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METODOLOGIA Alunos: Cloud Alsaad, Gabriely Strapasson, Ketlyn Gomes, Lucas Munchen, Lya Heller e Maria Eduarda Benfica. Período: 8º Período. Turno: Noite. Participantes: O objetivo desta seção é descrever os sujeitos de pesquisa que fundamentam o estudo “Ditadura e Subjetividade: O Impacto das Políticas Autoritárias na Construção do Sujeito”. Entender a subjetividade humana em situações autoritárias requer uma análise abrangente que leve em conta não apenas os indivíduos diretamente impactados pela repressão, mas também os processos sociais e psicológicos que moldam a formação do sujeito e do coletivo. Para isso, leva-se em conta os diversos grupos e pessoas que, de várias maneiras, experienciaram ou foram afetados pelas políticas autoritárias, seja como vítimas diretas, agentes do Estado ou membros da sociedade submetidos ao medo e ao controle social. Para entender como a subjetividade é formada, reprimida e, em certas situações, convertida em resistência contra a opressão, é fundamental identificar esses indivíduos. 1. Vítimas diretas da repressão e da tortura. Esta categoria abrange indivíduos que sofreram violência estatal direta, incluindo prisões injustas, tortura, desaparecimentos forçados e exílios. Coimbra (2001) afirma que a tortura foi institucionalizada como política de Estado durante a ditadura militar no Brasil, afetando um grande número de cidadãos. Jardim (2017) acrescenta que a repressão foi além do âmbito político, impactando a sociedade em geral e estabelecendo uma cultura de medo e silêncio. Entre as principais características desses indivíduos, estão: ex-prisioneiros políticos e torturados: pessoas que vivenciaram violência física e psicológica, cujos efeitos traumáticos vão além do âmbito individual e podem ser transmitidos entre gerações, afetando a saúde mental e o bem-estar familiar (Heberle, Obus & Gray, 2020). A falta de justiça e a sensação constante de ameaça criam insegurança e desconfiança nas instituições, mantendo o trauma ao longo das gerações. Além de envolver os familiares de vítimas: parentes de pessoas desaparecidas, exiladas ou torturadas, que lidaram e lidam com o luto não resolvido e com a constante incerteza. Suas experiências demonstram como o 2 sofrimento coletivo se mantém presente no tecido social, manifestando-se como um trauma compartilhado e silenciado (Jardim, 2017). Temos como parte desse grupo também os ativistas e opositores políticos: indivíduos que se opuseram ao regime autoritário por crença ideológica ou compromisso ético, transformando-se em alvos principais da repressão. Suas narrativas demonstram maneiras de resistência e manutenção da individualidade diante da violência institucional. Para entender os mecanismos de repressão e seus impactos na subjetividade humana, é fundamental considerar esses indivíduos. 2. Agentes Estatais e Autores da Violência. Nesta categoria, estão as pessoas que participaram do apoio e implementação das políticas repressivas do regime. Coimbra (2001) ressalta que a capacitação desses agentes foi apoiada por processos de dessensibilização, submissão incondicional à autoridade e legitimação institucional da violência. Dentre eles, encontram-se militares e forças de segurança, que são representantes diretos do aparato repressivo e encarregados de realizar prisões, torturas e perseguições políticas. Esses indivíduos representam o aspecto institucional da violência do Estado e demonstram como a conformidade hierárquica pode reprimir a empatia e a responsabilidade ética. Profissionais que apoiam o regime como médicos, juristas, psicólogos e outros que, de forma direta ou indireta, contribuíram também para a perpetuação do autoritarismo, seja por meio de justificativas técnicas, silêncio conivente ou negação da violência. Essa participação destaca a complexidade do fenômeno autoritário e como a subjetividade pode ser moldada para aceitar a conformidade e a normalização da barbárie. A análise desses sujeitos é fundamental para compreender o que Arendt (1999) denominou banalidade do mal, isto é, a capacidade humana de agir de modo violento e desumano a partir da simples aceitação de normas impostas. Analisar suas motivações e justificativas permite entender os processos psicológicos que fundamentam a obediência e a desumanização do próximo. 