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143 NEUROCIÊNCIAS Unidade III 7 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA E SEUS INSTRUMENTOS De acrodo com Costa et al. (2004, p. s111), “o principal enfoque da neuropsicologia é o desenvolvimento de uma ciência do comportamento humano baseada no funcionamento do cérebro”. A avaliação neuropsicológica (AN) tem como principal objetivo compreender como diferentes funções cognitivas são afetadas por condições neurológicas, psiquiátricas e do desenvolvimento. Para isso, considera‑se a relação entre estruturas cerebrais e comportamento, buscando avaliar habilidades como memória, atenção, funções executivas e linguagem. Uma avaliação eficaz requer um olhar atento às particularidades de cada paciente, respeitando sua individualidade e história clínica, além do uso de instrumentos adequados e validados (Santos, F. H.; Andrade, V. M.; Bueno, O. F. A., 2015). A AN é fundamentada em três áreas principais: neurociência clínica, psicologia experimental e reabilitação psiquiátrica. A neurociência clínica contribui para o entendimento das funções cerebrais e suas relações com déficits comportamentais, baseando‑se em pesquisas desde Paul Broca e Carl Wernicke até os avanços da neuroimagem funcional (Fuentes et al., 2013). Já a psicologia experimental fornece métodos de medição comportamental que permitiram o desenvolvimento de testes neuropsicológicos padronizados. Por fim, as reabilitações psiquiátrica e neuropsicológica focam na adaptação da avaliação conforme as necessidades do paciente, visando intervenções mais eficazes (Malloy‑Diniz et al., 2018). 7.1 Introdução à avaliação neuropsicológica e seus princípios A avaliação neuropsicológica se baseia no princípio de que o funcionamento cerebral ocorre de forma integrada, com diferentes áreas cerebrais operando em conjunto para a execução de funções cognitivas e comportamentais. Pode‑se comparar esse funcionamento ao de uma orquestra: cada instrumento tem um papel específico, mas é a harmonia entre eles que produz uma composição coesa. Cada estrutura do cérebro contribui para o desempenho cognitivo global e qualquer alteração em uma dessas partes pode afetar o funcionamento do todo. O neuropsicólogo deve compreender essa interdependência para interpretar os resultados dos testes com precisão. O simples levantamento de escores não é suficiente; é necessário considerar variáveis individuais, como histórico clínico, emocional e social do paciente. O conhecimento aprofundado do sistema nervoso e das patologias que afetam o cérebro é essencial para diferenciar manifestações normais do funcionamento cerebral de déficits patológicos. 144 Unidade III A avaliação neuropsicológica deve seguir duas regras fundamentais: • Trate seu paciente como um indivíduo: a análise deve ser personalizada, considerando idade, escolaridade, contexto sociocultural e histórico médico do paciente. Aplicar a avaliação de forma padronizada, sem levar em conta as particularidades do indivíduo, pode levar a interpretações equivocadas. • Pense a respeito do que você está fazendo: o profissional deve refletir criticamente sobre cada passo do processo avaliativo, desde a escolha dos instrumentos até a interpretação dos dados, garantindo que os achados sejam coerentes e aplicáveis à realidade do paciente. A avaliação neuropsicológica se baseia em três pilares teóricos que a sustentam: neurociência clínica, psicologia experimental e reabilitação/psiquiatria. 7.1.1 Neurociência clínica Fornece base teórica sólida para a avaliação neuropsicológica. Desde os estudos de Paul Broca e Carl Wernicke, que estabeleceram a relação entre áreas cerebrais e funções cognitivas, até os avanços na neuroimagem, a neuropsicologia tem se beneficiado do conhecimento sobre a estrutura e o funcionamento do cérebro (Fuentes et al., 2013). A ressonância magnética funcional (fMRI) e a tomografia por emissão de pósitrons (PET) permitiram a observação em tempo real da ativação de áreas cerebrais durante tarefas cognitivas, tornando a avaliação neuropsicológica mais precisa e fundamentada. 7.1.2 Psicologia experimental Contribuiu significativamente para a criação de instrumentos de testagem neuropsicológica. Testes como o Stroop, que avalia controle inibitório e atenção seletiva, e o Wisconsin Card Sorting Test (WCST), que mede flexibilidade cognitiva, foram desenvolvidos a partir de experimentos controlados que permitiram entender os processos mentais de maneira objetiva (Malloy‑Diniz et al., 2018). Esses instrumentos possibilitam a avaliação de funções como memória, percepção, linguagem e planejamento, sendo essenciais para a prática clínica. 7.1.3 Reabilitação e psiquiatria A avaliação neuropsicológica também tem um papel fundamental na reabilitação e na psiquiatria. Alexander Luria, um dos grandes nomes da neuropsicologia, defendia que a avaliação deveria ser funcional e adaptada às necessidades do paciente, considerando não apenas déficits, mas também habilidades preservadas (Santos, F. H.; Andrade, V. M.; Bueno, O. F. A., 2015). Esse princípio continua sendo aplicado atualmente, principalmente no contexto de transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia e transtorno bipolar, nos quais a avaliação neuropsicológica auxilia no diagnóstico diferencial e na formulação de estratégias terapêuticas personalizadas. 145 NEUROCIÊNCIAS Lembrete A entrevista clínica na avaliação neuropsicológica pode revelar fatores emocionais e motivacionais que impactam o desempenho cognitivo, complementando os resultados dos testes padronizados. 7.1.4 Integração com outras áreas A avaliação neuropsicológica não opera isoladamente. Ela deve estar integrada a outras disciplinas, como neurologia, psiquiatria e educação. No contexto médico, auxilia na diferenciação entre demências e transtornos psiquiátricos. No ambiente educacional, pode ser usada para entender dificuldades de aprendizado e propor adaptações pedagógicas para estudantes com dislexia, TDAH ou transtornos do espectro autista. A avaliação neuropsicológica é essencialmente interdisciplinar, frequentemente complementada por exames de imagem (como tomografia e ressonância magnética) e avaliação clínica neurológica. No entanto, ela vai além dessas ferramentas ao fornecer um panorama detalhado sobre como as alterações cerebrais afetam as capacidades funcionais e a qualidade de vida do indivíduo (Feldman, 2015; Fuentes et al., 2013). 7.1.5 Diretrizes éticas na avaliação neuropsicológica A prática da avaliação neuropsicológica deve seguir diretrizes éticas rigorosas, garantindo que os resultados sejam utilizados de forma responsável e que o paciente receba um atendimento adequado. A Resolução CFP n. 6/2019 reconhece a neuropsicologia como uma especialidade e estabelece normas para a atuação profissional. Entre os princípios fundamentais, destacam‑se a confidencialidade das informações, a devolutiva adequada ao paciente e à família e o uso criterioso dos testes, respeitando suas limitações e evitando interpretações reducionistas (CFP, 2019). Observação A ética na avaliação neuropsicológica não se limita ao consentimento informado, mas envolve também a responsabilidade do profissional em evitar interpretações inadequadas dos resultados. Um ponto crucial dentro da ética profissional é a necessidade de evitar diagnósticos precipitados e modismos neuropsicológicos. Atualmente, há uma crescente tendência de supervalorização de certos transtornos, o que pode levar a diagnósticos rápidos e superficiais. A avaliação neuropsicológica exige um processo cuidadoso e detalhado, baseado não apenas nos resultados dos testes, mas também na observação clínica e no histórico do paciente. Apressar um diagnóstico pode gerar impactos significativos, tanto no tratamento quanto no bem‑estar do indivíduo, reforçando estereótipos e promovendo rótulos desnecessários. 146 Unidade III A forma como o diagnóstico é comunicado ao paciente e sua família deve ser feita com responsabilidade. A clareza na devolutiva, aliada a uma abordagemutiliza exercícios para estimular a plasticidade cerebral, a fim de promover a reorganização funcional em áreas lesionadas. II – Testes neuropsicológicos são fundamentais para o planejamento de intervenções, pois permitem identificar déficits específicos em funções cognitivas e motoras. III – A reabilitação motora é eficaz apenas em casos de lesões leves do sistema nervoso central. IV – Estratégias de reabilitação podem envolver ferramentas tecnológicas, como a realidade virtual, para melhorar a interação e o engajamento do paciente. É correto apenas o que se afirma em: A) I e II. B) I, II e IV. C) III e IV. D) II, III e IV. E) I e III. Resposta correta: alternativa B. 170 Unidade III Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: a reabilitação neuropsicológica utiliza exercícios e estratégias específicas para estimular a plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro de reorganizar suas conexões sinápticas em resposta a lesões ou novos aprendizados. Essa abordagem permite que áreas intactas do cérebro assumam parcialmente as funções de regiões lesionadas, o que contribui para a recuperação funcional. Por exemplo, em casos de AVC, a prática repetitiva de movimentos ou de atividades cognitivas direcionadas pode levar à reorganização funcional e promover a melhora das habilidades motoras, linguísticas ou cognitivas. II – Afirmativa correta. Justificativa: os testes neuropsicológicos são ferramentas indispensáveis para identificar déficits específicos em funções cognitivas, emocionais e motoras. Eles permitem mapear com precisão os prejuízos causados por uma lesão cerebral ou condição neurológica, como memória, atenção, linguagem e funções executivas. Esses testes fornecem uma base sólida para o planejamento de intervenções individualizadas, garantindo que os programas de reabilitação sejam ajustados às necessidades específicas de cada paciente. Por exemplo, identificar déficits em memória de trabalho pode direcionar o uso de estratégias compensatórias, como o treinamento em uso de agendas eletrônicas. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: mesmo em lesões graves do sistema nervoso central, como traumas cranioencefálicos severos ou lesões medulares completas, intervenções reabilitadoras podem promover melhorias significativas. A eficácia, nesse contexto, depende de fatores como a abordagem utilizada, o tempo de início da intervenção e a plasticidade residual do sistema nervoso. Por exemplo, terapias que combinam estimulação elétrica funcional com exercícios repetitivos têm demonstrado eficácia em promover recuperação motora mesmo em casos complexos. IV – Afirmativa correta. Justificativa: ferramentas tecnológicas, como a realidade virtual, mostram‑se eficazes na reabilitação neuropsicológica por promoverem maior engajamento do paciente e oferecerem simulações interativas que auxiliam no reaprendizado de habilidades. Essas ferramentas permitem que os pacientes pratiquem tarefas em ambientes seguros e controlados, o que é especialmente útil para reabilitar funções motoras, cognitivas e sociais. Por exemplo, jogos de realidade virtual podem ser usados para estimular a coordenação motora em pacientes com ataxia ou melhorar a capacidade de planejamento e atenção em indivíduos com comprometimento das funções executivas. 