por suas habilidades ou talentos, 
mas pelo que representam no imaginário social . As celebridades funcionam, 
portanto, como emblemas sociológicos na medida em que encarnam ideais 
culturais e sociais. São, assim, investidas de um valor simbólico que transcende sua 
individualidade, tornando-se ícones culturais que influenciam as dinâmicas sociais e 
psíquicas. 
A identificação com essas figuras se dá muitas vezes em um nível inconsciente, 
pelo que o indivíduo projeta seus desejos e aspirações sobre a celebridade. Essa 
dinâmica é explicada pela teoria freudiana dos objetos de identificação, na qual o eu 
se forma por meio da introjeção de qualidades observadas em figuras idealizadas , 
de acordo com Coelho Jr. (2001). 
Tal forma de identificação é fundamental para a compreensão de como as 
celebridades podem exercer uma influência tão poderosa sobre o comportamento e 
a autoestima das pessoas. No contexto do narcisismo, contudo, essa identificação 
pode se tornar compulsiva, com o indivíduo constantemente buscando se alinhar 
com os ideais representados pelas celebridades. 
TEMA 3 – VALIDAÇÃO E RECONHECIMENTO 
Em nossa etapa sobre narcisismo, vimos que, para a teoria freudiana, um 
desenvolvimento psíquico saudável depende de um equilíbrio adequado entre a 
libido investida no eu e nos objetos externos. Para Kohut (citado por Etchegoyen, 
2007), quando os objetos do self (p. ex., pais) fornecem respostas empáticas e 
consistentes, a criança desenvolve um self saudável. A falta dessa resposta leva a 
um self frágil, que busca, incessantemente, validação externa. Diante disso, 
podemos afirmar que a validação e o reconhecimento dos outros ajudam a mover a 
libido do narcisismo primário para um relacionamento mais equilibrado com os 
objetos externos. Caso essa validação não ocorra, serão utilizados mecanismos de 
defesa para proteger o eu, tais como a projeção e a formação reativa. 
Ao pensarmos em uma pessoa que necessita de validação e reconhecimento 
constantes, o mundo digital, com suas múltiplas plataformas e redes sociais, cria 
um cenário ideal, pois o sujeito pode explorar infinitas possibilidades de ser sem ser, 
no sentido de que ela adotará identidades performáticas e superficiais, 
desconectadas de uma essência autêntica. 
De acordo com Giordano Filho (2019, p. 5), “o principal objetivo dos indivíduos é 
a busca por admiração e amor, de modo tão instantâneo que nem ocorre uma 
reflexão se ele se sentirá melhor após muitas curtidas e elogios, prevalecendo o 
imaginário sobre o simbólico.” A busca incessante por validação pode levar a um 
comportamento compulsivo, pelo qual o indivíduo estará sempre à procura da 
próxima “dose” de reconhecimento, de modo similar a uma dependência. A 
aprovação digital torna-se uma moeda de troca, uma forma de medir o próprio valor, 
mas que nunca realmente satisfaz de maneira duradoura. 
Nesse sentido, Benilton Bezerra Jr. (citado por Bender, 2023, p. 2-3) nos diz que: 
Numa sociedade tradicional, você sabe o que você é, quem você é, porque a 
sociedade lhe diz isso. Não é algo que caiba a uma instância interna definir. O seu 
lugar na hierarquia social é determinado para além das suas vontades. Numa 
sociedade individualista radical esse princípio se torna fluido. Vivemos em um 
imaginário em que cabe a cada um se fazer valer, se fazer reconhecer e, portanto, 
ficamos cada vez mais dependentes desses mecanismos de reconhecimento, cada 
vez mais dependentes do olhar do outro sobre nós, o que faz com que o sujeito viva 
permanentemente na busca de ser reconhecido, cada vez mais atravessado por 
essa insegurança que o olhar do outro precisa compensar. Isso é a essência do 
fenômeno do narcisismo nas sociedades contemporâneas. Não é tanto o mito de 
narciso que se encanta com a própria imagem; é mais o espelho da bruxa da branca 
de neve para o qual ela pergunta constantemente ‘existe alguém mais bonito do que 
eu’? 
Ao sermos, sem ser, experienciamos um vazio existencial que, com o tempo, se 
agrava e nos aliena. Estamos sempre em busca de algo que nunca realmente 
encontramos. O ciclo de insatisfação e busca incessante de validação, além de nos 
fragilizar, pode ser determinante no desenvolvimento dealguns transtornos e 
sofrimentos psíquicos. É o que veremos nos próximos tópicos. 
