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historia da psico social

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ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 20 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA 
PSICOLOGIA SOCIAL 
ASPECTOS GERAIS 
A introdução de um capítulo dedicado aos aspectos históricos da psicologia 
social é justificada pela noção de que a qualquer forma de compreensão da 
verdadeira natureza de uma ciência exige que tenhamos em consideração o 
contexto histórico em que a mesma aparece e se desenvolve. 
Assim, daremos neste capítulo uma perspectiva geral da história da psicologia 
social. 
A GÉNESE EUROPEIA DA PSICOLOGIA SOCIAL 
A psicologia social é geralmente considerada uma ciência americana. Esta 
noção tem o seu fundamento no facto de ter sido nos EUA que esta ciência 
teve um maior desenvolvimento inicial e foi aí também que adquiriu uma 
maior relevância tanto em termos científicos como em termos do seu impacto 
social e cultural. Contudo, também é verdade que, se quisermos encontrar as 
raízes mais profundas da psicologia social enquanto preocupação científica 
global temos que recuar em termos temporais à segunda metade do século 
XIX e em termos contextuais ao mundo científico europeu, ou melhor, 
anglo-europeu. Com efeito, os primeiros trabalhos onde, no âmbito da 
psicologia, se começa a colocar o problema do social enquanto tal, 
apareceram por esta época na Alemanha com um conjunto de autores que 
desenvolveram trabalhos numa área que ficou conhecida como 
Völkerpsychologie, ou seja, psicologia dos povos. Esta linha de investigação 
chegou mesmo a dar origem a uma revista científica entitulada "Zeitschrift für 
Völkerpsychologie und Sprachwissenschaft11" que foi fundada em 1860 por 
 
11“Jornal de Psicologia dos Povos e Estudo da Língua”. 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 21 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
Hermann Steinthal juntamente com o seu cunhado Moritz Lazarus e em que 
eram publicados tanto trabalhos teóricos como de investigação empírica 
(Hogg & Vaughan, 1998) . Esta designação é interessante pois, por um lado, 
assume que entidades supraindividuais de tipo grupal também poderiam ser 
objecto de estudo psicológico e é esta precisamente a posição de base em 
psicologia social e, por outro, associa dois aspectos que nos parecem hoje 
fundamentais, que são a sociabilidade e a comunicação. Assim, alguns anos 
antes mesmo de Wilhelm Wundt ter fundado em 1875 em Leipzig o primeiro 
laboratório de psicologia experimental, em que se preocuparia a estudar os 
conteúdos da mente individual, podemos encontrar outros cientistas 
adoptando como objecto de estudo várias formas da colectiva. De realçar que 
o próprio Wundt parecia cavar em ambos os campos, pois publicou um 
trabalho com o título “Elementos de Psicologia dos Povos”. 
Um outro aspecto que nos parece importante salientar é que, como já 
referimos anteriormente, esta noção de mente colectiva não é uma noção 
simples, prestando-se a múltiplas interpretações e abordagens. Podemos logo 
aqui neste ponto da pré-história da psicologia social verificar isso mesmo, pois 
estes dois autores Steinthal e Lazarus tinham perspectivas conflituantes sobre 
a mente colectiva (Haines, 1960, cit. In Hogg & Vaughan, 1998), ora sendo 
entendida como uma forma socializada de pensamento dentro do indivíduo, 
ora vista como uma espécie de supramentalidade que poderia compreender 
um todo um grupo de pessoas. Um exemplo da noção de mente grupal pode 
ser encontrado no trabalho de um autor francês, Gustave Le Bon (1841-1931) 
que em 1895 publicou uma obra entitulada Psychologie des foules, ou seja, 
Psicologia das multidões. Nesta obra Le Bon procura explicar a razão pela qual 
as multidões cometem por vezes actos terríveis recorrendo à hipótese de que 
o comportamento dos indivíduos fica sujeito ao controlo de uma mente 
grupal. 
AS PRIMEIRAS PUBLICAÇÕES 
Uma perspectiva histórica sobre qualquer processo social, nomeadamente 
como é o nosso caso agora ao abordarmos a génese e evolução da psicologia 
social começa naturalmente com a questão central de saber como e onde 
tudo começou. 
Se adoptarmos um critério operatório para responder a esta questão, 
podemos definir como critério do nascimento da psicologia social o momento 
em que se começou a falar e a escrever sobre temáticas nesta área ou a 
utilizar-se a designação de psicologia social para identificar esses trabalhos. 
Posto isto, podemos verificar que a psicologia social nasce precisamente no 
momento da transição do século XIX para o século XX pois a designação 
"psicologia social" parece ter sido utilizada pela primeira vez por James M. 
Baldwin em 1987 nos seus trabalhos sobre o desenvolvimento moral e social 
da criança e retomada por Edward Ross numa conferência em 1899. No que 
respeita a trabalhos escritos, verifcamos que dois textos (Le Bunge, 1903; 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 22 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
Orano, 1901) abordaram problemáticas ligadas à psicologia social, mas como 
não estavam escritos em inglês não foram muito conhecidos no Reino Unido 
nem nos Estados Unidos. 
Com efeito, apesar de a obra de Charles Horton Cooley, Human Nature and 
the Social Order publicada pela primeira vez em 1902 ser um bom candidato 
ao lugar de primeiro texto de psicologia social, as primeiras obras científicas 
que assumiram decisivamente a designação de psicologia social e que 
abordaram problemas relacionados com o seu objecto de estudo foram 
curiosamente publicadas ambas no ano de 1908. Referimo-nos ao livro do 
psicólogo inglês, residente na América, William McDougall, intitulado An 
Introduction to Social Psychology e à obra do mesmo ano Social Psychology, 
an Outline and Sourcebook, da autoria do sociólogo americano Edward 
Alsworth Ross . 
A génese da psicologia social ficaria assim logo à 
partida marcada por esta coincidência curiosa 
desde logo assinaladora da sua dupla paternidade, 
a psicologia e a sociologia. Com efeito, embora 
assumindo ambos a designação de Social 
Psychology, cada uma delas assume uma 
orientação específica procurando construir uma 
psicologia social mais de cariz psicológico ou mais 
de cariz sociológico. 
Com efeito, a obra de McDougall acentua a 
perspectiva centrada sobre a pessoa, salientando o 
carácter instintivo do sentido gregário humano, 
isto é, propõe que o social está inscrito na 
natureza biológica do indivíduo. Neste sentido os 
comportamentos sociais eram fundamentalmente 
influenciados pelas características de personalidade 
dos seus autores, por exemplo, um 
comportamento agressivo seria função de uma 
personalidade agressiva, enquanto que um comportamento conformista seria 
o mais natural numa personalidade conformista. Embora se admita a 
existência de determinantes sociais, esta análise acentua o papel dos factores 
pessoais na modelagem da sociedade e da interacção social. Esta abordagem 
estava de tal forma em conflito com a tendência behaviorista emergente na 
psicologia Americana que acabou por não gerar linhas de investigação 
significativas. Ironicamente a abordagem de McDougall foi recentemente 
reabilitada pelas perspectives sociobiologistas. 
Por outro lado, a obra do sociólogo Edward A. Ross, propõe como unidade de 
princípio explicativo a “sugestão-imitação” definindo uma perspectiva de 
compreensão do comportamento social centrada sobre os factores sociais, isto 
é, procurando explicar a uniformidade das crenças, dos sentimentos e das 
acções como sendo desencadeada pela interacção dos seres humanos. Neste 
contexto o comportamento social é explicado mediante a análise das 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 23 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
condições ou circunstâncias sociais em que tal comportamento se verifica, 
podendo mesmo tentar estabelecer-se as condições gerais em que um 
determinadocomportamento é evocado e posto em prática pela maioria das 
pessoas. 
Convém referir que apesar dos respectivos títulos, 
nenhum destes livros tem alguma semelhança, 
ainda que remota, com um texto de psicologia 
social actual, mas também é verdade que a 
ciência é uma actividade em constante 
redefinição. Ainda, de acordo com Gouveia Pereira 
(in Vala & Monteiro, 1993, p. 33), apesar do 
pioneirismo reconhecido a McDougall e Ross, foi 
outro autor já anteriormente referido, James M. 