171 REFERÊNCIAS Audiovisuais AMNESIAC: a história de Henry Molaison (H.M.). 2013. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal Davi Drieskens. 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Impacto da queixa Sintomas interferem em: ( ) Atividades escolares ( ) Vida profissional ( ) Relações familiares ( ) Vida social ( ) Rotina diária Como você descreve o impacto dos sintomas na sua vida? 4. Histórico de intervenções anteriores Já realizou algum tipo de tratamento? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? ( ) Psicoterapia ( ) Uso de medicação ( ) Psiquiatria ( ) Neurologia ( ) Terapia ocupacional ( ) Fonoaudiologia ( ) Outros: 178 Modelo 2 – Modelo de entrevista de anamnese (crianças e adolescentes) 1. Identificação Data da entrevista: Nome civil: Gênero ( ) Masculino ( ) Feminino Data de nascimento: Idade: Naturalidade ( ) Capital ( ) Interior ( ) Litoral ( ) Grande São Paulo ( ) Outro estado( ) Outro país Nome da mãe: Idade da mãe: Escolaridade da mãe: Ocupação da mãe: Nome do pai: Idade do pai: Escolaridade do pai: Ocupação do pai: 2. Informações gerais Qual o principal motivo de buscar psicoterapia? Queixa principal: Houve algum encaminhamento (escolar, médico etc.)? Encaminhamento: Desde quando começaram os sinais e/ou sintomas? História prévia da moléstia atual: 3. Estrutura familiar Com quem reside? Tem irmão(s)? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quantos anos tem? Estado civil dos pais biológicos ( ) Casados ( ) Separados ( ) Divorciados ( ) Outro Especifique: Se separados ou divorciados 1. Quantos anos a criança tinha na época da separação? 2. Quem tem a custódia legal da criança? 179 3. Estrutura familiar Se a criança não mora com nenhum dos pais biológicos, com quem mora? ( ) Pais adotivos ( ) Pais de criação ( ) Outros familiares ( ) Abrigo ( ) Outro Especifique: Nome do responsável legal: Como é o relacionamento entre os pais? Como é o relacionamento entre a mãe e a criança? Como é o relacionamento entre o pai e a criança? Como é o relacionamento entre os irmãos e a criança (se houver)? 4. Gestação e parto A gestação foi planejada? ( ) Sim ( ) Não Posição na ordem de gestações (1ª, 2ª...): Abortos naturais ( ) Sim ( ) Não Se sim, quantos? Abortos provocados ( ) Sim ( ) Não Se sim, quantos? Natimortos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, quantos? Causa mortis: Fez pré‑natal? ( ) Sim ( ) Não Intercorrências durante a gravidez? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Pais consanguíneos? Grau de parentesco: ( ) Sim ( ) Não Teve apoio durante a gestação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, de quem? A mãe consumiu algum tipo de substância durante a gestação? ( ) Cigarro ( ) Álcool ( ) Drogas ( ) Outras drogas Frequência: 180 4. Gestação e parto Tempo de gestação: Tipo de parto ( ) Normal ( ) Fórceps ( ) Cesárea Duração: Intercorrências no parto? ( ) Icterícia ( ) Sofrimento fetal ( ) Desconforto respiratório ( ) Anóxia ( ) Convulsões ( ) Malformação ( ) Outra: Peso ao nascer: Tamanho ao nascer: Notas de Apgar: Tempo de internação: Amamentação ao seio? ( ) Sim ( ) Não Se sim, até que idade? Uso de mamadeira? ( ) Sim ( ) Não Se sim, até que idade? Uso de chupeta? ( ) Sim ( ) Não Se sim, até que idade? 5. Primeira infância A) Conduta, comportamento e desenvolvimento. Algumas das condições a seguir ocorreram nos primeiros anos de vida? ( ) Muito quieto ( ) Cólicas ( ) Bater a cabeça na parede ( ) Inquieto ( ) Pouco alerta ( ) Não gostava de ser abraçado ( ) Sono excessivo ( ) Interessado ( ) Número excessivo de acidentes ( ) Difícil de ser acalmado ( ) Pouco sono ( ) Irritabilidade e choro frequente B) Motor grosso – informe com qual idade a criança: Sustentou a cabeça: Sentou: Engatinhou: Ficou de pé: Andou: Desfraldou: C) Motor fino – a criança consegue: Alimentar‑se sozinha com talheres? ( ) Sim ( ) Não Rabiscar? ( ) Sim ( ) Não Amarrar os sapatos? ( ) Sim ( ) Não 181 5. Primeira infância Vestir‑se sozinha (colocar meia, abotoar calças ou camisas)? ( ) Sim ( ) Não D) Linguagem Com qual idade balbuciou? Com qual idade formou as primeiras palavras isoladas? Quais foram essas palavras? Com qual idade formou frases? Apresentou ou ainda apresenta alguma dificuldade de fala? ( ) Sim ( ) Não Explique: Sabe nomear ou reconhecer itens quando mencionados? ( ) Sim ( ) Não E) Sono Como classifica o sono: ( ) Calmo ( ) Agitado ( ) Acorda muitas vezes durante a noite ( ) Fala dormindo ( ) Range os dentes ( ) Olhos abertos durante o sono ( ) Terror noturno ( ) Pesadelos ( ) Ronca ( ) Enurese noturna Dorme sozinho? ( ) Sim ( ) Não Precisa de ajuda? ( ) Sim ( ) Não Dorme na própria cama? ( ) Sim ( ) Não Onde/com quem dorme? F) Alimentação As refeições são feitas em casa? ( ) Sim ( ) Não Explique: Consegue comer sozinho? ( ) Sim ( ) Não Precisa de ajuda? ( ) Sim ( ) Não Apresenta seletividade de alimentos? ( ) Sim ( ) Não Explique: G) Cognição social Tem rede social de amigos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, onde? 182 5. Primeira infância Como é o comportamento da criança junto aos colegas? Demonstra preferências no brincar e/ou atividades? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? H) Outras manifestações comportamentais Conhece direita e esquerda? ( ) Sim ( ) Não No caso negativo, o que acontece? É organizado com as suas coisas? ( ) Sim ( ) Não No caso negativo, o que acontece? Rói unhas? ( ) Sim ( ) Não Se sim, desde quando? Morde os lábios? ( ) Sim ( ) Não Se sim, desde quando? Apresenta comportamentos repetitivos e/ou estereotipados? ( ) Sim ( ) Não Explique: Apresenta comportamentos de autoagressão? ( ) Sim ( ) Não Explique: Apresenta comportamentos de heteroagressão? ( ) Sim ( ) Não Explique: 183 6. Escolaridade e aprendizagem Tem queixa da escola? ( ) Sim ( ) Não Explique: Nome da escola: Tipo ( ) Municipal ( ) Estadual ( ) Particular Período ( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Integral Entrou na escola com quantos anos? Socialização/adaptação: Mudanças de escolas: Está alfabetizado? ( ) Sim ( ) Não Com qual idade começou a ler? Gosta de estudar? ( ) Sim ( ) Não Desempenho escolar (repetência? reforço?): Matérias com mais facilidade: Matérias com mais dificuldade: Hábitos de estudo? Atividade extracurricular? Com quem fica na volta da escola? 7. Histórico médico Apresenta ou já teve algum sintoma ou diagnóstico a seguir? ( ) Paralisia cerebral ( ) Tumor no sistema nervoso central ( ) Crises ou epilepsia ( ) Síndrome genética ( ) Convulsões ( ) Desmaios ( ) Enxaquecas Especifique quando/frequência: Tem outras doenças existentes? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Tem algum sintoma/sequela desse diagnóstico? Toma medicação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? 184 7. Histórico médico Apresenta dificuldade visual? ( ) Sim ( ) Não Apresenta dificuldade auditiva? ( ) Sim ( ) Não Apresenta dificuldade de deambulação/marcha? ( ) Sim ( ) Não Realizou exames de imagem? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Já precisou fazer alguma cirurgia? ( ) Sim ( ) Não Já foi internado? ( ) Sim ( ) Não Doenças na família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Mortes na família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Histórico de diagnósticos psiquiátricos na família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Faz acompanhamento em outras especialidades? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? 185 Modelo 3 – Modelo de entrevista de anamnese adulto 1. Identificação Data da avaliação: Nome civil: Gênero ( ) Masculino ( ) Feminino ( ) Outro Data de nascimento: Idade: Estado civil ( ) Solteiro(a) ( ) Casado(a) ( ) União estável ( ) Separado(a) ( ) Divorciado(a) ( ) Viúvo(a) Naturalidade ( ) Capital ( ) Interior ( ) Litoral ( ) Grande São Paulo ( ) Outro estado ( ) Outro país Informante/acompanhante (se houver): Grau de parentesco: Profissional responsável: CRP: 2. Informações gerais Queixa principal: Encaminhamento: História prévia da moléstia atual: Outras doenças existentes: Sintomas/sequelas: Faz acompanhamento em outras especialidades? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Toma medicação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Já realizou exames? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? 186 2. Informações gerais Algum sintoma ou diagnóstico a seguir? ( ) Paralisia cerebral ( ) Tumor no sistema nervoso central ( ) Epilepsia ( ) Síndrome genética ( ) Convulsões ( ) Desmaios ( ) Enxaquecas Especifique quando/frequência: Doenças na família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Mortes na família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Histórico de diagnósticos psiquiátricos na família? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? 3. Estrutura familiar Com quem reside? Onde reside? Genograma (escrever oudesenhar a estrutura da família): 4. Escolaridade Nível de escolaridade ( ) Analfabeto ( ) Analfabeto funcional ( ) Infantil incompleto ( ) Infantil completo ( ) Fundamental I incompleto ( ) Fundamental I completo ( ) Fundamental II incompleto ( ) Fundamental II completo ( ) Médio incompleto ( ) Médio completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo Começou a estudar com qual idade? Em que ano concluiu/parou? 187 4. Escolaridade Escola ( ) Pública ( ) Particular ( ) Outro Tinha bom desempenho escolar? ( ) Sim ( ) Não Tinha queixa da escola? ( ) Sim ( ) Não Se sim, em qual(is)? Houve repetência? ( ) Sim ( ) Não Se sim, em que ano? Dificuldade em matérias específicas? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Fez cursos extracurriculares? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? 5. Ocupação profissional Situação ocupacional ( ) Ativo ( ) Afastado pelo INSS ( ) Desempregado ( ) Aposentado Ocupação atual: Trabalhos anteriores: Frequência de mudanças ( ) Frequente (menos de 1 ano) ( ) Regular (1 a 3 anos) ( ) Baixa (a partir de 3 anos) Há queixas relacionadas ao trabalho? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Quais são as perspectivas com relação ao lado profissional? O que gosta de fazer nos momentos de lazer? 7. Aspectos de saúde geral Alteração sensorial? ( ) Audição ( ) Visão ( ) Tato Explique: 188 7. Aspectos de saúde geral Qualidade do sono adequada? ( ) Sim ( ) Não Explique: Qualidade do sono adequada? ( ) Sim ( ) Não Explique: Qualidade da alimentação adequada? ( ) Sim ( ) Não Explique: Antecedentes psicológicos e/ou psiquiátricos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Ideação ou tentativa de suicídio? ( ) Sim ( ) Não Especifique: Hábitos nocivos? ( ) Sim ( ) Não Qual(is)? ( ) Fumo ( ) Álcool ( ) Outras drogas Especifique: 8. Aspectos cognitivos Alteração na atenção? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Alteração de orientação? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Alteração na sensopercepção? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? 189 8. Aspectos cognitivos Alteração na memória? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Alteração na linguagem? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Alteração de motricidade? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Alteração de funcionamento executivo? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? 9. Aspectos emocionais e comportamentais Alteração do humor? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Alterações das emoções e dos sentimentos? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Alterações de comportamento? ( ) Sim ( ) Não Se sim, qual(is)? Mudanças após o adoecimento? ( ) Sim ( ) Não Quais? ( ) Humor ( ) Alimentação ( ) Sono ( ) Sexualidade ( ) Atividades diárias ( ) Emoções/sentimentos ( ) Comportamento ( ) Socialização ( ) Lazer ( ) Financeiras ( ) Outras Especifique alterações: 190 10. Rotina diária e interação social Atividades de vida diária ( ) Satisfatórias ( ) Parcialmente satisfatórias ( ) Insatisfatórias Explique: Atividades ocupacionais ( ) Satisfatórias ( ) Parcialmente satisfatórias ( ) Insatisfatórias Explique: Atividades sociais ( ) Satisfatórias ( ) Parcialmente satisfatórias ( ) Insatisfatórias Explique: Interação familiar ( ) Satisfatória ( ) Parcialmente satisfatória ( ) Insatisfatória Explique: Relacionamento interpessoal ( ) Satisfatório ( ) Parcialmente satisfatório ( ) Insatisfatório Explique: Com quem reside: ( ) Sozinho ( ) Amigos ( ) Família Se morar com familiares, com qual família reside? ( ) Origem ( ) Nuclear ( ) Outros Explique: Tem rede de apoio? ( ) Sim ( ) Não Especifique: ( ) Familiares ( ) Amigos ( ) Vizinhos ( ) Outros Explique: 191 Modelo 4 – Modelo de entrevista devolutiva Diretrizes para apresentação de resultados e recomendações Abertura e contextualização Começar com uma introdução tranquila e empática, ressaltando que o objetivo é fornecer uma visão clara dos resultados e colaborar com o paciente Esclarecer a metodologia utilizada e como os resultados foram obtidos (testes, observações e entrevistas) Apresentação dos resultados Explicar os resultados das avaliações cognitivas (atenção, memória, funções executivas etc.) de forma clara e compreensível Discutir os pontos fortes do paciente e as áreas que apresentam dificuldades Relatar as observações clínicas e qualquer sinal de comorbidade ou condições associadas (como TDAH, ansiedade, depressão) Diagnóstico (se aplicável) Explicar o diagnóstico neuropsicológico, se houver, de forma clara e acessível Discutir as implicações do diagnóstico na vida do paciente, sem estigmatizar Recomendações e intervenções Oferecer sugestões de tratamento e apoio, como psicoterapia, acompanhamento médico, reabilitação cognitiva etc. Recomendar ajustes no ambiente de trabalho, escola ou casa, se necessário Orientar sobre estratégias de enfrentamento para as dificuldades cognitivas ou emocionais Encerramento Reforçar a importância do seguimento e do trabalho em equipe (incluindo psicólogo, psiquiatra, familiares etc.) Explicar próximos passos e como a intervenção será realizada Abrir espaço para dúvidas e questionamentos, fornecendo suporte para qualquer necessidade adicional Entrega de relatório escrito (se aplicável) Informar ao paciente sobre a entrega do laudo neuropsicológico formal, se necessário Orientar sobre o que será feito com os resultados, como a entrega a outros profissionais de saúde ou escolas 192 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000humanizada, pode evitar ansiedade desnecessária e garantir que o paciente compreenda as implicações do resultado. O profissional também tem o papel de desmistificar a necessidade de um diagnóstico e esclarecer que a avaliação não se reduz a um simples rótulo, mas trata‑se de uma ferramenta para compreender o funcionamento cognitivo e auxiliar no desenvolvimento de estratégias personalizadas para cada caso. 7.2 O que diferencia a avaliação neuropsicológica de outras avaliações A avaliação neuropsicológica se diferencia de outras formas de avaliação psicológica e médica por sua abordagem específica no funcionamento cognitivo e suas relações com o cérebro. Enquanto a avaliação psicológica tradicional aborda os aspectos emocionais, comportamentais e de personalidade, a neuropsicológica entende como déficits em funções cerebrais impactam a cognição e o comportamento. A avaliação neuropsicológica difere de exames neurológicos, como EEG e neuroimagem, que identificam alterações estruturais e funcionais do cérebro, mas não fornecem informações detalhadas sobre o desempenho cognitivo do paciente em atividades do dia a dia. Lezak et al. (1995 apud Cunha, 2000, p. 174) observam que “ neuropsicologistas não podem estabelecer um diagnóstico neuropsicológico, mas podem fornecer dados e formulações diagnósticas que contribuem para as conclusões diagnósticas“. Determinadas características distinguem a avaliação neuropsicológica tanto da avaliação psicológica tradicional quanto dos exames neurológicos. A avaliação psicológica tradicional foca nos aspectos emocionais, traços de personalidade e psicopatologias, sendo utilizada principalmente para diagnóstico clínico de transtornos mentais, suporte terapêutico e orientação vocacional. A avaliação neuropsicológica investiga funções cognitivas como memória, atenção, linguagem e funções executivas. É fundamental para diagnosticar condições neurológicas como TDAH, Alzheimer, AVC e lesões cerebrais traumáticas (Malloy‑Diniz et al., 2018). Já exames como EEG e ressonância magnética funcional (fMRI) detectam anormalidades cerebrais, como tumores ou padrões atípicos de ativação neural, mas não conseguem medir como essas alterações afetam o desempenho funcional do paciente. A avaliação neuropsicológica complementa esses exames ao identificar déficits específicos de cognição e comportamento que podem não ser visíveis em exames de imagem (Fuentes et al., 2013). A avaliação neuropsicológica possui um papel essencial na prática clínica, com aplicações diretas no diagnóstico, planejamento de intervenções e acompanhamento da evolução do paciente. Ela é fundamental para a diferenciação de transtornos que apresentam sintomas semelhantes, como o TDAH e dificuldades de aprendizagem, ou para distinguir entre depressão e demência inicial, condições que podem ser facilmente confundidas devido à sobreposição de sintomas. O perfil cognitivo identificado durante a avaliação orienta a escolha de estratégias terapêuticas mais eficazes. Por exemplo, pacientes com dificuldades de memória podem se beneficiar de técnicas de compensação cognitiva, enquanto aqueles com déficits em funções executivas podem necessitar de estratégias estruturadas de planejamento e organização. 147 NEUROCIÊNCIAS Esse tipo de avaliação não se restringe apenas ao diagnóstico, sendo também crucial no planejamento terapêutico e na reabilitação do paciente. O laudo neuropsicológico pode orientar ajustes nos contextos educacionais, profissionais e sociais, recomendando adaptações ambientais para indivíduos com déficits cognitivos. Por exemplo, ele pode indicar modificações no ambiente de trabalho ou em estratégias de ensino para melhorar a qualidade de vida do paciente. A avaliação neuropsicológica possibilita a definição de estratégias de reabilitação personalizadas. O perfil cognitivo detalhado do paciente permite a elaboração de planos de tratamento adaptados às suas necessidades específicas, como reabilitação neuropsicológica, terapia ocupacional ou intervenções psicopedagógicas. O acompanhamento contínuo por meio de avaliações periódicas também é fundamental para monitorar a evolução do paciente, possibilitando ajustes na abordagem terapêutica conforme necessário. Podemos citar vários exemplos práticos de intervenções baseadas nos achados da avaliação neuropsicológica. Por exemplo, em um paciente com AVC que apresenta afasia, pode‑se recomendar terapia fonoaudiológica para reabilitação da linguagem. No caso de uma criança com TDAH, pode‑se implementar estratégias de manejo comportamental e treinamentos voltados para as funções executivas. Em pessoas idosas com declínio cognitivo leve, intervenções focadas no treino de memória e o uso de estratégias compensatórias são essenciais para maximizar sua autonomia e qualidade de vida, como observado em estudos de Barkley (2017). A avaliação neuropsicológica não apenas fornece informações cruciais para o diagnóstico, mas também guia o desenvolvimento de intervenções que podem melhorar significativamente o funcionamento e a qualidade de vida dos pacientes, respeitando suas necessidades individuais e contextos específicos. Dessa forma, a avaliação neuropsicológica não apenas auxilia na compreensão do quadro clínico do paciente, mas também orienta diretamente as estratégias de intervenção para promover melhor qualidade de vida. 7.3 Entrevista clínica A entrevista clínica é uma das etapas mais importantes da avaliação neuropsicológica, pois oferece um primeiro contato entre o profissional e o paciente, estabelecendo a base para o desenvolvimento de uma compreensão mais profunda sobre o histórico, as condições cognitivas e o impacto funcional de qualquer distúrbio neuropsicológico. A entrevista não é apenas uma conversa, mas uma ferramenta diagnóstica fundamental, permitindo ao neuropsicólogo coletar informações essenciais, observar o comportamento do paciente e identificar áreas que exigem maior investigação (Malloy‑Diniz et al., 2018). A entrevista clínica pode ser dividida em três partes principais: entrevista inicial, anamnese e entrevista devolutiva. Cada uma dessas etapas tem uma função específica dentro do processo de avaliação neuropsicológica, contribuindo para a formulação de hipóteses e a criação de um plano de tratamento ou intervenção. 148 Unidade III Para auxiliar na condução das entrevistas, anexos ao final deste material fornecerão modelos estruturados para cada etapa do processo: • Modelo de entrevista inicial: com tópicos essenciais a serem explorados na coleta de informações. • Modelo de anamnese: estrutura detalhada para registro do histórico do paciente. • Modelo de entrevista devolutiva: diretrizes para apresentação dos resultados e recomendações ao paciente e seus familiares. 7.3.1 Entrevista inicial A entrevista inicial coleta informações gerais sobre o paciente, como a queixa principal, o histórico médico e familiar; além de fatores sociais e ambientais relacionados ao desempenho cognitivo. Diferente da entrevista clínica tradicional, que evidencia predominantemente o estado emocional e comportamental, a entrevista inicial na avaliação neuropsicológica busca compreender a relação entre possíveis alterações cerebrais e o funcionamento cognitivo. Durante essa fase, é essencial que o profissional estabeleça um vínculo de confiança com o paciente, utilizando uma abordagem empática e linguagem acessível. Também é importante que o avaliador observe sinais não verbais do paciente, como dificuldades em seguir a conversa, hesitação ao responder perguntas ou expressões emocionais que possam indicar ansiedade ou desconforto. Os principais tópicos abordados na entrevista inicial incluem: • Queixa principal: descrição dos sintomas ou dificuldades relatadas pelo paciente ou por seus familiares. • Histórico médico e psiquiátrico: doenças prévias, uso de medicações, hospitalizações, traumas cranianos ou outras condições neurológicas. • Histórico familiar: presença de transtornospsiquiátricos ou doenças neurodegenerativas na família. • Aspectos sociais e educacionais: nível de escolaridade, ocupação, rotina diária, hábitos de vida e suporte familiar. • Uso de substâncias: histórico de consumo de álcool, tabaco e outras substâncias que possam impactar a cognição. 