TEMA 4 – DISTÚRBIOS DE IMAGEM 
Diante de tudo que já trabalhamos até agora, não temos dúvidas que a cultura 
do narcisismo, aliada ao uso excessivo dos meios digitais, em que a primazia da 
imagem e a exposição constante são hipervalorizadas, podem levar a transtornos e 
sofrimentos psíquicos, tais como ansiedade, depressão e diversas questões 
relacionadas à autoimagem e autoestima. 
Dessa forma, resolvemos inserir dois tópicos sobre tais questões. Agora, iremos 
trabalhar alguns pontos sobre os distúrbios de imagem. 
4.1 Definição 
Para podermos entender o que são distúrbios de imagem, torna-se essencial, 
primeiro, entender o que é imagem, para a psicopatologia. Para Dalgalarrondo (2019, 
p. 260), imagem ou esquema corporal são definidos como 
[...] a representação que cada indivíduo faz de seu próprio corpo. Essa percepção do 
próprio corpo é construída e organizada tanto pelos sentidos corporais externos e 
internos como pelas representações mentais, afetivas e cognitivas, referentes ao 
organismo. Assim, a diferenciação entre o corpo físico, objetivo (corpo anatômico), 
e o vivenciado, percebido subjetivamente pelo sujeito (esquema corporal), é de 
suma importância. 
Nosso esquema corporal é construído ao longo da nossa história de vida e 
envolve a forma como nossos pais, irmãos e pares nomeavam, significavam e 
valorizavam suas partes e funções. Nesse sentido, “o esquema corporal está 
sempre ligado à experiência afetiva, imposta pela relação com o outro, além da 
história de vida e experiências culturais do indivíduo”, de acordo com Dalgalarrondo 
(2019, p. 261). 
Podemos compreender que os distúrbios de imagem, no contexto 
psicopatológico, referem-se a alterações na percepção ou na representação que o 
indivíduo tem do próprio corpo, ou seja, nas distorções em sua aparência física, 
particularmente quanto ao tamanho, forma e proporções. É importante ressaltar que 
tais distorções não estão alinhadas com a realidade objetiva, mas sim com uma 
visão subjetiva e frequentemente negativa que pode influenciar profundamente o 
comportamento, as emoções e a autoimagem do indivíduo. 
Normalmente, quando falamos em distúrbios de imagem, as pessoas os 
associam aos transtornos alimentares, tais como: anorexia nervosa e bulimia. 
Contudo, não há essa restrição, uma vez que tais distúrbios também podem ser 
observados em outras condições, como o transtorno dismórfico corporal, pelo qual 
a pessoa é obcecada por um defeito imaginário ou uma pequena imperfeição na 
aparência física que, geralmente, passa despercebida pelos outros, mas é uma fonte 
de grande angústia para o indivíduo. 
A definição de distúrbios de imagem, portanto, está intrinsecamente ligada à 
percepção subjetiva que o indivíduo tem de si mesmo e a como essa percepção 
distorcida pode influenciar negativamente sua vida. A cultura midiática, com sua 
ênfase em padrões estéticos idealizados e frequentemente inalcançáveis, pode 
exacerbar essas distorções, contribuindo para a sua manutenção e agravamento. 
4.2 Características 
Os distúrbios de imagem podem estar presentes em diversos transtornos e 
condições distintas. Sendo assim, não há como tecer um rol taxativo de suas 
características e nem afirmar que se alguma delas estiver presente teremos diante 
de nós, necessariamente, uma pessoa com distúrbio de imagem. Ressaltamos ainda 
que essas características podem variar de intensidade e manifestação e requerem 
uma abordagem terapêutica multifacetada para que possam ser compreendidas em 
toda a sua extensão. 
Cientes de tal complexidade, vamos a algumas características: 
● Distorção da percepção corporal. O indivíduo tem uma visão irrealista e 
geralmente negativa de seu corpo, acreditando que partes de seu corpo são 
maiores ou menores do que realmente são. 
● Preocupação excessiva. Pessoas com distúrbios de imagem frequentemente 
demonstram uma preocupação obsessiva, com o peso e a forma física, que 
pode dominar seus pensamentos diários e influenciar suas decisões e 
comportamentos. Há uma busca constante por um corpo ideal, 
frequentemente inspirado por padrões irreais promovidos pela mídia. 
● Comportamentos compensatórios e restritivos. Devido à distorção e à 
insatisfação com o próprio corpo, é comum que os indivíduos com distúrbios 
de imagem adotem, para supostamente corrigir o que percebem como falhas, 
comportamentos extremos que serão frequentemente acompanhados por 
um ciclo de culpa e vergonha, caso não consiga mantê-los. 