3. Sociedade como um todo e grupos marginalizados. Esta categoria engloba a população em geral, que foi fortemente afetada pelo clima de medo, censura e controle social imposto pelo regime, com foco especial nos grupos historicamente marginalizados. Jardim (2017) declara que a política repressiva não se limitou 3 apenas aos opositores, mas gerou uma cultura coletiva de silêncio e esquecimento. Heberle, Obus e Gray (2020) ressaltam que a violência estatal afeta de forma desproporcional as comunidades marginalizadas, perpetuando traumas e desigualdades. Cidadãos comuns estão entre os principais sujeitos: pessoas que, embora não tenham sido perseguidas diretamente, foram impactadas pelo medo e pela restrição de suas liberdades. Esse ambiente de repressão afetou comportamentos, decisões e a formação da subjetividade, frequentemente caracterizada pelo conformismo ou pela resistência silenciosa. Dentre esses sujeitos estão os grupos marginalizados: indivíduos que já enfrentam vulnerabilidades devido a fatores raciais, de classe, gênero ou orientação, e que são particularmente afetados pela violência do Estado e pela exclusão. Uma análise interseccional possibilita entender como esses indivíduos foram impactados de maneira única e mais intensa, além de mostrar como os traumas se perpetuam de forma coletiva e envolvendo as novas gerações: indivíduos que nasceram após a ditadura, mas que ainda sofrem as consequências simbólicas e psicológicas do trauma social. A luta por verdade e justiça se torna um esforço coletivo e intergeracional devido à cultura do silêncio e à falta de memória histórica (Jardim, 2017). A análise desses indivíduos demonstra como o autoritarismo forma a subjetividade coletiva, tanto por meio do medo e da conformidade quanto pela resistência e pela busca de memória. Instrumentos/Materiais: Diante da natureza teórica deste estudo, os materiais empregados concentram-se em fontes bibliográficas, documentais e históricas que possibilitam compreender de forma abrangente os efeitos das políticas autoritárias sobre a constituição da subjetividade humana. A escolha desses materiais visa sustentar uma análise interdisciplinar que articule elementos da Psicologia, da Filosofia, da Sociologia e da História, permitindo explorar como os regimes de poder moldam a vida psíquica e social dos sujeitos. ● Fontes teóricas: Livros, artigos e capítulos que discutem a construção da subjetividade sob contextos de repressão e violência de Estado. Autores oferecem subsídios para compreender os mecanismos de controle social, obediência e resistência, bem como a transmissão intergeracional do trauma político. 4 ● Registros históricos e documentos oficiais: Relatórios da Comissão Nacional da Verdade, dossiês de entidades de direitos humanos, depoimentos de ex-presos políticos, familiares de desaparecidos e registros de imprensa. Esses materiais permitem reconstruir o cenário de repressão e demonstram como as estruturas autoritárias afetaram não apenas os indivíduos diretamente perseguidos, mas todo o tecido social. ● Materiais audiovisuais e narrativos: Documentários, filmes e entrevistas que retratam o cotidiano durante a ditadura e as marcas deixadas na subjetividade coletiva. Tais produções funcionam como instrumentos simbólicos de memória e resistência, ao revelar experiências que foram silenciadas pelo discurso oficial e institucional. A análise desses materiais se fundamenta em uma abordagem interdisciplinar, articulando conceitosda Psicologia, da Filosofia e das Ciências Sociais. O objetivo é compreender de que maneira as práticas autoritárias interferem na subjetividade, reprimindo a individualidade, promovendo comportamentos conformistas e, em contrapartida, impulsionando formas de resistência e reconstrução identitária. Dessa forma, os instrumentos utilizados não se limitam à coleta de dados empíricos, mas abrangem o estudo crítico de produções teóricas e testemunhais que evidenciam como a experiência autoritária se inscreve na memória, no corpo e na subjetividade humana. Local: O estudo será desenvolvido a partir de fontes bibliográficas, documentais e audiovisuais que abordam o regime autoritário no Brasil e seus impactos sobre a subjetividade humana. Embora tenha caráter teórico e documental, define-se um “local” de pesquisa para situar metodologicamente o ambiente de coleta