Baldwin que, com a sua obra The Individual and 
Society publicada em 1919, de certa forma 
acabou por definir e legitimar o espaço e a 
importância que a psicologia social viria a ter no 
âmbito das ciências sociais. Para além disso a 
obra de McDougall irá paradoxalmente ter um 
efeito retardador no desenvolvimento da própria área que define em título, 
porque, ao radicar-se na teoria dos instintos, veio provocar a contestação de 
alguns pensadores importantes da época, tais como C. Wallas e John Dewey, 
para não falar daqueles psicólogos que poderíamos designar por 
proto-comportamentalistas, que, pelo contrário davam maior importância a 
factores externos ao indivíduo como sejam a aprendizagem e a educação. 
Dewey, nomeadamente defendia que se do ponto de vista biológico o instinto 
deve ser considerado como factor primário, do ponto de vista sociológico é o 
hábito que deve ser considerado como determinante fundamental, 
inaugurando assim um debate entre natura e cultura de que a psicologia 
social ainda hoje não se libertou completamente. Esta controvérsia teve maior 
impacto do lado sociológico do que do lado psicológico, podendo até 
afirmar-se que os psicólogos tiveram pouco a ver com o pensamento e 
preocupações iniciais em psicologia social. Muitos investigadores em História 
da psicologia social defendem que os factores decisivos para o arranque final 
da psicologia social, como campo de estudos científico claramente enquadrado 
no âmbito da psicologia, ficará a dever-se a Kurt Lewin e continuadores, 
assim como à emergência do conceito de atitude, em paralelo com o conceito 
de comportamento da psicologia geral. 
O que se segue a estes primórdios é a controvérsia teórica que gira à volta 
dos instintos e hábitos, as célebres natura e cultura a que já fizemos 
referência. Mais recentemente, podemos dizer que se bem que até certo 
ponto a necessidade de clarificar posições parece tornar paralelas as vias da 
psicologia social e da sociologia, parece assistir-se a uma nova tentativa de 
convergência baseada nas noções de estrutura, relação e sistema. 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 24 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
Esta dupla referência do social e do psicológico continua ao longo da história 
da psicologia social, sendo que vai constituir o objecto de análise dos 
próximos artigos, tendo em conta, quer a psicologia social americana, que 
possui uma orientação mais psicológica, quer a psicologia social europeia, que 
se tem interessado mais pelos fenómenos colectivos. 
A PSICOLOGIA SOCIAL NO SEC XX 
Apesar de a preocupação com os aspectos sociais do comportamento 
individual e grual ter efectivamente nascido na Europa, foi nos EUA que, na 
primeira metade do Século XX, a psicologia social social se constitui como 
uma disciplina científica autónoma. Esta circunstância tem certamente a ver 
com o facto de ter sido aí que se verificou o contexto social, cultural e até 
económico favorável ao desenvolvimento de uma área do conhecimento que, 
ao analisar os mecanismos sociais era claramente desafiadora dos sistemas 
sociais tradicionais em vigor na maior parte dos países europeus no dealbar 
do Século XX. A psicologia social efectivamente teve sobretudo tendência a 
desenvolver-se em ambientes marcados por uma grande efervescência social. 
Nos EUA, com efeito, a ciência foi sempre vista numa perspectiva 
funcionalista, isto é, encarada a partir da sua função na sociedade, isto é, a 
sua utilização como instrumento de compreensão dos processos ou resolução 
de problemas em vários domínios como a educação, opinião pública, 
economia, medicina, etc.. Enfim, a nossa compreensão deste processo pode 
ser facilitada se utilizarmos uma metáfora agrícola – a América forneceu o 
solo adequado para o nascimento e crescimento da seara da psicologia social, 
mas as sementes mais importantes vieram da Europa. Com efeito, como bem 
nota Gouveia Pereira (in Vala & Monteiro, 1993, p. 32) as principais figuras 
que impulsionaram o desenvolvimento da psicologia social nos EUA foram um 
inglês, Frederic Bartlett (1886-1969); um turco emigrado, Muzafer Sherif 
(1906-1988); um alemão fugido ao nazismo, Kurt Lewin (1890–1947); um 
austríaco emigrado Fritz Heider (1896-1988); e um polaco também emigrado 
Solomon E. Asch (1907-1996). Ao mostrarem de que forma o social emergia 
da interdependência de comportamentos individuais todos eles contribuíram 
para a construção do objecto específico da psicologia social fazendo-o sair da 
oposição dicotómica, entre, por um lado, uma posição protagonizada por 
McDougall centrada sobre a pessoa que explicava os mecanismos sociais 
através de processos puramente psicológicos, e outra protagonizada por Ross 
centrada sobre a situuação social que, pelo contrário, fazia do psicológico um 
mero sucedâneo do social. Com efeito, a afirmação da psicologia social como 
disciplina autónoma foi desencadeada pela existência de estudos que 
sustentavam um novo domínio do conhecimento: o da interferência dos 
outros no comportamento dos indivíduos. 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 25 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
Anos 20 e 30 do Século XX 
Segundo Gouveia Pereira (in Vala & Monteiro, 1993) as atitudes foram de 
alguma forma o construto central à volta do qual se organizou o nascimento 
da psicologia social como disciplina científica autónoma. O conceito de atitude 
é, com efeito um conceito nuclear porque congrega dentro de si uma 
componente cognitiva envolvendo a percepção e crença sobre uma realidade 
social, uma componente afectiva que leva o sujeito a sentir-se atraído ou a 
rejeitar determinados aspectos da realidade social e uma componente 
comportamental que leva o sujeito a agir sobre essa realidade de uma 
maneira específica. 
Com efeito, é de forma geral aceite que o impulso decisivo para para o 
desenvolvimento acelerado da psicologia social nos anos 20 e 30 do Século 
XX nos EUA, foi dado pela necessidade de construção de métodos 
suficientemente válidos, fiáveis e precisos de medida das atitudes. Esta 
necessidade de avaliação das atitudes de determinados grupos sociais surge, 
por outro lado, da intenção de fazer com que a psicologia social deixasse de 
ser uma ciência puramente teórica e especulativa, e começasse a 
interessar-se em contribuir para a resolução dos problemas sociais, dentro 
daquela perspectiva funcionalista a que fizemos referência mais atrás. 
Exploremos um pouco esta idéia: - A resolução de um problema social, como 
aliás de qualquer outro problema, tem necessariamente que passar por um 
processo composto por três etapas fundamentais: em primeiro lugar um 
momento que poderíamos chamar observação diagnóstica, em que se 
pretende identificar o problema, a sua natureza e amplitude; um segundo 
momento, designado por análise, leva-nos a compreender a relação desse 
problema com o contexto em que aparece; e finalmente, um terceiro 
momento de intervenção em que adoptamos os procedimentos concretos que 
nos parecem mais adequados para o resolver. Ora, um problema que se 
punha, e de certa maneira ainda se põe, com alguma acuidade nos EUA, que 
é uma sociedade tipicamente multicultural e multiracial era o problema do 
preconceito de uns grupos sociais face a outros. Ora, o preconceito é uma 
atitude, e, por isso, não espanta que os primeiros instrumentos de medida 
das atitudes,normalmente conhecidos como Escalas de Atitudes12, tenham 
sido precisamente desenvolvidos para medir atitudes como o racismo. 
O exemplo mais acabado do que acabamos de afirmar é precisamente a 
primeira escala de atitudes a aparecer em termos cronológicos, que foi 
desenvolvida pelo sociólogo Emory S. Bogardus (1882-1973) publicada pela 
primeira vez em 1925 e que ficou conhecida como Escala de Distância Social 
de Bogardus. Efectivamente esta escala mede a distância social ou grau de 
aceitação social que existe entre determinadas pessoas e determinados 
grupos sociais. Apesar da escala poder ser adaptada para medir a distância 
 
12Neste ponto vamos limitarmo-nos a fazer uma referência breve às Escalas de 
Atitudes desenvolvidas nesta época. Mais adiante, quando estudarmos as atitudes, 
estudaremos estas escalas com mais detalhe. 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 26 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
sexual, etária, de classe, ocupacional, religiosa, etc., ela foi na sua primeira 
edição usada para medir a distância racial e é neste campo que efectivamente 
tem sido mais utilizada. 
Outra escala de atitudes desenvolvida mais ou menos por esta altura foi a 
Escala Intervalar de Thurstone, publicada em 1928 por Louis Leon Thurstone 
(1987-1955). Curiosamente Thurstone foi um cientista originário de uma área 
que pouco tinha a ver com as ciências sociais, pois começou por ser um 
engenheiro electrotécnico que chegou a ser colaborador de Thomas Edison. 