● Impacto na autoestima e identidade. Pessoas com esse tipo de distúrbio 
tendem a basear grande parte de sua autoestima e valor pessoal em sua 
aparência física, levando a uma autoavaliação negativa constante. Essa 
dependência da aparência pode resultar em sentimentos crônicos de 
inadequação, vergonha e até desespero, especialmente se a pessoa não 
conseguir atingir os padrões de beleza que internalizou como centrais. 
● Isolamento social e dificuldades interpessoais. É muito comum, devido à 
percepção equivocada da imagem, que situações que envolvam exposição do 
corpo sejam evitadas. O medo de críticas e julgamentos pode levar a um 
isolamento cada vez maior, ocasionando conflitos tanto na esfera familiar 
quanto na profissional. 
● Comorbidades psicológicas. Tais distúrbios coexistem com outros 
transtornos mentais, tais como: depressão, ansiedade, transtorno 
obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares, transtorno dismórfico 
corporal, entre outros. 
● Resistência à mudança. Uma das características mais desafiadores dos 
distúrbios de imagem é a resistência do indivíduo à mudança de percepção 
mesmo quando é confrontado com evidências reais que o contradizem. Isso 
se deve, na maior parte das vezes, à natureza enraizada de tais distorções, 
uma vez que são sustentadas por padrões de pensamento rígidos. 
4.3 Tratamento 
Vimos que os distúrbios de imagem englobam diversos tipos de transtornos e 
sofrimentos psíquicos. Então, não há como apresentar aqui um tratamento padrão 
ou formas específicas para cada espécie de transtorno. Devemos ressaltar, contudo, 
que a melhor abordagem é a multidisciplinar, envolvendo intervenções psicológicas, 
psiquiátricas e médicas. 
O objetivo principal do tratamento será auxiliar o sujeito a desenvolver uma 
percepção mais realista e saudável de seu corpo, além de tratar as possíveis 
comorbidades correlacionadas. É extremamente importante que o tratamento seja 
adaptado às necessidades individuais levando em consideração (além dos aspectos 
clínicos) o contexto social e cultural do paciente. 
TEMA 5 – ANSIEDADE E DEPRESSÃO 
Diante de todo o conteúdo já trabalhado por nós, vimos como nossa relação 
com o meio digital é complexa. De um lado, ele nos auxilia ao possibilitar novas 
formas de ser, ajudando a conhecer novas culturas, a interagir com pessoas que 
estão distantes de nós, a trabalhar em locais que as barreiras físicas não 
permitiriam, entre tantas outras experiências. De outro, o ciberespaço também é 
considerado como fonte importante de sofrimento. A exposição contínua a imagens 
e narrativas idealizadas nas redes sociais pode criar um ciclo de comparação 
prejudicial à saúde mental e tem sido apontada como um fator significativo para 
ansiedade e depressão. Tendo isso em mente, vamos agora conversar um pouco 
sobre esse assunto. 
5.1 Definição e características 
Em nossa clínica, é muito comum nos depararmos com analisandos com 
quadros de ansiedade e depressão. Devemos, portanto, compreender um pouco 
melhor o que elas são e quais suas características. 
Dalgalarrondo (2019) define a ansiedade como um estado de humor 
desconfortável em que há uma apreensão negativa em relação ao futuro e uma 
inquietação interna desagradável. Aliado a isso haverá, também, manifestações 
somáticas, tais como desconforto respiratório, taquicardia, tensão muscular,tremores, entre outras. 
A depressão, por sua vez, é caracterizada por Dalgarrondo (2019) por um humor 
triste, prostração profunda, desespero e uma incapacidade de sentir prazer 
(anedonia) e uma série de alterações na esfera volitiva, como desânimo acentuado. 
Essas características são desproporcionalmente mais intensas e duradouras do que 
as respostas normais de tristeza que ocorrem ao longo da vida. Sintomas adicionais 
podem ser agrupados em diferentes esferas psicopatológicas (afetivas, de volição e 
somáticas); mas, em casos graves, é possível incluir, também, sintomas psicóticos 
como delírios e alucinações. 
5.2 Ansiedade, depressão e redes sociais 
As redes sociais têm gerado, nos últimos anos, grande interesse e preocupação 
por parte de especialistas em saúde mental, uma vez que são plataformas que 
podem gerar/ampliar sintomas de ansiedade e depressão, principalmente em 
adolescentes e adultos jovens. Vimos, anteriormente, que a necessidade 
permanente de validação e reconhecimento e o modo como as redes sociais são 
projetadas podem resultar em uma necessidade compulsiva de se estar sempre 
conectado, postando conteúdos interessantes que serão repostados e comentados, 
recebendo likes, curtidas. 