e análise. A investigação ocorrerá em espaços de leitura e pesquisa, como bibliotecas físicas e virtuais, arquivos digitais, bases acadêmicas e ambientes de estudo dos pesquisadores. As fontes audiovisuais e depoimentos serão acessados on-line ou em sala de aula, dependendo da disponibilidade institucional. Nesse sentido, a “sala de campo” corresponde aos acervos históricos, relatórios oficiais e produções midiáticas sobre o período da ditadura militar (1964–1985). O contexto histórico e as condições de acesso às fontes são variáveis importantes, pois influenciam a interpretação dos dados. Consideram-se também os diferentes lugares simbólicos dos sujeitos estudados, vítimas, agentes do Estado e sociedade civil e como suas 5 experiências foram narradas ou registradas. Entre as limitações, destacam-se o risco de viés devido à predominância de materiais de grandes centros urbanos e a desigualdade no acesso às fontes. Para mitigar isso, busca-se incluir documentos de diferentes regiões e grupos sociais, assegurando representatividade e pluralidade. A escolha por um ambiente documental e bibliográfico justifica-se pela natureza teórica do tema e pela necessidade de recorrer a registros históricos e intelectuais confiáveis, que possibilitem compreender como o autoritarismo influenciou a formação da subjetividade no Brasil. Procedimentos Metodológicos Tema: Ditadura e Subjetividade: O impacto das políticas autoritárias na construção do sujeito A pesquisa será desenvolvida com abordagem qualitativa, pois pretende compreender significados, percepções e construções subjetivas dos participantes em relação ao tema. Também poderá incluir alguns elementos quantitativos para complementar a análise. A coleta de dados será feita principalmente por meio de entrevistas semiestruturadas, permitindo que os participantes relatem suas experiências e percepções sobre o período ditatorial e seus reflexos na vida pessoal, social e política. Essas entrevistas terão um roteiro com perguntas abertas relacionadas à vivência sob políticas autoritárias, sentimentos de liberdade, censura, medo e formação de valores durante e após esse contexto. Além disso, poderão ser utilizados questionários com escalas de percepção (por exemplo, sobre sentimento de autonomia ou obediência à autoridade) para apoiar a análise qualitativa com dados complementares. Também poderão ser analisados documentos históricos, como discursos, notícias e registros públicos, a fim de contextualizar as experiências narradas. A amostra será composta por pessoas adultas que tenham vivido parte de sua vida durante o período da ditadura militar no Brasil (1964–1985), além de alguns jovens adultos, com o objetivo de comparar as percepções entre gerações. Por se tratar de um estudo sobre subjetividade, as variáveis são principalmente interpretativas e simbólicas. Mesmo assim, é possível definir algumas dimensões para orientar a análise. A variável independente é o contexto autoritário (exposição a políticas de repressão, censura, perseguição ou vigilância), enquanto a variável dependente é a subjetividade do sujeito (autonomia, identidade política, 6 percepção de liberdade, comportamento social e crenças pessoais). A manipulação das variáveis ocorrerá na análise dos dados. As entrevistas serão transcritas e codificadas por temas recorrentes, como “sentimento de impotência”, “resistência”, “conformismo”, “medo” e “liberdade”. Esses códigos serão agrupados em categorias temáticas para orientar a interpretação. Nos questionários, as respostas serão tabuladas e transformadas em escores descritivos, permitindo observar tendências e comparar perfis (por exemplo, gerações e níveis de escolaridade), sem pretensão inferencial. Para assegurar confiabilidade e reduzir a influência de variáveis estranhas, serão adotados cuidados metodológicos: seleção equilibrada de participantes, roteiro padronizado de entrevista, teste-piloto para ajustes, registro de reflexividade do pesquisador, triangulação entre fontes (entrevistas, documentos e bibliografia) e análise ética de todo o processo. Esses procedimentos buscam evitar que diferenças socioeconômicas, preferências políticas ou experiências não relacionadas ao período estudado distorçam os resultados. A fundamentação teórica apoia-se em autores que relacionam política e subjetividade, como Alexander