7.3.2 Anamnese A anamnese é uma parte mais profunda e detalhada da entrevista, em que o neuropsicólogo coleta informações sobre a história de vida do paciente para entender melhor o desenvolvimento das funções cognitivas, emocionais e comportamentais. A anamnese é fundamental para compreender o contexto 149 NEUROCIÊNCIAS do paciente e identificar com mais precisão as possíveis causas de disfunções cognitivas (Santos, F. H.; Andrade, V. M.; Bueno, O. F. A., 2015). Os aspectos principais abordados na anamnese incluem: • Histórico de desenvolvimento: a coleta de informações sobre o desenvolvimento da criança ou do paciente, caso se trate de um paciente infantil ou de um adulto com histórico de dificuldades cognitivas desde a infância. Inclui marcos importantes, como o início da fala, aprendizagem escolar etc. (Fuentes et al., 2013). • Histórico médico e familiar: investiga‑se a história médica familiar, pois muitas condições neurológicas têm componentes hereditários. São verificadas condições médicas relevantes do paciente, como doenças neurológicas, lesões traumáticas ou cirurgias cerebrais anteriores (Malloy‑Diniz et al., 2018). • Histórico emocional e psicossocial: a anamnese explora aspectos psicossociais e emocionais, pois condições como ansiedade, depressão ou estresse podem afetar as funções cognitivas. Aqui, o neuropsicólogo busca compreender o impacto desses fatores na vida do paciente e suas dificuldades cognitivas (Santos, F. H.; Andrade, V. M.; Bueno, O. F. A., 2015). • Avaliação do contexto funcional: o profissional verifica como o paciente lida com suas atividades diárias, como o trabalho, os estudos, as relações familiares e sociais. Isso pode ajudar a entender o grau de comprometimento das funções cognitivas e sua relação com a qualidade de vida do paciente (Fuentes et al., 2013). A anamnese deve ser conduzida de forma flexível, permitindo que o paciente ou seus familiares relatem informações relevantes que possam não estar incluídas em um roteiro estruturado. 7.3.3 Entrevista devolutiva A entrevista devolutiva ocorre ao final da avaliação e objetiva apresentar os resultados ao paciente e seus familiares, fornecendo um panorama sobre seu funcionamento cognitivo e sugestões de encaminhamentos terapêuticos. Para que a devolutiva da avaliação neuropsicológica seja eficaz, é fundamental que o neuropsicólogo adote algumas práticas essenciais. Primeiramente, é importante utilizar uma linguagem acessível, evitando o uso excessivo de termos técnicos e explicando os achados de forma clara. Isso facilita a compreensão dos resultados por parte do paciente e seus familiares, que, muitas vezes, não possuem conhecimento especializado. O neuropsicólogo deve estar preparado para lidar com as reações emocionais que podem surgir durante a devolutiva. É comum que pacientes e familiares se sintam surpresos, aliviados ou até preocupados com os resultados. O profissional precisa estar atento a essas reações, oferecendo o 150 Unidade III suporte emocional necessário e ajudando o paciente a entender o significado dos achados, sem causar alarmismo ou pânico. Por fim, a devolutiva deve incluir recomendações práticas e concretas. O laudo neuropsicológico deve ter sugestões claras de intervenções, como reabilitação cognitiva, acompanhamento psicoterapêutico, orientações educacionais ou até mudanças na rotina do paciente. Essas recomendações ajudam a direcionar o paciente e seus familiares para as próximas etapas do tratamento e intervenção, contribuindo para a melhoria do quadro apresentado (Malloy‑Diniz et al., 2018). A devolutiva não se resume à simples comunicação dos resultados dos testes, mas também é uma oportunidade para proporcionar ao paciente uma explicação clara sobre os déficits identificados, seu impacto nas funções cognitivas e comportamentais e o plano de intervenção a ser seguido (Fuentes et al., 2013). Os pontos principais abordados na entrevista devolutiva incluem: • Apresentação dos resultados: o neuropsicólogo apresenta ao paciente (ou familiares, caso necessário) os resultados obtidos nos testes, explicando o que foi avaliado e o que os resultados indicam sobre as funções cognitivas do paciente (Malloy‑Diniz et al., 2018). • Explicação dos déficits identificados: se houver déficits, o neuropsicólogo explica quais áreas cognitivas estão comprometidas, como memória, atenção, funções executivas, linguagem etc., e como isso impacta as atividades diárias do paciente (Santos, F. H.; Andrade, V. M.; Bueno, O. F. A. 2015). • Discussão do diagnóstico e suas implicações: o profissional pode dar uma visão geral sobre o diagnóstico clínico, baseado nos resultados da avaliação neuropsicológica, sem fornecer um diagnóstico definitivo (caso ainda não tenha sido confirmado pelo médico responsável), mas esclarecendo os achados que contribuem para o diagnóstico (Fuentes et al., 2013). • Plano de intervenção: o neuropsicólogo fornece um plano de intervenção que pode incluir recomendação para tratamentos médicos, terapia cognitiva, reabilitação neuropsicológica, entre outros, dependendo da situação. Essa etapa também envolve o esclarecimento sobre a continuidade do acompanhamento, a importância da adesão ao tratamento e os objetivos da reabilitação (Malloy‑Diniz et al., 2018). • Orientações psicossociais: além das orientações clínicas, a entrevista devolutiva também pode incluir conselhos sobre como lidar com os desafios diários, estratégias de enfrentamento e apoio psicossocial para o paciente e seus familiares (Santos, F. H.; Andrade, V. M.; Bueno, O. F. A., 2015). A devolutiva também desempenha um papel fundamental na adesão ao tratamento. Quando bem conduzida, pode ajudar o paciente e sua família a compreenderem melhor as dificuldades identificadas e se engajarem nas estratégias recomendadas. 151 NEUROCIÊNCIAS 7.4 Avaliação neuropsicológica: protocolos fixos versus construção personalizada A avaliação neuropsicológica pode ser realizada de diferentes maneiras, sendo as duas abordagens principais o uso de protocolos fixos e a construção personalizada da avaliação. Ambas são valiosas e podem ser utilizadas de forma complementar, dependendo do objetivo clínico e das características do caso. 7.4.1 Protocolos fixos Os protocolos fixos consistem na aplicação de baterias de testes padronizados, com sequência e metodologia predefinidas, para avaliar o funcionamento cognitivo do paciente. Esses testes são selecionados com base em normas estabelecidas por grandes estudos populacionais, o que permite uma comparação direta dos resultados do paciente com a média populacional (Cohen; Swerdlik, 2018). Essa abordagem tem vantagens notáveis, como a objetividade e a reprodutibilidade dos resultados, o que facilita a comparação entre diferentes pacientes e diferentes momentos de avaliação. Ela possibilita que o psicólogo tenha acesso a dados que permitem inferir sobre distúrbios neuropsicológicos comuns, como déficits de atenção, memória ou funções executivas. O uso de protocolos fixos é especialmente útil em contextos de triagem ou quando o tempo para a avaliação é limitado, permitindo ao psicólogo uma rápida compreensão geral do funcionamento cognitivo do paciente (Lezak et al., 2012). No entanto, uma desvantagem dessa abordagem é que ela pode não ser sensível o suficiente para detectar deficiências cognitivas em áreas específicas ou em pacientes com queixas cognitivas mais sutis. Por exemplo, em pacientes com quadros neurológicos raros ou com lesões cerebrais específicas, a avaliação padronizada pode não ser capaz de identificar de maneira aprofundada as áreas afetadas. 7.4.2 Construção personalizada da avaliação A abordagem daconstrução personalizada da avaliação se baseia na adaptação dos testes e na escolha criteriosa de instrumentos que atendam às necessidades do caso clínico em questão. Nesse modelo, o psicólogo considera a queixa do paciente, seu histórico clínico e psicológico, e outros fatores contextuais para determinar quais funções cognitivas precisam ser avaliadas profundamente. Isso significa que a avaliação é flexível e adaptada ao paciente, podendo incluir tarefas personalizadas, além dos testes tradicionais. A principal vantagem dessa abordagem é que ela oferece uma análise mais detalhada e direcionada, sendo útil quando o psicólogo precisa explorar áreas cognitivas específicas que não são suficientemente bem representadas por testes padronizados. Por exemplo, em casos de AVC, o psicólogo pode precisar avaliar de forma personalizada as habilidades motoras ou as funções executivas do paciente para compreender o impacto da lesão. Isso torna a avaliação mais sensível a déficits muito específicos, que podem não ser capturados pelos protocolos fixos (Nascimento; Fonseca, 2020). 152 Unidade III Lembrete A flexibilidade na construção de protocolos personalizados de avaliação neuropsicológica é essencial para pacientes com múltiplas comorbidades, pois permite adaptar os testes às necessidades específicas. A construção personalizada da avaliação é particularmente indicada em contextos clínicos complexos, em que há múltiplas comorbidades ou em pacientes com características que exigem uma investigação aprofundada. Um exemplo disso pode ser o uso dessa abordagem em crianças com autismo, em que as manifestações cognitivas são muito variadas e os protocolos fixos podem não refletir com precisão o funcionamento mental da criança em diversas situações (Goldstein; Beers, 2017). 7.4.3 A combinação das abordagens: uma não exclui a outra Uma abordagem não exclui a outra e, em muitos casos, o ideal é uma combinação das duas. A aplicação de protocolos fixos oferece uma visão objetiva do funcionamento cognitivo geral, enquanto a construção personalizada se aprofunda nas áreas que demandam uma análise mais específica. Usar uma abordagem mista possibilita ao psicólogo um equilíbrio entre a eficiência e a precisão, permitindo uma avaliação mais completa e representativa das funções cognitivas do paciente. A combinação pode ser vantajosa quando o psicólogo deseja validar ou refinar as hipóteses que surgem durante a avaliação personalizada. Por exemplo, após observar déficits em funções específicas durante a avaliação personalizada, ele pode decidir aplicar um protocolo fixo para confirmar esses achados e obter uma perspectiva mais comparativa e quantitativa sobre as habilidades cognitivas do paciente. O uso das duas abordagens também facilita a transparência no processo diagnóstico, uma vez que os resultados podem ser apresentados com uma base objetiva (protocolos fixos) e complementados por uma visão detalhada e individualizada (avaliação personalizada), garantindo que a interpretação do psicólogo seja a mais precisa e fundamentada possível. 7.5 Testagem neuropsicológica A testagem neuropsicológica é uma etapa essencial da avaliação, pois permite mensurar objetivamente o funcionamento cognitivo do paciente. Por meio de testes padronizados e qualitativos, o profissional pode investigar habilidades como atenção, memória, linguagem, raciocínio lógico e funções executivas. A correta seleção, aplicação e interpretação dos testes garantem que os resultados sejam fidedignos e úteis para o planejamento terapêutico e reabilitação. 153 NEUROCIÊNCIAS Saiba mais Tecnologias de machine learning estão sendo integradas à testagem neuropsicológica para detectar padrões sutis de declínio cognitivo antes que sintomas clínicos evidentes se manifestem. Para aprofundar o tema, consulte o artigo: VALLENCOURT, J. D. et al. Artificial intelligence in neuropsychological assessment: promise and challenges. Frontiers in Psychology, v. 10, 2019. 7.5.1 Definição e objetivos da testagem neuropsicológica A testagem neuropsicológica identifica padrões cognitivos preservados e prejudicados, auxiliando no diagnóstico diferencial e na formulação de estratégias de intervenção. Existem diferentes tipos de testes que podem ser utilizados de maneira complementar para garantir uma avaliação mais completa: • Testes psicométricos padronizados: instrumentos normatizados, com escores quantitativos comparáveis a uma população de referência. Exemplos incluem o WAIS‑IV e o NEUPSILIN. • Testes qualitativos e observacionais: avaliam o desempenho do paciente por meio da análise de sua estratégia de resposta e comportamento durante a realização da tarefa. São úteis para complementar a interpretação dos testes padronizados. A avaliação neuropsicológica investiga diferentes domínios cognitivos, sendo os mais comuns: • Memória (episódica, semântica, operacional, visual e verbal). • Atenção (sustentada, alternada e dividida). • Linguagem (compreensão, expressão, fluência verbal e nomeação). • Funções executivas (planejamento, flexibilidade cognitiva, inibição de respostas automáticas). 7.5.2 Contextos e critérios para aplicação A aplicação da testagem neuropsicológica deve ser adaptada ao contexto do paciente, considerando fatores como idade, escolaridade, condições médicas e necessidades específicas. A escolha inadequada dos testes pode gerar falsos positivos ou negativos, levando a interpretações errôneas. 154 Unidade III A avaliação infantil deve considerar o desenvolvimento neuropsicológico e as variações individuais na maturação cognitiva. Testes como o WISC‑IV, utilizado para mensurar inteligência, e o NEUPSILIN‑INF, que avalia habilidades cognitivas em crianças, são amplamente empregados. A atenção deve estar voltada para dificuldades de aprendizagem, TDAH e transtornos do neurodesenvolvimento. Em algumas situações, pode ser necessário o uso de testes lúdicos e adaptações visuais ou auditivas para manter a motivação da criança e garantir um ambiente de avaliação mais confortável. A testagem na avaliação de adultos deve levar em conta o contexto educacional e ocupacional do indivíduo, além de fatores emocionais que podem interferir no desempenho. Testes como o WAIS‑IV, amplamente utilizado para avaliação de inteligência e funções cognitivas em adultos, e o WCST, que mede funções executivas, são ferramentas importantes nesse público. É essencial considerar a influência do estresse, da ansiedade e da depressão nos resultados, pois sintomas emocionais podem mascarar déficits cognitivos reais. Em alguns casos, é recomendável associar testes projetivos, como o TAT e o CAT, para explorar aspectos emocionais e da personalidade, contribuindo para uma compreensão mais ampla do paciente. A avaliação neuropsicológica em pessoas idosas deve diferenciar o declínio cognitivo normal do envelhecimento de quadros patológicos, como demências. O uso de testes como o MEEM, empregado no rastreamento de demências, a figura de Rey, que avalia habilidades visuoespaciais e memória visual, e o RAVLT, indicado para a investigação de memória verbal, são fundamentais nesse contexto. Considera‑se a reserva cognitiva do paciente, ou seja, sua capacidade de compensação frente ao envelhecimento, bem como fatores como fadiga e condições médicas pré‑existentes, que podem impactar no desempenho. Dependendo do perfil do paciente, pode ser necessário um tempo maior para aplicação dos testes, respeitando suas limitações. Pacientes com limitações motoras podem apresentar dificuldades na realização de tarefas que exigem escrita ou manipulação de objetos, como ocorre em testes gráficos, incluindo a figura de Rey. Nesses casos, a adaptação da avaliação pode envolver a priorização de testes verbais, como o RAVLT, que avalia a memória auditiva verbal, minimizando a interferência de dificuldades motoras na interpretação dos resultados. Pacientes com afasia podem precisar de adaptações nos testes de linguagem paraque os déficits observados sejam corretamente atribuídos à disfunção cognitiva e não a dificuldades linguísticas. O uso de estratégias compensatórias, como a comunicação alternativa, pode ser fundamental para garantir uma avaliação precisa. 7.5.3 Principais testes neuropsicológicos validados no Brasil A testagem neuropsicológica envolve uma variedade de instrumentos que avaliam diferentes funções cognitivas. A escolha dos testes deve considerar a queixa do paciente, seu perfil clínico e sua faixa etária. A seguir estão os principais testes utilizados na avaliação neuropsicológica no Brasil: • WAIS‑IV e WISC‑IV (escala Wechsler de inteligência para crianças/adultos): utilizados para avaliação do quociente intelectual e suas subdimensões. Além da inteligência geral, investigam habilidades como memória operacional, velocidade de processamento, raciocínio lógico e compreensão verbal. O WAIS‑IV é indicado para adultos e adolescentes, enquanto o WISC‑IV é aplicado a crianças e adolescentes em idade escolar. 155 NEUROCIÊNCIAS • NEUPSILIN: instrumento breve para triagem neuropsicológica que avalia múltiplas funções cognitivas, incluindo memória, atenção, funções executivas, linguagem e habilidades visuoespaciais. Sua aplicação é rápida e oferece um panorama inicial do funcionamento cognitivo do paciente, auxiliando na definição de hipóteses diagnósticas e na escolha de testes complementares para uma avaliação aprofundada. • Stroop Test: avalia o controle inibitório e a atenção seletiva ao exigir que o paciente nomeie cores impressas em palavras conflitantes, como a palavra “vermelho” escrita na cor azul. É frequentemente utilizado para investigar dificuldades de inibição de resposta, sendo especialmente relevante na avaliação de pacientes com TDAH, lesões frontais ou comprometimentos em funções executivas. • WCST (teste de classificação de cartas de Wisconsin): mede flexibilidade cognitiva e capacidade de adaptação a novas regras. Durante sua aplicação, o paciente deve classificar cartas com base em critérios que mudam ao longo do teste, exigindo que ele ajuste sua estratégia conforme o feedback recebido. Esse teste é amplamente utilizado na avaliação de funções executivas, sendo indicado para casos de transtornos do neurodesenvolvimento, esquizofrenia e lesões no lobo frontal. • Figura complexa de Rey: avalia habilidades visuoespaciais e memória visual. O paciente deve copiar um desenho geométrico complexo e, posteriormente, reproduzi‑lo de memória. Esse teste é frequentemente empregado para avaliar planejamento perceptivo, habilidades de organização e déficits de memória visual, sendo útil na investigação de comprometimentos neurodegenerativos e lesões cerebrais. • RAVLT (Rey Auditory Verbal Learning Test): mede memória verbal e aprendizado ao longo de diferentes tentativas. O paciente ouve uma lista de palavras e precisa recordá‑las imediatamente e após um intervalo. Esse teste permite avaliar a retenção de informações, a taxa de esquecimento e a suscetibilidade à interferência, sendo indicado para a avaliação de memória episódica, especialmente em casos de demência e lesões no hipocampo. • TMT (teste de trilhas A e B): mede velocidade de processamento, atenção sustentada e alternância mental. O paciente deve conectar números e letras em sequência crescente o mais rápido possível. A versão A avalia atenção e velocidade de resposta, enquanto a versão B exige alternância cognitiva, sendo sensível a déficits em funções executivas. • MEEM (miniexame do estado mental): instrumento de rastreamento amplamente utilizado para triagem de comprometimento cognitivo e demência. Ele avalia funções como orientação, memória, atenção, linguagem e praxia construtiva. Devido à sua simplicidade, é um teste inicial útil para identificar pacientes que necessitam de uma avaliação neuropsicológica aprofundada. • BPA (bateria psicológica para avaliação da atenção): avalia detalhadamente os componentes da atenção, incluindo atenção sustentada, seletiva e dividida. É um dos instrumentos mais completos para análise de déficits atencionais, sendo frequentemente utilizado na avaliação de TDAH e em transtornos que afetam a capacidade de concentração. 156 Unidade III • FDT (teste dos cinco dígitos): mede a velocidade de processamento e controle inibitório, sendo similar ao Stroop Test. O paciente nomeia números e símbolos em diferentes condições que exigem atenção e inibição de respostas automáticas. Esse teste é indicado para investigações de funções executivas e dificuldades atencionais. • Pirâmides de Pfister: avalia padrões emocionais e de personalidade com base na escolha e na organização de cores. Analisa a dinâmica afetiva do paciente e pode ser utilizado como complemento na avaliação de aspectos emocionais que possam influenciar o desempenho cognitivo. • HTP (house‑tree‑person): teste projetivo em que o paciente desenha uma casa, uma árvore e uma pessoa. A análise das características dos desenhos permite inferir aspectos da autoimagem, da percepção do ambiente e de conflitos emocionais. É frequentemente utilizado em conjunto com outros testes para uma avaliação mais abrangente da personalidade. • CAT (children’s apperception test) e TAT (thematic apperception test): analisam aspectos emocionais e de personalidade por meio da interpretação de imagens. No CAT, voltado para crianças, as pranchas ilustradas com animais despertam narrativas que refletem a vivência emocional da criança. No TAT, aplicado a adolescentes e adultos, as imagens ambíguas incentivam a projeção de conflitos, medos e desejos, sendo útil para avaliação de aspectos inconscientes da personalidade. 7.5.4 Aplicação e interpretação dos testes A aplicação da testagem neuropsicológica deve seguir protocolos rigorosos para garantir que os resultados sejam válidos e confiáveis. Cada teste possui um manual com diretrizes padronizadas de administração, tempo de aplicação e critérios de pontuação. O avaliador deve respeitar essas normas para evitar resultados enviesados e garantir que os escores obtidos sejam comparáveis às tabelas normativas. É essencial considerar fatores individuais do paciente, como idade, escolaridade e estado emocional, pois essas variáveis podem influenciar significativamente o desempenho. A psicometria é um campo fundamental na testagem neuropsicológica, garantindo que os instrumentos utilizados possuam validade, fidedignidade e precisão. A validade se refere à capacidade do teste de medir aquilo que se propõe a avaliar, enquanto a fidedignidade assegura que os resultados sejam consistentes quando aplicados repetidamente nas mesmas condições. A precisão dos escores é essencial para que as conclusões obtidas tenham base científica e possam ser utilizadas no planejamento terapêutico e na tomada de decisões clínicas. A padronização dos testes é um dos pilares para uma avaliação precisa. Cada teste passa por um processo de normatização, no qual é aplicado a uma amostra populacional ampla para estabelecer médias e desvios‑padrão que servem de referência para as pontuações individuais. Dessa forma, os escores obtidos pelo paciente podem ser comparados a uma base normativa apropriada para sua faixa etária, nível de escolaridade e contexto cultural. Qualquer variação no procedimento pode comprometer essa comparação e levar a interpretações equivocadas. No entanto, há situações em que adaptações são necessárias, especialmente em casos de déficits motores ou limitações comunicativas, devendo o avaliador registrar essas modificações e interpretá‑las com cautela. 157 NEUROCIÊNCIAS Diversos fatores podem influenciar o desempenho nos testes neuropsicológicos. O nível de escolaridade impacta significativamente os resultados, especialmente em testes que envolvem habilidades linguísticas e funções executivas. Pacientes com baixa escolaridade podem apresentar pontuações reduzidas em determinadas tarefas não por apresentarem déficits cognitivos, mas pela faltade familiaridade com o formato dos testes. Da mesma forma, aspectos emocionais, como ansiedade, depressão e estresse, podem prejudicar a atenção e a memória, interferindo na performance geral. A fadiga também deve ser considerada, especialmente em avaliações longas, pois o cansaço pode comprometer o desempenho, levando a escores artificialmente reduzidos. A integração dos dados obtidos na testagem com as informações coletadas na entrevista clínica e na anamnese é essencial para uma interpretação precisa. Nenhum teste deve ser analisado isoladamente, pois o perfil cognitivo do paciente deve ser compreendido dentro de um contexto amplo. Resultados discrepantes entre diferentes testes podem indicar padrões específicos de funcionamento cognitivo, fornecendo pistas sobre a localização e a natureza de um possível comprometimento neurológico. O avaliador deve estar atento a erros comuns na interpretação dos testes. Um dos principais equívocos é supervalorizar déficits em um único teste sem considerar o quadro global do paciente. O desempenho reduzido em um teste isolado pode ser resultado de fatores situacionais, como desatenção momentânea ou falta de compreensão da tarefa, e não necessariamente de um déficit neurocognitivo significativo. Outro erro frequente é desconsiderar a influência cultural e socioeconômica na performance do paciente, o que pode levar a diagnósticos equivocados. A correta aplicação e interpretação dos testes exige conhecimento aprofundado de psicometria, neurociência e fatores contextuais; garantindo que os achados sejam precisos e relevantes para a formulação de um diagnóstico e a definição de estratégias de intervenção. 7.5.5 Desafios e ética na aplicação dos testes A testagem neuropsicológica exige do profissional um compromisso com a ética, a precisão científica e a responsabilidade na interpretação dos resultados (Sbordone; Long, 2007). Diferentemente de outras formas de avaliação psicológica, a neuropsicologia trabalha com funções cognitivas relacionadas ao funcionamento cerebral, o que implica desafios específicos, desde a seleção adequada dos testes até a comunicação dos resultados (Lezak et al., 2012). Um dos principais desafios enfrentados na prática clínica é evitar vieses interpretativos. Fatores como idade, escolaridade e contexto sociocultural do paciente podem influenciar sua performance nos testes (Santos; Moraes, 2018). Um erro comum é interpretar escores reduzidos como um déficit cognitivo sem considerar a influência do nível de letramento ou da familiaridade do paciente com testes formais (Kaufman; Raiford; Coalson, 2009). Por isso, é fundamental que o profissional utilize tabelas normativas adequadas à realidade do paciente, evitando diagnósticos equivocados baseados em comparações inadequadas (Strauss; Sherman; Spreen, 2006). 158 Unidade III A reprodutibilidade e fidedignidade dos testes também são aspectos centrais na ética da avaliação neuropsicológica. O profissional deve garantir que os testes aplicados sejam validados cientificamente e normatizados para a população avaliada (American Psychological Association, 2017). Instrumentos sem padronização adequada podem levar a conclusões distorcidas e comprometer o direcionamento terapêutico do paciente (Goldstein; Beers, 2017). O avaliador deve estar atualizado sobre revisões dos testes, pois muitos instrumentos passam por reformulações para corrigir limitações psicométricas e se adequar a novas realidades populacionais (Cohen; Swerdlik, 2018). Outro desafio crítico na aplicação dos testes é a interpretação dos resultados em pacientes com transtornos psiquiátricos ou condições médicas associadas. Sintomas de depressão, ansiedade e transtornos psicóticos podem impactar significativamente o desempenho nos testes (Green; Lees‑Haley, 2010), tornando essencial a diferenciação entre déficits neurocognitivos reais e impactos emocionais transitórios. A testagem em indivíduos com doenças neurológicas progressivas, como Alzheimer e Parkinson, também requer cautela, pois a variabilidade na performance ao longo do tempo pode refletir tanto o curso natural da doença quanto efeitos de medicações ou variações no estado clínico do paciente (Perry, 2011). No que se refere à confidencialidade e à privacidade, a ética profissional exige que os resultados da avaliação sejam tratados com sigilo absoluto (American Psychological Association, 2017). O laudo neuropsicológico deve ser elaborado de forma clara, objetiva e acessível, evitando termos excessivamente técnicos que possam dificultar a compreensão do paciente e de sua família (Miller, 2015). Deve‑se ter um cuidado especial ao comunicar diagnósticos, principalmente quando envolvem transtornos neurodegenerativos ou condições que podem gerar impacto emocional significativo. O neuropsicólogo tem a responsabilidade de fornecer não apenas um diagnóstico, mas também orientações sobre manejo, prognóstico e possíveis intervenções terapêuticas (Lichtenberger; Kaufman, 2009). Outro ponto ético fundamental é a necessidade de atualização profissional contínua. O campo da neuropsicologia está em constante evolução, com descobertas sobre o funcionamento cerebral e novas abordagens de testagem sendo desenvolvidas (Sbordone; Long, 2007). O profissional deve buscar aprimoramento constante, participando de cursos, congressos e formações para garantir que sua prática esteja alinhada às melhores evidências científicas disponíveis (Kaufman; Raiford; Coalson, 2009). Além disso, deve estar atento às diretrizes dos conselhos profissionais e aos avanços na legislação sobre uso de testes psicológicos, garantindo que sua atuação esteja dentro dos parâmetros éticos estabelecidos (Cohen; Swerdlik, 2018). Um dos maiores desafios da testagem neuropsicológica é garantir que os resultados sejam utilizados de forma ética e responsável, sem rotular ou limitar o paciente. A avaliação neuropsicológica deve ser vista como uma ferramenta para compreender potencialidades e dificuldades cognitivas, auxiliando no desenvolvimento de estratégias para melhorar a qualidade de vida do indivíduo (Lezak et al., 2012). O diagnóstico não deve ser um fim em si mesmo, mas um meio para promover intervenções eficazes e apoiar o paciente em seu contexto pessoal, educacional ou profissional. 159 NEUROCIÊNCIAS A aplicação de testes neuropsicológicos exige cautela, embasamento teórico sólido e compromisso ético, assegurando que os achados obtidos sejam utilizados com responsabilidade e sensibilidade, sempre em benefício do paciente (Santos; Moraes, 2018). 7.6 Laudo neuropsicológico Um dos documentos mais importantes na prática da neuropsicologia, o laudo neuropsicológico sintetiza os resultados da avaliação, oferecendo compreensão clara do funcionamento cognitivo do paciente. Esse documento orienta sobre intervenções terapêuticas, auxilia no monitoramento de condições neurológicas e contribui para o diagnóstico e o planejamento do tratamento, respeitando sempre os preceitos éticos da profissão. O laudo neuropsicológico tem como principal objetivo fornecer uma análise detalhada das funções cognitivas avaliadas, destacando os pontos fortes e as áreas que necessitam de intervenção. É essencial que esse documento seja uma ferramenta que ajude no entendimento dos resultados dos testes aplicados e na definição de estratégias para o manejo do paciente, seja no contexto clínico, educacional ou profissional. Segundo Fuentes et al. (2013), o laudo também pode ser utilizado como um acompanhamento contínuo, permitindo a avaliação das mudanças no estado cognitivo ao longo do tempo, especialmente em casos de doenças progressivas, como Alzheimer e Parkinson. A ética na elaboração do laudo neuropsicológico é um dos pilares da prática, pois o psicólogo deve garantir que todos os aspectos da avaliação sejam conduzidos com respeito à dignidade e à privacidade do paciente, conforme estabelecido pela Resolução n. 7/2023, do Conselho Federal de Psicologia. A práticaética exige que o profissional evite modismos diagnósticos e seja cauteloso ao tirar conclusões precipitadas. A neuropsicologia não deve ser usada como ferramenta para rotular e/ou estigmatizar, mas como uma forma de entender as dificuldades cognitivas e oferecer apoio terapêutico. É importante lembrar que, ao contrário de algumas áreas da psicologia, a neuropsicologia trabalha com hipóteses diagnósticas e não com diagnósticos definitivos. Isso significa que, ao longo da avaliação, o profissional deve ter clareza de que o laudo reflete um momento específico da condição do paciente, sendo sempre passível de revisão conforme novas informações ou avaliações forem coletadas. O laudo deve ser um reflexo de uma análise crítica dos dados coletados, e não de uma conclusão fechada ou imutável (Miller, 2015). A estrutura do laudo neuropsicológico é essencial para garantir clareza, objetividade e integridade na comunicação dos resultados. Cada seção do laudo tem sua própria importância e deve ser abordada com cuidado: • Identificação do paciente: inclui informações básicas, como nome, idade, escolaridade, entre outros dados relevantes. A precisão dessas informações é crucial, pois elas influenciam diretamente na interpretação dos resultados dos testes, como a escolha das tabelas normativas e as análises subsequentes (Cohen; Swerdlik, 2018). 160 Unidade III • Queixas iniciais: são descritas as principais queixas do paciente ou de quem o acompanha, que motivaram a avaliação. Essa parte é importante para contextualizar os motivos pelos quais o paciente buscou a avaliação neuropsicológica, além de orientar o profissional sobre o que deve ser priorizado nos testes. A análise das queixas iniciais também ajuda a evitar vieses de interpretação, uma vez que o avaliador precisa estar atento ao contexto subjetivo do paciente (Lezak et al., 2012). • Histórico médico e neuropsicológico: é essencial para traçar um panorama do histórico de saúde do paciente, incluindo doenças neurológicas anteriores, uso de medicações e aspectos relacionados à condição psíquica e social. O histórico médico oferece subsídios valiosos para a interpretação dos resultados dos testes e a formulação de hipóteses diagnósticas. Deve‑se ter cuidado para não fazer interpretações precipitadas, especialmente quando se lida com pacientes que apresentam condições psiquiátricas (Nascimento; Fonseca, 2020). • Hipóteses diagnósticas: com base no histórico, nas queixas e nas avaliações iniciais, o profissional apresenta as hipóteses diagnósticas. Elas são formulações provisórias que devem ser analisadas e validadas ao longo da avaliação. O laudo nunca deve ser apresentado como um diagnóstico definitivo, mas como uma linha de investigação que precisa ser acompanhada de perto. Como afirmado por Santos et al. (2015), essa parte do laudo deve estar aberta a ajustes conforme novos dados sejam obtidos. • Resultados dos testes: parte principal do laudo, pois apresenta os dados objetivos obtidos com a aplicação de instrumentos neuropsicológicos. Os resultados devem ser descritos de forma clara e objetiva, acompanhados de tabelas e gráficos, quando necessário, para facilitar a compreensão. É essencial que o profissional utilize as normas e as tabelas de referência adequadas, considerando as particularidades do paciente, como idade, escolaridade e contexto sociocultural (Strauss; Sherman; Spreen, 2006). • Análise e discussão dos resultados: o psicólogo deve interpretar os resultados obtidos, contextualizando‑os de acordo com o quadro clínico e as hipóteses diagnósticas. É importante que o avaliador tenha cuidado ao interpretar os resultados, evitando conclusões simplistas ou desconsiderando fatores como o nível educacional e as condições emocionais do paciente, que podem influenciar sua performance nos testes (Barkley, 2017). • Recomendações e plano terapêutico: o laudo deve ser finalizado com orientações sobre as próximas etapas do tratamento, com base nos resultados da avaliação. As recomendações podem envolver a necessidade de acompanhamento psicológico e a indicação de intervenções médicas ou psicoterapêuticas. Como aponta Abrisqueta‑Gomez (2012), as recomendações devem ser personalizadas e realistas, considerando as possibilidades e as limitações do paciente. A reavaliação periódica é um aspecto fundamental na prática neuropsicológica. A condição cognitiva do paciente pode evoluir ao longo do tempo, seja para melhor ou para pior, e o laudo deve ser utilizado para monitorar essas mudanças. As reavaliações permitem que o profissional ajuste suas intervenções e compreenda melhor o impacto das terapias e tratamentos em curso (Goldstein; Beers, 2017). 161 NEUROCIÊNCIAS 8 REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA A reabilitação neuropsicológica é um processo terapêutico fundamental para indivíduos que apresentam déficits cognitivos decorrentes de lesões cerebrais ou disfunções neuropsicológicas. A reabilitação busca não apenas restaurar funções cognitivas afetadas, mas também ajudar o paciente a se adaptar aos desafios impostos pela perda de habilidades cognitivas, promovendo a maximização de sua qualidade de vida e independência funcional (Fuentes et al., 2013; Lezak et al., 2012). 8.1 Objetivos da reabilitação neuropsicológica A reabilitação neuropsicológica é uma abordagem personalizada e multifacetada, com o objetivo de promover a recuperação ou a adaptação às limitações cognitivas dos pacientes. O primeiro objetivo dessa intervenção é restaurar as funções cognitivas danificadas, como memória, atenção, funções executivas, percepção e habilidades visuoespaciais. Para isso, são aplicadas técnicas específicas de treino cognitivo que buscam estimular a neuroplasticidade, permitindo a recuperação parcial ou total dessas funções, dependendo da gravidade da lesão e do tempo de tratamento (Goldstein; Beers, 2017). Em casos em que a restauração completa das funções não é possível, a reabilitação se concentra no desenvolvimento de estratégias compensatórias. Essas estratégias ajudam o paciente a lidar com as dificuldades cognitivas diárias, utilizando tecnologias assistivas e outras técnicas para facilitar a realização de atividades cotidianas (Strauss et al., 2006). A reabilitação neuropsicológica tem como um de seus principais objetivos a melhoria da qualidade de vida do paciente. Ao promover a recuperação ou compensação das funções cognitivas, ela facilita a reintegração social, o retorno ao trabalho e a execução de tarefas pessoais e domésticas, proporcionando uma vida mais funcional e satisfatória (Lezak et al., 2012). Quando aplicada de forma precoce, a reabilitação também tem o papel de prevenir sequelas cognitivas. Intervenções iniciais podem evitar a progressão de déficits cognitivos, garantindo um prognóstico mais favorável e melhorando a perspectiva de recuperação a longo prazo (Nascimento; Fonseca, 2020). 8.2 Avaliação neuropsicológica no processo de reabilitação Antes de iniciar qualquer intervenção terapêutica, é essencial realizar uma avaliação neuropsicológica detalhada para compreender o perfil cognitivo do paciente, identificar as funções cognitivas afetadas e determinar a extensão das dificuldades. A avaliação, conduzida por um neuropsicólogo, envolve a administração de diversos testes padronizados, entrevistas clínicas e observações comportamentais (Cohen; Swerdlik, 2018). A avaliação neuropsicológica fornece informações cruciais para a definição de um plano de reabilitação personalizado. Além de diagnosticar déficits, a avaliação identifica as áreas em que o paciente já apresenta estratégias compensatórias espontâneas, o que pode ser aproveitado para otimizar a intervenção. 162 Unidade III Observação O acompanhamento neuropsicológico contínuo pode revelar padrões sutis de melhora cognitiva que não seriam perceptíveis em avaliações isoladas. Testes como a escala de inteligência de Wechsler para adultos (WAIS) e os testes de função executiva são frequentementeusados para identificar áreas específicas que necessitam de intervenção (Kaufman; Raiford; Coalson, 2009). É importante que a avaliação também aborde o impacto dessas dificuldades nas habilidades sociais e ocupacionais, elementos que afetam diretamente a qualidade de vida do paciente (Miller, 2015). 8.3 Estratégias de intervenção A reabilitação neuropsicológica envolve um conjunto diversificado de estratégias de intervenção, divididas em estimulação cognitiva e treinamento compensatório. Essas estratégias têm como objetivo melhorar diretamente as funções cognitivas ou compensar as falhas cognitivas. 8.3.1 Estimulação cognitiva A estimulação cognitiva tem como objetivo principal a recuperação direta das funções cognitivas prejudicadas, melhorando as habilidades do paciente por meio de exercícios específicos que promovem a neuroplasticidade, ou seja, a capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões. Essa abordagem envolve diversas atividades, adaptadas às necessidades individuais do paciente. Uma das principais técnicas utilizadas é o treinamento de memória, que inclui exercícios de repetição e associação de informações, além de estratégias de organização e categorização. Essas atividades são fundamentais para melhorar a memória de curto prazo e auxiliar o paciente a recuperar ou melhorar a retenção de informações (Fuentes et al., 2013). Os exercícios de atenção são empregados para trabalhar a atenção seletiva e a atenção sustentada. Tarefas como identificar estímulos relevantes em meio a distrações ou realizar atividades de multitarefa controlada ajudam o paciente a melhorar seu foco e a capacidade de manter a atenção por períodos prolongados (Green; Lees‑Haley, 2010). A reabilitação visuoespacial também é um componente importante da estimulação cognitiva, especialmente em casos de lesões em regiões cerebrais responsáveis pelo processamento visual e espacial. Atividades como orientação espacial, reconhecimento de padrões e navegação são utilizadas para melhorar a percepção e a interação com o ambiente (Lezak et al. 2012). 163 NEUROCIÊNCIAS Saiba mais Programas de reabilitação cognitiva baseados em realidade aumentada estão sendo desenvolvidos para facilitar a recuperação de funções cognitivas em pacientes com lesões cerebrais. Para aprofundamento, sugerimos o livro e o artigo a seguir: KLINGBERG, T. The learning brain: memory and brain development in children. Oxford: Oxford University Press, 2013. DESPOTI, A. A. et al. Cognitive rehabilitation using virtual reality and augmented reality: a systematic review. Journal of the International Neuropsychological Society, v. 25, supl. s1, jun. 2019. Disponível em: https://shre.ink/MQbE. Acesso em: 22 abr. 2025. O filme O jogo da imitação, embora não trate diretamente de realidade aumentada, apresenta aspectos da neurociência aplicada à reabilitação e ao desenvolvimento cognitivo. O JOGO da imitação. Direção: Morten Tyldum. EUA: The Weinstein Company; Reino Unido: StudioCanal, 2014. 114 min. 8.3.2 Treinamento compensatório Quando a recuperação das funções cognitivas é parcial ou limitada, a abordagem compensatória se torna fundamental. O treinamento compensatório visa ensinar ao paciente estratégias alternativas para lidar com as dificuldades cognitivas, proporcionando maior autonomia e independência. As principais estratégias incluem: • Uso de tecnologias assistivas: ferramentas como aplicativos de smartphones, agendas eletrônicas, dispositivos de alarme e lembretes são utilizadas para compensar déficits de memória e organização (Nascimento; Fonseca, 2020). • Adaptação de rotinas: o paciente é orientado a modificar suas rotinas diárias para minimizar os impactos das dificuldades cognitivas, como a criação de listas e o uso de horários fixos para realização de tarefas (Miller, 2015). • Estratégias de resolução de problemas: o treinamento inclui ensinar técnicas para dividir tarefas complexas em etapas menores e mais gerenciáveis, além de promover a análise crítica e o pensamento estratégico, essencial para as funções executivas (Goldstein; Beers, 2017). 164 Unidade III 8.4 Importância da abordagem multidisciplinar A reabilitação neuropsicológica, especialmente em casos mais graves ou com múltiplas comorbidades, deve ser realizada em um contexto multidisciplinar. O neuropsicólogo deve trabalhar de forma integrada com outros profissionais da saúde, como médicos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e fonoaudiólogos, garantindo uma abordagem holística para a recuperação do paciente (Lezak et al., 2012). A colaboração com outros profissionais permite a monitorização contínua do progresso do paciente e o ajuste das intervenções conforme necessário. 8.5 Duração e prognóstico A duração do tratamento de reabilitação neuropsicológica varia conforme a gravidade dos déficits e a evolução do paciente. Em casos de lesões cerebrais graves, a reabilitação pode durar vários meses ou até anos. A reabilitação precoce, no entanto, tende a resultar em melhores prognósticos, pois permite a intervenção antes que as dificuldades cognitivas se tornem crônicas e mais difíceis de tratar (Strauss et al., 2006). É importante frisar que, embora a reabilitação neuropsicológica seja altamente eficaz em muitos casos, o prognóstico pode variar de acordo com a natureza e a localização da lesão cerebral, bem como com a resposta individual do paciente à intervenção (Santos, F. H.; Andrade, V. M.; Bueno, O. F. A., 2015). 8.6 Caso clínico: paciente após AVC Um exemplo significativo de reabilitação neuropsicológica é o caso de um paciente que sofreu um AVC isquêmico, resultando em déficits cognitivos, principalmente nas áreas de memória de curto prazo, atenção e função executiva. O paciente, um homem de 58 anos, foi internado após um AVC que afetou o lobo frontal e as regiões associadas ao processamento de informações e tomada de decisões. Após a fase aguda, iniciou‑se um programa de reabilitação neuropsicológica baseado nos princípios de plasticidade cerebral e treino cognitivo, com o objetivo de restaurar ou compensar as funções perdidas (Ramos, 2011). A reabilitação neuropsicológica visa à promoção da plasticidade cerebral, que é a capacidade do cérebro de reorganizar suas funções cognitivas após lesões, e envolve a utilização de intervenções terapêuticas que focam no restabelecimento das funções perdidas ou no uso de compensações. No caso descrito, as intervenções iniciais se concentraram no treino de memória de trabalho, atenção seletiva e função executiva. As atividades são estruturadas para melhorar a habilidade do paciente de recordar informações de forma mais eficaz e tomar decisões de forma independente. Essa abordagem está em consonância com os princípios teóricos da reabilitação neuropsicológica, que incluem o uso de estratégias compensatórias e o treino de funções específicas de forma repetitiva e sistemática (Lezak et al., 2012). O processo de reabilitação no caso também enfatizou o treino de habilidades relacionadas à memória de curto prazo. Tarefas como a repetição de números e palavras foram utilizadas para ajudar o paciente a melhorar sua capacidade de recordar informações no curto prazo, uma das funções mais prejudicadas 165 NEUROCIÊNCIAS após o AVC. Essas atividades estão diretamente relacionadas aos conceitos de treino cognitivo, que, segundo Fuentes et al. (2013), são fundamentais para maximizar a recuperação e minimizar os déficits. Ao mesmo tempo, o treinamento das funções executivas, incluindo planejamento e tomada de decisão, foi essencial para restabelecer a capacidade do paciente de realizar atividades da vida diária de forma autônoma. Após 12 semanas de terapia intensiva, o paciente demonstrou melhorias significativas nas funções cognitivas e no retorno às suas atividades cotidianas. Ele foi capaz de melhorar seu desempenho em tarefas que exigiam planejamento e organização, como gerenciar suas finanças e programar compromissos. Essetipo de melhora pode ser explicado pelo conceito de plasticidade cerebral. Conforme Green e Lees‑Haley (2010) explicam, o cérebro possui uma incrível capacidade de adaptação, principalmente após danos causados por AVC, e a intervenção precoce e bem estruturada pode resultar na recuperação de muitas funções cognitivas, com a utilização de estratégias compensatórias para aquelas que são permanentemente afetadas. A utilização de tarefas que estimulavam a memória operacional e o treinamento das funções executivas, como indicado por Lezak et al. (2012), foi crucial. Isso garantiu que o paciente lembrasse de informações e as processasse de forma eficaz e adaptativa ao seu contexto diário. Esse caso reforça a importância de uma abordagem neuropsicológica estruturada e personalizada na reabilitação após um AVC, com foco na plasticidade cerebral e no uso de estratégias compensatórias. A intervenção neuropsicológica bem aplicada pode ter um impacto significativo na melhoria da qualidade de vida dos pacientes, permitindo‑lhes recuperar a independência nas atividades cotidianas. Ao integrar as intervenções de treinamento cognitivo e função executiva com o apoio de técnicas baseadas na neuroplasticidade, o paciente foi capaz de retornar a uma vida mais funcional e autônoma, o que valida as teorias e os métodos empregados na prática neuropsicológica. 166 Unidade III Resumo A avaliação neuropsicológica envolve diversos princípios fundamentados na neurociência clínica e na psicologia experimental. A neurociência clínica proporciona uma compreensão das bases biológicas dos processos mentais, enquanto a psicologia experimental contribui com metodologias rigorosas para a investigação dos aspectos cognitivos. A avaliação neuropsicológica interage estreitamente com áreas como a reabilitação e a psiquiatria, ajudando a formular estratégias de intervenção para indivíduos com diferentes quadros clínicos. Ela exige uma abordagem ética rigorosa, com diretrizes claras que assegurem a privacidade do paciente, o consentimento informado e o uso adequado dos instrumentos. Essas diretrizes ajudam a estabelecer um padrão ético fundamental para a validade e a aplicabilidade dos resultados obtidos, além de garantir o respeito ao paciente em todas as fases do processo de avaliação. O diferencial da avaliação neuropsicológica em comparação com outras formas de avaliação está na sua capacidade de investigar detalhadamente as funções cognitivas específicas do paciente, como memória, atenção, funções executivas, linguagem e percepção. A entrevista clínica é parte central desse processo, dividindo‑se em etapas como a entrevista inicial, a anamnese e a entrevista devolutiva, e identificando aspectos históricos e contextuais que influenciam seu estado atual. A entrevista devolutiva permite que o neuropsicólogo compartilhe os resultados da avaliação com o paciente, explicando de forma acessível os achados e sugerindo intervenções adequadas. A avaliação pode seguir diferentes modelos: protocolos fixos, que utilizam instrumentos padronizados, e a construção personalizada da avaliação, que adapta métodos e testes de acordo com as necessidades do paciente. A combinação dessas abordagens é frequentemente utilizada, permitindo uma avaliação precisa e personalizada. A testagem neuropsicológica é o componente crucial da avaliação, com testes específicos sendo aplicados conforme os contextos e os critérios definidos. Os principais testes neuropsicológicos validados no Brasil incluem escalas e baterias amplamente utilizadas, cujos resultados devem ser cuidadosamente interpretados, considerando as características individuais do paciente e o contexto clínico. 167 NEUROCIÊNCIAS Uma vez realizada a avaliação, o neuropsicólogo elabora um laudo neuropsicológico detalhado, que sintetiza os achados s do processo, oferecendo diagnóstico claro e indicando as melhores estratégias de intervenção. Esse laudo é fundamental para a formulação de um plano terapêutico, que pode envolver a reabilitação neuropsicológica para restaurar ou compensar funções cognitivas comprometidas. A reabilitação neuropsicológica é uma abordagem multidisciplinar que envolve estratégias como a estimulação cognitiva, voltada à promoção da neuroplasticidade e à recuperação de funções cognitivas danificadas, e o treinamento compensatório, que ensina o paciente a lidar com as limitações cognitivas por meio de métodos adaptativos. A importância da abordagem multidisciplinar na reabilitação é destacada, pois ela envolve profissionais de diversas áreas. A duração da reabilitação e o prognóstico dependem de diversos fatores, como a gravidade da lesão cerebral, a resposta do paciente às intervenções e a sua rede de apoio. Embora a recuperação total de algumas funções possa não ser possível, a reabilitação neuropsicológica pode melhorar significativamente a qualidade de vida do paciente, facilitando sua reintegração social e profissional, além de minimizar os efeitos das sequelas cognitivas. Esse processo de avaliação e reabilitação neuropsicológica é fundamental para indivíduos com transtornos cognitivos, ajudando‑os a superar desafios no desempenho diário e a alcançar uma maior autonomia e bem‑estar. 168 Unidade III Exercícios Questão 1. Uma psicóloga realiza uma avaliação neuropsicológica em um adolescente de 14 anos com histórico de dificuldades escolares. Durante a aplicação dos testes, foram observados: lentidão na execução de tarefas simples, dificuldade em manter o foco e erros frequentes em cálculos básicos. A psicóloga decidiu complementar a avaliação com informações obtidas em entrevistas com pais e professores para melhor contextualizar os resultados. Com base no caso clínico apresentado, assinale a alternativa que indica corretamente a abordagem correta durante a condução da avaliação neuropsicológica. A) Priorizar os resultados quantitativos dos testes neuropsicológicos, sem considerar os dados qualitativos. B) Basear o diagnóstico exclusivamente na observação da lentidão nas tarefas durante a aplicação dos testes. C) Incorporar informações dos ambientes escolar e familiar para compreender os fatores que influenciam o desempenho do adolescente. D) Concluir que os erros nos cálculos refletem diretamente uma lesão no córtex parietal, sem necessidade de dados adicionais. E) Considerar apenas os testes padronizados como fontes confiáveis de dados para o diagnóstico. Resposta correta: alternativa C. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: apenas priorizar resultados quantitativos desconsidera o contexto individual e os fatores ambientais relevantes para o adolescente. B) Alternativa incorreta. Justificativa: basear o diagnóstico apenas na observação da lentidão em tarefas é insuficiente e não abrange a complexidade do caso. C) Alternativa correta. Justificativa: uma avaliação neuropsicológica eficaz deve integrar dados quantitativos e qualitativos, considerando os contextos escolar e familiar. 169 NEUROCIÊNCIAS D) Alternativa incorreta. Justificativa: erros em cálculos podem ter múltiplas origens e não é correto atribuí‑los diretamente a lesões sem uma análise abrangente. E) Alternativa incorreta. Justificativa: testes padronizados são importantes, mas não podem ser a única fonte de dados para diagnóstico. Questão 2. O psicólogo desempenha importante papel na reabilitação neuropsicológica. Ele atua na avaliação e no acompanhamento de pacientes com déficits cognitivos, emocionais e comportamentais resultantes de lesões ou disfunções no sistema nervoso. Ele elabora um plano terapêutico individualizado, que pode incluir atividades para estimular a neuroplasticidade, as estratégias de compensação cognitiva e o manejo de sintomas emocionais, como ansiedade e depressão, frequentemente associados a essas condições. A respeito das estratégias de reabilitação neuropsicológica, avalie as afirmativas a seguir. I – A reabilitação neuropsicológica