Barlow, Durand e Hofmann (2021) apontam que os estressores sociais, como a 
pressão para se conformar às expectativas das redes sociais, podem desencadear 
vulnerabilidades psicológicas que contribuem para o desenvolvimento da ansiedade 
e da depressão. A constante exposição a conteúdos que destacam a vida idealizada 
de outras pessoas pode intensificar a sensação de inadequação e desamparo, 
levando a um ciclo vicioso. Outro aspecto importante é o da solidão, que pode 
alimentar significativamente a depressão. Embora as redes sociais possam 
proporcionar conexões, elas muitas vezes promovem interações superficiais que 
não têm a profundidade emocional necessária para construir relações significativas, 
levando a sentimentos de isolamento e solidão. 
A relação entre redes sociais, ansiedade e depressão é complexa e bidirecional. 
Conexão social, acesso à informação, apoio, espaço para expressão pessoal e 
criatividade são alguns dos aspectos benéficos apontados que justificam o uso 
cada vez maior das redes sociais. Outros podem achar que o uso das redes sociais 
aumenta seus sentimentos de isolamento e desconforto emocional. Não temos 
dúvidas que as duas formas de olhar estão corretas e que o ideal seria o uso 
equilibrado das plataformas sociais, o que não é, contudo, feito pela maioria das 
pessoas. Devemos, portanto, aprofundar nossos estudos sobre o assunto, uma vez 
que, apesar de o impacto negativo ser mais evidente em pessoas mais vulneráveis, 
todos sofremos, em alguma medida, seus efeitos. 
Dessa forma, o impacto negativo das redes sociais na saúde mental não pode 
ser subestimado e não podemos nos esquecer que o suicídio é um desfecho trágico 
que está frequentemente associado a transtornos de humor, como a depressão, e 
que podem ser exacerbados por fatores relacionados ao uso das redes sociais. A 
sensação de desamparo e desesperança, intensificada por interações on-line 
negativas, pode aumentar o risco de suicídio, especialmente entre os jovens, que 
são mais vulneráveis à pressão social digital. 
Dalgalarrondo (2019) afirma que estudos epidemiológicos indicam que de 15% 
a 40% das pessoas com depressão já tentaram alguma vez o suicídio. Outros 
estudos mais completos sobre suicídios revelam que 60% de todos eles são 
realizados por pessoas com depressão. Ter a doença aumenta em 20 vezes o risco 
de suicídio. 
É imperativo, portanto, que continuemos a estudar profundamente tais 
questões. Não podemos, nunca, desvincular o aspecto social da nossa clínica, por 
mais que existam especialistas da nossa área que defendam que psicanálise é 
essencialmente individual. 
NA PRÁTICA 
Veremos, agora, um recorte clínico de como questões de imagem estão 
presentes em nossa clínica. Ressaltamos que todos os dados e nomes foram 
alterados para que a privacidade e a confidencialidade fossem preservadas. 
Jaqueline e Filipe, casados, procuram Teodora para iniciar uma análise de casal. 
Questões financeiras estão minando a relação, apesar de Filipe não entender o 
motivo, pois ambos trabalham e têm bons salários. Jaqueline é a responsável pelas 
contas domésticas e afirma que realmente o salário dos dois não é suficiente. Após 
algum tempo, Filipe vai sozinho a uma sessão para contar que Jaqueline havia feito 
uma grande cirurgia plástica escondida dele, mas que não havia dado certo e ela 
estava internada em estado grave. Ela estava desviando dinheiro de casa havia 
algum tempo, pois seu objetivo era ficar com o corpo de uma modelo, pois 
acreditava que assim ele a amaria. 
FINALIZANDO 
Nesta etapa, foi possível perceber como as redes sociais funcionam como um 
palco privilegiado para a exibição narcisista, exacerbando a busca incessante por 
validação e reconhecimento. A cultura do exibicionismo, ao lado do culto às 
celebridades, reforça uma dinâmica social em que o eu é constantemente moldado 
para atender às expectativas alheias, muitas vezes em detrimento de uma 
identidade autêntica e saudável. Além disso, essa exposição constante, aliada à 
pressão para atender a padrões de beleza e sucesso muitas vezes inalcançáveis, 
pode resultar em distúrbios de imagem, ansiedade e depressão. A necessidade 
compulsiva de aprovação digital reflete uma fragilidade do self, que se vê 
dependente do olhar do outro para sentir-se validado. 
Esperamos que tenhamos conseguido mostrar a você a necessidade de 
aprofundar seus estudos (não apenas da psicanálise), além de termos uma visão 
crítica dos diversos fenômenos da hipermodernidade. Vamos para nossa última 
etapa?

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