Dukalskis e Johannes Gerschewski (2021), que discutem a legitimação de regimes autoritários; Sandra Ansara (2015), que aborda impactos psicopolíticos da ditadura na memória social brasileira; e o The Cambridge Handbook of Political Psychology (2023), que apresenta conceitos sobre autoritarismo e formação de atitudes políticas em contextos repressivos. Referências ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995. NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. Análise de dados 7 A análise dos dados será predominantemente qualitativa e orientada por uma perspectiva psicossocial crítica, buscando aprofundar a compreensão das estruturas simbólicas e subjetivas moldadas pelo contexto autoritário. O foco recai sobre a articulação entre sofrimento individual, as “marcas subjetivas” e os fundamentos políticos e sociais da violência de Estado, situando narrativas pessoais, memórias familiares e registros históricos dentro de um mesmo campo interpretativo. Para isso, adotaremos a Análise de Conteúdo Temática, conforme Bardin, aplicada tanto às entrevistas semiestruturadas (transcritas integralmente) quanto ao acervo documental e histórico (relatórios de Comissões da Verdade, dossiês de direitos humanos, depoimentos e hemerotecas). O processo inicia-se com a pré-análise: leitura flutuante, constituição do corpus, registro de hipóteses sensitivas e definição de indicadores preliminares, preservando a abertura para categorias emergentes. Na sequência, procede-se à exploração do material por codificação de unidades de significado que expressam relações entre experiências de repressão e modos de subjetivação. Espera-se o adensamento de eixos já delineados no procedimento: marcas subjetivas do trauma (medo, insegurança, luto não resolvido, desconfiança institucional, ansiedade, dificuldades de vínculo), modos de relação com política e autoridade (conformismo, obediência, resistência, busca por justiça e reconstrução democrática) e transmissão intergeracional (memórias subterrâneas, silêncios coletivos, reprodução de afetos e crenças sobre o Estado e a lei). A etapa de tratamento e interpretação agrupa códigos em categorias temáticas que respondam diretamente ao problema de pesquisa, produzindo sínteses narrativas e mapas conceituais. A interpretaçãoserá conduzida por triangulação entre três planos: narrativas individuais e familiares, documentação histórica e bibliografia teórica de referência. Essa triangulação permite tensionar convergências e discrepâncias entre testemunhos e registros institucionais, reduzindo o risco de leitura impressionista e fortalecendo a validade interna. A lente interseccional atravessa todo o percurso analítico, observando como marcadores sociais (raça, classe, gênero, território) modulam a experiência do trauma e do controle social, especialmente entre grupos historicamente vulnerabilizados. Também será realizada comparação intergeracional para identificar continuidades e rupturas entre participantes que viveram o período ditatorial e aqueles nascidos após 1985, com atenção a padrões de confiança/desconfiança institucional, estilos de obediência ou contestação e circulação de memórias no âmbito doméstico e comunitário. 8 Como apoio descritivo, os dados provenientes de questionários curtos (escalas de percepção de autonomia/obediência, confiança institucional e memórias familiares) serão tabulados e sintetizados por estatística descritiva básica frequências, médias e desvios-padrão , sem pretensão inferencial. Esses achados numéricos terão função ilustrativa e comparativa, ajudando a contextualizar diferenças entre perfis etários e socioculturais e a sustentar interpretações emergentes da análise temática. Cronograma: O cronograma de desenvolvimento da pesquisa “Ditadura e Subjetividade: o impacto das políticas autoritárias na construção do sujeito” foi organizado de modo a abranger todas as etapas necessárias à realização do estudo teórico ao longo do segundo semestre de 2025. No período de julho a agosto de 2025, foi definido o tema e o problema de pesquisa, logo em seguida foi realizado o levantamento bibliográfico inicial, com a busca e seleção de livros, artigos e documentos históricos que abordam a ditadura civil-militar brasileira e seus efeitos na formação da subjetividade. Em setembro de 2025, ocorreu a revisão teórica aprofundada, envolvendo