Segundo as suas próprias palavras o seu interesse pela psicologia resultou do 
facto de ter assistido a uma série de conferências realizadas por G. H. Mead 
sobre psicologia social. Com efeito, a sua formação em engenharia levou-o a 
preocupar-se com o problema do rigor da medida das variáveis psicológicas, 
tendo centrado a sua atenção especialmente na medida das atitudes e da 
inteligência, através da aplicação da técnica estatística da análise factorial. 
Uma escala intervalar é aquela em que os intervalos entre os items dizem 
quanto as pessoas, objectos ou factos estão distantes entre si em relação a 
determinada característica. Assim, uma escala intervalar de Thurstone é 
constituída por um conjunto de afirmações relativas a um determinado 
objecto. Cada uma dessas afirmações reflecte uma posição que pode variar 
desde uma atitude extremamente favorável até uma atitude extremamente 
desfavorável face a esse mesmo objecto, normalmente numa escala de 11 
pontos. Os sujeitos que respondem à escala são depois solicitados a exprimir 
a sua concordância ou discordância com cada uma dessas afirmações. A 
vantagem de escalas deste tipo é que permite uma série de operações 
estatísticas e por isso são mais rigorosas do ponto de vista psicométrico. 
Um terceiro tipo de escala de medida de atitudes e talvez a mais conhecida e 
utilizada, é a Escala de Likert, assim designada por ter sido criada por Rensis 
Likert (1903–81) em 1932. Likert começou por estudar economia e sociologia, 
mas acabou por se interessar pela psicologia tendo obtido doutoramento 
nesta área em 1932 na Universidade de Columbia. A popularidade da escala 
de Likert deriva do facto de ser uma escala ao mesmo tempo fácil de 
construir, de aplicar e de apurar os resultados. A escala é composta por um 
número variável de afirmações acerca de um determinado objecto e 
solicita-se aos sujeitos que respondem à escala que manifestem o seu acordo 
ou desacordo com cada uma das afirmações numa escala de cinco pontos que 
tipicamente corresponde às seguintes posições: - 1- Discordo absolutamente; 
2- Discordo; 3- Não concordo nem discordo; 4- Concordo; 5- Concordo 
absolutamente. Assim, um valor numérico total pode ser calculado a partir de 
todas as respostas. As escalas de Likert são de alguma forma semelhantes às 
escalas de Thurstone pois incluem uma série de afirmações relacionadas com 
o objecto pesquisado, porém, ao contrário das escalas de Thurstone, os 
sujeitos não se limitam a responder se concordam ou não com as afirmações, 
mas também informam qual seu grau de concordância ou discordância. Uma 
desvantagem, contudo, associada a essa escala ocorre quando há um 
problema de interpretação que não existe na escala de Thurstone. Por 
exemplo, uma pontuação de 9.2 na escala de Thurstone representa uma 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 27 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
atitude favorável, já na escala de Likert pode, por exemplo, haver confusão 
para determinar o que significa uma pontuação de 78 pontos numa escala 
com 20 afirmações. Não é possível afirmar que essa pontuação represente 
uma atitude favorável, tendo como base a pontuação máxima de 100 (20 x 
5). 
Anos 40 e 50 do Sec XX 
Uma ideia com que podemos ficar da leitura do ponto anterior é que apesar 
dos primórdios da psicologia social como campo de estudo estarem 
relacionados com o estudo das atitudes, podemos também constatar que os 
cientistas que começaram por contribuir para este campo, nomeadamente 
através da construção de escalas de medida, nenhum deles se identicaria a si 
próprio como psicólogo social, sendo mesmo dois deles oriundos de áreas 
científicas muito distantes das ciências sociais. Com efeito, apesar de muitos 
dos tópicos estudados se enquadrarem já claramente no âmbito do que viria a 
ser a psicologia social, só em finais dos anos 30 e mais acentuadamente 
durante os anos 40 e 50 esses trabalhos se começaram a identificar como tal 
e os seus autores a intitularem-se psicólogos sociais. De acordo com Morales 
et al. (1994) este desenvolvimento foi sustentado por duas pedras angulares 
que foram a adopção da perspectiva cognitivista e o início da experimentação 
em laboratório. 
A PERSPECTIVA COGNITIVISTA E A INFLUÊNCIA DA GESTALT 
Ainda segundo Morales et al. podemos definir cognição como o termo que 
“descreve os processos psicológicos implicados na obtenção, uso, 
armazenamento e modificação do conhecimento acerca do mundo e das 
pessoas. […] as pessoas desenvolvem estruturas psicológicas de 
conhecimento (quer dizer, estruturas cognitivas) tais como crenças, 
opiniões, expectativas, hipóteses, teorias, esquemas, etc., que usam para 
interpretar os estímulos de maneira selectiva e que as suas reacções são 
mediadas por estas interpretações.” (1994, p. 14) 
Em nosso entender há aqui dois pontos que importa fazer notar. Em primeiro 
lugar, muitas das estruturas psicológicas acima referidas estão já subjacentes 
ao conceito de atitude, como veremos quando estudarmos esta temática mais 
em pormenor; em segundo lugar, apesar de a psicologia geral ter adoptado 
uma perspectiva cognitivista somente a partir dos anos 60 do século XX, 
fugindo assim ao elementarismo da tradição behaviorista, a psicologia social 
tem sido cognitivista desde o seu início. Porquê, poderão perguntar. Porque 
só assim a psicologia social poderia impor a sua especificidade dentro do 
campo das ciências sociais e da própria psicologia. Com efeito, se a psicologia 
social se tivesse mantido presa à posição behaviorista, isto é, limitando-se a 
estudar as conexões observáveis entre estímulo e resposta, então seria 
facilmente confundida com o estudo dos processos de aprendizagem que é 
tarefa da psicologia geral. Para a psicologia se poder constituir como uma 
disciplina bem definida dentro da psicologia teria que ser capaz de mostrar 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 28 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
que os processos interpessoais, isto é, os processos que nos permitem situar 
face uns aos outros - o mundo das pessoas, são algo de significativamente 
diferente dos processos que nos permitem situar face ao mundo das coisas. 
Seguindo mais uma vez Morales et al. , é hoje claro que os trabalhos pioneiro 
de Solomon Asch (1946) sobre a formação de impressões e a teoria deFritz 
Heider (1958) sobre o equilíbrio cognitivo e a psicologia ingénua de alguma 
forma aplanaram o caminho para a perspectiva cognitivista em psicologia 
social que conduziu aos estudos mais recentes sobre percepção interpessoal e 
cognição social. Contudo, o autor que inaugurou a perspectiva cognitivista em 
psicologia social e que de alguma forma é considerado o pai da psicologia 
social moderna é Kurt Lewin que, com a teoria do campo, considera os 
indivíduos como membros de um sistema social e os seus comportamentos 
como sendo determinada e regulada pelas propriedades dinâmicas desse 
sistema, estabelecendo assim os fundamentos teóricos para uma psicologia 
social com uma identidade verdadeiramente estabelecida. Voltaremos a este 
autor mais em pormenor nais adiante quando abordarmos os modelos 
teóricos de base, mais concretamente a perspectiva ecológica em psicologia 
social. 
A perspectiva cogntivista inaugurada por Kurt Lewin conduziu uma linha de 
investigação continuada pelos seus estudantes e colaboradores que deu os 
seus frutos e constituem a coluna vertebral do que há de mais interessante na 
psicologia social actual, como sejam os estudos sobre a atracção interpessoal 
e outros tipos de relações interpessoais, estrutura grupal, motivação, 
conformismo, tomada de decisões em grupo e liderança. 
A EXPERIMENTAÇÃO EM LABORATÓRIO 
Ainda de acordo com Francisco Morales (1994, p.15), os estudos de Kurt 
Lewin e de outros autores deram ainda outra contribuição fundamental para a 
história da psicologia social pois “ajudaram a criar um estilo especial de 
experimentação em laboratórios de psicologia social.” Como veremos mais 
adiante quando nos referirmos mais em pormenor aos aspectos 
metodológicos em psicologia social a experimentação em laboratório, ainda 
que caracterizada por um certo artificialismo, é muito importante, 
especialmente nos momentos iniciais de fundamentação teórica e 
metodológica de uma disciplina científica. Vamos desenvolver um pouco mais 
esta ideia. Com efeito, o laboratório, ao permitir a criação de uma situação 
experimental simplificada e controlada13, permite ao experimentador pode 
 
13Mais adiante, nos aspectos metodológicos, discutiremos mais detalhadamente a 
noção de controlo na metodologia experimental. Para já, e para se compreender o 
que é aqui dito, diremos que o controlo refere-se aos procedimentos adoptados pelo 
experimentador para se assegurar que os comportamentos que observa nos sujeitos 
experimentais (variável dependente) são unicamente um efeito da condição 
experimental (variável independente) que está a estudar, e não de outras 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 29 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
estar razoalvelmente seguro de que os comportamentos que observa nos 
seus sujeitos experimentais efectivamente dependem da condição que 
pretendeu estudar. A experiência em laboratório é, assim, um método 
especialmente adequado para encontrar e confirmar relações causais entre o 
comportamento e as situações em que ocorre. 