leitura, fichamento e sistematização das principais referências utilizadas. Durante outubro de 2025, será conduzida a análise documental e histórica, por meio do estudo de relatórios, registros oficiais e depoimentos que evidenciam os impactos subjetivos e sociais do regime autoritário. Em novembro de 2025, ocorrerá a análise crítica e discussão dos dados teóricos, articulando as contribuições da Psicologia, Filosofia e Ciências Sociais. Por fim, será realizada a redação final do trabalho, seguida de revisão, ajustes e formatação de acordo com as normas da ABNT, encerrando as atividades previstas no cronograma da pesquisa. Orçamento: O presente projeto não demanda recursos financeiros diretos, uma vez que sua realização baseia-se em pesquisa bibliográfica e documental com acesso a materiais gratuitos e disponíveis em bases acadêmicas, bibliotecas públicas e digitais. Todo o levantamento teórico será feito a partir de obras, artigos e documentos de domínio público ou acessíveis por 9 meio institucional, não sendo necessário investimento financeiro para a execução das etapas previstas. METODOLOGIA Participantes: O objetivo desta seção é descrever os sujeitos de pesquisa que fundamentam o estudo “Ditadura e Subjetividade: O Impacto das Políticas Autoritárias na Construção do Sujeito”. Entender a subjetividade humana em situações autoritárias requer uma análise abrangente que leve em conta não apenas os indivíduos diretamente impactados pela repressão, mas também os processos sociais e psicológicos que moldam a formação do sujeito e do coletivo. Para isso, leva-se em conta os diversos grupos e pessoas que, de várias maneiras, experienciaram ou foram afetados pelas políticas autoritárias, seja como vítimas diretas, agentes do Estado ou membros da sociedade submetidos ao medo e ao controle social. Para entender como a subjetividade é formada, reprimida e, em certas situações, convertida em resistência contra a opressão, é fundamental identificar esses indivíduos. Instrumentos/Materiais: Diante da natureza teórica deste estudo, os materiais empregados concentram-se em fontes bibliográficas, documentais e históricas que possibilitam compreender de forma abrangente os efeitos das políticas autoritárias sobre a constituição da subjetividade humana. A escolha desses materiais visa sustentar uma análise interdisciplinar que articule elementos da Psicologia, da Filosofia, da Sociologia e da História, permitindo explorar como os regimes de poder moldam a vida psíquica e social dos sujeitos. Local: Procedimentos Metodológicos Tema: Ditadura e Subjetividade: O impacto das políticas autoritárias na construção do sujeito A pesquisa será desenvolvida com abordagem qualitativa, pois pretende compreender significados, percepções e construções subjetivas dos participantes em relação ao tema. Também poderá incluir alguns elementos quantitativos para complementar a análise. A coleta de dados será feita principalmente por meio de entrevistas semiestruturadas, permitindo que os participantes relatem suas experiências e percepções sobre o período ditatorial e seus reflexos na vida pessoal, social e política. Essas entrevistas terão um roteiro com perguntas abertas relacionadas à vivência sob políticas autoritárias, sentimentos de liberdade, censura, medo e formação de valores durante e após esse contexto. Além disso, poderão ser utilizados questionários com escalas de percepção (por exemplo, sobre sentimento de autonomia ou obediência à autoridade) para apoiar a análise qualitativa com dados complementares. Também poderão ser analisados documentos históricos, como discursos, notícias e registros públicos, a fim de contextualizar as experiências narradas. A amostra será composta por pessoas adultas que tenham vivido parte de sua vida durante o período da ditadura militar no Brasil (1964–1985), além de alguns jovens adultos, com o objetivo de comparar as percepções entre gerações. Por se tratar de um estudo sobre subjetividade, as variáveis são principalmente interpretativas e simbólicas. Mesmo assim, é possível definir algumas dimensões para orientar a análise. A variável independente é o contexto autoritário (exposição a políticas de repressão, censura, perseguição ou vigilância), enquanto a variável dependente é a subjetividade do sujeito (autonomia, identidade política, percepção de