Como já dissemos as situações laboratoriais acabam por ser altamente 
artificiais e, por isso, muitas vezes dificilmente generalizáveis para as 
situações da realidade quotidiana, não sendo por isso um bom método para 
obter descrições naturalistas sobre o comportamento das pessoas no real 
social nem para descobrir como se correlacionam e interagem no mundo real 
as variáveis e processos psicossociológicos. Contudo, o seu rigor científico 
torna-o um método excelente de investigação teórica, isto é, para estabelecer 
contrastes entre teorias e para desenvolver as propriedades conceptuais das 
teorias. A experimentação em laboratório permite assim aos investigadores 
desenvolver ideias conceptuais rigorosas definindo um conjunto de hipóteses 
que podem servir de pontos de partida, simplificados, mas seguros 
importantes no estabelecimento de uma ciência nova. Para concluir, as 
experiências em laboratório 
“não nos dizem directamente o que acontece no mundo real; em vez 
disso, ajudam-nos a desenvolver boas teorias que poderemos usar mais 
tarde para fazer inferências verosímeis acerca dos acontecimentos no 
mundo real. (Morales, 1994, p.15) 
São assim geradas hipóteses que poderão depois ser estudadas em estudos 
de campo mais alargados e mais próximos da realidade social chegando assim 
à construção de um conhecimento psicossociológico cada vez mais situado. 
O papel de Lewin e dos seus colaboradores e seguidores foi demonstrar que 
era possível fazer experiências em labratório sobre o complexo objecto de 
estuda da psicologia social e indicar a forma como essas experiências 
deveriam ser conduzidas. Ora, isto não era de forma alguma evidente para os 
autores que trabalhavam nesta área até esse momento. 
A II GUERRA MUNDIAL E O DESENVOLVIMENTO DA INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA 
SOCIAL 
A II Guerra Mundial, constituiu uma oportunidade histórica para o 
desenvolvimento da psicologia social, porque, digamos assim, implicou que 
esta disciplina evoluísse claramente no sentido de uma ciência aplicada. Com 
efeito, se analisarmos os acontecimentos deste período verificamos que a 
situação de conflito bélico forneceu os meios e criou as necessidades, que, 
como se sabe, são as duas condições básicas para que algo se desenvolva. 
Efectivamente, a II Guerra Mundial, ao mesmo tempo que na Europa 
provocava a paralisia das ciências sociais, levou ao aparecimento nos EUA o 
 
condicionantes estranhas à situação. Isto é fundamental porque só assim ele poderá 
dizer que um comportamento X está relacionado com uma situação Y. 
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de um conjunto de circunstâncias favoráveis ao desenvolvimento do estudo 
de alguns tópicos centrais em psicologia social. No que respeita ao 
fornecimento dos meios, como bem nota Francisco Morales, isso teve a ver 
com a circunstância de alguns dos cientistas europeus mais brilhantes nesta 
área trabalharem na Alemanha e serem de origem judaica o que fez com que 
tivessem que emigrar para a América para fugirem à ameaça nazi, 
encontrando aí, para além de liberdade pessoal, uma situação social, cultural 
e económica favorável à investigação e desenvolvimento científico. No que 
respeita às necessidades, quando os EUA abandonaram a sua posição de 
neutralidade e decidiram entrar na guerra, esta colocou um certo número de 
desafios à sociedade americana que por um lado era uma sociedade “nova” 
sem os mecanismos de controlo social presentes na sociedade europeia, e, 
por outro, até um certo ponto viveu a guerra como algo exterior a si própria. 
Isto significou que o estudo do impacto social da guerra fosse considerado 
relevante para o esforço bélico. Consequentemente, como já dissemos acima, 
os anos 40 e 50 constituiram um momento de expansão do estudo em 
algumas áreas centrais em psicologia social, como seja a investigação sobre 
atitudes, persuasão, dinâmica de grupos, influência e conformismo, relações 
inter-grupais, percepção social, etc.. 
Mais concretamente, Carl Hovland juntamente com Irving Janis , e Harold 
Kelley na Universidade de Yale, conceberam e executaram experiências 
cuidadosamente controladas em que isolando as ”partes componentes” do 
processo de comunicação, procuraram testar a eficácia das diferentes 
variáveis ao nível do emissor, mensagem, canal e receptor. Tal como muitos 
investgadores nesta área e nesta época, o objectivo fundamental era estudar 
a influência dos meios de comunicaçao de massas nos processos de 
persuasão e mudança de atitudes. Este problema estava claramente 
relacionado com o esforço de guerra americano, pois havia a necessidade de 
promovervários tipos de campanhas de informação junto da opinião pública 
americana para, por exemplo, levar as pessoas a compreenderem a razão de 
ser da entrada dos EUA na guerra, aceitarem as várias restrições ao nível do 
abastecimento de bens de consumo como os combustíveis, colaborarem em 
campanhas de recolha de materiais utilizados na indústria bélica como metais, 
borracha, etc.. 
Outras áreas da psicologia social que beneficiaram de um notável incremento 
nesta altura foi a temática da influência social, muito particularmente com os 
estudos de Solomon Asch (1952) sobre o conformismo e e as teorias da 
dinâmica de grupos de Leon Festinger que foi um discípulo de Kurt Lewin na 
Universidade de Iowa, sobre o mesmo tema. Segundo Morales a teoria de 
Festinger de 1950 explicava o conformismo como resultando das pressões no 
sentido da uniformidade em grupos pequenos orientados para a tarefa. 
Contudo Leon Festinger viria a ficar especialmente conhecido por ter proposto 
o conceito de comparação comparação social em 1954, processo de tal forma 
relevante que acabou por se tornar o processo de explicação central em 
psicologia social. Este conceito postula que as pessoas mostram uma 
necessidade de avaliarem continuamente as suas capacidades, pensamentos, 
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JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
opiniões, atitudes, enfim, os vários processos através dos quais nos 
relacionamos com o mundo social, e que quando isso não pode ser feito 
através de meios físicos, objectivos e não sociais, recorrem ao 
estabelecimento de comparações com outras pessoas, procurando assim de 
alguma forma reduzir a incerteza acerca da adequação dos seus 
comportamentos, sentimentos e crenças relativas a uma situação particular. 
Para concluir esta nossa abordagem dos primeiros passos da psicologia social 
como ciência autónoma, queremos realçar uma noção já exposta, mas que 
poderá porventura não ter ficado suficientede clara. Referimo-nos ao facto de 
que o desenvolvimento da psicologia social, depois de ultrapassado o 
espartilho inicial do behaviorismo, se orientou no sentido de duas áreas 
fundamentais, qualquer delas situadas um pouco fora da psciologia tradicional 
– o problema da medida das atitudes com a construção de diversas escalas 
para o efeito (Bogardus, 1925; Thurstone, 1928 e Likert, 1932) e os estudos 
sobre os grupos sociais, correste esta iniciada por Kurt Lewin. Após estas 
considerações de carácter mais geral parece-nos que será talvez interessante 
passar a aspectos mais concretos, apontando nomeadadamente aqueles que 
nos parecem ser alguns marcos importantes na História da psicologia social. 
ALGUNS MARCOS IMPORTANTES 
Como dissemos, neste capítulo iremos ser bastante concretos no sentido em 
que apontaremos aqueles que consideramos serem alguns marcos 
importantes na História da psicologia social. Neste conceito de marcos 
importantes seguiremos a proposta de Hogg & Vaughan (1998) e assim 
incluiremos referências pontuais organizadas a partir de três categorias que 
nos parecem ser os melhores indicadores do nível de desenvolvimento de 
uma área cientifica – Textbooks de referência, experiências marcantes e 
Programas de Investigação que de alguma forma adquiriam uma notoriedade 
especial, acabando algumas vezes por fazer escola na psicologia social. 
Textbooks de referência 
Como já tivemos oportunidade de referir, os anos 30 marcaram o 
aparecimento de um conjunto de temáticas que posteriormente iriam ser 
objecto de estudo no campo ad psicologia social, de entre os quais temos que 
destacar a definição do conceito de atitude e a construção de várias escalas 
de medida das atitudes. 
Contudo, os anos trinta assistiram igualmente ao aparecimento de outro 
marco importante que foi o aparecimento de um dos primeiros manuais 
universitários dedicados especificamente à psicologia social, o Handbook of 
Social Psychology editado por Carl Murchison em 1935 a partir de 
contribuições de autores importantes neste campo como Gordon Allport, e 
que, nas palavras de Hogg & Vaughan (1998) consistia num “pesado volume 
que sugeria que existia um campo de estudo que tinha que ser tomado a 
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sério”. Este trabalho não ficou por aqui pois desde a sua primeira edição em 
1935 tem sido considerada uma obra de referência oferecendo uma 
perspectiva história, integradora e aprofundada dos tópicos mais relevantes 
em psicologia social. Na sua 4ª edição publicada em 1998 esta obra é 
coordenada por Daniel T. Gilbert da Universidade de Harvard, Susan T. Fiske 
da Universidade de Princeton e Gardner Lindzey, do Center for Advanced 
Study in the Behavioral Sciences, mas cada um dos capítulos é escrito pelas 
maiores autoridades a nível mundial e apresenta um relato circunstanciado do 
que tem preocupado os psicólogos sociais, que abordagens têm utilizado e 
que descobertas têm realizado. 
Una anos mais tarde Gardner Mrphy e a sua esposa Lois Barclay Murphy 
editaram em 1937 um volume intitulado Experimental Social Psychology: An 
Interpretation of Research upon the Socialization of the Individual que viria a 
ser objecto de várias re-edições. Esta obra acabou por ter alguma importância 
na História da psicologia social pois apresentava um resumo dos resultados de 
mais de 1.000 trabalhos de investigação abrangendo tópicos tais como a 
abordagem genética do comportamento social, estudos qualitativos sobre 
diferenças individuais e interpretação do processo de socialização. Não 
podendo ser considerado propriamente um manual universitário esta obra foi 
usada essencialmente como referência fundamental acerca do estado da arte 
no que respeita à investigação em psicologia social. 
Outros manuais dignis de referência são, por exemplo, a obra Social 
Psychology publicada por R. T. LaPiere e P. R. Farnsworth em 1936 que foi 
talvez o manual mais geralmente utilizado na época. Ainda outra obra 
igualmente intitulada Social Psychology publicada por Otto Klineberg em 
1940, para além de ter sido igualmente popular na época tem ainda um 
interesse especial por incluir contribuições da antropologia cultural, chamando 
a atenção para o papel crucial que a cultura joga na forma como a 
personalidade individual se desenvolve. Logo após a II Guerra Mundial uma 
obra clássica publicada por D. Krech e R. S. Crutchfeld em 1948 enfatiza uma 
abordagem fenomenológica da Psicologia Social, isto é, uma abordagem 
centrada na forma como as pessoas efectivamente experienciam o mundo à 
sua volta e dão conta das suas experiências. 
A partir dos anos 50 o número de manuais disponíveis cresceu 
exponencialmente, especialmente nos EUA de tal forma que se torna 
irrelevante ou até mesmo impossível referi-los individualmente. 
Experiências marcantes 
Diversas razões fizeram com que algumas investigações tenham de alguma 
forma contrariado a erosão do tempo, permanecendo um motivo de interesse 
e até de fascínio para todos aqueles que se têm interessado pela psicologia 
social. Com efeito, mais uma vez seguimos a proposta de Hogg & Vaughan 
(1998) e seleccionámos uma lista de estudos que tiveram um impacto qure 
ultrapassou largamente os limites da psicologia social acabando por alcançar a 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 33 
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perspectiva mais geral da psicologia geral e mesmo até outras disciplinas 
adjacentes. 
Obviamente, dado que o seu interesse aqui é meramente de carácter 
histórico, cada um destes tabalhos será objecto de uma breve referência 
pontual uma vez que os mesmos serão abordados em detalhe mais à frente 
nos capítulos em que for tratada a respectiva temática. 
Um dos primeiros trabalhos de carácter claramente experimental a merecer 
referência é a linha de investigação conduzidapor Muzafer Sherif a partir de 
1935 sobre a influência grupal na formação de normas. Estes trabalhos 
captaram a atenção dos psicólogos sociais tendo em conta a necessidade 
sentida nos anos trinta para tentar perceber o que de “social” tinha a 
psicologia social. Abordaremos mais em detalhe este trabalho mais à frente 
no capítulo dedicado á influência social. 
Outra linha de investigação não menos significativa, igualmente na área da 
influência social, foi a investigação realizada por Solomon Asch em 1951 a 
partir da qual demonstrou o efeito surpreendente que a pressão do grupo 
poderá ter no sentido de presuadir um indivíduo a adoptar um 
comportamento conformista e a responder de uma forma claramente 
contrária à evidência perceptiva num problema simples de comparaçaõ do 
tamanho de várias linhas. 
Uns bons anos mais tarde, em 1959, Leon Festinger trabalhando no campo 
da mudança de atitudes, usou a sua teoria da dissonância cognitiva numa 
linha de investigação conjunta com James Carlsmith mostrou que, ao 
contrário do que ingenuamente poderámos pensar, uma pequena recompensa 
era mais eficaz para induzir uma mudança de atitude numa pessoa que uma 
grande recompensa. Este resultado teve um significado especial porque de 
alguma forma desafiava a perspectiva linear defendida pelas teorias do 
reforço que eram claramente dominantes na psicologia americana até aos 
anos 60. 
Outro estudo que teve um profundo impacto que ultrapassou largamente as 
fronteiras da psicologia social e até mesmo da psicologia em geral tendo 
provocando ondas de choque cujos efeitos se fizeram sentir a nível societal, 
cultural, político e até religioso, foi o trabalho de pesquisa conduzido por 
Stanley Milgram a partir de 1963 sobre a obediência destrutiva14. O impacto 
dos resultados deste estudo na sociedade em geral deveu-se ao facto de 
reproduzir o dilema moral enfrentado por uma pessoa a quem uma figura de 
autoridade, neste caso o próprio experimentador, dá ordem para cometer um 
acto imoral, o que nesta experiência concreta significava aplicar supostos 
choques eléctricos extremamente dolorosos a outro sujeito participante na 
experiência. De facto esta experiência criava uma siltuação falsa em que o 
 
14O conceito de obediência destrutiva resulta do dispositivo experimental utilizado em 
que os sujeitos, para obedecerem às instruções de um experimentador, eram levados 
a infligir dor e sofrimento a outro sujeito. 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 34 
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sujeito era enganado pois nem os choques eléctricos eram reais, nem o 
sujeito “vítima” sofria qualquer tipo de dano. Quem efectivamente acabava 
por sofrer algum dano era o sujeito “agressor” que poderia ficar afectado 
psicologicamente por ter sido levado a pensar que tinha provocado sofrimento 
a outra pessoa. Não é difícil de perceber que as opções metodológicas deste 
estudo levantam alguns problemas do ponto de vista ético pois podemos 
questionar-nos se será legítimo induzir os sujeitos experimentais em erro 
numa questão tão delicada como esta. Naturalmente podem admitir-se várias 
posições sobre esta matéria, mas o facto é que esta experiência tornou-se 
involuntariamente o ponto focal de uma crise em o futuro da investigação 
experimental em psicologia social. 
Para terminar, pensamos que é importante fazer referência ao trabalho de 
Henri Tajfel e colaboradores que já em 1970 desenvolveram uma linha de 
investigação extremamente relevante no campo da categorização social e 
discriminação intergrupal em que mostrou que o simples facto de alguém ser 
categorizado como pertencendo a um grupo tornava essa pessoa 
automaticamente uma potencial vítima de discriminação. 
Programas de investigação famosos 
Enquanto que no ponto anterior referimos algumas linhas de investigação 
normalmente desenvolvidas à volta de uma pesquisa de um autor particular, 
neste ponto faremos referência a projectos ou programas de investigação de 
âmbito mais global e ocorrendo durante um período mais alargado de tempo. 
Assim, provavelmente o grupo de estudos sobre grupos organizado a partir de 
1944 à volta do carismático Kurt LEWIN no célebre e conceituado 
Massachusetts Institute of Technology (M.I.T.) teve um impacto notável sobre 
outros psicólogos sociais, primeiramene nos EUA e posteriormente pelo 
mundo inteiro. Um dos discípulos de Lewin foi Leon Festinger já referido no 
ponto anterior. Foi este grupo que lançou as bases para o que viria a ser a 
abordagem cognitivista em psicologia social. 
Para além deste, podemos referenciar outros grupos de investigadores cujo 
impacto foi até mais evidente e imediato dada a natureza dos conceitos que 
foram derivados dos seus programas de investigação. Dois desses grupos 
adquiriram uma relevância particular devido a uma circunstância a que já 
fizemos referência, que foi o conjunto de necessidades relacionadas com a II 
Guerra Mundial. 
Um deles foi o Programa de Estudos sobre a Personalidade Autoritária 
conduzido por Theodor Adorno e colaboradores no quadro do Institute of 
Social Research então sediado em New York. Alguns dos colaboradores de 
Adorno foram E. Frenkel-Brunswik , Daniel J. Levinson e R. Nevitt Sanford. 
Estimulado pela possibilidade de a explicação para a ascenção e manutenção 
da autocracia hitleriana na Alemana residir na personalidade e práticas 
educativas de toda uma nação, embarcou na realização de um ambicioso e 
monumental estudo intercultural sobre o autoritarismo nos EUA. O resultado 
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deste trabalho é publicado sob o título de Estudos Sobre o Preconceito em 
1950. 
Um outro programa de investigação directamente relacionado com a situação 
de guerra foi o Programa de Mudança de Atitudes de Yale liderado por Carl 
Hovland que decorreu durante os anos 40 e 50, tendo os respectivos 
resultados sido publicados em 1953. O Programa de Yale tinha como objectivo 
essencial com as temáticas da persuasão e mudança de atitude visando de 
alguma forma estudar a teoria e técnicas da propaganda. Este grupo de 
psicólogos, alguns dos quais continuam activos, de alguma forma definiram o 
rumo do programa através da sua investigação de problemas como a as 
relações entre frustração e agressão, formação da opinião pública e as bases 
cognitivas do comportamento social. 
Desenvolvimentos posteriores 
Como vimos, a II Guerra Mundial representou um momento especialmente 
marcante do ponto de vista do desenvolvimento da psicologia social nos EUA. 
Esta noção justifica que faça todo o sentido fazer referência a tabalhos 
especialmente signicativos do ponto de vista do desenvolvimento da 
psicologia social realizados posteriormente à guerra. Lembramos mais uma 
vez que neste ponto cada trabalho será referenciado de forma muito breve, 
pois o objectivo é somente dar uma ideia global dos caminhos trilhados pela 
psicologia social ao longo do tempo. 
Assim, uma linha de investigação claramente inovadora face ao que tinha sido 
feito até aí é representada pelo trabalho de John Thibaut e Harold Kelley, 
que, a partir de 1959 – desenvolveram uma abordagem global e de grande 
alcance ao estudo das relações interpessoais baseados num modelo 
económico de troca social. Este modelo inaugurou uma área de investigação 
que viria a estimular o aparecimento de outras teorias até mesmo meados 
dos anos 80. 
Aquilo a que poderíamos chamar a modernidade da psicologia social foi 
contudo dominada, pelas abordagens cognitivas, essencialmente a partir dos 
anos 60. Um dos modelos teóricos mais interessantes nesta área foi 
provavelmente a teoria da atribuição lançada por Fritz Heider com o seu livro 
The Psychology of Interpersonal Relationships em finais do anos 50, que 
jogou um papelcentral na génese e definição da noção de atribuição causal. 
Contudo, o impuso decisivo viria ser dado pelo trabalho de Edward Jones e 
Keith Davis e Horld Kelley, . Nomeadamente Jones & Davis publicaram em 
1965 um ensaio intitulado "From Acts to Dispositions.15" que centraram a sua 
atenção nas ideias das pessoas comuns acerca das causas dos 
comportamentos dos outros e propuseram um conjunto sistemático de 
 
15Pode ser traduzido por “Das acções às disposições” em que o conceito de disposição 
deve ser entendido no sentido de “estar disposto a”, “ter tendência para”, “ter a 
intenção de”. 
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hipóteses acerca da percepção da intenção. Por sua vez, Kelly publicou em 
1967 a obra "Attribution in Social Psychology". Estas duas contribuições 
fizeram com que nos anos 70 o campo da psicologia social fosse dominado 
pelos investigadores e teóricos da atribuição, rivalizando com a temática da 
dissonância cognitiva como uma das teorias dominantes em psicologia social. 
Outra temática interessante foi a investigação sobre comportamento 
pró-social desenvolvida a partir de 1968 por John Darley e Bibb Latané ,e 
que em 1970 publicaram o trabalho intitulado “The Unresponsive Bystander: 
Why Doesn't He Help16” como resposta a um caso que teve um enorme 
impacto na opinião pública americana referente à chocante inacção 
demonstrada por pessoas que assistiram ao assassínio de uma mulher à 
navalhada numa rua do bairro de Queens em New York em 1968. Estes 
autores usaram um modelo gognitivo inovador para tentarem lançar alguma 
luz sobre a forma como as pessoas são levadas a interpretar uma situação de 
emergência e comoessa interpretação as leva a não fazerem nada para ajudar 
a vítima dessa situação. 
Outro desenvolvimento digno de nota foi uma linha de acção que, partindo de 
trabalhos anteriores de Fritz Heider (1946) e Solomon Asch (1946) num 
campo descrito de forma pouco rigorosa como percepção social, reorganizou e 
sistematizou os dados e conceitos mais relevantes lançando as bases para o 
que modernamente é conhecido como cognição social. Vários autores deram 
valiosas contribuições para este desenvolvimento, de entre os quais podemos 
indicar Walter Mischel e Nancy Cantor (1977) que estudaram a forma como 
traços de comportamento percepcionados numa pessoa podem funcionar 
como protótipos para avaliar essa pessoa. Também dignos de nota são 
Richard Nisbett e Lee Ross que iniciaram o estudo das heurísticas cognitivas 
(atalhos para o pensamento social). Nisbett & Ross publicaram em 1980 um 
livro intitulado “Human Inference: Strategies and Shortcomings of Social 
Judgment”17. 
Revistas científicas 
Considerando que a ciência é uma actividade pública, a partilha de 
conhecimentos e resultados de investigações é claramente um outro aspecto 
pelo qual podemos aferir o desenvolvimento de uma área científica. 
Assim, vamos mais uma vez considerar dois períodos distintos, um período 
até aos anos 50 e outro a partir dessa data. 
Até aos anos 50 as revistas científicas mais importantes em psicologia social 
eram naturalmente publicadas nos EUA e de entre as mesmas podemos 
destacar: 
 
16Pode ser traduzido por “O observador não reactivo: Porque ele não ajuda?” 
17Pode ser traduzido por “A iinferência humana: Estratégias e limitações do 
julgamento social”. 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 37 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
• Journal of Abnormal and Social Psychology. O título desta revista científica 
é curioso pois, ao ligar os tópicos da psicologai social e da psicologia dos 
comportamentos anormais, de alguma forma reflecte as dificuldades de 
relação da psicologia social com a psicologia geral nesta altura; 
• Journal of Personality. 
Após os anos 50 verificou-se o número crescente de auotres na área da 
psicologia social o que acabou por implicar um crescimento exponencial dos 
meios para divulgarem os seus trabalhos. De entre as inúmeras publicações 
que foram aparecendo parece-nos poder destacar as seguintes: 
• Journal of Personality and Social Psychology. Esta revista começou a 
publiar-se em 1965 e resultou da divisão do Journal of Abnormal and Social 
Psychology, já referenciado, em duas publicações, sendo a outra o Journal 
of Abnormal Psychology; 
• Journal of Experimental Social Psychology, começou igualmente a ser 
publicado em 1965; 
• Social Psychology Quarterly. Esta revista começou a ser publicada a partir 
de 1979, tendo resultado da alteração da designação de uma revista já 
existente, Sociometry, de forma a poder reflectir mais adequadamente o 
forte peso da psicologia social no seu conteúdo. 
• Journal of Applied Social Psychology iniciou a sua publicação em 1971; 
• Personality and Social Psychology Bulletin, apareceu em 1975; 
• Social Cognition começou a publicar-se em 1982. 
O que podemos concluir desta apresentação é que, do ponto de visa dos 
artigos publicados, se verificou uma explosão do interesse pela psicologia 
social na década que ligou os anos 60 aos anos 70 do século XX. 
A PSICOLOGIA SOCIAL NA EUROPA 
O período da influência americana 
Como já tivemos ocasião de assinalar mais atrás quando nos referimos àquilo 
que poderíamos designar pela pré-história da psicologia social, o interesse 
pelo estudo dos factores sociais e psicossociais do comportamento humano 
nasceu efectivamente na Europa na última metade do século XIX e princípios 
do século XX. Contudo, por razões históricas a que também já fizemos 
referência, os EUA acabaram por assumir a liderança nesta área a partir dos 
anos 30 de século XX de tal forma que foi aí que nasceu a psicologia social 
como área científica autónoma. Apesar de a partir dos anos 50 a psicologia 
social começar igualmente a adquirir relevância na Europa, podemos dizer, 
que essa liderança se tem mantido até aos dias de hoje tanto em termos de 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 38 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
investigação empírico como de produção conceptual, número de revistas 
científicas, livros e monografias e organizações ou instituições. 
Uma razão importante para esta deslocação da hegemonia científica teve a 
ver, como também já dissemos, com um aspecto de fundo que era o 
tradicionalismo e autoritarismo inerentes às sociedades europeias na altura, 
incompatíveis com o carácter inovador da actividade científica, e com um 
aspecto mais imediato que foram as circunstâncias associadas à ascensão do 
nazismo e do fascismo no final dos anos 30 na Europa. Por exemplo, na 
Alemanha em 1933 os professores de origem judaica foram expulsos das 
universidades, e, desde esse momento até ao final da II Guerra os nomes de 
cientistas judeus foram expurgados dos manuais universitários que eram 
entendidos como estando ao serviço do nazismo que defendia a supremacia 
da raça ariana face às outras raças humanas, posição essa que, temos que 
concordar, muito dificilmente poderá ser compatibilizada com qualquer 
perspectiva séria que tenhamos do que é ciência. A perseguição aos judeus 
na Alemanha nazi e, por arrastamento, em alguns outros países da Europa 
conduziu a um êxodo em massa dos psicólogos sociais europeus, assim como 
de outros cientistas, para os EUA, de tal forma que por volta dos anos 40 a 
psicologia social na Europa tinha ficado reduzida quase à insignificância, 
especialmente se compararmos com o que se passou na América. 
Com o fim da Guerra, a partir de 1945, é conhecido de todos que os EUA 
tiveram um papel importante no apoio aos esforços de recuperação da Europa 
em vários campos e, por isso, também no campo científico e no que respeita 
à psicologia social em particular. Efectivamente providenciaram recursos tanto 
financeiroscomo insitucionais no sentido de apoiaram a formação de centros 
de psicologia social na Europa. Parece hoje óbvio que, apesar de haver aqui 
claramente um sinal de boa vontade e até de solidariedade mundo académico 
e científico americano para com os seus colegas europeus, pois não nos 
podemos esquecer que muitos deles eram de origem europeia, também é 
verdade que muito deste esforço, especialmente no que se refere aos 
recursos financeiros, teve igualemente a ver com a estratégia global 
americana face à Guerra Fria no sentido de instalar na Europa ocidental um 
ambiente intelectual e científico que pudesse contrariar a influência que 
pudesse ser exercida pelo bloco comunista. 
Ora, há qui um aspecto que não queríamos deixar de realçar. Esta 
circunstância de o ressurgimento da psicologia social na Europa ter acontecido 
no quadro de uma dependência, ou pelo menos de uma ligação estreita com 
os EUA, teve obviamente enormes benefícios, mas teve também uma 
consequência menos positiva, que foi o acto de os centros de psicologia social 
na Europa terem desenvolvido e mantido ligações mais fortes e funcionais 
com os seus congéres americanos do que com os seus parceiros europeus. 
Esta situação iria influenciar decisivamente o rumo da psicologia social 
europeia e podemos pensar que os seus efeitos ainda hoje se fazem sentir. 
De facto, sabendo nós que a ciência, para além de uma actividade pública, é 
também uma activiade colectiva, e que nessa altura não havia ainda esse 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 39 
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poderoso recurso de comunicação e troca de conteúdos que é a Internet, 
torna-se evidente que a fragilidade dos laços e das linhas de comunicação 
entre os psicólogos sociais europeus levou a que muitas vezes não se 
conhecessem entre si, estando muitas vezes mais a par dos tabalhos 
desenvolvidos pelos seus colegas americanos do que pelos seus colegas 
europeus. Em conclusão, a Europa, incluindo a Grã Bretanha era 
essencialmente um entreposto da psicologia social americana, pois no período 
que vai do final da guerra até finais do anos 60, a psicologia social na Grã 
Bretanha, tal como nos Países Baixos, Alemanha (então RFA) França e 
Bélgica, os trabalhos realizados eram muitas vezes extensãoes das linhas de 
investigação americanas sendo, por isso, a respectiva produção teórica 
também muito influenciada pelas ideias americanas. 
Contudo, especialmente a partir de finais dos anos 60, os psicólogos sociais 
europeus foram gradualmente tomando consciência da hegemonia das ideias 
americanas, e chegando à conclusão que essa situação, se bem que num 
primeiro momento tivesse gerado o impulso decisivo para o relançamento da 
psicologia social europeia, poderia tornar-se num factor gravemente limitador 
e enviesador do seu desenvolvimento, dadas as claras diferenças ao nível 
intelectual, cultural e até histórico entre a Europa e a América. Por exemplo a 
experiência recente europeia tinha sido de guerra enquanto que nos EUA o 
último grande conflito intrafronteiras tinha sido a guerra civil em 1860. Não 
admira por isso que os psicólogos europeus estivesem particularmente 
interessados em estudar tópicos tais como relações inter-grupais e grupos 
sociais, linha de uma psicologia social mais social (sociológica), enquanto que 
a psicologia social americana estaa nesta época mais proeocupada com a 
problemática das relações interpessoais, numa linha, se quisermos, mais 
psicologizante. Daí que começasse a haver consciência da necessidade de 
mais e melhores canais de comunicação entre os psicólogos sociais europeus 
assim como um certo grau de independência intelectual e organizacional dos 
EUA. 
Segundo Hogg & Vaughan (1998) um dos primeiros passos a ser dado neste 
sentido não aconteceu curiosamente num país da Europa central, mas sim na 
Noruega onde logo no início dos anos 50, Eric Rinde em colaboração com 
David Crech dos EUA conseguiram juntar alguns psicólogos sociais 
americanos e mais de 30 psicólogos sociais europeus para constituírem uma 
rede que levasse à prática um estudo ienvolvendo vérios países sobre a 
problemática da ameaça e rejeição. Existe a ideia de que o objectivo mais 
geral deste estudo era o de encorajar a colaboração internacional e fazer 
aumentar o número de locais de formação para os psicólogos sociais na 
Europa. 
A primeira Conferência Europeia de Psicologia Social 
Experimental 
Apesar de sabermos que em termos históricos os pontos de viragem não 
acontecerem num momento determinado, contudo, para nos situarmos em 
ASPECTOS HISTÓRICOS, EVOLUÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL 40 
JOSÉ FARINHA VER. 1.12- 2005-11-20 
termos da evolução da psicologia social na Europa, parece-nos importante, 
ainda que com algum grau de arbitrariedade, definir um marco, um 
acontecimento pontual que possa assinalar esse ponto de viragem a partir do 
qual se pode começar a falar de uma psicologia social europeia. Assim, de 
forma geral considera-se que esse marco é a realização da primeira 
Conferência Europeia de Psicologia Social Experimental que teve lugar em 
Sorrento, Itália de 12 a 16 de Dezembro de 1963.. Curiosamente, mesmo 
neste ponto, a psicologia social americana teve um papel relevante pois este 
encontro foi organizado por John Lanzetta, um psicólogo social americano, 
que era então director do Centro de Pesquisas em Comportamento Social, no 
estado do Delaware, e que calhava estar a passar o seu primeiro ano de 
licença sabática em Londres como cientista de ligação do Ramo de Psicologia 
de Grupos do Departamento de Pesquisa Naval da Marinha dos EUA. O chefe 
do do Escritório de Washington era Luigi Petrullo, o bem conhecido editor da 
obra de 1958 Person Perception and Interpersonal Behavior. O facto de 
ambos serem de origem italiana aliado a outro tipo de afinidades científicas 
esteve provavelmente na origem da realização da conferência em Itália. 
 
Figura 3 –Fac-símile da 2ª página do programa da primeira Conferência Europeia de 
Psicologia Social Experimental de 12 a 16 de Dezembro de 1963 em Sorrento, Itália. 
Numa carta de convite a potenciais participantes na conferência fazia-se 
referência aos seguintes objectivos gerais da conferência europeia. 
a) Criar uma oportunidade para um pequeno grupo de psicólogos sociais 
europeus partilharem as suas experiências e perspectivas acerca da 
utilização de métodos experimentais no estudo de problemas sociais 
importantes; 
b) Providenciar trocas de informação acerca de investigação experimental em 
curso no campo da psicologia social assim como partilha de instalações e 
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pessoal entre diferentes centros europeus envolvidos em pesquisa 
experimental em psicologia social; 
c) Permitir a discussão informal de problemas comuns assim como alguma 
medida de contactos pessoais que facilitem o estabelecimento de uma 
comissão internacional para encorajar e apoiar o desenvolvimento da 
psicologia social experimental. 
Os temas principais das comunicações, lidas em inglês ou francês, e 
discutidas durante os cinco dias que durou a conferência fora, por ordem de 
apresentação: 
A. Questões metodológicas e teóricas no desenvolvimento e teste de 
hipóteses em psicologia social; 
B. Estudos experimentais da socialização; 
C. Questões metodológicas e teóricas em estudos experimentais 
interculturais; 
D. Modelos matemáticos da interacção social, percepção social e 
psicolinguística comparativa; 
E. Influência e poder nas relações grupais; 
F. Processos de comunicação; 
G. Conflitos intragrupos e intergrupos; 
H. Competição e acção grupal; 
Na sessão final os participantes fizeram unanimemente uma avaliação positiva 
da conferência e expressaram a esperança de que se fizesse algo para 
continuar a trocade informação e dar oportunidades aos estudantes de 
psicologia social para receberem aqui na Europa uma formação mais 
avançada em áreas de pesquisa e métodos especializados. Consequentemente 
John Lanzetta escreveu um documento intitulado Proposal for Contributions to 
the Development of Experimental Social Psychology in Europe (Proposta de 
Contribuição para O Desenvolvimento da Psicologia Social Experimental na 
Europa). Esta proposta de 1964 incluía as seguintes acções a empreender em 
que provavelmente a ordem de apresentação corresponde a uma ordem de 
exequibilidade e proridade: 
(1) Uma segunda conferência europeia de psicologia social experimental; 
(2) Um curso de Verão de 4-6 semanas a ser realizado numa localização 
central na Europa, para estudantes de nível médio e avançado que 
tenham dificuldade em obetr formação em métodos experimentais nas 
suas universidades de origem; 
(3) Um programa de intercâmbio de cientistas dentro da Europa consistindo 
em curtas visitas para realização de palestras e actividades de 
consultadoria em investigação; 
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(4) Seminário especializados, ajuda na obtenção de apoio para a 
investigação; 
(5) Um Centro Internacional de Pesquisa e Formação em Psicologia Social. 
Assim, foi realizada uma segunda Conferência Europeia de Psicologia Social 
Experimental na localidade de Frascati, perto de Roma, em Itália, de 11 a 15 
de Dezembro de 1964. No final da conferência foi decidido eleger uma 
Comissão Europeia de Planeamento, constituída por Jozef Nuttin, Gustav 
Jahoda, Serge Moscovici, Henri Tajfel e Mauk Mulder.que ficou encarregada 
de: 
A. planear alguma forma de estrutura organizacional de suporte às 
actividades subsequentes; 
B. planear em detalhe essas actividades; 
C. explorar a possibilidade de recolher fundos na Europa; 
D. reportar à próxima conferência. 
Umas semanas após a conferência de Frascati, esta comissão organizadora 
reuniu-se pela primeira vez em Lovaina, Bélgica, tendo pouco tempo depois 
sido adoptada pela primeira vez a designação da nova associação: European 
Association for the Advancement of Experimental Social Psychology, à qual 
presidia Serge Moscovici e que no fundo envolvia os participantes europeus 
nas conferências de Sorrento e Frascati. 
 
Figura 4 –Membros da comissão eleita na Conferência de Frascati, durante a sua 
primeira reunião em Lovaina (Da esq. Para a direita: - J.M. Nuttin, G. Jahoda, S. 
Moscovici, H. Tajfel, M. Mulder) 
A terceira Conferência foi realizada desta vez perto de Paris, França nos dias 
27 de Março a 1 de Abril de 1966. Esta conferência teve um significado 
especial pois foi totalmente organizada e financiada por europeus tendo 
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participado somente dois cientistas americanos como convidados. Durante 
esta conferência foi realizada a primeira assembleia geral da nova associação, 
tendo os membros da anterior comissão sido re-eleitos e juntamente com M. 
Irle e R. Rommetveit constituído a primeira Comissão Executiva formal da 
associação que passava a designar-se Associação Europeia de Psicologia 
Social Experimental que teve S. Moscovici, como seu primeiro presidente e 
contou à partida com 44 membros. 
O curso de Verão acabou por ser realizado em Lovaina, na Bélgica em 1967, 
tendo como anfitrião uma figura bem conhecida da psicologia social europeia 
o belga Jozef Nuttin Jr. juntamente com o psicólogo social holandês, Jos 
Jaspars. 
 
Figura 5 – Grupo de participantes no primeiro Curso de Verão European Research 
Training Seminar in Experimental Social Psychology. 
A escolha do local de realização do curso deveu-se provavelmente ao facto 
de, uns anos antes, em 1963, Nuttin ter fundado na Katholieke Universiteit 
Leuven (Universidade Católica de Lovaina) um laboratório de Pscologia Social 
Experimental, que era à época um dos mais avanados, mesmo em termos 
mundiais. 
É hoje óbvio que a Associação Europeia de Psicologia Social Experimental teve 
um enorme sucesso, tendo estado na base do notável renascimento a que a 
psicologia social europeia tem assistido a partir dos anos 70, contando hoje 
com mais de mil membros, entre os quais 16 portugueses. 
Apesar de do ponto de vista metodológico não terem aparecido grandes 
novidades, o facto é que, do ponto de vista teórico, a psicologia social 
europeia, de forma perfeitamente consciente, se definiu em oposição à 
psicologia social americana caracterizada por uma posição global 
explicitamente mais crítica face à sociedade, mais política, se quisermos. 
Contudo, apesar de não ter abandonado totalmente a sua perspectiva crítica 
inicial, é notório que, pelo menos a partir dos anos 80, a psicologia social 
europeia atingiu um grau de auto-confiança e reconhecimento internacional 
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que tem permitido a sua institucionalização como área científica 
perffeitamente integrada no mundo académico em geral, podendo hoje 
dizer-se que a investigação europeia começa já ter um impacto significativo e 
reconhecido nos próprios EUA e mesmo no resto do mundo. Por exemplo, o 
recente ressurgimento do interesse pela investigação sobre grupos foi quase 
que exclusivamente devida às perspectivas e trabalhos de investigação 
europeus. Para além desta área, o impacto da psicologia social europeia 
tem-se revelado particularmente em áreas como as representações sociais, 
identidade social, comportamentos intergrupo e influência de minorias. 
Cada uma destas temáticas tem sido tradicionalmente alvo de ênfases 
diversos nos diversos países europeus onde a psicologia social tem tido um 
maior destaque. Assim, podemos ver que as representações sociais têm sido 
particularmente estudadas em França, os processos de grupo apontando para 
uma psicologia social de carácter mais políico na Alemanha, a cognição social 
tem sido mais estudada nos Países Baixos, o desenvolvimento social da 
cognição na Suíça francófona e a acção orientada para objectivos na Suíça 
alemã. Em termos de autores europeus têm igualmente sido produzidos 
trabalhos de relevância e certamente ao longo deste manual teremos 
oportunidade de abordar pormenorizadamente alguns deles. Para já 
parece-nos importante destacar os trabalhos de Henri Tajfel e Serge Moscovici 
que numa altura em que a investigação sobre grupos entrava em declínio nos 
EUA avançaram nesta área abrindo novas perspectivas sobre o 
comportamento grupal e a influência social, perspectivas essas que 
asseguraram a continuação de produtiva investigação neste campo 
importante da psicologia social. Igualmente os trabalhos de Tajfel e 
colaboradores sobre a identidade social, categorização social e 
comportamento intergrupal e de Moscovici e coloboradores sobre a 
polarização de grupo e influência das minorias têm-se constituído como temas 
fundamentais da psicologia social dos últimos 20 anos, não somente na 
Europa, mas igalmente em outras partes do mundo. Para mais estes 
trabalhos têm conduzido a conceptualizações sociocognitivas, por exemplo na 
analise da formação de impressões e processo de estereotipização.

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