liberdade, comportamento social e crenças pessoais). A manipulação das variáveis ocorrerá na análise dos dados. As entrevistas serão transcritas e codificadas por temas recorrentes, como “sentimento de impotência”, “resistência”, “conformismo”, “medo” e “liberdade”. Esses códigos serão agrupados em categorias temáticas para orientar a interpretação. Nos questionários, as respostas serão tabuladas e transformadas em escores descritivos, permitindo observar tendências e comparar perfis (por exemplo, gerações e níveis de escolaridade), sem pretensão inferencial. Para assegurar confiabilidade e reduzir a influência de variáveis estranhas, serão adotados cuidados metodológicos: seleção equilibrada de participantes, roteiro padronizado de entrevista, teste-piloto para ajustes, registro de reflexividade do pesquisador, triangulação entre fontes (entrevistas, documentos e bibliografia) e análise ética de todo o processo. Esses procedimentos buscam evitar que diferenças socioeconômicas, preferências políticas ou experiências não relacionadas ao período estudado distorçam os resultados. A fundamentação teórica apoia-se em autores que relacionam política e subjetividade, como Alexander Dukalskis e Johannes Gerschewski (2021), que discutem a legitimação de regimes autoritários; Sandra Ansara (2015), que aborda impactos psicopolíticos da ditadura na memória social brasileira; e o The Cambridge Handbook of Political Psychology (2023), que apresenta conceitos sobreautoritarismo e formação de atitudes políticas em contextos repressivos. Referências ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979. SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1995. NAPOLITANO, Marcos. 1964: História do regime militar brasileiro. São Paulo: Contexto, 2014. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011. Análise de dados A análise dos dados será predominantemente qualitativa e orientada por uma perspectiva psicossocial crítica, buscando aprofundar a compreensão das estruturas simbólicas e subjetivas moldadas pelo contexto autoritário. O foco recai sobre a articulação entre sofrimento individual, as “marcas subjetivas” e os fundamentos políticos e sociais da violência de Estado, situando narrativas pessoais, memórias familiares e registros históricos dentro de um mesmo campo interpretativo. Para isso, adotaremos a Análise de Conteúdo Temática, conforme Bardin, aplicada tanto às entrevistas semiestruturadas (transcritas integralmente) quanto ao acervo documental e histórico (relatórios de Comissões da Verdade, dossiês de direitos humanos, depoimentos e hemerotecas). O processo inicia-se com a pré-análise: leitura flutuante, constituição do corpus, registro de hipóteses sensitivas e definição de indicadores preliminares, preservando a abertura para categorias emergentes. Na sequência, procede-se à A etapa de tratamento e interpretação agrupa códigos em categorias temáticas que respondam diretamente ao problema de pesquisa, produzindo sínteses narrativas e mapas conceituais. A interpretação será conduzida por triangulação entre três planos: narrativas individuais e familiares, documentação histórica e bibliografia teórica de referência. Essa triangulação permite tensionar convergências e discrepâncias entre testemunhos e registros institucionais, reduzindo o risco de leitura impressionista e fortalecendo a validade interna. A lente interseccional atravessa todo o percurso analítico, observando como marcadores sociais (raça, classe, gênero, território) modulam a experiência do trauma e do controle social, especialmente entre grupos historicamente vulnerabilizados. Também será realizada comparação intergeracional para identificar continuidades e rupturas entre participantes que viveram o período ditatorial e aqueles nascidos após 1985, com atenção a padrões de confiança/desconfiança Como apoio descritivo, os dados provenientes de questionários curtos (escalas de percepção de autonomia/obediência, confiança institucional e memórias familiares) serão tabulados e sintetizados por estatística descritiva básica frequências, médias e desvios-padrão , sem pretensão inferencial. Esses achados numéricos terão função ilustrativa e comparativa, ajudando a contextualizar diferenças entre perfis etários e socioculturais e a sustentar interpretações emergentes da análise temática. Cronograma: Orçamento: